sábado, outubro 26, 2013

A classe média vai ao inferno - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

As metrópoles se tornaram ambientes hostis a qualquer um que precise se deslocar



Era uma vez o sonho de morar na grande cidade. O paraíso das oportunidades, do emprego bem remunerado, do hospital equipado e do acesso mais amplo aos serviços públicos. O centro do lazer cultural e do bem-estar. A promessa da mobilidade social e funcional.

A metrópole virou megalópole e, hoje, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram ambientes hostis ao cidadão de qualquer classe social que precise se deslocar da casa para o trabalho. As “viagens” diárias dificultam conciliar família e profissão. Os serviços públicos são muito ruins. E o transporte coletivo – negligenciado por sucessivos governos como “coisa de pobre” – é indigno.

Hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos, e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que chegariam ao paraíso. Ficaram presos no congestionamento.

Quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa, com base em dados de 2012, revela que os muito pobres e os muito ricos gastam menos tempo no deslocamento casa-trabalho do que a classe média. Os ricos, porque podem morar perto do trabalho – sem contar os milionários e os governadores, que andam de helicóptero. Os muito pobres, sem dinheiro para a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento. Como não se investiu em trem e metrô – muito menos em sistemas inteligentes de transporte –, estouramos os limites da civilidade. E que se lixem os impactos ambientais, a poluição e a rinite.

Nesse cenário, qualquer falha, incidente, obra, desastre ou atropelamento transforma o caos “normal” em catástrofe. Tombou a carreta? O ônibus atropelou o ciclista? O trem sofreu pane? O bueiro explodiu? O cano estourou? A linha de nosso reduzido metrô enguiçou? O asfalto cedeu? Os motoristas de ônibus pararam por melhores condições? Pronto, não se chega mais a lugar nenhum. Até os atalhos se tornam sucursais do inferno.

Hordas de passageiros brigam para entrar num vagão, derrubam idosos, não têm cuidado com as crianças e as grávidas. Alguns se transformam em Black Blocs sem máscaras e depredam. Motoristas se fecham e se xingam uns aos outros. Esse cotidiano penoso torna o cidadão ao lado um inimigo, um adversário. É preciso chegar à frente dele, roubar seu lugar.

Vivemos uma situação de guerrilha urbana diária, provocada pela falta crônica de planejamento e a ausência de investimentos públicos em serviços de qualidade. Governos sucessivos erraram nas prioridades e no modelo de desenvolvimento. Somos o país da improvisação e precipitação.

“Investir em transporte de massa, em trem e metrô, criar sistemas articulados e decretar o fim do império do automóvel particular é uma providência imediata”, afirma o urbanista Augusto Ivan, nascido em Minas e radicado no Rio. “Quando surgiu, o automóvel era chamado ‘carro de passeio’. Deveria voltar a ser apenas isso. Só assim mudaremos o cenário pavoroso de congestionamento. Precisamos taxar a circulação de carros em áreas mais conflagradas, a exemplo da Inglaterra, que estipulou uma ‘congestion charge’. É simples: ou paga para circular ou não entra.”

O urbanista e vereador Nabil Bonduki (PT-SP) calcula que, para melhorar minimamente a circulação em São Paulo, “seria preciso retirar 25% dos carros das ruas”. Não dá para fazer isso sem criar um transporte coletivo de qualidade. “Nem falo apenas de unidades de trens, metrôs e ônibus. Mas de um sistema, que inclui até calçadas e iluminação, além de conexão. Um sistema que a população considere seguro e confortável.” A aglomeração excessiva em cidades segregadas, um fenômeno típico de Terceiro Mundo, obriga a longos deslocamentos. “Da porta para dentro de casa, a classe média melhorou muito de vida. Mas o espaço público não acompanhou a melhoria.”

As grandes cidades brasileiras deixaram de ser cidades há muito tempo, diz o urbanista Luiz Carlos Toledo. “Hoje são conglomerados metropolitanos com problemas estruturais. Nossas grandes cidades estão parando. A ponta do iceberg são os engarrafamentos, mas, como nas montanhas de gelo, o buraco está literalmente mais embaixo, onde passam os canos que nos abastecem de água, retiram o esgoto das nossas casas e recebem as águas pluviais. Tudo isso, e não só a mobilidade, está indo para o buraco pela cegueira dos governantes, pela ganância dos especuladores e por todos nós, que acreditamos que existirá sempre um jeitinho para corrigir esses problemas, ou tempo para uma mudança de rumos.” É o que diz Toledo – e eu assino embaixo.

Um hackaton na Câmara - CORA RÓNAI

O GLOBO - 26/10
Casa vai receber programadores para criar soluções que ajudem na divulgação de informações
Não me lembro quando foi a última vez que falei bem da Câmara de Deputados, se é que algum dia falei. Como a maioria dos brasileiros, sou uma cidadã em constante sobressalto pelo noticiário que nos chega do Congresso Nacional.
Traumatizei. Mas não é que acabo de receber uma notícia simpática vinda de lá? Quem diria! É o seguinte: a partir da próxima terça-feira, e até sexta da semana que vem, a casa abre para uma turma de 50 programadores e desenvolvedores, que participarão da Primeira Maratona Hacker da Câmara dos Deputados, o Hackathon 2013. A ideia é que, durante esses quatro dias, eles se familiarizem com o que está acontecendo por lá, e que desenvolvam soluções web para, diz o release da Câmara, "ampliar a transparência na divulgação de informações públicas da Casa por meio de tecnologias digitais".

O Hackaton 2013 é também um concurso de aplicativos, que vai distribuir três prêmios de R$ 5 mil aos melhores projetos, e seu objetivo, novamente de acordo com o release, é "mobilizar a sociedade para a busca de melhorias do processo legislativo e do trabalho dos parlamentares".

Gostei muito dessa iniciativa! Acho que se há uma forma eficiente de comunicação entre os parlamentar es e os eleitores, ela passa hoje pela internet. Pelo menos, do ponto de vista dos eleitores; os parlamentares, pelas últimas demonstrações que têm dado, pouco estão se lixando para quem os conduziu aos seus cargos privilegiados . Mas isso é outra história --e reflexo condicionado de brasileira que, mal ouve qualquer referência ao Congresso, já sobe no caixote para manifestar a sua indignação.

O fato é que os 50 participantes do Hackaton vão ter uma boa chance de conhecer o funcionamento da Câmara. Vão participar de debates sobre o processo legislativo, e vão bater papo, informalmente, com o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e com os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), integrante da Comissão Avaliadora do concurso, e Alessandro Molon (PT-RJ), relator da proposta que cria o Marco Civil da Internet. Na pauta, temas como Software Livre e mandato aberto.

Nos quatro dias da maratona, eles terão à sua disposição um ambiente especialmente preparado, e utilizarão informações legislativas e parlamentares já disponíveis como dados abertos no portal da Câmara. Daniela Silva, do movimento Transparência Hacker, será a moderadora do concurso e vai acompanhar a evolução dos projetos em desenvolvimento pelos participantes. Tomara que a turma não nos desaponte e se saia com bons projetos; e tomara também que esses novos aplicativos sejam de fato implementados.

Estou torcendo.

Ao ver o meu entusiasmo com o Lumia 1020, um amigo me perguntou o que eu mudaria nele, se uma fada madrinha digital me oferecesse três desejos de smartphone . Não precisei pensar muito . O primeiro seria uma câmera mais rápida. O segundo seria uma bateria de vida mais long a. Não que a bateria do 1020 seja ruim; ela é comparável à de qualquer smartphone poderoso, ou seja, chega meio sem fôlego ao fim do dia. Mas é que, com a câmera que ele tem , é muito difícil resistir à tentação de passar o tempo clicando e editando fotos . O terceiro pedido seria um sistema de notificações igual ao do Android, a meu ver imbatível.

De resto , estou cada vez mais convencida de que o meu sistema operacional móvel favorito é mesmo o Windows Phone, elegante, rápido, bem pensado. A falta de aplicativos , constantemente apontada como seu defeito mais grave, vai se resolvendo . O Instagram chega logo , mas nem vou baixar: estou muito contente com o 6T ag, um cliente muito mais prático e bonito do que o IG original.

Época de ouro - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 26/10

‘E onde eu posso encontrar o Hélio Pellegrino?’; ‘Aqui mesmo’, respondeu o informante, apontando para as sepulturas. O psicanalista estava morto havia 16 anos



Não é qualquer literatura que permite exaltar numa semana um poeta como Vinicius de Moraes e, na outra, um cronista como Fernando Sabino. Agora, em outubro, o primeiro faria 100 anos e o segundo, 90. Houve uma época — de ouro — em que se podia esbarrar com os dois numa mesma noite num bar da cidade ou na cobertura de Rubem Braga, outro cujo centenário acaba de ser comemorado. Há pouco participei em Belo Horizonte de uma mesa em que a cantora Verônica Sabino contou divertidas histórias do pai, que criou tantas sobre o dia a dia que às vezes o cotidiano parece inspirar-se nele. Há casos que a gente ouve e diz: “Isso é coisa do Fernando Sabino.” Estou me lembrando de uma cena que parece ter saído de uma crônica do criador de “O homem nu”. Aconteceu no seu enterro, o mais demorado de que se tem memória no São João Batista. Esbaforido, o jovem repórter chega atrasado e sem saber muito bem quem é o morto e muito menos quem são os amigos a entrevistar, pergunta:

— E onde eu posso encontrar o Hélio Pellegrino?

— Aqui mesmo — respondeu o informante, apontando para as sepulturas. O psicanalista estava morto havia 16 anos.

Além dos debates, uma exposição organizada pelo filho Bernardo em forma de um labirinto de painéis de fotos e frases possibilitava mergulhar no universo do autor de “Encontro marcado”, o emblemático romance de várias gerações. Ele aparece em várias fases da vida. Aqui, com Jorge Amado ou com Louis Armstrong, ali tocando bateria ou numa praia do Rio (aliás, espera-se que a mostra venha para cá, já que Fernando foi o mais carioca dos cronistas mineiros). Nos textos, uma síntese de suas ideias e opiniões: “O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas não sofre por antecipação.” “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque não chegou ao fim.” “Não confio em produto local; sempre que viajo, levo meu uísque e minha mulher.” “Ser mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer; é fingir que não sabe aquilo que sabe; é falar pouco e escutar muito, é passar por bobo e ser inteligente.”

Há uma que soa como um projeto de vida: “Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor.” Gozador, Fernando gostava de passar trotes e implicar com os amigos. De Vinicius de Moraes, por ter se bandeado para a música popular, ele dizia: “Quem fez o Soneto de Fidelidade não pode ficar escrevendo ‘Vai, vai, vai, vai/ Não vou/ Vai vai, vai, vai,/ não vou’.” Também parodiava o poeta da paixão, fazendo uma substituição. Em vez de “infinito enquanto dure”, ele dizia que o amor só é infinito “enquanto duro”.

Esse lado irreverente, brincalhão, meio infantil, essa recusa de se levar a sério talvez seja o melhor retrato daquele que escolheu como epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.”

Beagles e dedos perdidos - FERNANDO REINACH

O Estado de S.Paulo - 26/10

Foi em Londres, no dia 13 de março de 2006. Seis voluntários entraram no hospital. Estavam felizes com os cerca de R$ 10 mil que receberiam para participar do primeiro teste clínico de uma nova droga. Mal sabiam que só sairiam do hospital meses depois, sem os dedos das mãos e dos pés. Essa é a história do pior acidente ocorrido com seres humanos durante os testes de uma nova droga.

Uma hora depois de receberem uma droga denominada TGN1412, os voluntários estavam com dores no corpo, náuseas, vomitando, e com diarreia. A pressão arterial caiu. O ritmo dos batimentos cardíacos aumentou. Manchas vermelhas apareceram em todo o corpo. Quatro horas depois veio a dificuldade para respirar. Tiveram de ser entubados e ligados a respiradores artificiais. Em 12 horas estavam na UTI. E o pior estava por vir. Múltiplos órgãos deixaram de funcionar e os voluntários foram conectados a máquinas de diálise. A circulação do sangue foi ficando difícil à medida em que o sangue parecia vazar das veias. As alterações foram rápidas e profundas e todos receberam transfusões. Estavam confusos, com a memória e o raciocínio alterados. O acúmulo de líquidos foi tão grande que familiares relataram ter sido quase impossível reconhecer o rosto dos jovens. A descrição do que ocorreu nas semanas seguintes só deve ser lida por pessoas com estômago forte. Após semanas de luta, os médicos salvaram os voluntários, que além de danos em vários órgãos, saíram do hospital sem os dedos das mãos e dos pés. Haviam necrosado e tiveram de ser amputados.

O que teria dado errado? Centenas de testes clínicos são feitos todos os anos e nunca um problema como esse havia ocorrido. Hoje, sete anos depois, sabemos o que causou o problema: os macacos não são suficientemente parecidos com um ser humano.

Esse episódio foi investigado nos seus mínimos detalhes. A causa de todos os sintomas foi uma liberação massiva de citokinas, induzida pelo TGN1412 (hoje chamamos esse fenômeno de tempestade de citokinas). Ficou comprovado que o remédio não estava contaminado e o que foi injetado nos pacientes era exatamente a mesma molécula que havia sido testada anteriormente em animais.

Mas por que essa tempestade de citokinas não foi detectada nos testes pré-clínicos, feitos em animais? Os resultados em animais foram reexaminados para verificar se teria havido falsificação ou omissão de dados pela companhia farmacêutica que desenvolveu a droga. Não houve. Todos os experimentos feitos em animais puderam ser repetidos.

O TGN1412 tinha sido testado em ratos e camundongos e este efeito colateral não tinha sido observado. Os cientistas também acharam prudente fazer os testes em um outro mamífero. Apesar de os cachorros serem muito parecidos com os seres humanos, foi decidido que o TGN1412, que agia sobre o sistema imunológico, deveria ser testado em macacos, o mamífero mais semelhante ao ser humano. Isso foi feito. De novo, nenhum problema. Finalmente, antes de injetar em seres humanos, foram feitos testes em células humanas isoladas, onde também não foi detectado o fenômeno.

Com base em todos esses testes, as agências governamentais autorizaram os testes iniciais em seres humanos. Os voluntários foram recrutados. Os resultados dos estudos pré-clínicos foram explicados a eles, que assinaram um termo de consentimento e entraram sorridentes no hospital.

Durante os últimos seis anos, os cientistas descobriram por que o TGN1412 não provoca a tempestade de citokinas em macacos ou roedores. Mas isso era impossível de prever antes do acidente. A verdade é que nunca é possível prever, com certeza absoluta, a reação de um ser humano a uma nova droga. É por isso que os voluntários são necessários. Para cada remédio que está nas farmácias existe um grupo que tomou a droga pela primeira vez.

Mas se é impossível prever, com centenas de novas drogas sendo testadas todos os anos, por que episódios como esses não ocorrem com mais frequência? A resposta é simples: eles ocorrem. Mas geralmente durante os testes em ratos, cães ou macacos. Sempre que essas reações extremas são detectadas em animais, o desenvolvimento da droga é suspenso e ela nunca chega a ser testada em humanos.

Para a maioria das novas drogas, o organismo de um rato, de um cão ou de um macaco é suficientemente parecido com o de um ser humano. O que permite aos cientistas detectar o problema antes de testar a nova droga em seres humanos. Deveríamos agradecer à evolução o fato de não sermos os únicos mamíferos a habitar o planeta.

Caso os testes em animais sejam abolidos, só restam duas alternativas: testar novas drogas diretamente em seres humanos ou abandonar o desenvolvimento de novos medicamentos.

Esse exemplo mostra quão irreal é a ideia de que esses testes possam ser feitos em computadores ou em animais menos "nobres", como moscas ou vermes. Você aceitaria ser voluntário no primeiro teste clínico de uma droga que só tivesse sido testada em uma barata?

A verdade é que qualquer droga altera o funcionamento do organismo, e é natural que grande parte desses compostos apresente efeitos colaterais. E mesmo remédios aprovados e utilizados por todos nós apresentam riscos e efeitos colaterais (você já leu uma bula?). Quanto mais próxima do homem for a espécie animal usada nos experimentos, melhor será a chance de prever os efeitos de uma nova droga em seres humanos.

Por outro lado, quanto mais próxima de nós for a espécie utilizada nos estudos, maior será nossa ligação afetiva, e mais penosos serão os experimentos e o sofrimento por eles causados. É por isso que, apesar de necessários, esses experimentos devem ser feitos com moderação e respeito pelos animais. Mas não se iluda, dificilmente eles poderão ser abolidos.

Eu devo um agradecimento aos invasores do instituto de pesquisa que "resgataram" os beagles. Foi observando os seus dedos envolvendo os simpáticos cães que me lembrei desse evento de 2006.

O exemplo da insulina - JOSÉ MEDINA PESTANA

FOLHA DE SP - 26/10

A discussão em torno do uso de animais em experimentação não se resume ao fato de sermos favoráveis ou contrários a ele. A discussão implica a necessidade de fazê-lo para o desenvolvimento do conhecimento científico e subsequente aplicação em benefício da vida.

Nas últimas décadas, alternativas tecnológicas têm sido estabelecidas de modo a evitar que um número maior de animais seja utilizado. Um exemplo está no desenvolvimento da insulina, cuja descoberta trouxe uma forma de quase ressurreição aos pacientes diabéticos. A insulina foi inicialmente extraída do pâncreas bovino, depois do pâncreas suíno e hoje é sintetizada sem necessitar do sacrifício de animais.

Entretanto, existem situações na pesquisa ou no cotidiano clínico em que o abandono completo do uso de animais ainda não é possível. Como exemplos encontramos o desenvolvimento e produção de vacinas, bem como de anticorpos utilizados como reagentes diagnósticos, ou como meio de tratamento de algumas formas de câncer como os linfomas.

Também ocorrem durante o extenso período de desenvolvimento de um novo medicamento, em que as agências regulatórias públicas demandam testes em animais antes do uso no primeiro voluntário humano, buscando antecipar o conhecimento de sua toxicidade ou mesmo de sua eficácia.

Considerando essas situações, é essencial um sistema regulatório de proteção que garanta o bem-estar dos animais, minimize seu sofrimento e que ainda traga paz de consciência para o pesquisador.

A primeira lei brasileira sobre o assunto foi promulgada por Getulio Vargas em 1934 (decreto-lei nº 24.645). Embora na maioria dos seus artigos predomine os cuidados voltados para animais de grande porte utilizados no trabalho de carga, ela estabeleceu que "os animais existentes no país são tutelados pelo Estado, sendo penalizado quem lhes aplicar maus tratos, mesmo no interesse da ciência".

Em 1979, a lei nº 6.638 estabeleceu as primeiras normas para a prática didática científica com uso de animais. Em 1998, a lei de crimes ambientais nº 9.605 determinou penas para envolvidos em experiência dolorosa ou crueldade com animais vivos, quando disponíveis recursos alternativos.

Nesse período, setores da comunidade científica, entre eles o Colégio Brasileiro de Experimentação Animal, criaram manuais para descrever os princípios éticos de manuseio e cuidados com o uso de animais de laboratório.

Em 1995, o sanitarista e deputado federal Sergio Arouca propôs a lei nº 11.794, que só foi promulgada em 2008 e regulamentada em 2009.

Em seis capítulos, ela incentiva princípios internacionais de refinamento, redução e substituição do uso de animais, cria a política nacional do uso de animais em atividades acadêmicas científicas, determina a criação de comissões de ética nas instituições (CEUAs) e estabelece a criação do Conselho Nacional de Experimentação Animal (Concea), que tem, entre seus 14 membros, ministros de Estado e dois representantes de sociedades protetoras de animais.

A lei lista as condições para a criação e uso de animais e as penalidades aplicadas aos transgressores. Determina que as pesquisas só podem ser realizadas em instituições previamente credenciadas e sob supervisão de profissional de nível superior. Criou normas de alojamento, sedação e eutanásia e limites quanto ao grau de sofrimento.

Hoje, ainda não é possível ser abolida a utilização de animais em modelos experimentais, mas eles devem estar alinhados à interpretação apropriada da Lei Arouca.

Nossa missão é aprimorar sua aplicação, utilizando as comissões locais (CEUAs) para bem analisar os projetos de pesquisa, excluindo aqueles que são redundantes, que não apresentam perspectiva de benefício científico ou que utilizam número excessivo de animais, mesmo sendo ratos ou camundongos, que, embora considerados de escala filogenética inferior aos cães, representam organismos de vida bastante evoluída.

O progressivo desconforto público com muitos aspectos da pesquisa com animais e o debate que agora se intensifica são benéficos para despertar ou aguçar nossa consciência sobre o processo de aprimoramento do respeito ao seu bem-estar, não só na pesquisa, mas no cotidiano desse nosso convívio.

‘4x0’ ou a vida - ARNALDO BLOCH

O GLOBO - 26/10

Em homenagem à varada, comi um picanha-burger, atração dos ‘food teams’, que é como chamam os bares nesse novo Maracanã


Quando o Flamengo marcou o terceiro gol, no início do segundo tempo, dei meia- volta e mirei a rampa.

Antes, em homenagem à varada que tínhamos levado, comi um picanha-burger com cheddar, uma das atrações dos food teams, que é como chamam os bares nesse novo Maracanã, que é tão nosso quanto insosso.

Perto da lancheria, um jovem botafoguense baixo e parrudo deu uma saraivada de socos no azulejo do banheiro. Minha mão sangraria fartamente. Desci a rampa num passo calmo e firme, certo de que os táxis mais espertos correriam para a saída Sul, de onde imigravam os primeiros fugitivos da goleada.

Foi fácil. Nem dez minutos de espera. No carro, respirei aliviado.

— Pra onde, campeão?

Não entendi se era sarcasmo, mas preferi manter minha crença no semelhante.

— Leblon.

Viera de Metrô e aspirara, na passarela da Estação Maracanã, um ar cívico, de satisfação e cidadania. A maioria dos cidadãos, no entanto, eram flamenguistas entoando cânticos que se dirigiam, de algum modo, a mim.

— E ninguém cala, esse chororôôô-ô...

Outros refrães aludiam à ausência da torcida, na base do “cadê você”? “Eu” estava lá, mas achei melhor calar e seguir rumo ao Sul — terra da torcida alvinegra —, único setor para o qual ainda restavam alguns ingressos. Ou melhor, muitos ingressos.

Vamos ser claros: toneladas.

Pensei positivo. Neste aspecto, é até uma vantagem ser o que sou. Sair do trabalho, pegar o metrô, comprar o tíquete rapidinho e subir a rampa cercado por alguns saltimbancos entusiasmados empunhando bumbos e bambus, em vez de uma multidão em júbilo. Oba!

Um correligionário me abordou.

— Isso aqui parece um cemitério.

— Está cedo. Ainda vem gente.

— O povo não vem.

Vi que era a oportunidade de lançar mão, mais uma vez, de minha teoria sobre como a condição alvinegra se assemelha à chamada “condição judaica”.

— Somos o povo da estrela, de cinco pontas em vez de seis, mas estrela mesmo assim. Predestinados, temos uma missão. Fomos perseguidos através da História. Somos supersticiosos e tememos a fúria dos céus. Nos tempos de grandes ameaças e fome, ficamos entocados em nome da autopreservação. E, frequentemente, somos profetas, loucos e barbudos.

Não sei se o sujeito entendeu, mas, com certeza, ficou um tempo atordoado. Ao cair em si, despediu-se com um tapinha no ombro, ansioso para escapar logo da encrenca.

— Sim, sim, claro, claro.

A encrenca, porém, já estava armada, escrita, inscrita, subscrita, reescrita ou como Deus e o diabo quiserem. No apito inicial, havia até uma quantidade digna de devotos da estrela, o barulho estava bom, os gritos de guerra soavam viris mesmo diante da massa rival — que lotava não apenas o seu setor, norte, mas também as cadeiras centrais, caríssimas, cobertas de vermelho e negro. Se eu tivesse um daqueles binóculos de ópera com um cabo de madrepérola, talvez surpreendesse ali um ou outro botafoguense perdido na numerosa burguesia da Gávea.

O resto foi o resto, e não vou entrar aqui em nenhum detalhe técnico nem tático, apenas voltar àquele momento em que, feito o terceiro gol, desci a rampa e peguei o táxi. O motorista, solícito ou cruel, tentou ligar o rádio.

— Não! Não faça isso! — implorei. — Vamos logo embora daqui, por favor.

O trajeto foi tranquilo como um voo espacial. Deserto, o Rebouças era um túnel do tempo: eu avançava rumo ao futuro, e toda a vida pregressa ficava no passado.

Que cidade boa, o Rio! Sem engarrafamento, sem flamenguistas e até sem botafoguenses. Claro que, em algum momento entre a Lagoa e a Conde de Bernadote, ouvi os urros de glória que, de todos os cantos da cidade, como araras, vinham anunciar o quarto gol.

Mas eu já estava em outra dimensão, na qual não há futebol, nem estrela, e “eles” foram engolidos por um buraco rubro-negro.

Estava em casa antes do fim do jogo. Tomei um pequeno copo de um shiraz madurão português metido a vinho de sobremesa late harvest mas que era um Porto com gosto de terra meio safado, perfeito para a doce tumba. E fui ao leito imerso na paz dos justos.

No dia seguinte, de manhã, um torpedo de minha mãe eclodiu no celular. Uma colega sua havia feito um bolo de fubá fabuloso, fofo e ainda quente. Eu tinha almoço marcado com o pai. A mãe propunha que eu passasse no seu trabalho para pegar o bolo.

Estava ocupado e não respondi. Quando cheguei à casa do pai, ela estava lá, aflita e ofendida, com o bolo. Viera do trabalho só para isso. A vida continua. Não há de faltar alimento nem amor.

Como o amor de Dona Nena por Sérgio França, amigo de uma multidão, editor, jornalista e alvinegro. Dona Nena, que se foi, era de uma alegria firme que cativava a galera desbundada desde os anos de faculdade.

Ela era da galera. Saudações.

A caminho de Guaratiba - LUIZ FERNANDO JANOT

O GLOBO - 26/10

Felizmente, a prefeitura congelou a região por seis meses para que nesse período seja definido qual o modelo mais adequado de planejamento para a área



Até a transferência da capital federal do Rio para Brasília, em 1960, a população carioca restringia os seus hábitos cotidianos aos bairros em que vivia. De uma maneira geral, eles se distinguiam entre si por suas características geográficas e pelo perfil socioeconômico dos seus moradores. Nessa época, o bairrismo predominava na vida cultural da cidade. Os deslocamentos rotineiros da população, especialmente para o Centro, eram feitos através da extraordinária rede de bondes e das linhas de trens. Foram esses meios de transporte que, por muitos anos, determinaram a expansão urbana da cidade.

No contraponto desse processo de transportes coletivos despontava a emergente indústria automobilística brasileira e, com ela, o desejo de cada indivíduo possuir o seu automóvel. Tal tendência promoveu uma radical transformação na cidade. Ruas foram alargadas, túneis e viadutos foram construídos para facilitar a livre circulação de veículos. A exaltação do carro particular fez do bonde a sua primeira vítima fatal. Quanto ao sistema ferroviário, o destino não foi muito diferente. Todo o seu fantástico patrimônio foi sucateado pela má gestão e pela absoluta falta de investimentos. O transporte coletivo saiu definitivamente dos trilhos.

A partir de então, ônibus e vans assumiram o papel de protagonistas do processo de expansão urbana do Rio. O aumento indiscriminado das suas linhas possibilitou a atuação do mercado imobiliário em áreas periféricas totalmente desprovidas de infraestrutura. Recentemente, esse modelo predatório de expansão da cidade vem se agravando com a construção de shopping-centers nessas precárias localidades. O objetivo principal da implantação desses centros de comércio é valorizar os terrenos no seu entorno e atrair compradores para os novos lançamentos imobiliários. Quanto à infraestrutura para viabilizar esses empreendimentos, a tarefa fica por conta dos lobbies especializados em pressionar a administração pública para atender aos interesses desse mercado especulativo.

Diante dessa lógica perversa é preocupante o destino que poderá ser dado à região de Guaratiba. Não há dúvida de que a abertura do Túnel da Grota Funda, a implantação do BRT e as recentes melhorias no sistema viário local irão despertar a voracidade da especulação imobiliária — formal e informal — para intervir nessa região de gigantescas proporções. Para se ter uma ideia da sua dimensão territorial — pasmem — ela é maior que o Centro acrescido de todos os bairros da Zona Sul, de São Conrado, da Barra da Tijuca e do Recreio, juntos. Além disso, trata-se de uma região extremamente frágil do ponto de vista ambiental e da qualidade do solo. Inclusive, sujeita a alagamentos constantes como o que ocorreu recentemente e impediu a realização de um evento durante a Jornada Mundial da Juventude.

Felizmente, a prefeitura congelou a região por seis meses para que nesse período seja definido qual o modelo mais adequado de planejamento para a área. É importante assinalar que o Rio não comporta mais a expansão descontrolada do seu tecido urbano. Independentemente das decisões que venham a ser tomadas há que se pensar em criar um sistema integrado de planejamento e gestão pública que seja capaz de impedir a ocupação predatória dessa área singular da cidade.

Nesse sentido, parece-nos mais indicado concentrar a infraestrutura nos núcleos urbanos existentes e utilizar os lotes vazios que neles se encontram para promover o adensamento desejável. Seria extraordinário para a cidade e para a região metropolitana se fosse criada, simultaneamente, uma grande reserva natural para fins de preservação ambiental e conservação da biodiversidade, associada a um ou mais parques urbanos com áreas exclusivas para recreação e lazer. Certamente, esse conjunto de iniciativas representaria um novo marco para a política urbana da cidade do Rio de Janeiro.

Ueba! Obama apanha da Merkel! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 26/10

E o Dida tá sendo procurado: matou um pato, 11 galinhas e 35 milhões de gambás. Crime ambiental!



Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! "Classificadora de pintos ganha pensão vitalícia." Diz que ela classifica 2.800 pintos por hora! Esse serve, esse não serve, esse é torto pra esquerda! Acho melhor ela não ser muito exigente na classificação!

E outra piada pronta: "Corinthians lança Seguro de Assistência Funeral". Eu tenho a foto do comercial: "Seguro de Assistência Funeral. Para quem é Corinthians do início até o fim. Com cerimônia de despedida especial corintiana". Deve ser despedida com pênalti do Pato! Aquele pênalti com cavadinha.

E eu já disse que corintiano não sabe fazer cavadinha, sabe fazer túnel. Pra fugir da penitenciária! Rarará!

E o Obama? O abelhudo! Espionando a Merkel. Se ele escapou de apanhar da Dilma, vai apanhar da Merkel! Com aquela cara de ressaca de Oktoberfest!

E a charge do San Salvador com Obama falando pro assessor: "Tô espionando uma alemãzinha que você precisa ver". Já vimos, é um bagulho! Rarará!

O Obama tem tara por mulher mal-amanhada: Dilma e Angela Merkel. As duas parecem que saíram da boca da vaca! Essas duas podiam se juntar e dar um pau no Obama! O Obama descobriu que a Dilma dorme de pijaminha de Che Guevara. E que a Merkel não dorme, RONCA!

E o Berlusconi, o Maluf Pornô, com aquela sutileza que lhe é peculiar, disse que a Angela Merkel tem uma bunda incomível. Incomível e inquebrável! A bunda da Merkel parece um apfelstrudel incomível. Rarará!

E o Brasil todo quer saber se o Obama sabe: a idade da Glória Maria! Sabe, mas não cabe na internet! Rarará!

E um leitor quer saber: "Caro presidente Obama, a minha mulher vai pro cabeleireiro três vezes por semana mesmo ou é migué dela?". E um outro leitor: "Caro presidente Obama, espero que o que eu fiz com a minha secretária ontem fique só entre nós três". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E atenção! Já tem uma nova dupla sertaneja em São Paulo: Alcksiemens e Serralstom. Só cantam no metrô! E um leitor me disse que o Haddad encheu a cidade de "haddares". Rarará!

E o Dida tá sendo procurado: matou um pato, 11 galinhas e 35 milhões de gambás. Crime ambiental! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Petróleo e homens sem livros - WANDA CAMARGO

GAZETA DO POVO - PR 26/10

Quando era proibido acreditar que o Brasil tinha petróleo, um homem acreditou e gritou alto que o Brasil o tinha: Monteiro Lobato. Acreditou e foi preso por isso – ironicamente, pela polícia do ditador que, já presidente, sancionou a criação da Petrobras. É de Lobato a afirmação “um país se faz com homens e livros” e, provando a coerência de sua crença, fundou a primeira editora brasileira, investindo e perdendo seu próprio dinheiro.

Agora, quando a exploração comercial do petróleo da camada do pré-sal parece estar começando a se viabilizar, é oportuno lembrar esse e outros visionários que, com coragem intelectual e desprendimento, contribuíram decisivamente para a construção de nossa consciência nacional.

Podemos estar no limiar de uma era de prosperidade; talvez nos tornemos grandes exportadores de um produto que, por algum tempo, continuará a ser a principal fonte de energia do planeta. E é conveniente que tenhamos em mente o péssimo uso que já fizemos dos recursos advindos de vários ciclos econômicos de matriz extrativista: pau-brasil, ouro, açúcar, cacau, borracha e outros. O que nos restou foram casarões em ruínas e imensas crateras, serras peladas e terras devastadas; e o pequeno consolo de visitar igrejas belamente revestidas de dourado. Nada desta riqueza parece ter gerado divisas verdadeiras, duradouras. Nenhum bom sistema educacional foi estabelecido ao alcance de todos. Para a maioria dos brasileiros, é como se nunca tivessem existido.

No entanto, pelo menos no campo das intenções, agora parecemos estar bem: segundo lei aprovada, o total dos lucros do petróleo do pré-sal que caberá ao Brasil deverá ser empregado em educação (75%) e saúde (25%). Todo cidadão tem o dever de fiscalizar o bom uso desse dinheiro, garantir que todo ele chegue de fato aonde deve e seja utilizado de modo eficaz; evitando a instalação de hospitais e escolas em prédios suntuosos, cuja construção certamente será lucrativa, mas não contribuirá em nada para suas finalidades; evitando as compras milionárias de equipamentos inúteis, o desperdício, o compadrio, os grandes negócios.

A educação brasileira é extremamente carente de boa gestão. Recursos são necessários, mas sozinhos não garantem o porvir luminoso que desejamos ao processo educativo; muito dinheiro mal aplicado não gerará a formação de bons cidadãos, desenvolvimento tecnológico e saúde populacional.

Monteiro Lobato estreou na literatura adulta com um livro de contos no qual aparece pela primeira vez o Jeca Tatu, caboclo indolente e doentio, emblemático do Brasil rural do início do século passado. O autor não demonstra pelo personagem a menor piedade ou condescendência; retrata-o com raiva, ataca-o com fúria, culpa-o pelas suas próprias misérias, pelo comodismo, pela ignorância, pelo conformismo religioso e político. Aquilo que nos parece maldade é, na verdade, amor: amor pelo ser humano manifestado por alguém que acreditava que devemos ser donos de nosso destino, que não aceitava o atraso e a desgraça.

Tantos anos depois, lamentavelmente pouco foi alterado desta realidade: continuamos um país promissor, o país do futuro ainda refletindo o passado. Nossa dívida com as gerações futuras é imensa. Em algum momento teremos de honrá-la.

Ignorância ou falsa indignação? - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 26/10

A disputa entre os Estados Unidos e a Europa intensificou-se com a reunião de cúpula da União Europeia, em Bruxelas, concluída ontem. O fato de 35 líderes mundiais terem sido espionados pela Agência de Segurança Nacional (NSA) americana inflamou até os mais pacíficos, como o presidente francês, François Hollande.

A própria chanceler alemã, Angela Merkel - grande amiga dos EUA, que, em julho, se recusara a travar uma batalha a esse respeito com os americanos -, manifestou sua indignação quando soube que seu telefone celular pessoal fora grampeado.

Ocorre que Merkel passou a primeira parte de sua vida atrás da Cortina de Ferro, na socialista Alemanha Oriental, onde a Stasi - temida agência de inteligência - espionava até as criancinhas. Portanto, ela está revoltada por encontrar as mesmas manias, as mesmas perversões, no chamado mundo democrático, e entre aliados e amigos.

Todos os dirigentes europeus reclamaram energicamente em Bruxelas e alguns telefonaram para o presidente Barack Obama para manifestar a revolta. O minúsculo Luxemburgo era como um galo esticando bravamente seu pescoço. O italiano Enrico Letta, o belga Elio di Rupo - todo mundo se uniu às reclamações. Houve apenas uma leve hesitação dos britânicos, seja porque o humor e o sangue-frio estão inscritos em seus genes, seja porque eles sabem muito bem como atuam seus amigos americanos. Mas, terminados os apelos à moral, era preciso fazer algo.

Por acaso a Europa empreenderia uma ação comum contra Washington? Então, frisou-se o fato de que a questão dizia respeito a cada país espionado, e não à Europa enquanto entidade política. Mesmo assim, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, propôs que as tratativas com os EUA sobre livre comércio fossem congeladas enquanto os americanos não tomarem medidas para controlar seus espiões. Não foi acompanhado por Hollande, que, entretanto, usara palavras muito duras contra os EUA. E muito menos por Merkel.

Nos corredores, os ânimos se acalmaram. Sobretudo os embaixadores, que estão muito bem colocados para saber que a coleta de informações é uma atividade proibida, vergonhosa, mas universal, constante e cada vez mais intensa. Um embaixador da França usou termos quase protetores falando dos "políticos". "É preciso um gesto", disse. "É preciso fazer alguma coisa para que a imprensa possa falar disso. Então, vamos gesticular em coro, meus amigos!"

O jornal Le Monde publicou um artigo de opinião de Jacques Villain, membro da Academia do Céu e do Espaço da França. Ele conhece muito bem os serviços de informação de seu país e de vizinhos europeus. "O que me intriga é o profundo espanto dos dirigentes europeus. De duas uma: ou eles não analisaram a história das relações entre os EUA e os países da Europa nos últimos 60 anos ou zombam dos cidadãos europeus ao exibirem uma falsa indignação." / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Complicações dos direitos do mar - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 26/10

Qualquer área próxima à linha costeira de uma nação é vista como integrada à área do país ao qual corresponda


Devo confessar ao leitor que pouco entendo da exploração da riqueza natural no fundo do oceano. Lembro, apenas, das alternativas técnicas na exploração de áreas distantes da costa, em todo planeta. O que sei não tem muita relação com a questão que agita o noticiário nacional, mas resumirei fatos essenciais e o direito vigente, com referência à pesquisa e à extração de petróleo do fundo do oceano Atlântico, na costa brasileira.

A importância do assunto, em termos do interesse nacional, está no art. 20 da Constituição, ao estabelecer garantias de nosso domínio sobre o que a Carta denomina mar territorial.

Por extensão desse conceito, cabe examinar a questão dos chamados terrenos de marinha, seus acrescidos e as ilhas oceânicas e costeiras. Estas tanto podem ser até mesmo municipais, quando a área delas também seja sede de município. São exemplos expressivos, São Luis, no Maranhão e Florianópolis, de Santa Catarina.

Para a atual discussão sobre o aproveitamento da extração de riquezas petrolíferas (parece impossível que o leitor não tenha sido atingido pelo noticiário a respeito), a matéria ainda é limitada. Por ora mereceram atenção os recursos que podem ser extraídos da plataforma continental, submetida apenas ao direito brasileiro.

A rigor se pode dizer, com apoio na lei vigente, que qualquer área próxima à linha costeira de uma nação é vista como integrada à área do país ao qual corresponda. Os motivos são variados para as diferenças existentes. O principal deles é de dupla natureza: a vantagem econômica e a defesa da soberania nacional, quanto a seu território.

Os elementos legais da definição da plataforma continental foram enunciados pela Lei n. 8.617, de 1993, na qual os dados básicos sobre seu aproveitamento (leito e subsolo das áreas abaixo da superfície marítima) no espaço do mar territorial brasileiro. Essa área compreende, na definição da mesma lei, a até duzentas milhas marítimas do território brasileiro. Nesse espaço, em mais de oito mil quilômetros de costa a lei, situa as áreas de exclusivo aproveitamento brasileiro.

Considerando que a milha marítima inglesa, geralmente utilizada nas medições de áreas extensas, tem 1.853,25 metros, é fácil perceber como seria difícil suportar os encargos financeiros para preservar o domínio e a posse plena da área, pelo Brasil, em caso de abuso.

Além disso, há muita variação internacional com referência à definição da plataforma, pelo menos nas cem milhas a partir da costa praieira.

É óbvio que o leitor sabe do erro em supor que quanto mais distante esteja da terra continental um ponto do oceano será sempre mais fundo, assim como a respectiva coluna de água.

Em teoria, pode haver pontos a mil quilômetros distantes da costa, nos quais o fundo do mar é menos profundo que a cem quilômetros, à vista de seus muitos altos e baixos, conforme o tipo de solo existente.

As áreas em que, a partir de agora, serão feitas as perfurações concretas, são variáveis em distância da praia, da superfície e em sua composição.

Uma coisa, porém, é certa: todas as aparências coincidem com a crença de que, nesse esforço, a possibilidade de encontrar as maiores reservas de óleo da história, está mais próxima do que nunca.

Zico na avenida - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 26/10

Zico, ídolo do Mengão e enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2014, revelou a amigos que o samba de Elymar Santos e seus parceiros era o que mais lhe agradava. Como se sabe, Elymar venceu a disputa.
– Eu estava torcendo por esse – disse Zico.

ALIÁS...

O Galinho, que está no Qatar, onde treina o Al-Gharafa, já começou a enviar e-mails a conhecidos. Quer levar à Sapucaí uma “ala de amigos”.

DEFESA DO CONSUMIDOR
A Fast Shop vai ter que indenizar em R$ 5 mil e dar um outro refrigerador à consumidora Cristina Colares, por determinação da 31ª Vara Cível do Rio.
O aparelho apresentou problemas, e a loja não quis trocar.

RESISTÊNCIA CULTURAL
O Renascença Clube, no Andaraí, militante da cultura afrodescendente, vai ganhar mais uma atração fixa.
Todo último domingo do mês, Marcelinho Moreira fará a roda de samba Fé no batuque. Começa amanhã.

ELIS, A MUSICAL
Nelson Motta, um dos autores de Elis, a musical, foi às lágrimas ao assistir ao ensaio pela primeira vez.
Ivan, filho de Henfil, também se emocionou na cena em que Elis se reconcilia com o seu pai. O espetáculo estreia dia 8 agora no Teatro Oi Casagrande, no Rio.

PRANTO PESSOAL
O coleguinha Maurício Azêdo, presidente da ABI que morreu ontem, aos 79 anos, foi um personagem importante na vida deste colunista e na luta pela liberdade de imprensa no País. Saudades.
O velório é hoje, às 8h, no Memorial do Carmo. O enterro será às 16h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

MÁFIA COLOMBIANA
Sabe o caso dos colombianos presos, no último dia 14, acusados de furtar o apartamento do jogador Conca, ex-Flu, na Barra? Pois bem, o promotor Claudio Varela denunciou 11 pessoas da quadrilha – oito colombianas e três brasileiras.
As investigações mostraram que a quadrilha invadiu 11 residências na Barra, entre elas a do deputado Eduardo Cunha. Segundo o MP, o ouro roubado era vendido numa “boca de ouro” em Copacabana.

EU TAMBÉM QUERO
A convocação de 80 delegados da Polícia Federal para atuar como oficiais de ligação junto às delegações estrangeiras durante a Copa do Mundo aprofundou o racha entre delegados e demais categorias profissionais da PF.
Agentes, escrivães e papiloscopistas também reivindicam o mesmo benefício. Que rende prestígio e, claro, diárias.

GREVE NA FRANÇA
Aliás, deu no Le Monde, o jornalão francês. Dia 30 de novembro, os jogadores de futebol de lá farão uma greve a pedido, acredite, dos clubes.
É um protesto à cobrança de 75% de imposto de renda sobre os salários dos jogadores que ganham mais de 1 milhão de euros por ano, o que corresponde à maioria dos que jogam na primeira divisão.

MAS...
Se a moda pega...

PROVOCOU CIÚME
O ser humano não falha. O papel do ministro Luiz Fux nesta negociação entre governo e sindicato dos professores, que pôs fim à greve, provocou a ciumeira em alguns políticos fluminenses.

Tem político achando que o carioca Fux está plantando a semente de uma futura candidatura no Rio.

LEITINHO DO ABEL
Lembra-se daquela novela Caminho das Índias, que tinha um personagem chamado Abel e foi exibida na TV Globo em 2009?
Pois é. Um homônimo do personagem, chamado Abel Cunha da Silva, entrou na Justiça pedindo danos morais contra a TV Globo.

SEGUE...
O Abel da vida real dizia que o personagem causou um impacto em sua vida. É que o Abel da ficção era casado com Norminha, que o traía descaradamente depois de dar-lhe um leitinho com calmante para que dormisse.
O juiz Wilson do Nascimento Reis julgou o caso improcedente. Causa ganha por Paulo Cesar Salomão Filho.

BEM-VINDO AO CLUBE
Nosso querido cineasta Cacá Diegues foi nomeado membro de honra do Conselho de Administração da Cinemateca Francesa, a primeira e mais antiga do mundo, fundada em 1936, em Paris.
Merece.

SALA DE AULA
Enquanto sete milhões de brasileiros se preparavam para fazer o Enem, a LeadPix Survey realizou esta semana uma pesquisa com 2,9 mil pais para saber como eles escolhem a escola dos filhos.
O desempenho do colégio no Enem é fator decisivo para apenas 2% dos entrevistados.

O QUE MAIS PESA...
A maioria, 31%, leva em consideração a reputação da escola, e 31% pensam mais na metodologia pedagógica.

DOAÇÕES NAS ALTURAS
A Avianca e o Instituto Ronald McDonald – ONG que luta contra o câncer infanto-juvenil – fecharam parceria para arrecadar doações nos voos da ponte aérea Rio-São Paulo.

Tipo SoHo - SONIA RACY

O ESTADÃO - 26/10

O bairro dos Jardins vai passar por duas grandes revitalizações: a primeira começa em novembro, pegando carona na decoração de Natal, e termina em 2014. A segunda, maior, está prevista para 2017.
Segundo Rosângela Lyra, presidente da associação de lojistas da região, na primeira etapa, a Oscar Freire terá calçadas e mobiliário urbano reformados. Também ganhará escultura em formato de "O", alusão à famosa rua: "Vai ser um ponto de referência turístico. Muita gente de fora tira fotos embaixo da placa".

Tipo SoHo 2
A segunda etapa consiste na construção de um calçadão entre as ruas Bela Cintra e Consolação. Desenhada pelo escritório britânico Norman Foster, a chamada Praça Oscar Freire terá restaurantes, lojas e um hotel internacional seis estrelas.

Tipo SoHo 3
As mudanças coincidem com uma transformação natural da região: "A Oscar Freire está deixando de ser uma rua de consumo de luxo – as marcas estão migrando para os shoppings – e passando a ser um espaço de lifestyle, com lojas-conceito", afirma Rosângela.

Digital
Ansiedade no mundo digital – que quer ver a Câmara dos Deputados votar, ainda este ano, projeto de lei que isenta livros eletrônicos de impostos e contribuições sociais.
Relatado pela deputada Fátima Bezerra, se aprovado tornará os e-books iguais aos livros em papel – que já têm isenção de impostos.
A medida conta com apoio até de editores do porte de Luiz Schwarcz.

Dilma
Aliados de Alckmin não gostaram nada do discurso de Dilma, ontem, no Bandeirantes. Acharam a presidente agressiva e deselegante. Lembram que, ao saber de sua intenção de vir a SP, transferiram cerimônia da PM para o Memorial da América Latina e correram para convocar prefeitos e políticos. Tudo para agradá-la.

Dilma 2
Dilma, inclusive, anunciou R$ 5 bilhões para mobilidade urbana. Não mencionou que R$ 4 bilhões chegarão ao Estado por meio de empréstimo.
Quanto aos R$ 21 bilhões já aplicados – segundo a presidente –, pairam dúvidas. Não há notícias de desembolsos para o setor.

Janela
E São Paulo terá um portal internacional para chamar de seu. "O primeiro de um estado brasileiro", destaca Rodrigo Tavares, assessor especial para Assuntos Internacionais de Geraldo Alckmin. Entra no ar dia 30.
Missão? Apresentar São Paulo ao mundo.

EM TODAS AS ETAPAS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 26/10

A 02 Filmes vai passar a atuar na área de distribuição. O novo braço operacional da produtora do cineasta Fernando Meirelles será a 02 Play, sob direção de Igor Kupstas. O primeiro filme a ser lançado pelo selo é o documentário "Cidade Cinza", que chegará aos cinemas em 22 de novembro, em codistribuição com a Espaço Filmes.

EM TODAS
Já a distribuição do longa "Latitudes", prevista para janeiro do ano que vem, ficará inteiramente a cargo da 02 Play. Com lançamento em março, "Entre Nós", de Paulo Morelli, será distribuído em parceria com a Paris Filmes e a Downtown Filmes. "Estamos entrando devagar para participar de toda a cadeia produtiva e fazer com que nossos filmes tenham mais visibilidade", diz Morelli, sócio da 02.

NA TELA
A família de Mário Covas autorizou documentário e cinebiografia sobre o ex-governador, morto em 2001. O roteirista Thiago Carvalho obteve a cessão de direitos da Fundação Mário Covas para tocar os dois projetos. Com custo de R$ 800 mil, o documentário vai ser inscrito na lei de incentivo estadual, Proac, e também na Lei Rouanet. "Vamos entrar com os pedidos ainda este ano para rodar em 2014", explica o roteirista, que também vai dirigir o documentário.

DENTES BRANCOS
O prêmio Sorriso do Bem será conferido ao "melhor dentista do mundo em 2013" nesta segunda, no teatro Alfa, em São Paulo. "Premiamos aquele profissional que entende que sua função na sociedade está muito além do consultório e dos clientes que pagam por uma consulta", diz Fábio Bibancos, presidente da organização.

A CASA É SUA
O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), foi saudado em um jantar anteontem com alguns dos maiores empresários do país, em São Paulo, como uma liderança agregadora e moderada. E que, segundo o anfitrião, João Doria Jr., em "muitos e muitos momentos, salvou o país do precipício institucional".

Temer correspondeu ao figurino. Ao tomar a palavra, admitiu logo de cara que o governo Dilma Rousseff tem arestas com os representantes do PIB brasileiro. "Eu sei que muitas e muitas vezes o setor empresarial tem problemas em relação ao governo. Vários empresários me procuram nos mais variados momentos [e dizem]: Mas, ô, Temer, vem cá, essa coisa do governo, você tem que ajudar nisso, ajudar naquilo'."

Temer louvou a "responsabilidade fiscal" e a "democracia da eficiência", num discurso considerado "show" pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. A outros convidados como Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, e Josué Gomes, da Coteminas, o peemedebista se ofereceu como "canal, veículo condutor" para levar demandas ao coração do governo.

"Quando forem ao meu gabinete, as portas não estarão abertas. Eu mandarei tirar as portas para vocês entrarem", finalizou o vice de Dilma.

CURTO-CIRCUITO
A USP recebe a partir desta segunda a conferência Emancipação, Inclusão e Exclusão. Desafios do Passado e do Presente, às 14h, na praça do Relógio.

A Sara Nossa Terra lança hoje a revista "+Mulher", com reportagem sobre divórcio e entrevista com a empresária Sonia Hess.

A Casa 92 faz amanhã a festa infantil Caricatinhos, às 13h. Livre.

Sarney na cabeça - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 26/10

O PT e o comando da reeleição da presidente Dilma garantiram ao ex-presidente José Sarney alinhamento ao PMDB nas eleições do Maranhão. O martelo só será batido ano que vem, mas já há garantia de apoio ao candidato da governadora Roseana Sarney. A filiação de Domingos Dutra ao Solidariedade e a falta de apoio do PCdoB ao PT na eleição de São Luís em 2012 facilitaram as coisas.

Padrão de qualidade marineiro
Depois do deputado ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO), chegou a vez dos trabalhistas. O PDT, que vinha conversando com Eduardo Campos (PSB), está irritado com recentes declarações de Marina Silva país afora. Ela tem rejeitado o apoio dos pedetistas, dizendo que não representam o novo. "Não vejo como falar de nova política com o que foi feito com o PDT no plano nacional. Denúncias de corrupção que estão aí sendo investigadas" diz Marina. Áudios de entrevistas estão circulando entre os trabalhistas. Ela só dá salvo-conduto ao senador Cristovam Buarque e ao deputado Reguffe, ambos de Brasília. O presidente do PDT, Carlos Lupi, está irado.


"Todos no PT defendem candidatura própria. Tem que esperar o PED. Está todo mundo de olho na eleição interna, e ninguém quer abrir flancos que tirem votos"
Rui Falcão
Presidente do PT e deputado estadual (SP)

Veto da discórdia
Deputados da base estão irritados com o veto ao plano de carreira médica, acordo feito na Câmara e descumprido pelo Planalto. Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Darcísio Perondi (PMDB-RS) lideram as negociações para derrubá-lo.


Deu Ibope
Os tucanos estão irados com as pesquisas. Aécio Neves patina, e Eduardo Campos se aproxima. Um dos coordenadores da campanha do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima (PB) apresentará projeto para que sejaadotado no país o modelo americano: "Instituto que faz pesquisa para partidos e governos não pode fazer para a mídia."

Encenando dois papéis
Prefeitos estão custeando viagem e hospedagem dos agentes comunitários de saúde em Brasília para pressionar governo e Congresso pela criação de um piso salarial. Mas também telefonam para os deputados pedindo que engavetem a proposta.

Longe de uma definição
A aliança entre Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Osmar Dias (PDT), vice-presidente do Banco do Brasil, ao governo do Paraná virou incógnita. Ele não quer concorrer ao Senado para não disputar contra o irmão, Álvaro Dias (PSDB). O PT ofereceu a candidatura a vice-governador, mas Dias recusou. O PDT quer que concorra ao governo, cenário que atrapalha muito Gleisi.

Luz para todos
A presidente Dilma inaugura terça-feira o linhão de 500kV entre a Usina de Itaipu e Assunção. No evento, em Foz do Iguaçu, estará o presidente Horacio Cartes. Com a obra, o Paraguai entrará para o time dos países industrializados.

Iluminando o debate
O presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, explica que o programa Clarear, do governo estadual, não é uma forma de rebatizar o Luz para Todos, do governo federal. O Clarear é de eletrificação urbana, e não rural.


AOS LEITORES. Mesmo fora de uso na atualidade e que tenha provocado risos no Senado, a palavra "retrocessão" usada por Guido Mantega, existe.

Dilmalckmin - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 26/10

Pesquisa qualitativa feita em São Paulo que chegou ao Planalto há algumas semanas mostra que os eleitores paulistas registram "identificação" de características de Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin (PSDB). Uma das características apontadas em comum entre a presidente e o governador de São Paulo é a de que seriam "realizadores". Chamou atenção ainda que Paulo Skaf, candidato do PMDB ao Palácio do Bandeirantes, aparece bem posicionado no levantamento.

Vocativo Um observador notou que Alckmin, com quem Dilma esteve ontem, se refere à petista como "presidenta", enquanto muitos ministros ainda não adotam a forma preferida por ela.

Sem garoa A pesquisa levada ao Planalto diz ainda que, se o candidato a presidente pelo PSDB não for o paulista José Serra, Dilma venceria a eleição em São Paulo com grande vantagem.

RSVP Dentro da estratégia de se aproximar do PT, Dilma vai participar da posse do novo presidente do partido, que será escolhido em eleições internas em novembro.

Zen Na conversa que teve com o senador Cássio Cunha Lima (PB) sobre o palanque paulista no ano que vem, Alckmin explicou que a aliança com o PSB de Eduardo Campos é "natural", uma vez que o partido, comandado no Estado pelo deputado Márcio França, está em seu governo desde o primeiro dia.

Lado a lado Alckmin e Aécio Neves vão participar juntos de um evento no périplo do senador mineiro por São Paulo. Hoje, a dupla vai ao almoço de aniversário do deputado federal Guilherme Mussi (PP-SP), na cidade de Capão Bonito. Foram convidadas 2.000 pessoas.

Velha guarda Lula almoçou ontem com os ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e com o chefe da Casa Civil do governo do DF, Swedenberger Barbosa. Os três integravam a "cozinha" do Planalto no governo do ex-presidente.

Antecipado O almoço, que reuniu também assessores do Instituto Lula, foi uma espécie de prévia do aniversário do antecessor de Dilma, que será celebrado amanhã.

Ondas Tucanos acreditam que a disparada de Campos nas pesquisas após sua aliança com Marina Silva refluiu. Levantamento do instituto Sensus encomendado pelo PSDB mostra o pessebista com 10% e Aécio com 18%. Dilma tem 37%.

Milhagem Em seu esforço para rodar o país, José Serra pediu ajuda a parlamentares do PSDB para articularem eventos e palestras em seus respectivos Estados. Um dos alvos é o Espírito Santo.

Habitat natural Em entrevista para o documentário "Eu maior", que estreia em novembro, Marina descreve o que seria um "toque de felicidade": "Tocar sem medo o lombo do bicho-preguiça, da cabeça até o rabo. É tão fofinho", respondeu, sorrindo.

Quadro 1 Ricardo Schumann é o novo chefe de gabinete de Simão Pedro (PT) na Secretaria de Serviços paulistana. Ele foi um dos personagens do escândalo de quebra de sigilo bancário que derrubou Antonio Palocci em 2006.

Quadro 2 À época, Schumann disse à Polícia Federal que recebeu ordem do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, para violar o sigilo do caseiro Francenildo Costa.

Visita à Folha Luiz Alberto Figueiredo, ministro das Relações Exteriores, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Nelson Antonio Tabajara de Oliveira, embaixador, e de Helena Maria Gasparian, conselheira.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Os tucanos deveriam se envergonhar dos investimentos em mobilidade. Dilma aplicou R$ 21 bilhões, e FHC, menos de R$ 5 bilhões."

DE EDINHO SILVA, deputado estadual e presidente do PT-SP, comparando gastos da gestão petista e dos governos tucanos em transporte no Estado.

contraponto


Tudo que sei é que nada sei
A Câmara Municipal de Campina Grande (PB) discutia, no início dos anos 1960, uma questão polêmica que dividiu os vereadores. O presidente da Casa era o experiente Pedro Sabino, político da UDN com quatro mandatos, membro de uma família tradicional na cidade.

A votação empatou e coube a ele a missão, prevista no regimento, de decidir a questão.

--O que o senhor decide? --questionou um colega.

--Pois eu decido que não decido! --disse o presidente, encerrando a sessão em seguida, sem o resultado.

O episódio até hoje é citado pelos políticos do Estado.

O mundo da política na TV - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 26/10

Uma das séries de televisão preferidas dos políticos brasileiros, House of Cards trata de um projeto votado de forma secreta. No Congresso Nacional, tal regra deixa o jogo parlamentar sem transparência e cruel para o eleitor, o verdadeiro dono do mandato dos deputados e senadores

Se quer saber sobre a corrupção e o mundo desleal de Washington, vá até as séries de televisão House of Cards, Homeland ou Scandal. Por mais que tudo não passe de uma provocação, algo feito simplesmente para entreter, as artimanhas políticas estão expostas no mais alto grau de realismo, sem concessões ou piedade. Sobra pouco para alguém, quase todos perdem, tirando aqueles que se vangloriam do jogo sujo, de armar trapaças e de se livrar delas a partir de estratégias montadas com dinheiro. Toda a grana que for capaz de conseguir, a partir de financiamentos privados, emendas parlamentares e guerras. A TV funciona assim como o espelho dos bastidores da capital norte-americana, que não se mostra nada diferente dos casos reais de Brasília.

House of Cards, por exemplo, é um dos programas domésticos preferidos de Dilma Rousseff e de Luiz Inácio Lula da Silva, pelo menos até onde se pode saber das atividades caseiras da presidente e do ex-presidente do Brasil. O programa, entretanto, não tem cores partidárias, é visto pelas mais diversas autoridades brasileiras. A série é um achado, impossível de ser interrompida pelo espectador até o episódio final, no caso o da primeira temporada — a segunda ainda está em processo de finalização. Apesar de não ter um herói típico, capaz de criar empatia, o personagem principal, encarnado pelo ator Kevin Space, é um gênio da politicagem. Parlamentar, estava cotado para um ministério quando foi barrado pelo presidente recém-eleito, que o deixou no Congresso, como uma espécie de líder. Os episódios mostram a vingança de Frank Underwood contra os amigos e inimigos.

Voto secreto

A primeira temporada da série apresenta uma votação secreta de um projeto sobre incentivos à criação de empregos. A partir do resultado, que “em tese” interessaria ao governo, ocorre uma sequência de acontecimentos que aqui não serão expostos em respeito a quem não viu House of Cards. O fato é que todas as maquinações, lobbies, negociações financeiras passam pelo voto secreto, que permite todos os tipos de barbaridades políticas na TV. Assim é na série norte-americana. Assim é no Brasil real, onde o sigilo ainda vigora no Congresso. São tamanhos os vícios dos nossos políticos, mas o maior talvez seja o apego à falta de transparência, ao jogo escuso, longe da luz. O voto secreto apenas reforça a covardia das decisões, protegendo os parlamentares da cobrança do eleitor, o verdadeiro dono do mandato.

O mais recente exemplo no Congresso é o caso do deputado presidiário Natan Donadon, absolvido no plenário da Câmara em agosto. Sem o voto secreto, ele não teria escapado, afinal os parlamentares não teriam coragem de liberar o colega — acusado de fraude — caso tivessem de prestar contas ao eleitor. Na Câmara Legislativa, o distrital Raad Massouh também será julgado em sigilo pelos colegas, mesmo com a Lei Orgânica do Distrito Federal estabelecendo o voto aberto. O argumento é que a decisão local, da Câmara Legislativa, difere das regras do Congresso. Uma tese fraca, segundo o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas bem que o deputados e senadores podiam ajudar.

No plenário

Na última quinta-feira, mais um texto prevendo o fim do voto secreto andou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Tal qual um jogo de conchas — aquele em que um esperto tenta enganar um cidadão incauto ora escondendo ora mostrando uma determinada peça —, pelo menos quatro propostas sobre o fim do voto secreto tramitam no Congresso. Como existem projetos tanto na Câmara como no Senado, ora os parlamentares avançam um texto ora atrasam outro. Nesse jogo, quem sempre perde é a transparência. Na próxima quarta-feira, o projeto aprovado na CCJ do Senado tem a promessa de entrar na pauta do plenário. Aprovado, muda a Constituição e acaba de uma vez por todas com o sigilo e a covardia parlamentar. É esperar para ver.

Vale repetir: apenas o eleitor deve ter o direito do sigilo do voto. Tal prerrogativa o protege de poderosos. Os políticos não precisam de tal proteção.

O que o Diabo faz, Deus não junta - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 26/10

Marina Silva é o Waldir Pires do Eduardo Campos. Explico aos mais jovens:


Depois de jurar fidelidade a Ulysses Guimarães, Waldir acabou disputando contra ele a indicação de candidato do PMDB à Presidência da República em 1989. Perdeu a convenção e renunciou a dois anos de mandato de governador da Bahia, conquistado às duras penas, para ser candidato a vice do PMDB.

Waldir, de sua parte, dizia: ministro de Sarney não sobe no meu palanque. A cada dia, uma crise. E, de crise em crise, com seguidores do Waldir sempre defendendo a inversão da chapa, o partido que tinha eleito 22 dos 23 governadores e 303 dos 559 parlamentares foi para a lanterna daquela eleição.
Waldir devia a Ulysses. No caso agora, não há dívidas. Ouso dizer, para ira dos "padrinhos" dessa aliança, que ela veio no susto. Sem articulação nenhuma.

A história é quase a mesma. Marina comemorou a aliança, enxotando Caiado


Tobogã

Fontes do mercado chamam a atenção para a capacidade da Dilma de endeusar e demonizar um auxiliar, sem rito de passagem, citando o caso de Bernardo Figueiredo, defenestrado do comando da Empresa de Planejamento e Logística.
Como ocorreu com Nelson Barbosa, que era o segundo da Fazenda, Figueiredo tinha mais credibilidade externa que o ministro.

Sem mordomias

Gleisi proibiu ministros de voltarem para casa, neste fim de semana, em jatinhos da FAB que estão a serviço do Mais Médicos da campanha. 

Cosme e Damião
Pela quantidade de municípios do estado a percorrer, chega a ser desperdício Serra e Aécio cumprirem juntos o mesmo roteiro de comícios por São Paulo.
A não ser que estejam viajando já como chapa.

Torcida

Tem gente botando fé na eleição do novo comando do PT, achando que, _ dependendo dos resultados, algumas candidaturas consideradas irreversíveis, como a do Lindbergh, poderão virar pó.

Pioneira

Por falar em eleição partidária, Manuela D"Ávila é a primeira gaúcha a assumir a presidência de um partido. No caso, a do PCdoB.

Boa ação

A exigência para que os planos de saúde assumam sem mais a ajuda do SUS o tratamento de quimioterapia domiciliar foi conquista da senadora Ana Amélia Lemos.

Boca molhada

É o que dá campanha antecipada. Ligo para assessor de pré-candidato e mal consigo ouvi-lo. Do outro lado da linha, o fundo musical de Bethânia cantando "Negue" estava muito alto.

O veado do Planalto

Em Brasília, todos os funcionários do Palácio querem saber quem é o "meu homem no Planalto"
Mas ninguém se ocupa de achar o veadinho de porcelana que sumiu misteriosamente do gabinete da Dilma.
Até hoje a presidente está inconsolável.
Foi presente dos patrícios búlgaros que vieram para a sua posse.

Alívio

E o meu homem no Planalto me conta que a Dilma passou o domingo nervòsa.
Só se acalmou quando soube do resultado do leilão de Libra:
— Melhor é impossível.

Sorte

Lembrada de que, se não fossem as denúncias do "Fantástico" nesta semana estaria hospedada e dançando no tradicional baile da Casa Branca, Dilma suspirou:
— De que mico eu escapei!