FOLHA DE SP - 24/10
Será que saberíamos produzir vidas com uma esperança diferente da de reproduzir a nós mesmos?
Li o novo livro de Andrew Solomon quando foi publicado nos EUA, no fim de 2012. Para explicar por que ele é, para mim, um dos ensaios mais importantes das últimas décadas, preferi esperar a tradução em português, "Longe da Árvore "" Pais, Filhos e a Busca da Identidade" (Companhia das Letras).
O título se refere ao ditado segundo o qual os frutos nunca caem longe da árvore que os produziu --ou seja, "tais pais, tais filhos". Só que, às vezes, nossos filhos nos parecem diferentes de nós: frutos caídos longe da árvore. De qualquer forma, a árvore quase sempre acha que seus frutos caíram mais longe do que ela gostaria. E, na nossa cultura, amar os filhos que são diferentes de nós não é nada óbvio.
A obra de Solomon é um extraordinário elogio da diversidade e da possibilidade de amar e respeitar a diferença, mesmo e sobretudo nos nossos filhos. Por acaso, li o livro de Solomon logo depois das tocantes e bonitas memórias de Diogo Mainardi ("A Queda", Record) sobre o amor por seu primogênito, Tito, diferente por ser portador de paralisia cerebral.
A leitura de "Longe da Árvore" ajudará qualquer pai a não transformar suas expectativas em condições de seu amor. Isso bastaria para que a obra de Solomon fosse imprescindível --para pais e para filhos. Mas há mais.
Retomo uma distinção que Solomon usa. Chamemos de identidades verticais as que são impostas ou transmitidas de geração em geração: elas são consequência da família, da tribo, da nação na qual nascemos e também das expectativas dos pais (quando elas moldarem os filhos). Chamemos de identidades horizontais as que inventamos ou às quais aderimos junto com nossos pares e coetâneos: elas são tentativas de definir quem somos por nossa conta, sem nada dever à árvore da qual caímos.
O paradoxo é o seguinte: a ideia crucial da modernidade é que as identidades verticais não constituem mais nosso destino (por exemplo, o fato de nascer nobre ou camponês não decide o lugar que o indivíduo ocupará na sociedade).
Os filhos, portanto, conhecem uma liberdade sem precedentes (viajam, mudam de país, de status, de profissão etc.), atrás do sonho moderno de "se realizarem" --e não do sonho antigo de repetirem seus antepassados. Mas acontece que esse sonho de "se realizarem" é também o dos pais, os quais, como qualquer um, só "aconteceram" pela metade (quando muito). Consequência e conflito: os filhos deveriam correr livres atrás de seus próprios sonhos, enquanto os pais esperam e pedem que os filhos vivam para contrabalançar as frustrações da vida de seus genitores.
Será que um dia seremos capazes de um amor não narcisista pelos nossos filhos? Será que seremos capazes de querer produzir vidas por uma razão diferente da de reproduzir a nós mesmos?
Se isso acontecer um dia, será possível dizer que "Longe da Árvore" foi o primeiro indicador de uma mudança que transformou nossa cultura para sempre.
Alguns poderiam se assustar diante do tamanho da obra de Solomon, que é monumental (mais de 800 páginas). Reassegurem-se: a leitura é fascinante.
O livro é construído assim: há uma introdução, "Filho", imperdível, e uma conclusão, "Pai" (de filho para pai é o caminho que o próprio Solomon percorreu na sua vida).
No meio, há dez capítulos (que não precisam ser lidos na ordem) sobre as "diferenças" de filhos que caíram longe da árvore e como os pais lidaram com elas (surdos, anões, síndrome de Down, autismo, esquizofrenia, deficiência, [crianças-]prodígios, [filhos de] estupro, crime, transgêneros). A essa lista é necessário acrescentar gay e disléxico, que são os traços que fizeram de Solomon um diferente.
Das centenas de entrevistas nas quais ele se baseia, Solomon sai com um certo otimismo sobre a possibilidade de os pais aprenderem a amar filhos diferentes deles.
Entendo seu otimismo assim: as diferenças extremas (como as que ele contempla) derrotam o narcisismo dos pais de antemão (esses filhos nunca serão uma continuação trivial de vocês) e portanto levam à possibilidade de amar os filhos como entes separados de nós.
No dia a dia corriqueiro da relação pai-filho, o narcisismo dos pais e dos adultos produz uma falsa e incurável infantolatria: parecemos adorar as crianças, mas mal as enxergamos --apenas amamos nelas a esperança de que elas realizem nossos entediantes sonhos frustrados.
quinta-feira, outubro 24, 2013
Os analistas da aliança - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 24/10
O vice Michel Temer e os senadores Jader Barbalho e Eduardo Braga criticaram, para a presidente Dilma, a postura do PT. Alegaram que os dois partidos são aliados nacionais, mas que os petistas a rejeitam nos estados. O alvo era a sucessão no Rio, onde o PMDB quer se manter no poder e sofre contestação do PT. O coordenador da reeleição, ministro Aloizio Mercadante, fez cara de paisagem.
O desencanto
Uma das maiores preocupações do Planalto e dos que estão planejando a campanha pela reeleição da presidente Dilma é a deterioração das relações com o empresariado brasileiro. Os donos do PIB não querem muita conversa com Dilma e o PT para 2014. Muitos deles estão migrando para a campanha neo-oposicionista do governador Eduardo Campos (PSB). Segundo ministros, que estão trabalhando por uma reaproximação, os empresários alegam que foram muito maltratados pelo atual governo e que não há mais nenhuma medida econômica compensatória que os faça repensar o apoio. O PMDB aumentou seu cacife por ter cinco políticos que representam o PIB.
O PMDB e o poder econômico
O Planalto conta com cinco filiados ao PMDB para reverter este quadro: Kátia Abreu, presidente da CNA; Clésio Andrade, presidente da CNT; Paulo Skaf, presidente da Fiesp; losué Gomes da Silva, da Coteminas; e, José Batista Jr, da Friboi.
"A Marina e o Aécio perderam. Uma deixou de ser candidata. Outro deixou de receber apoio. A presidente Dilma e o governador Eduardo Campos ganharam"
Gilberto Kassab
Presidente do PSD
Bênção do Planalto
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), o PT e o Planalto estimulam o senador Roberto Requião (PMDB), na foto, a concorrer ao governo do Paraná. Os petistas avaliam que, se a disputa ficar polarizada entre Gleisi e o governador, Beto Richa (PSDB), são grandes as possibilidades de a disputa ser resolvida no primeiro turno.
Rendição às luzes da ribalta
O Congresso está se rendendo ao Executivo. Depois de passar pela Câmara, o Senado está a caminho de aprovar o fim do voto secreto. Os que não são neófitos avaliam que o Congresso nunca mais dirá não ao apetite do inquilino do Planalto.
Com a palavra, Roberto Freire
O presidente do PPS afirma que "um setor minoritário é favorável à candidatura própria" ao Planalto. Explicou que não há definição sobre o apoio a Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB). Só está definido que será da oposição. Ele dá o rumo: "É possível criar um polo alternativo que viabilize um governo de centro-esquerda, como foi o do ex-presidente Itamar Franco"
Mal na fita
Irritação no Congresso com o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Para aprovar a MP do Mais Médicos, ele empenhou a palavra de que seria criado um plano de carreira dos médicos. Ontem, ao vetar, a presidente Dilma o desautorizou.
No sal
O senador Gim Argello continua vendendo o que não tem para entregar. Mas o PT, do governador Agnelo Queiroz (DF), não o quer na chapa concorrendo ao Senado. O PTB nacional tem pesquisas em que ele aparece em sétimo lugar.
o presidente do pros, Eurípedes lúnior, será recebido hoje pela presidente Dilma. Criado para apoiar o governo, o PROS tem pressa em se integrar à base.
O desencanto
Uma das maiores preocupações do Planalto e dos que estão planejando a campanha pela reeleição da presidente Dilma é a deterioração das relações com o empresariado brasileiro. Os donos do PIB não querem muita conversa com Dilma e o PT para 2014. Muitos deles estão migrando para a campanha neo-oposicionista do governador Eduardo Campos (PSB). Segundo ministros, que estão trabalhando por uma reaproximação, os empresários alegam que foram muito maltratados pelo atual governo e que não há mais nenhuma medida econômica compensatória que os faça repensar o apoio. O PMDB aumentou seu cacife por ter cinco políticos que representam o PIB.
O PMDB e o poder econômico
O Planalto conta com cinco filiados ao PMDB para reverter este quadro: Kátia Abreu, presidente da CNA; Clésio Andrade, presidente da CNT; Paulo Skaf, presidente da Fiesp; losué Gomes da Silva, da Coteminas; e, José Batista Jr, da Friboi.
"A Marina e o Aécio perderam. Uma deixou de ser candidata. Outro deixou de receber apoio. A presidente Dilma e o governador Eduardo Campos ganharam"
Gilberto Kassab
Presidente do PSD
Bênção do Planalto
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), o PT e o Planalto estimulam o senador Roberto Requião (PMDB), na foto, a concorrer ao governo do Paraná. Os petistas avaliam que, se a disputa ficar polarizada entre Gleisi e o governador, Beto Richa (PSDB), são grandes as possibilidades de a disputa ser resolvida no primeiro turno.
Rendição às luzes da ribalta
O Congresso está se rendendo ao Executivo. Depois de passar pela Câmara, o Senado está a caminho de aprovar o fim do voto secreto. Os que não são neófitos avaliam que o Congresso nunca mais dirá não ao apetite do inquilino do Planalto.
Com a palavra, Roberto Freire
O presidente do PPS afirma que "um setor minoritário é favorável à candidatura própria" ao Planalto. Explicou que não há definição sobre o apoio a Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB). Só está definido que será da oposição. Ele dá o rumo: "É possível criar um polo alternativo que viabilize um governo de centro-esquerda, como foi o do ex-presidente Itamar Franco"
Mal na fita
Irritação no Congresso com o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Para aprovar a MP do Mais Médicos, ele empenhou a palavra de que seria criado um plano de carreira dos médicos. Ontem, ao vetar, a presidente Dilma o desautorizou.
No sal
O senador Gim Argello continua vendendo o que não tem para entregar. Mas o PT, do governador Agnelo Queiroz (DF), não o quer na chapa concorrendo ao Senado. O PTB nacional tem pesquisas em que ele aparece em sétimo lugar.
o presidente do pros, Eurípedes lúnior, será recebido hoje pela presidente Dilma. Criado para apoiar o governo, o PROS tem pressa em se integrar à base.
Temporada festiva - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 24/10
Após a cerimônia de sanção do Mais Médicos, o Planalto prepara um superevento para comemorar os dez anos do Bolsa Família, com Dilma Rousseff e Lula. A festa está prevista para o dia 30, em Brasília. O projeto de transferência de renda também é destaque no programa de TV do PT que vai ao ar hoje. A propaganda é voltada para a base social petista, com a participação de pessoas comuns. Além da presidente e do antecessor, governadores do partido também aparecem.
No trilho Dilma viaja amanhã a São Paulo para anunciar investimentos de R$ 5,4 bilhões do governo federal para obras em três linhas e 20 estações de trem e metrô. Em julho, a presidente criticou o avanço da malha de transporte sobre trilhos do Estado, governado pelo PSDB.
Partida Bernardo Figueiredo deve deixar o comando da Empresa de Planejamento e Logística até o fim do mês. Ele era um dos conselheiros mais próximos de Dilma, mas se desgastou com o resultado ruim dos leilões de rodovias e atritos com ministros.
DNA 1 Preocupados com a saída de petistas na reforma ministerial, emissários do Planalto já procuram um representante "de raiz" da sigla para ocupar uma das cadeiras que ficarão vagas na Esplanada antes das eleições.
DNA 2 A ideia é indicar alguém afinado com a cúpula partidária, já que ministros como Aloizio Mercadante (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça) não são considerados da cota petista. Um dos nomes em estudo é Ricardo Berzoini (SP), que foi ministro no governo Lula.
Casamento aberto Dirigentes da Rede discutem a possibilidade de manter a neutralidade ou até mesmo apoiar adversários de candidatos apoiados pelo PSB nos Estados em que não houver consenso entre os grupos de Marina Silva e Eduardo Campos nas eleições de 2014.
Gêmeas Provável adversário de Dilma, Aécio Neves (PSDB) provoca, acerca das idas frequentes da petista a Minas Gerais, sua base: "A candidata Dilma poderia aproveitar essas visitas e dar uma carona à presidente Dilma, para que as questões fundamentais do Estado sejam enfrentadas com seriedade".
Fora... O TCM (Tribunal de Contas do Município) julgou irregular a execução de um contrato de prestação de serviços de ônibus na zona leste de São Paulo em 2009 e 2010. Segundo o tribunal, o Consórcio Leste 4 deu destinação "fraudulenta" ao dinheiro pago pela Prefeitura.
... da planilha O tribunal relata que trólebus comprados para operação no município "teriam sido adquiridos por valor superior àqueles praticados pelo mercado".
Outro lado O advogado do consórcio, Paulo Iasz de Morais, diz que vai recorrer e afirma que as conclusões do TCM "contrariam os fatos".
Tudo junto A gestão Fernando Haddad (PT) articula a criação de um bloco governista de nove vereadores na Câmara Municipal, com Pros, PP, PRB, PHS e PC do B. Seria a segunda bancada da Casa, empatada com o PSDB.
Mundo cão Convidadas da CPI da Violência contra a Mulher da Assembleia de São Paulo ficaram irritadas com o cancelamento de um sessão ontem. O presidente da comissão, Fernando Capez (PSDB), foi visitar beagles resgatados do Instituto Royal.
Divisão celular Luciana Genro organiza ato hoje no Rio para angariar apoio do PSOL a sua pré-candidatura à Presidência em 2014. Ela busca sustentação da ala "independente" da sigla para disputar a indicação com o senador Randolfe Rodrigues.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O criador da 'Martaxa' busca o autoflagelo: vai ganhar o apelido de 'Fernando Hataxa', devido ao aumento abusivo do IPTU."
DO DEPUTADO ESTADUAL ORLANDO MORANDO (PSDB-SP), sobre o apelido dado a Marta Suplicy (PT) quando Fernando Haddad trabalhou em sua gestão.
contraponto
Torcida à mineira
No dia seguinte à vitória do Cruzeiro sobre o Fluminense por 1 a 0, na semana passada, os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Antônio Andrade (Agricultura) trocavam impressões sobre o jogo:
--Foi disputado, não? --perguntou Pimentel.
--Muito... --respondeu Toninho.
O diálogo seguiu cheio de melindres até que os dois mineiros, que se conhecem há anos, descobriram que ambos eram torcedores do Cruzeiro, líder do Campeonato Brasileiro. A conversa provocou risadas de Dilma Rousseff, torcedora do Atlético-MG, a quem Toninho contou a história.
Após a cerimônia de sanção do Mais Médicos, o Planalto prepara um superevento para comemorar os dez anos do Bolsa Família, com Dilma Rousseff e Lula. A festa está prevista para o dia 30, em Brasília. O projeto de transferência de renda também é destaque no programa de TV do PT que vai ao ar hoje. A propaganda é voltada para a base social petista, com a participação de pessoas comuns. Além da presidente e do antecessor, governadores do partido também aparecem.
No trilho Dilma viaja amanhã a São Paulo para anunciar investimentos de R$ 5,4 bilhões do governo federal para obras em três linhas e 20 estações de trem e metrô. Em julho, a presidente criticou o avanço da malha de transporte sobre trilhos do Estado, governado pelo PSDB.
Partida Bernardo Figueiredo deve deixar o comando da Empresa de Planejamento e Logística até o fim do mês. Ele era um dos conselheiros mais próximos de Dilma, mas se desgastou com o resultado ruim dos leilões de rodovias e atritos com ministros.
DNA 1 Preocupados com a saída de petistas na reforma ministerial, emissários do Planalto já procuram um representante "de raiz" da sigla para ocupar uma das cadeiras que ficarão vagas na Esplanada antes das eleições.
DNA 2 A ideia é indicar alguém afinado com a cúpula partidária, já que ministros como Aloizio Mercadante (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça) não são considerados da cota petista. Um dos nomes em estudo é Ricardo Berzoini (SP), que foi ministro no governo Lula.
Casamento aberto Dirigentes da Rede discutem a possibilidade de manter a neutralidade ou até mesmo apoiar adversários de candidatos apoiados pelo PSB nos Estados em que não houver consenso entre os grupos de Marina Silva e Eduardo Campos nas eleições de 2014.
Gêmeas Provável adversário de Dilma, Aécio Neves (PSDB) provoca, acerca das idas frequentes da petista a Minas Gerais, sua base: "A candidata Dilma poderia aproveitar essas visitas e dar uma carona à presidente Dilma, para que as questões fundamentais do Estado sejam enfrentadas com seriedade".
Fora... O TCM (Tribunal de Contas do Município) julgou irregular a execução de um contrato de prestação de serviços de ônibus na zona leste de São Paulo em 2009 e 2010. Segundo o tribunal, o Consórcio Leste 4 deu destinação "fraudulenta" ao dinheiro pago pela Prefeitura.
... da planilha O tribunal relata que trólebus comprados para operação no município "teriam sido adquiridos por valor superior àqueles praticados pelo mercado".
Outro lado O advogado do consórcio, Paulo Iasz de Morais, diz que vai recorrer e afirma que as conclusões do TCM "contrariam os fatos".
Tudo junto A gestão Fernando Haddad (PT) articula a criação de um bloco governista de nove vereadores na Câmara Municipal, com Pros, PP, PRB, PHS e PC do B. Seria a segunda bancada da Casa, empatada com o PSDB.
Mundo cão Convidadas da CPI da Violência contra a Mulher da Assembleia de São Paulo ficaram irritadas com o cancelamento de um sessão ontem. O presidente da comissão, Fernando Capez (PSDB), foi visitar beagles resgatados do Instituto Royal.
Divisão celular Luciana Genro organiza ato hoje no Rio para angariar apoio do PSOL a sua pré-candidatura à Presidência em 2014. Ela busca sustentação da ala "independente" da sigla para disputar a indicação com o senador Randolfe Rodrigues.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O criador da 'Martaxa' busca o autoflagelo: vai ganhar o apelido de 'Fernando Hataxa', devido ao aumento abusivo do IPTU."
DO DEPUTADO ESTADUAL ORLANDO MORANDO (PSDB-SP), sobre o apelido dado a Marta Suplicy (PT) quando Fernando Haddad trabalhou em sua gestão.
contraponto
Torcida à mineira
No dia seguinte à vitória do Cruzeiro sobre o Fluminense por 1 a 0, na semana passada, os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Antônio Andrade (Agricultura) trocavam impressões sobre o jogo:
--Foi disputado, não? --perguntou Pimentel.
--Muito... --respondeu Toninho.
O diálogo seguiu cheio de melindres até que os dois mineiros, que se conhecem há anos, descobriram que ambos eram torcedores do Cruzeiro, líder do Campeonato Brasileiro. A conversa provocou risadas de Dilma Rousseff, torcedora do Atlético-MG, a quem Toninho contou a história.
Mas no futuro... - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 24/10
O Brasil se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando?
Se no Brasil o governo Dilma deposita enormes expectativas no petróleo, na Inglaterra o governo de David Cameron aposta suas fichas na energia nuclear. A presidente, seus ministros e correligionários definiram a licitação de Libra como o início de uma nova riqueza, o petróleo sendo transformado em valores como educação e saúde, mas também gerando uma nova indústria naval e petrolífera.
O primeiro-ministro Cameron anunciou como um “novo amanhecer” o projeto de construção de uma usina nuclear — a primeira em 30 anos —, o caminho para garantir o fornecimento de energia elétrica, hoje em risco, e a preços menores do que os atuais, muito elevados.
Nos dois casos, os empreendimentos locais contam com forte participação estrangeira. Na Inglaterra, a usina será construída pela estatal francesa EDF, em associação com outra estatal, a Chinese General Nuclear Power Group. Sim, outra chinesa. No Brasil, a custosa e difícil exploração do campo de Libra será tocada por uma francesa, a Total, uma anglo-holandesa, a Shell, e mais duas estatais chinesas, em consórcio com a Petrobras.
Os dois governos garantem que, apesar da participação majoritária de companhias estrangeiras, haverá muito conteúdo local. Cameron diz que empresas inglesas, e seus trabalhadores, fornecerão boa parte dos componentes e serviços para a usina que, se tudo der certo, será a primeira de uma nova série. (A Inglaterra foi o primeiro país a colocar em funcionamento uma usina nuclear civil — mas não se constrói uma nova há mais de 30 anos). No Brasil, a presidente Dilma parece bem mais ambiciosa. O petróleo do pré-sal vai “criar” uma nova industria local, além de garantir boas escolas e hospitais.
Nos dois casos, os governos se baseiam em contas e estimativas que vão longe, para além de 35 anos, mas parecem muito seguros. Na Inglaterra, Cameron detalha números de criação de empregos — 25 mil só na obra — e de tarifas. No Brasil, o governo detalha, por exemplo, o dinheiro que será destinado à educação, via royalties: nada menos de R$ 638 bilhões ao longo de 35 anos.
Como se percebe, energia é uma preocupação global e será atendida globalmente, por associações de empresas de diversos países, estatais e particulares. E parece que os chineses estão no amanhecer de muita gente. De fornecedora de produtos baratos, a China vai ocupando o papel de grande potência, já fortemente atuante em energia, de qualquer tipo. Suas companhias estão no petróleo brasileiro (e latino-americano), forçam a entrada na energia nuclear na Inglaterra, onde pretendem ganhar o certificado que abra as portas da Europa, são dominantes no mercado europeu e global de painéis para energia solar, dominam a fabricação de turbinas para captação da energia dos ventos, sabem fazer hidrelétricas há muito tempo, e por aí vão.
Um fato do mundo de hoje e do futuro: a atuação global dos chineses — que alguns já descrevem como o novo imperialismo. Será?
A verdade é que isso depende de muitos arranjos econômicos e políticos ainda em andamento no mundo todo. E de como cada país se colocará.
Na Inglaterra, por exemplo, há um grande debate estratégico: será correto retomar as usinas nucleares? Sim, diz Cameron, para manter a Inglaterra como um dos países “mais verdes do mundo”. As regras ambientais por lá são tão rigorosas que, no momento, criam dois problemas graves: falta de investimento e tarifas caras. Cameron acha que pode destravar isso com a volta da energia gerada por usinas nucleares, claro, consideradas superlimpas e seguras, nas versões mais modernas.
Mas o debate segue — por que não as turbinas eólicas no mar? — e tem de passar pelos órgãos de controle europeu, o que indica que ainda há muita conversa pela frente.
Já no Brasil, o governo Dilma se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando? Sim, a pergunta vale porque o mundo todo está pesquisando e trabalhando sobre formas variadas de geração de energia. Sem contar as dificuldades tecnológicas da exploração do pré-sal.
Acrescentem aí o componente geopolítico e mais as surpresas que a historia das inovações sempre apresenta, e se verá como fica difícil estimar preços, segurança de fornecimento e qualidade ambiental quando se pensa na energia daqui a tantos anos.
Claro que os governos devem se ocupar de lançar as bases para o futuro. Ocorre que muitos, ao enfrentarem dificuldades na gestão do presente, se atiram para o futuro, que aceita qualquer projeção.
Para dar só dois exemplos. Na Inglaterra: as tarifas de energia elétrica estão em alta neste mês e subindo mais que a inflação. E Cameron promete preços menores lá na frente. No Brasil, já se gasta muito dinheiro na educação, muito mesmo, e os resultados são ruins. Ah! Mas quando vier o dinheiro do pré-sal...
O Brasil se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando?
Se no Brasil o governo Dilma deposita enormes expectativas no petróleo, na Inglaterra o governo de David Cameron aposta suas fichas na energia nuclear. A presidente, seus ministros e correligionários definiram a licitação de Libra como o início de uma nova riqueza, o petróleo sendo transformado em valores como educação e saúde, mas também gerando uma nova indústria naval e petrolífera.
O primeiro-ministro Cameron anunciou como um “novo amanhecer” o projeto de construção de uma usina nuclear — a primeira em 30 anos —, o caminho para garantir o fornecimento de energia elétrica, hoje em risco, e a preços menores do que os atuais, muito elevados.
Nos dois casos, os empreendimentos locais contam com forte participação estrangeira. Na Inglaterra, a usina será construída pela estatal francesa EDF, em associação com outra estatal, a Chinese General Nuclear Power Group. Sim, outra chinesa. No Brasil, a custosa e difícil exploração do campo de Libra será tocada por uma francesa, a Total, uma anglo-holandesa, a Shell, e mais duas estatais chinesas, em consórcio com a Petrobras.
Os dois governos garantem que, apesar da participação majoritária de companhias estrangeiras, haverá muito conteúdo local. Cameron diz que empresas inglesas, e seus trabalhadores, fornecerão boa parte dos componentes e serviços para a usina que, se tudo der certo, será a primeira de uma nova série. (A Inglaterra foi o primeiro país a colocar em funcionamento uma usina nuclear civil — mas não se constrói uma nova há mais de 30 anos). No Brasil, a presidente Dilma parece bem mais ambiciosa. O petróleo do pré-sal vai “criar” uma nova industria local, além de garantir boas escolas e hospitais.
Nos dois casos, os governos se baseiam em contas e estimativas que vão longe, para além de 35 anos, mas parecem muito seguros. Na Inglaterra, Cameron detalha números de criação de empregos — 25 mil só na obra — e de tarifas. No Brasil, o governo detalha, por exemplo, o dinheiro que será destinado à educação, via royalties: nada menos de R$ 638 bilhões ao longo de 35 anos.
Como se percebe, energia é uma preocupação global e será atendida globalmente, por associações de empresas de diversos países, estatais e particulares. E parece que os chineses estão no amanhecer de muita gente. De fornecedora de produtos baratos, a China vai ocupando o papel de grande potência, já fortemente atuante em energia, de qualquer tipo. Suas companhias estão no petróleo brasileiro (e latino-americano), forçam a entrada na energia nuclear na Inglaterra, onde pretendem ganhar o certificado que abra as portas da Europa, são dominantes no mercado europeu e global de painéis para energia solar, dominam a fabricação de turbinas para captação da energia dos ventos, sabem fazer hidrelétricas há muito tempo, e por aí vão.
Um fato do mundo de hoje e do futuro: a atuação global dos chineses — que alguns já descrevem como o novo imperialismo. Será?
A verdade é que isso depende de muitos arranjos econômicos e políticos ainda em andamento no mundo todo. E de como cada país se colocará.
Na Inglaterra, por exemplo, há um grande debate estratégico: será correto retomar as usinas nucleares? Sim, diz Cameron, para manter a Inglaterra como um dos países “mais verdes do mundo”. As regras ambientais por lá são tão rigorosas que, no momento, criam dois problemas graves: falta de investimento e tarifas caras. Cameron acha que pode destravar isso com a volta da energia gerada por usinas nucleares, claro, consideradas superlimpas e seguras, nas versões mais modernas.
Mas o debate segue — por que não as turbinas eólicas no mar? — e tem de passar pelos órgãos de controle europeu, o que indica que ainda há muita conversa pela frente.
Já no Brasil, o governo Dilma se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando? Sim, a pergunta vale porque o mundo todo está pesquisando e trabalhando sobre formas variadas de geração de energia. Sem contar as dificuldades tecnológicas da exploração do pré-sal.
Acrescentem aí o componente geopolítico e mais as surpresas que a historia das inovações sempre apresenta, e se verá como fica difícil estimar preços, segurança de fornecimento e qualidade ambiental quando se pensa na energia daqui a tantos anos.
Claro que os governos devem se ocupar de lançar as bases para o futuro. Ocorre que muitos, ao enfrentarem dificuldades na gestão do presente, se atiram para o futuro, que aceita qualquer projeção.
Para dar só dois exemplos. Na Inglaterra: as tarifas de energia elétrica estão em alta neste mês e subindo mais que a inflação. E Cameron promete preços menores lá na frente. No Brasil, já se gasta muito dinheiro na educação, muito mesmo, e os resultados são ruins. Ah! Mas quando vier o dinheiro do pré-sal...
Urubus do Galeão - PAULA CESARINO COSTA
FOLHA DE SP - 24/10
RIO DE JANEIRO - Chegar ou sair do Rio de avião parece uma viagem no túnel do tempo. Não para o futuro, claro, do qual o Aeroporto Internacional do Galeão só traz lembrança quando se olha para o teto coberto de laminados prateados --iguais àqueles usados em filmes de ficção científica de quinta categoria.
É uma viagem ao passado. O que mais impressiona no Galeão atual é sua semelhança com o laboratório do Frankenstein. Fios desencapados, canos aparentes, massa cinzenta deslocada de lugar --não é o cérebro de ninguém, mas compensados tenebrosos tentando ocultar a bagunça de uma obra que se arrasta ainda mais lentamente que o processo de concessão do aeroporto à iniciativa privada.
O governo Dilma Rousseff foi lento e inseguro. Marcou data, depois adiou. Titubeou no formato, mudou as regras. Agora promete efetivá-la em 22 de novembro. O ministro Moreira Franco (Aviação Civil) disse que o modelo de concessão significará um "sacrifício" para o país, porque o Tesouro terá de capitalizar a Infraero.
Sacrifício quem passa são os passageiros. Entre malas que nunca chegam, escadas quebradas, banheiros interditados, pouca informação e a luta por um táxi ou ônibus.
A revitalização do Galeão é uma novela que começou em 2008. Inclui a ampliação dos dois terminais e obras nas pistas e pátios. Segundo a Infraero, até setembro último foram executadas 36% das obras do primeiro terminal e 44% das do segundo, mas serão entregues em abril de 2014, ou seja, antes da Copa. Será?
Inaugurado em 1977, o Galeão já foi o mais importante aeroporto do país. Obcecado por sua privatização, o governador Sérgio Cabral forjou duras e precisas definições: "anticartão de visitas do Rio", "uma vergonha", "pior do que uma rodoviária de quinta categoria". Está certo. Talvez o Galeão com urubus que ameaçam os voos seja a única coisa mais impopular do que Cabral no Rio.
RIO DE JANEIRO - Chegar ou sair do Rio de avião parece uma viagem no túnel do tempo. Não para o futuro, claro, do qual o Aeroporto Internacional do Galeão só traz lembrança quando se olha para o teto coberto de laminados prateados --iguais àqueles usados em filmes de ficção científica de quinta categoria.
É uma viagem ao passado. O que mais impressiona no Galeão atual é sua semelhança com o laboratório do Frankenstein. Fios desencapados, canos aparentes, massa cinzenta deslocada de lugar --não é o cérebro de ninguém, mas compensados tenebrosos tentando ocultar a bagunça de uma obra que se arrasta ainda mais lentamente que o processo de concessão do aeroporto à iniciativa privada.
O governo Dilma Rousseff foi lento e inseguro. Marcou data, depois adiou. Titubeou no formato, mudou as regras. Agora promete efetivá-la em 22 de novembro. O ministro Moreira Franco (Aviação Civil) disse que o modelo de concessão significará um "sacrifício" para o país, porque o Tesouro terá de capitalizar a Infraero.
Sacrifício quem passa são os passageiros. Entre malas que nunca chegam, escadas quebradas, banheiros interditados, pouca informação e a luta por um táxi ou ônibus.
A revitalização do Galeão é uma novela que começou em 2008. Inclui a ampliação dos dois terminais e obras nas pistas e pátios. Segundo a Infraero, até setembro último foram executadas 36% das obras do primeiro terminal e 44% das do segundo, mas serão entregues em abril de 2014, ou seja, antes da Copa. Será?
Inaugurado em 1977, o Galeão já foi o mais importante aeroporto do país. Obcecado por sua privatização, o governador Sérgio Cabral forjou duras e precisas definições: "anticartão de visitas do Rio", "uma vergonha", "pior do que uma rodoviária de quinta categoria". Está certo. Talvez o Galeão com urubus que ameaçam os voos seja a única coisa mais impopular do que Cabral no Rio.
O Palácio e os ‘movimentos sociais’ - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 24/10
O corporativismo varguista almejava a harmonia social. No mecanismo de regulação do lulopetismo, a desordem é um componente da ordem
“É um absurdo vender isso. A sociedade não participou do debate sobre o tema. Nossa tentativa é sensibilizar o governo para negociar e discutir.” As sentenças, de Francisco José de Oliveira, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), referiam-se ao leilão de Libra, na faixa do pré-sal. Mas a lógica subjacente a elas, expressa na segunda frase, nada tem de singular. Nas duas últimas décadas, os “movimentos sociais” repetem aborrecidamente a ladainha sobre “a sociedade” excluída do “debate”, enquanto invadem órgãos públicos em nome da “participação”. Vivemos nos tempos do supercorporativismo, um ácido corrosivo derramado sobre o material de nossa democracia.
O Brasil moderno nasceu, pelo fórceps de Getúlio Vargas, sob o signo do corporativismo. A “democracia social” do Estado Novo cerceava os direitos do indivíduos, subordinando-os a direitos coletivos. Na definição do historiador Francisco Martinho, “o cidadão nesse novo modelo de organização do Estado era identificado através de seu trabalho e da posse de direitos sociais e não mais por sua condição de indivíduo e posse de direitos civis ou políticos” (“O corporativismo em português”, Civilização Brasileira, 2007, p. 56). Inspirado no salazarismo português e no fascismo italiano, o corporativismo varguista organizou a sociedade como uma família tripartida: governo, sindicatos patronais e sindicatos de trabalhadores. O supercorporativismo, uma obra do lulopetismo, infla o balão do corporativismo original até limites extremos.
Um traço forte, comum a ambos, é o desprezo pelos direitos civis e políticos, que são direitos individuais associados à ordem da democracia representativa. A principal diferença encontra-se no atributo nuclear da cidadania: o cidadão varguista definia-se pelo trabalho; o cidadão lulopetista define-se pela militância organizada. No Estado Novo, a carteira de trabalho funcionava como atestado de inserção na ordem política nacional. Sob o lulopetismo, o documento relevante é a prova de filiação a um “movimento social”. Na invasão do Ministério das Minas e Energia, junto com a FUP, estavam líderes do Movimento dos Sem Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) — que, em tese, não têm interesse no tema da exploração do pré-sal. A sociedade, segundo o supercorporativismo, é a soma das entidades sindicais e dos “movimentos sociais”. É por isso que, sem o consenso dessas corporações da nova ordem, nenhum assunto jamais estará suficientemente “debatido”.
Lula nasceu no berço do sindicalismo. O PT estabeleceu, na origem, íntimas relações com os “movimentos sociais”. Nas democracias, a sociedade civil organiza-se para exercer pressão legítima sobre os poderes de Estado. O lulopetismo, porém, borrou a fronteira entre sociedade civil e Estado assim que chegou ao governo: sua reforma da CLT estendeu a partilha do imposto sindical varguista às centrais sindicais, enquanto os “movimentos sociais” passaram a receber financiamento público direto ou indireto. O cordão umbilical que liga o poder de Estado aos “movimentos sociais” é a Secretaria Geral da Presidência, um ministério estratégico chefiado por Luiz Dulci, no governo Lula, e por Gilberto Carvalho, no governo Dilma Rousseff. Os dois engenheiros do edifício do supercorporativismo pertencem ao círculo de fiéis incondicionais de Lula.
O PT sempre enxergou os “movimentos sociais” como tentáculos partidários. Os líderes mais destacados desses movimentos são militantes petistas. O financiamento público elevou a conexão a um novo patamar: na última década, eles se converteram em satélites do Palácio. Os dirigentes do MST, do MAB e de inúmeros movimentos similares ajustam suas agendas políticas às do Partido e cerram fileiras com o lulopetismo nos embates eleitorais. Durante a odisseia do mensalão, eles desceram às trincheiras enlameadas para proteger José Dirceu et caterva. Contudo, na dialética do supercorporativismo, os “movimentos sociais” também precisam promover mobilizações contra o governo, sob pena de se condenarem à irrelevância.
O corporativismo varguista almejava a harmonia social. No mecanismo de regulação do lulopetismo, a desordem é um componente da ordem. Os “movimentos sociais” palacianos produzem fricções cíclicas, que são reabsorvidas pelo recurso a negociações simbólicas e compensações materiais. A extensão inevitável do “direito à desordem” a movimentos controlados por facções dissidentes (PSOL, PSTU) provoca perturbações suplementares, mas, paradoxalmente, robustece os alicerces lógicos do supercorporativismo. Os invasores do Ministério de Minas e Energia são obrigados a confirmar periodicamente seu estatuto de interlocutores privilegiados do poder por meio de ações de contestação limitada da ordem.
A democracia representativa ancora-se no princípio da soberania popular, que é exercida por meio da delegação de poder, em eleições gerais. O sistema político-partidário brasileiro desmoraliza a representação para assegurar privilégios especiais a uma elite política de natureza patrimonialista. O lulopetismo, um sócio majoritário desse sistema, aproveita-se de seus desvios para erguer o edifício do supercorporativismo como esfera paralela de negociação política. Na dinâmica extraparlamentar do supercorporativismo, o Partido pode ignorar as demandas dos cidadãos comuns, dialogando exclusivamente com a casta mais ou menos amestrada de dirigentes dos “movimentos sociais”. Sabe com quem está falando? Você só é alguém se possuir a carteirinha de um “movimento social” — eis a mensagem veiculada pelo Palácio.
Nas “jornadas de junho”, manifestações multitudinárias falaram em “saúde” e “educação”, reivindicando direitos universais estranhos à lógica do supercorporativismo. Por isso, nervoso e assustado, o Partido as rotulou como uma “reação da direita”. Ah, bom...
O corporativismo varguista almejava a harmonia social. No mecanismo de regulação do lulopetismo, a desordem é um componente da ordem
“É um absurdo vender isso. A sociedade não participou do debate sobre o tema. Nossa tentativa é sensibilizar o governo para negociar e discutir.” As sentenças, de Francisco José de Oliveira, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), referiam-se ao leilão de Libra, na faixa do pré-sal. Mas a lógica subjacente a elas, expressa na segunda frase, nada tem de singular. Nas duas últimas décadas, os “movimentos sociais” repetem aborrecidamente a ladainha sobre “a sociedade” excluída do “debate”, enquanto invadem órgãos públicos em nome da “participação”. Vivemos nos tempos do supercorporativismo, um ácido corrosivo derramado sobre o material de nossa democracia.
O Brasil moderno nasceu, pelo fórceps de Getúlio Vargas, sob o signo do corporativismo. A “democracia social” do Estado Novo cerceava os direitos do indivíduos, subordinando-os a direitos coletivos. Na definição do historiador Francisco Martinho, “o cidadão nesse novo modelo de organização do Estado era identificado através de seu trabalho e da posse de direitos sociais e não mais por sua condição de indivíduo e posse de direitos civis ou políticos” (“O corporativismo em português”, Civilização Brasileira, 2007, p. 56). Inspirado no salazarismo português e no fascismo italiano, o corporativismo varguista organizou a sociedade como uma família tripartida: governo, sindicatos patronais e sindicatos de trabalhadores. O supercorporativismo, uma obra do lulopetismo, infla o balão do corporativismo original até limites extremos.
Um traço forte, comum a ambos, é o desprezo pelos direitos civis e políticos, que são direitos individuais associados à ordem da democracia representativa. A principal diferença encontra-se no atributo nuclear da cidadania: o cidadão varguista definia-se pelo trabalho; o cidadão lulopetista define-se pela militância organizada. No Estado Novo, a carteira de trabalho funcionava como atestado de inserção na ordem política nacional. Sob o lulopetismo, o documento relevante é a prova de filiação a um “movimento social”. Na invasão do Ministério das Minas e Energia, junto com a FUP, estavam líderes do Movimento dos Sem Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) — que, em tese, não têm interesse no tema da exploração do pré-sal. A sociedade, segundo o supercorporativismo, é a soma das entidades sindicais e dos “movimentos sociais”. É por isso que, sem o consenso dessas corporações da nova ordem, nenhum assunto jamais estará suficientemente “debatido”.
Lula nasceu no berço do sindicalismo. O PT estabeleceu, na origem, íntimas relações com os “movimentos sociais”. Nas democracias, a sociedade civil organiza-se para exercer pressão legítima sobre os poderes de Estado. O lulopetismo, porém, borrou a fronteira entre sociedade civil e Estado assim que chegou ao governo: sua reforma da CLT estendeu a partilha do imposto sindical varguista às centrais sindicais, enquanto os “movimentos sociais” passaram a receber financiamento público direto ou indireto. O cordão umbilical que liga o poder de Estado aos “movimentos sociais” é a Secretaria Geral da Presidência, um ministério estratégico chefiado por Luiz Dulci, no governo Lula, e por Gilberto Carvalho, no governo Dilma Rousseff. Os dois engenheiros do edifício do supercorporativismo pertencem ao círculo de fiéis incondicionais de Lula.
O PT sempre enxergou os “movimentos sociais” como tentáculos partidários. Os líderes mais destacados desses movimentos são militantes petistas. O financiamento público elevou a conexão a um novo patamar: na última década, eles se converteram em satélites do Palácio. Os dirigentes do MST, do MAB e de inúmeros movimentos similares ajustam suas agendas políticas às do Partido e cerram fileiras com o lulopetismo nos embates eleitorais. Durante a odisseia do mensalão, eles desceram às trincheiras enlameadas para proteger José Dirceu et caterva. Contudo, na dialética do supercorporativismo, os “movimentos sociais” também precisam promover mobilizações contra o governo, sob pena de se condenarem à irrelevância.
O corporativismo varguista almejava a harmonia social. No mecanismo de regulação do lulopetismo, a desordem é um componente da ordem. Os “movimentos sociais” palacianos produzem fricções cíclicas, que são reabsorvidas pelo recurso a negociações simbólicas e compensações materiais. A extensão inevitável do “direito à desordem” a movimentos controlados por facções dissidentes (PSOL, PSTU) provoca perturbações suplementares, mas, paradoxalmente, robustece os alicerces lógicos do supercorporativismo. Os invasores do Ministério de Minas e Energia são obrigados a confirmar periodicamente seu estatuto de interlocutores privilegiados do poder por meio de ações de contestação limitada da ordem.
A democracia representativa ancora-se no princípio da soberania popular, que é exercida por meio da delegação de poder, em eleições gerais. O sistema político-partidário brasileiro desmoraliza a representação para assegurar privilégios especiais a uma elite política de natureza patrimonialista. O lulopetismo, um sócio majoritário desse sistema, aproveita-se de seus desvios para erguer o edifício do supercorporativismo como esfera paralela de negociação política. Na dinâmica extraparlamentar do supercorporativismo, o Partido pode ignorar as demandas dos cidadãos comuns, dialogando exclusivamente com a casta mais ou menos amestrada de dirigentes dos “movimentos sociais”. Sabe com quem está falando? Você só é alguém se possuir a carteirinha de um “movimento social” — eis a mensagem veiculada pelo Palácio.
Nas “jornadas de junho”, manifestações multitudinárias falaram em “saúde” e “educação”, reivindicando direitos universais estranhos à lógica do supercorporativismo. Por isso, nervoso e assustado, o Partido as rotulou como uma “reação da direita”. Ah, bom...
Parece piada - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 24/10
O nome conta a história pela metade: minirreforma. As mudanças nas regras eleitorais propostas pela Câmara dos Deputados e ainda a serem examinadas pelo Senado são realmente mínimas, mas de reforma não têm nada.
Seria um caso típico de irrelevância aguda não fosse, sobretudo, um acinte o fato de suas excelências providenciaram alterações que transitam entre o superficial e o mais deslavado corporativismo.
O modelo atual está aos pandarecos, como concordam todos, representantes e representados. Diante da falência escancarada, da insatisfação explícita da sociedade, o que fazem os parlamentares?
Aprovam uma serie de modificações das quais políticos e partidos serão os únicos beneficiados e acrescentam a elas algumas perfumarias, a título de disfarce que não disfarça coisa alguma.
À falta de disposição de enfrentar questões realmente importantes e que alcancem a esfera das relações entre eleitos e eleitores, os parlamentares decidiram propor um parcelamento de dívidas eleitorais com prazo a perder de vista e mais liberdade para que possam manipular os recursos do fundo partidário como bem lhes convier.
Se aprovada pelo Senado, a lei permitirá que as multas sejam pagas em até 60 vezes, sendo que cada parcela não poderá ultrapassar 10% dos rendimentos do devedor. Fosse pouco, passa a vigorar a seguinte regra: os repasses do dinheiro do fundo não podem ser suspensos no segundo semestre de anos eleitorais. Em nenhuma hipótese, o que inclui casos em que houver irregularidades.
Junto a isso, o projeto reduz o poder de fiscalização da Justiça Eleitoral e aumenta autonomia dos partidos para usar as verbas.
Mas, preocupados que estão com a poluição visual das cidades e empenhados na redução dos gastos, os deputados propõem que se proíbam a afixação de faixas, cartazes, bandeiras e pinturas em espaços públicos ou particulares. Ah, também não podem ser usados bonecos como peças de campanha.
E assim nossos parlamentares dão por respondidas as demandas da sociedade no que tange ao aperfeiçoamento do sistema político, partidário e eleitoral. Parece piada, mas lamentavelmente não é.
Colateral. A antecipação da campanha eleitoral definitivamente não foi uma boa jogada para o governo. Deflagrada em fevereiro, quando o ex-presidente Lula afirmou que o projeto do PT era a reeleição de Dilma Rousseff e não a volta dele à Presidência, a ofensiva acabou dando à oposição um espaço na imprensa que ela não teria em tempos, digamos, "normais".
Sem a abertura dos trabalhos, Dilma continuaria em destaque pela natureza do cargo, só que reinando absoluta. Com a vantagem de que não teria cada passo ou ato seu avaliado pelo viés eleitoral. Pelo menos não na dimensão que é feito hoje em decorrência da antecipação.
Lula ainda poderia manter unida por mais tempo a tropa aliada para além das fronteiras do PT na expectativa de que voltasse e os candidatos de oposição não seriam convidados a dar opinião a respeito de tudo.
Seriam, no máximo, um senador, uma ex-senadora e um governador como quaisquer outros.
Quites. Independentemente das vantagens e desvantagens do negócio - assunto para especialistas -, a concessão do campo de Libra à exploração pela iniciativa privada pode significar um avanço no campo político: a descriminalização do tema na próxima campanha eleitoral.
Debatezinho medíocre e obsoleto esse em que o PT "acusa" o PSDB de privatista e os tucanos rebaterem "acusando" os petistas de fazerem o mesmo.
Se for para discutir os males e os benefícios da privatização, os candidatos poderiam começar por abordar a devolução ao Estado dos instrumentos usurpados para uso privado daqueles que ocupam o poder.
O nome conta a história pela metade: minirreforma. As mudanças nas regras eleitorais propostas pela Câmara dos Deputados e ainda a serem examinadas pelo Senado são realmente mínimas, mas de reforma não têm nada.
Seria um caso típico de irrelevância aguda não fosse, sobretudo, um acinte o fato de suas excelências providenciaram alterações que transitam entre o superficial e o mais deslavado corporativismo.
O modelo atual está aos pandarecos, como concordam todos, representantes e representados. Diante da falência escancarada, da insatisfação explícita da sociedade, o que fazem os parlamentares?
Aprovam uma serie de modificações das quais políticos e partidos serão os únicos beneficiados e acrescentam a elas algumas perfumarias, a título de disfarce que não disfarça coisa alguma.
À falta de disposição de enfrentar questões realmente importantes e que alcancem a esfera das relações entre eleitos e eleitores, os parlamentares decidiram propor um parcelamento de dívidas eleitorais com prazo a perder de vista e mais liberdade para que possam manipular os recursos do fundo partidário como bem lhes convier.
Se aprovada pelo Senado, a lei permitirá que as multas sejam pagas em até 60 vezes, sendo que cada parcela não poderá ultrapassar 10% dos rendimentos do devedor. Fosse pouco, passa a vigorar a seguinte regra: os repasses do dinheiro do fundo não podem ser suspensos no segundo semestre de anos eleitorais. Em nenhuma hipótese, o que inclui casos em que houver irregularidades.
Junto a isso, o projeto reduz o poder de fiscalização da Justiça Eleitoral e aumenta autonomia dos partidos para usar as verbas.
Mas, preocupados que estão com a poluição visual das cidades e empenhados na redução dos gastos, os deputados propõem que se proíbam a afixação de faixas, cartazes, bandeiras e pinturas em espaços públicos ou particulares. Ah, também não podem ser usados bonecos como peças de campanha.
E assim nossos parlamentares dão por respondidas as demandas da sociedade no que tange ao aperfeiçoamento do sistema político, partidário e eleitoral. Parece piada, mas lamentavelmente não é.
Colateral. A antecipação da campanha eleitoral definitivamente não foi uma boa jogada para o governo. Deflagrada em fevereiro, quando o ex-presidente Lula afirmou que o projeto do PT era a reeleição de Dilma Rousseff e não a volta dele à Presidência, a ofensiva acabou dando à oposição um espaço na imprensa que ela não teria em tempos, digamos, "normais".
Sem a abertura dos trabalhos, Dilma continuaria em destaque pela natureza do cargo, só que reinando absoluta. Com a vantagem de que não teria cada passo ou ato seu avaliado pelo viés eleitoral. Pelo menos não na dimensão que é feito hoje em decorrência da antecipação.
Lula ainda poderia manter unida por mais tempo a tropa aliada para além das fronteiras do PT na expectativa de que voltasse e os candidatos de oposição não seriam convidados a dar opinião a respeito de tudo.
Seriam, no máximo, um senador, uma ex-senadora e um governador como quaisquer outros.
Quites. Independentemente das vantagens e desvantagens do negócio - assunto para especialistas -, a concessão do campo de Libra à exploração pela iniciativa privada pode significar um avanço no campo político: a descriminalização do tema na próxima campanha eleitoral.
Debatezinho medíocre e obsoleto esse em que o PT "acusa" o PSDB de privatista e os tucanos rebaterem "acusando" os petistas de fazerem o mesmo.
Se for para discutir os males e os benefícios da privatização, os candidatos poderiam começar por abordar a devolução ao Estado dos instrumentos usurpados para uso privado daqueles que ocupam o poder.
FAB subsônica - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 24/10
BRASÍLIA - Enquanto Dilma Rousseff subia em mais um palanque ontem, justamente nas Minas Gerais de Aécio Neves, a Aeronáutica comemorava o Dia do Aviador, na Base Aérea de Brasília, num ambiente de cochichos e interrogações. E o programa FX-2, de renovação da frota de caças?
Os caças que fizeram o tradicional voo rasante foram dois Mirage da década de 1970 que vão virar sucata em dezembro. Uma homenagem aos velhos guerreiros, é verdade, mas também uma lembrança contundente de que os substitutos nunca chegaram.
À porta do coquetel, o vice Michel Temer, o ministro Celso Amorim e os padrinhos e os agraciados com a medalha da Ordem do Mérito Aeronáutico tinham à disposição exemplares da revista "Aero", editada pela FAB e cheia de recados.
A reportagem"Adeus Mirage" registra um lamento --ou advertência?-- no subtítulo: "Em 31/12, a FAB aposenta seus Mirage 2000. Caças F-5, mais lentos e com alcance menor, vão se revezar na defesa do espaço aéreo da capital federal".
O texto vai além: "No critério velocidade, o Brasil perderá uma capacidade (...) presente nas Forças Aéreas da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela". Num país continental como o nosso, velocidade é fundamental.
Mas a indefinição dos novos caças traz muitos outros prejuízos além da perda em velocidade para praticamente toda a América do Sul, onde o Brasil é líder natural. Uma delas é a derrota para o tempo numa área essencial: tecnologia. Quanto mais atraso, maior o prejuízo.
Quem acompanha o leilão do FX-2, que se arrasta há 18 anos e tem cópia única e trancada a sete chaves no gabinete de Dilma, informa que o Rafale francês, pelo qual Lula tanto se bateu, está fora de cogitação. Restam o Gripen NG, sueco, e o F-18, dos EUA. Um foi o vencedor do relatório da FAB, o outro foi o que mais melhorou sua oferta a partir de 2010.
Que Dilma bata logo o martelo.
BRASÍLIA - Enquanto Dilma Rousseff subia em mais um palanque ontem, justamente nas Minas Gerais de Aécio Neves, a Aeronáutica comemorava o Dia do Aviador, na Base Aérea de Brasília, num ambiente de cochichos e interrogações. E o programa FX-2, de renovação da frota de caças?
Os caças que fizeram o tradicional voo rasante foram dois Mirage da década de 1970 que vão virar sucata em dezembro. Uma homenagem aos velhos guerreiros, é verdade, mas também uma lembrança contundente de que os substitutos nunca chegaram.
À porta do coquetel, o vice Michel Temer, o ministro Celso Amorim e os padrinhos e os agraciados com a medalha da Ordem do Mérito Aeronáutico tinham à disposição exemplares da revista "Aero", editada pela FAB e cheia de recados.
A reportagem"Adeus Mirage" registra um lamento --ou advertência?-- no subtítulo: "Em 31/12, a FAB aposenta seus Mirage 2000. Caças F-5, mais lentos e com alcance menor, vão se revezar na defesa do espaço aéreo da capital federal".
O texto vai além: "No critério velocidade, o Brasil perderá uma capacidade (...) presente nas Forças Aéreas da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela". Num país continental como o nosso, velocidade é fundamental.
Mas a indefinição dos novos caças traz muitos outros prejuízos além da perda em velocidade para praticamente toda a América do Sul, onde o Brasil é líder natural. Uma delas é a derrota para o tempo numa área essencial: tecnologia. Quanto mais atraso, maior o prejuízo.
Quem acompanha o leilão do FX-2, que se arrasta há 18 anos e tem cópia única e trancada a sete chaves no gabinete de Dilma, informa que o Rafale francês, pelo qual Lula tanto se bateu, está fora de cogitação. Restam o Gripen NG, sueco, e o F-18, dos EUA. Um foi o vencedor do relatório da FAB, o outro foi o que mais melhorou sua oferta a partir de 2010.
Que Dilma bata logo o martelo.
'A virtude está à esquerda' - FRANCISCO FERRAZ
O Estado de S.Paulo - 24/10
Nas últimas três décadas consagrou-se um princípio que se tornou um axioma da política brasileira: "A virtude está à esquerda". Tornou-se um axioma porque foi subscrito por lideranças que desejavam lustrar a sua imagem com uma marca da esquerda e por ter sido, silenciosa e progressivamente, subscrito pelos eleitores em geral.
Os corolários do axioma são visíveis por todo lado: desde a recuperação da guerra fria num mundo sem guerra fria, a forma peculiar de entendimento dos direitos humanos e a maneira tolerante de encarar as questões da segurança pública até a aberta relativização da lei e da Constituição. Plasmou-se, então, uma retórica política e ideologicamente comprometida, na qual o uso ou não uso da palavra presidente no feminino já indica a posição política de quem fala, o termo privatização é substituído por concessão e a corrupção, pelo mais ameno conceito de malfeito.
Por que esse princípio logrou implantar-se como um axioma na nossa cultura política? 1) O fim do regime de 1964, da forma como ocorreu, deslegitimou os partidos de direita e conservadores; 2) a legitimidade do novo regime democrático concentrou-se no espaço da esquerda do espectro político; 3) os demais partidos (centro e centro-esquerda) foram submetidos a uma "demonização em camadas", que os empurrava para a direita.
Todos contra o PDS - Tudo começou com a forma como o regime militar saiu de cena, em 1985. Se Geisel resolveu satisfatoriamente sua saída, o mesmo não ocorreu com Figueiredo, que não conseguiu comandar a transição do regime de 64 para a democracia. Esse foi o momento em que o PDS passou a ser a única referência da direita no espectro político. Ser contra o PDS equivalia, de 1985 até a foto de Lula no jardim de Maluf, em 2012, a tirar uma "folha corrida" anti-1964.
Todos contra o PFL - Pouco tempo durou o período de graça do PFL, escolhido para ser o alvo seguinte. O começo da Nova República não podia ser mais frustrante: nem Tancredo nem Ulysses, o novo presidente seria Sarney. Como se não fosse o bastante, o PFL, forte no Nordeste e no Legislativo, continuava no governo. PT, PDT, "autênticos do MDB" e partidos de esquerda demonizaram o PFL, que, limitado aos Estados do Nordeste, perdeu o salvo-conduto que obtivera na Nova República.
A hora do PMDB - A partir de 1982 o PMDB ocupou o espaço de centro-esquerda e em 1985 conquistou o poder, com Sarney na Presidência. Tinha a seu favor as cassações sofridas, o generoso guarda-chuva ideológico, a figura heroica de Ulysses, o bloco dos "autênticos" e a vitória nas eleições de 1986. Com o fracasso do Plano Cruzado, o desgaste do governo Sarney, a perda de parlamentares pela criação de PCdoB, PSB e PSDB, os desgastes na Constituinte, ficou diminuído em sua expressão política. O inimigo agora seria, então, o PMDB, que compensou sua perda de competitividade nas eleições presidenciais com sua força nas eleições legislativas e estaduais.
PSDB, a bola da vez - Com o impeachment de Collor tudo levava a crer que a hora de o PT chegar ao poder tinha soado. O Plano Real, porém, a protelaria por mais oito anos. A vitória de FHC deixava claro que o PSDB seria a próxima "bola da vez" do processo de demonização.
O governo FHC, preocupado em resolver os crônicos problemas econômicos do País, não foi capaz de aproveitar o bom momento da economia para "apresentar" o mercado - sob outra luz - ao povo brasileiro. Não o assumiu doutrinariamente como o assumira na prática. O melhor momento para contestar o axioma não foi usado, deixando ao PT a oportunidade para dar um nome à doutrina do PSDB - neoliberalismo -, demonizá-lo e reforçar ainda mais o axioma.
O PT, já nessa época um partido forte, assumiu e liderou a demonização, centrada na figura dos líderes do PSDB (Covas, FHC, Serra, os mesmos que apoiavam candidatos do PT em segundo turno nas disputas contra Maluf), na condenação do Plano Real e na acusação de neoliberalismo, privatizações, submissão ao mercado e ao capitalismo internacional.
O PT chega ao poder - Uma vez lá, sem mais rivais à esquerda e tendo o domínio do Estado, o PT deu uma guinada enérgica para o centro e centro-direita, cooptou partidos e lideranças de direita, até o extremo da visita ao jardim de Maluf. A ideologia ficou restrita às relações exteriores, o marketing tornou-se permanente e o populismo - aquela luva esquerda calçada numa mão direita - subalternizou e descaracterizou o compromisso ideológico em troca da manutenção do poder a qualquer preço. Dificilmente se teria consolidado um axioma que revogou o contrato social de 1988 sem sua adoção oportunista por lideranças de todos os partidos que se submeteram à dinâmica do "tropismo à esquerda", com suas ameaçadoras chantagens e suas tentadoras vantagens.
Como poderia ser diferente, quando valores políticos universais, ainda que histórica e tradicionalmente associados a sistemas políticos liberais, foram sendo expurgados da nossa cultura política sem reação adequada de lideranças políticas e sociais com poder, respeitabilidade e popularidade?
Na realidade, vivemos a reiteração do movimento pendular que caracteriza o sistema político brasileiro ao longo de sua história. Um pêndulo que oscila entre esquerda e direita, Estado e sociedade, autoritarismo e liberdade, centralização e descentralização, nacionalismo populista e abertura para o mercado, liberdade beirando anarquia e ditadura.
Com teses de esquerda legitimando o sistema político, a direita sujeita às sucessivas demonizações e o centro sempre ameaçado de ser denunciado como a nova face da direita (vide PSDB), as defesas "orgânicas" de uma democracia representativa perderam grande parte do seu poder de imunização e o axioma "a virtude está à esquerda" reinou incontestado pelos últimos 30 anos.
Nas últimas três décadas consagrou-se um princípio que se tornou um axioma da política brasileira: "A virtude está à esquerda". Tornou-se um axioma porque foi subscrito por lideranças que desejavam lustrar a sua imagem com uma marca da esquerda e por ter sido, silenciosa e progressivamente, subscrito pelos eleitores em geral.
Os corolários do axioma são visíveis por todo lado: desde a recuperação da guerra fria num mundo sem guerra fria, a forma peculiar de entendimento dos direitos humanos e a maneira tolerante de encarar as questões da segurança pública até a aberta relativização da lei e da Constituição. Plasmou-se, então, uma retórica política e ideologicamente comprometida, na qual o uso ou não uso da palavra presidente no feminino já indica a posição política de quem fala, o termo privatização é substituído por concessão e a corrupção, pelo mais ameno conceito de malfeito.
Por que esse princípio logrou implantar-se como um axioma na nossa cultura política? 1) O fim do regime de 1964, da forma como ocorreu, deslegitimou os partidos de direita e conservadores; 2) a legitimidade do novo regime democrático concentrou-se no espaço da esquerda do espectro político; 3) os demais partidos (centro e centro-esquerda) foram submetidos a uma "demonização em camadas", que os empurrava para a direita.
Todos contra o PDS - Tudo começou com a forma como o regime militar saiu de cena, em 1985. Se Geisel resolveu satisfatoriamente sua saída, o mesmo não ocorreu com Figueiredo, que não conseguiu comandar a transição do regime de 64 para a democracia. Esse foi o momento em que o PDS passou a ser a única referência da direita no espectro político. Ser contra o PDS equivalia, de 1985 até a foto de Lula no jardim de Maluf, em 2012, a tirar uma "folha corrida" anti-1964.
Todos contra o PFL - Pouco tempo durou o período de graça do PFL, escolhido para ser o alvo seguinte. O começo da Nova República não podia ser mais frustrante: nem Tancredo nem Ulysses, o novo presidente seria Sarney. Como se não fosse o bastante, o PFL, forte no Nordeste e no Legislativo, continuava no governo. PT, PDT, "autênticos do MDB" e partidos de esquerda demonizaram o PFL, que, limitado aos Estados do Nordeste, perdeu o salvo-conduto que obtivera na Nova República.
A hora do PMDB - A partir de 1982 o PMDB ocupou o espaço de centro-esquerda e em 1985 conquistou o poder, com Sarney na Presidência. Tinha a seu favor as cassações sofridas, o generoso guarda-chuva ideológico, a figura heroica de Ulysses, o bloco dos "autênticos" e a vitória nas eleições de 1986. Com o fracasso do Plano Cruzado, o desgaste do governo Sarney, a perda de parlamentares pela criação de PCdoB, PSB e PSDB, os desgastes na Constituinte, ficou diminuído em sua expressão política. O inimigo agora seria, então, o PMDB, que compensou sua perda de competitividade nas eleições presidenciais com sua força nas eleições legislativas e estaduais.
PSDB, a bola da vez - Com o impeachment de Collor tudo levava a crer que a hora de o PT chegar ao poder tinha soado. O Plano Real, porém, a protelaria por mais oito anos. A vitória de FHC deixava claro que o PSDB seria a próxima "bola da vez" do processo de demonização.
O governo FHC, preocupado em resolver os crônicos problemas econômicos do País, não foi capaz de aproveitar o bom momento da economia para "apresentar" o mercado - sob outra luz - ao povo brasileiro. Não o assumiu doutrinariamente como o assumira na prática. O melhor momento para contestar o axioma não foi usado, deixando ao PT a oportunidade para dar um nome à doutrina do PSDB - neoliberalismo -, demonizá-lo e reforçar ainda mais o axioma.
O PT, já nessa época um partido forte, assumiu e liderou a demonização, centrada na figura dos líderes do PSDB (Covas, FHC, Serra, os mesmos que apoiavam candidatos do PT em segundo turno nas disputas contra Maluf), na condenação do Plano Real e na acusação de neoliberalismo, privatizações, submissão ao mercado e ao capitalismo internacional.
O PT chega ao poder - Uma vez lá, sem mais rivais à esquerda e tendo o domínio do Estado, o PT deu uma guinada enérgica para o centro e centro-direita, cooptou partidos e lideranças de direita, até o extremo da visita ao jardim de Maluf. A ideologia ficou restrita às relações exteriores, o marketing tornou-se permanente e o populismo - aquela luva esquerda calçada numa mão direita - subalternizou e descaracterizou o compromisso ideológico em troca da manutenção do poder a qualquer preço. Dificilmente se teria consolidado um axioma que revogou o contrato social de 1988 sem sua adoção oportunista por lideranças de todos os partidos que se submeteram à dinâmica do "tropismo à esquerda", com suas ameaçadoras chantagens e suas tentadoras vantagens.
Como poderia ser diferente, quando valores políticos universais, ainda que histórica e tradicionalmente associados a sistemas políticos liberais, foram sendo expurgados da nossa cultura política sem reação adequada de lideranças políticas e sociais com poder, respeitabilidade e popularidade?
Na realidade, vivemos a reiteração do movimento pendular que caracteriza o sistema político brasileiro ao longo de sua história. Um pêndulo que oscila entre esquerda e direita, Estado e sociedade, autoritarismo e liberdade, centralização e descentralização, nacionalismo populista e abertura para o mercado, liberdade beirando anarquia e ditadura.
Com teses de esquerda legitimando o sistema político, a direita sujeita às sucessivas demonizações e o centro sempre ameaçado de ser denunciado como a nova face da direita (vide PSDB), as defesas "orgânicas" de uma democracia representativa perderam grande parte do seu poder de imunização e o axioma "a virtude está à esquerda" reinou incontestado pelos últimos 30 anos.
Crime político - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 24/10
O pobre Amarildo foi um morto comum. O morto Amarildo tornou-se arma política
O ato de tortura e morte do pedreiro Amarildo seria mais um da série infinita em que os criminosos são policiais. Um crime vulgar. Revelou-se um crime político. Pouco importa que não o fosse na origem. Nas consequências veio a sê-lo.
As responsabilidades e circunstâncias da morte estão esclarecidas, 25 PMs presos por diferentes presenças no episódio, e é indispensável justiça reconhecer, nesse resultado, a obsessiva competência da promotora Carmen Bastos, de policiais civis representáveis por sua chefe, delegada Marta Rocha, e sempre a de José Mariano Beltrame, secretário de Segurança. Além do PM, ou PMs, com o seu perigoso e iluminador testemunho.
É impossível medir a influência do movimento de opinião pública na ação investigatória. Não há dúvida de que foi forte. Mas não há como avaliar, também, quanto houve de motivação política no lançamento e no incentivo constante das cobranças de esclarecimento do caso. Em pouco, essas cobranças, até à simples menção do nome Amarildo, estavam transformadas em ataque político a Sérgio Cabral, mesmo nas menores oportunidades. "Onde está Amarildo?" tornou-se um slogan político devastador.
O desaparecimento de Amarildo, desde logo dado por sua família como obra da PM, incidiu no momento mais agudo da crise de desgaste que Sérgio Cabral criou para si, com uma sucessão de atitudes pessoais intoleráveis pela opinião pública -- por ele desconsiderada com arrogância da qual precisou, por fim, penitenciar-se. Sérgio Cabral passou a ser identificado como responsável pelo desaparecimento de Amarildo e pelo aturdimento de então da polícia, responsabilidade que não podia ser sua. Mas despropósito permitido pela política, com os efeitos esperados.
Até piores do que os efeitos visados. A campanha estendeu-se de Cabral para as UPPs, as unidades policiais criadas para a ocupação pacificante das favelas, e recaiu sobre o secretário Beltrame. Ou seja, o uso político da tragédia de Amarildo levou seu efeito corrosivo ao trabalho social que decorre do modelo de ação nas favelas, ou "comunidades", já com resultados que mudaram o convívio urbano e suburbano em grande parte do Rio.
O cerco a Cabral resvalou ainda sobre Eduardo Paes, o prefeito. Pode ser um efeito de menor duração, porque o prefeito tem um trabalho enorme a apresentar, em variedade geográfica que inclui a tão desprezada Zona Norte da cidade, em modernização de muitos tipos e sentidos, e em presteza de atenção a problemas reclamados como o Rio não via há muitas e muitas décadas. Mas o reflexo de Cabral pode atingir o futuro de Paes se o governador não conseguir recuperar política e eleitoralmente o PMDB que a sua crise enfraqueceu bastante.
O pobre Amarildo foi um morto comum nas mãos de policiais com vocação criminosa, entre tantos cujos nomes e destinos pouco ou nada importam à opinião pública. O morto Amarildo tornou-se arma política.
O pobre Amarildo foi um morto comum. O morto Amarildo tornou-se arma política
O ato de tortura e morte do pedreiro Amarildo seria mais um da série infinita em que os criminosos são policiais. Um crime vulgar. Revelou-se um crime político. Pouco importa que não o fosse na origem. Nas consequências veio a sê-lo.
As responsabilidades e circunstâncias da morte estão esclarecidas, 25 PMs presos por diferentes presenças no episódio, e é indispensável justiça reconhecer, nesse resultado, a obsessiva competência da promotora Carmen Bastos, de policiais civis representáveis por sua chefe, delegada Marta Rocha, e sempre a de José Mariano Beltrame, secretário de Segurança. Além do PM, ou PMs, com o seu perigoso e iluminador testemunho.
É impossível medir a influência do movimento de opinião pública na ação investigatória. Não há dúvida de que foi forte. Mas não há como avaliar, também, quanto houve de motivação política no lançamento e no incentivo constante das cobranças de esclarecimento do caso. Em pouco, essas cobranças, até à simples menção do nome Amarildo, estavam transformadas em ataque político a Sérgio Cabral, mesmo nas menores oportunidades. "Onde está Amarildo?" tornou-se um slogan político devastador.
O desaparecimento de Amarildo, desde logo dado por sua família como obra da PM, incidiu no momento mais agudo da crise de desgaste que Sérgio Cabral criou para si, com uma sucessão de atitudes pessoais intoleráveis pela opinião pública -- por ele desconsiderada com arrogância da qual precisou, por fim, penitenciar-se. Sérgio Cabral passou a ser identificado como responsável pelo desaparecimento de Amarildo e pelo aturdimento de então da polícia, responsabilidade que não podia ser sua. Mas despropósito permitido pela política, com os efeitos esperados.
Até piores do que os efeitos visados. A campanha estendeu-se de Cabral para as UPPs, as unidades policiais criadas para a ocupação pacificante das favelas, e recaiu sobre o secretário Beltrame. Ou seja, o uso político da tragédia de Amarildo levou seu efeito corrosivo ao trabalho social que decorre do modelo de ação nas favelas, ou "comunidades", já com resultados que mudaram o convívio urbano e suburbano em grande parte do Rio.
O cerco a Cabral resvalou ainda sobre Eduardo Paes, o prefeito. Pode ser um efeito de menor duração, porque o prefeito tem um trabalho enorme a apresentar, em variedade geográfica que inclui a tão desprezada Zona Norte da cidade, em modernização de muitos tipos e sentidos, e em presteza de atenção a problemas reclamados como o Rio não via há muitas e muitas décadas. Mas o reflexo de Cabral pode atingir o futuro de Paes se o governador não conseguir recuperar política e eleitoralmente o PMDB que a sua crise enfraqueceu bastante.
O pobre Amarildo foi um morto comum nas mãos de policiais com vocação criminosa, entre tantos cujos nomes e destinos pouco ou nada importam à opinião pública. O morto Amarildo tornou-se arma política.
Querem cegar o eleitor - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 24/10
Sete anos depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir por unanimidade ser inconstitucional - por ferir o princípio do direito à informação - uma lei do Congresso que pretendia proibir a divulgação de pesquisas eleitorais nos 15 dias anteriores à votação e até o seu encerramento, eis que os políticos voltam à carga. Desta vez, escaldados, querem que a própria Carta permita cegar o eleitor quando mais ele precisa estar de olhos abertos. Proposta de emenda constitucional (PEC) nesse sentido, de autoria do senador catarinense Luís Henrique da Silveira, do PMDB, entrou na pauta da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O relator da matéria, Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá, embora tenha dado parecer favorável à PEC, admitiu mudar de ideia.
Os defensores da censura alegam que as pesquisas na reta final das campanhas representam uma interferência indevida na intenção dos eleitores, influindo na sua decisão final. Na realidade, o que eles querem, em bom português, é cantar vitória antes da hora para atrair o voto dos incautos, sem o risco de serem desmentidos pelos números levados a conhecimento público. Especialistas do setor argumentam que são poucos os eleitores que se deixam guiar pelos resultados das sondagens. Mas, fossem eles muitos, qual seria o problema? Simplesmente não há nada de errado quando o eleitor leva em conta as pesquisas - como tantas outras coisas, a exemplo das opiniões de pessoas que preza - para firmar (ou redefinir) a sua escolha. Nem poderia ser de outra forma.
O voto é sigiloso, mas a jornada do eleitor até a cabine de votação não é uma travessia solitária: por não ser, a democracia só tem a ganhar quando o eleitor chega à urna bem acompanhado - com o mais amplo repertório de informações sobre os candidatos, as questões em jogo e as preferências de seus semelhantes. Estas podem ser essenciais para o exercício do chamado "voto consciente". Informado pelas pesquisas de que o seu candidato trava uma batalha perdida, o eleitor ainda assim poderá votar nele, ou em outro, este sim competitivo, seja porque lhe pareça a melhor alternativa, seja para tentar impedir a vitória de um terceiro, a seu juízo o mal maior. O voto útil, em suma, é tão legítimo e racional quanto se possa desejar.
De mais a mais, o veto à divulgação das pesquisas institui a desigualdade entre os eleitores. Como elas não deixarão de ser feitas, políticos, analistas, marqueteiros, operadores de campanhas, arrecadadores de fundos, jornalistas e todos quantos gravitam na órbita dos ciclos sucessórios continuariam sabendo - já agora como portadores de informação privilegiada - para onde pende o eleitorado. Tem mais. Como afirmou o ministro Ricardo Lewandowski, relator da ação julgada pelo STF em 2006, isso "apenas contribuiria para ensejar a circulação de boatos e dados apócrifos, dando azo a toda sorte de manipulações indevidas", atingindo o processo eleitoral "no que ele tem de fundamental, que é exatamente a livre circulação de informações".
Ah, mas as pesquisas também são manipuladas, ouve-se às vezes. É uma daquelas teorias conspiratórias que ignoram pelo menos dois fatos básicos: a concorrência entre os principais institutos, cujo negócio depende da qualidade técnica de seus levantamentos e da credibilidade dos resultados que repassam aos meios de comunicação, seus clientes; e a estrita legislação a que devem obedecer, incluindo o registro prévio das sondagens na Justiça Eleitoral, o acesso dos partidos ao seu conteúdo por 30 dias e a obrigatoriedade de divulgar o período de coleta das informações, número de entrevistas, margem de erro e identificação dos compradores do serviço.
Isso não quer dizer que pesquisas, campanhas e preferências eleitorais não se entrelacem. A sondagem eleitoral é um termômetro que afeta a temperatura do paciente. Cada leva de resultados torna-se um fato político, influindo nas campanhas e, eventualmente, nas inclinações do eleitorado. Mas elas estão longe de ser as proverbiais profecias que se cumprem por si mesmas. Se fossem, valeria para a competição eleitoral o equivalente ao dito de que, se macumba funcionasse, o campeonato baiano terminaria empatado.
Sete anos depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir por unanimidade ser inconstitucional - por ferir o princípio do direito à informação - uma lei do Congresso que pretendia proibir a divulgação de pesquisas eleitorais nos 15 dias anteriores à votação e até o seu encerramento, eis que os políticos voltam à carga. Desta vez, escaldados, querem que a própria Carta permita cegar o eleitor quando mais ele precisa estar de olhos abertos. Proposta de emenda constitucional (PEC) nesse sentido, de autoria do senador catarinense Luís Henrique da Silveira, do PMDB, entrou na pauta da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O relator da matéria, Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá, embora tenha dado parecer favorável à PEC, admitiu mudar de ideia.
Os defensores da censura alegam que as pesquisas na reta final das campanhas representam uma interferência indevida na intenção dos eleitores, influindo na sua decisão final. Na realidade, o que eles querem, em bom português, é cantar vitória antes da hora para atrair o voto dos incautos, sem o risco de serem desmentidos pelos números levados a conhecimento público. Especialistas do setor argumentam que são poucos os eleitores que se deixam guiar pelos resultados das sondagens. Mas, fossem eles muitos, qual seria o problema? Simplesmente não há nada de errado quando o eleitor leva em conta as pesquisas - como tantas outras coisas, a exemplo das opiniões de pessoas que preza - para firmar (ou redefinir) a sua escolha. Nem poderia ser de outra forma.
O voto é sigiloso, mas a jornada do eleitor até a cabine de votação não é uma travessia solitária: por não ser, a democracia só tem a ganhar quando o eleitor chega à urna bem acompanhado - com o mais amplo repertório de informações sobre os candidatos, as questões em jogo e as preferências de seus semelhantes. Estas podem ser essenciais para o exercício do chamado "voto consciente". Informado pelas pesquisas de que o seu candidato trava uma batalha perdida, o eleitor ainda assim poderá votar nele, ou em outro, este sim competitivo, seja porque lhe pareça a melhor alternativa, seja para tentar impedir a vitória de um terceiro, a seu juízo o mal maior. O voto útil, em suma, é tão legítimo e racional quanto se possa desejar.
De mais a mais, o veto à divulgação das pesquisas institui a desigualdade entre os eleitores. Como elas não deixarão de ser feitas, políticos, analistas, marqueteiros, operadores de campanhas, arrecadadores de fundos, jornalistas e todos quantos gravitam na órbita dos ciclos sucessórios continuariam sabendo - já agora como portadores de informação privilegiada - para onde pende o eleitorado. Tem mais. Como afirmou o ministro Ricardo Lewandowski, relator da ação julgada pelo STF em 2006, isso "apenas contribuiria para ensejar a circulação de boatos e dados apócrifos, dando azo a toda sorte de manipulações indevidas", atingindo o processo eleitoral "no que ele tem de fundamental, que é exatamente a livre circulação de informações".
Ah, mas as pesquisas também são manipuladas, ouve-se às vezes. É uma daquelas teorias conspiratórias que ignoram pelo menos dois fatos básicos: a concorrência entre os principais institutos, cujo negócio depende da qualidade técnica de seus levantamentos e da credibilidade dos resultados que repassam aos meios de comunicação, seus clientes; e a estrita legislação a que devem obedecer, incluindo o registro prévio das sondagens na Justiça Eleitoral, o acesso dos partidos ao seu conteúdo por 30 dias e a obrigatoriedade de divulgar o período de coleta das informações, número de entrevistas, margem de erro e identificação dos compradores do serviço.
Isso não quer dizer que pesquisas, campanhas e preferências eleitorais não se entrelacem. A sondagem eleitoral é um termômetro que afeta a temperatura do paciente. Cada leva de resultados torna-se um fato político, influindo nas campanhas e, eventualmente, nas inclinações do eleitorado. Mas elas estão longe de ser as proverbiais profecias que se cumprem por si mesmas. Se fossem, valeria para a competição eleitoral o equivalente ao dito de que, se macumba funcionasse, o campeonato baiano terminaria empatado.
Comprovadas falhas no modelo do pré-sal - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 24/10
O governo não pode levar a sério a euforia demonstrada com o leilão e deve começar a estudar o que precisa ser feito para os próximos serem de fato um completo sucesso
Na seção de energia do americano “Wall Street Journal”, depois de se considerar como ação de “relações públicas” do governo o fato de autoridades tacharem o pregão de Libra de “o começo de nova era”, de “a divisão entre o passado e o futuro” na indústria do petróleo brasileira, pergunta-se qual seria a “hipérbole se o leilão tivesse sido de fato um sucesso”.
Pode ser elevado o sarcasmo usado no comentário sobre o carnaval fora de época feito pelo governo, com direito a pronunciamento da presidente Dilma em cadeia nacional, tudo explicado pela evidente contaminação do evento pelo calendário eleitoral. Mas não se deve tirar a razão do WSJ e de muitos analistas quando consideram que o leilão não foi um completo sucesso, apesar das comemorações. Aconselha-se que, passada a bem estudada euforia, os técnicos oficiais avaliem, com a necessária frieza, o que precisa ser feito nas próximas licitações de áreas do pré-sal para que atraiam mais interessados, a fim de que haja uma real disputa entre as empresas.
No lado positivo estão o fato de Shell (anglo-holandesa) e Total (francesa) terem entrado no consórcio — que deixou de ser um negócios entre estatais chinesas e a brasileira Petrobras — e o arremate em si do campo.
Não pode ser menosprezado que as grandes petrolíferas americanas se mantiveram ao largo, que apenas onze se apresentaram como interessadas e, destas, cinco constituíram o único consórcio. Por isso mesmo, ofereceram ao Estado o lance mínimo de 41,65% de lucro em óleo, e levaram.
É indiscutível que o excesso de intervencionismo estatal do modelo de partilha idealizado para o pré-sal sob forte influência do lulopetismo sindical que controlou a Petrobras durante certo tempo afastou Exxon, Chevron e outras.
A criação de uma nova estatal, a PPSA, com enorme poder na gestão de Libra, é um eficaz desincentivo. Os nomes escolhidos para dirigi-la foram bem aceitos. Em alguma medida, Shell e Total teriam decidido participar devido a isto. E no futuro?
O programa de substituição de importações inspirado no governo militar de Geisel é outra questão a ser rediscutida. Incentivar o fornecimento interno de equipamentos e serviços é positivo. Esta preocupação também existe no modelo de concessão. Mas como o intervencionismo se tornou marca forte em Brasília, há o risco de, como Geisel, se tentar executar o programa a qualquer custo. Não deu certo no passado, não dará agora.
O monopólio criado para a Petrobras na operação e a fatia compulsória de 30% em qualquer consórcio são exigências que a própria estatal, descapitalizada, não poderá atender. Curioso: o mesmo governo que desestabiliza a estatal por obrigá-la a subsidiar combustíveis, exige da empresa algo que ele próprio a impede de executar. Estarão em risco os demais investimentos da empresa. Pelo menos, haverá tempo até o próximo leilão no pré-sal para as necessárias revisões.
O governo não pode levar a sério a euforia demonstrada com o leilão e deve começar a estudar o que precisa ser feito para os próximos serem de fato um completo sucesso
Na seção de energia do americano “Wall Street Journal”, depois de se considerar como ação de “relações públicas” do governo o fato de autoridades tacharem o pregão de Libra de “o começo de nova era”, de “a divisão entre o passado e o futuro” na indústria do petróleo brasileira, pergunta-se qual seria a “hipérbole se o leilão tivesse sido de fato um sucesso”.
Pode ser elevado o sarcasmo usado no comentário sobre o carnaval fora de época feito pelo governo, com direito a pronunciamento da presidente Dilma em cadeia nacional, tudo explicado pela evidente contaminação do evento pelo calendário eleitoral. Mas não se deve tirar a razão do WSJ e de muitos analistas quando consideram que o leilão não foi um completo sucesso, apesar das comemorações. Aconselha-se que, passada a bem estudada euforia, os técnicos oficiais avaliem, com a necessária frieza, o que precisa ser feito nas próximas licitações de áreas do pré-sal para que atraiam mais interessados, a fim de que haja uma real disputa entre as empresas.
No lado positivo estão o fato de Shell (anglo-holandesa) e Total (francesa) terem entrado no consórcio — que deixou de ser um negócios entre estatais chinesas e a brasileira Petrobras — e o arremate em si do campo.
Não pode ser menosprezado que as grandes petrolíferas americanas se mantiveram ao largo, que apenas onze se apresentaram como interessadas e, destas, cinco constituíram o único consórcio. Por isso mesmo, ofereceram ao Estado o lance mínimo de 41,65% de lucro em óleo, e levaram.
É indiscutível que o excesso de intervencionismo estatal do modelo de partilha idealizado para o pré-sal sob forte influência do lulopetismo sindical que controlou a Petrobras durante certo tempo afastou Exxon, Chevron e outras.
A criação de uma nova estatal, a PPSA, com enorme poder na gestão de Libra, é um eficaz desincentivo. Os nomes escolhidos para dirigi-la foram bem aceitos. Em alguma medida, Shell e Total teriam decidido participar devido a isto. E no futuro?
O programa de substituição de importações inspirado no governo militar de Geisel é outra questão a ser rediscutida. Incentivar o fornecimento interno de equipamentos e serviços é positivo. Esta preocupação também existe no modelo de concessão. Mas como o intervencionismo se tornou marca forte em Brasília, há o risco de, como Geisel, se tentar executar o programa a qualquer custo. Não deu certo no passado, não dará agora.
O monopólio criado para a Petrobras na operação e a fatia compulsória de 30% em qualquer consórcio são exigências que a própria estatal, descapitalizada, não poderá atender. Curioso: o mesmo governo que desestabiliza a estatal por obrigá-la a subsidiar combustíveis, exige da empresa algo que ele próprio a impede de executar. Estarão em risco os demais investimentos da empresa. Pelo menos, haverá tempo até o próximo leilão no pré-sal para as necessárias revisões.
O resgate da infraestrutura - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 24/10
A audiência pública sobre as melhorias no Porto de Paranaguá é uma evidência do bem que pode surgir quando se age em conjunto
Se perguntarmos hoje para economistas, engenheiros, empresários ou políticos qual é um dos maiores entraves para o crescimento econômico do Brasil, e se esta mesma pergunta fosse feita também 30 anos atrás, a resposta seria sempre a mesma: a falta de infraestrutura em portos, ferrovias, rodovias e aeroportos. Trata-se de um cenário que todos conhecem, mas que em 30 anos evoluiu muito pouco. Não é possível seguir apenas no campo da reclamação; é preciso agir de forma conjunta e alinhada. E, hoje, temos uma grande oportunidade para reverter a situação. Nunca se falou tanto em infraestrutura como nos últimos tempos. O poder público – seja federal e estadual, nos poderes Executivo e Legislativo – finalmente colocou esse tema na pauta de discussões e, principalmente, de ações. E o Paraná teve mais uma evidência do bem que pode surgir quando se age em conjunto dias atrás, em Paranaguá.
Em nosso estado, contribui para esse movimento uma grande mobilização das entidades representativas, que estão debruçadas sobre a questão. O Fórum Permanente de Desenvolvimento, por exemplo, vem discutindo temas como a infraestrutura com visão de curto, médio e longo prazo, com visão de Estado e não de governo. Um trabalho focado sempre em questões técnicas, político-institucionais, e nunca político-partidárias. Soma-se a esse alinhamento de informações e prioridades um diálogo aberto com o poder público, que tem sido bastante receptivo a essas questões, tanto na esfera federal como na estadual.
Um belo exemplo dessa atuação conjunta em torno das principais necessidades da população e do empresariado do Paraná foi a audiência pública que reuniu em Paranaguá mais de 600 pessoas, que contribuíram com sugestões de melhorias do projeto de arrendamento de áreas e de investimentos no principal porto paranaense. Melhorar a estrutura do Porto de Paranaguá é a prioridade número um, tanto para o escoamento de nossa produção do agronegócio quanto para a movimentação de cargas dos mais diversos setores industriais.
Com bom senso, consenso e alinhamento, foram discutidas, durante mais de cinco horas de audiência, todas as questões técnicas e os investimentos que precisam ser executados para garantir o crescimento de nosso porto. O debate envolveu toda a comunidade portuária, todas as entidades representativas e o poder público. Como foi dito por um integrante da mesa de autoridades, que relatou já ter participado de várias audiências similares, “esta, em Paranaguá, foi uma das melhores pelo conteúdo apresentado e comprometimento dos participantes”.
Essa é uma excelente mostra de que, quando as questões técnicas se sobrepõem a questões políticas e quando a visão do todo se sobrepõe à visão individual, os resultados são possíveis. A única forma de evoluir e viabilizar as obras necessárias para aprimorar nossa infraestrutura é por meio da união – união do poder público com as entidades representativas e com toda a sociedade, cada um abrindo mão de interesses pessoais e específicos de um setor, em prol de interesses da coletividade.
Apesar dos avanços alcançados recentemente, grandes desafios ainda têm de ser vencidos. Entre eles, a necessidade de se agilizar os processos burocráticos e as questões de licenciamentos, além de se aumentar a segurança jurídica para os investimentos, para que os projetos não sejam travados por ações judiciais. Também com bom senso e consenso é possível superar esses entraves.
Para que tudo isso aconteça, apenas boas ideias não são suficientes. É preciso que todos os paranaenses apoiem essas ações e ajam de forma alinhada e baseada exclusivamente em questões técnicas, e não políticas. Para uma pessoa de visão, não importa quem aparecerá na foto da inauguração de uma grande obra de infraestrutura: o que importa é ter uma foto para tirar. Sem esse pensamento, corremos o risco de, daqui a 30 anos, continuar lamentando nossa falta de infraestrutura.
A audiência pública sobre as melhorias no Porto de Paranaguá é uma evidência do bem que pode surgir quando se age em conjunto
Se perguntarmos hoje para economistas, engenheiros, empresários ou políticos qual é um dos maiores entraves para o crescimento econômico do Brasil, e se esta mesma pergunta fosse feita também 30 anos atrás, a resposta seria sempre a mesma: a falta de infraestrutura em portos, ferrovias, rodovias e aeroportos. Trata-se de um cenário que todos conhecem, mas que em 30 anos evoluiu muito pouco. Não é possível seguir apenas no campo da reclamação; é preciso agir de forma conjunta e alinhada. E, hoje, temos uma grande oportunidade para reverter a situação. Nunca se falou tanto em infraestrutura como nos últimos tempos. O poder público – seja federal e estadual, nos poderes Executivo e Legislativo – finalmente colocou esse tema na pauta de discussões e, principalmente, de ações. E o Paraná teve mais uma evidência do bem que pode surgir quando se age em conjunto dias atrás, em Paranaguá.
Em nosso estado, contribui para esse movimento uma grande mobilização das entidades representativas, que estão debruçadas sobre a questão. O Fórum Permanente de Desenvolvimento, por exemplo, vem discutindo temas como a infraestrutura com visão de curto, médio e longo prazo, com visão de Estado e não de governo. Um trabalho focado sempre em questões técnicas, político-institucionais, e nunca político-partidárias. Soma-se a esse alinhamento de informações e prioridades um diálogo aberto com o poder público, que tem sido bastante receptivo a essas questões, tanto na esfera federal como na estadual.
Um belo exemplo dessa atuação conjunta em torno das principais necessidades da população e do empresariado do Paraná foi a audiência pública que reuniu em Paranaguá mais de 600 pessoas, que contribuíram com sugestões de melhorias do projeto de arrendamento de áreas e de investimentos no principal porto paranaense. Melhorar a estrutura do Porto de Paranaguá é a prioridade número um, tanto para o escoamento de nossa produção do agronegócio quanto para a movimentação de cargas dos mais diversos setores industriais.
Com bom senso, consenso e alinhamento, foram discutidas, durante mais de cinco horas de audiência, todas as questões técnicas e os investimentos que precisam ser executados para garantir o crescimento de nosso porto. O debate envolveu toda a comunidade portuária, todas as entidades representativas e o poder público. Como foi dito por um integrante da mesa de autoridades, que relatou já ter participado de várias audiências similares, “esta, em Paranaguá, foi uma das melhores pelo conteúdo apresentado e comprometimento dos participantes”.
Essa é uma excelente mostra de que, quando as questões técnicas se sobrepõem a questões políticas e quando a visão do todo se sobrepõe à visão individual, os resultados são possíveis. A única forma de evoluir e viabilizar as obras necessárias para aprimorar nossa infraestrutura é por meio da união – união do poder público com as entidades representativas e com toda a sociedade, cada um abrindo mão de interesses pessoais e específicos de um setor, em prol de interesses da coletividade.
Apesar dos avanços alcançados recentemente, grandes desafios ainda têm de ser vencidos. Entre eles, a necessidade de se agilizar os processos burocráticos e as questões de licenciamentos, além de se aumentar a segurança jurídica para os investimentos, para que os projetos não sejam travados por ações judiciais. Também com bom senso e consenso é possível superar esses entraves.
Para que tudo isso aconteça, apenas boas ideias não são suficientes. É preciso que todos os paranaenses apoiem essas ações e ajam de forma alinhada e baseada exclusivamente em questões técnicas, e não políticas. Para uma pessoa de visão, não importa quem aparecerá na foto da inauguração de uma grande obra de infraestrutura: o que importa é ter uma foto para tirar. Sem esse pensamento, corremos o risco de, daqui a 30 anos, continuar lamentando nossa falta de infraestrutura.
O faz de conta dos planos de saúde no país - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 24/10
Useiros e vezeiros no desrespeito aos direitos do consumidor, os planos de saúde não têm encontrado maiores resistências para manter a rotina de desmandos. O governo até monitora as denúncias, apura irregularidades, anuncia punições, amplia coberturas, mas logo tudo se acomoda. As operadoras sempre dão um jeito de manter os serviços no topo do ranking dos mais criticados do país. Escudam-se, sobretudo, na precaridade do sistema público, que não oferece ao cidadão alternativa gratuita de assistência médica, ambulatorial e hospitalar de acordo com suas necessidades.
É uma espécie de faz de conta de lado a lado, em que o usuário se vira entre a cruz e a espada. Termina por firmar contrato caro, mesmo sabendo de antemão estar comprando aborrecimento, apenas pelo temor de precisar de uma UTI particular, cujos preços são astronômicos, ou, ainda, ser internado por longo tempo em hospital da rede privada, o que também tem o potencial para arruinar as finanças de uma família. Assim gira o círculo vicioso em que se enroscou esse setor essencial da economia, que, mais do que simples mercado, diz respeito à saúde do brasileiro.
No fundo, o entrave é o velho império da impunidade. Senão, vejamos. Em junho do ano passado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu as vendas de planos comercializados por 37 operadoras. Em agosto, as reclamações bateram recorde, com consumidores irritados com o descumprimento de prazos diversos, da marcação de consulta a exames e internações. Em outubro, a ANS reagiu mais forte, suspendendo 301 planos de 38 empresas. Este ano, a história se repetiu: em agosto, 246 planos de 26 operadoras foram suspensos, mas a decisão terminou sustada por liminares na Justiça.
E la nave va, como no título do filme de Federico Fellini, um dos mais importantes cineastas do século 20. Afinal, a punição aos planos, motivo de pendenga no Superior Tribunal de Justiça, que a confirmou, agora aguarda decisão em outro porto, no Supremo tribunal Federal. O imbróglio jurídico só serve para prolongar o sofrimento do usuário, única certeza em cada capítulo da novela. Prova disso é o resultado de pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) e do Datafolha, segundo o qual, um em cada três beneficiários de planos de saúde no estado de São Paulo teve de recorrer, nos últimos dois anos, ao sistema público ou à rede particular em busca de atendimento.
O governo tampouco deixa de dar uma no cravo e outra na ferradura, ora mordendo, ora assoprando. Exemplo é o decreto assinado no início deste mês pela presidente Dilma Rousseff, beneficiando uma operadora então sob intervenção da ANS. O ato presidencial dispensou a Geap de participar de licitação para vender planos de saúde a servidores da União. Por sua vez, a agência aumentou esta semana, com validade a partir de janeiro, a lista de atendimentos obrigatórios dos planos, incluindo mais 50 tipos de exames, consultas e cirurgias, além de 37 medicamentos orais contra o câncer. Quando 2014 chegar, o cidadão saberá de fato com o que conta. Mas, desde já, pode se prevenir: os preços devem subir no próximo ano.
É uma espécie de faz de conta de lado a lado, em que o usuário se vira entre a cruz e a espada. Termina por firmar contrato caro, mesmo sabendo de antemão estar comprando aborrecimento, apenas pelo temor de precisar de uma UTI particular, cujos preços são astronômicos, ou, ainda, ser internado por longo tempo em hospital da rede privada, o que também tem o potencial para arruinar as finanças de uma família. Assim gira o círculo vicioso em que se enroscou esse setor essencial da economia, que, mais do que simples mercado, diz respeito à saúde do brasileiro.
No fundo, o entrave é o velho império da impunidade. Senão, vejamos. Em junho do ano passado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu as vendas de planos comercializados por 37 operadoras. Em agosto, as reclamações bateram recorde, com consumidores irritados com o descumprimento de prazos diversos, da marcação de consulta a exames e internações. Em outubro, a ANS reagiu mais forte, suspendendo 301 planos de 38 empresas. Este ano, a história se repetiu: em agosto, 246 planos de 26 operadoras foram suspensos, mas a decisão terminou sustada por liminares na Justiça.
E la nave va, como no título do filme de Federico Fellini, um dos mais importantes cineastas do século 20. Afinal, a punição aos planos, motivo de pendenga no Superior Tribunal de Justiça, que a confirmou, agora aguarda decisão em outro porto, no Supremo tribunal Federal. O imbróglio jurídico só serve para prolongar o sofrimento do usuário, única certeza em cada capítulo da novela. Prova disso é o resultado de pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) e do Datafolha, segundo o qual, um em cada três beneficiários de planos de saúde no estado de São Paulo teve de recorrer, nos últimos dois anos, ao sistema público ou à rede particular em busca de atendimento.
O governo tampouco deixa de dar uma no cravo e outra na ferradura, ora mordendo, ora assoprando. Exemplo é o decreto assinado no início deste mês pela presidente Dilma Rousseff, beneficiando uma operadora então sob intervenção da ANS. O ato presidencial dispensou a Geap de participar de licitação para vender planos de saúde a servidores da União. Por sua vez, a agência aumentou esta semana, com validade a partir de janeiro, a lista de atendimentos obrigatórios dos planos, incluindo mais 50 tipos de exames, consultas e cirurgias, além de 37 medicamentos orais contra o câncer. Quando 2014 chegar, o cidadão saberá de fato com o que conta. Mas, desde já, pode se prevenir: os preços devem subir no próximo ano.
O banquinho de Raúl - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 24/10
Cuba anunciou a unificação das duas moedas usadas pelo país desde 1994. A medida, ainda sem prazo para viger, será o passo mais ambicioso do processo de reformas que o ditador Raúl Castro tem implementado para evitar o colapso econômico da ilha e prolongar o regime autoritário de partido único.
Nenhuma das atuais moedas de Cuba é válida no exterior. O peso cubano (CUP), utilizado para pagar a maior parte dos salários, além de produtos e serviços básicos, vale US$ 0,04 (R$ 0,086); e o peso conversível (CUC), equiparado ao dólar, é corrente na indústria do turismo, em estabelecimentos mais luxuosos e no comércio exterior.
Adotado por Fidel Castro, o modelo pretendia regular o câmbio do peso com o dólar, na época negociado ilegalmente. Quase 20 anos depois, aprofunda a desigualdade social na ilha, ao contrário do que estatui a cartilha dos defensores do regime. Os privilegiados com acesso ao CUC desfrutam de poder econômico várias vezes superior ao da maioria.
A julgar pelo ritmo das reformas concebidas até aqui por Raúl Castro, a unificação da moeda deverá demorar, até porque se justifica certa cautela. Dada a imensa disparidade entre as duas moedas, é grande o risco de disparada na inflação, já que muitos produtos básicos são importados e vendidos a preços subsidiados.
Por outro lado, Cuba não pode demorar demais. A Venezuela, principal parceira do regime, enfrenta dificuldades crescentes.
Há também insatisfação interna. O crescimento do PIB, de 3% em 2012, não chega a amainar os problemas gerados pela hegemonia do Estado na economia. Reformas na agricultura, com um pouco mais de iniciativa privada, tiveram pequeno impacto na produção.
Dotado do mesmo instinto de sobrevivência do seu irmão, Raúl, 82, já anunciou que deixará o governo em 2018. Até lá, quer concretizar uma transição parecida com a chinesa, sem alterar o monopólio do Partido Comunista. Mas Cuba não dispõe das vantagens geoeconômicas da China. Em Havana, a conciliação entre sistema autoritário e prosperidade econômica parece bem mais improvável.
Cuba anunciou a unificação das duas moedas usadas pelo país desde 1994. A medida, ainda sem prazo para viger, será o passo mais ambicioso do processo de reformas que o ditador Raúl Castro tem implementado para evitar o colapso econômico da ilha e prolongar o regime autoritário de partido único.
Nenhuma das atuais moedas de Cuba é válida no exterior. O peso cubano (CUP), utilizado para pagar a maior parte dos salários, além de produtos e serviços básicos, vale US$ 0,04 (R$ 0,086); e o peso conversível (CUC), equiparado ao dólar, é corrente na indústria do turismo, em estabelecimentos mais luxuosos e no comércio exterior.
Adotado por Fidel Castro, o modelo pretendia regular o câmbio do peso com o dólar, na época negociado ilegalmente. Quase 20 anos depois, aprofunda a desigualdade social na ilha, ao contrário do que estatui a cartilha dos defensores do regime. Os privilegiados com acesso ao CUC desfrutam de poder econômico várias vezes superior ao da maioria.
A julgar pelo ritmo das reformas concebidas até aqui por Raúl Castro, a unificação da moeda deverá demorar, até porque se justifica certa cautela. Dada a imensa disparidade entre as duas moedas, é grande o risco de disparada na inflação, já que muitos produtos básicos são importados e vendidos a preços subsidiados.
Por outro lado, Cuba não pode demorar demais. A Venezuela, principal parceira do regime, enfrenta dificuldades crescentes.
Há também insatisfação interna. O crescimento do PIB, de 3% em 2012, não chega a amainar os problemas gerados pela hegemonia do Estado na economia. Reformas na agricultura, com um pouco mais de iniciativa privada, tiveram pequeno impacto na produção.
Dotado do mesmo instinto de sobrevivência do seu irmão, Raúl, 82, já anunciou que deixará o governo em 2018. Até lá, quer concretizar uma transição parecida com a chinesa, sem alterar o monopólio do Partido Comunista. Mas Cuba não dispõe das vantagens geoeconômicas da China. Em Havana, a conciliação entre sistema autoritário e prosperidade econômica parece bem mais improvável.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Quem nega a política, nega a democracia”
Ex-presidente Lula, que antes satanizava a política e hoje é um dos seus baluartes
BOLSA FAMÍLIA É ‘DINHEIRO NA VEIA’ DOS ELEITORES
Chamado pelo senador independente Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) de “o maior programa de compra de votos de todos os tempos”, o Bolsa Família já distribuiu só no governo Dilma, em 2 anos e 10 meses, R$ 53,9 bilhões aos beneficiados. São transferidos R$ 1,5 bilhão por mês, em média, a eleitores pobres no País, sendo a metade do total no Nordeste, onde Dilma registra elevados índices de intenção de voto.
CRITÉRIO POLÍTICO?
A Bahia não é o estado mais populoso, mas tem 10,1 milhões de eleitores e é governado pelo PT. Recebeu a maior fatia: R$ 6,9 bilhões.
OS NÃO BAIANOS
Estados com população bem maior, como São Paulo, Minas, Pará, Pernambuco e Ceará recebem metade da bolada destinada à Bahia.
PERDEU, CHALITA
PMDB deve antecipar a mudança do seu comando em São Paulo. O deputado Gabriel Chalita sequer aparece nas reuniões do partido.
CARGOS, CARGOS
O presidente do PROS, Eurípedes Jr, sentou praça em Brasília, esta semana, barganhando cargos no governo e na Câmara dos Deputados.
MINISTRO QUER IMPORTAR PELE SINTÉTICA PARA TESTES
O ministro Marco Antônio Raupp (Ciência e Tecnologia) pediu apoio da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais para derrubar lei que proíbe a importação de produtos com origem humana, como a pele sintética, que poderia ser usada como método alternativo para teste de cosméticos. Segundo o presidente da frente, Ricardo Izar, em troca, o ministro baixaria portaria impedindo uso de animais nessas pesquisas.
PRIMEIRO PASSO
O ministro Raupp disse aos deputados que é preciso adequar a lei para dar condições às empresas de fazerem testes alternativos.
PAÍSES NÃO QUEREM
De acordo com Ricardo Izar, apenas 5% das empresas cosméticas usam animais, o que dificulta as demais de exportar seus produtos.
CONTANDO TROCADOS
Com a grana curta, a Advocacia-Geral da União cortou em aluguel de carros. Advogados dizem usar o próprio carro para ir às audiências.
SÚPLICA TARDIA
Terça (22), no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) abraçou Pedro Simon (PMDB-RS) e disse, em tom de súplica: “Não me abandone!”, referia-se aos arreganhos de Simon em direção a Eduardo Campos e Marina Silva, do PSB. Pelo sorriso maroto do gaúcho, o mineiro chegou tarde.
BOI DORMINDO
Termina no dia 1º de novembro o prazo (já estendido) da comissão de sindicância do Itamaraty que investiga abuso moral e sexual contra o ex-cônsul-geral em Sidney (Austrália), Américo Fontenelle, e o adjunto, Cesar Cidade.
SERIA BARBADA
Presidente do Tribunal de Justiça capixaba, admirado pela coragem e honradez, desembargador Pedro Valls Feu Rosa tem sido pressionado a estrear na política disputando vaga no Senado pelo Espírito Santo.
MAIS IGUAL
A blogueira cubana Yoani Sánchez não pediu, mas também gostaria do mesmo pedido de desculpas de Dilma ao médico cubano hostilizado no Brasil. Até de “rola-bosta” Yoani foi chamada no Blog da Dilma.
RESTRIÇÕES
A diretora de Políticas Públicas do Facebook, Katie Harbath, disse ao líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), que teme que a aprovação do Marco Civil da Internet dificulte e até limite o poder das redes sociais.
MEXEU COM ELE
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, tirou o telefone da mão da mulher, Rita, dias atrás, para dar um fora num deputado estadual que a convidou a ser candidata. Ele mesmo diz que não quer concorrer a nada. Então, tá.
TUDO EM FAMÍLIA
Aécio Neves ganhou mais um cabo eleitoral de peso no DF: o ex-deputado Bispo Rodovalho (PP-DF). O filho dele, Samuel, está casado com a irmã de Letícia, mulher do presidenciável tucano.
OLIGARCA, NÃO
Sindicalistas do PT não aceitam apoiar Armando Monteiro (PTB) para o governo de Pernambuco. Preferem candidatura própria a passar a vergonha de apoiar o representante das “oligarquias pernambucanas”.
PENSANDO BEM...
...deveria entrar para “O livro Não Autorizado da Jabuticaba Brasileira” a votação no Congresso sobre biografias não autorizadas.
PODER SEM PUDOR
SABATINA INTERROMPIDA
O atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), filho prodígio do saudoso e espirituoso deputado Maurício Fruet, estava acompanhado do pai, na visita a uma escola, nos anos 1980, em campanha para vereador. Um aluno passou a interrogar Gustavo sobre vultos da História (JK, Getúlio etc.). Até que menino, perguntador imparável, deu xeque:
- E Mem de Sá, o que ele fez pelo Brasil?
Maurício encerrou a sabatina:
- Ele fez o que pôde, meu filho.
E foi embora.
Ex-presidente Lula, que antes satanizava a política e hoje é um dos seus baluartes
BOLSA FAMÍLIA É ‘DINHEIRO NA VEIA’ DOS ELEITORES
Chamado pelo senador independente Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) de “o maior programa de compra de votos de todos os tempos”, o Bolsa Família já distribuiu só no governo Dilma, em 2 anos e 10 meses, R$ 53,9 bilhões aos beneficiados. São transferidos R$ 1,5 bilhão por mês, em média, a eleitores pobres no País, sendo a metade do total no Nordeste, onde Dilma registra elevados índices de intenção de voto.
CRITÉRIO POLÍTICO?
A Bahia não é o estado mais populoso, mas tem 10,1 milhões de eleitores e é governado pelo PT. Recebeu a maior fatia: R$ 6,9 bilhões.
OS NÃO BAIANOS
Estados com população bem maior, como São Paulo, Minas, Pará, Pernambuco e Ceará recebem metade da bolada destinada à Bahia.
PERDEU, CHALITA
PMDB deve antecipar a mudança do seu comando em São Paulo. O deputado Gabriel Chalita sequer aparece nas reuniões do partido.
CARGOS, CARGOS
O presidente do PROS, Eurípedes Jr, sentou praça em Brasília, esta semana, barganhando cargos no governo e na Câmara dos Deputados.
MINISTRO QUER IMPORTAR PELE SINTÉTICA PARA TESTES
O ministro Marco Antônio Raupp (Ciência e Tecnologia) pediu apoio da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais para derrubar lei que proíbe a importação de produtos com origem humana, como a pele sintética, que poderia ser usada como método alternativo para teste de cosméticos. Segundo o presidente da frente, Ricardo Izar, em troca, o ministro baixaria portaria impedindo uso de animais nessas pesquisas.
PRIMEIRO PASSO
O ministro Raupp disse aos deputados que é preciso adequar a lei para dar condições às empresas de fazerem testes alternativos.
PAÍSES NÃO QUEREM
De acordo com Ricardo Izar, apenas 5% das empresas cosméticas usam animais, o que dificulta as demais de exportar seus produtos.
CONTANDO TROCADOS
Com a grana curta, a Advocacia-Geral da União cortou em aluguel de carros. Advogados dizem usar o próprio carro para ir às audiências.
SÚPLICA TARDIA
Terça (22), no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) abraçou Pedro Simon (PMDB-RS) e disse, em tom de súplica: “Não me abandone!”, referia-se aos arreganhos de Simon em direção a Eduardo Campos e Marina Silva, do PSB. Pelo sorriso maroto do gaúcho, o mineiro chegou tarde.
BOI DORMINDO
Termina no dia 1º de novembro o prazo (já estendido) da comissão de sindicância do Itamaraty que investiga abuso moral e sexual contra o ex-cônsul-geral em Sidney (Austrália), Américo Fontenelle, e o adjunto, Cesar Cidade.
SERIA BARBADA
Presidente do Tribunal de Justiça capixaba, admirado pela coragem e honradez, desembargador Pedro Valls Feu Rosa tem sido pressionado a estrear na política disputando vaga no Senado pelo Espírito Santo.
MAIS IGUAL
A blogueira cubana Yoani Sánchez não pediu, mas também gostaria do mesmo pedido de desculpas de Dilma ao médico cubano hostilizado no Brasil. Até de “rola-bosta” Yoani foi chamada no Blog da Dilma.
RESTRIÇÕES
A diretora de Políticas Públicas do Facebook, Katie Harbath, disse ao líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), que teme que a aprovação do Marco Civil da Internet dificulte e até limite o poder das redes sociais.
MEXEU COM ELE
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, tirou o telefone da mão da mulher, Rita, dias atrás, para dar um fora num deputado estadual que a convidou a ser candidata. Ele mesmo diz que não quer concorrer a nada. Então, tá.
TUDO EM FAMÍLIA
Aécio Neves ganhou mais um cabo eleitoral de peso no DF: o ex-deputado Bispo Rodovalho (PP-DF). O filho dele, Samuel, está casado com a irmã de Letícia, mulher do presidenciável tucano.
OLIGARCA, NÃO
Sindicalistas do PT não aceitam apoiar Armando Monteiro (PTB) para o governo de Pernambuco. Preferem candidatura própria a passar a vergonha de apoiar o representante das “oligarquias pernambucanas”.
PENSANDO BEM...
...deveria entrar para “O livro Não Autorizado da Jabuticaba Brasileira” a votação no Congresso sobre biografias não autorizadas.
PODER SEM PUDOR
SABATINA INTERROMPIDA
O atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), filho prodígio do saudoso e espirituoso deputado Maurício Fruet, estava acompanhado do pai, na visita a uma escola, nos anos 1980, em campanha para vereador. Um aluno passou a interrogar Gustavo sobre vultos da História (JK, Getúlio etc.). Até que menino, perguntador imparável, deu xeque:
- E Mem de Sá, o que ele fez pelo Brasil?
Maurício encerrou a sabatina:
- Ele fez o que pôde, meu filho.
E foi embora.
QUINTA NOS JORNAIS
- Globo: Perdão de dívidas: Renegociação de municípios e estados ameaça Lei Fiscal
- Folha: FMI prevê que Brasil crescerá menos e critica política fiscal
- Estadão: Alstom orientou diretores a pagar propinas, diz MP suíço
- Correio: Voto aberto avança no Congresso. Já no DF…
- Estado de Minas: Perigo ao lado
- Jornal do Commercio: Nova “guerra” no Centro
- Zero Hora: Por que alagou tudo?
- Brasil Econômico: Bolha imobiliária faz receita do governo disparar