sábado, outubro 19, 2013

A droga e o egoísmo - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Não sou a favor de proibir as drogas – mas também não sou obrigado a assistir à viagem de ninguém



Recebi um hóspede em meu apartamento do Rio de Janeiro. No domingo, ele saiu para passear. Voltou à 1 da manhã completamente bêbado. Mas querendo conversar. Tem coisa pior que suportar um bêbado falando de si mesmo, chorando e pedindo apoio afetivo e psicológico? Sou solidariedade zero nesses casos. Mandei o hóspede ir dormir. Ele se revoltou, discutiu e vomitou no sofá. Depois, foi deitar. De tempos em tempos, levantava-se para vomitar. Como tudo que pode dar errado dá errado, justamente nessa noite a água do prédio fora cortada para limpeza das caixas na manhã seguinte. Eu mesmo enchera vários baldes para garantir. Tive de carregar os baldes apartamento afora, para limpar os vestígios da bebedeira. No dia seguinte, ainda de ressaca, ele disse simplesmente:

– Me perdoa, bebi demais.

Respondi mais simplesmente ainda:

– Esse não é o tipo de situação que se resolve com um pedido de desculpas. Estou magoado, ofendido e não perdoo, não. É melhor você encurtar sua estadia e voltar para casa.

Não consigo ser educado nessas horas. Talvez tenha de trocar o revestimento do sofá, manchado. O ex-hóspede não tem grana para isso. Ele ainda tentou amenizar a situação.

– É que eu estava numa viagem.

Viagem? Até agora, falei sobre uma droga legal, o álcool, mas tão inconveniente e perigosa como qualquer outra. Fiz uma reflexão. O usuário é sempre um egoísta. Não uso drogas. Conheço gente que gosta e passei a odiar a palavra viagem nesse sentido. O sujeito se enche de maconha e sorri, extasiado, dizendo que está numa “viagem”. Vejam bem, não sou contra a legalização da maconha. Sou a favor. Recentemente, tentei explicar a um amigo, que tragava um cigarrinho atrás do outro:

– Olha bem, você está numa viagem. Mas não comprei o tíquete para esse trem. Então, sou obrigado a ficar assistindo a sua viagem, a ouvir o que diz, a contemplar seu delírio. Só que você não me perguntou se quero ficar de plateia. Embarcou, o trem partiu, e fiquei olhando da plataforma.

Minha visão em relação ao uso é liberal, porque acho que cada um é dono de seu corpo. Mas minha postura na vida é rígida quando o tema me toca de perto. Não admito que levem drogas ilegais no meu carro. Escrevo livros para crianças e jovens, entre outras coisas. Meu livro Vida de droga fala justamente contra o crack. Meu comportamento se torna exemplo para meus leitores. Se sei que algum carona gosta da coisa, explico longamente como isso pode me prejudicar. Adianta? Ele leva escondido. Várias vezes, depois da chegada à praia, vejo o carona com seu cigarrinho.

– Você trouxe no meu carro?
– Não, não...

Para ele, não importa se uma manchete no jornal envolvendo meu nome prejudica minha relação com os leitores. Só quer curtir.

Sei que é uma abordagem diferente. Quando se fala de drogas, discutem-se a legalização e os riscos. Penso no meu lado, no que acontece com quem não usa. O usuário não aceita que alguém não participe de seu prazerzinho – e incluo aí os fumantes que acendem o cigarro na nossa cara. Qual o direito de alguém expor minha saúde, se não sou fumante? Há situações bem piores. Em uma festa, uma garota disse a um amigo do tipo bem-comportado:

– Hoje vou deixar você maluco.

Ele nem se importou. Continuou na água. De repente, segundo sua descrição, um pontinho preto apareceu na sua frente. E foi se esticando, até formar uma linha. Iniciou-se um turbilhão. Correu para o carro e, até hoje, não sabe como chegou em casa. Haviam colocado MDMA na água. Para quem não sabe, é uma das drogas do momento. Tem o princípio ativo do ecstasy, provoca alteração dos sentidos, muda o comportamento. Há festas em que é colocado até na água oferecida aos convidados. Numa casa noturna, alguém pode botar no seu copo sem que você perceba. A diversão de quem apronta é ver a festa “pirar”, transformar a balada numa “loucura”. Só que tem efeitos colaterais. Quem tem problemas de pressão pode morrer. Mas o usuário não pensa nisso. Depois de tudo, se diverte comentando as próprias loucuras e as que os outros praticaram.

A discussão sobre a legalização das drogas está aí, é uma questão social e política.

Mas o uso é uma questão ética. Droga e egoísmo andam juntos, é o que já percebi. Que direito tem o usuário de droga legal ou ilegal de me incluir ou me expor numa viagem que não escolhi?


Viver cada segundo - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 19/10

‘Ele costumava brincar dizendo que preferia alguém sem caráter do que sem humor’, conta Gilda Mattoso sobre Vinicius



O Museu da Imagem e do Som promoveu esta semana o seminário “Vinicius centenário”, reunindo durante um dia, em três mesas, 13 pessoas que tiveram alguma ligação com o homenageado ou com sua obra. Só assim pôde contemplar os vários aspectos dessa figura plural — tão plural que o cronista Sérgio Porto apresentava como “prova” o fato de que, se ele fosse apenas um, não se chamaria Vinicius de Moraes, mas de Moral. Os debates abordaram Vinicius como poeta, como músico e como homem do mundo. Participei desta última como mediador dos convidados Miguel Faria Jr, autor do magnífico documentário sobre o amigo; Marcos Azambuja, diplomata como seu colega de Itamarati, com quem conviveu em Paris; e Gilda Mattoso, a última paixão do poeta. O que ficou de melhor desse convívio? Se pudessem resumir, coisa impossível, o que ainda sentem em relação a um personagem tão rico, os três convergiriam para um ponto comum: a irrestrita admiração. Gilda destaca do ex-marido a generosidade e o bom humor: “Ele costumava brincar dizendo que preferia alguém sem caráter do que sem humor.” Miguel, que foi casado com Susana de Moraes, ressalta no ex-sogro a capacidade de se reinventar: “E, sempre patrulhado, eram transformações sofridas.” A Azambuja, o que mais impressionava era a modéstia com que Vinicius procurava se mostrar menor do que era: “Ele camuflava sua cultura.” Isso ajudava a alimentar uma certa visão folclórica que fazia do poetinha um poeta menor, ele que é um dos mais refinados sonetistas da língua poética de Camões.

Sua aventura existencial foi tão excitante, com suas libações etílicas, seu desprezo à solenidade, sua ampla liberdade sentimental, seus nove casamentos e sua renovada disposição de se apaixonar, que não raro fez sombra à sua arte. Carlos Drummond de Andrade me confessou numa entrevista de 1980 que invejava no colega a independência de espírito e a falta de compromisso com as convenções sociais: “Ele fazia o que queria e sempre com aquela doçura, aquela capacidade de encantar que fazia com que as donas de casa mais severas o adorassem.”

De fato, além das lições de poesia e de música, ficaram dele as de vida, do carpe diem, do aqui e agora. Seu ensinamento está contido em três versos:

“E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo.”

Houve quem não tivesse entendido o que publiquei na coluna passada, quando afirmei que a polêmica das biografias já tinha dado o que tinha que dar, e que agora era esperar a decisão da Justiça. O que eu quis dizer é que nessa altura, com tanta polarização, ninguém convence ninguém que já não esteja convencido, mesmo os mais próximos. Será que Ana de Holanda convencerá o irmão Chico a mudar de posição, com o argumento de que afinal seu pai — o pai dos dois — era historiador?

Mentiras que o povo escuta - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 19/10

Pelo artigo 20 da Lei 10.406 de 2002, que dá brechas para que biografados e herdeiros consigam na Justiça impedir a circulação de obras não autorizadas, o leitor não pode ler aquilo que não foi aprovado pelos citados.

Se o artigo atravessasse a fronteira do tempo, Aristóteles teria problemas para publicar a Poética. Herdeiros dos autores de tragédias e comédias citadas iriam processá-lo, para repor danos e repartir ganhos da obra impressa até hoje. Parte da obra de Shakespeare estaria embargada por herdeiros de Júlio César, Marco Antônio, Cleópatra, Ricardo II, III, Henrique IV, V, VI, VIII e membros do reino da Dinamarca, acusado de podre. Marx seria censurado por capitalistas ao expor suas contradições. Nietzsche, por zoroástricos e monoteístas, por afirmar que Ele morreu. Aliás, o Novo Testamento poderia ser questionado pelas famílias Iscariotes, Pilatos e Antipas, se a Galileia seguisse as leis brasileiras atuais. Freud enfrentaria um processo dos herdeiros de Sófocles por denegrir a imagem do protagonista da sua peça mais conhecida, Édipo Rei, e utilizar em vão e sem autorização os conflitos dramáticos, com alusões fantasiosas e nada empíricas.

Obras como Guerra e Paz, O Vermelho e o Negro, Os Sertões, O Velho e o Mar não sairiam do papel, já que retratam personagens reais. Autores como Gore Vidal e Tom Wolfe não existiriam. Apenas a absoluta ficção, invenção plena livre de influências e inspiração, sem dados ou conexões com a realidade, seja lá qual for, seria permitida. O problema é que ela não existe.

Cercear a liberdade de expressão, agredida desde a nossa fundação, por regimes monárquicos, republicanos, algumas ditaduras e até um parlamentarismo provisório, é traumático. A instabilidade política é um sintoma do cerceamento.

Proibir a publicação de biografias não autorizadas é, sim, censura. Paternalizamos o leitor, protegemos, como uma frágil criatura. Duvidamos da capacidade de duvidar. Duvidamos da capacidade de discernir a verdade do boato, o fato da infâmia.

A mentira é também parte da democracia. Conviver com ela amadurece um povo. Saber enfrentá-la o torna forte. Desconfiar do que se lê e escuta nos faz cidadãos. E já escutamos cada barbaridade...

Já disseram que Dilma, terrorista, assaltou bancos, atentou contra o patrimônio, para implantar um regime facínora que cometeu mais atrocidades que o nazista. Usava os codinomes Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda. O delegado Newton Fernandes afirmava que era uma das molas mestras dos esquemas revolucionários. Um promotor a chamou de "Joana d'Arc da subversão". Foi eleita.

Que Lula, preguiçoso, amputou o próprio dedo numa prensa da Ford, para uma licença médica que deu a oportunidade de se aposentar ainda jovem e se engajar num corrupto movimento sindical que, se aproveitando da crise da indústria automobilística, mobilizou uma massa apolítica. Fundou um partido e governou o País com negociatas, como se estivesse numa saleta do sindicado de São Bernardo. Comprou um Airbus folheado a ouro, cujas fotos rodaram pela internet. Foi eleito e reeleito.

FHC, sedutor incorrigível, teve um filho fora do casamento com uma jornalista da Globo, que o serviço secreto transferiu para Portugal, fato que a imprensa submissa e aliada ao PSDB escondeu durante a campanha para presidência. Foi eleito e reeleito.

Tancredo sofreu um atentado. A jornalista Gloria Maria testemunhou e passou uma temporada na geladeira. Collor de Mello descobriu a infidelidade da mulher, pois ela anunciou estar grávida sem saber que o marido fizera uma vasectomia. Membros do clã Sarney são os maiores plantadores de maconha do Maranhão. Aécio Neves tem problemas com álcool. Luis Eduardo Magalhães tinha com cocaína. Serra não dorme e tem inúmeras contas anônimas nas redes sociais. Passa o dia pedindo a cabeça de jornalistas que o criticam. Todos eleitos e reeleitos pelo voto direto.

Curiosamente, o Projeto de Lei 3378/08, que modifica o artigo da Lei 10.406, é de autoria do deputado Antonio Palocci (PT-SP) e defendido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Martins, do partido acusado de planejar bolivarianamente o controle da imprensa.

Quem já não ouviu uma dessas "verdades absolutas", espalhadas por pessoas que dizem ter escutado de uma fonte confiável, de alguém de dentro do sistema? Tem gente que jura de pé junto que o 11 de setembro foi armado e que o homem não pousou na Lua.

Homossexual? Muitos escondem. Raí se mudou para a casa do apresentador Zeca Camargo. Logo logo, assumirão a relação. Adotarão um filho? Aids? Milton Nascimento e Ney Matogrosso têm, segundo uma revista extinta da maior editora do País. Que já afirmou que fui "meio" viciado em cocaína, quando eu apresentava um programa para adolescentes, cujo blogueiro tem certeza de que pertenço à facção criminosa dos Petralhas, apesar de muitos tuiteiros me acusarem de vendido, já que me filiei ao PIG, Partido da Imprensa Governista, para quem trabalho há décadas, o que envergonharia meu pai. Leitores do mesmo blogueiro dizem que na verdade sou um coitado maconheiro que bateu a cabeça numa pedra e, além de paraplégico, fiquei xarope.

Raí nem conhece Zeca Camargo e processa a jornalista que divulgou. O DNA do tal filho de FHC, cuja foto uma revista independente colocou na capa, e se vangloriou de ser o único órgão de imprensa a ter coragem de expor escandalosa revelação, não bateu com o do suposto pai. Dilma nunca participou de uma ação armada. O Aerolula em ouro era na verdade o avião de um magnata do petróleo. Milton e Ney estão vivos e saudáveis. E processaram os que mentiram sobre eles. Elas não sumirão por decreto. Enquanto isso, o Brasil nunca viveu um período de estabilidade política como o de agora.

Não é preciso pôr em dúvida e proibir o exercício literário por causa de alguns. Seria como burocratizar o pensamento, tornar o mundo liso como uma poça de lama. Não é assim que funcionamos. Somos bem mais complexos. Sobrevivemos a mentiras e infâmias. Nos fortalecemos com elas. Melhor deixar a expressão livre, nos ensina a história. Não sobrevivemos é sem liberdade.

Ação entre amigos arranha reputação da ciência nacional - FERNANDO REINACH

O ESTADÃO - 19/10

Editores de quatro revistas brasileiras da área médica organizaram uma operação entre amigos para burlar o sistema internacional que avalia revistas científicas. Foram descobertos por um programa de computador. A divulgação dessa descoberta mostra o que alguns pesquisadores são capazes de fazer para satisfazer os critérios quantitativos utilizados pelo governo para avaliar, promover e remunerar cientistas.

Praticar ciência é uma atividade arriscada. Descobrir o desconhecido é difícil e frustrante. O sucesso de um cientista pode ser avaliado com uma única pergunta: "O que você descobriu?" Se a resposta for "o próton", "a vacina contra a varíola" ou "um novo antibiótico", você esta diante de um cientista de sucesso. Mas, na maioria das vezes, a única resposta honesta é "ainda não descobri nada importante, mas estou tentando". Muitos cientistas brilhantes passam a vida sem nunca descobrir algo relevante. O sucesso não é garantido e isso não é demérito, o importante é tentar solucionar um problema relevante.

Com profissionalização da ciência foram criados mecanismos para acompanhar o progresso de cientistas do grupo "ainda não descobri nada". A solução foi a publicação e avaliação de resultados parciais, os trabalhos científicos. Neles os cientistas descrevem os progressos que obtêm ao longo da vida. É uma forma de prestar contas do trabalho em andamento. No século XIX a obra de uma vida consistia em um punhado de livros. Hoje um jovem que ainda não descobriu nada relevante possui em seu currículo dezenas de trabalhos científicos, cada um descrevendo uma micro-descoberta.

Mas como comparar o progresso de cientistas do grupo "ainda não descobri nada" (hoje são chamados de "jovens produtivos"), cada um com dezenas de trabalhos científicos publicados? A solução, por incrível que pareça, não inclui a leitura e avaliação da qualidade do que está escrito em cada um dos trabalhos. A avaliação é feita de maneira quantitativa, com base no número de citações. Se um trabalho é citado na bibliografia de muitos trabalhos de outros cientistas, ele é considerado bom. Se o trabalho é pouco citado, ele é pior. Com base na quantidade de trabalhos publicados e as citações recebidas, é calculado um índice da qualidade do cientista (você pode verificar o índice dos seus conhecidos no Google Scholar), utilizado para decidir quem merece financiamento, quem deve ser contratado ou promovido. Esse critério numérico provoca distorções como o fracionamento de cada pequena descoberta em um número maior de trabalhos (veja o artigo Darwin e a Prática do "Salami Science" publicado no Estado, em 27 de abril de 2013).

Com o aumento do número de trabalhos publicados e as facilidades da internet, o número de revistas científicas explodiu. Parte dos cientistas passou a enviar seus trabalhos para revistas de pouca qualidade, que são menos rigorosas, com o objetivo de aumentar seu número de publicações e consequentemente seu número de citações.

A abundância de revistas pouco rigorosas tornou necessário separar o joio do trigo. Novamente, em vez de avaliar a qualidade do que a revista publica, foi criado o chamado "fator de impacto", uma medida da quantidade média de citações que um trabalho publicado em uma dada revista recebe.

A grande maioria das revistas brasileiras tem um fator de impacto muito baixo, menor que três. Isso significa que um trabalho publicado em uma dessas revistas provavelmente vai ser citado três vezes.

É fácil imaginar que os cientistas preferem publicar em revistas de fator de impacto alto. Por sua vez, o governo incorporou o fator de impacto das revistas na fórmula utilizada para avaliar cientistas e instituições.

Esse mecanismo criou um incentivo para os editores tentarem aumentar o fator de impacto de suas revistas. Foi com esse propósito que os editores de quatro revistas científicas médicas brasileiras formaram sua pequena quadrilha. Os editores da Revista da Associação Médica Brasileira, da Clinics, do Jornal Brasileiro de Pneumologia e da Acta Ortopédica Brasileira, todos ligados aos melhores hospitais e universidades brasileiras, tiveram uma ideia. Cada uma das quatro revistas publicaria uma série de artigos nos quais seriam citados um grande número de artigos publicados nas outras três revistas. Os artigos foram encomendados e publicados.

Os editores imaginaram que, com o aumento de citações recebidas pelas revistas, o índice de impacto seria aumentado no sistema de classificação da Thomson Reuters, que apura e publica o índice de impacto de todas as revistas científicas. Ao cruzarem os dados, os computadores da Thomson Reuters descobriram a anomalia e desmascararam a artimanha do grupo. Um dos editores confessou a trapaça.

A punição foi branda. Não existe lei que proíbe esse tipo de fraude intelectual ou a ação entre editores de revistas com o objetivo de aumentar artificialmente o índice de impacto. As revistas foram retiradas do índice da Thomas Reuters, o governo deixou de contabilizar nas suas equações as publicações feitas nessas revistas, e um dos editores foi demitido.

É por essa e outras razões que, enquanto a quantidade de ciência feita no Brasil vem aumentando, sua qualidade vem diminuindo.

Durante a punição essas revistas deveriam estampar um aviso nos moldes dos impressos em maços de cigarro: "Cuidado: esta revista pode fazer mal à sua saúde ética e moral".

Lei Fio Maravilha - PAULO CESAR DE ARAÚJO

FOLHA DE SP - 19/10

A biografia é um gênero literário que incomoda. É transgressor, perturbador, afinal, narra a história de uma vida. E é assim desde que surgiu na Grécia com Plutarco. O recém-criado grupo Procure Saber tomou para si uma tarefa difícil: enquadrar o gênero. E escolheu a pior forma: defendendo a privacidade ao mesmo tempo que a cobrança de dinheiro para se autorizar um livro.

"Não é justo que só os biógrafos e seus editores lucrem com isso, e nunca o biografado ou os seus herdeiros", disse a produtora Paula Lavigne. Pelo visto o grupo deseja estabelecer o que podemos chamar aqui de Lei Fio Maravilha. Explico.

Em 1972, jogava no Flamengo um centroavante até então mais conhecido pelo apelido de cunho racista Fio Crioulo-doido. Fã do jogador, Jorge Ben Jor decidiu compor uma canção em sua homenagem, a qual deu o título de "Fio Maravilha".

Todo mundo gostou da música, menos o próprio Fio, que foi à Justiça contra o compositor. Alegou que ele estava usando o seu nome e a sua imagem com finalidade comercial e que não era justo apenas Ben Jor lucrar com o sucesso daquela obra. O jogador então cobrou para si parte do que a música rendia em direitos autorais.

Fio nada conseguiu na época, mas sua antiga ideia parece nortear agora o grupo Procure Saber. Em nota em "O Globo", o cantor Djavan não se avexou de também cobrar "um percentual oriundo da venda desse produto (o livro) destinado ao biografado". Felizmente essa ideia não foi invocada pela igreja quando Roberto Carlos gravou canções como "Nossa Senhora" e "Jesus Cristo", que também se utilizam do nome e da imagem de figuras do Evangelho para fins comerciais.

Nada também foi cobrado de Gilberto Gil por ele cantar Chacrinha e sua Terezinha em "Aquele Abraço". Nem de Caetano Veloso, por canções como "Giulietta Masina", sobre a atriz italiana, e "Menino do Rio", sobre o surfista Petit.

Em todos esses casos, os compositores se valeram de um tema para desenvolver obras que, por tratarem de personagens que existiram, podemos chamar de "canções de não-ficção". Um autor de livro também trabalha com temas que, no caso dos biógrafos, são personagens reais. Tim Maia foi tema de um livro de Nelson Motta, assim como JK foi tema de um livro de Claudio Bojunga.

Mas parece que o grupo Procure Saber quer liberdade de expressão apenas para os autores de canções. Para quem escreve livros, faz cinedocumentários ou minisséries, o grupo deseja autorização prévia e cobrar dividendos.

Ressalte-se, porém, que tanto escritores como compositores não podem falar qualquer coisa sobre os outros. Tiririca, por exemplo, foi denunciado por racismo na música "Veja os Cabelos Dela".

Por outros motivos, na ditadura foram proibidas canções de Chico Buarque, de Caetano e de Gil. Hoje, o que prevalece é a censura a biografias que atinge ou já atingiu livros de Fernando Morais, Ruy Castro, João Máximo, Carlos Didier e outros --além do meu próprio sobre Roberto Carlos, que está há seis anos e oito meses fora de circulação.

Pensadores como Darcy Ribeiro e Mangabeira Unger profetizaram que a civilização mestiça do Brasil poderá ser uma nova Roma. Eu compartilho dessa esperança, mas certamente não será no campo da legislação sobre biografias que iremos ensinar algo ao mundo.

Em países como Inglaterra, França e EUA, muito à frente de nós, surgiram ou foram consagradas ideias iluministas como a liberdade de expressão e o direito à informação. Não por acaso, nesses países biografias circulam livremente. Enquanto isso, o Brasil, com sua tradição autoritária, caminha em retrocesso na direção da Lei Fio Maravilha.

A Beatriz de Vinicius - SÉRGIO AUGUSTO

O ESTADÃO - 19/10

Se eu lhe disser que fui amigo de Vinicius de Moraes, que convidado por ele assisti à estreia do histórico show de bossa nova no Au Bon Gourmet, em 2 de agosto de 1962, e três dias depois pranteamos juntos, na varanda do Alcazar, a morte de Marilyn Monroe e discutimos o filme Bonequinha de Luxo, você na certa acreditará, embora nada disso seja verdade. Fui ao show graças a uma companheira de redação no Correio da Manhã, jamais conversei sobre Bonequinha de Luxo ou Marilyn com o poeta, a quem, aliás, conheci muito superficialmente.

Colaboramos, na mesma época, no Diário Carioca, ele numa coluna de música intitulada Bossa Nova e eu comentando filmes, mas só fomos nos cruzar pela primeira vez quatro ou cinco anos mais tarde, na redação do Pasquim.

Levado para o Pasquim por Tarso de Castro, Vinicius nele publicou meia dúzia de textos (perfis de Antônio Maria, Ciro Monteiro, Di Cavalcanti e Carlos Leão, uma entrevista com Chico Buarque, um poema sobre câncer e uma ode à mulher), e no curto tempo em que por lá circulou trocamos apenas impressões e bobagens sobre cinema, nossa praia comum. Detalhou-me seu relacionamento com Orson Welles e a atriz francesa Renée Falconetti (a Joana d'Arc de Dreyer), ambos de passagem pelo Rio em 1942, sua participação na mais fugaz revista de cinema séria já lançada no Brasil, Filme, suas frustradas tentativas de fazer cinema aqui e em Hollywood, seu total desprezo pelo filme Orfeu Negro, de Marcel Camus.

Quase fui seu primeiro biógrafo. Em 1990, Luís Schwarcz convocou um pequeno grupo de jornalistas para levar adiante uma coletânea de biografias para a Cia. das Letras. Ruy Castro inaugurou-a com o formidável Anjo Pornográfico, sobre a vida e obra de Nelson Rodrigues. A princípio escalado para biografar Glauber Rocha, acabei me fixando em Vinicius, mas, como precisava ganhar dinheiro e a prometida bolsa que custearia o projeto nada de sair, joguei a toalha, e o crítico literário José Castello incumbiu-se da empreitada, tempos depois.

O que havia pesquisado acabaria tendo serventia 16 anos depois, quando produzi para a Jobim Music o Cancioneiro Vinicius e o Cancioneiro do Orfeu. De qualquer modo, foi pena eu ter batido mesa. Duvido que minha biografia resultasse igual ou melhor que a do Castello, mas nela Tati de Moraes, primeira mulher do poeta, estaria mais presente. Tati se recusava a falar sobre Vinicius com quem quer que fosse. Só comigo, confidenciou ao amigo em comum Newton Goldman, ela se abriria. Nenhum mérito pessoal; apenas me beneficiei da velha amizade que nos unia desde o início da década de 1960.

Ao desistir da biografia, decidi poupá-la da desagradável tarefa de relembrar os 12 anos que viveu com Vinicius e as cicatrizes que aquela convivência lhe deixara. De mais a mais, se ainda fosse viva quando retomei minhas pesquisas para tocar os Cancioneiros (Tati morreu em 1995, aos 84 anos), sua contribuição não seria tão relevante, pois Vinicius só iniciou sua carreira musical bem depois da separação.

Eu era pouco mais que um adolescente e conhecia Tati apenas de leitura. Ela fazia críticas de cinema na Última Hora e eu, no Correio da Manhã. Ao sermos apresentados por Gilberto Souto, numa projeção na cabine da United Artists, confessei-me surpreso com seu verdadeiro sexo (Tati, para mim, era nome de homem); ela riu e nos tornamos amigos instantâneos e companheiros de assíduas sessões de cinema privadas. Um dia, ela largou a crítica e passou a viver de traduções. Traduziu Ibsen, Greene, Lessing, Lillian Hellman e Lorca, às vezes de parceria com Clarice Lispector.

Miudinha e magérrima, mas forte e severa, a voz rouca de tanto fumar, tinha a alma chique, opiniões sólidas e a língua afiada. A "retardosa rosa Mournful and Beatrix" da última das Cinco Elegias, foi a mulher mais importante da vida do Vinicius, que, tombeur de femmes, se uniria a mais oito nas décadas seguintes. Dizem que chegou a escrever algumas das crônicas cinematográficas assinadas pelo marido no jornal A Manhã, no início dos anos 1940. É possível e até provável.

Conheceram-se em 1938. Ela, nascida Beatriz Azevedo de Mello, muito esperta, bonita e culta, era adorada pelos intelectuais modernistas de São Paulo e por Monteiro Lobato, que batizou de Tati o peixinho vermelho de Reinações de Narizinho. Pensando nela, Raul Bopp inventou "a filha da rainha Luiza" de Cobra Norato. Além de dois filhos, Tati deu ao poeta o empurrão decisivo que o levou à carreira diplomática e para a esquerda.

Graças a ela, Vinicius perdeu o ranço religioso trazido do Colégio Santo Inácio e livrou-se da influência do catolicão Octávio de Faria. A guinada à gauche consumou-se no convívio diário com o escritor socialista americano Waldo Frank, também ciceroneado pelo poeta durante a guerra. Com Welles, Vinicius discutiu cinema e caiu na esbórnia. Com Frank, passou a olhar o Brasil e o mundo por uma ótica diferente.

Frank não só o forçou a descobrir um Brasil miserável que parecia muito além dos seus olhos como lhe serviu de musa para a criação de sua obra mais ambiciosa. Os dois batiam perna pela extinta favela do Pinto, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, quando o escritor americano, observando os negros do morro, comentou: "Eles parecem gregos. Os gregos antes da cultura grega". Começou a brotar ali a ópera popular afro-brasileira Orfeu da Conceição, cujo primeiro ato foi escrito no carnaval de 1942, na casa do cunhado Carlos Leão, e o resto em Los Angeles, onde Vinicius serviu como cônsul de 1946 a 1950.

Lá chegou sonhando com um curso de cinema na Universidade da Califórnia, onde tomou algumas aulas de direção e roteiro. O que de mais prático tinha a aprender o fez com Welles, acompanhando as filmagens de A Dama de Xangai e Macbeth. Passou quatro anos em Los Angeles, aproveitando-se dos prazeres que Hollywood lhe podia oferecer - premières, visitas a estúdios, festas em casas de artistas, principalmente na mansão de Carmen Miranda, shows de jazz - e materializando outros desejos antigos, como aprofundar-se em ciências sociais e música erudita.

Aos poucos cansou-se da ensolarada Califórnia, dos americanos e do cotidiano hollywoodiano. "A vida aqui é muito mais chata do que você está pensando", desabafou em carta a Rubem Braga, a poucos meses de sua volta ao Brasil. Antes, conheceu e extasiou-se com o México, aonde fora recolher material inédito sobre a passagem de Eisenstein por aquelas paragens, nos anos 30. Tati já saíra de sua vida, o cinema continuou.

Manifesto septuagenário - CACÁ DIEGUES

O GLOBO - 19/10

Não sou mais obrigado pela lei a votar, não preciso escolher em quem votar e meu voto não fará falta a ninguém. Isso talvez sossegue minha angústia, minha frustração



Seja qual for a sua idade, é difícil viver, é difícil tomar um rumo na vida, é difícil distinguir o certo do errado, é difícil escolher. Quem sabe, o herói emergente do século 21 será aquele que não escolhe, que não tem que escolher. Deixe eu ver se me explico direito.

Durante a minha juventude e parte da maturidade, fui sempre um neomarxista místico, acreditava que uma boa revolução seria saneadora da maldade humana. Das de direita, quase sempre golpes de estado, não se podia esperar senão opressão política e regressão moral, delas nunca esperei nada mesmo. Se ainda existe a dualidade inaugurada na Revolução Francesa, ser de direita é ignorar a mente, o coração e o estômago dos outros. Mas, ao longo do tempo, as de esquerda também acabaram me decepcionando.

As modernas revoluções progressistas logo cedo iludiram seus preceitos e foram sucedidas por noites sombrias de terror. Foi assim com Robespierre, Stalin, Mao Tsé Tung, Fidel Castro. Também não gosto da hipocrisia da revolução americana, que, apesar de sua grandeza, varreu para baixo do tapete a questão fundamental da escravidão.

Não me tornei inimigo do que fui. Tenho orgulho da fé que tive naquelas utopias, assim como respeito a generosidade dos que ainda hoje as cultivam. Mas não acredito mais que o mundo marcha necessariamente numa direção inexorável, como um trem preso aos trilhos. O mundo é um maloqueiro drogado, a ziguezaguear trôpego por aí. Como disse um político brasileiro, a gente vive esperando pelo inevitável e o que nos chega é sempre o inesperado.

Tanto que, depois de tanto sonho, ainda vivemos, nessa aurora do século 21, os rancores dos genocídios cometidos no passado, a estupidez das guerras religiosas, a selvageria do capitalismo financeiro, a irracionalidade de todos os tiranos, o fracasso de primaveras sem flores.

Os pequenos sentimentos também podem mudar o mundo. Podemos formular teorias enciclopédicas, escrever compêndios de cálculos irrefutáveis, mas são sempre insights que iniciam a aventura do novo na história da humanidade. Peter Higgs, cientista inglês que não usa máquina de calcular, celular ou computador, foi o homem que propôs por suposição a existência do bóson que levou seu nome, a chamada “partícula de Deus”, que pode mudar tudo o que sabemos sobre o universo e sobre nós mesmos. Primeiro veio a luz, depois o que ela iluminava.

Hoje, os jovens de todo o mundo se importam mais com comportamento do que com política, são mais capazes de aderir a uma revolução em nome da felicidade, do que a outra por uma forma qualquer de poder. Claro, às vezes se equivocam, o capitalismo é diabólico, oferece-nos a satisfação de nossos desejos em troca do sequestro de nossa vontade. Trocamos um Apple qualquer de última geração ou um cheeseburguer do McDonald’s, pela intocabilidade de Wall Street ou pela segurança do estado vigente.

Me solidarizo com o direito à manifestação dos professores, estou com eles e não abro, a educação é uma questão crucial no Brasil de sempre. Assim como aplaudo o sindicato deles por promover uma passeata de milhares de pessoas indignadas, mas em paz, desautorizando a violência surgida depois da manifestação. Uma arma que fere não tem identidade, ela surte o mesmo efeito quando manipulada pela boçalidade dos milicianos em defesa de políticos que não merecem respeito ou pelo despreparo cívico de uma polícia que não nos protege. As vítimas somos sempre nós.

Distante do povo, o anarquismo é um barato de rico. Quando vejo um black bloc agir, meu coração se parte ao meio. Odeio aquele quebra-quebra que vai se tornando cotidiano e banal, aquela destruição de equipamentos públicos que só prejudica o cidadão que não tem nada a ver com isso (os bancos não vivem de caixas eletrônicos, não é dali que tomam a riqueza que os faz poderosos, eles só servem ao pequeno correntista de tostões). Mas reconheço sua generosidade juvenil, sua pressa em consertar o mundo, nem que seja na porrada.

Os jovens dos anos 1970 que pegaram em armas contra a ditadura militar se pareciam com eles. Mas, como o mundo não é justo, não foram os guerrilheiros que lutaram contra a opressão, às vezes oferecendo a vida em nome de um sonho, que acabaram com a ditadura. Quem acabou com ela foi a habilidade de políticos democratas, ainda que conservadores, como Ulisses, Tancredo, Montoro, Teotônio, aliados à luta legalista de Lula e dos sindicatos do ABC. A vida é cruel. Nem sempre a pureza romântica está do lado certo, nem sempre o lado certo é o certo. E isso nos castiga a alma.

Tenho mais de 70 anos, não sou mais obrigado pela lei a votar, não preciso escolher em quem votar e meu voto não fará falta a ninguém. Isso talvez sossegue minha angústia, minha frustração de achar que é tudo meio parecido e o que não é meio parecido não é razoável, não convém ao bem-estar de todos. Está difícil cultivar uma democracia verdadeira, em que o outro vale o mesmo que eu mesmo.

Ueba! Virei black-biógrafo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/10

E não se esqueçam de que já está em todas as livrarias a bio do Maluf: "Minha Vida Foi uma Roubada"


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia do FuteboldaDepressão: "Se o Tite cair, é pênalti pro Corinthians!". E chama o Ceni.

E diz que agora a dívida do Eike vai ser calculada em Playstations 4.

E diz que a Marina vai ser vice do Campos e o Campos vai ser vice da Marina e vice-versa!

E adorei a charge do Duke: "Sou neto do Lobo Mau e exijo que você retire da biografia dele a parte em que ele come a vovozinha!". Rarará!

E como me disse uma menina no twitter: "a melhor forma de desautorizar uma biografia não autorizada é dizer que autorizou". Rarará! Ninguém vai querer ler!

E atenção! Virei black-biógrafo! Vou lançar a biografia não autorizada do Malafaia: "Minha Mala é Feia". Subtítulo: "Malafaia é o nosso pastor e nada nos SOBRARÁ!". E vou lançar a bombástica biografia não autorizada do Lula: "Tenho Raiva de Quem Sabe!".

E descobri que a Dilma não é búlgara, é pittbúlgara! E que a Marina Tartaruga Sem Casco é mãe do Macunaíma. Com pose de Virgem Inca!

E vou lançar uma fotobiografia do Neymar: "50 Tons de Wellaton". Rarará! Com todas as fotos desde o início da carreira até hoje: 50 tons de Wellaton!

E estou escrevendo a minha autobiografia não autorizada: "Minha Vida é um Buraco". Você nasce por um buraco, come por um buraco, transa por um buraco e quando morre: vai pro buraco!

E a manchete do Piaui Herald: "Astros da MPB organizam Marcha da Família com Deus pela Privacidade". E que MPB agora quer dizer: Músicos Proíbem Biografias!

E não se esqueçam de que já está em todas as livrarias a bio do Maluf: "Minha Vida Foi uma Roubada". A bio do Sarney: "Moribundo de Fogo". E a do Edir Macedo: "EDÍRZIMO". Rarará!

É mole? É mole mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Ontem o Centro Acadêmico 11 de Agosto fez a Peruada 2013 em homenagem ao Feliciano: Peruada 2013! Contra o ódio do pastor! Meu peru é mais amor!". Isso! Viva!

E em Itapuã, Salvador, tem a "Barbearia do Pão Com Ovo". Rarará!

Nóis sofre mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O que nos diz o Pacífico - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 19/10

O Pacífico está longe de nós, mas precisamos fazer mais para nos vincularmos a economias dinâmicas


Uma das poucas certezas sobre a realidade internacional do futuro é que o Pacífico será uma das mais --senão a mais-- dinâmicas das áreas econômicas do mundo.

Há várias economias grandes na região (EUA, China, Japão, Canadá e, em menor medida, Austrália, Indonésia, Coreia, México), as economias de tamanho médio tendem a ter nível elevado de eficiência (Cingapura, Malásia, Tailândia, Chile, Nova Zelândia) e as menores oferecem grande potencial e baixo custo de produção (Vietnã, Mianmar, Camboja, Laos). Um quadro assim não há em outras partes do globo.

Não espanta que China e Estados Unidos disputem acirradamente espaço na região.

Na semana passada, dois grandes eventos, a reunião da Apec e o encontro anual de chefes de Estado da Asean, ofereceram palco para tais disputas.

Obama, que tinha presença anunciada e uma agenda de visitas bilaterais, não compareceu. Mas os americanos conseguiram avançar as negociações da Parceria Transpacífica --acordo de livre-comércio transcontinental que envolve países grandes e pequenos, como Japão, Austrália, Chile, Malásia e Vietnã-- e anunciaram que há boas perspectivas de conclusão em 2015.

Os líderes chineses, por sua vez, conclamaram a Asean e associados asiáticos a, também em 2015, completar as negociações do chamado acordo regional abrangente de parceria econômica.

A China tem várias controvérsias territoriais na região. Quer convencer os vizinhos de que, se elas forem postas de lado e a cooperação econômica se intensificar, tudo se ajeitará. A estratégia tem funcionado.

O acordo de livre-comércio China-Japão-Coreia, por exemplo, vai para a terceira reunião preparatória, apesar da presença frequente de navios militares chineses e japoneses na proximidade das ilhas Diaoyu, cuja posse é disputada.

O Pacífico está longe de nós. A observação de seus movimentos só nos lembra de que precisamos fazer mais para nos vincularmos a economias com dinamismo.

Mas dois pontos merecem registro nos encontros recentes:

1. A China lançou a proposta de um banco asiático de infraestrutura. Os chineses parecem mesmo focados na ideia de abrir espaço para suas empreiteiras. Primeiro se engajaram na negociação de um banco dos Brics. Agora propõem criar um banco asiático. As duas instituições --a dos Brics e a da Ásia-- acabarão tendo similaridade e talvez possam vir a formar vínculos;

2. A China e a Austrália anunciaram a retomada das negociações do acordo bilateral de livre-comércio para concluí-lo em um ano. O novo primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, declarou que quer o acordo mesmo com uma taxa de desconto, ou seja, mesmo que seu país tenha que fazer concessões para atrair um volume maior de investimentos chineses.

A Austrália é um concorrente de peso do Brasil no mercado asiático: em minério de ferro, carnes e, potencialmente, em outros produtos alimentícios. Se o acordo australiano, de fato, for fechado, a teia de relacionamento Austrália-China sairá fortalecida. O impacto disso não será neutro para nós.

Planos de Putin - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 19/10

Parece um ouriço-do-mar. Não se sabe por qual ponta segurá-lo. Ele pica de todos os lados. Sua atitude é rude, ao menos quando fala com um ocidental. Ele tem um ar mais afável quando posa ao lado de um tigre da Sibéria que acaba de matar. Esses gestos não são inocentes. Eles revelam um dos grandes desígnios de Vladimir Putin, o senhor da Rússia, cada vez mais agressivo desde que retomou o comando do país após o período bufão de Dmitri Medvedev.

A Europa o irrita. Ele não perde uma chance de humilhá-la, de deixar claro que ela está fora do jogo e não serve para nada no destino do mundo. Algo demonstrado brilhantemente com a Síria. Durante meses, Putin paralisou o Conselho de Segurança da ONU, bloqueando qualquer intervenção, ao mesmo tempo em que concedia apoio incondicional a Bashar Assad.

Um belo dia, porém, e agarrando-se ao pretexto dos gases tóxicos utilizados pela Síria, ele "apitou o fim do jogo". Encontrou uma solução (limitada, é verdade, mas melhor do que nada) graças a uma conversinha com os Estados Unidos. E os europeus nisso tudo? Ora, que pena, eles foram esquecidos, mas isso é normal. Quando se trata de um assunto grave, trancam-se as "crianças" nos seus quartos e se acertam as coisas entre os "adultos".

Putin ganhava, assim, em dois cenários. Primeiro, ridiculariza a União Europeia e cada um dos países que a compõem, a começar pela França, coitada, que se achava bem situada para resolver a crise síria e ainda se pergunta o que aconteceu. Segundo, negociou tudo diretamente com Barack Obama. Em outras palavras, reproduzindo o sistema diplomático dos tempos deliciosos da Guerra Fria e da União Soviética: um mundo bipolar regido por duas superpotências.

Compreende-se melhor porque Putin se empenha em provocar fraturas e fissuras no interior da União Europeia. Ele detesta Bruxelas. Não compreende nada dessa democracia frouxa e indecifrável que prolifera na cidade-sede do Parlamento Europeu. Putin é um homem que reverencia o Estado. Ele conhece a Grã-Bretanha ou a Polônia. Não reconhece a União Europeia. Portanto, não poupa esforços para negociar diretamente com Berlim ou com Roma, mas não com o bloco como um todo. No plano econômico, como no político, Putin é um adepto dos acordos bilaterais, e não dos multilaterais. A vantagem: ele deprecia a União Europeia que tanto o irrita.

Outra ofensiva que vai no mesmo sentido: alguns Estados da extinta União Soviética se inclinam para a União Europeia. Está fora de questão que se candidatem a membros do bloco, mas gostariam de assinar acordos de cooperação com Bruxelas. Putin exerce uma forte pressão para impedi-los e utiliza a arma da chantagem: o fim das importações de vinho moldavo, de cereais ucranianos e ruído de botas perto da Geórgia, por exemplo.

É preciso dizer que Putin tem um plano. Ele gostaria de criar, em 2015, uma união aduaneira que incluiria Rússia, Casaquistão, Bielorrússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia e alguns outros pedaços caídos da União Soviética. Assim, se decifra melhor seu jogo brutal e sutil: recriar um imenso conjunto que, sem cobrir todo o espaço da antiga União Soviética, formaria, contudo, um reflexo, uma sombra dela. A ideia é poderosa, porque Putin, nesse ponto, não é muito diferente de seus incontáveis súditos. Mesmos os russos democratas que haviam desejado o fim da União Soviética têm uma nostalgia persistente, uma saudade de sua infância. Eles não se conformam que seu país tenha encolhido bruscamente.

Putin maneja com maestria o patriotismo dos russos, os sonhos de grandeza que os embalam há mil anos, seja sob os czares ou secretários-gerais do Partido Comunista. O projeto de fabricar uma espécie de Grande Rússia, que recobriria quase a geografia da União Soviética, seria sensível a todos os corações russos.

Os mais velhos teriam a impressão de voltar ao passado - uma formidável "fonte da juventude". Os mais jovens descobririam que um futuro se abriria para suas impaciências. E, para todos, a fibra durável do patriotismo recomeçaria a fazer ouvir sua música inebriante. /TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Lei Roberto Carlos - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 19/10

Além de Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello, que chamou Caetano de jurista baiano, outro ministro do STF também se declarou contra a censura de biografias.
Luís Roberto Barroso, antes de ser nomeado para o Supremo, participou de um debate sobre o tema em junho do ano passado na Biblioteca Nacional.

Na época...
Barroso declarou que o artigo 20 do Código Civil, que o grupo Procure Saber pretende manter, era inconstitucional.

Temperatura máxima
Ao sair ontem de uma aula inaugural no Departamento de Ciência Política do IFCS, no Centro do Rio, o ministro Celso Amorim, da Defesa, foi cercado por uns 20 estudantes.
Eles fizeram um ato com bumbo e palavras de ordem. Entre outras coisas, pediam a desmilitarização da PM e cobravam posicionamento contra o uso de armas químicas.

Tem culpa eu?
Em discurso para empresários no Rio, ontem, Lula reclamou do tratamento dado pela imprensa aos programas sociais do governo:
— Vou fazer um curso de jornalismo. Os jornais só falam coisas ruins. Nunca publicam coisas boas.

Aliás...
Em menos de dez dias, é a terceira vez que Lula bate na imprensa. Antes, criticou a mídia no encerramento da 3ª Conferência Global de Combate ao Trabalho Infantil, em Brasília, e depois numa viagem à Argentina.
Como Lula não bate prego sem estopa, esmurrar a imprensa deve dar ibope.

Deus castiga
A Igreja Universal de Aquiraz, no Ceará, está sendo processada pela dona de um cabaré, Tarcília Bezerra.
É que ela decidiu ampliar a sua casa de saliência, e a igreja, inconformada, iniciou sessões de orações de manhã, de tarde e à noite para bloquear a expansão.

Mas...
Uma semana antes da inauguração... um raio atingiu o cabaré, queimando as instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu telhado e boa parte da construção.
Dona Tarcília alega que a igreja foi responsável pelo fim de seu negócio, “usando intervenção divina, direta ou indireta”.
Há controvérsias.

Suspense nas páginas
A Editora Arqueiro lança, mês que vem, “Feliz Natal, Alex Cross”, do best-seller americano James Patterson. É o quinto livro da série do detetive Cross.
Patterson, como se sabe, é um dos autores de suspense mais lidos no mundo. No Brasil, ele já vendeu 185 mil exemplares.

Calma, gente!
A crise no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) prossegue mesmo após a anulação da demissão da historiadora Dulce Pandolfi.
É que a FGV manteve a demissão do professor Cláudio Pinheiro, o que gerou uma nova onda de protestos.

Arco-íris na Mangueira
As 31 candidatas do concurso Miss T Brasil, que vai eleger a mais bela travesti ou transexual do país, vão sambar na Mangueira hoje.
Desde que a escola anunciou que fará uma homenagem à Parada Gay no enredo de 2014, o Palácio do Samba tem recebido um número cada vez maior de lésbicas, gays, travestis e transexuais.

Parabéns pra você
Uma turma de amigos de Vinicius de Moraes se reúne hoje, dia em que o Poetinha faria cem anos, no Tom do Leblon, onde funcionava o antigo restaurante Antonio’s, palco de histórias memoráveis da boêmia dos anos 1970.
Estarão lá Marcos Valle, Mièle, Carlinhos Lyra e outros amigos que às 21h em ponto vão cantar parabéns para Vinicius.

Retratos da vida
Sabe esta operação que prendeu mais de 80 pessoas acusadas de fraudarem o Detran-RJ?

Pois bem, na madrugada de ontem, policiais civis chegaram à casa de um PM e anunciaram a ação. Acuado e com carinha de triste, o homem estendeu as mãos para ser algemado. No que um policial, acredite, completou:
— Viemos prender... sua esposa!

Probleminha...
O PM não conseguiu disfarçar o alívio e acordou a mulher:
— Benhê, tem um probleminha aqui...
Há testemunhas.

SOB NOVA DIREÇÃO - MONICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 19/10

O Lincoln Continental 1935 usado pelo ex-presidente Getúlio Vargas em seus deslocamentos pode ser restaurado em breve. A Ford, que deu o carro de presente ao governante brasileiro naquele ano, analisa um pedido feito pelo governo federal para fazer a reforma. A ideia é que, depois de recauchutado, ele seja exibido no Museu da República, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

DIREÇÃO 2
O carro é considerado histórico e está hoje guardado no Palácio do Ingá, em Niterói, que abriga o Museu de História e Artes do Rio. Há informações de que hoje existam só 17 modelos dele no mundo. O pedido de restauração foi feito numa audiência do ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, com Steven Armstrong, CEO da montadora.

PRÓXIMO PASSO
A Associação Procure Saber deve fazer reunião de balanço na próxima quinta, no Rio, com representantes de Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, entre outros. Os artistas sofreram avalanche de críticas por causa da defesa que fazem da restrição a biografias.

PELO MENOS
A ideia agora é tentar entender melhor as leis que regulam o assunto. E traçar uma estratégia para que nem todas as suas preocupações sejam agora ignoradas -como, por exemplo, a do uso das imagens dos artistas em produtos audiovisuais.

NOVA VOZ
Alguns pensam inclusive em consultar outros especialistas no assunto, para ouvir argumentos diferentes dos apresentados pelos advogados de Roberto Carlos.

NA PARADA
Depois da Cow Parade e da Call Parade, exposições de vacas e orelhões personalizados nas ruas de SP, chegou a vez de Mônica, personagem de Mauricio de Sousa, ganhar 50 versões espalhadas pela cidade. A Mônica Parade começa em 8 de novembro. Além do próprio quadrinista, outros 49 artistas, entre eles Crânio, Mulheres Barbadas e Titi Freak, serão responsáveis pela estilização da personagem em esculturas de 1,60m de altura.

MOSQUETEIROS
Ney Latorraca e Edi Botelho estão ensaiando na Broadway, em NY, o espetáculo "Entredentes" (título provisório), dirigido por Gerald Thomas. É o reencontro do trio desde "Quartett" (1996). Para o novo espetáculo, que estreia em 2014, Thomas escalou também Maria de Lima, atriz portuguesa radicada em Londres. "O sotaque português dá mais graça ao texto", explica o diretor.

EM CASA
Athina Onassis está com o marido, o cavaleiro Doda Miranda, em São Paulo. O casal chegou anteontem para o Concurso de Saltos Internacional Indoor 2013, do qual Doda participa, na Sociedade Hípica Paulista. O casal retorna para a Europa no domingo.

ESTRELA EM CENA
Regina Duarte recebeu convidados na estreia de "Bem-Vindo, Estranho", espetáculo do projeto Vivo EnCena, anteontem, no teatro Vivo. A atriz Vida Alves, o estilista Dudu Bertholini, o curador do projeto, Expedito Araujo, e a cantora Wanderléa foram ao evento. Gabriela Duarte, filha da protagonista, também esteve na plateia.

CURTO-CIRCUITO
A série de livros "Os Filmes da Minha Vida" ganha seu quinto volume, organizado por Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema, na segunda, às 19h, no Espaço Itaú de Cinema.

O Rotary Club começa, nesta segunda, campanha de doação de sangue nos postos da Pró-Sangue do Hospital das Clínicas e do Mandaqui.

A Box 1824 expõe, a partir de hoje, painel sobre tendências na Serpentine Gallery, em Londres.

Ressentimento - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 19/10

O governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, registraram, para a cúpula do PMDB, que o PT menospreza as votações que Lula e a presidente Dilma receberam no Rio. Dizem que Lindbergh Farias ainda tem que superar pendências judiciais. Acreditam que os eleitores vão julgar o governo e não o governador. E, garantem, que a candidatura de Luiz Fernando Pezão é irremovível. 

Um conto de fadas? 
A construção do cenário da campanha eleitoral, feita pelos tucanos, prevê a cooperação, e não a disputa pelo segundo lugar, entre Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Na cabeça deles, os dois candidatos combatem juntos o governo petista. Portanto, dizem que “Aécio minar Eduardo seria como minar a oposição e a possibilidade de segundo turno”. Tucanos e socialistas que apostam nesse embate estariam na contramão da luta política. A citação de experiências, ocorridas em eleições passadas, também não conta na montagem deste esquema, pois diferente de candidaturas passadas “eles (Aécio e Eduardo) são amigos’ Quem viver, verá! 


“Beto Albuquerque, Márcio França e Roberto Amaral estão meio confusos com seu neo oposiconismo, e escolhem o alvo errado (Aécio Neves) 
Marcus Pestana 
Deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais 

Sem combinar com os russos 
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) não gostou da decisão do ministro Alexandre Padilha ( Saúde) de negociar no Congresso, sem combinação prévia, a antecipação do Revalida dos médicos estrangeiros de seis para três anos. 

Deu no ‘Pravda’ 
O que pesou na decisão do ministro Aldo Rebelo, de atender a presidente Dilma, e permanecer no Ministério do Esporte, foi o cenário eleitoral. O PCdoB elegeu dois deputados federais em 2010: Aldo e Protógenes Queiroz. No ano que vem, seu partido terá outros três candidatos: Protógenes, o vereador Netinho de Paula e o ex-ministro Orlando Silva. 

Mala pronta 
O deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) entregou sexta-feira à Câmara o apartamento funcional que ocupava em Brasília. Aos mais próximos, diz que está esperando para fevereiro sua condenação no mensalão. 

Derrota da esquerda 
Os partidos identificados com a esquerda foram derrotados na Câmara na votação da reforma eleitoral. A maioria rejeitou emenda que limitava os gastos de campanha, que tinha o apoio de PT, PSB, PDT, PCdoB, PV e PSOL. Os partidos do centro à direita, que votaram para manter o teto liberado, ironizavam que a limitação funcionaria como um anabolizante para o ‘Caixa 2 

É o fim 
A subcomissão de Direitos Humanos da Comissão de Cultura, criada como contraponto à Comissão de Direitos Humanos presidida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), foi extinta a pedido da Frente Parlamentar Evangélica. 

Agora vai 
PROS e Solidariedade estão formando bloco na Câmara, somando 44 deputados. A aliança se estende à eleição do Rio. Os dois partidos estão conversando com o que restou do PSB no estado para tentar fechar uma chapa ao governo. 

A PRESIDENTE DILMA vai a Belo Horizonte, na próxima quarta, inaugurar duas creches e contratar a construção de 40. Está de olho no voto feminino.

A todo vapor - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 19/10

Lula deflagrou ontem a estratégia para tentar isolar Eduardo Campos (PSB) na disputa pela Presidência. O petista se reuniu com o vice-presidente da República, Michel Temer, em seu instituto. Acertaram a criação de um grupo para evitar atritos entre PT e PMDB que prejudiquem a campanha de Dilma Rousseff. O ex-presidente recebeu ainda o ex-governador Paulo Hartung (PMDB-ES), de quem se afastara desde que deixou a Presidência, para discutir o quadro político no Estado.

Mão na massa Lula ficou de conversar com Rui Falcão para indicar os nomes do conselho. Defendeu Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, mas não falou em retirar a candidatura de Lindbergh Faria (PT) ao governo do Rio.

Máquina Os dois avaliaram que, na troca das pastas, no ano que vem, o ideal é que sejam ocupadas por políticos, e não "tecnocratas''.

Sem... No telefonema que deu para Aécio Neves, ontem, Eduardo Campos desautorizou aliados seus que atacaram o PSDB nos últimos dias. Os dois combinaram de se encontrar nos próximos dias.

... antropofagia O governador pernambucano e o senador mineiro avaliam que a briga entre eles só interessa ao governo e ao PT, pois dá razão à tese do marqueteiro de Dilma, João Santana, que previu uma guerra de "anões" em 2014.

Papo reto Aécio adotou um tom mais enfático ao defender as privatizações em site do partido. "Nós defendemos as privatizações de setores que precisam de mais investimentos do que aqueles que o Estado tem", diz em um vídeo, citando portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

Ontem e hoje O tucano aproveita para provocar Guido Mantega: "É curioso vermos nesses últimos dias o ministro da Fazenda dizendo que só privatizações e concessões salvam o Brasil de mais um crescimento medíocre".

Barata... A operação da Polícia Federal que identificou fraude em diplomas de médicos formados no exterior pegou de surpresa ministros do governo. José Eduardo Cardozo (Justiça) não avisou o colega Alexandre Padilha (Saúde) sobre a operação assim que ela foi deflagrada.

... voa O ministro da Saúde foi surpreendido com uma pergunta sobre o tema durante uma entrevista em Brasília. Além disso, Dilma Rousseff ficou irritada com o delegado da PF que envolveu no episódio o Mais Médicos, menina dos olhos da petista, que reclamou com Cardozo.

Partida 1 A Assembleia Legislativa de SP publica hoje regras para a renovação de sua frota oficial, abrindo caminho para a compra de carros novos para os deputados. A Casa prepara uma concorrência ampla, sem limitações de modelos e marcas, como aconteceu na última licitação, que acabou cancelada.

Partida 2 Os veículos serão substituídos quando completarem 100 mil km ou 5 anos de uso, ou se houver danos que comprometam seu funcionamento. Quase 70% dos carros dos 94 deputados se encaixam nos critérios.

Cada um... Fernando Haddad indicou a auxiliares que não vai criar empecilhos à permanência em sua gestão de secretários indicados por partidos que enfrentarão o PT na eleição paulista de 2014.

... na sua Seis chefes de pastas são filiados a siglas que devem apoiar rivais do petista Alexandre Padilha.

Visita à Folha Newton Lima, deputado federal pelo PT-SP, visitou ontem a Folha. Estava com Luiz Zucchi, chefe de gabinete, e Cláudio Camargo e Júlio Moreira, assessores de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Dilma decidiu copiar FHC. Além de privatizar o petróleo, agora chama o Exército contra os petroleiros, como o tucano fez em 1995."

DE ZÉ MARIA, PRESIDENTE NACIONAL DO PSTU, sobre o reforço de segurança convocado pela presidente para garantir o leilão de Libra, na segunda-feira.

contraponto


Meia palavra basta
Após duas horas de debate sobre o programa Mais Médicos no plenário do Senado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) subiu à tribuna para se posicionar sobre o tema. Ao contrário de congressistas da oposição, que fizeram discursos extensos e inflamados contra o programa, o petista foi conciso e bastante aplaudido ao final.

Jorge Viana (PT-AC), que presidia a sessão no momento, justificou a empolgação dos colegas:

--Suplicy, você falou em apenas um minuto e meio! Teve unanimidade! --brincou com o colega, conhecido por longas falas em comissões e no plenário da Casa.

Esse filho é teu - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 19/10


O polêmico leilão do poço de petróleo de Libra da câmara pré-sal é vital para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff . É o primeiro do novo marco de partilha de produção — o anterior, muito bem-sucedido, foi no sistema de concessão. Pode representar o maior aporte de investimentos estrangeiros no país durante o atual governo, cujo programa de concessões e parcerias público-privadas não deslanchou como se esperava.

O leilão aposenta o discurso que levou a nocaute os tucanos na reeleição do presidente Lula, em 2006: a crítica às privatizações de Fernando Henrique Cardoso. A presidente Dilma larga também a histórica bandeira do “petróleo é nosso”, mais importante movimento nacionalista do país no século passado. Não porque a oposição faça muita carga contra o leilão. Quem acusa o governo de lesa-pátria são os petroleiros, que desde ontem estão em greve por tempo indeterminado nas plataformas e refinarias do país. A maioria dos sindicatos é ligada à CUT.

No Rio de Janeiro, o clima é tenso. As manifestações para impedir a realização do leilão podem ter a adesão de professores, militantes de oposição e mascarados arruaceiros. O governador Sérgio Cabral (PMDB), na berlinda por causa dos protestos, pediu que o governo federal mobilizasse o Exército para garantir a realização do leilão. Essa espécie de “toma que o filho é teu” também fará com que forças federais, pela primeira vez, se responsabilizem pela repressão aos protestos. Até aqui, a presidente manteve sua imagem descolada dos choques entre manifestantes e policiais que vêm ocorrendo por todo o país desde junho.

Tropa na rua
O Exército interditará um trecho da Praia da Barra da Tijuca e todo o perímetro do Hotel Windsor Barra, que fica em frente à praia, na Avenida Lúcio Costa, local escolhido a dedo para dificultar a vida dos manifestantes. Cerca de 1.100 homens — com a participação da Marinha e de forças policiais federais e estaduais — restringirão o acesso aos moradores da região, munidos de comprovantes de residência.

Negociações
O Palácio do Planalto tem margem de manobra para negociar. Além do protesto contra o leilão do campo de Libra, os petroleiros reivindicam a retirada da pauta de votação da Câmara dos Deputados do Projeto de Lei (PL) 4.330/04, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), e a mudança de regras para a terceirização de serviços.

Aumento real
Os petroleiros reivindicam aumento no salário-base de 16,53%

Go home
Oito pessoas foram detidas ontem após invadir e depredar uma sala mantida pelo consulado dos Estados Unidos em Porto Alegre (RS), no shopping Boulevard, na Zona Norte da cidade, durante um protesto contra a espionagem americana e o leilão do campo de Libra. O ato foi promovido pelo grupo Marighella, que se intitula uma “organização socialista, patriota e revolucionária”. O bando jogou tinta em paredes e derrubou bandeiras dos Estados Unidos.

Novela
Os russos estão de volta à disputa pela venda de caças de última geração ao Brasil. O ministro russo da Defesa, Serguei Choigh, durante sua estada em Brasília, propôs parceria ao governo brasileiro para desenvolver e fabricar aviões de combate de quinta geração. O ministro da Defesa, Celso Amorim (foto), admitiu a possibilidade. Como se sabe, o Brasil acaba de adquirir mísseis russos por R$ 2 bilhões. Além do francês Rafale, também participam da concorrência para reaparelhar a Força Aérea Brasileira (FAB) o Grippen, da sueca Saab, e o F-18 Super Hornet, da Boeing. Os caças russos Sukhoi foram desclassificados pela FAB.

Supersalários/ O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, deu prazo de 72 horas para que o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Senado se manifestem sobre a devolução de supersalários de servidores do Legislativo. O Sindilegis tenta barrar a devolução no STF.

Concessões/ O ministro dos Transportes, César Borges, tenta animar os empresários de Brasília a investir mais no programa de concessões e na modernização da infraestrutura de transportes no Brasil. É o convidado do LIDE — Grupo de Líderes Empresariais para o próximo encontro, em Brasília, no dia 28.

Até breve/ Caros leitores, a partir de amanhã a jornalista Denise Rothenburg reassumirá a coluna Brasília-DF. Nos reencontraremos segundas, quartas e sextas-feiras na coluna Entrelinhas, para a qual estou voltando.

Professores
Caetano Veloso, Wagner Moura (foto), Marisa Monte, Leandra Leal, Fernanda Abreu e Thayla Ayala resolveram ajudar os professores em greve no Rio de Janeiro a reabrir as negociações com o prefeito carioca, Eduardo Paes. Parados desde 8 de agosto, por causa do novo plano de cargos e salários do magistério municipal, os professores querem uma saída para o movimento.

Pior que os números só o otimismo de dona Dilma - ROLF KUNTZ

O ESTADÃO - 19/10

Há uma notícia pior que a mistura de inflação em alta, economia quase parada, contas públicas piorando e balanço externo em deterioração. O fato mais assustador, mas nada surpreendente, é a tranquilidade, quase alegria, exibida pela presidente Dilma Rousseff e por sua solerte equipe econômica diante desse quadro. Este ano foi difícil para todos, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na apresentação do oitavo balanço do PAC 2, o atual Programa de Aceleração do Crescimento. Foi realmente um ano difícil, mas ele parece haver esquecido alguns detalhes. A economia americana continuou em recuperação, com mais investimentos e mais exportações, a União Europeia começou a sair da recessão, o Japão continuou avançando e a maior parte dos emergentes, embora perdendo impulso, continuou crescendo mais que o Brasil. A economia brasileira, disse nesta semana o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, será uma das poucas, neste ano, com crescimento superior ao de 2012. Ora, alvíssaras! E quantas terão crescido 0,9% no ano passado, depois de alcançar o ritmo quase alucinante de 2,7% em 2011?

Se a presidente e seus ministros levam a sério o próprio discurso, ninguém deve esperar medidas mais produtivas nos próximos meses, até porque a campanha para a reeleição é o primeiro item da agenda presidencial. A inflação e as contas públicas estão absolutamente sob controle, disse a presidente em Salvador, na terça-feira.Pelos dados oficiais, essa inflação "controlada" continua em alta. O IPCA-15, prévia do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, subiu 0,27% em setembro e 0,48% em outubro, continuando a ascensão iniciada em agosto. Em julho havia ficado em 0,07%, mas no mês seguinte já avançou 0,16%.

Acabado o efeito dos truques com tarifas de ônibus e de eletricidade, o conjunto dos preços voltou ao curso normal numa economia com muita gastança pública, muita demanda privada de consumo e capacidade produtiva defasada. Além disso, a difusão dos aumentos de preços passou de 59,5% em setembro para 65,8% em outubro, no IPCA-15, segundo cálculo da Votorantim Corretora.

O indicador de difusão - porcentagem de itens com majoração de preços - é rotineiramente calculado pelas instituições do mercado financeiro. É um importante sintoma da vulnerabilidade dos vários segmentos do mercado às pressões inflacionárias. Quando a alta se espalha por quase dois terços dos preços e a alta geral acumulada em 12 meses, 5,75%, continua longe da meta, discutir se a inflação está controlada ou descontrolada é um exercício de escassa utilidade. Além disso, o resultado em 12 meses deve continuar acima da meta de 4,5% nos próximos dois anos, até o terceiro trimestre de 2015, segundo projeção do Banco Central (BC) repetida na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária.

Além dessa ata, o BC divulgou também, nesta semana, seu índice de atividade econômica, o IBC-Br, uma espécie de prévia do produto interno bruto (PIB). Esse indicador subiu apenas 0,08% em agosto, depois de ter caído 0,33% em julho. Mesmo com um resultado melhor em setembro, a comparação do terceiro com o segundo trimestre deverá apresentar uma variação muito próxima de zero, talvez negativa, segundo a maior parte das projeções do mercado.

Esse e outros números parecem apontar, passados três quartos do ano, um crescimento pífio em 2013, embora maior que o do ano passado. O ministro da Fazenda já declarou aceitar a projeção de 2,5%, formulada pelo BC e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas o FMI, ao contrário do governo brasileiro, projeta a mesma taxa também para 2014 e uma expansão anual média, nos próximos cinco anos, de 3,5%, se os investimentos em infraestrutura começarem a deslanchar. As previsões são melhores para a maior parte dos emergentes da Ásia, da Europa ex-socialista e da América Latina. Quase todos, além disso, continuarão com inflação menor que a do Brasil.

O crescimento brasileiro, garante o ministro da Fazenda, será puxado, a partir deste ano, principalmente pelos investimentos. Mas, como ele mesmo reconhece, o valor investido em equipamentos produtivos, em instalações e em infraestrutura tem continuado próximo de 18% do PIB, poderá subir um pouco este ano e caminhar - esta é a meta oficial - para 24% dentro de alguns anos. Ninguém sabe quando essa proporção será alcançada, Quando isso ocorrer, o Brasil ainda investirá menos, proporcionalmente, do que investem hoje as economias mais dinâmicas da América do Sul.

Se esse avanço depender do governo, o caminho será muito longo, Até setembro o Tesouro investiu 35,7% dos R$ 91,2 bilhões previstos no Orçamento federal, valor menor que o do ano passado, descontada a inflação. A infraestrutura continua muito deficiente e o setor privado, por muitas razões, também tem investido menos que o necessário.

A piora da balança comercial é uma das consequências. O saldo oficial de 2013 até a segunda semana de outubro foi um superávit de US$ 964 milhões. Na semana anterior, a exportação fictícia de uma plataforma de petróleo havia adicionado US$ 1,9 bilhão à receita. Essa e outras plataformas contabilizadas neste ano jamais foram embarcadas. A operação tem finalidade tributária, mas é contada como receita.

A presidente e seus auxiliares costumam insistir, também, no discurso da boa gestão fiscal. Podem convencer quem ignora a contabilidade criativa e as ligações perigosas do Tesouro com os bancos federais - dados conhecidos internacionalmente e objetos de gozação dentro e fora do País. Pelo menos isto se pode dizer a favor da retórica e dos truques oficiais: são divertidos.

Onda de pessimismo - LUIZ FELIPE LAMPREIA

O GLOBO - 19/10
Uma onda de pessimismo varre o mundo. O Fundo Monetário manifesta dúvidas sobre a capacidade das economias emergentes de suportar os efeitos de um crescimento mais lento. Tantos analistas fazem projeções negativas sobre os efeitos do impasse político crescente nos Estados Unidos e sobre os resultados da desaceleração da China. Na Europa,o que mais se ouve é que as coisas vão mal.
No Brasil, há muito que se orgulhar da emergência do país como uma economia que cresce e promove a ascensão social de milhões de cidadãos. É óbvio que ainda falta progredir muito - como os recentes protestos demonstraram com força.
Creio que é preciso contrapor-se a este pessimismo, criando uma agenda de longo prazo, se queremos ter um futuro melhor e mais sustentável. Foi este imperativo de contribuir para equilibrar as pressões de curto prazo com as necessidades de longo prazo que me fez aceitar participar da Comissão para as Futuras Gerações, criada pela Martin School, da Universidade de Oxford, e presidida por Pascal Lamy, o ex-diretor-geral da OMC.
Este grupo foi composto de pessoas ilustres das mais variadas procedências, como Chris Patten, o chanceler de Oxford, Ian Golding, Trevor Manuel, Robert Zoellick, Ana Huffington, Lionel Barber, Mo Ibrahim, Lord Stern, Lord Rees, Nadan Nilekani, Jean Claude Trichet, Liu He, Kishore Marubani e alguns outros. Sua motivação central era uma preocupação profunda com o impasse nas negociações de comércio internacional, mudanças climáticas, embates cibernéticos e outras. A nosso ver, não é aceitável que tantos processos que buscam equacionar graves problemas globais estejam entravados. Há, entretanto, razão para esperar melhorias.
Em contraste com os Estados Unidos e virtualmente com todos os demais países do mundo, o rendimento pessoal entre os 10% mais pobres da população mundial cresceu mais do que o dobro do rendimento dos 10% mais ricos. A população mundial vivendo em extrema pobreza caiu de 16,4 em 1995 para apenas 4,7 por cento em 2009.
O resultado de nosso projeto de um ano de pesquisas, análise e debates é uma agenda prática para a ação. O documento chama-se em inglês Now for the Long Term , foi publicado no dia 16 de outubro e apresenta diversas recomendações de mudanças.
A experiência brasileira, assim como de outras nações, inclusive África do Sul, México, Malawi e Zâmbia, é que transferências em dinheiro podem ter impactos positivos em reduzir a pobreza infantil e aumentar a renda das famílias. Estas famílias podem usar estas ajudas para investir em seus filhos, pagando por sua educação e saúde, com efeitos multiplicadores na economia local. Os integrantes da Comissão foram encorajados pela evidência que, em países de renda média e alta, 25% dos estímulos fiscais desde a crise de 2008 foram direcionados para medidas de proteção social.Não podemos deixar cair estas tendências.
Outras recomendações importantes da Comissão para as Gerações Futuras dirigem-se à necessidade de reforma das instituições globais, ao enfrentamento dos riscos climáticos e à melhoria da governança corporativa. Elas incluem:

* A criação de uma coalizão (C20-C30-C40) para combater os efeitos nocivos das mudanças climáticas. Seria um grupo formado pelos países do G-20, 30 companhias e 40 cidades. A coalizão buscaria acelerar ações sobre mudanças climáticas com metas mensuráveis que incluam edifícios e veículos eficientes no uso de energia no mapeamento das emissões.

* Estabelecer um sistema de acompanhamento dos regimes fiscais e dos marcos regulatórios para rastrear abusos tributários, promover a troca de informações e aumentar a transparência

* Estabelecer limites temporais para o financiamento público de instituições internacionais a fim de assegurar que haja revisões regulares de seus mandatos e exame de seus resultados.

* Remover subsídios perversos em agricultura e hidrocarbonetos e reorientá-los para os mais pobres.
O documento De agora para o longo prazo identifica áreas essenciais onde é necessário realizar mais progressos e desenha uma agenda realista para a ação. Nossa crença é que não podemos pensar que nossos netos e bisnetos vão encontrar respostas para os problemas mais difíceis se receberem um legado de pobreza, crise ambiental e recursos escassos. Temos a responsabilidade e a capacidade de criar um futuro sustentável e que inclua a todos. Nossa esperança é que nossas recomendações possam estimular debate e ação sobre os desafios críticos que se apresentam nos planos nacional e global.

Não é mais aquele - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 19/10

Visto durante anos como símbolo de liberdade e de status, o automóvel passa por lento desmanche de prestígio, especialmente nas grandes cidades.

Como pode sentir-se livre e diferenciado o proprietário de um veículo que permanece engaiolado durante horas nos gigantescos congestionamentos de trânsito; que está sujeito a restrições exasperantes de circulação, como os rodízios e os corredores exclusivos de ônibus impostos pelo prefeito paulistano, Fernando Haddad; e que se sente vítima de uma indústria implacável de multas?

Ainda não apareceu quem denuncie o automóvel como causador de câncer, mas as relações com o que aconteceu com o cigarro começam a pipocar. O especialista em Sustentabilidade da consultoria Ernst & Young, Ricardo Catto, leva o assunto para o lado do marketing: "Assim como houve mudança de mentalidade em relação ao uso do tabaco, a indústria automotiva também terá que repensar seu modelo de negócio". Ele atribui o aumento do estresse ao volante e essa difusa sensação de impotência à falta de planejamento e a problemas crescentes de mobilidade (ou imobilidade) urbana. "Ser proprietário de um carro começa a ser malvisto é, até mesmo, como nocivo à sociedade."

O problema não se restringe às grandes cidades brasileiras. Nem se pode dizer que a "desmotorização" seja generalizada. "No Brasil, o sonho do automóvel como meio de transporte e de qualidade de vida continua de pé", diz Marcelo Cioffi, consultor do setor automotivo da PwC Brasil. Contribuem para isso a estrutura deficiente de transporte coletivo, o aumento de renda da população e as facilidades de acesso ao crédito.

Mas esse desmanche já é um processo em curso. Até mesmo no Brasil, grande número de jovens começa a entender que dirigir um carro atrapalha a enturmação digital, admite Cioffi. Tanto quanto é proibido atender ao celular quando se dirige um carro, também o é quando se tenta tuitar ou enviar torpedos eletrônicos nessas condições.

Nos Estados Unidos, se pudessem optar, nada menos que 30% dos jovens entre 18 e 24 anos prefeririam ter acesso à internet a possuir um carro. Só 12% dos adultos com 54 anos ou mais fariam a mesma escolha, aponta pesquisa realizada em 2012 pela consultoria Gartner. "Os mais jovens dão mais importância ao estilo de vida digital e a formas alternativas de mobilidade", reforça Thilo Koslowski, analista da Gartner.

Esse processo, no entanto, será relativamente lento e ocorrerá em ritmos diferentes em cada região do mundo. Mesmo nos Estados Unidos, a tendência de vendas de veículos é de crescimento, ao menos até 2015, avalia a consultoria Alix Partners. Os países em desenvolvimento, como Brasil, Rússia, Índia e China, deverão manter a demanda aquecida. Mas na Europa e no Japão a perspectiva é de estagnação (veja o gráfico).

Serviços de aluguel de carro por hora (car-sharing) e incentivos de empresas para caronas entre funcionários, comuns na Europa, ainda são raros no Brasil. "Cada vez mais carros são vendidos, mas não podemos construir mais ruas nas cidades", diz Ivar Bermtz, sócio da Deloitte.