quarta-feira, outubro 16, 2013

Com a garganta presa - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA 16/10

Foi muito divertido o retorno que tive da crônica de domingo passado, sobre as balas da infância. Muitos leitores lembraram de suas guloseimas favoritas, lamentaram eu não ter citado as balas Mocinho, apostaram que a pastilha cujo nome esqueci era a Supra Sumo (também adorava, mas não era essa...) e contaram episódios de quase morte por engasgamento com a bala Soft.

Porém, sacudidos de cabeça para baixo, todos se salvaram. Há quem jure que essas balas foram proibidas por terem um formato perfeito para grudar na traqueia até asfixiar – não encontrei fontes oficiais sobre o assunto, mas estou tentada a acreditar que elas entraram mesmo para a lista negra do FBI, da CIA e da Scotland Yard. Era tenso: eu chupava essas balas como se estivesse participando de uma roleta-russa.

Engasgos rendem cenas hilárias, mas levo o assunto a sério, pois quem já teve o desprazer de passar por isso sabe o quanto é estressante. E se a cena se der em local público, não só é estressante como constrangedor. Difícil manter a pose quando se está prestes a morrer sufocada, com os olhos esbugalhados e o rosto ganhando o tom de beterraba.

Acontece comigo com uma frequência que não chega a ser alarmante, mas manda a prudência que eu não relaxe tendo um copo em mãos. Não engasgo com sólidos, apenas com líquidos. Já vivenciei o problema no meio da madrugada, ao tomar água, e também em restaurantes, bares, até em beira de piscina.

Sofro só de imaginar que um dia possa ocorrer durante uma palestra ou uma entrevista. Hoje me concentro demais para que a epiglote (porta de entrada do ar nos pulmões) não feche em hora indevida, mas às vezes estou empolgada com a conversa, emocionada até, e aí é que o rolo acontece. Se dá para manter a classe? Olha, nem sendo a Costanza Pascolato.

Quase sempre estou acompanhada, e quem me conhece sabe o que fazer: é a manobra de Heimlich, criada pelo médico americano Henry Heimlich, que em 1974 inventou um método simples para induzir uma tosse artificial. O salvador deve se posicionar por trás do engasgado e abraçá-lo mantendo as duas mãos bem abaixo do peito dele, e fazer uma pressão curta, porém firme em direção ao tórax, tantas vezes quantas necessárias.

Pequenos socos até que seja expelido o que estiver interrompendo aquele bate-papo que, até então, transcorria de forma tão agradável. É um procedimento mais indicado para quem tem algo sólido obstruindo a respiração, mas mesmo com líquidos funciona. Comigo, ao menos, funciona, ou não estaria aqui respirando e escrevendo.

Considere essa crônica um serviço de utilidade pública. Mesmo as balas Soft tendo sido banidas do comércio (nada sei sobre o mercado negro), ainda assim há muitas coisas que nos engasgam, entre sólidos, líquidos e emoções sortidas: quem já não quase sufocou com um beijo? Se for para faltar ar, que seja por amor, que também é doce.

Paradoxos - ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 16/10

Todas as vidas humanas contêm paradoxos. Como aprendemos com Caetano Veloso e talvez com Schopenhauer, ‘de perto ninguém é normal’



Quando cheguei em Harvard em 1963, um jovem instrutor que tinha interesse num país obscuro e confuso chamado Brasil teve a gentileza de me mostrar a universidade. Aqui morou Agassiz, ali Galbraith, acolá Talcott Parsons, indicava meu anfitrião. Vi o Peabody Museum, onde estudei, e finalmente, como uma apoteose, fui levado à maior biblioteca universitária do planeta: a Widener Library, com seus 30 mil metros quadrados e seus 3 milhões de livros, que, mudos e alinhavados em imensas prateleiras, formam um labirinto de 92 quilômetros. Essa é apenas uma parte dos mais de 16 milhões de volumes do sistema de bibliotecas da universidade, explicou meu generoso guia. Só fiquei tão impressionado quando fiz minha primeira comunhão, falei com Lévi-Strauss e entrei na aldeia dos índios Gaviões pela primeira vez nos idos de 1961. Naquela época, era o leitor quem localizava o livro. Na Widener encontrei toda a obra de Machado de Assis e uma coleção completa dos Boletins do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que usei na minha tese de doutoramento sobre a organização social dos índios Apinayé.

No meio da visita, afastei-me do meu guia por alguns segundos, o suficiente para me perder em meio as estantes. Encontrando-o um tanto aflito um pouco depois, fui advertido. “Tome cuidado. Um aluno ficou dois dias perdido aqui dentro e foi encontrado por acaso pela mais antiga bibliotecária, uma certa Miss Page, cujo fantasma, dizem, especializou-se em resgatar leitores cuja vida intelectual os leva a se perderem em meio aos livros.” Sorri com essa história semelhante a um conto de Borges.

Todos sabem que os livros, os princípios, os mandamentos e todas as nobres receitas podem ser fontes de desvios e loucuras. Eles são escritos para iluminar, mas em certos momentos tornam-se obstáculos. Ficar perdido numa biblioteca não seria um sinal de submergir nas ideias que saem como vespas ou borboletas do seus livros? Eis um paradoxo.

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A primeira vez que ouvi a palavra “paradoxo” foi pela boca de meu tio Sílvio no telefone. Ele fazia uma complicada ligação interurbana e encantou-se pela voz da telefonista. Como queria localizar um amigo, ele disse perto de um menino curioso com uma memória literária: “Mas isso não é um paradoxo? Estou procurando um amigo e encontro uma bela voz de mulher!” Ouvi a palavra pelo menos quatro ou cinco vezes naquele telefonema de alguns minutos, o qual terminou num encontro entre meu tio e a operadora.

Aprendi, antes de ter lido o famoso livro do filosofo de Oxford, John L. Austin, que as palavras também faziam coisas. Dias depois, soube que a telefonista era feia e que o encontro fora, ele próprio, um paradoxo!

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Nada mais paradoxal do que os arautos do impossível, mas poeticamente utópico, desafiador e corajoso — “É proibido proibir” — proibirem biografias. Quem vive do público e ganha do povo a simpatia que endeusa naquilo que chamamos de “sucesso”, não pode impedir que suas vidas sejam lidas de fora para dentro. Nisso, o contraste com os Estados Unidos é, mais uma vez, flagrante. No Brasil abundam as “memórias” nas quais o ponto de vista é o do sujeito: a visão de dentro para fora. Nos Estados Unidos, predominam as biografias — essas vidas contadas de fora para dentro, geralmente decepcionantes para a autoimagem que os ricos e famosos têm de si mesmos. Fiquei chocado com as novas biografias de Thomas Jefferson ao saber que esse pilar do igualitarismo teve como amante uma menor de idade, negra, escrava e criada de suas filhas.

Todas as vidas humanas contêm paradoxos. Como aprendemos com Caetano Veloso e talvez com Schopenhauer, “de perto ninguém é normal”. Seria isso um bom argumento para tornar a intimidade pessoal mais sagrada do que a liberdade de escrever livremente sobre o outro — quem quer que ele seja? Quem vale mais? A vida pessoal de quem deve tudo ao público, ou a liberdade de escrever? Os gênios morrem, mas a obra fica. Faz alguma diferença saber que Kafka e Benjamin Franklin eram superdesorganizados e que Cole Porter era gay? O mundo está repleto de gente desorganizada e de gays que jamais serão Kafkas, Franklins ou Porters!

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Eu moro em Niterói e já estou imaginando como vamos nos ligar à Cidade Maravilhosa quando o viaduto com vigas de aço especial, feitas para durar séculos, for derrubado. O sumiço de parte dessas vigas e as três horas que levo de minha casa em Piratininga à PUC de carro arrefecem o meu entusiasmo pelo progresso. Um dia, diz meu lado malévolo, vão roubar a Ponte Rio-Niterói ou o Palácio do Alvorada. Teremos um Porto Maravilha, sem dúvida, mas paradoxalmente banhado pelas águas imundas da imensa sentina que hoje é a Baía de Guanabara.

Consolo-me com Vinicius de Moraes na sua poesia musicada que mais me conforta e comove:

“Às vezes quero crer mas não consigo

É tudo uma total insensatez

Ai pergunto a Deus: escute amigo,

se foi prá desfazer por que que fez?

Mas não tem nada não

Tenho meu violão…”

Um ET na TV - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 16/10

No planeta do senso comum, é fascinante observar as reações diante de um pensamento diferente


Fernando Lobo, pai do Edu, comandava um talk-show na falecida TV Continental do Rio, na década de 1960, quando um convidado lhe declarou: "Bem, Fernando, não sei se posso responder sua pergunta aqui na TV". E Lobo: "Pode sim, ninguém vê esse programa, mesmo!"

Assim, Fernando Lobo se tornou meu santo padroeiro de qualquer apresentação pública: sou de uma desimportância atroz, de modo que posso falar o que quiser, onde quiser, que amanhã tudo vira papel de embrulhar peixe.

É nesse espírito que tenho frequentado um programa de TV aberta nas manhãs de segunda-feira, como um antropólogo no planeta do senso comum, o viés das audiências matinais. É fascinante observar as reações que causo ao apresentar um pensamento diferente. A seguir, algumas coisas que aprendi lá sobre a natureza humana.

1. A predominância maciça do pensamento "ou isto ou aquilo", a dificuldade de sair do "bandido ou mocinho".

2. A completa absorção do "politicamente correto" como nova versão do senso comum.

3. A dificuldade de pensar estatisticamente ("Ele generaliza tudo"). Passei a fazer um reparo antes de qualquer afirmação: "O que falarei diz respeito à maioria. Estou seguro de que você conhece famílias de 11 filhos homens, mas a maioria é próxima do meio a meio".

Paixão dura uns quatro anos? Revolta na plateia. "Sou apaixonado há quarenta anos!". "Ok, então o sr. é um dos felizardos da MINORIA." Ele não percebe que a paixão se transformou em amor e companheirismo (o mais comum).

4. Forte preconceito contra o preconceito (o politicamente correto incorporado ao senso comum). "O que causa mais medo? Um pitboy branco tatuado ou um negro de terno, com uma pasta?", perguntei. Um músico multitatuado me interpelou dizendo que, em Brasília, um homem de terno lhe meteria mais medo que um tatuado. Não notou que só trocava de preconceito.

Nesse caso, ajudado pela apresentadora, consegui que a maioria aceitasse que há sempre uma primeira impressão e que o problema é se aferrar a ela.

3. A força da frase populista de efeito. Eu mesmo já me utilizei dela quando, numa discussão sobre a felicidade, disse que ela não era um porto a se chegar, mas um jeito de viajar. Fui aplaudido em cena aberta.

Mas a minha "felicidade" durou pouco. Quando afirmei que a fé é o dom para aceitar e se entregar ao ilógico e ao absurdo, como crer que um defunto ressuscitou no terceiro dia, um ator me interpelou: "Isto não é fé, é dogma. Fé eu tenho no milagre da vida, no saber de uma pessoa que se cria e respira no líquido, no ventre de uma mulher".

Foi ovacionado de pé! Confundiu o absurdo (dogma) com sua aceitação (fé).

Mesmo quando disse que, como médico, não precisava de fé para entender o processo de reprodução, e saber que fetos não "respiram no líquido", e sim, que se abastecem de oxigênio através do sangue da mãe, a plateia me ouviu com indiferença, pois estavam encantados com a frase de efeito do ator.

Mas alguém em casa deve ter me ouvido, e eu aprendi um pouco mais sobre a natureza humana, e isso me basta.

Cuidadores de idosos - ASTOR WARTCHOW

ZERO HORA - 16/10

Artigos recentes em Zero Hora abordaram diversos e procedentes aspectos relacionados aos idosos. Gostaria de me referir a um ponto costumeiramente desdenhado e esquecido. A questão do cuidador familiar, isto é, o cuidador não profissional. O cuidador por afinidade de parentesco, a exemplo de irmãos e filhos, principalmente.
Quem realmente se preocupa com o seu idoso? Quem realmente cuida do seu idoso? Qual o ônus pessoal e familiar desse cuidador?
Uma rápida pesquisa confirma o que é de (re)conhecimento de todos. A absoluta maioria dos filhos se omite na atenção aos próprios pais. Corrijo: se omite na atenção partilhada aos pais, já aos cuidados de algum parente. Sim, regra geral, alguém está na companhia do idoso.
Mesmo nos raros casos daqueles que tenham a colaboração de cuidador profissional, os filhos responsáveis e rotineiramente presentes sofrem uma imensa e desgastante carga emocional, na proporção das dificuldades e necessidades impostas por seu idoso.
Mas sofrem um duplo desgaste emocional, pessoal e familiar, na proporção da omissão dos demais que deveriam _ por razões éticas, responsabilidade e por solidariedade _ se fazer presentes nos cuidados do seu idoso.
O responsável presente tem privações de lazer, de convivência com filhos, companheiros e amigos. Há casos em que nem casamentos resistem. Esse sobrecarregado cuidador familiar tem perturbações emocionais que atrapalham seu trabalho e convivência profissional.
Toda essa privação e suas “dores” resultam sentimentalmente reiteradas e agravadas nas omissões do outro. Porque o outro que se faz ausente goza os prazeres da vida e das oportunidades.
Posta a situação de modo real e verdadeiro, entre duas realidades opostas, ainda que devessem ter a mesma motivação ética _ a de cuidar de alguém _, resultam evidentes indagações de natureza existencial.
De filho para filho, de irmão para irmão, por exemplo, haverá alguém mais responsável? E, ainda que assim fosse, não haveria de se fazer presente, no mínimo, um exposto, renovado e permanente grau de solidariedade, participação e colaboração?
Mas, e se assim não fosse, como na maior parte dos casos não é, o evidente comprometimento de um e a reiterada ausência de outro, o não gozo (da vida) de um e o estado prazeroso (da vida) de outro, não revelam e significam algo atroz, quase perverso?

Quando o mais importante é o silêncio - JOSÉ-MANUEL DIOGO

O GLOBO - 16/10

Brasil de repente ficou no meio da polêmica mundial. Em menos de um mês parece que o Itamaraty virou referência para roteirista de James Bond.

Os brasileiros redescobrem o mundo da espionagem e ao mesmo tempo ficam sabendo, pela voz da sua presidente, que o Brasil não tem espiões de qualidade - não há espião que resista.

Quando funciona bem, uma agência secreta é completamente invisível. A existência das melhores do mundo, como a britânica MI6, foi negada durante quase um século; a americana NSA é tão discreta que a chamam No Such Agency. Sempre que aparecer a palavra espião escrita em alguma notícia de jornal, quer dizer apenas que alguma coisa correu mal. A história da espionagem é feita com apenas de dois tipos de matérias: histórias verdadeiras sobre coisas falsas ou então ótimas mentiras sobre algo que nunca aconteceu.

Ao contrário de quase todas as atividades profissionais que muitas vezes são valorizadas por terem eco na opinião pública, quando se trata de espionagem e agências secretas o mais importante é o silêncio. Os espiões vão sempre fazer os seus relatórios ao chefe, nunca aos jornais, o que se aplica também aos espiões jornalistas. É um contrassenso. Alguém consegue contabilizar o verdadeiro custo para o Brasil da notícia que correu mundo de que um dos seus ministérios está sendo espionado?

Os tempos mudam demasiado rápido e o poderio econômico do Brasil não foi acompanhado pela modernização dos seus serviços de informação. Mas não adianta encontrar culpados em "fantásticas" matérias de TV. Isso vale para discurso político, mas não para a prática.

Nos dias de hoje, com o desenvolvimento - e também democratização - das tecnologias de informação, as atividades que todos conotamos com a espionagem clássica e com os espiões românticos que o cinema americano ajudou a popularizar, usando disfarces, microcâmeras, alteraram-se para sempre. Os espiões são agora muito mais tecnológicos e muito menos atléticos. Sabem programação de computadores, cálculo matemático e são sociólogos; provavelmente nem vão ao ginásio.

Os mais eficazes espiões da atualidade não são perigosos operacionais da CIA, do MI6 ou do Mossad, nem assassinos profissionais, nem agentes de elite, nem militares; são aqueles que através da internet sabem encontrar os caminhos para dominar o mundo.

Os hackers, homens e mulheres que conseguem entrar e alterar sistemas informáticos supostamente seguros, estão agora na primeira linha do recrutamento para as atuais agências secretas. Já não são mais locais como West Point, Sandhurst ou Resende os viveiros preferenciais para encontrar um candidato a agente secreto. Os novos espiões começam a sua atividade na mais tenra adolescência, percorrendo em sua casa, no quarto, os caminhos mais obscuros do mundo virtual. Fazem-no às escondidas dos pais e da sociedade, não seguindo nenhum código de honra ou parâmetro moral. O seu único objetivo é poder descobrir o que está escondido na internet; e o grande perigo para a sociedade é que tudo, de cada individuo, está na world wide web.

Mas, como se pode comprovar no caso do Canadá, que espionou o Ministério de Minas e Energia, não se trata de uma relação entre nações amigas. Isso nem está em discussão, até porque, nesse mundo da espionagem, amizade não existe. As relações se pautam por um único objetivo: interesse. E é uma prática que vem de longe. Sun Tzu, o sábio general chinês que viveu cinco séculos antes de Cristo, dizia que o que possibilita ao soberano inteligente conquistar o inimigo é o poder de previsão, e que esse conhecimento só pode ser adquirido por meio de homens que estejam a par de toda movimentação do inimigo. Por isso, devem ser mantidos espiões por toda parte. O fato é que todo governo gostaria de ter um BBB para chamar de seu.

Marina e Dilma! Vai dar jacaré! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 16/10

Sabe o que o Lula falou quando viu o Ninho de Pássaro? 'Olha, inauguraram ainda com andaimes'


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta: "Mulher de Carlinhos Cachoeira quer se candidatar a deputada". E os projetos? Legalizar os jogos de azar e combater a corrupção! Rarará!

E outra piada pronta: "Pinto Feliz: projeto quer distribuir remédio contra impotência em Cuiabá!". Pinto Feliz em Cuiabá!

E o predestinado do dia: promotor que pediu a dissolução da torcida do São Paulo: Roberto SENISE! Rarará.

E Brasil x Zâmbia em Pequim! Pequim é bom porque você pode comprar aquele monte de bugiganga tudo original! E adorei a linha de Zâmbia: Kabaso e Mulenga. E o Brasil suou pra ganhar de Kabaso e Mulenga. Aliás, o Brasil só fez gol quando tiraram o Kabaso! É verdade! No estádio Ninho de Pássaro.

Aliás, sabe o que o Lula falou quando viu o Ninho de Pássaro? "Olha, inauguraram ainda com os andaimes." Rarará!

E o Galvão mais rouco que a foca da Disney! Galvanização: corrosão do ouvido humano quando exposto aos comentários do Galvão!

E a Dilma e a Marina batendo boca? Parecem aquelas vizinhas que ficam batendo boca no muro: "Sua porca". "Melhor porca que corna." "Seu marido não vale nada." Briga de muié! Vai dar jacaré! Muié com muié dá jacaré! "Hoje! Luta no gel! Hipopótamo x Ema!" Rarará!

E tá na cara que aí tem perrenga pessoal. E a Marina pra viajar pro exterior tem que pedir permissão pro Ibama? Tráfico de animais silvestres! Rarará!

E o Ceni? O meu anti-herói! E o povo continua zoando com o Ceni! Manchete do Sensacionalista: "Torcedor consegue liminar e impede Ceni de bater novos pênaltis".

E a manchete do Piauí Herald: "Rogério pede marcha fúnebre no Fantástico'". Pior, diz que o Ceni foi pro "Soletrando" do Luciano Huck e errou a palavra pênalti. "Rogério, soletra a palavra pênalti". E o Ceni: "P-E-N-A-U-T-E! PENAUTE!". Rarará. E o tuiteiro Leandro Batas: "Se pênalti é loteria, a do Rogério tá acumulada". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha essa placa: "Bem-vindos a Osasco! Temos problemas, mas Carapicuíba tem mais". Rarará. Tipo aquele que come banana e joga a casca no vizinho. Tipo aquele que bota o saco do lixo na porta do vizinho!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Lei Roberto Carlos - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 16/10

O pessoal do Procure Saber cita Glória Perez, dia sim, outro também, para justificar sua posição contra biografias não autorizadas. Glória tirou das livrarias “A história que o Brasil desconhece”, de Guilherme de Pádua, assassino de sua filha.
Ontem, no seu Twitter, a querida novelista desmentiu a notícia de que tinha se oferecido para ajudar o grupo, indo a Brasília conversar com a ministra Cármen Lúcia, relatora da Adin contra a proibição.

Diz ela...
Ainda no Twitter, Glória manifestou seu dilema nesta questão:
— Não há democracia sem liberdade de expressão e sem direitos individuais. Conciliar esses direitos é a questão.
Ela também aplaudiu Joaquim Barbosa, que é contra a censura de biografias “desde que a indenização seja tão pesada quanto é nos outros países, em caso de abuso”.

Franguinho grelhado
Marina Silva comeu franguinho grelhado e arroz integral no jantar, segunda, na casa de Eduardo Campos, em Recife.
Os dois, como se sabe, são alérgicos a derivados de laticínios e frutos do mar. Mas, como avisa o líder do PSB, Beto Albuquerque, a dupla está vacinada “contra alergia, mau-olhado e baixaria”. Ah, bom!

Mama África
A nova temporada da série “Heróis de todo mundo”, no Canal Futura, que resgata a história de figuras da cultura afro-brasileira, terá Cris Vianna, Sheron Menezes e Lucy Ramos.
As formosas vão dar vida às escravas Xica da Silva e Esperança Garcia, e à escritora Maria Firmina.

À mesa
Rui Falcão e Sérgio Cabral combinaram um almoço amanhã.

Nossa terra
A Record vai fazer novas edições de quase todos os livros de Antonio Torres, candidato favorito à ABL, na vaga de Luiz Paulo Horta.
Entre eles, “Nossa terra”, vendido para mais de dez países, “Meninos, eu conto”, “Meu querido canibal” e “Um táxi para Viena d’Áustria”.

Amava os cachorros
Sai este mês, no Brasil, pela Boitempo, o romance do famoso escritor cubano Leonardo Padura “O homem que amava os cachorros”.
O livro aborda o assassinato de León Trotsky, no México.

História no Brasil
A Casa da Palavra lança, ainda este mês, o livro “História do Brasil para ocupados”. Traz artigos de 66 autores.
Entre eles, Gustavo Franco, o ex-presidente do BC.

Deve ser terrível
“The Wall Street Journal” publicou uma matéria devastadora.
Diz lá que uma em cada nove pontes em solo americano tem problema estrutural, e 42% das grandes avenidas estão superengarrafadas.


Não é fofo?
Vem aí uma grife dedicada a pessoas com deficiência. Está sendo desenvolvida por Luana Cavalcante, de 20 anos, aluna da Escola de Design da Universidade Veiga de Almeida.
Ela, que usa cadeira de rodas, cria roupas sob medida, respeitando a limitação de cada um, e com frases de efeito como: “E para o seu preconceito eu mando um beijo.” Sucesso!

É Natal!
Canções natalinas, algumas pouco conhecidas como “Tão bom que foi o Natal”, de Chico Buarque, e “Meu Natal”, de Lupicínio Rodrigues, estão no repertório da peça “Um Natal para nós dois”, do coleguinha Artur Xexéo.
A peça, com Tadeu Aguiar e Gottsha, estreia no dia 31 e terá música ao vivo.

Poxa, Flu!
Os jogadores do Fluminense estão revoltados.
É que até hoje não receberam a parte deles na premiação pela conquista do Campeonato Brasileiro de 2012.

Adeus, Roberto Leal
Sabe a festa portuguesa que é realizada todo sábado no Cadeg, com direito a bacalhau, doces típicos e muitos vascaínos e descendentes?
Sábado passado, em meio às canções típicas, a banda encaixou músicas de sertanejos universitários.

O menino Vinicius
De sexta para sábado agora, à meia-noite em ponto, entra no ar o novo site de Vinicius de Moraes com fotos inéditas — como esta ao lado, dele aos 16 anos —, poesias, discografia, prosa, críticas, textos teatrais e canções. Tudo organizado por Fred Coelho. O site é viniciusdemoraes.com.br.

Classe econômica - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 16/10

Diante dos altos preços das passagens aéreas para a Copa de 2014, a Agência Nacional de Aviação Civil estuda liberar autorizações especiais para voos entre as cidades que receberão os jogos em junho e julho. Segundo auxiliares do Planalto, a operação para baratear preços dos bilhetes deve permitir trechos sem escalas em rotas que hoje não existem, como de Curitiba para Manaus. Se for aprovada, a licença especial só será concedida às companhias que reduzirem suas tarifas.

Nos trilhos Dilma Rousseff pretende voltar a São Paulo nas próximas semanas para reforçar os investimentos do governo federal em projetos de mobilidade no Estado. A presidente deve participar do lançamento do edital da linha 18 do metrô paulista, que liga a capital ao ABC.

Fantasma Carlos Gabas, secretário-executivo da Previdência, tem dito que a garupa de sua moto ficará vazia. Dilma, sua carona mais célebre, quer aprender a pilotar sozinha, e sua mulher, Polyana, conseguiu tirar carteira de habilitação na semana passada.

Contra o tempo O advogado de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, pretende apresentar os embargos infringentes de seu cliente ao Supremo Tribunal Federal na semana que vem. Ele quer a absolvição de Genoino pelo crime de formação de quadrilha "o quanto antes".

Passo... O grupo de trabalho da reforma política na Câmara vai entregar ainda este mês ao presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), o projeto que pretende alterar regras de disputas eleitorais e atividades partidárias.

... a passo O presidente do grupo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), espera aprovar amanhã os últimos pontos do texto, com mudanças no sistema eleitoral e no financiamento de campanhas. Ele diz que o esforço é só a "abertura do debate" e reconhece que as propostas serão discutidas novamente na Câmara.

Fica a dica Um dia após José Sarney (PMDB-AP) se queixar com Dilma sobre o possível afastamento do PT de seu grupo político no Maranhão, emissários do PMDB do Estado fizeram chegar ao gabinete da presidente declarações atribuídas a Flávio Dino (PC do B) em apoio a Eduardo Campos (PSB).

Onde pega Dino, que é presidente da Embratur, é candidato à sucessão de Roseana Sarney e adversário da família no Maranhão.

Garota da capa No jantar que teve com a família de Campos anteontem, Marina Silva presenteou a primeira-dama pernambucana, Renata, com sua biografia. O encontro foi um gesto de aproximação entre os neoaliados.

Repeteco Depois da entrevista de Marina, Campos confirmou participação no Programa do Jô, da TV Globo. A gravação está marcada para 11 de novembro.

Estratégico Ao liberar o governador Renato Casagrande (PSB-ES) para ficar neutro na próxima disputa presidencial, Campos mantém foco na capital capixaba: o prefeito Luciano Rezende (PPS), deve apoiá-lo em 2014.

Sem porta-voz Assim como o PMDB, o PSD decidiu não mostrar nenhum político em sua propaganda partidária, que será exibida amanhã. O vídeo diz que as demandas dos protestos de rua são legítimas e apresenta propostas de aumento da transparência e redução da burocracia.

Sinal verde Antes de embarcar para férias de dez dias na Itália, Fernando Haddad orientou a bancada municipal do PT a votar esta semana o reajuste do IPTU. O prefeito e o partido acreditam que não haverá pressão suficiente para impedir a aprovação.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Barbosa admitiu o que todos que viram o julgamento do mensalão já sabiam: ele é um candidato com uma tribuna privilegiada."

DO ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, sobre a declaração do presidente do STF, Joaquim Barbosa, de que não descarta disputar o Planalto.

contraponto


Coisas do coração
No início de setembro, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) defendia duas moções apresentadas por seu partido no plenário da Câmara quando o presidente da sessão, Simão Sessim (PP-RJ), cedeu a palavra a outro parlamentar. Arantes ficou contrariado.

--Eu ainda não concluí. O senhor está cassando a minha palavra? É isso? --reclamou o goiano.

--Ao contrário! Se o meu coração pudesse falar, V. Exa. teria prioridade totalmente --retrucou Sessim, rindo.

--V. Exa. é um craque. Acaba desmanchando as emoções do plenário --respondeu Arantes, às gargalhadas.

PARTE A PARTE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 16/10


A Prefeitura de SP deve lançar no próximo ano um programa de parcelamento de dívidas (PPI) de IPTU e ISS. A iniciativa, se concretizada, engordará o caixa da administração de Fernando Haddad (PT-SP) para a realização de investimentos.

PARTE 2
A administração de Gilberto Kassab (PSD-SP) também lançou, em 2010, um PPI para aumentar a arrecadação da prefeitura. Na época foram permitidas negociações de débitos vencidos até dezembro de 2006.

MÃOS DADAS
A Associação Procure Saber está se mobilizando para que grandes artistas ligados ou simpatizantes da entidade publiquem artigos na imprensa, um atrás do outro, em defesa da restrição à publicação de biografias sem autorização prévia.

Já escreveram os cantores Caetano Veloso e Gilberto Gil e a atriz Marília Pêra.

NA PELE
Os argumentos sobre preservação da intimidade esgrimidos por eles não têm sensibilizado até agora, no entanto, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Pelo menos seis magistrados já tiveram aspectos de sua vida privada e da de familiares expostos em reportagens (Luiz Fux, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski). "Nem por isso passamos a defender censura prévia de reportagens", diz um deles.

NA PELE 2
Alguns magistrados já recorreram à Justiça em busca de indenização, como por exemplo o ministro Gilmar Mendes. Ele obteve vitórias contra o ator José de Abreu e contra o jornalista e apresentador Paulo Henrique Amorim. Na segunda-feira, Joaquim Barbosa afirmou que não existe censura no Brasil e que quem sente a honra atingida pode recorrer à Justiça justamente para pedir reparação.

PADILHA NO AR
De volta ao Brasil depois de dirigir o remake de "Robocop" nos EUA, o cineasta José Padilha pulou de asa delta no Rio de Janeiro há alguns dias. Quis passar pela experiência para filmar a história que integrará o filme "Rio, Eu Te Amo", com 11 histórias de amor contadas por diferentes cineastas. Padilha falará de um casal que vive uma crise na relação e discute o tema no ar.

WAGNER NO AR
Wagner Moura (ver foto ao lado), que será protagonista da história de Padilha, também se prepara para saltar de asa delta.

MAJESTADE
A atriz Luana Piovani será a rainha do tradicional baile de carnaval do Copacabana Palace em 2014. Segundo o hotel, a escolha por Luana tem tudo a ver com o surrealismo e o dadaísmo, temas da festa que ocorrerá em março.

HITS DA NOITE
"Titanium", do DJ David Guetta, foi a música mais executada em boates e bares segundo o Ecad, que arrecada direitos autorais no Brasil. Já as músicas nacionais mais tocadas nas baladas foram "Louquinha", de João Lucas e Marcelo, e "Camaro Amarelo", de Munhoz e Mariano.

HITS DA NOITE 2
O Ecad realizou neste ano as primeiras distribuições neste segmento. Foram repassados R$ 12 milhões a 16 mil compositores, intérpretes, músicos, editores e produtores fonográficos. Entre os autores com maior rendimento estão Calvin Harris, Dennis DJ, Mr. Catra, Sorocaba e Bruno Caliman.

MENU
O restaurante do Emiliano foi eleito o quinto melhor restaurante de hotel do mundo, segundo ranking do site americano "The Daily Meal".

É OURO
O diretor Heitor Dhalia e a produtora Tatiana Quintella receberam convidados na pré-estreia do longa "Serra Pelada", anteontem, no shopping Cidade Jardim. Os atores Wagner Moura, Sophie Charlotte, Laura Neiva e Juliano Cazarré, com a mulher, Letícia, participaram do evento, que também contou com a presença da ex-VJ Titi Müller. A corroteirista do filme, Vera Egito, mulher do diretor, e a filha deles, Gloria, estavam na plateia.

CURTO-CIRCUITO
Julia Lemmertz e Aílton Graça vão apresentar a Ordem do Mérito Cultural, premiação que o MinC realiza no dia 5, em São Paulo.

A exposição "Relatos & Retratos", do artista Rudi Böhm, começa hoje, às 20h, na Fotogaleria Imã.

A Casa de Francisca inicia hoje série de conversas com arquitetos seguidas de shows, às 21h. 18 anos.

A artista plástica Calu Fontes promove hoje bazar de azulejos em seu ateliê na rua Luís Anhaia, 91.

O músico Gui Amabis se apresenta com o saxofonista Thiago França no projeto Improvável, hoje, no Riviera Bar, às 21h30. 18 anos.

Um candidato ecumênico - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 16/10

O governador Geraldo Alckmin (SP) não quer misturar a campanha por sua reeleição com a disputa presidencial. Por isso, o ideal seria o PSB de vice. São cogitados: Márcio França (PSB) e Walter Feldman (Rede). Para tirar o foco nacional e regionalizar o debate, um tucano diz que é conveniente Alckmin ter em seu palanque Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede).

O dilema do PSB em São Paulo
Com o apoio de Marina Silva, Eduardo Campos não precisa mais de uma muleta para entrar em São Paulo. Um de seus estrategistas diz que Marina é a sua carta de apresentação. Sem ela, ele precisaria da aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Por isso, Campos nãò tem pressa em definir nada agora. Os socialistas locais querem fechar já e tentar fazer o vice do tucano.

O PSB paulista é uma invenção do ex-governador Mário Covas para se contrapor ao PT, que na década de 80 elegeu o prefeito de Santos. Mas a Rede é obstáculo a essa operação. Seus militantes resistem a essa aliança. Nesse contexto, pode ser menos traumático lançar um candidato próprio.


"Na minha máquina de calcular tirei as teclas de diminuir e de dividir. Só uso a de multiplicar e a de somar"
Luiz Inácio Lula da Silva

Ex-presidente, sobre a conduta dos petistas com seus aliados

Com a simpatia de Dilma
Para obter o apoio do governador Cid Gomes (CE) ao governo, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, está propondo ficar apenas quatro anos no cargo. O acordo permitiria o retorno de Cid ou o de Ciro Gomes em 2018.

Pelos "baixinhos"
A apresentadora Xuxa passou os últimos dias telefonando para os deputados pedindo a aprovação da Lei da Palmada, que vai à votação hoje na CCJ da Câmara. Um deles, o deputado Fábio Trad (PMDB-MS), achou que fosse trote quando seu gabinete passou a ligação. Desligou atônito: "Não é que era a Xuxa mesmo?"

Segurar os gastos
Para evitar despesa maior, o governo vai negociar a aprovação da PEC do Soldado da Borracha. A autora, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), quer aumentar o salário dos trabalhadores na extração da borracha para oito salários mínimos.

O Rio dá exemplo
O governo Dilma decidiu romper com as empresas estrangeiras que oferecem o serviço de comunicação via e-mail. Essa medida foi adotada pelo governo do Rio em 2007. O estado usa sistema próprio de e-mails, um software livre criado pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (Proderj). O custo de suporte de manutenção é de apenas R$ 180 mil/ano.

Nomes técnicos na cabeça
A despeito da preferência partidária, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), diz que o mais provável substituto do ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) será técnico. O nome forte é o do secretário executivo Alexandre Navarro.

A preferência
A presidente Dilma quer uma mulher no lugar de Aldo Rebelo (Esporte), que vai se candidatar ano que vem. Ela quer nomear a senadora Vanessa Grazziotin (AM). O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, reluta. Francisco Garcia (PP) é o suplente.

A esquerda radical. 
O PSOL está se organizando para lançar o ex-deputado Milton Temer ao governo. Para tentar eleger deputados, o PSTU pode apoiar.

Com o fígado - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 16/10

Não deve ser coisa do marqueteiro João Santana nem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cada vez mais preocupado com a eleição presidencial. Só pode ser da própria cabeça da presidente Dilma Rousseff — ou melhor, do fígado — a polêmica que resolveu sustentar com a ex-senadora Marina Silva, que se filiou ao PSB para ser vice na chapa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que comanda a legenda.

As pesquisas de opinião mostram que todo o esforço da presidente Dilma para se reeleger logo no primeiro turno deveria ser no sentido de capturar os votos que ficaram órfãos da candidatura de Marina Silva. Ontem, o DataFolha retificou os dados da pesquisa: 32% dos eleitores de Marina optam por Campos; 23% votam em branco, nulo ou em ninguém; Dilma fica com 22% dos eleitores marineiros; Aécio Neves herda os 16% restantes.

O infográfico de domingo, entre outros erros, havia atribuído 42% desses votos para Dilma. Por isso, talvez, Marina tenha atacado Dilma, após seu encontro com Campos, segunda-feira, no Recife. Seria uma maneira de abortar essa migração. O fato de a presidente Dilma aceitar a briga com Marina, como se ela ainda fosse candidata, em vez de aumentar a cizânia entre o PSB e a Rede, o que pode ser seu objetivo, serve mesmo é para afastar os marineiros da sua candidatura à reeleição. Não é, portanto, um cálculo eleitoral. É a presidente Dilma, digamos, bem Dilma. Ou seja, no estilo bateu, levou!

O tripé
O que mais irritou a presidente Dilma Rousseff foi a acusação de Marina Silva de que seu governo havia abandonado o tripé do Plano Real: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Ontem, Dilma afirmou que seu governo jamais abandonou esses compromissos, adotados pelo governo Fernando Henrique Cardoso e mantido por Lula. “Quando que o Brasil teve entre 376 e 378 bilhões de dólares de reserva? Por isso, queridos, (o tripé) nunca foi abandonado”, disse.

Inflação
Para rebater Marina, Dilma argumentou que reduziu a inflação, que está abaixo de 6% no ano. No mês de setembro, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 5,86%

Lições
Marina criticou Dilma porque a presidente, na segunda-feira, em Itajuba (MG), havia mandado os opositores estudarem: “Acredito que as pessoas que querem concorrer ao cargo têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil”. Marina retrucou: “Difícil são aqueles que acham que já não têm mais o que aprender e só conseguem ensinar”.

Palanque único
Entre os caciques do PMDB aliados do governo, só o governador fluminense, Sérgio Cabral (PMDB), e o senador cearense Eunício Oliveira (CE) não aceitam palanques duplos em seus estados. O senador Jader Barbalho, por exemplo, quer o apoio do PT à candidatura de seu filho, Helder Barbalho (PMDB), ao governo do estado.

Morritos/ / O embaixador de Cuba, Carlos Zamora, despediu-se ontem à noite dos amigos brasileiros. A festa foi no Cavalcante (Ki-Filé), velho reduto da esquerda brasiliense e dos amantes da feijoada na Asa Norte.

Rei morto
O PT resolveu tratar o ex-presidente José Sarney como aquele patriarca de Gabriel Garcia Marques. Não é o que acontece no governo, onde Edison Lobão é um ministro forte no Minas e Energia e Sarney continua prestigiado. O problema é no Maranhão, da governadora Roseana Sarney (PMDB), onde os petistas pretendem apoiar o presidente da Embratur, Flávio Dino (foto), do PCdoB, candidato a governador.

Direito autoral/ O cantor e compositor Raimundo Fagner imagina que imunidade tributária para os fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil, graças à Emenda 75, promulgada ontem, combaterá a pirataria com uma redução de preços dos cds da ordem de 40%.

Professores/ Professores do Rio de Janeiro fizeram mais uma manifestação de protesto, ontem, na Avenida Rio Branco, no centro da capital fluminense. Foi menor do que a da semana passada: reuniu cerca de 10 mil pessoas. O prefeito, Eduardo Paes (PMDB), que já cortou o ponto dos grevistas, agora ameaça demití-los por abandono de serviço.

Paciência
Quem promete paciência de Jó com o PT, porém, é o presidente do Senado, Renan Calheiros (foto), do PMDB-AL. Sabe que o governador baiano Jaques Wagner quer recuperar o Ministério da Integração para a Bahia (é um padrinho forte), mas não perde a fleuma. Espera a nomeação do senador Vital do Rego (PMDB-PB) sem nenhuma pressa.

MARIA CRISTINA FERNANDES - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 16/10

Grupo francês vai construir fábrica de fertilizantes de R$ 150 mi no Pará
A Timac Agro, multinacional que pertence ao grupo francês Roullier, vai construir uma fábrica de fertilizantes no Pará. O investimento estimado pela empresa na nova operação é de R$ 150 milhões.

O município paraense que receberá a planta não foi divulgado. "Estamos na fase de negociação do terreno para a indústria", afirma o vice-presidente executivo, Marco Aurélio Justus.

"Nessa fábrica produziremos fertilizantes especiais NPK [que são feitos com nitrogênio, potássio e fosfato] e superfosfato simples", afirma o executivo.

São insumos usados na agricultura com o objetivo de agregar mais nutrientes ao solo e, com isso, aumentar a produtividade no campo.

A fábrica no Norte vai facilitar a distribuição, segundo a empresa, principalmente para os Estados do Pará e de Mato Grosso, além de regiões de Maranhão, Piauí e Tocantins.

Essas áreas representam, juntas, o consumo de aproximadamente 30% dos fertilizantes produzidos, de acordo com a companhia.

A empresa tem hoje outras cinco indústrias no país que fazem, além dos adubos granulados, fertilizantes líquidos, produtos utilizados em nutrição animal e detergentes para higiene na pecuária.

"O Brasil é um país estratégico para o grupo, contando com mais de 1.400 funcionários", afirma Justus.

A companhia francesa teve faturamento global de aproximadamente € 2 bilhões (cerca de R$ 5,9 bilhões) em 2012.

Empresa gaúcha terá unidade no Nordeste para produzir ônibus

A Ibrava (Indústria Brasileira de Veículos Automotores), que fabrica ônibus e micro-ônibus, terá uma planta em Campina Grande, na Paraíba, com aporte de aproximadamente R$ 50 milhões.

Será a segunda unidade da empresa, que hoje produz veículos em Feliz, no interior do Rio Grande do Sul.

"Estimamos o início da operação na Paraíba com a fabricação de mil ônibus por ano, mas com a meta de duplicar a produção no prazo de três anos", diz Eurico Quintela, que dirige a empresa.

"Tínhamos planos para uma nova fábrica há algum tempo e o Nordeste tem uma economia em rápido crescimento. Com essa unidade, vamos atender à demanda de transporte da região."

Hoje, já há veículos fabricados pela empresa em circulação em Fortaleza, Recife e Natal, segundo Quintela.

As obras devem ser iniciadas em seis meses, após a obtenção de licenças. A construção deve levar outros 12 meses. Os recursos para o projeto serão financiados, de acordo com o executivo.

SACOLA DE COMPRAS
As vendas no varejo brasileiro deverão crescer cerca de 4,3% em 2013, na comparação com o ano anterior.

A projeção é da Associação Comercial do Estado de São Paulo (ACSP).

Em 2012, o varejo registrou um crescimento de 8,4%.

"O desaquecimento do varejo está relacionado, entre outros aspectos, à queda da confiança do consumidor", diz Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da entidade.

O estudo foi feito com base no Índice Nacional de Confiança, também realizado pela associação.

Mesmo com a evolução de 0,9% no mês de agosto na comparação com julho, divulgado ontem pelo IBGE, é certo que o crescimento se manterá dentro da projeção, segundo Gamboa.

"Por mais que o resultado tenha sido inesperado, não há como escapar de um crescimento menor que o do ano passado. O crédito, o emprego e o salário médio continuam crescendo, mas em menor intensidade", diz.

TESTE DE MERCADO
O estoque de debêntures na Cetip (empresa integradora do mercado financeiro que funciona como cartório e depositária de papéis) cresceu 21,3% em setembro, ante o mesmo mês de 2012, e atingiu R$ 571,4 bilhões.

"As debêntures estão crescendo desde 2009, quando a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] simplificou o processo de captação de recurso por meio delas", diz Fabio Zenaro, da Cetip.

"A queda da taxa de juros no longo prazo também fez com que investidores buscassem opções diferentes."

Nos EUA e na Europa, é comum que companhias que pretendem fazer um IPO (oferta inicial de ações) testem antes sua aceitação no mercado com a emissão de debêntures, afirma Zenaro.

"Muitas já fazem isso aqui. As empresas estão conhecendo esse mecanismo, que, em média, é mais em conta que o financiamento bancário."

Os juros desses papéis costumam ser mais baratos, entre outros motivos, porque o risco é distribuído, e não concentrado no banco.

Escola de games
A Seven, rede de escolas especializadas no ensino de computação gráfica e produção de games, vai investir entre R$ 27 milhões e R$ 30 milhões nos próximos 15 meses em seu projeto de expansão.

Até o final de dezembro, serão R$ 14,5 milhões em três unidades em São Paulo --as primeiras do Estados--, uma no Rio de Janeiro e outra em Minas Gerais. Mais cinco estão previstas para 2014.

Desde fevereiro deste ano, a americana Full Sail University, que oferece cursos de graduação e mestrado, detém 80% de participação na empresa. A parceria permitiu que se adotasse o plano de expansão mais agressivo.

"Fizemos alguns estudos e concluímos que o país pode ter 80 escolas. Queremos alcançar esse número até 2020", diz Marcelo Hodge Crivella, presidente do grupo.

"As grandes metrópoles são o nosso foco."

A rede tem hoje 11 unidades --no Rio, em Minas e em Brasília-- e 20 mil alunos. As três escolas de São Paulo terão capacidade para 2.300 estudantes cada uma.

BOLSA PARA MENORES
A BM&FBovespa tem hoje mais uma reunião com o ministro Guido Mantega (Fazenda) para tratar de um projeto para dar maior acesso ao mercado de ações para pequenas e médias empresas.

A ideia é estimular a abertura de capital de 15 mil empresas no Brasil com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 400 milhões por ano.

Critérios como free float (ações em circulação no mercado) e de governança corporativa também determinarão o segmento em que a empresa será listada.

A Bolsa pretende criar um novo segmento para companhias dispensadas de registro na CVM, o Potencial, com acesso restrito a investidores superqualificados.

Varejo... A rede de supermercados Dia abrirá oito lojas na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, até o final deste ano. A primeira delas será inaugurada ainda neste mês.

...mineiro Desde 2001 no Brasil, a rede varejista espanhola possui hoje 6.000 funcionários, seis centros de distribuição e mais de 500 lojas nos Estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

Boa... A Silluets, franquia de centros de estética, terá 12 lojas inauguradas e oito contratos assinados até dezembro nos Estados de Rio, São Paulo, Amazonas, Piauí, Rio Grande do Sul, Paraná e em Brasília.

...forma O investimento para cada franquia varia entre R$ 50 mil, o pacote básico, e R$ 190 mil, o completo.

Parceria... O Club Med, que administra resorts, abrirá seu quarto espaço dentro de uma agência de viagens no Brasil, desta vez na Monções Turismo, em Sorocaba (SP).

...turística O modelo de cooperação, criado há dois anos, foi responsável pelo crescimento de 265% em vendas das agências parceiras no primeiro ano da iniciativa e por mais 61% no segundo.

Desempenho desigual - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 16/10

Em épocas de crise econômica, como a atual, um belo desempenho do consumo, como o apresentado em agosto, seria comemorável com foguetório e banda de música. Mas, considerado o restante, principalmente o desempenho da produção, é uma grave distorção, que tende a se aprofundar.

Os números do IBGE ontem divulgados mostram que as vendas ao varejo cresceram 0,6% em agosto quando comparadas com as de julho. No entanto, se for avaliado apenas o chamado núcleo do consumo, que não inclui os dados de materiais de construção e de veículos, o avanço do mês foi mais alto, para 0,9%.

O IBGE passou outra informação importante: reviu o avanço de julho (sobre junho) de 1,9% para 2,1%. Ou seja, a base sobre a qual foram feitos os cálculos de agosto ficou ainda mais alta. Assim, em 12 meses, o consumo real (descontada a inflação) está crescendo a passos de 4,4%.

Ainda na segunda-feira, o Grupo Pão de Açúcar anunciou surpreendente resultado em vendas líquidas no terceiro trimestre, de 14,5% acima do resultado do trimestre anterior. Enquanto isso, a Viavarejo, que controla as marcas Pontofrio, Casas Bahia e Novapontocom, acusou aumento ainda maior, no mesmo período, de 17,4%.

Enquanto isso, a produção industrial se arrasta, apenas 4,6% em 12 meses. É como se fosse uma carroça puxada por uma dupla de cavalo e boi. Se já não deu, vai dar problema.

Esse desempenho desigual e destoante tem explicação. O consumo está sendo turbinado por três forças: pelo disparo em ritmo eleitoreiro das despesas públicas; pelo aumento da renda real do trabalhador, em média de 1,7% em 12 meses, estimulado pela situação de pleno emprego, como vêm demonstrando outros números do IBGE; e pelo avanço do crédito à proporção de 16,1% em 12 meses.

Enquanto isso, a indústria, comprimida pelos custos, continua perdendo competitividade. Essa é principal razão pela qual as importações estão crescendo bem mais do que as exportações. É fator que vai empurrando o rombo das contas externas (déficit em conta corrente), que estava em 2,4% do PIB em dezembro, para a altura dos 4% do PIB, ao fim deste ano. Saem hoje os números da Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) que podem ajudar a conferir melhor isso.

Essa distorção tem potencial para produzir outro efeito: inflação de demanda, que acontece quando o consumo corre muito à frente da oferta de bens e serviços, como agora.

Isso já tende a detonar mais uma consequência: deve exigir mais aperto da política monetária (política de juros) do Banco Central. Embora nunca tenha sido admitido formalmente, o projeto do governo era deter o atual processo de alta dos juros (hoje nos 9,50% ao ano) nos 9,75% ao ano, para não atropelar o que até agora foi tabu no governo Dilma, os juros básicos (Selic) de dois dígitos (de 10% ao ano para cima).

No entanto, já que falta colaboração da política fiscal do governo, o Banco Central terá de enfrentar sozinho essa provável estocada da inflação.

O triângulo amoroso do tripé - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 16/10

É melhor um tripé na mão do que inflação e dívida voando, mas economia vai muito além disso


MARINA SILVA FAZ juras de amor ao tripé. Dilma Rousseff diz que jamais o abandonou. Aécio Neves e Eduardo Campos também querem um relacionamento sério com o tripé, mas por ora as declarações deles ainda não reverberam muito nesta pré-temporada eleitoral. O que é que o tripé tem?

O tripé é o arroz com feijão da política econômica contemporânea, servido no Brasil desde 1999.

Trata-se da política básica de fazer com que a dívida do governo não cresça mais do que o tamanho da economia, de evitar que a inflação divirja muito da meta e de deixar a taxa de câmbio (o "valor do dólar") variar mais ou menos nas ondas do mercado.

Por que o tripé se tornou o namoradinho da pré-temporada eleitoral? Porque os pré-candidatos da oposição, entre outros, acusam o governo Lula 2 e, em particular, o de Dilma de terem traído o tripé, o que teria sido um fator importante dos desarranjos econômicos recentes.

Marina tem sido enfática a respeito. Acusa Dilma de retrocesso por ter, entre outros motivos, abandonado o tripé, que teria sustentado a estabilidade econômica e os avanços sociais deste século.

É mais ou menos verdade. O tripé é uma dieta de manutenção. Não engorda ou emagrece, mas não ajuda a ganhar músculos, fôlego nem define um peso ideal.

Uma das pernas do tripé é o controle da dívida pública. O déficit do governo tem de ser tal que a dívida diminua, fique estável ou, pelo menos, não cresça a ponto de parecer impagável. Outra perna é a meta de inflação, que deve ser baixa e estável. O câmbio flutuante é a terceira.

É fácil perceber que o tripé pode ter pernas mais ou menos compridas. Quer dizer, não define de antemão os tamanhos do déficit público e da inflação; de resto, nem toda flutuação da taxa de câmbio pode ser alegremente tolerada.

A promessa de colocar o tripé de pé de novo não quer dizer, pois, grande coisa. É melhor um tripé na mão do que inflação e dívida voando, mas a mera defesa desse padrão de política econômica nem de longe delineia um programa de governo interessante.

O Brasil vai mudar de padrão econômico estabilizando sua dívida ou precisamos de algo mais radical em matéria fiscal? Em vez de apenas reduzir seu déficit, não seria necessário zerá-lo por vários anos, a fim de aumentar a poupança nacional, forçar a redução dos juros campeões mundiais e, enfim, alterar o padrão de financiamento do governo (da sua dívida), ainda um escândalo?

Zerar o déficit e baixar rapidamente a dívida seria novidade, mas resultaria em conflito. Lula 2 ou Dilma poderiam ter chegado perto disso se não tivessem aumentado os benefícios sociais, se não tivessem reduzido impostos de empresas e sobre bens de consumo, se não tivessem feito dívida cara para emprestar dinheiro a juro zero para empresas grandes.

Marina, Aécio e Campos vão mexer nesses vespeiros? Deixariam o câmbio flutuar livremente até o dólar cair a menos de R$ 1,50, como em 2011? Cumprir a meta de inflação de 4,5% agora é básico.

Mas vão ter um programa de redução da meta?

São apenas perguntas básicas. Enfim, o tripé apenas nem de longe definiu as idas e vindas da economia brasileira nos últimos 13 anos.

Pandora - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 16/10

Outra caixa de Pandora está para ser aberta com a renegociação das dívidas de Estados e municípios


Quando os homens, criados por Prometeu, obtêm dele o fogo, põem em perigo o domínio dos deuses. Pandora, a mulher, é então criada e recebe, entre outros presentes, a famosa caixa (na verdade, uma ânfora) que não poderia ser aberta, mas que, obviamente, o foi, libertando todos os males que afligem a humanidade e a deixam à mercê dos deuses, permanecendo presa no fundo apenas a esperança.

Tentação, queda e outros arquétipos fazem dessa narrativa parte central da mitologia grega, ecoando, não por acaso, outras histórias de perdição.

E por que falo disso? Porque me parece claro que outra caixa de Pandora está para ser aberta, no caso com a renegociação das dívidas de Estados e municípios, cujas consequências --se não tão severas quanto a queda da humanidade do seu estado de graça-- ainda são graves o suficiente para preocupar qualquer analista minimamente atento.

Na segunda metade dos anos 1990, como parte do esforço de estabilizar as finanças públicas, o governo federal reestruturou as dívidas de alguns Estados e municípios. Esses se tornaram devedores da União pagando taxas bastante inferiores às que tomariam recursos no mercado.

Em contrapartida, se viram obrigados a destinar parcela de suas receitas ao pagamento dessas dívidas, o que os acabou forçando a gerar superavits primários, colaborando para o esforço fiscal do setor público como um todo. (Se alguém notou o paralelo com a questão europeia, parabéns! É precisamente esse tipo de arranjo que se tem em mente quando se fala de federalização das dívidas nacionais em troca de uma centralização da política fiscal na zona do euro).

Isto dito, a camisa de força resultante da reestruturação das dívidas subnacionais sempre foi um fator de desconforto para governadores e prefeitos, que, praticamente em seguida à assinatura dos contratos, buscaram formas de rever os acordos para obter espaço adicional para novos gastos.

No entanto, sob pena de perderem as transferências federais, acabavam por se conformar, pelo menos por algum tempo.

Mais recentemente, porém, voltaram à carga, argumentando que a dívida seria "impagável", já que teria continuado a crescer mesmo depois de todos os pagamentos efetuados até agora.

Isso parece fazer sentido, pois a dívida de Estados e municípios com a União renegociada sob a lei 9496/97, que era R$ 154 bilhões no final de 2000, atingiu pouco mais de R$ 468 bilhões em agosto deste ano.

Apenas não se menciona que, no mesmo período, o PIB (Produto Interno Bruto) aumentou de R$ 1,236 trilhão para R$ 4,638 trilhões, ou seja, a dívida, que equivalia a pouco mais de 11% do PIB em 2000, agora corresponde a 8,6% do PIB.

No caso específico dos Estados, a dívida, correspondente a 15 meses de arrecadação em 2000, se reduziu para cerca de 10 meses em 2012. Por qualquer ângulo (correto) que se avalie o assunto, as dívidas são mais sustentáveis hoje do que eram no momento de sua reestruturação.

Apesar disso, o governo federal anunciou a intenção de rever os seus valores, aplicando retroativamente regras de correção mais favoráveis a Estados e municípios, o que deve implicar forte redução do endividamento desses à custa de perdas para a União.

À parte a injustiça de transferir recursos dos brasileiros que não moram nos Estados e municípios beneficiados pela reestruturação para aqueles que lá residem, a redução da dívida deve aliviar consideravelmente os respectivos Tesouros, permitindo aquilo que sempre almejaram, isto é, voltar aos bons tempos em que não havia limites à gastança.

O superavit primário de Estados e municípios, que já caiu de uma média próxima a 1% do PIB entre 2001 e 2008 para modestos 0,4% do PIB nos 12 meses até agosto deste ano, deve se reduzir ainda mais, acentuando o atual quadro de piora fiscal.

Saem da caixa Estados e municípios; fica presa a esperança de algum dia pormos em ordem as contas públicas.

Defasagem, reajuste e falta de planejamento - ADRIANO PIRES

O Estado de S.Paulo - 16/10

Em diversas entrevistas comemorativas dos 60 anos da Petrobrás, a presidente da empresa voltou a falar da defasagem e do possível reajuste do preço da gasolina e do diesel. A presidente admitiu a defasagem dos dois combustíveis com o objetivo de controlar a inflação, que isso prejudica a realização do plano de negócios da estatal e, paradoxalmente, afirmou que "compreende" essa atitude do governo. A declaração causa estranheza, principalmente porque se espera que o presidente de uma empresa defenda os interesses da corporação e de seus acionistas e, afinal de contas, essa política de defasagem já causou perdas para a empresa superiores a R$ 40 bilhões e o seu valor de mercado é hoje quatro vezes menor que em 2008.

O governo não é o único acionista da empresa. Existe um número significativo de minoritários que investiram suas poupanças em ações e vêm sendo fortemente prejudicados com essa política da defasagem dos preços. Além disso, conforme definido em lei, os preços dos combustíveis no Brasil são livres, e não cabe ao governo fixá-los com este ou aquele objetivo. Ainda, o governo tem outros instrumentos, como a taxa de juros, para controlar a inflação de forma muito mais eficiente do que o congelamento pontual de preços.

A presidente da estatal também revelou que está em estudo um mecanismo para alinhar os preços da gasolina e do diesel domésticos aos do mercado internacional, que mantenha o mercado "comprador" (com inflação controlada) e dê previsibilidade ao planejamento da Petrobrás, sem utilizar dinheiro público e sem ressuscitar a conta petróleo. Esses objetivos, a priori, parecem conflitantes. É bom lembrar que qualquer fórmula que venha a ser adotada poderá favorecer ou não a empresa, e atualmente tudo o que ajuda a empresa prejudica o governo. O que prevalecerá na fórmula, maximizar as receitas da Petrobrás por meio da venda de gasolina e diesel ou manter o populismo que permite ao governo jogar a inflação para debaixo do tapete e, ao mesmo tempo, ganhar votos, principalmente da parcela da população que comprou o seu primeiro automóvel?

Toda essa discussão sobre o controle de preço da gasolina e do diesel reacende o debate em torno da concessão de subsídios. A concessão é legítima, desejável e largamente utilizada em diversos países, com sucesso. Mas é preciso que a política de subsídios seja transparente, definida no âmbito de um planejamento de longo prazo do País e da própria Petrobrás e tenha prazo determinado para terminar. A Petrobrás não produz e importa somente gasolina e diesel. Aliás, o energético que a Petrobrás mais importa atualmente é o gás natural, 50% do consumo. Enquanto a gasolina e o diesel representam 12% e 17% respectivamente. Portanto, se a empresa continuar tendo sua política de preços definida pelas variáveis macroeconômicas e políticas, e não pelas regras de mercado, deve olhar para todo o seu leque de produtos e propor algo que permita uma competição entre os que concorrem entre si e que, ao mesmo tempo, não beneficie um segmento de consumidores em detrimento de outro.

Hoje, no Brasil, se subsidia o consumo de combustíveis como a gasolina e o diesel, enquanto o gás natural, que é insumo e fonte de energia para o setor industrial, tem seu preço fixado pela paridade internacional, não a americana e, sim, a europeia, onde o gás natural é caro. Por que não criar, também, uma fórmula que torne o gás natural mais competitivo? Por que fórmulas só para gasolina e diesel? Hoje, o setor automobilístico é beneficiado pelo controle de preços da gasolina, enquanto as companhias aéreas são prejudicadas pelo fato de o querosene de aviação ter seus preços corrigidos de acordo com o câmbio e o mercado internacional. Por que o querosene de aviação também não tem privilégios? Por que não voltar com a Cide e beneficiar o etanol? Ou seja, temos atualmente uma política de preços que concede subsídios somente a setores escolhidos pelo rei, sem levar em conta a mínima racionalidade econômica.

O real e a campanha - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 16/10

A presidente Dilma deu ontem a impressão de que não sabe que o Brasil tem um grave problema de mobilidade urbana, os metrôs são insuficientes, e também desconhece que o seu partido completou dez anos no poder. "As pessoas precisam ser transportadas com qualidade, segurança, rapidez e conforto" disse a presidente, como se estivesse distante do governo.

Claro que isso é que é o ideal, mas em dez anos em que o PT está no poder o que aconteceu foi a piora visível das condições da mobilidade urbana. Ela pode consultar os próprios institutos de pesquisas do governo. Eles têm estatísticas e estudos mostrando que as pessoas têm demorado mais tempo no trânsito. Se não quiser consultá-los, basta um simples olhar na cena urbana ou no noticiário para ver que as pessoas não estão sendo transportadas com qualidade, segurança, rapidez e conforto.

Parte da piora foi resultado do incentivo fiscal à indústria automobilística e ao subsídio ao uso da gasolina. Para beneficiar o automóvel, o governo reduziu a Cide a partir de 2008 e depois acabou com ela. Durante o período que ela foi reduzida até ser zerada, o governo abriu mão de uma arrecadação de R$ 23 bilhões que, por lei, deveriam ter sido investidos em infraestrutura de transporte.

Segundo a presidente, "antes os presidentes não investiam em metrô" Isso é verdade. Antes e agora. O Brasil sempre neglicenciou o que outros países, até nossos vizinhos como Argentina, fizeram há décadas atrás. Segundo Dilma, esse desprezo era derivado da convicção de que "metrô era coisa de país rico" ideia que segundo ela foi alterada. "Nós mudamos essa concepção, metrô é coisa de país continental com grandes cidades, como o Brasil." E, disse que o Brasil está investindo R$ 89 bilhões em um tal PAC Mobilidade Urbana.

Na verdade, país desenvolvido tem feito vários tipos de investimento em mobilidade urbana, não apenas metrô. Aliás, tem dado preferência a opções mais baratas e práticas, como o Veículo Leve sobre Trilhos, como em Sacramento, Nova York, Phoenix, Seatle, Chicago, Vancouver, no Canadá, e cidades de França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, China. Por ser uma espécie de metrô de superfície não tem o custo da escavação.

Inúmeros países, ricos e pobres, investem em ciclovias para o uso de bicicletas com segurança, mesmo tomando espaços de carro, como fez a administração de Janette Sadik Khan, em Nova York. As soluções para as cidades serão sempre múltiplas, nunca uma só.

A presidente tem se exposto mais, como sugeriram seu marqueteiro e o presidente Lula, mas, ao falar, tem cometido deslizes, como o de mandar seus adversários estudarem mais. Ou de dizer que os outros fazem campanha enquanto ela trabalha. Na verdade, Dilma tem claramente se dedicado cada vez mais tempo à campanha.

A presidente reagiu à crítica da ex-senadora Marina Silva de que o tripé que garantiu a inflação baixa — câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário — precisa ser restaurado. A propósito, tripé estabelecido no governo Fernando Henrique. Dilma respondeu — e repetiu ontem — que ele jamais foi abandonado. A verdade é que o tripé tem sido erodido de diversas formas. O superávit primário caiu, houve intervenções excessivas no câmbio, as medidas fiscais foram adulteradas. O centro da meta de inflação não foi atingido no governo Dilma em nenhum ano, e nem o será pelas previsões do Banco Central. A meta é 4,5% e o governo Dilma passará os quatro anos sem chegar lá. Isso pelas projeções do próprio Banco Central. O intervalo tolerável vai até 6,5%, limite máximo que já foi estourado em 10 meses de seu governo.