FOLHA DE SP - 30/09
A pergunta que mata de medo as mulheres é: afinal, o que quer o homem numa mulher?
Recentemente participei de um debate sobre a trilogia "Cinquenta Tons".
Muitas críticas: típico best-seller que identifica um drama universal (o amor) e propõe uma solução "easy" (seja sadomasô light e o casamento virá); a srta. Steele (a heroína) não está a altura de Lady Chatterley (de D.H. Lawrence) nem das irmãs Justine e Juliette (do Marquês de Sade) nem da personagem de "História de O" (de Anne Desclos, sob o pseudônimo Pauline Réage), porque a srta. Steele se vende por um MacBook Pro, enquanto as outras são para valer. Tudo verdade.
O maior pecado de "Cinquenta Tons" é que ele vende uma fantasia: o homem ideal. Christian Grey é rico, bonito, inteligente, viril, experiente. Mas o fato é que as mulheres desejam mesmo homens fortes, viris, sensíveis até a página três, ricos não só de grana. Enfim, "Cinquenta Tons" vende porque fala para todas as mulheres, bobas, ignorantes, cultas ou críticas. Mas, como virou moda mentir, ninguém confessa.
Dias depois do debate, revi um filme idiota americano (como "Cinquenta Tons"), em que um milionário fodão (interpretado por Richard Gere) contrata uma garota de programa (Julia Roberts, ah! Se todas fossem iguais a você, Julia, que maravilha viver...) e acabam se apaixonando. Claro, o filme é "Uma Linda Mulher". A fórmula clara da gata borralheira do sexo que vira a esposa Cinderela.
Mas o longa é muito mais do que isso. Diante da crítica histérica de que é mais um filme machista (que sono...), vale notar que ele faz a pergunta que mata de medo as mulheres: afinal, o que quer o homem numa mulher?
Dirão as apressadas que o homem quer que a mulher traga uma cerveja e venha pelada. Errado: melhor de calcinha e salto alto. Seria a superficialidade masculina o último bastião da ideologia "dominante"? Bastião este que agrada a todas as mulheres porque as acalma: os homens só querem uma bunda!
O filme toca num tema atávico que deixa mesmo as meninas "críticas" de cabelo em pé: seria a garota de programa a mulher ideal?
O personagem de Gere é fodão. Ele sabe o que os fodões sabem: o mundo é repetitivo, e as pessoas são previsíveis. Querem dinheiro, reconhecimento e "serviços", e fazem qualquer coisa para conseguir, embora neguem.
Se, no fundo, todos estão à venda por "um programa" de sucesso, melhor sair com alguém mais honesto: a garota de programa é a mulher menos cara do mundo. Ela "só" quer dinheiro, e isso às vezes é uma bênção. Ela é a mulher ideal porque é a única diante da qual o homem relaxa.
Afinal, o que quer o homem numa mulher? Num dado momento do filme, Gere diz à bela Roberts: "As pessoas são previsíveis, mas você me surpreendeu" (não vou contar detalhes).
Não devemos menosprezar essa fala e o que acontece depois, o apaixonar-se pela garota de programa. Gere sabe o que diz: as pessoas são mesmo previsíveis. Mas hoje a moda é dizer que são todas "únicas".
La Roberts encanta o fodão porque ela não é óbvia, e a mulher óbvia só quer fodões.
Graças a ela, ele rompe o ciclo da desconfiança causada pela obviedade das mulheres, e graças a ele, ela se cansa de ser puta, porque a puta não é uma mulher de verdade.
Os homens sentem que as mulheres querem deles apenas sucesso (em todos os sentidos). Mas hoje virou moda dizer que isso não é verdade. Ficou pior porque continua sendo verdade, mas, quando o cara sente isso, ele deve se sentir um machista porque sabe disso.
O homem quer uma mulher para quem ele não tenha que ser o sr. Grey, mas a mulher não perdoa um homem fraco. A garota de programa perdoa porque "só" quer dinheiro.
A fraqueza masculina aniquila o desejo da mulher. Mas, como essa mulher ideal não existe (assim como o sr. Grey), o ideal acaba ficando colado ao corpo irreal da namorada "paga".
Mesmo sabendo que sr. Grey (um fodão) não existe, as mulheres não suportam homens que não se pareçam com ele, e esta é a verdade suprema de "Cinquenta Tons".
Por fim: uma amiga minha, psicóloga, me disse que muitos dos seus pacientes vêm ao consultório falar de como suas mães (fálicas) destroem seus pais (fracos).
São essas mulheres fálicas, segundo ela, que à noite gemem de solidão sonhando com o sr. Grey.
Óbvio?
segunda-feira, setembro 30, 2013
Esquilos e jornalistas - LÚCIA GUIMARÃES
O Estado de S.Paulo - 30/09
NOVA YORK - Numa noite fria de novembro de 2010, os convidados da opulenta festa do maior prêmio literário norte-americano disputavam raros táxis na calçada do Cipriani Wall Street. Meu anfitrião, ainda com a medalha de finalista pendurada sobre o terno, negociava uma corrida com os livery taxis, que não têm taxímetro. Os motoristas cobravam preços exorbitantes à medida que o frio aumentava. Dois policiais se aproximaram e resolveram fazer vigorar a lei que proíbe livery taxis de pegarem passageiros nas ruas. Estava num grupo cujas taças de vinho tinham sido reabastecidas regularmente nas três horas anteriores.
Eu ouvi o começo de altercação e a bomba: "Vai se @*#er!", meu anfitrião gritou com o rosto a poucos centímetros da cara do policial. Eu devo ter fechado os olhos, esperando o clicar das algemas ou pior. Mas o policial musculoso e armado balbuciou algo e se afastou. Meu reflexo de carioca criada na ditadura militar me fez continuar esperando o pior e, nervosa, me despedi do grupo.
A caminho de casa pensei: e se a cena tivesse se passado na calçada de um bar do Harlem? E se meu grupo não fosse composto de brancos elegantes de meia-idade?
Neste fim de semana, imaginei que estamos no arborizado câmpus da Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro. O jornalista Thomas Friedman, do The New York Times, descobre que o juiz John Roberts é convidado de um seminário na PUC. E decide se aventurar no câmpus para bater um papo com o presidente da Suprema Corte norte-americana. Alguma chance de Friedman ser levado num camburão e autuado por transgressão criminosa, como aconteceu com a correspondente do Estado Claudia Trevisan, em Yale? Friedman nunca chegaria às mãos da PM carioca. E por que não? Porque ainda que um segurança da PUC nunca tenha ouvido falar em Friedman, ele tem inteligência suficiente para distinguir seu interlocutor de um invasor violento da propriedade privada que é o câmpus do bairro da Gávea.
Mas estou sendo injusta se sugerir que um certo meganha que atende pelo nome de DeJesus e o assessor da Escola de Direito da Universidade de Yale são burros. É altamente improvável que alguém com um Q.I. baixo trabalhe para Roberto Post, o diretor da Escola de Direito votada a melhor do país. E menos provável ainda que a mais antiga força policial num câmpus universitário americano não tenha selecionado criteriosamente os 86 colegas de DeJesus. Colegas que nunca me pararam quando cruzei o câmpus com equipamento de TV.
Além de absurda e ultrajante, a prisão de Claudia Trevisan no câmpus de Yale - universidade multada em maio pelo governo Obama por falha em denunciar casos de estupro e violência sexual - é reflexo de uma tendência sinistra, um pacto faustiano da sociedade americana com o aparato de segurança.
Esse pacto se reflete na truculência seletiva demonstrada em Yale. Pode ser encontrado ao norte da fronteira com o México, onde um norte-americano instalou uma câmera no para-brisa, cansado de ter seu carro revistado quase todos os dias sob suspeita de ter entrado ilegalmente no país do qual não saiu. É um pacto que faz com que toda uma geração de jovens de pele escura em Nova York, de acordo com uma nova pesquisa, não denunciem crime à polícia, detidos tantas vezes sob suspeita de nada.
Recentemente, Tom Conroy, assessor de imprensa de Yale, se sentiu compelido a responder a uma acusação feita por alunos da universidade sobre o misterioso desaparecimento de esquilos no câmpus. Afirmou, numa nota, que Yale não "interfere na população" de esquilos. No sábado, Conroy anunciou, em outra nota, que Claudia Trevisan não poderia ter colocado os pés no câmpus onde turistas e estranhos perambulavam sem se identificar. Portanto algemar e manter a jornalista incomunicável durante horas era apenas natural. Na lógica orwelliana de Tom Conroy, os esquilos levam a melhor.
NOVA YORK - Numa noite fria de novembro de 2010, os convidados da opulenta festa do maior prêmio literário norte-americano disputavam raros táxis na calçada do Cipriani Wall Street. Meu anfitrião, ainda com a medalha de finalista pendurada sobre o terno, negociava uma corrida com os livery taxis, que não têm taxímetro. Os motoristas cobravam preços exorbitantes à medida que o frio aumentava. Dois policiais se aproximaram e resolveram fazer vigorar a lei que proíbe livery taxis de pegarem passageiros nas ruas. Estava num grupo cujas taças de vinho tinham sido reabastecidas regularmente nas três horas anteriores.
Eu ouvi o começo de altercação e a bomba: "Vai se @*#er!", meu anfitrião gritou com o rosto a poucos centímetros da cara do policial. Eu devo ter fechado os olhos, esperando o clicar das algemas ou pior. Mas o policial musculoso e armado balbuciou algo e se afastou. Meu reflexo de carioca criada na ditadura militar me fez continuar esperando o pior e, nervosa, me despedi do grupo.
A caminho de casa pensei: e se a cena tivesse se passado na calçada de um bar do Harlem? E se meu grupo não fosse composto de brancos elegantes de meia-idade?
Neste fim de semana, imaginei que estamos no arborizado câmpus da Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro. O jornalista Thomas Friedman, do The New York Times, descobre que o juiz John Roberts é convidado de um seminário na PUC. E decide se aventurar no câmpus para bater um papo com o presidente da Suprema Corte norte-americana. Alguma chance de Friedman ser levado num camburão e autuado por transgressão criminosa, como aconteceu com a correspondente do Estado Claudia Trevisan, em Yale? Friedman nunca chegaria às mãos da PM carioca. E por que não? Porque ainda que um segurança da PUC nunca tenha ouvido falar em Friedman, ele tem inteligência suficiente para distinguir seu interlocutor de um invasor violento da propriedade privada que é o câmpus do bairro da Gávea.
Mas estou sendo injusta se sugerir que um certo meganha que atende pelo nome de DeJesus e o assessor da Escola de Direito da Universidade de Yale são burros. É altamente improvável que alguém com um Q.I. baixo trabalhe para Roberto Post, o diretor da Escola de Direito votada a melhor do país. E menos provável ainda que a mais antiga força policial num câmpus universitário americano não tenha selecionado criteriosamente os 86 colegas de DeJesus. Colegas que nunca me pararam quando cruzei o câmpus com equipamento de TV.
Além de absurda e ultrajante, a prisão de Claudia Trevisan no câmpus de Yale - universidade multada em maio pelo governo Obama por falha em denunciar casos de estupro e violência sexual - é reflexo de uma tendência sinistra, um pacto faustiano da sociedade americana com o aparato de segurança.
Esse pacto se reflete na truculência seletiva demonstrada em Yale. Pode ser encontrado ao norte da fronteira com o México, onde um norte-americano instalou uma câmera no para-brisa, cansado de ter seu carro revistado quase todos os dias sob suspeita de ter entrado ilegalmente no país do qual não saiu. É um pacto que faz com que toda uma geração de jovens de pele escura em Nova York, de acordo com uma nova pesquisa, não denunciem crime à polícia, detidos tantas vezes sob suspeita de nada.
Recentemente, Tom Conroy, assessor de imprensa de Yale, se sentiu compelido a responder a uma acusação feita por alunos da universidade sobre o misterioso desaparecimento de esquilos no câmpus. Afirmou, numa nota, que Yale não "interfere na população" de esquilos. No sábado, Conroy anunciou, em outra nota, que Claudia Trevisan não poderia ter colocado os pés no câmpus onde turistas e estranhos perambulavam sem se identificar. Portanto algemar e manter a jornalista incomunicável durante horas era apenas natural. Na lógica orwelliana de Tom Conroy, os esquilos levam a melhor.
'Black Bloc do Eu Sozinho' - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 30/09
RIO DE JANEIRO - Há dias, neste espaço ("A cidade é deles", "Opinião", 30/8), comparei o uniforme dos "black blocs" --coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos-- com a fantasia do Batman. Um e outra só podiam ser usados à noite, eu disse, porque, à luz do sol, eram ridículos. E insinuei que, até há pouco, muitos "black blocs" deviam estar vestidos de Batman e brincando de super-herói no play.
Na última quarta-feira, um deles, com capa, máscara, luvas, ceroula e botas do Homem-Morcego --talvez compradas na Casa Turuna, na Saara--, intrometeu-se na manifestação dos professores cariocas, que lutam por reivindicações específicas. A presença do fantasiado não condizia com a sisudez do protesto diante da Câmara Municipal.
Na noite seguinte, na Cinelândia, cem "black blocs" hostilizaram o pessoal de cinema que chegava para a abertura do Festival do Rio, um evento de que a cidade se orgulha. Entre as palavras de ordem, não se sabe por que, o já surrado "Não vai ter Copa!". Aliás, em junho, eles já haviam tentado invadir o Paço Imperial e vandalizar uma exposição de pintura. Com isso, ficamos sabendo que os "black blocs" não gostam de cinema, nem de futebol, nem de artes plásticas.
Gostam, então, de quê? De rock, sem dúvida, porque o Rock in Rio transcorreu em paz, só tisnado pelos inevitáveis roubos de celulares, comas alcoólicos e diarreias por excesso de batata frita. Devem gostar também de "junk food", porque nenhuma loja do Burger King foi atingida até hoje pelos seus quebra-quebras. E gostam de advogados, sob cujas togas se escondem quando se veem ameaçados.
Já sem nenhum apoio popular, os "black blocs" limitam-se hoje a si próprios. E o contingente tende a diminuir. Está próximo o dia em que um ou outro ainda sairá individualmente às ruas, no melhor estilo "Black Bloc do Eu Sozinho".
RIO DE JANEIRO - Há dias, neste espaço ("A cidade é deles", "Opinião", 30/8), comparei o uniforme dos "black blocs" --coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos-- com a fantasia do Batman. Um e outra só podiam ser usados à noite, eu disse, porque, à luz do sol, eram ridículos. E insinuei que, até há pouco, muitos "black blocs" deviam estar vestidos de Batman e brincando de super-herói no play.
Na última quarta-feira, um deles, com capa, máscara, luvas, ceroula e botas do Homem-Morcego --talvez compradas na Casa Turuna, na Saara--, intrometeu-se na manifestação dos professores cariocas, que lutam por reivindicações específicas. A presença do fantasiado não condizia com a sisudez do protesto diante da Câmara Municipal.
Na noite seguinte, na Cinelândia, cem "black blocs" hostilizaram o pessoal de cinema que chegava para a abertura do Festival do Rio, um evento de que a cidade se orgulha. Entre as palavras de ordem, não se sabe por que, o já surrado "Não vai ter Copa!". Aliás, em junho, eles já haviam tentado invadir o Paço Imperial e vandalizar uma exposição de pintura. Com isso, ficamos sabendo que os "black blocs" não gostam de cinema, nem de futebol, nem de artes plásticas.
Gostam, então, de quê? De rock, sem dúvida, porque o Rock in Rio transcorreu em paz, só tisnado pelos inevitáveis roubos de celulares, comas alcoólicos e diarreias por excesso de batata frita. Devem gostar também de "junk food", porque nenhuma loja do Burger King foi atingida até hoje pelos seus quebra-quebras. E gostam de advogados, sob cujas togas se escondem quando se veem ameaçados.
Já sem nenhum apoio popular, os "black blocs" limitam-se hoje a si próprios. E o contingente tende a diminuir. Está próximo o dia em que um ou outro ainda sairá individualmente às ruas, no melhor estilo "Black Bloc do Eu Sozinho".
Desconfiança israelense - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 30/09
PARIS - Avanço na questão nuclear iraniana: as negociações serão retomadas em 15 e 16 de outubro em Genebra, envolvendo Irã, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha (P5+1). A ofensiva de charme do novo presidente do Irã, Hassan Rohani, está no auge. Sucesso total, uma vez que o secretário de Estado dos EUA. John Kerry, ficou satisfeito.
Antes de Rohani, o Irã era presidido por um personagem insano, meio diabólico, Mahmoud Ahmadinejad, que passava seu tempo "apagando Israel do mapa". Depois desse trágico palhaço, não foi difícil para seu sucessor seduzir seus interlocutores. Só um país não foi seduzido por Rohani: Israel. O primeiro ministro, Binyamin Netanyahu, disse que o gesto de Rohani é "cínico e hipócrita". Para Netanyahu, o iraniano é um lobo em pele do cordeiro.
Por que Rohani encenaria essa comédia? Simples: ele quer tirar o país do estrangulamento provocado pelas sanções, mas suas intenções não mudaram quanto ao programa nuclear. Neste debate, um outro protagonista se destaca: o russo Vladimir Putin.
Depois de ter avançado seus peões no xadrez da crise iraniana, manipular os americanos e retomar as estratégias da Guerra Fria, Putin se envolveu na discussão de todas as crises. Há um mês, afirmou que o arsenal químico sírio foi construído em resposta às armas nucleares de Israel. E inverteu o jogo. Enquanto o mundo todo se inquieta com os esforços do Irã para se dotar de uma bomba nuclear, a Rússia dirige seus projetores para um outro ponto do campo político: o armamento atômico israelense, que é substancial. Um estudo da revista Bulletin of the Atomic Scientist lembra que o país tem 80 ogivas nucleares, embora jamais tenha reconhecido oficialmente.
É preciso lembrar que Israel começou cedo a construir seu arsenal. Em 1960, um tratado secreto foi assinado entre a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Richard Nixon. O objetivo era fazer frente à proliferação de armas não convencionais no Oriente Médio. Desde então, Israel fez tudo para conservar sua superioridade atômica em relação aos vizinhos. Em 1981, seus aviões destruíram o reator iraquiano de Osirak. Depois, bombardearam a usina nuclear de Deir ez-Zor, na Síria. Não é por acaso que, às vésperas da negociação, Putin traga à luz o desequilíbrio de uma região na qual Israel é uma potência atômica e o Irã busca sua bomba nuclear./TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
PARIS - Avanço na questão nuclear iraniana: as negociações serão retomadas em 15 e 16 de outubro em Genebra, envolvendo Irã, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha (P5+1). A ofensiva de charme do novo presidente do Irã, Hassan Rohani, está no auge. Sucesso total, uma vez que o secretário de Estado dos EUA. John Kerry, ficou satisfeito.
Antes de Rohani, o Irã era presidido por um personagem insano, meio diabólico, Mahmoud Ahmadinejad, que passava seu tempo "apagando Israel do mapa". Depois desse trágico palhaço, não foi difícil para seu sucessor seduzir seus interlocutores. Só um país não foi seduzido por Rohani: Israel. O primeiro ministro, Binyamin Netanyahu, disse que o gesto de Rohani é "cínico e hipócrita". Para Netanyahu, o iraniano é um lobo em pele do cordeiro.
Por que Rohani encenaria essa comédia? Simples: ele quer tirar o país do estrangulamento provocado pelas sanções, mas suas intenções não mudaram quanto ao programa nuclear. Neste debate, um outro protagonista se destaca: o russo Vladimir Putin.
Depois de ter avançado seus peões no xadrez da crise iraniana, manipular os americanos e retomar as estratégias da Guerra Fria, Putin se envolveu na discussão de todas as crises. Há um mês, afirmou que o arsenal químico sírio foi construído em resposta às armas nucleares de Israel. E inverteu o jogo. Enquanto o mundo todo se inquieta com os esforços do Irã para se dotar de uma bomba nuclear, a Rússia dirige seus projetores para um outro ponto do campo político: o armamento atômico israelense, que é substancial. Um estudo da revista Bulletin of the Atomic Scientist lembra que o país tem 80 ogivas nucleares, embora jamais tenha reconhecido oficialmente.
É preciso lembrar que Israel começou cedo a construir seu arsenal. Em 1960, um tratado secreto foi assinado entre a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Richard Nixon. O objetivo era fazer frente à proliferação de armas não convencionais no Oriente Médio. Desde então, Israel fez tudo para conservar sua superioridade atômica em relação aos vizinhos. Em 1981, seus aviões destruíram o reator iraquiano de Osirak. Depois, bombardearam a usina nuclear de Deir ez-Zor, na Síria. Não é por acaso que, às vésperas da negociação, Putin traga à luz o desequilíbrio de uma região na qual Israel é uma potência atômica e o Irã busca sua bomba nuclear./TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
É preciso rever o modelo de concessões - CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ
O Estado de S.Paulo - 30/09
De acordo com o Relatório de Competitividade Global 2012/2013, elaborado pelo World Economic Forum, entre os 144 países analisados, ocupávamos a 100.ª posição em ferrovias; a 123.ª, em rodovias; a 134.ª, em aeroportos; e a 135.ª, em portos. Nas últimas três décadas, a taxa média de investimento em infraestrutura no Brasil foi de cerca de 2% do PIB. Isso é muito menos do que investem nossos concorrentes no mercado internacional (entre 4% e 8% do PIB) e insuficiente até mesmo para repor a depreciação do estoque de capital já investido no setor.
Portanto, o sucesso do Programa de Investimento e Logística (PIL) do governo federal é condição necessária (embora não suficiente) para elevar, de forma duradoura, o crescimento econômico do Brasil.
Este artigo é bastante crítico ao PIL, mas não quero cometer injustiças. Há que se louvar a dedicação e a abertura ao diálogo de dois membros da equipe governamental com quem tive a oportunidade de manter reuniões técnicas: a ministra Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, e Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e Logística. Infelizmente, isso não basta para fazer funcionar bem um programa que nasceu com erros de concepção política e técnica.
O governo quer transferir à iniciativa privada a responsabilidade de projetos de longo prazo, como rodovias e ferrovias, mas, na busca quase obsessiva da modicidade tarifária, fixa tarifas-teto para as licitações que resultam em taxas de retorno pouco atraentes (em torno de 6,5% a 7,5% ao ano). Para compensar, oferece fartos financiamentos subsidiados, principalmente com recursos do BNDES, o que eleva para mais que o dobro a taxa de retorno alavancada, ou seja, a remuneração do capital próprio investido no negócio pelo concessionário. Além disso, transfere para o contribuinte riscos inerentes aos empreendimentos, tal como a compra antecipada pela Empresa Brasileira de Ferrovias da capacidade total de transporte da ferrovia.
Cabe indagar se faz sentido oferecer generosos subsídios às concessões de rodovias e ferrovias. A teoria econômica nos ensina que devem ser subsidiados os projetos cujo benefício total é maior que o benefício privado, em razão da presença de benefícios sociais, ou seja, de externalidades. Nesses casos, não é possível incorporar no preço do bem ou serviço o valor total de tais benefícios. Assim, se não houver subsídio, haverá subinvestimento. Um exemplo claro é o do metrô nos grandes centros urbanos. Pode-se incluir na tarifa o valor do benefício relativo do serviço de transportar o usuário de um determinado ponto a outro, mas não o correspondente à redução da poluição, à queda dos acidentes, à melhora da saúde pública, etc., que tal meio de transporte possibilita.
Esse não é o caso de rodovias e ferrovias. Uma boa logística de transporte é fundamental para elevar a taxa de crescimento do País, mas isso não significa que haja, nesses empreendimentos, claras externalidades. O produtor de soja, que vai se tornar mais competitivo - e, pois, auferir mais lucro - com a melhora da eficiência do sistema de transporte, pode e deve arcar, via frete, com o custo do serviço, não o contribuinte. E mesmo que se admita, em casos especiais, a existência de externalidades, os subsídios devem ser transparentes, explícitos no orçamento público, e não concedidos disfarçadamente, via taxas de juros.
Além disso, uma vez que os projetos só são viáveis graças aos financiamentos subsidiados e à mitigação dos riscos, há o temor, por parte dos eventuais concessionários, de que essas vantagens não sejam mantidas por todo o horizonte da concessão. Por exemplo, os financiamentos são corrigidos pela Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) e as tarifas, pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Atualmente, a TJLP resulta em juros negativos. Mas quem garante que será assim por 30 ou 35 anos, horizonte das concessões?
Leilões. Apesar de várias revisões nos parâmetros dos projetos feitas pelo governo após ouvir os investidores potenciais, a maior parte das concessões rodoviárias ainda parece pouco atrativa. Segundo cuidadoso estudo realizado pelo Banco Credit Suisse, de 9 leilões programados (2 já realizados), apenas 2 rodovias foram classificadas como atrativas: a BR-262 (ES/MG), cujo leilão fracassou por trapalhadas burocráticas, e a BR-050 (GO/MG), leiloada com 42,38% de deságio. As demais foram avaliadas como razoáveis (2), desafiantes (3) e inviáveis (2).
Muitas outras questões continuam em aberto, mas o espaço aqui não permite entrar em detalhes. Há dúvidas quanto à capacidade de os licitantes oferecerem garantias aos financiamentos, dada a enorme alavancagem; quanto à participação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em parte das obras; em relação ao acúmulo de leilões em curto período de tempo; sobre a possibilidade de atrair recursos de investidores privados em razão de os financiamentos serem muito subsidiados; etc.
Mas, na questão da modelagem, são as concessões ferroviárias as que despertam maiores preocupações. A assunção pelo governo do risco de demanda (a compra da capacidade total de transporte da ferrovia) pode levar à ineficiente alocação de recursos e a custos para o contribuinte impossíveis de serem estimados previamente com razoável precisão.
A adoção do modelo de separação vertical, ou seja, a construção e manutenção da ferrovia, de um lado, e a operação, de outro, atribuídas a empresas completamente independentes, pode aumentar a competição, mas leva a enormes custos de transação por desalinhamento de objetivos. Não funcionou bem no Reino Unido. Espanha e Alemanha seguem tal modelo, mas nesses casos as empresas são públicas, o que mitiga os conflitos. O tema é complexo e não parece ter sido suficientemente estudado na elaboração do modelo brasileiro.
O PIL, portanto, precisa ser profundamente revisto. Há urgência em melhorar nossa infraestrutura, mas o custo do eventual fracasso é muito maior do que o decorrente de mais um adiamento para fazer as devidas correções.
De acordo com o Relatório de Competitividade Global 2012/2013, elaborado pelo World Economic Forum, entre os 144 países analisados, ocupávamos a 100.ª posição em ferrovias; a 123.ª, em rodovias; a 134.ª, em aeroportos; e a 135.ª, em portos. Nas últimas três décadas, a taxa média de investimento em infraestrutura no Brasil foi de cerca de 2% do PIB. Isso é muito menos do que investem nossos concorrentes no mercado internacional (entre 4% e 8% do PIB) e insuficiente até mesmo para repor a depreciação do estoque de capital já investido no setor.
Portanto, o sucesso do Programa de Investimento e Logística (PIL) do governo federal é condição necessária (embora não suficiente) para elevar, de forma duradoura, o crescimento econômico do Brasil.
Este artigo é bastante crítico ao PIL, mas não quero cometer injustiças. Há que se louvar a dedicação e a abertura ao diálogo de dois membros da equipe governamental com quem tive a oportunidade de manter reuniões técnicas: a ministra Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, e Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e Logística. Infelizmente, isso não basta para fazer funcionar bem um programa que nasceu com erros de concepção política e técnica.
O governo quer transferir à iniciativa privada a responsabilidade de projetos de longo prazo, como rodovias e ferrovias, mas, na busca quase obsessiva da modicidade tarifária, fixa tarifas-teto para as licitações que resultam em taxas de retorno pouco atraentes (em torno de 6,5% a 7,5% ao ano). Para compensar, oferece fartos financiamentos subsidiados, principalmente com recursos do BNDES, o que eleva para mais que o dobro a taxa de retorno alavancada, ou seja, a remuneração do capital próprio investido no negócio pelo concessionário. Além disso, transfere para o contribuinte riscos inerentes aos empreendimentos, tal como a compra antecipada pela Empresa Brasileira de Ferrovias da capacidade total de transporte da ferrovia.
Cabe indagar se faz sentido oferecer generosos subsídios às concessões de rodovias e ferrovias. A teoria econômica nos ensina que devem ser subsidiados os projetos cujo benefício total é maior que o benefício privado, em razão da presença de benefícios sociais, ou seja, de externalidades. Nesses casos, não é possível incorporar no preço do bem ou serviço o valor total de tais benefícios. Assim, se não houver subsídio, haverá subinvestimento. Um exemplo claro é o do metrô nos grandes centros urbanos. Pode-se incluir na tarifa o valor do benefício relativo do serviço de transportar o usuário de um determinado ponto a outro, mas não o correspondente à redução da poluição, à queda dos acidentes, à melhora da saúde pública, etc., que tal meio de transporte possibilita.
Esse não é o caso de rodovias e ferrovias. Uma boa logística de transporte é fundamental para elevar a taxa de crescimento do País, mas isso não significa que haja, nesses empreendimentos, claras externalidades. O produtor de soja, que vai se tornar mais competitivo - e, pois, auferir mais lucro - com a melhora da eficiência do sistema de transporte, pode e deve arcar, via frete, com o custo do serviço, não o contribuinte. E mesmo que se admita, em casos especiais, a existência de externalidades, os subsídios devem ser transparentes, explícitos no orçamento público, e não concedidos disfarçadamente, via taxas de juros.
Além disso, uma vez que os projetos só são viáveis graças aos financiamentos subsidiados e à mitigação dos riscos, há o temor, por parte dos eventuais concessionários, de que essas vantagens não sejam mantidas por todo o horizonte da concessão. Por exemplo, os financiamentos são corrigidos pela Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) e as tarifas, pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Atualmente, a TJLP resulta em juros negativos. Mas quem garante que será assim por 30 ou 35 anos, horizonte das concessões?
Leilões. Apesar de várias revisões nos parâmetros dos projetos feitas pelo governo após ouvir os investidores potenciais, a maior parte das concessões rodoviárias ainda parece pouco atrativa. Segundo cuidadoso estudo realizado pelo Banco Credit Suisse, de 9 leilões programados (2 já realizados), apenas 2 rodovias foram classificadas como atrativas: a BR-262 (ES/MG), cujo leilão fracassou por trapalhadas burocráticas, e a BR-050 (GO/MG), leiloada com 42,38% de deságio. As demais foram avaliadas como razoáveis (2), desafiantes (3) e inviáveis (2).
Muitas outras questões continuam em aberto, mas o espaço aqui não permite entrar em detalhes. Há dúvidas quanto à capacidade de os licitantes oferecerem garantias aos financiamentos, dada a enorme alavancagem; quanto à participação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em parte das obras; em relação ao acúmulo de leilões em curto período de tempo; sobre a possibilidade de atrair recursos de investidores privados em razão de os financiamentos serem muito subsidiados; etc.
Mas, na questão da modelagem, são as concessões ferroviárias as que despertam maiores preocupações. A assunção pelo governo do risco de demanda (a compra da capacidade total de transporte da ferrovia) pode levar à ineficiente alocação de recursos e a custos para o contribuinte impossíveis de serem estimados previamente com razoável precisão.
A adoção do modelo de separação vertical, ou seja, a construção e manutenção da ferrovia, de um lado, e a operação, de outro, atribuídas a empresas completamente independentes, pode aumentar a competição, mas leva a enormes custos de transação por desalinhamento de objetivos. Não funcionou bem no Reino Unido. Espanha e Alemanha seguem tal modelo, mas nesses casos as empresas são públicas, o que mitiga os conflitos. O tema é complexo e não parece ter sido suficientemente estudado na elaboração do modelo brasileiro.
O PIL, portanto, precisa ser profundamente revisto. Há urgência em melhorar nossa infraestrutura, mas o custo do eventual fracasso é muito maior do que o decorrente de mais um adiamento para fazer as devidas correções.
Um novo caminho para Alemanha e Europa - DANIELA SCHWARZER E GUNTRAM B. WOLFF
O GLOBO - 30/09
Quando o novo governo alemão assumir, não deve esperar muito para fazer da zona do euro um tópico central em sua agenda.
Embora a arquitetura da zona do euro tenha sido melhorada desde que começou a crise, nem tudo está no lugar para fazer a união monetária funcionar de forma eficiente. Grandes riscos persistem: a recuperação econômica é superficial, os níveis dos preços relativos se ajustam devagar demais e por isso a sustentabilidade da dívida pública está longe de ser obtida. Os números do desemprego são elevados, o sistema bancário está fragilizado e a tomada de decisões é complicada, o que não exclui a possibilidade de novos acidentes como o de Chipre. Estes riscos podem minar a estabilidade da união monetária e assim terem sérias repercussões na Alemanha. Não há tempo para complacência e novas reformas são necessárias. Vemos alguns elementos centrais que o governo alemão deverá buscar, o que inclui uma mudança na filosofia do gerenciamento da crise.
Em primeiro lugar, embora a taxa média de inflação de 2% deva ser mantida na zona do euro, interessa à Alemanha deixar que as forças do mercado empurrem os índices de preços no país acima dos 2%. Se isto não acontecer, os necessários ajustes dos preços relativos levarão as taxas de inflação no Sul da Europa a zero ou abaixo disto. Como consequência, o Banco Central Europeu (BCE) não conseguiria atingir sua meta inflacionária - próxima, mas abaixo de 2%.
Ainda mais preocupante, simulações simples mostram que isso pode tornar muito difícil a sustentação da dívida no Sul da Europa. Também as finanças de bancos, corporações e famílias seriam ainda mais pressionadas. A consequência seria mais ajuda financeira para países em crise, a menos que os governos decidam deixar um deles quebrar. O processo de ajuste orientado para o mercado na Alemanha seria apoiado por um aumento significativo do investimento público, tanto em infraestrutura quanto em educação. Em ambos os casos, a Alemanha está bem abaixo do resto da União Europeia, o que ameaça sua competitividade a médio prazo. O novo governo alemão deveria também revisar cuidadosamente que partes do setor de serviços poderiam ser liberalizadas para realizar seu potencial de crescimento.
A segunda tarefa importante é completar a união bancária. Isto é de importância central para acabar com a fragmentação financeira na zona do euro, que torna ilusória uma recuperação econômica significativa do Sul da Europa porque os investimentos continuarão deprimidos. Para completar a união bancária, o elemento mais importante é concordar com uma autoridade centralizada com possibilidade de atribuir fianças e garantias. Para se conseguir uma resolução rápida que leve a menos fragmentação ao longo das fronteiras nacionais, é de central importância a criação de um mecanismo que não opere na base da unanimidade. Ainda há uma boa chance de um passo decisivo nesta direção antes das eleições europeias permitir superar a crise bancária no verão (boreal) de 2014, finalmente acabando com a fragmentação e restaurando as fundações do crescimento, ou seja, o funcionamento da intermediação financeira.
Para dar maior apoio a este processo, o capital do Banco Europeu de Investimento deveria ser aumentado e suas atividades direcionadas para financiar significativamente investimentos do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) no Sul da Europa. Além disso, o desespero dos países dessa região para reduzir o desemprego deve ser levado a sério. Um Fundo Europeu para o Desemprego Juvenil deveria dar apoio ao treinamento e à contratação de jovens pelas empresas, incentivando ainda a mobilidade transnacional. São medidas que ajudariam a preparar o terreno para uma reforma mais profunda da governança.
A estratégia geral para reformar as estruturas de governo da zona do euro deveria mudar. No auge da crise, foi crucialmente importante criar rapidamente novos e poderosos instrumentos. O que incluiu ampliar a coordenação da governança fiscal e da política econômica, bem como a criação do Mecanismo Europeu de Estabilidade. Contudo, o MEE, que poderia ter se tornado a peça central da governabilidade na zona do euro, foi criado segundo uma lógica intergovernamental, pela qual todo estado membro tem forte poder de veto.
A Alemanha, a economia mais importante e o país mais poderoso, acabou com um poder de veto expandido nesse panorama. O aumento de poder caminhou de mãos dadas com a diminuição da relevância das instituições comunitárias e, em particular, da Comissão Europeia. Isto não é nem do interesse a longo prazo da Alemanha nem da Europa, pois mina a legitimidade e cria antipatia entre os países. Quanto mais integrada a Europa se torna, mais a tomada de decisões terá de ser feita e legitimada no nível europeu. Instituições comunitárias que funcionem a contento podem melhor definir o interesse comum e obter maior legitimidade.
Uma transferência significativa de competências nessas áreas e a repatriação de competências em outras deveriam ser acompanhadas de uma transferência de legitimidade parlamentar. Isto irá exigir uma mudança do tratado da UE. A Alemanha deve defender esta ideia junto a seus parceiros.
Tudo às avessas - RUBEM F. NOVAES
O GLOBO - 30/09
Livro recentemente divulgado propõe uma nova concepção para o desenvolvimento econômico. Na década de 70, Donald McCloskey, seu autor, lecionava na Universidade de Chicago e encantava as poucas meninas presentes ao curso introdutório de Economia. Muito criativo, culto e sensível, McCloskey enveredou cada vez mais pelos mistérios da História e da Filosofia, diferenciando-se de seus outros colegas professores, mais ligados aos temas duros e materiais da teoria e da política econômica.
Apesar de professor brilhante e autor de uma produção acadêmica considerável, Donald, casado e com dois filhos, só ganhou fama internacional quando, através de uma cirurgia transformadora de sexo realizada em 1995, aos 53 anos, virou senhora Deirdre McCloskey.
Já bem conhecida como Deirdre, McCloskey viria a produzir, em 2010, sua maior obra: "Bourgeois Dignity: Why Economics Can't Explain the Modern World", tratando da burguesia que emergia nos séculos XVII e XVIII, concomitantemente à expansão do comércio e do capitalismo na Europa. Mais especificamente, a autora destaca em sua obra a influência que o reconhecimento das virtudes desta burguesia teve sobre o curso da História.
Respeitabilidade, até então privilégio da nobreza e do clero, se estendeu ao cidadão burguês, conferindo dignidade ao seu trabalho e estimulando o esforço comercial e produtivo. Daí, para a tese central revolucionária de McCloskey foi apenas um pulo. Mais que fatores materiais, como a acumulação de capital, as inovações e o comércio internacional, foi a opinião positiva que se passou a ter da burguesia o principal fator explicativo do espantoso progresso verificado a partir do século XVIII .
McCloskey vai um passo adiante e credita o progresso material que se verifica hoje na China e na Índia ao mesmo fenômeno ocorrido na Europa antiga. A liberdade para o comércio e o empreendedorismo teriam como pré-condição o reconhecimento por toda a sociedade de que os agentes interagindo nos mercados são virtuosos, sem o que surge todo um sistema estatal de intervenção direta e indireta na economia, inibidor do progresso.
Ideias, crenças, formando um ambiente propício, mais que investimentos ou comércio, explicariam a explosão do crescimento econômico verificado nesses países.
Ora, em contraste, o que vemos agora em nosso país é que nas diversas manifestações culturais, muitas das vezes impulsionadas por recursos estatais, empresários são sempre caracterizados como espertalhões, sonegadores de impostos, exploradores da mão de obra e/ou enganadores do consumidor. A classe média trabalhadora, por sua vez, é tratada com incontido desprezo por nossa intelectualidade de esquerda, chegando a musa petista Marilena Chaui a produzir um longo discurso explicativo das razões de seu ódio. Então, como querer o engajamento sincero da burguesia brasileira para o progresso, se nossa elite governante, ao retirar-lhe a dignidade, age exatamente às avessas de tudo o que preconiza McCloskey? Fica a questão!
Como querer o engajamento sincero da burguesia?
Novo gás para o alumínio brasileiro - ADJARMA AZEVEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 30/09
A vocação natural do Brasil para ser um importante player global do alumínio, sustentada durante décadas pela combinação estratégica da terceira maior reserva de bauxita do mundo, disponibilidade de energia hidrelétrica a baixo custo e tecnologia de escala para transformação, está ameaçada.
A extração do minério e a transformação em alumina se confirmaram em importantes atividades industriais, além de contribuírem na geração de divisas para o país. Já a produção de alumínio primário, mercê dos altos preços da energia elétrica no Brasil, vem declinando, sem perspectivas de futuros investimentos.
Pelo contrário, atores importantes só fazem por reduzir a produção nacional, indicando o momento emblemático de declínio da indústria de alumínio primário no país. O capítulo mais recente foi protagonizado pela Alcoa, que acaba de cortar o volume fabricado em 124 mil toneladas por ano de suas fábricas de Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA). Não foi o único: em abril, a unidade da Novelis de Ouro Preto (MG) reduziu em 20 mil toneladas sua produção, depois de a empresa ter encerrado, no fim de 2010, as atividades da fábrica de Aratu (BA) (60 mil toneladas). Some-se ainda o fechamento, em 2009, da unidade da Valesul no Rio de Janeiro, com produção de 95 mil toneladas.
Em paralelo, o setor enfrenta a concorrência externa dos produtos semielaborados e acabados de alumínio. Pressionados pelo custo de produção nacional e mudanças conjunturais do câmbio, os itens fabricados no Brasil sofrem com a perda de competitividade.
Disponível em condições competitivas, o gás natural pode ajudar a reverter esse quadro. Dentro da cadeia produtiva do alumínio, o insumo substituiria com vantagens o óleo combustível em praticamente todo o parque industrial, nas etapas fundamentalmente térmicas, que são as de transformação da alumina e de produtos semielaborados, além da refusão da sucata de alumínio na atividade de reciclagem. Mas, sem dúvida alguma, sua grande contribuição seria na autogeração de energia elétrica, por meio de térmicas a gás, para a retomada da produção de alumínio primário.
Sem a disponibilidade de energia elétrica competitiva, que torne o Brasil novamente atrativo para investimentos em novas fundições de alumínio primário, aumentarão as importações do metal, da sucata e de produtos transformados em geral, uma vez que está muito próximo o momento em que a demanda doméstica de alumínio ultrapassará a oferta. Como consequência, a indústria de transformação também será prejudicada, afetando inclusive a atividade de reciclagem, resultando em perda de postos de trabalho e de tudo o que já foi investido, enquanto assistimos à captura do crescimento do consumo brasileiro por produtos estrangeiros.
Toda essa ameaça pode ser minimizada quando o gás natural despontar como insumo energético de primeira linha, o que daria novo fôlego ao setor, em todas as etapas de produção, e auxiliar na recuperação da competitividade perdida. O fato é que, segundo projeções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mesmo sem a produção do energético a partir de depósitos de xisto e de outras fontes não convencionais, a oferta deve triplicar até o início da próxima década. É gás que deve chegar mais barato à indústria, num alento para os grandes consumidores de energia que veem hoje a competitividade ameaçada pelos custos elevados da eletricidade.
Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) denota a importância disso. O insumo já vem substituindo o óleo combustível nos processos térmicos do setor de alumínio. Mas pode ir muito além: ao preço de US$ 7 por milhão de unidades de medida de gás (BTU), o gás teria condições de fazer a diferença na etapa mais crítica, a autoprodução de eletricidade em usinas térmicas pode reduzir os custos na etapa da produção do alumínio primário.
Essa equação da competitividade também está vinculada a outras vantagens da autogeração: a redução do custo de transmissão e de distribuição da eletricidade. Os baixos custos da logística do gás e a segurança do seu uso completam o cenário favorável para o setor.
O Projeto +Gás Brasil indica caminhos para chegar a essa realidade. Entre as alternativas, a implementação de uma política de controle de preços do energético enquanto o mercado do insumo não for competitivo, como previsto pela Resolução nº 6/2001 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), bem como a reformulação da política de formação de preços de maneira mais aderente e estimulante à realidade brasileira, de consumo e oferta crescentes. São desafios importantes, que certamente poderão auxiliar o alumínio brasileiro a retomar posição de destaque na economia nacional.
A nova política para o gás natural - DAVID ZYLBERSZTAJN E AFONSO H. MOREIRA SANTOS
O GLOBO - 30/09
Historicamente, apesar de diversas manifestações oficiais e do mercado quanto às vicissitudes do gás natural, encontramo-nos ainda engatinhando em relação ao potencial de sua utilização. Vivemos um monopólio, de fato, tanto em relação à sua produção quanto ao seu transporte até as distribuidoras regionais (em geral, uma em cada estado da Federação). Este ambiente torna o uso do gás natural propício apenas aos grandes utilizadores, com o uso mais marcante representado pela geração de energia elétrica em instalações de grande porte. Este cenário pode e deve ser alterado.
No momento em que o governo se prepara para lançar uma nova política para o gás natural, é necessário trazer para o debate alguns pontos pouco frequentes nas agendas públicas, que podem aprimorar o uso deste vetor energético e, verdadeiramente, criar um mercado para o mesmo.
O gás natural é conhecido como o "combustível da transição", por ser menos poluente que os demais combustíveis fósseis (petróleo e carvão), antecedendo a maior penetração de fontes renováveis na matriz de consumo de energia.
Diante do enorme crescimento da produção de gás natural nos Estados Unidos, graças ao gás de xisto (shale gas), observa-se ali uma dinâmica de substituição e eliminação de combustíveis fósseis líquidos e sólidos, combinando-se eficiência energética, ganhos ambientais e aperfeiçoamento de diversos processos produtivos, levando a melhores produtos. Por exemplo, na petroquímica moderna, onde o gás natural é um insumo fundamental, é notável o movimento de instalação de novas indústrias e o retorno ao país de outras, todos atraídos por energia abundante, de custo competitivo e menores impactos ambientais. O impacto desta conjuntura sobre a paisagem energética mundial é enorme
No Brasil, no entanto, a chamada Lei do Gás não foi capaz de criar um mercado dinâmico, onde agentes de diferentes interesses pudessem produzir, consumir, importar e dar uso eficiente e eficaz a este insumo, de maneira diversificada e capilar. O que se vê é um uso concentrado em geração termelétrica de grande porte, operando apenas em certo períodos do ano, levando, inclusive, a importações de gás natural liquefeito (GNL) a preços elevados. Em outros momentos, há sobra, que não pode ser usada, pois não há um mercado secundário ágil e capaz de absorver tal montante. Tampouco não possuímos rede de gasodutos para alcançar pontos de potencial consumo.
Melhor uso teria o gás natural caso, além da finalidade de geração de energia de grande porte, este fosse utilizado como elemento de interesse social, no seu sentido mais amplo.
Explicando melhor: seu uso intensivo nas grandes metrópoles, de forma descentralizada, contribuiria para reduzir a vulnerabilidade urbana dos sistemas elétricos e viários, e em suporte a estes.
A intensificação do transporte coletivo a gás natural, notadamente nos corredores de trânsito rápido, e a geração urbana de eletricidade a frio (cogeração, onde a eficiência é ao menos 30% maior do que a da geração em grandes termelétricas), podem representar melhoria ambiental significativa e maior segurança no suprimento, principalmente em regiões altamente adensadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, estamos deixando passar a oportunidade de termos, no Porto Maravilha e nas instalações esportivas, plantas de cogeração a gás, dando suporte e complementando os sistemas elétricos existentes.
Numa nova política para o gás natural, o governo federal deve buscar reduzir a importância da grande geração termelétrica, menos eficiente e prejudicada por uma rede de gasodutos incipiente diante das necessidades do país. Em contrapartida, deve incentivar e privilegiar a geração descentralizada, em segmentos urbanos já possuidores de grandes redes de distribuição e com a necessária capilaridade de atendimento.
Isto seria possível com incentivos à utilização do gás nacional e a importação de GNL (nosso maiores centros de consumo estão localizados junto à costa), uma política de preços realista e adequações técnicas pontuais.
Caso isto aconteça, o gás natural estará em seu devido lugar.
Ganhar o mundo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 30/09
Nas primeiras propagandas de TV depois do desembarque do governo federal, que vão ao ar amanhã, o PSB aposta em "nacionalizar" a imagem de Eduardo Campos. As peças mostram ações de sua gestão em Pernambuco, sob o slogan de que é possível fazer "mais", "diferente" e "bem feito". Um dos spots enfoca o programa de intercâmbio estudantil "Ganhe o Mundo". O outro diz que Campos é o governador mais bem avaliado do país e recebeu dois prêmios da ONU no mesmo ano.
Subliminar Campos só discursa na peça sobre educação. Com a câmera fechada em seu rosto, diz, em tom enfático: "Respeito!". O vídeo, a cargo de Edinho Barbosa, da Link, fala sobre a construção de um ensino público de qualidade. Mas o subtexto é um claro recado para o PT.
Estratégia O PSB escalonou a propaganda para aumentar a exposição de Campos. Novos filmes de 30 segundos vão ao ar nos dias 3, 5 e 8. Serão dez inserções por dia. O programa partidário, de dez minutos, será exibido na quinta-feira, dia 10.
Fora de rota Integrante do TSE que recebeu Marina Silva na semana passada argumenta que a Rede deveria ter recorrido aos tribunais regionais para tentar validar assinaturas rejeitadas, e não diretamente à corte superior. A falha, avalia, dificulta a aprovação do registro do partido.
Sabotagem? A Rede divulgou um vídeo em que o ator Wagner Moura critica a burocracia dos cartórios e afirma que é "inegável" que o fato de Marina ocupar o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto "deve incomodar muita gente".
Empréstimo Aécio Neves (PSDB) vai se empenhar pessoalmente esta semana em emplacar aliados em postos de comando do Solidariedade, para garantir o apoio da legenda a sua candidatura. O senador mineiro incentiva até a filiação de políticos do PSDB ao novo partido.
Cerco Luizianne Lins se reúne hoje em São Paulo com o presidente petista, Rui Falcão, para definir se continua na sigla. Certos da permanência, seus rivais no PT cearense se articulam para barrar as pretensões da ex-prefeita de Fortaleza de se lançar ao Senado ou ao governo estadual.
Pendência Antes de partir para lua de mel na Itália, Henrique Alves (PMDB-RN) vai tentar convencer o PT a colocar em votação o projeto da minirreforma eleitoral. Os petistas, no entanto, mantêm posição de obstruir as tentativas de apreciação do tema.
Calendário Os peemedebistas insistem na votação, mas líderes da base governista e da oposição julgam ser impossível a aprovação do texto esta semana --a tempo de valer nas eleições de 2014.
Pirotecnia A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) terá audiências com prefeitos da região Norte na quinta e na sexta-feira. Diante da chuva de pleitos municipais e da escassez de recursos federais, a iniciativa ganhou o apelido de "caravana da ilusão".
Vai... O governo paulista criou uma Subsecretaria do Trabalho Artesanal nas Comunidades para substituir a Sutaco, autarquia extinta no pacote de corte de custeio anunciado em junho por Geraldo Alckmin (PSDB).
... e volta A medida é acompanhada da criação de um conselho de artesanato e de um programa de certificação de peças artesanais.
De perto A Prefeitura de São Paulo planeja manter o parque Ibirapuera aberto durante a noite no fim do ano para a observação de sua árvore de Natal. Segundo o município, a medida pode ajudar a aliviar o trânsito na região.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O Bolsa Família não substitui as políticas de desenvolvimento regional. O Nordeste, hoje, é um canteiro de obras inacabadas."
DO DEPUTADO BRUNO ARAÚJO (PSDB-PE), sobre os números do IBGE que mostram o crescimento da desigualdade na região Nordeste entre 2011 e 2012.
contraponto
Time de veteranos
Em evento da Defensoria Pública na quinta-feira, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) repetiu o costume de elogiar funcionários e compará-los a jogadores de futebol. Depois de citar atletas de São Paulo, Corinthians e Palmeiras, o tucano gaguejou ao tentar se lembrar de um representante do Santos, seu clube do coração.
--A Defensoria é um time que só tem craque: Rogério Ceni, Alexandre Pato, Valdívia... nosso ex... o Neymar... Quem é o bom agora do Santos?
Diante do silêncio, emendou:
--Sou da época de Pelé e Pepe. Bons tempos!
Nas primeiras propagandas de TV depois do desembarque do governo federal, que vão ao ar amanhã, o PSB aposta em "nacionalizar" a imagem de Eduardo Campos. As peças mostram ações de sua gestão em Pernambuco, sob o slogan de que é possível fazer "mais", "diferente" e "bem feito". Um dos spots enfoca o programa de intercâmbio estudantil "Ganhe o Mundo". O outro diz que Campos é o governador mais bem avaliado do país e recebeu dois prêmios da ONU no mesmo ano.
Subliminar Campos só discursa na peça sobre educação. Com a câmera fechada em seu rosto, diz, em tom enfático: "Respeito!". O vídeo, a cargo de Edinho Barbosa, da Link, fala sobre a construção de um ensino público de qualidade. Mas o subtexto é um claro recado para o PT.
Estratégia O PSB escalonou a propaganda para aumentar a exposição de Campos. Novos filmes de 30 segundos vão ao ar nos dias 3, 5 e 8. Serão dez inserções por dia. O programa partidário, de dez minutos, será exibido na quinta-feira, dia 10.
Fora de rota Integrante do TSE que recebeu Marina Silva na semana passada argumenta que a Rede deveria ter recorrido aos tribunais regionais para tentar validar assinaturas rejeitadas, e não diretamente à corte superior. A falha, avalia, dificulta a aprovação do registro do partido.
Sabotagem? A Rede divulgou um vídeo em que o ator Wagner Moura critica a burocracia dos cartórios e afirma que é "inegável" que o fato de Marina ocupar o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto "deve incomodar muita gente".
Empréstimo Aécio Neves (PSDB) vai se empenhar pessoalmente esta semana em emplacar aliados em postos de comando do Solidariedade, para garantir o apoio da legenda a sua candidatura. O senador mineiro incentiva até a filiação de políticos do PSDB ao novo partido.
Cerco Luizianne Lins se reúne hoje em São Paulo com o presidente petista, Rui Falcão, para definir se continua na sigla. Certos da permanência, seus rivais no PT cearense se articulam para barrar as pretensões da ex-prefeita de Fortaleza de se lançar ao Senado ou ao governo estadual.
Pendência Antes de partir para lua de mel na Itália, Henrique Alves (PMDB-RN) vai tentar convencer o PT a colocar em votação o projeto da minirreforma eleitoral. Os petistas, no entanto, mantêm posição de obstruir as tentativas de apreciação do tema.
Calendário Os peemedebistas insistem na votação, mas líderes da base governista e da oposição julgam ser impossível a aprovação do texto esta semana --a tempo de valer nas eleições de 2014.
Pirotecnia A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) terá audiências com prefeitos da região Norte na quinta e na sexta-feira. Diante da chuva de pleitos municipais e da escassez de recursos federais, a iniciativa ganhou o apelido de "caravana da ilusão".
Vai... O governo paulista criou uma Subsecretaria do Trabalho Artesanal nas Comunidades para substituir a Sutaco, autarquia extinta no pacote de corte de custeio anunciado em junho por Geraldo Alckmin (PSDB).
... e volta A medida é acompanhada da criação de um conselho de artesanato e de um programa de certificação de peças artesanais.
De perto A Prefeitura de São Paulo planeja manter o parque Ibirapuera aberto durante a noite no fim do ano para a observação de sua árvore de Natal. Segundo o município, a medida pode ajudar a aliviar o trânsito na região.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O Bolsa Família não substitui as políticas de desenvolvimento regional. O Nordeste, hoje, é um canteiro de obras inacabadas."
DO DEPUTADO BRUNO ARAÚJO (PSDB-PE), sobre os números do IBGE que mostram o crescimento da desigualdade na região Nordeste entre 2011 e 2012.
contraponto
Time de veteranos
Em evento da Defensoria Pública na quinta-feira, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) repetiu o costume de elogiar funcionários e compará-los a jogadores de futebol. Depois de citar atletas de São Paulo, Corinthians e Palmeiras, o tucano gaguejou ao tentar se lembrar de um representante do Santos, seu clube do coração.
--A Defensoria é um time que só tem craque: Rogério Ceni, Alexandre Pato, Valdívia... nosso ex... o Neymar... Quem é o bom agora do Santos?
Diante do silêncio, emendou:
--Sou da época de Pelé e Pepe. Bons tempos!
Malogros do governo Dilma - JOSÉ ELI VEIGA
VALOR ECONÔMICO - 30/09
O governo Dilma honrará pouquíssimos dos compromissos programáticos apresentados à sociedade em 2010 pela coligação Para o Brasil Seguir Mudando . Eram bons demais para a frouxa coalizão que em dois anos e nove meses só revelou impotência e incapacidade para manter o renascimento iniciado em 1994 com o Plano Real, e impulsionado até 2010 pelos governos FHC e Lula. Muitos dos compromissos foram logo descartados, e sem qualquer explicação à sociedade, notadamente aos quase 56 milhões que votaram Dilma.
Claro, seriam precipitadas avaliações sobre as cinco áreas nas quais alguns compromissos parecem continuar em pé: ciência/tecnologia, educação, habitação, políticas sociais e saúde. Já está evidente, contudo, que fora disso só houve desastrosos malogros. E antes do inventário que justifica tal balanço, impõe-se esclarecer seu contraste com a zombaria da Economist .
O principal descumprimento não está na tão martelada falha em manter os níveis de crescimento alcançados em governos anteriores. Basicamente porque foram mantidos os níveis de emprego e de renda, e também porque as taxas de investimento dos últimos dois anos, mesmo que medíocres, superaram a média do período 2003-2010, assim como ocorreu com a participação do consumo. Então, se o crescimento já estivesse sendo medido pela renda familiar disponível - em vez do obsoleto PIB - muito provavelmente o desempenho macroeconômico da primeira metade do governo Dilma corresponderia ao padrão Lula.
Entre compromissos não cumpridos estão a reforma do Estado, que evaporou, seguido da reforma política
A dúzia de compromissos programáticos não cumpridos começa principalmente pela falta de continuidade da reforma do Estado , assunto que evaporou após muito nhém-nhém-nhém com o líder empresarial Jorge Gerdau Johanpeter. O segundo compromisso descumprido foi a realização de uma reforma política . Também não se sabe até agora por que foi rifada a abnegada dedicação a esse tema por outro gaúcho, o deputado Henrique Fontana. Sua proposta é por demais estatista, mas isso jamais constituiria defeito para a dezena de partidos da atual coalizão situacionista.
O terceiro destaque só pode ser para a completa renúncia em dar ênfase à produção de energia renovável e à pesquisa de novas fontes limpas . Ao contrário, houve ênfase nas fósseis: por um lado, gasolina contra etanol, por outro, mais termelétricas, com realce para a volta ao carvão mineral. Algum avanço da eólica foi arrancado na marra , e em parte neutralizado pela falta de transmissão, justamente a tarefa que cabia ao governo.
O que mais pinçar da longa lista de fracassos no âmbito das infraestruturas? Com certeza o saneamento, que os compromissos da coligação destacavam repetidamente. Uma das faces dessa tragédia que mantém a metade da população brasileira na mais indigna miséria foi abordada neste espaço do Valor em 30/08, e outras dimensões na edição de setembro da revista Página 22 . Tanto quanto a questão energética, ela está no cerne da grave traição ao compromisso de garantir um desenvolvimento sustentável .
É frequente que se use a evolução da taxa de desmatamento como se fosse indicador da responsabilidade ambiental do governo. Mas qualquer vestibulando sabe que solos com boa aptidão agrícola não se comparam aos de áreas sensíveis, nas quais a vegetação florestal deveria ser intocável, como as de beira-rio, nascentes, topos de morro ou encostas. Por isso, o pior ataque à sustentabilidade foi a promulgação da lei que convalidou a devastação de imensas extensões de preservação permanente, com histórico prêmio à especulação fundiária, foco do livro Os estertores do Código Florestal (Autores Associados, 2013).
Só depois aparece nos compromissos aquele que deveria ser o primeiro: promover a igualdade de direitos e de oportunidades para mulheres, negros, populações indígenas, idosos e para todos os setores da sociedade discriminados, seja pela sua condição social, deficiência, etnia, ideias, credos ou por sua orientação sexual . A atual coalizão, que já traíra esse compromisso ao promover a entrega da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ao controle de deputados dos mais sectários e obscurantistas, agora aprofunda tal retrocesso com estratagemas que visam retirar direitos constitucionais das populações indígenas.
Também não será cumprido o compromisso de dotar as cidades de transporte coletivo eficiente, com especial ênfase para a continuidade de expansão de metrôs nas principais aglomerações urbanas . Em vez de ter como alvo os setecentos municípios que abrigam cidades, o ministério com esse nome permanece um guichê de atendimento fisiológico aos outros quase cinco mil que estão longe de ser propriamente urbanos.
Resta espaço para os compromissos com a segurança que enfatizavam a reforma radical do sistema penitenciário , o controle e defesa de nossas fronteiras para impedir o tráfico de drogas e de armas , e o reequipamento das Forças Armadas . Será que algum milagre poderia tirar ao menos um desses três imperativos da extensa lista dos compromissos malbaratados?
Claro, seriam precipitadas avaliações sobre as cinco áreas nas quais alguns compromissos parecem continuar em pé: ciência/tecnologia, educação, habitação, políticas sociais e saúde. Já está evidente, contudo, que fora disso só houve desastrosos malogros. E antes do inventário que justifica tal balanço, impõe-se esclarecer seu contraste com a zombaria da Economist .
O principal descumprimento não está na tão martelada falha em manter os níveis de crescimento alcançados em governos anteriores. Basicamente porque foram mantidos os níveis de emprego e de renda, e também porque as taxas de investimento dos últimos dois anos, mesmo que medíocres, superaram a média do período 2003-2010, assim como ocorreu com a participação do consumo. Então, se o crescimento já estivesse sendo medido pela renda familiar disponível - em vez do obsoleto PIB - muito provavelmente o desempenho macroeconômico da primeira metade do governo Dilma corresponderia ao padrão Lula.
Entre compromissos não cumpridos estão a reforma do Estado, que evaporou, seguido da reforma política
A dúzia de compromissos programáticos não cumpridos começa principalmente pela falta de continuidade da reforma do Estado , assunto que evaporou após muito nhém-nhém-nhém com o líder empresarial Jorge Gerdau Johanpeter. O segundo compromisso descumprido foi a realização de uma reforma política . Também não se sabe até agora por que foi rifada a abnegada dedicação a esse tema por outro gaúcho, o deputado Henrique Fontana. Sua proposta é por demais estatista, mas isso jamais constituiria defeito para a dezena de partidos da atual coalizão situacionista.
O terceiro destaque só pode ser para a completa renúncia em dar ênfase à produção de energia renovável e à pesquisa de novas fontes limpas . Ao contrário, houve ênfase nas fósseis: por um lado, gasolina contra etanol, por outro, mais termelétricas, com realce para a volta ao carvão mineral. Algum avanço da eólica foi arrancado na marra , e em parte neutralizado pela falta de transmissão, justamente a tarefa que cabia ao governo.
O que mais pinçar da longa lista de fracassos no âmbito das infraestruturas? Com certeza o saneamento, que os compromissos da coligação destacavam repetidamente. Uma das faces dessa tragédia que mantém a metade da população brasileira na mais indigna miséria foi abordada neste espaço do Valor em 30/08, e outras dimensões na edição de setembro da revista Página 22 . Tanto quanto a questão energética, ela está no cerne da grave traição ao compromisso de garantir um desenvolvimento sustentável .
É frequente que se use a evolução da taxa de desmatamento como se fosse indicador da responsabilidade ambiental do governo. Mas qualquer vestibulando sabe que solos com boa aptidão agrícola não se comparam aos de áreas sensíveis, nas quais a vegetação florestal deveria ser intocável, como as de beira-rio, nascentes, topos de morro ou encostas. Por isso, o pior ataque à sustentabilidade foi a promulgação da lei que convalidou a devastação de imensas extensões de preservação permanente, com histórico prêmio à especulação fundiária, foco do livro Os estertores do Código Florestal (Autores Associados, 2013).
Só depois aparece nos compromissos aquele que deveria ser o primeiro: promover a igualdade de direitos e de oportunidades para mulheres, negros, populações indígenas, idosos e para todos os setores da sociedade discriminados, seja pela sua condição social, deficiência, etnia, ideias, credos ou por sua orientação sexual . A atual coalizão, que já traíra esse compromisso ao promover a entrega da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ao controle de deputados dos mais sectários e obscurantistas, agora aprofunda tal retrocesso com estratagemas que visam retirar direitos constitucionais das populações indígenas.
Também não será cumprido o compromisso de dotar as cidades de transporte coletivo eficiente, com especial ênfase para a continuidade de expansão de metrôs nas principais aglomerações urbanas . Em vez de ter como alvo os setecentos municípios que abrigam cidades, o ministério com esse nome permanece um guichê de atendimento fisiológico aos outros quase cinco mil que estão longe de ser propriamente urbanos.
Resta espaço para os compromissos com a segurança que enfatizavam a reforma radical do sistema penitenciário , o controle e defesa de nossas fronteiras para impedir o tráfico de drogas e de armas , e o reequipamento das Forças Armadas . Será que algum milagre poderia tirar ao menos um desses três imperativos da extensa lista dos compromissos malbaratados?
A semana da política - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 30/09
Que votações que nada. Paralelamente à saída de Fernando Bezerra Coelho do Ministério da Integração, abrindo lugar ao senador Vital do Rêgo do Filho, do PMDB, esta semana será dedicada à montagem dos times eleitorais que se apresentarão para as eleições de 2014. O vai e vem está num ritmo que há muito não se via. Nas últimas 48 horas, os movimentos mais surpreendentes vieram do ex-governador de São Paulo José Serra, que se preparava para deixar o PSDB.
Como já dissemos aqui há alguns dias, Serra nunca esteve tão encalacrado. Mas, nas últimas horas, cresceu nele o sentimento de que, se quiser respirar de peito aberto, sem ser tolhido em suas andanças e projetos, tem que sair do partido. No PSDB, ele se sente sufocado. No plano nacional, quem dá as cartas é o senador Aécio Neves. No regional, o governador Geraldo Alckmin. E ele, Serra, que foi prefeito, governador, ministro do Planejamento e da Saúde do governo Fernando Henrique e, duas vezes, candidato a presidente da República, não é prestigiado.
Desde que Serra começou nessa montanha-russa, ora pensa em sair ora diz que vai ficar no PSDB, não houve um ato público dentro do partido em que ele fosse chamado. Os seminários regionais, que Aécio promove pelo país afora — os dois primeiros ocorreram em Maceió e em Curitiba — não contaram com a presença de Serra. E, como em política, os gestos muitas vezes dizem mais do que as palavras, para muitos serristas ficou claro que o ex-governador paulista não está com essa bola toda, e que a porta da rua pode ser a serventia da casa — lembra até um pouco a forma com que Dilma se despediu do PSB.
Por falar em formas...
Dilma tem plena consciência de que a saída do PSB do governo foi um prejuízo, e Lula deixou isso claro na entrevista exclusiva que deu ao Correio. Da mesma forma, a saída de Serra, se confirmada, será um problema para os tucanos. Mas, lá na frente, talvez o que hoje é visto como perda se transforme numa vantagem. Se nem Eduardo nem Serra chegarem ao segundo turno, eles podem auxiliar seus antigos aliados. Eduardo Campos poderá ser importante num segundo turno em favor da petista. Como integrante do campo governista, ele não integra oficialmente o “outro lado”. Serra, como um elemento forte dentro da oposição, será importante para quem estiver contra Dilma. E, aos olhos de hoje, quem tem maior estrutura para chegar lá contra Dilma é o PSDB.
Nesse cenário, para que essa ajuda se dê de fato, é preciso que o PT não jogue fora a relação com Eduardo nem o PSDB deixe o relacionamento com Serra escorrer pelos dedos. Os petistas, até o momento, não se mostraram muito hábeis nessa construção. Isso porque, em vez de jogar às claras, começaram a minar o PSB por dentro. Eduardo não gostou e acabou antecipando uma saída do seu time do governo. Os tucanos ainda não tiveram esse problema. Esta semana, entretanto, vão começar a pensar nisso, enquanto observam não só os movimentos de Serra como também as evoluções da Rede de Marina Silva, as peças que faltam para fechar o quadro de potenciais concorrentes ao Planalto.
Enquanto isso, na antessala de Dilma...
Com o PMDB no comando da Integração Nacional, a briga será intensa nos bastidores entre os dois grandes partidos que integram a base do governo. O PMDB já fez chegar ao Planalto seu desejo de ficar com alguns postos importantes ligados ao ministério, e que vai brigar pela Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) que, hoje, tem uma série de projetos na área de transporte regional, especialmente ferrovias. Tem ainda recursos para viabilizar seus planos, coisa rara em se tratando de governo. Daí, a briga para ocupar esse cargo.
Os peemedebistas, entretanto, consideram que, se a bancada da região contar ponto para definir a quem cabe a Sudeco, o cargo ficará com eles. O PMDB tem mais deputados que o PT no Centro-Oeste e dois governadores, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. O PT só tem o do Distrito Federal. Essa briga promete. Quanto à Secretaria de Portos, o mais provável é a permanência de Leônidas Cristino. Dilma não quer confusão com reforma ministerial agora. Já chega a dor de cabeça que terá por conta da disputa entre PMDB e PT pelos cargos vagos na estrutura de poder da Integração.
Que votações que nada. Paralelamente à saída de Fernando Bezerra Coelho do Ministério da Integração, abrindo lugar ao senador Vital do Rêgo do Filho, do PMDB, esta semana será dedicada à montagem dos times eleitorais que se apresentarão para as eleições de 2014. O vai e vem está num ritmo que há muito não se via. Nas últimas 48 horas, os movimentos mais surpreendentes vieram do ex-governador de São Paulo José Serra, que se preparava para deixar o PSDB.
Como já dissemos aqui há alguns dias, Serra nunca esteve tão encalacrado. Mas, nas últimas horas, cresceu nele o sentimento de que, se quiser respirar de peito aberto, sem ser tolhido em suas andanças e projetos, tem que sair do partido. No PSDB, ele se sente sufocado. No plano nacional, quem dá as cartas é o senador Aécio Neves. No regional, o governador Geraldo Alckmin. E ele, Serra, que foi prefeito, governador, ministro do Planejamento e da Saúde do governo Fernando Henrique e, duas vezes, candidato a presidente da República, não é prestigiado.
Desde que Serra começou nessa montanha-russa, ora pensa em sair ora diz que vai ficar no PSDB, não houve um ato público dentro do partido em que ele fosse chamado. Os seminários regionais, que Aécio promove pelo país afora — os dois primeiros ocorreram em Maceió e em Curitiba — não contaram com a presença de Serra. E, como em política, os gestos muitas vezes dizem mais do que as palavras, para muitos serristas ficou claro que o ex-governador paulista não está com essa bola toda, e que a porta da rua pode ser a serventia da casa — lembra até um pouco a forma com que Dilma se despediu do PSB.
Por falar em formas...
Dilma tem plena consciência de que a saída do PSB do governo foi um prejuízo, e Lula deixou isso claro na entrevista exclusiva que deu ao Correio. Da mesma forma, a saída de Serra, se confirmada, será um problema para os tucanos. Mas, lá na frente, talvez o que hoje é visto como perda se transforme numa vantagem. Se nem Eduardo nem Serra chegarem ao segundo turno, eles podem auxiliar seus antigos aliados. Eduardo Campos poderá ser importante num segundo turno em favor da petista. Como integrante do campo governista, ele não integra oficialmente o “outro lado”. Serra, como um elemento forte dentro da oposição, será importante para quem estiver contra Dilma. E, aos olhos de hoje, quem tem maior estrutura para chegar lá contra Dilma é o PSDB.
Nesse cenário, para que essa ajuda se dê de fato, é preciso que o PT não jogue fora a relação com Eduardo nem o PSDB deixe o relacionamento com Serra escorrer pelos dedos. Os petistas, até o momento, não se mostraram muito hábeis nessa construção. Isso porque, em vez de jogar às claras, começaram a minar o PSB por dentro. Eduardo não gostou e acabou antecipando uma saída do seu time do governo. Os tucanos ainda não tiveram esse problema. Esta semana, entretanto, vão começar a pensar nisso, enquanto observam não só os movimentos de Serra como também as evoluções da Rede de Marina Silva, as peças que faltam para fechar o quadro de potenciais concorrentes ao Planalto.
Enquanto isso, na antessala de Dilma...
Com o PMDB no comando da Integração Nacional, a briga será intensa nos bastidores entre os dois grandes partidos que integram a base do governo. O PMDB já fez chegar ao Planalto seu desejo de ficar com alguns postos importantes ligados ao ministério, e que vai brigar pela Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) que, hoje, tem uma série de projetos na área de transporte regional, especialmente ferrovias. Tem ainda recursos para viabilizar seus planos, coisa rara em se tratando de governo. Daí, a briga para ocupar esse cargo.
Os peemedebistas, entretanto, consideram que, se a bancada da região contar ponto para definir a quem cabe a Sudeco, o cargo ficará com eles. O PMDB tem mais deputados que o PT no Centro-Oeste e dois governadores, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. O PT só tem o do Distrito Federal. Essa briga promete. Quanto à Secretaria de Portos, o mais provável é a permanência de Leônidas Cristino. Dilma não quer confusão com reforma ministerial agora. Já chega a dor de cabeça que terá por conta da disputa entre PMDB e PT pelos cargos vagos na estrutura de poder da Integração.
SALDO POSITIVO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 30/09
As micro e pequenas empresas seguem puxando o emprego no país. Em agosto, o saldo entre as vagas abertas e as que foram fechadas foi positivo: chegou a 127,4 mil. Entre as médias e grandes o saldo foi negativo. Elas cortaram 2,4 mil vagas no mesmo mês.
COLCHÃO
Resultado: as micro e pequenas, que faturam até R$ 3,6 milhões por ano, foram responsáveis por 100% do saldo positivo de vagas geradas no Brasil. De acordo com o presidente do Sebrae, responsável pelo estudo, desde novembro do ano passado os pequenos negócios estão à frente da criação de empregos no país.
EM DOBRO
O ritmo de aumento da remuneração também é acelerado. Em uma década, o reajuste real de salário nos pequenos negócios foi de 19%, o dobro do registrado nas médias e grandes, de 9%.
DOIS PONTOS
O entendimento do ministro Luiz Fux, relator dos embargos infringentes, de que provas não podem ser reanalisadas nesta fase do julgamento do mensalão, não é unânime no STF (Supremo Tribunal Federal). De acordo com um dos magistrados mais experientes da corte, isso pode, sim, ocorrer.
NA BALANÇA
O que os embargos não preveem, de acordo com o mesmo ministro, é a apresentação de novas provas, materiais ou testemunhais. Mas as que já estão no processo podem ser rediscutidas e daí surgir um novo entendimento sobre as penas a serem aplicadas nos crimes. Ou não: depois da rediscussão, o que já foi decidido pode ser plenamente confirmado.
FALA QUE EU TE ESCUTO
A consulta pública que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) abriu para decidir as mudanças no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde recebeu 7.340 participações. Foi um recorde entre os 52 processos semelhantes que o órgão já realizou.
FALA 2
Metade das participações foi de consumidores, 15% partiram de operadoras e 15%, de profissionais como médicos e gestores.
CONTAS
O novo rol, que será anunciado nos próximos dias, vai incluir tratamento para câncer em casa, com medicamentos administrados por via oral. André Longo, presidente da ANS, diz que a medida vai reduzir os gastos dos planos, já que o paciente não precisará ir ao hospital receber quimioterapia.
MELODIA DE DEUS
Marina Lima, a estrela do clipe que inaugurou a MTV Brasil, em 1990 --uma versão de "Garota de Ipanema"--, diz lamentar o fim da emissora, que sai do ar hoje. "É uma pena, mas o mundo mudou", afirma a cantora, que atribui à internet as transformações no mercado musical e no videoclipe. "[O canal] Foi muito importante em uma época. Mas, depois de 20 anos, ficou meio sem sentido."
MUSAS
E Marina, que prepara novo CD, compôs uma canção em homenagem a Maria Bethânia e Rita Lee. "Elas são referência para mim", diz.
BAIÃO NO MUSEU
O Museu Cais do Sertão será inaugurado em 13 de dezembro no Recife, encerrando as comemorações do centenário de Luiz Gonzaga. Além de ver objetos pessoais do Rei do Baião, o público poderá interagir com suas canções mais populares. O acervo terá ainda instalação com textos do músico Tom Zé sobre o sertão e uma "praça da língua", criada por José Miguel Wisnik a partir de pesquisa sobre a linguagem do sertanejo.
BONITINHA DO PAI
Com uma carreira recém-iniciada no Rio de Janeiro, Maria Luiza Jobim, 26, filha de Tom Jobim, fará sua estreia nos palcos paulistas no dia 10 de outubro. O duo Opala, formado por ela e pelo produtor Lucas Paiva, vai se apresentar no projeto BRisa, do bar Riviera. O show terá participação da cantora Marcela Vale.
EU QUERO TER UM MILHÃO DE LIVROS
O escritor Marcelo Rubens Paiva, o cineasta Arnaldo Jabor e o jornalista Carlos Alberto Sardenberg foram recebidos pelo empresário Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, na inauguração da loja do grupo no shopping Iguatemi. A chef de cozinha Rita Lobo abriu o espaço Cultura Gourmet, dedicado a eventos gastronômicos, com uma sessão de autógrafos e bate-papo.
JUBILEU DE PRATA
O banqueteiro Charlô Whately comemorou os 25 anos de seu bistrô com amigos. Entre eles o fotógrafo Tuca Reinés, a designer Dora Levy, a arquiteta Lourdinha Siqueira, Dimitri Mussard, herdeiro da grife Hermès, e a médica Rita Secaf.
CURTO-CIRCUITO
O engenheiro Flávio Aragão dos Santos, presidente do conselho da Apemec, recebe hoje o título de cidadão paulistano, às 19h, na Câmara Municipal.
Cachaça é o tema do Entre Estantes & Panelas, encontro sobre gastronomia que ocorre hoje na Livraria Cultura da avenida Paulista, às 19h30. Curadoria de Janaina Fidalgo. Grátis.
COLCHÃO
Resultado: as micro e pequenas, que faturam até R$ 3,6 milhões por ano, foram responsáveis por 100% do saldo positivo de vagas geradas no Brasil. De acordo com o presidente do Sebrae, responsável pelo estudo, desde novembro do ano passado os pequenos negócios estão à frente da criação de empregos no país.
EM DOBRO
O ritmo de aumento da remuneração também é acelerado. Em uma década, o reajuste real de salário nos pequenos negócios foi de 19%, o dobro do registrado nas médias e grandes, de 9%.
DOIS PONTOS
O entendimento do ministro Luiz Fux, relator dos embargos infringentes, de que provas não podem ser reanalisadas nesta fase do julgamento do mensalão, não é unânime no STF (Supremo Tribunal Federal). De acordo com um dos magistrados mais experientes da corte, isso pode, sim, ocorrer.
NA BALANÇA
O que os embargos não preveem, de acordo com o mesmo ministro, é a apresentação de novas provas, materiais ou testemunhais. Mas as que já estão no processo podem ser rediscutidas e daí surgir um novo entendimento sobre as penas a serem aplicadas nos crimes. Ou não: depois da rediscussão, o que já foi decidido pode ser plenamente confirmado.
FALA QUE EU TE ESCUTO
A consulta pública que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) abriu para decidir as mudanças no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde recebeu 7.340 participações. Foi um recorde entre os 52 processos semelhantes que o órgão já realizou.
FALA 2
Metade das participações foi de consumidores, 15% partiram de operadoras e 15%, de profissionais como médicos e gestores.
CONTAS
O novo rol, que será anunciado nos próximos dias, vai incluir tratamento para câncer em casa, com medicamentos administrados por via oral. André Longo, presidente da ANS, diz que a medida vai reduzir os gastos dos planos, já que o paciente não precisará ir ao hospital receber quimioterapia.
MELODIA DE DEUS
Marina Lima, a estrela do clipe que inaugurou a MTV Brasil, em 1990 --uma versão de "Garota de Ipanema"--, diz lamentar o fim da emissora, que sai do ar hoje. "É uma pena, mas o mundo mudou", afirma a cantora, que atribui à internet as transformações no mercado musical e no videoclipe. "[O canal] Foi muito importante em uma época. Mas, depois de 20 anos, ficou meio sem sentido."
MUSAS
E Marina, que prepara novo CD, compôs uma canção em homenagem a Maria Bethânia e Rita Lee. "Elas são referência para mim", diz.
BAIÃO NO MUSEU
O Museu Cais do Sertão será inaugurado em 13 de dezembro no Recife, encerrando as comemorações do centenário de Luiz Gonzaga. Além de ver objetos pessoais do Rei do Baião, o público poderá interagir com suas canções mais populares. O acervo terá ainda instalação com textos do músico Tom Zé sobre o sertão e uma "praça da língua", criada por José Miguel Wisnik a partir de pesquisa sobre a linguagem do sertanejo.
BONITINHA DO PAI
Com uma carreira recém-iniciada no Rio de Janeiro, Maria Luiza Jobim, 26, filha de Tom Jobim, fará sua estreia nos palcos paulistas no dia 10 de outubro. O duo Opala, formado por ela e pelo produtor Lucas Paiva, vai se apresentar no projeto BRisa, do bar Riviera. O show terá participação da cantora Marcela Vale.
EU QUERO TER UM MILHÃO DE LIVROS
O escritor Marcelo Rubens Paiva, o cineasta Arnaldo Jabor e o jornalista Carlos Alberto Sardenberg foram recebidos pelo empresário Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, na inauguração da loja do grupo no shopping Iguatemi. A chef de cozinha Rita Lobo abriu o espaço Cultura Gourmet, dedicado a eventos gastronômicos, com uma sessão de autógrafos e bate-papo.
JUBILEU DE PRATA
O banqueteiro Charlô Whately comemorou os 25 anos de seu bistrô com amigos. Entre eles o fotógrafo Tuca Reinés, a designer Dora Levy, a arquiteta Lourdinha Siqueira, Dimitri Mussard, herdeiro da grife Hermès, e a médica Rita Secaf.
CURTO-CIRCUITO
O engenheiro Flávio Aragão dos Santos, presidente do conselho da Apemec, recebe hoje o título de cidadão paulistano, às 19h, na Câmara Municipal.
Cachaça é o tema do Entre Estantes & Panelas, encontro sobre gastronomia que ocorre hoje na Livraria Cultura da avenida Paulista, às 19h30. Curadoria de Janaina Fidalgo. Grátis.
A quem interessa não regulamentar a terceirização? - LAÉRCIO OLIVEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 30/09
Estudo do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros (Sindeprestem), de São Paulo, divulgado em 2012, revela que o universo de trabalhadores terceirizados no Brasil supera 11,5 milhões. Esse número representa 32% dos quase 34 milhões de trabalhadores com carteira assinada, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita em 2011 pelo IBGE.
Integrantes desse contingente, contudo, por vezes têm direitos aviltados, em razão, principalmente, da falta de regulamentação no país da atividade de terceirização de serviços. Suprir essa lacuna, no interesse de trabalhadores e empregadores, é justamente o que propõe o Projeto de Lei nº 4330/04, do deputado Sandro Mabel (GO), hoje em debate na Câmara.
Transcorridas criteriosas análises e obtidos importantes consensos, sobretudo no âmbito da comissão quadripartite formada por representantes do governo federal, dos trabalhadores, dos empresários e do Legislativo, é hora de desobstruir esse caminho imprescindível para manter o Brasil num padrão mínimo de competitividade no cenário internacional.
Sobre esse argumento especificamente, merece ser reproduzido trecho de espécie de cartilha que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou para explicar, didaticamente, os objetivos do Projeto de Lei que regulamenta a terceirização: "Setores como construção civil, nanotecnologia, biotecnologia, naval, mecatrônica, hospitalidade, tecnologia da informação, entre outros, só serão mais eficientes, produtivos e competitivos com a terceirização de serviços especializados. Por exemplo, a construção de um prédio sem especialistas em terraplanagem, concretagem, hidráulica, eletricidade, pintura, etc. não é viável. Os apartamentos ou salas desse prédio ficariam caríssimos se uma só empresa tivesse que comprar todos os equipamentos e contratar diretamente todos os empregados que trabalhariam em apenas uma das várias etapas da obra, e no tempo restante ficariam ociosos".
Como membro da citada comissão quadripartite, tenho alegado rotineiramente que os maiores problemas existentes na terceirização, e a imagem deletéria que se formou em torno dessa atividade, nascem das contratações sob parâmetros errôneos, quase sempre no âmbito do poder público, em todas as esferas. São licitações malfeitas, nas quais se busca incansavelmente o menor preço, nunca o melhor preço. A partir dessa visão obtusa, escancaram-se as portas para empresários de má-fé, cuja desonestidade, via de regra, resulta em consequências nefastas para os trabalhadores.
Assim, para que não vicejem questionamentos infundados, é fundamental deixar claro três pontos sobre o Projeto de Lei que regulamenta a terceirização. Primeiro, ele protege os trabalhadores, ao estabelecer que a empresa contratante deverá fiscalizar o cumprimento das obrigações trabalhistas por parte da empresa contratada - pagamento de salários, férias, décimo terceiro; recolhimento de FGTS, INSS etc. Determina ainda que, na circunstância de a contratada não cumprir as obrigações trabalhistas e previdenciárias, caberá à contratante cumpri-las.
Segundo, o PL fomenta um cenário de concorrência ética e lícita, ao prever a obrigação de a empresa contratada ter capital social integralizado compatível e também oferecer reais garantias para o cumprimento das obrigações contratuais. Tais exigências, de imediato, dificultam o império da má-fé, as aventuras dos citados "empresários", que maculam o profissionalismo predominante no setor, quando somem com o dinheiro dos contratos e legam aos trabalhadores prejuízos que transcendem o aspecto financeiro. Por fim, o Projeto de Lei estabelece que as empresas prestadoras de serviços terão que ser especializadas em suas áreas de atuação, derrubando a falácia da precarização.
A terceirização de serviços específicos imprime dinamismo e eficiência a segmentos produtivos diversos, mérito consagrado por sua evolução ininterrupta nos mercados desenvolvidos e em desenvolvimento. Há décadas reconhecida como alternativa de gestão, ganha cada vez mais adeptos no mundo, e o Brasil não foge à regra. A diferença é que, aqui, só agora se formatou o arcabouço legal capaz de proteger todas as partes envolvidas, um avanço inadiável. A quem interessa obstaculizar tamanha oportunidade é a pergunta sobre a qual se deve refletir.
Andando para trás - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 30/09
Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2012 divulgados pelo IBGE mostram os limites do modelo de políticas sociais adotado no país a partir de 2003, com a chegada do PT ao poder. O governo federal prefere fechar os olhos à realidade a refletir sobre os alertas que vêm sendo feitos por especialistas de várias áreas.
Vale destacar alguns dos números da Pnad 2012. Nada menos do que 13,2 milhões de brasileiros de 15 anos ou mais são analfabetos. De 2011 para 2012, mais 300 mil pessoas entraram nessa sombria estatística. No Nordeste, a taxa de analfabetos na mesma faixa etária ultrapassa 17% da população, o que demonstra a permanência de imensas diferenças regionais.
O crescimento da desigualdade é evidente: 1% dos brasileiros com rendimentos mais elevados ganham 87 vezes mais do que os 10% dos brasileiros com os rendimentos mais baixos. Em 2011, esta diferença era de 84 vezes.
Também é preocupante a questão da renda e do trabalho. O apagão de mão de obra qualificada se aprofunda pela baixa escolaridade do trabalhador e pela sua frágil formação para o mundo cada vez mais exigente do trabalho.
Os novos dados do analfabetismo que surpreenderam o país, somados a informações já reveladas por outras pesquisas e constatadas diariamente em todo o Brasil, mostram um governo que vem menosprezando a mais poderosa alavanca de transformação social: a educação.
Quando o governo do PSDB implantou os programas de transferência de renda --que continuam sendo fundamentais-- na década de 1990, o objetivo era que fossem ponto de partida para conquistas sociais importantes e definitivas para as famílias cadastradas. O PT fez com que esses programas se transformassem em ponto de chegada. E contenta-se hoje com a administração da pobreza, ao invés de investir em formas efetivas para a sua superação.
O partido submeteu a lógica de ações estratégicas para o país à conveniência do discurso político da legenda. Por isso, insiste em tratar a pobreza pela ótica exclusiva da privação de renda, quando o mundo caminha na direção de percebê-la como uma privação mais ampla, também de direitos e serviços. Essa visão, mais realista e mais justa com milhões de famílias, esbarra nos maus resultados da gestão federal em diversas áreas, na propaganda e no discurso salvacionista do governo.
Por mais que a atual administração federal tenha criado o mantra de que acabou com a miséria no país, os brasileiros sabem que isso não é verdade. Precisamos ter coragem de fazer avançar as políticas sociais no país, para que elas sejam de fato instrumento de travessia na vida de milhões de brasileiros.
Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2012 divulgados pelo IBGE mostram os limites do modelo de políticas sociais adotado no país a partir de 2003, com a chegada do PT ao poder. O governo federal prefere fechar os olhos à realidade a refletir sobre os alertas que vêm sendo feitos por especialistas de várias áreas.
Vale destacar alguns dos números da Pnad 2012. Nada menos do que 13,2 milhões de brasileiros de 15 anos ou mais são analfabetos. De 2011 para 2012, mais 300 mil pessoas entraram nessa sombria estatística. No Nordeste, a taxa de analfabetos na mesma faixa etária ultrapassa 17% da população, o que demonstra a permanência de imensas diferenças regionais.
O crescimento da desigualdade é evidente: 1% dos brasileiros com rendimentos mais elevados ganham 87 vezes mais do que os 10% dos brasileiros com os rendimentos mais baixos. Em 2011, esta diferença era de 84 vezes.
Também é preocupante a questão da renda e do trabalho. O apagão de mão de obra qualificada se aprofunda pela baixa escolaridade do trabalhador e pela sua frágil formação para o mundo cada vez mais exigente do trabalho.
Os novos dados do analfabetismo que surpreenderam o país, somados a informações já reveladas por outras pesquisas e constatadas diariamente em todo o Brasil, mostram um governo que vem menosprezando a mais poderosa alavanca de transformação social: a educação.
Quando o governo do PSDB implantou os programas de transferência de renda --que continuam sendo fundamentais-- na década de 1990, o objetivo era que fossem ponto de partida para conquistas sociais importantes e definitivas para as famílias cadastradas. O PT fez com que esses programas se transformassem em ponto de chegada. E contenta-se hoje com a administração da pobreza, ao invés de investir em formas efetivas para a sua superação.
O partido submeteu a lógica de ações estratégicas para o país à conveniência do discurso político da legenda. Por isso, insiste em tratar a pobreza pela ótica exclusiva da privação de renda, quando o mundo caminha na direção de percebê-la como uma privação mais ampla, também de direitos e serviços. Essa visão, mais realista e mais justa com milhões de famílias, esbarra nos maus resultados da gestão federal em diversas áreas, na propaganda e no discurso salvacionista do governo.
Por mais que a atual administração federal tenha criado o mantra de que acabou com a miséria no país, os brasileiros sabem que isso não é verdade. Precisamos ter coragem de fazer avançar as políticas sociais no país, para que elas sejam de fato instrumento de travessia na vida de milhões de brasileiros.
Descréditos de carbono - EVARISTO E. DE MIRANDA
O Estado de S.Paulo - 30/09
O planeta buscava um substituto para o petróleo. Parece ter encontrado: o gás de xisto e o carvão mineral. O crescimento da produção norte-americana do gás de xisto mudou o panorama da geração de energia. Esse gás substitui a cada dia mais carvão, cujo excedente é exportado para a Europa a baixo preço. Isso derrubou o preço do carvão em todo o mundo, principalmente na Ásia. O mundo prepara-se para trocar um combustível fóssil por outro, mais abundante e barato.
As termoelétricas europeias a carvão mineral aumentam seus lucros. Sobra carvão e, com preços tão baixos, empresas como a norueguesa Statkraft, a alemã E·ON, a checa CEZ e a britânica SSE fecham e hibernam centrais a gás, incluindo plantas moderníssimas. Os lucros caíram mais de 90% no primeiro semestre de 2013 em usinas com ciclo combinado de gás. A RWE, a maior geradora da Alemanha, obtém 62% de sua produção do carvão mineral e incrementou a produção em 16% em 2012.
A Xstrata, a maior empresa exportadora de carvão mineral, baixou em 17,3% seus contratos para a geradora japonesa Tohoku. Depois de Fukushima, o Japão substitui a energia elétrica atômica pelo carvão. O adicional de emissões de dióxido de carbono (CO2), tanto no Japão como na Alemanha, pelo fechamento das usinas atômicas, é enorme.
O uso do carvão aumentou as emissões de CO2 na União Europeia (UE), tão engajada no discurso ambiental. Os países europeus não cumpriram as metas de redução de CO2 previstas no Protocolo de Kyoto, apesar da crise econômica e da substituição de sua produção industrial pela China. A importação de carvão estadunidense pela Europa cresceu 23% e atingiu 66,4 milhões de toneladas em 2012. Nos 27 países da UE, a geração de energia a partir de carvão ultrapassou o gás e atingiu seu nível máximo dos últimos 17 anos.
O chamado mercado de carbono, essencialmente europeu, veio abaixo. Sobram cotas de carbono e ninguém se interessa. Em abril o Parlamento Europeu votou uma sentença de morte para o mercado de carbono: rejeitou limitar as autorizações de emissões de CO2 propostas pela Comissão Europeia. Uma tonelada de CO2 valia 30 em 2008. Caiu para 2,75, seu nível histórico mais baixo. Para completar, a European Union Emissions Trading Scheme envolveu-se em escândalos, como roubo de licenças de emissão de CO2 e fraudes fiscais. O descrédito do mercado de carbono freou investimentos em alternativas de geração de energia. A UE aliviou as exigências ambientais para a indústria, em face da crise econômica. Ocorre uma renacionalização da política climática e o abandono da política de bloco.
No futuro os EUA exportarão gás em volume capaz de mudar o panorama mundial. A reserva americana é suficiente para abastecer o mercado por mais de cem anos, segundo cálculos da Administração de Informação de Energia. O avanço tecnológico na extração do gás de xisto prossegue e deve reduzir diversos problemas ambientais, como a contaminação hídrica e as emissões de metano.
As 48 reservas de gás de xisto encontram-se em 28 Estados americanos e 26 estão em exploração. Na Pensilvânia, em Nova York, Ohio e Virgínia Ocidental há 6 mil poços em operação, só na formação geológica de Marcellus. O gás de xisto, menos poluente, deslocará o carvão na geração de energia elétrica nos EUA, onde metade da eletricidade ainda é gerada em térmicas a carvão.
O gás de xisto já substitui o diesel em ônibus e caminhões. São poucos postos com o combustível nos EUA, mas a rede de gasodutos tem 38 mil quilômetros. O gás será um combustível cada vez mais competitivo e, ao levar ao túmulo o mercado de carbono, talvez carregue junto o sonho do etanol como commodity internacional, destinando-o a ser, basicamente, um produto de consumo interno nos países produtores. Se tanto.
Como essa nova realidade interfere na política brasileira de produção de biocombustíveis? E no mercado internacional de etanol? Uma equipe da Embrapa Gestão Territorial estuda seus impactos na agroenergia, mas o alcance da mudança pode ser muito maior. Por causa da produção crescente de gás de xisto nos EUA e de seu baixo preço, companhias brasileiras já suspenderam projetos de construção de hidrelétricas na América Central. Em outras situações, a energia hidrelétrica poderá perder competitividade com a termoelétrica.
O gás de xisto pode afetar o futuro do pré-sal. Já é real a fuga de investimentos produtivos no setor petroquímico do Brasil para os EUA, onde o preço da matéria-prima é menor. Apesar de a Agência Nacional do Petróleo ter marcado o primeiro leilão de blocos de gás de xisto para o fim de outubro, ainda falta o País conhecer e dominar a tecnologia envolvida nessa exploração.
Muitos no agronegócio brasileiro discutem combustíveis renováveis, redução das emissões de CO2, pegadas de carbono, agricultura de baixo carbono e propõem programas ambientais em cenários ultrapassados. A era da energia fóssil está longe de acabar. Esses cenários viraram carvão. O Brasil está destinado a compensar e fixar o carbono emitido pela China e países desenvolvidos? Deve renunciar ao pré-sal e à exploração de suas reservas de gás de xisto? Os carbonários do carbono ignoram os impactos desse gás e das novas tecnologias e mudanças associadas a ele.
A surpreendente emergência do gás de xisto ilustra o quanto é fundamental a inovação tecnológica e desafia o planejamento nacional. Ao ser alertado sobre o possível esgotamento das reservas de petróleo pela intensidade de sua exploração, uma autoridade saudita declarou: "A prioridade é vender as reservas antes da emergência de novas tecnologias". A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra.
O planeta buscava um substituto para o petróleo. Parece ter encontrado: o gás de xisto e o carvão mineral. O crescimento da produção norte-americana do gás de xisto mudou o panorama da geração de energia. Esse gás substitui a cada dia mais carvão, cujo excedente é exportado para a Europa a baixo preço. Isso derrubou o preço do carvão em todo o mundo, principalmente na Ásia. O mundo prepara-se para trocar um combustível fóssil por outro, mais abundante e barato.
As termoelétricas europeias a carvão mineral aumentam seus lucros. Sobra carvão e, com preços tão baixos, empresas como a norueguesa Statkraft, a alemã E·ON, a checa CEZ e a britânica SSE fecham e hibernam centrais a gás, incluindo plantas moderníssimas. Os lucros caíram mais de 90% no primeiro semestre de 2013 em usinas com ciclo combinado de gás. A RWE, a maior geradora da Alemanha, obtém 62% de sua produção do carvão mineral e incrementou a produção em 16% em 2012.
A Xstrata, a maior empresa exportadora de carvão mineral, baixou em 17,3% seus contratos para a geradora japonesa Tohoku. Depois de Fukushima, o Japão substitui a energia elétrica atômica pelo carvão. O adicional de emissões de dióxido de carbono (CO2), tanto no Japão como na Alemanha, pelo fechamento das usinas atômicas, é enorme.
O uso do carvão aumentou as emissões de CO2 na União Europeia (UE), tão engajada no discurso ambiental. Os países europeus não cumpriram as metas de redução de CO2 previstas no Protocolo de Kyoto, apesar da crise econômica e da substituição de sua produção industrial pela China. A importação de carvão estadunidense pela Europa cresceu 23% e atingiu 66,4 milhões de toneladas em 2012. Nos 27 países da UE, a geração de energia a partir de carvão ultrapassou o gás e atingiu seu nível máximo dos últimos 17 anos.
O chamado mercado de carbono, essencialmente europeu, veio abaixo. Sobram cotas de carbono e ninguém se interessa. Em abril o Parlamento Europeu votou uma sentença de morte para o mercado de carbono: rejeitou limitar as autorizações de emissões de CO2 propostas pela Comissão Europeia. Uma tonelada de CO2 valia 30 em 2008. Caiu para 2,75, seu nível histórico mais baixo. Para completar, a European Union Emissions Trading Scheme envolveu-se em escândalos, como roubo de licenças de emissão de CO2 e fraudes fiscais. O descrédito do mercado de carbono freou investimentos em alternativas de geração de energia. A UE aliviou as exigências ambientais para a indústria, em face da crise econômica. Ocorre uma renacionalização da política climática e o abandono da política de bloco.
No futuro os EUA exportarão gás em volume capaz de mudar o panorama mundial. A reserva americana é suficiente para abastecer o mercado por mais de cem anos, segundo cálculos da Administração de Informação de Energia. O avanço tecnológico na extração do gás de xisto prossegue e deve reduzir diversos problemas ambientais, como a contaminação hídrica e as emissões de metano.
As 48 reservas de gás de xisto encontram-se em 28 Estados americanos e 26 estão em exploração. Na Pensilvânia, em Nova York, Ohio e Virgínia Ocidental há 6 mil poços em operação, só na formação geológica de Marcellus. O gás de xisto, menos poluente, deslocará o carvão na geração de energia elétrica nos EUA, onde metade da eletricidade ainda é gerada em térmicas a carvão.
O gás de xisto já substitui o diesel em ônibus e caminhões. São poucos postos com o combustível nos EUA, mas a rede de gasodutos tem 38 mil quilômetros. O gás será um combustível cada vez mais competitivo e, ao levar ao túmulo o mercado de carbono, talvez carregue junto o sonho do etanol como commodity internacional, destinando-o a ser, basicamente, um produto de consumo interno nos países produtores. Se tanto.
Como essa nova realidade interfere na política brasileira de produção de biocombustíveis? E no mercado internacional de etanol? Uma equipe da Embrapa Gestão Territorial estuda seus impactos na agroenergia, mas o alcance da mudança pode ser muito maior. Por causa da produção crescente de gás de xisto nos EUA e de seu baixo preço, companhias brasileiras já suspenderam projetos de construção de hidrelétricas na América Central. Em outras situações, a energia hidrelétrica poderá perder competitividade com a termoelétrica.
O gás de xisto pode afetar o futuro do pré-sal. Já é real a fuga de investimentos produtivos no setor petroquímico do Brasil para os EUA, onde o preço da matéria-prima é menor. Apesar de a Agência Nacional do Petróleo ter marcado o primeiro leilão de blocos de gás de xisto para o fim de outubro, ainda falta o País conhecer e dominar a tecnologia envolvida nessa exploração.
Muitos no agronegócio brasileiro discutem combustíveis renováveis, redução das emissões de CO2, pegadas de carbono, agricultura de baixo carbono e propõem programas ambientais em cenários ultrapassados. A era da energia fóssil está longe de acabar. Esses cenários viraram carvão. O Brasil está destinado a compensar e fixar o carbono emitido pela China e países desenvolvidos? Deve renunciar ao pré-sal e à exploração de suas reservas de gás de xisto? Os carbonários do carbono ignoram os impactos desse gás e das novas tecnologias e mudanças associadas a ele.
A surpreendente emergência do gás de xisto ilustra o quanto é fundamental a inovação tecnológica e desafia o planejamento nacional. Ao ser alertado sobre o possível esgotamento das reservas de petróleo pela intensidade de sua exploração, uma autoridade saudita declarou: "A prioridade é vender as reservas antes da emergência de novas tecnologias". A Idade da Pedra não acabou por falta de pedra.
Troca-troca de valore$ - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 30/09
BRASÍLIA - Junho se foi, outubro bate à nossa porta e nada de reforma política. Lá se foi o prazo para fazer mudanças na legislação eleitoral a tempo de vigorarem na próxima eleição, em 2014.
Pior é que, em vez de uma higienizada nos modos da política, assistimos hoje a um festival de troca-troca de partidos e de criação de novas siglas, que já são 32 no país.
Como bem define um ministro do STF, cenário desalentador, prova de que as ideologias dos programas partidários não têm nenhum valor, o que tem valor é outra coi$a.
Não é de hoje que a criação de partidos está associada a um mercado que vai além da busca de votos. Parlamentares chegam a dizer publicamente quanto vão ganhar de recursos no novo partido. Tem deputado que está na sétima legenda.
Autêntico balcão de negócios que chegou a ser ameaçado pelos protestos de junho, quando a classe política, acuada, prometeu mudar e fazer diferente. Ficou na promessa.
Quem saiu lucrando foi a presidente Dilma. Ela poderá entoar o discurso de que fez sua parte: defendeu uma reforma política, com consulta popular, para vigorar em 2014.
Lucrou, por sinal, duplamente. Mantido o velho modelo, vai compensar as perdas de apoio e de tempo de TV pela saída do PSB do governo com o surgimento do Pros, que já nasce governista.
Curioso, para não dizer outra coisa, é notar que, enquanto alguns profissionais emplacam seus novos partidos, Marina Silva corre o risco de não aprovar a sua Rede.
Logo o partido que, dos novatos, teria mais legitimidade. Esbarra na sua falta de profissionalismo, em todos os sentidos, e na burocracia da Justiça Eleitoral --que deveria ter previsto e dela se precavido.
Entre seus apoiadores, há quem defenda que, sem a aprovação da Rede, Marina desista de ser candidata. Seria garantir lucro triplo para a petista Dilma. O que a oposição não quer nem pensar. A conferir.
BRASÍLIA - Junho se foi, outubro bate à nossa porta e nada de reforma política. Lá se foi o prazo para fazer mudanças na legislação eleitoral a tempo de vigorarem na próxima eleição, em 2014.
Pior é que, em vez de uma higienizada nos modos da política, assistimos hoje a um festival de troca-troca de partidos e de criação de novas siglas, que já são 32 no país.
Como bem define um ministro do STF, cenário desalentador, prova de que as ideologias dos programas partidários não têm nenhum valor, o que tem valor é outra coi$a.
Não é de hoje que a criação de partidos está associada a um mercado que vai além da busca de votos. Parlamentares chegam a dizer publicamente quanto vão ganhar de recursos no novo partido. Tem deputado que está na sétima legenda.
Autêntico balcão de negócios que chegou a ser ameaçado pelos protestos de junho, quando a classe política, acuada, prometeu mudar e fazer diferente. Ficou na promessa.
Quem saiu lucrando foi a presidente Dilma. Ela poderá entoar o discurso de que fez sua parte: defendeu uma reforma política, com consulta popular, para vigorar em 2014.
Lucrou, por sinal, duplamente. Mantido o velho modelo, vai compensar as perdas de apoio e de tempo de TV pela saída do PSB do governo com o surgimento do Pros, que já nasce governista.
Curioso, para não dizer outra coisa, é notar que, enquanto alguns profissionais emplacam seus novos partidos, Marina Silva corre o risco de não aprovar a sua Rede.
Logo o partido que, dos novatos, teria mais legitimidade. Esbarra na sua falta de profissionalismo, em todos os sentidos, e na burocracia da Justiça Eleitoral --que deveria ter previsto e dela se precavido.
Entre seus apoiadores, há quem defenda que, sem a aprovação da Rede, Marina desista de ser candidata. Seria garantir lucro triplo para a petista Dilma. O que a oposição não quer nem pensar. A conferir.
Nunca estivemos tão baixo - RENATO JANINE RIBEIRO
VALOR ECONÔMICO - 30/09
O Brasil chegou ao fundo do poço, em termos de debate político. Não lembro nenhuma época das três décadas, desde a democratização de 1985, em que tenhamos estado tão baixo. Nunca tantos brasileiros tiveram acesso a um veículo, como a internet, que transmite tantas informações e proporciona uma participação assim ativa no debate, por meio das redes sociais - e, no entanto, nunca foi tão estéril a discussão de ideias e projetos para a sociedade. Para quem esperou que a rede de computadores constituísse uma ágora - o nome grego para a praça na qual o povo reunido debatia e decidia as questões políticas - a frustração é enorme. Nossa democracia sobrevive, mas graças mais aos tribunais do que ao povo ou à mídia. Digo isto com tristeza.
Nossa lei eleitoral contém disposições que inibem a boa vida política. Não discuto aqui certas macroquestões, como o voto distrital ou o proporcional, mas regras simples, porém muito equivocadas.
Está na lei - e deverá continuar na lei, diante do boicote do PT na Câmara até mesmo à microrreforma eleitoral - que, se um candidato eleito a cargo majoritário for condenado pela Justiça Eleitoral, seus votos serão anulados, dando-se posse a seu adversário derrotado nas urnas. Isso vai contra a essência da democracia, que consiste no poder do povo, expresso pelo voto da maioria. O candidato vitorioso teve a maioria dos votos, relativa ou absoluta. Se esse contingente de sufrágios é cassado, o poder irá para um candidato perdedor. Essa insanidade já prejudicou tudo o que é partido, seja o PT (caso de Mauá - SP), o PSDB (a Paraíba) ou o PDT (o Maranhão). Mas está na lei, e a Justiça Eleitoral aplica-a. A regra é escandalosa. Entendo-a como inconstitucional, pois afronta um princípio essencial da democracia, mas a culpa maior pela violação do princípio democrático é do legislativo, mais que do Judiciário.
Também está na lei que a campanha eleitoral só pode começar depois da convenção que indique o candidato do partido. Em tese, os convencionais se reúnem sem saberem quem quer candidatar-se... E assim fingimos que Marina Silva, Aécio Neves, Eduardo Campos ou Dilma ainda não são candidatos. É uma bobagem sem fim. Imaginemos que alguém, hoje, queira concorrer a presidente em 2018. Não pode sair por aí dizendo isso. Mas por que não? Que mal faria alguém ter esse capricho?
Não espanta. A sociedade brasileira não tem o gosto norte-americano pelo debate público. Basta ver os júris cá e lá. Nos Estados Unidos, quando se reúne o conselho de sentença, a discussão rola solta. Quase sempre se exige unanimidade, para condenar ou absolver. Eles discutem até chegar a um acordo. Se não chegam, o julgamento é anulado e, se for possível, convoca-se outro. Mas geralmente uma parte convence a outra. Por isso mesmo, o júri norte-americano dá excelentes filmes de suspense.
Mas é impossível rodar um filme sobre o júri brasileiro. Quando o juiz reúne os jurados, reina o silêncio. Qualquer debate levaria à anulação do processo. Os jurados recebem as cédulas "sim" ou "não", escolhem uma sem deixar os outros a verem, e colocam na urna. Não se quer a geração coletiva de uma decisão; apela-se à consciência íntima de cada um. É como se pedíssemos a cada jurado que um espírito viesse iluminá-lo. Disso se espera uma decisão justa - da falta de discussão. É como se tivéssemos medo do debate, receando que os mais hábeis manipulem os menos. Em outras palavras, chamamos a livre expressão, a discussão pública, a ágora grega de mera manipulação.
Num país de escassa formação para o debate, espanta que a política seja tomada pelo ódio, e que os dois lados do espectro partidário ajam como Bourbons? Cito a anedota de Stendhal: em 1815, quando as dinastias depostas retornaram ao trono da França e de outros países, elas voltaram "sem esquecer nada, sem aprender nada". Assim funciona nossa discussão política, ou melhor, sua ausência.
Entre os critérios que o "Economist" usa para medir a qualidade das democracias estão as instituições, a cultura política e a mobilização política. No relatório de 2012, nossas instituições receberam nota elevada, enquanto os dois outros quesitos pontuaram mal. Este ano subirá nossa nota em mobilização, graças ao povo que tomou as ruas cobrando maior qualidade do Estado. Mas a cultura política continua baixa. Em 2014 a Justiça Eleitoral coibirá abusos no horário gratuito, conterá parte do uso da máquina governamental e barrará os fichas-suja. Mais que isso, não pode fazer. O problema somos nós, cidadãos, eleitores, que não fazemos nossa parte.
O que propor? Algo que parece ingênuo, mas que é básico do ponto de vista ético. Homens e mulheres de boa vontade, empenhados em melhorar nosso quadro político, deveriam assegurar um debate de qualidade. Isto não é abrir mão de convicções políticas, mas é reconhecer que há gente decente dos dois grandes lados de nosso espectro partidário, e que a vitória esmagadora de uma parte não é possível - nem desejável. Isso exige evitar palavras grosseiras, como petralha e tucanalha, que desqualificam em bloco muitas pessoas boas que fazem trabalho bom. Isso significa, sobretudo, fazer uso bom - e não mau - da vantagem histórica que é ter, desde 1994, disputando os principais cargos do país, dois partidos acima da média, PSDB e PT - e, este ano ou em breve, a Rede. Comparem isso a qualquer momento de nossa história anterior. Não podemos desperdiçar as conquistas das últimas décadas. Desde 1985 estamos construindo uma democracia sustentável. Mas precisamos que ela não fique só nas instituições, que se enraíze nos corações.
Nossa lei eleitoral contém disposições que inibem a boa vida política. Não discuto aqui certas macroquestões, como o voto distrital ou o proporcional, mas regras simples, porém muito equivocadas.
Está na lei - e deverá continuar na lei, diante do boicote do PT na Câmara até mesmo à microrreforma eleitoral - que, se um candidato eleito a cargo majoritário for condenado pela Justiça Eleitoral, seus votos serão anulados, dando-se posse a seu adversário derrotado nas urnas. Isso vai contra a essência da democracia, que consiste no poder do povo, expresso pelo voto da maioria. O candidato vitorioso teve a maioria dos votos, relativa ou absoluta. Se esse contingente de sufrágios é cassado, o poder irá para um candidato perdedor. Essa insanidade já prejudicou tudo o que é partido, seja o PT (caso de Mauá - SP), o PSDB (a Paraíba) ou o PDT (o Maranhão). Mas está na lei, e a Justiça Eleitoral aplica-a. A regra é escandalosa. Entendo-a como inconstitucional, pois afronta um princípio essencial da democracia, mas a culpa maior pela violação do princípio democrático é do legislativo, mais que do Judiciário.
Também está na lei que a campanha eleitoral só pode começar depois da convenção que indique o candidato do partido. Em tese, os convencionais se reúnem sem saberem quem quer candidatar-se... E assim fingimos que Marina Silva, Aécio Neves, Eduardo Campos ou Dilma ainda não são candidatos. É uma bobagem sem fim. Imaginemos que alguém, hoje, queira concorrer a presidente em 2018. Não pode sair por aí dizendo isso. Mas por que não? Que mal faria alguém ter esse capricho?
Não espanta. A sociedade brasileira não tem o gosto norte-americano pelo debate público. Basta ver os júris cá e lá. Nos Estados Unidos, quando se reúne o conselho de sentença, a discussão rola solta. Quase sempre se exige unanimidade, para condenar ou absolver. Eles discutem até chegar a um acordo. Se não chegam, o julgamento é anulado e, se for possível, convoca-se outro. Mas geralmente uma parte convence a outra. Por isso mesmo, o júri norte-americano dá excelentes filmes de suspense.
Mas é impossível rodar um filme sobre o júri brasileiro. Quando o juiz reúne os jurados, reina o silêncio. Qualquer debate levaria à anulação do processo. Os jurados recebem as cédulas "sim" ou "não", escolhem uma sem deixar os outros a verem, e colocam na urna. Não se quer a geração coletiva de uma decisão; apela-se à consciência íntima de cada um. É como se pedíssemos a cada jurado que um espírito viesse iluminá-lo. Disso se espera uma decisão justa - da falta de discussão. É como se tivéssemos medo do debate, receando que os mais hábeis manipulem os menos. Em outras palavras, chamamos a livre expressão, a discussão pública, a ágora grega de mera manipulação.
Num país de escassa formação para o debate, espanta que a política seja tomada pelo ódio, e que os dois lados do espectro partidário ajam como Bourbons? Cito a anedota de Stendhal: em 1815, quando as dinastias depostas retornaram ao trono da França e de outros países, elas voltaram "sem esquecer nada, sem aprender nada". Assim funciona nossa discussão política, ou melhor, sua ausência.
Entre os critérios que o "Economist" usa para medir a qualidade das democracias estão as instituições, a cultura política e a mobilização política. No relatório de 2012, nossas instituições receberam nota elevada, enquanto os dois outros quesitos pontuaram mal. Este ano subirá nossa nota em mobilização, graças ao povo que tomou as ruas cobrando maior qualidade do Estado. Mas a cultura política continua baixa. Em 2014 a Justiça Eleitoral coibirá abusos no horário gratuito, conterá parte do uso da máquina governamental e barrará os fichas-suja. Mais que isso, não pode fazer. O problema somos nós, cidadãos, eleitores, que não fazemos nossa parte.
O que propor? Algo que parece ingênuo, mas que é básico do ponto de vista ético. Homens e mulheres de boa vontade, empenhados em melhorar nosso quadro político, deveriam assegurar um debate de qualidade. Isto não é abrir mão de convicções políticas, mas é reconhecer que há gente decente dos dois grandes lados de nosso espectro partidário, e que a vitória esmagadora de uma parte não é possível - nem desejável. Isso exige evitar palavras grosseiras, como petralha e tucanalha, que desqualificam em bloco muitas pessoas boas que fazem trabalho bom. Isso significa, sobretudo, fazer uso bom - e não mau - da vantagem histórica que é ter, desde 1994, disputando os principais cargos do país, dois partidos acima da média, PSDB e PT - e, este ano ou em breve, a Rede. Comparem isso a qualquer momento de nossa história anterior. Não podemos desperdiçar as conquistas das últimas décadas. Desde 1985 estamos construindo uma democracia sustentável. Mas precisamos que ela não fique só nas instituições, que se enraíze nos corações.
Os órfãos de junho - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 30/09
Um a cada três eleitores brasileiros está sem candidato a presidente - mesmo depois de ser confrontado com a lista de presidenciáveis pelo Ibope. Ele já foi simpatizante de Dilma Rousseff (PT), antes dos protestos. Desiludiu-se, manifestou-se nas ruas e aderiu a Marina Silva (sem partido). Cansou. Agora, não sabe em quem votar. É o órfão de junho.
Essa orfandade não vai durar para sempre, porém. A história mostra que dois de cada três desses indefinidos vão acabar escolhendo um candidato, mesmo que na última hora e na base do "mal menor". Isso provoca dois efeitos.
O primeiro é precipitar análises aritméticas de que Dilma Rousseff se elegeria no primeiro turno. A conta pode estar certa (porque ela supera a soma dos votos dos rivais), mas a conclusão é simplista - como veremos mais à frente. O segundo e mais relevante efeito é que para onde penderem os órfãos, penderá a eleição.
As taxas de votos brancos e nulos somadas não chegaram a 10% nas eleições presidenciais de 2010 - nem na de 2006. Na mais recente pesquisa Ibope, 15% declaram a intenção de anular. Mas o histórico mostra que essa proporção deve baixar em pelo menos um terço até a hora de o eleitor votar.
O Ibope encontrou essa mesma taxa de branco/nulo em setembro de 2009, faltando os mesmos 12 meses para a eleição de 2010 que restam para a eleição de 2014. Está tudo dentro do script.
Tampouco a abstenção tem sido uma forma de protesto no Brasil. Descontados os fantasmas - que morreram, mas continuam vivos e saudáveis no cadastro da Justiça Eleitoral -, a taxa de eleitores que deixam de votar é inferior a 10%. Ela se distribui de forma razoavelmente homogênea pela sociedade, o que significa que não tende a prejudicar mais um candidato do que outro.
Tudo isso considerado, conclui-se que 20% do eleitorado está à deriva e pode, em tese, migrar para qualquer das candidaturas. É voto suficiente para levar até o mais nanico dos candidatos ao segundo turno - e, eventualmente, elegê-lo presidente. Isso não tira o favoritismo de Dilma, mas o coloca em perspectiva.
Esses órfãos podem voltar para o colo da petista e elegê-la no primeiro turno? Sim, mas a presidente terá primeiro que reconquistá-los. E ela está tentando.
Não foi por acaso que Dilma ressuscitou, justamente agora, sua conta no Twitter - depois de ter abandonado a rede social onde foi muito popular durante a campanha de 2010 e da qual se retirou sem dar qualquer satisfação logo que chegou ao poder.
Reforçar a presença online é uma tentativa de atingir o público que frequenta o Twitter e o Facebook com mais assiduidade: os "jovens" de menos de 45 anos. Foram eles que marcharam em junho. É entre eles que a taxa de branco/nulo se destaca. É com eles que a presidente tentará dialogar. Mas não falarão sozinhos.
Aécio Neves (PSDB) lançou uma estratégia de comunicação na semana anterior que se explica pelo nome, com direito a hashtag: #vamosconversar. O tucano também percebeu que tem uma oportunidade de crescer se alcançar esse eleitor desamparado. Está apelando às redes sociais para chegar mais perto dele.
Eduardo Campos (PSB), por enquanto, mostra-se mais preocupado em conquistar a simpatia dos donos dos prédios da avenida por onde passou a maioria dos protestos em São Paulo, a Paulista, do que se aproximar dos manifestantes. Mas é por saber que eles estão órfãos que o presidente do PSB tirou seu partido do governo e demonstrou que é de fato candidato contra Dilma.
Já Marina Silva parece ter acreditado que os órfãos adotariam sua Rede por inércia. Não adotaram. Nem assinaram fichas em quantidade suficiente para superar os riscos inerentes a quem desafia tucanos e petistas ao mesmo tempo. Agora é Marina que se arrisca a ficar órfã na eleição.
Um a cada três eleitores brasileiros está sem candidato a presidente - mesmo depois de ser confrontado com a lista de presidenciáveis pelo Ibope. Ele já foi simpatizante de Dilma Rousseff (PT), antes dos protestos. Desiludiu-se, manifestou-se nas ruas e aderiu a Marina Silva (sem partido). Cansou. Agora, não sabe em quem votar. É o órfão de junho.
Essa orfandade não vai durar para sempre, porém. A história mostra que dois de cada três desses indefinidos vão acabar escolhendo um candidato, mesmo que na última hora e na base do "mal menor". Isso provoca dois efeitos.
O primeiro é precipitar análises aritméticas de que Dilma Rousseff se elegeria no primeiro turno. A conta pode estar certa (porque ela supera a soma dos votos dos rivais), mas a conclusão é simplista - como veremos mais à frente. O segundo e mais relevante efeito é que para onde penderem os órfãos, penderá a eleição.
As taxas de votos brancos e nulos somadas não chegaram a 10% nas eleições presidenciais de 2010 - nem na de 2006. Na mais recente pesquisa Ibope, 15% declaram a intenção de anular. Mas o histórico mostra que essa proporção deve baixar em pelo menos um terço até a hora de o eleitor votar.
O Ibope encontrou essa mesma taxa de branco/nulo em setembro de 2009, faltando os mesmos 12 meses para a eleição de 2010 que restam para a eleição de 2014. Está tudo dentro do script.
Tampouco a abstenção tem sido uma forma de protesto no Brasil. Descontados os fantasmas - que morreram, mas continuam vivos e saudáveis no cadastro da Justiça Eleitoral -, a taxa de eleitores que deixam de votar é inferior a 10%. Ela se distribui de forma razoavelmente homogênea pela sociedade, o que significa que não tende a prejudicar mais um candidato do que outro.
Tudo isso considerado, conclui-se que 20% do eleitorado está à deriva e pode, em tese, migrar para qualquer das candidaturas. É voto suficiente para levar até o mais nanico dos candidatos ao segundo turno - e, eventualmente, elegê-lo presidente. Isso não tira o favoritismo de Dilma, mas o coloca em perspectiva.
Esses órfãos podem voltar para o colo da petista e elegê-la no primeiro turno? Sim, mas a presidente terá primeiro que reconquistá-los. E ela está tentando.
Não foi por acaso que Dilma ressuscitou, justamente agora, sua conta no Twitter - depois de ter abandonado a rede social onde foi muito popular durante a campanha de 2010 e da qual se retirou sem dar qualquer satisfação logo que chegou ao poder.
Reforçar a presença online é uma tentativa de atingir o público que frequenta o Twitter e o Facebook com mais assiduidade: os "jovens" de menos de 45 anos. Foram eles que marcharam em junho. É entre eles que a taxa de branco/nulo se destaca. É com eles que a presidente tentará dialogar. Mas não falarão sozinhos.
Aécio Neves (PSDB) lançou uma estratégia de comunicação na semana anterior que se explica pelo nome, com direito a hashtag: #vamosconversar. O tucano também percebeu que tem uma oportunidade de crescer se alcançar esse eleitor desamparado. Está apelando às redes sociais para chegar mais perto dele.
Eduardo Campos (PSB), por enquanto, mostra-se mais preocupado em conquistar a simpatia dos donos dos prédios da avenida por onde passou a maioria dos protestos em São Paulo, a Paulista, do que se aproximar dos manifestantes. Mas é por saber que eles estão órfãos que o presidente do PSB tirou seu partido do governo e demonstrou que é de fato candidato contra Dilma.
Já Marina Silva parece ter acreditado que os órfãos adotariam sua Rede por inércia. Não adotaram. Nem assinaram fichas em quantidade suficiente para superar os riscos inerentes a quem desafia tucanos e petistas ao mesmo tempo. Agora é Marina que se arrisca a ficar órfã na eleição.
Novas exigências - PAULO GUEDES
O GLOBO - 30/09
A cumulação de capital, educação, novas tecnologias, reformas institucionais, integração competitiva nos mercados globais, empreendedorismo e aumento de produtividade: essas são as alavancas para a ascensão econômica na nova ordem mundial. Dinheiro barato, excesso de gastos públicos, crises financeiras, corrupção na política, protecionismo, corporativismo, perda de competitividade e favorecimento a grupos de interesse: essas são as práticas das nações em declínio.
No primeiro ato da globalização contemporânea, o grande esforço de adaptação esteve sobre os ombros dos 3,5 bilhões de eurasianos deserdados no colapso da antiga ordem socialista. Nessa fase inicial, o mergulho dessa mão de obra e de seus fluxos de poupança forçada nos mercados globais criou uma extraordinária oportunidade de enriquecimento acelerado. Mas os benefícios de um crescimento sincronizado em escala global já foram desfrutados.
Persistem agora, em um segundo ato, os desafios para uma adaptação bem-sucedida das economias ocidentais à ordem global. Está cada vez mais claro que serão frustradas as tentativas de manutenção de padrões de vida irrealistas em meio à guerra mundial por empregos. Financistas anglo-americanos e políticos social-democratas europeus lamentam o paraíso perdido. A grande crise atual resulta do desesperado mergulho eurasiano nos mercados globais, de um lado, e dos excessos dos ocidentais em sua fuga das exigências dessa nova ordem, de outro.
A ampliação de mercados nos primeiros movimentos da globalização trouxe também a ilusão de que não haveria dramáticos impactos sobre a antiga ordem ocidental. As modernas democracias liberais enfrentam agora o desafio da produtividade para uma integração bem-sucedida. Viciaram-se em crédito fácil e aposentadorias insustentáveis. Por irresponsabilidade financeira, abalaram-se suas mais importantes instituições, do regime de moeda fiduciária às redes de proteção social. Os asiáticos estudam muito, trabalham duro e poupam bastante. Os americanos inovam, mas insistem em construir pontes de papel em busca da riqueza. Os europeus querem viver do Estado, ou seja, de impostos pagos pelo trabalho alheio, mas a vitória de Merkel indica que terão de mudar. E nós, brasileiros, o que queremos?
No primeiro ato da globalização contemporânea, o grande esforço de adaptação esteve sobre os ombros dos 3,5 bilhões de eurasianos deserdados no colapso da antiga ordem socialista. Nessa fase inicial, o mergulho dessa mão de obra e de seus fluxos de poupança forçada nos mercados globais criou uma extraordinária oportunidade de enriquecimento acelerado. Mas os benefícios de um crescimento sincronizado em escala global já foram desfrutados.
Persistem agora, em um segundo ato, os desafios para uma adaptação bem-sucedida das economias ocidentais à ordem global. Está cada vez mais claro que serão frustradas as tentativas de manutenção de padrões de vida irrealistas em meio à guerra mundial por empregos. Financistas anglo-americanos e políticos social-democratas europeus lamentam o paraíso perdido. A grande crise atual resulta do desesperado mergulho eurasiano nos mercados globais, de um lado, e dos excessos dos ocidentais em sua fuga das exigências dessa nova ordem, de outro.
A ampliação de mercados nos primeiros movimentos da globalização trouxe também a ilusão de que não haveria dramáticos impactos sobre a antiga ordem ocidental. As modernas democracias liberais enfrentam agora o desafio da produtividade para uma integração bem-sucedida. Viciaram-se em crédito fácil e aposentadorias insustentáveis. Por irresponsabilidade financeira, abalaram-se suas mais importantes instituições, do regime de moeda fiduciária às redes de proteção social. Os asiáticos estudam muito, trabalham duro e poupam bastante. Os americanos inovam, mas insistem em construir pontes de papel em busca da riqueza. Os europeus querem viver do Estado, ou seja, de impostos pagos pelo trabalho alheio, mas a vitória de Merkel indica que terão de mudar. E nós, brasileiros, o que queremos?
Pouca educação não é coragem - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 30/09
Pretendia escrever sobre assuntos bem diferentes dos que estou agora a ocupar-me, mas fui praticamente obrigado a fazê-lo considerando a passagem da senhora presidente da República pelos altiplanos da Assembléia Geral da ONU. A despeito de suas debilidades, aliás, desde sua constituição decorrentes da reserva do poder de veto reservada a cinco Estados, a ONU não se libertou até agora dessa mácula. Contudo, nela continua a existir a tribuna de caráter mundial da qual o Brasil tem o privilégio de ocupar na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral, como legado de um alegretense que reunia ao talento a bravura e a ambos o fascínio de sua personalidade de escol: a Osvaldo Aranha se deve esse prerrogativa. Isto posto, nada mais natural que nessa ocasião nosso país seja representado pelo Chefe do Estado.
Não faz muito tempo foi amplamente divulgado que a senhora presidente pensava em suspender a viagem aos Estados Unidos a convite daquele país e sem demora a suspensão foi convertida em cancelamento. Ao mesmo tempo, foi descoberto o acesso de fontes americanas a assuntos referentes ao nosso país, fato objeto de ampla publicidade.
Ambas as ocorrências foram noticiadas reiteradamente como alvo do discurso a ser proferido pela senhora presidente na oração que deveria pronunciar ao ser aberta a Assembleia Geral, o que foi confirmado. Ocorre que, a novidade descoberta não se sabe se pela senhora presidente, se pelo Itamaraty ou pelo inominado assessor especial da presidência, de novidade não tinha nada.
Esses dados me parecem significativos, pois sucessivamente divulgados de maneira a dar caráter internacional a um expediente de evidente endereço eleitoral que, aliás, tem sido reconhecido por gregos e troianos; saliente-se que depois da queda de popularidade da senhora presidente, seu marqueteiro, também conhecido como quadragésimo ministro, prometia recuperar a popularidade perdida em coisa de quatro meses. De modo que até a xingação, aliás, anunciada antes do discurso da Assembleia Geral e por todos os meios de comunicação e depois confirmada, não surpreendeu a ninguém; curiosamente foi publicado sem que nenhuma autoridade americana sequer de média importância que fosse, estivesse presente quando do discurso; para que se seu teor era de todos de antemão conhecido?
O tom pouco educado e inadequado do discurso é tentativa de exibir uma suposta valentia, útil apenas para fins internos e eleitoreiros. O Brasil perdeu uma oportunidade de falar para o mundo.
Nesta altura o que me parece de particular importância é saber se o Itamaraty inspirou ou acompanhou o plano, ou se foi ele concebido pela senhora presidente com ou sem a colaboração do assessor especial, ainda que, qualquer que seja a resposta, o fato é de suma gravidade; contudo, o interesse nacional reclama que esse ponto seja esclarecido. Se o Itamaraty tinha conhecimento mais diminuído fica ele, fenômeno que tem sido apontado particularmente por diplomatas de alta expressão.
Depois da xingação veio à louvação. A senhora presidente prosseguiu fazendo o elogio do seu próprio governo com a pretensão de incentivar investimentos estrangeiros. Com todas as vênias, parece-me que o expediente chega às raias da infantilidade, até porque os eventuais investidores além de cientes da situação interna e externa do país, seguramente são leitores, entre outras publicações de circulação internacional, do The Economist. Em síntese, o discurso proferido em Nova York se destinava à pretendida reeleição. Convém lembrar que, não faz muito, a senhora presidente declarou sem rebuços que na campanha ela seria uma “fera”.
Pretendia escrever sobre assuntos bem diferentes dos que estou agora a ocupar-me, mas fui praticamente obrigado a fazê-lo considerando a passagem da senhora presidente da República pelos altiplanos da Assembléia Geral da ONU. A despeito de suas debilidades, aliás, desde sua constituição decorrentes da reserva do poder de veto reservada a cinco Estados, a ONU não se libertou até agora dessa mácula. Contudo, nela continua a existir a tribuna de caráter mundial da qual o Brasil tem o privilégio de ocupar na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral, como legado de um alegretense que reunia ao talento a bravura e a ambos o fascínio de sua personalidade de escol: a Osvaldo Aranha se deve esse prerrogativa. Isto posto, nada mais natural que nessa ocasião nosso país seja representado pelo Chefe do Estado.
Não faz muito tempo foi amplamente divulgado que a senhora presidente pensava em suspender a viagem aos Estados Unidos a convite daquele país e sem demora a suspensão foi convertida em cancelamento. Ao mesmo tempo, foi descoberto o acesso de fontes americanas a assuntos referentes ao nosso país, fato objeto de ampla publicidade.
Ambas as ocorrências foram noticiadas reiteradamente como alvo do discurso a ser proferido pela senhora presidente na oração que deveria pronunciar ao ser aberta a Assembleia Geral, o que foi confirmado. Ocorre que, a novidade descoberta não se sabe se pela senhora presidente, se pelo Itamaraty ou pelo inominado assessor especial da presidência, de novidade não tinha nada.
Esses dados me parecem significativos, pois sucessivamente divulgados de maneira a dar caráter internacional a um expediente de evidente endereço eleitoral que, aliás, tem sido reconhecido por gregos e troianos; saliente-se que depois da queda de popularidade da senhora presidente, seu marqueteiro, também conhecido como quadragésimo ministro, prometia recuperar a popularidade perdida em coisa de quatro meses. De modo que até a xingação, aliás, anunciada antes do discurso da Assembleia Geral e por todos os meios de comunicação e depois confirmada, não surpreendeu a ninguém; curiosamente foi publicado sem que nenhuma autoridade americana sequer de média importância que fosse, estivesse presente quando do discurso; para que se seu teor era de todos de antemão conhecido?
O tom pouco educado e inadequado do discurso é tentativa de exibir uma suposta valentia, útil apenas para fins internos e eleitoreiros. O Brasil perdeu uma oportunidade de falar para o mundo.
Nesta altura o que me parece de particular importância é saber se o Itamaraty inspirou ou acompanhou o plano, ou se foi ele concebido pela senhora presidente com ou sem a colaboração do assessor especial, ainda que, qualquer que seja a resposta, o fato é de suma gravidade; contudo, o interesse nacional reclama que esse ponto seja esclarecido. Se o Itamaraty tinha conhecimento mais diminuído fica ele, fenômeno que tem sido apontado particularmente por diplomatas de alta expressão.
Depois da xingação veio à louvação. A senhora presidente prosseguiu fazendo o elogio do seu próprio governo com a pretensão de incentivar investimentos estrangeiros. Com todas as vênias, parece-me que o expediente chega às raias da infantilidade, até porque os eventuais investidores além de cientes da situação interna e externa do país, seguramente são leitores, entre outras publicações de circulação internacional, do The Economist. Em síntese, o discurso proferido em Nova York se destinava à pretendida reeleição. Convém lembrar que, não faz muito, a senhora presidente declarou sem rebuços que na campanha ela seria uma “fera”.