- A síndrome da foto pelo celular - WALCYR CARRASCO
- Poirot no STF - RUY CASTRO
- Os terráqueos estão chegando - LAURA GREENHALGH
- GOSTOSA
- Princípio da igualdade - PAULO TADEU R. ALMEIDA
- O espírito da cidade - SÉRGIO MAGALHÃES
- Identidade e boa-fé - ALEXANDRE VIDAL PORTO
- Fundo e banco - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- Administração pública: qualidade - WALTER CENEVIVA...
- Agora é oficial - ANCELMO GOIS
- JOAQUIM NO COMANDO - MÔNICA BERGAMO
- A serventia da casa - ILIMAR FRANCO
- Operação tapa-buraco - VERA MAGALHÃES - PAINEL
- A FOTO QUE NÃO ERA PARA A CAPA - JORGE BASTOS MORE...
- O grande leilão - LUIZ CARLOS AZEDO
- GOSTOSA
- Otimismo no agronegócio - CELSO MING
- País de desiguais - MÍRIAM LEITÃO
- O consumo vai bem, mas o investimento vai mal - RO...
- O futuro da demografia - HÉLIO SCHWARTSMAN
- O que está em jogo - MERVAL PEREIRA
- A síndrome da bisbilhotice - KÁTIA ABREU
- Mais e melhor mobilidade - MAURO VIEGAS FILHO
- Justiça sem governança - FERNANDO RODRIGUES
- Sanção e processo - OSCAR VILHENA VIEIRA
- Os idos de Setembro - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA
- Mensalão e eleição rimam? - LEONARDO CAVALCANTI
- Mensalão: hora da verdade - SEBASTIÃO VENTURA PERE...
- Guerra e paz - o que pensa a Igreja? - DOM ODILO P...
- Revogações tácitas e privilégios explícitos - LUIZ...
- A fraude e a farsa continuam - EDITORIAL O ESTADÃO...
- Crise na Venezuela se agrava com Maduro - EDITORIA...
- O juiz e a opinião pública - EDITORIAL ZERO HORA
- Sem pressão, sem solução - EDITORIAL CORREIO BRAZI...
- Fins bem lucrativos - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Uma herança em construção para 2015 - EDITORIAL O ...
- COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
- SÁBADO NOS JORNAIS
sábado, setembro 14, 2013
ÍNDICE DAS POSTAGENS DE HOJE NO BLOG
A síndrome da foto pelo celular - WALCYR CARRASCO
REVISTA ÉPOCA
Dia destes estava no aeroporto, falando ao telefone. Uma senhora aproximou-se, fez sinal.
– Posso tirar uma foto?
– Espera só um pouquinho?
Dois segundos depois, repetiu a pergunta. Fiz sinal pedindo tempo. Ela se afastou irritada, me xingando de “metido a besta”. Eu, particularmente, fico lisonjeado quando me pedem para tirar fotos. É um reconhecimento por meu trabalho como autor. Bem, talvez. Já me aconteceu de posar com um sorriso magnífico ao lado de alguma desconhecida, para depois ouvir, quando ela se afastava: “Quem é ele?”. A amiga respondeu: “Acho que é aquele escritor, parece que é famoso”.
Bela fama, se nem sabem quem sou... Já aconteceu com muita gente que conheço. Alguém pede uma foto. Imediatamente, um enxame de celulares voa em sua direção. Todos querem fotos, sem saber de quem se trata. Tenho um amigo boa-pinta. Fez dezenas de fotos num evento. Ouviu uma “fã” perguntar a outra:
– Quem é?
– Acho que trabalha numa novela.
Qualquer um com um mínimo de exposição à mídia sabe do que estou falando. Já vi um escritor reclamar das intermináveis filas que se formam em noites de autógrafos. Nem todos compram o livro. Querem a foto.
Outro dia, eu estava num evento literário no Rio Grande do Sul. Tentei ir ao banheiro. Duas garotas vieram pedir fotos. Tentei fugir. Outras se aproximavam, de celular em punho. Tive de implorar.
– Tenho de ir ou vou fazer xixi na calça.
E saí correndo. Juro, qualquer hora destas vou a um evento de fraldão! Conheço um ator que sempre se recusava a fazer fotos. Outro dia ouviu:
– Mas você tem obrigação, porque é famoso.
– Meu trabalho é na televisão. Aqui, sou uma pessoa comum – respondeu.
Sim, fãs consideram que alguém conhecido ou famoso tem obrigação de posar. E mais: sorrindo!
Não é só com famosos. Já fiz uma viagem com um amigo que não se deteve para admirar um palácio, uma escultura, um monumento. Estava ocupado, fotografando tudo. E o pior, não me dava paz.
– Bate uma foto minha aqui?
E sorria, parado em frente a um coqueiro. Eu saía correndo, para tentar me ver livre da próxima foto. Fazia o que gosto: olhava a paisagem, os monumentos, as obras de arte e as pernas das turistas. Tentava imaginar como seria a vida das pessoas no passado, naqueles lugares, em culturas tão diferentes. Logo vinha a batidinha no ombro: “Faz uma aqui?”.
Houve uma época em que uma das coisas mais aterrorizantes da vida social era visitar alguém que resolvia mostrar a coleção de slides da última viagem. Apagava as luzes, ligava o projetor e começava: “Olha lá, eu em frente a uma pirâmide!”. Novo slide. “Este aqui saiu meio escuro, mas acho que é uma montanha.” A mulher dizia: “Não, era um castelo”.
E eu ficava bocejando, slide após slide. O sucedâneo natural é aquele sujeito que resolve mostrar as fotos do celular, a qualquer momento, em qualquer lugar. Vejo uma rua cheia de lojas com a cara espantada do fulano em primeiro plano. Ele dá um grito entusiasmado: “Eu, em Tóquio”.
– Mas e essa placa em espanhol?
– Ah, tá, esta aqui foi em Madri. Só um instantinho, vou achar as do Japão.
Procura, procura, não acha.
– Ih... será que apagou?
É interessante porque, outrora, as imagens fixadas no papel serviam como recordações, fixações de um momento a relembrar. Hoje, se tornaram celebrações do efêmero. Não algo a guardar, mas uma imagem para postar no Instagram, Facebook, onde for. O que acontece com essa avalanche de fotos? Imagino que a maior parte seja perdida, com aparelhos que envelhecem, programas que se tornam obsoletos. Talvez exista um fantástico lixo cibernético circulando em torno do planeta, com todas as imagens de milhões, bilhões de celulares. E se for acessado por outra civilização, daqui a séculos? Que retrato farão de nós?
A síndrome é séria. Recentemente, até me peguei em flagrante. Na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, vi uma fila enorme, que dava voltas no estande.
– Deve ser alguém importante. Vou aproveitar a oportunidade – disse a mim mesmo, já entrando na fila. Resolvi perguntar: “Que escritor está dando autógrafos?”. O rapaz da frente me contou, com tédio:
– Não tem escritor nenhum. Esta é a fila do caixa, parece que estão com problema na máquina do cartão.
Afastei-me discretamente. Tirar fotos não é só uma síndrome. Também contagia.
Poirot no STF - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 14/09
RIO DE JANEIRO - Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, encerrou a sessão na quinta-feira, com o placar de 5 a 5 entre os ministros, e adiou para a semana que vem o voto do ministro Celso de Mello sobre a aceitação dos "embargos infringentes", a primeira palavra que veio à cabeça de todos foi: suspense. Vamos passar a semana em suspense, à espera de um voto que não sabemos qual é --pensou-se. E falou-se de Hitchcock a respeito de Joaquim Barbosa.
Mas a comparação não procede. Em Hitchcock, o suspense não consiste em sonegar informação à plateia, mas, ao contrário, dar- lhe toda a informação possível -- e fazer com que ela sofra por causa disso. Exemplos. Em "Suspeita" (1941), o espectador vê Cary Grant subir a escada com um copo de leite para sua mulher, Joan Fontaine, e "sabe" que aquele leite está envenenado. Para que a plateia não tirasse os olhos do copo, Hitchcock pôs uma lâmpada dentro dele.
Em "Janela Indiscreta" (1954), James Stewart, preso a uma cadeira de rodas, vê pelo binóculo que o assassino está voltando para casa e vai flagrar Grace Kelly, que foi até lá para bisbilhotar. Stewart assiste a tudo de longe e sofre, porque não pode fazer nada; daí, sofremos com ele. Em "O Homem que Sabia Demais" (1956), o público do concerto sabe que o tiro contra o primeiro-ministro será disparado quando o percussionista tocar os címbalos --e Hitchcock faz a câmera passear pelas notas da partitura, para mostrar que o tiro não tarda.
No caso do julgamento em Brasília, é exatamente o contrário. Só o ministro Celso de Mello sabe no que votará --ou no que votou, já que parece ter deixado sua decisão num envelope fechado. Pelos cânones hitchcockianos, isso não é suspense, mas mistério.
E no melhor estilo de Agatha Christie, com o ministro no papel de Hercule Poirot.
RIO DE JANEIRO - Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, encerrou a sessão na quinta-feira, com o placar de 5 a 5 entre os ministros, e adiou para a semana que vem o voto do ministro Celso de Mello sobre a aceitação dos "embargos infringentes", a primeira palavra que veio à cabeça de todos foi: suspense. Vamos passar a semana em suspense, à espera de um voto que não sabemos qual é --pensou-se. E falou-se de Hitchcock a respeito de Joaquim Barbosa.
Mas a comparação não procede. Em Hitchcock, o suspense não consiste em sonegar informação à plateia, mas, ao contrário, dar- lhe toda a informação possível -- e fazer com que ela sofra por causa disso. Exemplos. Em "Suspeita" (1941), o espectador vê Cary Grant subir a escada com um copo de leite para sua mulher, Joan Fontaine, e "sabe" que aquele leite está envenenado. Para que a plateia não tirasse os olhos do copo, Hitchcock pôs uma lâmpada dentro dele.
Em "Janela Indiscreta" (1954), James Stewart, preso a uma cadeira de rodas, vê pelo binóculo que o assassino está voltando para casa e vai flagrar Grace Kelly, que foi até lá para bisbilhotar. Stewart assiste a tudo de longe e sofre, porque não pode fazer nada; daí, sofremos com ele. Em "O Homem que Sabia Demais" (1956), o público do concerto sabe que o tiro contra o primeiro-ministro será disparado quando o percussionista tocar os címbalos --e Hitchcock faz a câmera passear pelas notas da partitura, para mostrar que o tiro não tarda.
No caso do julgamento em Brasília, é exatamente o contrário. Só o ministro Celso de Mello sabe no que votará --ou no que votou, já que parece ter deixado sua decisão num envelope fechado. Pelos cânones hitchcockianos, isso não é suspense, mas mistério.
E no melhor estilo de Agatha Christie, com o ministro no papel de Hercule Poirot.
Os terráqueos estão chegando - LAURA GREENHALGH
O ESTADÃO - 14/09
Um americano com pinta de Iron Man se apresenta: "Meu nome é Ryan, tenho 30 anos. Passei a vida explorando minhas capacidades, de piloto a mergulhador socorrista. Vou continuar me testando". Ayako, uma japonesa de 39, define-se em outros termos: "Desde os 5 anos tenho curiosidade de saber o que existe além do céu. Gosto de poesia, canto, filmes de comédia". O indiano Vinod, 31, quer ir sem olhar para trás, mesmo deixando em casa mulher e a filha de um ano, "porque basicamente sou um engenheiro de tecnologia da informação". Felipe, 21, estudante de geologia na USP, adora o que faz e quer continuar explorando solos por lá. "Se tenho bom humor? Ora, sou brasileiro. See you in Mars!"
Como os leitores já devem ter percebido, especialmente a partir do otimismo do Felipe, o que junta essas pessoas é o desejo de participar do primeiro núcleo de colonizadores humanos do planeta Marte. São candidatos a uma vaga no projeto Mars One, desenvolvido por uma fundação holandesa "not for profit", mas se pintar um lucrinho, por que não? Desde abril, quando o projeto foi lançado, mais de 200 mil pessoas ao redor do mundo já se inscreveram nele. Serão selecionadas por critérios não muito claros, em que fala alto a capacidade de adaptação, evidentemente. E, a partir de 2015, depois de várias peneiras, 40 finalistas começarão um treinamento intensivo para viajar até o Planeta Vermelho em 2022, voozinho básico de sete meses de duração, non stop. Detalhe: vão viajar até Marte para nunca mais voltar. Chegou, ficou. Para sempre. Que tal?
Sem o menor pendor para passar algum verão da minha vida num planeta cuja temperatura média fica na casa dos 63 graus negativos, sinto uma curiosidade tropical de saber quem são essas pessoas que se alistam para mudar não de bairro, cidade ou país, mas de planeta. Vejamos outras autoapresentações, no site do projeto. John, um americano de 55 anos, diz que vem treinando a vida inteira para ser colonizador em Marte. E completa com o que considera ser um atributo pessoal: "Mantenho meus jardins com hidropônicos". Uau. Mayra, 26, nascida no México, acha que estaria preparada para viver em Marte porque respeita a natureza e tem boa índole: "Protejo cães de rua". Como? Tortein, 30, funcionário da Marinha norueguesa, vai logo avisando: "Vou dar 100% de mim. E não sossego enquanto não botar os pés lá".
Se você notou que tudo isso se parece com processo de seleção para um BBB da vida, eureca. Pode passar na produção da coluna (e tem?) e pegar o seu vale-marciano. O Mars One pretende ser "o maior reality show da história", segundo as peças promocionais. Mesmo contando com a consultoria de cientistas respeitáveis, entre eles um Nobel de Física, o holandês Gerardus't Hooft, o projeto põe ênfase no marketing, muito mais do que no feito. Seus organizadores querem captar a bolada de US$ 6 bilhões para custeio de todas as etapas, das missões preparatórias até o assentamento, em caráter definitivo, dos primeiros quatro colonos. Eu disse quatro. E, a cada dois anos, pretende-se mandar mais quatro. Se tudo correr bem, para montar o primeiro time do Marte Futebol Clube, calcule aí uns 6 anos. E para jogar contra quem mesmo? Pois é, amigos, já deram uma espiadinha nas imagens que o robô Curiosity, há um ano zanzando naquelas paragens, tem mandado para cá? Tédio...
A terráquea que vos fala deixa claro que jamais colocará em dúvida a importância da pesquisa espacial, nos seus diferentes campos. Mas é impossível não notar a presença no board do Mars One de Paul Römer, criador do Big Brother, o reality show que deu cria em nosso planeta (vamos exportá-lo de vez para Marte, quem sabe Plutão?), e de Steve Carsey, um dos grandes produtores de TV da Inglaterra, responsável por séries de sucesso e agora se aventurando em outras plataformas. Essa turma não veio para brincar. Já no lançamento do projeto, abrem campanha vigorosa pela internet, direcionada para "gente que pensa fora da caixa". Por trás de tudo, há um Interplanetary Media Group, ávido pelo tilintar da moeda. Como existe todo um projeto colonizador para o planeta vizinho, a cargo da companhia SpaceX, o que nos põe um pulgão atrás da orelha - será que o Eike Batista entrou nessa parada também?
Os empreendedores do Mars One dizem que os US$ 6 bilhões são apenas uma estimativa de custos e que o projeto se baseia em tecnologias já existentes, o que seria garantia de execução. Daí partem para a cotação de mercado em sites de tecnologia, avaliando desde o preço do saquinho de comida desidratada para astronautas até o de um Falcon Heavy, foguete de lançamento que transportaria a cápsula com os primeiros colonizadores.
Entre empreitadas similares- Spielberg, o cineasta, atrelou sua grife ao projeto da Nasa e a cantora Sarah Brightman planeja um show por lá -, o Mars One tem se destacado na concorrência. Seu processo de seleção, aberto na web, depende da votação dos internautas. E quando os quatro pioneiros finalmente chegarem a seu destino, câmeras indiscretas os perseguirão... por anos! (o fabricante de edredons do BBB Brasil deveria montar logo sua proposta de fornecimento).
O que me intriga, de verdade, é a quantidade de rapazes e moças na faixa dos 20 aos 35 anos, de diferentes nacionalidades e com diferentes backgrounds, dispostos a mudar de planeta. O campeão em inscrições, até o momento, é Estados Unidos (24%), seguido de Índia (10%), China (6%) e Brasil (5%) - todos, países populosos. Ok, sempre se poderá dizer que mundos desconhecidos nos fascinam. Assim como a clássica pergunta: estamos sós no Universo? Ou que ser desbravador num planeta remoto, onde a vida por lá passou, está longe de ser um convite banal.
Mas, por Júpiter, por que tanta gente na rampa de lançamento de suas vidas quer se mandar para um ermo de planícies, rios secos e imensos desfiladeiros, a 60 milhões de quilômetros da Terra, isso quando os dois planetas estão mais próximos? Por que esse grande vazio do humano seduz mais do que as camadas sedimentares da nossa civilização? Por que tantos candidatos ao Mars One acham que é melhor dar o fora daqui? Deveríamos investigar esse desencanto global com o planeta e a base de dados do Mars One está aí, oferecendo material precioso. Ainda que o projeto não decole.
Um americano com pinta de Iron Man se apresenta: "Meu nome é Ryan, tenho 30 anos. Passei a vida explorando minhas capacidades, de piloto a mergulhador socorrista. Vou continuar me testando". Ayako, uma japonesa de 39, define-se em outros termos: "Desde os 5 anos tenho curiosidade de saber o que existe além do céu. Gosto de poesia, canto, filmes de comédia". O indiano Vinod, 31, quer ir sem olhar para trás, mesmo deixando em casa mulher e a filha de um ano, "porque basicamente sou um engenheiro de tecnologia da informação". Felipe, 21, estudante de geologia na USP, adora o que faz e quer continuar explorando solos por lá. "Se tenho bom humor? Ora, sou brasileiro. See you in Mars!"
Como os leitores já devem ter percebido, especialmente a partir do otimismo do Felipe, o que junta essas pessoas é o desejo de participar do primeiro núcleo de colonizadores humanos do planeta Marte. São candidatos a uma vaga no projeto Mars One, desenvolvido por uma fundação holandesa "not for profit", mas se pintar um lucrinho, por que não? Desde abril, quando o projeto foi lançado, mais de 200 mil pessoas ao redor do mundo já se inscreveram nele. Serão selecionadas por critérios não muito claros, em que fala alto a capacidade de adaptação, evidentemente. E, a partir de 2015, depois de várias peneiras, 40 finalistas começarão um treinamento intensivo para viajar até o Planeta Vermelho em 2022, voozinho básico de sete meses de duração, non stop. Detalhe: vão viajar até Marte para nunca mais voltar. Chegou, ficou. Para sempre. Que tal?
Sem o menor pendor para passar algum verão da minha vida num planeta cuja temperatura média fica na casa dos 63 graus negativos, sinto uma curiosidade tropical de saber quem são essas pessoas que se alistam para mudar não de bairro, cidade ou país, mas de planeta. Vejamos outras autoapresentações, no site do projeto. John, um americano de 55 anos, diz que vem treinando a vida inteira para ser colonizador em Marte. E completa com o que considera ser um atributo pessoal: "Mantenho meus jardins com hidropônicos". Uau. Mayra, 26, nascida no México, acha que estaria preparada para viver em Marte porque respeita a natureza e tem boa índole: "Protejo cães de rua". Como? Tortein, 30, funcionário da Marinha norueguesa, vai logo avisando: "Vou dar 100% de mim. E não sossego enquanto não botar os pés lá".
Se você notou que tudo isso se parece com processo de seleção para um BBB da vida, eureca. Pode passar na produção da coluna (e tem?) e pegar o seu vale-marciano. O Mars One pretende ser "o maior reality show da história", segundo as peças promocionais. Mesmo contando com a consultoria de cientistas respeitáveis, entre eles um Nobel de Física, o holandês Gerardus't Hooft, o projeto põe ênfase no marketing, muito mais do que no feito. Seus organizadores querem captar a bolada de US$ 6 bilhões para custeio de todas as etapas, das missões preparatórias até o assentamento, em caráter definitivo, dos primeiros quatro colonos. Eu disse quatro. E, a cada dois anos, pretende-se mandar mais quatro. Se tudo correr bem, para montar o primeiro time do Marte Futebol Clube, calcule aí uns 6 anos. E para jogar contra quem mesmo? Pois é, amigos, já deram uma espiadinha nas imagens que o robô Curiosity, há um ano zanzando naquelas paragens, tem mandado para cá? Tédio...
A terráquea que vos fala deixa claro que jamais colocará em dúvida a importância da pesquisa espacial, nos seus diferentes campos. Mas é impossível não notar a presença no board do Mars One de Paul Römer, criador do Big Brother, o reality show que deu cria em nosso planeta (vamos exportá-lo de vez para Marte, quem sabe Plutão?), e de Steve Carsey, um dos grandes produtores de TV da Inglaterra, responsável por séries de sucesso e agora se aventurando em outras plataformas. Essa turma não veio para brincar. Já no lançamento do projeto, abrem campanha vigorosa pela internet, direcionada para "gente que pensa fora da caixa". Por trás de tudo, há um Interplanetary Media Group, ávido pelo tilintar da moeda. Como existe todo um projeto colonizador para o planeta vizinho, a cargo da companhia SpaceX, o que nos põe um pulgão atrás da orelha - será que o Eike Batista entrou nessa parada também?
Os empreendedores do Mars One dizem que os US$ 6 bilhões são apenas uma estimativa de custos e que o projeto se baseia em tecnologias já existentes, o que seria garantia de execução. Daí partem para a cotação de mercado em sites de tecnologia, avaliando desde o preço do saquinho de comida desidratada para astronautas até o de um Falcon Heavy, foguete de lançamento que transportaria a cápsula com os primeiros colonizadores.
Entre empreitadas similares- Spielberg, o cineasta, atrelou sua grife ao projeto da Nasa e a cantora Sarah Brightman planeja um show por lá -, o Mars One tem se destacado na concorrência. Seu processo de seleção, aberto na web, depende da votação dos internautas. E quando os quatro pioneiros finalmente chegarem a seu destino, câmeras indiscretas os perseguirão... por anos! (o fabricante de edredons do BBB Brasil deveria montar logo sua proposta de fornecimento).
O que me intriga, de verdade, é a quantidade de rapazes e moças na faixa dos 20 aos 35 anos, de diferentes nacionalidades e com diferentes backgrounds, dispostos a mudar de planeta. O campeão em inscrições, até o momento, é Estados Unidos (24%), seguido de Índia (10%), China (6%) e Brasil (5%) - todos, países populosos. Ok, sempre se poderá dizer que mundos desconhecidos nos fascinam. Assim como a clássica pergunta: estamos sós no Universo? Ou que ser desbravador num planeta remoto, onde a vida por lá passou, está longe de ser um convite banal.
Mas, por Júpiter, por que tanta gente na rampa de lançamento de suas vidas quer se mandar para um ermo de planícies, rios secos e imensos desfiladeiros, a 60 milhões de quilômetros da Terra, isso quando os dois planetas estão mais próximos? Por que esse grande vazio do humano seduz mais do que as camadas sedimentares da nossa civilização? Por que tantos candidatos ao Mars One acham que é melhor dar o fora daqui? Deveríamos investigar esse desencanto global com o planeta e a base de dados do Mars One está aí, oferecendo material precioso. Ainda que o projeto não decole.
Princípio da igualdade - PAULO TADEU R. ALMEIDA
O GLOBO - 14/09
A transfusão de sangue é muito utilizada nos grandes centros em razão dos procedimentos de alta complexidade como transplantes e cirurgias. Em consequência de doenças como o HIV e a Hepatite B e C, foram desenvolvidos testes sorológicos mais sensíveis em sangue de doadores. Aliada aos testes, a segurança da transfusão para reduzir o risco sanitário depende de medidas combinadas, como a captação de doadores voluntários, educação do doador e triagem meticulosa. Juntas, essas medidas têm por objetivo a diminuição de infecções virais transmitidas por transfusões.
No entanto, os testes atualmente usados ainda permitem a transmissão destes vírus, por causa da janela imunológica (período que o teste demora para dar o resultado positivo, depois que um indivíduo é contaminado). Foi por isso que, no começo dos anos 2.000, se iniciou na Europa e America do Norte a utilização de um teste mais sofisticado, que busca diretamente o vírus. O Teste de Ácido Nucleico (NAT), que diminui a janela imunológica do HIV de 22 dias para 10 e das Hepatites de 80 dias para 20 dias.
Estima-se que 135 mil pessoas no país não sabem que são portadoras do HIV. Muitas vão até os serviços de hemoterapia doar sangue para fins de diagnóstico da doença, aumentando, dessa forma, a chance de transmissão do vírus. O NAT vai identificar a maioria destes indivíduos e tornar a transfusão mais segura. Por isso, cabe a pergunta: que tipo de sangue queremos receber? Ou queremos que seja transfundido em nossos parentes?
Apesar de o Ministério da Saúde reconhecer a eficiência do NAT e fazer o teste nas suas unidades próprias para parte dos brasileiros - conforme palavras de Guilherme Genovez, da Coordenação do Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde - a rede privada e a rede complementar ao SUS ainda não o fazem, pois o teste não é obrigatório. Segundo ele, a Portaria que regulamenta a obrigatoriedade do uso do NAT está nas mãos do ministro Alexandre Padilha e será publicada quando o ministro desejar.
Surge, então, uma nova questão: teremos dois tipos de sangue no país? Onde fica o princípio da igualdade quando se fala em segurança na transfusão sanguínea? Como ficarão os 62 milhões de brasileiros que possuem planos de saúde e têm direito, como todos, de receber o melhor tratamento de saúde possível, utilizando-se das melhores tecnologias disponíveis?
Algumas operadoras já entenderam que mais vale investir na segurança transfusional do que arcar com os custos decorrentes das doenças transmitidas pelo sangue contaminado, mas as principais operadoras continuam resistentes ao NAT, indo de encontro aos interesses da sociedade civil, em especial dos portadores de doenças hematológicas que necessitam regularmente de bolsas de sangue. Se o próprio Ministério da Saúde já reconheceu a eficácia do NAT, o que leva o ministro Alexandre Padilha a não assinar a Portaria que ratifica essa decisão?
Paulo Tadeu R. de Almeida é médico e presidente da Associação Brasileira de Bancos de Sangue
O espírito da cidade - SÉRGIO MAGALHÃES
O GLOBO - 14/09
“Que será Buenos Aires?”, pergunta em famoso poema o escritor argentino Jorge Luís Borges. Primeiro, descreve o que lhe é próximo: Buenos Aires “é o último espelho que reproduziu o rosto de meu pai”, “é a mão de Norah”, “é aquele arco da rua Bolívar”. Mas, a seguir, o poeta amplia o entendimento: “Buenos Aires é a outra rua, a que nunca pisei, o miolo secreto dos quarteirões, os últimos pátios, é o meu inimigo, se eu o tenho, (...) é o estranho, o bairro que não é teu nem meu, aquilo que ignoramos e aquilo que queremos.”
A cidade é minha íntima e é minha desconhecida, íntima de meu desconhecido e desconhecida dele, íntima talvez de meu inimigo, se eu o tiver.
Essa condição nos faz, a cada um, protagonista da vida urbana e fundamenta o direito à cidade – que, na democracia, é indissociável da cidadania. Ele engloba o viver em segurança e liberdade (sabemos o quanto custa a violência!); inclui a disponibilidade das infraestruturas essenciais à vida civilizada e deve assegurar condições satisfatórias de habitação e mobilidade.
Mas, se esses valores têm se afirmado na consciência coletiva, ainda são escassos. Há clara evidência da insuficiência dos governos em suprir a cidade desses deveres de Estado.
Em recente estudo, o Observatório das Metrópoles faz uma avaliação sobre as condições de “bem estar urbano” relativas às quinze maiores cidades metropolitanas brasileiras. Os pesquisadores Raquel Oliveira e João Nery informam que, dos 338 bairros que compõem a cidade metropolitana do Rio de Janeiro, 134 (40%) apresentam condição ruim ou muito ruim segundo os indicadores considerados. Na mobilidade, 240 bairros (71%) apresentam condição ruim ou muito ruim. Segundo dados da ANTT, entre as metrópoles, o Rio tem o mais alto percentual de moradores que gastam mais de duas horas nos trajetos casa-trabalho.
Se a cidade é “o último espelho que reproduziu o rosto de meu pai” e simultaneamente a “rua que nunca pisei”, como diz Borges, esses números não podem ser apenas estatísticas, renovados a cada pesquisa. Somos nós. Haver um bairro dominado por bandidos armados não é inevitável – sobretudo depois da experiência das UPPs. Milhões de cidadãos, todos os dias, perdendo três ou quatro horas no trânsito, ou morando sem infraestrutura adequada, não é um problema só deles – é de toda a sociedade.
Não se trata de reinventar a cidade, como pensavam os modernos ante o avanço demográfico. Mas é um impositivo democrático reorganizar as relações de decisão e poder na metrópole.
Nossas cidades precisam ser pensadas e planejadas para além dos governos e das idiossincrasias dos mandatários eventuais; em respeito à diversidade social, cultural e de interesses, tampouco podem ficar reféns de pressões hegemônicas, hoje ditadas pelos desejos imobiliários e rodoviaristas.
As cidades mudam sempre, ainda que estáveis [e feitas de concreto]. Paradoxalmente, está em seu espírito, composto pelos sonhos de todos e pela vivência de seus espaços, a continuidade de nossos vínculos essenciais. O “último espelho” e o futuro comum.
“Que será Buenos Aires?”, pergunta em famoso poema o escritor argentino Jorge Luís Borges. Primeiro, descreve o que lhe é próximo: Buenos Aires “é o último espelho que reproduziu o rosto de meu pai”, “é a mão de Norah”, “é aquele arco da rua Bolívar”. Mas, a seguir, o poeta amplia o entendimento: “Buenos Aires é a outra rua, a que nunca pisei, o miolo secreto dos quarteirões, os últimos pátios, é o meu inimigo, se eu o tenho, (...) é o estranho, o bairro que não é teu nem meu, aquilo que ignoramos e aquilo que queremos.”
A cidade é minha íntima e é minha desconhecida, íntima de meu desconhecido e desconhecida dele, íntima talvez de meu inimigo, se eu o tiver.
Essa condição nos faz, a cada um, protagonista da vida urbana e fundamenta o direito à cidade – que, na democracia, é indissociável da cidadania. Ele engloba o viver em segurança e liberdade (sabemos o quanto custa a violência!); inclui a disponibilidade das infraestruturas essenciais à vida civilizada e deve assegurar condições satisfatórias de habitação e mobilidade.
Mas, se esses valores têm se afirmado na consciência coletiva, ainda são escassos. Há clara evidência da insuficiência dos governos em suprir a cidade desses deveres de Estado.
Em recente estudo, o Observatório das Metrópoles faz uma avaliação sobre as condições de “bem estar urbano” relativas às quinze maiores cidades metropolitanas brasileiras. Os pesquisadores Raquel Oliveira e João Nery informam que, dos 338 bairros que compõem a cidade metropolitana do Rio de Janeiro, 134 (40%) apresentam condição ruim ou muito ruim segundo os indicadores considerados. Na mobilidade, 240 bairros (71%) apresentam condição ruim ou muito ruim. Segundo dados da ANTT, entre as metrópoles, o Rio tem o mais alto percentual de moradores que gastam mais de duas horas nos trajetos casa-trabalho.
Se a cidade é “o último espelho que reproduziu o rosto de meu pai” e simultaneamente a “rua que nunca pisei”, como diz Borges, esses números não podem ser apenas estatísticas, renovados a cada pesquisa. Somos nós. Haver um bairro dominado por bandidos armados não é inevitável – sobretudo depois da experiência das UPPs. Milhões de cidadãos, todos os dias, perdendo três ou quatro horas no trânsito, ou morando sem infraestrutura adequada, não é um problema só deles – é de toda a sociedade.
Não se trata de reinventar a cidade, como pensavam os modernos ante o avanço demográfico. Mas é um impositivo democrático reorganizar as relações de decisão e poder na metrópole.
Nossas cidades precisam ser pensadas e planejadas para além dos governos e das idiossincrasias dos mandatários eventuais; em respeito à diversidade social, cultural e de interesses, tampouco podem ficar reféns de pressões hegemônicas, hoje ditadas pelos desejos imobiliários e rodoviaristas.
As cidades mudam sempre, ainda que estáveis [e feitas de concreto]. Paradoxalmente, está em seu espírito, composto pelos sonhos de todos e pela vivência de seus espaços, a continuidade de nossos vínculos essenciais. O “último espelho” e o futuro comum.
Identidade e boa-fé - ALEXANDRE VIDAL PORTO
FOLHA DE SP - 14/09
O mito da democracia racial faliu. O autoengano coletivo não resistiu ao processo de redemocratização do país
Passei a infância achando que o Brasil era perfeito. Só entendi que vivíamos sob ditadura quando os exilados começaram a voltar. Até então, para mim, a imagem do certificado da Censura Federal antes dos programas de televisão era a coisa mais normal do mundo. Nesse tempo, ensinavam nas escolas que o Brasil era uma democracia racial.
Na quarta série, havia apenas um menino negro na minha classe. Ele viajava para a Disney nas férias e usava roupas de grife. Tinha colega que dizia que era adotado. Eu tinha dez anos e não entendia que essa suspeita era indicativo de que o preconceito racial já estava entre nós.
Mas o mito da democracia racial faliu. O autoengano coletivo não resistiu ao processo de redemocratização pelo qual passou o país.
Hoje, pode-se divergir quanto às maneiras de lidar com a questão, mas todos reconhecem que o Brasil é racialmente injusto. Entendemos melhor a necessidade de eliminar o insidioso racismo brasileiro, que pode ser invisível, mas é palpável e deixa vítimas reais.
"No Brasil a questão é de nível social, não racial. Veja o caso do Pelé." Perdi as contas das vezes em que ouvi isso. Você também deve ter ouvido --ou falado-- a mesma coisa. No entanto, nunca entendi, no caso, a diferença entre "racial" e "social". A relação direta entre negritude e vulnerabilidade social sempre foi óbvia e observável ao longo de toda a história do Brasil.
Quando, a partir da Abolição, em 1888, o governo brasileiro ignorou a necessidade de implementar políticas para a integração social dos ex-escravos, deixando-os à própria sorte, criou um dever para as gerações futuras.
Parte grande da população brasileira descende dessa gente que sobreviveu à desumanização pela escravatura e ao descaso continuado das autoridades. Descender de gente escravizada, que sofreu uma experiência trágica sob condições degradantes por anos a fio, deixa marcas profundas no indivíduo.
Os efeitos negativos sobre a autoestima, a autoconfiança e o acesso aos bens sociais se projetam por gerações. Quando se fala de "afrodescendente", evoca-se esse legado da escravidão, esse ônus pessoal derivado de uma injustiça histórica.
O governo brasileiro reconhece esse problema.
Está longe de resolvê-lo, mas tem investido em sua solução. Um dos instrumentos que utiliza são políticas de ação afirmativa.
Em 2002, o Itamaraty foi pioneiro em criar programas para a promoção do acesso de afrodescendentes a cargos públicos federais. Com base nessas ações, na semana passada, Mathias de Souza Lima Abramovic foi aprovado na primeira fase do vestibular para a carreira diplomática como cotista afrodescendente. No entanto, foi denunciado por ser branco demais.
Não conheço todas as etnias que se escondem sob os nomes Souza, Lima e Abramovic, mas sei que a identidade de uma pessoa não é feita apenas de elementos visíveis. Só Mathias sabe o preço que pagou por sua afrodescendência. Até prova em contrário, prefiro acreditar em sua boa-fé.
O mito da democracia racial faliu. O autoengano coletivo não resistiu ao processo de redemocratização do país
Passei a infância achando que o Brasil era perfeito. Só entendi que vivíamos sob ditadura quando os exilados começaram a voltar. Até então, para mim, a imagem do certificado da Censura Federal antes dos programas de televisão era a coisa mais normal do mundo. Nesse tempo, ensinavam nas escolas que o Brasil era uma democracia racial.
Na quarta série, havia apenas um menino negro na minha classe. Ele viajava para a Disney nas férias e usava roupas de grife. Tinha colega que dizia que era adotado. Eu tinha dez anos e não entendia que essa suspeita era indicativo de que o preconceito racial já estava entre nós.
Mas o mito da democracia racial faliu. O autoengano coletivo não resistiu ao processo de redemocratização pelo qual passou o país.
Hoje, pode-se divergir quanto às maneiras de lidar com a questão, mas todos reconhecem que o Brasil é racialmente injusto. Entendemos melhor a necessidade de eliminar o insidioso racismo brasileiro, que pode ser invisível, mas é palpável e deixa vítimas reais.
"No Brasil a questão é de nível social, não racial. Veja o caso do Pelé." Perdi as contas das vezes em que ouvi isso. Você também deve ter ouvido --ou falado-- a mesma coisa. No entanto, nunca entendi, no caso, a diferença entre "racial" e "social". A relação direta entre negritude e vulnerabilidade social sempre foi óbvia e observável ao longo de toda a história do Brasil.
Quando, a partir da Abolição, em 1888, o governo brasileiro ignorou a necessidade de implementar políticas para a integração social dos ex-escravos, deixando-os à própria sorte, criou um dever para as gerações futuras.
Parte grande da população brasileira descende dessa gente que sobreviveu à desumanização pela escravatura e ao descaso continuado das autoridades. Descender de gente escravizada, que sofreu uma experiência trágica sob condições degradantes por anos a fio, deixa marcas profundas no indivíduo.
Os efeitos negativos sobre a autoestima, a autoconfiança e o acesso aos bens sociais se projetam por gerações. Quando se fala de "afrodescendente", evoca-se esse legado da escravidão, esse ônus pessoal derivado de uma injustiça histórica.
O governo brasileiro reconhece esse problema.
Está longe de resolvê-lo, mas tem investido em sua solução. Um dos instrumentos que utiliza são políticas de ação afirmativa.
Em 2002, o Itamaraty foi pioneiro em criar programas para a promoção do acesso de afrodescendentes a cargos públicos federais. Com base nessas ações, na semana passada, Mathias de Souza Lima Abramovic foi aprovado na primeira fase do vestibular para a carreira diplomática como cotista afrodescendente. No entanto, foi denunciado por ser branco demais.
Não conheço todas as etnias que se escondem sob os nomes Souza, Lima e Abramovic, mas sei que a identidade de uma pessoa não é feita apenas de elementos visíveis. Só Mathias sabe o preço que pagou por sua afrodescendência. Até prova em contrário, prefiro acreditar em sua boa-fé.
Fundo e banco - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO - 14/09
O aumento recente da instabilidade nos mercados internacionais, com efeitos mais intensos nas economias emergentes, torna mais importante desenhar e implementar mecanismos de autodefesa e financiamento. As instituições multilaterais sediadas aqui em Washington, o FMI e o Banco Mundial, mostram grande dificuldade de evoluir e reagir aos novos desafios internacionais. O G20 está semiparalisado. Assim, os emergentes vêm tomando, há algum tempo, as suas próprias providências em âmbito nacional e reforçando alianças entre si.
Na semana passada, o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – se encontrou novamente, desta vez em São Petersburgo, antes da reunião do G20. Demos novos passos na direção da construção de mecanismos independentes. Refiro-me ao Arranjo Contingente de Reservas e ao Novo Banco de Desenvolvimento. O primeiro será um fundo de estabilização entre os cinco países; o segundo, um banco para financiamento de projetos de investimento nos Brics e outros países em desenvolvimento.
Desde 2012, as duas iniciativas vêm sendo construídas cuidadosamente, passo-a-passo. Em São Petersburgo, os líderes do Brics chegaram a um consenso sobre o tamanho do Banco, algo que não fora possível alcançar na cúpula em Durban. O capital inicial subscrito será de US$ 50 bilhões, aportados pelos países Brics. Desde Durban, sob a coordenação da África do Sul e da Índia, houve algum progresso na definição da estrutura de capital, participação acionária e governança, entre outros temas.
Conheço em mais detalhe o Arranjo Contingente de Reservas, iniciativa coordenada pelo Brasil de que tenho participado desde o início. Trata-se de um fundo auto-administrado, de apoio mútuo entre os cinco países, cujo objetivo é ajudar a fazer face a pressões de balanço de pagamentos. Em Durban, o Brics estabeleceu que esse fundo terá um valor inicial de US$ 100 bilhões. Em São Petersburgo, chegou-se a um acordo sobre a distribuição entre os cinco países: a China entrará com US$ 41 bilhões; Brasil, Rússia e Índia com US$ 18 bilhões cada; e a África do Sul com US$ 5 bilhões.
No caso do Arranjo de Reservas, o trabalho técnico está bastante avançado e já se chegou a um consenso sobre muitos aspectos chave e mesmo detalhes operacionais. À luz do progresso realizado, é possível chegar a resultados concretos até a próxima cúpula do Brics, que será em Fortaleza, em 2014.
Estamos começando agora a preparar a primeira minuta de texto do acordo para discussão em Washington, em outubro, quando os Brics se reunirão para retomar a discussão das duas iniciativas e outros temas de interesse comum. Ainda há muito trabalho pela frente, mas o progresso é notável. Enquanto o FMI, o Banco Mundial e o G20 patinam de impasse em impasse, o Brics avança.
O aumento recente da instabilidade nos mercados internacionais, com efeitos mais intensos nas economias emergentes, torna mais importante desenhar e implementar mecanismos de autodefesa e financiamento. As instituições multilaterais sediadas aqui em Washington, o FMI e o Banco Mundial, mostram grande dificuldade de evoluir e reagir aos novos desafios internacionais. O G20 está semiparalisado. Assim, os emergentes vêm tomando, há algum tempo, as suas próprias providências em âmbito nacional e reforçando alianças entre si.
Na semana passada, o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – se encontrou novamente, desta vez em São Petersburgo, antes da reunião do G20. Demos novos passos na direção da construção de mecanismos independentes. Refiro-me ao Arranjo Contingente de Reservas e ao Novo Banco de Desenvolvimento. O primeiro será um fundo de estabilização entre os cinco países; o segundo, um banco para financiamento de projetos de investimento nos Brics e outros países em desenvolvimento.
Desde 2012, as duas iniciativas vêm sendo construídas cuidadosamente, passo-a-passo. Em São Petersburgo, os líderes do Brics chegaram a um consenso sobre o tamanho do Banco, algo que não fora possível alcançar na cúpula em Durban. O capital inicial subscrito será de US$ 50 bilhões, aportados pelos países Brics. Desde Durban, sob a coordenação da África do Sul e da Índia, houve algum progresso na definição da estrutura de capital, participação acionária e governança, entre outros temas.
Conheço em mais detalhe o Arranjo Contingente de Reservas, iniciativa coordenada pelo Brasil de que tenho participado desde o início. Trata-se de um fundo auto-administrado, de apoio mútuo entre os cinco países, cujo objetivo é ajudar a fazer face a pressões de balanço de pagamentos. Em Durban, o Brics estabeleceu que esse fundo terá um valor inicial de US$ 100 bilhões. Em São Petersburgo, chegou-se a um acordo sobre a distribuição entre os cinco países: a China entrará com US$ 41 bilhões; Brasil, Rússia e Índia com US$ 18 bilhões cada; e a África do Sul com US$ 5 bilhões.
No caso do Arranjo de Reservas, o trabalho técnico está bastante avançado e já se chegou a um consenso sobre muitos aspectos chave e mesmo detalhes operacionais. À luz do progresso realizado, é possível chegar a resultados concretos até a próxima cúpula do Brics, que será em Fortaleza, em 2014.
Estamos começando agora a preparar a primeira minuta de texto do acordo para discussão em Washington, em outubro, quando os Brics se reunirão para retomar a discussão das duas iniciativas e outros temas de interesse comum. Ainda há muito trabalho pela frente, mas o progresso é notável. Enquanto o FMI, o Banco Mundial e o G20 patinam de impasse em impasse, o Brics avança.
Administração pública: qualidade - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 14/09
Falta qualidade quando se pensa na diversidade das garantias que a administração deve propiciar ao povo
Para ficarmos em duas cidades que, com suas regiões metropolitanas têm percentual elevado da população brasileira, tomo o exemplo de São Paulo e do Rio de Janeiro para discutir o tema da qualidade administrativa nos grandes centros urbanos deste país. Podemos enfrentar o tema descontando, por ora, as agitações que perturbaram a vida de seus munícipes no último semestre.
Aqui se percebeu, desde logo, que os equipamentos humanos e materiais dos três níveis (União, Estado, Município) não dialogam entre eles, quando se trate de problemas de urgência, para esforços conjugados.
Em resumo: nós, o povo, não fomos defendidos com qualidade no período. Qualidade? Sim, qualidade, porque o parâmetro atual, para discutir a administração em face do conjunto de seus administrados, deve ser o da qualidade.
Indo à lei: os princípios essenciais, impostos à administração pública, estão no art. 37 da Constituição, resumidos em cinco termos, para todos os níveis. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O art. 37 está atrasado nessa matéria, pois não fala em qualidade. Indicou, em primeiro lugar, a legalidade, pré-requisito essencial da atuação administrativa, embora ignorado em tempos de agitação coletiva.
Se fosse caso de se sintetizar a regra do art. 37 em uma palavra, esta seria qualidade. Ficaria melhor se escrita em maiúsculas: QUALIDADE.
A súmula da qualidade traz, em si mesma, tudo o que se pretende de um serviço público.
A honestidade seria outro termo definidor, mas não cabe, por que a honestidade é pressuposto de todo e qualquer caminho trilhado pelo administrador.
Em um estudo de Diana Vicher, saído na revista do Tribunal de Contas de Minas Gerais, no primeiro semestre deste ano, o critério da qualidade nas obras públicas e na direção geral do trabalho oficial vem, em primeiro lugar. É o suporte básico da atividade pública. A qualidade é, para o estudioso, elemento novo no caminho da boa administração, nos segmentos da doutrina administrativa moderna.
Mantido foco nas duas grandes cidades, o administrador não previu os movimentos do primeiro semestre. Vá lá, que tanta agitação não era esperada, mas descontada a surpresa, o padrão de atendimento do munícipe paulistano e carioca, ainda assim, não recebeu tratamento adequado.
O leitor questionará: como definir o requisito de qualidade? Essa convicção encontra apoio no trabalho mencionado de Diana Vicher, para quem o conceito de qualidade total está na essência dos controles da produção de serviços, voltados para o município, quando avaliada e medida pelo critério da satisfação do munícipe.
O controle da qualidade na produção dos serviços resume o essencial, mas é aceito que as condições de vida nas metrópoles do hemisfério sul, de existência muito mais curta que as do hemisfério norte, não têm padrões uniformes desse requisito.
Nas duas maiores cidades do Brasil (a grande São Paulo tem população equivalente à metade da Argentina) não há suficiente satisfação para seus habitantes.
Falta qualidade, termo de evidente finalidade comparativa, quando se pensa na diversidade das garantias que a administração deve propiciar ao povo e, lamentavelmente, não tem conseguido proporcionar.
Falta qualidade quando se pensa na diversidade das garantias que a administração deve propiciar ao povo
Para ficarmos em duas cidades que, com suas regiões metropolitanas têm percentual elevado da população brasileira, tomo o exemplo de São Paulo e do Rio de Janeiro para discutir o tema da qualidade administrativa nos grandes centros urbanos deste país. Podemos enfrentar o tema descontando, por ora, as agitações que perturbaram a vida de seus munícipes no último semestre.
Aqui se percebeu, desde logo, que os equipamentos humanos e materiais dos três níveis (União, Estado, Município) não dialogam entre eles, quando se trate de problemas de urgência, para esforços conjugados.
Em resumo: nós, o povo, não fomos defendidos com qualidade no período. Qualidade? Sim, qualidade, porque o parâmetro atual, para discutir a administração em face do conjunto de seus administrados, deve ser o da qualidade.
Indo à lei: os princípios essenciais, impostos à administração pública, estão no art. 37 da Constituição, resumidos em cinco termos, para todos os níveis. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O art. 37 está atrasado nessa matéria, pois não fala em qualidade. Indicou, em primeiro lugar, a legalidade, pré-requisito essencial da atuação administrativa, embora ignorado em tempos de agitação coletiva.
Se fosse caso de se sintetizar a regra do art. 37 em uma palavra, esta seria qualidade. Ficaria melhor se escrita em maiúsculas: QUALIDADE.
A súmula da qualidade traz, em si mesma, tudo o que se pretende de um serviço público.
A honestidade seria outro termo definidor, mas não cabe, por que a honestidade é pressuposto de todo e qualquer caminho trilhado pelo administrador.
Em um estudo de Diana Vicher, saído na revista do Tribunal de Contas de Minas Gerais, no primeiro semestre deste ano, o critério da qualidade nas obras públicas e na direção geral do trabalho oficial vem, em primeiro lugar. É o suporte básico da atividade pública. A qualidade é, para o estudioso, elemento novo no caminho da boa administração, nos segmentos da doutrina administrativa moderna.
Mantido foco nas duas grandes cidades, o administrador não previu os movimentos do primeiro semestre. Vá lá, que tanta agitação não era esperada, mas descontada a surpresa, o padrão de atendimento do munícipe paulistano e carioca, ainda assim, não recebeu tratamento adequado.
O leitor questionará: como definir o requisito de qualidade? Essa convicção encontra apoio no trabalho mencionado de Diana Vicher, para quem o conceito de qualidade total está na essência dos controles da produção de serviços, voltados para o município, quando avaliada e medida pelo critério da satisfação do munícipe.
O controle da qualidade na produção dos serviços resume o essencial, mas é aceito que as condições de vida nas metrópoles do hemisfério sul, de existência muito mais curta que as do hemisfério norte, não têm padrões uniformes desse requisito.
Nas duas maiores cidades do Brasil (a grande São Paulo tem população equivalente à metade da Argentina) não há suficiente satisfação para seus habitantes.
Falta qualidade, termo de evidente finalidade comparativa, quando se pensa na diversidade das garantias que a administração deve propiciar ao povo e, lamentavelmente, não tem conseguido proporcionar.
Agora é oficial - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 14/09
José Mariano Beltrame não vai se filiar a nenhum partido.
Portanto, não será candidato a vice na chapa de Pezão ao governo do Rio. Mas avisou que topa continuar no cargo num eventual governo Pezão.
Calma, gente
Yvonne Bezerra de Mello, conhecida por proteger as crianças do massacre da Candelária, escreveu uma carta ao decano Celso de Mello, cujo voto vai decidir se haverá novo julgamento de alguns mensaleiros.
Num trecho, pede ao ministro que reflita sobre o país como um todo “e não sobre indivíduos como quis seu colega Luis Roberto Barroso”.
É que...
O “novato” Barroso disse no seu voto pelo novo julgamento que “nós não julgamos para a multidão. Nós julgamos pessoas”.
Filha do Animal
Carolina Sorrentino, de 18 anos, filha do ex-jogador Edmundo, o Animal, vai estrear como atriz. Será na peça “Beijos, escolhas e bolhas de sabão”, com direção de Bia Oliveira.
Melhor assim
Sobre a queixa de judeus de que a PUC marcou prova simulada da OAB hoje, dia do Yom Kipur, Francisco de Guimaraens, do Departamento de Direito, diz que sempre foi permitido fazer segunda chamada por razões religiosas:
— Qualquer aluno poderá realizar a prova em 26 de outubro, sem nenhum prejuízo acadêmico.
No mais
Dilma é vista com má vontade entre alguns petistas. Mas ela demonstrou habilidade em reforçar a base aliada no STF para tentar aliviar a barra de alguns comissários mensaleiros.
Com todo o respeito.
Malas prontas
A cantora Adriana Calcanhotto embarca para Londres no começo de outubro.
Vai lançar a sua “Antologia ilustrada da poesia brasileira", como parte da programação da Flipside, versão inglesa do evento literário de Paraty.
Por aqui, o livro já está na segunda edição da Casa da Palavra.
Preconceito é crime
O consultor Vinicius Precioso, 37 anos, homossexual assumido, com relação estável há oito anos, foi barrado ao tentar doar sangue no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
— Não permitiram porque eu disse que tinha um companheiro.
Parece preconceito. E é.
A neta de Portinari
Quase seis meses depois de perder a filha, Maria, de 16 anos, o professor João Cândido Portinari, filho do famoso pintor, aderiu ao movimento Morte por Gás Nunca Mais.
Este movimento é liderado por Fatinha Rodrigues. Depois de perder uma filha, vítima de intoxicação por gás da CEG, ela luta pela aprovação de um projeto de lei de 2007 que obriga a empresa a fazer vistoria gratuita dentro das residências.
Alô, Paulo Melo...
Aliás, na semana passada o projeto ia entrar em votação na Alerj. Mas, na última hora, saiu.
Pelas contas do movimento são cerca de dez mortes anuais por intoxicação por gás no Rio de 1998 para cá.
Saudades de Tim
A Pensar Comunicação, do jornalista Luiz Alberto Bettencourt, está lançando um projeto de resgate de memória da imprensa alternativa.
Foi criada uma página no Facebook com o acervo do jornal “Repórter”, fundado na década de 1970 por ele e por um grupo de jornalistas, entre os quais o saudoso Tim Lopes.
Livro eterno
Veja só. Na última Bienal, a Record vendeu 703 exemplares de “Diário de Anne Frank”. Publicado originalmente em 1947, o livro, escrito por uma adolescente judia, vítima do Holocausto, continua sendo lido por milhões de pessoas no mundo.
Onde está Amarildo?
Duas testemunhas prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios, quinta. Disseram que foram obrigadas por policiais da Rocinha a dizer que o traficante Catatau havia mandado matar Amarildo.
Não seria verdade.
Ponto Final
Segundo o “Daily Mail”, de Londres, 25% dos parlamentares ingleses empregam parentes. Meu Deus! Deve ser terrível viver num lugar assim...
Portanto, não será candidato a vice na chapa de Pezão ao governo do Rio. Mas avisou que topa continuar no cargo num eventual governo Pezão.
Calma, gente
Yvonne Bezerra de Mello, conhecida por proteger as crianças do massacre da Candelária, escreveu uma carta ao decano Celso de Mello, cujo voto vai decidir se haverá novo julgamento de alguns mensaleiros.
Num trecho, pede ao ministro que reflita sobre o país como um todo “e não sobre indivíduos como quis seu colega Luis Roberto Barroso”.
É que...
O “novato” Barroso disse no seu voto pelo novo julgamento que “nós não julgamos para a multidão. Nós julgamos pessoas”.
Filha do Animal
Carolina Sorrentino, de 18 anos, filha do ex-jogador Edmundo, o Animal, vai estrear como atriz. Será na peça “Beijos, escolhas e bolhas de sabão”, com direção de Bia Oliveira.
Melhor assim
Sobre a queixa de judeus de que a PUC marcou prova simulada da OAB hoje, dia do Yom Kipur, Francisco de Guimaraens, do Departamento de Direito, diz que sempre foi permitido fazer segunda chamada por razões religiosas:
— Qualquer aluno poderá realizar a prova em 26 de outubro, sem nenhum prejuízo acadêmico.
No mais
Dilma é vista com má vontade entre alguns petistas. Mas ela demonstrou habilidade em reforçar a base aliada no STF para tentar aliviar a barra de alguns comissários mensaleiros.
Com todo o respeito.
Malas prontas
A cantora Adriana Calcanhotto embarca para Londres no começo de outubro.
Vai lançar a sua “Antologia ilustrada da poesia brasileira", como parte da programação da Flipside, versão inglesa do evento literário de Paraty.
Por aqui, o livro já está na segunda edição da Casa da Palavra.
Preconceito é crime
O consultor Vinicius Precioso, 37 anos, homossexual assumido, com relação estável há oito anos, foi barrado ao tentar doar sangue no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
— Não permitiram porque eu disse que tinha um companheiro.
Parece preconceito. E é.
A neta de Portinari
Quase seis meses depois de perder a filha, Maria, de 16 anos, o professor João Cândido Portinari, filho do famoso pintor, aderiu ao movimento Morte por Gás Nunca Mais.
Este movimento é liderado por Fatinha Rodrigues. Depois de perder uma filha, vítima de intoxicação por gás da CEG, ela luta pela aprovação de um projeto de lei de 2007 que obriga a empresa a fazer vistoria gratuita dentro das residências.
Alô, Paulo Melo...
Aliás, na semana passada o projeto ia entrar em votação na Alerj. Mas, na última hora, saiu.
Pelas contas do movimento são cerca de dez mortes anuais por intoxicação por gás no Rio de 1998 para cá.
Saudades de Tim
A Pensar Comunicação, do jornalista Luiz Alberto Bettencourt, está lançando um projeto de resgate de memória da imprensa alternativa.
Foi criada uma página no Facebook com o acervo do jornal “Repórter”, fundado na década de 1970 por ele e por um grupo de jornalistas, entre os quais o saudoso Tim Lopes.
Livro eterno
Veja só. Na última Bienal, a Record vendeu 703 exemplares de “Diário de Anne Frank”. Publicado originalmente em 1947, o livro, escrito por uma adolescente judia, vítima do Holocausto, continua sendo lido por milhões de pessoas no mundo.
Onde está Amarildo?
Duas testemunhas prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios, quinta. Disseram que foram obrigadas por policiais da Rocinha a dizer que o traficante Catatau havia mandado matar Amarildo.
Não seria verdade.
Ponto Final
Segundo o “Daily Mail”, de Londres, 25% dos parlamentares ingleses empregam parentes. Meu Deus! Deve ser terrível viver num lugar assim...
JOAQUIM NO COMANDO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 14/09
Ministros contrários ao novo julgamento para alguns crimes de réus do mensalão já se preparam para o que consideram a batalha do dia seguinte, caso sejam mesmo derrotados, como esperam. Eles querem estabelecer de imediato um calendário para que o caso seja reavaliado ainda sob a presidência de Joaquim Barbosa no STF (Supremo Tribunal Federal).
BALANÇA
Barbosa concordou com praticamente todas as teses da acusação em relação aos principais réus. Já Ricardo Lewandowski, que assumirá a presidência do STF depois dele, abraçou boa parte dos argumentos da defesa.
SUOR E LÁGRIMAS
O ministro Celso de Mello, que desempatará a votação sobre um novo julgamento na próxima quarta, se queixava, nesta semana, de fortes dores por causa de uma luxação no joelho.
SOLIDÃO
A possibilidade de Celso de Mello levar em conta argumentos publicados na imprensa e reelaborar seu voto é considerada nula pelos outros magistrados. O ministro vive recluso, vara as madrugadas mergulhado em processos, acorda e já vai para o tribunal e mal tem tempo de ler jornais e ver televisão.
SINFONIA
Outra característica de Celso de Mello: ele só elabora seus votos escutando música clássica.
SOLTO A VOZ
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos réus que terá o destino decidido na quarta, estava tão seguro de que o julgamento chegaria ao final nesta semana que chegou a aceitar convite para uma entrevista no programa "Roda Viva". Que acabou cancelada ontem.
LIÇÃO
O chef espanhol Ferran Adrià desembarca no Brasil em outubro. Vem dar palestra a funcionários da Vivo.
SIM PARA POUCOS
Erika dos Mares Guia vai se casar com o empresário baiano José Renato Tourinho em 16 de novembro.
Dona da multimarcas Mares e filha do ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, ela optou por uma cerimônia íntima, restrita à família, padrinhos e amigos muito próximos, em Punta del Este, no Uruguai.
TUDO BEM
Aécio Neves (PSDB-MG) diz que jamais passou a amigos a impressão de que José Serra estará contra ele na disputa presidencial.
"Em todos os encontros que tenho tido com Serra --e eles são frequentes-- jamais tive essa impressão e jamais partilhei esse tipo de opinião com quem quer que seja. Pelo contrário, tenho a convicção de que estaremos juntos, qualquer que seja o cenário, certamente para descontentamento de muitos que apostam e trabalham para a nossa divisão", afirma ele.
PAIXÃO LOUCA
Felipe Cordeiro, destaque da música paraense, lança em outubro seu segundo disco, "Se Apaixone pela Loucura do seu Amor"; o álbum do guitarrista e compositor tem produção de Kassin e Carlos Eduardo Miranda
GENTE GRANDE
Marcelo Gross, Beto Bruno e Gabriel Azambuja, da banda Cachorro Grande, receberam convidados no lançamento do DVD "Ao Vivo no Circo Voador", anteontem, no Sesc Pompeia. A diretora artística Anna Buttler, que fazia aniversário, o baixista Fralda e o produtor artístico Leandro Barbosa circularam pelo evento, que também contou com a presença do músico Kiko Zambianchi.
CURTO-CIRCUITO
O torneio amistoso Boa Vista Polo Classic ocorre hoje na fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP).
A Orquestra Sinfônica do Guri se apresenta hoje, às 20h30, no Theatro São Pedro, com regência de George Stelluto. Livre.
O sétimo Encontro Mundial das Artes Cênicas, com espetáculos, oficinas e exposições, começa amanhã, no CIT-Ecum, na Consolação. Grátis.
O presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, e a conselheira Gilda Figueiredo Ferraz receberão a comenda da Ordem do Mérito do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, na segunda.
Ministros contrários ao novo julgamento para alguns crimes de réus do mensalão já se preparam para o que consideram a batalha do dia seguinte, caso sejam mesmo derrotados, como esperam. Eles querem estabelecer de imediato um calendário para que o caso seja reavaliado ainda sob a presidência de Joaquim Barbosa no STF (Supremo Tribunal Federal).
BALANÇA
Barbosa concordou com praticamente todas as teses da acusação em relação aos principais réus. Já Ricardo Lewandowski, que assumirá a presidência do STF depois dele, abraçou boa parte dos argumentos da defesa.
SUOR E LÁGRIMAS
O ministro Celso de Mello, que desempatará a votação sobre um novo julgamento na próxima quarta, se queixava, nesta semana, de fortes dores por causa de uma luxação no joelho.
SOLIDÃO
A possibilidade de Celso de Mello levar em conta argumentos publicados na imprensa e reelaborar seu voto é considerada nula pelos outros magistrados. O ministro vive recluso, vara as madrugadas mergulhado em processos, acorda e já vai para o tribunal e mal tem tempo de ler jornais e ver televisão.
SINFONIA
Outra característica de Celso de Mello: ele só elabora seus votos escutando música clássica.
SOLTO A VOZ
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos réus que terá o destino decidido na quarta, estava tão seguro de que o julgamento chegaria ao final nesta semana que chegou a aceitar convite para uma entrevista no programa "Roda Viva". Que acabou cancelada ontem.
LIÇÃO
O chef espanhol Ferran Adrià desembarca no Brasil em outubro. Vem dar palestra a funcionários da Vivo.
SIM PARA POUCOS
Erika dos Mares Guia vai se casar com o empresário baiano José Renato Tourinho em 16 de novembro.
Dona da multimarcas Mares e filha do ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, ela optou por uma cerimônia íntima, restrita à família, padrinhos e amigos muito próximos, em Punta del Este, no Uruguai.
TUDO BEM
Aécio Neves (PSDB-MG) diz que jamais passou a amigos a impressão de que José Serra estará contra ele na disputa presidencial.
"Em todos os encontros que tenho tido com Serra --e eles são frequentes-- jamais tive essa impressão e jamais partilhei esse tipo de opinião com quem quer que seja. Pelo contrário, tenho a convicção de que estaremos juntos, qualquer que seja o cenário, certamente para descontentamento de muitos que apostam e trabalham para a nossa divisão", afirma ele.
PAIXÃO LOUCA
Felipe Cordeiro, destaque da música paraense, lança em outubro seu segundo disco, "Se Apaixone pela Loucura do seu Amor"; o álbum do guitarrista e compositor tem produção de Kassin e Carlos Eduardo Miranda
GENTE GRANDE
Marcelo Gross, Beto Bruno e Gabriel Azambuja, da banda Cachorro Grande, receberam convidados no lançamento do DVD "Ao Vivo no Circo Voador", anteontem, no Sesc Pompeia. A diretora artística Anna Buttler, que fazia aniversário, o baixista Fralda e o produtor artístico Leandro Barbosa circularam pelo evento, que também contou com a presença do músico Kiko Zambianchi.
CURTO-CIRCUITO
O torneio amistoso Boa Vista Polo Classic ocorre hoje na fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP).
A Orquestra Sinfônica do Guri se apresenta hoje, às 20h30, no Theatro São Pedro, com regência de George Stelluto. Livre.
O sétimo Encontro Mundial das Artes Cênicas, com espetáculos, oficinas e exposições, começa amanhã, no CIT-Ecum, na Consolação. Grátis.
O presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, e a conselheira Gilda Figueiredo Ferraz receberão a comenda da Ordem do Mérito do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, na segunda.
A serventia da casa - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 14/09
O governo jamais vai admitir mas se movimenta para que o senador boliviano Roger Pinto Molina vá embora. Um ministro confidencia: “Ele é um problema. Para nós, é melhor que ele caia fora:’ A presidente Dilma não quer se indispor com Evo Morales. Os cinco processos contra o senador passam de mão em mão, e a avaliação é consensual: “Está muito enrolado, metido em muita confusão”
Quem quer comprar?
A Câmara virou uma feira de negócios na reta final para a troca de partido, dia 5 de outubro. Alguns deputados relatam que seus colegas estão negociando sem constrangimento seus mandatos. O valor de mercado é registrado em guardanapos no cafezinho do plenário: cada cem mil votos equivalem a R$ 28 mil do Fundo Partidário. No momento, cem deputados estudam trocar de partido, e estima-se que uns 60 o farão. Uma parte desses tem a promessa de receber em dinheiro valor correspondente ao incremento do Fundo Partidário. Há casos de deputados se comprometendo com dois ou três partidos para tentar reduzir o risco de o “negócio” dar errado.
“O Programa Mais Médicos vai ser para a presidente Dilma o que o Bolsa Família foi para Lula.”
Eunício Oliveira
Líder do PMDB no Senado (CE)
Um problema a menos
A Câmara vai entrar no jogo do Senado e facilitar a vida da presidente Dilma nas votações dos vetos. Líderes da base decidiram que a melhor forma é não dar quorum, com isso mantendo os vetos. A operação começará na próxima sessão.
Pressão intensa
O comando da campanha de Aécio Neves (PSDB) ao Planalto está investindo pesado no PP. O objetivo é evitar que o partido, presidido pelo senador Ciro Nogueira (P1), na foto, faça uma coligação oficial com o PT da presidente Dilma. Conta com aliados internos, que enfrentam os petistas no Rio Grande do Sul, no Rio e em Minas Gerais.
Poço de mágoas
Nas conversas reservadas sobre a sucessão, o governador Eduardo Campos (PE), e candidato do PSB, sempre conta: “O Mercadante chamou os governadores do PSB e perguntou: O que vocês querem para isolar o Eduardo?’
Como fico
Relatam os tucanos que são considerados mais próximos do ex-governador José Serra que ele decidiu ficar no PSDB. Alguns de seus aliados sempre defenderam isso. Acreditam que mesmo que não tenha prévia, a candidatura tucana ao Planalto pode cair no seu colo. E, como consolo, sempre há a candidatura ao Senado.
Dois pra lá, dois pra cá
O vice-presidente Michel Temer assumiu uma tarefa extra por estes dias. Com a criação de tantos partidos, ele está se desdobrando para segurar deputados do PMDB no partido. E, para que a bancada não fique menor, tenta também tirar deputados de outros partidos.
Correndo atrás
A nova embaixadora dos Estados Unidos, Liliana Ayalde, chega segunda-feira ao Brasil e sua primeira iniciativa é tentar melhorar o clima em relação ao seu país. Receberá alguns jornalistas na embaixada para fazer uma declaração.
DEPOIS DE SEIS ANOS DE PESQUISA, O Tribunal de Contas da União está se preparando para lançar um “Guia de Boas Práticas de Governança’
Quem quer comprar?
A Câmara virou uma feira de negócios na reta final para a troca de partido, dia 5 de outubro. Alguns deputados relatam que seus colegas estão negociando sem constrangimento seus mandatos. O valor de mercado é registrado em guardanapos no cafezinho do plenário: cada cem mil votos equivalem a R$ 28 mil do Fundo Partidário. No momento, cem deputados estudam trocar de partido, e estima-se que uns 60 o farão. Uma parte desses tem a promessa de receber em dinheiro valor correspondente ao incremento do Fundo Partidário. Há casos de deputados se comprometendo com dois ou três partidos para tentar reduzir o risco de o “negócio” dar errado.
“O Programa Mais Médicos vai ser para a presidente Dilma o que o Bolsa Família foi para Lula.”
Eunício Oliveira
Líder do PMDB no Senado (CE)
Um problema a menos
A Câmara vai entrar no jogo do Senado e facilitar a vida da presidente Dilma nas votações dos vetos. Líderes da base decidiram que a melhor forma é não dar quorum, com isso mantendo os vetos. A operação começará na próxima sessão.
Pressão intensa
O comando da campanha de Aécio Neves (PSDB) ao Planalto está investindo pesado no PP. O objetivo é evitar que o partido, presidido pelo senador Ciro Nogueira (P1), na foto, faça uma coligação oficial com o PT da presidente Dilma. Conta com aliados internos, que enfrentam os petistas no Rio Grande do Sul, no Rio e em Minas Gerais.
Poço de mágoas
Nas conversas reservadas sobre a sucessão, o governador Eduardo Campos (PE), e candidato do PSB, sempre conta: “O Mercadante chamou os governadores do PSB e perguntou: O que vocês querem para isolar o Eduardo?’
Como fico
Relatam os tucanos que são considerados mais próximos do ex-governador José Serra que ele decidiu ficar no PSDB. Alguns de seus aliados sempre defenderam isso. Acreditam que mesmo que não tenha prévia, a candidatura tucana ao Planalto pode cair no seu colo. E, como consolo, sempre há a candidatura ao Senado.
Dois pra lá, dois pra cá
O vice-presidente Michel Temer assumiu uma tarefa extra por estes dias. Com a criação de tantos partidos, ele está se desdobrando para segurar deputados do PMDB no partido. E, para que a bancada não fique menor, tenta também tirar deputados de outros partidos.
Correndo atrás
A nova embaixadora dos Estados Unidos, Liliana Ayalde, chega segunda-feira ao Brasil e sua primeira iniciativa é tentar melhorar o clima em relação ao seu país. Receberá alguns jornalistas na embaixada para fazer uma declaração.
DEPOIS DE SEIS ANOS DE PESQUISA, O Tribunal de Contas da União está se preparando para lançar um “Guia de Boas Práticas de Governança’
Operação tapa-buraco - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 14/09
O governo estuda reavaliar investimentos no trecho da rodovia BR-262 que liga Minas Gerais ao Espírito Santo, que não teve nenhum interessado em leilão de ontem. Segundo participantes das negociações, uma das ideias aventadas é negociar para que a iniciativa privada faça toda a obra. Hoje, ela seria responsável pela parte de Minas Gerais, e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), pelo trecho do Espírito Santo. "Não podemos esperar mais", diz um palaciano.
São eles Membros do governo apontam ação conjunta do governador Renato Casagrande (PSB-ES), da deputada Rose de Freitas (PMDB) e do senador Ricardo Ferraço (PMDB) para melar o leilão.
Caderninho Auxiliares de Dilma Rousseff lembram que Ferraço já jogou contra o governo no episódio da fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil, que gerou um impasse diplomático.
Delay Membros do Executivo lembram que o projeto foi lançado em outubro do ano passado e, em abril, foi anunciado que a obra seria licitada em setembro. As reclamações sobre o valor do pedágio só pipocaram em agosto e, até a véspera, empresas tinham interesse no leilão.
Origem A lei 8.038, que dividiu o STF no debate sobre o cabimento de embargos infringentes no mensalão, foi relatada em comissão da Câmara, em 1989, pelo então deputado petista Sigmaringa Seixas, amigo de Lula e de vários ministros da corte.
Voz... Em artigo publicado em janeiro deste ano, Luís Roberto Barroso escreveu: "Não é ruim que os juízes, antes de decidirem, olhem pela janela de seus gabinetes e levem em conta a realidade e o sentimento social".
... das ruas O ministro dizia, no entanto, que não pode haver "conversão do Judiciário em mais um canal da política majoritária, subserviente à opinião pública". E opinou que, no mensalão, o STF "aceitou e apreciou o papel de atender à demanda social".
Novato Na sessão de anteontem, Barroso travou discussão com Marco Aurélio Mello em que disse que a corte não deveria se pautar pela "multidão" e que não se preocupa com a imprensa.
Cotoveladas Reunião realizada esta semana em São Paulo para debater a reeleição de Dilma evidenciou a disputa de espaço entre o marqueteiro João Santana e o ex-ministro de Lula Franklin Martins, que voltou a opinar sobre a estratégia de comunicação do governo e do PT.
Digitais Dirigentes petistas dizem que os conselhos de Franklin têm sido cada vez mais ouvidos no Palácio do Planalto. Creditam a ele o tom de Dilma nos pronunciamentos de TV e na relação com a base aliada depois dos protestos de junho.
Tropa A irritação do PT com Eduardo Campos (PSB) não se limita a declarações do governador de Pernambuco contra a gestão Dilma. Os petistas acompanham todos os ataques feitos ao partido por aliados de Campos, como Beto Albuquerque, Carlos Siqueira e Márcio França.
Quase lá A cúpula da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) acredita que é inevitável a assinatura de contrato entre o governo e a Técnica, subsidiária da Delta, para obras na SP-304, com valor estimado em R$ 60 milhões. Não há pedidos de revisão em andamento para a licitação.
Rock, bebê Questionado por um seguidor no Twitter sobre sua opinião em relação à atuação de "black blocs" em manifestações, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) respondeu: "Leonardo, não sei o que são os black blocs'. É um grupo de rock?".
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Se o gigante não acordar e for para a rua, o Supremo, graças às últimas indicações de Dilma, vai colocar o mensalão para dormir."
DO DEPUTADO RODRIGO MAIA (DEM-RJ), sobre a probabilidade de o STF aceitar, na próxima quarta-feira, a admissibilidade de embargos infringentes no caso.
contraponto
Choque de gerações
Na segunda-feira, deputados discutiam a medida provisória 615, com mais de 26 temas e que trata de benefícios ao setor sucroalcooleiro. Era o último dia para a Câmara votar a tempo de que a MP chegasse ao Senado no prazo mínimo de sete dias antes de caducar, estipulado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Um jornalista perguntou a Renan Filho, que estava indo para a reunião de líderes negociar o tema:
--Seu pai não vai abrir exceção e mudar esse prazo?
O deputado federal respondeu:
--Ali não tem jeito. Só tem uma palavra: turrão!
O governo estuda reavaliar investimentos no trecho da rodovia BR-262 que liga Minas Gerais ao Espírito Santo, que não teve nenhum interessado em leilão de ontem. Segundo participantes das negociações, uma das ideias aventadas é negociar para que a iniciativa privada faça toda a obra. Hoje, ela seria responsável pela parte de Minas Gerais, e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), pelo trecho do Espírito Santo. "Não podemos esperar mais", diz um palaciano.
São eles Membros do governo apontam ação conjunta do governador Renato Casagrande (PSB-ES), da deputada Rose de Freitas (PMDB) e do senador Ricardo Ferraço (PMDB) para melar o leilão.
Caderninho Auxiliares de Dilma Rousseff lembram que Ferraço já jogou contra o governo no episódio da fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil, que gerou um impasse diplomático.
Delay Membros do Executivo lembram que o projeto foi lançado em outubro do ano passado e, em abril, foi anunciado que a obra seria licitada em setembro. As reclamações sobre o valor do pedágio só pipocaram em agosto e, até a véspera, empresas tinham interesse no leilão.
Origem A lei 8.038, que dividiu o STF no debate sobre o cabimento de embargos infringentes no mensalão, foi relatada em comissão da Câmara, em 1989, pelo então deputado petista Sigmaringa Seixas, amigo de Lula e de vários ministros da corte.
Voz... Em artigo publicado em janeiro deste ano, Luís Roberto Barroso escreveu: "Não é ruim que os juízes, antes de decidirem, olhem pela janela de seus gabinetes e levem em conta a realidade e o sentimento social".
... das ruas O ministro dizia, no entanto, que não pode haver "conversão do Judiciário em mais um canal da política majoritária, subserviente à opinião pública". E opinou que, no mensalão, o STF "aceitou e apreciou o papel de atender à demanda social".
Novato Na sessão de anteontem, Barroso travou discussão com Marco Aurélio Mello em que disse que a corte não deveria se pautar pela "multidão" e que não se preocupa com a imprensa.
Cotoveladas Reunião realizada esta semana em São Paulo para debater a reeleição de Dilma evidenciou a disputa de espaço entre o marqueteiro João Santana e o ex-ministro de Lula Franklin Martins, que voltou a opinar sobre a estratégia de comunicação do governo e do PT.
Digitais Dirigentes petistas dizem que os conselhos de Franklin têm sido cada vez mais ouvidos no Palácio do Planalto. Creditam a ele o tom de Dilma nos pronunciamentos de TV e na relação com a base aliada depois dos protestos de junho.
Tropa A irritação do PT com Eduardo Campos (PSB) não se limita a declarações do governador de Pernambuco contra a gestão Dilma. Os petistas acompanham todos os ataques feitos ao partido por aliados de Campos, como Beto Albuquerque, Carlos Siqueira e Márcio França.
Quase lá A cúpula da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) acredita que é inevitável a assinatura de contrato entre o governo e a Técnica, subsidiária da Delta, para obras na SP-304, com valor estimado em R$ 60 milhões. Não há pedidos de revisão em andamento para a licitação.
Rock, bebê Questionado por um seguidor no Twitter sobre sua opinião em relação à atuação de "black blocs" em manifestações, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) respondeu: "Leonardo, não sei o que são os black blocs'. É um grupo de rock?".
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Se o gigante não acordar e for para a rua, o Supremo, graças às últimas indicações de Dilma, vai colocar o mensalão para dormir."
DO DEPUTADO RODRIGO MAIA (DEM-RJ), sobre a probabilidade de o STF aceitar, na próxima quarta-feira, a admissibilidade de embargos infringentes no caso.
contraponto
Choque de gerações
Na segunda-feira, deputados discutiam a medida provisória 615, com mais de 26 temas e que trata de benefícios ao setor sucroalcooleiro. Era o último dia para a Câmara votar a tempo de que a MP chegasse ao Senado no prazo mínimo de sete dias antes de caducar, estipulado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Um jornalista perguntou a Renan Filho, que estava indo para a reunião de líderes negociar o tema:
--Seu pai não vai abrir exceção e mudar esse prazo?
O deputado federal respondeu:
--Ali não tem jeito. Só tem uma palavra: turrão!
A FOTO QUE NÃO ERA PARA A CAPA - JORGE BASTOS MORENO
O GLOBO - 14/09
Dilma decidiu pedir a devolução de todos os cargos, que não são muitos, do PSB no governo. O motivo teria sido uma foto do governador Eduardo Campos sorrindo ao lado do senador Aécio Neves, divulgada exatos 11 dias depois do encontro. Ora, pelo menos, aqui no GLOBO colocaram um embargo infringente no Manual de Redação: fotos do Aécio com Eduardo Campos e minhas com a Renata Vasconcelos não são notícias. Na mais sintética definição de notícia, reproduzida pelo austero mestre do jornalismo, Luiz Garcia, “notícia é a quebra da rotina”. Lula veio correndo ontem para cá, tentando demover a Dilma da decisão que deflagaria oficialmente a sucessão presidencial. Parece ter conseguido. Na verdade, o que tem irritado a presidente são as notícias que chegam sobre a desenvoltura do governador de Pernambuco em oito dos nove estados do Nordeste, recebido, como manda a praxe, em festa pelos colegas.
Campos do campo
Eduardo Campos não quer alimentar esse disse me disse. Mas eu li sua mente. O meu GPS o localizou ontem, em campanha, digo, visita, a São Luís. Não foi difícil extrair seu pensamento. Como candidata à reeleição, Campos acha que o percentual de 35% da Dilma é muito mixuruca (até usou uma expressão que os americanos usam nesses casos, que nem sei como se escreve, mas entendi). Campos acha que esse é o teto da Dilma. Daí a sua convicção de que o campo político precisa ter pelo menos mais uma opção para que a maioria dos 65% que estão vagando aqui e acolá não caia em mãos adversárias. O candidato do campo seria o próprio Campos. E como se o Reginaldo Rossi, amigo do governador, cantasse para Lula: — Você precisa de um homem para chamar de seu, mesmo que esse homem seja eu.
‘Alô! Alô!’
No encontro ontem com a Dilma, claro que Lula analisou o mensalão. O ex-presidente está tão antenado no julgamento que, na quarta, quando os condenados fecharam o dia em 4 x 2, ligou eufórico para o Zé Dirceu.
Chame a polícia!
O “Coisa-Ruim” tomou de assalto totalmente o Ministério da Agricultura. E está “privatizando” tudo, com a ajuda de personalidades públicas aparentemente de reputação ilibada.
Sem pacu
Ontem à noite, na peixaria do Cacalo, em Cuiabá, o ministro Gilmar Mendes e o senador Pedro Taques não apostavam um lambari frito na “evolução” do Celso de Mello.
Sortudão!
Padilhão, o homem mais invejado da semana!
Hangar
No Desfile de Sete de Setembro, enquanto os mortais admiravam os aviões da Esquadrilha da Fumaça no céu, o ministro da Saúde transformou o palanque das autoridades num verdadeiro “porta-avião’
Apelo
Ao apresentar Bernard à presidente, Felipão lembrou que o craque, antes de ir para a Ucrânia, fazia a alegria do time da Dilma, o Galo. E o jogador fez o seguinte pedido à chefa da Nação: — Fala para ele não me esquecer por lá, presidente!
Niver
Gabrielzinho completou 3 anos na segunda. Passou o fim de semana em Brasília com a família toda. E fez vovó esquecer Obama, “Coisa-Ruim” e Ministério do Trabalho. Menos o “tio” Eduardo Campos.
Eles se acham
José Serra tem um encontro agendado com Aécio Neves para os próximos dias em São Paulo, mediado por Fernando Henrique Cardoso. O sigilo e a cautela que cercam o encontro dão a impressão de que os dois são chefes de duas grandes potências estrangeiras que vão resolver a paz no planeta.
Vamos conversar?
Via Antonio Anastasia, o vice-governador Pezão tem conversado muito com Aécio Neves.
Exagero
Ainda sobre Eduardo Campos: Na próxima semana, o governador de Pernambuco recebe pela quinta vez o título de cidadão de João Pessoa. Só neste ano. Depois não quer que a Dilma diga que ele está em campanha.
Campos do campo
Eduardo Campos não quer alimentar esse disse me disse. Mas eu li sua mente. O meu GPS o localizou ontem, em campanha, digo, visita, a São Luís. Não foi difícil extrair seu pensamento. Como candidata à reeleição, Campos acha que o percentual de 35% da Dilma é muito mixuruca (até usou uma expressão que os americanos usam nesses casos, que nem sei como se escreve, mas entendi). Campos acha que esse é o teto da Dilma. Daí a sua convicção de que o campo político precisa ter pelo menos mais uma opção para que a maioria dos 65% que estão vagando aqui e acolá não caia em mãos adversárias. O candidato do campo seria o próprio Campos. E como se o Reginaldo Rossi, amigo do governador, cantasse para Lula: — Você precisa de um homem para chamar de seu, mesmo que esse homem seja eu.
‘Alô! Alô!’
No encontro ontem com a Dilma, claro que Lula analisou o mensalão. O ex-presidente está tão antenado no julgamento que, na quarta, quando os condenados fecharam o dia em 4 x 2, ligou eufórico para o Zé Dirceu.
Chame a polícia!
O “Coisa-Ruim” tomou de assalto totalmente o Ministério da Agricultura. E está “privatizando” tudo, com a ajuda de personalidades públicas aparentemente de reputação ilibada.
Sem pacu
Ontem à noite, na peixaria do Cacalo, em Cuiabá, o ministro Gilmar Mendes e o senador Pedro Taques não apostavam um lambari frito na “evolução” do Celso de Mello.
Sortudão!
Padilhão, o homem mais invejado da semana!
Hangar
No Desfile de Sete de Setembro, enquanto os mortais admiravam os aviões da Esquadrilha da Fumaça no céu, o ministro da Saúde transformou o palanque das autoridades num verdadeiro “porta-avião’
Apelo
Ao apresentar Bernard à presidente, Felipão lembrou que o craque, antes de ir para a Ucrânia, fazia a alegria do time da Dilma, o Galo. E o jogador fez o seguinte pedido à chefa da Nação: — Fala para ele não me esquecer por lá, presidente!
Niver
Gabrielzinho completou 3 anos na segunda. Passou o fim de semana em Brasília com a família toda. E fez vovó esquecer Obama, “Coisa-Ruim” e Ministério do Trabalho. Menos o “tio” Eduardo Campos.
Eles se acham
José Serra tem um encontro agendado com Aécio Neves para os próximos dias em São Paulo, mediado por Fernando Henrique Cardoso. O sigilo e a cautela que cercam o encontro dão a impressão de que os dois são chefes de duas grandes potências estrangeiras que vão resolver a paz no planeta.
Vamos conversar?
Via Antonio Anastasia, o vice-governador Pezão tem conversado muito com Aécio Neves.
Exagero
Ainda sobre Eduardo Campos: Na próxima semana, o governador de Pernambuco recebe pela quinta vez o título de cidadão de João Pessoa. Só neste ano. Depois não quer que a Dilma diga que ele está em campanha.
O grande leilão - LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 14/09
O adiamento do leilão do Campo de Libra, a maior área do pré-sal, agendado para 21 de outubro, está fora de cogitação para o governo, mesmo que os esclarecimentos sobre a espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, prometidos pelo presidente Barack Obama à presidente Dilma Rousseff, não sejam satisfatórios. Como se sabe, a NSA andou bisbilhotando os negócios da Petrobras e até conversas da presidente Dilma.
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É inédito no mundo o leilão de um campo com 8 a 12 bilhões de barris conhecidos. Provavelmente, a Petrobras não participará do leilão de Libra para ampliar sua parcela no consórcio, além dos 30% que já tem direito, por estar com recursos limitados. Mesmo assim, terá que pagar bônus de R$ 4,5 bilhões (30% de R$ 15 bilhões) e investir R$ 60 bilhões (30% de R$ 200 bilhões) durante a fase de desenvolvimento do campo.
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O governo pretende embolsar, pelo menos, R$ 8 bilhões em bônus com o leilão. Apesar da polêmica sobre espionagem, não será surpresa se houver desinteresse das petroleiras norte-americana, que hoje apostam na exploração de gás em seu próprio território. Acreditam que o Campo de Libra levará 20 anos para entrar em operação, com custos imprevisíveis.
Espionagem// O Brasil e a Argentina negociam a criação de um sistema conjunto de defesa cibernética. O ministro da Defesa, Celso Amorim, debateu o tema ontem com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e os ministros argentinos da Defesa, Agustín Rossi, e das Relações Exteriores, Hector Timerman.
Ridículo
O Ministério da Defesa tem um orçamento ridículo para o Centro de Defesa da Cibernética. Apenas R$ 90 milhões
Multa/ A empresa petrolífera Chevron Brasil pagará R$ 95,16 milhões para compensar os danos ambientais causados pelos vazamentos de petróleo em uma sonda de perfuração no Campo de Frade, na Bacia de Campos (Rio de Janeiro), em novembro de 2011 e março de 2012. O valor está previsto no termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado com o Ministério Público Federal
Micou/ Não houve inscrições para a concessão da BR-262 ES/MG, leiloada ontem. O ministro dos Transportes, César Borges, disse que ainda não está definido se haverá abertura de novo prazo para atrair concorrentes.
Resistência
Os senadores Pedro Simon(PMDB-RS), Roberto Requião (PMDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSol-AP) apresentaram projeto de decreto legislativo no Senado para cancelar o leilão. "Uma riqueza dessa ordem não pode ser entregue à exploração estrangeira, em meio à suspeita de que a espionagem dos Estados Unidos possa ter favorecido as empresas norte-americanas. A Petrobras, que descobriu o Campo de Libra e arcou com os investimentos em pesquisa e tecnologia, foi prejudicada pelo edital", argumenta Simon.
Lobby
O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli lidera o lobby corporativo contra o leilão de Libra. Segundo ele, edital viola a atual Lei do Petróleo, que substituiu pelo sistema de partilha (a União é a proprietária do óleo, que o divide com o explorador privado) o antigo modelo de concessões, no qual as empresas pagam à União um valor definido em contrato para explorar o petróleo.
Quem não chora.
Em viagem à China, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, adorou a frase do ministro da Cultura daquele país, Cai Wu, há 45 anos membro do PC: "crianças que não choram não ganham doces". O ministro tem US$ 1,5 trilhão de orçamento. É um dos menores, mas, na crise atual, é o único que não sofreu cortes. Marta esteve com Cai Wu, ontem, no Mês do Brasil na China, e vai adotar a estratégia para ver se consegue mais dinheiro para a cultura.
Irmão, camarada
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim assinou ontem o manifesto de apoio ao deputado federal José Genoino (PT-SP), condenado a 6 anos e 11 meses de prisão no processo do mensalão. Ex-presidente do PT, Genoino foi colega de Jobim no Congresso e seu assessor especial no Ministério da Defesa. O jurista considera Genoino uma espécie de gaiato no navio do escândalo do mensalão.
O osso
A cúpula do PDT está em pânico: a faxina no Ministério do Trabalho não acabou. As investigações da Polícia Federal na pasta prosseguem. O ministro, Manoel Dias, ainda está prestigiado pela presidente Dilma Rousseff, mas Carlos Lupi, presidente do PDT, já aceita a ideia de largar o osso.
Otimismo no agronegócio - CELSO MING
O ESTADÃO - 14/09
Começa na próxima semana o plantio da soja para a safra 2013/14 nas principais áreas de cultivo do Brasil.
A produção do período 2012/13 foi recorde. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta um resultado de 187,1 milhões de toneladas de grãos e área plantada de 53,3 milhões de hectares. As projeções para o plantio que começa agora são ainda mais exuberantes.
A consultoria Agroconsult estima a produção de 192,5 milhões de toneladas de grãos (2,9% a mais em relação aos resultados da Conab para 2012/13) e 54,5 milhões de hectares de área plantada. "Temos um ciclo positivo de oito safras seguidas e, novamente, a produção dos Estados Unidos não será boa", resume Fábio Meneghin, analista da Agroconsult.
Ao contrário do plantio iniciado com tempo seco, como ocorreu em 2012/13, há previsão de chuvas nas regiões de cultivo. Espera-se redução da semeadura de milho. Com a superprodução de 2012/13, o produto perdeu rentabilidade em relação à soja. A consultoria Safras & Mercado prevê queda de 13% na área do milho e avanço de 4% a 8% na de soja. Juntas, as duas culturas respondem por 85% do volume de grãos produzidos no Brasil.
Apesar da redução das cotações das commodities agrícolas em dólares, a desvalorização do real (alta da moeda estrangeira em reais), de 5,9% nos últimos três meses, favorece os produtores. "Os preços em reais deste ano tendem a ser iguais ou superiores aos de 2013", diz o economista Lucílio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Na quinta-feira, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) reduziu em 3% a estimativa de produção norte-americana de soja em 2013/14, para 85,7 milhões de toneladas, o que aponta para boa demanda.
O bom momento do agronegócio brasileiro se reflete também na forte procura de insumos, máquinas e implementos. "Enquanto outros setores da indústria estão chorando, estamos num período de ouro", diz Gilberto Zancopé, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). De janeiro a julho deste ano, o setor registrou faturamento de R$ 12,3 bilhões, com expansão de 16,3% ante igual período de 2012.
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) também mostrou avanço de 5,5% entre janeiro e julho deste ano em relação a 2012, com 15 milhões de toneladas de fertilizantes entregues ao consumidor final. As projeções apontam novo recorde histórico neste ano: entrega de até 30,5 milhões de toneladas de fertilizantes. "O forte ritmo das vendas de insumos e máquinas mostra o aumento do padrão tecnológico e da produtividade do setor", observa Luiz Carlos Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
O otimismo do agronegócio tromba na desastrosa situação da infraestrutura. Após a alta de mais de 30% nos custos de frete na safra 2012/13, reajustes no preço do diesel e da mão de obra previstos para este ano devem encarecer mais uma vez a conta e espalhar insegurança na negociação dos contratos futuros.
Começa na próxima semana o plantio da soja para a safra 2013/14 nas principais áreas de cultivo do Brasil.
A produção do período 2012/13 foi recorde. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta um resultado de 187,1 milhões de toneladas de grãos e área plantada de 53,3 milhões de hectares. As projeções para o plantio que começa agora são ainda mais exuberantes.
A consultoria Agroconsult estima a produção de 192,5 milhões de toneladas de grãos (2,9% a mais em relação aos resultados da Conab para 2012/13) e 54,5 milhões de hectares de área plantada. "Temos um ciclo positivo de oito safras seguidas e, novamente, a produção dos Estados Unidos não será boa", resume Fábio Meneghin, analista da Agroconsult.
Ao contrário do plantio iniciado com tempo seco, como ocorreu em 2012/13, há previsão de chuvas nas regiões de cultivo. Espera-se redução da semeadura de milho. Com a superprodução de 2012/13, o produto perdeu rentabilidade em relação à soja. A consultoria Safras & Mercado prevê queda de 13% na área do milho e avanço de 4% a 8% na de soja. Juntas, as duas culturas respondem por 85% do volume de grãos produzidos no Brasil.
Apesar da redução das cotações das commodities agrícolas em dólares, a desvalorização do real (alta da moeda estrangeira em reais), de 5,9% nos últimos três meses, favorece os produtores. "Os preços em reais deste ano tendem a ser iguais ou superiores aos de 2013", diz o economista Lucílio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Na quinta-feira, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) reduziu em 3% a estimativa de produção norte-americana de soja em 2013/14, para 85,7 milhões de toneladas, o que aponta para boa demanda.
O bom momento do agronegócio brasileiro se reflete também na forte procura de insumos, máquinas e implementos. "Enquanto outros setores da indústria estão chorando, estamos num período de ouro", diz Gilberto Zancopé, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). De janeiro a julho deste ano, o setor registrou faturamento de R$ 12,3 bilhões, com expansão de 16,3% ante igual período de 2012.
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) também mostrou avanço de 5,5% entre janeiro e julho deste ano em relação a 2012, com 15 milhões de toneladas de fertilizantes entregues ao consumidor final. As projeções apontam novo recorde histórico neste ano: entrega de até 30,5 milhões de toneladas de fertilizantes. "O forte ritmo das vendas de insumos e máquinas mostra o aumento do padrão tecnológico e da produtividade do setor", observa Luiz Carlos Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
O otimismo do agronegócio tromba na desastrosa situação da infraestrutura. Após a alta de mais de 30% nos custos de frete na safra 2012/13, reajustes no preço do diesel e da mão de obra previstos para este ano devem encarecer mais uma vez a conta e espalhar insegurança na negociação dos contratos futuros.
País de desiguais - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 14/09
Os tempos da Justiça são tão dilatados que em abril eu escrevi, neste espaço, que o país estaria, no julgamento da aceitação dos embargos infringentes, diante do risco de um fim melancólico do processo do mensalão. E esse é o momento em que estamos agora, cinco meses depois. Os réus já estavam condenados, mas o perigo vinha das infinitas possibilidades de protelação.
O caso do mensalão é exemplar não por punir dirigentes icônicos do PT ou por revelar um esquema financeiro que sequestrou o interesse público e o colocou a serviço de um grupo político. O que o tornou emblemático foi o processo. O Ministério Público passou por duas direções mantendo com firmeza o propósito de denunciar e defender a condenação dos réus. O devido processo legal deu a todos o amplo direito de defesa, mas eles foram condenados por um tribunal em que a maioria dos ministros foi escolhida por presidentes do grupo atingido.
Pela primeira vez o Brasil quebrava a tradição de ser um país de fidalgos, no qual a lei pesa sobre os sem nome e é carinhosa ou displicente com os poderosos. A importância da Ação Penal 470 vai além dela. O país tem avançado. Construiu alianças, que uniram até contrários na cena política, para voltar à democracia, estabilizar a economia e iniciar o processo de inclusão social. Mas permanece sendo um país no qual a mão da Justiça treme na hora de punir os crimes de quem tem poder.
O descaminho no qual o Supremo Tribunal Federal está parece banal para o senso comum. Um artigo de um regime interno obsoleto não pode se sobrepor a uma lei. É uma inversão da hierarquia do Direito. A Lei 8.038 não previu os embargos infringentes, mas eles penduram-se como um galho arcaico no regimento.
Os réus já estão condenados a penas de prisão em regime fechado ou aberto, mas o tempo e a forma de lidar com todas as intermináveis firulas legais ou regimentais determinarão se o país quebrou ou não o princípio de que é uma república orwelliana em que alguns são mais iguais que os outros.
Garantir todos os direitos dos condenados e protegê-los com o devido processo legal é o correto; cair nas armadilhas da protelação infinita é aprisionar a Justiça. Os réus têm direitos, mas a sociedade também os tem. O da sociedade é o que os juristas chamam de efetividade da tutela penal : a certeza de que os que cometem crimes serão punidos.
Houve de lado a lado vários bons argumentos apresentados e houve sofismas. Na linha dos sofismas está a ideia de que os que votam contra esse artifício da defesa estão jogando para a plateia. Na linha do simples e inegável está a tese de que é desigual um sistema que estabelece tratamento diferente para dois condenados julgados por tribunais superiores. Quem é julgado pelo STJ não tem direito a esse recurso; quem responde ao STF terá esse direito, no caso de ele ser aceito.
Agora, só resta um ministro a votar. Ele não deve julgar usando o sentimento resumido na frase todos estamos fartos desse processo . Deverá decidir pelo que ele considerar justo. É uma questão processual a que está sendo debatida, mas ela é o ponto em que o país confirma se quebra o privilégio da fidalguia ou se o mantém. Seja qual for o argumento, julgar novamente a coisa julgada será a forma de reduzir penas ou extingui-las. A Justiça sabe que o tempo trabalha a favor da impunidade e por isso existe o princípio da prescrição. O que se decide é se a Ação 470 será um marco para novo avanço institucional ou se será a confirmação do defeito que nos fez até hoje ser um país de desiguais perante a lei.
O caso do mensalão é exemplar não por punir dirigentes icônicos do PT ou por revelar um esquema financeiro que sequestrou o interesse público e o colocou a serviço de um grupo político. O que o tornou emblemático foi o processo. O Ministério Público passou por duas direções mantendo com firmeza o propósito de denunciar e defender a condenação dos réus. O devido processo legal deu a todos o amplo direito de defesa, mas eles foram condenados por um tribunal em que a maioria dos ministros foi escolhida por presidentes do grupo atingido.
Pela primeira vez o Brasil quebrava a tradição de ser um país de fidalgos, no qual a lei pesa sobre os sem nome e é carinhosa ou displicente com os poderosos. A importância da Ação Penal 470 vai além dela. O país tem avançado. Construiu alianças, que uniram até contrários na cena política, para voltar à democracia, estabilizar a economia e iniciar o processo de inclusão social. Mas permanece sendo um país no qual a mão da Justiça treme na hora de punir os crimes de quem tem poder.
O descaminho no qual o Supremo Tribunal Federal está parece banal para o senso comum. Um artigo de um regime interno obsoleto não pode se sobrepor a uma lei. É uma inversão da hierarquia do Direito. A Lei 8.038 não previu os embargos infringentes, mas eles penduram-se como um galho arcaico no regimento.
Os réus já estão condenados a penas de prisão em regime fechado ou aberto, mas o tempo e a forma de lidar com todas as intermináveis firulas legais ou regimentais determinarão se o país quebrou ou não o princípio de que é uma república orwelliana em que alguns são mais iguais que os outros.
Garantir todos os direitos dos condenados e protegê-los com o devido processo legal é o correto; cair nas armadilhas da protelação infinita é aprisionar a Justiça. Os réus têm direitos, mas a sociedade também os tem. O da sociedade é o que os juristas chamam de efetividade da tutela penal : a certeza de que os que cometem crimes serão punidos.
Houve de lado a lado vários bons argumentos apresentados e houve sofismas. Na linha dos sofismas está a ideia de que os que votam contra esse artifício da defesa estão jogando para a plateia. Na linha do simples e inegável está a tese de que é desigual um sistema que estabelece tratamento diferente para dois condenados julgados por tribunais superiores. Quem é julgado pelo STJ não tem direito a esse recurso; quem responde ao STF terá esse direito, no caso de ele ser aceito.
Agora, só resta um ministro a votar. Ele não deve julgar usando o sentimento resumido na frase todos estamos fartos desse processo . Deverá decidir pelo que ele considerar justo. É uma questão processual a que está sendo debatida, mas ela é o ponto em que o país confirma se quebra o privilégio da fidalguia ou se o mantém. Seja qual for o argumento, julgar novamente a coisa julgada será a forma de reduzir penas ou extingui-las. A Justiça sabe que o tempo trabalha a favor da impunidade e por isso existe o princípio da prescrição. O que se decide é se a Ação 470 será um marco para novo avanço institucional ou se será a confirmação do defeito que nos fez até hoje ser um país de desiguais perante a lei.
O consumo vai bem, mas o investimento vai mal - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 14/09
O governo pode festejar o consumo de julho, mas o crescimento econômico neste ano, e principalmente nos próximos, vai depender mesmo da indústria, o patinho feio da economia nacional. Os últimos números do varejo surpreenderam o mercado financeiro, foram celebrados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e forçaram os analistas quebrar a cabeça. Como explicar o aumente das compras, num ambiente, segundo as sondagens, de muito pessimismo e insegurança crescente? Várias respostas parciais foram propostas e todas contêm, provavelmente, alguma verdade: o recrudescimento do frio, os novos financiamentos de móveis e utensílios para casa, o adiamento de compras em junho, primeiro mês das passeatas, o recuo da inflação e a boa oferta de crédito pessoal. Economistas mais entusiasmados admitiram rever as estimativas do produto interno bruto (PIB) do terceiro trimestre. Mas a pergunta permanece: a produção industrial crescerá o suficiente, na segunda metade do ano, para sustentar um resultado geral bem melhor que o estimado até há pouco tempo?
Na sexta-feira, um dia, depois da celebração do consumo de julho, saiu o índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br): houve queda de 0,33% em relação a junho, descontadas as variações sazonais. O indicador praticamente voltou ao nível de março e ficou 2,6% acima do estimado para julho de 2012. Em 12 meses o crescimento sobre o período anterior chegou a 2,3%. Considerado uma prévia do PIB, o IBC-Br continua apontando uma recuperação lenta e oscilante, explicável principalmente pela trajetória da indústria.
Em julho, a produção do setor foi 2% menor que a de junho e 2% maior que a de um ano antes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento acumulado em 12 meses ficou em apenas 0,6%. Além disso, o emprego industrial diminuiu 0,2% de junho para julho, de acordo com o IBGE.
O levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), restrito ao setor de transformação, apontou um aumento de 0,3% no emprego. Os primeiros dados de agosto surgiram já na quinta-feira, quando a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) anunciou a redução de 0,3% no contingente empregado. O terceiro trimestre é normalmente um período de contratações, por causa do consumo do fim de ano, mas 2013, pelos números conhecidos até agora, está fora desse padrão.
A balança comercial combina com esse quadro. De janeiro até a primeira semana de setembro a receita de exportações, US$ 161,4 bilhões, foi 1,6% menor que a de um ano antes, enquanto o valor das importações, US$ 164,9 bilhões, foi 9,9% maior que o de igual período de 2012. Parte substancial da demanda interna vem sendo suprida com mercadorias estrangeiras - tanto matérias-primas quanto bens intermediários e produtos finais. A participação dos importados no consumo nacional de produtos industriais chegou a 21,1% no segundo trimestre, conforme a CNI, 0,1 ponto mais que um ano antes. A fatia dos importados já cresceu por 13 trimestres consecutivos, mesmo sem maior abertura do mercado e até com algum aumento de barreiras nos últimos anos.
Só por teimosia se pode continuar apontando o câmbio como o único ou o mais importante problema da indústria. Tem alguma relevância, inegavelmente, mas a maior parte dos obstáculos é de outra natureza. Entre 2000 e 2009,a produtividade do trabalho na agropecuária cresceu em média 3,8% ao ano, enquanto a da indústria de transformação diminuiu à taxa anual de 0,8%, de acordo com estudo recente dos economistas Fernanda de Negri e Luiz Ricardo Cavalcante, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Quando se considera o conjunto da economia, podem-se dividir as últimas duas décadas em duas fases bem distintas. Entre 1992 e 2001, as curvas de aumento da produtividade do trabalho e do PIB per capita praticamente coincidem. Na fase seguinte, a maior parte do crescimento do PIB per capita passou a depender da incorporação de trabalhadores.
Dadas as perspectivas do mercado de trabalho, a expansão econômica dependerá, nos próximos anos, de novos ganhos de produtividade, muito mais que da oferta de mão de obra, Isso será muito importante para a indústria de transformação e, naturalmente, para o comércio exterior e para a segurança das contas externas, em clara deterioração.
Ganhos de produtividade, para a indústria e para o conjunto da economia, dependem de vários fatores, como educação, formação de mão de obra e investimentos em capital fixo, como equipamentos, máquinas, instalações fabris e construções de infraestrutura. Entre os industriais, a intenção de investir diminuiu nos últimos meses, segundo pesquisa divulgada nesta semana pela Fundação Getúlio Vargas.
Em abril-maio, 45% das empresas consultadas informaram haver investido mais que nos 12 meses anteriores e 25% indicaram diminuição. Em julho-agosto, 36% reportaram investimentos maiores que no ano anterior e 25%, menores. Em relação aos 12 meses seguinte os sinais também pioraram. A parcela com planos de investir mais diminuiu de 51% para 34%.
Na área da logística, a evolução dependerá da competência do governo no planejamento e na condução das licitações, nas formas de mobilização do capital privado e na execução dos projetos financiados só pelo setor público. Cada um pode fazer suas apostas, de acordo com seu grau de confiança. O retrospecto é pouco entusiasmante, mas o governo tem-se mostrado pouco propenso à autocrítica e à busca de maior eficiência na formulação e na condução de políticas.