FOLHA DE SP - 09/09
A modernidade é bipolar. Quando acorda bem, é iluminista, quando acorda mal, é romântica
O mundo, às vezes, pode parecer um lugar assustador. Um lugar onde não conseguimos ver espaço para nossa vida. A alma, então, fica ofegante, sem ar, buscando um lugar onde o horror não seja a regra.
Esse lugar pode ser um mundo invisível, o passado, um paraíso, a pessoa desejada, ou, o que às vezes é a mesma coisa, um outro inferno, como o mundo, ainda que feito da substância dos pesadelos. Quando esse terreno encontra gênios literários, o horror pode virar beleza.
A descrição acima está muito próxima do que o filósofo judeu britânico Isaiah Berlin (século 20) pensava da Alemanha (ainda que neste momento a Alemanha não existisse como unidade política) dos séculos 17 e 18, devido as terríveis guerras religiosas entre católicos e protestantes, "a Guerra dos 30 Anos".
O resultado foi uma Alemanha devastada e reduzida à "Idade Média". Enquanto França e Inglaterra nadavam de braçada em direção à modernização burguesa industrial, os alemães se afogavam no ressentimento e na melancolia. Nascia o romantismo. Essa Alemanha foi seu o berço.
A historiografia marxista costuma dizer (com razão) que o romantismo é a primeira grande ressaca da Europa com a modernização burguesa. A tese de Berlin não nega este fato, mas ilumina elementos sutis com relação aos afetos românticos.
A modernidade é bipolar. Quando acorda bem, é iluminista, científica e progressista, assim como nós quando acordamos acreditando em nossa capacidade de produzir o sucesso material em nossas vidas.
Mas quando ela acorda mal, é romântica, ciente da hostilidade do mundo e em dúvida com relação à capacidade de sua grande criação, o iluminismo racionalista e técnico-científico. Assim como nós quando acordamos em meio a madrugada sentindo a solidão de quem investiu a vida em dinheiro, profissão e sucesso material às custas dos vínculos afetivos pouco eficazes.
Mas, se o romantismo é mal-estar com o mundo burguês, ele é também fruto do mesmo mundo burguês e sua esperança na capacidade do indivíduo criar sua própria vida e sonhar com um futuro que seja autêntico e livre de convenções limitantes. O romantismo é antes de tudo uma afetividade angustiada com um mundo que nega aos homens e mulheres sua espontaneidade. Uma espontaneidade recém-adquirida graças à liberdade moderna.
Em março e abril de 1965, Berlin deu um série de conferências na National Gallery of Art em Washington, EUA, como parte do programa conhecido como The A. W. Mellon Lectures in the Fine Arts. Estas conferências foram publicadas em 2001 com o título "The Roots of Romanticism", Princeton University Press, organizadas pelo editor da obra de Berlin, Henry Hardy. São quatro conferências imperdíveis tanto para os interessados no romantismo quanto para os interessados no pensamento do próprio Berlin.
O romantismo é um grande ataque ao iluminismo e sua fé na eficácia e na ciência da razão. Por isso, na segunda das conferências, Berlin identifica no pietismo alemão do século 17 a grande matriz romântica e não nos delírios das caminhadas do solitário Rousseau. Os pietistas eram de classe média baixa, homens de letras, que liam a mística alemã medieval, principalmente autores como o místico do século 14 Meister Eckhart.
Os petistas viam o mundo como um lugar tomado pelos horrores do mal e por isso fugiam para o campo, viviam em silêncio, estudavam, e por isso mesmo tinham uma vida interior de enorme força e violência. A vida como drama, e não como "uma agenda" (como viam os iluministas).
Em especial, o teólogo e poeta piestista J.G. Hamann (1730-1788), amigo pessoal de Immanuel Kant, lerá o conceito de "Abgrund" ekhartiano, entendido pelo medieval como "abismo sem fundo" de uma alma que se descobre feita da matéria de Deus, como sendo a realidade de uma alma obscura e misteriosa que não cabe na razão, mas que é presa num mundo que não é sua casa. O exílio no mundo é a marca deste "mago do Norte", como ficou conhecido.
O romantismo nos legou esse sentimento sem cura de que criamos um mundo no qual não nos reconhecemos.
segunda-feira, setembro 09, 2013
Homem de Marte - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 09/09
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal. Beatriz, estudante carioca de 21 anos, é uma dos 100 mil inscritos no projeto da empresa holan- desa Mars One, que se propõe a selecionar 40 pessoas e, destas, despachar quatro para Marte em abril de 2023. Não para tomar sol e flanar pelos canais, mas para morar --o bilhete é só de ida-- e contribuir para criar uma colônia humana no nosso vizinho.
Vizinho, em termos. Marte fica a quase 60 milhões de quilômetros --sua menor distância da Terra-- e a viagem tomará sete meses. Nem a volta do trabalho para casa em São Paulo leva tanto tempo. Para isso, os candidatos a colonos-astronautas terão de suportar oito anos de treinamento, passar por centenas de simulações de voo e pouso e se habituar à miserável dieta que terão de praticar por lá. Diante disso, muitos dos selecionados cairão pelo caminho. Beatriz espera chegar às finais --foi até escolhida para estrelar um documentário promocional sobre a viagem.
Mas temo que essa empreitada exija um tipo diferente de pessoa --alguém que já tenha um razoável histórico de resiliência e dê provas diárias de que suporta agruras, revezes e privações sem perder a pose. Alguém que, certo de suas convicções, enfrente a fúria dos elementos em defesa delas. Enfim, alguém sobre quem não reste a menor dúvida.
O pastor Marcos Pereira, por exemplo. Com seu visual de vilão do cinema mudo --a que não faltam as olheiras de rolha queimada-- e acusado de estupro de fiéis, envolvimento com o tráfico, lavagem de dinheiro, participação em homicídio e arrotar sem motivo justo, ele está certo de que um "homem de branco" descerá das nuvens e o libertará dos aposentos de onde está vendo o sol nascer quadrado. "A cadeia não tem como me segurar", diz.
É de homens como ele que Marte precisa.
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal. Beatriz, estudante carioca de 21 anos, é uma dos 100 mil inscritos no projeto da empresa holan- desa Mars One, que se propõe a selecionar 40 pessoas e, destas, despachar quatro para Marte em abril de 2023. Não para tomar sol e flanar pelos canais, mas para morar --o bilhete é só de ida-- e contribuir para criar uma colônia humana no nosso vizinho.
Vizinho, em termos. Marte fica a quase 60 milhões de quilômetros --sua menor distância da Terra-- e a viagem tomará sete meses. Nem a volta do trabalho para casa em São Paulo leva tanto tempo. Para isso, os candidatos a colonos-astronautas terão de suportar oito anos de treinamento, passar por centenas de simulações de voo e pouso e se habituar à miserável dieta que terão de praticar por lá. Diante disso, muitos dos selecionados cairão pelo caminho. Beatriz espera chegar às finais --foi até escolhida para estrelar um documentário promocional sobre a viagem.
Mas temo que essa empreitada exija um tipo diferente de pessoa --alguém que já tenha um razoável histórico de resiliência e dê provas diárias de que suporta agruras, revezes e privações sem perder a pose. Alguém que, certo de suas convicções, enfrente a fúria dos elementos em defesa delas. Enfim, alguém sobre quem não reste a menor dúvida.
O pastor Marcos Pereira, por exemplo. Com seu visual de vilão do cinema mudo --a que não faltam as olheiras de rolha queimada-- e acusado de estupro de fiéis, envolvimento com o tráfico, lavagem de dinheiro, participação em homicídio e arrotar sem motivo justo, ele está certo de que um "homem de branco" descerá das nuvens e o libertará dos aposentos de onde está vendo o sol nascer quadrado. "A cadeia não tem como me segurar", diz.
É de homens como ele que Marte precisa.
Gene e ética - FRIEDMANN WENDPAP
GAZETA DO POVO - PR - 09/09
As discussões sobre genética humana ocorrem em voz baixa porque o horror da eugenia nazista criou tabus que inibem a liberdade de pensamento e indagação. Por isso, melhor articular ideias a partir da afirmação de que Hitler & Cia tinham muita ideologia e pouca ciência, tanto que investiam em redução da diversidade de genes – purificação – algo que enfraquece, como sabe qualquer um que tenha cão de raça. Os vira-latas – miscigenação total – são mais resilientes e longevos que os puros.
O pensamento único das ditaduras totalitárias tende a alcançar todos os aspectos da vida, inclusive a reprodução, elegendo modelos de perfeição que não cedem passo diante dos fatos, a exemplo das vitórias de Jesse Owens – um homem de pele escura – na Olimpíada de Berlim em 1936. Para fanáticos, os fatos estão errados, não a tese ideológica que adotaram.
A sombra do passado criou assimetria entre a habilidade de manipulação genética atual e a escassez de ideias sobre o certo e errado. Vez ou outra a literatura faz incursões no assunto, mostrando pessoas se comportando como admirável gado novo, clones se rebelando contra a matriz, androides biológicos desejando viver como humanos não fabricados. O que era ficção se torna realidade: menina ou menino? A barriga alta, baixa, a lua da concepção, o modo como se mexe, o augúrio da vovó eram os indícios para a decisão de decoração do quarto do bebê. Agora, por quantia módica, se pode escolher o sexo antes da concepção.
Objeta-se dizendo que escolher o sexo do nascituro é intervenção leve porque, homem ou mulher, terá patrimônio genético resultante da álea dos gametas. Contudo, forte ou branda, pode mudar o padrão de nascerem mais machos do que fêmeas, pois a natureza sabe que Marte morre mais que Vênus. Se milhões escolherem o sexo do filho, fatores culturais como moda e religião, podem alterar profundamente as condições de vida no futuro. Índia e China já sentem o desarranjo social provocado pela carência de mulheres.
Até 1960, ano da pílula, relações sexuais e concepção eram inseparáveis. Hoje, a gravidez decorrente de atividade sexual lúdica conota ignorância, descuido ante a imensa responsabilidade de criar um filho. Aquilo que era desígnio divino, agora é decisão humana comum, rotineira, sobre a qual nem se levantam dúvidas éticas agudas. Anticoncepção difere da engenharia genética, mas também interfere na natureza.
Michael Sandel, filósofo de Harvard, discute aspectos éticos da engenharia genética no opúsculo Contra a Perfeição e chama atenção para o incremento da carga decisória que nossos genitores sequer imaginaram. Ressalta que há liberdade de fazer testes genéticos pré-concepcionais, ou logo após a concepção, e de agir ou não em relação ao diagnóstico, mas a opção feita aprisiona perpetuamente.
Na história humana ninguém se viu diante de informações seguras sobre o genoma de futuro descendente e teve poder de decidir pela existência ou não daquela pessoa antes da concepção. É um momento difícil do ponto de vista individual e de grandes implicações coletivas, porém, não há ideias firmes para orientação sobre o bem e o mal.
É preciso dialogar para construir as referências éticas, sem temor de heresia ou de patrulha ideológica.
As discussões sobre genética humana ocorrem em voz baixa porque o horror da eugenia nazista criou tabus que inibem a liberdade de pensamento e indagação. Por isso, melhor articular ideias a partir da afirmação de que Hitler & Cia tinham muita ideologia e pouca ciência, tanto que investiam em redução da diversidade de genes – purificação – algo que enfraquece, como sabe qualquer um que tenha cão de raça. Os vira-latas – miscigenação total – são mais resilientes e longevos que os puros.
O pensamento único das ditaduras totalitárias tende a alcançar todos os aspectos da vida, inclusive a reprodução, elegendo modelos de perfeição que não cedem passo diante dos fatos, a exemplo das vitórias de Jesse Owens – um homem de pele escura – na Olimpíada de Berlim em 1936. Para fanáticos, os fatos estão errados, não a tese ideológica que adotaram.
A sombra do passado criou assimetria entre a habilidade de manipulação genética atual e a escassez de ideias sobre o certo e errado. Vez ou outra a literatura faz incursões no assunto, mostrando pessoas se comportando como admirável gado novo, clones se rebelando contra a matriz, androides biológicos desejando viver como humanos não fabricados. O que era ficção se torna realidade: menina ou menino? A barriga alta, baixa, a lua da concepção, o modo como se mexe, o augúrio da vovó eram os indícios para a decisão de decoração do quarto do bebê. Agora, por quantia módica, se pode escolher o sexo antes da concepção.
Objeta-se dizendo que escolher o sexo do nascituro é intervenção leve porque, homem ou mulher, terá patrimônio genético resultante da álea dos gametas. Contudo, forte ou branda, pode mudar o padrão de nascerem mais machos do que fêmeas, pois a natureza sabe que Marte morre mais que Vênus. Se milhões escolherem o sexo do filho, fatores culturais como moda e religião, podem alterar profundamente as condições de vida no futuro. Índia e China já sentem o desarranjo social provocado pela carência de mulheres.
Até 1960, ano da pílula, relações sexuais e concepção eram inseparáveis. Hoje, a gravidez decorrente de atividade sexual lúdica conota ignorância, descuido ante a imensa responsabilidade de criar um filho. Aquilo que era desígnio divino, agora é decisão humana comum, rotineira, sobre a qual nem se levantam dúvidas éticas agudas. Anticoncepção difere da engenharia genética, mas também interfere na natureza.
Michael Sandel, filósofo de Harvard, discute aspectos éticos da engenharia genética no opúsculo Contra a Perfeição e chama atenção para o incremento da carga decisória que nossos genitores sequer imaginaram. Ressalta que há liberdade de fazer testes genéticos pré-concepcionais, ou logo após a concepção, e de agir ou não em relação ao diagnóstico, mas a opção feita aprisiona perpetuamente.
Na história humana ninguém se viu diante de informações seguras sobre o genoma de futuro descendente e teve poder de decidir pela existência ou não daquela pessoa antes da concepção. É um momento difícil do ponto de vista individual e de grandes implicações coletivas, porém, não há ideias firmes para orientação sobre o bem e o mal.
É preciso dialogar para construir as referências éticas, sem temor de heresia ou de patrulha ideológica.
Gois na Bienal I - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 09/09
Ruy Castro, após ler, sábado, na Bienal, manifesto dos intelectuais pela liberdade das biografias, foi procurado por escritores estrangeiros que não conseguiam entender o objeto da discussão.
“Em seus países — diz Castro — não passa pela cabeça de ninguém exigir que as biografias tenham de ser autorizadas pelo biografado ou por seus herdeiros.”
Gois na Bienal II
Mas Marta Suplicy, que já recebeu Roberto Carlos, que censurou uma biografia sua, confessa ficar dividida:
— Ainda não formei uma opinião.
Aliás, a ministra foi procurada por dois jornalistas paulistas querendo escrever sua biografia.
Gois na Bienal III
Genésio Ferreira da Silva, cujo testemunho, aos 14 anos, foi fundamental para a condenação dos assassinos de Chico Mendes a 19 anos de prisão — Darli Alves da Silva como mandante, e o filho, Darci, como executor — acaba de contar sua dramática história no livro “A saga de uma testemunha”, que inaugura a editora do Instituto Vladimir Herzog, de SP, nos 25 anos do assassinato do líder seringueiro. Genésio hoje vive no interior do Acre.
Gois na Bienal IV
A Editora Iluminuras vai publicar em meados de 2014 o primeiro livro de poesia da Adriana Lisboa.
Vai se chamar “Parte da Paisagem”.
Gois na Bienal V
A Biblioteca Nacional, pela primeira vez em anos, não teve um estande na Bienal do Livro.
Calma, gente
Frase postada na página do Ninja no Facebook: “Se a bomba é de efeito moral, joga no Congresso Nacional.” Pra Copa, você também Dilma aproveitou esta reunião do G20, em São Petersburgo, na Rússia, para convidar os chefes de Estado para a Copa do Mundo no Brasil, ano que vem. Pelo menos dez líderes mundiais gostaram da ideia.
O recorde é nosso
Tóquio ganhou de Istambul por 24 votos de diferença para sediar as Olimpíadas de 2020.
O Rio continua com o recorde. Ganhamos por 40 votos de Madri para sediar os jogos de 2016.
Aliás
Com a Espanha em crise, teve membro do COI desistindo de votar em Madri, temendo revoltas nas ruas, a exemplo do que ocorreu no Brasil na Copa das Confederações.
Esta é a terceira candidatura frustrada seguida da capital espanhola.
Nem tudo está perdido
A Bienal do Livro Rio recebeu público de 660 mil pessoas ou 9 maracanãs lotados.
Casa do Cabral
Embora os manifestantes tenham na véspera, por conta própria, deixado o acampamento próximo à casa de Sérgio Cabral, o juiz João Felipe Varella Ribeiro, da 4ª Vara de Fazenda Pública, manteve a audiência pública, sexta, para analisar o pedido de retirada da turma do meio da rua, feito pela Associação de Moradores e Amigos do Leblon.
O juiz determinou que a prefeitura impeça qualquer nova tentativa de acampamento na via pública, “sob pena de sofrer as sanções”.
Dilma monitorada
A ABI, o Sindicado dos Jornalistas, o Instituto Mais Democracia e o Grupo Tortura Nunca Mais promovem, sexta, dia 20, no Rio, um ato de homenagem a um grupo de sete personalidades estrangeiras que lutaram pelo direito à informação, entre eles o americano Edward Snowden, que revelou o monitoramento dos EUA contra líderes de diversos países, entre eles, Dilma.
Na lista estão também o jornalista Glenn Greenwald, o americano que revelou estes documentos, e o israelense Mordechai Vanunu, que vazou informações sobre o programa nuclear de Israel.
H&M no Brasil
A novela da vinda da sueca H&M prossegue. Agora a maior rede de vestuário do mundo negocia com a Multiplan, leia José Isaac Peres.
A ideia é desembarcar no Brasil em 2014, no Morumbi Shopping, em São Paulo, e no Barra Shopping, no Rio.
A conferir.
Propaganda enganosa
Cristina Ortiz, grande pianista brasileira, ficou indignada com a revista “Concerto”, que se referiu a ela como professora de um pianista que se apresenta na Casa de Rui Barbosa, no Rio, quarta-feira, agora.
Segundo Cristina, a estrela do recital, o pianista espanhol Eduardo Frias, nunca foi seu aluno.
“Em seus países — diz Castro — não passa pela cabeça de ninguém exigir que as biografias tenham de ser autorizadas pelo biografado ou por seus herdeiros.”
Gois na Bienal II
Mas Marta Suplicy, que já recebeu Roberto Carlos, que censurou uma biografia sua, confessa ficar dividida:
— Ainda não formei uma opinião.
Aliás, a ministra foi procurada por dois jornalistas paulistas querendo escrever sua biografia.
Gois na Bienal III
Genésio Ferreira da Silva, cujo testemunho, aos 14 anos, foi fundamental para a condenação dos assassinos de Chico Mendes a 19 anos de prisão — Darli Alves da Silva como mandante, e o filho, Darci, como executor — acaba de contar sua dramática história no livro “A saga de uma testemunha”, que inaugura a editora do Instituto Vladimir Herzog, de SP, nos 25 anos do assassinato do líder seringueiro. Genésio hoje vive no interior do Acre.
Gois na Bienal IV
A Editora Iluminuras vai publicar em meados de 2014 o primeiro livro de poesia da Adriana Lisboa.
Vai se chamar “Parte da Paisagem”.
Gois na Bienal V
A Biblioteca Nacional, pela primeira vez em anos, não teve um estande na Bienal do Livro.
Calma, gente
Frase postada na página do Ninja no Facebook: “Se a bomba é de efeito moral, joga no Congresso Nacional.” Pra Copa, você também Dilma aproveitou esta reunião do G20, em São Petersburgo, na Rússia, para convidar os chefes de Estado para a Copa do Mundo no Brasil, ano que vem. Pelo menos dez líderes mundiais gostaram da ideia.
O recorde é nosso
Tóquio ganhou de Istambul por 24 votos de diferença para sediar as Olimpíadas de 2020.
O Rio continua com o recorde. Ganhamos por 40 votos de Madri para sediar os jogos de 2016.
Aliás
Com a Espanha em crise, teve membro do COI desistindo de votar em Madri, temendo revoltas nas ruas, a exemplo do que ocorreu no Brasil na Copa das Confederações.
Esta é a terceira candidatura frustrada seguida da capital espanhola.
Nem tudo está perdido
A Bienal do Livro Rio recebeu público de 660 mil pessoas ou 9 maracanãs lotados.
Casa do Cabral
Embora os manifestantes tenham na véspera, por conta própria, deixado o acampamento próximo à casa de Sérgio Cabral, o juiz João Felipe Varella Ribeiro, da 4ª Vara de Fazenda Pública, manteve a audiência pública, sexta, para analisar o pedido de retirada da turma do meio da rua, feito pela Associação de Moradores e Amigos do Leblon.
O juiz determinou que a prefeitura impeça qualquer nova tentativa de acampamento na via pública, “sob pena de sofrer as sanções”.
Dilma monitorada
A ABI, o Sindicado dos Jornalistas, o Instituto Mais Democracia e o Grupo Tortura Nunca Mais promovem, sexta, dia 20, no Rio, um ato de homenagem a um grupo de sete personalidades estrangeiras que lutaram pelo direito à informação, entre eles o americano Edward Snowden, que revelou o monitoramento dos EUA contra líderes de diversos países, entre eles, Dilma.
Na lista estão também o jornalista Glenn Greenwald, o americano que revelou estes documentos, e o israelense Mordechai Vanunu, que vazou informações sobre o programa nuclear de Israel.
H&M no Brasil
A novela da vinda da sueca H&M prossegue. Agora a maior rede de vestuário do mundo negocia com a Multiplan, leia José Isaac Peres.
A ideia é desembarcar no Brasil em 2014, no Morumbi Shopping, em São Paulo, e no Barra Shopping, no Rio.
A conferir.
Propaganda enganosa
Cristina Ortiz, grande pianista brasileira, ficou indignada com a revista “Concerto”, que se referiu a ela como professora de um pianista que se apresenta na Casa de Rui Barbosa, no Rio, quarta-feira, agora.
Segundo Cristina, a estrela do recital, o pianista espanhol Eduardo Frias, nunca foi seu aluno.
O que desejam os sustentáveis? - RENATO JANINE RIBEIRO
VALOR ECONÔMICO - 09/09
Li com atenção o programa do Rede Sustentabilidade. Um partido que nasce com ênfase ética deve ter o manifesto levado a sério. Uma coisa é seguir as ações de Marina Silva e dos líderes do Rede; outra é examinar seu programa. Com toda a simpatia que sinto pelo Rede - só o critiquei por querer mais dele, não menos -, isso me preocupou. Não tenho certeza do que desejam. Provavelmente querem eleger Marina presidente da República. Mas me parece que não priorizam uma bancada parlamentar. Nem estou seguro de que pretendam, tão cedo, governar. Então, o que desejam?
O Rede tem uma linguagem elevada. Diz que quer mudar o mundo. Mas, quando entra no concreto, começa pela economia e segue pela política institucional. É o que ele mais elabora. Mas por que principia pelos meios e não pelos fins? Salvo para alguns economistas e políticos, economia e política são meios. O fim deve ser a mudança do modelo de sociedade, que não é um tema essencialmente econômico. O Rede deveria dar peso concreto, em seus dez pontos, ao que elogia no mundo da vida. Este mundo da vida, hoje, é o de maior liberdade pessoal na história. Podemos mudar de quase tudo, atualmente - de emprego, profissão, cidade ou país, estado civil, religião; alguns, até de sexo. Essa liberdade é preciosa. Cada vez menos gente tem de fazer ou ser o que não quer. Mas ela debilita os laços sociais - o que exige que sejam recriados: um poema de Maiakovski, que Maria Bethânia gravou, falava em reinventar a família. Estes assuntos parecem mais da vida privada do que da política, mas é Marina quem cita, e bem, Freud e Lacan. Só ela, dos candidatos, faz isso.
Primeiro grande ponto: as propostas de reforma política são falhas. Apenas somam boas intenções. Quer candidaturas independentes, mas não diz que para tanto há que extinguir o voto proporcional, que garante a presença de todas as ideias na Câmara. Mas é justamente o proporcional que dá lugar no Congresso aos verdes e o dará ao Rede. Ou será que este gostaria de não ter nenhum deputado? Será que aposta só na Presidência? Além disso, a proposta de abolir a reeleição para o Executivo, que teria mandatos mais longos, faria um presidente eleito num ano conviver com uma Câmara eleita em outro - o que é confusão à vista... A vantagem da reeleição, dizia Thomas Jefferson há dois séculos, é dar um mandato de oito anos com recall no meio. Cinco ou seis anos são demais para um mau presidente, pouco para um bom. E usa-se a máquina com ou sem reeleição.
Segundo ponto: a falta de menção ao pensamento brasileiro na cultura e na ciência. O substantivo "cultura" só aparece em sentido figurado (cultura da corrupção, cultura da paz). O programa não diz que a cultura enriquece nosso povo. Nem fala na tecnologia aqui criada. Não usa as palavras ciência ou universidade. Embora o Rede tenha membros cientistas, apresenta o Brasil como objeto a ser conhecido, em sua rica diversidade, não como um sujeito que conhece e utiliza esta riqueza. Nosso país aparece só como oportunidade de conhecimento e de ação. O Rede realça nossos biomas mas não valoriza nossas universidades, importante conquista que são. O desenvolvimento científico é referido como consequência futura, não como causa presente.
Como pesquisador, sinto falta. Na divisão internacional do trabalho, voltaríamos a ser natureza sem cultura? Machado de Assis uma vez mostrou o Rio a um estrangeiro. Mas, no fim, o outro olhou para a baía de Guanabara e disse: bonita mesmo é essa natureza! Machado não gostou: comparado com a natureza, tudo o que fizemos de nada vale? É como apagar do mapa o agente humano.
Terceiro: vejo que o programa avançou em relação ao de 2010, que não salientava questões da miséria e pobreza. Agora, já na segunda linha aponta a desigualdade social como um de nossos grandes problemas. Nas dez propostas, fala em "erradicação da pobreza". Isso é bom. Mas seu discurso de economistas liberais prevalece sobre o dos movimentos sociais. Se não se ligar a este último, a causa sustentável carecerá de densidade humana. O programa parece recear dizer o que possa ser interpretado como sendo de esquerda ou mesmo de teor social. Ao se falar em desigualdade, em moradia, em transporte, sempre está presente o conflito social, mas o texto não o enfrenta. Ou, talvez, o Rede tenha mais a dizer à direita esclarecida do que à esquerda esclarecida, duas posições que respeito e que merecem crescer, para melhorar o diálogo e o debate em nossa política.
Li com atenção o programa do Rede Sustentabilidade. Um partido que nasce com ênfase ética deve ter o manifesto levado a sério. Uma coisa é seguir as ações de Marina Silva e dos líderes do Rede; outra é examinar seu programa. Com toda a simpatia que sinto pelo Rede - só o critiquei por querer mais dele, não menos -, isso me preocupou. Não tenho certeza do que desejam. Provavelmente querem eleger Marina presidente da República. Mas me parece que não priorizam uma bancada parlamentar. Nem estou seguro de que pretendam, tão cedo, governar. Então, o que desejam?
O Rede tem uma linguagem elevada. Diz que quer mudar o mundo. Mas, quando entra no concreto, começa pela economia e segue pela política institucional. É o que ele mais elabora. Mas por que principia pelos meios e não pelos fins? Salvo para alguns economistas e políticos, economia e política são meios. O fim deve ser a mudança do modelo de sociedade, que não é um tema essencialmente econômico. O Rede deveria dar peso concreto, em seus dez pontos, ao que elogia no mundo da vida. Este mundo da vida, hoje, é o de maior liberdade pessoal na história. Podemos mudar de quase tudo, atualmente - de emprego, profissão, cidade ou país, estado civil, religião; alguns, até de sexo. Essa liberdade é preciosa. Cada vez menos gente tem de fazer ou ser o que não quer. Mas ela debilita os laços sociais - o que exige que sejam recriados: um poema de Maiakovski, que Maria Bethânia gravou, falava em reinventar a família. Estes assuntos parecem mais da vida privada do que da política, mas é Marina quem cita, e bem, Freud e Lacan. Só ela, dos candidatos, faz isso.
Primeiro grande ponto: as propostas de reforma política são falhas. Apenas somam boas intenções. Quer candidaturas independentes, mas não diz que para tanto há que extinguir o voto proporcional, que garante a presença de todas as ideias na Câmara. Mas é justamente o proporcional que dá lugar no Congresso aos verdes e o dará ao Rede. Ou será que este gostaria de não ter nenhum deputado? Será que aposta só na Presidência? Além disso, a proposta de abolir a reeleição para o Executivo, que teria mandatos mais longos, faria um presidente eleito num ano conviver com uma Câmara eleita em outro - o que é confusão à vista... A vantagem da reeleição, dizia Thomas Jefferson há dois séculos, é dar um mandato de oito anos com recall no meio. Cinco ou seis anos são demais para um mau presidente, pouco para um bom. E usa-se a máquina com ou sem reeleição.
Segundo ponto: a falta de menção ao pensamento brasileiro na cultura e na ciência. O substantivo "cultura" só aparece em sentido figurado (cultura da corrupção, cultura da paz). O programa não diz que a cultura enriquece nosso povo. Nem fala na tecnologia aqui criada. Não usa as palavras ciência ou universidade. Embora o Rede tenha membros cientistas, apresenta o Brasil como objeto a ser conhecido, em sua rica diversidade, não como um sujeito que conhece e utiliza esta riqueza. Nosso país aparece só como oportunidade de conhecimento e de ação. O Rede realça nossos biomas mas não valoriza nossas universidades, importante conquista que são. O desenvolvimento científico é referido como consequência futura, não como causa presente.
Como pesquisador, sinto falta. Na divisão internacional do trabalho, voltaríamos a ser natureza sem cultura? Machado de Assis uma vez mostrou o Rio a um estrangeiro. Mas, no fim, o outro olhou para a baía de Guanabara e disse: bonita mesmo é essa natureza! Machado não gostou: comparado com a natureza, tudo o que fizemos de nada vale? É como apagar do mapa o agente humano.
Terceiro: vejo que o programa avançou em relação ao de 2010, que não salientava questões da miséria e pobreza. Agora, já na segunda linha aponta a desigualdade social como um de nossos grandes problemas. Nas dez propostas, fala em "erradicação da pobreza". Isso é bom. Mas seu discurso de economistas liberais prevalece sobre o dos movimentos sociais. Se não se ligar a este último, a causa sustentável carecerá de densidade humana. O programa parece recear dizer o que possa ser interpretado como sendo de esquerda ou mesmo de teor social. Ao se falar em desigualdade, em moradia, em transporte, sempre está presente o conflito social, mas o texto não o enfrenta. Ou, talvez, o Rede tenha mais a dizer à direita esclarecida do que à esquerda esclarecida, duas posições que respeito e que merecem crescer, para melhorar o diálogo e o debate em nossa política.
URGÊNCIA MÉDICA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 09/09
João Gomide, pai da jornalista Sandra Gomide, assassinada pelo jornalista Pimenta Neves em 2000, anexou atestado médico ao processo que deu a ele o direito de receber indenização de R$ 220 mil do autor do crime.
URGÊNCIA 2
Aos 72 anos, João Gomide tem câncer no intestino e seus advogados afirmam que, por isso, o dinheiro deveria ser liberado com mais rapidez. Neves foi condenado a fazer o pagamento em 2008, mas até agora a Justiça só bloqueou R$ 19 mil de sua conta bancária.
URGÊNCIA 3
Os advogados de Pimenta Neves, que na semana passada começou a cumprir a pena pelo crime em regime semiaberto, recorreram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo a revisão da sentença e a suspensão da execução. Eles alegam que os recursos são de aposentadoria e fundo de previdência, ou seja, impenhoráveis.
BIS
José Dirceu deve reunir amigos mais uma vez na quarta para ver com eles o julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal). A sessão deve definir se parte dele será reaberto ou se Dirceu passará a cumprir pena de prisão ainda neste ano em regime fechado.
PORTA DA FRENTE
Em caso de prisão, o ex-ministro tem dito que não pretende negociar para se apresentar, de uma forma discreta e fugindo da imprensa, como fez, por exemplo, o deputado Natan Donadon. Será, assim, recolhido na presença dos amigos e de jornalistas.
FESTA AMERICANA
Justin Timberlake solicitou espelho profissional para maquiagem, umidificador de ar, um cardápio vegetariano com pratos da culinária chinesa e copos vermelhos e azuis, tradicionais nas festas americanas, para seu camarim no Rock in Rio. Um dock para iPod vai tocar músicas do próprio Justin. A lista tem ainda leite de arroz, mel orgânico, água Fiji, chá Throat Coat, limão e gengibre.
NIEMEYER ABSOLVIDO
A contratação de Oscar Niemeyer (1907-2012), sem licitação, para projetar a ampliação do Instituto de Teatro Bolshoi, em Joinville (SC), por R$ 920 mil, foi regular. Decisão da Justiça Federal considerou improcedentes denúncias contra o arquiteto e a escola apresentadas pelo MPF (Ministério Público Federal), que pedia a devolução de R$ 450 mil.
NIEMEYER 2
A ação, de 2007, argumentava que a escola deveria ter feito licitação para contratar o arquiteto, já que a verba havia sido doada por uma estatal, os Correios. Na sentença, o juiz afirma que a "notoriedade, inclusive internacional" de Oscar Niemeyer justificava a dispensa da concorrência. Os valores recebidos por ele também, graças à sua "expertise" e "singularidade".
DUPLA
A atriz Carol Castro e seu noivo, o modelo Raphael Sander, buscam patrocínio para montar a peça "Vingança, Vingança, Vingança", do baiano Cláudio Sim?es. Além de produzir o espetáculo, os dois vão dividir o palco. Sander diz que estuda interpretação "36 horas por semana" para emplacar em teatro, cinema ou TV.
PAPEL PASSADO
Juntos há 15 anos, os cariocas Bruno Chateaubriand e André Ramos só pretendem formalizar o casamento quando o Poder Legislativo aprovar lei sobre a união homoafetiva. Bruno quer mais que a possibilidade de contrato de união estável aberta pelo Supremo Tribunal Federal. "Eu aplaudo o STF. Mas, no dia em que o Congresso Nacional aprovar uma lei, a gente casa."
NA NATUREZA SELVAGEM
O cantor Seu Jorge se apresentou na festa de estreia de "América do Norte", documentário com sete episódios produzido pelo canal Discovery e narrado por ele. Os atletas Diego Hypólito e Maurren Maggi circularam pelo evento, que também contou com a presença da atriz Naiumi Goldoni e dos modelos Anderson Dornelles e Caroline Ribeiro.
ÁLBUM DE VIAGEM
O fotógrafo Sebastião Salgado inaugurou no Sesc Belenzinho a mostra "Gênesis", em que expõe 245 fotos inéditas feitas por ele em diversos lugares do mundo. O músico Carlos Careqa, o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e o prefeito Fernando Haddad, acompanhado da mulher, Ana Estela, estiveram no local.
BAILA COMIGO
As empresárias Tatiana Monteiro de Barros, grávida de seu primeiro filho, e Rafaella Cury foram à festa Baile do Movimento, no bairro da Lapa. A administradora Tassiana Malamud e o empresário Pedro Braun Sampaio também passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
A artista plástica Ana Michaelis participa da ArtPrize, nos EUA. É a primeira brasileira na competição, em Michigan.
Peças de famosos como Reynaldo Gianecchinni serão leiloadas pelo Graacc e ESPM Social, na quinta, na sede da faculdade de comunicação.
Luis Fernando Verissimo será homenageado hoje no anúncio dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom, no Consulado de Portugal, nos Jardins.
Negra Li faz show hoje no projeto Segunda Brava, da Ballroom. Às 23h, na rua Augusta. 21 anos.
URGÊNCIA 2
Aos 72 anos, João Gomide tem câncer no intestino e seus advogados afirmam que, por isso, o dinheiro deveria ser liberado com mais rapidez. Neves foi condenado a fazer o pagamento em 2008, mas até agora a Justiça só bloqueou R$ 19 mil de sua conta bancária.
URGÊNCIA 3
Os advogados de Pimenta Neves, que na semana passada começou a cumprir a pena pelo crime em regime semiaberto, recorreram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo a revisão da sentença e a suspensão da execução. Eles alegam que os recursos são de aposentadoria e fundo de previdência, ou seja, impenhoráveis.
BIS
José Dirceu deve reunir amigos mais uma vez na quarta para ver com eles o julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal). A sessão deve definir se parte dele será reaberto ou se Dirceu passará a cumprir pena de prisão ainda neste ano em regime fechado.
PORTA DA FRENTE
Em caso de prisão, o ex-ministro tem dito que não pretende negociar para se apresentar, de uma forma discreta e fugindo da imprensa, como fez, por exemplo, o deputado Natan Donadon. Será, assim, recolhido na presença dos amigos e de jornalistas.
FESTA AMERICANA
Justin Timberlake solicitou espelho profissional para maquiagem, umidificador de ar, um cardápio vegetariano com pratos da culinária chinesa e copos vermelhos e azuis, tradicionais nas festas americanas, para seu camarim no Rock in Rio. Um dock para iPod vai tocar músicas do próprio Justin. A lista tem ainda leite de arroz, mel orgânico, água Fiji, chá Throat Coat, limão e gengibre.
NIEMEYER ABSOLVIDO
A contratação de Oscar Niemeyer (1907-2012), sem licitação, para projetar a ampliação do Instituto de Teatro Bolshoi, em Joinville (SC), por R$ 920 mil, foi regular. Decisão da Justiça Federal considerou improcedentes denúncias contra o arquiteto e a escola apresentadas pelo MPF (Ministério Público Federal), que pedia a devolução de R$ 450 mil.
NIEMEYER 2
A ação, de 2007, argumentava que a escola deveria ter feito licitação para contratar o arquiteto, já que a verba havia sido doada por uma estatal, os Correios. Na sentença, o juiz afirma que a "notoriedade, inclusive internacional" de Oscar Niemeyer justificava a dispensa da concorrência. Os valores recebidos por ele também, graças à sua "expertise" e "singularidade".
DUPLA
A atriz Carol Castro e seu noivo, o modelo Raphael Sander, buscam patrocínio para montar a peça "Vingança, Vingança, Vingança", do baiano Cláudio Sim?es. Além de produzir o espetáculo, os dois vão dividir o palco. Sander diz que estuda interpretação "36 horas por semana" para emplacar em teatro, cinema ou TV.
PAPEL PASSADO
Juntos há 15 anos, os cariocas Bruno Chateaubriand e André Ramos só pretendem formalizar o casamento quando o Poder Legislativo aprovar lei sobre a união homoafetiva. Bruno quer mais que a possibilidade de contrato de união estável aberta pelo Supremo Tribunal Federal. "Eu aplaudo o STF. Mas, no dia em que o Congresso Nacional aprovar uma lei, a gente casa."
NA NATUREZA SELVAGEM
O cantor Seu Jorge se apresentou na festa de estreia de "América do Norte", documentário com sete episódios produzido pelo canal Discovery e narrado por ele. Os atletas Diego Hypólito e Maurren Maggi circularam pelo evento, que também contou com a presença da atriz Naiumi Goldoni e dos modelos Anderson Dornelles e Caroline Ribeiro.
ÁLBUM DE VIAGEM
O fotógrafo Sebastião Salgado inaugurou no Sesc Belenzinho a mostra "Gênesis", em que expõe 245 fotos inéditas feitas por ele em diversos lugares do mundo. O músico Carlos Careqa, o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e o prefeito Fernando Haddad, acompanhado da mulher, Ana Estela, estiveram no local.
BAILA COMIGO
As empresárias Tatiana Monteiro de Barros, grávida de seu primeiro filho, e Rafaella Cury foram à festa Baile do Movimento, no bairro da Lapa. A administradora Tassiana Malamud e o empresário Pedro Braun Sampaio também passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
A artista plástica Ana Michaelis participa da ArtPrize, nos EUA. É a primeira brasileira na competição, em Michigan.
Peças de famosos como Reynaldo Gianecchinni serão leiloadas pelo Graacc e ESPM Social, na quinta, na sede da faculdade de comunicação.
Luis Fernando Verissimo será homenageado hoje no anúncio dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom, no Consulado de Portugal, nos Jardins.
Negra Li faz show hoje no projeto Segunda Brava, da Ballroom. Às 23h, na rua Augusta. 21 anos.
Buraco mais embaixo - PAULO GUEDES
O GLOBO - 09/09
As democracias liberais, as economias de mercado e as políticas públicas de welfare state são os alicerces do paradigma ocidental. São um produto evolucionário, a síntese de duas grandes vertentes do Iluminismo que muito contribuíram para a modernidade: o liberalismo e a social-democracia. Pois bem, os excessos dos financistas, a complacência dos bancos centrais e a demagogia inconsequente dos políticos, após décadas de abusos, abalaram os fundamentos de nossa civilização. Essa é a grande crise contemporânea.
O episódio da quebra do Lehman Brothers em 2008, catalisador do colapso financeiro e da grande recessão em que mergulhou a economia global, foi portanto a revelação de um fenômeno bem mais complexo. Ficaram de joelhos grandes bancos como Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch, Wachovia, Citigroup e Bank of America. Morgan Stanley e Goldman Sachs travestiram-se de bancos comerciais para ter acesso aos recursos do Federal Reserve. As operações de salvamento estenderam-se às agências de financiamento imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, bem como à companhia de seguros AIG.
O que fazíamos nós, brasileiros, enquanto o mundo parou para conserto? Éramos uma fronteira de crescimento. Teria ajudado bastante a simples preservação de bons fundamentos fiscais e monetários: a geração de superávits críveis (sem recurso à contabilidade criativa) e a disciplina das metas monetárias (pois o teto acabou virando o centro). Ondas de investimentos seriam disparadas por adequada regulamentação nas áreas críticas de energia, petróleo e infraestrutura. Mas o governo tropeçou infelizmente em seus próprios preconceitos, bloqueando a rota dos investimentos e derrubando nossa taxa de crescimento.
A boa notícia é que, em tempos recentes, ao contrário do que sempre ocorria, nossos peca dos foram bem menores do que os cometidos pelos países avançados. A má notícia é que, sem mudanças, vamos desperdiçar, como nos últimos cinco anos, essa janela de oportunidade.
Um caso de cada vez - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 09/09
Luís Roberto Barroso não deve levar a julgamento nesta semana o mandado de segurança no qual decidiu suspender a votação da Câmara que manteve o mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO). "Assim que a Câmara preste informações e o Ministério Público se manifeste, eu levarei na semana seguinte", diz o ministro do STF. Ele explica que a técnica correta em direito é "decidir um caso de cada vez" e que sua decisão se refere ao regime fechado, e não a outros regimes prisionais.
Me dê motivo O ministro argumenta que uma pessoa presa em regime fechado por mais tempo que o restante da duração de seu mandato "tem impossibilidade jurídica de conservá-lo". "Neste caso, não cabe nenhuma decisão política da Câmara."
Sem inovação Ministros do STF contrários à revisão das penas aplicadas aos condenados por formação de quadrilha no julgamento do mensalão lembram que os critérios para a condenação de Donadon foram os mesmos.
Dois pesos No julgamento de Donadon, José Antonio Dias Toffoli, relator do processo, também aplicou pena maior pelo fato de o deputado ser o líder da quadrilha.
Como assim? A defesa feita por Ricardo Lewandowski da admissibilidade dos embargos infringentes foi considerada "absurda" por outro ministro da corte.
Duas coisas O colega do ex-revisor do mensalão diz que não cabe comparação com outro tipo de ação, e que a afirmação de que há precedentes desse recurso no STF em matéria penal é "um verdadeiro absurdo".
Deadline Apesar da promessa de Barack Obama de dar até quarta-feira uma resposta sobre a espionagem feita pela agência americana NSA no Brasil, Dilma Rousseff não quer transformar a data em um prazo definitivo. O Planalto acredita que vai precisar de várias reuniões para conseguir uma posição satisfatória sobre o caso.
Stand by Enquanto a situação não se resolver, Dilma manterá suspense sobre sua visita a Washington, prevista para 23 de outubro. Por outro lado, a presidente confirmou que fará uma viagem oficial ao Peru, em novembro.
Via... Entidades lideradas por OAB e CNBB entregarão amanhã ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sua proposta de reforma política.
... rápida Sem as assinaturas necessárias para um projeto de iniciativa popular, o grupo obteve apoio de parlamentares para antecipar a apresentação do texto. O objetivo é acelerar a tramitação da proposta, permitindo que seja votada a tempo de valer para as eleições de 2014.
Cúpula O ministro Alexandre Padilha (Saúde) fez ontem à tarde a primeira reunião com o time que vai comandar a articulação política de sua provável candidatura ao governo de São Paulo. Estavam presentes o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad.
Triângulo O esforço de Geraldo Alckmin (PSDB) para levar o deputado Márcio França (PSB-SP) de volta a seu secretariado envolve o PSC. Pessebistas e tucanos tentam convencer o suplente de França, filiado à sigla cristã, a desistir de assumir a cadeira de deputado, deixando a vaga com o PSB.
Sem partido Em busca de recursos, dois prefeitos do PSDB em São Paulo abriram os braços para o PT. Diego de Nadai (Americana) convidou Alexandre Padilha para uma inauguração e Zé Milton (São José do Barreiro) escreveu uma carta a Dilma para pedir socorro para o município.
Tiroteio
A baixa adesão aos protestos no Rio mostram que os vândalos perderam a guerra e adotam uma postura radical contra a cidadania.
DE JORGE PICCIANI, presidente do PMDB-RJ, sobre as manifestações de sábado contra o governador Sérgio Cabral, que tiveram mais de 70 detidos e 14 feridos.
Contraponto
Marketing segmentado
Em discussão sobre a reforma eleitoral no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) descreveu a eleição de um município mineiro, nos anos 50, disputada por duas famílias.
Cabos eleitorais de uma das famílias vestiram camisetas de fiscais, ficaram parados nas estradas e perguntaram a cada eleitor qual era o candidato de sua preferência. Aos partidários da família opositora, respondiam:
-Você só vota amanhã, porque hoje vão votar os outros, para não ter muita confusão na cidade.
A família que usou os "fiscais" recebeu 90% dos votos, já que os opositores só apareceram no dia seguinte.
Luís Roberto Barroso não deve levar a julgamento nesta semana o mandado de segurança no qual decidiu suspender a votação da Câmara que manteve o mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO). "Assim que a Câmara preste informações e o Ministério Público se manifeste, eu levarei na semana seguinte", diz o ministro do STF. Ele explica que a técnica correta em direito é "decidir um caso de cada vez" e que sua decisão se refere ao regime fechado, e não a outros regimes prisionais.
Me dê motivo O ministro argumenta que uma pessoa presa em regime fechado por mais tempo que o restante da duração de seu mandato "tem impossibilidade jurídica de conservá-lo". "Neste caso, não cabe nenhuma decisão política da Câmara."
Sem inovação Ministros do STF contrários à revisão das penas aplicadas aos condenados por formação de quadrilha no julgamento do mensalão lembram que os critérios para a condenação de Donadon foram os mesmos.
Dois pesos No julgamento de Donadon, José Antonio Dias Toffoli, relator do processo, também aplicou pena maior pelo fato de o deputado ser o líder da quadrilha.
Como assim? A defesa feita por Ricardo Lewandowski da admissibilidade dos embargos infringentes foi considerada "absurda" por outro ministro da corte.
Duas coisas O colega do ex-revisor do mensalão diz que não cabe comparação com outro tipo de ação, e que a afirmação de que há precedentes desse recurso no STF em matéria penal é "um verdadeiro absurdo".
Deadline Apesar da promessa de Barack Obama de dar até quarta-feira uma resposta sobre a espionagem feita pela agência americana NSA no Brasil, Dilma Rousseff não quer transformar a data em um prazo definitivo. O Planalto acredita que vai precisar de várias reuniões para conseguir uma posição satisfatória sobre o caso.
Stand by Enquanto a situação não se resolver, Dilma manterá suspense sobre sua visita a Washington, prevista para 23 de outubro. Por outro lado, a presidente confirmou que fará uma viagem oficial ao Peru, em novembro.
Via... Entidades lideradas por OAB e CNBB entregarão amanhã ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sua proposta de reforma política.
... rápida Sem as assinaturas necessárias para um projeto de iniciativa popular, o grupo obteve apoio de parlamentares para antecipar a apresentação do texto. O objetivo é acelerar a tramitação da proposta, permitindo que seja votada a tempo de valer para as eleições de 2014.
Cúpula O ministro Alexandre Padilha (Saúde) fez ontem à tarde a primeira reunião com o time que vai comandar a articulação política de sua provável candidatura ao governo de São Paulo. Estavam presentes o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad.
Triângulo O esforço de Geraldo Alckmin (PSDB) para levar o deputado Márcio França (PSB-SP) de volta a seu secretariado envolve o PSC. Pessebistas e tucanos tentam convencer o suplente de França, filiado à sigla cristã, a desistir de assumir a cadeira de deputado, deixando a vaga com o PSB.
Sem partido Em busca de recursos, dois prefeitos do PSDB em São Paulo abriram os braços para o PT. Diego de Nadai (Americana) convidou Alexandre Padilha para uma inauguração e Zé Milton (São José do Barreiro) escreveu uma carta a Dilma para pedir socorro para o município.
Tiroteio
A baixa adesão aos protestos no Rio mostram que os vândalos perderam a guerra e adotam uma postura radical contra a cidadania.
DE JORGE PICCIANI, presidente do PMDB-RJ, sobre as manifestações de sábado contra o governador Sérgio Cabral, que tiveram mais de 70 detidos e 14 feridos.
Contraponto
Marketing segmentado
Em discussão sobre a reforma eleitoral no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) descreveu a eleição de um município mineiro, nos anos 50, disputada por duas famílias.
Cabos eleitorais de uma das famílias vestiram camisetas de fiscais, ficaram parados nas estradas e perguntaram a cada eleitor qual era o candidato de sua preferência. Aos partidários da família opositora, respondiam:
-Você só vota amanhã, porque hoje vão votar os outros, para não ter muita confusão na cidade.
A família que usou os "fiscais" recebeu 90% dos votos, já que os opositores só apareceram no dia seguinte.
Há muito mais a fazer - RAUL VELOSO
O GLOBO - 09/09
Há um ano, o governo lançou um ambicioso e necessário plano de concessões visando à melhoria dos serviços de infraestrutura no setor de transportes. Sua execução foi entregue a uma equipe sabidamente em formação e carente de um conjunto mínimo de projetos e informações adequadas. Fora do plano, havia o discutível trem-bala, cuja implementação acaba de ser adiada.
Diante da precariedade dos estudos oficiais, fracassou em janeiro a tentativa de leiloar as rodovias BR-040 e BR-116, levando o governo a re-adequar o seu cronograma. Por causa da grande complexidade dos problemas envolvidos, as ferrovias continuam empacadas. Espera-se que os aeroportos do Galeão e de Confins sejam leiloados antes do fim de 2013.
É fato que o leilão das concessões das rodovias BR-262 e BR-050, marcado para o próximo dia 18, tem uma boa chance de ficar de pé. Graças à intensificação do diálogo entre o governo e empresários, parte das pendências surgidas nas discussões preliminares com os interessados teria sido sanada ao longo do ano que passou.
Só que o diálogo entre os segmentos público e privado precisa continuar presente com a mesma força da experiência recente, já que os problemas remanescentes são muitos e de grande complexidade, mesmo nos demais projetos de rodovias. Deve-se ter em conta, porém, que num processo de licitação de concessões de in-fraestrutura é muito difícil imprimir a celeridade que os dirigentes públicos - premidos pelo calendário político - às vezes procuram estabelecer, especialmente quando existem as fortes restrições que eles mesmos impõem à atuação dos segmentos envolvidos. Registre-se que, antes de 2015, mesmo na melhor hipótese de prazo dos leilões, pouco investimento se materializará no atual programa de concessões.
As análises e alertas contidos no livro que, na companhia de parceiros, escrevi e lancei há um ano no Fórum Nacional Especial do Inae/BNDES, continuam basicamente válidos (obtenha um exemplar por intermédio do e-mail: raul_velloso@uol.com.br). No Fórum deste ano (os convites podem ser obtidos pelo mesmo email), daqui a quarenta e cinco dias, chamarei a atenção para os problemas que ainda necessitam de atenção especial
Um é a já famosa "inversão de fases" que passou a ser adotada no Brasil. Na pressa para mostrar resultados antes das próximas eleições, os governos, em vez de seguir a sequência natural do processo de concessão - pré-qualificação/ plano de negócios/leilão - tendem a pôr o leilão à frente das demais etapas. Fazem isso mesmo sem força política para mais adiante desqualificar um concorrente que, tendo oferecido o menor custo do serviço, revele-se sem condições de executá-lo. Esses casos, tratados na literatura especializada como "concorrentes oportunistas" são muito comuns. Cabe reforçar a gestão pública, para os processos seguirem seu curso natural, sem o que investimentos de qualidade não se realizam.
O outro problema básico é a paradoxal eliminação da obrigatoriedade de apresentar planos de negócios nos leilões de concessão. A explicação que se dá é que isso evitaria demoradas disputas judiciais, desencadeadas por aqueles que se sentem prejudicados pelos resultados de leilões com inversão de fases. Os processos judiciais se baseariam no descumprimento de cláusulas obrigatórias do edital nos planos de negócios por parte dos concorrentes vencedores de leilões, a exemplo de casos já acontecidos. Na ausência desse documento de trabalho, não haveria como contestá-los. Se esse é o motivo, e dada a óbvia importância de se ter à mão algum plano de negócios, a saída seria fazer os leilões em sua sequência natural, em vez de inverter fases. Obviamente, leilões bem feitos tendem a diminuir a incidência dessas disputas.
No entanto, o interesse para eliminar os planos de negócios parece ser o de o poder conce-dente impedir que futuros reequilíbrios de contratos de concessões, mesmo amparados legalmente, se deem com base em parâmetros que lhe desagradem. Por exemplo, se não se sabe qual a taxa de retorno da proposta vencedora - que só o plano de negócios original mostraria -, fica mais fácil tentar impor posteriormente ao concessionário uma taxa definida conforme o entendimento exclusivo do poder concedente. As condições em que a decisão do investidor ocorreu, quando da proposta apresentada, eram, como é óbvio, completamente diferentes das futuras, e caso seja necessário um reequilíbrio econômico e financeiro, a Constituição no seu artigo 37, inciso XXI, cuida de proteger o direito das partes.
No momento atual, o governo procura impor aos concessionários as menores tarifas - e, portanto, as menores taxas de retorno - imagináveis, o que quase sempre é inviável, diante das alternativas de negócio existentes. Ao aumentar as taxas de retorno de 5,5% para 7,2% ao ano nos seus cálculos de tetos tarifários para os leilões da safra atual, o governo certamente andou na direção de maior realismo, mas isso é apenas um passo. Há muito mais o que fazer.
Folhas Secas - LÚCIA GUIMARÃES
O Estado de S.Paulo - 09/09
Foi preciso o Glenn Greenwald se apaixonar por um carioca para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desenvolver um plano de proteção para os telefonemas do Palácio do Planalto.
Se o formidável advogado e jornalista não tivesse, num impulso, comprado uma passagem de férias, se em vez de ir nadar em Ipanema tivesse preferido as águas do Lago Rawal, em Islamabad, quem sabe, estaria dando entrevistas em urdu macarrônico. E talvez desse prioridade, no momento, às revelações feitas por Edward Snowden sobre as atividades da NSA na capital do Paquistão.
Ficamos sabendo que o novo sistema de criptografia da Abin que vai permitir que a presidente Dilma continue se desculpando com Evo Morales é Made in Brazil.
Não sei como será a "explicação por escrito" que Barack Obama, devidamente colocado no seu lugar por Lula, Dilma e outros emissários da usina de indignação oportuna, vai dar quando vencer o prazo que recebeu para fazer o dever de casa. Obama está preocupado com a NSA no Brasil nesta segunda-feira como estou preocupada com o time de hóquei da liga amadora de Manitoba. Ele não consegue articular a própria indignação o bastante para convencer os americanos de que é preciso atacar a Síria. Se há um fundo do poço na sua presidência, ele está sendo atingido enquanto escrevo.
Então, sejamos realistas. Os imigrantes sem documentos à espera da prometida reforma já perceberam que perderam o lugar na frente da fila. A Síria vai consumir Obama e todas as suas siglas de inteligência no momento porque o que está em jogo, em Washington, é muito mais do que impedir uma nova safra de vídeos horrendos de crianças espumando pela boca. O destino da presidência do homem que se elegeu para acabar com guerras está na balança por causa de uma guerra que ele não quer começar e para a qual caminha como se estivesse na prancha de um navio, sob as ordens de piratas para pular no mar.
Mas o novo pântano americano no Oriente Médio não nos impede de continuar martelando o assunto da espionagem com ajuda de Greenwald no Guardian e colegas nas redações do New York Times, Globo, Washington Post, Pro Publica e Der Spiegel. A cada nova revelação sobre o frankenstein de vigilância exposto por Snowden, podemos ir compondo o cenário do sigilo inaceitável, da violação de direitos que os violadores diziam considerar sagrados desde 1787.
Um possível ataque à Síria pode tornar o governo americano temporariamente mais zeloso do aparato de vigilância, à espera de inevitáveis reações em forma de atentados terroristas.
Mas é difícil imaginar o próximo presidente, seja ele um republicano, seja ela uma Hillary, conseguindo manter intacto o status quo da bandalheira secreta. Já podemos agradecer, por antecipação, ao trio Snowden/Poitras/Greenwald por ter tornado impossível para os legisladores americanos continuar carimbando sem ler qualquer exigência exorbitante do aparato de segurança.
Quanto à preocupação em Brasília sobre a famigerada "porta dos fundos", a chance que a NSA tem de vencer as barreiras de criptografia, graças ao monopólio americano de cabos de transmissão e à cumplicidade dos conglomerados digitais americanos, é possível que a farra esteja para acabar. Os mesmo conglomerados não gostaram de ser flagrados na cama do motel com agentes federais nada sexy. Eles preferem nos espionar para vender anúncios e sabem que o público vai cobrar mais transparência para continuar a ser tungado. As portas dos fundos serão mais expostas graças a softwares de open source.
Jeff Jarvis, professor da New York University, diz que a essência do caso Snowden não será a ameaça do governo à nossa privacidade mas a perda do sigilo para os governos.
O contrato social da Internet foi traído não só por governos mas também pela indústria digital. O outono do Hemisfério Norte começa no dia 22. Há quem acredite que será uma estação de solidão crescente para o patriarcado das sombras.
Foi preciso o Glenn Greenwald se apaixonar por um carioca para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desenvolver um plano de proteção para os telefonemas do Palácio do Planalto.
Se o formidável advogado e jornalista não tivesse, num impulso, comprado uma passagem de férias, se em vez de ir nadar em Ipanema tivesse preferido as águas do Lago Rawal, em Islamabad, quem sabe, estaria dando entrevistas em urdu macarrônico. E talvez desse prioridade, no momento, às revelações feitas por Edward Snowden sobre as atividades da NSA na capital do Paquistão.
Ficamos sabendo que o novo sistema de criptografia da Abin que vai permitir que a presidente Dilma continue se desculpando com Evo Morales é Made in Brazil.
Não sei como será a "explicação por escrito" que Barack Obama, devidamente colocado no seu lugar por Lula, Dilma e outros emissários da usina de indignação oportuna, vai dar quando vencer o prazo que recebeu para fazer o dever de casa. Obama está preocupado com a NSA no Brasil nesta segunda-feira como estou preocupada com o time de hóquei da liga amadora de Manitoba. Ele não consegue articular a própria indignação o bastante para convencer os americanos de que é preciso atacar a Síria. Se há um fundo do poço na sua presidência, ele está sendo atingido enquanto escrevo.
Então, sejamos realistas. Os imigrantes sem documentos à espera da prometida reforma já perceberam que perderam o lugar na frente da fila. A Síria vai consumir Obama e todas as suas siglas de inteligência no momento porque o que está em jogo, em Washington, é muito mais do que impedir uma nova safra de vídeos horrendos de crianças espumando pela boca. O destino da presidência do homem que se elegeu para acabar com guerras está na balança por causa de uma guerra que ele não quer começar e para a qual caminha como se estivesse na prancha de um navio, sob as ordens de piratas para pular no mar.
Mas o novo pântano americano no Oriente Médio não nos impede de continuar martelando o assunto da espionagem com ajuda de Greenwald no Guardian e colegas nas redações do New York Times, Globo, Washington Post, Pro Publica e Der Spiegel. A cada nova revelação sobre o frankenstein de vigilância exposto por Snowden, podemos ir compondo o cenário do sigilo inaceitável, da violação de direitos que os violadores diziam considerar sagrados desde 1787.
Um possível ataque à Síria pode tornar o governo americano temporariamente mais zeloso do aparato de vigilância, à espera de inevitáveis reações em forma de atentados terroristas.
Mas é difícil imaginar o próximo presidente, seja ele um republicano, seja ela uma Hillary, conseguindo manter intacto o status quo da bandalheira secreta. Já podemos agradecer, por antecipação, ao trio Snowden/Poitras/Greenwald por ter tornado impossível para os legisladores americanos continuar carimbando sem ler qualquer exigência exorbitante do aparato de segurança.
Quanto à preocupação em Brasília sobre a famigerada "porta dos fundos", a chance que a NSA tem de vencer as barreiras de criptografia, graças ao monopólio americano de cabos de transmissão e à cumplicidade dos conglomerados digitais americanos, é possível que a farra esteja para acabar. Os mesmo conglomerados não gostaram de ser flagrados na cama do motel com agentes federais nada sexy. Eles preferem nos espionar para vender anúncios e sabem que o público vai cobrar mais transparência para continuar a ser tungado. As portas dos fundos serão mais expostas graças a softwares de open source.
Jeff Jarvis, professor da New York University, diz que a essência do caso Snowden não será a ameaça do governo à nossa privacidade mas a perda do sigilo para os governos.
O contrato social da Internet foi traído não só por governos mas também pela indústria digital. O outono do Hemisfério Norte começa no dia 22. Há quem acredite que será uma estação de solidão crescente para o patriarcado das sombras.
Um país sem espelho - FABIO GIAMBIAGI
O GLOBO - 09/09
“De tanto ver triunfar nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)
Certa vez, conheci uma pessoa que morava num cantão suíço e não soube me dizer o nome do Chefe de Estado. Isso não era importante: a Suíça é a Suíça, independentemente do governo de plantão. Em muitas sociedades desenvolvidas, os governantes raramente se destacam. Tais países andam sozinhos. Neles, em condições normais, os governantes são quase anônimos e agem de acordo com um padrão de honestidade e eficiência que corresponde à maioria avassaladora da população.
Já em países com instituições mais frágeis, a liderança é importante. São países que precisam se espelhar em alguém. Na Argentina, que ao contrário do Brasil teve vários heróis no século XIX — com destaque para San Martín e Belgrano — há uma frase em um dos livros da literatura local dos anos 70, em que um garoto, perplexo com os desmandos que começava a perceber no país nos seus primeiros passos da juventude, pergunta ao pai: “Se no século passado todos eram heróis, que diabos aconteceu depois?”
O Brasil também se ressente da falta de espelhos. Há uma carência de lideranças inspiradoras e há muito tempo experimentamos uma enorme leniência em relação a hábitos que outras sociedades condenam com vigor. É por isso que nossa política privilegia o acerto com os espertos à cultura do diálogo com o adversário. Somos o país da malandragem e do jeitinho para driblar a regra. Se na cena política assistimos a um desfile de personagens que em outros países estariam atrás das grades, isso reflete os critérios morais elásticos de uma parte não desprezível da sociedade. Mesmo deixando de lado o fato de que tais personagens não foram eleitos em Marte, quem não tem algum amigo que, podendo fazer uso de algum tipo de relacionamento pessoal, não tenta obter alguma benesse oficial indevida?
Costumo tomar táxi — motoristas de táxi são um ótimo termômetro do país — e me causa espanto a dissociação que existe entre a atitude severa de muitos em relação ao país e a régua moral diferenciada que têm em relação a atitudes individuais. Isso vai desde a dificuldade de muitos deles para respeitarem as regras de convivência no trânsito, até o reconhecimento de uma irregularidade própria ou de um conhecido referente a uma esperteza com recursos públicos, geralmente associada à figura do “encostado no INSS”.
Que não se pense que os desvios de caráter são exclusivos de uma categoria profissional ou grupo social. Os exemplos, entre as pessoas de maior renda, também abundam, indo desde a aparentemente inofensiva tentativa de sonegar impostos, até — no Rio de Janeiro — a convivência com bicheiros, com seus laços com outros (sub)mundos da sociedade local.
É como se a separação do que é certo do errado fosse mais tênue entre nós. Quando morei nos EUA, ficava impressionado quando via as caixas metálicas para comprar jornal, em que com 50 centavos de dólar se abria a tampa de vidro e qualquer um podia levar todos os exemplares, apesar do que todos os usuários levavam apenas um. Na Escandinávia, fiquei maravilhado numa viagem vendo como num restaurante as pessoas pesavam o prato, colocavam o dinheiro numa mesa e pegavam o troco de uma pilha de moedas, sem qualquer fiscalização e sem que ninguém ousasse roubar um centavo. E em vários lugares da Europa é comum ver nas estações de trem centenas de bicicletas sem cadeado, que os passageiros deixam de manhã na praça, para procurar no fim do dia no retorno às suas casas. Se concluirmos que tais cenas são impensáveis no Brasil, entenderemos por que nossa representação política é o que é.
Não estamos aqui falando de indivíduos. De um modo geral, nossos últimos presidentes são pessoas em relação às quais não há dúvida acerca de sua honestidade. Isso não basta, porém. O que as passeatas de junho talvez estejam nos dizendo é que uma parte do país não quer conviver mais com nossas mazelas morais. Distinguir o certo do errado talvez se torne mais necessário a partir de agora, no Brasil. Se for assim, a tolerância com a corrupção deverá diminuir. O país ficará melhor quando os corruptos tiverem vergonha de sair na rua.
“De tanto ver triunfar nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Ruy Barbosa)
Certa vez, conheci uma pessoa que morava num cantão suíço e não soube me dizer o nome do Chefe de Estado. Isso não era importante: a Suíça é a Suíça, independentemente do governo de plantão. Em muitas sociedades desenvolvidas, os governantes raramente se destacam. Tais países andam sozinhos. Neles, em condições normais, os governantes são quase anônimos e agem de acordo com um padrão de honestidade e eficiência que corresponde à maioria avassaladora da população.
Já em países com instituições mais frágeis, a liderança é importante. São países que precisam se espelhar em alguém. Na Argentina, que ao contrário do Brasil teve vários heróis no século XIX — com destaque para San Martín e Belgrano — há uma frase em um dos livros da literatura local dos anos 70, em que um garoto, perplexo com os desmandos que começava a perceber no país nos seus primeiros passos da juventude, pergunta ao pai: “Se no século passado todos eram heróis, que diabos aconteceu depois?”
O Brasil também se ressente da falta de espelhos. Há uma carência de lideranças inspiradoras e há muito tempo experimentamos uma enorme leniência em relação a hábitos que outras sociedades condenam com vigor. É por isso que nossa política privilegia o acerto com os espertos à cultura do diálogo com o adversário. Somos o país da malandragem e do jeitinho para driblar a regra. Se na cena política assistimos a um desfile de personagens que em outros países estariam atrás das grades, isso reflete os critérios morais elásticos de uma parte não desprezível da sociedade. Mesmo deixando de lado o fato de que tais personagens não foram eleitos em Marte, quem não tem algum amigo que, podendo fazer uso de algum tipo de relacionamento pessoal, não tenta obter alguma benesse oficial indevida?
Costumo tomar táxi — motoristas de táxi são um ótimo termômetro do país — e me causa espanto a dissociação que existe entre a atitude severa de muitos em relação ao país e a régua moral diferenciada que têm em relação a atitudes individuais. Isso vai desde a dificuldade de muitos deles para respeitarem as regras de convivência no trânsito, até o reconhecimento de uma irregularidade própria ou de um conhecido referente a uma esperteza com recursos públicos, geralmente associada à figura do “encostado no INSS”.
Que não se pense que os desvios de caráter são exclusivos de uma categoria profissional ou grupo social. Os exemplos, entre as pessoas de maior renda, também abundam, indo desde a aparentemente inofensiva tentativa de sonegar impostos, até — no Rio de Janeiro — a convivência com bicheiros, com seus laços com outros (sub)mundos da sociedade local.
É como se a separação do que é certo do errado fosse mais tênue entre nós. Quando morei nos EUA, ficava impressionado quando via as caixas metálicas para comprar jornal, em que com 50 centavos de dólar se abria a tampa de vidro e qualquer um podia levar todos os exemplares, apesar do que todos os usuários levavam apenas um. Na Escandinávia, fiquei maravilhado numa viagem vendo como num restaurante as pessoas pesavam o prato, colocavam o dinheiro numa mesa e pegavam o troco de uma pilha de moedas, sem qualquer fiscalização e sem que ninguém ousasse roubar um centavo. E em vários lugares da Europa é comum ver nas estações de trem centenas de bicicletas sem cadeado, que os passageiros deixam de manhã na praça, para procurar no fim do dia no retorno às suas casas. Se concluirmos que tais cenas são impensáveis no Brasil, entenderemos por que nossa representação política é o que é.
Não estamos aqui falando de indivíduos. De um modo geral, nossos últimos presidentes são pessoas em relação às quais não há dúvida acerca de sua honestidade. Isso não basta, porém. O que as passeatas de junho talvez estejam nos dizendo é que uma parte do país não quer conviver mais com nossas mazelas morais. Distinguir o certo do errado talvez se torne mais necessário a partir de agora, no Brasil. Se for assim, a tolerância com a corrupção deverá diminuir. O país ficará melhor quando os corruptos tiverem vergonha de sair na rua.
Metástases - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 09/09
A deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil
Depois dos episódios gerados pela intemperança bolivariana nas relações com o nosso país, que, aliás, as vem suportando com insensibilidade córnea, assim como por sua benquerença em relação à prática agressiva, levou o governo ao silêncio. Se esta foi a reação na esfera oficial, fora dela não desapareceu o desconforto. Deste, pode ser apontado programa que teve marcante repercussão dada a qualificação de seus participantes. Trata-se do programa Painel, semanalmente produzido sob a direção de William Waack, profissional de larga experiência local e internacional.
A ideia central não poderia ser mais objetiva acerca do que aconteceu com o Itamaraty e a política externa do Brasil nos últimos anos. Note-se que da conversação participavam o embaixador Rubens Antônio Barbosa, que encerrou sua atuação diplomática à frente das duas mais importantes embaixadas, em Londres e em Washington, o professor e historiador Marco Antônio Villa e o cientista Guilherme Casarões. Como seria de esperar, durante uma hora, as questões pertinentes foram examinadas de maneira impecável. O embaixador começou dizendo que não ocorrera mudança na política geral, que continuava voltada aos mesmos objetivos, mas que ocorreram certas preferências antes inexistentes, de inspiração ideológica e o que é mais, por vezes contrárias aos interesses brasileiros, o que é muito grave; exemplificou com o procedimento dado ao Paraguai, quando por muitas razões merece um tratamento especial, fatores antigos e atuais como os milhões de brasileiros que lá vivem e trabalham, a necessária energia elétrica gerada em Itaipu, e assim por diante; no entanto, o Brasil contribuiu para a suspensão paraguaia do Mercosul, sem uma justificativa e contra os interesses do Brasil; não é tudo, a Bolívia tem feito poucas e boas em desfavor do Brasil e, não obstante, não lhe cessam as blandícias por parte do nosso governo, lembrou a brutal expulsão da Petrobras e suas instalações, a revogação do acordo de fornecimento de gás e o consequente agravamento do preço a níveis quase insuportáveis, o incidente em avião do Ministério da Defesa revistado arbitrariamente, o afastamento de três embaixadores de postos importantes em solidariedade à Bolívia, em razão da revista em avião de Evo na Europa, e por fim, a recusa de salvo conduto ao senador boliviano asilado pelo Brasil, descumprindo cláusula expressa na disciplina internacional do asilo e que veio a motivar o desencontro atual. Isto sem falar na reiterada submissão à Argentina, como agora está ocorrendo novamente.
E para encerrar, o sumaríssimo afastamento do embaixador a quem fora confiada a chefia do Itamaraty, em horas, coisa jamais vista, sem precedente. Teria sido a derradeira mesura de homenagem ao governante boliviano. Tudo isso era a consequência de uma novidade inserida na estrutura da instituição, quebrando mais de século de observância, a política externa é nacional, e não partidária. Para não gastar palavras, o ministro de Estado das Relações Exteriores sempre foi o conselheiro, aliás, constitucional, da presidência da República no tocante, e agora, desde o governo passado, um assessor do presidente, estranho aos quadros do Itamaraty inominado e apelidado “Chanceler B”, faz as vezes de chanceler particularmente com relação à América do Sul.
Por uma espécie de metástase que se propaga, a deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil, e de outros ainda de maior expressão transformados em sucursal de um partido.
Para encerrar, recorro a que disse o professor Marco Antônio Villa, o Itamaraty foi atingido como instituição e parece não saber o que quer.
A deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil
Depois dos episódios gerados pela intemperança bolivariana nas relações com o nosso país, que, aliás, as vem suportando com insensibilidade córnea, assim como por sua benquerença em relação à prática agressiva, levou o governo ao silêncio. Se esta foi a reação na esfera oficial, fora dela não desapareceu o desconforto. Deste, pode ser apontado programa que teve marcante repercussão dada a qualificação de seus participantes. Trata-se do programa Painel, semanalmente produzido sob a direção de William Waack, profissional de larga experiência local e internacional.
A ideia central não poderia ser mais objetiva acerca do que aconteceu com o Itamaraty e a política externa do Brasil nos últimos anos. Note-se que da conversação participavam o embaixador Rubens Antônio Barbosa, que encerrou sua atuação diplomática à frente das duas mais importantes embaixadas, em Londres e em Washington, o professor e historiador Marco Antônio Villa e o cientista Guilherme Casarões. Como seria de esperar, durante uma hora, as questões pertinentes foram examinadas de maneira impecável. O embaixador começou dizendo que não ocorrera mudança na política geral, que continuava voltada aos mesmos objetivos, mas que ocorreram certas preferências antes inexistentes, de inspiração ideológica e o que é mais, por vezes contrárias aos interesses brasileiros, o que é muito grave; exemplificou com o procedimento dado ao Paraguai, quando por muitas razões merece um tratamento especial, fatores antigos e atuais como os milhões de brasileiros que lá vivem e trabalham, a necessária energia elétrica gerada em Itaipu, e assim por diante; no entanto, o Brasil contribuiu para a suspensão paraguaia do Mercosul, sem uma justificativa e contra os interesses do Brasil; não é tudo, a Bolívia tem feito poucas e boas em desfavor do Brasil e, não obstante, não lhe cessam as blandícias por parte do nosso governo, lembrou a brutal expulsão da Petrobras e suas instalações, a revogação do acordo de fornecimento de gás e o consequente agravamento do preço a níveis quase insuportáveis, o incidente em avião do Ministério da Defesa revistado arbitrariamente, o afastamento de três embaixadores de postos importantes em solidariedade à Bolívia, em razão da revista em avião de Evo na Europa, e por fim, a recusa de salvo conduto ao senador boliviano asilado pelo Brasil, descumprindo cláusula expressa na disciplina internacional do asilo e que veio a motivar o desencontro atual. Isto sem falar na reiterada submissão à Argentina, como agora está ocorrendo novamente.
E para encerrar, o sumaríssimo afastamento do embaixador a quem fora confiada a chefia do Itamaraty, em horas, coisa jamais vista, sem precedente. Teria sido a derradeira mesura de homenagem ao governante boliviano. Tudo isso era a consequência de uma novidade inserida na estrutura da instituição, quebrando mais de século de observância, a política externa é nacional, e não partidária. Para não gastar palavras, o ministro de Estado das Relações Exteriores sempre foi o conselheiro, aliás, constitucional, da presidência da República no tocante, e agora, desde o governo passado, um assessor do presidente, estranho aos quadros do Itamaraty inominado e apelidado “Chanceler B”, faz as vezes de chanceler particularmente com relação à América do Sul.
Por uma espécie de metástase que se propaga, a deformação tem se ampliado a outros setores como a Petrobras e o Banco do Brasil, e de outros ainda de maior expressão transformados em sucursal de um partido.
Para encerrar, recorro a que disse o professor Marco Antônio Villa, o Itamaraty foi atingido como instituição e parece não saber o que quer.
Uma política externa à altura do Brasil - GUILHERME CASARÕES
O Estado de S.Paulo - 09/09
Entre as análises de primeira hora sobre a diplomacia do governo Dilma Rousseff, não foram raras as menções ao seu aparente desinteresse por questões globais - ressalvado, pela própria biografia da presidente, o tema dos direitos humanos. Esperava-se uma mudança de forma, sem o ativismo dos anos anteriores, mas mantendo as linhas substantivas essenciais. O perfil mais técnico do então chanceler Antonio Patriota, nomeado por Dilma, indicava a preferência por uma política exterior sem voos altos nem o risco de tropeços ou atritos, mantendo-se o lastro institucional do Itamaraty.
Abdicando do exercício da diplomacia presidencial, parcialmente responsável pela (re)construção da imagem do Brasil nos 15 anos anteriores, a presidente mostrou-se muito pouco engajada nos temas internacionais - para além do óbvio protocolar, como reuniões de cúpula e algumas visitas a países amigos. No entanto, ao contrário do que se esperava, deixou pouco espaço para o Itamaraty trabalhar.
Isso parecia relacionar-se com as prioridades governamentais em tempos de crise e desaceleração da economia. O envio de estudantes brasileiros ao exterior, no desejo de qualificá-los nas áreas de ciência e tecnologia, virou bandeira governamental e ativo diplomático. Projetos de infraestrutura, sobretudo no nosso entorno geográfico, ganharam prioridade sobre as grandes estratégias costuradas nas duas décadas anteriores. Aos poucos, foram mudando os parceiros preferenciais e os temas centrais.
A despeito de conquistas maiúsculas, como a eleição do embaixador Roberto Azevêdo na Organização Mundial do Comércio (OMC), ou tentativas de avanços conceituais, como a "responsabilidade ao proteger" diante dos levantes árabes, a generalizada ausência de protagonismo internacional e o desencontro de interesses entre o Ministérios das Relações Exteriores e outros setores do governo reforçaram a avaliação de um importante jornalista: "O mundo de Dilma é o Brasil".
Não haveria problema algum caso se tratasse somente de uma questão de prioridades. Historicamente, em tempos difíceis, a redução do ativismo global é natural e esperada. Mas o estilo de governar de Dilma Rousseff, além de enfraquecer o Itamaraty, revelou um profundo dissenso sobre visões de mundo. A introspecção forçada da diplomacia dilmista entra em choque com duas dimensões essenciais da política externa do Brasil.
A primeira delas é histórica e mais profunda. Somos um país cuja identidade foi parcialmente forjada pela obra diplomática, que também nos logrou respeitável reputação internacional. Se hoje o Brasil é um ator global, isso é graças ao esforço coletivo do serviço exterior na construção permanente de uma sedutora narrativa de "quem somos" e "o que queremos" para o mundo.
Como estamos falando de um país cuja trajetória é marcada pela escassez de recursos tradicionais de poder - como dinheiro ou armas -, a projeção brasileira deu-se, de maneira geral, pela empatia global. Esse fato trouxe efeitos tangíveis, que vão desde a profusão de acordos bilaterais de cooperação com numerosas nações até o vertiginoso aumento do comércio internacional brasileiro na última década; e também intangíveis, que se traduzem em aspectos da liderança do Brasil em certos temas multilaterais, ou, se quisermos, na superação de um antigo complexo de vira-latas que por muito tempo nos definiu.
A segunda dimensão diz respeito ao chamado "insulamento burocrático" do Itamaraty. Ao longo do século 20, a Casa de Rio Branco foi-se profissionalizando e ganhando autonomia, seja com relação ao presidente da República, ao Congresso Nacional ou às forças sociais. Isso permitiu que se consolidasse uma espécie de repertório permanente da política externa, corporificado no serviço diplomático e, em geral, identificado com a bem-sucedida inserção internacional do Brasil.
Se, por um lado, as decisões diplomáticas permaneceram relativamente fechadas mesmo num contexto democrático, a ênfase na "tradição" foi capaz de blindar a política exterior de críticas profundas nas últimas décadas - limitando-se, desconsiderados os excessos retóricos, a contestações pontuais. Não à toa, no último meio século a enorme maioria de nossos chanceleres veio da própria carreira diplomática - ou, quando não era o caso, eles estavam afinados com as tradições e o legado do barão do Rio Branco.
Os eventos dos últimos dias jogaram, numa só tacada, toda essa narrativa por terra. As inesperadas tensões com a Bolívia fugiam de um script diplomático que prezava pela amizade - e pela cautela - com os vizinhos. A inédita quebra de hierarquia enfraquece, por sua vez, a reconhecida condição de infalibilidade do Itamaraty, sobre a qual assenta boa parte da reputação brasileira.
A pronta demissão do ministro Antonio Patriota, um dos melhores quadros de sua geração, revela, por fim, as dificuldades que a nossa tradicional diplomacia vem sofrendo no contexto de um governo para o qual o imediatismo dos resultados tangíveis e quantitativos precede o planejamento de longo prazo e a razão de Estado. Como se a política externa pudesse ser traduzida em planilhas ou balancetes.
E enquanto Antonio Patriota se prepara para retornar a Nova York (para assumir a chefia da representação brasileira nas Nações Unidas), onde suas habilidades certamente serão valorizadas, devemos desejar bons augúrios ao seu sucessor, Luiz Alberto Figueiredo Machado - um grande negociador, que terá diante de si o maior dos desafios: superar as amarras governamentais para fazer uma política externa que esteja à altura do Brasil.
Entre as análises de primeira hora sobre a diplomacia do governo Dilma Rousseff, não foram raras as menções ao seu aparente desinteresse por questões globais - ressalvado, pela própria biografia da presidente, o tema dos direitos humanos. Esperava-se uma mudança de forma, sem o ativismo dos anos anteriores, mas mantendo as linhas substantivas essenciais. O perfil mais técnico do então chanceler Antonio Patriota, nomeado por Dilma, indicava a preferência por uma política exterior sem voos altos nem o risco de tropeços ou atritos, mantendo-se o lastro institucional do Itamaraty.
Abdicando do exercício da diplomacia presidencial, parcialmente responsável pela (re)construção da imagem do Brasil nos 15 anos anteriores, a presidente mostrou-se muito pouco engajada nos temas internacionais - para além do óbvio protocolar, como reuniões de cúpula e algumas visitas a países amigos. No entanto, ao contrário do que se esperava, deixou pouco espaço para o Itamaraty trabalhar.
Isso parecia relacionar-se com as prioridades governamentais em tempos de crise e desaceleração da economia. O envio de estudantes brasileiros ao exterior, no desejo de qualificá-los nas áreas de ciência e tecnologia, virou bandeira governamental e ativo diplomático. Projetos de infraestrutura, sobretudo no nosso entorno geográfico, ganharam prioridade sobre as grandes estratégias costuradas nas duas décadas anteriores. Aos poucos, foram mudando os parceiros preferenciais e os temas centrais.
A despeito de conquistas maiúsculas, como a eleição do embaixador Roberto Azevêdo na Organização Mundial do Comércio (OMC), ou tentativas de avanços conceituais, como a "responsabilidade ao proteger" diante dos levantes árabes, a generalizada ausência de protagonismo internacional e o desencontro de interesses entre o Ministérios das Relações Exteriores e outros setores do governo reforçaram a avaliação de um importante jornalista: "O mundo de Dilma é o Brasil".
Não haveria problema algum caso se tratasse somente de uma questão de prioridades. Historicamente, em tempos difíceis, a redução do ativismo global é natural e esperada. Mas o estilo de governar de Dilma Rousseff, além de enfraquecer o Itamaraty, revelou um profundo dissenso sobre visões de mundo. A introspecção forçada da diplomacia dilmista entra em choque com duas dimensões essenciais da política externa do Brasil.
A primeira delas é histórica e mais profunda. Somos um país cuja identidade foi parcialmente forjada pela obra diplomática, que também nos logrou respeitável reputação internacional. Se hoje o Brasil é um ator global, isso é graças ao esforço coletivo do serviço exterior na construção permanente de uma sedutora narrativa de "quem somos" e "o que queremos" para o mundo.
Como estamos falando de um país cuja trajetória é marcada pela escassez de recursos tradicionais de poder - como dinheiro ou armas -, a projeção brasileira deu-se, de maneira geral, pela empatia global. Esse fato trouxe efeitos tangíveis, que vão desde a profusão de acordos bilaterais de cooperação com numerosas nações até o vertiginoso aumento do comércio internacional brasileiro na última década; e também intangíveis, que se traduzem em aspectos da liderança do Brasil em certos temas multilaterais, ou, se quisermos, na superação de um antigo complexo de vira-latas que por muito tempo nos definiu.
A segunda dimensão diz respeito ao chamado "insulamento burocrático" do Itamaraty. Ao longo do século 20, a Casa de Rio Branco foi-se profissionalizando e ganhando autonomia, seja com relação ao presidente da República, ao Congresso Nacional ou às forças sociais. Isso permitiu que se consolidasse uma espécie de repertório permanente da política externa, corporificado no serviço diplomático e, em geral, identificado com a bem-sucedida inserção internacional do Brasil.
Se, por um lado, as decisões diplomáticas permaneceram relativamente fechadas mesmo num contexto democrático, a ênfase na "tradição" foi capaz de blindar a política exterior de críticas profundas nas últimas décadas - limitando-se, desconsiderados os excessos retóricos, a contestações pontuais. Não à toa, no último meio século a enorme maioria de nossos chanceleres veio da própria carreira diplomática - ou, quando não era o caso, eles estavam afinados com as tradições e o legado do barão do Rio Branco.
Os eventos dos últimos dias jogaram, numa só tacada, toda essa narrativa por terra. As inesperadas tensões com a Bolívia fugiam de um script diplomático que prezava pela amizade - e pela cautela - com os vizinhos. A inédita quebra de hierarquia enfraquece, por sua vez, a reconhecida condição de infalibilidade do Itamaraty, sobre a qual assenta boa parte da reputação brasileira.
A pronta demissão do ministro Antonio Patriota, um dos melhores quadros de sua geração, revela, por fim, as dificuldades que a nossa tradicional diplomacia vem sofrendo no contexto de um governo para o qual o imediatismo dos resultados tangíveis e quantitativos precede o planejamento de longo prazo e a razão de Estado. Como se a política externa pudesse ser traduzida em planilhas ou balancetes.
E enquanto Antonio Patriota se prepara para retornar a Nova York (para assumir a chefia da representação brasileira nas Nações Unidas), onde suas habilidades certamente serão valorizadas, devemos desejar bons augúrios ao seu sucessor, Luiz Alberto Figueiredo Machado - um grande negociador, que terá diante de si o maior dos desafios: superar as amarras governamentais para fazer uma política externa que esteja à altura do Brasil.
Excelência, com equidade - ILONA BECSKEHÁZY
O GLOBO - 09/09
O processo acanhado de redemocratização que vivemos no Brasil há alguns anos, que tem como marco legal a Constituição Federal de 1988, caracteriza-se pela criação de uma ampla gama de expectativas de superação de privações sociais e econômicas legadas por recorrentes períodos de escassez de espaço de negociações políticas transparentes.
Embora essas expectativas venham, bem aos poucos, se materializando, aparentemente ganharam doses extras de energia com as manifestações de junho. Tomados de surpresa por esse despertar democrático tardio, gestores e legisladores do setor público reagem, envergando, agora, a vara para o populismo, em uma tentativa de se distanciar da ponta oposta de inércia e indiferença em que se instalaram há tempos.
Na área de educação, o máximo que conseguimos especificar até agora foi um certo padrão Fifa que ninguém sabe como traduzir em política pública. A dificuldade em objetivar o que desejamos para a educação tem raízes no próprio processo de redemocratização, porque em sua trilha vieram dois dogmas: o da descentralização da gestão dos serviços públicos e o da autonomia irrestrita a todos os seus níveis de comando - prefeitos, diretores de escola e professores são donos de seu nariz.
Se não fosse a criação intencional de uma cultura de avaliação externa iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso/Paulo Renato, expandida e aprofundada por Lula/Fernando Haddad, estaríamos hoje completamente no escuro quanto ao que se passa em nossas escolas. A avaliação externa, hoje, é a única forma que temos de saber, mesmo que de maneira incompleta, no que resultam os recursos humanos e materiais investidos em educação.
E é a única porque até hoje não tivemos coragem de estabelecer padrões de infraestrutura escolar, de acervo e acesso a bibliotecas escolares, do número de alunos por turma, do perfil profissional e pessoal da equipe escolar e, finalmente, dos itens de currículo a serem ensinados tanto aos alunos do Leblon, Zona Sul do Rio, quanto em Melgaço, no estado do Maranhão.
Graças à autonomia de alguns prefeitos, começam a surgir estruturas locais com padrões de qualidade mais exigentes que os de seus governadores e, principalmente, que os do próprio Ministério da Educação. Aos poucos, algumas redes escolhem currículo, o traduzem em material de aulas estruturado, o refletem na formação e avaliação de professores e alunos. Finalmente começam a pipocar ciclos de qualidade educacional em nosso país, mesmo que esporádicos.
Nesse contexto de incipiência e fragilidade, a reação precipitada ao que se pede de forma inespecífica na rua pode representar uma ameaça àquilo que, mesmo sem conseguir verbalizar por absoluta falta de referências, desejamos: o alinhamento dos padrões conceituais e operacionais de qualidade do Brasil com os dos países desenvolvidos. Justamente o tal padrão Fifa que saímos de nossas casas para exigir.
Neste tempo de sonhos democráticos é preciso deixar claro que o que queremos é a excelência, com equidade.
Baile dos mensaleiros - RUBEM AZEVEDO LIMA
CORREIO BRAZILIENSE - 09/09
O Correio Braziliense de sábado 31 de agosto fez a melhor das manchetes da imprensa brasileira, sobre o escândalo mencionado acima. Aliás, uma denúncia do falecido jurista Clovis Ramalhete (1912-1995) completa o que lhe pareceu outro escândalo: a política indigenista admitida na revisão da Constituição de 1988, mantida em 1995.Ramalhete, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e da Corte Permanente de Arbitragem de Haia, denunciou em artigo no extinto Jornal do Brasil, lembrado, agora, no boletim da Solidariedade Ibero-americana. Sua denúncia, na revisão constitucional de 1995, sustentou que "a organização do país, sua integridade e desenvolvimento foram sectários, radicais e antinacionais".
Ramalhete achou que "ninguém lera a Constituição de 1988". "Agora, (1995), para apenas 240 mil índios, destinam-se 793 mil quilômetros quadrados. E o lavrador sem terra!" Para ele, "ali, onde havia tanto índio, na Amazônia, pululam mais de 30 Orgs financiadas por organizações não-governamentais, mas pelo capital estrangeiro". "Essa minha denúncia dirige-se ao Congresso", disse Ramalhete, ao morrer, pouco depois.
Josemar Dantas, editor do suplemento Direito&Justiça, do Correio Braziliense, profissional excelente, não poderia solicitar a um de seus colaboradores que reabrisse a questão levantada por Clovis Ramalhete? Este seu amigo, advogado que não advoga, apreciaria, como todo leitor, ver o assunto debatido pelo atualSupremo Tribunal Federal, de alto mérito, como ficou demonstrado no julgamento dos mensaleiros. No STF, esse seria um processo como os Due scandali politici: Pro Murena + Pro Sestio, de Cícero. Os atuais ministros do STF fariam debates brilhantes, como os do mensalão. A revisão constitucional de 1995 foi comandada por um gaúcho do PMDB, que admitiu ter feito, ele mesmo, mudanças pessoais, que Ramalhete não chegou a ver.
O Correio Braziliense deu bom exemplo. O jornal abriu-se para os leitores se manifestarem. O Globo arrepende-se, por ora, do passado, de 1925, para chegar a 1964, com honestidade, até na vida política do Brasil, na ditadura Bernardes, no levante do Forte de Copacabana; no de São Paulo, em que Friendereich, o maior futebolista do Brasil, lutou contra Vargas, em 1932; este quis apoiar a marcha de Prestes, que recebeu dinheiro do governo, mas não apoiou Vargas. O Globo, até agora, dos debates na Câmara dos Deputados, não viu a pequena oposição que defendeu a liberdade de imprensa, nos anos 1925 do Rio e em todos os jornais do país. Assis Chateaubriand destacou esse líder, o que impediu o governo a fazer isso.
Ramalhete achou que "ninguém lera a Constituição de 1988". "Agora, (1995), para apenas 240 mil índios, destinam-se 793 mil quilômetros quadrados. E o lavrador sem terra!" Para ele, "ali, onde havia tanto índio, na Amazônia, pululam mais de 30 Orgs financiadas por organizações não-governamentais, mas pelo capital estrangeiro". "Essa minha denúncia dirige-se ao Congresso", disse Ramalhete, ao morrer, pouco depois.
Josemar Dantas, editor do suplemento Direito&Justiça, do Correio Braziliense, profissional excelente, não poderia solicitar a um de seus colaboradores que reabrisse a questão levantada por Clovis Ramalhete? Este seu amigo, advogado que não advoga, apreciaria, como todo leitor, ver o assunto debatido pelo atualSupremo Tribunal Federal, de alto mérito, como ficou demonstrado no julgamento dos mensaleiros. No STF, esse seria um processo como os Due scandali politici: Pro Murena + Pro Sestio, de Cícero. Os atuais ministros do STF fariam debates brilhantes, como os do mensalão. A revisão constitucional de 1995 foi comandada por um gaúcho do PMDB, que admitiu ter feito, ele mesmo, mudanças pessoais, que Ramalhete não chegou a ver.
O Correio Braziliense deu bom exemplo. O jornal abriu-se para os leitores se manifestarem. O Globo arrepende-se, por ora, do passado, de 1925, para chegar a 1964, com honestidade, até na vida política do Brasil, na ditadura Bernardes, no levante do Forte de Copacabana; no de São Paulo, em que Friendereich, o maior futebolista do Brasil, lutou contra Vargas, em 1932; este quis apoiar a marcha de Prestes, que recebeu dinheiro do governo, mas não apoiou Vargas. O Globo, até agora, dos debates na Câmara dos Deputados, não viu a pequena oposição que defendeu a liberdade de imprensa, nos anos 1925 do Rio e em todos os jornais do país. Assis Chateaubriand destacou esse líder, o que impediu o governo a fazer isso.
Agronegócio - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 09/09
Semana passada vi de perto, dessa vez na cidade de Sorriso (MT) --considerada a capital nacional do agronegócio e nosso maior produtor individual de soja--, exemplos práticos das contradições que comprometem o desempenho da nossa economia.
Ao mesmo tempo em que nos orgulham os ganhos formidáveis de produtividade no campo, é desoladora a descrença dos produtores na capacidade do governo federal de prover investimentos mínimos, em logística e em infraestrutura, que garantam menores custos e maior competitividade no momento de escoar a produção.
A frustração é de tal ordem que ouvi de muitos deles o desejo de plantar menos, já na próxima safra, por não haver sequer condições adequadas de armazenagem.
Com o crescimento do PIB projetado ao redor de apenas 2% ao ano, o setor rural resiste de forma heroica e produz resultados que devem ser reconhecidos e saudados pelos brasileiros: no segundo trimestre, em comparação com o primeiro, o PIB agropecuário cresceu mais que o dobro do PIB. O crescimento foi de 14,7% no primeiro semestre, se comparado com o mesmo período de 2012, enquanto o setor de serviços cresceu 2,1% e a indústria, 0,8%.
A grande performance reflete as transformações ocorridas quando a estabilização da economia decretou o fim do uso especulativo da terra e inaugurou a fase da busca pela eficiência na produção.
É notável, desde então, a crescente utilização de novas tecnologias e métodos de manejo, tornando produtivo e eficiente o setor, da porteira para dentro.
As dificuldades a serem superadas estão da porteira para fora e são as mesmas que outros setores enfrentam. O Programa de Investimento em Logística acaba de completar um ano sem realizar nem sequer um leilão para obras em rodovias, ferrovias e portos.
Esse é o terceiro ano consecutivo em que o Brasil cai no Índice de Competitividade Mundial, divulgado pelo Institute for Management Development: em 2010, ocupávamos o 38º lugar; em 2011, o 44º; em 2012, 46º. Na edição 2013, o Brasil caiu mais cinco posições --está em 51º lugar entre 60 países.
O resultado são montanhas de grãos ao ar livre (principalmente soja e milho) por falta de armazenagem; quilométricas filas de carretas para chegar aos portos; escassez de ferrovias, além de navios e contêineres parados nos portos, multiplicando custos e reduzindo competitividade.
É uma realidade que penaliza a economia como um todo e atinge intensamente o setor do agronegócio, cuja cadeia produtiva contribui com 22% na formação do PIB nacional.
A ausência de planejamento, o improviso e a prioridade dada ao marketing têm condenado os desafios do Brasil real ao esquecimento.
Semana passada vi de perto, dessa vez na cidade de Sorriso (MT) --considerada a capital nacional do agronegócio e nosso maior produtor individual de soja--, exemplos práticos das contradições que comprometem o desempenho da nossa economia.
Ao mesmo tempo em que nos orgulham os ganhos formidáveis de produtividade no campo, é desoladora a descrença dos produtores na capacidade do governo federal de prover investimentos mínimos, em logística e em infraestrutura, que garantam menores custos e maior competitividade no momento de escoar a produção.
A frustração é de tal ordem que ouvi de muitos deles o desejo de plantar menos, já na próxima safra, por não haver sequer condições adequadas de armazenagem.
Com o crescimento do PIB projetado ao redor de apenas 2% ao ano, o setor rural resiste de forma heroica e produz resultados que devem ser reconhecidos e saudados pelos brasileiros: no segundo trimestre, em comparação com o primeiro, o PIB agropecuário cresceu mais que o dobro do PIB. O crescimento foi de 14,7% no primeiro semestre, se comparado com o mesmo período de 2012, enquanto o setor de serviços cresceu 2,1% e a indústria, 0,8%.
A grande performance reflete as transformações ocorridas quando a estabilização da economia decretou o fim do uso especulativo da terra e inaugurou a fase da busca pela eficiência na produção.
É notável, desde então, a crescente utilização de novas tecnologias e métodos de manejo, tornando produtivo e eficiente o setor, da porteira para dentro.
As dificuldades a serem superadas estão da porteira para fora e são as mesmas que outros setores enfrentam. O Programa de Investimento em Logística acaba de completar um ano sem realizar nem sequer um leilão para obras em rodovias, ferrovias e portos.
Esse é o terceiro ano consecutivo em que o Brasil cai no Índice de Competitividade Mundial, divulgado pelo Institute for Management Development: em 2010, ocupávamos o 38º lugar; em 2011, o 44º; em 2012, 46º. Na edição 2013, o Brasil caiu mais cinco posições --está em 51º lugar entre 60 países.
O resultado são montanhas de grãos ao ar livre (principalmente soja e milho) por falta de armazenagem; quilométricas filas de carretas para chegar aos portos; escassez de ferrovias, além de navios e contêineres parados nos portos, multiplicando custos e reduzindo competitividade.
É uma realidade que penaliza a economia como um todo e atinge intensamente o setor do agronegócio, cuja cadeia produtiva contribui com 22% na formação do PIB nacional.
A ausência de planejamento, o improviso e a prioridade dada ao marketing têm condenado os desafios do Brasil real ao esquecimento.
Diplomacia e ideologia - DENIS LERRER ROSENFIELD
O ESTADO DE S. PAULO - 09/09
A diplomacia é uma arte de defesa dos interesses nacionais, no que tradicionalmente se considera a soberania de cada país. Como toda arte, tem de demonstrar habilidades, no caso, nas negociações. E, certamente, noção precisa de limites que não podem ser ultrapassados, sob pena de tomar inviável uma negociação diplomática e, no mundo atual, uma negociação comercial.
Historicamente, a diplomacia sempre esteve associada a guerras, sendo um instrumento quer para evitá-las, quer para conduzir negociações que levassem ao seu fim. Nesse sentido é que foi criado o instituto da inviolabilidade de embaixadas, mesmo em situações extremas de conflito, para que canais de negociação permanecessem abertos. Hoje em dia, além de suas funções clássicas, temos a entrada em pauta de organismos internacionais na regulação de questões comerciais e financeiras, que se tomaram poderoso instrumento de exercício do poder das nações.
Negociações comerciais entraram também com mais força na pauta diplomática, fazendo diplomatas se tomarem "mercadores" dos interesses econômicos de seus países, algo muito claro na política americana e de vários países europeus e asiáticos, como China e Japão. Apesar de a diplomacia brasileira ainda resistir parcialmente a essa tendência, deverá a ela resignar-se, pois, como dizia Hegel, estamos diante do "espírito do tempo". Assim, não há lugar para devaneios ideológicos como alinhamentos em concepções que retomam pautas esquerdistas, antieconomia de mercado, há muito ultrapassadas.
O Brasil nos governos petistas, contudo, segue um alinhamento ideológico que contraria mesmo políticas pragmáticas, de corte social-democrático, adotadas por esses governos em várias questões internas e em reorientações de órgãos governamentais. É como se na política externa o País resistisse a um aggiornamento necessário. Doutrinariamente, a política externa brasileira permanece presa a dogmas do PT, abandonados em outras áreas. A troca de chanceleres poderia propiciar uma mudança de atitude. Não é isso, porém, que parece estar sendo sinalizado.
O episódio de espionagem da presidente Dilma Rousseff pelo governo dos EUA é um exemplo em que o antiamericanismo está sendo potencializado, usado como uma espécie de bode expiatório de fracassos da política externa brasileira, como os ocorridos recentemente na Argentina e na Bolívia. Não se trata, evidentemente, de justificar o injustificável: o fato de os EUA interferirem na soberania nacional, espionando o governo brasileiro, e até além dele, buscando obter informações comerciais que beneficiariam seus interesses. Nesse aspecto, a reação brasileira de considerar tal invasão inadmissível e inaceitável é plenamente condizente com uma resposta altiva e necessária.
Entretanto, o tom acima do apropriado pode levar a uma situação insustentável. O Brasil, é evidente, não poderia dar-se ao luxo de cancelar uma viagem de Estado da presidente aos EUA, em vista da maior relevância das relações entre os dois países. Muito menos poderia chamar seu embaixador para consultas, numa exacerbação da resposta. Inimaginável cortaras relações. Logo, o jogo de cena está atingindo o limite.
Já passa da hora de o Brasil revisar as suas prioridades e defender os interesses nacional obrigando as duas partes a um faz de conta que permita a retomada das relações normais. O país do norte é a maior potência do planeta - na verdade, a única -, tem uma insuperável força militar, inigualável desenvolvimento científico e tecnológico e a economia mais pujante do mundo. Não é com o Mercosul que o Brasil equilibraria suas relações comerciais.
Melhor faria o País em olhar para o lado. O Mercosul é um projeto hoje inviável, constituído por países que têm horror à economia de livre-mercado, se aferram a ideias socialistas, pregam maior intervenção estatal na economia e se comprazem com diatribes "anti-imperialistas". A Argentina está praticamente falida, sem acesso a financiamentos internacionais, gastando suas reservas internacionais, submetida a processos em Cortes norte-americanas pelo calote dado a credores e em pouco tempo terá problemas para honrar compromissos de suas importações. Ou seja, o mercado argentino importará cada vez menos do Brasil e não se vislumbra nenhuma saída. É a crônica de uma falência anunciada. Apesar disso, o Brasil continua se alinhando à Argentina em foros internacionais, tomando posição conjunta contra o livre-comércio, como acabamos de ver,na reunião do G-20, em São Petersburgo.
Já no caso da Bolívia, a omissão brasileira, que se tornou completa indiferença, foi a tônica no episódio do salvo-conduto para o senador Roger Pinto Molina, abandonado à própria sorte num cubículo da embaixada. De acordo com tratados internacionais assinados pelos dois países, o salvo-conduto deveria ter sido expedido imediatamente. O governo Evo Morales participou de um faz de conta com o Itamaraty, levando um diplomata digno a insurgir-se contra tal desprezo à lei internacional e à mínima consideração pelos direitos humanos. O fiasco do Itamaraty foi total, levando a uma crise que culminou na demissão do ministro das Relações Exteriores.
A comunhão ideológica em tomo do projeto bolivariano/socialista preponderou, como já se havia expressado na lamentável participação brasileira na suspensão do Paraguai do Mercosul, dando ensejo ao ingresso da Venezuela. Goste-se ou não da Constituição paraguaia, todos os trâmites foram seguidos na destituição do ex-presidente Lugo, o que não foi o caso dos trâmites venezuelanos que levaram Maduro a ascender ao poder, na agonia e morte de Chávez. Com tudo isso o País compactuou em nome de uma ideologia comum.
Já passa da hora de o Brasil revisar as suas prioridades e adotar a defesa pragmática de seus interesses nacionais e comerciais, dando adeus a ideologias de antanho.
Cenários espelhados - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 09/09
O quadro pré-eleitoral de São Paulo é um dos mais claros até o momento e tem várias características muito semelhantes ao nacional, com quatro pré-candidatos intrincados num jogo de tirar votos e aliados uns dos outros
Todos os políticos acompanham atentamente o que se sucede na política paulista nos últimos meses. E antes que os paulistas fiquem “se achando”, essa atenção toda ocorre porque o cenário pré-eleitoral por lá atualmente é o nacional visto pelo espelho. No comando do país, a presidente Dilma Rousseff está certa de que enfrentará um segundo turno. Tal e qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que já prepara seu jogo para 2014 pensando em dois rounds no ano que vem. E, até aqui, essas duas eleições terão quatro candidatos. No Brasil, despontam Dilma, o senador Aécio Neves, do PSDB; a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, da Rede; e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo PSB. Em São Paulo, há Geraldo Alckmin, do PSDB; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT; o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB; e o ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo PSD.
No plano dos adversários de Dilma e Alckmin, as situações são parecidas. O presidente do PSDB, Aécio Neves, explora o antipetismo da mesma forma que o ministro Alexandre Padilha tenta explorar um sentimento antitucano, ou seja, aquela parcela dos paulistas que não vota no PSDB e quase levou Celso Russomano ao segundo turno na eleição para prefeito da capital.
Tanto em São Paulo quanto no plano nacional, essa fase da disputa apresenta personagens meio fora da curvatura normal da política bem situados nas pesquisas e que podem surpreender lá na frente. A ex-ministra Marina Silva surge no plano nacional da mesma forma que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB, aparece no cenário paulista. Guardadas as devidas proporções, são opções do eleitorado fora do veio tradicional, meio “alternativos” e prontos para atrapalhar os planos de quem é considerado especialista na articulação.
Marina e Skaf hoje tiram fôlego e reduzem o potencial de atores que já apresentaram grande capacidade de articulação política e têm um pé no governo federal. Na cena nacional, esse lugar é ocupado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também preside o PSB. E, em São Paulo, quem está nessa posição é o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab, habilidoso a ponto de ter transformado o que era para ser um partido pequeno em uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados. O PSD é o quarto maior partido da Casa, com 45 deputados.
Kassab foi criado à sombra do PSDB de José Serra, da mesma forma que Eduardo Campos cresceu politicamente sob as asas do PT de Lula. Hoje, entretanto, ambos não têm as melhores relações com os sucessores de Serra e de Lula. Eduardo não é melhor amigo de Dilma da mesma forma que Kassab não vive uma relação das mais amigáveis com Geraldo Alckmin. E, além de precisar de alguns votos da massa que elegeu Dilma e Alckmin, tanto Eduardo quanto Kassab têm de “engolir” outros adversários para ter alguma chance real.
Marina hoje tira votos de Eduardo Campos, assim como Paulo Skaf tira votos de Gilberto Kassab. Entre os estrategistas de Eduardo Campos e de Gilberto Kassab há quem diga que para terem chances reais Eduardo precisa engolir Marina e ainda tirar alguns votos de Aécio Neves, quem tem hoje a melhor e maior estrutura eleitoral para concorrer contra a presidente Dilma. No plano estadual, Kassab precisa ultrapassar Skaf e ainda tirar votos do petista Alexandre Padilha. Não por acaso, o ex-prefeito e atual presidente do PSD avisa desde já que apoiará Dilma na sucessão presidencial e que sua dívida com Serra está quitada. Kassab tem ciência de que alguns eleitores do PT em São Paulo serão fundamentais para seus projetos eleitorais e busca a neutralidade da presidente na disputa estadual.
Eduardo Campos, por sua vez, também busca votos de simpatizantes de Lula desiludidos com Dilma. Por isso, sempre que se refere ao governo exalta os ganhos obtidos pelo país no período pós-redemocratização. Mas alerta que é preciso fazer mais, centrando as crítica ao período da atual presidente. Trabalha ainda no sentido de tirar apoiadores do PT e de Aécio Neves, embora tenha relações cordiais com o presidente tucano. Na Bahia, por exemplo, Eduardo espera ter o apoio do PMDB de Geddel Vieira Lima, que já deu sinais de aproximação. A propaganda peemedebista em Salvador exibida recentemente apresentava que a Bahia não merecia o governo que tinha (de Jaques Wagner, do PT) e falava maravilhas da gestão de Pernambuco.
Além de todos esses movimentos, os pré-candidatos não tiram os olhos de São Paulo por um outro motivo: José Serra. Seus amigos dizem que um dia ele se olha no espelho e diz que fica no PSDB. No outro, a mesma imagem revela a decisão pela partida. Ainda bem que 5 de outubro, o prazo final para filiação de candidatos em 2014, está logo ali.
O quadro pré-eleitoral de São Paulo é um dos mais claros até o momento e tem várias características muito semelhantes ao nacional, com quatro pré-candidatos intrincados num jogo de tirar votos e aliados uns dos outros
Todos os políticos acompanham atentamente o que se sucede na política paulista nos últimos meses. E antes que os paulistas fiquem “se achando”, essa atenção toda ocorre porque o cenário pré-eleitoral por lá atualmente é o nacional visto pelo espelho. No comando do país, a presidente Dilma Rousseff está certa de que enfrentará um segundo turno. Tal e qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que já prepara seu jogo para 2014 pensando em dois rounds no ano que vem. E, até aqui, essas duas eleições terão quatro candidatos. No Brasil, despontam Dilma, o senador Aécio Neves, do PSDB; a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, da Rede; e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo PSB. Em São Paulo, há Geraldo Alckmin, do PSDB; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT; o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB; e o ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo PSD.
No plano dos adversários de Dilma e Alckmin, as situações são parecidas. O presidente do PSDB, Aécio Neves, explora o antipetismo da mesma forma que o ministro Alexandre Padilha tenta explorar um sentimento antitucano, ou seja, aquela parcela dos paulistas que não vota no PSDB e quase levou Celso Russomano ao segundo turno na eleição para prefeito da capital.
Tanto em São Paulo quanto no plano nacional, essa fase da disputa apresenta personagens meio fora da curvatura normal da política bem situados nas pesquisas e que podem surpreender lá na frente. A ex-ministra Marina Silva surge no plano nacional da mesma forma que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB, aparece no cenário paulista. Guardadas as devidas proporções, são opções do eleitorado fora do veio tradicional, meio “alternativos” e prontos para atrapalhar os planos de quem é considerado especialista na articulação.
Marina e Skaf hoje tiram fôlego e reduzem o potencial de atores que já apresentaram grande capacidade de articulação política e têm um pé no governo federal. Na cena nacional, esse lugar é ocupado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também preside o PSB. E, em São Paulo, quem está nessa posição é o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab, habilidoso a ponto de ter transformado o que era para ser um partido pequeno em uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados. O PSD é o quarto maior partido da Casa, com 45 deputados.
Kassab foi criado à sombra do PSDB de José Serra, da mesma forma que Eduardo Campos cresceu politicamente sob as asas do PT de Lula. Hoje, entretanto, ambos não têm as melhores relações com os sucessores de Serra e de Lula. Eduardo não é melhor amigo de Dilma da mesma forma que Kassab não vive uma relação das mais amigáveis com Geraldo Alckmin. E, além de precisar de alguns votos da massa que elegeu Dilma e Alckmin, tanto Eduardo quanto Kassab têm de “engolir” outros adversários para ter alguma chance real.
Marina hoje tira votos de Eduardo Campos, assim como Paulo Skaf tira votos de Gilberto Kassab. Entre os estrategistas de Eduardo Campos e de Gilberto Kassab há quem diga que para terem chances reais Eduardo precisa engolir Marina e ainda tirar alguns votos de Aécio Neves, quem tem hoje a melhor e maior estrutura eleitoral para concorrer contra a presidente Dilma. No plano estadual, Kassab precisa ultrapassar Skaf e ainda tirar votos do petista Alexandre Padilha. Não por acaso, o ex-prefeito e atual presidente do PSD avisa desde já que apoiará Dilma na sucessão presidencial e que sua dívida com Serra está quitada. Kassab tem ciência de que alguns eleitores do PT em São Paulo serão fundamentais para seus projetos eleitorais e busca a neutralidade da presidente na disputa estadual.
Eduardo Campos, por sua vez, também busca votos de simpatizantes de Lula desiludidos com Dilma. Por isso, sempre que se refere ao governo exalta os ganhos obtidos pelo país no período pós-redemocratização. Mas alerta que é preciso fazer mais, centrando as crítica ao período da atual presidente. Trabalha ainda no sentido de tirar apoiadores do PT e de Aécio Neves, embora tenha relações cordiais com o presidente tucano. Na Bahia, por exemplo, Eduardo espera ter o apoio do PMDB de Geddel Vieira Lima, que já deu sinais de aproximação. A propaganda peemedebista em Salvador exibida recentemente apresentava que a Bahia não merecia o governo que tinha (de Jaques Wagner, do PT) e falava maravilhas da gestão de Pernambuco.
Além de todos esses movimentos, os pré-candidatos não tiram os olhos de São Paulo por um outro motivo: José Serra. Seus amigos dizem que um dia ele se olha no espelho e diz que fica no PSDB. No outro, a mesma imagem revela a decisão pela partida. Ainda bem que 5 de outubro, o prazo final para filiação de candidatos em 2014, está logo ali.
Faz-me rir - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 09/09
SÃO PAULO - O que dá vontade de rir? Eis uma pergunta cuja resposta pode ser difícil. Nossos avós gargalhavam das estripulias ingênuas de Carlitos, do Gordo e do Magro, dos Três Patetas. Eram personagens desajustados, deslocados pela modernização e pela urbanização.
Algo parecido cativava a garotada brasileira no início dos anos 1980, com "Os Trapalhões". As primeiras gerações de crianças nascidas em cidades inchadas deliciavam-se com a trupe de Renato Aragão, ele próprio oriundo do interior do Ceará.
Os adultos riam das caricaturas criadas por outro artista cearense, Chico Anysio, ou da paródia política "O Bem-Amado", da lavra de Dias Gomes, egresso do Partido Comunista Brasileiro. Eram os estertores da ditadura e de um arranque de 30 anos na economia, que transformara um país pobre e rural numa nação urbana de renda média.
A seguir, o mal-estar com a estagnação, a inflação e o início atribulado da democratização refletia nos tipos atualizados de Jô Soares alguma contrapartida humorística. A renovação da esquerda, mais afastada da influência soviética, encontrou no PT o seu representante --e em grupos de jovens humoristas, como o TV Pirata, uma parte de sua estética.
A decadência do "Casseta & Planeta" --que elegeu como alvos diletos os presidentes FHC e Lula-- talvez tenha marcado o fim da era dos programas humorísticos partilhados em escala nacional por diversas classes de renda. O riso agora está segmentado, seja na TV, seja na internet.
Fenômeno na rede, o grupo Porta dos Fundos fala de e para um mundo restrito. Seu universo é o da elite brasileira, a "velha classe média" de jovens brancos e bem nascidos.
A temática variada dispensa os assuntos públicos e a política, como regra, para recair em situações absurdas. É de um estilo de viver e pensar que estamos rindo. De um estilo em transformação, à medida que novos atores batem na porta da frente.
SÃO PAULO - O que dá vontade de rir? Eis uma pergunta cuja resposta pode ser difícil. Nossos avós gargalhavam das estripulias ingênuas de Carlitos, do Gordo e do Magro, dos Três Patetas. Eram personagens desajustados, deslocados pela modernização e pela urbanização.
Algo parecido cativava a garotada brasileira no início dos anos 1980, com "Os Trapalhões". As primeiras gerações de crianças nascidas em cidades inchadas deliciavam-se com a trupe de Renato Aragão, ele próprio oriundo do interior do Ceará.
Os adultos riam das caricaturas criadas por outro artista cearense, Chico Anysio, ou da paródia política "O Bem-Amado", da lavra de Dias Gomes, egresso do Partido Comunista Brasileiro. Eram os estertores da ditadura e de um arranque de 30 anos na economia, que transformara um país pobre e rural numa nação urbana de renda média.
A seguir, o mal-estar com a estagnação, a inflação e o início atribulado da democratização refletia nos tipos atualizados de Jô Soares alguma contrapartida humorística. A renovação da esquerda, mais afastada da influência soviética, encontrou no PT o seu representante --e em grupos de jovens humoristas, como o TV Pirata, uma parte de sua estética.
A decadência do "Casseta & Planeta" --que elegeu como alvos diletos os presidentes FHC e Lula-- talvez tenha marcado o fim da era dos programas humorísticos partilhados em escala nacional por diversas classes de renda. O riso agora está segmentado, seja na TV, seja na internet.
Fenômeno na rede, o grupo Porta dos Fundos fala de e para um mundo restrito. Seu universo é o da elite brasileira, a "velha classe média" de jovens brancos e bem nascidos.
A temática variada dispensa os assuntos públicos e a política, como regra, para recair em situações absurdas. É de um estilo de viver e pensar que estamos rindo. De um estilo em transformação, à medida que novos atores batem na porta da frente.
Emenda Black Bloc - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 09/09
Os políticos sobreviveram ao 7 de Setembro. E até ganharam mais independência. Sem gritar, apostaram na surdina que os protestos do Dia da Independência não alcançariam o mesmo nível da maré humana de junho. De fato, não chegaram nem perto. Foi uma onda violenta, mas sem volume.
Do ponto de vista da opinião pública, os protestos viraram um estorvo provocado por um punhado de indignados mascarados. São cada vez mais violentos e reprimidos cada vez com mais violência pela polícia. Prisões se multiplicam, mas a reação aos excessos policiais não é ampla nem solidária ao ponto de inibir a ação da tropa de choque. A repressão está ganhando essa.
A primeira manifestação em massa da classe média em duas décadas foi sequestrada pelos Black Blocs e assemelhados. Perdeu a força de uma ação coletiva. As imagens de bombas, correrias e apedrejamentos transmitidas sem cortes pela internet vão se repetindo até perderem a novidade, o interesse e a audiência.
Os anarquistas são bons de tática, mas péssimos de estratégia. Ao radicalizarem suas ações, capturaram o movimento e alienaram as outras facções que davam volume às manifestações. Perderam a massa que os protegia. Isolados, são alvo fácil da polícia.
Salvo aparecer um mártir, o ciclo das manifestações tende a se fechar da mesma maneira que começou. Com a narrativa dos protestos enfatizando cada vez mais a violência. Em vez de baderneiros, agora eles são identificados como Black Blocs - mesmo quando não são. Mudou a palavra, não o significado.
Em meio à fumaça, repórteres são hostilizados por manifestantes e agredidos por policiais. Quando o narrador é vítima, seu relato ganha ênfase na descrição da violência. Tudo isso afasta os pacatos marchadores de junho do palco dos protestos.
Perde-se a rua - mesmo que temporariamente - como catalisadora de uma mobilização ampla da sociedade. Sem ela, perdem força as reivindicações por reformas da estrutura de poder. Os políticos, com raras exceções, estão em dívida com os Black Blocs.
A RESSACA
À medida que a onda reflui, os efeitos da ressaca se tornam visíveis. Pichações e vitrines quebradas são de menos. O maior estrago ainda está por vir. É que alguns dos alvos dos protestos saíram deles mais poderosos do que entraram - e sem tomar pedrada nem respirar gás lacrimogêneo. Congresso e partidos estão mais fortes e, possivelmente, endinheirados.
No meio da confusão que virou a base governista depois que a popularidade de Dilma Rousseff despencou, deputados aprovaram o Orçamento impositivo. É um nome pomposo para garantir a destinação de até R$ 7 bilhões por ano aos seus currais eleitorais - além, é claro, de comprar novos.
Se passar no Senado, a proposta vai criar, na prática, 594 Casas da Moeda. Os 513 deputados e 81 senadores vão dispor de R$ 12 milhões cada um. O resultado será o aumento da desigualdade regional e a perpetuação, no poder, de quem imprime esse dinheiro.
Levantamento de Daniel Bramatti e Diego Rabatone, do Estadão Dados, mostra que, atualmente, menos da metade dos municípios brasileiros recebe recursos de emendas parlamentares. Só recebem aqueles lugares onde o deputado eleito é bem votado ou onde ele pretende cooptar o prefeito para se reeleger. Os outros 51% de municípios não veem um tostão sequer.
Com o Orçamento impositivo a desigualdade vai piorar, porque o valor destinado pelos parlamentares vai aumentar ridiculamente. Uma minoria vai receber muito e muitos não receberão nada. Pior, a força de quem já está no poder será ainda maior do que a dos aspirantes ao cargo, diminuindo a renovação do Congresso.
Por agradecimento, os parlamentares deveriam mandar uma emendinha para ajudar o movimento Black Bloc.
Os políticos sobreviveram ao 7 de Setembro. E até ganharam mais independência. Sem gritar, apostaram na surdina que os protestos do Dia da Independência não alcançariam o mesmo nível da maré humana de junho. De fato, não chegaram nem perto. Foi uma onda violenta, mas sem volume.
Do ponto de vista da opinião pública, os protestos viraram um estorvo provocado por um punhado de indignados mascarados. São cada vez mais violentos e reprimidos cada vez com mais violência pela polícia. Prisões se multiplicam, mas a reação aos excessos policiais não é ampla nem solidária ao ponto de inibir a ação da tropa de choque. A repressão está ganhando essa.
A primeira manifestação em massa da classe média em duas décadas foi sequestrada pelos Black Blocs e assemelhados. Perdeu a força de uma ação coletiva. As imagens de bombas, correrias e apedrejamentos transmitidas sem cortes pela internet vão se repetindo até perderem a novidade, o interesse e a audiência.
Os anarquistas são bons de tática, mas péssimos de estratégia. Ao radicalizarem suas ações, capturaram o movimento e alienaram as outras facções que davam volume às manifestações. Perderam a massa que os protegia. Isolados, são alvo fácil da polícia.
Salvo aparecer um mártir, o ciclo das manifestações tende a se fechar da mesma maneira que começou. Com a narrativa dos protestos enfatizando cada vez mais a violência. Em vez de baderneiros, agora eles são identificados como Black Blocs - mesmo quando não são. Mudou a palavra, não o significado.
Em meio à fumaça, repórteres são hostilizados por manifestantes e agredidos por policiais. Quando o narrador é vítima, seu relato ganha ênfase na descrição da violência. Tudo isso afasta os pacatos marchadores de junho do palco dos protestos.
Perde-se a rua - mesmo que temporariamente - como catalisadora de uma mobilização ampla da sociedade. Sem ela, perdem força as reivindicações por reformas da estrutura de poder. Os políticos, com raras exceções, estão em dívida com os Black Blocs.
A RESSACA
À medida que a onda reflui, os efeitos da ressaca se tornam visíveis. Pichações e vitrines quebradas são de menos. O maior estrago ainda está por vir. É que alguns dos alvos dos protestos saíram deles mais poderosos do que entraram - e sem tomar pedrada nem respirar gás lacrimogêneo. Congresso e partidos estão mais fortes e, possivelmente, endinheirados.
No meio da confusão que virou a base governista depois que a popularidade de Dilma Rousseff despencou, deputados aprovaram o Orçamento impositivo. É um nome pomposo para garantir a destinação de até R$ 7 bilhões por ano aos seus currais eleitorais - além, é claro, de comprar novos.
Se passar no Senado, a proposta vai criar, na prática, 594 Casas da Moeda. Os 513 deputados e 81 senadores vão dispor de R$ 12 milhões cada um. O resultado será o aumento da desigualdade regional e a perpetuação, no poder, de quem imprime esse dinheiro.
Levantamento de Daniel Bramatti e Diego Rabatone, do Estadão Dados, mostra que, atualmente, menos da metade dos municípios brasileiros recebe recursos de emendas parlamentares. Só recebem aqueles lugares onde o deputado eleito é bem votado ou onde ele pretende cooptar o prefeito para se reeleger. Os outros 51% de municípios não veem um tostão sequer.
Com o Orçamento impositivo a desigualdade vai piorar, porque o valor destinado pelos parlamentares vai aumentar ridiculamente. Uma minoria vai receber muito e muitos não receberão nada. Pior, a força de quem já está no poder será ainda maior do que a dos aspirantes ao cargo, diminuindo a renovação do Congresso.
Por agradecimento, os parlamentares deveriam mandar uma emendinha para ajudar o movimento Black Bloc.