O GLOBO - 06/09
O que fazem os serviços de inteligência brasileiros? O que fariam se o Brasil fosse alvo do terrorismo internacional?
A cena obscena de centenas de deputados, com seus cabelos pintados, seus gritos de júbilo e seus punhos cerrados, comemorando o fim do voto secreto, é uma imagem histórica do cinismo e da hipocrisia no Brasil. Só faltou cantarem o Hino Nacional. Boa parte deles havia permitido a manutenção do mandato do deputado-presidiário Natan Donadon, assim como em 2006, pressionados pela explosão do mensalão, 452 colegas já haviam aprovado o mesmo projeto, mas só em primeiro turno, na certeza de que não haveria o segundo. Agora tiveram que votar, mas sabendo que o Senado vai manter o voto aberto só para cassações de mandatos.
Com certeza eles superam qualquer ficção, mas a grande dúvida é: drama, comédia ou farsa? Ou tudo junto e misturado? Será que eles não sentem vergonha com a família, os amigos, os vizinhos, o dentista? A quem eles pensam que enganam? Ou seria uma manada desgovernada lutando pela sobrevivência política, mesmo ao custo de alguma humilhação pública e na esperança de um próximo escândalo para esquecerem do assunto?
Tenho respeito e sinto pena dos homens e mulheres de bem que representam honestamente seus partidos e eleitores tendo que conviver com os 300 picaretas que Luiz Inácio falou, e de lá para cá só aumentaram. É óbvio: num ambiente desses é muito mais fácil um novato honesto se corromper pelas oportunidades, facilidades e vaidades do que um corrupto se regenerar, no que seria uma espécie de cura gay política.
Enquanto isso, na mesma Esplanada, desenvolve-se outro drama, comédia ou farsa? Todos concordam, é intolerável ter sua privacidade invadida, decisões estratégicas interceptadas, interesses do país ameaçados, mas todos sabem que desde sempre todo mundo tenta espionar todo mundo com todos os meios de que dispõe, agentes, tecnologia, dinheiro, afinal, todos estão defendendo a sua segurança e soberania. A única regra é não ser flagrado.
O que fazem os serviços de inteligência brasileiros? O que fariam se o Brasil fosse alvo do terrorismo internacional? Na era da internet espiona quem pode, defende-se quem for capaz. Bem vindos ao século 21.
sexta-feira, setembro 06, 2013
Alcione voltou em um balão roxo - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 06/09
PASSO FUNDO - Não se sabe vindo de onde, o balão roxo surgiu no palco e pairou no ar próximo aos debatedores. Um balãozinho comum de aniversário de criança, desses que, quando se larga o barbante, imediatamente sobem, levados pelo gás. Não imaginávamos de onde tinha vindo (teria sido das Jornadinhas, onde haviam milhares de crianças?), apenas acompanhamos sua trajetória a um metro de altura, mantendo altitude estável, diria um comandante de avião. Na mesa, Roberto DaMatta, José Castello e Marcelino Freire falavam sobre trabalho, autonomia e consumo, o terceiro encontro da Jornada Nacional de Literatura.
O balão pareceu nos contemplar por um instante, depois se encaminhou até Roberto DaMatta que o acariciou, meio perplexo. Então, ele voltou, passou por Luciana Savaget que o apanhou e com um lápis de olhos desenhou boca, olhos e sobrancelhas.
Livre, o balão passou por mim e parou. Brinquei: "Fique aí, quietinho". Para espanto dos debatedores e surpresa dos assistentes, ele se afastou e se imobilizou a um metro de distância. Assim permaneceu até o final do debates. Quando as perguntas do público começaram, ele desapareceu. Luciana sussurrou: "Tenho certeza que era o Alcione". No dia seguinte, o jornal O Nacional, tradicional na cidade, publicou a foto do balão imobilizado com o comentário de Luciana.
Durante dez anos, Alcione Araújo, teatrólogo, cronista, ensaísta, participou da coordenação dos debates da Jornada. Carismático, com sua voz de baixo, seu humor (ou irritação), era invejável a sua capacidade de apanhar as falas dos debatedores, filtrando-as e devolvendo-as mastigadas ao público. Um homem amado pelas plateias, pelos organizadores, até o coração pregar uma peça e levá-lo no ano passado. Quando subimos ao palco, na abertura da Jornada, semana passada. Luciana, magra, linda, desenvolta, e eu estávamos esvaziados. Havia um vácuo que foi sendo dissolvido pela energia que vem, sempre veio, daqueles cinco mil assistentes. Quando o balão roxo surgiu e ali ficou, tivemos certeza, que ele, Alcione, tinha vindo nos dizer "alô, está indo tudo bem".
Impossível não sequestrar uma frase de Diana Corso, psicanalista que escreve aos domingos na Zero Hora, de Porto Alegre: "A comoção, óbvio, foi geral. Estávamos frente a uma aparição, uma alusão lúdica, que naquele momento fazia o papel de fantasma. Para alguns, muitos desses achados são manifestações de um espírito que nos observa e pode se comunicar. Para mim são conjugações do luto, momentos em que a dor se materializa, fica visível. Fizemos do fortuito, como no caso do balão roxo, o solene embaixador da ausência de Alcione".
A Jornada é um Airbus comandado por Tania Rosing de dois em dois anos. Nenhuma outra tem tamanho conteúdo, tanta participação. Há muitas pela Brasil que são lambidas gulosamente pela mídia, porém a maioria se encerra no momento em que o último convidado falou. Passo Fundo, quando a Jornada fecha, está apenas se reiniciando, se multiplicando. Imaginem 101 escritores convidados, falando no palco principal, nas tendas da Jornadinha para 18 mil crianças, mais painéis, oficinas, aulas, seminários, cafés literários, 23 exposições. Teóricos e ensaístas vieram da Espanha, Portugal, Polônia, Itália, Estados Unidos, México, Colômbia, Chile, Equador, Argentina.
DIVERSIDADE
Se Walcyr Carrasco (Amor à Vida) dissecou a linguagem das telenovelas, Emicida e Sergio Vaz trouxeram a linguagem das ruas. O sexo, o corpo e o afeto foram debatidos por Miriam Goldenberf, Diana Corso e Laura Muller. Uma das sessões que mais suscitaram perguntas. Porque as três têm muita bala na agulha. Sabe-se muito e pouco se sabe, precisamos de mulheres como essas. Guto Lins e André Vianco abriram o horizonte explicando a transmídia. Olhem que andei e ando Brasil afora, mas poucas vezes vi o público sentado pontualmente a cada sessão e a plateia lotada de ponta a ponta.
A Jornada começou com chuva e frio de zero grau. Ninguém se incomodou, todos se encasacaram, se protegeram e centenas levaram a cuia de chimarrão para elevar a temperatura. Com o passar do tempo, veio o sol e, no sábado de encerramento, suava-se no palco. Mesmo não sendo uma feira de livros, não ouvi uma só reclamação dos autores que venderam e assinaram, assinaram. Se é verdade, como dizem certas tribos africanas e mesmo brasileiras, que a fotografia leva a nossa alma, nessa altura pelo menos 101 escritores estão "desalmados". Até essa questão foi levantada, a da imagem, a da comunicação via digital.
A Jornada não para. Ela se inicia nos encontros ao café da manhã nos vários hotéis. Anos atrás, os participantes ocupavam um só hotel, o São Silvestre. Aos consumistas, alerto, as lojas têm roupas de inverno a preços ótimos. Não se pode perder também a feira da terra, aos sábados, no centro, com salames e grande variedade de queijos deliciosos. O dia sempre terminava no centenário Clube Comercial, que nos lembra a época áurea dos bailes ao som de big bands. Da cozinha de Lizete, Alcir Biazzi e Serafim Lutz chegavam saladas de camarão, de folhas verdes, peras e roquefort, de atum e peito de peru, massas regadas a diferentes molhos e havia salmão, bacalhau, peixes, carnes e os filés e sempre dois ou três pratos regionais. O serviço era perfeito, mesmo tendo 400 pessoas no salão ao mesmo tempo. Quanto a mim, procuro sempre o setor das mesas servidas pelo Octavio, cuja experiência e maneira de ser o fazem digno de um Fasano, de um Copacabana Palace.
Nas últimas jornadas, nos acostumamos a entrar no clube indo direto ao pianista: "Play again, Paulo", como no filme Casablanca (1). Paulo Caruso, o iluminado cartunista, vem sendo responsável pela documentação iconográfica/humorística das Jornadas. Este ano, ele tocou, tendo como crooner Roberto DaMatta, que foi de Tony Bennet a Frankie Laine, passando por Nat King Cole. Sim, Da Matta, o antropólogo que aqui escreve às quartas-feiras, podia estar no The Voice.
**(1) Na verdade, a frase nunca existiu, os cinéfilos sabem.
PASSO FUNDO - Não se sabe vindo de onde, o balão roxo surgiu no palco e pairou no ar próximo aos debatedores. Um balãozinho comum de aniversário de criança, desses que, quando se larga o barbante, imediatamente sobem, levados pelo gás. Não imaginávamos de onde tinha vindo (teria sido das Jornadinhas, onde haviam milhares de crianças?), apenas acompanhamos sua trajetória a um metro de altura, mantendo altitude estável, diria um comandante de avião. Na mesa, Roberto DaMatta, José Castello e Marcelino Freire falavam sobre trabalho, autonomia e consumo, o terceiro encontro da Jornada Nacional de Literatura.
O balão pareceu nos contemplar por um instante, depois se encaminhou até Roberto DaMatta que o acariciou, meio perplexo. Então, ele voltou, passou por Luciana Savaget que o apanhou e com um lápis de olhos desenhou boca, olhos e sobrancelhas.
Livre, o balão passou por mim e parou. Brinquei: "Fique aí, quietinho". Para espanto dos debatedores e surpresa dos assistentes, ele se afastou e se imobilizou a um metro de distância. Assim permaneceu até o final do debates. Quando as perguntas do público começaram, ele desapareceu. Luciana sussurrou: "Tenho certeza que era o Alcione". No dia seguinte, o jornal O Nacional, tradicional na cidade, publicou a foto do balão imobilizado com o comentário de Luciana.
Durante dez anos, Alcione Araújo, teatrólogo, cronista, ensaísta, participou da coordenação dos debates da Jornada. Carismático, com sua voz de baixo, seu humor (ou irritação), era invejável a sua capacidade de apanhar as falas dos debatedores, filtrando-as e devolvendo-as mastigadas ao público. Um homem amado pelas plateias, pelos organizadores, até o coração pregar uma peça e levá-lo no ano passado. Quando subimos ao palco, na abertura da Jornada, semana passada. Luciana, magra, linda, desenvolta, e eu estávamos esvaziados. Havia um vácuo que foi sendo dissolvido pela energia que vem, sempre veio, daqueles cinco mil assistentes. Quando o balão roxo surgiu e ali ficou, tivemos certeza, que ele, Alcione, tinha vindo nos dizer "alô, está indo tudo bem".
Impossível não sequestrar uma frase de Diana Corso, psicanalista que escreve aos domingos na Zero Hora, de Porto Alegre: "A comoção, óbvio, foi geral. Estávamos frente a uma aparição, uma alusão lúdica, que naquele momento fazia o papel de fantasma. Para alguns, muitos desses achados são manifestações de um espírito que nos observa e pode se comunicar. Para mim são conjugações do luto, momentos em que a dor se materializa, fica visível. Fizemos do fortuito, como no caso do balão roxo, o solene embaixador da ausência de Alcione".
A Jornada é um Airbus comandado por Tania Rosing de dois em dois anos. Nenhuma outra tem tamanho conteúdo, tanta participação. Há muitas pela Brasil que são lambidas gulosamente pela mídia, porém a maioria se encerra no momento em que o último convidado falou. Passo Fundo, quando a Jornada fecha, está apenas se reiniciando, se multiplicando. Imaginem 101 escritores convidados, falando no palco principal, nas tendas da Jornadinha para 18 mil crianças, mais painéis, oficinas, aulas, seminários, cafés literários, 23 exposições. Teóricos e ensaístas vieram da Espanha, Portugal, Polônia, Itália, Estados Unidos, México, Colômbia, Chile, Equador, Argentina.
DIVERSIDADE
Se Walcyr Carrasco (Amor à Vida) dissecou a linguagem das telenovelas, Emicida e Sergio Vaz trouxeram a linguagem das ruas. O sexo, o corpo e o afeto foram debatidos por Miriam Goldenberf, Diana Corso e Laura Muller. Uma das sessões que mais suscitaram perguntas. Porque as três têm muita bala na agulha. Sabe-se muito e pouco se sabe, precisamos de mulheres como essas. Guto Lins e André Vianco abriram o horizonte explicando a transmídia. Olhem que andei e ando Brasil afora, mas poucas vezes vi o público sentado pontualmente a cada sessão e a plateia lotada de ponta a ponta.
A Jornada começou com chuva e frio de zero grau. Ninguém se incomodou, todos se encasacaram, se protegeram e centenas levaram a cuia de chimarrão para elevar a temperatura. Com o passar do tempo, veio o sol e, no sábado de encerramento, suava-se no palco. Mesmo não sendo uma feira de livros, não ouvi uma só reclamação dos autores que venderam e assinaram, assinaram. Se é verdade, como dizem certas tribos africanas e mesmo brasileiras, que a fotografia leva a nossa alma, nessa altura pelo menos 101 escritores estão "desalmados". Até essa questão foi levantada, a da imagem, a da comunicação via digital.
A Jornada não para. Ela se inicia nos encontros ao café da manhã nos vários hotéis. Anos atrás, os participantes ocupavam um só hotel, o São Silvestre. Aos consumistas, alerto, as lojas têm roupas de inverno a preços ótimos. Não se pode perder também a feira da terra, aos sábados, no centro, com salames e grande variedade de queijos deliciosos. O dia sempre terminava no centenário Clube Comercial, que nos lembra a época áurea dos bailes ao som de big bands. Da cozinha de Lizete, Alcir Biazzi e Serafim Lutz chegavam saladas de camarão, de folhas verdes, peras e roquefort, de atum e peito de peru, massas regadas a diferentes molhos e havia salmão, bacalhau, peixes, carnes e os filés e sempre dois ou três pratos regionais. O serviço era perfeito, mesmo tendo 400 pessoas no salão ao mesmo tempo. Quanto a mim, procuro sempre o setor das mesas servidas pelo Octavio, cuja experiência e maneira de ser o fazem digno de um Fasano, de um Copacabana Palace.
Nas últimas jornadas, nos acostumamos a entrar no clube indo direto ao pianista: "Play again, Paulo", como no filme Casablanca (1). Paulo Caruso, o iluminado cartunista, vem sendo responsável pela documentação iconográfica/humorística das Jornadas. Este ano, ele tocou, tendo como crooner Roberto DaMatta, que foi de Tony Bennet a Frankie Laine, passando por Nat King Cole. Sim, Da Matta, o antropólogo que aqui escreve às quartas-feiras, podia estar no The Voice.
**(1) Na verdade, a frase nunca existiu, os cinéfilos sabem.
Mario Sergio - FERNANDA TORRES
FOLHA DE SP - 06/09
Foi seu período mais sisudo, niilista, tinha muito poder, fumava muito e não me lembro de vê-lo sorrir
Uma vez, em um agradável almoço à paisana com um jornalista, terminávamos o prato principal quando, em meio à conversa, ouvi dele:
-- Eu não sei por que as pessoas me contam as coisas se elas sabem que eu publico.
Uma censura brusca me fez perder o assunto. Não consegui mais ser natural. A profissão define nossas relações sociais. O humorista fará piada com a sua desgraça, o escritor te roubará as histórias e o jornalista usará a sua informação.
Por isso, dentre todas as amizades que desenvolvi na vida, a por Mario Sergio Conti é uma das mais longevas e misteriosas.
Eu o conheci em 1986. Mario Sergio era repórter da "Veja" e eu lançava quatro filmes, além de encarnar a mocinha da novela das oito. Ele sugeriu uma capa comigo, eu fiz e, um mês depois, recebi a Palma de Ouro como melhor atriz no Festival de Cannes. O prêmio confirmou a aposta da revista.
Desde então, viramos testemunha ocular da história do outro. Depois do súbito estrelato, o cinema acabou e eu fui fazer teatro experimental. O Mario assumiu a editoria da "Veja" e, de vez em quando, nas suas raras visitas à Guanabara, saíamos para almoçar.
Lembro-me de ele torcer o nariz para a minha opção pelo alternativo. Era possível notar o peso do cargo na fisionomia do Mario. Foi seu período mais sisudo, niilista, tinha muito poder, fumava muito e não me lembro de vê-lo sorrir. A controversa capa de Cazuza aconteceu por aí, o impeachment de Collor, também.
Amante de Proust e de João Gilberto, a ponto de não admitir qualquer outro baiano, Mario é o jornalista mais jornalista que conheço. Sempre me senti próxima e, ao mesmo tempo, desconfiada dele.
Certa vez, durante uma gripe violenta, ele me ligou de São Paulo. Conversamos uns bons 20 minutos sobre coisa nenhuma, eu reclamando da saúde, até que ele disse que um médico passara a informação de que eu estava com Aids, jurava ter visto meus exames, e ele queria saber se era verdade.
Me arrependi de ter mencionado a virose. Fiz um exame no dia seguinte e pedi que entregasse ao doutor. Durante muitos anos, mantive nossa amizade em suspenso, sem saber se eu estava diante do amigo ou do profissional de imprensa. Era uma mescla dos dois.
"Notícias do Planalto" o levaria ao exílio voluntário na França. "Notícias" é daqueles livros que têm que ser lidos, fala menos da ascensão e queda de Fernando Collor e mais, muito mais, da imprensa.
Mario disseca a saga dos principais jornais, revistas e empresas de comunicação do país. A epopeia custou-lhe centenas de inimizades. A saída mais próxima foi o aeroporto. Na França, viveu como correspondente da TV Bandeirantes, exercitando a falta de jeito para o telejornalismo.
E foi assim que eu vi o Mario, que tanto torcia o nariz para a minha carreira experimental, virar, ele mesmo, um outsider.
João Salles foi buscá-lo em Paris, para propor a criação de uma revista. Ele tinha um esboço no bolso desde que deixara o Brasil. Do encontro, saiu a "Piauí". Sua temporada carioca como editor da revista nos aproximou em definitivo.
Devo ao Mario escrever. Os artigos que me encomendou para a "Piauí" me abriram outro horizonte. Sou muito grata a ele, o meu personal editor, a quem recorro nas horas de dúvida.
Quando aventei publicar as crônicas, perguntei se ele faria o prefácio. O Mario me aconselhou a pensar duas vezes, temendo que seus desafetos acabassem por me prejudicar.
Quando soube que ele aceitara o posto de âncora do "Roda Viva", em São Paulo, lamentei a partida e duvidei do seu talento para comunicador. Mas, assim como fizera na "Piauí", Mario Sergio confiou no valor das ideias, no conteúdo livre de partidarismo e trouxe o "Roda Viva", novamente, para o centro das discussões de uma camada pequena mas influente de espectadores.
Janio de Freitas falou de imprensa, Boni da TV, Laerte sobre comportamento, a Mídia Ninja deu as caras, Marcelo Freixo se apresentou e Fernando Henrique Cardoso foi consultado.
O programa existia antes dele e continuará a existir depois. Não sei o que causou a saída, não escrevo para tomar partido, ou defendê-lo. Escrevo porque me impressionou a forma como, atuando em uma TV Educativa, ou em uma revista mensal de tiragem reduzida, Mario conseguiu pautar muitos dos temas que vi debatidos no Brasil desde a sua volta.
Aguardo atenta a sua próxima empreitada.
Foi seu período mais sisudo, niilista, tinha muito poder, fumava muito e não me lembro de vê-lo sorrir
Uma vez, em um agradável almoço à paisana com um jornalista, terminávamos o prato principal quando, em meio à conversa, ouvi dele:
-- Eu não sei por que as pessoas me contam as coisas se elas sabem que eu publico.
Uma censura brusca me fez perder o assunto. Não consegui mais ser natural. A profissão define nossas relações sociais. O humorista fará piada com a sua desgraça, o escritor te roubará as histórias e o jornalista usará a sua informação.
Por isso, dentre todas as amizades que desenvolvi na vida, a por Mario Sergio Conti é uma das mais longevas e misteriosas.
Eu o conheci em 1986. Mario Sergio era repórter da "Veja" e eu lançava quatro filmes, além de encarnar a mocinha da novela das oito. Ele sugeriu uma capa comigo, eu fiz e, um mês depois, recebi a Palma de Ouro como melhor atriz no Festival de Cannes. O prêmio confirmou a aposta da revista.
Desde então, viramos testemunha ocular da história do outro. Depois do súbito estrelato, o cinema acabou e eu fui fazer teatro experimental. O Mario assumiu a editoria da "Veja" e, de vez em quando, nas suas raras visitas à Guanabara, saíamos para almoçar.
Lembro-me de ele torcer o nariz para a minha opção pelo alternativo. Era possível notar o peso do cargo na fisionomia do Mario. Foi seu período mais sisudo, niilista, tinha muito poder, fumava muito e não me lembro de vê-lo sorrir. A controversa capa de Cazuza aconteceu por aí, o impeachment de Collor, também.
Amante de Proust e de João Gilberto, a ponto de não admitir qualquer outro baiano, Mario é o jornalista mais jornalista que conheço. Sempre me senti próxima e, ao mesmo tempo, desconfiada dele.
Certa vez, durante uma gripe violenta, ele me ligou de São Paulo. Conversamos uns bons 20 minutos sobre coisa nenhuma, eu reclamando da saúde, até que ele disse que um médico passara a informação de que eu estava com Aids, jurava ter visto meus exames, e ele queria saber se era verdade.
Me arrependi de ter mencionado a virose. Fiz um exame no dia seguinte e pedi que entregasse ao doutor. Durante muitos anos, mantive nossa amizade em suspenso, sem saber se eu estava diante do amigo ou do profissional de imprensa. Era uma mescla dos dois.
"Notícias do Planalto" o levaria ao exílio voluntário na França. "Notícias" é daqueles livros que têm que ser lidos, fala menos da ascensão e queda de Fernando Collor e mais, muito mais, da imprensa.
Mario disseca a saga dos principais jornais, revistas e empresas de comunicação do país. A epopeia custou-lhe centenas de inimizades. A saída mais próxima foi o aeroporto. Na França, viveu como correspondente da TV Bandeirantes, exercitando a falta de jeito para o telejornalismo.
E foi assim que eu vi o Mario, que tanto torcia o nariz para a minha carreira experimental, virar, ele mesmo, um outsider.
João Salles foi buscá-lo em Paris, para propor a criação de uma revista. Ele tinha um esboço no bolso desde que deixara o Brasil. Do encontro, saiu a "Piauí". Sua temporada carioca como editor da revista nos aproximou em definitivo.
Devo ao Mario escrever. Os artigos que me encomendou para a "Piauí" me abriram outro horizonte. Sou muito grata a ele, o meu personal editor, a quem recorro nas horas de dúvida.
Quando aventei publicar as crônicas, perguntei se ele faria o prefácio. O Mario me aconselhou a pensar duas vezes, temendo que seus desafetos acabassem por me prejudicar.
Quando soube que ele aceitara o posto de âncora do "Roda Viva", em São Paulo, lamentei a partida e duvidei do seu talento para comunicador. Mas, assim como fizera na "Piauí", Mario Sergio confiou no valor das ideias, no conteúdo livre de partidarismo e trouxe o "Roda Viva", novamente, para o centro das discussões de uma camada pequena mas influente de espectadores.
Janio de Freitas falou de imprensa, Boni da TV, Laerte sobre comportamento, a Mídia Ninja deu as caras, Marcelo Freixo se apresentou e Fernando Henrique Cardoso foi consultado.
O programa existia antes dele e continuará a existir depois. Não sei o que causou a saída, não escrevo para tomar partido, ou defendê-lo. Escrevo porque me impressionou a forma como, atuando em uma TV Educativa, ou em uma revista mensal de tiragem reduzida, Mario conseguiu pautar muitos dos temas que vi debatidos no Brasil desde a sua volta.
Aguardo atenta a sua próxima empreitada.
Ueba! Começou o Geme 20! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 06/09
"A senhora sabe onde fica o ponto G?". "Não sei, não, meu filho, eu sou de Belzonte". Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto da Rússia! G20!
Começou o Geme 20; todo mundo gemendo. "Ai, não tenho dinheiro." "Ai, a situação tá grega." "Ai, o euro acabou." "O euro foi um eurro." A reunião dos ex-ricos e falidos!
E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin. O Putin tem cara de vilão de 007. Vilão de filme de James Bond! From Russia with Love!
Aliás, Putin é o presidente que já vem com raiva!
E a Angela Merkel tem cara de ressaca de Oktoberfest! E a Dilma tá parecendo o Kung Fu Panda!
E a Dilma, como primeira presidenta mulher do Brasil, lançou o ponto G 20!
Os presidentes vão ter que adivinhar onde fica o ponto G da mulherada. Eu sei, no shopping. É verdade. Um amigo meu diz que a mulher dele só atinge o orgasmo no provador. Rarará! Frase masculinista!
E uma vez uma equipe de TV perguntou pruma mulher na avenida Paulista: "A senhora sabe onde fica o ponto G?". "Não sei, não, meu filho, eu sou de Belzonte". Rarará!
E a Dilma com o Obama? O espião e a espionada! Tô dizendo que esse G20 tá parecendo filme de James Bond!
E corre na internet uma charge com a Dilma no banheiro e os assessores batendo na porta: "Presidenta! Presidenta!". E ela: "Tem genta! Tem genta". A presidenta também é genta! Rarará!
E o site Kibeloco acaba de lançar uma nova revista: "O Manifestante". Nada de "Caras", "Veja", "Contigo" e "Quem". Agora é a vez da revista "O Manifestante"!
Guia do Vandalismo com as melhores lojas e bancos pra quebrar. Cinco maneiras de fazer um delicioso coquetel molotov. Dicas para disfarçar o roxo das balas de borracha. Teste: descubra se você é "maioria pacífica" ou "meia dúzia de baderneiros".
E, finalmente, o mais importante: saiba o que levar na hora de acampar na frente da casa do governador. Rarará! É mole? É mole mas sobe!
Os Predestinados! Esse é o predestinado do ano! Deu até na home do UOL: "Mergulhador de esgoto na Cidade do México: José Carlos Cu". Rarará! Isso não é mais predestinação, é maldição! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
"A senhora sabe onde fica o ponto G?". "Não sei, não, meu filho, eu sou de Belzonte". Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto da Rússia! G20!
Começou o Geme 20; todo mundo gemendo. "Ai, não tenho dinheiro." "Ai, a situação tá grega." "Ai, o euro acabou." "O euro foi um eurro." A reunião dos ex-ricos e falidos!
E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin. O Putin tem cara de vilão de 007. Vilão de filme de James Bond! From Russia with Love!
Aliás, Putin é o presidente que já vem com raiva!
E a Angela Merkel tem cara de ressaca de Oktoberfest! E a Dilma tá parecendo o Kung Fu Panda!
E a Dilma, como primeira presidenta mulher do Brasil, lançou o ponto G 20!
Os presidentes vão ter que adivinhar onde fica o ponto G da mulherada. Eu sei, no shopping. É verdade. Um amigo meu diz que a mulher dele só atinge o orgasmo no provador. Rarará! Frase masculinista!
E uma vez uma equipe de TV perguntou pruma mulher na avenida Paulista: "A senhora sabe onde fica o ponto G?". "Não sei, não, meu filho, eu sou de Belzonte". Rarará!
E a Dilma com o Obama? O espião e a espionada! Tô dizendo que esse G20 tá parecendo filme de James Bond!
E corre na internet uma charge com a Dilma no banheiro e os assessores batendo na porta: "Presidenta! Presidenta!". E ela: "Tem genta! Tem genta". A presidenta também é genta! Rarará!
E o site Kibeloco acaba de lançar uma nova revista: "O Manifestante". Nada de "Caras", "Veja", "Contigo" e "Quem". Agora é a vez da revista "O Manifestante"!
Guia do Vandalismo com as melhores lojas e bancos pra quebrar. Cinco maneiras de fazer um delicioso coquetel molotov. Dicas para disfarçar o roxo das balas de borracha. Teste: descubra se você é "maioria pacífica" ou "meia dúzia de baderneiros".
E, finalmente, o mais importante: saiba o que levar na hora de acampar na frente da casa do governador. Rarará! É mole? É mole mas sobe!
Os Predestinados! Esse é o predestinado do ano! Deu até na home do UOL: "Mergulhador de esgoto na Cidade do México: José Carlos Cu". Rarará! Isso não é mais predestinação, é maldição! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
À espera do ataque - RASHEED ABOU-ALSAMH
O GLOBO - 06/09
Essa lenga-lenga interminável de que precisamos de mais provas para termos certeza que o regime do ditador sírio Bashar al-Assad usou armas químicas contra seu próprio povo é uma desculpa dissimulada para não admitir o óbvio.
Quase exatamente um ano depois que o presidente americano, Barack Obama, disse que o uso de armas químicas por Assad seria uma linha vermelha cruzada que iria levar à intervenção militar na guerra civil síria — que já matou mais de 100.000 em dois anos e meio — armas químicas foram lançadas no dia 21 de agosto contra áreas controladas pelos rebeldes nos subúrbios ao leste da capital, Damasco. Fotos e vídeos horripilantes mostraram centenas de vítimas mortas sem nenhum ferimento óbvio, seus parentes sacudindo-as desesperadamente, enquanto choravam e gritavam. Estima se que 1.300 pessoas morreram neste único ataque, 300 delas crianças.
Muitos custaram a acreditar que Assad teria coragem de fazer isso, justamente quando inspetores da ONU já estavam em Damasco para investigar ataques anteriores com armas químicas. Mas foi o desespero de ver os rebeldes se aproximarem do centro de Damasco que teria levado Assad a lançar esse ataque tão mortal. Uma amiga síria minha, que mora na capital síria, me disse que somente forças do governo têm a capacidade de lançar os mísseis que levaram o gás letal, e para atingir tantos alvos ao mesmo tempo.
Pressionado a deixar os inspetores da ONU irem para as áreas atingidas para colher provas como amostras de solo e de cabelo das vítimas, Assad não deixou barato. No segundo dia de inspeções, as viaturas dos inspetores foram alvejadas e atingidas por franco-atiradores, e a mídia estatal tentou culpar os rebeldes. Depois de vários dias de colher provas e declarações de sobreviventes, os inspetores voltaram para Nova York, com seu relatório final somente a sair semanas depois. E somente vão dizer se armas químicas foram usadas, e não quem as usou!
Enquanto isso, no Reino Unido, o primeiro-ministro David Cameron teve a ideia de precipitar o debate no Parlamento sobre uma participação britânica num ataque militar contra a Síria. Depois de somente um dia de debates, o governo conservador perdeu, no dia 29 de agosto, a moção por uns meros 13 votos, certamente por causa de parlamentares receosos de entrar numa guerra com informações falsas, como aconteceu com a invasão do Iraque em 2003, liderada pelos EUA e Grã-Bretanha, depois que o presidente George W. Bush insistiu que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Como todos sabem, essas armas nunca foram encontradas. De qualquer jeito, com as forças britânicas enfraquecidas, sua ausência num ataque à Síria não será grande desvantagem.
Mas o caso da Síria é diferente. Todos sabem que a Síria mantém um armazém gigante de armas químicas há décadas, e que ela é uma das sete nações que não assinaram o tratado contra armas químicas. A Síria sempre se defendeu disso argumentando que tinha que ter uma arma de destruição em massa para se defender das armas nucleares do seu vizinho e inimigo Israel, que também não é signatário do tratado, bem como não é signatário do tratado sobre a não proliferação de armas nucleares. E adivinha quem dá ajuda técnica aos sírios para produzir esses gases letais? O Irã.
Ao longo de tudo isso, o presidente Obama prometeu que os EUA iam lançar um ataque militar contra alvos na Síria para punir o regime de Assad por ter ultrapassado a “linha vermelha” quando usou armas químicas. Depois da partida dos inspetores da ONU da Síria no dia 31 de agosto, todos esperavam o ataque para esta semana. Mas no dia seguinte, 1º de setembro, Obama surpreendeu todos ao anunciar que ia buscar aprovação ao ataque junto ao Congresso americano.
O secretário de Estado, John Kerry, se mostrou um locutor convincente na audiência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, respondendo às perguntas dos senadores, muitos hesitantes em relação ao envolvimento americano em mais uma guerra no Oriente Médio. Kerry assegurou que nenhum soldado americano ia pôr os pés em solo sírio. E, em verdade, os americanos planejam atingir alvos militares e estratégicos na Síria usando pelo menos 200 mísseis Tomahawk lançados de navios e submarinos americanos estacionados no Mediterrâneo. O bombardeio de bunkers debaixo da terra poderá ser feito por bombardeiros B-2 voando de bases nos EUA. De qualquer jeito, o Senado já disse que vai autorizar ação militar por no máximo 90 dias.
Obama tem sido menos do que claro nas intenções americanas de um ataque contra Síria. Seria simplesmente para degradar o potencial sírio de lançar mais um ataque com gás venenoso, ou seria também para inclinar o campo de jogo o bastante para dar vantagem aos rebeldes? Ele tem que ter um plano bem definido antes que o ataque comece, e talvez ele esteja sendo nebuloso em público para não deixar a estratégia americana vazar antes do tempo. Tomara.
Por fim, aos que clamam por dar uma chance à diplomacia para resolver a guerra civil síria, eu acho que com os russos e iranianos obstinados a defender Assad a qualquer custo não há possibilidade ainda de negociação. Os russos e iranianos insistem em que Assad continue no poder, algo totalmente inaceitável para os rebeldes. Espero que um ataque, bem preciso, sacuda a Rússia e o Irã para admitirem que a governança sangrenta de Assad é insustentável.
Essa lenga-lenga interminável de que precisamos de mais provas para termos certeza que o regime do ditador sírio Bashar al-Assad usou armas químicas contra seu próprio povo é uma desculpa dissimulada para não admitir o óbvio.
Quase exatamente um ano depois que o presidente americano, Barack Obama, disse que o uso de armas químicas por Assad seria uma linha vermelha cruzada que iria levar à intervenção militar na guerra civil síria — que já matou mais de 100.000 em dois anos e meio — armas químicas foram lançadas no dia 21 de agosto contra áreas controladas pelos rebeldes nos subúrbios ao leste da capital, Damasco. Fotos e vídeos horripilantes mostraram centenas de vítimas mortas sem nenhum ferimento óbvio, seus parentes sacudindo-as desesperadamente, enquanto choravam e gritavam. Estima se que 1.300 pessoas morreram neste único ataque, 300 delas crianças.
Muitos custaram a acreditar que Assad teria coragem de fazer isso, justamente quando inspetores da ONU já estavam em Damasco para investigar ataques anteriores com armas químicas. Mas foi o desespero de ver os rebeldes se aproximarem do centro de Damasco que teria levado Assad a lançar esse ataque tão mortal. Uma amiga síria minha, que mora na capital síria, me disse que somente forças do governo têm a capacidade de lançar os mísseis que levaram o gás letal, e para atingir tantos alvos ao mesmo tempo.
Pressionado a deixar os inspetores da ONU irem para as áreas atingidas para colher provas como amostras de solo e de cabelo das vítimas, Assad não deixou barato. No segundo dia de inspeções, as viaturas dos inspetores foram alvejadas e atingidas por franco-atiradores, e a mídia estatal tentou culpar os rebeldes. Depois de vários dias de colher provas e declarações de sobreviventes, os inspetores voltaram para Nova York, com seu relatório final somente a sair semanas depois. E somente vão dizer se armas químicas foram usadas, e não quem as usou!
Enquanto isso, no Reino Unido, o primeiro-ministro David Cameron teve a ideia de precipitar o debate no Parlamento sobre uma participação britânica num ataque militar contra a Síria. Depois de somente um dia de debates, o governo conservador perdeu, no dia 29 de agosto, a moção por uns meros 13 votos, certamente por causa de parlamentares receosos de entrar numa guerra com informações falsas, como aconteceu com a invasão do Iraque em 2003, liderada pelos EUA e Grã-Bretanha, depois que o presidente George W. Bush insistiu que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Como todos sabem, essas armas nunca foram encontradas. De qualquer jeito, com as forças britânicas enfraquecidas, sua ausência num ataque à Síria não será grande desvantagem.
Mas o caso da Síria é diferente. Todos sabem que a Síria mantém um armazém gigante de armas químicas há décadas, e que ela é uma das sete nações que não assinaram o tratado contra armas químicas. A Síria sempre se defendeu disso argumentando que tinha que ter uma arma de destruição em massa para se defender das armas nucleares do seu vizinho e inimigo Israel, que também não é signatário do tratado, bem como não é signatário do tratado sobre a não proliferação de armas nucleares. E adivinha quem dá ajuda técnica aos sírios para produzir esses gases letais? O Irã.
Ao longo de tudo isso, o presidente Obama prometeu que os EUA iam lançar um ataque militar contra alvos na Síria para punir o regime de Assad por ter ultrapassado a “linha vermelha” quando usou armas químicas. Depois da partida dos inspetores da ONU da Síria no dia 31 de agosto, todos esperavam o ataque para esta semana. Mas no dia seguinte, 1º de setembro, Obama surpreendeu todos ao anunciar que ia buscar aprovação ao ataque junto ao Congresso americano.
O secretário de Estado, John Kerry, se mostrou um locutor convincente na audiência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, respondendo às perguntas dos senadores, muitos hesitantes em relação ao envolvimento americano em mais uma guerra no Oriente Médio. Kerry assegurou que nenhum soldado americano ia pôr os pés em solo sírio. E, em verdade, os americanos planejam atingir alvos militares e estratégicos na Síria usando pelo menos 200 mísseis Tomahawk lançados de navios e submarinos americanos estacionados no Mediterrâneo. O bombardeio de bunkers debaixo da terra poderá ser feito por bombardeiros B-2 voando de bases nos EUA. De qualquer jeito, o Senado já disse que vai autorizar ação militar por no máximo 90 dias.
Obama tem sido menos do que claro nas intenções americanas de um ataque contra Síria. Seria simplesmente para degradar o potencial sírio de lançar mais um ataque com gás venenoso, ou seria também para inclinar o campo de jogo o bastante para dar vantagem aos rebeldes? Ele tem que ter um plano bem definido antes que o ataque comece, e talvez ele esteja sendo nebuloso em público para não deixar a estratégia americana vazar antes do tempo. Tomara.
Por fim, aos que clamam por dar uma chance à diplomacia para resolver a guerra civil síria, eu acho que com os russos e iranianos obstinados a defender Assad a qualquer custo não há possibilidade ainda de negociação. Os russos e iranianos insistem em que Assad continue no poder, algo totalmente inaceitável para os rebeldes. Espero que um ataque, bem preciso, sacuda a Rússia e o Irã para admitirem que a governança sangrenta de Assad é insustentável.
Os interesses de Israel - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 06/09
PARIS - No caso da tragédia síria, Washington faz declarações e declarações e o presidente francês de tempos em tempos profere um discurso na posição de "comandante-chefe", formando a sua "frágil Grande Coalizão Mundial de dois membros" (França e EUA). Na Turquia, o premiê Recep Tayyip Erdogan exige a execução e maldiz o ditador sírio, Bashar Assad. Putin sorri perversamente.
Mas um país está silencioso. Israel, que se encontra, no entanto, no meio da tormenta. Israel está à porta da Síria e no centro de uma vasta região, que vai do Egito até o Irã, em risco de incendiar-se descontroladamente.
A sobriedade de Israel merece ser investigada pois revela as insolúveis contradições nas quais estão mergulhadas todas as nações ocidentais com relação à guerra civil síria.
Não é preciso dizer que os dirigentes israelenses desejam que o Ocidente puna Assad pelos seus crimes e o uso de gás contra seu próprio povo. Mas ao mesmo tempo não querem, realmente, que as investidas ocidentais provoquem a derrubada de Assad.
Por que tal raciocínio? Certamente não é por compaixão ao ditador sírio. O fato é que Jerusalém teme que o desaparecimento de Assad abra caminho para grupos radicais islamistas, alguns muito próximos da Al-Qaeda.
É uma estranha configuração, similar a uma "quadratura do círculo": ou seja, entrar em guerra, mas não derrotar o chefe dos inimigos. Em resumo, travar uma guerra, mas evitar vencê-la.
Essa hesitação dos israelenses tem a vantagem de deixar claro, de maneira crua e impiedosa, o estado de espírito dos ocidentais, particularmente das duas nações que pretendem uma ação armada contra Damasco: França e EUA.
SUCESSÃO
Obama teme que a eliminação do líder sírio leve ao poder não os corajosos democratas que há dois anos se rebelaram contra a tirania, mas os islamistas, cada vez mais numerosos, treinados e armados, que se integraram nas fileiras dos insurgentes como moscas no mel.
Os israelenses criticam duramente o presidente Obama. Denunciam sua hesitação, quase a sua falta de coragem. E compreenderam que a influência de Washington no Oriente Médio diminuiu espetacularmente desde o início da Primavera Árabe. E a cautela de Obama, sua incapacidade de assumir posições heroicas, provocaram um forte recuo da influência americana em todo o Oriente Médio, que se tornou a região mais perigosa do mundo.
Mais além do caso sírio (por mais grave que seja aos olhos dos dirigentes de Israel), é sobretudo pensando num outro país e num outro desafio que os israelenses criticam Obama. Trata-se do Irã, que proximamente se tornará um perigo ainda mais terrível do que o apresentado por Damasco. O Irã e sua provável força nuclear.
Se os americanos hesitam tanto em atacar a Síria, vacilarão muito mais no caso de um adversário bem mais forte do que Assad: o Irã, seus aiatolás e suas ogivas nucleares/TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
PARIS - No caso da tragédia síria, Washington faz declarações e declarações e o presidente francês de tempos em tempos profere um discurso na posição de "comandante-chefe", formando a sua "frágil Grande Coalizão Mundial de dois membros" (França e EUA). Na Turquia, o premiê Recep Tayyip Erdogan exige a execução e maldiz o ditador sírio, Bashar Assad. Putin sorri perversamente.
Mas um país está silencioso. Israel, que se encontra, no entanto, no meio da tormenta. Israel está à porta da Síria e no centro de uma vasta região, que vai do Egito até o Irã, em risco de incendiar-se descontroladamente.
A sobriedade de Israel merece ser investigada pois revela as insolúveis contradições nas quais estão mergulhadas todas as nações ocidentais com relação à guerra civil síria.
Não é preciso dizer que os dirigentes israelenses desejam que o Ocidente puna Assad pelos seus crimes e o uso de gás contra seu próprio povo. Mas ao mesmo tempo não querem, realmente, que as investidas ocidentais provoquem a derrubada de Assad.
Por que tal raciocínio? Certamente não é por compaixão ao ditador sírio. O fato é que Jerusalém teme que o desaparecimento de Assad abra caminho para grupos radicais islamistas, alguns muito próximos da Al-Qaeda.
É uma estranha configuração, similar a uma "quadratura do círculo": ou seja, entrar em guerra, mas não derrotar o chefe dos inimigos. Em resumo, travar uma guerra, mas evitar vencê-la.
Essa hesitação dos israelenses tem a vantagem de deixar claro, de maneira crua e impiedosa, o estado de espírito dos ocidentais, particularmente das duas nações que pretendem uma ação armada contra Damasco: França e EUA.
SUCESSÃO
Obama teme que a eliminação do líder sírio leve ao poder não os corajosos democratas que há dois anos se rebelaram contra a tirania, mas os islamistas, cada vez mais numerosos, treinados e armados, que se integraram nas fileiras dos insurgentes como moscas no mel.
Os israelenses criticam duramente o presidente Obama. Denunciam sua hesitação, quase a sua falta de coragem. E compreenderam que a influência de Washington no Oriente Médio diminuiu espetacularmente desde o início da Primavera Árabe. E a cautela de Obama, sua incapacidade de assumir posições heroicas, provocaram um forte recuo da influência americana em todo o Oriente Médio, que se tornou a região mais perigosa do mundo.
Mais além do caso sírio (por mais grave que seja aos olhos dos dirigentes de Israel), é sobretudo pensando num outro país e num outro desafio que os israelenses criticam Obama. Trata-se do Irã, que proximamente se tornará um perigo ainda mais terrível do que o apresentado por Damasco. O Irã e sua provável força nuclear.
Se os americanos hesitam tanto em atacar a Síria, vacilarão muito mais no caso de um adversário bem mais forte do que Assad: o Irã, seus aiatolás e suas ogivas nucleares/TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Calma, gente - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 06/09
A ministra Marta Suplicy diz que teve dificuldade de ler até o fim a carta aberta da psicanalista Maria Rita Kehl que, depois de criticar o uso da Lei Rouanet para apoiar desfiles de moda, diz que os “pontos de cultura criados na gestão Gilberto Gil estão abandonados em muitas regiões do país”.
— É pena. Mas ela está desinformada. Os recursos são limitados. Ainda assim, só os novos investimentos em pontos de cultura para este ano somam R$ 72 milhões.
Fogo amigo...
Renato Rovai, editor da revista “Fórum” e também próximo ao PT, elogiou em seu blog a crítica de Maria Rita Kehl.
“O governo precisa fazer opções. Deixar os pontos de cultura à míngua e incentivar a alta-costura é algo absurdo. E algo que aponta lados. Que demonstra escolhas.”
Pró-memória...
O chamado fogo amigo ajudou a derrubar Ana de Hollanda do comando do Minc.
Por falar em Marta...
A ministra Marta Suplicy reconhece que ainda não foi escolhido o lugar onde vão ficar hospedados os 70 escritores da delegação brasileira na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, dia 8 de outubro:
— Mandei fazer uma nova licitação depois que descobri que o hotel dos nossos escritores não tinha banheiro nos quartos. Imagina se deixaria, por exemplo, uma pessoa como Nélida Pifion ficar num lugar desses.
Cine Brasil
Cacá Diegues, o grande cineasta, entrou para o comitê artístico da Globo Filmes. Vai trabalhar ao lado de Daniel Filho e Guel Arraes.
O preço da arte
Um móbile do artista americano Alexander Calder foi vendido por R$ 24 milhões no primeiro dia de ArtRio, a feira de arte no Píer Mauá.
A Rádio Vernissage diz que o comprador foi um dos donos da InBev.
Aliás...
Na quarta-feira, quando foram reservadas três horas apenas para os 30 melhores clientes de cada galeria, o ritmo de compras foi frenético.
Um óleo de Baselitz, alemão que virou sensação nas feiras internacionais, foi vendido por 350 mil euros, coisa de R$ 1 milhão. A galeria Multiplo vendeu rápido uma gravura do artista por R$ 17 mil.
Judeus...
Amanhã, as galerias prometem abrir mais cedo só para receber os grandes colecionadores judeus.
É que na quarta muitos não foram porque a data coincidia com o Rosh Hashaná (o ano-novo judaico).
VÕ João
João Bosco é vovô pela segunda vez.
Nasceu, na segunda, Lourenço, filho de Francisco Bosco e Antônia Pellegrino.
1889
Depois de apenas duas semanas de seu lançamento, “1889 ”, o novo livro de Laurentino Gomes, já encabeça a lista de mais vendidos. A Globo Livros teve que providenciar às pressas nova tiragem de 100 mil exemplares.
Já são 300 mil exemplares impressos do livro que narra com bom humor os bastidores da Proclamação da República.
Fica para a próxima
A diretora teatral Bia Lessa desistiu de cuidar do carnaval da São Clemente.
Seria sua estreia na Sapucaí.
Fúria adolescente
Veja como faz sucesso na Bienal do Livro do Rio a literatura para adolescentes.
A atriz e escritora Mel Fronckowiak provocou tanto tumulto na sua tarde de autógrafos, na quarta-feira, que, para conter o acesso, foi levada para o setor de carga e descarga.
E foi lá mesmo, com a entrada de apenas dois fãs por vez, que ela deu autógrafos por mais de três horas.
— É pena. Mas ela está desinformada. Os recursos são limitados. Ainda assim, só os novos investimentos em pontos de cultura para este ano somam R$ 72 milhões.
Fogo amigo...
Renato Rovai, editor da revista “Fórum” e também próximo ao PT, elogiou em seu blog a crítica de Maria Rita Kehl.
“O governo precisa fazer opções. Deixar os pontos de cultura à míngua e incentivar a alta-costura é algo absurdo. E algo que aponta lados. Que demonstra escolhas.”
Pró-memória...
O chamado fogo amigo ajudou a derrubar Ana de Hollanda do comando do Minc.
Por falar em Marta...
A ministra Marta Suplicy reconhece que ainda não foi escolhido o lugar onde vão ficar hospedados os 70 escritores da delegação brasileira na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, dia 8 de outubro:
— Mandei fazer uma nova licitação depois que descobri que o hotel dos nossos escritores não tinha banheiro nos quartos. Imagina se deixaria, por exemplo, uma pessoa como Nélida Pifion ficar num lugar desses.
Cine Brasil
Cacá Diegues, o grande cineasta, entrou para o comitê artístico da Globo Filmes. Vai trabalhar ao lado de Daniel Filho e Guel Arraes.
O preço da arte
Um móbile do artista americano Alexander Calder foi vendido por R$ 24 milhões no primeiro dia de ArtRio, a feira de arte no Píer Mauá.
A Rádio Vernissage diz que o comprador foi um dos donos da InBev.
Aliás...
Na quarta-feira, quando foram reservadas três horas apenas para os 30 melhores clientes de cada galeria, o ritmo de compras foi frenético.
Um óleo de Baselitz, alemão que virou sensação nas feiras internacionais, foi vendido por 350 mil euros, coisa de R$ 1 milhão. A galeria Multiplo vendeu rápido uma gravura do artista por R$ 17 mil.
Judeus...
Amanhã, as galerias prometem abrir mais cedo só para receber os grandes colecionadores judeus.
É que na quarta muitos não foram porque a data coincidia com o Rosh Hashaná (o ano-novo judaico).
VÕ João
João Bosco é vovô pela segunda vez.
Nasceu, na segunda, Lourenço, filho de Francisco Bosco e Antônia Pellegrino.
1889
Depois de apenas duas semanas de seu lançamento, “1889 ”, o novo livro de Laurentino Gomes, já encabeça a lista de mais vendidos. A Globo Livros teve que providenciar às pressas nova tiragem de 100 mil exemplares.
Já são 300 mil exemplares impressos do livro que narra com bom humor os bastidores da Proclamação da República.
Fica para a próxima
A diretora teatral Bia Lessa desistiu de cuidar do carnaval da São Clemente.
Seria sua estreia na Sapucaí.
Fúria adolescente
Veja como faz sucesso na Bienal do Livro do Rio a literatura para adolescentes.
A atriz e escritora Mel Fronckowiak provocou tanto tumulto na sua tarde de autógrafos, na quarta-feira, que, para conter o acesso, foi levada para o setor de carga e descarga.
E foi lá mesmo, com a entrada de apenas dois fãs por vez, que ela deu autógrafos por mais de três horas.
O tom do combate - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 06/09
As entidades dos médicos perderam a batalha de opinião pública na contestação ao Mais Médicos. A oposição avalia que elas erraram a "embocadura" E explica que nas pesquisas brota o clamor por "mais médicos! Por isso, a oposição se agarrou a uma boia: a defesa do respeito à legislação trabalhista e o protesto contra o "imposto" que o governo de Cuba vai cobrar dos seus trabalhadores.
A ameaça de Paulo Skaf
O êxito do Mais Médicos é decisivo para o PT alavancar a candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) para o governo paulista. Mas não basta. A candidatura do presidente da Fiesp,
Paulo Skaf, é uma peça fundamental para levar a eleição para o segundo turno. Mas insatisfeito com o apoio que tem recebido, Skaf reclamou com o vice-presidente Michel Temer. Ele cobrou o apoio do PMDB, como lhe fora prometido, e ameaçou deixar o partido. Ele diz que está sendo solapado pelo presidente do PMDB local, Baleia Rossi, e pelo ex-prefeito Marcelo Barbieri, que articulam abertamente o apoio à candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"A presidente Dilma faturou. Mas tem que ter serenidade. Mostrar indignação na dose certa. Não dá para declarar guerra"
Francisco Dornelles
Senador (RJ) e presidente de honra do PP, sobre a espionagem americana sobre autoridades brasileiras
Me dê motivo
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), não perde chance de falar mal do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB). Está irritado com as decisões da Câmara sobre a votação dos vetos e o fim do voto secreto.
Desidratado
Com 11 deputados, o PPS pode perder três nos próximos dias. Augusto Carvalho (DF) está indo I para o Solidariedade;
Simplício Araújo (MA), para a Rede. Irritado com o líder Rubens Bueno (na foto), Sandro Alex está de saída. Ele cobra promessa de presidir o PPS no Paraná. Mas Rubens, líder na Câmara e secretário-geral nacional, não quer sair
O estrago
Os aliados da candidatura do deputado Paulo Teixeira à presidência do PT temem que ele seja prejudicado pela denúncia do deputado Henrique Fontana (RS) de irregularidades no colégio eleitoral qúe elegerá a direção do partido.
A correlação de forças
As tendências Construindo um Novo Brasil, que dirige o PT desde a sua criação, e Partido é Para Todos na Luta, que apoiam a reeleição de Rui Falcão para a presidência do partido, fecharam um acordo. A CNB vai indicar o tesoureiro da Executiva e a Para Todos, o secretário-geral. Este cargo atualmente é exercido pela Mensagem, grupo que sustenta a candidatura Paulo Teixeira.
Acertando os ponteiros
O vice-presidente Michel Temer e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, conversaram sobre eleição em Brasília. Temer quer o apoio do PSD para a candidatura do vice Tadeu Filipelli (PMDB) contra o governador Agnelo Queiroz (PT).
O desembarque
O PMDB do ministro Garibaldi Alves saiu do governo Rosalba Ciarlini (DEM) no Rio Grande do Norte. O partido deve lançar o deputado estadual Valter Alves para o governo, com a deputada Fátima Bezerra (PT) para o Senado.
O Presidente do TCU, João Augusto Nardes, vai ocupar a vice-presidência da Conferência Internacional de Tribunais de Contas em outubro, na China.
A ameaça de Paulo Skaf
O êxito do Mais Médicos é decisivo para o PT alavancar a candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) para o governo paulista. Mas não basta. A candidatura do presidente da Fiesp,
Paulo Skaf, é uma peça fundamental para levar a eleição para o segundo turno. Mas insatisfeito com o apoio que tem recebido, Skaf reclamou com o vice-presidente Michel Temer. Ele cobrou o apoio do PMDB, como lhe fora prometido, e ameaçou deixar o partido. Ele diz que está sendo solapado pelo presidente do PMDB local, Baleia Rossi, e pelo ex-prefeito Marcelo Barbieri, que articulam abertamente o apoio à candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"A presidente Dilma faturou. Mas tem que ter serenidade. Mostrar indignação na dose certa. Não dá para declarar guerra"
Francisco Dornelles
Senador (RJ) e presidente de honra do PP, sobre a espionagem americana sobre autoridades brasileiras
Me dê motivo
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), não perde chance de falar mal do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB). Está irritado com as decisões da Câmara sobre a votação dos vetos e o fim do voto secreto.
Desidratado
Com 11 deputados, o PPS pode perder três nos próximos dias. Augusto Carvalho (DF) está indo I para o Solidariedade;
Simplício Araújo (MA), para a Rede. Irritado com o líder Rubens Bueno (na foto), Sandro Alex está de saída. Ele cobra promessa de presidir o PPS no Paraná. Mas Rubens, líder na Câmara e secretário-geral nacional, não quer sair
O estrago
Os aliados da candidatura do deputado Paulo Teixeira à presidência do PT temem que ele seja prejudicado pela denúncia do deputado Henrique Fontana (RS) de irregularidades no colégio eleitoral qúe elegerá a direção do partido.
A correlação de forças
As tendências Construindo um Novo Brasil, que dirige o PT desde a sua criação, e Partido é Para Todos na Luta, que apoiam a reeleição de Rui Falcão para a presidência do partido, fecharam um acordo. A CNB vai indicar o tesoureiro da Executiva e a Para Todos, o secretário-geral. Este cargo atualmente é exercido pela Mensagem, grupo que sustenta a candidatura Paulo Teixeira.
Acertando os ponteiros
O vice-presidente Michel Temer e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, conversaram sobre eleição em Brasília. Temer quer o apoio do PSD para a candidatura do vice Tadeu Filipelli (PMDB) contra o governador Agnelo Queiroz (PT).
O desembarque
O PMDB do ministro Garibaldi Alves saiu do governo Rosalba Ciarlini (DEM) no Rio Grande do Norte. O partido deve lançar o deputado estadual Valter Alves para o governo, com a deputada Fátima Bezerra (PT) para o Senado.
O Presidente do TCU, João Augusto Nardes, vai ocupar a vice-presidência da Conferência Internacional de Tribunais de Contas em outubro, na China.
Mesa-redonda - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 06//09
Reunidos no salão de festas de José Dirceu para acompanhar a sessão do STF de ontem, amigos do ex-ministro da Casa Civil fizeram críticas a Celso de Mello, considerado "mais duro que Joaquim Barbosa". Também comentaram que Rosa Weber vota "com a faca no pescoço", no momento em que ela disse que teria de ser "coerente" e não seguiu a divergência aberta por Ricardo Lewandowski. Ao final, Dirceu evitou demonstrar otimismo com o novo prazo dado pela corte, segundo amigos.
3D No momento em que Celso de Mello comentou os gráficos de Lewandowski com a diminuição de penas dos réus, amigos e familiares de Dirceu aplaudiram. E o ex-ministro comentou: "Poxa, não é tão difícil acompanhar".
Tamo junto 1 Um grupo de intelectuais e divulgará hoje um manifesto, batizado de "abraço assinado", reiterando apoio a José Genoino.
Tamo junto 2 A lista inclui a filósofa Marilena Chauí, o crítico literário Antonio Candido e a professora de teoria literária da USP Ana Paula Pacheco, irmã do advogado do petista, Luiz Pacheco.
Moscou... Quando saía de carro para o encontro dos chefes de Estado dos Brics, ontem, Dilma Rousseff passou por um grupo de quase 50 pessoas no qual estava, incógnito, Barack Obama.
... contra 007 Os dois, pivôs de crise diplomática graças ao monitoramento da brasileira pela agência norte-americana NSA, não se viram.
Currículo O chefe de gabinete de David Uip, novo secretário de Saúde paulista, será o médico Nilson Paschoa, que ajudou a implantar o modelo de parcerias com Organizações Sociais no Estado.
Mais médicos Na posse de Uip, Geraldo Alckmin (PSDB) reclamou da falta de recursos da União para as Santas Casas, mas fez questão de defender parcerias de sua gestão com o governo federal.
Piloto Nelson Biondi, que fez a campanha de José Serra em 2002, fechou contrato com o PSDB paulista para produzir os spots de TV que vão ao ar em outubro. Será um teste para definir o marqueteiro da campanha de Alckmin à reeleição em 2014.
Vacina A propaganda tucana vai apresentar a gestão Alckmin como "eficiente, responsável e honesta". Ainda não foi decidido se as peças tratarão diretamente das ações tomadas após as acusações de cartel de empresas em contratos de metrô e trem.
Script Roberto Freire ofereceu a Serra espaço nas peças de propaganda de TV do PPS que vão ao ar a partir do dia 14, em uma tentativa de acelerar a migração do ex-governador para seu partido.
Fora do ar Serra hesitou, e Freire tomou a reação como um sinal de que ele está propenso a ficar no PSDB.
Par Em almoço com deputados petistas, Lula sustentou que o partido deve buscar no interior alguém com perfil não-petista'' para vice de Alexandre Padilha na chapa ao governo paulista. O ex-presidente citou como exemplo José Alencar, seu vice de 2003 a 2010.
Bola Eduardo Campos recebeu Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, e fez um convite formal para que ele se filie ao PSB, de olho na disputa eleitoral mineira. Já Aécio Neves acertou na quarta-feira a filiação do ex-jogador de vôlei Giovane Gávio ao PSDB de Minas.
Revoada Em reunião com Michel Temer ontem, Gilberto Kassab (PSD) calculou que deve perder 4 ou 5 deputados para o Solidariedade, partido de Paulinho da Força (PDT-SP), prestes a ser criado pela Justiça Eleitoral.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"É uma pena que a legislação brasileira puna o PDT com perda de tempo de TV em prol de uma sigla construída por arranjos locais."
DE CARLOS LUPI, presidente do PDT, sobre a migração de deputados do partido para o Solidariedade, o que vai reduzir sua parcela de propaganda eleitoral.
contraponto
Suprema ironia
Encerrada a discussão dos embargos de declaração do mensalão, ontem, Joaquim Barbosa colocou em debate os embargos infringentes de Delúbio Soares. Ricardo Lewandowski dizia alguma coisa quando o defensor de Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério, se dirigiu à tribuna. O presidente da corte interrompeu o colega:
--Vamos ouvir o advogado, que quer falar.
--Claro, o advogado tem preferência! --disse o revisor.
Barbosa, que teve vários embates com Lewandowski e chegou a acusá-lo de fazer "chicana", olhou para Celso de Mello e Gilmar Mendes e soltou uma risadinha.
Reunidos no salão de festas de José Dirceu para acompanhar a sessão do STF de ontem, amigos do ex-ministro da Casa Civil fizeram críticas a Celso de Mello, considerado "mais duro que Joaquim Barbosa". Também comentaram que Rosa Weber vota "com a faca no pescoço", no momento em que ela disse que teria de ser "coerente" e não seguiu a divergência aberta por Ricardo Lewandowski. Ao final, Dirceu evitou demonstrar otimismo com o novo prazo dado pela corte, segundo amigos.
3D No momento em que Celso de Mello comentou os gráficos de Lewandowski com a diminuição de penas dos réus, amigos e familiares de Dirceu aplaudiram. E o ex-ministro comentou: "Poxa, não é tão difícil acompanhar".
Tamo junto 1 Um grupo de intelectuais e divulgará hoje um manifesto, batizado de "abraço assinado", reiterando apoio a José Genoino.
Tamo junto 2 A lista inclui a filósofa Marilena Chauí, o crítico literário Antonio Candido e a professora de teoria literária da USP Ana Paula Pacheco, irmã do advogado do petista, Luiz Pacheco.
Moscou... Quando saía de carro para o encontro dos chefes de Estado dos Brics, ontem, Dilma Rousseff passou por um grupo de quase 50 pessoas no qual estava, incógnito, Barack Obama.
... contra 007 Os dois, pivôs de crise diplomática graças ao monitoramento da brasileira pela agência norte-americana NSA, não se viram.
Currículo O chefe de gabinete de David Uip, novo secretário de Saúde paulista, será o médico Nilson Paschoa, que ajudou a implantar o modelo de parcerias com Organizações Sociais no Estado.
Mais médicos Na posse de Uip, Geraldo Alckmin (PSDB) reclamou da falta de recursos da União para as Santas Casas, mas fez questão de defender parcerias de sua gestão com o governo federal.
Piloto Nelson Biondi, que fez a campanha de José Serra em 2002, fechou contrato com o PSDB paulista para produzir os spots de TV que vão ao ar em outubro. Será um teste para definir o marqueteiro da campanha de Alckmin à reeleição em 2014.
Vacina A propaganda tucana vai apresentar a gestão Alckmin como "eficiente, responsável e honesta". Ainda não foi decidido se as peças tratarão diretamente das ações tomadas após as acusações de cartel de empresas em contratos de metrô e trem.
Script Roberto Freire ofereceu a Serra espaço nas peças de propaganda de TV do PPS que vão ao ar a partir do dia 14, em uma tentativa de acelerar a migração do ex-governador para seu partido.
Fora do ar Serra hesitou, e Freire tomou a reação como um sinal de que ele está propenso a ficar no PSDB.
Par Em almoço com deputados petistas, Lula sustentou que o partido deve buscar no interior alguém com perfil não-petista'' para vice de Alexandre Padilha na chapa ao governo paulista. O ex-presidente citou como exemplo José Alencar, seu vice de 2003 a 2010.
Bola Eduardo Campos recebeu Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, e fez um convite formal para que ele se filie ao PSB, de olho na disputa eleitoral mineira. Já Aécio Neves acertou na quarta-feira a filiação do ex-jogador de vôlei Giovane Gávio ao PSDB de Minas.
Revoada Em reunião com Michel Temer ontem, Gilberto Kassab (PSD) calculou que deve perder 4 ou 5 deputados para o Solidariedade, partido de Paulinho da Força (PDT-SP), prestes a ser criado pela Justiça Eleitoral.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"É uma pena que a legislação brasileira puna o PDT com perda de tempo de TV em prol de uma sigla construída por arranjos locais."
DE CARLOS LUPI, presidente do PDT, sobre a migração de deputados do partido para o Solidariedade, o que vai reduzir sua parcela de propaganda eleitoral.
contraponto
Suprema ironia
Encerrada a discussão dos embargos de declaração do mensalão, ontem, Joaquim Barbosa colocou em debate os embargos infringentes de Delúbio Soares. Ricardo Lewandowski dizia alguma coisa quando o defensor de Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério, se dirigiu à tribuna. O presidente da corte interrompeu o colega:
--Vamos ouvir o advogado, que quer falar.
--Claro, o advogado tem preferência! --disse o revisor.
Barbosa, que teve vários embates com Lewandowski e chegou a acusá-lo de fazer "chicana", olhou para Celso de Mello e Gilmar Mendes e soltou uma risadinha.
O APERTO DO PAPA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 06/09
Depois de se desfazer do prédio do hospital Quinta D'Or, no Rio, para saldar dívidas da visita do papa Francisco ao Brasil, os religiosos que organizaram a Jornada Mundial da Juventude preparam outra tacada: vão colocar à venda o cemitério do Catumbi, na mesma cidade.
PAPA 2
O espaço é de uma ordem religiosa, que espera arrecadar cerca de R$ 80 milhões com o negócio. Os recursos seriam repassados como empréstimo para o Instituto Jornada Mundial da Juventude. Estima-se que o rombo da festa estrelada pelo pontífice ultrapasse os R$ 100 milhões.
PAPA 3
A venda do cemitério deve esbarrar em alguns percalços na atração de investidores. O local tem muitos jazigos eternos. E ainda precisa de autorização para construir crematório e cemitério vertical.
PAPA 4
O aperto é tão grande que dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, pediu ajuda até a José Dirceu para resolver os problemas. O religioso é amigo de Evanise Santos, ex-mulher do petista, com quem almoçou recentemente e também conversou sobre o assunto. O ex-ministro aconselhou os religiosos justamente a vender patrimônio, escapando de juros de empréstimos bancários.
VEM, CAPILÉ
Lobão entra em estúdio no Rio na semana que vem para gravar a música que fez para Pablo Capilé. A inspiração surgiu após o líder do movimento Fora do Eixo recusar convite do cantor para um debate sobre as polêmicas em torno dos coletivos. No melhor estilo anticoletivo, aliás, Lobão vai tocar todos os instrumentos e interpretar sozinho a canção, que depois será masterizada em Abbey Road, o mítico estúdio dos Beatles em Londres.
ISABELITA IMORTAL
Mais recente autora de livros infantis do país, a drag queen Isabelita dos Patins está disposta a entregar pessoalmente um exemplar do seu recém-lançado "Isabelita, a Menina dos Patins" a Fernando Henrique Cardoso. Seu plano é ir à posse do ex-presidente na ABL, marcada para o próximo dia 10. Vai de terno e gravata, para evitar constrangimentos ao novo imortal.
A SALVAÇÃO
Segundo a drag queen, a clássica foto dela dando um beijo na bochecha do então ministro da Fazenda e candidato à Presidência, na porta do Copacabana Palace, em 1993, catapultou sua carreira. "Foi ali que eu ganhei a loto [loteria] da minha vida. Graças ao rumo que minha carreira tomou, pude quitar meu apartamento [no Rio]", diz. A passagem está registrada no livro, sem contudo citar FHC nominalmente.
TERCEIRA IDADE
Aos 65 anos, e 40 de personagem, Isabelita não usa mais os tradicionais patins desde que sofreu um infarto, em julho de 2012. Sobre o livro, ela diz que é uma forma de reduzir o preconceito no país. "Sou uma drag queen da terceira idade e a palavra gay nunca fez parte do meu dicionário. Quero que as crianças saibam que todas as escolhas são dignas e que não deve existir preconceito."
PODER
Procuradores, professores e juízes farão hoje uma espécie de ato de desagravo a Sandra Cureau. A vice-procuradora eleitoral da República será homenageada no Congresso Brasileiro do Magistério Superior de Direito Ambiental, em Brasília. Desde que Helenita Acioli substituiu Roberto Gurgel na PGR (Procuradoria-Geral da República), Cureau comenta, nos bastidores do Ministério Público Federal, que sofre boicote informal orquestrado pela interina.
OUTRO LADO
A PGR informou, por meio da assessoria de imprensa, que Acioli ficou surpresa com a informação sobre o suposto boicote. Ainda segundo o órgão, Cureau está em licença médica e não poderia ser contatada ontem.
GLAMOUR NA ATLÂNTICA
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, a modelo Luiza Brunet e a drag queen Isabelita dos Patins foram ao aniversário de 90 anos do Copacabana Palace, anteontem, no Rio. A atriz Luana Piovani, que se recupera de uma queda, chegou de muletas, acompanhada do marido, o surfista Pedro Scooby. A festa, organizada por Andrea Natal, gerente-geral do hotel, contou ainda com a presença da atriz Carol Castro e do noivo, o modelo Raphael Sander.
CURTO-CIRCUITO
O guitarrista Pedro Baby se apresenta com a banda Los Sebosos Postizos. O repertório é de Jorge Ben Jor. Amanhã, às 23h, no Cine Joia. 18 anos.
A peça "Zucco" estreia hoje, às 21h, no Tusp, na rua Maria Antônia. 16 anos.
O Theatro Municipal realiza palestra sobre a ópera "Don Giovanni", amanhã, às 17h. Grátis.
O designer Marcos Beccari dá curso amanhã no Instituto Volusiano, às 18h.
A peça "Retratos Falantes", com Zécarlos Machado, inicia temporada hoje, às 21h, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, na República. 14 anos.
PAPA 2
O espaço é de uma ordem religiosa, que espera arrecadar cerca de R$ 80 milhões com o negócio. Os recursos seriam repassados como empréstimo para o Instituto Jornada Mundial da Juventude. Estima-se que o rombo da festa estrelada pelo pontífice ultrapasse os R$ 100 milhões.
PAPA 3
A venda do cemitério deve esbarrar em alguns percalços na atração de investidores. O local tem muitos jazigos eternos. E ainda precisa de autorização para construir crematório e cemitério vertical.
PAPA 4
O aperto é tão grande que dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, pediu ajuda até a José Dirceu para resolver os problemas. O religioso é amigo de Evanise Santos, ex-mulher do petista, com quem almoçou recentemente e também conversou sobre o assunto. O ex-ministro aconselhou os religiosos justamente a vender patrimônio, escapando de juros de empréstimos bancários.
VEM, CAPILÉ
Lobão entra em estúdio no Rio na semana que vem para gravar a música que fez para Pablo Capilé. A inspiração surgiu após o líder do movimento Fora do Eixo recusar convite do cantor para um debate sobre as polêmicas em torno dos coletivos. No melhor estilo anticoletivo, aliás, Lobão vai tocar todos os instrumentos e interpretar sozinho a canção, que depois será masterizada em Abbey Road, o mítico estúdio dos Beatles em Londres.
ISABELITA IMORTAL
Mais recente autora de livros infantis do país, a drag queen Isabelita dos Patins está disposta a entregar pessoalmente um exemplar do seu recém-lançado "Isabelita, a Menina dos Patins" a Fernando Henrique Cardoso. Seu plano é ir à posse do ex-presidente na ABL, marcada para o próximo dia 10. Vai de terno e gravata, para evitar constrangimentos ao novo imortal.
A SALVAÇÃO
Segundo a drag queen, a clássica foto dela dando um beijo na bochecha do então ministro da Fazenda e candidato à Presidência, na porta do Copacabana Palace, em 1993, catapultou sua carreira. "Foi ali que eu ganhei a loto [loteria] da minha vida. Graças ao rumo que minha carreira tomou, pude quitar meu apartamento [no Rio]", diz. A passagem está registrada no livro, sem contudo citar FHC nominalmente.
TERCEIRA IDADE
Aos 65 anos, e 40 de personagem, Isabelita não usa mais os tradicionais patins desde que sofreu um infarto, em julho de 2012. Sobre o livro, ela diz que é uma forma de reduzir o preconceito no país. "Sou uma drag queen da terceira idade e a palavra gay nunca fez parte do meu dicionário. Quero que as crianças saibam que todas as escolhas são dignas e que não deve existir preconceito."
PODER
Procuradores, professores e juízes farão hoje uma espécie de ato de desagravo a Sandra Cureau. A vice-procuradora eleitoral da República será homenageada no Congresso Brasileiro do Magistério Superior de Direito Ambiental, em Brasília. Desde que Helenita Acioli substituiu Roberto Gurgel na PGR (Procuradoria-Geral da República), Cureau comenta, nos bastidores do Ministério Público Federal, que sofre boicote informal orquestrado pela interina.
OUTRO LADO
A PGR informou, por meio da assessoria de imprensa, que Acioli ficou surpresa com a informação sobre o suposto boicote. Ainda segundo o órgão, Cureau está em licença médica e não poderia ser contatada ontem.
GLAMOUR NA ATLÂNTICA
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, a modelo Luiza Brunet e a drag queen Isabelita dos Patins foram ao aniversário de 90 anos do Copacabana Palace, anteontem, no Rio. A atriz Luana Piovani, que se recupera de uma queda, chegou de muletas, acompanhada do marido, o surfista Pedro Scooby. A festa, organizada por Andrea Natal, gerente-geral do hotel, contou ainda com a presença da atriz Carol Castro e do noivo, o modelo Raphael Sander.
CURTO-CIRCUITO
O guitarrista Pedro Baby se apresenta com a banda Los Sebosos Postizos. O repertório é de Jorge Ben Jor. Amanhã, às 23h, no Cine Joia. 18 anos.
A peça "Zucco" estreia hoje, às 21h, no Tusp, na rua Maria Antônia. 16 anos.
O Theatro Municipal realiza palestra sobre a ópera "Don Giovanni", amanhã, às 17h. Grátis.
O designer Marcos Beccari dá curso amanhã no Instituto Volusiano, às 18h.
A peça "Retratos Falantes", com Zécarlos Machado, inicia temporada hoje, às 21h, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, na República. 14 anos.
Esqueçam o que escrevi - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 06/09
O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.
Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom ontem divulgada mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.
Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".
Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.
De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.
Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.
O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.
A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.
Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta.
CONFIRA
Tabu. A repentina mudança de diagnóstico do Banco Central em relação à qualidade e aos efeitos da política fiscal do governo poderá agora reforçar as apostas do mercado financeiro e dos remarcadores de preços de que os juros básicos (Selic) não subirão necessariamente para onde tiveram de subir para segurar a inflação. Mas subirão até um degrau antes dos dois dígitos (10% ao ano). E por que? Porque, afinal, este foi até agora o limite tabu do governo Dilma.
O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.
Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom ontem divulgada mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.
Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".
Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.
De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.
Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.
O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.
A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.
Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta.
CONFIRA
Tabu. A repentina mudança de diagnóstico do Banco Central em relação à qualidade e aos efeitos da política fiscal do governo poderá agora reforçar as apostas do mercado financeiro e dos remarcadores de preços de que os juros básicos (Selic) não subirão necessariamente para onde tiveram de subir para segurar a inflação. Mas subirão até um degrau antes dos dois dígitos (10% ao ano). E por que? Porque, afinal, este foi até agora o limite tabu do governo Dilma.
Brasil vende mais carro lá fora - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 06/09
Apesar de mercado interno desanimar, produção e exportações de veículos cresce bem
AS MONTADORAS estão menos animadas com a venda de carros no Brasil, que deve crescer até uns 2%, em vez de 4,5% da previsão anterior da Anfavea, a associação do setor. Mas a produção de veículos aumentou uma enormidade, quase 14% até agosto, deve fechar o ano em alta de uns 12%, ante previsão anterior de 4,5%.
Mais produção e menos vendas domésticas significa que ao menos parte do estoque espirra para fora: tem sido exportado. É o que está acontecendo, um tanto surpreendentemente. A venda de automóveis e comerciais leves cresceu quase 31% neste ano (sobre os oito primeiros meses de 2012). A exportação total de veículos montados, incluídos aí ônibus e caminhões, até agora cresceu 28,4% (em número de unidades).
Apesar de estoques em alta, o setor está calminho, reclamando pouco. Também pudera, pode-se dizer, depois do impostaço sobre importados, de dezembro de 2011, e de redução de impostos para vendas domésticas. A participação de importados no mercado nacional caiu de 26%, na média do trimestre final de 2011, para 18,4%, no trimestre junho-agosto deste ano.
Olhando pelo retrovisor, o aumento das exportações começou em abril, maio (se a comparação é feita com as vendas do mesmo mês do ano anterior). Foi então que começou a onda recente de desvalorização do real. Em tese, os veículos brasileiros ficam mais baratos para o consumidor lá fora (pois o real foi um dos campeões em desvalorização neste ano).
Mas tal explicação por ora não faz lá muito sentido. Ou melhor, não conta toda a história. Primeiro, porque o dólar mais caro também aumenta custos das montadoras (que importam peças). Segundo, simplesmente porque não deu muito tempo: tempo de o dólar caro alterar custos relativos, preços em contratos etc.
Sim, a desvalorização do real deve ter dado um impulso nas vendas. Ainda assim, é preciso haver mercado comprador. Seria um sinal de recuperação da economia mundial? De que os argentinos, nossos maiores clientes em matéria de veículos, querem mais carros brasileiros? De que as montadoras, com um pé lá e outro aqui, acharam mais lucrativo forçar a mão do fluxo do comércio de carros no (falido) Mercosul?
De qualquer modo, melhor assim.
ESTRANHO BC
O Banco Central do Brasil acredita que o governo federal vai controlar seus gastos de modo a reduzir o impulso que tais despesas dão à inflação. É o que está dito na exposição de motivos da reunião do Comitê de Política Monetária da semana passada, em que a direção do BC estuda a conjuntura e decide a taxa de juros "básica" da economia, a Selic. O documento é conhecido como Ata do Copom.
A direção do BC acredita que o governo vai maneirar nos gastos até mais ou menos o final de 2014 ("no horizonte relevante de política monetária" deve querer dizer mais ou menos isso).
Bem, o próprio governo, na proposta de Orçamento apresentada na semana passada, disse que NÃO vai maneirar. Vai até dar uma relaxada, considerados os números deste ano. Isso é o que governo diz. O que ele vai fazer pode ser ainda pior: ano que vem tem Copa, eleição etc.
Apesar de mercado interno desanimar, produção e exportações de veículos cresce bem
AS MONTADORAS estão menos animadas com a venda de carros no Brasil, que deve crescer até uns 2%, em vez de 4,5% da previsão anterior da Anfavea, a associação do setor. Mas a produção de veículos aumentou uma enormidade, quase 14% até agosto, deve fechar o ano em alta de uns 12%, ante previsão anterior de 4,5%.
Mais produção e menos vendas domésticas significa que ao menos parte do estoque espirra para fora: tem sido exportado. É o que está acontecendo, um tanto surpreendentemente. A venda de automóveis e comerciais leves cresceu quase 31% neste ano (sobre os oito primeiros meses de 2012). A exportação total de veículos montados, incluídos aí ônibus e caminhões, até agora cresceu 28,4% (em número de unidades).
Apesar de estoques em alta, o setor está calminho, reclamando pouco. Também pudera, pode-se dizer, depois do impostaço sobre importados, de dezembro de 2011, e de redução de impostos para vendas domésticas. A participação de importados no mercado nacional caiu de 26%, na média do trimestre final de 2011, para 18,4%, no trimestre junho-agosto deste ano.
Olhando pelo retrovisor, o aumento das exportações começou em abril, maio (se a comparação é feita com as vendas do mesmo mês do ano anterior). Foi então que começou a onda recente de desvalorização do real. Em tese, os veículos brasileiros ficam mais baratos para o consumidor lá fora (pois o real foi um dos campeões em desvalorização neste ano).
Mas tal explicação por ora não faz lá muito sentido. Ou melhor, não conta toda a história. Primeiro, porque o dólar mais caro também aumenta custos das montadoras (que importam peças). Segundo, simplesmente porque não deu muito tempo: tempo de o dólar caro alterar custos relativos, preços em contratos etc.
Sim, a desvalorização do real deve ter dado um impulso nas vendas. Ainda assim, é preciso haver mercado comprador. Seria um sinal de recuperação da economia mundial? De que os argentinos, nossos maiores clientes em matéria de veículos, querem mais carros brasileiros? De que as montadoras, com um pé lá e outro aqui, acharam mais lucrativo forçar a mão do fluxo do comércio de carros no (falido) Mercosul?
De qualquer modo, melhor assim.
ESTRANHO BC
O Banco Central do Brasil acredita que o governo federal vai controlar seus gastos de modo a reduzir o impulso que tais despesas dão à inflação. É o que está dito na exposição de motivos da reunião do Comitê de Política Monetária da semana passada, em que a direção do BC estuda a conjuntura e decide a taxa de juros "básica" da economia, a Selic. O documento é conhecido como Ata do Copom.
A direção do BC acredita que o governo vai maneirar nos gastos até mais ou menos o final de 2014 ("no horizonte relevante de política monetária" deve querer dizer mais ou menos isso).
Bem, o próprio governo, na proposta de Orçamento apresentada na semana passada, disse que NÃO vai maneirar. Vai até dar uma relaxada, considerados os números deste ano. Isso é o que governo diz. O que ele vai fazer pode ser ainda pior: ano que vem tem Copa, eleição etc.
Difícil neutralidade - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 06/09
O Banco Central entrou em contradição na sua ata de ontem. Disse que a questão fiscal tende para a "neutralidade" quando antes achava que era expansionista. E nada mudou para alterar a percepção do BC. Depois, elevou a previsão do dólar do final do ano de R$ 2,25, na última ata do Copom, para R$ 2,40 agora, mas não registra o repasse disso para a inflação.
O problema é que o fiscal está piorando, e não melhorando, e a desvalorização implicará mais inflação em algum momento. Apesar de isso estar dito, não está nos cálculos.
A ata vinha dizendo que a política fiscal estava "expansionista" Agora diz que nas "variáveis fiscais" criam-se as condições para "num horizonte relevante para a política monetária" o balanço da política fiscal "se desloque para a neutralidade" Em idioma corrente: a médio prazo, a política fiscal vai ficar sob controle. O Banco Central até recentemente achava que a política fiscal era expansionista, ou seja, estava gastando muito, agora acha que isso está mudando e que as contas ficarão equilibradas e, por isso, será neutra, não produzirá inflação.
O próximo orçamento terá o menor superávit primário em anos, e o próprio indicador já está meio desmoralizado. O BC pede na ata a "geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho" E há muito tempo não tem sido. O superávit virou uma central de descontos. A Fazenda já adotou várias fórmulas para descontar despesa, ou renúncia fiscal da conta final, de tal forma que o número ficou fictício. O Banco Central sugere também na ata "moderação na concessão dos subsídios por intermédio das operações de crédito". Mas o BNDES continua recebendo recursos do governo provenientes de endividamento do Tesouro, que paga mais do que recebe; portanto, está aumentando a concessão de subsídios via operações de crédito. O oposto do que sugere o Banco Central. Diante disso, de onde é que o BC tirou a impressão de que a política fiscal está caminhando para a neutralidade?
— Acho, sinceramente, que essa mudança no texto tem a ver com o fato de que algumas empresas de rating estão ameaçando revisar a classificação de risco do país. Como a parte fiscal é a que mais preocupa, o Banco Central alterou o tom sobre a política fiscal — diz Monica de Bolle, da Galanto Consultoria e professora da PUC.
O Banco Central indicou que novas altas de juros podem ser necessárias, porque há o risco de que a inflação continue resistente pelos efeitos da indexação e pelo impacto da alta do dólar. E tanto a depreciação quanto a volatilidade têm o efeito de pressionar a inflação no curto e no médio prazo. O problema é que o risco de repasse está apenas enunciado.
Este é o contexto em que ele elevou a taxa de juros para 9%. A ata, que é sempre divulgada uma semana após a reunião, explica o que levou os integrantes do Comitê de Política Monetária a tomar a decisão. E para o BC, numa situação em que a inflação está alta, resistente e com novos elementos de pressão, é preciso que "a política monetária fique especialmente vigilante" para evitar a propagação das expectativas de curto prazo de elevação da inflação.
Em termos teóricos o Banco Central passou o seu recado, mas de qualquer maneira, ele continua tendo que se basear em alguns pontos do cenário que são inverossímeis. Um deles é que a gasolina não vai aumentar além dos 5% que já subiu este ano. A alta do dólar e da cotação do petróleo tornam cada vez mais difíceis não reajustar o combustível em algum momento.
Hoje será divulgado o IPCA de agosto mostrando uma taxa moderada e que reduz o acumulado do ano. Continuará em torno de 6%, alto para os padrões do mundo, para um país que está com baixo crescimento, e para o nível de taxa de juros adotado. E é bom lembrar que as tarifas públicas estão reprimidas. Com uma política de realismo tarifário, a inflação seria maior.
Mas com todos os truques e altas das taxas de juros, o Banco Central reconhece na ata que a meta — ou seja, 4,5% — será alcançada em meados de 2015. Apenas no próximo governo. Há novos riscos no cenário: a iminente mudança de política monetária nos EUA que torna mais incerta a trajetória de câmbio. O rombo externo está aumentando. Essa não é hora de o BC ser neutro. É uma neutralidade impossível.
O Banco Central entrou em contradição na sua ata de ontem. Disse que a questão fiscal tende para a "neutralidade" quando antes achava que era expansionista. E nada mudou para alterar a percepção do BC. Depois, elevou a previsão do dólar do final do ano de R$ 2,25, na última ata do Copom, para R$ 2,40 agora, mas não registra o repasse disso para a inflação.
O problema é que o fiscal está piorando, e não melhorando, e a desvalorização implicará mais inflação em algum momento. Apesar de isso estar dito, não está nos cálculos.
A ata vinha dizendo que a política fiscal estava "expansionista" Agora diz que nas "variáveis fiscais" criam-se as condições para "num horizonte relevante para a política monetária" o balanço da política fiscal "se desloque para a neutralidade" Em idioma corrente: a médio prazo, a política fiscal vai ficar sob controle. O Banco Central até recentemente achava que a política fiscal era expansionista, ou seja, estava gastando muito, agora acha que isso está mudando e que as contas ficarão equilibradas e, por isso, será neutra, não produzirá inflação.
O próximo orçamento terá o menor superávit primário em anos, e o próprio indicador já está meio desmoralizado. O BC pede na ata a "geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho" E há muito tempo não tem sido. O superávit virou uma central de descontos. A Fazenda já adotou várias fórmulas para descontar despesa, ou renúncia fiscal da conta final, de tal forma que o número ficou fictício. O Banco Central sugere também na ata "moderação na concessão dos subsídios por intermédio das operações de crédito". Mas o BNDES continua recebendo recursos do governo provenientes de endividamento do Tesouro, que paga mais do que recebe; portanto, está aumentando a concessão de subsídios via operações de crédito. O oposto do que sugere o Banco Central. Diante disso, de onde é que o BC tirou a impressão de que a política fiscal está caminhando para a neutralidade?
— Acho, sinceramente, que essa mudança no texto tem a ver com o fato de que algumas empresas de rating estão ameaçando revisar a classificação de risco do país. Como a parte fiscal é a que mais preocupa, o Banco Central alterou o tom sobre a política fiscal — diz Monica de Bolle, da Galanto Consultoria e professora da PUC.
O Banco Central indicou que novas altas de juros podem ser necessárias, porque há o risco de que a inflação continue resistente pelos efeitos da indexação e pelo impacto da alta do dólar. E tanto a depreciação quanto a volatilidade têm o efeito de pressionar a inflação no curto e no médio prazo. O problema é que o risco de repasse está apenas enunciado.
Este é o contexto em que ele elevou a taxa de juros para 9%. A ata, que é sempre divulgada uma semana após a reunião, explica o que levou os integrantes do Comitê de Política Monetária a tomar a decisão. E para o BC, numa situação em que a inflação está alta, resistente e com novos elementos de pressão, é preciso que "a política monetária fique especialmente vigilante" para evitar a propagação das expectativas de curto prazo de elevação da inflação.
Em termos teóricos o Banco Central passou o seu recado, mas de qualquer maneira, ele continua tendo que se basear em alguns pontos do cenário que são inverossímeis. Um deles é que a gasolina não vai aumentar além dos 5% que já subiu este ano. A alta do dólar e da cotação do petróleo tornam cada vez mais difíceis não reajustar o combustível em algum momento.
Hoje será divulgado o IPCA de agosto mostrando uma taxa moderada e que reduz o acumulado do ano. Continuará em torno de 6%, alto para os padrões do mundo, para um país que está com baixo crescimento, e para o nível de taxa de juros adotado. E é bom lembrar que as tarifas públicas estão reprimidas. Com uma política de realismo tarifário, a inflação seria maior.
Mas com todos os truques e altas das taxas de juros, o Banco Central reconhece na ata que a meta — ou seja, 4,5% — será alcançada em meados de 2015. Apenas no próximo governo. Há novos riscos no cenário: a iminente mudança de política monetária nos EUA que torna mais incerta a trajetória de câmbio. O rombo externo está aumentando. Essa não é hora de o BC ser neutro. É uma neutralidade impossível.
Superando o fundo do poço - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ISTO É PIAUÍ - 06/09
O ex-ministro Antonio Delfim Nerto conclamou os críticos impertinentes a fazerem justiça à retórica de Guido Mantega em recente artigo publicado no Valor (O ministro tinha razào). “Mantega estava certo quando alertou o mundo para a guerra cambial perpetrada pelos EUA, esses implacáveis belicistas monetários. Percebam o quão extraordinariamente visionário fora Guido Mantega logo agora, com o enfraquecimento generalizado das moedas dos países emergentes movidos pelas ameaças de reversão do laxisMG monetário americano.
A crise deflagrada pela hecatombe financeira de 2008, que fará cinco anos nas próximas semanas, suscitou respostas de política econômicas inéditas. A expansão monetária americana que dela proveio, foi a forma de não deixar que os EUA, e o mundo junto com eles, afundassem numa depressão à anos 30. Essa foi a principal motivacão para os QEs em série e para as demais inovações introduzidas pelo Fed. Evidentemente, os efeitos colaterais de qualquer experimentalismo são inevitáveis. A política de juros nulos levou às valorizações das moedas emergentes na busca frenética dos investidoreis internacionaís por retomo. Contudo, urge perguntar: o que seria preferível essa situação ou uma em que, em vez de o mundo ter saído, em meados de 2009, da recessão sincronizada que se abateu sobre diversos países, tivesse ficado preso torvelinho da falta de financiamento da escassez, do investimento, da queda da demanda e da tragédia do desemprego por anos a fio?
Passados cinco anos da pior crise econômica da história recente, o mundo avançado se recupera. Os EUA dão sinais claros de retomada de atividade, a despeito da disfuncionalidade do sistema político que impera. A Europa dá sinais de estabilidade – há seis meses a taxa de desemprego está estagnada na zona do euro. Parafraseando Mantega e sua inigualável criatividade parece que os países do Europa superaram o fundo do poço. O Japão adotou medidas extraordinárias e a economia parece estar reagindo. A China, apesar dos temores – recorrentes que tumultuam os o a mercados, continua a se expandir num ritmo invejável
Pode-se concluir desses fatos que, se as moedas da índia e do Brasil estão sendo rechaçadas, a culpa não é só do malvado do Fed, que quer enfraquecer o dólar e penalizar a todos com suas políticas disparatadas. O enfraquecimento é resultado, também, de políticas mal concebidas e geridas em nosso país, como o ex-ministro Delífim pontuou em diversas ocasiões.
Os mercados financeiros não são perfeitos e invariavelmente se metem em enrascadas. Isso, entretanto, não sanciona a tese de Mantega, tampouco os controles de capitais nos países emergentes. O que isso necessita é de um. arcabouço robusto e coordenado de regulação local e internacional, como escreveu a professora Hélène Rey, citada por Delfim. Algo que o mundo ainda está longe de implantar.
Superar o fundo do poço dá trabalho. Requer uma conduta macroeconômica impecável perante os novos desafios. Por enquanto, tudo o que conseguimos oferecer ao mundo e a nós mesmos foram floreios linguísticos, imagens fortes e narrativas distorcidas da realidade. Desse jeito, superaremos o fundo do poço em mais de um sentido.
O ex-ministro Antonio Delfim Nerto conclamou os críticos impertinentes a fazerem justiça à retórica de Guido Mantega em recente artigo publicado no Valor (O ministro tinha razào). “Mantega estava certo quando alertou o mundo para a guerra cambial perpetrada pelos EUA, esses implacáveis belicistas monetários. Percebam o quão extraordinariamente visionário fora Guido Mantega logo agora, com o enfraquecimento generalizado das moedas dos países emergentes movidos pelas ameaças de reversão do laxisMG monetário americano.
A crise deflagrada pela hecatombe financeira de 2008, que fará cinco anos nas próximas semanas, suscitou respostas de política econômicas inéditas. A expansão monetária americana que dela proveio, foi a forma de não deixar que os EUA, e o mundo junto com eles, afundassem numa depressão à anos 30. Essa foi a principal motivacão para os QEs em série e para as demais inovações introduzidas pelo Fed. Evidentemente, os efeitos colaterais de qualquer experimentalismo são inevitáveis. A política de juros nulos levou às valorizações das moedas emergentes na busca frenética dos investidoreis internacionaís por retomo. Contudo, urge perguntar: o que seria preferível essa situação ou uma em que, em vez de o mundo ter saído, em meados de 2009, da recessão sincronizada que se abateu sobre diversos países, tivesse ficado preso torvelinho da falta de financiamento da escassez, do investimento, da queda da demanda e da tragédia do desemprego por anos a fio?
Passados cinco anos da pior crise econômica da história recente, o mundo avançado se recupera. Os EUA dão sinais claros de retomada de atividade, a despeito da disfuncionalidade do sistema político que impera. A Europa dá sinais de estabilidade – há seis meses a taxa de desemprego está estagnada na zona do euro. Parafraseando Mantega e sua inigualável criatividade parece que os países do Europa superaram o fundo do poço. O Japão adotou medidas extraordinárias e a economia parece estar reagindo. A China, apesar dos temores – recorrentes que tumultuam os o a mercados, continua a se expandir num ritmo invejável
Pode-se concluir desses fatos que, se as moedas da índia e do Brasil estão sendo rechaçadas, a culpa não é só do malvado do Fed, que quer enfraquecer o dólar e penalizar a todos com suas políticas disparatadas. O enfraquecimento é resultado, também, de políticas mal concebidas e geridas em nosso país, como o ex-ministro Delífim pontuou em diversas ocasiões.
Os mercados financeiros não são perfeitos e invariavelmente se metem em enrascadas. Isso, entretanto, não sanciona a tese de Mantega, tampouco os controles de capitais nos países emergentes. O que isso necessita é de um. arcabouço robusto e coordenado de regulação local e internacional, como escreveu a professora Hélène Rey, citada por Delfim. Algo que o mundo ainda está longe de implantar.
Superar o fundo do poço dá trabalho. Requer uma conduta macroeconômica impecável perante os novos desafios. Por enquanto, tudo o que conseguimos oferecer ao mundo e a nós mesmos foram floreios linguísticos, imagens fortes e narrativas distorcidas da realidade. Desse jeito, superaremos o fundo do poço em mais de um sentido.
Mudança de discurso - RENATO ANDRADE
FOLHA DE SP - 06/09
BRASÍLIA - O Banco Central mudou de posição sobre o efeito da política fiscal na inflação brasileira.
Até julho, Alexandre Tombini e seus colegas de diretoria acreditavam que os gastos públicos eram um elemento de pressão sobre os preços. Agora, essas despesas saíram da lista de inconvenientes ao controle inflacionário.
É difícil entender tal mudança. A política de aperto dos gastos públicos não sofreu nenhuma alteração que pudesse suscitar nova análise entre a reunião de julho do Comitê de Política Monetária e o encontro realizado na semana passada. As evidências indicam que não há no horizonte sinais de aumento da austeridade fiscal.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) insiste que, até dezembro, União, Estados e municípios vão entregar a poupança prometida para pagar os juros da dívida pública. Fora dos gabinetes oficiais, a melhor aposta é que essa economia vai ficar em 70% do prometido.
As perspectivas para 2014 vão na mesma linha. O último ano de mandato da presidente Dilma será o de maior aumento dos gastos em proporção às receitas, de acordo com a proposta orçamentária enviada ao Congresso.
Mesmo que a economia cresça os 4% estimados (o que ninguém acredita) e as receitas avancem como projetado, o aperto fiscal será menor do que o governo diz que entregará em 2013. Para a conta fechar, governadores e prefeitos precisam bancar quase metade do esforço --outra aposta otimista, considerando o histórico.
Detalhe importante: gastos públicos aumentam em anos eleitorais, como 2014, não o contrário.
Diante desses dados, a mudança de postura do BC conseguiu apenas abrir um novo flanco de dúvidas. Para uma instituição que se esforça para recuperar a credibilidade, este não é o melhor momento para levantar questionamentos sobre um tema tão delicado.
BRASÍLIA - O Banco Central mudou de posição sobre o efeito da política fiscal na inflação brasileira.
Até julho, Alexandre Tombini e seus colegas de diretoria acreditavam que os gastos públicos eram um elemento de pressão sobre os preços. Agora, essas despesas saíram da lista de inconvenientes ao controle inflacionário.
É difícil entender tal mudança. A política de aperto dos gastos públicos não sofreu nenhuma alteração que pudesse suscitar nova análise entre a reunião de julho do Comitê de Política Monetária e o encontro realizado na semana passada. As evidências indicam que não há no horizonte sinais de aumento da austeridade fiscal.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) insiste que, até dezembro, União, Estados e municípios vão entregar a poupança prometida para pagar os juros da dívida pública. Fora dos gabinetes oficiais, a melhor aposta é que essa economia vai ficar em 70% do prometido.
As perspectivas para 2014 vão na mesma linha. O último ano de mandato da presidente Dilma será o de maior aumento dos gastos em proporção às receitas, de acordo com a proposta orçamentária enviada ao Congresso.
Mesmo que a economia cresça os 4% estimados (o que ninguém acredita) e as receitas avancem como projetado, o aperto fiscal será menor do que o governo diz que entregará em 2013. Para a conta fechar, governadores e prefeitos precisam bancar quase metade do esforço --outra aposta otimista, considerando o histórico.
Detalhe importante: gastos públicos aumentam em anos eleitorais, como 2014, não o contrário.
Diante desses dados, a mudança de postura do BC conseguiu apenas abrir um novo flanco de dúvidas. Para uma instituição que se esforça para recuperar a credibilidade, este não é o melhor momento para levantar questionamentos sobre um tema tão delicado.
O fim da festa nos emergentes - RICARDO HAUSMANN
VALOR ECONÔMICO - 06/09
Entre 2003 e 2011, o crescimento acumulado do PIB (a preços correntes) foi 35% nos EUA, e 32%, 36% e 49% no Reino Unido, no Japão e na Alemanha, respectivamente, todos medidos em dólares americanos. No mesmo período, o PIB nominal mostrou forte crescimento de 348% no Brasil, 346% na China, 331% na Rússia e 203% na Índia, também em dólares.
E não foram apenas os chamados países do Bric que cresceram. O PIB do Cazaquistão cresceu mais de 500%, enquanto a Indonésia, Nigéria, Etiópia, Ruanda, Ucrânia, Chile, Colômbia, Romênia e Vietnã cresceram, cada um desses países, mais de 200%. Isso significa que a média de vendas (mensuradas em dólares) de supermercados, empresas de bebidas, lojas de departamentos, companhias de telecomunicações, lojas de informática e fornecedores de motocicletas chinesas cresceram a taxas comparáveis nesses países. Faz sentido, para as empresas, deslocarem-se para onde as vendas em dólares estão crescendo e, para os gestores de ativos, aplicar dinheiro onde o crescimento do PIB medido em dólares é mais rápido.
A mesma dinâmica que inflou o valor do crescimento do PIB em dólares nos anos bons agora vai operar no sentido oposto: os preços estáveis ou menores das exportações reduzirão o crescimento real e farão com que suas moedas se desvalorizem em termos reais.
Poderíamos nos inclinar a interpretar esse surpreendente desempenho dos mercados emergentes como uma consequência do crescimento da quantidade de coisas reais que essas economias produziram. Mas isso seria fundamentalmente errado. Considere o Brasil. Apenas 11% de seu PIB nominal superior ao da China entre 2003 e 2011 deveu-se ao crescimento da produção real (ajustada pela inflação). Os outros 89% resultaram do crescimento de 222% dos preços em dólares no período, enquanto os preços em moeda local cresceram mais rapidamente do que os preços nos EUA e o câmbio do país apreciou-se.
Alguns dos preços que aumentaram foram os das commodities que o Brasil exporta. Isso refletiu-se em um ganho de 40% nos termos de troca do país (o preço das exportações em relação às importações), o que significou que os mesmos volumes de exportação traduziram-se em mais dólares.
A Rússia passou por uma experiência similar. O crescimento real do produto explica apenas 12,5% do aumento do valor do PIB nominal em dólares no período 2003 a 2011, sendo o restante atribuível ao aumento dos preços do petróleo, que melhorou os termos de troca para a Rússia em 125% e a uma valorização real de 56% do rublo em relação ao dólar.
Em contraste, o crescimento real da China foi três vezes maior do que o do Brasil e da Rússia, mas seus termos de troca deterioraram-se 26%, porque suas exportações de manufaturados ficaram-se mais baratas e suas importações de commodities, mais caras. O percentual de crescimento real nominal do PIB em dólares nos principais países emergentes foi de 20%.
Os três fenômenos que impulsionaram o PIB nominal - aumentos na produção real, um aumento do preço relativo das exportações e apreciação do câmbio real - não operam de forma independente uns dos outros. Países que crescem mais rápido tendem a experimentar uma valorização da taxa de câmbio real, um fenômeno conhecido como efeito Balassa-Samuelson1. Países cujos termos de troca melhoram também tendem a crescer mais rápido e ter uma apreciação da taxa de câmbio real, pois os gastos domésticos de suas receitas de exportação maiores expandem a economia e tornam os dólares relativamente mais abundantes (e, portanto, mais baratos).
O câmbio real também pode se apreciar devido ao crescimento da entrada de capitais, o que reflete o entusiasmo dos investidores estrangeiros pelas perspectivas do país em questão. Por exemplo, de 2003 a 2011, as entradas de capital na Turquia cresceram quase 8% do PIB, o que explica em parte o aumento de 70% nos preços medidos em dólares. Apreciação real também pode ser causada por políticas macroeconômicas inconsistentes que colocam o país em uma posição perigosa, como na Argentina e na Venezuela.
Distinguir entre esses fenômenos distintos e inter-relacionados é importante porque alguns são claramente insustentáveis. Em geral, as melhorias nos termos de troca e os afluxos de capital não persistem indefinidamente: ou estabilizam ou, eventualmente, revertem seu sentido.
De fato, os termos de troca não evidenciam muita tendência a manter-se no longo prazo e exibem uma reversão muito pronunciada à média. Embora os preços do petróleo, de metais e de alimentos tenham subido de forma muito significativa a partir de 2003, atingindo máximos históricos em algum momento entre 2008 e 2011, ninguém espera aumentos de preços semelhantes no futuro. O debate é sobre se os preços permanecerão mais ou menos onde estão ou declinarão, como já ocorreu com os preços dos alimentos, de metais e do carvão.
O mesmo pode ser dito sobre os fluxos de capitais e a pressão ascendente que exercem sobre o câmbio real. Afinal de contas, os investidores estrangeiros colocam seu dinheiro em determinado país porque esperam ser capazes de extrair ainda mais dinheiro no futuro; quando isso ocorre, o crescimento tende a diminuir, se não a entrar em colapso, como aconteceu na Espanha, Portugal, Grécia, e Irlanda.
Em alguns países, como China, Tailândia, Coreia do Sul e Vietnã, o crescimento nominal do PIB foi impulsionado em grande parte por crescimento real. Além disso, de acordo com o Atlas da Complexidade Econômica2, a ser publicado em breve, essas economias começaram a criar produtos mais complexos, prenúncio de um crescimento sustentável. Angola, Etiópia, Gana e Nigéria também tiveram um crescimento real muito significativo, mas o PIB nominal foi impulsionado substancialmente por grandes efeitos dos termos de troca e por apreciação real.
Para a maioria dos países de mercados emergentes, porém, o crescimento nominal do PIB no período 2003-2011 foi causado pela melhora dos termos de troca, afluxos de capital e apreciação real. Esses processos que tendem a reverter à média estão, bem, revertendo, o que implica que o desempenho dinâmico não deverá retornar num futuro previsível.
Na maioria dos países, o valor do crescimento do PIB em dólares superou largamente o que seria de esperar de um crescimento real e de uma admissão razoável do efeito Balassa-Samuelson. A mesma dinâmica que inflou o valor do crescimento do PIB em dólares nos anos bons para esses países agora vai operar no sentido oposto: os preços estáveis ou menores das exportações reduzirão o crescimento real e farão com que suas moedas parem de apreciar, ou mesmo se desvalorizem, em termos reais. Não admira que a festa acabou. (Tradução de Sergio Blum).
BC conta com um impulso fiscal neutro - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 06/09
O que mais intrigou os mercados foi a indicação sobre uma possível neutralidade da política fiscal.
"Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público em posição expansionista se desloque para a zona de neutralidade", diz a ata divulgada ontem.
Uma leitura possível desse parágrafo é que o superávit primário já caiu o que o governo acha que podia cair. Portanto, a tendência é de que em 2014 ele seja praticamente igual ao de 2013, Sem variação, o efeito da política fiscal sobre a demanda e, consequentemente, sobre a taxa de inflação, deixaria de ser expansionista e passaria a ser neutro no horizonte relevante, que é 2014.
Outro razão seria a revisão, para baixo, da trajetória do PIB. O Banco Central usa, nas suas projeções, o superávit estrutural (descontado de receitas e despesas não recorrentes e vinculadas ao ciclo econômico). Se caem as projeções para o produto, mesmo que o superávit seja um pouco menor o resultado estrutural das contas públicas pode se manter constante sem, necessariamente, significar uma política expansionista.
É sabido que o mercado não acredita no cumprimento da meta de primário de 2,3% do PIB este ano nem em 2,1% do PIB no ano que vem. Os prognósticos estão mais para algo entre 1,8% a 1,9% do PIB para ambos os períodos. O Ministério da Fazenda, porém, tem se esforçado para arrancar novas receitas. O novo triplo Refis (refinanciamento de dívidas tributárias) pode render entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, além dos cerca de R$ 15 bilhões do campo de Libra. São receitas que ajudariam a compor a política fiscal deste e do próximo ano.
De qualquer forma, para efeito do impulso fiscal isso não é relevante e sim a variação do superávit. Se a expectativa no governo é que ele fique estável entre este e o próximo ano, o impulso tende a convergir para a neutralidade.
Tomando como base os dados do segundo semestre de 2012 para cá, até julho, o superávit primário caiu praticamente à metade, de quase 3% do PIB para cerca de 1,5% do PIB (saldo estrutural). Estável nesse patamar, não haverá impulso fiscal (dado pelo superávit ajustado ao hiato do produto) sobre o crescimento da economia.
Outro aspecto curioso refere-se ao repasse da depreciação da taxa de câmbio sobre os preços. A taxa usada para o cenário de referência era de R$ 2,25 na ata de julho e agora é R$ 2,40. Mesmo diante dessa desvalorização, a projeção para a inflação de 2013 manteve-se estável e acima da meta em relação ao valor considerado na reunião do Copom de julho. O mesmo ocorreu no cenário de mercado. Para 2014, a estabilidade também se repete e o comitê avançou suas projeções até o segundo trimestre de 2015, quando "a inflação se posiciona acima da meta nos dois cenários".
Não está dito na ata, mas a forte desaceleração da atividade econômica esperada para o terceiro trimestre e a eventual modesta recuperação aguardada para o quarto trimestre do ano não avalizaria um repasse forte da depreciação do real para o IPCA.
A desaceleração está se confirmando. Os dados divulgados ontem pela Anfavea são de que a produção cresceu 2,3% em agosto, mas as vendas caíram 21,6% sobre igual mês do ano passado. Os estoques da indústria automobilística aumentaram para 36 dias, acima dos 30 dias considerados razoáveis.
O aumento dos estoques não passa despercebido pelo Copom que mencionava, na ata de julho, que os estoques estavam ajustados e, agora, retirou essa expressão.
Os economistas do setor privado, depois de se surpreenderem com o bom desempenho da economia no segundo trimestre, estão revendo suas projeções para o terceiro e é difícil encontrar algum que ainda trabalhe com uma performance de expansão do PIB para esse período. Os prognósticos convergem para uma ligeira retração. O Copom não fala do tamanho da desaceleração da atividade.
Corrobora a visão de um cenário aparentemente "dovish" do Banco Central o fato de a inflação efetiva estar, desde junho, bem abaixo das expectativas do mercado. O IPCA teve variação de 0,26% em junho, enquanto o Focus indicava 0,33%. Em julho, para uma taxa esperada de 0,24% o IBGE apurou 0,03% e para agosto, o mesmo deve se repetir (o IPCA será divulgado hoje). As primeiras coletas de preços do IBGE de setembro também estão surpreendendo. Nos quatro dias úteis até ontem, a inflação apontava para a casa dos 0,12%.
A despeito dos senões - condições financeiras mais severas, baixa confiança de consumidores e empresas, elevação dos estoques e surpresa positiva da inflação nos últimos meses - a ata indica que o BC está de olho na inflação de 12 meses. "A elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos 12 meses contribui para que a inflação mostre resistência." E assegura que o ciclo de aperto monetário vai continuar, com ampla chance de ser um ciclo curto.
Refém dos números, governo Dilma ilude o país - ROBERTO FREIRE
BRASIL ECONÔMICO - 06/09
Bastou uma expansão de 1,5% do PIB brasileiro no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano, índice ligeiramente superior às projeções do mercado, para o clima de euforia se espalhar pelo governo de Dilma Rousseff. Não demorou para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um notório especialista em previsões furadas sobre o crescimento econômico do país, viesse a público e dissesse que “o pior já passou” e “o fundo do poço foi superado”. Mas a realidade, como de costume, insiste em desmentir o governo.
Horas depois do pronunciamento de Mantega, o IBGE divulgou dados que registram uma queda de 2% da produção industrial brasileira em julho na comparação com o mês anterior. A redução se deu deforma generalizada, atingindo 15 dos 27 setores pesquisados. O resultado praticamente anula a expansão verificada em junho e, segundo especialistas, indica que o PIB deve desacelerar no terceiro trimestre. O que comprova que o governo tem se preocupado mais em fazer propaganda do que em trabalhar com seriedade.
A redução da participação da indústria no PIB, aliás, é um dado da realidade diante do qual o governo petista não vem conseguindo reagir. Uma pesquisa recente da Fiesp revelou que o setor respondeu por 13,3% do PIB em 2012, regredindo aos patamares de 1955, antes da implantação do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Se mantidas as condições atuais de crescimento, esse percentual deverá ser de apenas 9,3% em 2029.
A sucessão de más notícias também atinge a balança comercial brasileira, que amargou seu pior resultado no acumulado até o mês de agosto desde 1995. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o déficit nos oito primeiros meses de 2013 foi de US$ 3,764 bilhões, ante um superávit de US$ 13,149 bilhões no mesmo período do ano passado. Se considerarmos apenas os números de agosto, a balança registrou superávit de US$ 1,226 bilhão, mas o índice, ainda assim, é o pior para o mês desde 2002.
O fiasco da balança comercial é um dos fatores que levam ao rombo das contas externas do país. Os dados mais recentes disponibilizados pelo Banco Central, referentes a julho, mostram um déficit de US$ 9,018 bilhões, recorde histórico para o mês desde quando essa medição passou a ser feita, em 1947. No ano, o saldo negativo chega a US$ 52,472 bilhões, o que representa um aumento de 81% em relação ao mesmo período de 2012.
A ânsia em alimentar a máquina de propaganda faz o governo esgrimir números sem nenhum compromisso com a credibilidade, como intuito exclusivo de ludibriar a opinião pública e transparecer uma tranquilidade artificial ao mercado. Dados isolados e momentaneamente positivos, que talvez reflitam variações cambiais ou oscilações sazonais, são festejados pelos áulicos do petismo sem o comedimento necessário àqueles que lidam com uma área tão sensível quanto a econômica.
À mercê dos números, Dilma e sua equipe se vêem obrigados a mudar o discurso sucessivamente, pois acabam desmentidos por notícias que jogam água na fervura da euforia desenfreada. A situação brasileira é difícil e deve ser tratada coma seriedade que tanto falta ao governo do PT, e não como peça de marketing eleitoral. Iludir a sociedade está longe de ser o melhor caminho para tirar o Brasil do atoleiro.
Bastou uma expansão de 1,5% do PIB brasileiro no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano, índice ligeiramente superior às projeções do mercado, para o clima de euforia se espalhar pelo governo de Dilma Rousseff. Não demorou para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um notório especialista em previsões furadas sobre o crescimento econômico do país, viesse a público e dissesse que “o pior já passou” e “o fundo do poço foi superado”. Mas a realidade, como de costume, insiste em desmentir o governo.
Horas depois do pronunciamento de Mantega, o IBGE divulgou dados que registram uma queda de 2% da produção industrial brasileira em julho na comparação com o mês anterior. A redução se deu deforma generalizada, atingindo 15 dos 27 setores pesquisados. O resultado praticamente anula a expansão verificada em junho e, segundo especialistas, indica que o PIB deve desacelerar no terceiro trimestre. O que comprova que o governo tem se preocupado mais em fazer propaganda do que em trabalhar com seriedade.
A redução da participação da indústria no PIB, aliás, é um dado da realidade diante do qual o governo petista não vem conseguindo reagir. Uma pesquisa recente da Fiesp revelou que o setor respondeu por 13,3% do PIB em 2012, regredindo aos patamares de 1955, antes da implantação do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Se mantidas as condições atuais de crescimento, esse percentual deverá ser de apenas 9,3% em 2029.
A sucessão de más notícias também atinge a balança comercial brasileira, que amargou seu pior resultado no acumulado até o mês de agosto desde 1995. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o déficit nos oito primeiros meses de 2013 foi de US$ 3,764 bilhões, ante um superávit de US$ 13,149 bilhões no mesmo período do ano passado. Se considerarmos apenas os números de agosto, a balança registrou superávit de US$ 1,226 bilhão, mas o índice, ainda assim, é o pior para o mês desde 2002.
O fiasco da balança comercial é um dos fatores que levam ao rombo das contas externas do país. Os dados mais recentes disponibilizados pelo Banco Central, referentes a julho, mostram um déficit de US$ 9,018 bilhões, recorde histórico para o mês desde quando essa medição passou a ser feita, em 1947. No ano, o saldo negativo chega a US$ 52,472 bilhões, o que representa um aumento de 81% em relação ao mesmo período de 2012.
A ânsia em alimentar a máquina de propaganda faz o governo esgrimir números sem nenhum compromisso com a credibilidade, como intuito exclusivo de ludibriar a opinião pública e transparecer uma tranquilidade artificial ao mercado. Dados isolados e momentaneamente positivos, que talvez reflitam variações cambiais ou oscilações sazonais, são festejados pelos áulicos do petismo sem o comedimento necessário àqueles que lidam com uma área tão sensível quanto a econômica.
À mercê dos números, Dilma e sua equipe se vêem obrigados a mudar o discurso sucessivamente, pois acabam desmentidos por notícias que jogam água na fervura da euforia desenfreada. A situação brasileira é difícil e deve ser tratada coma seriedade que tanto falta ao governo do PT, e não como peça de marketing eleitoral. Iludir a sociedade está longe de ser o melhor caminho para tirar o Brasil do atoleiro.
A governança da internet - DEMI GETSCHKO
O Estado de S.Paulo - 06/09
"A realidade que podemos descrever nunca é a realidade em si" - Werner Heisenberg
A palavra de condão hoje para se falar de governança da internet é multistakeholderism - numa tradução simplista, uma governança multiparticipativa. Mas nada há de muito simples na discussão sobre governança da internet. A impossibilidade de englobar a rede nas estruturas atuais de legislação local, nacional e internacional, nos tratados que, à maneira do das telecomunicações, se propõem a mediar negócios, transações e serviços entre os detentores do poder, e mesmo os limites das nações, é patente.
Numa discussão no Conselho Europeu, em Estrasburgo, há dois anos, ficou clara a dificuldade que há quando se discutem leis globais para a rede. O que surgiu como alternativa promissora foi a aprovação de princípios, intenções e boas práticas, a chamada soft law, em lugar da legislação tradicional, a hard law. Entre as inúmeras vantagens que uma declaração de princípios traz está, inclusive, a janela de observação e de oportunidade para teste de seus resultados e eventuais correções de curso. Obtidos os resultados que se queriam, pode-se pensar em legislação tradicional e tratados adicionais.
O modelo que Estrasburgo apontava era o que o Comitê Gestor da Internet (CGI) no Brasil já havia delineado em 2009, com seu decálogo de princípios para a internet. Éramos citados como paradigma da área, obra de uma comissão multiparticipativa, sem poder regulador, com a missão de orientar, estimular e proteger o crescimento da internet no País de forma aberta, livre e socialmente adequada.
Esse protagonismo, já conseguido em Vilna (Letônia) durante a reunião do Internet Governance Forum de 2010, resultou no texto do Marco Civil, que arrasta sua cruz pelo Legislativo brasileiro há dois anos. O Marco Civil é a soft law, a declaração de princípios de que a internet no Brasil necessita para conservar a neutralidade, mostrar os riscos que corre a privacidade do cidadão e propiciar a segurança jurídica necessária para os que produzem conteúdo e serviços na rede, ao definir o espectro de sua responsabilização.
Os riscos que estamos correndo, entretanto, não se limitam aos entraves reais ou estratégicos que são colocados na "corrida de obstáculos" do Marco Civil pelos que a ele se opõem. Agora, está-se questionando a própria coordenação de recursos centrais da internet no País, que sempre foi levada a cabo pelo CGI via Núcleo de Informação e Comunicação (NIC). Há uma grita por regulação, exatamente por parte de setores já regulados, como é o caso das operadoras de telecomunicações. Num cenário internacional em que o Brasil tem obtido importantes dividendos pela forma como se tem conduzido no que diz respeito à governança da internet, vemos ressurgir a "nostalgia" dos que preferem os oligopólios, transformando-se em reação ao que a internet traz e ao que já se conseguiu.
A primeira vítima do processo é o próprio Marco Civil. Em leituras sistematicamente enviesadas, insiste-se na visão limitada e incorreta de que a neutralidade na rede viria a ser uma "limitante" nas opções de negócio existentes. Esquecem-se princípios e traz-se à cena o modelo econômico, como se na declaração de "direitos humanos", por exemplo, devessem constar detalhes como preços de diferentes alimentos ou tipos de vestuários a usar. Por outro lado, aproveitando-se acontecimentos recentes de extensas violações da privacidade, adições de última hora são propostas ao Marco Civil, ignorando a essência da rede, a sua extensão mundial, a ausência de fronteiras e de localidade nos seus serviços.
É clara a importância de que os conteúdos mais frequentados pelos brasileiros se movam para dentro do País. Isso melhora a balança internacional de custos de telecomunicações, o tempo de resposta e uma melhor experiência da rede para os usuários, certamente beneficiando a todos. Não é por outro motivo que produtores de conteúdo, de textos, de filmes, têm copiado suas bases de dados para servidores dentro do País e procuram interligar-se a pelo menos um dos nossos 23 pontos de troca de tráfego, mantidos pelo CGI via NIC. Porém não há como equilibrar totalmente nosso balanço em telecomunicações porque, por maior que o Brasil seja, o mundo que resta fora do País é maior ainda. É inelutável: há mais conteúdo fora do Brasil a ser acessado por brasileiros do que conteúdo dentro do País acessado por estrangeiros.
Privacidade - que é tema de outro e importante projeto legislativo em trâmite - também é tratada como "princípio" no Marco Civil. Definem-se limites de contexto em que dados pessoais poderiam ser colhidos e a necessidade de obter expresso consentimento do usuário para seu eventual uso. Riscos eventuais a que estamos expostos não devem ser usados como argumento para que a privacidade dos cidadãos na rede seja violada. Quem abre mão da privacidade em nome da segurança acaba sem ambas.
Finalmente, um rápido exame de decisões judiciais sobre responsabilização na rede deixa claro que há insegurança. Um jovem empreendedor nacional que queira criar um novo serviço na internet, uma nova rede social, um programa de relacionamento expõe-se a riscos jurídicos não muito claros, podendo eventualmente ser responsabilizado por ações indevidas de seus usuários. Lembremo-nos de que, por essa interpretação, por exemplo, uma carta anônima recebida por alguém na sua caixa de correio tradicional poderia causar a responsabilização dos Correios, ou do próprio carteiro que a entregou: o mensageiro punido pelo conteúdo da mensagem.
Certamente não é o cenário que queremos para a internet no País. A aprovação do Marco Civil preserva conquistas e previne deformações. Que seja aprovado sem delongas!
"A realidade que podemos descrever nunca é a realidade em si" - Werner Heisenberg
A palavra de condão hoje para se falar de governança da internet é multistakeholderism - numa tradução simplista, uma governança multiparticipativa. Mas nada há de muito simples na discussão sobre governança da internet. A impossibilidade de englobar a rede nas estruturas atuais de legislação local, nacional e internacional, nos tratados que, à maneira do das telecomunicações, se propõem a mediar negócios, transações e serviços entre os detentores do poder, e mesmo os limites das nações, é patente.
Numa discussão no Conselho Europeu, em Estrasburgo, há dois anos, ficou clara a dificuldade que há quando se discutem leis globais para a rede. O que surgiu como alternativa promissora foi a aprovação de princípios, intenções e boas práticas, a chamada soft law, em lugar da legislação tradicional, a hard law. Entre as inúmeras vantagens que uma declaração de princípios traz está, inclusive, a janela de observação e de oportunidade para teste de seus resultados e eventuais correções de curso. Obtidos os resultados que se queriam, pode-se pensar em legislação tradicional e tratados adicionais.
O modelo que Estrasburgo apontava era o que o Comitê Gestor da Internet (CGI) no Brasil já havia delineado em 2009, com seu decálogo de princípios para a internet. Éramos citados como paradigma da área, obra de uma comissão multiparticipativa, sem poder regulador, com a missão de orientar, estimular e proteger o crescimento da internet no País de forma aberta, livre e socialmente adequada.
Esse protagonismo, já conseguido em Vilna (Letônia) durante a reunião do Internet Governance Forum de 2010, resultou no texto do Marco Civil, que arrasta sua cruz pelo Legislativo brasileiro há dois anos. O Marco Civil é a soft law, a declaração de princípios de que a internet no Brasil necessita para conservar a neutralidade, mostrar os riscos que corre a privacidade do cidadão e propiciar a segurança jurídica necessária para os que produzem conteúdo e serviços na rede, ao definir o espectro de sua responsabilização.
Os riscos que estamos correndo, entretanto, não se limitam aos entraves reais ou estratégicos que são colocados na "corrida de obstáculos" do Marco Civil pelos que a ele se opõem. Agora, está-se questionando a própria coordenação de recursos centrais da internet no País, que sempre foi levada a cabo pelo CGI via Núcleo de Informação e Comunicação (NIC). Há uma grita por regulação, exatamente por parte de setores já regulados, como é o caso das operadoras de telecomunicações. Num cenário internacional em que o Brasil tem obtido importantes dividendos pela forma como se tem conduzido no que diz respeito à governança da internet, vemos ressurgir a "nostalgia" dos que preferem os oligopólios, transformando-se em reação ao que a internet traz e ao que já se conseguiu.
A primeira vítima do processo é o próprio Marco Civil. Em leituras sistematicamente enviesadas, insiste-se na visão limitada e incorreta de que a neutralidade na rede viria a ser uma "limitante" nas opções de negócio existentes. Esquecem-se princípios e traz-se à cena o modelo econômico, como se na declaração de "direitos humanos", por exemplo, devessem constar detalhes como preços de diferentes alimentos ou tipos de vestuários a usar. Por outro lado, aproveitando-se acontecimentos recentes de extensas violações da privacidade, adições de última hora são propostas ao Marco Civil, ignorando a essência da rede, a sua extensão mundial, a ausência de fronteiras e de localidade nos seus serviços.
É clara a importância de que os conteúdos mais frequentados pelos brasileiros se movam para dentro do País. Isso melhora a balança internacional de custos de telecomunicações, o tempo de resposta e uma melhor experiência da rede para os usuários, certamente beneficiando a todos. Não é por outro motivo que produtores de conteúdo, de textos, de filmes, têm copiado suas bases de dados para servidores dentro do País e procuram interligar-se a pelo menos um dos nossos 23 pontos de troca de tráfego, mantidos pelo CGI via NIC. Porém não há como equilibrar totalmente nosso balanço em telecomunicações porque, por maior que o Brasil seja, o mundo que resta fora do País é maior ainda. É inelutável: há mais conteúdo fora do Brasil a ser acessado por brasileiros do que conteúdo dentro do País acessado por estrangeiros.
Privacidade - que é tema de outro e importante projeto legislativo em trâmite - também é tratada como "princípio" no Marco Civil. Definem-se limites de contexto em que dados pessoais poderiam ser colhidos e a necessidade de obter expresso consentimento do usuário para seu eventual uso. Riscos eventuais a que estamos expostos não devem ser usados como argumento para que a privacidade dos cidadãos na rede seja violada. Quem abre mão da privacidade em nome da segurança acaba sem ambas.
Finalmente, um rápido exame de decisões judiciais sobre responsabilização na rede deixa claro que há insegurança. Um jovem empreendedor nacional que queira criar um novo serviço na internet, uma nova rede social, um programa de relacionamento expõe-se a riscos jurídicos não muito claros, podendo eventualmente ser responsabilizado por ações indevidas de seus usuários. Lembremo-nos de que, por essa interpretação, por exemplo, uma carta anônima recebida por alguém na sua caixa de correio tradicional poderia causar a responsabilização dos Correios, ou do próprio carteiro que a entregou: o mensageiro punido pelo conteúdo da mensagem.
Certamente não é o cenário que queremos para a internet no País. A aprovação do Marco Civil preserva conquistas e previne deformações. Que seja aprovado sem delongas!
O salão verde como porta de saída - MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 06/09
A julgar pelas prisões preventivas e pelo reforço no aparato de segurança, governantes de norte a sul aguardam mais ruídos no 7 de setembro do que os do tradicional "Grito dos Excluídos", desde 1995 incorporado ao tradicional calendário de protestos da data.
Nos três meses que se passaram desde o início dos protestos, nem tudo mudou para conservar a ordem. Há mudanças para melhor e outras que pioram o que já era muito ruim.
Entre as boas mudanças está a aprovação de projeto que tramitava há anos no Congresso para punir empresas que ofertam vantagens a servidores públicos como parte de sua estratégia de expansão. Depois de uma sucessão de leis para aumentar o rigor contra a corrupção no Estado, foi a vez de o Congresso se voltar contra o corruptor. A lei foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff com vetos nos artigos que atenuavam as punições às empresas.
Entre os piores subprodutos das ruas está a minirreforma eleitoral em curso. Situa a atual lei na ala dos feitos nunca tão ruins que não possam piorar.
O texto aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado dificulta a vida de quem quer disputar mas não dispõe de mandato, carreira na televisão ou vocação para líder religioso.
Veta todas as alternativas surgidas para divulgação de candidaturas desde a proibição de outdoors, como placas e cavaletes, pintura de muro de casas e de casas. Regulou até o tamanho dos adesivos.
A justificativa para toda essa perfumaria foi a necessidade de reduzir o custo de campanha. Houvesse, de fato, esta motivação teriam reforçado a transparência e a vigilância sobre os gastos. Preferiram derrubar a emenda que obrigava a divulgação dos financiadores durante as campanhas. E ainda abrigaram as multas aplicadas às legendas entre os propósitos do fundo partidário. Preparam-se para infringir a lei eleitoral e debitar na conta do eleitor.
A votação do texto foi nota de pé de página numa semana em que só se falou da manutenção do mandato do deputado federal Natan Donadon (sem partido-RO), preso pelo desvio de verbas na Assembleia Legislativa de Rondônia.
São fatos derivados da mesma sofreguidão numa conjuntura de rechaço à representação política. Mas as mudanças na lei eleitoral têm consequências ainda mais danosas. Ao impermeabilizar o Legislativo a novas carreiras, a minirreforma eleitoral não apenas visa a preservar mandatos como frustra a renovação.
O Congresso pode se renovar sem melhorar. O sangue novo também pode chegar contaminado. As mudanças em curso não o esterilizam.
No banco de dados do Diap recolhe-se que a eleição parlamentar com o maior grau de renovação foi a de 1990. Na esteira da eleição do caçador de marajás no ano anterior, os eleitores mandaram para casa seis em cada dez deputados.
Foi uma renovação semelhante à que sucedeu no parlamento italiano depois da operação "Mãos Limpas" que varreu 70% da elite política.
Na Itália, a renovação eleitoral de 1994 deu origem à era Silvio Berlusconi. No Brasil, a renovação recorde de 1990 daria início à legislatura dos "Anões do Orçamento".
Concorre para piorar o que já é ruim a gritaria anticorrupção. Reúne no mesmo barco e esteriliza interesses conflitantes na disputa pelo Estado.
O PSOL, um dos partidos mais antenados contra os passeios de helicóptero da cachorrinha do governador Sérgio Cabral, por exemplo, pode pagar pedágio na rota de 2014. A líder do partido na Assembleia Legislativa e presidente do partido no Rio renunciou ao cargo depois de denúncia de financiamento irregular de campanha.
Um dos momentos mais emblemáticos do trimestre das manifestações foi o confronto entre a moçada das redes sociais e os carros de som dos sindicatos.
Mais reduzidos, os protestos sindicais foram criticados por discurso e método. Por carcomido que seja seu apego a privilégios das elites do sindicalismo e do funcionalismo público, o que há de fato mais ultrapassado neles é a incapacidade de convencer a audiência da atualidade de demandas trabalhistas.
O descaso pela discussão da duração da jornada ou das regras de aposentadoria só pode interessar a quem não ganha a vida pelo trabalho.
Tramita no Congresso, ignorado pelo distinto público, projeto de lei que amplia para além de atividades como limpeza, segurança e mão de obra rural a terceirização das contratações.
O líder do Solidariedade, nova legenda que deve chegar à Câmara em 2014, contesta a proposta, mas os políticos que recruta não guardam relação com o mundo do trabalho. Têm mais proximidade com o universo dos negócios. É uma janela de oportunidades para quem quer escapar das amarras da fidelidade partidária.
Na outra ponta, partidos também buscam verniz de rua com o recrutamento de lideranças que se projetaram nos últimos meses, do Passe Livre ao Midia Ninja, mas enfrentam resistências. Essas lideranças temem que a adesão institucional os afaste dos movimentos nos quais se originaram. Como a moçada que foge do Congresso não gestou um substituto para a democracia representativa, a temporada eleitoral que está para se iniciar corre o risco de aprofundar o fosso entre as ruas e o salão verde.
A julgar pelas prisões preventivas e pelo reforço no aparato de segurança, governantes de norte a sul aguardam mais ruídos no 7 de setembro do que os do tradicional "Grito dos Excluídos", desde 1995 incorporado ao tradicional calendário de protestos da data.
Nos três meses que se passaram desde o início dos protestos, nem tudo mudou para conservar a ordem. Há mudanças para melhor e outras que pioram o que já era muito ruim.
Entre as boas mudanças está a aprovação de projeto que tramitava há anos no Congresso para punir empresas que ofertam vantagens a servidores públicos como parte de sua estratégia de expansão. Depois de uma sucessão de leis para aumentar o rigor contra a corrupção no Estado, foi a vez de o Congresso se voltar contra o corruptor. A lei foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff com vetos nos artigos que atenuavam as punições às empresas.
Entre os piores subprodutos das ruas está a minirreforma eleitoral em curso. Situa a atual lei na ala dos feitos nunca tão ruins que não possam piorar.
O texto aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado dificulta a vida de quem quer disputar mas não dispõe de mandato, carreira na televisão ou vocação para líder religioso.
Veta todas as alternativas surgidas para divulgação de candidaturas desde a proibição de outdoors, como placas e cavaletes, pintura de muro de casas e de casas. Regulou até o tamanho dos adesivos.
A justificativa para toda essa perfumaria foi a necessidade de reduzir o custo de campanha. Houvesse, de fato, esta motivação teriam reforçado a transparência e a vigilância sobre os gastos. Preferiram derrubar a emenda que obrigava a divulgação dos financiadores durante as campanhas. E ainda abrigaram as multas aplicadas às legendas entre os propósitos do fundo partidário. Preparam-se para infringir a lei eleitoral e debitar na conta do eleitor.
A votação do texto foi nota de pé de página numa semana em que só se falou da manutenção do mandato do deputado federal Natan Donadon (sem partido-RO), preso pelo desvio de verbas na Assembleia Legislativa de Rondônia.
São fatos derivados da mesma sofreguidão numa conjuntura de rechaço à representação política. Mas as mudanças na lei eleitoral têm consequências ainda mais danosas. Ao impermeabilizar o Legislativo a novas carreiras, a minirreforma eleitoral não apenas visa a preservar mandatos como frustra a renovação.
O Congresso pode se renovar sem melhorar. O sangue novo também pode chegar contaminado. As mudanças em curso não o esterilizam.
No banco de dados do Diap recolhe-se que a eleição parlamentar com o maior grau de renovação foi a de 1990. Na esteira da eleição do caçador de marajás no ano anterior, os eleitores mandaram para casa seis em cada dez deputados.
Foi uma renovação semelhante à que sucedeu no parlamento italiano depois da operação "Mãos Limpas" que varreu 70% da elite política.
Na Itália, a renovação eleitoral de 1994 deu origem à era Silvio Berlusconi. No Brasil, a renovação recorde de 1990 daria início à legislatura dos "Anões do Orçamento".
Concorre para piorar o que já é ruim a gritaria anticorrupção. Reúne no mesmo barco e esteriliza interesses conflitantes na disputa pelo Estado.
O PSOL, um dos partidos mais antenados contra os passeios de helicóptero da cachorrinha do governador Sérgio Cabral, por exemplo, pode pagar pedágio na rota de 2014. A líder do partido na Assembleia Legislativa e presidente do partido no Rio renunciou ao cargo depois de denúncia de financiamento irregular de campanha.
Um dos momentos mais emblemáticos do trimestre das manifestações foi o confronto entre a moçada das redes sociais e os carros de som dos sindicatos.
Mais reduzidos, os protestos sindicais foram criticados por discurso e método. Por carcomido que seja seu apego a privilégios das elites do sindicalismo e do funcionalismo público, o que há de fato mais ultrapassado neles é a incapacidade de convencer a audiência da atualidade de demandas trabalhistas.
O descaso pela discussão da duração da jornada ou das regras de aposentadoria só pode interessar a quem não ganha a vida pelo trabalho.
Tramita no Congresso, ignorado pelo distinto público, projeto de lei que amplia para além de atividades como limpeza, segurança e mão de obra rural a terceirização das contratações.
O líder do Solidariedade, nova legenda que deve chegar à Câmara em 2014, contesta a proposta, mas os políticos que recruta não guardam relação com o mundo do trabalho. Têm mais proximidade com o universo dos negócios. É uma janela de oportunidades para quem quer escapar das amarras da fidelidade partidária.
Na outra ponta, partidos também buscam verniz de rua com o recrutamento de lideranças que se projetaram nos últimos meses, do Passe Livre ao Midia Ninja, mas enfrentam resistências. Essas lideranças temem que a adesão institucional os afaste dos movimentos nos quais se originaram. Como a moçada que foge do Congresso não gestou um substituto para a democracia representativa, a temporada eleitoral que está para se iniciar corre o risco de aprofundar o fosso entre as ruas e o salão verde.