terça-feira, agosto 20, 2013

Por que modernizar a CLT? - JOSÉ PASTORE

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08

Profissionais altamente qualificados, de renda alta, que cuidam das próprias proteções nos campos da saúde e da previdência social, estão legalmente impedidos de estabelecer com os empregadores regras contratuais que estejam fora da tutela da CLT. Essa é uma das centenas de normas rígidas que fazem parte da legislação trabalhista do Brasil. O mesmo impedimento existe para as pessoas que desejam trabalhar em regimes diferentes das jornadas estabelecidas naquela lei, o que está em desacordo com a prática de jornadas flexíveis tão necessárias quanto frequentes nos países avançados onde o trabalho se adapta às necessidades e desejos das pessoas.

Igualmente impedidos estão os profissionais que desejam ser remunerados - sistemática e habitualmente - pelo que produzem, não pelo tempo trabalhado, mais uma vez, na contramão das nações desenvolvidas onde crescem a cada dia os que ganham pelas ideias que criam e pelos projetos que executam - não pelo tempo que gastaram para chegar a eles. Na CLT, a lista de regras rígidas e inflexíveis é imensa.

A insistência da nossa legislação ao impor regras rígidas e homogêneas em situações voláteis e heterogêneas conspira contra a eficiência dos negócios e a qualidade de vida dos trabalhadores ao mesmo tempo em que inibe a inovação e encarece a produção. Apesar de a CLT ter passado por alguns ajustes ao longo dos seus 70 anos de vida, o cerne daquele diploma legal não mudou, ou seja, a ideia de que todos os trabalhadores são hipossuficientes.

Segundo esse princípio, eles não têm liberdade para negociar e aceitar condições diferentes das estabelecidas na CLT. Cito um exemplo: muitos empregados têm interesse em reduzir o horário de almoço de uma para meia hora e, em consequência, saírem mais cedo no fim do dia ou folgarem aos sábados. A maioria dos empresários concorda com o pleito. Os sindicatos laborais também apoiam. Apesar de todos concordarem, a Justiça do Trabalho considera a pretensão inexequível à luz da CLT, que estabelece uma hora para refeição. Os atores sociais não podem negociar porque são "hipossuficientes".

O conceito da hipossuficiência assemelha-se ao da interdição. Interdita-se uma pessoa quando ela deixa de raciocinar. Os trabalhadores brasileiros - todos eles - são tratados dessa forma pela CLT. Mesmo quando amparados pelo seu sindicato, não têm o direito de fazer escolhas.

Na CLT predomina a cultura do garantismo legal, em que tudo é regulado por lei (não por negociação) nos mínimos detalhes. Com exceção do salário e da participação nos lucros ou resultados, todos os demais direitos são fixados. Não são negociáveis. É rigidez excessiva que não cabe no Brasil de hoje, que é bem diferente do de 1943, quando foi aprovada a CLT.

Para vencer a concorrência interna e externa, o Brasil terá de elevar muito o atual nível de produtividade - que hoje é 20% da produtividade americana -, admitir a terceirização em atividades meio e fim, praticar a produção em rede, abrir espaços para a contratação (legal) de novas formas de trabalhar, etc. Tudo isso exige a modernização da legislação trabalhista.

Além do excesso de rigidez e do garantismo legal, o Brasil tem de conviver com enorme insegurança jurídica, que decorre de leis e sentenças de efeito retroativo. Esse é o caso, por exemplo, da lei do aviso prévio que estabeleceu adicional de três dias para cada ano trabalhado pelo empregado atingindo o passado. De uma hora para outra, aumentou-se o passivo trabalhista das empresas. É isso que leva muitos investidores a dizer que no Brasil nem o passado é previsível. A tributação do passado inibe a capacidade de prever das empresas e o próprio investimento.

Em suma, o Brasil precisa se livrar da rigidez e da retroatividade apontadas. Isso exigirá modificações graduais e deferidas como se costuma fazer nos países avançados. Em outras palavras: as mudanças na legislação precisam ser realizadas parcialmente e com vigência prevista para daqui a quatro ou cinco anos, o que atenuará as resistências culturais e preparará o país para uma legislação que de fato atenda as necessidades dos brasileiros, das empresas e da economia.

Barão de Mesquita 425 - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/08

Membros da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão da Verdade do Rio programaram uma visita, amanhã, ao antigo DOI-Codi carioca, no interior do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca.

O Exército foi informado da visita por meio de ofício encaminhado pelo procurador federal Antônio Cabral, que acompanhará a comitiva.

Centro de memória...
A atividade é o primeiro passo para uma campanha de tombamento do local e sua transformação num centro de memória da ditadura, como ocorreu na Argentina com o prédio da antiga Escola Superior de Mecânica Armada.

Quilombola da Tapera
O ministro Joaquim Barbosa suspendeu a decisão do desembargador Raldênio Bonifácio Costa a favor da empresa Jacarehi Imobiliários, que disputa a posse de uma área em Itaipava, na Região Serrana do Rio.

A decisão do presidente do STF devolve o lugar à comunidade quilombola da Tapera.

Aliás...
Joaquim Barbosa até ontem não estava disposto a pedir desculpas a seu colega Ricardo Lewandowski na sessão de amanhã. O presidente do STF diz que o colega tenta empurrar com a barriga o processo do mensalão, que se arrasta desde 2006.

Pró-memória
A cientista política Maria Celina D"Araujo deixa uma pergunta no ar, após lembrar que o assassinato pela polícia política do operário Manuel Fiel Filho, em 1976, "dito comunista", foi a gota d"água para o desmanche da linha dura dentro do governo militar:

- O desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo, dito traficante, em que dará?

Petróleo não é nosso
Adriano Pires, o consultor da área de petróleo, acha que não faz sentido a Petrobras vender aos chineses campos de petróleo, como os 35% que detinha no Parque das Conchas, além da metade de sua participação na produção do combustível na África para o BTG:

- Enquanto vende ativos valiosos comprometendo o futuro, os preços da gasolina e do diesel continuam 30% abaixo do mercado internacional, gerando perdas de R$ 700 milhões mensais para a estatal.

"Tower of terror"
Mais uma do Aeroporto Galeão-Tom Jobim. Sábado, por volta das 23h, o elevador do Terminal 2, que vai do estacionamento ao embarque, parou, quase uma hora, com três pessoas que iriam viajar para o exterior.

Teve prisioneiro dizendo que as mexidas do elevador remetiam ao "Tower of terror", da Disney.

Casa das Águas
Uma entidade chamada Instituto Novos Talentos do Esporte e Cultura, do Rio, conseguiu autorização do MinC para captar R$ 5.653.065,73.

É para restaurar um casarão na Rua do Riachuelo, entre as ruas do Resende e Washington Luiz, e transformá-lo na Casa das Águas: um centro cultural que vai contar a história do sistema de abastecimento de água no Brasil.

Os pássaros na meia-idade - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 20/08

Quem disse que o mal tinha sempre uma justificação racional, ou teológica, ou científica?


Um dos grandes mistérios de Portugal é saber por que motivo as gaivotas lusas não se assustam com os humanos. Várias vezes caminhei por entre a bicharada, que continua tranquilamente as suas rotinas.

Séculos e séculos de convívio apertado com uma pátria de marinheiros acabaram por domesticar as aves. Em Portugal, um filme de Alfred Hitchcock sobre gaivotas assassinas seria tão improvável como um filme sobre gaivotas assustadas. Elas não querem saber de nós para nada.

O mesmo não acontece com os pássaros de Hitchcock, que fazem agora 50 anos. Será preciso resumir a história do filme?

Talvez, para o auditório juvenil. Uma jovem "socialite" de São Francisco (a divina Tippi Hedren, em estreia cinéfila) conhece e apaixona-se por Mitch (Rod Taylor) numa loja de animais. Acaba por segui-lo até Bodega Bay (delicioso nome). As aves começam a atacar pouco depois. Mas por que atacam as aves, afinal? Passaram 50 anos e ninguém conseguiu explicar ainda. Existem tentativas.

Anos atrás, cientistas da Universidade de Lousiana afirmaram que os pássaros atacavam por influência de uma toxina que os enlouquecia. O próprio Hitchcock, confrontando-se com o fenômeno na década de 60, teria encontrado aí a inspiração para as suas aves assassinas. O conto de Daphne du Maurier, que serviu de base para o roteiro, não passou de um pretexto.

É uma boa tentativa de explicação. Que, como é evidente, retira o elemento mais importante do filme: o seu sinistro mistério.

As aves atacam porque atacam. É a explicação mais simplória --e inquietante. Quem disse que o mal tinha sempre uma justificação racional, ou teológica, ou científica?

Verdade que a nossa civilização não lida bem com essa possibilidade. Basta olhar para a história da cultura ocidental. O mal nasce da ignorância, diziam os clássicos gregos e seus herdeiros iluministas no século 18. O mal nasce da nossa irremediável perdição depois da Queda, dirão os doutores da igreja. O mal nasce da pobreza e da miséria, dirá o pessoal marxista de Porto Alegre.

Ou então o mal nasce de um desequilíbrio orgânico ou químico que a ciência moderna acabará por resolver. Tudo é possível, exceto admitir que o mal está entre nós sem nenhuma explicação, nenhuma justificação. Nenhuma cura ou redenção.

O primeiro som que escutamos em "Os Pássaros" é, precisamente, o som dos pássaros: na rua, quando a moça caminha; na loja, quando encontra o rapaz; e em todas as cenas do filme --o chilrear constante e vulgar, que faz parte da nossa paisagem cotidiana.

Eis a assustadora premissa de Hitchcock: e se um dia aquilo que é banal se converte em uma sombra de destruição e morte? Pior ainda: e se essa sombra emerge com a mesma ferocidade misteriosa com que se dissipa?

Mas existe uma segunda tentativa de explicação. Sabemos que as pragas bíblicas não aconteciam por acaso. Eram uma forma tangível de Deus castigar a licenciosidade dos homens.

Um moralista misógino como Hitchcock, para quem as mulheres eram essa fonte permanente de fascínio e temor, não seria insensível à hipótese: as aves atacam, primeiro que tudo, o atrevimento de Tippi Hedren na caçada do seu homem.

Não por acaso, ela é a primeira vítima de uma gaivota quando pretende seduzir Mitch.

E a punição continua: quando ela decide ficar mais uns dias no vilarejo e, finalmente, quando ela se confronta no quarto com as aves enlouquecidas. Ao desfalecer perante os golpes animalescos, é o nome de Mitch que ela pronuncia --um gemido orgástico de prazer que é Hitchcock "vintage".

Mensagem: Tippi Hedren é o agente corruptor que traz a desgraça para a comunidade. Sem surpresa, as aves só concedem uma trégua quando ela abandona a comunidade --assombroso plano final, em que o carro se afasta e as aves permanecem, guardiãs majestáticas.

No panteão dos filmes de Hitchcock, é provável que "Os Pássaros" não esteja na "pole position".

Um erro. Pela décima ou centésima vez, assisti ao filme para brindar aos seus 50 anos. E garanto que não encontrei uma única ruga nesta gloriosa meia-idade. O mesmo brilhantismo formal. E, claro, a mesma perversidade moral e metafísica.

Tudo coisas que as gaivotas de Lisboa não conhecem. Olho para elas através do vidro, passeando calmamente entre os humanos. Sim, talvez sejam imunes a toxinas. Ou, então, são umas deliciosas devassas.

Ueba! Viva o Manifestódromo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP  - 20/08

E tem uma amiga que vai abrir uma empresa que terceiriza manifestantes, Personal Manifesting!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "PM do Rio sugere criação de MANIFESTÓDROMO para evitar caos no trânsito". OBA! Com abadá? Com abadá, camisinha e pílula do dia seguinte? Vai ter camarote da Brahma?

E o tuiteiro Christian Silva: "Melhor fogueira de ônibus, Anonymous, nota deeeeeez!". Rarará!

E já imaginou a comissão julgadora? Cabral: melhores palavras de ordem. Alckmin: melhores faixas e cartazes. Dilmão: melhor coquetel molotov. Rarará.

E tem uma amiga que vai abrir uma empresa que terceiriza manifestantes, Personal Manifesting! E eu dou uma escola e um médico cubano pra quem conseguir pronunciar a palavra PROTESTRÓDROMO! Rarará!

Piada Pronta: "Policiais que levavam Amarildo dizem que se perderam". Rarará. A polícia se perdeu. Só falta dizer que o Amarildo deu um olé nos policiais e fugiu com a viatura!

E "Amor à Vida"! Amor à Bimba! Essa novela tá parecendo um fliperama desgovernado! E o Caio Castro é aquele médico que vive pelado? Não, o Caio Castro é aquele pelado que diz que é médico! Chama os cubanos!

E aquela Paloma é mais sem graça que água de salsicha. Loira água de salsicha!

E aquele "hosputal" tá cada dia mais bombado!

E o meu São Paulo? O Bambi Esperança? Não ganha mais nem partida de porrinha.

E o site Futirinhas: "sabe qual a diferença entre a Mega-Sena e o São Paulo? Ambos custam R$ 2, mas na Mega ainda há chances de ganhar". Baixa o ingresso pra R$ 1,99!

E tinha flanelinha oferecendo ingresso grátis de brinde: "Aê patrão, deixa dez conto aí que eu dou um ingresso de grátis". E adorei a declaração do Ceni: "Ceni vê São Paulo melhor que o Flamengo e lamenta a bola não entrar".

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Cartaz no Walmart de São Bernardo do Campo: "HOME TEACHER SAMSUNG, 10 X R$ 89,80!". Vanguarda da tecnologia, professor particular por R$ 898,00! Esse é o salário que os prefeitos pagam aos professores em carne e osso, ops, em carne viva! Rarará!

Acho que esse "home teacher" é pra assistir ao telecurso segundo grau. Ou como diz um amigo: "tá barato, ele sabe fazer café também?".

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Medicina tumultuada - ADIB JATENE E JOSÉ DA SILVA GUEDES

O Estado de S.Paulo - 20/08

Desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou que iria importar médicos, estabeleceu-se um tumulto no setor. Na verdade, o número de médicos é menor que o de muitos países geralmente mais desenvolvidos.

Acontece que desde 1996 o número de escolas médicas e, em consequência, o de graduados em Medicina vem crescendo de maneira até excessiva. Naquele ano havia 82 cursos de Medicina, 60% dos quais eram públicos e 40%, privados. A maioria dos privados era ministrada por entidades que não tinham tradição no setor de saúde e, por isso, não possuíam complexo médico-hospitalar e ambulatorial que permitisse o ensino na sua fase clínica. A solução foi utilizar hospitais e ambulatórios do SUS para ministrar seu curso médico, com evidente prejuízo para o ensino.

Os serviços eminentemente assistenciais não são adequados ao ensino. Mal comparando, seria como ensinar a guiar automóvel nas avenidas de grande tráfego. Enquanto se discutia como melhorar a qualidade do ensino, com 11 entidades médicas reunidas no Cinaem para ajudar as escolas a se adequar, fomos atropelados, a partir de 1996, pela criação de mais de 120 cursos, dos quais 70% privados, com os mesmos vícios dos que buscávamos corrigir. De cerca de 9 mil graduandos, passamos a graduar mais de 18 mil médicos por ano.

Neste momento se descobre o que já era sabido: a distribuição de médicos é desigual, deixando parcelas da população até com excesso, enquanto outras não dispõem de nenhum médico. Por que isso, que é fato, ocorre?

O primeiro argumento é que a urbanização em nosso país é recente. A concentração urbana ocorreu nas grandes cidades, em especial nas áreas metropolitanas, e hoje mais de metade da população vive em apenas 3% dos 5.564 municípios. Não foi possível, em tão curto intervalo de tempo, dotar essas cidades de todos os determinantes sociais de saúde, como saneamento básico, transporte, segurança, educação e também os equipamentos de saúde de que a população necessita. Por outro lado, mais da metade dos municípios tem menos de 10 mil habitantes, igualmente com deficiências comparáveis às das populações periféricas das grandes cidades. A consequência do desenvolvimento urbano equivocado é que onde vivem grandes parcelas da população os profissionais de que ela necessita não aceitam morar.

Outro argumento é que o médico formado atualmente não está sendo preparado para atender a população. Todos concordam com a necessidade da residência médica, mas, como está estruturada hoje, ela resulta, ao final, na formação de especialistas. Só existe residência em hospitais públicos, ou privados, onde está instalada toda a moderna tecnologia. E é exatamente a existência dessa tecnologia que dificulta a formação do chamado médico geral ou generalista. Este deve ser capaz de resolver 80% dos casos e encaminhar para atendimento especializado os 20% que eventualmente precisem de internação.

Aí é que as coisas se complicam. O médico generalista não tem para quem encaminhar o cliente do SUS.

Para as populações de pequenos municípios a proposta seria a organização de consórcios intermunicipais, tendo como sede um município polo. É comum, em municípios com menos de 20 mil habitantes, a existência de hospitais praticamente vazios. Em muitos desses locais, nem mesmo partos são realizados.

A estratégia implantada em 1995 foi o Programa Saúde da Família (PSF), com base no agente comunitário. Este deve obrigatoriamente residir na microárea onde vive a população a que serve, constituída por 100 a 200 famílias, dependendo da concentração. Os agentes - na maioria, mulheres - cadastram a população, que passam a visitar a cada mês. Dessa forma, todas as doenças existentes, como hipertensão, diabetes, tuberculose, passam a ser controladas, o mesmo ocorrendo com as gestantes e a caderneta de vacinação. Para cada cinco ou seis agentes se põe num posto pelo menos um médico, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e um dentista. Para complementar o modelo equipes de ao menos 12 especialistas, com acesso a tecnologia e estrutura hospitalar, deveriam dar cobertura à varias equipes do PSF. Sua quase total ausência limita e desestimula a atuação dos médicos de família.

Entretanto, para que essa estrutura funcione teríamos de reformar o ensino médico. Essa reforma significa entregar a graduação a professores que não queiram ensinar especialidades, mas, de cada especialidade, o que nenhum médico pode deixar de saber, seja em situações eletivas, seja, principalmente, nas situações de emergência.

Essa estratégia estava em início de discussão e precisaria de amplo debate com as escolas, as entidades e os alunos. Subitamente foi imposta por medida provisória, o que acarretou rejeição pela classe médica, pelos alunos e por todas as entidades do setor.

Temos hoje perto de 30 mil equipes de Saúde da Família e cerca de 200 mil agentes comunitários. Precisamos do dobro. E não temos equipes de especialistas em condições de receber referência e fazer a contrarreferência, bem como os hospitais relacionados com as equipes.

Decidiu-se importar médicos. Parece-nos que o governo, na pressa de atender deficiências que são reais, tenha posto a perder um esquema que poderia tomar tempo, mas teria tudo para reformar o ensino médico e organizar o atendimento. É urgente que o governo reveja suas propostas e acione os mecanismos dos Ministérios da Saúde e da Educação para que propostas realmente estruturantes e duradouras sejam desencadeadas. É necessário que as entidades representativas dos profissionais da saúde e do sistema educacional façam uma análise crítica da situação atual, com uma visão fundamentada na real necessidade de toda a população.

Quem vai responder? - PEDRO DUTRA

O GLOBO - 20/08

A correspondência de César, expedida do Sul da França onde o cônsul guerreava, alcançava Roma em sete dias.

Os romanos haviam percebido que as comunicações precisavam de uma rede de transporte eficaz, e as estradas que abriram por todo o império serviam a esse propósito.

Hoje, a comunicação se dá também por outra rede, eletrônica, que chama multidões às ruas de onde bradam os seus protestos, e o reclamo por melhor transporte foi o primeiro deles.

Acuados e aturdidos, os governantes reagiram espasmodicamente, anunciando o congelamento (ao usuário) das tarifas do transporte urbano e do pedágio em rodovias.

No primeiro caso, haverá um expressivo aumento do subsídio, sacado dos deficitários tesouros municipais, a ser pago aos transportadores urbanos; no caso dos pedágios, serão sangrados os cofres estaduais e o federal, em compensações devidas aos operadores de rodovias. Ao final, arcará o contribuinte com esses custos adicionais, e ele será ainda prejudicado pela consequente, e inevitável, redução de investimentos privados e públicos.

A decisão em não reajustar as tarifas conforme estipulada nos contratos de concessão firmados pelo poder público verifica-se no momento em que ele, em busca de investimentos privados, inicia a licitação de concessões em todos os setores de transporte público: aeroportos, rodovias, ferrovias e portos.

Supor que a população que protesta será satisfeita com ações dessa natureza dá a medida do despreparo dos governantes.

Todos queremos solução ao caos administrativo disseminado pelo país, cujos responsáveis os protestos identificam e responsabilizam.

Em lugar de medidas populistas de custo diferido porém redobrado, os governantes deveriam expor ao contribuinte como funciona o sistema de transportes e quais as medidas para reformá-lo.

A começar por divulgar os custos desses serviços, o volume dos investimentos necessários à devida execução deles e a forma e o valor a remunerar o seu prestador.

Por outras palavras, quanto custa o serviço, quanto ganha o prestador dele, quanto deve ser a tarifa que permita a subsistência de um serviço de qualidade e como será subsidiada a tarifa de quem não pode pagá-la.

A naturalidade do Papa Francisco, que atraiu à Praia de Copacabana três milhões de pessoas, não está apenas em seus atos, mas também em suas palavras, igualmente simples e precisas.

Contudo, tais palavras exigem conhecimento da matéria em questão e desassombro pessoal para dizê-las.

Entre os governantes nativos, qual falará ao público? 

Retorno do Ocidente? - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 20/08


O planeta financeiro, com seus bilhões e bilhões de dólares é um colosso de pés de barro. É muito frágil, desmorona facilmente. Carece de constância e sangue frio. Qualquer coisa o deixa exaltado. Ou o deprime. Passa do riso às lágrimas por causa de um rumor e se recupera à vista de outro.

Há alguns meses, os financistas afastavam-se com repugnância da velha Europa. E desconfiavam mesmo dos Estados Unidos que pareciam um pouco indolentes. O interesse concentrava-se todo nos países asiáticos, especialmente China e Índia, e eles adoravam os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). E também a Turquia e alguns outros pequenos "tigres".

Repentinamente, o discurso mudou. Há cerca de um mês, um ruído foi ouvido nos mercados. Esse rumor, que o primeiro-ministro francês, François Hollande, inteligentemente ouviu e repercutiu, dizia: "Atenção, amigos! A crise acabou na Europa, nos Estados Unidos e até mesmo no Japão. A partir de agora, o doente do universo não é mais o Ocidente".

A mudança foi brutal e geral: os investidores agora se lançam sobre as ações das grandes praças europeias e olham com desconfiança os mercados do Bric. E as bolsas ilustram a mudança.

Em seis meses, Wall Street registrou alta de 13% (o índice das 500 ações da Standard & Poor's). O índice Nikkei do Japão contabilizou um aumento de 32%. Mesmo a França, símbolo da decadência econômica europeia, parece ter saído das dificuldades. O índice CAC da bolsa avançou 10%. E o DAX, da Alemanha, 8%.

E, como numa gangorra, observamos um movimento inverso nos países que faziam avançar o crescimento mundial: no Brasil, o Ibovespa perdeu 17,8% desde 1,º de janeiro; na Rússia, a queda foi de 9%; e a Bolsa de Xangai perdeu 9%. Mumbai, na Índia, não foi mais brilhante, com uma perda de 5%.

E o desempenho econômico desses países confirmam os indicadores financeiros. O crescimento no Brasil deve ser de 0,9% no segundo trimestre. A China, que em 2011 registrava um crescimento de 9,34% ao ano, contenta-se agora com um ganho de 7,5% no segundo trimestre de 2013. O comércio exterior da Índia desmorona. Na Rússia, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou apenas 1,2% entre abril e junho de 2013.

Inversamente, a Europa retoma o crescimento. No segundo trimestre de 2013, o PIB cresceu 0,3%. Não é muito, mas indica que a recessão acabou. Mesmo a França, tão apática, viu seu PIB crescer, de maneira inesperada, 0,5% no segundo trimestre. Não é muito, mas se um paralítico de repente lança suas muletas para o ar e grita, como François Hollande, "Hurra!", podemos falar de uma pequena ressurreição (a confirmar, claro).

Por outro lado, essa inversão de tendência tem seus efeitos multiplicados pela política do Federal Reserve, banco central dos EUA. Vale lembrar que o Fed inundou o mercado de liquidez. Incitou assim os investidores a procurarem novos lugares propícios para suas aplicações: os países emergentes.

Para o HSBC, "as economias emergentes tornaram-se objetos de esperanças irracionais". E o Morgan Stanley confirmou: "Em junho, US$ 19,9 bilhões desertaram dos fundos especializados dos países emergentes".

Claro que o Fed fechará as torneiras para a Europa, mas os efeitos serão menos nocivos. Por quê? De acordo com o Le Monde, "se o Fed reduzir o aporte de liquidez, será mais difícil para os países emergentes, cujos fundamentos são menos sólidos".

Para os observadores, duas economias estarão particularmente expostas: Turquia e Índia. A situação da Índia é inquietante. Desde o início de maio, a rupia perdeu 15% e o PIB deve crescer 5%.

O The New York Times comenta as disposições do Fed, sem papas na língua. Jim O' Neil, o economista que inventou o Bric, escreveu: "Penso que os Estados Unidos serão um dos países que mais ganharão com essa inversão de estratégia"./
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Eduardo Campos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 20/08
O PSB quer eleger 50 deputados federais nas eleições de 2014. Por isso, além de disputar a eleição presidencial com a candidatura do governador Eduardo Campos (PE), o partido pretende lançar chapas próprias para o governo do maior número de estados. Para tomar as medidas nessa direção, Campos reuniu-se ontem com os dirigentes dos seis maiores colégios eleitorais do país.

A prioridade do PMDB
A despeito de ter sido esnobada pelo governador Sérgio Cabral, a cúpula do PMDB elegeu como sua prioridade manter o governo do Rio. Este foi o tema mais delicado tratado ontem, na reunião com dirigentes do PT, no Palácio do Jaburu, residência do vice Michel Temer (PMDB). O PMDB gostaria do apoio à candidatura do vice Luiz Fernando Pezão, que estará no comando do governo na eleição. Mas como esta alternativa encontra resistências dos petistas, seu principal aliado quer mitigar o discurso de seu adversário, o senador Lindbergh Farias. O argumento principal é o de manter os canais abertos para uma eventual aliança no segundo turno.
O governo e o PT achavam que teriam uma vitória por antecipação e que não teriam oposição nas eleições presidenciais

Jader Barbalho
Senador (PMDB-PA), sobre a queda da popularidade da presidente Dilma
Salto no escuro
Sobre as conversas eleitorais do ex-governador José Serra, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, aconselha que o tucano tome a decisão dele (se sai ou não do PSDB) pois à exceção do PPS, “ninguém pode lhe dar garantia de nada”.
A noiva
O candidato do PMDB ao governo da Bahia, Geddel Vieira Lima, quer o apoio de ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador. O governador Jaques Wagner (PT) deseja que ele cruze os braços. Os petistas dizem que ACM Neto e é candidato ao governo em em 2018 e, por isso, não vai querer agora “colocar azeitona na empadinha de ninguém”.
Pela porta aberta
Diante da relutância de José Serra, o PPS pode adotar a candidatura de Marina Silva. O presidente do partido, deputado Roberto Freire (SP), deu a dica ontem ao informar: “Estamos conversando com todas as forças da oposição”.
Costurando as feridas
Nem todos os tucanos querem se livrar do ex-governador José Serra. O presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, quer que ele fique e ajude a construir um projeto que “coloque fim ao ciclo do PT no poder”. E diz que o candidato Aécio Neves “é da escola do Tancredo (Neves), na qual ‘política é a arte de somar, não de dividir. De ciscar para dentro e não para fora’ ”.
A desconstrução
Os petistas trabalham para impedir que se efetive a nomeação do secretário de Esportes de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, para a presidência da Autoridade Pública Olímpica. Eles até fizeram um pente fino na sua atuação como gestor.
O ‘doutor’ está chegando 
Nos dois últimos dias desta semana, usando o sistema de vídeo conferência do Banco do Brasil, o Ministério da Saúde vai orientar representantes dos 576 municípios, beneficiados pelo “Mais Médicos”, sobe como receber os profissionais.
Paraguai. O ex-ministro James Spalding será o representante de seu país na Itaipu Binacional. Os diplomatas brasileiros gostaram da escolha.

Linha direta - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 20/08

Fora de Brasília para participar de evento em São Bernardo do Campo, ontem, Dilma Rousseff recebeu informações durante todo o dia sobre a alta do dólar, que atingiu o maior valor desde 2009. De Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, ouviu que a variação atingia o mundo todo, e que só a moeda da China resistia. Já Guido Mantega (Fazenda) informou a presidente que a alta era resultado de compra de dólares por empresas em busca de "hedge" em operações futuras.

Última... Os advogados de José Dirceu protocolaram ontem no STF novos memoriais reforçando que o acórdão do mensalão não permite que seja usada a lei 10.763, de novembro de 2003, que estabeleceu penas mais graves para o crime de corrupção.

... que morre O texto faz menção ao bate-boca entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, suscitado pela mesma questão, levantada pela defesa do ex-deputado Bispo Rodrigues. Os advogados veem "gravíssima contradição" no uso da nova lei para punir fatos anteriores.

VIPs Dirceu recebeu amigos como Delúbio Soares, também condenado no mensalão, e o ex-prefeito de Osasco Emídio de Souza para almoço em sua casa de Vinhedo. Segundo relatos, foi feita uma "leitura sem paixões" do julgamento, sem otimismo.

Favorito Interlocutores do Judiciário apontam Eugênio Aragão como provável vice-procurador-geral eleitoral na gestão de Rodrigo Janot, indicado por Dilma para comandar o Ministério Público.

Quem sai O subprocurador, que foi cotado para a vaga de Carlos Ayres Britto no STF, deverá substituir Sandra Cureau, considerada linha-dura por petistas pela atuação na campanha de 2010.

Histórico Em 2005, Aragão foi acusado por integrantes da Polícia Federal de ajudar a convencer autoridades dos EUA a não repassarem documentos relativos a movimentações do mensalão no exterior, como as do publicitário Duda Mendonça.

Força Abalado pelos protestos contra a sua gestão no Rio, Sérgio Cabral pediu audiência com Dilma amanhã. Ele e a presidente devem almoçar juntos após a reunião.

Nas asas... Relatório da FAB revela que autoridades brasileiras fizeram 5.502 viagens em aeronaves oficiais de janeiro de 2010 a junho de 2013, uma média de 30 voos por semana. Os dados foram requeridos ao Ministério da Defesa pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

... da FAB Os campeões de viagens no período são a presidência da Câmara (268), o Ministério da Saúde (255) e o Ministério da Fazenda (242). Outras seis pastas superam a média de uma viagem semanal: Justiça, Defesa, Relações Institucionais, Esporte, Educação e Desenvolvimento.

Cerco O Ministério da Saúde e a ANS anunciam hoje a suspensão da venda de 300 planos de saúde por atrasos em atendimentos e recusa de cobertura sem justificativa. A punição faz parte de uma campanha de fiscalização que já proibiu o comércio de 396 planos de 56 empresas desde dezembro de 2011.

Subliminar Alexandre Padilha (Saúde) não participou da viagem oficial de Dilma ao ABC paulista, mas deu as caras por lá: o possível candidato do PT ao governo de São Paulo apareceu no telão do evento, quando a emissora de TV do governo federal testava seu sistema.

Visita à Folha Moreira Franco, ministro da Secretaria de Aviação Civil, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de José Negreiros, assessor de imprensa.

TIROTEIO
"Janot traz perspectiva de novas dinâmicas. Não há por que os senadores ficarem reféns de desentendimentos do passado."
DE ALEXANDRE CAMANHO, presidente da ANPR, que diz esperar que o Senado supere embates com Roberto Gurgel e aprove Rodrigo Janot para sucedê-lo.

CONTRAPONTO


Bloco da saudade
A campanha pela volta de ex-presidentes ao poder não é exclusividade das trincheiras petistas e passou a ecoar também entre partidários do PSDB.

Ao subir ao palco de um debate que marcou o lançamento de seu último livro, "Pensadores que inventaram o Brasil", no Conjunto Nacional, em São Paulo, Fernando Henrique Cardoso escutou um grito da plateia:

-Volta, presidente!

Desconcertado, FHC brincou:

-Só se for para casa! - disse, arrancando gargalhadas dos convidados.

Da mortadela ao vinagre - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08

O Congresso Nacional analisará hoje os vetos da presidente Dilma Rousseff a dispositivos de três medidas provisórias, dois projetos de lei complementar e um projeto de lei ordinária. O clima de insatisfação na base do governo sugere que serão derrubados. Três deles, em particular, preocupam o governo por causa do impacto financeiro no Orçamento da União. Foram incluídos na pauta pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), por pura falta de diálogo com o Palácio do Planalto.

A presidente Dilma Rousseff chegou a se reunir com os líderes governistas para pedir a retirada dos três vetos da pauta, mas Renan não participou da reunião. Ambos tinham um encontro na sexta-feira, que foi cancelado pelo Palácio do Planalto. Ontem, finalmente houve a conversa com Renan Calheiros, que ficou de reunir os líderes e rediscutir a pauta de votação ainda hoje. Dos 128 vetos a serem analisados, Dilma quer que três sejam retirados da pauta.

A MP 609, por exemplo, originalmente tratava da isenção de PIS, Cofins e Pasep sobre os produtos básicos da cesta, mas foram incorporados mais de 40 itens pelo Congresso, que acabaram vetados pela Presidente da República. Todos fazem parte das preferências nacionais: mortadela, linguiça, camarão, pão de fôrma, biscoitos, sucos, erva-mate, polvilho, molho de tomate, vinagre, artigos escolares e absorventes. É óbvio que houve lobby empresarial para inclusão desses itens na cesta de isenções.

Orçamento
A presidente Dilma alegou violação a dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal. No caso, as desonerações foram feitas sem as estimativas de impacto e as devidas compensações financeiras no Orçamento da União. A presidente vetou também alguns artigos relacionados ao setor elétrico. O advogado-geral da União, Luís Adams (foto), está com tudo pronto para recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso os vetos sejam derrubados.

Médicos
Outro veto polêmico diz respeito ao Ato Médico. Como se sabe, o governo está em guerra com a corporação, que tem um forte lobby no Congresso. Somente na Câmara, há 39 deputados que são médicos. O texto aprovado pelo Congresso restringia aos médicos o diagnóstico de doenças e a prescrição de medicamentos. Outros profissionais da saúde — como enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos — fizeram campanha pelo veto.

Multa
O veto ao projeto de lei que acabava com a multa adicional de 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) devida pelos empregadores à União em caso de demissão sem justa causa também seria derrubado. Dilma pediu a Renan que o retire da pauta. Alega que o impacto nas contas do FGTS será de
R$ 3 milhões

Desonerações/ Outro veto polêmico é sobre a divisão do Fundo de Participação dos Estados (FPE). O Congresso quer que as desonerações feitas pela União sobre impostos federais que compõem o FPE não atinjam as receitas dos estados e municípios. E que as desonerações sobre o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) tenham impacto apenas na parte que cabe à União. Renan terá dificuldade para impedir a derrubada desse veto.

Campeã/ A MP 610 foi a recordista dos vetos. Editada para diminuir os efeitos econômicos da seca sobre pequenas propriedades agrícolas, incorporou a MP 601, que desonerou a folha de pagamento de alguns setores, mas não foi votada pelo Congresso e perdeu validade. Um deles impede a prorrogação do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra).

E o dólar?
O ministro da Fazenda, Guido Mantega (foto), deve ir duas vezes à Câmara nesta semana. Hoje, estará na Comissão Especial que analisa o marco regulatório de mineração para discutir a garantia dos recursos financeiros para o novo modelo institucional do setor mineral. Na quarta-feira, a Comissão de Defesa do Consumidor ouve o ministro sobre a desoneração de medicamentos. Os dois temas são refresco. Hoje, o que chateia o ministro é falar sobre a alta do dólar.

Estado-maior
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), reuniu ontem o estado-maior de sua pré-campanha. Ao líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), os deputados Júlio Delgado (MG) e Márcio França (SP), além do senador Rodrigo Rollemberg, do DF, relatou o verdadeiro teor de sua conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Padrinho
A escolha do nome de Rodrigo Janot como novo procurador-geral da República, pela presidente Dilma Rousseff, teve o dedo do ex-ministro Sepúlveda Pertence. Pesou também o risco de outro nome, por não ter sido o mais votado, ser derrubado no Senado.

Guerrilha
O grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP) voltou a atacar propriedades de “brasiguaios”. Cinco seguranças da fazenda Lagunita, em Tacuati, cidade da província paraguaia de San Pedro, foram mortos no sábado.

Polícia// Parado na Comissão de Educação, o projeto de criação de um Sistema Único de Segurança virou prioridade para o Ministério da Justiça. O governo quer subordinar as polícias civil e militar estaduais às diretrizes federais e integrar, operacionalmente, as instituições policiais antes da Copa de 2014.

A Primavera podre - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo - 20/08

Estou no Egito em1995 - como contei aqui uma vez. Arrasto-me por dentro de um túnel estreito, em direção ao remoto fundo da pirâmide, o túmulo do faraó Quefrem. São 50 metros a percorrer nesse buraco de tatu milenar. Um mendigo rasteja atrás de mim gemendo "batkisk, batkish!" - que quer dizer "esmola". Sou tomado pelo pânico da morte, mas não tenho volta. Há que se rojar na pedra suja até a cripta do faraó, com o coração disparado, o terror de não ter escape a não ser cair no túmulo do rei, onde a morte se abrigou há 4 mil anos. O mendigo me implorava ajuda até quando chegamos à cripta vazia: "Batkish! Eu e o mendigo me olhando no buraco do fim. Ele rosnava uns lamentos melódicos e eu pensei que fosse enlouquecer, mas fui salvo por uns americanos que saíram bufando do buraco também.

A sensação de insignificância era letal, debaixo de milhões de toneladas de pedras - não havia luz no fim do túnel.

Voltei de quatro para o deserto e minha angústia aumentou quando saí ao sol e vi (juro que é verdade) um pobre cameleiro de camisola suja, usando um boné do Banco do Brasil, que me sorriu: "Brasil? Bebeto e Romário".

O irreal me tomou de vez; ali, entre camelos, na vertigem de fatos simultâneos, sem continuidade: Bebeto, Romário, Quefrem e a Esfinge me olhando. Senti-me um mendigo, pedindo a esmola de algum Sentido.

Em torno das pirâmides, vi o Egito bem antes do 11 de setembro, antes da internet e redes sociais. Eu vi o Egito como o grande museu de uma paralítica sociedade, as casas do Cairo com o lixo no teto, os gritos dos "muezzins" nas mesquitas, os rostos da miséria, a zona geral do país sem rumo sob a ditadura; eu vi a espantosa civilização de milênios no Vale dos Reis, seis meses antes de um grupo terrorista degolar 60 turistas alemães em frente à casa da faraó-mulher Hatshepsut, onde estive. Poderia ter sido degolado ('não faria falta', rosnam meus inimigos).

Eu fui ao templo de Ramsés II em Abu Simbel e vi sua mulher Nefertari num baixo-relevo rendado, que era a própria Naomi Campbell, uma núbia negra deslumbrante e tudo começou a pesar na minha cabeça: a manequim de 4.000 anos, o milênio junto com a modernidade e tudo pesou como uma pedra que cresce e me lembrei do conto de Camus com esse nome, A Pedra Que Cresce, no Brasil, Iguape, onde se passa o relato de um absurdo mistério brasileiro.

Aí, quando eu escrevia esse artigo que lês, caro leitor, me chegou a notícia de que o Mubarak tinha renunciado. E dos milênios a.C. pulei para 2011. Na TV, milhões de pessoas celebravam o feito extraordinário: um povo sem líderes fizera uma revolução sozinho e, sem Lenines ou Guevaras, mudou a história de 6 mil anos - pensei, entusiasmado.

Há muito tempo esperávamos uma boa notícia, alguma imagem de vitória, neste mundo empacado em impasses, na crise financeira na América e Europa, na falta de solução para o terror. E, de repente, essa notícia gloriosa diante de mim. Parecia que a revolta e a luta vieram de dentro dos corpos, insuflados por um grande Ser que vive e respira nas redes sociais. A sociedade não estava mais sozinha; havia para mim e para os otimistas do mundo, um novo link entre os cidadãos.

Mas, como dizem: "Um otimista não passa de um pessimista mal informado". Eu era um deles. Um amigo francês, vivido e culto, arrefeceu meu entusiasmo com aquele típico muxoxo francês para baixo, aquele rugido triste de descrença: "Pourvu que ça dure...".

O eterno retorno. O resto vimos nos últimos dias. Depois da previsível tentativa da Irmandade e Mursi de criarem um país islamita, com "sharia" e burka, o Exército interveio com uma brutalidade espantosa. Mata-se sem pena ali; não há indivíduos - só uma massa a ser punida, no interesse do poder. E aí, acabou a ilusão de um final feliz. Não há mais happy end.

Antes, quando o Exército interveio e depôs o Mursi, houve a esperança de que fosse um "golpe militar liberal".

Mas isso é uma contradição em termos. Isso não existe. Não existe na mente dos muçulmanos a ideia de democracia nem de individuo. Não adianta - vejam o Iraque e o Afeganistão. Eles sempre retornarão à submissão, a Alá e Maomé. No Egito, os militares sempre foram uma elite privilegiada. Os bilhões de dólares que os USA enviavam, eram sua cama de luxo. Por outro lado, a Irmandade Muçulmana metralhou o presidente Sadat diante das câmeras do mundo todo e pariu a Al-Qaeda. A irmandade foi a maternidade dos homens-bomba.

E agora? Somos a favor de milicos massacradores ou de islamitas de uma irmandade pré-medieval, terrorista e maluca?

Duas barbáries se defrontam. O Egito virou a Síria. Como atacá-la se os generais viraram o Assad? Acaba de ser lançada uma nova onda de suicidas jihadistas que, agora, além do ódio aos cães infiéis, terão uma injustiça terrível a vingar. Nada mais estimulante para eles do que o martírio. E não haverá mais eleições, porque o Exército não tolerará a Irmandade concorrendo.

E aí? Os ocidentais estão divididos entre princípios e interesses. Haverá a condenação ao massacre do Exército que assassina o povo ou vão apoiar sutilmente os golpistas para não prejudicar seus interesses estratégicos? O irracionalismo sempre surge nos impasses sem solução. Pois é... já começou.

E vai contaminar todo o "equilíbrio desequilibrado" do Oriente Médio. A Síria deve adorar isso e já expande sua mortalha para o Líbano.

Ninguém sabe o que vai acontecer. Todas as análises são adivinhações.

Ao menos, já sabemos que "democracia" empurrada pela garganta dos países árabes ou a aliança de paz espúria com ditadores vão agonizar e morrer. Mas, mesmo que haja catástrofes políticas, creio que a verdade da tragédia é melhor que a continuação dessa ópera-bufa. Qualquer verdade será bem-vinda, porque é melhor a roda da História girando do que esta época encalacrada em que vivemos.

Dólar e Dilma - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 20/08

Política econômica vai mal, mas piorou antes de a presidente chegar; problema maior vem de fora


É FÁCIL BATER na política econômica de Dilma Rousseff, mas é mais difícil atribuir a cavalgada do dólar aos erros da presidente, como o faz com exagero o povo do mercado.

O dólar deve ficar sem freio, aqui e alhures, pelo menos enquanto não se assenta a poeira da mudança da política econômica americana e dos decorrentes e antecipados ajustes de preços no mercado financeiro de lá, o de juros em especial.

O real acompanha passo a passo o movimento de alta de juros no mercado americano. Decerto não há outra moeda relevante que ande assim de mãos dadas com o juro americano. Desde maio, quando começou a reviravolta americana, o real foi a moeda que mais se desvalorizou, entre essas que contam.

Isto posto, é preciso considerar que o Brasil também é o país que tem um dos maiores mercados de especulação com moeda e juros do planeta. É dos que apanha, de resto, porque terá eleição no ano que vem. Mais importante, foi um dos países que mais receberam o dinheiro do "tsunami" monetário americano (aliás, recebia muito capital mesmo antes disso).

O Brasil é também um dos países relevantes em que houve uma das maiores viradas nas contas externas (a diferença entre o que vendemos e compramos do exterior, em bens e serviços).

Tínhamos superavit em meados dos anos 2000, estamos com um deficit bem grandinho e crescendo (em direção a 4% do PIB). Essa virada foi grande porque consumimos demais da conta. Porque consumimos demais já é um assunto mais enrolado, embora em boa parte o tenhamos feito porque, sim, os governos do PT resolveram surfar de modo entre desavisado/ingênuo e oportunista/ignorante na bonança mundial que nos favoreceu entre 2004 e 2010. No entanto, como se vê pelas datas, o problema não vem de hoje.

Assim, colocar a disparada do dólar apenas na conta de Dilma Rousseff é um exagero dos rapazes do mercado, que aproveitam o clima ruim para superfaturar as críticas. Não se trata aqui de defender a política deste governo, mas de lembrar que o nosso buraco é mais embaixo e mais antigo.

Sim, é fato que, em vários emergentes com deficit externos incômodos, a desvalorização anda pela casa de 5% desde maio (o real, com 14%, e a rupia indiana, com uns 11%, se destacam). Ainda assim, nosso histórico de volatilidade é antigo.

Claro que a presidente imaginava (imagina?) que o Brasil cresceria sem mais, bastando jogar lenha na fogueira do consumo e manipular preços, o que evidentemente deteriorou nossa situação. Mas atire a enésima pedra quem for capaz de afirmar que, com um deficit externo e/ou inflação algo menores, o dólar estaria muito mais calminho.

Por outro lado, diga-se que a presidente merecerá colher os louros bichados da derrota que o dólar caro vai nos impor, no curto prazo. A má administração da economia nos deixou com resistência baixa. Inflação e desânimo empresarial tendem a aumentar no curto prazo, ao menos.

Dados os presentes chutes sobre o próximo destino do rendimento dos títulos da dívida americana e "tudo mais constante", o dólar vai passear até R$ 2,50. O caldo engrossou, sim. Vai doer um pouco. Mas, se o governo não inventar moda e não houver acidentes, isso passa. Nossos problemas maiores estão em outro lugar.

Trincheira dois - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 20/08

Até agora o governo Dilma descarregou a maior parte da responsabilidade do baixo crescimento e da inflação alta sobre problemas externos. E o mesmo começa a fazer com a disparada das cotações do dólar em reais.

É o jeito recorrente de desconsiderar, ou esconder, os graves problemas internos. O raquitismo do PIB, por exemplo, se deve menos à recessão global do que aos experimentos duvidosos de política econômica levados adiante pelo governo. O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. As mazelas de lá não encontram transmissão imediata para cá.

A inflação é também coisa preponderantemente nossa, e não consequência da seca nos Estados Unidos em 2012, que elevou os preços das commodities agrícolas, como tantas vezes têm dito nossas autoridades.

Não dá para negar que parte da desvalorização do real (alta do dólar) esteja relacionada com a proximidade (provavelmente em setembro) do processo de reversão da política expansionista do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). É fator que contribui para a valorização do dólar no mundo inteiro. A desvalorização dos títulos do Tesouro americano demonstra isso.

No entanto, o Brasil está excessivamente exposto à cavalgada das cotações das moedas estrangeiras (veja gráfico) pelos desequilíbrios internos, até agora camuflados pela abundância nunca vista de dólares nos mercados. A política consumista do governo Dilma, sem contrapartida no aumento da oferta interna, está abrindo rombos crescentes nas contas externas, porque o brasileiro queimou dólares em viagens para Miami e na compra de produtos importados. O setor produtivo perdeu competitividade. Por aqui, quase tudo é mais caro. A escalada das despesas públicas e, também, sua falta de transparência, vão criando distorções que desanimam o empresário e o levam a adiar investimentos.

Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não esconde que, no curto prazo, a tendência firme é de desvalorização do real. O Banco Central tem intervindo no mercado, com leilões quase diários de swaps (equivalentes à oferta de dólares no mercado futuro), não só para neutralizar a forte volatilidade das cotações mas, também, para segurá-las. Mas não vem conseguindo.

Na semana passada foi anunciada a abertura da segunda trincheira em defesa do real, os chamados leilões de linha, por meio dos quais o Banco Central entrega dólares para lhe serem revendidos no vencimento. Não há segurança de que mais esse endurecimento seria suficiente para conter a forte busca de proteção (hedge).

O passo seguinte seria vender reservas. Elas existem para enfrentar emergências. O risco é que o mercado interprete essa radicalização como a constatação oficial de forte deterioração da economia. Por isso, se a disparada cambial continuar, talvez a melhor política fosse deixar que o equilíbrio se restabeleça via cotações. Nesse caso, o governo terá de estar preparado para enfrentar novas altas de preços internos, a começar pelos dos importados e pelos da alimentação, porque trigo, soja e milho, ainda que pagos em reais, são cotados em dólares.

Questão de ordem - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 20/08

O ministro Joaquim tem comprovado saber jurídico. Se não fosse isso, ele não teria construído o sólido relatório sobre a complexa Ação Penal 470 e nem teria conseguido ser acompanhado pelos seus pares. Eleitor do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, ele demonstrou o maior dos valores que um juiz precisa ter: separar suas preferências políticas do julgamento da ação.

O ministro Joaquim Barbosa tem educação de berço, no que é o mais relevante: seus pais o ensinaram o valor da educação e da acumulação do conhecimento num país, e numa geração, que deixou pobres e negros fora da escola. Para perseguir os sonhos plantados na casa que nasceu é que ele foi tão longe. Poderia ter ficado em qualquer dos bons cargos que atingiu: gráfico do Senado, oficial de chancelaria. Mas o filho do pedreiro quis atravessar outras fronteiras, aprender várias línguas, fazer mestrado, doutorado, viver em outros países e entender o mundo.

A admiração que tenho por sua trajetória de vida e sua obstinação; a coincidência que tenho com várias de suas avaliações sobre o Brasil não me fazem apoiar todos os seus atos e palavras. Também não gostei do conflito entre ele e o ministro Ricardo Lewandowski. "Chicana" é uma palavra que o meio jurídico abomina. Demorar-se em falas excessivamente longas que nada acrescentam de novo, e, na maioria das vezes, para acompanhar o relator, é um hábito que o ministro Lewandowski deveria abandonar. Isso protela o que já foi exaustivamente discutido. Pelo tempo dedicado ao julgamento dessa ação não se pode dizer que o Supremo Tribunal, ou seu presidente, tenha tido pressa. Tudo está sendo feito no devido processo legal. Quando era revisor, era natural que o ministro Lewandowski convocasse tanta atenção para si, seus pensamentos e votos. Agora, o alongamento não faz sentido.

Sei que a economia tem assuntos aos quais eu deveria dar atenção. A pauta está cheia. O dólar dispara, a confiança dos empresários cai, o fluxo de capitais se inverte. São esses os temas preferenciais deste espaço.

Mesmo assim, me ponho a falar de Joaquim Barbosa. O detonador da escolha para o tema de hoje foi a coluna de ontem do meu colega e amigo Ricardo Noblat. Dela discordo tão profundamente que quis registrar.

Ele disse que "falta a Joaquim grande conhecimento de assunto de Direito" e citou como fonte, "a opinião quase unânime de juristas de primeira linha que preferem não se identificar". Neste ponto, falha o jornalista Ricardo Noblat. Acusação grave fazem estes "juristas quase unânimes", mas sobre eles recai o manto protetor do anonimato. E estas fontes, protegidas, não explicam como pessoa sem grande conhecimento de Direito consegue o apoio, nos seus votos, de jurista do patamar de um Celso de Mello, o decano do STF. Isso para ficar apenas em um exemplo.

Noblat sustenta que Joaquim foi escolhido por sua cor. É louvável que o ex-presidente Lula tenha procurado ver os talentos invisíveis. Fernando Henrique procurou uma mulher e isso não desmerece a jurista Ellen Gracie. Países com diversidade - e que discriminam por cor e gênero - devem buscar deliberadamente o fim da hegemonia dos homens brancos nas instâncias de poder.

Já discordei várias vezes do presidente do STF, mas mais profundamente me divorcio das frases de Noblat: "há negros que padecem do complexo de inferioridade. Outros assumem uma postura radicalmente oposta para reagir à discriminação". Como já escrevi várias vezes neste espaço: acho que o racismo brasileiro é o problema; e ele tem causado sofrimento demais aos negros, e apequenado o destino do Brasil.

A esperança de 2013 - ANTÔNIO DELFIM NETO

VALOR ECONÔMICO - 20/08

Os números das estimativas mensais do Banco Central sobre as variações do PIB, o chamado IBC-Br, e a reação dos analistas econômicos a eles mostram a preocupante desconfiança recíproca entre o setor privado e o governo. Ela está consumindo a energia que deveria estar sendo dirigida para a aceleração dos investimentos.
Os números acumulados do trimestre abril-junho cresceram 0,9% com relação ao trimestre janeiro-março, ligeiramente menor do que entre o último trimestre de 2012 e o primeiro de 2013. Quando comparamos o índice do segundo trimestre de 2013 com o de 2012, temos uma estimativa de crescimento anual do PIB avaliado pelo IBC-Br da ordem de 3,5%, o que mostra avanço sobre o crescimento de 2,2% do PIB efetivamente calculado pelo IBGE entre o primeiro trimestre de 2013 sobre o seu homólogo de 2012.
Em condições normais de pressão e temperatura isso deveria gerar uma expectativa auspiciosa: o PIB poderia crescer, em 2013, entre 3,5% e 4%, o que ajudaria a estimular os investimentos privados. Não é esse, entretanto, o "sentimento geral". Há um exagerado pessimismo, que não é justificado pelas incertezas que cercam a economia mundial em geral e a brasileira em particular. Há um fator adicional significativo. Ele não é o "ativismo" do governo, mas a forma de sua implementação. Os objetivos de longo prazo das medidas propostas são corretos. A execução, entretanto, foi sempre acompanhada de imenso ruído e, frequentemente, por resultados que deixam muito a desejar.
Primeiro, pela busca da desejável modicidade tarifária levada ao extremo pelo "voluntarismo" irrealista. Segundo, por fatos supervenientes, como foi o caso da intervenção no setor elétrico. Duas circunstâncias não previsíveis, a evolução da hidrologia e a queda dos preços do alumínio no mercado internacional, produziram resultados decepcionantes: 1) um aumento substancial de custo para o Tesouro Nacional (isto é, para a coletividade que paga os impostos); e 2) a suspensão pela Alcoa da produção de mais de 120 mil toneladas anuais de alumínio. Estamos voltando a ser apenas exportadores de bauxita e importadores do metal, apesar do correto esforço de reduzir a tarifa de energia em 12% (o "programado" era 28%).
A causa "causans" das dificuldades encontradas na execução das medidas do governo foi a indisposição ao diálogo da interface das negociações da autoridade com o setor privado. Ele foi dominado pela falta de flexibilidade para acomodar legítimos interesses contraditórios. Faltou aos interlocutores a humildade de entender que não eram, como se supunham, os defensores da sociedade em luta contra uma classe de superegoístas cujo único objetivo era assaltá-la.
É preciso reconhecer que recentemente as coisas mudaram. Com a intervenção direta do ministro Mantega, ampliou-se o diálogo. Aumentou a flexibilidade e cresceu a esperança que os próximos leilões de concessões de estradas de rodagem e aeroportos serão bem-sucedidos. Seria recomendável, aliás, a mesma flexibilidade na preparação do leilão do óleo do pré-sal para poupar a Petrobras e dar maior agilidade à exploração, uma vez que seus resultados futuros já foram distribuídos ontem...
Por iniciativa da presidente avançam, também, os entendimentos entre Executivo e Legislativo. Reconstrói-se a confiança tão necessária para a continuidade das reformas de que o Brasil carece. Apenas como exemplo, o impasse na aprovação do Projeto de Lei 4330, que é um instrumento de defesa e proteção do trabalhador terceirizado, revela o grau de incompreensão e dificuldade ainda existente para instituir uma relação mais eficiente e que respeite todos os seus direitos.
Talvez seja a falta de percepção de que o governo move-se na direção correta o que alimenta a desconfiança de parte do setor privado, que continua a prever um afundamento da atividade econômica no segundo semestre. De fato, o indicador antecedente do comportamento da economia brasileira da Fundação Getúlio Vargas vem recuando desde abril e registrou em julho uma queda importante de 1,8% com relação a junho.
O mesmo movimento é detectado pelos índices de confiança da mesma FGV, que se veem no gráfico abaixo. Eles mostram uma queda desde 2011 no setor de serviços, uma queda importante desde o início de 2012 no setor de consumo e uma estagnação no setor manufatureiro desde meados de 2011, sugerindo um segundo semestre inferior ao primeiro.
A última oportunidade para inverter tal expectativa é um robusto sucesso na cooptação dos investimentos privados nos próximos leilões de estradas, aeroportos e energia, cuja probabilidade aumentou pela mudança de atitude do governo.

Mensalão é mais que corrupção - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 20/08

“Sem reforma política, tudo continuará como sempre foi, e a distinção ficará entre os que foram pegos e os que ainda não foram. O mensalão não constitui fato isolado na vida política.” Essa foi a mensagem de Luís Roberto Barroso, novo ministro do STF, em seu primeiro discurso na Casa.

Trata-se de algo com um fundo de verdade, mas que serve para ocultar o mais importante e, assim, confundir. O sistema político é mesmo convidativo à corrupção, pois concentra recursos e poder demais no estado. Soma-se a isso a impunidade, e temos um quadro propício à corrupção.

Mas o equívoco do ministro é tratar o mensalão como apenas mais um caso de corrupção. Essa é a tese vendida pelo próprio PT desde quando o ex-presidente Lula veio a público assumir os “erros” do partido, por ter feito o que outros sempre fizeram.

Isso não é verdade. Assim como outra tese levantada pelo PT e endossada pelo ministro: a de que há mais investigação hoje, não mais corrupção. Esta claramente aumentou, e muito. Os jornais sequer dão conta de tantos escândalos, e vários caem rapidamente no esquecimento dos leitores, pois é necessária uma memória de elefante para guardar tudo. Aproveito para perguntar: e a Rose, por onde anda?

Mas voltemos ao mensalão. Tratá-lo como um “simples” caso de corrupção é ignorar sua essência, já apontada pelo próprio STF. Não dá para confundi-lo com desvio de recursos públicos em obras superfaturadas, por exemplo, ou com cartel acordado com políticos para burlar uma licitação. São coisas bem diferentes.

O mensalão foi uma tentativa de solapar nossa democracia, de dar um golpe em nossas instituições. Comparar isso com desvio de recursos é misturar alhos com bugalhos. Em nível nacional, membros da cúpula petista tentaram comprar deputados para controlar sozinhos o Congresso. Isso é muito mais sério do que obra superfaturada. Isso, até onde alcança a vista, foi, sim, um fato isolado.

Quem acompanhou a trajetória do PT saberá que vários líderes do partido jamais tiveram muito apreço pela democracia. Eles sempre flertaram com o regime socialista, inspirados na ditadura cubana, ou mais recentemente no modelo bolivariano da Venezuela. A democracia, para muitos ali, é vista como uma “farsa” para chegar ao poder.

Até hoje há essa ligação umbilical entre PT e regimes antidemocráticos. Recentemente, estavam todos reunidos no abjeto Foro de São Paulo, e a presidente Dilma chegou a mandar uma mensagem aos participantes. Quem se aproxima tanto de Fidel e Raúl Castro não pode posar de amante da democracia.

Outra evidência dessa afinidade ideológica com o que há de pior na região é o Mercosul, que virou uma camisa de força bolivariana prejudicando nosso comércio. Enquanto Chile, Colômbia e Peru costuram acordos bilaterais na Aliança do Pacífico, o Brasil segue no atoleiro do Mercosul, com países cada vez menos democráticos e mais fechados.

Esse pano de fundo torna evidente o absurdo da comparação entre mensalão e casos frequentes de corrupção. O PT já tentou monopolizar o discurso da ética. Ficou claro que era tudo um engodo. Hoje, o partido se “defende” dos escândalos alegando não ser diferente dos demais. Ou seja, o PT teria feito “apenas” o que os outros fazem.

Mas é mentira. Jogar todos no mesmo saco podre só interessa mesmo aos petistas atualmente. Tenho inúmeras divergências ideológicas com os tucanos, acho o PSDB muito intervencionista, condeno sua visão social-democrata nos moldes europeus. Enfim, gostaria que o PSDB fosse bem mais liberal. Dito isso, não posso aceitar a ideia de que PT e PSDB são “farinha do mesmo saco”. Não são.

O PSDB não participa de fóruns ao lado dos piores tiranos do mundo; não morre de amores pelo ditador cubano; não deixaria os bolivarianos destruírem o Mercosul; não elogia os narcoguerrilheiros das Farc; não tem nos invasores do MST uma espécie de “braço armado”; não controla máfias sindicais. Em suma, não carrega em seu DNA o mesmo ranço autoritário dos petistas.

Corruptos, vários são. Infelizmente, talvez essa seja a regra na política brasileira. Como eu já disse, o ambiente os atrai, pois há fartura de poder e recursos no governo, e impunidade quando pegos com a boca na botija. Isso tem que mudar. Temos de combater a corrupção sistêmica com a redução do Estado e punições severas.

Mas o mensalão foi muito mais que isso. Foi um esquema parido por um partido que considera a “democracia” venezuelana um exemplo a ser seguido. Portanto, senhores ministros, chega de chicana no STF. É hora de mandar essa quadrilha para trás das grades.

Trancos e barrancos - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 20/08

Por mais desagradáveis e condenáveis que sejam, por mais atenção que chamem as explosões de temperamento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não têm prioridade sobre o conteúdo do julgamento do mensalão - ora na fase de recursos - nem influência sobre o resultado.

Ele não teve o apoio que continua tendo da maioria da Corte por intimidação de seus pares. Invertendo o raciocínio: ainda que fosse a mais polida das criaturas, não seria por esse motivo que os ministros teriam seguido e/ou continuariam seguindo majoritariamente a posição do relator.

Joaquim Barbosa ganhou na narrativa que fez a partir da denúncia do Ministério Público, dos dados da CPI dos Correios, da instrução do processo desde 2007 e da metodologia proposta para o exame da ação pelo colegiado.

Perde-se ao expor alma despótica? Sem dúvida. Inclusive exibe assim a razão pela qual seria uma temeridade pensar nele como hipótese de presidente da República. Nem por isso o tribunal se perde junto.

De onde, peço licença para discordar dos que consideram o comportamento do presidente um fator preponderante de desqualificação do STF. Ele não é o único a se atritar com colegas. Há vários exemplos de escaramuças anteriores sem a participação de Barbosa.

Tampouco é o primeiro presidente a tratar com soberba e ironia os demais integrantes. Nelson Jobim, com palavras menos abjetas é verdade, interrompia votos, fazia julgamentos de valor, conduzia sessões com ares de imperador.

Nem por isso de lá (2004) para cá o Supremo viu-se diminuído em suas funções ou teve subtraída a importância de suas decisões. Ao contrário, só fez crescer aos olhos do País. Não pela forma deste ou daquele ministro se portar, mas pela maneira de o conjunto se conduzir: muito mais atento às demandas dos tempos que seus dois companheiros de República, o Executivo e o Legislativo.

Jobim passou. Barbosa também passará e o Supremo Tribunal Federal permanecerá.

Há as seguintes expectativas sobre a reabertura dos trabalhos amanhã: Barbosa se desculpa? Ricardo Lewandowski, que ainda não desencarnou do papel de revisor, insiste em algum tipo de retratação? A Corte compõe uma proposta de saída honrosa?

Não querendo subestimar a pertinência das dúvidas, francamente, nessa altura os trancos e os barrancos são secundários diante do tema que está para ir ao debate, uma vez concluída a etapa dos embargos de declaração.

Se houve divergências nestes, tidos como quase formais, haverá muito mais quando o presidente levar à votação o agravo regimental apresentado pelo advogado Arnaldo Malheiros contra a rejeição de Joaquim Barbosa ao pedido de revisão da sentença de Delúbio Soares relativa ao crime de formação de quadrilha.

Malheiros foi o único a se antecipar na apresentação de embargo infringente, em maio. Parecia querer tomar o pulso da Corte sobre os embargos infringentes e levar à firmação de jurisprudência para os outros.

A esses recursos têm direito os condenados que obtiveram quatro votos ou mais pela absolvição. A questão já se tornou conhecida: a lei 8.038, de 1990, que disciplina o julgamento de ações penais nos tribunais superiores, não prevê esse tipo de recurso, mas o regimento interno do Supremo prevê; o que vale mais, a lei ou o regimento?

A discussão será intensa e acalorada. Queira o bom senso que se dê nos limites da civilidade.

SINUCA
Nos últimos anos o STF aceitou examinar 54 embargos infringentes. Embora só tenha mudado sentença em um deles, reconheceu todos como admissíveis.

Não adaptou seu regimento à nova legislação e agora terá de enfrentar o problema justamente em meio a um julgamento que mexe com a percepção da sociedade em relação à eficácia da Justiça.

Bode na sala - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 20/08

BRASÍLIA - Se até o namorado brasileiro do jornalista Glenn Greenwald é detido no Reino Unido, imagine-se o que vai acontecer com o próprio Greenwald quando ele puser os pés nos EUA, depois de ter revelado ao mundo as estrepolias digitais das agências de espionagem, ops!, de segurança do país. Um simples passeio não vai ser.

Um lance genial seria Greenwald desembarcar nos EUA na véspera da visita de Dilma Rousseff a Barack Obama em outubro. Sua prisão ofuscaria totalmente o encontro.

Os dois governos, de lá e de cá, trabalham com afinco para detalhar uma agenda densa, à altura do ritmo de aproximação bilateral dos últimos anos, e houve três visitas relevantes ao Brasil: as do secretário de Estado, John Kerry, e dos secretários de Energia e de Agricultura.

Os EUA e o Brasil estão entre os maiores produtores agrícolas do planeta e têm de tentar driblar os grandes fornecedores de petróleo e gás, que vivem às turras, num mundo quase à parte dos meros mortais.

Nem a agenda nem essas viagens, porém, têm tido importância e debate na opinião pública, que só pensa, fala e reclama da espionagem das agências dos EUA em governos, indústrias e até cidadãos e cidadãs.

Se Washington não consegue inverter a pauta da mídia agora, muito dificilmente conseguirá quando Dilma e Obama se encontrarem.

Esse cenário já preocupa previamente, mas poderá ficar muito pior caso Greenwald pegue um avião, desembarque no seu próprio país e vá direto do aeroporto para uma cadeia qualquer por ordem do governo --o mesmo governo que criticou a Rússia por conceder asilo provisório a Edward Snowden, que passou as informações ao jornalista.

As relações Brasil-EUA vão bem em diferentes áreas, sobretudo as estratégicas. Mas, queiram os dois lados ou não, a prioridade neste momento são as questões pontuais, essas que produzem manchetes.

É preciso tirar o bode da sala.

Poderes em chamas - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08

A semana terá dois momentos quentes. Hoje, a queda de braço entre Executivo e Legislativo em torno de vetos da presidente Dilma Rousseff a leis aprovadas pelo Congresso. Amanhã, a sequência do confronto entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e o ministro Ricardo Lewandowski, na retomada do julgamento de recursos dos réus da Ação Penal 470, vulgo mensalão. Apreensivos, outros ministros da Corte acreditam que Lewandowski pedirá ao plenário que lhe garanta o direito de votar livremente. Atendendo-o, deixariam o presidente isolado, algo bastante anormal na história do Supremo.
Mas comecemos pelo incêndio do dia, a ameaça de derrubada de vetos de Dilma. Consumada, representará uma derrota de alto significado político e também econômico: boa parte dos vetos foram a "bondades" do Legislativo que geram despesas ou afetam a iniciativa econômica do governo. Ontem pela manhã, ela adotou um tom mais ameno, agradeceu ao Congresso pela aprovação da lei dos royalties do petróleo e, reconhecendo-lhe a autonomia, falou em "mediação" no caso dos vetos. À tarde, encontrou-se com o presidente do Senado, Renan Calheiros, o dono da pauta. A postura conciliadora, entretanto, não apaga o movimento anterior que irritou o Congresso: a ameaça de recorrer ao STF contestando a derrubada de vetos a matérias sensíveis para o governo.
Uma delas, a nova regra de distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados, o FPE. Não há quem duvide, no Congresso, de que será derrubado o artigo que proíbe o governo de fazer desonerações valendo-se da parcela de impostos compartilhados destinada aos estados. Eles perderam muito dinheiro com as desonerações que o governo fez para estimular o consumo e evitar maior resfriamento da atividade econômica. Se o Executivo acha que o artigo vetado é inconstitucional, os juristas do Congresso acham o contrário: que lançando mão de recursos de estados e municípios o governo viola a Federação. Nesse caso, está difícil uma "mediação", mas a judicialização, sem dúvida, será o pior dos mundos. Algo também anormal e sem precedentes.
Ponto de honra para o governo é manter o veto à supressão da multa de 10% sobre o valor do FGTS nas demissões imotivadas. Ontem, no maior centro operário do país, em São Bernardo do Campo (SP), Dilma disse que não aceitava a retirada de direitos trabalhistas. Essa multa, entretanto, não vai para o bolso dos trabalhadores, mas para o capital geral do fundo, e sua eliminação privaria o governo de R$ 3 bilhões anuais no financiamento de moradias. Aqui, um acordo é difícil. O projeto original vetado nasceu no Congresso por pressão de empresários irritados com essa contribuição, que já deveria ter cessado. Os congressistas vão precisar deles no ano que vem para financiar campanhas.
Outra fonte de conflito, os mais de 60 vetos à lei derivada da MP 610, que Renan incluiu na pauta, apesar de acordo em sentido contrário firmado por Dilma com os líderes. A medida, que tratava do seguro-safra para agricultores, recebeu dezenas de emendas de congressistas, concedendo favores que vão da hereditariedade para placas de táxi a incentivos fiscais para diferentes setores. Tais bondades também têm motivação eleitoral, o que explica a grita para mantê-las.
Quando a negociação fracassa, governos só evitam derrotas parlamentares com duas atitudes: garantindo os votos da base ou retirando-a do plenário para obstruir a votação. Embora Dilma venha agradando os líderes com a postura mais "soft", o grosso dos congressistas não se comoveu. Nesses três casos, estão pensando na sobrevivência. Nas bases eleitorais da base.
Excelências perplexas
Perplexidade, constrangimento, desconforto. Esse foi o sentimento deixado nos outros 10 ministros do STF, garante um deles, pelo incidente de quinta-feira passada, quando o presidente Joaquim Barbosa acusou o ministro Lewandowski de estar fazendo chicana ao apresentar seu voto. O que vai acontecer amanhã ninguém sabe ao certo, mas é forte a expectativa de que Lewandowski recorra ao plenário para garantir o direito à livre apresentação do voto, desqualificado pelo presidente da Corte na semana passada como chicana. Se isso ocorrer, ficarão todos numa saia justa. Nunca, nos tempos recentes, o plenário foi chamado a solidarizar-se com um dos pares contra o presidente. Os demais ministros, nesse incidente, emitiram nota dizendo que o presidente continuava desfrutando do respeito de todos. Uma forma muito branda de censura e muito oblíqua de solidariedade. Mas agora, diz um dos ministros, estarão fazendo o contrário se atenderam ao eventual pedido de respaldo de Lewandowski. Estarão isolando o presidente.
A perplexidade de alguns ministros aumentou no fim de semana ao lerem, na revista Veja, o diálogo que os dois brigões teriam tido no salão de café, após o abrupto encerramento da sessão. Alguns saíram, outros ficaram no plenário. Segundo a revista, eles trocaram desaforos e terminaram com Joaquim dizendo que Lewandowski não ficaria lendo recortes de jornais na sessão para atrasar os trabalhos. "Está para nascer homem que mande no que devo fazer. O senhor acha que tenho voto de moleque?", teria dito o revisor. "Acho sim, senhor", teria dito Joaquim Barbosa, levando o outro a arrematar que, se não fosse pelo respeito à Casa, "tomaria outra atitude". Ou seja, iria às vias de fato.
O Supremo não é o Congresso, onde a turma do deixa disso entra em campo sempre que o fogo sobe. Lá, como diz a lenda, cada ministro é uma ilha. Por isso o papel do presidente é tão importante, devendo ele ser, como diz e repete o ministro Marco Aurélio, "o algodão entre os cristais delicados para evitar trincaduras". Um papel que não combina com Joaquim.