- GOSTOSA
- Salve-se quem puder - FERREIRA GULLAR
- Autoajuda para jovens cantoras - ADRIANA CALCANHOTTO
- Desperdício de água - ANCELMO GOIS
- Celulares LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
- 2 de julho - CAETANO VELOSO
- Ueba! Vaaaaai, Francisco! - JOSÉ SIMÃO
- Olhares diferentes - TOSTÃO
- O Brasil e sua globalização involuntária - GUSTAVO...
- Novas drogas, novos riscos - JAIRO BOUER
- Um acordo possível - MARIO VARGAS LLOSA
- A Guanabara perdeu as Olimpíadas! - DORA HEES DE NOGUEIRA
- Populismo tarifário: até tu, Brutus? - CLAUDIO J. ...
- Igualmente abençoados - e invisíveis - CLÓVIS ROSS...
- Fantasia carioca - DORRIT HARAZIM
- A CPMF da Dilma - VERA MAGALHÃES - PAINEL
- De mãos abanando - ILIMAR FRANCO
- REINVENTANDO A VIDA - MÔNICA BERGAMO
- Em berço esplêndido - CELSO MING
- O câmbio vai continuar a se desvalorizar - SAMUEL PESSOA
- Travessa da política - MIRIAM LEITÃO
- Simples, mas difícil - HENRIQUE MEIRELLES
- Aquém da imaginação - DORA KRAMER
- Sem sinais de trégua - JOÃO BOSCO RABELLO
- Aquarela sangrenta do Brasil - VINICIUS TORRES FREIRE
- Sem concorrência - JANIO DE FREITAS
- Cabral precisa descobrir o Brasil - ELIO GASPARI
- O Estado e a sociedade - MERVAL PEREIRA
- Afiando as unhas - ELIANE CANTANHÊDE
- É a comida, estúpido - HÉLIO SCHWARTSMAN
- A janela do amanhã - GAUDÊNCIO TORQUATO
- Aladim e o gênio da garrafa - LUIZ WERNECK VIANNA
- Solidariedade na ilha - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- O poder do Papa - LUIS FERNANDO VERISSIMO
- Peteca e tacape - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR
- O real custo dos serviços públicos - FLÁVIO MORGE...
- Meu padrasto favorito - DIANA LICHTENSTEIN CORSO
- Representação como honra - MARCOS ROLIM
- A aposta no papa - ROBERTO ROMANO
- A visita da verdade - ANA DUBEUX
- As respostas reprovadas - EDITORIAL O ESTADÃO
- Mitos das redes sociais - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Virtudes e armadilhas do orçamento impositivo - EDITORIAL O GLOBO
- Quem quer ler em voz alta? - EDITORIAL GAZETA DO P...
- Governantes reprovados na reação às ruas - EDITORI...
- COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
- DOMINGO NOS JORNAIS
domingo, julho 28, 2013
ÍNDICE DOS ARTIGOS PUBLICADOS NO BLOG NESTE DOMINGO
Salve-se quem puder - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 28/07
A verdade é que o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista decidiu ir às ruas
Seria muita pretensão minha afirmar que entendo perfeitamente o que está ocorrendo no país, desde as passeatas de protesto que invadiram as ruas das principais cidades e abalaram o prestígio aparentemente inabalável do governo petista.
Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno novo, surpreendente mesmo num país que parecia adormecido, como que indiferente aos escândalos que comprometeram o governo de Lula, à inoperância que acomete o governo de Dilma e à corrupção generalizada dos políticos.
A verdade é que, de meu ponto de vista, o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista --vendo que esse estado de coisas prometia manter-se indefinidamente, dados os altos índices de aprovação da atual governante-- decidiu sair às ruas e dizer "basta!".
Multidões manifestaram seu descontentamento com a situação social e política, denunciando a corrupção, a inoperância e a incompetência administrativa. O nível de aprovação de Dilma despencou. Lula, como faz sempre que a coisa encrenca, sumiu, mas a questão estava posta: o povo exige mudanças drásticas, o contrário do quadro mantido nestes dez anos de governo petista.
Lula e sua turma tentaram "aderir" aos protestos, mas foram repelidos. Em face disso, tendo ficado claro que as centrais sindicais foram cooptadas pelo governo, resolveram fingir que também estão descontentes. Um fiasco, já que essas centrais, dominadas por pelegos, não representam mais ninguém.
Como se não bastasse o número relativamente inexpressivo de manifestantes, tampouco suas palavras de ordem corresponderam ao descontentamento explícito nos protestos "desorganizados" que sacudiram a sociedade no mês passado.
Embora nas últimas semanas aquelas manifestações populares massivas tenham cessado, outros tipos de protestos tomaram as ruas. Diferentemente daquelas (ao que tudo indica, desvinculadas de quaisquer entidades), essas últimas foram, sem dúvida, organizadas por categorias profissionais, que exigem providências efetivas, da parte do governo, na solução de problemas concretos. É o caso dos médicos, dos professores, dos policiais militares.
Desta vez, os manifestantes exigem providências efetivas para resolverem questões profissionais e atenderem a promessas que o governo fez e não cumpriu. Isso representa uma mudança qualitativa no caráter dos protestos --que, ao que tudo indica, tendem a se multiplicar e ampliar, deixando à mostra a inépcia do governo na solução desses problemas.
É que o populismo petista --embora se trate de um partido dito dos trabalhadores--, voltado para a compra de eleitores carentes, desvinculou-se do real interesse das categorias profissionais, concentrado como está no assistencialismo.
Não resta dúvida de que melhorar as condições de vida dos setores mais carentes da sociedade --como fez Lula, ampliando o número de beneficiário do Bolsa Família-- é providência em princípio correta que merece apoio e reconhecimento. O erro não está aí e, sim, em ignorar que programas como esse, de caráter assistencial, devem ser realizados como medidas emergenciais. Correto é, a par disso, criar condições para que as pessoas vivam de seu trabalho e de sua competência profissional.
Todo mundo sabe que uma das características marcantes do governo petista é a autopromoção, de Dilma a Mantega. Quando falam em público, é para elogiar o próprio governo, dizer que está tudo às mil maravilhas e que o PIB vai crescer.
O PIB não cresce, eles atribuem a culpa a algum fator não governamental e continuam a manipular os dados econômicos para fingir que está tudo bem.
Mas isso é só para enganar a opinião pública, porque eles sabem muito bem que a situação real é outra. Agora, estão embananados porque o povo nas ruas mostrou que já não se deixa enganar. A prova disso é a queda assustadora da aprovação de Dilma nas pesquisas, o que ameaça a sua reeleição em 2014.
Esses fatos explicam a mudança de atitude do principal aliado do governo, o PMDB, que se opõe ao plebiscito proposto por Dilma e sugere a redução do número de ministérios. Pura sacanagem, para explorar a fragilidade de Dilma e tirar partido disso. É que parece estar chegando a hora do salve-se quem puder.
A verdade é que o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista decidiu ir às ruas
Seria muita pretensão minha afirmar que entendo perfeitamente o que está ocorrendo no país, desde as passeatas de protesto que invadiram as ruas das principais cidades e abalaram o prestígio aparentemente inabalável do governo petista.
Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno novo, surpreendente mesmo num país que parecia adormecido, como que indiferente aos escândalos que comprometeram o governo de Lula, à inoperância que acomete o governo de Dilma e à corrupção generalizada dos políticos.
A verdade é que, de meu ponto de vista, o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista --vendo que esse estado de coisas prometia manter-se indefinidamente, dados os altos índices de aprovação da atual governante-- decidiu sair às ruas e dizer "basta!".
Multidões manifestaram seu descontentamento com a situação social e política, denunciando a corrupção, a inoperância e a incompetência administrativa. O nível de aprovação de Dilma despencou. Lula, como faz sempre que a coisa encrenca, sumiu, mas a questão estava posta: o povo exige mudanças drásticas, o contrário do quadro mantido nestes dez anos de governo petista.
Lula e sua turma tentaram "aderir" aos protestos, mas foram repelidos. Em face disso, tendo ficado claro que as centrais sindicais foram cooptadas pelo governo, resolveram fingir que também estão descontentes. Um fiasco, já que essas centrais, dominadas por pelegos, não representam mais ninguém.
Como se não bastasse o número relativamente inexpressivo de manifestantes, tampouco suas palavras de ordem corresponderam ao descontentamento explícito nos protestos "desorganizados" que sacudiram a sociedade no mês passado.
Embora nas últimas semanas aquelas manifestações populares massivas tenham cessado, outros tipos de protestos tomaram as ruas. Diferentemente daquelas (ao que tudo indica, desvinculadas de quaisquer entidades), essas últimas foram, sem dúvida, organizadas por categorias profissionais, que exigem providências efetivas, da parte do governo, na solução de problemas concretos. É o caso dos médicos, dos professores, dos policiais militares.
Desta vez, os manifestantes exigem providências efetivas para resolverem questões profissionais e atenderem a promessas que o governo fez e não cumpriu. Isso representa uma mudança qualitativa no caráter dos protestos --que, ao que tudo indica, tendem a se multiplicar e ampliar, deixando à mostra a inépcia do governo na solução desses problemas.
É que o populismo petista --embora se trate de um partido dito dos trabalhadores--, voltado para a compra de eleitores carentes, desvinculou-se do real interesse das categorias profissionais, concentrado como está no assistencialismo.
Não resta dúvida de que melhorar as condições de vida dos setores mais carentes da sociedade --como fez Lula, ampliando o número de beneficiário do Bolsa Família-- é providência em princípio correta que merece apoio e reconhecimento. O erro não está aí e, sim, em ignorar que programas como esse, de caráter assistencial, devem ser realizados como medidas emergenciais. Correto é, a par disso, criar condições para que as pessoas vivam de seu trabalho e de sua competência profissional.
Todo mundo sabe que uma das características marcantes do governo petista é a autopromoção, de Dilma a Mantega. Quando falam em público, é para elogiar o próprio governo, dizer que está tudo às mil maravilhas e que o PIB vai crescer.
O PIB não cresce, eles atribuem a culpa a algum fator não governamental e continuam a manipular os dados econômicos para fingir que está tudo bem.
Mas isso é só para enganar a opinião pública, porque eles sabem muito bem que a situação real é outra. Agora, estão embananados porque o povo nas ruas mostrou que já não se deixa enganar. A prova disso é a queda assustadora da aprovação de Dilma nas pesquisas, o que ameaça a sua reeleição em 2014.
Esses fatos explicam a mudança de atitude do principal aliado do governo, o PMDB, que se opõe ao plebiscito proposto por Dilma e sugere a redução do número de ministérios. Pura sacanagem, para explorar a fragilidade de Dilma e tirar partido disso. É que parece estar chegando a hora do salve-se quem puder.
Autoajuda para jovens cantoras - ADRIANA CALCANHOTTO
O GLOBO - 28/07
Aprenda a maquiar-se no escuro. Nos primeiros anos de sua gloriosa carreira, dificilmente os camarins terão iluminação adequada, no caso de haver alguma. Quando, enfim, começar a frequentar camarins com mais e mais lâmpadas, tapetes cada vez mais espessos e espelhos bisotados, provavelmente não estará enxergando quase mais nada. Maquie-se no escuro, com o carro em movimento, se não for você a motorista, mas treine.
Fernanda Montenegro, quando perguntada sobre o que diria aos jovens aspirantes à vida no palco, diz:
— Os primeiros dez anos da carreira são muito difíceis mesmo, muito duros. Depois disso é que tudo só piora.
Multiplique por cem esta dica. Você vai gastar uns dois terços da sua vida respondendo às mesmas perguntas, em vez de estar estudando ou ensaiando ou criando qualquer coisa. Quando lançar um trabalho novo só responderá sobre quando é que sai o próximo e assim sucessivamente.
Críticos de música são críticos, não espere elogios ou adjetivos e sobretudo não espere que eles se informem sobre o seu trabalho antes de dizer que o melhor para a música popular brasileira seria você voltar para a sua terra natal e desistir, de vez, de cantar. Recebendo excelentes críticas, muito bem escritas, entendendo o que você está propondo, não dê tanta importância (as negativas sempre farão muito mais por você).
Nunca saia de um camarim ou quarto de hotel sem deixá-lo melhor do que o encontrou. Se não houver lata de lixo invente uma. Quando for embora, apague as luzes, o planeta agradece. Se os camarins dos músicos estiverem no seu caminho, apague as luzes também (se já tiverem saído, é claro, e se não houver ainda cuecas, meias e figurinos jogados no chão, parecendo um tapete dos irmãos Campana). No hotel, deixe uma gorjeta com um bilhetinho para a camareira quando for embora. Ela pegou no mínimo dois ônibus, deixou os filhos e, talvez, um marido bêbado, de quem ela apanha, para limpar o seu banheiro. Tenha em mente que você é uma peça da engrenagem, não a máquina. Se os carregadores não retirarem o equipamento do caminhão, por exemplo, você não dará conta do seu recado.
Tenha uma vida. Só assim você poderá emocionar as pessoas. Isso pode significar cantar à noite tendo levado um pé na bunda de tarde, triste por ter perdido sua avó, com febre, com ciúmes, arrasada por ter ido de manhã à cremação de seu parceiro e amigo, para plateias que falam ao celular durante o show inteiro, de costas para o palco, exigindo aos berros canções que não são do seu repertório, e muito mais.
Você vai frequentar banheiros químicos, aprenda a usá-los sempre antes de estar enfiada dentro de um vestido de tafetá de seda pura com uma cauda longa, não é muito prático, para dizer o mínimo.
Nas cidades do interior, do mundo todo, quando você chegar já não poderá almoçar, porque os restaurantes estarão fechados no meio da tarde. À noite, depois do show, é que então você não vai jantar, porque os restaurantes já terão fechado outra vez.
As pessoas após o show irão cumprimentá-la e fazer fotos com você, mas não esqueça que elas estão ali apenas para perguntar por que você não cantou justamente as canções que não cantou. Não se impressione com fãs que dizem “tenho todos os seus discos” enquanto você está lançando ainda o primeiro. Mantenha a pose quando a confundirem com a Zélia Duncan, por mais diferentes que vocês sejam. Sorria, não custa nada. Quando lhe disserem “te amo, Zélia”, diga “obrigada” e siga em frente.
Não crie em torno de você uma trupe que só concorde com tudo o que você faz e diz, procure cercar-se de gente ética e doida. Seja amiga dos seus músicos, vá ao camarim deles, eles imitarão os seus trejeitos quando você não estiver por perto de qualquer maneira. Mas, quando um músico adentrar seu camarim, abraçá-la e começar a chorar incontidamente encharcando o ombro direito do seu vestido rosa, abrace-o com força e sinta orgulho de estar no palco com um homem que chora.
Leve sempre um cachecol, proteja seu instrumento. As pessoas vão rir de você de cachecol em Teresina, mas não achariam graça nenhuma numa cantora sem voz. Rirão de você, de um jeito ou de outro. O mais importante, nos bons e nos maus momentos, é que você saiba rir de si mesma, e meio caminho estará andado.
Aprenda a maquiar-se no escuro. Nos primeiros anos de sua gloriosa carreira, dificilmente os camarins terão iluminação adequada, no caso de haver alguma. Quando, enfim, começar a frequentar camarins com mais e mais lâmpadas, tapetes cada vez mais espessos e espelhos bisotados, provavelmente não estará enxergando quase mais nada. Maquie-se no escuro, com o carro em movimento, se não for você a motorista, mas treine.
Fernanda Montenegro, quando perguntada sobre o que diria aos jovens aspirantes à vida no palco, diz:
— Os primeiros dez anos da carreira são muito difíceis mesmo, muito duros. Depois disso é que tudo só piora.
Multiplique por cem esta dica. Você vai gastar uns dois terços da sua vida respondendo às mesmas perguntas, em vez de estar estudando ou ensaiando ou criando qualquer coisa. Quando lançar um trabalho novo só responderá sobre quando é que sai o próximo e assim sucessivamente.
Críticos de música são críticos, não espere elogios ou adjetivos e sobretudo não espere que eles se informem sobre o seu trabalho antes de dizer que o melhor para a música popular brasileira seria você voltar para a sua terra natal e desistir, de vez, de cantar. Recebendo excelentes críticas, muito bem escritas, entendendo o que você está propondo, não dê tanta importância (as negativas sempre farão muito mais por você).
Nunca saia de um camarim ou quarto de hotel sem deixá-lo melhor do que o encontrou. Se não houver lata de lixo invente uma. Quando for embora, apague as luzes, o planeta agradece. Se os camarins dos músicos estiverem no seu caminho, apague as luzes também (se já tiverem saído, é claro, e se não houver ainda cuecas, meias e figurinos jogados no chão, parecendo um tapete dos irmãos Campana). No hotel, deixe uma gorjeta com um bilhetinho para a camareira quando for embora. Ela pegou no mínimo dois ônibus, deixou os filhos e, talvez, um marido bêbado, de quem ela apanha, para limpar o seu banheiro. Tenha em mente que você é uma peça da engrenagem, não a máquina. Se os carregadores não retirarem o equipamento do caminhão, por exemplo, você não dará conta do seu recado.
Tenha uma vida. Só assim você poderá emocionar as pessoas. Isso pode significar cantar à noite tendo levado um pé na bunda de tarde, triste por ter perdido sua avó, com febre, com ciúmes, arrasada por ter ido de manhã à cremação de seu parceiro e amigo, para plateias que falam ao celular durante o show inteiro, de costas para o palco, exigindo aos berros canções que não são do seu repertório, e muito mais.
Você vai frequentar banheiros químicos, aprenda a usá-los sempre antes de estar enfiada dentro de um vestido de tafetá de seda pura com uma cauda longa, não é muito prático, para dizer o mínimo.
Nas cidades do interior, do mundo todo, quando você chegar já não poderá almoçar, porque os restaurantes estarão fechados no meio da tarde. À noite, depois do show, é que então você não vai jantar, porque os restaurantes já terão fechado outra vez.
As pessoas após o show irão cumprimentá-la e fazer fotos com você, mas não esqueça que elas estão ali apenas para perguntar por que você não cantou justamente as canções que não cantou. Não se impressione com fãs que dizem “tenho todos os seus discos” enquanto você está lançando ainda o primeiro. Mantenha a pose quando a confundirem com a Zélia Duncan, por mais diferentes que vocês sejam. Sorria, não custa nada. Quando lhe disserem “te amo, Zélia”, diga “obrigada” e siga em frente.
Não crie em torno de você uma trupe que só concorde com tudo o que você faz e diz, procure cercar-se de gente ética e doida. Seja amiga dos seus músicos, vá ao camarim deles, eles imitarão os seus trejeitos quando você não estiver por perto de qualquer maneira. Mas, quando um músico adentrar seu camarim, abraçá-la e começar a chorar incontidamente encharcando o ombro direito do seu vestido rosa, abrace-o com força e sinta orgulho de estar no palco com um homem que chora.
Leve sempre um cachecol, proteja seu instrumento. As pessoas vão rir de você de cachecol em Teresina, mas não achariam graça nenhuma numa cantora sem voz. Rirão de você, de um jeito ou de outro. O mais importante, nos bons e nos maus momentos, é que você saiba rir de si mesma, e meio caminho estará andado.
Desperdício de água - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 28/07
Veja mais um prejuízo desta decisão da JMJ de transferir para Copacabana todas as celebrações.
A Arquidiocese contratou por uns R$ 6 milhões uma empresa holandes para fornecer água potável aos peregrinos em Guaratiba.
Segue...
Ela se comprometeu a instalar no local 4.700 bebedouros, além de um grande reservatório.
No trajeto de peregrinação de 13 quilômetros, haveria postos para que os fiéis pudessem se hidratar.
Para concluir...
O pessoal da JMJ vai tentar, a parti de amanhã, negociar descontos neste e em outros contratos.
Voando alto
Cristina Kirchner vem rezar na missa do Papa hoje. Mas, em Buenos Aires, há gente que espera que ela aproveite para atualizar a conversa com Dilma. Assunto é o que não falta
Um deles é o projeto que se arrast desde 2009 de construção de uma fábrica da Embraer em Córdoba.
Aliás...
O Papa perguntou a um jornalist argentino notícias do nascimento do primeiro neto de Cristina.
Chama-se Néstor Iván Kirchner, em homenagem ao avô falecido.
No mais
Quem chamou a atenção foi a historiadora Mary del Priore. Veja o que disse Rui Barbosa em 28 de julho de 1921, portanto há 92 anos:
"Enquanto as revoluções eram políticas, tinham praias que as circundavam e lhes punham raias visíveis. Depois que se fizeram sociais (e, hoje, sociais são todas), todas beiram esse mar tenebroso cujo torvo mistério assombra de ameaça as plagas do mundo contemporâneo."
Ro Ro e Bethãnia
O DVD que Angela Ro Ro lança em setembro terá uma convidada especial.
Maria Bethânia aparecerá nos extras, gravando em estúdio um dueto com a anfitriã para a canção "Fogueira", sucesso que Bethânia gravou há 30 anos.
Encontro de mineiros
O Clube da Esquina, como ficou conhecido o movimento surgido na década de 1960 em Minas, pretende se reunir na Copa de 2014, promovendo shows nas 12 cidades-sede.
A produtora mineira Terra dos Pássaros foi autorizada a captar R$ 2.240.580.
A volta de Ittala
Aos 71 anos, Ittala Nandi — agora com dois "t" por conta da aritmosofia — vai levar para o teatro o roteiro de "Prata Palomares", filme de André Faria de 1972, que ficou 15 anos censurado.
Na tela, a personagem de Nandi faz amor com dois guerrilheiros e anuncia que quer ter um filho de ambos.
Já...
A versão para teatro, feita em parceria com Jorge Farjalla, da Cia Guerreiro, estreia dia 7 de setembro, no Espaço Tom Jobim, no Rio.
Made in Brazil
Veja este flagrante do nosso Aydano André Motta. Esta barraca no zoo de Berlim, o mesmo que serviu de
cenário para o filme "Eu, Christiane F.",oferece uma loteria com bichos.
Aqui, na terra do jogo do bicho, ele foi inventado, como é sabido, em 1892, no antigo Jardim Zoológico, em Vila Isabel, no Rio. Deu no que deu.
No país do tatu-bola
No sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2014, Ronaldo, o Fenômeno, vai desfilar ao lado de Fuleco, a mascote da competição.
Será no dia 6 de dezembro na Costa do Sauípe, no litoral baiano.
Cantina de grife
A rede MegaMatte decidiu investir em... escolas. Mês que vem vai abrir uma loja dentro do Colégio Triângulo, em Bento Ribeiro, na Zona Norte do Rio.
Promete trocar as frituras e os refrigerantes por salgados de forno integrais, pães de queijo de soja e mate orgânico. Sei não.
Noca de Caxias
A prefeitura de Duque de Caxias convidou Noca da Portela para escrever o samba que vai embalar a campanha Caxias Limpa, sobre a normalização da coleta de lixo na cidade.
Um trechinho: "Todo dia é gente na rua, na avenida/Pela alegria/De respirar o ar/De uma nova Caxias/É a gente que faz/Caxias cada vez mais limpa."
Deus castiga
Uma casa de saliências no Recreio, no Rio, aproveitou o clima da cidade para fazer noites temáticas.
As moças de vida nada fácil atendem os clientes vestidas de... freiras.
A Arquidiocese contratou por uns R$ 6 milhões uma empresa holandes para fornecer água potável aos peregrinos em Guaratiba.
Segue...
Ela se comprometeu a instalar no local 4.700 bebedouros, além de um grande reservatório.
No trajeto de peregrinação de 13 quilômetros, haveria postos para que os fiéis pudessem se hidratar.
Para concluir...
O pessoal da JMJ vai tentar, a parti de amanhã, negociar descontos neste e em outros contratos.
Voando alto
Cristina Kirchner vem rezar na missa do Papa hoje. Mas, em Buenos Aires, há gente que espera que ela aproveite para atualizar a conversa com Dilma. Assunto é o que não falta
Um deles é o projeto que se arrast desde 2009 de construção de uma fábrica da Embraer em Córdoba.
Aliás...
O Papa perguntou a um jornalist argentino notícias do nascimento do primeiro neto de Cristina.
Chama-se Néstor Iván Kirchner, em homenagem ao avô falecido.
No mais
Quem chamou a atenção foi a historiadora Mary del Priore. Veja o que disse Rui Barbosa em 28 de julho de 1921, portanto há 92 anos:
"Enquanto as revoluções eram políticas, tinham praias que as circundavam e lhes punham raias visíveis. Depois que se fizeram sociais (e, hoje, sociais são todas), todas beiram esse mar tenebroso cujo torvo mistério assombra de ameaça as plagas do mundo contemporâneo."
Ro Ro e Bethãnia
O DVD que Angela Ro Ro lança em setembro terá uma convidada especial.
Maria Bethânia aparecerá nos extras, gravando em estúdio um dueto com a anfitriã para a canção "Fogueira", sucesso que Bethânia gravou há 30 anos.
Encontro de mineiros
O Clube da Esquina, como ficou conhecido o movimento surgido na década de 1960 em Minas, pretende se reunir na Copa de 2014, promovendo shows nas 12 cidades-sede.
A produtora mineira Terra dos Pássaros foi autorizada a captar R$ 2.240.580.
A volta de Ittala
Aos 71 anos, Ittala Nandi — agora com dois "t" por conta da aritmosofia — vai levar para o teatro o roteiro de "Prata Palomares", filme de André Faria de 1972, que ficou 15 anos censurado.
Na tela, a personagem de Nandi faz amor com dois guerrilheiros e anuncia que quer ter um filho de ambos.
Já...
A versão para teatro, feita em parceria com Jorge Farjalla, da Cia Guerreiro, estreia dia 7 de setembro, no Espaço Tom Jobim, no Rio.
Made in Brazil
Veja este flagrante do nosso Aydano André Motta. Esta barraca no zoo de Berlim, o mesmo que serviu de
cenário para o filme "Eu, Christiane F.",oferece uma loteria com bichos.
Aqui, na terra do jogo do bicho, ele foi inventado, como é sabido, em 1892, no antigo Jardim Zoológico, em Vila Isabel, no Rio. Deu no que deu.
No país do tatu-bola
No sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2014, Ronaldo, o Fenômeno, vai desfilar ao lado de Fuleco, a mascote da competição.
Será no dia 6 de dezembro na Costa do Sauípe, no litoral baiano.
Cantina de grife
A rede MegaMatte decidiu investir em... escolas. Mês que vem vai abrir uma loja dentro do Colégio Triângulo, em Bento Ribeiro, na Zona Norte do Rio.
Promete trocar as frituras e os refrigerantes por salgados de forno integrais, pães de queijo de soja e mate orgânico. Sei não.
Noca de Caxias
A prefeitura de Duque de Caxias convidou Noca da Portela para escrever o samba que vai embalar a campanha Caxias Limpa, sobre a normalização da coleta de lixo na cidade.
Um trechinho: "Todo dia é gente na rua, na avenida/Pela alegria/De respirar o ar/De uma nova Caxias/É a gente que faz/Caxias cada vez mais limpa."
Deus castiga
Uma casa de saliências no Recreio, no Rio, aproveitou o clima da cidade para fazer noites temáticas.
As moças de vida nada fácil atendem os clientes vestidas de... freiras.
Celulares LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
ESTADÃO - 28/07
Eles fazem de tudo. Só falta falar
Cinco numa mesa de bar, comparando seus celulares. Um diz:
– O meu não só mostra quem está chamando como avisa se for um chato.
– O meu – diz outro – acessa a Internet, faz café, dá palpites para jogar na Sena e o tempo que faz no Himalaia.
O terceiro:
– O meu é gravador, relógio, câmera fotográfica e granada de mão, e ainda faz logaritmos.
O quarto:
– O meu codifica, decodifica e toca o hino nacional.
Os outros três se intercalam:
– O meu imita passarinho e dá o diretor, os roteiristas e o elenco completo de 17 mil filmes.
– O meu dá a escalação de todas as seleções do mundo desde que inventaram o futebol e o resumo de todas as óperas.
– O meu é despertador, defibrilador e termômetro, além de mostrar imagens de Marte.
– E o meu? E o meu? – diz o quinto, que até então permanecera em silêncio.
– O seu o que faz?
– O meu – diz o quinto – me ama.
Na transilvânia
(Da série “Poesia numa hora dessas?!)
Ele flana pelos corredores do castelo
como um par de olheiras sobre patins
com a tinta escorrendo dos cabelos
A boca roxa, as mãos nos rins.
Às vezes para porque ouviu seu nome:
“Drakuuul”, longe, “Drakuuul”
Mas é só o som do vento gelado
Ou de um lobo desgarrado.
Pede “Virgens!” e dão risada
pede “Sangue!” e lhe trazem laranjada.
Bolachas ou coisas vivas?
“Monsieur le Compte, suas gengivas!”
Ele desliza pelos corredores
sonhando com pescoços latejantes
pensando em velhas conquistas
e em abrir o térreo para turistas.
“Drakuuul!”, longe, “Drakuuul!”
Mas é sempre só um lobo anônimo.
Ou, possivelmente, um lobo irônico.
Manifestações
O esquerdista e o reacionário não se viam há tempo e no outro dia se encontraram.
– Ó, rapaz. Você por aqui.
– Pois é, estou indo para uma manifestação.
– Não diga. Eu também!
– Coincidência, duas manifestações ao mesmo tempo. Se conheço você bem, a sua é de esquerdistas. Posso até adivinhar o que vão reivindicar.
– E se eu conheço você, sei exatamente o que vão pedir.
– Onde é a sua manifestação?
– Vamos nos reunir na frente da prefeitura e depois...
– Epa! Nós também. Estamos indo para a mesma manifestação!
– Impossivel. Um de nós dois está indo para a manifestação errada.
– Bom, lá a gente ve. Aceita uma carona?
– Sei não... – Sem compromisso. – Então vamos.
Eles fazem de tudo. Só falta falar
Cinco numa mesa de bar, comparando seus celulares. Um diz:
– O meu não só mostra quem está chamando como avisa se for um chato.
– O meu – diz outro – acessa a Internet, faz café, dá palpites para jogar na Sena e o tempo que faz no Himalaia.
O terceiro:
– O meu é gravador, relógio, câmera fotográfica e granada de mão, e ainda faz logaritmos.
O quarto:
– O meu codifica, decodifica e toca o hino nacional.
Os outros três se intercalam:
– O meu imita passarinho e dá o diretor, os roteiristas e o elenco completo de 17 mil filmes.
– O meu dá a escalação de todas as seleções do mundo desde que inventaram o futebol e o resumo de todas as óperas.
– O meu é despertador, defibrilador e termômetro, além de mostrar imagens de Marte.
– E o meu? E o meu? – diz o quinto, que até então permanecera em silêncio.
– O seu o que faz?
– O meu – diz o quinto – me ama.
Na transilvânia
(Da série “Poesia numa hora dessas?!)
Ele flana pelos corredores do castelo
como um par de olheiras sobre patins
com a tinta escorrendo dos cabelos
A boca roxa, as mãos nos rins.
Às vezes para porque ouviu seu nome:
“Drakuuul”, longe, “Drakuuul”
Mas é só o som do vento gelado
Ou de um lobo desgarrado.
Pede “Virgens!” e dão risada
pede “Sangue!” e lhe trazem laranjada.
Bolachas ou coisas vivas?
“Monsieur le Compte, suas gengivas!”
Ele desliza pelos corredores
sonhando com pescoços latejantes
pensando em velhas conquistas
e em abrir o térreo para turistas.
“Drakuuul!”, longe, “Drakuuul!”
Mas é sempre só um lobo anônimo.
Ou, possivelmente, um lobo irônico.
Manifestações
O esquerdista e o reacionário não se viam há tempo e no outro dia se encontraram.
– Ó, rapaz. Você por aqui.
– Pois é, estou indo para uma manifestação.
– Não diga. Eu também!
– Coincidência, duas manifestações ao mesmo tempo. Se conheço você bem, a sua é de esquerdistas. Posso até adivinhar o que vão reivindicar.
– E se eu conheço você, sei exatamente o que vão pedir.
– Onde é a sua manifestação?
– Vamos nos reunir na frente da prefeitura e depois...
– Epa! Nós também. Estamos indo para a mesma manifestação!
– Impossivel. Um de nós dois está indo para a manifestação errada.
– Bom, lá a gente ve. Aceita uma carona?
– Sei não... – Sem compromisso. – Então vamos.
2 de julho - CAETANO VELOSO
O GLOBO - 28/07
Somos um país horrivelmente desigual e de péssima conta entre impostos e serviços.
Zé Miguel Wisnik me deu o volume das obras completas de Oswald de Andrade em que estão os textos teóricos e filosóficos do poeta. Por causa das ideias sobre antropofagia e utopias, quis reler o que eu próprio tinha escrito a respeito — e eis que me caiu, de modo um tanto milagroso, um exemplar de “Verdade tropical” no colo. Devo ter alguns em casa, mas sempre que procuro não acho. Fui dar uma olhada nesse que o doce acaso me deu e, correndo pelas páginas da introdução, encontrei o seguinte: “Em 95, o jornal ‘Folha de S.Paulo’ estampava na primeira página: ‘Relatório do Banco Mundial aponta o Brasil como o país em que há maior desigualdade de renda no mundo’. A matéria informa que 51,3% da renda brasileira está concentrada em 10% da população. Os 20% mais ricos detêm 67,5%, enquanto os 20% mais pobres detêm apenas 2,1%. É um legado brutal que minha geração, ao chegar à adolescência, sonhou fazer reverter.” Em 2013 reconhecemos progressos na distribuição das riquezas, os governos FH, Lula e Dilma representaram a capacidade da sociedade brasileira de superar certos entraves que pareciam eternos. Não faz mal pensar que a ação dos adolescentes de 1963 tenha contribuído para isso.
Estou em Salvador e acabo de chegar em casa com grande atraso pois um evento organizado pelo governador Jaques Wagner para comemorar os 10 anos do PT no poder — e que conta com a presença na cidade de Lula e Dilma — gerou um congestionamento na região do Rio Vermelho e de Ondina que o motorista me diz ter sido intensificado pelos manifestantes que se aglomeraram em frente ao hotel da orla onde a festa se daria. “Médicos, MPL e uma pá de gente está lá protestando”, me conta o motorista. Tenho de escrever e pretendo sair para ver Salvador um pouco, já que amanhã sigo para João Pessoa. Mas queria ter visto o jornal local na televisão para saber como se desenrola essa cena que, pela mera descrição, se mostra cheia de complexidades. Os adolescentes de 63 queriam mudanças imediatas. (“Reformas ou…” diziam as reticentemente ameaçadoras pichações nas paredes das cidades do Brasil de Jango.) Mas a maioria deles cresceu para ver FH e Lula de mãos dadas contra a ditadura e, para sua quase incredulidade, a chegada de um e, depois, do outro ao posto máximo da República. Wagner, Lula e Dilma têm o que celebrar. Os adolescentes de agora, no entanto, têm do que se queixar. (Adolescentes de todas as épocas podem ter 50 anos ou mais, mas a feição fisicamente adolescente das passeatas de junho é inegável.) Dilma disse ao papa que, como seu mestre tinha escrito, eles pedem mais porque podem mais. Não é mentira. Embora seja só um aspecto de repente pequeno da verdade. E de repente um tanto mesquinho. Visa demasiado obviamente o sucesso da política imediata do PT. Os adolescentes de junho começaram por rejeitar o aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus em Sampa e, daí, atingiram o leque de insatisfações que vão da percepção da inflação ao nojo dos políticos corruptos. E ainda somos um país horrivelmente desigual e de péssima conta entre os impostos pagos e os serviços prestados.
O sonho de reverter situações cronicamente massacrantes não pode se expressar exclusivamente em gestos pacíficos e sensatos. O garoto de 43 ou 17 anos que vai à rua sente que o vândalo o representa em muitos aspectos. A separação asséptica entre os pacíficos e os baderneiros é irrealista. É bom ver o Carioca da Mídia Ninja no “Jornal da Globo”. E o desmascaramento dos P2. Nada contra serviço de inteligência das polícias. Sua militarização é que já está sendo sentida como insustentável numa verdadeira democracia. A tensão entre vândalos e policiais (que estranhamente atacaram os manifestantes perto da casa de Cabral mas não enfrentaram os vândalos na Ataulfo de Paiva na noite do Leblon) vem aumentando o medo de que a sociedade possa tender para algum tipo de liderança autoritária. Espero e suponho que não venha a ser o caso, apesar do ar enigmático das manifestações. Pacíficos e vândalos são sobretudo eleitores do PT e ainda odeiam mais os oponentes do partido do que o desprezam. Mas: abertas as comportas das queixas, é natural que caia a aprovação do governo. Gostei de rever Bruno Telles na TV aberta, depois de assistir na internet ao vídeo em que ele defende sua inocência. Sou classe-média pacífico de centro e tenho respeito pelo credo liberal. Mas entendo que a fúria contra a injustiça social não pode se expressar suavemente. Dizem-me que a parada do 2 de Julho na Bahia teve mais energia este ano, cartazes com slogans das manifestações provando que estas a fortaleceram. Dominguinhos, de Garanhuns, é a prova de que o Brasil pode.
Somos um país horrivelmente desigual e de péssima conta entre impostos e serviços.
Zé Miguel Wisnik me deu o volume das obras completas de Oswald de Andrade em que estão os textos teóricos e filosóficos do poeta. Por causa das ideias sobre antropofagia e utopias, quis reler o que eu próprio tinha escrito a respeito — e eis que me caiu, de modo um tanto milagroso, um exemplar de “Verdade tropical” no colo. Devo ter alguns em casa, mas sempre que procuro não acho. Fui dar uma olhada nesse que o doce acaso me deu e, correndo pelas páginas da introdução, encontrei o seguinte: “Em 95, o jornal ‘Folha de S.Paulo’ estampava na primeira página: ‘Relatório do Banco Mundial aponta o Brasil como o país em que há maior desigualdade de renda no mundo’. A matéria informa que 51,3% da renda brasileira está concentrada em 10% da população. Os 20% mais ricos detêm 67,5%, enquanto os 20% mais pobres detêm apenas 2,1%. É um legado brutal que minha geração, ao chegar à adolescência, sonhou fazer reverter.” Em 2013 reconhecemos progressos na distribuição das riquezas, os governos FH, Lula e Dilma representaram a capacidade da sociedade brasileira de superar certos entraves que pareciam eternos. Não faz mal pensar que a ação dos adolescentes de 1963 tenha contribuído para isso.
Estou em Salvador e acabo de chegar em casa com grande atraso pois um evento organizado pelo governador Jaques Wagner para comemorar os 10 anos do PT no poder — e que conta com a presença na cidade de Lula e Dilma — gerou um congestionamento na região do Rio Vermelho e de Ondina que o motorista me diz ter sido intensificado pelos manifestantes que se aglomeraram em frente ao hotel da orla onde a festa se daria. “Médicos, MPL e uma pá de gente está lá protestando”, me conta o motorista. Tenho de escrever e pretendo sair para ver Salvador um pouco, já que amanhã sigo para João Pessoa. Mas queria ter visto o jornal local na televisão para saber como se desenrola essa cena que, pela mera descrição, se mostra cheia de complexidades. Os adolescentes de 63 queriam mudanças imediatas. (“Reformas ou…” diziam as reticentemente ameaçadoras pichações nas paredes das cidades do Brasil de Jango.) Mas a maioria deles cresceu para ver FH e Lula de mãos dadas contra a ditadura e, para sua quase incredulidade, a chegada de um e, depois, do outro ao posto máximo da República. Wagner, Lula e Dilma têm o que celebrar. Os adolescentes de agora, no entanto, têm do que se queixar. (Adolescentes de todas as épocas podem ter 50 anos ou mais, mas a feição fisicamente adolescente das passeatas de junho é inegável.) Dilma disse ao papa que, como seu mestre tinha escrito, eles pedem mais porque podem mais. Não é mentira. Embora seja só um aspecto de repente pequeno da verdade. E de repente um tanto mesquinho. Visa demasiado obviamente o sucesso da política imediata do PT. Os adolescentes de junho começaram por rejeitar o aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus em Sampa e, daí, atingiram o leque de insatisfações que vão da percepção da inflação ao nojo dos políticos corruptos. E ainda somos um país horrivelmente desigual e de péssima conta entre os impostos pagos e os serviços prestados.
O sonho de reverter situações cronicamente massacrantes não pode se expressar exclusivamente em gestos pacíficos e sensatos. O garoto de 43 ou 17 anos que vai à rua sente que o vândalo o representa em muitos aspectos. A separação asséptica entre os pacíficos e os baderneiros é irrealista. É bom ver o Carioca da Mídia Ninja no “Jornal da Globo”. E o desmascaramento dos P2. Nada contra serviço de inteligência das polícias. Sua militarização é que já está sendo sentida como insustentável numa verdadeira democracia. A tensão entre vândalos e policiais (que estranhamente atacaram os manifestantes perto da casa de Cabral mas não enfrentaram os vândalos na Ataulfo de Paiva na noite do Leblon) vem aumentando o medo de que a sociedade possa tender para algum tipo de liderança autoritária. Espero e suponho que não venha a ser o caso, apesar do ar enigmático das manifestações. Pacíficos e vândalos são sobretudo eleitores do PT e ainda odeiam mais os oponentes do partido do que o desprezam. Mas: abertas as comportas das queixas, é natural que caia a aprovação do governo. Gostei de rever Bruno Telles na TV aberta, depois de assistir na internet ao vídeo em que ele defende sua inocência. Sou classe-média pacífico de centro e tenho respeito pelo credo liberal. Mas entendo que a fúria contra a injustiça social não pode se expressar suavemente. Dizem-me que a parada do 2 de Julho na Bahia teve mais energia este ano, cartazes com slogans das manifestações provando que estas a fortaleceram. Dominguinhos, de Garanhuns, é a prova de que o Brasil pode.
Ueba! Vaaaaai, Francisco! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 28/07
Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o 'Show das Poderosas' e fazer quadradinho de oito
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador Geral da República!
Esse Papa é muito simpático, muy guapo, mas eu vou botar uma vassoura atrás da porta!
Brasileiro pega intimidade com uma rapidez, não é mais nem papa e nem pontífice, agora é Francisco.
"Tudo pronto para a chegada de Francisco." "Francisco se aproxima do povo." Mais uma semana e o povo vai começar a gritar: "Vaaaaai, Francisco". "Dá-lhe, CHICO!"
E como disse o tuiteiro João Junior: Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o Show das Poderosas' e fazer quadradinho de oito". Rarará!
Papa Francisco! O argentino virou brasileiro! E mais um mês que ele fique no Brasil, e o carioca vai começar a falar: "Ih, lá vem aquele chato do papa". É verdade! É assim!
E vão ter que arrumar cinco brasileiros pra se confessar com o papa? Acho difícil um brasileiro se confessar com um argentino, assim espontaneamente.
Uma amiga vai se confessar assim: "Papa, eu pequei. Dei prum argentino!". Dar pra argentino não é pecado, é crime ambiental: maus-tratos à perereca! Rarará.
"Papa, eu pequei. Torci pro Boca!" E o papa já fez seu primeiro milagre no Brasil: Atlético campeão da Libertadores! Diz que em BH tinha um galo em cada encruzilhada. Vivo!
E como disse o chargista Zedassilva: "O Galo canta e o OlimPIA!". E o presidente do Galo: "A taça é mais gostosa que mulher". Traição ao queijo! Só o queijo é mais gostoso que mulher. Rarará!
E o Ronaldinho Gaúcho brilhou e se deu bem em Minas. Trocou o gargalo pelo galo! Rarará! Pior um amigo meu que foi até Aparecida levar uma camiseta do São Paulo pra benzer e não conseguiu entrar na basílica. Que fase!
Mas eu avisei que ele era papa. E não Deus! Rarará! É mole? É mole mas sobe!
País da Piada Pronta! Deu na Mônica Bergamo: o livro mais lido nas penitenciarias federais do Brasil: "A Menina Que Roubava Livros".
E o único roubo que não é considerado roubo é roubo de Viagra. Furto famélico: roubar pra comer! E chega de frio. Não aguento mais usar o look vândalo: moleton com capuz! E cara tapada! Rarará!
Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o 'Show das Poderosas' e fazer quadradinho de oito
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador Geral da República!
Esse Papa é muito simpático, muy guapo, mas eu vou botar uma vassoura atrás da porta!
Brasileiro pega intimidade com uma rapidez, não é mais nem papa e nem pontífice, agora é Francisco.
"Tudo pronto para a chegada de Francisco." "Francisco se aproxima do povo." Mais uma semana e o povo vai começar a gritar: "Vaaaaai, Francisco". "Dá-lhe, CHICO!"
E como disse o tuiteiro João Junior: Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o Show das Poderosas' e fazer quadradinho de oito". Rarará!
Papa Francisco! O argentino virou brasileiro! E mais um mês que ele fique no Brasil, e o carioca vai começar a falar: "Ih, lá vem aquele chato do papa". É verdade! É assim!
E vão ter que arrumar cinco brasileiros pra se confessar com o papa? Acho difícil um brasileiro se confessar com um argentino, assim espontaneamente.
Uma amiga vai se confessar assim: "Papa, eu pequei. Dei prum argentino!". Dar pra argentino não é pecado, é crime ambiental: maus-tratos à perereca! Rarará.
"Papa, eu pequei. Torci pro Boca!" E o papa já fez seu primeiro milagre no Brasil: Atlético campeão da Libertadores! Diz que em BH tinha um galo em cada encruzilhada. Vivo!
E como disse o chargista Zedassilva: "O Galo canta e o OlimPIA!". E o presidente do Galo: "A taça é mais gostosa que mulher". Traição ao queijo! Só o queijo é mais gostoso que mulher. Rarará!
E o Ronaldinho Gaúcho brilhou e se deu bem em Minas. Trocou o gargalo pelo galo! Rarará! Pior um amigo meu que foi até Aparecida levar uma camiseta do São Paulo pra benzer e não conseguiu entrar na basílica. Que fase!
Mas eu avisei que ele era papa. E não Deus! Rarará! É mole? É mole mas sobe!
País da Piada Pronta! Deu na Mônica Bergamo: o livro mais lido nas penitenciarias federais do Brasil: "A Menina Que Roubava Livros".
E o único roubo que não é considerado roubo é roubo de Viagra. Furto famélico: roubar pra comer! E chega de frio. Não aguento mais usar o look vândalo: moleton com capuz! E cara tapada! Rarará!
Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Olhares diferentes - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 28/07
Morreu Djalma Santos, um dos craques mais bem humorados e educados do futebol brasileiro
Os leitores que leem minha coluna no jornal impresso devem ter notado que a Folha, em vez de publicar, na quarta-feira, o texto que enviei, repetiu o do domingo anterior. Acontece nos melhores jornais.
Parabéns ao Atlético-MG pela conquista merecida da Libertadores. O time, novamente, usou muito bem as jogadas aéreas. Funciona, quando há gigantes e bons cabeceadores. Cuca é um excelente treinador, pelo que já fez na carreira, e não só porque é campeão da Libertadores. Alguns técnicos apenas razoáveis também ganharam esse título.
O Atlético-MG e as melhores equipes brasileiras, por causa da economia, têm estruturas profissionais e elencos muito superiores às dos outros times sul-americanos. Já no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que é mais importante, o Brasil está atrás de Peru, Venezuela, Uruguai, Argentina e Chile.
Escrevi, na coluna que não saiu na quarta-feira, que, depois das boas atuações da seleção e da conquista da Copa das Confederações, parece que está tudo ótimo no futebol brasileiro, dentro e fora de campo. A seleção foi um fato isolado.
Os protestos precisam continuar: fora a elitização do futebol, fora a perpetuação de dirigentes no poder, fora o iminente perdão de todas as dívidas dos clubes brasileiros com o governo (em torno de R$ 3 bilhões), fora os mais velhos ditadores, Marin, e os mais jovens, Gallo, treinador das categorias de base da Seleção, como demonstrou na entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". Quis agradar a seu chefe (Marin), que o tinha elogiado, como futuro técnico da seleção após Felipão.
Hoje, no clássico Flamengo e Botafogo, no Maracanã, haverá um irônico e criativo protesto, contra os altos preços dos ingressos. Os homens irão de terno e gravata, e as mulheres, de vestidos longos e saltos altos.
Na coluna que não foi publicada, disse que, depois de assistir a vários jogos de Ganso, todos iguais, cheguei a uma bizarra tese, que pode estar errada, de que ele, tão criticado, tem atuado da mesma forma e com a mesma qualidade da época em que era endeusado.
Antes, como o Santos brilhava e ganhava, seus toques bonitos, precisos e inteligentes se tornaram símbolo do reencontro com os maiores armadores do passado. Hoje, como o São Paulo joga mal e perde, Ganso simboliza o futebol lento, ineficiente e ultrapassado. Os olhares mudam segundo as circunstâncias.
DJALMA SANTOS
Nesta semana, morreu Djalma Santos. Na Copa de 1966, eu tinha 19 anos, e ele, 37. Apresentei-me à seleção em Lambari, Minas Gerais.
Cheguei na hora do jantar e sentei-me à mesa, com Djalma Santos e dois estreantes, como eu.
Ele, com seu conhecido bom humor, nos tratou e a todos os funcionários e garçons do hotel com enorme educação e carinho.
Assim foi durante toda sua vida.
Morreu Djalma Santos, um dos craques mais bem humorados e educados do futebol brasileiro
Os leitores que leem minha coluna no jornal impresso devem ter notado que a Folha, em vez de publicar, na quarta-feira, o texto que enviei, repetiu o do domingo anterior. Acontece nos melhores jornais.
Parabéns ao Atlético-MG pela conquista merecida da Libertadores. O time, novamente, usou muito bem as jogadas aéreas. Funciona, quando há gigantes e bons cabeceadores. Cuca é um excelente treinador, pelo que já fez na carreira, e não só porque é campeão da Libertadores. Alguns técnicos apenas razoáveis também ganharam esse título.
O Atlético-MG e as melhores equipes brasileiras, por causa da economia, têm estruturas profissionais e elencos muito superiores às dos outros times sul-americanos. Já no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que é mais importante, o Brasil está atrás de Peru, Venezuela, Uruguai, Argentina e Chile.
Escrevi, na coluna que não saiu na quarta-feira, que, depois das boas atuações da seleção e da conquista da Copa das Confederações, parece que está tudo ótimo no futebol brasileiro, dentro e fora de campo. A seleção foi um fato isolado.
Os protestos precisam continuar: fora a elitização do futebol, fora a perpetuação de dirigentes no poder, fora o iminente perdão de todas as dívidas dos clubes brasileiros com o governo (em torno de R$ 3 bilhões), fora os mais velhos ditadores, Marin, e os mais jovens, Gallo, treinador das categorias de base da Seleção, como demonstrou na entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". Quis agradar a seu chefe (Marin), que o tinha elogiado, como futuro técnico da seleção após Felipão.
Hoje, no clássico Flamengo e Botafogo, no Maracanã, haverá um irônico e criativo protesto, contra os altos preços dos ingressos. Os homens irão de terno e gravata, e as mulheres, de vestidos longos e saltos altos.
Na coluna que não foi publicada, disse que, depois de assistir a vários jogos de Ganso, todos iguais, cheguei a uma bizarra tese, que pode estar errada, de que ele, tão criticado, tem atuado da mesma forma e com a mesma qualidade da época em que era endeusado.
Antes, como o Santos brilhava e ganhava, seus toques bonitos, precisos e inteligentes se tornaram símbolo do reencontro com os maiores armadores do passado. Hoje, como o São Paulo joga mal e perde, Ganso simboliza o futebol lento, ineficiente e ultrapassado. Os olhares mudam segundo as circunstâncias.
DJALMA SANTOS
Nesta semana, morreu Djalma Santos. Na Copa de 1966, eu tinha 19 anos, e ele, 37. Apresentei-me à seleção em Lambari, Minas Gerais.
Cheguei na hora do jantar e sentei-me à mesa, com Djalma Santos e dois estreantes, como eu.
Ele, com seu conhecido bom humor, nos tratou e a todos os funcionários e garçons do hotel com enorme educação e carinho.
Assim foi durante toda sua vida.
O Brasil e sua globalização involuntária - GUSTAVO FRANCO
ESTADÃO - 28/07
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é de longe a maior das forças promotoras da globalização, pois é o que inclui os países nas redes de produção internacional, de movimentação de fatores de produção e de tecnologia. Os fluxos de IDE para o Brasil subiram de US$ 26 bilhões em 2009 para patamares superiores a US$ 65 bilhões nos anos posteriores a 2011, números que podem dar a impressão de uma vigorosa trajetória de inserção da globalização, ou de aceleração no processo de formação da capital.
Nada mais enganoso: como não temos políticas destinadas a aprofundar nossos vínculos globais - pelo contrário, há tempos praticamos políticas industriais e de comércio exterior nacionalistas ou mesmo interioranas - e a formação bruta de capital permanece estagnada, não há outra explicação para o surto de IDE que não a política monetária dos países desenvolvidos.
Não se trata de questão simples de arbitragem: nunca foi tão atrativo para as empresas multinacionais alavancarem-se para adquirir ativos ou expandir atividades no Brasil e em outras economias emergentes as quais, ainda que problemáticas, exibem melhores perspectivas de crescimento que as economias desenvolvidas. Nossas autoridades deviam mostrar gratidão a Ben Bernanke ao invés exibir da tola malcriação bem resumida pela expressão "guerra cambial" que celebrizou o nosso ministro nos círculos terceiro-mundistas.
É nesse contexto que o Banco Central publica os resultados do quarto censo quinquenal do Capital Estrangeiro no Brasil, feito para o ano-base 2010. Trata-se de extraordinário trabalho de pesquisa, realizado com grande diligência e competência, que nos revela uma surpreendente transformação para os 15 anos posteriores a 1995: um país cosmopolita e internacionalizado e que estaria a requerer políticas públicas adaptadas para esta realidade singular e estranha à ideia de um país continente e ainda hipnotizado com o mito da autossuficiência.
O censo é um questionário destinado a todas as empresas brasileiras que, na data de referência, possuíssem um mínimo de 10% de participação acionária de não residentes no capital votante, ou de 20% sobre o capital total. Obedecido este conceito, o censo de 1995 teve 6.322 respondentes. Eles foram 11.404 em 2000 e 17.605 em 2005, mas em 2010 o número se reduz para 16.844 em razão de uma alteração metodológica com vistas a melhor retirar dessa amostra o chamado investimento em carteira. Dessa maneira, também foi possível determinar com mais precisão o número de empresas receptoras de IDE, considerando as cadeias de controle: exatas 13.858 empresas recebendo US$ 587,2 bilhões em capital e mais US$ 82,8 bilhões em empréstimos intercompanhias, totalizando US$ 670 bilhões, equivalentes a 31% do PIB brasileiro.
Este é o tamanho do capital estrangeiro de natureza empresarial no Brasil, a maior parte do qual chegando depois de 1995, quando o estoque de IDE no Brasil era da ordem de US$ 40 bilhões e o número de empresas recebendo IDE podia ser estimado em cerca de 4.700. Durante os 15 anos seguintes foram cerca de 9 mil novas empresas trazendo US$ 630 bilhões - algo como 2 empresas e US$ 150 milhões a cada dia útil!
Essa invasão de capital estrangeiro produtivo no Brasil não encontra precedente e coloca em questão as definições habituais de abertura e inserção externa, eis que representa um envolvimento muito mais profundo com a economia global do que os diminutos graus de abertura comercial do Brasil poderiam sugerir. Certamente temos aqui um curioso, mas não inusitado paradoxo: a internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE "substitua" comércio, tal como no caso clássico da Europa do pós-guerra. É o nacionalismo, via substituição de importações, que sai pela culatra.
Para o ano de 2010, o leitor terá ouvido que o fluxo de IDE naquele ano alcançou US$ 48,5 bilhões, ou seja, representou uma injeção de capital de aproximadamente R$ 85,3 bilhões em empresas com sede no Brasil. Com esse acréscimo, o conjunto das 13.858 empresas do censo fechou o ano com um patrimônio total de R$ 974 bilhões, dos quais R$ 819 bilhões (84%) de titularidade de não residentes. Essas empresas tinham ativos de R$ 2,4 trilhões e faturamento de R$ 1,6 trilhão, respectivamente 65% e 42% do PIB, e eram responsáveis por 38% das exportações totais do País e 43% das importações em 2010.
Em 2010, as 13.858 empresas do censo empregavam 2,3 milhões de pessoas, representando apenas 2,4% da população ocupada, como tem se observado nos censos anteriores. Com base na relação entre valor bruto da produção e valor adicionado, é possível estimar que o valor adicionado produzido pelas empresas do censo contribua para o PIB brasileiro com cerca de um quarto de seu valor. Parece óbvio, portanto, que existem dramáticas diferenças de produtividade entre essas empresas e o restante do País: para 2010, enquanto um trabalhador de uma das empresas do censo gerava R$ 397 mil de valor adicionado em média, para o restante da população ocupada o número era de R$ 31 mil, ou menos de um décimo.
Contrastes semelhantes se observam no terreno do comércio exterior: enquanto um trabalhador ocupado em uma empresa do censo produzia cerca de US$ 38 mil em exportações, outro em outras empresas brasileiras produzia US$ 2,4 mil em exportações em média. As exportações brasileiras representavam 6,5% do PIB em 1995, subiram a 14,7% em 2005 e caíram a 10,5% em 2010. As empresas do censo exportavam 16% de seu faturamento em 1995, chegaram a 22% em 2005 e caíram a 17% em 2010, porcentuais bem maiores que os observados para outras empresas brasileiras e provavelmente determinantes para o coeficiente de abertura comercial do País.
Os contrastes entre empresas do censo e as outras empresas brasileiras são fáceis de se exagerar, pois seria preciso "descontar" outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas, mesmo com esse benefício concedido à dúvida, é difícil evitar a impressão de que as empresas com conexões relevantes com a economia globalizada têm sido a locomotiva de crescimento e para o comércio exterior do País na primeira década e meia depois do Plano Real, mesmo sem terem sido objeto de nenhuma política pública específica. De muitas maneiras, a globalização é como a internet: as possibilidades são infinitas, sobretudo se as autoridades encaram o assunto com o espírito aberto e sem o cabotinismo ideológico dos últimos anos.
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é de longe a maior das forças promotoras da globalização, pois é o que inclui os países nas redes de produção internacional, de movimentação de fatores de produção e de tecnologia. Os fluxos de IDE para o Brasil subiram de US$ 26 bilhões em 2009 para patamares superiores a US$ 65 bilhões nos anos posteriores a 2011, números que podem dar a impressão de uma vigorosa trajetória de inserção da globalização, ou de aceleração no processo de formação da capital.
Nada mais enganoso: como não temos políticas destinadas a aprofundar nossos vínculos globais - pelo contrário, há tempos praticamos políticas industriais e de comércio exterior nacionalistas ou mesmo interioranas - e a formação bruta de capital permanece estagnada, não há outra explicação para o surto de IDE que não a política monetária dos países desenvolvidos.
Não se trata de questão simples de arbitragem: nunca foi tão atrativo para as empresas multinacionais alavancarem-se para adquirir ativos ou expandir atividades no Brasil e em outras economias emergentes as quais, ainda que problemáticas, exibem melhores perspectivas de crescimento que as economias desenvolvidas. Nossas autoridades deviam mostrar gratidão a Ben Bernanke ao invés exibir da tola malcriação bem resumida pela expressão "guerra cambial" que celebrizou o nosso ministro nos círculos terceiro-mundistas.
É nesse contexto que o Banco Central publica os resultados do quarto censo quinquenal do Capital Estrangeiro no Brasil, feito para o ano-base 2010. Trata-se de extraordinário trabalho de pesquisa, realizado com grande diligência e competência, que nos revela uma surpreendente transformação para os 15 anos posteriores a 1995: um país cosmopolita e internacionalizado e que estaria a requerer políticas públicas adaptadas para esta realidade singular e estranha à ideia de um país continente e ainda hipnotizado com o mito da autossuficiência.
O censo é um questionário destinado a todas as empresas brasileiras que, na data de referência, possuíssem um mínimo de 10% de participação acionária de não residentes no capital votante, ou de 20% sobre o capital total. Obedecido este conceito, o censo de 1995 teve 6.322 respondentes. Eles foram 11.404 em 2000 e 17.605 em 2005, mas em 2010 o número se reduz para 16.844 em razão de uma alteração metodológica com vistas a melhor retirar dessa amostra o chamado investimento em carteira. Dessa maneira, também foi possível determinar com mais precisão o número de empresas receptoras de IDE, considerando as cadeias de controle: exatas 13.858 empresas recebendo US$ 587,2 bilhões em capital e mais US$ 82,8 bilhões em empréstimos intercompanhias, totalizando US$ 670 bilhões, equivalentes a 31% do PIB brasileiro.
Este é o tamanho do capital estrangeiro de natureza empresarial no Brasil, a maior parte do qual chegando depois de 1995, quando o estoque de IDE no Brasil era da ordem de US$ 40 bilhões e o número de empresas recebendo IDE podia ser estimado em cerca de 4.700. Durante os 15 anos seguintes foram cerca de 9 mil novas empresas trazendo US$ 630 bilhões - algo como 2 empresas e US$ 150 milhões a cada dia útil!
Essa invasão de capital estrangeiro produtivo no Brasil não encontra precedente e coloca em questão as definições habituais de abertura e inserção externa, eis que representa um envolvimento muito mais profundo com a economia global do que os diminutos graus de abertura comercial do Brasil poderiam sugerir. Certamente temos aqui um curioso, mas não inusitado paradoxo: a internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE "substitua" comércio, tal como no caso clássico da Europa do pós-guerra. É o nacionalismo, via substituição de importações, que sai pela culatra.
Para o ano de 2010, o leitor terá ouvido que o fluxo de IDE naquele ano alcançou US$ 48,5 bilhões, ou seja, representou uma injeção de capital de aproximadamente R$ 85,3 bilhões em empresas com sede no Brasil. Com esse acréscimo, o conjunto das 13.858 empresas do censo fechou o ano com um patrimônio total de R$ 974 bilhões, dos quais R$ 819 bilhões (84%) de titularidade de não residentes. Essas empresas tinham ativos de R$ 2,4 trilhões e faturamento de R$ 1,6 trilhão, respectivamente 65% e 42% do PIB, e eram responsáveis por 38% das exportações totais do País e 43% das importações em 2010.
Em 2010, as 13.858 empresas do censo empregavam 2,3 milhões de pessoas, representando apenas 2,4% da população ocupada, como tem se observado nos censos anteriores. Com base na relação entre valor bruto da produção e valor adicionado, é possível estimar que o valor adicionado produzido pelas empresas do censo contribua para o PIB brasileiro com cerca de um quarto de seu valor. Parece óbvio, portanto, que existem dramáticas diferenças de produtividade entre essas empresas e o restante do País: para 2010, enquanto um trabalhador de uma das empresas do censo gerava R$ 397 mil de valor adicionado em média, para o restante da população ocupada o número era de R$ 31 mil, ou menos de um décimo.
Contrastes semelhantes se observam no terreno do comércio exterior: enquanto um trabalhador ocupado em uma empresa do censo produzia cerca de US$ 38 mil em exportações, outro em outras empresas brasileiras produzia US$ 2,4 mil em exportações em média. As exportações brasileiras representavam 6,5% do PIB em 1995, subiram a 14,7% em 2005 e caíram a 10,5% em 2010. As empresas do censo exportavam 16% de seu faturamento em 1995, chegaram a 22% em 2005 e caíram a 17% em 2010, porcentuais bem maiores que os observados para outras empresas brasileiras e provavelmente determinantes para o coeficiente de abertura comercial do País.
Os contrastes entre empresas do censo e as outras empresas brasileiras são fáceis de se exagerar, pois seria preciso "descontar" outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas, mesmo com esse benefício concedido à dúvida, é difícil evitar a impressão de que as empresas com conexões relevantes com a economia globalizada têm sido a locomotiva de crescimento e para o comércio exterior do País na primeira década e meia depois do Plano Real, mesmo sem terem sido objeto de nenhuma política pública específica. De muitas maneiras, a globalização é como a internet: as possibilidades são infinitas, sobretudo se as autoridades encaram o assunto com o espírito aberto e sem o cabotinismo ideológico dos últimos anos.
Novas drogas, novos riscos - JAIRO BOUER
O Estado de S.Paulo - 28/07
No último fim de semana uma adolescente de 15 anos morreu em Oxford, no Reino Unido, após ter consumido um comprimido que ela supunha ser ecstasy. No entanto, seus amigos afirmaram que se tratava de PMA (parametoxianfetamina), uma nova droga que tem sido recentemente associada à morte súbita de muitos jovens na Inglaterra.
O PMA é vendido na forma de uma pílula, em geral com um símbolo de coroa ou um "M", de cor rosa. Os efeitos são similares aos do ecstasy (mais energia, sensação de bem-estar, sensibilidade exacerbada aos estímulos externos, taquicardia, aumento de temperatura corporal), mas podem demorar até uma hora para aparecer, o que leva muitas pessoas a tomar uma dose extra, achando que a primeira não fez efeito, com risco muito maior de uma superdosagem.
O PMA é um potente liberador de serotonina (transmissor químico do sistema nervoso central, ligado a sensações de felicidade e bem-estar) e, também, a droga parece inibir as enzimas que degradam esse neurotransmissor, o que leva a uma duração ainda maior dos efeitos da substância.
Esse aumento de serotonina pode causar uma hipertermia (temperatura muito elevada), ainda mais grave se a pessoa usar uma dose muito alta ou misturar drogas diferentes. A hipertermia pode causar falência de órgãos e trazer risco de infarto.
A droga apareceu nos Estados Unidos, nos anos 1970, reapareceu na Austrália na década de 1990 e voltou à Europa, principalmente ao Reino Unido, recentemente. Não se sabe exatamente como nem de onde veio.
No fim de junho, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) divulgou relatório em que já alertava sobre um aumento importante (de quase 50%) das novas substâncias psicoativas (NSP) no mundo, nos últimos dois anos e meio, principalmente na Europa. Segundo o UNODC, o número dessas drogas sintéticas pulou de 166, em 2009, para 251 em 2012, mais do que o número das drogas tradicionais, que já estão sob controle internacional. Na Europa, 75% do consumo está em poucos países, como Reino Unido, França e Alemanha. Em função do aumento das NSPs, o consumo das drogas tradicionais (maconha e cocaína, por exemplo) caiu na Europa e nos EUA.
No Brasil, o relatório do UNODC não detectou um aumento nas NSPs, mas, sim, de cocaína (crack incluído). Mas as NSPs também estão presentes no País, e as apreensões têm detectado diferentes drogas, muitas delas trazidas da Europa, na mala de jovens de classe média, com a presença de diversos contaminantes (substâncias não previstas nem quantificadas), que aumentam os riscos.
Os jovens parecem ter dificuldade em enxergar que esses comprimidos (vendidos com apelidos singelos como "doces" ou "balas") são drogas com riscos potencias à saúde. Muitos são até prescritos como drogas lícitas (calmantes, anestésicos, etc) mas, tomados fora de indicação habitual - ou misturados com álcool -, trazem sensações distintas e efeitos colaterais incomuns nas dosagens habituais.
No momento em que muitos especialistas discutem a falência da política de combate às drogas nas últimas décadas como tentativa de diminuir o tráfico e o consumo das substâncias ilícitas, muita gente no Reino Unido acredita que, se houvesse um controle oficial da qualidade das NSPs, com regulamentação de sua venda, o número de mortes e acidentes com os jovens poderia diminuir.
O jornal inglês The Independent, na semana passada, revelou em um artigo sobre a morte da jovem de Oxford, um site (pillreports.com), desenvolvido não por um especialista - nem por nenhum governo -, mas por um leigo, técnico de teatro na Austrália, que tem se tornado uma espécie de rede de informação global, que tenta identificar pílulas e trazer os potenciais riscos que essas substâncias podem trazer aos usuários. Na Holanda, onde usuários podem levar drogas aos centros de testagem do governo para saber exatamente do que se trata, nenhuma morte por PMA ou outras NSPs foi notificada.
No último fim de semana uma adolescente de 15 anos morreu em Oxford, no Reino Unido, após ter consumido um comprimido que ela supunha ser ecstasy. No entanto, seus amigos afirmaram que se tratava de PMA (parametoxianfetamina), uma nova droga que tem sido recentemente associada à morte súbita de muitos jovens na Inglaterra.
O PMA é vendido na forma de uma pílula, em geral com um símbolo de coroa ou um "M", de cor rosa. Os efeitos são similares aos do ecstasy (mais energia, sensação de bem-estar, sensibilidade exacerbada aos estímulos externos, taquicardia, aumento de temperatura corporal), mas podem demorar até uma hora para aparecer, o que leva muitas pessoas a tomar uma dose extra, achando que a primeira não fez efeito, com risco muito maior de uma superdosagem.
O PMA é um potente liberador de serotonina (transmissor químico do sistema nervoso central, ligado a sensações de felicidade e bem-estar) e, também, a droga parece inibir as enzimas que degradam esse neurotransmissor, o que leva a uma duração ainda maior dos efeitos da substância.
Esse aumento de serotonina pode causar uma hipertermia (temperatura muito elevada), ainda mais grave se a pessoa usar uma dose muito alta ou misturar drogas diferentes. A hipertermia pode causar falência de órgãos e trazer risco de infarto.
A droga apareceu nos Estados Unidos, nos anos 1970, reapareceu na Austrália na década de 1990 e voltou à Europa, principalmente ao Reino Unido, recentemente. Não se sabe exatamente como nem de onde veio.
No fim de junho, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) divulgou relatório em que já alertava sobre um aumento importante (de quase 50%) das novas substâncias psicoativas (NSP) no mundo, nos últimos dois anos e meio, principalmente na Europa. Segundo o UNODC, o número dessas drogas sintéticas pulou de 166, em 2009, para 251 em 2012, mais do que o número das drogas tradicionais, que já estão sob controle internacional. Na Europa, 75% do consumo está em poucos países, como Reino Unido, França e Alemanha. Em função do aumento das NSPs, o consumo das drogas tradicionais (maconha e cocaína, por exemplo) caiu na Europa e nos EUA.
No Brasil, o relatório do UNODC não detectou um aumento nas NSPs, mas, sim, de cocaína (crack incluído). Mas as NSPs também estão presentes no País, e as apreensões têm detectado diferentes drogas, muitas delas trazidas da Europa, na mala de jovens de classe média, com a presença de diversos contaminantes (substâncias não previstas nem quantificadas), que aumentam os riscos.
Os jovens parecem ter dificuldade em enxergar que esses comprimidos (vendidos com apelidos singelos como "doces" ou "balas") são drogas com riscos potencias à saúde. Muitos são até prescritos como drogas lícitas (calmantes, anestésicos, etc) mas, tomados fora de indicação habitual - ou misturados com álcool -, trazem sensações distintas e efeitos colaterais incomuns nas dosagens habituais.
No momento em que muitos especialistas discutem a falência da política de combate às drogas nas últimas décadas como tentativa de diminuir o tráfico e o consumo das substâncias ilícitas, muita gente no Reino Unido acredita que, se houvesse um controle oficial da qualidade das NSPs, com regulamentação de sua venda, o número de mortes e acidentes com os jovens poderia diminuir.
O jornal inglês The Independent, na semana passada, revelou em um artigo sobre a morte da jovem de Oxford, um site (pillreports.com), desenvolvido não por um especialista - nem por nenhum governo -, mas por um leigo, técnico de teatro na Austrália, que tem se tornado uma espécie de rede de informação global, que tenta identificar pílulas e trazer os potenciais riscos que essas substâncias podem trazer aos usuários. Na Holanda, onde usuários podem levar drogas aos centros de testagem do governo para saber exatamente do que se trata, nenhuma morte por PMA ou outras NSPs foi notificada.
Um acordo possível - MARIO VARGAS LLOSA
O Estado de S.Paulo - 28/07
Aplausos para o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que, depois de seis visitas ao Oriente Médio, conseguiu que o governo de Israel e a Autoridade Palestina anunciassem a retomada das conversações de paz, interrompidas há cerca de três anos. Somente a pressão dos Estados Unidos torna possível o restabelecimento do diálogo para o qual as duas partes mostravam-se apáticas e apreensivas. Não sem razão: a última vez que tentaram, em 2010, a negociação durou apenas 16 horas e terminou em total fracasso.
Terão mais sorte desta vez com essa pequena chama que começa a tremeluzir de novo em meio ao vendaval? É o que desejamos ardentemente, por Israel, pela Palestina, pelo Oriente Médio e pelo mundo inteiro, porque, se palestinos e israelenses chegarem a um acordo racional e justo para coexistirem em paz e em colaboração, será resolvido um dos conflitos mais graves e potencialmente capazes de mergulhar grande parte do planeta em uma guerra de proporções cataclísmicas.
No entanto, não vamos nos enganar, os obstáculos para esse acordo são enormes e, até agora, frustraram todas as tentativas para que ele fosse alcançado, embora ambas as partes aceitem, em princípio, a ideia de dois Estados independentes e a criação de um sistema que garanta, de modo inequívoco, a segurança de Israel.
Os problemas começam no momento de estabelecer a natureza e os limites desses Estados soberanos. A Autoridade Palestina reclama para o Estado palestino os territórios que lhes foram outorgados quando da divisão da região pelas Nações Unidas, antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Foi quando Israel ocupou Jerusalém Oriental e boa parte da Cisjordânia, zona hoje literalmente povoada de assentamentos onde vivem - armados até os dentes - mais de 500 mil colonos israelenses, convencidos de que aquelas terras são suas por direito divino e preveem qual será o destino final dela: Eretz Yisrael, a Terra de Israel bíblica, que vai desde o Mediterrâneo até o Jordão. Os colonos não só rejeitam um Estado palestino, mas farão todo o necessário para impedir que ele nasça.
Radicalismo. Equivalente ao movimento radical e intransigente dos colonos, do lado palestino está o Hamas, organização que pratica o terrorismo, não reconhece o direito à existência de Israel, quer lançar os judeus ao mar e, na realidade, tem o controle absoluto da Faixa de Gaza. Além disso, conta com um incerto, mas grande, número de palestinos que vivem sob o governo de Mahmoud Abbas, controlado pelo Fatah, adversário tenaz do Hamas.
Assim como os colonos, que quando querem frear ou impedir as negociações constroem um novo assentamento ilegal e o governo israelense vê-se obrigado a protegê-lo com seu Exército, o Hamas também interfere. O grupo, que sempre viu com hostilidade a possibilidade uma solução pacífica e negociada com Israel, dispara foguetes da Faixa de Gaza contra o território israelense, causando destruição e vítimas em áreas agrícolas, vilarejos e cidades de Israel, o que provoca represálias e envenena o ambiente até ele se tornar irrespirável para qualquer negociação.
Contudo, nada disso deve impedir que, com ou sem fanatismos, chantagens e sabotagens recíprocas, a sensatez e a razão prevaleçam. O que já ocorreu, quando os acordos de Oslo acionaram uma dinâmica de paz que trouxe grandes esperanças entre homens e mulheres, tanto em Israel como nas cidades palestinas. Estive ali em 1993 e a atmosfera era de entusiasmo. É provável que, não fosse o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin, o processo teria prosseguido até se chegar a uma paz definitiva.
Um processo que foi ressuscitado sete anos depois, em 2000 e 2001, por insistência do presidente americano Bill Clinton. Provavelmente, com aquelas conversações, primeiro em Camp David, Washington, depois em Taba, no Egito, foi a ocasião em que mais perto se chegou de formar um acordo sério e sustentável entre os dois adversários.
Israel, sob o governo de Ehud Barak, fez uma oferta que Yasser Arafat (ou sua Organização de Libertação da Palestina, a OLP) cometeu a loucura de rechaçar, pois Israel propôs devolver 95% dos territórios ocupados na margem ocidental do Rio Jordão e, pela primeira, vez aceitou que Jerusalém Oriental fosse a capital do futuro Estado palestino.
A rejeição da oferta, que implicava em concessões muito importantes da parte do governo israelenses, como jamais se verificou no caso de governos anteriores, teve efeitos trágicos. Pior: a opinião pública de Israel, profundamente frustrada, concluiu que tal acordo era simplesmente impossível e Israel não tinha outro caminho senão impor a paz a sua maneira.
Isso explica a ascensão ao poder de Ariel Sharon, com sua tese de que Israel buscaria uma solução à força e, depois, Binyamin Netanyahu e o colapso monumental do movimento pacifista Paz Agora e da esquerda conciliadora de Israel.
Aquele fracasso, além das acusações de corrupção e desgoverno, contribuiu para enfraquecer o Fatah, permitindo o crescimento do Hamas e a popularização do seu discurso extremista contrário a qualquer acordo.
Esse é o impasse que o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, se esforça para eliminar. Israel anunciou, em sinal de boa vontade, que libertará uma centena de presos palestinos, alguns detidos desde antes dos acordos de Oslo, de 1993.
O ministro Yuval Steinitz garantiu que entre os detentos libertados "haverá alguns pesos pesados". Também comunicou que as conversações serão realizadas em Washington, a partir da próxima semana, que a ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni, chefiará a delegação israelense. No caso da Autoridade Palestina, o negociador será Saeb Erekat.
Obstáculo. Um outro grande obstáculo para o acordo é a exigência palestina do "direito de regresso" dos vários milhões de refugiados que, desde a guerra de 1948, precisaram se exilar e viver dispersos pelo mundo, às vezes em campos e em condições miseráveis, como no Líbano. Seu número é incerto, mas oscila entre 3 e 4 milhões de pessoas.
Israel alega que, se reconhecer tal direito, o país deixará de ser um Estado judeu e se converterá num Estado palestino, porque a população palestina superará amplamente a judaica. Afirma também, com razão, que da mesma maneira que os palestinos, centenas de milhares de judeus foram expulsos desde 1948 de Egito, Irã, Iraque, Iêmen, Líbia e de outros países muçulmanos.
Poderíamos continuar enumerando todos os riscos que transformam essa negociação entre palestinos e israelenses num campo minado. Contudo, seria absurdo adotar uma atitude pessimista. Vivemos numa época em que observamos coisas impossíveis se tornarem possíveis, como a transformação pacífica da África do Sul num país multirracial e democrático ou a conversão da China - o mais radical de todos os Estados coletivistas e estatistas do socialismo marxista - no defensor mais exaltado do capitalismo. Em Mianmar, uma típica sátrapa militar subdesenvolvida optou por uma reforma e direcionou-se para o caminho da legalidade e da liberdade. Já não é impossível pensar que Cuba ou que a Coreia do Norte, amanhã ou depois, possam abandonar o anacronismo ideológico que as está destruindo e se resignarem à medíocre democracia.
Se essa nova tentativa fracassar, talvez não haja uma nova oportunidade e continuarão imperando a incerteza e a insegurança que, para os fanáticos de ambos os lados, favorecem suas respectivas teses. Não é assim. Se a ideia de dois Estados não se concretizar, é provável que, num certo momento, no futuro, a região voltará a se incendiar em um conflito armado com milhares de vítimas e enormes danos materiais.
Estão equivocados aqueles que acham que Israel, graças ao seu poderio econômico e militar, é invulnerável e a força garante o seu futuro. Um país não pode viver cercado de inimigos que anseiam por sua destruição e esperam apenas a ocasião para prejudicá-lo. Os fanáticos que acreditam que lançarão os judeus ao mar estão cegos. O máximo que podem aspirar é provocar um novo holocausto do qual serão eles as primeiras vítimas.
Em um excelente artigo em que faz uma revisão de todos os desafios a serem enfrentados por palestinos e israelenses nas negociações que serão retomadas - e confessa seu próprio pessimismo -, Roger Cohen, no New York Times do dia 23 de julho, escreveu: "Meu coração sangra. E, contudo, não posso deixar de ouvir o que deve estar murmurando Nelson Mandela em seu leito de hospital: 'Provem-me que estou equivocado, covardes, decidam de uma vez por todas se ganhar uma discussão é mais importante do que salvar a vida de uma criança.''/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.
Aplausos para o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que, depois de seis visitas ao Oriente Médio, conseguiu que o governo de Israel e a Autoridade Palestina anunciassem a retomada das conversações de paz, interrompidas há cerca de três anos. Somente a pressão dos Estados Unidos torna possível o restabelecimento do diálogo para o qual as duas partes mostravam-se apáticas e apreensivas. Não sem razão: a última vez que tentaram, em 2010, a negociação durou apenas 16 horas e terminou em total fracasso.
Terão mais sorte desta vez com essa pequena chama que começa a tremeluzir de novo em meio ao vendaval? É o que desejamos ardentemente, por Israel, pela Palestina, pelo Oriente Médio e pelo mundo inteiro, porque, se palestinos e israelenses chegarem a um acordo racional e justo para coexistirem em paz e em colaboração, será resolvido um dos conflitos mais graves e potencialmente capazes de mergulhar grande parte do planeta em uma guerra de proporções cataclísmicas.
No entanto, não vamos nos enganar, os obstáculos para esse acordo são enormes e, até agora, frustraram todas as tentativas para que ele fosse alcançado, embora ambas as partes aceitem, em princípio, a ideia de dois Estados independentes e a criação de um sistema que garanta, de modo inequívoco, a segurança de Israel.
Os problemas começam no momento de estabelecer a natureza e os limites desses Estados soberanos. A Autoridade Palestina reclama para o Estado palestino os territórios que lhes foram outorgados quando da divisão da região pelas Nações Unidas, antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Foi quando Israel ocupou Jerusalém Oriental e boa parte da Cisjordânia, zona hoje literalmente povoada de assentamentos onde vivem - armados até os dentes - mais de 500 mil colonos israelenses, convencidos de que aquelas terras são suas por direito divino e preveem qual será o destino final dela: Eretz Yisrael, a Terra de Israel bíblica, que vai desde o Mediterrâneo até o Jordão. Os colonos não só rejeitam um Estado palestino, mas farão todo o necessário para impedir que ele nasça.
Radicalismo. Equivalente ao movimento radical e intransigente dos colonos, do lado palestino está o Hamas, organização que pratica o terrorismo, não reconhece o direito à existência de Israel, quer lançar os judeus ao mar e, na realidade, tem o controle absoluto da Faixa de Gaza. Além disso, conta com um incerto, mas grande, número de palestinos que vivem sob o governo de Mahmoud Abbas, controlado pelo Fatah, adversário tenaz do Hamas.
Assim como os colonos, que quando querem frear ou impedir as negociações constroem um novo assentamento ilegal e o governo israelense vê-se obrigado a protegê-lo com seu Exército, o Hamas também interfere. O grupo, que sempre viu com hostilidade a possibilidade uma solução pacífica e negociada com Israel, dispara foguetes da Faixa de Gaza contra o território israelense, causando destruição e vítimas em áreas agrícolas, vilarejos e cidades de Israel, o que provoca represálias e envenena o ambiente até ele se tornar irrespirável para qualquer negociação.
Contudo, nada disso deve impedir que, com ou sem fanatismos, chantagens e sabotagens recíprocas, a sensatez e a razão prevaleçam. O que já ocorreu, quando os acordos de Oslo acionaram uma dinâmica de paz que trouxe grandes esperanças entre homens e mulheres, tanto em Israel como nas cidades palestinas. Estive ali em 1993 e a atmosfera era de entusiasmo. É provável que, não fosse o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin, o processo teria prosseguido até se chegar a uma paz definitiva.
Um processo que foi ressuscitado sete anos depois, em 2000 e 2001, por insistência do presidente americano Bill Clinton. Provavelmente, com aquelas conversações, primeiro em Camp David, Washington, depois em Taba, no Egito, foi a ocasião em que mais perto se chegou de formar um acordo sério e sustentável entre os dois adversários.
Israel, sob o governo de Ehud Barak, fez uma oferta que Yasser Arafat (ou sua Organização de Libertação da Palestina, a OLP) cometeu a loucura de rechaçar, pois Israel propôs devolver 95% dos territórios ocupados na margem ocidental do Rio Jordão e, pela primeira, vez aceitou que Jerusalém Oriental fosse a capital do futuro Estado palestino.
A rejeição da oferta, que implicava em concessões muito importantes da parte do governo israelenses, como jamais se verificou no caso de governos anteriores, teve efeitos trágicos. Pior: a opinião pública de Israel, profundamente frustrada, concluiu que tal acordo era simplesmente impossível e Israel não tinha outro caminho senão impor a paz a sua maneira.
Isso explica a ascensão ao poder de Ariel Sharon, com sua tese de que Israel buscaria uma solução à força e, depois, Binyamin Netanyahu e o colapso monumental do movimento pacifista Paz Agora e da esquerda conciliadora de Israel.
Aquele fracasso, além das acusações de corrupção e desgoverno, contribuiu para enfraquecer o Fatah, permitindo o crescimento do Hamas e a popularização do seu discurso extremista contrário a qualquer acordo.
Esse é o impasse que o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, se esforça para eliminar. Israel anunciou, em sinal de boa vontade, que libertará uma centena de presos palestinos, alguns detidos desde antes dos acordos de Oslo, de 1993.
O ministro Yuval Steinitz garantiu que entre os detentos libertados "haverá alguns pesos pesados". Também comunicou que as conversações serão realizadas em Washington, a partir da próxima semana, que a ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni, chefiará a delegação israelense. No caso da Autoridade Palestina, o negociador será Saeb Erekat.
Obstáculo. Um outro grande obstáculo para o acordo é a exigência palestina do "direito de regresso" dos vários milhões de refugiados que, desde a guerra de 1948, precisaram se exilar e viver dispersos pelo mundo, às vezes em campos e em condições miseráveis, como no Líbano. Seu número é incerto, mas oscila entre 3 e 4 milhões de pessoas.
Israel alega que, se reconhecer tal direito, o país deixará de ser um Estado judeu e se converterá num Estado palestino, porque a população palestina superará amplamente a judaica. Afirma também, com razão, que da mesma maneira que os palestinos, centenas de milhares de judeus foram expulsos desde 1948 de Egito, Irã, Iraque, Iêmen, Líbia e de outros países muçulmanos.
Poderíamos continuar enumerando todos os riscos que transformam essa negociação entre palestinos e israelenses num campo minado. Contudo, seria absurdo adotar uma atitude pessimista. Vivemos numa época em que observamos coisas impossíveis se tornarem possíveis, como a transformação pacífica da África do Sul num país multirracial e democrático ou a conversão da China - o mais radical de todos os Estados coletivistas e estatistas do socialismo marxista - no defensor mais exaltado do capitalismo. Em Mianmar, uma típica sátrapa militar subdesenvolvida optou por uma reforma e direcionou-se para o caminho da legalidade e da liberdade. Já não é impossível pensar que Cuba ou que a Coreia do Norte, amanhã ou depois, possam abandonar o anacronismo ideológico que as está destruindo e se resignarem à medíocre democracia.
Se essa nova tentativa fracassar, talvez não haja uma nova oportunidade e continuarão imperando a incerteza e a insegurança que, para os fanáticos de ambos os lados, favorecem suas respectivas teses. Não é assim. Se a ideia de dois Estados não se concretizar, é provável que, num certo momento, no futuro, a região voltará a se incendiar em um conflito armado com milhares de vítimas e enormes danos materiais.
Estão equivocados aqueles que acham que Israel, graças ao seu poderio econômico e militar, é invulnerável e a força garante o seu futuro. Um país não pode viver cercado de inimigos que anseiam por sua destruição e esperam apenas a ocasião para prejudicá-lo. Os fanáticos que acreditam que lançarão os judeus ao mar estão cegos. O máximo que podem aspirar é provocar um novo holocausto do qual serão eles as primeiras vítimas.
Em um excelente artigo em que faz uma revisão de todos os desafios a serem enfrentados por palestinos e israelenses nas negociações que serão retomadas - e confessa seu próprio pessimismo -, Roger Cohen, no New York Times do dia 23 de julho, escreveu: "Meu coração sangra. E, contudo, não posso deixar de ouvir o que deve estar murmurando Nelson Mandela em seu leito de hospital: 'Provem-me que estou equivocado, covardes, decidam de uma vez por todas se ganhar uma discussão é mais importante do que salvar a vida de uma criança.''/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.
A Guanabara perdeu as Olimpíadas! - DORA HEES DE NEGREIROS
O GLOBO - 28/07
Perdemos a oportunidade de aproveitar as olimpíadas para limpar a nossa Baía. Sejamos honestos e em vez de investir em camuflagens na foz dos rios, como redes de coleta de lixo e Unidades de Tratamento de Rios - as UTRs -, vamos aplicar o dinheiro em soluções para limpar as suas águas, impedindo que nelas cheguem as toneladas de lixo e de esgoto que continuam espalhados por aí.
A Baía de Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de uma área dez vezes maior do que ela e onde moram cerca de dez milhões de pessoas. Algumas estão em condomínios de luxo e grande parte em aglomerados de casebres onde às vezes, pasmem, nem vaso sanitário existe. Faltam redes de coleta de esgotos e coleta de lixo. Tratamento dos esgotos então, só para uma minoria. Tudo é levado pelos rios e acaba na pobre Baía de Guanabara, que espelha as mazelas do seu entorno.
Agora querem rapidamente, em nome das Olimpíadas, limpar o espelho, camuflar, esconder a imagem que ele reflete. Colocar na foz dos rios redes de contenção de resíduos e gastar milhões em Unidades de Tratamento de Rios, em vez de limpá-los desde as nascentes, tirar deles o lixo e os esgotos, tratando e melhorando as condições de saúde e de vida da população.
As redes de contenção e as UTRs vão, sim, trazer algum beneficio ao espelho d´água da Baía de Guanabara. Mas só ao espelho e só para inglês ver . A população continua na mesma. Pior, vai pagar pelo custo operacional das UTRs, que é três vezes maior do que o de uma estação convencional de esgotos. Em comparação, UTRs produzem muito mais lodo, que é indesejável lixo de qualquer estação de tratamento de esgoto. Também utilizam muitos produtos químicos que, além de caros, podem prejudicar a vida aquática que ainda persiste na Baía de Guanabara.
Não vamos jogar dinheiro no ralo. Vamos usá-lo para melhorar as condições de saneamento e de vida da população, coletando o lixo e tirando os pés das nossas crianças do esgoto.
Nossos visitantes, atletas e torcedores vão nos respeitar pela seriedade da escolha que, embora mais demorada e ao contrário da opção atual, será ambiental, social e economicamente sustentável.
A Baía de Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavar o chão de uma área dez vezes maior do que ela e onde moram cerca de dez milhões de pessoas. Algumas estão em condomínios de luxo e grande parte em aglomerados de casebres onde às vezes, pasmem, nem vaso sanitário existe. Faltam redes de coleta de esgotos e coleta de lixo. Tratamento dos esgotos então, só para uma minoria. Tudo é levado pelos rios e acaba na pobre Baía de Guanabara, que espelha as mazelas do seu entorno.
Agora querem rapidamente, em nome das Olimpíadas, limpar o espelho, camuflar, esconder a imagem que ele reflete. Colocar na foz dos rios redes de contenção de resíduos e gastar milhões em Unidades de Tratamento de Rios, em vez de limpá-los desde as nascentes, tirar deles o lixo e os esgotos, tratando e melhorando as condições de saúde e de vida da população.
As redes de contenção e as UTRs vão, sim, trazer algum beneficio ao espelho d´água da Baía de Guanabara. Mas só ao espelho e só para inglês ver . A população continua na mesma. Pior, vai pagar pelo custo operacional das UTRs, que é três vezes maior do que o de uma estação convencional de esgotos. Em comparação, UTRs produzem muito mais lodo, que é indesejável lixo de qualquer estação de tratamento de esgoto. Também utilizam muitos produtos químicos que, além de caros, podem prejudicar a vida aquática que ainda persiste na Baía de Guanabara.
Não vamos jogar dinheiro no ralo. Vamos usá-lo para melhorar as condições de saneamento e de vida da população, coletando o lixo e tirando os pés das nossas crianças do esgoto.
Nossos visitantes, atletas e torcedores vão nos respeitar pela seriedade da escolha que, embora mais demorada e ao contrário da opção atual, será ambiental, social e economicamente sustentável.
Populismo tarifário: até tu, Brutus? - CLAUDIO J. D. SALES
ESTADÃO - 28/07
A postura populista em relação à conta de luz e o uso político de estatais são práticas antigas que vêm destruindo o setor elétrico há tempos. Não há surpresa até aqui, principalmente se analisarmos quais são os grupos de pressão econômica e política que têm demagógica e sorrateiramente se beneficiado dessas artimanhas. Mas surpreendeu a todos a postura do governador paranaense, eleito com apoio de um partido que investiu muito esforço para corrigir as várias distorções que penalizaram o setor elétrico brasileiro por décadas: no dia 20 de junho, o chefe do Poder Executivo do Paraná pediu "para a Copel segurar para ver exatamente o que é isso". Deveria saber, pois as regras de reajuste já existem há anos e são muito transparentes.
Os reajustes anuais aplicados a todas as 63 concessionárias de distribuição brasileiras são tecnicamente calculados pela Aneel e seguem uma regra clara: para a parcela da tarifa destinada aos custos específicos da distribuidora o reajuste tem por base a inflação dos últimos 12 meses, diminuída de um fator que transfere para os consumidores os ganhos de produtividade obtidos pelas concessionárias. Já os custos que não são gerenciáveis pelas distribuidoras - custos de geração e transmissão de energia, além dos pesadíssimos tributos e encargos, dos quais o maior é o ICMS estadual são repassados anualmente com base nos custos efetivamente observados.
No caso da Copel, apenas 6 dos 14 pontos porcentuais de reajuste anunciados pela Aneel (menos que a inflação) destinam-se à distribuidora, a maior parte do reajuste - 8 pontos porcentuais - decorre principalmente da elevação do custo de compra de energia.
É preciso ficar claro que a Copel não pertence ao governador. Ela é uma empresa de capital aberto, listada na Bolsa de Valores, com obrigações a cumprir não apenas para com seus acionistas majoritários. Além deles, há os acionistas minoritários, os fornecedores, os financiadores e o próprio Fisco estadual. Em relação a este último compromisso, registre-se que em 2012 o Paraná arrecadou mais de R$ 2,4 bilhões de ICMS sobre a energia elétrica, o que corresponde a 13,6% do total de ICMS arrecadado no Estado.
É oportuno lembrar à Nação que em 1993 o cenário de total colapso econômico-financeiro do setor elétrico por causa de um represamento artificial de tarifas levou ao sucateamento do setor e requereu uma injeção de US$ 23 bilhões do Tesouro Nacional. A partir de então foram estabelecidas tarifas realistas e esperava-se que a dura lição tivesse sido aprendida.
Mas no próprio Paraná as mazelas do populismo tarifário são recentes: o ex-governador Requião, durante seus oito anos de mandato, submeteu a Copel a um represamento tarifário para fins eleitorais que extirparam R$ 5 bilhões em receitas da empresa. Este episódio está detalhadamente explicado no Caso n.º 6 do White Paper Gestão Estatal (Parte 2): Governança Corporativa, disponível em www.acendebrasil.com.br/estudos.
No final, decidiu-se por parcelar o aumento: 9,55% agora e o restante no reajuste do ano que vem. A decisão preserva o valor econômico para a empresa, mas já houve estragos. O investidor vai exigir um retorno maior para investir na estatal para compensar a percepção de risco político mais elevado. Resultado: o custo de captação da Copel, assim como de outras concessionárias, irá aumentar.
Se o governador realmente deseja reduzir a tarifa, deveria reduzir a tributação de ICMS sobre energia elétrica e usar os dividendos do governo derivados dos resultados da Copel para reduzir a conta de luz. Essas medidas reduziriam a tarifa de energia sem prejudicar a sustentabilidade da Copel. Mas não o faça com o chapéu alheio: a Copel, que tem sua tarifa integralmente regulada, precisa cumprir com obrigações crescentes de nível de qualidade de serviço e, para tanto, executar investimentos milionários cuja única fonte de receita é a conta de luz.
A postura populista em relação à conta de luz e o uso político de estatais são práticas antigas que vêm destruindo o setor elétrico há tempos. Não há surpresa até aqui, principalmente se analisarmos quais são os grupos de pressão econômica e política que têm demagógica e sorrateiramente se beneficiado dessas artimanhas. Mas surpreendeu a todos a postura do governador paranaense, eleito com apoio de um partido que investiu muito esforço para corrigir as várias distorções que penalizaram o setor elétrico brasileiro por décadas: no dia 20 de junho, o chefe do Poder Executivo do Paraná pediu "para a Copel segurar para ver exatamente o que é isso". Deveria saber, pois as regras de reajuste já existem há anos e são muito transparentes.
Os reajustes anuais aplicados a todas as 63 concessionárias de distribuição brasileiras são tecnicamente calculados pela Aneel e seguem uma regra clara: para a parcela da tarifa destinada aos custos específicos da distribuidora o reajuste tem por base a inflação dos últimos 12 meses, diminuída de um fator que transfere para os consumidores os ganhos de produtividade obtidos pelas concessionárias. Já os custos que não são gerenciáveis pelas distribuidoras - custos de geração e transmissão de energia, além dos pesadíssimos tributos e encargos, dos quais o maior é o ICMS estadual são repassados anualmente com base nos custos efetivamente observados.
No caso da Copel, apenas 6 dos 14 pontos porcentuais de reajuste anunciados pela Aneel (menos que a inflação) destinam-se à distribuidora, a maior parte do reajuste - 8 pontos porcentuais - decorre principalmente da elevação do custo de compra de energia.
É preciso ficar claro que a Copel não pertence ao governador. Ela é uma empresa de capital aberto, listada na Bolsa de Valores, com obrigações a cumprir não apenas para com seus acionistas majoritários. Além deles, há os acionistas minoritários, os fornecedores, os financiadores e o próprio Fisco estadual. Em relação a este último compromisso, registre-se que em 2012 o Paraná arrecadou mais de R$ 2,4 bilhões de ICMS sobre a energia elétrica, o que corresponde a 13,6% do total de ICMS arrecadado no Estado.
É oportuno lembrar à Nação que em 1993 o cenário de total colapso econômico-financeiro do setor elétrico por causa de um represamento artificial de tarifas levou ao sucateamento do setor e requereu uma injeção de US$ 23 bilhões do Tesouro Nacional. A partir de então foram estabelecidas tarifas realistas e esperava-se que a dura lição tivesse sido aprendida.
Mas no próprio Paraná as mazelas do populismo tarifário são recentes: o ex-governador Requião, durante seus oito anos de mandato, submeteu a Copel a um represamento tarifário para fins eleitorais que extirparam R$ 5 bilhões em receitas da empresa. Este episódio está detalhadamente explicado no Caso n.º 6 do White Paper Gestão Estatal (Parte 2): Governança Corporativa, disponível em www.acendebrasil.com.br/estudos.
No final, decidiu-se por parcelar o aumento: 9,55% agora e o restante no reajuste do ano que vem. A decisão preserva o valor econômico para a empresa, mas já houve estragos. O investidor vai exigir um retorno maior para investir na estatal para compensar a percepção de risco político mais elevado. Resultado: o custo de captação da Copel, assim como de outras concessionárias, irá aumentar.
Se o governador realmente deseja reduzir a tarifa, deveria reduzir a tributação de ICMS sobre energia elétrica e usar os dividendos do governo derivados dos resultados da Copel para reduzir a conta de luz. Essas medidas reduziriam a tarifa de energia sem prejudicar a sustentabilidade da Copel. Mas não o faça com o chapéu alheio: a Copel, que tem sua tarifa integralmente regulada, precisa cumprir com obrigações crescentes de nível de qualidade de serviço e, para tanto, executar investimentos milionários cuja única fonte de receita é a conta de luz.
Igualmente abençoados - e invisíveis - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 28/07
A comunidade LGBT também quer integrar uma igreja que o papa admite precisar "armar confusão"
Apresento seis jovens invisíveis entre os milhares que vieram participar da Jornada Mundial da Juventude. Chamam-se Delfin Bautista, Amelia Blanton, Lauren Carpenter, Ellen Euclide, Megan Graves e Sara Kelley.
Fazem parte do coletivo batizado "Igualmente Abençoados" e estão no Rio para "despertar a consciência a respeito dos temas de gênero e sexualidade na vida dos católicos e, ao mesmo tempo, desafiar os ensinamentos danosos e as práticas pastorais que desumanizam, em vez de celebrar a bênção que são lésbicas, gays, bissexuais e transexuais para a igreja e para o mundo".
A dificuldade que a igreja tem para lidar com a temática LGBT fica outra vez evidente no fato de que a pequena tropa do "Igualmente Abençoados" ficou invisível na JMJ, apesar de o carnaval midiático ter apresentado nos últimos dias uma coleção de personagens.
Descobri o grupo apenas graças ao National Catholic Reporter, publicação especializada em Igreja Católica, dirigida por John Allen Jr., vaticanista que esta Folha eventualmente usa para análises sobre sua especialização.
O coletivo escolheu um nome perfeito. Não parece razoável que mesmo o mais refratário a LGBTs negue que eles são "igualmente abençoados" por Deus. Indiretamente, até Francisco o admitiu ao usar trecho do Evangelho de João, na sua alocução na Comunidade da Varginha, para dizer que Jesus Cristo veio "para que todos tenham vida, e vida em abundância".
Todos são todos, independentemente da orientação sexual. E o que os "Igualmente Abençoados" pedem é precisamente viver a sua vida, da forma que escolheram, dentro da Igreja Católica, e não como marginais maltratados e dela expulsos.
Sei que os conformistas dirão que o papa não vai mudar posições rígidas tradicionalmente adotadas pelo Vaticano. Acredito até que não vá mesmo.
Mas deveria ser coerente com a sua própria palavra, sempre na Varginha: "A realidade pode mudar, o homem pode mudar", afirmou.
Além disso, o pontífice foi "absolutamente direto e intrinsecamente provocador", para um dos grandes do jornalismo argentino, Gustavo Sierra ("Clarín"), em sua mensagem aos jovens argentinos com os quais se reuniu na quinta-feira.
É uma interpretação de fato cabível para o trecho em que o papa diz: "Quero que saiam à rua a armar confusão (lío, em castelhano), quero confusão nas dioceses, quero que a igreja saia à rua, que a igreja abandone a mundanidade, a comodidade e o clericalismo, que deixemos de estar encerrados em nós mesmos."
Uma igreja que vá à rua fatalmente encontrará os "igualmente abençoados", encontrará mulheres que querem um papel menos marginal nas atividades da igreja, para não falar dos pobres aos quais Jorge Mario Bergoglio se refere sempre, desde os tempos de Buenos Aires.
Visitá-los nas "villas miseria", as favelas portenhas, não mudou um ápice a situação de indigência desse outro tipo de invisíveis.
É preciso, pois, "armar confusão", uma baita confusão para que "todos tenham vida, e vida em abundância".
A comunidade LGBT também quer integrar uma igreja que o papa admite precisar "armar confusão"
Apresento seis jovens invisíveis entre os milhares que vieram participar da Jornada Mundial da Juventude. Chamam-se Delfin Bautista, Amelia Blanton, Lauren Carpenter, Ellen Euclide, Megan Graves e Sara Kelley.
Fazem parte do coletivo batizado "Igualmente Abençoados" e estão no Rio para "despertar a consciência a respeito dos temas de gênero e sexualidade na vida dos católicos e, ao mesmo tempo, desafiar os ensinamentos danosos e as práticas pastorais que desumanizam, em vez de celebrar a bênção que são lésbicas, gays, bissexuais e transexuais para a igreja e para o mundo".
A dificuldade que a igreja tem para lidar com a temática LGBT fica outra vez evidente no fato de que a pequena tropa do "Igualmente Abençoados" ficou invisível na JMJ, apesar de o carnaval midiático ter apresentado nos últimos dias uma coleção de personagens.
Descobri o grupo apenas graças ao National Catholic Reporter, publicação especializada em Igreja Católica, dirigida por John Allen Jr., vaticanista que esta Folha eventualmente usa para análises sobre sua especialização.
O coletivo escolheu um nome perfeito. Não parece razoável que mesmo o mais refratário a LGBTs negue que eles são "igualmente abençoados" por Deus. Indiretamente, até Francisco o admitiu ao usar trecho do Evangelho de João, na sua alocução na Comunidade da Varginha, para dizer que Jesus Cristo veio "para que todos tenham vida, e vida em abundância".
Todos são todos, independentemente da orientação sexual. E o que os "Igualmente Abençoados" pedem é precisamente viver a sua vida, da forma que escolheram, dentro da Igreja Católica, e não como marginais maltratados e dela expulsos.
Sei que os conformistas dirão que o papa não vai mudar posições rígidas tradicionalmente adotadas pelo Vaticano. Acredito até que não vá mesmo.
Mas deveria ser coerente com a sua própria palavra, sempre na Varginha: "A realidade pode mudar, o homem pode mudar", afirmou.
Além disso, o pontífice foi "absolutamente direto e intrinsecamente provocador", para um dos grandes do jornalismo argentino, Gustavo Sierra ("Clarín"), em sua mensagem aos jovens argentinos com os quais se reuniu na quinta-feira.
É uma interpretação de fato cabível para o trecho em que o papa diz: "Quero que saiam à rua a armar confusão (lío, em castelhano), quero confusão nas dioceses, quero que a igreja saia à rua, que a igreja abandone a mundanidade, a comodidade e o clericalismo, que deixemos de estar encerrados em nós mesmos."
Uma igreja que vá à rua fatalmente encontrará os "igualmente abençoados", encontrará mulheres que querem um papel menos marginal nas atividades da igreja, para não falar dos pobres aos quais Jorge Mario Bergoglio se refere sempre, desde os tempos de Buenos Aires.
Visitá-los nas "villas miseria", as favelas portenhas, não mudou um ápice a situação de indigência desse outro tipo de invisíveis.
É preciso, pois, "armar confusão", uma baita confusão para que "todos tenham vida, e vida em abundância".
Fantasia carioca - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 28/07
A História está coalhada de hierarcas que abraçaram guerras para ampliar domínios, conquistar mais poder ou multiplicar as posses. Ultimamente, porém, guerras têm rendido mais problemas do que dividendos. Em compensação, surgiram os grandes eventos para turbinar biografias.
Dependendo do gabarito e das intenções do político, abraçar um grande evento é quase irresistível.
Tome-se como exemplo de uma dessas extravagâncias modernas a realização dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia. De quem partiu a ideia megalomaníaca de moldar uma região que tem o clima mais quente do país, e o resort de verão mais popular da nação, como sede de Jogos de Inverno? De Vladimir Putin, atual presidente e dono do poder na Rússia pós-soviética desde 1999.
Para Putin, trata-se de um projeto de triunfo pessoal, não importa o tamanho do custo ou as consequências para seus súditos. Quando os Jogos forem abertos em fevereiro de 2014, com transmissão televisiva para o mundo inteiro, ele sorverá um momento de vitória único. Contudo, segundo um relatório recém-publicado com versão em inglês na internet ("Olimpíada de Inverno no subtrópico: corrupção e abuso em Sochi", de Boris Nemtsov), o custo inicial de US$ 12 bilhões já beira os US$ 50 bilhões. O autor estima que as previsíveis adversidades topográficas e climáticas, além da pesada corrupção envolvendo as obras, são responsáveis pelo atraso em cerca de 200 projetos. "Mas no dia 7 de fevereiro tudo estará pronto para a abertura. Só que ao término dos Jogos as coisas começarão a se desintegrar", prevê Nemtsov.
Outro caso com motivações semelhantes é o da candidatura vitoriosa do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022. Noves fora a denúncia de compra de votos para obter a indicação, a dinastia dos al-Thani, que reina nessa monarquia absoluta fincada no Golfo Pérsico desde meados de 1800, quis abocanhar a Copa como parte de um projeto de expansão mundial.
Só que o Qatar, fisicamente, é um deserto humano. Sua população é equivalente à dos peregrinos e curiosos que há seis dias se maravilham com o Papa em Copacabana. E tem temperaturas médias de 40 a 45 graus no verão - o que, para a realização de jogos de futebol, é aberração pura.
Mas o Qatar é rico - tem a maior renda per capital do mundo (US$ 100 mil ao ano), graças ao petróleo e ao gás natural que parecem brotar por toda parte. Além de ricos, os al-Thani são ambiciosos, tecnologicamente audaciosos e imperiais: o clima/ar desértico impede a prática do esporte? Muda-se o clima. A solução projetada é a construção de estádios inteiramente refrigerados ou com ventilação capaz de manter a temperatura abaixo dos 29 graus. Ou alterar o calendário da Copa de 2022 para dezembro, quando a temperatura baixa para médias amenas.
Se tudo correr bem, a insistência dos emires do Qatar em sediar uma Copa do Mundo lhes trará o que ainda não têm: um tipo de exposição mundial que nem o conglomerado de mídia al-Jazeera nem o fenomenal Museu de História Islâmica e ainda menos a base militar americana em seu território conseguiram dar ao país. Se tudo correr mal, protestos não haverá por serem proibidos.
Mesmo em escala menor, a sedução de reger um grande evento pode ser inebriante. A ilusão de ela dar certo também.
Esta semana, a perplexidade estampada nos rostos do prefeito do Rio, Eduardo Paes, do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e do governador, Sérgio Cabral, ao tentarem explicar o colapso dos serviços públicos na Jornada da Juventude dizia tudo.
Enquanto 1,2 milhão de cordatos peregrinos tentavam adivinhar como funcionava a cidade, o secretário estadual dos Transportes, Julio Lopes, autoridade máxima da pasta do caos, prometia instalar "até 2014" um moderníssimo sistema de sensores capaz de monitorar o movimento nos trens, metrô e barcas. Na véspera ocorrera a primeira falência múltipla de fluxo e filas e desinformação que se repetiria nos dias seguintes.
Falou-se em "falhas", "acidente de percurso". Foi pedida colaboração, paciência e entendimento de que 1,2 milhão de pessoas não podem ser escoadas simultaneamente. Uma forma mais simples de explicar o colapso é que o Rio de Janeiro não tem metrô. Isto é, não dispõe de uma malha de linhas adequada que sirva de meio de transporte principal para a maioria de sua população, e atenda todos os bairros. Por conseguinte, tampouco tem metrô para receber um grande evento com as características da Jornada, que abriga peregrinos em regiões menos favorecidas do município. Imaginar um plano de contingência baseado nos ciclotímicos ônibus cariocas, sem quiosques de informação ou sinalizações adequadas, foi arrogante e desrespeitoso.
Seria um erro as autoridades acharem que a Jornada foi um sucesso como grande evento, exceto por algumas falhas inevitáveis. Sucesso de verdade foram apenas Francisco, o Papa pop, tão carismático quanto político, e a contagiante juventude mundial que enfeitou o Rio. Ambos cativaram a cidade e deixarão suas marcas.
Foi o Rio das políticas públicas que não estava pronto para receber um Papa como Francisco e um evento como a Jornada. Falando em nome dos moradores da Favela de Varginha, que o Papa teimou em visitar, o jovem Rangler Irineu fez um relato do lugar. "Desde que foi anunciado que o senhor viria, nos deparamos com um vaivém de pessoas asfaltando, limpando, cuidando das calçadas, com as caçambas de lixo bem distribuídas, tudo que não fazia parte do cotidiano dos moradores passou a acontecer. Espero que possamos continuar dessa forma", contou.
A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos não passarão nem perto de Varginha, portanto o empenho talvez diminua.
Mas todo grande evento passa pelos aeroportos Santos Dumont e Galeão, pesadelo frequente para usuários rotineiros. Começa hoje o grande êxodo dos peregrinos vindos de fora e este será um teste de grande valia. Como se viu em terra, eles têm uma paciência infinita para enfrentar apagões de serviços públicos com bonomia e cantorias. A tolerância dos torcedores da Copa ou de turistas vindos para as Olimpíadas dificilmente será tão angelical.
Dependendo do gabarito e das intenções do político, abraçar um grande evento é quase irresistível.
Tome-se como exemplo de uma dessas extravagâncias modernas a realização dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia. De quem partiu a ideia megalomaníaca de moldar uma região que tem o clima mais quente do país, e o resort de verão mais popular da nação, como sede de Jogos de Inverno? De Vladimir Putin, atual presidente e dono do poder na Rússia pós-soviética desde 1999.
Para Putin, trata-se de um projeto de triunfo pessoal, não importa o tamanho do custo ou as consequências para seus súditos. Quando os Jogos forem abertos em fevereiro de 2014, com transmissão televisiva para o mundo inteiro, ele sorverá um momento de vitória único. Contudo, segundo um relatório recém-publicado com versão em inglês na internet ("Olimpíada de Inverno no subtrópico: corrupção e abuso em Sochi", de Boris Nemtsov), o custo inicial de US$ 12 bilhões já beira os US$ 50 bilhões. O autor estima que as previsíveis adversidades topográficas e climáticas, além da pesada corrupção envolvendo as obras, são responsáveis pelo atraso em cerca de 200 projetos. "Mas no dia 7 de fevereiro tudo estará pronto para a abertura. Só que ao término dos Jogos as coisas começarão a se desintegrar", prevê Nemtsov.
Outro caso com motivações semelhantes é o da candidatura vitoriosa do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022. Noves fora a denúncia de compra de votos para obter a indicação, a dinastia dos al-Thani, que reina nessa monarquia absoluta fincada no Golfo Pérsico desde meados de 1800, quis abocanhar a Copa como parte de um projeto de expansão mundial.
Só que o Qatar, fisicamente, é um deserto humano. Sua população é equivalente à dos peregrinos e curiosos que há seis dias se maravilham com o Papa em Copacabana. E tem temperaturas médias de 40 a 45 graus no verão - o que, para a realização de jogos de futebol, é aberração pura.
Mas o Qatar é rico - tem a maior renda per capital do mundo (US$ 100 mil ao ano), graças ao petróleo e ao gás natural que parecem brotar por toda parte. Além de ricos, os al-Thani são ambiciosos, tecnologicamente audaciosos e imperiais: o clima/ar desértico impede a prática do esporte? Muda-se o clima. A solução projetada é a construção de estádios inteiramente refrigerados ou com ventilação capaz de manter a temperatura abaixo dos 29 graus. Ou alterar o calendário da Copa de 2022 para dezembro, quando a temperatura baixa para médias amenas.
Se tudo correr bem, a insistência dos emires do Qatar em sediar uma Copa do Mundo lhes trará o que ainda não têm: um tipo de exposição mundial que nem o conglomerado de mídia al-Jazeera nem o fenomenal Museu de História Islâmica e ainda menos a base militar americana em seu território conseguiram dar ao país. Se tudo correr mal, protestos não haverá por serem proibidos.
Mesmo em escala menor, a sedução de reger um grande evento pode ser inebriante. A ilusão de ela dar certo também.
Esta semana, a perplexidade estampada nos rostos do prefeito do Rio, Eduardo Paes, do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e do governador, Sérgio Cabral, ao tentarem explicar o colapso dos serviços públicos na Jornada da Juventude dizia tudo.
Enquanto 1,2 milhão de cordatos peregrinos tentavam adivinhar como funcionava a cidade, o secretário estadual dos Transportes, Julio Lopes, autoridade máxima da pasta do caos, prometia instalar "até 2014" um moderníssimo sistema de sensores capaz de monitorar o movimento nos trens, metrô e barcas. Na véspera ocorrera a primeira falência múltipla de fluxo e filas e desinformação que se repetiria nos dias seguintes.
Falou-se em "falhas", "acidente de percurso". Foi pedida colaboração, paciência e entendimento de que 1,2 milhão de pessoas não podem ser escoadas simultaneamente. Uma forma mais simples de explicar o colapso é que o Rio de Janeiro não tem metrô. Isto é, não dispõe de uma malha de linhas adequada que sirva de meio de transporte principal para a maioria de sua população, e atenda todos os bairros. Por conseguinte, tampouco tem metrô para receber um grande evento com as características da Jornada, que abriga peregrinos em regiões menos favorecidas do município. Imaginar um plano de contingência baseado nos ciclotímicos ônibus cariocas, sem quiosques de informação ou sinalizações adequadas, foi arrogante e desrespeitoso.
Seria um erro as autoridades acharem que a Jornada foi um sucesso como grande evento, exceto por algumas falhas inevitáveis. Sucesso de verdade foram apenas Francisco, o Papa pop, tão carismático quanto político, e a contagiante juventude mundial que enfeitou o Rio. Ambos cativaram a cidade e deixarão suas marcas.
Foi o Rio das políticas públicas que não estava pronto para receber um Papa como Francisco e um evento como a Jornada. Falando em nome dos moradores da Favela de Varginha, que o Papa teimou em visitar, o jovem Rangler Irineu fez um relato do lugar. "Desde que foi anunciado que o senhor viria, nos deparamos com um vaivém de pessoas asfaltando, limpando, cuidando das calçadas, com as caçambas de lixo bem distribuídas, tudo que não fazia parte do cotidiano dos moradores passou a acontecer. Espero que possamos continuar dessa forma", contou.
A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos não passarão nem perto de Varginha, portanto o empenho talvez diminua.
Mas todo grande evento passa pelos aeroportos Santos Dumont e Galeão, pesadelo frequente para usuários rotineiros. Começa hoje o grande êxodo dos peregrinos vindos de fora e este será um teste de grande valia. Como se viu em terra, eles têm uma paciência infinita para enfrentar apagões de serviços públicos com bonomia e cantorias. A tolerância dos torcedores da Copa ou de turistas vindos para as Olimpíadas dificilmente será tão angelical.
A CPMF da Dilma - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 28/07
Empresários se surpreenderam com o veto de Dilma Rousseff à extinção da multa de 10% do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) paga por empresas em caso de demissões sem justa causa. Segundo relatos, a presidente chegou a prometer a um empresário que não o faria. Para assegurar o dinheiro, que em parte é destinado ao Minha Casa Minha Vida, o Planalto dirá que o prejuízo anual de R$ 3 bilhões teria impacto comparável ao gerado pelo fim da CPMF no governo Lula.
Lá...
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), disse que vai apresentar proposta de lei complementar ao projeto vetado. Ele sugere que os 10% da multa do FGTS fiquem para o trabalhador, em poupança para ser usada na aposentadoria.
... e cá
Gleisi Hoffmann (Casa Civil) defende que os recursos sejam aplicados exclusivamente no programa habitacional. "Trata-se de um um programa estruturado com o apoio do Congresso'', diz a ministra. Este será o discurso do governo à base para tentar manter o veto.
Rosário
A presidente convocou para amanhã uma reunião com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) a fim de fazer um balanço do desempenho do governo federal no reforço à segurança durante a visita do papa Francisco ao Brasil.
Muita calma...
Durante as discussões sobre o primeiro leilão do pré-sal, Arno Augustin (Tesouro) defendeu que a taxa a ser paga por investidores para participar da concorrência fosse superior a R$ 15 bilhões. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) defendia R$ 10 bilhões e a Fazenda, os R$ 15 bi arbitrados.
...nessa hora
A ideia do secretário do Tesouro era reforçar o caixa da União. Mas a proposta foi descartada, segundo interlocutores da área econômica, após argumentos de que o leilão, previsto para outubro, ficaria caro demais e desestimularia a participação de muitas empresas.
Cedo demais
A avaliação de integrantes do governo é que Aloizio Mercadante (Educação) se precipitou ao anunciar que o governo admite rever os dois anos extras nos cursos de medicina previstos no Mais Médicos.
Ao contrário
Desde as conversas que antecederam o lançamento do programa, assessores de várias pastas haviam combinado que ceder neste ponto deveria ser apenas a última carta de negociação com o Congresso e junto às entidades do setor.
Franciscano 1
Conselheiros que ajudam na construção da candidatura de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Rio querem apresentá-lo como um político humilde. O objetivo é dissociá-lo de Sérgio Cabral, desgastado após viagens a Paris e voos de helicóptero.
Franciscano 2
A cartilha de Pezão prevê que o vice-governador se desloque prioritariamente de carro e amplie sua participação em eventos em favelas e comunidades do interior do Estado.
Petit...
Geraldo Alckmin (PSDB) marcou uma solenidade discreta para marcar o envio à Assembleia Legislativa de um projeto que modifica a Lei Orgânica da Procuradoria-Geral do Estado e divide a categoria. Apenas os procuradores que apoiam o texto foram convidados.
... comitê
Procuradores do Estado reclamam que seriam obrigados a defender agentes públicos, mesmo em processos por improbidade e corrupção. Alckmin manteve o dispositivo e diz que as divergências devem ser debatidas na Assembleia.
Reação
A associação dos procuradores vai questionar o projeto e estuda entrar com um mandado de segurança.
Tiroteio
Os números das últimas pesquisas mostram a Dilma o que ela mais temia: a queda de sua avaliação começou e o chão não é o limite.
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre os índices que mostrou a popularidade de Dilma aos níveis de Lula no auge do mensalão.
Contraponto
De estilingue a vidraça
Em reunião com prefeitos do norte de Minas Gerais para estimular a adesão ao programa Mais Médicos, há duas semanas, um grupo de médicos e residentes vaiava a apresentação de Alexandre Padilha (Saúde).
O ministro identificou um representante do CRM-MG, Itagiba de Castro Filho, a quem deu o microfone.
No palco, o médico começou a ser vaiado também, só que, desta vez, pelos prefeitos da região.
No fim do evento, o pediatra e professor universitário comentou em reservado, para o ministro:
-É... Vaia no ouvido dos outros é serenata...
Empresários se surpreenderam com o veto de Dilma Rousseff à extinção da multa de 10% do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) paga por empresas em caso de demissões sem justa causa. Segundo relatos, a presidente chegou a prometer a um empresário que não o faria. Para assegurar o dinheiro, que em parte é destinado ao Minha Casa Minha Vida, o Planalto dirá que o prejuízo anual de R$ 3 bilhões teria impacto comparável ao gerado pelo fim da CPMF no governo Lula.
Lá...
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), disse que vai apresentar proposta de lei complementar ao projeto vetado. Ele sugere que os 10% da multa do FGTS fiquem para o trabalhador, em poupança para ser usada na aposentadoria.
... e cá
Gleisi Hoffmann (Casa Civil) defende que os recursos sejam aplicados exclusivamente no programa habitacional. "Trata-se de um um programa estruturado com o apoio do Congresso'', diz a ministra. Este será o discurso do governo à base para tentar manter o veto.
Rosário
A presidente convocou para amanhã uma reunião com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) a fim de fazer um balanço do desempenho do governo federal no reforço à segurança durante a visita do papa Francisco ao Brasil.
Muita calma...
Durante as discussões sobre o primeiro leilão do pré-sal, Arno Augustin (Tesouro) defendeu que a taxa a ser paga por investidores para participar da concorrência fosse superior a R$ 15 bilhões. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) defendia R$ 10 bilhões e a Fazenda, os R$ 15 bi arbitrados.
...nessa hora
A ideia do secretário do Tesouro era reforçar o caixa da União. Mas a proposta foi descartada, segundo interlocutores da área econômica, após argumentos de que o leilão, previsto para outubro, ficaria caro demais e desestimularia a participação de muitas empresas.
Cedo demais
A avaliação de integrantes do governo é que Aloizio Mercadante (Educação) se precipitou ao anunciar que o governo admite rever os dois anos extras nos cursos de medicina previstos no Mais Médicos.
Ao contrário
Desde as conversas que antecederam o lançamento do programa, assessores de várias pastas haviam combinado que ceder neste ponto deveria ser apenas a última carta de negociação com o Congresso e junto às entidades do setor.
Franciscano 1
Conselheiros que ajudam na construção da candidatura de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Rio querem apresentá-lo como um político humilde. O objetivo é dissociá-lo de Sérgio Cabral, desgastado após viagens a Paris e voos de helicóptero.
Franciscano 2
A cartilha de Pezão prevê que o vice-governador se desloque prioritariamente de carro e amplie sua participação em eventos em favelas e comunidades do interior do Estado.
Petit...
Geraldo Alckmin (PSDB) marcou uma solenidade discreta para marcar o envio à Assembleia Legislativa de um projeto que modifica a Lei Orgânica da Procuradoria-Geral do Estado e divide a categoria. Apenas os procuradores que apoiam o texto foram convidados.
... comitê
Procuradores do Estado reclamam que seriam obrigados a defender agentes públicos, mesmo em processos por improbidade e corrupção. Alckmin manteve o dispositivo e diz que as divergências devem ser debatidas na Assembleia.
Reação
A associação dos procuradores vai questionar o projeto e estuda entrar com um mandado de segurança.
Tiroteio
Os números das últimas pesquisas mostram a Dilma o que ela mais temia: a queda de sua avaliação começou e o chão não é o limite.
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre os índices que mostrou a popularidade de Dilma aos níveis de Lula no auge do mensalão.
Contraponto
De estilingue a vidraça
Em reunião com prefeitos do norte de Minas Gerais para estimular a adesão ao programa Mais Médicos, há duas semanas, um grupo de médicos e residentes vaiava a apresentação de Alexandre Padilha (Saúde).
O ministro identificou um representante do CRM-MG, Itagiba de Castro Filho, a quem deu o microfone.
No palco, o médico começou a ser vaiado também, só que, desta vez, pelos prefeitos da região.
No fim do evento, o pediatra e professor universitário comentou em reservado, para o ministro:
-É... Vaia no ouvido dos outros é serenata...
De mãos abanando - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/07
Os fundos de pensão de trabalhadores das empresas estatais que investiram em ações da MDX e da CCX, de Eike Batista, estão sendo investigados pela Superintendência de Previdência Complementar. O caso mais grave é o do Postalis, dos funcionários dos Correios. O tombo do plano, não apenas com o caso Eike, é de R$ 985 milhões. Os trabalhadores tiveram de voltar a contribuir.
Caça às bruxas
O caso Eike Batista acordou os sindicatos que representam os funcionários dos Correios. Eles dormiam em berço esplêndido até descobrirem que o fundo de pensão Postalis apostou em investimentos duvidosos. Os dirigentes sindicais querem agora "gestão democrática, transparente e competente". Reivindicam "melhor qualificação de diretores e gestores do Postalis" e que estes sejam escolhidos "sem indicações políticas, como tem sido sistematicamente feito". E cobram dos Correios “instalar uma comissão de auditoria paritária para avaliar as causas do prejuízo de R$ 985 milhões e encontrar os responsáveis na atual direção e nas passadas".
“Se nós e o governo Dilma não formos capazes de romper o cerco contra o PT, será real o perigo de definhamento do projeto iniciado pelo presidente Lula"Rui Falcão
Deputado estadual (SP), candidato à reeleição para a presidência do PT
A moda pegou
O governo do Uruguai comprou no Brasil um sistema de escutas que permite vigiar simultaneamente 800 celulares e 200 telefones fixos, além de fazer o monitoramento de redes sociais, contas de email e blogs.
Lição de vida
Especialistas dizem,que o governador Sérgio Cabral (RJ) é o exemplo vivo de por que os governantes devem residir nos palácios oficiais. Ao decidir morar em sua casa particular, no Leblon, e diante dos protestos destes dias, Cabral colocou a todos os seus vizinhos, e não apenas o chefe do governo, em situação de insegurança.
Volta à realidade
Peemedebistas avaliaram como “muito duro” o índice de rejeição do governador Sérgio Cabral na pesquisa CNI/Ibope. Dizem que a volta à normalidade no Rio vai definir o que sobrou após o vendaval e se ele tem poder de recuperação.
Tucanou
Os petistas andam incomodados com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Acham que ele está se aproximando muito do modo tucano de governar. Haddad acabou de transformar o Teatro Municipal de São Paulo em uma Organização Social, as famosas OS dos governos do PSDB e implantadas nos museus paulistas nas gestões tucanas.
Dor de cabeça
Os governadores, inclusive bem avaliados, receberam um recado na pesquisa Ibope. Os entrevistados deixaram claro que querem pagar menos impostos e que o tributo considerado mais alto é o ICMS, receita dos estados.
Resposta da população
A despeito da polêmica e da reação corporativa, o governo Dilma parece estar ganhando a guerra em torno do programa "Mais Médicos". Na pesquisa Ibope, "melhorar os serviços de saúde", para 58%, é prioridade do governo.
O crescimento de Tasso Jereissati nas pesquisas ao Senado, pode levar o PSB do governador Cid Gomes (CE) a romper com o PMDB
Os fundos de pensão de trabalhadores das empresas estatais que investiram em ações da MDX e da CCX, de Eike Batista, estão sendo investigados pela Superintendência de Previdência Complementar. O caso mais grave é o do Postalis, dos funcionários dos Correios. O tombo do plano, não apenas com o caso Eike, é de R$ 985 milhões. Os trabalhadores tiveram de voltar a contribuir.
Caça às bruxas
O caso Eike Batista acordou os sindicatos que representam os funcionários dos Correios. Eles dormiam em berço esplêndido até descobrirem que o fundo de pensão Postalis apostou em investimentos duvidosos. Os dirigentes sindicais querem agora "gestão democrática, transparente e competente". Reivindicam "melhor qualificação de diretores e gestores do Postalis" e que estes sejam escolhidos "sem indicações políticas, como tem sido sistematicamente feito". E cobram dos Correios “instalar uma comissão de auditoria paritária para avaliar as causas do prejuízo de R$ 985 milhões e encontrar os responsáveis na atual direção e nas passadas".
“Se nós e o governo Dilma não formos capazes de romper o cerco contra o PT, será real o perigo de definhamento do projeto iniciado pelo presidente Lula"Rui Falcão
Deputado estadual (SP), candidato à reeleição para a presidência do PT
A moda pegou
O governo do Uruguai comprou no Brasil um sistema de escutas que permite vigiar simultaneamente 800 celulares e 200 telefones fixos, além de fazer o monitoramento de redes sociais, contas de email e blogs.
Lição de vida
Especialistas dizem,que o governador Sérgio Cabral (RJ) é o exemplo vivo de por que os governantes devem residir nos palácios oficiais. Ao decidir morar em sua casa particular, no Leblon, e diante dos protestos destes dias, Cabral colocou a todos os seus vizinhos, e não apenas o chefe do governo, em situação de insegurança.
Volta à realidade
Peemedebistas avaliaram como “muito duro” o índice de rejeição do governador Sérgio Cabral na pesquisa CNI/Ibope. Dizem que a volta à normalidade no Rio vai definir o que sobrou após o vendaval e se ele tem poder de recuperação.
Tucanou
Os petistas andam incomodados com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Acham que ele está se aproximando muito do modo tucano de governar. Haddad acabou de transformar o Teatro Municipal de São Paulo em uma Organização Social, as famosas OS dos governos do PSDB e implantadas nos museus paulistas nas gestões tucanas.
Dor de cabeça
Os governadores, inclusive bem avaliados, receberam um recado na pesquisa Ibope. Os entrevistados deixaram claro que querem pagar menos impostos e que o tributo considerado mais alto é o ICMS, receita dos estados.
Resposta da população
A despeito da polêmica e da reação corporativa, o governo Dilma parece estar ganhando a guerra em torno do programa "Mais Médicos". Na pesquisa Ibope, "melhorar os serviços de saúde", para 58%, é prioridade do governo.
O crescimento de Tasso Jereissati nas pesquisas ao Senado, pode levar o PSB do governador Cid Gomes (CE) a romper com o PMDB