- A má-fé do terror oficial - RUTH DE AQUINO
- Danos morais - ANCELMO GOIS
- São todos mulheres de César - JORGE BASTOS MORENO ...
- 40 horas depois - RUY CASTRO
- Uma jornada de encontros - CACÁ DIEGUES
- Ueba! Papa é simPAPAticíssimo! - JOSÉ SIMÃO
- Como deixamos vazar informações privadas - FERNAND...
- Fascismo em nome de Deus - DRAUZIO VARELLA
- Injustiça no tempo da justiça - WALTER CENEVIVA
- Dilma não pode ser melhor que seu governo - ROLF KUNTZ
- O isolamento argentino - JOSÉ FRANCISCO PAES LANDI...
- Muito a melhorar - CELSO MING
- Os erros da semana - MÍRIAM LEITÃO
- A lógica política do crescimento chinês - MARCOS CARAMURU
- Algazarra do bem - ZUENIR VENTURA
- PARIS EM CHAMAS - MÔNICA BERGAMO
- Jornadas de junho, fiascos de julho - ALBERTO DINES
- À deriva - MÁRCIA ROSA DE ARAUJO
- Fechado para balanço - ILIMAR FRANCO
- Injeção de ânimo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
- Mudar o rumo - CRISTOVAM BUARQUE
- Um herói na UTI - KÁTIA ABREU
- Os democratas e as minorias - MARCO AURÉLIO NOGUEI...
- A máquina petista de Dilma - MERVAL PEREIRA
- Despreparo escancarado - HÉLIO SCHWARTSMAN
- A ineficiência nos gastos educacionais - JOÃO BATISTA...
- Inconveniência - RENATO ANDRADE
- O Lula de sempre - EDITORIAL O ESTADÃO
- JMJ: imagem do improviso brasileiro - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
- Sem região de conforto - EDITORIAL ZERO HORA
- Santa falha - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Reforma da previdência será inevitável - EDITORIAL O GLOBO
- COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
- SÁBADO NOS JORNAIS
sábado, julho 27, 2013
ÍNDICE DAS COLUNAS PUBLICADAS HOJE NO BLOG
A má-fé do terror oficial - RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
A lambança na JMJ só se compara à má-fé das versões oficiais dos protestos contra Cabral
O papa Francisco bota fé nos jovens. E você? Bota fé na PM e no governo do Rio de Janeiro? O grau de lambança na logística da Jornada Mundial da Juventude só se equipara à má-fé das versões oficiais sobre os protestos contra a corrupção e Sérgio Cabral. Faltou “inteligência” na repressão fardada e infiltrada. Uma repressão seletiva, que fere manifestantes e jornalistas, mas deixa rolar depredações e saques com total impunidade – como aconteceu naquela madrugada no Leblon, até hoje mal explicada. Quem engoliu a história do “pacto com a OAB” para não reprimir crimes comuns contra lojas e patrimônio público?
PMs sem identificação e policiais à paisana – os P2, fantasiados de manifestantes, identificados com uma pulseirinha preta – criaram no Rio um clima de intimidação física e psicológica. Há relatos de sequestro-relâmpago, ameaças de morte, armação de flagrantes, acusações montadas de formação de quadrilha. Há detenções arbitrárias “para averiguação”. Um clima que, como diz Cabral, “afronta o Estado democrático de direito”. Também afronta a democracia o decreto inconstitucional de Cabral exigindo, “em 24 horas”, das operadoras de telefone e provedores de internet, dados telefônicos e informações sobre suspeitos. Ele refraseou o decreto, mas a OAB continua a tachá-lo de ilegal. É essa “a agenda positiva” de Cabral para eleger seu vice Pezão? Cabral teve a pior avaliação entre 11 governadores, segundo o Ibope. Só 19% o apoiam hoje.
O episódio com Bruno Ferreira Teles, manifestante preso “por porte de artefato” perto do Palácio Guanabara, revelou o festival de contradições da PM. Vídeos e fotos no Facebookforam essenciais. Em liberdade condicional por habeas corpus, Bruno provavelmente ainda estaria preso se não fossem essas imagens. O procurador Eduardo Lima Neto, presidente da comissão criada pelo governo para investigar vandalismo, o denunciou por “tentativa de homicídio”.
O que mostram os vídeos e fotos? Bruno com casaco e óculos de proteção, sem mochila e sem máscara, na linha de frente da manifestação contra Cabral, junto à grade, gritando. Subitamente, um coquetel molotov é lançado por trás dele. Um policial à paisana, com camiseta e mochila pretas, tenta prender Bruno. Bruno dá uma “voadora” no P2. PMs perseguem Bruno e atiram. Ele cai desacordado. Um PM dá um choque no rapaz com a pistola Taser. Alguém o refreia: “Ele já está no chão!”. Bruno é arrastado pela rua por policiais. Recobra a consciência e é algemado. Policiais mostram o colete metálico que ele usava – como “prova de vandalismo”. Um PM grita: “Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov”. Bruno nega. “Ele é preso de quem?”, pergunta um oficial. “Do P2”, responde o PM. Na delegacia, o subcomandante da PM acusa Bruno formalmente de ter jogado o artefato. Ele é autuado em flagrante na presença de representantes do Ministério Público e passa a madrugada na cadeia.
Nas redes sociais, acusa-se um P2 de ter lançado o coquetel molotov. Não há prova. A PM diz ser “uma hipótese absurda imaginar que um policial possa cometer um ato bárbaro contra um companheiro de farda”. O assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, o cientista político Mauricio Santoro, enxerga sinais de que policiais à paisana desestabilizem passeatas para justificar a reação da PM. Isso é muito perigoso. Já vimos esse filme antes e ele não acaba bem, não é, presidente Dilma?
A geógrafa Carla Hirt, de 28 anos, foi presa, agredida, ferida com bala de borracha e acusada de formação de quadrilha com mais seis rapazes que não se conhecem. Pagou R$ 700 de fiança “para não ser levada para (o presídio de) Bangu”. O videógrafo Rafucko foi preso e algemado – e diz que o PM encheu sua camiseta com pedras portuguesas para montar uma acusação, rejeitada pela delegada. O sociólogo Paulo Baía foi vítima de sequestro-relâmpago por encapuzados armados, quando saía para caminhar no Aterro do Flamengo. “Disseram pra eu não dar mais nenhuma entrevista falando da PM.” O estudante Rodrigo D’Olivera Graça, de 19 anos, diz ter sido colocado por quatro encapuzados “no banco de trás de um Sandeiro branco” e ameaçado caso não saísse das ruas. Aconselho a comissão de Cabral a investigar todas as denúncias graves relacionadas aos protestos, se estiver preocupada com direitos humanos.
Cinegrafistas e jornalistas passaram a ser alvos de PMs no Rio. Câmeras foram quebradas. Um policial prendeu “para averiguação” Filipe Peçanha, do Mídia Ninja, que transmite as manifestações por internet. Outro PM deu golpe de cassetete na cabeça do fotógrafo Yasuyoshi Chiba, da AFP. A versão da PM era: “Atingido por coquetel molotov lançado por manifestante”. É condenável divulgar como “verdades” os releases da PM sem investigar antes. Não bote fé.
A lambança na JMJ só se compara à má-fé das versões oficiais dos protestos contra Cabral
O papa Francisco bota fé nos jovens. E você? Bota fé na PM e no governo do Rio de Janeiro? O grau de lambança na logística da Jornada Mundial da Juventude só se equipara à má-fé das versões oficiais sobre os protestos contra a corrupção e Sérgio Cabral. Faltou “inteligência” na repressão fardada e infiltrada. Uma repressão seletiva, que fere manifestantes e jornalistas, mas deixa rolar depredações e saques com total impunidade – como aconteceu naquela madrugada no Leblon, até hoje mal explicada. Quem engoliu a história do “pacto com a OAB” para não reprimir crimes comuns contra lojas e patrimônio público?
PMs sem identificação e policiais à paisana – os P2, fantasiados de manifestantes, identificados com uma pulseirinha preta – criaram no Rio um clima de intimidação física e psicológica. Há relatos de sequestro-relâmpago, ameaças de morte, armação de flagrantes, acusações montadas de formação de quadrilha. Há detenções arbitrárias “para averiguação”. Um clima que, como diz Cabral, “afronta o Estado democrático de direito”. Também afronta a democracia o decreto inconstitucional de Cabral exigindo, “em 24 horas”, das operadoras de telefone e provedores de internet, dados telefônicos e informações sobre suspeitos. Ele refraseou o decreto, mas a OAB continua a tachá-lo de ilegal. É essa “a agenda positiva” de Cabral para eleger seu vice Pezão? Cabral teve a pior avaliação entre 11 governadores, segundo o Ibope. Só 19% o apoiam hoje.
O episódio com Bruno Ferreira Teles, manifestante preso “por porte de artefato” perto do Palácio Guanabara, revelou o festival de contradições da PM. Vídeos e fotos no Facebookforam essenciais. Em liberdade condicional por habeas corpus, Bruno provavelmente ainda estaria preso se não fossem essas imagens. O procurador Eduardo Lima Neto, presidente da comissão criada pelo governo para investigar vandalismo, o denunciou por “tentativa de homicídio”.
O que mostram os vídeos e fotos? Bruno com casaco e óculos de proteção, sem mochila e sem máscara, na linha de frente da manifestação contra Cabral, junto à grade, gritando. Subitamente, um coquetel molotov é lançado por trás dele. Um policial à paisana, com camiseta e mochila pretas, tenta prender Bruno. Bruno dá uma “voadora” no P2. PMs perseguem Bruno e atiram. Ele cai desacordado. Um PM dá um choque no rapaz com a pistola Taser. Alguém o refreia: “Ele já está no chão!”. Bruno é arrastado pela rua por policiais. Recobra a consciência e é algemado. Policiais mostram o colete metálico que ele usava – como “prova de vandalismo”. Um PM grita: “Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov”. Bruno nega. “Ele é preso de quem?”, pergunta um oficial. “Do P2”, responde o PM. Na delegacia, o subcomandante da PM acusa Bruno formalmente de ter jogado o artefato. Ele é autuado em flagrante na presença de representantes do Ministério Público e passa a madrugada na cadeia.
Nas redes sociais, acusa-se um P2 de ter lançado o coquetel molotov. Não há prova. A PM diz ser “uma hipótese absurda imaginar que um policial possa cometer um ato bárbaro contra um companheiro de farda”. O assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, o cientista político Mauricio Santoro, enxerga sinais de que policiais à paisana desestabilizem passeatas para justificar a reação da PM. Isso é muito perigoso. Já vimos esse filme antes e ele não acaba bem, não é, presidente Dilma?
A geógrafa Carla Hirt, de 28 anos, foi presa, agredida, ferida com bala de borracha e acusada de formação de quadrilha com mais seis rapazes que não se conhecem. Pagou R$ 700 de fiança “para não ser levada para (o presídio de) Bangu”. O videógrafo Rafucko foi preso e algemado – e diz que o PM encheu sua camiseta com pedras portuguesas para montar uma acusação, rejeitada pela delegada. O sociólogo Paulo Baía foi vítima de sequestro-relâmpago por encapuzados armados, quando saía para caminhar no Aterro do Flamengo. “Disseram pra eu não dar mais nenhuma entrevista falando da PM.” O estudante Rodrigo D’Olivera Graça, de 19 anos, diz ter sido colocado por quatro encapuzados “no banco de trás de um Sandeiro branco” e ameaçado caso não saísse das ruas. Aconselho a comissão de Cabral a investigar todas as denúncias graves relacionadas aos protestos, se estiver preocupada com direitos humanos.
Cinegrafistas e jornalistas passaram a ser alvos de PMs no Rio. Câmeras foram quebradas. Um policial prendeu “para averiguação” Filipe Peçanha, do Mídia Ninja, que transmite as manifestações por internet. Outro PM deu golpe de cassetete na cabeça do fotógrafo Yasuyoshi Chiba, da AFP. A versão da PM era: “Atingido por coquetel molotov lançado por manifestante”. É condenável divulgar como “verdades” os releases da PM sem investigar antes. Não bote fé.
Danos morais - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 27/07
Bruno Ferreira Telles, de 25 anos, o jovem preso acusado de jogar um coquetel molotov contra policiais numa manifestação em Laranjeiras, vai processar o governo do Rio.
Um vídeo, em poder da Polícia Civil, desmentiu esta versão da PM. O advogado Miguel Dehon fará um pedido de indenização por danos morais e psíquicos.
Los hermanos
Veja como o dinheiro do turista brasileiro mexe com o comércio em Buenos Aires.
Quinta, um dia depois de o Atlético Mineiro vencer a Libertadores, a lojinha oficial do Boca Juniors vendia chaveiros da taça da competição com a bandeira do clube mineiro.
O gigante despertou
José Serra foi submetido a um cateterismo na quarta, no dia em que completava 50 anos de sua eleição para presidente da UNE, no Congresso realizado em Santo André (SP).
O vice na chapa era o advogado Marcelo Cerqueira.
Foi também em 1963 que a UNE lançou o disco “O povo canta” com a “Canção do subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis.
Um trechinho...
“Mas um dia o gigante despertou/Deixou de ser gigante adormecido/E dele um anão se levantou/Era um país subdesenvolvido.” De lá pra cá... deixa pra lá.
No mais
Ninguém pode alegar surpresa com as chuvas que desabaram durante a Jornada Mundial da Juventude.
Até esses programas de previsão do tempo que se carrega no celular, como o Weather Channel, previam, há duas semanas, que choveria terça, quarta e quinta no Rio.
Calma, gente!
Peregrinos que participam da Jornada Mundial da Juventude receberam, cruzes!, um pequeno feto de plástico na Praia de Copacabana. Foi distribuído junto com um minipanfleto com a hashtag #EscolhaVida. É uma forma de alertar os participantes contra a legalização do aborto no país. A iniciativa foi da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família.
Moacir Santos
O instrumentista e compositor Moacir Santos, falecido em 2006, aos 80 anos, ganhará um festival dedicado exclusivamente à sua obra. Criado pela flautista Andrea Ernest Dias, o festival será realizado nos dias 2 e 3 de agosto, em Recife, com atrações do Brasil e dos EUA.
Axé e negócios
Cláudia Leitte, a cantora, investe pesado no seu lado de empresária. Em agosto, ela vai ajudar a trazer para o Brasil o zumba, um programa de exercícios que surgiu na Colômbia. Ele mistura ritmos numa coreografia eletrizante. Promete derreter gorduras por todos os lados do corpo.
Melhor assim
A empresa que administra o bondinho do Pão de Açúcar, notificada pelo Procon-RJ por não aceitar cobrar meia-entrada, voltou atrás. Desde ontem, cobra metade do valor do ingresso para estudantes, idosos e menores de 21 anos. A promoção foi estendida também aos estrangeiros. Basta mostrar o passaporte.
A saga de Moreno
Dia 5 agora, chega às livrarias, pela Rocco, o livro “A história de Mora”, de Jorge BastosMoreno. O livro do querido coleguinha é um desdobramento da série que ele publicou no GLOBO sobre a saga de Ulysses Guimarães, um dos maiores políticos brasileiros de todos os tempos.
Retratos da vida
Adriano Imperador almoçava ontem com um amigo no Pobre Juan, do Village Mall, shopping chique da Barra. Sem clube desde 2012, garantiu que tem proposta de dois grandes times.
Moda infantil
Depois de 40 anos de estrada, a Richards lança em outubro sua primeira coleção de moda infantil feminina.
Terá tamanhos entre 2 e 12 anos.
Para concluir
Nesta altura do campeonato, o Papa virou local em Copacabana. Figurinha fácil no bairro. Com todo o respeito.
Um vídeo, em poder da Polícia Civil, desmentiu esta versão da PM. O advogado Miguel Dehon fará um pedido de indenização por danos morais e psíquicos.
Los hermanos
Veja como o dinheiro do turista brasileiro mexe com o comércio em Buenos Aires.
Quinta, um dia depois de o Atlético Mineiro vencer a Libertadores, a lojinha oficial do Boca Juniors vendia chaveiros da taça da competição com a bandeira do clube mineiro.
O gigante despertou
José Serra foi submetido a um cateterismo na quarta, no dia em que completava 50 anos de sua eleição para presidente da UNE, no Congresso realizado em Santo André (SP).
O vice na chapa era o advogado Marcelo Cerqueira.
Foi também em 1963 que a UNE lançou o disco “O povo canta” com a “Canção do subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis.
Um trechinho...
“Mas um dia o gigante despertou/Deixou de ser gigante adormecido/E dele um anão se levantou/Era um país subdesenvolvido.” De lá pra cá... deixa pra lá.
No mais
Ninguém pode alegar surpresa com as chuvas que desabaram durante a Jornada Mundial da Juventude.
Até esses programas de previsão do tempo que se carrega no celular, como o Weather Channel, previam, há duas semanas, que choveria terça, quarta e quinta no Rio.
Calma, gente!
Peregrinos que participam da Jornada Mundial da Juventude receberam, cruzes!, um pequeno feto de plástico na Praia de Copacabana. Foi distribuído junto com um minipanfleto com a hashtag #EscolhaVida. É uma forma de alertar os participantes contra a legalização do aborto no país. A iniciativa foi da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família.
Moacir Santos
O instrumentista e compositor Moacir Santos, falecido em 2006, aos 80 anos, ganhará um festival dedicado exclusivamente à sua obra. Criado pela flautista Andrea Ernest Dias, o festival será realizado nos dias 2 e 3 de agosto, em Recife, com atrações do Brasil e dos EUA.
Axé e negócios
Cláudia Leitte, a cantora, investe pesado no seu lado de empresária. Em agosto, ela vai ajudar a trazer para o Brasil o zumba, um programa de exercícios que surgiu na Colômbia. Ele mistura ritmos numa coreografia eletrizante. Promete derreter gorduras por todos os lados do corpo.
Melhor assim
A empresa que administra o bondinho do Pão de Açúcar, notificada pelo Procon-RJ por não aceitar cobrar meia-entrada, voltou atrás. Desde ontem, cobra metade do valor do ingresso para estudantes, idosos e menores de 21 anos. A promoção foi estendida também aos estrangeiros. Basta mostrar o passaporte.
A saga de Moreno
Dia 5 agora, chega às livrarias, pela Rocco, o livro “A história de Mora”, de Jorge BastosMoreno. O livro do querido coleguinha é um desdobramento da série que ele publicou no GLOBO sobre a saga de Ulysses Guimarães, um dos maiores políticos brasileiros de todos os tempos.
Retratos da vida
Adriano Imperador almoçava ontem com um amigo no Pobre Juan, do Village Mall, shopping chique da Barra. Sem clube desde 2012, garantiu que tem proposta de dois grandes times.
Moda infantil
Depois de 40 anos de estrada, a Richards lança em outubro sua primeira coleção de moda infantil feminina.
Terá tamanhos entre 2 e 12 anos.
Para concluir
Nesta altura do campeonato, o Papa virou local em Copacabana. Figurinha fácil no bairro. Com todo o respeito.
São todos mulheres de César - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém
O GLOBO - 27/07
Quando José Maria Alkmim pronunciou, pela primeira vez, a consagrada frase - que dizem não ser dele - "Em política, o que importa é a versão, não o fato", Ulysses Guimarães arrematou:
- Isso é a tradução pessedista (do PSD) do "Não basta à mulher de César ser honesta, deve parecer honesta".
As ruas decretaram o fim da tolerância com as benesses do poder. Pouco importa se o usuário seja Aldo Rebelo, conhecido por hábitos modestos como o de andar a cavalo pelos centros históricos do litoral brasileiro.
O Papa não poderia vir numa hora melhor para referendar a intolerância popular contra as mordomias e, em alguns casos, até luxúrias.
Até o velho Bush, que maltratou o país no governo Sarney, virou agora referência boa, ao raspar a cabeça em solidariedade ao filho doente do seu segurança.
E qual o exemplo dos nossos ex-presidentes às ruas? Um, pelo circuito Elizabeth Arden (Paris, Roma e Londres), outro, pelo Terceiro Mundo, em jatinhos de empreiteiras.
Sal da terra
Apesar de ser o único terrestre a ter o dom da infalibilidade (Serra também tem, mas é extraterrestre), o Papa deu uma derrapada feia contra a boa qualidade de vida ao pedir para os fiéis que botem mais sal e azeite na comida.
Se, por um lado, fez a alegria dos cardiologistas, que vão multiplicar o número de pacientes, por outro, deixou triste o Padilha, cujo programa de redução do sal na dieta do brasileiro é um dos carros-chefe do Ministério da Saúde.
Para a Dilma, foi ótimo. Assim ela consola o queixoso Padilha, que se sente perseguido pelo Mercadante. E poderá dizer:
- Até o Papa te atropela, Padilha!
Vade retro, Satanás!
Reparem que, desde que se uniu ao "Coisa-Ruim", a vida político-administrativa do Paes virou um inferno.
"Zifio" está com encosto.
Meu Deus!
Voltando ao Mercadante, esta história reproduz bem o carinho e o conceito que ele tem dos profissionais da mídia.
Quando soube que sua assessoria marcou uma coletiva justamente na sala onde guarda uma relíquia de Djanira, sua artista preferida, o ministro apressou-se em, pessoalmente, tirar o quadro da sala e guardar no seu gabinete.
Terminada a entrevista, ele próprio, de novo, devolveu o quadro ao seu lugar.
"Rezem por mim!"
Dia desses, um enxerido governador ousou perguntar à presidente:
- Por que Mercadante?
E Dilma:
- É o meu melhor ministro!
Se ela diz, acredito.
Vaza, tráfico!
A partir desta segunda, a maré não vai estar para peixe.
No Rio de Janeiro.
"X" de pobre
Piada duplamente infame é a que diz que o Papa dos pobres só volta ao Rio em 2017 porque Paes não será mais prefeito. E que, precavido, para evitar futuros problemas, já escolheu a casa do próximo pobre que visitará daqui a quatro anos.
A de Eike Batista, no Cosme Velho.
Campeão!
No voo entre Salvador e Brasília, Dilma acompanhou pelo Twitter a disputa que deu ao Atlético o título de campeão das Libertadores.
- Galo! Galo! Galo! - gritou a presidente, comemorando a vitória do seu time, o mesmo de Anastasia.
Perigo I
Se o Papa ficasse mais uma semana no Rio, em primeiro lugar, despencaria nas pesquisas. Não há autoridade ou santidade que resista a duas semanas de exposição na Mídia Ninja.
Em segundo lugar, enlouqueceria o Cardozão.
Perigo II
É que, desde a chegada do Pontífice, a Dilma tem acordado o ministro da Justiça às 10 horas, pontualmente, para saber a mancada do dia da equipe de Eduardo Paes na segurança do Papa.
Irmão em Cristo
Piadinha boba também é a que diz que, na 9ª estação da via-sacra, quando "Cristo cai pela terceira vez", Cabral virou pro Pezão e disse:
- Tá vendo?! Não sou apenas eu!
No limite
Dilma não gostou de Mantega ter antecipado o corte de menos de R$ 15 bilhões no Orçamento há duas semanas. Segundo fontes, a presidente achou irresponsável a precipitação, enquanto Belchior e Gleisi tentavam corte menor. Para salvar o PIB.
Quando José Maria Alkmim pronunciou, pela primeira vez, a consagrada frase - que dizem não ser dele - "Em política, o que importa é a versão, não o fato", Ulysses Guimarães arrematou:
- Isso é a tradução pessedista (do PSD) do "Não basta à mulher de César ser honesta, deve parecer honesta".
As ruas decretaram o fim da tolerância com as benesses do poder. Pouco importa se o usuário seja Aldo Rebelo, conhecido por hábitos modestos como o de andar a cavalo pelos centros históricos do litoral brasileiro.
O Papa não poderia vir numa hora melhor para referendar a intolerância popular contra as mordomias e, em alguns casos, até luxúrias.
Até o velho Bush, que maltratou o país no governo Sarney, virou agora referência boa, ao raspar a cabeça em solidariedade ao filho doente do seu segurança.
E qual o exemplo dos nossos ex-presidentes às ruas? Um, pelo circuito Elizabeth Arden (Paris, Roma e Londres), outro, pelo Terceiro Mundo, em jatinhos de empreiteiras.
Sal da terra
Apesar de ser o único terrestre a ter o dom da infalibilidade (Serra também tem, mas é extraterrestre), o Papa deu uma derrapada feia contra a boa qualidade de vida ao pedir para os fiéis que botem mais sal e azeite na comida.
Se, por um lado, fez a alegria dos cardiologistas, que vão multiplicar o número de pacientes, por outro, deixou triste o Padilha, cujo programa de redução do sal na dieta do brasileiro é um dos carros-chefe do Ministério da Saúde.
Para a Dilma, foi ótimo. Assim ela consola o queixoso Padilha, que se sente perseguido pelo Mercadante. E poderá dizer:
- Até o Papa te atropela, Padilha!
Vade retro, Satanás!
Reparem que, desde que se uniu ao "Coisa-Ruim", a vida político-administrativa do Paes virou um inferno.
"Zifio" está com encosto.
Meu Deus!
Voltando ao Mercadante, esta história reproduz bem o carinho e o conceito que ele tem dos profissionais da mídia.
Quando soube que sua assessoria marcou uma coletiva justamente na sala onde guarda uma relíquia de Djanira, sua artista preferida, o ministro apressou-se em, pessoalmente, tirar o quadro da sala e guardar no seu gabinete.
Terminada a entrevista, ele próprio, de novo, devolveu o quadro ao seu lugar.
"Rezem por mim!"
Dia desses, um enxerido governador ousou perguntar à presidente:
- Por que Mercadante?
E Dilma:
- É o meu melhor ministro!
Se ela diz, acredito.
Vaza, tráfico!
A partir desta segunda, a maré não vai estar para peixe.
No Rio de Janeiro.
"X" de pobre
Piada duplamente infame é a que diz que o Papa dos pobres só volta ao Rio em 2017 porque Paes não será mais prefeito. E que, precavido, para evitar futuros problemas, já escolheu a casa do próximo pobre que visitará daqui a quatro anos.
A de Eike Batista, no Cosme Velho.
Campeão!
No voo entre Salvador e Brasília, Dilma acompanhou pelo Twitter a disputa que deu ao Atlético o título de campeão das Libertadores.
- Galo! Galo! Galo! - gritou a presidente, comemorando a vitória do seu time, o mesmo de Anastasia.
Perigo I
Se o Papa ficasse mais uma semana no Rio, em primeiro lugar, despencaria nas pesquisas. Não há autoridade ou santidade que resista a duas semanas de exposição na Mídia Ninja.
Em segundo lugar, enlouqueceria o Cardozão.
Perigo II
É que, desde a chegada do Pontífice, a Dilma tem acordado o ministro da Justiça às 10 horas, pontualmente, para saber a mancada do dia da equipe de Eduardo Paes na segurança do Papa.
Irmão em Cristo
Piadinha boba também é a que diz que, na 9ª estação da via-sacra, quando "Cristo cai pela terceira vez", Cabral virou pro Pezão e disse:
- Tá vendo?! Não sou apenas eu!
No limite
Dilma não gostou de Mantega ter antecipado o corte de menos de R$ 15 bilhões no Orçamento há duas semanas. Segundo fontes, a presidente achou irresponsável a precipitação, enquanto Belchior e Gleisi tentavam corte menor. Para salvar o PIB.
40 horas depois - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 27/07
RIO DE JANEIRO - Perguntei a Telmo Martino se, quando na BBC, ele conhecera Noël Coward. Telmo riu, como se, para um brasileirinho em Londres nos anos 50, fosse mais fácil tomar chá com a rainha do que se ver diante do grande homem --o ator, dramaturgo, diretor, compositor, letrista, cantor, frasista, showman etc. etc.
O capixaba Luiz Nogueira da Paixão, 30 anos em 1955 e louco pelas big bands americanas, que ainda eram a música popular da época, teve mais sorte. Como muitos, ele sabia de cor quem tocava o quê nas orquestras de Duke Ellington, Benny Goodman, Count Basie, qualquer uma. A mais "moderna" era a de Stan Kenton, estrelada por cobras como o saxofonista Lee Konitz, o trombonista Frank Rosolino, o baterista Mel Lewis.
Professor de inglês em Vitória, Luiz foi fazer pós na Universidade do Texas, em Austin, torcendo para que uma de suas noites livres coincidisse com a presença de alguma big band numa cidade próxima. Muito difícil. Mas, certo dia, ao olhar pela janela da cantina, Luiz viu um enorme ônibus estacionar. Na lateral do bicho lia-se "Stan Kenton Orchestra".
Correu para a calçada. O primeiro a descer do ônibus foi o próprio Kenton. Luiz cumprimentou-o, disse-se do Brasil e mencionou Laurindo de Almeida, o guitarrista brasileiro que tocara com a orquestra. Kenton, gentilíssimo, apresentou-o a Ralph Blaze, sucessor de Laurindo. E Blaze foi ainda melhor: convidou Luiz a juntar-se a eles na excursão.
Luiz nem avisou aos colegas que ia sumir. Assistiu da coxia ao frenético show em Austin, foi com a banda no ônibus até San Antonio, assistiu a mais um show de arromba e, 40 horas depois, inebriado de jazz e da convivência com seus heróis, despediu-se e voltou para a vida real --a universidade. Isso foi há quase 60 anos. Mas, para ele, até hoje, Stan continua ao alcance de sua voz.
RIO DE JANEIRO - Perguntei a Telmo Martino se, quando na BBC, ele conhecera Noël Coward. Telmo riu, como se, para um brasileirinho em Londres nos anos 50, fosse mais fácil tomar chá com a rainha do que se ver diante do grande homem --o ator, dramaturgo, diretor, compositor, letrista, cantor, frasista, showman etc. etc.
O capixaba Luiz Nogueira da Paixão, 30 anos em 1955 e louco pelas big bands americanas, que ainda eram a música popular da época, teve mais sorte. Como muitos, ele sabia de cor quem tocava o quê nas orquestras de Duke Ellington, Benny Goodman, Count Basie, qualquer uma. A mais "moderna" era a de Stan Kenton, estrelada por cobras como o saxofonista Lee Konitz, o trombonista Frank Rosolino, o baterista Mel Lewis.
Professor de inglês em Vitória, Luiz foi fazer pós na Universidade do Texas, em Austin, torcendo para que uma de suas noites livres coincidisse com a presença de alguma big band numa cidade próxima. Muito difícil. Mas, certo dia, ao olhar pela janela da cantina, Luiz viu um enorme ônibus estacionar. Na lateral do bicho lia-se "Stan Kenton Orchestra".
Correu para a calçada. O primeiro a descer do ônibus foi o próprio Kenton. Luiz cumprimentou-o, disse-se do Brasil e mencionou Laurindo de Almeida, o guitarrista brasileiro que tocara com a orquestra. Kenton, gentilíssimo, apresentou-o a Ralph Blaze, sucessor de Laurindo. E Blaze foi ainda melhor: convidou Luiz a juntar-se a eles na excursão.
Luiz nem avisou aos colegas que ia sumir. Assistiu da coxia ao frenético show em Austin, foi com a banda no ônibus até San Antonio, assistiu a mais um show de arromba e, 40 horas depois, inebriado de jazz e da convivência com seus heróis, despediu-se e voltou para a vida real --a universidade. Isso foi há quase 60 anos. Mas, para ele, até hoje, Stan continua ao alcance de sua voz.
Uma jornada de encontros - CACÁ DIEGUES
O GLOBO - 27/07
‘Não deixem que lhes roubem a esperança’, disse ele no Rio. Não é pouco que um líder mundial pense e fale desse jeito
Tenho acompanhado a Jornada Mundial da Juventude ao longo desta semana e, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, o faço com surpresa e admiração. Apesar das vicissitudes de transporte e circulação, há muito tempo não via as ruas da cidade tão alegremente movimentadas e coloridas. Mesmo por onde o Papa não é esperado passar, bandos de moças e rapazes carregam bandeiras de seus países e cantam hinos em diversas línguas, num carnaval de rua cosmopolita, sereno e empolgante. Confesso que até me emocionei ao ver casualmente, no calçadão da Avenida Atlântica, um inesperado encontro de confraternização entre um grupo de jovens iranianos com a bandeira de seu país e outro de americanos com a dos Estados Unidos.
Não é preciso ser católico, nem ter qualquer religião, para se encantar com o que está se passando no Rio de Janeiro. Estamos assistindo a uma experiência daquilo que o rabino Abraham Skorka, coautor de livro em parceria com o Papa Francisco, “Entre o céu e a terra”, chamou de “cultura do encontro”. Um encontro não é uma adesão ao outro, nem mesmo a abertura de um diálogo em busca de alguma verdade única e absoluta. Um encontro é apenas isso mesmo, a aproximação entre pessoas, mesmo que elas não tenham as mesmas ideias, nem estejam dispostas a pensar sobre o que pensam.
Um dos aspectos mais relevantes da Jornada tem sido o dos diversos eventos inter-religiosos, uma busca sem tensão por alguma coisa em comum entre crenças tão diversas. A busca do abraço universal, do humano em cada fé. Assisti a reuniões de peregrinos católicos de vários países com praticantes da umbanda e do candomblé cariocas, no Estácio e em Caxias. E a uma mesa de debates na PUC, na Gávea, da qual participavam bispos, rabinos e xeques, com uma plateia lotada de jovens católicos, judeus e muçulmanos. Nesses encontros, o que se punha em discussão não era a verdade teológica de cada um, mas a necessidade de paz, de entendimento e de amor num mundo tão conturbado, inclusive por guerras religiosas.
Nunca acompanhei as Jornadas anteriores, nem sei mesmo do que cada uma delas tratou no passado, em Roma, Colônia ou Madri. Mas imagino que as novidades comportamentais trazidas pelo novo Papa tenham influenciado a atmosfera do que está acontecendo no Rio. Num livrinho de extrema pertinência sobre suas ideias, “Fancisco de Assis e Francisco de Roma”, Leonardo Boff, um dos principais pensadores da Teologia da Libertação, faz a pergunta que todos nós gostaríamos de poder responder afirmativamente: “Uma nova primavera na igreja?” No seu discurso em Aparecida, o Papa pode ter-nos respondido a pergunta, quando pediu aos jovens que se deixassem surpreender pela vida e que a vivessem em alegria. E ainda mais em sua fala militante na favela de Manguinhos, quando exortou a juventude a não perder a sensibilidade para as injustiças e para a corrupção. É como se tivéssemos atraído para cá e tornado universal a discussão do tema que hoje nos é mais caro.
A Igreja Católica, a primeira e mais antiga organização globalizada do planeta, precisa responder às ânsias de seu povo no século 21. Ela segue prisioneira de conceitos anacrônicos sobre política social, drogas, moral sexual, aborto, homossexualidade, celibato, pesquisas com células-tronco e até “a forma de poder absolutista dos papas”, como diz Boff. Mas Francisco está certo quando diz que tudo começa com o encontro. E ele sabe promover esse encontro: que homem público brasileiro sairia ileso daquele engarrafamento que o Papa enfrentou em sua chegada ao Rio, com a janela do pequeno carro aberta e a disposição de cumprimentar a multidão que se aproximava dele?
É ridículo e mesquinho reclamar de gastos públicos com a Jornada e a vinda do Papa ao Brasil. Em primeiro lugar, porque o estado não está só cumprindo obrigação protocolar, mas também fazendo um investimento com retorno certo, produzido pelo que deixa no Rio a multidão vinda do exterior e de outras cidades do país. Além disso, o estado tem mesmo o dever de investir no ordenamento, segurança e atendimento médico das manifestações de massa realizadas na cidade, não importa de que natureza. Assim como nem todo brasileiro é católico, nem todo carioca é carnavalesco, e nem assim é justo contestar o que o estado gasta com o carnaval. Mas para alguns, Rei Momo pode; o Papa Chico, nem pensar.
Independentemente de qualquer profissão de fé, Francisco nos anuncia o projeto de um mundo mais simples e mais humano. Um mundo sem ostentação e sem pompa, sem a hegemonia irracional da riqueza e do consumismo delirante que destrói o planeta e a humanidade. Seu amor à esperança é comovente. “Não deixem que lhes roubem a esperança”, disse ele no Rio, aos participantes da Jornada Mundial da Juventude, “sejam vocês mesmos os portadores da esperança.” Não é pouco que um líder mundial de sua importância pense e fale desse jeito.
‘Não deixem que lhes roubem a esperança’, disse ele no Rio. Não é pouco que um líder mundial pense e fale desse jeito
Tenho acompanhado a Jornada Mundial da Juventude ao longo desta semana e, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, o faço com surpresa e admiração. Apesar das vicissitudes de transporte e circulação, há muito tempo não via as ruas da cidade tão alegremente movimentadas e coloridas. Mesmo por onde o Papa não é esperado passar, bandos de moças e rapazes carregam bandeiras de seus países e cantam hinos em diversas línguas, num carnaval de rua cosmopolita, sereno e empolgante. Confesso que até me emocionei ao ver casualmente, no calçadão da Avenida Atlântica, um inesperado encontro de confraternização entre um grupo de jovens iranianos com a bandeira de seu país e outro de americanos com a dos Estados Unidos.
Não é preciso ser católico, nem ter qualquer religião, para se encantar com o que está se passando no Rio de Janeiro. Estamos assistindo a uma experiência daquilo que o rabino Abraham Skorka, coautor de livro em parceria com o Papa Francisco, “Entre o céu e a terra”, chamou de “cultura do encontro”. Um encontro não é uma adesão ao outro, nem mesmo a abertura de um diálogo em busca de alguma verdade única e absoluta. Um encontro é apenas isso mesmo, a aproximação entre pessoas, mesmo que elas não tenham as mesmas ideias, nem estejam dispostas a pensar sobre o que pensam.
Um dos aspectos mais relevantes da Jornada tem sido o dos diversos eventos inter-religiosos, uma busca sem tensão por alguma coisa em comum entre crenças tão diversas. A busca do abraço universal, do humano em cada fé. Assisti a reuniões de peregrinos católicos de vários países com praticantes da umbanda e do candomblé cariocas, no Estácio e em Caxias. E a uma mesa de debates na PUC, na Gávea, da qual participavam bispos, rabinos e xeques, com uma plateia lotada de jovens católicos, judeus e muçulmanos. Nesses encontros, o que se punha em discussão não era a verdade teológica de cada um, mas a necessidade de paz, de entendimento e de amor num mundo tão conturbado, inclusive por guerras religiosas.
Nunca acompanhei as Jornadas anteriores, nem sei mesmo do que cada uma delas tratou no passado, em Roma, Colônia ou Madri. Mas imagino que as novidades comportamentais trazidas pelo novo Papa tenham influenciado a atmosfera do que está acontecendo no Rio. Num livrinho de extrema pertinência sobre suas ideias, “Fancisco de Assis e Francisco de Roma”, Leonardo Boff, um dos principais pensadores da Teologia da Libertação, faz a pergunta que todos nós gostaríamos de poder responder afirmativamente: “Uma nova primavera na igreja?” No seu discurso em Aparecida, o Papa pode ter-nos respondido a pergunta, quando pediu aos jovens que se deixassem surpreender pela vida e que a vivessem em alegria. E ainda mais em sua fala militante na favela de Manguinhos, quando exortou a juventude a não perder a sensibilidade para as injustiças e para a corrupção. É como se tivéssemos atraído para cá e tornado universal a discussão do tema que hoje nos é mais caro.
A Igreja Católica, a primeira e mais antiga organização globalizada do planeta, precisa responder às ânsias de seu povo no século 21. Ela segue prisioneira de conceitos anacrônicos sobre política social, drogas, moral sexual, aborto, homossexualidade, celibato, pesquisas com células-tronco e até “a forma de poder absolutista dos papas”, como diz Boff. Mas Francisco está certo quando diz que tudo começa com o encontro. E ele sabe promover esse encontro: que homem público brasileiro sairia ileso daquele engarrafamento que o Papa enfrentou em sua chegada ao Rio, com a janela do pequeno carro aberta e a disposição de cumprimentar a multidão que se aproximava dele?
É ridículo e mesquinho reclamar de gastos públicos com a Jornada e a vinda do Papa ao Brasil. Em primeiro lugar, porque o estado não está só cumprindo obrigação protocolar, mas também fazendo um investimento com retorno certo, produzido pelo que deixa no Rio a multidão vinda do exterior e de outras cidades do país. Além disso, o estado tem mesmo o dever de investir no ordenamento, segurança e atendimento médico das manifestações de massa realizadas na cidade, não importa de que natureza. Assim como nem todo brasileiro é católico, nem todo carioca é carnavalesco, e nem assim é justo contestar o que o estado gasta com o carnaval. Mas para alguns, Rei Momo pode; o Papa Chico, nem pensar.
Independentemente de qualquer profissão de fé, Francisco nos anuncia o projeto de um mundo mais simples e mais humano. Um mundo sem ostentação e sem pompa, sem a hegemonia irracional da riqueza e do consumismo delirante que destrói o planeta e a humanidade. Seu amor à esperança é comovente. “Não deixem que lhes roubem a esperança”, disse ele no Rio, aos participantes da Jornada Mundial da Juventude, “sejam vocês mesmos os portadores da esperança.” Não é pouco que um líder mundial de sua importância pense e fale desse jeito.
Ueba! Papa é simPAPAticíssimo! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 27/07
O papa é simpático, mas se liberasse a camisinha, a pílula e o casamento gay, seria muito mais simpático!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Policiais revistam suspeito de ser policial infiltrado". Polícia revistando polícia!
E saiu um novo trocadilho: simPAPAticíssimo! Papa Francisco: o argentino que virou brasileiro!
E as duas palavras mais usadas pela mídia: "humilde" e "jovens". Não aguento mais essa duas palavras: "humilde" e "jovem".
Já sei, duas coisas que eu não sou! Rarará!
E os milagres. Primeiro milagre: fez o povo brasileiro gostar de um argentino!
E o site Sensacionalista lista mais cinco milagres do papa: 1) andou de carro no Rio de janela aberta e não foi assaltado. Eu disse que ele não foi assaltado porque o crucifixo é bijuteria. 2) Fez o povo brasileiro aplaudir um argentino. 3) Andar no meio da polícia do Rio e não apanhar. 4) Encontrar com o Renan Calheiros e não ser acusado de nada. 5) Ficou engarrafado no Rio e não apareceu nenhum vendedor de Biscoito Globo.
E ainda: se encontrou com a Dilma. Que tava parecendo o Bob Esponja! Rarará!
E diz que tem tanto gay no Vaticano que vai mudar o nome pra Gayticano! E adorei a Fafá cantando pro papa. Mamas and Papas. A Fafá devia ter cantado o Hino Nacional: "Deitada eternamente em PEITO esplêndido". Rarará!
E adorei o nome do diretor do show Via Sacra: Ulysses CRUZ! Predestinado. Cruz é ter que contratar o Luan Santana. Nenhum argentino merece isso!
E esse papa tem uma missão impossível: evitar que os católicos virem evangélicos.
Árdua mesmo: templo evangélico fica aberto o dia inteiro e igreja fica fechada o dia inteiro. E quando tá aberta não tem ninguém. Nem pra dizer OI!
E outro milagre: Atlético Campeão da Libertadores! E o Futirinhas: "O primeiro título do Atlético em TV colorida". Rarará!
O papa é simpático, mas se liberasse a camisinha, a pílula e o casamento gay, seria muito mais simpático! Simpático, mas é papa! Rarará!
E atenção! Hoje às 13h na praia de Copacabana sai o bloco Meu Fiofó É Laico!. O papa é muito simpático. mas o fiofó é laico. Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O papa é simpático, mas se liberasse a camisinha, a pílula e o casamento gay, seria muito mais simpático!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Policiais revistam suspeito de ser policial infiltrado". Polícia revistando polícia!
E saiu um novo trocadilho: simPAPAticíssimo! Papa Francisco: o argentino que virou brasileiro!
E as duas palavras mais usadas pela mídia: "humilde" e "jovens". Não aguento mais essa duas palavras: "humilde" e "jovem".
Já sei, duas coisas que eu não sou! Rarará!
E os milagres. Primeiro milagre: fez o povo brasileiro gostar de um argentino!
E o site Sensacionalista lista mais cinco milagres do papa: 1) andou de carro no Rio de janela aberta e não foi assaltado. Eu disse que ele não foi assaltado porque o crucifixo é bijuteria. 2) Fez o povo brasileiro aplaudir um argentino. 3) Andar no meio da polícia do Rio e não apanhar. 4) Encontrar com o Renan Calheiros e não ser acusado de nada. 5) Ficou engarrafado no Rio e não apareceu nenhum vendedor de Biscoito Globo.
E ainda: se encontrou com a Dilma. Que tava parecendo o Bob Esponja! Rarará!
E diz que tem tanto gay no Vaticano que vai mudar o nome pra Gayticano! E adorei a Fafá cantando pro papa. Mamas and Papas. A Fafá devia ter cantado o Hino Nacional: "Deitada eternamente em PEITO esplêndido". Rarará!
E adorei o nome do diretor do show Via Sacra: Ulysses CRUZ! Predestinado. Cruz é ter que contratar o Luan Santana. Nenhum argentino merece isso!
E esse papa tem uma missão impossível: evitar que os católicos virem evangélicos.
Árdua mesmo: templo evangélico fica aberto o dia inteiro e igreja fica fechada o dia inteiro. E quando tá aberta não tem ninguém. Nem pra dizer OI!
E outro milagre: Atlético Campeão da Libertadores! E o Futirinhas: "O primeiro título do Atlético em TV colorida". Rarará!
O papa é simpático, mas se liberasse a camisinha, a pílula e o casamento gay, seria muito mais simpático! Simpático, mas é papa! Rarará!
E atenção! Hoje às 13h na praia de Copacabana sai o bloco Meu Fiofó É Laico!. O papa é muito simpático. mas o fiofó é laico. Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Como deixamos vazar informações privadas - FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 27/07
Foi em Tóquio. Apresento uma jovem cientista japonesa a um amigo: "Como vocês irão para o congresso em Kyoto, talvez Omuro possa te mostrar os templos budistas". Os olhos de meu amigo, que encaravam a jovem, se desviaram por uma fração de segundo para as mãos delicadas. Bastou eles voltarem para a face, e ela, que não usava aliança, respondeu: "Pena que meu marido não vai me acompanhar". Por meio de um simples olhar ele havia deixado vazar uma grande quantidade de informação que foi captada e utilizada por Omuro.
Com pequenos atos, deixamos escapar involuntariamente informações que consideramos privadas. Captar essa informação e fazer uso dela é uma arte antiga. A novidade é que hoje deixamos um rastro enorme de informações digitais. Será possível usar essa informação para descobrir pensamentos e características pessoais? Um novo estudo demonstrou que é possível descobrir, com grande probabilidade de acerto, informações privadas simplesmente analisando os "likes" de uma pessoa no Facebook.
A internet está coalhada de pequenas mãos com o polegar para cima. São os "likes" - "curtir" ou "recomendar" - do Facebook. Quando um usuário do Facebook clica nesses ícones, demonstra apreciação ou aprovação. Essa informação é recebida por seus amigos, pelos donos da página e pelo próprio Facebook. Sua escolha se torna pública. Se você "curte" um carro, todos sabem que você gostou daquele veículo.
O que mais é possível deduzir com base nas "curtidas" de uma pessoa? É possível saber sua preferencia sexual, se seus pais se separaram, seu QI?
Cientistas convenceram 58.466 voluntários que utilizam o Facebook nos EUA a responder centenas de perguntas pessoais sobre assuntos particulares, como consumo de drogas e álcool, religião, política, preferencias sexuais, fidelidade conjugal e vida familiar. Além disso, o QI desses voluntários foi medido e suas características psicológicas foram determinadas. Também foram coletados todos os "likes" difundidos por cada um desses indivíduos.
Depois, os cientistas correlacionaram o conteúdo dos "likes" às características individuais, construindo enormes tabelas que relacionavam as características pessoais com os termos associados aos "likes". Descobriram que a palavra "dança" é mais escolhida por pessoas extrovertidas e "videogames", por introvertidos. Que "Harley-Davidson" está levemente associada a um QI baixo e "tempestades", a pessoas com QI mais alto. Foram feitas associações desse tipo com milhares de palavras para cada uma de dezenas de características. Muitas delas parecem óbvias, mas outras, como batata frita estar associada a pessoas de QI mais alto, Hillary com pessoas que têm muitos amigos e Yahoo com mulheres heterossexuais não são tão óbvias.
Feitas as associações entre palavras ou frases e características pessoais declaradas, os cientistas construíram um modelo matemático que usa os "likes" públicos para descobrir informações privadas. Cada uma das associações por si só não tem um alto poder preditivo (eu uso o Yahoo e não sou uma mulher heterossexual), mas, quando analisadas em conjunto, são capaz de fazer previsões precisas sobre comportamentos e características individuais.
Os resultados mostram que é possível, usando só os "likes" de um usuário do Facebook, saber seu sexo, idade, preferencia sexual, se é emocionalmente estável, seu QI, se fuma, bebe ou se droga, se é democrata ou republicano, se seus pais se separaram antes dele ter 21 anos, se é fiel, e dezenas de outros atributos pessoais. A previsão é mais confiável quanto mais a pessoa dá "likes". É claro também que o grau de confiança nessas previsões com o tema avaliado. Além disso, a previsão só é possível para os usuários americanos do Facebook, pois as associações dependem da cultura de cada país.
Os pesquisadores publicaram os resultados e criaram o site www.youarewhatyoulike.org, em que você pode logar com sua identidade no Facebook. Usando os dados de seus "likes", o site prediz suas características. Todos que usaram dizem que o resultado é impressionante.
Esses resultados demonstram o que muita gente suspeitava. A cada clique, deixamos vazar um pouco de nossa intimidade. Como fazemos isso dezenas de vezes por dia, ao longo de muitos anos, basta estatísticos competentes e um computador para juntar todas essas microdicas e, com elas, descobrir informações que guardamos a sete chaves tentando preservar nossa intimidade.
Foi em Tóquio. Apresento uma jovem cientista japonesa a um amigo: "Como vocês irão para o congresso em Kyoto, talvez Omuro possa te mostrar os templos budistas". Os olhos de meu amigo, que encaravam a jovem, se desviaram por uma fração de segundo para as mãos delicadas. Bastou eles voltarem para a face, e ela, que não usava aliança, respondeu: "Pena que meu marido não vai me acompanhar". Por meio de um simples olhar ele havia deixado vazar uma grande quantidade de informação que foi captada e utilizada por Omuro.
Com pequenos atos, deixamos escapar involuntariamente informações que consideramos privadas. Captar essa informação e fazer uso dela é uma arte antiga. A novidade é que hoje deixamos um rastro enorme de informações digitais. Será possível usar essa informação para descobrir pensamentos e características pessoais? Um novo estudo demonstrou que é possível descobrir, com grande probabilidade de acerto, informações privadas simplesmente analisando os "likes" de uma pessoa no Facebook.
A internet está coalhada de pequenas mãos com o polegar para cima. São os "likes" - "curtir" ou "recomendar" - do Facebook. Quando um usuário do Facebook clica nesses ícones, demonstra apreciação ou aprovação. Essa informação é recebida por seus amigos, pelos donos da página e pelo próprio Facebook. Sua escolha se torna pública. Se você "curte" um carro, todos sabem que você gostou daquele veículo.
O que mais é possível deduzir com base nas "curtidas" de uma pessoa? É possível saber sua preferencia sexual, se seus pais se separaram, seu QI?
Cientistas convenceram 58.466 voluntários que utilizam o Facebook nos EUA a responder centenas de perguntas pessoais sobre assuntos particulares, como consumo de drogas e álcool, religião, política, preferencias sexuais, fidelidade conjugal e vida familiar. Além disso, o QI desses voluntários foi medido e suas características psicológicas foram determinadas. Também foram coletados todos os "likes" difundidos por cada um desses indivíduos.
Depois, os cientistas correlacionaram o conteúdo dos "likes" às características individuais, construindo enormes tabelas que relacionavam as características pessoais com os termos associados aos "likes". Descobriram que a palavra "dança" é mais escolhida por pessoas extrovertidas e "videogames", por introvertidos. Que "Harley-Davidson" está levemente associada a um QI baixo e "tempestades", a pessoas com QI mais alto. Foram feitas associações desse tipo com milhares de palavras para cada uma de dezenas de características. Muitas delas parecem óbvias, mas outras, como batata frita estar associada a pessoas de QI mais alto, Hillary com pessoas que têm muitos amigos e Yahoo com mulheres heterossexuais não são tão óbvias.
Feitas as associações entre palavras ou frases e características pessoais declaradas, os cientistas construíram um modelo matemático que usa os "likes" públicos para descobrir informações privadas. Cada uma das associações por si só não tem um alto poder preditivo (eu uso o Yahoo e não sou uma mulher heterossexual), mas, quando analisadas em conjunto, são capaz de fazer previsões precisas sobre comportamentos e características individuais.
Os resultados mostram que é possível, usando só os "likes" de um usuário do Facebook, saber seu sexo, idade, preferencia sexual, se é emocionalmente estável, seu QI, se fuma, bebe ou se droga, se é democrata ou republicano, se seus pais se separaram antes dele ter 21 anos, se é fiel, e dezenas de outros atributos pessoais. A previsão é mais confiável quanto mais a pessoa dá "likes". É claro também que o grau de confiança nessas previsões com o tema avaliado. Além disso, a previsão só é possível para os usuários americanos do Facebook, pois as associações dependem da cultura de cada país.
Os pesquisadores publicaram os resultados e criaram o site www.youarewhatyoulike.org, em que você pode logar com sua identidade no Facebook. Usando os dados de seus "likes", o site prediz suas características. Todos que usaram dizem que o resultado é impressionante.
Esses resultados demonstram o que muita gente suspeitava. A cada clique, deixamos vazar um pouco de nossa intimidade. Como fazemos isso dezenas de vezes por dia, ao longo de muitos anos, basta estatísticos competentes e um computador para juntar todas essas microdicas e, com elas, descobrir informações que guardamos a sete chaves tentando preservar nossa intimidade.
Fascismo em nome de Deus - DRAUZIO VARELLA
FOLHA DE SP - 27/07
Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos?
Há manhãs em que fico revoltado ao ler os jornais.
Aconteceu segunda-feira passada quando vi a manchete de "O Globo": "Pressão religiosa", com o subtítulo: "À espera do papa, Dilma enfrenta lobby para vetar o projeto para vítimas de estupro que Igreja associa a aborto".
Esse projeto de lei, que tramita desde 1999, acaba de ser aprovado em plenário pela Câmara e pelo Senado e encaminhado à Presidência da República, que tem até 1º de agosto para sancioná-lo.
Se não houver veto, todos os hospitais públicos serão obrigados a atender em caráter emergencial e multidisciplinar as vítimas de violência sexual.
Na verdade, o direito à assistência em casos de estupro está previsto na Constituição. O SUS dispõe de protocolos aprovados pelo Ministério da Saúde especificamente para esse tipo de crime, que recomendam antibióticos para evitar doenças sexualmente transmissíveis, antivirais contra o HIV, cuidados ginecológicos e assistência psicológica e social.
O problema é que os hospitais públicos e muitos de meus colegas, médicos, simplesmente se omitem nesses casos, de forma que o atendimento acaba restrito às unidades especializadas, quase nunca acessíveis às mulheres pobres.
O Hospital Pérola Byington é uma das poucas unidades da Secretaria da Saúde de São Paulo encarregadas dessa função. Lá, desde a fundação do Ambulatório de Violência Sexual, em 1994, foram admitidas 27 mil crianças, adolescentes e mulheres adultas.
Em média, procuram o hospital diariamente 15 vítimas de estupro, número que provavelmente representa 10% do total de ocorrências, porque antes há que enfrentar as humilhações das delegacias para lavrar o boletim de ocorrência.
As que não desistem ainda precisam passar pelo Instituto Médico Legal, para só então chegar ao ambulatório do SUS, calvário que em quase todas as cidades exige percorrer dezenas de quilômetros, porque faltam serviços especializados mesmo em municípios grandes. No Pérola Byington, no Estado mais rico da federação, mais da metade das pacientes vem da Grande São Paulo e de municípios do interior.
Em entrevista à jornalista Juliana Conte, o médico Jefferson Drezzet, coordenador desse ambulatório, afirmou: "Mesmo estando claro que o atendimento imediato é medida legítima, na prática ele não acontece. Criar uma lei que garanta às mulheres um direito já adquirido é apenas reconhecer que, embora as normas do SUS já existam, o acesso a elas só será assegurado por meio de uma força maior. Precisar de lei que obrigue os serviços de saúde a cumprir suas funções é uma tristeza".
Agora, vamos ao ponto crucial: um dos artigos do projeto determina que a rede pública precisa garantir, além do tratamento de lesões físicas e o apoio psicológico, também a "profilaxia da gravidez". Segundo a deputada Iara Bernardi, autora do projeto de lei, essa expressão significa assegurar acesso a medicamentos como a pílula do dia seguinte. A palavra aborto sequer é mencionada.
Na semana passada, o secretário-geral da Presidência recebeu em audiência um grupo de padres e leigos de um movimento intitulado Pró-Vida, que se opõe ao projeto por considerá-lo favorável ao aborto.
Pró-Vida é o movimento que teve mais de 19 milhões de panfletos apreendidos pela Polícia Federal, na eleição de 2010, por associar à aprovação do aborto a então candidata Dilma Rousseff.
Na audiência, o documento entregue pelo vice-presidente do movimento foi enfático: "As consequências chegarão à militância pró-vida causando grande atrito e desgaste para Vossa Excelência, senhora presidente, que prometeu em sua campanha eleitoral nada fazer para instaurar o aborto em nosso país".
Quem são, e quantos são, esses arautos da moral e dos bons costumes? De onde lhes vem a autoridade para ameaçar em público a presidente da República?
Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos decididos a impor suas idiossincrasias e intolerâncias em nome de Deus? Em que documento está registrada a palavra do Criador que os nomeia detentores exclusivos da verdade? Quanto sofrimento humano será necessário para aplacar-lhes a insensibilidade social e a sanha punitiva?
Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos?
Há manhãs em que fico revoltado ao ler os jornais.
Aconteceu segunda-feira passada quando vi a manchete de "O Globo": "Pressão religiosa", com o subtítulo: "À espera do papa, Dilma enfrenta lobby para vetar o projeto para vítimas de estupro que Igreja associa a aborto".
Esse projeto de lei, que tramita desde 1999, acaba de ser aprovado em plenário pela Câmara e pelo Senado e encaminhado à Presidência da República, que tem até 1º de agosto para sancioná-lo.
Se não houver veto, todos os hospitais públicos serão obrigados a atender em caráter emergencial e multidisciplinar as vítimas de violência sexual.
Na verdade, o direito à assistência em casos de estupro está previsto na Constituição. O SUS dispõe de protocolos aprovados pelo Ministério da Saúde especificamente para esse tipo de crime, que recomendam antibióticos para evitar doenças sexualmente transmissíveis, antivirais contra o HIV, cuidados ginecológicos e assistência psicológica e social.
O problema é que os hospitais públicos e muitos de meus colegas, médicos, simplesmente se omitem nesses casos, de forma que o atendimento acaba restrito às unidades especializadas, quase nunca acessíveis às mulheres pobres.
O Hospital Pérola Byington é uma das poucas unidades da Secretaria da Saúde de São Paulo encarregadas dessa função. Lá, desde a fundação do Ambulatório de Violência Sexual, em 1994, foram admitidas 27 mil crianças, adolescentes e mulheres adultas.
Em média, procuram o hospital diariamente 15 vítimas de estupro, número que provavelmente representa 10% do total de ocorrências, porque antes há que enfrentar as humilhações das delegacias para lavrar o boletim de ocorrência.
As que não desistem ainda precisam passar pelo Instituto Médico Legal, para só então chegar ao ambulatório do SUS, calvário que em quase todas as cidades exige percorrer dezenas de quilômetros, porque faltam serviços especializados mesmo em municípios grandes. No Pérola Byington, no Estado mais rico da federação, mais da metade das pacientes vem da Grande São Paulo e de municípios do interior.
Em entrevista à jornalista Juliana Conte, o médico Jefferson Drezzet, coordenador desse ambulatório, afirmou: "Mesmo estando claro que o atendimento imediato é medida legítima, na prática ele não acontece. Criar uma lei que garanta às mulheres um direito já adquirido é apenas reconhecer que, embora as normas do SUS já existam, o acesso a elas só será assegurado por meio de uma força maior. Precisar de lei que obrigue os serviços de saúde a cumprir suas funções é uma tristeza".
Agora, vamos ao ponto crucial: um dos artigos do projeto determina que a rede pública precisa garantir, além do tratamento de lesões físicas e o apoio psicológico, também a "profilaxia da gravidez". Segundo a deputada Iara Bernardi, autora do projeto de lei, essa expressão significa assegurar acesso a medicamentos como a pílula do dia seguinte. A palavra aborto sequer é mencionada.
Na semana passada, o secretário-geral da Presidência recebeu em audiência um grupo de padres e leigos de um movimento intitulado Pró-Vida, que se opõe ao projeto por considerá-lo favorável ao aborto.
Pró-Vida é o movimento que teve mais de 19 milhões de panfletos apreendidos pela Polícia Federal, na eleição de 2010, por associar à aprovação do aborto a então candidata Dilma Rousseff.
Na audiência, o documento entregue pelo vice-presidente do movimento foi enfático: "As consequências chegarão à militância pró-vida causando grande atrito e desgaste para Vossa Excelência, senhora presidente, que prometeu em sua campanha eleitoral nada fazer para instaurar o aborto em nosso país".
Quem são, e quantos são, esses arautos da moral e dos bons costumes? De onde lhes vem a autoridade para ameaçar em público a presidente da República?
Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos decididos a impor suas idiossincrasias e intolerâncias em nome de Deus? Em que documento está registrada a palavra do Criador que os nomeia detentores exclusivos da verdade? Quanto sofrimento humano será necessário para aplacar-lhes a insensibilidade social e a sanha punitiva?
Injustiça no tempo da justiça - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 27/07
Nada é matematicamente razoável, em especial quando visto dos pontos contraditórios do autor e do réu
Lição sábia ensina que o tempo é capaz de acabar com a Justiça. Lembrei dela pela constância de queixas contra a demora entre um pedido em juízo e o tempo de sua solução. Hoje se fala muito dos políticos importantes nunca julgados logo ou das vítimas do poder público, no caso dos precatórios.
Um colega, no fórum, me ponderou que "aquele deputado de Roraima foi preso em três tempos, enquanto os bacanas aqui do sul continuam rindo. É uma injustiça!"
Eu não sabia do caso de Roraima, mas entendi o colega, pois a demora variável das questões judiciais é um fato.
A coluna trouxe varias referências ao inciso 78 do art. 5º da Constituição, incluído pela EC n. 45/2004. Diz que "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação".
Define direito da cidadania com aplicação imediata. O ritmo do processo não se alterou com a mudança. E por quê? Porque a aplicação imediata não tem a ver com o fim breve do processo.
O leitor talvez pergunte: "Muito bem, se é assim, como explicar que processos judiciais ou administrativos, em geral, duram muito mais do que seria razoável esperar?"
Um dos motivos é psicológico: o relógio do que espera a solução apropriada para seu direito sente que o tempo não anda. No outro lado, estão todos os que prefeririam que a decisão judicial não saísse nunca. Esses só têm queixas da velocidade excessiva do processo, que às vezes realmente prejudica o direito atingido.
Não há modo de fixar o parâmetro seguro, em matéria de duração. Nada é matematicamente razoável, em especial quando visto dos pontos contraditórios do autor e do réu. É assim ainda que se ligue o sentido de razoável ao fato correspondente às razões da maioria. Continua obscuro, embora racional.
O justo pronunciamento judiciário corresponde a fazer justiça. E a justiça constitucional quer prazo razoável, já que demora não razoável nunca produz a justiça esperada. Quem não sofreu com a decisão retardada nem mesmo sabe o que isso representa.
Agora se abriu a possibilidade de o leitor ser tentado a situar o inciso 78, referido há pouco, no campo do simples jogo de palavras. "Não leva a coisa alguma." Por duas razões básicas: os juízes se queixam de estarem sempre sobrecarregados de serviço, o que exigiria muito mais magistrados em cada tribunal, comarca, ou especialidade. Acontece que os tribunais superiores não querem aumentar seu número de magistrados, com argumentos nesse sentido, alguns até razoáveis.
É o caso dos 11 membros do STF e dos 33 do STJ que as duas cortes não desejam ampliar. Nos níveis inferiores, o poder público não quer gastar mais com o Judiciário, até porque, em geral, tem interesse na demora do processo. Em São Paulo, onde estão os maiores tribunais do país, as custas devem até dar lucro, mas o prazo certo e definitivo só existe para os advogados.
Afinal, deixo a questão no ar, porque meus 3.200 toques de computador terminaram. Ao profissional do direito que quiser ampliar a avaliação, sugiro que leia, na "Revista CEJ" do Conselho da Justiça Federal, nº 48, texto sobre a questão do prazo razoável, de Francisco W. Lacerda Dantas. É muito bom e esclarecedor.
Nada é matematicamente razoável, em especial quando visto dos pontos contraditórios do autor e do réu
Lição sábia ensina que o tempo é capaz de acabar com a Justiça. Lembrei dela pela constância de queixas contra a demora entre um pedido em juízo e o tempo de sua solução. Hoje se fala muito dos políticos importantes nunca julgados logo ou das vítimas do poder público, no caso dos precatórios.
Um colega, no fórum, me ponderou que "aquele deputado de Roraima foi preso em três tempos, enquanto os bacanas aqui do sul continuam rindo. É uma injustiça!"
Eu não sabia do caso de Roraima, mas entendi o colega, pois a demora variável das questões judiciais é um fato.
A coluna trouxe varias referências ao inciso 78 do art. 5º da Constituição, incluído pela EC n. 45/2004. Diz que "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação".
Define direito da cidadania com aplicação imediata. O ritmo do processo não se alterou com a mudança. E por quê? Porque a aplicação imediata não tem a ver com o fim breve do processo.
O leitor talvez pergunte: "Muito bem, se é assim, como explicar que processos judiciais ou administrativos, em geral, duram muito mais do que seria razoável esperar?"
Um dos motivos é psicológico: o relógio do que espera a solução apropriada para seu direito sente que o tempo não anda. No outro lado, estão todos os que prefeririam que a decisão judicial não saísse nunca. Esses só têm queixas da velocidade excessiva do processo, que às vezes realmente prejudica o direito atingido.
Não há modo de fixar o parâmetro seguro, em matéria de duração. Nada é matematicamente razoável, em especial quando visto dos pontos contraditórios do autor e do réu. É assim ainda que se ligue o sentido de razoável ao fato correspondente às razões da maioria. Continua obscuro, embora racional.
O justo pronunciamento judiciário corresponde a fazer justiça. E a justiça constitucional quer prazo razoável, já que demora não razoável nunca produz a justiça esperada. Quem não sofreu com a decisão retardada nem mesmo sabe o que isso representa.
Agora se abriu a possibilidade de o leitor ser tentado a situar o inciso 78, referido há pouco, no campo do simples jogo de palavras. "Não leva a coisa alguma." Por duas razões básicas: os juízes se queixam de estarem sempre sobrecarregados de serviço, o que exigiria muito mais magistrados em cada tribunal, comarca, ou especialidade. Acontece que os tribunais superiores não querem aumentar seu número de magistrados, com argumentos nesse sentido, alguns até razoáveis.
É o caso dos 11 membros do STF e dos 33 do STJ que as duas cortes não desejam ampliar. Nos níveis inferiores, o poder público não quer gastar mais com o Judiciário, até porque, em geral, tem interesse na demora do processo. Em São Paulo, onde estão os maiores tribunais do país, as custas devem até dar lucro, mas o prazo certo e definitivo só existe para os advogados.
Afinal, deixo a questão no ar, porque meus 3.200 toques de computador terminaram. Ao profissional do direito que quiser ampliar a avaliação, sugiro que leia, na "Revista CEJ" do Conselho da Justiça Federal, nº 48, texto sobre a questão do prazo razoável, de Francisco W. Lacerda Dantas. É muito bom e esclarecedor.
Dilma não pode ser melhor que seu governo - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 27/07
Nenhum governante, diz o bom senso, pode ter desempenho melhor que o de seu governo. No caso do Brasil, trata-se de uma administração fracassada, com dois anos e meio de estagnação econômica, inflação alta, contas públicas em mau estado, contas externas em deterioração e resultados gerais muito inferiores aos de outros latino americanos. Além disso, as possibilidades de melhora até o fim do mandato parecem muito escassas. Mas o senso comum dos brasileiros tem algumas peculiaridades notáveis. Parte substancial dos cidadãos considera a presidente Dilma Rousseff melhor que seu pífio governo. Enquanto só 31% avaliam o governo como ótimo ou bom, 45% aprovam o desempenho da presidente. Os dados são da última pesquisa CNI-Ibope e confirmam, de modo geral, as tendências indicadas em sondagens recentes.
Quanto à avaliação da presidente, é importante ressaltar o detalhe: a pergunta é sobre sua maneira de governar. Não se trata de sua pessoa. O entrevistado poderia considerá-la honesta, esforçada, gentilíssima, simpática e movida pelas melhores intenções, mas frustrada em seu empenho por divindades invejosas. O Olimpo é um ninho de maldades. Mas a história é outra, e aí está o dado intrigante. O modo de agir da chefe de governo é avaliado mais favoravelmente que a ação do próprio governo, embora ela seja responsável pela escolha dos ministros e, como todos sabem, centralizadora, mandona e habituada a distribuir broncas e a maltratar seus subordinados.
Essa notável dicotomia entre o presidente e a administração federal pode parecer misteriosa, mas é um velho componente da política nacional. Para milhões de brasileiros, houve sempre uma distância imensa entre a figura de Getúlio e as práticas de seus subordinados. O presidente João Figueiredo sempre foi mais popular que seu governo, embora seu período tenha sido marcado por uma recessão pavorosa, com muito desemprego, empobrecimento e fome. Nessa fase, muitas famílias só conseguiram consumir alguma proteína de origem animal, de vez em quando, porque supermercados passaram a vender separadamente asas de frango. Mas o presidente nunca foi tão mal avaliado quanto qualquer de seus ministros.
Apesar da estranha separação entre o Palácio do Planalto e os ministérios, ainda mais estranha no caso de uma presidente centralizadora, os brasileiros parecem ter noções claras de alguns dos principais defeitos da administração. A avaliação dos impostos e do uso do dinheiro público é inequívoca. Os entrevistados deveriam dizer se, em sua opinião, "o governo já arrecada muito e não precisa aumentar mais os impostos para melhorar os serviços públicos". Essa dupla afirmação foi classificada como total ou parcialmente verdadeira por 87% dos consultados. Para 82%, "a baixa qualidade dos serviços públicos deve-se mais à má utilização dos recursos públicos do que à falta deles". Para 91%, os impostos são elevados ou muito elevados.
A presidente discorda. Na quinta-feira, quando a CNI divulgou a nova pesquisa realizada pelo Ibope, o Diário Oficial registrou o veto ao projeto de extinção da multa adicional de 10% do FGTS nos casos de demissão sem justa causa. Segundo a mensagem presidencial, os parlamentares deixaram de indicar fontes para compensar a perda de cerca de R$ 3 bilhões e, além disso, a falta desse dinheiro forçaria o governo a reduzir investimentos em infraestrutura e no programa habitacional.
As duas alegações são furadas. A multa adicional, paga diretamente ao governo, foi criada para compensar o custo de esqueletos fiscais deixados pelos Planos Verão e Collor 1. Essa função, segundo informou há um ano e meio a Caixa Econômica, gestora do fundo, estaria concluída em julho do ano passado. Não tem sentido, portanto, cobrar dos congressistas a indicação de como compensar a "perda". Em segundo lugar, o governo jamais deveria ter tratado essa receita como recurso permanente.
Esse erro, uma velha tendência da administração brasileira, toma-se mais forte num governo propenso à confusão na área fiscal. A maior parte dos cidadãos acompanha muito de longe as aventuras da administração. Acaba sentindo, depois de algum tempo, os efeitos dos erros acumulados, como os problemas de saúde, segurança e educação. Nenhuma das grandes questões apontadas pelos entrevistados é nova na imprensa independente.
A comparação entre o governo atual e o do presidente Lula é outra aparente esquisitice revelada pela pesquisa. Para 46% dos entrevistados, o governo da presidente Dilma Rousseff é pior que o do antecessor. Em junho, 25% dos consultados haviam expressado essa opinião. Essa avaliação seria mantida, se as pessoas se dispusessem a pensar alguns minutos?
Afinal, o presidente Lula quase se limitou a aproveitar, durante a maior parte de seus oito anos, da herança de reformas deixada pela administração anterior e de um quadro internacional muito favorável até o fim de 2008. Elevou o salário mínimo, transferiu renda com recursos públicos e ampliou o mercado interno, sem nada ter feito para fortalecer a capacidade produtiva do País.
Sua melhor realização foi também a mais fácil. Ele jamais enfrentou para valer as tarefas mais complicadas. Além disso, rejeitou a proposta do ministro Antônio Palocci de iniciar um programa sério de equilíbrio das contas públicas. A presidente Dilma Rousseff apenas manteve o estilo de seu antecessor. Ao insistir nesse caminho, acelerou a desorganização das contas federais, alimentou a inflação e deixou a economia estagnar-se, porque as fontes internas e externas de dinamismo estavam esgotadas. "Dilma não é mais do que uma extensão da gente", disse Lula a companheiros, na terça-feira, num aparente impulso de veracidade. Não faz sentido, neste caso, avaliar a extensão sem levar em conta sua fidelidade à origem.
O isolamento argentino - JOSÉ FRANCISCO PAES LANDIM
O GLOBO - 27/07
Aumenta dia a dia a preocupação das empresas brasileiras com o crescente isolamento da Argentina, nosso principal parceiro no Mercosul. Restrições a importações impactam diretamente os exportadores brasileiros e empresas de grande porte, como a Vale, afastam-se do país enquanto companhias de longo histórico na Argentina, como a América Latina Logística, têm seus bens estatizados após considerarem inviáveis os investimentos exigidos pelo nosso vizinho. Na recente cúpula de Montevidéu, reafirmou-se a importância do Mercosul, mas nosso bloco comercial não será capaz de avançar de forma integrada, até que a Argentina resolva seu problema de isolamento do mundo.
Em 2001, quando a Argentina deixou de pagar sua dívida externa, os portadores de títulos que não foram contemplados pela reestruturação dessa dívida abriram processos no Tribunal de Nova York. Por questões políticas, a Argentina recusou-se a considerar um acordo, o que fez aumentar os desafios econômicos do país e agravar sua situação econômica geral. Os dólares na Argentina já são escassos e as reservas do Banco Central evaporam-se rapidamente, deixando obras importantes sem financiamento. A situação tende a piorar: analistas apontam como certa a derrota argentina na corte americana, cuja decisão deverá ser anunciada em breve; a expectativa é de que o Tribunal de Nova York exija que o país sul-americano pague US$ 1,3 bilhão para resolver os casos restantes. Mas o governo Kirchner já adiantou que não aceitará uma decisão adversa, optando assim por um novo calote.
A Argentina enfrenta há bastante tempo a desconfiança dos investidores. O cenário piorou muito a partir da expropriação da YPF e da subsequente recusa, por parte do governo argentino, a indenizar a então proprietária Repsol, da Espanha. Outras empresas estrangeiras ganharam decisões de arbitragem da ordem de milhões de dólares no tribunal do Banco Mundial, Ciadi, sobre contratos rompidos na crise de 2001; e a recusa argentina em cumprir tais decisões levou a uma cisão entre Banco Mundial e BID, com EUA, Canadá e os principais países europeus opondo-se a novos empréstimos para a Argentina. Um novo calote, além de desnecessário, criaria mais danos econômicos, aprofundando o isolamento do país no momento em que este precisa urgentemente mover-se na direção oposta, voltar para o mercado financeiro e ter acesso ao capital do qual necessita para estabilizar sua economia.
Tal situação tem implicações para todos os membros do Mercosul. A estabilização argentina é fundamental. A diplomacia nacional, em parceria com nossos setores industriais e empresariais, deve fazer o possível para convencer a Argentina a resolver a situação com seus credores e voltar para os mercados financeiros. A questão é urgente e sua discussão, fundamental para o futuro econômico do Brasil e do próprio Mercosul.
Em 2001, quando a Argentina deixou de pagar sua dívida externa, os portadores de títulos que não foram contemplados pela reestruturação dessa dívida abriram processos no Tribunal de Nova York. Por questões políticas, a Argentina recusou-se a considerar um acordo, o que fez aumentar os desafios econômicos do país e agravar sua situação econômica geral. Os dólares na Argentina já são escassos e as reservas do Banco Central evaporam-se rapidamente, deixando obras importantes sem financiamento. A situação tende a piorar: analistas apontam como certa a derrota argentina na corte americana, cuja decisão deverá ser anunciada em breve; a expectativa é de que o Tribunal de Nova York exija que o país sul-americano pague US$ 1,3 bilhão para resolver os casos restantes. Mas o governo Kirchner já adiantou que não aceitará uma decisão adversa, optando assim por um novo calote.
A Argentina enfrenta há bastante tempo a desconfiança dos investidores. O cenário piorou muito a partir da expropriação da YPF e da subsequente recusa, por parte do governo argentino, a indenizar a então proprietária Repsol, da Espanha. Outras empresas estrangeiras ganharam decisões de arbitragem da ordem de milhões de dólares no tribunal do Banco Mundial, Ciadi, sobre contratos rompidos na crise de 2001; e a recusa argentina em cumprir tais decisões levou a uma cisão entre Banco Mundial e BID, com EUA, Canadá e os principais países europeus opondo-se a novos empréstimos para a Argentina. Um novo calote, além de desnecessário, criaria mais danos econômicos, aprofundando o isolamento do país no momento em que este precisa urgentemente mover-se na direção oposta, voltar para o mercado financeiro e ter acesso ao capital do qual necessita para estabilizar sua economia.
Tal situação tem implicações para todos os membros do Mercosul. A estabilização argentina é fundamental. A diplomacia nacional, em parceria com nossos setores industriais e empresariais, deve fazer o possível para convencer a Argentina a resolver a situação com seus credores e voltar para os mercados financeiros. A questão é urgente e sua discussão, fundamental para o futuro econômico do Brasil e do próprio Mercosul.
Muito a melhorar - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 27/07
Há duas semanas, uma matéria da revista The Economist dava conta de que grandes redes varejistas mundiais começam a se ressentir da forte migração de consumidores para as compras pela internet.
No Brasil, apesar dos avanços, isso está longe de ocorrer, porque problemas não equacionados ainda afastam clientes e contribuem para emperrar as vendas online.
Embora só metade da população (46,5%) tenha acesso à internet, como mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) colhidos em 2011, as perspectivas são promissoras. Nos últimos cinco anos, o número de compradores triplicou no País e a estimativa é de 8 milhões de novos clientes em 2013, o que perfará 50 milhões de consumidores. A consultoria e-bit, especializada na área, também prevê um faturamento de R$ 28 bilhões para o setor até o final deste ano (veja o gráfico).
Além de frete gratuito e preços mais baixos, alguns fatores têm atuado para aumentar o atrativo do varejo online. Um desses fatores é a comodidade de fazer compras sem ter de sair de casa e enfrentar exasperantes congestionamentos de trânsito e problemas de estacionamento. Outro, a vasta oferta de informações disponíveis na internet, que permitem comparações quase instantâneas de preços, fornecedor por fornecedor, com a vantagem adicional de dar acesso à opinião de outros compradores sobre a qualidade do produto.
Mas há problemas. Apenas no primeiro semestre de 2013, a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP) recebeu 23 mil reclamações contra o setor de comércio eletrônico, das quais 43% se referem a atrasos ou entregas nunca realizadas.
Entre as explicações do presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, Ludovino Lopes, para esses problemas estão as péssimas condições de infraestrutura e falta de segurança das estradas, sujeitas a roubos e desvios de mercadorias no trajeto até o consumidor.
São desafios enfrentados por outros segmentos da economia e que, em parte, podem ser cobertos por seguro ou procedimentos de segurança. Além disso, não justificam a falta de transparência e de consideração de tantos fornecedores para com seus clientes. Prover atendimento eletrônico eficaz, que confirme o recebimento das demandas do comprador, está entre as normas estabelecidas pelo Decreto 7.962 que, desde 14 de maio deste ano, regulamenta o Código de Defesa do Consumidor (CDC) para o setor.
Também é exigido que as empresas deem satisfação às queixas em até cinco dias úteis. Se a norma fosse cumprida, muitos aborrecimentos seriam evitados. Nesses casos, os clientes são, muitas vezes, levados a repetir à exaustão dados pessoais e outras informações apenas para cobrar um mínimo de eficiência das empresas. Pesquisa realizada pelo Instituto Ibero-Americano de Relacionamento com o Cliente (IBRC) aponta que apenas 47% das empresas cumprem o prazo estabelecido pelo CDC.
São indicações de que, mesmo com o propalado sucesso, o comércio eletrônico ainda precisa melhorar seus serviços no Brasil.
Há duas semanas, uma matéria da revista The Economist dava conta de que grandes redes varejistas mundiais começam a se ressentir da forte migração de consumidores para as compras pela internet.
No Brasil, apesar dos avanços, isso está longe de ocorrer, porque problemas não equacionados ainda afastam clientes e contribuem para emperrar as vendas online.
Embora só metade da população (46,5%) tenha acesso à internet, como mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) colhidos em 2011, as perspectivas são promissoras. Nos últimos cinco anos, o número de compradores triplicou no País e a estimativa é de 8 milhões de novos clientes em 2013, o que perfará 50 milhões de consumidores. A consultoria e-bit, especializada na área, também prevê um faturamento de R$ 28 bilhões para o setor até o final deste ano (veja o gráfico).
Além de frete gratuito e preços mais baixos, alguns fatores têm atuado para aumentar o atrativo do varejo online. Um desses fatores é a comodidade de fazer compras sem ter de sair de casa e enfrentar exasperantes congestionamentos de trânsito e problemas de estacionamento. Outro, a vasta oferta de informações disponíveis na internet, que permitem comparações quase instantâneas de preços, fornecedor por fornecedor, com a vantagem adicional de dar acesso à opinião de outros compradores sobre a qualidade do produto.
Mas há problemas. Apenas no primeiro semestre de 2013, a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP) recebeu 23 mil reclamações contra o setor de comércio eletrônico, das quais 43% se referem a atrasos ou entregas nunca realizadas.
Entre as explicações do presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, Ludovino Lopes, para esses problemas estão as péssimas condições de infraestrutura e falta de segurança das estradas, sujeitas a roubos e desvios de mercadorias no trajeto até o consumidor.
São desafios enfrentados por outros segmentos da economia e que, em parte, podem ser cobertos por seguro ou procedimentos de segurança. Além disso, não justificam a falta de transparência e de consideração de tantos fornecedores para com seus clientes. Prover atendimento eletrônico eficaz, que confirme o recebimento das demandas do comprador, está entre as normas estabelecidas pelo Decreto 7.962 que, desde 14 de maio deste ano, regulamenta o Código de Defesa do Consumidor (CDC) para o setor.
Também é exigido que as empresas deem satisfação às queixas em até cinco dias úteis. Se a norma fosse cumprida, muitos aborrecimentos seriam evitados. Nesses casos, os clientes são, muitas vezes, levados a repetir à exaustão dados pessoais e outras informações apenas para cobrar um mínimo de eficiência das empresas. Pesquisa realizada pelo Instituto Ibero-Americano de Relacionamento com o Cliente (IBRC) aponta que apenas 47% das empresas cumprem o prazo estabelecido pelo CDC.
São indicações de que, mesmo com o propalado sucesso, o comércio eletrônico ainda precisa melhorar seus serviços no Brasil.
Os erros da semana - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 27/07
Foi uma semana de frio inusitado no Brasil todo, até em cidades pouco acostumadas com isso, como o Rio. De presença intensa do Papa Francisco, com palavras e gestos aos quais é difícil ficar indiferente, concordando ou discordando. De confirmação da queda da popularidade da presidente e de governadores. De indicadores econômicos com a fraqueza da economia.
A viagem do Papa mostrou que o Rio exibiu falhas flagrantes de planejamento e logística. A pior delas foi o alagamento do Campo de Guaratiba. A chuva previsível afundou na lama um espaço onde havia riscos enormes de tal fato acontecer. O trânsito frustrou os visitantes e atormentou a vida dos moradores. Os governantes estavam achando que bastavam alguns dias de feriado que tudo se resolveria; só que a vida segue seu curso, muitas atividades não podem, nem querem parar. Houve momentos em que os cariocas se sentiram sem direito de ir e vir.
A estrutura de TI mostrou sua falha. Para atender ao crescimento da demanda, a qualidade da conexão piorou muito; a telefonia celular, que sempre foi péssima, virou uma calamidade. A cidade é hoje uma coleção de pontos cegos das várias operadoras.
Tudo isso tem um custo de imagem difícil de mensurar. Cada um desses visitantes de outros países será propagador do que não funcionou, a imprensa estrangeira vai usar todo o seu poder de propagação para falar das dificuldades que enfrentou para realizar seu trabalho.
Na chegada do Papa Francisco, a presidente submeteu o líder da Igreja Católica a um discurso cansativo e despropositado. Quando ela apresentou os avanços do país, fazendo o corte político - ao falar apenas "nos dez últimos anos" -, excluiu parte do Brasil. Um estadista, em momentos assim, fala em nome de todo o país, e quem não professa a fé petista sabe que os avanços sociais brasileiros foram conquistas do período democrático; com marcos importantes na Constituição de 1988 e na estabilização de 1994. Ela poderia enaltecer os avanços conduzidos pelo seu grupo político, dentro de um contexto mais amplo, mas o melhor seria fazer um discurso não eleitoreiro. Há momento para tudo debaixo do céu, e aquele não era de campanha política.
A pesquisa da CNI-Ibope confirmou o movimento, ainda não encerrado, de perda de apoio da presidente Dilma. Parte dessa perda se deve à enorme distância entre a maneira como sua campanha eleitoral a apresentou e o que ela demonstrou ser: a gerente que tudo administraria com competência e a estadista em movimento constante num país de trens modernos e ágil mobilidade não têm relação com a realidade dos últimos anos. Os obstáculos ficaram mais fortes, a crise de mobilidade urbana e interurbana se agravou, e o governo de 39 ministérios tem se mostrado cada vez menos administrável. Outra desdita foi jogada sobre ela por seus próprios companheiros com a campanha para que volte o ex-presidente Lula.
A economia está dando sinais cada vez mais eloquentes de dificuldade. Esta semana foi a de ficar de frente com o crescimento de 70% do déficit em transações correntes; e com mais uma encenação de corte de gastos. Depois de espremido, nada ficou da redução das despesas anunciada pelo ministro Guido Mantega e pela ministra Miriam Belchior. Até o Banco Central tinha pedido que o governo anunciasse de forma clara as metas fiscais e como se chegou a esse número. Dizer que vai cortar em gastos de viagens, em material de limpeza, em contas de luz, e na decisão de enviar menos recursos para o deficitário INSS é não informar com clareza a situação fiscal do país
A lógica política do crescimento chinês - MARCOS CARAMURU DE PAIVA
FOLHA DE SP - 27/07
Expansão elevada do PIB obscurece empenho por reformas defendidas pelo presidente Xi Jinping
Analistas no mundo inteiro perguntam-se hoje que taxa mínima de crescimento o governo da China tolerará sem que recorra a aumentos substanciais dos investimentos estatais. O ministro da Fazenda, Lou Jiwei, indicou que, para 2013, espera 7% e, para mais adiante, considera 6,5% resultado tolerável.
Um fator importante a definir o piso de crescimento será a geração de emprego. O governo chinês sempre temeu a frustração dos recém-formados, sobretudo os que saíram do campo para estudar na cidade e que, sem emprego, dadas as regras de mobilidade geográfica vigentes, têm que voltar ao local de origem.
Na era das redes sociais, lidar com jovens insatisfeitos é, em toda parte, arriscado.
Mas há outros pontos relevantes na equação. O crescimento elevado obscurece o empenho por reformas. Agrada os conservadores e dirigentes locais. A ala reformista do partido sabe que, sem mudanças, a China perderá gás.
A impressão que fica é que formar consensos internos está mais trabalhoso do que se imaginou. Há quem tenha começado a duvidar da própria determinação do presidente Xi Jinping em enfrentar o custo político de grandes transformações.
Esta semana, numa reunião em Hubei, Xi voltou a defender a necessidade de reformas. Numa de suas falas, indicou que "a chave é aprofundá-las em todas as áreas".
Desde que assumiu, em março, o governo parece estar seguindo uma ordem planejada de decisões.
O primeiro passo foi ampliar a disciplina partidária, expor casos de corrupção e condenar diversos membros do partido a penas pesadas.
O segundo tem sido o anúncio de mudanças que funcionam mais como balões de ensaio.
Dois exemplos: (1) Xangai foi autorizada a flexibilizar a regra do hukou (documento de origem territorial das famílias), de modo a facilitar a legalização de trabalhadores originários de outras partes da China; (2) os bancos foram liberados para oferecer juros de empréstimos a seus tomadores, abaixo da faixa fixada pelo Banco Central.
Na verdade, as novas regras de Xangai são tão rígidas que um número reduzidíssimo de profissionais poderá valer-se delas para ganhar um hukou da cidade.
Já a liberalização dos juros terá impacto irrelevante sobre o barateamento do crédito. Talvez ajude algumas estatais. Mas as mudanças nos juros e no hukou indicam um sentido de direção.
O grande projeto anunciado até o momento foi a criação de uma zona de livre comércio em Xangai, uma espécie de versão atualizada do plano de abertura de Deng Xiaoping, em Shenzhen, em 1978, agora envolvendo livre acesso do setor financeiro externo à nova zona e flexibilidade nas regras cambiais.
O primeiro-ministro Li Keqiang, ao que se sabe, teve que usar todo o seu peso político para vencer resistências e emplacar a ideia.
Os cruzamentos de dados dos economistas ajudarão, como sempre, a estimar o crescimento. Mas quem quiser entender o que acontecerá na China terá que lançar um olhar aos sinais políticos emitidos aqui e ali. E esperar com paciência as grandes novidades.
Expansão elevada do PIB obscurece empenho por reformas defendidas pelo presidente Xi Jinping
Analistas no mundo inteiro perguntam-se hoje que taxa mínima de crescimento o governo da China tolerará sem que recorra a aumentos substanciais dos investimentos estatais. O ministro da Fazenda, Lou Jiwei, indicou que, para 2013, espera 7% e, para mais adiante, considera 6,5% resultado tolerável.
Um fator importante a definir o piso de crescimento será a geração de emprego. O governo chinês sempre temeu a frustração dos recém-formados, sobretudo os que saíram do campo para estudar na cidade e que, sem emprego, dadas as regras de mobilidade geográfica vigentes, têm que voltar ao local de origem.
Na era das redes sociais, lidar com jovens insatisfeitos é, em toda parte, arriscado.
Mas há outros pontos relevantes na equação. O crescimento elevado obscurece o empenho por reformas. Agrada os conservadores e dirigentes locais. A ala reformista do partido sabe que, sem mudanças, a China perderá gás.
A impressão que fica é que formar consensos internos está mais trabalhoso do que se imaginou. Há quem tenha começado a duvidar da própria determinação do presidente Xi Jinping em enfrentar o custo político de grandes transformações.
Esta semana, numa reunião em Hubei, Xi voltou a defender a necessidade de reformas. Numa de suas falas, indicou que "a chave é aprofundá-las em todas as áreas".
Desde que assumiu, em março, o governo parece estar seguindo uma ordem planejada de decisões.
O primeiro passo foi ampliar a disciplina partidária, expor casos de corrupção e condenar diversos membros do partido a penas pesadas.
O segundo tem sido o anúncio de mudanças que funcionam mais como balões de ensaio.
Dois exemplos: (1) Xangai foi autorizada a flexibilizar a regra do hukou (documento de origem territorial das famílias), de modo a facilitar a legalização de trabalhadores originários de outras partes da China; (2) os bancos foram liberados para oferecer juros de empréstimos a seus tomadores, abaixo da faixa fixada pelo Banco Central.
Na verdade, as novas regras de Xangai são tão rígidas que um número reduzidíssimo de profissionais poderá valer-se delas para ganhar um hukou da cidade.
Já a liberalização dos juros terá impacto irrelevante sobre o barateamento do crédito. Talvez ajude algumas estatais. Mas as mudanças nos juros e no hukou indicam um sentido de direção.
O grande projeto anunciado até o momento foi a criação de uma zona de livre comércio em Xangai, uma espécie de versão atualizada do plano de abertura de Deng Xiaoping, em Shenzhen, em 1978, agora envolvendo livre acesso do setor financeiro externo à nova zona e flexibilidade nas regras cambiais.
O primeiro-ministro Li Keqiang, ao que se sabe, teve que usar todo o seu peso político para vencer resistências e emplacar a ideia.
Os cruzamentos de dados dos economistas ajudarão, como sempre, a estimar o crescimento. Mas quem quiser entender o que acontecerá na China terá que lançar um olhar aos sinais políticos emitidos aqui e ali. E esperar com paciência as grandes novidades.
Algazarra do bem - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 27/07
Além dos milagres já anunciados - fazer os brasileiros se apaixonarem por um argentino e, mais, um argentino humilde, alguém conhece outro? - o Papa Francisco está promovendo um espetáculo ao qual nem as nossas mais famosas festas pagãs, o carnaval e o futebol, nem o réveillon, que é meio profano, meio religioso, se equiparam em fervor e alegria natural (sem o estímulo etílico). Levar 500 mil pessoas às areias encharcadas de Copacabana num dia e, no seguinte, o dobro disso para assistirem a demoradas cerimônias religiosas debaixo de uma chuva cortante e sob um frio desconhecido, que parece ter sido trazido na mochila dos peregrinos noruegueses, é um feito inédito. Ele atribuiu à força da fé essa afluência de multidões molhadas para vê-lo, ouvi-lo e, quando possível, tocá-lo. De fato, tirar as pessoas de casa ou dos alojamentos para enfrentar um trânsito caótico que não poupou nem o Sumo Pontífice na chegada, suportar pane do metrô e falta de ônibus, entrar em filas intermináveis para obter senhas, acordar de madrugada, aguentar enfim estoicamente a indesculpável desorganização de um evento previsto há meses, só mesmo por milagre. Bote fé nisso!
"Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e da chuva, mas vocês estão mostrando que a fé é mais forte que o frio e a chuva", ele discursou ontem na comunidade de Manguinhos. Por modéstia, não acrescentou que, tanto quanto a fé, há o seu carisma e incrível capacidade de mobilizar as massas, empolgá-las e seduzi-las com palavras e gestos, graça e humor. E a resistência física? Enquanto o acompanhava pela TV na Missa da Acolhida em Copacabana, que demorou até a noite, tive que levantar para ir ao banheiro umas duas vezes, e ele lá, após um dia exaustivo, ouvindo e falando, falando e ouvindo durante horas, sem tomar um copo d'água e, pior, sem poder dizer: "Um instantinho que vou lá dentro e volto já." Representante de Deus na Terra, ele com certeza não está submetido às necessidades terrenas de reles pecadores como eu.
Outro destaque. Nesse espetáculo em que Francisco é o protagonista, há um ator ao mesmo tempo personagem e plateia: os peregrinos daqui e de fora. Temia-se que essa invasão de forasteiros da Jornada Mundial da Juventude tumultuasse o Rio, o que levou muita gente a sair da cidade. Eu mesmo pensei em fazer isso. Pois esses jovens barulhentos e vibrantes, cantando e pulando pelas ruas, em vez de tumulto, promoveram uma pacífica algazarra do bem.
"Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e da chuva, mas vocês estão mostrando que a fé é mais forte que o frio e a chuva", ele discursou ontem na comunidade de Manguinhos. Por modéstia, não acrescentou que, tanto quanto a fé, há o seu carisma e incrível capacidade de mobilizar as massas, empolgá-las e seduzi-las com palavras e gestos, graça e humor. E a resistência física? Enquanto o acompanhava pela TV na Missa da Acolhida em Copacabana, que demorou até a noite, tive que levantar para ir ao banheiro umas duas vezes, e ele lá, após um dia exaustivo, ouvindo e falando, falando e ouvindo durante horas, sem tomar um copo d'água e, pior, sem poder dizer: "Um instantinho que vou lá dentro e volto já." Representante de Deus na Terra, ele com certeza não está submetido às necessidades terrenas de reles pecadores como eu.
Outro destaque. Nesse espetáculo em que Francisco é o protagonista, há um ator ao mesmo tempo personagem e plateia: os peregrinos daqui e de fora. Temia-se que essa invasão de forasteiros da Jornada Mundial da Juventude tumultuasse o Rio, o que levou muita gente a sair da cidade. Eu mesmo pensei em fazer isso. Pois esses jovens barulhentos e vibrantes, cantando e pulando pelas ruas, em vez de tumulto, promoveram uma pacífica algazarra do bem.
PARIS EM CHAMAS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 27/07
Com os hotéis Ritz e Crillon fechados para reforma, o mercado de hotelaria de alto luxo na capital francesa está em ebulição. O Le Bristol, um dos cenários de "Meia-Noite em Paris", de Woody Allen, registra taxas de ocupação elevadas de suas suítes mais caras: a Imperial Garden (diária de 24 mil euros, cerca de R$ 69.840) e a Royal (18 mil euros).
PARIS EM CHAMAS 2
João Annibale, CEO do The Leading Hotels of the World no Brasil, diz que a oferta de menos leitos na categoria superluxo elevou o valor médio das diárias. No Bristol, a suíte mais procurada por brasileiros está em 3.400 euros (R$ 9.890) por noite. "Tem socialite se estapeando, dizendo que paga o dobro", relata. "Mas o preço máximo é o de balcão. Não é leilão."
PARIS EM CHAMAS 3
E a situação tende a piorar. A partir de outubro, outro ícone da hotelaria parisiense, o Plaza Athénée, também será fechado para obras.
NEM SÓ DE PÃO...
O papa Francisco gostou do tagliatelle com ragu de coelho servido a ele no Rio. O prato foi preparado pelo chef Pasquale Mancini, que cuida do cardápio da comitiva de 40 pessoas do Vaticano durante a Jornada Mundial da Juventude.
...VIVE O HOMEM
O cozinheiro do restaurante Terraço Itália, de SP, trabalha com a equipe da residência oficial da arquidiocese do Rio para dar um toque italiano ao cardápio. Mancini foi escolhido para cuidar das refeições do papa por organizadores do evento clientes do restaurante paulistano, que doou ingredientes para o menu papal.
DECORA JÁ
A 26ª edição paulista da Casa Cor teve 197 mil visitantes. O recorde de visitação surpreendeu em meio à onda de manifestações. Encerrado em 21 de julho, o evento teve um aumento de público de 12% em relação a 2012.
SETENTÃO
Lucas Jagger, 14, foi para Londres festejar o aniversário do pai, Mick, que ontem fez 70 anos. Filho do vocalista dos Rolling Stones com a brasileira Luciana Gimenez, o adolescente passou as férias com a mãe na França.
CARRINHO
Após temporada de 20 dias entre Europa e Estados Unidos, Luciana retornou ontem de Nova York com o marido, Marcelo de Carvalho, e o filho caçula, Lorenzo. A bagagem da família, com dez malas, chamou a atenção.
PRA DEPOIS
Katharina Wagner, bisneta do compositor alemão Richard Wagner, ligou para o diretor brasileiro André Heller-Lopes dizendo ter ficado triste porque o Theatro Municipal de SP adiou a montagem da ópera "Siegfried", prevista para 2014. A instituição diz que o espetáculo entrará em cartaz até 2016.
DIREÇÃO Isabelle Drummond, 19, no ar em "Sangue Bom", diz à revista "Glamour" que já foi multada dez vezes: "Dirijo correndo. Tipo a 160 km/h. Não façam isso, tá?"
CHOVE CHUVA
A pré-estreia de "Três Dias de Chuva", que tem Carolina Ferraz no elenco, sob a direção de Jô Soares, foi anteontem no teatro Raul Cortez, no centro. As atrizes Lucy Ramos e Luciana Vendramini e o diretor do "Programa do Jô", Willem van Weerelt, assistiram à peça.
A IGREJA NA TEORIA
O teólogo Leonardo Boff lançou o livro "Francisco de Assis e Francisco de Roma "" Uma Nova Primavera na Igreja?", na Livraria da Vila, onde recebeu a pesquisadora Maluh Barciotte e a professora Márcia Alvarenga.
CURTO-CIRCUITO
O monólogo musical "Lenya", de Amir Labaki, estrelado por Mônica Guimarães, encerra hoje temporada no teatro Sérgio Cardoso, às 23h30. 14 anos.
Os músicos Monarco, Tia Surica e Moacyr Luz fazem roda de samba hoje, no bar Pirajá, em Pinheiros, a partir das 13h.
O estúdio de yoga Namaskara, no Brooklin, promove hoje aula para arrecadar dinheiro para comunidades carentes.
Gui Amabis faz amanhã, na Serralheria, na Lapa, show do seu segundo disco. Às 20h. 18 anos.
PARIS EM CHAMAS 2
João Annibale, CEO do The Leading Hotels of the World no Brasil, diz que a oferta de menos leitos na categoria superluxo elevou o valor médio das diárias. No Bristol, a suíte mais procurada por brasileiros está em 3.400 euros (R$ 9.890) por noite. "Tem socialite se estapeando, dizendo que paga o dobro", relata. "Mas o preço máximo é o de balcão. Não é leilão."
PARIS EM CHAMAS 3
E a situação tende a piorar. A partir de outubro, outro ícone da hotelaria parisiense, o Plaza Athénée, também será fechado para obras.
NEM SÓ DE PÃO...
O papa Francisco gostou do tagliatelle com ragu de coelho servido a ele no Rio. O prato foi preparado pelo chef Pasquale Mancini, que cuida do cardápio da comitiva de 40 pessoas do Vaticano durante a Jornada Mundial da Juventude.
...VIVE O HOMEM
O cozinheiro do restaurante Terraço Itália, de SP, trabalha com a equipe da residência oficial da arquidiocese do Rio para dar um toque italiano ao cardápio. Mancini foi escolhido para cuidar das refeições do papa por organizadores do evento clientes do restaurante paulistano, que doou ingredientes para o menu papal.
DECORA JÁ
A 26ª edição paulista da Casa Cor teve 197 mil visitantes. O recorde de visitação surpreendeu em meio à onda de manifestações. Encerrado em 21 de julho, o evento teve um aumento de público de 12% em relação a 2012.
SETENTÃO
Lucas Jagger, 14, foi para Londres festejar o aniversário do pai, Mick, que ontem fez 70 anos. Filho do vocalista dos Rolling Stones com a brasileira Luciana Gimenez, o adolescente passou as férias com a mãe na França.
CARRINHO
Após temporada de 20 dias entre Europa e Estados Unidos, Luciana retornou ontem de Nova York com o marido, Marcelo de Carvalho, e o filho caçula, Lorenzo. A bagagem da família, com dez malas, chamou a atenção.
PRA DEPOIS
Katharina Wagner, bisneta do compositor alemão Richard Wagner, ligou para o diretor brasileiro André Heller-Lopes dizendo ter ficado triste porque o Theatro Municipal de SP adiou a montagem da ópera "Siegfried", prevista para 2014. A instituição diz que o espetáculo entrará em cartaz até 2016.
DIREÇÃO Isabelle Drummond, 19, no ar em "Sangue Bom", diz à revista "Glamour" que já foi multada dez vezes: "Dirijo correndo. Tipo a 160 km/h. Não façam isso, tá?"
CHOVE CHUVA
A pré-estreia de "Três Dias de Chuva", que tem Carolina Ferraz no elenco, sob a direção de Jô Soares, foi anteontem no teatro Raul Cortez, no centro. As atrizes Lucy Ramos e Luciana Vendramini e o diretor do "Programa do Jô", Willem van Weerelt, assistiram à peça.
A IGREJA NA TEORIA
O teólogo Leonardo Boff lançou o livro "Francisco de Assis e Francisco de Roma "" Uma Nova Primavera na Igreja?", na Livraria da Vila, onde recebeu a pesquisadora Maluh Barciotte e a professora Márcia Alvarenga.
CURTO-CIRCUITO
O monólogo musical "Lenya", de Amir Labaki, estrelado por Mônica Guimarães, encerra hoje temporada no teatro Sérgio Cardoso, às 23h30. 14 anos.
Os músicos Monarco, Tia Surica e Moacyr Luz fazem roda de samba hoje, no bar Pirajá, em Pinheiros, a partir das 13h.
O estúdio de yoga Namaskara, no Brooklin, promove hoje aula para arrecadar dinheiro para comunidades carentes.
Gui Amabis faz amanhã, na Serralheria, na Lapa, show do seu segundo disco. Às 20h. 18 anos.
Jornadas de junho, fiascos de julho - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 27/07
O hóspede irradia bonomia, serenidade, franqueza, competência – em paz com a vida. Ao contrário dos anfitriões irritados, impacientes, inseguros. E canhestros. O papa Francisco está se saindo maravilhosamente bem na primeira missão ao exterior. Nota dez. Parece à vontade, talhado para o papel que desempenha, comunica-se antes mesmo de falar. Já os seus hospedeiros tropeçaram em quase todas as oportunidades e esferas, reprovados na maioria dos testes, a partir dos primeiros instantes da visita. Nota zero (sujeita a revisão em função dos lances finais do programa).
O discurso de boas-vindas da presidente Dilma Rousseff retratou fielmente os desencontros e hesitações no centro do poder. Queriam que o papa viesse avalizar um projeto de governo, mas o pontífice veio para celebrar sua fé. Em algumas mensagens, até condenou a veneração do consumo que a equipe econômica imaginava como propulsora do progresso.
A saudação da presidente foi longa, imprópria e impertinente. Não lembrava uma estadista, nem a chefe de Estado que nos últimos dois anos e meio circulou nos principais cenáculos mundiais. Dilma Rousseff subiu no palanque e transformou-se em candidata, fez a escolha menos indicada e mais imprudente para quem precisa aparecer nos próximos 15 meses como a operadora das esperanças vocalizadas nas ruas.
O grande vexame foi injustamente protagonizado pela cidade do Rio de Janeiro; porém, os responsáveis pelos sucessivos desastres – tanto no planejamento como na execução do evento – são o prefeito Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral Filho e seus antecessores nas últimas duas décadas.
A administração da Cidade Maravilhosa vem sendo paulatinamente desvitalizada; extraíram dela a noção de qualidade na prestação de serviços e em seu lugar deixaram que se instalasse o desleixo, a desatenção e o descuido – ao cidadão, ao usuário ou ao cliente. A obsessão por obras não foi acompanhada pelo indispensável empenho no atendimento público. O desmazelo e a incúria da máquina administrativa estenderam-se às áreas contíguas, dos grandes aos pequenos concessionários, diretos e indiretos. O que seria governança desgovernou.
A ex-capital federal não foi apenas esvaziada economicamente, tornando-se um charmoso apêndice de São Paulo. Canibalizaram o espírito inovador, a capacidade criadora e, sobretudo, o seu estilo. Perdeu escala e só não perdeu a graça porque parte do seu passado está imantado às ruas, fachadas e paisagem.
Aqueles que em meados da década passada imaginaram um infalível encadeamento de sucessos internacionais testemunham agora, a contragosto, o desmonte da miragem. Não é azar nem mau-olhado de rivais. Apenas acúmulo de negligências.
O país está transmitindo ao mundo uma perigosa imagem de ineficiência e imperícia justamente na reta final dos preparativos para os grandes eventos de 2014 e 2016. A idolatria pelos portentosos espetáculos sem a devida qualificação estrutural e humana começou a ruir nas jornadas de junho e confirma-se agora com estes fiascos de julho.
O papa Francisco chegou fazendo blague com o ditado de que Deus é brasileiro. Voltará convencido de que é a pura verdade: não fosse Deus, tudo teria sido muito pior.
O hóspede irradia bonomia, serenidade, franqueza, competência – em paz com a vida. Ao contrário dos anfitriões irritados, impacientes, inseguros. E canhestros. O papa Francisco está se saindo maravilhosamente bem na primeira missão ao exterior. Nota dez. Parece à vontade, talhado para o papel que desempenha, comunica-se antes mesmo de falar. Já os seus hospedeiros tropeçaram em quase todas as oportunidades e esferas, reprovados na maioria dos testes, a partir dos primeiros instantes da visita. Nota zero (sujeita a revisão em função dos lances finais do programa).
O discurso de boas-vindas da presidente Dilma Rousseff retratou fielmente os desencontros e hesitações no centro do poder. Queriam que o papa viesse avalizar um projeto de governo, mas o pontífice veio para celebrar sua fé. Em algumas mensagens, até condenou a veneração do consumo que a equipe econômica imaginava como propulsora do progresso.
A saudação da presidente foi longa, imprópria e impertinente. Não lembrava uma estadista, nem a chefe de Estado que nos últimos dois anos e meio circulou nos principais cenáculos mundiais. Dilma Rousseff subiu no palanque e transformou-se em candidata, fez a escolha menos indicada e mais imprudente para quem precisa aparecer nos próximos 15 meses como a operadora das esperanças vocalizadas nas ruas.
O grande vexame foi injustamente protagonizado pela cidade do Rio de Janeiro; porém, os responsáveis pelos sucessivos desastres – tanto no planejamento como na execução do evento – são o prefeito Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral Filho e seus antecessores nas últimas duas décadas.
A administração da Cidade Maravilhosa vem sendo paulatinamente desvitalizada; extraíram dela a noção de qualidade na prestação de serviços e em seu lugar deixaram que se instalasse o desleixo, a desatenção e o descuido – ao cidadão, ao usuário ou ao cliente. A obsessão por obras não foi acompanhada pelo indispensável empenho no atendimento público. O desmazelo e a incúria da máquina administrativa estenderam-se às áreas contíguas, dos grandes aos pequenos concessionários, diretos e indiretos. O que seria governança desgovernou.
A ex-capital federal não foi apenas esvaziada economicamente, tornando-se um charmoso apêndice de São Paulo. Canibalizaram o espírito inovador, a capacidade criadora e, sobretudo, o seu estilo. Perdeu escala e só não perdeu a graça porque parte do seu passado está imantado às ruas, fachadas e paisagem.
Aqueles que em meados da década passada imaginaram um infalível encadeamento de sucessos internacionais testemunham agora, a contragosto, o desmonte da miragem. Não é azar nem mau-olhado de rivais. Apenas acúmulo de negligências.
O país está transmitindo ao mundo uma perigosa imagem de ineficiência e imperícia justamente na reta final dos preparativos para os grandes eventos de 2014 e 2016. A idolatria pelos portentosos espetáculos sem a devida qualificação estrutural e humana começou a ruir nas jornadas de junho e confirma-se agora com estes fiascos de julho.
O papa Francisco chegou fazendo blague com o ditado de que Deus é brasileiro. Voltará convencido de que é a pura verdade: não fosse Deus, tudo teria sido muito pior.
À deriva - MÁRCIA ROSA DE ARAUJO
O GLOBO - 27/07
Desde o momento em que decide ser médico, o profissional assume uma série de responsabilidades por toda a vida. O que o estudante, com seus sonhos, muitas vezes não sabe é que o pleno exercício da Medicina depende de várias questões externas. E nós, médicos, juntamente com a população que necessita de um sistema de saúde digno, estamos embarcando em uma arca à deriva.
O governo começa a construir a arca pelo telhado. Então, é bem possível que afunde. Isso acontece porque não tem como fiscalizar as péssimas condições das faculdades do país, inclusive as que passaram pelo Provão. Várias instituições avaliadas com letra "E" pelo Ministério da Educação continuam abertas e sequer se aprimoraram. As mesmas cometeram o abuso de receber as mensalidades dos alunos sem lhes oferecer aulas práticas ou teóricas. Tal falta gravíssima, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atribuiu como caso a ser denunciado ao Procon. Em nenhum momento se debateu a melhoria das condições de trabalho nos hospitais do SUS. Prometem, sim, aumentar o número de faculdades. Mas, e a infraestrutura? Hoje, a maioria esmagadora das instituições privadas se utiliza desses hospitais para treinar alunos. Será que as faculdades também vão construir hospitais de qualidade para que alunos das universidades públicas possam estagiar?
Seguindo as novas - e descabidas - medidas do governo para a Saúde, esses mesmos estudantes terão de acrescentar dois anos na sua formação, sem preceptoria presencial e enfrentando as péssimas condições de trabalho que o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro denuncia constantemente. A falta de infraestrutura para atendimento, a carência de concursos públicos com salários dignos e de uma carreira de Estado que os médicos brasileiros enfrentam serão atraentes para os estrangeiros? Aliás, nada garante que, sem a revalidação de diploma, muitos destes profissionais possam, na visão do governo, exercer a Medicina sem serem médicos, conforme pudemos notar nos vetos da Lei do Ato Médico.
Como se não bastasse, a residência médica não está garantida em 2014. Nenhuma das esferas governamentais se movimenta para promover as provas do concurso que deve ser realizado no fim deste ano. Assim, mais uma instância de qualificação dos médicos está sob desmonte.
Lamentavelmente, as entidades médicas, legítima representação daqueles que atendem os pacientes no dia a dia, sequer foram consultadas. Esperamos que a população, que se encontra num momento ímpar de reivindicação por seus direitos, possa entrar e se manter nesta arca.
Por enquanto, estamos à deriva. Para onde vamos? Salve-se quem puder!
O governo começa a construir a arca pelo telhado. Então, é bem possível que afunde. Isso acontece porque não tem como fiscalizar as péssimas condições das faculdades do país, inclusive as que passaram pelo Provão. Várias instituições avaliadas com letra "E" pelo Ministério da Educação continuam abertas e sequer se aprimoraram. As mesmas cometeram o abuso de receber as mensalidades dos alunos sem lhes oferecer aulas práticas ou teóricas. Tal falta gravíssima, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atribuiu como caso a ser denunciado ao Procon. Em nenhum momento se debateu a melhoria das condições de trabalho nos hospitais do SUS. Prometem, sim, aumentar o número de faculdades. Mas, e a infraestrutura? Hoje, a maioria esmagadora das instituições privadas se utiliza desses hospitais para treinar alunos. Será que as faculdades também vão construir hospitais de qualidade para que alunos das universidades públicas possam estagiar?
Seguindo as novas - e descabidas - medidas do governo para a Saúde, esses mesmos estudantes terão de acrescentar dois anos na sua formação, sem preceptoria presencial e enfrentando as péssimas condições de trabalho que o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro denuncia constantemente. A falta de infraestrutura para atendimento, a carência de concursos públicos com salários dignos e de uma carreira de Estado que os médicos brasileiros enfrentam serão atraentes para os estrangeiros? Aliás, nada garante que, sem a revalidação de diploma, muitos destes profissionais possam, na visão do governo, exercer a Medicina sem serem médicos, conforme pudemos notar nos vetos da Lei do Ato Médico.
Como se não bastasse, a residência médica não está garantida em 2014. Nenhuma das esferas governamentais se movimenta para promover as provas do concurso que deve ser realizado no fim deste ano. Assim, mais uma instância de qualificação dos médicos está sob desmonte.
Lamentavelmente, as entidades médicas, legítima representação daqueles que atendem os pacientes no dia a dia, sequer foram consultadas. Esperamos que a população, que se encontra num momento ímpar de reivindicação por seus direitos, possa entrar e se manter nesta arca.
Por enquanto, estamos à deriva. Para onde vamos? Salve-se quem puder!
Fechado para balanço - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 27/07
Mergulhado na disputa pelo comando do partido, o PT assiste acéfalo ao esgarçamento da aliança política que sustentou os governos do partido. Num momento de incerteza, dizem aliados, o PT deixou a presidente Dilma ao sabor das ondas, enquanto seus dirigentes se entregam à disputa, para os filiados, entre os que defendem a pureza petista e os que venderam a alma aos aliados.
Ruminando a realidade
O Diretório Nacional do PT se reuniu dia 20 e, como não é de seu costume, não divulgou documento de análise sobre a situação do país. Foi nomeada uma comissão para fechar um texto e, depois, fez-se silêncio. Na segunda-feira, haverá outra reunião, mas a pauta deverá tratar unicamente das eleições internas do partido.
"Para Dilma, dedico a música do Paulinho da Viola: "faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar".
Paulo Teixeira
Deputado federal (SP), candidato a presidente do PT
Vale o risco
A cúpula aecista diz que Marina Silva, a despeito de estar à frente na corrida para o 2° turno, representa o espírito crescente de mudança. E conclui: “É bom para captar o sentimento predominante e novo no seio da sociedade”.
Como ela faria?
Quando o cerimonial do Palácio do Planalto precisa definir a participação da presidente Dilma em grandes eventos, como abertura de cerimônias esportivas, G20, visita do Papa Francisco, entre outros, recorre à atuação da chanceler alemã Angela Merkel. O cerimonial presidencial corre para pesquisar "como Merkel faria".
O que vem pela frente
Os ministros conselheiros políticos da presidente Dilma avaliam que, a despeito dos índices de regular e negativo serem altos comparados com o seu histórico, ela está em situação administrável para fins de recuperação de imagem.
Corrida de obstáculos
O governo Dilma está preocupado com o processo de concessões de rodovias, previsto para o segundo semestre. Ele integra o leque de ações previstas para estimular a economia. A avaliação no Planalto é que os empresários do setor estão retraídos, porque não estão vendo grandes perspectivas de ganho. Ocorre que o retorno financeiro das concessões se dará pela cobrança de pedágio e os protestos de junho dificultaram a perspectiva de instalação das praças. Há um agravante, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) acabou revogando um reajuste de pedágio após rodovias terem sido trancadas por manifestantes, irritados com a medida.
Perplexidade
Esta semana, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, concedeu coletiva para explicar dados do emprego formal. Disse: "O total de vagas em junho (123.836) foi superior ao registrado no mesmo mês de 2012...As razões não sei por quê".
No armário
O governo deixou de priorizar a obra do trem-bala. A avaliação é que ficou "injustificável" com os protestos, pelo tamanho do gasto. Pesou ainda o desinteresse de empresários na obra.
O presidente do Uruguai, José Mujica, não quis vir, mas seu vice, Danilo Astori, pediu para ver o papa de perto na praia de Copacabana, neste domingo.