FOLHA DE SP - 25/07
No kit dos peregrinos, um livro, ao falar de embriões congelados, mostra um menino que treme de frio...
Aeroporto do Galeão, domingo de manhã. O pouso do avião que trazia meu enteado estava previsto para as 8h30, mas aconteceu com uma hora de atraso --e, sobretudo, ele só recuperou a mala e saiu da alfândega ao meio-dia.
O aeroporto do Rio parecia uma praça de Roma num filme de Fellini: monges, freiras e padres por todos os lados, conversando numa Babel de línguas. Uma tropa de jovens argentinos, de camiseta azul e branco e com uma cruz no peito (ou nas costas?), cantava em coro alguma música, que eu não reconheci, mas de que Deus devia gostar à beça.
Outro grupo, na área de espera, misturava cantoria com batucada. Alguém rabugento poderia pensar: e se eu não estivesse a fim de ouvir?
Um pensamento idêntico me ocorreu à tarde, enquanto caminhava pela praia de São Conrado. Um carro passou por mim. Na verdade, não um carro, mas um som poderoso, veiculado por uma sucata dos anos 1980 e tocando rap-funk.
Os três jovens no veículo faziam um esforço considerável para parecer mal-encarados (seu jeito de "esquentar" as minas e intimidar os passeantes). Será que os jovens cantando no aeroporto, comparados com a gangue do carro, eram "angelicais"? Não, os dois grupos eram igualmente belicosos e desagradáveis; ambos queriam me obrigar a tocar a vida ao som da trilha deles.
Domingo, houve um arrastão por peregrinos na praia de Ipanema (foto na capa daFolha de segunda). Se eu estivesse na areia, tomando sol com caipirinha, teria detestado; talvez achasse melhor um arrastão tradicional, de celulares e carteiras.
Com isso, fiquei feliz, na segunda, ao saber que, no largo do Machado, bem onde peregrinos da Jornada Mundial da Juventude católica esperavam seu transporte, um grupo de mulheres dançava exibindo os seios. Os jovens peregrinos vaiaram.
Lembrei-me de que, nos meus anos de faculdade, em Genebra, um amigo, que morava perto de Plain palais, tinha adotado uma resposta sistemática aos missionários mórmons e testemunhas de Jeová que batiam à sua porta com frequência: ele sempre abria a porta completamente nu. E, se estivesse com a namorada, fazia questão que os dois abrissem a porta juntos. Provocação por provocação, acho a de meu amigo e das mulheres do largo do Machado mais engraçada.
Você acha essas atitudes infantis e um pouco primárias? Tudo bem, vamos falar de coisas primárias. O kit recebido pelos peregrinos inclui um "Manual de Bioética", de 75 páginas, produzido originalmente na França pela fundação Lejeune.
Como mostrou a reportagem de Fabio Brisolla na Folha de segunda, esse livrinho de "ética" é imperdível (confunde aborto com contracepção, propõe juízos de valor como verdades "científicas" etc.).
Para ter uma ideia da qualidade dos argumentos, na hora de atacar a reprodução assistida (pág. 35), o livrinho lembra que, em 2004, só na França, "havia cerca de 120 mil embriões congelados": essa frase é acompanhada pela imagem de um menino que treme de frio... Campanha do Agasalho para os embriões?
A edição brasileira contém um acréscimo sobre "A Teoria do Gênero", que eu mesmo não sei o que é. Também não sei decidir se o tal capítulo foi escrito mais com má-fé ou com ignorância --talvez com uma combinação das duas.
Na pág. 73, por exemplo, lemos: "Os adeptos da teoria do gênero [?] pretendem que, por um simples ato de vontade, poderíamos alterar a realidade do que somos, escolhendo a nossa identidade sexual: Eu não sou o corpo que tenho'." Mamma mia! Só para começar: descobrir-se um dia em desacordo com seu próprio corpo (que não tem nada a ver com "escolher" a identidade sexual) é uma experiência dramática e dolorosa, que merece, no mínimo, respeito.
O autor do livrinho me fez pensar no professor de religião de meu último ano de colégio, que, para contestar a teoria darwinista, declarou que ele daria um soco em quem lhe sugerisse que a mãe ou a avó dele eram macacas. A classe riu, e ele deve ter pensado que sua grosseria nos conquistara. Erro: naquele dia, a classe inteira se tornou darwinista.
Bom, para celebrar a vinda de papa Francisco, também li algo melhor, "Sobre o Céu e a Terra" (Paralela), diálogo entre dois líderes religiosos de Buenos Aires, papa Francisco (à época do diálogo ainda cardeal Bergoglio) e o rabino Skorka.
Ainda comentarei esse livro, mas, primeiro, preciso de um tempo para esquecer minha irritação com o paternalismo, que enfia um livrinho meio infame na goela dos peregrinos e reserva sua cara mais civilizada aos que sabem ler.
quinta-feira, julho 25, 2013
Imperialismo - EUGÊNIO BUCCI
ESTADÃO - 25/07
Na sexta-feira à noite o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou para a presidente Dilma Rousseff. Segundo informou o Palácio do Planalto, Biden comentou as denúncias de que autoridades americanas vêm monitorando telefonemas e mensagens eletrônicas de cidadãos e instituições brasileiras. Consta ainda que ele "lamentou a repercussão negativa do caso na sociedade brasileira" e reforçou o convite para que uma delegação de Brasília vá a Washington receber mais esclarecimentos sobre a imensa confusão que se instaurou no universo delicado das relações internacionais desde que Edward Snowden, ex-agente da CIA, acusou os serviços de inteligência de seu governo de vigiar ilegalmente as comunicações pessoais de, virtualmente, toda a humanidade (o que inclui, como se sabe, a população brasileira). Pelo que foi divulgado, o vice-presidente americano não deu respostas conclusivas sobre nada, nem pediu desculpas. Em suma, ligou apenas para dizer "alô, Dilma, foi mal aí, depois a gente fala melhor".
Desde que, em 6 de junho, as denúncias de Snowden explodiram no diário britânico The Guardian, graças ao trabalho do jornalista Glenn Greenwald, não havíamos visto um gesto tão arrogante quanto esse telefonema. Em lugar de ter representado um sinal de humildade da Casa Branca, foi mais uma demonstração de "complexo de superioridade". Por três motivos: 1) a ligação não elucidou coisa alguma, 2) veio com atraso e 3) quem deveria estar do outro lado da linha não era o vice, mas o titular, Barack Obama em pessoa. Deixou no ar a impressão de que, aos olhos Washington, em se tratando de Brasil, uma ligação tardia do "sub" deve bastar. É como se Obama desse de ombros, numa atitude de descaso imperial. Ou imperialista.
Falemos, pois, de imperialismo. O que quer dizer essa palavra? Ela andava sumida. Vinha perdendo terreno para uma outra, globalização, que monopolizou as falas sobre a acelerada internacionalização do trabalho, dos mercados e do capital, sempre sob a chave da língua inglesa e a métrica dos modelos de gestão patenteados por marcas americanas, com escassas exceções. Quanto à velha palavra imperialismo, perdeu sua "empregabilidade", como se fosse um fóssil, incapaz de significar mais nada além de queixumes panfletários.
Agora talvez ela volte à praça. Junto trará um pouco da sua história conflituosa. No final do século 19, o escritor Mark Twain - o gênio que ajudou a fundar a literatura moderna dos Estados Unidos - não se cansava de repetir: "Eu sou anti-imperialista e nunca aceitarei que a águia imperial pouse as suas garras em nenhum país estrangeiro". O que foi feito hoje da "águia imperial"? Dia desses alguém falou de um inacreditável artefato submarino que, estacionado poucos metros acima de cabos intercontinentais estendidos no fundo dos mares, intercepta sorrateiramente os dados digitais que trafegam por ali. Talvez a águia tenha ido parar dentro de um escafandro cibernético, dotada de garras "wifi", para se imiscuir na correspondência alheia. Mark Twain não aceitaria. "Afirmamos que a política conhecida como imperialismo é hostil à liberdade e tende ao militarismo", protestava o autor de As Aventuras de Tom Sawyer.
Depois dele, o russo Vladimir Ilitch Lenin deu outros sentidos à mesma palavra. Acreditava que o imperialismo era um modo de produção avançado (a "fase superior do capitalismo") engendrado pelo capital financeiro (que, por sua vez, resultaria da fusão do capital bancário com o capital industrial). Estudando o movimento de caixa de 19 bancos na Rússia no ano de 1913, constatou que as casas bancárias tinham investido 1,8 bilhão de rublos em atividades produtivas e outros 2 bilhões em atividades especulativas. Descobriu ali o capital financeiro e a natureza profunda do imperialismo, que não decorria apenas da ganância, mas das leis constitutivas de um modo de produção que, tendo internacionalizado a economia, precisava internacionalizar também o exercício do poder.
A partir de então, falar de imperialismo virou coisa de comunista. Até que, a partir do final do século 20, quando o comunismo perdeu freguesia, a palavra imperialismo foi para a Sibéria do vernáculo. Mas não morreu. Ainda guarda significado que atenderia tanto a Mark Twain quanto a Lenin: o imperialismo brota de um Estado que alonga seus tentáculos para além das terras e dos cidadãos a que deve sua legitimidade; o Estado imperialista age além de sua própria soberania, não por estar em guerra contra outro Estado, mas por trazer em si a presunção tácita de que tem o poder (e, por vezes, o dever) de governar continuamente os destinos de outros povos - mesmo que para isso tenha de sacrificar os valores sobre os quais ergueu sua grandeza.
Se voltarmos agora às revelações de Snowden, veremos que estamos diante, sem tirar nem pôr, de uma prática imperialista. A aliança subterrânea entre a tecnologia dos gigantes da internet e as fabulações geopolíticas do Pentágono fez parecer travessura infantil, quase inofensiva, a suposta colaboração do Google com a ditadura de Pequim - e reduziu as redes digitais a um descomunal "Cavalo de Troia", um supervírus que todos espiona. Quanto mais usam a internet, mais as pessoas são vítimas da rede mundial de bisbilhotagem americana. O Tio Sam da nova era desdenha de valores como a privacidade, a liberdade individual e o direito ao segredo íntimo. Despreza-os. Dá de ombros. Quando chamado a se justificar, fala de segurança. Mas atenção: a sua segurança não é a nossa segurança, não é nem mesmo a segurança dos americanos comuns, é apenas a segurança de uma ideologia militarista que julga ser a encarnação suprema do Estado americano. Uma ideologia contra a democracia.
É por isso que, no caso presente, a garra da águia faz sangrar o coração da própria águia. O imperialismo digital envenena o próprio império.
Na sexta-feira à noite o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou para a presidente Dilma Rousseff. Segundo informou o Palácio do Planalto, Biden comentou as denúncias de que autoridades americanas vêm monitorando telefonemas e mensagens eletrônicas de cidadãos e instituições brasileiras. Consta ainda que ele "lamentou a repercussão negativa do caso na sociedade brasileira" e reforçou o convite para que uma delegação de Brasília vá a Washington receber mais esclarecimentos sobre a imensa confusão que se instaurou no universo delicado das relações internacionais desde que Edward Snowden, ex-agente da CIA, acusou os serviços de inteligência de seu governo de vigiar ilegalmente as comunicações pessoais de, virtualmente, toda a humanidade (o que inclui, como se sabe, a população brasileira). Pelo que foi divulgado, o vice-presidente americano não deu respostas conclusivas sobre nada, nem pediu desculpas. Em suma, ligou apenas para dizer "alô, Dilma, foi mal aí, depois a gente fala melhor".
Desde que, em 6 de junho, as denúncias de Snowden explodiram no diário britânico The Guardian, graças ao trabalho do jornalista Glenn Greenwald, não havíamos visto um gesto tão arrogante quanto esse telefonema. Em lugar de ter representado um sinal de humildade da Casa Branca, foi mais uma demonstração de "complexo de superioridade". Por três motivos: 1) a ligação não elucidou coisa alguma, 2) veio com atraso e 3) quem deveria estar do outro lado da linha não era o vice, mas o titular, Barack Obama em pessoa. Deixou no ar a impressão de que, aos olhos Washington, em se tratando de Brasil, uma ligação tardia do "sub" deve bastar. É como se Obama desse de ombros, numa atitude de descaso imperial. Ou imperialista.
Falemos, pois, de imperialismo. O que quer dizer essa palavra? Ela andava sumida. Vinha perdendo terreno para uma outra, globalização, que monopolizou as falas sobre a acelerada internacionalização do trabalho, dos mercados e do capital, sempre sob a chave da língua inglesa e a métrica dos modelos de gestão patenteados por marcas americanas, com escassas exceções. Quanto à velha palavra imperialismo, perdeu sua "empregabilidade", como se fosse um fóssil, incapaz de significar mais nada além de queixumes panfletários.
Agora talvez ela volte à praça. Junto trará um pouco da sua história conflituosa. No final do século 19, o escritor Mark Twain - o gênio que ajudou a fundar a literatura moderna dos Estados Unidos - não se cansava de repetir: "Eu sou anti-imperialista e nunca aceitarei que a águia imperial pouse as suas garras em nenhum país estrangeiro". O que foi feito hoje da "águia imperial"? Dia desses alguém falou de um inacreditável artefato submarino que, estacionado poucos metros acima de cabos intercontinentais estendidos no fundo dos mares, intercepta sorrateiramente os dados digitais que trafegam por ali. Talvez a águia tenha ido parar dentro de um escafandro cibernético, dotada de garras "wifi", para se imiscuir na correspondência alheia. Mark Twain não aceitaria. "Afirmamos que a política conhecida como imperialismo é hostil à liberdade e tende ao militarismo", protestava o autor de As Aventuras de Tom Sawyer.
Depois dele, o russo Vladimir Ilitch Lenin deu outros sentidos à mesma palavra. Acreditava que o imperialismo era um modo de produção avançado (a "fase superior do capitalismo") engendrado pelo capital financeiro (que, por sua vez, resultaria da fusão do capital bancário com o capital industrial). Estudando o movimento de caixa de 19 bancos na Rússia no ano de 1913, constatou que as casas bancárias tinham investido 1,8 bilhão de rublos em atividades produtivas e outros 2 bilhões em atividades especulativas. Descobriu ali o capital financeiro e a natureza profunda do imperialismo, que não decorria apenas da ganância, mas das leis constitutivas de um modo de produção que, tendo internacionalizado a economia, precisava internacionalizar também o exercício do poder.
A partir de então, falar de imperialismo virou coisa de comunista. Até que, a partir do final do século 20, quando o comunismo perdeu freguesia, a palavra imperialismo foi para a Sibéria do vernáculo. Mas não morreu. Ainda guarda significado que atenderia tanto a Mark Twain quanto a Lenin: o imperialismo brota de um Estado que alonga seus tentáculos para além das terras e dos cidadãos a que deve sua legitimidade; o Estado imperialista age além de sua própria soberania, não por estar em guerra contra outro Estado, mas por trazer em si a presunção tácita de que tem o poder (e, por vezes, o dever) de governar continuamente os destinos de outros povos - mesmo que para isso tenha de sacrificar os valores sobre os quais ergueu sua grandeza.
Se voltarmos agora às revelações de Snowden, veremos que estamos diante, sem tirar nem pôr, de uma prática imperialista. A aliança subterrânea entre a tecnologia dos gigantes da internet e as fabulações geopolíticas do Pentágono fez parecer travessura infantil, quase inofensiva, a suposta colaboração do Google com a ditadura de Pequim - e reduziu as redes digitais a um descomunal "Cavalo de Troia", um supervírus que todos espiona. Quanto mais usam a internet, mais as pessoas são vítimas da rede mundial de bisbilhotagem americana. O Tio Sam da nova era desdenha de valores como a privacidade, a liberdade individual e o direito ao segredo íntimo. Despreza-os. Dá de ombros. Quando chamado a se justificar, fala de segurança. Mas atenção: a sua segurança não é a nossa segurança, não é nem mesmo a segurança dos americanos comuns, é apenas a segurança de uma ideologia militarista que julga ser a encarnação suprema do Estado americano. Uma ideologia contra a democracia.
É por isso que, no caso presente, a garra da águia faz sangrar o coração da própria águia. O imperialismo digital envenena o próprio império.
Heróis e História - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 25/07
Poucas coisas na vida me emocionaram tanto quanto a aparição do Mandela antes do jogo final da Copa, ovacionado pela multidão
Velha questão: são os homens providenciais que fazem a História ou é a História que os providencia? Estou pensando no Mandela. Ele sem dúvida fez história, mas o apartheid teria se mantido mesmo sem a resistência dramatizada na sua prisão e no seu sacrifício? Provavelmente não. Martin Luther King simbolizou a luta pelos direitos dos negros nos Estados Unidos, empolgou e inspirou muita gente, mas a injustiça flagrante da segregação racial estaria condenada mesmo sem seus discursos e seu exemplo. Frequentei uma high school americana durante três anos e todos os dias, antes de começarem as aulas, botava a mão sobre o coração e prometia lealdade à bandeira aos Estados Unidos da América a à republica que ela representava, com liberdade e justiça para todos, e certamente não era só eu que completava, em silêncio, o juramento: “...exceto para os negros.” Durante anos a democracia americana conviveu com imagens de discriminação racista, linchamentos e outra violência contra negros no Sul do país. Variava apenas o grau de consciência em cada um da hipocrisia desta convivência cega. O que Martin Luther King fez foi tornar a consciência universal e a hipocrisia visível, e insuportável. Mas a justiça para todos viria — ou virá, ou tomara que venha, numa América ainda dividida pela questão racial, como mostra a revolta pela absolvição recente do assassino daquele garoto negro na Florida — mesmo sem a sua retórica.
Gandhi liderou o movimento de resistência pacifica que ajudou a liberar a Índia do domínio inglês. Há figuras como Gandhi — mais ou menos pacificas — em quase todas as histórias de liberação do jugo colonialista. Mas, por mais atraente que seja a ideia de heróis emancipadores derrotando impérios, a verdade é que eles serviram uma inevitabilidade histórica, independentemente da sua bravura, do seu discurso ou, como Gandhi, do seu apelo espiritual. O poder da História de fazer acontecer o necessário, à revelia da iniciativa humana, soa como ortodoxia marxista, eu sei, mas consolemo-nos com a ideia de que a História pode nos ignorar, mas está do nosso lado.
E dito tudo isto é preciso dizer que poucas coisas na vida me emocionaram tanto quanto a aparição do Mandela antes do jogo final da Copa do Mundo na África do Sul, ovacionado pela multidão. Consequente ou não, ali estava um herói.
Poucas coisas na vida me emocionaram tanto quanto a aparição do Mandela antes do jogo final da Copa, ovacionado pela multidão
Velha questão: são os homens providenciais que fazem a História ou é a História que os providencia? Estou pensando no Mandela. Ele sem dúvida fez história, mas o apartheid teria se mantido mesmo sem a resistência dramatizada na sua prisão e no seu sacrifício? Provavelmente não. Martin Luther King simbolizou a luta pelos direitos dos negros nos Estados Unidos, empolgou e inspirou muita gente, mas a injustiça flagrante da segregação racial estaria condenada mesmo sem seus discursos e seu exemplo. Frequentei uma high school americana durante três anos e todos os dias, antes de começarem as aulas, botava a mão sobre o coração e prometia lealdade à bandeira aos Estados Unidos da América a à republica que ela representava, com liberdade e justiça para todos, e certamente não era só eu que completava, em silêncio, o juramento: “...exceto para os negros.” Durante anos a democracia americana conviveu com imagens de discriminação racista, linchamentos e outra violência contra negros no Sul do país. Variava apenas o grau de consciência em cada um da hipocrisia desta convivência cega. O que Martin Luther King fez foi tornar a consciência universal e a hipocrisia visível, e insuportável. Mas a justiça para todos viria — ou virá, ou tomara que venha, numa América ainda dividida pela questão racial, como mostra a revolta pela absolvição recente do assassino daquele garoto negro na Florida — mesmo sem a sua retórica.
Gandhi liderou o movimento de resistência pacifica que ajudou a liberar a Índia do domínio inglês. Há figuras como Gandhi — mais ou menos pacificas — em quase todas as histórias de liberação do jugo colonialista. Mas, por mais atraente que seja a ideia de heróis emancipadores derrotando impérios, a verdade é que eles serviram uma inevitabilidade histórica, independentemente da sua bravura, do seu discurso ou, como Gandhi, do seu apelo espiritual. O poder da História de fazer acontecer o necessário, à revelia da iniciativa humana, soa como ortodoxia marxista, eu sei, mas consolemo-nos com a ideia de que a História pode nos ignorar, mas está do nosso lado.
E dito tudo isto é preciso dizer que poucas coisas na vida me emocionaram tanto quanto a aparição do Mandela antes do jogo final da Copa do Mundo na África do Sul, ovacionado pela multidão. Consequente ou não, ali estava um herói.
Ueba! O papa usa bijuteria - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 25/07
O bebê real (os outros são virtuais) levou o primeiro susto: a Camila Parker Bowles entrou no quarto
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socorro! Antes a Argentina mandava frente fria, agora que eles têm o papa, mandam neve! Tão abusando: manda frente fria, depois neve e depois a Cristina Kirchner!
E diz que o papa anda de vidro aberto porque o crucifixo é bijuteria!
E diz que no Rio tem tanto argentino, chileno e boliviano, que se soltar uma bola no meio da rua, vira Libertadores! Rarará!
E atenção! O tuiteiro Oliveira Neto revela a programação da Globo de hoje: "Bem Estar com o Papa", "Encontro com o Papa", "Papa Esporte", "Papa Hoje" e "Video Papa Show". E o Bonner já tá chamando o papa de "Francisco", bem íntimo!
E essa:"Arqueólogos descobrem cauda de dinossauro de 72 milhões de anos no México". É o rabo do Sarney! Da época em que o México fazia parte do Maranhão!
E mais um no Folgados A Bordo! Aldo Rabelo usa avião da FAB pra ir a Cuba!
E o que ele tem contra Ibiza, Comandatuba e Fernando de Noronha? Rarará! O Aldo tá com o Rabelo preso! Foi ver Cuba lançar!
E sabe como se chama vestido tomara que caia em Cuba? Abaja e Chupa! E o Aldo Rabelo é ministro dos Esportes ou por esporte? Por esporte! Rarará!
E um amigo bem do contra, só pra constranger o papa, levou pra missa esse cartaz: "Eu gosto mais do outro". Rarará!
E eu sei que o papa é humilde, mas se ele liberasse a camisinha, ficaria mais humilde ainda. E eu sei que o papa é humilde, mas se não fosse contra os gays, ficaria mais humilde ainda.
E eu sei que o papa é humilde, mas se não fosse argentino, seria mais humilde ainda.
E adoro o título da biografia do papa: "O Papa do Fim do Mundo". Porque do fim do mundo? Só porque nasceu na Argentina? Rarará.
E a Lady Kate? O bebê real (os outros são virtuais) levou o primeiro susto: a Camila Parker Bowles entrou no quarto. "Olha a vovó". Rarará. E o nome? Eu sugiro Boy George!
E chega de frio! Tô virando picolé! Sensação térmica: quero morrer! Quero voltar pra barriga da minha mãe!
E avisa pro Feliciano que o único a sair do armário hoje é o meu edredom! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colirio alucinógeno!
O bebê real (os outros são virtuais) levou o primeiro susto: a Camila Parker Bowles entrou no quarto
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socorro! Antes a Argentina mandava frente fria, agora que eles têm o papa, mandam neve! Tão abusando: manda frente fria, depois neve e depois a Cristina Kirchner!
E diz que o papa anda de vidro aberto porque o crucifixo é bijuteria!
E diz que no Rio tem tanto argentino, chileno e boliviano, que se soltar uma bola no meio da rua, vira Libertadores! Rarará!
E atenção! O tuiteiro Oliveira Neto revela a programação da Globo de hoje: "Bem Estar com o Papa", "Encontro com o Papa", "Papa Esporte", "Papa Hoje" e "Video Papa Show". E o Bonner já tá chamando o papa de "Francisco", bem íntimo!
E essa:"Arqueólogos descobrem cauda de dinossauro de 72 milhões de anos no México". É o rabo do Sarney! Da época em que o México fazia parte do Maranhão!
E mais um no Folgados A Bordo! Aldo Rabelo usa avião da FAB pra ir a Cuba!
E o que ele tem contra Ibiza, Comandatuba e Fernando de Noronha? Rarará! O Aldo tá com o Rabelo preso! Foi ver Cuba lançar!
E sabe como se chama vestido tomara que caia em Cuba? Abaja e Chupa! E o Aldo Rabelo é ministro dos Esportes ou por esporte? Por esporte! Rarará!
E um amigo bem do contra, só pra constranger o papa, levou pra missa esse cartaz: "Eu gosto mais do outro". Rarará!
E eu sei que o papa é humilde, mas se ele liberasse a camisinha, ficaria mais humilde ainda. E eu sei que o papa é humilde, mas se não fosse contra os gays, ficaria mais humilde ainda.
E eu sei que o papa é humilde, mas se não fosse argentino, seria mais humilde ainda.
E adoro o título da biografia do papa: "O Papa do Fim do Mundo". Porque do fim do mundo? Só porque nasceu na Argentina? Rarará.
E a Lady Kate? O bebê real (os outros são virtuais) levou o primeiro susto: a Camila Parker Bowles entrou no quarto. "Olha a vovó". Rarará. E o nome? Eu sugiro Boy George!
E chega de frio! Tô virando picolé! Sensação térmica: quero morrer! Quero voltar pra barriga da minha mãe!
E avisa pro Feliciano que o único a sair do armário hoje é o meu edredom! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colirio alucinógeno!
Socialistas e trabalhistas juntos - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/07
Os presidentes do PSB, Eduardo Campos, e do PDT, Carlos Lupi, aceleraram as conversas para as eleições do ano que vem. Os aliados, que vivem às turras com o PT nos estados, decidiram ir à luta, sobretudo com a queda nas pesquisas da presidente Dilma. Eduardo está oferecendo a vice para Osmar Dias (PR). E prometendo apoio nos estados a candidatos trabalhistas a governador: Miro Teixeira (RJ), Pedro Taques (MT), Ronaldo Lessa (AL), Waldez Góes (AP), Reguffe (DF), Vieira da Cunha (RS) e Amazonino Mendes (AM). Os socialistas procuram um caminho próprio e, para os trabalhistas, as recentes manifestações foram como um "cavalo de pau" e zeraram o jogo.
Vida mansa
Portaria da Câmara oficializou a folga dos servidores, permitindo que não assinem o ponto no recesso. Ou seja, se não tem ponto, não precisa ir ao trabalho. O recesso é garantia dos deputados e não dos funcionários, que têm férias.
“Tinha uma turma agarrada numa taça berrando ‘Já ganhou’. O povo esparramou essa turma, a taça sumiu e não se acha mais ninguém”
Beto Albuquerque Líder do PSB na Câmara dos Deputados (RS)
Diluindo as ruas
A pesquisa Ibope, que a CNI divulga hoje, agrada ao Planalto. Oito mil pessoas foram ouvidas sobre os governos Dilma e de 11 governadores. O Planalto espera dividir, com os governadores, o desgaste que levou milhares a protestar nas ruas.
Nada será como antes
A corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil, quer flexibilizar as regras da eleição a presidente do partido. Ela quer evitar a redução do colégio eleitoral, que superou os 500 mil filiados em 2009. Para chegar aos 700 mil votantes, quer dar direito de voto a quem acertar as contribuições, em atraso, na boca da urna, e acabar com a comprovação de militância nos atos do partido.
Escalando o time
Presidente do PSDB e candidato do partido ao Planalto, o senador Aécio Neves (MG) definiu quem será o coordenador de sua campanha em Minas Gerais. O escolhido foi o ex-presidente do partido e ex-ministro Pimenta da Veiga.
Confortável
Pelas contas do governador Geraldo Alckmin (SP), ao concorrer à reeleição ele terá o apoio dos eleitores de três candidatos à Presidência da República: Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e José Serra, ainda sem partido.
Eleições abertas
O tucano José Serra, segundo aliados, vai concorrer ao Planalto em 2014. Ele não lutará para conquistar o PSDB, já comprometido com Aécio Neves. Sua intenção é se lançar com o apoio de PPS, PV e PTB. Ele tem dito que as eleições estão abertas, como as de 1989, que teve dez candidatos viáveis. Pelas suas contas, para ser competitivo, ele precisa sair de São Paulo com oito milhões de votos.
Ordem unida
O ex-presidente Lula decidiu dar uma pausa no seu roteiro de viagens internacionais no segundo semestre. Apreensivo com o pânico que tomou conta do partido, vai se dedicar a superar os problemas internos do PT e colocar o partido nos eixos. Vai se dedicar também à defesa do governo Dilma, alvo de intenso bombardeio do fogo amigo.
O governo
vai desistir de impor a estudantes de Medicina das universidades privadas estágio obrigatório no SUS, como prevê MP na Câmara.
Os presidentes do PSB, Eduardo Campos, e do PDT, Carlos Lupi, aceleraram as conversas para as eleições do ano que vem. Os aliados, que vivem às turras com o PT nos estados, decidiram ir à luta, sobretudo com a queda nas pesquisas da presidente Dilma. Eduardo está oferecendo a vice para Osmar Dias (PR). E prometendo apoio nos estados a candidatos trabalhistas a governador: Miro Teixeira (RJ), Pedro Taques (MT), Ronaldo Lessa (AL), Waldez Góes (AP), Reguffe (DF), Vieira da Cunha (RS) e Amazonino Mendes (AM). Os socialistas procuram um caminho próprio e, para os trabalhistas, as recentes manifestações foram como um "cavalo de pau" e zeraram o jogo.
Vida mansa
Portaria da Câmara oficializou a folga dos servidores, permitindo que não assinem o ponto no recesso. Ou seja, se não tem ponto, não precisa ir ao trabalho. O recesso é garantia dos deputados e não dos funcionários, que têm férias.
“Tinha uma turma agarrada numa taça berrando ‘Já ganhou’. O povo esparramou essa turma, a taça sumiu e não se acha mais ninguém”
Beto Albuquerque Líder do PSB na Câmara dos Deputados (RS)
Diluindo as ruas
A pesquisa Ibope, que a CNI divulga hoje, agrada ao Planalto. Oito mil pessoas foram ouvidas sobre os governos Dilma e de 11 governadores. O Planalto espera dividir, com os governadores, o desgaste que levou milhares a protestar nas ruas.
Nada será como antes
A corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil, quer flexibilizar as regras da eleição a presidente do partido. Ela quer evitar a redução do colégio eleitoral, que superou os 500 mil filiados em 2009. Para chegar aos 700 mil votantes, quer dar direito de voto a quem acertar as contribuições, em atraso, na boca da urna, e acabar com a comprovação de militância nos atos do partido.
Escalando o time
Presidente do PSDB e candidato do partido ao Planalto, o senador Aécio Neves (MG) definiu quem será o coordenador de sua campanha em Minas Gerais. O escolhido foi o ex-presidente do partido e ex-ministro Pimenta da Veiga.
Confortável
Pelas contas do governador Geraldo Alckmin (SP), ao concorrer à reeleição ele terá o apoio dos eleitores de três candidatos à Presidência da República: Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e José Serra, ainda sem partido.
Eleições abertas
O tucano José Serra, segundo aliados, vai concorrer ao Planalto em 2014. Ele não lutará para conquistar o PSDB, já comprometido com Aécio Neves. Sua intenção é se lançar com o apoio de PPS, PV e PTB. Ele tem dito que as eleições estão abertas, como as de 1989, que teve dez candidatos viáveis. Pelas suas contas, para ser competitivo, ele precisa sair de São Paulo com oito milhões de votos.
Ordem unida
O ex-presidente Lula decidiu dar uma pausa no seu roteiro de viagens internacionais no segundo semestre. Apreensivo com o pânico que tomou conta do partido, vai se dedicar a superar os problemas internos do PT e colocar o partido nos eixos. Vai se dedicar também à defesa do governo Dilma, alvo de intenso bombardeio do fogo amigo.
O governo
vai desistir de impor a estudantes de Medicina das universidades privadas estágio obrigatório no SUS, como prevê MP na Câmara.
Constrangimento geral - LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 25/07
A pesquisa que está sendo feita pelo deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) para saber o posicionamento da bancada do PMDB na Câmara sobre o apoio ao governo Dilma Rousseff está criando constrangimentos para os colegas. O resultado, porém, deve traduzir uma frase de efeito do líder da bancada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em entrevista ao Correio: “O PMDB não quer sair do governo, quer entrar no governo”.
Esse é o xis da questão entre a maioria da bancada e o Palácio do Planalto, um conflito que parece sem solução, ainda mais depois da proposta de enxugamento do governo por emenda constitucional, feita pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que propõe limitar o número de ministérios a 25 e, com isso, também constrange o governo. A presidente Dilma, que é quem escala a equipe, tem hoje 39 ministros.
Tanto a pesquisa de Padilha como a emenda de Alves têm as cores das flores do recesso. No jargão das redações, são aqueles temas que os políticos gostam de debater quando estão em férias e que desaparecem da pauta quando o recesso parlamentar acaba. Enquanto isso, o constrangimento entre os peemedebistas e Dilma só aumenta.
Sem problemas
O prefeito Eduardo Paes (foto), do PMDB, admitiu ontem as falhas no planejamento da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro na segunda-feira, mas prometeu que elas não se repetirão, principalmente durante a Via Sacra, em Copacabana, e no grande evento de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, em Santa Cruz.
Rezou
O senador Rodrigo Rollemberg (foto), do PSB-DF, preferiu ver o papa Francisco em Aparecida (SP), num ambiente menos político e mais informal. Esperou durante duas horas na chuva e no frio para entrar no Santuário Nacional de Aparecida, e garante que valeu a pena: “Vi de perto a simplicidade do papa e a fé das milhares de famílias que assistiram à missa. Saí renovado, com as mensagens do papa de esperança e alegria”.
Sigilo
Advertido pelas empresas de telefonia, que avisaram que não cumpririam sua decisão, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), resolveu rever o decreto que exige os dados telefônicos de suspeitos de vandalismo. Segundo o Sinditelebrasil, que representa as empresas, informação sob sigilo só pode ser passada com aval da Justiça.
Candidato// O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu dar um empurrão na pré-candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo, que anda claudicante. Dois eventos estão sendo programados com a presença de Lula e do ministro, um em Bauru e o outro na capital, ambos em agosto.
Abandonado
O PT perdeu o apoio de Celso Russomanno (PRB-SP) para a disputa estadual de 2014. Segundo o presidente do PRB, Marcos Pereira, a responsabilidade é do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que não deu a devida atenção à legenda após a eleição. Russomanno, que apoiou Haddad no segundo turno, namora o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.
Infiltrado/ Vídeos e relatos publicados nas redes sociais acusam a PM de ter infiltrado policiais sem farda no protesto da noite de segunda no Rio para provocar tumulto. O relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, se disse “enojado” com a acusação. Considera um absurdo imaginar que um policial possa agredir um colega. Mas não explica direito porque o provocador que jogou um coquetel molotov na Tropa de Choque evadiu-se do local com trânsito livre entre os policiais.
Coincidência/ Episódio semelhante ocorreu no consulado norte-americano na visita do presidente Barack Obama. Foram responsabilizados militantes do PSTU, partido radical de esquerda, que não adota esse tipo de prática, apesar do discurso radical.
Universidade
O Ministério da Educação esclarece que os direitos de controle da Universidade Gama Filho foram negociados em 2011 pelo antigo mantenedor, Sociedade Unificada Gama Filho, com o atual, o Galileo Educacional, e, posteriormente, apresentado ao MEC para homologação. Desde março passado, após a deflagração da greve na Gama Filho, a comissão permanente de supervisão acompanha o problema. Hoje, haverá uma nova rodada de negociação com professores, servidores, estudantes e a mantenedora para tentar uma solução.
Agora vai
Coordenador do grupo de trabalho da Câmara encarregado de elaborar propostas sobre a reforma política, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) garantiu que o texto será aprovado na Casa. As propostas da comissão sobre a forma de financiamento das campanhas e o sistema eleitoral deverão ser votadas. Dependendo da discussão, segundo ele, também poderão entrar na pauta o fim das coligações eleitorais e as regras de inelegibilidade. Vaccarezza lançou ontem um portal aberto aos cidadãos para debater o assunto.
Esse é o xis da questão entre a maioria da bancada e o Palácio do Planalto, um conflito que parece sem solução, ainda mais depois da proposta de enxugamento do governo por emenda constitucional, feita pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que propõe limitar o número de ministérios a 25 e, com isso, também constrange o governo. A presidente Dilma, que é quem escala a equipe, tem hoje 39 ministros.
Tanto a pesquisa de Padilha como a emenda de Alves têm as cores das flores do recesso. No jargão das redações, são aqueles temas que os políticos gostam de debater quando estão em férias e que desaparecem da pauta quando o recesso parlamentar acaba. Enquanto isso, o constrangimento entre os peemedebistas e Dilma só aumenta.
Sem problemas
O prefeito Eduardo Paes (foto), do PMDB, admitiu ontem as falhas no planejamento da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro na segunda-feira, mas prometeu que elas não se repetirão, principalmente durante a Via Sacra, em Copacabana, e no grande evento de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, em Santa Cruz.
Rezou
O senador Rodrigo Rollemberg (foto), do PSB-DF, preferiu ver o papa Francisco em Aparecida (SP), num ambiente menos político e mais informal. Esperou durante duas horas na chuva e no frio para entrar no Santuário Nacional de Aparecida, e garante que valeu a pena: “Vi de perto a simplicidade do papa e a fé das milhares de famílias que assistiram à missa. Saí renovado, com as mensagens do papa de esperança e alegria”.
Sigilo
Advertido pelas empresas de telefonia, que avisaram que não cumpririam sua decisão, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), resolveu rever o decreto que exige os dados telefônicos de suspeitos de vandalismo. Segundo o Sinditelebrasil, que representa as empresas, informação sob sigilo só pode ser passada com aval da Justiça.
Candidato// O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu dar um empurrão na pré-candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo, que anda claudicante. Dois eventos estão sendo programados com a presença de Lula e do ministro, um em Bauru e o outro na capital, ambos em agosto.
Abandonado
O PT perdeu o apoio de Celso Russomanno (PRB-SP) para a disputa estadual de 2014. Segundo o presidente do PRB, Marcos Pereira, a responsabilidade é do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que não deu a devida atenção à legenda após a eleição. Russomanno, que apoiou Haddad no segundo turno, namora o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.
Infiltrado/ Vídeos e relatos publicados nas redes sociais acusam a PM de ter infiltrado policiais sem farda no protesto da noite de segunda no Rio para provocar tumulto. O relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, se disse “enojado” com a acusação. Considera um absurdo imaginar que um policial possa agredir um colega. Mas não explica direito porque o provocador que jogou um coquetel molotov na Tropa de Choque evadiu-se do local com trânsito livre entre os policiais.
Coincidência/ Episódio semelhante ocorreu no consulado norte-americano na visita do presidente Barack Obama. Foram responsabilizados militantes do PSTU, partido radical de esquerda, que não adota esse tipo de prática, apesar do discurso radical.
Universidade
O Ministério da Educação esclarece que os direitos de controle da Universidade Gama Filho foram negociados em 2011 pelo antigo mantenedor, Sociedade Unificada Gama Filho, com o atual, o Galileo Educacional, e, posteriormente, apresentado ao MEC para homologação. Desde março passado, após a deflagração da greve na Gama Filho, a comissão permanente de supervisão acompanha o problema. Hoje, haverá uma nova rodada de negociação com professores, servidores, estudantes e a mantenedora para tentar uma solução.
Agora vai
Coordenador do grupo de trabalho da Câmara encarregado de elaborar propostas sobre a reforma política, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) garantiu que o texto será aprovado na Casa. As propostas da comissão sobre a forma de financiamento das campanhas e o sistema eleitoral deverão ser votadas. Dependendo da discussão, segundo ele, também poderão entrar na pauta o fim das coligações eleitorais e as regras de inelegibilidade. Vaccarezza lançou ontem um portal aberto aos cidadãos para debater o assunto.
Bolsa Eleição - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 25/07
Sebastiana da Rocha, beneficiária do Bolsa Família, doou R$ 510 para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010. O valor, registrado no Tribunal Superior Eleitoral, é R$ 18 a menos do que Sebastiana, cadastrada no Portal da Transparência como moradora de Cuiabá, recebeu em 2010 do programa, voltado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. O Ministério do Desenvolvimento Social confirma tratar-se da mesma pessoa e diz que apura outros casos similares.
Salário Desde que começou a receber o benefício, Sebastiana trabalhou como funcionária temporária de uma escola estadual em Campo Verde (MT) em pelo menos três ocasiões. A remuneração mínima da função que ela exerceu é de R$ 1.255,33.
Outro lado O MDS afirmou que vai entrar em contato com o gestor local do programa para avaliar a condição social da família de Sebastiana e aguarda um parecer da Prefeitura de Campo Verde. A coluna não conseguiu localizar a beneficiária.
Sinal... Membros do governo estão preocupados com dados da pesquisa CNI/Ibope que será divulgada hoje, que mostram dificuldade de Dilma em Estados historicamente oposicionistas, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
...amarelo Quem viu os números garante que o cenário é complicado, o que vai zerar o jogo na montagem dos palanques estaduais.
Amor... Apesar de dizer na campanha eleitoral que não pretendia enfrentar o crack com policiamento ostensivo, Fernando Haddad (PT) recebeu do governo federal um pacote com 550 pistolas de choque, 1.650 sprays de pimenta, 22 carros e 22 motos para o combate às drogas.
...em SP O programa "Crack, é possível vencer" vai destinar R$ 1,78 milhão à prefeitura da capital para capacitar 413 profissionais da área de segurança pública.
Aviso prévio Alheio a protestos de aliados, Geraldo Alckmin (PSDB) não desistiu de fazer outra reforma do governo este ano. A saída de secretários que vão disputar a eleição de 2014, que seria em dezembro, começará antes e poderá ser feita em etapas.
Stop O presidente em exercício do STF, Ricardo Lewandowski, deferiu ontem a suspensão do processo de impeachment contra Guilherme Afif na Assembleia de SP por acumular os cargos de ministro da Pequena da Micro Empresa e vice-governador do Estado.
Vidente Na petição ao STF, a defesa dizia que o procurador-geral do Estado de SP, Elival Ramos, advertiu Afif de que "um Giannazi da vida'' poderia pedir seu impedimento caso ele decidisse acumular as funções. "A profecia se confirmou.''
Posto avançado O Planalto nomeou Nilza Fiuza, que assessorou Luiz Eduardo Greenhalgh e Edinho Silva, para trabalhar no gabinete da Presidência em São Paulo. Ela vai coordenar a agenda de Dilma e ministros.
Pleno vapor O Planalto chegou a cogitar fechar o gabinete paulistano em 2012, depois que a chefe Rosemary Noronha foi alvo de investigação da Operação Porto Seguro da Polícia Federal. Seu cargo continua vago.
Estrelas 1 Três apresentadores da Record estão entre os protagonistas da propaganda de TV que o PRB exibe hoje. Celso Russomanno, Álvaro Garnero e Jorge Wilson dirão no programa por que escolheram o partido.
Estrelas 2 A cantora Sula Miranda, presidente do setorial de transportes da legenda, também estará no ar.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Não sou interlocutor de ninguém. É muita pretensão do PT querer ser porta-voz do que pensariam as lideranças socialistas."
DE ROBERTO AMARAL, vice-presidente do PSB, sobre Rui Falcão (PT) ter dito que governadores da sigla ficariam neutros'' entre Dilma e Eduardo Campos.
contraponto
Encurtando a história
Em 2010, Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS) disputavam o Senado por Pernambuco, em dobradinha na mesma chapa. Nos debates, Maciel sempre começava as respostas com uma longa digressão:
--Na República Velha...
Jungmann se queixou ao aliado que as respostas eram muito longas, e sobrava pouco tempo para ele falar. No encontro seguinte, na primeira pergunta, Maciel tascou:
--No Segundo Reinado...
--Senador, República Velha, por favor! -- cochichou Jungmann ao ouvido do ex-vice-presidente.
Sebastiana da Rocha, beneficiária do Bolsa Família, doou R$ 510 para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010. O valor, registrado no Tribunal Superior Eleitoral, é R$ 18 a menos do que Sebastiana, cadastrada no Portal da Transparência como moradora de Cuiabá, recebeu em 2010 do programa, voltado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. O Ministério do Desenvolvimento Social confirma tratar-se da mesma pessoa e diz que apura outros casos similares.
Salário Desde que começou a receber o benefício, Sebastiana trabalhou como funcionária temporária de uma escola estadual em Campo Verde (MT) em pelo menos três ocasiões. A remuneração mínima da função que ela exerceu é de R$ 1.255,33.
Outro lado O MDS afirmou que vai entrar em contato com o gestor local do programa para avaliar a condição social da família de Sebastiana e aguarda um parecer da Prefeitura de Campo Verde. A coluna não conseguiu localizar a beneficiária.
Sinal... Membros do governo estão preocupados com dados da pesquisa CNI/Ibope que será divulgada hoje, que mostram dificuldade de Dilma em Estados historicamente oposicionistas, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
...amarelo Quem viu os números garante que o cenário é complicado, o que vai zerar o jogo na montagem dos palanques estaduais.
Amor... Apesar de dizer na campanha eleitoral que não pretendia enfrentar o crack com policiamento ostensivo, Fernando Haddad (PT) recebeu do governo federal um pacote com 550 pistolas de choque, 1.650 sprays de pimenta, 22 carros e 22 motos para o combate às drogas.
...em SP O programa "Crack, é possível vencer" vai destinar R$ 1,78 milhão à prefeitura da capital para capacitar 413 profissionais da área de segurança pública.
Aviso prévio Alheio a protestos de aliados, Geraldo Alckmin (PSDB) não desistiu de fazer outra reforma do governo este ano. A saída de secretários que vão disputar a eleição de 2014, que seria em dezembro, começará antes e poderá ser feita em etapas.
Stop O presidente em exercício do STF, Ricardo Lewandowski, deferiu ontem a suspensão do processo de impeachment contra Guilherme Afif na Assembleia de SP por acumular os cargos de ministro da Pequena da Micro Empresa e vice-governador do Estado.
Vidente Na petição ao STF, a defesa dizia que o procurador-geral do Estado de SP, Elival Ramos, advertiu Afif de que "um Giannazi da vida'' poderia pedir seu impedimento caso ele decidisse acumular as funções. "A profecia se confirmou.''
Posto avançado O Planalto nomeou Nilza Fiuza, que assessorou Luiz Eduardo Greenhalgh e Edinho Silva, para trabalhar no gabinete da Presidência em São Paulo. Ela vai coordenar a agenda de Dilma e ministros.
Pleno vapor O Planalto chegou a cogitar fechar o gabinete paulistano em 2012, depois que a chefe Rosemary Noronha foi alvo de investigação da Operação Porto Seguro da Polícia Federal. Seu cargo continua vago.
Estrelas 1 Três apresentadores da Record estão entre os protagonistas da propaganda de TV que o PRB exibe hoje. Celso Russomanno, Álvaro Garnero e Jorge Wilson dirão no programa por que escolheram o partido.
Estrelas 2 A cantora Sula Miranda, presidente do setorial de transportes da legenda, também estará no ar.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Não sou interlocutor de ninguém. É muita pretensão do PT querer ser porta-voz do que pensariam as lideranças socialistas."
DE ROBERTO AMARAL, vice-presidente do PSB, sobre Rui Falcão (PT) ter dito que governadores da sigla ficariam neutros'' entre Dilma e Eduardo Campos.
contraponto
Encurtando a história
Em 2010, Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS) disputavam o Senado por Pernambuco, em dobradinha na mesma chapa. Nos debates, Maciel sempre começava as respostas com uma longa digressão:
--Na República Velha...
Jungmann se queixou ao aliado que as respostas eram muito longas, e sobrava pouco tempo para ele falar. No encontro seguinte, na primeira pergunta, Maciel tascou:
--No Segundo Reinado...
--Senador, República Velha, por favor! -- cochichou Jungmann ao ouvido do ex-vice-presidente.
O povo separa - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 25/07
William deve ter percebido que o povo inglês quer monarcas mais — como dizer? — gente comum. Francisco percebeu que a Igreja precisa de um guia mais ligado ao povo do que à Cúria Romana
Os ingleses parecem sinceramente felizes com o bebê real. Pode-se medir ao menos parte desse sentimento. Pesquisas mostram, por exemplo, que a maioria aprova a monarquia e considera correto que George venha um dia a ser o rei da Inglaterra. Mas as pesquisas indicam também que os ingleses gostariam que o príncipe tivesse uma profissão e trabalhasse antes de assumir o trono.
Parece que o príncipe William está atento a esses sinais. Mais do que os jornalistas especializados na cobertura da família real - sim, existe essa categoria na imprensa inglesa. Esses colegas manifestaram surpresa quando William saiu da maternidade carregando o berço com seu filho. Enquanto Kate se acomodava no banco de trás, o príncipe encaixou o bercinho no outro lado do banco, prendeu-o no cinto de segurança, assumiu o volante e partiu. "Oh! ele está dirigindo!" - pode-se ouvir o comentário de repórteres na cobertura ao vivo da CNN.
Já o papa Francisco não dirigiu seu carro aqui no Brasil. Mas pediu um modelo simples, não blindado, não preto - e esse seu gesto foi bem entendido, especialmente no momento em que autoridades brasileiras variadas são pegas em jatinhos, carrões e helicópteros.
William saiu de Land Rover, é verdade, mas dirigindo. O papa foi de passageiro, mas numa minivan Idea. E circulou num papamóvel aberto, fazendo-o parar várias vezes para falar com as pessoas, beijar crianças. Como os ingleses com seu bebê, essa multidão de brasileiros também parece sinceramente feliz com a visita desse Francisco, uma simpatia.
Agora, fica por isso mesmo ou esses momentos de boas sensações coletivas têm efeitos políticos? Direto ao ponto: o bebê ajuda o governo de David Cameron na Inglaterra? A visita do papa alivia as pressões sobre a presidente Dilma?
Ou seria o contrário? A fraqueza, a mediocridade de governantes e políticos sendo realçada pelo brilho alheio?
Quando João Paulo II veio ao Brasil pela primeira vez, em junho e julho de 1980, foi um tremendo sucesso popular. O país vivia ainda sob o regime militar, mas que já dava sinais de esgotamento. O papa foi recebido pelo presidente João Figueiredo e muita gente pensou - ou temeu - que o êxito da visita pudesse dar algum fôlego ao regime.
Pois uma charge de Chico Caruso captou o sentido da situação: mostrava Figueiredo chegando ao seu gabinete, com seus principais ministros, todos desenhados bem pequenininhos, reduzidos.
David Cameron apareceu diante dos repórteres para comemorar o nascimento do bebê. Parecia alegre. A presidente Dilma aproveitou a recepção ao papa, com sua imensa cobertura, para um discurso de campanha. Talvez Cameron tenha sido mais esperto. Uma breve fala e até logo. Já a longa fala de Dilma foi mais do mesmo para os aliados e um aborrecimento para os outros. Se o objetivo era ganhar espaço no esforço de recuperação de sua popularidade, foi ineficiente.
A verdade é que o povo de algum modo sabe separar as coisas. De fato sente-se feliz diante de certos eventos, mas distribui os méritos com boa percepção. Em vez de tentar pegar carona nesses bons momentos, os políticos espertos e bem intencionados sabem interpretar os sentimentos. E atuam em seguida respeitando esses sentimentos.
William deve ter percebido que o povo inglês quer monarcas mais - como dizer? - gente comum, mais austera, mesmo nascendo rei. Francisco certamente percebeu que a Igreja precisa de um guia mais ligado ao povo do que à Cúria Romana, tão rica, tão fechada em si mesma e tentando esconder seus escândalos. E ele é esse guia.
A politica e a economia dependem da confiança de eleitores , consumidores, investidores, executivos, empresários. A ciência econômica sabe como medir esse sentimento. Pergunta-se às pessoas: como avaliam sua situação econômica, boa, ruim, neutra? E seu trabalho? Sua condução? Como acham que estarão daqui a seis meses, melhor, pior? Planejam comprar um carro? Sua empresa planeja contratar ou demitir? Investir? E assim vai. Depois as respostas são tabuladas e transformadas em números numa escala. Da metade para baixo, pessimismo, para cima, otimismo.
Há uma clara correlação entre otimismo, mais consumo e mais investimento - e aprovação do governo. E inversamente, claro.
Há também pesquisas que pedem avaliações subjetivas, do tipo: gostou do bebê? gostou da viagem do papa? e a vitória da Seleção?
Mostram pessoas mais ou menos animadas, mas sem correlação expressiva com comportamentos econômicos e políticos.
Especialmente quando os políticos estão em baixa, certas comparações só os diminuem mais ainda.
William deve ter percebido que o povo inglês quer monarcas mais — como dizer? — gente comum. Francisco percebeu que a Igreja precisa de um guia mais ligado ao povo do que à Cúria Romana
Os ingleses parecem sinceramente felizes com o bebê real. Pode-se medir ao menos parte desse sentimento. Pesquisas mostram, por exemplo, que a maioria aprova a monarquia e considera correto que George venha um dia a ser o rei da Inglaterra. Mas as pesquisas indicam também que os ingleses gostariam que o príncipe tivesse uma profissão e trabalhasse antes de assumir o trono.
Parece que o príncipe William está atento a esses sinais. Mais do que os jornalistas especializados na cobertura da família real - sim, existe essa categoria na imprensa inglesa. Esses colegas manifestaram surpresa quando William saiu da maternidade carregando o berço com seu filho. Enquanto Kate se acomodava no banco de trás, o príncipe encaixou o bercinho no outro lado do banco, prendeu-o no cinto de segurança, assumiu o volante e partiu. "Oh! ele está dirigindo!" - pode-se ouvir o comentário de repórteres na cobertura ao vivo da CNN.
Já o papa Francisco não dirigiu seu carro aqui no Brasil. Mas pediu um modelo simples, não blindado, não preto - e esse seu gesto foi bem entendido, especialmente no momento em que autoridades brasileiras variadas são pegas em jatinhos, carrões e helicópteros.
William saiu de Land Rover, é verdade, mas dirigindo. O papa foi de passageiro, mas numa minivan Idea. E circulou num papamóvel aberto, fazendo-o parar várias vezes para falar com as pessoas, beijar crianças. Como os ingleses com seu bebê, essa multidão de brasileiros também parece sinceramente feliz com a visita desse Francisco, uma simpatia.
Agora, fica por isso mesmo ou esses momentos de boas sensações coletivas têm efeitos políticos? Direto ao ponto: o bebê ajuda o governo de David Cameron na Inglaterra? A visita do papa alivia as pressões sobre a presidente Dilma?
Ou seria o contrário? A fraqueza, a mediocridade de governantes e políticos sendo realçada pelo brilho alheio?
Quando João Paulo II veio ao Brasil pela primeira vez, em junho e julho de 1980, foi um tremendo sucesso popular. O país vivia ainda sob o regime militar, mas que já dava sinais de esgotamento. O papa foi recebido pelo presidente João Figueiredo e muita gente pensou - ou temeu - que o êxito da visita pudesse dar algum fôlego ao regime.
Pois uma charge de Chico Caruso captou o sentido da situação: mostrava Figueiredo chegando ao seu gabinete, com seus principais ministros, todos desenhados bem pequenininhos, reduzidos.
David Cameron apareceu diante dos repórteres para comemorar o nascimento do bebê. Parecia alegre. A presidente Dilma aproveitou a recepção ao papa, com sua imensa cobertura, para um discurso de campanha. Talvez Cameron tenha sido mais esperto. Uma breve fala e até logo. Já a longa fala de Dilma foi mais do mesmo para os aliados e um aborrecimento para os outros. Se o objetivo era ganhar espaço no esforço de recuperação de sua popularidade, foi ineficiente.
A verdade é que o povo de algum modo sabe separar as coisas. De fato sente-se feliz diante de certos eventos, mas distribui os méritos com boa percepção. Em vez de tentar pegar carona nesses bons momentos, os políticos espertos e bem intencionados sabem interpretar os sentimentos. E atuam em seguida respeitando esses sentimentos.
William deve ter percebido que o povo inglês quer monarcas mais - como dizer? - gente comum, mais austera, mesmo nascendo rei. Francisco certamente percebeu que a Igreja precisa de um guia mais ligado ao povo do que à Cúria Romana, tão rica, tão fechada em si mesma e tentando esconder seus escândalos. E ele é esse guia.
A politica e a economia dependem da confiança de eleitores , consumidores, investidores, executivos, empresários. A ciência econômica sabe como medir esse sentimento. Pergunta-se às pessoas: como avaliam sua situação econômica, boa, ruim, neutra? E seu trabalho? Sua condução? Como acham que estarão daqui a seis meses, melhor, pior? Planejam comprar um carro? Sua empresa planeja contratar ou demitir? Investir? E assim vai. Depois as respostas são tabuladas e transformadas em números numa escala. Da metade para baixo, pessimismo, para cima, otimismo.
Há uma clara correlação entre otimismo, mais consumo e mais investimento - e aprovação do governo. E inversamente, claro.
Há também pesquisas que pedem avaliações subjetivas, do tipo: gostou do bebê? gostou da viagem do papa? e a vitória da Seleção?
Mostram pessoas mais ou menos animadas, mas sem correlação expressiva com comportamentos econômicos e políticos.
Especialmente quando os políticos estão em baixa, certas comparações só os diminuem mais ainda.
A luz do emprego piscou - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 25/07
Apesar da ótima situação do mercado de trabalho, dados de junho levantam debate sobre 'fim de ciclo'
A SITUAÇÃO do emprego é a última carta boa na mão de Dilma Rousseff. Ainda é. Os números de ontem do IBGE, no entanto, suscitaram debates sobre a sorte da presidente nas próximas rodadas.
O desemprego continua muito baixo, mas subiu "fora de época". A indústria demite durante a temporada de contratações. O nível de emprego cresce cada vez mais devagar desde o fim de 2012, tendo aumentado em junho menos do que a população em idade de trabalhar. Na média, os salários ainda sobem além do crescimento da produtividade (bem além), mas em ritmo cada vez menor.
Além dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, sabemos também que a confiança do empresário vai mal das pernas. Os estoques da indústria crescem faz três meses (dado da Confederação Nacional da Indústria para junho). Os trabalhadores relatam cada vez mais dificuldades de arrumar emprego (dado da FGV). O emprego industrial diminui em São Paulo em meados do ano (segundo a Fiesp). Os governos, com menos dinheiro, tendem a contratar menos neste ano e em 2014, mesmo com eleição pela frente.
O setor de serviços começa a apanhar devido ao aumento menor da renda real e ao endividamento das famílias.
Há economista a dizer que também o "ciclo do emprego" começou a virar nesta metade do ano. Uns outros acreditam que os dados recentes sobre emprego, confiança e muito mais estão distorcidos ou "cheios de ruído" devido às manifestações de junho e à balançada feia nos mercados financeiros no mundo inteiro, em especial aqui.
Enfim, há aqueles que preferem enfatizar os dados mais objetivos à mão: a economia vai crescer mais em 2013 do que no ano passado. Sim, apesar do (justificado) pessimismo, o Brasil deve crescer pelo menos o dobro neste ano (1,8%); com muita sorte, pode crescer até o triplo de 2012 (2,7%). Difícil, pois, haver piora séria no emprego.
Pode-se argumentar que o mercado de trabalho tem andado esquisito no Brasil dos últimos três anos, por aí. O desemprego baixou ao piso histórico quando a economia deixava para trás o melhor ciclo de crescimento em 30 anos.
Pode bem ser que, convencidos das expectativas medíocres (embora melhores) para os próximos dois anos, empresários comecem, enfim, a demitir. Até aqui, estavam "represando" empregados na expectativa da retomada econômica.
Dados econômicos de apenas um mês não fazem verão, nem inverno. Vai ser preciso esperar pelo menos até agosto ou setembro para tirar a fumaça dos protestos de junho da frente dos dados e, também, para confirmar tendências de emprego na indústria. Até lá, o debate vai ser meio especulativo.
Politicamente, o risco de piora no mercado de trabalho empurra o governo federal contra a parede. O governo está sem instrumentos para tentar dar uma sacudida na economia; aliás, o Banco Central age para esfriar a produção.
Não há fonte de estímulo outro à vista. Mesmo que sejam um sucesso, as concessões de infraestrutura teriam efeitos práticos (obras em andamento) apenas em 2014. Da economia mundial podem vir é mais problemas. Das ruas, pode vir outra rodada de protestos, no 7 de Setembro.
A Dilma, só resta agora torcer por um carta boa.
Apesar da ótima situação do mercado de trabalho, dados de junho levantam debate sobre 'fim de ciclo'
A SITUAÇÃO do emprego é a última carta boa na mão de Dilma Rousseff. Ainda é. Os números de ontem do IBGE, no entanto, suscitaram debates sobre a sorte da presidente nas próximas rodadas.
O desemprego continua muito baixo, mas subiu "fora de época". A indústria demite durante a temporada de contratações. O nível de emprego cresce cada vez mais devagar desde o fim de 2012, tendo aumentado em junho menos do que a população em idade de trabalhar. Na média, os salários ainda sobem além do crescimento da produtividade (bem além), mas em ritmo cada vez menor.
Além dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, sabemos também que a confiança do empresário vai mal das pernas. Os estoques da indústria crescem faz três meses (dado da Confederação Nacional da Indústria para junho). Os trabalhadores relatam cada vez mais dificuldades de arrumar emprego (dado da FGV). O emprego industrial diminui em São Paulo em meados do ano (segundo a Fiesp). Os governos, com menos dinheiro, tendem a contratar menos neste ano e em 2014, mesmo com eleição pela frente.
O setor de serviços começa a apanhar devido ao aumento menor da renda real e ao endividamento das famílias.
Há economista a dizer que também o "ciclo do emprego" começou a virar nesta metade do ano. Uns outros acreditam que os dados recentes sobre emprego, confiança e muito mais estão distorcidos ou "cheios de ruído" devido às manifestações de junho e à balançada feia nos mercados financeiros no mundo inteiro, em especial aqui.
Enfim, há aqueles que preferem enfatizar os dados mais objetivos à mão: a economia vai crescer mais em 2013 do que no ano passado. Sim, apesar do (justificado) pessimismo, o Brasil deve crescer pelo menos o dobro neste ano (1,8%); com muita sorte, pode crescer até o triplo de 2012 (2,7%). Difícil, pois, haver piora séria no emprego.
Pode-se argumentar que o mercado de trabalho tem andado esquisito no Brasil dos últimos três anos, por aí. O desemprego baixou ao piso histórico quando a economia deixava para trás o melhor ciclo de crescimento em 30 anos.
Pode bem ser que, convencidos das expectativas medíocres (embora melhores) para os próximos dois anos, empresários comecem, enfim, a demitir. Até aqui, estavam "represando" empregados na expectativa da retomada econômica.
Dados econômicos de apenas um mês não fazem verão, nem inverno. Vai ser preciso esperar pelo menos até agosto ou setembro para tirar a fumaça dos protestos de junho da frente dos dados e, também, para confirmar tendências de emprego na indústria. Até lá, o debate vai ser meio especulativo.
Politicamente, o risco de piora no mercado de trabalho empurra o governo federal contra a parede. O governo está sem instrumentos para tentar dar uma sacudida na economia; aliás, o Banco Central age para esfriar a produção.
Não há fonte de estímulo outro à vista. Mesmo que sejam um sucesso, as concessões de infraestrutura teriam efeitos práticos (obras em andamento) apenas em 2014. Da economia mundial podem vir é mais problemas. Das ruas, pode vir outra rodada de protestos, no 7 de Setembro.
A Dilma, só resta agora torcer por um carta boa.
O emprego sob pressão - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 25/07
Os principais indicadores do comportamento do mercado de trabalho apontam para alguma aceleração do desemprego.
Há dois dias, o Ministério do Trabalho já havia divulgado as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de junho e o que se viu foi um primeiro semestre de desempenho relativamente baixo na criação de empregos formais (com carteira registrada), o semestre de desempenho mais baixo desde 2009.
E, ontem, os últimos números do IBGE mostraram certa progressão do desemprego, como mostra o gráfico ao lado.
São dados ainda inconclusivos porque refletem uma temporada adversa, especialmente o mês de junho, marcado por protestos e paralisações que prejudicaram a atividade econômica e a contratação de pessoal.
Independentemente dessas avaliações iniciais, o mercado de trabalho deve começar a refletir pressões de duas direções. A primeira delas é a percepção geral de que, mais uma vez, o governo Dilma não conseguirá entregar, nem neste ano nem em 2014, um crescimento muito acima dos 2%. É, por si só, um fator que freia os investimentos e, portanto, as admissões.
Em segundo lugar, como o mercado de trabalho está passando há mais de dois anos por uma situação muito próxima do pleno emprego, a mão de obra disponível é de qualificação mais baixa e, portanto, exige, para assegurar um mínimo de produtividade, mais treinamento e instrução. É também fator que conspira contra novas contratações.
O IBGE mostrou, também, que a renda média real (descontada a inflação) cresceu pouco, apenas 0,8% em 12 meses. Esse é um fenômeno observado anteriormente a partir de outras manifestações. Trata-se da erosão do poder aquisitivo do trabalhador provocada pela alta de preços, especialmente dos alimentos, que avançaram 12,8% nos últimos 12 meses, como mostraram as estatísticas de junho da evolução do IPCA. Como a alimentação é um item essencial da cesta de consumo, sobrou menos caixa no orçamento para as demais despesas do trabalhador. Esse é um fator decisivo para explicar a força das manifestações populares de junho que se insurgiram em todo o País contra os reajustes das tarifas dos transportes coletivos.
Essas variações não parecem suficientes para alterar substancialmente a situação do mercado de trabalho, que deverá continuar relativamente aquecido, apesar da baixa velocidade da atividade econômica (avanço do PIB). Contribui para isso a baixa evolução tanto da População em Idade Ativa (mais de dez anos) quanto da Força de Trabalho (veja o Confira), ambas não crescendo mais do que 1,0% em 12 meses.
Em outras palavras, o mercado de mão de obra tende a continuar pressionado, fator que contribuirá para puxar a inflação para cima, na medida em que os salários tendem a crescer mais do que a produtividade do trabalho, situação para a qual todos os documentos do Banco Central vêm chamando a atenção.
Os principais indicadores do comportamento do mercado de trabalho apontam para alguma aceleração do desemprego.
Há dois dias, o Ministério do Trabalho já havia divulgado as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de junho e o que se viu foi um primeiro semestre de desempenho relativamente baixo na criação de empregos formais (com carteira registrada), o semestre de desempenho mais baixo desde 2009.
E, ontem, os últimos números do IBGE mostraram certa progressão do desemprego, como mostra o gráfico ao lado.
São dados ainda inconclusivos porque refletem uma temporada adversa, especialmente o mês de junho, marcado por protestos e paralisações que prejudicaram a atividade econômica e a contratação de pessoal.
Independentemente dessas avaliações iniciais, o mercado de trabalho deve começar a refletir pressões de duas direções. A primeira delas é a percepção geral de que, mais uma vez, o governo Dilma não conseguirá entregar, nem neste ano nem em 2014, um crescimento muito acima dos 2%. É, por si só, um fator que freia os investimentos e, portanto, as admissões.
Em segundo lugar, como o mercado de trabalho está passando há mais de dois anos por uma situação muito próxima do pleno emprego, a mão de obra disponível é de qualificação mais baixa e, portanto, exige, para assegurar um mínimo de produtividade, mais treinamento e instrução. É também fator que conspira contra novas contratações.
O IBGE mostrou, também, que a renda média real (descontada a inflação) cresceu pouco, apenas 0,8% em 12 meses. Esse é um fenômeno observado anteriormente a partir de outras manifestações. Trata-se da erosão do poder aquisitivo do trabalhador provocada pela alta de preços, especialmente dos alimentos, que avançaram 12,8% nos últimos 12 meses, como mostraram as estatísticas de junho da evolução do IPCA. Como a alimentação é um item essencial da cesta de consumo, sobrou menos caixa no orçamento para as demais despesas do trabalhador. Esse é um fator decisivo para explicar a força das manifestações populares de junho que se insurgiram em todo o País contra os reajustes das tarifas dos transportes coletivos.
Essas variações não parecem suficientes para alterar substancialmente a situação do mercado de trabalho, que deverá continuar relativamente aquecido, apesar da baixa velocidade da atividade econômica (avanço do PIB). Contribui para isso a baixa evolução tanto da População em Idade Ativa (mais de dez anos) quanto da Força de Trabalho (veja o Confira), ambas não crescendo mais do que 1,0% em 12 meses.
Em outras palavras, o mercado de mão de obra tende a continuar pressionado, fator que contribuirá para puxar a inflação para cima, na medida em que os salários tendem a crescer mais do que a produtividade do trabalho, situação para a qual todos os documentos do Banco Central vêm chamando a atenção.
Debate com a direita - MARCELO MITERHOF
FOLHA DE SP - 25/07
Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, mas porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico
Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na Folha de 08/07/2013, convida a esquerda a discutir o Brasil com os conservadores, parando com os xingamentos mútuos. Com um certo atraso, aceito o convite.
Pondé se define como liberal-conservador. Vale tentar explicar o sentido do termo, algo contraintuitivo.
O liberalismo é político, com destaque para os direitos individuais: liberdades de expressão e religiosa, pluralismo moral, emancipação feminina, direitos gays etc.
O conservadorismo se refere, entre outras coisas, à economia, caracterizada por um outro liberalismo, o econômico, em que o mercado tem um papel central e extremo, dado pela máxima "vícios privados, virtudes públicas", que sintetiza a crença na livre iniciativa como o vetor do desenvolvimento: não se culpe por agir visando seu estrito interesse próprio, pois o resultado é bom para todos.
Estamos de acordo quanto às garantias civis como parte essencial da democracia e para que o país seja um lugar mais legal de viver.
As bandeiras libertárias foram no Brasil historicamente levantadas pela esquerda. Talvez isso se deva ao fato de a direita brasileira ter sua raiz num conservadorismo agrário pré-capitalista. Isso não significa que essas bandeiras sejam exclusivas da esquerda e tampouco que todos nela sejam politicamente liberais. Além disso, é inegável que as liberdades individuais foram inventadas pelas revoluções burguesas.
As diferenças surgem na economia. A visão conservadora prega o Estado mínimo, que provê só serviços essenciais, como educação e segurança, para equalizar as oportunidades a partir das quais os indivíduos buscarão seu interesse. Profissionais liberais e pequenos empresários seriam a força do capitalismo.
O problema é que, apesar de boas sacadas quanto ao poder da competição e da busca do lucro, não é assim que o capitalismo funciona melhor.
Por exemplo, grandes empresas são mais eficientes. O poder de mercado torna mais fácil acumular recursos para inovar. Como dizia Schumpeter, um carro pode correr porque tem freios.
O Estado também tem papel central na economia. Os gastos públicos estabilizam o capitalismo, criando uma demanda que impulsiona o investimento e, as sim, a produtividade. Além disso, para a esquerda, distribuir renda não é somente um valor moral, mas também uma forma de acelerar o crescimento: pobres consomem mais os ganhos adicionais que obtém.
A principal diferença entre direita e esquerda está na ênfase que cada uma respectivamente dá à competição e à cooperação.
Essas são formas de interação em alguma medida sempre presentes nas relações humanas. Exagerar na ênfase numa ou outra direção cria problemas. Sem cooperação, a força inovadora do capitalismo é desagregadora, como ocorreu até a crise de 29. Sem competição, o comunismo foi pouco dinâmico e repressor.
O Estado de bem-estar social foi uma inovação pública que consolidou a força do capitalismo ao torná-lo mais equilibrado, mas exageros cooperativos também ocorrem. Por exemplo, há casos de seguro-desemprego na Europa em que é demasiadamente pequena a diferença entre trabalhar ou não.
Claro, a dosagem entre competição e cooperação não tem receita pronta, abrindo espaço para debates e experimentações.
Por fim, uma boa questão levantada pelo liberal-conservadorismo é se haveria uma contradição entre o intervencionismo econômico e as liberdades individuais.
Não creio. Defender o Estado de bem-estar social é de meu interesse individual. Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, e, sim, porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico e porque uma sociedade mais equilibrada é boa para mim. Afinal, viver em meio a uma grande pobreza me põe sob risco.
O bem comum atende a interesses próprios menos imediatos. Um exemplo banal é o das regras de trânsito. Furar o sinal vermelho faz a pessoa chegar mais rápido ao destino. O risco de acidente é baixo. Porém basta dirigir no Rio para verificar que a busca de um interesse próprio estrito pode ser pior para todos.
Além disso, a economia é só um meio de criar as condições da liberdade. A liberdade das sarjetas tem seu charme, mas é para poucos. Para ser livre, é preciso contar com itens de consumo básicos da modernidade --geladeira, TV--, além de educação, viajar etc. O capitalismo regulado é a melhor maneira de propiciar essas coisas a todos.
Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, mas porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico
Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na Folha de 08/07/2013, convida a esquerda a discutir o Brasil com os conservadores, parando com os xingamentos mútuos. Com um certo atraso, aceito o convite.
Pondé se define como liberal-conservador. Vale tentar explicar o sentido do termo, algo contraintuitivo.
O liberalismo é político, com destaque para os direitos individuais: liberdades de expressão e religiosa, pluralismo moral, emancipação feminina, direitos gays etc.
O conservadorismo se refere, entre outras coisas, à economia, caracterizada por um outro liberalismo, o econômico, em que o mercado tem um papel central e extremo, dado pela máxima "vícios privados, virtudes públicas", que sintetiza a crença na livre iniciativa como o vetor do desenvolvimento: não se culpe por agir visando seu estrito interesse próprio, pois o resultado é bom para todos.
Estamos de acordo quanto às garantias civis como parte essencial da democracia e para que o país seja um lugar mais legal de viver.
As bandeiras libertárias foram no Brasil historicamente levantadas pela esquerda. Talvez isso se deva ao fato de a direita brasileira ter sua raiz num conservadorismo agrário pré-capitalista. Isso não significa que essas bandeiras sejam exclusivas da esquerda e tampouco que todos nela sejam politicamente liberais. Além disso, é inegável que as liberdades individuais foram inventadas pelas revoluções burguesas.
As diferenças surgem na economia. A visão conservadora prega o Estado mínimo, que provê só serviços essenciais, como educação e segurança, para equalizar as oportunidades a partir das quais os indivíduos buscarão seu interesse. Profissionais liberais e pequenos empresários seriam a força do capitalismo.
O problema é que, apesar de boas sacadas quanto ao poder da competição e da busca do lucro, não é assim que o capitalismo funciona melhor.
Por exemplo, grandes empresas são mais eficientes. O poder de mercado torna mais fácil acumular recursos para inovar. Como dizia Schumpeter, um carro pode correr porque tem freios.
O Estado também tem papel central na economia. Os gastos públicos estabilizam o capitalismo, criando uma demanda que impulsiona o investimento e, as sim, a produtividade. Além disso, para a esquerda, distribuir renda não é somente um valor moral, mas também uma forma de acelerar o crescimento: pobres consomem mais os ganhos adicionais que obtém.
A principal diferença entre direita e esquerda está na ênfase que cada uma respectivamente dá à competição e à cooperação.
Essas são formas de interação em alguma medida sempre presentes nas relações humanas. Exagerar na ênfase numa ou outra direção cria problemas. Sem cooperação, a força inovadora do capitalismo é desagregadora, como ocorreu até a crise de 29. Sem competição, o comunismo foi pouco dinâmico e repressor.
O Estado de bem-estar social foi uma inovação pública que consolidou a força do capitalismo ao torná-lo mais equilibrado, mas exageros cooperativos também ocorrem. Por exemplo, há casos de seguro-desemprego na Europa em que é demasiadamente pequena a diferença entre trabalhar ou não.
Claro, a dosagem entre competição e cooperação não tem receita pronta, abrindo espaço para debates e experimentações.
Por fim, uma boa questão levantada pelo liberal-conservadorismo é se haveria uma contradição entre o intervencionismo econômico e as liberdades individuais.
Não creio. Defender o Estado de bem-estar social é de meu interesse individual. Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, e, sim, porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico e porque uma sociedade mais equilibrada é boa para mim. Afinal, viver em meio a uma grande pobreza me põe sob risco.
O bem comum atende a interesses próprios menos imediatos. Um exemplo banal é o das regras de trânsito. Furar o sinal vermelho faz a pessoa chegar mais rápido ao destino. O risco de acidente é baixo. Porém basta dirigir no Rio para verificar que a busca de um interesse próprio estrito pode ser pior para todos.
Além disso, a economia é só um meio de criar as condições da liberdade. A liberdade das sarjetas tem seu charme, mas é para poucos. Para ser livre, é preciso contar com itens de consumo básicos da modernidade --geladeira, TV--, além de educação, viajar etc. O capitalismo regulado é a melhor maneira de propiciar essas coisas a todos.
O colapso contratado - JOÃO MOURA
ESTADÃO - 25/07
Não há dúvidas sobre a importância das tecnologias da informação e da internet para a economia no século 21. Os fatos recentes deixam inequívocas as transformações sociais impulsionadas pela internet. A implantação de redes, no entanto, exige a coordenação de vários atores e hoje constatamos o contrário. Os investimentos privados só podem ser realizados se os poderes públicos coordenarem suas ações. Sem isso não teremos a banda larga - a infraestrutura fundamental do novo milênio. As comunicações modernas são feitas por redes sem-fio que permitem a comunicação entre o aparelho do usuário e as antenas das operadoras instaladas por todo lugar. Dessas antenas, o sinal segue por redes físicas para as centrais das operadoras. Nas casas ou nos escritórios, a comunicação segue direto por redes físicas de cobre ou de fibra óptica cuja implantação é cara e complexa.
As possibilidades de construção de redes elétricas e de telecomunicações, em espaços próximos uns dos outros, são muitas, com gastos menores, melhor ocupação do espaço público e menos desconforto para o cidadão. Mas pouco pode ser feito sem a coordenação de políticas que regulem o tema. Há, por exemplo, um clamor popular para a eliminação de postes nas grandes cidades, mas o enterramento de redes elétricas é caro e tecnicamente complexo. Como as distribuidoras não podem repassar esse custo às tarifas, não há incentivos para realizá-los. Onde as telecomunicações aproveitam a infraestrutura da rede elétrica, o custo incremental exigido por suas redes é pequeno e só faz sentido realizá-lo em conjunto. Sem postes ou sem redes subterrâneas não há comunicação. Onde está a coordenação entre agências reguladoras e prefeituras para criar o modelo para repartição de custos e mensuração de externalidades, essenciais para a formulação de políticas?
Outra faceta do tema mostra que municípios adotam legislações próprias sobre a instalação das antenas, necessárias para o funcionamento das redes sem-fio. Nada mais razoável, se esses regramentos não fossem incompatíveis com os requisitos técnicos das redes. Estudo técnico recente sobre a compatibilidade entre a Lei Municipal 13.756, que regula o assunto em São Paulo, e as exigências mínimas para a construção de redes sem-fio concluiu que a possibilidade de cumprir os seus requisitos é limitadíssima, o que, na prática, impede a prestação de serviços de qualidade, como exige o cidadão. Para as operadoras, resta o dilema: se cumprir a lei, não conseguirão melhorar o serviço ao cidadão. O que fazer?
O investimento público em telecomunicações é comum mesmo em países como os EUA e a Inglaterra, visando a ganhos econômicos e sociais. Investimentos públicos mal direcionados, no entanto, inibem iniciativas privadas e geram resultados perversos. Exemplos são dados por municípios que aplicam recursos na construção de redes próprias, mesmo sem dispor da especialização técnica que as operadoras possuem. Assim, as prefeituras deixam de ser usuárias potenciais e afastam a possibilidade de investimentos privados, que, ao final, poderiam atender também o usuário privado.
A competição, na literatura econômica, é instrumento de indução de eficiência e desestímulo a abusos ou serviços insatisfatórios. Onde as forças de mercado não são suficientes para permitir a livre escolha, é necessária a ação regulatória do Estado para permitir que novos operadores façam ofertas, enriquecendo o leque de escolhas para o cidadão. A competição em telecomunicações não se instala naturalmente sem regulação que permita investimentos por novas empresas.
As operadoras alternativas, com ofertas diferenciadas, induzem as empresas já estabelecidas a responder com boa dose de investimentos, inovação e qualidade. Isso exige firmeza de propósitos do regulador. Atitudes titubeantes causam ruídos prejudiciais e privilegiam a inércia. Isso não interessa ao cidadão. Não há mais tempo para a Anatel retardar a implantação dos regulamentos pró-competição para atrair novos competidores, induzir investimentos e afastar o risco de colapso.
Não há dúvidas sobre a importância das tecnologias da informação e da internet para a economia no século 21. Os fatos recentes deixam inequívocas as transformações sociais impulsionadas pela internet. A implantação de redes, no entanto, exige a coordenação de vários atores e hoje constatamos o contrário. Os investimentos privados só podem ser realizados se os poderes públicos coordenarem suas ações. Sem isso não teremos a banda larga - a infraestrutura fundamental do novo milênio. As comunicações modernas são feitas por redes sem-fio que permitem a comunicação entre o aparelho do usuário e as antenas das operadoras instaladas por todo lugar. Dessas antenas, o sinal segue por redes físicas para as centrais das operadoras. Nas casas ou nos escritórios, a comunicação segue direto por redes físicas de cobre ou de fibra óptica cuja implantação é cara e complexa.
As possibilidades de construção de redes elétricas e de telecomunicações, em espaços próximos uns dos outros, são muitas, com gastos menores, melhor ocupação do espaço público e menos desconforto para o cidadão. Mas pouco pode ser feito sem a coordenação de políticas que regulem o tema. Há, por exemplo, um clamor popular para a eliminação de postes nas grandes cidades, mas o enterramento de redes elétricas é caro e tecnicamente complexo. Como as distribuidoras não podem repassar esse custo às tarifas, não há incentivos para realizá-los. Onde as telecomunicações aproveitam a infraestrutura da rede elétrica, o custo incremental exigido por suas redes é pequeno e só faz sentido realizá-lo em conjunto. Sem postes ou sem redes subterrâneas não há comunicação. Onde está a coordenação entre agências reguladoras e prefeituras para criar o modelo para repartição de custos e mensuração de externalidades, essenciais para a formulação de políticas?
Outra faceta do tema mostra que municípios adotam legislações próprias sobre a instalação das antenas, necessárias para o funcionamento das redes sem-fio. Nada mais razoável, se esses regramentos não fossem incompatíveis com os requisitos técnicos das redes. Estudo técnico recente sobre a compatibilidade entre a Lei Municipal 13.756, que regula o assunto em São Paulo, e as exigências mínimas para a construção de redes sem-fio concluiu que a possibilidade de cumprir os seus requisitos é limitadíssima, o que, na prática, impede a prestação de serviços de qualidade, como exige o cidadão. Para as operadoras, resta o dilema: se cumprir a lei, não conseguirão melhorar o serviço ao cidadão. O que fazer?
O investimento público em telecomunicações é comum mesmo em países como os EUA e a Inglaterra, visando a ganhos econômicos e sociais. Investimentos públicos mal direcionados, no entanto, inibem iniciativas privadas e geram resultados perversos. Exemplos são dados por municípios que aplicam recursos na construção de redes próprias, mesmo sem dispor da especialização técnica que as operadoras possuem. Assim, as prefeituras deixam de ser usuárias potenciais e afastam a possibilidade de investimentos privados, que, ao final, poderiam atender também o usuário privado.
A competição, na literatura econômica, é instrumento de indução de eficiência e desestímulo a abusos ou serviços insatisfatórios. Onde as forças de mercado não são suficientes para permitir a livre escolha, é necessária a ação regulatória do Estado para permitir que novos operadores façam ofertas, enriquecendo o leque de escolhas para o cidadão. A competição em telecomunicações não se instala naturalmente sem regulação que permita investimentos por novas empresas.
As operadoras alternativas, com ofertas diferenciadas, induzem as empresas já estabelecidas a responder com boa dose de investimentos, inovação e qualidade. Isso exige firmeza de propósitos do regulador. Atitudes titubeantes causam ruídos prejudiciais e privilegiam a inércia. Isso não interessa ao cidadão. Não há mais tempo para a Anatel retardar a implantação dos regulamentos pró-competição para atrair novos competidores, induzir investimentos e afastar o risco de colapso.
Das ruas e de gabinetes - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 25/07
Ambiente político esquenta em torno de Sérgio Cabral (PMDB), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB)
O consenso sobre as manifestações de rua foi de que repudiaram os políticos em geral e, no entanto, de repente vê-se uma concentração sobre um alvo individual, com efeitos imediatos. Mas, ainda veladas, e fora das ruas, há iniciativas para colher também outros personagens dos preparativos eleitorais em curso. Encoberto pela visita do papa Francisco, o ambiente político esquenta em torno de Sérgio Cabral, mas também de Eduardo Campos e Aécio Neves, para citar alguns que estão na roda.
No caso de Sérgio Cabral, o decreto desesperado com que pretendeu até violar o sigilo das comunicações pessoais, como tentativa de identificar ativistas das agitações de rua, reflete o quanto está abalado com o repentino desmoronar do plano para sua sucessão, na qual deixar o governo não significaria perda de poder e de proteção. Mesmo a nota oficial com intenção de atenuar o erro acentuou a evidência do aturdimento: nega o que está explicitado com clareza no decreto e oficializado por sua assinatura.
Eleger o sucessor é uma necessidade para Cabral, que fez uma coleção de adversários tendente a esmiuçar cada sombra do seu governo. Mas reconstruir-se como cabo eleitoral indispensável para uma vitória eleitoral de Luiz Fernando Pezão neste momento não cabe nem como divagação. Apesar dos cuidados com que os meios de comunicação o cercam, no mínimo como prevenção contra Lindbergh Farias.
O assédio a Cabral, aliás, ofereceu a solução do problema que perturbava, no Rio, o comando do PT e a possível recandidatura de Dilma Rousseff. De um lado, os petistas percebem que Lindbergh pode, afinal, abrir uma oportunidade de que o PT consiga alguma coisa no Rio, depois de tanto esvaziamento. De outro, Cabral prometia combater essa possibilidade a ponto de ameaçar o apoio do PMDB do Estado a Dilma. Sua ameaça perdeu força.
O governador Eduardo Campos nega superfaturamento que justifique o pedido da Polícia Federal, ao Ministério Público, de inquérito sobre contrato entre o governo pernambucano e a empresa Ideia Digital. Mas o pedido não foi desmentido e, em princípio, se foi feito é por haver algo a passar por exame. E aí está o motivo de uma iniciativa política para movimentar, em futuro próximo, esse e outros assuntos, digamos, polêmicos do governador. Inclusive, e talvez sobretudo, de volta ao caso dos precatórios em que se viu envolvido quando secretário da Fazenda.
Aécio Neves é objeto de uma busca, jornalística ou política ou ambas, que seria relacionada com uma investigação ou já um processo de natureza fiscal --nenhum dos dois com existência confirmada. Além dos primeiros questionamentos a aparecerem sobre seu governo.
Com isso, as pretensões eleitorais começam a deixar a fase palavrória, devida mais à criatividade jornalística, e a entrar na de disputa mesmo. Com tudo o que de ruim há nesse longo processo.
DESUMANAS
Não satisfeitos com paralisar anteontem cirurgias, exames e atendimentos clínicos em 14 Estados, como hipotética forma de protestar contra a contratação de médicos estrangeiros, médicos militantes programam novas suspensões de suas atividades nos dias 30 e 31. Com a expectativa de aumentar o número de Estados aderentes.
Dado que a vinda de estrangeiros não será por culpa dos pacientes que, nas paralisações, sofrem, movem-se com dificuldade para chegar em vão aos hospitais, veem remarcadas para o infinito as suas cirurgias e consultas, eles merecem que sejam importados mais médicos para suprir as omissões da militância injusta.
Ambiente político esquenta em torno de Sérgio Cabral (PMDB), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB)
O consenso sobre as manifestações de rua foi de que repudiaram os políticos em geral e, no entanto, de repente vê-se uma concentração sobre um alvo individual, com efeitos imediatos. Mas, ainda veladas, e fora das ruas, há iniciativas para colher também outros personagens dos preparativos eleitorais em curso. Encoberto pela visita do papa Francisco, o ambiente político esquenta em torno de Sérgio Cabral, mas também de Eduardo Campos e Aécio Neves, para citar alguns que estão na roda.
No caso de Sérgio Cabral, o decreto desesperado com que pretendeu até violar o sigilo das comunicações pessoais, como tentativa de identificar ativistas das agitações de rua, reflete o quanto está abalado com o repentino desmoronar do plano para sua sucessão, na qual deixar o governo não significaria perda de poder e de proteção. Mesmo a nota oficial com intenção de atenuar o erro acentuou a evidência do aturdimento: nega o que está explicitado com clareza no decreto e oficializado por sua assinatura.
Eleger o sucessor é uma necessidade para Cabral, que fez uma coleção de adversários tendente a esmiuçar cada sombra do seu governo. Mas reconstruir-se como cabo eleitoral indispensável para uma vitória eleitoral de Luiz Fernando Pezão neste momento não cabe nem como divagação. Apesar dos cuidados com que os meios de comunicação o cercam, no mínimo como prevenção contra Lindbergh Farias.
O assédio a Cabral, aliás, ofereceu a solução do problema que perturbava, no Rio, o comando do PT e a possível recandidatura de Dilma Rousseff. De um lado, os petistas percebem que Lindbergh pode, afinal, abrir uma oportunidade de que o PT consiga alguma coisa no Rio, depois de tanto esvaziamento. De outro, Cabral prometia combater essa possibilidade a ponto de ameaçar o apoio do PMDB do Estado a Dilma. Sua ameaça perdeu força.
O governador Eduardo Campos nega superfaturamento que justifique o pedido da Polícia Federal, ao Ministério Público, de inquérito sobre contrato entre o governo pernambucano e a empresa Ideia Digital. Mas o pedido não foi desmentido e, em princípio, se foi feito é por haver algo a passar por exame. E aí está o motivo de uma iniciativa política para movimentar, em futuro próximo, esse e outros assuntos, digamos, polêmicos do governador. Inclusive, e talvez sobretudo, de volta ao caso dos precatórios em que se viu envolvido quando secretário da Fazenda.
Aécio Neves é objeto de uma busca, jornalística ou política ou ambas, que seria relacionada com uma investigação ou já um processo de natureza fiscal --nenhum dos dois com existência confirmada. Além dos primeiros questionamentos a aparecerem sobre seu governo.
Com isso, as pretensões eleitorais começam a deixar a fase palavrória, devida mais à criatividade jornalística, e a entrar na de disputa mesmo. Com tudo o que de ruim há nesse longo processo.
DESUMANAS
Não satisfeitos com paralisar anteontem cirurgias, exames e atendimentos clínicos em 14 Estados, como hipotética forma de protestar contra a contratação de médicos estrangeiros, médicos militantes programam novas suspensões de suas atividades nos dias 30 e 31. Com a expectativa de aumentar o número de Estados aderentes.
Dado que a vinda de estrangeiros não será por culpa dos pacientes que, nas paralisações, sofrem, movem-se com dificuldade para chegar em vão aos hospitais, veem remarcadas para o infinito as suas cirurgias e consultas, eles merecem que sejam importados mais médicos para suprir as omissões da militância injusta.
Ação orquestrada - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 25/07
Um movimento de natureza regional, com alcance nacional. Assim pode ser definida a troca de comando do PSB em Minas Gerais, com a saída de Walfrido dos Mares Guia e a escolha do deputado Júlio Delgado para a presidência.
É o primeiro indicativo nítido a olho nu de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, será mesmo candidato a presidente em 2014. "Mostra o jogo sendo jogado", diz um aliado de Campos.
A substituição de Mares Guia - foi ministro de Luiz Inácio da Silva, é amigo do PT e defende apoio do PSB à reeleição de Dilma Rousseff - por Delgado, que teve no senador Aécio Neves um empenhado cabo eleitoral quando se candidatou à presidência da Câmara contra Henrique Alves, pode ser vista também como parte de uma ação conjunta de Campos e Aécio, no jogo da sucessão.
O projeto, ainda em fase de esboço, é formar palanques comuns em vários Estados e, se possível, firmar um acordo de apoio recíproco no segundo turno da eleição presidencial. Se o pernambucano for finalista, o candidato do PSDB o apoia e vice-versa, caso Aécio passe para a segunda etapa.
Uma das possibilidades de aliança regional é justamente em Minas, onde se trabalha com a ideia de formação de chapa única entre os dois partidos, um com a candidatura a governador outro na vice. Em São Paulo encaminha-se acordo semelhante para a disputa pela reeleição de Geraldo Alckmin, bem como no Paraná e em Pernambuco.
Entre os Estados de maior densidade eleitoral, o Rio de Janeiro é um problema para os dois partidos devido à falta de nomes viáveis. O PSDB faz tentativas com Fernando Gabeira que, no entanto, prefere atuar na política apenas como jornalista. O PSB aguardava a saída do senador Lindbergh Farias do PT se a direção nacional o obrigasse a desistir de concorrer, mas, com o declínio do governador Sérgio Cabral, a candidatura petista se fortaleceu.
A hipótese de o governador de Pernambuco ser candidato a vice de Lula se for ele o candidato do PT em 2014 é considerada fora de cogitação. Por vários motivos, sendo o primeiro deles a posição de Eduardo Campos que a cada dia renova a validade de frase dita meses atrás: "Não tenho temperamento para vice".
Em segundo lugar, o PSB não quer ser plano B de ninguém. Em terceiro, avalia que não há chance de o ex-presidente se dispor a disputar a eleição no caso de Dilma não recuperar a popularidade, porque não teria como se dissociar do fracasso.
Além disso, na interpretação do partido, Lula perdeu a oportunidade de "segurar" Eduardo Campos quando não quis apoiar a candidatura do PSB à presidência da Câmara como forma de impedir o PMDB de tomar conta do comando do Congresso.
AI-6. O governador Sérgio Cabral parece mesmo decidido a aprofundar o buraco por onde já escorreram 30 pontos porcentuais na avaliação positiva de sua administração.
Depois de várias peripécias nacionalmente conhecidas, Cabral resolveu fazer do Rio de Janeiro uma espécie de enclave absolutista na república democrática do Brasil. É o que sugere o decreto que confere poder à Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas para "praticar quaisquer atos necessários à instrução de procedimentos".
Entre esses atos está o de pedir quebras de sigilos às operadoras de telefonia e provedores de internet "no prazo máximo de 24 horas". O governador dá de ombros ao Estado de Direito e usa como molde o Ato Institucional n.º 5, por intermédio do qual a ditadura exerceu plenos poderes no Brasil de 1968 a 1978.
Serventia. Do ex-presidente Lula acerca do "zum-zum-zum na imprensa" sobre propostas de redução do número de ministérios: "Não tem que diminuir ou aumentar, tem que saber para que serve".
De fato.
Um movimento de natureza regional, com alcance nacional. Assim pode ser definida a troca de comando do PSB em Minas Gerais, com a saída de Walfrido dos Mares Guia e a escolha do deputado Júlio Delgado para a presidência.
É o primeiro indicativo nítido a olho nu de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, será mesmo candidato a presidente em 2014. "Mostra o jogo sendo jogado", diz um aliado de Campos.
A substituição de Mares Guia - foi ministro de Luiz Inácio da Silva, é amigo do PT e defende apoio do PSB à reeleição de Dilma Rousseff - por Delgado, que teve no senador Aécio Neves um empenhado cabo eleitoral quando se candidatou à presidência da Câmara contra Henrique Alves, pode ser vista também como parte de uma ação conjunta de Campos e Aécio, no jogo da sucessão.
O projeto, ainda em fase de esboço, é formar palanques comuns em vários Estados e, se possível, firmar um acordo de apoio recíproco no segundo turno da eleição presidencial. Se o pernambucano for finalista, o candidato do PSDB o apoia e vice-versa, caso Aécio passe para a segunda etapa.
Uma das possibilidades de aliança regional é justamente em Minas, onde se trabalha com a ideia de formação de chapa única entre os dois partidos, um com a candidatura a governador outro na vice. Em São Paulo encaminha-se acordo semelhante para a disputa pela reeleição de Geraldo Alckmin, bem como no Paraná e em Pernambuco.
Entre os Estados de maior densidade eleitoral, o Rio de Janeiro é um problema para os dois partidos devido à falta de nomes viáveis. O PSDB faz tentativas com Fernando Gabeira que, no entanto, prefere atuar na política apenas como jornalista. O PSB aguardava a saída do senador Lindbergh Farias do PT se a direção nacional o obrigasse a desistir de concorrer, mas, com o declínio do governador Sérgio Cabral, a candidatura petista se fortaleceu.
A hipótese de o governador de Pernambuco ser candidato a vice de Lula se for ele o candidato do PT em 2014 é considerada fora de cogitação. Por vários motivos, sendo o primeiro deles a posição de Eduardo Campos que a cada dia renova a validade de frase dita meses atrás: "Não tenho temperamento para vice".
Em segundo lugar, o PSB não quer ser plano B de ninguém. Em terceiro, avalia que não há chance de o ex-presidente se dispor a disputar a eleição no caso de Dilma não recuperar a popularidade, porque não teria como se dissociar do fracasso.
Além disso, na interpretação do partido, Lula perdeu a oportunidade de "segurar" Eduardo Campos quando não quis apoiar a candidatura do PSB à presidência da Câmara como forma de impedir o PMDB de tomar conta do comando do Congresso.
AI-6. O governador Sérgio Cabral parece mesmo decidido a aprofundar o buraco por onde já escorreram 30 pontos porcentuais na avaliação positiva de sua administração.
Depois de várias peripécias nacionalmente conhecidas, Cabral resolveu fazer do Rio de Janeiro uma espécie de enclave absolutista na república democrática do Brasil. É o que sugere o decreto que confere poder à Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas para "praticar quaisquer atos necessários à instrução de procedimentos".
Entre esses atos está o de pedir quebras de sigilos às operadoras de telefonia e provedores de internet "no prazo máximo de 24 horas". O governador dá de ombros ao Estado de Direito e usa como molde o Ato Institucional n.º 5, por intermédio do qual a ditadura exerceu plenos poderes no Brasil de 1968 a 1978.
Serventia. Do ex-presidente Lula acerca do "zum-zum-zum na imprensa" sobre propostas de redução do número de ministérios: "Não tem que diminuir ou aumentar, tem que saber para que serve".
De fato.
Policiamento democrático - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 25/07
A dificuldade em atuar na repressão a atos de vandalismo dentro das estritas normas legais, flagrante no decreto que criou no Rio de Janeiro a Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (CEIV), precisa ser superada com a adoção das melhores práticas já utilizadas em outros países.
O governo do Estado do Rio teve de agir com rapidez diante da reação de juristas e organismos de defesa do cidadão que consideraram inconstitucionais várias partes do decreto. Ficou claro, na nova versão, que a comissão não tem o direito de quebrar sigilos, o que só acontecerá se aprovado pela Justiça.
Ontem tratei da existência de diversos manuais de associações de polícias sobre o controle de manifestações de massas que o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro selecionou em uma pesquisa, manuais que desejam conferir mais eficácia à ação policial, respeitando o direito do cidadão à livre manifestação pacífica. Os princípios do policiamento democrático de manifestações de massa, por exemplo, são os seguintes, para a polícia britânica, conforme o "Manual of guidance on keeping the peace" , da NPIA (Agência Nacional para Melhoria no Policiamento) e ACPOS (Associação dos Chefes de Polícia da Escócia):
a) Polícia acessível, imparcial e que busca o consenso; b) Diálogo e sinceridade na relação com os manifestantes, além de relação positiva com a imprensa; c) Um comando preparado e resistente (à provocação); d) Respostas apropriadas e proporcionais (respeito aos direitos humanos, uso de inteligência com recurso a especialistas e uso mínimo da força).
Um trabalho do diretor do Police Executive Research Forum (PERF), Tony Narr, e diversos especialistas, do qual falei ontem, aponta maneiras de enfrentar movimentos de massas com êxito, sem ferir os direitos dos cidadãos de se manifestar. O PERF é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1976 que dá assistência técnica e educação executiva a polícias e outros organismos de aplicação da lei. O manual analisa especificamente o controle de multidões e uso da força, indicando a necessidade de prévia identificação de grupos potencialmente disruptivos. Ao mesmo tempo, é preciso facilitar a manifestação pacífica e estabelecer comunicação com a multidão através de seus líderes:
"Especialmente nessas situações, é crucial tratar as pessoas com respeito e conquistá-las para o lado do respeito à lei, não para o lado dos que promovem o conflito", ressalta Narr.
As prisões podem ser utilizadas "com parcimônia e de maneira apropriada", com técnicas de pressão pontual, aliadas a controles "com mãos nuas" ( empty-hand controls ), algemação eficiente e métodos de acompanhamento de presos devem ser usados para remover com respeito ( humanely ) os manifestantes enquanto se minimiza o risco de injúria a manifestantes e policiais.
O uso da força deve ser estritamente regulado. "A teoria de um uso gradativo da força em resposta à escalada da desordem é baseada naquilo que é razoável e apropriado." Os autores observam que a escalada da violência é um dos objetivos de alguns manifestantes que, assim, podem "denunciar" o caráter repressivo do governo.
Até os equipamentos de proteção devem ser pensados: "A imagem de um "Robocop" pesadamente protegido (...) pode ter um efeito negativo no público, que pode achar que a polícia está usando mão pesada e reagindo de maneira desproporcional."
O uso de armas não letais deve ser estritamente regulado pelas seguintes diretrizes: a) tem de ser proporcional à ameaça; b) seu uso deve cessar assim que o objetivo for atingido; c) o uso deve ser autorizado pelo comando; d) os agentes que usam esses equipamentos devem estar plenamente e regularmente treinados para avaliar as consequências do seu uso.
O manual recomenda ações voltadas à interação com a mídia para alcançar os objetivos da ação policial. É preciso haver uma estratégia de mídia, com informações para jornalistas e para o público, buscando minimizar eventuais prejuízos aos cidadãos, dar informações seguras, estabelecimento de centros conjuntos de informação, realização de coletivas e atividades pós-evento com relatórios e prestações de contas ao público via imprensa.
O governo do Estado do Rio teve de agir com rapidez diante da reação de juristas e organismos de defesa do cidadão que consideraram inconstitucionais várias partes do decreto. Ficou claro, na nova versão, que a comissão não tem o direito de quebrar sigilos, o que só acontecerá se aprovado pela Justiça.
Ontem tratei da existência de diversos manuais de associações de polícias sobre o controle de manifestações de massas que o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro selecionou em uma pesquisa, manuais que desejam conferir mais eficácia à ação policial, respeitando o direito do cidadão à livre manifestação pacífica. Os princípios do policiamento democrático de manifestações de massa, por exemplo, são os seguintes, para a polícia britânica, conforme o "Manual of guidance on keeping the peace" , da NPIA (Agência Nacional para Melhoria no Policiamento) e ACPOS (Associação dos Chefes de Polícia da Escócia):
a) Polícia acessível, imparcial e que busca o consenso; b) Diálogo e sinceridade na relação com os manifestantes, além de relação positiva com a imprensa; c) Um comando preparado e resistente (à provocação); d) Respostas apropriadas e proporcionais (respeito aos direitos humanos, uso de inteligência com recurso a especialistas e uso mínimo da força).
Um trabalho do diretor do Police Executive Research Forum (PERF), Tony Narr, e diversos especialistas, do qual falei ontem, aponta maneiras de enfrentar movimentos de massas com êxito, sem ferir os direitos dos cidadãos de se manifestar. O PERF é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1976 que dá assistência técnica e educação executiva a polícias e outros organismos de aplicação da lei. O manual analisa especificamente o controle de multidões e uso da força, indicando a necessidade de prévia identificação de grupos potencialmente disruptivos. Ao mesmo tempo, é preciso facilitar a manifestação pacífica e estabelecer comunicação com a multidão através de seus líderes:
"Especialmente nessas situações, é crucial tratar as pessoas com respeito e conquistá-las para o lado do respeito à lei, não para o lado dos que promovem o conflito", ressalta Narr.
As prisões podem ser utilizadas "com parcimônia e de maneira apropriada", com técnicas de pressão pontual, aliadas a controles "com mãos nuas" ( empty-hand controls ), algemação eficiente e métodos de acompanhamento de presos devem ser usados para remover com respeito ( humanely ) os manifestantes enquanto se minimiza o risco de injúria a manifestantes e policiais.
O uso da força deve ser estritamente regulado. "A teoria de um uso gradativo da força em resposta à escalada da desordem é baseada naquilo que é razoável e apropriado." Os autores observam que a escalada da violência é um dos objetivos de alguns manifestantes que, assim, podem "denunciar" o caráter repressivo do governo.
Até os equipamentos de proteção devem ser pensados: "A imagem de um "Robocop" pesadamente protegido (...) pode ter um efeito negativo no público, que pode achar que a polícia está usando mão pesada e reagindo de maneira desproporcional."
O uso de armas não letais deve ser estritamente regulado pelas seguintes diretrizes: a) tem de ser proporcional à ameaça; b) seu uso deve cessar assim que o objetivo for atingido; c) o uso deve ser autorizado pelo comando; d) os agentes que usam esses equipamentos devem estar plenamente e regularmente treinados para avaliar as consequências do seu uso.
O manual recomenda ações voltadas à interação com a mídia para alcançar os objetivos da ação policial. É preciso haver uma estratégia de mídia, com informações para jornalistas e para o público, buscando minimizar eventuais prejuízos aos cidadãos, dar informações seguras, estabelecimento de centros conjuntos de informação, realização de coletivas e atividades pós-evento com relatórios e prestações de contas ao público via imprensa.
Estancando a sangria - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 25/07
BRASÍLIA - O papa Francisco traz não apenas um exemplo de humildade, fraternidade e igualdade, mas também de senso estratégico.
Ele se dispensou de dar recados políticos na curta homilia na basílica de Aparecida e dispensou as autoridades brasileiras de lições morais em seu igualmente rápido discurso aos poderosos no Palácio da Guanabara. Limitou-se à pregação religiosa em ambas, leve, sorridente, defendendo a alegria e a esperança.
O teor político foi reservado ao ambiente laico do hospital São Francisco de Assis, no Rio, em que ratificou sua conhecida posição contrária à descriminalização das drogas e condenou os "mercadores da morte". Mas ele vinha relevando, pelo menos até ontem, eventuais pressões da ala conservadora da própria igreja e adiando outras questões espinhosas e desagregadoras.
Sua prioridade não é aprofundar divisões, é evitar evasão. Segundo o Datafolha, os brasileiros que se declaravam católicos eram 75% da população em 1994, caíram para 64% em 2007 e são 57% hoje, prenunciando que, muito em breve, serão menos da metade das pessoas no "maior país católico do mundo".
Nesse contexto, destaca-se um fato político. Quem mais se beneficiou das manifestações de junho e da implosão da popularidade de Dilma foi uma candidata evangélica: Marina Silva, um exemplo concreto a confirmar as estatísticas.
Criada no catolicismo, sua porta de entrada na militância social e na política, ela se converteu às igrejas evangélicas, das quais incorporou a linguagem, a imagem, até o gestual.
Não se sabe até que ponto a religião conta a favor ou contra a eleição de Marina, mas não deixa de ser um curioso dado de análise que, justo no tal maior país católico, a candidata que está em segundo lugar seja uma ex-católica, atual evangélica.
A grande missão do papa Francisco no Brasil é estancar a sangria. Ou seja: somar, não ajudar a subtrair.
BRASÍLIA - O papa Francisco traz não apenas um exemplo de humildade, fraternidade e igualdade, mas também de senso estratégico.
Ele se dispensou de dar recados políticos na curta homilia na basílica de Aparecida e dispensou as autoridades brasileiras de lições morais em seu igualmente rápido discurso aos poderosos no Palácio da Guanabara. Limitou-se à pregação religiosa em ambas, leve, sorridente, defendendo a alegria e a esperança.
O teor político foi reservado ao ambiente laico do hospital São Francisco de Assis, no Rio, em que ratificou sua conhecida posição contrária à descriminalização das drogas e condenou os "mercadores da morte". Mas ele vinha relevando, pelo menos até ontem, eventuais pressões da ala conservadora da própria igreja e adiando outras questões espinhosas e desagregadoras.
Sua prioridade não é aprofundar divisões, é evitar evasão. Segundo o Datafolha, os brasileiros que se declaravam católicos eram 75% da população em 1994, caíram para 64% em 2007 e são 57% hoje, prenunciando que, muito em breve, serão menos da metade das pessoas no "maior país católico do mundo".
Nesse contexto, destaca-se um fato político. Quem mais se beneficiou das manifestações de junho e da implosão da popularidade de Dilma foi uma candidata evangélica: Marina Silva, um exemplo concreto a confirmar as estatísticas.
Criada no catolicismo, sua porta de entrada na militância social e na política, ela se converteu às igrejas evangélicas, das quais incorporou a linguagem, a imagem, até o gestual.
Não se sabe até que ponto a religião conta a favor ou contra a eleição de Marina, mas não deixa de ser um curioso dado de análise que, justo no tal maior país católico, a candidata que está em segundo lugar seja uma ex-católica, atual evangélica.
A grande missão do papa Francisco no Brasil é estancar a sangria. Ou seja: somar, não ajudar a subtrair.
Fuga para adiante - JOSÉ SERRA
O ESTADÃO - 25/07
A reunião deste fim de semana do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) trouxe um fato inédito. A rotina desses encontros é culpar a oposição por todas as mazelas do País, como se os petistas não mandassem no seu próprio governo. Mas desta vez foi diferente: ao analisar o quadro político e as dificuldades da administração Dilma Rousseff - mais evidentes após as grandes manifestações de junho e a queda livre nas pesquisas -, o PT pôs a culpa não na oposição, mas nos aliados! Assim, os males do Brasil seriam devidos ao fato de os petistas não conseguirem governar sozinhos, sendo obrigados a composições com os "conservadores", santo eufemismo. Tais alianças estariam a impedir os avanços que o governo tanto deseja realizar. Será?
O PT já domina completamente o Executivo em Brasília: Presidência, Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Saúde, Educação, Justiça, todos os principais órgãos e ministérios são controlados pelo partido. Além das pastas responsáveis pelos temas que fizeram as ruas explodir de insatisfação, estão nas mãos dele todas as estatais relevantes.
Proveitoso seria, hoje, que fizesse autocrítica e perguntasse: "Onde foi que nós erramos?". Mas essa atitude não combina com o DNA autoritário de quem se julga portador de uma verdade histórica tão inquestionável quanto o teorema de Pitágoras. Um exemplo de autocrítica possível seria o da forma perversa das alianças: baseadas não em programas, mas no rateio dos benefícios do poder.
Assim, somos obrigados a assistir ao filme da fuga para adiante - "fuite en avant", para lembrar a expressão de Ignacy Sachs. Ou seja, após três mandatos o PT pede mais para ele mesmo, demanda o poder absoluto para fazer o que não conseguiu realizar em mais de uma década de hegemonia.
Eis a origem do tal plebiscito sobre reforma política. O objetivo é um só: como não consegue passar de 20% nos votos para o Legislativo, o PT quer mudar as regras para que a minoria nas urnas se transforme em maioria no Congresso Nacional, minimizando a necessidade de se aliar a outros partidos. Por isso defende a lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais.
O PT tem cerca de 20% da preferência popular. Como a maioria do eleitorado não se identifica com nenhum partido, se o voto for na lista partidária, e não em candidatos, acredita poder transformar os 20% nas urnas em pelo menos 40% do Congresso.
Esse propósito seria bastante fortalecido pelo financiamento público das campanhas, que beneficiaria o PT de duas maneiras. Sendo o maior partido saído das últimas eleições, disporia automaticamente de mais recursos para disputar votos. Além disso, como o PT domina a poderosa máquina federal e numerosas entidades sindicais e ONGs especiais (de fato, organizações neogovernamentais), que têm expertise em fazer campanha eleitoral com recursos públicos, a proibição do financiamento privado legal o favoreceria.
Uma vez que o Congresso, com todos os seus imensos defeitos, não é composto de suicidas, o PT enfrenta forte resistência a esses projetos. O caminho normal, democrático, seria, então, fazer das suas teses bandeiras eleitorais e buscar a maioria no Congresso para elas. Mas como as relações entre o PT e a democracia são nebulosas, prefere tentar emparedar os adversários e os aliados, usando para isso o tal plebiscito.
O Tribunal Superior Eleitoral já esclareceu que precisa de 70 dias para organizar um plebiscito nacional. Ou seja, não há tempo hábil para combinar quatro coisas: 1) votar nas duas Casas do Congresso a lei que convoca o plebiscito, 2) realizar o plebiscito com tempo para horário "gratuito" de TV e rádio, 3) promover o necessário trabalho congressual para regulamentar as decisões e 4) que elas valham já em 2014, respeitando o princípio constitucional da anualidade.
A presidente Dilma Rousseff continua a insistir no tal plebiscito para valer já nas eleições de 2014 e até persegue o deputado Cândido Vaccarezza, petista histórico, que reconheceu publicamente a falta de tempo hábil. Ela deve saber que é inviável, porém insiste. Por quê? Para alimentar um impasse e depois culpar o Congresso por "não ter ouvido as ruas". Enquanto isso, passaria à população a ideia de que está empenhada e trabalhando por algo coerente, desviando o foco dos problemas verdadeiros: economia sob estagflação e dominada por expectativas ruins, consumo e emprego desacelerando, serviços públicos aquém das expectativas.
Escrevi dias atrás que o Brasil precisa de governo. Não obrigatoriamente um bom governo, mas ao menos algum governo. É o que mais nos faz falta hoje. Talvez ainda houvesse tempo de a presidente encontrar um rumo, corrigir rotas tresloucadas que a fazem se chocar, dia após dia, com a realidade dos fatos. Infelizmente, a inclinação parece ser dobrar a dose do remédio que não dá certo. O exemplo mais emblemático é a tentativa de satanizar os médicos brasileiros, para dar a impressão de que se está fazendo algo pelo presente e o futuro da saúde.
Já se esgotou, por sorte, a velha fórmula de produzir factoides que depois serão embalados publicitariamente - e veiculados em caríssimas campanhas para induzir o povo a acreditar que o governo funciona. Isso é o que foi feito, por exemplo, com o PAC, as campanhas anticrack, os buracos de estradas, o Pronasci (da segurança), etc. Esse expediente já era. O Brasil quer governo que tenha rumo, fale menos, se antecipe aos acontecimentos, enfrente os problemas, planeje as ações, dê exemplo de boa conduta aos cidadãos e consiga entregar-lhes os benefícios mínimos que reclamam. Tão simples quanto isso.
Já passou da hora de o PT e o governo abrirem o olho. O Brasil é uma democracia sólida, o povo amadureceu e as eleições vêm aí. Certos desvios e atalhos, felizmente, repousam nos livros de História para, se Deus quiser, deles não saírem nunca mais.
A reunião deste fim de semana do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) trouxe um fato inédito. A rotina desses encontros é culpar a oposição por todas as mazelas do País, como se os petistas não mandassem no seu próprio governo. Mas desta vez foi diferente: ao analisar o quadro político e as dificuldades da administração Dilma Rousseff - mais evidentes após as grandes manifestações de junho e a queda livre nas pesquisas -, o PT pôs a culpa não na oposição, mas nos aliados! Assim, os males do Brasil seriam devidos ao fato de os petistas não conseguirem governar sozinhos, sendo obrigados a composições com os "conservadores", santo eufemismo. Tais alianças estariam a impedir os avanços que o governo tanto deseja realizar. Será?
O PT já domina completamente o Executivo em Brasília: Presidência, Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Saúde, Educação, Justiça, todos os principais órgãos e ministérios são controlados pelo partido. Além das pastas responsáveis pelos temas que fizeram as ruas explodir de insatisfação, estão nas mãos dele todas as estatais relevantes.
Proveitoso seria, hoje, que fizesse autocrítica e perguntasse: "Onde foi que nós erramos?". Mas essa atitude não combina com o DNA autoritário de quem se julga portador de uma verdade histórica tão inquestionável quanto o teorema de Pitágoras. Um exemplo de autocrítica possível seria o da forma perversa das alianças: baseadas não em programas, mas no rateio dos benefícios do poder.
Assim, somos obrigados a assistir ao filme da fuga para adiante - "fuite en avant", para lembrar a expressão de Ignacy Sachs. Ou seja, após três mandatos o PT pede mais para ele mesmo, demanda o poder absoluto para fazer o que não conseguiu realizar em mais de uma década de hegemonia.
Eis a origem do tal plebiscito sobre reforma política. O objetivo é um só: como não consegue passar de 20% nos votos para o Legislativo, o PT quer mudar as regras para que a minoria nas urnas se transforme em maioria no Congresso Nacional, minimizando a necessidade de se aliar a outros partidos. Por isso defende a lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais.
O PT tem cerca de 20% da preferência popular. Como a maioria do eleitorado não se identifica com nenhum partido, se o voto for na lista partidária, e não em candidatos, acredita poder transformar os 20% nas urnas em pelo menos 40% do Congresso.
Esse propósito seria bastante fortalecido pelo financiamento público das campanhas, que beneficiaria o PT de duas maneiras. Sendo o maior partido saído das últimas eleições, disporia automaticamente de mais recursos para disputar votos. Além disso, como o PT domina a poderosa máquina federal e numerosas entidades sindicais e ONGs especiais (de fato, organizações neogovernamentais), que têm expertise em fazer campanha eleitoral com recursos públicos, a proibição do financiamento privado legal o favoreceria.
Uma vez que o Congresso, com todos os seus imensos defeitos, não é composto de suicidas, o PT enfrenta forte resistência a esses projetos. O caminho normal, democrático, seria, então, fazer das suas teses bandeiras eleitorais e buscar a maioria no Congresso para elas. Mas como as relações entre o PT e a democracia são nebulosas, prefere tentar emparedar os adversários e os aliados, usando para isso o tal plebiscito.
O Tribunal Superior Eleitoral já esclareceu que precisa de 70 dias para organizar um plebiscito nacional. Ou seja, não há tempo hábil para combinar quatro coisas: 1) votar nas duas Casas do Congresso a lei que convoca o plebiscito, 2) realizar o plebiscito com tempo para horário "gratuito" de TV e rádio, 3) promover o necessário trabalho congressual para regulamentar as decisões e 4) que elas valham já em 2014, respeitando o princípio constitucional da anualidade.
A presidente Dilma Rousseff continua a insistir no tal plebiscito para valer já nas eleições de 2014 e até persegue o deputado Cândido Vaccarezza, petista histórico, que reconheceu publicamente a falta de tempo hábil. Ela deve saber que é inviável, porém insiste. Por quê? Para alimentar um impasse e depois culpar o Congresso por "não ter ouvido as ruas". Enquanto isso, passaria à população a ideia de que está empenhada e trabalhando por algo coerente, desviando o foco dos problemas verdadeiros: economia sob estagflação e dominada por expectativas ruins, consumo e emprego desacelerando, serviços públicos aquém das expectativas.
Escrevi dias atrás que o Brasil precisa de governo. Não obrigatoriamente um bom governo, mas ao menos algum governo. É o que mais nos faz falta hoje. Talvez ainda houvesse tempo de a presidente encontrar um rumo, corrigir rotas tresloucadas que a fazem se chocar, dia após dia, com a realidade dos fatos. Infelizmente, a inclinação parece ser dobrar a dose do remédio que não dá certo. O exemplo mais emblemático é a tentativa de satanizar os médicos brasileiros, para dar a impressão de que se está fazendo algo pelo presente e o futuro da saúde.
Já se esgotou, por sorte, a velha fórmula de produzir factoides que depois serão embalados publicitariamente - e veiculados em caríssimas campanhas para induzir o povo a acreditar que o governo funciona. Isso é o que foi feito, por exemplo, com o PAC, as campanhas anticrack, os buracos de estradas, o Pronasci (da segurança), etc. Esse expediente já era. O Brasil quer governo que tenha rumo, fale menos, se antecipe aos acontecimentos, enfrente os problemas, planeje as ações, dê exemplo de boa conduta aos cidadãos e consiga entregar-lhes os benefícios mínimos que reclamam. Tão simples quanto isso.
Já passou da hora de o PT e o governo abrirem o olho. O Brasil é uma democracia sólida, o povo amadureceu e as eleições vêm aí. Certos desvios e atalhos, felizmente, repousam nos livros de História para, se Deus quiser, deles não saírem nunca mais.
O grande engodo - EDWARD AMADEO
O GLOBO - 25/07
Em 1999, a despeito da perda de popularidade, Fernando Henrique Cardoso encaminhou as reformas para estabilizar a economia - enfrentando feroz oposição do Partido dos Trabalhadores.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro ancorada na Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC - a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC" incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT que previa a criação do "mercado de massas" e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase no consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro ancorada na Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC - a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC" incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT que previa a criação do "mercado de massas" e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase no consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
Perdas e danos - ALAN GRIPP
FOLHA DE SP - 25/07
SÃO PAULO - A notícia de que policiais do Denarc, o departamento de narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, recebiam um mensalão de traficantes causou a indignação habitual e levou o governo a anunciar uma reestruturação do órgão.
Segundo a investigação, chefiada pelo Ministério Público estadual, criminosos de alta patente foram extorquidos por policiais, que chegaram a sequestrar parentes de presos para exigir resgate.
Entre os 13 policiais que tiveram a prisão decretada, estava o delegado Clemente Calvo Castilhone Júnior, chefe da inteligência do Denarc. O Ministério Público o acusava de vazar a traficantes informações de uma operação.
Acusava. Numa guinada surpreendente, Castilhone foi solto por falta de provas. O promotor José Cláudio Tadeu Baglio reconheceu que não é possível afirmar que ele vazou informações. Até que se prove o contrário, não cometeu crime.
Castilhone ficou três dias preso, fato que pode resultar num conflito institucional --entidades policiais farão protestos contra a investigação nos próximos dias.
O caso repete outros surgidos na esteira do crescimento de importância do Ministério Público nas últimas décadas. Não deve servir para demonizar a instituição, que tem crédito no combate à corrupção, vide o mensalão. Mas tem consequências não desprezíveis.
A mais imediata é por uma mancha sobre uma investigação que traz evidências concretas de que há uma banda podre instalada num departamento de elite da polícia.
Expõe ainda o exagero e a precipitação no uso do recurso extremo da prisão --prática, diga-se, também disseminada nas polícias.
Por fim, dá munição àqueles que acham que o Ministério Público tem poder demais, justamente no momento em que promotores e procuradores comemoram a derrubada da proposta que amputaria os seus instrumentos de investigação.
SÃO PAULO - A notícia de que policiais do Denarc, o departamento de narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, recebiam um mensalão de traficantes causou a indignação habitual e levou o governo a anunciar uma reestruturação do órgão.
Segundo a investigação, chefiada pelo Ministério Público estadual, criminosos de alta patente foram extorquidos por policiais, que chegaram a sequestrar parentes de presos para exigir resgate.
Entre os 13 policiais que tiveram a prisão decretada, estava o delegado Clemente Calvo Castilhone Júnior, chefe da inteligência do Denarc. O Ministério Público o acusava de vazar a traficantes informações de uma operação.
Acusava. Numa guinada surpreendente, Castilhone foi solto por falta de provas. O promotor José Cláudio Tadeu Baglio reconheceu que não é possível afirmar que ele vazou informações. Até que se prove o contrário, não cometeu crime.
Castilhone ficou três dias preso, fato que pode resultar num conflito institucional --entidades policiais farão protestos contra a investigação nos próximos dias.
O caso repete outros surgidos na esteira do crescimento de importância do Ministério Público nas últimas décadas. Não deve servir para demonizar a instituição, que tem crédito no combate à corrupção, vide o mensalão. Mas tem consequências não desprezíveis.
A mais imediata é por uma mancha sobre uma investigação que traz evidências concretas de que há uma banda podre instalada num departamento de elite da polícia.
Expõe ainda o exagero e a precipitação no uso do recurso extremo da prisão --prática, diga-se, também disseminada nas polícias.
Por fim, dá munição àqueles que acham que o Ministério Público tem poder demais, justamente no momento em que promotores e procuradores comemoram a derrubada da proposta que amputaria os seus instrumentos de investigação.
A medida do desgaste - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 25/07
A crise de liderança e popularidade em que está imersa a presidente Dilma Rousseff é de conhecimento, no mínimo, das parcelas mais bem informadas da sociedade. Faltava apenas ter uma noção da gravidade da enrascada. Já não falta. Ninguém menos do que o seu patrono Luiz Inácio Lula de Silva se incumbiu de deixar escancarada - a seu modo, bem entendido - a medida do desgaste de sua protegida, o que hoje parece ameaçar a própria continuidade do projeto petista de poder. E ele o fez de caso pensado.
Convidado a dar uma palestra no Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, em Brasília, e embora prometesse que não falaria de política, soltou o verbo durante mais de uma hora sobre a conjuntura nacional depois dos protestos de junho. Eles refluíram neste mês de férias, mas podem ganhar corpo novamente depois que o papa se for e o descontentamento voltar à tona - sem que a presidente tenha se recuperado da dor de cabeça que as manifestações lhe causaram e que ela agravou com as ineptas tentativas de provar que assimilou o que diziam.
Nesse cenário, reapareceu o velho palanqueiro que em tudo alega enxergar uma conspiração das elites. Foi a última linha de defesa em que se entrincheirou quando achou que o mensalão poderia apeá-lo do Planalto. Deu certo, à época, porque as oposições vacilaram. E deu certo nas eleições de 2006 porque a massa dos brasileiros, tendo subido na vida, entendeu que, corrupção por corrupção, antes aquela de que se acusa quem a beneficiou. Agora, recorre ao mesmo estratagema para defender Dilma - com veemência e agressividade claramente proporcionais ao definhamento de seu prestígio.
Ele não precisaria advertir que lutará com "unhas afiadas" em defesa de sua criatura política se a sua popularidade não tivesse despencado 27 pontos em três semanas e se as intenções de voto em seu nome na sucessão de 2014 não tivessem minguado de 51% para 30%, desmanchando os prognósticos de vitória no primeiro turno (o que, aliás, nem Fernando Henrique nem Lula conseguiram). Ele tampouco precisaria dizer que o preconceito contra ela é maior do que teria enfrentado, além da "falta de respeito" de que seria vítima.
Nem, ainda, reprisaria o já sabido: que não precisa "ser governo para fazer as coisas neste país". Afinal, como afirmou, usando o plural majestático e pouco se importando com uma dose de desrespeito pela sucessora, implícita nas suas palavras, "Dilma não é mais do que uma extensão da gente lá". E a gente, que não pode sair de lá - só faltou dizer -, vai continuar "ajudando a presidente" diante da suposta ofensiva dos conservadores e dos políticos aliados.
Estes entraram na história por ter o presidente peemedebista da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, cujo nome preferiu não citar, proposto que Dilma cortasse 14 dos 39 atuais Ministérios. Quando Lula assumiu, eram 26. Quando passou a faixa, 37. Conhecendo as prioridades das suas anfitriãs, aconselhou que ficassem "espertas", porque "eles vão tentar mexer no Ministério da Igualdade Racial, nos (sic) Direitos Humanos".
Lula decerto associa a crescente animosidade do PMDB em relação a Dilma à erosão dos seus índices de aprovação e do seu franco favoritismo na disputa pela Presidência. (As mais recentes pesquisas apontam, em um hipotético segundo turno, um empate técnico entre a candidata a um segundo mandato e a ex-ministra Marina Silva, cuja popularidade deu um salto sem precedentes na esteira das jornadas de junho.) E, de fato, a cúpula peemedebista deu início a uma sondagem informal junto às bancadas federais do partido e aos seus diretórios nos Estados sobre o rumo a tomar em 2014. É improvável que a maioria vote pelo fim da aliança, mas a mera consulta é um inequívoco agravo ao Planalto.
Tantas Dilma apronta que o próprio PT só não se distancia dela porque o seu nume tutelar desautoriza o "volta, Lula". Mas, se ele precisa dizer que o partido está "150%" com ela, é porque a situação está longe de ser confortável para a petista também junto aos companheiros. Dilma disse certa vez que em época de eleição "podemos fazer o diabo". Lula sempre o fez e torna a fazê-lo com a desenvoltura que a afilhada até que tenta copiar, mas não sabe como.
A crise de liderança e popularidade em que está imersa a presidente Dilma Rousseff é de conhecimento, no mínimo, das parcelas mais bem informadas da sociedade. Faltava apenas ter uma noção da gravidade da enrascada. Já não falta. Ninguém menos do que o seu patrono Luiz Inácio Lula de Silva se incumbiu de deixar escancarada - a seu modo, bem entendido - a medida do desgaste de sua protegida, o que hoje parece ameaçar a própria continuidade do projeto petista de poder. E ele o fez de caso pensado.
Convidado a dar uma palestra no Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, em Brasília, e embora prometesse que não falaria de política, soltou o verbo durante mais de uma hora sobre a conjuntura nacional depois dos protestos de junho. Eles refluíram neste mês de férias, mas podem ganhar corpo novamente depois que o papa se for e o descontentamento voltar à tona - sem que a presidente tenha se recuperado da dor de cabeça que as manifestações lhe causaram e que ela agravou com as ineptas tentativas de provar que assimilou o que diziam.
Nesse cenário, reapareceu o velho palanqueiro que em tudo alega enxergar uma conspiração das elites. Foi a última linha de defesa em que se entrincheirou quando achou que o mensalão poderia apeá-lo do Planalto. Deu certo, à época, porque as oposições vacilaram. E deu certo nas eleições de 2006 porque a massa dos brasileiros, tendo subido na vida, entendeu que, corrupção por corrupção, antes aquela de que se acusa quem a beneficiou. Agora, recorre ao mesmo estratagema para defender Dilma - com veemência e agressividade claramente proporcionais ao definhamento de seu prestígio.
Ele não precisaria advertir que lutará com "unhas afiadas" em defesa de sua criatura política se a sua popularidade não tivesse despencado 27 pontos em três semanas e se as intenções de voto em seu nome na sucessão de 2014 não tivessem minguado de 51% para 30%, desmanchando os prognósticos de vitória no primeiro turno (o que, aliás, nem Fernando Henrique nem Lula conseguiram). Ele tampouco precisaria dizer que o preconceito contra ela é maior do que teria enfrentado, além da "falta de respeito" de que seria vítima.
Nem, ainda, reprisaria o já sabido: que não precisa "ser governo para fazer as coisas neste país". Afinal, como afirmou, usando o plural majestático e pouco se importando com uma dose de desrespeito pela sucessora, implícita nas suas palavras, "Dilma não é mais do que uma extensão da gente lá". E a gente, que não pode sair de lá - só faltou dizer -, vai continuar "ajudando a presidente" diante da suposta ofensiva dos conservadores e dos políticos aliados.
Estes entraram na história por ter o presidente peemedebista da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, cujo nome preferiu não citar, proposto que Dilma cortasse 14 dos 39 atuais Ministérios. Quando Lula assumiu, eram 26. Quando passou a faixa, 37. Conhecendo as prioridades das suas anfitriãs, aconselhou que ficassem "espertas", porque "eles vão tentar mexer no Ministério da Igualdade Racial, nos (sic) Direitos Humanos".
Lula decerto associa a crescente animosidade do PMDB em relação a Dilma à erosão dos seus índices de aprovação e do seu franco favoritismo na disputa pela Presidência. (As mais recentes pesquisas apontam, em um hipotético segundo turno, um empate técnico entre a candidata a um segundo mandato e a ex-ministra Marina Silva, cuja popularidade deu um salto sem precedentes na esteira das jornadas de junho.) E, de fato, a cúpula peemedebista deu início a uma sondagem informal junto às bancadas federais do partido e aos seus diretórios nos Estados sobre o rumo a tomar em 2014. É improvável que a maioria vote pelo fim da aliança, mas a mera consulta é um inequívoco agravo ao Planalto.
Tantas Dilma apronta que o próprio PT só não se distancia dela porque o seu nume tutelar desautoriza o "volta, Lula". Mas, se ele precisa dizer que o partido está "150%" com ela, é porque a situação está longe de ser confortável para a petista também junto aos companheiros. Dilma disse certa vez que em época de eleição "podemos fazer o diabo". Lula sempre o fez e torna a fazê-lo com a desenvoltura que a afilhada até que tenta copiar, mas não sabe como.
O Paraguai e o Mercosul bolivariano - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 25/07
O presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, age com coerência ao afirmar que seu país não retornará ao bloco enquanto a presidência estiver com a Venezuela, cuja entrada ocorreu à revelia de Assunção
No dia 15 de agosto, com a posse do novo presidente paraguaio, Horacio Cartes, o Paraguai estaria liberado para retornar ao Mercosul, do qual foi injustamente suspenso em junho de 2012, após o impeachment relâmpago de Fernando Lugo. Mas Cartes já avisou que não aceitará participar do teatrinho bolivariano que seus colegas de bloco lhe armaram – afinal, a presidência do Mercosul está justamente nas mãos da Venezuela, a cuja entrada Assunção sempre se opôs. Só no fim do ano, quando os venezuelanos passarem o bastão adiante, o Paraguai deverá “pensar no caso” e anunciar se volta para ficar.
Vale a pena recordar a história da suspensão paraguaia. Lugo foi deposto em um processo que, apesar de sua extrema e questionável velocidade, não desrespeitou a mal redigida Constituição paraguaia. Em um primeiro momento, o próprio Lugo disse submeter-se à decisão dos senadores, apesar de discordar do veredicto; só quando sentiu o apoio de colegas sul-americanos – como a argentina Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales e o falecido Hugo Chávez, caudilho venezuelano –, o ex-bispo resolveu endurecer e formar um “governo paralelo”.
No fim de junho de 2012, alegando que o Paraguai havia descumprido a cláusula democrática do Mercosul, os presidentes Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica suspenderam o Paraguai. Na mesma reunião, foi aprovado o ingresso dos venezuelanos no bloco, uma decisão absurda por vários motivos. O primeiro é o fato de a Venezuela estar muito longe de ser uma nação democrática – não o era na época de Chávez, e continua não o sendo sob Nicolás Maduro. A decisão dos presidentes de Brasil, Argentina e Uruguai mostrou que o Protocolo sobre Compromisso Democrático tem aplicação seletiva, sendo ignorado quando se trata de afagar parceiros ideológicos. Além disso, as regras do Mercosul exigem a concordância de todos os membros quando se trata de aceitar a entrada de um novo país. O Paraguai estava suspenso, mas não excluído do bloco, e portanto precisaria ser ouvido, o que não ocorreu, lançando dúvidas sobre a própria legalidade do ingresso da Venezuela. É o que afirmou Cartes em seu comunicado, alegando que a entrada dos venezuelanos não ocorreu “de acordo com as normas legais”. “O mero transcurso do tempo ou decisões políticas posteriores não restabelecem, por si, o império do Direito”, acrescentou.
A presidência do Mercosul é rotativa, exercida por períodos de seis meses. O Paraguai deveria ter assumido a função no primeiro semestre de 2013, mas, como estava suspenso, a presidência passou ao Uruguai, que a transmitiu à Venezuela no último dia 12. Isso significa que a “reintegração” do Paraguai ocorreria justamente sob a liderança do país cuja própria presença no Mercosul os paraguaios questionam. Não surpreende, portanto, a negativa de Cartes.
Esse período ainda vai servir para os paraguaios repensarem a conveniência de estar no Mercosul, um bloco que deveria estimular o comércio comum entre seus membros, mas que ultimamente vem observando uma escalada protecionista, especialmente por parte da Argentina. Curiosamente, as exportações paraguaias aos ex-parceiros no primeiro semestre de 2013 subiram 40% em relação ao mesmo período de 2012. E o país já é membro observador da Aliança do Pacífico, um novo bloco formado por Colômbia, Peru, México e Chile (os dois últimos são as únicas nações latino-americanas a fazer parte da OCDE, conhecida como o “clube dos países desenvolvidos”) e que também conta com Estados Unidos, Canadá, Austrália, França, Espanha, Portugal e China entre os observadores. Se a Aliança efetivamente decolar como promotor do comércio internacional entre esses países, o Paraguai certamente verá mais vantagens em subir nesse novo barco que em permanecer amarrado a um bloco que hoje parece mais ideológico que econômico.
O presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, age com coerência ao afirmar que seu país não retornará ao bloco enquanto a presidência estiver com a Venezuela, cuja entrada ocorreu à revelia de Assunção
No dia 15 de agosto, com a posse do novo presidente paraguaio, Horacio Cartes, o Paraguai estaria liberado para retornar ao Mercosul, do qual foi injustamente suspenso em junho de 2012, após o impeachment relâmpago de Fernando Lugo. Mas Cartes já avisou que não aceitará participar do teatrinho bolivariano que seus colegas de bloco lhe armaram – afinal, a presidência do Mercosul está justamente nas mãos da Venezuela, a cuja entrada Assunção sempre se opôs. Só no fim do ano, quando os venezuelanos passarem o bastão adiante, o Paraguai deverá “pensar no caso” e anunciar se volta para ficar.
Vale a pena recordar a história da suspensão paraguaia. Lugo foi deposto em um processo que, apesar de sua extrema e questionável velocidade, não desrespeitou a mal redigida Constituição paraguaia. Em um primeiro momento, o próprio Lugo disse submeter-se à decisão dos senadores, apesar de discordar do veredicto; só quando sentiu o apoio de colegas sul-americanos – como a argentina Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales e o falecido Hugo Chávez, caudilho venezuelano –, o ex-bispo resolveu endurecer e formar um “governo paralelo”.
No fim de junho de 2012, alegando que o Paraguai havia descumprido a cláusula democrática do Mercosul, os presidentes Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica suspenderam o Paraguai. Na mesma reunião, foi aprovado o ingresso dos venezuelanos no bloco, uma decisão absurda por vários motivos. O primeiro é o fato de a Venezuela estar muito longe de ser uma nação democrática – não o era na época de Chávez, e continua não o sendo sob Nicolás Maduro. A decisão dos presidentes de Brasil, Argentina e Uruguai mostrou que o Protocolo sobre Compromisso Democrático tem aplicação seletiva, sendo ignorado quando se trata de afagar parceiros ideológicos. Além disso, as regras do Mercosul exigem a concordância de todos os membros quando se trata de aceitar a entrada de um novo país. O Paraguai estava suspenso, mas não excluído do bloco, e portanto precisaria ser ouvido, o que não ocorreu, lançando dúvidas sobre a própria legalidade do ingresso da Venezuela. É o que afirmou Cartes em seu comunicado, alegando que a entrada dos venezuelanos não ocorreu “de acordo com as normas legais”. “O mero transcurso do tempo ou decisões políticas posteriores não restabelecem, por si, o império do Direito”, acrescentou.
A presidência do Mercosul é rotativa, exercida por períodos de seis meses. O Paraguai deveria ter assumido a função no primeiro semestre de 2013, mas, como estava suspenso, a presidência passou ao Uruguai, que a transmitiu à Venezuela no último dia 12. Isso significa que a “reintegração” do Paraguai ocorreria justamente sob a liderança do país cuja própria presença no Mercosul os paraguaios questionam. Não surpreende, portanto, a negativa de Cartes.
Esse período ainda vai servir para os paraguaios repensarem a conveniência de estar no Mercosul, um bloco que deveria estimular o comércio comum entre seus membros, mas que ultimamente vem observando uma escalada protecionista, especialmente por parte da Argentina. Curiosamente, as exportações paraguaias aos ex-parceiros no primeiro semestre de 2013 subiram 40% em relação ao mesmo período de 2012. E o país já é membro observador da Aliança do Pacífico, um novo bloco formado por Colômbia, Peru, México e Chile (os dois últimos são as únicas nações latino-americanas a fazer parte da OCDE, conhecida como o “clube dos países desenvolvidos”) e que também conta com Estados Unidos, Canadá, Austrália, França, Espanha, Portugal e China entre os observadores. Se a Aliança efetivamente decolar como promotor do comércio internacional entre esses países, o Paraguai certamente verá mais vantagens em subir nesse novo barco que em permanecer amarrado a um bloco que hoje parece mais ideológico que econômico.
Ainda aquém dos grandes eventos - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 25/07
Erro na chegada do Papa, apagão no metrô e problemas na Copa das Confederação reforçam as suspeitas sobre capacidade de o país ser um bom anfitrião
A confusão na chegada do Papa Francisco, levado a um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas, onde manteve o vidro da janela do carro aberto, sem se assustar com o assédio do povo, já não foi um bom sinal. Tudo terminou bem, e o Papa demonstrou falar sério quando pediu, antes de embarcar, não querer distância das pessoas comuns. Mas o desfecho poderia ser bem diferente.
O Papa ganhou ainda mais a simpatia de todos, e os organizadores da visita, as críticas da imprensa internacional — com razão. Um desentrosamento inaceitável entre a Polícia Federal e a prefeitura levou a comitiva papal a ficar espremida, na altura da Central do Brasil, entre uma calçada impossível de ser ultrapassada por automóveis e uma parede de ônibus, situação conhecida pelos cariocas que ali engarrafam na hora do rush, mas não indicada a autoridades visitantes.
Àquela primeira falha de planejamento, ou de execução do que havia sido acertado, se somou, no dia seguinte, o apagão no metrô, a partir do meio da tarde, quando peregrinos e fieis em geral se dirigiam a Copacabana para assistir à cerimônia de abertura da Jornada Mundial da Juventude.
Houve evidente falta de um plano de contingência para o caso de paralisação do metrô. Algo que costuma acontecer. Por isso, previsível. Mesmo assim, nada em especial foi feito. O sistema de ônibus, claro, ficou ainda mais sobrecarregado. Para o visitante, o calvário se transformou num inferno. Obrigado a se locomover numa cidade com proverbiais problemas de sinalização para estrangeiros — embora seja porta de entrada de turistas —, ainda ficou à mercê de taxistas inescrupulosos. Outro problema crônico da cidade.
O teste foi muito negativo para uma cidade que em 2016 sediará as Olimpíadas, no ano que vem será sede de grupo na Copa do Mundo e terá a final do torneio. O ensaio da Copa das Confederações já havia demonstrado que o dever de casa foi feito apenas em parte, por governos estaduais e o federal. Estádios ficam prontos, mas o entorno, acessos, aquilo que se convencionou chamar de legado para as cidades, têm vários problemas. Há projetos que não saíram nem sairão das pranchetas.
E os precários aeroportos brasileiros ainda não foram testados. Precisarão atender ao aumento de demanda no ano que vem e em 2016, sem qualquer ensaio prévio. O tempo ficou curto para as melhorias, porque, por prevenção ideológica contra a iniciativa privada, o Executivo federal demorou muito para licitar terminais.
A paquidérmica lentidão e ineficiência do poder público começam a justificar as dúvidas sobre a capacidade de o país recepcionar grandes eventos. O metrô carioca é uma concessão à iniciativa privada, mas traçar planos de contingência é missão liderada por governos. O mesmo vale para todos os setores da infraestrutura usada nestes acontecimentos. Não há desculpa.
Erro na chegada do Papa, apagão no metrô e problemas na Copa das Confederação reforçam as suspeitas sobre capacidade de o país ser um bom anfitrião
A confusão na chegada do Papa Francisco, levado a um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas, onde manteve o vidro da janela do carro aberto, sem se assustar com o assédio do povo, já não foi um bom sinal. Tudo terminou bem, e o Papa demonstrou falar sério quando pediu, antes de embarcar, não querer distância das pessoas comuns. Mas o desfecho poderia ser bem diferente.
O Papa ganhou ainda mais a simpatia de todos, e os organizadores da visita, as críticas da imprensa internacional — com razão. Um desentrosamento inaceitável entre a Polícia Federal e a prefeitura levou a comitiva papal a ficar espremida, na altura da Central do Brasil, entre uma calçada impossível de ser ultrapassada por automóveis e uma parede de ônibus, situação conhecida pelos cariocas que ali engarrafam na hora do rush, mas não indicada a autoridades visitantes.
Àquela primeira falha de planejamento, ou de execução do que havia sido acertado, se somou, no dia seguinte, o apagão no metrô, a partir do meio da tarde, quando peregrinos e fieis em geral se dirigiam a Copacabana para assistir à cerimônia de abertura da Jornada Mundial da Juventude.
Houve evidente falta de um plano de contingência para o caso de paralisação do metrô. Algo que costuma acontecer. Por isso, previsível. Mesmo assim, nada em especial foi feito. O sistema de ônibus, claro, ficou ainda mais sobrecarregado. Para o visitante, o calvário se transformou num inferno. Obrigado a se locomover numa cidade com proverbiais problemas de sinalização para estrangeiros — embora seja porta de entrada de turistas —, ainda ficou à mercê de taxistas inescrupulosos. Outro problema crônico da cidade.
O teste foi muito negativo para uma cidade que em 2016 sediará as Olimpíadas, no ano que vem será sede de grupo na Copa do Mundo e terá a final do torneio. O ensaio da Copa das Confederações já havia demonstrado que o dever de casa foi feito apenas em parte, por governos estaduais e o federal. Estádios ficam prontos, mas o entorno, acessos, aquilo que se convencionou chamar de legado para as cidades, têm vários problemas. Há projetos que não saíram nem sairão das pranchetas.
E os precários aeroportos brasileiros ainda não foram testados. Precisarão atender ao aumento de demanda no ano que vem e em 2016, sem qualquer ensaio prévio. O tempo ficou curto para as melhorias, porque, por prevenção ideológica contra a iniciativa privada, o Executivo federal demorou muito para licitar terminais.
A paquidérmica lentidão e ineficiência do poder público começam a justificar as dúvidas sobre a capacidade de o país recepcionar grandes eventos. O metrô carioca é uma concessão à iniciativa privada, mas traçar planos de contingência é missão liderada por governos. O mesmo vale para todos os setores da infraestrutura usada nestes acontecimentos. Não há desculpa.
Mudança de sinal - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 25/07
Desemprego tem primeira alta anual desde 2009 e constitui mais um sinal de esgotamento da política econômica do governo Dilma
São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira. Às evidências já conhecidas soma-se agora a taxa de desemprego, que, pela primeira vez desde 2009, apresenta uma alta em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O dado negativo no mercado de trabalho é particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança na economia também têm constituído um quadro desalentador.
A confiança da indústria em julho, por exemplo, caiu 3,7 pontos em relação a junho e atingiu o menor nível em quase quatro anos. Não há grande novidade aí: a produção industrial encontra-se no mesmo patamar de 2008, e o setor tem sido o mais prejudicado nos últimos anos pela sobrevalorização do real diante do dólar e pelo choque interno de custos.
O indicador também tem diminuído pelo lado do consumidor, com especial velocidade no mês de julho. Trata-se de evidência de que as famílias passaram a desconfiar cada vez mais de seu poder de compra no futuro --aspecto reforçado pela piora da confiança quanto ao emprego atual, que teve queda de 11,4 pontos.
Componente essencial da dinâmica econômica, a confiança impulsiona a disposição de empresários e consumidores para investir e comprar. Sem ela, a demanda da economia cai. Inicia-se, com isso, um ciclo recessivo que a prejudica ainda mais, numa espiral viciosa.
É justamente nessa armadilha que caiu o governo federal ao conduzir a política econômica de forma errática e interferir, muitas vezes de forma autoritária, na dinâmica empresarial de vários setores.
O que ainda mantinha a esperança em uma recuperação era o mercado de trabalho. De fato, era algo surpreendente a resistência do emprego no cenário de baixo crescimento do PIB.
Pois agora o aparente paradoxo começa a se resolver --pelo lado ruim. A taxa de desemprego de junho, de 6%, ainda é, em si, baixa, mas a primeira elevação do índice (na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no mercado de trabalho.
É certo que as manifestações recentes contribuíram para a queda dos indicadores de confiança do consumidor, já que elas chamaram a atenção para diversos pontos de descontentamento. Não se descarta alguma melhora nesse item.
Quanto ao mercado de trabalho, porém, é improvável uma reversão. Por ser custoso contratar e demitir, o emprego é o último a sair da inércia diante de mudanças de cenário. Mas, uma vez em movimento, é difícil de parar.
Desemprego tem primeira alta anual desde 2009 e constitui mais um sinal de esgotamento da política econômica do governo Dilma
São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira. Às evidências já conhecidas soma-se agora a taxa de desemprego, que, pela primeira vez desde 2009, apresenta uma alta em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O dado negativo no mercado de trabalho é particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança na economia também têm constituído um quadro desalentador.
A confiança da indústria em julho, por exemplo, caiu 3,7 pontos em relação a junho e atingiu o menor nível em quase quatro anos. Não há grande novidade aí: a produção industrial encontra-se no mesmo patamar de 2008, e o setor tem sido o mais prejudicado nos últimos anos pela sobrevalorização do real diante do dólar e pelo choque interno de custos.
O indicador também tem diminuído pelo lado do consumidor, com especial velocidade no mês de julho. Trata-se de evidência de que as famílias passaram a desconfiar cada vez mais de seu poder de compra no futuro --aspecto reforçado pela piora da confiança quanto ao emprego atual, que teve queda de 11,4 pontos.
Componente essencial da dinâmica econômica, a confiança impulsiona a disposição de empresários e consumidores para investir e comprar. Sem ela, a demanda da economia cai. Inicia-se, com isso, um ciclo recessivo que a prejudica ainda mais, numa espiral viciosa.
É justamente nessa armadilha que caiu o governo federal ao conduzir a política econômica de forma errática e interferir, muitas vezes de forma autoritária, na dinâmica empresarial de vários setores.
O que ainda mantinha a esperança em uma recuperação era o mercado de trabalho. De fato, era algo surpreendente a resistência do emprego no cenário de baixo crescimento do PIB.
Pois agora o aparente paradoxo começa a se resolver --pelo lado ruim. A taxa de desemprego de junho, de 6%, ainda é, em si, baixa, mas a primeira elevação do índice (na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no mercado de trabalho.
É certo que as manifestações recentes contribuíram para a queda dos indicadores de confiança do consumidor, já que elas chamaram a atenção para diversos pontos de descontentamento. Não se descarta alguma melhora nesse item.
Quanto ao mercado de trabalho, porém, é improvável uma reversão. Por ser custoso contratar e demitir, o emprego é o último a sair da inércia diante de mudanças de cenário. Mas, uma vez em movimento, é difícil de parar.