FOLHA DE SP - 18/07
Por que preferiríamos ser funcionários do horror a conviver com as incertezas do juízo moral?
Escrevi minha tese de doutorado de 1980 a 1991. No fundo, trata-se de um longa meditação sobre a ideia central de Hannah Arendt em "Eichmann em Jerusalém "" Um Relato sobre a Banalidade do Mal" (Companhia das Letras).
Por isso, era inevitável que eu corresse para ver o filme de Margarethe von Trotta, que acaba de estrear, "Hannah Arendt". Tanto mais que ele narra especificamente os anos da vida de Arendt em que ela assistiu ao processo de Eichmann e relatou sua experiência para os leitores da revista "The New Yorker" (e, logo depois, no livro que citei).
Os artigos foram recebidos por uma salva de injúrias e ameaças. Mas, quando eu me interessei pela questão, a ideia de Arendt em "Eichmann em Jerusalém" já era universalmente aceita no campo dos "Holocaust Studies". Nota: a palavra "holocausto" evoca para mim um sacrifício, como se as mortes pudessem ser algum tipo de expiação; por isso, prefiro a palavra genocídio, que diz a verdade sobre a intenção dos assassinos.
Mas vamos por partes. Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS, foi responsável pela logística do genocídio dos judeus pela Alemanha nazista. Em 1960, enquanto vivia escondido na Argentina, Eichmann foi capturado pelo Mossad israelense e levado a Jerusalém para ser processado.
Nessa altura, Arendt já tinha publicado há tempos (em 1951) seu "Origens do Totalitarismo" (Companhia das Letras). Fato extraordinário para a época, Arendt examinava os totalitarismos do século 20 levando stalinismo e nazismo para um mesmo tribunal. Ela encontrava as origens do totalitarismo do século 20 no imperialismo colonialista e no racismo (ideias, convicções, tanto das elites como dos povos).
Pois bem, dez anos mais tarde, Arendt saía do processo de Eichmann pensando diferente: as convicções (por exemplo, antissemitas) dos funcionários do regime não bastavam para explicar o que os tinha transformado em assassinos genocidas, e o totalitarismo tinha sido possível não graças aos entusiasmos ideais de sua tropa, mas, ao contrário, graças a personagens quaisquer e banais, facilmente dispostos a abdicar sua faculdade de pensar.
Eichmann era um pateta --os filmados do processo, que o filme mostra, são extraordinários para sentir a desproporção entre o tamanho do crime e a mediocridade do criminoso. Preferiríamos que ele fosse um exaltado ou um monstro: sua loucura explicaria o horror de seus atos e o manteria solidamente afastado da gente, diferente de nós. Mas Eichmann não era um monstro, era o vizinho do apê ao lado.
Isso constitui uma desculpa? Ao contrário, aos meus olhos (e aos de Arendt também, acredito), a banalidade do assassino constitui uma agravante.
O vizinho alega as ordens, a ordem ou a fidelidade a qualquer grupo que seja, tudo porque quer parar de pensar: essa é sua culpa original e mais grave, graças à qual ele se torna capaz de agir como se não existissem considerações morais. De fato, ele quis sobretudo deixar de dialogar com sua consciência.
Talvez em 2015 eu publique minha tese. Fiquei a fim de explicar este fato um pouco assustador: há algo na dinâmica de nossa subjetividade normal que faz com que parar de pensar seja uma tentação constante, como se qualquer desculpa (ideológica, por exemplo) fosse boa para fugir da solidão, que é a condição do diálogo moral de cada um com sua consciência.
O coletivo (a nação, o partido, o sindicato, a torcida, a gangue, o grupo adolescente de amigos, a própria família) não oferece apenas ideologias e desculpas: ele fornece uma função para cada um de seus membros. Com isso, não preciso pensar para decidir minha vida --preciso apenas preencher minha função. É bom o que é funcional ao grupo --ruim, o que não é.
Qualquer crepúsculo do indivíduo é um crepúsculo da moral. Pensemos nisso, por favor, quando torcemos, agitamos bandeiras ou falamos, misteriosamente, na primeira do plural.
Minha tese tinha o título "A Paixão de Ser Instrumento". Ela perguntava: por que a ideia de se transformar em instrumento (abdicando a subjetividade da gente) teve e continua tendo tamanho sucesso?
Para qual razão psíquica fundamental teríamos todos uma predisposição a sermos seres estúpida e covardemente coletivos? Por que preferiríamos ser funcionários do horror a conviver com as incertezas cotidianas do juízo moral? A resposta não cabe aqui. Mas a questão não envelheceu.
quinta-feira, julho 18, 2013
Tamo junto e misturado’ - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 18/07
O babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, e Lina D’Oxumarê, sacerdotisa do terreiro Axé Bamgbosé, terão encontros com o Papa Francisco em sua visita ao Rio.
Eu apoio.
Tensão no Planalto
De zero a dez, o nível de preocupação do Planalto com a visita do Papa Francisco é nove.
As apreensões vão da segurança papal aos protestos de rua. Há tempos o clima não andava tão nervoso.
Calma, gente
Este projeto de reforma do direito autoral continua despertando a cizânia entre artistas.
A turma que defende uma fiscalização maior no Ecad está espalhando que o salário de Glória Braga, superintendente da entidade, é de R$ 53 mil por mês, além de bônus.
A conferir.
Batalha de Itararé?
O ministro Aloizio Mercadante estava, ontem, animado com as reuniões com faculdades e entidades de ensino médico:
— Temos uma chance enorme de construir uma convergência, inclusive com a ajuda do professor Adib Jatene, em relação às mudanças nos cursos de medicina.
O peladão
Um passageiro da primeira classe do voo 445 da Air France, que saiu terça do Rio para Paris, tomou umas e outras e fez um striptease completo a bordo. O safadinho exibiu até sua minúscula baguete.
Barrado no baile
Kitty Monte Alto e o marido, Julio Lopes, secretário de Transportes do Rio, levaram seis bolas pretas no Gávea Golf Club.
O pibão de Chico
Causou alvoroço ontem entre economistas, empresários e até mesmo no governo um artigo do professor Francisco Lopes, no “Valor”. Diz que a “mídia especializada e a maioria dos analistas parecem sofrer de um pessimismo obsessivo”.
Segundo o ex-presidente do BC, no segundo trimestre de 2013, a economia brasileira estava crescendo ao ritmo de 4% ao ano.
Marka e FonteCindam...
Chico Lopes goza de prestígio no meio acadêmico mesmo depois do chamado escândalo Marka e FonteCindam.
Em 1999, como presidente do BC, ele promoveu uma desvalorização cambial, resultando num processo onde é acusado de irregularidades.
Nariz em pé de Blatter
O jornal alemão “Die Zeit” publicou o artigo “Obrigado, brasileiros”, dizendo que conseguimos fazer o que Alemanha, em 2006, e África do Sul, em 2010, não fizeram: questionar a arrogância da Fifa.
Diz lá: “Finalmente, uma democracia se levanta contra a profundamente antidemocrática Fifa.” Aliás, ontem, Joseph Blatter, pouco democrático, voltou a reclamar dos protestos.
Lá vem o noivo
O querido coleguinha Wilson Figueiredo, 89 anos, viúvo, vai se casar de novo. A noiva, Regina, é empresária.
Desafinou
São péssimas as relações da OSB com Emilio Kalil, diretor da Cidade das Artes.
A Orquestra Sinfônica reclama de favorecimento à Orquestra Petrobras, que tem no conselho o próprio Kalil, e até das datas oferecidas por ele à OSB, terça e domingo de manhã.
Menos peregrinos
Cerca de 60 mil peregrinos não confirmaram a inscrição para a JMJ.
Poxa, deputado
O Colégio Marília Mattoso, em Niterói, deixou alunos do ensino médio se formarem sem ter aulas de Filosofia e Sociologia em 2010, 2011 e 2012, como manda a legislação.
A escola é do deputado Comte Bittencourt, presidente da Comissão de Educação da Alerj.
Última sessão
O Grupo Estação vai fechar as portas do Estação Ipanema, que funciona numa galeria da Rua Visconde de Pirajá.
Além de o aluguel ter triplicado de valor, a ordem da prefeitura para retirar o letreiro do cinema inviabilizou, segundo o grupo, o funcionamento da sala.
É pena.
Eu apoio.
Tensão no Planalto
De zero a dez, o nível de preocupação do Planalto com a visita do Papa Francisco é nove.
As apreensões vão da segurança papal aos protestos de rua. Há tempos o clima não andava tão nervoso.
Calma, gente
Este projeto de reforma do direito autoral continua despertando a cizânia entre artistas.
A turma que defende uma fiscalização maior no Ecad está espalhando que o salário de Glória Braga, superintendente da entidade, é de R$ 53 mil por mês, além de bônus.
A conferir.
Batalha de Itararé?
O ministro Aloizio Mercadante estava, ontem, animado com as reuniões com faculdades e entidades de ensino médico:
— Temos uma chance enorme de construir uma convergência, inclusive com a ajuda do professor Adib Jatene, em relação às mudanças nos cursos de medicina.
O peladão
Um passageiro da primeira classe do voo 445 da Air France, que saiu terça do Rio para Paris, tomou umas e outras e fez um striptease completo a bordo. O safadinho exibiu até sua minúscula baguete.
Barrado no baile
Kitty Monte Alto e o marido, Julio Lopes, secretário de Transportes do Rio, levaram seis bolas pretas no Gávea Golf Club.
O pibão de Chico
Causou alvoroço ontem entre economistas, empresários e até mesmo no governo um artigo do professor Francisco Lopes, no “Valor”. Diz que a “mídia especializada e a maioria dos analistas parecem sofrer de um pessimismo obsessivo”.
Segundo o ex-presidente do BC, no segundo trimestre de 2013, a economia brasileira estava crescendo ao ritmo de 4% ao ano.
Marka e FonteCindam...
Chico Lopes goza de prestígio no meio acadêmico mesmo depois do chamado escândalo Marka e FonteCindam.
Em 1999, como presidente do BC, ele promoveu uma desvalorização cambial, resultando num processo onde é acusado de irregularidades.
Nariz em pé de Blatter
O jornal alemão “Die Zeit” publicou o artigo “Obrigado, brasileiros”, dizendo que conseguimos fazer o que Alemanha, em 2006, e África do Sul, em 2010, não fizeram: questionar a arrogância da Fifa.
Diz lá: “Finalmente, uma democracia se levanta contra a profundamente antidemocrática Fifa.” Aliás, ontem, Joseph Blatter, pouco democrático, voltou a reclamar dos protestos.
Lá vem o noivo
O querido coleguinha Wilson Figueiredo, 89 anos, viúvo, vai se casar de novo. A noiva, Regina, é empresária.
Desafinou
São péssimas as relações da OSB com Emilio Kalil, diretor da Cidade das Artes.
A Orquestra Sinfônica reclama de favorecimento à Orquestra Petrobras, que tem no conselho o próprio Kalil, e até das datas oferecidas por ele à OSB, terça e domingo de manhã.
Menos peregrinos
Cerca de 60 mil peregrinos não confirmaram a inscrição para a JMJ.
Poxa, deputado
O Colégio Marília Mattoso, em Niterói, deixou alunos do ensino médio se formarem sem ter aulas de Filosofia e Sociologia em 2010, 2011 e 2012, como manda a legislação.
A escola é do deputado Comte Bittencourt, presidente da Comissão de Educação da Alerj.
Última sessão
O Grupo Estação vai fechar as portas do Estação Ipanema, que funciona numa galeria da Rua Visconde de Pirajá.
Além de o aluguel ter triplicado de valor, a ordem da prefeitura para retirar o letreiro do cinema inviabilizou, segundo o grupo, o funcionamento da sala.
É pena.
Ueba! Dilma empata com Vasco! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 18/07
Avisa pra bispa Sonia que na próxima encarnação eu quero Renascer mais rico que ela! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Homem tenta pagar prostituta na Bahia com cartão do Bolsa Família". Rarará!
Ué, não é pra comer? Não é tudo comida? De repente ele considera a quenga a família dele! A prima! Rarará! Prima é família!
E sabe o que ele ainda disse? "Itapetinga tá muito atrasada mesmo, nem as putas aceitam cartão." Rarará!
Por isso que eu amo o Brasil, viu? Já imaginou se a gente morasse na Suécia? Ia morrer de tédio. A manchete ia ser assim: "Ministra foi pro trabalho de bicicleta em vez de ir a pé"!
E a gente ia gritar: "Absurdo! A população é que paga o pneu da bicicleta!". Rarará!
E atenção! Manchetes bombásticas: "Jacob Barata vira acionista do papamóvel". E joga cinzeiros nos peregrinos?! Rarará!
Sensacionalista: "Padres brasileiros marcham em protesto contra vinda de padres estrangeiros durante Jornada Mundial da Juventude".
E esta do RedatorBipolar: "Dilma cai 19 pontos e está em empate técnico com o Eymael". Meu nome é Enéas!
Se ela cair mais um ponto, empata com o Vasco! Dilma em empate técnico com o Vasco! Rarará! E vai pro segundo turno com o Levy Fidelix! Aquele do "ôinbus".
Esse Levy Fidelix é um profeta, profetizou as manifestações de rua, tudo começou com o "ôinbus". Rarará!
E como diz um amigo meu: a Dilma tá caindo mais que o Neymar! Rarará! Pior, a Dilma orando com a bispa Sonia.
E a bispa tava com ou sem tornozeleira eletrônica? E avisa pra bispa Sonia que na próxima encarnação eu quero Renascer mais rico que ela! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
E tava demorando: "Funcionário da Assembleia de SP distribui falsas bênçãos do Papa a políticos para obter patrocínio de projetos". Deus castiga a pilantragem!
E como disse um amigo: "Eu tenho a bênção verdadeira e só me ferro!". Rarará!
E esta: "Papa ordena redução na segurança". Claro, senão vai ter mais polícia que católico! Rarará! E quem vai dirigir o jipemóvel? O Rubinho ou o Felipe Amassa? Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Avisa pra bispa Sonia que na próxima encarnação eu quero Renascer mais rico que ela! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Homem tenta pagar prostituta na Bahia com cartão do Bolsa Família". Rarará!
Ué, não é pra comer? Não é tudo comida? De repente ele considera a quenga a família dele! A prima! Rarará! Prima é família!
E sabe o que ele ainda disse? "Itapetinga tá muito atrasada mesmo, nem as putas aceitam cartão." Rarará!
Por isso que eu amo o Brasil, viu? Já imaginou se a gente morasse na Suécia? Ia morrer de tédio. A manchete ia ser assim: "Ministra foi pro trabalho de bicicleta em vez de ir a pé"!
E a gente ia gritar: "Absurdo! A população é que paga o pneu da bicicleta!". Rarará!
E atenção! Manchetes bombásticas: "Jacob Barata vira acionista do papamóvel". E joga cinzeiros nos peregrinos?! Rarará!
Sensacionalista: "Padres brasileiros marcham em protesto contra vinda de padres estrangeiros durante Jornada Mundial da Juventude".
E esta do RedatorBipolar: "Dilma cai 19 pontos e está em empate técnico com o Eymael". Meu nome é Enéas!
Se ela cair mais um ponto, empata com o Vasco! Dilma em empate técnico com o Vasco! Rarará! E vai pro segundo turno com o Levy Fidelix! Aquele do "ôinbus".
Esse Levy Fidelix é um profeta, profetizou as manifestações de rua, tudo começou com o "ôinbus". Rarará!
E como diz um amigo meu: a Dilma tá caindo mais que o Neymar! Rarará! Pior, a Dilma orando com a bispa Sonia.
E a bispa tava com ou sem tornozeleira eletrônica? E avisa pra bispa Sonia que na próxima encarnação eu quero Renascer mais rico que ela! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
E tava demorando: "Funcionário da Assembleia de SP distribui falsas bênçãos do Papa a políticos para obter patrocínio de projetos". Deus castiga a pilantragem!
E como disse um amigo: "Eu tenho a bênção verdadeira e só me ferro!". Rarará!
E esta: "Papa ordena redução na segurança". Claro, senão vai ter mais polícia que católico! Rarará! E quem vai dirigir o jipemóvel? O Rubinho ou o Felipe Amassa? Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O que significa orégano - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 18/07
Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e provavelmente examinem o nosso lixo, atrás de indícios da nossa periculosidade. O que me preocupa é que esta informação, depois de coletada e classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de aterrisagem nos seus cursos de aviação. Quer dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes? Um simples telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca. O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um drone.
Ou então me vejo chegando nos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.
— O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? — pergunta um dos agentes.
Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...
— Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista à qual o senhor evidentemente pertence, com a Camorra, visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?
— Não, não. Eu...
— Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?
Finalmente, me dou conta.
— Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...
— Por favor, não faça pouco da nossa inteligência, Mr.Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa orégano.
Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e provavelmente examinem o nosso lixo, atrás de indícios da nossa periculosidade. O que me preocupa é que esta informação, depois de coletada e classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de aterrisagem nos seus cursos de aviação. Quer dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes? Um simples telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca. O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um drone.
Ou então me vejo chegando nos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.
— O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? — pergunta um dos agentes.
Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...
— Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista à qual o senhor evidentemente pertence, com a Camorra, visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?
— Não, não. Eu...
— Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?
Finalmente, me dou conta.
— Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...
— Por favor, não faça pouco da nossa inteligência, Mr.Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa orégano.
Crise, palavra que contamina - MARIA CLARA R. M. PRADO
Valor Econômico - 18/07
As estimativas de crescimento do PIB brasileiro variam: há quem aposte em expansão mais modesta para este ano, abaixo mesmo de 2%, há os que trabalham com expectativa mais otimista, chegando perto dos 3%.
Também há aqueles que pintam um quadro sombrio para o país no curto e no médio prazos e os que esperam dias mais radiantes. Os prognósticos vão de um extremo a outro, muitas vezes movidos por egoísticos interesses políticos, para não dizer partidários, e cada vez mais estimulados pelo efeito "manada" (pela falta de uma palavra mais bonita) das reivindicações populares que acometeram os brasileiros a partir de junho.
O quadro econômico do país não chega a ser tão dramático como projetam alguns analistas. Parece que, de repente, a crise que atinge a maior parte da zona do euro passou a contaminar o Brasil na mesma dimensão, o que está longe de ser uma verdade.
É certo que alguns dados econômicos merecem atenção: o maior endividamento das famílias, os índices de inflação, as taxas de investimento, as contas externas, enfim... Estatísticas que precisam ser monitoradas regularmente com o objetivo justamente de evitar uma crise, ou seja, uma situação de ruptura e de perdas que desestabilizam o equilíbrio social.
Não é igual à do jovem brasileiro em geral, por exemplo, a situação do jovem espanhol, ou grego, ou português. Vivenciam situações opostas: enquanto no Brasil a demanda por mão de obra mantém-se em nível elevado, beneficiando assim o jovem trabalhador, a realidade em boa parte dos países da zona do euro é diametralmente oposta: o desemprego é alto e crescente.
Em amplo documento sobre a situação do mercado de trabalho no mundo (envolve os 34 países membros) divulgado esta semana, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresenta dados ainda mais alarmantes sobre o desemprego entre jovens (de 15 aos 24 anos de idade, sendo que dos 15 aos 18 representa gente na condição de aprendiz) na Europa. Nada menos do que 60% de jovens na força de trabalho da Grécia estão desempregados, sendo 55% no caso da Espanha e em torno de 40% na Itália e em Portugal.
O aspecto mais vulnerável do atual cenário do desemprego juvenil nos países desenvolvidos está justamente na faixa dos jovens com menos educação e menos qualificação técnica, como era de se esperar. Além dos efeitos que a desesperança provoca, individualmente, em termos de expectativas para o futuro, e de todas as mazelas que costumam surgir em paralelo, o quadro denota o possível risco do desemprego estrutural, algo que demoraria muito tempo para ser equacionado ainda que o crescimento econômico tivesse sido retomado.
No Brasil, com o mercado de trabalho ainda aquecido a despeito das menores taxas de investimento, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos de idade envolveu em abril deste ano, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (cobre seis capitais do país) a taxa de 13,9%, considerada proporcional ao índice geral de desemprego, de 5,8%.
A situação prevalecente, que beira o nível do pleno emprego, beneficia os jovens em geral, incluindo os de faixa educacional mais baixa e de menor qualificação. Não falta demanda por nutricionistas ou podólogas, auxiliares de escritório, secretárias, e nem por faxineiro, biscateiro, vigia ou por recepcionista enquanto a economia operar com fôlego. Um curso de segundo grau incompleto não tem dificultado a inserção no mercado de trabalho.
O panorama do curto prazo no Brasil é efetivamente menos feio do que muitos querem fazer crer. No entanto, não é menos preocupante quando se pensa no país a mais longo prazo. O que será feito com a quantidade de jovens que hoje está empregada em um quadro de maior retração econômica?
Investir maciçamente em educação é sempre a recomendação primeira de todos, cobrada dos governos, nas suas diferentes esferas. Algo que reverbera incessantemente, reproduzindo pela milésima vez uma preocupação tão antiga, tão prioritária, e tão displicentemente considerada na história do país, a partir dos anos 80. Desde já parece claro que, se vier a mergulhar em uma crise efetivamente verdadeira, o Brasil poderá ser confrontado com a sua pior realidade: o retorno ao limbo dos 40 milhões que ascenderam à classe média nos últimos dez anos! Aí sim, terá encontrado a sua crise. Até lá, o que há é uma confusão muito grande, muitas vezes alimentada pela retórica, de caráter eminentemente político, mas que tem o efeito de paralisar e de conturbar a confiança no poder público.
O Executivo e o Legislativo a nível federal entoam discursos divergentes. Ganham terreno aqui e ali novas suspeitas de práticas de corrupção que se espalham agora pelos Estados. A inflação parece ter voltado ao controle, mas ainda pressupõe cuidados. O consumo continua ativo, embora mais moderado. A economia se move de alguma forma, mas a educação e a saúde são deficitárias. A segurança é cada vez mais precária, mas o papa é pop, como diria a minha filha mais nova.
As estimativas de crescimento do PIB brasileiro variam: há quem aposte em expansão mais modesta para este ano, abaixo mesmo de 2%, há os que trabalham com expectativa mais otimista, chegando perto dos 3%.
Também há aqueles que pintam um quadro sombrio para o país no curto e no médio prazos e os que esperam dias mais radiantes. Os prognósticos vão de um extremo a outro, muitas vezes movidos por egoísticos interesses políticos, para não dizer partidários, e cada vez mais estimulados pelo efeito "manada" (pela falta de uma palavra mais bonita) das reivindicações populares que acometeram os brasileiros a partir de junho.
O quadro econômico do país não chega a ser tão dramático como projetam alguns analistas. Parece que, de repente, a crise que atinge a maior parte da zona do euro passou a contaminar o Brasil na mesma dimensão, o que está longe de ser uma verdade.
É certo que alguns dados econômicos merecem atenção: o maior endividamento das famílias, os índices de inflação, as taxas de investimento, as contas externas, enfim... Estatísticas que precisam ser monitoradas regularmente com o objetivo justamente de evitar uma crise, ou seja, uma situação de ruptura e de perdas que desestabilizam o equilíbrio social.
Não é igual à do jovem brasileiro em geral, por exemplo, a situação do jovem espanhol, ou grego, ou português. Vivenciam situações opostas: enquanto no Brasil a demanda por mão de obra mantém-se em nível elevado, beneficiando assim o jovem trabalhador, a realidade em boa parte dos países da zona do euro é diametralmente oposta: o desemprego é alto e crescente.
Em amplo documento sobre a situação do mercado de trabalho no mundo (envolve os 34 países membros) divulgado esta semana, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresenta dados ainda mais alarmantes sobre o desemprego entre jovens (de 15 aos 24 anos de idade, sendo que dos 15 aos 18 representa gente na condição de aprendiz) na Europa. Nada menos do que 60% de jovens na força de trabalho da Grécia estão desempregados, sendo 55% no caso da Espanha e em torno de 40% na Itália e em Portugal.
O aspecto mais vulnerável do atual cenário do desemprego juvenil nos países desenvolvidos está justamente na faixa dos jovens com menos educação e menos qualificação técnica, como era de se esperar. Além dos efeitos que a desesperança provoca, individualmente, em termos de expectativas para o futuro, e de todas as mazelas que costumam surgir em paralelo, o quadro denota o possível risco do desemprego estrutural, algo que demoraria muito tempo para ser equacionado ainda que o crescimento econômico tivesse sido retomado.
No Brasil, com o mercado de trabalho ainda aquecido a despeito das menores taxas de investimento, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos de idade envolveu em abril deste ano, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (cobre seis capitais do país) a taxa de 13,9%, considerada proporcional ao índice geral de desemprego, de 5,8%.
A situação prevalecente, que beira o nível do pleno emprego, beneficia os jovens em geral, incluindo os de faixa educacional mais baixa e de menor qualificação. Não falta demanda por nutricionistas ou podólogas, auxiliares de escritório, secretárias, e nem por faxineiro, biscateiro, vigia ou por recepcionista enquanto a economia operar com fôlego. Um curso de segundo grau incompleto não tem dificultado a inserção no mercado de trabalho.
O panorama do curto prazo no Brasil é efetivamente menos feio do que muitos querem fazer crer. No entanto, não é menos preocupante quando se pensa no país a mais longo prazo. O que será feito com a quantidade de jovens que hoje está empregada em um quadro de maior retração econômica?
Investir maciçamente em educação é sempre a recomendação primeira de todos, cobrada dos governos, nas suas diferentes esferas. Algo que reverbera incessantemente, reproduzindo pela milésima vez uma preocupação tão antiga, tão prioritária, e tão displicentemente considerada na história do país, a partir dos anos 80. Desde já parece claro que, se vier a mergulhar em uma crise efetivamente verdadeira, o Brasil poderá ser confrontado com a sua pior realidade: o retorno ao limbo dos 40 milhões que ascenderam à classe média nos últimos dez anos! Aí sim, terá encontrado a sua crise. Até lá, o que há é uma confusão muito grande, muitas vezes alimentada pela retórica, de caráter eminentemente político, mas que tem o efeito de paralisar e de conturbar a confiança no poder público.
O Executivo e o Legislativo a nível federal entoam discursos divergentes. Ganham terreno aqui e ali novas suspeitas de práticas de corrupção que se espalham agora pelos Estados. A inflação parece ter voltado ao controle, mas ainda pressupõe cuidados. O consumo continua ativo, embora mais moderado. A economia se move de alguma forma, mas a educação e a saúde são deficitárias. A segurança é cada vez mais precária, mas o papa é pop, como diria a minha filha mais nova.
Nação versus Estado - ALDO PEREIRA
FOLHA DE SP - 18/07
Greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar reféns inocentes. Como esperar simpatia?
Chame de Junho o primeiro surto de manifestações; chame de Julho o segundo. Junho exibiu, na cacofonia de cartazes desfilados, sinceridade, espontaneidade, vibração juvenil --e muita ingenuidade. Julho tirou da naftalina mofadas bandeiras e slogans para tentar, com histórica truculência e intimidação, reclamar as ruas para si.
Sem foco nem liderança, Junho pareceu inconscientemente anarquista. Contrastante, Julho exibiu relíquias que ainda inspiram fé nos órfãos do comunismo. Junho manifestou descontentamentos pontuais, gemidos sintomáticos de dorzinhas agudas e pediu paliativos como reversão de aumento de tarifas.
Julho também ficou em queixas pontuais, que no conjunto correspondem a explícita carência, a serem tratadas com mais dinheiro menos trabalho para assalariados. Surpreendeu-se em não achar adesão comparável à de Junho. A decepção talvez o leve a ponderar certa medida de evolução sociológica no Brasil: não apenas a proporção de assalariados tende a diminuir, como também o antagonismo de classes.
Em greve de operários contra os donos duma fábrica, o conflito de interesses se dá entre partes mutuamente dependentes. Mas gestores de sindicatos fósseis tomem nota: greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar com as consequências reféns inocentes. Como esperar simpatia dessas vítimas?
Junho e Julho, contudo, configuram juntos o descontentamento da nação com seu Estado patrimonialista. Nação? Estado? Patrimonialismo? Para ganhar foco e eficácia, os dois movimentos carecem de melhor percepção da estrutura e da conjuntura política do Brasil. Reabrir cartilhas para atualizar conceitos como os referidos, afora os de soberania (que a classe política nos usurpa), ação direta e também iniciativa.
Sem visão e organização política, a nação se expõe a ser engabelada com paliativos e engodos diversionistas. Plebiscito de cima para baixo é drible para reter a bola. Em jogos assim, ganhará sempre quem ditar as regras. A tal constituinte específica que o governo chegou a cogitar para reforma política não daria a você, por exemplo, chance alguma de propor extinção do Senado. (Essa lânguida tertúlia desperdiçará neste ano uns R$ 3,5 bilhões, com os quais se poderia, digamos, dobrar o orçamento de proteção do ambiente: pense em rios e esgotos, sufocação urbana, desmatamento etc. Noutras palavras, a múmia institucional do Senado polui em mais de um sentido.)
O governo não perguntará tampouco se você concorda em barrar acesso de corruptos a cargos públicos mediante voto negativo, nem de se desfazer deles por recall (cassação de mandato por iniciativa do eleitorado). Não consultará você quanto a reformas que confiram ao Judiciário mais probidade e eficiência, nem aos impostos mais racionalidade e justiça.
Sopra a favor dos reformistas sinceros o vento novo da internet, poderoso instrumento de arregimentação. Para o bem ou para o mal, ela dinamiza a mobilização das massas no mundo informatizado.
Incerto prever até que ponto as redes sociais poderiam contribuir para consultas e decisões políticas. Mas se pela internet o Estado apura a vida contábil de milhões de contribuintes para tosquiá-los com admirável eficiência, por que não admitir essa tecnologia para exercício de outros deveres e direitos de cidadania?
Greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar reféns inocentes. Como esperar simpatia?
Chame de Junho o primeiro surto de manifestações; chame de Julho o segundo. Junho exibiu, na cacofonia de cartazes desfilados, sinceridade, espontaneidade, vibração juvenil --e muita ingenuidade. Julho tirou da naftalina mofadas bandeiras e slogans para tentar, com histórica truculência e intimidação, reclamar as ruas para si.
Sem foco nem liderança, Junho pareceu inconscientemente anarquista. Contrastante, Julho exibiu relíquias que ainda inspiram fé nos órfãos do comunismo. Junho manifestou descontentamentos pontuais, gemidos sintomáticos de dorzinhas agudas e pediu paliativos como reversão de aumento de tarifas.
Julho também ficou em queixas pontuais, que no conjunto correspondem a explícita carência, a serem tratadas com mais dinheiro menos trabalho para assalariados. Surpreendeu-se em não achar adesão comparável à de Junho. A decepção talvez o leve a ponderar certa medida de evolução sociológica no Brasil: não apenas a proporção de assalariados tende a diminuir, como também o antagonismo de classes.
Em greve de operários contra os donos duma fábrica, o conflito de interesses se dá entre partes mutuamente dependentes. Mas gestores de sindicatos fósseis tomem nota: greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar com as consequências reféns inocentes. Como esperar simpatia dessas vítimas?
Junho e Julho, contudo, configuram juntos o descontentamento da nação com seu Estado patrimonialista. Nação? Estado? Patrimonialismo? Para ganhar foco e eficácia, os dois movimentos carecem de melhor percepção da estrutura e da conjuntura política do Brasil. Reabrir cartilhas para atualizar conceitos como os referidos, afora os de soberania (que a classe política nos usurpa), ação direta e também iniciativa.
Sem visão e organização política, a nação se expõe a ser engabelada com paliativos e engodos diversionistas. Plebiscito de cima para baixo é drible para reter a bola. Em jogos assim, ganhará sempre quem ditar as regras. A tal constituinte específica que o governo chegou a cogitar para reforma política não daria a você, por exemplo, chance alguma de propor extinção do Senado. (Essa lânguida tertúlia desperdiçará neste ano uns R$ 3,5 bilhões, com os quais se poderia, digamos, dobrar o orçamento de proteção do ambiente: pense em rios e esgotos, sufocação urbana, desmatamento etc. Noutras palavras, a múmia institucional do Senado polui em mais de um sentido.)
O governo não perguntará tampouco se você concorda em barrar acesso de corruptos a cargos públicos mediante voto negativo, nem de se desfazer deles por recall (cassação de mandato por iniciativa do eleitorado). Não consultará você quanto a reformas que confiram ao Judiciário mais probidade e eficiência, nem aos impostos mais racionalidade e justiça.
Sopra a favor dos reformistas sinceros o vento novo da internet, poderoso instrumento de arregimentação. Para o bem ou para o mal, ela dinamiza a mobilização das massas no mundo informatizado.
Incerto prever até que ponto as redes sociais poderiam contribuir para consultas e decisões políticas. Mas se pela internet o Estado apura a vida contábil de milhões de contribuintes para tosquiá-los com admirável eficiência, por que não admitir essa tecnologia para exercício de outros deveres e direitos de cidadania?
Um projeto de reforma política - MARCUS VINICIUS FURTADO
FOLHA DE SP - 18/07
O anteprojeto Eleições Limpas propõe voto transparente em dois turnos, financiamento democrático e liberdade de expressão na internet
A mobilização que se iniciou nas ruas não cessou na Ordem dos Advogados do Brasil, em suas 27 seccionais e em mais de 900 subseções espalhadas pelo país. Queremos uma reforma política que apague de uma vez por todas o atual modelo, já exaurido, e estamos em fase avançada de coleta de assinaturas para transformar em realidade o anteprojeto de iniciativa popular denominado Eleições Limpas.
Isso exige mais de 1,5 milhão de assinaturas, ou seja, um número próximo daquele que vimos nas ruas exigindo muito mais do que a simples redução nas tarifas dos transportes públicos.
No passado, quisemos o fim do arbítrio, mas isso não bastou. O desafio atual está em enfrentar a desintegração de valores, restaurar a esperança de um futuro melhor e repor a confiança nas instituições.
Por isso, não podemos continuar vivendo uma simples "situação democrática", por mais eleições que possam ocorrer. Queremos uma democracia como valor universal, que se traduza em participação, ética e responsabilidade.
O anteprojeto Eleições Limpas tem três focos: o voto transparente em dois turnos, o financiamento democrático das campanhas e a liberdade de expressão na internet. A OAB defende um sistema em que as eleições se façam em torno de projetos e não de indivíduos.
Assim, no primeiro turno, o eleitor vota no partido e na sua lista de candidatos, definindo o número de parlamentares. No segundo, escolhe o candidato de sua preferência. O primeiro turno garantiria a opção em torno de um determinado projeto, enquanto no segundo seria escolhido aquele em quem o eleitor confia para executá-lo.
Igualmente importante é o fim do financiamento de campanhas por empresas privadas, em que está cravada a raiz da corrupção. Não podemos admitir o poder econômico influenciando o processo político e privilegiando candidatos que representam interesses de uma minoria.
O financiamento democrático visa baratear as campanhas, de tal modo que o atual recurso utilizado para o financiamento de partidos no Fundo Partidário seja utilizado nas campanhas eleitorais.
Entendemos que as empresas não podem ter carimbos de partidos políticos. O conceito de povo constante na Constituição Federal não admite que ele seja integrado por empresas. Povo é constituído pelas pessoas que compõem o país, de modo que somente as pessoas podem contribuir para as campanhas eleitorais, nunca as empresas.
A verdade é que alcançamos o Estado democrático de Direito carregando vícios e práticas antigas, deixando prevalecer os pontos de vista dos poderosos sobre os da grande massa de cidadãos. Daí negócios de Estado se confundirem com negócios pessoais, fazendo da corrupção uma instituição igual às outras, ou imiscuindo-se sorrateiramente nelas. Esse ciclo deve acabar.
Por fim, precisamos garantir a liberdade de expressão na internet --vale dizer liberdade com responsabilidade. As ordens estabelecidas estão sujeitas a questionamentos surpreendentes e rápidos, levados por uma coesão de palavras e ideias que ultrapassam fronteiras. Nunca o individual foi tão poderoso como agora, justamente por concentrar na palavra transmitida em tempo real a aspiração coletiva.
Eleições Limpas é um projeto alternativo da sociedade, apresentado de baixo para cima e pensado por lideranças sociais, dentre as quais a OAB. Assim como a lei contra a compra de votos (9.840/99) e a Lei da Ficha Limpa (135/10), o que se busca é atender à expectativa da população.
A adesão será feita pelo endereço http://eleicoeslimpas.org.br/. Com um um gesto simples, se promoverá uma mudança que nos permite acreditar em um país dirigido por mulheres e homens de elevado espírito público, capazes de nos conduzir ao destino de uma grande e próspera nação.
O anteprojeto Eleições Limpas propõe voto transparente em dois turnos, financiamento democrático e liberdade de expressão na internet
A mobilização que se iniciou nas ruas não cessou na Ordem dos Advogados do Brasil, em suas 27 seccionais e em mais de 900 subseções espalhadas pelo país. Queremos uma reforma política que apague de uma vez por todas o atual modelo, já exaurido, e estamos em fase avançada de coleta de assinaturas para transformar em realidade o anteprojeto de iniciativa popular denominado Eleições Limpas.
Isso exige mais de 1,5 milhão de assinaturas, ou seja, um número próximo daquele que vimos nas ruas exigindo muito mais do que a simples redução nas tarifas dos transportes públicos.
No passado, quisemos o fim do arbítrio, mas isso não bastou. O desafio atual está em enfrentar a desintegração de valores, restaurar a esperança de um futuro melhor e repor a confiança nas instituições.
Por isso, não podemos continuar vivendo uma simples "situação democrática", por mais eleições que possam ocorrer. Queremos uma democracia como valor universal, que se traduza em participação, ética e responsabilidade.
O anteprojeto Eleições Limpas tem três focos: o voto transparente em dois turnos, o financiamento democrático das campanhas e a liberdade de expressão na internet. A OAB defende um sistema em que as eleições se façam em torno de projetos e não de indivíduos.
Assim, no primeiro turno, o eleitor vota no partido e na sua lista de candidatos, definindo o número de parlamentares. No segundo, escolhe o candidato de sua preferência. O primeiro turno garantiria a opção em torno de um determinado projeto, enquanto no segundo seria escolhido aquele em quem o eleitor confia para executá-lo.
Igualmente importante é o fim do financiamento de campanhas por empresas privadas, em que está cravada a raiz da corrupção. Não podemos admitir o poder econômico influenciando o processo político e privilegiando candidatos que representam interesses de uma minoria.
O financiamento democrático visa baratear as campanhas, de tal modo que o atual recurso utilizado para o financiamento de partidos no Fundo Partidário seja utilizado nas campanhas eleitorais.
Entendemos que as empresas não podem ter carimbos de partidos políticos. O conceito de povo constante na Constituição Federal não admite que ele seja integrado por empresas. Povo é constituído pelas pessoas que compõem o país, de modo que somente as pessoas podem contribuir para as campanhas eleitorais, nunca as empresas.
A verdade é que alcançamos o Estado democrático de Direito carregando vícios e práticas antigas, deixando prevalecer os pontos de vista dos poderosos sobre os da grande massa de cidadãos. Daí negócios de Estado se confundirem com negócios pessoais, fazendo da corrupção uma instituição igual às outras, ou imiscuindo-se sorrateiramente nelas. Esse ciclo deve acabar.
Por fim, precisamos garantir a liberdade de expressão na internet --vale dizer liberdade com responsabilidade. As ordens estabelecidas estão sujeitas a questionamentos surpreendentes e rápidos, levados por uma coesão de palavras e ideias que ultrapassam fronteiras. Nunca o individual foi tão poderoso como agora, justamente por concentrar na palavra transmitida em tempo real a aspiração coletiva.
Eleições Limpas é um projeto alternativo da sociedade, apresentado de baixo para cima e pensado por lideranças sociais, dentre as quais a OAB. Assim como a lei contra a compra de votos (9.840/99) e a Lei da Ficha Limpa (135/10), o que se busca é atender à expectativa da população.
A adesão será feita pelo endereço http://eleicoeslimpas.org.br/. Com um um gesto simples, se promoverá uma mudança que nos permite acreditar em um país dirigido por mulheres e homens de elevado espírito público, capazes de nos conduzir ao destino de uma grande e próspera nação.
Diagonal e exógeno - LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 18/07
A presidente Dilma Rousseff prometeu ontem que a inflação ficará dentro da meta este ano, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Itamaraty. Destacou que o índice tem diminuído ao longo dos meses. A meta para 2013 é 4,5%, podendo variar de 2,5% a 6,5%. Não é bem uma novidade, pois, na prática, o governo vem trabalhando com uma inflação que raspa o teto da meta. Para a maioria dos economistas, essa estratégia é como dançar um tango à beira do precipício.
Dilma rebateu aqueles que a criticam e pedem a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “É incorreto falar de descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados, à lógica, para dizer o mínimo. A informação parcial, da forma como muitas vezes é explorada, confunde a opinião pública e pode criar um ambiente de pessimismo que não interessa a nenhum de nós”, disse.
De onde vem tanta certeza? De dados recentes da inflação, como destacou o reconhecido economista Chico Lopes no Valor Econômico. Um dos formuladores do Plano Real e econometrista, com PhD por Harvard, questiona a maioria dos analistas: “Como interpretar o tom pessimista sobre a inflação quando se verifica que o IPCA, em 2013, vem tendo o seguinte comportamento: janeiro, 0,86%; fevereiro, 0,60%; março, 0,47%; abril, 0,55%; maio, 0,37%; e junho 0,26%?”. Chico Lopes presidiu o Banco Central por breve período. Caiu depois anunciar uma “banda diagonal exógena” para administrar o câmbio. Ninguém entendeu.
Crescimento
Chico Lopes deixou perplexo o mercado ontem ao afirmar que o país está crescendo 4%. Segundo ele, os números do IBC-BR indicam que, no segundo trimestre, a economia crescia a 4% ao ano. “Não é piada ou expressão de desejo. Para se ter ideia precisa do que ocorre na economia, é mais seguro olhar variações em 12 meses”, explica.
Os números
A tese surpreende, mas vem ao encontro de Dilma Rousseff e sua equipe econômica, que inclui os ministros do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. “Se comparamos o trimestre de março a maio com o mesmo período de 2012, obtemos 3,74%. (…)Mesmo se em junho houver queda de 2,5% em relação a maio, a variação em 12 meses para o segundo trimestre será de 3,95%”, argumenta Lopes. Segundo ele, o mesmo erro ocorre na análise da inflação.
Ufanismo
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (foto), de Minas, criticou o que chamou de “ufanismo” da presidente Dilma Rousseff. “Essa postura compromete o diagnóstico dos problemas que o país precisa enfrentar. O momento atual é resultado de muito esforço do governo da presidente Dilma e de seu antecessor para desmontar os pilares macroeconômicos que receberam do presidente FHC”, disse. Segundo ele, os investidores estão transferindo as aplicações das empresas brasileiras para as americanas.
Cinco contra um
O atual presidente do PT, o deputado estadual paulista Rui Falcão, concorre à reeleição com o apoio da antiga Articulação, hoje denominada Construindo um Novo Brasil. Enfrenta cinco candidatos supostamente sem a menor chance de vitória: o deputado federal Paulo Teixeira; o secretário do partido, Renato Simões, além dos membros do diretório nacional Valter Pomar, Serge Goulart e Markus Sokol. A eleição serve, porém, para garantir a presença de todas as tendências da legenda no diretório nacional de 81 membros.
Quem fim levou
O juiz federal Márcio Assad Guardia, da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo, adiou o depoimento das testemunhas de defesa do Rio, de São Paulo e de Curitiba no caso do acidente com o avião da TAM em 2007. Em 3, 9 e 10 de dezembro, serão ouvidas as testemunhas de defesa de São Paulo. O julgamento não tem previsão. Morreram no acidente 199 pessoas
Reforma
O grupo de trabalho da Câmara que debate temas para a reforma política concluiu ontem que as propostas não valerão para as eleições do ano que vem. Segundo o coordenador do grupo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), isso dará tranquilidade ao debate. “Isso pode desagradar a alguns, mas, se iniciarmos os trabalhos pensando em mudanças paras as próximas eleições, seria o começo do fim”, alertou o deputado. Pela Constituição, qualquer mudança eleitoral tem que ser aprovada com um ano de antecedência do próximo pleito.
Mais Médicos/ O Programa Mais Médicos recebeu 11.701 inscrições de profissionais e 753 inscrições de municípios em uma semana, segundo o Ministério da Saúde. Cerca de 80% dos médicos inscritos formaram-se no Brasil; 92% dos interessados são brasileiros. As inscrições vão até o dia 25 deste mês.
Patrocínios/ Marco Nanini e Fernanda Montenegro, ao lado da ministra da Cultura, Marta Suplicy, participaram do lançamento do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura (PPDC), ontem, no Rio de Janeiro. A terceira edição do PPDC teve um crescimento de 30% nas inscrições em relação à última seleção, somando 420 projetos. Um dos destaques foi a Região Nordeste, com alta de 70% no número de inscritos.
Duas táticas// O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), promove hoje um almoço no Recife com deputados federais que desejam aderir à sua candidatura. Pretende reafirmar a intenção de concorrer à Presidência da República e desfazer as versões de que estaria se reaproximando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
Dilma rebateu aqueles que a criticam e pedem a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “É incorreto falar de descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados, à lógica, para dizer o mínimo. A informação parcial, da forma como muitas vezes é explorada, confunde a opinião pública e pode criar um ambiente de pessimismo que não interessa a nenhum de nós”, disse.
De onde vem tanta certeza? De dados recentes da inflação, como destacou o reconhecido economista Chico Lopes no Valor Econômico. Um dos formuladores do Plano Real e econometrista, com PhD por Harvard, questiona a maioria dos analistas: “Como interpretar o tom pessimista sobre a inflação quando se verifica que o IPCA, em 2013, vem tendo o seguinte comportamento: janeiro, 0,86%; fevereiro, 0,60%; março, 0,47%; abril, 0,55%; maio, 0,37%; e junho 0,26%?”. Chico Lopes presidiu o Banco Central por breve período. Caiu depois anunciar uma “banda diagonal exógena” para administrar o câmbio. Ninguém entendeu.
Crescimento
Chico Lopes deixou perplexo o mercado ontem ao afirmar que o país está crescendo 4%. Segundo ele, os números do IBC-BR indicam que, no segundo trimestre, a economia crescia a 4% ao ano. “Não é piada ou expressão de desejo. Para se ter ideia precisa do que ocorre na economia, é mais seguro olhar variações em 12 meses”, explica.
Os números
A tese surpreende, mas vem ao encontro de Dilma Rousseff e sua equipe econômica, que inclui os ministros do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. “Se comparamos o trimestre de março a maio com o mesmo período de 2012, obtemos 3,74%. (…)Mesmo se em junho houver queda de 2,5% em relação a maio, a variação em 12 meses para o segundo trimestre será de 3,95%”, argumenta Lopes. Segundo ele, o mesmo erro ocorre na análise da inflação.
Ufanismo
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (foto), de Minas, criticou o que chamou de “ufanismo” da presidente Dilma Rousseff. “Essa postura compromete o diagnóstico dos problemas que o país precisa enfrentar. O momento atual é resultado de muito esforço do governo da presidente Dilma e de seu antecessor para desmontar os pilares macroeconômicos que receberam do presidente FHC”, disse. Segundo ele, os investidores estão transferindo as aplicações das empresas brasileiras para as americanas.
Cinco contra um
O atual presidente do PT, o deputado estadual paulista Rui Falcão, concorre à reeleição com o apoio da antiga Articulação, hoje denominada Construindo um Novo Brasil. Enfrenta cinco candidatos supostamente sem a menor chance de vitória: o deputado federal Paulo Teixeira; o secretário do partido, Renato Simões, além dos membros do diretório nacional Valter Pomar, Serge Goulart e Markus Sokol. A eleição serve, porém, para garantir a presença de todas as tendências da legenda no diretório nacional de 81 membros.
Quem fim levou
O juiz federal Márcio Assad Guardia, da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo, adiou o depoimento das testemunhas de defesa do Rio, de São Paulo e de Curitiba no caso do acidente com o avião da TAM em 2007. Em 3, 9 e 10 de dezembro, serão ouvidas as testemunhas de defesa de São Paulo. O julgamento não tem previsão. Morreram no acidente 199 pessoas
Reforma
O grupo de trabalho da Câmara que debate temas para a reforma política concluiu ontem que as propostas não valerão para as eleições do ano que vem. Segundo o coordenador do grupo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), isso dará tranquilidade ao debate. “Isso pode desagradar a alguns, mas, se iniciarmos os trabalhos pensando em mudanças paras as próximas eleições, seria o começo do fim”, alertou o deputado. Pela Constituição, qualquer mudança eleitoral tem que ser aprovada com um ano de antecedência do próximo pleito.
Mais Médicos/ O Programa Mais Médicos recebeu 11.701 inscrições de profissionais e 753 inscrições de municípios em uma semana, segundo o Ministério da Saúde. Cerca de 80% dos médicos inscritos formaram-se no Brasil; 92% dos interessados são brasileiros. As inscrições vão até o dia 25 deste mês.
Patrocínios/ Marco Nanini e Fernanda Montenegro, ao lado da ministra da Cultura, Marta Suplicy, participaram do lançamento do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura (PPDC), ontem, no Rio de Janeiro. A terceira edição do PPDC teve um crescimento de 30% nas inscrições em relação à última seleção, somando 420 projetos. Um dos destaques foi a Região Nordeste, com alta de 70% no número de inscritos.
Duas táticas// O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), promove hoje um almoço no Recife com deputados federais que desejam aderir à sua candidatura. Pretende reafirmar a intenção de concorrer à Presidência da República e desfazer as versões de que estaria se reaproximando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
Solidário não é subserviente - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 18/07
Está na hora de o Brasil deixar de confundir apoio aos vizinhos com aceitação de seguidos desaforos
Se a ameaça de inspecionar o avião do presidente Evo Morales, quando pretendia voar de Moscou a La Paz, foi considerada um ato "neocolonial" pela Unasul, como é que os países desse bloco chamariam a efetiva inspeção em três ocasiões de aparelhos do Estado brasileiro?
Não diriam nada, pela simples razão de que a vítima, no caso o governo brasileiro, se limitou a uma nota que parece aquela velha piada do pequenininho cujo pé está sendo pisado pelo grandão e ameaça: "Você tem três anos para tirar o pé de cima do meu, ou vou reagir".
Dizia a nota da embaixada brasileira em La Paz: "Caso persista a execução de tais procedimentos, o Brasil poderá adotar (...) o princípio da reciprocidade". Se a nota tivesse sido emitida após o primeiro "de tais procedimentos", ainda vá lá. Mas depois do segundo e do terceiro, persistir na mera retórica é aceitar um ato neocolonial, paradoxalmente praticado por quem foi outrora colonizado (e não pelo Brasil, aliás).
Os incidentes são uma microdemonstração de um viés da política externa brasileira em relação a seus vizinhos, o de tolerância excessiva.
Desde o governo Itamar Franco, a ideia --nem sempre explicitada tão claramente-- é de que não adianta querer ser um país rico cercado por vizinhos pobres. A tese é perfeitamente defensável: desde que estabilizou a economia, o Brasil tornou-se crescentemente mais próspero que seus vizinhos, a grande maioria dos quais já era mais pobre mesmo quando o Brasil era uma baita confusão econômica.
Imagine então depois de anos de crescimento razoável com inflação sob controle.
Foi esse argumento que norteou as relações de Lula com o casal Kirchner. O Brasil aceitou um punhado de medidas protecionistas sempre a partir da tese de que eram necessárias para que o vizinho saísse da crise a que fora levado primeiro pela ditadura militar (1976/83) e depois pelas loucuras do período Carlos Menem (1989/99).
Agora, no entanto, o argumento perdeu o prazo de validade. A Argentina, é verdade, continua com dificuldades econômicas, mas, primeiro, cresceu mais que o Brasil nos anos mais recentes e, segundo, seus problemas agora não são herança do passado, mas consequência de políticas do governo que se protege do Brasil.
No caso da Bolívia, os desaforos de Evo Morales são antigos, anteriores até aos episódios dos aviões. Quando desapropriou instalações da Petrobras, em 2006, o presidente boliviano não teve nem sequer a cortesia mínima de telefonar para seu amigo Lula para avisá-lo da ocupação militar da refinaria.
É bom deixar claro que Lula não reclamou da desapropriação (considerou-a um direito da Bolívia, ademais anunciada durante a campanha eleitoral que elegeu Morales). Reclamou da descortesia de não ter sido avisado da data exata, embora Evo estivesse reunido com outros dois parceiros de Lula (Hugo Chávez e Fidel Castro) em Havana no dia anterior.
Está na hora, pois, de deixar de confundir a solidariedade com os vizinhos mais pobres com subserviência.
Está na hora de o Brasil deixar de confundir apoio aos vizinhos com aceitação de seguidos desaforos
Se a ameaça de inspecionar o avião do presidente Evo Morales, quando pretendia voar de Moscou a La Paz, foi considerada um ato "neocolonial" pela Unasul, como é que os países desse bloco chamariam a efetiva inspeção em três ocasiões de aparelhos do Estado brasileiro?
Não diriam nada, pela simples razão de que a vítima, no caso o governo brasileiro, se limitou a uma nota que parece aquela velha piada do pequenininho cujo pé está sendo pisado pelo grandão e ameaça: "Você tem três anos para tirar o pé de cima do meu, ou vou reagir".
Dizia a nota da embaixada brasileira em La Paz: "Caso persista a execução de tais procedimentos, o Brasil poderá adotar (...) o princípio da reciprocidade". Se a nota tivesse sido emitida após o primeiro "de tais procedimentos", ainda vá lá. Mas depois do segundo e do terceiro, persistir na mera retórica é aceitar um ato neocolonial, paradoxalmente praticado por quem foi outrora colonizado (e não pelo Brasil, aliás).
Os incidentes são uma microdemonstração de um viés da política externa brasileira em relação a seus vizinhos, o de tolerância excessiva.
Desde o governo Itamar Franco, a ideia --nem sempre explicitada tão claramente-- é de que não adianta querer ser um país rico cercado por vizinhos pobres. A tese é perfeitamente defensável: desde que estabilizou a economia, o Brasil tornou-se crescentemente mais próspero que seus vizinhos, a grande maioria dos quais já era mais pobre mesmo quando o Brasil era uma baita confusão econômica.
Imagine então depois de anos de crescimento razoável com inflação sob controle.
Foi esse argumento que norteou as relações de Lula com o casal Kirchner. O Brasil aceitou um punhado de medidas protecionistas sempre a partir da tese de que eram necessárias para que o vizinho saísse da crise a que fora levado primeiro pela ditadura militar (1976/83) e depois pelas loucuras do período Carlos Menem (1989/99).
Agora, no entanto, o argumento perdeu o prazo de validade. A Argentina, é verdade, continua com dificuldades econômicas, mas, primeiro, cresceu mais que o Brasil nos anos mais recentes e, segundo, seus problemas agora não são herança do passado, mas consequência de políticas do governo que se protege do Brasil.
No caso da Bolívia, os desaforos de Evo Morales são antigos, anteriores até aos episódios dos aviões. Quando desapropriou instalações da Petrobras, em 2006, o presidente boliviano não teve nem sequer a cortesia mínima de telefonar para seu amigo Lula para avisá-lo da ocupação militar da refinaria.
É bom deixar claro que Lula não reclamou da desapropriação (considerou-a um direito da Bolívia, ademais anunciada durante a campanha eleitoral que elegeu Morales). Reclamou da descortesia de não ter sido avisado da data exata, embora Evo estivesse reunido com outros dois parceiros de Lula (Hugo Chávez e Fidel Castro) em Havana no dia anterior.
Está na hora, pois, de deixar de confundir a solidariedade com os vizinhos mais pobres com subserviência.
A mensagem da ‘segunda Tahrir’ - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 18/07
O Exército é a espinha dorsal do Estado egípcio. Os oficiais do grupo de Gamal Abdel Nasser derrubaram a monarquia, em 1952, consolidando a independência, e governaram o país durante seis décadas, moldando uma elite dirigente. A revolução em curso no Egito é obscurecida, distorcida e desviada pelas interferências do Exército, que procura estabelecer-se como uma espécie de Poder Moderador numa democracia limitada. Mesmo assim, não é correto descrever a derrubada de Mohamed Mursi como um golpe militar. O presidente islâmico caiu sob o impacto de um levante popular que representa, de muitas formas, a continuidade do levante da Praça Tahrir de 2011 contra a ditadura de Hosni Mubarak.
Nomes têm importância. O golpe militar antimonárquico de Nasser foi batizado com o nome de Revolução Nacional. Mursi não era um ditador, mas um presidente eleito em meio à turbulenta transição revolucionária. A Irmandade Muçulmana classifica a sua remoção, por ordem do general Abdel Fatah al-Sisi, como um golpe de Estado. As multidões incontáveis de egípcios que fizeram a “segunda Tahrir” têm opinião bem diferente.
“Sisi seguia a vontade do povo”, disse um manifestante ao repórter do jornal “Guardian”, sintetizando uma narrativa possível sobre a nova revolução no núcleo político do mundo árabe. O cenário é mais complexo do que isso, como atesta a vasta adesão às manifestações convocadas pela Irmandade Muçulmana para exigir a restauração de Mursi. Contudo, atrás da óbvia divisão política entre os egípcios, evidencia-se que a Primavera Árabe não se encerrou pela substituição de tiranias militares por tiranias religiosas. Pelo contrário, e para surpresa de tantos comentaristas ocidentais, ela prossegue desafiando o fundamentalismo islâmico.
Fundada em 1928, a Irmandade Muçulmana é uma instituição tão importante quanto o Exército na sociedade egípcia. Ao longo das décadas de autoritarismo militar, ela foi proscrita e perseguida, mas deitou raízes na mesquita, na universidade, em amplos setores das classes médias e, sobretudo, entre os pobres. A Irmandade é, além disso, a nascente principal do moderno fundamentalismo islâmico em todo o mundo árabe, inspirando organizações similares que operam na Tunísia, na Argélia, na Síria e na Palestina. De uma de suas costelas, nasceu na década de 1960 a corrente radical que, na estufa ideológica da Arábia Saudita, geraria o jihadismo contemporâneo. Depois daquela cisão, a organização egípcia renunciou à violência e, convencendo-se de que o tempo era seu aliado, decidiu percorrer o longo caminho da persuasão.
A aposta na moderação rendeu frutos após o levante contra Mubarak. A Irmandade aderiu tardia e relutantemente à “primeira Tahrir”, mas se beneficiou da desorganização das correntes laicas, tanto as liberais quanto as socialistas, na hora das eleições. Na moldura de um sistema eleitoral confuso, arranjado às pressas, a revolução popular caiu no colo da única organização política implantada em todo o país. A maioria dos eleitores não votou pela instalação de um Estado islâmico, algo ausente da plataforma eleitoral da Irmandade. O governo de Mursi, contudo, interpretou erradamente a mensagem das urnas — e o próprio sentido da democracia.
Mursi fracassou porque se recusou a enfrentar a ala tradicionalista de seu movimento e a erguer pontes na direção das correntes laicas. A Irmandade imaginou a democracia do voto como uma ferramenta para a reinvenção da sociedade egípcia segundo as linhas de sua própria doutrina. A “segunda Tahrir” esclareceu as coisas: a diversidade política e cultural do Egito não cabe na caixa apertada do fundamentalismo islâmico. A nova revolução egípcia, precipitada pela onda de manifestações antifundamentalistas da Praça Taksim, na Turquia, assinala a reversão de uma tendência. O Islã político encontra-se, agora, na defensiva.
Não é apenas o futuro do Egito que está na balança. A “segunda Tahrir” acendeu um facho intenso de luz sobre a questão da compatibilidade histórica entre o Islã e a democracia. Se a Irmandade extrair a lição completa da dura derrota, terá a oportunidade de reformar-se a si mesma, desistindo de esconder seus erros atrás de fantasmagóricas conspirações ocidentais, abandonando os resquícios da linguagem da jihad e aprendendo as virtudes da separação entre política e religião. Nessa hipótese benigna, a Primavera Árabe realizaria as esperanças que suscitou e o mundo árabe encontraria um caminho para escapar ao círculo de ferro da intolerância e do fanatismo.
Nem tudo, porém, depende da Irmandade. A prisão de Mursi, as perseguições contra outros líderes islâmicos e o massacre de manifestantes que pediam a restauração do presidente deposto são nítidas provocações da cúpula militar. Na direção oposta à dos chefes militares da Tunísia, a cúpula do Exército egípcio não admite a hipótese da retirada para os quartéis. O antigo poder almeja empurrar a Irmandade para a clandestinidade e, mais além, para a via desastrosa do terrorismo. Nessa hipótese, um inverno melancólico congelaria a Primavera Árabe.
“Transitar do fascismo religioso para o fascismo militar não é algo que mereça celebração”, disse Mariam Kollos, uma ativista de direitos humanos que participou ativamente dos levantes contra Mubarak e Mursi. O termo “fascismo” pode não ser apropriado, mas o que vale é o sentido da sentença. A “segunda Tahrir” revela tanto a vitalidade da revolução democrática no Egito quanto o fracasso dos profetas que condenaram de antemão a Primavera Árabe como uma queda no precipício do fundamentalismo islâmico. Em pouco mais de dois anos, os egípcios derrubaram uma ditadura militar e um governo eleito que pretendia aprisionar as liberdades no calabouço da ortodoxia religiosa. Depois disso, a tese do “choque de civilizações” deveria ser recolhida ao museu das relíquias ideológicas.
O Exército é a espinha dorsal do Estado egípcio. Os oficiais do grupo de Gamal Abdel Nasser derrubaram a monarquia, em 1952, consolidando a independência, e governaram o país durante seis décadas, moldando uma elite dirigente. A revolução em curso no Egito é obscurecida, distorcida e desviada pelas interferências do Exército, que procura estabelecer-se como uma espécie de Poder Moderador numa democracia limitada. Mesmo assim, não é correto descrever a derrubada de Mohamed Mursi como um golpe militar. O presidente islâmico caiu sob o impacto de um levante popular que representa, de muitas formas, a continuidade do levante da Praça Tahrir de 2011 contra a ditadura de Hosni Mubarak.
Nomes têm importância. O golpe militar antimonárquico de Nasser foi batizado com o nome de Revolução Nacional. Mursi não era um ditador, mas um presidente eleito em meio à turbulenta transição revolucionária. A Irmandade Muçulmana classifica a sua remoção, por ordem do general Abdel Fatah al-Sisi, como um golpe de Estado. As multidões incontáveis de egípcios que fizeram a “segunda Tahrir” têm opinião bem diferente.
“Sisi seguia a vontade do povo”, disse um manifestante ao repórter do jornal “Guardian”, sintetizando uma narrativa possível sobre a nova revolução no núcleo político do mundo árabe. O cenário é mais complexo do que isso, como atesta a vasta adesão às manifestações convocadas pela Irmandade Muçulmana para exigir a restauração de Mursi. Contudo, atrás da óbvia divisão política entre os egípcios, evidencia-se que a Primavera Árabe não se encerrou pela substituição de tiranias militares por tiranias religiosas. Pelo contrário, e para surpresa de tantos comentaristas ocidentais, ela prossegue desafiando o fundamentalismo islâmico.
Fundada em 1928, a Irmandade Muçulmana é uma instituição tão importante quanto o Exército na sociedade egípcia. Ao longo das décadas de autoritarismo militar, ela foi proscrita e perseguida, mas deitou raízes na mesquita, na universidade, em amplos setores das classes médias e, sobretudo, entre os pobres. A Irmandade é, além disso, a nascente principal do moderno fundamentalismo islâmico em todo o mundo árabe, inspirando organizações similares que operam na Tunísia, na Argélia, na Síria e na Palestina. De uma de suas costelas, nasceu na década de 1960 a corrente radical que, na estufa ideológica da Arábia Saudita, geraria o jihadismo contemporâneo. Depois daquela cisão, a organização egípcia renunciou à violência e, convencendo-se de que o tempo era seu aliado, decidiu percorrer o longo caminho da persuasão.
A aposta na moderação rendeu frutos após o levante contra Mubarak. A Irmandade aderiu tardia e relutantemente à “primeira Tahrir”, mas se beneficiou da desorganização das correntes laicas, tanto as liberais quanto as socialistas, na hora das eleições. Na moldura de um sistema eleitoral confuso, arranjado às pressas, a revolução popular caiu no colo da única organização política implantada em todo o país. A maioria dos eleitores não votou pela instalação de um Estado islâmico, algo ausente da plataforma eleitoral da Irmandade. O governo de Mursi, contudo, interpretou erradamente a mensagem das urnas — e o próprio sentido da democracia.
Mursi fracassou porque se recusou a enfrentar a ala tradicionalista de seu movimento e a erguer pontes na direção das correntes laicas. A Irmandade imaginou a democracia do voto como uma ferramenta para a reinvenção da sociedade egípcia segundo as linhas de sua própria doutrina. A “segunda Tahrir” esclareceu as coisas: a diversidade política e cultural do Egito não cabe na caixa apertada do fundamentalismo islâmico. A nova revolução egípcia, precipitada pela onda de manifestações antifundamentalistas da Praça Taksim, na Turquia, assinala a reversão de uma tendência. O Islã político encontra-se, agora, na defensiva.
Não é apenas o futuro do Egito que está na balança. A “segunda Tahrir” acendeu um facho intenso de luz sobre a questão da compatibilidade histórica entre o Islã e a democracia. Se a Irmandade extrair a lição completa da dura derrota, terá a oportunidade de reformar-se a si mesma, desistindo de esconder seus erros atrás de fantasmagóricas conspirações ocidentais, abandonando os resquícios da linguagem da jihad e aprendendo as virtudes da separação entre política e religião. Nessa hipótese benigna, a Primavera Árabe realizaria as esperanças que suscitou e o mundo árabe encontraria um caminho para escapar ao círculo de ferro da intolerância e do fanatismo.
Nem tudo, porém, depende da Irmandade. A prisão de Mursi, as perseguições contra outros líderes islâmicos e o massacre de manifestantes que pediam a restauração do presidente deposto são nítidas provocações da cúpula militar. Na direção oposta à dos chefes militares da Tunísia, a cúpula do Exército egípcio não admite a hipótese da retirada para os quartéis. O antigo poder almeja empurrar a Irmandade para a clandestinidade e, mais além, para a via desastrosa do terrorismo. Nessa hipótese, um inverno melancólico congelaria a Primavera Árabe.
“Transitar do fascismo religioso para o fascismo militar não é algo que mereça celebração”, disse Mariam Kollos, uma ativista de direitos humanos que participou ativamente dos levantes contra Mubarak e Mursi. O termo “fascismo” pode não ser apropriado, mas o que vale é o sentido da sentença. A “segunda Tahrir” revela tanto a vitalidade da revolução democrática no Egito quanto o fracasso dos profetas que condenaram de antemão a Primavera Árabe como uma queda no precipício do fundamentalismo islâmico. Em pouco mais de dois anos, os egípcios derrubaram uma ditadura militar e um governo eleito que pretendia aprisionar as liberdades no calabouço da ortodoxia religiosa. Depois disso, a tese do “choque de civilizações” deveria ser recolhida ao museu das relíquias ideológicas.
PORTA ABERTA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 18/07
O governo federal começa amanhã uma "mobilização" para atrair mais prefeituras para o Mais Médicos, divulgando o programa nos municípios. Até ontem, 753 cidades tinham se inscrito para receber profissionais em seus ambulatórios.
PORTA ABERTA 2
Pelos cálculos do governo, 1.900 municípios têm menos de um profissional para cada 3.000 habitantes. Entre estes, 700 não têm doutores.
CARTEIRADA
O homem que tentou pagar uma garota de programa com um cartão do Bolsa Família, em Itapetinga (BA), também não tinha dinheiro para pagar pela diária do Mirage Motel. O caso foi parar na polícia, pois o cliente Deixou como garantia um toca-CD e o cartão do trabalhador, emitido pela Caixa, para consultas e saques do FGTS e outros benefícios. "Ele voltou na madrugada e pagou os R$ 58", relata Paulo, funcionário do motel. A garota de programa ficou no prejuízo.
CARTEIRADA 2
Para piorar a situação, ele é casado. Quem recebe o benefício do Bolsa Família é sua mulher. "Ele é muito conhecido na cidade", explica Tiago Bottino, policial militar e dono do blog Itapetinga Agora, que divulgou a notícia. "O fato ocorreu em 27 de junho. Fui informado pelos PMs que foram chamados até o motel."
BEATLE SHOP
O site oficial do Beatles já tem uma bandeira do Brasil, sob comando de João Marcello Bôscoli. Em setembro será a vez de Elvis Presley.
NÃO VOLTAREI
Não, o ex-presidente Lula não será candidato a presidente em 2014. Foi o que ele garantiu aos escritores Fernando Morais e Lira Neto, anteontem, ao recebê-los para almoço em seu instituto.
NÃO VOLTAREI 2
Lira Neto, que lançará o segundo livro da série sobre Getúlio Vargas, pediu a Lula que fingisse que ele, Neto, era Samuel Wainer. Em 1949, o jornalista fez histórica entrevista em que perguntou a Vargas se ele tinha planos de morar no Rio, então capital do país. "Voltarei como um líder de massas", respondeu o então ex-presidente, eleito um ano depois. "E o senhor, tem planos de voltar a morar em Brasília?", perguntou Lira Neto. Lula, depois de uma gargalhada, disse: "Não".
FEIJÃO E ARROZ
E o ex-presidente teve agenda intensa anteontem, divulgada por sua assessoria no site do Instituto Lula em meio a boatos de que estaria internado em estado grave em um hospital de SP --o que se espalhou pelo mercado financeiro e na internet. "Lula não só não está na UTI como está forte como um touro. Almoçou um vasto prato de salada, espaguete ao alho e óleo, frango grelhado, arroz e feijão. Nunca o vi tão bem", diz Fernando Morais.
QUEDA DE BRAÇO
O empresário Eugênio Staub, da Gradiente, lança "o novo iPhone" da marca na próxima segunda, com uma estratégia agressiva: vai cobrar 50% do valor que a Apple define para seus aparelhos. "Se eles baixarem o preço, eu baixo também", diz. Ele trava batalha judicial no Brasil pelo uso do nome "iPhone", já que registrou a marca antes no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
POSITIVO E OPERANTE
Eduardo Campos (PSB-PE) recebe políticos hoje para almoço no Recife. Entre os convidados estão a deputada federal Keiko Ota (PSB-SP) e o marido, o vereador Masataka Ota (PSB-SP). Segundo ela, a conversa com o pré-candidato a presidente será sobre o quadro político em SP. "Ele quer que a gente ande com ele nas capitais para torná-lo mais conhecido", diz Keiko.
SANTA FASHION
Sarah Sheeva prepara o lançamento de uma grife de roupas para o ano que vem. "Para mulheres que querem se vestir como princesas e não como cachorras", diz a pastora e cantora gospel. Ela vai desenhar as coleções e avisa: nada de decotes e modelitos justíssimos. "Quero resgatar o romantismo nas vestes femininas", explica.
DESINIBIDA Fernanda Machado, a vilã Leila de "Amor à Vida", posou para André Schiliró, produzida por Marco Antonio de Biaggi; a atriz estuda proposta para ensaio nu
PINTANDO O SETE
Comemoraram os sete anos da Galeria Emma Thomas, nos Jardins, o fotógrafo Gui Mohallem, a editora de moda Olivia Hanssen, o artista plástico Rodrigo Bueno e Flaviana Bernardo, sócia do espaço e anfitriã da noite.
REVOLUÇÃO NA PISTA
Um dia depois da comemoração da queda da Bastilha, o cônsul-geral da França em São Paulo, Damien Loras, e sua mulher, Alexandra Loras, receberam o ex-jogador Raí, o cônsul do Líbano, Kabalan Frangieh, e a estilista Serpui Marie, entre outros convidados, para o Bailinho da Bastille, no Sesc Pompeia.
CURTO-CIRCUITO
Paula Lima canta hoje no Bourbon Street, em Moema, às 23h30. 18 anos.
O Domenico Ristorante recebe o trompetista Buiu, hoje, às 19h30, nos Jardins.
"Corteo", do Cirque du Soleil, deixa SP no próximo domingo, dia 21. Livre.
O Villa Mix inicia com show de Gusttavo Lima, em 31 de julho, parceria com a Vevo para transmitir ao vivo pela internet apresentações na casa.
PORTA ABERTA 2
Pelos cálculos do governo, 1.900 municípios têm menos de um profissional para cada 3.000 habitantes. Entre estes, 700 não têm doutores.
CARTEIRADA
O homem que tentou pagar uma garota de programa com um cartão do Bolsa Família, em Itapetinga (BA), também não tinha dinheiro para pagar pela diária do Mirage Motel. O caso foi parar na polícia, pois o cliente Deixou como garantia um toca-CD e o cartão do trabalhador, emitido pela Caixa, para consultas e saques do FGTS e outros benefícios. "Ele voltou na madrugada e pagou os R$ 58", relata Paulo, funcionário do motel. A garota de programa ficou no prejuízo.
CARTEIRADA 2
Para piorar a situação, ele é casado. Quem recebe o benefício do Bolsa Família é sua mulher. "Ele é muito conhecido na cidade", explica Tiago Bottino, policial militar e dono do blog Itapetinga Agora, que divulgou a notícia. "O fato ocorreu em 27 de junho. Fui informado pelos PMs que foram chamados até o motel."
BEATLE SHOP
O site oficial do Beatles já tem uma bandeira do Brasil, sob comando de João Marcello Bôscoli. Em setembro será a vez de Elvis Presley.
NÃO VOLTAREI
Não, o ex-presidente Lula não será candidato a presidente em 2014. Foi o que ele garantiu aos escritores Fernando Morais e Lira Neto, anteontem, ao recebê-los para almoço em seu instituto.
NÃO VOLTAREI 2
Lira Neto, que lançará o segundo livro da série sobre Getúlio Vargas, pediu a Lula que fingisse que ele, Neto, era Samuel Wainer. Em 1949, o jornalista fez histórica entrevista em que perguntou a Vargas se ele tinha planos de morar no Rio, então capital do país. "Voltarei como um líder de massas", respondeu o então ex-presidente, eleito um ano depois. "E o senhor, tem planos de voltar a morar em Brasília?", perguntou Lira Neto. Lula, depois de uma gargalhada, disse: "Não".
FEIJÃO E ARROZ
E o ex-presidente teve agenda intensa anteontem, divulgada por sua assessoria no site do Instituto Lula em meio a boatos de que estaria internado em estado grave em um hospital de SP --o que se espalhou pelo mercado financeiro e na internet. "Lula não só não está na UTI como está forte como um touro. Almoçou um vasto prato de salada, espaguete ao alho e óleo, frango grelhado, arroz e feijão. Nunca o vi tão bem", diz Fernando Morais.
QUEDA DE BRAÇO
O empresário Eugênio Staub, da Gradiente, lança "o novo iPhone" da marca na próxima segunda, com uma estratégia agressiva: vai cobrar 50% do valor que a Apple define para seus aparelhos. "Se eles baixarem o preço, eu baixo também", diz. Ele trava batalha judicial no Brasil pelo uso do nome "iPhone", já que registrou a marca antes no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
POSITIVO E OPERANTE
Eduardo Campos (PSB-PE) recebe políticos hoje para almoço no Recife. Entre os convidados estão a deputada federal Keiko Ota (PSB-SP) e o marido, o vereador Masataka Ota (PSB-SP). Segundo ela, a conversa com o pré-candidato a presidente será sobre o quadro político em SP. "Ele quer que a gente ande com ele nas capitais para torná-lo mais conhecido", diz Keiko.
SANTA FASHION
Sarah Sheeva prepara o lançamento de uma grife de roupas para o ano que vem. "Para mulheres que querem se vestir como princesas e não como cachorras", diz a pastora e cantora gospel. Ela vai desenhar as coleções e avisa: nada de decotes e modelitos justíssimos. "Quero resgatar o romantismo nas vestes femininas", explica.
DESINIBIDA Fernanda Machado, a vilã Leila de "Amor à Vida", posou para André Schiliró, produzida por Marco Antonio de Biaggi; a atriz estuda proposta para ensaio nu
PINTANDO O SETE
Comemoraram os sete anos da Galeria Emma Thomas, nos Jardins, o fotógrafo Gui Mohallem, a editora de moda Olivia Hanssen, o artista plástico Rodrigo Bueno e Flaviana Bernardo, sócia do espaço e anfitriã da noite.
REVOLUÇÃO NA PISTA
Um dia depois da comemoração da queda da Bastilha, o cônsul-geral da França em São Paulo, Damien Loras, e sua mulher, Alexandra Loras, receberam o ex-jogador Raí, o cônsul do Líbano, Kabalan Frangieh, e a estilista Serpui Marie, entre outros convidados, para o Bailinho da Bastille, no Sesc Pompeia.
CURTO-CIRCUITO
Paula Lima canta hoje no Bourbon Street, em Moema, às 23h30. 18 anos.
O Domenico Ristorante recebe o trompetista Buiu, hoje, às 19h30, nos Jardins.
"Corteo", do Cirque du Soleil, deixa SP no próximo domingo, dia 21. Livre.
O Villa Mix inicia com show de Gusttavo Lima, em 31 de julho, parceria com a Vevo para transmitir ao vivo pela internet apresentações na casa.
Reforma política e trapaça - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 18/07
Com o respeito que lhe é devido por ter na vida real a honesta profissão que não raros de seus colegas de Congresso Nacional enxovalham com sua conduta, registre-se o equívoco do deputado Tiririca ao lançar o bordão "pior do que está não fica". A mais recente prova de que, na política, tudo sempre pode ficar pior está nas gelatinosas movimentações dos partidos para apresentar em 90 dias um projeto de reforma política. Se o trabalho da comissão criada para esse fim for aprovado, o texto será submetido a referendo nas eleições de 2014. Os indícios apontam para o retrocesso.
A se consumar, deixará saudade de algumas das regras atuais, que a presidente Dilma Rousseff tentou alterar estabanadamente - primeiro, com a desatinada ideia de convocar uma Assembleia Constituinte exclusiva sem a participação do Legislativo; depois, mediante um plebiscito irrealista em que o eleitor seria chamado às pressas a se servir de um bufê de propostas de duvidosa digestão, entrando em vigor as mais consumidas já no pleito do ano que vem. A Constituinte caiu por sua clamorosa ilegalidade. O plebiscito, por ter sido rejeitado pelo PMDB, valendo-se da avaliação da Justiça Eleitoral de que seriam necessários pelo menos 70 dias para realizá-lo, a contar da definição dos seus quesitos.
Ficou patente, de todo modo, que Dilma quis apenas mostrar-se antenada com a voz das ruas. Não estava. Embora os políticos e a corrupção se destacassem entre os variados alvos das jornadas de junho - motivadas principalmente pelo custo do transporte público e a percepção do descalabro dos serviços públicos em geral -, apenas uma parcela mínima dos manifestantes incluiu a reforma política no seu embornal de demandas. Só que o oportunismo da presidente produziu outras consequências, além de aumentar o seu desgate. No PT, assistiu-se à patética disputa entre os deputados Henrique Fontana, do Rio Grande do Sul, e Cândido Vaccarezza, de São Paulo, por uma vaga na citada comissão dos 90 dias, impedindo que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, a instalasse na semana passada. Ficou para agosto.
Alves deu ao paulista a coordenadoria do colegiado. Amuado, o gaúcho foi-se embora. Como Henry Kissinger disse certa vez, as brigas por posições às vezes são inversamente proporcionais à sua efetiva importância. Para o PT, importante continua sendo o plebiscito, ainda que para vigorar só em 2016, mediante decreto legislativo. A sua primeira versão teve o mesmo destino dos lances de suposta esperteza de Dilma: foi rebarbada até pelos companheiros de viagem do petismo no Congresso, quando se deram conta de que o texto continha, camufladas, propostas de adoção do financiamento público das campanhas - a enganadora resposta petista ao escândalo do mensalão - e o polêmico voto em lista fechada para deputados e vereadores.
O rol dos quesitos, por sinal, discrepa das "sugestões" arroladas por Dilma na sua mensagem em favor do plebiscito. No fundo, tanto faz. É improvável que o PT consiga reunir as 171 assinaturas necessárias para a inclusão de sua proposta de decreto na pauta da Câmara. Já o que a cúpula do PMDB prepara é de levar a sério - e recear. O partido fala pela base aliada muito mais do que o seu rival no governo - ainda mais nestes tempos de queda da popularidade de sua titular. E o principal projeto peemedebista é um insulto ao clamor por transparência. Os seus caciques querem acabar com as doações diretas aos candidatos por pessoas físicas e jurídicas. Os interessados em patrocinar campanhas depositariam as suas contribuições na conta das respectivas siglas, que as distribuiriam entre os seus candidatos.
É uma trapaça. Antes da transferência, financiadores, partidos e candidatos terão se acertado sobre o destino da bolada. A armação convém ao doador, porque o seu nome não aparece; ao partido, porque é praticamente impossível rastrear o percurso do dinheiro que fez escala nos seus cofres; e ao candidato, porque dele não se poderá dizer, se eleito, que está a soldo de terceiros. Só o eleitor ficará no escuro. Isso já existe. Chama-se "doação oculta", contestada pelo Ministério Público. Só falta instituí-la, desmentindo o iludido Tiririca.
Com o respeito que lhe é devido por ter na vida real a honesta profissão que não raros de seus colegas de Congresso Nacional enxovalham com sua conduta, registre-se o equívoco do deputado Tiririca ao lançar o bordão "pior do que está não fica". A mais recente prova de que, na política, tudo sempre pode ficar pior está nas gelatinosas movimentações dos partidos para apresentar em 90 dias um projeto de reforma política. Se o trabalho da comissão criada para esse fim for aprovado, o texto será submetido a referendo nas eleições de 2014. Os indícios apontam para o retrocesso.
A se consumar, deixará saudade de algumas das regras atuais, que a presidente Dilma Rousseff tentou alterar estabanadamente - primeiro, com a desatinada ideia de convocar uma Assembleia Constituinte exclusiva sem a participação do Legislativo; depois, mediante um plebiscito irrealista em que o eleitor seria chamado às pressas a se servir de um bufê de propostas de duvidosa digestão, entrando em vigor as mais consumidas já no pleito do ano que vem. A Constituinte caiu por sua clamorosa ilegalidade. O plebiscito, por ter sido rejeitado pelo PMDB, valendo-se da avaliação da Justiça Eleitoral de que seriam necessários pelo menos 70 dias para realizá-lo, a contar da definição dos seus quesitos.
Ficou patente, de todo modo, que Dilma quis apenas mostrar-se antenada com a voz das ruas. Não estava. Embora os políticos e a corrupção se destacassem entre os variados alvos das jornadas de junho - motivadas principalmente pelo custo do transporte público e a percepção do descalabro dos serviços públicos em geral -, apenas uma parcela mínima dos manifestantes incluiu a reforma política no seu embornal de demandas. Só que o oportunismo da presidente produziu outras consequências, além de aumentar o seu desgate. No PT, assistiu-se à patética disputa entre os deputados Henrique Fontana, do Rio Grande do Sul, e Cândido Vaccarezza, de São Paulo, por uma vaga na citada comissão dos 90 dias, impedindo que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, a instalasse na semana passada. Ficou para agosto.
Alves deu ao paulista a coordenadoria do colegiado. Amuado, o gaúcho foi-se embora. Como Henry Kissinger disse certa vez, as brigas por posições às vezes são inversamente proporcionais à sua efetiva importância. Para o PT, importante continua sendo o plebiscito, ainda que para vigorar só em 2016, mediante decreto legislativo. A sua primeira versão teve o mesmo destino dos lances de suposta esperteza de Dilma: foi rebarbada até pelos companheiros de viagem do petismo no Congresso, quando se deram conta de que o texto continha, camufladas, propostas de adoção do financiamento público das campanhas - a enganadora resposta petista ao escândalo do mensalão - e o polêmico voto em lista fechada para deputados e vereadores.
O rol dos quesitos, por sinal, discrepa das "sugestões" arroladas por Dilma na sua mensagem em favor do plebiscito. No fundo, tanto faz. É improvável que o PT consiga reunir as 171 assinaturas necessárias para a inclusão de sua proposta de decreto na pauta da Câmara. Já o que a cúpula do PMDB prepara é de levar a sério - e recear. O partido fala pela base aliada muito mais do que o seu rival no governo - ainda mais nestes tempos de queda da popularidade de sua titular. E o principal projeto peemedebista é um insulto ao clamor por transparência. Os seus caciques querem acabar com as doações diretas aos candidatos por pessoas físicas e jurídicas. Os interessados em patrocinar campanhas depositariam as suas contribuições na conta das respectivas siglas, que as distribuiriam entre os seus candidatos.
É uma trapaça. Antes da transferência, financiadores, partidos e candidatos terão se acertado sobre o destino da bolada. A armação convém ao doador, porque o seu nome não aparece; ao partido, porque é praticamente impossível rastrear o percurso do dinheiro que fez escala nos seus cofres; e ao candidato, porque dele não se poderá dizer, se eleito, que está a soldo de terceiros. Só o eleitor ficará no escuro. Isso já existe. Chama-se "doação oculta", contestada pelo Ministério Público. Só falta instituí-la, desmentindo o iludido Tiririca.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 18/07
L'Oréal torna sua unidade brasileira mais independente
Entre o sexto e o sétimo lugar no ranking geral do grupo L'Oréal (dependendo do câmbio), a unidade brasileira da empresa torna-se mais independente da matriz, com direito a produtos locais. Até o final deste ano, a L'Oréal Brasil terá lançado 500 artigos.
"As decisões têm de estar nos mercados. Teremos cada vez mais autonomia no desenvolvimento de produtos e para fazer campanhas publicitárias no Brasil e para o Brasil. Desde o início deste mês, todas as grandes decisões passam a ser pilotadas diretamente daqui", diz o francês Didier Tisserand, CEO da companhia no país.
A estratégia também se repete na China e na Índia.
"O que estamos fazendo são investimentos importantes para transformar a L'Oréal Brasil de uma empresa principalmente capilar para uma multicategorias, como a companhia é no mundo todo."
Nos últimos três anos, os segmentos que mais cresceram no Brasil foram tratamento para pele, maquiagem e desodorantes.
Nessa fase de aceleração de novas categorias, a empresa decidiu entrar em um canal de distribuição diferente: as lojas.
"Para a Maybelline, vamos abrir quiosques e unidades próprias. Até o final de julho, teremos 18 inaugurados e, até o final do ano, 50. A ideia é que sejam 200 pontos da marca no país em 2016", diz.
"Queremos dobrar o faturamento no Brasil nos próximos cinco anos e ser um dos quatro maiores mercados da L'Oréal no mundo."
Hoje, a empresa tem 80 pesquisadores. A estimativa é que sejam 200 em dezembro de 2015, quando estará pronto um segundo centro de inovação no país.
As obras começam neste trimestre. O empreendimento ficará na Ilha de Bom Jesus, ao lado do Parque Tecnológico do Fundão (Rio) e receberá R$ 80 milhões em recursos.
Ao todo, com centros e fábricas, serão cerca de R$ 200 milhões em investimentos em dois anos.
"A planta do Rio vai ser ampliada no mesmo local, o que permitirá dobrar a capacidade produtiva", diz.
A companhia também terá uma nova central de distribuição em Duque de Caxias, em uma área de 40 mil m2.
Depois de um forte primeiro trimestre, com alta de 13,7% ante o mesmo período de 2012, a L'Oréal Brasil acelerou nos três meses seguintes e atingiu um crescimento de 15,8%, segundo dados dos resultados da unidade brasileira ainda não divulgados.
Investimento à vista
O governo de Goiás e o grupo de distribuição de produtos atacadistas Martins negociam a implantação de uma unidade da empresa no Estado.
A companhia investirá cerca de R$ 70 milhões na construção de uma sede regional de negócios, segundo o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Alexandre Baldy.
A obra será construída no município de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital.
O secretário vai se reunir hoje com representantes da empresa para definir os termos do acordo.
"Vamos discutir os incentivos fiscais e outros detalhes da parceria", diz.
A empresa confirmou a negociação com o governo de Goiás, mas não deu mais detalhes do empreendimento.
R$ 70 MILHÕES
será o custo da unidade regional de negócios
200
empregos diretos serão gerados
R$ 4,1 BILHÕES
foi o faturamento do grupo Martins em 2012
Tecido novo
A marca Carmen Steffens se prepara para entrar no segmento de vestuário no segundo semestre deste ano.
A grife vai lançar a Maison CS, linha que reunirá vestidos, camisas e calças, além dos já tradicionais sapatos, bolsas e acessórios.
"Havia uma demanda reprimida das nossas clientes por roupa há muito tempo", diz Mario Spaniol, presidentes da empresa.
As 500 lojas licenciadas da marca no país vão receber 120 mil artigos de vestuário entre agosto e setembro. Algumas unidades, como a da rua Oscar Freire, em São Paulo, terão decoração especial.
A partir de setembro, a grife pretende abrir estabelecimentos exclusivos para a venda da Maison CS. A primeira será em Joinville (SC).
"Para este ano, não esperamos um aumento significativo no nosso faturamento, mas queremos que as roupas representem 30% do valor até 2016", diz Spaniol.
3 MILHÕES
foi o número de peças vendidas em 2012
42
são as lojas da marca fora do Brasil, em 16 países
11
é a quantidade de coleções que a grife lança por ano
Cabos brasileiros
A brasileira ProCable e a japonesa Fujikura criaram uma joint venture para instalar uma fábrica de cabos de alumínio e de cabos com fibra ótica em Montenegro (RS). Elas investirão R$ 30 milhões no empreendimento.
"Já temos projetos com a companhia de eletricidade do Estado, por isso devemos ter uma boa demanda na região", afirma Fumitaka Nishimura, presidente da companhia brasileira.
A ProCable, cujo faturamento foi de R$ 140 milhões em 2012, faz hoje a engenharia e a instalação de cabos elétricos, mas importa o material.
LAR SEGURO
O seguro residencial em imóveis paulistas movimentou R$ 377,3 milhões nos primeiros cinco meses do ano, um aumento de 19,7% ante janeiro e maio de 2012.
O Rio de Janeiro foi o segundo colocado no ranking da arrecadação, com R$ 93,8 milhões, segundo levantamento da FenSeg (federação de seguros gerais).
Em números proporcionais, o Rio Grande do Sul teve o maior aumento: 30%.
Para a FenSeg, o resultado positivo é consequência do aumento na construção e da oferta maior de seguradoras, o que reduz o preço. Estima-se que 10% das casas brasileiras tenham esse seguro.
Sem luxo A Amazonastur, empresa de turismo do governo do Amazonas, publica hoje edital para um programa de hospedagem alternativa na Copa-2014. Turistas que visitarem Manaus poderão ficar em casas selecionadas pela iniciativa.
Negócios... A busca de pequenas empresas por oportunidades de negócios relacionados à Copa-2014 apresentou crescimento em junho, período da Copa das Confederações, de acordo com o Sebrae.
...da Copa Criado para orientar pequenos empreendedores sobre as oportunidades, o portal Sebrae 2014 recebeu cerca de 20 mil acessos no período, uma alta de 430% ante junho do ano passado.
L'Oréal torna sua unidade brasileira mais independente
Entre o sexto e o sétimo lugar no ranking geral do grupo L'Oréal (dependendo do câmbio), a unidade brasileira da empresa torna-se mais independente da matriz, com direito a produtos locais. Até o final deste ano, a L'Oréal Brasil terá lançado 500 artigos.
"As decisões têm de estar nos mercados. Teremos cada vez mais autonomia no desenvolvimento de produtos e para fazer campanhas publicitárias no Brasil e para o Brasil. Desde o início deste mês, todas as grandes decisões passam a ser pilotadas diretamente daqui", diz o francês Didier Tisserand, CEO da companhia no país.
A estratégia também se repete na China e na Índia.
"O que estamos fazendo são investimentos importantes para transformar a L'Oréal Brasil de uma empresa principalmente capilar para uma multicategorias, como a companhia é no mundo todo."
Nos últimos três anos, os segmentos que mais cresceram no Brasil foram tratamento para pele, maquiagem e desodorantes.
Nessa fase de aceleração de novas categorias, a empresa decidiu entrar em um canal de distribuição diferente: as lojas.
"Para a Maybelline, vamos abrir quiosques e unidades próprias. Até o final de julho, teremos 18 inaugurados e, até o final do ano, 50. A ideia é que sejam 200 pontos da marca no país em 2016", diz.
"Queremos dobrar o faturamento no Brasil nos próximos cinco anos e ser um dos quatro maiores mercados da L'Oréal no mundo."
Hoje, a empresa tem 80 pesquisadores. A estimativa é que sejam 200 em dezembro de 2015, quando estará pronto um segundo centro de inovação no país.
As obras começam neste trimestre. O empreendimento ficará na Ilha de Bom Jesus, ao lado do Parque Tecnológico do Fundão (Rio) e receberá R$ 80 milhões em recursos.
Ao todo, com centros e fábricas, serão cerca de R$ 200 milhões em investimentos em dois anos.
"A planta do Rio vai ser ampliada no mesmo local, o que permitirá dobrar a capacidade produtiva", diz.
A companhia também terá uma nova central de distribuição em Duque de Caxias, em uma área de 40 mil m2.
Depois de um forte primeiro trimestre, com alta de 13,7% ante o mesmo período de 2012, a L'Oréal Brasil acelerou nos três meses seguintes e atingiu um crescimento de 15,8%, segundo dados dos resultados da unidade brasileira ainda não divulgados.
Investimento à vista
O governo de Goiás e o grupo de distribuição de produtos atacadistas Martins negociam a implantação de uma unidade da empresa no Estado.
A companhia investirá cerca de R$ 70 milhões na construção de uma sede regional de negócios, segundo o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Alexandre Baldy.
A obra será construída no município de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital.
O secretário vai se reunir hoje com representantes da empresa para definir os termos do acordo.
"Vamos discutir os incentivos fiscais e outros detalhes da parceria", diz.
A empresa confirmou a negociação com o governo de Goiás, mas não deu mais detalhes do empreendimento.
R$ 70 MILHÕES
será o custo da unidade regional de negócios
200
empregos diretos serão gerados
R$ 4,1 BILHÕES
foi o faturamento do grupo Martins em 2012
Tecido novo
A marca Carmen Steffens se prepara para entrar no segmento de vestuário no segundo semestre deste ano.
A grife vai lançar a Maison CS, linha que reunirá vestidos, camisas e calças, além dos já tradicionais sapatos, bolsas e acessórios.
"Havia uma demanda reprimida das nossas clientes por roupa há muito tempo", diz Mario Spaniol, presidentes da empresa.
As 500 lojas licenciadas da marca no país vão receber 120 mil artigos de vestuário entre agosto e setembro. Algumas unidades, como a da rua Oscar Freire, em São Paulo, terão decoração especial.
A partir de setembro, a grife pretende abrir estabelecimentos exclusivos para a venda da Maison CS. A primeira será em Joinville (SC).
"Para este ano, não esperamos um aumento significativo no nosso faturamento, mas queremos que as roupas representem 30% do valor até 2016", diz Spaniol.
3 MILHÕES
foi o número de peças vendidas em 2012
42
são as lojas da marca fora do Brasil, em 16 países
11
é a quantidade de coleções que a grife lança por ano
Cabos brasileiros
A brasileira ProCable e a japonesa Fujikura criaram uma joint venture para instalar uma fábrica de cabos de alumínio e de cabos com fibra ótica em Montenegro (RS). Elas investirão R$ 30 milhões no empreendimento.
"Já temos projetos com a companhia de eletricidade do Estado, por isso devemos ter uma boa demanda na região", afirma Fumitaka Nishimura, presidente da companhia brasileira.
A ProCable, cujo faturamento foi de R$ 140 milhões em 2012, faz hoje a engenharia e a instalação de cabos elétricos, mas importa o material.
LAR SEGURO
O seguro residencial em imóveis paulistas movimentou R$ 377,3 milhões nos primeiros cinco meses do ano, um aumento de 19,7% ante janeiro e maio de 2012.
O Rio de Janeiro foi o segundo colocado no ranking da arrecadação, com R$ 93,8 milhões, segundo levantamento da FenSeg (federação de seguros gerais).
Em números proporcionais, o Rio Grande do Sul teve o maior aumento: 30%.
Para a FenSeg, o resultado positivo é consequência do aumento na construção e da oferta maior de seguradoras, o que reduz o preço. Estima-se que 10% das casas brasileiras tenham esse seguro.
Sem luxo A Amazonastur, empresa de turismo do governo do Amazonas, publica hoje edital para um programa de hospedagem alternativa na Copa-2014. Turistas que visitarem Manaus poderão ficar em casas selecionadas pela iniciativa.
Negócios... A busca de pequenas empresas por oportunidades de negócios relacionados à Copa-2014 apresentou crescimento em junho, período da Copa das Confederações, de acordo com o Sebrae.
...da Copa Criado para orientar pequenos empreendedores sobre as oportunidades, o portal Sebrae 2014 recebeu cerca de 20 mil acessos no período, uma alta de 430% ante junho do ano passado.
Qual meta? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 18/07
Em nome da clareza também seria bom para o debate que a presidente explicitasse a que meta de inflação se refere. Se 6% ou 6,5% ao ano estão dentro da meta, então o BC está errado em aumentar os juros
Disse ontem a presidente Dilma: "Temos certeza que vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta".
Diz o Conselho Monetário Nacional : a meta de inflação é de 4,5%, considerando-se o índice do IBGE (o IPCA).
Logo, o Brasil chega a dezembro de 2013 com a inflação em 4,5%, certo?
Errado. Quer dizer, não é bem assim. Começa que ninguém, nem mesmo no governo, acredita que o IPCA termine o ano naquele nível. O próprio Banco Central, justamente o encarregado de acertar a meta, se compromete com um objetivo mais folgado: alcançar uma inflação menor que a do ano passado, que foi de 5,84%. Estará feliz com uns 5,80%, que é consenso entre analistas fora do governo.
Isso significa que a presidente, digamos, faltou com a verdade?
Bem, quer dizer, tem aqui um joguinho de palavras ou de conceitos. A mesma resolução do CMN que fixa a meta de 4,5% acrescenta: "com intervalo de tolerância" de dois pontos para mais ou para menos.
Quem for ao site do BC, encontrará informação com o mesmo conteúdo. Meta: 4,5%; banda, 2 pontos.
A regra, portanto, é clara. Os dois pontos são extra-meta, uma margem para acomodar momentos excepcionais em que ocorram eventos inesperados, fora do alcance dos controles do BC.
Pode ser desde uma guerra entre países do petróleo ou uma escassez de alimentos, eventos que provocam altas de preços. Nesses casos, em vez de agir imediatamente elevando juros, o BC topa conviver algum tempo com a inflação elevada.
Mas, pela lógica do sistema e pela prática mundial, inclusive brasileira, isso é necessariamente provisório. O BC deve organizar suas políticas para logo buscar de novo a meta.
Ocorre que a inflação no governo Dilma foi de 6,5% em 2011 e de 5,84% em 2012. Pela regra, comenta-se assim: a inflação esteve acima da meta mas dentro do intervalo ou banda de tolerância.
Mas aqui entra o jogo oficial de palavras: da presidente aos ministros e ao BC, passou-se a dizer que os 4,5% são o "valor central" de uma meta que vai até 6,5%. Torturaram a regra e a deixaram meio grogue.
Por isso que a presidente Dilma não dá o número. Ela diz que vamos ficar "dentro da meta". Só pela linguagem governamental passada e presente, pode-se concluir que é qualquer coisa abaixo de 6,51% - e esse é o novo objetivo oficial.
Mas por que estamos discutindo esses quase detalhes? Na verdade, a presidente tenta passar a conclusão de que a inflação está sob controle e em níveis aceitáveis.
Não está. Começa que os 4,5% já constituem uma meta elevada. Nos países emergentes, em geral, não passa de 3% - e vem sendo cumprida na maior parte dos casos. Aqui na vizinhança da América Latina, o nível mais alto depois do Brasil é do México, com 4% ao ano. (Claro, Argentina e Venezuela não contam, pela desorganização, assim como outras nações, como a Índia, pelo histórico de inflação elevada).
Além disso, uma inflação rodando a 6%, por tanto tempo, é danosa para a economia brasileira. Querem saber por que? Basta dar uma lida nos documentos recentes do BC, nos quais a instituição explica por que resolveu iniciar um processo de alta de juros. Se a inflação estivesse confortável e sob controle, o BC não precisaria elevar juros, não é mesmo?
No mesmo discurso de ontem, a presidente Dilma reclamou do "ambiente de pessimismo", criado a partir de suposta exploração de informações parciais e em "desrespeito aos dados, à lógica".
Pois em nome da clareza também seria bom para o debate que a presidente explicitasse a que meta de inflação se refere. Isso faz muita diferença. Por exemplo: se 6% ou 6,5% ao ano estão dentro da meta, então o BC está errado em aumentar os juros.
Por outro lado, se a meta é mesmo 4,5%, a taxa de juros precisa subir mais forte - e isso afetaria consumo e produção.
É exatamente a crítica que se tem feito ao governo: a falta de clareza na definição dos objetivos e na execução de política econômica.
E por falar em ambiente: todos os recentes índices de confiança, baseados em pesquisas junto ao consumidores e empresas, mostraram um aumento do pessimismo em relação à situação atual e futura da economia.
Estarão todos equivocados? Seriam todos vítimas dos críticos parciais? Ou seria melhor admitir que as pessoas sabem de si e de sua situação?
Insuportável
É evidente a necessidade de uma reforma tributária, se diz nos EUA: quem pode lidar com uma Receita Federal cujas regras ocupam 72.536 páginas (dado de 2011)?
Bom, se a gente considerar dez regras por página, teríamos 725 mil normas e uns quebrados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, foram editadas no Brasil, desde a Constituição de 88, nada menos que 4,4 milhões de normas tributárias.
Em nome da clareza também seria bom para o debate que a presidente explicitasse a que meta de inflação se refere. Se 6% ou 6,5% ao ano estão dentro da meta, então o BC está errado em aumentar os juros
Disse ontem a presidente Dilma: "Temos certeza que vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta".
Diz o Conselho Monetário Nacional : a meta de inflação é de 4,5%, considerando-se o índice do IBGE (o IPCA).
Logo, o Brasil chega a dezembro de 2013 com a inflação em 4,5%, certo?
Errado. Quer dizer, não é bem assim. Começa que ninguém, nem mesmo no governo, acredita que o IPCA termine o ano naquele nível. O próprio Banco Central, justamente o encarregado de acertar a meta, se compromete com um objetivo mais folgado: alcançar uma inflação menor que a do ano passado, que foi de 5,84%. Estará feliz com uns 5,80%, que é consenso entre analistas fora do governo.
Isso significa que a presidente, digamos, faltou com a verdade?
Bem, quer dizer, tem aqui um joguinho de palavras ou de conceitos. A mesma resolução do CMN que fixa a meta de 4,5% acrescenta: "com intervalo de tolerância" de dois pontos para mais ou para menos.
Quem for ao site do BC, encontrará informação com o mesmo conteúdo. Meta: 4,5%; banda, 2 pontos.
A regra, portanto, é clara. Os dois pontos são extra-meta, uma margem para acomodar momentos excepcionais em que ocorram eventos inesperados, fora do alcance dos controles do BC.
Pode ser desde uma guerra entre países do petróleo ou uma escassez de alimentos, eventos que provocam altas de preços. Nesses casos, em vez de agir imediatamente elevando juros, o BC topa conviver algum tempo com a inflação elevada.
Mas, pela lógica do sistema e pela prática mundial, inclusive brasileira, isso é necessariamente provisório. O BC deve organizar suas políticas para logo buscar de novo a meta.
Ocorre que a inflação no governo Dilma foi de 6,5% em 2011 e de 5,84% em 2012. Pela regra, comenta-se assim: a inflação esteve acima da meta mas dentro do intervalo ou banda de tolerância.
Mas aqui entra o jogo oficial de palavras: da presidente aos ministros e ao BC, passou-se a dizer que os 4,5% são o "valor central" de uma meta que vai até 6,5%. Torturaram a regra e a deixaram meio grogue.
Por isso que a presidente Dilma não dá o número. Ela diz que vamos ficar "dentro da meta". Só pela linguagem governamental passada e presente, pode-se concluir que é qualquer coisa abaixo de 6,51% - e esse é o novo objetivo oficial.
Mas por que estamos discutindo esses quase detalhes? Na verdade, a presidente tenta passar a conclusão de que a inflação está sob controle e em níveis aceitáveis.
Não está. Começa que os 4,5% já constituem uma meta elevada. Nos países emergentes, em geral, não passa de 3% - e vem sendo cumprida na maior parte dos casos. Aqui na vizinhança da América Latina, o nível mais alto depois do Brasil é do México, com 4% ao ano. (Claro, Argentina e Venezuela não contam, pela desorganização, assim como outras nações, como a Índia, pelo histórico de inflação elevada).
Além disso, uma inflação rodando a 6%, por tanto tempo, é danosa para a economia brasileira. Querem saber por que? Basta dar uma lida nos documentos recentes do BC, nos quais a instituição explica por que resolveu iniciar um processo de alta de juros. Se a inflação estivesse confortável e sob controle, o BC não precisaria elevar juros, não é mesmo?
No mesmo discurso de ontem, a presidente Dilma reclamou do "ambiente de pessimismo", criado a partir de suposta exploração de informações parciais e em "desrespeito aos dados, à lógica".
Pois em nome da clareza também seria bom para o debate que a presidente explicitasse a que meta de inflação se refere. Isso faz muita diferença. Por exemplo: se 6% ou 6,5% ao ano estão dentro da meta, então o BC está errado em aumentar os juros.
Por outro lado, se a meta é mesmo 4,5%, a taxa de juros precisa subir mais forte - e isso afetaria consumo e produção.
É exatamente a crítica que se tem feito ao governo: a falta de clareza na definição dos objetivos e na execução de política econômica.
E por falar em ambiente: todos os recentes índices de confiança, baseados em pesquisas junto ao consumidores e empresas, mostraram um aumento do pessimismo em relação à situação atual e futura da economia.
Estarão todos equivocados? Seriam todos vítimas dos críticos parciais? Ou seria melhor admitir que as pessoas sabem de si e de sua situação?
Insuportável
É evidente a necessidade de uma reforma tributária, se diz nos EUA: quem pode lidar com uma Receita Federal cujas regras ocupam 72.536 páginas (dado de 2011)?
Bom, se a gente considerar dez regras por página, teríamos 725 mil normas e uns quebrados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, foram editadas no Brasil, desde a Constituição de 88, nada menos que 4,4 milhões de normas tributárias.
A inflação, esse boato malvado - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 18/07
Presidente parece acreditar que boato 'pessimista' levou o povo a acreditar que comida ficou cara
A PRESIDENTE tem "certeza" de que a inflação de 2013 vai ser menor do que o limite oficial de 6,5% ao ano. Essa certeza sustenta sua tese de que é "incorreto falar em descontrole da inflação", que seria uma "informação parcial", "muitas vezes" explorada de modo a confundir a opinião pública e a "criar um ambiente de pessimismo".
Foi o que Dilma Rousseff disse ontem ao Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de representantes da sociedade, de assessoria informal, do qual fazem parte vários empresários).
A presidente choveu no molhado com esse discurso de resto infeliz para quem em tese está dançando miudinho por causa dos efeitos da "voz das ruas".
Quase nenhum economista com algum crédito na praça acredita que a inflação vá passar de 6,5% ao fim de 2013, nem mesmo aqueles que detestam o governo de Dilma ou, nos casos mais extremos, nem aqueles de fato dedicados a difundir ideias pessimistas (como se tivessem tamanha audiência popular ou fosse necessário o esforço deles).
As pessoas comuns, que não dão a mínima para economistas ou comentaristas econômicos, começaram a fazer piadas amargas sobre o preço do tomate simplesmente porque os preços que mais pesam no seu orçamento e mais saltam à vista subiram um montão, simples assim: a comida ficou cara.
As piadas sobre o tomate começaram a circular por celulares e internets e conversas de rua ali por volta de março. O tomate era, claro, metáfora para supermercado salgado.
Talvez a presidente queira convocar a Polícia Federal para investigar a origem do rumor do tomate, lançado para "criar um ambiente de pessimismo". Mas seria mais simples verificar o IPCA de abril: foi nesse mês que a inflação da comida e bebida chegou a 14% (inflação acumulada em 12 meses). A tendência de alta vinha desde abril de 2012.
Preços de bens duráveis (carro, TV, eletrodomésticos) até chegaram a cair nesses meses. Mas as pessoas não compram carros rotineiramente; de resto, os preços de carros são tão revoltantes de altos que uma diferença de 2% mal chega a ser notada. O preço de comida, saúde, serviços e despesas pessoais, todos esses fomentadores de pessimismo cotidiano, subiram acima da inflação média. Subiram mais que o reajuste médio de salários no segundo trimestre deste ano.
Não entender tal coisa, que gasto com comida é tanto mais pesado quanto mais pobre o cidadão, atribuindo o pessimismo a "forças ocultas", é de fato entender muito pouco de gente e de "voz das ruas".
Enfim, é difícil lembrar de gente séria, da esquerda à direita, ou de movimentos horizontais e verticais que tenha falado em "descontrole da inflação". Muita gente falou é de descontrole do governo, que é outra coisa.
Porém estava óbvio que o Brasil se tornara um país caro, de dólar chegando a R$ 1,60, com deficit externo crescente (é mais barato comprar importados), com a margem de empresas eficientes caindo devido a custos altos, o que ajudou a derrubar investimentos etc. Da rua da feira às reuniões de empresários não se falava (fala) de outra coisa. Em que mundo vive a presidente?
Presidente parece acreditar que boato 'pessimista' levou o povo a acreditar que comida ficou cara
A PRESIDENTE tem "certeza" de que a inflação de 2013 vai ser menor do que o limite oficial de 6,5% ao ano. Essa certeza sustenta sua tese de que é "incorreto falar em descontrole da inflação", que seria uma "informação parcial", "muitas vezes" explorada de modo a confundir a opinião pública e a "criar um ambiente de pessimismo".
Foi o que Dilma Rousseff disse ontem ao Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de representantes da sociedade, de assessoria informal, do qual fazem parte vários empresários).
A presidente choveu no molhado com esse discurso de resto infeliz para quem em tese está dançando miudinho por causa dos efeitos da "voz das ruas".
Quase nenhum economista com algum crédito na praça acredita que a inflação vá passar de 6,5% ao fim de 2013, nem mesmo aqueles que detestam o governo de Dilma ou, nos casos mais extremos, nem aqueles de fato dedicados a difundir ideias pessimistas (como se tivessem tamanha audiência popular ou fosse necessário o esforço deles).
As pessoas comuns, que não dão a mínima para economistas ou comentaristas econômicos, começaram a fazer piadas amargas sobre o preço do tomate simplesmente porque os preços que mais pesam no seu orçamento e mais saltam à vista subiram um montão, simples assim: a comida ficou cara.
As piadas sobre o tomate começaram a circular por celulares e internets e conversas de rua ali por volta de março. O tomate era, claro, metáfora para supermercado salgado.
Talvez a presidente queira convocar a Polícia Federal para investigar a origem do rumor do tomate, lançado para "criar um ambiente de pessimismo". Mas seria mais simples verificar o IPCA de abril: foi nesse mês que a inflação da comida e bebida chegou a 14% (inflação acumulada em 12 meses). A tendência de alta vinha desde abril de 2012.
Preços de bens duráveis (carro, TV, eletrodomésticos) até chegaram a cair nesses meses. Mas as pessoas não compram carros rotineiramente; de resto, os preços de carros são tão revoltantes de altos que uma diferença de 2% mal chega a ser notada. O preço de comida, saúde, serviços e despesas pessoais, todos esses fomentadores de pessimismo cotidiano, subiram acima da inflação média. Subiram mais que o reajuste médio de salários no segundo trimestre deste ano.
Não entender tal coisa, que gasto com comida é tanto mais pesado quanto mais pobre o cidadão, atribuindo o pessimismo a "forças ocultas", é de fato entender muito pouco de gente e de "voz das ruas".
Enfim, é difícil lembrar de gente séria, da esquerda à direita, ou de movimentos horizontais e verticais que tenha falado em "descontrole da inflação". Muita gente falou é de descontrole do governo, que é outra coisa.
Porém estava óbvio que o Brasil se tornara um país caro, de dólar chegando a R$ 1,60, com deficit externo crescente (é mais barato comprar importados), com a margem de empresas eficientes caindo devido a custos altos, o que ajudou a derrubar investimentos etc. Da rua da feira às reuniões de empresários não se falava (fala) de outra coisa. Em que mundo vive a presidente?
Pouso suave - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 18/07
Ontem, em depoimento na Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), não disse nada de especialmente diferente do que já dissera em outras oportunidades. No entanto, seu discurso foi decisivo para acalmar o mercado financeiro global que enfrenta com um estresse exagerado a perspectiva de desmonte das políticas monetárias fortemente expansionistas que vêm desde a irrupção da crise global.
Até agora, o Fed sozinho já emitiu cerca de US$ 3,4 trilhões apenas para comprar títulos nos mercados, com o objetivo de ajudar a recuperação da atividade econômica dos Estados Unidos. Desde dezembro de 2012, a autoridade monetária despeja US$ 85 bilhões por mês nessa operação especial conhecida por afrouxamento quantitativo.
Apesar dos solavancos do mercado a cada declaração de diretor do Fed, a perspectiva de desmonte da operação é uma notícia fundamentalmente boa. Indica que a principal locomotiva do mundo começa a rodar, devagar, mas de forma consistente.
O maior medo dos administradores de capital é de que, a partir do início desse processo, os títulos públicos e privados voltem a ficar largados (e desvalorizados) nos mercados, fator que poderia voltar a destruir patrimônio financeiro e a provocar movimentos de fuga do risco.
Bernanke insistiu ontem em que a operação de desmonte não será feita abruptamente. Ao contrário, será gradual, cantada com grande antecedência e terá como contrapartida a melhora real da economia americana, especialmente do mercado de trabalho.
Não há data marcada para o início da operação. O que se supõe é que, se os sinais da recuperação econômica continuarem bons, a partir de setembro o Fed começará a reduzir as compras de títulos e, portanto, as emissões de moeda. Somente mais adiante é que deverão cessar as compras de ativos e só muito mais à frente é que o Fed começará a se desfazer dos seus estoques.
Em princípio, ninguém espera um procedimento muito diferente desse. O problema é que a resposta do Fed à crise é absoluta novidade em matéria de política monetária. E mares nunca dantes navegados provocam medos sem proporção, num campo (o dos capitais) que, por si só, já é fortemente vulnerável ao efeito manada, a ondas de pânico e a outros comportamentos considerados irracionais.
Bernanke entende que a transparência das ações do Fed contribuirá para a redução da atual volatilidade dos mercados. O diabo é que outros fatores aleatórios podem atuar em direção contrária e perturbar o comportamento dos mercados, como a eventual quebra de um banco ou uma súbita dificuldade de uma grande potência econômica em refinanciar sua dívida.
Do ponto de vista do Brasil, os tempos de abundância nunca vista de recursos externos estão com os dias contados. É a volta da maré baixa. A economia terá de contar mais com energia e poupança interna e isso, por si só, exigirá mais equilíbrio na condução das contas públicas.
Ontem, em depoimento na Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), não disse nada de especialmente diferente do que já dissera em outras oportunidades. No entanto, seu discurso foi decisivo para acalmar o mercado financeiro global que enfrenta com um estresse exagerado a perspectiva de desmonte das políticas monetárias fortemente expansionistas que vêm desde a irrupção da crise global.
Até agora, o Fed sozinho já emitiu cerca de US$ 3,4 trilhões apenas para comprar títulos nos mercados, com o objetivo de ajudar a recuperação da atividade econômica dos Estados Unidos. Desde dezembro de 2012, a autoridade monetária despeja US$ 85 bilhões por mês nessa operação especial conhecida por afrouxamento quantitativo.
Apesar dos solavancos do mercado a cada declaração de diretor do Fed, a perspectiva de desmonte da operação é uma notícia fundamentalmente boa. Indica que a principal locomotiva do mundo começa a rodar, devagar, mas de forma consistente.
O maior medo dos administradores de capital é de que, a partir do início desse processo, os títulos públicos e privados voltem a ficar largados (e desvalorizados) nos mercados, fator que poderia voltar a destruir patrimônio financeiro e a provocar movimentos de fuga do risco.
Bernanke insistiu ontem em que a operação de desmonte não será feita abruptamente. Ao contrário, será gradual, cantada com grande antecedência e terá como contrapartida a melhora real da economia americana, especialmente do mercado de trabalho.
Não há data marcada para o início da operação. O que se supõe é que, se os sinais da recuperação econômica continuarem bons, a partir de setembro o Fed começará a reduzir as compras de títulos e, portanto, as emissões de moeda. Somente mais adiante é que deverão cessar as compras de ativos e só muito mais à frente é que o Fed começará a se desfazer dos seus estoques.
Em princípio, ninguém espera um procedimento muito diferente desse. O problema é que a resposta do Fed à crise é absoluta novidade em matéria de política monetária. E mares nunca dantes navegados provocam medos sem proporção, num campo (o dos capitais) que, por si só, já é fortemente vulnerável ao efeito manada, a ondas de pânico e a outros comportamentos considerados irracionais.
Bernanke entende que a transparência das ações do Fed contribuirá para a redução da atual volatilidade dos mercados. O diabo é que outros fatores aleatórios podem atuar em direção contrária e perturbar o comportamento dos mercados, como a eventual quebra de um banco ou uma súbita dificuldade de uma grande potência econômica em refinanciar sua dívida.
Do ponto de vista do Brasil, os tempos de abundância nunca vista de recursos externos estão com os dias contados. É a volta da maré baixa. A economia terá de contar mais com energia e poupança interna e isso, por si só, exigirá mais equilíbrio na condução das contas públicas.
Os fatos e os dados - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 18/07
A presidente Dilma garantiu que a inflação terminará o ano dentro da meta. Com alegria, registrei aqui na coluna, na terça-feira, que a inflação de julho deve ficar muito perto de zero e isso estará claro logo na prévia do IPCA, que vai ser divulgado amanhã. Ela voltará a cair no acumulado de 12 meses, mas a presidente erra quando faz uma análise benigna da inflação brasileira.
A meta é 4,5%, e isso ela não entregou nem entregará durante seu governo. O próprio BC já faz projeções para 2015 para conseguir cenários de convergência. Em um terço do seu governo, o IPCA esteve acima do teto. O que ela tem razão é que ficará no intervalo permitido de flutuação, mas foi assim, aceitando como bom qualquer resultado abaixo de 6,5%, que o governo Dilma passou a ideia de conivência com a inflação. Isso ajudou a deteriorar as expectativas.
Os preços têm caráter sazonal, diz a presidente, repetindo uma platitude. E a sazonalidade é mais forte nos produtos in natura. No ano passado houve um choque nos preços agrícolas pela seca americana. Mas tudo somado não explica o que aconteceu nos últimos meses: uma inflação alta, disseminada, resistente. Há uma lição que a inflação já deu ao Brasil durante décadas: nunca subestimá-la; jamais aceitar conviver com ela. Uma taxa alta fica vulnerável a qualquer choque. E uma inflação que ronda os 6% com o país crescendo tão pouco é um péssimo sinal. A briga tem que ser contra a inflação e não contra quem alerta que ela está alta.
O economista Francisco Lopes publicou artigo no "Valor" sustentando que o país está crescendo a 4%. Usou dados do IBC-Br, do BC. "Se compararmos o trimestre de março a maio com o mesmo período de 2012, obtemos 3,74%." Na visão dele, "mídia e analistas sofrem de pessimismo obsessivo". Infelizmente, os dados que confirmam que houve piora na economia são abundantes demais para serem apenas frutos de obsessão. Em 2013, o país vai crescer mais do que em 2012, mas é até difícil crescer menos que 0,9%.
Chico é excelente economista e autor de estudos que estão na base teórica que levou à estabilização. Foram muitas as vezes em que ele me explicou, como entrevistado, como funciona a complexa economia brasileira. Uma das lições é que um dado isolado não diz nada. É preciso olhar um conjunto deles para entender a conjuntura. Especificamente, o IBC-Br tem problemas. Foi desenvolvido para antecipar o PIB do IBGE, mas claramente está precisando de aperfeiçoamentos porque tem errado para mais e para menos. Foram sete diferenças grandes em 13 comparações trimestrais (vejam no gráfico os números, extraídos de compilação feita mês atrás pelo Banco Fator).
Há uma lista de indicadores ruins: inflação acima da meta, PIB fraco, dívida bruta em alta, contas externas no vermelho, déficit na balança comercial, carga tributária recorde, taxas de poupança e de investimento em queda, endividamento recorde, superávit primário "real" cada vez menor. Infelizmente, são esses os dados e os fatos neste momento. Vamos torcer para que o país supere a má fase.
A presidente Dilma garantiu que a inflação terminará o ano dentro da meta. Com alegria, registrei aqui na coluna, na terça-feira, que a inflação de julho deve ficar muito perto de zero e isso estará claro logo na prévia do IPCA, que vai ser divulgado amanhã. Ela voltará a cair no acumulado de 12 meses, mas a presidente erra quando faz uma análise benigna da inflação brasileira.
A meta é 4,5%, e isso ela não entregou nem entregará durante seu governo. O próprio BC já faz projeções para 2015 para conseguir cenários de convergência. Em um terço do seu governo, o IPCA esteve acima do teto. O que ela tem razão é que ficará no intervalo permitido de flutuação, mas foi assim, aceitando como bom qualquer resultado abaixo de 6,5%, que o governo Dilma passou a ideia de conivência com a inflação. Isso ajudou a deteriorar as expectativas.
Os preços têm caráter sazonal, diz a presidente, repetindo uma platitude. E a sazonalidade é mais forte nos produtos in natura. No ano passado houve um choque nos preços agrícolas pela seca americana. Mas tudo somado não explica o que aconteceu nos últimos meses: uma inflação alta, disseminada, resistente. Há uma lição que a inflação já deu ao Brasil durante décadas: nunca subestimá-la; jamais aceitar conviver com ela. Uma taxa alta fica vulnerável a qualquer choque. E uma inflação que ronda os 6% com o país crescendo tão pouco é um péssimo sinal. A briga tem que ser contra a inflação e não contra quem alerta que ela está alta.
O economista Francisco Lopes publicou artigo no "Valor" sustentando que o país está crescendo a 4%. Usou dados do IBC-Br, do BC. "Se compararmos o trimestre de março a maio com o mesmo período de 2012, obtemos 3,74%." Na visão dele, "mídia e analistas sofrem de pessimismo obsessivo". Infelizmente, os dados que confirmam que houve piora na economia são abundantes demais para serem apenas frutos de obsessão. Em 2013, o país vai crescer mais do que em 2012, mas é até difícil crescer menos que 0,9%.
Chico é excelente economista e autor de estudos que estão na base teórica que levou à estabilização. Foram muitas as vezes em que ele me explicou, como entrevistado, como funciona a complexa economia brasileira. Uma das lições é que um dado isolado não diz nada. É preciso olhar um conjunto deles para entender a conjuntura. Especificamente, o IBC-Br tem problemas. Foi desenvolvido para antecipar o PIB do IBGE, mas claramente está precisando de aperfeiçoamentos porque tem errado para mais e para menos. Foram sete diferenças grandes em 13 comparações trimestrais (vejam no gráfico os números, extraídos de compilação feita mês atrás pelo Banco Fator).
Há uma lista de indicadores ruins: inflação acima da meta, PIB fraco, dívida bruta em alta, contas externas no vermelho, déficit na balança comercial, carga tributária recorde, taxas de poupança e de investimento em queda, endividamento recorde, superávit primário "real" cada vez menor. Infelizmente, são esses os dados e os fatos neste momento. Vamos torcer para que o país supere a má fase.
Laxismo e austeridade, desafios modernos - MARCO ANTONIO ROCHA
ESTADÃO - 18/07
O lado positivo do cenário de insegurança, incertezas e turbulências que os negócios vivem - aqui e no exterior - é o estímulo a uma discussão mais séria sobre como levar a economia a sair do marasmo. A resposta clássica ao desafio, desde os tempos de Adam Smith, sempre foi uma: austeridade!
Austeridade dos governos no manejo das finanças e das contas públicas, gastos e investimentos; austeridade das empresas no uso de seus haveres, na distribuição de lucros a seus acionistas e aos empregados nos sistemas de participação; austeridade dos sistemas bancários na concessão de empréstimos e nos cuidados com a inadimplência; austeridade nos reajustes salariais e no crédito.
E por que isso?
Porque o comportamento austero, tanto dos governos como das empresas e pessoas físicas, infunde confiança - palavra-chave na atração do investimento, privado principalmente. Como todo investimento embute risco, tanto maior quanto ele é maior, a confiança não só é um grande redutor da aversão aos riscos (moral hazzards) como é promotora de investimentos inovadores.
Mas o mundo testemunhou nos últimos 20 ou 30 anos uma espantosa disseminação do laxismo. Pior, uma adesão ao laxismo pelos governos, principalmente, e, por contágio, pelo setor privado. Laxismo é a "tendência de fugir ao dever e à lei, com base em razões pouco ou mal fundamentadas". (v. Aurélio).
Atrás de aprovação popular, os governos democráticos mais reconhecidamente austeros do planeta aderiram com grande irresponsabilidade ao laxismo em todas as esferas. Isso deveria, ter provocado um recolhimento do setor privado, por desconfiança. Mas o relaxamento das normas e da segurança chegou também ao setor bancário, ao mercado financeiro e de capitais, em meio a profunda crise de confiança, acompanhada de aumento excessivo da liquidez internacional. A soma da perda de confiança com aumento da liquidez levou ao emprego maciço de capitais não propriamente na produção de bens e no reforço da produtividade, mas na aquisição e fusão de empresas, ou seja, mais capitais entrando no estoque pouco crescente de ativos já existentes. O que valorizava os papéis financeiros: dinheiro aplicado em dinheiro criava mais dinheiro e a ilusão de enriquecimento de amplitude sem par na História, No Brasil, o caso típico foi o de Eike Batista, "um dos homens mais ricos do mundo" - quase só em papel timbrado.
A onda mundial de laxismo desaguou primeiro na famosa crise de 2008, mas não só: motivou a reunião dos "8" em Toronto, onde se decidiu "chega de laxismo", a ordem agora é "austeridade". Os governos europeus baixaram o facão nos orçamentos públicos, no crédito, nos reajustes de salários visando a restaurar a confiança e, com isso, atrair investimentos. Mas a violenta reação dos sindicatos e do povo em geral nas sociedades afetadas gerou mais insegurança e assustou os investidores mais do que a situação anterior de relax geral. A austeridade não levou à retomada, mas a mais estagnação.
A indagação que se lê hoje em artigos até de renomados economistas de cepa ortodoxa é por que a austeridade tem produzido efeitos contrários ao que dela se espera e se não seria o caso de um pouco de laxismo para combater a anemia econômica.
No Brasil, houve um curso com sinal trocado: uma equipe de laxistas assumiu o poder com Lula, apostrofando a ortodoxia tucana e seu quartel general, o Banco Central (BC), do Meirelles. Enquanto o mundo tentava reencontrar a austeridade, o governo brasileiro abandonava a pouca que tinha. Já agora, o mundo começa a pensar que um pouco de laxismo não é tão ruim para a economia, e o governo brasileiro se inclina para um pouco mais de austeridade, com o BC tentando voltar à ortodoxia.
Chegaremos aonde?
Os próximos meses dirão.