FOLHA DE SP - 17/07
RIO DE JANEIRO - Na sequência de algum quiproquó em campo, o narrador do futebol pela TV anuncia com orgulho que vai passar as "imagens recuperadas" do jogador X dando uma banana para a torcida. Ou do bandeirinha Y tirando ouro do nariz. Dá a entender que há câmeras por todo o estádio e que até o menor detalhe está sendo capturado. E está mesmo. Mas por que dizer que essas imagens foram "recuperadas"?
Imagens "recuperadas" deveriam ser aquelas que se julgavam perdidas há décadas ou que nem se sabia que existiam. Como cenas a partir do convés do Titanic durante seu afundamento, em 1912, que tivessem ido para o fundo do mar junto com os Laliques e Gallés, e só há pouco descobertas. Ou as de Getúlio Vargas, já de pijama e chinelo, a minutos de se matar com o tiro no peito, em 1954, tomadas por Virginia Lane, por acaso debaixo da cama de Getúlio no Catete. Ou o áudio e o vídeo de Vicente Celestino cantando o clássico da bossa nova "O Pato", com pompa operística, num programa de auditório em 1960.
Nada disso se aplica a mostrar o que jogadores, treinador, juiz ou torcedores fizeram tão pouco antes. E, como estas não eram imagens perdidas, não têm como ser "recuperadas". Mas me divirto quando o narrador usa a expressão. Reflete nosso esforço para dar um verniz em tudo que fazemos, por mais banal.
E, de fato, há passagens no futebol que, se chegaram a ser filmadas, imploram para ser recuperadas --de verdade. Uma delas, a suposta bofetada do uruguaio Obdulio Varela no rosto do nosso Bigode, na final da Copa de 1950. Ou Garrincha, enquanto profissional (não depois de ter parado), chamando algum adversário de "João". Ou o alvoroço em torno de Ronaldo na concentração do Brasil, a duas horas do jogo contra a França na Copa de 1998.
Essas, sim, seriam "recuperações" a se anunciar em estéreo e Dolby.
quarta-feira, julho 17, 2013
Encontros e reencontros - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 17/07
Hoje tem Olimpia x Atlético e Corinthians x São Paulo, no mesmo horário. E mais a Copa do Brasil
Hoje, fora de casa, contra o Olimpia, começa a decisão para o Atlético-MG. A segunda partida será no Mineirão. Quem jogou toda a competição em um estádio deveria, pelo regulamento, fazer também, no mesmo local, a final. O Atlético-MG preferiu o Independência ao Mineirão por razões técnicas, supersticiosas e psicológicas, e não econômicas. O trabalho, agora, é diminuir o desamparo, a dependência emocional, de Cuca e dos jogadores.
O Atlético-MG tem mais chances que o Olimpia de ser campeão, mas os jogadores não podem acreditar no oba-oba de alguns comentaristas, de que o Galo é um supertime e que deu aula de futebol, contra o Corinthians. Contra o Tijuana e o Newell's Old Boys, o Atlético-MG esteve muito perto da desclassificação.
Faltou dizer, na coluna anterior, que o estilo Galo Doido, de pressionar quem está com a bola, em todo o campo, só é possível se os jogadores estiverem envolvidos emocionalmente e muito bem fisicamente. O preparador físico do Atlético-MG é Carlinhos Neves.
O desenho tático, 4-2-3-1, usado pelo Atlético-MG, pela seleção e pela maioria das equipes, brasileiras e de todo o mundo, é, na prática, o mesmo e antigo 4-4-2, criado pela Inglaterra, campeã do mundo em 1966. São quatro defensores, dois volantes, um meia de cada lado, que atacam e voltam para marcar ao lado dos volantes, formando uma linha de quatro no meio-campo, além de um centroavante e de um meia, pelo centro, mais recuado, como Ronaldinho, no Atlético-MG, ou mais avançado, um ponta de lança, como Neymar, na seleção.
As coisas vão e voltam, com nomes e números diferentes. Quase todos os encontros, no futebol e na vida, são reencontros. Mudam apenas os personagens. Só os gênios, raríssimos, são originais.
Teremos hoje São Paulo e Corinthians, pela decisão da Recopa. O grande desafio de Paulo Autuori será desvendar o mistério, fazer Ganso brilhar. Ou será que isso nunca vai acontecer, por causa de uma avaliação equivocada sobre o jogador?
Nenhuma equipe do mundo joga com dois meias ofensivos (Ganso e Jadson), dois volantes e dois atacantes. Não se deve confundir essa formação com o tradicional 4-4-2, com dois volantes e um meia de cada lado, que marcam e atacam.
Uma tentativa seria colocar Ganso ou Jadson mais perto do centroavante ou recuar um dos dois para atuar de uma intermediária à outra, com funções defensivas e ofensivas, como fazem Schweinsteiger, Pirlo, Xavi, Paulinho e outros. Ganso nunca demonstrou mobilidade para ter dupla função.
Se Paulo Autuori desvendar o enigma, será muito mais reconhecido. Há muitos jornalistas e torcedores que não gostam do treinador, muito mais por sua bela voz, por seu português correto e por suas explicações professorais do que por seu bom trabalho.
Hoje tem Olimpia x Atlético e Corinthians x São Paulo, no mesmo horário. E mais a Copa do Brasil
Hoje, fora de casa, contra o Olimpia, começa a decisão para o Atlético-MG. A segunda partida será no Mineirão. Quem jogou toda a competição em um estádio deveria, pelo regulamento, fazer também, no mesmo local, a final. O Atlético-MG preferiu o Independência ao Mineirão por razões técnicas, supersticiosas e psicológicas, e não econômicas. O trabalho, agora, é diminuir o desamparo, a dependência emocional, de Cuca e dos jogadores.
O Atlético-MG tem mais chances que o Olimpia de ser campeão, mas os jogadores não podem acreditar no oba-oba de alguns comentaristas, de que o Galo é um supertime e que deu aula de futebol, contra o Corinthians. Contra o Tijuana e o Newell's Old Boys, o Atlético-MG esteve muito perto da desclassificação.
Faltou dizer, na coluna anterior, que o estilo Galo Doido, de pressionar quem está com a bola, em todo o campo, só é possível se os jogadores estiverem envolvidos emocionalmente e muito bem fisicamente. O preparador físico do Atlético-MG é Carlinhos Neves.
O desenho tático, 4-2-3-1, usado pelo Atlético-MG, pela seleção e pela maioria das equipes, brasileiras e de todo o mundo, é, na prática, o mesmo e antigo 4-4-2, criado pela Inglaterra, campeã do mundo em 1966. São quatro defensores, dois volantes, um meia de cada lado, que atacam e voltam para marcar ao lado dos volantes, formando uma linha de quatro no meio-campo, além de um centroavante e de um meia, pelo centro, mais recuado, como Ronaldinho, no Atlético-MG, ou mais avançado, um ponta de lança, como Neymar, na seleção.
As coisas vão e voltam, com nomes e números diferentes. Quase todos os encontros, no futebol e na vida, são reencontros. Mudam apenas os personagens. Só os gênios, raríssimos, são originais.
Teremos hoje São Paulo e Corinthians, pela decisão da Recopa. O grande desafio de Paulo Autuori será desvendar o mistério, fazer Ganso brilhar. Ou será que isso nunca vai acontecer, por causa de uma avaliação equivocada sobre o jogador?
Nenhuma equipe do mundo joga com dois meias ofensivos (Ganso e Jadson), dois volantes e dois atacantes. Não se deve confundir essa formação com o tradicional 4-4-2, com dois volantes e um meia de cada lado, que marcam e atacam.
Uma tentativa seria colocar Ganso ou Jadson mais perto do centroavante ou recuar um dos dois para atuar de uma intermediária à outra, com funções defensivas e ofensivas, como fazem Schweinsteiger, Pirlo, Xavi, Paulinho e outros. Ganso nunca demonstrou mobilidade para ter dupla função.
Se Paulo Autuori desvendar o enigma, será muito mais reconhecido. Há muitos jornalistas e torcedores que não gostam do treinador, muito mais por sua bela voz, por seu português correto e por suas explicações professorais do que por seu bom trabalho.
Pompa e circunstância - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 17/07
É provável que tenha sido um dos casamentos mais caros do ano, R$ 2 milhões, e o mais inadequado para o momento em que a onda de protestos teve como motivação inicial o alto preço e a má qualidade dos transportes públicos. É que o avô da noiva, Jacob Barata, é ninguém menos que o empresário conhecido no Rio como Rei dos Ônibus, e o pai do noivo, o ex-deputado Francisco Feitosa, é seu sócio em negócios no Ceará. A união do poder econômico, a pompa ostensiva e algumas infrações soaram como deboche: os dois Mercedes que conduziam os pais e padrinhos dos nubentes, por exemplo, carregavam 22 multas e permaneceram duas horas estacionados debaixo da placa “proibido estacionar”. Assim, antes da cerimônia, na entrada da Igreja do Carmo, no Centro da cidade, cerca de 100 “espectadores” organizaram protestos, mas pacíficos e bem-humorados. Além de cartazes gozando o acontecimento — “Uuuuu, todo mundo pra Bangu”; “Hahaha, o noivo vai broxar” —, um casal encenava uma paródia em que ela de branco, véu e grinalda, oferecia baratas de plástico em bandeja. A polícia manteve distância e não precisou intervir.
A recepção no Copacabana Palace, porém, degenerou. Enquanto os manifestantes vaiavam os que iam chegando, alguns convidados de dentro do hotel revidavam lançando cédulas de real. Até que alguém jogou da sacada um cinzeiro na cabeça do jovem Ruan Martins do Nascimento, que estava protestando. Ferido, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu seis pontos. O principal acusado da agressão, reconhecido pela vítima, é o sobrinho-neto de Barata, Daniel, de 18 anos, que nega, assumindo apenas como erro ter jogado um aviãozinho feito de R$ 20 sobre os que estavam lá embaixo.
Para agravar a situação, faltava um personagem, que ultimamente tem estado presente em todas as ocorrências desse tipo: a Tropa de Choque, que chegou exibindo toda a sua truculência. Embora o ato de violência tivesse partido de dentro da festa, não dos que protestavam do lado de fora, os PMS desembarcaram espalhando spray de pimenta e apontando seus fuzis com bombas de efeito moral contra os manifestantes. Pelo menos dessa vez não jogaram gás lacrimogêneo no interior de clínica médica, como na semana passada. Por que tanto despreparo?
Ontem, o secretário de Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, reconheceu os excessos da polícia, prometeu punição e disse que o governo vai criar cursos de aperfeiçoamento e capacitação para os PMs. Ótimo. Mas alguma providência mais urgente precisa ser tomada para disciplinar as tropas que estão saindo às ruas.
É provável que tenha sido um dos casamentos mais caros do ano, R$ 2 milhões, e o mais inadequado para o momento em que a onda de protestos teve como motivação inicial o alto preço e a má qualidade dos transportes públicos. É que o avô da noiva, Jacob Barata, é ninguém menos que o empresário conhecido no Rio como Rei dos Ônibus, e o pai do noivo, o ex-deputado Francisco Feitosa, é seu sócio em negócios no Ceará. A união do poder econômico, a pompa ostensiva e algumas infrações soaram como deboche: os dois Mercedes que conduziam os pais e padrinhos dos nubentes, por exemplo, carregavam 22 multas e permaneceram duas horas estacionados debaixo da placa “proibido estacionar”. Assim, antes da cerimônia, na entrada da Igreja do Carmo, no Centro da cidade, cerca de 100 “espectadores” organizaram protestos, mas pacíficos e bem-humorados. Além de cartazes gozando o acontecimento — “Uuuuu, todo mundo pra Bangu”; “Hahaha, o noivo vai broxar” —, um casal encenava uma paródia em que ela de branco, véu e grinalda, oferecia baratas de plástico em bandeja. A polícia manteve distância e não precisou intervir.
A recepção no Copacabana Palace, porém, degenerou. Enquanto os manifestantes vaiavam os que iam chegando, alguns convidados de dentro do hotel revidavam lançando cédulas de real. Até que alguém jogou da sacada um cinzeiro na cabeça do jovem Ruan Martins do Nascimento, que estava protestando. Ferido, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu seis pontos. O principal acusado da agressão, reconhecido pela vítima, é o sobrinho-neto de Barata, Daniel, de 18 anos, que nega, assumindo apenas como erro ter jogado um aviãozinho feito de R$ 20 sobre os que estavam lá embaixo.
Para agravar a situação, faltava um personagem, que ultimamente tem estado presente em todas as ocorrências desse tipo: a Tropa de Choque, que chegou exibindo toda a sua truculência. Embora o ato de violência tivesse partido de dentro da festa, não dos que protestavam do lado de fora, os PMS desembarcaram espalhando spray de pimenta e apontando seus fuzis com bombas de efeito moral contra os manifestantes. Pelo menos dessa vez não jogaram gás lacrimogêneo no interior de clínica médica, como na semana passada. Por que tanto despreparo?
Ontem, o secretário de Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, reconheceu os excessos da polícia, prometeu punição e disse que o governo vai criar cursos de aperfeiçoamento e capacitação para os PMs. Ótimo. Mas alguma providência mais urgente precisa ser tomada para disciplinar as tropas que estão saindo às ruas.
Ueba! Luan espanta o papa! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 17/07
E os manifestantes rogavam uma praga: "Ha, ha, ha, o noivo vai brochar". Rarará! Praga de manifestante pega.
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Pensamento do dia do tuiteiro Victor Costa: "O Eike perde 92% da fortuna e continua bilionário. Se eu perder 8% da minha, sobram R$ 19". E como diz o outro: "Eu nem tenho 92% pra perder". E como digo eu: dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos. Rarará!
E atenção! Todos para o abrigo! Salve-se quem puder! Alerta vermelho! "Quarenta mil argentinos virão ao Rio de ônibus." Isso configura invasão. Eles vieram pra rezar ou pra invadir? Rarará!
E esta: "Luan Santana vai cantar pro papa". Nenhum argentino merece isso. Quanto mais um papa. Mas não foi a igreja que inventou a penitência? Rarará!
Eu sugiro show da Anitta com participação do Naldo! Aí sim!
E mais outra notícia: "Papa dispensa o papamóvel". UFA! Ainda bem. Aquele papamóvel parece van de cachorro-quente. Sabe aquelas vans de cachorro-quente de porta de balada? Dogão com maionese, batata palha e milho, com suco grátis. Papa Dog!
E um leitor acha que o papa devia andar de caveirão! Papa troca o papamóvel por um caveirão! Rarará!
E nesta visita do papa eu acho que vai ter mais Polícia Militar do que católico! Rarará!
E o papa vai ficar uma semana. PAPA WEEK!
E mais notícias do casamento do ano, alvo de protestos! O casamento da Dona Baratinha, a neta do Rei do Ônibus! E o irmão da noiva jogava aviãozinho de R$ 20 pros manifestantes. E vai ser processado pelo Silvio Santos. Por plágio.
E o site Sensacionalista: "Empresas de casamentos para os ricos já oferecem pacotes com manifestantes". E os manifestantes ainda rogavam uma praga: "Ha, ha, ha, o noivo vai brochar". Rarará! Praga de manifestante pega. A Dilma que o diga! Rarará!
E este cartaz: "Dona Baratinha, vai de ônibus para o Copacabana Palace". Aí já é muita humilhação! É melhor o noivo brochar! Rarará! Rico pode dar festa? Pode! Mas não o Rei do Ônibus. Nesse momento!
E o Rei do Ônibus se chama Barata porque ele oferece passagens mais baratas: passagem + baratas subindo nas pernas dos usuários! Rarará!
Jogaram Baygon no casamento da dona Baratinha! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E os manifestantes rogavam uma praga: "Ha, ha, ha, o noivo vai brochar". Rarará! Praga de manifestante pega.
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Pensamento do dia do tuiteiro Victor Costa: "O Eike perde 92% da fortuna e continua bilionário. Se eu perder 8% da minha, sobram R$ 19". E como diz o outro: "Eu nem tenho 92% pra perder". E como digo eu: dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos. Rarará!
E atenção! Todos para o abrigo! Salve-se quem puder! Alerta vermelho! "Quarenta mil argentinos virão ao Rio de ônibus." Isso configura invasão. Eles vieram pra rezar ou pra invadir? Rarará!
E esta: "Luan Santana vai cantar pro papa". Nenhum argentino merece isso. Quanto mais um papa. Mas não foi a igreja que inventou a penitência? Rarará!
Eu sugiro show da Anitta com participação do Naldo! Aí sim!
E mais outra notícia: "Papa dispensa o papamóvel". UFA! Ainda bem. Aquele papamóvel parece van de cachorro-quente. Sabe aquelas vans de cachorro-quente de porta de balada? Dogão com maionese, batata palha e milho, com suco grátis. Papa Dog!
E um leitor acha que o papa devia andar de caveirão! Papa troca o papamóvel por um caveirão! Rarará!
E nesta visita do papa eu acho que vai ter mais Polícia Militar do que católico! Rarará!
E o papa vai ficar uma semana. PAPA WEEK!
E mais notícias do casamento do ano, alvo de protestos! O casamento da Dona Baratinha, a neta do Rei do Ônibus! E o irmão da noiva jogava aviãozinho de R$ 20 pros manifestantes. E vai ser processado pelo Silvio Santos. Por plágio.
E o site Sensacionalista: "Empresas de casamentos para os ricos já oferecem pacotes com manifestantes". E os manifestantes ainda rogavam uma praga: "Ha, ha, ha, o noivo vai brochar". Rarará! Praga de manifestante pega. A Dilma que o diga! Rarará!
E este cartaz: "Dona Baratinha, vai de ônibus para o Copacabana Palace". Aí já é muita humilhação! É melhor o noivo brochar! Rarará! Rico pode dar festa? Pode! Mas não o Rei do Ônibus. Nesse momento!
E o Rei do Ônibus se chama Barata porque ele oferece passagens mais baratas: passagem + baratas subindo nas pernas dos usuários! Rarará!
Jogaram Baygon no casamento da dona Baratinha! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
CAIXA ABERTA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 17/07
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, teve nova derrota na tentativa de impedir a divulgação de detalhes sobre gastos de sua gestão com itens como carros e iPads. A ministra Cármen Lúcia indeferiu, no STF (Supremo Tribunal Federal), pedido dele para que não seja obrigado a mostrar as informações para o Conselho Nacional do Ministério Público, que fiscaliza a procuradoria.
CAIXA 2
A ministra manteve, assim, decisão anterior do colega Teori Zavascki, que já tinha negado pedido de liminar de Gurgel para o caso.
CAIXA 3
Gurgel alega que o pedido de informações não poderia partir de um só conselheiro, sem qualquer denúncia que o embase. O autor do requerimento de informações é Luiz Moreira. Ele é amigo de José Genoino (PT-SP), e por isso procuradores ligados a Gurgel apontam retaliação por causa do mensalão. Moreira diz que apenas cumpre seu papel fiscalizador.
MAIS MÉDICOS
O hospital Albert Einstein deve investir R$ 50 milhões para a construção da faculdade de medicina que planeja abrir em 2014. O prédio ficará ao lado da instituição, no bairro do Morumbi.
MAIS MÉDICOS 2
Além de vestibular, o Einstein quer incluir uma entrevista para selecionar os alunos. A ideia é fazer um exame semestral para preencher 50 vagas em cada período. As mensalidades "vão ser caras", admite Claudio Lottenberg, presidente do hospital. Mas haverá um sistema de bolsas ou incentivos para "atrair os melhores alunos".
TEMPORÃO
Para organizar os blocos de rua do Carnaval, SP quer aprender com as experiências do Rio, Pernambuco e Bahia. A Secretaria Municipal de Cultura planeja conversar com organizadores da folia nesses Estados sobre planejamento e segurança. Também serão encomendados estudos de consultorias.
NOVA DIREÇÃO
Pedro Abramovay está deixando a ONG Avaaz, que faz campanhas e abaixo-assinados pela internet. Vai assumir a direção da Open Society Foundation para a América Latina. A entidade, criada por George Soros, lida com temas como política de drogas, direitos humanos e liberdade na internet.
NOVA DIREÇÃO 2
Abramovay é professor da FGV-Rio e ocupou a Secretaria Nacional de Justiça no governo Lula. Deixou Brasília depois de defender penas alternativas para pequenos traficantes, o que desagradou à presidente Dilma Rousseff. Foi indicado para a fundação de Soros por Fernando Henrique Cardoso, um entusiasta da descriminalização das drogas.
CABO DE GUERRA
O clima é de disputa no clube Aramaçan, em Santo André --um dos mais tradicionais do ABC, com 20 mil associados e receita anual de R$ 15 milhões. O conselho deliberativo faz reunião emergencial hoje para discutir o novo estatuto. E a derrubada do artigo que permite à diretoria vetar atos do conselho. O presidente José Eduardo Barbosa diz: "É assim em todo lugar. A Dilma [Rousseff] tem direito a veto".
OS MANOS
O novo disco do rapper MV Bill, do selo Chapa Preta, conta com os DJs paulistas Caique e Luciano SP em algumas faixas. O lançamento é no fim do mês.
CAIXA A DOIS
Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert evitam posar de casal em campanhas publicitárias. "Chega muita proposta. Tentamos não ficar aceitando tudo por dinheiro", afirma a apresentadora.
"Filtro e escolho as melhores. Senão a gente enjoa da própria cara!", diz ela, que abriu uma exceção para estrelar anúncios da grife Forum com o ator e apresentador do canal a cabo GNT.
A sessão foi feita em uma pizzaria do Rio, cidade onde são alvo de paparazzi.
Sobretudo agora, morando no Leblon com os filhos, João e Francisco, 5.
A mãe levou os meninos para ver o protesto em frente à casa do vizinho Sérgio Cabral. "Eles estavam curiosos", diz ela, que apoia as manifestações de rua, mas prefere não opinar sobre o governador.
CONCURSO DISPUTADO
A pré-estreia do filme "O Concurso", anteontem, no Cinemark do shopping Eldorado, reuniu os atores Sabrina Sato, Fábio Porchat, Danton Mello, Anderson di Rizzi e Rodrigo Pandolfo. O escritor Fábio Porchat, pai do comediante, e a apresentadora de TV Marina Mantega também assistiram ao longa.
CURTO-CIRCUITO
A atriz Djin Sganzerla está em cartaz até 1º de agosto com o espetáculo "O Belo Indiferente", no CIT-Ecum, na rua da Consolação. Hoje e amanhã, às 21h. 12 anos.
O trio Hips 2 Tits, dos DJs Guga Guizelini, Marcelo Botelho e Phillip Alves, anima hoje a pista da Disco, a partir das 23h30, no Itaim Bibi. 18 anos.
A cantora Maria Rita apresenta o show "Redescobrir", em homenagem à mãe, Elis Regina, sexta e sábado, às 22h, no Credicard Hall. 14 anos.
CAIXA 2
A ministra manteve, assim, decisão anterior do colega Teori Zavascki, que já tinha negado pedido de liminar de Gurgel para o caso.
CAIXA 3
Gurgel alega que o pedido de informações não poderia partir de um só conselheiro, sem qualquer denúncia que o embase. O autor do requerimento de informações é Luiz Moreira. Ele é amigo de José Genoino (PT-SP), e por isso procuradores ligados a Gurgel apontam retaliação por causa do mensalão. Moreira diz que apenas cumpre seu papel fiscalizador.
MAIS MÉDICOS
O hospital Albert Einstein deve investir R$ 50 milhões para a construção da faculdade de medicina que planeja abrir em 2014. O prédio ficará ao lado da instituição, no bairro do Morumbi.
MAIS MÉDICOS 2
Além de vestibular, o Einstein quer incluir uma entrevista para selecionar os alunos. A ideia é fazer um exame semestral para preencher 50 vagas em cada período. As mensalidades "vão ser caras", admite Claudio Lottenberg, presidente do hospital. Mas haverá um sistema de bolsas ou incentivos para "atrair os melhores alunos".
TEMPORÃO
Para organizar os blocos de rua do Carnaval, SP quer aprender com as experiências do Rio, Pernambuco e Bahia. A Secretaria Municipal de Cultura planeja conversar com organizadores da folia nesses Estados sobre planejamento e segurança. Também serão encomendados estudos de consultorias.
NOVA DIREÇÃO
Pedro Abramovay está deixando a ONG Avaaz, que faz campanhas e abaixo-assinados pela internet. Vai assumir a direção da Open Society Foundation para a América Latina. A entidade, criada por George Soros, lida com temas como política de drogas, direitos humanos e liberdade na internet.
NOVA DIREÇÃO 2
Abramovay é professor da FGV-Rio e ocupou a Secretaria Nacional de Justiça no governo Lula. Deixou Brasília depois de defender penas alternativas para pequenos traficantes, o que desagradou à presidente Dilma Rousseff. Foi indicado para a fundação de Soros por Fernando Henrique Cardoso, um entusiasta da descriminalização das drogas.
CABO DE GUERRA
O clima é de disputa no clube Aramaçan, em Santo André --um dos mais tradicionais do ABC, com 20 mil associados e receita anual de R$ 15 milhões. O conselho deliberativo faz reunião emergencial hoje para discutir o novo estatuto. E a derrubada do artigo que permite à diretoria vetar atos do conselho. O presidente José Eduardo Barbosa diz: "É assim em todo lugar. A Dilma [Rousseff] tem direito a veto".
OS MANOS
O novo disco do rapper MV Bill, do selo Chapa Preta, conta com os DJs paulistas Caique e Luciano SP em algumas faixas. O lançamento é no fim do mês.
CAIXA A DOIS
Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert evitam posar de casal em campanhas publicitárias. "Chega muita proposta. Tentamos não ficar aceitando tudo por dinheiro", afirma a apresentadora.
"Filtro e escolho as melhores. Senão a gente enjoa da própria cara!", diz ela, que abriu uma exceção para estrelar anúncios da grife Forum com o ator e apresentador do canal a cabo GNT.
A sessão foi feita em uma pizzaria do Rio, cidade onde são alvo de paparazzi.
Sobretudo agora, morando no Leblon com os filhos, João e Francisco, 5.
A mãe levou os meninos para ver o protesto em frente à casa do vizinho Sérgio Cabral. "Eles estavam curiosos", diz ela, que apoia as manifestações de rua, mas prefere não opinar sobre o governador.
CONCURSO DISPUTADO
A pré-estreia do filme "O Concurso", anteontem, no Cinemark do shopping Eldorado, reuniu os atores Sabrina Sato, Fábio Porchat, Danton Mello, Anderson di Rizzi e Rodrigo Pandolfo. O escritor Fábio Porchat, pai do comediante, e a apresentadora de TV Marina Mantega também assistiram ao longa.
CURTO-CIRCUITO
A atriz Djin Sganzerla está em cartaz até 1º de agosto com o espetáculo "O Belo Indiferente", no CIT-Ecum, na rua da Consolação. Hoje e amanhã, às 21h. 12 anos.
O trio Hips 2 Tits, dos DJs Guga Guizelini, Marcelo Botelho e Phillip Alves, anima hoje a pista da Disco, a partir das 23h30, no Itaim Bibi. 18 anos.
A cantora Maria Rita apresenta o show "Redescobrir", em homenagem à mãe, Elis Regina, sexta e sábado, às 22h, no Credicard Hall. 14 anos.
Sem luz no caminho - LUIZ FELIPE LAMPREIA
O GLOBO - 17/07
A deposição do presidente Mohamed Mursi pelo exército egípcio foi o sinal, para muitos, de que as aspirações libertárias da praça Tahrir, em 2010, foram definitivamente enterradas. Afinal, Mursi tinha sido eleito, ainda que por margem mínima, no primeiro pleito democrático da história do país. Teria a primavera árabe acabado aí?
Tom Friedman, o excelente colunista do New York Times , perguntou-se recentemente se a deposição do presidente filiado à Irmandade Muçulmana, não seria o começo de um refluxo do Islã político. Outros sinais seriam os protestos da juventude urbana de Istanbul contra o partido islamista no poder, a eleição do moderado Hassan Rouhani no Irã, a evolução da Tunísia para uma constituição moderada e a primeira eleição livre na Líbia que viu a derrota dos candidatos fundamentalistas. Mesmo assim,Friedman foi cauteloso evitando concluir que a onda passou. Eu tenho aqui as minhas dúvidas.
Aquilo que veio a ser conhecido como a primavera árabe suscitou, sem a menor dúvida, uma enorme esperança de quebra do padrão generalizado de autoritarismo e corrupção dos governantes árabes. A derrubada e posterior enxovalhamento dos ditadores Mubarak, no Egito, e Ben Ali, na Tunísia, ecoaram em todo o mundo árabe como um toque de clarim, anunciando uma nova era de liberdade. Daí a prever que todos os autocratas teriam o mesmo fim era um passo apenas. Sucede porém que isso não ocorreu. Mesmo no caso de Tunísia, Líbia e Iêmen, onde os tiranos foram expulsos, as esperanças de um transição democrática viram-se frustradas. Cada país árabe está passando por um processo próprio, as várias ditaduras foram, por vezes, capazes de contrapor às massas uma força militar considerável, ainda que estrangeira, como foi o caso no Bahrein. O erro dos otimistas consistiu em achar que a primavera seria uniformemente florida.
Dizia-me um amigo turco, na época, que em seu país a democracia só se enraizara décadas depois do fim do Império Otomano e de toda sorte de oscilações políticas. Claramente, muita água vai passar sob as pontes do Nilo antes que os países árabes cheguem, como a nossa própria América Latina, a ser um espaço quase uniformemente democrático. As ditaduras salgaram a terra, impediram a criação de partidos e instituições democráticas, fomentando o surgimento dos ovos de serpente do radicalismo de todo tipo.
Em recente artigo, Francis Fukuyama notou que, sempre que ela surgiu, uma classe média moderna tem causado fermentação política, mas muito raramente conseguiu, por si mesma, provocar mudanças políticas duradouras . Trata-se de outro prisma interessante para buscar compreender as convulsões do mundo islâmico. As sociedades muçulmanas do Oriente Médio estão conseguindo gradualmente romper o fatalismo da desigualdade social , mas há enormes diferenças entre a Turquia moderna e os palestinos de Gaza ou Ramalá, entre a Síria brutalizada e o Marrocos, e assim por diante. Fukuyama não descobriu a chave mestra para entender o impasse árabe.
Outra discussão importante trata da relação entre fundamentalismo religioso e democracia na região. No Egito, que é o mais importante país árabe, a eleição do líder da Irmandade Muçulmana foi um teste importante: este fato político seria capaz de fortalecer a democracia, com a cooptação de um partido forjado na clandestinidade por oitenta anos e dotado de uma filosofia operacional conspiratória? A resposta foi negativa.
Chegando ao poder, a Irmandade radicalizou, fechando-se em copas, e mostrou-se incapaz de governar para o bem comum, o que levou a imensas manifestações contra Mohamed Mursi e enfim à decisão do Exército de intervir mais uma vez na política egípcia. Isso, naturalmente, não quer dizer que a Tunísia ou a Jordânia não possam apresentar melhores experiências de pragmatismo e flexibilidade política. Mas o episódio egípcio poderá levar os fundamentalistas a concluir que a democracia é apenas uma armadilha contra eles, com a conclusão, para eles lógica, de que é necessário ter uma conduta ainda mais combativa.
Não há um único farol a iluminar o caminho. Com todas as nuances de cada país árabe, nenhum deles conseguiu despontar como a prova de que a democracia pode vingar, nem sequer que haja um exemplo, um único exemplo, de que os povos árabes podem finalmente esperar gozar de liberdade e de melhores horizontes sociais. Por isso, é necessário concluir, pelo menos provisoriamente, que a primavera árabe não conduziu ao verão.
Tom Friedman, o excelente colunista do New York Times , perguntou-se recentemente se a deposição do presidente filiado à Irmandade Muçulmana, não seria o começo de um refluxo do Islã político. Outros sinais seriam os protestos da juventude urbana de Istanbul contra o partido islamista no poder, a eleição do moderado Hassan Rouhani no Irã, a evolução da Tunísia para uma constituição moderada e a primeira eleição livre na Líbia que viu a derrota dos candidatos fundamentalistas. Mesmo assim,Friedman foi cauteloso evitando concluir que a onda passou. Eu tenho aqui as minhas dúvidas.
Aquilo que veio a ser conhecido como a primavera árabe suscitou, sem a menor dúvida, uma enorme esperança de quebra do padrão generalizado de autoritarismo e corrupção dos governantes árabes. A derrubada e posterior enxovalhamento dos ditadores Mubarak, no Egito, e Ben Ali, na Tunísia, ecoaram em todo o mundo árabe como um toque de clarim, anunciando uma nova era de liberdade. Daí a prever que todos os autocratas teriam o mesmo fim era um passo apenas. Sucede porém que isso não ocorreu. Mesmo no caso de Tunísia, Líbia e Iêmen, onde os tiranos foram expulsos, as esperanças de um transição democrática viram-se frustradas. Cada país árabe está passando por um processo próprio, as várias ditaduras foram, por vezes, capazes de contrapor às massas uma força militar considerável, ainda que estrangeira, como foi o caso no Bahrein. O erro dos otimistas consistiu em achar que a primavera seria uniformemente florida.
Dizia-me um amigo turco, na época, que em seu país a democracia só se enraizara décadas depois do fim do Império Otomano e de toda sorte de oscilações políticas. Claramente, muita água vai passar sob as pontes do Nilo antes que os países árabes cheguem, como a nossa própria América Latina, a ser um espaço quase uniformemente democrático. As ditaduras salgaram a terra, impediram a criação de partidos e instituições democráticas, fomentando o surgimento dos ovos de serpente do radicalismo de todo tipo.
Em recente artigo, Francis Fukuyama notou que, sempre que ela surgiu, uma classe média moderna tem causado fermentação política, mas muito raramente conseguiu, por si mesma, provocar mudanças políticas duradouras . Trata-se de outro prisma interessante para buscar compreender as convulsões do mundo islâmico. As sociedades muçulmanas do Oriente Médio estão conseguindo gradualmente romper o fatalismo da desigualdade social , mas há enormes diferenças entre a Turquia moderna e os palestinos de Gaza ou Ramalá, entre a Síria brutalizada e o Marrocos, e assim por diante. Fukuyama não descobriu a chave mestra para entender o impasse árabe.
Outra discussão importante trata da relação entre fundamentalismo religioso e democracia na região. No Egito, que é o mais importante país árabe, a eleição do líder da Irmandade Muçulmana foi um teste importante: este fato político seria capaz de fortalecer a democracia, com a cooptação de um partido forjado na clandestinidade por oitenta anos e dotado de uma filosofia operacional conspiratória? A resposta foi negativa.
Chegando ao poder, a Irmandade radicalizou, fechando-se em copas, e mostrou-se incapaz de governar para o bem comum, o que levou a imensas manifestações contra Mohamed Mursi e enfim à decisão do Exército de intervir mais uma vez na política egípcia. Isso, naturalmente, não quer dizer que a Tunísia ou a Jordânia não possam apresentar melhores experiências de pragmatismo e flexibilidade política. Mas o episódio egípcio poderá levar os fundamentalistas a concluir que a democracia é apenas uma armadilha contra eles, com a conclusão, para eles lógica, de que é necessário ter uma conduta ainda mais combativa.
Não há um único farol a iluminar o caminho. Com todas as nuances de cada país árabe, nenhum deles conseguiu despontar como a prova de que a democracia pode vingar, nem sequer que haja um exemplo, um único exemplo, de que os povos árabes podem finalmente esperar gozar de liberdade e de melhores horizontes sociais. Por isso, é necessário concluir, pelo menos provisoriamente, que a primavera árabe não conduziu ao verão.
A Turquia e o Egito - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 17/07
Nos confrontos que não chegam ao fim no Egito, depois do golpe dado ao mesmo tempo pelo povo e pelo Exército egípcio contra o poder islâmico da Irmandade Muçulmana, grupo liderado por Mohamed Morsi, a Turquia toma claramente partido pelo presidente deposto.
A agência de notícias oficial turca Anatólia retransmite ao vivo todas as manifestações organizadas no Cairo pelos partidários do líder destituído contra a nova equipe levada ao poder pelos militares. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, também islamista, declarou: "Meu presidente no Egito é Mohamed Morsi, porque ele foi eleito pelo povo. Considerar as coisas de maneira diferente seria menosprezar o povo."
É um comportamento lógico. Há algumas semanas, revoltas violentas eclodiram em Ancara contra Erdogan. Ele temeu que seu poder fosse abalado pelos revoltosos. No entanto, o premiê não é um ditador. Chegou ao poder por meio de eleições. Portanto, é natural que, no caso do Egito, e pensando talvez em sua própria situação, Erdogan invoque a "legitimidade democrática" de Morsi e recrimine o fato de o Exército do Egito ter atropelado os princípios sagrados da democracia.
Outro motivo explica a solidariedade do turco Erdogan com o presidente Morsi: ambos são islamistas. Erdogan foi analisado com frequência e apresentado como o homem que, dez anos atrás, lançou uma vasta operação para apagar a marca deixada na Turquia pelo patriarca da república turca moderna, Mustafá Kemal Ataturk.
Em 1923, Ataturk pôs fim ao Império Otomano, substituiu o alfabeto árabe pelos caracteres latinos, impôs trajes ocidentais, aboliu a poligamia, laicizou a sociedade turca e colocou o Exército no próprio coração da nova Turquia.
Tudo isso forma um quadro coerente. Entretanto, analistas um pouco mais refinados desmontam toda essa construção e explicam que, contrariamente a essa visão sedutora e simplista, Erdogan, longe de ser o demolidor de Ataturk, é, na realidade, seu admirador.
Étienne Copeaux, do grupo de estudos sobre o Mediterrâneo, escreve que "os dirigentes do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, de Erdogan) adaptaram-se aos moldes da educação kemalista".
Mudanças. Segundo o jornalista e romancista Ahmet Altan, o AKP, partido islamista e conservador, reaproximou-se dos símbolos patrióticos e republicanos. A partir de 2014, Erdogan quer impor um regime presidencialista na Turquia.
"Desde que decidiu se tornar presidente, Erdogan virou general. Ele marcha como os generais dos quatro golpes de Estado que ocorreram na Turquia. Tem o mesmo estilo brutal, as mesmas teorias conspiratórias e o mesmo ódio pela oposição. Detesta a Europa e deseja se voltar para a Rússia e para a China. Vemos agora o nascimento de um novo kemalismo, só que religioso", afirmou Altan.
Resta a questão do Exército, que foi a espinha dorsal secularista do sistema de Mustafá Kemal. No entanto, Erdogan fez o que faltava para submeter os militares. "Ele dotou a polícia de poder. O Exército foi obrigado a obedecer. E já exerce sua força em benefício exclusivo do governo - e não, como nos tempos de Ataturk, está a serviço de uma ideologia turca", declarou Altan.
"Desde que Erdogan nomeou um novo chefe de Estado-Maior, o general Necdet Ozel, o Exército não é mais dirigido por sua ala nacionalista e laica. O Exército já é dirigido por generais que rezam", disse o escritor turco./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.
Nos confrontos que não chegam ao fim no Egito, depois do golpe dado ao mesmo tempo pelo povo e pelo Exército egípcio contra o poder islâmico da Irmandade Muçulmana, grupo liderado por Mohamed Morsi, a Turquia toma claramente partido pelo presidente deposto.
A agência de notícias oficial turca Anatólia retransmite ao vivo todas as manifestações organizadas no Cairo pelos partidários do líder destituído contra a nova equipe levada ao poder pelos militares. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, também islamista, declarou: "Meu presidente no Egito é Mohamed Morsi, porque ele foi eleito pelo povo. Considerar as coisas de maneira diferente seria menosprezar o povo."
É um comportamento lógico. Há algumas semanas, revoltas violentas eclodiram em Ancara contra Erdogan. Ele temeu que seu poder fosse abalado pelos revoltosos. No entanto, o premiê não é um ditador. Chegou ao poder por meio de eleições. Portanto, é natural que, no caso do Egito, e pensando talvez em sua própria situação, Erdogan invoque a "legitimidade democrática" de Morsi e recrimine o fato de o Exército do Egito ter atropelado os princípios sagrados da democracia.
Outro motivo explica a solidariedade do turco Erdogan com o presidente Morsi: ambos são islamistas. Erdogan foi analisado com frequência e apresentado como o homem que, dez anos atrás, lançou uma vasta operação para apagar a marca deixada na Turquia pelo patriarca da república turca moderna, Mustafá Kemal Ataturk.
Em 1923, Ataturk pôs fim ao Império Otomano, substituiu o alfabeto árabe pelos caracteres latinos, impôs trajes ocidentais, aboliu a poligamia, laicizou a sociedade turca e colocou o Exército no próprio coração da nova Turquia.
Tudo isso forma um quadro coerente. Entretanto, analistas um pouco mais refinados desmontam toda essa construção e explicam que, contrariamente a essa visão sedutora e simplista, Erdogan, longe de ser o demolidor de Ataturk, é, na realidade, seu admirador.
Étienne Copeaux, do grupo de estudos sobre o Mediterrâneo, escreve que "os dirigentes do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, de Erdogan) adaptaram-se aos moldes da educação kemalista".
Mudanças. Segundo o jornalista e romancista Ahmet Altan, o AKP, partido islamista e conservador, reaproximou-se dos símbolos patrióticos e republicanos. A partir de 2014, Erdogan quer impor um regime presidencialista na Turquia.
"Desde que decidiu se tornar presidente, Erdogan virou general. Ele marcha como os generais dos quatro golpes de Estado que ocorreram na Turquia. Tem o mesmo estilo brutal, as mesmas teorias conspiratórias e o mesmo ódio pela oposição. Detesta a Europa e deseja se voltar para a Rússia e para a China. Vemos agora o nascimento de um novo kemalismo, só que religioso", afirmou Altan.
Resta a questão do Exército, que foi a espinha dorsal secularista do sistema de Mustafá Kemal. No entanto, Erdogan fez o que faltava para submeter os militares. "Ele dotou a polícia de poder. O Exército foi obrigado a obedecer. E já exerce sua força em benefício exclusivo do governo - e não, como nos tempos de Ataturk, está a serviço de uma ideologia turca", declarou Altan.
"Desde que Erdogan nomeou um novo chefe de Estado-Maior, o general Necdet Ozel, o Exército não é mais dirigido por sua ala nacionalista e laica. O Exército já é dirigido por generais que rezam", disse o escritor turco./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.
NSA, Sivam, Dilma e Obama - JULIA SWEIG
FOLHA DE SP - 17/07
Pode ser instrutivo para Brasil e EUA recordar a boa experiência do Sivam ao discutir sobre o caso NSA
No ano passado, o Departamento de Defesa dos EUA destinou US$ 100 milhões --de um orçamento de US$ 682 bilhões-- à ciberdefesa. Mas o Pentágono gastou meros US$ 8,9 milhões, menos que o valor que alguns dos membros do grupo de 1% mais ricos gastam com suas casas de praia.
Recentemente, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, observou que os recursos para a ciberdefesa do Brasil chegam a US$ 40 milhões de um orçamento de defesa de US$ 33 bilhões --uma alocação proporcionalmente muito maior que a do Pentágono.
Você pode fazer as contas, mas, a julgar pelos números, podemos concluir que, embora seja vulnerável a ciberataques, o Brasil não perde muito para os EUA em termos de preparar sua ciberdefesa.
É claro que as grandes assimetrias estão na área da cibersegurança e da vigilância, onde, como sugerem as revelações recentes sobre a NSA, os EUA, em parceria com empresas privadas de telefonia, estão à frente não apenas do Brasil mas, bem, de todo o sistema solar.
Para crédito das autoridades seniores do Brasil e dos EUA e da seriedade com que elas tratam o relacionamento entre nossos dois países, as revelações feitas por Snowden não criaram uma crise diplomática. Mas abriram uma oportunidade.
Faltam agora três meses para a visita que a presidente Dilma fará a Washington. Nos últimos anos, os grandes temas inacabados na agenda bilateral têm sido o comércio e o Conselho de Segurança. Não a defesa.
Um acordo de cooperação em defesa assinado em 2010, embora a tensão em torno do Irã pudesse tê-lo frustrado, gerou algumas oportunidades de longo prazo lucrativas para firmas de defesa brasileiras e americanas ingressarem nos mercados umas das outras. Os avanços feitos nesse espaço são notáveis, embora possam ser incômodos para alguns, dada a história de desconfiança mútua em questões de segurança.
Agora a arena da cibersegurança e da governança da internet --soberana e global-- também possui o potencial de criar conversas presidenciais muito interessantes sobre as tensões que esses dois líderes enfrentam entre privacidade, direitos humanos, liberdades civis e segurança e sobre as diferenças e potenciais sinergias em nossas culturas de inovação e política industrial.
O tópico também abre uma porta sobre as personalidades globais dos dois países em relação aos méritos e deméritos das instituições multilaterais para reger a internet.
Finalmente, existem lições a serem aprendidas relativas à América do Sul e à segurança regional? A experiência do Brasil com o Sivam é não apenas um exemplo de extensa cooperação e partilha de tecnologia entre Brasil e EUA--por meio da gigante Raytheon--, mas também uma instância em que o Brasil parece ter evitado provocar seus vizinhos com um sistema de vigilância cujo impacto potencial não se limita necessariamente às fronteiras brasileiras.
Embora os paralelos sejam imperfeitos, pode ser instrutivo para os presidentes das duas maiores democracias das Américas recordar a experiência positiva do Sivam quando tiverem a inevitável discussão sobre as revelações a respeito da NSA.
Pode ser instrutivo para Brasil e EUA recordar a boa experiência do Sivam ao discutir sobre o caso NSA
No ano passado, o Departamento de Defesa dos EUA destinou US$ 100 milhões --de um orçamento de US$ 682 bilhões-- à ciberdefesa. Mas o Pentágono gastou meros US$ 8,9 milhões, menos que o valor que alguns dos membros do grupo de 1% mais ricos gastam com suas casas de praia.
Recentemente, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, observou que os recursos para a ciberdefesa do Brasil chegam a US$ 40 milhões de um orçamento de defesa de US$ 33 bilhões --uma alocação proporcionalmente muito maior que a do Pentágono.
Você pode fazer as contas, mas, a julgar pelos números, podemos concluir que, embora seja vulnerável a ciberataques, o Brasil não perde muito para os EUA em termos de preparar sua ciberdefesa.
É claro que as grandes assimetrias estão na área da cibersegurança e da vigilância, onde, como sugerem as revelações recentes sobre a NSA, os EUA, em parceria com empresas privadas de telefonia, estão à frente não apenas do Brasil mas, bem, de todo o sistema solar.
Para crédito das autoridades seniores do Brasil e dos EUA e da seriedade com que elas tratam o relacionamento entre nossos dois países, as revelações feitas por Snowden não criaram uma crise diplomática. Mas abriram uma oportunidade.
Faltam agora três meses para a visita que a presidente Dilma fará a Washington. Nos últimos anos, os grandes temas inacabados na agenda bilateral têm sido o comércio e o Conselho de Segurança. Não a defesa.
Um acordo de cooperação em defesa assinado em 2010, embora a tensão em torno do Irã pudesse tê-lo frustrado, gerou algumas oportunidades de longo prazo lucrativas para firmas de defesa brasileiras e americanas ingressarem nos mercados umas das outras. Os avanços feitos nesse espaço são notáveis, embora possam ser incômodos para alguns, dada a história de desconfiança mútua em questões de segurança.
Agora a arena da cibersegurança e da governança da internet --soberana e global-- também possui o potencial de criar conversas presidenciais muito interessantes sobre as tensões que esses dois líderes enfrentam entre privacidade, direitos humanos, liberdades civis e segurança e sobre as diferenças e potenciais sinergias em nossas culturas de inovação e política industrial.
O tópico também abre uma porta sobre as personalidades globais dos dois países em relação aos méritos e deméritos das instituições multilaterais para reger a internet.
Finalmente, existem lições a serem aprendidas relativas à América do Sul e à segurança regional? A experiência do Brasil com o Sivam é não apenas um exemplo de extensa cooperação e partilha de tecnologia entre Brasil e EUA--por meio da gigante Raytheon--, mas também uma instância em que o Brasil parece ter evitado provocar seus vizinhos com um sistema de vigilância cujo impacto potencial não se limita necessariamente às fronteiras brasileiras.
Embora os paralelos sejam imperfeitos, pode ser instrutivo para os presidentes das duas maiores democracias das Américas recordar a experiência positiva do Sivam quando tiverem a inevitável discussão sobre as revelações a respeito da NSA.
Dissimulação - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 17/07
A economia brasileira não está nos seus melhores dias, mas as coisas poderiam ficar um pouco mais fáceis se o governo admitisse a existência dos problemas.
Insistir em que o PIB vai cavalgar acima de 3% neste e nos próximos anos; que a inflação não é esse monstro antropófago apontado por economistas obsessivos e que, ao contrário, está em reversão; que a política fiscal não é tão expansionista quanto se propala nem geradora de serviços de baixa qualidade; que os investimentos, embora um pouco atrasados, estão sendo agilizados e mudando tudo...
Num momento de enorme déficit de confiança, essa retórica de dissimulação, que, em princípio, pretende manter elevado o moral da tropa e tudo o que consegue é esconder os problemas, dificulta o diagnóstico correto, impede a procura de soluções adequadas e aumenta o desânimo (veja o Confira).
Parece óbvio que o potencial do crescimento da economia brasileira esbarra em obstáculos estruturais. A crise externa não pode ser tomada como a principal limitação quando o consumo interno cresce a mais de 3% ao ano (descontada a inflação) e tem de ser suprido cada vez mais com importações.
Os investimentos não fluem por diversos motivos. O principal deles é que o governo federal não sabe o que quer e sempre reluta a confiar ao setor privado os investimentos dos quais o Tesouro não consegue dar conta.
Embora algo menos aquecida do que há meses, a situação do emprego também é um limitador da expansão da atividade econômica. Se com esse crescimento aí, provavelmente inferior a 2% ao ano, a economia vive momento próximo do pleno emprego, mais apertado estaria o mercado de trabalho se o PIB se expandisse a 3,0% ou 4,0%.
A cada sinal de desaceleração, o governo reage com aumento do gasto público, como se o que faltasse fosse apenas combustível para as máquinas. E, no entanto, o motor vai queimando óleo porque a qualidade da despesa pública é ruim.
Se houve uma mensagem clara das manifestações de junho foi a de que o Estado está emperrado e é ineficiente. Como pode funcionar um governo com 39 ministérios? Que empresa privada tem tantas diretorias? E, no entanto, também aí o governo quer estar sempre com a razão e se mostra avesso a autocríticas.
Se insistir em ampliar ainda mais suas despesas, tirará eficácia à política de juros. Nessas condições, o Banco Central terá de redobrar o aperto monetário para tentar compensar com mais juros o jogo contra da política fiscal.
A falta de sinceridade das autoridades é fator adicional que mina as expectativas. Se insiste em pintar a paisagem de rosa ou em negar a verdadeira dimensão dos fatos, não há como mobilizar a sociedade para os desafios que estão aí. As incertezas parecem ainda maiores do que são, o empresário se fecha na retranca, os investidores externos se desfazem de negócios para fazer caixa e repatriar capitais. O resultado é retração da demanda e o adiamento das soluções.
O reconhecimento da existência desses problemas seria o melhor recomeço.
A economia brasileira não está nos seus melhores dias, mas as coisas poderiam ficar um pouco mais fáceis se o governo admitisse a existência dos problemas.
Insistir em que o PIB vai cavalgar acima de 3% neste e nos próximos anos; que a inflação não é esse monstro antropófago apontado por economistas obsessivos e que, ao contrário, está em reversão; que a política fiscal não é tão expansionista quanto se propala nem geradora de serviços de baixa qualidade; que os investimentos, embora um pouco atrasados, estão sendo agilizados e mudando tudo...
Num momento de enorme déficit de confiança, essa retórica de dissimulação, que, em princípio, pretende manter elevado o moral da tropa e tudo o que consegue é esconder os problemas, dificulta o diagnóstico correto, impede a procura de soluções adequadas e aumenta o desânimo (veja o Confira).
Parece óbvio que o potencial do crescimento da economia brasileira esbarra em obstáculos estruturais. A crise externa não pode ser tomada como a principal limitação quando o consumo interno cresce a mais de 3% ao ano (descontada a inflação) e tem de ser suprido cada vez mais com importações.
Os investimentos não fluem por diversos motivos. O principal deles é que o governo federal não sabe o que quer e sempre reluta a confiar ao setor privado os investimentos dos quais o Tesouro não consegue dar conta.
Embora algo menos aquecida do que há meses, a situação do emprego também é um limitador da expansão da atividade econômica. Se com esse crescimento aí, provavelmente inferior a 2% ao ano, a economia vive momento próximo do pleno emprego, mais apertado estaria o mercado de trabalho se o PIB se expandisse a 3,0% ou 4,0%.
A cada sinal de desaceleração, o governo reage com aumento do gasto público, como se o que faltasse fosse apenas combustível para as máquinas. E, no entanto, o motor vai queimando óleo porque a qualidade da despesa pública é ruim.
Se houve uma mensagem clara das manifestações de junho foi a de que o Estado está emperrado e é ineficiente. Como pode funcionar um governo com 39 ministérios? Que empresa privada tem tantas diretorias? E, no entanto, também aí o governo quer estar sempre com a razão e se mostra avesso a autocríticas.
Se insistir em ampliar ainda mais suas despesas, tirará eficácia à política de juros. Nessas condições, o Banco Central terá de redobrar o aperto monetário para tentar compensar com mais juros o jogo contra da política fiscal.
A falta de sinceridade das autoridades é fator adicional que mina as expectativas. Se insiste em pintar a paisagem de rosa ou em negar a verdadeira dimensão dos fatos, não há como mobilizar a sociedade para os desafios que estão aí. As incertezas parecem ainda maiores do que são, o empresário se fecha na retranca, os investidores externos se desfazem de negócios para fazer caixa e repatriar capitais. O resultado é retração da demanda e o adiamento das soluções.
O reconhecimento da existência desses problemas seria o melhor recomeço.
O fracasso órfão - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 17/07
Por qualquer ângulo que se olhe, a 'nova matriz econômica' tem sido um fiasco retumbante
"Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu."
Enorme (astronômica mesmo) é a distância que vai de Guido Mantega a Albert Einstein, mas não pude deixar de me lembrar dessa frase ao ler a tentativa patética de ilustres representantes do "keynesianismo de quermesse" de renegar modelo econômico adotado recentemente no país, buscando também se distanciar do falante ministro da Fazenda.
Durante os anos em que o país adotou o chamado "tripé macroeconômico", caracterizado pelo câmbio flutuante, pelo compromis- so com as metas de inflação e pelo cumprimento das metas do superavit primário, autodenominados "desenvolvimentistas" não se vexaram de prometer um desempenho melhor caso sua estratégia fosse adotada.
Segundo esse pessoal, seria possível crescer muito mais caso a taxa de câmbio fosse administrada, a taxa de juros, reduzida, o grau de intervenção do governo na economia aumentasse (via políticas setoriais) e a política fiscal fosse relaxada.
Não é necessário nenhum grande salto de imaginação para notar que essas têm sido as vigas mestras do que se convencionou chamar de "nova matriz econômica", que entrou paulatinamente em vigor nos anos finais do governo Lula, ganhando força considerável nestes dois anos e meio da administração Dilma. Diga-se, aliás, que a transição foi aplaudida entusiasticamente por todos os que defendiam essa alternativa ao "tripé".
Os resultados dessa política estão nas manchetes de todos os jornais: crescimento pífio, inflação acima do topo da meta, deficit externos crescentes e desarticulação do investimento. Por qualquer ângulo que se olhe, a "nova ma- triz econômica" tem sido um fiasco retumbante.
Sob condições ideais, nem tudo estaria perdido. Conhecidas as consequências da experimentação "desenvolvimentista", pesquisadores sérios tentariam entender o que estava errado em sua formulação original e, no processo, ganhariam algum conhecimento.
Nada que economistas mais bem treinados não soubessem, posso assegurar, mas certamente novidades para os que não tiveram esse privilégio.
No entanto, como diria um amigo, de onde menos se espera é que não vem nada, mesmo. Em vez de reconhecer os erros e buscar entendê-los, testemunhamos a abjuração deslavada, como se a política governamental fosse mesmo distinta daquela preconizada por esse grupo.
O problema do governo, afirmam, foi não ter percebido que a desaceleração corrente seria distinta da observada na crise de 2008/09.
O argumento, porém, pena com sua suposta justificativa para a diferente natureza da fraqueza atual, já que --por formação ou ignorância, mesmo-- deixam de lado o fato mais óbvio: a economia operando próxima ao pleno emprego, em contraste com o período da crise, e insistem na tese de o anêmico desempenho nacional resultar do baixo crescimento mundial.
É duro de engolir. À parte a desaceleração global ser uma pálida sombra do enfarte econômico de 2008/09, não se pode ignorar o desempenho dos demais países emergentes, em particular os latino-americanos, cujo crescimento tem sido bem mais vigoroso que o brasileiro e sem os nossos desequilíbrios, como mostra a inflação muito mais baixa nesses países.
Partindo de um diagnóstico equivocado, tentam se diferenciar das políticas adotadas como se estas tivessem atuado na direção correta, apenas em intensidade insuficiente. Em outras palavras, defendem gastos ainda maiores, sem aparentemente levar em conta que o dispêndio federal está no nível mais alto da história, muito menos perceber as consequências desse tipo de política sobre a inflação e as contas externas.
Nada esqueceram e nada aprenderam; exceto talvez que a derrota é uma órfã que precisa ser abandonada no primeiro artigo que se tenha chance.
Por qualquer ângulo que se olhe, a 'nova matriz econômica' tem sido um fiasco retumbante
"Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu."
Enorme (astronômica mesmo) é a distância que vai de Guido Mantega a Albert Einstein, mas não pude deixar de me lembrar dessa frase ao ler a tentativa patética de ilustres representantes do "keynesianismo de quermesse" de renegar modelo econômico adotado recentemente no país, buscando também se distanciar do falante ministro da Fazenda.
Durante os anos em que o país adotou o chamado "tripé macroeconômico", caracterizado pelo câmbio flutuante, pelo compromis- so com as metas de inflação e pelo cumprimento das metas do superavit primário, autodenominados "desenvolvimentistas" não se vexaram de prometer um desempenho melhor caso sua estratégia fosse adotada.
Segundo esse pessoal, seria possível crescer muito mais caso a taxa de câmbio fosse administrada, a taxa de juros, reduzida, o grau de intervenção do governo na economia aumentasse (via políticas setoriais) e a política fiscal fosse relaxada.
Não é necessário nenhum grande salto de imaginação para notar que essas têm sido as vigas mestras do que se convencionou chamar de "nova matriz econômica", que entrou paulatinamente em vigor nos anos finais do governo Lula, ganhando força considerável nestes dois anos e meio da administração Dilma. Diga-se, aliás, que a transição foi aplaudida entusiasticamente por todos os que defendiam essa alternativa ao "tripé".
Os resultados dessa política estão nas manchetes de todos os jornais: crescimento pífio, inflação acima do topo da meta, deficit externos crescentes e desarticulação do investimento. Por qualquer ângulo que se olhe, a "nova ma- triz econômica" tem sido um fiasco retumbante.
Sob condições ideais, nem tudo estaria perdido. Conhecidas as consequências da experimentação "desenvolvimentista", pesquisadores sérios tentariam entender o que estava errado em sua formulação original e, no processo, ganhariam algum conhecimento.
Nada que economistas mais bem treinados não soubessem, posso assegurar, mas certamente novidades para os que não tiveram esse privilégio.
No entanto, como diria um amigo, de onde menos se espera é que não vem nada, mesmo. Em vez de reconhecer os erros e buscar entendê-los, testemunhamos a abjuração deslavada, como se a política governamental fosse mesmo distinta daquela preconizada por esse grupo.
O problema do governo, afirmam, foi não ter percebido que a desaceleração corrente seria distinta da observada na crise de 2008/09.
O argumento, porém, pena com sua suposta justificativa para a diferente natureza da fraqueza atual, já que --por formação ou ignorância, mesmo-- deixam de lado o fato mais óbvio: a economia operando próxima ao pleno emprego, em contraste com o período da crise, e insistem na tese de o anêmico desempenho nacional resultar do baixo crescimento mundial.
É duro de engolir. À parte a desaceleração global ser uma pálida sombra do enfarte econômico de 2008/09, não se pode ignorar o desempenho dos demais países emergentes, em particular os latino-americanos, cujo crescimento tem sido bem mais vigoroso que o brasileiro e sem os nossos desequilíbrios, como mostra a inflação muito mais baixa nesses países.
Partindo de um diagnóstico equivocado, tentam se diferenciar das políticas adotadas como se estas tivessem atuado na direção correta, apenas em intensidade insuficiente. Em outras palavras, defendem gastos ainda maiores, sem aparentemente levar em conta que o dispêndio federal está no nível mais alto da história, muito menos perceber as consequências desse tipo de política sobre a inflação e as contas externas.
Nada esqueceram e nada aprenderam; exceto talvez que a derrota é uma órfã que precisa ser abandonada no primeiro artigo que se tenha chance.
Uma política econômica "padrão Fifa" - PEDRO FERREIRA E RENATO FRAGELLI
VALOR ECONÔMICO - 17/07
A má gestão, prioridades equivocadas e inflação no topo da meta manterão a insatisfação elevada por bom tempo
Os recentes protestos no Brasil, em oposição aos observados na Europa, e também nos EUA com o movimento Occupy Wall Street, não tiveram motivações macroeconômicas, como desemprego e desigualdade de renda. Evidência disso foi que a queda da popularidade da presidente veio acompanhada da de governadores e prefeitos. Embora a política econômica adotada a partir da crise do subprime em 2008 tenha elevado a inflação e reduzido o crescimento, é fato que o desemprego brasileiro encontra-se baixo - parcialmente por motivos demográficos, é bom lembrar -, a pobreza diminuiu nas últimas duas décadas, e o consumo ampliou-se. Como a política econômica não teve como foco a qualidade de vida dos eleitores, mas sim a visão ideológica de alguns tecnocratas, a insatisfação eclodiu nas ruas.
O estopim das manifestações foi a correção das tarifas de ônibus. Mas logo se ampliaram os pleitos por melhores serviços de transporte, educação e saúde, bem como reclamações contra a brutalidade policial. Havia também questões comportamentais, como a cura gay em absurda discussão no Congresso. Os protestos contra a corrupção foram também muito fortes. As faraônicas reformas dos estádios esportivos exigidos pela Copa do Mundo, em contraste com a depauperada infraestrutura de suporte aos serviços públicos essenciais, cunhou a irônica expressão "padrão Fifa" para adjetivar o que se almeja para os hospitais e escolas públicas.
Aqui entra a ligação indireta entre os protestos e a economia. Ao longo dos últimos dezoito anos, a arrecadação tributária brasileira cresceu dez pontos percentuais, alcançando 36% do PIB, de longe a maior da América Latina. Grande parte desse aumento decorreu dos gastos sociais criados pela Constituição de 1988. No entanto, especialmente nas grandes áreas metropolitanas, os serviços públicos permanecem muito insatisfatórios, pois aqui os gastos foram modestos quando comparados às necessidades.
Acrescente-se a isso o fato de, nos últimos cinco anos, o governo ter insistido numa mal sucedida "mudança do modelo econômico", priorizando áreas muito distantes das aspirações e necessidades quotidianas da população. A ressurreição do nacional-desenvolvimentismo gerou enormes transferências e subsídios para os chamados "campeões nacionais", bem como para alguns setores considerados estratégicos pelos tecnocratas, mas não pelos eleitores. Houve todos os tipos de incentivos para a indústria, mas muito pouco para os serviços, sobretudo os públicos. A Copa do Mundo no Brasil custará mais do que as três copas anteriores juntas, legando muito pouco em infraestrutura de transporte urbano.
Embora a regulação de serviços públicos tenha mudado muitas vezes, assim como as regras das licitações e concessões, as estradas continuam ruins, os portos caros e lentos, os aeroportos superlotados, e o transporte público urbano caótico. Há uma percepção de que a administração dos hospitais públicos é medíocre, na melhor das hipóteses, que são insuficientemente equipados e mal administrados, bem como acusados de mau uso dos seus fundos. Pouco se fez para melhorar os serviços públicos, em parte porque isso nunca foi prioridade em todos os níveis de governo, em parte devido à má gestão, e, como inúmeras denúncias - e investigações dos Tribunais de Conta - parecem indicar, parte devido à corrupção. Não é muito difícil entender a insatisfação.
Uma corrente de analistas sustenta, com alguma razão, que a atual estrutura de gastos públicos decorre da Constituição de 1988, refletindo uma escolha legítima dos eleitores, um contrato entre cidadãos que buscam transferências e governos que delas se beneficiam eleitoralmente. Assim, muito pouco poderia ser feito sem que se mude a Constituição e se implemente medidas impopulares como, por exemplo, uma reforma da previdência. Esse argumento, entretanto, além de induzir ao imobilismo e conformismo políticos, desconsidera que o acordo de 1988 não contemplava gastos concebidos vinte anos depois por uma visão ideológica equivocada, como os R$ 15 bilhões anuais de subsídios implícitos do BNDES, os R$ 30 bilhões em excesso ao custo original da refinaria Abreu Lima, os R$ 40 bilhões do trem bala, os 22 mil cargos comissionados a nível federal (e 500 mil a nível municipal!) para se citar apenas alguns. Há muito espaço, não só para uma melhor gestão, mas também para mudanças de prioridade em inúmeras dimensões, sem que se precise alterar o pacto de 1988.
Em vez de se ater de forma convincente aos problemas concretos levantados pelas ruas, a presidente respondeu com uma malfadada proposta de reforma política. Sua nova taxa de aprovação, de apenas 30%, voltou ao nível histórico registrado por seu partido, um sinal de que a população a culpa e à sua coligação pelos seus problemas diários. A julgar pela resposta do governo aos protestos, pode-se prever que as prioridades equivocadas, a má gestão e a política econômica geradora de baixo crescimento e inflação no topo da meta manterão a insatisfação elevada por um bom tempo. O Brasil precisa de novas políticas, de uma política econômica "padrão Fifa".
Milagre - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 17/07
Há muitos anos, quando o Brasil era capaz de humor pedagógico exercido por um inesquecível Chico Anísio, havia uma personagem na escolinha do professor Raimundo que afirmava: "quero um vestido Dior e uma viagem a Paris". O professor então lhe perguntava: "mas se quer por que não tem"? E ela respondia: "me falta só uma coisinha, o dinheiro".
É essa questão que parece estar na cabeça da "manada irracional" que, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, levou alguns prefeitos a vaiarem a presidente Dilma Rousseff, depois de terem recebido 15,7 bilhões de reais de repasses para melhorar basicamente os serviços de saúde e 4,7 bilhões para a construção de 135 mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida.
Ela não se alterou, mas não deixou por menos. Disse à manada, "Vocês são prefeitos como eu sou presidenta. Vocês sabem que não tem milagre. Quem falar que tem milagre na gestão pública sabe que não é verdade".
Foi confortador ouvi-la, porque às vezes o governo e o Congresso parecem transacionar com milagres. O pânico revelado na tumultuada resposta de ambos à "voz das ruas" mostrou que em situação de estresse eles também podem confundir "desejos" com "recursos", com sérias consequências sobre o equilíbrio econômico sem, ao fim, corrigir os desequilíbrios sociais.
A enfática declaração de Dilma de que não há milagre na gestão resume-se no seguinte: só podem ser distribuídos e utilizados internamente os recursos que foram produzidos (PIB), somados aos eventuais ganhos na relação de troca e ao que tomamos emprestado no exterior, que dependem, respectivamente, da conjuntura e da paciência dos credores.
Entre 2003 e 2010, a renda interna cresceu mais do que o PIB (4,1%) devido à melhoria da relação de troca. Entre 2011 e 2013, o PIB crescerá talvez, 2,0% (2,5% para 2013) e a renda ainda menos, pela sua inversão. É urgente, portanto, cooptar o Congresso para uma agenda positiva de reformas microeconômicas que aumentem a produtividade total da economia. Descoordenado como está, sua propensão à demagogia nas vésperas da eleição poderá levá-lo a continuar a namorar com "milagres"...
A volta ao crescimento está ligada à expansão dos investimentos privados em infraestrutura e à maturação das reformas no campo da energia e nos portos. A primeira depende de leilões bem projetados, apoiados em minuciosos "planos de trabalho" que estimulem a competição e determinem a menor taxa de retorno. Isso exige a superação da pretensão de saber que alimenta o amadorismo que os tem dominado. A segunda vai ocorrer em dois ou três anos.
Há muitos anos, quando o Brasil era capaz de humor pedagógico exercido por um inesquecível Chico Anísio, havia uma personagem na escolinha do professor Raimundo que afirmava: "quero um vestido Dior e uma viagem a Paris". O professor então lhe perguntava: "mas se quer por que não tem"? E ela respondia: "me falta só uma coisinha, o dinheiro".
É essa questão que parece estar na cabeça da "manada irracional" que, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, levou alguns prefeitos a vaiarem a presidente Dilma Rousseff, depois de terem recebido 15,7 bilhões de reais de repasses para melhorar basicamente os serviços de saúde e 4,7 bilhões para a construção de 135 mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida.
Ela não se alterou, mas não deixou por menos. Disse à manada, "Vocês são prefeitos como eu sou presidenta. Vocês sabem que não tem milagre. Quem falar que tem milagre na gestão pública sabe que não é verdade".
Foi confortador ouvi-la, porque às vezes o governo e o Congresso parecem transacionar com milagres. O pânico revelado na tumultuada resposta de ambos à "voz das ruas" mostrou que em situação de estresse eles também podem confundir "desejos" com "recursos", com sérias consequências sobre o equilíbrio econômico sem, ao fim, corrigir os desequilíbrios sociais.
A enfática declaração de Dilma de que não há milagre na gestão resume-se no seguinte: só podem ser distribuídos e utilizados internamente os recursos que foram produzidos (PIB), somados aos eventuais ganhos na relação de troca e ao que tomamos emprestado no exterior, que dependem, respectivamente, da conjuntura e da paciência dos credores.
Entre 2003 e 2010, a renda interna cresceu mais do que o PIB (4,1%) devido à melhoria da relação de troca. Entre 2011 e 2013, o PIB crescerá talvez, 2,0% (2,5% para 2013) e a renda ainda menos, pela sua inversão. É urgente, portanto, cooptar o Congresso para uma agenda positiva de reformas microeconômicas que aumentem a produtividade total da economia. Descoordenado como está, sua propensão à demagogia nas vésperas da eleição poderá levá-lo a continuar a namorar com "milagres"...
A volta ao crescimento está ligada à expansão dos investimentos privados em infraestrutura e à maturação das reformas no campo da energia e nos portos. A primeira depende de leilões bem projetados, apoiados em minuciosos "planos de trabalho" que estimulem a competição e determinem a menor taxa de retorno. Isso exige a superação da pretensão de saber que alimenta o amadorismo que os tem dominado. A segunda vai ocorrer em dois ou três anos.
Desmatamento continua - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/07
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon detectou um aumento impressionante do desmatamento em junho. Chegou a 184 Km² na Amazônia Legal em um mês, uma elevação de 437% em relação a junho de 2012. Outra má notícia é que o estado do Amazonas, que não costuma estar entre os maiores desmatadores, foi o segundo que mais perdeu cobertura florestal no mês.
O Imazon também monitora a degradação florestal, que é o primeiro estágio, quando os madeireiros entram para tirar as melhores madeiras e a cobertura florestal vai se degradando. Foi registrada degradação florestal em 169 Km² em junho, comparado ao mesmo mês do ano passado. É definida como desmatamento a supressão total da floresta. De toda a região da Amazônia, o Pará desmatou 42% do total, e o Amazonas, 32%. No acumulado de dez meses, o Amazonas está em quarto lugar.
O SAD é o sistema de processamento dos dados que são enviados pelos satélites. Eles são analisados em tempo real. O desmatamento no período de agosto de 2012 a junho de 2013 teve um aumento de 103%, indo a 1.838 quilômetros quadrados.
A maior parte do desmatamento (63%) ocorreu em áreas privadas. O resto ocorreu em assentamentos de reforma agrária e em unidades de conservação. Os municípios críticos continuam sendo Itaituba, no Pará, em primeiro lugar; depois, Lábrea e Apuí, no Amazonas; Colniza e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso; Altamira e Novo Progresso, no Pará; Novo Aripuanã, Presidente Figueiredo e Maués, no Amazonas.
Os números de junho são espantosos porque mostram que por mais que avance a consciência do Brasil de que é preciso preservar os recursos naturais da Amazônia, o desmatamento - caracterizado pelo corte raso das árvores - e a degradação florestal, o primeiro passo da destruição, permanecem crescendo. E esse é o começo da temporada. Nos próximos meses, se for mantido o mesmo ritmo, o país pode colher um resultado adverso no ano, quando os dados forem consolidados.
Esses números captados em junho pelo Imazon mostram que, tanto na comparação de dez meses quanto na de junho contra junho, houve um aumento forte. Os resultados são preliminares, mas calculados por um instituto científico que tem larga experiência técnica na análise dos dados gerados pelos satélites. As mesmas informações servem de base para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o monitoramento oficial. Ao fim de um ano, o Inpe consolida e divulga os dados, mas a menos que haja uma reverão este mês e nos próximos, desta temporada de desmatamento, o país pode ver uma inversão da curva de queda da destruição da Amazônia. O Inpe registrou aumento de janeiro a maio de 28% no desmatamento.
Atente-se para o fato de que o que se tem comemorado no país é a redução da taxa de destruição anual. Isso vinha permitindo que os ambientalistas, as ONGs, os institutos científicos, e as pessoas preocupadas com o tema começassem a sonhar com o desmatamento líquido zero, ou seja, que o balanço do replantio fosse o mesmo do corte de árvores. Esse dado é um banho de água fria em quem estava apostando que o desmatamento continuasse sendo reduzido anualmente.
Uma grande parte desse desmatamento é ilegal e ocorre de uma forma de exploração totalmente irracional, com o uso do correntão. Quem já viu uma área dessas totalmente desmatada, para ser depois abandonada, não deixa de se afligir quando aparecem esses dados agregados. Olhar de perto essa destruição captada por satélites e processadas por computadores dá a sensação de que o Brasil optou pela insensatez. É uma cena que não se esquece.
O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon detectou um aumento impressionante do desmatamento em junho. Chegou a 184 Km² na Amazônia Legal em um mês, uma elevação de 437% em relação a junho de 2012. Outra má notícia é que o estado do Amazonas, que não costuma estar entre os maiores desmatadores, foi o segundo que mais perdeu cobertura florestal no mês.
O Imazon também monitora a degradação florestal, que é o primeiro estágio, quando os madeireiros entram para tirar as melhores madeiras e a cobertura florestal vai se degradando. Foi registrada degradação florestal em 169 Km² em junho, comparado ao mesmo mês do ano passado. É definida como desmatamento a supressão total da floresta. De toda a região da Amazônia, o Pará desmatou 42% do total, e o Amazonas, 32%. No acumulado de dez meses, o Amazonas está em quarto lugar.
O SAD é o sistema de processamento dos dados que são enviados pelos satélites. Eles são analisados em tempo real. O desmatamento no período de agosto de 2012 a junho de 2013 teve um aumento de 103%, indo a 1.838 quilômetros quadrados.
A maior parte do desmatamento (63%) ocorreu em áreas privadas. O resto ocorreu em assentamentos de reforma agrária e em unidades de conservação. Os municípios críticos continuam sendo Itaituba, no Pará, em primeiro lugar; depois, Lábrea e Apuí, no Amazonas; Colniza e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso; Altamira e Novo Progresso, no Pará; Novo Aripuanã, Presidente Figueiredo e Maués, no Amazonas.
Os números de junho são espantosos porque mostram que por mais que avance a consciência do Brasil de que é preciso preservar os recursos naturais da Amazônia, o desmatamento - caracterizado pelo corte raso das árvores - e a degradação florestal, o primeiro passo da destruição, permanecem crescendo. E esse é o começo da temporada. Nos próximos meses, se for mantido o mesmo ritmo, o país pode colher um resultado adverso no ano, quando os dados forem consolidados.
Esses números captados em junho pelo Imazon mostram que, tanto na comparação de dez meses quanto na de junho contra junho, houve um aumento forte. Os resultados são preliminares, mas calculados por um instituto científico que tem larga experiência técnica na análise dos dados gerados pelos satélites. As mesmas informações servem de base para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o monitoramento oficial. Ao fim de um ano, o Inpe consolida e divulga os dados, mas a menos que haja uma reverão este mês e nos próximos, desta temporada de desmatamento, o país pode ver uma inversão da curva de queda da destruição da Amazônia. O Inpe registrou aumento de janeiro a maio de 28% no desmatamento.
Atente-se para o fato de que o que se tem comemorado no país é a redução da taxa de destruição anual. Isso vinha permitindo que os ambientalistas, as ONGs, os institutos científicos, e as pessoas preocupadas com o tema começassem a sonhar com o desmatamento líquido zero, ou seja, que o balanço do replantio fosse o mesmo do corte de árvores. Esse dado é um banho de água fria em quem estava apostando que o desmatamento continuasse sendo reduzido anualmente.
Uma grande parte desse desmatamento é ilegal e ocorre de uma forma de exploração totalmente irracional, com o uso do correntão. Quem já viu uma área dessas totalmente desmatada, para ser depois abandonada, não deixa de se afligir quando aparecem esses dados agregados. Olhar de perto essa destruição captada por satélites e processadas por computadores dá a sensação de que o Brasil optou pela insensatez. É uma cena que não se esquece.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 17/07
Intenção de consumo chega ao menor patamar da confederação do comércio
As famílias brasileiras frearam a vontade de ir às compras: a intenção de consumo teve uma queda de 7,7% ante julho de 2012, mostra pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
O índice de 124,9 é o menor patamar da série de levantamentos, iniciada em 2010. A pontuação no mês passado foi de 130,1, em escala de 0 a 200.
O estudo mede o sentimento dos consumidores em relação a sete itens, como a satisfação com a renda e a sensação de segurança de permanência no emprego.
O resultado, segundo a CNC, é reflexo do nível de endividamento elevado, das altas taxas de juros e da retirada gradual de medidas de estímulo, como o IPI reduzido de veículos e da linha branca.
A inflação também foi vilã, aponta o economista Bruno Fernandes, da confederação.
"Por mais que esteja agora em um nível melhor, a inflação comprometeu a renda das famílias ao longo de todo o primeiro semestre."
Outro motivo apontado por ele foram as manifestações que explodiram no país durante o mês de junho.
"As pessoas ficaram com um pouco de receio de ir às ruas para gastar e, diante de tantos pedidos de mudanças, diminuíram o otimismo sobre o futuro", diz Fernandes.
Apesar do resultado, o índice acima de cem indica um nível favorável de consumo.
O levantamento foi feito no início do mês com base em 18 mil questionários aplicados em todo o país.
Baixo treinamento
Os vigilantes são considerados despreparados para 62% dos participantes de uma pesquisa do Sesvesp (sindicato paulista das empresas de segurança privada).
O levantamento foi feito com 840 pessoas do ABC e de outras seis cidades de São Paulo, incluindo a capital.
A baixa escolaridade e a falta de treinamento dos funcionários foram apontadas como fatores negativos do setor.
As empresas privadas apresentaram os índices mais baixos de confiança (47%) entre as organizações de segurança, que envolvem também polícias e guardas municipais.
"A população faz um juízo equivocado do serviço, pois confunde as empresas legais com as clandestinas", diz João Palhuca, vice-presidente do sindicato. "Os falsos profissionais cometem erros e passam uma imagem ruim para a sociedade."
A cada quatro empresas do setor, três não trabalham de acordo com a legislação trabalhista e com a Polícia Federal, segundo Palhuca.
FOCO NO ENEM
A rede de ensino Microlins abre neste mês cursos preparatórios para o Enem, em parceria com a Federal Concursos. A ideia é que as aulas sejam oferecidas em 40% das cerca de 500 unidades neste ano e a partir de 2014 em todas.
A entrada da empresa no segmento foi impulsionada principalmente pelo crescente número de participantes do exame a cada ano. "A tendência é que o Enem substitua o vestibular", afirma Wilson Martins Filho, gerente comercial da rede.
"Nossa expectativa é alcançar 3% desse mercado até 2014 e ser a maior rede de cursos preparatórios para concursos e Enem em três anos", afirma Carlos Martins, dono do Grupo Multi, que, além da Microlins, tem outras marcas como Wizard, Yázigi, Skill e People.
VIDRO GAÚCHO
A Tecnovidro, empresa gaúcha especializada no beneficiamento de vidro para as indústrias automotiva e moveleira, irá instalar uma fábrica no Espírito Santo, em Colatina (a cerca de 130 km da capital do Estado).
"Alguns clientes nossos que têm sede no Rio Grande do Sul estão indo com novas unidades para o Sudeste e para o Nordeste. Por isso, também estamos migrando", diz o diretor-geral do grupo, Marco De Bastiani.
A segunda planta da companhia demandará R$ 20 milhões em investimentos e começará a operar em janeiro de 2015.
No local, além de produtos para móveis e decoração, serão fabricados para-brisas. Hoje, no segmento de veículos, a companhia trabalha apenas com janelas laterais e traseiras.
A Tecnovidro beneficia cerca de 150 mil metros quadrados de vidro por mês em sua planta em Farroupilha (110 km de Porto Alegre).
A nova fábrica deverá ter uma capacidade de produção um pouco maior, de acordo com De Bastiani.
A empresa não divulga dados de faturamento.
R$ 20 MILHÕES
serão investidos na nova fábrica da companhia, no Espírito Santo
150 MIL M2
de vidro por mês são beneficiados pela empresa atualmente
Estudo sobre trem regional no RS fica pronto no fim do mês
O estudo de viabilidade para implantação do trem regional de passageiros entre as cidades de Pelotas e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, deve ser concluído no dia 25 de julho, de acordo com o Ministério dos Transportes.
O levantamento, feito pela Universidade Federal de Santa Catarina, é a primeira etapa do empreendimento.
"Avaliamos detalhadamente a viabilidade técnica e outros pontos, como o financeiro e o ambiental", afirma Rodolfo Nicolazzi Philippi, que coordena o projeto no laboratório de transportes da instituição de ensino.
O trabalho vai apontar os valores necessários para implantação do trem, mas os números ainda estão em fase de revisão, afirma Philippi.
O trem deve percorrer 62 quilômetros entre as cidades, que, juntas, têm 525 mil habitantes. Atualmente há uma ligação férrea entre os municípios, mas apenas para transporte de cargas.
Como o tráfego existente é elevado, o estudo vai apresentar a necessidade de construção de uma linha exclusiva para passageiros, seguindo o traçado atual.
O trabalho servirá de base para as próximas fases e vai ajudar a definir de que forma o trecho será implantado --se por concessão ou por parceria público-privada.
Intenção de consumo chega ao menor patamar da confederação do comércio
As famílias brasileiras frearam a vontade de ir às compras: a intenção de consumo teve uma queda de 7,7% ante julho de 2012, mostra pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
O índice de 124,9 é o menor patamar da série de levantamentos, iniciada em 2010. A pontuação no mês passado foi de 130,1, em escala de 0 a 200.
O estudo mede o sentimento dos consumidores em relação a sete itens, como a satisfação com a renda e a sensação de segurança de permanência no emprego.
O resultado, segundo a CNC, é reflexo do nível de endividamento elevado, das altas taxas de juros e da retirada gradual de medidas de estímulo, como o IPI reduzido de veículos e da linha branca.
A inflação também foi vilã, aponta o economista Bruno Fernandes, da confederação.
"Por mais que esteja agora em um nível melhor, a inflação comprometeu a renda das famílias ao longo de todo o primeiro semestre."
Outro motivo apontado por ele foram as manifestações que explodiram no país durante o mês de junho.
"As pessoas ficaram com um pouco de receio de ir às ruas para gastar e, diante de tantos pedidos de mudanças, diminuíram o otimismo sobre o futuro", diz Fernandes.
Apesar do resultado, o índice acima de cem indica um nível favorável de consumo.
O levantamento foi feito no início do mês com base em 18 mil questionários aplicados em todo o país.
Baixo treinamento
Os vigilantes são considerados despreparados para 62% dos participantes de uma pesquisa do Sesvesp (sindicato paulista das empresas de segurança privada).
O levantamento foi feito com 840 pessoas do ABC e de outras seis cidades de São Paulo, incluindo a capital.
A baixa escolaridade e a falta de treinamento dos funcionários foram apontadas como fatores negativos do setor.
As empresas privadas apresentaram os índices mais baixos de confiança (47%) entre as organizações de segurança, que envolvem também polícias e guardas municipais.
"A população faz um juízo equivocado do serviço, pois confunde as empresas legais com as clandestinas", diz João Palhuca, vice-presidente do sindicato. "Os falsos profissionais cometem erros e passam uma imagem ruim para a sociedade."
A cada quatro empresas do setor, três não trabalham de acordo com a legislação trabalhista e com a Polícia Federal, segundo Palhuca.
FOCO NO ENEM
A rede de ensino Microlins abre neste mês cursos preparatórios para o Enem, em parceria com a Federal Concursos. A ideia é que as aulas sejam oferecidas em 40% das cerca de 500 unidades neste ano e a partir de 2014 em todas.
A entrada da empresa no segmento foi impulsionada principalmente pelo crescente número de participantes do exame a cada ano. "A tendência é que o Enem substitua o vestibular", afirma Wilson Martins Filho, gerente comercial da rede.
"Nossa expectativa é alcançar 3% desse mercado até 2014 e ser a maior rede de cursos preparatórios para concursos e Enem em três anos", afirma Carlos Martins, dono do Grupo Multi, que, além da Microlins, tem outras marcas como Wizard, Yázigi, Skill e People.
VIDRO GAÚCHO
A Tecnovidro, empresa gaúcha especializada no beneficiamento de vidro para as indústrias automotiva e moveleira, irá instalar uma fábrica no Espírito Santo, em Colatina (a cerca de 130 km da capital do Estado).
"Alguns clientes nossos que têm sede no Rio Grande do Sul estão indo com novas unidades para o Sudeste e para o Nordeste. Por isso, também estamos migrando", diz o diretor-geral do grupo, Marco De Bastiani.
A segunda planta da companhia demandará R$ 20 milhões em investimentos e começará a operar em janeiro de 2015.
No local, além de produtos para móveis e decoração, serão fabricados para-brisas. Hoje, no segmento de veículos, a companhia trabalha apenas com janelas laterais e traseiras.
A Tecnovidro beneficia cerca de 150 mil metros quadrados de vidro por mês em sua planta em Farroupilha (110 km de Porto Alegre).
A nova fábrica deverá ter uma capacidade de produção um pouco maior, de acordo com De Bastiani.
A empresa não divulga dados de faturamento.
R$ 20 MILHÕES
serão investidos na nova fábrica da companhia, no Espírito Santo
150 MIL M2
de vidro por mês são beneficiados pela empresa atualmente
Estudo sobre trem regional no RS fica pronto no fim do mês
O estudo de viabilidade para implantação do trem regional de passageiros entre as cidades de Pelotas e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, deve ser concluído no dia 25 de julho, de acordo com o Ministério dos Transportes.
O levantamento, feito pela Universidade Federal de Santa Catarina, é a primeira etapa do empreendimento.
"Avaliamos detalhadamente a viabilidade técnica e outros pontos, como o financeiro e o ambiental", afirma Rodolfo Nicolazzi Philippi, que coordena o projeto no laboratório de transportes da instituição de ensino.
O trabalho vai apontar os valores necessários para implantação do trem, mas os números ainda estão em fase de revisão, afirma Philippi.
O trem deve percorrer 62 quilômetros entre as cidades, que, juntas, têm 525 mil habitantes. Atualmente há uma ligação férrea entre os municípios, mas apenas para transporte de cargas.
Como o tráfego existente é elevado, o estudo vai apresentar a necessidade de construção de uma linha exclusiva para passageiros, seguindo o traçado atual.
O trabalho servirá de base para as próximas fases e vai ajudar a definir de que forma o trecho será implantado --se por concessão ou por parceria público-privada.
Tarefas de rotina para ministros de Dilma - JOSÉ NÊUMANNE
ESTADÃO - 17/07
Os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, têm abandonado seus expedientes rotineiros para exercerem os cargos informais de espírito santo de orelha e papagaio de pirata de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff. Nessa condição têm produzido sesquipedais ideias de jerico, tais como o golpinho sujo da Constituinte exclusiva para uma reforma política que ninguém pediu e da qual só os políticos, particularmente os petistas, se beneficiariam; e a empulhação do plebiscito prévio com igual objetivo. O máximo que conseguiram até agora foi a adesão da oposição, incompetente e alienada, que aceita a embromação de um referendo.
Melhor seria para os dois, para o governo a que servem, para a presidente a que obedecem e, sobretudo, para a sociedade, que paga com sacrifício seus salários com impostos escorchantes, que eles se dedicassem à rotina comezinha de suas funções públicas. O economista Mercadante, que se recusa a usar o sobrenome do pai, o general Oliva, serviçal da ditadura militar que assolou o País por 21 anos, de 1964 a 1985, faria um bem enorme às gerações futuras de brasileiros se resolvesse uma equação perversa que as condena à ignorância e a perder a competição na guerra planetária pelo conhecimento.
De acordo com levantamento feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta pelos 34 países mais ricos do mundo, o Brasil investe em educação pública 5,8% do produto interno bruto (PIB), praticamente o mesmo que Estados Unidos, Espanha e Coreia do Sul. Mas ocupa o 53.º lugar no ranking do desempenho escolar, conforme o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame que avalia habilidades em leitura, matemática e ciências, aplicado pela própria OCDE. Ou seja, embora mais recursos para o setor sejam bem-vindos, estes não são imprescindíveis para aprimorar a educação. Para tanto urge melhorar a gestão, e isso o ministro pode fazer já.
Não será um trabalho fácil. Mas não é uma tarefa impossível. Como difíceis, mas também possíveis, são algumas das missões de que seu colega no primeiro escalão do governo federal petista, o causídico Cardozo, não dá conta. Pode-se dar-lhe o benefício da compreensão das dificuldades que a Polícia Federal (PF), sua subordinada hierárquica, deve enfrentar para ter de desvendar crimes de toda natureza, particularmente os de colarinho branco. Mas tampouco se pode omitir o fato de que a instituição às vezes tem um desempenho exemplar em casos muito mais difíceis do que em outros, na aparência, bem mais simples, mas cuja solução tem sido adiada para as calendas.
Um exemplo desse paradoxo é o escabroso caso da compra pela Petrobrás de uma refinaria que pertencia à empresa Astra Oil em Pasadena, no Texas (EUA). Os belgas a adquiriram por US$ 42,5 milhões em 2005. Em 2006 a empresa, presidida por um ex-funcionário da estatal brasileira, vendeu metade do controle acionário dela à Petrobrás por US$ 360 milhões. O convívio entre os sócios foi perturbado pela necessidade de aporte de US$ 1,5 bilhão para a pequena refinaria, com capacidade para ínfimos 150 mil barris/dia, poder refinar o petróleo pesado extraído de poços brasileiros. Os belgas processaram a sócia e esta encerrou a questão na Justiça americana desembolsando mais US$ 839 milhões para assumir o controle total da refinaria. Ou seja, a Astra Oil embolsou, ao todo, US$ 1,199 bilhão: US$ 1,154 bilhão e quase 300 vezes mais que os US$ 42,5 milhões pagos por ela oito anos antes. O Ministério Público Federal no Estado do Rio resolveu investigar essa óbvia fraude e talvez a PF, sob as ordens do dr. Cardozo, desse uma extraordinária contribuição à Pátria se, ao cabo de uma investigação rigorosa, descobrisse quem recebeu a bilionária (em dólares) "comissão".
Outra tarefa rotineira a ser desincumbida pelo causídico Cardozo, se trocar as funções de Richelieu do Planalto por mais assiduidade no expediente no Ministério da Justiça, seria cobrar da PF a apuração rigorosa e imparcial das acusações feitas contra Rosemary Noronha na Operação Porto Seguro, que a própria PF encetou em novembro de 2012. Na ocasião, a PF informou ter flagrado as práticas de advocacia administrativa e tráfico de influência em altos escalões do governo federal. Entre os protagonistas do caso teve destaque a figura de Rosemary, dada como amiga muito íntima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e flagrada interferindo pessoalmente na nomeação de quadrilheiros em cargos importantes da burocracia da União, inclusive uma direção da Agência Nacional de Águas. A então chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, nomeada por Lula e mantida no cargo por Dilma a pedido do padrinho e antecessor, é acusada, entre outros malfeitos, de ter ajudado o ex-senador Gilberto Miranda a obter licenças para usar duas ilhas no litoral paulista. Essa ajuda teria sido recompensada com um cruzeiro (R$ 2.500), uma Mitsubishi Pajero TR4 (R$ 55 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7.500) e móveis para a filha (R$ 5 mil).
Segundo a Veja, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, homem de confiança de Lula, teria tentado atrapalhar a investigação que a presidente mandou a chefe da Casa Civil, Gleisi Hofmann, fazer a respeito de Rosemary. Carvalho tentou se explicar no Senado. Mas a PF teria de investigar por que oligarcas da republiqueta petista foram prestimosos e atenderam aos pedidos de uma secretária de luxo.
A PF poderia ainda investigar denúncia da Folha de S.Paulo de ter a Caixa Econômica Federal liberado sem licença Bolsa Família na véspera da onda de boatos que causou corrida a agências da instituição, pela qual dignitários do governo e do PT, entre eles Dilma, acusaram adversários. É ou não é?
Os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, têm abandonado seus expedientes rotineiros para exercerem os cargos informais de espírito santo de orelha e papagaio de pirata de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff. Nessa condição têm produzido sesquipedais ideias de jerico, tais como o golpinho sujo da Constituinte exclusiva para uma reforma política que ninguém pediu e da qual só os políticos, particularmente os petistas, se beneficiariam; e a empulhação do plebiscito prévio com igual objetivo. O máximo que conseguiram até agora foi a adesão da oposição, incompetente e alienada, que aceita a embromação de um referendo.
Melhor seria para os dois, para o governo a que servem, para a presidente a que obedecem e, sobretudo, para a sociedade, que paga com sacrifício seus salários com impostos escorchantes, que eles se dedicassem à rotina comezinha de suas funções públicas. O economista Mercadante, que se recusa a usar o sobrenome do pai, o general Oliva, serviçal da ditadura militar que assolou o País por 21 anos, de 1964 a 1985, faria um bem enorme às gerações futuras de brasileiros se resolvesse uma equação perversa que as condena à ignorância e a perder a competição na guerra planetária pelo conhecimento.
De acordo com levantamento feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta pelos 34 países mais ricos do mundo, o Brasil investe em educação pública 5,8% do produto interno bruto (PIB), praticamente o mesmo que Estados Unidos, Espanha e Coreia do Sul. Mas ocupa o 53.º lugar no ranking do desempenho escolar, conforme o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame que avalia habilidades em leitura, matemática e ciências, aplicado pela própria OCDE. Ou seja, embora mais recursos para o setor sejam bem-vindos, estes não são imprescindíveis para aprimorar a educação. Para tanto urge melhorar a gestão, e isso o ministro pode fazer já.
Não será um trabalho fácil. Mas não é uma tarefa impossível. Como difíceis, mas também possíveis, são algumas das missões de que seu colega no primeiro escalão do governo federal petista, o causídico Cardozo, não dá conta. Pode-se dar-lhe o benefício da compreensão das dificuldades que a Polícia Federal (PF), sua subordinada hierárquica, deve enfrentar para ter de desvendar crimes de toda natureza, particularmente os de colarinho branco. Mas tampouco se pode omitir o fato de que a instituição às vezes tem um desempenho exemplar em casos muito mais difíceis do que em outros, na aparência, bem mais simples, mas cuja solução tem sido adiada para as calendas.
Um exemplo desse paradoxo é o escabroso caso da compra pela Petrobrás de uma refinaria que pertencia à empresa Astra Oil em Pasadena, no Texas (EUA). Os belgas a adquiriram por US$ 42,5 milhões em 2005. Em 2006 a empresa, presidida por um ex-funcionário da estatal brasileira, vendeu metade do controle acionário dela à Petrobrás por US$ 360 milhões. O convívio entre os sócios foi perturbado pela necessidade de aporte de US$ 1,5 bilhão para a pequena refinaria, com capacidade para ínfimos 150 mil barris/dia, poder refinar o petróleo pesado extraído de poços brasileiros. Os belgas processaram a sócia e esta encerrou a questão na Justiça americana desembolsando mais US$ 839 milhões para assumir o controle total da refinaria. Ou seja, a Astra Oil embolsou, ao todo, US$ 1,199 bilhão: US$ 1,154 bilhão e quase 300 vezes mais que os US$ 42,5 milhões pagos por ela oito anos antes. O Ministério Público Federal no Estado do Rio resolveu investigar essa óbvia fraude e talvez a PF, sob as ordens do dr. Cardozo, desse uma extraordinária contribuição à Pátria se, ao cabo de uma investigação rigorosa, descobrisse quem recebeu a bilionária (em dólares) "comissão".
Outra tarefa rotineira a ser desincumbida pelo causídico Cardozo, se trocar as funções de Richelieu do Planalto por mais assiduidade no expediente no Ministério da Justiça, seria cobrar da PF a apuração rigorosa e imparcial das acusações feitas contra Rosemary Noronha na Operação Porto Seguro, que a própria PF encetou em novembro de 2012. Na ocasião, a PF informou ter flagrado as práticas de advocacia administrativa e tráfico de influência em altos escalões do governo federal. Entre os protagonistas do caso teve destaque a figura de Rosemary, dada como amiga muito íntima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e flagrada interferindo pessoalmente na nomeação de quadrilheiros em cargos importantes da burocracia da União, inclusive uma direção da Agência Nacional de Águas. A então chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, nomeada por Lula e mantida no cargo por Dilma a pedido do padrinho e antecessor, é acusada, entre outros malfeitos, de ter ajudado o ex-senador Gilberto Miranda a obter licenças para usar duas ilhas no litoral paulista. Essa ajuda teria sido recompensada com um cruzeiro (R$ 2.500), uma Mitsubishi Pajero TR4 (R$ 55 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7.500) e móveis para a filha (R$ 5 mil).
Segundo a Veja, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, homem de confiança de Lula, teria tentado atrapalhar a investigação que a presidente mandou a chefe da Casa Civil, Gleisi Hofmann, fazer a respeito de Rosemary. Carvalho tentou se explicar no Senado. Mas a PF teria de investigar por que oligarcas da republiqueta petista foram prestimosos e atenderam aos pedidos de uma secretária de luxo.
A PF poderia ainda investigar denúncia da Folha de S.Paulo de ter a Caixa Econômica Federal liberado sem licença Bolsa Família na véspera da onda de boatos que causou corrida a agências da instituição, pela qual dignitários do governo e do PT, entre eles Dilma, acusaram adversários. É ou não é?
Tensão na aliança - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 17/07
O PMDB se sente traído pelo PT . Os ministros petistas atuam com liberdade, e os aliados não têm autonomia administrativa. A campanha já está nas ruas, e os deputados petistas invadem as bases eleitorais dos aliados. Diante da queda na avaliação do governo, ganham força os que defendem um rompimento. O governo Dilma tem 15 dias, no recesso, para colocar ordem na casa.
Em debate, as balas de borracha
Por causa das sequelas provocadas pelo uso de balas de borracha, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) quer abolir seu uso. Ele relata que a Comissão Europeia recomenda a proibição, devido a mortes e danos irreversíveis. O centro britânico Omega-Overarching, justifica, tem estudos que concluem que “a imprecisão dessas armas pode levar ao ferimento de qualquer um, e não do indivíduo visado, mesmo de terceiros sem relação com os distúrbios”. O Centro de Inovação de Tecnologia Não Letal da Universidade de New Hampshire diz que “é muito fácil cegar alguém” com essa munição. Seu uso, aqui no Brasil, também fez vítimas inocentes nos protestos.
“Nossa intenção é acabar com a coligação nas proporcionais e criar cláusula de barreira para limitar os partidos com direito a Fundo Partidário e tempo na TV”
Cândido Vaccarezza Deputado (P T-SP), coordenador da comissão de Reforma Política
Tucanos puxam orelhas tucanas
O Instituto Teotônio Vilela (PSDB) produziu texto crítico ao programa Mais Médicos. Entre os alvos, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, diretor da Frente Nacional de Prefeitos, que defende a contratação de médicos estrangeiros.
Bola na rede
A invasão VIP ao gramado, no jogo Vasco e Flamengo, em Brasília, virou inquérito. O presidente do STJD, Flávio Zveiter , quer ouvir o árbitro, o delegado da partida e os presidentes de federação. Serão requisitadas imagens às TVs. No dia, as equipes de uma emissora de TV e de uma rádio chegaram a ser barradas porque havia muita gente no campo.
Lavando a roupa suja
Integrantes do governo de Brasília alegam que quem administrou o jogo Flamengo x Vasco foi a diretoria rubro-negra. Ela é que seria responsável pela “invasão VIP”. Relata ainda que dela teria participado a mulher do árbitro Grazianni Maciel.
Pente-fino
O secretário-executivo do Turismo, Valdir Simão, está se transferindo para o Planalto. Vai implantar na Presidência sistema de acompanhamento de emendas que montou a pedido do ministro Gastão Vieira. Nele, a execução das emendas parlamentares é monitorada em tempo real. Por isso, no ano passado, o Turismo executou 96% de suas emendas e zerou todos os restos a pagar .
Ganhando tempo
O governo desistiu de finalizar a votação da Lei dos Royalties porque o prognóstico era de uma derrota acachapante. Petistas e peemedebistas, que seguiram orientação do Planalto, avisaram aos partidos que mudariam o voto.
Sem carinho, sem afeto
Os deputados do PMDB que estiveram ontem com o vice Michel Temer reclamaram que a presidente Dilma foi ao Paraná ontem, para entregar casas do Minha Casa, Minha Vida, e não convidou qualquer um deles para acompanhá-la
OS QUE CONHECEM o ex-governador José Serra (PSDB) não acreditam que ele poderia se filiar ao PPS para disputar as eleições presidenciais
Em debate, as balas de borracha
Por causa das sequelas provocadas pelo uso de balas de borracha, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) quer abolir seu uso. Ele relata que a Comissão Europeia recomenda a proibição, devido a mortes e danos irreversíveis. O centro britânico Omega-Overarching, justifica, tem estudos que concluem que “a imprecisão dessas armas pode levar ao ferimento de qualquer um, e não do indivíduo visado, mesmo de terceiros sem relação com os distúrbios”. O Centro de Inovação de Tecnologia Não Letal da Universidade de New Hampshire diz que “é muito fácil cegar alguém” com essa munição. Seu uso, aqui no Brasil, também fez vítimas inocentes nos protestos.
“Nossa intenção é acabar com a coligação nas proporcionais e criar cláusula de barreira para limitar os partidos com direito a Fundo Partidário e tempo na TV”
Cândido Vaccarezza Deputado (P T-SP), coordenador da comissão de Reforma Política
Tucanos puxam orelhas tucanas
O Instituto Teotônio Vilela (PSDB) produziu texto crítico ao programa Mais Médicos. Entre os alvos, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, diretor da Frente Nacional de Prefeitos, que defende a contratação de médicos estrangeiros.
Bola na rede
A invasão VIP ao gramado, no jogo Vasco e Flamengo, em Brasília, virou inquérito. O presidente do STJD, Flávio Zveiter , quer ouvir o árbitro, o delegado da partida e os presidentes de federação. Serão requisitadas imagens às TVs. No dia, as equipes de uma emissora de TV e de uma rádio chegaram a ser barradas porque havia muita gente no campo.
Lavando a roupa suja
Integrantes do governo de Brasília alegam que quem administrou o jogo Flamengo x Vasco foi a diretoria rubro-negra. Ela é que seria responsável pela “invasão VIP”. Relata ainda que dela teria participado a mulher do árbitro Grazianni Maciel.
Pente-fino
O secretário-executivo do Turismo, Valdir Simão, está se transferindo para o Planalto. Vai implantar na Presidência sistema de acompanhamento de emendas que montou a pedido do ministro Gastão Vieira. Nele, a execução das emendas parlamentares é monitorada em tempo real. Por isso, no ano passado, o Turismo executou 96% de suas emendas e zerou todos os restos a pagar .
Ganhando tempo
O governo desistiu de finalizar a votação da Lei dos Royalties porque o prognóstico era de uma derrota acachapante. Petistas e peemedebistas, que seguiram orientação do Planalto, avisaram aos partidos que mudariam o voto.
Sem carinho, sem afeto
Os deputados do PMDB que estiveram ontem com o vice Michel Temer reclamaram que a presidente Dilma foi ao Paraná ontem, para entregar casas do Minha Casa, Minha Vida, e não convidou qualquer um deles para acompanhá-la
OS QUE CONHECEM o ex-governador José Serra (PSDB) não acreditam que ele poderia se filiar ao PPS para disputar as eleições presidenciais
Nos braços do povo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 17/07
O papa Francisco ordenou uma redução no esquema de segurança de sua viagem ao Rio de Janeiro, para Jornada Mundial de Juventude, e a Aparecida, na semana que vem, contrariando o planejamento elaborado pela Polícia Federal, responsável pela proteção de chefes de Estado estrangeiros em visita ao Brasil. Segundo informações passadas ao governo brasileiro pelo Vaticano, Francisco quer "contato com o povo" durante o evento e na missa no santuário de Aparecida.
Planejamento Diante da decisão, a PF está refazendo os trajetos que o pontífice deve percorrer durante a visita para reavaliar os possíveis riscos a sua segurança.
Segmentos Entre os protestos que preocupam o Planalto no período da Jornada estão, além dos liderados por evangélicos, manifestações de feministas e movimentos contra abusos nos gastos públicos, como ocorreu na Copa das Confederações.
Gabinete... Lula chamou petistas anteontem à sede de seu instituto, em São Paulo, para uma "conversa informal" sobre o cenário político. Segundo presentes, o grupo repetiu para o ex-presidente as queixas que havia feito à presidente Dilma Rousseff sobre as falhas na articulação política do governo federal.
...paralelo Lula, de acordo com os deputados, disse que é preciso "paciência". "E que não pode haver vacilação no apoio à presidente", conta um petista. Participaram do encontro Ricardo Berzoini, José Guimarães, Cândido Vaccarezza, entre outros.
Longe... A despeito da tentativa do governo Dilma de reatar com movimentos sociais, Manoel Dias (Trabalho) avisou à Força Sindical que não vai participar do congresso da central, no fim do mês. O ministro enviará um representante ao evento.
...demais Ministros do Trabalho costumam prestigiar os eventos, realizados a cada quatro anos. Aconteceu com Luiz Marinho e Carlos Lupi, nos governos Lula, e com Paulo Paiva e Francisco Dornelles, na gestão FHC.
Perfeito Apesar de boatos, Lula disse a um aliado durante sua viagem à Alemanha, há cerca de dez dias, que sua saúde está "110%".
Conexão A direção do PPS está tão empenhada em retomar sua fusão com o PMN para formar a MD que vai enviar uma delegação a Buenos Aires para negociar com a presidente da sigla aliada, Telma Ribeiro, que faz um curso na Argentina.
Enxuga A Cesp (Companhia Energética de São Paulo), do governo paulista, aprovou um programa de incentivo à aposentadoria para reduzir seu quadro de funcionários. Dos 1.200 trabalhadores da empresa, 400 estão em condições de aderir ao plano.
Paraíso Depois da turbulenta redução das tarifas de transportes de São Paulo, o secretário de Fazenda paulista, Andreia Calabi, vai tirar uns dias de férias na Escócia, sem preocupações. "Isso reflete como as contas de São Paulo estão bem", diz.
Na frente Antes de trocar o comando da autarquia de desenvolvimento de Sergipe, sem consultar o governador licenciado Marcelo Déda (PT), o vice Jackson Barreto (PMDB) havia confidenciado a aliados que procurava dar "agilidade" ao governo na ausência do titular, internado para tratar um câncer.
Espelho O Senado abriu uma consulta na internet para medir a resposta da população a sua agenda positiva. A enquete pede avaliações sobre a proposta de passe livre para estudantes, de Renan Calheiros (PMDB-AL), e sobre a "atuação do Congresso" diante dos protestos.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"A CPI do BNDES provará que o investimento nos campeões nacionais' era uma forma de lavar dinheiro para campanhas do PT."
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre a investigação que deve ser feita sobre os repasses do banco estatal para grandes empresas.
contraponto
Regionalismo contábil
Ao apresentar números da balança comercial durante uma sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) afirmou que o indicador voltaria a crescer até o fim de 2013, mas se recusou a arriscar uma previsão.
--Vamos terminar o ano com um saldo que eu não quero dizer de quanto será, porque depois ele não acontece naquele número e a imprensa vai dizer que nós erramos.
Ao ser abordado pelo conterrâneo mineiro Francisco Dornelles (PP), Pimentel reforçou sua cautela:
--Mineiro não vai dizer uma coisa dessas! -- brincou.
O papa Francisco ordenou uma redução no esquema de segurança de sua viagem ao Rio de Janeiro, para Jornada Mundial de Juventude, e a Aparecida, na semana que vem, contrariando o planejamento elaborado pela Polícia Federal, responsável pela proteção de chefes de Estado estrangeiros em visita ao Brasil. Segundo informações passadas ao governo brasileiro pelo Vaticano, Francisco quer "contato com o povo" durante o evento e na missa no santuário de Aparecida.
Planejamento Diante da decisão, a PF está refazendo os trajetos que o pontífice deve percorrer durante a visita para reavaliar os possíveis riscos a sua segurança.
Segmentos Entre os protestos que preocupam o Planalto no período da Jornada estão, além dos liderados por evangélicos, manifestações de feministas e movimentos contra abusos nos gastos públicos, como ocorreu na Copa das Confederações.
Gabinete... Lula chamou petistas anteontem à sede de seu instituto, em São Paulo, para uma "conversa informal" sobre o cenário político. Segundo presentes, o grupo repetiu para o ex-presidente as queixas que havia feito à presidente Dilma Rousseff sobre as falhas na articulação política do governo federal.
...paralelo Lula, de acordo com os deputados, disse que é preciso "paciência". "E que não pode haver vacilação no apoio à presidente", conta um petista. Participaram do encontro Ricardo Berzoini, José Guimarães, Cândido Vaccarezza, entre outros.
Longe... A despeito da tentativa do governo Dilma de reatar com movimentos sociais, Manoel Dias (Trabalho) avisou à Força Sindical que não vai participar do congresso da central, no fim do mês. O ministro enviará um representante ao evento.
...demais Ministros do Trabalho costumam prestigiar os eventos, realizados a cada quatro anos. Aconteceu com Luiz Marinho e Carlos Lupi, nos governos Lula, e com Paulo Paiva e Francisco Dornelles, na gestão FHC.
Perfeito Apesar de boatos, Lula disse a um aliado durante sua viagem à Alemanha, há cerca de dez dias, que sua saúde está "110%".
Conexão A direção do PPS está tão empenhada em retomar sua fusão com o PMN para formar a MD que vai enviar uma delegação a Buenos Aires para negociar com a presidente da sigla aliada, Telma Ribeiro, que faz um curso na Argentina.
Enxuga A Cesp (Companhia Energética de São Paulo), do governo paulista, aprovou um programa de incentivo à aposentadoria para reduzir seu quadro de funcionários. Dos 1.200 trabalhadores da empresa, 400 estão em condições de aderir ao plano.
Paraíso Depois da turbulenta redução das tarifas de transportes de São Paulo, o secretário de Fazenda paulista, Andreia Calabi, vai tirar uns dias de férias na Escócia, sem preocupações. "Isso reflete como as contas de São Paulo estão bem", diz.
Na frente Antes de trocar o comando da autarquia de desenvolvimento de Sergipe, sem consultar o governador licenciado Marcelo Déda (PT), o vice Jackson Barreto (PMDB) havia confidenciado a aliados que procurava dar "agilidade" ao governo na ausência do titular, internado para tratar um câncer.
Espelho O Senado abriu uma consulta na internet para medir a resposta da população a sua agenda positiva. A enquete pede avaliações sobre a proposta de passe livre para estudantes, de Renan Calheiros (PMDB-AL), e sobre a "atuação do Congresso" diante dos protestos.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"A CPI do BNDES provará que o investimento nos campeões nacionais' era uma forma de lavar dinheiro para campanhas do PT."
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre a investigação que deve ser feita sobre os repasses do banco estatal para grandes empresas.
contraponto
Regionalismo contábil
Ao apresentar números da balança comercial durante uma sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) afirmou que o indicador voltaria a crescer até o fim de 2013, mas se recusou a arriscar uma previsão.
--Vamos terminar o ano com um saldo que eu não quero dizer de quanto será, porque depois ele não acontece naquele número e a imprensa vai dizer que nós erramos.
Ao ser abordado pelo conterrâneo mineiro Francisco Dornelles (PP), Pimentel reforçou sua cautela:
--Mineiro não vai dizer uma coisa dessas! -- brincou.
Baile à fantasia - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 17/07
Quando se iniciaram os protestos de junho a presidente da República tinha certeza absoluta de que a coisa não era com ela. Na primeira semana Dilma Rousseff disse a um senador do PT que a procurou para alertar sobre a gravidade da situação, que não seria atingida. Segundo ela, as manifestações seriam um problema de prefeitos e governadores.
Avaliação errada, como viria a apontar a queda de popularidade e avaliação positiva de governo registrada pelo instituto Datafolha no fim daquele mês e confirmada pela pesquisa CNT realizada já na fase de refluxo (temporário?) das ruas e divulgada ontem.
A presidente tampouco deu ouvidos a tudo o que disse o ex-presidente Lula na reunião que os dois tiveram em São Paulo com o prefeito Fernando Haddad, o marqueteiro João Santana e o presidente do PT, Rui Falcão, assim que ficou evidente que a crise bateria às portas do Palácio do Planalto.
Na ocasião, ficou combinado que Dilma chamaria prefeitos e governadores para um encontro de "aconselhamento" para, em conjunto, decidirem sobre a melhor forma de reagir.
A presidente fez o contrário: convocou governadores para posarem de coadjuvantes naquele pronunciamento em que ela propôs pactos e Constituinte exclusiva mediante plebiscito para a reforma política, encerrando a transmissão pela TV Brasil antes que os chefes de executivos estaduais pudessem falar.
Com a história do plebiscito Dilma tentou transferir a responsabilidade para o Congresso que rejeitou a proposta e deu o troco: aprovou uma série de projetos de criação de despesas, obrigando-a a anunciar veto às medidas de dita "agenda positiva". Demagogia por demagogia, deu empate.
Em tese, porque na prática quem perdeu foi ela. O Congresso estava perdido há tempos. Desmoralizado, desqualificado, desprovido de gordura para queimar. Dilma não: antes de a inflação e a população darem o ar das respectivas graças, chegou a quase 75% de avaliação positiva de seu governo e bateu em 55% das intenções de voto.
Hoje, três ou quatro pesquisas, desacertos em série na economia, explosões de descontentamento e respostas erráticas depois, desceu ao patamar de 30% tanto na avaliação positiva quanto nas intenções de votos.
Segundo a pesquisa CNT, a percepção negativa mais que triplicou: foi de 9% para 29%. Pior: 44% dizem que não votam nela de jeito nenhum. Ou seja, Dilma entrou naquela faixa perigosa em que se cruzam rejeição e aprovação. Quando a primeira caminha para superar a segunda, a chance de recuperação torna-se remota.
É cedo para firmar certeza, mas vislumbra-se aí mais um erro de cálculo da oficina palaciana sobre a convicção de que Dilma Rousseff não apenas será candidata à reeleição como pode levar no primeiro turno.
Confiança esta baseada em boa medida no poder da caneta presidencial e no fato de o repúdio aos políticos alcançar a todos eles. Alcança, mas é de se observar que Marina Silva subiu de 12% para 20% e Eduardo Campos de 3% para 7% em números redondos. Aécio Neves foi de 17% para 15%.
Sem considerar a entrada em cena de improbabilidades como Joaquim Barbosa e possibilidades como José Serra, registre-se que os nomes vistos como "novos", mas ainda assim políticos, estão conseguindo arrebatar o capital antes pertencente à presidente.
Se eles saberão ou poderão manter essa tendência de ganho são outros quinhentos a serem contados daqui em diante. De um jeito melhor se o governo continuar sem norte. De outro pior caso Dilma, PT e companhia recuperem a bússola perdida no baile à fantasia da popularidade desprovida de lastro na confiabilidade de palavras e gestos.
Credibilidade dá trabalho para ser construída. Em compensação, é muito mais difícil de ser destruída.
Quando se iniciaram os protestos de junho a presidente da República tinha certeza absoluta de que a coisa não era com ela. Na primeira semana Dilma Rousseff disse a um senador do PT que a procurou para alertar sobre a gravidade da situação, que não seria atingida. Segundo ela, as manifestações seriam um problema de prefeitos e governadores.
Avaliação errada, como viria a apontar a queda de popularidade e avaliação positiva de governo registrada pelo instituto Datafolha no fim daquele mês e confirmada pela pesquisa CNT realizada já na fase de refluxo (temporário?) das ruas e divulgada ontem.
A presidente tampouco deu ouvidos a tudo o que disse o ex-presidente Lula na reunião que os dois tiveram em São Paulo com o prefeito Fernando Haddad, o marqueteiro João Santana e o presidente do PT, Rui Falcão, assim que ficou evidente que a crise bateria às portas do Palácio do Planalto.
Na ocasião, ficou combinado que Dilma chamaria prefeitos e governadores para um encontro de "aconselhamento" para, em conjunto, decidirem sobre a melhor forma de reagir.
A presidente fez o contrário: convocou governadores para posarem de coadjuvantes naquele pronunciamento em que ela propôs pactos e Constituinte exclusiva mediante plebiscito para a reforma política, encerrando a transmissão pela TV Brasil antes que os chefes de executivos estaduais pudessem falar.
Com a história do plebiscito Dilma tentou transferir a responsabilidade para o Congresso que rejeitou a proposta e deu o troco: aprovou uma série de projetos de criação de despesas, obrigando-a a anunciar veto às medidas de dita "agenda positiva". Demagogia por demagogia, deu empate.
Em tese, porque na prática quem perdeu foi ela. O Congresso estava perdido há tempos. Desmoralizado, desqualificado, desprovido de gordura para queimar. Dilma não: antes de a inflação e a população darem o ar das respectivas graças, chegou a quase 75% de avaliação positiva de seu governo e bateu em 55% das intenções de voto.
Hoje, três ou quatro pesquisas, desacertos em série na economia, explosões de descontentamento e respostas erráticas depois, desceu ao patamar de 30% tanto na avaliação positiva quanto nas intenções de votos.
Segundo a pesquisa CNT, a percepção negativa mais que triplicou: foi de 9% para 29%. Pior: 44% dizem que não votam nela de jeito nenhum. Ou seja, Dilma entrou naquela faixa perigosa em que se cruzam rejeição e aprovação. Quando a primeira caminha para superar a segunda, a chance de recuperação torna-se remota.
É cedo para firmar certeza, mas vislumbra-se aí mais um erro de cálculo da oficina palaciana sobre a convicção de que Dilma Rousseff não apenas será candidata à reeleição como pode levar no primeiro turno.
Confiança esta baseada em boa medida no poder da caneta presidencial e no fato de o repúdio aos políticos alcançar a todos eles. Alcança, mas é de se observar que Marina Silva subiu de 12% para 20% e Eduardo Campos de 3% para 7% em números redondos. Aécio Neves foi de 17% para 15%.
Sem considerar a entrada em cena de improbabilidades como Joaquim Barbosa e possibilidades como José Serra, registre-se que os nomes vistos como "novos", mas ainda assim políticos, estão conseguindo arrebatar o capital antes pertencente à presidente.
Se eles saberão ou poderão manter essa tendência de ganho são outros quinhentos a serem contados daqui em diante. De um jeito melhor se o governo continuar sem norte. De outro pior caso Dilma, PT e companhia recuperem a bússola perdida no baile à fantasia da popularidade desprovida de lastro na confiabilidade de palavras e gestos.
Credibilidade dá trabalho para ser construída. Em compensação, é muito mais difícil de ser destruída.
Fala sério! - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 17/07
Parece brincadeira, mas não é. Depois de o presidente do PT, deputado Rui Falcão, ter tido o cinismo de dizer que não havia militantes petistas nas manifestações dos últimos dias porque todos estão empregados, trabalhando, agora foi a vez de o ex-presidente Lula escrever no artigo distribuído ontem pelo New York Times que os protestos que ocorreram pelo país são reflexos dos sucessos de seu governo nos campos econômico, político e social.
Como se não bastasse a contabilidade criativa com que o governo tenta esconder os fracassos de sua política econômica, temos agora a interpretação criativa para tentar esconder o que o povo foi às ruas exigir: menos corrupção, maior transparência no uso do dinheiro público, prioridades para transportes públicos, saúde e educação, e não para estádios de futebol padrão Fifa .
Trazer a Copa do Mundo para o Brasil, aliás, foi uma das grandes vitórias do governo Lula, e desde o primeiro momento houve o compromisso de que não se gastaria dinheiro público nas obras necessárias, como a construção dos estádios. O que se viu, no entanto, foi um gasto muito superior ao estimado - os gastos com estádios representam R$ 7,5 bilhões dos R$ 28,1 bilhões previstos nas obras da Matriz de Responsabilidades da Copa - com financiamentos pelo BNDES, incluindo aí o estádio do Corinthians, que teve o apadrinhamento decisivo de Lula, corintiano doente.
Embora diga que os protestos não são contra a política, mas uma vontade da juventude de participar mais diretamente dela, o ex-presidente Lula reconhece que mesmo o Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar, e que contribuiu muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de uma profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista .
Na parte de seu artigo mais conectada com a realidade, Lula lembra que as pessoas não querem apenas votar de quatro em quatro anos, (...) querem interagir com os governos locais e nacionais, e tomar parte das decisões de políticas públicas, oferecendo opiniões e decisões que os afetem todos os dias .
Lula diz ser natural que os jovens desejem mais , especialmente aqueles que têm o que seus pais não tiveram. Mas trata de encontrar desculpas para as críticas das ruas, especialmente às questões econômicas que começam a incomodar a nova classe média inventada pelo lulismo, que vê seu poder de compra ser reduzido pela inflação e pelo endividamento.
Ressalta, com razão, que a maioria das pessoas que estava nas ruas não viveu os tempos de hiperinflação. Em tempos de estagflação, Lula diz que hoje as pessoas já não se lembram dos anos 1990, quando a estagnação e o desemprego afetaram nosso país . Ao tentar minimizar os problemas de inflação que temos hoje, traz à lembrança o Plano Real, que acabou com a hiperinflação.
Sem receio de parecer incoerente, Lula admite, sem nunca afirmar explicitamente, que as manifestações têm a ver com o jogo partidário que o PT aprofundou ao chegar ao poder, gerando crises como o mensalão. Eles exigem instituições políticas mais limpas e transparentes, sem as distorções políticas e eleitorais (...) .
Da mesma forma que o presidente do PT, Rui Falcão, no programa Roda viva , também o presidente Lula admite em seu artigo a legitimidade dessas demandas . Lula diz, no entanto, que é impossível contemplá-las rapidamente . Confrontado com o fato de que a principal aliança partidária do PT é com o PMDB, cujos líderes são acusados de malversação do dinheiro público, Falcão disse que a solução do problema está no plebiscito para a reforma política.
Os dois se utilizam dos mesmos argumentos com que já tentaram transformar o mensalão em simples uso de caixa dois eleitoral, que todo partido brasileiro usaria. Também em relação aos parceiros preferenciais, em vez de uma política transparente como as ruas exigem, não há nada a se fazer no momento. Apenas não é culpa do PT.
Como se não bastasse a contabilidade criativa com que o governo tenta esconder os fracassos de sua política econômica, temos agora a interpretação criativa para tentar esconder o que o povo foi às ruas exigir: menos corrupção, maior transparência no uso do dinheiro público, prioridades para transportes públicos, saúde e educação, e não para estádios de futebol padrão Fifa .
Trazer a Copa do Mundo para o Brasil, aliás, foi uma das grandes vitórias do governo Lula, e desde o primeiro momento houve o compromisso de que não se gastaria dinheiro público nas obras necessárias, como a construção dos estádios. O que se viu, no entanto, foi um gasto muito superior ao estimado - os gastos com estádios representam R$ 7,5 bilhões dos R$ 28,1 bilhões previstos nas obras da Matriz de Responsabilidades da Copa - com financiamentos pelo BNDES, incluindo aí o estádio do Corinthians, que teve o apadrinhamento decisivo de Lula, corintiano doente.
Embora diga que os protestos não são contra a política, mas uma vontade da juventude de participar mais diretamente dela, o ex-presidente Lula reconhece que mesmo o Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar, e que contribuiu muito para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de uma profunda renovação. É preciso recuperar suas ligações diárias com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista .
Na parte de seu artigo mais conectada com a realidade, Lula lembra que as pessoas não querem apenas votar de quatro em quatro anos, (...) querem interagir com os governos locais e nacionais, e tomar parte das decisões de políticas públicas, oferecendo opiniões e decisões que os afetem todos os dias .
Lula diz ser natural que os jovens desejem mais , especialmente aqueles que têm o que seus pais não tiveram. Mas trata de encontrar desculpas para as críticas das ruas, especialmente às questões econômicas que começam a incomodar a nova classe média inventada pelo lulismo, que vê seu poder de compra ser reduzido pela inflação e pelo endividamento.
Ressalta, com razão, que a maioria das pessoas que estava nas ruas não viveu os tempos de hiperinflação. Em tempos de estagflação, Lula diz que hoje as pessoas já não se lembram dos anos 1990, quando a estagnação e o desemprego afetaram nosso país . Ao tentar minimizar os problemas de inflação que temos hoje, traz à lembrança o Plano Real, que acabou com a hiperinflação.
Sem receio de parecer incoerente, Lula admite, sem nunca afirmar explicitamente, que as manifestações têm a ver com o jogo partidário que o PT aprofundou ao chegar ao poder, gerando crises como o mensalão. Eles exigem instituições políticas mais limpas e transparentes, sem as distorções políticas e eleitorais (...) .
Da mesma forma que o presidente do PT, Rui Falcão, no programa Roda viva , também o presidente Lula admite em seu artigo a legitimidade dessas demandas . Lula diz, no entanto, que é impossível contemplá-las rapidamente . Confrontado com o fato de que a principal aliança partidária do PT é com o PMDB, cujos líderes são acusados de malversação do dinheiro público, Falcão disse que a solução do problema está no plebiscito para a reforma política.
Os dois se utilizam dos mesmos argumentos com que já tentaram transformar o mensalão em simples uso de caixa dois eleitoral, que todo partido brasileiro usaria. Também em relação aos parceiros preferenciais, em vez de uma política transparente como as ruas exigem, não há nada a se fazer no momento. Apenas não é culpa do PT.
As uvas verdes e os adversários em julho - ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 17/07
Menos propaganda, mais política, o novo lema da reeleição
Dia sim, o governo Dilma Rousseff se convence de que o governador Eduardo Campos é candidato a presidente em 2014; e dia não tem certeza que seus movimentos refluíram e o governador permanecerá aliado no primeiro e no segundo turnos da eleição presidencial. Hoje é dia sim: na avaliação do governo, depois de recuar, período em que sumiu de Brasília, dos encontros com empresários e das conversas políticas, coincidindo com os movimentos de protesto que tomaram as ruas, o governador está novamente candidato com força total. Os líderes do PSB no Congresso, seus amigos, governadores aliados e analistas de pesquisas nunca duvidaram de sua candidatura. O governo federal, porém, oscila.
E não há uma explicação para sentimentos tão opostos em espaços tão curtos de tempo. A não ser que tenha a presidente Dilma informação privilegiada sobre a veracidade dos acertos secretos que, nas conjecturas do PT, o ex-presidente Lula e o governador Eduardo Campos fazem em reuniões não registradas.
Fato é que, neste momento, para o governo, Eduardo é inimigo porque é candidato concorrente. Porém, não se sabe se por fingimento da equipe que define estratégias da reeleição, o governador de Pernambuco não ocupa o primeiro lugar nas preocupações dos encarregados de executar a nova ordem da candidatura Dilma: "Menos propaganda e mais política".
Os executores dos próximos passos da recandidatura já afastaram, também, o temor de que o ex-presidente Lula, partindo do princípio inicial de que seria candidato em 2014 se a presidente Dilma não tivesse condições de enfrentar a disputa, ceda seu lugar ao neto de Miguel Arraes.
Não haverá dois candidatos do campo governista, um do PT e um do PSB, assegura mais uma vez uma autoridade próxima à presidente candidata à reeleição. O que significa que, se Eduardo sair candidato, estará no campo da oposição e sem o apoio de Lula.
Avalia também o governo que, antes das manifestações, com a queda de seus índices de popularidade em Pernambuco, o governador manteve-se discreto porque tudo estava mais difícil para ele. Agora, quando tudo ficou mais difícil para a presidente Dilma, Eduardo teria se reanimado. Concluem os auxiliares da presidente: "O que não significa que ficaram fáceis para ele".
O governador de Pernambuco tem um problema a persegui-lo e isto é contabilizado como negativo para sua candidatura no comitê político da reeleição. Também, não caiu nas graças da "rede". Está o governador num limbo estranho da política.
Trabalham o comitê da reeleição e ministros políticos do governo com a evidência de que o movimento das ruas funcionou positivamente, sim, para a candidatura de Marina Silva e para a candidatura de Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo e relator do mensalão que continua afirmando não ser candidato. E não toma conhecimento dos resultados de pesquisas que mostram, como a feita pelo MDA, divulgada ontem, que Eduardo Campos teve crescimento na preferência do eleitorado, bem como cresceram os índices dos que declaram intenção de votar nulo ou em branco.
É frágil a nuance estabelecida na análise da equipe do governo: os votos nulos, em branco e em Marina Silva fariam parte do contingente do eleitorado que está praticando a negação da política institucionalizada. Em Eduardo Campos, não, por isso seu nome teria crescido pouco no rastro dos protestos. Uma avaliação ainda incipiente, superficial, que exige abordagem mais científica para ser crível.
Marina, nesta concepção, seria entre todos, portanto, a detentora das maiores chances de reunir apoios e vencer Dilma. Um partido não lhe faria a menor falta. Por qual partido candidatou-se Jânio Quadros? Por qual partido elegeu-se Fernando Collor? São as perguntas feitas próximo à presidente Dilma para reduzir a importância de se pertencer a uma legenda forte. O que vale é o apoio financeiro e técnico que receberá se deixar-se conduzir.
Isso significa manter consigo os assuntos que lhe interessam e deixar que Banco Central, Ministério da Fazenda e Receita Federal sigam orientados por seus apoiadores da "plutocracia financeira e industrial". Não é brincadeira, é o tipo de análise que está sendo feita pelos potenciais adversários da candidata verde.
Sobre o presidente do Supremo, que apareceu na pesquisa Datafolha com 15%, mas não foi incluído na consulta do MDA divulgada ontem, a equipe política e de propaganda da reeleição tem feito trabalhos de neutralização antecipada, levantando informações sobre o candidato para instruir ações se ele vier a ser.
Sobre o candidato do histórico adversário PSDB, Aécio Neves, fala-se pouco entre os combatentes da reeleição, mais dedicados aos fatos novos do quadro da disputa. Mas o veem sem chances, embora esteja em terceiro lugar nas pesquisas.
Enquanto parte da equipe cuida dessas questões políticas, numa tentativa de apartá-las dos domínios do publicitário João Santana, o governo deixa com o marqueteiro a aposta na recuperação da candidatura por intermédio da recuperação da economia. A inflação está caindo, registra-se no Planalto, e Guido Mantega e Alexandre Tombini encontrarão um caminho, até dezembro, para recuperar o prestígio da presidente Dilma Rousseff.
Há um grupo de bombeiros dizendo à presidente Dilma Rousseff que o PMDB não é um problema, mas uma solução. Sempre esteve onde está, não tem segredo, não tem mistério. É preciso conviver com um partido que tem quase 100 deputados e, para apoiar a presidente exige, adequadamente, participar do governo. Tem lá suas pretensões, seus objetivos. Não é preciso gostar dele, pois em política não há relação de afeto mas, prioritariamente, o que o nome diz, relação política. Não é possível escolher interlocutores, eles existem, estão ali no seu devido lugar. Todas as atividades têm seus especialistas, a política também tem. Os interlocutores não revelam o que a presidente diz após a peroração.