FOLHA DE SP - 03/06
A mulher é mulher porque sangra e, quando não mais sangra, se sente menos mulher
"Somos todos leprosos!", afirma o Monsenhor no livro "O Casamento", de Nelson Rodrigues, muito bem adaptado e dirigido por Johana Albuquerque, em cartaz no teatro Tuca.
O que quer dizer esta afirmação exagerada "Somos todos leprosos"? No romance adaptado existe uma personagem leprosa, e ela se torna, na fala do Monsenhor, o paradigma da humanidade em nossa humanidade. Todos necessitamos de misericórdia porque estamos "em pedaços", e estes pedaços "desfilam" pelo palco, gemendo de prazer e dor.
Nelson Rodrigues é um desses clássicos que todo mundo fala mas pouca gente conhece de fato. Como ele é "cult", dizer que ele é o "máximo" é algo esperado em jantares inteligentes, afora, é claro, os ignorantes que o acusam de "machista" ou, na versão mais moderninha da mesma bobagem, "sexista".
"Um Anjo Pornográfico", título da excelente biografia escrita por Ruy Castro, é uma forma precisa de descrevê-lo. Porque, mesmo sendo pornográfico, ele ultrapassa o discurso sobre sexo para falar do "miserável tédio da carne" que não fala especificamente da carne, mas sim da carne como pele da alma e não do corpo. Seus textos parecem confissões de agonia da alma diante do pecado, na mais velha tradição cristã do começo do cristianismo.
Nelson não é um mero autor de sacanagem (Nelson não é um Sade pernambucano), mas sim um autor espiritual, no sentido mais forte da palavra, talvez, o melhor teólogo que o Brasil já produziu, já que nos últimos anos a teologia brasileira é mais autoajuda do que qualquer outra coisa.
Se formos situá-lo na tradição ocidental, eu o colocaria no encontro entre três gigantes: Freud (sexo como centro dilacerante da alma), Dostoiévski (a alma só sobrevive numa atmosfera de misericórdia porque seu elemento natural é o perdão) e Santo Agostinho (a consciência de que todo drama do corpo é em si um drama da alma). A obra rodriguiana faz de Freud um teólogo.
A expressão "Sol sobre o pântano", que descreve muito bem o efeito causado pela montagem de Johana Albuquerque, é um modo presente na fortuna crítica para nomear a obra dramatúrgica de Nelson: sua obra ilumina nossa miséria. A expressão foi usada por Léo Gilson Ribeiro, nos anos 1960, num texto no qual ele diz ser nosso maior dramaturgo um expressionista brasileiro.
Nelson era um obcecado por sexo, adultério, sífilis, crime passional, homossexualismo (pederastia), cunhadas gostosas, todas umas Lolitas cariocas. "Em cada esquina do subúrbio carioca existe uma Anna Karenina e uma Emma Bovary", dizia Nelson. No Brasil, a tragédia anda de lotação.
No mesmo artigo, Léo Gilson Ribeiro cita a famosa passagem na qual Nelson, comentando sua peça "Bonitinha, mas Ordinária", afirma que "a nossa opção é entre a angústia e a gangrena. Ou o sujeito se angustia ou apodrece. E se me perguntarem o que eu quero dizer com a minha peça, eu responderia: que só os neuróticos verão a Deus".
Nelson ri dos idiotas que ainda afirmam que no sexo há redenção e que a revolução sexual nos salvará do tédio. Não, o sexo como sentido da vida é tédio puro. Só idealiza o sexo quem não faz muito sexo. No "Casamento" não é outro o sentido do suicídio de Antônio Carlos, o comedor de todas a mulheres do mundo.
As risadas artificiais desvelam o vazio que carrega os personagens arrastados por protocolos: "Não se adia um casamento na véspera só porque a noiva está menstruada!", de novo, decreta o Monsenhor, o oráculo do romance.
No sexo da mulher, o sangue menstrual que escorre pelas suas pernas define sua feminilidade. A mulher é mulher porque sangra e sangra porque pode ser fecundada no coito e, quando não mais sangra, se sente menos mulher.
Este mesmo oráculo que diz que o sexo é uma mijada (afinal, o órgão sexual é o mesmo que mija, tanto no homem como na mulher e na mulher também sangra), enuncia a diferença final entre nós e os animais: "a culpa faz de nós humanos". A dor da alma é que nos mantém de pé.
Se na teologia clássica é dito que só os pecadores verão a Deus, na teologia rodriguiana só os neuróticos verão a Deus.
segunda-feira, junho 03, 2013
Cérebro de formiga - LULI RADFAHRER
FOLHA DE SP - 03/06
Processadores menores que um grão de areia permitirão colocar computadores em quase qualquer objeto
Uma formiga sozinha é inofensiva. Até mesmo a rainha, retratada em desenhos animados como estrategista, não passa de uma operária cuja única função é gerar novas crias. Em conjunto, no entanto, não há quem possa com elas.
Há formigueiros tão grandes que seriam inimagináveis em nossa escala. A formiga argentina, nativa do Pantanal, pega carona em navios para se espalhar pelo mundo, formando supercolônias. A maior delas contorna o mar Mediterrâneo. Seus parentes habitam um formigueiro de 900 quilômetros no litoral da Califórnia e outro de tamanho equivalente no Japão.
O planeta está dividido entre as duas civilizações que desenvolveram técnicas de organização social, cultivo de plantas, criação de comida e guerra. Nós somos a segunda. Com cerca de 1,6 milhão de formigas para cada ser humano, as biomassas das duas espécies se equivalem.
Esse mecanismo emergente de coordenação indireta, presente nos insetos de comportamento social, como vespas e abelhas, é chamado de estigmergia, e tem influenciado várias pesquisas em inteligência artificial.
Na natureza, as formigas inicialmente andam sem rumo, em busca de comida. Quando encontram, voltam para a colônia deixando um rastro de feromônios que será identificado e seguido por outros. Com o tempo, os feromônios evaporam, deixando marcada somente a trilha mais usada.
É impressionante como um conjunto de tarefas pequenas pode gerar estruturas tão grandes. Mas essa organização emergente é mais comum do que parece. Em uma favela, por exemplo, não há arquitetos ou urbanistas a planejar a posição de casas e ruas. Cada barraco é construído segundo regras bastante simples de convívio, que geram estruturas que desafiam morros e vales, a ponto de, na ocorrência de incêndios nelas, a maioria das perdas ser só material.
Algoritmos de simulação e interação pesquisam o comportamento de formigas e abelhas, procurando compreendê-lo e otimizá-lo para várias aplicações, deslocando parâmetros para testar todas as soluções probabilísticas, combinando técnicas e decidindo qual a melhor a usar.
Suas aplicações podem ser extensas, como a determinação de rotas para veículos autônomos e a medicina em escala celular, com nanorrobôs para caçar tumores. Algumas de suas aplicações práticas já podem ser vistas nos efeitos especiais em cinema e games, como as batalhas de "Senhor dos Anéis" e as revoadas de morcegos em "Batman".
Já existem protótipos de impressoras 3D capazes de posicionar centenas de milhares de processadores menores do que um grão de areia, no lugar e na orientação precisa. Elas serão capazes de criar computadores em praticamente qualquer objeto, capazes de identificar mudanças de temperatura, pressão ou situação e, a partir dessas informações, agir. O resultado pode ser uma camiseta que está sempre na temperatura certa, um sapato que nunca escorrega ou aparelhos muito mais sofisticados do que os que hoje temos a ousadia de chamar de computadores.
Por ser capaz de criar estruturas simples, baratas, robustas e extremamente resilientes, essa inteligência permitirá que, em um futuro próximo, a percepção do ambiente esteja em praticamente todos os objetos, de roupas a naves espaciais, medicamentos a casas.
É um tipo muito estranho de inteligência, mas não duvido que nos acostumemos rapidamente a ela. Da mesma forma que os objetos um dia foram enriquecidos com eletricidade e fibras sintéticas, não tardará para que tenham uma camada computacional.
Processadores menores que um grão de areia permitirão colocar computadores em quase qualquer objeto
Uma formiga sozinha é inofensiva. Até mesmo a rainha, retratada em desenhos animados como estrategista, não passa de uma operária cuja única função é gerar novas crias. Em conjunto, no entanto, não há quem possa com elas.
Há formigueiros tão grandes que seriam inimagináveis em nossa escala. A formiga argentina, nativa do Pantanal, pega carona em navios para se espalhar pelo mundo, formando supercolônias. A maior delas contorna o mar Mediterrâneo. Seus parentes habitam um formigueiro de 900 quilômetros no litoral da Califórnia e outro de tamanho equivalente no Japão.
O planeta está dividido entre as duas civilizações que desenvolveram técnicas de organização social, cultivo de plantas, criação de comida e guerra. Nós somos a segunda. Com cerca de 1,6 milhão de formigas para cada ser humano, as biomassas das duas espécies se equivalem.
Esse mecanismo emergente de coordenação indireta, presente nos insetos de comportamento social, como vespas e abelhas, é chamado de estigmergia, e tem influenciado várias pesquisas em inteligência artificial.
Na natureza, as formigas inicialmente andam sem rumo, em busca de comida. Quando encontram, voltam para a colônia deixando um rastro de feromônios que será identificado e seguido por outros. Com o tempo, os feromônios evaporam, deixando marcada somente a trilha mais usada.
É impressionante como um conjunto de tarefas pequenas pode gerar estruturas tão grandes. Mas essa organização emergente é mais comum do que parece. Em uma favela, por exemplo, não há arquitetos ou urbanistas a planejar a posição de casas e ruas. Cada barraco é construído segundo regras bastante simples de convívio, que geram estruturas que desafiam morros e vales, a ponto de, na ocorrência de incêndios nelas, a maioria das perdas ser só material.
Algoritmos de simulação e interação pesquisam o comportamento de formigas e abelhas, procurando compreendê-lo e otimizá-lo para várias aplicações, deslocando parâmetros para testar todas as soluções probabilísticas, combinando técnicas e decidindo qual a melhor a usar.
Suas aplicações podem ser extensas, como a determinação de rotas para veículos autônomos e a medicina em escala celular, com nanorrobôs para caçar tumores. Algumas de suas aplicações práticas já podem ser vistas nos efeitos especiais em cinema e games, como as batalhas de "Senhor dos Anéis" e as revoadas de morcegos em "Batman".
Já existem protótipos de impressoras 3D capazes de posicionar centenas de milhares de processadores menores do que um grão de areia, no lugar e na orientação precisa. Elas serão capazes de criar computadores em praticamente qualquer objeto, capazes de identificar mudanças de temperatura, pressão ou situação e, a partir dessas informações, agir. O resultado pode ser uma camiseta que está sempre na temperatura certa, um sapato que nunca escorrega ou aparelhos muito mais sofisticados do que os que hoje temos a ousadia de chamar de computadores.
Por ser capaz de criar estruturas simples, baratas, robustas e extremamente resilientes, essa inteligência permitirá que, em um futuro próximo, a percepção do ambiente esteja em praticamente todos os objetos, de roupas a naves espaciais, medicamentos a casas.
É um tipo muito estranho de inteligência, mas não duvido que nos acostumemos rapidamente a ela. Da mesma forma que os objetos um dia foram enriquecidos com eletricidade e fibras sintéticas, não tardará para que tenham uma camada computacional.
Cuidado, a conta pode ficar altíssima! - MARCIO BRAGA
O GLOBO - 03/06
Todo cuidado é pouco! Em vez de aproveitarem as novas arenas construídas para a Copa do Mundo como fontes de novas receitas, os clubes brasileiros podem acabar pagando uma conta altíssima.
O jogo de inauguração da arena de Brasília é emblemático. O Santos tem o mando de campo, o Flamengo tem a torcida e nenhum dos dois fica com o dinheiro.
Outro exemplo é a privatização do Maracanã, cujo edital impede a participação dos clubes de futebol na administração do estádio, que, no fim das contas, é de futebol.
Os clubes correm sério risco de sacrificar projetos muito mais rentáveis e adequados às suas necessidades para pagar a conta desse investimento bilionário, pois sãos eles os principais, senão únicos, responsáveis pelo público.
Uma boa evidência disso é a situação do Flamengo, que está na Gávea desde 1932 e teve seu estádio ativo até a década de 60, quando cedeu parte de sua área para a Rua Mário Ribeiro e o anel de tráfego da Lagoa, colaborando para facilitar o trânsito entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca.
Em 2007, o Flamengo tinha todas as autorizações e licenças necessárias para o Programa de Revitalização da Gávea, que incluía a construção de um estádio novo para 30.000 lugares, ampliação das instalações para esportes olímpicos, expansão da sede social e construção do Centro de Excelência de Remo, com garantia de viabilidade econômica sustentável pela integração de um centro de lazer e compras, com lojas, cinemas, restaurantes, espaço para eventos e estacionamento para 1.836 carros, que funcionaria independente dos dias de jogo e, segundo a FGV, geraria mais de 3.000 empregos diretos. Com o apoio das autoridades e de 73% dos moradores da região, conforme pesquisa feita pelo Ibope à época, esta iniciativa revitalizaria o clube e toda área ao seu redor.
Tudo mudou quando o Governo decidiu privatizar o Maracanã e encomendou estudos à empresa americana Booz Allen Hamilton, que apontou que o Flamengo era responsável direto por 70% das receitas do Maracanã. Diante deste número, o governador Sérgio Cabral resolveu revogar a autorização que o Flamengo havia recebido de sua antecessora e acabou com o Programa de Revitalização da Gávea, dizendo que o Maracanã seria do Flamengo. Então, o hoje prefeito, à época secretário de Esporte, Eduardo Paes, começou a estruturar a privatização do estádio, incentivando que Flamengo, Fluminense e CBF formassem um consórcio com uma empresa inglesa chamada ISG, que se apresentava como braço da IMG, hoje sócia de Eike Batista na IMX.
Flamengo, Fluminense, CBF e ISG assinaram protocolos em 2008 e investiram em estudos de viabilidade, projeções econômico-financeiras, pesquisas de mercado e projetos arquitetônicos e de engenharia para remodelagem e reforma do Maracanã, que custaria R$ 600 milhões e seria paga pela ISG, através de seu Fundo Stadia, sem nenhum investimento público.
Tudo mudou novamente, em 2009, com a Odebrecht se associando à ISG e impondo mudanças aos protocolos já assinados em 2008 com os objetivos de elevar o custo da obra para R$ 1 bilhão e excluir Flamengo, Fluminense e CBF do eixo central do consórcio. Hoje, depois de receber bem mais que R$ 1 bilhão dos cofres públicos, a Odebrecht detém 90% do consórcio que pretende administrar o estádio por 35 anos, e os clubes foram excluídos no próprio edital de privatização feito pelo Governo do Estado.
Mas algumas coisas não mudam: o Flamengo continua sendo responsável por 70% do potencial de receitas do futebol do Rio de Janeiro e, enquanto não constrói seu próprio estádio, joga em casa no Maracanã e na maioria das arenas da Copa do Mundo, afinal, segundo pesquisas do Ibope, os torcedores rubro-negros são maio-ria em todos os estados do Brasil, exceto Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo, onde é a 4ª maior torcida.
Por essas e outras, os clubes brasileiros não podem abrir mão dos seus estádios. O Flamengo, de preferência na Gávea, como instrumento de revitalização do clube todo, e a exemplo de Chelsea e Paris Saint-Germain, cujos estádios aumentam muito suas receitas e se localizam em áreas nobres de Londres e Paris, que, diga-se de passagem, também contam com estádios monumentais como Wembley e Stade de France.
Sem pressão não há solução - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 03/06
Reza a cultura parlamentar que, para obter benesses (cargos e emendas) do governo federal, é preciso pressionar. É assim que os congressistas fazem para obter alguma coisa do governo. O mesmo vale para o público. Se você que está aí sentado lendo esta coluna deseja o fim do voto secreto em todas as situações dentro do Congresso Nacional, é bom se levantar da cadeira, procurar abaixo-assinados, ligar para o deputado e o senador que você votou. Enfim, trabalhar por isso. Se não for assim, a proposta ficará por aí, pairando de uma comissão a outra, sem desfecho porque hoje não há a menor intenção do Congresso em fazer valer o voto aberto em todas as situações.
O fato de os congressistas não estarem dispostos a acabar com o voto secreto, em especial no caso dos vetos presidenciais, tem motivos que vão além da vontade de não querer se expor ao troco do governo na hora das indicações a cargos no Executivo. É que, na atual conjuntura, os vetos servem para que muitos preparem uma cama de gato para a presidente Dilma Rousseff, colocando em pauta em uma série de vetos.
Só em 2011, Dilma vetou 37 projetos de lei aprovados pelo Congresso. No ano passado, foram os royalties do petróleo, cujo veto acabou derrubado em março deste ano. Os mais polêmicos são os que se referem ao Código Florestal, à Emenda 29 (que estabelece o aumento anual dos recursos da área de saúde) e, ainda, ao fator previdenciário.
A ideia, ainda discutida apenas nos bastidores entre alguns parlamentares, é incitar uma maioria a apreciar os tais vetos que descansam nos escaninhos da Casa há décadas. A pressão deve começar esta semana. E não precisa muito para deixar os congressistas animados com essa possibilidade de apreciar vetos, uma vez que há um desejo dos parlamentares de ficar bem com a opinião pública e uma das formas é abrir a sacola de bondades.
Nesse desejo de abrir a caixa de doces para o povo, a apreciação do veto ao fator previdenciário ocupa o primeiro lugar na fila, conforme me relataram alguns parlamentares influentes no Congresso. Em entrevistas, o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, tem defendido algumas condições para a extinção do fator previdenciário. A principal delas é a definição da idade mínima para aposentadoria.
O ministro tem dito que só com o fator previdenciário a Previdência consegue uma receita de R$ 11 bilhões, uma vez que as pessoas têm optado por se aposentar em média com 54 anos, e um benefício entre 25% e 30% menor, do que esperar atingir o somatório de idade e tempo de contribuição para ter direito ao valor cheio, o que só aconteceria depois dos 60 anos. E é essa diferença que permitiu no ano passado uma economia de R$ 11 bilhões.
Embora Garibaldi seja do PMDB e primo do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, esse parentesco em princípio parece não ser levado em conta na hora de pressionar o governo. Ao contrário, o fator previdenciário por ser da área teoricamente administrada pelos peemedebistas serve para ressaltar que a insatisfação na base é tanta que nem em sua própria área o PMDB consegue segurar os projetos que não são prioridade para o governo. (Vale lembrar que esse comando partidário é mesmo na teoria porque o próprio Garibaldi já disse que Carlos Eduardo Gabas tinha sido indicado secretário executivo para vigiá-lo).
Por falar em vigiar...
Obviamente, os parlamentares não querem tratar de vetos indigestos para o governo no voto aberto, onde o presidente da República, seja quem for, saberá como cada um se posicionou. O mesmo vale para aqueles interessados em agradar o Poder Executivo. Eles preferem votar secretamente para evitar que a população tenha ciência da vassalagem ao Planalto. Ou seja, o voto secreto interessa hoje a uma maioria de deputados.
A reportagem de Juliana Colares, ontem no Correio Braziliense, nos mostra que muitos mudaram de opinião sobre o voto secreto e cita especialmente os vetos presidenciais. A tendência, conforme revela o texto, é abrir o voto apenas para casos de cassação de mandato. O que não está dito por nenhum deputado de viva-voz é que um dos motivos para não tornar todas as votações abertas é o interesse da base em emparedar o (a) presidente da República, independentemente de estilo ou partido. No caso de Dilma, o voto secreto permitiu a rejeição do nome de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres(ANTT). Dilma não gostou. Sem ter como identificar exatamente de onde haviam partido as traições, terminou por expulsar o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do cargo de líder do governo.
Anedotário - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 03/06
SÃO PAULO - "Ouvi que vai ter neve amanhã", diz a dona de casa. "Não vou entrar na fila por isso", retruca a vizinha. Após levar horas para obter sua ração, um homem parte furioso, dizendo que vai matar o líder Gorbatchov. Volta logo e frustrado: lá a fila estava ainda maior.
Assim era o humor popular sob as ditaduras socialistas do leste europeu. Caviloso, sarcástico e às vezes masoquista. Servia como válvula de escape em regimes que reprimiam a informação e o contraditório. Rebatia, com a tinta da penúria cotidiana, a propaganda oficial laudatória.
A presidente Dilma Rousseff exerce um estilo de governo que por vezes lembra o solipsismo dos secretários-gerais soviéticos. Obsessiva pelo controle da informação, distanciada do mundo sublunar da política congressual e partidária, desconfiada dos assessores e da própria sombra.
Plano C de Lula para a sucessão de 2010 --depois de queimados os cartuchos de Dirceu e Palocci--, Dilma não tem base regional. Não se pode dizer de pronto onde fez carreira política. É típica representante da categoria que o filósofo Friedrich Nietzsche chamou de "nômades do Estado sem lar", ao referir-se aos burocratas das nações modernas.
Rousseff é uma ideia instalada na cadeira presidencial. Na leitura complacente, uma ideia ingênua demais para sobrepujar as cobras criadas da política brasileira, em especial quando o vento da economia bate na proa.
A governante solitária vê-se agora no centro de anedotas desfavoráveis. A obsessão pelo controle resvala no descontrole com as tentativas de pilotar até o avião presidencial. A compra urgente de um fogão para o Palácio da Alvorada enseja gracejos machistas. Virão mais casos reveladores da personalidade difícil, muitos brotando de sua camarilha.
Eis a mudança: nem o círculo próximo à presidente segura mais as críticas a seu modo de conduzir. Elas começam a fluir sob a forma de maledicências e anedotas variadas.
SÃO PAULO - "Ouvi que vai ter neve amanhã", diz a dona de casa. "Não vou entrar na fila por isso", retruca a vizinha. Após levar horas para obter sua ração, um homem parte furioso, dizendo que vai matar o líder Gorbatchov. Volta logo e frustrado: lá a fila estava ainda maior.
Assim era o humor popular sob as ditaduras socialistas do leste europeu. Caviloso, sarcástico e às vezes masoquista. Servia como válvula de escape em regimes que reprimiam a informação e o contraditório. Rebatia, com a tinta da penúria cotidiana, a propaganda oficial laudatória.
A presidente Dilma Rousseff exerce um estilo de governo que por vezes lembra o solipsismo dos secretários-gerais soviéticos. Obsessiva pelo controle da informação, distanciada do mundo sublunar da política congressual e partidária, desconfiada dos assessores e da própria sombra.
Plano C de Lula para a sucessão de 2010 --depois de queimados os cartuchos de Dirceu e Palocci--, Dilma não tem base regional. Não se pode dizer de pronto onde fez carreira política. É típica representante da categoria que o filósofo Friedrich Nietzsche chamou de "nômades do Estado sem lar", ao referir-se aos burocratas das nações modernas.
Rousseff é uma ideia instalada na cadeira presidencial. Na leitura complacente, uma ideia ingênua demais para sobrepujar as cobras criadas da política brasileira, em especial quando o vento da economia bate na proa.
A governante solitária vê-se agora no centro de anedotas desfavoráveis. A obsessão pelo controle resvala no descontrole com as tentativas de pilotar até o avião presidencial. A compra urgente de um fogão para o Palácio da Alvorada enseja gracejos machistas. Virão mais casos reveladores da personalidade difícil, muitos brotando de sua camarilha.
Eis a mudança: nem o círculo próximo à presidente segura mais as críticas a seu modo de conduzir. Elas começam a fluir sob a forma de maledicências e anedotas variadas.
A Aliança do Pacífico, o Brasil e o Mercosul - PEDRO SIMON
ZERO HORA - 03/06
É com angústia que vejo e analiso as declarações de autoridades diplomáticas brasileiras sobre a Aliança do Pacífico. Houve quem afirmasse que ela "não tira o sono do Brasil". Uma opinião destemida, mas não apropriada quando se trata de um tema vital para os interesses estratégicos do país.
Assim, a criação de um novo bloco de países na América Latina, com suas implicações geopolíticas, comerciais e econômicas é analisada de forma superficial. Não se concebe que esse acontecimento não cause a mais leve apreensão, tanto por parte do governo, quanto pelo Itamaraty.
Ao contrário, o assunto é visto com displicência, um quase desdém, embora a Aliança do Pacífico tenha potencial para causar forte impacto no sonho da integração latino-americana. A começar pela redução do poder de atração representado pelo Mercosul, criado há duas décadas e em permanente instabilidade.
A Aliança representa um forte contraponto à influência política e econômica do Brasil na região. Formada há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru, contabilizou no ano passado US$ 556 bilhões em exportações, contra US$ 335 bilhões registrados no comércio tradicional entre os países que integram o Mercosul.
É compreensível que a Aliança, subestimada no Brasil, seja acompanhada com maior objetividade por outros países. Estados Unidos, Canadá, Panamá e Costa Rica estão mais diretamente interessados. Ao mesmo tempo, França, Japão, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália enviaram observadores à recente reunião de cúpula do grupo.
É quase inacreditável que todo esse barulho em nossa vizinhança, não desperte qualquer curiosidade por aqui. Tanta movimentação política e comercial na nossa retaguarda deveria _ isso sim _ despertar luzes amarelas piscantes no Itamaraty.
Mas, a preferência nesse ambiente é por outras cores. Talvez considere mais atraente o azul da bandeira da combalida União Europeia, com a qual o Mercosul tenta formalizar, há uma década, um acordo comercial capaz de equilibrar interesses da indústria e da agricultura de ambos os lados.
Nesse vácuo de interesse, cabe grande responsabilidade ao Senado e, especialmente, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa. Daí, nossa sugestão de realização de uma audiência pública com autoridades e a quem mais interessar, para que possamos debater com profundidade a Aliança do Pacífico e suas implicações geoestratégicas, políticas e comerciais no continente, levando em conta, principalmente, o Brasil e o Mercosul.
É com angústia que vejo e analiso as declarações de autoridades diplomáticas brasileiras sobre a Aliança do Pacífico. Houve quem afirmasse que ela "não tira o sono do Brasil". Uma opinião destemida, mas não apropriada quando se trata de um tema vital para os interesses estratégicos do país.
Assim, a criação de um novo bloco de países na América Latina, com suas implicações geopolíticas, comerciais e econômicas é analisada de forma superficial. Não se concebe que esse acontecimento não cause a mais leve apreensão, tanto por parte do governo, quanto pelo Itamaraty.
Ao contrário, o assunto é visto com displicência, um quase desdém, embora a Aliança do Pacífico tenha potencial para causar forte impacto no sonho da integração latino-americana. A começar pela redução do poder de atração representado pelo Mercosul, criado há duas décadas e em permanente instabilidade.
A Aliança representa um forte contraponto à influência política e econômica do Brasil na região. Formada há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru, contabilizou no ano passado US$ 556 bilhões em exportações, contra US$ 335 bilhões registrados no comércio tradicional entre os países que integram o Mercosul.
É compreensível que a Aliança, subestimada no Brasil, seja acompanhada com maior objetividade por outros países. Estados Unidos, Canadá, Panamá e Costa Rica estão mais diretamente interessados. Ao mesmo tempo, França, Japão, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália enviaram observadores à recente reunião de cúpula do grupo.
É quase inacreditável que todo esse barulho em nossa vizinhança, não desperte qualquer curiosidade por aqui. Tanta movimentação política e comercial na nossa retaguarda deveria _ isso sim _ despertar luzes amarelas piscantes no Itamaraty.
Mas, a preferência nesse ambiente é por outras cores. Talvez considere mais atraente o azul da bandeira da combalida União Europeia, com a qual o Mercosul tenta formalizar, há uma década, um acordo comercial capaz de equilibrar interesses da indústria e da agricultura de ambos os lados.
Nesse vácuo de interesse, cabe grande responsabilidade ao Senado e, especialmente, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa. Daí, nossa sugestão de realização de uma audiência pública com autoridades e a quem mais interessar, para que possamos debater com profundidade a Aliança do Pacífico e suas implicações geoestratégicas, políticas e comerciais no continente, levando em conta, principalmente, o Brasil e o Mercosul.
"O que museu tem a ver com educação?" - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 03/05
É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família, nos últimos dias 18 e 19, unicamente para atribuir sua autoria à oposição , responsável por ela mediante a difusão de boatos . O risco seria demasiado grande . E se a movimentação inesperada de cerca de um milhão de pessoas em 13 estados tivesse resultado em mortos e feridos? E se , em vez de um milhão , tivessem sido quatro, cinco milhões?
TUDO BEM, como adiantou o ministro Gilberto Carvalho: o bicho vai pegar este ano, véspera da reeleição de Dilma ou de uma improvável derrota dela. Está pegando. Faz-se o diabo para ganhar , disse a própria Dilma. Mas ninguém, em sã consciência, rasga dinheiro. Vence quem erra menos. Ousadia em excesso épara quem está desesperado. Ou aloprou.
EM 2006, candidato à reeleição , Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no primeiro turno . Havia sobrevivido ao escândalo do mensalão graças ao erro de cálculo da oposição que, ao impeachment, preferiu esperar que ele sangrasse sozinho até a última gota. Mas, aí, funcionários da campanha de Lula alopraram encomendando um falso dossiê contra Alckmin e José Serra.
FOI UM LANCE com direito a mala abarrotada de dinheiro, batida da Polícia Federal em hotel no meio da noite e prisão do coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo e adversário de Serra. Para não responder sobre os aloprados, Lula fugiu ao último debate dos candidatos a presidente promovido pela TV Globo. Sua vitória acabou adiada.
O CASO DOS aloprados ficou por isso mesmo. Ao do Bolsa Família parece reservado o mesmo destino. Tudo indica que não estamos diante de um crime ardilosamente concebido. O mais provável é que tenha havido na Caixa um absurdo erro administrativo . E que, em seguida, se tenha tentado aproveitá-lo para desgastar a oposição. Nada de surpreendente .
O PRESIDENTE DA Caixa afirmou que só soube de parte do que acontecera na segunda-feira, 20. Lorota : soube na tarde do sábado, 18, que a Caixa adiantara, na véspera, o pagamento do benefício de maio de quase 700 mil pessoas. Por fim, disse que precisou de cinco dias para se inteirar dos detalhes do desastre. Lorota : bastou o fim de semana, dispensado até um pulo ao prédio da Caixa para uma reunião de emergência.
DE QUANTOS dias precisaria a oposição para armar uma operação de telemarketing capaz de atingir um milhão de pessoas distribuídas por 13 estados? Vazou da Caixa o cadastro com os números de telefones de uma fatia dos clientes do Bolsa? Ou a empresa de telemarketing disparou telefonemas aleatórios, tendo a sorte de alcançar quem, mais tarde, disseminaria boca a boca o boato do fim do programa? HÁ
HÀ PONTOS OBSCUROS de sobra a respeito do episódio. Um jornal paulista cobrou do governo respostas para todos eles. Ouviu de volta : os esclarecimentos já foram dados, ora. Evidente que não foram. Se a imprensa não existisse, os governos seriam mais felizes. Em compensação, o distinto público seria mais enganado do que costuma ser - dia sim, outro não. Ou dia sim e outro também.
A DONA DO GATILHO mais rápido do cerrado, a justiceira implacável que nada perdoa e cultiva o medo nos seus domínios, autorizou a publicação de uma nota em defesa da direção da Caixa. Se assim não procedesse, reconheceria que seu governo erra - e como erra! O passo seguinte seria se livrar de auxiliares tão descuidados. Um deles pediu desculpas aos brasileiros. Dilma é
Legado - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 03/06
Uma coincidência do destino levou num curto espaço de tempo dois dos mais expressivos nomes da história da imprensa e da comunicação no Brasil: Roberto Civita, diretor editorial e presidente do conselho de administração do Grupo Abril, e Ruy Mesquita, diretor do jornal "O Estado de S. Paulo".
Não convivi com Ruy Mesquita, mas me lembro, ainda muito jovem, das referências que meu avô, Tancredo Neves, fazia à maneira inteligente e corajosa que o "Estadão" e o "Jornal da Tarde" encontravam para denunciar a censura da ditadura militar.
Eram usados trechos de "Os Lusíadas", de Camões, e receitas de bolo, em substituição aos textos e fotos cortados pelos censores. Dessa forma, os leitores eram informados da violência que era praticada contra a democracia.
Embora pertencendo a gerações diferentes, tive o privilégio da amizade de Roberto Civita, um dos homens mais extraordinários que conheci.
Em nossos encontros, demonstrava uma crença sempre otimista em relação ao Brasil, mesmo diante dos grandes problemas estruturais e das mazelas da conjuntura política.
Registrei outro dia que Roberto Civita viveu e morreu sem perder a capacidade de sonhar com um Brasil investindo na educação de qualidade para que pudéssemos construir um futuro melhor.
Falava com entusiasmo sobre a importância da educação como espinha dorsal de um projeto de nação. De um lado, o esforço por parte do governo, em suas três instâncias, federal, estadual e municipal.
De outro, a responsabilidade das empresas. Defendia uma maior mobilização da sociedade que pudesse promover o grande e necessário salto do nosso sistema educacional. A implantação da nossa moderna indústria cultural está ligada à história da Abril.
Todos sabemos que há momentos na vida de um país em que a coragem pessoal de um homem pode fazer grande diferença. Roberto Civita levou ao extremo o seu compromisso e o seu amor pelo Brasil fazendo um jornalismo destemido, enfrentando interesses poderosos, não se submetendo a nenhum tipo de pressão.
A "Veja" --uma das maiores revistas semanais de informação do mundo, também censurada brutalmente no regime militar-- foi trincheira da luta contra a ditadura e continua fiel ao compromisso de seu fundador: fazer um jornalismo a favor dos brasileiros.
As biografias de Civita e Ruy Mesquita se cruzam em diversos pontos, em particular na resistência ao arbítrio.
Eles são merecedores das justas homenagens prestadas nos dias recentes, às quais aqui me associo.
Felizmente, vivemos hoje numa sociedade consciente da importância de mantermos intactas as conquistas democráticas pelas quais tantos lutaram e, em especial, a plena liberdade de imprensa.
Uma coincidência do destino levou num curto espaço de tempo dois dos mais expressivos nomes da história da imprensa e da comunicação no Brasil: Roberto Civita, diretor editorial e presidente do conselho de administração do Grupo Abril, e Ruy Mesquita, diretor do jornal "O Estado de S. Paulo".
Não convivi com Ruy Mesquita, mas me lembro, ainda muito jovem, das referências que meu avô, Tancredo Neves, fazia à maneira inteligente e corajosa que o "Estadão" e o "Jornal da Tarde" encontravam para denunciar a censura da ditadura militar.
Eram usados trechos de "Os Lusíadas", de Camões, e receitas de bolo, em substituição aos textos e fotos cortados pelos censores. Dessa forma, os leitores eram informados da violência que era praticada contra a democracia.
Embora pertencendo a gerações diferentes, tive o privilégio da amizade de Roberto Civita, um dos homens mais extraordinários que conheci.
Em nossos encontros, demonstrava uma crença sempre otimista em relação ao Brasil, mesmo diante dos grandes problemas estruturais e das mazelas da conjuntura política.
Registrei outro dia que Roberto Civita viveu e morreu sem perder a capacidade de sonhar com um Brasil investindo na educação de qualidade para que pudéssemos construir um futuro melhor.
Falava com entusiasmo sobre a importância da educação como espinha dorsal de um projeto de nação. De um lado, o esforço por parte do governo, em suas três instâncias, federal, estadual e municipal.
De outro, a responsabilidade das empresas. Defendia uma maior mobilização da sociedade que pudesse promover o grande e necessário salto do nosso sistema educacional. A implantação da nossa moderna indústria cultural está ligada à história da Abril.
Todos sabemos que há momentos na vida de um país em que a coragem pessoal de um homem pode fazer grande diferença. Roberto Civita levou ao extremo o seu compromisso e o seu amor pelo Brasil fazendo um jornalismo destemido, enfrentando interesses poderosos, não se submetendo a nenhum tipo de pressão.
A "Veja" --uma das maiores revistas semanais de informação do mundo, também censurada brutalmente no regime militar-- foi trincheira da luta contra a ditadura e continua fiel ao compromisso de seu fundador: fazer um jornalismo a favor dos brasileiros.
As biografias de Civita e Ruy Mesquita se cruzam em diversos pontos, em particular na resistência ao arbítrio.
Eles são merecedores das justas homenagens prestadas nos dias recentes, às quais aqui me associo.
Felizmente, vivemos hoje numa sociedade consciente da importância de mantermos intactas as conquistas democráticas pelas quais tantos lutaram e, em especial, a plena liberdade de imprensa.
Experts, domésticas e maias - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 03/06
Raras vezes uma mudança legal alcançou apoio tão unânime na opinião pública quanto a emenda que igualou os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores. Pesquisa inédita do Ibope mostra que 91% dos brasileiros são a favor. Só 3% são contra. Os demais não souberam ou não quiseram responder.
O apoio é homogêneo. Independe de renda, escolaridade ou região. Em poucos segmentos os que aprovam são menos de 90%. Entre quem emprega domésticas beneficiadas pela nova legislação a aprovação é menor, mas a maioria ainda é avassaladora: 83% de apoio. Só 10% dos patrões se declaram contrários aos benefícios - como direito a hora extra e adicional noturno.
O apoio declarado é tão amplo, geral e irrestrito que até suscita dúvidas: se praticamente todo mundo é a favor, por que custou tanto para a nova legislação ser aprovada? Será que há uma dose de "politicamente correto" ou mesmo de vergonha a inibir parte dos brasileiros de se declarar contrário à mudança?
Pode ser que haja uma "espiral do silêncio" que oculte parte dos descontentes. Mas uma explicação melhor é que o universo dos que são diretamente prejudicados pela emenda é muito pequeno.
Só metade dos 8% de brasileiros que empregam domésticas estarão obrigados a adaptar-se à nova legislação. São os 4% de empregadores de mensalistas ou de diaristas que trabalham pelo menos três vezes por semana no mesmo domicílio. Os outros 4% têm domésticas no máximo por dois dias por semana e estão fora da nova regra.
Também não é por ignorar a dimensão da chamada PEC das Domésticas que os brasileiros apoiam a mudança: 79% já tinham ouvido falar no assunto quando foram abordados pelo Ibope. Mesmo nas classes D/E dois em cada três declararam estar a par da mudança.
A confirmar que as pessoas sabem do que estão falando, a maioria vê dificuldades para os patrões cumprirem as novas regras: 30% acham que os empregadores estão tendo "muita dificuldade" para seguir a lei, e outros 38% avaliam que eles têm "alguma dificuldade". Curiosamente, a preocupação é maior entre quem não tem empregada (70%) do que entre quem tem (63%).
Na opinião dos brasileiros, as consequências da nova legislação serão muito menos negativas do que as previsões apocalípticas feitas antes e depois da votação. Os experts acertaram tanto quanto os maias.
A maior parte vê alguma forma de adaptação às regras: 17% acham que os patrões vão, antes de mais nada, controlar mais as horas trabalhadas pelos empregados, 14% dizem que eles vão registrar o empregado em carteira, 10% apostam que vão formalizar por escrito o que era combinado apenas verbalmente, 9% dizem que os patrões vão manter o empregado e pagar os novos direitos.
Apenas 19% da população acha que a nova lei provocará a demissão dos empregados domésticos. Mas se isso ocorrer, deve se limitar a 2 de cada 10 casos - essa é a proporção de patrões que prevê demissões.
Outros 14% dos brasileiros acham que os empregadores vão trocar mensalistas por diaristas (só 11% dos patrões acham isso); 3% apostam em contratação de empresas no lugar das empregadas (a taxa é o dobro entre patrões); e 3% acham que vai haver substituição de mensalista registrada por outra sem registro.
A pesquisa do Ibope confirma o que as estatísticas de emprego já apontavam: a adaptação ao novo marco legal será menos dramática do que os defensores do status quo disseram que seria. Não porque o brasileiro é bonzinho, mas por necessidade.
O mercado de trabalho tem mais demanda por domésticas do que oferta. Nas metrópoles, elas são cada vez mais difíceis de encontrar. Se 2 em cada 10 forem demitidas por causa da nova lei, não terão dificuldade para arrumar outro emprego ou profissão. E isso é um sinal de avanço da sociedade brasileira.
Raras vezes uma mudança legal alcançou apoio tão unânime na opinião pública quanto a emenda que igualou os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores. Pesquisa inédita do Ibope mostra que 91% dos brasileiros são a favor. Só 3% são contra. Os demais não souberam ou não quiseram responder.
O apoio é homogêneo. Independe de renda, escolaridade ou região. Em poucos segmentos os que aprovam são menos de 90%. Entre quem emprega domésticas beneficiadas pela nova legislação a aprovação é menor, mas a maioria ainda é avassaladora: 83% de apoio. Só 10% dos patrões se declaram contrários aos benefícios - como direito a hora extra e adicional noturno.
O apoio declarado é tão amplo, geral e irrestrito que até suscita dúvidas: se praticamente todo mundo é a favor, por que custou tanto para a nova legislação ser aprovada? Será que há uma dose de "politicamente correto" ou mesmo de vergonha a inibir parte dos brasileiros de se declarar contrário à mudança?
Pode ser que haja uma "espiral do silêncio" que oculte parte dos descontentes. Mas uma explicação melhor é que o universo dos que são diretamente prejudicados pela emenda é muito pequeno.
Só metade dos 8% de brasileiros que empregam domésticas estarão obrigados a adaptar-se à nova legislação. São os 4% de empregadores de mensalistas ou de diaristas que trabalham pelo menos três vezes por semana no mesmo domicílio. Os outros 4% têm domésticas no máximo por dois dias por semana e estão fora da nova regra.
Também não é por ignorar a dimensão da chamada PEC das Domésticas que os brasileiros apoiam a mudança: 79% já tinham ouvido falar no assunto quando foram abordados pelo Ibope. Mesmo nas classes D/E dois em cada três declararam estar a par da mudança.
A confirmar que as pessoas sabem do que estão falando, a maioria vê dificuldades para os patrões cumprirem as novas regras: 30% acham que os empregadores estão tendo "muita dificuldade" para seguir a lei, e outros 38% avaliam que eles têm "alguma dificuldade". Curiosamente, a preocupação é maior entre quem não tem empregada (70%) do que entre quem tem (63%).
Na opinião dos brasileiros, as consequências da nova legislação serão muito menos negativas do que as previsões apocalípticas feitas antes e depois da votação. Os experts acertaram tanto quanto os maias.
A maior parte vê alguma forma de adaptação às regras: 17% acham que os patrões vão, antes de mais nada, controlar mais as horas trabalhadas pelos empregados, 14% dizem que eles vão registrar o empregado em carteira, 10% apostam que vão formalizar por escrito o que era combinado apenas verbalmente, 9% dizem que os patrões vão manter o empregado e pagar os novos direitos.
Apenas 19% da população acha que a nova lei provocará a demissão dos empregados domésticos. Mas se isso ocorrer, deve se limitar a 2 de cada 10 casos - essa é a proporção de patrões que prevê demissões.
Outros 14% dos brasileiros acham que os empregadores vão trocar mensalistas por diaristas (só 11% dos patrões acham isso); 3% apostam em contratação de empresas no lugar das empregadas (a taxa é o dobro entre patrões); e 3% acham que vai haver substituição de mensalista registrada por outra sem registro.
A pesquisa do Ibope confirma o que as estatísticas de emprego já apontavam: a adaptação ao novo marco legal será menos dramática do que os defensores do status quo disseram que seria. Não porque o brasileiro é bonzinho, mas por necessidade.
O mercado de trabalho tem mais demanda por domésticas do que oferta. Nas metrópoles, elas são cada vez mais difíceis de encontrar. Se 2 em cada 10 forem demitidas por causa da nova lei, não terão dificuldade para arrumar outro emprego ou profissão. E isso é um sinal de avanço da sociedade brasileira.
Meio cheio, meio vazio - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 03/06
BRASÍLIA - Um clima de indignação reina na equipe da presidente Dilma. Seus assessores reclamam de um pessimismo generalizado em relação ao Brasil que, segundo eles, está superdimensionado.
Vamos ao rosário desfiado por um assessor da petista. O desemprego segue baixo, a renda, alta, e o crescimento não será uma maravilha, mas melhor do que 2012.
A Petrobras captou US$ 11 bilhões lá fora. Uma seguradora do Banco do Brasil realizou a maior oferta pública inicial de ações deste ano no mundo, cerca de R$ 11 bilhões.
O governo fez um leilão, com sucesso, de áreas de petróleo fora do pré-sal. Fará um do pré-sal em outubro e pode pôr no caixa mais R$ 10 bilhões. Ainda neste ano serão realizados os leilões de concessão dos aeroportos de Confins e Galeão, de rodovias, ferrovias e portos. Bem atrasados, mas devem ser feitos.
Sem dúvida, um cenário, visto deste ponto de vista, de copo meio cheio na economia brasileira.
Vendo por outro prisma, até bem pouco tempo o Brasil era o queridinho do mundo, nada ia nos segurar. O país iria bombar com as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada. Havíamos descoberto o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.
Construímos um mercado interno forte, carro-chefe do nosso crescimento, que subiu para taxas superiores a 4%. Esse seria, por sinal, o novo piso para o PIB brasileiro.
De repente, o paraíso prometido foi adiado. A inflação subiu e forçou o Banco Central a elevar os juros. O crescimento ficou medíocre, o consumo caiu e os empresários seguraram os investimentos. Nossas contas externas se deterioraram.
Um cenário, diríamos, de copo bem meio vazio, de frustração. Tudo bem, não estamos uma tragédia. Estamos melhores do que muitos países mundo afora. Mas poderíamos estar pelo menos perto do céu.
Enfim, algo saiu errado e não dá para culpar só o cenário externo. É tempo de reflexão. E de ação.
BRASÍLIA - Um clima de indignação reina na equipe da presidente Dilma. Seus assessores reclamam de um pessimismo generalizado em relação ao Brasil que, segundo eles, está superdimensionado.
Vamos ao rosário desfiado por um assessor da petista. O desemprego segue baixo, a renda, alta, e o crescimento não será uma maravilha, mas melhor do que 2012.
A Petrobras captou US$ 11 bilhões lá fora. Uma seguradora do Banco do Brasil realizou a maior oferta pública inicial de ações deste ano no mundo, cerca de R$ 11 bilhões.
O governo fez um leilão, com sucesso, de áreas de petróleo fora do pré-sal. Fará um do pré-sal em outubro e pode pôr no caixa mais R$ 10 bilhões. Ainda neste ano serão realizados os leilões de concessão dos aeroportos de Confins e Galeão, de rodovias, ferrovias e portos. Bem atrasados, mas devem ser feitos.
Sem dúvida, um cenário, visto deste ponto de vista, de copo meio cheio na economia brasileira.
Vendo por outro prisma, até bem pouco tempo o Brasil era o queridinho do mundo, nada ia nos segurar. O país iria bombar com as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada. Havíamos descoberto o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.
Construímos um mercado interno forte, carro-chefe do nosso crescimento, que subiu para taxas superiores a 4%. Esse seria, por sinal, o novo piso para o PIB brasileiro.
De repente, o paraíso prometido foi adiado. A inflação subiu e forçou o Banco Central a elevar os juros. O crescimento ficou medíocre, o consumo caiu e os empresários seguraram os investimentos. Nossas contas externas se deterioraram.
Um cenário, diríamos, de copo bem meio vazio, de frustração. Tudo bem, não estamos uma tragédia. Estamos melhores do que muitos países mundo afora. Mas poderíamos estar pelo menos perto do céu.
Enfim, algo saiu errado e não dá para culpar só o cenário externo. É tempo de reflexão. E de ação.
Começa o ajuste da Eletrobrás - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 03/06
Com a aprovação do programa de demissão voluntária que poderá reduzir seu quadro de pessoal de 27 mil para 22 mil empregados, a Eletrobrás começa a colocar em prática um plano de ajuste que deverá resultar no corte de 30% das despesas de custeio em três anos. Tendo sido utilizada nos últimos anos para fins político-eleitorais, como outras empresas federais do setor, a Eletrobrás há muito carecia de um programa dessa natureza e dessa profundidade. O novo marco regulatório que o governo impôs ao setor elétrico, e causou prejuízos bilionários à estatal, tornou-o urgente.
A atual direção da empresa, de características mais técnicas do que suas antecessoras recentes, felizmente tem agido de acordo com a gravidade do problema e com a urgência necessária para evitar o comprometimento dos ambiciosos programas de investimentos.
Em razão de seu porte e de seu extenso papel no setor elétrico brasileiro, a Eletrobrás foi a empresa mais afetada pelas novas regras para o setor elétrico baixadas pelo governo em setembro do ano passado para reduzir as tarifas de energia elétrica. Essas regras resultaram na diminuição das receitas, por causa da redução das tarifas. Mas, para a Eletrobrás, muito pior foram as perdas decorrentes da diferença entre o valor registrado contabilmente dos ativos nos setores de geração, transmissão e distribuição, cuja concessão foi renovada antecipadamente, e a indenização paga pelo governo a título de remuneração por investimentos não amortizados nesses ativos.
Sendo a principal empresa do governo federal no setor, a Eletrobrás foi utilizada para demonstrar que eram viáveis as novas regras, às quais resistiam diversos governos estaduais. O preço que a estatal federal pagou por isso, porém, foi imenso. No quarto trimestre de 2012, a Eletrobrás teve prejuízo de R$ 10,5 bilhões, o maior registrado em qualquer época por empresa de capital aberto brasileira no período de três meses.
Ao anunciar esse resultado, no fim de março, a direção da empresa apresentou também seu plano de negócios de 2013 a 2017, que inclui a unificação de operações e de escritórios e a meta de redução das despesas de custeio em 30%. A demissão incentivada de até 5 mil funcionários é parte desse plano.
O programa terá um custo imediato (os que aderirem ao programa poderão deixar a empresa até 2014), que é avaliado entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, para o qual a empresa já fez provisão. Mas permitirá uma economia anual estimada em R$ 1,8 bilhão, se a adesão a ele for a esperada pela diretoria (de 4 mil a 5 mil empregados, de um total de 9,8 mil trabalhadores que atendem aos requisitos para participar do programa).
No ano passado, antes do anúncio das novas regras para o setor elétrico, a estatal Furnas, subsidiária da Eletrobrás, iniciou um drástico programa de ajuste, com a projeção de redução de até 35% de seu pessoal e de 22% de outros gastos de custeio. O profundo corte de pessoal que Furnas fará, sem prejuízo de suas atividades principais, é a prova mais evidente de como a empresa, do mesmo modo que outras federais do setor elétrico, estava inchada, em razão de nomeações e indicações de natureza política.
Os ajustes indicam que esse mal do setor público, que as administrações petistas levaram ao extremo, começa a ser combatido, pelo menos nas estatais elétricas. Mas tais ajustes, em particular o da Eletrobrás, não podem se limitar à redução do quadro de empregados, para adequá-lo às reais necessidades operacionais e à capacidade financeira das empresas.
A Eletrobrás não pode continuar sendo responsabilizada financeiramente pela má gestão de empresas estaduais de distribuição de energia que o governo, por razões políticas, a forçou a incluir entre suas controladas. O plano de negócios da estatal prevê a reavaliação de sua estrutura societária e um novo modelo de negócios. É necessário que a venda dessas distribuidoras seja incluída nele, para que a Eletrobrás possa executar o plano de investimentos de R$ 52,4 bilhões sem recursos adicionais do Tesouro.
Com a aprovação do programa de demissão voluntária que poderá reduzir seu quadro de pessoal de 27 mil para 22 mil empregados, a Eletrobrás começa a colocar em prática um plano de ajuste que deverá resultar no corte de 30% das despesas de custeio em três anos. Tendo sido utilizada nos últimos anos para fins político-eleitorais, como outras empresas federais do setor, a Eletrobrás há muito carecia de um programa dessa natureza e dessa profundidade. O novo marco regulatório que o governo impôs ao setor elétrico, e causou prejuízos bilionários à estatal, tornou-o urgente.
A atual direção da empresa, de características mais técnicas do que suas antecessoras recentes, felizmente tem agido de acordo com a gravidade do problema e com a urgência necessária para evitar o comprometimento dos ambiciosos programas de investimentos.
Em razão de seu porte e de seu extenso papel no setor elétrico brasileiro, a Eletrobrás foi a empresa mais afetada pelas novas regras para o setor elétrico baixadas pelo governo em setembro do ano passado para reduzir as tarifas de energia elétrica. Essas regras resultaram na diminuição das receitas, por causa da redução das tarifas. Mas, para a Eletrobrás, muito pior foram as perdas decorrentes da diferença entre o valor registrado contabilmente dos ativos nos setores de geração, transmissão e distribuição, cuja concessão foi renovada antecipadamente, e a indenização paga pelo governo a título de remuneração por investimentos não amortizados nesses ativos.
Sendo a principal empresa do governo federal no setor, a Eletrobrás foi utilizada para demonstrar que eram viáveis as novas regras, às quais resistiam diversos governos estaduais. O preço que a estatal federal pagou por isso, porém, foi imenso. No quarto trimestre de 2012, a Eletrobrás teve prejuízo de R$ 10,5 bilhões, o maior registrado em qualquer época por empresa de capital aberto brasileira no período de três meses.
Ao anunciar esse resultado, no fim de março, a direção da empresa apresentou também seu plano de negócios de 2013 a 2017, que inclui a unificação de operações e de escritórios e a meta de redução das despesas de custeio em 30%. A demissão incentivada de até 5 mil funcionários é parte desse plano.
O programa terá um custo imediato (os que aderirem ao programa poderão deixar a empresa até 2014), que é avaliado entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, para o qual a empresa já fez provisão. Mas permitirá uma economia anual estimada em R$ 1,8 bilhão, se a adesão a ele for a esperada pela diretoria (de 4 mil a 5 mil empregados, de um total de 9,8 mil trabalhadores que atendem aos requisitos para participar do programa).
No ano passado, antes do anúncio das novas regras para o setor elétrico, a estatal Furnas, subsidiária da Eletrobrás, iniciou um drástico programa de ajuste, com a projeção de redução de até 35% de seu pessoal e de 22% de outros gastos de custeio. O profundo corte de pessoal que Furnas fará, sem prejuízo de suas atividades principais, é a prova mais evidente de como a empresa, do mesmo modo que outras federais do setor elétrico, estava inchada, em razão de nomeações e indicações de natureza política.
Os ajustes indicam que esse mal do setor público, que as administrações petistas levaram ao extremo, começa a ser combatido, pelo menos nas estatais elétricas. Mas tais ajustes, em particular o da Eletrobrás, não podem se limitar à redução do quadro de empregados, para adequá-lo às reais necessidades operacionais e à capacidade financeira das empresas.
A Eletrobrás não pode continuar sendo responsabilizada financeiramente pela má gestão de empresas estaduais de distribuição de energia que o governo, por razões políticas, a forçou a incluir entre suas controladas. O plano de negócios da estatal prevê a reavaliação de sua estrutura societária e um novo modelo de negócios. É necessário que a venda dessas distribuidoras seja incluída nele, para que a Eletrobrás possa executar o plano de investimentos de R$ 52,4 bilhões sem recursos adicionais do Tesouro.
Tigres latinos - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 03/06
Chile, Colômbia, México e Peru aprofundam integração comercial, enquanto Brasil marca passo com Argentina no emperrado Mercosul
Causam apreensão os avanços na integração comercial de países da América Latina que não comungam de ideologias "bolivarianas". Enquanto isso, do lado de cá dos Andes, o Brasil perde tempo.
Reunidos na Colômbia, os líderes de Chile, Colômbia, México e Peru reforçaram acordos de liberalização comercial. O grupo, que forma a Aliança para o Pacífico, decidiu pela isenção total de tarifas para 90% dos produtos comercializados entre si. Resta discutir detalhes, mas as novas regras devem vigorar a partir de 30 de junho.
Não é pouca coisa. A Aliança soma 209 milhões de habitantes e PIB próximo de US$ 2 trilhões. Não fica longe, assim, do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), que tem 279 milhões e PIB de US$ 3,3 trilhões.
Se a Aliança avança para se tornar uma área de livre comércio, o Mercosul patina, tolhido pelo lastro de problemas econômicos dos protagonistas (Brasil e Argentina), além do caos venezuelano.
Noticia-se que a Aliança pode também atrair novos países. Dois membros do próprio Mercosul --Paraguai e Uruguai-- são observadores. Além disso, o bloco se alinha naturalmente com a estratégia para o Pacífico lançada pelos EUA.
É fato que o Brasil errou em sua estratégia comercial ao privilegiar o multilateralismo --que não teve avanços na última década, por conta da paralisia da Rodada Doha-- e negligenciar acordos regionais ou bilaterais de liberalização. Mas tais diretrizes não são excludentes. O problema principal do Brasil deriva da falta de visão estratégica e de barreiras ideológicas ao conceito de livre comércio.
Na última década, o país permaneceu preso a uma visão antiquada e ineficaz de protecionismo, ainda pautada pela substituição de importações.
O governo não se dá conta de que o comércio internacional --e a própria conquista da competitividade-- se pauta pela integração nas cadeias produtivas globais, para ganhar escala e incorporar tecnologia, nem de que a integração ocorre mais entre firmas, isto é, cada empresa com suas próprias redes. Isso pressupõe abertura tarifária e menos barreiras técnicas.
Tal é a agenda perseguida pelos membros da Aliança, cujo avanço conta com o apoio entusiasmado de suas lideranças empresariais. É flagrante o contraste com o desânimo do setor privado brasileiro diante do Mercosul.
Está mais que na hora de o Brasil reavaliar seu modelo de inserção global, hoje incompatível com sua dimensões e sua estrutura econômica diversificada. No entanto, como na política econômica, esse tipo de pensamento estratégico não parece vicejar no governo.
Chile, Colômbia, México e Peru aprofundam integração comercial, enquanto Brasil marca passo com Argentina no emperrado Mercosul
Causam apreensão os avanços na integração comercial de países da América Latina que não comungam de ideologias "bolivarianas". Enquanto isso, do lado de cá dos Andes, o Brasil perde tempo.
Reunidos na Colômbia, os líderes de Chile, Colômbia, México e Peru reforçaram acordos de liberalização comercial. O grupo, que forma a Aliança para o Pacífico, decidiu pela isenção total de tarifas para 90% dos produtos comercializados entre si. Resta discutir detalhes, mas as novas regras devem vigorar a partir de 30 de junho.
Não é pouca coisa. A Aliança soma 209 milhões de habitantes e PIB próximo de US$ 2 trilhões. Não fica longe, assim, do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), que tem 279 milhões e PIB de US$ 3,3 trilhões.
Se a Aliança avança para se tornar uma área de livre comércio, o Mercosul patina, tolhido pelo lastro de problemas econômicos dos protagonistas (Brasil e Argentina), além do caos venezuelano.
Noticia-se que a Aliança pode também atrair novos países. Dois membros do próprio Mercosul --Paraguai e Uruguai-- são observadores. Além disso, o bloco se alinha naturalmente com a estratégia para o Pacífico lançada pelos EUA.
É fato que o Brasil errou em sua estratégia comercial ao privilegiar o multilateralismo --que não teve avanços na última década, por conta da paralisia da Rodada Doha-- e negligenciar acordos regionais ou bilaterais de liberalização. Mas tais diretrizes não são excludentes. O problema principal do Brasil deriva da falta de visão estratégica e de barreiras ideológicas ao conceito de livre comércio.
Na última década, o país permaneceu preso a uma visão antiquada e ineficaz de protecionismo, ainda pautada pela substituição de importações.
O governo não se dá conta de que o comércio internacional --e a própria conquista da competitividade-- se pauta pela integração nas cadeias produtivas globais, para ganhar escala e incorporar tecnologia, nem de que a integração ocorre mais entre firmas, isto é, cada empresa com suas próprias redes. Isso pressupõe abertura tarifária e menos barreiras técnicas.
Tal é a agenda perseguida pelos membros da Aliança, cujo avanço conta com o apoio entusiasmado de suas lideranças empresariais. É flagrante o contraste com o desânimo do setor privado brasileiro diante do Mercosul.
Está mais que na hora de o Brasil reavaliar seu modelo de inserção global, hoje incompatível com sua dimensões e sua estrutura econômica diversificada. No entanto, como na política econômica, esse tipo de pensamento estratégico não parece vicejar no governo.
Ataque aos cartórios - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 03/06
O Brasil não está condenado ao baixo crescimento, mas dificilmente conseguirá mudar essa trajetória se não remover os gargalos que tornam a economia menos competitiva em relação aos principais concorrentes. Os gargalos na infraestrutura estão entre os mais dramáticos, porque afetam igualmente a todos, até mesmo os que conseguem ser competitivos no negócio em si que estejam envolvidos. E os portos são especialmente importantes, pois 90% do comércio exterior têm de passar por eles, sem opção de substituí-los por rodovias , ferrovias e aeroportos.
A maioria dos portos brasileiros está ao meio de zonas urbanas, o que dificulta os acessos. Por isso, é fundamental que os terminais sejam ágeis e que toda a operação seja simplificada, preservados os cuidados com a segurança. A lei de modernização dos portos, de 1993, permitiu que o Brasil recuperasse parte do enorme atraso que existia em relação aos mais avançados do planeta. Sob responsabilidade total de companhias estatais, eram raros os equipamentos para facilitar a movimentação de contêineres, por exemplo. O controle da carga era praticamente todo manual. E as relações de trabalho obedeciam a regras completamente ultrapassadas.
As mudanças que ocorreram depois da lei de 1993 mostraram-se insuficientes. Os portos brasileiros se tornaram pequenos para o tamanho dos navios que transportam carga geral ou granéis. Com isso, os custos portuários, ainda que a operação tenha melhorado substancialmente em relação à época das companhias estatais, continuaram proibitivos considerando-se os padrões dos portos mais eficientes no mundo.
Para avançar, o Brasil precisa multiplicar investimentos no setor, e para tal era necessário eliminar barreiras que impediam a chegada de novos investidores. Somente com portos públicos, o país não iria conseguir dar o salto capaz de deixar mais dinâmico e menos oneroso o setor como um todo.
A nova lei agora em vigor, após uma difícil tramitação no Congresso (culminando com uma das sessões conjuntas mais tumultuadas do legislativo federal), abre caminho para atração dos investimentos e da eficiência, pelo estímulo à competição.
As empresas já estabelecidas sairão na frente, por já conhecerem as peculiaridades da atividade. Mas hoje sabem que não estão sentadas em cima de um cartório. Nem os sindicatos. Se antes existia uma natural tendência para acomodação no setor, agora os tempos são outros , e quem ficar parado será atropelado pela concorrência. A nova legislação produziu efeitos positivos já na fase de discussão, pois os problemas do setor vieram à tona. Iniciativas de ordem administrativa foram tomadas (como o funcionamento 24 horas de órgãos governamentais em alguns portos) e projetos para melhoria dos acessos terrestres foram desengavetados e agilizados. É um começo.
O Brasil não está condenado ao baixo crescimento, mas dificilmente conseguirá mudar essa trajetória se não remover os gargalos que tornam a economia menos competitiva em relação aos principais concorrentes. Os gargalos na infraestrutura estão entre os mais dramáticos, porque afetam igualmente a todos, até mesmo os que conseguem ser competitivos no negócio em si que estejam envolvidos. E os portos são especialmente importantes, pois 90% do comércio exterior têm de passar por eles, sem opção de substituí-los por rodovias , ferrovias e aeroportos.
A maioria dos portos brasileiros está ao meio de zonas urbanas, o que dificulta os acessos. Por isso, é fundamental que os terminais sejam ágeis e que toda a operação seja simplificada, preservados os cuidados com a segurança. A lei de modernização dos portos, de 1993, permitiu que o Brasil recuperasse parte do enorme atraso que existia em relação aos mais avançados do planeta. Sob responsabilidade total de companhias estatais, eram raros os equipamentos para facilitar a movimentação de contêineres, por exemplo. O controle da carga era praticamente todo manual. E as relações de trabalho obedeciam a regras completamente ultrapassadas.
As mudanças que ocorreram depois da lei de 1993 mostraram-se insuficientes. Os portos brasileiros se tornaram pequenos para o tamanho dos navios que transportam carga geral ou granéis. Com isso, os custos portuários, ainda que a operação tenha melhorado substancialmente em relação à época das companhias estatais, continuaram proibitivos considerando-se os padrões dos portos mais eficientes no mundo.
Para avançar, o Brasil precisa multiplicar investimentos no setor, e para tal era necessário eliminar barreiras que impediam a chegada de novos investidores. Somente com portos públicos, o país não iria conseguir dar o salto capaz de deixar mais dinâmico e menos oneroso o setor como um todo.
A nova lei agora em vigor, após uma difícil tramitação no Congresso (culminando com uma das sessões conjuntas mais tumultuadas do legislativo federal), abre caminho para atração dos investimentos e da eficiência, pelo estímulo à competição.
As empresas já estabelecidas sairão na frente, por já conhecerem as peculiaridades da atividade. Mas hoje sabem que não estão sentadas em cima de um cartório. Nem os sindicatos. Se antes existia uma natural tendência para acomodação no setor, agora os tempos são outros , e quem ficar parado será atropelado pela concorrência. A nova legislação produziu efeitos positivos já na fase de discussão, pois os problemas do setor vieram à tona. Iniciativas de ordem administrativa foram tomadas (como o funcionamento 24 horas de órgãos governamentais em alguns portos) e projetos para melhoria dos acessos terrestres foram desengavetados e agilizados. É um começo.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
"[O índio morto] foi vítima de vigarice patrocinada pela Funai"
Deputado Alceu Moreira (PMDB-MS)culpando a Funai pela tragédia na desocupação
ECT articula compra da CTT, o correio português
A estatal brasileira Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) está interessada na privatização da estatal de correios portuguesa CTT, e este será um dos principais objetivos da viagem da presidenta Dilma Rousseff a Lisboa, no dia 10. Oficialmente, ela vai a um evento que marca o encerramento do Ano Brasil Portugal. O eventual interesse da ECT na CTT foi confirmado por fontes de ambos os governos.
O articulador
José Maria Ricciardi, presidente do banco de investimentos do grupo Espírito Santo, articula interessados na CTT, inclusive brasileiros.
Diversificação
A tradicional estatal portuguesa CTT diversificou sua atuação. Hoje, por exemplo, controla a operadora local de telefonia celular Phone-ix.
Flerte antigo
O presidente da ECT, Wagner Pinheiro, esteve pelo menos duas vezes em Lisboa para prospectar a compra da portuguesa CTT.
Boato Família
A rima é pobre, mas útil para caso do Bolsa Família na PF: quando mais aparecem versões e nenhum fato, mais se amplia o boato.
OAB quer o fim de faturamento extra dos TJs
A OAB nacional pediu providências ao Conselho Nacional de Justiça, com pedido de medida cautelar, para pôr fim à apropriação, por parte dos tribunais de justiça, dos rendimentos financeiros gerados por depósitos judiciais, principalmente precatórios. Segundo a OAB, os TJs se apropriam dos rendimentos dessas contas especiais (o chamado spread bancário), causando grandes prejuízos a devedores e credores.
Renda garantida
Há 15 anos, no RS a Justiça obrigou a telefônica CRT a depositar R$ 5 bi em uma ação. Como não julga o caso, recebe polpudos rendimentos.
Deixa estar
Se o TJ-RJ julgar o caso CRT, perde o rico rendimento; e o banco Banrisul, onde o dinheiro foi depositado, estaria em maus lençóis.
Chi*#na*&glia!
Dilma usa seu impressionante estoque de palavras duras sempre que se refere a Arlindo Chinaglia (PT-SP). Só fala em demiti-lo da liderança.
Retrato do descaso
Deputados do PMDB ironizam que o partido é tão importante para a presidenta Dilma que ela cortou 76% do orçamento do Ministério do Turismo, comandado pela sigla, e 10% da verba do vice Michel Temer.
Ela bate e esculacha
Os cortes de R$ 2 bilhões no Itamaraty decorrem do desprezo de Dilma pela Casa e por Antonio Patriota, o mais fraco chanceler das últimas décadas, espécie de “boneco de Judas” da presidenta. Embaixadas devem economizar luz, aluguel, telefone e, quem sabe, papel higiênico.
A fome do outros
Lula deverá de novo ir à Etiópia no final do mês, quando o Instituto Lula patrocina encontro com líderes africanos e internacionais “para erradicar a fome na África”. Seus negócios por lá estão indo bem.
Panos quentes
Na tentativa de apagar incêndio, Dilma dever se reunir nesta terça com a cúpula do PMDB: o vice Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves. Ela vetou os lideres, para não ter de cumprimentar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ser ou não ser
Para o deputado Saraiva Felipe (MG), a bancada do PMDB não pode continuar agindo de forma “tão ambígua”. “Em algum momento, o partido precisa decidir se é governo ou oposição”, defende.
Deixa ver
Na esperança de acordo entre policiais e promotores, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), marcou para 26 de junho a votação de projeto que redefine as atribuições do Ministério Público.
Planos 2014
Diante de possível candidatura dos senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT) ao governo do estado, o PDT agora cogita lançar o deputado Miro Teixeira (RJ) candidato à Presidência em 2014.
Força-tarefa
O governo de MS prometeu entregar ao Planalto o mapeamento de terras indígenas e áreas tradicionalmente ocupadas por produtores rurais. A Embrapa também faz estudo por meio de imagens de satélite.
Pensando bem...
... quem “pariu” a caxirola que a chacoalhe.
Poder sem pudor
Como enganar o vice
Prestes a viajar ao exterior, o presidente Juscelino Kubitschek foi advertido pelo ministro da Casa Civil, Antonio Balbino, que o vice João Goulart assinaria atos pendentes. O mais importante era o preenchimento de uma ambicionada vaga de tabelião de notas no Rio de Janeiro. JK pediu uma lista telefônica de Curitiba, correu os dedos numa página qualquer e se fixou num nome cheio de consoantes. Acrescentou outras e ordenou:
- Faça o ato de nomeação desse sujeito aqui.
- Mas, presidente, ninguém vai encontrar essa pessoa para a posse...
JK sorriu, mineiramente:
- Exato. Quando eu voltar, revogarei o decreto e nomearei outro.
Deputado Alceu Moreira (PMDB-MS)culpando a Funai pela tragédia na desocupação
ECT articula compra da CTT, o correio português
A estatal brasileira Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) está interessada na privatização da estatal de correios portuguesa CTT, e este será um dos principais objetivos da viagem da presidenta Dilma Rousseff a Lisboa, no dia 10. Oficialmente, ela vai a um evento que marca o encerramento do Ano Brasil Portugal. O eventual interesse da ECT na CTT foi confirmado por fontes de ambos os governos.
O articulador
José Maria Ricciardi, presidente do banco de investimentos do grupo Espírito Santo, articula interessados na CTT, inclusive brasileiros.
Diversificação
A tradicional estatal portuguesa CTT diversificou sua atuação. Hoje, por exemplo, controla a operadora local de telefonia celular Phone-ix.
Flerte antigo
O presidente da ECT, Wagner Pinheiro, esteve pelo menos duas vezes em Lisboa para prospectar a compra da portuguesa CTT.
Boato Família
A rima é pobre, mas útil para caso do Bolsa Família na PF: quando mais aparecem versões e nenhum fato, mais se amplia o boato.
OAB quer o fim de faturamento extra dos TJs
A OAB nacional pediu providências ao Conselho Nacional de Justiça, com pedido de medida cautelar, para pôr fim à apropriação, por parte dos tribunais de justiça, dos rendimentos financeiros gerados por depósitos judiciais, principalmente precatórios. Segundo a OAB, os TJs se apropriam dos rendimentos dessas contas especiais (o chamado spread bancário), causando grandes prejuízos a devedores e credores.
Renda garantida
Há 15 anos, no RS a Justiça obrigou a telefônica CRT a depositar R$ 5 bi em uma ação. Como não julga o caso, recebe polpudos rendimentos.
Deixa estar
Se o TJ-RJ julgar o caso CRT, perde o rico rendimento; e o banco Banrisul, onde o dinheiro foi depositado, estaria em maus lençóis.
Chi*#na*&glia!
Dilma usa seu impressionante estoque de palavras duras sempre que se refere a Arlindo Chinaglia (PT-SP). Só fala em demiti-lo da liderança.
Retrato do descaso
Deputados do PMDB ironizam que o partido é tão importante para a presidenta Dilma que ela cortou 76% do orçamento do Ministério do Turismo, comandado pela sigla, e 10% da verba do vice Michel Temer.
Ela bate e esculacha
Os cortes de R$ 2 bilhões no Itamaraty decorrem do desprezo de Dilma pela Casa e por Antonio Patriota, o mais fraco chanceler das últimas décadas, espécie de “boneco de Judas” da presidenta. Embaixadas devem economizar luz, aluguel, telefone e, quem sabe, papel higiênico.
A fome do outros
Lula deverá de novo ir à Etiópia no final do mês, quando o Instituto Lula patrocina encontro com líderes africanos e internacionais “para erradicar a fome na África”. Seus negócios por lá estão indo bem.
Panos quentes
Na tentativa de apagar incêndio, Dilma dever se reunir nesta terça com a cúpula do PMDB: o vice Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves. Ela vetou os lideres, para não ter de cumprimentar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ser ou não ser
Para o deputado Saraiva Felipe (MG), a bancada do PMDB não pode continuar agindo de forma “tão ambígua”. “Em algum momento, o partido precisa decidir se é governo ou oposição”, defende.
Deixa ver
Na esperança de acordo entre policiais e promotores, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), marcou para 26 de junho a votação de projeto que redefine as atribuições do Ministério Público.
Planos 2014
Diante de possível candidatura dos senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT) ao governo do estado, o PDT agora cogita lançar o deputado Miro Teixeira (RJ) candidato à Presidência em 2014.
Força-tarefa
O governo de MS prometeu entregar ao Planalto o mapeamento de terras indígenas e áreas tradicionalmente ocupadas por produtores rurais. A Embrapa também faz estudo por meio de imagens de satélite.
Pensando bem...
... quem “pariu” a caxirola que a chacoalhe.
Poder sem pudor
Como enganar o vice
Prestes a viajar ao exterior, o presidente Juscelino Kubitschek foi advertido pelo ministro da Casa Civil, Antonio Balbino, que o vice João Goulart assinaria atos pendentes. O mais importante era o preenchimento de uma ambicionada vaga de tabelião de notas no Rio de Janeiro. JK pediu uma lista telefônica de Curitiba, correu os dedos numa página qualquer e se fixou num nome cheio de consoantes. Acrescentou outras e ordenou:
- Faça o ato de nomeação desse sujeito aqui.
- Mas, presidente, ninguém vai encontrar essa pessoa para a posse...
JK sorriu, mineiramente:
- Exato. Quando eu voltar, revogarei o decreto e nomearei outro.
SEGUNDA NOS JORNAIS
- Globo: Receita do petróleo – Repasse da Petrobras sobe menos que produção
- Folha: Com aval da União, dívida externa de Estados aumenta
- Estadão: Tombini vê pouco efeito do dólar na inflação brasileira
- Correio: “Trem da alegria” prevê reajuste de até 200% para 4.755 servidores
- Valor: Ganhos reais caem nos novos acordos salariais
- Estado de Minas: Enrolação bilionária
- Jornal do Commercio: Só empate na despedida
- Zero Hora: Operação Concutare – Justiça bloqueia bens de suspeitos
- Brasil Econômico: “Brasil é vítima do próprio sucesso”