ZERO HORA - 05/05
Escultura não era algo que me chamava atenção na adolescência, até que um dia tomei conhecimento da célebre resposta que Michelangelo deu a alguém que lhe perguntou como fazia para criar obras tão sublimes como, por exemplo, o Davi. “É simples, basta pegar o martelo e o cinzel e tirar do mármore tudo o que não interessa”. E dessa forma genial ele explicou que escultura é a arte de retirar excessos até que libertemos o que dentro se esconde.
A partir daí, comecei a dar um valor extraordinário às esculturas, a enxergá-las como o resultado de um trabalho minucioso de libertação. Toda escultura nasceu de uma matéria bruta, até ter sua essência revelada. Uma coisa puxa a outra: o que é um ser humano, senão matéria bruta a ser esculpida? Passamos a vida tentando nos livrar dos excessos que escondem o que temos de mais belo.
Fico me perguntando quem seria nosso escultor. Uma turma vai reivindicar que é Deus, mas por mais que Ele ande com a reputação em alta, discordo. Tampouco creio que seja pai e mãe, apesar da bela mãozinha que eles dão ao escultor principal: o tempo, claro. Não sou a primeira a declarar isso, mas faço coro.
Pai e mãe começam o trabalho, mas é o tempo que nos esculpe, e ele não tem pressa alguma em terminar o serviço, até porque sabe que todo ser humano é uma obra inacabada. Se Michelangelo levou três anos para terminar o Davique hoje está exposto em Florença, levamos décadas até chegarmos a um rascunho bem acabado de nós mesmos, que é o máximo que podemos almejar.
Quando jovens, temos a arrogância de achar que sabemos muito, e, no entanto, é justamente esse “muito” que precisa ser desbastado pelo tempo até que se chegue no cerne, na parte mais central da nossa identidade, naquilo que fundamentalmente nos caracteriza. Amadurecer é passar por esse refinamento, deixando para trás o que for gordura, o que for pastoso, o que for desnecessário, tudo aquilo que pesa e aprisiona, a matéria inútil que impede a visão do essencial, que camufla a nossa verdade. O que o tempo garimpa em nós?
O verdadeiro sentido da nossa vida. Michelangelo deixou algumas obras aparentemente inconclusas porque sabia que não há um fim para a arte de esculpir, porém em algum momento é preciso dar o trabalho como encerrado. O tempo, escultor de todos nós, age da mesma forma: de uma hora para a outra, dá seu trabalho por encerrado.
Mas enquanto ele ainda está a nossa serviço, que o ajudemos na tarefa de deixar de lado os nossos excessos de vaidade, de narcisismo, de futilidade. Que finalmente possamos expor o que há de mais precioso em você, em mim, em qualquer pessoa: nosso afeto e generosidade. Essa é a obra-prima de cada um, extraída em meio ao entulho que nos cerca.
domingo, maio 05, 2013
Verdes contra Benjamin - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 05/05
O secretário Carlos Minc diz que, caso a CSN não assuma as custas da saúde dos moradores da área contaminada pela usina, em Volta Redonda, RJ, vai acionar o BNDES.
A ideia é que o banco não financie a empresa de Benjamin Steinbruch, caso ela compre a carioca CSA, com base no “Protocolo verde”, compromisso assinado pelos bancos públicos com o Ministério do Meio Ambiente, na época em que Minc era ministro.
Na verdade...
Até as chapas de aço sabem que, desde que Steinbruch mudou a sede da CSN do Rio para São Paulo, há uma grande má vontade do governo fluminense com ele.
Dólar Messi
Em Buenos Aires, o dólar paralelo deve bater estes dias novo recorde: US$ 1 vai valer 10 pesos.
Tem gaiato argentino apelidando de “Dólar Messi”, numa alusão ao craque da camisa 10.
O Vaticano é aqui
Cerca de mil bispos e cardeais estarão no Rio durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho.
Mundo cão
Dia 14 agora, deve ser julgada na 16ª Vara Cível do Rio a ação do saudoso Sérgio Britto, feita pouco antes de morrer, contra o ex-funcionário Antônio Bento.
O ator acusava Bento de ter se apropriado do seu único imóvel.
A vida me ensinou
Chega às livrarias, esta semana, o novo livro de Frei Betto, “O que a vida me ensinou”.
Editado pela Saraiva, ele faz parte de uma coleção com relatos de Washington Olivetto, Heródoto Barbeiro e outros.
Museu da Moda
A transformação da Casa da Marquesa de Santos (Museu do Primeiro Reinado), em São Cristóvão, no Rio, em Museu da Moda continua incomodando os historiadores. Depois de José Murilo de Carvalho, agora é Nireu Cavalcanti, doutor em história do Rio, que fez um manifesto circular na rede.
O pessoal não é, claro, contra a moda, mas defende o fortalecimento do Museu do Primeiro Reinado.
Aqui não...
Para Nireu, a ideia de usar o lugar como Museu da Moda é “uma idiotice”:
— Eu defendo que o museu que conta a história do reinado de Pedro I seja exemplar. Com tanto imóvel vazio na cidade não faz sentido perpetuar esse crime contra a história pátria.
É que...
O historiador argumenta que o Brasil é o único país da América que teve rei, e o Rio, como sede da corte, viveu fatos marcantes. Por isso, precisa de um bom museu que conte esta história.
— Qualquer cidade do mundo que tivesse um estadista do porte de D. Pedro I faria um museu e um centro de estudos à sua altura. Aqui, não!
É. Pode ser. Verdade divulgada
Na posse dos sete integrantes da Comissão da Verdade do Rio, quarta agora, na OAB, o ator Osmar Prado vai declamar o poema “Nossos inimigos dizem”, do alemão Bertold Brecht.
Um verso: “Nossos inimigos dizem: mesmo que ainda se conheça a verdade/ela não pode mais ser divulgada/Mas nós a divulgaremos.”
Cinema 40º
Veja como o mercado do cinema está aquecido no Rio.
No último final de semana, não havia um caminhão de maquinaria e elétrica disponível. É aquele que leva equipamentos de iluminação aos sets.
Segue...
Estão sendo gravados na cidade, além de comerciais, produções como as séries “As canalhas” e “Copa Hotel”, e o filme “Confissões de adolescente”.
Ai, meu pé!
São tantos saltos de sapatos que se quebram nas calçadas esburacadas do Centro do Rio que a Sapataria Expresso criou um cartão fidelidade.
A cada dez saltinhos reformados, o décimo primeiro sai de graça.
Até na China
O Rio está na moda no Oriente. A versão chinesa da revista americana “AD” (Architectural Digest) dedicou 14 páginas à cidade.
O roteiro lista 24 lugares imperdíveis, entre eles, o Instituto Moreira Salles, a Rocinha e lojas, como Studio Grabowsky e Novo Ambiente.
Tudo é marketing
Uma famosa atriz, grávida, foi esta semana a uma loja infantil no BarraShopping, no Rio. De repente, surgiu um paparazzo e registrou as compras.
Era tudo armado. A visita, publicada em sites, rendeu à atriz alguns produtos da loja.
A ideia é que o banco não financie a empresa de Benjamin Steinbruch, caso ela compre a carioca CSA, com base no “Protocolo verde”, compromisso assinado pelos bancos públicos com o Ministério do Meio Ambiente, na época em que Minc era ministro.
Na verdade...
Até as chapas de aço sabem que, desde que Steinbruch mudou a sede da CSN do Rio para São Paulo, há uma grande má vontade do governo fluminense com ele.
Dólar Messi
Em Buenos Aires, o dólar paralelo deve bater estes dias novo recorde: US$ 1 vai valer 10 pesos.
Tem gaiato argentino apelidando de “Dólar Messi”, numa alusão ao craque da camisa 10.
O Vaticano é aqui
Cerca de mil bispos e cardeais estarão no Rio durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho.
Mundo cão
Dia 14 agora, deve ser julgada na 16ª Vara Cível do Rio a ação do saudoso Sérgio Britto, feita pouco antes de morrer, contra o ex-funcionário Antônio Bento.
O ator acusava Bento de ter se apropriado do seu único imóvel.
A vida me ensinou
Chega às livrarias, esta semana, o novo livro de Frei Betto, “O que a vida me ensinou”.
Editado pela Saraiva, ele faz parte de uma coleção com relatos de Washington Olivetto, Heródoto Barbeiro e outros.
Museu da Moda
A transformação da Casa da Marquesa de Santos (Museu do Primeiro Reinado), em São Cristóvão, no Rio, em Museu da Moda continua incomodando os historiadores. Depois de José Murilo de Carvalho, agora é Nireu Cavalcanti, doutor em história do Rio, que fez um manifesto circular na rede.
O pessoal não é, claro, contra a moda, mas defende o fortalecimento do Museu do Primeiro Reinado.
Aqui não...
Para Nireu, a ideia de usar o lugar como Museu da Moda é “uma idiotice”:
— Eu defendo que o museu que conta a história do reinado de Pedro I seja exemplar. Com tanto imóvel vazio na cidade não faz sentido perpetuar esse crime contra a história pátria.
É que...
O historiador argumenta que o Brasil é o único país da América que teve rei, e o Rio, como sede da corte, viveu fatos marcantes. Por isso, precisa de um bom museu que conte esta história.
— Qualquer cidade do mundo que tivesse um estadista do porte de D. Pedro I faria um museu e um centro de estudos à sua altura. Aqui, não!
É. Pode ser. Verdade divulgada
Na posse dos sete integrantes da Comissão da Verdade do Rio, quarta agora, na OAB, o ator Osmar Prado vai declamar o poema “Nossos inimigos dizem”, do alemão Bertold Brecht.
Um verso: “Nossos inimigos dizem: mesmo que ainda se conheça a verdade/ela não pode mais ser divulgada/Mas nós a divulgaremos.”
Cinema 40º
Veja como o mercado do cinema está aquecido no Rio.
No último final de semana, não havia um caminhão de maquinaria e elétrica disponível. É aquele que leva equipamentos de iluminação aos sets.
Segue...
Estão sendo gravados na cidade, além de comerciais, produções como as séries “As canalhas” e “Copa Hotel”, e o filme “Confissões de adolescente”.
Ai, meu pé!
São tantos saltos de sapatos que se quebram nas calçadas esburacadas do Centro do Rio que a Sapataria Expresso criou um cartão fidelidade.
A cada dez saltinhos reformados, o décimo primeiro sai de graça.
Até na China
O Rio está na moda no Oriente. A versão chinesa da revista americana “AD” (Architectural Digest) dedicou 14 páginas à cidade.
O roteiro lista 24 lugares imperdíveis, entre eles, o Instituto Moreira Salles, a Rocinha e lojas, como Studio Grabowsky e Novo Ambiente.
Tudo é marketing
Uma famosa atriz, grávida, foi esta semana a uma loja infantil no BarraShopping, no Rio. De repente, surgiu um paparazzo e registrou as compras.
Era tudo armado. A visita, publicada em sites, rendeu à atriz alguns produtos da loja.
Sem pecado - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 05/05
A igreja, fiel a sua concepção teológica, não pode aceitar o sexo -que é pecado- como mero prazer
A morte de Robert Geoffrey Edwards, pai da fertilização in vitro, trouxe de volta a discussão entre os que apoiam e os que se opõem a esse procedimento científico que possibilita o nascimento de seres humanos sem a necessidade, até bem pouco tempo indispensável, da relação sexual entre homem e mulher.
A verdade é que, quando em 25 de julho de 1978, Louise Joy Brown tornou-se, ao nascer, o primeiro bebê de proveta, foi como se alguma coisa sagrada ruísse, provocando a indignação de quem acredita na origem transcendental do homem.
De fato, a manipulação do óvulo feminino e do espermatozoide masculino para fazer nascer uma pessoa punha em questão o mistério sagrado que envolvia nossa origem. Não por acaso, a indignação maior, em face disso, foi da Igreja Católica.
Trata-se de assunto delicado porque envolve aquilo que é, no meu entender, o princípio básico da teologia cristã: o pecado original.
Ele é o fator determinante da posição da igreja com respeito a uma série de questões fundamentais. Tão importante é o conceito de pecado original que, conforme a versão cristã, o Cristo foi concebido sem pecado, ou seja, Maria não foi fecundada sexualmente por José, seu marido, mas pelo divino Espírito Santo.
Por isso mesmo, ostenta a denominação de Virgem Maria. Todos os demais seres humanos, concebidos na relação sexual, nascem pecadores, segundo essa doutrina, e, para os livrarem disso, a igreja criou o rito purificador do batismo.
Por que a igreja encara o ato sexual como pecado é difícil de explicar, uma vez que se trata de uma necessidade natural e vital, pois dele depende a sobrevivência da espécie.
Por isso mesmo, a igreja teve que, sem negar-lhe o caráter pecaminoso, encontrar meios de admiti-lo. Esses meios são o casamento religioso e o batismo. Este é tão fundamental que, se o bebê morre antes de ser batizado, vai para o inferno.
Se essa é a visão da igreja, deveria então aprovar a fecundação in vitro, já que, neste caso, o ato sexual é dispensado e, consequentemente, o bebê que dali nasce não traz consigo o pecado original.
Espero que não se veja, nesta minha observação, qualquer propósito sacrílego, mas apenas uma dedução lógica: o bebê de proveta foi concebido sem pecado. Como Cristo? Não, como o Cristo não, já que este nasceu por intervenção do Espírito Santo, enquanto o bebê de proveta deve sua existência à intervenção de um mero biólogo.
Sem pretender dar uma de teólogo, arrisco afirmar que o conceito de pecado original é a base mesma da doutrina cristã, de modo que a ele se deve o entendimento da relação sexual como um ato só admissível quando praticado visando a procriação. Como puro e simples prazer é inaceitável. A partir desse entendimento, torna-se lógico que a igreja se oponha à relação entre indivíduos do mesmo sexo, que não vise a procriação e, sim, unicamente o prazer sexual.
Pela mesma razão, a igreja também condena o uso da camisinha, cuja função é evitar a fecundação e, por conseguinte, a procriação. Não se trata, portanto, de mero preconceito ou conservadorismo de fundo moral. Pelo contrário, a igreja, fiel a sua concepção teológica, não pode aceitar o sexo --que é pecado-- como mero prazer.
No passado, quando a fé católica dominava de modo incontestável a sociedade, houve casos de mulheres casadas que, mesmo transando com o propósito de procriar, achavam-se tão culpadas que, para não sentir prazer algum, martirizavam-se durante o coito, certas de que, desse modo, livrar-se-iam de ir para no inferno, após a morte.
Eu que sou a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo e considero o prazer sexual uma das boas coisas da vida, entendo que os católicos --e particularmente as autoridades eclesiásticas-- se oponham ao sexo como mero prazer. É uma questão doutrinária.
Observo, porém, que essa atitude é mais fácil de defender em teoria do que na prática, como o demonstram os numerosos casos de padres pedófilos denunciados recentemente.
Mas esse é um problema que cabe ao papa Francisco resolver. De minha parte, louvo a conquista científica que fez nascer 4 milhões de pessoas e levou alegria a milhões de casais sem filhos.
A igreja, fiel a sua concepção teológica, não pode aceitar o sexo -que é pecado- como mero prazer
A morte de Robert Geoffrey Edwards, pai da fertilização in vitro, trouxe de volta a discussão entre os que apoiam e os que se opõem a esse procedimento científico que possibilita o nascimento de seres humanos sem a necessidade, até bem pouco tempo indispensável, da relação sexual entre homem e mulher.
A verdade é que, quando em 25 de julho de 1978, Louise Joy Brown tornou-se, ao nascer, o primeiro bebê de proveta, foi como se alguma coisa sagrada ruísse, provocando a indignação de quem acredita na origem transcendental do homem.
De fato, a manipulação do óvulo feminino e do espermatozoide masculino para fazer nascer uma pessoa punha em questão o mistério sagrado que envolvia nossa origem. Não por acaso, a indignação maior, em face disso, foi da Igreja Católica.
Trata-se de assunto delicado porque envolve aquilo que é, no meu entender, o princípio básico da teologia cristã: o pecado original.
Ele é o fator determinante da posição da igreja com respeito a uma série de questões fundamentais. Tão importante é o conceito de pecado original que, conforme a versão cristã, o Cristo foi concebido sem pecado, ou seja, Maria não foi fecundada sexualmente por José, seu marido, mas pelo divino Espírito Santo.
Por isso mesmo, ostenta a denominação de Virgem Maria. Todos os demais seres humanos, concebidos na relação sexual, nascem pecadores, segundo essa doutrina, e, para os livrarem disso, a igreja criou o rito purificador do batismo.
Por que a igreja encara o ato sexual como pecado é difícil de explicar, uma vez que se trata de uma necessidade natural e vital, pois dele depende a sobrevivência da espécie.
Por isso mesmo, a igreja teve que, sem negar-lhe o caráter pecaminoso, encontrar meios de admiti-lo. Esses meios são o casamento religioso e o batismo. Este é tão fundamental que, se o bebê morre antes de ser batizado, vai para o inferno.
Se essa é a visão da igreja, deveria então aprovar a fecundação in vitro, já que, neste caso, o ato sexual é dispensado e, consequentemente, o bebê que dali nasce não traz consigo o pecado original.
Espero que não se veja, nesta minha observação, qualquer propósito sacrílego, mas apenas uma dedução lógica: o bebê de proveta foi concebido sem pecado. Como Cristo? Não, como o Cristo não, já que este nasceu por intervenção do Espírito Santo, enquanto o bebê de proveta deve sua existência à intervenção de um mero biólogo.
Sem pretender dar uma de teólogo, arrisco afirmar que o conceito de pecado original é a base mesma da doutrina cristã, de modo que a ele se deve o entendimento da relação sexual como um ato só admissível quando praticado visando a procriação. Como puro e simples prazer é inaceitável. A partir desse entendimento, torna-se lógico que a igreja se oponha à relação entre indivíduos do mesmo sexo, que não vise a procriação e, sim, unicamente o prazer sexual.
Pela mesma razão, a igreja também condena o uso da camisinha, cuja função é evitar a fecundação e, por conseguinte, a procriação. Não se trata, portanto, de mero preconceito ou conservadorismo de fundo moral. Pelo contrário, a igreja, fiel a sua concepção teológica, não pode aceitar o sexo --que é pecado-- como mero prazer.
No passado, quando a fé católica dominava de modo incontestável a sociedade, houve casos de mulheres casadas que, mesmo transando com o propósito de procriar, achavam-se tão culpadas que, para não sentir prazer algum, martirizavam-se durante o coito, certas de que, desse modo, livrar-se-iam de ir para no inferno, após a morte.
Eu que sou a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo e considero o prazer sexual uma das boas coisas da vida, entendo que os católicos --e particularmente as autoridades eclesiásticas-- se oponham ao sexo como mero prazer. É uma questão doutrinária.
Observo, porém, que essa atitude é mais fácil de defender em teoria do que na prática, como o demonstram os numerosos casos de padres pedófilos denunciados recentemente.
Mas esse é um problema que cabe ao papa Francisco resolver. De minha parte, louvo a conquista científica que fez nascer 4 milhões de pessoas e levou alegria a milhões de casais sem filhos.
A vingança - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O ESTADÃO - 05/05
Boanova deveria dar o fora na Maura, para ela aprender
O que a Maura fez com o Inácio era a opinião geral não se faz com um cachorro. Logo com o Inácio, flor de pessoa. A turma se solidarizou com o Inácio e, para tirá-lo da depressão, decidiu vingar-se da Maura. Objetivo: fazer com a Maura o que a Maura fizera com o Inácio. Desilusão por desilusão. Coração partido por coração partido, sem piedade.
Escalado para a função: o Boanova.
– Eu?! – Você, Boanova.
O Boanova era o que se chamava, na época da máquina Remington e do Simca-Chambord, de um boa-pinta. Um pão (também se dizia). As mulheres suspiravam pelo Boanova. O Boanova usava topete fixado com Gumex e fumava cigarrilha.
– Vocês estão esquecendo que eu sou maricas – protestou o Boanova.
(Na época ainda não se dizia gay). – Melhor.
A conquista da Maura pelo Boanova foi arquitetada com precisão militar. O próprio Inácio – quando conseguiram resgatá-lo por instantes da fossa (na época se dizia fossa) – instruiu o Boanova, dizendo o que a Maura gostava (Chanel, beijo atrás da orelha, Gregorio Barrios) e o que ela não gostava (filme de guerra, Grapete) e colaborou num cronograma que detalhava todos os passos do namoro, desde o coxa a coxa até a mão no peito, que o Boanova ouviu com indisfarçável cara de nojo.
– Importante – avisou o Inácio. – No namoro na sala. A vó dela está sempre junto.
Mas a avó dormia. Variava: às vezes levava quinze minutos para largar as agulhas de crochê no colo e começar a roncar, às vezes levava mais. Mas quando começava a dormir não parava até que o namorado fosse embora. Havia tempo de sobra para desengatar o sutiã.
E começou o romance da vingança. Maura e Boanova. A turma pedia relatórios, a intervalos. Em que fase estava o namoro? O beijo atrás da orelha, estava funcionando? Já tinham chegado à mão no peito?
– E aí, Boanova?
– Está indo, está indo – dizia o Boanova, tragando sua cigarrilha. Uma noite, o Boanova informou: – Está no papo.
Chegara a hora. Boanova deveria dar o fora na Maura, para ela aprender. Dizer que não a amava, que o namoro era uma farsa. Até contar que não gostava de mulher. O importante era desiludi-la. Mandá-la para a mesma fossa em que já estava o Inácio.
Estranhamente, o Boanova não mostrou muito entusiasmo com o plano. Pediu mais tempo. E aconteceu o que o leitor certamente já previa. Em vez do Boanova dar o fora na Maura, foi a Maura que deu o fora no Boanova, fazendo com ele o que não se faz com um cachorro.
E hoje o Boanova está na fossa, e não para de suspirar, pensando na Maura. Teriam que escalar outro para a vingança. Mas, depois do que aconteceu com o Boanova, ninguém se anima.
Boanova deveria dar o fora na Maura, para ela aprender
O que a Maura fez com o Inácio era a opinião geral não se faz com um cachorro. Logo com o Inácio, flor de pessoa. A turma se solidarizou com o Inácio e, para tirá-lo da depressão, decidiu vingar-se da Maura. Objetivo: fazer com a Maura o que a Maura fizera com o Inácio. Desilusão por desilusão. Coração partido por coração partido, sem piedade.
Escalado para a função: o Boanova.
– Eu?! – Você, Boanova.
O Boanova era o que se chamava, na época da máquina Remington e do Simca-Chambord, de um boa-pinta. Um pão (também se dizia). As mulheres suspiravam pelo Boanova. O Boanova usava topete fixado com Gumex e fumava cigarrilha.
– Vocês estão esquecendo que eu sou maricas – protestou o Boanova.
(Na época ainda não se dizia gay). – Melhor.
A conquista da Maura pelo Boanova foi arquitetada com precisão militar. O próprio Inácio – quando conseguiram resgatá-lo por instantes da fossa (na época se dizia fossa) – instruiu o Boanova, dizendo o que a Maura gostava (Chanel, beijo atrás da orelha, Gregorio Barrios) e o que ela não gostava (filme de guerra, Grapete) e colaborou num cronograma que detalhava todos os passos do namoro, desde o coxa a coxa até a mão no peito, que o Boanova ouviu com indisfarçável cara de nojo.
– Importante – avisou o Inácio. – No namoro na sala. A vó dela está sempre junto.
Mas a avó dormia. Variava: às vezes levava quinze minutos para largar as agulhas de crochê no colo e começar a roncar, às vezes levava mais. Mas quando começava a dormir não parava até que o namorado fosse embora. Havia tempo de sobra para desengatar o sutiã.
E começou o romance da vingança. Maura e Boanova. A turma pedia relatórios, a intervalos. Em que fase estava o namoro? O beijo atrás da orelha, estava funcionando? Já tinham chegado à mão no peito?
– E aí, Boanova?
– Está indo, está indo – dizia o Boanova, tragando sua cigarrilha. Uma noite, o Boanova informou: – Está no papo.
Chegara a hora. Boanova deveria dar o fora na Maura, para ela aprender. Dizer que não a amava, que o namoro era uma farsa. Até contar que não gostava de mulher. O importante era desiludi-la. Mandá-la para a mesma fossa em que já estava o Inácio.
Estranhamente, o Boanova não mostrou muito entusiasmo com o plano. Pediu mais tempo. E aconteceu o que o leitor certamente já previa. Em vez do Boanova dar o fora na Maura, foi a Maura que deu o fora no Boanova, fazendo com ele o que não se faz com um cachorro.
E hoje o Boanova está na fossa, e não para de suspirar, pensando na Maura. Teriam que escalar outro para a vingança. Mas, depois do que aconteceu com o Boanova, ninguém se anima.
Alguns palpites, algumas curiosidades - DANUZA LEÃO
FOLHA DE SP - 05/05
Hoje, quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante
Leio os jornais, vejo TV, presto atenção a algumas coisas --não ao conflito da Síria-- e me meto em assuntos onde não fui chamada; é mais forte que eu.
Começando pela PEC das empregadas, assunto que me fascina. Se as novas regras tivessem sido estabelecidas por pessoas mais inteligentes, mais preparadas, é elementar: a PEC não teria que passar por uma regulamentação (que está sendo, aliás, bem complicada).
Li outro dia que uma empregada que ganha em volta de R$ 1.500, feitas todas aquelas contas complicadíssimas --que começam com a divisão do salário por 220--, vai receber por cada hora extra (noturna) em volta de R$ 10.
Não foi dito se ela é obrigada a aceitar fazer horas extras noturnas, mas eu, se fosse ela, não aceitaria. Ganhar R$ 20,00 para trabalhar além do expediente, de 10h à meia-noite? Nem pensar.
E outra coisa: quem trabalha em um apartamento pequeno, duas horas por dia, duas vezes por semana, como é que fica? Nisso ninguém falou.
Também não foi falado, mas é bom lembrar, que as empregadas passaram a ter direito a todos os feriados: os três dias de carnaval, dia 1º de janeiro, dia de S. Jorge, sexta-feira da Paixão, etc. etc. E não vai mais ser preciso chamá-las de secretárias do lar; agora são empregadas, o que antes era considerado ofensivo.
Dúvidas: elas podem se recusar a trabalhar de uniforme? Se puderem, tente imaginar a cena: servir a mesa em casa de Paulo Maluf, por exemplo, de shortinho de lycra, tomara que caia e sandália havaiana.
Mais uma coisinha: o que é considerado justa causa? Tive uma empregada cujo horário era das 10h às 14h, mas que chegava invariavelmente às 12h; seria isto considerado justa causa? A PEC só fala das obrigações dos empregadores, e de nenhuma das empregadas.
Outro assunto: o direito dos pedestres. Não sei se é ou não permitido que skatistas e ciclistas circulem nas calçadas, mas eles circulam na boa, sem respeitar a mão e a contramão, ai de nós pedestres.
E aproveitando a onda, por que não proíbem o celular dentro dos elevadores? Outro dia eu ia para o 21º andar e eram dois que falavam --sendo que um deles comentava a novela. Se tivesse uma arma eu matava, e qualquer juiz me absolveria.
E mais um, o último: há muito tempo não ia ao calçadão de Ipanema tomar uma água de coco num quiosque. Fui no feriado, e achei estranho que o coco não tivesse sido aberto como sempre foi; havia nele um furinho muito bem feito, como se fosse por um saca-rolha, para a entrada do canudo (fora a inflação, de R$ 3 para R$ 5).
Estranhei, e tive a impressão de estar tomando uma água de coco industrializada, o que não tem a menor graça. Quando terminei pedi para que cortassem o coco, para ter o prazer celestial de comer a carne, com um pedaço da casca servindo de colher; aí soube que, desde o carnaval, isso havia sido proibido.
Não dá para acreditar; um dos prazeres da praia, diante da natureza espetacular --para nativos e turistas--, é justamente, depois de beber a água, comer a carne, que às vezes está um creme, às vezes mais sólida, e essa expectativa faz parte do encanto e da maravilha que é se estar num país tropical.
Hoje, quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante, sua carne, que deveria ter sido tombada pela Unesco, já era, e gostaria de saber de quem foi essa ideia de jerico.
Será que o prefeito Eduardo Paes, que se gaba tanto de ser carioca, sabe disso? É isso que se chama choque de ordem? Pobre do Rio de Janeiro.
Hoje, quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante
Leio os jornais, vejo TV, presto atenção a algumas coisas --não ao conflito da Síria-- e me meto em assuntos onde não fui chamada; é mais forte que eu.
Começando pela PEC das empregadas, assunto que me fascina. Se as novas regras tivessem sido estabelecidas por pessoas mais inteligentes, mais preparadas, é elementar: a PEC não teria que passar por uma regulamentação (que está sendo, aliás, bem complicada).
Li outro dia que uma empregada que ganha em volta de R$ 1.500, feitas todas aquelas contas complicadíssimas --que começam com a divisão do salário por 220--, vai receber por cada hora extra (noturna) em volta de R$ 10.
Não foi dito se ela é obrigada a aceitar fazer horas extras noturnas, mas eu, se fosse ela, não aceitaria. Ganhar R$ 20,00 para trabalhar além do expediente, de 10h à meia-noite? Nem pensar.
E outra coisa: quem trabalha em um apartamento pequeno, duas horas por dia, duas vezes por semana, como é que fica? Nisso ninguém falou.
Também não foi falado, mas é bom lembrar, que as empregadas passaram a ter direito a todos os feriados: os três dias de carnaval, dia 1º de janeiro, dia de S. Jorge, sexta-feira da Paixão, etc. etc. E não vai mais ser preciso chamá-las de secretárias do lar; agora são empregadas, o que antes era considerado ofensivo.
Dúvidas: elas podem se recusar a trabalhar de uniforme? Se puderem, tente imaginar a cena: servir a mesa em casa de Paulo Maluf, por exemplo, de shortinho de lycra, tomara que caia e sandália havaiana.
Mais uma coisinha: o que é considerado justa causa? Tive uma empregada cujo horário era das 10h às 14h, mas que chegava invariavelmente às 12h; seria isto considerado justa causa? A PEC só fala das obrigações dos empregadores, e de nenhuma das empregadas.
Outro assunto: o direito dos pedestres. Não sei se é ou não permitido que skatistas e ciclistas circulem nas calçadas, mas eles circulam na boa, sem respeitar a mão e a contramão, ai de nós pedestres.
E aproveitando a onda, por que não proíbem o celular dentro dos elevadores? Outro dia eu ia para o 21º andar e eram dois que falavam --sendo que um deles comentava a novela. Se tivesse uma arma eu matava, e qualquer juiz me absolveria.
E mais um, o último: há muito tempo não ia ao calçadão de Ipanema tomar uma água de coco num quiosque. Fui no feriado, e achei estranho que o coco não tivesse sido aberto como sempre foi; havia nele um furinho muito bem feito, como se fosse por um saca-rolha, para a entrada do canudo (fora a inflação, de R$ 3 para R$ 5).
Estranhei, e tive a impressão de estar tomando uma água de coco industrializada, o que não tem a menor graça. Quando terminei pedi para que cortassem o coco, para ter o prazer celestial de comer a carne, com um pedaço da casca servindo de colher; aí soube que, desde o carnaval, isso havia sido proibido.
Não dá para acreditar; um dos prazeres da praia, diante da natureza espetacular --para nativos e turistas--, é justamente, depois de beber a água, comer a carne, que às vezes está um creme, às vezes mais sólida, e essa expectativa faz parte do encanto e da maravilha que é se estar num país tropical.
Hoje, quem bebe a água do coco tem a sensação de estar tomando um refrigerante, sua carne, que deveria ter sido tombada pela Unesco, já era, e gostaria de saber de quem foi essa ideia de jerico.
Será que o prefeito Eduardo Paes, que se gaba tanto de ser carioca, sabe disso? É isso que se chama choque de ordem? Pobre do Rio de Janeiro.
Um passeio em família - ALDIR BLANC
O GLOBO - 05/05
“Aquilo, no açougue, é o preço da carne?”
Continuam os comerciais de TV que dão raiva, como o do homúnculo que foi “mapear ondas”... Mas confesso que há uns inspiradores. Tem o da Caixa, aquele em que uma família sai a passeio de carro. O menino mostra a habilidade nova e a irmãzinha berra: “Gente, o Dudu tá lendo!”. A mãe se emociona e o pai balança feito urso coçando prurido anal. Tentemos adaptá-lo à chamada realidade brasileira.
Mamãe Dilma, ao volante, e Papai Lula, distraído no carona, levam os pimpolhos Guidinho e Martinha pra uma volta no carro da família.
Dilma — Encheu o tanque?
Lula — Hi, não! Fiquei sem grana. Fiz umas apostas na loteca, tomei umazinha...
Dilma — Pomba, Lula! Se nem você prestigiar os postos da Petrobras, quem é que vai acreditar que a empresa não está atolando?
Lula — Desculpe, Dilminha.
Dilma — Você usa diminutivo quando está com culpa no cartório. Umazinha, é? Lembre-se que meu índice de aprovação é maior que o seu!
Guidinho olha uma caxirola, resmungando no banco de trás.
Lula — Li que o Brasil foi o maior vendedor de armas leves pros americanos.
Dilma — Desde quando você lê aquele jornal?
Lula — Meu lado masô. Sou Vasco, no Rio. Contrataram René Simões.
Dilma — É algum incompetente da base de sustentação?
Martinha se anima — Eu já flertei com o Roberto Dinam...
Dilma e Lula — Fica quieta!
Lula — Sua aprovação não impediu a vaia dos ruralistas...
Martinha — Eu já flertei com o Caiad...
Os pais, em uníssono — CALA A BOCA!
Aí, Guidinho vê numa quitanda preços abusivos e diz pra si mesmo:
— Tá saindo de controle. Preciso tomar providências.
Martinha não notou o mau humor de Guidinho. Estava usando a calculadora do celular para descobrir quantos livros, CDs, DVDs, contraceptivos, viagra, revistas eróticas (quer tornar-se sexóloga) podem ser comprados com apenas 50 reais. Cada vez mais nervoso, Guidinho sente cólicas. Na porta de uma farmácia: “Compre aqui antiespasmódicos em promoção! Alta de apenas 10%!”. Guidinho arregala os olhos e grita sem sentir:
— Quanto?! Mas a meta da inflação... Meu Deus, vou sugerir aumento da taxa Selic, baixar o dólar, sei lá. Julguei que a coisa ia bem, mas, no fundo, estamos apanhando mais que o Vanderlei Luxemburgo!
Martinha — Eu já flertei com o Vand...
Ruídos que sugerem tabefes.
Guidinho — Aquilo, no açougue, é o preço da carne?!?
E apontando para a tabela de preços, exclama:
— Vou domar esse monstro!
Martinha grita para os pais:
— Gente, o Guidinho tá raciocinando!
Dilma e Lula trocam sorrisos. Martinha taca o dedo no olho do irmão. O casal pede mais responsabilidade, e ameaça “fritar” os filhos se não houver união. Os quatro seguem rumo ao próximo pleito. Lula se permite uma gozação de saideira:
— Aécio candidato. Tucanicídio! O insaciável Aécio da Neve não resiste a uma investigação de qualquer delegado da Costumes...
Martinha grita que já flertou com um policial e Guidinho bate com a caxirola na cuca da irmã.
“Aquilo, no açougue, é o preço da carne?”
Continuam os comerciais de TV que dão raiva, como o do homúnculo que foi “mapear ondas”... Mas confesso que há uns inspiradores. Tem o da Caixa, aquele em que uma família sai a passeio de carro. O menino mostra a habilidade nova e a irmãzinha berra: “Gente, o Dudu tá lendo!”. A mãe se emociona e o pai balança feito urso coçando prurido anal. Tentemos adaptá-lo à chamada realidade brasileira.
Mamãe Dilma, ao volante, e Papai Lula, distraído no carona, levam os pimpolhos Guidinho e Martinha pra uma volta no carro da família.
Dilma — Encheu o tanque?
Lula — Hi, não! Fiquei sem grana. Fiz umas apostas na loteca, tomei umazinha...
Dilma — Pomba, Lula! Se nem você prestigiar os postos da Petrobras, quem é que vai acreditar que a empresa não está atolando?
Lula — Desculpe, Dilminha.
Dilma — Você usa diminutivo quando está com culpa no cartório. Umazinha, é? Lembre-se que meu índice de aprovação é maior que o seu!
Guidinho olha uma caxirola, resmungando no banco de trás.
Lula — Li que o Brasil foi o maior vendedor de armas leves pros americanos.
Dilma — Desde quando você lê aquele jornal?
Lula — Meu lado masô. Sou Vasco, no Rio. Contrataram René Simões.
Dilma — É algum incompetente da base de sustentação?
Martinha se anima — Eu já flertei com o Roberto Dinam...
Dilma e Lula — Fica quieta!
Lula — Sua aprovação não impediu a vaia dos ruralistas...
Martinha — Eu já flertei com o Caiad...
Os pais, em uníssono — CALA A BOCA!
Aí, Guidinho vê numa quitanda preços abusivos e diz pra si mesmo:
— Tá saindo de controle. Preciso tomar providências.
Martinha não notou o mau humor de Guidinho. Estava usando a calculadora do celular para descobrir quantos livros, CDs, DVDs, contraceptivos, viagra, revistas eróticas (quer tornar-se sexóloga) podem ser comprados com apenas 50 reais. Cada vez mais nervoso, Guidinho sente cólicas. Na porta de uma farmácia: “Compre aqui antiespasmódicos em promoção! Alta de apenas 10%!”. Guidinho arregala os olhos e grita sem sentir:
— Quanto?! Mas a meta da inflação... Meu Deus, vou sugerir aumento da taxa Selic, baixar o dólar, sei lá. Julguei que a coisa ia bem, mas, no fundo, estamos apanhando mais que o Vanderlei Luxemburgo!
Martinha — Eu já flertei com o Vand...
Ruídos que sugerem tabefes.
Guidinho — Aquilo, no açougue, é o preço da carne?!?
E apontando para a tabela de preços, exclama:
— Vou domar esse monstro!
Martinha grita para os pais:
— Gente, o Guidinho tá raciocinando!
Dilma e Lula trocam sorrisos. Martinha taca o dedo no olho do irmão. O casal pede mais responsabilidade, e ameaça “fritar” os filhos se não houver união. Os quatro seguem rumo ao próximo pleito. Lula se permite uma gozação de saideira:
— Aécio candidato. Tucanicídio! O insaciável Aécio da Neve não resiste a uma investigação de qualquer delegado da Costumes...
Martinha grita que já flertou com um policial e Guidinho bate com a caxirola na cuca da irmã.
Fantasmas ilustres - HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo - 05/05
Paul Gauguin e André Breton viveram neste hotel em que vim parar - o pintor em 1891, o escritor em 1921. A passagem de um e outro pelo Hôtel Delambre, então Hôtel des Écoles, está registrada em duas placas de pedra nas laterais da porta de entrada. Bem faria eu de me inspirar no exemplo dos fantasmas ilustres que me precederam entre estas paredes, vestidos, suponho, com lençóis de algodão egípcio e arrastando correntes de ouro. Na impossibilidade, porém, de vir a merecer eu mesmo uma placa, seja em Paris ou Matozinhos, consolo-me na suposição mesquinha de que nem Gauguin nem Breton, para produzirem as obras que os eternizaram, terão habitado a cela de monge a que minhas esbeltas finanças me condenam. Ou será que sim? Pelo menos não devem ter tido como vizinhos, do outro lado de uma parede de estuque, esse bando de canadenses cuja fuzarca etílico-hormonal crepita madrugada adentro. Breton, não sei, mas Gauguin não trabalhava aqui; durante um tempo, dividiu ateliê nas imediações (Rue de la Grande Chaumière) com Modigliani, aquele dos pescoços intermináveis.
O diabo sabe para quem aparece. Provavelmente não havia turistas ruidosos no Hôtel des Bains, bem ao lado do meu na rue Delambre, quando em 1937 uma jovem professora do Liceu Molière chamada Simone de Beauvoir pariu ali seu primeiro romance, Quand Prime le Spirituel, só publicado em 1979. Não há placa, mas é informação segura. Na ficção, Simone primava pelo espiritual, mas na vida real já entabulara namoro-cabeça com um moço de olho torto. Como é sabido, ela e Jean-Paul Sartre nunca dividiram teto. Só vieram a coabitar no cemitério de Montparnasse, aqui pertinho - a pequena distância, aliás, de Charles Baudelaire, personagem secundário no túmulo do padrasto com quem não se dava, o general Jacques Aupick, cujas glórias, há muito esmaecidas, lá estão trombeteadas no mármore. Para compensar, em outro ponto do cemitério o poeta mereceu imponente cenotáfio, monumento funerário em que o homenageado não está. Mais adiante você topa com Julio Cortázar, Samuel Beckett e Guy de Maupassant. Em número de visitantes, nenhum deles bate Serge Gainsbourg, cuja tumba jaz praticamente enterrada em flores, papéis e tíquetes de metrô que parecem incitar o ator e compositor a mais viagens, agora sem aditivos.
Mas voltemos à rue Delambre, onde o meu hotel, hoje com três estrelas, era pouso de modesta grandeza ao tempo em que se chamava des Écoles: com seu adjetivo, o Grand Hôtel des Écoles, atual Lenox, no n.º 15, lhe fazia sombra. No quarto 32 moraram, mas não simultaneamente, Marcel Duchamp e o fotógrafo Man Ray. Por lá andou também, ainda obscuro mas já libertino, o romancista Henry Miller, com sua musa June.
No 15 da rue Delambre, viveu e trabalhou de 1917 a 1924 o pintor japonês Foujita, com sua franja engomada cor de shoyu. O Studio Hôtel, no 9, esplêndido art déco com três andares, de 1926, foi e segue sendo reduto de artistas, não necessariamente plásticos. Isadora Duncan morou num daqueles ateliês, cujo generoso pé-direito, imagino, permitiria a bailarinos que nem ela decolar nos mais audaciosos grands jetés; mas por pouco tempo, pois em 1927, estando em Nice, Isadora teve aquela má ideia de passear de carro conversível com uma longa echarpe, a qual, sabemos todos, desfraldada pelo vento, enroscou-se numa das rodas do veículo, apagando a grande estrela por enforcamento.
Bem em frente ao Studio Hôtel está o restaurante Auberge de Venise, instalado onde existiu o Dingo - o bar de que falei aqui na semana passada, no qual Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald teriam se conhecido numa noite de 1925, conforme conta o primeiro em Paris É Uma Festa. Ainda não puseram placa. Em má hora fui enveredar por essa história, pois desde então há quem me acuse de ter chamado o ficcionista de mentiroso, de reduzir a relação dos dois a um descabido Fla-Flu. Não me leve a mal, portanto, me leve a bem, se voltar ao assunto num dos próximos domingos, pois tenho mais lenha para essa fogueira.
Paul Gauguin e André Breton viveram neste hotel em que vim parar - o pintor em 1891, o escritor em 1921. A passagem de um e outro pelo Hôtel Delambre, então Hôtel des Écoles, está registrada em duas placas de pedra nas laterais da porta de entrada. Bem faria eu de me inspirar no exemplo dos fantasmas ilustres que me precederam entre estas paredes, vestidos, suponho, com lençóis de algodão egípcio e arrastando correntes de ouro. Na impossibilidade, porém, de vir a merecer eu mesmo uma placa, seja em Paris ou Matozinhos, consolo-me na suposição mesquinha de que nem Gauguin nem Breton, para produzirem as obras que os eternizaram, terão habitado a cela de monge a que minhas esbeltas finanças me condenam. Ou será que sim? Pelo menos não devem ter tido como vizinhos, do outro lado de uma parede de estuque, esse bando de canadenses cuja fuzarca etílico-hormonal crepita madrugada adentro. Breton, não sei, mas Gauguin não trabalhava aqui; durante um tempo, dividiu ateliê nas imediações (Rue de la Grande Chaumière) com Modigliani, aquele dos pescoços intermináveis.
O diabo sabe para quem aparece. Provavelmente não havia turistas ruidosos no Hôtel des Bains, bem ao lado do meu na rue Delambre, quando em 1937 uma jovem professora do Liceu Molière chamada Simone de Beauvoir pariu ali seu primeiro romance, Quand Prime le Spirituel, só publicado em 1979. Não há placa, mas é informação segura. Na ficção, Simone primava pelo espiritual, mas na vida real já entabulara namoro-cabeça com um moço de olho torto. Como é sabido, ela e Jean-Paul Sartre nunca dividiram teto. Só vieram a coabitar no cemitério de Montparnasse, aqui pertinho - a pequena distância, aliás, de Charles Baudelaire, personagem secundário no túmulo do padrasto com quem não se dava, o general Jacques Aupick, cujas glórias, há muito esmaecidas, lá estão trombeteadas no mármore. Para compensar, em outro ponto do cemitério o poeta mereceu imponente cenotáfio, monumento funerário em que o homenageado não está. Mais adiante você topa com Julio Cortázar, Samuel Beckett e Guy de Maupassant. Em número de visitantes, nenhum deles bate Serge Gainsbourg, cuja tumba jaz praticamente enterrada em flores, papéis e tíquetes de metrô que parecem incitar o ator e compositor a mais viagens, agora sem aditivos.
Mas voltemos à rue Delambre, onde o meu hotel, hoje com três estrelas, era pouso de modesta grandeza ao tempo em que se chamava des Écoles: com seu adjetivo, o Grand Hôtel des Écoles, atual Lenox, no n.º 15, lhe fazia sombra. No quarto 32 moraram, mas não simultaneamente, Marcel Duchamp e o fotógrafo Man Ray. Por lá andou também, ainda obscuro mas já libertino, o romancista Henry Miller, com sua musa June.
No 15 da rue Delambre, viveu e trabalhou de 1917 a 1924 o pintor japonês Foujita, com sua franja engomada cor de shoyu. O Studio Hôtel, no 9, esplêndido art déco com três andares, de 1926, foi e segue sendo reduto de artistas, não necessariamente plásticos. Isadora Duncan morou num daqueles ateliês, cujo generoso pé-direito, imagino, permitiria a bailarinos que nem ela decolar nos mais audaciosos grands jetés; mas por pouco tempo, pois em 1927, estando em Nice, Isadora teve aquela má ideia de passear de carro conversível com uma longa echarpe, a qual, sabemos todos, desfraldada pelo vento, enroscou-se numa das rodas do veículo, apagando a grande estrela por enforcamento.
Bem em frente ao Studio Hôtel está o restaurante Auberge de Venise, instalado onde existiu o Dingo - o bar de que falei aqui na semana passada, no qual Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald teriam se conhecido numa noite de 1925, conforme conta o primeiro em Paris É Uma Festa. Ainda não puseram placa. Em má hora fui enveredar por essa história, pois desde então há quem me acuse de ter chamado o ficcionista de mentiroso, de reduzir a relação dos dois a um descabido Fla-Flu. Não me leve a mal, portanto, me leve a bem, se voltar ao assunto num dos próximos domingos, pois tenho mais lenha para essa fogueira.
Um sábio conselho - MARCELO GLEISER
FOLHA DE SP - 05/05
'Péssima ideia', me disse John Bell quando eu, ainda jovem, quis estudar as bizarras 'ações à distância'
Quando estava começando meu curso de doutorado na Inglaterra, tive a oportunidade de conhecer o famoso físico John Bell.
No meu segundo ano, após passado o temido exame de qualificação, tinha que escolher minha área de pesquisa. Meu orientador, John G. Taylor, estava interessado em teorias de unificação usando a supersimetria, a última moda no início dos anos 80, graças aos resultados dos físicos John Schwartz e Michael Green em teorias de supercordas.
A ideia era explorar modelos descrevendo as forças fundamentais da matéria em nove ou dez dimensões espaciais, eventualmente reduzindo tudo a uma teoria efetiva nas três dimensões que conhecemos.
O tópico era bem técnico --mais matemática do que física-- e não me interessei muito.
John Bell era um dos palestrantes em uma conferência em Oxford e resolvi pegar um trem e me apresentar a ele. Bell trabalhava no Cern, o mesmo laboratório onde, ano passado, descobriram o bóson de Higgs.
Mas ele era famoso por outro resultado, um teorema que revolucionou nossa compreensão do mundo quântico. Desde que era aluno de graduação na PUC-Rio, me interessava pela interpretação da mecânica quântica, no que dizia a teoria mais efetiva e mais misteriosa da física. (Leitores das minhas duas últimas colunas sabem do que falo.)
A apresentação de Bell era sobre seu teorema de 1964 e sobre recentes verificações experimentais. (Experimentos de John Clauser e Alain Aspect.) A física quântica, que trata dos átomos e das partículas subatômicas, produz efeitos muito bizarros. Entre eles, a possibilidade de que dois objetos separados por grande distância exerçam "influência" mútua mais rápida do que a velocidade da luz.
Isso vai contra toda a física anterior e a nossa intuição de que um efeito tem uma causa que, mesmo se rápida, é mais lenta do que a luz.
A mecânica quântica não explica isso, simplesmente aceitando que a coisa é assim. Extensões da teoria tentam justificar o que ocorre usando as chamadas "variáveis escondidas" de David Bohm. O teorema de Bell oferece um teste para ver se a teoria quântica é completa ou se extensões são viáveis.
Objetos quânticos devidamente "emaranhados", ou em interação, se comportam como uma unidade mesmo se separados. Por exemplo, imagine dois elétrons saindo de uma fonte em direções opostas. Imagine que estejam também girando em sentidos diferentes --elétrons não são piões, mas vamos lá.
Se o giro de um é invertido, o do outro também se inverte sem ninguém tocá-lo. O mais incrível é que isso ocorre mais rápido do que a velocidade da luz, talvez até instantaneamente, se bem que nunca poderemos confirmar se algo ocorre instantaneamente, pois nossos instrumentos não têm precisão absoluta.
Bell e os experimentos demonstraram que extensões da mecânica quântica com ação local não funcionam; a natureza é não local, isto é, sujeita às bizarras "ações à distância". Empolgado, perguntei a Bell se me orientaria. "Péssima ideia um jovem trabalhar nisso", disse. "Espere até você ter uma reputação sólida. Caso contrário, ninguém o levará a sério." Não sei se chegou a hora, mas o "fantasma quântico" vem me assombrando nesses dias.
'Péssima ideia', me disse John Bell quando eu, ainda jovem, quis estudar as bizarras 'ações à distância'
Quando estava começando meu curso de doutorado na Inglaterra, tive a oportunidade de conhecer o famoso físico John Bell.
No meu segundo ano, após passado o temido exame de qualificação, tinha que escolher minha área de pesquisa. Meu orientador, John G. Taylor, estava interessado em teorias de unificação usando a supersimetria, a última moda no início dos anos 80, graças aos resultados dos físicos John Schwartz e Michael Green em teorias de supercordas.
A ideia era explorar modelos descrevendo as forças fundamentais da matéria em nove ou dez dimensões espaciais, eventualmente reduzindo tudo a uma teoria efetiva nas três dimensões que conhecemos.
O tópico era bem técnico --mais matemática do que física-- e não me interessei muito.
John Bell era um dos palestrantes em uma conferência em Oxford e resolvi pegar um trem e me apresentar a ele. Bell trabalhava no Cern, o mesmo laboratório onde, ano passado, descobriram o bóson de Higgs.
Mas ele era famoso por outro resultado, um teorema que revolucionou nossa compreensão do mundo quântico. Desde que era aluno de graduação na PUC-Rio, me interessava pela interpretação da mecânica quântica, no que dizia a teoria mais efetiva e mais misteriosa da física. (Leitores das minhas duas últimas colunas sabem do que falo.)
A apresentação de Bell era sobre seu teorema de 1964 e sobre recentes verificações experimentais. (Experimentos de John Clauser e Alain Aspect.) A física quântica, que trata dos átomos e das partículas subatômicas, produz efeitos muito bizarros. Entre eles, a possibilidade de que dois objetos separados por grande distância exerçam "influência" mútua mais rápida do que a velocidade da luz.
Isso vai contra toda a física anterior e a nossa intuição de que um efeito tem uma causa que, mesmo se rápida, é mais lenta do que a luz.
A mecânica quântica não explica isso, simplesmente aceitando que a coisa é assim. Extensões da teoria tentam justificar o que ocorre usando as chamadas "variáveis escondidas" de David Bohm. O teorema de Bell oferece um teste para ver se a teoria quântica é completa ou se extensões são viáveis.
Objetos quânticos devidamente "emaranhados", ou em interação, se comportam como uma unidade mesmo se separados. Por exemplo, imagine dois elétrons saindo de uma fonte em direções opostas. Imagine que estejam também girando em sentidos diferentes --elétrons não são piões, mas vamos lá.
Se o giro de um é invertido, o do outro também se inverte sem ninguém tocá-lo. O mais incrível é que isso ocorre mais rápido do que a velocidade da luz, talvez até instantaneamente, se bem que nunca poderemos confirmar se algo ocorre instantaneamente, pois nossos instrumentos não têm precisão absoluta.
Bell e os experimentos demonstraram que extensões da mecânica quântica com ação local não funcionam; a natureza é não local, isto é, sujeita às bizarras "ações à distância". Empolgado, perguntei a Bell se me orientaria. "Péssima ideia um jovem trabalhar nisso", disse. "Espere até você ter uma reputação sólida. Caso contrário, ninguém o levará a sério." Não sei se chegou a hora, mas o "fantasma quântico" vem me assombrando nesses dias.
A esquizofrenia do PT - JOÃO BOSCO RABELLO
O Estado de S.Paulo - 05/05
Mesmo se excluindo de qualquer responsabilidade no processo, como se com ele não guardasse qualquer vínculo, o ex-presidente Lula acerta no diagnóstico de esquizofrenia que aplica ao PT após uma década no poder. Há dois PTs, diz ele no livro 10 anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil: Lula e Dilma, em que prega o resgate dos valores originais da legenda.
Em que pese o esforço para dar naturalidade histórica aos erros do partido, a síntese recém-conhecida do livro, feita pelo seu protagonista, não esconde o tratamento de debate interno dado aos crimes cometidos contra o Estado, cujas consequências o PT "eleitoreiro" recusa, numa resistência que tem seu ápice na investida de sua bancada parlamentar contra o Supremo Tribunal Federal.
O outro PT, definido por Lula como "da base", que ele remete aos anos 1980, se ainda existe como afirma o ex-presidente, é invisível ou em grande parte já não é mais PT, como atestam as defecções de grandes nomes irreversivelmente ligados à sua fundação.
O PT visível, institucionalizado, com representação congressual, que governa o País há 10 anos, insiste na defesa dos erros que Lula candidamente atribui ao processo eleitoral (de novo o caixa dois). Esses erros foram cometidos pós-eleição, já no governo, do qual dispôs como quis para um projeto hegemônico de poder , frustrado pelo Ministério Público, não por acaso alvo da mesma ira devotada ao STF.
A reação ao julgamento do mensalão, em pleno curso, nega sinceridade à proposta revisionista do ex-presidente, fazendo do livro uma obra de ocasião, complementar ao método de guerrilha deflagrado contra a independência do Poder Judiciário.
Esse enredo terá seu curso retomado na próxima terça-feira, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) promoverá um desagravo ao que seu presidente Décio Lima (PT-SC) considerou desfaçatez, ou seja, o papel de bombeiros exercido pelos dirigentes do PMDB junto ao STF.
O que estabelece, desde já, um desafio ao PMDB, cuja bancada sinalizou, com o silêncio de muitos e a reclamação de poucos , sua divergência com a cúpula. Com um terço de seus parlamentares na Justiça, o Congresso é tentado a pegar carona na reação dos mensaleiros.
O experiente senador Esperidião Amin (SC) vocaliza essa crítica à cúpula, ao recusar ao presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), autoridade para ir ao STF em nome do partido. "No mínimo, os líderes tinham que falar", diz ele, que defende o debate da emenda petista contra o Supremo.
Portos 1
É tenso o clima para votação da MP dos Portos na semana que vem. Dilma Rousseff ouviu do vice Michel Temer que não há garantia de vitória. Por intervenção do peemedebista, o governo deve ceder aos governadores para chegar a um acordo em plenário.
Portos 2
O PSB prepara um destaque de bancada para restabelecer a autonomia dos governadores na condução de licitações. É a bandeira de Eduardo Campos na matéria. O Planalto autorizou redação prevendo que a União "poderá" autorizar a licitação pelos governadores, mas Campos quer texto mais afirmativo da autonomia estadual.
Mesmo se excluindo de qualquer responsabilidade no processo, como se com ele não guardasse qualquer vínculo, o ex-presidente Lula acerta no diagnóstico de esquizofrenia que aplica ao PT após uma década no poder. Há dois PTs, diz ele no livro 10 anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil: Lula e Dilma, em que prega o resgate dos valores originais da legenda.
Em que pese o esforço para dar naturalidade histórica aos erros do partido, a síntese recém-conhecida do livro, feita pelo seu protagonista, não esconde o tratamento de debate interno dado aos crimes cometidos contra o Estado, cujas consequências o PT "eleitoreiro" recusa, numa resistência que tem seu ápice na investida de sua bancada parlamentar contra o Supremo Tribunal Federal.
O outro PT, definido por Lula como "da base", que ele remete aos anos 1980, se ainda existe como afirma o ex-presidente, é invisível ou em grande parte já não é mais PT, como atestam as defecções de grandes nomes irreversivelmente ligados à sua fundação.
O PT visível, institucionalizado, com representação congressual, que governa o País há 10 anos, insiste na defesa dos erros que Lula candidamente atribui ao processo eleitoral (de novo o caixa dois). Esses erros foram cometidos pós-eleição, já no governo, do qual dispôs como quis para um projeto hegemônico de poder , frustrado pelo Ministério Público, não por acaso alvo da mesma ira devotada ao STF.
A reação ao julgamento do mensalão, em pleno curso, nega sinceridade à proposta revisionista do ex-presidente, fazendo do livro uma obra de ocasião, complementar ao método de guerrilha deflagrado contra a independência do Poder Judiciário.
Esse enredo terá seu curso retomado na próxima terça-feira, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) promoverá um desagravo ao que seu presidente Décio Lima (PT-SC) considerou desfaçatez, ou seja, o papel de bombeiros exercido pelos dirigentes do PMDB junto ao STF.
O que estabelece, desde já, um desafio ao PMDB, cuja bancada sinalizou, com o silêncio de muitos e a reclamação de poucos , sua divergência com a cúpula. Com um terço de seus parlamentares na Justiça, o Congresso é tentado a pegar carona na reação dos mensaleiros.
O experiente senador Esperidião Amin (SC) vocaliza essa crítica à cúpula, ao recusar ao presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), autoridade para ir ao STF em nome do partido. "No mínimo, os líderes tinham que falar", diz ele, que defende o debate da emenda petista contra o Supremo.
Portos 1
É tenso o clima para votação da MP dos Portos na semana que vem. Dilma Rousseff ouviu do vice Michel Temer que não há garantia de vitória. Por intervenção do peemedebista, o governo deve ceder aos governadores para chegar a um acordo em plenário.
Portos 2
O PSB prepara um destaque de bancada para restabelecer a autonomia dos governadores na condução de licitações. É a bandeira de Eduardo Campos na matéria. O Planalto autorizou redação prevendo que a União "poderá" autorizar a licitação pelos governadores, mas Campos quer texto mais afirmativo da autonomia estadual.
A democracia na gangorra - MAC MARGOLIS
O Estado de S.Paulo - 05/05
Para quem acompanha as últimas contorções políticas nas Américas, haja coração. Só em abril, houve atentados contra a Constituição (Bolívia), choque de poderes (Argentina e Brasil), confusão no tribunal (Guatemala) e pancadaria parlamentar (Venezuela). Claro, as situações variam. Cada caudilho no seu galho. Em comum, todos respondem às pressões da democracia, tendência crescente do Caribe às geleiras. O divisor de águas é a forma como cada Estado administra seus conflitos e o saldo é que define a força, ou a fragilidade, das respectivas instituições nacionais.
Considere Guatemala e Venezuela, duas nações onde a estabilidade política está sendo posta à prova. Guardadas as proporções e peculiaridades, a diferença entre as duas nações é o retrato da América Latina contemporânea, região onde liberdades individuais, direitos humanos e livre expressão estão em obras continentais, mas longe de estarem garantidos.
Desde as eleições de 14 de abril, quando Nicolás Maduro emergiu vitorioso na Venezuela, por estreitíssima margem de votos, o chavismo esforça-se para consolidar sua autoridade herdada. Mas enquanto Hugo Chávez, habilidoso e com lábia afiada, tocava o país como uma flauta, seus herdeiros esperneiam. Houve quem imaginasse uma distensão após as eleições ultrapolarizadas. Presidente, Maduro estenderia a mão magnânima aos vencidos e até admitira a recontagem completa dos votos. Se confiança tivesse nos resultado, nada lhe custaria.
Aconteceu o contrário. O Conselho Nacional Eleitoral, recheado de chavistas, concordou em realizar uma auditoria parcial do sufrágio, mas descartou a possibilidade de uma recontagem e fez vista grossa à cascata de irregularidades e fraudes (seriam 3200 ao todo) alegadas pela oposição.
Vale-tudo. Em vez de incentivar o diálogo, Maduro apelou para a truculência, convertendo um protesto pacífico no plenário da Assembleia Nacional em luta de vale-tudo.
Filmagens da pancadaria, em que guarda-costas chavistas, vestindo as cores da bandeira nacional, rodaram o mundo. A deputada María Corina Machado levou chutes e socos. Seu colega, Júlio Borges, teve seu rosto desfigurado. Durante toda a sessão, o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, ria. Não foram poucos que, frente a tamanha inabilidade, profetizaram vida curta para o chavismo versão 2.0.
Se a revolução bolivariana pena para renovar sua franquia autoritária, Guatemala ensaia surpreendentes sinais de vigor democrático. Muitas vezes a força e valor de um país brilha justamente em momentos de crise. Foi assim na Cidade de Guatemala, onde o generalíssimo Efraín Ríos Montt, após anos de esquiva legal, está sendo julgado por crimes de guerra. Ele governou apenas por 17 meses, mas deixou sua marca na sangrenta guerra civil guatemalteca: 1771 mortos na comunidade indígena maia, supostamente por tropas sob seu comando.
Ríos Montt define a repressão como defesa legítima da pátria contra o perigo comunista. Um relatório independente a chamou de genocídio. Num país onde os militares sempre tiveram o patrocínio e a bênção de uma musculosa elite, o processo começou sob uma espessa nuvem de dúvida. Os advogados de defesa bem que tentaram, lançando uma centena de manobras para paralisar o processo.
Mas a magistrada Yazmin Barrios resistiu e ainda sobreviveu à intervenção ardilosa de uma juíza de primeira instância, que quase anulou todo o processo. Nem mesmo as objeções do presidente atual, o general Otto Pérez Molina, que lutara sob o comando de Ríos Montt, conseguiram demovê-la.
Na semana passada, a Corte Constitucional mandou a juíza prosseguir e logo mais o julgamento pode chegar ao fim. É a primeira vez que um ex-chefe de Estado é acusado de genocídio no próprio país. Se Ríos Montt será condenado, ninguém sabe. Mas o simples fato de que é réu, obrigado a responder por seus atos num tribunal de justiça, já é um salto de qualidade na vida política de Guatemala - e um claro sinal para a anuviada democracia latino-americana.
Para quem acompanha as últimas contorções políticas nas Américas, haja coração. Só em abril, houve atentados contra a Constituição (Bolívia), choque de poderes (Argentina e Brasil), confusão no tribunal (Guatemala) e pancadaria parlamentar (Venezuela). Claro, as situações variam. Cada caudilho no seu galho. Em comum, todos respondem às pressões da democracia, tendência crescente do Caribe às geleiras. O divisor de águas é a forma como cada Estado administra seus conflitos e o saldo é que define a força, ou a fragilidade, das respectivas instituições nacionais.
Considere Guatemala e Venezuela, duas nações onde a estabilidade política está sendo posta à prova. Guardadas as proporções e peculiaridades, a diferença entre as duas nações é o retrato da América Latina contemporânea, região onde liberdades individuais, direitos humanos e livre expressão estão em obras continentais, mas longe de estarem garantidos.
Desde as eleições de 14 de abril, quando Nicolás Maduro emergiu vitorioso na Venezuela, por estreitíssima margem de votos, o chavismo esforça-se para consolidar sua autoridade herdada. Mas enquanto Hugo Chávez, habilidoso e com lábia afiada, tocava o país como uma flauta, seus herdeiros esperneiam. Houve quem imaginasse uma distensão após as eleições ultrapolarizadas. Presidente, Maduro estenderia a mão magnânima aos vencidos e até admitira a recontagem completa dos votos. Se confiança tivesse nos resultado, nada lhe custaria.
Aconteceu o contrário. O Conselho Nacional Eleitoral, recheado de chavistas, concordou em realizar uma auditoria parcial do sufrágio, mas descartou a possibilidade de uma recontagem e fez vista grossa à cascata de irregularidades e fraudes (seriam 3200 ao todo) alegadas pela oposição.
Vale-tudo. Em vez de incentivar o diálogo, Maduro apelou para a truculência, convertendo um protesto pacífico no plenário da Assembleia Nacional em luta de vale-tudo.
Filmagens da pancadaria, em que guarda-costas chavistas, vestindo as cores da bandeira nacional, rodaram o mundo. A deputada María Corina Machado levou chutes e socos. Seu colega, Júlio Borges, teve seu rosto desfigurado. Durante toda a sessão, o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, ria. Não foram poucos que, frente a tamanha inabilidade, profetizaram vida curta para o chavismo versão 2.0.
Se a revolução bolivariana pena para renovar sua franquia autoritária, Guatemala ensaia surpreendentes sinais de vigor democrático. Muitas vezes a força e valor de um país brilha justamente em momentos de crise. Foi assim na Cidade de Guatemala, onde o generalíssimo Efraín Ríos Montt, após anos de esquiva legal, está sendo julgado por crimes de guerra. Ele governou apenas por 17 meses, mas deixou sua marca na sangrenta guerra civil guatemalteca: 1771 mortos na comunidade indígena maia, supostamente por tropas sob seu comando.
Ríos Montt define a repressão como defesa legítima da pátria contra o perigo comunista. Um relatório independente a chamou de genocídio. Num país onde os militares sempre tiveram o patrocínio e a bênção de uma musculosa elite, o processo começou sob uma espessa nuvem de dúvida. Os advogados de defesa bem que tentaram, lançando uma centena de manobras para paralisar o processo.
Mas a magistrada Yazmin Barrios resistiu e ainda sobreviveu à intervenção ardilosa de uma juíza de primeira instância, que quase anulou todo o processo. Nem mesmo as objeções do presidente atual, o general Otto Pérez Molina, que lutara sob o comando de Ríos Montt, conseguiram demovê-la.
Na semana passada, a Corte Constitucional mandou a juíza prosseguir e logo mais o julgamento pode chegar ao fim. É a primeira vez que um ex-chefe de Estado é acusado de genocídio no próprio país. Se Ríos Montt será condenado, ninguém sabe. Mas o simples fato de que é réu, obrigado a responder por seus atos num tribunal de justiça, já é um salto de qualidade na vida política de Guatemala - e um claro sinal para a anuviada democracia latino-americana.
Com a pulga atrás da orelha - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/05
O comando da candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB) está ressabiado com o governador Eduardo Campos, nome do PSB ao Planalto. Acha estranhos os furos do socialista. Eduardo não foi à Conferência do PPS, ao 1º de Maio da Força Sindical e à tradicional Expozebu. Segundo os tucanos, se quer ser candidato mesmo, o socialista “não pode fugir da realidade o tempo todo”.
Luta de poder no Judiciário
Além do ministro do STF, a presidente Dilma tem uma série de listas pendentes para escolher desembargadores dos TRFs, TSTs, TREs e, ainda, três vagas de ministros do STJ. Para o lugar de Teori Zavaski, promovido ao STF, disputam Ítalo Mendes, primo do ministro do Gilmar Mendes (STF), e Néfi Cordeiro, apoiado pelo presidente do STJ, Felix Fischer. Para a vaga de César Ásfor Rocha, concorrem Francisco Xavier Filho, com apoio do presidente da Câmara, Henrique Alves; e Mauro Renner, do governador Tarso Genro (RS). Para o lugar de Massami Uyeda, Paulo Dias Ribeiro tem o apoio do presidente do TJ de São Paulo, Ivan Sartori, e do empresariado paulista.
“Colocar em votação um projeto que criminaliza a‘heterofobiá é chamar os movimentos sociais de novo para a briga”
Chico Alencar
Deputado Federal (PSOL-RJ), sobre o viés provocador da pauta da Comissão de Direitos Humanos, anunciada pelo seu presidente Marco Feliciano (PSC-SP)
Colocando banca
O ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) se associou ao advogado Pierpaolo Bottini, defensor do Professor Luizinho no mensalão e que já advogou para Gilberto Kassab e Fausto De Sanctis. Eles abriram um braço do escritório em Brasília.
Via crucis
O ministro Luiz Fux, do STF, percorreu os gabinetes dos colegas nas últimas semanas para se explicar. Fez questão de falar de sua relação com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que contou que Fux tinha se comprometido a absolver os petistas no mensalão. E também sobre o julgamento de processos em que sua filha Marianna atuou como advogada.
Com o pé na estrada
A presidente Dilma decidiu sair do gabinete. Ela fez o triplo de viagens em abril em comparação ao mesmo período do ano passado. A presidente fazia duas cerimônias no Planalto por semana, substituídas agora por palanques nos estados.
Nova batalha pelo Código Florestal
Dos 3.172 vetos que estão na fila para serem votados no Congresso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entendeu que 1.478 caducaram e que 1.649 estão pendentes de votação. Dentre eles, o Código Florestal e o Fator Previdenciário. Renan quer votar em bloco os não polêmicos, e, na semana que vem, os partidos escolhem os que querem votar separadamente.
Baixa na AGU
O consultor-geral da União, Arnaldo Godoy, deve pedir demissão esta semana. A sindicância da AGU que apura seu envolvimento na Operação Porto Seguro vai pedir abertura de processo disciplinar. Godoy se antecipa à decisão.
No conchavo
Se tudo ocorrer como o combinado, o Movimento PT formaliza hoje seu apoio à reeleição de Rui Falcão (da Construindo um Novo Brasil) para a presidência do PT. Mas a tendência quer mais espaço no Diretório Nacional e na Executiva.
SEGUNDO O DEPUTADO MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), o Brasil vive um bipresidencialismo: “Dilma e Lula conversam a toda hora sobre como administrar o país.”
O comando da candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB) está ressabiado com o governador Eduardo Campos, nome do PSB ao Planalto. Acha estranhos os furos do socialista. Eduardo não foi à Conferência do PPS, ao 1º de Maio da Força Sindical e à tradicional Expozebu. Segundo os tucanos, se quer ser candidato mesmo, o socialista “não pode fugir da realidade o tempo todo”.
Luta de poder no Judiciário
Além do ministro do STF, a presidente Dilma tem uma série de listas pendentes para escolher desembargadores dos TRFs, TSTs, TREs e, ainda, três vagas de ministros do STJ. Para o lugar de Teori Zavaski, promovido ao STF, disputam Ítalo Mendes, primo do ministro do Gilmar Mendes (STF), e Néfi Cordeiro, apoiado pelo presidente do STJ, Felix Fischer. Para a vaga de César Ásfor Rocha, concorrem Francisco Xavier Filho, com apoio do presidente da Câmara, Henrique Alves; e Mauro Renner, do governador Tarso Genro (RS). Para o lugar de Massami Uyeda, Paulo Dias Ribeiro tem o apoio do presidente do TJ de São Paulo, Ivan Sartori, e do empresariado paulista.
“Colocar em votação um projeto que criminaliza a‘heterofobiá é chamar os movimentos sociais de novo para a briga”
Chico Alencar
Deputado Federal (PSOL-RJ), sobre o viés provocador da pauta da Comissão de Direitos Humanos, anunciada pelo seu presidente Marco Feliciano (PSC-SP)
Colocando banca
O ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) se associou ao advogado Pierpaolo Bottini, defensor do Professor Luizinho no mensalão e que já advogou para Gilberto Kassab e Fausto De Sanctis. Eles abriram um braço do escritório em Brasília.
Via crucis
O ministro Luiz Fux, do STF, percorreu os gabinetes dos colegas nas últimas semanas para se explicar. Fez questão de falar de sua relação com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que contou que Fux tinha se comprometido a absolver os petistas no mensalão. E também sobre o julgamento de processos em que sua filha Marianna atuou como advogada.
Com o pé na estrada
A presidente Dilma decidiu sair do gabinete. Ela fez o triplo de viagens em abril em comparação ao mesmo período do ano passado. A presidente fazia duas cerimônias no Planalto por semana, substituídas agora por palanques nos estados.
Nova batalha pelo Código Florestal
Dos 3.172 vetos que estão na fila para serem votados no Congresso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entendeu que 1.478 caducaram e que 1.649 estão pendentes de votação. Dentre eles, o Código Florestal e o Fator Previdenciário. Renan quer votar em bloco os não polêmicos, e, na semana que vem, os partidos escolhem os que querem votar separadamente.
Baixa na AGU
O consultor-geral da União, Arnaldo Godoy, deve pedir demissão esta semana. A sindicância da AGU que apura seu envolvimento na Operação Porto Seguro vai pedir abertura de processo disciplinar. Godoy se antecipa à decisão.
No conchavo
Se tudo ocorrer como o combinado, o Movimento PT formaliza hoje seu apoio à reeleição de Rui Falcão (da Construindo um Novo Brasil) para a presidência do PT. Mas a tendência quer mais espaço no Diretório Nacional e na Executiva.
SEGUNDO O DEPUTADO MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), o Brasil vive um bipresidencialismo: “Dilma e Lula conversam a toda hora sobre como administrar o país.”
De volta à ribalta - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 05/05
Absolvido no mensalão, Duda Mendonça comemora o fato de o Ministério Público não ter recorrido: "É como se estivesse acordando de um pesadelo". Cotado para a eventual campanha de Eduardo Campos (PSB), o marqueteiro de Lula em 2002 diz não haver nada fechado, mas vê no governador de Pernambuco "uma mistura" do ex-presidente e Dilma Rousseff: "É um líder carismático e, ao mesmo tempo, administrador sério. Saberá tocar projetos de ambos se chegar a presidente".
Comichão
O marqueteiro diz que chegou a prometer à família durante o processo que não participaria mais de campanhas políticas, mas confessa que gosta de desafios: "Transformar conceitos em mensagens de TV que arrepiam as pessoas".
Para depois
Antes de fechar com campanhas políticas, porém, Duda quer aproveitar os próximos três meses para organizar a vida e pagar as dívidas que acumulou enquanto teve seus bens indisponíveis pela Justiça.
Contra...
Enquanto não anuncia oficialmente se será ou não candidato a presidente nem define a saída de seus indicados de cargos do governo federal, Eduardo Campos corre para entregar obras em parceria com a União.
... o relógio
No giro que fez por municípios do sertão atingidos pela seca, o governador assinou convênio com o Ministério da Integração, comandado por seu afilhado Fernando Bezerra, para a construção de mil barragens.
Assim, não
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) vai aproveitar depoimento que dará na Comissão de Agricultura da Câmara, quarta-feira, para criticar a postura da Funai na questão da demarcação de terras indígenas.
Tribos
Gleisi dirá que a posição do órgão não é majoritária no governo. Deve aproveitar para explicitar qual será a diretriz depois da troca no comando da Funai.
Mapa
O PSD, de Gilberto Kassab, deve lançar candidato próprio em oito Estados. Nos demais, a tendência é de apoio majoritário ao PT.
Prioridade
Um dos palanques nos quais Kassab e Dilma Rousseff estão pessoalmente empenhados num acordo é o de Santa Catarina. Ambos trabalham para composição entre o governador Raimundo Colombo (PSD) e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Histórico
O problema é que Colombo foi lançado na política por Jorge Bornhausen, adversário do PT. O filho do ex-senador, Paulo Bornhausen, é secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado e já avisou que não dividirá palanque com petistas.
Gerais 1
Kassab foi avisado, durante sua passagem pela Expozebu, na quinta-feira, de que haverá resistência no partido caso tente repetir a intervenção de 2012 para dar o tempo de TV ao candidato do PT, Fernando Pimentel.
Gerais 2
A tendência da maioria do PSD mineiro é apoiar Aécio Neves para presidente e compor a chapa com o PSDB ao governo. Em troca, os tucanos acenam com uma das três vagas majoritárias na chapa para o partido.
Enfim
Guilherme Afif deve receber convite formal de Dilma para assumir o Ministério da Micro e Pequena Empresa amanhã, na posse de Rogério Amato para novo mandato à frente da Associação Comercial de São Paulo.
Quebra-cabeças
Para a composição da nova executiva tucana em São Paulo, a ser eleita hoje, só faltava acertar o secretário-geral, braço operacional do partido. O mais cotado até a noite de sexta-feira era o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente).
Tiroteio
"Essa análise é atrofiada. Não sou deputado. A bola está com a Câmara, e eu não posso passar por cima do Arlindo Chinaglia."
DE EDUARDO BRAGA (PMDB-AM), relator da medida provisória dos portos, rechaçando que seja responsável por uma eventual derrota do projeto.
Contraponto
De cátedra
Durante debate após a pré-estreia do filme "O Brasil deu certo - E agora?" na quinta-feira, no Itaú Cultural, em São Paulo, o ex-ministro Maílson da Nóbrega disse que Dilma Rousseff deveria ter ouvido mais Antonio Palocci, ex-titular da Fazenda e da Casa Civil, quanto à condução da política econômica no combate à inflação:
--Ele disse: Queremos cometer erros novos, não os mesmos'. Mas eles estão repetindo os erros de antes.
Antes de encerrar, Maílson pegou o microfone de volta e fez um adendo, que provocou risadas na plateia:
--Eu sei porque alguns deles fui eu mesmo que cometi.
Absolvido no mensalão, Duda Mendonça comemora o fato de o Ministério Público não ter recorrido: "É como se estivesse acordando de um pesadelo". Cotado para a eventual campanha de Eduardo Campos (PSB), o marqueteiro de Lula em 2002 diz não haver nada fechado, mas vê no governador de Pernambuco "uma mistura" do ex-presidente e Dilma Rousseff: "É um líder carismático e, ao mesmo tempo, administrador sério. Saberá tocar projetos de ambos se chegar a presidente".
Comichão
O marqueteiro diz que chegou a prometer à família durante o processo que não participaria mais de campanhas políticas, mas confessa que gosta de desafios: "Transformar conceitos em mensagens de TV que arrepiam as pessoas".
Para depois
Antes de fechar com campanhas políticas, porém, Duda quer aproveitar os próximos três meses para organizar a vida e pagar as dívidas que acumulou enquanto teve seus bens indisponíveis pela Justiça.
Contra...
Enquanto não anuncia oficialmente se será ou não candidato a presidente nem define a saída de seus indicados de cargos do governo federal, Eduardo Campos corre para entregar obras em parceria com a União.
... o relógio
No giro que fez por municípios do sertão atingidos pela seca, o governador assinou convênio com o Ministério da Integração, comandado por seu afilhado Fernando Bezerra, para a construção de mil barragens.
Assim, não
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) vai aproveitar depoimento que dará na Comissão de Agricultura da Câmara, quarta-feira, para criticar a postura da Funai na questão da demarcação de terras indígenas.
Tribos
Gleisi dirá que a posição do órgão não é majoritária no governo. Deve aproveitar para explicitar qual será a diretriz depois da troca no comando da Funai.
Mapa
O PSD, de Gilberto Kassab, deve lançar candidato próprio em oito Estados. Nos demais, a tendência é de apoio majoritário ao PT.
Prioridade
Um dos palanques nos quais Kassab e Dilma Rousseff estão pessoalmente empenhados num acordo é o de Santa Catarina. Ambos trabalham para composição entre o governador Raimundo Colombo (PSD) e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Histórico
O problema é que Colombo foi lançado na política por Jorge Bornhausen, adversário do PT. O filho do ex-senador, Paulo Bornhausen, é secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado e já avisou que não dividirá palanque com petistas.
Gerais 1
Kassab foi avisado, durante sua passagem pela Expozebu, na quinta-feira, de que haverá resistência no partido caso tente repetir a intervenção de 2012 para dar o tempo de TV ao candidato do PT, Fernando Pimentel.
Gerais 2
A tendência da maioria do PSD mineiro é apoiar Aécio Neves para presidente e compor a chapa com o PSDB ao governo. Em troca, os tucanos acenam com uma das três vagas majoritárias na chapa para o partido.
Enfim
Guilherme Afif deve receber convite formal de Dilma para assumir o Ministério da Micro e Pequena Empresa amanhã, na posse de Rogério Amato para novo mandato à frente da Associação Comercial de São Paulo.
Quebra-cabeças
Para a composição da nova executiva tucana em São Paulo, a ser eleita hoje, só faltava acertar o secretário-geral, braço operacional do partido. O mais cotado até a noite de sexta-feira era o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente).
Tiroteio
"Essa análise é atrofiada. Não sou deputado. A bola está com a Câmara, e eu não posso passar por cima do Arlindo Chinaglia."
DE EDUARDO BRAGA (PMDB-AM), relator da medida provisória dos portos, rechaçando que seja responsável por uma eventual derrota do projeto.
Contraponto
De cátedra
Durante debate após a pré-estreia do filme "O Brasil deu certo - E agora?" na quinta-feira, no Itaú Cultural, em São Paulo, o ex-ministro Maílson da Nóbrega disse que Dilma Rousseff deveria ter ouvido mais Antonio Palocci, ex-titular da Fazenda e da Casa Civil, quanto à condução da política econômica no combate à inflação:
--Ele disse: Queremos cometer erros novos, não os mesmos'. Mas eles estão repetindo os erros de antes.
Antes de encerrar, Maílson pegou o microfone de volta e fez um adendo, que provocou risadas na plateia:
--Eu sei porque alguns deles fui eu mesmo que cometi.
A Fifa chamou a mulher errada DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 05/05
Foi no 61º congresso da Fifa, realizado em Zurique em meados de 2011, que Sepp Blatter, o presidente eleito pela quarta vez, anunciou a novidade às 206 confederações ali representadas: a partir daquele ano seria criado um novíssimo comitê, inteiramente independente, para monitorar o funcionamento e aprimorar a idoneidade do órgão máximo do futebol mundial.
Medida um tanto tardia considerando-se que as primeiras provas da avalanche de falcatruas e alegações de corrupção na entidade haviam sido expostas pela primeira vez doze anos antes, pelo autor de livros investigativos David Yallop. Em "How They Stole The Game" (Como eles roubaram o jogo, não editado no Brasil), o inglês Yallop focara na compra de votos africanos para que Blatter sucedesse a seu padrinho brasileiro João Havelange.
O colossal escândalo "ISL", referente ao generoso suborno embolsado por Havelange e seu genro Ricardo Teixeira da empresa de marketing International Sports and Leisure, também já vinha sendo escarafunchado há anos. Repórteres internacionais incômodos e obcecados como o escocês Andrew Jenkins (autor, entre outros, de "Jogo sujo - O mundo secreto da Fifa") ou jornalistas determinados como o brasileiro Juca Kfouri não deixavam o escândalo morrer. As muitas outras improbidades que se seguiram também não conseguiram ser varridas para baixo do tapete.
Urgia, portanto, fazer algo antes que os negócios da Fifa começassem a ser afetados.
A instalação do inovador Comitê Independente de Governança recebeu elogios até mesmo da Interpol. Presidido pelo professor de Direito Criminal Mark Pieth, o comitê era composto por dez membros vindos de oito países.
Além de Pieth, nove homens e uma mulher - a canadense Alexandra Wrage. Sepp Blatter, João Havelange e todos os encrencados da Fifa deveriam ter lido pelo menos o livro de Wrage, "Bribery and Extortion: Undermining Business, Governments, and Security" (Suborno e extorsão: Minando negócios, governos e segurança, sem edição no Brasil) para saber que ela entende de corrupção tanto quanto eles. Se não mais. O título do primeiro capítulo é "Ladrões, bandidos e cleptocratas".
Formada em Direito por Cambridge e há seis anos na lista das 100 Pessoas Mais Influentes na Ética Empresarial da revista "Ethisphere", Wrage já presidiu o Comitê Anticorrupção da Ordem dos Advogados dos Estados Unidos. É fundadora da Trace, a principal entidade internacional de apoio a corporações no combate a todo tipo de corrupção. Organização sem fins lucrativos, tem afiliados que pagam anuidade espalhados por todo o mundo e um site ( bribeline.org ) em 21 línguas para denúncias anônimas de práticas de extorsão e suborno por qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo.
Pois bem, foi com essa mulher a bordo que o Comitê Independente de Governança montado pela Fifa produziu um primeiro relatório em março de 2012, em apenas três meses de trabalho. É possível que o grupo tenha detectado procedimentos e lacunas tão gritantes que achou conveniente elencá-los de imediato para correção rápida. Mas nada foi feito. O Comitê trabalhou mais doze meses e produziu um segundo relatório, apresentado em fevereiro último. Tudo indica que tampouco esse novo lote de sugestões foi encampado.
Assim, duas semanas atrás, Alexandra Wrage abandonou a Fifa à própria sorte. Ou, como diz, deixou "esse antiquado clube de homens a lustrar o verniz" enquanto a fundação continua a ruir.
Desde então, ela atende quem se interessa em saber o que houve. BBC, CNN, "Forbes" correram atrás. O retrato que emerge de suas entrevistas é de uma Fifa entrincheirada. Um dos papéis cruciais atribuídos ao Comitê dito Independente fora o de indicar nomes para cargos críticos numa nova estrutura mais arejada. Após criteriosa seleção, o Comitê sugerira oito nomes, entre os quais os de duas mulheres recomendadas para o setor de Ética. Todos foram vetados.
Wrage conta que foi instada por dois altos executivos da casa a garimpar mais candidatos homens uma vez que candidatas mulheres não seriam aceitas. Ficou estarrecida. A canadense, que trabalha em países e continentes reputados pela fraca adesão ao catecismo feminista, não tinha ouvido afirmação de preconceito tão explícita e direta há pelo menos três décadas.
O Comitê também recomendara que o Conselho Executivo da Fifa cogitasse aceitar membros de fora da entidade, para sinalizar um início de transparência e alinhamento com modernas corporações e organizações mundiais. Proposta rejeitada. A Fifa continua sendo uma sociedade secreta, sem prestar contas a ninguém.
A recomendação de acompanhar a tendência mundial e tornar públicos os salários e gratificações de seus executivos foi descartada com o argumento de que a questão serviria mais à curiosidade pública do que a uma melhora de governança.
Wrage conclui que somente o governo da Suíça é capaz de fazer com que a Fifa, algum dia, se dobre às leis da transparência. Isso porque a entidade está sentada em cima de um baú de US$ 1,4 bilhão em reservas. Livres de impostos. "Blatter virtualmente declarou sua missão de saneamento cumprida, não vai debater com ninguém nem vai se explicar", diz a canadense. "O que não é surpreendente para um homem que descreve a Fifa como se fosse um Estado soberano presidido por ele."
Mas ainda que Blatter seguisse à risca todas as recomendações caras a Wrage, dificilmente os dois se entenderiam. É que alguma sequela deve ter ficado em Blatter de um cargo que ocupou nos anos 1970: foi presidente da Sociedade Mundial dos Amigos das Cintas-Ligas. Repetindo: presidente da Sociedade Mundial dos Amigos das Cintas-Ligas. A organização se formara em protesto à substituição das sensuais cintas-ligas pelo uso das meias-calças, bem mais práticas, que apareceram com a invenção do náilon. Trinta anos depois, o mesmo Blatter, já presidente da Fifa, sugeria que as jogadoras de futebol deveriam usar "short mais apertadinho e camisa mais decotada" para "criar uma estética mais feminina".
Cada qual com sua visão de transparência.
Medida um tanto tardia considerando-se que as primeiras provas da avalanche de falcatruas e alegações de corrupção na entidade haviam sido expostas pela primeira vez doze anos antes, pelo autor de livros investigativos David Yallop. Em "How They Stole The Game" (Como eles roubaram o jogo, não editado no Brasil), o inglês Yallop focara na compra de votos africanos para que Blatter sucedesse a seu padrinho brasileiro João Havelange.
O colossal escândalo "ISL", referente ao generoso suborno embolsado por Havelange e seu genro Ricardo Teixeira da empresa de marketing International Sports and Leisure, também já vinha sendo escarafunchado há anos. Repórteres internacionais incômodos e obcecados como o escocês Andrew Jenkins (autor, entre outros, de "Jogo sujo - O mundo secreto da Fifa") ou jornalistas determinados como o brasileiro Juca Kfouri não deixavam o escândalo morrer. As muitas outras improbidades que se seguiram também não conseguiram ser varridas para baixo do tapete.
Urgia, portanto, fazer algo antes que os negócios da Fifa começassem a ser afetados.
A instalação do inovador Comitê Independente de Governança recebeu elogios até mesmo da Interpol. Presidido pelo professor de Direito Criminal Mark Pieth, o comitê era composto por dez membros vindos de oito países.
Além de Pieth, nove homens e uma mulher - a canadense Alexandra Wrage. Sepp Blatter, João Havelange e todos os encrencados da Fifa deveriam ter lido pelo menos o livro de Wrage, "Bribery and Extortion: Undermining Business, Governments, and Security" (Suborno e extorsão: Minando negócios, governos e segurança, sem edição no Brasil) para saber que ela entende de corrupção tanto quanto eles. Se não mais. O título do primeiro capítulo é "Ladrões, bandidos e cleptocratas".
Formada em Direito por Cambridge e há seis anos na lista das 100 Pessoas Mais Influentes na Ética Empresarial da revista "Ethisphere", Wrage já presidiu o Comitê Anticorrupção da Ordem dos Advogados dos Estados Unidos. É fundadora da Trace, a principal entidade internacional de apoio a corporações no combate a todo tipo de corrupção. Organização sem fins lucrativos, tem afiliados que pagam anuidade espalhados por todo o mundo e um site ( bribeline.org ) em 21 línguas para denúncias anônimas de práticas de extorsão e suborno por qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo.
Pois bem, foi com essa mulher a bordo que o Comitê Independente de Governança montado pela Fifa produziu um primeiro relatório em março de 2012, em apenas três meses de trabalho. É possível que o grupo tenha detectado procedimentos e lacunas tão gritantes que achou conveniente elencá-los de imediato para correção rápida. Mas nada foi feito. O Comitê trabalhou mais doze meses e produziu um segundo relatório, apresentado em fevereiro último. Tudo indica que tampouco esse novo lote de sugestões foi encampado.
Assim, duas semanas atrás, Alexandra Wrage abandonou a Fifa à própria sorte. Ou, como diz, deixou "esse antiquado clube de homens a lustrar o verniz" enquanto a fundação continua a ruir.
Desde então, ela atende quem se interessa em saber o que houve. BBC, CNN, "Forbes" correram atrás. O retrato que emerge de suas entrevistas é de uma Fifa entrincheirada. Um dos papéis cruciais atribuídos ao Comitê dito Independente fora o de indicar nomes para cargos críticos numa nova estrutura mais arejada. Após criteriosa seleção, o Comitê sugerira oito nomes, entre os quais os de duas mulheres recomendadas para o setor de Ética. Todos foram vetados.
Wrage conta que foi instada por dois altos executivos da casa a garimpar mais candidatos homens uma vez que candidatas mulheres não seriam aceitas. Ficou estarrecida. A canadense, que trabalha em países e continentes reputados pela fraca adesão ao catecismo feminista, não tinha ouvido afirmação de preconceito tão explícita e direta há pelo menos três décadas.
O Comitê também recomendara que o Conselho Executivo da Fifa cogitasse aceitar membros de fora da entidade, para sinalizar um início de transparência e alinhamento com modernas corporações e organizações mundiais. Proposta rejeitada. A Fifa continua sendo uma sociedade secreta, sem prestar contas a ninguém.
A recomendação de acompanhar a tendência mundial e tornar públicos os salários e gratificações de seus executivos foi descartada com o argumento de que a questão serviria mais à curiosidade pública do que a uma melhora de governança.
Wrage conclui que somente o governo da Suíça é capaz de fazer com que a Fifa, algum dia, se dobre às leis da transparência. Isso porque a entidade está sentada em cima de um baú de US$ 1,4 bilhão em reservas. Livres de impostos. "Blatter virtualmente declarou sua missão de saneamento cumprida, não vai debater com ninguém nem vai se explicar", diz a canadense. "O que não é surpreendente para um homem que descreve a Fifa como se fosse um Estado soberano presidido por ele."
Mas ainda que Blatter seguisse à risca todas as recomendações caras a Wrage, dificilmente os dois se entenderiam. É que alguma sequela deve ter ficado em Blatter de um cargo que ocupou nos anos 1970: foi presidente da Sociedade Mundial dos Amigos das Cintas-Ligas. Repetindo: presidente da Sociedade Mundial dos Amigos das Cintas-Ligas. A organização se formara em protesto à substituição das sensuais cintas-ligas pelo uso das meias-calças, bem mais práticas, que apareceram com a invenção do náilon. Trinta anos depois, o mesmo Blatter, já presidente da Fifa, sugeria que as jogadoras de futebol deveriam usar "short mais apertadinho e camisa mais decotada" para "criar uma estética mais feminina".
Cada qual com sua visão de transparência.
Austericidas e impotentes - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 05/05
Europeus descobrem, tarde demais, que austeridade mata, mas não conseguem fugir da armadilha
Enrico Letta, o novo premiê italiano, descobriu a pólvora: austeridade - e só austeridade - mata.
Pena que sua descoberta seja tardia: Letta era o segundo homem do PD (Partido Democrático), que apoiou sem muitas reservas durante 14 meses o programa de austeridade de Mario Monti, imposto pela Europa sem passar pelo crivo da eleição, e que de fato "matou" uma Itália já levada à UTI pelas políticas de Silvio Berlusconi, o antecessor de Monti.
Detalhe nada menor: Letta, Berlusconi e Monti uniram-se de novo agora para inventar o governo do primeiro. Alguma surpresa com o fato de que os italianos tenham transformado um grupo antiestablishment (o Movimento 5 Estrelas) no partido mais votado, isoladamente, no pleito de fevereiro?
De todo modo, não é essa bizarra composição que torna mais triste a situação na Itália e, mais amplamente, na Europa toda. Pior ainda é o fato de que Letta insiste em "reativar o crescimento sem pôr em perigo o processo de consolidação fiscal" (codinome para austeridade, a que mata).
Vejamos a propósito o testemunho de um acadêmico --Mark Blyth, professor de Economia Política Internacional da Universidade Brown-- para a "Foreign Affairs" que está nas bancas: "Na esteira da recente crise financeira que levou a dívida pública a explodir, a maioria da Europa tem perseguido a austeridade consistentemente nos últimos quatro anos. O resultado da experiência está agora à vista e é igualmente consistente: austeridade não funciona".
Ouçamos agora Joschka Fischer, ex-ministro alemão do Exterior, em artigo para "El País": a Alemanha impôs aos demais países "a mesma estratégia que funcionou para ela, no início do milênio, mas em condições internas e externas totalmente diferentes. Para os países do sul da Europa golpeados pela crise, a fórmula que a Alemanha defende, com sua mescla de austeridade e reformas estruturais, está resultando mortal porque lhe faltam dois componentes fundamentais: corte da dívida e crescimento".
Falta um terceiro elemento: na Alemanha, como é da praxe de seu sistema, as reformas foram negociadas com patrões e empregados, ao passo que na Europa do Sul estão sendo impostas de dentro para fora e de cima para baixo.
Daí resulta, para voltar a Fischer, que "a verdadeira crise da União Europeia e da união monetária não é de caráter financeiro mas político ou, mais precisamente, é uma crise de liderança. Todas as capitais europeias revelam notória falta de visão, coragem e firmeza de propósitos, mas isso se aplica especialmente a Berlim (e ao governo tanto como à oposição)".
Mesmo na Alemanha e mesmo entre os defensores da austeridade, há o reconhecimento de que "o governo federal se encontra praticamente só em sua estratégia de solução da crise", como escreve Günther Nonnenmarcher para o "Frankfurter Allgemeine Zeitung".
Ainda assim, Angela Merkel levará sua solidão e sua arma de destruição em massa até pelo menos setembro, mês da eleição. Seus parceiros aguentarão o coma até lá?
Europeus descobrem, tarde demais, que austeridade mata, mas não conseguem fugir da armadilha
Enrico Letta, o novo premiê italiano, descobriu a pólvora: austeridade - e só austeridade - mata.
Pena que sua descoberta seja tardia: Letta era o segundo homem do PD (Partido Democrático), que apoiou sem muitas reservas durante 14 meses o programa de austeridade de Mario Monti, imposto pela Europa sem passar pelo crivo da eleição, e que de fato "matou" uma Itália já levada à UTI pelas políticas de Silvio Berlusconi, o antecessor de Monti.
Detalhe nada menor: Letta, Berlusconi e Monti uniram-se de novo agora para inventar o governo do primeiro. Alguma surpresa com o fato de que os italianos tenham transformado um grupo antiestablishment (o Movimento 5 Estrelas) no partido mais votado, isoladamente, no pleito de fevereiro?
De todo modo, não é essa bizarra composição que torna mais triste a situação na Itália e, mais amplamente, na Europa toda. Pior ainda é o fato de que Letta insiste em "reativar o crescimento sem pôr em perigo o processo de consolidação fiscal" (codinome para austeridade, a que mata).
Vejamos a propósito o testemunho de um acadêmico --Mark Blyth, professor de Economia Política Internacional da Universidade Brown-- para a "Foreign Affairs" que está nas bancas: "Na esteira da recente crise financeira que levou a dívida pública a explodir, a maioria da Europa tem perseguido a austeridade consistentemente nos últimos quatro anos. O resultado da experiência está agora à vista e é igualmente consistente: austeridade não funciona".
Ouçamos agora Joschka Fischer, ex-ministro alemão do Exterior, em artigo para "El País": a Alemanha impôs aos demais países "a mesma estratégia que funcionou para ela, no início do milênio, mas em condições internas e externas totalmente diferentes. Para os países do sul da Europa golpeados pela crise, a fórmula que a Alemanha defende, com sua mescla de austeridade e reformas estruturais, está resultando mortal porque lhe faltam dois componentes fundamentais: corte da dívida e crescimento".
Falta um terceiro elemento: na Alemanha, como é da praxe de seu sistema, as reformas foram negociadas com patrões e empregados, ao passo que na Europa do Sul estão sendo impostas de dentro para fora e de cima para baixo.
Daí resulta, para voltar a Fischer, que "a verdadeira crise da União Europeia e da união monetária não é de caráter financeiro mas político ou, mais precisamente, é uma crise de liderança. Todas as capitais europeias revelam notória falta de visão, coragem e firmeza de propósitos, mas isso se aplica especialmente a Berlim (e ao governo tanto como à oposição)".
Mesmo na Alemanha e mesmo entre os defensores da austeridade, há o reconhecimento de que "o governo federal se encontra praticamente só em sua estratégia de solução da crise", como escreve Günther Nonnenmarcher para o "Frankfurter Allgemeine Zeitung".
Ainda assim, Angela Merkel levará sua solidão e sua arma de destruição em massa até pelo menos setembro, mês da eleição. Seus parceiros aguentarão o coma até lá?
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO LIVRE
FOLHA DE SP - 05/05
Mercado livre projeta queda de preço de energia em 2014
O preço médio dos contratos de energia para o mercado livre (grandes consumidores) deverá ser de R$ 154 por MWh (megawatt-hora) em 2014, segundo a Brix, plataforma eletrônica de negociação de energia elétrica.
O valor médio referente às regiões Sudeste e Centro-Oeste reflete uma queda de 0,65% ante a previsão de março.
A expectativa é que até o fim deste ano, o preço médio da energia fique em R$ 285,67 por megawatt-hora.
"O valor deverá continuar em queda. Para 2015, o prognóstico é de R$ 126,00 por MWh", diz Marcelo Mello, CEO da Brix.
"Quanto mais distante, mais incerto o preço. Não há previsão meteorológica confiável nem daqui a seis meses", lembra Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. "Mas no futuro, quando o preço está muito alto, ele cai sempre."
A expectativa é que em algum momento volte a chover muito e os preços recuem.
Em 2013, ano de preço médio recorde da energia, o custo permanecerá em patamar elevado, na faixa de R$ 300 por MWh, devido ao baixo nível dos reservatórios.
O grande consumidor não costuma ficar exposto ao mercado de longo prazo. Procura contratar ao menos uma parte da energia.
Há fenômenos climáticos previsíveis, que indicam a tendência do tempo, como o El Niño. Ele provoca mais chuva no Sudeste, e o nível dos reservatórios sobe. Para este ano, a tendência está neutra, segundo Vlavianos.
ENTROU DE GAIATO
Muita gente não entendeu bem os critérios do governo na lista de desonerações. Tem setor que foi incluído só por tentar discutir no governo essa possibilidade.
Em maio passado, quando saiu a primeira relação dos escolhidos, várias associações industriais se assanharam com o alívio da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos e passaram a pleiteá-lo também.
O presidente de uma delas, que pediu para não ser identificado, conta que a sua entidade pediu uma reunião no governo federal apenas para discutir a eventual inclusão de alguns segmentos.
"Meu secretário só mandou um e-mail solicitando o encontro para examinarmos se seria viável a desoneração de tal e tal item", relata.
Quando saiu a segunda onda de desonerações em outubro do ano passado, todo o setor havia sido incluído.
"Eles [o governo] colocaram todos os segmentos, só porque pedimos uma audiência, e sem que tivéssemos apresentado documento algum. Houve desespero na indústria", afirma o presidente da associação.
"A troca de 20% sobre a contribuição previdenciária por um percentual do faturamento foi boa para alguns segmentos e péssima para quem têm pouquíssima mão de obra e alto faturamento."
Campinas abre licitação para corredor de ônibus rápido
Depois de engavetar uma proposta do Legislativo que criaria um rodízio de veículos, a cidade de Campinas (SP) vai abrir na próxima semana uma licitação para o projeto básico do BRT (sistema rápido de ônibus).
O custo do projeto é estimado em R$ 7 milhões, e os recursos totais reservados para o novo sistema são de R$ 340 milhões.
A maior parte será paga pelo governo federal. Desse valor, R$ 40 milhões virão dos cofres da prefeitura.
Após a definição do projeto, será aberta uma licitação para o início das obras, por meio do Regime Diferenciado de Contratação, que reduz prazos da legislação sobre concorrências públicas.
O objetivo é que o BRT seja inaugurado em 2016, com dois corredores (de 19 km e 14 km) que passarão por regiões populosas da cidade.
"Hoje o trânsito é o terceiro maior problema apontado pela população, atrás de saúde e segurança", diz o prefeito Jonas Donizette (PSB). "A solução é o investimento em transporte público", afirma.
O BRT (da sigla em inglês Bus Rapid Transit) foi adotado por outros municípios brasileiros e prevê corredores separados das pistas para carros, agilizando o percurso.
Empresa investe R$ 100 milhões para explorar diamante na BA
Com R$ 100 milhões em investimentos, a Lipari Mineração, empresa brasileira comandada pelo belga Maurice Aftergut, vai começar a produzir diamantes em escala comercial na Bahia em 2015.
A companhia estuda uma mina de kimberlito (rocha que é fonte de diamantes) em Nordestina (BA) há cinco anos. As pesquisas apontam que será possível produzir 225 mil quilates anualmente durante sete anos --o preço do quilate é de cerca de US$ 280.
A implantação do projeto começará ainda neste ano, de acordo com o CEO da Lipari, Kenneth Johnson.
Em 2014, os equipamentos da planta serão testados e a exploração da mina, iniciada. No primeiro trimestre de 2015, os diamantes já devem ser comercializados.
A produção será exportado. "É preciso enviá-los a centros de lapidação, os principais ficam em Tel Aviv [em Israel], na Bélgica, na China e na Índia", diz Johnson.
Recursos de Hong Kong, do Canadá e da Bélgica estão envolvidos no projeto.
Aftergut, presidente da Lipari, é também diretor-geral da Aftergut & Zonen, companhia criada em 1956 em Antuérpia --cidade belga conhecida como o centro mundial de lapidação de diamantes.
VIAGEM EM 90 SEGUNDOS
Porto Alegre deve testar a partir do próximo mês o seu aeromóvel, veículo leve movido por meio de propulsão a ar que vai ligar o aeroporto internacional Salgado Filho a uma estação de metrô.
Os testes serão abertos para passageiros da cidade em alguns horários, mas a operação comercial só deve ter início no segundo semestre.
O aeromóvel custou R$ 37,8 milhões e foi bancado pelo governo federal.
Quem sai hoje do metrô mais próximo ao aeroporto precisa esperar um ônibus ou atravessar uma passarela de 300 metros de extensão.
Com a nova obra, o percurso será feito em 90 segundos, numa viagem sem ruídos, confortável e que não vai emitir poluentes gasosos, de acordo com a companhia de trens urbanos Trensurb.
A empresa é uma sociedade de economia mista composta pela União (99,28%), pelo Estado do Rio Grande do Sul (0,56%) e pela Prefeitura de Porto Alegre (0,16%).
Ainda segundo a Trensurb, o projeto usou tecnologia 100% nacional e foi totalmente desenvolvido no Brasil, pelo grupo gaúcho Coester.
A previsão é que o aeromóvel transporte diariamente mais de 7.000 passageiros, das 5h às 23h30.
DE PORTAS ABERTAS
O número de turistas russos e chineses que vieram ao Brasil aumentou em 2012, segundo dados da Embratur.
Cerca de 50 mil chineses visitaram o país, o que significa um aumento de 13,5% em relação a 2012.
Os russos foram aproximadamente 25 mil e refletiram um crescimento de 11% no mesmo período.
Com isso, a China é o 17º país que mais envia turistas ao Brasil, e a Rússia, o 26º.
Mercado livre projeta queda de preço de energia em 2014
O preço médio dos contratos de energia para o mercado livre (grandes consumidores) deverá ser de R$ 154 por MWh (megawatt-hora) em 2014, segundo a Brix, plataforma eletrônica de negociação de energia elétrica.
O valor médio referente às regiões Sudeste e Centro-Oeste reflete uma queda de 0,65% ante a previsão de março.
A expectativa é que até o fim deste ano, o preço médio da energia fique em R$ 285,67 por megawatt-hora.
"O valor deverá continuar em queda. Para 2015, o prognóstico é de R$ 126,00 por MWh", diz Marcelo Mello, CEO da Brix.
"Quanto mais distante, mais incerto o preço. Não há previsão meteorológica confiável nem daqui a seis meses", lembra Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. "Mas no futuro, quando o preço está muito alto, ele cai sempre."
A expectativa é que em algum momento volte a chover muito e os preços recuem.
Em 2013, ano de preço médio recorde da energia, o custo permanecerá em patamar elevado, na faixa de R$ 300 por MWh, devido ao baixo nível dos reservatórios.
O grande consumidor não costuma ficar exposto ao mercado de longo prazo. Procura contratar ao menos uma parte da energia.
Há fenômenos climáticos previsíveis, que indicam a tendência do tempo, como o El Niño. Ele provoca mais chuva no Sudeste, e o nível dos reservatórios sobe. Para este ano, a tendência está neutra, segundo Vlavianos.
ENTROU DE GAIATO
Muita gente não entendeu bem os critérios do governo na lista de desonerações. Tem setor que foi incluído só por tentar discutir no governo essa possibilidade.
Em maio passado, quando saiu a primeira relação dos escolhidos, várias associações industriais se assanharam com o alívio da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos e passaram a pleiteá-lo também.
O presidente de uma delas, que pediu para não ser identificado, conta que a sua entidade pediu uma reunião no governo federal apenas para discutir a eventual inclusão de alguns segmentos.
"Meu secretário só mandou um e-mail solicitando o encontro para examinarmos se seria viável a desoneração de tal e tal item", relata.
Quando saiu a segunda onda de desonerações em outubro do ano passado, todo o setor havia sido incluído.
"Eles [o governo] colocaram todos os segmentos, só porque pedimos uma audiência, e sem que tivéssemos apresentado documento algum. Houve desespero na indústria", afirma o presidente da associação.
"A troca de 20% sobre a contribuição previdenciária por um percentual do faturamento foi boa para alguns segmentos e péssima para quem têm pouquíssima mão de obra e alto faturamento."
Campinas abre licitação para corredor de ônibus rápido
Depois de engavetar uma proposta do Legislativo que criaria um rodízio de veículos, a cidade de Campinas (SP) vai abrir na próxima semana uma licitação para o projeto básico do BRT (sistema rápido de ônibus).
O custo do projeto é estimado em R$ 7 milhões, e os recursos totais reservados para o novo sistema são de R$ 340 milhões.
A maior parte será paga pelo governo federal. Desse valor, R$ 40 milhões virão dos cofres da prefeitura.
Após a definição do projeto, será aberta uma licitação para o início das obras, por meio do Regime Diferenciado de Contratação, que reduz prazos da legislação sobre concorrências públicas.
O objetivo é que o BRT seja inaugurado em 2016, com dois corredores (de 19 km e 14 km) que passarão por regiões populosas da cidade.
"Hoje o trânsito é o terceiro maior problema apontado pela população, atrás de saúde e segurança", diz o prefeito Jonas Donizette (PSB). "A solução é o investimento em transporte público", afirma.
O BRT (da sigla em inglês Bus Rapid Transit) foi adotado por outros municípios brasileiros e prevê corredores separados das pistas para carros, agilizando o percurso.
Empresa investe R$ 100 milhões para explorar diamante na BA
Com R$ 100 milhões em investimentos, a Lipari Mineração, empresa brasileira comandada pelo belga Maurice Aftergut, vai começar a produzir diamantes em escala comercial na Bahia em 2015.
A companhia estuda uma mina de kimberlito (rocha que é fonte de diamantes) em Nordestina (BA) há cinco anos. As pesquisas apontam que será possível produzir 225 mil quilates anualmente durante sete anos --o preço do quilate é de cerca de US$ 280.
A implantação do projeto começará ainda neste ano, de acordo com o CEO da Lipari, Kenneth Johnson.
Em 2014, os equipamentos da planta serão testados e a exploração da mina, iniciada. No primeiro trimestre de 2015, os diamantes já devem ser comercializados.
A produção será exportado. "É preciso enviá-los a centros de lapidação, os principais ficam em Tel Aviv [em Israel], na Bélgica, na China e na Índia", diz Johnson.
Recursos de Hong Kong, do Canadá e da Bélgica estão envolvidos no projeto.
Aftergut, presidente da Lipari, é também diretor-geral da Aftergut & Zonen, companhia criada em 1956 em Antuérpia --cidade belga conhecida como o centro mundial de lapidação de diamantes.
VIAGEM EM 90 SEGUNDOS
Porto Alegre deve testar a partir do próximo mês o seu aeromóvel, veículo leve movido por meio de propulsão a ar que vai ligar o aeroporto internacional Salgado Filho a uma estação de metrô.
Os testes serão abertos para passageiros da cidade em alguns horários, mas a operação comercial só deve ter início no segundo semestre.
O aeromóvel custou R$ 37,8 milhões e foi bancado pelo governo federal.
Quem sai hoje do metrô mais próximo ao aeroporto precisa esperar um ônibus ou atravessar uma passarela de 300 metros de extensão.
Com a nova obra, o percurso será feito em 90 segundos, numa viagem sem ruídos, confortável e que não vai emitir poluentes gasosos, de acordo com a companhia de trens urbanos Trensurb.
A empresa é uma sociedade de economia mista composta pela União (99,28%), pelo Estado do Rio Grande do Sul (0,56%) e pela Prefeitura de Porto Alegre (0,16%).
Ainda segundo a Trensurb, o projeto usou tecnologia 100% nacional e foi totalmente desenvolvido no Brasil, pelo grupo gaúcho Coester.
A previsão é que o aeromóvel transporte diariamente mais de 7.000 passageiros, das 5h às 23h30.
DE PORTAS ABERTAS
O número de turistas russos e chineses que vieram ao Brasil aumentou em 2012, segundo dados da Embratur.
Cerca de 50 mil chineses visitaram o país, o que significa um aumento de 13,5% em relação a 2012.
Os russos foram aproximadamente 25 mil e refletiram um crescimento de 11% no mesmo período.
Com isso, a China é o 17º país que mais envia turistas ao Brasil, e a Rússia, o 26º.
O fantasma da indexação - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 05/05
Conquista histórica dos brasileiros, a estabilidade dos preços enfrenta um período particularmente delicado, agravado a partir do momento em que a inflação começou a se distanciar cada vez mais do centro da meta acordada pelo governo _ de 4,5% anual, com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Uma taxa anualizada de 6,59% como a registrada até março preocupa e exige menos discurseira política e uma atuação mais firme por parte do Banco Central, encarregado de zelar pela política monetária. Percentuais nesse nível são de alto risco, pois dão margem a propostas estapafúrdias como a defesa da reindexação pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, que tende a gerar ainda mais inflação. Só as novas gerações, por desconhecerem o que é uma hiperinflação, ou quem não hesita em recorrer à demagogia para defender interesses próprios podem supor ou tentar passar a ideia de que reajustes automáticos de salários seriam capazes de preservar os ganhos dos trabalhadores.
O passado recente não deixa dúvida de que, quando os salários tentam se recuperar das perdas da inflação, os preços de produtos e serviços também iniciam uma corrida, numa tentativa de quem tem o poder de fixá-los de preservar as margens de lucro. Alguém tem dúvida de quem sai ganhando? Criada há quase meio século, em 1964, com o objetivo de restabelecer a confiança nos títulos públicos, a indexação, que em diferentes áreas se mantém até hoje, está na origem da resistência da inflação e da consequente perda do poder aquisitivo dos brasileiros. Foi esse instrumento que contribuiu em grande parte para elevar a variação de preços a 1.764% em 1989, obrigando os brasileiros a correrem para o supermercado assim que recebiam seu salário, pois as remarcações eram constantes. O resultado é uma inflação ainda maior, quando não em descontrole, e cada vez mais difícil de retornar aos patamares anteriores.
Infelizmente, quase duas décadas depois da estabilização da economia, a imensa maioria dos tributos _ e a Receita Federal se constitui num triste símbolo dessa prática _, tarifas públicas, contratos com o setor financeiro e outros de prazo mais longo se mantêm indexados, contribuindo para reavivar a memória da inflação. Ainda assim, se isso ocorre, o que os brasileiros precisam fazer é lutar contra essa deformação _ que não condiz com um país interessado em perseverar na estabilidade _, e não procurar seguir pelo mesmo caminho.
Quem era adulto no recente período hiperinflacionário no país não poderia sugerir a indexação contra a inflação, por meio de mecanismos como o chamado gatilho salarial, pois deveria no mínimo lembrar as consequências danosas da experiência anterior. Melhor fariam essas pessoas, sejam elas sindicalistas ou quem tem poder de definir preços, se canalizassem sua energia para exigir ações firmes por parte da equipe econômica oficial contra as ameaças ao poder aquisitivo dos brasileiros.
Conquista histórica dos brasileiros, a estabilidade dos preços enfrenta um período particularmente delicado, agravado a partir do momento em que a inflação começou a se distanciar cada vez mais do centro da meta acordada pelo governo _ de 4,5% anual, com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Uma taxa anualizada de 6,59% como a registrada até março preocupa e exige menos discurseira política e uma atuação mais firme por parte do Banco Central, encarregado de zelar pela política monetária. Percentuais nesse nível são de alto risco, pois dão margem a propostas estapafúrdias como a defesa da reindexação pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, que tende a gerar ainda mais inflação. Só as novas gerações, por desconhecerem o que é uma hiperinflação, ou quem não hesita em recorrer à demagogia para defender interesses próprios podem supor ou tentar passar a ideia de que reajustes automáticos de salários seriam capazes de preservar os ganhos dos trabalhadores.
O passado recente não deixa dúvida de que, quando os salários tentam se recuperar das perdas da inflação, os preços de produtos e serviços também iniciam uma corrida, numa tentativa de quem tem o poder de fixá-los de preservar as margens de lucro. Alguém tem dúvida de quem sai ganhando? Criada há quase meio século, em 1964, com o objetivo de restabelecer a confiança nos títulos públicos, a indexação, que em diferentes áreas se mantém até hoje, está na origem da resistência da inflação e da consequente perda do poder aquisitivo dos brasileiros. Foi esse instrumento que contribuiu em grande parte para elevar a variação de preços a 1.764% em 1989, obrigando os brasileiros a correrem para o supermercado assim que recebiam seu salário, pois as remarcações eram constantes. O resultado é uma inflação ainda maior, quando não em descontrole, e cada vez mais difícil de retornar aos patamares anteriores.
Infelizmente, quase duas décadas depois da estabilização da economia, a imensa maioria dos tributos _ e a Receita Federal se constitui num triste símbolo dessa prática _, tarifas públicas, contratos com o setor financeiro e outros de prazo mais longo se mantêm indexados, contribuindo para reavivar a memória da inflação. Ainda assim, se isso ocorre, o que os brasileiros precisam fazer é lutar contra essa deformação _ que não condiz com um país interessado em perseverar na estabilidade _, e não procurar seguir pelo mesmo caminho.
Quem era adulto no recente período hiperinflacionário no país não poderia sugerir a indexação contra a inflação, por meio de mecanismos como o chamado gatilho salarial, pois deveria no mínimo lembrar as consequências danosas da experiência anterior. Melhor fariam essas pessoas, sejam elas sindicalistas ou quem tem poder de definir preços, se canalizassem sua energia para exigir ações firmes por parte da equipe econômica oficial contra as ameaças ao poder aquisitivo dos brasileiros.
BC acompanhar superavit é erro - SAMUEL PESSÔA
FOLHA DE SP - 05/05
Superavit primário não é o conceito correto para avaliar o impacto do setor público sobre a economia
Peço desculpas ao leitor, mas o tema hoje é particularmente aborrecido. Trata-se, no entanto, de questão muito relevante para o adequado manejo da política monetária.
No dia 25 passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulgou a ata da 174ª reunião, que ocorrera em 16 e 17. Nessa oportunidade, o Copom decidira (com dois votos contrários e seis favoráveis) que era o momento de iniciar um ciclo de elevação dos juros. A taxa Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual, de 7,25% para 7,50%. Os interessados podem ler a ata no site do BC (http://www.bcb.gov.br/?COPOM174).
No 16º parágrafo, na seção "Avaliação prospectiva das tendências de inflação", o Copom apresenta para a sociedade o valor com o qual trabalha para o superavit primário consolidado do setor público.
Segue o texto: "Em relação à política fiscal, considera-se como hipótese de trabalho a geração de superavit primário de R$ 155,9 bilhões em 2013, conforme os parâmetros da LDO-2913 (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Para 2014, admite-se, como hipótese de trabalho, a geração de superavit primário de R$ 167,4 bilhões, conforme parâmetros constantes do PLDO-2014 (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias)".
Ou seja, o Copom considera em suas projeções que a meta cheia de superavit primário de 3,1% do PIB será observada.
O superavit primário é a diferença entre a receita pública total e os gastos do setor público exclusive juros. Se o primário for maior do que o pagamento de juros, a dívida pública encolhe em termos absolutos. Se for menor, a dívida cresce.
Nesse último caso, se o primário como proporção do PIB for maior que a diferença entre a taxa de juros média que o setor público remunera sua dívida e a taxa de crescimento do produto, a dívida como percentual do PIB reduz-se. A dívida pública ano após ano tornar-se-á um fardo mais leve de ser carregado.
Ou seja, o superavit primário é o conceito relevante para avaliarmos a evolução do endividamento do setor público. Em particular, a receita pública que resulta da venda pelo setor público de uma empresa ou de reservas petrolíferas aumenta o superavit primário.
O problema é que essa receita pública é diferente da receita de impostos. O imposto é uma dedução da renda de um indivíduo. Assim, quando o setor público coleta renda de um agente econômico por meio de um imposto, o setor público reduz a renda disponível para o gasto desse agente. Com isso, o setor público contribui para reduzir a demanda da economia.
Quando o setor público vende uma empresa, não há redução de renda de ninguém. Alguém tinha recursos monetários que foram transferidos ao setor público. Este, em troca, transferiu a propriedade da empresa. Essa operação não altera a renda do setor público nem a renda do setor privado.
Portanto, a receita de privatização não reduz a renda do setor privado disponível para gasto. Há diversas receitas que são contabilizadas no conceito de superavit primário, mas que não contribuem para reduzir a demanda agregada.
Dado que a preocupação do BC é com o controle da inflação, ele não deveria acompanhar o superavit primário. Do ponto de vista do controle inflacionário, o BC tem que saber qual é o balanço líquido entre as ações do setor público que reduzem a demanda, por exemplo elevação dos impostos, e as ações que elevam a demanda, por exemplo elevação do gasto público.
Além de o superavit primário não ser o conceito correto para avaliar o impacto do setor público sobre a demanda agregada na economia, há algumas possibilidades legais que tornam a distância do primário de um indicador de demanda do setor público ainda maior.
Por exemplo, decidiu-se há alguns anos que os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) podem ser excluídos do cômputo do primário para efeitos de atendimento da meta estabelecida em lei. Os gastos com o PAC, apesar dos efeitos benéficos sobre a inflação no longo prazo, no curto prazo elevam a demanda agregada e, portanto, devem ser considerados.
É urgente que o BC construa um indicador do impacto do setor público sobre a demanda da economia, divulgue sua metodologia e seu cenário para o indicador e o utilize em suas projeções.
Superavit primário não é o conceito correto para avaliar o impacto do setor público sobre a economia
Peço desculpas ao leitor, mas o tema hoje é particularmente aborrecido. Trata-se, no entanto, de questão muito relevante para o adequado manejo da política monetária.
No dia 25 passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulgou a ata da 174ª reunião, que ocorrera em 16 e 17. Nessa oportunidade, o Copom decidira (com dois votos contrários e seis favoráveis) que era o momento de iniciar um ciclo de elevação dos juros. A taxa Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual, de 7,25% para 7,50%. Os interessados podem ler a ata no site do BC (http://www.bcb.gov.br/?COPOM174).
No 16º parágrafo, na seção "Avaliação prospectiva das tendências de inflação", o Copom apresenta para a sociedade o valor com o qual trabalha para o superavit primário consolidado do setor público.
Segue o texto: "Em relação à política fiscal, considera-se como hipótese de trabalho a geração de superavit primário de R$ 155,9 bilhões em 2013, conforme os parâmetros da LDO-2913 (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Para 2014, admite-se, como hipótese de trabalho, a geração de superavit primário de R$ 167,4 bilhões, conforme parâmetros constantes do PLDO-2014 (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias)".
Ou seja, o Copom considera em suas projeções que a meta cheia de superavit primário de 3,1% do PIB será observada.
O superavit primário é a diferença entre a receita pública total e os gastos do setor público exclusive juros. Se o primário for maior do que o pagamento de juros, a dívida pública encolhe em termos absolutos. Se for menor, a dívida cresce.
Nesse último caso, se o primário como proporção do PIB for maior que a diferença entre a taxa de juros média que o setor público remunera sua dívida e a taxa de crescimento do produto, a dívida como percentual do PIB reduz-se. A dívida pública ano após ano tornar-se-á um fardo mais leve de ser carregado.
Ou seja, o superavit primário é o conceito relevante para avaliarmos a evolução do endividamento do setor público. Em particular, a receita pública que resulta da venda pelo setor público de uma empresa ou de reservas petrolíferas aumenta o superavit primário.
O problema é que essa receita pública é diferente da receita de impostos. O imposto é uma dedução da renda de um indivíduo. Assim, quando o setor público coleta renda de um agente econômico por meio de um imposto, o setor público reduz a renda disponível para o gasto desse agente. Com isso, o setor público contribui para reduzir a demanda da economia.
Quando o setor público vende uma empresa, não há redução de renda de ninguém. Alguém tinha recursos monetários que foram transferidos ao setor público. Este, em troca, transferiu a propriedade da empresa. Essa operação não altera a renda do setor público nem a renda do setor privado.
Portanto, a receita de privatização não reduz a renda do setor privado disponível para gasto. Há diversas receitas que são contabilizadas no conceito de superavit primário, mas que não contribuem para reduzir a demanda agregada.
Dado que a preocupação do BC é com o controle da inflação, ele não deveria acompanhar o superavit primário. Do ponto de vista do controle inflacionário, o BC tem que saber qual é o balanço líquido entre as ações do setor público que reduzem a demanda, por exemplo elevação dos impostos, e as ações que elevam a demanda, por exemplo elevação do gasto público.
Além de o superavit primário não ser o conceito correto para avaliar o impacto do setor público sobre a demanda agregada na economia, há algumas possibilidades legais que tornam a distância do primário de um indicador de demanda do setor público ainda maior.
Por exemplo, decidiu-se há alguns anos que os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) podem ser excluídos do cômputo do primário para efeitos de atendimento da meta estabelecida em lei. Os gastos com o PAC, apesar dos efeitos benéficos sobre a inflação no longo prazo, no curto prazo elevam a demanda agregada e, portanto, devem ser considerados.
É urgente que o BC construa um indicador do impacto do setor público sobre a demanda da economia, divulgue sua metodologia e seu cenário para o indicador e o utilize em suas projeções.
Governantes e governados - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 05/05
Essa capadoçagem burra, arrogante e irresponsável, tentada no Congresso Nacional, para intimidar e desfigurar o Poder Judiciário, mostra de novo como somos atrasados. Antigamente, éramos um país subdesenvolvido e atrasado. Fomos promovidos a emergente — embora volta e meia me venha a impressão de que se trata de um eufemismo modernoso para designar a mesma coisa — e continuamos atrasados. Nosso atraso é muito mais que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura. Temos pouco ou nenhum espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por governantes.
Que coisa mais desgraciosa e primitiva, esse festival de fanfarronadas e bravatas, essa demonstração de ignorância mesclada com inconsequência, essa insolência despudorada, autoritária, prepotente e pretensiosa. Então a ideia era submeter decisões do Supremo Tribunal Federal à aprovação do Congresso, ou seja, na situação atual, à aprovação do Executivo. E gente que é a favor disso ainda tem o desplante de lançar contra os adversários acusações de golpismo. Golpismo é isso, é atacar o equilíbrio dos poderes da República, para entregar à camarilha governista o controle exclusivo sobre o destino do país. Até quem só sabe sobre Montesquieu o que leu numa orelha de livro lembra que o raciocínio por trás da independência dos poderes é prevenir o despotismo. Se eu faço a lei, eu mesmo a executo e ainda julgo os conflitos, claro que o caminho para a tirania está aberto, porque posso fazer qualquer coisa, inclusive substituir por outra a lei que num dado momento me incomode.
Hoje, muito tempo depois de Montesquieu, sistemas como o vigente nos Estados Unidos, cujas instituições políticas plagiamos na estruturação da nossa república, dependem de um equilíbrio delicado e sutil, o qual pressupõe uma formação cívica e cultural que nosso atraso nos impede de plagiar também. Uma barbaridade desse porte é praticamente impossível acontecer por lá. E isso se evidencia até no comportamento e nas atitudes de todos. Nenhum deputado americano iria blaterar contra a Suprema Corte e investir contra a integridade do Estado dessa forma. E nenhum dos magistrados sai, como aqui, dando entrevistas em toda parte e tornando-se figurinhas fáceis, cuja proximidade induz uma familiaridade incompatível com a natureza e a magnitude dos cargos que ocupam, intérpretes supremos da Constituição, última instância do Estado, capaz de selar em definitivo o destino de um cidadão ou até da sociedade. Quem já presenciou a abertura de uma sessão da Suprema Corte, em Washington, há de ter-se impressionado com a solenidade majestosa do ato e com a aura quase sacerdotal dos juízes. Aqui, do jeito que as coisas vão, chega a parecer possível que, um dia destes, a equipe de um show de televisão interrompa uma sessão do Supremo para entrevistar os ministros, com uma comediante fazendo perguntas como “que é que você usa por baixo da toga?” e Sua Excelência, olhando para o decote dela e depois piscando para a câmera, dê uma gargalhadinha e responda “passa lá em casa, que eu te mostro”.
Soberana, entre as nossas manifestações de atraso, é a importância que damos à televisão. Não conheço outro país onde visitas apareçam exclusivamente para ver televisão na companhia dos visitados, ou onde se liga a televisão na sala e ninguém mais conversa. Hoje está melhor, mas, antigamente, o sujeito era convidado para dar uma entrevista e todos os funcionários da estação ou da produção o tratavam como se ele estivesse recebendo uma dádiva celestial. Do faxineiro à recepcionista, todos eram importantíssimos e eu mesmo já me estranhei com alguns, um par de vezes. A televisão é tudo a que se pode ambicionar, todas as moças querem ser atrizes de novelas, a fama é aparecer na televisão, quem aparece na televisão está feito na vida. Briga-se por tempo na televisão, ameaça-se o regime por causa de tempo na televisão e avacalha-se a imagem das instituições através dos que parecem sempre ansiosos por aparecer na televisão. Em relação aos ministros do Supremo, creio que todos os dias pelo menos uns dois deles se exibem em entrevistas. Houve a questão do mensalão, mas a moda e o costume já pegaram e qualquer processo no Supremo que venha a ter grande repercussão vai gerar novas entrevistas, pois ministro também é filho de Deus e, se não houvesse seguido a carreira jurídica, teria sido personalidade da televisão.
Quanto aos governados, as chances de aparecer na televisão são escassas e talvez o mais recomendável seja não ambicioná-las, porque isso pode significar que teremos sido assaltados ou atropelados, ou vovó esticou as canelas depois de quatro dias numa maca na recepção de um hospital vinculado ao SUS, ou já viramos presunto. Temos os nossos representantes, que podem representar-nos também aparecendo na televisão, são o nosso retrato. Continuam a caber-nos as duas certezas que Benjamin Franklin via na vida: death and taxes, morte e impostos. Nossas oportunidades de morte são amplas e diversificadas, de bala perdida a dengue. Em relação aos impostos, estamos a caminho do campeonato mundial. E, finalmente, contamos com o consolo de saber que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Ou seja, pensando bem, não temos de quem nos queixar.
Essa capadoçagem burra, arrogante e irresponsável, tentada no Congresso Nacional, para intimidar e desfigurar o Poder Judiciário, mostra de novo como somos atrasados. Antigamente, éramos um país subdesenvolvido e atrasado. Fomos promovidos a emergente — embora volta e meia me venha a impressão de que se trata de um eufemismo modernoso para designar a mesma coisa — e continuamos atrasados. Nosso atraso é muito mais que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura. Temos pouco ou nenhum espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por governantes.
Que coisa mais desgraciosa e primitiva, esse festival de fanfarronadas e bravatas, essa demonstração de ignorância mesclada com inconsequência, essa insolência despudorada, autoritária, prepotente e pretensiosa. Então a ideia era submeter decisões do Supremo Tribunal Federal à aprovação do Congresso, ou seja, na situação atual, à aprovação do Executivo. E gente que é a favor disso ainda tem o desplante de lançar contra os adversários acusações de golpismo. Golpismo é isso, é atacar o equilíbrio dos poderes da República, para entregar à camarilha governista o controle exclusivo sobre o destino do país. Até quem só sabe sobre Montesquieu o que leu numa orelha de livro lembra que o raciocínio por trás da independência dos poderes é prevenir o despotismo. Se eu faço a lei, eu mesmo a executo e ainda julgo os conflitos, claro que o caminho para a tirania está aberto, porque posso fazer qualquer coisa, inclusive substituir por outra a lei que num dado momento me incomode.
Hoje, muito tempo depois de Montesquieu, sistemas como o vigente nos Estados Unidos, cujas instituições políticas plagiamos na estruturação da nossa república, dependem de um equilíbrio delicado e sutil, o qual pressupõe uma formação cívica e cultural que nosso atraso nos impede de plagiar também. Uma barbaridade desse porte é praticamente impossível acontecer por lá. E isso se evidencia até no comportamento e nas atitudes de todos. Nenhum deputado americano iria blaterar contra a Suprema Corte e investir contra a integridade do Estado dessa forma. E nenhum dos magistrados sai, como aqui, dando entrevistas em toda parte e tornando-se figurinhas fáceis, cuja proximidade induz uma familiaridade incompatível com a natureza e a magnitude dos cargos que ocupam, intérpretes supremos da Constituição, última instância do Estado, capaz de selar em definitivo o destino de um cidadão ou até da sociedade. Quem já presenciou a abertura de uma sessão da Suprema Corte, em Washington, há de ter-se impressionado com a solenidade majestosa do ato e com a aura quase sacerdotal dos juízes. Aqui, do jeito que as coisas vão, chega a parecer possível que, um dia destes, a equipe de um show de televisão interrompa uma sessão do Supremo para entrevistar os ministros, com uma comediante fazendo perguntas como “que é que você usa por baixo da toga?” e Sua Excelência, olhando para o decote dela e depois piscando para a câmera, dê uma gargalhadinha e responda “passa lá em casa, que eu te mostro”.
Soberana, entre as nossas manifestações de atraso, é a importância que damos à televisão. Não conheço outro país onde visitas apareçam exclusivamente para ver televisão na companhia dos visitados, ou onde se liga a televisão na sala e ninguém mais conversa. Hoje está melhor, mas, antigamente, o sujeito era convidado para dar uma entrevista e todos os funcionários da estação ou da produção o tratavam como se ele estivesse recebendo uma dádiva celestial. Do faxineiro à recepcionista, todos eram importantíssimos e eu mesmo já me estranhei com alguns, um par de vezes. A televisão é tudo a que se pode ambicionar, todas as moças querem ser atrizes de novelas, a fama é aparecer na televisão, quem aparece na televisão está feito na vida. Briga-se por tempo na televisão, ameaça-se o regime por causa de tempo na televisão e avacalha-se a imagem das instituições através dos que parecem sempre ansiosos por aparecer na televisão. Em relação aos ministros do Supremo, creio que todos os dias pelo menos uns dois deles se exibem em entrevistas. Houve a questão do mensalão, mas a moda e o costume já pegaram e qualquer processo no Supremo que venha a ter grande repercussão vai gerar novas entrevistas, pois ministro também é filho de Deus e, se não houvesse seguido a carreira jurídica, teria sido personalidade da televisão.
Quanto aos governados, as chances de aparecer na televisão são escassas e talvez o mais recomendável seja não ambicioná-las, porque isso pode significar que teremos sido assaltados ou atropelados, ou vovó esticou as canelas depois de quatro dias numa maca na recepção de um hospital vinculado ao SUS, ou já viramos presunto. Temos os nossos representantes, que podem representar-nos também aparecendo na televisão, são o nosso retrato. Continuam a caber-nos as duas certezas que Benjamin Franklin via na vida: death and taxes, morte e impostos. Nossas oportunidades de morte são amplas e diversificadas, de bala perdida a dengue. Em relação aos impostos, estamos a caminho do campeonato mundial. E, finalmente, contamos com o consolo de saber que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Ou seja, pensando bem, não temos de quem nos queixar.
Desilusão, desilusão - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 05/05
Com a sofisticação dos instrumentos de exploração sideral as teses e fantasias foram perdendo, aos poucos, seu fascínio. O que os atuais laboratórios teleguiados colocados na superfície de Marte mandam dizer é que o planeta é apenas um imenso deserto. Pode ter tido água e vida no passado, mas – pelo menos pelo que se viu até agora – não tem mais. Entre a projeção romântica feita por Schiaparelli e a evidência das últimas imagens da aridez vermelha, sem um oásis ou uma carrocinha da Kibon à vista, está a história de uma decepção. De certa forma, parecida com a decepção que a realidade do Novo Mundo causou naqueles que, como Rousseau e outros, viram nos selvagens recém-descobertos uma redescoberta da inocência original do homem, num Eden antes da queda. Como no caso de Schiaparelli, uma ilusão desculpável, porque baseada numa visão de muito longe.
Entre outras visões da era dos telescópios primitivos está a dos que liam a palavra “Shajdai”, um dos nomes de Deus em hebraico, escrita na superfície de Marte. Um jornalista da época citado na revista The New Yorker, de onde eu tirei tudo isto, achou improvável que mesmo uma raça superior tivesse traçado canais para formar o nome do Senhor, mas observou: “Existem feitos aqui na Terra que também nos parecem impossíveis”. Isto que ele nem sonhava que um dia haveria um mecanismo terrestre escavando o chão de Marte. Agora, sobre a presença de devotos hebreus no planeta vermelho, ninguém especulou.