O GLOBO - 04/04
Dilma bateu o martelo. Autorizou obras na Ponte Rio-Niterói e nas estradas Rio-Juiz de Fora e Via Dutra que devem chegar a R$ 3 bilhões.
No pacote, um mergulhão em Niterói que vai desembocar na ponte, uma nova pista na subida da Serra de Petrópolis e outra na Serra das Araras.
Só que...
As concessionárias queriam a prorrogação dos contratos de concessão em troca das obras, mas a presidente prefere que elas façam as construções e sejam indenizadas pelo governo.
Air Gisela Amaral
Contagem regressiva para a Jornada Mundial da Juventude, que deve atrair 2 milhões de fiéis: a Arquidiocese do Rio montou um “gabinete de crise” para tratar dos imprevistos.
O transporte dos peregrinos é um dos pontos críticos. Os cardeais devem ir para a missa em Guaratiba de helicóptero.
Aliás...
Um dos “soldados” de D. Orani Tempesta é a querida socialite Gisela Amaral, que, falando com amigos (ricos), já conseguiu 12 helicópteros.
Garota exemplar
O livro de suspense de Gillian Flynn “Garota exemplar”, que a Intrínseca lançou há menos de um mês, já vendeu 30 mil exemplares.
O título, que desbancou os “Cinquenta tons” nos EUA, estreou no Brasil em todas as listas de best-sellers.
Quanto vale?
A Natura é a marca mais valiosa do varejo brasileiro de acordo com pesquisa da consultoria Interbrand.
Ela vale US$ 3,9 bilhões, seguida de longe por Renner (US$ 512 milhões) e pelas Casas Bahia (US$ 382 milhões).
A DONA DA RUA
Os moradores da Rua César Lattes, na Barra da Tijuca, estão pagando todos os seus pecados por causa de obra da construtora Dica Catisa, que está erguendo um prédio no local. O do concreto chegou de mansinho e fechou um cantinho da rua por pouco tempo. Depois, interditou meia rua por alguns minutos. Em seguida, metade da rua foi fechada o dia inteiro. Até que, de repente, a rua toda está fechada por todo o tempo. Alô, prefeitura! •
A empregada de Guido
O ministro Mantega chegou a casa, sexta passada, e encontrou a sua empregada preocupada;
— Eu vou ser demitida?
— Não, por que você está dizendo isso? — A nova lei da empregada doméstica. — Não, apenas vai custar mais caro.
Segue...
Guido, em conversa com a coleguinha Miriam Leitão, diz estar convencido de que a regulamentação da PEC das empregadas tem que ser o menos burocrática possível para evitar um peso maior para a classe média:
— O governo deve evitar que as famílias tenham que ter livro de ponto em plena era digital. O ideal seria desenvolver um programa de computador simples e fácil de usar.
Arbitragem
O ministro Luis Felipe Salomão, do STJ, é quem preside a comissão de juristas que estuda a reforma da Lei de Arbitragem e Mediação.
Pesquisa da FGV apontou que os valores movimentados pela arbitragem cresceram 185%, indo de R$ 867 milhões em 2008 para R$ 2,4 bilhões em 2009.
Drama basco
Após a prisão, em janeiro, do espanhol Joseba Vizan González, que dava aula de espanhol no Rio e é acusado de integrar o ETA, lembra?, os sogros dele vieram ao Brasil para cuidar da filha e da neta.
Segunda passada, um dia antes de voltar para a Espanha, José Marco Muyor, de 71 anos, sogro de Joseba, teve um infarto fulminante.
Mas...
Desde então, o corpo está no IML. Para liberá-lo, é necessário um documento do consulado espanhol confirmando que se trata de Muyor.
Mas a família acusa o consulado de dificultar a liberação.
Depois do Tim
Tiago Abravanel, o ator que despede-se dia 28 de “Tim Maia — Vale Tudo, o musical”, além de se dedicar a “Pequeno Buda”, próxima novela da TV Globo, irá produzir um espetáculo sobre as músicas dos anos 1980 e 1990.
Deve incluir canções de Sidney Magal, de quem é fã.
Propaganda enganosa
O Juizado da Infância do Rio implicou com o Rock in Rio.
Os anúncios indicam que a classificação etária é livre, mas a Justiça diz que classificou o evento para pessoas a partir dos 15 anos.
Poxa, Naldo!
Naldo, do hit “Vodka ou água de coco”, deu um show à parte, ontem, dentro de um avião em Congonhas.
É que o moço não quis desligar o celular, apesar de insistentes pedidos da aeromoça.
Calma, santa
A travesti Lauren foi ao gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, filho do polêmico deputado.
Pediu que ele desista de implicar com a prefeitura por ter gastado R$ 270 mil com a Parada Gay de Madureira.
quinta-feira, abril 04, 2013
As vidas que deixamos de viver - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 04/04
As crianças nunca são medíocres ou preguiçosas, elas só estão desperdiçando seu "incrível potencial"
Quase sempre, quando encontramos alguém que nos encanta, começamos por lhe contar nossa vida e expor nossos projetos -pois é possível que, para um casal, compartilhar planos seja mais importante do que cada um conhecer e entender o passado do outro.
Em suma, a gente se apresenta ao outro como numa entrevista de emprego, dizendo o que fizemos e o que esperamos. Afinal, somos uma mistura da vida vivida com o futuro sonhado, não é?
Acabo de ler o último livro de Adam Phillips, psicanalista inglês que é um dos autores que mais me estimulam a pensar: "Missing out: In Praise of the Unlived Life", (Farrar, Straus and Giroux) (perder: elogio da vida não vivida -"missing out" é perder no sentido em que você chega atrasado na festa e pergunta: perdi alguma coisa?).
Justamente, à história passada e aos sonhos Phillips acrescenta mais um ingrediente que nos define: o conjunto das vidas que deixamos de viver -porque não foi possível, porque alguém nos impediu, porque ficamos com medo, porque escolhemos outro caminho, porque a sorte não quis.
Algumas vidas não vividas são alternativas descartadas pela inércia da nossa história ou porque o desejo da gente é dividido, e escolher implica perder o que não escolhemos.
Outras são acasos que não aconteceram (é possível passar pela vida sem encontrar ninguém ou encontrando muitos, mas todos na hora errada).
Também, mais dolorosamente, as vidas não vividas são caminhos pelos quais não ousamos nos enveredar (na inscrição para o vestibular, na decisão de voltar de um lugar onde teríamos começado outra vida, nos conformismos de cada dia).
Essas vidas não vividas podem nos enriquecer ou nos empobrecer. Elas nos enriquecem quando integram nossa história como tramas alternativas de um romance, incluídas no rodapé da edição crítica.
Melhor ainda, como tramas alternativas às quais o autor renunciou, mas que ele se esqueceu de apagar inteiramente: o herói não vai mais para África no capítulo dois, mas eis que, no capítulo sete, aparece um africano que ele conheceu antes, mas que não se entende de onde vem, a não ser que a gente leia aquela parte do dois que foi abandonada.
Aqui, um conselho: é útil frequentar as vidas não vividas de nossos parceiros (para evitar surpresas desnecessárias, como a chegada de personagens que não fazem parte nem do passado nem dos sonhos do outro, mas das vidas às quais ele achava ter renunciado).
Agora, as vidas não vividas podem sobretudo nos empobrecer, levando-nos a viver num eterno lamento por algo que não nos foi dado, que perdemos ou do qual desistimos. Esse, aliás, é o futuro que estamos preparando para nossas crianças.
Uma das razões pelas quais as vidas não vividas condenarão as crianças de hoje à sensação de desperdício é a popularidade do mito do potencial. Alguém não está se tornando tudo o que esperávamos? Que pena, com o potencial que ele tinha...
De onde vem a ideia de que nossas crianças seriam dotadas de disposições milagrosas e que o maior risco seria o de elas desperdiçarem o que já é seu patrimônio?
O potencial das crianças modernas tem duas propriedades: ele é genérico (ou seja, não é fundado em nenhuma observação específica, é uma espécie de a priori: criança tem grande potencial, em tudo) e ele deve dar seus frutos espontaneamente, sem esforço algum da parte da criança.
Nossos rebentos são dotadíssimos para esporte, desenho, criação, música, ciência, estudo, línguas estrangeiras etc. E, se os resultados escolares forem péssimos, as crianças nunca são preguiçosas, elas só estão desperdiçando seu "incrível potencial". Há uma cumplicidade de todos ao redor dessa ideia.
Os pais querem que as crianças sejam tudo o que eles não conseguiram ser na vida. Pior, eles querem que as crianças cumpram essa missão sem esforços, por milagre (o milagre do "potencial").
Os professores acham no potencial uma maneira maravilhosa de assinalar que fulano é medíocre sem atrapalhar o sonho dos pais da criança, os quais podem seguir pensando que seu filho leva notas infernais, mas vale a pena insistir (e pagar a escola mais cara) porque ele tem um potencial extraordinário.
Quanto aos filhos, acreditar em seu próprio "potencial" é uma maneira barata para se sentir especial, apesar de resultados pífios. Problema: na hora, inevitável, do fracasso, quem aposta no seu potencial conhece a sensação especialmente dolorosa de ter traído a si mesmo (ou seja, ao seu "potencial").
As crianças nunca são medíocres ou preguiçosas, elas só estão desperdiçando seu "incrível potencial"
Quase sempre, quando encontramos alguém que nos encanta, começamos por lhe contar nossa vida e expor nossos projetos -pois é possível que, para um casal, compartilhar planos seja mais importante do que cada um conhecer e entender o passado do outro.
Em suma, a gente se apresenta ao outro como numa entrevista de emprego, dizendo o que fizemos e o que esperamos. Afinal, somos uma mistura da vida vivida com o futuro sonhado, não é?
Acabo de ler o último livro de Adam Phillips, psicanalista inglês que é um dos autores que mais me estimulam a pensar: "Missing out: In Praise of the Unlived Life", (Farrar, Straus and Giroux) (perder: elogio da vida não vivida -"missing out" é perder no sentido em que você chega atrasado na festa e pergunta: perdi alguma coisa?).
Justamente, à história passada e aos sonhos Phillips acrescenta mais um ingrediente que nos define: o conjunto das vidas que deixamos de viver -porque não foi possível, porque alguém nos impediu, porque ficamos com medo, porque escolhemos outro caminho, porque a sorte não quis.
Algumas vidas não vividas são alternativas descartadas pela inércia da nossa história ou porque o desejo da gente é dividido, e escolher implica perder o que não escolhemos.
Outras são acasos que não aconteceram (é possível passar pela vida sem encontrar ninguém ou encontrando muitos, mas todos na hora errada).
Também, mais dolorosamente, as vidas não vividas são caminhos pelos quais não ousamos nos enveredar (na inscrição para o vestibular, na decisão de voltar de um lugar onde teríamos começado outra vida, nos conformismos de cada dia).
Essas vidas não vividas podem nos enriquecer ou nos empobrecer. Elas nos enriquecem quando integram nossa história como tramas alternativas de um romance, incluídas no rodapé da edição crítica.
Melhor ainda, como tramas alternativas às quais o autor renunciou, mas que ele se esqueceu de apagar inteiramente: o herói não vai mais para África no capítulo dois, mas eis que, no capítulo sete, aparece um africano que ele conheceu antes, mas que não se entende de onde vem, a não ser que a gente leia aquela parte do dois que foi abandonada.
Aqui, um conselho: é útil frequentar as vidas não vividas de nossos parceiros (para evitar surpresas desnecessárias, como a chegada de personagens que não fazem parte nem do passado nem dos sonhos do outro, mas das vidas às quais ele achava ter renunciado).
Agora, as vidas não vividas podem sobretudo nos empobrecer, levando-nos a viver num eterno lamento por algo que não nos foi dado, que perdemos ou do qual desistimos. Esse, aliás, é o futuro que estamos preparando para nossas crianças.
Uma das razões pelas quais as vidas não vividas condenarão as crianças de hoje à sensação de desperdício é a popularidade do mito do potencial. Alguém não está se tornando tudo o que esperávamos? Que pena, com o potencial que ele tinha...
De onde vem a ideia de que nossas crianças seriam dotadas de disposições milagrosas e que o maior risco seria o de elas desperdiçarem o que já é seu patrimônio?
O potencial das crianças modernas tem duas propriedades: ele é genérico (ou seja, não é fundado em nenhuma observação específica, é uma espécie de a priori: criança tem grande potencial, em tudo) e ele deve dar seus frutos espontaneamente, sem esforço algum da parte da criança.
Nossos rebentos são dotadíssimos para esporte, desenho, criação, música, ciência, estudo, línguas estrangeiras etc. E, se os resultados escolares forem péssimos, as crianças nunca são preguiçosas, elas só estão desperdiçando seu "incrível potencial". Há uma cumplicidade de todos ao redor dessa ideia.
Os pais querem que as crianças sejam tudo o que eles não conseguiram ser na vida. Pior, eles querem que as crianças cumpram essa missão sem esforços, por milagre (o milagre do "potencial").
Os professores acham no potencial uma maneira maravilhosa de assinalar que fulano é medíocre sem atrapalhar o sonho dos pais da criança, os quais podem seguir pensando que seu filho leva notas infernais, mas vale a pena insistir (e pagar a escola mais cara) porque ele tem um potencial extraordinário.
Quanto aos filhos, acreditar em seu próprio "potencial" é uma maneira barata para se sentir especial, apesar de resultados pífios. Problema: na hora, inevitável, do fracasso, quem aposta no seu potencial conhece a sensação especialmente dolorosa de ter traído a si mesmo (ou seja, ao seu "potencial").
Desconstrução da família - CARLOS RAMALHETE
GAZETA DO POVO - PR - 04/04
Dizem os demagogos que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Mentira. Escola serve para instruir, não para educar; o que a escola, uma boa escola, pode fazer é transformar um assaltante em estelionatário, mas não mais que isso.
O que educa é a família, e a família íntegra. Uma mãe sozinha estará sempre em desvantagem, por mais heroicos que sejam seus esforços. Afinal, a dialética do “tira bonzinho” e do “tira malvado” não é invenção de filme americano, mas a realidade das reações naturais de pai e mãe. Ser ambos ao mesmo tempo é simplesmente impossível.
Para alegria dos cafajestes, contudo, a nossa legislação premia o mau pai. Algumas décadas atrás, quem “fizesse mal a uma moça” teria de casar com ela, assumindo as responsabilidades de esposo e pai, sob pena de, no mínimo, ostracismo. Já hoje a única responsabilidade, o teor total dos deveres paternos, consiste em comprometer para o conjunto dos filhos um terço da renda registrada em carteira. Não pagar é uma das pouquíssimas maneiras de ainda ser preso.
Mas o que é um terço da renda, mesmo para a minoria que tem carteira assinada? É muito menos que o que um pai de família desembolsa, em termos financeiros. Em termos de compromisso afetivo e emocional e de esforço – acordar de madrugada, levar criança doente ao médico... –, é nada.
E, para a mãe, haveria ainda um incentivo econômico a ter filhos de pais diferentes, fazendo com que cada um possa levar o terço da renda formal do pai. É bem verdade que o coração tem razões que a própria razão desconhece e que poucas mulheres racionalizam assim a própria reprodução, mas o incentivo está aí.
Para jogar uma pá de cal, o casamento civil – já transformado em contrato temporário pelo divórcio – traz menos direitos que a dita união estável, que não requer coabitação. Ou seja: vale mais a pena não casar.
Na campanha de nossas elites revolucionárias contra a educação e contra a família, já tão bem- sucedida na legislação, o alvo da vez é o casamento. Faz-se tudo para mudar-lhe o sentido, para fazer da instituição de direito natural voltada à reprodução e à educação das gerações futuras uma espécie de celebração do afeto sexuado, como se o recreio fosse a escola e o flavorizante, o alimento. Como boi de piranha dessa desconstrução, exploram-se os homossexuais.
De nada adianta multiplicar as escolas se se impede que sejam educadas as crianças que elas tentam instruir. O analfabetismo funcional e a criminalidade são apenas o resultado da experiência social de que nosso país é cobaia.
Dizem os demagogos que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Mentira. Escola serve para instruir, não para educar; o que a escola, uma boa escola, pode fazer é transformar um assaltante em estelionatário, mas não mais que isso.
O que educa é a família, e a família íntegra. Uma mãe sozinha estará sempre em desvantagem, por mais heroicos que sejam seus esforços. Afinal, a dialética do “tira bonzinho” e do “tira malvado” não é invenção de filme americano, mas a realidade das reações naturais de pai e mãe. Ser ambos ao mesmo tempo é simplesmente impossível.
Para alegria dos cafajestes, contudo, a nossa legislação premia o mau pai. Algumas décadas atrás, quem “fizesse mal a uma moça” teria de casar com ela, assumindo as responsabilidades de esposo e pai, sob pena de, no mínimo, ostracismo. Já hoje a única responsabilidade, o teor total dos deveres paternos, consiste em comprometer para o conjunto dos filhos um terço da renda registrada em carteira. Não pagar é uma das pouquíssimas maneiras de ainda ser preso.
Mas o que é um terço da renda, mesmo para a minoria que tem carteira assinada? É muito menos que o que um pai de família desembolsa, em termos financeiros. Em termos de compromisso afetivo e emocional e de esforço – acordar de madrugada, levar criança doente ao médico... –, é nada.
E, para a mãe, haveria ainda um incentivo econômico a ter filhos de pais diferentes, fazendo com que cada um possa levar o terço da renda formal do pai. É bem verdade que o coração tem razões que a própria razão desconhece e que poucas mulheres racionalizam assim a própria reprodução, mas o incentivo está aí.
Para jogar uma pá de cal, o casamento civil – já transformado em contrato temporário pelo divórcio – traz menos direitos que a dita união estável, que não requer coabitação. Ou seja: vale mais a pena não casar.
Na campanha de nossas elites revolucionárias contra a educação e contra a família, já tão bem- sucedida na legislação, o alvo da vez é o casamento. Faz-se tudo para mudar-lhe o sentido, para fazer da instituição de direito natural voltada à reprodução e à educação das gerações futuras uma espécie de celebração do afeto sexuado, como se o recreio fosse a escola e o flavorizante, o alimento. Como boi de piranha dessa desconstrução, exploram-se os homossexuais.
De nada adianta multiplicar as escolas se se impede que sejam educadas as crianças que elas tentam instruir. O analfabetismo funcional e a criminalidade são apenas o resultado da experiência social de que nosso país é cobaia.
A função da cafeína na natureza - FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 04/04
Você já se perguntou por que uma planta de café produz cafeína? Seguramente não é para nos propiciar o prazer de um expresso. Nossa espécie só passou a apreciar o café por volta de 1450, quando a população do Iêmen e da Etiópia domesticou-se e passou a consumir o café.
Até recentemente se acreditava que a função biológica da cafeína era proteger a planta contra o ataque de herbívoros. A cafeína torna as folha e frutas amargas, afastando os predadores. Os cientistas acreditavam que o efeito da cafeína sobre o sistema nervoso, como facilitador do aprendizado e inibidor do sono, não estava relacionado à sua função biológica na natureza. Mas agora tudo mudou.
Essa história começou em 2005, quando foi descoberto que o néctar produzido pelas flores do café também contém cafeína. Isso despertou a curiosidade dos biólogos. A grande maioria das plantas necessita da colaboração de insetos para se reproduzir. Abelhas transportam o pólen das flores macho para as flores fêmea, garantindo a fecundação. Mas a competição entre as plantas pela atenção dos insetos é grande. Em um jardim florido, essa sedução visual e olfativa é evidente. Flores vistosas, coloridas e cheirosas competem pela atenção das abelhas, que são remuneradas com uma porção de néctar doce e nutritivo se decidirem visitar uma flor e concordarem em transportar seu pólen. Será que a cafeína faz parte desse arsenal de sedução?
Em um primeiro experimento os cientistas coletaram o néctar de diversas plantas e mediram a concentração de cafeína. Eles descobriram que a quantidade de cafeína no néctar é sempre baixa, menor que a quantidade necessária para tornar o néctar amargo e afugentar os insetos.
Em seguida os cientistas decidiram condicionar abelhas a reconhecer um aroma específico, oferecendo um néctar artificial como recompensa. Se voasse em direção ao cheiro, o primeiro grupo era recompensado com um néctar contendo somente açúcar e o segundo grupo, com néctar contendo açúcar e uma pequena quantidade de cafeína. As abelhas de ambos os grupos aprenderam rapidamente a voar em direção ao cheiro.
Se na primeira tentativa poucas abelhas voavam diretamente para a fonte do cheiro e bebiam o néctar, na segunda 20% delas voavam rapidamente para o cheiro. Na sexta tentativa 60% já tinham associado o cheiro à recompensa. A velocidade com que as abelhas aprendiam era praticamente igual, independentemente da presença de cafeína no néctar. A surpresa veio no experimento seguinte.
Para medir quanto tempo esse aprendizado durava na memória das abelhas, elas foram testadas novamente 10 minutos e 24 horas após o aprendizado. O resultado é impressionante. Os dois grupos de abelhas se lembravam do cheiro 10 minutos depois de terem sido educadas. Mas 24 horas depois, as abelhas recompensadas só com açúcar haviam esquecido o que tinham aprendido. Já as abelhas recompensadas com açúcar e cafeína se lembravam perfeitamente do que haviam aprendido e voltavam à origem do cheiro rapidamente.
Esse aprendizado duradouro, induzido pela cafeína, durou até 72 horas - um tempo longo na vida de uma abelha.
Como a organização do sistema sensorial e do cérebro das abelhas é bem conhecida, os cientistas foram capazes de demonstrar que os circuitos cerebrais envolvidos na memória de longo prazo eram ativados e reforçados quando a abelha consumia cafeína.
Esses resultados demonstram que a presença de cafeína no néctar das flores de café permite que as abelhas guardem por mais tempo a associação entre o cheiro das flores e o prazer obtido ao consumir seu néctar açucarado.
A cafeína parece ser mais uma arma no arsenal das plantas. Além de usarem flores vistosas e cheirosas e uma recompensa rica em açúcar, algumas plantas utilizam drogas capazes de agir no sistema nervoso central dos insetos para garantir que eles voltem frequentemente às suas flores.
Se esse mecanismo tem um lado romântico, pois permite às abelhas guardarem por mais tempo memórias deliciosas, ele também pode ser visto de maneira nefasta. Assim como um vendedor de crack fornece drogas psicoativas capazes de viciar o consumidor, garantindo sua volta para obter uma nova dose, podemos imaginar que a planta de café utiliza esse alcaloide chamado cafeína para alterar o cérebro das abelhas e garantir que elas retornem às suas flores.
Qualquer que seja sua opinião moral sobre o uso da cafeína pelas plantas, uma coisa é certa: nós bebemos café pela mesma razão que as abelhas bebem o néctar nos cafezais. E eu confesso, sem culpa, sou tão viciado em café quanto qualquer abelha que vive nas proximidades de um cafezal.
Você já se perguntou por que uma planta de café produz cafeína? Seguramente não é para nos propiciar o prazer de um expresso. Nossa espécie só passou a apreciar o café por volta de 1450, quando a população do Iêmen e da Etiópia domesticou-se e passou a consumir o café.
Até recentemente se acreditava que a função biológica da cafeína era proteger a planta contra o ataque de herbívoros. A cafeína torna as folha e frutas amargas, afastando os predadores. Os cientistas acreditavam que o efeito da cafeína sobre o sistema nervoso, como facilitador do aprendizado e inibidor do sono, não estava relacionado à sua função biológica na natureza. Mas agora tudo mudou.
Essa história começou em 2005, quando foi descoberto que o néctar produzido pelas flores do café também contém cafeína. Isso despertou a curiosidade dos biólogos. A grande maioria das plantas necessita da colaboração de insetos para se reproduzir. Abelhas transportam o pólen das flores macho para as flores fêmea, garantindo a fecundação. Mas a competição entre as plantas pela atenção dos insetos é grande. Em um jardim florido, essa sedução visual e olfativa é evidente. Flores vistosas, coloridas e cheirosas competem pela atenção das abelhas, que são remuneradas com uma porção de néctar doce e nutritivo se decidirem visitar uma flor e concordarem em transportar seu pólen. Será que a cafeína faz parte desse arsenal de sedução?
Em um primeiro experimento os cientistas coletaram o néctar de diversas plantas e mediram a concentração de cafeína. Eles descobriram que a quantidade de cafeína no néctar é sempre baixa, menor que a quantidade necessária para tornar o néctar amargo e afugentar os insetos.
Em seguida os cientistas decidiram condicionar abelhas a reconhecer um aroma específico, oferecendo um néctar artificial como recompensa. Se voasse em direção ao cheiro, o primeiro grupo era recompensado com um néctar contendo somente açúcar e o segundo grupo, com néctar contendo açúcar e uma pequena quantidade de cafeína. As abelhas de ambos os grupos aprenderam rapidamente a voar em direção ao cheiro.
Se na primeira tentativa poucas abelhas voavam diretamente para a fonte do cheiro e bebiam o néctar, na segunda 20% delas voavam rapidamente para o cheiro. Na sexta tentativa 60% já tinham associado o cheiro à recompensa. A velocidade com que as abelhas aprendiam era praticamente igual, independentemente da presença de cafeína no néctar. A surpresa veio no experimento seguinte.
Para medir quanto tempo esse aprendizado durava na memória das abelhas, elas foram testadas novamente 10 minutos e 24 horas após o aprendizado. O resultado é impressionante. Os dois grupos de abelhas se lembravam do cheiro 10 minutos depois de terem sido educadas. Mas 24 horas depois, as abelhas recompensadas só com açúcar haviam esquecido o que tinham aprendido. Já as abelhas recompensadas com açúcar e cafeína se lembravam perfeitamente do que haviam aprendido e voltavam à origem do cheiro rapidamente.
Esse aprendizado duradouro, induzido pela cafeína, durou até 72 horas - um tempo longo na vida de uma abelha.
Como a organização do sistema sensorial e do cérebro das abelhas é bem conhecida, os cientistas foram capazes de demonstrar que os circuitos cerebrais envolvidos na memória de longo prazo eram ativados e reforçados quando a abelha consumia cafeína.
Esses resultados demonstram que a presença de cafeína no néctar das flores de café permite que as abelhas guardem por mais tempo a associação entre o cheiro das flores e o prazer obtido ao consumir seu néctar açucarado.
A cafeína parece ser mais uma arma no arsenal das plantas. Além de usarem flores vistosas e cheirosas e uma recompensa rica em açúcar, algumas plantas utilizam drogas capazes de agir no sistema nervoso central dos insetos para garantir que eles voltem frequentemente às suas flores.
Se esse mecanismo tem um lado romântico, pois permite às abelhas guardarem por mais tempo memórias deliciosas, ele também pode ser visto de maneira nefasta. Assim como um vendedor de crack fornece drogas psicoativas capazes de viciar o consumidor, garantindo sua volta para obter uma nova dose, podemos imaginar que a planta de café utiliza esse alcaloide chamado cafeína para alterar o cérebro das abelhas e garantir que elas retornem às suas flores.
Qualquer que seja sua opinião moral sobre o uso da cafeína pelas plantas, uma coisa é certa: nós bebemos café pela mesma razão que as abelhas bebem o néctar nos cafezais. E eu confesso, sem culpa, sou tão viciado em café quanto qualquer abelha que vive nas proximidades de um cafezal.
O sistema aéreo brasileiro - ANDRÉ LUIZ BONAT CORDEIRO
GAZETA DO POVO - PR - 04/04
O sistema aéreo brasileiro continua muito aquém do esperado em diversos fatores. Não bastasse a falta de estrutura dos aeroportos para atender a toda a demanda de passageiros, ainda convivemos com a cartelização das empresas aéreas, que elevam abusivamente os preços das passagens nos períodos de maior procura, como nas férias e nas datas festivas. Se colocarmos no papel, são duas grandes companhias que praticamente dominam o mercado interno – o que, em qualquer outro setor, seria proibido.
Além disso, as pequenas empresas que se mantêm diante dessa concorrência desleal acabam sendo engolidas pelas grandes companhias, diminuindo ainda mais a oferta de serviços disponíveis ao consumidor, como no caso da compra da Webjet pela Gol. A aquisição, aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), virou litígio judicial por causa da demissão em massa de quase mil funcionários da Webjet, e que deve se arrastar por algum tempo.
A solução para os valores das passagens aéreas poderia ser mais simples se não houvesse uma burocratização para a abertura do mercado interno. A Europa, por exemplo, criou um mercado comum em que as companhias aéreas podem realizar trajetos internos dentro dos países do eixo, pois o que de fato acarreta o aumento nos preços dos bilhetes é a falta de concorrência no setor.
É certo que também existem outros fatores, como encargos trabalhistas e o custo do combustível. Porém, de qualquer maneira, nada disso justificaria um aumento de mais de 17% em dois meses, como aconteceu em novembro e dezembro de 2012. Um índice muito acima da inflação registrada no período.
Recentemente a Embratur também propôs a estipulação de teto para as passagens aéreas. Apesar de existir desde 2001 a liberdade tarifária para o setor, não significa que não possa ser feito um controle para coibir cobranças abusivas, assim como ocorre no transporte rodoviário de passageiros e outros casos análogos.
Enquanto isso, para os passageiros a discussão vai muito além do valor da tarifa, pois ainda enfrentamos com frequência problemas de atrasos nos voos, extravio de bagagens, falta de informação sobre cancelamentos e até mesmo mau atendimento nos guichês das companhias. A série de reclamações é extensa e aparentemente está longe de ser solucionada, já que o número de passageiros aumenta a cada ano e as melhorias do sistema continuam em passos lentos.
Diante de todos esses problemas, o caos que se instaurou no sistema aéreo brasileiro ainda está longe de ter fim. Enquanto isso, vamos esperar para que soluções mais ágeis cheguem a tempo de não presenciarmos tumultos nos aeroportos do país durante a Copa do Mundo de 2014.
O sistema aéreo brasileiro continua muito aquém do esperado em diversos fatores. Não bastasse a falta de estrutura dos aeroportos para atender a toda a demanda de passageiros, ainda convivemos com a cartelização das empresas aéreas, que elevam abusivamente os preços das passagens nos períodos de maior procura, como nas férias e nas datas festivas. Se colocarmos no papel, são duas grandes companhias que praticamente dominam o mercado interno – o que, em qualquer outro setor, seria proibido.
Além disso, as pequenas empresas que se mantêm diante dessa concorrência desleal acabam sendo engolidas pelas grandes companhias, diminuindo ainda mais a oferta de serviços disponíveis ao consumidor, como no caso da compra da Webjet pela Gol. A aquisição, aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), virou litígio judicial por causa da demissão em massa de quase mil funcionários da Webjet, e que deve se arrastar por algum tempo.
A solução para os valores das passagens aéreas poderia ser mais simples se não houvesse uma burocratização para a abertura do mercado interno. A Europa, por exemplo, criou um mercado comum em que as companhias aéreas podem realizar trajetos internos dentro dos países do eixo, pois o que de fato acarreta o aumento nos preços dos bilhetes é a falta de concorrência no setor.
É certo que também existem outros fatores, como encargos trabalhistas e o custo do combustível. Porém, de qualquer maneira, nada disso justificaria um aumento de mais de 17% em dois meses, como aconteceu em novembro e dezembro de 2012. Um índice muito acima da inflação registrada no período.
Recentemente a Embratur também propôs a estipulação de teto para as passagens aéreas. Apesar de existir desde 2001 a liberdade tarifária para o setor, não significa que não possa ser feito um controle para coibir cobranças abusivas, assim como ocorre no transporte rodoviário de passageiros e outros casos análogos.
Enquanto isso, para os passageiros a discussão vai muito além do valor da tarifa, pois ainda enfrentamos com frequência problemas de atrasos nos voos, extravio de bagagens, falta de informação sobre cancelamentos e até mesmo mau atendimento nos guichês das companhias. A série de reclamações é extensa e aparentemente está longe de ser solucionada, já que o número de passageiros aumenta a cada ano e as melhorias do sistema continuam em passos lentos.
Diante de todos esses problemas, o caos que se instaurou no sistema aéreo brasileiro ainda está longe de ter fim. Enquanto isso, vamos esperar para que soluções mais ágeis cheguem a tempo de não presenciarmos tumultos nos aeroportos do país durante a Copa do Mundo de 2014.
Brasil perde com desprestígio ao agro - CESÁRIO RAMALHO DA SILVA
O ESTADO DE S. PAULO - 04/04
O Brasil vem surfando nos bons resultados gerados pelo agro. São safras, exportações e divisas recordes que irradiam emprego, renda e desenvolvimento socioeconômico pelo País. Em 2012, as exportações do setor alcançaram US$ 95,81 bilhões, gerando um superávit de US$ 79,41 bilhões. Os embarques dos produtos agrícolas compensaram o déficit de outros segmentos.
Para este ano, o valor bruto da produção das principais lavouras deverá atingir R$ 305,3 bilhões, aumento de 26,3% sobre 2012. Estima-se que o PIB da agropecuária cresça de 4% a 5%. A safra de grãos na temporada 2012/2013 está estimada em mais de 180 milhões de toneladas, cerca de 8% acima do ciclo anterior. Novamente, o abastecimento interno está garantido com volume e preços.
O produtor rural vem fazendo a sua parte, absorvendo tecnologia, fazendo cada vez mais em menos área e com menos insumos. A intensificação e o melhor uso da terra por meio de boas práticas como plantio direto e rotação de culturas; a sofisticação de sementes, defensivos e fertilizantes; a modernização das máquinas e implementos; o avanço da agricultura de precisão; o em-preendedorismo e a profissionalização no campo são fatores que vêm consolidando o Brasil como protagonista no cenário mundial.
O agro é a mais segura fonte de recursos do País e, sem ele, o resultado do PIB no ano passado teria sido ainda pior. O agro é o negócio do Brasil. Ao assegurar a balança de pagamentos no campo positivo, o bom desempenho dó setor permite que as importações cresçam. Se a renda aumentou, se o brasileiro compra cada vez mais carro importado e "iPads" da vida, o agro contribui muito paraisso. Sem ageração de caixapropor-cionada pelo setor, a crise financeira que faz tremer a Europa e inibe uma recuperação mais rápida dos EUA chacoalharia a economia brasileira, que tem certa estabilidade, mas está paralisada.
Contudo, fica a impressão de que, para o governo federal, quem carrega o piano não merece lá muita atenção. E essa postura pode custar caro, já que sem a segurança alimentar, energética e financeira gerada pelo agro, políticas sociais que são um sucesso podem sofrer grave impacto. A desoneração da cesta básica só foi possível porque o setor rural garante comida boa e barata na mesa do brasileiro, e ainda gera excedentes exportáveis.
A realidade é que o agro pode mais. Pode fazer melhor o que já vem fazendo, irrigando financeiramente o País para, por exemplo, funcionar (fato que já ocorre na prática) como um fundo de investimentos para fomentar a inovação tecnológica em outros setores. O Brasil é uma potência agrícola, e pode ser uma industrial, assim como os EUA, que têm uma agricultura extremamente forte e o parque industrial mais poderoso do planeta.
Mas existem obstáculos que, se não forem superados, ameaçam o agro e, consequentemente, toda a economia. Os entraves mais proeminentes são a baixa cobertura do seguro rural e a deficiente infraestrutura logística, fatores que seqüestram a renda do produtor e das empresas e encarecem os preços ao consumidor. A reversão desse quadro passa pelo fortalecimento do Ministério da Agricultura, que vem sendo desmantelado ao longo dos anos, perdendo autonomia, função estratégica, poder político e recursos. Primeiro, os assuntos fundiários passaram para outra pasta. Depois, ocorreu o mesmo com as áreas de florestas plantadas e irrigação.
O Ministério da Agricultura está sem acesso direto ao centro nervoso do governo, o que fragilizou a interlocução do setor com o Palácio do Planalto. O caráter interino do novo ministro, que deve ser candidato à reeleição no Congresso em 2014, preocupa e deixa no ar a ideia de que a pasta da Agricultura é mera moeda de troca política.
Falta uma estratégia de valorização do agro pelo Estado. E isso pode fazer o País perder o momento histórico em que há um chamamento pelo que tem origem na agricultura. O mundo quer o que temos. Está na hora de efetivamente nos prepararmos para cumprirmos e tirarmos proveito dessa missão.
O Brasil vem surfando nos bons resultados gerados pelo agro. São safras, exportações e divisas recordes que irradiam emprego, renda e desenvolvimento socioeconômico pelo País. Em 2012, as exportações do setor alcançaram US$ 95,81 bilhões, gerando um superávit de US$ 79,41 bilhões. Os embarques dos produtos agrícolas compensaram o déficit de outros segmentos.
Para este ano, o valor bruto da produção das principais lavouras deverá atingir R$ 305,3 bilhões, aumento de 26,3% sobre 2012. Estima-se que o PIB da agropecuária cresça de 4% a 5%. A safra de grãos na temporada 2012/2013 está estimada em mais de 180 milhões de toneladas, cerca de 8% acima do ciclo anterior. Novamente, o abastecimento interno está garantido com volume e preços.
O produtor rural vem fazendo a sua parte, absorvendo tecnologia, fazendo cada vez mais em menos área e com menos insumos. A intensificação e o melhor uso da terra por meio de boas práticas como plantio direto e rotação de culturas; a sofisticação de sementes, defensivos e fertilizantes; a modernização das máquinas e implementos; o avanço da agricultura de precisão; o em-preendedorismo e a profissionalização no campo são fatores que vêm consolidando o Brasil como protagonista no cenário mundial.
O agro é a mais segura fonte de recursos do País e, sem ele, o resultado do PIB no ano passado teria sido ainda pior. O agro é o negócio do Brasil. Ao assegurar a balança de pagamentos no campo positivo, o bom desempenho dó setor permite que as importações cresçam. Se a renda aumentou, se o brasileiro compra cada vez mais carro importado e "iPads" da vida, o agro contribui muito paraisso. Sem ageração de caixapropor-cionada pelo setor, a crise financeira que faz tremer a Europa e inibe uma recuperação mais rápida dos EUA chacoalharia a economia brasileira, que tem certa estabilidade, mas está paralisada.
Contudo, fica a impressão de que, para o governo federal, quem carrega o piano não merece lá muita atenção. E essa postura pode custar caro, já que sem a segurança alimentar, energética e financeira gerada pelo agro, políticas sociais que são um sucesso podem sofrer grave impacto. A desoneração da cesta básica só foi possível porque o setor rural garante comida boa e barata na mesa do brasileiro, e ainda gera excedentes exportáveis.
A realidade é que o agro pode mais. Pode fazer melhor o que já vem fazendo, irrigando financeiramente o País para, por exemplo, funcionar (fato que já ocorre na prática) como um fundo de investimentos para fomentar a inovação tecnológica em outros setores. O Brasil é uma potência agrícola, e pode ser uma industrial, assim como os EUA, que têm uma agricultura extremamente forte e o parque industrial mais poderoso do planeta.
Mas existem obstáculos que, se não forem superados, ameaçam o agro e, consequentemente, toda a economia. Os entraves mais proeminentes são a baixa cobertura do seguro rural e a deficiente infraestrutura logística, fatores que seqüestram a renda do produtor e das empresas e encarecem os preços ao consumidor. A reversão desse quadro passa pelo fortalecimento do Ministério da Agricultura, que vem sendo desmantelado ao longo dos anos, perdendo autonomia, função estratégica, poder político e recursos. Primeiro, os assuntos fundiários passaram para outra pasta. Depois, ocorreu o mesmo com as áreas de florestas plantadas e irrigação.
O Ministério da Agricultura está sem acesso direto ao centro nervoso do governo, o que fragilizou a interlocução do setor com o Palácio do Planalto. O caráter interino do novo ministro, que deve ser candidato à reeleição no Congresso em 2014, preocupa e deixa no ar a ideia de que a pasta da Agricultura é mera moeda de troca política.
Falta uma estratégia de valorização do agro pelo Estado. E isso pode fazer o País perder o momento histórico em que há um chamamento pelo que tem origem na agricultura. O mundo quer o que temos. Está na hora de efetivamente nos prepararmos para cumprirmos e tirarmos proveito dessa missão.
O encontro das águas, além da hidrografia - CÉSAR FELÍCIO
Valor Econômico - 04/04
"Foram necessários anos para na Venezuela perceberem que o país estava virando Cuba. Depois passou muito tempo para constatarem que a Argentina estava virando Venezuela. Quando tempo vai levar para que no Brasil se conclua que o país está virando a Argentina?". O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega garante ter ouvido esta pergunta retórica de mais de um investidor estrangeiro que o procurou em seu escritório de consultoria no Brasil.
Fidel Castro, Hugo Chávez, Perón e seus sucedâneos ou similares assombram o imaginário de empresários que investem no Brasil há muitas décadas. Os paralelismos se tornaram mais perturbadores para determinado tipo de público desde a posse da presidente Dilma Rousseff, quase coincidente com o agravamento da situação econômica do país presidido por Cristina Kirchner.
Sempre com velocidade menor e direção mais segura, o governo brasileiro foi se encaminhando para a mesma estrada adotada no país vizinho: mudou a política do Banco Central, adotando um viés "desenvolvimentista", com a taxa de juros mais baixa da história recente.
Surgiram dúvidas sobre a prioridade que é dada ao combate à inflação na estratégia macroeconômica e deixou-se claro que a manutenção do nível de emprego e o reaquecimento da atividade industrial eram objetivos inegociáveis. O governo adotou medidas protecionistas e interferiu nas relações entre entes privados.
Mailson não é o único ex-ministro da Fazenda que relata ter ouvido preocupações sobre as afinidades eletivas entre Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. "Do ponto de vista político, assim como se passou com o kirchnerismo na Argentina, Dilma deixou de ter maioria entre os formadores de opinião na classe empresarial. Isto desapareceu com a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central. Assim como na Argentina, estamos em um modelo econômico que privilegia o consumo sobre o investimento", disse Rubens Ricúpero.
Para Ricúpero, está na convergência de pontos de vista e de interesses a explicação para a "paciência estratégica" exercida pelo governo brasileiro em relação aos crescentes entraves comerciais provocados pela Argentina, a medida em que o país vizinho se torna mais dependente do saldo comercial.
" O Brasil está aceitando a ampliação dos produtos fora da Tarifa Externa Comum alegando que esta é uma exigência argentina dentro do Mercosul, mas o faz docemente constrangido. O governo da Dilma joga a culpa na Cristina em não realizar acordos bilaterais com outros países e blocos, quando a verdade é que o Brasil não tem como negociar coisa alguma com ninguém", disse.
A aproximação entre Dilma e Cristina, como se tratassem de um fenômeno único, pode ser natural em meios brasileiros distantes do governo, mas ainda costuma ser vista com espanto em Buenos Aires, sobretudo entre os adversários do kirchnerismo.
Em outubro do ano passado, empresários reunidos no "Coloquio Idea", um fórum de debates boicotado pelos governistas, lotaram um auditório em Mar del Plata para aplaudir uma palestra de Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente era a principal atração de uma audiência frequentada pela nata do oposicionismo na Argentina. Lula foi apresentado como modelo de bom gestor. O entusiasmo da plateia diminuiu à medida em que o ex-presidente foi recheando seu discurso de referências elogiosas a Cristina e ao boliviano Evo Morales.
A questão institucional é uma das chaves para se responder à pergunta se as águas do Brasil e da Argentina também se misturam fora das cartas hidrográficas. O Brasil não seria kirchnerista mesmo se Cristina Kirchner fosse sua presidente.
"O Brasil não vai virar a Argentina porque o governo brasileiro não tem o mesmo poder sobre a economia e a sociedade que o argentino tem. No Brasil, uma figura como Guillermo Moreno não existiria", sintetizou Mailson.
Mailson citou o secretário de Comércio Interior argentino. Moreno não fala em público, raríssimamente assina atos de ofício e transmite ordens verbais a executivos de empresas, como a de congelar preços por um determinado período. "É por perceberem esta institucionalidade maior é que não existem decisões de desinvestimento no Brasil como existem na Argentina, inclusive envolvendo empresas brasileiras", disse Mailson.
A outra chave para se perceber as diferenças é a dosagem. "A questão do câmbio e a da inflação distancia os dois países ", sentenciou Luiz Carlos Bresser Pereira, também ex-ministro da Fazenda.
Segundo Bresser Pereira, "a Argentina cometeu há quatro anos o erro de usar o câmbio como âncora para conter a inflação, ao invés de ajustar o gasto público. Passou a viver o drama do câmbio paralelo e isto é gravíssimo. No Brasil também há apreciação de câmbio e inflação alta, mas em proporções que impossibilitam qualquer comparação", disse.
De acordo com Bresser, o câmbio desajustado é um fenômeno presente em diversos outros países da América Latina, como Chile, Peru e Colômbia, como decorrência de um fenômeno conhecido na economia como "doença holandesa", em que o grande afluxo de exportações leva a uma desvalorização interna do dólar. "Mas na Argentina é resultado de um combate equivocado à inflação".
Para registro, na Argentina a diferença entre o câmbio oficial e o negro é de 60% e a inflação estimada (o cálculo oficial não é referência) é quatro vezes superior ao IPCA brasileiro.
Bresser está longe de ser um crítico contumaz do kirchnerismo. Chegou a escrever um artigo defendendo a expropriação da petroleira YPF, com o título, "a Argentina está certa". O ex-ministro ressalva que a defesa de um ajuste fiscal não se confunde com um enfoque monetarista sobre a economia. "As presidentes do Brasil e da Argentina são desenvolvimentistas. O desenvolvimentismo pode ou não funcionar, dependendo da competência do governante. O liberalismo, não. Este dá errado sempre".
"Foram necessários anos para na Venezuela perceberem que o país estava virando Cuba. Depois passou muito tempo para constatarem que a Argentina estava virando Venezuela. Quando tempo vai levar para que no Brasil se conclua que o país está virando a Argentina?". O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega garante ter ouvido esta pergunta retórica de mais de um investidor estrangeiro que o procurou em seu escritório de consultoria no Brasil.
Fidel Castro, Hugo Chávez, Perón e seus sucedâneos ou similares assombram o imaginário de empresários que investem no Brasil há muitas décadas. Os paralelismos se tornaram mais perturbadores para determinado tipo de público desde a posse da presidente Dilma Rousseff, quase coincidente com o agravamento da situação econômica do país presidido por Cristina Kirchner.
Sempre com velocidade menor e direção mais segura, o governo brasileiro foi se encaminhando para a mesma estrada adotada no país vizinho: mudou a política do Banco Central, adotando um viés "desenvolvimentista", com a taxa de juros mais baixa da história recente.
Surgiram dúvidas sobre a prioridade que é dada ao combate à inflação na estratégia macroeconômica e deixou-se claro que a manutenção do nível de emprego e o reaquecimento da atividade industrial eram objetivos inegociáveis. O governo adotou medidas protecionistas e interferiu nas relações entre entes privados.
Mailson não é o único ex-ministro da Fazenda que relata ter ouvido preocupações sobre as afinidades eletivas entre Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. "Do ponto de vista político, assim como se passou com o kirchnerismo na Argentina, Dilma deixou de ter maioria entre os formadores de opinião na classe empresarial. Isto desapareceu com a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central. Assim como na Argentina, estamos em um modelo econômico que privilegia o consumo sobre o investimento", disse Rubens Ricúpero.
Para Ricúpero, está na convergência de pontos de vista e de interesses a explicação para a "paciência estratégica" exercida pelo governo brasileiro em relação aos crescentes entraves comerciais provocados pela Argentina, a medida em que o país vizinho se torna mais dependente do saldo comercial.
" O Brasil está aceitando a ampliação dos produtos fora da Tarifa Externa Comum alegando que esta é uma exigência argentina dentro do Mercosul, mas o faz docemente constrangido. O governo da Dilma joga a culpa na Cristina em não realizar acordos bilaterais com outros países e blocos, quando a verdade é que o Brasil não tem como negociar coisa alguma com ninguém", disse.
A aproximação entre Dilma e Cristina, como se tratassem de um fenômeno único, pode ser natural em meios brasileiros distantes do governo, mas ainda costuma ser vista com espanto em Buenos Aires, sobretudo entre os adversários do kirchnerismo.
Em outubro do ano passado, empresários reunidos no "Coloquio Idea", um fórum de debates boicotado pelos governistas, lotaram um auditório em Mar del Plata para aplaudir uma palestra de Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente era a principal atração de uma audiência frequentada pela nata do oposicionismo na Argentina. Lula foi apresentado como modelo de bom gestor. O entusiasmo da plateia diminuiu à medida em que o ex-presidente foi recheando seu discurso de referências elogiosas a Cristina e ao boliviano Evo Morales.
A questão institucional é uma das chaves para se responder à pergunta se as águas do Brasil e da Argentina também se misturam fora das cartas hidrográficas. O Brasil não seria kirchnerista mesmo se Cristina Kirchner fosse sua presidente.
"O Brasil não vai virar a Argentina porque o governo brasileiro não tem o mesmo poder sobre a economia e a sociedade que o argentino tem. No Brasil, uma figura como Guillermo Moreno não existiria", sintetizou Mailson.
Mailson citou o secretário de Comércio Interior argentino. Moreno não fala em público, raríssimamente assina atos de ofício e transmite ordens verbais a executivos de empresas, como a de congelar preços por um determinado período. "É por perceberem esta institucionalidade maior é que não existem decisões de desinvestimento no Brasil como existem na Argentina, inclusive envolvendo empresas brasileiras", disse Mailson.
A outra chave para se perceber as diferenças é a dosagem. "A questão do câmbio e a da inflação distancia os dois países ", sentenciou Luiz Carlos Bresser Pereira, também ex-ministro da Fazenda.
Segundo Bresser Pereira, "a Argentina cometeu há quatro anos o erro de usar o câmbio como âncora para conter a inflação, ao invés de ajustar o gasto público. Passou a viver o drama do câmbio paralelo e isto é gravíssimo. No Brasil também há apreciação de câmbio e inflação alta, mas em proporções que impossibilitam qualquer comparação", disse.
De acordo com Bresser, o câmbio desajustado é um fenômeno presente em diversos outros países da América Latina, como Chile, Peru e Colômbia, como decorrência de um fenômeno conhecido na economia como "doença holandesa", em que o grande afluxo de exportações leva a uma desvalorização interna do dólar. "Mas na Argentina é resultado de um combate equivocado à inflação".
Para registro, na Argentina a diferença entre o câmbio oficial e o negro é de 60% e a inflação estimada (o cálculo oficial não é referência) é quatro vezes superior ao IPCA brasileiro.
Bresser está longe de ser um crítico contumaz do kirchnerismo. Chegou a escrever um artigo defendendo a expropriação da petroleira YPF, com o título, "a Argentina está certa". O ex-ministro ressalva que a defesa de um ajuste fiscal não se confunde com um enfoque monetarista sobre a economia. "As presidentes do Brasil e da Argentina são desenvolvimentistas. O desenvolvimentismo pode ou não funcionar, dependendo da competência do governante. O liberalismo, não. Este dá errado sempre".
SEM PERDER A TERNURA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 04/04
José de Abreu posou como Che Guevara para a capa da "Trip" sobre novo ativismo.
Ex-seminarista, policial e preso político, o ator petista, contratado da Globo, hoje faz militância pelo Twitter.
"Gasto grande parte do meu dinheiro com viagem, comida, bebida. Tenho que abrir mão do meu salário da Globo para poder ser de esquerda? Acho isso tão ridículo quanto achar que sou mau ator porque sou de esquerda", afirma à revista.
Ele, que estreia amanhã a peça "Bonifácio Bilhões", no teatro Gazeta, em São Paulo, cogita se candidatar a deputado. "Nenhum cara bom de cabeça dá força [risos]. A família não quer nem pensar. Fui conversar com o Lula, e ele me falou a mesma coisa. O Zé Dirceu, meu amigo, também."
PÉ NA ESTRADA
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil vão aderir ao programa Viaja Mais Melhor Idade, do Ministério do Turismo. Os dois bancos devem oferecer cartões de crédito com taxas especiais para viajantes que têm mais de 65 anos.
PENSÃO COMPLETA
Em reformulação, o programa vai oferecer também descontos e benefícios especiais em pacotes da baixa estação. A agência de viagem CVC, por exemplo, já se comprometeu a preparar ofertas exclusivas para esse público. Hotéis credenciados poderão dar uma diária a mais aos idosos ou oferecer pensão completa a eles. Um site trará a lista com todos os parceiros e os benefícios ainda no primeiro semestre.
DATA MARCADA
Guilherme Afif Domingos (PSD-SP), já convidado para o Ministério da Micro e Pequena Empresa, deve tomar posse na última semana de abril, ou na primeira de maio, conforme combinado com a presidente Dilma Rousseff. (PT-SP).
A formalização do convite deve ocorrer em visita que ela fará a São Paulo.
LINHA POR LINHA
O novo ministério ainda não tem sede nem funcionários. Deve ser instalado provisoriamente no prédio do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em Brasília.
E, até a posse, o governo pretende organizar os cargos da pasta.
LINHA DIVISÓRIA
Preta Gil e o mergulhador Carlos Henrique Lima assinaram contrato pré-nupcial com total separação de bens há três anos. Os dois, que estavam juntos havia cinco, se separaram há alguns dias.
SOLTA NA PISTA
Solteira, Preta faz show hoje à noite no Barra Music, no Rio de Janeiro.
CRIADOR E CRIATURA
E Gilberto Gil está em SP para agenda intensa: vai hoje a lançamento de livro de textos e discursos seus e de Juca Ferreira quando foram ministros da Cultura, encerra sequência de três shows em parceria com Jorge Mautner, canta amanhã no baile da ONG amfAR e assiste no sábado à versão brasileira do musical "O Rei Leão", para o qual adaptou canções.
PAREDÃO
Thammy Miranda quer a saída do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A atriz da novela "Salve Jorge", da Globo, diz acreditar no poder das manifestações contra o pastor. "Tudo que a gente quiser, consegue. Mas tem que querer de verdade. Não adianta ter 50 milhões de ligações para o paredão do 'Big Brother' e ter mil assinaturas para tirá-lo."
A LUTA CONTINUA
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) dará palestra na Casa do Saber, em SP, no dia 15. O tema: Democracia e Liberdade na América Latina. A inscrição custa R$ 130. Será exibido ainda o documentário "Conexão Cuba-Honduras", de Dado Galvão.
SOLTANDO O GOGÓ
Sabrina Sato vai atacar de cantora. A apresentadora do "Pânico na Band" vai gravar uma música para o programa "Fábrica de Estrelas", do Multishow, que busca lançar uma nova banda pop formada por mulheres, nos moldes do Rouge. O produtor Rick Bonadio está escrevendo a canção para Sabrina.
TORLONI DANÇA
A atriz Christiane Torloni vai fazer turnê internacional com o espetáculo de dança "Teu Corpo É Meu Texto", ao lado dos bailarinos da Cia. Sociedade Masculina e do Studio 3 de Dança. Com direção de José Possi Neto e coreografia de Anselmo Zolla, a montagem passará por Paris, Lisboa e Porto em julho.
CANETA DE OURO
A Montblanc Brasil tem novo diretor-geral: o francês Alain dos Santos, 50. Em outubro, a operação nacional foi adquirida pela matriz, sediada na Alemanha.
DIA DE CIRCO
O novo espetáculo do Cirque du Soleil, "Corteo", teve estreia para convidados, anteontem, no parque Villa-Lobos. Os atores Débora Falabella, Murilo Benício, Mel Lisboa e Maria Fernanda Cândido e a apresentadora Didi Wagner foram ao picadeiro.
ARTE GRINGA
O artista dinamarquês Olafur Eliasson inaugurou a exposição "Your Orbit Perspective", anteontem, no Galpão Fortes Vilaça. O banqueiro Alfredo Setubal e a mulher, Rose, e a empresária Chris Bicalho foram ao vernissage.
CURTO-CIRCUITO
O jurista Miguel Reale Junior autografa o quarto volume da coleção "Direito Penal - Jurisprudência em Debate", às 18h, na Livraria da Vila, nos Jardins.
Chris Campos lança o livro "Como Ninguém Pensou Nisso Antes?", hoje, às 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
A Estação Coworking será inaugurada hoje, às 18h, na Vila Madalena.
Os DJs Leiloca Pantoja e Rafa Maia tocam na festa Berlin 69, a partir das 21h, no bar Volt. 18 anos.
Ex-seminarista, policial e preso político, o ator petista, contratado da Globo, hoje faz militância pelo Twitter.
"Gasto grande parte do meu dinheiro com viagem, comida, bebida. Tenho que abrir mão do meu salário da Globo para poder ser de esquerda? Acho isso tão ridículo quanto achar que sou mau ator porque sou de esquerda", afirma à revista.
Ele, que estreia amanhã a peça "Bonifácio Bilhões", no teatro Gazeta, em São Paulo, cogita se candidatar a deputado. "Nenhum cara bom de cabeça dá força [risos]. A família não quer nem pensar. Fui conversar com o Lula, e ele me falou a mesma coisa. O Zé Dirceu, meu amigo, também."
PÉ NA ESTRADA
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil vão aderir ao programa Viaja Mais Melhor Idade, do Ministério do Turismo. Os dois bancos devem oferecer cartões de crédito com taxas especiais para viajantes que têm mais de 65 anos.
PENSÃO COMPLETA
Em reformulação, o programa vai oferecer também descontos e benefícios especiais em pacotes da baixa estação. A agência de viagem CVC, por exemplo, já se comprometeu a preparar ofertas exclusivas para esse público. Hotéis credenciados poderão dar uma diária a mais aos idosos ou oferecer pensão completa a eles. Um site trará a lista com todos os parceiros e os benefícios ainda no primeiro semestre.
DATA MARCADA
Guilherme Afif Domingos (PSD-SP), já convidado para o Ministério da Micro e Pequena Empresa, deve tomar posse na última semana de abril, ou na primeira de maio, conforme combinado com a presidente Dilma Rousseff. (PT-SP).
A formalização do convite deve ocorrer em visita que ela fará a São Paulo.
LINHA POR LINHA
O novo ministério ainda não tem sede nem funcionários. Deve ser instalado provisoriamente no prédio do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em Brasília.
E, até a posse, o governo pretende organizar os cargos da pasta.
LINHA DIVISÓRIA
Preta Gil e o mergulhador Carlos Henrique Lima assinaram contrato pré-nupcial com total separação de bens há três anos. Os dois, que estavam juntos havia cinco, se separaram há alguns dias.
SOLTA NA PISTA
Solteira, Preta faz show hoje à noite no Barra Music, no Rio de Janeiro.
CRIADOR E CRIATURA
E Gilberto Gil está em SP para agenda intensa: vai hoje a lançamento de livro de textos e discursos seus e de Juca Ferreira quando foram ministros da Cultura, encerra sequência de três shows em parceria com Jorge Mautner, canta amanhã no baile da ONG amfAR e assiste no sábado à versão brasileira do musical "O Rei Leão", para o qual adaptou canções.
PAREDÃO
Thammy Miranda quer a saída do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A atriz da novela "Salve Jorge", da Globo, diz acreditar no poder das manifestações contra o pastor. "Tudo que a gente quiser, consegue. Mas tem que querer de verdade. Não adianta ter 50 milhões de ligações para o paredão do 'Big Brother' e ter mil assinaturas para tirá-lo."
A LUTA CONTINUA
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) dará palestra na Casa do Saber, em SP, no dia 15. O tema: Democracia e Liberdade na América Latina. A inscrição custa R$ 130. Será exibido ainda o documentário "Conexão Cuba-Honduras", de Dado Galvão.
SOLTANDO O GOGÓ
Sabrina Sato vai atacar de cantora. A apresentadora do "Pânico na Band" vai gravar uma música para o programa "Fábrica de Estrelas", do Multishow, que busca lançar uma nova banda pop formada por mulheres, nos moldes do Rouge. O produtor Rick Bonadio está escrevendo a canção para Sabrina.
TORLONI DANÇA
A atriz Christiane Torloni vai fazer turnê internacional com o espetáculo de dança "Teu Corpo É Meu Texto", ao lado dos bailarinos da Cia. Sociedade Masculina e do Studio 3 de Dança. Com direção de José Possi Neto e coreografia de Anselmo Zolla, a montagem passará por Paris, Lisboa e Porto em julho.
CANETA DE OURO
A Montblanc Brasil tem novo diretor-geral: o francês Alain dos Santos, 50. Em outubro, a operação nacional foi adquirida pela matriz, sediada na Alemanha.
DIA DE CIRCO
O novo espetáculo do Cirque du Soleil, "Corteo", teve estreia para convidados, anteontem, no parque Villa-Lobos. Os atores Débora Falabella, Murilo Benício, Mel Lisboa e Maria Fernanda Cândido e a apresentadora Didi Wagner foram ao picadeiro.
ARTE GRINGA
O artista dinamarquês Olafur Eliasson inaugurou a exposição "Your Orbit Perspective", anteontem, no Galpão Fortes Vilaça. O banqueiro Alfredo Setubal e a mulher, Rose, e a empresária Chris Bicalho foram ao vernissage.
CURTO-CIRCUITO
O jurista Miguel Reale Junior autografa o quarto volume da coleção "Direito Penal - Jurisprudência em Debate", às 18h, na Livraria da Vila, nos Jardins.
Chris Campos lança o livro "Como Ninguém Pensou Nisso Antes?", hoje, às 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
A Estação Coworking será inaugurada hoje, às 18h, na Vila Madalena.
Os DJs Leiloca Pantoja e Rafa Maia tocam na festa Berlin 69, a partir das 21h, no bar Volt. 18 anos.
Renda garantida - SONIA RACY
O ESTADÃO - 04/04
Dados apresentados ontem – em reunião fechada em São Paulo –pela diretoria da Previ. Além do superávit de R$ 27,3 bilhões em 2012, mostraram que, do total de R$ 8,4 bilhões distribuídos pelo fundo, R$ 1,7 bi foi pago aos... paulistas.
Com R$ 166 bilhões em ativos, a média de rendimento dos fundos do maior fundo de pensão da América Latina foi de mais de 13%.
Segredo? A diversificação dos investimentos com ênfase em renda variável, explica o presidente, Dan Conrado.
“Níver”
Dia 17farásete anos que Francenildo dos Santos Costaentrouna Justiça Federal pedindo indenização pela quebra ilegal de seu sigilo bancário.
Embora a Caixatenha sido condenada, em setembro de 2010, a pagar ao ex-caseiro R$ 500 mil por danos morais, até hoje o pivô da quedadeAntonio Palocci não viu a cor do dinheiro.
Diga xis
E Alckmin estreou no Insta-gram –- estimulado pela filha, Sofia, que tem 74 mil seguidores. Em dois dias, o governador conquistou mais de 1.300 fãs. Até ontem, havia postado duas fotos e seguia sete pessoas. Entre elas, Aécio e Serra.
Alive
Alexandre Padilha foi visto curtindo show do Pearl Jam, domingo, no Lollapalooza. Muito bem acompanhado.
Canguru perneta
Cansados de esperar, funcionários do consulado brasileiro em Sydney enviaram mensagemaAntonio Patriota cobrando providências.
No início de março, acusaram o embaixador Américo Fontenelle e o conselheiro César Cidade de assédio moral e verbal, além de maus tratos.
Too much?
Está causando confusão entre fãs o nome da corrida que acontece dias 4 e 5 de maio na Marginal Tietê: Itaipava São Paulo Indy300 Nestlé.
Até executivos das duas patrocinadoras andam reclamando. “Quem se lembra da primeira marca se esquece da segunda e vice-versa”, comentou um deles à coluna.
Samben?
Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, prepara versão em alemão de seu mais novo romance, Desde que o Samba é Samba. A ser lançado na Feira de Frankfurt –- que, este ano, homenageia o Brasil.
Ficar ou não
Corre pelo Santos que a decisão de Neymar de permanecer no clube não passa exatamente pelo... dinheiro que o jogador ganha ou virá a ganhar.
O moço está incomodado mesmo é com as dificuldades que tem enfrentado porjogar aqui – desde sua vida pessoal ultra exposta até a marcação cerrada que vem enfrentando nos jogos.
Bolivarianos
E corre no Parque São Jorge informação de que Andrés Sanchez pediu a Lula, no fim de semana, que intercedesse junto a EvoMorales,presidente daBolívia, para resolver o imbróglio dos 12 corintianos que permanecem presos em Oruro.
Como resposta, teria ouvido que nem ele nem Dilmavão se mexer. Motivo? Os torcedores seriam ligados ao crime organizado.
Missão de paz
Já Fernando Capez embarca para a Bolívia amanhã – onde assistirá ao amistoso da seleção e engrossará o time de autoridades brasileiras que tentam solucionar a questão dos corintianos.
O deputado defende a punição do menor que admitiua culpapelodisparo do sinalizador–provocando a morte de Kevin Beltrán Espada – e uma indenização à família do menino.
“É fundamental mostrarmos para a Bolívia que ele não ficará impune”, declarou Capez.
Na frente
Gilda Midani arma coquetel, hoje, em sua loja.
Também hoje acontece o coquetel de abertura do Festival É Tudo Verdade. No Cine Livraria Cultura.
Vinicius Calderoni faz show de seu novo disco, Para Abrir os Paladares. Domingo, no Itaú Cultural.
Mario Reuter e Renato Ferreira Lima montaram festa regada a chope e licor tchecos – que estão trazendo para o Brasil. Hoje, no Consulado Geral da República Tcheca.
Maria e Lourdes de Alcantara Machado recebem para inauguração do Estação Coworking. Hoje, na Vila Madalena.
Pergunta que circulou na internet, ontem, depois que Daniela Mercury assumiu relacionamento com Malu Verçosa: “Será que é hoje que Marco Feliciano surta?”
Com R$ 166 bilhões em ativos, a média de rendimento dos fundos do maior fundo de pensão da América Latina foi de mais de 13%.
Segredo? A diversificação dos investimentos com ênfase em renda variável, explica o presidente, Dan Conrado.
“Níver”
Dia 17farásete anos que Francenildo dos Santos Costaentrouna Justiça Federal pedindo indenização pela quebra ilegal de seu sigilo bancário.
Embora a Caixatenha sido condenada, em setembro de 2010, a pagar ao ex-caseiro R$ 500 mil por danos morais, até hoje o pivô da quedadeAntonio Palocci não viu a cor do dinheiro.
Diga xis
E Alckmin estreou no Insta-gram –- estimulado pela filha, Sofia, que tem 74 mil seguidores. Em dois dias, o governador conquistou mais de 1.300 fãs. Até ontem, havia postado duas fotos e seguia sete pessoas. Entre elas, Aécio e Serra.
Alive
Alexandre Padilha foi visto curtindo show do Pearl Jam, domingo, no Lollapalooza. Muito bem acompanhado.
Canguru perneta
Cansados de esperar, funcionários do consulado brasileiro em Sydney enviaram mensagemaAntonio Patriota cobrando providências.
No início de março, acusaram o embaixador Américo Fontenelle e o conselheiro César Cidade de assédio moral e verbal, além de maus tratos.
Too much?
Está causando confusão entre fãs o nome da corrida que acontece dias 4 e 5 de maio na Marginal Tietê: Itaipava São Paulo Indy300 Nestlé.
Até executivos das duas patrocinadoras andam reclamando. “Quem se lembra da primeira marca se esquece da segunda e vice-versa”, comentou um deles à coluna.
Samben?
Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, prepara versão em alemão de seu mais novo romance, Desde que o Samba é Samba. A ser lançado na Feira de Frankfurt –- que, este ano, homenageia o Brasil.
Ficar ou não
Corre pelo Santos que a decisão de Neymar de permanecer no clube não passa exatamente pelo... dinheiro que o jogador ganha ou virá a ganhar.
O moço está incomodado mesmo é com as dificuldades que tem enfrentado porjogar aqui – desde sua vida pessoal ultra exposta até a marcação cerrada que vem enfrentando nos jogos.
Bolivarianos
E corre no Parque São Jorge informação de que Andrés Sanchez pediu a Lula, no fim de semana, que intercedesse junto a EvoMorales,presidente daBolívia, para resolver o imbróglio dos 12 corintianos que permanecem presos em Oruro.
Como resposta, teria ouvido que nem ele nem Dilmavão se mexer. Motivo? Os torcedores seriam ligados ao crime organizado.
Missão de paz
Já Fernando Capez embarca para a Bolívia amanhã – onde assistirá ao amistoso da seleção e engrossará o time de autoridades brasileiras que tentam solucionar a questão dos corintianos.
O deputado defende a punição do menor que admitiua culpapelodisparo do sinalizador–provocando a morte de Kevin Beltrán Espada – e uma indenização à família do menino.
“É fundamental mostrarmos para a Bolívia que ele não ficará impune”, declarou Capez.
Na frente
Gilda Midani arma coquetel, hoje, em sua loja.
Também hoje acontece o coquetel de abertura do Festival É Tudo Verdade. No Cine Livraria Cultura.
Vinicius Calderoni faz show de seu novo disco, Para Abrir os Paladares. Domingo, no Itaú Cultural.
Mario Reuter e Renato Ferreira Lima montaram festa regada a chope e licor tchecos – que estão trazendo para o Brasil. Hoje, no Consulado Geral da República Tcheca.
Maria e Lourdes de Alcantara Machado recebem para inauguração do Estação Coworking. Hoje, na Vila Madalena.
Pergunta que circulou na internet, ontem, depois que Daniela Mercury assumiu relacionamento com Malu Verçosa: “Será que é hoje que Marco Feliciano surta?”
As outras sepulturas - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O Estado de S.Paulo - 04/04
Sempre é bom começar citando Hegel. Porque dá uma certa classe ao texto e porque, a partir de Hegel, você pode ir para qualquer lado, para a esquerda e ou para direita. Marx afiou suas teses criticando e às vezes assimilando Hegel, e Hegel, ao mesmo tempo em que sacudia o pensamento conservador europeu, era o exemplo mais acabado do que Marx abominava, o filósofo que explicava o mundo em vez de tentar mudá-lo. Mas minha citação de Hegel não tem nada a ver com esta divisão, mesmo porque é uma que todo o mundo - a partir da redescoberta da peça no século 18 - endossaria. Hegel disse que a Antígona de Sófocles era o mais sublime produto da mente humana, e sua heroína a mais admirável personagem, da História.
Escrita 400 anos antes de Cristo, a peça conta a história da filha de Édipo. Rei de Tebas, com a sua mulher (e mãe, lembra?) Jocasta. Antígona quer enterrar seu irmão, morto num ataque a Tebas, contrariando as ordens do rei Creonte, para quem o corpo do traidor, que permanecerá insepulto, pertence ao Estado e não à sua família. Antígona rouba o corpo do irmão para que sua alma, sem os ritos fúnebres, não se perca no mundo dos mortos, e o sepulta no meio da noite. Para punir sua desobediência, Creonte a condena a ser enterrada viva. Muitos conflitos são desnudados na peça mas o principal dele é entre o Estado e o indivíduo, entre a lei fria e costumes antigos, entre o direito do soberano e o direito do sangue comum. O fascínio da peça para Hegel e outros tem muito a ver com o renascente interesse pela cultura grega na Europa de então, mas também com a revolução que acontecia nas relações Estado/cidadão no explosivo começo do século 19.
A história de Antígona se adapta ao momento no Brasil, quando se tenta investigar o que permanece simultaneamente enterrado e insepulto no nosso passado, tantos anos depois do fim da ditadura. Os corpos ainda não foram devolvidos às suas famílias, os direitos do sangue ainda não se impuseram aos direitos do Estado algoz, os ritos fúnebres de muitos continuam restritos à imaginação de novas Antígonas, tão trágicas quanto a Antígona grega. Os arquivos da ditadura estão sendo aos poucos desenterrados. Já passou da hora de abrir as outras sepulturas.
Sempre é bom começar citando Hegel. Porque dá uma certa classe ao texto e porque, a partir de Hegel, você pode ir para qualquer lado, para a esquerda e ou para direita. Marx afiou suas teses criticando e às vezes assimilando Hegel, e Hegel, ao mesmo tempo em que sacudia o pensamento conservador europeu, era o exemplo mais acabado do que Marx abominava, o filósofo que explicava o mundo em vez de tentar mudá-lo. Mas minha citação de Hegel não tem nada a ver com esta divisão, mesmo porque é uma que todo o mundo - a partir da redescoberta da peça no século 18 - endossaria. Hegel disse que a Antígona de Sófocles era o mais sublime produto da mente humana, e sua heroína a mais admirável personagem, da História.
Escrita 400 anos antes de Cristo, a peça conta a história da filha de Édipo. Rei de Tebas, com a sua mulher (e mãe, lembra?) Jocasta. Antígona quer enterrar seu irmão, morto num ataque a Tebas, contrariando as ordens do rei Creonte, para quem o corpo do traidor, que permanecerá insepulto, pertence ao Estado e não à sua família. Antígona rouba o corpo do irmão para que sua alma, sem os ritos fúnebres, não se perca no mundo dos mortos, e o sepulta no meio da noite. Para punir sua desobediência, Creonte a condena a ser enterrada viva. Muitos conflitos são desnudados na peça mas o principal dele é entre o Estado e o indivíduo, entre a lei fria e costumes antigos, entre o direito do soberano e o direito do sangue comum. O fascínio da peça para Hegel e outros tem muito a ver com o renascente interesse pela cultura grega na Europa de então, mas também com a revolução que acontecia nas relações Estado/cidadão no explosivo começo do século 19.
A história de Antígona se adapta ao momento no Brasil, quando se tenta investigar o que permanece simultaneamente enterrado e insepulto no nosso passado, tantos anos depois do fim da ditadura. Os corpos ainda não foram devolvidos às suas famílias, os direitos do sangue ainda não se impuseram aos direitos do Estado algoz, os ritos fúnebres de muitos continuam restritos à imaginação de novas Antígonas, tão trágicas quanto a Antígona grega. Os arquivos da ditadura estão sendo aos poucos desenterrados. Já passou da hora de abrir as outras sepulturas.
Redistribuir e encolher - FERNANDO RESENDE
O GLOBO - 04/04
Na década de setenta do século passado, o tema que predominava no debate nacional opunha os que defendiam que era preciso crescer para depois distribuir e os que assumiam posição oposta: distribuir para crescer. Nas últimas décadas, os estados brasileiros adotaram uma prática inovadora: redistribuir para encolher.
Em que consiste essa prática? Na disputa por redistribuir investimentos, recursos financeiros e poder, que, em vez de fomentar o crescimento, concorre para o encolhimento. Qual a explicação? Por que não germina a percepção de que a persistência dessa prática concorre para que todos saiam perdendo?
A resposta é a ausência de uma visão estratégica dos interesses coletivos. No curto prazo, a redistribuição traz vantagens imediatas para os que dela se beneficiam e o principal exemplo disso é fornecido pela resistência em pôr cobro à guerra fiscal. Os ganhos econômicos e políticos derivados da instalação de empreendimentos que geram empregos de melhor qualidade e produtos modernos dão prestigio aos governantes e orgulho aos seus cidadãos.
A soma dos ganhos individuais não corresponde a ganhos nacionais. A guerra fiscal é apenas uma das formas de redistribuição, no caso a redistribuição de investimentos, que poderiam ter, ou não, se instalado em outras partes, mas que optam pela localidade que lhes oferece maiores vantagens tributárias. Ademais, a redistribuição de investimentos não implica apenas trocas bilaterais, nas quais o ganho de um corresponde à perda de outro. Há consequências. Como?
Em primeiro lugar, ela dá ao empresário a iniciativa da decisão e o poder de barganhar por benefícios cada vez maiores. Adicionalmente, o aumento da insegurança jurídica provocado pela ampliação dessa guerra contribui para gerar empreendimentos que não têm compromisso com a permanência no local em que se instalaram caso as condições iniciais sejam modificadas.
A ênfase na redistribuição se estendeu aos temas que estão na pauta do Congresso Nacional, que busca uma solução para o conflito em torno da definição de novas regras para a repartição do Fundo de Participação dos Estados e dos recursos oriundos da cobrança de royalties pela exploração de petróleo. Num contexto em que todos enfrentam dificuldades, um caminho mais promissor seria substituir o confronto, que alimenta os conflitos, por uma nova postura em que a cooperação conduziria à formação de uma nova coalizão. Mas essa opção foi descartada. A preferência pela redistribuição continuará comprometendo a coesão.
O resultado da opção de redistribuir para encolher é retumbante. A fatia dos estados na repartição do bolo fiscal nacional perdeu um terço do tamanho que tinha há cinquenta anos, sem que isso fosse motivo de protestos. Se continuarem assistindo a esse encolhimento, é possível que ela venha a ficar menor do que a fatia dos municípios, que multiplicaram por três seu pedaço no mesmo período. Seria uma grande novidade no mundo das federações.
Em que consiste essa prática? Na disputa por redistribuir investimentos, recursos financeiros e poder, que, em vez de fomentar o crescimento, concorre para o encolhimento. Qual a explicação? Por que não germina a percepção de que a persistência dessa prática concorre para que todos saiam perdendo?
A resposta é a ausência de uma visão estratégica dos interesses coletivos. No curto prazo, a redistribuição traz vantagens imediatas para os que dela se beneficiam e o principal exemplo disso é fornecido pela resistência em pôr cobro à guerra fiscal. Os ganhos econômicos e políticos derivados da instalação de empreendimentos que geram empregos de melhor qualidade e produtos modernos dão prestigio aos governantes e orgulho aos seus cidadãos.
A soma dos ganhos individuais não corresponde a ganhos nacionais. A guerra fiscal é apenas uma das formas de redistribuição, no caso a redistribuição de investimentos, que poderiam ter, ou não, se instalado em outras partes, mas que optam pela localidade que lhes oferece maiores vantagens tributárias. Ademais, a redistribuição de investimentos não implica apenas trocas bilaterais, nas quais o ganho de um corresponde à perda de outro. Há consequências. Como?
Em primeiro lugar, ela dá ao empresário a iniciativa da decisão e o poder de barganhar por benefícios cada vez maiores. Adicionalmente, o aumento da insegurança jurídica provocado pela ampliação dessa guerra contribui para gerar empreendimentos que não têm compromisso com a permanência no local em que se instalaram caso as condições iniciais sejam modificadas.
A ênfase na redistribuição se estendeu aos temas que estão na pauta do Congresso Nacional, que busca uma solução para o conflito em torno da definição de novas regras para a repartição do Fundo de Participação dos Estados e dos recursos oriundos da cobrança de royalties pela exploração de petróleo. Num contexto em que todos enfrentam dificuldades, um caminho mais promissor seria substituir o confronto, que alimenta os conflitos, por uma nova postura em que a cooperação conduziria à formação de uma nova coalizão. Mas essa opção foi descartada. A preferência pela redistribuição continuará comprometendo a coesão.
O resultado da opção de redistribuir para encolher é retumbante. A fatia dos estados na repartição do bolo fiscal nacional perdeu um terço do tamanho que tinha há cinquenta anos, sem que isso fosse motivo de protestos. Se continuarem assistindo a esse encolhimento, é possível que ela venha a ficar menor do que a fatia dos municípios, que multiplicaram por três seu pedaço no mesmo período. Seria uma grande novidade no mundo das federações.
Crime em trânsito - PAULA CESARINO COSTA
FOLHA DE SP - 04/04
RIO DE JANEIRO - Qualquer metrópole convive com problemas de transporte, acidentes de carros e atropelamentos. No Rio, a impressão de quem chega -e ainda não foi anestesiado pela beleza da cidade que habitualmente funciona de modo errado- é de risco iminente.
Nos ônibus, motoristas falam ao celular, ignoram corredores exclusivos, limites de velocidade e faixas de pedestres. Nos trens superlotados e sem ar-condicionado que quebram, passageiros ficam a pé no meio da linha, sem saber para onde ir. Em táxis, condutores fixam preços abusivos, escolhem passageiros e destinos e jamais param num sinal vermelho.
Os pedestres não se comportam melhor. Costuram por entre os carros a poucos metros da faixa. Mas não podem confiar no universal semáforo em nenhuma hora do dia.
Os dois trágicos casos de violência dos últimos dias -estupro de turista numa van e o acidente com ônibus num viaduto, com sete mortos- são apenas alertas mais estridentes da situação de risco em que vivemos, numa cidade que precisa se transformar, com cidadãos que precisam ser educados, com governos que precisam ordenar e fiscalizar de modo efetivo.
De um lado, criminosos que, na certeza da impunidade, especializam-se em assaltos até chegar à brutalidade de estupros e homicídios.
De outro, pessoas que se comportam como se a lei não existisse ou fosse só para os outros, certos da ausência de fiscalização e punição sobre si.
No geral, a constatação desoladora de uma sociedade que está distante do estado civilizatório que se imaginaria no século 21 em uma das maiores economias do planeta e que não é mais de Terceiro Mundo.
No fim, a certeza da impotência de cada um de nós, como cidadão, e a desconfiança da capacidade de chegarmos logo a uma solução. É preciso urgência nas coisas grandes e também nas pequenas.
RIO DE JANEIRO - Qualquer metrópole convive com problemas de transporte, acidentes de carros e atropelamentos. No Rio, a impressão de quem chega -e ainda não foi anestesiado pela beleza da cidade que habitualmente funciona de modo errado- é de risco iminente.
Nos ônibus, motoristas falam ao celular, ignoram corredores exclusivos, limites de velocidade e faixas de pedestres. Nos trens superlotados e sem ar-condicionado que quebram, passageiros ficam a pé no meio da linha, sem saber para onde ir. Em táxis, condutores fixam preços abusivos, escolhem passageiros e destinos e jamais param num sinal vermelho.
Os pedestres não se comportam melhor. Costuram por entre os carros a poucos metros da faixa. Mas não podem confiar no universal semáforo em nenhuma hora do dia.
Os dois trágicos casos de violência dos últimos dias -estupro de turista numa van e o acidente com ônibus num viaduto, com sete mortos- são apenas alertas mais estridentes da situação de risco em que vivemos, numa cidade que precisa se transformar, com cidadãos que precisam ser educados, com governos que precisam ordenar e fiscalizar de modo efetivo.
De um lado, criminosos que, na certeza da impunidade, especializam-se em assaltos até chegar à brutalidade de estupros e homicídios.
De outro, pessoas que se comportam como se a lei não existisse ou fosse só para os outros, certos da ausência de fiscalização e punição sobre si.
No geral, a constatação desoladora de uma sociedade que está distante do estado civilizatório que se imaginaria no século 21 em uma das maiores economias do planeta e que não é mais de Terceiro Mundo.
No fim, a certeza da impotência de cada um de nós, como cidadão, e a desconfiança da capacidade de chegarmos logo a uma solução. É preciso urgência nas coisas grandes e também nas pequenas.
"Espírito Santo" na fronteira - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 04/04
Nicolás Maduro recorre a "artifícios ridículos" para ganhar; para vencer, dá, mas não basta para governar
Se há algo pior que o exótico pastor Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos será a presença do Espírito Santo na fronteira Norte, se Nicolás Maduro ganhar a eleição venezuelana do dia 14.
O candidato governista abriu a campanha na casa onde Hugo Chávez nasceu e, de repente, apareceu o morto na forma de um "pajarito chiquitico" (não é também a forma do Espírito Santo, segundo a crença católica?) para espargir a sua bênção, "até a vitória".
Já não bastava ter dito que os Estados Unidos haviam inoculado em Chávez o câncer que o matou? Já não bastava ter dito que Chávez, lá no céu, fora o responsável pela escolha de um latino-americano, Jorge Mario Bergoglio, como papa?
Em seu blog na "Foreign Policy", Juan Nagel relata outro episódio de campanha: Maduro exibe um cheque tamanho gigante a seus seguidores, no valor de 1,8 bilhão de bolívares (cerca de R$ 580 milhões), conta que é o valor dos dividendos pagos pela CANTV, a empresa de telecomunicações nacionalizada por Chávez, e faz com que os balões de gás que seguram o cheque simbólico sejam soltos e levem-no aos céus, como presente ao líder morto.
Difícil discordar de Nagel quando ele escreve que esse "ridículo artifício simboliza a transformação da política venezuelana em um triste espetáculo".
É claro que dá para entender a deificação de Chávez e o esforço de Maduro em apresentar-se como seu apóstolo abençoado por um "pajarito": é a única forma de eleger-se, surfando na emoção provocada pela morte do caudilho e na popularidade deste, obtida graças às inegáveis melhorias sociais ocorridas no reinado Chávez.
Mas vai ser necessário um Espírito Santo verdadeiro para surfar, depois das eleições, na onda de problemas que a Venezuela enfrenta.
Primeiro, não dá para Maduro contar como eterna a gratidão dos venezuelanos pobres nem para fingir que todos os não-chavistas são "burgueses", "pityanks" ou qualquer outra designação pejorativa que o chavismo usa para os opositores.
A jornalista e escritora Cristina Marcano, autora de uma biografia de Chávez, lembrou ontem, em artigo para "El País", que Chávez foi reeleito no fim do ano passado com 8,1 milhões de votos em um total de 18,9 milhões de eleitores. "Não há na Venezuela 11 milhões de oligarcas, entre opositores e abstencionistas", conclui Marcano. Aliás, ela conta que o próprio tutor de Chávez, Fidel Castro, lhe disse algo parecido após uma votação em que a oposição melhorara seu desempenho: "Chávez, na Venezuela não pode haver 4 milhões de oligarcas".
Entre 2006 e 2012, a oposição reduziu a vantagem de Chávez de 25,9 pontos percentuais para 10,7, "no período de maior bonança petrolífera, de maior gasto público, de mais 'misiones sociales', de ofertas cada vez mais tentadoras como casas mobiliadas, equipadas e decoradas com uma grande foto do comandante-presidente", como escreve a jornalista.
Esse espírito não tão santo tende a assegurar a vitória de Maduro, mas "artifícios ridículos" não bastarão para governar.
Nicolás Maduro recorre a "artifícios ridículos" para ganhar; para vencer, dá, mas não basta para governar
Se há algo pior que o exótico pastor Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos será a presença do Espírito Santo na fronteira Norte, se Nicolás Maduro ganhar a eleição venezuelana do dia 14.
O candidato governista abriu a campanha na casa onde Hugo Chávez nasceu e, de repente, apareceu o morto na forma de um "pajarito chiquitico" (não é também a forma do Espírito Santo, segundo a crença católica?) para espargir a sua bênção, "até a vitória".
Já não bastava ter dito que os Estados Unidos haviam inoculado em Chávez o câncer que o matou? Já não bastava ter dito que Chávez, lá no céu, fora o responsável pela escolha de um latino-americano, Jorge Mario Bergoglio, como papa?
Em seu blog na "Foreign Policy", Juan Nagel relata outro episódio de campanha: Maduro exibe um cheque tamanho gigante a seus seguidores, no valor de 1,8 bilhão de bolívares (cerca de R$ 580 milhões), conta que é o valor dos dividendos pagos pela CANTV, a empresa de telecomunicações nacionalizada por Chávez, e faz com que os balões de gás que seguram o cheque simbólico sejam soltos e levem-no aos céus, como presente ao líder morto.
Difícil discordar de Nagel quando ele escreve que esse "ridículo artifício simboliza a transformação da política venezuelana em um triste espetáculo".
É claro que dá para entender a deificação de Chávez e o esforço de Maduro em apresentar-se como seu apóstolo abençoado por um "pajarito": é a única forma de eleger-se, surfando na emoção provocada pela morte do caudilho e na popularidade deste, obtida graças às inegáveis melhorias sociais ocorridas no reinado Chávez.
Mas vai ser necessário um Espírito Santo verdadeiro para surfar, depois das eleições, na onda de problemas que a Venezuela enfrenta.
Primeiro, não dá para Maduro contar como eterna a gratidão dos venezuelanos pobres nem para fingir que todos os não-chavistas são "burgueses", "pityanks" ou qualquer outra designação pejorativa que o chavismo usa para os opositores.
A jornalista e escritora Cristina Marcano, autora de uma biografia de Chávez, lembrou ontem, em artigo para "El País", que Chávez foi reeleito no fim do ano passado com 8,1 milhões de votos em um total de 18,9 milhões de eleitores. "Não há na Venezuela 11 milhões de oligarcas, entre opositores e abstencionistas", conclui Marcano. Aliás, ela conta que o próprio tutor de Chávez, Fidel Castro, lhe disse algo parecido após uma votação em que a oposição melhorara seu desempenho: "Chávez, na Venezuela não pode haver 4 milhões de oligarcas".
Entre 2006 e 2012, a oposição reduziu a vantagem de Chávez de 25,9 pontos percentuais para 10,7, "no período de maior bonança petrolífera, de maior gasto público, de mais 'misiones sociales', de ofertas cada vez mais tentadoras como casas mobiliadas, equipadas e decoradas com uma grande foto do comandante-presidente", como escreve a jornalista.
Esse espírito não tão santo tende a assegurar a vitória de Maduro, mas "artifícios ridículos" não bastarão para governar.
Hollande, cúmplice ou idiota - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 04/04
Um ministro diz uma mentira e o Estado balança. Esse é o espetáculo que vimos se desenrolar desde terça-feira, depois que o ministro do Orçamento da França, Jérôme Cahuzac, reconheceu compungido, após cinco meses de negação, que possuíra contas bancárias enormes na Suíça e em Cingapura.
O governo socialista tremeu. O presidente François Hollande ficou arrasado. Os figurões da oposição pediram cabeças. O jornal Le Figaro exultou. A chefe do partido de extrema direita, Marine Le Pen, se regozijou. Os líderes de extrema esquerda, Jean-Luc Mélechon à frente, também esfregaram as mãos.
O ministro mentiroso não é um qualquer. Não só era o melhor da equipe de Hollande, como ainda ocupava um posto nevrálgico, o Orçamento. Ele não tinha igual em impor a dura lei da austeridade, enfrentar os sonegadores e corruptos, os canalhas que utilizam bancos longínquos para lavar seu dinheiro sujo. Não espanta que Cahuzac conhecesse na ponta dos dedos todas as artimanhas e velhacarias que os malfeitores usam para esconder seu dinheiro. Ele mesmo fazia como eles com o seu.
A História está cheia de sacripantas convertidos em policiais. No século 17, um pirata inglês, Henry Morgan, devastava as costas do Caribe. O rei da Inglaterra tomou uma decisão. Nomeou Morgan "vice-governador da Jamaica" e a pirataria desapareceu num passe de mágica.
É bem verdade que o caso de Cahuzac é o inverso: ele passa por um homem decente, distinto, um ministro da república, mas quando se "abre" o sujeito descobre-se que esse grande burguês brilhante oculta um velhaco.
O presidente Hollande pediu a seu ministro vedete que lhe dissesse, olho no olho, se possuía contas podres no exterior. O gentil ministro, olho no olho, disse "não". E Hollande acreditou. Mais tarde, contudo, as investigações fecharam o cerco. Cahuzac está fora. Acabou. Sua carreira política está morta. Talvez seja processado. E no coração da tempestade permaneceu, em estado lastimável, seu chefe, o presidente Hollande.
Um primeiro erro foi encarregar do Orçamento um homem com certeza brilhante, mas rico e mundano, sem antes exigir uma investigação sobre seus bens, seu modo de vida, suas contas. Mas, e depois? Por que Hollande protegeu durante tanto tempo seu nauseabundo ministro apesar dos rumores crescentes? Tamanha cegueira da parte de um chefe é tão estranha que a oposição de direita deixou entender que Hollande estava certamente inteirado dos fatos. Essa hipótese parece infundada: de fato, se Hollande, conhecendo a verdade, houvesse mantido Cahuzac no cargo, o presidente não seria apenas mentiroso, mas um "suicida".
Hollande é um cúmplice ou um idiota. Não é uma situação muito confortável para um chefe de Estado. Tradução de Celso Paciornik.
Um ministro diz uma mentira e o Estado balança. Esse é o espetáculo que vimos se desenrolar desde terça-feira, depois que o ministro do Orçamento da França, Jérôme Cahuzac, reconheceu compungido, após cinco meses de negação, que possuíra contas bancárias enormes na Suíça e em Cingapura.
O governo socialista tremeu. O presidente François Hollande ficou arrasado. Os figurões da oposição pediram cabeças. O jornal Le Figaro exultou. A chefe do partido de extrema direita, Marine Le Pen, se regozijou. Os líderes de extrema esquerda, Jean-Luc Mélechon à frente, também esfregaram as mãos.
O ministro mentiroso não é um qualquer. Não só era o melhor da equipe de Hollande, como ainda ocupava um posto nevrálgico, o Orçamento. Ele não tinha igual em impor a dura lei da austeridade, enfrentar os sonegadores e corruptos, os canalhas que utilizam bancos longínquos para lavar seu dinheiro sujo. Não espanta que Cahuzac conhecesse na ponta dos dedos todas as artimanhas e velhacarias que os malfeitores usam para esconder seu dinheiro. Ele mesmo fazia como eles com o seu.
A História está cheia de sacripantas convertidos em policiais. No século 17, um pirata inglês, Henry Morgan, devastava as costas do Caribe. O rei da Inglaterra tomou uma decisão. Nomeou Morgan "vice-governador da Jamaica" e a pirataria desapareceu num passe de mágica.
É bem verdade que o caso de Cahuzac é o inverso: ele passa por um homem decente, distinto, um ministro da república, mas quando se "abre" o sujeito descobre-se que esse grande burguês brilhante oculta um velhaco.
O presidente Hollande pediu a seu ministro vedete que lhe dissesse, olho no olho, se possuía contas podres no exterior. O gentil ministro, olho no olho, disse "não". E Hollande acreditou. Mais tarde, contudo, as investigações fecharam o cerco. Cahuzac está fora. Acabou. Sua carreira política está morta. Talvez seja processado. E no coração da tempestade permaneceu, em estado lastimável, seu chefe, o presidente Hollande.
Um primeiro erro foi encarregar do Orçamento um homem com certeza brilhante, mas rico e mundano, sem antes exigir uma investigação sobre seus bens, seu modo de vida, suas contas. Mas, e depois? Por que Hollande protegeu durante tanto tempo seu nauseabundo ministro apesar dos rumores crescentes? Tamanha cegueira da parte de um chefe é tão estranha que a oposição de direita deixou entender que Hollande estava certamente inteirado dos fatos. Essa hipótese parece infundada: de fato, se Hollande, conhecendo a verdade, houvesse mantido Cahuzac no cargo, o presidente não seria apenas mentiroso, mas um "suicida".
Hollande é um cúmplice ou um idiota. Não é uma situação muito confortável para um chefe de Estado. Tradução de Celso Paciornik.
Chávez, o passarinho - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 04/04
Hugo Chávez reencarnou num passarinho. A notícia foi dada pelo sucessor do caudilho venezuelano, o presidente postiço Nicolás Maduro, no início oficial da campanha para a eleição do próximo dia 14. Maduro disse que estava numa capelinha de madeira, rezando, quando entrou um "passarinho pequenininho", que deu três voltas sobre sua cabeça e pousou numa viga, momento em que começou a assoviar. Maduro, claro, assoviou de volta, porque, entre outras qualidades fantásticas, ele entende a linguagem dos bichos, e percebeu que se tratava de Chávez emplumado. "Eu senti o espírito dele. Eu o senti como uma bênção, dizendo-nos: 'Hoje começa a batalha. Rumo à vitória'. Eu o senti na minha alma", declarou Maduro, levando a campanha eleitoral de vez para o terreno do outro mundo, um caminho sem volta desde a morte de Chávez. Não se trata, pois, da eleição de um presidente, mas da unção do filho de Deus na Venezuela - e, nesse caso, seu opositor, Henrique Capriles, só pode ser o diabo.
Maduro está presidente da Venezuela apenas por obra e graça dos desejos do falecido caudilho e das desavergonhadas manobras governistas para rasgar a Constituição que eles juram respeitar. Foi a única maneira de estabelecer um mínimo de ordem nas hostes chavistas após a morte de seu líder, evitando, ao menos por ora, um conflito entre correligionários. De discreto assessor internacional do presidente, mais conhecido fora do que dentro do país, Maduro saltou para o estrelato bolivariano quando Chávez agonizava. Sem o carisma ou a capacidade de liderança de seu mentor, ele tem a responsabilidade de manter a coesão do movimento chavista, enfrentando a crescente desconfiança da base - que certamente vai se empenhar para elegê-lo, porque se trata de uma ordem do caudilho, mas que não lhe garante apoio incondicional depois disso. Com a Venezuela mergulhada em profunda crise econômica, uma desarrumação política entre os chavistas pode tornar o país definitivamente ingovernável.
Por essa razão, Maduro precisa ver Chávez até nos passarinhos que pousam nas igrejas. A beatificação do falecido, como se sabe, começou logo depois de sua morte, mas, à medida que o tempo passa, os hagiógrafos estão perdendo qualquer pudor. Num comunicado interno da PDVSA, a estatal de petróleo que é o esteio do "socialismo do século 21", os funcionários ficaram sabendo que Chávez havia se transformado em Cristo, pois "padeceu por seu povo, consumiu-se a seu serviço, sofreu de seu próprio calvário, foi assassinado por um império, morreu jovem...". Ou seja, "preenche todos os requisitos para ser um Cristo, pois, ademais, fez milagres em vida". E o texto termina com uma exortação: "Oremos por Chávezcristo!".
Como entidade divina, portanto, Chávez é onipresente, e as leis terrenas não se aplicam a seus apóstolos. A campanha eleitoral não poderia começar antes de 2 de abril, mas o chavismo já está no palanque desde a morte do caudilho, há um mês, ocupando os principais canais de TV, primeiro com o interminável funeral de Chávez, depois com as redes obrigatórias e com a transmissão integral de longos eventos públicos oficiais. Como é apenas um mortal, Capriles que se vire com os dez dias de campanha a que tem direito, durante os quais enfrentará o rolo compressor a serviço do governo - incluindo o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, dizendo falar "em nome do Mercosul", interpretou a eleição de Maduro como um "sonho de Chávez".
Se havia necessidade de alguma prova adicional de que há na Venezuela de hoje uma brutal regressão da democracia, a despeito do que pensam os simpatizantes do chavismo no governo brasileiro, agora não há mais. Maduro, ou quem quer que os chavistas imponham ao país no futuro previsível, estará empenhado em impedir que seu poder seja contestado, lastreando-o não em elementos mundanos, como o respeito às instituições democráticas e às liberdades civis, e sim no mistério do "Chávezcristo".
Hugo Chávez reencarnou num passarinho. A notícia foi dada pelo sucessor do caudilho venezuelano, o presidente postiço Nicolás Maduro, no início oficial da campanha para a eleição do próximo dia 14. Maduro disse que estava numa capelinha de madeira, rezando, quando entrou um "passarinho pequenininho", que deu três voltas sobre sua cabeça e pousou numa viga, momento em que começou a assoviar. Maduro, claro, assoviou de volta, porque, entre outras qualidades fantásticas, ele entende a linguagem dos bichos, e percebeu que se tratava de Chávez emplumado. "Eu senti o espírito dele. Eu o senti como uma bênção, dizendo-nos: 'Hoje começa a batalha. Rumo à vitória'. Eu o senti na minha alma", declarou Maduro, levando a campanha eleitoral de vez para o terreno do outro mundo, um caminho sem volta desde a morte de Chávez. Não se trata, pois, da eleição de um presidente, mas da unção do filho de Deus na Venezuela - e, nesse caso, seu opositor, Henrique Capriles, só pode ser o diabo.
Maduro está presidente da Venezuela apenas por obra e graça dos desejos do falecido caudilho e das desavergonhadas manobras governistas para rasgar a Constituição que eles juram respeitar. Foi a única maneira de estabelecer um mínimo de ordem nas hostes chavistas após a morte de seu líder, evitando, ao menos por ora, um conflito entre correligionários. De discreto assessor internacional do presidente, mais conhecido fora do que dentro do país, Maduro saltou para o estrelato bolivariano quando Chávez agonizava. Sem o carisma ou a capacidade de liderança de seu mentor, ele tem a responsabilidade de manter a coesão do movimento chavista, enfrentando a crescente desconfiança da base - que certamente vai se empenhar para elegê-lo, porque se trata de uma ordem do caudilho, mas que não lhe garante apoio incondicional depois disso. Com a Venezuela mergulhada em profunda crise econômica, uma desarrumação política entre os chavistas pode tornar o país definitivamente ingovernável.
Por essa razão, Maduro precisa ver Chávez até nos passarinhos que pousam nas igrejas. A beatificação do falecido, como se sabe, começou logo depois de sua morte, mas, à medida que o tempo passa, os hagiógrafos estão perdendo qualquer pudor. Num comunicado interno da PDVSA, a estatal de petróleo que é o esteio do "socialismo do século 21", os funcionários ficaram sabendo que Chávez havia se transformado em Cristo, pois "padeceu por seu povo, consumiu-se a seu serviço, sofreu de seu próprio calvário, foi assassinado por um império, morreu jovem...". Ou seja, "preenche todos os requisitos para ser um Cristo, pois, ademais, fez milagres em vida". E o texto termina com uma exortação: "Oremos por Chávezcristo!".
Como entidade divina, portanto, Chávez é onipresente, e as leis terrenas não se aplicam a seus apóstolos. A campanha eleitoral não poderia começar antes de 2 de abril, mas o chavismo já está no palanque desde a morte do caudilho, há um mês, ocupando os principais canais de TV, primeiro com o interminável funeral de Chávez, depois com as redes obrigatórias e com a transmissão integral de longos eventos públicos oficiais. Como é apenas um mortal, Capriles que se vire com os dez dias de campanha a que tem direito, durante os quais enfrentará o rolo compressor a serviço do governo - incluindo o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, dizendo falar "em nome do Mercosul", interpretou a eleição de Maduro como um "sonho de Chávez".
Se havia necessidade de alguma prova adicional de que há na Venezuela de hoje uma brutal regressão da democracia, a despeito do que pensam os simpatizantes do chavismo no governo brasileiro, agora não há mais. Maduro, ou quem quer que os chavistas imponham ao país no futuro previsível, estará empenhado em impedir que seu poder seja contestado, lastreando-o não em elementos mundanos, como o respeito às instituições democráticas e às liberdades civis, e sim no mistério do "Chávezcristo".
JK foi um craque - MARCELO MITERHOF
FOLHA DE SP - 04/04
Sem a indexação do passado, não há motivos para temer algo sequer próximo à hiperinflação dos 1980
A coluna de Samuel Pessôa na Folha do domingo passado primou pela honestidade ao defender o pensamento econômico convencional. Seu objetivo foi comentar dois aspectos da fala da presidenta Dilma na semana passada, na África do Sul.
No primeiro, Pessôa discorda da tese que associa a inflação mais alta em 2012 a um choque da oferta agrícola mundial. Para ele, houve um crescimento baixo com inflação "alta" porque a economia brasileira estaria mostrando os limites estruturais de sua capacidade de crescer, algo associado ao excesso de intervenção estatal e ao grande peso dos serviços no crescimento.
Assim, é necessário elevar os juros para conter a demanda e controlar a inflação, condição essencial para o país voltar a crescer.
Contudo, o colunista reconheceu que, em debates parecidos, o BC contrariou acertadamente as opiniões dos ortodoxos. Esse é um sopro de honestidade depois da histeria que se instalou em agosto de 2011 nos meios de comunicação após o BC reduzir os juros que tais analistas julgavam ter que ser elevados. Poucos vieram a público dizer que erraram.
No segundo aspecto, Pessôa se preocupa com a possibilidade de a presidenta acreditar em teses "velhíssimas", que contrariam a hipótese ortodoxa de que a inflação é um fenômeno puramente monetário, que deve ser combatido com aumento da taxa de juros, além da manutenção do equilíbrio fiscal.
Numa visão alternativa, a inflação tem causas mais gerais, fruto de conflitos distributivos persistentes, que podem precisar ser sancionados por expansões monetárias.
Em casos como o dos choques do petróleo nos anos 1970, não há dúvida de que o surto inflacionário mundial nada teve a ver com expansões monetárias, mas isso também ocorreu, pois, do contrário, a demanda por moeda subiria tanto que criaria uma crise deflacionária e altamente depressiva.
Mas não considerar a inflação tão perturbadora não significa crer que ela seja uma forma de promover o crescimento, e, sim, entender que é um fenômeno que pode ocorrer mais pronunciadamente em países que buscam se industrializar tardiamente, quando precisam dar grandes saltos em suas estruturas produtivas.
Ademais, o adjetivo "velho" não tem a conotação negativa dada pelo colunista. Não faltam teses velhas na economia. A dificuldade de testar suas hipóteses, dada a complexidade do objeto, faz que seja pouco afeita a resolver suas controvérsias.
Em geral, as teses ortodoxas são mais velhas, por serem mais simples e intuitivas. Por exemplo, as recomendações de ajuste fiscal foram soberanas até Keynes no século 20 propor uma alternativa.
Contudo, Pessôa reconheceu que a possibilidade de a inflação comprometer o crescimento não tem horizontes tão curtos quanto supõem os livros-texto, dando os exemplos do Brasil no século 20 e mais recentemente da Argentina.
O problema é que tal crescimento seria de "péssima qualidade", que no final geraria desorganização da produção e hiperinflação, entre outros males. O colunista sabe que o país está longe disso, mas se preocupa que a presidenta apoie "o crescimento a caneladas do período JK".
Crises acontecem e às vezes são duradouras, mas o saldo da industrialização brasileira no século 20 foi positivo. A política econômica nos últimos anos buscou ser menos conservadora, mas ainda está longe do forte processo de industrialização por substituição de importações do período JK.
Politicamente, isso fez sentido. Foi possível crescer e incluir pessoas, mantendo o câmbio valorizado e a inflação baixa. Com a crise internacional persistente, talvez esse modelo chegue ao limite. Mas numa visão alternativa isso não se deveria à falta de política menos intervencionista, e, sim, à falta de demanda interna. É a hora de voltar o crescimento para os investimentos em infraestrutura e para a alavancagem dos fornecedores das cadeias industriais.
Caneladas são inevitáveis, mas isso é só entender que o crescimento é um fenômeno de desequilíbrio. Sem a indexação do passado, com um setor externo em situação confortável e uma institucionalidade bem consolidada nas finanças públicas, não há motivos para temer algo sequer próximo à hiperinflação dos 1980.
Se desta vez a indústria brasileira conseguir dar o salto de qualidade para se tornar inovadora, as caneladas não farão diferença, mas isso só faz sentido para quem julga a indústria importante.
Sem a indexação do passado, não há motivos para temer algo sequer próximo à hiperinflação dos 1980
A coluna de Samuel Pessôa na Folha do domingo passado primou pela honestidade ao defender o pensamento econômico convencional. Seu objetivo foi comentar dois aspectos da fala da presidenta Dilma na semana passada, na África do Sul.
No primeiro, Pessôa discorda da tese que associa a inflação mais alta em 2012 a um choque da oferta agrícola mundial. Para ele, houve um crescimento baixo com inflação "alta" porque a economia brasileira estaria mostrando os limites estruturais de sua capacidade de crescer, algo associado ao excesso de intervenção estatal e ao grande peso dos serviços no crescimento.
Assim, é necessário elevar os juros para conter a demanda e controlar a inflação, condição essencial para o país voltar a crescer.
Contudo, o colunista reconheceu que, em debates parecidos, o BC contrariou acertadamente as opiniões dos ortodoxos. Esse é um sopro de honestidade depois da histeria que se instalou em agosto de 2011 nos meios de comunicação após o BC reduzir os juros que tais analistas julgavam ter que ser elevados. Poucos vieram a público dizer que erraram.
No segundo aspecto, Pessôa se preocupa com a possibilidade de a presidenta acreditar em teses "velhíssimas", que contrariam a hipótese ortodoxa de que a inflação é um fenômeno puramente monetário, que deve ser combatido com aumento da taxa de juros, além da manutenção do equilíbrio fiscal.
Numa visão alternativa, a inflação tem causas mais gerais, fruto de conflitos distributivos persistentes, que podem precisar ser sancionados por expansões monetárias.
Em casos como o dos choques do petróleo nos anos 1970, não há dúvida de que o surto inflacionário mundial nada teve a ver com expansões monetárias, mas isso também ocorreu, pois, do contrário, a demanda por moeda subiria tanto que criaria uma crise deflacionária e altamente depressiva.
Mas não considerar a inflação tão perturbadora não significa crer que ela seja uma forma de promover o crescimento, e, sim, entender que é um fenômeno que pode ocorrer mais pronunciadamente em países que buscam se industrializar tardiamente, quando precisam dar grandes saltos em suas estruturas produtivas.
Ademais, o adjetivo "velho" não tem a conotação negativa dada pelo colunista. Não faltam teses velhas na economia. A dificuldade de testar suas hipóteses, dada a complexidade do objeto, faz que seja pouco afeita a resolver suas controvérsias.
Em geral, as teses ortodoxas são mais velhas, por serem mais simples e intuitivas. Por exemplo, as recomendações de ajuste fiscal foram soberanas até Keynes no século 20 propor uma alternativa.
Contudo, Pessôa reconheceu que a possibilidade de a inflação comprometer o crescimento não tem horizontes tão curtos quanto supõem os livros-texto, dando os exemplos do Brasil no século 20 e mais recentemente da Argentina.
O problema é que tal crescimento seria de "péssima qualidade", que no final geraria desorganização da produção e hiperinflação, entre outros males. O colunista sabe que o país está longe disso, mas se preocupa que a presidenta apoie "o crescimento a caneladas do período JK".
Crises acontecem e às vezes são duradouras, mas o saldo da industrialização brasileira no século 20 foi positivo. A política econômica nos últimos anos buscou ser menos conservadora, mas ainda está longe do forte processo de industrialização por substituição de importações do período JK.
Politicamente, isso fez sentido. Foi possível crescer e incluir pessoas, mantendo o câmbio valorizado e a inflação baixa. Com a crise internacional persistente, talvez esse modelo chegue ao limite. Mas numa visão alternativa isso não se deveria à falta de política menos intervencionista, e, sim, à falta de demanda interna. É a hora de voltar o crescimento para os investimentos em infraestrutura e para a alavancagem dos fornecedores das cadeias industriais.
Caneladas são inevitáveis, mas isso é só entender que o crescimento é um fenômeno de desequilíbrio. Sem a indexação do passado, com um setor externo em situação confortável e uma institucionalidade bem consolidada nas finanças públicas, não há motivos para temer algo sequer próximo à hiperinflação dos 1980.
Se desta vez a indústria brasileira conseguir dar o salto de qualidade para se tornar inovadora, as caneladas não farão diferença, mas isso só faz sentido para quem julga a indústria importante.
Pela desigualdade - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 04/04
O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade
O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.
Qual a resposta da autoridade educacional?
É fácil: eliminar a reprovação — todos passam automaticamente — e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.
Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.
A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.
Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?
Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.
No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.
O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?
Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.
Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.
Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.
Simples, objetivo, de fácil avaliação.
Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.
Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como “analfabeto funcional” depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?
Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.
Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.
Isso reflete uma cultura — a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.
Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.
A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.
O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade
O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.
Qual a resposta da autoridade educacional?
É fácil: eliminar a reprovação — todos passam automaticamente — e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.
Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.
A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.
Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?
Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.
No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.
O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?
Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.
Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.
Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.
Simples, objetivo, de fácil avaliação.
Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.
Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como “analfabeto funcional” depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?
Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.
Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.
Isso reflete uma cultura — a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.
Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.
A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 04/04
Incorporadora investirá R$ 320 mi em flats
A incorporadora Vitacon irá investir em flats -ativo que praticamente deixou de ser explorado em São Paulo há cerca de 15 anos.
O grande número de empreendimentos construídos na década de 90 -superior a demanda- e os altos custos de operação deles fizeram com que esse modelo de projeto fosse abandonado.
"Mas há um 'gap' hoje. Pessoas que precisam ficar em um local por períodos longos ou optam por um hotel, o que é caro, ou por um apartamento sem mobília e estrutura", diz o CEO da empresa, Alexandre Lafer Frankel.
A companhia fará um aporte de R$ 320 milhões em cinco prédios de flats que serão lançados neste semestre.
Os primeiros dois a serem concluídos serão administrados parcialmente pela incorporadora. Cerca de 60% serão comercializados da forma tradicional.
"Preferimos fazer os flats de forma gradual. Mas, nos próximos, 100% dos apartamentos serão nossos."
Para que o projeto vingue, o custo operacional será enxuto, segundo Frankel. Serviços como o de camareiras serão cobrado a parte. Os apartamentos também serão pequenos, com cerca de 21 m2. Isso permitirá que cada edifício tenha 150 apartamentos.
A incorporadora faturou R$ 485 milhões no ano passado. O objetivo é atingir R$ 850 milhões neste ano.
"É uma meta agressiva, mas temos estoque de terrenos. No ano passado, precisamos postergar os lançamentos de alguns projetos."
Ferramenta de comparação de juros é criada no Rio Grande do Sul
A Fecomercio-RS criou uma ferramenta para auxiliar as empresas em seus processos de tomada de crédito.
Denominada Monitor de Juros Mensal, ela dará acesso a uma compilação das taxas de juros cobradas pelos principais bancos do país às pessoas jurídicas.
"Levantamos as informações coletadas pelo Banco Central junto às instituições financeiras e as colocamos em um único documento", diz Lucas Schifino, economista da entidade.
"Os empresários vão ter uma visão geral das taxas praticadas e, dessa forma, tentar negociar as melhores condições na aquisição de crédito com os bancos", afirma Schifino.
A entidade estima que começará a enviar as informações por e-mail às empresas e aos sindicatos do Rio Grande do Sul no final deste mês.
A ideia poderá vir a ser ampliada em breve.
"Estudamos a possibilidade de colocar os dados também na internet para que qualquer empresa do Brasil tenha acesso, uma vez que as taxas de juros praticadas são iguais em todo o país", diz.
Rumo ao interior
A C&A, rede de varejo de moda, vai abrir sete lojas no Estado de São Paulo neste ano. Duas delas serão em cidades ainda sem a presença da marca: Itapecerica da Serra e Pindamonhangaba.
Outras duas ficarão na capital (shopping Metrô Tucuruvi e shopping Tietê Plaza), uma em Ribeirão Preto (shopping Iguatemi), uma em Santo André (shopping Atrium) e uma em Sorocaba (shopping Cidade Norte).
"O interior de São Paulo tem uma diversidade de municípios com um alto poder aquisitivo e que está atraindo as redes varejistas", diz Paulo Corrêa, vice-presidente comercial da C&A.
Uma das unidades, a do metrô Tucuruvi, será aberta ainda no primeiro semestre de 2013. As outras seis inaugurações deverão acontecer a partir da outra metade do ano, segundo a rede.
A companhia tem 233 lojas no país, com 80 delas no Estado de São Paulo.
Direção dos custos
A japonesa JTEKT, que produz sistemas de direção para automóveis, inaugura na semana que vem um centro de testes em São José dos Pinhais (PR).
O investimento foi de R$ 15 milhões e irá reduzir em 10% os custos da empresa.
Até agora, a JTEKT precisava enviar as peças ao Japão para fazer todos os testes de segurança.
Fornecedora das principais montadoras no Brasil e na América Latina, a companhia se mostra, no entanto, reticente quanto a futuros investimentos no país.
Mesmo com o Inovar-Auto, que exige um mínimo de componentes nacionais nos carros brasileiros, a japonesa está preocupada com o aumento de custos no Brasil.
Para o principal executivo da empresa no país, Lucio Pinto, não há como competir com as peças importadas.
A margem de lucro da empresa caiu pela metade nos últimos três anos.
Prestes a inaugurar uma expansão na fábrica para a produção de direções elétricas, o executivo afirma que quase perdeu o investimento, de R$ 87 milhões, para "um país asiático, que não é o Japão".
"Lá dá mais dinheiro. A JTEKT é uma empresa de capital aberto. Você investiria onde?", pergunta.
Cai margem de lucro de empresa de trabalho temporário
As empresas de colocação de trabalhadores temporários e de terceirização de serviços estimam que suas margens de lucro caíram 7,99% entre 2007 e 2011, segundo estudo do Sindeprestem (sindicato do setor de São Paulo).
A retração, de acordo com a entidade, é decorrente das mudanças na forma de cobrança do PIS/Cofins.
Até 2002, as companhias pagavam a alíquota de 3,65%. O sistema de então era cumulativo -a base de cálculo era o total das receitas da empresa, sem que houvesse deduções em relação a custos, despesas e encargos.
Com a modificação adotada, a taxa dos impostos passou a ser de 9,25%, mas com compensação de insumos.
"O problema é que salários e encargos, que são os insumos do setor, não foram desonerados, como deveria ocorrer", diz o presidente da entidade, Vander Morales.
"Não entendemos que o retorno dos 3,65% seja uma redução de imposto. É apenas a volta ao regime cumulativo."
A entidade calcula que o faturamento do setor possa crescer cerca de 15% ao ano com a alteração.
Sem benefício
As empresas brasileiras tiveram R$ 200 milhões em projetos recusados para usufruir dos benefícios fiscais da Lei do Bem, segundo levantamento da consultoria francesa Global Approach Consulting feito com base em dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ao todo, 21% dos 962 projetos de inovação apresentados ao governo para obtenção do benefício fiscal foram desqualificados.
Hora do café
INVESTIMENTO NA COREIA DO NORTE
O investidor norte-americano Jim Rogers, que começou o fundo Quantum com George Soros nos anos 70, comprou quase todas as moedas de ouro e prata da Coreia do Norte, à venda em feira especializada em Cingapura, no fim de semana passado.
A informação é da companhia estatal Korea Pugang Coins Corp ao Wall Street Journal.
Rogers disse em entrevista tempos atrás que "moedas e selos são o único jeito de investir na Coreia do Norte".
Doadores aéreos
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Amadeus, empresa de tecnologia para o setor de viagens, vão divulgar uma parceria, hoje, em Londres.
O objetivo é arrecadar recursos com pessoas que façam reservas de viagens pela internet.
Clientes de empresas aéreas e de agências de turismo poderão, com alguns cliques no mouse, fazer uma doação para a entidade ao completar o processo on-line de compras. A tecnologia deverá ser instalada pela Amadeus.
As companhias Iberia (Espanha), Finnair (Finlândia) e Qantas (Austrália) já estão com negociações avançadas. Fechados os acordos, as doações deverão ser feitas já em outubro deste ano.
"Temos 110 linhas aéreas parceiras com 50 milhões de reservas no ano passado. O potencial para conseguir doações é enorme", diz Tomás López Fernebrand, vice-presidente sênior da Amadeus.
Exercício A Bodytech, rede de academias de ginástica que tem entre seus sócios João Paulo Diniz e o técnico Bernardinho, inaugura na próxima semana sua décima unidade em SP. A academia ficará em Alphaville e recebeu R$ 6 milhões em investimentos.
Batido... A rede Mil Milkshakes planeja abrir 20 unidades no Nordeste até dezembro. Desde janeiro, a marca inaugurou três lojas na região.
...nordestino Teresina, Salvador, Surubim (PE) e Juazeiro do Norte (CE) devem ter franquias da marca até o próximo mês.
Incorporadora investirá R$ 320 mi em flats
A incorporadora Vitacon irá investir em flats -ativo que praticamente deixou de ser explorado em São Paulo há cerca de 15 anos.
O grande número de empreendimentos construídos na década de 90 -superior a demanda- e os altos custos de operação deles fizeram com que esse modelo de projeto fosse abandonado.
"Mas há um 'gap' hoje. Pessoas que precisam ficar em um local por períodos longos ou optam por um hotel, o que é caro, ou por um apartamento sem mobília e estrutura", diz o CEO da empresa, Alexandre Lafer Frankel.
A companhia fará um aporte de R$ 320 milhões em cinco prédios de flats que serão lançados neste semestre.
Os primeiros dois a serem concluídos serão administrados parcialmente pela incorporadora. Cerca de 60% serão comercializados da forma tradicional.
"Preferimos fazer os flats de forma gradual. Mas, nos próximos, 100% dos apartamentos serão nossos."
Para que o projeto vingue, o custo operacional será enxuto, segundo Frankel. Serviços como o de camareiras serão cobrado a parte. Os apartamentos também serão pequenos, com cerca de 21 m2. Isso permitirá que cada edifício tenha 150 apartamentos.
A incorporadora faturou R$ 485 milhões no ano passado. O objetivo é atingir R$ 850 milhões neste ano.
"É uma meta agressiva, mas temos estoque de terrenos. No ano passado, precisamos postergar os lançamentos de alguns projetos."
Ferramenta de comparação de juros é criada no Rio Grande do Sul
A Fecomercio-RS criou uma ferramenta para auxiliar as empresas em seus processos de tomada de crédito.
Denominada Monitor de Juros Mensal, ela dará acesso a uma compilação das taxas de juros cobradas pelos principais bancos do país às pessoas jurídicas.
"Levantamos as informações coletadas pelo Banco Central junto às instituições financeiras e as colocamos em um único documento", diz Lucas Schifino, economista da entidade.
"Os empresários vão ter uma visão geral das taxas praticadas e, dessa forma, tentar negociar as melhores condições na aquisição de crédito com os bancos", afirma Schifino.
A entidade estima que começará a enviar as informações por e-mail às empresas e aos sindicatos do Rio Grande do Sul no final deste mês.
A ideia poderá vir a ser ampliada em breve.
"Estudamos a possibilidade de colocar os dados também na internet para que qualquer empresa do Brasil tenha acesso, uma vez que as taxas de juros praticadas são iguais em todo o país", diz.
Rumo ao interior
A C&A, rede de varejo de moda, vai abrir sete lojas no Estado de São Paulo neste ano. Duas delas serão em cidades ainda sem a presença da marca: Itapecerica da Serra e Pindamonhangaba.
Outras duas ficarão na capital (shopping Metrô Tucuruvi e shopping Tietê Plaza), uma em Ribeirão Preto (shopping Iguatemi), uma em Santo André (shopping Atrium) e uma em Sorocaba (shopping Cidade Norte).
"O interior de São Paulo tem uma diversidade de municípios com um alto poder aquisitivo e que está atraindo as redes varejistas", diz Paulo Corrêa, vice-presidente comercial da C&A.
Uma das unidades, a do metrô Tucuruvi, será aberta ainda no primeiro semestre de 2013. As outras seis inaugurações deverão acontecer a partir da outra metade do ano, segundo a rede.
A companhia tem 233 lojas no país, com 80 delas no Estado de São Paulo.
Direção dos custos
A japonesa JTEKT, que produz sistemas de direção para automóveis, inaugura na semana que vem um centro de testes em São José dos Pinhais (PR).
O investimento foi de R$ 15 milhões e irá reduzir em 10% os custos da empresa.
Até agora, a JTEKT precisava enviar as peças ao Japão para fazer todos os testes de segurança.
Fornecedora das principais montadoras no Brasil e na América Latina, a companhia se mostra, no entanto, reticente quanto a futuros investimentos no país.
Mesmo com o Inovar-Auto, que exige um mínimo de componentes nacionais nos carros brasileiros, a japonesa está preocupada com o aumento de custos no Brasil.
Para o principal executivo da empresa no país, Lucio Pinto, não há como competir com as peças importadas.
A margem de lucro da empresa caiu pela metade nos últimos três anos.
Prestes a inaugurar uma expansão na fábrica para a produção de direções elétricas, o executivo afirma que quase perdeu o investimento, de R$ 87 milhões, para "um país asiático, que não é o Japão".
"Lá dá mais dinheiro. A JTEKT é uma empresa de capital aberto. Você investiria onde?", pergunta.
Cai margem de lucro de empresa de trabalho temporário
As empresas de colocação de trabalhadores temporários e de terceirização de serviços estimam que suas margens de lucro caíram 7,99% entre 2007 e 2011, segundo estudo do Sindeprestem (sindicato do setor de São Paulo).
A retração, de acordo com a entidade, é decorrente das mudanças na forma de cobrança do PIS/Cofins.
Até 2002, as companhias pagavam a alíquota de 3,65%. O sistema de então era cumulativo -a base de cálculo era o total das receitas da empresa, sem que houvesse deduções em relação a custos, despesas e encargos.
Com a modificação adotada, a taxa dos impostos passou a ser de 9,25%, mas com compensação de insumos.
"O problema é que salários e encargos, que são os insumos do setor, não foram desonerados, como deveria ocorrer", diz o presidente da entidade, Vander Morales.
"Não entendemos que o retorno dos 3,65% seja uma redução de imposto. É apenas a volta ao regime cumulativo."
A entidade calcula que o faturamento do setor possa crescer cerca de 15% ao ano com a alteração.
Sem benefício
As empresas brasileiras tiveram R$ 200 milhões em projetos recusados para usufruir dos benefícios fiscais da Lei do Bem, segundo levantamento da consultoria francesa Global Approach Consulting feito com base em dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ao todo, 21% dos 962 projetos de inovação apresentados ao governo para obtenção do benefício fiscal foram desqualificados.
Hora do café
INVESTIMENTO NA COREIA DO NORTE
O investidor norte-americano Jim Rogers, que começou o fundo Quantum com George Soros nos anos 70, comprou quase todas as moedas de ouro e prata da Coreia do Norte, à venda em feira especializada em Cingapura, no fim de semana passado.
A informação é da companhia estatal Korea Pugang Coins Corp ao Wall Street Journal.
Rogers disse em entrevista tempos atrás que "moedas e selos são o único jeito de investir na Coreia do Norte".
Doadores aéreos
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Amadeus, empresa de tecnologia para o setor de viagens, vão divulgar uma parceria, hoje, em Londres.
O objetivo é arrecadar recursos com pessoas que façam reservas de viagens pela internet.
Clientes de empresas aéreas e de agências de turismo poderão, com alguns cliques no mouse, fazer uma doação para a entidade ao completar o processo on-line de compras. A tecnologia deverá ser instalada pela Amadeus.
As companhias Iberia (Espanha), Finnair (Finlândia) e Qantas (Austrália) já estão com negociações avançadas. Fechados os acordos, as doações deverão ser feitas já em outubro deste ano.
"Temos 110 linhas aéreas parceiras com 50 milhões de reservas no ano passado. O potencial para conseguir doações é enorme", diz Tomás López Fernebrand, vice-presidente sênior da Amadeus.
Exercício A Bodytech, rede de academias de ginástica que tem entre seus sócios João Paulo Diniz e o técnico Bernardinho, inaugura na próxima semana sua décima unidade em SP. A academia ficará em Alphaville e recebeu R$ 6 milhões em investimentos.
Batido... A rede Mil Milkshakes planeja abrir 20 unidades no Nordeste até dezembro. Desde janeiro, a marca inaugurou três lojas na região.
...nordestino Teresina, Salvador, Surubim (PE) e Juazeiro do Norte (CE) devem ter franquias da marca até o próximo mês.