domingo, março 24, 2013

Visíveis para si mesmo - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 24/03

Ficar sozinho não é estar abandonado, ao contrário: é encontro dos mais sagrados

Se você fosse um super-herói, qual o poder que gostaria de ter? Pergunta clássica, resposta clássica: 99% das pessoas gostariam de ficar invisíveis. É o desejo também do senhor Y, o enigmático personagem de O Homem Visível, de Chuck Klosterman, livro que mistura ficção científica, bizarrice e suspense numa trama que, ainda que inverossímil, prende o leitor e faz refletir.

Y trabalhou num projeto ultrassecreto do governo americano e acabou desenvolvendo uma tecnologia de camuflagem ele criou uma espécie de segunda pele que o torna invisível. Com que propósito? Entrar na casa de pessoas que morem sozinhas e, sem ser percebido, vê-las em sua rotina comum. O obcecado Y acredita que uma pessoa é 100% autêntica apenas quando ninguém a está observando.

Ah, super Y. Além de invisível, você lê pensamentos? Acredito no mesmo que você. Sozinha não finjo, não disfarço, não retruco, não provoco, não julgo, não condeno, não sumo, não volto. Sozinha não há céu que me rejeite – assim encerra um poema que escrevi certa vez sobre o benefício da solidão.

Não que sejamos todos uns falsos ao sair pela porta de casa, mas é indiscutível que, assim que entra um vizinho no elevador, você automaticamente aciona um dispositivo que produz um sorriso e um comentário sobre o clima, quando na verdade está morta de sono e preferiria continuar calada. Uma atuação inofensiva e gentil, mas, ainda assim, uma atuação. É preciso contracenar.

No entanto, em suas visitas secretas a homens e mulheres que se acreditavam em total privacidade dentro de seus apartamentos, Y repara que elas não se sentem tão relaxadas como deveriam. Ele se dá conta de que as pessoas não consideram o tempo que passam sozinhas como parte de suas vidas. Diz o personagem: “Sempre me senti mais vivo quando estava sozinho, porque esses eram os únicos momentos que não sentia medo de ter minhas ações examinadas e interpretadas. O que acabei descobrindo é que as pessoas precisam que suas ações sejam examinadas e interpretadas, para acreditar que o que fazem tem importância”.

É preocupante. Hoje, as pessoas só confirmam sua existência quando estão em público. No entanto, creio que é justamente quando estamos misturados aos demais que nos tornamos invisíveis.

Acabamos infiltrados na manada e compartilhamos opiniões originadas do senso comum, tudo pela ansiedade de fazer parte de alguma coisa. Já ao nos concedermos momentos de isolamento, entramos em real conexão com nossos desejos, processamos as experiências vividas e esculpimos silenciosamente o homem e a mulher que estamos nos tornando. Ficar sozinho não é estar abandonado, ao contrário: é encontro dos mais sagrados. Invisível para os outros, extremamente visível para si mesmo.

É divertido ser invisível e todos nós temos esse poder, basta estar numa festa para 800 convidados, por exemplo. A visibilidade é que é rara: olhar profundamente para dentro e enxergar o que ninguém mais consegue ver.

REDASSÃO DO ENEM - AGAMENON

O GLOBO - 24/03

Apesar de çer anarfabeto de pai e mãe, o meu grande çonho sempre foi de pudê entrá pruma facurdadi univerçitária no cistema de cotas. I é por iço mermo qui eu vou contar pra vossêis meus dizeçete leitor e meio (não si isquessam du anão) como qui foi qui eu fiz pra conssegui um imprego em O Grobo mesmo cem çaber ler. Só çei iscrever.

Nakele tempu num era qui nem qui hoge em dia que priciza de craxá pra intrar na redassão do O Grobo. Era çó xegar, dar um grana pro porteiro e penetrar (nu bom çentido, é craro) no jornar. Si vossê desce um pouco maiz di grana, podia inté penetrar em argumas jornalistas também, mas iço é outra istória...

Açim que xeguei na redassão do maió jornal do paíz, dei de cara com o Nerson Rodrigueis que, na lata, foi logo diseno uma de suas famosas frazes: “O mineiro só é çolitário no onanismo...”. Num intendi direito o que o grande excritor çuburbanu quis disê cum akilo mais ri açim mermo pra num ficar cum fama de inguinorante. Comessei intão a ser çecretáriu do Nerso Rodriguez e era responçável por prepará o seo mingau e iscrever todas as sua culunas pru jornau. Em porco tempu, paçei a iscrevê também a coluna do Ibrahim Sued, a do Roberto Campos e a do Dom Eugenio Salles. Impreçionado com a minha inteligênça e curtura, o editor du jorná e meu amigo peçoal Evandro Carlos de Andrade me promoveu e, devido às minhas tendênssias criminozas , me mandou para a página polissial.

A página polissial era que nem ki a página de política hoge em dia que só qui cem ninhum deputado ou çenador. Maiz como eça redassão tá ficando muito cumprida e xata, vou aproveitá pra dá uma resseita de Miojo, akele macarrão japoneiz qui entra duro e sai mole e pingano. Vossê pega um panela e bota doiz copo dágua pra fervê. Quando tiver ferveno (a água não os copo) coloca o miojo dentru mas presta atenssão, tira o prástico antes. Si não, fica ruim. Que dize, Miojo fica ruim de quarquer jeito. Dispoiz é só colocá o pó do saquinho miaiz cuidado pra não queimá o saquinho. Dispoiz é só chamar um amigo purquê Miojo se come com doiz pauzinho.

FIGURAÇA DA SEMANA

Pastor Marcos Feliciano - O pastor do PSC (Partido da Sacanagem Constitucional) é o atual presidente da Comichão de Direitos Humanos e está sendo perseguido só porque é homofóbico, racista e não tolera minorias. Por causa dos protestos, o pastor Felicianus não conseguiu assumir até hoje mesmo porque é contra o homossexualismo entre pessoas do mesmo sexo. Ambicioso e empreendedor, o pastor Marcos Miliciano criou a sua própria igreja, a Igreja Adventista do Sétimo Dígito cujo lema é “Templo é dinheiro!”. Apesar de suas posições arcaicas, caretas e conservadoras, o pastor é um homem moderno ligado na tecnologia de ponta e foi o primeiro evangelista a aceitar o pagamento do dízimo com cartão de crédito, mas tem que dar a senha antes. Na suas pregações, o controverso líder religioso sempre costuma dizer aos seus fiéis: “Dízimo com quem andas e eu te direi quem és.” Esse pastor é o homem errado no lugar errado. Como é que botam um cara desses na presidência Comissão de Direitos Humanos se ele não é nem direito e nem humano?

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Segundo investigação da Polícia Federal, Agamenon Mendes Pedreira colou do Lula na prova do ENEM.

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Agamenon Mendes Pedreira é analfabeto funcional, que dizer, analfabeto funcionário de O Globo.


Baboseiras - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

O ESTADÃO - 24/03

O motoboy entregou o pacote de cartas e disse:

- Ele falou que tinha resposta.

- Espera - disse ela. E pôs-se a examinar as cartas. Procurava uma em especial, que não encontrou. Fez um sinal para o motoboy aguardar enquanto telefonava.

- Alo...- Amauri, cadê a carta do ursinho?

Era uma das primeiras cartas que ela tinha lhe mandado. Ainda eram namorados. Uma carta toda escrita como se fosse de uma criança para o seu ursinho de pelúcia.

- Eu mandei. Não mandei? - Não. E se você não mandar a carta do ursinho eu não mando as suas.

- Heleninha...

- Não tem “Heleninha”, Amauri. Ou você manda todas as minhas cartas ou eu começo a mostrar as suas. Sou capaz até de publicá-las. Quero ver como fica a sua reputação no meio.

- Eu pensei em guardar pelo menos uma carta sua, Heleninha.

- Logo a mais ridícula? Devolve a minha carta, Amauri. Nosso trato foi esse.

Todas as cartas.

- Deixa eu ficar só com esta. É a minha favorita.

- Eu sei o que você está pensando, Amauri. Quer ficar com a carta para me chantagear depois.

- Chantagear, Heleninha?! - Chantagear. Eu conheço você.

- Heleninha! Eu acho esta carta linda. Uma lembrança do tempo em que a gente se amava.

- Não banca o sentimental comigo, Amauri. Essa carta é só um exemplo das baboseiras que e gente diz e escreve quando acha que o amor nunca vai acabar. Mas o amor acaba e fica a baboseira. Me devolve essa carta, Amauri!

- Heleninha, você lembra de como eu chamava você? Na cama?.- Eu não quero ouvir!

- Lembra? Está certo, era baboseira. Mas era bonito. Era carinhoso. Eu era o seu ursinho e você era a minha...

- Amauri, manda essa carta ou eu publico as suas. Já sei exatamente para quem mandar a primeira.

- Está bem, Heleninha. Manda o motoboy de volta.

Zuneide pensou: não dá mais. Morar nesta cidade, não dá mais. Não vejo mais o Ique, não sei nada da vida dele. E todas as noites é este suplício, nunca sei se ele vai voltar pra casa ou não, se está vivo ou morto. Dizem que morre um motoboy por dia na cidade. Todos os dias uma mãe perde um filho nesta cidade. Se o Ique ainda fosse procurar outra coisa pra fazer. Mas não. Trata aquela moto como se fosse um bicho de estimação. À noite, a moto fica ao lado da cama dele. Dorme com ele. Vou tentar convencer o Ique a voltar para São Carlos. Respirar outros ares. Antes que ele morra e me deixe.

- Não dá mais, doutor Amauri. Esta cidade está me deixando maluco. Sabe que no outro dia , quando me dei conta, estava correndo pela calçada e buzinando? A pé, na calçada, e buzinando para os outros pedestres saírem da frente. Bi, bi, bi. Olha que loucura.

- Você acha que isso pode ter alguma coisa a ver com os problemas em casa. Com a Mercedes?

- Não sei. Nosso amor acabou, doutor. Não tem mais sexo, não tem mais nada. Na outra noite eu chamei ela por um apelido que a gente usava quando era recém casados, eu era Pimpão e ela era Pimpinha, e ela deu uma gargalhada. Não se lembrava mais. E ela também está enlouquecendo, doutor. Agora deu para dizer que se eu não comprar uma TV digital ela se mata. Vou dizer para ela vir consultar com o senhor tam...

Tocou o telefone e Amauri pediu licença para atender.

- Alo? Sim, Helena. Não chegou? Eu mandei pelo motoboy perto do meio-dia. Mandei, Helena. Por que eu iria mentir? Deve ter acontecido alguma coisa com o motoboy.

Só em casa, depois de deixar o Ique no hospital, Zuneide descobriu a carta no bolso do blusão do filho. Uma carta carinhosa, que começava assim: “Querido Ursinho”. Ele tinha uma namorada e ela não sabia! O nome dela era Heleninha. Uma boa menina, ingênua, pura, que obviamente o amava muito, a julgar pela carta. Preciso encontrar um jeito de avisá-la de que o Ique teve um acidente, pensou Zuleide.

Será uma maneira de conhece-la, também. De conversarmos, de combinarmos a ida deles para São Carlos, para outros ares, depois do casamento. Zuneide leu e releu a carta várias vezes. Que coisa bonita. Que coisa carinhosa. No dia seguinte ela diria ao Ique que ainda não conhecia a Heleninha mas já gostava dela.

- Amauri, você pediu. Vou começar a distribuir as suas cartas.

- Heleninha...- Você mentiu. O tal moto boy não apareceu com a minha carta.

- Heleninha...- Prepare-se para o pior, Amauri.

13km a pé - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 24/03

As pessoas que assistirão à missa do Papa Francisco, no dia 28 de julho, em Guaratiba, no Rio, durante a Jornada Mundial da Juventude, vão caminhar em média 13km a pé até o local.

A peregrinação, que também facilita o esquema de transporte de uma multidão que deve superar dois milhões de pessoas, é comum nesse tipo de evento. Na Jornada da Alemanha foi de 23km.

Papa na favela
Aliás, a inclusão da visita a Aparecida não é a única mudança na agenda do Papa na visita ao Rio. 

Francisco vai visitar uma favela, programa que tinha sido descartado na programação anterior de Bento XVI.

Eles voltaram
Executivos da sueca H&M, segunda maior varejista de vestuário do mundo, estiveram no Brasil na semana passada.

Prometem abrir as primeiras lojas da rede por aqui, em São Paulo e no Rio, em 2014.

Já...
Em 2009, a empresa chegou a prospectar uma locação para instalar uma loja no Brasil.

Mas, na época, a ideia não avançou.

Tira-teima no vôlei
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) bateu o martelo.

Vai adotar um sistema de câmeras de última geração para ajudar a tirar dúvidas dos juízes.

Segue...
O primeiro teste será nas finais feminina e masculina da Superliga.

As partidas serão disputadas nos dias 7e 14 de abril, no Ibirapuera e no Maracanãzinho.

A morte e a morte
Acredite. Em meados de janeiro, o Senado mandou uma missão ao Haiti e a Cuba. Oficialmente era para estreitar laços, etc. e tal.

Só que o grupo recebeu, por debaixo do pano, outra tarefa: averiguar os boatos de que Hugo Chávez, então internado em Havana, tinha morrido por lá e que os "bolivarianos" esperavam uma data melhor para o anúncio oficial do infausto passamento.

Aliás...
Foi nessa tal viagem que o senador Luiz Henrique sofreu uma grave lesão ocular causada por binóculos no Haiti.

Livro na China
Quatro livros da série "Pilar", escritos por Flávia Lins e Silva com ilustrações de Joana Penna, serão publicados na China.

O acordo com a editora Shanghai Bbt Communication foi fechado pelas agentes literárias Lucia Riff e Nicole Witt.

Passe valorizado
Bruna Marquezine, a fogosa Lurdinha de "Salve Jorge", dobrou o seu cachê para aparecer em eventos.

A namorada do craque Neymar cobra R$ 20 mil de presença. Merece.

Mulata assanhada
O fascínio que negras e mulatas exercem sobre os homens já foi assunto de Estado no Brasil Colônia, como mostra esta pérola revelada pelo historiador Israel Beloch. 

Veja...
Na Carta Régia de 23 de setembro de 1703, o rei de Portugal, Pedro II, diz "que dos trajes que usam as escravas se seguem muitas ofensas a Nosso Senhor".

E manda que Álvaro da Silveira, governador das capitanias do Rio, de São Paulo e Minas proíba que elas usem seda ou ouro para que "assim se lhes tire o meio de poderem incitar para o pecado".

Só que...
Como mostra a História do país, a medida foi infrutífera. Ainda bem.

Ainda elas...
Veja o que o escritor Fernando Jorge escreveu no jornal "O Trem Itabirano".

Carlos Drummond de Andrade e o historiador Sérgio Buarque, quando não eram ícones da cultura brasileira, saíram no tapa numa sala do Ministério da Educação por causa de uma beldade, digamos assim, de quadris encantadores.

Foi coisa séria.

Forneria
O Gero da Barra vai mudar de nome. Será Forneria, uma casa italiana menos pomposa, do mesmo grupo.

Calma, gente!


O restaurante Giuseppe Grill, no Leblon, provoca a ira de feministas.
É que o banheiro das mulheres tem, na porta, o desenho de uma vaca passando batom.

NAS ASAS DA PANAIR
Antes de decidir promover um ato sobre a finada Panair do Brasil, a Comissão da Verdade investigou, com auxílio de historiadores e pesquisadores, se realmente havia motivação política na decisão de cortar as asas da empresa em 1965 ou se o colapso foi por razões econômicas, muito comum nesse setor até hoje.

O relatório entregue à Comissão lembra que:

A Panair pertencia aos empresários Mário Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda. Os dois eram aliados de João Goulart, o presidente deposto pelos militares, e de Juscelino Kubitschek, que seria candidato apresidente se houvesse eleição como prometiam os militares. Simonsen e Miranda tinham recursos financeiros e empresas, como aTV Excelsior, que poderiam ajudar muito na campanha deJK.

A empresa também não teria problemas de caixa. O Departamento de Aviação Civil sabia que a Panair estava fechando um acordo com a Air France, que injetaria ainda mais dinheiro na companhia e dispensaria qualquer tipo de subvenção. O juiz do processo de falência da Panair mandava semanalmente um relatório para o Serviço Nacional de Informações.

Chamou atenção ainda da Comissão que a Varig estivesse preparada para voar para a Europa (até então ela só voava para os EUA) no mesmo dia em que as linhas da Panair foram cassadas. O brigadeiro João Paulo Burnier admitiu que a Varig transportou gratuitamente militares da Aeronáutica para montar o golpe de 1964.

Faz sentido.

Santuário brega - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 24/03

Nosso amor tem direito a uma exceção cafona, a preservar um ídolo da infância acima de crítica.

É como um serviço de proteção do passado. Não deve debochar. Não deve rir. Não deve expor no Facebook e cometer bullying familiar.

Toda mulher elegante preserva um altar brega dentro do armário. Conserva uma gaveta onde guarda recortes de jornais e revistas, cifras de músicas, coleciona souvenires.

Se ela não tem um santo bagaceiro, a situação é ainda mais grave: ela é completamente brega. Ter unzinho previne outros.

Custei a aceitar a cota. No meu primeiro casamento, minha esposa era apaixonada por Dalto. Quando perdia a discussão de relacionamento, cantava em tom sarcástico:

Hum! Mas se um dia eu chegar

Muito estranho...Deixa essa água no corpo

Lembrar nosso banho...Hum! Mas se um dia eu chegar

Muito louco...Deixa essa noite saber que um dia

Foi pouco... Ela esbravejava, batia a porta na cara, me insultava, e eu ganhava seu rancor por dois dias.

Já no meu segundo casamento, fui além, atravessei a fronteira do ódio. Não admitia a existência do LP Menina Veneno, do Ritchie, no carro. Ela apresentava para as caronas com inominável orgulho. Sentei por querer no disco, e despedacei também o relacionamento.

Aprendi a respeitar os mitos cults na marra. Porque é engraçado e bonito que a namorada mantenha uma paixão platônica da infância. Sugere cuidado com a memória, e respeito com nossa porção ingênua de criança.

Tudo bem que é um sujeito de reputação duvidosa, mas ela não desaprenderá a rezar. É tempo perdido convencer que é uma decadência, uma vergonha, que ela não tem mais credibilidade para falar dos filmes de Woody Allen. A razão não vai fazer diferença. Os debates não pousarão em lugar algum. O ídolo está guardado em um esconderijo emocional ignorado, num cativeiro amoroso sigiloso, sem acesso pelas estradas da linguagem.

É um nome apenas, um só que precisa aguentar pelo resto da vida. É nada de sua parte, agradeceria a ressalva, você deve ter uns 11 jogadores malas que ela escuta semanalmente de sua boca.

Vale a pena não buzinar barbaridades, não azucrinar no final de semana quando ela deseja reencontrar seu passado. Saia de perto se não aguenta.

É um nome que merece inteira imunidade ideológica. Não precisa ter medo. Ela não vai transar com ele, invadir o camarim, jogar a calcinha no palco.

É uma referência para desafiar o pai, o ídolo, no fim, está do seu lado.

Acho que eu já estou maduro para enfrentar Fábio Júnior. Que venha! Pode trazer o Fiuk.

Você tem nome de quê? - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 24/03

Rendeu marola a conversa da semana passada, em torno de nomes de gente que são também nomes de coisa, bicho ou vegetal. Como o guilherme que o Guilherme usa na carpintaria. Poucas reclamações: um Bernardo não gostou de se saber xará daquele berloque da anatomia masculina, e uma Cecília, ao ver-se no balaio das serpentes, só faltou me picar. Duas Betes perguntaram que jogo é esse originado do beisebol. Talvez o "bete (ou bente) altas" da minha infância, em que o desafio era derrubar com a bolinha a base adversária, tripé armado com gravetos. Não tem no Houaiss, mas eu estive nos anos 50 e dou fé.

Já que o papo onomástico prosperou, aqui vai mais. O que não falta é gente com nome de não-gente. O alfredo, por exemplo, é um candeeiro comum, sem manga. Chama-se ambrósio o suporte do coador de pano de café. O benjamim, sabemos todos, é o caçula, mas também o plugue que, com seus pinos e várias entradas, viabiliza um elétrico, quem sabe eletrizante ménage à trois, à quatre...

Fique sabendo que a francisca era um "machado de dois gumes usado por guerreiros francos". Nada de chamá-la de chica, até porque chica é outra coisa, na verdade três: 1) uma dança lúbrica de origem africana; 2) qualquer bebida alcoólica, especialmente a cachaça; 3) ponta de charuto, cigarro ou baseado. Imagine o que resultaria de um encontro das três chicas.

Sem maiúscula, francisco não designa coisa alguma. Mas chico pode ser tudo isto: bolinha; mico ou macaco doméstico; sujeito fingido ou mentiroso; menstruação; uma dança; comandante de marinha mercante; e, no Nordeste de antanho, chicote. Já que estamos na região: em Alagoas, "carlito" ou "carlitos" é casquinha de sorvete. Duas bolas de cupuaçu no carlito, por favor.

Caio é sinônimo de caiação, e augusto, quando não adjetivo, carece de imponência: "palhaço coadjuvante". Em alguns lugares do Brasil, basta pedir mateus para que venha a cachacinha. E quem, nas regiões vinícolas, der um pio, estará ofertando uma "pia de grandes dimensões em que se pisam uvas".

Será o benedito? - poderá alguém indagar diante de um pica-pau "de asas e cauda negras, barriga, peito e nuca vermelhos, fronte e garganta amarelas". Sim, é o benedito. Já o sebastião tanto pode ser uma ave noturna (bacurau, curiango, urutau) como um tipo de cação, ou, ainda (não leve a mal, Tião), um sujeito tolo. Mais sorte teve o rafael, sinônimo de "apetite, fome, disposição para comer" - quem sabe a carolina, de preferência recheada com doce de leite, ou a madalena, aquele bolinho ovalado que engordava as lembranças de Marcel Proust.

"Elemento químico de número atômico 69 da família dos lantanídeos", terá o túlio algum parentesco com o hélio, "elemento químico do número atômico 2, da família dos gases nobres"? A respeito do primeiro, o dicionário pouco informa, mas o hélio parece ser um bom elemento: bastante prestativo, para múltiplos usos, da refrigeração de reatores nucleares aos anúncios luminosos, passando pelos balões e dirigíveis.

Nem todos estão informados de que se chama bárbara a câmara onde se armazena a pólvora. Eu ficaria com a versão humana, mesmo sabendo que certas Bárbaras são eventualmente mais explosivas. Em caso de incêndio, recorra à teresa, corda que presidiários improvisam com lençóis para escapar da cana.

Esteja ciente de que a dora é uma gramínea nativa das Antilhas (pode chamá-la de sorgo), e a eugênia, sinônimo de jambo no sul da Bahia, enquanto a catarina-gomes, a exemplo da mônica, vem a ser uma variedade de mandioca. Sem hífen e sobrenome, ela designa uma casta de uva branca e, vá saber por quê, os seios: que belas catarinas tem a Catarina! Não bastasse, a catarina é mala, em sentido literal, daquelas de papelão, comuns no interior em outros tempos. Não está no dicionário, mas tem o aval de meu amigo Ricardo Galuppo, que fala com a autoridade quem de veio de Curvelo, norte de Minas, não sei se carregando a sua catarina.

"Jornalismo justiceiro" e política - MAURICIO STYCER

FOLHA DE SP - 24/03

Em 1991, Russomanno estava no "Aqui Agora", onde desenvolveu o "jornalismo justiceiro"


No Dia do Consumidor, 15 de março, o "Programa da Tarde", da Record, fez uma homenagem a Celso Russomanno. Resumiu a história de vida e enalteceu os feitos do jornalista, que apresenta o quadro "Patrulha do Consumidor" dentro da atração. "Corajoso, esclarecido e um grande mediador também", informou o narrador.

A homenagem incluiu a seguinte observação: "Neste Dia do Consumidor, com a coragem de se colocar do lado de quem é mais vulnerável, o lado do consumidor que reclama por seus direitos, mas até pouco tempo não tinha quem lutasse por ele, Celso Russomanno se alinha à vontade da presidente Dilma".

Por fim, depois de dez minutos de elogios, a hagiografia se completou com um comentário do apresentador do programa, o também jornalista Britto Jr.: "Você está de parabéns, não só pelo trabalho que faz aqui, no 'Programa da Tarde', mas você está de parabéns pelo trabalho que você faz também no âmbito político criando leis para defender ainda mais o consumidor".

E Britto concluiu: "E você pode ter certeza: a presidente Dilma tomou essa atitude, fez esse pronunciamento, o governo se mobiliza para ajudar ainda mais a reforçar essas relações de consumidor porque ela percebe também o trabalho que você faz".

Como se sabe, Russomanno deu início à carreira de "xerife do consumidor" depois de enfrentar, de forma original, um drama pessoal. Em outubro de 1990, filmou e colocou no ar imagens do hospital São Camilo, onde sua ex-mulher morreu com infecção generalizada decorrente de meningite. O jornalista então acusou o hospital de negligência médica, o que não se comprovou ao final de um longo processo judicial.

Em 1991, Russomanno já estava no "Aqui Agora", onde desenvolveu com requintes o chamado "jornalismo justiceiro", no qual toma para si a tarefa de solucionar as mazelas que denuncia. Sucesso de audiência, três anos depois disputou a sua primeira eleição, a convite de Mário Covas, tornando-se o deputado federal mais votado.

Cumpriu quatro mandatos como deputado. Trocou o guarda-chuva tucano pelo malufista e, em 2011, se filiou ao PRB, desde então presidido por Marcos Pereira, pastor licenciado da Igreja Universal e ex-vice-presidente da Rede Record.

No primeiro semestre de 2012, Russomanno estrelou o quadro "Patrulha do Consumidor" no "Balanço Geral - SP", um dos programas mais popularescos da Record. Afastou-se, dentro dos limites da lei, para concorrer à Prefeitura de São Paulo.

Derrotado na reta final do primeiro turno, depois de liderar a disputa, retornou à TV no final de novembro, agora no "Programa da Tarde", exibido em rede nacional. De segunda a sexta, por uma hora, aparece de microfone em punho, sempre com o poder da última palavra e ameaçando chamar a polícia.

É certo que disputará a eleição em 2014. O PRB só não definiu ainda que cargo disputará. Fala-se em Senado e governo do Estado.

Histórias de artistas, celebridades e jornalistas que aproveitaram a popularidade na mídia para entrar na política existem aos montes, no mundo inteiro. O caso de Celso Russomanno me chama a atenção pelo fato de ser um projeto transparente, como raramente se viu, de uso da televisão com objetivos eleitorais.

Jovens hoje, adultos amanhã - DORRIT HARAZIM

O GLOBO - 24/03

Quem acompanhou a missa de iniciação do pontificado do Papa Francisco pela rede americana CNN, no domingo passado, foi surpreendido por uma chamada de notícia urgente proveniente de Steubenville. Steubenville? Até sete meses atrás só mesmo os 18,5 mil habitantes dessa adormecida cidade às margens do Rio Ohio conseguiriam situá-la no mapa do Centro-Oeste dos Estados Unidos. Desde um sábado de agosto de 2012, porem, tudo mudou - desde que uma jovem de 16 anos, inerte e inconsciente de embriaguez, foi submetida a abusos sexuais e humilhações por colegiais da escola local, durante seis horas de uma noitada de baladas na cidade. Um vídeo de 12 minutos, fotos e tuites em tempo real, todos posteriormente deletados da internet, chegaram a ilustrar algumas cenas.

Inicialmente abafado pelas famílias, pela escola e pelas autoridades locais, o caso acabou encontrando eco em redes sociais, virou denúncia para os ciberativistas da Anonymous e entrou na pauta da grande imprensa americana. Assim, quando o juiz da Corte da Juventude anunciou a sentença dos dois primeiros acusados, em pleno domingo de Papa novo, as principais redes de televisão do país tinham equipes a postos em Steubenville.

"Minha vida acabou. Ninguém mais vai me querer" disse o réu de 16 anos entre soluços, ao ouvir a sentença. Referia-se à sua carreira de ídolo da equipe estadual de futebol americano. Seu parceiro de fama no time e de infâmia no estupro também debulhou-se em choro. Era só um pouco mais velho - 17 anos.

O primeiro recebeu pena mínima de um ano, a ser cumprida em centro de detenção para menores. O segundo, pena de dois anos ou mais, pelo agravante de ter postado fotos da vitimização na internet. Dependendo do comportamento de cada um, poderão ficar presos até completarem 21 anos. E caberá ao juiz, no momento de soltura, decidir se seus nomes constarão ou não do temido registro nacional de pessoas condenadas por estupro. Nos Estados Unidos, esse registro, por lei, é de acesso público. De acordo com alguns critérios, o nome de um condenado por crime sexual no passado pode ser retirado do registro após determinado número de anos. Ou nele permanecer para sempre.

"Não acho certo que alguém, aos 75 anos de idade, deva ter de se explicar por algo que fez quando tinha 16. A evidência científica atesta que o cérebro humano, nessa idade, ainda não está plenamente desenvolvido" rebateu de imediato o advogado de um dos condenados. Estava no seu papel de defensor do réu.

"Nunca cobri algo emocionalmente tão penoso" informou ao vivo a repórter da CNN, fora do figurino de jornalista. "Foi muito difícil presenciar o que aconteceu com esses dois jovens de futuro tão promissor, que tinham tudo para serem estrelas do esporte, eram bons alunos e viram suas vidas desmoronarem à sua frente."

O foco centrado apenas no futuro dos dois atletas, como se o episódio fosse uma terrível trapaça do destino, e o tom de pesar geraram caudalosa indignação contra a emissora, que desde então tenta consertar o viés da cobertura.

À parte o fato de que há uma única vítima no caso - a jovem que acordou nua no porão de uma das casas de Steubenville, rodeada por três garotos e sem saber que fora exposta a milhares de internautas -, o futuro dos dois réus condenados tem, sim, relevância. Mas não pelos motivos arrolados por seus defensores.

O cumprimento da pena a que foram condenados - numa casa de detenção para jovens e não numa prisão comum para adultos, como permitiria a lei - já levou em conta a neurociência. Como, de resto, a própria Suprema Corte dos Estados Unidos, que desde 2005 aboliu a pena de morte para menores de 18 anos após receber a opinião de um painel de cientistas médicos. Segundo o painel, "seria equivocado equiparar os erros cometidos por um menor com os de um adulto devido a uma maior possibilidade de suas deficiências de caráter sofrerem uma alteração"

No julgamento de Steubenville, um professor da Universidade da Pensilvánia, Ruben Gur, também assegurou que o lóbulo frontal do cérebro, responsável pelo controle do comportamento impulsivo, "só começa a maturar a partir dos 17 anos de idade. A área do cérebro avaliada pelo sistema legal é justamente a que se desenvolve mais tarde"

Convém, contudo, deixar a ciência de lado e focar na questão moral do episódio. Naquela noite em Steubenville, assim como em qualquer lugar do mundo onde uma mulher é estuprada, os perpetradores sabiam estar cometendo uma violência sem reparo. E se, aos 16 e 17 anos, não sabiam, é mais grave ainda, por apontar para uma cultura vigente na cidade, leniente em casa, conivente no time campeão. Ao longo dos próximos meses, quando serão ouvidos outros possíveis envolvidos no acobertamento do caso, se conhecerá a extensão das responsabilidades.

Quanto aos dois garotões condenados, as estatísticas lhes são favoráveis. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Justiça americano, apenas 3% dos menores condenados por crimes sexuais são reincidentes, contra 40% de reincidentes no universo de condenados adultos. Isso significa que, uma vez cumprida a pena, os dois jovens de hoje ainda podem se tomar cidadãos produtivos amanhã. Se a sociedade conseguir lhes ensinar algo, podem se tomar homens para que, a seu rumo, possam ensinar seus filhos a serem adolescentes sem culpa.

Já o futuro da jovem é mais difícil de prever. Sua vida pode ser uma eterna prisão interior.

*

Em tempo: Estudantes do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais pintam uma caloura de preto, penduram-lhe uma placa de papelão no pescoço com os dizeres "Chica da Silva" acorrentam-na pelas mãos e a puxam campus afora. A cultura da humilhação revestida de farra tem gradações.

Chovendo no molhado - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 24/03

A Mona Lisa não precisa do Louvre para ser obra de arte; é o Louvre que precisa dela para ser museu


Falando com sinceridade: você acha mesmo que pôr cocô numa lata é fazer obra de arte? Teve um cara que fez isso e o que ele quis dizer, ao mandar a latinha com merda para uma galeria de arte, é que arte é merda, certo? Ele estava copiando Marcel Duchamp.

Tratava-se de um protesto? Sim, pode ser, mas protestar não é, por si só, fazer arte. Aliás, há muita poesia de protesto que de poesia não tem nada. É que arte de protesto, antes de tudo, tem que ser arte.

É verdade que o conceito de arte foi mistificado e houve época mesmo em que a habilidade técnica era tida como arte. Mas tudo isso foi posto abaixo pelos verdadeiros artistas. Aliás, a revolução estética, que marcou o início da arte moderna, consistiu precisamente em repelir essa falsa concepção de arte.

Picasso disse certa vez: "Estou pintando uma tela, vou pôr ali um azul; se não tenho azul, ponho um verde". Essa frase, que pode parecer uma piada, é de fato a desmistificação da atividade artística. O que ele disse, de fato, foi que a criação artística nasce de um jogo de acaso e necessidade.

É que, ao iniciar o quadro, a tela está em branco, tudo ali pode acontecer, mas, desde o momento em que se lança a primeira pincelada, reduz-se a probabilidade e começa o processo que irá tornando necessário o que era mero acaso. Isso porque a pintura é uma linguagem, com leis e exigências, que não estão escritas, em função das quais a obra ganha coerência e significação.

Expressão, em princípio, tudo é, já que o que existe expressa algo, tem um significado, seja um gato, uma pedra, uma mancha na parede. Mas são diferentes o significado natural que cada coisa tem e o significado criado pelo músico ao trabalhar a linguagem musical, pelo poeta ao trabalhar a linguagem literária, pelo pintor ao trabalhar a linguagem pictórica.

Em suma, ainda que você admita que pôr casais nus num museu expresse algo, não negará que aqueles casais não são obra de nenhum artista como os quadros que estão ali nas paredes. Qualquer pessoa que tenha um mínimo conhecimento de arte sabe que a expressividade de uma obra artística é resultado da capacidade do autor de lidar com os elementos constitutivos de sua linguagem: a linha, a forma, as cores, a matéria pictórica, incutindo-lhes uma significação que só existirá ali.

Exemplo: a noite estrelada que Van Gogh pintou é uma invenção única dele que a linguagem da arte possibilita. Não é simplesmente uma ideia, mas o produto de uma ação manual, técnica e semântica no âmbito de um universo linguístico chamado pintura.

É diferente de simplesmente ter uma ideia, cuja criação em nada depende de você ter ou não capacidade técnica de realizá-la ou o domínio de uma linguagem, qualquer que seja. O artista conceitual não precisa saber fazer, não precisa fazer e, como não possui linguagem, usa o que já existe e que não foi ele quem fez.

De onde vem então o significado do que não foi feito? Como já disse, tudo o que existe significa, o que não quer dizer que seja uma linguagem, já que esta implica significados inventados por nós. Por isso mesmo, os povos primitivos viam numa montanha um deus ou um demônio.

A significação de uma coisa, um corpo, um objeto, decorre de sua inserção no sistema simbólico humano. Por exemplo, estar nu em um museu tem significação diferente de estar nu em seu quarto.

A diferença óbvia é que o museu é um lugar público, o que torna a nudez chocante. Então, pergunto, por que ficar nu no museu é obra de arte e, no quarto, não?

A resposta obvia é que, para tornar-se "arte", o nu necessita da instituição museu, ou seja, seu significado não é inerente a ele e, sim, à situação em que se encontra.

Isso o torna essencialmente diverso do que conhecemos como obra de arte, cujo significado estético só existe nela, na obra e, mais que isso, é expressão de uma linguagem que é anterior a ela e que se amplia nela e em cada nova obra de que o artista crie. A Mona Lisa não precisa do Louvre para ser obra de arte; é o Louvre que precisa dela para ser museu.

*
O belo volume em que a editora Bem-Te-Vi reuniu toda a poesia de Lélia Coelho Frota constitui uma justa homenagem a seu talento, a sua inteligência e sua admirável sensibilidade.

A vida é finita - CID CARVALHAES

O GLOBO - 24/03

Alvo de diversas denúncias, a médica Virgínia Helena Soares de Souza, chefe de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC), é suspeita de cometer crimes em continuidade. O mais grave: provocar a morte de pacientes para a liberação de leitos em UTI. Neste ambiente de acusações, nada foi falado a respeito dos outros profissionais médicos do referido hospital, dedicados a múltiplas especialidades e que também sofrem com a exposição.

O Sindicato dos Médicos de São Paulo defende investigação rigorosa, apuração dos responsáveis pelas suspeitas que foram levantadas. A eutanásia, provocação da morte por meios mecânicos ou farmacológicos, é crime previsto na legislação penal brasileira. Portanto, se houver procedência das acusações, que os culpados sejam punidos com o rigor da lei, que se tenha o discernimento necessário, com postura clara e incontestável para julgamento adequado.

É primordial o devido cuidado de não propiciar suspeitas para com outros médicos do hospital. Alheios a qualquer tipo de problema dessa natureza têm cumprido suas obrigações e deveres para com os pacientes, demonstrando condutas equilibradas, técnicas e éticas, mesmo em situações profissionais desfavoráveis. O HUEC tem 615 leitos, o que, por suposição, conta com mais de 300 médicos. Não é justo, muito menos adequado, que paire qualquer suspeita sobre esses profissionais.

Outro aspecto relevante que deve ser esclarecido é a diferença entre as denominações eutanásia, ortotanásia e distanásia, já que as terminologias geram dúvidas.

Eutanásia, como já foi citado, é crime, mesmo que haja consentimento do paciente em questão, já a ortotanásia, defendida por entidades da medicina, visa a evitar a morte sofrida quando já não há mais ferramentas de cura possíveis ao paciente, ou seja, enfermos sem quaisquer possibilidades terapêuticas. É a suspensão de medidas heróicas para suporte de vida de um paciente com prognóstico fechado, quando não lhe resta nenhum tratamento viável, ou seja, não existe mais cura.

A morte deve ser encarada naturalmente. Temos que viabilizar a vida da melhor maneira possível, não complicá-la. Ao médico compete a missão assistencial, em sua vertente mais ampla. Manter vidas artificialmente, por excessos terapêuticos, mecânicos ou medicamentosos, nada mais representa, senão contradição biológica das mais evidentes.

Extensão de sofrimentos do paciente com prognóstico fechado e sem possibilidade de recuperação é a distanásia. Ações de médicos que a praticam, sim, são desumanas. Caracterizam tratamento cruel prolongando-se a agonia do enfermo, sem humanização em sua fase final de vida.

UTIs tornam-se centros do sofrimento. Prolongar a vida inutilmente, por meio de aparelhos e terapêuticas injustificáveis, promove morte sofrida e dolorosa.

Evitar a morte, quando possível, é obrigação Inquestionável do médico e dever social de preservação dos seus semelhantes. A vida é fantástica e deve ser lembrada com boas recordações pela história de vida de quem se vai.

Assim, nada mais é que egoísmo o ato de insistir em tratamentos ineficazes em casos de pessoas em fase terminal. A vida é finita. Nascemos para morrer, com decência e dignidade, porém sem exageros injustificáveis.

Ueba! Enem tomou suco Ades! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/03

Olha esta placa num trailer de cachorro-quente em Salvador: "Temos X Egg com ovo e sem ovo"


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E hoje de manhã fui à banca e pedi uma revista sem fotos da Sabrina Sato, da Xuxa, do Luciano Huck e da Adriane Galisteu. Aí me deram o "Almanaque do Tio Patinhas"! Rarará!

Festival de Piadas Prontas! Campo Grande News: "Cinema pornô fecha suas portas definitivamente e deixa clientes na mão". Vem pra internet! Rarará! "Prédio do SPC Rio deve R$ 300 mil e está com o nome sujo na praça." O SPC entrou pro SPC! Bem feito! "Homem com dois corações sobrevive a duplo ataque cardíaco." Cúmulo do azar! O cara tem dois corações e ambos infartam ao mesmo tempo.

E um amigo tá há tanto tempo sem transar que está tendo uma série de sonhos eróticos. Com a mulher! Rarará! E, na passeata Fora Feliciano, um gay levantou o cartaz: "Meu fiofó é laico". Rarará!

E os dois grandes babados da semana: Enem e Ades! Suco de maçã Ades contaminado por produtos de limpeza! Ou seja, uma sujeira! Ades virou A deus! Ops, Ardes! E o Sensacionalista: "Ades vai lançar novos sabores: chumbinho, cicuta, soda cáustica, naftalina e manga com leite". Manga com leite é o pior. Mortal! Minha avó jamais tomaria!

E a Ades vai lançar um novo suco: soja cáustica! E corre na internet uma fotomontagem da Claudia Raia injetando suco de maçã Ades na seringa assassina. A vilã injeta suco de maçã Ades nas vítimas!

E o Enem? Adorei as redações do Enem. Um colocou receita de Miojo e tirou 560! Outro escreveu o hino do Palmeiras e tirou 500. Ou seja, o Miojo ganhou do Palmeiras. Até o Miojo ganha do Palmeiras.

E Enem quer dizer Eu Não Estudo Mais. E MEC quer dizer Melhor Estudar em Casa. Ou então, Melhor Estudar Culinária! Rarará!

Como disse uma amiga: "Pra que estudar, se em três minutos dá pra fazer um Miojo". E o aluno que escreveu a receita de Miojo não tirou nota máxima porque esqueceu de misturar o tempero! Rarará!

O povo do Enem no Miojo e o Mercandante traçando macarronada em Roma. Com aquele bigode estilo rodapé de periquita! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha esta placa num trailer de cachorro-quente em Salvador: "Temos X Egg com ovo e sem ovo". Rarará! E esta outra no Rio: "Hoje! SULENTA Feijoada". E esta aqui: "COM SERTA SI CAÚSADOS para mulher e crianças". Rarará! No Brasil todo mundo escreve errado mas todo mundo se entende.

Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Mire em Tite e em Cuca - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 24/03

Seria ótimo se a seleção utilizasse a mesma estratégia do Corinthians ou do Atlético-MG


A Itália teve muito mais chance de ganhar, nos dois tempos. Júlio César foi o melhor da seleção. No gol de Balotelli, o goleiro percebeu que outro atacante penetrava para receber a bola e, corretamente, se adiantou. Os erros foram de Oscar, que errou o passe, e dos zagueiros, encostados à grande área, observando Balotelli conduzir a bola desde quase o meio-campo.

O Brasil teve alguns bons momentos, como o belíssimo gol de Oscar. O time jogou com Hulk e Oscar, pelos lados, e Neymar, como segundo atacante. Aí é seu lugar. Se atuasse pela esquerda, teria de marcar o lateral. Neymar foi destaque, facilitado pelo avanço dos armadores da Itália, que deixaram muito espaço entre eles e os zagueiros.

Além da ausência de um craque no meio-campo, nem no nível dos armadores italianos, falta ao Brasil um centroavante que saia da área para trocar passes e que deixe

espaços para outro jogador se infiltrar e finalizar. Foi o que fez Balotelli durante toda a partida.

Após a derrota para a Inglaterra, Felipão disse que defensores não podem ficar desprotegidos. Com um volante mais marcador (Fernando), que atuou bem, a defesa foi pior.

Seria absurdo se a base da seleção fosse com a maioria dos jogadores do Corinthians ou do Atlético-MG. Mas seria muito bom se o time brasileiro utilizasse a estratégia, o sistema tático, o rigor e a disciplina de Corinthians ou Atlético-MG.

PAÍS DOS LOBISTAS

O presidente do Sport, Luciano Bivar, disse que pagou propina a um lobista para conseguir a convocação do volante Leomar, em 2001. No STJD, negou. É mais boquirroto.

O assunto merece reflexões. No futebol, na política e em outros setores, quase não se faz nada sem a presença de intermediários e lobistas. Um clube, para contratar um jogador, não conversa diretamente com outro clube nem com o atleta.

Todos os treinadores, incluindo o da seleção, e todos os atletas, desde as categorias de base, possuem empresários. Muitas vezes, técnicos e jogadores de um mesmo clube são agenciados pela mesma pessoa. É óbvio que isso pode gerar conflito de interesses, que vão desde a influência silenciosa, como um olhar, até a pressão explícita.

Nem sempre o jogador que o técnico quer contratar ou escalar é o que interessa ao clube, como negócio. Os treinadores são pressionados por todos os lados. Dizer que todos sabem separar uma coisa da outra é desconhecer a desmedida ambição humana.

As redes de interesses são inúmeras. Muitos profissionais honestos nem percebem. É muito difícil ser totalmente independente. Dizem que não existe almoço grátis. No futebol, nem a gentileza é grátis.

Além da troca de favores, uma instituição, uma praga nacional, há muitas evidentes falcatruas no futebol brasileiro.

A aposta no segundo turno - JOÃO BOSCO RABELLO

O Estado de S.Paulo - 24/03
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) acha que ainda vai sofrer por mais tempo a indiferença do ex-governador José Serra (PSDB-SP), mas não acredita em sua saída do partido, segundo tem dito a interlocutores. A mesma convicção têm os tucanos que estiveram com Serra em São Paulo nos últimos dias e acham que a possibilidade de ele aceitar o convite de Roberto Freire para se filiar ao PPS é zero.

Mesmo o elogio de Serra ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), a quem considerou publicamente um ótimo candidato, consegue leitura positiva da equipe de campanha do senador mineiro. A menção comparativa à candidatura adversária reconhece a de Aécio, dizem seus aliados, recusando a provocação.

Aécio avalia que só tem a ganhar com a candidatura de Campos e também com a de Marina Silva. Considera que o primeiro divide os votos do Nordeste, onde o PT é forte. E Marina atrai voto ideológico, além dos evangélicos. Essa soma garante, teoricamente, um segundo turno, quando o PSDB espera ter a lealdade do eleitor. "Sempre fomos oposição, nunca mudamos de lado", alfineta um aecista.

Essa convicção impõe como prioridade a pacificação interna, ficando para 2014 a costura das alianças, num cenário eleitoral "mais realista". Aécio insiste em ser presidente do partido para percorrer o País com a candidatura já reconhecida pelo PSDB. Tem sido esse o ponto mais resistente junto a Serra e Alckmin, e há quem sustente que o cargo não é tão importante para o senador quanto ele faz acreditar: estaria apenas valorizando-o para usá-lo como moeda de troca na hora decisiva da negociação.


Alianças 
estaduais

Aliado do PT no plano nacional, o PSB de Eduardo Campos selou alianças com o PSDB em todos os Estados governados por tucanos: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Alagoas, Pará, Tocantins e Roraima. No governo paulista de Geraldo Alckmin, o deputado Márcio França, presidente estadual do PSB, deixou um aliado em seu lugar, na Secretaria de Turismo, depois de se afastar do cargo quando seu partido decidiu apoiar Fernando Haddad (PT) na eleição da capital, em 2012. Apenas em Goiás o PSB rompeu com os tucanos, entregando a estatal de turismo para apoiar o PT no pleito municipal.

Dor de cabeça

A expansão da banda larga trouxe mais dor de cabeça ao ministro Paulo Bernardo (Comunicações). A limpeza de uma faixa do espectro para a entrada da telefonia móvel 4G vai rebaixar os canais das TVs públicas, que ocupam a faixa UHF e podem cair para VHF. A mudança compromete a transmissão das TVs legislativas, canais de propaganda gratuita dos parlamentares.

Mídia paga

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) apresentou requerimento à Mesa Diretora para que o Planalto informe o valor dos gastos do governo, principalmente das estatais, com publicidade em blogs e portais de notícias na internet. Houve um aumento de 483% dessa despesa em dez anos. Se o governo não informar, configura crime de responsabilidade. O tucano também promete recorrer à Lei de Acesso à Informação. Ele quer saber se o dinheiro público está financiando "as milícias do ciberespeaço que atacam na internet os adversários do PT".

Baixo clero

Vinte deputados da base aliada pediram audiência ao governador Eduardo Campos (PSB), logo depois da Semana Santa. Reclamam que o governo os trata mal, mesmo sendo leais. "Somos base e recebemos tratamento da oposição", resume o pemedebista Geneciano Noronha (CE).

De carro oficial - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 24/03

Paulo Dias Moura Ribeiro, candidato a ministro do STJ, está fazendo campanha utilizando carro oficial e motorista do Supremo Tribunal Federal. O candidato foi visto, semana passada, chegando a dois badalados restaurantes de Brasília. Ribeiro é ligado a Carlos Vieira Von Adamek, juiz substituto de segundo grau, que atua como auxiliar do ministro José Antonio Dias Toffoli.

Rio: Campos x Aécio
O DEM encomendou pesquisa no Rio sobre o conhecimento dos eleitores sobre os candidatos ao Planalto Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aécio levou a melhor. O tucano é conhecido por 51,6% dos ouvidos. O socialista, por 22,6%. A imagem positiva de Aécio é de 45,4%, e a de Eduardo, 30,8%. O Instituto GPP fez duas mil entrevistas residenciais em todo o estado dias 16 e 17. Na corrida ao governo do Rio, o ex-governador Anthony Garotinho (PR), com 17,5%; e o senador Lindbergh Farias (PT), com 17,4%, lideram. O vereador Cesar Maia (DEM) tem 15,3%; o vice Luiz Fernando Pezão (PMDB), 11,6%; e o deputado Alfredo Sirkis (REDE), 2,3%.

Pouco caso
A despeito das pesquisas, aecistas menosprezam a candidatura de Marina Silva (REDE) ao Planalto. Dizem que os 19% que teve em 2010 se devem à rejeição ao tucano José Serra. Alegam que ela está na frente agora porque é mais conhecida.

O amor é lindo
O juiz Paulo Augusto Moreira Lima, responsável pela prisão do contraventor Carlos Cachoeira, e Léa Batista, procuradora que investigou o o caso pelo Ministério Público, vão se casar no fim deste mês. Eles se conheceram durante a operação e a CPI do Cachoeira. O casal convidou para padrinho o senador Pedro Taques (PDT-MT), na foto.

Penosa negociação
Extenuante a tarefa do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) para montar palanque da presidente Dilma. Quer chapa com o governador Raimundo Colombo (PSD) e Ideli Salvatti (PT) ao Senado. O drama: PT E PSD não se aceitam como aliados.

Frase
"Minha missão na OEA é tentar reverter a saída da Venezuela e acabar com a bobagem de que Direitos Humanos é uma agenda de Barack Obama e David Cameron "
Paulo Vanucchi Candidato do Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Papa e casais de segunda união
Católicos brasileiros estão na expectativa de que o Papa Francisco autorize os casais de segunda união a receber a comunhão. Esses fiéis participam ativamente da Igreja e estão organizados em pastoral em cerca de 260 dioceses. Embora a tese tenha ampla simpatia, não foi trilhado ainda um caminho teológico e doutrinário que a legitime.

Montando o palanque
A presidente Dilma, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB), e o presidente do PR, Alfredo Nascimento, falaram sobre a eleição no Amazonas. A ideia é lançar Braga ao governo, Alfredo a vice e Amazonino Mendes (PDT) ao Senado.

Mudança de endereço
Com dificuldade em emplacar candidatura à Presidência, a ex-deputada Luciana Genro (PSOL) pode mudar o domicílio eleitoral de Porto Alegre para São Paulo. Não pode concorrer a deputada no Sul porque seu pai é governador.

PESSIMISMO. 
Segundo pesquisa GPP , 58% dos fluminenses acompanham a guerra dos royalties. Desses, 79% acham que o Rio vai perder muito

Mãos à obra - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 24/03

A direção nacional do PT convocou os presidentes de seus 27 diretórios para traçar estratégias de coligações e candidaturas aos governos estaduais e ao Senador amanhã, em São Paulo. A ideia é diminuir a tensão entre petistas e aliados em praças como o Rio, onde há embate com o PMDB, além de avançar no diagnóstico para a sucessão paulista. A partir do encontro, o partido planeja iniciar rodada de pesquisas de avaliação de seus governadores, seguindo orientação de Lula.

Por que...
Em suas viagens internacionais, Lula recebe pedidos de favores de políticos e chefes de Estado. Há casos em que o ex-presidente não se empenha em agir. Foi o que ocorreu com o rei Juan Carlos, da Espanha, desafeto de Hugo Chávez.

... não se cala?
Em 2011, o rei pediu que o petista ligasse para Dilma Rousseff e a convencesse a participar da Cúpula Ibero-Americana. Segundo telegrama da embaixada do Brasil em Madri, "o presidente Lula sugeriu que o rei ligasse diretamente para a presidenta Dilma".

À mineira 1
De forma mais discreta que Eduardo Campos (PSB), o tucano Aécio Neves tem cumprido roteiro semelhante de conversas com empresários e partidos da base de Dilma.

À mineira 2
Nas últimas semanas, esteve com Carlos Lupi e Paulinho da Força, do PDT, duas vezes com Roberto Jefferson (PTB) e com os senadores Francisco Dornelles e Ciro Nogueira, para tratar da troca no comando do PP.

Esquenta
Aécio passa o fim de semana em São Paulo, cumprindo ritual de "imersão" com empresários paulistas antes do evento de amanhã em que falará no congresso estadual dos tucanos.

De oposição?
Eduardo Campos tem 2% no Datafolha entre os que acham o governo Dilma ótimo ou bom, e vai a 12% junto aos que o avaliam como ruim ou péssimo.

Faxina
A recém-criada Controladoria Geral do Município promove força-tarefa para apurar denúncias de desvio de conduta de servidores nas 31 subprefeituras paulistanas. Desde a semana passada, 9 casos foram denunciados e 3 resultaram em prisões de suspeitos.

Espólio
Embora Gilberto Kassab negue que a iniciativa tenha seu consentimento, o PSD prepara balanço crítico dos 100 primeiros dias da gestão de Haddad. Aliados do ex-prefeito querem demonstrar que o congelamento de recursos do Orçamento prejudicou obras.

Via rápida 1
O governo federal festeja o primeiro balanço dos contratos firmados por meio do polêmico Regime Diferenciado de Contratações. Desde que adotou o modelo, a Infraero reduziu em 63 dias a duração dos procedimentos, sobretudo nas obras voltadas para a Copa do Mundo e a Olimpíada.

Via rápida 2
Entre 2010 e 2013 foram homologadas 23 concorrências com prazo médio de 144 dias. Nos casos em que o recurso do RDC foi usado, 17 processos tiveram homologação em 81 dias.

DNA
A lista encaminhada pela Justiça Federal para Dilma para vaga no STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem, na segunda, colocação, o juiz Ítalo Mendes, do TRF da 1ª Região. Ele é primo do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

E aí?
Membros do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) esperam que Joaquim Barbosa proponha investigação de conduta dos conselheiros Tourinho Neto e Jorge Hélio, após apontar "conluio" entre juízes e advogados. Dizem que o corregedor do órgão, Francisco Leitão, não tem prerrogativa para isso.

Tiroteio

Daqui a pouco a presidente vai caçar bois no pasto, levando Sarney na garupa. Com tanta popularidade, fiscais da Dilma não vão faltar.
DE EDUARDO GRAEFF, ex-secretário-geral da Presidência nos governos de FHC, sobre as últimas medidas do governo federal para conter a alta da inflação.

Contraponto


Margem de erro

O mineiro Walfrido Mares Guia tem o hábito de escrever em pedaços de papel quando traça prognósticos políticos e econômicos, sempre de maneira assertiva. Depois, no entanto, guarda essas análises para si.

Em 2002, fez um gráfico em que o tucano Eduardo Azeredo ultrapassaria Itamar Franco nas pesquisas em setembro e se reelegeria governador de Minas. Ia guardando o papel quando o então presidente da Federação das Indústrias de Minas, Robson Andrade, o interceptou:

-Walfrido, posso ficar com esse papel?

Abertas as urnas, Itamar venceu Azeredo.

Fatos & pernas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 24/03

Até o momento, só se veem os petistas falarem em alianças nos estados onde pretendem ter a cabeça de chapa. Em São Paulo, por exemplo, buscam um caminho próprio e uma forma de atrair o PMDB

Com data marcada para novembro deste ano, o Processo de Eleição Direta (PED) do PT começa a preocupar aqueles mais “pé no chão” dentro do partido, leia-se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu entorno. O que mais tira o sono do grupo que analisa tudo com um certo distanciamento paternal é a forma leve e solta como os petistas estão levando os movimentos nos estados.

Com sua reeleição na roda e praticamente garantida, o atual presidente do PT, Rui Falcão, não age de forma a contrariar desejos dos estados. Daí, o crescimento de vozes nas instâncias estaduais petistas exigindo palanque único para a presidente Dilma Rousseff e também o lançamento de candidato próprio a governador pelo país afora.

Até o momento, só se veem os petistas falarem em alianças nos estados onde pretendem ter a cabeça de chapa. Em São Paulo, por exemplo, buscam um caminho próprio e uma forma de atrair o PMDB. No Rio Grande do Sul, onde Tarso Genro concorrerá à reeleição, esse poder de atratividade sobre o PMDB não existe, mas o mesmo não se pode dizer daqueles partidos que tradicionalmente apoiam o PT, caso do PCdoB.

A defesa de alianças cai por terra no Rio de Janeiro, onde os petistas se preparam para lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias, atual presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, colocado nesse cargo justamente para obter maior visibilidade para sua pré-campanha. No Rio, o PT parte para um afastamento dos peemedebistas, que têm o governo estadual e planejam mantê-lo com a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Pezão fez questão de comparecer à posse do ministro da Agricultura na semana passada, em Brasília. Começou ali uma aproximação maior com a cúpula do partido no sentido de agregar aliados para tentar forçar o PT a desistir da candidatura de Lindbergh.

O próprio Lula não descarta ali na frente ver o PT abrindo mão de algumas candidaturas para reforçar os palanques de Dilma. Está inclusive preocupado com o caso do Rio, onde Lindbergh se mostra disposto a seguir por um caminho sem retorno.

Reza o ditado da política que fato, depois que cria perna, ninguém segura. A candidatura de Lindbergh talvez esteja chegando nesse ponto e ninguém da cúpula do PT, hoje mais focada no PED, parece ter se dado conta de que a coisa nos estados está correndo solta para não prejudicar a eleição interna. Apenas Lula e o seu grupo.

O ex-presidente deseja que os petistas planejem os passos sem fechar a porta da saída da candidatura, caso seja muito necessário para preservar a prioridade do partido para o ano que vem, a reeleição de Dilma. Afinal, retirar candidaturas depois é muito mais traumático.

Por falar em traumas...

O próprio Rio de Janeiro já sofreu na pele a intervenção do diretório nacional quando da eleição de Anthony Garotinho para o governo estadual, quando ainda era do PDT. Outro caso que não chegou a esse ponto, mas também não fácil foi a candidatura a prefeito de São Paulo, no ano passado. Lula precisou intervir e tirar políticos tradicionais da disputa interna para garantir a vaga de candidato a Fernando Haddad. E fez isso com bastante antecedência numa campanha que não estava tão antecipada quanto a sucessão presidencial do ano que vem. Ou o PT segura o fato enquanto ele não cria pernas ou então terá que se esforçar muito mais para correr atrás do prejuízo.

Enquanto isso, na CMO...

O clima começa a esquentar para a escolha do presidente da Comissão Mista de Orçamento, posição reservada para o Senado. O cargo estava prometido ao senador Lobão Filho (PMDB-MA). Mas ele não pode assumir porque é suplente. O PT reivindica com o presidente da Casa, Renan Calheiros, a nomeação do senador Valter Pinheiro (PT-BA). Vem mais um capítulo da queda de braço entre os dois partidos que parecem ter como lema: “Aliados, aliados, cargos à parte”.

A PEC das empregadas - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 24/03

Se essa PEC não for muito bem discutida, pode acabar em desemprego


Essa Pec das empregadas precisa ser muito discutida; como foi mal concebida, assim será difícil de ser cumprida, e aí todos vão perder.

A intenção de dar as melhores condições à profissional, faz com que seja quase impossível que o empregador tenha meios de cumprir com as novas leis; afinal, quem vai pagar esse salário é uma pessoa física, não uma empresa.

Vou fazer alguns comentários sobre as condições -diferentes- em que trabalham as domésticas aqui e em países mais civilizados.

Vou falar da França e dos Estados Unidos, que são os que mais conheço. Lá, quem mora em apartamento de dois quartos e sala, é considerada privilegiada, mas nenhum deles tem área de serviço nem quarto de empregada (costuma existir uma área comunitária no prédio com várias máquinas de lavar e secar, em que cada morador paga pelo tempo que usa); uma família que vive num apartamento desses tem -quando tem- uma profissional que vem uma vez por semana, por um par de horas.

É claro que cada um faz sua cama e lava seu prato, e a maioria come na rua; nessas cidades existem dezenas de pequenos restaurantes, e por preços mais do que razoáveis.

Apartamentos grandes, de gente rica, têm quarto de empregada no último andar do prédio (as chamadas "chambres de bonne", que passaram a ser alugadas aos estudantes), ou no térreo, completamente separados e independentes da família para quem trabalham.

Essas domésticas -fixas e raras- têm salario mensal, e sua carga horária é de 8 horas por dia, distribuídas assim: das 8h às 14h (portanto, 6 horas seguidas) arrumam, fazem o almoço, põem a casa em ordem. Aí param, descansam, estudam, vão ao cinema ou namoram; voltam às 19h, cuidam do jantar rapidinho (lá ninguém descasca batata nem rala cenoura nem faz refogado, porque tudo já é comprado praticamente pronto), e às 21h, trabalho encerrado.

Mas no Brasil, muitos apartamentos de quarto e sala têm quarto de empregada, e se a profissional mora no emprego, fica difícil estipular o que é hora extra, fora o "Maria, me traz um copo de água?". E a ideia de dar auxílio creche e educação para menores de 5 anos dos empregados, é sonho de uma noite de verão, pois se os patrões mal conseguem arcar com as despesas dos próprios filhos, imagine com os da empregada.

Quem vai empregar uma jovem com dois filhos pequenos, se tiver que pagar pela creche e educação dessas crianças? É desemprego na certa.

Outra coisa esquecida: na maior parte das cidades do Brasil uma empregada encara duas, três horas em mais de uma condução para chegar ao trabalho, e mais duas ou três para voltar para casa, o que faz toda a diferença: o transporte público no país é trágico. Atenção: não estou dando soluções, estou mostrando as dificuldades.

Na França, quando um casal normal, em que os dois trabalham, têm um filho, existem creches do governo (de graça) que faz com que uma babá não seja necessária, mas no Brasil? Ou a mãe larga o emprego para cuidar do filho ou tem que ser uma executiva de salário altíssimo para poder pagar uma creche particular ou uma babá em tempo integral, olha a complicação.

Nenhum país tem os benefícios trabalhistas iguais aos do Brasil, mas isso funciona quando as carteiras das empregadas são assinadas, o que não acontece na maioria dos casos; e além da hora extra, por que não regulamentar também o trabalho por hora, fácil de ser regularizado, pois pago a cada vez que é realizado? Se essa PEC não for muito bem discutida, pode acabar em desemprego.

P.S.: É difícil saber quem saiu pior na foto esta semana: se d. Dilma, dizendo em Roma que a culpa pelas tragédias de Petrópolis se deve às vítimas, que não quiseram sair de suas casas, ou se Cristina Kirchner, pedindo ajuda ao papa no assunto das Malvinas.

O Plano Borges - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 24/03

Pouco mais de meio-dia, no aclamado boteco Tio Sam, tudo parece estar de acordo com a filosofia do proprietáriao do estabelecimento, ou seja, a normalidade. O domingo não se apresenta dos mais gloriosos, mas não chove e, a cada trinta segundos, passa uma bela moça ou formosa senhora, a caminho da praia. Às mesas do Tio Sam e do boteco que lhe é vizinho, os coroas de sempre - nenhum dos quais jamais precisou de Viagra ou semelhante, mas sempre tem um amigo que precisa - se postam tão perto quanto possível da calçada, para desfrutar da paisagem e comentar as qualidades organolépticas das desfilantes. Amavelmente cafajestes, denominam isso "apreciar o cânter"- e o cânter aqui desta calçada leblonina nunca decepciona os aficionados.

Nenhuma novidade. Como acontece freqüentemente, Dick Primavera começa a dar expediente em seu celular mesmo bem antes de sentar-se. Ele insiste que são clientes de sua próspera empresa de condicionamento de ar, mas, cala-te boca, comentários maledicentes afirmam que se trata da complexa administração de uma agenda de admiradoras invejavelmente abarrotada, onde o overbooking às vezes causa um probleminha. Mas, de resto, pode-se até dizer que se instaura uma certa pasmaceira, quebrada somente por alguma observação revoltada sobre exame de próstata, a inclusão da Rejeição Não Justificada de Paquera como grave infração no Estatuto do Idoso, ou como seria interessante que alguns de nós, seguindo altos exemplos, formássemos uma quadrilha para roubar dinheiro público, assim garantindo a famosa qualidade de vida, durante o ocaso de nossa existência. Mas é da convicção geral que o mercado está saturado, pois abundam quadrilhas e escasseia o que roubar, é grande a concorrência e não tem misericórdia.

A ausência do comandante Borges, sempre arrebatado na postulação de suas convicções, era certamente, como de costume, a grande responsável pela conversa morna e preguiçosa. A maior parte das especulações opinava que, havendo chegado a um estado pré-apoplético no dia anterior, enquanto defendia algumas de suas posições controvertidas, ele resolvera tirar o dia de folga e talvez fazer drenagem de adrenalina. Pena, porque, quando o temperamento iracundo do comandante se manifesta, não há quem não desperte de qualquer leseira. Uma tarde de domingo sem o comandante não é uma tarde completa.

Felizmente essa terminou sendo completa outra vez, porque, quando não mais era esperado, ei-lo que surge, em sua garbosa bicicleta elétrica moderníssima, de boné novo, sorridente e sem exigir forca para ninguém, Pediu um chope e bolinhos de bacalhau para os companheiros de mesa e se acomodou confortavelmente na cadeira. Belo dia, não? Meteorologicamente, podia não ser, mas historicamente era um dia lindo, um dos dias mais lindos de sua vida. Depois de muito matutar havia chegado às pinceladas finais de seu grande projeto para o Brasil, não era possível que a população não o apoiasse num plebiscito, ou coisa assim. Mas este é um problema para depois, o que interessa agora é o plano para nossa sofredora pátria.

Esse plano envolve uma cuidadosa programação de investimentos públicos, centrados na construção em massa de penitenciárias, para alojar todos os que estão fora da cadeia e tinham que estar dentro. Seria o Programa Penitenciário Nacional. Construção de presídios-modelo de primeiro mundo, embora sem firulas, tudo na austeridade de uma boa cadeia. Seriam dezenas ou centenas de vastos complexos, em todo o território nacional. A mão de obra seria basicamente de condenados já presos e do número extraordinário dos que viriam a ser presos. Os trabalhos de construção ficariam de graça, feitos por construtoras e empreiteiras delinqüentes, o que não é muito difícil de achar.

- E não será o bolso do contribuinte que vai sustentar os vagabundos na cadeia! - acrescentou ele, já exaltado. - Os ricos ou os que tiverem renda pagarão a hospedagem. Cada um paga o que pode. Os alojamentos são os mesmos para todos, mas cada um paga o que pode, de forma que o ricaço vai pagar a mesma diária da suíte dele em Abu Dabi ou o aluguel do apartamento em Nova York. E o pobre, que não tiver renda nenhuma, paga com o salário que receber de seu trabalho na penitenciária. Todo mundo na penitenciária vai ter que trabalhar, porque quem não trabalhar não come. E a administração do sistema vai para a iniciativa privada, é bom negócio, vai dar bastante lucro.

Com o boom da construção civil e seu efeito multiplicador, o país prosperaria até no embala Mas é forçoso reconhecer, acrescentou o comandante, que o Código Penal precisa ser mudado e simplificado. Só haverá pena de cadeia fechada, nada de frescura de serviços comunitários, de sair para Natal e outras colheres de chá. O que varia é o tempo de cadeia, mas qualquer infração rende cadeia. O juiz de plantão julga no mesmo dia e encana o elemento.

- Quanto aos di-menor, a lei vai ser também bem simples - finalizou ele. Para o di-menor com menos de doze anos, vai para a cadeia o pai ou responsável, por um número de anos igual à metade da idade do vagabundinho. Para quem está entre os doze e os dezesseis, cadeia direta nele, por metade dos anos de sua idade. E qualquer reincidente pega pena repetida e assim sucessivamente. Que tal? Amanhã mesmo já começo a colher assinaturas na internet.

- Você vai apresentar isso como o Plano Borges?

- Não, eu detesto aparecer, fico satisfeito só em ter tido a idéia para uma solução perfeita dos nossos problemas. Quer dizer, a verdade que eu sinto falta de um aspecto. Você não acha que as penitenciárias deviam ter uma forquinha? Ou senão uma guilhotinazinha? Cadeira elétrica eu sou contra por causa do gasto de energia, mas guilhotina vai por gravidade, corta ligeirinho...

Do nada, tudo - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 24/03

Se, em ciência, todo efeito é resultado de uma causa, qual é a causa primeira do surgimento do Cosmo?


NA SEMANA PASSADA, comecei uma discussão do que chamo o "problema das três origens", focando inicialmente na questão da origem da vida. Apesar de estarmos longe de saber como a matéria inerte tornou-se viva na Terra primitiva ou de como fazê-lo no laboratório, considero essa a mais fácil das três questões.

A origem da vida é algo que podemos estudar de fora para dentro, para ter uma visão externa e objetiva do que ocorre. Mesmo que seja impossível saber exatamente como a vida surgiu na Terra, podemos investigar os possíveis caminhos bioquímicos que levam a não vida à vida. No caso do Cosmo e da mente, as coisas são mais sutis.

Pelo que sabemos, todas as culturas tentaram narrar o processo da origem do mundo. Conforme exploro no livro "A Dança do Universo", os mitos de criação sugerem um número pequeno de respostas possíveis para a origem do mundo.

Todos pressupõem a existência de alguma divindade ou poder absoluto capaz de criar o mundo. Na maioria dos casos, esse poder absoluto é um deus ou grupo de deuses. Em alguns, o Universo é eterno, sem uma origem no tempo; já em outros, o Cosmo surge do nada, de uma tendência inerente de existir.

Esse nada pode ser o vazio absoluto, um ovo primordial ou a luta entre o caos e a ordem. Nem todos os mitos de criação usam uma intervenção divina ou pressupõem que o tempo começa em um momento do passado.

Na visão científica, a origem do Universo faz parte da cosmologia. Imediatamente, encontramos dificuldades: se, em ciência, todo efeito é resultado de uma causa, podemos voltar ao passado até chegarmos na causa primeira.

Mas o que causou essa causa? Aristóteles, por exemplo, usou uma divindade, "o-que-move-sem-ser-movido", que não precisa de uma causa. Ou seja, usou a intervenção divina. Como as observações atuais apontam para um Universo com um início no passado, o desafio dos modelos científicos de origem do Cosmo é justamente tentar driblar a questão da causa primeira.

Porém, mesmo supondo que isso seja possível, será que a resposta é aceitável ou definitiva? Se o Universo surgiu de uma flutuação quântica aleatória, resolvemos a questão da causa. No mundo quântico, processos ocorrem espontaneamente, como no decaimento de núcleos radioativos. Juntando a isso o balanço entre a energia positiva da matéria e a energia negativa da gravidade, essa flutuação pode ter energia nula: o Cosmo surge do "nada".

Esse é o resultado de que tanto se vangloriam Stephen Hawking, Lawrence Krauss, Mikio Kaku e outros físicos. Mas não deveriam. É óbvio que esse nada quântico é muito diferente de um nada absoluto. Qualquer modelo científico pressupõe toda uma estrutura conceitual: energia, espaço, tempo, equações, leis...

Fora isso, hipóteses precisam ser testáveis e não sabemos como fazer isso com uma flutuação primordial. Não podemos sair do Universo e testar outras versões no laboratório. No máximo, modelos como esse chegam a uma compatibilidade com o que observamos.

A questão de por que este Universo e não outro continuará em aberto. O fato de a ciência oferecer tantas respostas não significa que ela deva responder a tudo.

Coisas - LUÍS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 24/03

Da série "Coisas que a vida ensina": com o tempo, ou nos transformamos nos nossos pais ou nas pessoas sobre as quais nossos pais nos preveniam.

CORPORAÇÃO

Há pessoas que, com o tempo, acrescentam outra.

O rosto fica mais carnudo, a cintura se expande, tudo engrossa: incorporam um estranho. Com outras acontece o contrário, perdem um outro inteiro (Jô Soares, há muito tempo, depois de emagrecer com uma dieta: "Perdi um Wilson Grey").

Deve ser parte do falado amor da Natureza ao equilíbrio: nada aumenta aqui que não diminua em outro lugar, e vice-versa. E há um certo consolo em pensar que nossa barriga pode ser a barriga enjeitada de outro.

CARGA

E quando chegar a hora de aproveitarmos toda a experiência que acumulamos com o tempo, tudo que a vida nos ensinou através dos anos, toda a sabedoria, toda a filosofia, todo o savoarfer, não teremos mais a energia.

Será um pouco como amontoar tanta coisa no lombo de um burro que ele não consegue sair do lugar.

Ângulo

(Da série "Poesia numa hora destas?!")

As paixões humanas não mudam,

muda o angulo de visão:

hoje é comportamento obsessivo

o que era amor de perdição,

falta de carboidratos

em vez de desmaios por desilusão,

contratos bem redigidos

em vez de juras do coração,

e temporadas num spa para esquecer a separação,

E o que antes era voyeurismo, hoje é contemplação.