segunda-feira, março 18, 2013

O novo Ministério zomba do Brasileiro - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Está confirmado: o julgamento do mensalão não teve a menor importância para o Brasil. Não se sabe ainda quando os condenados serão presos, se forem. Mas isso também não importa. Importa é que o esquema deu certo. O grupo político que organizou o maior assalto da história aos cofres públicos - ninguém jamais ousara criar um duto permanente entre o dinheiro do Estado e um partido político - vai muito bem, obrigado. Aprovado em duas eleições presidenciais, parte para a terceira como favorito. E os últimos atos da presidente da República mostram sua desinibição para reger o esquema parasitário.

Dilma Rousseff anunciou uma reforma ministerial. Assunto delicado. Como se sabe, a presidente passou todo o seu primeiro ano de governo tentando segurar nos cargos o exército de ministros podres que nomeou. Em muitos casos, não foi possível. A avalanche de denúncias publicada pela imprensa burguesa, que não deixa o governo popular sugar o país em paz, foi irresistível. Mas a opinião pública brasileira é tão lunática que esse vexame - ter de cortar cabeças em série, todas recém-nomeadas - passou ao senso comum como a "faxina ética" da presidente. O Brasil gosta é de novela - e resolveu acreditar nesse enredo tosco da mãe coragem que toma conta da casa.

Dilma, Lula e sua turma exultaram com o cheque em branco que receberam da nação. Ao longo de dez anos no poder, o tráfico de influência para edificar a República do fisiologismo foi flagrado em todo o Estado-maior petista: de Valdomiro a Dirceu, de Erenice a Rosemary, de Palocci a Pimentel, dos aloprados aos mensaleiros, dos transportes ao turismo, da agricultura ao trabalho. A tecnologia da sucção do Estado pelos revolucionários progressistas foi esfregada diversas vezes na cara do eleitorado, que continuou aprovando sorridente o truque. E por isso que agora, nos conchavos para a tal reforma ministerial, Dilma não faz a menor cerimônia para chamar os fantasmas para dançar.

Entre os principais interlocutores da presidente para decidir quem abocanhará o quê, estão figuras inesquecíveis como o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. O sujeito que tentou ficar no cargo na marra, que disse que só saía debaixo de tiro, após uma floresta de irregularidades apontadas na sua gestão — incluindo passeio em avião de dono de ONG beneficiada por seu ministério está aí de novo, dando as cartas no primeiro escalão à luz do dia. O brasileiro é mesmo um generoso.

Quem mais apareceu decidindo com Dilma o futuro de seu ministério? Alfredo Nascimento, o ex-ministro dos Transportes demitido na "faxina", falando grosso de novo para resolver quem ficará com uma das pastas mais endinheiradas do governo. E atenção: esses encontros não são secretos. Faxineira e faxinados mostram para quem quiser ver que continuam jogando no mesmo time, sem arranhar o mito da gerentona ética. Magia pura.

Nessa conversa houve um desentendimento inicial. Dilma queria que assumisse o Ministério dos Transportes o senador Blairo Maggi, citado por réus do escândalo Cachoeira-Delta. Se o Brasil não lembra de nada, por ela tudo bem. Quem vetou foi o próprio Nascimento. A escolha de Dilma não passou no filtro do ministro demitido por ela. Isso é que é faxina bem feita.

Já que o Brasil não liga para essas coisas, nem para a gastança pública que fermenta a inflação, Dilma achou que era hora de criar mais um ministério. Contando ninguém acredita. Vem aí a pasta da Micro e Pequena Empresa, para acomodar mais um companheiro e premiar o partido criado por Gilberto Kassab para aderir à indústria política do oprimido.

Evidentemente, os brasileiros não se importarão que o novo ministério, com dezenas de novos cargos custando mais alguns milhões de reais ao Tesouro, tenha funções já cobertas pelo Ministério do Desenvolvimento. Faz sentido. O ministro do Desenvolvimento é Fernando Pimentel, amigo de Dilma que faturou R$ 2 milhões com consultorias invisíveis e permaneceu no cargo agarrado à saia da madrinha. Para ter um ministro café com leite, que precisa ficar escondido, melhor mesmo criar um ministério novinho em folha para fazer o que ele não faz.

Eis o triunfo da doutrina do mensalão: para cada Dirceu preso, sempre haverá uma Dilma livre, leve e solta.

Ideias não geniais II - MAlLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

Ideias tidas como geniais, mas na verdade inconvenientes, são mais comuns nos países em desenvolvimento do que nos ricos. A explicação está nos níveis de educação e no ambiente institucional das nações avançadas, que inibem a propagação dessas ideias. Nos países em desenvolvimento, é maior a dificuldade de entender como funciona uma economia de mercado e as motivações que levam empresários a assumir riscos e investir. Pouco se discutem custos e benefícios no caso de propostas de políticas públicas.

No artigo anterior, analisei quatro ideias não geniais que podem fundamentar más decisões. Sou tentado a me ocupar de outras quatro. A primeira é a lei aprovada pela Câmara Municipal de Campinas (SP), em dezembro, pela qual os restaurantes devem “conceder descontos e/ou meia-porção para as pessoas que realizaram cirurgia bariátrica” (redução do estômago). Acontece que os ingredientes da comida são o menor custo dos restaurantes. Os maiores são as despesas de aluguel e pessoal. Pela mesma lógica, os restaurantes deveriam ser autorizados a cobrar o dobro dos obesos.

A segunda, consagrada nas leis e nos costumes do país, é a da meia-entrada para estudantes e idosos em cinemas, teatros e eventos esportivos. Não há regra semelhante em outros países, pelo menos nessa extensão. Descontos ocorrem em ações promocionais, casos de lançamento de filmes, shows e peças teatrais (os previews) ou da redução de preços em sessões fora dos picos. A decisão é da empresa, e não da lei. Está em discussão no Senado projeto de lei que limita em 40% a venda da meia-entrada. É um paliativo, de difícil aplicação prática, que não resolverá as incertezas e distorções do desconto.

Em uma economia de mercado, não faz sentido obrigar uma empresa privada a cobrar dois preços para o mesmo serviço. O empresário é levado a aumentar o preço para todos os consumidores. Trata-se de um caso típico de “subsídio cruzado”, em que uns pagam mais para que outros paguem menos. A "bondade” dificulta o cálculo econômico, pois não dá para saber quantos espectadores terão o desconto. A discriminação de preços é uma das razões dos altos valores dos ingressos para eventos culturais e esportivos no Brasil. Estender a obrigação aos restaurantes é uma completa estupidez.

A terceira é aplicar os recursos do petróleo do pré-sal na educação. Aqui há dois equívocos: 1) a má qualidade da educação não deriva da insuficiência de recursos, e sim da má gestão dos existentes. Proporcionalmente, o Brasil gasta em educação tanto quanto os Estados Unidos e a Alemanha. E mais do que o Japão, a Coreia do Sul e a China, que constituem êxitos educacionais indiscutíveis; 2) despesas permanentes não devem ser financiadas com receitas finitas (um dia o petróleo acaba) ou voláteis (dependem de preços internacionais). A ideia pode acarretar mais desperdícios do que melhora da educação.

A quarta é a da lei que obriga a explicitar pelo menos sete impostos na nota fiscal. O objetivo, meritório, é conscientizar o contribuinte e levá-lo a reivindicar uma menor carga tributária e melhores serviços públicos. Propagou-se que é assim nos Estados Unidos e na Europa. Não é bem o caso. Nos Estados Unidos, o sale lax consta da nota porque incide apenas na venda final ao consumidor e por isso é obrigatório o seu cálculo no momento da transação. A nota não informa sobre outros impostos que gravaram o produto. Na Europa, o registro do imposto sobre o valor agregado (IVA) na nota fiscal não é a regra. Mesmo nos países onde isso ocorre o consumidor não sabe o valor dos demais impostos. É incrível que em meio ao nosso manicômio tributário se crie mais uma obrigação para as empresas. É pouco provável que a lei atinja seus objetivos. No caso da carga tributária, seu tamanho é essencialmente o efeito de gastos obrigatórios como os de aposentadoria, funcionalismo, educação e saúde, de difícil redução. Não há conscientização capaz de provocar a diminuição da carga nos anos vindouros.

Proposições equivocadas, ainda que bem-intencionadas, precisam passar no teste de sua conveniência e viabilidade. Isso costuma acontecer em países desenvolvidos, mas pelo visto não é a regra por estas plagas.


Helena não tem culpa - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 18/03

Responsabilizar a mulher pelos males do mundo é coisa de homem brocha que quer aplacar sua desgraça


Dias atrás, uma amiga, alta executiva paulista, radicada no Rio, me mandou um e-mail com a cópia de uma resenha sobre um livro (fruto de pesquisa de campo) de um antropólogo,

Napoleon Chagnon, que estudou os índios ianomâmis no Brasil e na Venezuela por muitos anos.

Suas conclusões não são aquelas que a comunidade acadêmica, ideologicamente orientada na sua quase totalidade, costuma gostar.

Quem sabe, este "desgosto ideológico dos pares" (gente ávida por destruir oponentes teóricos) tenha sido responsável pelos desdobramentos negativos que o antropólogo teve em sua vida profissional por conta desta pesquisa.

O livro ("Noble Savages"), que logo comprei, deveria ser lido nas escolas. Um tratado contra a tradição marxista, não só em antropologia, mas em tudo mais. Mas o que especificamente tem esse livro contra esta tradição?

Engana-se quem pensa que a tradição marxista comece com Marx, ela começa com Rousseau e seu bom selvagem. O princípio é que o homem é bom e a sociedade é que o perverte. A perversão do bom selvagem pelo "Das Kapital" é apenas uma decorrência do principio do Rousseau, só que para Marx não partimos do bom selvagem, mas sim chegaremos a ele quando superarmos esta sociedade má.

Uma ideia assim (que somos bons e a sociedade nos corrompe, e aqui você pode colocar no lugar de "sociedade" a família, o patriarcado, a igreja, o capital, os EUA, o patrão, seu pai autoritário) faz almas fracas gozarem de prazer. Porque o que ela diz é que, ao final, não sou responsável por nada que faço. Não fosse pela "sociedade", eu seria um homem bom.

Ao contrário do que parece, essa tradição pegou porque alimenta algo de muito banal: que somos homens bons em nossa natureza essencial. Esta ideia alimenta nossa vaidade e não foi por outro motivo que Burke, filósofo britânico do século 18, chamava Rousseau de "filósofo da vaidade".

Nossa origem é o bom selvagem? É por isso que australianos que não têm o que fazer se pintam de aborígenes e gritam por aí? Quanta bobagem! Quanto lixo escrito com tinta cara!

Também concordo que devemos olhar para o "passado" para entendermos como somos hoje. A diferença é que minha ideia de "estado natural do homem" é diferente da de Rousseau, o filósofo da vaidade. Partilho da ideia que para nos entendermos devemos olhar para a pré-história de fato, e não a mítica, como a do Rousseau.

Este mito alimenta uma outra bobagem: a ideia de que toda diversidade cultural é linda. "Viva a diferença!", dizem os festivos por aí.

A "humanidade", na sua capacidade frágil de não ser bicho malvado, foi tirada das pedras, à custa de muito sangue. Sempre bebemos o sangue dos outros no café da manhã.

E aí voltamos ao livro. A conclusão de Chagnon é que os ianomâmis, parentes nossos que vivem muito perto do que seria o neolítico, tribos que permaneceram bastante "puras" enquanto outras já haviam sido "contaminadas pela maldade do homem branco" (risadas?), sempre se mataram por uma razão nada complexa: "mulher, mulher, mulher".

Inclusive, quem tinha mais mulher, tinha mais descendentes.

Qualquer evolucionista gargalharia diante de tamanha obviedade ocultada pelas interpretações ideológicas pueris da falsa história do bom selvagem.

Os ianomâmis também têm suas Helenas de Troia. Entre eles, quem matava mais tinha mais mulher. Entre nós, quem é mais "adaptado" tem mais mulher.

Não se trata de culpar as mulheres porque são filhas de Eva. Responsabilizar a mulher pelos males do mundo é coisa de homem brocha que, por não conseguir penetrá-la, recorre à falsa culpa feminina para aplacar sua desgraça.

Reconhecer que os ianomâmis se matam em troca de mulheres (ou se matavam enquanto eram "puros" ou "bons selvagens") não é uma prova contra as mulheres. É uma prova contra Rousseau e sua tradição do bom selvagem.

Eu, pessoalmente, acho até uma boa causa. Quero dizer, nos matarmos por mulheres. Neste caso, o troféu é bem concreto e todo mundo sabe de seu "valor de uso".

Isto é, não precisamos de provas metafísicas para reconhecer o valor de uma mulher.

O conto do vigário - JOSÉ DE SOUZA MARTINS

O Estado de S.Paulo - 18/03

O conto do vigário já era comum em São Paulo quando o Viaduto do Chá foi inaugurado em 1892. O Viaduto veio a calhar para os vigaristas. Fazendeiros e negociantes do interior, que vinham a São Paulo, ficavam deslumbrados com a ponte de metal importado da Alemanha. Uma pinguela daquele tamanhão para passar por cima de um corguinho que nem o Anhangabaú! E ainda se pagava para usá-la: quase um tostão por pessoa. Tinha até porteira! Uma cancela na saída da Rua Direita vedava a passagem a quem não pagasse o pedágio. Mais leve do que colher café!

Se é verdade ou não, só Deus o sabe. Quem foi logrado não contou. Mas as histórias atravessaram o tempo: muito caipira teria comprado o Viaduto de vigaristas que de sua ingenuidade se aproveitavam. Roceiros que desconfiavam de banco, guardavam dinheiro dentro do colchão de palha de milho e dormiam em cima dele. Chegavam a São Paulo com o maço de notas enroladas e amarradas numa trouxinha de lenço de tabaco, bem guardada na algibeira. Muitas dessas histórias vinham do preconceito contra o caipira, é verdade. Mas o certo é que a vigarice se tornou rapidamente um item cotidiano da criminalidade local, mesmo que sem o exagero de histórias como essa. Os arredores das estações do Norte e da Luz demarcavam a geografia da malandragem.

O peculiar do conto do vigário é que o vigarista faz da vítima um cúmplice, o esperto que é tonto. Forma comum foi a de dar grande quantia de dinheiro bom em troca de quantia muito maior de dinheiro falso. Depois, o esperto comprador, imaginando que ia ganhar uma fortuna, descobria que o paco de dinheiro falso tinha só em cima e em baixo notas verdadeiras de 20 mil réis. O resto era papel de jornal cortado no tamanho do dinheiro de verdade. E havia quem, enganado, ainda ia à polícia fazer queixa: acabava preso porque, sem o saber, confessara-se cúmplice de falsário.

O conto do vigário começou a se difundir entre nós pouco antes da abolição da escravatura, com a grande imigração. Não só caipiras eram suas vítimas, brancos e negros, mas também os próprios imigrantes. Muito italiano caiu no logro, logrado por italiano. Um preto, mascate em Tietê, em 1894, vindo a São Paulo, para fazer as compras de seu negócio, foi enrolado por um forasteiro, na Praça da República. Quando viu, estava limpo.

No começo, eram chamados de "passadores do conto do vigário". Aos poucos, começou a ser usada a palavra "vigarista" e, bem mais tarde, a palavra "vigarice". O conto do vigário havia se tornado uma profissão. A modernidade chegara a São Paulo. Aliás, uma das primeiras notícias de vigarice na província de São Paulo dava como vítima o vigário de São Carlos, enganado, em 1887, no próprio confessionário, de quem o vigarista tungou nada menos do que 12 contos de réis, uma verdadeira fortuna.

Papa Chico e o Rolex - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 18/03

Neste livro “Sobre el cielo y la tierra”, do Papa Francisco, objeto de nota ontem na coluna do Elio Gaspari, tem um trecho que mostra a indignação desse prelado argentino ao recusar, certa vez, um convite para um jantar de caridade que incluía o leilão de um relógio Rolex:
— O dono do Rolex quer exercitar sua vaidade à custa dos pobres. Maravilha.

História se repete
Dia 23, a Comissão Nacional da Verdade fará um evento, no Rio, sobre o “Caso Panair”. A “família” Panair, que se reúne todo ano, atribui o fim da aviadora aos militares que tomaram o poder em 1964.
O objetivo seria favorecer a Varig.

Só que...
Também agora, após quase cinco décadas, há quem veja motivação política no colapso da Varig.

Nesta versão atual de “variguianos”, o PT deixou a empresa morrer para favorecer a TAM. Há controvérsias.

Sala de aula
Pesquisa do Data Popular, de Renato Meirelles, mostra aspecto do aumento da escolaridade no Brasil.

Na classe média, os adultos de 25 a 44 anos estudaram cerca de 50% a mais do que seus pais.

‘Ai se eu te pego’
A Asociación Mexicana de Productores de Fonogramas y Videogramas anunciou que a música mais vendida, em formato digital, no país em 2012 foi... “Ai se eu te pego”, de Michel Teló. Ficou na frente de “Gangnam style”, do sul-coreano Psy.

Na verdade...
Como se diz em Frei Paulo: dou um pelo outro e não quero troco.
Com todo o respeito. Clube de bacanas
Quem jogou tênis no Country, em Ipanema, no último sábado foi Ronaldo Fenômeno.

Aliás...
O ex-jogador está vendendo, em Jacarepaguá, um terreno imenso. Quer R$ 6 milhões

Diário de Justiça
O juiz Marco José Mattos Couto, da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá, condenou a dez anos de prisão Rafael Marcos Garcia, assessor da procuradoria de Justiça, e Helenice Nogueira da Silva.

Segundo o juiz, Rafael mantinha um romance com Helenice e, em razão disso, frequentava a sua casa. Numa dessas visitas, ele teria abusado sexualmente da filha dela, menor de idade na época, sem que a mãe impedisse.

Museu Histórico
Sérgio Cabral deve doar um antigo terreno do Detran, na Rua Santa Luzia, no Centro do Rio, para o Museu Histórico Nacional.

A ideia é construir ali um anexo ao MHN.

Como tudo começou
A Casa da Palavra lança este mês um livro que vai contar curiosidades de 50 clássicos da literatura.
Chama-se “Conversando com Mrs. Dalloway”, de Celia Blue Johnson. Entre eles está “Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez. O colombiano teve inspiração para a obra-prima enquanto dirigia seu carro.

CASA DE Será inaugurado, até junho, com uma atração internacional, o Teatro Bradesco Village Mall, aquele
do shopping que leva o mesmo nome, na Barra da Tijuca. O novo espaço para shows, vejam só na SHOWS VIP reprodução, terá 1.600 lugares, decoração requintada e cadeiras luxuosas, idênticas às do Carnegie Hall, famosa casa de espetáculos de Nova York. Segundo o projeto, os banheiros terão mármore de Carrara, e as paredes da sala serão recobertas com bambus. Um luxo só.

Direitos autorais
Beatriz Drummond, a viúva do escritor Roberto Drummond, o pai de “Hilda Furacão”, vai entrar na Justiça contra a editora Leitura, responsável por publicar o livro de crônicas dele sobre o clube Atlético Mineiro, intitulado “Paixão em preto e branco”.

Ela diz que há dois anos a editora parou de pagar os direitos autorais para as herdeiras.

Super-David Brazil
O filme “Super-Crô”, baseado em personagem de “Fina estampa”, de Aguinaldo Silva, vai ser recheado de celebridades convidadas pelo próprio protagonista, Marcelo Serrado.

Entre elas, Ivete Sangalo, Preta Gil e Carolina Dieckmann. O cabeleireiro de Crô no filme vai ser o gago David Brazil.

Bundocentrismo
De Geraldinho Carneiro, sobre a queixa de sambistas de que as direções das escolas de samba prestigiam mais as bundas das rainhas de bateria do que a velha-guarda: “Mas é uma tristeza esse elogio das bundas. Não que eu tenha nada contra, mas transformá-las no centro do mundo é de uma cretinice. Vamos lutar contra o bundocentrismo.”
Sem exageros, Geraldinho!

Como tudo começou
A Casa da Palavra lança este mês um livro que vai contar curiosidades de 50 clássicos da literatura.

Chama-se “Conversando com Mrs. Dalloway”, de Celia Blue Johnson. Entre eles está “Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez. O colombiano teve inspiração para a obra-prima enquanto dirigia seu carro.

O fruto caiu longe da árvore - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 18/03

Vivemos sob a nuvem do determinismo genético. Pais de jovens que cometem massacres são tratados como párias. A ignorância faz com que mães de crianças autistas sejam acusadas de ter sido frias e distantes de seus bebês.

A neurologia do comportamento ainda enfrenta mistérios semelhantes entre crianças que são prodígios e crianças com problemas do desenvolvimento.

Um velho adágio diz que a maçã não cai longe da árvore. Mas o autor Andrew Solomon passou dez anos escrevendo um livro de 800 páginas e acumulou narrativas que desmentem o ditado.

Far From The Tree (Longe da Árvore) investiga a vida de famílias com filhos com Síndrome de Down, autistas, prodígios, transexuais, esquizofrênicos, crianças com deficiências simples ou múltiplas e crianças cuja concepção foi fruto de um estupro. Crianças, enfim, que foram "diferentes" e desafiaram o afeto dos pais.

Solomon deixa claro que defende a liberdade de escolha reprodutiva da mulher e nada testou sua convicção quanto a convivência com mulheres vítimas da violência indescritível que suspendeu essa liberdade. Depois de ouvir um pedido da mãe Tutsi de Ruanda - "Por favor, me ajude a amar mais a minha filha" -, a mulher cujo estupro foi mais uma arma usada no genocídio de 1994, ele voltou para casa em Nova York e ouviu o apelo de maneira diferente: havia muito amor no apelo.

Solomon usa a própria experiência para informar sua pesquisa. Sua homossexualidade, quando crescia em Nova York, era tratada como doença e foi motivo para que ele sofresse bullying na escola. Ao se casar com o marido atual, John, e ter dois filhos por inseminação artificial, ele reexaminou a rejeição sofrida em casa e entendeu que ser amado pelos pais não era exatamente o mesmo que ser aceito pelos pais.

O dilema do pai e da mãe que aceitam o filho "diferente" atravessou a vida de Solomon e ele já tinha começado a pesquisa do livro quando embarcou na aventura da paternidade. E ainda levou um susto - seu filho George chegou a ser examinado por um problema no nascimento que teria cortado o fluxo de oxigênio para o cérebro. Final feliz. Mas a ironia não escapou ao autor.

Algumas das passagens mais perturbadoras do livro tratam de Sue e Tom Klebold, pais de Dylan, um dos dois responsáveis pelo massacre de Columbine, em 1999, epítome dos assassinatos em massa e modelo de futuros assassinos.

Depois de cinco anos de contato com a família e ao final de um fim de semana intenso, Solomon pergunta se, caso Dylan não tivesse se suicidado, o que diriam a ele. Sue diz que pediria desculpas por não ter entendido o que se passava na sua cabeça. De todas as anomalias apresentadas por filhos, diz Solomon, a criminalidade continua a inspirar o maior escárnio social.

Mas, ele conclui, assistindo a um vídeo de Dylan, dias antes do massacre, é possível esconder com sucesso traços de caráter.

A condenação social torna ainda mais difícil a vida de mulheres que decidiram manter a gravidez depois de serem estupradas. A suspeita de que a criança fruto da violência vá herdar a personalidade do pai faz com que muitos filhos de mães estupradas queiram manter sua história secreta.

Solomon separa a identidade dos filhos em duas categorias. A vertical diz respeito à etnia, língua e, frequentemente, à nacionalidade e religião. A identidade horizontal reúne as características genéticas e as influências pré-natais. Elas fazem com que o jovem seja forçado a se identificar, não com os pais, mas com um grupo na adolescência, como os que sofrem de surdez.

Far From The Tree trata também dos avanços da Medicina que tornaram possíveis a sobrevivência e até a longevidade de crianças portadoras de deficiências que teriam ficado escondidas do nosso radar de humanidade.

"Se um anjo aparecesse e me oferece filhos ainda mais perfeitos", diz Solomon, "eu abraçaria os meus, horrorizado".

Numa era em que a tecnologia reforça a ilusão da perfeição adquirida, o livro é uma crônica do afeto que move a aceitação incondicional.


Igreja, uma megacobertura - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

O ESTADO DE S. PAULO - 18/03
Uma megacobertura. Não há outra palavra para definir o volume de informação a respeito da Igreja Católica. A surpreendente renúncia de Bento XVI, os bastidores do conclave, o impacto da eleição do primeiro pontífice da América Latina e a próxima Jornada Mundial da Juventude, encontro do papa Francisco com os jovens, em julho no Rio de Janeiro, puseram a Igreja no foco de todas as pautas.

A cobertura do Vaticano é um case jornalístico que merece uma análise técnica. Algumas patologias, evidentes para quem tem olhos de ver, estiveram presentes em certas matérias da imprensa mundial: engajamento ideológico, escassa especialização e pouco preparo técnico, falta de apuração, reprodução a crítica de declarações não contrastadas com fontes independentes e, sobretudo, a fácil concessão ao jornalismo declaratório.

Poucos, por exemplo, se aprofundaram no verdadeiro sentido da renúncia de Bento XVI e na qualidade de seu legado. O papa emérito, intelectual de grande estatura e homem de uma humildade que desarma, sempre foi julgado com o falso molde de um conservadorismo exacerbado. Mas, de fato, foi o grande promotor da realização do Concilio Vaticano II, o papa que mais avançou no diálogo com o mundo islâmico, o pontífice que empunhou o bisturi e tratou de rasgar o tumor das disputas internas de poder e o câncer dos desvios sexuais.

Sua renúncia, um gesto profético e transgressor, foi um ato moderno e revolucionário. Bento XVI não teve nenhum receio de mostrar ao mundo um papa exausto e sem condições de governar a Igreja num período complicado e difícil. Foi sincero. Até o fim. Ao mesmo tempo, sua renúncia produziu um vendaval na consciência dos cardeais. A decisão, inusual nas plataformas de poder, foi a chave para o início da urgente e necessária reforma da Igreja. O papa emérito, conscientemente afastado das bajulações e vaidades humanas e mergulhado na sua oração, está sendo uma alavanca de renovação da Igreja. Nada disso, no entanto, apareceu na cobertura da mídia. Faltaram profundidade, análise séria, documentação. Ficamos, todos, focados nos boatos, nas intrigas, na ausência de notícia. Falou-se, diariamente, do relatório dos cardeais ao papa emérito denunciando supostos escândalos no Vaticano. Mas ninguém na mídia, rigorosamente ninguém, teve acesso ao documento. Os jornais, no entanto, entraram de cabeça no mundo conspiratório. Suposições, mesmo prováveis, não podem ganhar o status de certeza informativa.

Escrevia-me, recentemente, um excelente jornalista. "Acordei hoje cedo, li os jornais e me perguntei: sou só eu a me indignar muito com a proliferação de "informações" inverificáveis, oriundas de fontes off the record ou de documentos "sigilosos" sobre os quais não há nenhum outro dado que permita verificar sua realidade e consistência? Ninguém se questiona sobre tantos "furos", "obtidos" por jornalistas que escrevem a distância "reportagens" tão nebulosas, redigidas em uma lógica claramente sensacionalista? Ninguém mais se preocupa com a checagem de informações, com a credibilidade das fontes?" Assino embaixo do seu desabafo.

A enxurrada de matérias sobre abuso sexual na Igreja é outro bom exemplo desses desvios. Setores da mídia definiram os abusos com uma expressão claramente equivocada: "pedofilia epidêmica". Poucos jornais fizeram o que deveriam ter feito: a análise objetiva dos fatos. O exame sereno, tecnicamente responsável, mostraria, acima de qualquer possibilidade de dúvida, que o número de delitos ocorridos é muitíssimo menor entre padres católicos do que em qualquer outra comunidade. O conhecido sociólogo italiano Massimo Introvigne mostrou que, num período de várias décadas, apenas cem sacerdotes foram denunciados e condenados na Itália, enquanto 6 mil professores de Educação Física sofriam condenação pelo mesmo delito. Na Alemanha, desde 1995, existiram 210 mil denúncias de abusos. Dessas 210 mil, 300 estavam ligadas ao clero, menos de 0,2%. Por que só nos ocupamos das 300 denúncias contra a Igreja? Mas e as outras 209 mil? Trata-se, como já afirmei, de um escândalo seletivo.

Claro que alguns representantes da Igreja - padres, bispos e cardeais - têm importante parcela de culpa. Na tentativa de evitar escândalos públicos, esconderam um problema que é inaceitável. Acresce a tudo isso o amadorismo, o despreparo e a falta de transparência da comunicação eclesiástica. O novo pontífice precisa enfrentar a batalha da comunicação. E o papa Francisco dá toda a impressão de que está decidido a estabelecer um diálogo direto e produtivo com a imprensa. O desejo de se reunir com os jornalistas na grande sala de audiência Paulo VI foi muito sugestivo.

A Igreja, com sua história bimilenar e precedentes de crises muito piores, é um fenômeno impressionante. E, obviamente, não é um assunto para ser tocado com amadorismo, engajamento ou preconceito. A má qualidade da cobertura da Igreja é, a meu ver, a ponta do iceberg de algo mais grave. Reproduzimos, freqüentemente, o politicamente correto. Não apuramos. Não confrontamos informações de impacto com fontes independentes. Ficamos reféns de grupos que pretendem controlar a agenda pública. Mas o jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém: nem da Igreja, nem dos políticos, nem do movimento gay, nem dos fundamentalistas, nem dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim, ficar reféns da verdade e dos fatos.

Há espaço, e muito, para o bom jornalismo. Basta cuidar do conteúdo e estabelecer metodologias e processos eficientes de controle de qualidade da informação.

LINHA DIRETA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 18/03

As empresas de telefonia perderam o primeiro round da batalha jurídica e vão ser obrigadas a pagar contribuição para emissoras públicas de televisão. Em litígio com a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que administra a TV Brasil, elas depositavam a quantia em juízo desde 2009 -e os recursos hoje somariam R$ 1,25 bilhão, segundo estimativa da rede.

LINHA 2
Do total do tributo, 75% devem ficar com a EBC e 22,5%, com as demais emissoras e rádios públicas. Os outros 2,5% vão para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Ainda cabe recurso. As teles são representadas na causa pelo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal.

GELO
Lula e Eduardo Campos (PSB-PE), governador de Pernambuco, não se falam há mais de cinco meses. A última vez foi em outubro, quando Campos telefonou para felicitar o ex-presidente por seu aniversário.

MÃO AMIGA
E Campos vai tentar ajudar Marina Silva a derrubar o projeto de lei que restringe o acesso de novas legendas ao fundo partidário e limita o tempo de propaganda gratuita na televisão. O novo partido da ex-senadora, a Rede, seria diretamente atingido.

MESA REDONDA
A interlocutores Campos diz achar que o projeto é uma manobra do governo para inibir sua eventual candidatura à Presidência em 2014. Criando dificuldades para Marina, o PT tentaria impedi-la de também participar da disputa. Com poucos postulantes, os que sobrassem contra Dilma ficariam com cara de oposição direta ao governo dela -imagem que ele pretende evitar.

MOLDURA
Romero Britto doou um quadro de sua autoria para ser leiloado e revertido em prol da CPI do crack. Ele entregou a obra ao deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), relator da comissão.

MOLDURA 2
E Protógenes não anda feliz com o PCdoB, partido em que os principais espaços políticos estão ocupados por antigas lideranças.

ALÉM DA BIENAL
O artista Vik Muniz inaugura a mostra individual "Espelhos de Papel" na galeria Nara Roesler no dia 2 de abril. A mostra, que integra a feira SP-Arte, conta com obras em que o artista usa fragmentos de revistas.

EM FAMÍLIA
Bruna Lombardi começa a rodar em SP, em abril, o novo longa que escreveu. A direção, mais uma vez, será do marido, Carlos Alberto Riccelli. "Não posso ainda revelar nome nem o elenco. Serão cinco histórias de amor que se entrelaçam", diz a atriz.

SECCO DE MOLHO
Deborah Secco apresentou um atestado médico pedindo 90 dias de repouso ao deixar o espetáculo "O Casamento", que estreará no dia 13 de abril, em SP. Na semana passada, a atriz disse à coluna ter saído da peça porque a Globo havia estendido a temporada da série "Louco por Elas".

DE MOLHO 2
"Até os patrocinadores nos questionaram sobre o verdadeiro motivo do abandono de Deborah", diz o produtor Fernando Padilha. A assessoria da atriz afirma que ela não tem "problema de saúde", mas recebeu a recomendação médica de "pegar mais leve". A Globo é a sua prioridade. E no mês que vem ela inicia as filmagens do longa-metragem sobre a banda Calypso.

AMIGA DOS ADOLESCENTES
Atriz, com passagens pela Globo, Record e SBT, modelo e DJ paulistana, Patrícia Dejesus, 34, estreia hoje como VJ na MTV. Comandará a parada de clipes "Top 10". "A MTV queria alguém espontânea. Serei como a nova melhor amiga da audiência, que tem entre 14 e 19 anos", diz. Fã da sonoridade dos anos 1970, Patrícia afirma não ter problema em se atualizar musicalmente. "Sou bastante eclética."

EUROPA NO SERTÃO
Os atores Cássio Scapin, Leonardo Miggiorin e Daniel Infantini protagonizam a peça "Lampião e Lancelote", em cartaz no teatro do Sesi-SP. As atrizes Mel Lisboa e Marisa Orth, a modelo Janna Palma, a apresentadora Regina Volpato e o cantor Zeca Baleiro, que assina a direção musical do espetáculo, foram à pré-estreia para convidados.

OLHO NA PASSARELA
A apresentadora Isabella Fiorentino conferiu o desfile da grife Fillity, de Esperança Dabbur, no MuBE. A modelo Janaina Olsson participou da apresentação.

CURTO-CIRCUITO
A exposição "Retrato Social", de Regina Ermírio de Moraes, será aberta às 19h30 no Cidade Jardim.

Paulo Moreira Leite autografa "A Outra História do Mensalão - As Contradições de um Julgamento Político", às 18h30, na Livraria Cultura da Paulista.

João Bosco faz show grátis no Bourbon Street, às 20h, a convite da Sociedade da Cerveja.

As eleições de 2014 e a economia - LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS

VALOR ECONÔMICO -18/03
A condução da política econômica no Brasil está dando sinais de estar passando por mudanças importantes. Os analistas precisam incorporar os efeitos de uma eleição presidencial - que se mostra hoje mais difícil do que as que consolidaram a hegemonia do PT no quadro político brasileiro - em suas previsões. Vou dividir com os leitores do Valor algumas observações que tenho sobre esse tema, embora deva ressaltar que ainda são ideias iniciais e que só os próximos meses poderão robustecê-las.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o PT é um partido que segue os princípios do cientista político italiano Antonio Gramsci, adaptado ao cenário brasileiro ao longo dos últimos dez anos. E nesse quadro de princípios a manutenção do poder é um de seus principais itens. Em outras palavras, para o PT e sua liderança política, eleição é uma coisa muito séria que justifica tudo, inclusive a mudança de posições consolidadas ao longo do tempo. A própria presidenta nos lembrou, recentemente, desse fato ao dizer que em época de eleições faz-se o diabo para ganhá-las.

Um segundo ponto que gostaria de desenvolver diz respeito a uma observação feita pelo ex-governador Paulo Hartung - outro político que também leva a questão de eleições a sério - em recente conversa. Para ele as eleições presidenciais do próximo ano serão as mais difíceis que o PT enfrentará na sua fase "poder". As razões são várias, mas as mais importantes me parecem as seguintes:

1 - a economia em 2014 não será a maravilha que vivemos em 2006 e 2010;

2 - a se confirmarem as candidaturas que estão postas hoje, a presidente Dilma terá que enfrentar no Nordeste um político local e de grande visibilidade como Eduardo Campos e que certamente vai roubar muitos votos do PT;

3 - em Minas Gerais (outro curral eleitoral do PT nas últimas eleições) a presença do ex-governador Aécio Neves vai alterar de forma importante a distribuição dos votos;

4 - Marina Silva também pode representar uma alternativa eleitoral interessante para eleitores que votaram nos candidatos do PT nas últimas eleições;

5 - Em um eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Eduardo Campos os riscos de derrota aumentam muito;

Por tudo isso o governo e o PT sabem que o estado da economia vai ter um papel importante no comportamento do eleitor. E os resultados dos dois últimos anos não garantem que um cenário de céu de brigadeiro vá acontecer em 2014. Essa é a razão porque acredito que vamos assistir a algumas mudanças significativas na condução da política econômica nos próximos meses. A direção desses movimentos será nitidamente no sentido de reduzir o mau humor do setor privado em relação ao governo em função de traços claros de um autoritarismo estatal - que não ocorreu nos anos Lula - nas suas decisões.

A presidenta Dilma mudou de forma clara o soft econômico herdado de Lula, reduzindo o espaço e a liberdade da dinâmica privada na economia e aumentando as intervenções do governo, principalmente via regulação e ações de empresas estatais. A presidenta acredita em um modelo econômico em que o Estado deve liderar as ações na economia, inclusive interferindo em contratos em vigor como aconteceu recentemente com o setor elétrico. Por outro lado o governo tem demonstrado pouca disciplina na gestão das âncoras macro que herdou dos governos Fernando Henrique e Lula.

Com isso vem perdendo o apoio de amplas faixas do setor privado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje o Brasil é visto com desconfiança pelos mercados financeiros, apesar ainda de ser um polo importante de investimentos de empresas que querem participar do fortalecimento do mercado de consumo nos próximos anos.

Por essa razão, apesar do mau humor dos investidores meramente financeiros, o volume de investimento direto do exterior continua forte, na faixa dos US$ 60 bilhões anuais. Mas o peso dos chamados mercados na construção do clima de negócios em um país emergente como o Brasil é suficiente para que, como acontece agora no Brasil, ocorra uma redução dos investimentos privados. A realidade do PIB do ano passado, com uma queda expressiva da formação bruta de capital, deve ter mostrado aos dirigentes do PT e ao governo a necessidade de restabelecer uma ponte de credibilidade com os mercados.

Alguns sinais dessa nova postura começam a aparecer em decisões do governo e, principalmente, no vazamento pela imprensa de comentários de fontes oficiais. No caso das concessões de serviços públicos parece que o governo vai aceitar que os leilões sejam realizados com taxas de rentabilidade compatíveis com os riscos envolvidos. Também nas negociações sobre a MP dos Portos essa postura, mais realista e favorável ao capital privado, parece estar ocorrendo.

Mas virão das decisões do Copom e das intervenções no mercado de câmbio nos próximos meses as indicações mais importantes destas mudanças. A dimensão e a velocidade da elevação dos juros Selic diante de uma inflação perigosa - inclusive para as eleições - e uma valorização maior do real nos mercados de câmbio mostrarão até onde o governo pretende ir para fortalecer a reeleição da presidenta Dilma. 

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 18/03

Turismo internacional no Brasil cresce 5% em 2012
O turismo no Brasil bateu recorde no ano passado com aproximadamente 5,7 milhões de visitantes estrangeiros, segundo dados preliminares da Embratur -os números consolidados serão divulgados em abril.

A expectativa para este ano é que a marca seja superada e o país receba seis milhões de pessoas.

Em 2012, o turismo em geral cresceu 5%, e o segmento de eventos, entre 15% e 20%.

"Ser realizador de grandes feiras e competições é fundamental para o crescimento do setor, pois evita a sazonalidade do turismo de lazer", afirma o presidente da Embratur, Flávio Dino.

Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Salvador foram, nessa ordem, as cidades que mais receberam eventos internacionais.

Dino diz também que, com o país em evidência por causa da Copa e da Olimpíada, é preciso cautela das empresas em relação às margens excessivas de lucro.

"Não é porque a demanda está aquecida que você [hotelaria, companhias aéreas, restaurantes] pode praticar qualquer valor. O preço caro cobrado hoje é um preço caro que se paga amanhã", diz.

"Por isso, estamos conversando com o setor para que as consequências não sejam negativas. É melhor ganhar pouco por muito tempo do que muito por pouco tempo"

A Embratur e o Ministério do Turismo não irão tabelar preços, garante. Para Dino, o bom senso deve prevalecer.

Copa e Olimpíada elevam demanda em escritórios de direito do Rio
Os escritórios de direito no Rio de Janeiro registraram aumento de consultas sobre as leis brasileiras de propriedade intelectual -que protegem patentes e marcas- por causa da proximidade da Copa do Mundo e da Olimpíada.

No Demarest e Almeida Advogados, o número de clientes internacionais com questões sobre o assunto cresceu 20% no ano passado, na comparação com 2011.

O processo de remissão de royalties ao exterior e os modelos de contratos que podem ser fechados no Brasil para licenciamento dos direitos de propriedade intelectual são as principais demandas.

Empresas dos setores bancário, esportivo e automobilístico concentram as consultas, diz Tatiana Campello Lopes, sócia do escritório.

No Machado Meyer, houve a contratação de um funcionário no início deste ano para atuar no Rio de Janeiro e tratar apenas desse tema.

"A demanda aumentou há um ano e meio. As empresas querem participar dos eventos como patrocinadoras ou fornecendo serviços. Há companhias se constituindo só para atender aos eventos", afirma Elton Minassi, sócio da banca.

O escritório está trabalhando nas negociações de contratos de patrocínio relacionados aos estádios, com fornecedoras oficiais de materiais esportivos para os eventos e com uma empresa que fará as imagens dos jogos e as distribuirá para os canais de televisão.

COMBINADO COM OS RUSSOS
A Bematech, empresa de tecnologia para o varejo e o setor hoteleiro, fechou contratos na Rússia.

Há um ano, a companhia fez uma parceria com uma empresa russa, a Scancity, e já tem cerca de 50 clientes.

Um dos acordos de automação no varejo foi com a rede de fast food russa Little-Potato, que conta com mais de 300 pontos de venda no país.

O principal contrato internacional de hardware no quarto trimestre de 2012 contribuiu para o crescimento de 14% na área, ante o mesmo período de 2011.

A empresa também tem contratos com hotéis na Europa, além de atender o varejo em outros países lati­nos. No Brasil, a expansão no ano passado foi de 11% e do Ebitda, de 87%.

Bom termômetro da atividade, a empresa está ainda mais otimista neste ano.

"O varejo continua crescendo. Estamos na boca do caixa", diz Cleber Morais, presidente da companhia. "Farmácias e material de construção vão muito bem".

Protesto... O número de títulos protestados na cidade de São Paulo diminuiu 16% em fevereiro, na comparação com o mês anterior, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Protesto de Títulos em dez tabeliães da cidade. Ao todo, foram 64.221 títulos.

...em baixa Do total dos protestos, aproximadamente 72% foram de duplicatas (46,2 mil) e 7,5% foram de cheques (4.856). As promissórias representaram 5,4%. Apenas os novos títulos, como cédulas de crédito bancário e contratos de câmbio, registraram alta no mês -de 10,7%.

É pra já - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 18/03

Em tratativas para atrair José Serra, o PPS antecipou o processo de fusão com o nanico PMN e deve deflagrar amanhã o protocolo para incorporação da sigla. Um dos nomes discutidos para a nova legenda, cuja fundação abriria janela para transferências, é "Partido da Esquerda Democrática". Presidente do PPS, Roberto Freire, se mostra entusiasmado com a perspectiva de agregar Serra ao projeto, sobretudo após o recrudescimento da tensão do ex-governador com Aécio Neves.

Porteira aberta Outro que retomou projeto de criar sua própria sigla é Paulinho da Força (PDT-SP), que circula no Congresso afirmando dispor de 400 mil das 500 mil assinaturas exigidas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Muita calma Não à toa, o consórcio PT-PMDB, sob observação atenta do Planalto, precipitou o debate acerca da reforma política. O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), pautou a votação para o início de abril.

Para depois O QG de Geraldo Alckmin vem tentando adiar a ida de Aécio Neves ao Congresso Estadual do PSDB, marcada para o dia 25. Aliados do governador entendem que o presidenciável precisaria eliminar entraves com o grupo de José Serra antes de iniciar "imersão paulista".

Dois em um Embora o ex-presidente FHC tenha confirmado presença, interlocutores de Aécio acreditam que ele só deve manter a agenda caso tenha compromisso de que Alckmin o acompanhará. "Aparecer na foto sozinho em São Paulo não será bom sinal", diz um grão-tucano.

Cabo eleitoral Maria do Rosário abriu campanha para instalar Paulo Vannuchi, seu antecessor, na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA. A ministra usou encontro de dirigentes do Mercosul, no Uruguai, para apresentar a candidatura.

Upgrade A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) vai apresentar amanhã, durante seminário internacional em Brasília, estudo inédito sobre as estratégias brasileiras de desenvolvimento territorial e governança. A proposta é conseguir a adesão plena do Brasil na organização, conhecida também por Grupo dos Ricos.

Vale-tudo Com a resistência de Dilma em ceder o Ministério dos Transportes ao PR, lideranças da legenda começaram a trabalhar para ocupar a pasta de Ciência e Tecnologia. Deputados falam em Antônio Carlos Rodrigues (SP) para o posto.

Dois coelhos Rodrigues é suplente de Marta Suplicy (Cultura) no Senado e a sua eventual ida para a Esplanada abriria espaço para o segundo suplente, Paulo Frateschi (PT). A jogada, no entanto, não tem o aval do ex-ministro e presidente da legenda, Alfredo Nascimento, nem do Palácio do Planalto.

Pegou mal Parlamentares da base procuraram o PSC para pedir que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara ouça o deputado Dr.Rosinha (PT-PR) sobre frase de que a fumaça preta que sai do Vaticano é para anunciar a escolha de um papa africano.

Veja bem O deputado diz que repetiu a frase por ter ouvido a explicação de um padre e criticou os colegas por "explorar'' uma declaração em tom de brincadeira.

Doce ilusão Durante sua fala na posse de três ministros anteontem, em Brasília, Dilma brincou com o novo ministro da Aviação Civil: "Espero que o Moreira não pense que era feliz e não sabia". A presidente referia-se à atarefada pasta em comparação com o ritmo tranquilo da SAE (Assuntos Estratégicos).

Tiroteio
Uma linha tênue separa a necessidade da troca de ministros da cooptação eleitoral. E o pior é o silêncio cúmplice da maioria.
DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), sobre a substituição de Brizola Neto por Manoel Dias, aliado de Carlos Lupi, no Ministério do Trabalho.

Contraponto


Pedalada cívica


Durante sessão da Câmara paulistana, terça-feira passada, o vereador Gilberto Natalini (PV) falava do trágico acidente envolvendo ciclista na avenida Paulista.

-A bicicleta veio para ficar. Eu ando todos os dias.

José Américo (PT), presidente da Casa, perguntou:

-Vossa excelência é um ciclista?

O "verde", 60 anos e acima do peso, respondeu:

-Sim, senhor, com todo esse corpo. Sou hábil ciclista.

Após gargalhadas gerais, o petista concluiu:

-Saúdo sua disposição em praticar o ciclismo, que além de meio de transporte é um esporte fabuloso.

Dissimulação não vai conter a inflação - MARCELO DE PAIVA ABREU

O Estado de S.Paulo - 18/03

Nunca é demais lembrar sir Alec Cairncross e sua insistência no parentesco entre a medicina e a economia, ambas misturas de conhecimento imperfeito, sabedoria popular, jargões obscuros e análise científica. Ambas vulneráveis ao charlatanismo. Para levar o paralelismo ao extremo: o paciente tem febre alta e o médico é chamado às pressas. O caminho ortodoxo é receitar um antitérmico. Existirão, talvez, tratamentos alternativos amparados na medicina popular. O menos desejável é que o médico quebre o termômetro e suponha que o paciente não está febril. Parece absurdo, mas a metáfora retrata de forma precisa as escolhas que faz o atual governo quanto à política econômica. Entre opções mais ou menos espinhosas, prefere negar a realidade.

O governo tem demonstrado persistência na adoção de técnicas de dissimulação com o objetivo, pelo menos secundário, de dificultar análises objetivas da situação econômica do País. Alguns falariam até mesmo em tentativas canhestras de ludibriar a opinião pública.

As estripulias com dados fiscais envolvendo operações entre Tesouro, BNDES, Caixa Econômica Federal e Petrobrás têm sido ventiladas exaustivamente na mídia. Têm como objetivo ocultar que o governo vem gradativamente abandonando seus compromissos quanto à geração de um superávit primário adequado nas suas contas.

Agora, mágicas semelhantes têm sido adotadas em relação à inflação crescente. Afinal, se a inflação puder ser mantida abaixo dos 6,5% - limite superior da meta -, o governo poderá defender-se com menos dificuldade da acusação de que está abandonando o compromisso com políticas minimamente prudentes e de que está disposto a aceitar uma clara violação do modesto compromisso inflacionário implícito no atual regime de metas.

O aumento das tarifas de transportes coletivos no Rio de Janeiro e em São Paulo foi postergado. Embora a redução das tarifas de energia elétrica faça sentido do ponto de vista da melhoria da competitividade dos produtos brasileiros, é sempre verdade que haverá impacto não desprezível sobre a inflação. O mesmo se aplica à desoneração fiscal da cesta básica: embora bem-vinda do ponto de vista social, alivia pressões inflacionárias. É com melancolia que se lê sobre reuniões do ministro da Fazenda com donos de supermercados com o objetivo de conter preços. Desde as grotescas iniciativas de laçar bois no pasto, que marcaram a agonia do Plano Cruzado, presumia-se que o País tivesse aprendido que, para controlar a inflação, é fundamental conter a demanda e que os instrumentos adequados para isso são a taxa de juros ou o aperto fiscal.

Nos velhos tempos, práticas que pretendiam escamotear evidências factuais - desde a tortura até a inflação crescente - eram típicas de regimes totalitários. Regimes de exceção permitem que sejam reprimidas com impunidade revelações consideradas inconvenientes. Em episódio conhecido, em 1973, o governo teria patrocinado o uso de preços tabelados para o cômputo da inflação, algo reconhecido alguns anos depois pelo Banco Mundial e pelo próprio governo. No final dos anos 70, o governo andou expurgando índices no célebre episódio da inflação do chuchu. A argumentação fazia sentido, pois não parecia razoável manter o peso do chuchu no cálculo do índice inflacionário, pois o aumento expressivo do preço do chuchu certamente resultaria em contração da quantidade demandada. O problema era convencer a opinião pública, mesmo com a censura da mídia, de que não se tratava de mais uma mentira oficial destinada a reduzir a inflação com a adoção de métodos pouco convencionais.

Modernamente, a manipulação de preços tornou-se habitual em regimes populistas, entre os quais a Argentina talvez seja o exemplo mais notável. Lá, a indecente divergência entre a inflação oficial e diversos cômputos extraoficiais levou o FMI a censurar explicitamente o governo - aplicar-lhe cartão amarelo, na metáfora da senhora Lagarde, com ameaça de cartão vermelho, se não houver progresso em três meses. A "resposta argentina" foi "congelar" preços nos supermercados por 60 dias...

Avaliando as raízes do populismo no Brasil, há claro contraste entre as políticas econômicas do peronismo e do varguismo. E, no entanto, o governo atual, useiro e vezeiro na invocação de suas raízes varguistas, está de fato tomando o péssimo exemplo da Argentina como algo que merecesse ser copiado. Sob Vargas, houve pouco que se aproximasse da sistemática penalização dos interesses agrícolas que seria tradicional em governos peronistas e neoperonistas. No seu primeiro período de governo, o momento mais controvertido foi quando suspendeu o pagamento da dívida externa em 1937, atitude extrema que começou a ser revertida depois de um ano. Eleito presidente em 1950, deu espaço às trapalhadas de Ricardo Jafet e João Goulart, no Banco do Brasil e no Ministério do Trabalho, mas, ambíguo, não deixou de contemplar os círculos mais conservadores. No cerne, era um populista bastante prudente do ponto de vista econômico e financeiro.

É preciso aceitar que a febre não vai ser reduzida com a quebra do termômetro.

O IDH e o conto do imperador sem roupa - FLÁVIO COMIM

VALOR ECONÔMICO - 18/03

Na fábula de Hans Christian Andersen apenas as pessoas inteligentes poderiam ver o tecido especial (que não existia) com o qual se faria a "roupa nova do imperador". Mas sem ser avisada, uma criança notou que o imperador estava sem roupa. Desde a sua criação em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem feito o papel da criança na fábula ao chamar a atenção das sociedades para como elas estão "vestindo-se" com as peças básicas do desenvolvimento humano.

Com a notícia oficial de que o Brasil continua estável no ranking do IDH, parece que o imperador continua vestido, mas uma olhada mais detalhada nos números trazidos pelo IDH e sua nova metodologia sugere pelo menos a existência de três conjuntos de razões para preocupar-nos com a roupa do imperador, mesmo correndo o risco de parecermos pouco inteligentes para a corte.

O primeiro conjunto de razões é sobre a tendência agregada do ranking do Brasil no longo-prazo. Quando comparamos a evolução do IDH desde a sua criação notamos que o Brasil já esteve muito melhor posicionado no ranking, por exemplo 51º em 1990, 58º em 1996 e 63º em 2005. De fato, desde esse último ano, o ranking do Brasil no IDH vem caindo, atingindo o seu ranking mais baixo de toda a história justamente em 2012. Pode-se contra-argumentar que em outros anos não foram incluídos 187 países como em 2012 e 2011 (a média histórica é de 175 países), mas o fato é que a maior parte das inclusões ao longo do tempo foram abaixo do Brasil.

Nos últimos 10 anos, o Peru ultrapassou o Brasil no ranking e em 2012 o Brasil ultrapassou o Equador. Outros países, aparte das quedas da Argentina e Costa Rica, se mantiveram estáveis no ranking, o que não é uma boa notícia para o Brasil: a desaceleração do crescimento do IDH do país é mais significativa do que a de outros países latino-americanos e não se vislumbra possibilidades do Brasil alcançar o IDH de países como Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, Panamá, México, Costa Rica e mesmo Venezuela no médio prazo.

Argumentos do tipo "a taxa de crescimento do IDH brasileiro de 1990 a 2012 foi de 24%, maior que a do Chile, Argentina e México" infelizmente ignoram que se considerados outros períodos, por exemplo nos últimos 5 anos, a taxa de crescimento do IDH da Argentina e de outros 7 países latino-americanos é superior a do Brasil. O problema não é que o Brasil não tenha melhorado no longo-prazo, o problema é a desaceleração recente do crescimento do IDH brasileiro, principalmente levando-se em consideração que países como o Brasil na 85º posição deveriam crescer mais do que países como Chile (40º) e Argentina (45º) pela simples razão que têm mais espaço para crescer dentro da escala zero a um do IDH.

O segundo conjunto de razões é sobre as deficiências estruturais que seguem no país, principalmente nas áreas da saúde e da educação. Dentro de um conjunto de 12 países latino-americanos que estão no mesmo grupo de desenvolvimento do Brasil, mais Chile e Argentina, pode-se notar que o Brasil é o país que tem a taxa de expectativa de vida mais baixa de todos. Enquanto vivemos em média 74 anos, pessoas que vivem no Chile vivem 79,3 anos, na Argentina 76,1 anos, no Uruguai 77,2 anos, etc. O Brasil é um dos países latino-americanos onde a distribuição da expectativa de vida é mais desigual, com perdas de 14,4% no IDH-saúde. Também é o país com o pior índice de satisfação com a saúde, com apenas 44% de aprovação. Na educação, temos a maior taxa de abandono do primário (24,3%) e uma das menores taxas de matrícula no terciário (36,1%) dentre os países latino-americanos no mesmo grupo de desenvolvimento. O dados do IDH revelam que enquanto o país não investir pesadamente em saúde e educação, não deve haver evolução relativa no ranking do IDH. Associado ao primeiro conjunto de razões, não deve haver convergência também em relação aos países latino-americanos melhor posicionados no ranking.

O terceiro conjunto de razões é metodológico. Atualmente há muita dificuldade para se entender e interpretar o índice. Existem dois problemas principais que explicam essa dificuldade: o IDH passou a ser calculado em 2010 a partir de "postos variáveis", isto é, com base nos valores máximos e mínimos observáveis anualmente para todos países. Com isso, o valor absoluto per se do IDH deixou de ter valor. É preciso agora um recálculo do índice para que ele possa ser comparado ano a ano. E aí vem o segundo problema. Quando esse recálculo é feito, grande parte da variação do IDH que poderia ser observada esse ano (já que não foi registrada no ano anterior), fica computada no ano contra-factual, ou seja, no ano ajustado, que de fato nunca existiu e nem vai existir. O recálculo do valor absoluto do índice em si não é o problema, mas o do ranking sim. Com isso passa desapercebida a queda do Brasil no ranking do IDH no longo prazo. Por que não dizemos que caímos uma posição no ranking em 2012 e caímos 11 posições em 2011? (parcialmente pela entrada de 7 novos países a frente do Brasil?) Fica o medo talvez de dizermos que o imperador está sem roupa.

Seria injusto qualificar os programas sociais brasileiros de uma "linda roupa" feita com o tecido especial do alfaiate de Christian Andersen. Há muita coisa boa feita no país e elogios são devidos às várias políticas públicas nacionais, principalmente as que se preocupam com as pessoas mais pobres. A questão não parece ser "o quê", mas o "como" dessas políticas, porque vistas sob a ótica do IDH elas têm produzido o impacto do imperador sem roupa. Possivelmente os programas sociais focam demais na renda como critério de seleção e avaliação de impacto dos mesmos. Moral da história: olhe, olhe de novo, olhe de novo, de novo, precisamos da coragem das crianças e do que é dito pelo IDH para que enfrentar o óbvio e para que todos tenhamos um futuro melhor no nosso país. 

O cronômetro e o umbuzeiro - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O ESTADO DE S. PAULO - 18/03
O valor do minuto de propaganda eleitoral disparou na semana passada - e é sua cotação que vai determinar o destino dos candidatos a presidente daqui para frente. A oscilação afetou diretamente as chances de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Como? Em tempo. Antes, um passo atrás para olhar o contexto desse sobe e desce de preços.

Com o aumento do ruído de fundo e das tentações eletrônicas, a atenção do público perde-se à deriva. O cidadão é mais disperso e menos atento na razão da densidade de suas conexões. Quanto mais envolvido pelos quintilhões de bits e bytes que o novo mundo digital produz diariamente,mais difícil é para cortar pelo cipoal de dados e encontrar significado e rumo através da selva de textos, telas e fragmentos de informação.

Essa tendência está mudando as campanhas eleitorais. O tempo pelo qual o eleitor é capaz de se concentrar no tema da eleição e decidir seu voto é progressivamente mais curto. A cada pleito, o período decisório dos sem-candidato - quando o eleitor menos interessado se informa para definirem quem votará - é tanto mais breve quanto mais próximo do dia de ele ir à urna.

Pudera ser quase impossível encontrar candidato que sobreviva à reta final da campanha eleitoral sem um estoque mínimo de tempo para propaganda de TV. E a nota de corte sobe a cada eleição: mais e mais minutos são necessários para o candidato superar intenções de voto liliputianas e assomar acima dos nanicos.

Nesse cenário,levam vantagem candidatos que têm um eleitorado cativo e se beneficiam da inércia do voto.

Não basta ser muito conhecido, porém. É preciso ter marca forte e rejeição desproporcional ao grau de conhecimento, ou o candidato cai no paradoxo serrano: quanto mais aparece, menos eleitores têm. A rejeição alta - como a falta de tempo de TV - é eliminatória.

Mesmo os candidatos conhecidos batalham por mais tempo de propaganda. Se não para eles próprios aparecerem, para impedir que os adversá- rios apareçam. Essa é a batalha em curso, e que antecipa a sucessão de 2014.

Quem já tem muito tempo, como a presidente, tenta amarrar as alianças para não deixar preciosos minutos escaparem para a oposição. Quem não tem corre atrás.

Dilma é assombrada pela inflação também de aliados. Por proteção, a presidente fez um caxangá ministerial na quinta-feira: tirou Brizola Neto (PDT) do Trabalho, pôs um mineiro na Agricultura e deixou o peemedebista Moreira Franco ficar,mas num posto menos decorativo. Tudo para reforçar a aliança com o PMDB e tentar resgatar os fugidios e divididos pedetistas.

O equilibrismo presidencial amarrou os dois minutos e meio do PMDB, deu um laço nos 45 segundos do PDT, mas deixou escapar o minuto e 40 do PSD de Gilberto Kassab. O ex-prefeito percebeu que a cotação do tempo de TV está em alta e comprou uma opção de venda futura quando, aposta, o apoio de seu partido valerá mais do que o micro ministério oferecido por Dilma.

A manobra especulativa não foi só de Kassab. O PPS tenta reverter sua decadência eleitoral fundindo-se ao nanico PMN. Mesmo juntos, os dois partidos têm poucos segundos a oferecer em tempo de TV a um presidenciável. Mas a criação da nova sigla abre a Caixa de Pandora da fidelidade partidária: deputados de outros partidos podem aderir sem perder o mandato - foi a jurisprudência criada pelo TSE ao julgar o caso do PSD.

O PPS+PMN aposta que atrairá deputados de outras siglas se a nova legenda estiver aliada ao PSB de Eduardo Campos em 2014. Acha que atenderá uma demanda reprimida na Câmara. O movimento ajudaria o governador de Pernambuco a alcançar o mínimo de 12% do tempo de TV (98% dos candidatos a prefeito que não atingiram esse patamar não se elegeram nem chegaram ao segundo turno em 2012).

Quem mais tem a perder com a fusão é Aécio Neves. O tucano não apenas perderia os segundos de TV do PPS, como veria a candidatura oposicionista de um rival ganhar viabilidade eleitoral. Potenciais aliados, como PTB e DEM, poderiam se sentir tentados a embarcar na canoa reforçada de Campos. Pior, tucanos dissidentes poderiam pular fora do barco de Aécio.

"Mineiro" à la Getúlio Vargas, o ex-governador de Minas gostaria de esperar em cima do umbuzeiro até a undécima hora - e só saltar para a campanha presidencial quando as condições lhe fossem ideais.

Mas tem tucano cortando o tronco do umbuzeiro.

Tarifa mágica - PEDRO DUTRA

O GLOBO - 18/03

Tarifa é a contraprestação em dinheiro paga pelo usuário ao concessionário de um serviço público. Ela deve corrigir a inflação, remunerar os custos, inclusive os investimentos de manutenção, ampliação e inovação dos serviços, e assegurar lucro ao concessionário. O seu cálculo se traduz numa equação econômico-financeira que considera o prazo, geralmente longo, do contrato de concessão, para garantir ao prestador a remuneração a ele devida. A fórmula jurídica da concessão é dominada há mais de um século, e a teoria econômica é capaz de apurar e estimar com precisão os fatores necessários à composição de um equilíbrio indispensável ao êxito desse regime.

O impasse a que o país assiste sobre esse tema não é, portanto, de natureza técnica, e sim de cultura política. O pressuposto de um regime eficaz de concessão acha-se afirmado pela experiência: assegurado um lucro por um prazo longo em índice até um pouco inferior ao do mercado, o investidor privado é mais eficiente na execução dos serviços do que o poder público. Admitido esse dado da experiência, o regime de concessão exige do poder público, entre outras, duas ações. Uma regulação exclusivamente técnica dos prestadores privados e o desassombro do Executivo em explicar aos usuários o regime de concessão adotado.

Regulação técnica é a executada de forma não partidária, sem interferência de outros critérios ou objetivos senão aqueles estipulados na Lei e no contrato de concessão, sendo os conflitos decorrentes decididos pelo Judiciário. A defesa desse regime exige que o Executivo explique aos usuários o fato de que serviços públicos que os atendam devidamente precisam ser remunerados por tarifa capaz de permitir a execução deles. E que o Executivo irá, em forma a ser também debatida e exposta amplamente, subsidiar os usuários cuja renda não os permita arcar com o custo desses serviços.

O atual governo vem enfrentando tenaz resistência de uma cultura renitente: a de que o acredita capaz de fixar uma tarifa mágica, abaixo da inflação e lucrativa, e, por isso, não deve ceder à ganância do investidor privado. O Estado, como vemos, não é onipotente, e a ganância do setor privado só ocorre quando o governo se mostra incapaz de fiscalizá-lo.

Os estudos em curso do governo hoje atendem à experiência. A maior falha do governo, contudo, está em não dizer aos seus opositores internos que ele não pode ter compromisso com proposições ideológicas que confrontem a realidade e que, ao final, desatendem ao interesse público.

Seguro, solidariedade e desenvolvimento - ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

O ESTADO DE S. PAULO - 18/03

Pouca gente sabe, mas, por volta de 1350, o rei de Portugal tomou duas decisões da maior importância para o desenvolvimento mundial: primeiro, mandou plantar florestas para a construção de navios e, segundo, criou uma companhia com a missão de repor as embarcações da frota portuguesa perdidas por qualquer causa.A partir da metade do século seguinte as caravelas portuguesas navegavam no Atlântico, arrancavam das lendas a costa da África, entravam no Oceano Índico,abriam a Ásia para a Europa,atingiam as costas do Novo Mundo. Graças às florestas reais e a uma companhia seguradora, o mundo conhecido passou a ser quase que todo o planeta.

A razão de ser do seguro é repor patrimônio ou capacidade de ação afetada por evento pré-determinado. Quer dizer, o seguro gera efeitos depois que o segurado sofre uma perda física ou econômica capaz de comprometer seu patrimônio, sua família ou sua existência.

Mais que isso, a seguradora age de acordo com procedimentos administrativos e cláusulas contratuais que, diante dos fatos, podem acabar impedindo o pagamento da indenização, agravando ainda mais a sensação de perda do segurado. E são essas situações que ganham publicidade.

Os casos em que as seguradoras pagam sem discutir - que são a enorme maioria - não ganham destaque porque são a rotina do negócio. Ninguém espera que a venda de um automóvel ou de uma geladeira seja notícia na grande imprensa.

O pagamento da indenização do sinistro coberto não é mais do que o automóvel ou a geladeira da seguradora.

Assim,não tem porque ser notícia de jornal. Todavia, se a seguradora não pagar uma indenização, da mesma forma que a montadora que não entregar os veículos vendidos, ela passa a ser notícia, por não cumprir com sua obrigação empresarial.

O que chega para o grande público, até porque é o que acaba nos tribunais, é o lado negativo do negócio, que, ainda que estando correto, pode criar uma mancha na avaliação de todo um setor econômico.

A verdade é que a atividade seguradora é muito pouco conhecida e esse desconhecimento existe até no meio de quem trabalha com ela. A razão para isso é que o negócio do seguros e materializa através de contratos complexos, que, ainda por cima, se valem de uma linguagem hermética e incompreensível para o grande público.

Falar em prêmio, sinistro, cláusulade rateio, rateio parcial, primeiro risco absoluto, primeiro risco relativo, segundo risco, resseguro facultativo obrigatório e outros conceitos e definições do mesmo gênero é o mesmo que tentar falar sânscrito com quem mal fala português.

De outro lado, os princípios que embasam o contrato de seguro estão entre as mais belas criações do ser humano.

Pode parecer incrível, mas o seguro se baseia na proteção mútua, na solidariedade e no desenvolvimento social.

O instrumento para se alcançar estes objetivos se chama mútuo.O mútuo,no seguro, é um fundo comum, composto pela participação proporcional ao risco de cada um de seus integrantes, com a finalidade de fazer frente a eventos danos os, pré-estabelecidos,que os possam atingir.

A proteção mútua se materializa na constituição do fundo, que só é possível em função da solidariedade dos seus integrantes e que tem por objetivo repor a capacidade de atuação e o patrimônio dos que são atingidos pelos eventos cobertos, impedindo que eles sofram perdas capazes de desestabilizá-los e, consequentemente, afetar a sociedade.

Na teoria, esses pressupostos fazem do setor de seguros um dos mais virtuosos.Se na prática isso não acontece completamente é porque o negócio exige uma série de cautelas emedidas imprescindíveis para a preservação do mútuo.

Mas isso não significa que o sagentes envolvidos não têm a obrigação de buscarem sempre a melhor solução para os segurados.

Xô assombração! - ROBERTO LUIS TROSTER

O ESTADO DE S. PAULO - 18/03

O fantasma da inflação volta a assustar. Para espantá-lo a presidente Dilma Rousseff anunciou a desoneração de alguns produtos da cesta básica. Em sintonia, o Banco Central, em seu comunicado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e na ata divulgada na semana passada, deu a entender que começará atrasado o ciclo de altas da taxa de juros. É indiscutível que o objetivo é meritório.

Lamentavelmente, seu impacto será transitório e reduzido. Mesmo elevando a Selic nos próximos meses, a inflação continuará a pressionar. O pior é que com remendos se continua perdendo tempo, sem uma correção decisiva da política macroeconômica.

O quanto dessa desoneração vai arrefecer a inflação é tema de debates. Com o repasse total, haveria uma redução de cerca de 0,50% no IPCA deste ano. Supermercadistas foram chamados a Brasília e instados a que isso aconteça, mas não acontecerá, independentemente da boa vontade dos envolvidos, por dois motivos.

Um é que, para toda elevação ou diminuição de impostos, como é o caso atual, o repasse é sempre parcial, em função da estrutura da oferta e da demanda. Mesmo contando com a simpatia de todos, as leis do mercado continuam vigentes. O outro motivo, também por uma razão econômica, é que para fixarem margens os comerciantes olham para o preço de reposição - quanto vão pagar para repor a mercadoria que está sendo vendida. Nunca pode ser abaixo desse valor, independentemente do custo. E básico: isso os impediria de recompor seus estoques. Como a expectativa inflacionária está alta, esperam mais aumentos nos próximos meses e a prescrição é clara: subir.

Há menos de dois meses a mesma terapia foi adotada com a redução de tarifas de energia, coincidentemente, com anúncio em rede nacional. Um pouco antes, também o foi com o congelamento da tarifa de ônibus em São Paulo. Todas são medidas que dão um refresco temporário, mas não atacam a raiz do problema. Aliviam a dor, mas não curam a doença.

Todos torcem para que o melhor cenário projetado se concretize e que a pressão inflacionária arrefeça um pouco. É possível, mas, mesmo assim, ela não convergirá para a meta. O fato de que as reduções anteriores não tenham desacelerado a inflação diminui a expectativa do impacto da desoneração da cesta básica, e o comprometimento mais fraco com o regime de metas tirou credibilidade do Banco Central.

O quadro também pode piorar e ter um resultado perverso. Há notícias de alguns preços de produtos que aumentaram após o anúncio da presidente. E sempre há o risco de mais choques de oferta.

De remendo em remendo, insistindo no que não dá certo, continua-se postergando uma solução duradoura. Quanto mais demorada for a correção, mais caros serão o aperto econômico e o custo político. O diagnóstico para afugentar a assombração está equivocado.

O governo está usando uma estratégia para combater aumentos de preços, em que uma desoneração funciona, mas o problema é outro: é inflação. Há uma diferença fundamental entre os dois. Parece um jogo de palavras, mas não é. A inflação é um processo de subidas de preços que se autoalimenta. Esse é o ponto-chave, tem dinâmica própria. Uma alta de custos, como o choque nos preços dos alimentos no início deste ano, afeta os índices de preços, mas é absorvível e transitória e pode ser aliviada com uma desoneração. Já os impactos da inflação são duradouros, prejudicam mais os menos favorecidos, inibem o investimento e limitam o potencial de crescimento. É uma assombração que assusta a todos, especialmente os mais velhos.

Não só a inflação é um fantasma antigo, como também suas causas se repetem. A trama é sempre a mesma: o governo que se encanta com a inflação, exagera nos gastos públicos, define os juros abaixo da taxa de equilíbrio e trata comentários desfavoráveis à política econômica como críticas ao País.

O encantamento com a inflação se entende. Num primeiro momento, ela é conveniente, melhora a situação fiscal do governo, aumenta os lucros das empresas e seus custos estão disseminados entre assalariados e aposentados desatentos a seus efeitos. Sempre começa como um imposto feliz, que depois se transforma num pesadelo para ser eliminado.

Gastos públicos dão Ibope, e este governo gasta. O déficit fiscal está aumentando, mesmo com a "contabilidade criativa". Faz-se alarde sobre a redução da dívida líquida, sem anunciar que a bruta aumentou 4% do PIB no ano passado. A desoneração agrava o problema, pois troca um alívio temporário na inflação por uma redução permanente nas receitas do governo.

O Banco Central teve uma atitude popular, fixou a taxa de juros num patamar mais baixo que o de equilíbrio e não definiu de maneira clara qual é a taxa de inflação ou de crescimento que está perseguindo. Isso aumentou as incertezas sobre a inflação e a garantia de que a manutenção da taxa de juros por um período prolongado era inviável. A equação é simples, a perda de credibilidade tira potência da política monetária.

Por enquanto, não há razões para maiores preocupações com a dinâmica inflacionária. É apenas o início de um processo que pode ser revertido rapidamente. A pressão é controlável, o aumento de juros pode ficar em um dígito e a economia vai crescer mais do que no ano passado. Mesmo assim, urge acabar com a assombração, para que ela pare de afugentar os investimentos.

A solução é simples: erradicar as causas. Uma política fiscal mais parcimoniosa, aprimoramentos na política monetária, com a meta de curto prazo mais crível (elevação), a de longo mais baixa, uma banda mais estreita e a política de juros em sintonia com os ajustes. Enfim, aplicar uma dose de boa teoria econômica ao Brasil. Dá certo, basta observar o que acontece no mundo.