ZERO HORA - 06/03
Sempre que chega essa época do ano, prometo a mim mesma: minhas próximas férias serão tiradas em março. Vou alugar uma choupana em Ushuaia e só volto quando pararem de falar no Dia da Mulher. Apenas para evitar a pergunta que tantos pedem que a gente responda: “O que é ser mulher?”.
Basicamente, ser mulher é ter nascido com os cromossomos XX. Será que isso responde à questão? Responde, só que de modo desaforado. Espera-se que colaboremos: “Ser mulher é ser mãe, esposa, profissional... ”. Alguém ainda aguenta essa churumela?
Se é para refletir sobre o assunto, então sejamos francos: ninguém mais sabe direito o que é ser mulher. Sofremos uma descaracterização. Necessária, porém aflitiva. Entramos no mercado de trabalho, passamos a ter liberdade sexual e deixamos para ter filhos mais tarde, se calhar. Somos presidentes, diretoras, empresárias, ministras. Sustentamos a casa. Escolhemos nossos carros. Viajamos a serviço. Saímos à noite com as amigas. Praticamos boxe. O que é ser mulher, nos perguntam. Pois, hoje, ser mulher é praticamente ser um homem.
Nossa masculinização é um fato. Ok, nenhuma mulher desistirá de tudo o que conquistou. A independência é um ganho real para nós, para nossa família e para a sociedade. Saímos da sombra e passamos a existir de forma plena. E o mundo se tornou mais heterogêneo e democrático, mais dinâmico e produtivo, em suma: muito mais interessante. Mas não nos deram nada de mão beijada, ganhamos posições no grito, falando grosso. E agora está difícil reconhecer nossa própria voz.
“Sou mais macho que muito homem” não é apenas o verso de uma música de Rita Lee, é pensamento recorrente de cérebros femininos. Alguém ainda conhece uma mulher reprimida, omissa, sem opinião, sem pulso? Foram extintas e deram lugar às eloquentes.
Nada de errado, repito. Acumulamos uma energia bivolt e isso tem nos trazido inúmeros benefícios – deixamos de ser um simples acessório, nos integralizamos. Mas essa nova mulher ainda se permitirá um segundinho de “cuida de mim”? Se os homens estão se permitindo ser frágeis, por que não nos permitimos também, nós que temos os royalties dessa condição?
É no amor que a mulher recupera sua feminilidade. É na relação a dois. Na autorização que dá a si mesma de se sentir cansada e de permitir que o outro tome decisões e a surpreenda. É através do amor que voltamos a confiar cegamente, a baixar a guarda e a deixar que nos seduzam – sem considerar isso ofensivo. Muitas mulheres estão desistindo de investir num relacionamento por se julgarem incapazes de jogar o jogo ancestral: eu, provedor; você, minha fêmea.
Os homens sabem que já não iremos nos contentar em receber mesada e ficar em casa guardando a ninhada, mas, na intimidade, que tal deixarmos a testosterona e o estrogênio interpretarem seus papéis convencionais?
Um amor sem tanta racionalidade, sem demarcação de território, sem guerra pelo poder. Amolecer de vez em quando, com entrega, com gosto. É onde ainda podemos ressuscitar a mulher que fomos, sem prejuízo à mulher que somos.
quarta-feira, março 06, 2013
Lupin no Vaticano - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 06/03
RIO DE JANEIRO - Nesta segunda-feira, um australiano disfarçou-se de bispo, foi ao Vaticano e infiltrou-se na abertura da Congregação Geral, a preliminar do conclave que escolherá o novo papa. Burlando normas de segurança, o penetra conseguiu chegar à Sala Paulo 6°, onde se reuniam cem cardeais. Juntou-se a eles, cumprimentou vários e se deixou fotografar em grupo. Descoberto, foi retirado da Santa Sé, não se sabe se pedalando o ar, e posto na rua.
Ralph Napierski, o falso bispo, é um amador. Sua bata não obedecia ao padrão. A faixa roxa na cintura era um vulgar cachecol. O crucifixo e a corrente ao peito deviam ser de camelô. O chapéu preto lembrava um modelo popularizado nos anos 50 pelo cantor Nat "King" Cole. Seu latim era de quinta, e sabe-se lá que outras gafes contra a liturgia o fizeram ser apanhado.
Vê-se que Napierski nunca leu Arsène Lupin, personagem de Maurice Leblanc em 20 romances, de 1907 a 1939. Lupin era o "gentleman cambrioleur", o ladrão podre de chique, insuperável em disfarces e em abrir cofres. Ao esvaziar uma caixa de joias, deixava um cartão: "Com os cumprimentos de Arsène Lupin". Mas, se as joias fossem falsas, o cartão diria: "Arsène Lupin voltará -quando as joias forem verdadeiras".
No Vaticano, fantasiado de arcebispo, Lupin usaria o barrete, a estola e o báculo mais exclusivos da congregação. Seu latim faria inveja aos latinistas profissionais. E, por ter feito direito seu "homework", dirigir-se-ia aos colegas por seus apelidos de juventude no seminário. Ocioso dizer que até de olhos vendados ele saberia o caminho para os tesouros do Vaticano, com os quais rechearia os bolsos fundos da batina, e sairia sem ser incomodado.
E, se quisesse, bastaria a Lupin derramar seu charme sobre aqueles velhos padres para que eles o elegessem papa.
RIO DE JANEIRO - Nesta segunda-feira, um australiano disfarçou-se de bispo, foi ao Vaticano e infiltrou-se na abertura da Congregação Geral, a preliminar do conclave que escolherá o novo papa. Burlando normas de segurança, o penetra conseguiu chegar à Sala Paulo 6°, onde se reuniam cem cardeais. Juntou-se a eles, cumprimentou vários e se deixou fotografar em grupo. Descoberto, foi retirado da Santa Sé, não se sabe se pedalando o ar, e posto na rua.
Ralph Napierski, o falso bispo, é um amador. Sua bata não obedecia ao padrão. A faixa roxa na cintura era um vulgar cachecol. O crucifixo e a corrente ao peito deviam ser de camelô. O chapéu preto lembrava um modelo popularizado nos anos 50 pelo cantor Nat "King" Cole. Seu latim era de quinta, e sabe-se lá que outras gafes contra a liturgia o fizeram ser apanhado.
Vê-se que Napierski nunca leu Arsène Lupin, personagem de Maurice Leblanc em 20 romances, de 1907 a 1939. Lupin era o "gentleman cambrioleur", o ladrão podre de chique, insuperável em disfarces e em abrir cofres. Ao esvaziar uma caixa de joias, deixava um cartão: "Com os cumprimentos de Arsène Lupin". Mas, se as joias fossem falsas, o cartão diria: "Arsène Lupin voltará -quando as joias forem verdadeiras".
No Vaticano, fantasiado de arcebispo, Lupin usaria o barrete, a estola e o báculo mais exclusivos da congregação. Seu latim faria inveja aos latinistas profissionais. E, por ter feito direito seu "homework", dirigir-se-ia aos colegas por seus apelidos de juventude no seminário. Ocioso dizer que até de olhos vendados ele saberia o caminho para os tesouros do Vaticano, com os quais rechearia os bolsos fundos da batina, e sairia sem ser incomodado.
E, se quisesse, bastaria a Lupin derramar seu charme sobre aqueles velhos padres para que eles o elegessem papa.
Morrer com dignidade - FERNANDO DE OLIVEIRA SOUZA
ZERO HORA - 06/03
A medicina é, dentre todas as profissões, a mais envolvida com as fantasias das pessoas leigas, principalmente no que concerne à morte, contra a qual ela luta diuturnamente e sempre acaba perdendo no longo prazo.
Dentre as especialidades médicas, duas são particularmente envolvidas: o emergencista e o intensivista. O primeiro costuma ser o "herói" ao atender pacientes do trauma, por exemplo, que estavam muito bem até o acidente e podem ficar muito mal, "à beira da morte" após o trauma, cabendo a este médico "salvá-los" numa primeira instância. O intensivista, entretanto, é aquele que lida com todo o tipo de complicações, inclusive daquele próprio paciente "salvo" pelo emergencista e continuamente é exigido em decisões cruciais quanto à vida das pessoas sendo por isso muitas vezes tachado de vilão.
As UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) foram "gestadas" no final do século 19 durante a guerra da Crimeia (mais uma grande contribuição que as guerras sempre proporcionam à evolução da medicina) e evoluíram sensivelmente durante o século 20 contribuindo significativamente para a diminuição da mortalidade dos pacientes graves. São definidas como "unidades complexas dotadas de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamentos intensivos tenham possibilidade de se recuperar".
Essa última palavra _ recuperar _ é que faz toda a diferença. A medicina tem, com todo seu armamentário diagnóstico, plena capacidade de estabelecer critérios de quadros clínicos considerados irreversíveis, sem possibilidade de recuperação do paciente. As UTIs não são para este tipo de paciente, embora muitas vezes as famílias pressionem por sua internação. São os casos dos pacientes com doenças em fase terminal. Estes pacientes, se pudessem escolher, certamente prefeririam estar entre seus entes queridos, se possível em suas casas, do que num ambiente despersonalizado, portando uma infinidade de tubos e acessos, prolongando seu sofrimento.
Morrer em casa, nestes casos, por que não?, mas principalmente morrer com dignidade.
* Médico e professor universitário
A medicina é, dentre todas as profissões, a mais envolvida com as fantasias das pessoas leigas, principalmente no que concerne à morte, contra a qual ela luta diuturnamente e sempre acaba perdendo no longo prazo.
Dentre as especialidades médicas, duas são particularmente envolvidas: o emergencista e o intensivista. O primeiro costuma ser o "herói" ao atender pacientes do trauma, por exemplo, que estavam muito bem até o acidente e podem ficar muito mal, "à beira da morte" após o trauma, cabendo a este médico "salvá-los" numa primeira instância. O intensivista, entretanto, é aquele que lida com todo o tipo de complicações, inclusive daquele próprio paciente "salvo" pelo emergencista e continuamente é exigido em decisões cruciais quanto à vida das pessoas sendo por isso muitas vezes tachado de vilão.
As UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) foram "gestadas" no final do século 19 durante a guerra da Crimeia (mais uma grande contribuição que as guerras sempre proporcionam à evolução da medicina) e evoluíram sensivelmente durante o século 20 contribuindo significativamente para a diminuição da mortalidade dos pacientes graves. São definidas como "unidades complexas dotadas de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamentos intensivos tenham possibilidade de se recuperar".
Essa última palavra _ recuperar _ é que faz toda a diferença. A medicina tem, com todo seu armamentário diagnóstico, plena capacidade de estabelecer critérios de quadros clínicos considerados irreversíveis, sem possibilidade de recuperação do paciente. As UTIs não são para este tipo de paciente, embora muitas vezes as famílias pressionem por sua internação. São os casos dos pacientes com doenças em fase terminal. Estes pacientes, se pudessem escolher, certamente prefeririam estar entre seus entes queridos, se possível em suas casas, do que num ambiente despersonalizado, portando uma infinidade de tubos e acessos, prolongando seu sofrimento.
Morrer em casa, nestes casos, por que não?, mas principalmente morrer com dignidade.
* Médico e professor universitário
Escolha o seu vício - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 06/03
Estourar bolinhas conta com a minha simpatia, mas pertenço a outro grupo de neuróticos obsessivos
NAQUELE SEU esforço frenético para obter a empatia do espectador, o filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001) mostrava um personagem que tinha a mania de ficar estourando casulos de plástico bolha.
A plateia adorava, e de lá para cá a mania do plástico bolha se institucionalizou bastante. Saiu outro dia a notícia de um recorde, registrado no "Guinness": 743 m² de plástico bolha estourados em dois minutos, por um grupo de estudantes universitários de New Jersey.
Há também um programa de computador para você estourar bolinhas com o mouse. Mas não é a mesma coisa.
A atividade conta com a minha simpatia, mas na verdade pertenço a outro grupo de neuróticos obsessivos. Resisto bem ao plástico bolha. Sou, acima de tudo, um descascador de películas.
Vernizes que se soltam de móveis, tintas que se soltam de paredes; capas de livros plastificados; adesivos que não querem desgrudar do carro; cutículas, casquinhas, peles secas de verão: essa é a minha praia.
São dois tipos psicológicos bem diferentes. O estourador de plástico bolha gosta de resolver tudo de uma vez só. Age mecanicamente. É eficaz no seu ofício.
O arrancador de pelinhas está em geral condenado ao fracasso. Puxa demais o plástico que protegia a capa do livro, e termina levando o papel junto. Encontra uma cutícula sequinha no polegar, e puxa-a até chegar à carne viva.
Ao mesmo tempo, é mais observador e científico. O homem do plástico bolha pode fazer isso enquanto assiste à TV ou fala no telefone. O descascador gosta de analisar a superfície da coisa, procura a direção certa da puxada, alterna períodos de atividade e de descanso.
Comparado à produtividade do estourador de plástico, o espírito do descascador é mais felino e ocioso.
Num caso, tem-se o Japão -abrupto e limpo. No outro, a China: paciente, silenciosa, interminável.
Vê-se de que modo são genéricos e insuficientes os diagnósticos da psiquiatria. Ambos podem ser classificados, se a mania for séria, no campo do Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC.
Até pelo som da palavra pode-se perceber que o TOC se aplica melhor ao clube do plástico bolha. Os descascadores, como eu, deveriam reivindicar outro acrônimo. Quem sabe Slic (síndrome laminar impulsivo-compulsiva), ou Irde (impulso recorrente de dissociação epitelial).
Trata-se de enfermidade mais perigosa: tenho um polegar corroído, vários livros em petição de miséria e marcas permanentes na pele onde, em algum verão, pernilongos pousaram.
Mas a compulsividade, feitas as contas, não é o pior dos males. O motor que aciona a tribo do plástico bolha também é o motor que move o mundo. Ninguém seria campeão de pingue-pongue se não fosse um estourador de plástico direcionado para um objetivo nobre.
É imenso, na verdade, o número das atividades humanas que obedecem à lei do plástico bolha. No tempo em que se escreviam cartões de Natal, tive uma vez de sobrescritar (a palavra é da época) dezenas de envelopes.
Coisa chatíssima, até o momento em que você começa. "Só mais um, só mais um, depois eu paro", eu dizia para mim mesmo.
Sem dúvida, é o que torna suportável a maioria dos trabalhos repetitivos que a indústria humana já inventou. Quem está livre dessa obrigação provavelmente não sossega antes de encontrar um substituto. Abdominais numa academia, brigadeiros num bufê, cruzinhas num calendário, dígitos num dial etc... (você continua na ordem alfabética).
Estou tentando me livrar do descascamento de pelinhas. Consegui, pela primeira vez na vida, dedicar-me para valer (isto é, umas duas horas por dia) aos exercícios de piano.
Para quem não nasceu com o dom da coisa, estudar piano é tão ou mais estéril do que arrancar películas ou estourar bolhas. Os exercícios de Carl Czerny (1791-1857) reúnem as páginas mais tolas e chatas de toda a história da música clássica.
Chatas? Isso foi antes de eu me dedicar aos estudos de Hanon (1819-1900). Que não são nada perto dos de Ettore Pozzoli (1873-1957), esses sim, insuperáveis na monotonia. Vê-se que, quanto mais avançamos no tempo, mais chatos ficamos.
O que é uma vantagem. Diante do piano eletrônico (com fones de ouvido, para chatear apenas a mim mesmo), repito dezenas, centenas de vezes a mesma passagem do polegar. Ele, coitado, agradece o descanso no descascamento.
Sinto-me eficiente, produtivo, saudável. Logo serei admitido no clube dos estouradores de bolhas.
Estourar bolinhas conta com a minha simpatia, mas pertenço a outro grupo de neuróticos obsessivos
NAQUELE SEU esforço frenético para obter a empatia do espectador, o filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001) mostrava um personagem que tinha a mania de ficar estourando casulos de plástico bolha.
A plateia adorava, e de lá para cá a mania do plástico bolha se institucionalizou bastante. Saiu outro dia a notícia de um recorde, registrado no "Guinness": 743 m² de plástico bolha estourados em dois minutos, por um grupo de estudantes universitários de New Jersey.
Há também um programa de computador para você estourar bolinhas com o mouse. Mas não é a mesma coisa.
A atividade conta com a minha simpatia, mas na verdade pertenço a outro grupo de neuróticos obsessivos. Resisto bem ao plástico bolha. Sou, acima de tudo, um descascador de películas.
Vernizes que se soltam de móveis, tintas que se soltam de paredes; capas de livros plastificados; adesivos que não querem desgrudar do carro; cutículas, casquinhas, peles secas de verão: essa é a minha praia.
São dois tipos psicológicos bem diferentes. O estourador de plástico bolha gosta de resolver tudo de uma vez só. Age mecanicamente. É eficaz no seu ofício.
O arrancador de pelinhas está em geral condenado ao fracasso. Puxa demais o plástico que protegia a capa do livro, e termina levando o papel junto. Encontra uma cutícula sequinha no polegar, e puxa-a até chegar à carne viva.
Ao mesmo tempo, é mais observador e científico. O homem do plástico bolha pode fazer isso enquanto assiste à TV ou fala no telefone. O descascador gosta de analisar a superfície da coisa, procura a direção certa da puxada, alterna períodos de atividade e de descanso.
Comparado à produtividade do estourador de plástico, o espírito do descascador é mais felino e ocioso.
Num caso, tem-se o Japão -abrupto e limpo. No outro, a China: paciente, silenciosa, interminável.
Vê-se de que modo são genéricos e insuficientes os diagnósticos da psiquiatria. Ambos podem ser classificados, se a mania for séria, no campo do Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC.
Até pelo som da palavra pode-se perceber que o TOC se aplica melhor ao clube do plástico bolha. Os descascadores, como eu, deveriam reivindicar outro acrônimo. Quem sabe Slic (síndrome laminar impulsivo-compulsiva), ou Irde (impulso recorrente de dissociação epitelial).
Trata-se de enfermidade mais perigosa: tenho um polegar corroído, vários livros em petição de miséria e marcas permanentes na pele onde, em algum verão, pernilongos pousaram.
Mas a compulsividade, feitas as contas, não é o pior dos males. O motor que aciona a tribo do plástico bolha também é o motor que move o mundo. Ninguém seria campeão de pingue-pongue se não fosse um estourador de plástico direcionado para um objetivo nobre.
É imenso, na verdade, o número das atividades humanas que obedecem à lei do plástico bolha. No tempo em que se escreviam cartões de Natal, tive uma vez de sobrescritar (a palavra é da época) dezenas de envelopes.
Coisa chatíssima, até o momento em que você começa. "Só mais um, só mais um, depois eu paro", eu dizia para mim mesmo.
Sem dúvida, é o que torna suportável a maioria dos trabalhos repetitivos que a indústria humana já inventou. Quem está livre dessa obrigação provavelmente não sossega antes de encontrar um substituto. Abdominais numa academia, brigadeiros num bufê, cruzinhas num calendário, dígitos num dial etc... (você continua na ordem alfabética).
Estou tentando me livrar do descascamento de pelinhas. Consegui, pela primeira vez na vida, dedicar-me para valer (isto é, umas duas horas por dia) aos exercícios de piano.
Para quem não nasceu com o dom da coisa, estudar piano é tão ou mais estéril do que arrancar películas ou estourar bolhas. Os exercícios de Carl Czerny (1791-1857) reúnem as páginas mais tolas e chatas de toda a história da música clássica.
Chatas? Isso foi antes de eu me dedicar aos estudos de Hanon (1819-1900). Que não são nada perto dos de Ettore Pozzoli (1873-1957), esses sim, insuperáveis na monotonia. Vê-se que, quanto mais avançamos no tempo, mais chatos ficamos.
O que é uma vantagem. Diante do piano eletrônico (com fones de ouvido, para chatear apenas a mim mesmo), repito dezenas, centenas de vezes a mesma passagem do polegar. Ele, coitado, agradece o descanso no descascamento.
Sinto-me eficiente, produtivo, saudável. Logo serei admitido no clube dos estouradores de bolhas.
‘Georgia on my mind’ - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 06/03
Segundo a “Forbes”, o religioso tem um patrimônio estimado em US$1,1 bilhão.
Atravessou o Rubicão
Tem gente do governo que se convenceu de vez que Eduardo Campos é candidato para valer em 2014, depois que o governador contratou o marqueteiro Duda Mendonça.
Calma, gente
O consórcio do Maracanã cortou, no fim da tarde de ontem, a luz e a água do prédio do antigo Museu do Índio. Alega que a turma que ocupa o lugar fez um gato lá.
Sem água e energia, os índios começaram a jogar pedras nos funcionários da empresa.
Aborto
A 6ª Câmara Criminal do Rio autorizou, ontem, a interrupção da gravidez de um bebê anencéfalo.
A decisão foi unânime.
Mudou de status
É possível que uma coisa não tenha nada a ver com a outra.
Mas, uma moradora da Barreira do Vasco, um dia depois da ocupação para a instalação da UPP, eu apoio!, foi avisada pelo dono da casa onde mora que o aluguel vai aumentar de R$ 350 para R$ 400.
Fator Odebrecht
Como ia dizendo, as grandes empreiteiras brasileiras têm na Venezuela seu principal mercado externo.
São obras que totalizam US$ 3 bilhões por ano.
Sonho do ouro
José Henrique Fonseca acompanhará o dia a dia de 15 atletas com grande potencial olímpico, de 2014 até um mês antes das Olimpíadas em 2016.
A ideia é mostrar como se constrói um atleta e seu sonho. Serão 60 programas para a TV de 15 minutos, que serão exibidos em 2016.
Flor do Barcelona
Bruna Marquezine não é a única atriz da TV Globo a namorar um craque do futebol, no caso Neymar.
Thaíssa Carvalho, que entra no ar em “Flor do Caribe”, e Daniel Alves também estão trocando juras de amor. ‘Passione’
A 51ª Vara Cível do Rio condenou a Tigre a pagar R$ 30 mil aos atores Irene Ravache e Francisco Cuoco.
A empresa, segundo Ricardo Brajterman, advogado dos atores, usou sem autorização, em seu site, uma imagem de Cuoco e Ravache na novela “Passione”.
Papa negro
Para quem gosta de mistérios nesta época de conclave em Roma.
São Malaquias, bispo da Idade Média, ficou famoso por suas profecias. A mais conhecida delas diz que o próximo Papa será o último.
Tem mais: Vai ser negro, e escolherá como nome Pedro II.
Lei Artur Xexéo
Paes estuda estender a toda frota de táxis da cidade estes bigorrilhos, já usados nos dois táxis elétricos que começaram a circular ontem. Eles têm lâmpadas de LED permitindo, mesmo de dia, ver a luz que indica que o táxi está vazio. O coleguinha Artur Xexéo escreveu, dia destes, que tem gente fazendo papel de bobo ao chamar uns táxis na rua. É que, por causa dos vidros escuros, não se consegue ver se eles estão ocupados.
Viaduto do poeta
O novo viaduto que vai ligar as avenidas Brás de Pina e Lobo Júnior, na Penha, irá se chamar Luiz Carlos da Vila (1949-2008), o saudoso compositor.
Fica ao lado do viaduto João XXIII, faz parte da Transcarioca e será inaugurado amanhã. Merece.
Águas de março
Entrou água no dúplex de Lourdes Catão, no prédio Biarritz, tombado pelo Iphan, na Praia do Flamengo, durante o temporal de ontem.
A aguaceira molhou tapeçarias do século XVII e tapetes persas, além de um estudo de cabeça de Rodin.
No mais
Houve, segunda, nova confusão nas barcas do Rio. Outro dia, José Murilo de Carvalho mostrou que caravelas do tempo de Colombo eram mais rápidas que certas barcas.
Agora, o historiador reparou que “Lagoa”, uma das barcas que causou um protesto recentemente, já circulava em 1959, quando houve a revolta em Niterói, que deixou cinco mortos e 125 feridos.
Caroço no angu - SONIA RACY
O ESTADÃO - 06/03
Poucos meses depois de sua desfiliação, fez a denúncia contra o deputado federal.
Número 3
No Planalto, desconfia-se que a motivação de Eduardo Campos, ao se colocar parcialmente contra a MP dos Portos, não se limitaria à disputa em 2014 ou à perda de autonomia em Suape.
Motivo? Leônidas Cristino, titular da Secretaria Especial de Portos, indicado pelo PSB, é ligado a Cid Gomes.
Show de Bola
Decidido. Na abertura da Copa de 2014, além da cerimônia oficial, em São Paulo, haverá megashow no Rio. A lista de artistas está sendo fechada.
Bola na rede
Projeto do governo que prevê perdão das dívidas dos clubes de futebol brasileiros tem grande chance de se tornar uma imensa dor de cabeça para Aldo Rebelo. Total devido? Cerca de R$ 5 bilhões.
Alguns presidentes de times consideram o tema tão impopular, com impacto negativo de imagem, que estão pensando seriamente até em… “fugir” da proposta.
De mudança
Depois de quase sete anos, Claudia Matarazzo deixa a chefia do cerimonial do Palácio dos Bandeirantes até o fim de março.
Vai se dedicar a projetos pessoais – como o de consultoria que prestará em todo o País para a recepção de delegações estrangeiras na Copa.
Dança das cadeiras
Paulo Teixeira assumiu a Secretaria-Geral do PT. Entra no lugar de Elói Pietá– que embarca para uma temporada de estudos na Índia.
O deputado vem sendo cotado para disputar o comando do partido contra o atual presidente, Rui Falcão.
Por Zeus!
E a canção No Olimpo, da banda Nação Zumbi – inspirada no livro Deuses Americanos, de Neil Gaiman–, vai virar trilha sonora de animação brasileira.
O longa, Uma História de Amor e Fúria, é dirigido por Luiz Bolognesi.
Coisa de confiança
Alexandre Birman assume a presidência executiva da Arezzo. Seu antecessor e pai, Anderson Birman, permanece na presidência do conselho da empresa.
Alexandre “gastou” muita sola de sapato – aos 15 anos, fez o primeiro, à mão – para suceder ao criador do conglomerado, que hoje vale algo como R$ 3 bilhões.
Showzaço
Caetano Veloso já tem data para trazer a turnê de seu Abraçaço para São Paulo. As apresentações acontecerão no HSBC Brasil, nos dias 12 e 13 de abril.
Namoro
Elie Saab, o estilista xodó dos tapetes vermelhos mundiais, está de olho… no Brasil. O libanês mantém conversas com o Shopping Cidade Jardim.
Kibe e esfiha
Michel Temer será o homenageado durante o Dia Nacional da Comunidade Árabe, dia 25. Ganhará um jantar da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, no Esporte Clube Sírio.
O vice-presidente, aliás, vem tratando de missão empresarial nos países árabes.
Na frente
Deborah Osborn comanda debate depois do filme Aluga-se. Quinta, no Teatro Cemitério de automóveis.
O MIS celebra o Dia Internacional da Mulher com a Mostra Isabelle Huppert. Hoje.
O desfile da Elle, na Ponte Estaiada, será no… sábado.
Em tempos de Colegas nos cinemas, a Câmara dos Deputados analisa projeto que regulamenta a equoterapia – reabilitação que usa cavalos para tratar de pessoas com deficiência. Entra em pauta hoje.
Ueba! Chega de goleiro Bruno! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 06/03
Diz que depois do conclave, vão mandar os padres saírem do armário e as freiras das gavetas. Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Socuerro! Me mate um bode! Num guento mais ver o goleiro Bruno de uniforme laranja na televisão. Ele já foi julgado quantas vezes? É o réu ioiô! Eu já o vi entrando e saindo do camburão umas 300 mil vezes! Vai acabar cumprindo metade da pena no camburão. Vai ganhar milhagem de camburão! Goleiro Bruno ganha milhagem de camburão!
E essa piada pronta: "Promotor do caso Bruno diz que o Macarrão tá enrolado". Tá enrolado porque é macarrão; se fosse miojo, tava solto em três minutos!
E se o Bruno é goleiro, ele devia fazer a própria defesa. A única coisa coerente é que o melhor amigo do goleiro é o Bola! E o advogado do Bola que se chama Quaresma? Tá na época certa!
E esta: "'Playboy' lança primeira edição em hebraico". E qual a importância do idioma na "Playboy"?
Eu tenho uma amiga psicanalista que diz: "Se algum cliente me falar que lê as entrevistas da 'Playboy', cobro em dobro". E um amigo meu se tranca no banheiro com a 'Playboy' cantando: "Maricota, maricota, com a direita e com a canhota". Rarará!
E esta: "Cortes nos gastos dos EUA provocam longas filas nos aeroportos". Imagina na Copa! Rarará.
E esta outra: "Capela Sistina fecha suas portas para visitantes e turistas". Começou a punição do Vaticano. Portões fechados! Vou querer uma liminar pra visitar a Capela Sistina!
E diz que, depois do conclave, vão mandar os padres saírem do armário e as freiras das gavetas. Rarará!
E a Globo Filmes vai lançar mais um sucesso de bilheteria com aqueles quatro torcedores corintianos: "Os Penetras". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha esta placa: "Vende-se uma bisicrerta". E outra: "Vende-se bisiclelta". As três palavras mais difíceis da língua portuguesa: bicicleta, cabeleireira e salsicha!
Eu tenho uma teoria: no Brasil, todo mundo escreve errado, mas todo mundo se entende. Ou, como disse Gabriel García Márquez: "Temos de aposentar a ortografia, terror do ser humano desde o berço".
É mesmo! Desde o berço, aquele inferno: não é "xalxicha", é salsicha. Não é "cabeleleira", é cabeleireira. Saco! Libera a Xalxixa! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Diz que depois do conclave, vão mandar os padres saírem do armário e as freiras das gavetas. Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Socuerro! Me mate um bode! Num guento mais ver o goleiro Bruno de uniforme laranja na televisão. Ele já foi julgado quantas vezes? É o réu ioiô! Eu já o vi entrando e saindo do camburão umas 300 mil vezes! Vai acabar cumprindo metade da pena no camburão. Vai ganhar milhagem de camburão! Goleiro Bruno ganha milhagem de camburão!
E essa piada pronta: "Promotor do caso Bruno diz que o Macarrão tá enrolado". Tá enrolado porque é macarrão; se fosse miojo, tava solto em três minutos!
E se o Bruno é goleiro, ele devia fazer a própria defesa. A única coisa coerente é que o melhor amigo do goleiro é o Bola! E o advogado do Bola que se chama Quaresma? Tá na época certa!
E esta: "'Playboy' lança primeira edição em hebraico". E qual a importância do idioma na "Playboy"?
Eu tenho uma amiga psicanalista que diz: "Se algum cliente me falar que lê as entrevistas da 'Playboy', cobro em dobro". E um amigo meu se tranca no banheiro com a 'Playboy' cantando: "Maricota, maricota, com a direita e com a canhota". Rarará!
E esta: "Cortes nos gastos dos EUA provocam longas filas nos aeroportos". Imagina na Copa! Rarará.
E esta outra: "Capela Sistina fecha suas portas para visitantes e turistas". Começou a punição do Vaticano. Portões fechados! Vou querer uma liminar pra visitar a Capela Sistina!
E diz que, depois do conclave, vão mandar os padres saírem do armário e as freiras das gavetas. Rarará!
E a Globo Filmes vai lançar mais um sucesso de bilheteria com aqueles quatro torcedores corintianos: "Os Penetras". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha esta placa: "Vende-se uma bisicrerta". E outra: "Vende-se bisiclelta". As três palavras mais difíceis da língua portuguesa: bicicleta, cabeleireira e salsicha!
Eu tenho uma teoria: no Brasil, todo mundo escreve errado, mas todo mundo se entende. Ou, como disse Gabriel García Márquez: "Temos de aposentar a ortografia, terror do ser humano desde o berço".
É mesmo! Desde o berço, aquele inferno: não é "xalxicha", é salsicha. Não é "cabeleleira", é cabeleireira. Saco! Libera a Xalxixa! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Além da vitória - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 06/03
Após um longo período de vitórias, grandes times e craques tendem à inércia, ao fastio
Há mais de um ano, em todas as partidas que Kaká jogou pelo Real Madrid, ele não brilhou como em seus melhores momentos, mas se movimentou como no Milan. Ele é reserva no Real porque Özil é um dos melhores meias do futebol mundial. Por isso, e pelo que jogou nas partidas com Mano Menezes, Kaká merece estar na seleção. Fora isso, nada tão relevante na convocação.
O Palmeiras é o pior dos brasileiros na Libertadores, mas está no mesmo nível ou é superior à maioria das outras equipes. O Libertad, que ganhou do Palmeiras, no Paraguai, está entre os melhores times, fora os brasileiros. O Palmeiras tem boas chances de se classificar e, dependendo de quem enfrentar, pode ir mais longe.
O Atlético-MG, com Tardelli, melhorou na qualidade e no repertório de jogadas, com mais troca de passes e menos jogadas aéreas. Bernard, com a ajuda de Cuca, finaliza hoje muito melhor e aprendeu o momento certo de partir em velocidade para receber a bola, sem entrar em impedimento.
Contra o Strongest, Ganso entrou no segundo tempo, muito mais ativo, desarmando e aparecendo mais para receber a bola. Como disse Alberto Helena Jr., Ganso é um típico armador, organizador, e não um meia ofensivo, para entrar, com frequência, na área, para fazer gols, como tantos pedem.
O Corinthians, com Pato e Renato Augusto, poderá ficar melhor que no ano passado. Está longe de ser. Pato, como ocorreu em toda a carreira, alterna lances brilhantes e outros muito confusos. Parece um craque, mas não é. É um bom, ou excelente, atacante.
O Fluminense, com os mesmos jogadores, técnico e sistema tático, está, como o Corinthians, pior que em 2012. Já surgiram dezenas de teorias e razões para a queda da equipe. Comentarista adora antecipar e explicar os fatos, geralmente com uma única causa. Vitórias e derrotas ocorrem, muitas vezes, sem avisar, em uma fração de segundos, entre uma batida e outra do coração.
As grandes equipes, como o Santos, de Pelé, e o Barcelona, perdem, até várias vezes seguidas, por muitos fatores. Todas têm deficiências técnicas. O treinador do Barcelona é o auxiliar do auxiliar, outro problema. Treinadores são supervalorizados, mas são essenciais. Além de tudo isso, esses times, após uma longa sequência de vitórias, acostumam-se com a rotina, como se fosse desnecessário, para continuar vencendo, fazer um esforço especial, algo mais. Essa inércia, fastio, dura um tempo variável. O mesmo acontece com os craques, como Neymar e Messi.
"Depois da hora radiosa, a hora dura do esporte, sem a qual não há prêmio que conforte, pois perder é tocar alguma coisa mais além da vitória, é encontrar-se naquele ponto onde começa tudo a nascer do perdido, lentamente" (Carlos Drummond de Andrade).
Após um longo período de vitórias, grandes times e craques tendem à inércia, ao fastio
Há mais de um ano, em todas as partidas que Kaká jogou pelo Real Madrid, ele não brilhou como em seus melhores momentos, mas se movimentou como no Milan. Ele é reserva no Real porque Özil é um dos melhores meias do futebol mundial. Por isso, e pelo que jogou nas partidas com Mano Menezes, Kaká merece estar na seleção. Fora isso, nada tão relevante na convocação.
O Palmeiras é o pior dos brasileiros na Libertadores, mas está no mesmo nível ou é superior à maioria das outras equipes. O Libertad, que ganhou do Palmeiras, no Paraguai, está entre os melhores times, fora os brasileiros. O Palmeiras tem boas chances de se classificar e, dependendo de quem enfrentar, pode ir mais longe.
O Atlético-MG, com Tardelli, melhorou na qualidade e no repertório de jogadas, com mais troca de passes e menos jogadas aéreas. Bernard, com a ajuda de Cuca, finaliza hoje muito melhor e aprendeu o momento certo de partir em velocidade para receber a bola, sem entrar em impedimento.
Contra o Strongest, Ganso entrou no segundo tempo, muito mais ativo, desarmando e aparecendo mais para receber a bola. Como disse Alberto Helena Jr., Ganso é um típico armador, organizador, e não um meia ofensivo, para entrar, com frequência, na área, para fazer gols, como tantos pedem.
O Corinthians, com Pato e Renato Augusto, poderá ficar melhor que no ano passado. Está longe de ser. Pato, como ocorreu em toda a carreira, alterna lances brilhantes e outros muito confusos. Parece um craque, mas não é. É um bom, ou excelente, atacante.
O Fluminense, com os mesmos jogadores, técnico e sistema tático, está, como o Corinthians, pior que em 2012. Já surgiram dezenas de teorias e razões para a queda da equipe. Comentarista adora antecipar e explicar os fatos, geralmente com uma única causa. Vitórias e derrotas ocorrem, muitas vezes, sem avisar, em uma fração de segundos, entre uma batida e outra do coração.
As grandes equipes, como o Santos, de Pelé, e o Barcelona, perdem, até várias vezes seguidas, por muitos fatores. Todas têm deficiências técnicas. O treinador do Barcelona é o auxiliar do auxiliar, outro problema. Treinadores são supervalorizados, mas são essenciais. Além de tudo isso, esses times, após uma longa sequência de vitórias, acostumam-se com a rotina, como se fosse desnecessário, para continuar vencendo, fazer um esforço especial, algo mais. Essa inércia, fastio, dura um tempo variável. O mesmo acontece com os craques, como Neymar e Messi.
"Depois da hora radiosa, a hora dura do esporte, sem a qual não há prêmio que conforte, pois perder é tocar alguma coisa mais além da vitória, é encontrar-se naquele ponto onde começa tudo a nascer do perdido, lentamente" (Carlos Drummond de Andrade).
Eutanásia em discussão - CRISTIANE AVANCINI ALVES
ZERO HORA - 06/03
Já se passarem alguns dias desde a prisão de uma médica, em Curitiba, que, segundo relatos inicialmente publicados na mídia, teria praticado eutanásia. Foi dito que a referida médica efetuava a interrupção de tratamento de seus pacientes, o que gerou diversas manifestações a respeito de um tema delicado pela sua humanidade: o fim de vida. Ao mesmo tempo em que nos alegramos com o início de uma vida e lutamos pela preservação de sua dignidade no decorrer de sua existência, o seu fim também deve ser digno. Há não muito tempo, neste mesmo espaço (ZH 12/09/2012), falou-se sobre a Resolução nº 1.995/2012 do Conselho Federal de Medicina (CFM) acerca das "diretivas antecipadas de vontade", que consistem na manifestação do paciente em deixar, por escrito, como gostaria (ou não) de ser tratado no caso de se encontrar incapaz de indicar sua vontade de forma livre e autônoma. Aqui, torna-se importante trazer alguns esclarecimentos.
O primeiro deles consiste em não confundir "eutanásia" e "diretivas antecipadas de vontade" (também popularmente e não adequadamente publicizadas como "testamento vital"). Essa observação é importante porque temos duas situações diferentes. Apenas para elucidar alguns dos vários pontos que envolvem o tema, importante dizer que eutanásia não é, simplesmente, interrupção de tratamento, mas indução, com intenção, a óbito, com a autorização consciente da pessoa que passa por determinado tipo de sofrimento, não necessariamente em estado terminal. No Brasil, esta prática não é permitida. De forma oposta, as diretivas antecipadas de vontade não induzem à morte: elas (e aqui podemos falar) interrompem tratamento que, sempre de acordo com a ética médica e proteção do paciente, venha a se tornar fútil e, assim, afete a sua dignidade no seu fim de vida.
O segundo esclarecimento advém do fato de que algumas notícias podem levar a uma confusão entre esses dois temas. Uma delas, por exemplo, traz, em seu título, que "Polícia prende médica em operação que investiga prática de eutanásia no Paraná". Durante o texto, há um destaque para a seção "Leia também: Paciente pode registrar quais procedimentos médicos quer no fim de vida". Ainda que a matéria não tenha abordado especificamente este último tema no texto principal, o leitor pode ser levado a pensar que eutanásia e diretivas antecipadas de vontade sejam instrumentos iguais. Não são. Por isso, torna-se fundamental termos presente essas diferenciações para que a conquista da livre manifestação de nossa vontade quanto ao fim de vida (em seu delineado quadro) trabalhada na Resolução do CFM não seja ofuscada e desqualificada pelo sério e delicado episódio que temos acompanhado pela imprensa, e que, ainda, não se revela como eutanásia, pela ausência de consentimento (segundo o que as investigações indicam até o presente momento) dos próprios pacientes.
* Professora universitária, doutora em Direito
Já se passarem alguns dias desde a prisão de uma médica, em Curitiba, que, segundo relatos inicialmente publicados na mídia, teria praticado eutanásia. Foi dito que a referida médica efetuava a interrupção de tratamento de seus pacientes, o que gerou diversas manifestações a respeito de um tema delicado pela sua humanidade: o fim de vida. Ao mesmo tempo em que nos alegramos com o início de uma vida e lutamos pela preservação de sua dignidade no decorrer de sua existência, o seu fim também deve ser digno. Há não muito tempo, neste mesmo espaço (ZH 12/09/2012), falou-se sobre a Resolução nº 1.995/2012 do Conselho Federal de Medicina (CFM) acerca das "diretivas antecipadas de vontade", que consistem na manifestação do paciente em deixar, por escrito, como gostaria (ou não) de ser tratado no caso de se encontrar incapaz de indicar sua vontade de forma livre e autônoma. Aqui, torna-se importante trazer alguns esclarecimentos.
O primeiro deles consiste em não confundir "eutanásia" e "diretivas antecipadas de vontade" (também popularmente e não adequadamente publicizadas como "testamento vital"). Essa observação é importante porque temos duas situações diferentes. Apenas para elucidar alguns dos vários pontos que envolvem o tema, importante dizer que eutanásia não é, simplesmente, interrupção de tratamento, mas indução, com intenção, a óbito, com a autorização consciente da pessoa que passa por determinado tipo de sofrimento, não necessariamente em estado terminal. No Brasil, esta prática não é permitida. De forma oposta, as diretivas antecipadas de vontade não induzem à morte: elas (e aqui podemos falar) interrompem tratamento que, sempre de acordo com a ética médica e proteção do paciente, venha a se tornar fútil e, assim, afete a sua dignidade no seu fim de vida.
O segundo esclarecimento advém do fato de que algumas notícias podem levar a uma confusão entre esses dois temas. Uma delas, por exemplo, traz, em seu título, que "Polícia prende médica em operação que investiga prática de eutanásia no Paraná". Durante o texto, há um destaque para a seção "Leia também: Paciente pode registrar quais procedimentos médicos quer no fim de vida". Ainda que a matéria não tenha abordado especificamente este último tema no texto principal, o leitor pode ser levado a pensar que eutanásia e diretivas antecipadas de vontade sejam instrumentos iguais. Não são. Por isso, torna-se fundamental termos presente essas diferenciações para que a conquista da livre manifestação de nossa vontade quanto ao fim de vida (em seu delineado quadro) trabalhada na Resolução do CFM não seja ofuscada e desqualificada pelo sério e delicado episódio que temos acompanhado pela imprensa, e que, ainda, não se revela como eutanásia, pela ausência de consentimento (segundo o que as investigações indicam até o presente momento) dos próprios pacientes.
* Professora universitária, doutora em Direito
Lei seca ou embriagada? - FABIO TOFIC SIMANTOB
O ESTADO DE S. PAULO - 06/03
Entrou em vigor no final do ano passado a novíssima lei seca, que traz alterações no Código de Trânsito Brasileiro.
Novíssima porque houve uma tentativa fracassada em 2008, acompanhada na época de uma forte campanha nos Estados, como aumento vertiginoso da fiscalização, das autuações e até de prisões.
Essa, porém, não tardou a se mostrar inviável, porque a configuração do crime dependia da quantidade de álcool no sangue, de modo que bastava recusar-se a fazer o teste do bafômetro para se ver livre da incriminação.
Enfim, em poucos meses a tão festejada mudança legislativa se revelou um grande fiasco.
Veio, então, a Lei n.º 12.760/2012, por força da qual o artigo 306 do Código de Trânsito, que tipifica o crime, passou a ter a seguinte redação: "Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência".
Algumas considerações sobre o novo crime de embriaguez ao volante merecem ser feitas.
Um ponto positivo da nova lei é que somente o motorista flagrado com a capacidade psicomotora alterada poderá ser enquadrado no mencionado crime, ao contrário do que ocorria com a mal sina da lei de 2008, que presumia a alteração psíquica a partir de determinada quantidade de álcool no sangue, independentemente da efetiva embriaguez.
A mudança é bem-vinda porque os efeitos do álcool e de outras substâncias psicoativas variam de uma pessoa para outra, só se podendo afirmar a diminuição da capacidade psicomotora de alguém mediante seu exame médico individualizado.
Entrementes, geraram polêmica na lei atual os meios de prova admitidos para se poder constatar a embriaguez.
Além do teste de alcoolemia (por bafômetro ou exame de sangue), de notório fracasso na legislação anterior diante da oponível garantia de ninguém ser obrigado a produzir prova contra si mesmo, a lei agora prevê o exame clínico, a perícia, o vídeo, a prova testemunhal ou outros meios de prova em Direito admitidos.
Causa estranheza que provas sérias e dotadas de valor científico, como a perícia ou o laudo clínico do médico, tenham recebido o mesmo valor legal do depoimento de uma testemunha qualquer ou até mesmo de um vídeo amador. Sim, porque, excluídos os casos emblemáticos de embriaguez notória, que a televisão costuma flagrar, a maioria dos casos de alteração da capacidade psicomotora é de difícil asserção, de modo que se mostra bastante temerário deixá-la à mercê da prova testemunhal - cuja falibilidade vem sendo discutida há décadas nos meios acadêmicos -, a qual é aceita com ressalvas pelos tribunais pátrios, sobretudo quando desacompanhada de provas materiais do crime.
Da mesma forma, a possibilidade de que a embriaguez seja atestada por imagens captadas em vídeo cria um ambiente fértil para uma indústria de condenações arbitrárias, exatamente o inverso do que deveria prevenir a lei,pois as imagens em vídeo são obviamente muito pobres em informações se comparadas com as análises médicas realizadas no exato momento da abordagem.
Ou seja, mesmo quando não for possível o exame ao vivo e em cores, face to face, feito por um médico no momento da abordagem, diz a lei que poderá substituí-lo o exame virtual, melhor dizendo, cinematográfico, em duas dimensões, e não necessariamente submetido à análise médica, posto à mercê, portanto, da interpretação leiga dos agentes da Justiça. Havemos de convir que a lei se contentou com muito pouco! Mais temerário ainda é permitir que o policial responsável pela abordagem possa figurar como "testemunha" da embriaguez.
Herança de sombrios tempos de autoritarismo, o testemunho em juízo do policial responsável pela abordagem ainda é aceito praticamente sem reservas pela jurisprudência dos nossos tribunais como prova para condenar acusados de roubo, pequenos furtos, porte ilegal de arma e de drogas. Logo, ficará a gosto do freguês, cabendo a cada juiz individualmente decidir se ele será válido ou não como prova da embriaguez.
Acontece que infunde justificado desconforto no espírito do cidadão saber que aprovada embriaguez poderá ser decidida, em última análise, pelo policial responsável pela abordagem. Esse incômodo pode ter várias causas, como o histórico de arbítrio do poder no Brasil e as deficiências ainda existentes na nossa polícia. Mas pode ser atribuído também a um natural e, arriscamos dizer, universal receio do indivíduo, não importa o continente onde se encontre, de vir a sofrer abusos e arbitrariedades da parte das forças do Estado.
Não à toa, toda a razão de ser do Direito se resume a estabelecer limites ao exercício do poder, e talvez não haja situação mais propícia à ocorrência do desmando estatal do que a abordagem policial de rua. Em situações assim, em que o Estado detém um poder quase de vida ou morte sobre o indivíduo, a lei deve adotar procedimentos insuspeitos, pelos quais a legalidade da atuação possa ser aferida de forma objetiva, e não por mero ato de fé na palavra do policial.
Não há dúvida que a sociedade brasileira era credora de uma lei capaz de responder adequadamente ao número quase epidêmico de acidentes de trânsito causados pela combinação de álcool e automóvel. Mas é verdade também que toda iniciativa legislativa dessa natureza deve buscar o binômio liberdade-segurança, garantindo de forma equilibrada a prevenção de tragédias, sem ameaçar a segurança jurídica da população que sabe dosar liberdade com responsabilidade e não deve, por conseguinte, ser prejudicada pelos excessos alheios.
Pesa dizer, mas mais uma vez o legislador se deixou embriagar pela comoção provocada por alguns casos pontuais, atuando a reboque dos acontecimentos, aprovando do dia para a noite um texto legal que, sob o pretexto de resolver um relevante drama social, faz reviver velhos anacronismos, resquícios ainda de um Estado com forte viés autoritário.
A hora dos bota-foras - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 06/03
Houve um momento em que os abaixo- assinados pareciam tão fora de moda que uma amiga pensou em escrever uma peça chamada "O fim dos manifestos e os 3 Z", uma referência aos nomes que, por ordem alfabética, encerravam quase sempre esses documentos de protesto político nos anos 60: Zelito, Ziraldo e Zuenir.Mas eis que, de repente, eles voltaram a ser um eficiente instrumento de ação política, com a ajuda da internet. Foi graças a um deles, por exemplo, que surgiu uma revolucionária iniciativa popular: a Lei da Ficha Limpa. Reunindo 1,3 milhão de assinaturas, a petição virou projeto, que foi aprovado em 2010 na Câmara, no Senado e sancionado pela presidente da República.
Como se sabe, a lei torna inelegível por oito anos o candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado.
As mais recentes manifestações dessa forma de profilaxia da vida política nacional são o "Fora Renan", com 1,6 milhão de assinaturas, já entregue ao Congresso, e o "Fora Marin" (José Maria), recém-lançado, mas já com mais de 30 mil assinaturas (uma das últimas, de Chico Buarque).
Em 2007, o senador teve que renunciar para não ser cassado por corrupção. "O país está exigindo que nossa democracia seja respeitada", diz o texto.
Os organizadores do movimento acreditam que a petição de impeachment, por ter alcançado o equivalente a 1% do eleitorado nacional, tenha força de lei de iniciativa popular.
Já o "Fora Marin" é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog, presidido por Ivo, filho do jornalista torturado e morto nas dependências do Exército em 1975, em SP. Marin, presidente da CBF, é acusado de na época ter atiçado a repressão com falsas denúncias. "O maior representante do que de mais importante vai acontecer no Brasil do ponto de vista internacional, a Copa", acusa Ivo, "é esse cara, que foi a favor da prisão, tortura e morte daquelas pessoas que simplesmente pensavam de maneira diferente dele e de seus colegas", afirmou.
O colunista Juca Kfouri reforça a acusação: "Ele se desfazia em elogios ao torturador Sérgio Fleury, assim como engrossava 'denúncias' sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Vlado" (um desses petardos envenenados foi lançado dias antes da execução de Herzog). Além de admirador de Fleury e de deputado pela Arena, partido da ditadura, Marin foi vice-governador biônico de Paulo Maluf, a quem substituiu por um ano. Com essa ficha, soa como ironia ele ter adquirido tanto prestígio no país presidido por uma ex-torturada.
Houve um momento em que os abaixo- assinados pareciam tão fora de moda que uma amiga pensou em escrever uma peça chamada "O fim dos manifestos e os 3 Z", uma referência aos nomes que, por ordem alfabética, encerravam quase sempre esses documentos de protesto político nos anos 60: Zelito, Ziraldo e Zuenir.Mas eis que, de repente, eles voltaram a ser um eficiente instrumento de ação política, com a ajuda da internet. Foi graças a um deles, por exemplo, que surgiu uma revolucionária iniciativa popular: a Lei da Ficha Limpa. Reunindo 1,3 milhão de assinaturas, a petição virou projeto, que foi aprovado em 2010 na Câmara, no Senado e sancionado pela presidente da República.
Como se sabe, a lei torna inelegível por oito anos o candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado.
As mais recentes manifestações dessa forma de profilaxia da vida política nacional são o "Fora Renan", com 1,6 milhão de assinaturas, já entregue ao Congresso, e o "Fora Marin" (José Maria), recém-lançado, mas já com mais de 30 mil assinaturas (uma das últimas, de Chico Buarque).
Em 2007, o senador teve que renunciar para não ser cassado por corrupção. "O país está exigindo que nossa democracia seja respeitada", diz o texto.
Os organizadores do movimento acreditam que a petição de impeachment, por ter alcançado o equivalente a 1% do eleitorado nacional, tenha força de lei de iniciativa popular.
Já o "Fora Marin" é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog, presidido por Ivo, filho do jornalista torturado e morto nas dependências do Exército em 1975, em SP. Marin, presidente da CBF, é acusado de na época ter atiçado a repressão com falsas denúncias. "O maior representante do que de mais importante vai acontecer no Brasil do ponto de vista internacional, a Copa", acusa Ivo, "é esse cara, que foi a favor da prisão, tortura e morte daquelas pessoas que simplesmente pensavam de maneira diferente dele e de seus colegas", afirmou.
O colunista Juca Kfouri reforça a acusação: "Ele se desfazia em elogios ao torturador Sérgio Fleury, assim como engrossava 'denúncias' sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Vlado" (um desses petardos envenenados foi lançado dias antes da execução de Herzog). Além de admirador de Fleury e de deputado pela Arena, partido da ditadura, Marin foi vice-governador biônico de Paulo Maluf, a quem substituiu por um ano. Com essa ficha, soa como ironia ele ter adquirido tanto prestígio no país presidido por uma ex-torturada.
'Puxadinho' sem fronteiras - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 06/03
Com menos de dois anos, o programa Ciência sem Fronteiras, uma iniciativa acertada do governo federal, já começa a mostrar sinais de que está contaminado pela cultura do "puxadinho", que tão bem tem caracterizado a administração da presidente Dilma Rousseff.
O Ciência sem Fronteiras tem como objetivo internacionalizar o ensino superior no País, por meio da concessão de bolsas de estudo em universidades competitivas no exterior. A intenção, alardeia o governo, é "investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da sociedade do conhecimento". Ainda se espera que esse objetivo seja alcançado, porque esse é um dos fatores dos quais depende o pleno desenvolvimento do Brasil, mas multiplicam-se evidências de que, por trás do palavrório repleto de boas intenções e metas ousadas, viceja a conhecida inépcia da administração lulopetista.
Um exemplo escandaloso disso é a decisão do governo de diminuir a exigência de conhecimento de alemão, francês, inglês e italiano para seleção de bolsistas, de modo que os candidatos com nenhum domínio desses idiomas poderão participar do programa. Com a medida, o governo pretende conseguir cumprir sua promessa de enviar 101 mil bolsistas ao exterior até 2015 - até agora, graças em grande parte ao obstáculo do idioma, apenas 22% dessa meta foi atingida. O governo oferecerá aulas intensivas de idiomas, de até dois meses, para tentar compensar a deficiência dos candidatos, mas especialistas salientam que isso não basta, já que os cursos na área tecnológica, principal foco do programa, exigem pleno domínio da língua em que são dados. Em dois meses, é improvável que os bolsistas possam atingir esse nível de proficiência. O governo reduziu a tal ponto a exigência de domínio do inglês que, no caso da seleção de alunos dos Institutos Federais de Educação Tecnológica e das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) para estudar nos Estados Unidos, o candidato ganhará a vaga mesmo se não conseguir manter uma conversação básica. Não é possível imaginar que um bolsista com essas credenciais consiga ser bem-sucedido nas melhores universidades americanas e europeias.
Ante a evidente limitação de muitos candidatos, vários deles têm optado por concorrer a bolsas para estudar em Portugal, para driblar o obstáculo da língua. O problema é que a maioria dos bolsistas optou por universidades portuguesas que são consideradas mais fracas que as brasileiras, apesar do Ciência sem Fronteiras propagandear que tem convênios com "as melhores universidades do mundo". Um desses estudantes, ouvido pelo Estado (5/3), disse que o importante não era o curso em si, mas o "contato com a cultura europeia" - uma espécie de turismo à custa dos cofres públicos.
Para tentar contornar o problema, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) ofereceu a esses alunos em Portugal a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em outros países com universidades de ponta - sem necessidade de passar por teste de proficiência.
A precariedade do Ciência sem Fronteiras não é uma novidade. Entre 2011 e 2012, muitos dos estudantes enviados ao exterior receberam da ajuda prometida apenas a passagem aérea, e ficaram um bom tempo sem dinheiro para pagar o aluguel, a alimentação, os livros, o plano de saúde e o transporte.
Essa situação constrangedora é mais uma a revelar as práticas de um governo que precisa produzir continuamente números vistosos para alimentar seus slogans eleitoreiros, enquanto faz remendos grosseiros para esconder a fragilidade de suas alegadas conquistas.
Não se esperava que um programa com essa magnitude fosse isento de problemas e contratempos. No entanto, é notável que, na cartilha da administração petista, quando se trata de corrigir falhas e rumos, recorre-se, como regra, ao improviso. Enquanto isso, o Ciência sem Fronteiras, numa flagrante contradição em termos, seguirá formando esforçados monoglotas.
Com menos de dois anos, o programa Ciência sem Fronteiras, uma iniciativa acertada do governo federal, já começa a mostrar sinais de que está contaminado pela cultura do "puxadinho", que tão bem tem caracterizado a administração da presidente Dilma Rousseff.
O Ciência sem Fronteiras tem como objetivo internacionalizar o ensino superior no País, por meio da concessão de bolsas de estudo em universidades competitivas no exterior. A intenção, alardeia o governo, é "investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da sociedade do conhecimento". Ainda se espera que esse objetivo seja alcançado, porque esse é um dos fatores dos quais depende o pleno desenvolvimento do Brasil, mas multiplicam-se evidências de que, por trás do palavrório repleto de boas intenções e metas ousadas, viceja a conhecida inépcia da administração lulopetista.
Um exemplo escandaloso disso é a decisão do governo de diminuir a exigência de conhecimento de alemão, francês, inglês e italiano para seleção de bolsistas, de modo que os candidatos com nenhum domínio desses idiomas poderão participar do programa. Com a medida, o governo pretende conseguir cumprir sua promessa de enviar 101 mil bolsistas ao exterior até 2015 - até agora, graças em grande parte ao obstáculo do idioma, apenas 22% dessa meta foi atingida. O governo oferecerá aulas intensivas de idiomas, de até dois meses, para tentar compensar a deficiência dos candidatos, mas especialistas salientam que isso não basta, já que os cursos na área tecnológica, principal foco do programa, exigem pleno domínio da língua em que são dados. Em dois meses, é improvável que os bolsistas possam atingir esse nível de proficiência. O governo reduziu a tal ponto a exigência de domínio do inglês que, no caso da seleção de alunos dos Institutos Federais de Educação Tecnológica e das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) para estudar nos Estados Unidos, o candidato ganhará a vaga mesmo se não conseguir manter uma conversação básica. Não é possível imaginar que um bolsista com essas credenciais consiga ser bem-sucedido nas melhores universidades americanas e europeias.
Ante a evidente limitação de muitos candidatos, vários deles têm optado por concorrer a bolsas para estudar em Portugal, para driblar o obstáculo da língua. O problema é que a maioria dos bolsistas optou por universidades portuguesas que são consideradas mais fracas que as brasileiras, apesar do Ciência sem Fronteiras propagandear que tem convênios com "as melhores universidades do mundo". Um desses estudantes, ouvido pelo Estado (5/3), disse que o importante não era o curso em si, mas o "contato com a cultura europeia" - uma espécie de turismo à custa dos cofres públicos.
Para tentar contornar o problema, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) ofereceu a esses alunos em Portugal a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em outros países com universidades de ponta - sem necessidade de passar por teste de proficiência.
A precariedade do Ciência sem Fronteiras não é uma novidade. Entre 2011 e 2012, muitos dos estudantes enviados ao exterior receberam da ajuda prometida apenas a passagem aérea, e ficaram um bom tempo sem dinheiro para pagar o aluguel, a alimentação, os livros, o plano de saúde e o transporte.
Essa situação constrangedora é mais uma a revelar as práticas de um governo que precisa produzir continuamente números vistosos para alimentar seus slogans eleitoreiros, enquanto faz remendos grosseiros para esconder a fragilidade de suas alegadas conquistas.
Não se esperava que um programa com essa magnitude fosse isento de problemas e contratempos. No entanto, é notável que, na cartilha da administração petista, quando se trata de corrigir falhas e rumos, recorre-se, como regra, ao improviso. Enquanto isso, o Ciência sem Fronteiras, numa flagrante contradição em termos, seguirá formando esforçados monoglotas.
Argentina no reino da fantasia - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 06/03
Casa Rosada vende ao povo imagem distorcida do que acontece no país. Maquiagem faz com que índice oficial de inflação seja menos da metade do real
O governo Cristina Kirchner criou uma realidade paralela para demonstrar que as coisas vão bem, mesmo quando a verdade demonstra o contrário. O melhor exemplo é o índice de inflação, que tem ficado sempre abaixo da alta real dos preços desde 2007, quando o então presidente Néstor Kirchner ordenou a intervenção no Indec (o IBGE argentino). O último dado do Indec foi o Índice de Preços ao Consumidor em 2012: 10,8%. Abaixo da metade da inflação calculada por consultorias privadas — 25,6% —, o que coloca a Argentina à frente até da Venezuela (22%). Temos, então, o índice oficial e o verdadeiro, este denominado “IPC do Congresso”, pois os consultores privados passaram a divulgá-lo via deputados de oposição depois que a Casa Rosada entrou na Justiça para proibi-los de calcular a inflação, algo digno de uma República de Bananas.
O governo garante que o país vem conseguindo financiar o setor público. Na realidade, como se tornou um pária do sistema financeiro internacional depois da moratória de 2001, é obrigado a emitir furiosamente. No ano passado, a emissão de pesos cresceu 38% sobre 2011, pressionando a inflação.
Para sustentar a fantasia, o kirchnerismo, cada vez mais parecido com o chavismo, patrocina uma vasta rede de comunicação cuja programação e noticiário vão no sentido desejado pela Casa Rosada (além da grande rede estatal). Isto é conseguido, entre outras formas, pela manipulação das verbas oficiais de publicidade. No mundo real, o governo empreende intensa perseguição aos veículos que atuam de maneira profissional e independente. Assim, criou o denominado 7D (7 de dezembro) para proclamar como grande “vitória nacional” a aplicação por inteiro da Lei de Meios, aprovada para “regular” os veículos de comunicação, mas sob medida contra o Grupo Clarín, alvo preferencial do kirchnerismo. O tiro saiu pela culatra, porque a Justiça argentina conseguiu refrear o ímpeto de Cristina e, mais uma vez, adiou a entrada em vigor de dispositivos leoninos da lei até que seja julgado o mérito do caso. A ameaça contra os meios independentes, portanto, continua.
O governo celebrou a volta da fragata Libertad a Buenos Aires como outra “vitória nacional”. Na verdade, o país passou por um grande vexame depois que o navio foi arrestado, em Gana, por um fundo credor da Argentina. Escaldada, Cristina começou a evitar viagens internacionais no avião oficial Tango1 e passou a alugar jatos executivos para os deslocamentos. Inexplicavelmente, contratou a mesma empresa britânica que presta serviços a Londres nas Malvinas (no caso, Falklands). Descumpre, assim, decreto dela própria que proíbe o governo argentino de ter relações comerciais com firmas estrangeiras (leia-se britânicas) envolvidas, de alguma forma, com as disputadas ilhas.
Tapar o sol com a peneira é um rumo perigoso para qualquer governo. Mais cedo ou mais tarde, a realidade se impõe. A consequência são, no mínimo, eleitores furiosos.
Casa Rosada vende ao povo imagem distorcida do que acontece no país. Maquiagem faz com que índice oficial de inflação seja menos da metade do real
O governo Cristina Kirchner criou uma realidade paralela para demonstrar que as coisas vão bem, mesmo quando a verdade demonstra o contrário. O melhor exemplo é o índice de inflação, que tem ficado sempre abaixo da alta real dos preços desde 2007, quando o então presidente Néstor Kirchner ordenou a intervenção no Indec (o IBGE argentino). O último dado do Indec foi o Índice de Preços ao Consumidor em 2012: 10,8%. Abaixo da metade da inflação calculada por consultorias privadas — 25,6% —, o que coloca a Argentina à frente até da Venezuela (22%). Temos, então, o índice oficial e o verdadeiro, este denominado “IPC do Congresso”, pois os consultores privados passaram a divulgá-lo via deputados de oposição depois que a Casa Rosada entrou na Justiça para proibi-los de calcular a inflação, algo digno de uma República de Bananas.
O governo garante que o país vem conseguindo financiar o setor público. Na realidade, como se tornou um pária do sistema financeiro internacional depois da moratória de 2001, é obrigado a emitir furiosamente. No ano passado, a emissão de pesos cresceu 38% sobre 2011, pressionando a inflação.
Para sustentar a fantasia, o kirchnerismo, cada vez mais parecido com o chavismo, patrocina uma vasta rede de comunicação cuja programação e noticiário vão no sentido desejado pela Casa Rosada (além da grande rede estatal). Isto é conseguido, entre outras formas, pela manipulação das verbas oficiais de publicidade. No mundo real, o governo empreende intensa perseguição aos veículos que atuam de maneira profissional e independente. Assim, criou o denominado 7D (7 de dezembro) para proclamar como grande “vitória nacional” a aplicação por inteiro da Lei de Meios, aprovada para “regular” os veículos de comunicação, mas sob medida contra o Grupo Clarín, alvo preferencial do kirchnerismo. O tiro saiu pela culatra, porque a Justiça argentina conseguiu refrear o ímpeto de Cristina e, mais uma vez, adiou a entrada em vigor de dispositivos leoninos da lei até que seja julgado o mérito do caso. A ameaça contra os meios independentes, portanto, continua.
O governo celebrou a volta da fragata Libertad a Buenos Aires como outra “vitória nacional”. Na verdade, o país passou por um grande vexame depois que o navio foi arrestado, em Gana, por um fundo credor da Argentina. Escaldada, Cristina começou a evitar viagens internacionais no avião oficial Tango1 e passou a alugar jatos executivos para os deslocamentos. Inexplicavelmente, contratou a mesma empresa britânica que presta serviços a Londres nas Malvinas (no caso, Falklands). Descumpre, assim, decreto dela própria que proíbe o governo argentino de ter relações comerciais com firmas estrangeiras (leia-se britânicas) envolvidas, de alguma forma, com as disputadas ilhas.
Tapar o sol com a peneira é um rumo perigoso para qualquer governo. Mais cedo ou mais tarde, a realidade se impõe. A consequência são, no mínimo, eleitores furiosos.
Apelo à natureza - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 06/03
SÃO PAULO - Ao contrário de homeopatia, florais de Bach e outros representantes da chamada medicina alternativa, fitoterápicos apresentam princípios ativos, que provocam reações fisiológicas. Vale lembrar que a mortal cicuta e o psicodélico cipó-mariri são produtos "100% naturais", não obstante seu poder de nos levar a óbito ou ao delírio. Assim, deve-se avaliar com cuidado a disposição da Anvisa de relaxar a regulação do setor.
Como entusiasta da medicina libertária, acredito que cada um deve ser livre para dispor do arsenal farmacológico da forma que preferir, sem precisar de uma autorização do Estado para isso. É fundamental, porém, que as pessoas saibam o que estão tomando e tenham acesso a dados precisos que indiquem os benefícios esperados e o risco que correm ao consumir determinado produto.
O problema com fitoterápicos é que é difícil extrair deles essas informações. Uma planta pode conter centenas de compostos. Por tentativa e erro ao longo dos milênios, descobrimos que a erva X é boa para a moléstia Y, mas isso não significa que tenhamos identificado a substância responsável pelo resultado.
Para agravar o quadro, as proporções entre os princípios ativos contidos em cada planta mudam conforme solo, clima, insolação, armazenagem, preparo e sabe-se lá mais o que, tornando a necessária padronização uma meta quase inatingível.
O que de mais positivo podemos dizer sobre os fitoterápicos é que são um excelente ponto de partida para desenvolver novos medicamentos. Mas, se as pessoas fazem questão de sucumbir à falácia do apelo à natureza, não vejo razões para proibi-las. Apenas não dispensaria os fabricantes desses produtos de fornecer bulas tão completas quanto possível. Embora a experiência dos milênios indique que seu uso é, em geral, seguro, sabemos pouco sobre as interações com outras drogas e o risco para grupos específicos de pacientes.
SÃO PAULO - Ao contrário de homeopatia, florais de Bach e outros representantes da chamada medicina alternativa, fitoterápicos apresentam princípios ativos, que provocam reações fisiológicas. Vale lembrar que a mortal cicuta e o psicodélico cipó-mariri são produtos "100% naturais", não obstante seu poder de nos levar a óbito ou ao delírio. Assim, deve-se avaliar com cuidado a disposição da Anvisa de relaxar a regulação do setor.
Como entusiasta da medicina libertária, acredito que cada um deve ser livre para dispor do arsenal farmacológico da forma que preferir, sem precisar de uma autorização do Estado para isso. É fundamental, porém, que as pessoas saibam o que estão tomando e tenham acesso a dados precisos que indiquem os benefícios esperados e o risco que correm ao consumir determinado produto.
O problema com fitoterápicos é que é difícil extrair deles essas informações. Uma planta pode conter centenas de compostos. Por tentativa e erro ao longo dos milênios, descobrimos que a erva X é boa para a moléstia Y, mas isso não significa que tenhamos identificado a substância responsável pelo resultado.
Para agravar o quadro, as proporções entre os princípios ativos contidos em cada planta mudam conforme solo, clima, insolação, armazenagem, preparo e sabe-se lá mais o que, tornando a necessária padronização uma meta quase inatingível.
O que de mais positivo podemos dizer sobre os fitoterápicos é que são um excelente ponto de partida para desenvolver novos medicamentos. Mas, se as pessoas fazem questão de sucumbir à falácia do apelo à natureza, não vejo razões para proibi-las. Apenas não dispensaria os fabricantes desses produtos de fornecer bulas tão completas quanto possível. Embora a experiência dos milênios indique que seu uso é, em geral, seguro, sabemos pouco sobre as interações com outras drogas e o risco para grupos específicos de pacientes.
ROAD SHOW ELEITORAL - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 06/03
ROAD SHOW 2
Os jantares de Rocha já viraram tradição. Em sua casa já foram recebidos ministros, governadores e candidatos à Presidência da República para encontros reservados com empresários e banqueiros. Foi lá que Ciro Gomes, por exemplo, expôs suas ideias a representantes do PIB quando disputou a eleição de 2002. Campos é pré-candidato à sucessão de Dilma Rousseff em 2014.
FELICIDADE
E dirigente do PSB que ocupa cargo executivo faz o cálculo: para viabilizar campanha presidencial um candidato precisa ter ao menos "dez grandes doadores de dinheiro". PT e PSDB, com máquinas de governo federal e estaduais como São Paulo e Minas, sairiam em grande vantagem nesse quesito.
EM MINAS
Ainda o PSB: Dilma Rousseff deve receber Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte e estrela do partido de Campos, em audiência em Brasília. Ela também viaja à capital mineira em abril para inaugurar projetos habitacionais ao lado dele. A presidente tem dedicado atenção especial aos socialistas. Já recebeu Cid Gomes, governador do Ceará, e visitou obras com Wilson Martins, governador do Piauí.
QUERIDAS AMIGAS
E Dilma fará pronunciamento em cadeia nacional de TV na sexta, 8, Dia Internacional da Mulher. Deve anunciar pacote de medidas econômicas voltadas ao público feminino.
A REDE
O cineasta Fernando Meirelles, espécie de consultor da Rede Sustentabilidade, projeto de nova legenda partidária da ex-senadora Marina Silva, diz que não será filiado ao futuro partido nem trabalhará na campanha presidencial de 2014. "Posso vir a colaborar, mas não quero nenhum vínculo, nenhum crédito e muito menos um salário."
A REDE 2
Meirelles é a favor de levar a consulta popular temas polêmicos, como prega Marina. O aborto é um exemplo. "É tema pra plebiscito, sim. Envolve crença, questão ética, tem que saber onde está a cabeça do brasileiro", diz. "A Rede vai usar redes sociais para consulta popular o tempo inteiro. Qualquer lei em discussão poderia ser colocada na internet para deputados saberem qual é o interesse do país, mas eles não estão nem aí."
OSCAR PAULISTANO
A jornalista Marília Gabriela e o ator Herson Capri serão os mestres de cerimônia do Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) no dia 12, em SP.
BATISMO
O longa "1993 - A Volta da Academia", sobre o ano em que o Palmeiras voltou a conquistar títulos depois de 16 anos, mudou de nome para "O Dia da Paixão Palmeirense". Coprodução entre a Band e o Canal Azul, o filme terá direção de Mauro Beting. Os produtores poderão captar até R$ 1,491 milhão por meio de leis de incentivo fiscal.
PRANCHETA
Foram necessários 25 mil desenhos, feitos em quatro anos, por uma equipe de 50 pessoas, para concluir o filme "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi. A animação, que mostra a história do Brasil em quatro fases (da colonização até uma fictícia guerra pela água no Rio), estreia nos cinemas em 5 de abril. Camila Pitanga dubla Janaína.
O FRUTO E O PÉ
Aos 23 anos, Barbara Sturm assume o comando da Pandora Filmes, distribuidora que seu pai, André Sturm, atual diretor do MIS, fundou no ano em que ela nasceu. "Antes, eu queria fazer moda", diz ela. "Daí, comecei a trabalhar no Belas Artes [cinema que era tocado por André] e descobri o que queria mesmo."
TAL PAI, TAL FILHO
O filme "A Busca", de Luciano Moura, teve pré-estreia, anteontem, no Cinemark Iguatemi. O elenco, que tem nomes como Wagner Moura, Mariana Lima, Lima Duarte, Luisa Arraes, filha da atriz Virginia Cavendish e do diretor Guel Arraes, e Brás Antunes, filho de Arnaldo Antunes e Zaba Moreau, compareceu. A atriz Maria Ribeiro estava lá.
ACADEMIA PAULISTA
O jornalista Merval Pereira, de "O Globo", autografou o livro "Mensalão - O Dia a Dia do Mais Importante Julgamento da História Política do Brasil", anteontem. Passaram pela Livraria da Vila dos Jardins, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP), o vereador Andrea Matarazzo (PSDB-SP) e o embaixador Rubens Barbosa.
CURTO-CIRCUITO
Renato Grinberg lança o livro "O Instinto do Sucesso" (Editora Gente), hoje, às 18h30, na Saraiva do shopping Morumbi.
Renata Feffer lança a linha de Páscoa da CAU Chocolates, nos Jardins, hoje. E a chef Rita Lobo autografa "Cozinha de Estar".
A "Casa Vogue" traz reportagem mostrando a casa de Silvia Fendi, diretora artística da grife Fendi.
O Instituto dos Advogados de São Paulo realiza na sexta ciclo sobre a mulher na advocacia.
Giovanna Fraga e Sil Esteves estreiam "Batom Comedy", no sábado, às 23h30, no teatro Anhembi Morumbi. 14 anos.
A raiz do mensalão é malufista - GENIVAL TOURINHO
O GLOBO - 06/03
Não foi o PT nem o PSDB que criou o mensalão, foi o deputado Paulo Maluf.
Esta teoria está registrada no livro que recém publiquei "Baioneta calada e baioneta falada", onde relato as minhas memórias sobre o período em que exerci dois mandatos de deputado federal (1984-1992), tendo perdido meus direitos políticos no regime militar pela Lei de Segurança Nacional por ter denunciado a Operação Cristal (na qual militares realizavam atentados para acusar a esquerda). O STF aceitou, em julgamento secreto, denúncia contra mim feita a pedido do ministro do exército.
Essa história do mensalão nasceu há muitos anos, engendrada pelo então governador de São Paulo, Paulo Maluf, tendo sido praticada pela primeira vez contra a candidatura de Djalma Marinho, que, derrotado para o Senado em 1974, voltaria em 1978 como deputado federal.
E tão marcante foi sua atuação na Câmara que ele foi candidato a presidente da Casa, com apoio de parte da Arena e praticamente de todo o MDB. Contra ele foi lançada a candidatura do gaúcho Nelson Marchezan, figura de menor expressão, mas em cujo nome Maluf era altamente interessado.
Tínhamos Djalma Marinho como candidato eleito da Câmara dos Deputados. Era o nome que toda a oposição iria sufragar, e a parte boa da Arena.
Era bem conceituado, muito ligado a Tancredo Neves, a Ulysses Guimarães, Franco Montoro.
Então articulamos um esquema para ele, candidato da Arena, ser apoiado por nós, para forçar sua eleição.
Corria um boato de que quem se comprometesse a votar em Marchezan teria direito a um empréstimo de 10 milhões de cruzeiros (moeda na época) no Banco do Estado de São Paulo, onde o dinheiro permaneceria depositado à módica taxa de juros, para a época, de 2,5%. O próprio banco, por intermédio de sua financeira, pagaria a taxa de 5% aos tomadores do empréstimo.
Com essa manobra, o deputado que votasse no gaúcho receberia uma diferença equivalente a, praticamente, um novo salário. Na ocasião, um deputado federal ganhava cerca de 30 milhões de cruzeiros e com este mensalão passaria a ganhar mais 25 milhões de cruzeiros.
Eu tinha um primo que era gerente de uma das agências daquele banco. Dada a delicadeza da situação, evitando falar por telefone, escrevi pedindo-lhe que me fornecesse extraoficialmente a relação dos deputados mineiros que tinham feito essa operação. Comentava-se na Câmara, inclusive entre nós do MDB que cinco dos nossos a teriam feito. Do pessoal da Arena, quase 95%. Recebi desse meu parente, cujo nome prefiro não revelar, datilografada em papel sem timbre, a relação com os nomes da bancada mineira que tinham feito a operação. Fui ao Tancredo e mostrei a ele. Não cinco, mas quatro dos nossos haviam aderido.
Quando Tancredo viu os nomes, preocupado, disse: "Olha, você está na obrigação de procurar o Djalma Marinho e entregar essa relação a ele.
Ele tem um carinho paternal por você, ninguém mais indicado para levar-lhe a noticia, que é a prova de que ele está derrotado, pois, se na bancada de Minas acontece isto, imagina o que não está ocorrendo nas bancadas de outros estados." Há que se notar que naquela ocasião o comportamento da bancada mineira era apontado como exemplar. Procurei Djalma Marinho e expliquei- lhe a situação. Quando passei a relação, ele me falou, em amargurado desabafo: "Se for verdade isso que você me entrega, estou batido na minha disputa pela presidência da Câmara.
Até cinco minutos atrás, achava estar com a eleição garantida." Ao que refutei: "Se for verdade, não. Obtive esses dados de um parente em quem tenho confiança.
Ele é funcionário do banco e me atendeu com todos os cuidados para se proteger. O senhor não tenha dúvida, seu concorrente será vencedor." Então ele, analisando um a um, ia comentando: "Fulano, que coisa, hein! Sicrano, que falta de caráter!" Quarenta e oito horas depois, o resultado mostrou uma fragorosa derrota de Djalma Marinho, consequência do esquema montado por Maluf, ainda hoje influente na política, já que o vemos abraçado ao ex-presidente Lula, circulando por todo o Brasil, pois ele só não pode sair do País, que botam a mão nele como fizeram com o Salvatore Cacciola.
Não foi o PT nem o PSDB que criou o mensalão, foi o deputado Paulo Maluf.
Esta teoria está registrada no livro que recém publiquei "Baioneta calada e baioneta falada", onde relato as minhas memórias sobre o período em que exerci dois mandatos de deputado federal (1984-1992), tendo perdido meus direitos políticos no regime militar pela Lei de Segurança Nacional por ter denunciado a Operação Cristal (na qual militares realizavam atentados para acusar a esquerda). O STF aceitou, em julgamento secreto, denúncia contra mim feita a pedido do ministro do exército.
Essa história do mensalão nasceu há muitos anos, engendrada pelo então governador de São Paulo, Paulo Maluf, tendo sido praticada pela primeira vez contra a candidatura de Djalma Marinho, que, derrotado para o Senado em 1974, voltaria em 1978 como deputado federal.
E tão marcante foi sua atuação na Câmara que ele foi candidato a presidente da Casa, com apoio de parte da Arena e praticamente de todo o MDB. Contra ele foi lançada a candidatura do gaúcho Nelson Marchezan, figura de menor expressão, mas em cujo nome Maluf era altamente interessado.
Tínhamos Djalma Marinho como candidato eleito da Câmara dos Deputados. Era o nome que toda a oposição iria sufragar, e a parte boa da Arena.
Era bem conceituado, muito ligado a Tancredo Neves, a Ulysses Guimarães, Franco Montoro.
Então articulamos um esquema para ele, candidato da Arena, ser apoiado por nós, para forçar sua eleição.
Corria um boato de que quem se comprometesse a votar em Marchezan teria direito a um empréstimo de 10 milhões de cruzeiros (moeda na época) no Banco do Estado de São Paulo, onde o dinheiro permaneceria depositado à módica taxa de juros, para a época, de 2,5%. O próprio banco, por intermédio de sua financeira, pagaria a taxa de 5% aos tomadores do empréstimo.
Com essa manobra, o deputado que votasse no gaúcho receberia uma diferença equivalente a, praticamente, um novo salário. Na ocasião, um deputado federal ganhava cerca de 30 milhões de cruzeiros e com este mensalão passaria a ganhar mais 25 milhões de cruzeiros.
Eu tinha um primo que era gerente de uma das agências daquele banco. Dada a delicadeza da situação, evitando falar por telefone, escrevi pedindo-lhe que me fornecesse extraoficialmente a relação dos deputados mineiros que tinham feito essa operação. Comentava-se na Câmara, inclusive entre nós do MDB que cinco dos nossos a teriam feito. Do pessoal da Arena, quase 95%. Recebi desse meu parente, cujo nome prefiro não revelar, datilografada em papel sem timbre, a relação com os nomes da bancada mineira que tinham feito a operação. Fui ao Tancredo e mostrei a ele. Não cinco, mas quatro dos nossos haviam aderido.
Quando Tancredo viu os nomes, preocupado, disse: "Olha, você está na obrigação de procurar o Djalma Marinho e entregar essa relação a ele.
Ele tem um carinho paternal por você, ninguém mais indicado para levar-lhe a noticia, que é a prova de que ele está derrotado, pois, se na bancada de Minas acontece isto, imagina o que não está ocorrendo nas bancadas de outros estados." Há que se notar que naquela ocasião o comportamento da bancada mineira era apontado como exemplar. Procurei Djalma Marinho e expliquei- lhe a situação. Quando passei a relação, ele me falou, em amargurado desabafo: "Se for verdade isso que você me entrega, estou batido na minha disputa pela presidência da Câmara.
Até cinco minutos atrás, achava estar com a eleição garantida." Ao que refutei: "Se for verdade, não. Obtive esses dados de um parente em quem tenho confiança.
Ele é funcionário do banco e me atendeu com todos os cuidados para se proteger. O senhor não tenha dúvida, seu concorrente será vencedor." Então ele, analisando um a um, ia comentando: "Fulano, que coisa, hein! Sicrano, que falta de caráter!" Quarenta e oito horas depois, o resultado mostrou uma fragorosa derrota de Djalma Marinho, consequência do esquema montado por Maluf, ainda hoje influente na política, já que o vemos abraçado ao ex-presidente Lula, circulando por todo o Brasil, pois ele só não pode sair do País, que botam a mão nele como fizeram com o Salvatore Cacciola.
Capital humano - MARIO CESAR FLORES
O ESTADÃO - 06/03
Há uma causa estrutural básica para o clima sociopolítico que castiga o Brasil: no século 20 sua população foi multiplicada por seis, sem que a dinâmica social correspondesse à da quantidade. Houve queda no padrão (a extensão acompanhou a população) da educação pública fundamental, alicerce da cidadania. Valores da religião, família e tradição, os costumes e a boa educação declinaram, muito na classe média. A vulgaridade permeia a cultura popular. E têm crescido as manifestações típicas das multidões amorfas, da identificação com o lúdico, exótico ou licencioso, ao descaso pelos assuntos públicos e pela política. O artigo desenvolve este final de parágrafo.
O quadro demográfico-social em déficit de qualidade e a mudança da feição da população, de rural e esparsa para a predominantemente urbana e adensada, ensejaram a emersão do populismo messiânico, que, valendo-se da propaganda moderna, induz fantasias no imaginário popular e sujeita dezenas de milhões à vassalagem política com desdobramento eleitoral, à semelhança (no efeito, diferente no funcionamento) do passado de patriarcalismo rural. Afirma dar preferência - o que não significa atender - aos interesses da multidão, na verdade, criados ou ao menos modelados por sua retórica elusiva. E sua Nomenklatura se adaptou prazerosamente ao nosso patrimonialismo histórico: a posse do bem público iniciada com as capitanias e transparente hoje na posse dos cargos públicos - adaptação que reforça a resistência brasileira à modernização do Estado e à desestatização, que reduz o campo aberto ao patrimonialismo político, burocrático e agora também sindical.
A Justiça, o Congresso e a mídia independentes não lhe são simpáticos porque a liberdade apoiada nessas instituições favorece o mérito e a qualidade e, sobretudo a mídia, dificulta o estelionato psicopolítico das ilusões - razão da tendência do peronismo/kirchnerismo, do chavismo e outros populismos latino-americanos ao controle delas, de que o Brasil não está imune, como sugere o aventado "controle social da mídia"... Na organização política, o bom funcionamento das democracias tradicionais ocorre com pequeno número de partidos, mas na nossa democracia mambembe a ausência de convicções conceituais e programáticas em nossas três dezenas de partidos (coerente com o déficit cultural do quadro demográfico-social) e a volúpia patrimonialista os tornam vulneráveis à sedução do poder - onde incide o butim dos cargos públicos, em que a competência é preterida pela escolha política de pessoas de discutível (benevolência semântica...) padrão ético e funcional.
Dos anos 1930 até hoje, durante vários períodos (em realce os anos recentes) a política marcada pelo populismo balizou projetos públicos, alguns positivos e também muitos de proposição mais ao agrado da massa aberta à ilusão do que de execução factível. Mutilados ou tornados inviáveis pela realidade, o insucesso desses projetos é rapidamente assimilado na amnésia da multidão anestesiada por novos, de futuro similar. Por seu lado, malfeitos e escândalos que justificaram repulsa pública, mais por estímulo da mídia do que espontânea, improvável no ânimo coletivo lúdico e permissivo do povo, também são rapidamente esquecidos (se é que de fato produziram interesse e repulsa) e eles também, logo substituídos por novos. Tal como no mercado da economia de consumo, projetos fantasiosos e malfeitos ultrajantes, produtos de consumo político da multidão de estrutura cultural frágil e licenciosa, não duram e no Brasil tem sido fácil renovar o estoque...
Reflexos dessa política capenga que responde ao nosso quadro demográfico-social se verificam em todo o espectro da vida nacional. Vejamos apenas três (em respeito à dimensão do artigo) exemplos simbólicos: a preferência pelo protecionismo simpático à multidão, ao invés da produtividade competitiva, exigente de qualidade; a opção neoterceiro-mundista na política externa (a rejeição da Área de Livre Comércio das Américas à revelia das negociações de conciliação de interesses...); e a bomba-relógio do consumismo e do crédito irresponsável. Distorção típica do populismo, autoritário ou democrático nos limites de seu messianismo: os direitos sociais são produto do voluntarismo e precedem os civis e políticos. Nossas Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e Previdência Social foram outorgas do "pai dos pobres" no Estado Novo aos "trabalhadores do Brasil", então sem direitos políticos, que, na verdade, nem sequer eram reclamados.
Não falta ao Brasil capital natural - recursos, extensão, clima, ausência de cataclismos -, sob esse enfoque sua posição no mundo é invulgar. O que lhe falta é capital humano, em suas expressões interativas, política e social, capaz de tirar proveito pleno do natural. Enquanto países de pouco capital natural - Japão e Coreia do Sul, por exemplo - vivem o progresso impulsionados por seu capital humano, nossas carências nos fazem capengar: avançamos porque o capital natural exuberante ajuda, mas avançamos menos do que avançaríamos se o capital humano (povo e elites, sobretudo a política) ajudasse mais. A compatibilização dos já quase 200 milhões de brasileiros com o mundo moderno, em que a educação de qualidade é fundamental, é um desafio dos próximos decênios. Dela depende o futuro do Brasil, protegido do messianismo populista e aliviado da carga do patrimonialismo tradicional.
Divagação instigante: se escrevesse hoje, como Oliveira Vianna veria tudo isso em seu Instituições Políticas Brasileiras, sua propensão autoritária endossaria a do populismo atual? Que relação entre o patriarcalismo rural do passado e o patrimonialismo político, burocrático e sindical atual veria Raymundo Faoro em seu Os Donos do Poder? Como a visão marxista de Caio Prado Jr. veria a cupidez patrimonialista da esquerda (?) brasileira, se seu A Evolução Política do Brasil se estendesse ao populismo atual?
Há uma causa estrutural básica para o clima sociopolítico que castiga o Brasil: no século 20 sua população foi multiplicada por seis, sem que a dinâmica social correspondesse à da quantidade. Houve queda no padrão (a extensão acompanhou a população) da educação pública fundamental, alicerce da cidadania. Valores da religião, família e tradição, os costumes e a boa educação declinaram, muito na classe média. A vulgaridade permeia a cultura popular. E têm crescido as manifestações típicas das multidões amorfas, da identificação com o lúdico, exótico ou licencioso, ao descaso pelos assuntos públicos e pela política. O artigo desenvolve este final de parágrafo.
O quadro demográfico-social em déficit de qualidade e a mudança da feição da população, de rural e esparsa para a predominantemente urbana e adensada, ensejaram a emersão do populismo messiânico, que, valendo-se da propaganda moderna, induz fantasias no imaginário popular e sujeita dezenas de milhões à vassalagem política com desdobramento eleitoral, à semelhança (no efeito, diferente no funcionamento) do passado de patriarcalismo rural. Afirma dar preferência - o que não significa atender - aos interesses da multidão, na verdade, criados ou ao menos modelados por sua retórica elusiva. E sua Nomenklatura se adaptou prazerosamente ao nosso patrimonialismo histórico: a posse do bem público iniciada com as capitanias e transparente hoje na posse dos cargos públicos - adaptação que reforça a resistência brasileira à modernização do Estado e à desestatização, que reduz o campo aberto ao patrimonialismo político, burocrático e agora também sindical.
A Justiça, o Congresso e a mídia independentes não lhe são simpáticos porque a liberdade apoiada nessas instituições favorece o mérito e a qualidade e, sobretudo a mídia, dificulta o estelionato psicopolítico das ilusões - razão da tendência do peronismo/kirchnerismo, do chavismo e outros populismos latino-americanos ao controle delas, de que o Brasil não está imune, como sugere o aventado "controle social da mídia"... Na organização política, o bom funcionamento das democracias tradicionais ocorre com pequeno número de partidos, mas na nossa democracia mambembe a ausência de convicções conceituais e programáticas em nossas três dezenas de partidos (coerente com o déficit cultural do quadro demográfico-social) e a volúpia patrimonialista os tornam vulneráveis à sedução do poder - onde incide o butim dos cargos públicos, em que a competência é preterida pela escolha política de pessoas de discutível (benevolência semântica...) padrão ético e funcional.
Dos anos 1930 até hoje, durante vários períodos (em realce os anos recentes) a política marcada pelo populismo balizou projetos públicos, alguns positivos e também muitos de proposição mais ao agrado da massa aberta à ilusão do que de execução factível. Mutilados ou tornados inviáveis pela realidade, o insucesso desses projetos é rapidamente assimilado na amnésia da multidão anestesiada por novos, de futuro similar. Por seu lado, malfeitos e escândalos que justificaram repulsa pública, mais por estímulo da mídia do que espontânea, improvável no ânimo coletivo lúdico e permissivo do povo, também são rapidamente esquecidos (se é que de fato produziram interesse e repulsa) e eles também, logo substituídos por novos. Tal como no mercado da economia de consumo, projetos fantasiosos e malfeitos ultrajantes, produtos de consumo político da multidão de estrutura cultural frágil e licenciosa, não duram e no Brasil tem sido fácil renovar o estoque...
Reflexos dessa política capenga que responde ao nosso quadro demográfico-social se verificam em todo o espectro da vida nacional. Vejamos apenas três (em respeito à dimensão do artigo) exemplos simbólicos: a preferência pelo protecionismo simpático à multidão, ao invés da produtividade competitiva, exigente de qualidade; a opção neoterceiro-mundista na política externa (a rejeição da Área de Livre Comércio das Américas à revelia das negociações de conciliação de interesses...); e a bomba-relógio do consumismo e do crédito irresponsável. Distorção típica do populismo, autoritário ou democrático nos limites de seu messianismo: os direitos sociais são produto do voluntarismo e precedem os civis e políticos. Nossas Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e Previdência Social foram outorgas do "pai dos pobres" no Estado Novo aos "trabalhadores do Brasil", então sem direitos políticos, que, na verdade, nem sequer eram reclamados.
Não falta ao Brasil capital natural - recursos, extensão, clima, ausência de cataclismos -, sob esse enfoque sua posição no mundo é invulgar. O que lhe falta é capital humano, em suas expressões interativas, política e social, capaz de tirar proveito pleno do natural. Enquanto países de pouco capital natural - Japão e Coreia do Sul, por exemplo - vivem o progresso impulsionados por seu capital humano, nossas carências nos fazem capengar: avançamos porque o capital natural exuberante ajuda, mas avançamos menos do que avançaríamos se o capital humano (povo e elites, sobretudo a política) ajudasse mais. A compatibilização dos já quase 200 milhões de brasileiros com o mundo moderno, em que a educação de qualidade é fundamental, é um desafio dos próximos decênios. Dela depende o futuro do Brasil, protegido do messianismo populista e aliviado da carga do patrimonialismo tradicional.
Divagação instigante: se escrevesse hoje, como Oliveira Vianna veria tudo isso em seu Instituições Políticas Brasileiras, sua propensão autoritária endossaria a do populismo atual? Que relação entre o patriarcalismo rural do passado e o patrimonialismo político, burocrático e sindical atual veria Raymundo Faoro em seu Os Donos do Poder? Como a visão marxista de Caio Prado Jr. veria a cupidez patrimonialista da esquerda (?) brasileira, se seu A Evolução Política do Brasil se estendesse ao populismo atual?
A exatidão como problema - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 06/03
Lembre-se, disse o dr. Bastos de Paula, um contador que se via como matemático, você tem que ser preciso: só há uma resposta!
Fiquei cismado. Naquela noite, comemorávamos mais uma vitória política (o nosso principal inimigo havia dito uma tolice) e, embora eu tivesse tomado muitas cuias de cauim, nem a animação dos radicais me distraiam, confessou Antenor Barbado, um etnólogo que voltava de uma longa viagem de pesquisa com a tribo dos kongrás e estava tão magro que parecia um tísico.
Todos sabemos, antropólogos ou não - prosseguiu -, como a "vida" é complexa. Basta uma hesitação e tudo vai por água abaixo. Ao contrário do dr. Bastos, eu fico muito perturbado quando encontro um problema que só admite uma solução. Por exemplo: o papa renunciou. Como admitir que isso resolve? Agora a Igreja vai ter dois papas. Vai que o renunciante decide palpitar... Olha o tamanho da escrita! A vida não é receita, embora não exista sem ela. Quem sabe para onde seguimos? Como ter exatidão se esse eterno presente, que vai virando passado e traz no seu ventre o futuro, cega mais do que o sol? Tudo ou nada? Esquece, Bastos!
Mário Batalha, que era um velho, entrou na conversa e falou que três amigos, cujas mulheres sofriam do mal de Alzheimer, fundaram um Clube do Limbo. Um clube dos merdas! Enfatizou um tanto bêbado porque ninguém era mais delicado do que Mário Batalha, um general de artilharia jubilado sempre armado de pistola que tinha dificuldade em segurar sua cuia, porque uma de suas mãos era um gancho eletrônico - uma i-hand - de aço inoxidável.
Limbo?, perguntaram os amigos em conjunto.
Sim, o limbo onde vivem os viúvos de esposas vivas - disse passando mão pelo cabo negro da pistola que saía indiscretamente da sua cintura. Após o gesto, explicou: É arrepiador ficar neste não espaço angustiante dos que estão e não são. Neste poço sem esperança. Espaço revelador, ao contrário do que diz o dr. Bastos, que tudo tem muitas respostas. E aí há uma charada. Se só há uma resposta possível em alguns lugares, por que em outros essa nitidez desaparece e dois mais dois não fazem quatro?
Contou em seguida um sonho de um desses membros do Clube do Limbo.
Ele sonhou, disse Mário Batalha, que estava com a doente numa festa de família em Tóquio, vejam vocês, mas sua esposa fugia, como de fato ocorreu algumas vezes durante a doença. Só que no sonho ela escapou. Saí angustiado, prosseguiu Mário, dando voz ao sonho do amigo, à sua procura. Notei, porém, que ninguém se preocupava. Fui encontrá-la numa piscina aos beijos com um jovem japonês. Ela sorria um sorriso sem brilho como o que tem hoje para mim. Senti o velho ciúme misturado a um enorme mal-estar. Minha angústia vinha do fato de saber que tudo aquilo ocorria por causa da doença. Mas voltamos para a festa. No sonho, ela usava um vestido muito bonito e vaporoso. Mal chegamos, ela escapou novamente. Agora por mais tempo, porque eu a procurava alucinadamente pelas ruas de Tóquio com a mesma sensação que tive quando recebi a notícia da morte súbita do meu filho. Fui encontrá-la na casa de um político muito rico. Estava obviamente apaixonada e eu, calmamente, como ocorre nos sonhos, perguntei se sua experiência havia sido boa. Ela respondeu que sim. A inocência não vinha do seu ato, mas novamente do mal que a dominava. Entramos novamente na casa e eu tomei uma medida prática.
A essa altura, Mário Batalha tomou um largo gole de cauim e olhou dentro dos olhos de cada um dos seus amigos. Eu queria amarrá-la ao meu braço com uma corda, pois assim ela não fugiria mais - continuou. Pedi ajuda aos meus parentes que estavam na festa, mas eles não me ouviam. Simplesmente sorriam, gozando do festejo. No fundo, pensava eu no sonho, eles parecem felizes. A festa, como a doença, promove o esquecimento. Continuei procurando e comecei a soluçar, sentindo um profundo abandono. Era a primeira vez que eu me permitia chorar por mim mesmo com aquela intensidade. Acordei assustado. Estava na minha cama e tudo estava bem. Não havia nenhuma fuga, mas só a doença e a casa de repouso onde ela jazia internada que eu havia pago no dia anterior. Era um mero sonho.
Vejam, concluiu Mário Batalha, se o sonho é a realização de um desejo, temos muitas incertezas e interpretações - como distingui-las?
Mas a principal delas - articulei eu que ouvia tudo por meio da minha mediunidade literária - era a expressão do sofrimento causado pela doença que separou o homem da mulher. Todas as pessoas normais têm a corda que apaga porque permite o afastamento da lembrança de certos eventos, mas é com essa mesma corda que elas trazem de volta os fatos que vêm do futuro para este presente que logo vira passado. Mas no sonho desse homem não havia corda. O sonhador era obrigado a admitir a perda e isso o angustiava. É, falou o dr. Bastos, afora algumas matemáticas (e olha que elas são muitas), vocês têm razão. A exatidão é um problema.
Naquele noite, eu me senti mais vivo do que nunca. Minha memória dessa conversa estava intacta. Jamais fiquei tão feliz por me lembrar de tudo.
Peguei o jornal, li sobre a renúncia do papa, o bate-boca entre FH e Dilma, os palpites inevitáveis do Lula-Lincoln e o incrível tombo da moça que ganhou o Oscar...
Lembre-se, disse o dr. Bastos de Paula, um contador que se via como matemático, você tem que ser preciso: só há uma resposta!
Fiquei cismado. Naquela noite, comemorávamos mais uma vitória política (o nosso principal inimigo havia dito uma tolice) e, embora eu tivesse tomado muitas cuias de cauim, nem a animação dos radicais me distraiam, confessou Antenor Barbado, um etnólogo que voltava de uma longa viagem de pesquisa com a tribo dos kongrás e estava tão magro que parecia um tísico.
Todos sabemos, antropólogos ou não - prosseguiu -, como a "vida" é complexa. Basta uma hesitação e tudo vai por água abaixo. Ao contrário do dr. Bastos, eu fico muito perturbado quando encontro um problema que só admite uma solução. Por exemplo: o papa renunciou. Como admitir que isso resolve? Agora a Igreja vai ter dois papas. Vai que o renunciante decide palpitar... Olha o tamanho da escrita! A vida não é receita, embora não exista sem ela. Quem sabe para onde seguimos? Como ter exatidão se esse eterno presente, que vai virando passado e traz no seu ventre o futuro, cega mais do que o sol? Tudo ou nada? Esquece, Bastos!
Mário Batalha, que era um velho, entrou na conversa e falou que três amigos, cujas mulheres sofriam do mal de Alzheimer, fundaram um Clube do Limbo. Um clube dos merdas! Enfatizou um tanto bêbado porque ninguém era mais delicado do que Mário Batalha, um general de artilharia jubilado sempre armado de pistola que tinha dificuldade em segurar sua cuia, porque uma de suas mãos era um gancho eletrônico - uma i-hand - de aço inoxidável.
Limbo?, perguntaram os amigos em conjunto.
Sim, o limbo onde vivem os viúvos de esposas vivas - disse passando mão pelo cabo negro da pistola que saía indiscretamente da sua cintura. Após o gesto, explicou: É arrepiador ficar neste não espaço angustiante dos que estão e não são. Neste poço sem esperança. Espaço revelador, ao contrário do que diz o dr. Bastos, que tudo tem muitas respostas. E aí há uma charada. Se só há uma resposta possível em alguns lugares, por que em outros essa nitidez desaparece e dois mais dois não fazem quatro?
Contou em seguida um sonho de um desses membros do Clube do Limbo.
Ele sonhou, disse Mário Batalha, que estava com a doente numa festa de família em Tóquio, vejam vocês, mas sua esposa fugia, como de fato ocorreu algumas vezes durante a doença. Só que no sonho ela escapou. Saí angustiado, prosseguiu Mário, dando voz ao sonho do amigo, à sua procura. Notei, porém, que ninguém se preocupava. Fui encontrá-la numa piscina aos beijos com um jovem japonês. Ela sorria um sorriso sem brilho como o que tem hoje para mim. Senti o velho ciúme misturado a um enorme mal-estar. Minha angústia vinha do fato de saber que tudo aquilo ocorria por causa da doença. Mas voltamos para a festa. No sonho, ela usava um vestido muito bonito e vaporoso. Mal chegamos, ela escapou novamente. Agora por mais tempo, porque eu a procurava alucinadamente pelas ruas de Tóquio com a mesma sensação que tive quando recebi a notícia da morte súbita do meu filho. Fui encontrá-la na casa de um político muito rico. Estava obviamente apaixonada e eu, calmamente, como ocorre nos sonhos, perguntei se sua experiência havia sido boa. Ela respondeu que sim. A inocência não vinha do seu ato, mas novamente do mal que a dominava. Entramos novamente na casa e eu tomei uma medida prática.
A essa altura, Mário Batalha tomou um largo gole de cauim e olhou dentro dos olhos de cada um dos seus amigos. Eu queria amarrá-la ao meu braço com uma corda, pois assim ela não fugiria mais - continuou. Pedi ajuda aos meus parentes que estavam na festa, mas eles não me ouviam. Simplesmente sorriam, gozando do festejo. No fundo, pensava eu no sonho, eles parecem felizes. A festa, como a doença, promove o esquecimento. Continuei procurando e comecei a soluçar, sentindo um profundo abandono. Era a primeira vez que eu me permitia chorar por mim mesmo com aquela intensidade. Acordei assustado. Estava na minha cama e tudo estava bem. Não havia nenhuma fuga, mas só a doença e a casa de repouso onde ela jazia internada que eu havia pago no dia anterior. Era um mero sonho.
Vejam, concluiu Mário Batalha, se o sonho é a realização de um desejo, temos muitas incertezas e interpretações - como distingui-las?
Mas a principal delas - articulei eu que ouvia tudo por meio da minha mediunidade literária - era a expressão do sofrimento causado pela doença que separou o homem da mulher. Todas as pessoas normais têm a corda que apaga porque permite o afastamento da lembrança de certos eventos, mas é com essa mesma corda que elas trazem de volta os fatos que vêm do futuro para este presente que logo vira passado. Mas no sonho desse homem não havia corda. O sonhador era obrigado a admitir a perda e isso o angustiava. É, falou o dr. Bastos, afora algumas matemáticas (e olha que elas são muitas), vocês têm razão. A exatidão é um problema.
Naquele noite, eu me senti mais vivo do que nunca. Minha memória dessa conversa estava intacta. Jamais fiquei tão feliz por me lembrar de tudo.
Peguei o jornal, li sobre a renúncia do papa, o bate-boca entre FH e Dilma, os palpites inevitáveis do Lula-Lincoln e o incrível tombo da moça que ganhou o Oscar...
Ditadura gay e direitos humanos - MARCO FELICIANO
FOLHA DE SP - 06/03
Militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discorde de suas posições. A comissão é mais importante que debates rasos
Dias atrás, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) foi sugerido para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Houve protestos de alguns da comunidade científica pelo simples fato de ele ser católico praticante e seu nome foi vetado. Agora é a vez de um pastor evangélico ser questionado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Perseguição religiosa?
A presidência da CDHM, pela proporcionalidade entre legendas, ficou com o meu partido, o PSC. A indicação do meu nome gerou um furacão de manifestações dissimuladas pela internet por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Algumas me acusaram de ser racista e homofóbico.
Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de um "ancestral amaldiçoado por Noé". Referia-me a uma citação bíblica, segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu sangue para nos salvar. Não usei a palavra negro, pois me referia a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele.
Sou pastor e prego para pessoas de todas as etnias. Nunca, nem antes nem depois desse episódio, fui considerado racista, inclusive porque corre em minhas veias sangue negro também. Amo o continente africano. Sou querido pelo povo de Angola, onde fiz trabalhos.
Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode imaginar. Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos criaturas de Deus. Nunca me dirigi a nenhum grupo de pessoas com desrespeito. Apenas ensino o que aprendi na Bíblia, que não aprova a relação sexual nem o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha fé -só prego o amor e o perdão.
No entanto, esses militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discordar de suas posições. Acusam de incitação à violência, o que qualquer pessoa isenta sabe que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa estragos à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma ditadura gay.
No ano passado, tentei participar de um seminário organizado pela CDHM e presidido pelo deputado Jean Wyllys. Apavorei-me com o tema: diversidade sexual na primeira infância. Fui recebido com palavrões pelos militantes GLBTT. Foi me dado um minuto para falar, mas não consegui. A militância não permitiu.
Foi desesperador ouvir dos que ali estavam que se um menino na creche, na hora do banho, quiser tocar o órgão genital de outro menino não poderia ser impedido. Afinal, segundo eles, criança não nasce homem nem mulher e sim gênero e se descobre com o tempo. Se forem impedidos na primeira infância, sabe-se lá o que pode acontecer...
A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas.
Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia. Outros grupos precisam de igual atenção.
Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais. A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais. Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas.
Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o Irã?
Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus sabedoria para levar adiante tão honrosa missão.
Militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discorde de suas posições. A comissão é mais importante que debates rasos
Dias atrás, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) foi sugerido para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Houve protestos de alguns da comunidade científica pelo simples fato de ele ser católico praticante e seu nome foi vetado. Agora é a vez de um pastor evangélico ser questionado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Perseguição religiosa?
A presidência da CDHM, pela proporcionalidade entre legendas, ficou com o meu partido, o PSC. A indicação do meu nome gerou um furacão de manifestações dissimuladas pela internet por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Algumas me acusaram de ser racista e homofóbico.
Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de um "ancestral amaldiçoado por Noé". Referia-me a uma citação bíblica, segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu sangue para nos salvar. Não usei a palavra negro, pois me referia a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele.
Sou pastor e prego para pessoas de todas as etnias. Nunca, nem antes nem depois desse episódio, fui considerado racista, inclusive porque corre em minhas veias sangue negro também. Amo o continente africano. Sou querido pelo povo de Angola, onde fiz trabalhos.
Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode imaginar. Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos criaturas de Deus. Nunca me dirigi a nenhum grupo de pessoas com desrespeito. Apenas ensino o que aprendi na Bíblia, que não aprova a relação sexual nem o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha fé -só prego o amor e o perdão.
No entanto, esses militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discordar de suas posições. Acusam de incitação à violência, o que qualquer pessoa isenta sabe que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa estragos à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma ditadura gay.
No ano passado, tentei participar de um seminário organizado pela CDHM e presidido pelo deputado Jean Wyllys. Apavorei-me com o tema: diversidade sexual na primeira infância. Fui recebido com palavrões pelos militantes GLBTT. Foi me dado um minuto para falar, mas não consegui. A militância não permitiu.
Foi desesperador ouvir dos que ali estavam que se um menino na creche, na hora do banho, quiser tocar o órgão genital de outro menino não poderia ser impedido. Afinal, segundo eles, criança não nasce homem nem mulher e sim gênero e se descobre com o tempo. Se forem impedidos na primeira infância, sabe-se lá o que pode acontecer...
A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas.
Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia. Outros grupos precisam de igual atenção.
Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais. A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais. Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas.
Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o Irã?
Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus sabedoria para levar adiante tão honrosa missão.
O BC em busca da credibilidade perdida - CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 06/03
Uma das maiores conquistas do Brasil nos últimos anos foi enfrentar uma grave crise internacional sem ter que elevar a taxa de juros. Foi assim em 2008. A crise veio, provocou uma parada súbita da atividade econômica no último trimestre daquele ano e o Banco Central (BC), depois de normalizar a liquidez nos mercados monetário e cambial, derrubou a taxa Selic ao menor patamar da história até então.
O padrão até aquela crise, desde o advento do Plano Real, em 1994, era outro. Turbulências de origem interna ou externa provocavam crises no balanço de pagamentos, seguidas de desvalorização acentuada da moeda nacional e aumento da inflação. Geralmente, a economia entrava em recessão. Para recobrar a confiança dos investidores e enfrentar o problema inflacionário, o BC aplicava um choque de juros, mesmo com a economia operando no vermelho.
A última vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou juros para enfrentar um problema de balanço de pagamentos (e recuperar a confiança perdida) foi em 2003, primeiro ano do governo Lula. Os ciclos de aperto monetário dali em diante (em 2004/2005, 2008 e 2010/2011) foram promovidos para conter a demanda doméstica e, portanto, a inflação.
Pela 1ª vez, desde 2003, alta do juro virá com PIB baixo
Neste momento, o Brasil não está em crise, embora o Produto Interno Bruto (PIB) esteja rodando abaixo do potencial há dois anos, a caminho, possivelmente, do terceiro ano consecutivo nessa situação. Apesar disso, tudo indica que o Comitê de Política Monetária (Copom) se prepara para elevar a taxa básica de juros (Selic), repetindo o padrão de reação de um passado que todos imaginavam superado.
Em 2003, quando o BC recorreu a um choque de juros para pôr ordem na casa, a absorção doméstica, isto é, o consumo privado e do governo, além do investimento como proporção do PIB, teve variação negativa. Naquele ano, o PIB avançou apenas 1,15%. Ainda assim, a inflação em 12 meses chegou a superar 17%.
Nos ciclos seguintes de aperto monetário, a taxa de juros foi aumentada para conter a expansão da absorção doméstica, que em 2004 cresceu mais de 4% para um PIB que se expandiu a 5,71%; em 2008 avançou mais de 6% para um PIB de 5,17%; e em 2010 subiu quase 9% para um PIB de 7,5%. O juro subiu para controlar a inflação.
A situação agora é inteiramente distinta. No último trimestre de 2012, a demanda doméstica, já descontados os efeitos sazonais, cresceu 1,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Já o PIB acumulou alta de apenas 0,6%, na mesma comparação. É nesse ambiente, ou talvez num ambiente um pouco menos trágico do que esse (o do segundo trimestre deste ano), que o Copom iniciará um novo ciclo de alta dos juros.
A economia brasileira parece presa ao binômio crescimento baixo-inflação alta. Há uma chance considerável de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até março superar o teto (6,5%) do regime de metas. E é difícil encontrar quem acredite numa expansão do PIB acima de 3% em 2013. Diante disso, o aumento da Selic soa despropositado.
Por que, então, iniciar um ciclo de aperto monetário? Aparentemente porque o BC precisa voltar a coordenar expectativas dos agentes econômicos, que, desde a segunda metade de 2010, estão desancoradas. Se não fizer isso logo, corre o risco de ver a inflação se tornar cada vez mais resistente. Uma boa indicação do que está ocorrendo pode ser vista na distribuição de frequência das expectativas de mercado para o IPCA e a Selic, divulgada pelo Boletim Focus.
Os dados mostram que, na última amostra do Focus, realizada em 1º de março, a maioria dos analistas ouvidos - um pouco menos de 55% do total - acredita que 2013 terminará com inflação de 5,8%, a mesma do ano passado. Em 31 de dezembro, menos de 40% dos participantes da pesquisa achavam isso. Houve, portanto, deterioração das expectativas e ancoragem das estimativas do IPCA num patamar bem superior ao da meta de 4,5%.
Quando se observa a expectativa da taxa Selic 12 meses à frente, o que se vê é o oposto - as expectativas estão desancoradas. Até 31 de dezembro, mais de 60% dos analistas do Focus acreditavam que a Selic chegaria no período mencionado a 7,5% ao ano, embutindo, dessa forma, uma alta de apenas 0,25% em relação ao nível atual. Agora, os analistas estão divididos: cerca de 30% seguem achando que a Selic ficará nesse patamar, mas um pouco menos de 30% acredita que o juro estará entre 8,5% e 9% ao ano daqui a 12 meses.
"O maior equívoco do governo foi desacreditar as expectativas de inflação", diz Mário Torós, ex-diretor do BC, hoje sócio da gestora Ibiúna Investimentos, responsável pela gestão de mais de R$ 2,5 bilhões em fundos multimercados e de ações. De fato, desde o início do atual governo, a estratégia do BC para enfrentar a inflação mudou várias vezes, diminuindo a previsibilidade da política. A rigor, a autoridade monetária só conseguiu coordenar expectativas, isto é, convencer os agentes de que o IPCA caminhava para algo próximo da meta de 4,5%, em julho de 2012.
"O quadro atual merece uma reflexão mais aprofundada. Está se consolidando um cenário em que o BC prepara o início de um ciclo de alta dos juros com o hiato do produto [diferença entre produto potencial e produto efetivo] ainda aberto. A economia está, claramente, crescendo abaixo do PIB potencial", argumenta Torós. "[Aumentar o juro] é um passo atrás."
Evidentemente, a percepção dos agentes (as expectativas) não foi afetada apenas pela ação do Banco Central, mas por uma série de medidas que o governo vem adotando para, a todo custo, estimular o crescimento da economia. A lista é grande e inclui, entre outras iniciativas, o aumento das alíquotas de importação de mais de uma centena de produtos, como o aço, cujos preços já aumentaram duas vezes apenas neste ano; o fim da política fiscal contracionista; e a forte desvalorização do câmbio entre 2011 e 2012 (política, registre-se, parcialmente revertida desde dezembro).
Uma das maiores conquistas do Brasil nos últimos anos foi enfrentar uma grave crise internacional sem ter que elevar a taxa de juros. Foi assim em 2008. A crise veio, provocou uma parada súbita da atividade econômica no último trimestre daquele ano e o Banco Central (BC), depois de normalizar a liquidez nos mercados monetário e cambial, derrubou a taxa Selic ao menor patamar da história até então.
O padrão até aquela crise, desde o advento do Plano Real, em 1994, era outro. Turbulências de origem interna ou externa provocavam crises no balanço de pagamentos, seguidas de desvalorização acentuada da moeda nacional e aumento da inflação. Geralmente, a economia entrava em recessão. Para recobrar a confiança dos investidores e enfrentar o problema inflacionário, o BC aplicava um choque de juros, mesmo com a economia operando no vermelho.
A última vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou juros para enfrentar um problema de balanço de pagamentos (e recuperar a confiança perdida) foi em 2003, primeiro ano do governo Lula. Os ciclos de aperto monetário dali em diante (em 2004/2005, 2008 e 2010/2011) foram promovidos para conter a demanda doméstica e, portanto, a inflação.
Pela 1ª vez, desde 2003, alta do juro virá com PIB baixo
Neste momento, o Brasil não está em crise, embora o Produto Interno Bruto (PIB) esteja rodando abaixo do potencial há dois anos, a caminho, possivelmente, do terceiro ano consecutivo nessa situação. Apesar disso, tudo indica que o Comitê de Política Monetária (Copom) se prepara para elevar a taxa básica de juros (Selic), repetindo o padrão de reação de um passado que todos imaginavam superado.
Em 2003, quando o BC recorreu a um choque de juros para pôr ordem na casa, a absorção doméstica, isto é, o consumo privado e do governo, além do investimento como proporção do PIB, teve variação negativa. Naquele ano, o PIB avançou apenas 1,15%. Ainda assim, a inflação em 12 meses chegou a superar 17%.
Nos ciclos seguintes de aperto monetário, a taxa de juros foi aumentada para conter a expansão da absorção doméstica, que em 2004 cresceu mais de 4% para um PIB que se expandiu a 5,71%; em 2008 avançou mais de 6% para um PIB de 5,17%; e em 2010 subiu quase 9% para um PIB de 7,5%. O juro subiu para controlar a inflação.
A situação agora é inteiramente distinta. No último trimestre de 2012, a demanda doméstica, já descontados os efeitos sazonais, cresceu 1,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Já o PIB acumulou alta de apenas 0,6%, na mesma comparação. É nesse ambiente, ou talvez num ambiente um pouco menos trágico do que esse (o do segundo trimestre deste ano), que o Copom iniciará um novo ciclo de alta dos juros.
A economia brasileira parece presa ao binômio crescimento baixo-inflação alta. Há uma chance considerável de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até março superar o teto (6,5%) do regime de metas. E é difícil encontrar quem acredite numa expansão do PIB acima de 3% em 2013. Diante disso, o aumento da Selic soa despropositado.
Por que, então, iniciar um ciclo de aperto monetário? Aparentemente porque o BC precisa voltar a coordenar expectativas dos agentes econômicos, que, desde a segunda metade de 2010, estão desancoradas. Se não fizer isso logo, corre o risco de ver a inflação se tornar cada vez mais resistente. Uma boa indicação do que está ocorrendo pode ser vista na distribuição de frequência das expectativas de mercado para o IPCA e a Selic, divulgada pelo Boletim Focus.
Os dados mostram que, na última amostra do Focus, realizada em 1º de março, a maioria dos analistas ouvidos - um pouco menos de 55% do total - acredita que 2013 terminará com inflação de 5,8%, a mesma do ano passado. Em 31 de dezembro, menos de 40% dos participantes da pesquisa achavam isso. Houve, portanto, deterioração das expectativas e ancoragem das estimativas do IPCA num patamar bem superior ao da meta de 4,5%.
Quando se observa a expectativa da taxa Selic 12 meses à frente, o que se vê é o oposto - as expectativas estão desancoradas. Até 31 de dezembro, mais de 60% dos analistas do Focus acreditavam que a Selic chegaria no período mencionado a 7,5% ao ano, embutindo, dessa forma, uma alta de apenas 0,25% em relação ao nível atual. Agora, os analistas estão divididos: cerca de 30% seguem achando que a Selic ficará nesse patamar, mas um pouco menos de 30% acredita que o juro estará entre 8,5% e 9% ao ano daqui a 12 meses.
"O maior equívoco do governo foi desacreditar as expectativas de inflação", diz Mário Torós, ex-diretor do BC, hoje sócio da gestora Ibiúna Investimentos, responsável pela gestão de mais de R$ 2,5 bilhões em fundos multimercados e de ações. De fato, desde o início do atual governo, a estratégia do BC para enfrentar a inflação mudou várias vezes, diminuindo a previsibilidade da política. A rigor, a autoridade monetária só conseguiu coordenar expectativas, isto é, convencer os agentes de que o IPCA caminhava para algo próximo da meta de 4,5%, em julho de 2012.
"O quadro atual merece uma reflexão mais aprofundada. Está se consolidando um cenário em que o BC prepara o início de um ciclo de alta dos juros com o hiato do produto [diferença entre produto potencial e produto efetivo] ainda aberto. A economia está, claramente, crescendo abaixo do PIB potencial", argumenta Torós. "[Aumentar o juro] é um passo atrás."
Evidentemente, a percepção dos agentes (as expectativas) não foi afetada apenas pela ação do Banco Central, mas por uma série de medidas que o governo vem adotando para, a todo custo, estimular o crescimento da economia. A lista é grande e inclui, entre outras iniciativas, o aumento das alíquotas de importação de mais de uma centena de produtos, como o aço, cujos preços já aumentaram duas vezes apenas neste ano; o fim da política fiscal contracionista; e a forte desvalorização do câmbio entre 2011 e 2012 (política, registre-se, parcialmente revertida desde dezembro).
Chávez, Lula e o povo - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 06/03
Emblemática a atitude do vice-presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, ao anunciar a morte de Hugo Chávez, depois de uma longa luta contra o câncer. Maduro chegou conclamando o povo à união. Ele sabe que, passados os funerais, a vida não será fácil. Tem ainda plena consciência de que está em suas mãos o desafio de manter o chavismo sem Chávez, dentro de uma campanha política contra o líder oposicionista Henrique Capriles - aquele que perdeu o pleito no ano passado. O chamamento ao povo feito pelo vice-presidente representa, guardadas as devidas proporções, o que o lulismo sempre fez no Brasil. Se voltar àqueles que lhe levaram ao poder.
Em todos os momentos de dificuldades, Lula recorreu ao povo. Fez isso nos tempos em que o PT buscou o impeachment do então presidente Fernando Collor, hoje senador pelo PTB de Alagoas. Mais tarde, quando era Lula quem estava na berlinda com a crise do mensalão, em 2005, novamente o povo foi conclamado a demonstrar seu apoio ao petista. Com a ajuda do PCdoB, do PSB e dos sindicatos sempre prontos a sustentá-lo, o PT encheu a Esplanada dos Ministérios em atos públicos pela permanência de Lula no poder. Não por acaso, em 2006, o então candidato à reeleição se apresentou com o slogan “É Lula de novo com a força do povo”.
Em 2010, o mesmo discurso seria retomado como forma de eleger a presidente Dilma Rousseff. O jeitão paternal com que Lula se referia ao povo transformou Dilma em “mãe” do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), trazendo embutida a visão de mãezona do… povo.
Este ano, diante das dificuldades econômicas e o crescimento anoréxico de 2012, lá vem de novo o slogan, um governo do povo, pelo povo, para o povo, emprestado do famoso discurso de Abraham Lincoln, mais popular hoje em função do filme que deu a Daniel Day-Lewis seu terceiro Oscar de melhor ator.
Por falar em talento…
Para conseguir dialogar diretamente com o povo - como fazia Hugo Chávez e como faz hoje Lula - não é algo fácil. É preciso ter um talento tão estupendo quanto o que Lewis tem para atuar. A diferença é que, no cinema, os atores ganham prêmios. Na vida real, os políticos detentores do diálogo direto faturam eleições. Na Venezuela de hoje ainda não se identificou nenhum líder com o carisma de Chávez para carregar seu legado e nem ele teve tempo suficiente para passar esse bastão em vida. Apesar de todas as referências feitas ao seu vice, essa cadeira de herdeiro do chavismo está vaga.
No Brasil, Lula bem que tenta transferir esse seu legado político. Mas, até agora, não surgiu ninguém dentro do PT que tenha a sua capacidade de diálogo direto com o povo e competência política para aglutinar forças. Nem mesmo a presidente Dilma, escolhida para suceder Lula, tem esse poder. Tanto é que, dia sim, dia não, ela e Lula têm “aquela conversa” para, em conjunto, buscarem a saídas políticas capazes de acalmar os aliados.
A falta de um líder carismático dentro do PT capaz do diálogo direto que Lula exerce é que faz surgir novas promessas nacionais dentro da base governista, caso do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A pré-candidatura de Campos “pegou” na política que vê nele alguém com mais jeito para política do que a presidente Dilma.
Por falar em Eduardo Campos…
Os socialistas já definiram agosto como o mês em que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deverá finalmente anunciar sua pré-candidatura à Presidência da República. Assim, terá ainda algum tempo para promover filiações no PSB dentro do prazo legal para concorrer às eleições de 2014. Talvez com essa notícia o Planalto recue na sua intenção de aprovar uma “janela” na fidelidade partidária. O governo vê hoje a janela como uma forma de enfraquecer mais os oposicionistas. Pelo visto, a janela em vez de tirar base do senador Aécio Neves vai é fortalecer Eduardo Campos. Mas essa é outra história. Hoje, ficamos com a solidariedade ao povo venezuelano e o desafio de manter a paz e o ambiente democrático para as eleições. Afinal, qualquer coisa fora de uma nova eleição, terá cheiro de golpe. E, de golpe, caro leitor, a América Latina já encheu.