domingo, fevereiro 17, 2013

Serve petróleo? - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 17/02

A Venezuela fez nova proposta de desembolso equivalente a US$ 4,2 bilhões na refinaria de Pernambuco.
Pagaria sua parte no negócio em óleo, exportando para cá 70 mil barris/dia.

Aliás...
Seria uma benção dos céus se a Petrobras recebesse esta grana em dinheiro vivo, no momento em que os cofres da estatal brasileira sofrem de raquitismo.

Retratos da vida
Maria Padilha, a atriz, adotou um menino de quase um ano.

Fica, fica
De Frei Betto, em palestra em SP:
— Depois que anunciou a renúncia, Bento XVI recebeu o clero de Roma sem bengala, falou de improviso, sorriu e denunciou a hipocrisia religiosa e defendeu a verdadeira renovação da igreja. Sou pela reeleição de Joseph Ratzinger!

Cartão vermelho
Beltrame expulsa amanhã da Polícia Civil um delegado e dez inspetores.
Foram presos na Operação Furacão, que a PF fez em 2007, acusados de trabalhar para o jogo do bicho.

Renan, ‘go home’
Brasileiros de Miami, veja o anúncio, organizam protesto contra a corrupção, dia 21 de abril, em frente ao nosso consulado na cidade americana.

Luiza, o livro
Depois de Anderson Silva, o selo Primeira Pessoa/Sextante se prepara para lançar a autobiografia da supermodelo Luiza Brunet.

Será escrito pela escritora e roteirista Laura Malin.

Tancredo, o livro
Depois de escrever “Era Vargas”, em três volumes, o coleguinha José Augusto Ribeiro acaba de concluir uma biografia de Tancredo Neves, com quem trabalhou na campanha presidencial de 1985.
Sai este ano pela Civilização Brasileira.

Boni, o livro
“O livro do Boni”, editado pela Casa da Palavra, terá versão em formato eletrônico, narrado pelo grande homem de TV e também por alguns artistas convidados.

Nora, o livro
Nora Esteves, ex-primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio, começou a escrever sua biografia.

Carinhoso
Hoje completam exatos 40 anos da morte de Pixinguinha, retratado ao lado na foto de Walter Firmo, feita em 1968.
Alfredo da Rocha Viana Filho, o criador de “Carinhoso”, e Tom Jobim foram, sem dúvida, os dois maiores mestres da música brasileira no século XX.

Só que...
Enquanto Tom recebe, volta e meia, homenagens e empresta seu nome para o aeroporto internacional do Rio, Pixinguinha fica assim meio esquecido.

A turma de fãs do genial maestro torce para que a injustiça seja logo corrigida. A Transcarioca, por exemplo, que liga a Barra ao Aeroporto Tom Jobim, bem que poderia ser batizada de Avenida Pixinguinha.

Aliás...
Pixinguinha, assim como Cartola e provavelmente Luiz Gonzaga, não teve filho biológico.
Mas aí é outra história.

Então, tá!
O nosso intrépido repórter Edney Silvestre foi testemunha ocular da história. Dia desses, na saída de uma sessão de “Os miseráveis”, o musical inspirado na obra de Victor Hugo, uma senhorinha comentou revoltada:
— Gostei das músicas, mas a trama estraga tudo.
Por falar em Edney
“Se eu fechar os olhos”, livro de Silvestre que vai ser lançado em abril na Inglaterra, ganhou elogios rasgados de Jane Lawson, a poderosa diretora da editora britânica Doubleday-Knopf.
A editora é a mesma que publica por lá “50 tons de cinza”, de E. L. James.

O DOMINGO É DE...
... Grazi Massafera, 30 anos. Mãe de Sofia e mulher de Cauã Reymond, a linda atriz volta à telinha na próxima novela das 18h, de Walther Negrão, “Flor do Caribe”. Na trama, ela viverá Ester, uma bugueira apaixonada por Cassiano, personagem de Henri Castelli. O folhetim teve cenas gravadas na Guatemala e no Rio Grande do Norte e estreia em março na TV Globo. Que seja bem-vinda! 

Política comercial de Dilma é cautelosa - RAQUEL LANDIM

O ESTADÃO - 17/02

A política comercial do governo Dilma é “cautelosa” e mira no modelo chinês de integração regional, mas sem a agressividade do gigante asiático e apostando na parceria com os países da América do Sul, explicou ao ‘Estado’ um auxiliar direto da presidente. Segundo essa fonte, nada muda na orientação da política comercial brasileira após o anúncio do início das negociações entre Estados Unidos e União Europeia para a formação de uma área de livre-comércio. “Vemos com naturalidade, sem nenhuma afobação subalterna”, disse. No Itamaraty, no entanto, o clima é de preocupação com os reduzidos movimentos do Brasil no front externo.

Para experientes negociadores, o País precisa fazer sua opção de política industrial: vai produzir tudo internamente confiando no tamanho do seu mercado ou vai se abrir para o mundo? Conforme o auxiliar da presidente, a ordem é avançar com as negociações bilaterais em curso com a União Europeia e o Canadá, mas com “realismo” e sem abrir mão do “projeto nacional” de desenvolvimento. “Acordos bilaterais provocam uma especialização de produção, que não é o caso do Brasil, que possui uma indústria diversificada”.

O governo Dilma refuta as críticas de que é“ protecionista”.Segundo esse interlocutor,o Brasil cumpre todas as regras da OMC e é “um dos países mais abertos do mundo ao investimento estrangeiro”, pois qualquer empresa estabelecida no País tem tratamento nacional com acesso a recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essa fonte revela que a administração Dilma“ observa ”o modelo da China, que iniciou sua integração global pelos países da sua região, com destaque para Japão e Coréia do Sul, num processo que demorou décadas. O Brasil, no entanto, não utiliza a “agressividade” dos chineses, mas aposta no “soft power” e na “integração produtiva”. Para analistas do setor privado, a administração Dilma Rousseff vem mandando sinais confusos sobre sua política comercial.

O governo moderou o discurso de integração entre países pobres adotado na época do presidente Lula e tenta avançar nos acordos bilaterais com os ricos, mas, ao mesmo tempo, elevou tarifas de importação de insumos importantes como aço ou químicos e estabeleceu barreiras à entrada de carros importados. “Os acordos bilaterais pífios do Brasil denotam uma opção política de assumir que é um país grande, que precisa ter cautela e preservar alguns setores. Mas não somos tão resistentes como Argentina ou Venezuela. O debate sobre a abertura está inconcluso”, diz Lia Valls, professora da Fundação Getúlio Vargas.

Mercosul-UE

Uma das negociações que mais despertam o interesse do governo brasileiro hoje é Mercosul-União Europeia. Segundo fontes presentes à reunião da parceria estratégica entre Brasil e UE, que ocorreu janeiro em Brasília, a presidente Dilma demonstrou “muita disposição” em retomar as negociações com os europeus. No segundo semestre, deve ocorrer uma troca de ofertas de abertura de mercado entre os dois blocos. Conforme uma fonte, a razão da demora é a volta do Paraguaia o Mercosul, que só deve ocorrer após as eleições e a posse do novo presidente.

O Ministério do Desenvolvimento realizou uma consulta pública entre os empresários sobre o acordo com os europeus. Vários setores mantiveram a oferta que havia sido apresentada em 2004, apesar de o cenário hoje ser muito pior para a indústria. O maior desafio do Brasil, no entanto,será convencer a Argentina, da presidente Cristina Kirchner, a negociar a sério com os europeus. No fim do mês, os sócios do Mercosul se reúnem em Montevidéu, e os técnicos vão tentar tratar do assunto.

Corda e cor - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 17/02

Estou longe agora, mas me orgulho de que se precise golpear tanto o carnaval da Bahia


Li com interesse e carinho a entrevista de João Jorge, o fundador e presidente do Olodum e meu amigo, à “Folha de S.Paulo”. A chamada de primeira página dava um gosto tipicamente “Folha” à matéria: Ivete Sangalo seria a única artista do carnaval baiano. Ser esse um carnaval de uma artista só, completava o corpo da reportagem amparado em falas de João, tinha um motivo: a artista era branca. Para um baiano que vive e observa o carnaval de Salvador desde 1960, essas declarações parecem absurdas. Passei uma noite na rua em Ondina, onde culmina o circuito Barra-Ondina do carnaval soteropolitano. Brinquei na pipoca ao som e à luz do Psirico, de Daniela, do 8794 e de um outro cujo nome não lembro mas que tinha a ver com música sertaneja. Psirico e Daniela são estrelas das ruas carnavalescas da Bahia pelo menos tão grandes quanto Ivete. Acho que João Jorge usou a Sangalo como metonímia da concentração de riqueza e atenção de que parte da folia baiana desfruta porque ela é atualmente a única diva do nosso carnaval que tem status de estrela nacional. Bem, Daniela também tem. Mas Daniela não é a bola da vez, embora não esteja tão esquecida dos brasileiros de todas as regiões não ligadas à Baía de Todos os Santos quanto Luiz Caldas, que também já foi sucesso do Oiapoque ao Chuí.

Acabo de chegar a Sanremo, na Itália, vindo direto do Recife, onde cantei para a multidão que enche o Marco Zero. A mera visão dessa multidão recifense teria feito a viagem valer a pena. Mas ainda conseguimos interessá-la com nossa mistura de samba carioca (Trio Preto +1), frevo baiano trieletrizado, uma obra-prima de Antônio Maria e os tratamentos indie-roqueiros de canções minhas recentes (bandaCê). Nem quero falar no Recife. O espírito pernambucano está me dando muito.

Impressiona-me que o carnaval da Bahia seja alvo de críticas muito exigentes. O fenômeno da axé music sem dúvida exaltou os ânimos críticos dos brasileiros presunçosos, e isso desencadeou uma avalanche de reações contra a existência de cordas em blocos (coisa que sempre houve, sendo que os desfiles das escolas de samba do Rio chegaram à construção de algo bem mais sólido do que uma mera corda), de camarotes (como se isso tivesse sido inventado na Bahia), de racismo (como se o carnaval fosse um período de expressão privilegiada dessa nossa doença histórica). Estou num hotel à beira-mar, sozinho num quarto, sentindo-me triste por causa de coisas desse período da minha vida. Penso no carnaval de minha terra como em algo de repente distante.

Não apenas Psirico e Daniela são grandes. Xande do Harmonia do Samba e Caudia Leitte também. Sem falar no Chiclete com Banana, Brown e a Timbalada. Por que João Jorge atribui o êxito de Claudia e Ivete ao fato de elas serem brancas se Márcio Vítor é preto e é um rei das ruas e dos vídeos? Meu desejo era discutir aqui, trazendo um pouco de racionalidade, as questões que estão encapsuladas na entrevista de João Jorge e difusas em conversas e artigos. Não tenho muito como me concentrar para fazê-lo bem, já que preciso relembrar a letra e as harmonias de “Piove” e treinar com uma orquestra italiana “Você é linda” para cantar hoje à noite. Isso sem ter dormido quase nada entre o show de terça no Recife e a viagem de quarta/quinta para Sanremo via Lisboa e Nice. Muita coisa. Mas posso lembrar apenas alguns fatos que nos devem fazer pensar.

Os trios elétricos sempre arrastaram mais gente dos que os blocos de corda. Os afoxés estavam morrendo quando Gil fez “Filhos de Gandhi”, e isso atraiu participantes e turistas. Os blocos afro surgiram depois disso. Blocos “brancos”, como Internacionais e Corujas, tampouco tinham grande acompanhamento. Os trios arrastavam a massa. Não tinham corda. Só eles. Logo tiveram patrocínio (marcas de cachaça). A burguesada ia para os bailes. Com a fama nacional dos trios, turistas desbundados vieram a partir de 1970. Os blocos contrataram trios. Ficaram ricos e armaram equipamentos sonoros de show de rock. Viraram estouro federal. Na Avenida Sete, em 1960, os moradores alugavam cadeiras amarradas para quem pudesse pagar para assistir. Não há mais bailes. Há camarotes e blocos que vendem abadás. Há trios (mesmo estelares) que passam sem corda. Os blocos com corda atraem foliões pipoca. Estes, tudo somado, são em número e porcentagem superiores aos do passado. Quem está mesmo reclamando de quê?

A maioria foge do carnaval. A minoria que brinca é imensa. O valor simbólico da festa é inestimável. Carnaval não é uma série de passeatas pró-ordem, conforto ou justiça social. Estou longe agora, mas me orgulho de que se precise golpear tanto o carnaval da Bahia.


Bíblia, entretenimento e algo mais - MAURICIO STYCER

FOLHA DE SP - 17/02

A Bíblia é uma fonte excelente para boas histórias dramáticas, com muita ação e intriga


Previsto para estrear em março de 2014, o novo longa-metragem de Darren Aronofsky, inspirado na história de Noé, com Russel Crowe como o construtor da arca, será o primeiro de uma nova onda de filmes bíblicos programados por Hollywood para os próximos anos.

A mídia especializada fala em dois novos longas sobre Moisés, um dirigido por Steven Spielberg, outro por Ridley Scott, além de projetos para uma produção sobre Pilatos, com Brad Pitt, e uma sobre Caim, que marcaria a estreia de Will Smith como diretor.

A Paramount está investindo US$ 125 milhões em sua "Arca de Noé", um orçamento de grande produção. O último filme bíblico de peso saído de Hollywood foi "A Paixão de Cristo" (2004), dirigido por Mel Gibson, que rendeu mais de US$ 600 milhões em todo o mundo.

O livro sagrado tem inspirado filmes desde sempre, mas um período, em especial, é sempre lembrado. Os chamados "épicos bíblicos" sob a produção de Cecil B. DeMille, nos anos 1950, tornaram-se uma referência no gênero.

Segundo o "The Hollywood Reporter", "Os Dez Mandamentos" (1956), com Charlton Heston, rendeu US$ 65 milhões nos EUA, o equivalente hoje a cerca de US$ 1 bilhão.

Pode soar um pouco rude, mas o interesse de Hollywood pelo assunto não difere muito do que tem por outros temas "da moda". A Bíblia é uma fonte excelente para boas histórias dramáticas, com muita ação, intrigas, romance e, cada vez mais, efeitos especiais de impacto.

O insucesso nas bilheterias de "A Última Tentação de Cristo" (1988), de Martin Scorsese, ensina que, em matéria de filme bíblico, releituras não conservadoras devem ser evitadas pelo bem do negócio.

A indústria cinematográfica brasileira nunca deu muita bola para o filão, o que não deve ter passado despercebido para a Record, que tem feito importantes investimentos na produção de minisséries bíblicas.

Desde 2010, com "A História de Ester", a emissora tem levado ao ar, uma vez por ano, uma minissérie com essas características. Vieram "Sansão e Dalila" (2011), "Rei Davi" (2012) e "José do Egito" (2013), agora em cartaz. Em 2014, segundo planos anunciados, será a vez de "Moisés e os Dez Mandamentos", seguida por "A Vida de Jesus", em 2015.

Ainda que longe do padrão hollywoodiano, a Record tem conseguido produzir entretenimento de qualidade com as suas séries bíblicas. A insistência no tema, naturalmente, traz aperfeiçoamento e evolução. O investimento cada vez maior (fala-se em R$ 26 milhões para "José") também ajuda a tirar o aspecto de "filme B", presente em muitas novelas da emissora.

É curioso observar que, a despeito dos progressos técnicos, a audiência das minisséries bíblicas da Record tem se mantido estável, num ótimo patamar para a emissora, em torno de 10, 11 pontos no Ibope, com reflexos muito positivos no faturamento com publicidade.

O fato de a Record ser de propriedade do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, acrescenta um elemento à análise. Não é possível deixar de pensar que o projeto da emissora contempla, além do entretenimento, uma função de caráter religioso. O uso do jornalismo da emissora para defender interesses da igreja, visto algumas vezes, dá motivos para que se pense isso.

ABEMUS PAPAM - AGAMENON

O GLOBO - 17/02

Mesmo não sendo ovo, “geral” continua chocada com a renúncia do Papa Bento XVI cm. Numa encíclica (atenção: encíclica não é a bicicleta do Papa), o Zero Um do Vaticano pediu pra sair. Velho, combalido e provecto, Adolf Ratinzger admitiu que está idoso demais e que, de agora em diante,vai apresentar o programa Altas Horas no lugar do Serginho Groisman.No entanto, muitos teólogos da GloboNews afirmam que Bento XVI vai exercer um novo cargo: o de Renúncio Apostólico.

Quem assistiu o meu filme, As Aventuras de Agamenon, o Repórter, sabe que eu fui o único brasileiro a testemunhar a eleição do ex -Papa João Paulo II. Num embate singular e mortal naquela UFC da Igreja Católica, o carismático e musculoso Karol Wojtila, o Demônio da Cracóvia, derrotou o seu principal adversário, o Cardeal Lambretta, Arcebispo da Lombardia (e como ardia...). Como digo aqui há muito tempo: esse papa alemão não pegou! Até mesmo em Aparecida do Norte, os bonequinhos mais vendidos são os de João Paulo II, do Hulk e do Homem Aranha.
E eu já estou no Vaticano, a Cidade de Deus pacificada pelas UPPs (Unidades de Polícia Papal), para acompanhar o Conclave que vai eleger o próximo Papa. Como todos sabem, é proibida a entrada de qualquer ser humano nos recintos reservados para a eleição. Por isso mesmo, comprei uma fantasia de Noviça Rebelde nas Casa Turuna e vou dar um jeito de servir as refeições na Ceia dos Cardeais onde posso acompanhar na maior encolha os momentos decisivos desta misteriosa eleição indireta.

Os cardeais são homens de idade avantajada e estômagos sensíveis: cada um segue uma dieta rigorosa e customizada. O arcebispo de Boston só come criancinha. Já o Arcebispo de São Paulo detesta Lula e outros furtos do mar. Os gulosos cardeais italianos, como sempre, exigem que o Conclave acabe em pizza. Por precaução, a Cúria Romana proibiu que seja servido qualquer prato à base de pombo.
Durante a eleição do Papa, a Capela Sistina vai se transformar numa espécie de enorme sauna-gay. Os cardeais ficam trancados suando em bicas até escolher o novo Suco Pontífice, quer dizer, Sumo Pontífice. De acordo com a liturgia, a cada rodada o Camerlengo acende o Charo Sagrado que rola na paulista. Se a fumaça for preta, significa que o escolhido ainda não bateu. Agora, se a fumaça for branca significa que o Papa é do bom.

A Igreja Católica, que sempre foi a campeã da Copa das Religiões, está por baixo e hoje em dia, por conta do crescimento dos evangélicos e muçulmanos, pode cair pra Segunda Divisão assim como o Palmeiras. E mesmo que o Papa esteja no Tweeter, cada vez perde mais seguidores. Na minha opinião, o Vaticano deveria mudar sua estratégia: em vez de querer conquistar mais fiéis, deveria correr atrás dos infiéis que são em número muito superior.
Agora se a Igreja quer mesmo agradar às classes C e D, tinha mais era que eleger o Silas Malafaia como novo Papa mesmo porque, em matéria de conservadorismo obscurantista, o midiático pastor evangélico e a Cúria Romana praticamente adotam as mesmas posições sexuais.

Mas mesmo no meio (e bota no meio disso) desta confusão eclesiástica, o Vaticano confirmou a realização da Jorrada, quer dizer, Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Os sacerdotes da Igreja Pedófila Apostólica Romana estão alvoroçados com a reunião de milhões de jovens impúberes depilados onde podem ser reveladas novas vocações. Vocações para a pedofilia ou para o teatro infantil. Os tempos mudaram... hoje em dia ninguém mais quer ser padre. Nem ser padre e, muito menos, mulher do padre. É muito melhor ser mulher de pastor que ganha muito mais.
Muitos especulam o que vai acontecer com Adolf XVI agora que ele vai se aposentar. Será que ele virar uma espécie de Lula católico que, mesmo depois de ter saído do cargo, continua se metendo na Igreja? Ou será que ele vai entregar o anel papal (com trocadilho, por favor) e cair na farra? Segundo meu colega Anselmo Góes, Bento XVI já pediu 15 convites pro Camarote da Brahma e confirmou onipresença no Desfile das Campeões.

Vaidoso e de gosto refinado, o atual ex- Papa só usava roupas de grife e chegou mesmo a contratar seu conterrâneo, o estilista Karl Lagerfeld, para desenhar suas fantasias.


Agamenon Mendes Pedreira gosta de freqüentar a Cúria Episcopal (com trocadilho, por favor)

Universo ou universo? - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 17/02

Para teorias da cosmologia moderna, há vários "universos" e uma distinção entre eles é essencial


Vejam só como uma questão de ortografia esconde muito mais do que apenas escolhas estilísticas. Basta pegar alguns livros de divulgação científica, ou reportagens aqui mesmo na Folha, e o leitor se depara com a palavra "universo" ora com letra minúscula, ora com maiúscula. Existe algo nada sutil aqui, e que diz muito sobre como pensamos sobre o Cosmo.

A posição mais comum, e que considero a pior, é simplesmente adotar "universo" indiscriminadamente. Mas que Universo é esse? Segundo teorias da cosmologia moderna, temos de tomar cuidado com referências ao Cosmo. Há vários "universos" e uma distinção é essencial.

Ancorando a discussão no que temos de mais sólido, nossas observações, sabemos que podemos apenas "enxergar" -isso é, obter informação- de uma parte limitada do Cosmo. Isso, por dois motivos. Primeiro, nada viaja mais rápido do que a luz, o que significa que a informação demora para vir de longe até nós. Segundo, porque o Cosmo tem uma existência finita, começando 13,7 bilhões de anos atrás.

Juntando as duas coisas, vemos que no máximo podemos saber sobre objetos que nos enviaram informação (através de luz e outros tipos de radiação eletromagnética) há 13,7 bilhões de anos. E, como estrelas e galáxias só surgiram uns 200 milhões de anos após o "bang" inicial, o limite que temos é em torno de 13,5 bilhões de anos. O que existe além dessa fronteira -chamada de horizonte- nos é inacessível. Falamos, então, do "universo observável", aquele que podemos medir. Este, prefiro chamar de Universo, já que temos confiança na sua existência e somos parte dela. Ele é tudo o que há no nosso horizonte e, considerando o fato de o Cosmo estar em expansão, está a 42 bilhões de anos-luz de distância. É a fronteira do conhecimento astronômico.

Mas o Universo não termina necessariamente no limite do que podemos ver. Muito provavelmente se estende além da fronteira do mensurável. Meio como o mar, que se estende além do horizonte que vemos da praia: sabemos que existe mais mar além da linha do horizonte, mesmo se não podemos enxergá-lo da nossa posição. A essa continuação do Cosmo além do visível e que, em princípio, não é tão diferente do que podemos ver dentro do nosso horizonte, chamo de universo. Não merece o "U" pois não sabemos ao certo se está lá e o que existe por lá. Podemos especular que as coisas além do horizonte não são muito diferentes daqui, mais galáxias e estrelas, mas não podemos ter certeza disso. Daí o "u". Porém, o universo contêm o Universo.

Temos que continuar. Afinal, hoje se especula que o Universo não é único, mas parte de algo mais vasto, uma entidade que pode conter muitos universos chamada de "multiverso". Claro, não sabemos se o multiverso existe. Pior, parece ser impossível confirmar sua existência, visto que sua extensão está além do nosso Universo. No máximo, como calcularam alguns colegas, podemos ter informação de colisões de nosso Universo com universos vizinhos, caso tenham ocorrido no passado. (Até agora, nada de muito conclusivo.) Mas saber de um vizinho ou dois não é o mesmo do que saber de um país inteiro. De concreto, temos apenas o nosso Universo, já repleto de mistérios.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 17/02

Empresários irão à Casa Civil apoiar MP dos portos
Entidades empresariais vão se reunir amanhã com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para manifestar apoio à medida provisória dos portos.

Presidentes da Abdib (da infraestrutura e das indústrias de base), da CNI (da indústria) e da CNA (da agricultura e pecuária) dizem que o objetivo é defender a estrutura básica da MP, que está no Congresso e cria um marco regulatório para o setor.

Sugestões de ajustes ficarão para depois.

"A Força Sindical, de forma desinformada e tentando criar certa confusão, afirma que a medida criará desemprego", diz Robson Andrade, presidente da CNI.

A entidade sindical já se reuniu com Gleisi na semana passada e se declarou contrária à iniciativa. "Na realidade, a MP procurará diminuir a burocracia, aumentar a autonomia dos portos, criar competição e reduzir custos", defende Andrade. Ele não poderá estar presente à audiência e afirma que telefonará amanhã para a ministra.

A Abdib também pretende endossar sua posição favorável, já comunicada à presidente Dilma, segundo Paulo Godoy. "É preciso estabelecer um sistema que atraia novos investimentos", afirma.

"Estou morrendo de medo de recuo", diz a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA.

"Mas a presidente e a Gleisi estão firmes", frisa. "Quem paga a conta [da ineficiência] é o produtor no campo. Não é hora de discutir ajustes para não enfraquecer a MP."

"A MP criará competição e reduzirá custos"
ROBSON ANDRADE, presidente da CNI

"Não podemos mais nos submeter a meia dúzia de portos ineficientes"
KÁTIA ABREU, presidente da CNA

Construtoras de hidrelétricas reivindicam mais segurança
Preocupado com a violência em canteiros de obras de hidrelétricas e com a proximidade de dissídios coletivos, Paulo Godoy, presidente da Abdib, vai aproveitar a reunião de amanhã na Casa Civil para pedir reforço policial.

A Abdib defenderá a necessidade de um plano de ação do governo federal ante repetidos casos de violência e incêndio em canteiros de obras de hidrelétricas.

Os casos mais recentes de vandalismo ocorreram nas obras de Ferreira Gomes (Amapá) e Colíder (Mato Grosso). Jirau, Santo Antônio e Belo Monte também tiveram instalações destruídas.

"É difícil afirmar que sejam coordenados, mas é estranho que os eventos se sucedam, às vezes, gerados por boatos, como na Colíder", diz.

"Precisamos também de um trabalho de inteligência para saber se há um comando ou se são esporádicos e regionais", afirma.

"Pediremos que o governo federal avalie se os Estados têm condição de proteger os trabalhadores e as obras, que são bens públicos."

Para ele, alguns casos demandam um força nacional, ao menos temporária.

"Vêm agora os dissídios coletivos. Observamos que se espalham boatos de que pagamentos não serão feitos, de condição desumana em canteiros. São os mais avançados do país, diferentemente de outros pequenos, que podem ter uma condição precária."

Nova marca do Boticário vai realocar parte de suas lojas
A Eudora, marca de cosméticos do Grupo Boticário que alia lojas físicas à venda direta, começa 2013 com planos de novos pontos e realocação de unidades já existentes.

Quando foi fundada, há cerca de dois anos, especialistas do setor se questionavam se a concorrência das lojas com as vendas porta a porta da própria marca prejudicariam o desempenho.

Em um sinal de que a venda direta, que representa cerca de 80% do faturamento, segue como principal, a Eudora ampliará seu catálogo. Serão lançados neste ano mais de 120 produtos, em categorias ainda mantidas em sigilo pela companhia.

"Temos 370 itens e pretendemos chegar a 700 produtos em 2015", diz o diretor-executivo, Claudio Oporto.

No novo plano, algumas das 14 lojas serão fechadas e reabertas em outros pontos. Há casos de realocação dentro do mesmo shopping. Provisoriamente, funcionarão em quiosques, até que melhores locais sejam negociados.

"O multicanal reúne e-commerce, venda direta e loja. Geralmente, as empresas abrem um canal e depois entram nos outros. Nós começamos com todos. É um aprendizado", afirma.

As centrais de serviços, que são 14 lojas focadas nas revendedoras da venda direta, devem receber mais 12 unidades até o fim do ano.

A marca, que até agora manteve baixo investimento em comunicação, prepara sua primeira campanha.

O que estou lendo
Mathias Becker, presidente da Renova Energia

"Adoro trocar sugestões de livros e estou gostando bastante do meu livro atual, 'Como avaliar sua vida?', de Clayton Christensen", diz Mathias Becker, presidente da Renova Energia.

O primeiro contato de Becker com as ideias do livro foi em uma aula do professor Christensen sobre estratégia de inovação. Surpreendeu-se como o autor extraia aprendizado consistente de decisões e evoluções de empresas para a vida pessoal e vice-versa. "Depois de dez anos e um câncer, colocou no livro as lições que empresas podem dar, em como fazer escolhas e suas implicações no longo prazo", diz. "Usando os erros e acertos das empresas, o livro é uma excelente provocação para refletirmos sobre o futuro que queremos dar a nossas vidas."

Altos... Foram protestados 76.561 títulos em janeiro, segundo levantamento feito pelo Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo com os dez tabeliães de protesto da capital

...e baixos A alta foi de 22,4 % na comparação com dezembro. Em relação ao volume protestado em janeiro de 2012, houve uma queda de pouco mais de 10%, de acordo com dados da entidade.

Reunião... O Brasil vai sediar neste ano o Global Entrepreneurship Congress, evento mundial de empreendedorismo que reunirá representantes de 125 países no Rio entre os dias 18 e 21 de março.

...empreendedora Devem participar do evento Linda Rottenberg, cofundadora da Endeavor, e Laércio Cosentino, presidente do conselho de administração da Totvs, entre outros.

Foi FHC que abriu os portos - ALBERTO TAMER

O Estado de S.Paulo - 17/02

A presidente Dilma Rousseff assinou medida provisória autorizando a privatização dos portos, mais uma louvável decisão que vem somar-se à privatização dos aeroportos. O objetivo é modernizar esses dois setores que, fechados aos investimentos privados, pararam no tempo e são em grande parte responsáveis pelo alto custo das exportações brasileiras que perdem espaço em um mercado retraído e altamente competitivo.

Tudo começou com Fernando Henrique Cardoso. De fato, a ideia e a iniciativa de abrir, de privatizar os portos foi de Fernando Henrique não como presidente, mas, anteriormente, atuando como senador e depois como ministro da Fazenda de Itamar Franco. Todos reconhecem que a Lei 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inaugurou uma nova fase no sistema portuário brasileiro, e seu artífice maior se chama Fernando Henrique Cardoso. Ministro, foi o ex-presidente que na época teve a coragem de promover a privatização dos portos nacionais, enfrentando uma das maiores corporações públicas do País, para não dizer um dos seus grandes antros de corrupção. Foi dele também a iniciativa histórica de tirar da Petrobrás o monopólio de exploração, que estava inscrito na Constituição.

Vitória da persistência. Agora que temos a abertura dos portos decretada por uma medida provisória, a coluna conversou com o ex-presidente.

Como foi a sua luta pela privatização dos portos, que podemos chamar de vitória quase isolada sua?

"Quando fui eleito presidente, nos meus dois mandatos implementei o Programa Integrado de Modernização Portuária (Pimop), estruturado em torno de 13 objetivos, derivados da Lei 8.630/1993. Dessa maneira, embora enfrentando enormes resistências políticas lançadas ou encampadas pelo PT, completamos a primeira etapa da reestruturação da administração portuária brasileira", diz Fernando Henrique.

Ela compreendia, entre outros aspectos a) a implantação do modelo de Autoridade Portuária; b) a desestatização da exploração das operações portuárias transferindo-a para o setor privado, através de operadores portuários de cais público, e de terminais de uso público e terminais de uso privativo (exclusivos e mistos); c) a implantação dos Conselhos de Autoridade Portuária (CAP) em todos os portos organizados; d) a implantação de um Programa de Harmonização das Atividades dos Agentes de Autoridade nos portos e terminais portuários (Prohage).

Estavam assim, sob a liderança do ex-presidente Fernando Henrique, lançadas bases sólidas para desenvolver um processo de modernização dos portos brasileiros, solucionando um dos maiores gargalos da logística nacional. "Faltava continuar avançando e as sugestões nesse sentido foram repassadas por minha equipe aos representantes do governo entrante de Lula."

Dez anos de atraso. "Mas, infelizmente, nada se fez no governo Lula, abandonando-se o Programa Integrado de Modernização Portuária. Como resultado, a administração portuária brasileira continua burocratizada e carente de agilidade, não se tendo notícia de nenhum esforço sistemático do governo a respeito desse assunto."

Agora, passados dez anos, o governo de Dilma Rousseff anuncia que vai retomar a agenda perdida da modernização dos portos iniciada por FHC. Tomara que seja pra valer.

Fernando Henrique lembra à coluna que as carências na área portuária levaram, segundo a Fundação Dom Cabral, o Brasil a ocupar a 123.ª posição entre 134 países no ranking de qualidade dos portos (2009). "A excessiva burocracia coloca o Brasil na 61.ª pior posição no ranking do Banco Mundial de tempo para liberação da entrada e saída de navios nos portos, com 5,8 dias, enquanto na China o tempo é de 0,4 dia, na Alemanha 0,7 dia e nos Estados Unidos 1,1 dia."

O que mais preocupa Fernando Henrique é a gestão delegada dos portos. "Identifica-se uma predisposição do governo em revogar os convênios de estadualização ou municipalização, embora ninguém tenha reunido dados suficientes para demonstrar que a gestão delegada a Estados e municípios tenha sido pior do que a federal. Ambas se equivaleram, no bem e no mal. Pode-se inclusive afirmar que os portos melhor administrados estão entre os delegados a Estados e municípios: São Francisco do Sul, São Sebastião, Suape e Itaqui."

E, na conversa com a coluna, Fernando Henrique eleva o tom: "A trágica politização da Autoridade Portuária, uma doença quase secular da administração pública dos portos continua aberta. E, como se não bastassem os preconceitos alimentados pelos segmentos corporativos ainda enquistados na máquina pública, existem grupos proeminentes do setor privado que, há muitos anos, pelejam pela transformação desse Conselho no próprio Conselho de Administração das Companhias Docas. Nada mais absurdo."

Por fim, o decreto 6.620, de rara infelicidade, além de ter introduzido, de forma confusa, definições e exigências relativas à "carga própria", não previstas na Lei 8.630, agravou o quadro de insegurança regulatória dos últimos dez anos. Para o ex-presidente, se Dilma quiser, realmente, impulsionar o crescimento econômico, terá de avançar na gestão portuária seguindo os princípios básicos propostos pelo governo anterior. Na verdade, nos padrões da época (1993), sua atuação significou uma pequena revolução, enfrentando os monopólios corporativos, descentralizando a gestão, para abrir os portos às empresas privadas.

Fernando Henrique deu o primeiro passo, Lula parou e até voltou atrás, e Dilma diz que a abertura dos portos e a privatização são irreversíveis. Só que já estamos atrasados em mais de uma década. E os que não querem mudar nada ainda estão aí.

Começar de novo - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 17/02

Numa madrugada de Carnaval com Ronaldo e a nova namorada, Paula Morais, a coluna vê cenas de paixão explícita, descobre a rotina do casal e a ouve dizer para a sogra, dona Sonia: "Quero adotar um filho"

Ronaldo cumprimenta a colunista com dois beijos e recebe de volta a provocação: "Três para casar". A DJ Paula Morais, 27, sua nova namorada, diz, rindo: "É isso mesmo, amor. Três pra casar!".

"Vamos lá para o camarote do prefeito [do Rio]?", convida o craque, encostado no balcão do espaço da Brahma na Sapucaí. Os dois saem em disparada pelos corredores do sambódromo. Quatro seguranças tentam alcançar o casal, que abre caminho por conta própria.

As pessoas gritam, querem um autógrafo, uma foto. "Namorada do Ronaldo, me ajuda!", pede uma fã. De short curto, salto alto e sem parar de correr, Paula olha para trás, sorri, "não dá!".

Os dois dão risada, rodopiam. Ela salta no colo do ex-jogador, que a carrega por alguns segundos; se beijam, ela volta ao chão.

Chegam ao camarote de Eduardo Paes, prefeito do Rio. "Obrigado aí por tudo o que você tem feito pela dona Sonia", afirma Ronaldo, referindo-se à mãe. "Você só entra aqui com a autorização dela, cara!", diz Paes.

Em poucos minutos, dona Sonia é localizada e aparece na sala. Está de vestido curto, branco, e colar e brincos de pedras verdes. Beija o filho, senta num sofá. Paula se acomoda ao lado da sogra.

"Ela tá cuidando bem dele, né, dona Sonia?", pergunta Paes. "Tá, sim", diz a mãe.

Os dois estão namorando há cerca de três meses. Paula é goiana e mora no Rio há mais de uma década. É sobrinha de Orlando Morais, marido de Glória Pires. Os dois se conheceram por meio de amigos em comum. Não desgrudaram mais.

"Estamos morando juntos. Quer dizer, mais ou menos. Ficamos na casa dele no Leblon, ou então ele fica na minha casa, na Barra. Ele adora. Mas lá tem a minha mãe, o meu irmão, é muita gente", explica Paula. Neste ano, devem passar uma temporada em Londres.

Ronaldo perdeu 18 quilos no Medida Certa, quadro do "Fantástico", da Globo. Depois que começaram a namorar, emagreceu outros dois.

"Eu tô cuidando dele, sim, dona Sonia. Todo dia, de manhã, ele acorda e toma mel, geleia real. E come uma fruta. O primeiro alimento tem que ser vivo. Depois então pode comer um pãozinho." Paula segue: "Eu faço 'abacatada'. Sabe abacate batido? Ele diz: 'É da minha infância, a minha mãe fazia pra mim'".

A cada três horas, como recomendam os nutricionistas, Ronaldo volta a se alimentar. "Eu dou sempre pra ele uma frutinha, alguma coisinha."

O craque levanta a camiseta. "Sabe há quanto tempo eu não tinha uma barriga assim, definida?"

"Graças a Deus!", diz dona Sonia à nora. "Eu fiz até promessa para ele emagrecer." A mãe do craque desconfia inclusive que a Globo desafiou Ronaldo a perder peso por sua influência. No ano passado, ela encontrou amigos da emissora: "Por que vocês não levam o Ronaldo para o 'Medida Certa'?". "Não sei se foi isso ou se leram o meu pensamento", afirma.

"Eu insistia com o Ronaldo: 'Filho, eu me cuido tanto, você tem que se cuidar também'. Por causa da saúde, né? Eu tenho os meus netos para ver crescer."

Novos bebês podem chegar, provoca a Folha. Dona Sonia pega a mão de Paula: "Ela vai me dar um netinho também". Paula abre um sorriso: "Se Deus quiser, dona Sonia. Eu tenho muita vontade de adotar um filho". Ronaldo já fez vasectomia.

"É mais fácil administrar os cofres do Rio de Janeiro do que administrar as contas da dona Sonia", afirma Ronaldo a Eduardo Paes. A mãe balança a cabeça, sorrindo, para negar a informação. "Aí é que eu quero ver!", segue o ex-craque. "Ela chega para mim no fim do ano e diz: 'Ronaldo, o cartão vai estourar um pouquinho'. Já viu, né?"

Dona Sonia sai do sofá, vai até o filho, senta em seu colo. Ronaldo abraça a cintura dela. "Mas tenho que ser justo: tudo é para os netos, nada é para ela. É uma dedicação tão grande, de tempo, de tudo", diz o ex-jogador. "Eu faço um pouquinho para cada um e todos ficam felizes, né?", emenda dona Sonia.

A namorada conta à sogra que Ronaldo vai receber orientações de uma familiar dela que é médica ortomolecular. Ele está fazendo exames. "O Ronaldo emagreceu de uma só vez", diz Paula. Um desafio para os dois: largar o cigarro. Recentemente, ela também voltou a fumar.

O casal corre sete quilômetros todos os dias, indo e voltando do Leblon ao Arpoador. "Ela é atleta", diz Ronaldo. Já ele às vezes amolece, quer parar para tirar fotos com fãs. "Eu digo 'amor, vamos, amor, vamos'", conta a namorada. O ex-jogador às vezes acelera no final e desafia: quem chegar primeiro, ganha. "Ele detesta perder."

Dona Sonia olha para o filho, que fala com o prefeito sobre vários assuntos. "Ele adora essa agitação. Não vive sem isso", diz a mãe. Ronaldo provoca o peemedebista Paes: "Vocês ficam me desprezando... O PSDB taí, me convidando para um monte de coisas". "O que você quiser!", responde o prefeito. O ex-craque ri: "Bom é se dar bem com todo mundo, né?".

Dona Sonia acaricia o rosto do filho, que fecha os olhos. Ela se despede: "Tenho que ir". Ronaldo sai do camarote e cai no samba com a nova namorada na Sapucaí.

PRIMEIRONA A ex-jogadora Milene Domingues, 33, foi a primeira mulher de Ronaldo Nazário, então craque da Inter de Milão. Ficaram juntos de 1999 a 2003. O primogênito Ronald Lima, 12, nasceu na Europa. O final da relação foi conturbado. "Nosso casamento durou quatro anos, mas dois foram aos trancos e barrancos. Claro que eu via o que acontecia [traições], mas em algumas situações aguentei o papel de boba para tentar preservar a vida do meu filho", disse ela anos depois.

VELOZES E FURIOSOS O ex-jogador e a modelo e apresentadora mineira Daniella Cicarelli, 34, se casaram numa suntuosa cerimônia no Castelo de Chantilly, nas proximidades de Paris, no dia 14 de fevereiro de 2005, após sete meses de noivado. Não durou três meses. Pouco antes de se separarem, ela apareceu em público com uma camiseta e a frase estampada: "Quanto mais conheço os homens, mais eu amo o meu cachorro". Depois, os dois ficaram amigos, mas nunca muito próximos.

RECORDE Bia Antony, 27, foi o relacionamento mais longo do ex-craque. Ex-namorada de Nelsinho Piquet, a brasiliense formada em engenharia conheceu Ronaldo em 2007. Ficaram juntos por seis anos, entre idas e vindas, e tiveram duas filhas: Maria Sophia, 4, e Maria Alice, 2. Há dois anos, depois de um teste de DNA, ele reconheceu o filho que teve com uma modelo. Alex, que na época tinha cinco anos, passou a conviver com Bia e os outros filhos do ex-jogador. Em dezembro, o casamento chegou ao fim.

Lancheiras caninas - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 17/02

SÃO PAULO - Segundo o Conselho de Medicina Veterinária de São Paulo, o Estado já conta com 50 creches para cachorro. Elas recebem animais cujos donos passam boa parte do dia fora de casa e lhes oferecem recreação, que pode incluir atividades como natação e musicoterapia. Os cães levam até suas lancheirinhas, o que dá uma nova dimensão ao termo antropomorfização, a tendência de atribuir características humanas ao que não o é.

A noção, criada pelos gregos, já surgiu como advertência. Xenófanes se insurge contra Homero por tratar Zeus como humano, atitude que julgava arrogante. Os deuses olímpicos se foram, mas a ideia de que não devemos antropomorfizar ficou, migrando da teologia para a ciência.

Quem com mais força pregou contra a antropomorfização foram os behavioristas, liderados por B.F. Skinner, para os quais, em nome da parcimônia explicativa, toda forma de introspecção deveria ser banida da pesquisa científica. Essa posição encontrou seguidores mesmo entre alguns biólogos evolucionistas, para os quais ou as coisas se explicam em termos de genes ou não se explicam.

Em tempos modernos, coube a primatologistas como Frans de Waal questionar o dogma. Não é uma coincidência. Eles trabalham com nossos parentes mais próximos que, não por acaso, são os que exibem atitudes mais parecidas com as nossas. E, se descendemos todos de um ancestral comum relativamente recente e possuímos mais ou menos a mesma química cerebral, por que não podemos ter os mesmos sentimentos?

É claro que precisamos de cuidado para não atribuir a um cachorro emoções extremamente intelectualizadas como amor romântico ou êxtase religioso, mas, como observa De Waal, se não enxergarmos as semelhanças entre os animais e nós, corremos o risco de deixar escapar algo fundamental, sobre eles e sobre nós.

Lembre-se disso da próxima vez que esquecer a lancheira do seu cão.

Preocupado com o quê? - SÉRGIO AUGUSTO

O ESTADO DE S. PAULO - 17/02

Como faz todos os anos desde 1998, o agente literário John Brockman despachou por e-mail uma pergunta provo- cativa à legião de cientistas, intelectuais, acadêmicos e artistas que lotam sua agenda de amigos e parceiros no site Edge.org., e ficou esperando. Em poucas semanas recebeu 154 respostas, assinadas por notórias figuras do mundo científico e habitués de sua enquete anual (Steven Pinker, Sam Harris, Daniel C. Dennett) e gente do show business (Brian Eno, Terry Gilliam, Richard Foreman). A pergunta de 2013 - "Com o que devemos nos preocupar?" - lhe foi soprada pelo entendido em história da ciência George Dyson.

O próprio Dyson foi o primeiro a pedir cautela com o alarmismo: "As pessoas tendem a se preocupar com coisas que não valem a pena, desprezando outras com as quais deveriam se preocupar". Concordando com o historiador, a jornalista Virgínia Hefferman parafraseou Roosevelt, substituindo o medo da exortação original: "A única coisa que nos deve preocupar é a própria preocupação". Até porque, como observou o cientista social Dan Sperber, "quando inócuas e descabidas, certas preocupações nos trazem mais danos que benefícios".

Ansiedade, estresse, por exemplo. Meia dúzia de especialistas em ciência cognitiva pegaram essa linha de raciocínio. Um deles, Joseph Le Doux, chegou a sugerir que aprendêssemos a tornar a ansiedade produtiva, a usá-la em vez de sermos usados por ela. Estaremos psicológica e politicamente capacitados para só nos preocuparmos com o que mais precisaríamos nos preocupar?, indagou o psicólogo e neurocientista Brian Knutson, há tempos preocupado com o que batizou de "misplaced worries" (inquietações inoportunas). Só o tempo dirá.

A debacle do euro? O abismo fiscal americano? A tensão permanente no Oriente Médio? Os flagelos causados pelo aquecimento global? As chacinas em shoppings, cinemas e escolas? A finitude dos recursos naturais? Tais questões, embora inquietantes e oportunas, só foram abordadas em duas ou três respostas, nem sempre de frente.

O biólogo e paleontólogo Scott D. Sampson foi o único a meter a colher nos desastres naturais e nas agressões do homem ao meio ambiente, e apenas o físico Giulio Boccaletti chamou a atenção para a assustadora redução dos recursos hídricos do planeta. Jonathan Gottschall inocentou a violência na ficção, tão demonizada a cada morticínio em locais públicos. Não mais do que dois participantes se revelaram preocupados com o crescimento econômico atrelado à especulação financeira. Detalhe: um deles, Satyajit Das, é financista.

O psicólogo e lingüista canadense Steven Pinker teme uma nova guerra mundial, tantos são os fatores negativos aptos a provocá-la. Terrorismo nuclear não parece tirar o sono de ninguém (nem o mais bilionário nerd teria condições de fabricar um artefato nuclear e detoná-lo de seu laptop, racionalizou o filósofo Daniel C. Dennett), mas outras modalidades de terrorismo digital, sim: hackers invadindo sistemas, roubando senhas bancárias, derrubando portais, espalhando vírus, a trivial delinquência eletrônica.

"Por erro ou de caso pensado, um bioterrorista pode deflagrar um colapso social", adverte o cosmólogo Martin Rees, criador da expressão "antropoceno", a era presente, em que as ameaças globais são provocadas mais pelos homens (e suas máquinas e inovações) do que pela natureza. "Receio que o mundo natural esteja ficando naturalmente desnaturado", desabafou a bióloga Seirian Sumner, especialmente grilada com os avanços da biologia sintética. Mais generalistas, o também biólogo Colin Trudge lastimou a gradativa "perda da integridade da ciência" e o cientista social Nicholas A. Christakis, sua transformação de vilã em vítima do homem.

Outras calamidades, algumas hipotéticas, outras reais ou em gestação, entraram pauta: uma explosão de novas drogas ilegais; a possibilidade de pleno êxito de um projeto de I.A. (Inteligência Artificial) e a consequente escravização do homem por cérebros eletrônicos; nossa atual incapacidade para prever com exatidão como seria um mundo cheio de robôs e nanotecnologicamente avançado; a emergência de uma nova desigualdade em escala mundial com a eventual concentração em poucas mãos do acesso a bancos de dados fundamentais; o exorbitante papel dos mecanismos de busca na internet (que agora não apenas informam, mas também opinam e manipulam o gosto e as idéias dos usuários, alertou o físico W. Daniel Hillis); a desassistência à educação de 40% dos adolescentes; o desmedido culto dos pais ao pragmatismo educacional, em detrimento do estímulo à imaginação e à criatividade; a homogeneização da cultura e da experiência humana em escala global; a epidemia mundial de mentiras, fraudes, plágios e falsificações (destaque para o ciclista Lance Armstrong); a incompetência e o possível esgotamento da democracia liberal; a peste fundamentalista; a praga anti-intelectualista.

Os efeitos colaterais da Quarta Cultura, ou seja, os desacertos causados pelas novas tecnologias, alcançaram alto índice de preocupação. Sofreremos ainda mais com o déficit de atenção e paciência, com a prevalência do conhecimento rápido, ligeiro, superficial, googlado, com a perda das habilidades manuais e do senso histórico (sufocado pelo presentismo) e sua mais danosa conseqüência, a amnésia coletiva, porta aberta para o primado da estupidez e o triunfo da idiocracia.

A nunca esquecida explosão demográfica ganhou novos contornos com a eugenia (menos e melhores filhos) praticada na China pós-Mao como parte de suas ambições hegemônicas. A China, insiste o psicólogo Geoffrey Miller, não quer tornar-se apenas a maior potência militar, econômica, industrial, comercial e cultural do século 21, mas também a mais biopoderosa, com os seres mais saudáveis e bem-dotados intelectualmente da Terra. Miller, contudo, confessa estar menos preocupado com os sonhos de grandeza dos chineses do que com uma reação ocidental movida a preconceitos ideológicos, xenofobia e pânico bioético.

Volta das férias - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 17/02

Como alguns - ou muitos, quem sabe - de vocês temiam, não foi ainda desta vez que desapareci em Itaparica, para nunca mais ser visto. Houve a tentação e a oportunidade, mas resisti, desconfiado do que queriam dizer os sorrisos dos interlocutores, quando se inteiravam dessa possibilidade. E aí eis-me de volta, naturalmente trazendo-lhes a narrativa de alguns dos empolgantes acontecimentos que marcaram minhas férias. Como todos os escolares de meu tempo, treinei para isso no colégio. A diferença está em que, nessa época, a maioria de nós contava as piores lorotas sobre as férias, ou com o objetivo de impressionar uma colega e talvez a professora (eu mesmo era suspirosamente apaixonado pela minha professora de português, no antigo ginásio), ou porque as férias de verdade não tinham sido das mais famosas. Mas o que se segue não são lorotas e está aí Itaparica inteira, que não me deixa mentir.

Bem que eu gostaria de me gabar, falseando certos eventos em que não me dei muito bem, mas à falsidade se somaria grave injustiça. O certame de deitação em rede, este ano, foi novamente conquistado com margem larguíssima pelo hoje pentacampeão Gugu Galo Ruço, como sempre seguido por Vavá Major, que, por sinal, continua não fazendo nada com a competência habitual. Gugu me revelou que passou o ano inteiro treinando nas redes que instalou em seus inúmeros escritórios (ele é rico milionário em Salvador, onde diz o povo que, quando se aborrece, bebe uísque de quinhentos contos o gole como se fora caldo de cana) e que sua marca de 34h09m16s cravados, sem sair da rede para absolutamente nada, podia ser melhorada e certamente será. "Preciso aprimorar minha preguiça de fazer xixi", me confidenciou ele. "Não posso contar somente com meu talento natural." Quanto a mim, fiquei até abaixo de minha melhor marca anterior, de pouco mais de 27 horas, desta feita prejudicado pelo aguaceiro que pôs em ação uma goteira bem acima de minha rede. O bom redista não cai fora nem debaixo de chuva, mas a agitação desta vida em cidade grande acaba com meus reflexos de repouso e sair, mesmo que para escapar da chuva, é pelas regras considerado abandono de rede. Mas, para o ano, tento novamente, é uma inatividade proveitosa, ensina muito.

A adrenalina foi garantida pelo esporte radical que praticamos debaixo da mangueira. As mangas dela são enormes. Todo mundo tenta ver se há alguma à beira de despencar na cabeça de alguém, mas é difícil enxergar todas, porque se camuflam no meio da folhagem densa. O resultado é que conversar à sombra fresca da mangueira vira uma roleta-russa. Em vez de um tiro, o participante toma uma mangada no quengo de pelo menos meio quilo. Todos já conhecem e praticam bem a manobra de proteger a cabeça com os braços, ao menor farfalho na copa da árvore, mas, assim mesmo, o suspense é grande. Contudo, é considerado um pamonha desprezível aquele que deixa de viver momentos de contentamento únicos, apenas pelo receio de uma traulitada no cocuruto. É o mesmo tipo de raciocínio dos comedores de baiacu: não se vai deixar de desfrutar de uma iguaria do mar somente porque ela, se houver descuido no trato, pode envenenar, isto é argumento dos faltos de grandeza e espírito de aventura. Eu, que não tenho essas grandezas todas, não como baiacu, mas passo muito tempo embaixo da mangueira, se bem que ultimamente venha pensando em comprar um daqueles capacetes de operários de construção.

No setor político, não se pode dizer que os acontecimentos envolvendo o Congresso hajam surpreendido a opinião pública na ilha. Zecamunista chegou a oferecer cem por um a quem apostasse contra a eleição de dr. Renan, mas não encontrou desafiantes.

- Eu sabia que ninguém ia aceitar, só fiz por esporte - disse ele. - Aplicar dinheiro para mudar os destinos do país só resolveria se fosse usado com o Senado e a Câmara mesmo. Mas aí a concorrência esmaga, nem para comprar voto em moção de aplauso eu tenho dinheiro. O voto anda cada vez mais caro, ultimamente esse pessoal está muito mal-acostumado, devia haver uma tabela fixa, não se pode deixar esse tipo de coisa entregue aos caprichos do mercado. Capitalismo selvagem é o que impera na política brasileira, você devia escrever um artigo sobre isso, em vez das besteiras de sempre.

E, finalmente, vim terminar as férias no Rio. Acionar a descompressão, esquentar os neurônios que ainda dão partida, preparar o retorno ao trabalho. Entre outras coisas, ler os jornais, o que não tive tempo de fazer na ilha (pode-se ler jornal na competição de deitação, mas é considerado meio amadorístico, além de estressar a musculatura dos braços e do tórax, para não falar que gasta os óculos). E confirmar, mais uma vez, que nada mudou. Nova e sensacional reviravolta alimentar, desta feita com um ataque da manteiga devastador. Depois de ter sido banida estrepitosamente da dieta de várias gerações, agora é aclamada como alimento de boa qualidade e - sintam aí os que, pelo resto da vida, sob esbregues médicos, abdicaram chorosamente de uma simples bolachinha com manteiga, para não falar num ovo esplendorosamente estrelado nela - fonte de bom colesterol, bem como antioxidante, é a última novidade científica que li no jornal. Que mais da mesma coisa? A mesma coisa. Ah, sim, houve enredos de escolas de samba homenageando a Coreia, a Alemanha e Cuiabá. Senti nisso a mão do destino. Faz muitos e muitos anos, na casa de Jorge Amado, em Salvador, eu compus um samba-enredo, intitulado "Exaltação a Luxemburgo", que fez sucesso entre os presentes, mas foi tido como irrealizável. Hoje, não mais. Ainda lembro o refrão e está tudo à disposição dos interessados, pois já é tempo de celebrarmos esse pequeno grande país amigo, "a terra dos maiores dramaturgos", na feliz rima que meu samba encontrou.

Esculhambação - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 17/02

Todos usam o poder que detêm para tirar vantagens. O interesse público é sua moeda de troca


A tragédia de Santa Maria impactou o país pela quantidade de mortes que ocasionou mas também pelo que significa no quadro da realidade brasileira: a denúncia da irresponsabilidade que tomou conta do país.

Que, no Brasil de hoje, as leis, as normas sociais estão aí apenas para constar, a gente já sabia. Mas foi preciso, desgraçadamente, que o incêndio da boate Kiss resultasse na morte de quase 240 pessoas -na sua maioria jovens universitários- para que as autoridades se mancassem e se sentissem obrigadas a fazer o que mais as desagrada: fazer cumprir as leis e, pior ainda, punir quem as desrespeita. Na verdade, querem ser todos bonzinhos, especialmente consigo mesmos.

A tragédia de Santa Maria tornou de repente inviável essa cômoda atitude. A postura usual dos governantes e das autoridades é a de não admitir os seus próprios erros, atribuindo-os a injúrias ou mentiras inventadas pela imprensa.

Mas, desta vez, diante de centenas de cadáveres amontoados na rua e dos parentes soluçando em desespero, o que fazer? Dizer que se tratava de uma invenção da mídia não podiam. Tiveram, eles próprios, que mentir.

O prefeito de Santa Maria não sabia nada do que se passava naquela boate.

Já o comandante do Corpo de Bombeiros da cidade afirmou, com firmeza, que, legalmente, bastava uma única porta numa casa de shows onde se divertiam mais de mil pessoas, embora a lotação legal fosse de apenas 650 frequentadores. Os extintores de incêndio não funcionavam, como ficou provado pela perícia, mas ele alegou que estavam em perfeito estado e, se não funcionaram, teria sido pela imperícia de quem tentou manejá-los.

Noutras palavras, embora o Corpo de Bombeiros tenha permitido que a boate funcionasse sem obedecer a quaisquer exigências legais, nenhuma culpa tem pelo que ali ocorreu.

Indignei-me ao ouvi-lo mas tampouco esperava que ele dissesse outra coisa, uma vez que, se tanta gente morreu naquele incêndio, a razão disso não é outra senão a desobediência a toda e qualquer norma de segurança. E por que isso ocorre? Por negligência? Por receberem propina? Por obedecerem a recomendações superiores? Ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que este nosso Brasil é hoje uma pura e simples esculhambação.

Veja se exagero. Como a boate pegou fogo mesmo e 239 pessoas morreram mesmo; como a boate só tinha uma porta e os extintores de incêndio não funcionavam, ninguém pode, desta vez, alegar que se trata de uma calúnia. É inegável que o desastre ocorreu porque as autoridades responsáveis foram omissas. Mas, em seguida, diante da tragédia e da omissão comprovada, todas elas, imediatamente, passaram a agir com a presteza e o rigor que nunca tiveram antes.

O resultado não poderia ser outro: em todos os Estados e cidades, onde a fiscalização foi acionada, centenas de casas noturnas ou não apresentavam as condições de segurança exigidas ou estavam com a licença de funcionamento vencida. Isso significa que os proprietários e responsáveis por esses espaços vêm durante anos pondo em risco a vida dos frequentadores, como se isso se tratasse da coisa mais normal do mundo. Até uma borracharia funcionava como boate.

É que, do governador ao comandante do Corpo de Bombeiros, do chefe da fiscalização ao fiscal menos categorizado, todos usam o poder que detêm para tirar vantagens, sejam elas políticas, sejam pessoais. O interesse público é sua moeda de troca.

Pois bem, a pergunta a fazer é por que isso acontece e de maneira tão generalizada? Não tenho a resposta pronta. Mas não há dúvida de que a máquina do Estado foi apropriada por partidos e líderes políticos, que a usam em beneficio próprio, seja pessoal, seja partidário. As leis, portanto, não têm valia ou só valem quando servem a esses interesses.

É que, para eles, a opinião pública não merece nenhum respeito. Que outro sentido tem a recente eleição de Renan Calheiros para presidir o Senado Federal, embora denunciado pelo procurador-geral da República por peculato, uso de documentos falsos e corrupção?

Há cinco anos, ele renunciou a essa mesma presidência e ao seu mandato parlamentar para escapar de ser cassado. E volta, agora, sob os aplausos efusivos de seus companheiros de farsa. É ou não é uma esculhambação?

Para a lua de Saturno - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O ESTADÃO - 17/02

A Natureza está finalmente reagindo e pretende nos varrer da face da Terra?

Há momentos na vida em que o Homem (aí subentendida a Mulher também) chega assim a um promontório filosófico, de onde avista o caminho que já percorreu e o caminho que ainda precisa andar ou, se ele tiver sorte e aparecer um táxi, rodar. São momentos de grave introspecção em que o Homem faz um inventário de si mesmo seus sonhos, suas desilusões, suas possibilidades, e onde diabo enfiei o antiácido? e se faz perguntas. Valeu a pena? Devo continuar? Aproveito o promontório e me atiro? Quem sou eu e por que estou aqui falando sozinho?

Do mesmo promontório metafórico podemos pensar no nosso lugar no mundo, nisso tudo que não é Brasil e não sabe o que está perdendo. E sei que falo por bilhões e bilhões de pessoas que frequentaram este planeta desde que éramos apenas pré-hominídeos confusos, que não sabiam nem fazer fogo nem copular de frente, quando concluo que não queria estar em outro planeta e, que, na média, tem sido bom. Pelo que sabemos de outros planetas, nenhum se iguala ao nosso.

Marte, já descobrimos, é um imenso estacionamento. Outros estão em combustão permanente, não duraríamos dois minutos em sua superfície. Dizem que há condições de vida humana numa das luas de Saturno, mas os dias são longuíssimos, o que inviabilizaria as reuniões de família aos domingos. Vivemos no mais conveniente dos mundos possíveis.

Está certo, fizemos bobagens. Guerras, filhos demais, sacanagem com os outros, carros com rabo de peixe, neoliberalismo – mas também produzimos coisas admiráveis. Dou só dois exemplos: a Catedral de Chartres e a Patrícia Pillar. E nos divertimos, foi ou não foi?

O planeta nos acolheu sem fazer perguntas, nos deu a água e o oxigênio que precisávamos para sobreviver e ainda entrou com alguns crepúsculos de brinde, sem falar em toda a parte decorativa, no cheiro de capim molhado e no pudim de laranja. Obrigado, velho! Se não fizemos melhor foi porque ainda não deu tempo. Afinal, 10 mil anos de história humana são o quê? Apenas uma comichão no lado da Terra, que ela atribuiu a um mosquito.

É verdade que não temos retribuído à altura tudo que a Terra nos dá. Já obliteramos cataratas, arrasamos florestas, enchemos o ar de sujeira, destruímos a capa de ozônio e testamos a paciência da Natureza de mil outras maneiras.

A questão é se a atividade humana continua a ser desprezada pela Terra, como coisa de insetos insignificantes, ou se todas as evidências de que o clima enlouqueceu, os polos estão derretendo etc. são sinais de que a Natureza está finalmente reagindo, e pretende nos varrer da face da Terra. Talvez seja o caso de entendermos as indiretas e começarmos a pensar em colonizar a tal lua de Saturno.

Agora vai? - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 17/02

Diante das cobranças internas para que assuma retórica mais incisiva de candidato a presidente, Aécio Neves vai apontar, em discurso no Senado previsto para o dia 27, "13 fracassos" do PT no governo federal. Com base em dados levantados por técnicos do PSDB, criticará Dilma Rousseff por "inoperância" nas áreas de segurança e saúde, atrasos nas obras do PAC, a volta da inflação e prejuízos da Petrobras. Será um ensaio para que o mineiro assuma o comando do partido, em maio.

Carrossel... Empenhado em conter o avanço de PT e PMDB no interior, Geraldo Alckmin receberá a partir de quarta-feira 60 prefeitos para maratona de jantares no Bandeirantes. O tucano programou cinco reuniões, nas quais receberá pedidos para municípios que representam 70% do eleitorado paulista.

... caipira Pré-candidato à reeleição, Alckmin patrocinará ainda o encontro de todos os recém-empossados nas 645 cidades do Estado, nos dias 13 e 14 de março no Memorial da América Latina.

Reação Diante das declarações de Beto Albuquerque (PSB) de que pode enfrentar Tarso Genro na sucessão para o governo do Rio Grande do Sul, o PT gaúcho, que pretendia apoiar o líder socialista ao Senado, já começa a se movimentar para lançar um candidato próprio à vaga.

Cautela A orientação de Tarso, no entanto, é negociar para manter o PSB na aliança para sua reeleição. O governador tem lembrado a boa relação que tem com seu vice, Beto Grill, indicado por Albuquerque, e a participação do partido de Eduardo Campos em outras pastas do governo.

Armadilha Observadores da estratégia de Marina Silva para a criação da Rede dizem que, ao vetar alianças e doações que não atendam aos critérios rígidos definidos, a senadora sofrerá críticas duras se tiver de se render à ''realpolitik'' para conseguir tempo de TV para sua candidatura à Presidência.

Termômetro Emissários de Renan Calheiros (PMDB-AL) sondaram senadores na semana passada para sentir qual é a chance de prosperar o pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Não tiveram adesão à ideia.

Meteorito Ao chegar na quinta-feira à Rússia para participar da reunião do G-20, Guido Mantega e a comitiva brasileira jantaram em um restaurante perto do hotel. Na hora da conta, o restaurante não aceitou cinco cartões de crédito. Ocupando o cargo mais alto na mesa, Mantega pagou para todos.

Oremos O governo quer acelerar a emissão de vistos para estrangeiros que virão ao Brasil, em julho, para a Jornada Mundial da Juventude. O evento deve inaugurar as incursões internacionais do sucessor de Bento 16. A ideia é criar um "fast-track" nos consulados de países que também pedem vistos a brasileiros, como os EUA.

Caixa... Aeroportos de Brasília e Guarulhos passam a contar a partir de amanhã com sistema que permite pagamento direto, via cartão de débito, dos impostos de importação à Receita Federal. Hoje, se o passageiro não dispuser de dinheiro em espécie, as taxas precisam ser recolhidas na rede bancária.

... rápido A medida, parte do Plano Nacional de Gestão Aeroportuária, coordenado pela Casa Civil, entrará em vigor sexta-feira também no Galeão. Os três terminais respondem por 80% dos viajantes internacionais no país.

Marca Fernando Haddad apresentará amanhã aos vereadores o projeto da isenção da taxa de inspeção veicular, promessa de sua campanha.

tiroteio
Se a presidente Dilma der um ministério a Lupi e Vieira da Cunha, eles estão com ela. Se não, estão fora. É muito fisiologismo.

DE JULIANA BRIZOLA (PDT-RS), sobre a articulação do grupo do ex-ministro do Trabalho para tirar da pasta Brizola Neto, irmão da deputada estadual.

Contraponto


Está escrito


Em janeiro, Aldo Rebelo (Esporte) inspecionou o estádio Anacleto Campanela, em São Caetano do Sul, no ABC, um dos possíveis centros de treinamento de Seleções para a Copa. Após conhecer as instalações do complexo esportivo, Aldo concedeu entrevista coletiva.

Uma jornalista perguntou ao ministro a sua opinião sobre a gestão anterior da prefeitura na área de esporte, alvo de contestação. Procurando escapar da boa dividida, o comunista recorreu a uma passagem da Bíblia:

-Prefiro olhar para o futuro para não correr o risco de virar uma estátua de sal.


Cuidado, companheira! - ILIMAR FRANCO

COM SIMONE IGLESIAS

O ex-presidente Lula está preocupado com os efeitos da economia no governo Dilma. Lula tem dito a amigos, nas viagens pelo Brasil e pelo exterior, que a combinação de notícias negativas pode afetar a popularidade de Dilma e comprometer o projeto político do PT. Nos últimos dias, citou o repique da inflação, os problemas no setor elétrico e as dificuldades enfrentadas pela Petrobras.

Data venia
O nome do novo ministro do STF, a presidente Dilma guarda a sete chaves. Mas o perfil foi discutido amplamente nos últimos dias em reuniões no Planalto. Será jurista reconhecido em seu meio e respeitado, sóbrio e sem vínculo partidário. Nomes que chegaram ao seu gabinete: Sílvio Luís Ferreira da Rocha, apadrinhado pelo advogado Celso Antônio Bandeira de Mello; o ministro do STJ Luiz Felipe Salomão, com apoio do governador Sérgio Cabral; Luís Roberto Barroso, com a torcida de Beto Vasconcelos (Casa Civil); Heleno Torres, preferido de Luís Inácio Adams (AGU); Paulo Modesto; e Marli Ferreira.

“As pessoas têm que se atualizar e entender que não estamos mais na República Velha. Não precisamos de coronéis”

Randolfe Rodrigues
Senador (PSOL-AP) sobre as demissões de duas estagiárias que criticaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em redes sociais

Medida burocrática
A PF pediu ao Ministério do Planejamento concurso para 20 psicólogos, como forma de resolver problemas enfrentados por agentes. Cresceu o número de suicídios. Os policiais criticam a medida porque, isolada, é inócua.

Contra o relógio
O senador Walter Pinheiro (PT-BA), relator da regulamentação do FPE, já pediu duas vezes ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para levar a matéria diretamente ao plenário, sem tramitação nas comissões. A Casa corre contra o tempo para definir as regras. Dos cinco meses dados pelo STF, um já passou.

Mercado aquecido
O Pronatec Brasil sem Miséria abriu 20 mil vagas este ano no Rio para capacitar jovens que vivem na extrema pobreza. Os cursos são voltados a ocupações nas Olimpíadas, na Copa do Mundo e nos setores portuário e de petróleo e gás.

Bola cheia
O Ministério do Esporte vai trazer técnicos e jogadores de futebol cubanos para treinar em times brasileiros. A expectativa do ministro Aldo Rebelo é que os primeiros cheguem até o fim da Copa das Confederações, em junho. Mesmo rebaixado para a segunda divisão, o Palmeiras, time do ministro, já aceitou receber os atletas, mas Aldo está negociando com outros clubes.

Liberdade de imprensa
O presidente do jornal “La Nación”, da Argentina, Julio Saguier, virá ao país em abril para falar, no Fórum da Liberdade, da censura imposta pelo governo Cristina Kirchner. Debaterá com a blogueira cubana Yoani Sánchez.

Chefe à distância
A chefia do escritório da Presidência em São Paulo está vaga desde que Rosemary Noronha foi demitida. Os funcionários se reportam a Caio França, adjunto de Gestão e Atendimento do gabinete da presidente Dilma, em Brasília.

FIM DAS FÉRIAS. O Panorama Político volta às mãos de seu titular, o colunista Ilimar Franco, na edição da próxima terça-feira.

História, sorte e acaso - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 17/02

A história do futebol, do mundo e das pessoas costuma ser mal contada e/ou distorcida


No futebol, pelas inúmeras possibilidades de explicar os fatos, a história é, com frequência, mal contada e/ou distorcida. A versão que fica não costuma ser a mais correta, e sim a mais interessante, a que dá mais audiência. Além disso, nossas lembranças afetivas, das quais não temos nenhuma dúvida, estão mais próximas de nossas imaginações e desejos do que da realidade. O ser humano mente muito, com ou sem intenção.

Uma partida de futebol contém várias controvérsias e inverdades. Apesar de Ronaldinho dizer mil vezes que o primeiro gol contra o São Paulo foi por sorte -prefiro dizer acaso-, que ele estava com sede e que foi pedir água a Rogério Ceni, muitos insistem que tudo foi planejado pelo mágico Cuca, e/ou que o gol foi resultado da malandragem e da experiência de Ronaldinho.

Ronaldinho estava livre, dentro da área, por acaso, por ter sede. Aí, ele e Marcos Rocha (avisado por Tardelli, como mostra a imagem), perceberam rapidamente o lance, facilitados pela distração dos jogadores do São Paulo.

Acaso é diferente de sorte. Diz o Aurélio: "Acaso é o conjunto de pequenas causas independentes entre si, que se prendem a leis ignoradas ou mal conhecidas, e que determinam um acontecimento qualquer".

Muitas partidas são decididas pelos detalhes técnicos, táticos, físicos, emocionais e pelo imponderável. Ignorar a importância do acaso, no futebol e em nossas vidas, é uma postura prepotente, tecnicista.

Independentemente das razões, Ronaldinho brilhou contra o São Paulo. Cada dia mais, acredito que ele vai ser destaque no Atlético-MG por um bom tempo, e cada dia menos, acredito que ele vai brilhar, com regularidade, na seleção. É óbvio que seleção e clube são diferentes. Mas, no momento atual, isso é mais marcante. Não dá para transportar para a seleção o Independência, a torcida fanática do Atlético e muito menos a maneira sufocante de o time jogar nesse estádio. Não dá também para transportar para a seleção o show individual de Neymar no Santos, desvinculado do jogo coletivo. Mesmo assim, ele é excepcional e a grande esperança.

Há muitos chavões e lendas sobre a história do futebol brasileiro. Esse assunto é interminável.

Tenho admiração pelos comentários de Mauro Cezar Pereira, concordo que Ganso não teve vibração ao desistir de tentar desarmar Ronaldinho no segundo gol, mas discordo quando ele diz que Ganso se parece com um jogador do passado. Havia, antigamente, como hoje, jogadores de todos os estilos e de todos os níveis técnicos.

Gerson, pelo posicionamento, Piazza, pela antecipação, Zé Carlos (ex-Cruzeiro e Guarani), pela técnica e força física na disputa da bola, e outros armadores estão entre os melhores marcadores da história do futebol brasileiro, incluindo os de hoje.