sexta-feira, fevereiro 01, 2013

O novo mercado sexual - NELSON MOTTA

O GLOBO - 01/02

Elas mandam recados safados aos professores nas apostilas e no Facebook, tipo ‘Vai ao barzinho hoje? Se for, vou sem calcinha’


O jogo virou, de antigas oprimidas dos anos 60, chamadas por John Lennon de “o crioulo do mundo” em “Woman is the Nigger of the World”, as mulheres avançaram pelas trilhas abertas pelo feminismo e hoje são presidentes, secretárias de Estado, ministras, comandantes de jatos, de batalhões militares e de grandes grupos econômicos, jogando futebol, dirigindo filmes e dando aulas de todos os assuntos, elas estão em toda parte, até na frente de combate. Mas continuam reclamando.

Pesquisas recentes mostram que nos Estados Unidos, onde elas têm mais poder, dinheiro, independência e liberdade do que nunca, as mulheres estão mais insatisfeitas agora do que nos anos 60, porque, com tantas opções, escolher ficou muito mais difícil. E, como Freud já sabia, nunca se sabe o que quer uma mulher.

Até o sonho da maternidade balança, algumas já admitem que seria melhor não ter tido filhos, ou que foram eles que destruíram a sua felicidade.

São muitas as Marias hoje em dia, da clássica “Maria-Gasolina”, com sua atração irresistível por carros, à moderna “Maria-Chuteira”, que acompanhou a evolução sociopatrimonial dos jogadores de futebol.

Agora a antropóloga Miriam Goldenberg fala do florescimento nos meios universitários da “Maria-Apostila”, que manda recados safados aos professores nas apostilas e no Facebook, tipo “Vai ao barzinho hoje? Se for, vou sem calcinha”. Competindo para ver quem pega mais professores, as “Maria-Lattes”, como a famosa plataforma de currículos acadêmicos, valorizam tanto a quantidade quanto a qualidade.

As mulheres passivas, à espera do chamado dos homens, estão saindo de cena. Estamos na era das periguetes, das roupas curtas e justas em corpos sarados, partindo para o ataque e invertendo os papéis de gênero, intimidando e provocando desconforto nos homens. Embora ainda continuem esperando um telefonema no dia seguinte.

Nas pesquisas de Miriam ficou claro que, com essa troca de papéis, os homens estão apavorados. E as mulheres, desesperadas.

Assim como na economia, a lei da oferta e da procura vale para o mercado sexual: quando a oferta cresce, a procura amolece.


Os miseráveis - CORA RÓNAI

O GLOBO - 01/01

Dos comentários lamentáveis sobre a tragédia de Santa Maria à contundência e às críticas de ‘Os miseráveis’


Não aguento mais a estupidez e a ignorância dos fundamentalistas religiosos — de qualquer credo. Sou de um tempo em que religião era questão de foro íntimo: quem tinha tinha, mas não ficava exibindo em público, como medalha por bom comportamento.

Não suporto mais ler caixas de comentários que, por qualquer motivo, viram latrinas imundas, cheias de brados louvaminheiros e palavras de acusação, transbordando um orgulho podre. Sim, porque é disso, afinal, que se trata: todos os que brandem a religião como se fosse a bandeira de um time se julgam superiores aos demais.

Tenho horror dos que, em nome do “amor” entre aspas, semeiam o ódio mais visceral; me repugnam os que falam em nome de Deus — qualquer que seja ele — como se fossem seus legítimos porta-vozes.

As notícias na internet sobre a tragédia de Santa Maria estão cheias de comentários absurdos, que condenam os jovens por se divertirem e lhes negam o Reino dos Céus.

Que pessoas horrendas são essas que têm coragem de culpar as vítimas?!

Que talibãs cristãos, que escória, que sarandalha desprezível.

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Pronto. Agora que desabafei, podemos ir em frente.

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Quando cheguei do cinema, corri para o computador e escrevi isso:

“‘Os miseráveis’ não é só o melhor musical que jamais vi nas telas; é o melhor filme que vejo em muito, muito tempo. Tudo perfeito. Cenários fantásticos, direção impecável, atores maravilhosos — sendo que Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen roubam todas as cenas em que aparecem. Preciso que entre logo em cartaz para ver de novo.”

Hoje, depois de uma noite, um dia e entrando por outra noite, eu mudaria um pouco o texto. Não afirmaria tão categoricamente que “Os miseráveis” é “o melhor musical que jamais vi nas telas” porque, afinal, assisti a filmes deliciosos, como “My Fair Lady” e “A noviça rebelde”. Diria, em vez disso, “um dos melhores musicais que jamais vi nas telas”. Mas é que eu estava sob o impacto do filme. Ainda estou.

Não fui a única. Claudio Botelho — sim, ele mesmo, o dos musicais — também correu para o Facebook:

“O filme ‘Os miseráveis’ é o musical mais espetacular e emocionante que apareceu no cinema desde sei lá quando... Não tem tamanho o sentimento que o filme desperta. Acabo de sair do cinema e não sei quando vou superar. Superar pra quê, né?”

Estávamos na mesma sessão, mas não nos vimos. Ainda bem. Caso contrário, corríamos o risco de ainda estar lá de pé, no estacionamento, conversando arrebatados sobre o que assistimos. “Os miseráveis” é esse tipo de filme. Ou eu achava que era, até acordar na terça-feira e ir para a internet, para ler a seu respeito.

Os críticos da revista “The New Yorker”, que eu tanto amo — e quase todos os críticos de cinema das outras grandes publicações norte-americanas — esquartejaram “Os miseráveis”. Tudo aquilo que tinha me dado tanto prazer não valia nada, era raso, ruim, equivocado. Onde eu vi beleza e emoção, eles viram cafonice e sentimentalismo barato.

Foi uma acachapante lição de humildade. A mensagem das críticas era muito clara: só pessoas manipuláveis e destituídas de senso estético gostavam daquela bobagem tonitruante. Baixei as orelhas. Meu amor-próprio teria ficado seriamente ferido se, logo depois, eu não tivesse lido a crítica inglesa, que nunca viu nada semelhante.

Ufa.

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“Os miseráveis” é o primeiro grande musical a ser filmado com som direto. Isso significa que, em cada cena que se vê, cada canção que se escuta foi gravada ao vivo. Zero dublagem. Não dá para superestimar o valor que a decisão do diretor Tom Hooper trouxe para o resultado final em termos emotivos. Quem é de chorar em cinema vai chorar muito com a intensidade dos sentimentos desencapados, à flor da pele.

Anne Hathaway, candidata ao Oscar por sua atuação, aparece pouco, mas em compensação canta a música mais conhecida, “I dreamed a dream”, que mesmo quem nunca assistiu ao musical já ouviu. Está absolutamente perfeita. Já Hugh Jackman, igualmente brilhante como Jean Valjean, quase não sai de cena: o papel é de tal intensidade que a MSN Movies sugeriu que ele ganhasse um Prêmio Nobel pelo trabalho. Eu apoio. Gostei muito de Daniel Day-Lewis em “Lincoln”, mas se o Oscar fosse atribuído por voto direto, Jackman seria o meu candidato.

Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen estão ótimos como os Thénardier, a dupla cômica da história; a Eponine da inglesinha Samantha Barks, que aos 22 anos já tem uma sólida experiência de palco, é encantadora. Chega a ser injustiça destacar esse ou aquele ator num elenco tão (literalmente!) afinado. Até Russell Crowe, que não está bom, está bom. Ele faz Javert, o policial obcecado com Jean Valjean.

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Com “I dreamed a dream” na cabeça, acabei me lembrando de Susan Boyle, que ganhou o “Britain’s got talent” de 2009. Que fim teria levado? A rede informa que ela vai muito bem, obrigado. Lançou seu quinto CD em novembro, cantou para a Rainha no Jubileu e, embora tenha hoje uma fortuna estimada em US$ 33 milhões, continua andando de ônibus e de sapato sem salto, morando na casa onde sempre viveu e fazendo compras em lojas onde tudo custa uma libra: figura.


Existe amor no FB - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 01/02


Difícil passar dez minutos lendo posts sem se deparar com ignorância, narcisismo, arrivismo e desespero


Num dos textos mais bonitos da língua portuguesa, o "Sermão do Mandato", padre Antonio Vieira comenta as ignorâncias que impedem o amor de florescer no vale de lágrimas onde vivemos: não conhecer a si mesmo, não entender o amor, não saber onde o amor vai dar, não enxergar a natureza do objeto amado.

Não sei se Jonathan Franzen leu o padre Vieira, mas num ensaio curto, na verdade o discurso de formatura que abre a coletânea "Como Ficar Sozinho" (Companhia das Letras), de certo modo aderiu a um esporte comum quando o assunto são as redes sociais: atualizar os quatro preceitos, definindo o que seriam as relações sentimentais verdadeiras.

Franzen tem uma posição clara, referindo-se ao Facebook: "Se uma pessoa (...) dedica sua existência a ser curtível e passa a encarnar um personagem bacana qualquer para atingir tal fim, isso sugere que perdeu a esperança de ser amado por aquilo que realmente é (...). A perspectiva da dor (...), da perda, da separação, da morte, é o que torna tão tentadora a ideia de evitar o amor e permanecer em segurança no mundo do curtir".

A tendência de quem lê esse tipo de artigo é simpatizar. Afinal, difícil passar dez minutos lendo posts de conhecidos sem se deparar com ignorância, narcisismo, arrivismo e desespero existencial travestido de alegria, sem falar naqueles vídeos de publicidade e humor. Mas dá para perguntar, também, se não há idealização em ver uma essência humana perdida a cada vez que acessamos o mundo virtual.

Melhor dizendo, não haveria uma crença exagerada na autonomia desse mundo? Como se gastar horas por dia em frente ao computador equivalesse a um "sonho anestesiado de autossuficiência", na definição de Franzen. "Passar pela vida e não sofrer é não viver", completa o escritor americano, e fico pensando se ele acredita mesmo que alguém escape de pagar contas, se explicar para o cônjuge furioso ou fazer tratamento de ciático apenas por causa de Mark Zuckerberg.

Talvez o engano se deva à pouca familiaridade com uma tecnologia que pode ser fim ou instrumento, dependendo de como é usada. Qualquer um que tenha trocado mensagens eletrônicas não profissionais sabe que, numa adaptação inevitável aos códigos de uma escrita que imita a fala, inclusive com suas modulações de sentido (ironia, ênfase, hipérbole) e expressão afetiva (doçura, raiva, choro), é possível que daí nasçam amizade, inveja, desprezo e até amor.

O que não significa, óbvio, a substituição da presença física. Nem a supervalorização dessa presença. Quando Franzen encerra o discurso com a expressão "seres reais", não sei a que ponto elevado da alma se refere. Mesmo no mundo pré-digital, um flerte começava na superfície -gostos, aparência física, maneira como se fala. Tudo isso é possível no Facebook, e quanta chateação é poupada quando uma pretendente nota que seu pretendido é analfabeto funcional. Ou quando espia suas fotos e percebe que jamais se sentirá atraída por ele.

Se não quisermos julgar o mérito de tais ações, fiquemos com o critério estatístico, as possibilidades que a tecnologia acabou trazendo para quem a utiliza. Digamos que o candidato seja um viúvo de 75 anos, cujo destino uns anos atrás era passar o resto das tardes sozinho, numa padaria triste, tomando Underberg em copo de requeijão e olhando para o vazio. O que há de errado em ele fazer contato com outra viúva que se arrasta pelo éter virtual? E que esse contato seja inicialmente frívolo, até ridículo?

Ou esperavam que o viúvo se apresentasse falando do enterro da mulher, do reumatismo, dos filhos que não o visitam há décadas -em resumo, do seu verdadeiro eu? Caso a investida dê certo, e aí será no mundo concreto, como etapa seguinte ao prólogo virtual, isso tudo virá à tona. Ou não. Viver no engano pode ser bom ou ruim -cabe aos envolvidos, e não a nós, imersos nessa nova forma de moralismo, decidir o quanto de intimidade se quer revelar e conhecer.

No "Sermão do Mandato", padre Vieira usa um exemplo de indivíduo que, do início ao fim, foi consciente e praticante das quatro condições do amor: Jesus Cristo. Mas talvez não seja um bom exemplo, vide a maneira como seu "affair" terminou. Então, perdoemos o resto da humanidade, que é filha de Deus, mas não tanto, por usar os atalhos disponíveis -incluindo o Facebook, por que não?- para chegar lá.

Admirável mundo novo, uai? - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 01/02

Quem passou por uma depressão, ainda que leve, pode contar os benefícios da compensação química


Assim que a minha compa­nheira de horário começou a ler a notícia na Bandnews FM, eu comecei a soltar faísca: "Brasileiros usam mais tranquili­zantes do que europeus, aponta pesquisa da Proteste". Veja se eu posso: "O resultado de pesquisa conduzida em cinco países verifi­cou que brasileiros demonstraram uso crônico significativamente mais alto principalmente de anti­depressivos".

E daí? Quem disse que a frase "Os brasileiros demonstraram uso crô­nico significativamente mais alto principalmente de antidepressi­vos" tem necessariamente uma co­notação negativa?

E se a gente olhasse por outro prisma e visse que somos mais abertos às novidades da ciência do que os arremedos de ostrogodos, capadócios e etruscos que ora habi­tam o continente europeu?

A tal pesquisa alerta para o fato de que 47% dos brasileiros chegam a fazer uso de ansiolíticos e antide­pressivos. Meu Deus, mas isso só pode ser uma notícia maravilhosa!

Veja: 40 milhões de tapuias não têm acesso a água potável e 75 milhões não têm esgotos coletados. Se me­tade da população agora pode com­prar medicamentos para tratar da psique, isso quer dizer que estamos ricos, não? Ora, não tenho culpa se os europeus preferem passar sem dormir. Minha situação já resolvi, pois meu sono me faz mais falta que os males que o re­médio pode causar. Mesmo se de manhã eu não lembre meu nome ou onde estou e se agora tenha per­dido o fio da sequência de pensa­mento que ia encadear a seguir.

Ah, sim, lembrei! Ia pinçar aqui mais uma frase contida na brilhan­te e abrangente reportagem sobre a pesquisa da Proteste e suas conclu­sões que, obviamente, não cami­nham no mesmo sentido de ne­nhum grupo ou sindicato do de­simportante mundo da indústria que lida com fármacos e os agentes que gravitam ao seu redor não só no Brasil como no mundo.

A ela: "O uso destes medicamen­tos está associado a indivíduos com estilo de vida pouco saudável, que sofrem de insônia, são fumantes, sedentários, estressados, portado­res de ansiedade ou depressão". É para bater palmas agora ou só de­pois de tomar meu ansiolítico?

Ainda bem que os brasileiros se­dentários, estressados e que não conseguem levar uma vida saudá­vel encontraram um meio para não se jogar do viaduto do Chá, não é mesmo? Graças a Deus que a evolu­ção da ciência hoje oferece a essas pessoas que se sentem deslocadas (ou seja, quase todos nós que sofre­mos da angústia de ter nascido) maneiras de sobreviver ao dia, dor­mir e chegar ao dia seguinte. Isso deveria ser considerado um verda­deiro milagre. Quem passou por uma depressão, ainda que leve, po­de dizer os benefícios da compen­sação química.

Mas por que colocar os europeus como paradigma? Se eu for imitar europeu, vou passar a semana sem tomar banho. Já viu como o garçom reage quando você pede um refri­gerante light na Itália ou na Fran­ça? Camarada tem ataque de riso na sua cara. Tente pedir um café com adoçante na Alemanha. Você terá de ir buscar o aspartame no su­permercado da esquina.

Podendo, europeu não consome "industriali­zados" e não gosta de ir ao médico. É um asceta. Não é o consumista descarado, modelo Orlando feito a gente, que está indo na onda de ver até sem-teto fazer check-up no Fleury -mais um índice no IDH que sobe. Chupa David Cameron!

É evidente que uso indiscrimina­do e dependência são indesejáveis.

Mas algum Taleban, naturalista, militante do oxigênio puro, antitransgênico, ciclista radical vai vir me ensinar a viver a vida? Vai?


Os corvos e a nossa língua - MILTON HATOUM

O Estado de S.Paulo -01/02


Nos últimos dias de janeiro, apaguei, com pesar, o nome e o número de telefone de amigos e conhecidos que passaram para o outro lado do espelho. Não foi um ato de morbidez. Fiz isso porque sou distraído, tão distraído que, certa vez, liguei para um amigo e, quando a mulher dele atendeu, começou a chorar. E antes de lhe perguntar a razão do choro, ela me disse: você foi ao enterro dele, não se lembra?

Só então me lembrei daquela triste tarde de junho; pedi desculpa pela gafe e disse que a memória é um mistério, às vezes as lembranças aparecem com nitidez, outras vezes ficam guardadas, teimosamente escondidas, ou em estado de latência.

Por isso é melhor apagar nomes e números de telefone. Felizmente usei muito pouco a borracha: a imensa maioria dos amigos ainda está neste mundo. Alguns são tão jovens que parecem viver em outra era. Ou talvez seja o contrário: eu mesmo pertenço a um outro tempo.

Nas conversas com dois desses jovens, surgem estranhas expressões em inglês sobre jogos eletrônicos e complicadas redes virtuais; essas expressões se repetem até a saturação e não me dizem nada. Diante de tantas palavras desconhecidas, que aludem a um mundo virtual que também desconheço, só me resta o silêncio, nossa voz essencial, talvez a mais verdadeira. De qualquer modo, somos amigos, e quando lhes mostro um poema de Wallace Stevens, eles o leem com enfado, depois me olham com desconfiança, como se eu fosse um lunático. E enquanto eles se entusiasmam com redes virtuais e joguinhos barulhentos, eu continuo a conversar com um homem silencioso. Assim permanecemos amigos em nossos mundos cindidos, e vamos vivendo.

Na outra extremidade da ponte, os amigos longevos tampouco me abandonaram. Refiro-me a duas senhoras quase centenárias. A primeira, é a mulher que me alfabetizou e merece uma crônica à parte. A outra, Ludmila, foi minha professora no curso ginasial, e sua lucidez espantosa me surpreende e me humilha. Até hoje, examina meus escritos com lupa, e quando descobre um erro ou uma distração, me telefona a qualquer hora do dia ou da noite para dizer, com uma voz do além, que eu devia consultar um livro do gramático Said Ali antes de escrever barbaridades.

Ludmila nasceu antes de 1922. Nunca aceitou o tom coloquial dos escritores modernistas e condena o uso inadequado da próclise e de qualquer pronome oblíquo átono. Agora está enfezada com "esses conterrâneos que usam a segunda pessoa do singular com o verbo na terceira".

Disse-lhe que esses erros de concordância já foram incorporados à fala popular, por isso são toleráveis, e até aceitos. Além disso, acrescentei, Machado de Assis já não escrevia como Camilo Castelo Branco nem como Eça de Queirós.

"Tu leste A Doida do Candal no meu colo, mas nenhum português diz 'tu vai, tu fica, tu viu", protestou Ludmila, com a mesma voz ríspida de 1965 ou 1964. "Essa forma bizarra dói-me os ouvidos. Daqui a pouco vão dizer que os cavalos cacarejam, as galinhas relincham, as onças crocitam e os corvos esturram."

Disse que isso era possível na literatura, e também no sonho, que é a forma mais civilizada e mais livre de contar uma história sem escrever palavras. Depois perguntei, com ironia, se havia corvos em Manaus, nossa cidade amada.

"Há muitos", ela respondeu. "Corvos que não crocitam nem esturram, mas roubam e mentem desde que eu nasci."

Grande Ludmila: quase um século de vida e não perdeu a verve da revolta.

Ueba! Adriano joga em Viracopos! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/02

Sabe por que o Adriano quer assinar com o Guarani de Campinas? Porque o aeroporto lá é Viracopos!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socorro! Todos para o abrigo! Me mate um bode! Salve-se quem puder!

O Michel Temer, além de mordomo de filme de terror, agora é poeta! E ler o livro de poesias do Michel Temer é uma TEMERIDADE!

Título da ameaça nuclear: "Anônima Intimidade". Ah, intimidade anônima? Tédio! Detesto intimidade anônima. Eu quero saber quem comeu quem. Tipo "TV Fama"!

E como disse um amigo meu: "Antes eu gostava de Vinicius, T.S. Eliot e W.H. Auden, agora não abro mão das poesias do Michel Temer". Rarará! Vai fazer dobradinha com o Sarney!

E o Adriano Imperador? Sabe por que o Adriano quer assinar com o Guarani de Campinas? Porque o aeroporto lá é Viracopos! Então ele vai morar no aeroporto. Vai morar, se concentrar e jogar em Viracopos! Adriano fecha contrato com o Viracopos!

E o São Paulo? Conseguiu a façanha de perder pro Bolívar. Em La Paz! De virada! Sabe o que é isso? Salto alto mais altitude! Saltitude! É isso que dá levar droga pra Bolívia! Fizeram o caminho inverso!

E diz que jogar em La Paz é a mesma coisa que subir ladeira fumando! E frango naquela altitude não é frango, é urubu! Rarará! E se o Ceni já é ranzinza ao nível do mar, imagine na altitude de La Paz! Chaltitude! Rarará!

E o goleiro do Barcelona é um trocadilho ambulante: Pinto! Aí os comentaristas sérios da ESPN: "O Pinto tá caído, o Pinto pulou, o Pinto esticou, o Pinto agarrou a bola"!

Pior, o Pinto levou um carrinho de um companheiro. E adivinha onde foram parar as travas da chuteira? No pinto do Pinto, claro! O Pinto levou um carrinho no pinto! Só que esse é um Pinto português. Pinto conterrâneo do Cristiano Ronaldo! Que usa aquele shortinho batendo na testa! Rarará!

E como disse um amigo: "O Barça joga com o Carvalho e o Barcelona com o Pinto, Carvalho Pinto, o clássico das rodovias". É mole? É mole, mas sobe!

O Brasileiro é Cordial! Olha a placa num portão aqui em São Paulo: "Já disse que não conserto carro de ninguém! Cai fora, jumento". E essa placa numa escola maternal, jardim de infância: "Não vale atirar pedra nos colegas". Medo! Pânico! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DÁ MINHA MERCEDES - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 01/02

Uma troca acidental de duas Mercedes-Benz levará dois dos advogados mais requisitados de Brasília a se enfrentar no juizado de pequenas causas. Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay (que defendeu Duda Mendonça no mensalão), representará a sobrinha Tainá e o irmão Marcos num caso contra Michelle, mulher de Pedro Calmon -que advoga para Monica Veloso, pivô no escândalo que tirou Renan Calheiros da presidência do Senado em 2007.

BARRACO NO VALET
O imbróglio foi em frente ao valet numa quadra de restaurantes badalados. O manobrista entregou, por engano, ao irmão de Kakay a Mercedes de Calmon. Por volta das 3h da madrugada, Marcos voltou, com a sobrinha Tainá, para trocar os carros. Segundo Kakay, ela foi chamada de "ladra e prostituta" e levou um murro de Michelle. Calmon diz que não houve agressão física e que Tainá chegou rindo e xingou sua mulher de "piranha".

NA DELEGACIA
Tainá registrou a ocorrência na 1ª DP. "Além da injúria, partiram para as vias de fato. Foi baixo nível", diz Kakay. "Somos vítimas de um bando de loucos", rebate Calmon, que fez uma queixa-crime na delegacia do Lago Sul. "Vejo meu carro chegando em alta velocidade. A moça ao volante rindo e o Marcos, completamente embriagado." A audiência de conciliação será no dia 18.

NA GARAGEM
A Mercedes de Marcos é 2003. A de Calmon, 2008, "top de linha". Ambas pretas.

CLUBE DOS CINCO
O prefeito Fernando Haddad privilegiou seu "núcleo duro" à mesa no primeiro mês de gestão. Almoçou 16 vezes com os mesmos secretários: Antonio Donato (Governo), Leda Paulani (Planejamento), Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano), Marcos Cruz (Finanças) e Luís Massonetto (Negócios Jurídicos).

NA DIANTEIRA
O recordista Massonetto esteve com o chefe uma 17ª vez, numa das duas ocasiões em que a primeira-dama Ana Estela se juntou ao marido, segundo a agenda oficial do prefeito. Ela também foi no almoço com secretários da "cota PMDB": Luciana Temer (Assistência Social), Mariane Pinotti (Pessoa com Deficiência) e Roberto Porto (Segurança), além do deputado federal Gabriel Chalita.

FESTA SEM FIM
A Abrafesta disponibilizou em seu site e nos escritórios do Procon um "Manual de Boas Práticas", que instrui o cliente a fazer perguntas para checar a segurança de bufês ou salões de eventos.

"Na maioria das vezes, quem faz uma festa nem sabe que precauções se deve ter", diz Vera Simão, presidente da entidade.

NOVO EM FOLHINHA
A modelo Andressa Torres, 18, estampa um dos meses do calendário da agência Way, em que figuram apenas manequins em início de carreira

É PISTA OU TABLADO?
Os atores Martha Nowill, Michelle Ferreira e Milhem Cortaz foram à festa Soul Kitchen, no Teatro e Bar Cemitério de Automóveis. A cineasta Sabrina Greve também passou pelo espaço, na Bela Vista, na terça.

A BOLSA ESTÁ EM ALTA
Roberta Noschese e a empresária Cris Lotaif foram recebidas por Milene Pulice na abertura da segunda loja da grife italiana Miu Miu, no shopping Cidade Jardim.

OS ZÉS E O LULA
O ator José de Abreu, 68, saiu do armário político: depois de anos defendendo o PT em público, resolveu se filiar ao partido. Foi pedir conselhos ao ex-presidente Lula e ao amigo José Dirceu sobre uma possível candidatura para deputado federal em 2014.

Ele conta que Lula achou a "ideia sensacional". O ator agora o espera no Rio, para uma sessão da peça "Bonifácio Bilhões" ("que inclusive discute ética"), na qual atua. "Lula abonaria minha ficha e lançaria uma campanha maciça de filiação ao PT do Rio."

Jantou com José Dirceu, condenado pelo mensalão, nesta semana. O ator Paulo Betti também foi. Segundo Zé, o Abreu, conversaram sobre sua candidatura. Evanise Santos, mulher de Dirceu, tirava fotos no celular.

Abreu sairá em caravana com o senador Lindberg Farias (PT) pelo interior do Rio. Preocupa-se com o contrato na Globo, que vai até 2014, caso dispute a eleição. "Ganho muito mais na Globo. Como deputado, terei que baixar meu padrão de vida."

O casamento gay é uma bandeira. Sobre ter se declarado bissexual no Twitter, explica: "Nunca tive caso homossexual. Não posso dizer que sou preto nem índio nem mulher nem pobre. Assumi posição de minoria. Quero ser vítima de preconceito".

SÃO PAULO S.A
O ator Irandhir Santos está em SP participando das filmagens de "Obra", primeiro longa de Gregório Graziosi. O pernambucano vive um arquiteto que encontra um cemitério clandestino no projeto que começa a executar. As filmagens acontecem no Copan, na Estação Pinacoteca e na Igreja da Consolação.

MEIA-NOITE EM PARIS
O estilista Karl Lagerlfeld, da Chanel, fotografou anteontem de madrugada, em Paris, com a top britânica Cara Delevingne, campanha para a brasileira Melissa.

O alemão assina uma linha de calçados de plástico para a marca. As fotos foram feitas na livraria de Lagerfeld, a 7 L.

CURTO-CIRCUITO
Alessandra Negrini é a rainha da bateria do Acadêmicos do Baixo Augusta, que desfila no domingo. O cargo estava vago desde a saída de Marisa Orth.

Roberta Sá faz show no HSBC Brasil hoje, no Baile do Movimento.

A Loja do Elogio abre hoje na rua Oscar Freire.

O camarote Expresso 2222, de Flora Gil, do Carnaval de Salvador, fechou parceria com a Net.

O vereador Andrea Matarazzo protocolou ontem a criação de uma frente parlamentar para discutir drogas e doenças mentais.

O File, festival de arte e de tecnologia, recebe até o dia 9 inscrições para sua edição em SP, em julho.

Burocracia ineficaz mata - CLÁUDIO GONÇALVES COUTO

Valor Econômico - 01/02

A tragédia da boate em Santa Maria alertou autoridades e empresários do ramo quanto à necessidade de maior atenção à segurança dos estabelecimentos. Em consequência disso, ocorreram blitze país afora, locais irregulares foram fechados e a Câmara dos Deputados montou comissão para formular uma legislação nacional sobre condições de segurança de casas noturnas e de espetáculos. Apenas em Manaus, 52 casas foram fechadas, mais da metade das existentes na cidade. No Rio de Janeiro, noticiava-se o fechamento de 11 estabelecimentos; em Maceió, outros 3. Em São Paulo, algumas casas suspenderam as atividades voluntariamente, com o declarado intento de ajustar suas condições para melhor atender ao público.

Em suma, alastrou-se pelo país uma onda de preocupação em relação a um problema que, a rigor, deveria merecer atenção corriqueira. O despertar para essa situação foi reconhecido pelo secretário de Cultura da cidade do Rio de Janeiro, Sérgio Sá Leitão, que tem sob sua jurisdição dez teatros, dos quais (pasmem) nove funcionando sem autorização, como noticiou "O Globo".

O tema da existência ou não de alvarás de funcionamento emergiu da tragédia gaúcha, já que a boate de Santa Maria estava com o seu vencido. Nisso, contudo, ela de forma alguma era peculiar. Só a cidade de São Paulo possui cerca de 600 estabelecimentos cujo alvará não foi expedido pela Prefeitura, como noticiou o Estadão. Tal situação gera insegurança para o público e inconformismo no empresariado do setor, que aguarda até quatro anos por um documento que, de acordo com a lei, deveria ser expedido em 30 dias.

Ineficácia de nossa burocracia causa perdas diversas

Decerto, diante de tal acúmulo de atrasos, torna-se impossível fechar os estabelecimentos que não dispõem de autorização - algo reconhecido pelo próprio prefeito, Fernando Haddad. Afinal, isso, além de economicamente desastroso, seria injusto, já que puniria empresários que não têm culpa pela lentidão da burocracia municipal. Aliás, mais do que injusto, um tal fechamento geraria situações kafkianas, já que muitos dos que não dispõem do documento apenas vivem tal situação por não se vergarem ao achaque de máfias instaladas na burocracia pública, como observado por Leonardo Sakamoto em seu blog.

Tendo isso em vista, uma medida anunciada pelo prefeito paulistano pode ser providencial, desde que implementada dando transparência aos dois lados do balcão. Após reunir-se com o empresariado do setor de restaurantes e casas de espetáculo, o prefeito anunciou que as datas de expedição dos alvarás de casas noturnas da capital paulista ficarão disponíveis na internet. A ideia será excelente se, além das informações relativas aos estabelecimentos, aparecerem aquelas relativas à parte da Prefeitura. Em que data foi dada entrada na documentação? Quanto tempo a prefeitura já levou na apreciação do pedido, sem que tenha ainda emitido o alvará? Até a emissão, quanto tempo levou?

A divulgação de dados como esses colocaria sob pressão não apenas os empresários da noite, mas a própria administração pública e, particularmente, os funcionários responsáveis pela expedição dos documentos. Poder-se-ia constatar, por exemplo, que um determinado estabelecimento obteve seu alvará em apenas 30 dias, enquanto outro já aguarda há 3 anos, apesar de ambos terem igualmente dado entrada em todos os documentos exigidos (um check list disso também poderia constar do site). O que explicaria a disparidade? Será que alguém tem amigos na máquina, ou cedeu ao achaque, enquanto o outro resistiu a ele, ou não é tão bem relacionado?

Investigações sobre casos como o de Santa Maria podem revelar que, ao longo do processo, uma autorização indevida de funcionamento (ou a demora para a expedição dela) pode ser a causa última de tragédias. Situações desse tipo tornam evidente que a corrupção, a prevaricação, a omissão ou a incompetência não prejudicam apenas os negócios, mas podem ser letais. Por isso, a transparência necessária não diz respeito apenas à situação dos regulados, mas também à conduta dos reguladores. Claro que se enfrentarão resistências de interesses entrincheirados, nada voltados ao atendimento do público, mas tal enfrentamento faz a diferença no sucesso dos governantes e em sua capacidade de inovar.

Há alguns anos, a Secretaria de Estado da Saúde paulista tentou implantar ponto eletrônico para médicos. Enfrentou forte reação e sabotagem: equipamentos de ponto danificados e acobertamento. Episódios recentes de esquemas de faltas de médicos que recebiam sem trabalhar geraram escândalos e permitiram um enrijecimento do controle sobre o comparecimento ao trabalho. O caso recente, do médico indiciado por omissão de socorro em decorrência ter faltado quando uma criança baleada precisou de seus serviços, mostra que certas situações - antes naturalizadas por setores do funcionalismo público) - já não encontram a mesma tolerância. Isto abriu espaço para que o prefeito Eduardo Paes anunciasse há poucos dias a implantação do ponto eletrônico na rede municipal de saúde.

Em todos esses casos, a informatização é uma ferramenta importante para aprimorar o controle, conferir transparência e subsidiar a ação de governantes, atores do sistema de justiça, a mídia e o público. Contudo, ela é apenas uma peça num sistema mais complexo de medidas, que requer mudanças legais e de postura de todos esses atores. Eventos dramáticos, como a morte da menina pela falta do médico, ou a catástrofe de Santa Maria, criam conjunturas críticas para as mudanças, mas isso requer celeridade dos governantes e perseverança da mídia na cobertura das providências. Sem isto, logo os episódios se tornam apenas dolorosas lembranças, sem capacidade de mobilizar apoios e vencer resistências.

A maior dessas resistências está na burocracia governamental, habitat propício à corrupção e à ineficiência, alimentando oportunismo e vencendo por cansaço o empreendedorismo e os sentimentos republicanos. Não raro, isso termina em tragédia. Está na hora da desburocratização e a eficácia da gestão ganharem centralidade na agenda dos governantes.

Campeões nacionais - ARMANDO CASTELAR PINHEIRO

Valor Econômico - 01/02


Nas duas últimas semanas várias notícias foram veiculadas com foco em dois "campeões nacionais", grandes grupos com controle acionário brasileiro, que são apoiados com empréstimos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em geral para a compra de outras empresas do mesmo setor.

A primeira notícia referia-se à venda das participações na Oi da Andrade Gutierrez e do Grupo Jereissati (La Fonte) para a Portugal Telecom, que passaria a deter a maioria das ações ordinárias da empresa (50,77%) e a controlá-la sozinha.

Nunca é demais lembrar que a classificação da Oi como campeã nacional surgiu em 2008, quando a então Telemar comprou, com recursos do BNDES, a BR Telecom, passando a dominar o mercado brasileiro de telefonia fixa, exceto São Paulo. A justificativa à época é que isso daria ao país uma empresa de telecomunicações que brigaria de igual pelo mercado internacional, levantando alto a bandeira brasileira em outros países. Como se sabe, isso não aconteceu: a Oi opera só no Brasil. O que, sim, ocorreu foi uma grande concentração de mercado, que só não prejudicou mais o consumidor devido à forte competição vinda dos celulares e da internet.

Qual o histórico de resultados dessas privilegiadas empresas nacionais já bancadas pelo dinheiro público?

Como alertei na ocasião, a operação era inconsistente com os mandatos do BNDES - expandir o investimento e o emprego além do que ocorreria se as empresas continuassem separadas, o que não se obteria com a operação -, do Cade e da Anatel, que deveriam defender o consumidor, que nada ganhava com a redução da concorrência no setor.

O primeiro caso em que o argumento de campeão nacional foi usado para justificar a aprovação oficial de uma operação que era contrária ao interesse do consumidor foi o da fusão entre a Brahma (dona da Skol) e a Antártica (que não teve, porém, apoio do BNDES). A Ambev passou a deter 72% do mercado de cervejas, participação que em algumas regiões - o mercado de cervejas é local - superava 90%. Em troca desse enorme poder de mercado, a empresa prometia transformar o guaraná brasileiro em produto de consumo internacional, rivalizando globalmente com a Coca Cola. Não se tem notícia, mais de uma década depois, que isso tenha ocorrido.

A bem-sucedida estratégia de comunicação da Ambev foi depois copiada por outras empresas que buscavam subsídios do BNDES para comprar concorrentes, algumas com sucesso, outras não. A Perdigão comprou a Sadia dessa forma; a VCP, a Aracruz. No setor de frigoríficos, o banco aportou tantos recursos que precisou abrir mão de um lucro de mais de R$ 1 bilhão para não virar controlador de um frigorífico. Por outro lado, o bom senso político e a reação do grupo Casino impediram o empréstimo de R$ 4 bilhões com que se pretendia transformar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no campeão nacional dos supermercados.

O surgimento desses campeões nacionais foi claramente um sucesso para seus acionistas controladores. A Ambev, por exemplo, tornou-se a maior empresa brasileira em valor de mercado. Mas, e o consumidor e, em especial, o contribuinte brasileiro, que arca com os subsídios que bancam essas operações, o que eles ganharam com isso?

A segunda notícia nos jornais desta semana é a de que a CSN pretende comprar a CSA, com R$ 4 bilhões a serem aportados pelo BNDES. Não é pouco dinheiro.

Essa é uma boa oportunidade para que essa estratégia seja mais bem explicada - com fundamentos econômicos, e não apelos nacionalistas - a quem arca com o seu custo. Sem querer desmerecer a qualidade da gestão das empresas aqui citadas, em geral muito boa, há pelo menos cinco perguntas que deveriam ser respondidas.

Primeiro, o que o país ganha com isso, além de beneficiar a família brasileira controladora? As perdas são conhecidas: mais poder de mercado prejudica o consumidor, desestimula investimentos e a inovação; o dinheiro do BNDES vem do Tesouro Nacional, que precisa emitir mais dívida, sobre a qual paga juros mais altos do que recebe do BNDES, donde precisa arrecadar impostos - nossos impostos - para cobrir a diferença.

Segundo, qual o histórico de resultados dos campeões nacionais já bancados pelo dinheiro público? Quanto o consumidor e o contribuinte brasileiro ganharam - ou perderam - com isso?

Terceiro, como incentivar a empresa a cumprir a meta que justificou o apoio estatal? Por exemplo, por que não impor uma penalidade se a empresa não conquistar a parcela do mercado global a que se propõe? Talvez com uma multa que eleve o custo de capital para o que seria sem o apoio estatal?

Quarto, se o objetivo é que a empresa tenha controle nacional, por que não exigir a devolução dos subsídios e outros benefícios se a empresa for depois vendida a um controlador estrangeiro, como pode vir a ocorrer com a Oi?

Quinto, por que não nacionalizar a empresa de forma que os subsídios beneficiem um maior número de brasileiros? Por exemplo, o BNDES pode aportar capital apenas sob a forma de participação acionária e depois vender as ações de forma pulverizada para correntistas do FGTS, como ocorreu com a Petrobras e a Vale.

O píer em Y vai sair - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 01/02

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, comunicou ontem à presidente Dilma que o martelo foi batido e que a opção técnica foi pela construção do píer em Y no porto do Rio de Janeiro. O informe da decisão ocorreu em reunião, no Planalto, que fez um balanço das obras e dos preparativos para tratar das Olimpíadas de 2016. O governador Sérgio Cabral deu respaldo à decisão da prefeitura.

A vida como ela é
A imagem do PSB e do governador Eduardo Campos (PE), candidato ao Planalto em 2014, pesou, mas não foi o único motivo pelo qual os socialistas desistiram de apoiar Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado. O que desgostou mesmo o partido foi o fato de ficar fora da futura Mesa. Regimentalmente, o partido, com três senadores em 2011, no início da legislatura, não tem direito a cargo na Mesa. Mas com a posterior posse de João Capiberibe (AP), o PSB passou a ter quatro senadores e entendia que isso lhe daria direito a um cargo agora. Chegou a haver uma negociação para que o PT abrisse mão de uma vaga em favor dos socialistas. Não andou.

“Se for este o preço (ficar fora da Mesa do Senado), pagamos. Mas não acredito. O presidente eleito não vai querer a hostilidade permanente do PSDB” 
Alvaro Dias Líder do PSDB no Senado (PR)

Provocação
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) propôs ontem que o partido apoiasse a candidatura de Ricardo Ferraço (PMDB-ES), cujo projeto de reforma administrativa foi rejeitado no plenário, para primeiro secretário. Silêncio na sala.

Ombudsman
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez representação à TV Senado e à Agência Senado reclamando da falta de matérias sobre a eleição a presidente. Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) tentaram nos últimos dias agendar entrevistas, sem sucesso. Mas, ontem, após a queixa formal de Suplicy, foram chamados a falar.

Procura-se um candidato
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) telefonou para o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pedindo que concorresse a presidente do Senado. Garantiu os votos de todos os tucanos. Simon recusou, e o PSDB vai de Pedro Taques (PDT-MT).

O Planalto vai ter que engolir
O deputado Valdemar Costa Neto (SP), condenado no processo do mensalão, entrou em campo e garantiu a eleição de Anthony Garotinho (RJ) a líder da bancada. Costa Neto quer ver o PR ganhar musculatura e não, necessariamente, alinhado ao Planalto. O candidato da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), deputado Giacobo (PR), não deu nem para a saída.

O deputado coroinha
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) fez apelo pelo voto a presidente da Câmara, por torpedo, citando a Bíblia: “Se clamares por conhecimento e, por inteligência, alçares tua voz... Você representa nação que merece ser respeitada.”

Espirituoso
Há de tudo um pouco nas redes sociais. Ontem, por exemplo, circulava a frase: “Querida Dilma, favor abaixar o preço da gasolina e subir o da energia, porque é mais fácil eu fazer um gato do que achar um poço de petróleo!”

O PREFEITO EDUARDO PAES
 e o governador Sérgio Cabral (RJ) convidaram a presidente Dilma para passar o aniversário do Rio (1º de março) na cidade.

Questão de imagem - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 01/02

Questão de imagem
Ao entrar abertamente na articulação de uma alternativa à escolha de Renan Calheiros (AL) para a presidência do Senado, Eduardo Campos tinha um objetivo claro: marcar a diferença entre seu PSB e o PMDB. O governador de Pernambuco e seus aliados não tinham esperança de derrotar Renan, mas entendem que, ao desafiar o excesso de poder peemedebista e a eleição de um potencial réu no STF para o comando do Congresso, o partido ganha pontos com o eleitorado.

Troca... A articulação do grupo de Renan Calheiros (AL) para dar a José Sarney (AP) o comando da Comissão de Constituição e Justiça não avançou, e a vaga deve ir para Vital do Rêgo (PB), que presidiu a CPI do Cachoeira.

... geracional Dois outros cristãos-novos no PMDB, Ricardo Ferraço (ES) e Waldemir Moka (MS), devem ser contemplados com o comando das comissões de Educação e Assuntos Sociais.

Trocadilho Apoiadores de Pedro Taques recorreram a uma antiga música da apresentadora Angélica para formular um slogan: "Vou de Taques", repetiam ontem, trocando o táxi da letra pelo sobrenome do pedetista.

3 em 1 A declaração da procuradora Sandra Cureau de que entrou com três ações de inconstitucionalidade contra o Código Florestal para ter mais chance de êxito repercutiu mal no STF.

Bingo "Processo não pode ter sabor lotérico", diz Marco Aurélio Mello. O ministro critica a escolha de três relatores (Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Weber). "A racionalidade cai por terra."

Fora O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, se declarou impedido de decidir sobre a abertura de Processo Administrativo Disciplinar contra o ex-adjunto José Weber, acusado de envolvimento no esquema de tráfico de pareceres investigado na Operação Porto Seguro.

Escala 1 O governo deverá dividir em duas etapas o road-show programado para apresenta a investidores estrangeiros os projetos de concessões do governo na área de logística, a partir de dia 5.

Escala 2 Pequim e Berlim saíram do roteiro, que deverá começar por Nova York e Londres e, após 15 dias, seguir para Tóquio e Cingapura. Um dos motivos da mudança é viabilizar a participação de Guido Mantega (Fazenda) em todas as cidades.

Banho... Concentrado no primeiro mês de governo em mergulhar no funcionamento da máquina da prefeitura paulistana, Fernando Haddad deve seguir conselho de auxiliares e adotar uma agenda de mais eventos externos.

... de povo A fase de contato popular do petista começará com um giro pelas regiões das 31 subprefeituras.

Pódio Filho de José Genoino, Ronan Kayano foi nomeado pelo governo de Haddad para a supervisão técnica da Coordenadoria de Alto Rendimento da Secretaria de Esportes e Lazer da capital, controlada pelo PTB.

Vai que é sua Ao devolver à pauta da bancada do PT o debate sobre a regulação da mídia, Rui Falcão colabora com os que tentam tirar o tema da agenda do Planalto. Petistas entendem que Dilma, a despeito de ter recebido Franklin Martins, entusiasta do assunto, não tratará do marco regulatório agora.

Trégua Beto Richa foi ontem ao STF pedir que Joaquim Barbosa revise texto da súmula vinculante da guerra fiscal, que consta na pauta da corte. O tucano teme prejuízo para o Paraná caso a decisão retroaja, pois isenções negociadas em especial no setor automotivo seriam anuladas.

tiroteio
Estou esperando a presidente Dilma Rousseff convocar cadeia nacional de rádio e TV para explicar o aumento do preço da gasolina.

DO SENADOR AÉCIO NEVES (PSDB-MG), sobre o pronunciamento que Dilma fez para anunciar a redução da conta de luz, que a oposição considerou eleitoreiro.

Contraponto


Alívio imediato


Durante almoço em churrascaria de Brasília, na segunda-feira, Fernando Haddad se queixava ao colega Luiz Marinho das crises que é obrigado a enfrentar no início de governo em São Paulo. O prefeito de São Bernardo, que inicia seu segundo mandato, interrompeu, lembrando da acirrada disputa eleitoral com José Serra, em 2012:

-Resolver problema na administração é coisa boa. Ruim está para o Serra, que perdeu...

Haddad completou, em tom irônico:

-Esse tem sido meu consolo. Toda vez que vejo um problema, penso que derrotei o Serra e fica tudo bem.

Casa de vidro - SONIA RACY


O ESTADÃO - 01/02

E surge em São Paulo novo espaço multiuso para shows, espetáculos e eventos. Batizado, provisoriamente, de Live House, está sendo construído no campo de futebol do Jockey Club e comportará 7,5 mil pessoas – sendo 3,2 mil sentadas.

Projeto da XYZ, em estrutura de vidro, a casa está programada para ser aberta em junho. E virá devidamente aprovada, com alvará, brigada anti-incêndio e todo o necessário para a segurança dos clientes.

Casa 2
Alguns sócios do Jockey, porém, relutam em perder o campo. A diretoria aprovou o processo, mas os que são contra buscam maneiras jurídicas para reverter a decisão.

Em tempo: o Jockey voltou a pagar prêmios para corridas de cavalos, depois de quase um ano sem fazê-lo.

Dois mineiros?
Na conversa que teve com Alckmin– anteontem, em SP –, Aécio agiu como bom mineiro, que reluta em entrar na casa alheia. Como quem não quer nada, colocou três vezes a possibilidade de sair da disputa (rumo à Presidência da República) se o governador desejar ser candidato.

Alckmin, ‘paulistamente’, rejeitou a oferta.

Futebol e samba
Ganha força, em SP, a ideia de todas as escolas de samba do Grupo Especial entrarem na avenida em 2014 com um único tema: a Copa do Mundo. Repetindo fórmula de 2004, quando homenagearam os 450 anos da capital paulista.

Samba doido
No mínimo bizarra, a carteira de clientes do Banco BVA, sob intervenção do BC. Tem até uma empresa chamada Termaq, cujo dono está preso por tráfico de mulheres. E correntista credor encarcerado por orgia com menores.

Existe também crédito de subtenentes e sargentos da Polícia Militar. Quem terá coragem de cobrar esses?

Doido 2
As caridades do BVA estão igualmente registradas. São R$ 60 milhões doados para a Legião da Boa Vontade e R$ 6 milhões à associação religiosa do Bom Jesus, entre outras.

High-tech
Depois das explosões que assustaram os cariocas, o Inmetro decidiu: pesquisadores do instituto usarão sensores para mapear e monitorar… bueiros. Começando por SP.

Check in
Jaime Pinsky, editor de Yoani Sánchez no Brasil, e Dado Galvão– cineasta que fez vaquinha para trazer a cubana ao País – aguardam sinal da blogueira para mudar a data de sua passagem.

Marcada para dia 10, Yoani chegaria no meio do carnaval, o que atrapalharia suas atividades. Pinsky pretende fazer um debate aberto com a blogueira em SP.

Axé
Avenida Brasil em Salvador? Débora Nascimento e Isis Valverde, que contracenaram na telinha, vão se reencontrar… no carnaval baiano. Débora foi nomeada “embaixadora” da marca Seda – dividindo o título com Isis.

Na frente
FHC conversou com Alckmin longamente anteontem à noite. No Bandeirantes.

Equipe da Cinevídeo acompanhou, quarta-feira, homenagem a Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, em Brasília. Para futuro documentário sobre a mulher do escritor.

O Prêmio Governador do Estado acontece segunda-feira, no Theatro São Pedro.

E vem aí novo troféu Leão Verde, da nova/sb. Com assinatura dos Irmãos Campana.

O pub The Sailor faz homenagem ao Domingo Sangrento, ocorrido em 1972 na Irlanda do Norte – com noite dedicada ao grupo U2. Dia 3.

Após sete anos, Sig Bergamin volta à Casa Cor. Em maio, no Jockey Club.

Atração fatal. Ontem de manhã, vários carros começaram a parar, de repente, em frente ao Itamaraty. É que um sagui resolveu atravessar a pista…

Causa & consequência - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 01/02

A expressão dos senadores Pedro Taques (PDT_MT), Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) no gabinete de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) denunciava ontem a escassez de votos. A maioria dos senadores, salvo um cataclisma, se prepara para fazer de Renan Calheiros (PMDB-AL) presidente do Senado no lugar de José Sarney (AP). A dissidência se limita aos pedetistas, ao PSol, a Jarbas, a Eduardo Suplicy, do PT e, ainda, aos dois partidos que têm pré-candidatos a presidente da República, o PSDB do senador Aécio Neves e o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Como na física, cada ação terá uma reação. Os dissidentes — em especial o PSDB, que tem assento reservado na Mesa Diretora — correm o risco de perder o cargo que lhes cabe. O regimento do Senado é claro no que se refere ao respeito à proporcionalidade. O maior partido indica o candidato a presidente e os demais indicam os cargos de acordo com o número de senadores. Como o PSDB não respeitará a decisão do PMDB de lançar Renan, os peemedebistas se mobilizam para eleger Sérgio Souza, do Paraná, no lugar de Flexa Ribeiro, o indicado dos tucanos.

Essa ameaça deixou o ninho do PSDB pra lá de dividido. O partido anseia por voz ativa no Senado. Mas não pode desmoralizar o senador Aécio Neves, que já declarou com todas as letras que a bancada tucana apoiará Pedro Taques. Nesse sentido, há quem diga que a saída honrosa para o PSDB é descarregar votos em Taques para não deixar Aécio sem bancada.

A consequência de tudo isso é que o Senado de Renan começará 2013 dividido. E ninguém sabe se o senador alagoano terá condições de aglutinar seus colegas para assegurar dois anos de tranquilidade na condução da Casa. Sarney, na condição de ex-presidente da República, produzia um certo acanhamento à oposição e poucos ousavam enfrentá-lo. Não se sabe hoje se haverá a mesma deferência a Renan.

O grupo de Jarbas receia que a ascensão de Renan jogue o Senado na agenda negativa onde está hoje o mensalão. E isso não está livre de ocorrer por conta da atitude do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, criticada por muitos, de apresentar o pedido de indiciamento de Renan ao Supremo Tribunal Federal uma semana antes da eleição. Ora, por que não o fez lá atrás?

Apesar das reclamações sobre a atitude de Gurgel, caberá ao futuro presidente da Casa trabalhar com essa realidade. Afinal, o pedido existe e será avaliado pelo STF. E se o Supremo acolher o pedido do Ministério Público? O PMDB não tem hoje uma resposta clara a essa pergunta. A visão da maioria do PMDB é a mesma dos petistas acusados no processo do mensalão, um grupo que viveu — e ainda vive a cada dia — a sua aflição. Um passo de cada vez. Cuidando para que o céu não lhes caia sobre a cabeça.

Enquanto isso, no PT…

A maioria dos petistas vai votar fechada com Renan. Os colegas de partido de Dilma Rousseff passaram a semana aliviados com o foco da mídia voltado para o PMDB do Senado e da Câmara, que tem o deputado Henrique Eduardo Alves candidato a presidente. Assim, abrem 2013 sem reportagens a respeito do mensalão. Uma lufada de ar, diz um integrante do partido, sempre cai bem. A intenção dos petistas é aproveitar esse período para dar aquela respirada e se preparar para os solavancos da área econômica.

E na Câmara dos Deputados…

Ninguém tem mais dúvidas de que o PMDB está a um passo de retomar aquelas divisões que marcaram o comportamento do partido até 2005, quando, em função da crise do mensalão, Lula acolheu a todos em seu governo. O quadro ficará claro no domingo, quando o partido escolherá seu futuro líder. Essa disputa entre Eduardo Cunha, Sandro Mabel e Osmar Terra criou um ambiente litigioso capaz de rebaixar as brigas por espaço interno no passado em meros “mal-entendidos”.

E a Dilma, hein?

Hoje ela ficará bem longe da eleição do Senado. Cada vez mais a presidente se distancia das aflições do Parlamento e do Judiciário e cuida da sua própria sobrevivência política. No Planalto, diz-se que esta viagem de hoje ao Pará estava marcada havia tempos. Ela volta apenas no meio da tarde, quando o presidente do Senado estará eleito.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÒCIOS & CIA

O GLOBO - 01/02

QUATRO MILHÕES COM CARTEIRA ASSINADA DESDE 2003
Formalização observada pelo IBGE na pesquisa de emprego ajudou país a expandir crédito e consumo nos últimos anos

Com os resultados de dezembro de 2012, o IBGE fechou um ciclo de dez anos da nova Pesquisa Mensal de Emprego. O mercado de trabalho nas seis maiores regiões metropolitanas do país (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) tem, agora, um panorama completo de estatísticas, que começa em 2003, inclusive, e termina no ano passado. O saldo é altamente positivo. Nada menos que quatro milhões de trabalhadores conseguiram emprego com carteira assinada no período. Hoje, são 11,287 milhões ocupados formalmente, 53,3% a mais que na média de 2003. A ocupação como um todo cresceu 24%, informa Cimar Azeredo, responsável pela PME/IBGE. As seis áreas metropolitanas tinham 18,520 milhões de pessoas com trabalho naquele ano. Passaram a 22,956 milhões em 2012. O emprego sem carteira, de baixa qualidade, encolheu em 460 mil postos. Esses números explicam fenômenos recentes da economia, como a explosão do consumo e dos financiamentos. "A carteira assinada é passaporte para o crédito", resume Azeredo. As empresas ganham em duas pontas, seguindo as leis trabalhistas. Formalizam-se e conquistam novos clientes.

+5,4 milhões na previdência

Foi esse o total de trabalhadores que passaram a contribuir para o INSS entre 2003 e 2012. A entrada no sistema previdenciário é resultado do aumento do emprego com carteira assinada no país.

Colateral
O salto no consumo de gasolina e a queda no uso do álcool combustível elevaram as emissões de CO2 no país. A Ecofrotas, de gestão sustentável de transporte, estima alta de 10,4% na liberação de gases do efeito estufa em 2012. O volume de emissões saiu de 64,024 para 70,696 milhões de quilos de poluentes de 2011 para 2012.

Eu já sabia
O site Consultoria em Turismo, de Bayard Boiteaux, entrevistou mil estrangeiros que vieram ao Rio, em janeiro. Dois terços eram europeus (38%) ou americanos (30%). Os visitantes aprovaram a segurança em pontos turísticos (45%) e o carioca (25%). Mas reclamaram dos aeroportos (40%), dos preços (28%) e dos taxistas (17%).

Capitalização
A Brasilcap, braço de capitalização do BB, faturou R$ 3,9 bilhões no ano passado. Foi alta de 18% sobre 2011. Somou R$ 6,5 bi em reservas, alta de 23%.

Inovação
A Faperj lançou edital de R$ 10 milhões para apoio à inovação tecnológica. Vale para qualquer atividade produtiva. As inscrições vão até 21 de março; o resultado sai em junho. Este ano, a fundação lançará 45 editais. 

Cultura
O Espaço Cultural Furnas vai investir R$ 1,3 milhão em 21 espetáculos este ano. Fez a escolha entre 380 projetos inscritos. João Bosco, Leila Pinheiro e Roberto Menescal estão entre os selecionados. 

Leilão 
O leiloeiro João Emilio vai vender, como sucata, dois velhos transformadores de energia de Furnas, dia 6. Os equipamentos pesam 289 toneladas e valem R$ 300 mil. Contêm cobre e bronze. 

Acidente 1
Quatro turistas americanos serão indenizados por acidente em 2001, na BR-040, a Rio-Juiz de Fora. A sentença da juíza Kátia Torres, da 30ª Vara Cível, condenou CVC, Concer e Faça Turismo por danos morais, materiais e estéticos. O valor, segundo o escritório Leonardo Amarante, bate R$ 3 milhões. 

Acidente 2 
A CVC diz que laudos comprovam falhas de sinalização e erros da pista. Já a Concer alega ter parecer que aponta imprudência do motorista por alta velocidade. Ambas vão recorrer da decisão de 1ª instância. A Faça Turismo não foi encontrada.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 01/02

Seguro de boates é pouco frequente no Brasil
O mercado de seguros para casas noturnas é pouco aquecido no Brasil, segundo especialistas.

As condições que propiciaram o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), como o material usado no isolamento acústico, seriam recusadas por peritos de seguradoras, que pediriam ajustes antes de assinar os contratos.

Diante das altas exigências feitas pelas companhias do setor para fechar seus contratos de cobertura, as casas de menor porte se desinteressam, de acordo com o diretor-executivo da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), Neival Freitas.

"É um seguro de difícil aceitação. Muitas vezes as empresas não têm condição de cumprir. Ou, em outros casos, não se interessam. É difícil saber", afirma.

A exceção são as grandes casas de shows, que, além de um seguro empresarial de apólices semelhantes às praticadas em outros segmentos, procuram coberturas específicas para cada um dos eventos que realiza.

"O empresarial, que faz parte da carteira de riscos patrimoniais, cobre danos materiais provocados por incêndio, queda de raio e explosão", afirma Freitas.

O seguro de eventos faz parte da modalidade de responsabilidade civil e costuma ter valores maiores. O objetivo é proteger o público.

Entre as situações que passam por análise técnica das seguradoras estão a verificação de portas de emergência, a lotação máxima e o plano para saída das pessoas em caso de pânico.

O material utilizado na estrutura do local como isolamento acústico e divisórias, também são avaliados. São exigidos aparelhos modernos e em bom estado, de acordo com o executivo.

Rede do Rio investe R$ 225 mi em novos supermercados
A rede de supermercados Guanabara, que possui atualmente 23 unidades no Estado do Rio de Janeiro, planeja investir cerca de R$ 225 milhões para a construção de novas lojas.

No projeto de expansão estão previstas mais cinco unidades, todas no Rio, de acordo com Albino Pinho, diretor da companhia.

"A ideia é inaugurar todas as novas em áreas de 10 mil metros quadrados em média, por isso é tão necessário cuidar bem da escolha do local."

Por enquanto, ainda não há planos de expansão para outros Estados, afirma.

Para estimular os negócios, a companhia vai elevar também seus investimentos no Carnaval deste ano.

Serão aproximadamente R$ 12 milhões, ante R$ 7 milhões no ano passado.

Os recursos envolvem estrutura de camarotes para encontros com fornecedores e parceiros, além de programação musical no sambódromo.

No espaço para os camarotes, serão construídos escritórios com isolamento acústicos para reuniões.

FILTRO
A Mann+Hummel, que desenvolve e fornece equipamentos para a indústria de engenharia automotiva e mecânica, está finalizando a aquisição dos 50% da participação da Bosch na joint venture Filtros Purolator.

A transação passará agora pela aprovação das autoridades antitruste dos Estados Unidos, país onde a joint venture foi formada, em 2006.

No ano passado, a Purolator, que produz, desenvolve e vende filtros para automotivos, gerou negócios de aproximadamente US$ 240 milhões de dólares (cerca de R$ 478 milhões).

VENTOS EM DIREÇÃO AO NORTE
O Brasil pode se tornar um dos principais exportadores de peças e equipamentos para parques eólicos mexicanos, segundo a presidente-executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), Elbia Melo.

O México, ao lado de China, Índia, Brasil e África do Sul, é um dos países onde os investimentos continuam crescentes, "ao contrário da grande maioria dos desenvolvidos", diz Melo.

O potencial eólico do país é de 50 GW -hoje apenas 1,2 GW estão instalados.

"A capacidade brasileira de produzir é grande. Poderíamos vender para fora e nos tornarmos um 'hub' exportador para México e Panamá", afirma a executiva.

O Brasil atualmente tem onze fabricantes de peças e equipamentos. Dois deles são nacionais.

"O país é o maior investidor da América Latina em energia eólica, o que atrai as fábricas. Além disso, as empresas também precisam de uma escala grande para instalar uma planta em determinado local."

O México, porém, ainda tem alguns problemas regulatórios que reduzem o ritmo de investimentos, diz Melo.

DINHEIRO EM CAIXA
A SH, fornecedora de formas para concreto, andaimes e escoramentos metálicos voltados à construção civil, disponibilizará aproximadamente R$ 60 milhões neste ano para investimentos em suas plantas e seus produtos.

Do montante, 15% serão utilizados em novos equipamentos e mais R$ 9 milhões na unidade recém-inaugurada da companhia, no Pará. O restante será injetado nas outras unidades da empresa.

O aporte deverá proporcionar um crescimento de 24% no faturamento deste ano ante 2012, que foi de R$ 200 milhões, diz a fornecedora.

O foco são as obras de infraestrutura geradas pelos eventos esportivos que o Brasil irá receber nos próximos quatro anos, além do Norte do país, que está demandando tecnologia.

"A região tem muita necessidade de desenvolver infraestrutura, existem grandes investimentos em mineração, siderurgia, obras de energia, inclusive, Belo Monte", afirma Paulo Lago, da SH.

Dinheiro... 
O percentual de famílias da região metropolitana do Rio de Janeiro com sobra no orçamento após o pagamento de todas as despesas foi de 43% em dezembro do ano passado, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ. No mesmo mês de 2011, o percentual havia sido de 46,9%.

...sobrando 
A porcentagem de famílias em condição de pagar suas despesas foi de 39% (em 2011) para 41,6% em dezembro passado. Os principais planos para a sobra foram: guardar para consumir no futuro (34,2%), gastar com lazer (34,1%) e poupar para uma eventualidade (26,6%).

APARTAMENTO NAS ALTURAS
O Rio de Janeiro foi a décima cidade mais cara do mundo para se locar, no ano passado, um apartamento de alto padrão com três quartos, segundo pesquisa da Eca International, especializada em gestão de expatriação.

Em 2011, o Rio havia ficado em 12º lugar. São Paulo não apareceu no ranking das 20 com os maiores aluguéis.

Caracas foi a mais cara do continente americano, tendo ultrapassado Nova York.

Os preços na cidade subiram cerca de 30% no ano passado devido à falta de imóveis adequados e à crescente indústria do petróleo, de acordo com a consultoria.

Na Europa, Moscou é a cidade com os maiores preços. O aumento da população expatriada e a oferta reduzida de apartamentos elevaram as taxas de aluguéis nos últimos três anos.

Economia mais fraca já afeta mercado de trabalho - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO

VALOR ECONÔMICO - 01/02

Apesar de ter motivos para comemorar a criação de 1,3 milhão de postos de trabalho em 2012 e a queda da taxa de desemprego para o nível recorde de 4,6% da população economicamente ativa (PEA) em dezembro, o governo precisa moderar o entusiasmo porque o que mais temia pode estar começando a acontecer: a desaceleração da economia já parece afetar o mercado de trabalho.

A influência da economia mais fraca ficou evidente no recente Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que apura a movimentação dos trabalhadores com carteira assinada. Dezembro é um mês em que as demissões costumam superar as contratações, em consequência da entressafra agrícola, término do ciclo escolar e dispensa de temporários contratados nos meses anteriores.

Desta vez, porém, a perda de empregos foi maior do que a sazonalidade sugeria e surpreendeu até os especialistas.

Foram fechadas 496.944 vagas em dezembro, principalmente em setores que vinham puxando o Produto Interno Bruto (PIB) ou estavam sendo estimulados pelo governo - serviços, construção civil, agropecuária e indústria da transformação.

Apesar da vizinhança do pleno emprego, o balanço do ano deixou a desejar. Foram criados 1,301 milhão de postos com carteira assinada em 2012, o que representou um crescimento de 3,43% em relação ao estoque existente em 2011. O governo procurou ressaltar que o total de empregos formais criados desde o início do governo do PT, em 2003, atingiu 18,928 milhões. O número de postos criados em 2012, porém, é 33% menor do que o de 2011, que foi de 1,944 milhão, e o menor desde 2009, auge da crise internacional, quando foram abertos 1,296 milhão de empregos.

Para este ano, o governo espera uma recuperação e a criação de 1,7 milhão a 1,8 milhão de empregos, chegando a 2 milhões se forem incluídas as vagas no setor público, em consequência das medidas adotadas para amenizar a crise, como o corte dos juros, as desonerações e os investimentos em infraestrutura programados.

No entanto, setores pioneiros nas desonerações tiveram desempenho ruim em produção e faturamento (Valor, 23/1) e também em contratação de mão de obra. A indústria da transformação aumentou o número de empregados com carteira assinada em apenas 1% entre 2011 e 2012, o equivalente a 86,4 mil vagas, depois de ter demitido 178 mil apenas em dezembro. Fabricantes de calçados, que contam com a desoneração da folha de pagamentos desde o fim de 2011, cortaram 9,6 mil empregos no ano passado, após terem ceifado 9,5 mil em 2011. A indústria têxtil e do vestuário, também favorecida pela desoneração, manteve o número de postos de trabalho praticamente estável - na verdade, cortou 380 vagas.

No balanço feito pelo Valor, a despeito da desoneração da folha, os setores de confecção e de calçados acompanharam o desempenho da atividade industrial. A vantagem proporcionada pela renúncia fiscal de R$ 1 bilhão, decorrente da troca da contribuição de 20% do valor da folha salarial ao INSS por uma alíquota de 1% sobre o faturamento, permitiu, contudo, um ganho de margem para as empresas ou foi usada para segurar os reajustes de preços.

O setor de serviços foi responsável pela criação do maior número de vagas no ano passado, 666,1 mil; seguido pelo comércio, com 372,3 mil; e pela construção civil, com 149,3 mil. Esses dois últimos setores foram incluídos no programa de desoneração da folha de pagamentos do Plano Brasil Maior em dezembro, e o benefício deve entrar em vigor dentro de dois meses.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE também foi motivo de comemoração pelo governo ao registrar a redução da taxa de desemprego de 4,7% para 4,6% da população economicamente ativa (PEA) entre dezembro de 2011 e igual mês de 2012, nas seis regiões metropolitanas avaliadas. Na série livre de efeitos sazonais, foi detectado, porém, um aumento da taxa de desemprego na margem, de 5,4% para 5,6%, entre novembro e dezembro.

No entanto, a população ocupada continua crescendo ligeiramente mais do que a PEA, 3,1% e 3%, respectivamente, sinalizando que o mercado de trabalho continua apertado, apesar do aumento do desemprego na margem, e justificando a firmeza dos salários.

A experiência dos setores de calçados e vestuário sugere, porém, que o governo deveria monitorar de perto o resultado das desonerações de modo a garantir uma contrapartida em empregos e benefícios aos consumidores.