sábado, novembro 10, 2012

Falar em público - MARTHA MEDEIROS

JORNAL DE SANTA CATARINA 10/11


Uma amiga me pede socorro: foi convocada a falar por 20 minutos num evento profissional, ela que nunca palestrou ou participou de qualquer debate com plateia. Está assustada e me pede uns truques para combater o nervosismo. Sei que há cursos de oratória para ajudar as pessoas a relaxarem nessas situações, mas não há tempo hábil para tomar aulas. O evento é pra já – a essa altura, já foi, inclusive.

O que se diz a uma amiga nessa hora? Procure ter segurança sobre o conteúdo da sua fala, não se preocupe com o que os outros estão pensando (eles também não estariam à vontade no seu lugar) e, principalmente, tenha consciência de que uma palestra é só uma palestra, não serão por esses 20 minutos que você será avaliada no Juízo Final.

Mas é fácil falar. Melhor dizendo: não é fácil falar, não em frente a outras pessoas. Depois de anos de prática, hoje em dia já não me estresso, mas, no início, madrecita, era um castigo. A boca secava num grau que me impedia de articular as palavras com desenvoltura. No meio da conversa, eu ficava em pânico com a possibilidade de perder o fio da meada, e acabava perdendo, claro. Tinha pavor de estar sendo analisada pelo que estava dizendo, e mais ainda pelo que não era o assunto em pauta: minha excessiva gesticulação, por exemplo. Sempre falei rápido, e nessas ocasiões, aí é que virava uma metralhadora: tinha pressa em acabar logo com aquilo. E havia a tosse. Assim como as pessoas sentem compulsão de tossir durante peças de teatro, eu, lá pelas tantas, começava a sentir a garganta arranhar e a expectoração tinha início. Na maioria das vezes, eram pigarros inocentes, mas teve uma vez em que estava dando uma entrevista pra tevê e tive que encerrá-la por absoluta incapacidade de seguir adiante. Vexame, vexame.

Algumas pessoas se sentem mais seguras se há algum conhecido no recinto: a esposa, o marido, um colega. Eu, ao contrário, me sinto mais tranquila – ou menos aflita - diante de estranhos. Sempre me apavorou a ideia de decepcionar meus afetos mais íntimos. Logo, pode-se imaginar o meu estado de nervos quando, em 1999, recebi uma homenagem da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre e na plateia se encontrava pai, mãe, irmão, cunhada, madrinha, tias e todas as melhores amigas: a máfia reunida. Na hora de agradecer os discursos feitos em plenário, falei por cronometrados dois minutos, nem um segundo a mais – e entre gaguejos. Vexame, vexame, vexame.

Não era timidez, e sim imaturidade. Não tolerava a ideia de errar, o que é uma autoexigência absurda. Ora, erramos. Trememos. Dizemos bobagens. Não somos doutores em nada, e sim pessoas esforçadas, o que já é um valor. Se alguém tem interesse no que temos a dizer, isso, por si só, já deveria tranquilizar: estamos apenas atendendo a um gentil convite para dividirmos nossa opinião e nosso conhecimento com os outros. Palco, púlpito e microfone são intimidantes, mas não passam de instrumentos para facilitar a comunicação. O segredo, que nem é segredo, é procurar se divertir e não levar esses poucos minutos de visibilidade tão a sério.

Minha amiga acabou se saindo muito bem. Já esqueceu o sofrimento e está pronta para outra. Sabia. Depois que os fantasmas são exorcizados, a vida destrava.

Morangos que não mofam - CLÁUDIA LAITANO

ZERO HORA - 10/11


A moedinha número 1 da minha coleção de livros é uma edição barata e já amarelada de Morangos Mofados. Caio Fernando Abreu foi uma paixão avassaladora da minha adolescência, e esse pequeno volume de contos que ele lançou em 1982 foi o primeiro livro que eu comprei – e também o primeiro que alguém autografou para mim: “Prá Cláudia, por exemplo, 1 Beijo, Caio Fernando Abreu, 82”.

Eu com 16 anos, meu autor favorito com 34, um encontro, um olhar de cumplicidade (“ninguém te entende como eu...”), uma assinatura, uma lembrança guardada para sempre... Bom, mais ou menos.

O problema é que eu não tenho a mais remota recordação desse encontro. Onde eu pedi esse autógrafo? Quando? Estava sozinha? Disse alguma coisa terrivelmente adolescente sobre como o livro tinha mudado a minha vida ou congelei envergonhada? Que impressão eu tive do autor diante de sua versão não impressa? Zero. Zip. Nada. Não tem registro.

Há um enorme descompasso entre a memória clara e bem definida da forte impressão causada pela leitura dos livros de Caio naquela época e a eliminação sumária da lembrança do nosso primeiro e único encontro. Sou dessas pessoas que guardam melhor sensações e sentimentos fortes do que fatos e cronologias, mas gosto de pensar que nesse episódio específico meu inconsciente decidiu por conta própria que, entre o autor e a obra, ficaria com a segunda.

A experiência de ficar perto do escritor, falar com ele talvez, tornou-se menos importante do que os seus livros e teria se perdido completamente não fosse essa assinatura que está aqui na minha frente agora enquanto escrevo – exatamente 30 anos depois daquele momento que eu esqueci de lembrar para sempre.

Algumas pessoas tatuam a assinatura dos ídolos na própria pele, o que é uma forma radical de literalmente incorporar uma experiência estética marcante. Outras já nem mais pedem autógrafo, preferindo apenas a fotografia, um registro para ser compartilhado e que, de certa forma, é um laço permanente, nem que seja pelo nanossegundo do clique de um celular. (Nos últimos dias, participei de três sessões de autógrafos, em três cidades diferentes, e não seria exagero dizer que mais tirei fotos do que distribuí autógrafos – ou que pelo menos deu empate técnico. )

É sempre uma experiência muito intensa essa de duas pessoas que não se conhecem e que tentam, em poucos minutos ou segundos, recriar uma comunicação que até ali existia apenas na intimidade silenciosa da leitura. A assinatura, em geral, é apenas um pretexto, de quem escreve e de quem lê, para transportar uma ligação abstrata e “pura” para o universo concreto do toque, do olhar, da troca de impressões mútuas – ainda que superficiais e incompletas.

Todos esses detalhes se perdem com o tempo. Vão-se os sorrisos, os olhares, os abraços afetuosos, as declarações de devoção profunda e eterna. Ficam a assinatura, uma saudação cordial, e agora talvez uma foto no Facebook também. Mas tudo isso é quase nada comparado com aquele momento único em que o leitor encontrou-se – a sós e em silêncio – com a melhor versão possível de um escritor: o livro que ele escreveu.

Transar e correr em São Paulo - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 10/11


Os atletas estrangeiros não entendem se eram "saudados como heróis ou ridicularizados como otários"


"Vim morar no Brasil por uma razão: sexo!"

Pesquei esse fragmento de conversa em um jantar recente onde era o único brasileiro.

Um grupo de correspondentes estrangeiros em São Paulo se reunia para recepcionar um jornalista importante, também de fora do Brasil, que passava uns dias na cidade.

Um dos gringos presentes, meu amigo, me chamou. Quinta-feira, dia complicado no trabalho, mas não ia perder essa. Saí tarde da Redação, cheguei com o jantar quase no final, caipirinhas fervendo nas sinapses anglo-saxônicas. Escutei a frase que abriu esta coluna, em inglês, quando me aproximava da mesa.

Nascido e criado na capital paulista, sempre tive essa dúvida: "Por que um estrangeiro vem espontaneamente morar no Brasil, especialmente em São Paulo?".

Fiz uma brincadeira qualquer, me apresentei à turma. No íntimo, pensei: "Sexo! É claro!".

Rio, Jericoacoara, Arembepe, esses destinos até consigo compreender. Têm uma beleza natural tão avassaladora, e um modo de vida tão distante de EUA e Europa, que faz sentido um europeu/americano despencar ali em busca de uma virada total na vida.

Mas... São Paulo? É uma metrópole como qualquer outra, e, pior, provavelmente mais feia, suja e insegura. Uma de suas poucas atrações, a vida noturna, torna-se cada vez mais perigosa, com arrastões, violência fora de controle etc.

Sentei à mesa dos gringos meio com vergonha, mais ou menos como o chefe que leva a sério convite para tomar um chope com a equipe, chega bem na hora em que estava sendo malhado, e aí deixa o povo sem assunto.

Por sorte, os estrangeiros já estavam suficientemente bêbados para pouco se importar com minha presença. Expliquei quem eu era, que trabalhava no "Fantástico" e que também escrevia esta coluna na Folha. O mais jovem, aquele que tinha vindo morar no Brasil para pegar gente, perguntou em que dia. "Sábado." "Ah, nunca vi. Sábado eu não leio jornal. Estou sempre de ressaca."

Vou generalizar, peço desculpas, mas costumava dividir os estrangeiros que vivem no Brasil em dois tipos:

1) os indignados, que, por mais tempo que passem aqui, não se conformam com a malemolência e a desorganização;

2) os deslumbrados, que gostam do Brasil justamente por suas mazelas, curtem um sambinha, vão morar em um barraco e acham tudo bonito.

Mas essa é uma divisão antiga. Esses moradores estrangeiros de hoje parecem enxergar melhor os prós e contras da vida brasileira/paulistana. Vou dar mais um exemplo.

O jornalista americano Seth Kugel mora parte do ano em São Paulo. Ele tem um blog (na verdade, vários, mas eu acompanho só um) em que relata suas experiências por aqui.

Esclareço que não conheço Kugel. Apesar de, aparentemente, termos amigos em comum, nunca o vi mais gordo.

Pois bem, em um post recente, ele descreve como convenceu um colega de infância, Doug, também dos EUA, a passar uns dias em São Paulo e a tentar amar a cidade (leia em is.gd/vPbuuq).

Depois dos esperados sustos com a monstruosidade do trânsito e da poluição ("estilo Cidade do México em 2006", segundo Doug), vêm elogios à comida, à onipresença de lugares servindo cafezinho e até ao espírito gregário dos paulistanos (só um gringo mesmo para achar isso; brasileiros de outros Estados nos julgam fechados demais).

Até que Doug propõe uma espécie de desafio. Que, em vez de pegar ônibus, eles percorressem correndo os oito quilômetros que separam o centro do parque Ibirapuera.

Aí eu me identifiquei. É que, de um ano para cá, tenho feito o mesmo ao chegar a qualquer cidade. Em Sapporo (Japão), Frankfurt, San Juan (Porto Rico), Los Angeles, no Rio... É só sair correndo que dá certo.

Nessas horas, penso: "Será que um estrangeiro conseguiria fazer o mesmo em São Paulo?". Fiquei feliz por Seth e Doug tirarem a prova.

A corrida deles é uma tortura, "desviando do tráfego, da fumaça dos ônibus e dos olhares incrédulos". Uma galera em um boteco começa a gritar. Os atletas não entendem se eram "saudados como heróis ou ridicularizados como otários". Cobertos de fuligem e quase surdos, acabam chegando ao "Ibira". Kugel resume: "Brutal".

Mais tarde, caíram na noite para relaxar. Sou capaz de apostar que se deram bem. Lembra da primeira linha deste texto?

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV 10/11


8h - Copa do Mundo de natação, etapa de Singapura, SporTV 2

8h - Itália x Tonga, rúgbi (amistoso), SporTV 3

10h40 - Leicester x Nottingham Forest, Inglês (2ª divisão), ESPN Brasil

11h - MotoGP, treino classificatório do GP de Valencia, SporTV

11h - São Paulo x Mogi Mirim, Paulista sub-20, RedeTV!

11h45 - Finais da ATP, tênis, SporTV 2

12h - Clermont x Toulon, rúgbi, Bandsports

12h30 - Stoke City x Queens Park Rangers, Inglês, ESPN Brasil

12h30 - Bayern x Frankfurt, Alemão, ESPN

12h30 - Augsburg x B. Dortmund, Alemão, ESPN +

13h - Arsenal x Fulham, Inglês, Fox Sports

13h - Grand Prix de judô, etapa de Amsterdã, SporTV

14h30 - Andreoli Latina x Trentino, Italiano masc. de vôlei, Bandsports

15h30 - Aston Villa x Manchester United, Inglês, ESPN Brasil

15h30 - Irlanda x África do Sul, rúgbi (amistoso), ESPN +

16h20 - Goiás x Barueri, Série B, Band (menos GO)

17h - Zaragoza x La Coruña, Espanhol, ESPN

17h - Macaé x Paysandu, Série C, SporTV

17h15 - Finais da ATP, tênis, SporTV 2

17h30 - Bergamo x Chateau d'Ax Urbino, Italiano fem. de vôlei, Bandsports

17h45 - Pescara x Juventus, Italiano, Fox Sports

18h30 - Wladimir Klitschko x Mariusz Wach, boxe (peso-pesado), ESPN Brasil

19h -Málaga x Real Sociedad, Espanhol, ESPN

19h30 - Atlético-GO x Santos, Brasileiro, SporTV (menos GO)

21h30 - River Plate x Unión Santa Fé, Argentino, Fox Sports

23h07 - Notre Dame x Boston College, futebol americano universitário, ESPN +

0h30 - Martirosyan x Lara, boxe, SporTV

PRANCHETA PAULISTANA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/11

Um dos primeiros secretários municipais que o prefeito eleito Fernando Haddad (PT-SP) deve anunciar nos próximos dias é o do Desenvolvimento Urbano. A escolha recaiu sobre o arquiteto Fernando de Mello Franco.


PRANCHETA 2
Mello Franco será o responsável por implantar uma das principais promessas de Haddad na campanha: o Arco do Futuro. Formado pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), ele foi professor-visitante em Harvard, membro do conselho de curadores da Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã e curador do Instituto Urbem.


NADA OFICIAL
A assessoria de Haddad não confirma a informação.


MINHA CASA
E na próxima segunda o prefeito eleito tem audiência com Aguinaldo Ribeiro, ministro das Cidades, em Brasília. Ele é do PP de Paulo Maluf. E foi o indicado pela legenda, em São Paulo, para conversar sobre eventual participação do partido na administração municipal. Os dois devem conversar também sobre a possibilidade de incrementar o programa Minha Casa, Minha Vida em SP.


BUMBÃO DA LADY
Lady Gaga resolveu bancar o ônibus para levar moradores do morro do Cantagalo a seu show, no Rio, ontem. Depois de visitar a comunidade, ela ordenou que 200 convites fossem distribuídos para moradores do local. Todos para a área VIP.


PNEU
A cantora deu um de seus cartões de crédito a Jânio Quadros Neto para que ele providenciasse o transporte.


CONSTELAÇÃO
Jânio é neto do ex-presidente da República. Com uma ampla rede de contatos no Brasil e no exterior, já trabalhou na recepção de estrelas como U2, Madonna e agora Lady Gaga. De algumas delas, virou amigo.


REI DAS AMÉRICAS
O cantor Roberto Carlos fará um show "extra" em São Paulo, mas só para 3.000 convidados. Será em 4 de dezembro, na festa de reinauguração do Espaço das Américas, na Barra Funda.


SUSTO
Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), réu no processo do mensalão, diz que sofreu uma ameaça de morte, anteontem, no centro de SP. Ela estacionava sua lambreta quando uma moto com dois homens parou. Um deles teria levantado a blusa e mostrado uma arma. "Ele falou: 'Se você der um pio sobre o mensalão, sobre as contas no exterior, vou te apagar'."


SUSTO 2
Ela descarta a participação de Valdemar na ameaça. "Não acho que ele esteja envolvido." Afirma que fez um boletim de ocorrência e que vai deixar o país. "Já apaguei minha conta no Facebook e vou para os EUA até o julgamento passar. É pena porque queria acompanhar o começo do governo de Haddad."


EXPORTAÇÃO
O maestro João Carlos Martins foi tema de reportagem no site CNN Heroes, sobre líderes humanitários.


TUDO MISTURADO
A 20ª edição do festival Mix Brasil foi aberta anteontem com a presença do ator francês Stéphane Rideau e do diretor Gaël Morel, do mesmo país. A atriz Fabiula Nascimento e as artistas Cindy Butterfly e Tchaka Drag também foram ao Cinesesc, na rua Augusta, para a primeira sessão.


TOM DE VINTÉM
O americano Bob Wilson dirige "A Ópera dos Três Vinténs", que estreou no Sesc Pinheiros na terça. A atriz Arieta Corrêa foi assistir e Antonio Fagundes levou o filho, e também ator, Bruno.

CURTO-CIRCUITOO Cine Joia comemora um ano com festa "black tie", hoje, às 23h. 18 anos.


A banda Cia Mil Cento e Onze comemora amanhã aniversário com show na She Rocks, no Itaim. Classificação etária: 18 anos.


Alexandre Nero faz o show "Os Três Temores", com André Abujamra e Carlos Careqa, às 20h, no Sesc Osasco. Dez anos.


A revista "Joyce Pascowitch" comemora seis anos com festa amanhã na Fundação Ema Klabin.


A Faber-Castell participa da conferência Pixel Show, hoje e amanhã, na Fecomercio, em São Paulo.

A deferência da presidente - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 10/11


Quando passa a ser comum os políticos governistas e oposicionistas envolvidos em escândalos ou derrotados nas urnas xingarem a mídia, não deixa de ser reconfortante um discurso de Dilma em defesa da imprensa brasileira


De tão comum, parece bobagem. Mas é um motivo de orgulho ouvir da presidente Dilma Rousseff a necessidade do país em ter a imprensa livre. É que tal coisa nem sempre é corriqueira, especialmente quando se trata de políticos, de esquerda ou de direita, no atual momento da América Latina.

Temos uma presidente que faz questão de ressaltar o papel da imprensa, que não tem vergonha de dizer, sim, eu leio jornais — como no episódio da foto do bilhete endereçado a ministras cobrando explicações sobre reportagens — e que, assim, mostra-se naturalmente forte.

Dilma, mesmo sem querer, e neste caso até não deve querer, diferencia-se de Hugo Chávez, Rafael Correa e Cristina Kirchner. E também de integrantes do próprio partido, o PT, que, ao serem alvos de reportagens, vão para cima de jornais, como se isso os fosse livrar de eventual culpa no cartório.

Na última quarta-feira, Dilma disse o seguinte: “Estou convencida de que mesmo quando há exageros, e nós sabemos que em qualquer área eles existem, é sempre preferível o ruído da imprensa livre ao silêncio tumular das ditaduras”. Mais uma vez, parece, o óbvio. Mas não é. Aos fatos.

A todo instante um ou outro petista — não são todos, evidentemente — sacam críticas à imprensa, como se os jornais fossem a Geni da vez. Se um dia a imprensa foi importante para parte deles, quando eram da oposição, hoje serve apenas para ser xingada em praça pública. No caso, em comícios.

Foi isso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, por exemplo, durante um ato ainda em 2010, quando apresentava a então candidata Dilma aos eleitores. Na ocasião, Lula afirmou que, além de tucanos, serão derrotados “alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não têm coragem de dizer que não são partido político”. Outras críticas foram feitas antes e depois.

Fumaça
O curioso é que o candidato tucano de então, o ex-governador José Serra, foi o mesmo a reclamar da imprensa dois anos depois, ao enfrentar o petista Fernando Haddad. Serra discutiu com repórteres e colunistas nos momentos finais do segundo turno da campanha deste ano, quando as pesquisas o apontavam como derrotado à prefeitura de São Paulo. Parecia claramente impaciente.

Todos têm o direito, caso queiram, de eleger inimigos, citados até em orações. Faz parte do jogo eleitoral e da vida, pois. Mas o que não vale é simplesmente escolher adversários para levantar a cortina de fumaça sobre os próprios erros. Soa falso, antiquado, ditatorial, para usar uma referência do discurso de Dilma da última quarta-feira, durante a abertura da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção.

A imprensa não pode ser culpada por derrotas de candidatos ou condenações, neste caso como vêm sugerindo gente ligada de alguma forma aos réus do mensalão. Aliás, o papel de bons repórteres é ficar longe de tais discussões, afinal, isso pouco ou nada interfere no trabalho de uma redação. Assim, é apenas ridículo para os políticos irem para cima da mídia. Cada um que responda pelos erros.

É por isso que o discurso de Dilma, por mais trivial, é tão importante. Ela colocou a imprensa no devido lugar, o de estimuladora do debate e de fiscalizadora. “A democracia brasileira conta com instrumentos sólidos, como a respeitada Controladoria-Geral da República, os tribunais de contas, um MP independente, uma Polícia Federal atuante e uma imprensa livre”, disse ela.

Repórteres de verdade, que vivem do jornalismo, agradecem a deferência da presidente.

O conto em questão - SILVIANO SANTIAGO

O ESTADÃO - 10/11


Adjetivemos a polivalente Lydia Davis. Ela foi casada com o conhecido romancista norte-americano Paul Auster. Tiveram filhos. Traduziu para a língua inglesa obras de Gustave Flaubert, Marcel Proust, Maurice Blanchot e Michel Foucault. O prefácio dela para a tradução que fez de Madame Bovary foi republicado pela Companhia das Letras à entrada da recente edição do romance francês e é notável por ser preciso e conciso. Recomendo-o.

Saltemos para o lado substantivo da polivalência. Nascida em 1947, Lydia é, no campo do conto (short-story), a figura mais destacada de sua geração. Para considerá-la como tal, o leitor deve desconstruir a tradição do gênero conto que é garantida, na língua inglesa, pelo adjetivo "short". Deve só prestigiar o substantivo "story", que se lhe segue. Ela já publicou quatro coleções, atualmente reunidas em The Collected Stories of Lydia Davis (Farrar, Straus and Giroux, 2010).

Ao pé da letra, Lydia não escreve "short-stories", escreve "stories". Não escreve contos nem poemas em prosa. Não escreve textos, abomina a palavra; tampouco escreve fábulas, teme o perigo de o leitor sair em busca da moral. Escreve estórias, daí o caráter excêntrico da sua produção literária. Afirma que a etiqueta "conto" perdeu o sentido. Significa um gênero de texto literário a que nos acostumamos ao crescer. Explica-se: cresci admirando conto definido por personagens, diálogo e cenário; cresci admirando Chekhov, Flannery O’Connor e Guy de Maupassant.

Hoje, continua ela, não estou mais interessada em criar um relato composto de cenas que retratam personagens dialogando em dado ambiente. Tais cenas lhe parecem artificiais, embora admire alguns prosadores que deixam a artificialidade criar cenas que ela julga artificiais. Sua poética não é um prêt-à-porter. É dela. Em contexto de mistério, suas estórias narram até à exaustão um acontecimento isolado. Imaginem uma bailarina. Traz a perfeita técnica da dança na ponta dos pés. Esqueceu a coreografia. Quer recuperá-la com classe e dignidade. Faz rodopios endiabrados num espetáculo em que o enigma do drama agarra o espectador pela comicidade involuntária.

Seus narradores, na maioria mulheres, seriam obsessivos? São, e talvez mais que isso. Críticos os qualificam de autistas. Não procuram entusiasmar o leitor com a intenção de levá-lo a desejar apreender o cerne emotivo da trama (the emotional heart of the matter).

A estória que empresta título ao livro Samuel Johnson Está Indignado (2001) é bom exemplo. Ela se compõe de título, o mencionado na capa do livro, mais dois pontos e uma frase: "por haver tão poucas árvores na Escócia". A frase não foi inventada por Lydia; foi tirada da famosa biografia de Samuel Johnson escrita por James Boswell. A frase é dos dois; a estória, dela. E esta sugere ao leitor que a indignação de Johnson não é a que está expressa por célebre tirada, "O patriotismo é o último refúgio de um canalha", mas a que se transmite pela discrição e a visão de futuro. Transforma o rabugento autor clássico num bem-humorado indignado, favorável à melhoria do meio ambiente.

Tamanho da estória não é, pois, documento. Estilo e humor de Lydia têm a ver com a atividade de deixar a inteligência descascar a linguagem, tal como na prosa e nas peças de Samuel Beckett, seu ídolo. Samuel Johnson Está Indignado: é uma estória que não perfaz um conto; é uma frase/ pensamento do biógrafo sobre a indignação do biografado, descascada como laranja pela leitura. Um nutriente puro é dado ao leitor. A inteligência governa a criação, afirma Lydia, mas na origem da escrita, se se quiser chegar a uma boa estória, tem de haver um sentimento forte. Este - esclarece ela - pode ser uma curtição (delight) com a linguagem.

O aspecto exterior da experiência vivida também não é documento. Não é o mundo que é real, é a vida. Na condição de tradutora, Lydia habituou-se a trabalhar com livros alheios e em língua estrangeira. O fato de viver dia sim, dia não com outra língua, outra gramática e outra sensibilidade literária, somado à tarefa de ter de redigir na língua materna dentro das constrições determinadas pelas escolhas estilísticas de um Marcel Proust, por exemplo, tornaram-na hiperconsciente do que pode ser feito de original em prosa inglesa.

Numa estória, Lydia pode combinar um trecho de tradução livre com as suas digressões, ou as próprias digressões com dois ou mais textos alheios. A trama da estória nasce e respira entre as linhas da tradução de textos alheios e das digressões pessoais. O todo nunca é o factual. Aprende-se mais lendo a correspondência de um escritor que sua biografia. Das cartas escritas por Flaubert à amante, Louise Colet, ela retirou dez passagens curtas e autossuficientes. Traduziu-as livremente (ao contrário do que tinha feito com Madame Bovary) e enquadrou cada uma delas. Deu-lhes outra forma estilística, emprestando vida e atualidade à velha estória de outro.

Na última coleção de estórias, Variedades de Perturbação (2007), Lydia passou a trabalhar mais com a própria invenção. As estórias são longas ou continuam curtas. Depressão Primaveril tem duas linhas: "É uma sorte que as folhas cresçam tão depressa. Em breve, estarão escondendo minha vizinha e o bebê-chorão do filho dela".

Diário de Cape Cod é composto de dois diários de viagem que se tornam cúmplices no desejo de se escrever um ensaio. Durante as férias, a narradora retoma os passos e as anotações de um viajante estrangeiro de passagem por Cape Cod para escrever um ensaio, que se transforma noutro diário. A solidão e a hostilidade do ambiente marítimo de ontem produzem hoje tempestades novas, fatos estranhos e encontros inesperados. Alertaram os cinco sentidos do viajante e alertam os da sua leitora e ensaísta. Os diários são pulsantes e vivem em ritmo de prontidão.

Coisas para pensar antes das férias - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 10/11


Relatório indica que atos homossexuais entre adultos configuram crime em 77 países ao redor do mundo


Todo turista tem obrigação de respeitar as leis dos países que visita. Ninguém quer sair do Brasil em férias para se meter em encrenca na terra dos outros, certo?

Se você estiver pensando em uma viagem internacional e for homossexual, ou tiver amigos homossexuais viajando com você, saiba que, a depender do destino escolhido, você pode involuntariamente envolver-se em confusão.

A Associação Internacional de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ILGA) divulgou relatório recente, de autoria do brasileiro Lucas Paoli Itaborahy, sobre a criminalização da homossexualidade no mundo. De acordo com o relatório, atos homossexuais entre adultos configuram crime em 77 países -40% da ONU.

Quer passar uns dias com o namorado em uma praia no Caribe? Lembre-se de que vários países caribenhos criminalizam atos homossexuais. Na Jamaica, por exemplo, um homem que faça sexo com outro pode ser condenado a até dez anos de cadeia. Ilhas como Barbados e Trinidad e Tobago têm legislações semelhantes. A proibição da homossexualidade foi introduzida na região por colonizadores ingleses de moral vitoriana. E nunca foi abolida. Portanto, se quiser namorar olhando para o mar do Caribe sem quebrar a lei, melhor escolher uma ex-colônia francesa.

Pensou em fazer um safári? Para ficar dentro da legalidade, melhor ir para um parque nacional na África do Sul, que regulamentou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2006, ou no Maláui, que aboliu a criminalização nesta semana. Países como o Quênia ou Uganda têm animais e paisagens magníficos. Mas uma viagem romântica para lá pode acabar mal. No Quênia, os chamados "atos antinaturais" são puníveis com prisão de até 14 anos. Em Uganda, a legislação é ainda mais rígida.

Pretende conhecer o Mediterrâneo nas próximas férias? Tenha em mente que, em alguns países do norte da África e do Oriente Médio, a criminalização de práticas homossexuais é severa. Para não ferir a lei, talvez seja mais prudente ir à Espanha, onde ser homossexual é permitido, do que à Argélia ou Tunísia, onde sexo entre homens é crime.

Mas há países em que a homossexualidade pode render inconveniências ainda mais graves que encarceramento. No Irã, na Arábia Saudita e no Iêmen, atos homossexuais podem ser punidos com pena de morte. Simples assim.

Não vale a pena arriscar.

A variação no tratamento legal dado à homossexualidade em diferentes países é enorme. Atos protegidos em um lugar são puníveis com execução em outro. No mundo globalizado, no qual as viagens internacionais são frequentes, a existência de leis contra atos homossexuais pode criar dificuldades jurídicas para brasileiros desavisados.

Dirão que tais penas são raramente aplicadas. Mas o fato é que elas existem, são severas e estão em vigor. Por isso -e em respeito às leis dos outros países-, melhor não arriscar. Afinal, são férias, e ter direitos assegurados ajuda a relaxar.

Da palmatória à alunocracia - ISRAEL FERREIRA DOS SANTOS

CORREIO BRAZILIENSE 10/11


Houve uma época no Brasil, de dolorosa memória, na qual o professor lançava mão de castigos físicos para impor o aprendizado. Hoje, o pêndulo autoritário moveu-se para o outro extremo: são os alunos que ditam o que (não) querem aprender. Uma silenciosa e devastadora inversão de papéis e valores está em curso, deteriorando a já combalida educação pátria.

O fenômeno, de escala nacional, perpassa indistintamente tanto a escola privada quanto a pública, salvo honrosas exceções. Pode ser resumido de forma simples e assombrosa: os alunos, em geral, rechaçam o dever mínimo de estudar para aprender. O que importa é passar, obter um diploma sem significativos esforços intelectuais. Bane-se a meritocracia e instala-se, de maneira ditatorial, a alunocracia.

Todos os governos, sem exceção e independentemente de coloração partidária, se elegem sob o mantra da “prioridade à educação”. Nesse kit eleitoral sempre consta a decantada “valorização dos professores”. É evidente que, diante da vertiginosa queda da autoridade dos mestres intra e extraclasse, não há educação possível.

Na União Europeia tem-se tentado combater essa tendência equiparando o professor a uma autoridade pública. Em Portugal, uma petição pública nesse sentido constata uma realidade que a sociedade brasileira em geral se recusa a enfrentar: “A primazia do professor como referência social e agente de formação está-se a desvanecer e a caminhar para um pântano que a todos prejudica. O professor encontra-se destituído de autoridade. A cadeia de comando está desvirtuada. A insurreição existe na escola pública. É mais fácil acusar um professor idóneo do que um aluno prevaricador”.

Essa anomia tem gerado, no Brasil, uma violência sem precedentes contra a figura do educador. Em 2010, o professor Kassio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, casado e pai de dois filhos, foi esfaqueado e morto porque um aluno não gostou de uma nota baixa. Um vídeo postado recentemente no YouTube, e considerado impróprio, pois deplorável, mostra um aluno, numa escola de Santos (SP), agredindo fisicamente uma professora por não concordar com a nota baixa.

No último Dia do Professor, um telejornal entrevistou a mãe de um aluno que esbofeteou uma professora por discordar da nota baixa do filho e afirmou despudoradamente que espancaria mais a educadora se soubesse que teria tanta repercussão. Esses casos, antes isolados, têm-se tornado epidêmicos e, vergonhosamente, normais. As distorções do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a perspectiva iminente da Lei da Palmada vão colocar de vez a palmatória na mão do aluno.

Um estudo emblemático desse temário é o de Tania M. S. Mendes e Juliana M. Torres, intitulado “A vitimização de professores e a alunocracia na educação básica”. Nele, postula-se que “nunca se falou tanto na necessidade de pôr limites e nunca se praticou tão pouco. Perguntam sobre que feitiço é esse que deixa pais e mães [e, por que não, professores e professoras] inertes diante de crianças e adolescentes tiranos que se identificam, subjetivamente, com ditadores mirins e juvenis, o que pode ser levado para diferentes etapas da vida e para distintos contextos de interações sociais”.

O estudo suscitou, de tão chocante pelos testemunhos relatados, o Projeto de Lei nº 191, de 2009, do senador Paulo Paim (PT-RS). O projeto prevê medidas de proteção específicas para os casos de violência contra o professor. Urge uma mobilização nacional por parte dos sindicatos de professores, da sociedade civil organizada e de cidadãos conscientes em geral com vista à aprovação da propositura ainda em tramitação.

Atualmente, a banda honesta da sociedade brasileira se orgulha da atuação corajosa e competente do ministro Joaquim Barbosa, no Supremo Tribunal Federal, contra a corrupção. A trajetória acadêmica do relator da Ação Penal 470, ao mesmo tempo árdua e vitoriosa, pois lastreada na meritocracia, teve gênese na escola pública carente de recursos materiais, mas rica em recursos humanos indispensáveis ao fazer pedagógico: alunos ávidos pelo conhecimento e professores bastante motivados a transmiti-lo, pois respeitados na sua dignidade.

A educação brasileira hodierna, medíocre por relegar seus soldados do front aos ditames da geração sem berço, está perdendo a capacidade de gerar outros Joaquins Barbosas. A continuar tal tendência, não se preocuparão tanto nos próximos anos com a evasão dos alunos quanto com a evasão de cérebros brilhantes do magistério. A migração, intensa, já começou...

Professor da Secretaria de Educação do DF, formado pela UnB

Perecível, mas indestrutível - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 10/11


RIO DE JANEIRO - A loura madura, bonita e empetecada olhava com encanto para as prateleiras ao seu redor. Era num sebo -um charmoso sebo no Leblon. Ao lado, seu marido, uma personalidade da TV, conversava com alguns clientes. De repente, ouviu-se a voz da mulher: "Que livraria mais engraçada! Só tem livro velho!".
Sebos interferem com a sensibilidade de seus frequentadores.
Há quem se compadeça daqueles livros porque acha que, lidos ou não, eles foram desprezados por seus antigos compradores. Para outros, o sebo representa uma gloriosa sobrevida para muitos livros -quem sabe um dia estes não serão tirados das estantes por leitores mais atentos e interessados, que saberão apreciá-los melhor?
Sem falar em tantos livros tão amados, e que só foram parar no sebo por motivo de força maior, como a morte de seus possuidores originais. É comum que, morto o dono da casa, e pela impossibilidade de continuar morando nela, a viúva seja obrigada a se desfazer do recheio ou do próprio imóvel, donde lá se vão os livros. E não há nada demais em que a sobrevida de um livro se deva à morte de alguém. Boa parte dos livros que possuo já pertenceu a uma ou mais pessoas, e, no futuro, pertencerão a terceiros ou quartos -espero.
Uma notícia na Folha, há dias, me calou fundo: a história de Cleuza, 47, a catadora de recicláveis em Mirassol (452 km de São Paulo), que recolhe os livros que encontra no lixo, recupera-os e os leva para uma biblioteca que criou no centro de triagem do lugar. Entre os 300 títulos que já salvou da destruição e empresta ou dá a seus colegas, estão muitos de Machado de Assis, Erico Verissimo e José Saramago. Eu ficaria orgulhoso de ver algum dos meus próprios livros nesse lote.
Há melhor prova de que, por Cleuza, o livro -de papel, tão precário e perecível- será indestrutível?

Repeteco - SONIA RACY


O ESTADÃO - 10/11

É altíssima a expectativa, no STF, por novos depoimentos de pessoas ligadas à morte de Celso Daniel após depoimento de Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República, que reacendeu a polêmica sobre o caso em pleno julgamento do mensalão.
A decisão está nas mãos de Luiz Fux, relator de processo que pede a anulação das investigações. A tendência é que ele peça, sim, para ouvir mais gente. A explicação é clara e nada tema ver com política. A doutrina jurídica diz que, diante de fatos novos, o juiz pode mandar reapurar um delito. A conferir.

Meu, é meu
Michael Klein não desiste. Encontra-se com Jean-Charles Naouri, terça, em Paris. Quer comprar a Via Varejo.

Rebate
Depois de Alckmin e Antônio Ferreira Pinto defenderem que a violência em São Paulo decorre da entrada de armas e drogas no Estado por falta de fiscalização nas fronteiras, o governo federal prepara a divulgação dos resultados de seu Plano Estratégico de Fronteiras, em operação desde o ano passado. Na primeira semana de dezembro.
Temer, José Eduardo Cardozo e Celso Amorim se reúnem nos próximos dias para acertar os detalhes.

Acredite se quiser
Vigilante demitido por justa causa por não... correr atrás de assaltantes, em Alagoas, receberá seus direitos trabalhistas.
Itaque da Silva foi mandado embora após se recusara usar uma espingarda ele alegou não ter sido treinado.

Mecenas
Brad Pitt doou quadro para o Zagaia Eco Resort, em Bonito que passa por reforma. Habituée do hotel, o ator só fez um pedido: que a obra fique exposta logo à entrada. No que foi prontamente atendido por Guilherme Poli, proprietário do lugar.

Todos por um
Depois do interesse demonstrado por Luis Alvaro, do Santos, quem pode entrar na briga para contratar o atacante Barcos é... Juvenal Juvêncio, do São Paulo. Mais uma novela à la Ganso?

Arigatô?
Mario Gobbi, do Corinthians, ganhou dor de cabeça às vésperas do Mundial. Torcedores ameaçam acionar o clube na Justiça. Motivo? Promoção de viagem a Tóquio cancelada por empresa parceira, a Apito Promocional. Que trocou seu site por explicação sobre como os clientes podem reaver o dinheiro via e-mail.

Os 200
Também a revista Bloomberg Markets terá uma lista de bilionários do mundo para chamar de sua. Com 200 nomes. No topo, ele mesmo, Carlos Slim. Entre os brasileiros, treze nomes, liderados por Eike Batista, na 28ª posição (com US$ 20,4bilhões).
Os 200 mais ricos reúnem fortuna equivalente ao PIB da França, em torno de US$ 2,7 trilhões.

Quem vem
A Faculdade Zumbi dos Palmares trará Bernice King, filha de Martin Luther King, para o Troféu Raça Negra e seminário no dia 20, Dia da Consciência Negra.

Das letras
Simone Spoladore, atriz de Lavoura Arcaica, confirmou presença na Balada Literária – de 28 de novembro a 2 de dezembro.
O evento homenageia Raduan Nassar, autor recluso do livro que deu origem ao filme. Ele dará o ar da graça.

Estômago
Na quinta, um dia depois de protagonizarem briga feia no plenário do STF, Marco Aurélio Mello e Joaquim Barbosa só queriam saber de... doçura. É que Mello mantém um pote de balas nas sessões. E adivinhem quem pediu para adoçar a boca?

Obsessão por censura - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 10/11


A tentativa de submeter os veículos de comunicação a um 'controle social' é uma forma oblíqua de censura


Nada conspira mais contra a democracia que a relativização de seus valores -entre eles (e sobretudo), a liberdade de imprensa. A tentativa de submeter os veículos de comunicação a um "controle social" é uma forma oblíqua de censura, com o indisfarçável propósito de mantê-la subjugada politicamente.

No Brasil, esse controle é ainda uma proposta obsessiva de parte expressiva do PT. Na Argentina, na Venezuela e no Equador, países que se consideram democráticos, é uma trágica realidade.

A uniformidade dos discursos preocupa, sobretudo quando se sabe que obedece a uma articulação continental entre grupos políticos hegemônicos que postulam um mesmo projeto: uma América do Sul socialista.

Os resultados têm sido nefastos para a imprensa e para a democracia. Em face disso, no fim do mês passado, empresários de rádio e televisão de diversos países sul-americanos, reunidos na 42ª Assembleia-Geral da Associação Internacional de Radiodifusão (AIR), em Montevidéu, aprovaram o envio de missão especial à Argentina, no dia 7 do mês que vem, para acompanhar a entrada em vigor, naquele país, da nova Lei de Meios.

Essa lei, com pequenas variantes, já havia sido tentada aqui, quando da edição do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, há quatro anos, felizmente repelida pela presidente Dilma Rousseff ainda quando candidata.

Todas as tentativas de enquadramento da imprensa, ao longo da história -e não foram poucas-, resultaram numa mesma constatação: não é possível fazê-lo sem ferir o princípio básico da democracia, que é a liberdade de informação e expressão.

O único controle democrático sobre a mídia é o que está na lei, mais especificamente no Código Penal. Os crimes decorrentes de seu uso indevido são três: injúria, calúnia e difamação, já devidamente capitulados, e geram reparações que, no limite, podem levar o infrator a sair do mercado.

Liberdade, como é óbvio, não exclui responsabilidade penal para quem dela abusa. Mesmo assim, os que reclamam da imprensa o fazem como se não estivesse submetida a limites legais, o que tornaria indispensável providenciá-los. É esse, em síntese, o teor sofístico das sucessivas conferências de imprensa do PT.

A imprensa é um termômetro: mostra a febre, mas não a cria, nem a cura. Xingá-la, no entanto, tornou-se parte de um curioso processo de catarse, que só convence a quem dele carece.

O ex-presidente Lula mantém relações esquizofrênicas com o tema. Já reconheceu diversas vezes que deve sua projeção política à imprensa, que, ainda ao tempo do regime militar, o acolheu com entusiasmo, como liderança popular emergente, arrostando riscos.

Mas diz que os jornais lhe dão azia, que o combatem injustamente e coisas afins, esquecido de que essas críticas convivem lado a lado, e em franca desvantagem numérica, com os que o louvam. Não há uníssono na imprensa.

A propósito, é improvável que haja um segmento da sociedade brasileira tratado com mais severidade -e frequentemente com injustiça- que o dos produtores rurais, em regra apresentados como vilões e retrógrados.

Não obstante, não se registra uma única declaração de suas instituições reclamando da imprensa ou pedindo restrição ao seu livre exercício. Nossa opção é democrática: o debate, o exercício do contraditório.

Hoje, com a internet, não há notícia que escape de divulgação. Se houver alguma informação alvo de sabotagem generalizada na mídia convencional -algo altamente improvável-, acabará vazando pela internet e chegando ao público.

Outra lenda: o monopólio das TVs, ponto central e recorrente dos questionamentos.

Há, no Brasil, em pleno funcionamento, nada menos que cinco redes nacionais privadas (Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV!), além de emissoras educativas estatais e redes regionais, sem contar as TVs por assinatura.

Não há monopólio. Há liderança, que só pode ser quebrada mediante opção do telespectador.

Qualquer outra medida implica censura. Uma coisa é certa: nenhum dano decorrente da liberdade de imprensa é maior que os que ela ajuda a evitar.

O misterioso segundo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/11


Quis o calendário político global que as duas maiores economias do mundo escolhessem na mesma semana seu novo líder máximo. Acabaram aí as coincidências. Nos Estados Unidos, a escolha foi pelo voto e a apuração virou um espetáculo mundial. Na China, o Congresso do Partido Comunista vai referendar a decisão tomada secretamente por nove pessoas.

Dos 1,3 bilhão de habitantes, 80 milhões fazem parte do Partido Comunista - 6% da população -, mas quem decide mesmo são nove integrantes do Comitê Permanente do Politburo. Cairá para sete o número desses supereleitores. O novo presidente, Xi Jinping, foi escolhido há cinco anos, mas seu pensamento continua sendo uma incógnita. Quando ele ficou duas semanas sem aparecer em público, houve uma inquietação mundial, até porque seu sumiço ocorreu logo depois do escabroso caso de Bo Xilai, que era um todo poderoso até ser expulso do PC e a mulher ser presa por homicídio.

Além da diferença gritante entre as formas de escolha de líder das duas potências, há outra: nos Estados Unidos, será a continuidade; na China, esta transição, dizem os especialistas, pode ser a mais importante das últimas três décadas.

Será uma mudança de geração porque três quartos do Comitê Central de 365 membros - o terceiro nível da afunilada estrutura de poder - serão trocados. A maioria por ter atingido a idade máxima para estar no órgão. Acima desse Comitê está o Politburo, com 25 membros, e todos serão renovados.

A transição política ocorre num momento em que a China se defronta com dificuldades para manter seu ritmo de crescimento e em que a corrupção se espalha de forma espetaculosa. O primeiro-ministro, Wen Jiabao, foi acusado, numa detalhada reportagem do jornal "New York Times", de ter amealhado, através de laranjas na família, incluindo sua mãe, de 90 anos, uma fortuna de US$ 2,7 bilhões. A solução chinesa foi bloquear o acesso ao site do jornal.

No discurso de despedida, que fez na quinta-feira, diante do 18º Congresso do Partido Comunista, o presidente que sai, Hu Jintao, disse que a "propriedade pública é o alicerce do sistema econômico". Aparentemente, não era essa a ideia do primeiro-ministro, Wen Jiabao, que também está deixando o cargo. Ele deve preferir a propriedade privada. A dele.

A perversidade de um sistema autoritário, repressivo, montado sobre a oligarquia partidária é óbvia. Além disso, tem o defeito de ser imprevisível, principalmente em tempos de troca de comando. Como a China virou país poderoso demais, o mundo corre riscos neste momento e desconhece a natureza e extensão desses riscos.

Adianta pouco tentar desvendar os mistérios chineses. Os sinólogos devem ser tão eficientes quanto eram os sovietólogos que não previram o desmanche da União Soviética. Por exemplo, no discurso em que assumiu o poder há 10 anos, o presidente, Hu Jintao, falou 69 vezes a palavra Minzhu, que quer dizer democracia. Um especialista poderia entender que o país entraria numa década de abertura política. Mas, hoje se sabe, aquelas 69 referências a Minzhu não significavam coisa alguma.

No discurso da época, Hu Jintao prometeu que o país seria "mais rico, mais forte, mais moderno, mais democrático, mais civilizado e mais harmonioso". Pode-se dizer que ele conseguiu uma parte. A China é hoje mais rica e mais forte. No seu mandarinato passou de sexta para a segunda potência mundial. No discurso que fez na quinta-feira, ele alternava rejeição às reformas com promessas de mudanças. Em suma: a China vai mudar, mas ninguém sabe ao certo o que isso significa.

Ueba! Lady Gaga tá gagá! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/11


Duas coisas que eu não queria ser em São Paulo: jogador do Palmeiras e policial! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E a bomba da semana: "'Minha vagina era uma couve-flor', diz Geisy Arruda após cirurgia íntima". Virou repolho? Mas não era zona do agrião? Como diz um amigo: "Nunca mais conseguirei comer couve-flor como antes"! Rarará!

E a Lady Gaga? Não aguento mais ver celebridade em varanda de hotel. Só gostava de duas celebridades na varanda: Evita e Michael Jackson! A Evita com os braços pra cima, e o Michael Jackson sacudindo o filho de cabeça pra baixo, lembra?

E a Lady Gaga? Os ingressos da Lady Gaga encalharam. Hoje fui a uma padaria e de troco me ofereceram ingressos da Lady Gaga! Obrigado! Prefiro balas! Aquela redondinha de canela!

E corre na internet: "Comprei um picolé da Fruttare e ganhei um ingresso da Lady Gaga". "Fui jogar no bicho e ganhei um ingresso da Lady Gaga." "Mordi um pastel de feira e ganhei um ingresso da Lady Gaga." Se tivesse uma lei sobre ingressos encalhados se chamaria Lei de Gaga! Rarará!

E os fãs da Lady Gaga e Madonna se odeiam como torcidas de futebol! Os fãs da Lady Gaga queimam camiseta da Madonna. Como bandeira americana em país árabe!

E encontrei no blog Hojenãotemglamour um diálogo da Gaga com a Madonna no telefone: "Quem é?". "Eu! Lady Gaga." "Quem, Luiz Gonzaga?" "Lady Gaga, véia surda da porra." Rarará!

Não confunda Lady Gaga com Luiz Gonzaga! Eu acho que a Lady Gaga tá gagá. Lady Gagá! Acho que não faz mais sucesso nem em parada gay. Sou mais Madonna!

E em Porto Alegre tem ingressos pra idosos no show da Lady Gaga?! Vão confundir com a Vanusa! A nossa Lady Gaga é a Vanusa! É mole? É mole, mas sobe!

E o Palmeiras? A porcada quer matar os jogadores do Palmeiras. Duas coisas que eu não queria ser em São Paulo: jogador do Palmeiras e policial! Bagurança Pública!

A Lady Gaga veio de colete à prova de balas? Rarará! E tem três tipos de paulistanos: armados, desarmados e alarmados!

E a charge do Sinovaldo, com o diabo perguntando ao recém-chegado no inferno: "Prefere ficar aqui ou ser PM em São Paulo?". Prefiro ser PM na Síria! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

No sapatinho - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 10/11

Movimento que tem como articulador o ex-senador Tasso Jereissati trabalha para que o senador Aécio Neves (MG) assuma a presidência do PSDB na convenção de maio. O argumento é que o candidato tucano à sucessão da presidente Dilma deve liderar os tucanos e dar a linha da oposição. Pelo estatuto do partido, o deputado Sérgio Guerra não pode concorrer a novo mandato.

Um trote para a História
O ministro Aldo Rebelo (Esporte) e o governador Teotônio Vilela (PSDB-AL) promovem dia 18 a 1ª Cavalgada pela Liberdade. Serão 12 horas a cavalo, com saída às 5h, de União dos Palmares (Serra da Barriga), e chegada às 17h, em Viçosa (Serra Dois Irmãos). No trajeto, será demarcado o local (no Rio Paraíba do Meio) onde Zumbi foi morto (em 1695) pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Muitos foram os convidados para a festa cívica. A ministra Lui za Bairros (Igualdade Racial) já mandou selar seu cavalo. Ainda não se decidiram: o presidente da Fundação Zumbi dos Palmares, Elói Araújo, e os ministros Marta Suplicy (Cultura) e Gastão Vieira (Turismo).

O canetaço
O ministro Brizola Neto (Trabalho) demitiu o secretário Nilton Freiberg (Planejamento) e o superintendente Rodrigo Minotto (SC). Eles são ligados ao secretário-geral do PDT, Manoel Dias.

Com o chapéu alheio
O texto do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) para a Lei dos Royalties foi derrotado por ter incorporado a proposta do governo Dilma que obrigava os municípios a destinar 100% das receitas do petróleo à educação. O governo quis usar a receita dos municípios para investir 10% do PIB no setor, conforme prevê o Plano Nacional de Educação. Essa foi a base da rebelião.

Os vetos do Cabral
A Lei dos Royalties aprovada no Congresso tem cinco artigos. O governador Sérgio Cabral trabalha pelo veto da presidente Dilma aos parágrafos 1º e 2º do artigo 2º (prejudiciais aos municípios fluminenses), ao artigo 3º (prejudicial ao Rio e ao Espírito Santo) e ao artigo 4º. Quanto à ação no STF, a ordem é esperar pelo veto.

Começou a retaliação
O superintendente da Funasa na Bahia, William Dell"oso, foi demitido ontem. Ele tinha sido indicado pelo vice da CEF, Geddel Vieira Lima, que apoiou ACM Neto (DEM) em Salvador. Foi nomeada a petista Glenda Barbosa de Melo.

Time que está ganhando não muda
O PMDB não gostou de o governador Cid Gomes (CE) ter reivindicado, para o PSB, o vice na chapa da presidente Dilma. Seu presidente, Valdir Raupp (RO), reagiu: "O que vem dando certo não deve mudar. Não aceitamos discutir a chapa."

Pisando em ovos
Os auxiliares da presidente Dilma estão inseguros. Não sabem qual será sua posição sobre os royalties. Temem assumir postura divergente. Ontem, o ministro Guido Mantega (Fazenda) mandou dizer que não está inclinado a nada.

Relações cortadas - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 10/11

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reage à tentativa de responsabilizá-lo pela derrota do governo no caso dos royalties, e culpa a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). "A articulação institucional do governo está descontrolada, não tem interlocução." Sobre a avaliação de que estaria descontente pelo fato de o governo não ter lhe oferecido cargo, fustiga: "Isso é coisa de quem não tem mandato. Não estou procurando emprego, sou deputado federal".

Trevas 
Maia descreveu um cenário nebuloso para a tramitação da MP 579, que trata das concessões do setor elétrico e que é vista como prioridade zero do Planalto para este ano. "O governo vai ter que trabalhar muito a interlocução com o Congresso para conseguir votar", disse.

Luz 
Mas se há má vontade da Câmara, no Senado o relator da MP é o peemedebista Renan Calheiros (AL), que pretende mostrar serviço e votá-la no prazo, até 5 de dezembro, para obter, assim, créditos para um ainda incerto apoio do governo na disputa pela presidência da Casa, em fevereiro.

Afago 1 
Dilma Rousseff convidou os seis governadores e os prefeitos eleitos do PSB nas capitais para encontro no Planalto no final deste mês. Eduardo Campos (PE) quer que o governo federal ajude nas parcerias e com recursos aos municípios-vitrine administrados pela sigla.

Afago 2 
No jantar com a presidente, Campos chegou a aconselhá-la sobre 2013. Segundo o governador, a chave para o sucesso em 2014 é conseguir debelar a crise fiscal com os Estados. "Soa como música para meus ouvidos", respondeu a anfitriã.

Bordoada 
Se com Campos a fase é de trégua, o novo alvo de Dilma é Sérgio Cabral. Ela acha que ele se omitiu ao mandar o vice, Luiz Fernando Pezão, para negociar os royalties no Congresso. Também não gostou da ameaça de que o Rio pode não ter como sediar Copa e Olimpíada.

Balança 
A defesa que a AGU poderá fazer de Lula em caso de abertura de investigação sobre o mensalão tem precedentes. O órgão representa FHC em 17 ações, duas delas abertas depois de o tucano ter deixado o cargo.

Psicodrama 1 
O PSDB antecipou a disputa pelo comando da sigla em São Paulo. Aliados de José Serra lançaram o vereador eleito Andrea Matarazzo para suceder Julio Semeghini, da cota de Geraldo Alckmin, na capital.

Psicodrama 2 
O grupo de Alckmin defende a permanência de Pedro Tobias na presidência estadual. Nos bastidores, contudo, serristas cobram mudanças no braço operacional do partido, controlado pelo grupo do desafeto José Aníbal.

Cobras... 
A tensão veio a público com as críticas do secretário Edson Aparecido, coordenador do QG de Serra, a dirigentes do PSDB, que teriam se omitido na avaliação da derrota para o PT.

... e lagartos 
"A campanha de Serra é que escondeu o símbolo, as cores e o nome do partido na sua propaganda, a pedido de Gilberto Kassab", diz o vice-presidente paulistano, João Câmara.

Pastor Kassab 
Quando questionado sobre a entrada do PSD no governo Dilma, o prefeito de São Paulo desconversa. "Qual ministério? Madureira ou Belém?", diz, referindo-se às denominações da Assembleia de Deus.

Veterano 
ACM Neto (DEM) convocou Paulo Souto para coordenar sua equipe de transição em Salvador. O prefeito eleito gostaria de tê-lo no secretariado, mas avalia que posto não seria adequado a um ex-governador.

com FÁBIO ZAMBELI e BRENO COSTA

tiroteio


"O Cabral pode dançar, pode gastar todo o seu estoque de guardanapos, mas não vai levar os royalties na marra."
DO DEPUTADO SYLVIO COSTA (PTB-PE), sobre a ameaça do governador Sérgio Cabral (RJ) de levar à Justiça a discussão sobre a redistribuição dos royalties.

contraponto


O humor de cada um

Na reunião com os governadores do Nordeste, ontem, Dilma Rousseff foi elogiada por todos graças às medidas que anunciou para o combate à seca na região.

Coube ao vice-governador de Alagoas, José Thomaz Nonô (DEM), destoar do coro dos contentes:

-Estou aqui porque o governador Téo Vilela voltou tão impactado da reunião com o ministro Mantega que foi para o hospital -, disse, se referindo a encontro com o titular da Fazenda para tratar da unificação do ICMS.

Todos gargalharam, menos a presidente, que fechou a cara e virou para o lado, tamborilando na mesa.

A deturpação do royalty - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 10/11


Envolvidos na feroz disputa por algo que ainda não existe, nem se sabe se vai existir - o petróleo do pré-sal -, e movidos apenas por seus próprios interesses político-eleitorais, que os tornaram incapazes de avaliar o interesse nacional, 286 deputados impuseram uma derrota política ao governo ao aprovar um projeto sobre a distribuição dos royalties do petróleo que, na essência, acaba com o conceito de royalty, rompe contratos em plena vigência e pune as cidades que têm despesas adicionais por causa da exploração do óleo em seu território ou vizinhança.

"Foi uma demonstração de vitalidade do Parlamento brasileiro", exultou o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, após a derrota do governo - que, a propósito, é chefiado pelo partido a que ele pertence. Diante dos desastrosos efeitos que o projeto - que já havia sido aprovado pelo Senado - poderá ter para os municípios e Estados produtores de petróleo, caso a presidente Dilma Rousseff não o vete, cabe indagar para que serve tanta vitalidade parlamentar. Neste episódio, pelo menos, certamente não é para o bem do País.

Por meio de uma hábil manobra em plenário, os deputados decidiram votar o projeto já aprovado no Senado, antes de examinar o substitutivo elaborado pelo relator designado pela Câmara, deputado Carlos Zarattini (PT-SP). Aprovado o texto vindo do Senado, o substitutivo do relator, que continha pontos de interesse do governo, nem chegou a ser examinado. O substitutivo de Zarattini previa, como queria o governo, que todos os recursos originários de royalties deveriam ser aplicados em educação. A exceção caberia à União, que poderia aplicar parte do dinheiro em ciência e tecnologia e em defesa. O texto aprovado permite o uso dos royalties em diversas áreas, como infraestrutura, educação, saúde, segurança, erradicação da miséria e até tratamento de dependentes químicos.

Este, porém, é o ponto menos pernicioso do projeto. Ao mudar radicalmente o critério de distribuição dos royalties entre os Estados e municípios, garantindo fatia substancial desses recursos para regiões que não produzem nenhuma gota de petróleo, o projeto muda também o conceito de royalty.

Royalty é uma compensação financeira, uma indenização, paga àqueles que sofrem pela retirada, de seus territórios, de recursos escassos e não renováveis e têm despesas adicionais decorrentes do uso de sua infraestrutura e da degradação ambiental. O projeto assegura, porém, que também Estados e municípios que não têm esses custos adicionais, e já recebiam uma parcela desse dinheiro, tenham direito a uma fatia muito maior.

De 8,75% do total dos royalties do petróleo que recebem atualmente, Estados e municípios não produtores passarão a recebe 40% até 2020. A contrapartida, obviamente, é a redução da fatia que cabe à União e aos Estados e municípios produtores. A da União será reduzida de 30% para 20% já em 2013, a dos Estados produtores cairá de 26,25% para 20% e a dos municípios produtores, de 26,25% para 15% em 2013 e 4% em 2020. Para os municípios não produtores, mas que são afetados pela produção, por causa do uso de seu território pelas empresas envolvidas no trabalho de exploração, transporte e armazenagem, a fatia será reduzida de 8,75% para 3% a partir de 2013 e para 2% em 2020.

É uma redução brutal, que poderá inviabilizar financeiramente muitas prefeituras que enfrentam gastos adicionais decorrentes da exploração do petróleo em seu território ou em suas proximidades. Cálculos preliminares do secretário do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, com base na variação da cotação do barril do petróleo e da produção estimada pela Petrobrás, indicam que o governo estadual e as prefeituras fluminenses perderão R$ 77 bilhões em oito anos. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, fala em perdas de R$ 11 bilhões até 2020.

Além dessas perdas e distorções que gera, o projeto desrespeita contratos ao estabelecer regras novas para a distribuição de royalties das áreas já licitadas e em plena atividade. Deve ser vetado integralmente.

Manobra primária - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 10/11


Não é fazendo mágicas com números que o governo conseguirá equilibrar gastos com receitas e recompor a capacidade de investir


Improvisos e imprevidências vão fazer o governo federal deixar de cumprir sua meta de superavit primário, a parcela das receitas que deixa de gastar. E ela pode não ser cumprida mesmo que o Planalto recorra a um remendo contábil, ao desconsiderar como despesa os investimentos do PAC.

É improviso admitir que a meta não será cumprida depois de conhecidos os dados de receita e despesa de três quartos do ano. Não seria esse o caso se, como argumenta o governo, o descumprimento da meta se devesse a uma súbita e forte queda na arrecadação -tal fato, afinal, não ocorreu.

Desde o primeiro trimestre do ano era notório que a economia cresceria pouco em 2012, muito menos que a extravagante previsão oficial. Menos crescimento, em geral, implica menos receitas.

E é imprevidência comprometer-se a gastar tanto nos anos de bom como nos de mau crescimento.

O governo acorrentou-se à norma de que o salário mínimo deve ser reajustado de acordo com a inflação e o crescimento de anos passados. Como resultado, o reajuste condicionado pela cifra de 2010, um ano de crescimento excepcional e insustentável, sobrecarrega as contas do fraco 2012.

Quase dois terços do aumento de despesas neste ano se devem a dispêndios relacionados ao salário mínimo. Gasta-se mais também com os subsídios do programa Minha Casa, Minha Vida e o custeio da máquina. Ao menos reduziu-se a despesa com salários do funcionalismo como proporção do PIB.

O investimento em obras, porém, permanece empacado. As despesas com o programa habitacional também são investimento e têm interesse social, mas não tornam a economia mais eficiente.

É certo que parte da queda na arrecadação se deve a desonerações. Porém, dados o custo ainda elevado da dívida pública, o tamanho da carga tributária e o estado ruinoso da infraestrutura, a programação de gastos do governo continua preocupante.

Apesar de cadente em relação ao tamanho da economia, a dívida pública ainda é cara: custa mais de 5% do PIB em juros por ano (a despesa da União, afora juros, é de cerca de 17% do PIB).

O governo deveria poupar parte de suas receitas a fim de reduzir a dívida ou cortar impostos. Caso fosse capaz de aumentar seus investimentos produtivos de forma eficiente, e não é, talvez pudesse justificar o descumprimento da meta orçamentária.

Porém o único argumento ao qual o governo vai recorrer é o da contabilidade criativa. A prestidigitação não vai ocultar o fato de que o gasto cresce, a dívida não se reduz de modo relevante, a carga de impostos segue alta, a infraestrutura piora e a inflação sobe.

Nova geração tem desafio de abrir regime chinês - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 10/11
Enquanto a democracia americana (o povo) decidiu não trocar seu líder agora, o Partido Comunista da China faz o contrário. Não é a única diferença entre as duas maiores potências no que toca à sucessão. Nos EUA, o vencedor só foi conhecido após a apuração dos votos. Na China, sabe-se há meses quem sucederá quem.

O presidente Obama ganhou mais quatro anos para tentar cumprir metas não alcançadas, como retomada do crescimento e redução do desemprego. Em Pequim, a mudança é ampla: uma nova geração assume, a quinta desde a Revolução de 1949, com horizonte de dez anos no comando da nação mais populosa e segunda economia do planeta. O 18º Congresso do PCC terminará na quinta. Até lá, o presidente Hu Jintao, de 69 anos, renunciará à chefia do Partido e será substituído por Xi Jinping, de 59. Este só assumirá a presidência em março, na reunião anual do Parlamento, quando Le Keqiang, de 57 anos, receberá o cargo de primeiro-ministro de Wen Jiabao, de 70.

Tudo acontece segundo o script no Grande Salão do Povo. Antes disso, os bastidores pegam fogo. O político em ascensão Bo Xilai foi expurgado porque sua mulher se envolveu num assassinato. Denúncias sobre enriquecimento ilícito da família de Hu surgiram na imprensa ocidental. Os dirigentes que saem lutam furiosamente para manter a influência garantindo altos postos para seus aliados. Desta vez é mais complicado porque eram dois pesos-pesados na batalha: o presidente Hu e o antecessor, Jiang Zemin, de 86 anos, ainda uma força poderosa.

Analistas que conseguem enxergar nesse fog revelam que Le era o preferido de Hu para o comando do PC e a presidência, mas encontrou resistência no grupo de Jiang. A solução de consenso foi Xi, cabendo a Le o segundo posto. Hu e Le são do grupo da Liga da Juventude Comunista. Xi é um "princeling", nome dado aos descendentes dos revolucionários históricos. A nova geração no poder tem tarefas formidáveis. Uma delas é reacelerar o crescimento, que deu um soluço (para os padrões chineses, claro; caiu para 7% ao ano), mas em novas bases, com redução das desigualdades, maior poder aquisitivo interno, criação da previdência social, investimentos ainda maiores em energia limpa e produção de artigos com maior valor agregado, entre outros. Mas o maior desafio será abrir o regime, pois o povo dá mostras de não suportar por muito mais tempo a ditadura do Partido. É inconciliável aumentar o padrão de vida da população, mesmo que em parte dela, e manter um regime político fechado.

O discurso de Hu no Congresso decepcionou os otimistas. Ele elegeu a corrupção como a maior inimiga, reafirmou o dogma do partido único e defendeu a importância das grandes empresas estatais. "Não devemos voltar ao velho caminho, fechado e rígido, nem pegar a estrada diabólica da mudança das bandeiras e dos estandartes", afirmou. Mas este costuma ser o discurso de quem apeia do poder. l

Hu, presidente que sai, elege corrupção como inimiga pública número um. Chineses dão mostras de não suportar por muito tempo mais ditadura de partido único

Divididos pelos royalties - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 10/11


A presidente Dilma enfrenta agora uma situação delicada. Terá de decidir ou contra os interesses imediatos dos Estados do Rio e do Espírito Santo ou contra os interesses do resto do Brasil.

O assunto é o mais novo conflito federativo instalado no País. Trata-se da nova distribuição dos royalties e das participações especiais na produção de petróleo.

A decisão tomada pelo Congresso na última quarta-feira não atendeu à proposta do governo federal - que convergia com os interesses imediatos do governador do Rio, Sérgio Cabral, seu aliado, e do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, ambos Estados produtores e grandes beneficiários das receitas com petróleo e gás.

Até agora, os royalties e as participações especiais provenientes dos resultados da exploração do petróleo beneficiavam apenas Estados e municípios produtores ou contíguos às áreas marítimas produtoras. A partir do novo marco regulatório do pré-sal, o Congresso entendeu que deveria acabar com esse privilégio. Partiu do pressuposto constitucional de que as riquezas do subsolo são da União e, assim, determinou que a distribuição dos seus benefícios não pode contemplar só áreas produtoras, mas todo o País.

O governo pretendia que essas novas regras alcançassem somente as próximas licitações, sujeitas não mais a contratos de concessão, mas de partilha. O Congresso decidiu que a nova repartição abrangerá os contratos antigos. A partir da data em que a nova lei viesse a ser sancionada (desde que sem vetos), os atuais Estados e municípios produtores passariam a perder arrecadação (veja gráfico).

O governador Sérgio Cabral está compreensivelmente inconformado. Adverte que foi atropelado um direito adquirido e que o Rio perderá tanta receita que não poderá enfrentar despesas já assumidas, como as da Copa do Mundo e da Olimpíada. O argumento do direito adquirido parece questionável. Seria mais ou menos como se o governador do Rio defendesse o ponto de vista de que os casamentos realizados antes da lei não teriam direito a divórcio, porque foram concluídos sob outras cláusulas contratuais, entre as quais a de que a união do casal devesse durar "até que a morte os separe".

O secretário do Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, lembra que os Estados do Rio e do Espírito Santo já venderam receitas futuras com royalties, inclusive para a União, o que implica o reconhecimento oficial do direito a essas receitas.

A presidente Dilma está empoleirada no muro - atitude, em geral, atribuída aos políticos tucanos. Se vetar o artigo 3.º do projeto aprovado no Congresso, que avança sobre a atual distribuição, contrariará o resto do Brasil, que quer sugar imediatamente as tetas dos royalties sem esperar mais de oito a dez anos, até que a Petrobrás desenvolva novas áreas de exploração. E estará sujeita à derrubada do veto pelo Congresso. Se não vetar, Rio e Espírito Santo - mais, eventualmente, os municípios perdedores - prometem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar reverter o que chamam de "direito adquirido".

O novo problema aumenta a lista dos grandes conflitos federativos que, em proporção maior ou menor, atravancam o setor produtivo - como o da guerra fiscal; o da perda de arrecadação de Estados e municípios a cada isenção ou redução de IPI decidida pelo governo; o das alíquotas interestaduais do ICMS; e o do indexador das dívidas dos Estados com o governo federal.

Metas de juros e câmbio, não de inflação - EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE

FOLHA DE SP - 10/11


O tripé macroeconômico, composto por meta de inflação, câmbio flexível e equilíbrio fiscal, não existe mais como antigamente. Outros objetivos do governo entraram em conflito com o seu funcionamento. A tendência é que a situação piore.

No que se refere à meta de inflação, pode parecer que não houve alteração. Afinal, é possível que em 2013, como em 2011 e 2012, a inflação não ultrapasse o teto da meta (6,5%). Além do mais, a crise internacional justificaria uma flexibilização, com o Banco Central usando o espaço de manobra permitido pelas bandas do regime -a margem de dois pontos percentuais para mais ou menos, a partir do centro da meta (4,5%).

Um olhar mais cuidadoso, no entanto, mostra outra realidade. Não parece existir uma estratégia por parte do BC de guiar as expectativas de mercado, e por conseguinte a inflação, para o centro da meta num horizonte futuro, como se espera da atuação da autoridade monetária em um regime de metas de inflação.

O nível de atividade da economia brasileira se recupera agora, em um momento em que a taxa de desemprego está em um dos patamares mais baixos. A pressão por aumento de salários deve bater mais forte na inflação quando Dilma estiver se preparando para a sua reeleição.

Assim, será difícil que o BC suba a taxa de juros na magnitude necessária para levar a inflação para 4,5% em 2014. Principalmente depois que a presidenta gastou o seu capital político para alterar a remuneração da poupança e entrou em disputa com os bancos para reduzirem os juros. E tal ação entraria em conflito com seu objetivo de crescimento econômico de curto prazo.

O mais provável então é que, nos anos do governo Dilma, a inflação não chegue perto nem apresente convergência para o centro da meta. Mesmo com o governo utilizando métodos pouco convencionais para controlar a inflação, como segurar o preço da gasolina, com consequências negativas sobre a capacidade de investimento da Petrobras.

Quanto à segunda perna do tripé, taxa de câmbio flexível, não existe dúvida de que o governo simplesmente a abandonou. Está satisfeito com o patamar de R$ 2 por dólar.

É aí que o objetivo do governo, de defesa da indústria, prejudica o funcionamento do tripé. Ao intervir, diretamente e verbalmente, no mercado de câmbio, a equipe econômica impede uma valorização cambial que reduziria a competitividade dos nossos produtos industriais.

É claro que o governo consegue manter o câmbio fixo temporariamente. Mas essa política compromete o trabalho do BC de atingir a meta de inflação. Quando ocorrer uma recuperação mais forte da economia mundial, com uma maior pressão para valorização do câmbio, esse conflito ficará mais evidente.

Por fim, a última ponta do tripé, o equilíbrio fiscal. Ele sempre foi entendido como a gestão das contas públicas para evitar o descontrole da dívida -daí as metas para o déficit primário (diferença entre receitas e despesas não financeiras).

É verdade que o governo reconheceu que não cumprirá a meta para este ano, como já ocorreu em 2009 e 2010. Como antes, a justificativa dada é a crise internacional: redução de impostos e aumento dos gastos para ativar a economia. De fato, não há risco no horizonte de uma explosão no endividamento do governo.

O que preocupa, neste componente do tripé, são os subsídios para o setor privado que são feitos pelos bancos oficiais. É uma política feita sem aprovação do Congresso e vendida como se não gerasse desequilíbrio fiscal. Se não limitarmos essa estratégia, ela colocará em risco a estabilidade macroeconômica.

Metas para o câmbio, juros e crescimento de curto prazo não são compatíveis com o tripé macro. O governo parece já ter feito a sua escolha.

Avanços democráticos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 10/11


No debate realizado ontem pelo site do GLOBO, do qual participei juntamente com Ricardo Noblat, tivemos oportunidade, nós e os internautas, de acompanhar uma narrativa do ponto de vista jurídico por parte de professores da FGV Direito Rio que dá a verdadeira dimensão do impacto do julgamento do mensalão pelo STF na vida nacional.

Vou deixar de lado os palpites que eu e Noblat demos — os interessados podem acessar o debate no site do jornal—, para me ater aos comentários do diretor da faculdade, Joaquim Falcão, e de dois outros professores, Thiago Bottino e Diego Arguelhes, que têm visões otimistas sobre a atuação do STF e a repercussão desse julgamento na vida nacional, e não só do ponto de vista jurídico. Falcão começou destacando um fato que parece óbvio, mas tem enorme carga de influência na nossa democracia: as instituições funcionaram, e por isso deu-se o julgamento. A começar pela liberdade de imprensa, exercida plenamente na origem da denúncia do então deputado Roberto Jefferson, até a convocação da CPI dos Correios no Congresso, provocada pelas denúncias dos meios de comunicação, tudo funcionou.

Ele ressaltou também o papel da Polícia Federal e do Ministério Público (MP) nas investigações. Falcão lembrou que a atuação dos ministros do STF durante o julgamento acabou com a lenda de que eles teriam lealdade a quem os nomeou, ressaltando que o Supremo que condenou vários líderes petistas é o mesmo que tem oito de seus 11 membros originalmente nomeados por governos petistas de Lula e Dilma. Para ele, o ministro Joaquim Barbosa simboliza um momento em que a lei é respeitada. “Eu estou disposto a aplicar a lei”, esse parece ser o lema do relator do mensalão. Falcão chamou a atenção para o fato de que apenas o México transmite as sessões de seu Supremo ao vivo, como no Brasil, mas lá o efeito foi contrário.

No Brasil, sabem-se hoje mais nomes de ministros do STF do que de ministros de Dilma, destaca Falcão, para dizer que é um avanço para a democracia a transmissão dos julgamentos e a transparência das decisões do STF, e defender transmissão de sessões também dos órgãos estaduais. Para Falcão, a participação da opinião pública no processo é importantíssima, mas destaca que “o que estamos vendo é o Supremo também influenciando a opinião pública”.

Já para Diego Arguelhes, ficou claro no julgamento, pela exposição que o mensalão teve, que houve espaço para a tolerância legítima com os argumentos alheios. Para ele, Barbosa não aceitou a denúncia do procurador- geral da República na íntegra, mas a maioria de suas ponderações convergiu com o MP. Pelos votos que deu, ficou claro, segundo Arguelhes, que “ele construiu seu próprio percurso”

Para ele, os votos de Barbosa “são técnicos, profissionais, sem frases de efeito". Já Thiago Bottino destaca que o processo foi transmitido como se fosse uma novela, com heróis e vilões. “Mas isso foi fundamental para que a população acompanhasse o caso. As pessoas não acreditariam nos resultados se não houvesse transmissão ao vivo”, afirma, lembrando que um processo dessa delicadeza política poderia gerar muito mais controvérsias sobre as condenações se tivesse sido realizado em sigilo. “É uma inovação brasileira e uma conquista da democracia.”

Para Falcão,o revisor Ricardo Lewandowski foi a pessoa que assumiu uma posição, “e isso é importante para legitimar o julgamento. Lewandowski representou um importante papel: teve a oportunidade de exercer a sua liberdade”.

Todos foram unânimes em destacar a importância da sabatina pelo Senado dos ministros escolhidos para o STF. Arguelhes destacou que a sabatina de Teori Zavascki, o mais novo ministro, foi muito boa, houve quem fizesse perguntas incômodas. Destacaram que o Senado tem norma interna que o indicado tem de preencher com informações básicas, mas que não é possível dizer se essa norma está sendo seguida. Os professores pesquisaram e não encontraram nada. A conclusão é que o Senado precisa ter mais seriedade nas sabatinas. O próximo passo para demonstrar o amadurecimento da cidadania neste nosso processo democrático em evolução será eventual não aceitação por parte dos senadores de uma indicação de ministro para o STF. Como acontece nas melhores democracias.