terça-feira, outubro 02, 2012

Avanço social não é sustentável - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 02/10


A cada divulgação de indicadores socioeconômicos, comemoram-se avanços no Brasil. Tem sido assim a partir do controle da inflação, no fim da primeira metade da década de 90. Com o estancamento da perda acelerada de poder aquisitivo da moeda, os maiores beneficiados foram, e têm sido, os de renda mais baixa. Há, ainda, toda uma rede de transferência de renda armada nos últimos 15 anos.

Com a recente divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2011, confirmou-se a tendência de avanços em indicadores sociais. O contingente de miseráveis, por exemplo, continua a encolher: menos 5,5% entre esta e a pesquisa anterior do IBGE, de 2009. Em números absolutos, 465 mil pessoas foram resgatadas do estágio de pobreza absoluta (renda mensal de até R$ 70 por pessoa). Com base na Pnad de 2008, Lula comemorou que sua administração havia conseguido antecipar a meta estabelecida para 2015, incluída nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU, de redução da miséria pela metade.

Mas a mesma pesquisa Pnad/2011 traz alertas sérios sobre a grande possibilidade de, cedo ou tarde, este cenário de aperfeiçoamento social inverter os sinais. O atestado de que nem tudo são vitórias é dado pela Educação.

De 2009 para 2011, caiu de 85,2% para 83,7% a proporção de jovens entre 15 e 17 anos de idade em sala de aula. Equivale a 1,72 milhão de adolescentes, em idade de cursar o ensino médio, sem estudar. O fato de 16,3% da juventude brasileira estarem fora dos bancos escolares prenuncia um desastre para um país necessitado de mão de obra mais qualificada, de gente para gerar mais renda e emprego.

O analfabetismo persiste. Não só nos mais velhos - informação conhecida -, mas também nos mais jovens: de 7 a 14 anos, há 1,4 milhão de analfabetos. Inadmissível. O país não demonstra ganhar a batalha da educação no ensino médio e volta a se descuidar dos primeiros anos do ciclo fundamental. Uma tragédia.

Artigo do economista Naercio Menezes Filho, publicado no jornal "Valor", fecha o foco na relação entre escolaridade e trabalho, e confirma a fuga dos jovens das escolas. Ao examinar dois períodos (1995-2003 e 2003-2011), Menezes Filho detecta uma tendência mais forte ao trabalho do que ao estudo. Desestímulo à frequência escolar, por problemas específicos da Educação no país, e alta remuneração em atividades que exigem menos qualificação explicariam o dramático fenômeno.

A situação é de emergência nacional, pois está provado que a maior contribuição à redução das desigualdades vem da renda do trabalho. Mas como a atual geração tende a ter problemas de qualificação, por falhas na instrução básica, em algum momento os avanços sociais estancarão, pela dificuldade de entrada no mercado de trabalho, em postos de maior remuneração, dos atuais jovens. Os governos precisam agir o quanto antes.

Siga o dinheiro - GIL CASTELLO BRANCO


O Globo - 02/10


A frase " Follow the money " é atribuída ao Garganta Profunda, fonte anônima dos jornalistas Bernstein e Woodward no caso Watergate, que resultou na queda de Nixon. A intenção do denunciante - posteriormente identificado como o então número dois do FBI - era orientar os repórteres do "Washington Post" a seguir o dinheiro, o que os levaria à Casa Branca, responsável pelas escutas ilegais instaladas no escritório do Partido Democrata. A expressão tornou-se um mantra do jornalismo investigativo em todo o mundo.

No Brasil, "seguir o dinheiro", especialmente no financiamento das campanhas eleitorais - pano de fundo dos escândalos de corrupção - é, ainda, tarefa quase impossível. No entanto, qualquer internauta curioso fará descobertas interessantes no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A julgar pelo tamanho da concorrência, a vida de político deve ser ótima. Afinal, no próximo domingo, cerca de meio milhão de brasileiros serão candidatos nas eleições municipais. Na ponta do lápis, são 449.745 vestibulandos ao cargo de vereador e 31.602 pretendentes aos postos de prefeito/vice nas 5.564 cidades existentes no país. Caso todos estivessem juntos, lotariam dez estádios do Engenhão. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, são mais de 21 mil candidatos a vereador para 1.132 vagas. A relação de 17,8 candidatos por vaga é superior à do vestibular deste ano para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no curso de Direito.

Como a democracia não tem preço, mas as eleições têm custos, os nobres candidatos em todo o país gastaram aproximadamente R$ 1 bilhão em suas campanhas até a primeira semana de setembro. As despesas incluem produção de programas de rádio e televisão, carros de som, pesquisas, comícios, pessoal e panfletos. A expectativa é que, ao fim do pleito, os gastos cheguem a R$ 3 bilhões, valor equivalente aos pagamentos integrais dos Ministérios da Cultura, Esporte e Turismo no ano passado.

Apesar do gasto bilionário, os candidatos ainda estão reclamando da falta de recursos. Alegam que, com a CPI do Cachoeira e o julgamento do mensalão, os empresários não estão dispostos a se expor, o que faz minguar os recursos do caixa 1 (e provavelmente do caixa 2). De fato, até a segunda parcial divulgada pelo TSE, as doações de pessoas jurídicas são inferiores às das pessoas físicas.

Com os empresários retraídos, os candidatos estão sendo obrigados a meter a mão no próprio bolso ou no de familiares. No ranking dos maiores doadores individuais está, por exemplo, Guerino Ferrarin, que injetou R$ 800 mil na campanha do filho, candidato a prefeito de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Outro pai no topo dos doadores é o apresentador de televisão Ratinho, que já desembolsou R$ 465 mil em favor de seu filho Ratinho Junior, líder nas pesquisas para a prefeitura de Curitiba.

As doações de pai para filho até que são compreensíveis. Difícil é entender o que leva um cidadão a retirar da sua conta bancária pessoal quase R$ 3 milhões para doar a partidos políticos adversários - embora, deva-se frisar, a prática seja permitida. É o caso do campeão individual de doações, José Auriemo Neto, empresário do setor de imóveis de luxo em São Paulo - como o Shopping Cidade Jardim - que doou R$ 1,85 milhão para o Diretório Nacional do PT e R$ 1 milhão para o Diretório Estadual do PSDB em São Paulo.

Com as empresas não é diferente. O Banco BMG, por exemplo, doou a candidatos e comitês de 19 agremiações políticas (PMDB, PSDB, PSB, PT, PV, PP, PR, PMN, PRB, PPL, DEM, PDT, PTC, PT do B, PHS, PSDC, PSC, PTN e PRTB). Já a empreiteira Andrade Gutierrez, líder em doações, repassou R$ 23,1 milhões a 14 partidos. Na verdade, a maioria dos grandes "financiadores" atende simultaneamente a Deus e ao diabo na expectativa de um favor futuro no céu ou no inferno.

Além da pulverização dos favorecidos, prevalecem os repasses diretos aos partidos e comitês, as chamadas doações ocultas. Apenas 12% das transferências feitas pelos 30 maiores doadores teve como destinatário um candidato específico. Ainda que não seja ilegal, trata-se, na prática, de uma "lavagem" de doações - que transitam por contas bancárias de partidos e comitês - com a finalidade de ocultar as relações entre os políticos e seus generosos patrocinadores.

É provável que o TSE esteja observando algo de "franciscano" nas doações eleitorais. Assim, é necessário que o Tribunal crie facilidades para que qualquer cidadão possa realmente "seguir o dinheiro". Afinal, secreto mesmo é só o voto.

QUITÉRIA VOLTOU - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 02/10


A querida Quitéria Chagas está de volta ao posto de rainha de bateria do Império. Sua saída, em 2010, magoou muitos imperianos de destaque.

João Bosco chegou a dizer que “Império sem Quitéria é como Império sem agogôs”. Zuenir Ventura considerou um “golpe de Estado que lesa a pátria imperiana”. Rosa Maria Araújo lembrou que nossa linda mulata “é uma pérola da escola”.

NÃO É PRA JÁ

Embora o ThyssenKrupp, dono da CSA, tenha recebido sexta as propostas dos grupos interessados na usina, o anúncio do escolhido deve demorar umas semanas, segundo fonte que acompanha a operação.

ALIÁS...

Na Alemanha, comenta-se que, dependendo do preju da Thyssen na venda de seus ativos siderúrgicos no Brasil e nos EUA, o presidente do grupo, o alemão Heinrich Hiesinger, pode perder o emprego. A conferir.

MELHOR QUE PÍLULA

A última revista da vetusta American Economic Association traz um trabalho de três economistas – Eliana La Ferrara, Alberto Chong e Suzanne Duryea – que mostra, entre outras coisas, a contribuição das novelas da TV Globo para a queda da taxa de fecundidade no país de Dilma.

O estudo analisa 115 novelas e conclui que 72% das protagonistas não tinham filhos, e 21%, só um.

MANHÃ DE CARNAVAL

A 2ª Turma do TRF do Rio rejeitou apelação dos herdeiros de Luiz Bonfá, que queriam cobrar indenização “por violação a direitos autorais”, pelo uso da canção Manhã de Carnaval sem autorização.

A música, parceria com Antonio Maria, foi veiculada na abertura do bloco de notícias do Poder Judiciário na Voz do Brasil, até 2002.

BRASIL DE HOBSBAWM

O pensador marxista Eric Hobsbawm, que morreu ontem, sempre teve laços com o Brasil. Em junho, Fernando Morais, o escritor, foi à festa de 95 anos do inglês, em sua casa, no norte de Londres, perto de onde Marx viveu.

O historiador, que usava um andador, queria saber da saúde de Lula e contou, risonho, que o ex-presidente o chamava de “Eric”, e não de “Mister Hobsbawm”.

OUTRA...

Numa de suas viagens ao Brasil, em 1978, Hobsbawm deu longa entrevista a Sérgio Augusto, na época na IstoÉ. Estava impressionado com a nossa desigualdade social:

– O Brasil é o melhor país do mundo para se viver, se você é rico. Vivo me perguntando: como alguém pode ser brasileiro, sendo pobre?

FACA NA BARRIGA

O escritor Autran Dourado, que morreu domingo, teve uma rusga com José Saramago, falecido em 2010, por causa do acordo ortográfico Brasil-Portugal.

O escritor português, chamado de “burro” pelo brasileiro, relatou aborrecido a querela em seu Diário II. No dia 26/02/1994, escreveu: “Literalmente falando, os escritores não se esfaqueiam uns aos outros, mas só literalmente”.

ASA BRANCA

A editora Prumo vai lançar uma versão ilustrada por Rogério Soud do clássico Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em edição dirigida ao público infanto-juvenil.

É para celebrar o centenário do Rei do Baião. A apresentação do livro, que vai se chamar O Voo da Asa Branca, é de Rolando Boldrin.

ISAÍAS LIVRE

O TJ do Rio recorreu ao STJ contra a decisão do juiz Marcelo Meireles Lobão, da 3ª Vara Federal de Rondônia, de conceder liberdade condicional ao traficante carioca Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel.

Condenado a 40 anos e 11 meses em regime fechado, Isaías cumpre pena, atualmente, na penitenciária federal de Porto Velho.

DEVIA FICAR CALADO

Um dos cantores da banda americana Big Time Rush, espécie de Menudo atual, ensaiou uma frase nada educada em português na apresentação de domingo passado, no Rio:

– Hey... as melhores bundas são do Brasil!

LÁ E CÁ

Os 70 passageiros brasileiros do voo 1873 da America Airlines (Orlando-Miami) passaram sufoco quinta, dia 27 de setembro.

É que, em Miami, fariam conexão para o Rio, mas a empresa atrasou a decolagem porque... o número de pessoas era insuficiente para levantar voo, e seria mais barato hospedá-las por um dia num hotel em Orlando. A opção foi recusada por todos, e a gringa teve de levá-los para Miami.

MAS...

Por causa do atraso, os conterrâneos perderam a conexão para o Brasil e só puderam decolar para o Rio às 10h do dia 28.

O TAQUÍGRAFO AUTRAN

Autran Dourado, o escritor que o Brasil acaba de perder, foi, poucos sabem, taquígrafo da Assembleia Legislativa de Minas.

BERIMBAU EXPORTAÇÃO

Uma apresentação da minha, da sua, da nossa capoeira no Museu Nacional da Nova Zelândia atraiu mais de mil pessoas.

Educação, boa e velha - ROSELY SAYÃO


FOLHA DE SP - 02/10


Os pais das crianças não acreditam que os avós tenham algo a acrescentar à formação dos netos

NÓS NÃO consideramos os velhos importantes em nossa sociedade. Todos pensamos que é muito mais importante ser jovem, não é verdade?
A palavra "velho" foi transformada em um xingamento e passou a ter um caráter tão pejorativo que não conseguimos mais dizer com naturalidade que alguém é velho. Procuramos criar outras expressões que consideramos mais apropriadas. Usamos em substituição, por exemplo, eufemismos como "terceira idade" ou "melhor idade".
Atualmente, os velhos estão segregados em espaços que abrigam seus pares, ou seja: outros velhos.
Realizamos bailes para a terceira idade, excursões e shows especiais para eles etc. Isso não deixa de ser uma maneira de nos protegermos da velhice. Quando nós isolamos os velhos, tornamos a velhice invisível.
Quando não há jeito de não reconhecer que uma pessoa é velha, sempre há um modo de amenizar a situação. Afirmar que uma pessoa é "jovem de espírito", independentemente da sua idade avançada, é um elogio. Para quem diz e para quem ouve. Nem mesmo os velhos aceitam a própria velhice.
É esse contexto sociocultural que precisamos considerar ao refletirmos sobre o papel dos avós na atualidade.
Creio que todo mundo se lembra do tempo em que as famílias consideravam natural o fato de os avós mimarem seus netos. Algumas décadas atrás, essa função era valorizada, inclusive pelos pais das crianças, que não conseguiam esconder seu orgulho quando "reclamavam" que seus pais mimavam ou estragavam os seus filhos.
Era simples assim: os avós podiam mimar seus netos porque seus filhos -os pais das crianças e adolescentes- estavam ocupados demais com a tarefa educativa e não tinham tempo, portanto, (não me refiro aqui ao tempo cronológico) para satisfazer os gostos de sua prole.
Hoje, os avós não podem e nem devem mais mimar seus netos. Isso porque são os pais que, agora, se ocupam dessa função. É difícil encontrar mães e pais que não tentem, a qualquer custo, satisfazer todas as vontades de seus filhos, desde as mais simples às mais complexas e caras -em todos os sentidos.
Pois eu conheço muitos avós que conseguiram inovar o sentido da palavra "mimar" na relação com seus netos. Para esses velhos da atualidade, mimar passou a ser dedicar tempo aos netos e ter paciência com eles.
Contar histórias da família, lembrar casos que aconteceram com seus filhos, agora adultos, quando eram pequenos como são os netos agora, fazer relatos sobre a formação do grupo familiar são meios de passar aos mais novos noções de como é o grupo ao qual eles pertencem. Isso ajuda a construir vínculos e identidade.
Gastar o tempo com os netos é o maior mimo que, hoje, os novos avós podem fazer.
Esses mesmos avós lutam com seus filhos para ter um papel mais ativo na educação de seus netos. Lutam mesmo, já que a maioria dos pais considera invasiva essa postura de seus pais de querer ajudar a formar as crianças.
Nessa linha da perda de importância que aconteceu com os velhos em nossa sociedade, os pais dos mais novos não acreditam que os avós tenham alguma coisa a acrescentar na educação de seus filhos.
É: querer ter participação ativa na educação dos netos virou motivo de intensos conflitos familiares.
Mas esses avós insistem, porque acham que vale a pena ensinar aos netos que autonomia se conquista e não se ganha, que ter liberdade é muita responsabilidade, que há, sim, certo e errado e falso e verdadeiro, entre tantas outras coisas.
Esses avós estão conscientes de que essa atitude que escolheram adotar é duramente criticada pelos filhos. Mesmo assim, eles não desistem. É que eles sabem o quanto é preciosa a boa educação.

As eleições na Geórgia - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 02/10


Realizaram-se ontem as eleições parlamentares na Geórgia. Qual o motivo de se dedicar uma análise a esse fato, uma vez que a Geórgia é uma minúscula nação de apenas 4,5 milhões de habitantes, às margens do Mar Negro, entre a Rússia, ao norte, e Turquia, Armênia e Azerbaijão, ao sul?

A explicação é simples: esse pedaço de terra é o prêmio de um confronto geopolítico virulento, disputado entre Ocidente e Oriente, entre a Rússia e a Europa liberal. O mundo já se dera conta disso em 2008, quando a Rússia tentou um golpe contra a Geórgia, mas, no fim, aceitou retirar suas tropas, ocupando, entretanto, uma província secessionista, a Abkházia, que representa 20% do território georgiano.

Na época, Putin reconheceu que tentara pôr as mãos na Geórgia porque tinha medo de que o país aderisse à Otan e à União Europeia, o que equivaleria a um cerco à Rússia. Agora, o que está em jogo nas eleições legislativas é a mesma coisa: a Geórgia permanecerá voltada para as nações livres, como continua sendo sob a orientação do seu atual presidente, Mikhail Saakashvili, ou, ao contrário, se afastará da Europa para se reaproximar do Kremlin? Aliás, esse é o grande sonho de Putin: atrair os antigos vassalos da URSS numa união eurasiana, como já conseguiu fazer com a Ucrânia, que se afastou do campo ocidental.

A personalidade do homem que ontem desafiou nas urnas o presidente pró-ocidental define a aspereza do embate atual: Bidzina Ivanishvili fez carreira em Moscou. Chegou à capital russa em 1982, onde começou a vida vendendo telefones. Em 1990, quando a URSS se esgarçava, sua fortuna aumentou enormemente. Em 2005, já integrava a lista dos bilionários no ranking das 500 maiores empresas da revista Forbes.

Em 2002, havia deixado a Rússia e se instalado na França, em Saint-Tropez, a capital do luxo e das celebridades. Por que Saint-Tropez? "Porque adoro a natureza", afirmou. No entanto, regressou à Geórgia em 2003.

Dotado de grande habilidade, evitou bandear-se para o Kremlin. Ele se considera pragmático e desejoso apenas de garantir a felicidade do povo - seu partido chama-se O Sonho Georgiano. Parece sincero quando afirma que a Geórgia não deve "se deixar enredar nos jogos estratégicos entre as grandes potências". Ivanishvili afirma que o fato de querer restabelecer relações amistosas com Moscou não significa que seja hostil à União Europeia.

Igreja Ortodoxa. Entretanto, essas declarações não bastam para tranquilizar. Ocorre que há um precedente: há dois anos, na Ucrânia, Viktor Yanukovich tinha o mesmo discurso. Mas, uma vez eleito presidente, virou as costas à Europa e seus princípios democráticos.

Um elemento nos faz temer a mesma reviravolta em caso de vitória de Ivanishvili: o comportamento da Igreja Ortodoxa. Essa igreja é poderosa. No país, que se converteu ao cristianismo no ano 330, os ortodoxos representam mais de 80% da população. A Igreja Ortodoxa é muito apegada à cultura eslava. Nos comícios realizados por Ivanishvili, havia uma forte presença de vestes negras e grandes barbas.

O padre Gavalda não tem papas na língua: "Devemos escolher entre o bem e o mal". E o teólogo Basile Kobakhidzé explica: "A Igreja (Ortodoxa) quer sua revanche contra o presidente Saakashvili. Ela odeia suas orientações pró-ocidentais, os direitos do homem, a democracia, o individualismo, a Otan. Evidentemente, é uma igreja nacional, mas quer o retorno ao seio russo-ortodoxo".

Alguns padres imploram aos fiéis que não aprendam inglês. Outra proibição é a leitura de Harry Potter. Recentemente, houve um escândalo nas prisões georgianas: alguns detentos foram filmados sendo violentados e espancados por guardas penitenciários. Essas cenas são do conhecimento dos pregadores ortodoxos. O bispo Spyridion Abouladze comentou: "Foram os americanos, os ingleses e os franceses que ordenaram as violações em nossas prisões". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

O maior vilão do Brasil - TUTTY VASQUES


O Estado de S. Paulo - 02/10


É possível até que João Emanuel Carneiro, autor de Avenida Brasil, adie para depois do julgamento de José Dirceu a morte do escroque Max (Marcello Novaes), prevista originalmente para os próximos capítulos da novela.

Em matéria de vilão, com todo respeito ao cúmplice de Carminha (Adriana Esteves) nos chifres do Tufão (Murilo Benício), vai ser muito difícil competir nesta semana com o protagonista da trama igualmente macabra que também chega a seu clímax no STF.

O próprio Mano Menezes, que amanhã volta a campo com a seleção na Argentina, deve escapar das vaias de todo brasileiro que a partir desta quarta-feira só vai parar diante das vitrines de lojas de eletrodoméstico para torcer contra o ex-ministro na programação da TV Justiça.

A exemplo do que acontece no folhetim da Globo, ninguém sabe ao certo como vai acabar a novela de maior sucesso na Suprema Corte, mas, se depender do julgamento popular, José Dirceu e seus parceiros de núcleo - José Genoino e Delúbio Soares - terão o mesmo destino reservado a Carminha & cia no horário nobre da maldade.

Final feliz para o público, em ambos os caso, é o pior que pode lhes acontecer!


Tiozão


José Serra está tentando cativar o eleitorado feminino. Só se fala disso na juventude tucana!

Esclarecimento

Alguém precisa avisar o deputado Protógenes Queiroz que Guerra dos Sexos não é uma novela pornô. Ou ele vai acabar proibindo o filho pré-adolescente de assistir TV após as 19h!

Agora vai!

Aécio Neves voltou aos treinos para as eleições de 2014 disposto a acabar de vez com a fama que lhe rendeu o apelido de "Imperador" em Belo Horizonte. Promete levar a coisa a sério!

Luz a cego

A torcida do Fluminense está apreensiva! Teme que os elogios da imprensa esportiva ao goleiro Diego Cavalieri acabe chamando a atenção de Mano Menezes, que ainda procura titular na posição para a seleção. Uma convocação a esta altura do campeonato seria um desfalque e tanto no líder do Brasileirão.

Ataque de quê?

O cantor George Michael cancelou shows que faria na Austrália, alegando "ataque de ansiedade"! É o tipo de diagnóstico que Tim Maia classificaria como... Deixa pra lá!

Sonho de consumo

A nova classe média brasileira está adorando o São Paulo Boat Show (até amanhã no Transamérica Expo Center). Torce agora para que o governo derrube o IPI das lanchas, para abrir novo crediário.

Maior bandeira

O funk de Roberto e Erasmo Carlos para a trilha sonora de Salve Jorge, a próxima novela das 9, fala de um certo "furdúncio adoidado". Isso quer dizer o seguinte: um deles, 
muito provavelmente o Erasmo, está frequentando as festas na casa do Latino!

Fim da farsa - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/10


Ministros do STF confirmam juízo de que mensalão implicou desvio de verbas públicas para comprar apoio de políticos no Congresso


Durante a 30ª sessão de julgamento do mensalão, ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu cabo de uma farsa que sobrevivia apenas para setores do PT e seus aliados, nos últimos sete anos.
A maioria dos ministros confirmou no plenário do Supremo que o mensalão foi um esquema concebido com a finalidade de assegurar apoio parlamentar durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As provas reunidas pela Procuradoria-Geral da República foram suficientes, portanto, para convencer a mais alta corte do país de que o mensalão foi alimentado por verbas públicas utilizadas para comprar votos de membros do Congresso Nacional.
Fica, assim, relegada aos capítulos burlescos da história a tese mendaz de que o mensalão não teria passado de episódica distribuição de sobras de campanha, sem contrapartida de apoio político.
A tentativa de desqualificar o julgamento como um todo, no entanto, merece tratamento ainda mais severo. Não seria pequeno o prejuízo à República se o esforço de desvendar os atos de corrupção praticados no governo Lula ficasse carimbado como "golpismo" e "ataque à democracia" -pois as pechas atingiriam o próprio STF.
Talvez por essa razão o ministro Celso de Mello tenha feito defesa enfática dos procedimentos adotados pelo Supremo. Antes de proferir seu duríssimo voto na sessão, o decano da corte reiterou que vêm sendo respeitadas as garantias constitucionais, que não houve desconsideração com direitos e que o processo do mensalão é conduzido sob ampla publicidade e permanente escrutínio público.
Quando presentes, esses princípios republicanos reforçam a legitimidade das decisões -é o que se dá agora com o STF. Quando ausentes, tornam-nas duvidosas -foi o que ocorreu com os negócios do PT imiscuídos no governo Lula.
Eis por que Celso de Mello classificou a corrupção como "perversão da ética do poder e da ordem jurídica". Pela mesma razão, disse que "o Estado brasileiro não tolera o poder que corrompe nem tolera o poder que se deixa corromper". E, para realçar sua decisão, afirmou que os réus do mensalão "transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária".
Sinal dos tempos, personagens conhecidos da política nacional estão entre os réus que já foram condenados nesse julgamento. Figuram nessa lista, por exemplo, os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), além dos ex-deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues (PL-RJ, atual PR).
Até aqui, o Supremo foi rigoroso ao condenar por corrupção passiva os réus que receberam dinheiro para ingressar na base de apoio a Lula. Parece haver pouca dúvida de que manterá o mesmo ânimo com os corruptores e de que nesse rol entrarão os líderes petistas José Dirceu e José Genoino.

A astúcia e o porrete - PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

FOLHA DE SP - 02/10


Contra a lavagem de dinheiro, temos de fortalecer os órgãos de inteligência, o Coaf. Aumentar as penas e a ameaça punitiva, retirando garantias, é irracional


Lavagem de dinheiro é o tema da moda no mundo jurídico.
Os ministros do STF tratam dele com frequência durante as discussões da ação penal 470 (mensalão). O Congresso aprovou e o Planalto sancionou recentemente uma lei a esse respeito. Advogados, promotores e juízes discutem os novos contornos do crime. Banqueiros e corretores avaliam o quanto as novas regras impactam suas atividades. Seminários e mesas redondas sobre o tema pululam pelo país.
Mas o que é, afinal, lavagem de dinheiro? É o ato de ocultar ou dissimular bens de origem criminosa, dando-lhes aparência lícita. O ato, por exemplo, do traficante de drogas que justifica sua riqueza com notas referentes a serviços não prestados ou à venda de bens inexistentes.
E por que esse fenômeno desperta tanto interesse? Porque cada vez fica mais claro, para a sociedade e para as autoridades públicas, que a melhor e mais eficaz forma de combate à criminalidade organizada é estancar a lavagem de dinheiro, seguindo os rastros do capital obtido com as atividades ilícitas, capturá-lo, impedindo o refinanciamento das estruturas criminosas.
Mais do que a prisão de seus integrantes, que são facilmente substituídos por outros, o efetivo enfraquecimento dessas "empresas" do delito se dá com a desmontagem dos esquemas que as sustenta.
Percebeu-se que o combate ao crime organizado não pode mais se limitar às tradicionais formas de repressão (viaturas, armas, polícia ostensiva). Essa estratégia de "mais do mesmo", de fortalecimento do "inspetor de quarteirão", não tem condições de fazer frente a elaborados esquemas delitivos, amparados em operações financeiras, transações internacionais e estrutura empresarial.
Um plano eficaz de enfrentamento do crime organizado passa pela estruturação de órgãos de inteligência de prevenção e combate à lavagem de dinheiro, como o Coaf, com capacidade de receber, armazenar e sistematizar informações sobre movimentações financeiras atípicas, detectar complexos esquemas de encobrimento de valores sujos e municiar autoridades com dados que permitam congelamento de bens e identificação dos autores dos delitos.
Por isso, é importante uma política de fortalecimento das instituições de controle, com ampliação e treinamento de pessoal, e capacidade de analisar em tempo razoável as informações remetidas.
A nova lei de lavagem de dinheiro segue essa linha de ampliação das redes de conhecimento e informação. Confere mais poderes ao Coaf e vai além. Obriga todos os profissionais que atuam em áreas utilizadas com alguma frequência por lavadores de dinheiro, como bancos, corretoras de valores, agências de eventos, de intermediação de contratos esportivos, a que mantenham um cadastro atualizado de clientes, e notifiquem autoridades públicas sobre qualquer suspeita de atos de encobrimento de dinheiro sujo praticado por seus usuários.
Claro que haverá discussão sobre a extensão e os limites dessas obrigações. Mas, uma vez assentados os seus contornos e corrigidos os excessos e exageros, será instituído um ambiente de maior controle das operações financeiras e comerciais, e, certamente, mais difícil para os atos de lavagem de dinheiro.
O incremento das agências de controle e as obrigações previstas na nova lei são um bom exemplo de como é possível aprimorar uma política criminal sem recorrer ao irracional aumento de penas e à supressão de garantias.
Substituiu-se a pura ameaça punitiva pela sofisticação de um sistema de inteligência eficiente, o terror simbólico vazio pela tecnologia da informação. Mas ainda falta investir mais no aperfeiçoamento de armas como a perícia, análise e inteligência de forma geral. O sucesso da empreitada depende da vitória da astúcia sobre o porrete.

A culpa e o PIB - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 02/10

Dentre as cinco resistências ao tratamento analítico descritas por Freud, a mais curiosa é a reação terapêutica negativa. Ele ficava pasmo de ver que, quando alguns pacientes tinham uma expressiva melhora em suas neuroses, como decorrência da análise, algo de muito errado lhes acontecia.
Ora adoeciam, tinham acidentes, tomavam decisões catastróficas, mas, sobretudo, abandonavam o tratamento. "Pioram porque melhoram?" era a questão que intrigava o Professor. Depois de muita pesquisa, ele concluiu que algo neles se ressentia com seu novo bem-estar. Tinham culpa de se sentir bem.
Depois da Segunda Guerra, surgiu um acontecimento psíquico que trouxe luz àquele enigma: a síndrome do judeu sobrevivente. Um traço comum unia os que haviam escapado ao campo de concentração: não podiam ser felizes, pois eram assombrados pelos mortos, que lhes sussurravam na alma, "Aí, hein? Você, todo feliz, gozando a vida, e nós, viramos cinza, não é?" Ele, devastado pela culpa, fazia então a única coisa que lhe poderia dar alguma dignidade: buscava ser infeliz.
Isto está longe de se restringir àquele grupo étnico. Jogadores de futebol, que ganham fama e fortuna, afastam-se do subúrbio onde nasceram para desfrutá-las em áreas mais ricas, mas é comum que algo de muito errado ocorra, que se entreguem à dissipação, aos vícios, que entrem em decadência, que sofram de solidão, que se deixem explorar.
Houve um que abrigou de graça várias famílias por 11 anos, num prédio que comprara. Ao ser processado para dar pensão a uma de suas ex, passou a cobrar uma quantia irrisória de aluguel, como meio de pagar o estipêndio. Foi o bastante para que corressem aos jornais, acusando o jogador de egoísmo, de ter-se esquecido dos pobres, de sua origem, de trair o seu passado.
O mesmo ocorre com ganhadores de loteria. São raros os que mantêm seu dinheiro.
Minha motivação para este texto vem dos meus pacientes que sofreram da tal resistência. Você conhece a anedota que pergunta "quantos psicanalistas são necessários para que se troque uma lâmpada?" A resposta é: "Um só. Mas é preciso que a lâmpada queira muito ser trocada".
Segue disto que, se uma pessoa é capaz de achar que há algo errado consigo, se é capaz deste grau de reflexão, em vez de culpar os outros, as chances de que seja uma pessoa de destacada inteligência são grandes. Ora, a mãe natureza é sabidamente injusta e desigual quando se trata da distribuição desta qualidade. A maior parte da humanidade é principalmente reativa aos acontecimentos. Os reflexivos, contempladores e planejadores formam uma triste e solitária minoria, a desgraça de sua graça é ser difícil encontrar interlocutores.
Alguns clientes se descobriram muito cedo portadores dessa anomalia congênita. Uma delas se lembra de aos seis anos se perguntar, "O que eu estou fazendo no meio dessas pessoas?", referindo-se à própria família. Não deu outra. Passa a vida se sentindo levemente culpada por se destacar, e seus empreendimentos, a despeito de seu talento ímpar, nunca avançam muito.
Nestes tempos em que o senso comum vai absorvendo como verdade que "pobre é bom; as 'zelite' é mau", o sentimento de culpa ligado à prosperidade tende a crescer, e isto influencia o PIB do país (para baixo). É a herança maldita do Stalin, que, nas palavras de Trotsky, "fez da privação uma virtude". Que tal as esquerdas começarem a olhar para a China?

Escolha de Sofia - SONIA RACY


O ESTADÃO - 02/10


Dilma, que não deseja ir às urnas em Porto Alegre – evitando, assim, se colocar entre o candidato do PT e o do PDT –, foi informada de que não é permitido ao presidente da República votar em trânsito.

E para aprofundar o dilema, Carlos Araújo, seu ex-marido, que vinha manifestando vontade de voltar ao PDT, decidiu se filiar logo após as eleições.

Passo a passo
Ambientalistas temem que Dilma sancione o Código Florestal sem vetos, visto que está difícil a maioria no Congresso.

Evitaria, assim, mais desgaste entre Executivo e Legislativo.

Light
Enquanto Dilma e Lula subiam no palanque com Haddad, ontem à noite, Russomanno entrou em estúdio para gravar. O marqueteiro da campanha do PRB quer o candidato “mais leve” na TV.

Tá Russo?
E o QG de Serra trabalha, desde o fim de semana, com a possibilidade de segundo turno com Haddad. Tudo é possível…

Bola…
Lula busca uma brecha na agenda para visitar o Itaquerão em companhia de Haddad esta semana. A data mais provável é quarta. O pedido partiu dos operários.

…em campo
Haddad intensifica a agenda de rua. Na briga pelo segundo turno, Serra fará o mesmo: vai passar o máximo de tempo em contato com eleitores.

Na sexta, o PT faz caminhada… silenciosa, para encerrar a campanha.

Chamada final
Cármen Lúcia, presidente do TSE, começou a enviar ofícios a presidentes de TREs e aos três mil juízes eleitorais do País. Ressaltando que conta com eles para que tudo dê certo.

Revoada
O Lide, de João Doria, aterrissa em Punta Mita, no México, com 110 CEOs brasileiros – para tratar das relações políticas e comerciais entre os dois países. De 10 a 13 de outubro.

Lembrete: o México vai crescer cerca de 4% este ano; e o Brasil, menos de 1,5%.

Martelo batido
A White Cube – que está entre as mais importantes galerias inglesas – vai abrir unidade do Brasil.

Mais precisamente, em SP.

Girlpower
De olho nas mulheres, a CBF começa a montar programa de renovação da seleção feminina.

Como? Identificando novas jogadoras na base para montar um time que não dependa apenas da atual estrela, Marta.

Carioca
Para a abertura da primeira Cartier no Rio, desembarcam aqui o presidente Bernard Fornas e a musa da marca, Monica Belucci. Participam de jantar, dia 25, na casa deOlavo Monteiro de Carvalho, com direito a exposição.

Ligeirinha
Gloria Perez está com quase tudo pronto em sua Salve Jorge. Tudo mesmo! EnquantoAvenida Brasilt erá algo como 176 capítulos, a próxima novela das 21h já conta com… 216!

Direto de SP
Katty Kay, âncora da BBC em Washington, veio pela primeira vez ao Brasil semana passada. Motivo? Apresentar especial sobre educação brasileira no BBC World News, diretamente do alto do Edifício Martinelli. Impressionada com o frio paulistano e encantada com o café brasileiro, a moça – que já cobriu quatro eleições americanas e três guerras – conversou com a coluna sobre seu livro Womanonicse deu palpite sobre o País: “Se não mudar a educação, o Brasil não conseguirá acompanhar os Brics”. Seguem trechos da conversa.

Do que trata o especial Brazil Direct?

Queríamos abordar não só economia, Copa e Olimpíada, mas o investimento que o Brasil faz na educação. Visitei escolas, e professores nos relataram que falta treinamento técnico e que os salários são muito baixos. Se o Brasil quiser se desenvolver e continuar nos Brics, terá de pensar nisso. A China, assim como a Índia, está investindo em tecnologia e conhecimento.

Você já cobriu quatro eleições americanas. Qual sua sensação agora?

Os EUA estão passando por uma fase desafiadora. Para continuar competitivo, o país terá de elaborar novas políticas. E, em campanhas, normalmente os candidatos tratam de coisas menos importantes.

O slogan de Obama é “Forward”. Acha que ele não fez o bastante nesses quatro anos?

Obama assumiu quando o país estava muito pior. Fez mais do que poderia, como mudar o sistema de saúde. Foi um grande passo, até imprudente, pois custou popularidade. Talvez ele devesse focar mais na economia e na criação de empregos. É com isso que os eleitores estão preocupados.

Seu livro Womanomics fala do poder da mulher no mercado de trabalho…

Hoje em dia, é cada vez mais aceita a mulher que trabalha, ganha bem. O Brasil é um ótimo exemplo, não só pela presidente, mas pelo número de ministras e parlamentares mulheres. Há alguns anos, isso era incomum. Existia um pensamento feminino majoritário de “nossa, sou sortuda de ter meu emprego”. Mas não somos sortudas, somos apenas boas.

As empresas estão percebendo isso?

Sim. Estão chegando à conclusão de que vale a pena manter mulheres em cargos altos. Tomamos boas decisões, sabemos ponderar, somos eficientes. Conseguimos fazer duas coisas ao mesmo tempo, e a tecnologia ajuda. Posso trabalhar e pegar meu filho na escola. E as empresas se beneficiam disso. Desde que façamos bem nosso trabalho, não importa onde estamos. Os resultados têm mostrado isso./MARILIA NEUSTEIN

Na frente
René Fernandes promove brunch hoje, para mostrar o redesign da Dpot.

Luciana Garbin e João Emilio Gerodetti lançam o livro Álbum de Retratos – Photographias Brazileiras. Quinta, na Livraria Cultura da Paulista.

Helô Mello pilota o workshop Gastronomia com Pitadas de Coaching. Sábado.

De olho na Copa e na Olimpíada, executivos da rede Shangri-La de hotéis de luxo desembarcam por aqui.

Fernanda Young abre exposição. Hoje, no MIS.

Carla Amorim promove show do violinista Daniel Murray. Hoje, na Oscar Freire.

Andrea Matarazzo fez as contas: percorreu 8,5 mil km nesta campanha. E rodará mais mil até o fim da eleição.

Hora de acertar as contas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 02/10


Dentro do PT, a tensão é total. O partido não se conforma com o julgamento do mensalão em meio às eleições municipais. Há quem diga que isso foi… “covardia”. Mas, na hora de correr atrás dos votos, o PT vai deixar essa avaliação para 10 de outubro, dentro do cronograma estipulado. E o governo toma distância desse processo do mensalão. Tanto é que Dilma Rousseff não pretende participar dessa reunião partidária daqui a oito dias. O foco do governo é aproveitar esse período de distração com eleições e mensalão para avaliar os problemas que tem pela frente no Congresso Nacional, tão logo termine a apuração dos votos no domingo. E nem é a sucessão de José Sarney, no Senado, ou de Marco Maia, na Câmara, que incomoda o Planalto. Nessa próxima disputa, a avaliação da presidente Dilma Rousseff tem sido a de que o melhor a fazer é aceitar os nomes indicados pelo PMDB. Afinal, uma briga com o principal parceiro não interessa ao governo.

O que tira o sono do Poder Executivo é a série de minas terrestres espalhada na forma de projetos de lei e ainda aquelas que podem surgir dentro da votação do Orçamento da União de 2013. Entre essas bombas para o governo — e não só para o governo federal, vale registrar — velhas conhecidas, como os royalties do petróleo; a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300, que aumenta o salário dos policiais e o Plano Nacional de Educação (PNE), que inclui a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto em investimentos nesse setor até 2020.

Em todos esses projetos, o governo tem uma visão diferente daquela que predomina entre os parlamentares. Mas está chegando a hora que muitos consideram melhor forçar logo a votação e desarmar essas bombas de uma vez do que adiá-las indefinidamente. A janela para apreciá-las, conforme se diz no governo, é agora, quando a avaliação da presidente está nas alturas.

Enquanto isso, na comissão mista de Orçamento…

A análise do Orçamento por parte dos congressistas começa na semana que vem. Um dos pontos de atrito será com o Poder Judiciário. No Congresso, os parlamentares estão preocupados com o desfecho de ações judiciais que pedem a suspensão da análise do Orçamento de 2013 enquanto a presidente Dilma não encaminhar integralmente a proposta pretendida pelo Poder Judiciário. Essas ações judiciais levaram o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a encomendar uma nota técnica aos consultores da Casa para saber como proceder. Os técnicos deram sinal verde.

A briga entre Executivo e Judiciário por aumentos salariais se arrasta há dois anos. No ano passado, a presidente Dilma Rousseff não enviou de imediato o pedido de reajuste dentro do Orçamento. Só o fez depois de muita reclamação dos juízes, mas deixando clara a posição do governo federal. Este ano, em relação ao pedido do Judiciário, a proposição seguiu anexada, mas sem as fontes de recursos, ou seja, foi tratada como algo à parte, que pode ou não ser incluída a depender da avaliação do Congresso.

Os técnicos em Orçamento do Congresso fizeram chegar ao presidente da Comissão Mista de Orçamento que o governo agiu corretamente e que agora cabe ao Congresso, dentro das normas legais, decidir se aceita ou não a inclusão da proposta integral do Judiciário dentro do Orçamento, mas alerta para as dificuldades de encontrar fontes de recursos. Em outras oportunidades, o Congresso não acolheu os pedidos do Judiciário e, pelo andar da carruagem, já se prepara para, mais uma vez, negar grandes aumentos de salário.

E na sala da Justiça…

O que deixa os petistas tensos é o fato de o julgamento de seus integrantes começar na quarta-feira, justamente no último dia em que é permitido fazer campanha eleitoral. Se os primeiros votos forem pela condenação — e não ha nada que indique absolvição por parte do relator Joaquim Barbosa — não sobrará tempo para mais nada. A eleição virá no rastro de um noticiário que apresentará votos pela condenação de seus filiados. 

O voto do ministro Celso de Mello, ontem, soou como uma facada no partido. Mello aproveitou para responder àqueles que criticam a atuação do STF nesse episódio. Entre outras coisas, disse que esse julgamento revela a “face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais ou desígnios pessoais”. Certos de quem nem tudo foi mensalão no governo Lula, os petistas consideram que poderiam ter dormido sem essa. Mas, aí, é outra história.

O século de Hobsbawm - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 02/10


Morreu ontem Eric Hobsbawm, um dos mais influentes historiadores do século 20. Sua influência veio não apenas de um trabalho seguro e rigoroso de pesquisa historiográfica que privilegiava movimentos sociais dos séculos 19 e 20. Na verdade, em uma época como a nossa, que parece abraçar de maneira entusiasmada a crítica das chamadas "metanarrativas" com suas visões de processos globais e movimentos teleológicos, Hobsbawm destoava por ser um dos poucos que não se contentavam em afundar-se na micro-história.
Sem medo de procurar processos nos quais rupturas socioeconômicas e produção de novas ideias de cunho universalista se entrelaçam, Hobs-bawm soube, como poucos, mostrar como a história da modernidade ocidental sempre foi a história das revoluções.
Fiel à filosofia da história de cunho hegeliano herdada pela tradição marxista, ele escreveu quatro livros clássicos ("A Era das Revoluções", "A Era do Capital", "A Era dos Impérios" e "Era dos Extremos") a fim de mostrar como as exigências igualitárias de liberdade enunciadas pelos setores populares da Revolução Francesa moldarão o curso da história como uma voz que sempre volta. Tal voz da igualdade será o fator de inquietude de uma história que será, cada vez mais, realmente mundial.
Adorno dizia que a fixação positivista nos "fatos" escondia, muitas vezes, a simples incapacidade de enxergar estruturas. Pensar é saber estabelecer relações e, se é inegável que certas construções da historiografia marxista demonstram-se infrutíferas e demasiado genéricas, há de se reconhecer que a rejeição em bloco dessa tradição teve forte impacto negativo na nossa capacidade de pensar a história.
Mas isso nunca impediu Hobsbawm de imergir nos detalhes e encontrar, por exemplo, na voz de Billie Holiday as marcas do sofrimento social dos esquecidos do sonho americano (conforme o livro "História Social do Jazz") ou nas desventuras do bandido Jesse James algo de fundamental a respeito dos descaminhos de nosso ideal de liberdade e das debilidades do poder (conforme o livro "Bandidos"). Hobsbawm sabia ler tais "fatos isolados" como sintomas sociais.
Alguns, como o historiador britânico Tony Judt, insistiam que Hobsbawm não teria capacidade de compreender as ilusões que moldaram o século 20, em especial o comunismo. Talvez seja o caso de dizer que a compreensão da história como simples crítica das ilusões corre o risco de perder de vista o essencial: de onde vem a força que faz com que indivíduos consigam ir além de seus próprios interesses imediatos? O que talvez explique porque quis o destino que o último livro de Hobsbawm se chamasse exatamente "Como Mudar o Mundo".

Turma do pedágio - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP -02/10


Entre os notáveis que a campanha de Celso Russomanno reuniu para dar verniz técnico ao seu plano de governo estão dois antigos aliados de Geraldo Alckmin na área de transportes: o ex-secretário Dario Rais Lopes e o ex-diretor da Artesp Ulisses Carrara. Lopes aditou contratos com concessionárias de rodovias em 2006. Depois, trabalhou para a Ecovias, que opera o sistema Anchieta-Imigrantes. Defensor do pedágio urbano, considera a cobrança nas cidades "inevitável".

Recolher A provável greve do metrô, prevista para quinta-feira, mudou os planos do encerramento da campanha de José Serra. Após passeata pelo centro, o tucano discursaria ao meio-dia na praça da Sé, com Geraldo Alckmin, FHC e Gilberto Kassab. Com o risco de paralisação, o evento foi cancelado.

Tró-ló-ló Tucanos temiam "infiltração" de opositores nas manifestações. "Essa greve é política. Não vamos fazer o jogo que lhes interessa", diz José Henrique Reis Lobo, do QG serrista.

Lambe-lambe Ao acompanhar Marta Suplicy, que o visitou no fim de semana, Fernando Haddad foi surpreendido por um pedido do porteiro de seu prédio, para que o candidato tirasse uma foto sua ao lado da ex-prefeita.

Thriller Com a perspectiva de disputa acirrada, o TRE dará panorama final sobre o segundo turno em São Paulo às 23h de domingo. A totalização das 23.700 urnas, contudo, deve ocorrer segunda.

Parcerias... A juíza Carla Kutby, da 3ª Vara do Trabalho de São Paulo, acatou pedido do Ministério Público e decretou a nulidade de todos os contratos de gestão firmados pela Secretaria da Saúde com Organizações Sociais.

... em xeque Na sentença, ela diz que os acordos promoveriam terceirização ilícita da saúde. Com isso, 37 hospitais e 50 serviços ambulatoriais correm o risco de parar.

Fila A decisão de ir a São Paulo no primeiro turno recolocou Dilma Rousseff na mira dos candidatos do PT. No fim de semana, ela recebeu pedidos para ir aos comícios finais de Nelson Pelegrino (Salvador), Patrus Ananias (Belo Horizonte) e Elmano Freitas (Fortaleza).

Abadá A presidente, que discutiu o assunto com Lula ontem, enfrenta pressão do governador Jaques Wagner (BA), sob o argumento de que Pelegrino está colado em ACM Neto (DEM) e tem chances concretas de vitória.

Troco A campanha de Márcio Lacerda (PSB) em BH tem pronta edição com discursos em que Dilma e o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) elogiam o prefeito. Irá ao ar caso o PT exiba as críticas do vice Délio Malheiros (PV) a Lacerda.

Day after Em conversa com um interlocutor na semana passada, José Dirceu disse que, se for condenado à prisão, vai virar um "mártir" do PT e continuará fazendo política da cadeia.

Caladão O PT enviou ofício à presidência da Câmara pedindo para que nesta semana as sessões só sejam abertas com 51 deputados, como exige o regimento. A legenda quer evitar discursos sobre o mensalão às vésperas da eleição municipal.

Azedou 1 A ida de Gleisi Hoffmann (Casa Civil) ao palanque do PSD em São José dos Pinhais (PR) desagradou o PMDB, que lançou na cidade Rodrigo Rocha Loures, pai e homônimo do coordenador de relações institucionais de Michel Temer.

Azedou 2 O assessor da vice-presidência disse que o gesto terá reflexos em 2014, quando a ministra deve se candidatar ao governo.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

Chalita é um cínico de aluguel. Prestando esse serviço, mostra que está mais para Haddad do que para Gabriel.

DO DEPUTADO CAMPOS MACHADO (PTB), presidente do conselho político de Celso Russomanno, sobre as críticas do peemedebista ao candidato do PRB.

contraponto

Cronômetro implacável

Em evento na Anvisa no qual se debatia a obrigatoriedade da receita médica, na semana passada, a fala dos participantes era limitada em três minutos. Único parlamentar a discursar, Antônio Roberto (PV-MG) foi interrompido pela funcionária do órgão quando esgotou seu tempo. O diretor da Anvisa, Dirceu Barbano, brincou:

-Se a Câmara contratasse essa moça, vocês não teriam mais discursos tão longos...

O deputado reagiu:

-É uma boa solução. Mas também tem que ter um outro profissional para conferir o que eles falam!

Castroländia - RODRIGO CONSTANTINO


O GLOBO - 02/10


Michael Moore, Jack Nicholson, Oliver Stone, Steven Spielberg, Francis Coppola, Robert Redford, Danny Glover e Sean Penn: o que todos eles têm em comum, além da fama e da fortuna? São bajuladores da mais longa, cruel e assassina ditadura do continente. Cuba ainda desperta fortes emoções em muito inocente útil mundo afora. Por isso devemos celebrar o lançamento, pela Leya, do livro “Fidel: O tirano mais amado do mundo”, de Humberto Fontova

Exilado em Miami, Fontova é também autor de “O verdadeiro Che Guevara”. Não deve ser fácil ver os gringos tratando como heróis esses que dizimaram e escravizaram seus familiares, transformando sua nação em um feudo miserável.

A reverência ao meio século de totalitarismo cubano mostra que alardear boas intenções vale mais do que atos concretos. A retórica “altruísta” dos revolucionários serve como salvo-conduto para todo tipo de crime comum. Em nome da utopia socialista, vale tudo. Os “nobres” fins justificam os meios mais nefastos. Muitos falam dos “avanços sociais” na saúde e na educação. Como se isso, mesmo que fosse verdade (não é), absolvesse todos os crimes hediondos do ditador adulado por Hollywood. Cuba não era um prostíbulo americano antes de 1959. Era um país com ampla classe média, com o terceiro maior consumo de proteína no hemisfério ocidental, a segunda renda per capita da América Latina (maior que a Áustria e o Japão), e a taxa de mortalidade infantil mais baixa da região.

Sua taxa de alfabetização já era de 80% em 1957, e o mais importante: os cubanos tinham cerca de 60 opções de jornais diários para escolher. Compare-se a isso a realidade hoje, com um único jornal, monopólio estatal, que reproduz somente aquilo que o ditador deseja. Nas salas de aula, os alunos “aprendem” sobre as maravilhas do socialismo, e depois precisam enfrentar a realidade infernal da ilha-presídio. Educação?

Em 1958, Cuba tinha nove cassinos, e apenas 5% do capital investido no país eram americanos. Se muitos turistas buscavam diversão na ilha, vários cubanos também viajavam para Miami. Hoje, milhares de cubanos estão dispostos a nadar no meio de tubarões para tentar a liberdade nos Estados Unidos, tudo para fugir do“paraíso” socialista onde “nenhuma criança dorme na rua”

Para piorar o quadro, Havana recentemente passou Bangcoc como “capital do sexo infantil no mundo”. Possui ainda as maiores taxas de suicídio e aborto da região, fruto da miséria e do desespero. Isso apesar dos mais de US$ 100 bilhões de subsídios que a antiga União Soviética mandou para Fidel. Chávez assumiu a mesada, mas fica tudo concentrado na “nomenklatura” escolhida pelo Líder Máximo.

Há também uma segregação racial na ilha, com 80% dos presos sendo negros, contra menos de 1% da cúpula do poder. Homossexuais são perseguidos. Os “progressistas” da esquerda caviar não suportariam viver um dia sequer em “A Ilha do Doutor Castro” (outra leitura recomendada). Cuba virou importante rota de tráfico de drogas, com claros sinais de envolvimento do governo, assim como um quintal para terroristas antiamericanos.

Raúl Castro escreveu em 1960: “Meu sonho é jogar três bombas atômicas em Nova York.” Seu irmão chegou a arquitetar planos para efetivamente lançar bombas na cidade, que felizmente fracassaram.

Fidel, retratado como humanitário pelos idiotas, já demonstrava sua paixão pela violência desde jovem. Em seu livro “Cuba sem Fidel”, Brian Latell diz: “Já com 20 anos de idade, Fidel considerava a prática de assassinatos e a provocação de situações caóticas meios justificáveis e aceitáveis para ver materializados seus interesses pessoais.”

Mas eis que o tirano ainda conquista corações ingênuos por aí. Alguns podem alegar que a Guerra Fria acabou, que o socialismo morreu, e que digo o óbvio. Nelson Rodrigues sabia que “somente os profetas enxergam o óbvio”.

O leitor duvida? Então por que ainda temos partidos que pregam o socialismo, enaltecendo o regime cubano, como faz o PSOL de Chico Alencar e Marcelo Freixo? Por que nossa presidente chama Cuba de “país-irmão”na ONU, criticando o embargo americano (parece que ser “explorado” pelos ianques é algo bom, afinal), mas é incapaz de fazer uma crítica ao regime ditatorial dos Castro?

Não se engane. A esquerda carnívora ainda vive, e tem em Fidel um guru. Aguardem o dia de sua morte para ver a patética comoção. Daí a importância do livro de Fontova, um antídoto para essa doença que ainda encontra terreno fértil abaixo da linha do Equador, com a ajuda dos nossos “intelectuais” e dos famosos de Hollywood.

CARGA PESADA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 02/10

Sabrina Sato posou nua para ensaio da "Quem" que chega às bancas amanhã. Foi literalmente carregada no colo pelo maquiador Fernando Torquatto. "Falei que precisávamos inverter as posições. Sou pesada!"

CRIME E CASTIGO
Preso há 16 meses em Tremembé (147 km de SP), o jornalista Pimenta Neves entrará com pedido de progressão de regime em maio do próximo ano. Terá cumprido 1/6 da pena de 15 anos pelo assassinato da ex-namorada Sandra Gomide. "É quando, em tese, terá direito a passar para o regime semiaberto, podendo sair da prisão durante o dia para trabalhar", diz a advogada Maria José da Costa Ferreira.

CRIME E CASTIGO 2
No cálculo da advogada de Pimenta entram os 23 meses passados em regime fechado no presídio, somados a outros sete, quando ele esteve preso antes do julgamento, mais a remissão dos dias trabalhados na prisão. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, o jornalista está escalado desde 4 de abril para "desenvolver atividades laborterápicas no setor de limpeza". Cada três dias de trabalho geram um a menos na prisão.

CRIME E CASTIGO 3
Pimenta Neves pretende escrever uma autobiografia

TROPA NA RUA
O PT em SP convocou 600 sindicalistas para fazer campanha para Fernando Haddad nos redutos do partido. Em especial, nos lugares onde Celso Russomanno (PRB) mantém folgada dianteira.

LULA NA RUA
O ex-presidente Lula deve ir a seis regiões de São Paulo para reforçar a campanha.

FORÇA, COMPANHEIRO
A diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC visitou José Genoino (PT) em sua casa na quinta, depois de ele receber alta hospitalar.

HORA DA VIRADA
De passagem pela feira de negócios ExpoCristã, o candidato a prefeito José Serra (PSDB) se disse simpático à ideia de realizar uma Virada Cultural evangélica.

GUICHÊ GOSPEL
Fez sucesso na feira, que terminou anteontem em SP, uma máquina de auto-atendimento batizada Gospel Fidelidade. Ela será implantada nas igrejas para que o fiel possa fazer operações como pagar dízimo e comprar produtos evangélicos on-line.

IPI FAZ ESCOLA
A partir de 2013, algumas Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo) terão novas formações, voltadas para setores aquecidos da economia. O Centro Paula Souza, em SP, dará cursos superiores de tecnologia em gestão portuária e em mecânica automotiva.

HOMENAGEM À MESA
O restaurante Rodeio, um dos preferidos de Hebe Camargo, está pensando em como homenagear a apresentadora. "Assim que passar o luto, vou fazer uma versão de um prato dos que ela gostava, como a linguiça apimentada, com o nome dela", diz o maître Francisco Chagas.

O SEXO E O APÊ
Darren Star, produtor que criou a série "Sex and the City", pôs à venda seu apartamento ao lado do Central Park, em Nova York. O andar de 300 m² sai por US$ 15 milhões (R$ 30 milhões).

PECHINCHA
Um casal francês em lua de mel arrematou a foto mais disputada do leilão do Paraty em Foco - Festival Internacional de Fotografia. Comprou "Negra", de Marcio Rodrigues, por R$ 4.200 (o lance inicial era de R$ 2.000). Já a obra mais cara foi de José Yalenti, por R$ 11 mil (metade do valor de mercado).

MILTON RENASCIMENTO
A galerista Graça Bueno, o ator Odilon Wagner e o músico Diego Casas foram ao teatro Alfa ver "Ser Minas Tão Gerais", musical com Milton Nascimento, no sábado.

A PRAÇA É NOSSA
A praça Roosevelt reabriu no sábado, após reforma de dois anos. Entre as novas atrações do lugar, há paineis do artista Dario Bueno. O presidente da Ação Local Roosevelt, Luis Cuza, e a vice-prefeita de SP, Alda Marco Antonio, foram à inauguração.

CURTO-CIRCUITO

Medalhistas olímpicos como Esquiva Falcão e Sarah Menezes serão homenageados hoje no prêmio Sport Life, no Centro da Cultura Judaica, às 21h.

Fê Lemos, baterista do Capital Inicial, lança o livro de crônicas "Levadas e Quebradas". Hoje, na Fnac da av. Paulista, às 19h.

O Hospital Infantil Sabará, em Higienópolis, forma hoje à noite sua segunda turma de voluntários.

A presidente da Ahpas, Tatiana Piccardi, lança o livro "A Identidade do Voluntário no Mundo do Trabalho". Hoje, na Martins Fontes da av. Paulista.

A designer de joias Carla Amorim apresenta hoje coleção inspirada na obra de Villa-Lobos. Com show do violinista Daniel Murray. Às 11h, na Oscar Freire.

Palavra de magistrada - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 02/10


Cármen Lúcia lembra-nos de que o golpismo é parte da política brasileira desde a Proclamação da República



Ao final de seu voto seguro e claro, na última sessão do Supremo na semana passada, a ministra Cármen Lúcia pediu para expor uma preocupação à margem do processo. Por motivos que não vêm ao caso, o improviso da ministra não foi incluído no noticiário ou, na exceção em que o foi, perdera a parte de mais profunda significação e fruto de uma coragem incomum, nas circunstâncias. Reproduzo o trecho:

"O sistema brasileiro, acolhido em 1988, é muito difícil. Porque um governo que não tenha maioria parlamentar tende a não se sustentar. Ele cai. E se ele não cair, pouca coisa será feita. Então, cada vez é preciso mais rigor na ética e no cumprimento das leis pelos políticos. Para que a gente cumpra esse tão difícil modelo brasileiro exatamente com o rigor que a sociedade espera de cada agente, de cada servidor público."

Neste país, afirmar a existência de "democracia plena" e do "funcionamento perfeito das instituições" é obrigação e banalidade. Se houver, porém, algo discutível naquele trecho, não é o reconhecimento de que o sistema brasileiro, produzido pela festiva Constituinte de 88 e intocado na Constituição, é mais difícil do que o Brasil pode ter.

E muito menos caberia discutir, com boa-fé, o honesto e bravo reconhecimento, por magistrada de intocada respeitabilidade e no próprio Supremo Tribunal Federal, de que "um governo que não tenha maioria parlamentar tende a não se sustentar."

A admitir-se a possibilidade de "mais rigor na ética e no cumprimento das leis pelos políticos", as palavras de Cármen Lúcia são o chamado à exigência de correções que tornem o sistema político menos difícil, para salvaguardar a iniciante democracia dos riscos em que, sem isso, acabará por sucumbir.

Mesmo que não tenha sido seu propósito, as palavras de Cármen Lúcia lembram-nos de que o golpismo é parte da vida política brasileira desde a Proclamação da República, nada além de um golpe de estado trazido na ponta da espada Militar. Um estigma de nascença.

A preocupação que motivou a ministra é a de que as repercussões dos fatos e do julgamento atual no Supremo não ajam contra a crença na política. Sobretudo nos jovens. "É a política ou o caos", disse, " é a política ou a guerra". O que se passou, e levou ao julgamento, "não significa que a política seja sempre corrupta", e é preciso que isso não seja esquecido pelos muitos "já desencantados entre os 138 milhões de eleitores".

Mas, outra vez sem presumir intenção da ministra, sua preocupação permite observar que incidiu em lugar e momento particularmente oportunos. O atual julgamento no Supremo começou como um caso de "compra de apoio a votações de interesse do governo". Apoio e votações estavam substituídos, às vezes, respectivamente por "votos" e "projetos". O mesmo vale para os meios de comunicação. Com o passar dos dias, os ministros do Supremo foram preferindo deixar de fora a finalidade do valerioduto movido pelo PT.

Não ficou demonstrada a acusação de compra sistemática de votos, levada para o Supremo pela Procuradoria-Geral da República. A intervenção extra-voto da ministra Cármen Lúcia sugere aos ministros a possibilidade de que o financiamento (ilegal) de campanhas alheias, pelo PT, tenha mesmo figurado como aquisição de maioria parlamentar. Pelo temor, ou pela percepção, de que o governo "tendesse à queda". A corrupção política foi instrumento -nesse caso como em outros hábitos vigentes na vida parlamentar.

Verdades sobre a guerra fiscal - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 02/10


É preciso reconhecer que nos últimos 30 anos a política de desenvolvimento regional do governo federal produziu resultados pífios. Para ilustrar esse fato, basta observar a baixíssima proporção da renda per capita do Nordeste na comparação com a renda per capita nacional. Hoje, é de apenas 46%.

A virtual retirada da União da promoção do desenvolvimento regional, combinada à redução de recursos fiscais disponíveis, abriu espaço (na realidade, compeliu) os Estados a assumirem a iniciativa de atrair novos investimentos aos seus territórios e, assim, tentar alterar as suas condições de competitividade. Para isso, o instrumento privilegiado (talvez mesmo o único) que os Estados detêm é a concessão de incentivos de ICMS.

Espremidos entre o reclamo de progresso da população que os elegeu, de um lado, e a virtual impossibilidade de aprovação de incentivos no Confaz, de outro, os governadores optaram de forma generalizada pelo primeiro.

A competição não é eficiente apenas para os mercados

A principal crítica à prática de incentivos fiscais pelos Estados, apelidada com o nome aterrorizante de "guerra fiscal" na literatura da década de 90 ("competição fiscal" seria o termo mais adequado), focou, corretamente, na possibilidade de que, levada ao extremo, ela provocaria o desarranjo da finança pública federal, prejudicando assim toda a população brasileira.

A crítica, então procedente, ficou superada com o advento da liquidação dos sistemas financeiros estaduais e da Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2001, potentes instrumentos de prevenção de atos irresponsáveis por parte dos gestores públicos. Não por acaso, desde 2001, Estados e municípios nunca mais deixaram de registrar superávits primários em suas contas fiscais.

Outra frequente observação maliciosa é a da concorrência desleal. Ao conceder incentivos, um Estado estaria criando condições favorecidas em detrimento de outros. Esse raciocínio pressupõe que todos Estados estavam inicialmente em condições iguais, e que foi a concessão do incentivo que desequilibrou a equação a seu favor e em prejuízo dos demais. Ora, no caso brasileiro a premissa não é verdadeira, pois, como se sabe, havia e há fortes e persistentes desequilíbrios regionais. Quando o incentivo é concedido por um Estado menos desenvolvido, ele está, geralmente, tentando restabelecer o equilíbrio socioeconômico regional, e não o contrário.

No caso específico do ICMS, discussões recorrentes têm focado a tributação do comércio interestadual, para o qual o Senado Federal definiu um engenhoso sistema de repartição de receitas entre os Estados de origem e destino, com duas alíquotas (de 12% e 7%), dependendo do sentido do fluxo desse comércio.

Ao privilegiar, de forma simples e automática os Estados menos desenvolvidos (concedendo ao fluxo originário desses Estados uma alíquota mais alta), esse sistema constituiu na realidade um instrumento bastante conveniente de desenvolvimento regional. Assim, ao propor mudanças no sistema tributário, é preciso atentar para esse fato singelo e cuidar para não desmontá-lo, sem substituí-lo por outro que atenda ao mesmo objetivo.

Convém coibir potenciais abusos, colocando-se limites bem definidos ao poder de concessão de incentivos. Essa é mais uma razão para uma conveniente regulamentação da matéria, que, por muito atrasada, está a reclamar urgência. Há evidências empíricas suficientes a mostrar os efeitos positivos da política de incentivos para as regiões menos desenvolvidas.

Até os mais ferrenhos críticos dos incentivos estaduais admitem que eles promoveram alguma desconcentração da atividade econômica ao longo do território nacional, processo que deve ser do interesse de todos e merece ter continuidade. A grande questão é como fazê-lo de modo a reduzir os conflitos atuais, retirando-os do Judiciário para o campo de um grande acordo político.

Para acabar com a chamada "guerra fiscal" não basta simplesmente retirar dos Estados a capacidade de conceder incentivos, como pretendem algumas propostas atualmente em debate, sob pena de produzirmos tão somente um aumento de carga tributária e reconcentração do desenvolvimento econômico - o que seria um lamentável retrocesso.

É preciso, também, garantir a restauração de uma verdadeira política de desenvolvimento orientada para a redução das disparidades entre as regiões. E isso requer um modelo novo de cooperação federativa: não há nenhuma razão para que tal política seja monopólio da União. Ao contrário, uma boa política de desenvolvimento regional não pode prescindir da participação ativa de todos os entes federados, articulados e coordenados pelo governo federal.

Um aspecto pouco explorado nessa discussão é que não é possível, numa verdadeira federação, retirar todo o poder de tributar de suas unidades, e que não há motivo para impor uniformidade, a não ser nas relações entre elas. Por que razão um Estado ou um município bem administrado, que cuida adequadamente de seus habitantes, não pode tributar menos, ou usar seus recursos dando "subsídio" à instalação de novos investimentos? É isso o que ocorre em federações bem-sucedidas. O processo de competição não é eficiente apenas para os mercados. Seria muito bom poder aplicá-lo também aos entes federados.

Visão republicana - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 02/10


O 30º dia do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal trouxe duas definições fundamentais para o aperfeiçoamento da democracia brasileira: a maioria do plenário formalizou o entendimento de que houve compra de apoio político no Congresso por parte do Executivo, e o ministro Celso de Mello denunciou que essa prática, inaceitável, coloca em risco o equilíbrio entre os poderes da República.

O decano do STF pronunciou um dos votos mais importantes não só do processo em julgamento, mas da história do STF, definindo que "o Estado brasileiro não tolera o poder que corrompe e nem admite o poder que se deixa corromper". Também o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, deu a dimensão da gravidade do esquema criminoso que está sendo julgado ao concordar que ele é representativo "de poder ideológico partidário", acontecendo "mediante a arrecadação mais que ilícita, criminosa, de recursos públicos e privados para aliciar partidos políticos e corromper parlamentares e líderes partidários".

Os dois votos, e mais o de Marco Aurélio Mello, deram a maioria do plenário à tese de que o que houve foi a compra de apoio político, e não caixa dois eleitoral, tese que só o revisor Ricardo Lewandowski abraçou explicitamente. Até mesmo Dias Toffoli, que nos tempos em que trabalhava para o PT disse que o mensalão "ainda está para ser provado", admitiu que houve compra de votos no caso do PL. Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Gilmar Mendes foram taxativos quanto à compra de votos, e Rosa Weber aderiu à tese de modo indireto: disse que seguia integralmente o voto do relator.

Mas o mais importante do dia foi mesmo o voto de Celso de Mello, pelo enquadramento do objeto do julgamento na ótica da preservação da República. Ao votar a favor do crime de quadrilha, ele ampliou a interpretação, equiparando a "ameaça à paz social" feita pelos bandidos à insegurança provocada por "esses vergonhosos atos de corrupção parlamentares profundamente levianos quanto à dignidade e à respeitabilidade do Congresso Nacional".

O decano defendeu que tais atos "devem ser condenados e punidos com o peso e o rigor das leis desta República", pois "afetam o cidadão comum, privando-o de serviços essenciais, colocando-os à margem da vida". Esses atos "significam tentativa imoral e ilícita de manipular criminosamente, à margem do sistema funcional, o processo democrático, comprometendo-o". Ele fez questão de sublinhar a gravidade da situação ao definir como especialmente culpados "aqueles que ostentam ou ostentaram funções de governo". Para ele, tal atividade "maculou o próprio espírito republicano".

Sem referência explícita, Celso de Mello, no entanto, deixou claro o que pensa do governo que abrigou tal esquema de corrupção: "(...) Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais ou desígnios pessoais".

Para exemplificar o que considera como o oposto do que ocorreu no país, Celso de Mello recorreu ao professor Celso Laffer, segundo quem, "numa República, o primeiro dever do governante é o senso de Estado, vale dizer, o dever de buscar o bem comum e não o individual ou de grupos". Mello disse que "o cidadão tem o direito de exigir que o Estado seja dirigido por administradores íntegros e por juízes incorruptíveis". Em algumas ocasiões de sua fala, apontava para o alto ao se referir às altas esferas do Poder Público que estariam envolvidas no esquema criminoso: "(...) quem tem o poder e a força do Estado em suas mãos não tem o direto de exercer (o governo) em seu próprio proveito".

Com a definição de que houve compra de apoio político num esquema sofisticado, com o objetivo de distorcer o funcionamento da democracia brasileira em favor do Executivo, o Supremo parte agora para a definição de quem arquitetou tamanho plano - de que são acusados os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares - e, sobretudo, quem entre eles detinha o "domínio do fato".

O julgamento de Chávez - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 02/10


SÃO PAULO - A Venezuela é uma democracia? Eu me inclino a responder que sim. Ela, afinal, passa em dois testes fundamentais. No próximo domingo, o país vai às urnas para escolher de forma razoavelmente livre seu próximo dirigente. Além disso, apesar das tendências autoritárias de Hugo Chávez, existe liberdade de imprensa e não há denúncias de perseguições sistemáticas e violentas a opositores.

A pergunta seguinte é mais difícil de responder: isso basta? Aqui, minha tendência é dizer não. Já comentei neste espaço o importante livro "Why Nations Fail", de Daron Acemoglu e James Robinson. A tese central dos autores, que eles justificam com profusão de dados históricos e análises, é a de que, no longo prazo, países só funcionam quando contam com instituições que promovem o poder político dos cidadãos e lhes permitem tirar proveito das oportunidades econômicas.

Nesse quesito, a situação da Venezuela é ainda mais paradoxal. Como mostrou Clóvis Rossi anteontem, Chávez, ao longo dos 14 anos em que está no poder, logrou a façanha de fazer com que 2,1 milhões de venezuelanos (pouco mais de 10% do eleitorado) deixassem de ser oficialmente pobres. Ou seja, houve uma partilha mais justa dos recursos econômicos.

Mas, se Acemoglu e Robinson estão corretos -e eu acho que estão-, o avanço não é sustentável, porque não se fez acompanhar de nada semelhante no nível das instituições políticas. Ao contrário, Chávez as remodelou de forma a servir a seus objetivos imediatistas, que incluíam, na melhor tradição populista, distribuir renda para obter apoio eleitoral.

Uma prosperidade duradoura, porém, depende de um fluxo de inovações e ganhos de produtividade que dificilmente é compatível com um regime personalista no qual todos os interesses se subordinam à agenda presidencial. Se Chávez fez bem a muitos venezuelanos, também fez muito mal à Venezuela.

Inteligência policial - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/10


É um tanto inquietante a primeira impressão deixada pela revelação, em reportagem do "TV Folha", programa veiculado na TV Cultura no domingo, das entranhas da facção criminosa que infesta os presídios do Estado de São Paulo.

Descobrir o PCC presente em 123 das 645 cidades paulistas, com 1.343 alistados sob seu comando, instilará receios em qualquer pessoa. A organização dispõe de 88 fuzis e 75 veículos para apoiar suas ações criminosas, que lhe arrecadam R$ 6 milhões mensais.

Essas informações alarmantes vêm somar-se às outras más notícias sobre a segurança pública no Estado. Os homicídios dolosos aumentaram 8,6% em agosto, contra o mesmo mês de 2011; nos primeiros oito meses do ano, a taxa foi um pouco menor, de 6,3%.

Teme-se que o incremento, embora não explosivo, represente -mais que flutuação estatística- a interrupção da formidável queda da criminalidade em SP nas duas últimas décadas, que a levou para a casa dos 10 homicídios por 100 mil habitantes (a média nacional é pelo menos duas vezes maior).

Preocupa nessa alta os sinais de que a ela se associa um recrudescimento da violência praticada contra a polícia e por ela. Pelo menos 73 policiais Militares foram mortos no Estado neste ano, quase duas vezes o número de vítimas no mesmo período do ano passado.

O total de mortos pela corporação policial (supõe-se que a maioria seja de bandidos abatidos em confrontos) estava em 170 no fim de julho, último dado oficial disponível -uma cifra de letalidade excessiva, sob qualquer parâmetro.

Tudo leva a crer que se encontra em curso uma guerra subterrânea entre a Polícia Militar e a facção.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) insiste em que se trata de reação dos criminosos à ação policial, explicação que já parecia plausível e agora sai reforçada.

Os cerca de 400 documentos obtidos e revelados na reportagem indicam que a polícia paulista deu um passo importante de investigação sobre o PCC, fruto de um trabalho de inteligência mais apurado.

Cabe agora utilizar a informação adquirida para desbaratar a organização com a mesma eficácia, sem excessos nem ímpetos de vingança. Investigar e prender -é tudo que a população espera de uma polícia atuante e preparada.