O GLOBO - 25/09
A empresa paulista Sax perguntou a dez mil pessoas em todo o país quem atende melhor no comércio.
Numa escala de um a cinco, a maior nota ficou com as feiras livres (3,9), seguidas pelas padarias (3,7) e pelas farmácias (3,5).
A pior nota ficou com as lojas de telefonia (2,2), depois os bancos (2,4) e os supermercados e as lojas de eletroeletrônicos (3,0).
E o pior e que...
Ainda teve telefônica que fez beicinho de quem teria sido injustiçado quando a Anatel aplicou um corretivo em muitas delas, lembra-se?
Sobrou para o Rio
De Ruy Castro sobre a proposta de alguns comissários petistas da cultura de transferir a Funarte do Rio para Brasília:
— Querem 'desprovincianizar' a Funarte, tirando sua sede do Rio e levando-a para Brasília. Se acontecer, será uma dupla contradição em termos.
Em tempo
A ideia de tirar a Funarte do Rio tem DNA de São Paulo, terra da ministra Marta Suplicy.
É muita tensão
Esta maratona do julgamento no STF do Mensalão tem naturalmente estressado os ministros.
Um deles já foi parar no médico com doença de fundo nervoso.
Brasil melhorouOs dados que o Ipea, sob nova direção, divulga hoje mostram que a pobreza caiu 57% na última década.
O Brasil atingiu em dez anos uma das Metas do Milênio, da ONU, prevista para ser alcançada em 25 anos.
‘HOJE O CÉU ESTÁ TÃO LINDO...’
Ontem começou de fato a primavera no Jardim Botânico do Rio, três dias depois da mudança oficial de estação. Confira aqui. A aleia “Primavera” (o nome técnico é Bougainvillea spectabilis Willd), ali quase em frente ao Bromeliário, excedia em beleza, provocando a parada obrigatória e o encantamento dos visitantes, muitos deles estrangeiros que não conhecem essa trepadeira tão, tão característica do nosso clima tropical. No mais, é como diz um versinho da música “Primavera”, de Tim Maia: “Hoje o céu está tão lindo (sai chuva)...” •
Perigo francês
O diário International “Herald Tribune,” do jornalão "New York Times” publicou que Samia Ghali, prefeita de dois distritos de Marseille, na França, pediu ajuda ao Exército francês para combater as gangues da cidade.
Deve ser terrível... você sabe.
Síndrome de Down
Muitas vezes os portadores da síndrome de Down não são bem atendidos pelo SUS por ignorância dos profissionais de saúde.
O ministro Alexandre Padilha vai lançar um plano para padronizar e humanizar esse tipo de atendimento na rede pública.
Teacher Carminha
Tem estrangeiro, como se sabe, que aprende o português vendo novela.
É o caso do cônsul do Canadá no Rio, Sanjeev Chowdhury, que não gosta de assumir compromissos na hora de "Avenida Brasil”
Nome novo
A agência Euro RSCG, que atua em 75 países, mudou de nome para Havas Worldwide (pronuncia-se: ravas worldwaide). O boa-praça Armando Strozenberg é o chairman Brasil.
Vestidos da ‘Divina’
A produtora carioca Carino pretende produzir um livro de fotografias com vestidos de Elizeth Cardoso (1920-1990), a saudosa cantora. Vai se chamar "Faces de Elizeth” e será lançado com show e exposição de vestidos e fotos.
O MinC autorizou a captação de R$ 1.110.900.
Mas...
Um milhão e cem mil reais não é muito dinheiro público?
Saidinha de banco
A 3? Vara Cível do Rio determinou que o Banco Itaú indenize uma cliente por um assalto na saída do banco em agosto de 2007.
Cláudia Mello Alves, do Trapiche Gamboa, sacou R$ 10 mil de sua conta e, ao sair do banco, foi assaltada, segundo o seu advogado João Tancredo. O banco terá de pagar o dinheiro roubado com juros, além de R$ 25 mil de danos morais.
Cinderela em casa
A 7? Câmara Criminal do Rio concedeu, parcialmente, o habeas corpus impetrado pelas advogadas Guiomar Mairovitch e Paula Barioni para transformar a prisão preventiva em domiciliar de uma das garotas de programa acusadas de aplicar o golpe conhecido como Boa Noite Cinderela em turistas estrangeiros, em Copacabana.
É que, segundo as advogadas, não há prova do uso da substância.
Imprensa
O “Jornal do Commercio” festeja seus 185 anos no dia 1°, no Copacabana Palace. É o mais antigo ainda em circulação na América Latina.
Piu-piu
O candidato Rodrigo Maia visitou uma associação de criadores de pássaros em Vargem Grande, no Rio, tentando ciscar uns votinhos.
Ficou encantado com a cantoria e saiu de lá com um trinca-ferro na gaiola.
terça-feira, setembro 25, 2012
Stanley Fischer, economista - ANTONIO DELFIM NETTO
VALOR ECONÔMICO - 25/09
No Brasil um grande número de analistas condena até um encontro casual num elevador, do ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Isso revela que entendem mal o exercício da política monetária e o da política fiscal. Exigir que o presidente do BC e o ministro da Fazenda se ignorem, não passa de pura ignorância!
Para comprovar isso, nada melhor do que um anúncio conjunto de meia página no "The Economist" de 15 de setembro de 2012 pelo Tesouro Inglês (His Majesty Treasury) e do Banco Central inglês (Bank of England) no qual convidam, para um concurso público, candidatos ao cargo de presidente do banco. Em junho de 2013 deverá vencer o mandato do atual, sir Mervyn King.
E como o feliz vencedor vai trabalhar? O mesmo anúncio informa: "O presidente (the governor) trabalhará intimamente com o ministro da Fazenda (chanceller of the Exchequer) e com o Tesouro (His Majesty Treasury) que é responsável pelo estabelecimento das diretrizes dentro das quais o banco deve operar". Se encontrarmos num "pub" tomando "Guinness" e confraternizando os três ilustres personagens, não devemos suspeitar que o "eleito" perdeu a sua "independência" como acontece em Pindorama...
Fischer combina o conhecimento da Academia e do mundo
Falando de política monetária, Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel desde 2005, comentou um magnífico trabalho (Cagliarini, A.-Kent, C.-Stevens, G. - "Fifty Years of Monetary Policy: What Have We Learned?"). À sua excelência acadêmica ele soma agora a experiência prática de dirigir um banco central, o que lhe dá muito mais responsabilidade de quando vice-chairman do Citi (1988-1990) e posteriormente, managing director do International Monetary Fund (1994-2001).
Talvez não haja no mundo outro economista que tenha atingido a excelência na Academia, metido as mãos nas entranhas do sistema financeiro privado, aproveitado o poder arrogante do FMI e, no fim, castigado com a presidência de um banco central num país onde as dificuldades políticas e econômicas são notáveis. É por isso que o que ele fala deve ser levado muito a sério.
Depois de mostrar que um sistema de metas de inflação relativamente "flexível", no qual o banco central usa cuidadosa política monetária que leva em conta seus efeitos sobre o nível de atividade para decidir se a velocidade de retorno à meta é capaz de produzir o resultado esperado de estabilizar a expectativa de inflação no longo prazo, ele tece algumas considerações extremamente úteis que derivam de sua longa e variada experiência. Divide-as em quatro itens:
1) o problema de um único instrumento com dois objetivos;
2) o "trade off" nulo no longo prazo entre inflação e crescimento que toma a mesma forma no curto prazo;
3) o problema da taxa de câmbio para as pequenas economias abertas e;
4) os problemas dos preços dos ativos, da estabilidade financeira e da supervisão macroprudencial.
Com relação ao primeiro, ele mostra a inutilidade do famoso teorema que exige um número de instrumentos igual ao número de objetivos, porque esse supõe a independência dos instrumentos e dos objetivos. E conclui: "Portanto, não é geralmente verdade que por que o banco central tem apenas um instrumento (a taxa de juros) ele pode influenciar apenas um objetivo, a menos que o instrumento não tenha nenhum efeito sobre os outros objetivos." No fundo trata-se de um problema prático: de como chegar no entorno, ou seja, não precisamente nos dois objetivos, usando um só instrumento.
Com relação ao segundo, sugere que a não existência de "trade-off" entre inflação e variação do PIB no longo prazo, não é verdadeira no curto prazo. Tal hipótese decorre da aceitação da teoria das expectativas racionais que em geral é incorreta. A verdade, conclui Fischer "é que o longo prazo é uma sucessão de curtos prazos e que em todo momento o banco central tem de levar em conta esse "trade-off"" (no curto prazo).
Com relação à terceira questão, Fischer é categórico (uma mudança de 180 graus com relação à Academia, à prática do mercado financeiro e ao FMI de então): "Nenhuma pequena economia pode ser indiferente ao comportamento de sua taxa de câmbio, que compete com a taxa de juros pelo papel de ser o mais importante preço relativo da economia (certamente a palavra "real" poderia ser inserida duas vezes nessa frase)". E acrescenta, do alto de sua experiência: "Os livros-texto dizem que a política fiscal pode ser apertada para reduzir a taxa de juro e, assim, reduzir os incentivos para a entrada de capitais. Essa é uma boa história e é válida em certas circunstâncias. Usualmente, porém, a política fiscal já tem problemas suficientes para administrar as despesas do governo e seu financiamento sem ter que assumir a responsabilidade pela política cambial. Dessa forma o problema volta ao banco central e a outros instrumentos que não a política fiscal." Ele reconhece as dificuldades do controle de capital, mas adverte que "um banqueiro central nunca deve dizer que nunca"... vai utilizá-lo!
Com relação ao quarto item, resume a questão à de como enfrentar "bolhas". O problema não é decidir se o banco central deve furá-las, mas sim se ele deve levar em conta o estado dos mercados de ativos na formulação da política monetária. A resposta de Fischer é simples e direta: "Sim".
A vida ensinou-lhe a necessária humildade na combinação do conhecimento acadêmico e o mundo real. Alguns de nossos arrogantes analistas que se pensam portadores da "verdadeira ciência monetária" fariam muito bem em tentar imitá-lo.
No Brasil um grande número de analistas condena até um encontro casual num elevador, do ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Isso revela que entendem mal o exercício da política monetária e o da política fiscal. Exigir que o presidente do BC e o ministro da Fazenda se ignorem, não passa de pura ignorância!
Para comprovar isso, nada melhor do que um anúncio conjunto de meia página no "The Economist" de 15 de setembro de 2012 pelo Tesouro Inglês (His Majesty Treasury) e do Banco Central inglês (Bank of England) no qual convidam, para um concurso público, candidatos ao cargo de presidente do banco. Em junho de 2013 deverá vencer o mandato do atual, sir Mervyn King.
E como o feliz vencedor vai trabalhar? O mesmo anúncio informa: "O presidente (the governor) trabalhará intimamente com o ministro da Fazenda (chanceller of the Exchequer) e com o Tesouro (His Majesty Treasury) que é responsável pelo estabelecimento das diretrizes dentro das quais o banco deve operar". Se encontrarmos num "pub" tomando "Guinness" e confraternizando os três ilustres personagens, não devemos suspeitar que o "eleito" perdeu a sua "independência" como acontece em Pindorama...
Fischer combina o conhecimento da Academia e do mundo
Falando de política monetária, Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel desde 2005, comentou um magnífico trabalho (Cagliarini, A.-Kent, C.-Stevens, G. - "Fifty Years of Monetary Policy: What Have We Learned?"). À sua excelência acadêmica ele soma agora a experiência prática de dirigir um banco central, o que lhe dá muito mais responsabilidade de quando vice-chairman do Citi (1988-1990) e posteriormente, managing director do International Monetary Fund (1994-2001).
Talvez não haja no mundo outro economista que tenha atingido a excelência na Academia, metido as mãos nas entranhas do sistema financeiro privado, aproveitado o poder arrogante do FMI e, no fim, castigado com a presidência de um banco central num país onde as dificuldades políticas e econômicas são notáveis. É por isso que o que ele fala deve ser levado muito a sério.
Depois de mostrar que um sistema de metas de inflação relativamente "flexível", no qual o banco central usa cuidadosa política monetária que leva em conta seus efeitos sobre o nível de atividade para decidir se a velocidade de retorno à meta é capaz de produzir o resultado esperado de estabilizar a expectativa de inflação no longo prazo, ele tece algumas considerações extremamente úteis que derivam de sua longa e variada experiência. Divide-as em quatro itens:
1) o problema de um único instrumento com dois objetivos;
2) o "trade off" nulo no longo prazo entre inflação e crescimento que toma a mesma forma no curto prazo;
3) o problema da taxa de câmbio para as pequenas economias abertas e;
4) os problemas dos preços dos ativos, da estabilidade financeira e da supervisão macroprudencial.
Com relação ao primeiro, ele mostra a inutilidade do famoso teorema que exige um número de instrumentos igual ao número de objetivos, porque esse supõe a independência dos instrumentos e dos objetivos. E conclui: "Portanto, não é geralmente verdade que por que o banco central tem apenas um instrumento (a taxa de juros) ele pode influenciar apenas um objetivo, a menos que o instrumento não tenha nenhum efeito sobre os outros objetivos." No fundo trata-se de um problema prático: de como chegar no entorno, ou seja, não precisamente nos dois objetivos, usando um só instrumento.
Com relação ao segundo, sugere que a não existência de "trade-off" entre inflação e variação do PIB no longo prazo, não é verdadeira no curto prazo. Tal hipótese decorre da aceitação da teoria das expectativas racionais que em geral é incorreta. A verdade, conclui Fischer "é que o longo prazo é uma sucessão de curtos prazos e que em todo momento o banco central tem de levar em conta esse "trade-off"" (no curto prazo).
Com relação à terceira questão, Fischer é categórico (uma mudança de 180 graus com relação à Academia, à prática do mercado financeiro e ao FMI de então): "Nenhuma pequena economia pode ser indiferente ao comportamento de sua taxa de câmbio, que compete com a taxa de juros pelo papel de ser o mais importante preço relativo da economia (certamente a palavra "real" poderia ser inserida duas vezes nessa frase)". E acrescenta, do alto de sua experiência: "Os livros-texto dizem que a política fiscal pode ser apertada para reduzir a taxa de juro e, assim, reduzir os incentivos para a entrada de capitais. Essa é uma boa história e é válida em certas circunstâncias. Usualmente, porém, a política fiscal já tem problemas suficientes para administrar as despesas do governo e seu financiamento sem ter que assumir a responsabilidade pela política cambial. Dessa forma o problema volta ao banco central e a outros instrumentos que não a política fiscal." Ele reconhece as dificuldades do controle de capital, mas adverte que "um banqueiro central nunca deve dizer que nunca"... vai utilizá-lo!
Com relação ao quarto item, resume a questão à de como enfrentar "bolhas". O problema não é decidir se o banco central deve furá-las, mas sim se ele deve levar em conta o estado dos mercados de ativos na formulação da política monetária. A resposta de Fischer é simples e direta: "Sim".
A vida ensinou-lhe a necessária humildade na combinação do conhecimento acadêmico e o mundo real. Alguns de nossos arrogantes analistas que se pensam portadores da "verdadeira ciência monetária" fariam muito bem em tentar imitá-lo.
O voto e o fato - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 25/09
O ministro revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, já condenou vários políticos, de diferentes legendas partidárias, por crime de corrupção passiva, o que pressupõe que ele tenha um culpado, ou culpados, do crime de corrupção ativa que será julgado em seguida, pegando o núcleo político do caso, composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
Ao contrário do que fez em relação ao deputado João Paulo Cunha, a quem absolveu de todos os crimes imputados a ele - corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro -, no voto deste item o ministro Lewandowski condenou vários réus políticos por corrupção passiva, o que deixa pouca margem para a aceitação da tese de caixa dois. No caso do deputado petista, o ministro alegou, em conversa comigo depois da votação, que ele poderia caracterizar "um outro crime que não está na denúncia", deixando no ar se seria crime eleitoral ou até mesmo tributário.
Se, no entanto, insistir na teoria que já esboçou anteriormente ao julgar o deputado João Paulo Cunha, de que o que houve foi um crime eleitoral de financiamento de caixa dois de campanha, estará diante de uma impossibilidade na visão do ministro Marco Aurélio Mello, que tem interpretações bastante próprias, e quase sempre apropriadas, dos textos legais e do regimento interno do Supremo Tribunal Federal. Para ele, se a linha de acusação for a da defesa, não é possível condenar os réus do mensalão por corrupção passiva, pois "os institutos não se confundem".
O ministro relator Joaquim Barbosa, mesmo acreditando que não é necessário o "ato de ofício" para caracterizar corrupção passiva, assume a acusação de os réus terem se vendido em troca de apoio político ao governo federal.
Para Lewandowski, a corrupção passiva exige apenas a demonstração de recebimento ou oferecimento da vantagem ilegal ao parlamentar ou servidor. Já Marco Aurélio Mello diz que o caixa dois é um crime regido pelo Código Eleitoral, que não se mistura com um crime regido pelo Código Penal. Por isso, lembra Marco Aurélio, os advogados admitiram da tribuna o crime eleitoral, porque já estariam prescritos.
Nesse caso, não seria possível dar as penas aos acusados por corrupção passiva se a maioria do plenário do STF seguir o revisor e considerar que o que houve foi mesmo um crime eleitoral.
Saberemos apenas no voto do ministro revisor sobre a atuação do núcleo político qual a sua interpretação para os fatos que estão sendo julgados.
Caberá aos ministros do, na votação que deve começar amanhã, encaminhar a decisão do Supremo para uma conexão de causa e efeito entre a corrupção passiva e a compra de apoio político ao governo no Congresso, ou enveredar pelo caminho nebuloso do financiamento eleitoral através do caixa dois, que parece cada vez mais estreito e improvável, e que poderá provocar o conflito enxergado por Marco Aurélio.
Outro conflito que o ministro antevê é sobre a possibilidade de o novo ministro, Teori Zavascki, pedir vista do processo ao assumir seu posto no Supremo Tribunal Federal, atrasando assim o julgamento do mensalão.
Para Marco Aurélio, ele pode participar das sessões do julgamento do mensalão depois de aprovado pelo Senado, mas não poderá pedir vista, porque, na sua interpretação, se se considerar "apto" a participar do julgamento, como exige o Regimento Interno, não poderia alegar desconhecimento do processo.
Essa seria uma contradição insanável, na visão de Marco Aurélio, mas é uma interpretação bastante estrita da letra do regimento, que provavelmente será superada pelo entendimento majoritário do plenário, que considera que o novo ministro tem o direito de pedir vista, mas terá que arrostar as consequências de seu ato perante a opinião pública.
Quem o conhece acha que ele não atuaria para atrasar o julgamento, embora tenha o direito de participar dele nos itens em que Cezar Peluso, a quem substitui, não votou.
Caso a sabatina se realize mesmo hoje, no entanto, o ministro indicado Teori Zavascki estaria disposto a anunciar, se perguntado, que não pretende participar do julgamento.
O ministro revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, já condenou vários políticos, de diferentes legendas partidárias, por crime de corrupção passiva, o que pressupõe que ele tenha um culpado, ou culpados, do crime de corrupção ativa que será julgado em seguida, pegando o núcleo político do caso, composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
Ao contrário do que fez em relação ao deputado João Paulo Cunha, a quem absolveu de todos os crimes imputados a ele - corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro -, no voto deste item o ministro Lewandowski condenou vários réus políticos por corrupção passiva, o que deixa pouca margem para a aceitação da tese de caixa dois. No caso do deputado petista, o ministro alegou, em conversa comigo depois da votação, que ele poderia caracterizar "um outro crime que não está na denúncia", deixando no ar se seria crime eleitoral ou até mesmo tributário.
Se, no entanto, insistir na teoria que já esboçou anteriormente ao julgar o deputado João Paulo Cunha, de que o que houve foi um crime eleitoral de financiamento de caixa dois de campanha, estará diante de uma impossibilidade na visão do ministro Marco Aurélio Mello, que tem interpretações bastante próprias, e quase sempre apropriadas, dos textos legais e do regimento interno do Supremo Tribunal Federal. Para ele, se a linha de acusação for a da defesa, não é possível condenar os réus do mensalão por corrupção passiva, pois "os institutos não se confundem".
O ministro relator Joaquim Barbosa, mesmo acreditando que não é necessário o "ato de ofício" para caracterizar corrupção passiva, assume a acusação de os réus terem se vendido em troca de apoio político ao governo federal.
Para Lewandowski, a corrupção passiva exige apenas a demonstração de recebimento ou oferecimento da vantagem ilegal ao parlamentar ou servidor. Já Marco Aurélio Mello diz que o caixa dois é um crime regido pelo Código Eleitoral, que não se mistura com um crime regido pelo Código Penal. Por isso, lembra Marco Aurélio, os advogados admitiram da tribuna o crime eleitoral, porque já estariam prescritos.
Nesse caso, não seria possível dar as penas aos acusados por corrupção passiva se a maioria do plenário do STF seguir o revisor e considerar que o que houve foi mesmo um crime eleitoral.
Saberemos apenas no voto do ministro revisor sobre a atuação do núcleo político qual a sua interpretação para os fatos que estão sendo julgados.
Caberá aos ministros do, na votação que deve começar amanhã, encaminhar a decisão do Supremo para uma conexão de causa e efeito entre a corrupção passiva e a compra de apoio político ao governo no Congresso, ou enveredar pelo caminho nebuloso do financiamento eleitoral através do caixa dois, que parece cada vez mais estreito e improvável, e que poderá provocar o conflito enxergado por Marco Aurélio.
Outro conflito que o ministro antevê é sobre a possibilidade de o novo ministro, Teori Zavascki, pedir vista do processo ao assumir seu posto no Supremo Tribunal Federal, atrasando assim o julgamento do mensalão.
Para Marco Aurélio, ele pode participar das sessões do julgamento do mensalão depois de aprovado pelo Senado, mas não poderá pedir vista, porque, na sua interpretação, se se considerar "apto" a participar do julgamento, como exige o Regimento Interno, não poderia alegar desconhecimento do processo.
Essa seria uma contradição insanável, na visão de Marco Aurélio, mas é uma interpretação bastante estrita da letra do regimento, que provavelmente será superada pelo entendimento majoritário do plenário, que considera que o novo ministro tem o direito de pedir vista, mas terá que arrostar as consequências de seu ato perante a opinião pública.
Quem o conhece acha que ele não atuaria para atrasar o julgamento, embora tenha o direito de participar dele nos itens em que Cezar Peluso, a quem substitui, não votou.
Caso a sabatina se realize mesmo hoje, no entanto, o ministro indicado Teori Zavascki estaria disposto a anunciar, se perguntado, que não pretende participar do julgamento.
Brasil amarrado e sem saída - MAURO LAVIOLA
O Globo - 25/09
Soa no mínimo insólita a recente declaração do ministro Antonio Patriota de que "o Brasil precisa de mais acordos internacionais (subentende-se fora da América Latina) para defender sua posição nos mercados e disputar mais espaços à sua economia". Vindo do chefe da diplomacia brasileira, ela encerra uma clara contradição frente à política externa do país, particularmente desenvolvida nos últimos dez anos.
A cultura terceiro-mundista prevalente conseguiu, a duras penas, via Mercosul, negociar apenas cinco acordos comerciais que pouco valem em termos comerciais - Índia, Israel, Sacu ( Southern African Customs Union ), Egito e Palestina -, sendo que apenas os dois primeiros vigoram.
A Alca (leia-se Estados Unidos) foi sepultada em 2002 e as negociações Mercosul-União Europeia arrastam-se desde o início do século sem perspectivas de êxito, menos pela recalcitrância de alguns setores industriais brasileiros do que pela postura argentina em aceitar qualquer liberalização, mesmo gradual, do comércio de bens industriais.
É importante assinalar que alguns parceiros regionais importantes para o Brasil - Chile, Colômbia, México e Peru (coincidentemente os mesmos que acabam de formalizar a Aliança do Pacífico) - há algum tempo desvincularam-se da idiotice de temer os mais fortes e já formalizaram importantes acordos com o Norte das Américas, Europa, Leste Asiático e Oceania, isto é, a nata do mundo desenvolvido.
Com a efetivação da Venezuela no Mercosul, eventuais negociações extrarregionais tornam-se mais complexas, uma vez que aquele país nem deu início ao processo de eliminação integral das tarifas aduaneiras, adoção da TEC e incorporação dos demais ordenamentos jurídicos do bloco sem o que qualquer eventual acordo não poderá ser concluído. Isso, sem falar nos problemas jurídicos que ainda poderão advir quando ocorrer o término da suspensão do Paraguai em 15 de agosto de 2013, quando se dará a posse do novo presidente eleito em abril do mesmo ano. Recentemente, o Congresso paraguaio finalmente votou contra o ingresso daquele país no bloco.
O contrassenso da declaração do chanceler reside justamente no fato de seu governo e o argentino terem forçado a entrada da Venezuela no bloco sem que a mesma tenha cumprido um mínimo dos compromissos firmados no Protocolo de Adesão de 2006. Se pelo Mercosul são precárias as possibilidades de o Brasil formalizar acordos com o Primeiro Mundo, muito menos o será individualmente em face da "camisa de força" imposta pela Decisão CMC 32/2000, que exige que as negociações com outros parceiros sejam feitas em bloco.
Um tênue espaço pode vir a ocorrer caso as declarações do presidente eleito do México, feitas em São Paulo, visando a desenvolver maior aproximação comercial com o Brasil, efetivamente progredirem. Desde 2008, o setor empresarial, apoiado pelo governo brasileiro, vem tentando emplacar um acordo mais amplo do que o atual ACE-53, que somente agrega parcos 800 itens tarifários, não conferindo um valor global de transações bilaterais compatível com o tamanho das respectivas economias. Apenas o setor automotriz representa perto de 70% de todo o comércio bilateral.
Segundo o ministro Patriota, "se o Brasil negligenciar os acordos comerciais, ficará para trás, porque os concorrentes continuam negociando compromissos em todos os cantos do mundo". Qual então a saída? No momento só vislumbro uma única, pleitear no Mercosul um waiver (suspensão temporária) da Decisão 32/00, mas não creio que o Itamarati tenha "cacife" para tanto.
A cultura terceiro-mundista prevalente conseguiu, a duras penas, via Mercosul, negociar apenas cinco acordos comerciais que pouco valem em termos comerciais - Índia, Israel, Sacu ( Southern African Customs Union ), Egito e Palestina -, sendo que apenas os dois primeiros vigoram.
A Alca (leia-se Estados Unidos) foi sepultada em 2002 e as negociações Mercosul-União Europeia arrastam-se desde o início do século sem perspectivas de êxito, menos pela recalcitrância de alguns setores industriais brasileiros do que pela postura argentina em aceitar qualquer liberalização, mesmo gradual, do comércio de bens industriais.
É importante assinalar que alguns parceiros regionais importantes para o Brasil - Chile, Colômbia, México e Peru (coincidentemente os mesmos que acabam de formalizar a Aliança do Pacífico) - há algum tempo desvincularam-se da idiotice de temer os mais fortes e já formalizaram importantes acordos com o Norte das Américas, Europa, Leste Asiático e Oceania, isto é, a nata do mundo desenvolvido.
Com a efetivação da Venezuela no Mercosul, eventuais negociações extrarregionais tornam-se mais complexas, uma vez que aquele país nem deu início ao processo de eliminação integral das tarifas aduaneiras, adoção da TEC e incorporação dos demais ordenamentos jurídicos do bloco sem o que qualquer eventual acordo não poderá ser concluído. Isso, sem falar nos problemas jurídicos que ainda poderão advir quando ocorrer o término da suspensão do Paraguai em 15 de agosto de 2013, quando se dará a posse do novo presidente eleito em abril do mesmo ano. Recentemente, o Congresso paraguaio finalmente votou contra o ingresso daquele país no bloco.
O contrassenso da declaração do chanceler reside justamente no fato de seu governo e o argentino terem forçado a entrada da Venezuela no bloco sem que a mesma tenha cumprido um mínimo dos compromissos firmados no Protocolo de Adesão de 2006. Se pelo Mercosul são precárias as possibilidades de o Brasil formalizar acordos com o Primeiro Mundo, muito menos o será individualmente em face da "camisa de força" imposta pela Decisão CMC 32/2000, que exige que as negociações com outros parceiros sejam feitas em bloco.
Um tênue espaço pode vir a ocorrer caso as declarações do presidente eleito do México, feitas em São Paulo, visando a desenvolver maior aproximação comercial com o Brasil, efetivamente progredirem. Desde 2008, o setor empresarial, apoiado pelo governo brasileiro, vem tentando emplacar um acordo mais amplo do que o atual ACE-53, que somente agrega parcos 800 itens tarifários, não conferindo um valor global de transações bilaterais compatível com o tamanho das respectivas economias. Apenas o setor automotriz representa perto de 70% de todo o comércio bilateral.
Segundo o ministro Patriota, "se o Brasil negligenciar os acordos comerciais, ficará para trás, porque os concorrentes continuam negociando compromissos em todos os cantos do mundo". Qual então a saída? No momento só vislumbro uma única, pleitear no Mercosul um waiver (suspensão temporária) da Decisão 32/00, mas não creio que o Itamarati tenha "cacife" para tanto.
Falsa intimidade - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 25/09
A moralidade é uma virtude disputada. Mesmo aqueles que dela conhecem apenas o nome gostam de falar sobre virtudes morais como se fossem íntimos de longa data.
Em época eleitoral, por exemplo, somos obrigados a acompanhar o espetáculo lamentável de moralistas de última hora, que parecem acreditar no pendor infinito da população ao esquecimento e à indignação seletiva.
Melhor seria que eles se abstivessem de falar de moral antes de meditar profundamente a respeito da passagem do Evangelho que exorta a primeiro tirar a trave no seu próprio olho antes de retirar o cisco no olho do próximo.
Por exemplo, o Brasil vive um momento importante com o corajoso julgamento do chamado mensalão. Espera-se, com justiça, que daí nasça uma nova jurisprudência para crimes de corrupção eleitoral. Espera-se também que ninguém saia impune desse caso vergonhoso.
No entanto é tentar resvalar a moralidade à condição de discurso da aparência e da esperteza ver políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Prefeitura de São Paulo tentarem utilizar a justa indignação popular em benefício eleitoral próprio.
Caso eles realmente amem os usos das virtudes morais em política, melhor seria se começassem por fazer uma profunda autocrítica sobre o papel de seu partido na criação do próprio mensalão, da acusação de compra de voto na emenda da reeleição, assim como fornecer uma resposta que não fira a inteligência quando membros de seu partido -como Marconi Perillo, Yeda Crusius e Cássio Cunha Lima- aparecem envolvidos até a medula em casos de corrupção.
Seria bom também que eles explicassem por que apoiam incondicionalmente um prefeito que chegou a ter seus bens apreendidos pela Justiça no ano passado devido ao caráter da contratação da empresa Controlar, e por que a Justiça suíça e a francesa investigam propinas que a empresa Alstom teria pago a políticos do governo paulista em troca de contratos com a Eletropaulo.
Por fim, seria uma boa demonstração de respeito aos eleitores que o candidato Serra se defendesse, de preferência sem impropérios, a respeito das acusações sobre o processo de privatização de empresas federais no período FHC.
Sem isso, toda essa pantomima lembrará uma velha piada francesa sobre um sujeito que dizia a todos em sua pequena cidade ser amigo de Charles de Gaulle. Eis que um dia, De Gaulle aparece na cidade. Para não ser desmascarado, o sujeito resolve chegar perto do presidente e, com um tom de cumplicidade, perguntar: "E aí, Charles, o que há de novo?". "De novo", respondeu De Gaulle,"só mesmo essa intimidade".
A moralidade é uma virtude disputada. Mesmo aqueles que dela conhecem apenas o nome gostam de falar sobre virtudes morais como se fossem íntimos de longa data.
Em época eleitoral, por exemplo, somos obrigados a acompanhar o espetáculo lamentável de moralistas de última hora, que parecem acreditar no pendor infinito da população ao esquecimento e à indignação seletiva.
Melhor seria que eles se abstivessem de falar de moral antes de meditar profundamente a respeito da passagem do Evangelho que exorta a primeiro tirar a trave no seu próprio olho antes de retirar o cisco no olho do próximo.
Por exemplo, o Brasil vive um momento importante com o corajoso julgamento do chamado mensalão. Espera-se, com justiça, que daí nasça uma nova jurisprudência para crimes de corrupção eleitoral. Espera-se também que ninguém saia impune desse caso vergonhoso.
No entanto é tentar resvalar a moralidade à condição de discurso da aparência e da esperteza ver políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Prefeitura de São Paulo tentarem utilizar a justa indignação popular em benefício eleitoral próprio.
Caso eles realmente amem os usos das virtudes morais em política, melhor seria se começassem por fazer uma profunda autocrítica sobre o papel de seu partido na criação do próprio mensalão, da acusação de compra de voto na emenda da reeleição, assim como fornecer uma resposta que não fira a inteligência quando membros de seu partido -como Marconi Perillo, Yeda Crusius e Cássio Cunha Lima- aparecem envolvidos até a medula em casos de corrupção.
Seria bom também que eles explicassem por que apoiam incondicionalmente um prefeito que chegou a ter seus bens apreendidos pela Justiça no ano passado devido ao caráter da contratação da empresa Controlar, e por que a Justiça suíça e a francesa investigam propinas que a empresa Alstom teria pago a políticos do governo paulista em troca de contratos com a Eletropaulo.
Por fim, seria uma boa demonstração de respeito aos eleitores que o candidato Serra se defendesse, de preferência sem impropérios, a respeito das acusações sobre o processo de privatização de empresas federais no período FHC.
Sem isso, toda essa pantomima lembrará uma velha piada francesa sobre um sujeito que dizia a todos em sua pequena cidade ser amigo de Charles de Gaulle. Eis que um dia, De Gaulle aparece na cidade. Para não ser desmascarado, o sujeito resolve chegar perto do presidente e, com um tom de cumplicidade, perguntar: "E aí, Charles, o que há de novo?". "De novo", respondeu De Gaulle,"só mesmo essa intimidade".
Estatização bancária e Dilma - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 25/09
Não é muito errado dizer que, na prática, o governo abocanhou um banco com 11% do crédito. Isto é, um banco do tamanho dos maiores bancos nacionais.
Se o governo tentasse estatizar um bancão privado, haveria, claro, escândalo, goste-se ou não da ideia. Mas, goste-se ou não, o setor bancário ficou mais estatal sob Lula e Dilma. Lula não bulia com bancos até a crise de 2008. Na verdade, sua virada "esquerdista" na economia ocorreu apenas na crise.
Foi então que adeptos e simpatizantes de Lula e gente mais à esquerda passaram a falar de boca cheia sobre "desenvolvimentismo", botando no mesmo saco a expansão das políticas sociais (de matriz no fundo tucana) com intervenções diretas no mercado.
É um "desenvolvimentismo acidental", como acidentais, mais ou menos improvisadas e pragmáticas, foram tantas políticas na história. Como foi o "keynesianismo avant la lettre", antes de Keynes, nos EUA dos anos 1930, ou o próprio desenvolvimentismo brasileiro original, inventado aos trancos e barrancos entre os anos 1940 e 1960.
Claro que inclinações intelectuais e políticas de governantes e partidos, além do clima da época, propiciam viradas para esta ou aquela direção. No meio do caminho, inventa-se uma teoria ou recicla-se uma velha para justificar ou legitimar decisões tomadas muita vez mais por precisão do que por boniteza.
Dilma é "estatista"? Retomou o caminho "liberalizante" ao prometer privatização de estrada, porto e aeroporto? Faz política macroeconômica mais "heterodoxa"?
Dilma é mais intervencionista, mas tomou decisões maiores devido ao desejo de retomar o crescimento econômico de curto prazo. A decisão mais planejada, ao que parece, foi nomear uma diretoria do BC menos ortodoxa e mercadista. No mais, foi se arranjando.
Ministra de Lula, detonou um plano de reduzir rapidamente dívida e deficit. Já presidente, fez um pacto com o BC, segurando gasto a fim de tornar possível a redução de juros.
Era contra a privatização de infraestrutura até perceber que não haveria aeroporto para a Copa e que o governo é lentérrimo, inepto ou bandido quando precisa fazer investimentos.
Mas foi para o confronto com a banca no caso dos juros (aliás, ontem o Bradesco baixou espantosamente sua taxa de juros no cartão de crédito). Voltou a acelerar a "estatização" do crédito no país.
Acabou de arrumar mais de R$ 21 bilhões para o capital do Banco do Brasil e da Caixa, a fim de permitir avanço ainda maior da banca estatal. Neste ano, desde o início da campanha contra juros altos (abril), os bancos públicos foram responsáveis por 73% do aumento do crédito no Brasil. Mais ou menos como na crise de 2008-09.
Mas, se a banca privada voltar à ativa, Dilma vai insistir na "estatização"? Decerto esse tumulto de decisões tem alguma direção e vai fazer diferença (em especial no caso dos juros menores, se ficarem menores). Mas não dá para pensar o jeitão da coisa e o andar da carruagem se apegando a rótulos.
As democracias midiáticas - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 25/09
O que sucede quando a maioria escolhe mal? Ou escolhe o candidato errado pelos motivos errados?
O BRASIL não existe para o jornalismo português. Exceto quando nasce um fenômeno midiático.
Se perguntarem a um português anônimo quem foi Fernando Henrique Cardoso (que passou recentemente por Lisboa, com pompa e circunstância) ou o que significa o julgamento do mensalão, o lusitano terá dificuldades sérias em juntar duas ideias sérias a respeito. "Lula", sim, acende umas luzes, e não apenas gastronômicas. "Dilma", coitada, volta a apagá-las.
Mas se falarem do palhaço Tiririca, o português anônimo rasga um sorriso de orelha a orelha e completa: "Pior do que está, não fica". Tiririca foi o último grande estadista brasileiro a cruzar o Atlântico.
Celso Russomanno pode ser o próximo. Leio jornais lusos. Assisto a reportagens da TV nativa. Russomanno está em todo lado, distribuindo beijos e abraços na corrida para a prefeitura de São Paulo. Há um padrão aqui: Tiririca e Russomanno são produtos de fácil exportação porque ambos são produtos da televisão.
Uma virtude? Longe disso. E os lusitanos deveriam saber, até por experiência própria, que a crise de Portugal também se explica por esse padrão: durante anos, os portugueses não votaram necessariamente nos melhores candidatos. Apenas nos candidatos que tinham maior sucesso midiático. Deu no que deu.
Esse, aliás, é o problema principal das democracias atuais. A democracia é o pior regime que existe, com a exceção de todos os outros?
Sem dúvida. Mas existe um outro pensamento de Churchill sobre o assunto que também merece atenção: dizia ele, com típica bonomia, que o melhor argumento contra a democracia estava em falar durante dois minutos com um eleitor regular.
De fato. Uma cabeça, um voto. Em teoria, essa contabilidade pode ser um bálsamo para a nossa "paixão pela igualdade", para usar a expressão clássica de Alexis de Tocqueville (1805-1859). Mas o que sucede quando a maioria escolhe barbaramente mal? Ou, pior ainda, quando escolhe o candidato errado pelos motivos errados?
O referido Tocqueville, cem anos antes de Churchill, já tinha alertado para o problema na obra "Da Democracia na América". A "era democrática", escrevia ele em 1835, seria imparável nas sociedades cristãs do Ocidente (sintomaticamente, Tocqueville era omisso sobre outras regiões do globo; um aviso sério para os poetas da Primavera Árabe que babam de lirismo por aí).
Mas a "era democrática", capaz de conceder a cada indivíduo iguais direitos e deveres, não apresentava apenas virtudes. Tinha perigos óbvios e o maior deles estava precisamente na ideia de que quantidade é qualidade.
Ou, como escreveu o autor, na crença infantil de que existe "mais inteligência e sabedoria em um certo número de homens unidos do que em um único indivíduo".
Com notável presciência, Tocqueville alertava para as "tiranias da maioria" e aconselhava alguns freios para evitar os seus excessos -descentralização política, liberdade de imprensa, reforço do associativismo, separação de poderes etc.
O que Tocqueville não poderia antever no século 19 era a emergência de um novo tipo de regime democrático no século 21: a democracia midiática, esse sistema que premia os talentos superficiais de um indivíduo (imagem de plástico, discurso populista, sentimentalismo postiço) e ignora as qualidades fundamentais de um líder (coragem, experiência, competência, temperança).
Eis a suprema ironia: a mídia assume-se como o "quarto poder", destinado a vigiar e a denunciar os abusos de todos os outros. Mas a própria mídia serve de instrumento, voluntário ou involuntário, para dar luz e palco a personagens que jamais seriam eleitas por suas exclusivas habilitações.
O resultado dessa perversidade é que cresce cada vez mais o abismo entre políticos que merecem ganhar eleições (independentemente da imagem) e políticos que podem ganhar eleições (independentemente da competência). A democracia midiática premia os segundos e ignora os primeiros.
Hoje, o obeso Churchill e o paralítico Roosevelt seriam ofuscados por um palhaço qualquer. Azar o deles?
Não. Azar o nosso, leitor. Quem elege palhaços, acaba vivendo num circo.
O que sucede quando a maioria escolhe mal? Ou escolhe o candidato errado pelos motivos errados?
O BRASIL não existe para o jornalismo português. Exceto quando nasce um fenômeno midiático.
Se perguntarem a um português anônimo quem foi Fernando Henrique Cardoso (que passou recentemente por Lisboa, com pompa e circunstância) ou o que significa o julgamento do mensalão, o lusitano terá dificuldades sérias em juntar duas ideias sérias a respeito. "Lula", sim, acende umas luzes, e não apenas gastronômicas. "Dilma", coitada, volta a apagá-las.
Mas se falarem do palhaço Tiririca, o português anônimo rasga um sorriso de orelha a orelha e completa: "Pior do que está, não fica". Tiririca foi o último grande estadista brasileiro a cruzar o Atlântico.
Celso Russomanno pode ser o próximo. Leio jornais lusos. Assisto a reportagens da TV nativa. Russomanno está em todo lado, distribuindo beijos e abraços na corrida para a prefeitura de São Paulo. Há um padrão aqui: Tiririca e Russomanno são produtos de fácil exportação porque ambos são produtos da televisão.
Uma virtude? Longe disso. E os lusitanos deveriam saber, até por experiência própria, que a crise de Portugal também se explica por esse padrão: durante anos, os portugueses não votaram necessariamente nos melhores candidatos. Apenas nos candidatos que tinham maior sucesso midiático. Deu no que deu.
Esse, aliás, é o problema principal das democracias atuais. A democracia é o pior regime que existe, com a exceção de todos os outros?
Sem dúvida. Mas existe um outro pensamento de Churchill sobre o assunto que também merece atenção: dizia ele, com típica bonomia, que o melhor argumento contra a democracia estava em falar durante dois minutos com um eleitor regular.
De fato. Uma cabeça, um voto. Em teoria, essa contabilidade pode ser um bálsamo para a nossa "paixão pela igualdade", para usar a expressão clássica de Alexis de Tocqueville (1805-1859). Mas o que sucede quando a maioria escolhe barbaramente mal? Ou, pior ainda, quando escolhe o candidato errado pelos motivos errados?
O referido Tocqueville, cem anos antes de Churchill, já tinha alertado para o problema na obra "Da Democracia na América". A "era democrática", escrevia ele em 1835, seria imparável nas sociedades cristãs do Ocidente (sintomaticamente, Tocqueville era omisso sobre outras regiões do globo; um aviso sério para os poetas da Primavera Árabe que babam de lirismo por aí).
Mas a "era democrática", capaz de conceder a cada indivíduo iguais direitos e deveres, não apresentava apenas virtudes. Tinha perigos óbvios e o maior deles estava precisamente na ideia de que quantidade é qualidade.
Ou, como escreveu o autor, na crença infantil de que existe "mais inteligência e sabedoria em um certo número de homens unidos do que em um único indivíduo".
Com notável presciência, Tocqueville alertava para as "tiranias da maioria" e aconselhava alguns freios para evitar os seus excessos -descentralização política, liberdade de imprensa, reforço do associativismo, separação de poderes etc.
O que Tocqueville não poderia antever no século 19 era a emergência de um novo tipo de regime democrático no século 21: a democracia midiática, esse sistema que premia os talentos superficiais de um indivíduo (imagem de plástico, discurso populista, sentimentalismo postiço) e ignora as qualidades fundamentais de um líder (coragem, experiência, competência, temperança).
Eis a suprema ironia: a mídia assume-se como o "quarto poder", destinado a vigiar e a denunciar os abusos de todos os outros. Mas a própria mídia serve de instrumento, voluntário ou involuntário, para dar luz e palco a personagens que jamais seriam eleitas por suas exclusivas habilitações.
O resultado dessa perversidade é que cresce cada vez mais o abismo entre políticos que merecem ganhar eleições (independentemente da imagem) e políticos que podem ganhar eleições (independentemente da competência). A democracia midiática premia os segundos e ignora os primeiros.
Hoje, o obeso Churchill e o paralítico Roosevelt seriam ofuscados por um palhaço qualquer. Azar o deles?
Não. Azar o nosso, leitor. Quem elege palhaços, acaba vivendo num circo.
O crepúsculo dos políticos - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 25/09
Prazo de validade dos governantes se encurta, e a rua faz ensaios de uma revolução pacífica
Está convocada para hoje uma revolução na Espanha, a partir das 18h30 (13h30 em Brasília).
Estranho fazer uma revolução com dia, hora e local previamente marcados? Concordo. Mas leia o programa e a agenda da concentração de hoje e diga se não é uma proposta revolucionária: "Cercar o Congresso indefinidamente, exigir sua dissolução, provocar a demissão do governo e do chefe de Estado [o rei], abrir um período constituinte e convocar novas eleições".
A agenda é de um segmento do 15M (15 de março de 2011, a data em que começaram as manifestações dos que se diziam "indignados").
Duvido que a moçada alcance seus objetivos, mas, pelas dúvidas, o governo destacou um forte contingente policial, formado por 1.350 homens, para proteger o Congresso, além de ter estabelecido cordões de isolamento que, em tese, impedirão que os manifestantes abracem o prédio como pretendem.
Além disso, reservou para o que os manifestantes chamam de "assembleia-geral" (prevista para durar cinco dias) a praça de Cibeles, 700 metros ladeira abaixo do Palácio de las Cortes, o neoclássico edifício que abriga o Congresso de Deputados da Espanha.
A "assembleia-geral" na Espanha é só um dos incontáveis sintomas de que os políticos convencionais estão vivendo seu crepúsculo.
Na semana passada, em Portugal, colossal manifestação da mesma índole não chegou a derrubar o governo, mas derrubou, sim, mais um corte, na forma de um aumento de 7% na contribuição dos assalariados para a Previdência Social, o que, como é óbvio, talharia os salários na mesma proporção.
Mais informações sobre o crepúsculo:
1 - Pedro Passos Coelho, eleito premiê de Portugal em junho de 2011, é, um ano depois, o último colocado entre os políticos locais em termos de aprovação (nota 6,3 de 20 possíveis), conforme pesquisa do jornal "Diário de Notícias".
2 - Mariano Rajoy, seu colega espanhol, eleito mais recentemente (novembro), tem seu prazo de validade já vencido: pesquisa de "El País" do dia 9 mostra que 84% dos espanhóis têm pouca ou nenhuma confiança nele.
3 - Pesquisa divulgada no domingo na França informa que apenas 43% dos franceses estão satisfeitos com o presidente socialista François Hollande, 11 pontos percentuais menos do que ao assumir, em maio, faz apenas quatro meses.
É bom lembrar que 14 governos europeus foram "derrubados" nas urnas desde que a crise se reinstalou, em 2010.
Onde governava a esquerda, ganhou a direita, e vice-versa.
Portugal, Espanha e França se incluem nesse troca-troca. O desgaste dos seus novos governantes explica os ensaios de revolução convocados por fatias mobilizadas da sociedade, como acontece hoje na Espanha.
É razoável supor que Mariano Rajoy sobreviverá, mas não é razoável imaginar que possa durar muito tempo (tem, em tese, mais 3,5 anos de mandato) ante tamanha desconfiança do público, seja do que vai ao encontro marcado pela revolução, seja dos que preferem curtir em casa sua desconfiança.
Prazo de validade dos governantes se encurta, e a rua faz ensaios de uma revolução pacífica
Está convocada para hoje uma revolução na Espanha, a partir das 18h30 (13h30 em Brasília).
Estranho fazer uma revolução com dia, hora e local previamente marcados? Concordo. Mas leia o programa e a agenda da concentração de hoje e diga se não é uma proposta revolucionária: "Cercar o Congresso indefinidamente, exigir sua dissolução, provocar a demissão do governo e do chefe de Estado [o rei], abrir um período constituinte e convocar novas eleições".
A agenda é de um segmento do 15M (15 de março de 2011, a data em que começaram as manifestações dos que se diziam "indignados").
Duvido que a moçada alcance seus objetivos, mas, pelas dúvidas, o governo destacou um forte contingente policial, formado por 1.350 homens, para proteger o Congresso, além de ter estabelecido cordões de isolamento que, em tese, impedirão que os manifestantes abracem o prédio como pretendem.
Além disso, reservou para o que os manifestantes chamam de "assembleia-geral" (prevista para durar cinco dias) a praça de Cibeles, 700 metros ladeira abaixo do Palácio de las Cortes, o neoclássico edifício que abriga o Congresso de Deputados da Espanha.
A "assembleia-geral" na Espanha é só um dos incontáveis sintomas de que os políticos convencionais estão vivendo seu crepúsculo.
Na semana passada, em Portugal, colossal manifestação da mesma índole não chegou a derrubar o governo, mas derrubou, sim, mais um corte, na forma de um aumento de 7% na contribuição dos assalariados para a Previdência Social, o que, como é óbvio, talharia os salários na mesma proporção.
Mais informações sobre o crepúsculo:
1 - Pedro Passos Coelho, eleito premiê de Portugal em junho de 2011, é, um ano depois, o último colocado entre os políticos locais em termos de aprovação (nota 6,3 de 20 possíveis), conforme pesquisa do jornal "Diário de Notícias".
2 - Mariano Rajoy, seu colega espanhol, eleito mais recentemente (novembro), tem seu prazo de validade já vencido: pesquisa de "El País" do dia 9 mostra que 84% dos espanhóis têm pouca ou nenhuma confiança nele.
3 - Pesquisa divulgada no domingo na França informa que apenas 43% dos franceses estão satisfeitos com o presidente socialista François Hollande, 11 pontos percentuais menos do que ao assumir, em maio, faz apenas quatro meses.
É bom lembrar que 14 governos europeus foram "derrubados" nas urnas desde que a crise se reinstalou, em 2010.
Onde governava a esquerda, ganhou a direita, e vice-versa.
Portugal, Espanha e França se incluem nesse troca-troca. O desgaste dos seus novos governantes explica os ensaios de revolução convocados por fatias mobilizadas da sociedade, como acontece hoje na Espanha.
É razoável supor que Mariano Rajoy sobreviverá, mas não é razoável imaginar que possa durar muito tempo (tem, em tese, mais 3,5 anos de mandato) ante tamanha desconfiança do público, seja do que vai ao encontro marcado pela revolução, seja dos que preferem curtir em casa sua desconfiança.
Cérebro ideológico - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 25/09
SÃO PAULO - Muito interessante o exercício do Datafolha de mensurar o conservadorismo/liberalismo da população paulistana. O ligeiro excesso de pessoas com ideias mais à direita (34% contra 27%) ajuda a explicar o fenômeno Russomanno, mas isso é só a ponta do "iceberg".
Desde que a ciência começou a investigar a orientação política das pessoas, há cerca de 40 anos, tivemos algumas surpresas. Para começar, o papel do DNA é maior do que se suspeitava. Um estudo de John Hibbing de 2005 que envolveu mais de 8.000 pares de gêmeos nos EUA estimou que genes respondiam por 53% da variação no perfil ideológico.
Cuidado, não se deve imaginar aqui que existe o gene do PT e o do PSDB. O efeito é bem mais indireto. Fatores hereditários têm peso importante na formação da personalidade, que é razoavelmente estável ao longo da vida e determinante para definir como nos sentimos em relação a uma série de questões como igualdade, justiça, autoridade, pureza -itens que constituem a base da identidade moral de cada indivíduo.
Outro ponto interessante é que já quase dá para ver a coloração política das pessoas em exames de neuroimagem. Um trabalho de 2011 de Ryota Kanai mostrou que conservadores tendiam a ter amígdalas, estruturas cerebrais envolvidas na memória das emoções, maiores e mais ativas. Já liberais exibiam maior quantidade de massa cinzenta no córtex anterior cingulado, que processa informações contraditórias. O conservador seria assim um sujeito mais intuitivo e com baixa tolerância a incertezas. O liberal, por seu turno, seria mais reflexivo. Não liga tanto se o mundo é um lugar meio sem sentido.
O bacana aqui é que, como o voto é o resultado de interações complexas entre indivíduo e sociedade, por mais que avancemos no entendimento do cérebro ideológico e da política partidária, eleições, ainda que encerrem alto grau de previsibilidade, sempre nos reservarão surpresas.
SÃO PAULO - Muito interessante o exercício do Datafolha de mensurar o conservadorismo/liberalismo da população paulistana. O ligeiro excesso de pessoas com ideias mais à direita (34% contra 27%) ajuda a explicar o fenômeno Russomanno, mas isso é só a ponta do "iceberg".
Desde que a ciência começou a investigar a orientação política das pessoas, há cerca de 40 anos, tivemos algumas surpresas. Para começar, o papel do DNA é maior do que se suspeitava. Um estudo de John Hibbing de 2005 que envolveu mais de 8.000 pares de gêmeos nos EUA estimou que genes respondiam por 53% da variação no perfil ideológico.
Cuidado, não se deve imaginar aqui que existe o gene do PT e o do PSDB. O efeito é bem mais indireto. Fatores hereditários têm peso importante na formação da personalidade, que é razoavelmente estável ao longo da vida e determinante para definir como nos sentimos em relação a uma série de questões como igualdade, justiça, autoridade, pureza -itens que constituem a base da identidade moral de cada indivíduo.
Outro ponto interessante é que já quase dá para ver a coloração política das pessoas em exames de neuroimagem. Um trabalho de 2011 de Ryota Kanai mostrou que conservadores tendiam a ter amígdalas, estruturas cerebrais envolvidas na memória das emoções, maiores e mais ativas. Já liberais exibiam maior quantidade de massa cinzenta no córtex anterior cingulado, que processa informações contraditórias. O conservador seria assim um sujeito mais intuitivo e com baixa tolerância a incertezas. O liberal, por seu turno, seria mais reflexivo. Não liga tanto se o mundo é um lugar meio sem sentido.
O bacana aqui é que, como o voto é o resultado de interações complexas entre indivíduo e sociedade, por mais que avancemos no entendimento do cérebro ideológico e da política partidária, eleições, ainda que encerrem alto grau de previsibilidade, sempre nos reservarão surpresas.
O chavismo em marcha na Argentina - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 25/09
O anúncio, de quatro minutos, foi feito pela presidente Cristina Kirchner no domingo, durante a transmissão dos jogos de futebol, para alcançar grande audiência. A ameaça tem data marcada, 7 de dezembro, e um alvo evidente: o grupo Clarín, com suas concessões de TV e rádio.
Herdeira do kirchnerismo, corrente fundada no peronismo pelo marido, Néstor, morto quando se preparava para tentar voltar a se eleger presidente, Cristina aprofunda o projeto populista, autoritário, de controle dos meios de comunicação independentes, caso do Clarín e do Nación. No entendimento da presidente argentina, entrará em vigor em 7 de dezembro o artigo 161 da Lei dos Meios Audiovisuais, feita sob medida para o Estado tutelar a mídia em geral, a imprensa em particular. Este artigo, redigido para ser, alegadamente, um instrumento de "democratização dos meios de comunicação" e da ampliação da "diversidade" no setor, visa, na realidade, a ser a base supostamente legal para inviabilizar o Clarín como empresa com independência editorial, por obrigá-lo a se desfazer de várias concessões na mídia eletrônica. A ameaça de Cristina K. é contestada. Garante a direção do Clarín que neste 7 de dezembro não pode acontecer nada com o grupo, "sabe perfeitamente o governo". Mas a data não é uma escolha aleatória. Nela vence uma medida cautelar obtida pela empresa junto à Corte Suprema, que impede a aplicação do tal artigo - de fato uma aberração, por retroagir no tempo e cassar direitos líquidos e certos. E, como o mérito ainda não foi julgado, estabelece a mais alta Corte argentina que a cautelar seja prorrogada.
Mas é do perfil agressivo do governo Cristina atropelar instituições. A seguir a Lei dos Meios e a interpretação que dela fazem a Justiça e constitucionalistas, para a aplicação efetiva do artigo 161 ainda seria necessário um ano de prazo, tempo suficiente para novas ações judiciais. A Lei dos Meios é parte de um projeto político de poder com nítida inspiração no venezuelano Hugo Chávez, responsável por estrangular a liberdade de imprensa no seu país e servir de exemplo, não apenas a Cristina K., mas a Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, no Equador. No Brasil, onde as instituições democráticas são mais sólidas, o chavismo não tem espaço, embora exista.
A presidente argentina já avançara sobre Clarín e Nación ao expropriar o controle da Papel Prensa, mantido pelos dois grupos, e passar a controlar o insumo, vital para os jornais. Agora, é a hora do ataque sobre as redes de TV e rádio do Clarín. Caso tenha êxito nesta emboscada, concessões deverão ser passadas para amigos da Casa Rosada, como tem acontecido, também privilegiados na distribuição das verbas publicitárias oficiais. Sequer a Lei dos Meios vale para eles. Em troca, Cristina convive com uma dócil imprensa chapa-branca. Tanto que o "cacerolazo" recente, em Buenos Aires, contra seu governo, só foi noticiado pelos poucos veículos independentes. A Argentina se aproxima da Venezuela.
Irresponsabilidade federal - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 25/09
Um balanço de perdas e transtornos causados pela greve de policiais federais, que já dura mais de mês e meio, torna-se ainda mais desolador com o exame das razões alegadas para o movimento.
A paralisação fez despencar o número de operações para desbaratar esquemas criminosos. Da média de 23 por mês, até julho, as ações caíram para nove, em agosto, e quatro, na primeira quinzena deste mês. Segundo grevistas, houve também queda em apreensões de drogas nas fronteiras do país.
Em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul e no Paraná, Estados que concentram tais intervenções, teriam sido confiscados desde agosto meros 31 quilos de cocaína, resultado ínfimo diante da média mensal de quatro toneladas.
Como ameaça adicional, policiais da área de inteligência e análise -responsáveis por investigações mais complexas, como as que utilizam grampos telefônicos- também prometem cruzar os braços.
Estão em greve agentes, escrivães e papiloscopistas, 60% do efetivo de quase 14 mil servidores da Polícia Federal. Seus pleitos estão mais relacionados a ambições corporativas do que propriamente a queixas salariais.
Nos dois mandatos do presidente Lula, a remuneração desses cargos quase dobrou, considerados os valores do topo da carreira (atualmente, R$ 11.879 mensais). Descontada a inflação, os ganhos superam em 15% os de uma década atrás.
A categoria almeja se aproximar, na escala salarial e na hierarquia funcional, de delegados e peritos. Estes compõem a elite da PF, cujos vencimentos máximos, próximos dos R$ 20 mil, são os mais altos das carreiras do Executivo federal.
A disputa é antiga. Em 2004, policiais pararam por mais de dois meses para reivindicar indefensável equiparação com os superiores.
Menos mal que o governo tenha anunciado o corte do ponto dos grevistas. E que o Superior Tribunal de Justiça tenha determinado, na sexta-feira, a preservação integral dos serviços relacionados a portos, aeroportos e eleições.
Após recusarem a oferta de reajuste de 15,8% parcelados em três anos, os policiais federais são os remanescentes isolados das paralisações de servidores com estabilidade. Delegados e peritos aceitaram a proposta do governo.
Um movimento irresponsável, que compromete a segurança da população, em nada ajuda essa demanda corporativista por maior prestígio no serviço público.
A pressa é inimiga da opinião pública - DIEGO WERNECK ARGUELHES
O GLOBO - 25/09
A indicação de Teori Zavascki para o Supremo Tribunal Federal tem quebrado recordes. A presidente Dilma fez a indicação em sete dias. O senador Renan Calheiros apresentou seu parecer - favorável, mas superficial - em 24 horas. Na democracia, porém, velocidade não é um fim em si. É um instrumento para se atingirem valores caros à sociedade.
A Constituição aceita a velocidade em alguns casos. Pense-se, por exemplo, no poder que o presidente tem para editar medidas provisórias em casos de urgência. No mundo de hoje, há cenários - sobretudo na direção da economia - que exigem ações rápidas por parte do governo. Nesses casos, a Constituição permite que o presidente se antecipe ao Congresso e legisle. Muitas vezes, resta aos parlamentares o papel de se manifestarem sobre fatos consumados.
Indicação de ministro do Supremo não é medida provisória. Não há, a princípio, qualquer urgência. Em casos excepcionais, é possível que o próprio processo decisório do STF recomende que presidente e Senado trabalhem em conjunto para preencher, com rapidez, uma vaga no tribunal. Pode ter sido o caso quanto à Lei de Ficha Limpa, quando a saída do ministro Eros Grau havia deixado o tribunal empatado em 5 x 5 e, logo, incapaz de dar uma resposta definitiva à sociedade.
No caso de Zavascki, porém, não parece haver qualquer demanda institucional que recomende uma aprovação acelerada. O Senado tem todo o tempo necessário para cumprir, com seriedade, sua função de debater e decidir, de forma pública e transparente, se o indicado deve integrar a mais alta Corte do país. Aqui, a pressa é desmobilizadora. Tira da sociedade a oportunidade de acompanhar o processo e conhecer a fundo o indicado e suas ideias. Com isso, restringe a legitimidade do processo.
A rapidez na indicação está dentro das prerrogativas da presidente da República. Mas, em contrapartida, aumenta a exigência em cima dos senadores. Quanto mais rápida a decisão presidencial, mais cuidadosa e transparente deve ser a deliberação do Senado.
O julgamento apressado do Mercosul - PETER HAKIM
O ESTADÃO - 25/09
Em seu recente testemunho perante o Congresso Nacional, o chanceler Antonio Patriota afirmou com justeza que o Legislativo paraguaio violou uma norma básica da democracia quando apressou o impeachment do então presidente Fernando Lugo e lhe negou a oportunidade adequada de se defender. Apesar de a Constituição paraguaia permitir a remoção de um presidente por "desempenho fraco", ela não confere autoridade ao Legislativo para desconsiderar o direito fundamental do mandatário ao devido processo legal - e este é o direito de ser julgado num processo legal conduzido com equidade e respeito.
De acordo com a cláusula democrática do Mercado Comum do Sul (Mercosul), o Brasil e os outros membros do bloco comercial - Argentina e Uruguai - têm todo o direito de questionar a ação do Paraguai. Curiosamente, porém, o País não demonstrou a menor hesitação em se unir a seus parceiros do Mercosul, Argentina e Uruguai, para perpetrar a mesma transgressão. Os três países invocaram com rapidez a cláusula democrática do Mercosul e suspenderam o Paraguai do bloco. Não houve uma investigação dos fatos que cercaram o impeachment de Lugo nem uma apreciação cuidadosa sobre se a suspensão seria a resposta adequada. Tampouco houve nenhuma consideração de outras medidas para tentar resolver o imbróglio paraguaio.
Além disso, o Brasil e os outros países do Mercosul não ofereceram nenhuma oportunidade às autoridades paraguaias de defenderem seus atos, alegarem circunstâncias atenuantes ou apelarem da decisão. O Paraguai foi impedido até mesmo de enviar um representante à reunião em que foi decidida a sua suspensão. O bloco do Mercosul cometeu, em suma, a mesma violação da qual acusara o Legislativo paraguaio - fazer um julgamento apressado sem o devido processo legal.
Mais vergonhoso ainda, talvez, os três parceiros restantes do Mercosul tiraram vantagem imediata da suspensão temporária do Paraguai para aprovarem a entrada da Venezuela no pacto comercial. Essa decisão - que atropelou a antiga oposição do Senado paraguaio - foi tomada no espaço de poucos dias, sem virtualmente nenhuma consideração quanto a ser ela legal ou não.
Brasil, Argentina e Uruguai simplesmente ignoraram a questão (que continua não resolvida) sobre se a Carta do Mercosul lhes dava autoridade, na ausência temporária do Paraguai, para concederem a participação à Venezuela.
Os parceiros do Mercosul também não consideraram se a Venezuela cumpria as condições da cláusula democrática do Mercosul. É certo que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi democraticamente eleito, porém, de ano a ano, as credenciais democráticas do país foram-se tornando cada vez mais manchadas por violações recorrentes dos direitos humanos, da liberdade de imprensa e de reunião, da independência do Poder Judiciário e de eleições livres.
O testemunho de Antonio Patriota ao Congresso justifica a participação da Venezuela no Mercosul em bases econômicas - que são, é claro, irrelevantes para a sua legalidade. E a gestão econômica irresponsável de Hugo Chávez seria razão suficiente para barrá-lo no bloco.
Não foram, no entanto, apenas o Brasil e seus parceiros do Mercosul que agiram de maneira precipitada com relação às normas legais ou à prudência econômica. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul), sem um único voto dissidente, da mesma forma suspendeu rapidamente o Paraguai. A Unasul fez, sim, uma investigação superficial, mas somente depois que a suspensão foi aprovada. Mais notável, talvez, é que nenhum país da América do Sul sequer se dispôs a participar na missão de investigação dos fatos no Paraguai patrocinada pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Aliás, foi a OEA que procedeu de forma mais responsável, ainda que, de alguma maneira, lentamente, no caso paraguaio - investigando o que ocorreu e produzindo um relatório altamente profissional que focou menos em atribuir culpas do que nas tarefas de pôr fim à crise política do Paraguai, evitando quaisquer novos conflitos, e ajudando a assegurar a lisura das próximas eleições presidenciais, em abril do ano que vem. Sua recomendação foi contrária à imposição de quaisquer sanções ao Paraguai.
Os Estados Unidos não interferiram durante o período mais crítico da crise paraguaia. Washington talvez estivesse certa em manter o silêncio até que a OEA completasse a sua missão no Paraguai e apresentasse o seu relatório e as suas recomendações. Foi, com certeza, melhor do que correr a apoiar o novo governo paraguaio, como fizeram os governos conservadores do Canadá, da Grã-Bretanha e da Espanha, ou condenar imediatamente o Legislativo do Paraguai, como fez a maioria dos países latino-americanos. Mas os Estados Unidos, seguramente, poderiam ter feito mais para persuadir outros países a também conterem o fogo até que as evidências tivessem sido colhidas - a fim de defender a condução de um devido processo legal para o governo paraguaio. Possivelmente, todavia, ninguém teria ouvido, de qualquer modo, dada a reduzida influência que os Estados Unidos têm na América do Sul hoje em dia.
Vista de longe, a reação do Brasil aos acontecimentos no Paraguai pareceu extraordinariamente passiva. Os acontecimentos parecem ter sido conduzidos em grande parte pela Argentina e pela Venezuela. É curioso que a mais importante potência regional da América Latina tenha falhado em tomar mais iniciativa e adotar uma atitude que fosse mais claramente consistente com as práticas democráticas que o Brasil afirmou estar buscando sustentar. Para crédito do Brasil, contudo, Patriota é, até onde sei, o único chanceler que teve de justificar perante um comitê parlamentar as ações de seu governo a respeito do Paraguai.
VIVA SUASSUNA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 25/09
A USP homenageou o escritor paraibano Ariano Suassuna no Centro Maria Antônia na semana passada. A professora e pró-reitora Maria Arminda do Nascimento e o artista Fabiano Gonper ouviram palestra de Suassuna.
FESTA SEM BOLO
Ronaldo, que está lutando para perder peso em quadro do "Fantástico", comemorou seus 36 anos de idade com festa no clube Outlaws, na rua Augusta, no sábado. A mulher do ex-jogador, Bia Antony, o empresário Rubens Zogbi e a modelo Karen Kounrouzan foram à festa, que teve show de MC Sapão.
ANA CAROLINA DE COR
O ator e escritor Daniel Iasi e a percursionista Lan Lan foram ao HSBC Brasil na sexta para ver o show "Ensaio de Cores", de Ana Carolina.
TUDO CERTO
Joaquim Barbosa não vai responder à presidente Dilma Rousseff, que há alguns dias divulgou nota contestando referência que ele fez ao testemunho dado por ela no processo do mensalão. A manifestação não mudaria em nada o julgamento no STF. E Barbosa entendeu que o texto da presidente foi ameno, sem agressividade.
BIBLIOTECA
Enquanto aguarda o resultado do julgamento no STF, o ex-ministro José Dirceu está lendo "Baú de Ossos", de Pedro Nava.
E também uma biografia de Dom Pedro 2º.
TERRA SECA
O ministro Gilson Dipp, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e coordenador da Comissão da Verdade, se afastou temporariamente das funções. Está se tratando de asma, agravada pelo tempo seco de Brasília.
TERRA DE NINGUÉM
E integrantes da Comissão da Verdade ficaram chocados com comentário, em uma de suas páginas na web, sobre a morte da mãe de Honestino Guimarães, líder estudantil que desapareceu na ditadura. Dona Maria Rosa denunciou e buscou esclarecimentos sobre a morte do filho enquanto esteve lúcida. "Se estivesse vivo, ele seria um mensaleiro", escreveu o internauta no dia do anúncio da morte da mãe.
NADA OFICIAL
Emissários da bispa Sônia e do apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer, avisam que eles não fecharam apoio oficial a nenhum candidato a prefeito em SP -ao contrário do que dizem dirigentes da campanha de Celso Russomanno (PRB-SP). Se decidirem marcar posição, será apenas no segundo turno.
DEU DE OMBROS
O deputado Walter Feldman (PSDB-SP) vem se esquivando de todo mundo que tenta cumprimentá-lo.
É que, na quarta passada, uma lâmpada desabou do teto de sua casa e "ficou chapada" em seu ombro -o que lhe rendeu uma queimadura de segundo grau na região.
ESTRELADO
O Ministério do Turismo entrega amanhã as primeiras 19 placas do SBClass, novo sistema de classificação da rede hoteleira. São novos critérios para decidir quantas estrelas um hotel merece -como acesso à internet e coleta seletiva. Em SP, três estabelecimentos serão contemplados: Grand Hyatt e Transamérica, ambos com cinco estrelas, e Cordialle, em São Roque, com três estrelas.
PRÓXIMA PARADA
Outros hotéis devem ter seus serviços analisados nas próximas semanas.
E poderão receber, também, classificação máxima.
PRONTO-SOCORRO
Uma cadelinha que andava pelo salão de beleza Ash, nos Jardins, morreu enquanto a dona fazia o cabelo. Mia, da raça crista chinês, comeu veneno de rato no jardim. Dois cabeleireiros foram com a cliente até um pronto-socorro, em vão. "Pensei em pedir que o salão fizesse doação para associação de animais de rua. Desisti. Mas não vou mais lá", diz Maria Eny Bordon, dona do cão. O salão não se manifestou.
PODE PARAR COM PARÁ
A cantora Gaby Amarantos diz que gravará seus próximos clipes fora do Pará, onde mantinha sua produção. "É hora de novos ares."
CURTO-CIRCUITO
O bar Aconchego Carioca abre hoje, nos Jardins.
Antonio Bernardo lança coleção de joias para o público jovem na loja da rua Bela Cintra, hoje.
Chitãozinho e Xororó participam de show beneficente em prol da instituição Amigos do Bem. Hoje, no Credicard Hall.
A Silimed, que fabrica silicones, será homenageada no Encontro Nacional de Comércio Exterior, na quinta e na sexta, no Rio.
Ueba! Ronaldo no Pançástico! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 25/09
Direto do País da Piada Pronta: "O Corinthians no Japão vai jogar em Toyota". Errado. Devia ser num Celta com insufilme! Rarará!
E um amigo colaborou com o Dia Mundial Sem Carro porque o carro dele e nada é a mesma coisa! E andar de bicicleta é prático: no primeiro farol, o ladrão te empurra, leva a bicicleta e você quebra o cotovelo!
E atenção! Medida Certa! O Ronaldo vai emagrecer no "Fantástico"! Ops, no "Pançástico"! Vão ter que usar uma balança rodoviária pra pesar o Ronaldo ! O Gornaldo!
Com tanto dinheiro vai malhar no "Fantástico"? Minha TV aos domingos vai pesar 150 quilos a mais! E largar o futebol é fácil, quero ver largar a lasanha!
E a nutricionista se chama Luciana Lancha! Só ela lancha! E o Ronaldo almoça, janta e assalta a geladeira à noite pra comer aquele pavê de padaria de anteontem!
E vamos fazer um BOLÃO pra acertar o peso do Ronaldo ?! Ele quer emagrecer justo agora que tá hilário nos comerciais de TV. Parecendo o Bolinha, bem quadrinhos! Mas ele quer ficar com barriga de tanquinho. Tanquinho de guerra!
E o Twitter do Ronaldo tem 140 quilos! E os nomes que a Fifa escolheu pra mascote tatu-bola: Zuzeco, Fuleco e Amijubi! Isso não é nome, é bullying! Você chega pro tatu e grita "Zuzeco!". Ele se enrola. De ódio e vergonha!
Aí você grita "Fuleco!". E o tatu-bola se enrola mais ainda. E aí você berra: "Amijubi". E o tatu-bola se enrola e se enfia no buraco!
Bullying! E o chargista Yakenga: "E aí, Zuzeco, tomou no Fuleco hoje?". Rarará! Bullying! E o chargista Son Salvador revela o que o tatu gritou pra Fifa: "Zuzeco, Fuleco e Amijubi É A MÃE!". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E o Galvão na F-1? Deus criou o mundo em seis dias. No sétimo, foi interrompido pelo Galvão! Melhor: Galvão criou o mundo em seis dias. No sétimo, tirou pra narrar a corrida! Rarará!
E quantas vezes ele disse "Isto é Cingapura?". Exatamente 8.945.367 vezes! Ou como disse o outro: até encher o meu saco! Rarará! E o Vettel ganha e o Bruno acena! Rarará!
E mais um predestinado! Sabe como se chama o diretor financeiro do Palmeiras? Marcos Bagatela. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
'Pequeno Manual sobre Eleições' - RUBENS BARBOSA
O ESTADÃO - 25/09
Em 64 a.C., Cícero, notável orador e político romano, embora não pertencente à aristocracia de onde saíam os que iriam dirigir os destino de Roma, apresentou-se como candidato ao posto de cônsul, o cargo mais importante na cena política de Roma. Seu irmão Quintus Tullius, general e político, produziu um memorando que denominou Pequeno Manual sobre Eleições, com o objetivo de ajudar o candidato na campanha que se aproximava e, como tudo parecia indicar, não iria ser nada fácil para o tribuno.
A revista Foreign Affairs publicou em maio/junho passado trechos do memorando de Quintus Tullius, que, pela sua atualidade diante do quadro das eleições municipais no País inteiro, tendo como pano de fundo o julgamento do mensalão, merecem ser aqui resumidos.
Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pelo pragmatismo, mas mostram que os costumes e as práticas políticas não se modificaram substancialmente desde esses remotos tempos romanos. Em mais de 2 mil anos nada, ou quase, parece ter mudado. Os políticos mais experientes pouco terão a ganhar com o manual. Os iniciantes, contudo, poderão beneficiar-se de alguma das sugestões feitas para a conquista do sufrágio e do apoio dos eleitores.
O memorando aponta as duras e cruas realidades da política e oferece um roteiro pragmático ao candidato. Primeiro, prestando conselho sobre como ganhar a eleição; em seguida, analisando a natureza e a força da sua base política, além da necessidade de dar atenção a grupos específicos; e, finalmente, oferecendo uma série de conselhos práticos sobre como conquistar votos.
Segundo Quintus Tullius, são três as coisas que podem garantir votos numa eleição: favores, esperança e relações pessoais. E segue dizendo ao irmão: "Você deve trabalhar para dar esses incentivos às pessoas certas. Para ganhar os eleitores indecisos você pode fazer-lhes pequenos favores. Com relação àqueles em quem você desperta a esperança - uma grupo zeloso e devotado -, deve fazê-los acreditar que estará sempre ao seu lado para ajudá-los. Deixe que eles saibam que você está agradecido por sua lealdade e que está muito agradecido pelo que cada um deles está fazendo por você. Em relação aos que já o conhecem, você deve encorajá-los, adaptando a sua mensagem à circunstância de cada um e demonstrando a maior gratidão pelo apoio de seus seguidores. Para cada um desses três grupos de apoiadores, decida como eles podem ajudá-lo na campanha. E de que modo você pode pedir coisas a eles. Não deixe de dar atenção a cada um individualmente, de acordo com a sua dedicação à campanha.
Em cada vizinhança existem determinados cidadãos que exercem poder e podem ser pessoas-chave para a campanha. É necessário distinguir esses homens daqueles que parecem importantes, mas que não têm poder real. Reconhecer a diferença entre as pessoas úteis e as inúteis em qualquer organização evitará que você invista o seu tempo e recursos em pessoas que serão de pouca ajuda para você.
O candidato deve ser um camaleão, adaptando-se a cada indivíduo que ele encontra e deve mudar sua expressão e seu discurso quando necessário.
Mantenha por perto os seus amigos. E seus inimigos mais perto ainda. Depois de identificar quais os amigos com os quais poderá contar, dê atenção a seus inimigos. Ha três tipos de pessoas que poderão opor-se aos seus interesses: aquelas a quem você contrariou, as que não gostam de você e as que são amigas próximas de seus oponentes.
Para impressionar os eleitores, dê atenção a cada um deles, sendo pessoal e generoso. Nada impressiona mais um eleitor do que o candidato não se ter dele esquecido. Por isso, faça um esforço para lembrar-se de seus nomes e rostos.
Faça promessas de todo o tipo. As pessoas preferem uma mentira de conveniência a uma recusa direta. Prometa qualquer coisa a qualquer um, a menos que uma clara obrigação ética o impeça de fazê-lo.
A campanha deve ser competente, digna, mas cheia de vida e de espetáculo, o que tanto atrai as massas. Também não fará mal se você os lembrar de quão desqualificados são seus oponentes, acusando-os de crimes, escândalos sexuais e corrupção em que poderão estar envolvidos.
O mais importante numa campanha é incentivar a esperança no povo e criar nele um sentimento de boa vontade em relação a você. Por outro lado, você não deve fazer promessas específicas, quer para o Senado, quer para o povo. Fique em vagas generalidades: diga ao Senado que você vai manter os privilégios e poderes que tradicionalmente tiveram; deixe a comunidade de negócios e os mais ricos saberem que você é favorável à estabilidade e à paz; assegure ao povo que você sempre esteve ao seu lado, tanto em seus discursos como na defesa de seu interesse.
Onde quer que você ande, haverá de encontrar arrogância, teimosia, malevolência, orgulho e ódio. Não se deixe desencorajar pela conversa de corrupção. Mesmo nas eleições mais corruptas há muitos eleitores que apoiam os candidatos em quem eles acreditam, sem receber em troca nenhum pagamento. É possível que seus oponentes tentem usar o suborno para ganhar o apoio dos que estão com você. Deixe que eles saibam que você estará observando atentamente as suas ações e os ameace com processo nos tribunais. Eles ficarão com medo de sua influência no meio empresarial. Não será necessário levá-los aos tribunais com acusações de corrupção; o importante é que eles saibam que você está disposto a isso. O medo funciona melhor do que uma ação judicial. O que interessa não é o resultado da ação dos tribunais, mas a ameaça é importante como um instrumento para produzir o medo e a moderação dos adversários".
Cícero foi eleito...
E assim vem caminhando a humanidade.
A oposição tenta se reconstruir - RAYMUNDO COSTA
Valor Econômico - 25/09
A oposição refez sua avaliação sobre o resultado da eleição. Há seis meses, a ideia tanto no PSDB, no Democratas e no PPS é que esses partidos sairiam destroçados na eleição de 7 de outubro. A presidente Dilma Rousseff saiu-se melhor que o esperado no governo e os tucanos apenas tinham convicção de ganhar em Belém do Pará e em Teresina, a capital do Piauí, tradicional reduto do partido.
Favorito mesmo, só Antonio Carlos Magalhães Neto, em Salvador, e Marcio Lacerda, em Belo Horizonte. À época, pois desde então o candidato petista Nelson Pelegrino cresceu uma boa fatia de pontos em Salvador e Lula estará na cidade no fim de semana para tentar turbinar ainda mais o candidato do PT.
Não é fácil, porque ACM Neto já está na faixa dos 46 pontos, mas em se tratando de Lula e de eleições nada é impossível, como ele já demonstrou em outras disputas.
A oposição acredita que o lulismo já não existe da forma que existiu, em que Deus nomeava o inquilino do Palácio do Planalto. Prova disso tem sido o desempenho de seu candidato a prefeito de São Paulo, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.
No primeiro comício de Lula em Belo Horizonte, terra natal de Dilma, em apoio à candidatura de Patrus Ananias, havia pouco mais de 3 mil presentes.
Na oposição também há avaliações de que Lula está descompensado, diante da quantidade de erros que nem PSDB, nem DEM ou PPS julgavam que ele poderia cometer: a carta que exigiu de Dilma uma resposta sobre as manifestações de FHC em torno do mensalão e o veto à isenção de produtos da cesta básica.
Há outros elementos a animar a oposição.
A movimentação de Eduardo Campos no Nordeste é um deles. O governador de Pernambuco e presidente do PSB de uma só tacada pode derrotar três prefeitos de capitais importantes do Nordeste, território do lulismo. Não é à toa que Lula se apressa a ir a Salvador dar uma ajuda a Nelson Pelegrino e ouvir alguns pedidos de Geddel Vieira Lima para assegurar apoio no segundo turno, se houver. Enfim, ele já não aponta o dedo e as pessoas seguem.
Atualmente, o PSB disputa Recife (com favoritismo), Fortaleza, Belo Horizonte (com boas possibilidades) e Curitiba. Sim, Curitiba do candidato Gustavo Fruet do PDT, que foi um implacável relator do mensalão, quando era filiado ao PSDB, e que hoje está aliado ao PT na eleição.
Fruet e o governador Beto Richa se desentenderam e o deputado que relatou o mensalão trocou de cores e passou a defender o PDT.
Evidentemente a oposição não acha que vai ganhar a eleição, mas está se convencendo que não será destroçada, como chegou a imaginar depois da terceira derrota para o PT. E está certa de que vai fazer um bom papel em João Pessoa, Maceió (onde Aécio estará nesta semana para um ato eleitoral com Rui Palmeira, irmão do ex-senador Guilherme Palmeira), Campo Grande, Palmas (em parceria com o PV), e Belém, com o deputado federal Zenaldo Coutinho.
Aécio foi a Porto Alegre, mas o objetivo na capital do Rio Grande do Sul está em outro partido da base. E ainda fez um afago na ex-governadora Yeda Crusius. A campanha da oposição tem a expectativa de ficar com a maioria dos votos dos três Estados do Sul por afinidades como o agronegócio, entre outras coisas.
Em Vitória, o ex-governador Paulo Hartung reconciliou-se com o ex-prefeito e ex-deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas. Em 2014 podem estar de novo no mesmo palanque.
O clima entre os tucanos, beligerante nas três últimas derrotas para o PT, nacionalmente, também amenizou. Mas a exemplo do PT, os tucanos também são chegados as dar tiros no próprio pé.
Exemplo bem recente: o ex-senador Arthur Virgílio estava disparado nas frente, nas pesquisas para prefeito de Manaus, quando o governo de São Paulo moveu com uma ação contra a Zona Franca de Manaus (AM). A Zona Franca sempre foi o inferno de Serra na região Norte, porque se dizia que ele era contrário.
A adversária de Arthur Virgílio, Vanessa Grazziotin, já subiu nas pesquisas e ameaça seriamente o tucano.
O PT parece calcular melhor esses passos: está nos jornais que a gasolina vai aumentar. Mas só dia 8, um dia depois da eleição Em 2002, o governo FHC aumentou o preço do gás de cozinha às vésperas do 1º turno.
Em Porto Alegre, Yeda Crusius trabalhou contra a candidatura de Nelson Marchezan Filho, que mesmo com traço nas pesquisas ainda teria mais chances que o escolhido por Yeda.
Um exemplo recente de que a oposição descobriu que precisa se conciliar para não ser mesmo destroçada: os três partidos constituíram grupo para analisar temas da atualidade para serem levados à rua em 2013.
A questão da Federação é sempre lembrada por Aécio. Gestão pública entra para lembrar o "aparelhismo" do PT. Segurança pública e saúde, também. Aliás, Dilma mandou Alexandre Padilha falar de saúde em BH, e não pegou bem.
Desde o império os mineiros acham que seus problemas devem ser resolvidos por eles.
A gafe petista foi do próprio Lula, em Porto Alegre, quando disse que presidente, governador e prefeito do mesmo partido ajudam os Estados e as cidades. E até disse que Dilma era gaúcha, para o gáudio dos mineiros.
A avaliação dos oposicionistas é que a situação política mude depois das eleições municipais. O Brasil tem 30 partidos registrados (e 29 habilitados a disputar eleições). É uma situação difícil de ser mantida. A tendência seria a agregação de líderes e o país caminhar para um número menor de partidos.
Podem ser Aécio, Eduardo Campos ou, quem sabe, um nome da moda como Joaquim Barbosa e Ayres Britto. Pode não dar para levar desta vez mas cria condições para 2018.
Em 2014, por mais que considere que está melhor do que há seis meses, a oposição vê poucas chances de mudança.
A situação toda muda, é claro, se José Serra vencer as eleições em São Paulo, o que daria força ao PSDB.
Em São Paulo, é efetivo o acordo - ou entendimento - de que se José Serra for eleito prefeito de São Paulo, ele ficará no cargo até o fim, pois não teria condições políticas de deixar novamente a prefeitura para concorrer a presidente.
Código para a impunidade - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 25/09
Se a lei for igual para todos, nem por isso os crimes são iguais para todos os respectivos acusados
Se a lei for igual para todos, nem por isso os crimes são iguais para todos os respectivos acusados
PALCO PRINCIPAL da atualidade brasileira, o Judiciário oferece aos cidadãos mais um enredo de suspense. Com valor ilustrativo diferente do proporcionado pelo julgamento do mensalão, mas com maior significação direta para cada um dos que expomos a vida nas cidades.
Com base no excesso de prazo das prisões, sete bandidos "de alta periculosidade" foram soltos no Rio.
O país todo os conhece, teve a oportunidade de vê-los em ação da sua especialidade, no vídeo da invasão que fizeram do Hotel Intercontinental, em São Conrado. Com mais três, todos armados de fuzis e metralhadoras, desciam de Kombis e automóveis, comunicavam-se com a Rocinha ali adiante, vagueavam em desafio pelas ruas e, por fim, entravam nos jardins e no hotel. Aí fizeram reféns e ameaçaram uma carnificina.
Era agosto de 2010. Há quatro dias, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, soube que sete dos dez invasores presos estão soltos desde dezembro de 2011. Soube mais: soube que o desembargador Siro Darlan soltou-os, como disse, porque "existe um prazo de 81 dias quando o réu está preso, e eles estavam presos há um ano e meio". Quase isso, um ano e quatro meses.
Um argumento embaraçoso, de fato. Mas o desembargador, muito discutido desde que se ocupava de problemas com crianças e adolescentes, tem ainda um reforço argumentativo bem ao seu estilo: "Os réus do mensalão respondem ao processo em liberdade há sete anos. Por que os favelados não têm esse direito? A lei é igual para todos".
Se a lei for igual para todos, nem por isso os crimes são iguais para todos os respectivos acusados. Daí o suspense que o caso provoca. Não o de saber por que o desembargador, tratando-se de acusados de "alta periculosidade", não cobrou a providência em falta para evitar a liberação contrária à segurança pública.
O suspense, este sim, até que seja dada explicação convincente dos fatos e das responsabilidades resultantes na falta, por um ano e quatro meses, dos procedimentos apropriados para manter presos e julgar sete bandidos. Tanto mais que a Secretaria de Segurança informa, pela Polícia Civil, haver encaminhado o inquérito para os procedimentos do Ministério Público e do Judiciário em 30 de agosto. No mesmo mês da invasão do hotel e da prisão dos dez bandidos.
Soltos há nove meses, por certo os sete não se mantiveram com trabalho convencional. Ignoram-se outras possíveis contribuições suas à criminalidade que forçou a antecipação, para a semana passada, da instalação da polícia na Rocinha.
Mas a eles se deve parte de uma evidência importante: enquanto se louva o julgamento do mensalão como sinal de fim da impunidade, a impunidade se mostra com agressividade, onde e quando não poderia ser proporcionada.
Anuncia-se novo Código Penal, com penas pretensamente adequadas à atualidade. Nada se anuncia para assegurar sua aplicação, sempre.
Com base no excesso de prazo das prisões, sete bandidos "de alta periculosidade" foram soltos no Rio.
O país todo os conhece, teve a oportunidade de vê-los em ação da sua especialidade, no vídeo da invasão que fizeram do Hotel Intercontinental, em São Conrado. Com mais três, todos armados de fuzis e metralhadoras, desciam de Kombis e automóveis, comunicavam-se com a Rocinha ali adiante, vagueavam em desafio pelas ruas e, por fim, entravam nos jardins e no hotel. Aí fizeram reféns e ameaçaram uma carnificina.
Era agosto de 2010. Há quatro dias, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, soube que sete dos dez invasores presos estão soltos desde dezembro de 2011. Soube mais: soube que o desembargador Siro Darlan soltou-os, como disse, porque "existe um prazo de 81 dias quando o réu está preso, e eles estavam presos há um ano e meio". Quase isso, um ano e quatro meses.
Um argumento embaraçoso, de fato. Mas o desembargador, muito discutido desde que se ocupava de problemas com crianças e adolescentes, tem ainda um reforço argumentativo bem ao seu estilo: "Os réus do mensalão respondem ao processo em liberdade há sete anos. Por que os favelados não têm esse direito? A lei é igual para todos".
Se a lei for igual para todos, nem por isso os crimes são iguais para todos os respectivos acusados. Daí o suspense que o caso provoca. Não o de saber por que o desembargador, tratando-se de acusados de "alta periculosidade", não cobrou a providência em falta para evitar a liberação contrária à segurança pública.
O suspense, este sim, até que seja dada explicação convincente dos fatos e das responsabilidades resultantes na falta, por um ano e quatro meses, dos procedimentos apropriados para manter presos e julgar sete bandidos. Tanto mais que a Secretaria de Segurança informa, pela Polícia Civil, haver encaminhado o inquérito para os procedimentos do Ministério Público e do Judiciário em 30 de agosto. No mesmo mês da invasão do hotel e da prisão dos dez bandidos.
Soltos há nove meses, por certo os sete não se mantiveram com trabalho convencional. Ignoram-se outras possíveis contribuições suas à criminalidade que forçou a antecipação, para a semana passada, da instalação da polícia na Rocinha.
Mas a eles se deve parte de uma evidência importante: enquanto se louva o julgamento do mensalão como sinal de fim da impunidade, a impunidade se mostra com agressividade, onde e quando não poderia ser proporcionada.
Anuncia-se novo Código Penal, com penas pretensamente adequadas à atualidade. Nada se anuncia para assegurar sua aplicação, sempre.
Fracasso articulado - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 25/09
Vai se desfazendo rapidamente a imagem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva construiu de si mesmo no poder, e que parecia indestrutível. As dificuldades eleitorais que os candidatos por ele impostos ao seu partido enfrentam em várias capitais são uma demonstração de que, menos de dois anos depois de deixar o poder com índice inédito de popularidade, pouca valia tem seu apoio. A isso se soma a substituição gradual, por sua sucessora Dilma Rousseff - também produto de sua escolha pessoal -, de práticas e políticas que marcaram seu governo. Concretamente, o fracasso da gestão Lula está explícito no abandono, paralisia, atraso e dificuldades de execução de seus principais planos, anunciados como a marca de seu governo. Eles vão, de fato, moldando a marca de seu governo - a do fracasso.
Trata-se - como mostrou reportagem do jornal Valor (24/9) - de um fracasso exemplar, articulado, minucioso, que quase nada deixa de positivo dos grandes projetos de Lula na região em que nasceu e onde ele e sua sucessora obtiveram suas mais estrondosas vitórias eleitorais - o Nordeste. As deficiências desses projetos eram conhecidas. O que a reportagem acrescenta é que, frutos do apetite político-eleitoral do ex-presidente e da sistemática incompetência gerencial de seu governo, essas deficiências são comuns aos vários projetos.
Ferrovias, rodovias, obras de infraestrutura em geral, transposição do Rio São Francisco, refinarias, tudo foi anunciado com grande estardalhaço, com resultados eleitorais espetaculares para o governo, mas com pouco, quase nenhum proveito para o País até agora. Como se fossem partes de uma ação cuidadosamente planejada, essas obras têm atraso médio semelhante, enfrentam problemas parecidos e, todas, geram custos adicionais astronômicos para os contribuintes.
Os grandes empreendimentos do governo Lula para o Nordeste somam investimentos de mais de R$ 110 bilhões. Excluídos os projetos cuja complexidade impede a fixação de novo prazo de conclusão, eles têm atraso médio de três anos e meio. Isso equivale a sete oitavos de um mandato presidencial. Obras que Lula prometeu inaugurar talvez não sejam concluídas nem na gestão Dilma. Veja-se o caso das refinarias anunciadas para a região, a Premium I (no Maranhão) e a Premium II (no Ceará), que devem custar quase R$ 60 bilhões. A do Maranhão, cujas obras foram "oficialmente" iniciadas em janeiro de 2010, deveria estar pronta em 2013, mas agora está classificada como "em avaliação" pela Petrobrás, ou seja, já não é nem mesmo certo que ela será construída. A do Ceará, lançada em dezembro de 2010, deveria estar pronta em 2014, mas foi adiada.
A refinaria que está em obras, a de Abreu e Lima, em Pernambuco, transformou-se num poço de problemas e atrasos. Resultado de um acordo que Lula fez com o venezuelano Hugo Chávez, a refinaria deveria ser construída em parceria pela Petrobrás e a estatal venezuelana PDVSA, mas esta, até o momento, não aplicou nenhum centavo. O custo previsto atualmente para a obra equivale a cinco vezes o orçamento original.
Na área de infraestrutura, estão atrasadas as duas ferrovias em construção no Nordeste, a Nova Transnordestina, com 1.728 quilômetros, e a Oeste-Leste, que se estende de Ilhéus, no litoral da Bahia, até Figueirópolis, no Tocantins. A primeira, que teve substituída a empreiteira, tem um trecho paralisado no Ceará e enfrentou problemas com o atraso na liberação de recursos, mas seu andamento, assim mesmo, é considerado "adequado" nos balanços periódicos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual faz parte. Pode-se imaginar a situação da segunda, considerada "preocupante" pelos gestores do PAC.
A transposição do São Francisco, cujos problemas têm sido apontados com frequência pelo Estado, faz parte desse conjunto. O que ele exibe é uma sucessão de projetos incompletos, contratos mal elaborados, descuido da questão ambiental, fiscalização inadequada. O resultado não poderia ser diferente: atrasos, paralisação de obras por órgãos ambientais, aumento de custos. É parte da herança deixada pelo governo Lula.
Adeus, Lula - MARCO ANTONIO VILLA
O GLOBO - 25/09
Lula foi chamado de deus por Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém chegou a tanto na adulação
A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos - e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica - mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas - como gado - algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os "militantes" estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato - uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, "não adianta chorar". Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: "ex-presidente". Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início. E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.
PSB na cabeça - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/09
Um tucano surpreende em Recife
O PSB pode ganhar no primeiro turno, mas em Recife a grande sensação das eleições é o candidato tucano Daniel Coelho. Ele ultrapassou o petista Humberto Costa e está em segundo lugar fazendo uma campanha diferente. Ele tem 35% das intenções de voto entre os jovens de 16 a 24 anos. Usa sandálias, veste-se como riponga, prega o fim do caciquismo e tem grande apoio da comunidade GLS. Ele é a única estrela do programa de TV de sua campanha, em que não aparece qualquer dos figurões do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique, o senador Aécio Neves (MG) ou o presidente nacional do PSDB, o deputado Sérgio Guerra (PE).
“O eleitor está mandando um recado (para PT e PMDB): vocês mandam, mas não mandam tanto quanto pensam. Há uma
virada, como a de 1974”
Moreira Franco
Ministro de Assuntos Estratégicos
Colocando um pé na esquerda
O PP gaúcho apoia a reeleição do prefeito José Fortunati (PDT) em Porto Alegre. Mas a senadora Ana Amélia (PP), candidata ao governo, manda mensagens pelo telemarketing pedindo votos para a candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila.
Redução de danos
É comovente o esforço dos aliados de empurrar para terceiros a autoria da nota que ataca a mídia para defender o ex-presidente Lula. No PSB, e até no PT, tentam colocar o pepino no colo do vice socialista, Roberto Amaral (foto). No PMDB, o mais convenient tem sido dizer que assinar foi coisa do presidente interino, o senador Valdir Raupp (RO).
Quem não tem cão caça...
Sem a ministra Marta Suplicy (Cultura) na campanha de Fernando Haddad (PT) em São Paulo, o jeito foi recorrer a Luiza Erundina (PSB), que não quis ser vice por causa do apoio de Maluf. Erundina vai entrar de cabeça na reta final.
Ossos do ofício
O primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, mudou de quinta-feira (27) para o dia seguinte a data de sua visita à presidente Dilma. O que seria uma reunião de trabalho virou uma visita de chefe de Estado, com honras e almoço no Itamaraty. Com isso, é um dia a menos na agenda presidencial para campanha. Só vão sobrar a noite de sexta-feira e o sábado (29).
Quem não é visto não é lembrado
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) passou o fim de semana no Paraná em campanha. Os petistas de Ponta Grossa, Londrina e Curitiba cobraram que ela reassuma o mandato no Senado para concorrer ao governo nas eleições de 2014.
Arrombando o Planalto
Dois furtos ocorreram nestes dias no Planalto. Semana passada, sumiu uma caixa de som do Salão Leste. Ontem, foi furtado um telefone fixo do comitê de imprensa, que fica ao lado da segurança. E as máquinas de raios X, nada.
O LÍDER DO PMDB NO SENADO, Renan Calheiros (AL), não quer vacilar com a presidente Dilma e vai assumir a relatoria da MP das concessões do setor elétrico.
Obama ou Mitt Romney? - ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 25/09
Na época de Eisenhower, morei nos USA e estudei numa "high school" no coração da "América profunda", em Saint Augustine, Flórida, a cidade mais antiga do país.
Era a época da "geração silenciosa" do pós-guerra. Foi nos "gloriosos" anos do racismo. Nunca tinha visto o 'reacionário' fundamental, básico, sólido. Lá, eu vi de perto o mundo psíquico dos republicanos. A Flórida tem mais direitistas que jacarés. Os republicanos típicos são filhos de um deus duro e implacável. As caras, as fuças típicas dos republicanos parecem dizer: "Não tenho dúvidas, não quero ouvir, já sei tudo, Deus me disse...!" Exatamente como os 'jihadistas' que querem bombardear.
Depois, veio o Kennedy, moderno, com mulher chique, que governou até 63, quando uma bala virou sua bonita cabeça numa massa sangrenta. Ficou Lyndon Johnson, um medíocre vice democrata, pré-Nixon. Depois, o irmão Bob Kennedy, que certamente seria eleito, foi assassinado na frente das TVs do mundo todo em 68. Em seguida, tivemos o Nixon, que cai em 74, sucedido pelo frágil Jimmy Carter que preparou a chegada dos republicanos Reagan e Papai Bush, até a "era dourada" do Clinton, que acabou desmoralizada pelos lábios da Monica Lewinsky, histérica e republicana, no mais trágico "boquete" da história ocidental.
Agora, diante das eleições próximas, olho Obama - homem raro, profundo, que aponta os melhores caminhos para a América - e me preocupo: será que os americanos vão reeleger um negro intelectual ? Será que ganha o racismo oculto, recôndito, a KKK na alma dos "wasps" e malucos dos "tea parties"?
Digo isso porque vi o racismo americano de perto. Saint Augustine era uma cidade igual àquela do Truman Show. Os ritos sociais, os gestos cotidianos, os sorrisos e lágrimas, tudo parecia programado por uma máquina obsessiva. A vida e morte eram padronizadas: abraços gritados, torcidas histéricas no beisebol, alegrias obrigatórias, intensa religiosidade, tudo girando num carrossel de certezas absolutas.
Só uma coisa estava fora da ordem: os negros. Era outra América dentro da cidade. No ônibus amarelo do colégio, eu via meus colegas louros, ruivos e brutos berrando contra os negros que passavam: "Hey, nigger, por que teu nariz é tão chato?" "Hey, nigger, por que teu cabelo é pixaim?" Os negros ouviam de cabeça baixa, o rosto torcido de humilhação, num ódio sufocado. Amontoavam-se no fundo dos ônibus, em pé, mesmo com os carros vazios, e moravam num bairro sujo de madeira e terra. Eu me espantava com aquela ausência total de compaixão, eu que vinha de babás negras me beijando. Os pobres segregados eram tristes, trêmulos e esfarrapados, obesos e deprimidos, com frágeis mulheres engelhadas e crianças assustadiças.
Os brancos da cidade me amedrontavam, a violência dos alunos me assustava. Vi brigas de ferozes galalaus se arrebentando até o sangue no focinho e o desmaio, onde nem os diretores do colégio podiam interferir. Eu era um "nerd" comprido e meio bobo nos meus 15 anos e me chocava com as botas de caubóis marchetadas de estrelas de prata, com as facas de onde a lâmina pulava, os casacos de couro negro que já vestiam a "juventude transviada" - uma rebeldia reacionária e "republicana".
O ídolo da época era Elvis Presley rebolando na TV. Pairava um clima de intolerância entre os próprios brancos; eram os fortes contra os fracos, as meninas bonitas contra as feias, as sérias contra as "galinhas" que eram comidas nos "drive-ins", dentro dos carros envenenados, os "hot rods", e depois cuspidas para a humilhação coletiva. As rivalidades eram vingativas e duras.
Eu, turista tropical, tímido e fraco, provocava-lhes um respeito cauteloso por ser estrangeiro e os machões me poupavam porque eu lhes dava "cola" em "spelling", soletrando palavras de raiz latina para eles.
Mas, existia no ar um perigo desconhecido; dava para sentir que a solidez de certezas, se rompida, provocaria um grave desastre. Eu navegava naquela cultura obsessiva e, bem ou mal, conseguira namorar Melinda Mills, pálida filha loura de um ex-marine que estivera no Rio e me mostrou um cartão-postal do Mangue com suas palmeiras, onde ele certamente conhecera a zona e as 'polacas'.
Até que, um dia, chegou a notícia terrível: tinha subido aos céus o satélite russo, o Sputnik, girando como uma bola de basquete em órbita da Terra.
Foi indescritível o pânico na cidade. Desde 49, com a explosão da bomba H pelos soviéticos, destronando a liderança dos destruidores de Hiroshima, os americanos esperavam outra catástrofe, que viria como um filme de terror tipo A Invasão dos Feijões Gigantes.
Em minutos, a cidade parecia um campo de refugiados, de perdedores humilhados pelos comunistas no espaço. No colégio, começaram "fire drills" incessantes, alarmes evacuando os alunos para porões e abrigos atômicos. O então senador Lyndon Johnson berrou: "Brevemente estarão jogando bombas atômicas sobre nós, como pedras caindo do céu..." No alto, o satélite Sputnik humilhava os americanos, com seus "bip bips", soando como gargalhadas.
A partir desse dia, os colegas passaram a me olhar de lado. Transviados e 'porradeiros' me investigavam com perguntas: "Que você acha? Teu país gosta dos russos?" Eu tremia e escondia minha vaga admiração pelo socialismo. Eles me olhavam desconfiados: 'Brasileiro, latino, sabe-se lá?'
Depois disso, não me pediam mais 'cola'. O pai de Melinda, putanheiro do Mangue, mal me cumprimentou de sua poltrona esfiapada. Melinda ficou mais pálida e nosso namoro definhou.
Por isso, hoje vejo o Obama, esguio, mulato, de elite, lutando contra o sutil 'racismo' que vai além da cor da pele. Esse 'racismo' está também na desconfiança do 'novo', do 'diferente', da distribuição de riquezas para todos. O mundo vai mudar. Obama ou Mitt? Quem dá mais? A inteligência que resiste à estupidez ou aqueles 60 milhões de idiotas que elegeram o Bush na fraude do século, na Flórida. Será que vão repetir tudo?
Se Mitt ganhar, o mundo será derrotado.