O GLOBO - 29/07
Para quem ainda se espanta com eventuais divergências do governo brasileiro com a Fifa em relação à Copa de 14 ou com o COI em relação aos Jogos de 16.
Boris Johnson, prefeito de Londres, deu uma dura no COI. Criticou a excessiva restrição do uso do termo "Olimpíadas" por terceiros e protestou contra a decisão do Comitê Olímpico de querer impedir a entrada nos estádios de pessoas com camisas e bonés de marcas concorrentes dos patrocinadores dos Jogos.
Segue...
O COI voltou atrás. Só vai proibir o "marketing de emboscada’? ou seja, de grupos fazendo propaganda oculta de empresas concorrentes.
Na Copa da África do Sul, 36 mulheres foram retiradas do jogo Holanda x Dinamarca. Agentes da Fifa suspeitaram que eram contratadas pela Heineken, concorrente da Budweiser, patrocinadora da competição.
Gois em Londres II
De uma autoridade brasileira, convidada supervip, na abertura dos Jogos, sexta:
— A comida era pior que a do serviço de bordo da Gol...
Aliás...
As escadas rolantes da área vip na abertura dos Jogos pararam na saída dos chiques e famosos.
Gois em Londres III
José Maria Marin, presidente da CBF, foi barrado ao tentar entrar no ônibus da seleção de Mano Menezes.
É que não tinha credencial olímpica, nem do COI nem do COB. Deu chilique.
Bolão do mensalão
Advogados cariocas fazem um bolão sobre o resultado do julgamento do mensalão.
A maioria aposta na absolvição dos réus.
O DOMINGO É...
...de Adriana Esteves, carioca, 42 anos, a malvada Carminha da novela “Avenida Brasil”, sucesso de João Emanuel Carneiro que faz o país ficar grudado na tela no horário das 21h. Adriana, que já havia excedido em talento na minissérie “Dalva e Herivelto”, entra de vez no seleto clube das melhores atrizes brasileiras. Nas cenas de maior tensão com Nina (Débora Falabella, que também dá um show de interpretação), ela consegue uma expressão facial soberba, parecendo mobilizar todos os músculos da face. Aliás, as cenas de embate das duas já renderam recordes de audiência à trama - 45 pontos de média. A mulher de Vladimir Brichta e mãe de Felipe e Vicente tem um grande futuro como atriz. Que seja feliz •
Fla contra Vargas
Em 1954, veja só, o Flamengo, pressionado por Carlos Lacerda, participou, que pena, de uma articulação da direita contra Getulio Vargas. O clube pediu, em moção, a renúncia do presidente.
A revelação estará na edição de agosto da "Revista de História da Biblioteca Nacional”
É que...
Lacerda, inimigo de Vargas, tinha ouvido do general Canrobert Pereira da Costa (1895-1955) a seguinte promessa: poria as tropas contra o presidente, mas só se todo mundo pedisse, "até o Clube de Regatas do Flamengo!"
Mas Vargas abortou os golpistas, dando um fim à própria vida.
Liberou geral
Terça agora, Dilma, Cristina Kirchner, José Mujica e Hugo Chávez vão além de sacramentar o ingresso da Venezuela no Mercosul: vão acelerar a entrada de mais quatro países: Bolívia, Equador, Suriname e Guiana.
Fim de uma parceria
Manoel Poladian, o empresário das estrelas, não representa mais Rita Lee.
Nada se cria
Sabe a carteira Balenciaga Giant (foto à esquerda), queridinha das celebridades internacionais, que custa cerca de US$ 600?
A loja brasileira de bolsas e malas Baggagio se... inspirou no modelo.
Veja acima. A daqui custa R$ 65,90.
Museu do Almirante
Começam em agosto, em São João de Meriti, RJ, as obras do Museu João Cândido (1880-1969), o "Almirante Negro"' eternizado no samba de João Bosco e Aldir Blanc.
O líder da Revolta da Chibata viveu seus últimos dias ali. O museu terá o formato de um navio.
De volta
Sem o Exército, voltaram os bailes funk no Complexo do Alemão, no Rio.
Agapinho
"Agapinho" (Globo Livros), versão infantil do livro do padre Marcelo Rossi, já vendeu 500 mil exemplares em apenas quatro meses.
Jet set
A modelo brasileira Brenda Costa, casada com o milionário inglês Al Fayed, irmão de Dodi, que morreu no acidente com LadyDi, comemorou o aniversário de 4 anos da filha, ontem, no Animasom, no Shopping da Gávea, no Rio.
Meu Deus
Veja como chegou aqui o efeito da tragédia do atirador que matou 12 pessoas na estreia de "Batman" num cinema nos EUA, semana retrasada.
Quinta, antes da pré-estreia do filme no Shopping Bourbon, em São Paulo, um funcionário avisou: "Vocês estão sendo monitorados por câmeras do circuito interno, e um segurança ficará de prontidão na sala.”
domingo, julho 29, 2012
À espera do mensalão - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 29/07
Complexidade do processo e teor das provas dificultam condenações pelo Supremo, cuja decisão emitirá um sinal sobre o futuro da corrupção
Sob qualquer ângulo que se considere, é superlativo o desafio que o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentará a partir de quinta-feira, com o julgamento do mensalão.
Não se trata somente do maior processo nos 121 anos de história do tribunal, mas também do caso mais complexo -e de maior impacto político- que terá sido levado ao exame da corte.
Quando terminar de julgar os 38 réus, cada ministro terá enfrentado depoimentos de mais de 600 testemunhas, ponderações de meia centena de advogados e, no mínimo, um mês de sessões plenárias.
O resultado dessa maratona será anunciado em mais de mil decisões individuais, pois cada um dos 11 ministros precisará pronunciar-se sobre as várias acusações, uma a uma, que pesam contra cada réu. Decisões contra as quais ainda poderão ser interpostos recursos -tanto pela defesa quanto pela acusação, a cargo da Procuradoria-Geral da República (PGR).
É no conteúdo das decisões, para além da quantidade, contudo, que reside o desafio maior dos ministros. E é pela excelência técnica do trabalho que eles serão avaliados. Está em exame o maior escândalo de corrupção ocorrido no país depois do Collorgate (1992).
De acordo com a PGR, o mensalão foi um esquema ilegal de financiamento político organizado pela cúpula do PT para garantir apoio ao governo comprando votos no Congresso Nacional em 2003 e 2004, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A acusação sustenta que o mensalão foi alimentado com recursos públicos desviados pelas agências de publicidade do empresário Marcos Valério em meio a supostos empréstimos dos bancos Rural e BMG. O esquema teria distribuído ao menos R$ 43 milhões ao PT e mais quatro partidos aliados.
A gravidade do ocorrido pode ser medida pelas palavras do próprio Lula. Não as de hoje, calcadas na tese hipócrita de que se tratou de uma farsa golpista. Melhor confiar nas que foram proferidas no calor da hora, quando o então presidente se mostrava bem mais realista.
Em pronunciamento no dia 12 de agosto de 2005, pouco mais de dois meses após o ex-deputado Roberto Jefferson revelar o mensalão em entrevista a Renata Lo Prete, nesta Folha, o ex-presidente afirmou que se sentia "traído por práticas inaceitáveis".
Lula procurava se desvincular do esquema. Seus companheiros do PT logo passaram a martelar a versão de que tudo não teria passado de um episódio rotineiro de distribuição de sobras de campanha.
Para a PGR, essa alegação não passa de diversionismo. A denúncia, com efeito, distribui acusações de evasão de divisas, corrupção ativa e passiva, peculato (desvio de bens por funcionário público), gestão fraudulenta de instituição bancária, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro (as duas últimas são as mais frequentes).
Evidências colhidas em sete anos de investigações, entretanto, não seriam suficientes, aos olhos de alguns especialistas, para caracterizar a ilicitude em duas questões centrais: a finalidade do esquema e a natureza dos recursos.
Não há nos autos elementos que sustentem de forma inequívoca a noção de que o objetivo do mensalão era comprar respaldo no Congresso. Sem a demonstração de que os pagamentos foram oferecidos em troca de apoio parlamentar, perdem alguma força as acusações de corrupção.
Quanto ao dinheiro, o STF precisará se pronunciar sobre sua origem, se pública ou privada. Comprovar o desvio de recursos públicos é pré-requisito para algumas acusações de lavagem de dinheiro, por exemplo.
Parece muito provável que o mensalão tenha envolvido desvio de verbas públicas, boa parte das quais foi distribuída por próceres do PT entre correligionários e aliados. E mesmo que fosse apenas para saldar dívidas de campanha, que outro objetivo haveria nos pagamentos se não o de aliciar apoio (votos) no Congresso?
O julgamento do mensalão produzirá decisões que se tornarão referência para processos futuros. Os votos dos ministros ajudarão a fixar conceitos penais para quesitos importantes como compra de apoio parlamentar, definição de organização criminosa e responsabilidade dos bancos sobre operações suspeitas de seus clientes.
Ponderar os vários aspectos envolvidos em uma decisão faz parte da rotina de todo juiz. A novidade do mensalão é o alcance desses fatores. Não é exagero dizer que está em julgamento aquilo que a sociedade aceita ou rejeita na esfera das práticas políticas.
Não teria cabimento imaginar que o Supremo se transformasse num tribunal de exceção em nome da moralidade pública. Mas, sem ultrapassar os limites da técnica jurídica, caberá à corte fixar um parâmetro histórico apto a coibir futuros abusos no exercício do poder.
Complexidade do processo e teor das provas dificultam condenações pelo Supremo, cuja decisão emitirá um sinal sobre o futuro da corrupção
Sob qualquer ângulo que se considere, é superlativo o desafio que o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentará a partir de quinta-feira, com o julgamento do mensalão.
Não se trata somente do maior processo nos 121 anos de história do tribunal, mas também do caso mais complexo -e de maior impacto político- que terá sido levado ao exame da corte.
Quando terminar de julgar os 38 réus, cada ministro terá enfrentado depoimentos de mais de 600 testemunhas, ponderações de meia centena de advogados e, no mínimo, um mês de sessões plenárias.
O resultado dessa maratona será anunciado em mais de mil decisões individuais, pois cada um dos 11 ministros precisará pronunciar-se sobre as várias acusações, uma a uma, que pesam contra cada réu. Decisões contra as quais ainda poderão ser interpostos recursos -tanto pela defesa quanto pela acusação, a cargo da Procuradoria-Geral da República (PGR).
É no conteúdo das decisões, para além da quantidade, contudo, que reside o desafio maior dos ministros. E é pela excelência técnica do trabalho que eles serão avaliados. Está em exame o maior escândalo de corrupção ocorrido no país depois do Collorgate (1992).
De acordo com a PGR, o mensalão foi um esquema ilegal de financiamento político organizado pela cúpula do PT para garantir apoio ao governo comprando votos no Congresso Nacional em 2003 e 2004, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A acusação sustenta que o mensalão foi alimentado com recursos públicos desviados pelas agências de publicidade do empresário Marcos Valério em meio a supostos empréstimos dos bancos Rural e BMG. O esquema teria distribuído ao menos R$ 43 milhões ao PT e mais quatro partidos aliados.
A gravidade do ocorrido pode ser medida pelas palavras do próprio Lula. Não as de hoje, calcadas na tese hipócrita de que se tratou de uma farsa golpista. Melhor confiar nas que foram proferidas no calor da hora, quando o então presidente se mostrava bem mais realista.
Em pronunciamento no dia 12 de agosto de 2005, pouco mais de dois meses após o ex-deputado Roberto Jefferson revelar o mensalão em entrevista a Renata Lo Prete, nesta Folha, o ex-presidente afirmou que se sentia "traído por práticas inaceitáveis".
Lula procurava se desvincular do esquema. Seus companheiros do PT logo passaram a martelar a versão de que tudo não teria passado de um episódio rotineiro de distribuição de sobras de campanha.
Para a PGR, essa alegação não passa de diversionismo. A denúncia, com efeito, distribui acusações de evasão de divisas, corrupção ativa e passiva, peculato (desvio de bens por funcionário público), gestão fraudulenta de instituição bancária, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro (as duas últimas são as mais frequentes).
Evidências colhidas em sete anos de investigações, entretanto, não seriam suficientes, aos olhos de alguns especialistas, para caracterizar a ilicitude em duas questões centrais: a finalidade do esquema e a natureza dos recursos.
Não há nos autos elementos que sustentem de forma inequívoca a noção de que o objetivo do mensalão era comprar respaldo no Congresso. Sem a demonstração de que os pagamentos foram oferecidos em troca de apoio parlamentar, perdem alguma força as acusações de corrupção.
Quanto ao dinheiro, o STF precisará se pronunciar sobre sua origem, se pública ou privada. Comprovar o desvio de recursos públicos é pré-requisito para algumas acusações de lavagem de dinheiro, por exemplo.
Parece muito provável que o mensalão tenha envolvido desvio de verbas públicas, boa parte das quais foi distribuída por próceres do PT entre correligionários e aliados. E mesmo que fosse apenas para saldar dívidas de campanha, que outro objetivo haveria nos pagamentos se não o de aliciar apoio (votos) no Congresso?
O julgamento do mensalão produzirá decisões que se tornarão referência para processos futuros. Os votos dos ministros ajudarão a fixar conceitos penais para quesitos importantes como compra de apoio parlamentar, definição de organização criminosa e responsabilidade dos bancos sobre operações suspeitas de seus clientes.
Ponderar os vários aspectos envolvidos em uma decisão faz parte da rotina de todo juiz. A novidade do mensalão é o alcance desses fatores. Não é exagero dizer que está em julgamento aquilo que a sociedade aceita ou rejeita na esfera das práticas políticas.
Não teria cabimento imaginar que o Supremo se transformasse num tribunal de exceção em nome da moralidade pública. Mas, sem ultrapassar os limites da técnica jurídica, caberá à corte fixar um parâmetro histórico apto a coibir futuros abusos no exercício do poder.
Um julgamento para além do mensalão - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 29/07
O Supremo Tribunal Federal (STF) deixou de ser um templo inatingível, habitado por senhores circunspectos, alérgicos a jornalistas e que só se pronunciavam “nos autos’! É provável que esta des-sacralização da mais alta Corte brasileira tenha relação com a maior exposição pública que o tribunal passou a ter na redemocratização, diante do grande número de demandas derivadas do próprio processo de consolidação de liberdades e direitos garantidos pela Constituição de 88.
Porém, poucas vezes na História, o STF terá atraído tanto as atenções como a partir desta semana, quando está previsto o início do julgamento do processo do mensalão. O caso mobiliza em grandes proporções a paixão político-ide-ológica, de petistas e de opositores. Os 38 réus são acusados pela Procuradoria-Geral da República (o Ministério Público Federal) de constituírem uma “organização criminosa” para, na primeira gestão Lula, desviar dinheiro privado e público a um esquema de compra financeira de apoio parlamentar ao governo.
Denunciado por um dos beneficiários desta “organização’,’ o ainda deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o mensalão, nome de batismo dado também por Jefferson, envolve militantes do PT, parlamentares do partido e também do PTB e do PMDB.
O enredo da trama tem de tudo ou quase tudo em matéria de corrupção: há um banco (Rural), desvio de dinheiro público de estatal (BB/Visa-net) e uma lavanderia para tentar legalizar recursos desviados (Marcos Valério e suas agências de publicidade). E, segundo o MP, um “chefe”: o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu. E um nome não citado nos autos, mas que paira sobre todo o processo e será de alguma maneira atingido, de forma positiva ou negativa, a depender do desfecho, pelos veredictos: Luiz Inácio Lula da Silva.
São diversos os crimes imputados pelo MP aos acusados. Há peculato, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. No entanto, mais importante que a tipificação de delitos é a inevitável implicação político-institucional do processo.
Os ingredientes são fortes. À margem do envolvimento direto e indireto de personagens com claras aspirações na vida pública, há a questão de se é possível um julgamento com base exclusivamente nos autos de um processo com tantas conotações extra-jurídicas. É um desafio para os 11 ministros do Supremo.
A Corte não tem mais qualquer semelhança a um monastério distante de tudo e todos, mas a maioria já demonstrou saber exercitar a equidis-tância para decidir com equilíbrio em meio às diversas pressões desencadeadas em julgamentos importantes. Foi assim na revogação da Lei de Imprensa, um entulho autoritário. Bem como, em outro plano, na liberação do aborto de fetos anen-cefálicos. Ou na confirmação da constitucionali-dade da Lei da Ficha Limpa. Nestas demandas, foram contrariados, em diversas medidas, interesses da Igreja, do Congresso e de áreas do Executivo.
Um grande ponto de interrogação, porém, persistirá. Não se sabe em que medida influenciará cada magistrado o sentido mais profundo da atuação daquela “organização’,’ contrário ao estado de direito democrático. No pano de fundo do julgamento do mensalão estão a democracia e o respeito à Constituição. E, por isso mesmo, a própria consolidação do papel vital do Supremo na estabilização institucional do Brasil.
O Supremo Tribunal Federal (STF) deixou de ser um templo inatingível, habitado por senhores circunspectos, alérgicos a jornalistas e que só se pronunciavam “nos autos’! É provável que esta des-sacralização da mais alta Corte brasileira tenha relação com a maior exposição pública que o tribunal passou a ter na redemocratização, diante do grande número de demandas derivadas do próprio processo de consolidação de liberdades e direitos garantidos pela Constituição de 88.
Porém, poucas vezes na História, o STF terá atraído tanto as atenções como a partir desta semana, quando está previsto o início do julgamento do processo do mensalão. O caso mobiliza em grandes proporções a paixão político-ide-ológica, de petistas e de opositores. Os 38 réus são acusados pela Procuradoria-Geral da República (o Ministério Público Federal) de constituírem uma “organização criminosa” para, na primeira gestão Lula, desviar dinheiro privado e público a um esquema de compra financeira de apoio parlamentar ao governo.
Denunciado por um dos beneficiários desta “organização’,’ o ainda deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o mensalão, nome de batismo dado também por Jefferson, envolve militantes do PT, parlamentares do partido e também do PTB e do PMDB.
O enredo da trama tem de tudo ou quase tudo em matéria de corrupção: há um banco (Rural), desvio de dinheiro público de estatal (BB/Visa-net) e uma lavanderia para tentar legalizar recursos desviados (Marcos Valério e suas agências de publicidade). E, segundo o MP, um “chefe”: o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu. E um nome não citado nos autos, mas que paira sobre todo o processo e será de alguma maneira atingido, de forma positiva ou negativa, a depender do desfecho, pelos veredictos: Luiz Inácio Lula da Silva.
São diversos os crimes imputados pelo MP aos acusados. Há peculato, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. No entanto, mais importante que a tipificação de delitos é a inevitável implicação político-institucional do processo.
Os ingredientes são fortes. À margem do envolvimento direto e indireto de personagens com claras aspirações na vida pública, há a questão de se é possível um julgamento com base exclusivamente nos autos de um processo com tantas conotações extra-jurídicas. É um desafio para os 11 ministros do Supremo.
A Corte não tem mais qualquer semelhança a um monastério distante de tudo e todos, mas a maioria já demonstrou saber exercitar a equidis-tância para decidir com equilíbrio em meio às diversas pressões desencadeadas em julgamentos importantes. Foi assim na revogação da Lei de Imprensa, um entulho autoritário. Bem como, em outro plano, na liberação do aborto de fetos anen-cefálicos. Ou na confirmação da constitucionali-dade da Lei da Ficha Limpa. Nestas demandas, foram contrariados, em diversas medidas, interesses da Igreja, do Congresso e de áreas do Executivo.
Um grande ponto de interrogação, porém, persistirá. Não se sabe em que medida influenciará cada magistrado o sentido mais profundo da atuação daquela “organização’,’ contrário ao estado de direito democrático. No pano de fundo do julgamento do mensalão estão a democracia e o respeito à Constituição. E, por isso mesmo, a própria consolidação do papel vital do Supremo na estabilização institucional do Brasil.
Sustento feminino - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA 29/07
Participando de um seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal forma cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência que começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as sustente financeiramente.
Não acreditei. Outro dia discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse estar percebendo a mesma coisa, que as mulheres estão selecionando seus parceiros pelo poder aquisitivo não só as maduras e pragmáticas, mas também as adolescentes, que ainda deveriam cultivar algum romantismo.
Então é verdade? Pois me parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis para viver a vida da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa felicidade com ninguém, e são poucos os casos em que se pode ser independente sem ter a própria fonte de renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou superior a do marido). Não é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar presentes, segurar as pontas em despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição de renda.
Mas se é ela que ganha mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior, até que as coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante que ambos sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que significa “amor” com aspas e amor sem aspas.
As mulheres precisam muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos realmente com sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que faz com que percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não basta usar saia e pintar as unhas, essa é a parte fácil.
A questão é ancestral: temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de um parceiro que nos deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério. O homem nos confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que está difícil de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações, e eles, assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar ainda mais.
Podemos ser independentes e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos mais solitárias porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em tudo, a superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando biruta sem perceber.
Garotas, não desistam da sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja através do trabalho ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher parceiros pelo saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível que se procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de vida parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não para garantir um tutor.
A solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmas. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é que nos sustenta de fato.
Participando de um seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal forma cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência que começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as sustente financeiramente.
Não acreditei. Outro dia discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse estar percebendo a mesma coisa, que as mulheres estão selecionando seus parceiros pelo poder aquisitivo não só as maduras e pragmáticas, mas também as adolescentes, que ainda deveriam cultivar algum romantismo.
Então é verdade? Pois me parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis para viver a vida da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa felicidade com ninguém, e são poucos os casos em que se pode ser independente sem ter a própria fonte de renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou superior a do marido). Não é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar presentes, segurar as pontas em despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição de renda.
Mas se é ela que ganha mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior, até que as coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante que ambos sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que significa “amor” com aspas e amor sem aspas.
As mulheres precisam muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos realmente com sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que faz com que percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não basta usar saia e pintar as unhas, essa é a parte fácil.
A questão é ancestral: temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de um parceiro que nos deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério. O homem nos confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que está difícil de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações, e eles, assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar ainda mais.
Podemos ser independentes e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos mais solitárias porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em tudo, a superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando biruta sem perceber.
Garotas, não desistam da sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja através do trabalho ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher parceiros pelo saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível que se procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de vida parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não para garantir um tutor.
A solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmas. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é que nos sustenta de fato.
Livro - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O Estado de S.Paulo - 29/07
Concordo, o livro está caro, mas o cinema também está e a gasolina mais ainda. É cada vez mais econômico não sair de casa. E o livro leva nítida vantagem sobre todas as outras formas de divertimento caseiro. É melhor do que TV. É melhor do que conversar com a família. Você já sabe o que vai encontrar na TV. Também já sabe o que a família tem para dizer. Mas cada livro novo tem coisas novas para contar. É como um desconhecido que entra em sua casa cheio de novidades e de histórias. E você não precisa lhe oferecer nada. Um uisquezinho, uns salgadinhos... Nada.
O O O
Vou exagerar: livro é melhor do que sexo. Você pode tomar o uísque antes, depois e durante a leitura. Livro nunca pede para apagar a luz - pelo contrário, exige que ela fique acesa. Quando você termina a leitura o livro não pergunta "Foi bom para você?". Livro nunca está com dor de cabeça.
O O O
Ler é melhor do que ouvir música. Ouvir música é uma coisa passiva. Na leitura você participa. Segura o livro. Vira a página. Se preferir, pode molhar a ponta dos dedos para melhorar a aderência. Ao contrário da música, você pode, se quiser, começar a ler de trás para diante. Pode fazer anotações nas margens. Pode acariciar, cheirar, manipular o livro. Pode até mastigá-lo, por que não?
O O O
Ler é melhor do que jogar carta. Livro não tem parceria nem adversário. Ler é melhor do que montar estante, trocar lâmpada ou qualquer outro afazer doméstico. Não há possibilidade de acidentes com livro, a não ser cortar o dedo na borda do papel, o que arde mas não mata.
O O O
A superioridade do livro sobre a TV é indiscutível. Livro não tem comerciais. Você lê o livro que quer sem precisar impor sua vontade e disputar o controle remoto com o resto da família a tapas. E de madrugada, quando o livro está ficando bom, não entra um filme que você já viu dez vezes.
O O O
E livro é muito melhor do que cinema. Você escolhe a melhor poltrona para sentar com seu livro sabendo que não haverá uma mulher atrás de você pedindo ao marido para explicar o enredo. E que não há a menor possibilidade de saltar um personagem armado do livro na sua frente e começar a disparar na sua direção.
Milionários. Lá pelos anos 50 apareceu na Colômbia um clube de futebol chamado "Milionários" Não se sabia bem se os milionários do nome eram os donos do clube ou seus atletas, pois começaram a contratar jogadores com os mais altos salários de toda a América Latina. Se não me engano, até o Heleno andou por lá. A expressão ainda não existia, mas talvez tenha sido a primeira vez que se pretendeu fazer um "dream team" no futebol. Os contratados eram todos grandes jogadores, com uma característica em comum: estavam todos em fim de carreira, fazendo o último contrato de suas vidas, num time que se interessava mais pelos seus nomes do que suas idades ou condições físicas. Como costuma acontecer com os "dream teams", o "Milionários" não deu certo. Se ainda existe, não tem a mesma ambição de antes. Pensei nele porque não sei se a vinda de jogadores como Seborg, Zé Roberto e Forlan repete o espírito do "Milionários", de apostas em nomes e passados e não na realidade, ou significa que o Brasil mudou mesmo e virou importador de grandes jogadores. A torcida é que os contratados mostrem que ainda têm as pernas que os consagraram.
Contradições petistas - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 29/07
No momento em que o governo federal tenta sair do atoleiro criando incentivos ao investimento privado - seja reduzindo a tarifa de energia elétrica ou abrindo concessões para a construção de estradas e ferrovias, o governo petista do Rio Grande do Sul decide torcer contra e marchar no sentido oposto: anunciou que vai cancelar contratos de concessão de estradas com sete consórcios privados. No passado, quando não era governo, o PT dava uma explicação simplória para suas contradições: "O PT é assim mesmo, cria divergências e as bases decidem". Tempos de flanar livre pelas ideias sem responsabilidade de governar. Agora é diferente.
Embora o governo Dilma repita incansavelmente que a economia vai se recuperar no fim do ano, os últimos indicadores são preocupantes e põem em risco esse discurso. Até indicadores que resistiam ao contágio da retração da indústria e da agricultura começaram a fraquejar: consumo e confiança do consumidor em queda, desemprego rondando e arrecadação de impostos em declínio. Na área do crédito o quadro melhorou, mas de forma tão suave que não sustenta continuidade - em alta progressiva desde 2011, em junho a inadimplência recuou 0,1% e o crédito cresceu também 0,1%.
Os economistas explicam que a previsão de retomar o crescimento ao ritmo de 4% no final do ano é mais um fenômeno estatístico comparativo, já que o PIB ficou estagnado no segundo semestre de 2011, do que confiança numa virada da economia. E a insegurança em relação ao futuro é piorada por pressões na área fiscal - milhares de funcionários públicos em greve exigindo aumento de salários e déficit do INSS em alta com o recuo do emprego pressionam as despesas correntes do governo em prejuízo dos investimentos públicos. É inegável o esforço do governo Dilma para acelerar a economia, embora por vezes o faça de forma confusa, atirando em alvos improdutivos. Por se tratar de um insumo de extrema importância na matriz de custos da indústria, a queda de 30% no preço da energia elétrica vai ajudar a dinamizar a produção e a reduzir a inflação. Nesse caso não se trata propriamente de um grande esforço do governo, já que a redução tarifária já estava prevista na renovação das concessões elétricas que vencem em 2015, ao deduzir da tarifa o custo financeiro dos investimentos efetuados e já amortizados. Mas o governo federal faz a sua parte, prometendo retirar três das nove taxas setoriais que oneram a tarifa em 18,5%. Agora é esperar que os governos estaduais reduzam a alíquota do ICMS, que representa entre 40% e 50% da tarifa.
Já com a nova rodada de licitações para projetos de infraestrutura, prometida para agosto, o governo Dilma reconhece que o investimento acontece e anda rápido quando é tocado pelo setor privado. É fácil entender isso: o custo da obra cai porque a corrupção e as propinas são eliminadas; o ritmo da construção acelera porque não depende de liberação de dinheiro público de um burocrata do governo, não importa se bem ou mal-intencionado. Mas não é tão fácil para um governo do PT, que acredita no poder do Estado como produtor.
Pode ter sido isso o que moveu o governador Tarso Genro a anunciar que vai retomar para o Estado a administração de rodovias gaúchas concedidas nos anos 90 a sete empresas privadas. Por esse sistema as empresas cobram pedágios dos usuários, mas garantem investimentos em qualidade e conservação das rodovias, tudo sob fiscalização e aprovação do governo estadual. Pois bem, sem abrir mão do pedágio, Genro quer entregar a gestão para a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), uma nova estatal a ser criada. Como se não bastasse a multiplicação de casos de corrupção nos governos nos últimos anos, o governador quer mexer num vespeiro ainda mais perigoso: unir em parceria a classe política e empreiteiras numa estatal, espécie de reprise do condenado Departamento Estadual de Estradas. O final dessa história já é por demais conhecido para ser repetido: corrupção, estradas esburacadas e uma novidade: além de impostos, a população paga pedágio.
O dinheiro do mensalão - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 29/07
Como Kátia Rabello, do Banco Rural, sabe que o dinheiro veio do governo e estatais não está indicado
Uma das questões centrais no julgamento do mensalão, a despontar desde as defesas iniciais na quinta-feira, já se mostra nas entrevistas de advogados e de réus como um choque de versões cuja solução, segundo o entendimento de cada ministro, será um fator determinante de condenações ou absolvições.
O Banco Rural encabeça a versão de que o dinheiro usado no mensalão procedia do governo e de estatais. Dirigente do Rural com relevância em várias partes do caso, Kátia Rabello inclui em sua defesa a afirmação de que o dinheiro "passava pelas contas de Marcos Valério" no banco. "Passava" porque "vinha de outros bancos". Como sabe que o dinheiro foi posto, antes, em outros bancos pelo governo e por estatais, não está indicado.
Por sua vez, e desde as primeiras indagações sobre o dinheiro do mensalão, Marcos Valério e Delúbio Soares o atribuíram a empréstimos bancários. Logo, dinheiro de procedência privada, sobretudo do Banco Rural, com participação também do Banco de Minas Gerais, o BMG.
Se admitida a utilização de dinheiro público, de algum modo desviado de verbas publicitárias do governo ou de estatais, muitos fatos se desdobrariam em agravantes e muitos réus teriam sua posição piorada no processo.
Se admitido o levantamento de empréstimos como fonte do mensalão, desvinculam-se, no todo ou em maior parte, o mensalão e os negócios do governo. Por exemplo, os de publicidade, que chegaram a exigir sucessivas explicações do então ministro Luiz Gushiken contra cargas da imprensa e da oposição.
A CPI dos Correios, arena do escândalo, não deixou dúvida sobre a existência dos empréstimos bancários. O Rural não pôde negá-los. Mais tarde, em segundo reconhecimento deles, adotou providências para cobrá-los de Marcos Valério, com uma fortuna em acréscimos.
Tudo noticiado com fartura, como pretendida prova de que nada fora mais do que operações bancárias comuns. Comuns, mas de dezenas de milhões, em empréstimo sobre empréstimo, sem que a CPI tenha constatado mais garantias do que avais insuficientes, apenas de formalidade.
Não ficou claro, ainda, o que seria feito das dezenas de milhões tomados em empréstimos, se o dinheiro do mensalão, como diz a banqueira Kátia Rabello, era proveniente do governo e de estatais, e não dos empréstimos.
Do mesmo modo, embora o Tribunal de Contas da União venha de aprová-lo, não está claro o que se passou com o contrato de publicidade dos cartões de crédito do Banco do Brasil. E, menos ainda, com o caminho tomado por parte da respectiva verba.
Não se negue ao Banco Rural, porém, tratar-se de um grupo empresarial com história.
Foi o banco das "operações especiais" cuja descoberta fundamentou, para a CPI do Congresso, as conclusões sobre a associação PC Farias/Collor. Antes, o grupo Rural, por intermédio de sua empreiteira Tratex, foi parte de escândalos de fraude em licitações para grandes obras públicas.
No escândalo da ferrovia Norte-Sul, cuja fraude de US$ 2,4 bi foi aqui comprovada, o então presidente do Rural/Tratex disse à CPI do caso, no Senado, que eu deveria ser mandado para a Sibéria. Inquirido a respeito pela CPI, informei preferir o Taiti ou o Havaí.
Como Kátia Rabello, do Banco Rural, sabe que o dinheiro veio do governo e estatais não está indicado
Uma das questões centrais no julgamento do mensalão, a despontar desde as defesas iniciais na quinta-feira, já se mostra nas entrevistas de advogados e de réus como um choque de versões cuja solução, segundo o entendimento de cada ministro, será um fator determinante de condenações ou absolvições.
O Banco Rural encabeça a versão de que o dinheiro usado no mensalão procedia do governo e de estatais. Dirigente do Rural com relevância em várias partes do caso, Kátia Rabello inclui em sua defesa a afirmação de que o dinheiro "passava pelas contas de Marcos Valério" no banco. "Passava" porque "vinha de outros bancos". Como sabe que o dinheiro foi posto, antes, em outros bancos pelo governo e por estatais, não está indicado.
Por sua vez, e desde as primeiras indagações sobre o dinheiro do mensalão, Marcos Valério e Delúbio Soares o atribuíram a empréstimos bancários. Logo, dinheiro de procedência privada, sobretudo do Banco Rural, com participação também do Banco de Minas Gerais, o BMG.
Se admitida a utilização de dinheiro público, de algum modo desviado de verbas publicitárias do governo ou de estatais, muitos fatos se desdobrariam em agravantes e muitos réus teriam sua posição piorada no processo.
Se admitido o levantamento de empréstimos como fonte do mensalão, desvinculam-se, no todo ou em maior parte, o mensalão e os negócios do governo. Por exemplo, os de publicidade, que chegaram a exigir sucessivas explicações do então ministro Luiz Gushiken contra cargas da imprensa e da oposição.
A CPI dos Correios, arena do escândalo, não deixou dúvida sobre a existência dos empréstimos bancários. O Rural não pôde negá-los. Mais tarde, em segundo reconhecimento deles, adotou providências para cobrá-los de Marcos Valério, com uma fortuna em acréscimos.
Tudo noticiado com fartura, como pretendida prova de que nada fora mais do que operações bancárias comuns. Comuns, mas de dezenas de milhões, em empréstimo sobre empréstimo, sem que a CPI tenha constatado mais garantias do que avais insuficientes, apenas de formalidade.
Não ficou claro, ainda, o que seria feito das dezenas de milhões tomados em empréstimos, se o dinheiro do mensalão, como diz a banqueira Kátia Rabello, era proveniente do governo e de estatais, e não dos empréstimos.
Do mesmo modo, embora o Tribunal de Contas da União venha de aprová-lo, não está claro o que se passou com o contrato de publicidade dos cartões de crédito do Banco do Brasil. E, menos ainda, com o caminho tomado por parte da respectiva verba.
Não se negue ao Banco Rural, porém, tratar-se de um grupo empresarial com história.
Foi o banco das "operações especiais" cuja descoberta fundamentou, para a CPI do Congresso, as conclusões sobre a associação PC Farias/Collor. Antes, o grupo Rural, por intermédio de sua empreiteira Tratex, foi parte de escândalos de fraude em licitações para grandes obras públicas.
No escândalo da ferrovia Norte-Sul, cuja fraude de US$ 2,4 bi foi aqui comprovada, o então presidente do Rural/Tratex disse à CPI do caso, no Senado, que eu deveria ser mandado para a Sibéria. Inquirido a respeito pela CPI, informei preferir o Taiti ou o Havaí.
Inflação como salvação - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 29/07
Crescem nos Estados Unidos e na Europa as pressões para que seus respectivos bancos centrais desvalorizem rapidamente suas moedas com o objetivo de recuperar a economia.
Quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional se sentiu obrigado a advertir em relatório oficial que a elevação da meta de inflação nos Estados Unidos para 4% ao ano, como pleiteia certo número de economistas, teria tudo para ser um tiro no pé.
Também na quarta-feira, o professor da Universidade Harvard, Martin Feldstein, sugeriu em artigo no Financial Times, de Londres, que uma rápida desvalorização do euro poderia não só salvar a Espanha, mas seria manobra importante para tirar a área do euro do atual sufoco.
A proposta de criar inflação controlada tanto nos Estados Unidos como na Europa é como combater incêndio com fogo propagado na direção contrária. Leva em conta dois objetivos. Um é a desvalorização das dívidas tanto em dólares como em euros. Dívidas desvalorizadas seriam mais facilmente pagas, por países soberanos e agentes econômicos. O outro é o barateamento em moeda estrangeira de mercadorias e serviços, proporcionado pela desvalorização cambial, de modo a elevar exportações e contribuir para a retomada da atividade econômica.
O maior problema dessa proposta não é o estrago a ser provocado no valor intrínseco das principais moedas de reserva nem o risco de hiperinflação. Mas o de que, provavelmente, não funcionaria.
O valor de uma moeda é sempre medido em outra. Se o dólar se desvalorizasse, digamos, seria em relação ao euro; e se o euro se desvalorizasse, seria em relação ao dólar. Ou seja, inflações provocadas por emissões simultâneas de moeda tenderiam a anular reciprocamente o efeito pretendido. Com isso, não dá para contar com o aumento das exportações nas duas maiores economias do mundo. Nem haveria desvalorização do dólar em relação ao euro nem vice-versa. E, no caso europeu, como é alto o comércio exterior intrabloco, a desvalorização do euro não ajudaria a expandir essa fatia das exportações.
Além disso, se tanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) como o Banco Central Europeu emitissem moeda para provocar inflação, estariam, aí sim, colocando em marcha uma guerra cambial de vastas proporções. Como o yuan (moeda da China) está atrelado ao dólar, seria desvalorizado com ele. Ou seja, também a terceira economia global estaria imune às flutuações das principais moedas. Isso empurraria a conta do ajuste sobre o resto do mundo. Assim, os demais países, sobretudo Japão, Brasil e Índia, teriam de se defender para neutralizar o impacto das desvalorizações sobre seu comércio exterior.
Finalmente, se, ao contrário do que está dito acima, a desvalorização do dólar fosse eficaz, os preços das commodities, a começar pelos do petróleo, saltariam. E estaríamos diante de um surto global de inflação de consequências imprevisíveis.
Há ainda falta de lógica nessa proposta. Se a desvalorização fosse capaz de tirar o euro da atual enrascada e essa manobra fosse feita com a credibilidade esperada, o resultado imediato não seria a desvalorização, mas a alta do euro nos mercados internacionais de câmbio.
Agosto, mês de definições - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 29/07
Agosto que se inicia promete ser um mês interessante no Brasil e no exterior. Lá fora, o BCE diz que "chega", agora vai entrar com tudo. E, aqui, o governo informa que não vai apenas prometer, mas pôr em prática uma série de medidas de resultados imediatos para evitar um PIB menor de 2,0% este ano. Elas se concentram em redução de impostos que poderá ser mais ampla, e não apenas desonerações fiscais localizadas por alguns meses, que pouco estimulam os investimentos de retorno mais longo.
O próximo mês pode vir a ser o da nova política econômica do governo para este ano. Julho foi o de dúvidas e hesitações. A partir de agosto, seria o que se pode chamar de "o semestre de cinco meses" da recuperação.
Consumo, investimento. Esta foi uma semana de muita especulação e expectativas nos bastidores de Brasília. A nova política se concentraria em duas linhas, a sustentação do estímulo à demanda interna e um esforço mais ousado para aumentar os investimentos oficiais e privados. A equipe econômica parece consciente de que só a demanda interna não será suficiente, mas conta apenas com isso para evitar o pior este ano. Parece consciente também de que sem o setor privado, os investimentos não deslancham, mas não há projetos do governo prontos para serem ativados em curto prazo. Mais ainda, que não pode contar com a melhoria da máquina administrativa para incrementar os projetos já iniciados e os em elaboração. Há dinheiro no BNDES, no Tesouro, no governo. Falta a capacidade para utilizá-lo.
E o setor privado ainda não reage. Estima-se que os investimentos da indústria recuaram 8,0% no semestre. Também aqui há crédito e juros menores, mas pesam a carga tributária e o pessimismo internacional. A impressão geral é de que tudo o que se fizer em investimentos só poderá ter retorno a médio e longo prazos - de 2013 em diante.
Menos impostos para todos. E aqui parece ganhar terreno a ideia de anunciar ainda em agosto redução generalizada de impostos e desoneração horizontal para todos os setores produtivos. A medida incluiria, principalmente, a redução de 20% dos custos trabalhistas para todos. Isso poderia provocar queda da receita, mas é uma perda aceitável porque seria em parte compensada pelo 1,0% a 2,0%, que incidiriam sobre o faturamento das empresas.
Mais ainda, argumenta-se em Brasília, que a receita cairá de qualquer forma se a economia não crescer e ficar em menos de 2,0%. Na verdade, já vem caindo, como revelam os números da Receita. Em junho, a arrecadação federal recuou 6,5% não só por causa das desonerações, mas pela estagnação da produção industrial.
Sinais de reação? A única boa notícia nesse setor, que não reage há anos, veio na tarde de sexta-feira. A sondagem de conjuntura que a FGV faz mensalmente entre as empresas mostra que em junho 9,3% dos pesquisados tinham estoques excessivos e, em julho, apenas 6,6%. Estão pensando em ajustar a produção à demanda. Mais importante ainda. Para o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo, os dados mostram que a principal preocupação da indústria neste momento não é mais o estoque, mas a demanda. "A falta de ritmo da demanda, do consumo, é o problema que aflige mais a indústria, mais do que os estoques", disse ele, apontando para algo novo que não se via há muitos meses.
É a vez do consumo. Isso revela que o Brasil dispõe de um ativo precioso, um mercado interno que, ao contrário do americano e do europeu, continua crescendo, talvez porque não estava sendo atendido antes, ao contrário dos Estados Unidos, Europa e Japão, com alta renda per capita.
Não é o caminho ideal nem o sustentável a longo prazo, mas é o que existe no momento. Para os analistas, o mais importante é que o governo não se iluda e seja ousado na atração de investimentos internos e externos. É o que anuncia mais do que promete para agosto. Não há o dilema produção, investimento ou consumo. Eles se somam, não se anulam. A diferença é que o consumo oferece resposta mais rápida. Só que, com o PIB recuando para menos de 2,0%, não há tempo para esperar.
Olha o cão raivoso. A coluna não resiste à tentação da fala popular, "quem não tem cão, caça com gato", mesmo sabendo que gato corre muito, mas não sabe caçar e, por isso, precisa trazer mais cães para o campo. E, de novo, ao contrário dos outros, há muitos nos canis de Brasília, latindo e à espera de serem chamados. Há um até mais inquieto, conhecido como superávit primário, que alguns temem usar porque pode se tornar raivoso... Será que não dá para vaciná-lo?
Cadáveres latino-americanos - MAC MARGOLIS
O Estado de S.Paulo - 29/07
Digam o que quiserem de Hugo Chávez, mas o presidente venezuelano sabe como poucos apropriar-se dos holofotes. Doente de câncer, com a economia em baixa e a oposição em ascensão, o líder do experimento bolivariano pode estar com os dias contados. No entanto, basta um factoide e uma oportunidade para que a desgastada marca do socialismo do século 21 ameace ressurgir reluzente.
Assim foi na semana passada, quando o comandante divulgou um novo retrato de Simon Bolívar em três dimensões, reconstituído por tomografias ósseas por uma equipe de cientistas nacionais. Em cerimônia teatral, que contou com a presença de alunos de um colégio de Caracas, Chávez apresentou a repaginada imagem do libertador latino-americano, morto em 1830, agora de uniforme em detalhes dourados, com feições severas e costeletas enormes.
Todos os países reverenciam seus fundadores e a América Latina está cheia de defuntos cobiçados. El Salvador, Honduras e Costa Rica, recentemente, disputaram o herói da independência Francisco Morazán, morto em 1842, e já discutem um rodízio de seus restos mortais.
Equador resolveu a querela sobre o legado de seu libertador, José Eloy Alfaro, dividindo suas cinzas entre um túmulo familiar e um memorial nacional. No Uruguai, conservadores ruidosos impediram um projeto parlamentar para transferir os restos mortais do herói independentista, o general José Artigas, de seu jazigo militar para um mausoléu civil.
Quando o então presidente argentino Nestor Kirchner criou um novo mausoléu para o eterno ícone Juan Domingo Perón, os peronistas rivais transformaram o cortejo em motim. Agora, sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner, lança a nova nota de 100 pesos, que leva o semblante da ex-primeira dama Eva Perón.
No entanto, a fissura de Chávez por Bolívar vai além do tributo histórico. Andrés Oppenheimer, colunista do Miami Herald, avalia a obsessão latina pelos falecidos heróis como uma atração fatal pelo passado em uma região que prefere olhar para trás em vez de abraçar o futuro.
O argentino Tomás Eloy Martínez vai além e destaca a queda latino-americana pela melancolia de tempos perdidos, exemplificada na beatificação da Santa Evita, martirizada pelo câncer.
Pode ser. Para Chávez, porém, a história é uma arma prática. Seu novo retrato de Bolívar é mais uma peça do conhecido enredo chavista que lista o Libertador, ao mesmo tempo, como ícone e marca registrada da república, rebatizada da República Bolivariana da Venezuela. Na mão de Chávez, o herói oitocentista está a serviço do marketing político do século 21.
Mais que inspirar, o novo retrato de Bolívar foi encomendado para fortalecer uma tese política, a de que o herói não sucumbiu à tuberculose, como contam os livros, mas tombou envenenado por traidores colombianos (sempre eles). Sua cruzada para provar o complô dos vizinhos (avatares históricos para o imperialismo gringo atual) começou há dois anos de forma macabra e cômica, quando Chávez mandou exumar o cadáver do seu herói para exames forenses.
Mais do que saudosismo, a necrofilia ideológica é a arte de nutrir-se de cadáveres ilustres para engordar um projeto político. Escravocrata e latifundiário (Karl Marx o definiu como algoz dos trabalhadores), afeito ao iluminismo, devoto e, ao mesmo tempo, crítico da democracia ocidental, Simon Bolívar foi como todos os heróis históricos um líder complexo e contraditório o suficiente para servir a qualquer figurino, seja a farda do nacionalismo militar, seja a boina vermelha bolivariana.
Para Chávez, basta pinçar da obra do libertador meia dúzia de tiradas anti-imperialistas - e há muitas - para lustrar sua excêntrica visão do mundo. E as outras atitudes que não se encaixam no manequim? O que dizer de sua busca insistente pela chancela dos líderes europeus e americanos para seu pleito contra a Espanha? Ou de seus elogios efusivos à figura de George Washington, o primeiro filho do Novo Mundo?
A serventia de um herói é justamente prestar-se ao papel de autorizar seus discípulos a realçar alguns feitos e arquivar inconveniências. Entre elas, como lembrou recentemente o blogueiro venezuelano Francisco Toro: "Fuja de um país onde um único homem detém todo o poder, pois é um país de escravos".
Espinha dorsal - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 29/07
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, dedicará boa parte das cinco horas de sua fala no julgamento do mensalão para reafirmar a tese de que José Dirceu era o "chefe da quadrilha". Dirá que Delúbio Soares e José Genoino tinham "submissão" ao ex-ministro, acusação refutada pela defesa. Nas alegações finais, Gurgel cita depoimento do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri. "Eles diziam: Vou ligar para o ministro", relata Palmieri, sobre conversas com a dupla.
Cqd Na parte das alegações finais dedicada a Dirceu, Gurgel diz que ficou comprovado que "muito embora não aparecesse explicitamente nos atos da quadrilha", ele "estava no comandado das ações dos demais agentes, que a ele se reportavam na condição de líder do grupo".
Ábaco A defesa está preocupada com a sessão administrativa de quarta-feira, véspera da maratona do STF. Ali será definida a fórmula para traçar a "mediana" dos votos para estabelecer as penas em caso de condenação.
Tempo e espaço Márcio Thomaz Bastos vai citar Albert Einstein na defesa de José Roberto Salgado, do Banco Rural. Dirá que a condenação de seu cliente implicaria a "revogação a Teoria da Relatividade", já que ele foi nomeado depois dos empréstimos a Marcos Valério e ao PT.
Coletiva O Supremo credenciou 550 profissionais de mídia para a cobertura. Da imprensa internacional, foram encaminhados pedidos das agências Reuters e AFP.
Inflação O mensalão aumentou em 10% as tarifas de médio conforto dos hotéis em Brasília. De amanhã a 4 de agosto, os preços giram em torno de R$ 282,57, enquanto de 6 a 9 de agosto as diárias médias pulam para R$ 310.
Há vagas Os hoteis não estão com lotação máxima. No período de 1º a 12 de agosto, 11 de 17 hotéis pesquisados têm apartamentos livres.
Blitz Acuado pelas estatísticas de aumento da criminalidade, Geraldo Alckmin pediu a assessores que deem prioridade à entrega de viaturas e ao anúncio de aumento de efetivo policial em seu roteiro nas próximas semanas. A ideia do governador é contrapor o noticiário com uma agenda positiva no setor.
Fica assim Sob pressão, o secretário Antonio Ferreira Pinto (Segurança Pública) segue prestigiado no cargo. No Bandeirantes, o entendimento é de que uma substituição agora só agravaria a crise. Pesa a favor de Ferreira Pinto a proximidade com o comando da Administração Penitenciária, pasta que já ocupou.
Claquete Os candidatos aproveitam que a Globo ainda não começou a cobertura eleitoral para acelerar as gravações para o horário eleitoral. Isso porque, quando começar a exposição nos telejornais da emissora líder, eles precisarão ter campanha na rua todos os dias, para gerar imagens para os telejornais.
Cruzada Adversários a Celso Russomanno na corrida pela Prefeitura de São Paulo já discutem promover nas redes sociais campanha para carimbá-lo como o "candidato do bispo''. Russomanno é do PRB, ligado à Igreja Universal de Edir Macedo.
Peneira 1 O lançamento do Catálogo Oficial dos Centros de Treinamento da Copa-2014, previsto para o Museu do Futebol, em São Paulo, na quarta-feira, promete surpresas. Dos quase 350 inscritos em todo o país, estima-se que menos de 20% passaram pela primeira seleção.
Peneira 2 A triagem técnica liderada pelo Comitê Organizador do Mundial usou como linha final de corte a exigência de contratos assinados com hotéis e CTs.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"O Brasil assistiu, ao vivo, à produção de provas chocantes. Sabemos o que é certo e errado. A decisão da Corte será pedagógica."
DO DEPUTADO OSMAR SERRAGLIO (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, sobre a expectativa em relação ao julgamento do mensalão pelo STF.
contraponto
Casa de ferreiro
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, deixava o Palácio da Alvorada na terça-feira, após participar de reunião com a presidente Dilma Rousseff, quando foi abordado por jornalistas, que queriam saber sobre a punição da Anatel a empresas de telefonia móvel.
O ministro contou que também sofria com o serviço e que seu celular ficou sem rede 3G na semana anterior.
-Nem se eu quisesse tuitar reclamando ia poder!
Diante do relato, um repórter questionou se o aparelho era de uma das operadoras punidas.
-É, sim... Mas ele está funcionando -, disse, aliviado.
O julgamento - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 29/07
Quando começar o julgamento dos acusados do escândalo político chamado “mensalão”, o Brasil estará dando um decisivo passo. Houve muito acerto de órgãos e instituições para que o dia chegasse. O país está dizendo que, mesmo em um governo que terminou popular e elegeu o sucessor, certas práticas não são admitidas. O recado independe do resultado final; uma decisão dos juízes.
O presidente Lula era popular em 2005 quando, através de pessoa ligada à sua base política, se soube que uma complexa engenharia financeira criava dutos pelos quais escorria dinheiro para o bolso de políticos ligados ao governo. O presidente foi reeleito em 2006 e fez sua sucessora em 2010. Ainda assim, o processo continuou. O Congresso fez a Comissão Parlamentar de Inquérito, a Polícia Federal abriu investigação, o Ministério Público ofereceu denúncia definindo o grupo como organização criminosa, o relator no Supremo apresentou um voto denso e pediu o julgamento. Foi seguido pela Corte. A ampla defesa foi e continuará sendo garantida. Sete anos depois, o assunto não foi esquecido.
Os petistas e seus aliados que estarão no banco dos réus — mesmo que fisicamente não compareçam — estarão recebendo a etapa final de um castigo político. O país separou a prática de corrupção do voto no partido. O recado é este: aceita que o PT continue governando, mas isso não avaliza todas as práticas.
O apoio ao governo aumentou no segundo mandato, e o ex-presidente Lula permanece sendo uma liderança com expressiva popularidade. Tem sonhos eleitorais para 2014. Ainda assim, todas as suas tentativas de descaracterizar a denúncia foram ignoradas. Ele tentou tudo. Inicialmente, a banalização do crime com a sua frase: “O PT fez o que é feito sistematicamente neste país”. Quando o Brasil insone acompanhava até altas horas a CPI, Lula tentou se distanciar dos seus companheiros e disse que havia sido traído. Depois, ele e o partido tentaram manipular a opinião pública, através da acusação de que era tentativa de golpe.
Truques jurídicos, manobras protelatórias, sofismas de palanque e até nomeação de aliados, instalados em órgãos com o objetivo de criar interpretações favoráveis aos réus. Tudo foi tentado e não funcionou. Os réus serão julgados.
O momento é espantosamente significativo para o país. A maioria dos ministros do STF foi nomeada pelo governo para o qual os réus trabalhavam e onde os fatos ocorreram. Se as instituições do país não fossem tão fortes, o Supremo teria se curvado à vontade dos governantes.
Minha convicção é que o Brasil tem um projeto, ao contrário do que diz a lenda. Nas últimas décadas, ele cumpriu etapas de uma agenda de modernização, que foi mantida, apesar de mudanças de grupos no poder e percalços políticos: restaurou a democracia, estabilizou a economia, reduziu a pobreza. Cada etapa desse caminho escolhido custou esforço, exigiu coerência e pediu paciência do povo brasileiro.
A luta, agora, é contra a corrupção, para aperfeiçoar a democracia brasileira e dizer que sistema político queremos. Os erros não foram cometidos por apenas um grupo político. O que está sendo julgada é uma prática política, e não o partido. O que nos trouxe até aqui foi a persistente convicção de que é preciso aumentar a transparência e controle das instituições que nos representam.
Durante todo o caminho, a imprensa fez seu trabalho com objetividade. Registrou os fatos com liberdade, revelou práticas condenáveis em outros grupos políticos, manteve a cobertura do tema em evidência, permitiu o amplo debate.
Os ministros do Supremo Tribunal decidirão de forma soberana, de acordo com os autos e suas convicções. Suas decisões serão acatadas. Suas sentenças terão profundas consequências na construção do projeto do Brasil. Que tenham independência, lucidez e noção da grandeza do momento histórico.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 29/07
Contra calote, setor de cobrança eleva emprego
O esforço do setor financeiro para combater a inadimplência no país se traduziu em elevação do nível de emprego na indústria de cobrança, com alta expressiva do número de contatos realizados para comunicar devedores.
O balanço do emprego saiu de um patamar de 94 mil em janeiro para mais de 97 mil em junho deste ano.
Em junho do ano passado, o total não alcançava 90 mil.
Aproximadamente 43 milhões de ligações telefônicas foram realizadas por empresas de cobrança no mês de julho -mais de 17 milhões para aparelhos celulares. Os dados são de levantamento realizado a pedido da coluna pelo Igeoc, instituto que reúne associadas do setor.
São feitas em média três ligações por CPF, de acordo com Jair Lantaller, presidente da entidade.
"Há casos que se encerram em uma ligação. Outros requerem até dez contatos no mês", afirma.
Além de mais de 15 milhões de mensagens de texto, outros quase 2 milhões de cartas e boletos foram enviados.
Os números de chamadas e mensagens são recordes.
"Com relação ao final do ano passado, as empresas indicam crescimento de cerca de 30%", afirma.
Dados divulgados na última semana pelo Banco Central apontam que os atrasos de mais de 90 dias nos empréstimos de consumidores e empresas caíram apenas de 5,9% em maio para 5,8% em junho, ainda o segundo maior patamar da série histórica, iniciada em 2000.
LATINOS EM CAMPO
O número de jogadores de outros países da América do Sul nos 40 principais clubes brasileiros aumentou 57,1% entre 2011 e 2012, segundo estudo da Pluri Consultoria.
Ao final da janela para contratações, encerrada neste mês, os times das séries A e B do Campeonato Brasileiro têm 44 atletas estrangeiros e sul-americanos, cujo valor de mercado é R$ 216,3 milhões.
"O futebol brasileiro consegue contratar bons atletas na América do Sul por um preço acessível e ainda aumenta sua visibilidade nos países vizinhos, passa a vender mais produtos. É o começo da internacionalização dos clubes", diz Fernando Ferreira, sócio da consultoria.
CRISE FABRIL
A desaceleração econômica está diminuindo o ritmo de contratações na indústria e adiando investimentos, segundo associações.
Na indústria plástica, a terceira maior empregadora do segmento de transformação, foram criadas 3.323 vagas no primeiro semestre deste ano. O número é 42,8% menor que o registrado no mesmo período de 2011.
As empresas que fazem investimentos atualmente não estão ampliando a produção.
"São projetos apenas para manter o parque fabril e se defender da indústria estrangeira", afirma o presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho.
O momento, segundo Coelho, é de "estabilidade em patamar ruim" e não há indícios de melhora para o segundo semestre.
Na indústria da borracha, 900 trabalhadores foram demitidos em maio (1,3% do total do setor no país).
"O pessoal acabou ajustando o nível de empregados para o ano todo", diz Edgar Solano Marreiros, presidente da Abiarb (Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha).
Marreiros é um dos empresários que adiou os investimentos. Tinha um projeto de expansão que demandaria a compra de 12 máquinas (cada uma ao custo de R$ 250 mil), mas vai esperar 2013 para decidir se irá realizá-lo.
42,8%
foi a queda nas contratações na indústria plástica no primeiro semestre do ano, ante mesmo período de 2011
900
trabalhadores foram demitidos na indústria da borracha
OPERAÇÃO-PADRÃO
A operação-padrão dos auditores da Receita Federal já fez com que R$ 6 bilhões deixassem de ser creditados ao órgão, de acordo com estimativa do Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil) feita com base em dados de 2011.
O valor é referente às multas que seriam aplicadas entre 18 de junho, dia em que o movimento dos auditores começou, e 27 de julho.
Cerca de R$ 1 bilhão também está atrasado por causa da falta de lançamentos de impostos de exportação e importação, ainda segundo o sindicato.
As aduanas de Manaus, de Itajaí (SC) e de Santos (SP) estão entre as mais afetadas.
Na capital do Amazonas, a Zona Franca deixa de faturar US$ 16 milhões por dia com o atraso na entrada de insumos, segundo o Centro da Indústria do Estado.
Os auditores reivindicam 30,19% de recomposição salarial para a categoria.
Queijo... Produtores de mussarela de búfala vão se aliar a restaurantes para divulgar as diferenças entre o produto legítimo e o feito com uma parcela de leite bovino.
...certificado A comissão do selo de pureza buscou apoio da associação do sommeliers para realizar um encontro em agosto com profissionais de gastronomia, em SP.
sobram executivos
O número de vagas para executivos no Rio de Janeiro e em São Paulo diminuiu 28% em junho, ante maio, segundo levantamento da consultoria Right Management feita com seus clientes.
O setor financeiro teve o pior desempenho, com queda de 33% no número de postos de trabalho, seguido pelo de serviços (-31%).
Em relação às cidades, São Paulo (-33%) fechou mais vagas que Rio de Janeiro (-9%). No acumulado dos últimos 12 meses, o Rio tem alta de 56%. Em São Paulo, a redução registrada é de 32%.
Contra calote, setor de cobrança eleva emprego
O esforço do setor financeiro para combater a inadimplência no país se traduziu em elevação do nível de emprego na indústria de cobrança, com alta expressiva do número de contatos realizados para comunicar devedores.
O balanço do emprego saiu de um patamar de 94 mil em janeiro para mais de 97 mil em junho deste ano.
Em junho do ano passado, o total não alcançava 90 mil.
Aproximadamente 43 milhões de ligações telefônicas foram realizadas por empresas de cobrança no mês de julho -mais de 17 milhões para aparelhos celulares. Os dados são de levantamento realizado a pedido da coluna pelo Igeoc, instituto que reúne associadas do setor.
São feitas em média três ligações por CPF, de acordo com Jair Lantaller, presidente da entidade.
"Há casos que se encerram em uma ligação. Outros requerem até dez contatos no mês", afirma.
Além de mais de 15 milhões de mensagens de texto, outros quase 2 milhões de cartas e boletos foram enviados.
Os números de chamadas e mensagens são recordes.
"Com relação ao final do ano passado, as empresas indicam crescimento de cerca de 30%", afirma.
Dados divulgados na última semana pelo Banco Central apontam que os atrasos de mais de 90 dias nos empréstimos de consumidores e empresas caíram apenas de 5,9% em maio para 5,8% em junho, ainda o segundo maior patamar da série histórica, iniciada em 2000.
LATINOS EM CAMPO
O número de jogadores de outros países da América do Sul nos 40 principais clubes brasileiros aumentou 57,1% entre 2011 e 2012, segundo estudo da Pluri Consultoria.
Ao final da janela para contratações, encerrada neste mês, os times das séries A e B do Campeonato Brasileiro têm 44 atletas estrangeiros e sul-americanos, cujo valor de mercado é R$ 216,3 milhões.
"O futebol brasileiro consegue contratar bons atletas na América do Sul por um preço acessível e ainda aumenta sua visibilidade nos países vizinhos, passa a vender mais produtos. É o começo da internacionalização dos clubes", diz Fernando Ferreira, sócio da consultoria.
CRISE FABRIL
A desaceleração econômica está diminuindo o ritmo de contratações na indústria e adiando investimentos, segundo associações.
Na indústria plástica, a terceira maior empregadora do segmento de transformação, foram criadas 3.323 vagas no primeiro semestre deste ano. O número é 42,8% menor que o registrado no mesmo período de 2011.
As empresas que fazem investimentos atualmente não estão ampliando a produção.
"São projetos apenas para manter o parque fabril e se defender da indústria estrangeira", afirma o presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho.
O momento, segundo Coelho, é de "estabilidade em patamar ruim" e não há indícios de melhora para o segundo semestre.
Na indústria da borracha, 900 trabalhadores foram demitidos em maio (1,3% do total do setor no país).
"O pessoal acabou ajustando o nível de empregados para o ano todo", diz Edgar Solano Marreiros, presidente da Abiarb (Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha).
Marreiros é um dos empresários que adiou os investimentos. Tinha um projeto de expansão que demandaria a compra de 12 máquinas (cada uma ao custo de R$ 250 mil), mas vai esperar 2013 para decidir se irá realizá-lo.
42,8%
foi a queda nas contratações na indústria plástica no primeiro semestre do ano, ante mesmo período de 2011
900
trabalhadores foram demitidos na indústria da borracha
OPERAÇÃO-PADRÃO
A operação-padrão dos auditores da Receita Federal já fez com que R$ 6 bilhões deixassem de ser creditados ao órgão, de acordo com estimativa do Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil) feita com base em dados de 2011.
O valor é referente às multas que seriam aplicadas entre 18 de junho, dia em que o movimento dos auditores começou, e 27 de julho.
Cerca de R$ 1 bilhão também está atrasado por causa da falta de lançamentos de impostos de exportação e importação, ainda segundo o sindicato.
As aduanas de Manaus, de Itajaí (SC) e de Santos (SP) estão entre as mais afetadas.
Na capital do Amazonas, a Zona Franca deixa de faturar US$ 16 milhões por dia com o atraso na entrada de insumos, segundo o Centro da Indústria do Estado.
Os auditores reivindicam 30,19% de recomposição salarial para a categoria.
Queijo... Produtores de mussarela de búfala vão se aliar a restaurantes para divulgar as diferenças entre o produto legítimo e o feito com uma parcela de leite bovino.
...certificado A comissão do selo de pureza buscou apoio da associação do sommeliers para realizar um encontro em agosto com profissionais de gastronomia, em SP.
sobram executivos
O número de vagas para executivos no Rio de Janeiro e em São Paulo diminuiu 28% em junho, ante maio, segundo levantamento da consultoria Right Management feita com seus clientes.
O setor financeiro teve o pior desempenho, com queda de 33% no número de postos de trabalho, seguido pelo de serviços (-31%).
Em relação às cidades, São Paulo (-33%) fechou mais vagas que Rio de Janeiro (-9%). No acumulado dos últimos 12 meses, o Rio tem alta de 56%. Em São Paulo, a redução registrada é de 32%.