O GLOBO - 26/06
Insatisfeito com o salário, um grupo dentro da Polícia Federal ameça investigar pessoas próximas de Dilma.
Parece chantagem. E é.
Metralhadora giratória
Lobão, o irreverente artista, negocia com a Ediouro o lançamento do livro “Guia politicamente incorreto da MPB”.
Crime na rede
A 4+ Turma do STJ condenou a TV Juiz de Fora, o site O Click e um provedor de internet já extinto a indenizarem em R$ 30 mil, corrigidos desde 2003, um cidadão que teve o nome e o telefone do trabalho publicados num classificado erótico, provavelmente, por maldade de alguém.
Segue...
Em tese, a medida cria jurisprudência em casos do tipo.
A partir de agora, serão cor-responsáveis todos os integrantes da cadeia de divulgação das informações ou de oferta de serviços.
Sempre Vera
Vera Fischer, 60 anos, foi procurada por uma revista masculina para posar nua. Ficou de pensar.
No mais
Hoje, Gilberto Passos Gil Moreira completa 70 anos.
Ao grande artista popular, como ele próprio canta naquela música, “aquele abraço”.
Pop sustentável
O Jota Quest levará sábado ao palco da Fundição Progresso, no Rio, amplificadores movidos a energia solar, no lançamento de seu CD “Folia & caos”.
A banda fez com o Greenpea-ce, em 1999, o primeiro show “solar” da América Latina.
ESTA FLOR está em extinção. É uma Worsleya procera, lírio endêmico identificado pelo Centro Nacional de Conservação da Flora nas montanhas de Petrópolis. Sua frágil existência foi catalogada para consulta no portal http:// cncflora.net, que reúne informações sobre a flora ameaçada do Brasil. Que Deusa proteja, e a nós não desampare jamais
Basta um baiano
No livro sobre João Gilberto, da Cosac Naify, consta o relato do namorico de Nana Caymmi com o mestre da bossa nova.
Dona Stella Maris, mãe de Nana e mulher de Dorival, foi contra: “Basta um baiano em casa.”
‘Mamãe se metia’...
Nana lembra: “Como toda moça daquela época, caí de amores por ele. Eu era uma mocinha donzela, tenho certeza que as intenções dele eram as melhores, mas mamãe se metia em tudo... ”
Vai de táxi
O táxi que Luciano Huck, nosso apresentador, usou para levar Gisele Bündchen, a supermode-lo, para passear, num quadro de seu programa, sábado, acumula... dez multas desde 2011.
O dado é da Secretaria municipal de Transportes. O Dobló cometeu a última infração em abril, por estacionamento irregular.
O Rio melhorou
Dados que o xerife José Bel-trame divulga hoje mostram que a taxa de homicídios dolosos no Estado do Rio, em maio, foi a mais baixa desde 1991.
Aliás, não só no mês, mas no acumulado de janeiro a maio também.
Segue...
Foram 344 homicídios dolosos em maio de 2012, contra 368 no mesmo mês de 2011.
No acumulado desde janeiro, foram 1.784, contra 1.940 em 2011. A taxa de homicídios nos cinco meses do ano está em 10,9, perto do tolerado pela Organização Mundial de Saúde (10).
Sem galhardete
A exemplo do que ocorreu no Salão de Literatura Infantil, Eduardo Paes também não autorizou o uso de galhardetes do Arraial da Providência, que começa sexta no Jockey, na Gávea.
Pecado capital
A juíza Ana Luiza Mayon Nogueira, da 21+ Vara Criminal do Rio, realiza amanhã audiência da Operação Pecado Capital.
Entre os réus, está Gilson Cantarino, ex-secretário de Saúde de Rosinha.
Zeca+20
O show de Zeca Pagodinho deixou preocupada a produção do Humanidades 2012, no Forte de Copacabana, sexta.
A plateia se levantou para sambar, mas, diante da estrutura do piso, o sambista teve de pedir para o público sentar.
terça-feira, junho 26, 2012
Desafios externos - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 26/06
A reunião do Mercosul na sexta-feira é a chance de Dilma se firmar como líder regional. A posição equilibrada que ela adotou até agora na crise do Paraguai foi o primeiro passo nesse sentidoDepois da acertada defesa do multilateralismo na Rio+20, a presidente Dilma Rousseff assume a Presidência do Mercosul na sexta-feira com a missão de se firmar como líder regional, diante das posições díspares do países da América do Sul sobre a crise do Paraguai. Embora praticamente todos tenham condenado o rito sumário do impeachment de Fernando Lugo — a Colômbia foi a única que até agora acolheu a decisão — as variações sobre como agir em relação ao novo governo jogam no colo do Brasil, o maior país do continente, a função de buscar o equilíbrio.
Por enquanto, embora os serviços de inteligência tenham falhado ao ponto de não informar o governo brasileiro sobre os problemas do país vizinho e o perigo de impeachment do presidente que comandava a Unasul, a diplomacia brasileira parece estar se saindo bem depois do leite derramado: não foi radical, ao ponto de defender a expulsão do Paraguai do Mercosul, o que prejudicará o povo daquele país, e nem deixou de criticar de forma veemente o rito sumário, chamando o embaixador Eduardo Santos.
Por falar em veemente...O comportamento brasileiro lhe deixa no momento em condições de mediador entre aqueles que só faltam mandar atacar o Paraguai e aqueles que respeitam a soberania do país em resolver seus problemas. E com uma vantagem: como a reunião do Mercosul só se dará na sexta-feira — na quinta à noite haverá apenas um jantar para os chefes de Estado do bloco — as autoridades têm ainda algum tempo para combinar o jogo antes do encontro de cúpula dos países em Mendonza, na Argentina.
Nesse período, o Brasil tentará convencer os demais países da região a adotar sanções políticas ao Paraguai, como a já declarada suspensão das reuniões do Mercosul. Mas nada de queimar a Ponte da Amizade impondo aos paraguaios sanções econômicas. Não se deixará, por exemplo, de cumprir a parte brasileira no acordo de Itaipu, inclusive em seus aspectos financeiros. Quanto a tapetes vermelhos e recepções a Federico Franco, nem pensar. Afinal, um presidente com nove meses de governo e conquistado num processo tão rápido, não pode querer agora que o continente lhe estenda todas as honras. Por mais que haja problemas num país é controversa a aprovação de um impeachment em três dias e dá margens a suspeitas de descumprimento das regras democráticas.
Por falar em regras democráticas...É esse ponto que o governo brasileiro deseja ser firme: deixar claro que processos desse tipo não combinam com países que prezam os rituais democráticos. E, nesse sentido, a diplomacia brasileira obteve vitórias importantes ontem: primeiro, os Estados Unidos condenaram o rito sumário e deixaram claro que cabe aos fóruns internacionais analisar a situação. A Espanha, que primeiramente havia reconhecido o novo governo, recuou. Agora, considera que cabe ao Mercosul e à Unasul avaliar a crise paraguaia.
Essas ações indicam que, até então, o Brasil está no caminho certo, o do equilíbrio. E que a região apresenta maturidade para resolver seus próprios problemas. O maior trunfo da Rio+20 foi justamente a preservação do multilaterismo para buscar um ponto de partida quanto ao futuro. Ninguém largou o encontro no meio e foi para casa dizendo que não assinaria nada. E, sob esse ponto de vista, a presidente Dilma conseguiu um tento. Agora, ela terá que trabalhar para obter essa vitória no campo regional, ou seja, garantir um consenso dentro do Mercosul sobre a crise no Paraguai. É sob esse aspecto que esta sexta-feira se torna crucial para Dilma enquanto líder regional. Vamos acompanhar.
Por falar em acompanhar...Começa a surgir um movimento no Senado no sentido de deixar o caso Demóstenes Torres para agosto. E o “x” da questão está nos prazos regimentais. O texto fala em sessões ordinárias, sem especificar se são deliberativas ou de debates. Já tem gente tentando dizer que sessões ordinárias são apenas as deliberativas, de forma a esticar um pouco mais o prazo para julgar o senador. Assim, dizem alguns, chega o recesso e, quem sabe, o caso esfria tornando possível se criar um clima pela absolvição. Diante dessa perspectiva, é bom ficar de olho.
Matemática é assim - SONIA RACY
O ESTADÃO - 26/06
O tempo do tucano na campanha pouco mudará. A maior parte dos integrantes do PSD é oriunda de partidos que fazem parte da coligação.
Então, o que muda? O equilíbrio das forças internas dos que apoiam Serra.
Matemática 2
Integrantes da equipe de Serra acreditam que o Supremo empurrará a decisão – provavelmente positiva – até agosto. Só para “sangrar” o prefeito.
Assim, a definição não valeria para este pleito, mas para o próximo, quando Kassab deverá se unir ao PT.
Máquina Kassab
O vice? Alexandre Schneider está na frente.
Na beca
Adepto da extravagância, o ex-BBB Serginho adotou figurino quase “clássico” no lançamento de Serra à Prefeitura: paletó de veludo preto, calça skinny, sapatos bicolores e maquiagem carregada. Mais camiseta com imagem da diva pop Lady Gaga. O colar dourado, com enorme coroa na ponta? “Ganhei do Bruno Chateaubriand”, contou.
Serginho tenta vaga de vereador pelo PSD. Bandeira? “Igualdade social e homoafetiva.”
Hora errada
A greve dos servidores do Itamaraty, iniciada dia 19, terá capítulo importante hoje. O sindicato da categoria fará protesto, esta tarde, em frente ao Palácio do Planalto.
Segundo fonte da coluna, a ida de Antonio Patriota ao Paraguai, sexta, em plena crise no ministério, “não melhorou em nada o ambiente”.
Neydroid
Se não conseguir abocanhar o hexa, o Brasil ainda terá mais uma chance de vitória logo depois da Copa de 2014. Poderá faturar, também em casa, o título mundial de futebol para… robôs.
Pela primeira vez, o evento acontecerá no País.
Colchão
E Alexandre Tombini, do Banco Central, levou assessor de imprensa do Brasil até a Basileia. Para informar que… não daria declarações.
Sem faca no pescoço
Solução puramente técnica evitaria toda a polêmica em torno da revisão do processo do mensalão no STF, a cargo de Ricardo Lewandowski.
Para cumprir cronograma acordado entre seus pares e colocar a ação em pauta em 1º de agosto, o ministro poderia simplesmente liberar o caso para julgamento – e, depois, apresentar a revisão junto com seu voto. “Ele não está com a faca no pescoço”, afirma um dos integrantes do Supremo.
Prestígio
Dilma Rousseff e Hillary Clinton concederam pouquíssimas audiências durante a Rio+20. Líderes do mundo inteiro pediram, mas foram embora sem vê-las.
Já a ex-embaixatriz Lúcia Flecha de Lima teve mais sorte. Conseguiu 15 minutos com Hillary e dez com Dilma.
No forno
E sai, pela L&M Pocket, ainda este ano, Los Hijos de los Días, de Eduardo Galeano.
O escritor uruguaio está em alta também entre os internautas, por causa de um vídeo em que fala sobre política – gravado ano passado na Praça do Sol, em Madri.
Na frente
Maria Lynch e Cabelo abrem exposição, hoje, na Galeria Marilia Razuk.
Saïd Farhat autografa Tempo de Gangorra. Hoje, na Livraria da Vila da Lorena.
Abre, hoje, a primeira flagship store na América Latina da grife alemã Dedon. Na Gabriel Monteiro da Silva.
Nicolas Shumway, da Rice University, ministra curso sobre eleições americanas. A partir de hoje, na Casa do Saber.
Joaquim Nabuco lança, amanhã, o livro The Art Brazilian Architecture. Na Fnac de Pinheiros.
Abre, hoje, nova loja conceito da Clinique. No Shopping Pátio Higienópolis.
Com apoio do consulado americano, três artistas afro-brasileiros e três afro-americanos expõem nos EUA, na galeria do Tamarind Institute, no Novo México. Próxima parada? Museu Afro Brasil, no semestre que vem.
Mau tempo em São Paulo transformou o aeroporto Santos Dumont, no Rio, em caos ontem. Prendeu em terra até Wagner Bittencourt, ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil.
Uma nova política - RODRIGO CONSTANTINO
O GLOBO - 26/06
Eu queria escrever sobre Rousseau. Nesta quinta completam-se três séculos de seu nascimento. Atacaria o coletivismo do filósofo, que jurava falar em nome da "vontade geral", na prática, a tirania de poucos. Condenaria ainda o seu romantismo ingênuo, com a visão idílica do "bom selvagem", que transforma em vítima a escória da humanidade. Mas os acontecimentos da política nacional atropelaram minha intenção. As novas peripécias de Lula, melhor dizendo. Aquela foto do ex-presidente sorrindo enquanto aperta a mão de Paulo Maluf é tão sintomática que não pode passar em branco. Rousseau pode esperar.
Ao contrário de alguns, eu não padeço de romantismo. Política é a "arte do possível". Concessões serão inevitáveis. Quem almeja pureza moral deve se ater ao campo das ideias. Meter as mãos no jogo sujo da política e sair totalmente limpo é utopia.
Concordo com tudo isso. Mas não posso conceber que exista somente esta forma de se fazer política! Se é ingenuidade cobrar pureza dos políticos, também é abjeto pensar que todos estarão sempre dispostos a tudo pelo poder. É fundamental separar o joio do trigo. Não podemos aceitar bovinamente que tudo isso é parte inevitável da política, e ponto final. O melhor argumento de defesa dos petistas é que seu partido é "apenas" tão ruim quanto os outros. Mesmo se isso fosse verdade, seria patético para quem já tentou monopolizar a bandeira da ética no passado. Mas é mentira: o PT é pior!
Nunca antes na história deste país vimos um partido com tanta sede pelo poder, disposto aos mais nefastos meios para tanto. Aloprados, "mensalão", dinheiro na cueca, amizade com os piores ditadores, isso é o PT. Quem acompanhou sua trajetória não pode ficar surpreso com a aliança entre Lula e Maluf. Este já tinha até apoiado Marta Suplicy em 2008.
O único "princípio" de Lula é o vale-tudo pelo poder. Todos os seus velhos desafetos da política, antes atacados com virulência, tornaram-se aliados. Jader Barbalho teve direito até a um beija-mão, uma "aula" de política, segundo o próprio Lula. Sarney, o eterno, virou um dos mais fiéis aliados. Collor foi outro que mereceu a aproximação de Lula.
Podemos não esperar a moralidade plena na política. Mas Lula vai muito além: ele representa o que há de mais imoral na vida pública brasileira. Para conseguir mais um minuto de TV na campanha pela prefeitura paulista, sua obsessão do momento, Lula seria capaz até de beijar Carlinhos Cachoeira. Ou alguém duvida disso?
Quando se trata de Lula, não há limites morais, não há um freio que diz "basta". Fosse ele somente mais um político na cena nacional, isso mereceria uma atenção menor. O problema é que Lula não é apenas mais um, e sim o ex-presidente da República, com grande popularidade. Sua conduta deplorável tem efeitos secundários em toda a política. O fato de ele ter sido reeleito mesmo com o "mensalão" representou um duro golpe nas frágeis instituições republicanas. Foi aberta a caixa de Pandora.
Uma das consequências disso é o desprezo cada vez maior pela política das pessoas decentes. O círculo vicioso vai tomando proporções assustadoras, e boa parte da população já aceita de forma negligente que as coisas são assim mesmo. Só que, como alertava Platão, a punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.
Longe de mim responsabilizar um único indivíduo por toda a podridão em nossa política. O modelo é ruim, as instituições são capengas, a mentalidade predominante é autoritária e antiliberal, dezenas de partidos não passam de legendas de aluguel, e a enorme concentração de poder e recursos no governo federal cria incentivos para esta pouca vergonha. Mas é inegável que a postura de Lula serve para piorar o que já era ruim, para jogar mais lenha na fogueira da imoralidade de nossa política. Para agravar o quadro, temos uma oposição medíocre, acovardada, sem um programa alternativo de governo.
Luiz Felipe D"Ávila, em "Os virtuosos", mostra como o nascimento de nossa República dependeu de estadistas, indivíduos que entraram na vida pública "por uma questão de princípio, por um senso de missão e por um sentimento de dever". Será que ainda somos capazes de produzir estadistas como Prudente de Moraes? Ou estaria nossa política condenada a abrigar tipos como Lula e Maluf, este procurado pela Interpol?
Volto a Rousseau para fechar. Ele dizia amar a Humanidade, esta linda abstração, mas abandonou todos os cinco filhos no orfanato. Voltaire o considerava um "poço de vileza". O que ele diria sobre Lula?
Eu queria escrever sobre Rousseau. Nesta quinta completam-se três séculos de seu nascimento. Atacaria o coletivismo do filósofo, que jurava falar em nome da "vontade geral", na prática, a tirania de poucos. Condenaria ainda o seu romantismo ingênuo, com a visão idílica do "bom selvagem", que transforma em vítima a escória da humanidade. Mas os acontecimentos da política nacional atropelaram minha intenção. As novas peripécias de Lula, melhor dizendo. Aquela foto do ex-presidente sorrindo enquanto aperta a mão de Paulo Maluf é tão sintomática que não pode passar em branco. Rousseau pode esperar.
Ao contrário de alguns, eu não padeço de romantismo. Política é a "arte do possível". Concessões serão inevitáveis. Quem almeja pureza moral deve se ater ao campo das ideias. Meter as mãos no jogo sujo da política e sair totalmente limpo é utopia.
Concordo com tudo isso. Mas não posso conceber que exista somente esta forma de se fazer política! Se é ingenuidade cobrar pureza dos políticos, também é abjeto pensar que todos estarão sempre dispostos a tudo pelo poder. É fundamental separar o joio do trigo. Não podemos aceitar bovinamente que tudo isso é parte inevitável da política, e ponto final. O melhor argumento de defesa dos petistas é que seu partido é "apenas" tão ruim quanto os outros. Mesmo se isso fosse verdade, seria patético para quem já tentou monopolizar a bandeira da ética no passado. Mas é mentira: o PT é pior!
Nunca antes na história deste país vimos um partido com tanta sede pelo poder, disposto aos mais nefastos meios para tanto. Aloprados, "mensalão", dinheiro na cueca, amizade com os piores ditadores, isso é o PT. Quem acompanhou sua trajetória não pode ficar surpreso com a aliança entre Lula e Maluf. Este já tinha até apoiado Marta Suplicy em 2008.
O único "princípio" de Lula é o vale-tudo pelo poder. Todos os seus velhos desafetos da política, antes atacados com virulência, tornaram-se aliados. Jader Barbalho teve direito até a um beija-mão, uma "aula" de política, segundo o próprio Lula. Sarney, o eterno, virou um dos mais fiéis aliados. Collor foi outro que mereceu a aproximação de Lula.
Podemos não esperar a moralidade plena na política. Mas Lula vai muito além: ele representa o que há de mais imoral na vida pública brasileira. Para conseguir mais um minuto de TV na campanha pela prefeitura paulista, sua obsessão do momento, Lula seria capaz até de beijar Carlinhos Cachoeira. Ou alguém duvida disso?
Quando se trata de Lula, não há limites morais, não há um freio que diz "basta". Fosse ele somente mais um político na cena nacional, isso mereceria uma atenção menor. O problema é que Lula não é apenas mais um, e sim o ex-presidente da República, com grande popularidade. Sua conduta deplorável tem efeitos secundários em toda a política. O fato de ele ter sido reeleito mesmo com o "mensalão" representou um duro golpe nas frágeis instituições republicanas. Foi aberta a caixa de Pandora.
Uma das consequências disso é o desprezo cada vez maior pela política das pessoas decentes. O círculo vicioso vai tomando proporções assustadoras, e boa parte da população já aceita de forma negligente que as coisas são assim mesmo. Só que, como alertava Platão, a punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus.
Longe de mim responsabilizar um único indivíduo por toda a podridão em nossa política. O modelo é ruim, as instituições são capengas, a mentalidade predominante é autoritária e antiliberal, dezenas de partidos não passam de legendas de aluguel, e a enorme concentração de poder e recursos no governo federal cria incentivos para esta pouca vergonha. Mas é inegável que a postura de Lula serve para piorar o que já era ruim, para jogar mais lenha na fogueira da imoralidade de nossa política. Para agravar o quadro, temos uma oposição medíocre, acovardada, sem um programa alternativo de governo.
Luiz Felipe D"Ávila, em "Os virtuosos", mostra como o nascimento de nossa República dependeu de estadistas, indivíduos que entraram na vida pública "por uma questão de princípio, por um senso de missão e por um sentimento de dever". Será que ainda somos capazes de produzir estadistas como Prudente de Moraes? Ou estaria nossa política condenada a abrigar tipos como Lula e Maluf, este procurado pela Interpol?
Volto a Rousseau para fechar. Ele dizia amar a Humanidade, esta linda abstração, mas abandonou todos os cinco filhos no orfanato. Voltaire o considerava um "poço de vileza". O que ele diria sobre Lula?
Democracia representativa - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 26/06
O que está sendo colocado em xeque no episódio do impeachment do presidente do Paraguai é a democracia representativa. Quando se questiona a capacidade do Congresso paraguaio de promover a deposição de um presidente de acordo com as normas constitucionais alegando que houve "ruptura democrática", está-se na verdade colocando em questionamento o próprio sistema eleitoral.
Por que a Unasul não questiona as manobras que os governos de Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina vêm fazendo permanentemente para, utilizando-se dos mecanismos democráticos, moldar um Congresso e um Judiciário à sua feição?
Assim como definir que não houve o cumprimento do devido processo legal na deposição de Lugo é uma questão de interpretação, da mesma maneira considerar que na Venezuela há "democracia demais" é uma questão de simpatia pessoal.
Até o momento a Venezuela não foi aceita no Mercosul justamente devido à cláusula democrática, e o processo vem demorando porque há muitas desconfianças de que o que existe naquele país não é exatamente uma democracia.
O Congresso paraguaio é o último bastião contra a aprovação da Venezuela e por isso é acusado de ser dominado por oligarquias direitistas que deram um "golpe parlamentar" em Lugo.
Mas e as oligarquias, direitistas, e os capitalistas selvagens que foram cooptados pelos governos "bolivarianos" em todos esses países, inclusive no Brasil, esses estão autorizados a continuar atuando como sempre atuaram, e com as bênçãos dos governos populares a que servem.
Para "desencorajar ações do gênero" no continente, os membros da Unasul sentem-se no direito de dar lições de democracia a um de seus membros.
O importante a avaliar é que o Congresso paraguaio obedeceu às regras constitucionais. O próprio advogado de Lugo admitiu que tudo correu dentro da lei, e a Suprema Corte recusou liminarmente a reclamação de que Lugo não tivera tempo para se defender. É muita pretensão de outros países quererem interpretar as circunstâncias históricas locais e decidir se houve ou não um rito democrático.
Ninguém tem informações seguras para compreender o que estava em curso no Paraguai para que o presidente ficasse tão isolado, a ponto de ter tão poucos votos de apoio e menos ainda apoio popular.
Não houve imposição de um grupo político, houve um consenso no Congresso. Daí a dizer que o Congresso está dominado pelas oligarquias e que Lugo foi derrubado porque estava trabalhando com os sem-terra de lá, aí já se discute a qualidade da democracia paraguaia, o que não é função de qualquer organismo internacional.
O fato é que não houve ruptura alguma da ordem democrática, razão alegada pelo Mercosul para suspender o Paraguai. O país está em ordem, não há tanques nas ruas, não há manifestações populares, os Poderes todos funcionam normalmente, não há censura à imprensa.
No Brasil, diferentemente de outros países da região, não houve fechamento do Congresso ou mudanças no Judiciário, nem recurso a novas eleições para que uma maioria se formasse, o que torna questionável o nível democrático em vigor.
A maioria no Congresso brasileiro, desde o mensalão de 2005, é formada à base de troca de favores, inclusive dinheiro público e cargos, não para aprovar algum programa de governo, mas uma "maioria defensiva" para evitar episódios como o ocorrido no Paraguai, que quase atingiu Lula no auge da crise do mensalão.
É uma maneira de neutralizar o Congresso. Nesse caso, não faz mal que as oligarquias façam parte da chamada base aliada e continuem governando desde que garantam a proteção necessária.
Nem que os "companheiros" estejam envolvidos em malfeitos diversos: os líderes populares que estão prontos a sair às ruas, mobilizando as massas para acusar uma "ruptura democrática", são os mesmos que se utilizam dos mesmos instrumentos para defender seus oligarcas de estimação.
Não é à toa que em todos esses países da órbita "bolivariana", inclusive o Brasil, mais e mais defensores da "democracia direta" surjam, justamente para desacreditar o Congresso como instrumento de representação popular.
O Brasil tem mais interesses no Paraguai do que todos os demais países da América do Sul e deveria, isto sim, estar liderando a Unasul, e não sendo liderado, para defender os nossos interesses na região.
Mas a diplomacia brasileira está se acostumando a seguir, não a liderar. Quando a Bolívia invadiu as instalações da Petrobras, o Brasil também não reagiu.
O Itamaraty tinha informações há muito tempo de que os brasiguaios estavam sendo maltratados pelo governo paraguaio, que os estava expondo à violência dos sem-terra paraguaios, e não usou os muitos interesses econômicos para pressionar o governo Lugo a defender o setor agropecuário brasileiro.
Há entre 350 e 400 mil brasileiros no Paraguai, que produzem na agricultura a ponto de terem tornado o Paraguai o 4 exportador de soja do mundo, cuja produção é exportada através de portos brasileiros.
Esses agricultores são também grandes consumidores de insumos brasileiros como sementes, defensivos agrícolas e maquinário.
Além da questão agrícola, o Brasil depende de Itaipu para o fornecimento de cerca de 20% da energia que consome, e qualquer problema nessa geração provocaria um desastre econômico.
Mas o país já havia se submetido a uma chantagem do governo paraguaio, que rasgou o contrato existente e conseguiu um aumento no pagamento da energia produzida por Itaipu.
O governo brasileiro está colocando os interesses políticos de um grupo da região à frente dos interesses econômicos do país.
A reação contrária da Unasul ao que aconteceu no Paraguai é, na verdade, mais um movimento político dos chamados países "bolivarianos" do que uma reação em defesa da democracia, que continua em pleno vigor no Paraguai.
O governo brasileiro, mais uma vez, está a reboque de uma ação política de Chávez, assim como no caso de Honduras no ano passado.
O que está sendo colocado em xeque no episódio do impeachment do presidente do Paraguai é a democracia representativa. Quando se questiona a capacidade do Congresso paraguaio de promover a deposição de um presidente de acordo com as normas constitucionais alegando que houve "ruptura democrática", está-se na verdade colocando em questionamento o próprio sistema eleitoral.
Por que a Unasul não questiona as manobras que os governos de Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina vêm fazendo permanentemente para, utilizando-se dos mecanismos democráticos, moldar um Congresso e um Judiciário à sua feição?
Assim como definir que não houve o cumprimento do devido processo legal na deposição de Lugo é uma questão de interpretação, da mesma maneira considerar que na Venezuela há "democracia demais" é uma questão de simpatia pessoal.
Até o momento a Venezuela não foi aceita no Mercosul justamente devido à cláusula democrática, e o processo vem demorando porque há muitas desconfianças de que o que existe naquele país não é exatamente uma democracia.
O Congresso paraguaio é o último bastião contra a aprovação da Venezuela e por isso é acusado de ser dominado por oligarquias direitistas que deram um "golpe parlamentar" em Lugo.
Mas e as oligarquias, direitistas, e os capitalistas selvagens que foram cooptados pelos governos "bolivarianos" em todos esses países, inclusive no Brasil, esses estão autorizados a continuar atuando como sempre atuaram, e com as bênçãos dos governos populares a que servem.
Para "desencorajar ações do gênero" no continente, os membros da Unasul sentem-se no direito de dar lições de democracia a um de seus membros.
O importante a avaliar é que o Congresso paraguaio obedeceu às regras constitucionais. O próprio advogado de Lugo admitiu que tudo correu dentro da lei, e a Suprema Corte recusou liminarmente a reclamação de que Lugo não tivera tempo para se defender. É muita pretensão de outros países quererem interpretar as circunstâncias históricas locais e decidir se houve ou não um rito democrático.
Ninguém tem informações seguras para compreender o que estava em curso no Paraguai para que o presidente ficasse tão isolado, a ponto de ter tão poucos votos de apoio e menos ainda apoio popular.
Não houve imposição de um grupo político, houve um consenso no Congresso. Daí a dizer que o Congresso está dominado pelas oligarquias e que Lugo foi derrubado porque estava trabalhando com os sem-terra de lá, aí já se discute a qualidade da democracia paraguaia, o que não é função de qualquer organismo internacional.
O fato é que não houve ruptura alguma da ordem democrática, razão alegada pelo Mercosul para suspender o Paraguai. O país está em ordem, não há tanques nas ruas, não há manifestações populares, os Poderes todos funcionam normalmente, não há censura à imprensa.
No Brasil, diferentemente de outros países da região, não houve fechamento do Congresso ou mudanças no Judiciário, nem recurso a novas eleições para que uma maioria se formasse, o que torna questionável o nível democrático em vigor.
A maioria no Congresso brasileiro, desde o mensalão de 2005, é formada à base de troca de favores, inclusive dinheiro público e cargos, não para aprovar algum programa de governo, mas uma "maioria defensiva" para evitar episódios como o ocorrido no Paraguai, que quase atingiu Lula no auge da crise do mensalão.
É uma maneira de neutralizar o Congresso. Nesse caso, não faz mal que as oligarquias façam parte da chamada base aliada e continuem governando desde que garantam a proteção necessária.
Nem que os "companheiros" estejam envolvidos em malfeitos diversos: os líderes populares que estão prontos a sair às ruas, mobilizando as massas para acusar uma "ruptura democrática", são os mesmos que se utilizam dos mesmos instrumentos para defender seus oligarcas de estimação.
Não é à toa que em todos esses países da órbita "bolivariana", inclusive o Brasil, mais e mais defensores da "democracia direta" surjam, justamente para desacreditar o Congresso como instrumento de representação popular.
O Brasil tem mais interesses no Paraguai do que todos os demais países da América do Sul e deveria, isto sim, estar liderando a Unasul, e não sendo liderado, para defender os nossos interesses na região.
Mas a diplomacia brasileira está se acostumando a seguir, não a liderar. Quando a Bolívia invadiu as instalações da Petrobras, o Brasil também não reagiu.
O Itamaraty tinha informações há muito tempo de que os brasiguaios estavam sendo maltratados pelo governo paraguaio, que os estava expondo à violência dos sem-terra paraguaios, e não usou os muitos interesses econômicos para pressionar o governo Lugo a defender o setor agropecuário brasileiro.
Há entre 350 e 400 mil brasileiros no Paraguai, que produzem na agricultura a ponto de terem tornado o Paraguai o 4 exportador de soja do mundo, cuja produção é exportada através de portos brasileiros.
Esses agricultores são também grandes consumidores de insumos brasileiros como sementes, defensivos agrícolas e maquinário.
Além da questão agrícola, o Brasil depende de Itaipu para o fornecimento de cerca de 20% da energia que consome, e qualquer problema nessa geração provocaria um desastre econômico.
Mas o país já havia se submetido a uma chantagem do governo paraguaio, que rasgou o contrato existente e conseguiu um aumento no pagamento da energia produzida por Itaipu.
O governo brasileiro está colocando os interesses políticos de um grupo da região à frente dos interesses econômicos do país.
A reação contrária da Unasul ao que aconteceu no Paraguai é, na verdade, mais um movimento político dos chamados países "bolivarianos" do que uma reação em defesa da democracia, que continua em pleno vigor no Paraguai.
O governo brasileiro, mais uma vez, está a reboque de uma ação política de Chávez, assim como no caso de Honduras no ano passado.
Inflação e erros do "mercado" - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 26/06
Apesar da histeria de 2011 sobre 'estouro de preços', inflação cai; mas ninguém teve razão nessa história
A INFLAÇÃO DEVE fechar o ano em menos de 5%, dizem agora os economistas "do mercado", os que trabalham para bancos e consultorias, ouvidos semanalmente pelo Banco Central para uma pesquisa publicada no boletim Focus.
Na metade final do ano passado, havia histeria na praça. Muito economista dizia que viria o "descontrole inflacionário", ainda mais depois que o BC baixou os juros "de surpresa", em agosto.
As médias e as medianas das estimativas desses economistas para indicadores macroeconômicos (inflação, PIB) são chamadas de "expectativas de mercado".
Mas se trata apenas de médias de estimativas feitas por economistas. Muitas vezes elas não são compatíveis mesmo com algumas das expectativas do "mercado real", que dá sua "opinião" por meio de suas operações financeiras.
No fim de agosto, a julgar por alguns tipos de contratos de juros, o "mercado real" acreditava que os juros cairiam muito. O pessoal das "expectativas de mercado", porém, na média ainda estava noutra, de estimar inflação e juros ascendentes ou no mínimo estáveis.
Isso quer dizer que o "BC acertou, o mercado (no Focus) errou"? Isso não quer dizer nada. Isso quer dizer apenas que a gente se pela e se pega por detalhes meio irrelevantes.
A meta oficial de inflação é 4,5% ao ano (a inflação para o consumidor, medida pelo IPCA, do IBGE). Talvez a inflação não chegue à meta, como ainda acredita o BC. Talvez vá a 4,8%. Ou a 4,74%. E daí? E daí, nada. Não faz diferença.
Muito economista ouvido pelo BC acha que esse indicador de inflação está meio "subfaturado". Não, pelo amor de Deus, não estão dizendo que houve fraude. Estão apenas dizendo que alguns fatores pontuais contribuíram para a baixa do IPCA além da conta deles.
A mudança do peso de alguns dos itens da cesta de compras que define o IPCA por sorte (para o governo) reduziu a inflação medida -se os pesos fossem os mesmos do ano passado, o IPCA seria algo maior. O IBGE fez a mudança por motivos técnicos (a cesta de compras média varia ao longo dos anos).
O governo de resto reduziu impostos para bens duráveis (linha branca, carros), entre o de outros itens. Mantém, na prática, congelado o preço da gasolina. Etc.
É tudo verdade. Mas, ainda assim, uns décimos para cá e outros para cá no IPCA continuam a não fazer diferença essencial.
Mais importante é lembrar que:
1) o Brasil vai crescer pouco durante dois anos, uns 2,3%, na média de 2011-12, e a inflação demora para cair a uns 4,5% ou 5%. Alta? Mais relevante é observar que ela é resistente;
2) houve grande terrorismo no "mercado" sobre o "descontrole inflacionário" que viria, assim como em 2011 o "mercado" errou ao dizer que as medidas do governo não "esfriariam" a economia. Erro demais para quem leva tão a sério as suas expectativas;
3) economistas sérios disseram que o BC "apostou" na baixa da inflação, quando deveria ter sido cauteloso, jogar na retranca, manter juros altos, evitar o risco. Risco de quê? De mais inflação. Pode ser. Mas, ao evitar tal risco, teria jogado provavelmente o país numa recessão desnecessária. Qual risco é pior?
Apesar da histeria de 2011 sobre 'estouro de preços', inflação cai; mas ninguém teve razão nessa história
A INFLAÇÃO DEVE fechar o ano em menos de 5%, dizem agora os economistas "do mercado", os que trabalham para bancos e consultorias, ouvidos semanalmente pelo Banco Central para uma pesquisa publicada no boletim Focus.
Na metade final do ano passado, havia histeria na praça. Muito economista dizia que viria o "descontrole inflacionário", ainda mais depois que o BC baixou os juros "de surpresa", em agosto.
As médias e as medianas das estimativas desses economistas para indicadores macroeconômicos (inflação, PIB) são chamadas de "expectativas de mercado".
Mas se trata apenas de médias de estimativas feitas por economistas. Muitas vezes elas não são compatíveis mesmo com algumas das expectativas do "mercado real", que dá sua "opinião" por meio de suas operações financeiras.
No fim de agosto, a julgar por alguns tipos de contratos de juros, o "mercado real" acreditava que os juros cairiam muito. O pessoal das "expectativas de mercado", porém, na média ainda estava noutra, de estimar inflação e juros ascendentes ou no mínimo estáveis.
Isso quer dizer que o "BC acertou, o mercado (no Focus) errou"? Isso não quer dizer nada. Isso quer dizer apenas que a gente se pela e se pega por detalhes meio irrelevantes.
A meta oficial de inflação é 4,5% ao ano (a inflação para o consumidor, medida pelo IPCA, do IBGE). Talvez a inflação não chegue à meta, como ainda acredita o BC. Talvez vá a 4,8%. Ou a 4,74%. E daí? E daí, nada. Não faz diferença.
Muito economista ouvido pelo BC acha que esse indicador de inflação está meio "subfaturado". Não, pelo amor de Deus, não estão dizendo que houve fraude. Estão apenas dizendo que alguns fatores pontuais contribuíram para a baixa do IPCA além da conta deles.
A mudança do peso de alguns dos itens da cesta de compras que define o IPCA por sorte (para o governo) reduziu a inflação medida -se os pesos fossem os mesmos do ano passado, o IPCA seria algo maior. O IBGE fez a mudança por motivos técnicos (a cesta de compras média varia ao longo dos anos).
O governo de resto reduziu impostos para bens duráveis (linha branca, carros), entre o de outros itens. Mantém, na prática, congelado o preço da gasolina. Etc.
É tudo verdade. Mas, ainda assim, uns décimos para cá e outros para cá no IPCA continuam a não fazer diferença essencial.
Mais importante é lembrar que:
1) o Brasil vai crescer pouco durante dois anos, uns 2,3%, na média de 2011-12, e a inflação demora para cair a uns 4,5% ou 5%. Alta? Mais relevante é observar que ela é resistente;
2) houve grande terrorismo no "mercado" sobre o "descontrole inflacionário" que viria, assim como em 2011 o "mercado" errou ao dizer que as medidas do governo não "esfriariam" a economia. Erro demais para quem leva tão a sério as suas expectativas;
3) economistas sérios disseram que o BC "apostou" na baixa da inflação, quando deveria ter sido cauteloso, jogar na retranca, manter juros altos, evitar o risco. Risco de quê? De mais inflação. Pode ser. Mas, ao evitar tal risco, teria jogado provavelmente o país numa recessão desnecessária. Qual risco é pior?
Crise paraguaia requer sensatez - EDITORIAL O GLOBO -
O GLOBO - 26/06
O impeachment de Fernando Lugo, executado em alta velocidade e por ampla maioria no Congresso paraguaio, coloca o Brasil diante de uma situação intrincada, circunstância em que a melhor postura a assumir é de serenidade, longe de escaladas verbais e rompantes de bolivarianos e chavistas espalhados pelo continente, inclusive com representantes em Brasília.
Além de a teoria do "golpe parlamentar" ser discutível, o Brasil, ao contrário de outros vizinhos, tem enormes interesses objetivos no Paraguai, como a energia de Itaipu, o comércio propriamente dito, além de uma grande comunidade de "brasiguaios", responsáveis pelo crescimento agrícola do país e alvo de grupos radicais de sem-terra, fortalecidos com o pouco caso de Lugo diante do agravamento do conflito agrário, um dos argumentos a favor do seu impeachment. A tese do "golpe" já tinha contra si o fato de não haver notícia de mudanças de legislação encomendadas com o objetivo de afastar o ex-bispo.
O apoio político-parlamentar quase nulo de Lugo - perdeu na Câmara por 73 a 1, e, no Senado, 39 a 4 - não seria suficiente para atestar a legalidade do impeachment. Mas, além do cumprimento formal dos dispositivos legais, a decisão dos parlamentares foi referendada pela Corte Suprema paraguaia, ao mesmo tempo em que o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral do país reconhecia o vice de Lugo, Frederico Franco, como o novo presidente do Paraguai.
O suposto "golpe parlamentar" paraguaio equivale a um outro, idêntico, desfechado pelo Congresso e Justiça de Honduras, em 2009, quando o então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, com apoio de Hugo Chávez, tentou aplicar o conhecido "kit bolivariano" de convocar um plebiscito e aprovar mudanças constitucionais para se reeleger. Como há dispositivo na Constituição de Honduras que pune com o afastamento do cargo presidente que tentar manobras para se perpetuar no poder, Zelaya foi destituído legalmente.
Chavistas e bolivarianos protestaram, e o Brasil de Lula e Celso Amorim foi atrás. Chegou a abrigar Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa, convertida em comitê de resistência, contra a tradição de profissionalismo do Itamaraty. Foram feitas eleições, vencidas por Roberto Micheletti, mas o Brasil continuou sob a liderança chavista e se recusou a reconhecer o novo governo. A história se repete, de forma bem mais crítica para o Brasil, por ser o Paraguai um país estratégico para os interesses nacionais. Mesmo que o impeachment houvesse tramitado por semanas, Venezuela, Honduras, Equador e Bolívia o denunciariam como "golpe". Inclusive a Argentina, pois, diante do agravamento dos problemas internos, Cristina Kirchner não tem deixado passar oportunidade de manipular assuntos externos para tentar entreter a opinião pública argentina.
Tudo deve ser feito para evitar conflitos no Paraguai. Sintomático que Lugo tenha aceitado o impeachment sem resistir, e, ao perceber o coro de "golpe parlamentar", decidiu reunir seu gabinete em frente de casa. Semeou, com a ajuda do governo Dilma, de Cristina K. e demais o risco de um grande conflito, contra os interesses do Estado brasileiro.
Não que as evidências de um impeachment em rito sumário não devam chamar a atenção de Mercosul, Unasul e OEA. Mas decretar a priori a existência de um "golpe parlamentar" é um excesso. Mais ainda, num surto ideológico, suspender o país do Mercosul e Unasul, e admitir a presença de Lugo na próxima reunião de cúpula, em Mendoza, Argentina.
O ditador Alfredo Stroessner foi mantido em Assunção durante longo tempo por conveniência de Brasil e Argentina. Este é um tempo a ser sepultado, e a terra por cima devidamente salgada.
Os casos de Honduras e, agora, do Paraguai pelo menos justificam que as mesmas zelosas instituições, e o Itamaraty em particular, também não deixem passar sem análise manipulações que Venezuela, Equador e Bolívia - para citar os notórios - fazem do Congresso e Poder Judiciário a fim de destroçar o que resta de democracia em seus regimes, por meio de instrumentos apenas formalmente democráticos.
Golpe paraguaio! Dá ressaca! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 26/06
O Lugo ficou famoso porque era bispo e teve seis filhos. Ele não era seminarista, era inseminarista. Rarará!
O Lugo ficou famoso porque era bispo e teve seis filhos. Ele não era seminarista, era inseminarista. Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Ai, ai, se hoje eu acordei com essa preguiça, imagine na Copa! Rarará! Agora não é tudo com essa expressão ridícula, "imagine na Copa?". "Hoje o dia tá tão feio em São Paulo, imagine na Copa!"
Socuerro! Golpe no Paraguai! Deve dar uma ressaca. E as piadas inevitáveis! No Paraguai, até o golpe é falsificado. Lá eles chamam de impeachment. Golpe no Paraguai é vender tijolo dentro de videocassete. Golpe paraguaio dá ressaca!
E diz que o "novo presidente" já nomeou três ministros: Chapa Fria, Gato de Itaipu e Samsung Genérico! Em compensação, um cara escreveu no Twitter: "O que aconteceu no Paraguai foi um golpe de sorte".
E o novo presidente do Paraguai se chama FRANCO. E ele tá constrangido! Ficou com vergonha! Já viu golpista com vergonha? Tá com cara de quem soltou pum na classe! Rarará!
E temos dois Paraguais. Um Paraguai fica no Paraguai. E outro Paraguai fica na 25 de Março. O Lugo podia ser presidente da 25 de Março! Rarará!
E atenção! Biografia do Lugo! O Lugo ficou famoso porque era bispo e teve seis filhos. Bispo Papão.
PAIRAGUAI. Ele era pai do Paraguai. Rarará! Então, quando era seminarista, ele não era seminarista, era inseminarista. Rarará!
E o apelido dele é Lugo Mau, come até a vovozinha! E ele, como bispo, podia transar? Podia. O voto de castidade era paraguaio! Rarará!
E adorei a declaração do presidente pirata: "Quero ir visitar a Dilma pra desfazer o mal-estar". Vai levar uma esfrega! Vai ficar com mal-estar crônico! E esta: "Brasil condena rito sumário". Tucanaram o golpe! Rarará!
E a novela "Avenida Barraco"? Aquele Max parece o Salsicha do "Scooby Doo"! Já temos Nina Noiva-Cadáver, Carminha Carrie, a Estranha, o Trouxão e agora o Max Salsicha do "Scoobydoo"!
E no sensacional show da Marisa Monte, quando ela cantou o tema de Jorginho e Nina, o teatro delirou, veio abaixo. Inclusive eu!
E adoro esta: "Congonhas opera por instrumentos". Pandeiro, cuíca e reco-reco! Rarará!
E olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "Tem um motel chamado Apple Motel, deve ser pra dar uma Iphoda!". Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Socuerro! Golpe no Paraguai! Deve dar uma ressaca. E as piadas inevitáveis! No Paraguai, até o golpe é falsificado. Lá eles chamam de impeachment. Golpe no Paraguai é vender tijolo dentro de videocassete. Golpe paraguaio dá ressaca!
E diz que o "novo presidente" já nomeou três ministros: Chapa Fria, Gato de Itaipu e Samsung Genérico! Em compensação, um cara escreveu no Twitter: "O que aconteceu no Paraguai foi um golpe de sorte".
E o novo presidente do Paraguai se chama FRANCO. E ele tá constrangido! Ficou com vergonha! Já viu golpista com vergonha? Tá com cara de quem soltou pum na classe! Rarará!
E temos dois Paraguais. Um Paraguai fica no Paraguai. E outro Paraguai fica na 25 de Março. O Lugo podia ser presidente da 25 de Março! Rarará!
E atenção! Biografia do Lugo! O Lugo ficou famoso porque era bispo e teve seis filhos. Bispo Papão.
PAIRAGUAI. Ele era pai do Paraguai. Rarará! Então, quando era seminarista, ele não era seminarista, era inseminarista. Rarará!
E o apelido dele é Lugo Mau, come até a vovozinha! E ele, como bispo, podia transar? Podia. O voto de castidade era paraguaio! Rarará!
E adorei a declaração do presidente pirata: "Quero ir visitar a Dilma pra desfazer o mal-estar". Vai levar uma esfrega! Vai ficar com mal-estar crônico! E esta: "Brasil condena rito sumário". Tucanaram o golpe! Rarará!
E a novela "Avenida Barraco"? Aquele Max parece o Salsicha do "Scooby Doo"! Já temos Nina Noiva-Cadáver, Carminha Carrie, a Estranha, o Trouxão e agora o Max Salsicha do "Scoobydoo"!
E no sensacional show da Marisa Monte, quando ela cantou o tema de Jorginho e Nina, o teatro delirou, veio abaixo. Inclusive eu!
E adoro esta: "Congonhas opera por instrumentos". Pandeiro, cuíca e reco-reco! Rarará!
E olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "Tem um motel chamado Apple Motel, deve ser pra dar uma Iphoda!". Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Um código para o Judiciário - SCILIO FAVER
VALOR ECONÔMICO - 26/06
Vivemos um novo ciclo no Brasil. Uma etapa de exaltação à nacionalidade brasileira e de expectativas de reformas para receber e ser o centro do mundo nos próximos eventos mundiais. Na área jurídica (paralelo ao mundo social), a realidade não é outra. O legislativo trabalha arduamente com projetos audaciosos para reformas de ordenamentos e institutos. Num país em que a efervescência legislativa é patente, a pergunta que fica é: será que estamos preparados para interpretar e aplicar essas novas normas aos futuros casos concretos?
Nesse ponto, não há como não pensar na necessária reforma do Judiciário. Mas não uma reforma que enalteça apenas princípios como celeridade, efetividade e inafastabilidade, mas sim a disciplina e eficiência do trabalho. Definitivamente, não é o caso de grande parte daqueles que atuam no chamado Poder Judiciário. Aliás, não poderia ser diferente. O que esperar de uma nação que não se preocupa com a educação? A educação jurídica no Brasil é um fracasso. Só não é pior porque esse fracasso é acompanhado por um Legislativo que ainda pensa que a quantidade é sinônimo de qualidade. Para que tantas leis e códigos? Para mascarar a insegurança jurídica, reflexo de um sistema de educação superior totalmente ineficaz.
Anualmente, milhares de bacharéis lotam cursos preparatórios para conhecerem o direito que não conhecem nas faculdades. Depois do primeiro desafio, a hoje tão batalhada habilitação profissional para o exercício da advocacia, esses advogados ou se perdem inertes em profissões mecanizadas ou lotam mais uma vez os cursos para se prepararem para o ingresso em cargos públicos.
Por que prazos apenas para as partes de um processo?
Se indagado a um aluno de curso preparatório o motivo do seu desejo de ocupar um cargo público, certamente lhe responderá: a segurança salarial que traz. O pensamento dele não está errado. Só está incompleto. Se apenas esse é o seu desejo, certamente conseguirá ocupar o cargo com muito estudo e dedicação. Alcançará o objetivo e coitado será daquele ao dizer que o bendito fruto não merece ocupar o cargo que tem. Porém, uma vez alcançado o tão sonhado cargo público é atacado por um total comodismo. Comodismo que o levará a ficar à margem dos preceitos que faz do seu cargo uma condição pública. Princípios como o da exclusividade e eficiência dos serviços públicos tornam-se piadas e anedotas. Consequências? Processos que duram mais de dez anos em tramitação, ações que permanecem nove meses na mesa de um juiz para sentenciar, processos que ficam anos na promotoria sem resultado e sem qualquer questionamento. Despachos como "às partes sobre documentos", "ao autor", "ao réu" são utilizados até a última oportunidade, quando enfim terá aquele aplicador das normas que fazer a tão sonhada manifestação da aplicação do direito positivado ao caso concreto. Porém, ainda neste momento, lança mão de "modelos" ou ainda de "terceiros" não habilitados para tal. Frisa-se que esta é a realidade, não significa e nem precisaria (ainda bem) ser também a unanimidade.
No entanto, esse descompromisso, fruto desde cedo pela ausência de educação e disciplina não pode se tornar regra. Não se pode permitir que se criem novos ordenamentos, num momento de tanta esperança num país, sem que se preocupe em criar urgentemente um código de conduta para o judiciário. Um código que estabeleça a disciplina para as atividades tão nobres e enaltecedoras da intelectualidade. Por que prazos apenas para as partes de um processo? Por que sanções apenas para as partes de um processo? Por que um processo apenas para as partes deste processo? Processo necessariamente envolve uma multiplicidade de funções e pessoas. É o mundo social; a civilização que se move em torno das decisões de um processo. Todas elas disciplinadas dentro dos seus direitos e atribuições (serventuários, secretários, juizes, promotores, advogados e partes). Ainda hoje advogados lutam para serem escutados em sustentações orais em audiências de segunda instância por desembargadores que muitas vezes conversam enquanto o patrono da parte sustenta seu direito. O decoro não pode ser cobrado, pois nem mesmo existe nas outras esferas. Por que existir no Judiciário? Ainda hoje, ter acesso ao magistrado é quase um favor. Primeiro você fala com o secretário do juiz, que irá analisar (sim, a palavra é esta) se você, como advogado, tem o direito de falar com o juiz. Será que aquele estudante, hoje servidor público (juiz, promotor etc.), que aguentou tantas horas de estudo e dedicação, ainda não aprendeu que a razão de existir do cargo que ele hoje ocupa é porque existe quem faça a demanda chegar até ele?! Esta pessoa, surpreendentemente, é o advogado. O Judiciário reformado terá que necessariamente colocar em prática o respeito mútuo entre os formadores de um processo judicial.
Enfim, esperamos que o legislativo possa ser mais qualitativo do que quantitativo nas reformas ora em andamento e que o Judiciário possa sofrer a sua própria reforma em busca simplesmente de eficiência e moralidade nos serviços prestados. Hoje, o Judiciário descompromissado segue o movimento dos barcos, dizendo a todos: "tô cansado e você também.. vou sair sem abrir a porta e não voltar nunca mais, desculpa a paz que lhe roubei". Alijado de todos, o Judiciário não chega ao porto. Para os que nele atuam só sobra a ressaca. Veremos então como ele ousará reagir à ela.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 26/06
Accor anuncia aporte de R$ 290 mi no Nordeste
O grupo Accor anuncia hoje o investimento de R$ 290 milhões para a construção de 19 hotéis na região Nordeste nos próximos dois anos.
Com os contratos que serão divulgados, a rede terá mais cem hotéis em implantação no continente, sendo 88 deles no Brasil.
"O ritmo de crescimento do Nordeste é superior ao do resto do país. Como nossos hotéis na região são voltados para o turismo de negócios, consideramos que há muitas boas oportunidades por lá", afirma o diretor-geral da Accor na América Latina, Roland de Bonadona.
Entre as cidades que receberão novos empreendimentos estão Mossoró (CE), Imperatriz (MA) e Vitória da Conquista (BA), além de capitais como Fortaleza, Recife, Aracaju e Salvador.
"A escolha das localidades foi feita a partir de um índice interno que avalia características como densidade populacional, presença de shoppings e aeroportos e nível de desenvolvimento", diz Abel Castro, diretor do grupo.
A maior parte dos hotéis (17 dos 19) será de categoria econômica, de acordo com a companhia, que dividirá o investimento com parceiros.
Mesmo com o aporte no Nordeste, que representará 2.900 quartos, a região Sudeste seguirá líder no que se refere a hotéis em implantação pela rede, com 36 unidades.
Fora do Brasil, o Chile é o país com mais empreendimentos em construção ou com contratos já assinados.
No ano passado, o Brasil foi responsável por 90% do faturamento total da Accor, de US$ 1,03 bilhão.
Cidades do Brasil caem em ranking das mais caras para expatriados
O custo de vida para expatriados nas cidades brasileiras diminuiu, de acordo com levantamento da consultoria Eca International.
O Rio de Janeiro, que ocupava a 24ª posição no ranking dos lugares mais caros em 2011, passou para o 31º lugar neste ano.
São Paulo e Brasília, que estavam em 28º e 33º, ocupam agora a 36ª e a 45ª posição, respectivamente.
A inflação em patamar mais baixo e a desvalorização do real colaboraram para a queda das cidades brasileiras no ranking, de acordo com a pesquisa.
Na América do Sul, Caracas continua sendo a capital mais cara, em 12º lugar. Em 2011, a cidade aparecia em 15º.
O Japão permanece como líder do ranking, com quatro cidades -Tóquio, Nagoya, Yokohama e Kobe.
Em obras A Odebrecht Realizações Imobiliárias faturou R$ 1,5 bilhão e lançou empreendimentos de R$ 3 bilhões em 2011 no país.
Engenheiro... Cerca de 58% dos profissionais graduados em engenharia trabalham em empresas de grande porte, segundo amostra de 105 mil currículos cadastrados no site de carreira vagas.com.br. Outros 24% estão em empresas de médio porte e 13%, em companhias pequenas.
...ocupado Microempresas e atividades autônomas absorvem 5%. Aproximadamente 38% atuam no nível de supervisão, gerência e diretoria. Nos últimos dois anos, 46% informaram mudança de trabalho.
58% é a parcela dos profissionais de engenharia que trabalham em empresas de grande porte
24% atuam em companhias de médio porte
38% atuam em supervisão, gerência e diretoria
46% informaram que mudaram de emprego nos últimos dois anos
Nova... A JCB, companhia inglesa fabricante de retroescavadeiras, passará a produzir rolos de compactação e manipuladores telescópicos no Brasil a partir do próximo ano.
...produção As duas linhas novas fazem parte do projeto de expansão da empresa no país. Foram investidos US$ 100 milhões na construção de uma fábrica em Sorocaba (SP).
Lanche... O McDonald's inaugura mais seis unidades até 6 de julho. As regiões Sudeste, Sul e Nordeste receberão as lojas. Serão localizadas em Juiz de Fora (MG), Porto Alegre (RS), Barra Velha (SC), São Paulo (SP) e Salvador (BA).
...rápido Há um mês, o McDonald's inaugurou sua primeira unidade no Ceará fora de Fortaleza, em Juazeiro do Norte. A empresa deu início a um projeto de expansão no Nordeste, onde abriu unidades em Vitória da Conquista (BA) e Petrolina (PE).
Relações Portugal promoveu mudanças no corpo diplomático para intensificar as relações comerciais com o Brasil. O cônsul-geral em São Paulo, Paulo Lourenço, veio de Angola para elevar as negociações.
Vestuário... A Assembleia Legislativa de São Paulo analisará no segundo semestre um projeto de lei que obriga fabricantes de roupas e de calçados a destinarem 5% da sua produção para tamanhos especiais.
...sob medida Abit e Sindifranca discordam da medida.
Negócios A SKF do Brasil amplia seu portfólio de negócios no país com a chegada da SKF Marine Industry Service Centre, do segmento naval. Há expansão também de outros setores, como petróleo e gás e energia. Uma nova plataforma de serviços chega com a divisão para mecatrônica.
EMPREGO SEM RITMO
O crescimento do emprego na construção civil se desacelerou em maio no país, com a geração de 17,2 mil novos empregos com carteira assinada, segundo o SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).
O resultado é inferior aos 33,8 mil novos contratados no mesmo mês de 2011, mas ainda representa aumento, de 0,51%, em relação a abril.
No Estado de São Paulo, as companhias do setor da construção somavam 857,7 mil empregados com carteira assinada, o que representa uma queda de 0,09% na comparação com abril.
No fim de maio, o setor empregava 3,36 milhões de trabalhadores no país, de acordo com o levantamento do SindusCon-SP.
No ponto certo - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/06
Na democracia, são indispensáveis o direito de defesa e o devido processo legal, mesmo nos julgamentos políticos. Isso faltou ao presidente Fernando Lugo. Se está escrito na Constituição que um ato sumaríssimo pode retirar o presidente do exercício do seu mandato, isso é sinal de imperfeição da democracia paraguaia. A região foi assolada demais por ditaduras para aceitar agressões aos valores democráticos.
O Brasil fez bem em demonstrar a gravidade do tema, desde o primeiro instante, através da reunião de emergência dos presidentes da América do Sul, do envio do chanceler Antonio Patriota, da convocação do embaixador, e ao ser a favor da suspensão do Mercosul e da Unasul.
Não há muito mais o que fazer. Mas isso é forte o suficiente para o Brasil deixar claro sua discordância com a maneira com que Lugo foi retirado do cargo. Impeachment existe em qualquer país, e os casos Nixon e Collor mostram isso. Em ambos, houve investigação, direito de defesa, e o processo legal foi respeitado. O fato de Collor ter sido absolvido pela Justiça tem a ver com as falhas da peça da Procuradoria Geral da República, mas os elementos de formação de culpa no processo no Congresso foram suficientemente robustos. Não há comparação possível entre os casos de impeachment no Brasil e no Paraguai.
Lugo não foi bom presidente, e já não tinha o mínimo apoio no Congresso, como se viu. Mas isso não torna legítimo o ato da sua deposição. O fato de ser um governo ruim não justifica que seja retirado do poder sem passar pelos trâmites normais. A democracia exige respeito aos seus pilares incontornáveis e aos seus rituais.
O governo Lula sempre defendeu os métodos de Hugo Chávez de, na aparente legalidade, desrespeitar as regras democráticas. Aos poucos, Chávez destruiu a independência dos poderes, solapou a liberdade de imprensa, revogou a alternância no poder. Foi reeleito várias vezes e pode até voltar a sê-lo, mas isso não torna democrático o seu governo. Ele usou a democracia contra a democracia. O fato de o governo brasileiro ter dado demonstrações públicas de concordância com os métodos de Chávez não é justificativa para se pedir a mesma leniência com o Paraguai.
No caso de Honduras, a diplomacia brasileira estava certa quando condenou imediatamente a deposição de Manuel Zelaya. Errou quando permitiu que a embaixada passasse a ser um centro de propaganda e articulação política do presidente deposto.
Um continente devastado por ditaduras, e que tem tido mais períodos autoritários do que de plenitude democrática, tem que ser rígido nesta questão. Por isso, a imediata condenação por parte do Brasil é a atitude correta. O fato de o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral do Paraguai ter comunicado ontem que reconhece o governo como legítimo é tão bom quanto o subserviente Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela concordar com todas as barbaridades executadas pelo governo Chávez. O governo brasileiro usou dois pesos e duas medidas, mas errou com Chávez e acertou com o Paraguai. Um erro não justificaria outro erro. Já era hora de a diplomacia acertar o passo e não relativizar valores.
Os eleitores paraguaios já tinham encontro marcado com as urnas, em abril de 2013, para decidir ou não por trocar o comando político do país. A maneira serena como Lugo reagiu à deposição é correta. As armas estavam apontadas contra os populares que o apoiavam. Qualquer outra atitude poderia levar a um conflito com mortes. E todos sabem de que lado penderiam as vítimas: do lado que não estava armado.
A relação com o Paraguai é complexa, por isso, antes de falar em retaliação comercial é preciso olhar números e fatos. O Brasil tem superávit comercial. Em 2011, nosso saldo foi positivo em US$ 2,25 bilhões: exportamos US$ 2,96 bilhões e importamos US$ 715 milhões. Mas esse número não conta tudo.
A estatística do comércio bilateral não registra o fornecimento de energia, que é o mais relevante nos negócios entre os dois países. As exportações de energia para a Argentina e as importações da Venezuela entram na balança comercial. O argumento para o não registro é que Itaipu é uma empresa binacional. Argumento desprovido de razão, porque é uma binacional mas que tem divisão clara. Metade da energia é do Brasil, a outra metade é do Paraguai, mas o país vizinho tem que vender preferencialmente para o Brasil. E vende quase toda a energia que tem disponível porque consome pouco. Os dados da empresa, fornecidos ontem, foram que no ano passado o Brasil pagou US$ 268 milhões pela energia paraguaia.
O Paraguai é dramaticamente dependente da usina, e o Brasil depende da energia fornecida pelo Paraguai. Vem de Itaipu quase 20% de toda a energia elétrica consumida no país. Como o sistema é interligado, qualquer problema de fornecimento afetaria todo o Brasil. Os brasiguaios que garantem a produção agrícola do Paraguai estão eufóricos com a queda de Lugo porque temiam o movimento campesino.
O tema não é trivial. A atitude certa é a parcimônia no falar, a eloquência no gesto diplomático, e o cuidado nas reações na economia.
Nove meses, o parto do golpe - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 26/06
Usar a máquina pública foi o motivo oculto por trás do fulminante processo contra Lugo
Usar a máquina pública foi o motivo oculto por trás do fulminante processo contra Lugo
O "New York Times" espantou-se com o fato de que o presidente Fernando Lugo foi afastado quando faltam apenas nove meses para a eleição de seu sucessor.
O espanto caberia, se não fosse o fato de que são precisamente esses nove meses que explicam o fuzilamento sumário do então presidente. No Paraguai, muito mais do que no Brasil, o uso da máquina pública é crucial para ganhar eleições.
E a máquina pública paraguaia é uma obra do Partido Colorado, que ocupou o poder sem interrupções desde 1947 até a vitória de Lugo em 2008. Sem contar o período 1887/1904 em que também foi dominante.
Para recuperar o poder em 2013, os colorados precisavam evitar que Lugo atrapalhasse o uso da máquina, na qual continuam bem incrustados, apesar da derrota de 2008.
Da mesma forma, os liberais precisam do poder -que ocuparam por quase 40 anos, desde a chamada "Revolução Liberal" de 1904- para ganhar com um nome de seus próprios quadros.
Em 2008, tiveram de pegar carona na candidatura de Lugo, fornecendo o vice-presidente, o hoje presidente Federico Franco, e o apoio parlamentar de seus 14 senadores e 27 deputados.
Lugo de aliado passava a ser um estorvo, mesmo não podendo candidatar-se de novo ele próprio (a Constituição veda a reeleição).
Juntou-se então a fome de poder de ambos os grandes partidos com a vontade de comer o pleito de 2013 -e Lugo virou um cadáver político. Ainda mais que a eles se somou o movimento criado pelo general golpista Lino Oviedo.
Os três grupos, somados, têm 38 senadores em 45 e 62 deputados em 80. Nenhuma surpresa, pois, com a forte maioria obtida primeiro para a instauração do processo de impeachment e, em seguida, para o fuzilamento sumário do presidente.
Posto de outra forma: a derrubada de Lugo foi o primeiro movimento para a sucessão. O próprio Lugo, em entrevista à Telesur venezuelana, adotou essa interpretação ao dizer que "há indícios sérios e claros de que Horacio Cartes está por trás [do julgamento político], [porque] sabe que sua candidatura não está crescendo".
Cartes é o pré-candidato favorito no Partido Colorado, mas precisa da máquina para decolar.
Ele apareceu nos papéis do Departamento de Estado dos EUA vazados pelo WikiLeaks como vinculado ao narcotráfico, relembrou ontem o jornal "El País". Claro que ele nega, como quase todos os políticos acusados de crimes.
Dado que os vizinhos sul-americanos do Paraguai ameaçam suspendê-lo até que eleições democráticas em abril devolvam o país à plenitude democrática, o que é um reconhecimento implícito de que o afastamento de Lugo é irreversível, cabe uma pergunta, especialmente à diplomacia brasileira: vale, para o Paraguai, a ideia de que é absolutamente intocável a soberania de todo e qualquer país, conceito aplicado, por exemplo, às ditaduras da Síria e da Líbia?
Ou seria no mínimo prudente vigiar a campanha eleitoral para evitar que métodos e dinheiros pouco limpos levem ao poder uma figura sob suspeita em um vizinho e sócio?
O espanto caberia, se não fosse o fato de que são precisamente esses nove meses que explicam o fuzilamento sumário do então presidente. No Paraguai, muito mais do que no Brasil, o uso da máquina pública é crucial para ganhar eleições.
E a máquina pública paraguaia é uma obra do Partido Colorado, que ocupou o poder sem interrupções desde 1947 até a vitória de Lugo em 2008. Sem contar o período 1887/1904 em que também foi dominante.
Para recuperar o poder em 2013, os colorados precisavam evitar que Lugo atrapalhasse o uso da máquina, na qual continuam bem incrustados, apesar da derrota de 2008.
Da mesma forma, os liberais precisam do poder -que ocuparam por quase 40 anos, desde a chamada "Revolução Liberal" de 1904- para ganhar com um nome de seus próprios quadros.
Em 2008, tiveram de pegar carona na candidatura de Lugo, fornecendo o vice-presidente, o hoje presidente Federico Franco, e o apoio parlamentar de seus 14 senadores e 27 deputados.
Lugo de aliado passava a ser um estorvo, mesmo não podendo candidatar-se de novo ele próprio (a Constituição veda a reeleição).
Juntou-se então a fome de poder de ambos os grandes partidos com a vontade de comer o pleito de 2013 -e Lugo virou um cadáver político. Ainda mais que a eles se somou o movimento criado pelo general golpista Lino Oviedo.
Os três grupos, somados, têm 38 senadores em 45 e 62 deputados em 80. Nenhuma surpresa, pois, com a forte maioria obtida primeiro para a instauração do processo de impeachment e, em seguida, para o fuzilamento sumário do presidente.
Posto de outra forma: a derrubada de Lugo foi o primeiro movimento para a sucessão. O próprio Lugo, em entrevista à Telesur venezuelana, adotou essa interpretação ao dizer que "há indícios sérios e claros de que Horacio Cartes está por trás [do julgamento político], [porque] sabe que sua candidatura não está crescendo".
Cartes é o pré-candidato favorito no Partido Colorado, mas precisa da máquina para decolar.
Ele apareceu nos papéis do Departamento de Estado dos EUA vazados pelo WikiLeaks como vinculado ao narcotráfico, relembrou ontem o jornal "El País". Claro que ele nega, como quase todos os políticos acusados de crimes.
Dado que os vizinhos sul-americanos do Paraguai ameaçam suspendê-lo até que eleições democráticas em abril devolvam o país à plenitude democrática, o que é um reconhecimento implícito de que o afastamento de Lugo é irreversível, cabe uma pergunta, especialmente à diplomacia brasileira: vale, para o Paraguai, a ideia de que é absolutamente intocável a soberania de todo e qualquer país, conceito aplicado, por exemplo, às ditaduras da Síria e da Líbia?
Ou seria no mínimo prudente vigiar a campanha eleitoral para evitar que métodos e dinheiros pouco limpos levem ao poder uma figura sob suspeita em um vizinho e sócio?
O BIS adverte sobre o risco do crédito - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 26/06
Cinco anos depois do estouro da bolha financeira no mundo rico, chegou a hora de Brasil, China, Turquia, Indonésia e outros emergentes tomarem cuidado com a rápida expansão do crédito. O alerta foi lançado pelo BIS, o Banco de Compensações Internacionais, também conhecido como banco central dos bancos centrais, em seu recém-divulgado relatório anual. Não há alarmismo na advertência, mas é bom levar a sério o aviso. Na edição de junho de 1994, o relatório apontou a deterioração veloz das contas mexicanas. O país afundou seis meses depois, enquanto governantes, investidores financeiros e funcionários de agências de classificação de risco faziam cara de surpresa.
Mais conhecido por seu trabalho na área de regulação bancária, o BIS tem-se mantido, ano após ano, como um centro respeitado de análise de conjuntura e de tendências. O risco de uma bolha de crédito nos emergentes é apenas um dos motivos de preocupação apontados no documento. A descrição dos quadros da Europa e dos Estados Unidos continua muito sombria. Durante 20 anos, a partir de agora, os países desenvolvidos precisarão acumular superávits primários - isto é, sem contar a despesa dos juros - para levar a dívida pública aos níveis anteriores à crise.
A advertência sobre o perigo de uma bolha nos países emergentes é uma das novidades do relatório. Outros sinais de risco foram apontados em documentos anteriores. Agora, o foco é a expansão dos financiamentos. O crédito tem crescido muito mais que o Produto Interno Bruto (PIB) em vários emergentes e essa tendência se acentuou recentemente. A diferença entre o crescimento dos empréstimos e o da produção, o "gap do crédito", chegou a 13,5 pontos porcentuais nos últimos três anos no Brasil.
A valorização de alguns ativos - especialmente dos imóveis - é um dos sintomas do descompasso entre o aumento dos empréstimos e o aumento do PIB. Desde o começo da crise das hipotecas nos Estados Unidos, os preços dos imóveis aumentaram 113,4% no Rio de Janeiro e 86,3% em São Paulo.
Consultores brasileiros contestaram a avaliação dos economistas do BIS, negando o risco de uma bolha imobiliária no País. Segundo argumentam, há um enorme déficit habitacional e, portanto, uma demanda sem caráter especulativo. Além disso, o crédito imobiliário representa apenas 5% do PIB (81% nos Estados Unidos e 106% na Holanda) e há uma rígida vigilância sobre o sistema financeiro. Mas a rápida valorização dos imóveis em São Paulo e no Rio de Janeiro é incontestável e dificilmente se poderia classificá-la como normal. Além disso, a análise do BIS é mais ampla e refere-se à veloz expansão do conjunto dos empréstimos ao setor privado.
O aumento da inadimplência também já foi apontado por organizações brasileiras especializadas na avaliação das condições do crédito. Coincidentemente, mais um conjunto de informações foi divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas. Na faixa de renda mensal de até R$ 2.100, 23,4% dos entrevistados declararam ter mais de 51% de seus ganhos comprometidos com pagamentos de gastos com cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas e outros tipos de financiamentos. Na faixa imediatamente superior, até R$ 4.800, o comprometimento de mais de 51% da renda mensal afeta 24,1% dos consumidores. O grupo menos endividado, com obrigações equivalentes a apenas 12,5% dos ganhos, é o das pessoas com renda acima de R$ 9.600.
No caso do Brasil, a advertência do BIS tem uma implicação clara: há limites um tanto estreitos para uma política de crescimento econômico baseada em grande parte na expansão do crédito e no estímulo ao mercado interno. O crédito ao setor privado ainda representa, no País, algo entre 45% e 50% do PIB. A proporção é bem maior em outras economias. Os técnicos do BIS e do Fundo Monetário Internacional sabem disso. O dado preocupante, segundo eles, é outro: é a velocidade do crescimento dos empréstimos. Além do mais, uma política de estímulo ao mercado interno dificilmente irá longe, se o governo descuidar das condições da oferta - fato comprovado pelos problemas da indústria brasileira diante da invasão dos importados.
"C'est la vie" - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 26/06
RIO DE JANEIRO - "Política é a arte de engolir sapos." A frase pode ser alterada, trocando-se a palavra "arte" por outra: "necessidade".
E não se aplica apenas aos profissionais que se dedicam e, em alguns casos, se beneficiam com a obrigação de comer batráquios, mas àqueles que torcem e chegam a se entusiasmar com os artistas ou com os necessitados de se alimentar com um produto que ainda não faz parte da cesta básica.
A foto de Lula na casa de Maluf, a cordialidade do encontro de dois sobas da nossa vida pública e o acordo para eleger o novo prefeito de São Paulo fizeram clamar até "os paralelepípedos da rua Lins de Vasconcelos" -essa imagem era usada pelo Nelson Rodrigues.
Mas o estupor de tanta gente não foi inédito. Lembro outra foto que causou indignação geral. Preso durante anos por Getúlio Vargas, o líder comunista Luís Carlos Prestes, logo que saiu de uma longa prisão, compareceu e foi fotografado ao lado do ditador num comício, aqui no Rio. Durante a Segunda Guerra Mundial, os democratas Roosevelt e Churchill saíram numa foto ao lado do ditador Stálin, todos num mesmo barco e com a mesma cordialidade.
Três notórios adversários -JK, Jango e Carlos Lacerda-, ao se aliarem numa frente ampla contra o regime militar, se abraçaram em Lisboa e em Montevidéu, esquecendo os insultos e até mesmo as infâmias que trocaram entre si.
"C'est la vie" -explicou uma prostituta francesa ao freguês que lhe perguntara por que exercia a profissão mais antiga do mundo.
Embora pessimista integral, ainda espero que os dois mais antigos adversários do mundo -Deus e Satanás-, depois de séculos em que danaram tantas almas, se reconciliem e tirem uma foto se abraçando, numa capa em quatro cores da revista "Caras".
Agravamento da crise atinge as contas externas - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO
Valor Econômico - 26/06
O agravamento da crise internacional já é bastante visível na contas externas e obrigou o Banco Central (BC) a rever as previsões para o balanço de pagamentos. As restrições ao crédito reduziram a expectativa de captações externas e investimentos em ações. A desaceleração da economia internacional diminuirá o saldo da balança comercial. Por outro lado, a conjuntura diminuirá os gastos com viagens ao exterior e as remessas de lucro e dividendos das multinacionais. Mas os investimentos estrangeiros diretos manterão o ritmo esperado. No balanço geral, o déficit em conta corrente brasileiro até acabará diminuindo, mas a revisão dos números deve ser encarada como um alerta.
Até agora, não faltaram armas ao governo para responder às novas pressões. Ao concluir que a oferta de novos empréstimos mal vai cobrir as amortizações do ano, o governo retirou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% sobre as operações de até cinco anos, mantendo a tributação para as até dois anos. Os empréstimos mais longos tiveram a tributação elevada há menos de três meses, em março, para desestimular o investimento especulativo que, na avaliação não admitida oficialmente, apreciava a cotação do real.
O BC esperava um ingresso menor de empréstimos em moeda estrangeira, depois que a rolagem atingiu 460% em 2011, com um superávit de US$ 47 bilhões. Com as barreiras tributárias criadas, a expectativa era que os novos empréstimos cobririam os US$ 41 bilhões que vencem neste ano e ainda sobrariam US$ 6,9 bilhões. Mas, agora, mesmo depois da retirada do IOF para as operações mais longas, estima-se que os novos empréstimos mal cobrirão os vencimentos, com sobra de meros US$ 100 milhões. Nem em 2009, quando a crise causou a retração da economia brasileira, a entrada de capital foi tão fraca. Naquele ano, a captação líquida foi de US$ 6,754 bilhões.
Efeitos negativos da crise internacional e incertezas com crescimento global devem limitar também os investimentos em ações em US$ 8 bilhões, e não mais em US$ 12 bilhões.
Já a projeção para o fluxo líquido de Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi mantida em US$ 50 bilhões, um número que pode ser conservador. Em maio, o investimento estrangeiro direto diminuiu para US$ 3,7 bilhões em comparação com US$ 4,7 bilhões em abril. A previsão para junho é que o fluxo volte a aumentar e atinja US$ 4,8 bilhões. Se isso se confirmar, o primeiro semestre vai fechar com saldo de cerca de US$ 28 bilhões. No ano passado, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 66,66 bilhões.
Por conta da desaceleração econômica global e do recuo do preço das commodities, o Banco Central também alterou a previsão para a balança comercial. O saldo esperado foi reduzido de US$ 21 bilhões para US$ 18 bilhões - quase a metade dos US$ 29,8 bilhões de 2011 - por conta de exportações US$ 10 bilhões menores, de US$ 258 bilhões; e importações US$ 7 bilhões maiores, em US$ 240 bilhões.
Por outro lado, a apreciação do dólar deve arrefecer as saídas de recursos. Uma dessas despesas são os gastos com viagens internacionais, que devem diminuir de US$ 15,5 bilhões para US$ 13,3 bilhões. Impacto mais significativo houve nas remessas de lucros e dividendos, que perderam o ímpeto registrado em 2011 por causa da desaceleração da atividade econômica, que reduziu a lucratividade das empresas, e da taxa de câmbio menos atrativa. A expectativa do BC é que as remessas de lucros e dividendos ao exterior vão encolher US$ 10 bilhões em relação aos US$ 38 bilhões antes esperados.
Em maio, as remessas de lucros e dividendos ao exterior somaram US$ 2,55 bilhões líquidos, acumulando US$ 8,44 bilhões nos primeiros cinco meses do ano, 43% em comparação com igual período de 2011. A indústria automobilística foi a que registrou maior recuo nas remessas de lucro, de US$ 2,3 bilhões em 2011 para US$ 703 milhões neste ano.
Apesar do cenário sombrio, o resultado da reavaliação das contas externas feita pelo governo acabou resultando em uma diminuição do déficit em conta corrente de US$ 68 bilhões anteriormente esperados para US$ 56 bilhões, que ainda serão em boa parte financiados pelo investimento estrangeiro direto.
O novo quadro traçado pelo Banco Central deve ser, porém, acompanhado de perto, pois pode ficar muito pior dependendo dos desdobramentos da crise na zona do euro. Não será surpresa se o governo voltar a reduzir a incidência de IOF sobre os empréstimos em moeda estrangeira como ocorreu em junho.
A eurolândia e o mundo - ANTONIO DELFIM NETTO
Valor Econômico - 26/06
A eurolândia é, seguramente, a maior construção política do século XXI. Destina-se a trazer a paz perpétua a um continente com mais de mil anos de guerras fratricidas, que destruíram milhões de vidas e boa parte das riquezas construídas (trabalho humano congelado em investimentos) nos interregnos entre elas. Trata-se de um arranjo tão necessário e tão ambicioso, que ignorou os ensinamentos acumulados pela economia nos últimos três séculos.
O grande estadista Helmut Kohl foi o principal construtor da reunificação das duas Alemanhas, em 1990 (com a oposição dos melhores economistas da Alemanha Ocidental). Hoje, 30 anos depois e € 2 trilhões de transferências, ainda não se completou, sugerindo que, apesar de os economistas terem razão, os políticos têm muito mais.
Em 1992, ele se comprometeu com a criação do euro e enfrentou, de novo, a oposição dos economistas alemães. Cento e cinquenta deles publicaram um manifesto criticando a precipitação de introduzir uma moeda sem um mínimo de centralização fiscal para pôr ordem nas finanças dos participantes da futura federação. Kohl respondeu, de novo, que aquilo não era coisa para economista dar palpite. Jogou fora o "manifesto" e sugeriu que, se houvesse problemas, eles seriam resolvidos "trocando os pneus com o carro andando"...
Hoje, por culpa de sua arrogância cientificista, a profissão está em baixa e desacreditada, mas é bom lembrar que, às vezes, até os economistas têm razão. O que lhes falta é entender que a política, por sua própria conta e risco, sempre pretere a economia. Depois que a patifaria promovida pelo sistema financeiro internacional, ajudado pela desregulação chegou à eurolândia, ficou claro que a construção do euro tinha mesmo as dificuldades apontadas pelos economistas na sua concepção original.
Após quase cinco anos de sustos, discussão e dificuldades, começa a emergir o fato de que a única solução possível para a sobrevivência do euro é dar-lhe um país. Ele é a única moeda do mundo à qual falta essa característica fundamental.
A direção do avanço é caminhar e aprofundar as condições para a criação de uma verdadeira federação, o que significa uma união política (praticamente inexistente, apesar do Parlamento Europeu), fiscal (muito tênue, mesmo com as novas condições impostas recentemente: déficits estruturais da ordem de 0,5% do PIB) e bancária (dar ao Banco Central Europeu a regulação efetiva de todo o sistema bancário e ser o emprestador de última instância).
No fundo, a eurolândia precisa percorrer o caminho das federações bem-sucedidas, como os EUA no século XVIII e o Brasil no século XXI: dar à União o poder fiscal de controlar as unidades federadas, comprar as suas dívidas com um papel federal de maior credibilidade (e logo, taxa de juros menor) e dar-lhes mais tempo para resgatá-las.
Tem havido um grande avanço na direção desse diagnóstico, mas as decisões têm de ser aprovadas pelos Parlamentos de todos os países. Isso exige enorme paciência que os famosos "mercados" não têm, porque vivem da volatilidade criada exatamente pela discussão aberta e transparente exigida pelo sistema democrático. O percurso será longo e permeado de "soluços", que criarão instantes passageiros de "distensão" e aumento de "preocupação".
Seria bom ouvir,agora, os desmoralizados economistas
Talvez seja mais fácil entender o processo examinando o gráfico, onde se mostra a união política, a união fiscal e a união bancária (isto é, um verdadeiro Banco Central). Há pouca diferença entre os atores sobre a necessidade de construí-la. O maior problema parece estar na ordem de preferência de cada ator na sua construção.
O gráfico é a minha leitura, seguramente não a única, nem mesmo a "verdadeira" (se é que isso existe). O presidente da França, François Hollande, sugere que se deveria começar pela união fiscal (o que é compreensível pelas "promessas" que fez na sua campanha eleitoral) e, em seguida caminhar para a união bancária (o que se explica pela situação do sistema bancário francês).
O BundesBank (um ator não político, mas constitucionalmente forte na Alemanha) prefere iniciar o processo pela união bancária e prossegui-lo pela união fiscal (o que está de acordo com sua ideologia). E a chanceler Angela Merkel parece insistir na união fiscal e prossegui-la pela união política (o que indica o seu pragmatismo).
Um avanço importante nesse diagnóstico é que é preciso separar o crescimento de longo prazo da disciplina fiscal necessária no curto prazo. Essa exige uma maior cooperação fiscal e uma reestruturação da dívida. Fica cada vez mais claro que não adianta "combater os mercados". As exageradas reduções dos déficits fiscais nominais exigidas para 2012 e 2013 não são críveis. Como estamos vendo, produzir o equilíbrio fiscal com pressa cega e a qualquer custo é, de fato, uma receita para o desastre. Para restabelecer a credibilidade dos programas e obter a cooperação dos "mercados" só existe uma forma: andar adiante da curva.
Seria bom se os políticos ouvissem agora os conselhos dos desmoralizados economistas...
Suprema discórdia - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 26/06
O ofício enviado pelo ministro Carlos Ayres Britto a Ricardo Lewandowski, lembrando dos prazos regimentais para liberar o processo do mensalão, revoltou advogados dos réus e petistas. Para eles, a ação de Britto foi "atípica'' e deve se repetir no julgamento. Ministros do STF defendem Britto e dizem que, ao protelar a liberação, Lewandowski "age contra o colegiado''. Lembram que Cezar Peluso também cobrou celeridade do relator da ação, Joaquim Barbosa, no ano passado.
Justiça móvel Queixando-se de trabalhar diuturnamente, Lewandowski afirma que tem usado voos e até deslocamentos de carro para analisar as provas e os autos do mensalão. "Virei um verdadeiro gabinete ambulante", descreve o ministro.
Dupla sertaneja Ao entregar memorial de defesa ontem para o ministro Luiz Fux, o advogado Antonio Almeida de Castro, o Kakay, reclamou que a denúncia do mensalão trata seus clientes, Duda Mendonça e Zilmar Fernandes, como um único réu. "Parecem Leandro e Leonardo.''
Gula Petistas pressionam o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Eunício Oliveira (CE), para ter a relatoria do processo contra Demóstenes Torres (GO) na comissão. Mas o peemedebista deve nomear Pedro Taques (PDT-MT), já que o PT relatou o caso no Conselho de Ética.
Gota d'água O Itamaraty informou ao Palácio do Planalto que o impeachment de Fernando Lugo ganhou corpo após a nomeação de Rubén Candia para o Ministério do Interior. Ele assumiu o cargo após o confronto com 17 mortes no país, mas era o candidato de Lugo à sua sucessão.
De pé Em reunião no Palácio do Alvorada, no sábado, a presidente Dilma Rousseff disse a ministros que seguirá as decisões multilaterais que isolam o Paraguai, mas que o Brasil não pretende "implodir a ponte da Amizade".
Virada O TSE deve revogar hoje resolução que torna inelegíveis os candidatos que tiveram contas de campanhas rejeitadas. Os partidos recorreram da decisão do tribunal e, com a troca de Ricardo Lewandowski por José Antonio Dias Toffoli, a previsão é de placar de 4 x 3 para liberar os "contas sujas".
Bandeira Tucanos partidários da chapa "puro-sangue" devem aproveitar a reunião da direção do PSDB paulistano, hoje, para oficializar o pleito a José Serra. Vão sugerir para vice Andrea Matarazzo ou Edson Aparecido.
Fogo cruzado No QG de Serra, a pressão causa desconforto e há quem diga que um gesto ostensivo retardará ainda mais a composição da chapa majoritária. Gilberto Kassab repete a aliados que insistirá na indicação de seu ex-secretário de Educação Alexandre Schneider (PSD).
Piquete Sindicalistas do PSD desmobilizaram caravana de 400 militantes que participaria da convenção de Serra anteontem. O presidente licenciado da UGT, Ricardo Pattah, que também pleiteava a vice, viajou para Portugal dizendo-se escanteado pela organização do evento.
Low profile Prevista para a tarde de sábado, no salão nobre da Câmara, a convenção do PT que oficializará a candidatura de Fernando Haddad será compacta, com expectativa de reunir 400 pessoas. Pela manhã, o petista cumprimentará convencionais do PSB e PC do B.
Lá e cá A exemplo do PSB, que controla a Secretaria de Participação e Parcerias, o PC do B manterá seus cargos no governo Kassab mesmo após a aliança com Haddad. Os comunistas controlam a Secretaria Especial de Articulação da Copa.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Se o vice não for tucano, o clima de frustração no PSDB será grande. Já cedemos muito a aliados, agora é hora de unificar o partido."
DO TESOUREIRO DO PSDB MUNICIPAL, FABIO LEPIQUE, sobre a expectativa de escolha da chapa de José Serra na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Contraponto
Velas em dois altares
Gabriel Chalita escolheu a Praça da Sé e o mesmo horário marcado para a missa em celebração do Dia do Imigrante para sua convenção, no último domingo. Católico, o candidato do PMDB se preocupou com o barulho do evento político, que poderia atrapalhar a missa.
-Somos descendentes de imigrantes, vamos à missa e depois fazemos a convenção, decidiu o candidato.
Então ele e o vice-presidente da República, Michel Temer, foram à celebração na Catedral da Sé. A estratégia funcionou, e o cardeal, em vez de reclamar do barulho, saudou a presença dos políticos ao culto dominical.
As leis - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 26/06
Egito e Paraguai não têm muita coisa em comum, a não ser a fragilidade de suas democracias. Eis países que gostariam de se ver caminhando em direção à consolidação democrática, mas que descobrem como tal caminho pode ser atrapalhado, vejam só, pelas leis.
Certamente, uma afirmação dessa natureza será rapidamente contraposta pelos ditos defensores do Estado democrático de Direito.
Na verdade, tais defensores querem nos fazer acreditar que as leis que temos devem sempre ser respeitadas, sob o risco de entrarmos em situações de puro arbítrio nas quais o mais forte impõe sua vontade. Eles esquecem como, muitas vezes, criamos leis que visam permitir que grupos interfiram e fragilizem os processos democráticos. Ou seja, leis que são, na verdade, a mera expressão da vontade dos grupos sociais mais fortes.
Isso explica porque a democracia, muitas vezes, avança por meio da quebra das leis. Ela reconhece que ações hoje vistas como criminosas possam ser, na verdade, portadoras de exigências mais amplas de justiça. Foi assim, por exemplo, com as greves -compreendidas durante muito tempo como crimes, e aceitas hoje como direito de todo trabalhador. Vale a pena lembrar desse ponto porque vimos no Egito e no Paraguai situações exemplares do uso da lei contra a democracia.
No Egito, um tribunal constitucional dissolveu o primeiro Parlamento democraticamente eleito da sua história por julgar inconstitucional uma lei parlamentar que proibia membros do regime ditatorial de Mubarak de participar de eleições. Não só a lei aprovada pelo Parlamento era justa, como o ato de dissolvê-lo por julgar inconstitucional uma de suas ações é claramente uma aberração. Mas tal golpe foi feito na mais clara "legalidade" e sem nenhuma manifestação da comunidade internacional.
Já no Paraguai, o Congresso votou o impeachment do presidente em um processo sumário, que durou algumas horas e sob a acusação nebulosa de incompetência (há de perguntar qual parlamentar escaparia de uma acusação dessa natureza). Tal lei serve apenas para tornar o presidente refém de um Congresso que, há mais de cem anos, representa as mesmas oligarquias. Um processo sério de impeachment exigiria amplos direitos de defesa e esclarecimento. Mas tudo foi feito "legalmente".
Diga-se, de passagem: até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito "legalmente", já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vacante a Presidência por Goulart ter "abandonado" o governo ao procurar abrigo no RS, tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como nem sempre estamos protegidos pelas leis.
Egito e Paraguai não têm muita coisa em comum, a não ser a fragilidade de suas democracias. Eis países que gostariam de se ver caminhando em direção à consolidação democrática, mas que descobrem como tal caminho pode ser atrapalhado, vejam só, pelas leis.
Certamente, uma afirmação dessa natureza será rapidamente contraposta pelos ditos defensores do Estado democrático de Direito.
Na verdade, tais defensores querem nos fazer acreditar que as leis que temos devem sempre ser respeitadas, sob o risco de entrarmos em situações de puro arbítrio nas quais o mais forte impõe sua vontade. Eles esquecem como, muitas vezes, criamos leis que visam permitir que grupos interfiram e fragilizem os processos democráticos. Ou seja, leis que são, na verdade, a mera expressão da vontade dos grupos sociais mais fortes.
Isso explica porque a democracia, muitas vezes, avança por meio da quebra das leis. Ela reconhece que ações hoje vistas como criminosas possam ser, na verdade, portadoras de exigências mais amplas de justiça. Foi assim, por exemplo, com as greves -compreendidas durante muito tempo como crimes, e aceitas hoje como direito de todo trabalhador. Vale a pena lembrar desse ponto porque vimos no Egito e no Paraguai situações exemplares do uso da lei contra a democracia.
No Egito, um tribunal constitucional dissolveu o primeiro Parlamento democraticamente eleito da sua história por julgar inconstitucional uma lei parlamentar que proibia membros do regime ditatorial de Mubarak de participar de eleições. Não só a lei aprovada pelo Parlamento era justa, como o ato de dissolvê-lo por julgar inconstitucional uma de suas ações é claramente uma aberração. Mas tal golpe foi feito na mais clara "legalidade" e sem nenhuma manifestação da comunidade internacional.
Já no Paraguai, o Congresso votou o impeachment do presidente em um processo sumário, que durou algumas horas e sob a acusação nebulosa de incompetência (há de perguntar qual parlamentar escaparia de uma acusação dessa natureza). Tal lei serve apenas para tornar o presidente refém de um Congresso que, há mais de cem anos, representa as mesmas oligarquias. Um processo sério de impeachment exigiria amplos direitos de defesa e esclarecimento. Mas tudo foi feito "legalmente".
Diga-se, de passagem: até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito "legalmente", já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vacante a Presidência por Goulart ter "abandonado" o governo ao procurar abrigo no RS, tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como nem sempre estamos protegidos pelas leis.
O mal do mundo não tem mais rosto - ARNANDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 26/06
Um dos dramas de hoje é que não há mais fatos - só expectativas. A história vai devagar e por linhas tortas. A última grande mudança foi a queda das torres em NY. Em dez minutos, nossa vida mudou. A obra de arte de Osama foi ter criado um fato. E o Ocidente acorreu para esmagar o herege, o psicopata que criou um acontecimento em um país que imaginava ter controle do seu destino. Ele ousou "acontecer". Se ele abriu o precedente, tudo ficou possível. Só um maluco, um marginal, poderia furar o cordão sanitário da vida controlada. Mas Osama não era maluco. Ele criou a imagem das torres caindo por toda a eternidade, gravada no tempo, como a Queda da Bastilha, o Holocausto e a destruição de Hiroshima. Osama nos trouxe de volta à realidade, furou a barreira virtual do nossoTruman Show.
Havia no ar um desejo de destruição da "paz americana", mesmo entre os americanos. Em cada detalhe da vida, havia indícios: em filmes-catástrofe gozando o arrasamento de NY, nos livros sempre distópicos de "science fiction" e até na arquitetura, como sacou o arquiteto italiano Paolo Portoghesi, quando disse que a forma do museu de Frank Gehry em Bilbao é o desejo de um desabamento. Os americanos têm uma relação de amor/ódio com o implacável progresso que os acorrenta a uma escravização produtiva.
Eu mesmo, profetinha autoproclamado, já escrevi que aquelas agulhas góticas e infinitas pareciam pedir destruição. Que pode acontecer a uma lança herética arranhando os céus de Deus? A queda. Só a queda. Havia uma fome de fatos no ar; Osama veio satisfazê-la. Achavam que a técnica era invencível em sua marcha fria para um futuro sem 'sujeitos', previsível e programado. Osama nos fascinou porque assumiu o papel de 'sujeito da história', como os marxistas se proclamavam antigamente. Sozinho, destruiu a técnica com as armas da técnica, numa homeopatia apocalíptica. E se o impossível acontece, a liberdade se restaura - nos ensina o ato gratuito do terror.
Até o 11 de setembro, tínhamos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias. Uma liberdade vagabunda para nada, para o exercício de um narcisismo ilusório, o fetiche de uma liberdade transformada em produto de mercado. A gente pode se drogar, se suicidar, sofrer, mas repensar o mundo na prática, essa 'macroliberdade' é impossível; ela é privilégio das grandes corporações, que podem planejar o Sistema, eliminando regras nacionais, podem se fundir em megaconglomerados, pois elas têm a desculpa de não terem rosto. Aliás, até o Mal ficou difuso. Onde está o mal, hoje? Entre os terroristas, no meio da miséria, entre fezes? O Mal ficou arcaico. Por isso, o mal dos terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, esse inferno 'clean' que o capital inventou. E não adianta tentar a "beleza do Mal" como busca invertida do Bem. Já foi tentado: o culto à perversão, à violência ideológica, à crueldade por 'bons' motivos, tudo. Nada deu em nada.
Existe hoje no mundo um novo Mal, um Mal sem culpados visíveis. O Mal no mundo atual é o "incompreensível". Como disse Baudrillard: "Contra o Mal, só temos o fraco recurso dos direitos humanos." As coisas nos desapossaram do mundo. Desde que me entendo, nunca vi uma mutação tão intempestiva. Não é nas mentalidades, mas na matéria da vida, nas engrenagens que movem o mundo. Talvez, a Crise de 2008 tenha começado com a desmoralização das torres caídas. O 11 de setembro foi o início da Crise atual.
Este fato que mudou o Ocidente está ali em NY, deflorado, negro buraco, e, por mais que tentemos, não conseguiremos desfazer a ligação entre os fios invisíveis que unem a loucura do fanatismo do Oriente até nossa vida pessoal.
Precisamos de uma forma nova de "transcendência", abolida pelo consenso tecnocientífico; precisamos de um novo "holismo". Uma nova liberdade se tornou urgente, a liberdade de não ser moderno, de não ser tão 'livre' assim como quer o mercado. Precisamos de um ideário que acrescente alguma inutilidade ao mundo, pois o futuro foi apossado pelo marketing dos novos produtos. Precisamos de fatos, e não de expectativas, precisamos de um conjunto orgânico de verdades (ou de crenças mesmo) que espiritualize nosso vazio. Osama, como um profeta de cabeça para baixo, nos lembrou que a vida real é um mistério.
Este artigo me ocorreu porque estava lendo ensaios de Paul Valéry, que nos anos 30 já previa com espantosa clareza o mundo que vivemos hoje. Paul Valéry foi um misto de pensador e de poeta. Inseriu-se na linhagem de escritores transgressivos que tinham como expoentes Edgar Allan Poe e Mallarmé. A partir de 1892, renunciou à poesia e consagrou-se ao culto exclusivo da razão e inteligência. Em 1894 se instalou em Paris e no ano seguinte publicou ensaios filosóficos: Introdução ao método de Leonardo da Vinci eMonsieur Teste, este último foi uma série de dez fragmentos em que expõe o poder da mente voltada à observação e dedução dos fenômenos.
Cito aqui trechos de um pensador visionário que pensava através da poesia, livre das camisas de força da história obrigatória das ideias. (Sem dúvida, ele dá um sentido melhor a este 'artigo-cabeça' de hoje.)
"A imagem do caos é um caos. A desordem do mundo atual (...) nos habitua intimamente a ela; nós a vivemos, nós a respiramos, nós a fomentamos e ela acaba por ser uma verdadeira necessidade nossa. Nós encontramos a desordem à nossa volta e dentro de nós mesmos, nos jornais, nos dias e noites, em nossas atitudes, nos prazeres, até em nosso saber. A desordem nos anima e o que nós criamos nos leva a lugares desconhecidos e mesmo onde não queremos ir." (A Política do Espírito).
Ou então: "A vida social exige a presença de coisas ausentes; a ordem resulta do equilíbrio dos instintos pelos ideais." (...) "Uma sociedade que elimine tudo que é vago ou irracional, para impor o mensurável e o verificável, poderá sobreviver?" (Prefácio das Cartas Persas)
Ou seja, como ele disse, o futuro não será mais o que era...
O governo Dilma parece velho - MARCO ANTONIO VILLA
O GLOBO - 26/06
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.