O GLOBO - 15/06
O Salgueiro, que terá patrocínio da “Caras” para contar a busca do homem por beleza e notoriedade, foi autorizado a captar, pela Lei Rouanet, R$ 4.939.520. Ou seja, o meu, o seu, o nosso dinheiro será usado para falar de ricos e famosos.
Navio sob perigo
O JBS tentou na Justiça, em vão, arrestar esse navio famoso do Greenpeace ancorado na Baía de Guanabara, na Rio+20. A ONG foi proibida esta semana de divulgar um relatório no qual o frigorífico é acusado de crimes contra o meio ambiente.
Monteiro Lobato
O ministro Luiz Fux marcou para 11 de setembro audiência para discutir a ação movida no STF pelo movimento negro contra o MEC por financiar a edição de “As caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato. O livro, como se sabe, é acusado de ter “conteúdo racista”.
Huck é sustentável
Luciano Huck contratou o Inmetro para verificar se sua casa é suficientemente sustentável. Recebeu conceito “A” pelo aproveitamento máximo da iluminação e da ventilação naturais e pela eficiência do aquecimento da água. Um fofo.
No mais
A Holanda está fechando oito prisões por... falta de presos. Que tal o país do Cachoeira exportar uns meliantes para lá? Com todo o respeito.
Voz dos aeroportos
Guarulhos e Congonhas não contam mais com a voz inconfundível de Íris Lettieri. Os aeroportos paulistas rescindiram o contrato com a locutora, que continua no Galeão- Tom Jobim e no Santos Dumont. Boa viagem.
DOMINGO, NA entrada do Engenhão, onde jogarão Flamengo e Santos, os torcedores vão topar com este cartaz, em tamanho gigante, e uma caixa (foto menor) para doações de... camisas de Ronaldinho Gaúcho ao Exército de Salvação. A gaiatice foi bolada por Fábio Meneghini, diretor da agência WMcCann, do corintiano Washington Olivetto. Uma moça estará com o uniforme do Exército de Salvação para arrecadar as camisas do jogador, que, como se sabe, foi à Justiça contra o Fla e fechou com o Atlético-MG. Deus ajude o sem sal Ronaldinho a recuperar seu futebol, olhe pelo Exército de Salvação e não nos desampare e nem ao Flamengo jamais
Grande Cleonice
A acadêmica Cleonice Berardinelle, 95 anos, anunciou que dará à ABL, depois de sua morte, sua biblioteca de 8 mil volumes. Há coleções completas de amigos como José Saramago, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade com dedicatórias.
Zé Ramalho na rede
Depois de quatro anos, Zé Ramalho lançará um CD autoral. O guitarrista Robertinho de Recife coproduz o disco e assina a direção do clipe futurista da canção “Sinais”, que começa a ser vendida dia 26 no iTunes Brasil.
De volta à indústria
O ex-governador Albano Franco inaugurou a Sabe, uma fábrica de laticínios, em Muribeca, Sergipe, onde investiu R$ 95 milhões.
Quem dá mais?
O TJ do Rio vai promover dia 28 agora leilão de 39 imóveis e sete sucatas de aeronaves da massa falida da finada Varig, avaliados em uns R$ 42 milhões. Os imóveis estão em oito estados. Um deles, no Lago Sul, em Brasília. O evento está a cargo dos leiloeiros De Paula, Silas Barbosa, Rodrigo Portella e Jonas Rymer.
Eu também quero
O tucano Otávio Leite representou no TRE contra o canal a cabo ESPN Brasil, porque o coleguinha Juca Kfouri entrevistou Marcelo Freixo, do PSOL, que, assim como ele, é candidato a prefeito do Rio. Deseja também ser ouvido.
Nota fiscal+20
O restaurante Terra Viva, um dos escolhidos pela ONU para a praça de alimentação da Rio+20, no Riocentro, não dá nota fiscal. Sei não. Confundiram natureba com informal.
Ator danadinho
Em plena Rio+20, Ana de Hollanda foi prestigiar o evento Drive-in, que reúne performance e instalações no Armazém da Utopia, na Zona Portuária. À vontade, a ministra tirou os sapatos e entrou num carroinstalação intitulado... “B... cósmica”, de Bayard Tonelli, ex-Dzi Croquete. Lá em Morro Agudo... deixa pra lá.
sexta-feira, junho 15, 2012
Os fortes se protegem - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 15/06
Ninguém na CPI foi mais poderoso do que o dono da Delta, nem mesmo os governadores. Nesse sentido, 17 integrantes da comissão perderam ontem a chance de mostrar que Cavendish mentia quando insinuava a compra de parlamentares
É intrigante observar o vai e vem dos partidos dentro da CPI que investiga as relações entre o contraventor Carlos Cachoeira e autoridades públicas. Idem nas conversas em torno das eleições municipais. Na CPI, por exemplo, ontem ficou muito claro o retorno dos políticos aos seus devidos lugares no cenário político. Depois da mistura entre oposicionistas e governistas na hora de convocar os governadores, os grandes retomaram suas cadeiras, graças ao pedido de convocação de Fernando Cavendish, o dono da Delta Construções. Não houve, até o momento, nome mais expressivo do que o dele para reunificar PT e PMDB, os maiores partidos que vivem às turras em quase todos os momentos, especialmente, nas eleições municipais. O empresário se mostra mais poderoso do que os governadores.
E, cá entre nós, chega a doer ver deputados e senadores recusarem a simples aprovação de um pedido para que Cavendish vá depor na CPI, ainda que deixassem a marcação da data para outra oportunidade. E olha que isso ocorre depois de a sociedade tomar conhecimento de gravações em que o empreiteiro parece contar vantagem e insinuar que com R$ 6 milhões tem um parlamentar na mão. No mínimo, 17 integrantes da comissão, puxados pelo relator, Odair Cunha (PT-MG), perderam uma boa oportunidade de provar que Cavendish mentiu ao se referir a tão nobres representantes eleitos pelo povo para compor o Poder Legislativo nacional.
No plano macro, ficou explícito que a maior parcela dos governistas, em especial, PT e PMDB, não quer a CPI de olho em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tampouco desejam ver o ex-diretor do Departamento de Infraestrutura em Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot apresentando sua versão sobre o que ocorreu por ali no ano de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff era candidata a presidente da República em parceria com Michel Temer. Fadados a seguir juntos pelo menos até o fim deste governo, os dois partidos protegem-se na CPI e deixam a briga para os palanques eleitorais, seara em que a desconfiança mútua prossegue em ritmo acelerado.
Por falar em desconfiança…
Os peemedebistas hoje acompanharão de orelha em pé o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o ex-presidente Lula. O governador segue para São Paulo logo depois da reunião de governadores em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, que permanece centrada na defesa da economia. Dilma sabe que a economia é o pilar que sustenta o seu governo e aglutina os aliados. Ela também tem plena consciência de que o PMDB nunca se sentiu tão desconfortável. De uma noiva cobiçada pelos petistas há dois anos, quando ofereceu seu presidente Michel Temer para compor a chapa com Dilma, o PMDB se vê hoje como aquela esposa que o marido — no caso, o PT — incentiva a viajar ao exterior, a fim de ficar livre para passear com a antiga namorada dos tempos das “vacas magras”, o PSB.
Enquanto o PMDB anda pelo mundo, o PSB nesta sexta-feira dirá a Lula que fecha com Fernando Haddad para prefeito de São Paulo. A ideia é apresentar a deputada Luiza Erundina como candidata a vice para compor a chapa. Feito isso, os socialistas pretendem comunicar a Lula que a culpa pela situação de racha em Pernambuco se deve ao próprio PT, incapaz de se unir em torno de um candidato para concorrer à prefeitura de Recife. Ora, Eduardo Campos é tão forte em seu território quanto o ex-presidente Lula. Nesse cenário, deixará claro que é melhor esses dois fortes buscarem uma proteção mútua — ou seja, um candidato do PSB — do que seguirem com um petista que já sai enfraquecido pela divisão no próprio PT. Assim, Lula e Eduardo são bem capazes de ficarem com essa proteção mútua para evitar surpresas no futuro.
Por falar em surpresas…
Os peemedebistas têm toda razão em acompanhar de perto essas conversas de Lula e Eduardo Campos. Embora esteja cada vez mais claro que Dilma Rousseff é o nome petista para 2014 e haja interesse em manter a parceria com o PMDB, a vida eleitoral em São Paulo ao longo do primeiro turno tende a afastar os dois partidos. Afinal, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato a prefeito, é educador e Haddad, ex-ministro da Educação. Embates nesse campo virão, apesar de todo o esforço de Chalita para centrar os ataques em José Serra, o nome do PSDB. E, como você sabe, leitor, eleição, assim como CPI sempre deixam feridas abertas. A diferença é que, em eleição, invariavelmente, os fortes, quando podem, concorrem entre si. Em CPI, geralmente, eles se protegem. Essa CPI do Cachoeira não parece ser exceção. Infelizmente.
Ninguém na CPI foi mais poderoso do que o dono da Delta, nem mesmo os governadores. Nesse sentido, 17 integrantes da comissão perderam ontem a chance de mostrar que Cavendish mentia quando insinuava a compra de parlamentares
É intrigante observar o vai e vem dos partidos dentro da CPI que investiga as relações entre o contraventor Carlos Cachoeira e autoridades públicas. Idem nas conversas em torno das eleições municipais. Na CPI, por exemplo, ontem ficou muito claro o retorno dos políticos aos seus devidos lugares no cenário político. Depois da mistura entre oposicionistas e governistas na hora de convocar os governadores, os grandes retomaram suas cadeiras, graças ao pedido de convocação de Fernando Cavendish, o dono da Delta Construções. Não houve, até o momento, nome mais expressivo do que o dele para reunificar PT e PMDB, os maiores partidos que vivem às turras em quase todos os momentos, especialmente, nas eleições municipais. O empresário se mostra mais poderoso do que os governadores.
E, cá entre nós, chega a doer ver deputados e senadores recusarem a simples aprovação de um pedido para que Cavendish vá depor na CPI, ainda que deixassem a marcação da data para outra oportunidade. E olha que isso ocorre depois de a sociedade tomar conhecimento de gravações em que o empreiteiro parece contar vantagem e insinuar que com R$ 6 milhões tem um parlamentar na mão. No mínimo, 17 integrantes da comissão, puxados pelo relator, Odair Cunha (PT-MG), perderam uma boa oportunidade de provar que Cavendish mentiu ao se referir a tão nobres representantes eleitos pelo povo para compor o Poder Legislativo nacional.
No plano macro, ficou explícito que a maior parcela dos governistas, em especial, PT e PMDB, não quer a CPI de olho em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tampouco desejam ver o ex-diretor do Departamento de Infraestrutura em Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot apresentando sua versão sobre o que ocorreu por ali no ano de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff era candidata a presidente da República em parceria com Michel Temer. Fadados a seguir juntos pelo menos até o fim deste governo, os dois partidos protegem-se na CPI e deixam a briga para os palanques eleitorais, seara em que a desconfiança mútua prossegue em ritmo acelerado.
Por falar em desconfiança…
Os peemedebistas hoje acompanharão de orelha em pé o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o ex-presidente Lula. O governador segue para São Paulo logo depois da reunião de governadores em Brasília com a presidente Dilma Rousseff, que permanece centrada na defesa da economia. Dilma sabe que a economia é o pilar que sustenta o seu governo e aglutina os aliados. Ela também tem plena consciência de que o PMDB nunca se sentiu tão desconfortável. De uma noiva cobiçada pelos petistas há dois anos, quando ofereceu seu presidente Michel Temer para compor a chapa com Dilma, o PMDB se vê hoje como aquela esposa que o marido — no caso, o PT — incentiva a viajar ao exterior, a fim de ficar livre para passear com a antiga namorada dos tempos das “vacas magras”, o PSB.
Enquanto o PMDB anda pelo mundo, o PSB nesta sexta-feira dirá a Lula que fecha com Fernando Haddad para prefeito de São Paulo. A ideia é apresentar a deputada Luiza Erundina como candidata a vice para compor a chapa. Feito isso, os socialistas pretendem comunicar a Lula que a culpa pela situação de racha em Pernambuco se deve ao próprio PT, incapaz de se unir em torno de um candidato para concorrer à prefeitura de Recife. Ora, Eduardo Campos é tão forte em seu território quanto o ex-presidente Lula. Nesse cenário, deixará claro que é melhor esses dois fortes buscarem uma proteção mútua — ou seja, um candidato do PSB — do que seguirem com um petista que já sai enfraquecido pela divisão no próprio PT. Assim, Lula e Eduardo são bem capazes de ficarem com essa proteção mútua para evitar surpresas no futuro.
Por falar em surpresas…
Os peemedebistas têm toda razão em acompanhar de perto essas conversas de Lula e Eduardo Campos. Embora esteja cada vez mais claro que Dilma Rousseff é o nome petista para 2014 e haja interesse em manter a parceria com o PMDB, a vida eleitoral em São Paulo ao longo do primeiro turno tende a afastar os dois partidos. Afinal, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), pré-candidato a prefeito, é educador e Haddad, ex-ministro da Educação. Embates nesse campo virão, apesar de todo o esforço de Chalita para centrar os ataques em José Serra, o nome do PSDB. E, como você sabe, leitor, eleição, assim como CPI sempre deixam feridas abertas. A diferença é que, em eleição, invariavelmente, os fortes, quando podem, concorrem entre si. Em CPI, geralmente, eles se protegem. Essa CPI do Cachoeira não parece ser exceção. Infelizmente.
Corporativismo médico - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 15/06
SÃO PAULO - Como estou até agora recebendo e-mails indignados por ter defendido, na coluna de domingo passado, que médicos deleguem mais tarefas a outros profissionais, acho que vale um comentário sobre a regulamentação do ato médico, projeto de lei que tramita no Congresso há uma década.
É verdade que, na comparação com as versões anteriores, o substitutivo da Câmara representa um grande avanço. Psicólogos, dentistas, fonoaudiólogos etc. não estão mais impedidos de fazer os diagnósticos necessários à sua profissão. Não obstante, a proposta ainda conserva tons escandalosamente corporativistas.
Apenas a ânsia por tentar estabelecer a maior reserva de mercado possível explica a existência de dispositivos que tornariam a colocação de piercings e a aplicação de tatuagens atos privativos de médicos.
Foram com tanta sede ao pote que produziram até uma piada involuntária, ao tornar o sexo uma zona restrita: segundo o art. 4º, parágrafo 4º, III, "a invasão dos orifícios naturais do corpo" é prática exclusiva da classe.
Na mesma linha vai o art. 5º, que proíbe os não médicos de chefiar serviços médicos ou lecionar disciplinas médicas. Isso numa época em que, na ciência, as fronteiras entre medicina, biologia, química, física etc. são cada vez mais difusas.
Diga-se em favor dos médicos que não foram eles que deram início a essas restrições. Eles só reproduziram e aperfeiçoaram dispositivos constantes das regulamentações profissionais das categorias que agora se queixam do corporativismo médico.
No fundo, o problema são as raízes fascistas que permeiam a sociedade brasileira. As pessoas não se veem como cidadãs de uma República, mas como representantes de uma categoria profissional que seria detentora de direitos naturais. O que se busca é sacramentar em lei suas reivindicações e usar a autoridade do Estado para implementá-las.
SÃO PAULO - Como estou até agora recebendo e-mails indignados por ter defendido, na coluna de domingo passado, que médicos deleguem mais tarefas a outros profissionais, acho que vale um comentário sobre a regulamentação do ato médico, projeto de lei que tramita no Congresso há uma década.
É verdade que, na comparação com as versões anteriores, o substitutivo da Câmara representa um grande avanço. Psicólogos, dentistas, fonoaudiólogos etc. não estão mais impedidos de fazer os diagnósticos necessários à sua profissão. Não obstante, a proposta ainda conserva tons escandalosamente corporativistas.
Apenas a ânsia por tentar estabelecer a maior reserva de mercado possível explica a existência de dispositivos que tornariam a colocação de piercings e a aplicação de tatuagens atos privativos de médicos.
Foram com tanta sede ao pote que produziram até uma piada involuntária, ao tornar o sexo uma zona restrita: segundo o art. 4º, parágrafo 4º, III, "a invasão dos orifícios naturais do corpo" é prática exclusiva da classe.
Na mesma linha vai o art. 5º, que proíbe os não médicos de chefiar serviços médicos ou lecionar disciplinas médicas. Isso numa época em que, na ciência, as fronteiras entre medicina, biologia, química, física etc. são cada vez mais difusas.
Diga-se em favor dos médicos que não foram eles que deram início a essas restrições. Eles só reproduziram e aperfeiçoaram dispositivos constantes das regulamentações profissionais das categorias que agora se queixam do corporativismo médico.
No fundo, o problema são as raízes fascistas que permeiam a sociedade brasileira. As pessoas não se veem como cidadãs de uma República, mas como representantes de uma categoria profissional que seria detentora de direitos naturais. O que se busca é sacramentar em lei suas reivindicações e usar a autoridade do Estado para implementá-las.
Alô, fiscalização - SONIA RACY
O ESTADÃO - 15/06
Ao tentar baratear obra, o consórcio Andrade Mendonça, BWA e Construtora Galvão está gerando reações.
A Eheim –fabricante das cadeiras definidas como apropriadas para o estádio do Castelão, em Fortaleza – descobriu que o consórcio encomendou todos os 66,5 mil assentos na China. Iguaizinhos ao modelo patenteado pela empresa alemã.
E acionou a matriz e autoridades chinesas contra a falsificação feita por fábricas locais.
Fiscalização 2
Pelo que se apurou, a cópia custa 40% menos e, diferentemente do que exige a lei brasileira, é feita com material inflamável.
De gatos e lebres
A nota fiscal jurava que o contêiner abrigava 80 quilos de lula congelada. Mas o que o Ibama encontrou no aeroporto internacional Pinto Martins, em Fortaleza, foram 248 kg de… lagosta. E mais da metade com tamanho bem abaixo do permitido.
O instituto está, agora, à caça do importador.
Cariocas
Dois eventos importantes durante a Rio+20. Israel Klabin comemora os 20 anos de sua Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Sábado, em São Conrado.
E Richard Branson, do Virgin Group, reúne trio do grupo The Elders em almoço, dia 19. Entre eles, FHC. Na pauta, paz, justiça e direitos humanos.
Dúvida cruel
Há ceticismo para dar e vender sobre o resultado da Rio+20. Falta, entretanto, clareza sobre o que seria possível extrair de concreto das negociações. Se ninguém espera nada, como muitos têm soprado aos quatro ventos, cabe a pergunta: o que seria mesmo “um fracasso”?
Redondo
O mercado financeiro não gostou do novo plano de negócios da Petrobrás – aprovado, quinta-feira, pelo conselho.
A estatal acredita que foi por falta de maiores explicações, que seriam dadas esta semana. Por causa da Rio+20, a “falação” foi adiada para dia 25. Com direito, depois, a road-show em NY e Londres.
Noivado
A aliança entre PSD e PT em São Paulo não enterrou costura de Kassab e Eduardo Campos para lançar candidato à presidência da Câmara e enfrentar Henriqu e Eduardo Alves, do PMDB.
O plano é atrair, ainda, o PC do B para a empreitada.
Noivado 2
Ao que tudo indica, a aliança em 2013 seria uma prévia da disputa presidencial em 2014, quando Campos pretende se juntar a Kassab para desbancar o PMDB da parceria preferencial com Dilma.
Noivado 3
No PSB, o nome lembrado para a Câmara é o de Márcio França, presidente do PSB paulista.
O deputado deixou o governo do tucano Alckmin depois que a cúpula nacional de seu partido ordenou apoio a Haddad na eleição para a Prefeitura.
Rock’n’angels
Quem for ao ferro-velho Cicloaço assistir ao desfile da Cavalera, sábado, se deparará com anjos.
Daniela Thomas inspirou-se em Asas do Desejo, do diretor alemão Wim Wenders. Todos vestidos de preto, os querubins terão asas brancas e representarão a estética rock’n’roll religiosa do tema, “Salvador Rocks”.
Luz das estrelas e brilho dos paetês
Ivete Sangalo, Alcione, Cauby Peixoto. Os gêneros musicais são bem diferentes, mas os figurinos… A baiana, a maranhense e o rei da voz escolheram brilhar durante cerimônia de entrega do Prêmio da Música Brasileira, segundo publicou ontem o E+ do Estadão online.
Ivete, super em forma num vestido colado e brilhoso, cintura marcada e decote apenas nas costas, poderia levar o troféu da mais bem vestida. Alcione, que por vezes peca pelo exagero, arrebentou toda de preto. Cauby, premiado como melhor cantor, combinou blusa e gravata brilhantes com terno mais sóbrio do que o habitual. Já Gaby Amarantos chegou parando o foyer do Municipal carioca com um inacreditável arranjo de cabeça de penas altas e LEDs vermelhos (ver acima). O vestido, do tipo envelope, mostrava silhueta enxuta.
No palco, muita animação entre Gaby e Zeca Pagodinho, incluindo medley de discursos feminino e masculino. Brincaram de se paquerar e até deram selinho no fim do número. A cantora trocou de roupa: surgiu com um estranho vestido que parecia uma camiseta costurada a uma anágua. Na cabeça, outro arranjo, que acabou se soltando no meio de uma música. A paraense nem badalou na festa que se seguiu, no Jockey Club, para a qual a maioria rumou: estava com febre alta e correu para a cama.
Quem também “causou”, como de costume, foi Luana Piovani, apresentadora, com Zélia Duncan. Começou a noite de terninho, enquanto Zélia, que, em geral, adota looks menos femininos, estava com um vestido de baile. No meio da noite, trocaram de estilo, e Luana, já com o mesmo corpo de antes da gravidez (ela deu à luz no fim de março), surgiu com um vestido preto de paetês glamouroso, cabendo a Zélia o traje masculino. Lendo o texto em homenagem a João Bosco no teleprompter, as duas pareciam seguras na função – em anos anteriores, desempenhada por atrizes com experiência nesse tipo de tarefa, como Fernanda Torres e Regina Casé. Mas, já no começo, Luana se atrapalhou. “Devagar! Assim, você está querendo me derrubar!”/ROBERTA PENNAFORTE
Probos da corte - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 15/06
Se o Brasil fosse um país sério, o próximo passo da CPI do Cachoeira seria uma acareação entre Marconi Perillo e Agnelo Queiroz para ver quem é mais honesto.
Esse empate técnico de honradez inatacável estabelecido nos depoimentos em separado dos governadores cria na sociedade uma certa desconfiança sobre tudo que foi dito em defesa própria sem grandes contestações dos inquiridores.
O povo não é bobo! Como é que, com tanto safado por aí, a Polícia Federal e o Ministério Público foram pegar no pé logo dos dois maiores probos da corte?
Aí tem!
Se a base parlamentar do governo e a oposição não derem um jeito de ao menos disfarçar melhor o esquema de proteção aos governadores de Goiás e do DF, cada um com seu cada qual, a política vai se desmoralizar de vez junto com eles.
Só dizer "não me meça pela sua régua", como está na moda em Brasília para mostrar indignação, é pouco.
A opinião pública quer saber: entre Marconi e Agnelo, qual deles é mais honesto? Não precisa nem quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico dos dois, se um deles quebrar a cara, já está ótimo, né não?
Mifu
O carioca - ô, raça! - incorporou gíria nova ao jargão dos engarrafamentos: ficar "encapsulado numa escolta" é a maior roubada do trânsito na cidade durante a Rio+20.
A que ponto...
Enquanto a polícia mapeia as áreas de maior risco para se comer fora em São Paulo, já tem restaurante na cidade cogitando promover treinamento de arrastão para funcionários e clientes, com a ajuda de atores em performance de bandidos. É muito importante que, quando acontecer de verdade, todos saibam exatamente o que fazer para ninguém sair ferido!
Ela merece!
Finalmente aprovado na sessão de ontem da CPI do Cachoeira, o depoimento de Andressa Mendonça ainda não tem data marcada para acontecer, mas deve motivar de imediato nova tentativa da Playboy para quebrar todos os sigilos da mulher do bicheiro.
Rio+20
Responda rápido: jogar conversa fora é crime ambiental?
Vai ficar odara
Quem ouviu Caetano Veloso cantando Luz do Sol na Rio+20 saiu do Forte de Copacabana na noite de quarta-feira com a sensação de que o mundo não vai acabar coisa nenhuma.
Tarde demais
Diante da capacidade demonstrada pela primeira-dama Valérie Trierweiler de se meter em confusão, os franceses começam agora a dar valor a Carla Bruni! Ainda bem que aqui no Brasil a gente não tem esse tipo de problema!
Se o Brasil fosse um país sério, o próximo passo da CPI do Cachoeira seria uma acareação entre Marconi Perillo e Agnelo Queiroz para ver quem é mais honesto.
Esse empate técnico de honradez inatacável estabelecido nos depoimentos em separado dos governadores cria na sociedade uma certa desconfiança sobre tudo que foi dito em defesa própria sem grandes contestações dos inquiridores.
O povo não é bobo! Como é que, com tanto safado por aí, a Polícia Federal e o Ministério Público foram pegar no pé logo dos dois maiores probos da corte?
Aí tem!
Se a base parlamentar do governo e a oposição não derem um jeito de ao menos disfarçar melhor o esquema de proteção aos governadores de Goiás e do DF, cada um com seu cada qual, a política vai se desmoralizar de vez junto com eles.
Só dizer "não me meça pela sua régua", como está na moda em Brasília para mostrar indignação, é pouco.
A opinião pública quer saber: entre Marconi e Agnelo, qual deles é mais honesto? Não precisa nem quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico dos dois, se um deles quebrar a cara, já está ótimo, né não?
Mifu
O carioca - ô, raça! - incorporou gíria nova ao jargão dos engarrafamentos: ficar "encapsulado numa escolta" é a maior roubada do trânsito na cidade durante a Rio+20.
A que ponto...
Enquanto a polícia mapeia as áreas de maior risco para se comer fora em São Paulo, já tem restaurante na cidade cogitando promover treinamento de arrastão para funcionários e clientes, com a ajuda de atores em performance de bandidos. É muito importante que, quando acontecer de verdade, todos saibam exatamente o que fazer para ninguém sair ferido!
Ela merece!
Finalmente aprovado na sessão de ontem da CPI do Cachoeira, o depoimento de Andressa Mendonça ainda não tem data marcada para acontecer, mas deve motivar de imediato nova tentativa da Playboy para quebrar todos os sigilos da mulher do bicheiro.
Rio+20
Responda rápido: jogar conversa fora é crime ambiental?
Vai ficar odara
Quem ouviu Caetano Veloso cantando Luz do Sol na Rio+20 saiu do Forte de Copacabana na noite de quarta-feira com a sensação de que o mundo não vai acabar coisa nenhuma.
Tarde demais
Diante da capacidade demonstrada pela primeira-dama Valérie Trierweiler de se meter em confusão, os franceses começam agora a dar valor a Carla Bruni! Ainda bem que aqui no Brasil a gente não tem esse tipo de problema!
Palmas para todos - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 15/06
CPI do caso Cachoeira se converte em espetáculo constrangedor, enquanto legalidade das investigações da PF sofre contestação
Não poderia estar mais desgastada a ideia do "decoro parlamentar". Mereceriam rubrica especial, entretanto, certas infrações menores que se cometem no Legislativo, como na CPI do caso Cachoeira.
Sem atingir diretamente a moralidade pública, ou sequer a praxe desejável da conduta política, fazem muito para submergi-la ainda mais no descrédito.
Participantes de uma Comissão Parlamentar de Inquérito agora se dedicam a aplaudir investigados; foi o que se viu nos depoimentos dos governadores Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
Ao tucano, a claque de oposicionistas ao governo do PT prestou homenagem. Chegada a hora do petista, fez-se o mesmo -e a foto do líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, apareceu na primeira página da Folha de ontem.
O entusiasmo teve como motivo, entre outros, o melodramático anúncio feito por Agnelo Queiroz, oferecendo acesso a seus dados bancários, fiscais e telefônicos.
"Não é usual o que vou fazer agora", disse o governador, "mas não posso conviver com desconfiança". A bancada situacionista e assessores do intrépido administrador prorromperam em aplausos.
Ocorre que seu sigilo já havia sido quebrado pelo Superior Tribunal de Justiça. O ato de Queiroz visava simplesmente a colocar em situação embaraçosa Perillo, que se recusara a franquear seus dados à CPI. Recusara-se, mas depois recuou. Recuou, mas não totalmente, pois não disse com clareza a que dados se referia.
A desmoralização, que já era grande, ganha assim componentes de teatro cômico. Mas ainda pesam denúncias sérias sobre ligações dos governadores com o esquema liderado por Carlos Cachoeira, envolvendo negócios e contratos com a construtora Delta (que a CPI faz de tudo para preservar).
Um assessor de Queiroz teria recebido celular à prova de grampo do grupo de Cachoeira. "Ele me garantiu que não aconteceu", disse Queiroz à CPI. Aplauda, quem puder, a explicação. Um vereador ligado a Cachoeira teria feito nomeações no governo de Perillo; à CPI o governador nega ter atendido a tais pedidos. Palmas para ele.
Uma derradeira ovação, quem sabe, fica reservada à Polícia Federal (PF). Todo o caso Cachoeira ameaça dissolver-se em vapores impalpáveis. No Tribunal Regional Federal, o relator do processo que examina a legalidade das provas da Operação Monte Carlo considera insuficientes os motivos que embasaram a escuta policial das ligações dos envolvidos.
A decisão aponta, mais uma vez, para possíveis abusos e leviandades da PF. Por falta de provas legitimamente obtidas, tudo desaparece por encanto. Merecem de fato palmas, há de se convir: tem sido primorosa a encenação.
CPI do caso Cachoeira se converte em espetáculo constrangedor, enquanto legalidade das investigações da PF sofre contestação
Não poderia estar mais desgastada a ideia do "decoro parlamentar". Mereceriam rubrica especial, entretanto, certas infrações menores que se cometem no Legislativo, como na CPI do caso Cachoeira.
Sem atingir diretamente a moralidade pública, ou sequer a praxe desejável da conduta política, fazem muito para submergi-la ainda mais no descrédito.
Participantes de uma Comissão Parlamentar de Inquérito agora se dedicam a aplaudir investigados; foi o que se viu nos depoimentos dos governadores Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
Ao tucano, a claque de oposicionistas ao governo do PT prestou homenagem. Chegada a hora do petista, fez-se o mesmo -e a foto do líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, apareceu na primeira página da Folha de ontem.
O entusiasmo teve como motivo, entre outros, o melodramático anúncio feito por Agnelo Queiroz, oferecendo acesso a seus dados bancários, fiscais e telefônicos.
"Não é usual o que vou fazer agora", disse o governador, "mas não posso conviver com desconfiança". A bancada situacionista e assessores do intrépido administrador prorromperam em aplausos.
Ocorre que seu sigilo já havia sido quebrado pelo Superior Tribunal de Justiça. O ato de Queiroz visava simplesmente a colocar em situação embaraçosa Perillo, que se recusara a franquear seus dados à CPI. Recusara-se, mas depois recuou. Recuou, mas não totalmente, pois não disse com clareza a que dados se referia.
A desmoralização, que já era grande, ganha assim componentes de teatro cômico. Mas ainda pesam denúncias sérias sobre ligações dos governadores com o esquema liderado por Carlos Cachoeira, envolvendo negócios e contratos com a construtora Delta (que a CPI faz de tudo para preservar).
Um assessor de Queiroz teria recebido celular à prova de grampo do grupo de Cachoeira. "Ele me garantiu que não aconteceu", disse Queiroz à CPI. Aplauda, quem puder, a explicação. Um vereador ligado a Cachoeira teria feito nomeações no governo de Perillo; à CPI o governador nega ter atendido a tais pedidos. Palmas para ele.
Uma derradeira ovação, quem sabe, fica reservada à Polícia Federal (PF). Todo o caso Cachoeira ameaça dissolver-se em vapores impalpáveis. No Tribunal Regional Federal, o relator do processo que examina a legalidade das provas da Operação Monte Carlo considera insuficientes os motivos que embasaram a escuta policial das ligações dos envolvidos.
A decisão aponta, mais uma vez, para possíveis abusos e leviandades da PF. Por falta de provas legitimamente obtidas, tudo desaparece por encanto. Merecem de fato palmas, há de se convir: tem sido primorosa a encenação.
A história de joelhos - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 15/06
RIO DE JANEIRO - Biógrafos, editores, juristas e demais interessados na liberdade de expressão reuniram-se ontem na Biblioteca Nacional para apoiar o projeto de lei do deputado federal Newton Lima Neto (PT-SP) propondo-se a corrigir os artigos 20 e 21 do Código Civil, que agridem justamente essa liberdade garantida na Constituição. Pelos ditos artigos, que pretendiam proteger as pessoas simples de exposições indevidas, as figuras públicas, inclusive as mortas, ganharam poder de autorizar ou não os livros que contam suas histórias.
Conheço bem essas "autorizações". Uma semana antes da publicação de "Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha", em 1995, o advogado das herdeiras do jogador -sem ter lido o livro- telefonou para ameaçar a Companhia das Letras com um processo por danos morais e falta de autorização. "Mas", acrescentou, "tem acordo...". Que consistia no pagamento de US$ 1 milhão, na época, R$ 1 milhão.
Significa que, com uma "autorização" desse valor, podiam-se praticar quantos danos morais se quisessem e, no caso, o biografado fosse lamber sabão. Para não abrir um precedente fatal, a editora preferiu o processo, o qual resultou na proibição do livro por um ano, arrastou-se por outros 11 e foi danoso para todos, inclusive para as pobres filhas de Garrincha. Pela ferocidade do processo, que assustou muita gente, o craque deixou de inspirar muitos subprodutos que poderiam beneficiá-las.
Uma biografia se compõe do protagonista, de uns 20 personagens secundários e de 200 ou 300 terciários. Com a interpretação que a Justiça dá hoje aos artigos 20 e 21, qualquer um desses, por mais insignificante, pode alegar que "não autorizou" sua participação ou a de seu pai ou avô no livro, e partir para a extorsão.
A cada "autorização" pedida por um biógrafo, é a história do Brasil que rasteja e se humilha.
A literatura variando de temperatura - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 15/06
Meus avós vivem de rendas:
vovó faz
vovô vende
Cineas Santos, poeta piauiense
Não! Eu não me lembrava daquela jovem que estava sentada na primeira fila durante a palestra que fiz em maio de 1977 em Teresina, levado pelo Cineas Santos, homem a quem a literatura brasileira deve uma estátua. Nem poderia imaginar que nos encontraríamos no futuro e ela me daria enorme emoção. Mas antes de chegar a ela, viajemos. Aconteceu assim: desembarcado da Grécia, troquei de mala e segui para Canoas, no Rio Grande do Sul. Sem tempo de me preocupar com fusos horários. Afinal, o que são seis horas mais, seis menos?
Saí com chuvarada de São Paulo e cheguei a Canoas com céu límpido e uma temperatura de zero grau. Para a 29.ª Feira de Livros, que colocou em pauta 300 eventos entre palestras, oficinas, shows, lançamentos. Perceberam que são quase 30 feiras só naquela cidade? E eu não sabia. A cada dia descubro que o movimento é cada vez maior em relação à literatura e formação de leitor. Que há gente se movendo. E como. Falei para uma plateia de jovens na faixa dos 15 ou 16 anos. No dia seguinte, saí de um Rio Grande do Sul com 2 graus negativos, voltei a São Paulo, onde dei ainda com muita água e 12 graus. Foi tempo de refazer a mala e subir para Teresina, onde me esperavam as comemorações para o 10.º Salipi, o Salão Literário do Piauí, definitivamente integrado à geografia cultural brasileira.
Em Teresina me vi envolvido numa temperatura de 35 graus, e estava ameno, confesso. Quem conhece a cidade sabe o que digo. Escritor que vive on the road (ou nos céus) tem de ser resistente, ter físico, tomar vitamina C, habituar-se a mudanças súbitas - o País é grande. Porque de lá segui para Recife, onde estive ontem para a Mostra Sesc de Literatura Contemporânea. Recebi 31 graus sobre a pele.
O Salipi, em Teresina, deixou o antigo centro de convenções e ganhou um espaço cultural, histórico e aconchegante, o Teatro 4 de Setembro. Na abertura, uma apresentação de nos fazer chorar, o Coral Nova Geração, formado por cegos.
O Salão este ano foi dedicado a Francisco Pereira da Silva, dramaturgo, cronista e crítico teatral, cuja obra foi restaurada por Virgilio Costa. Estava tomando um suco de bacuri do Abrahão, instituição em Teresina, quando Virgilio se aproximou. Surpresa. Não só é amigo de uma araraquarense, a Adriana que comanda a livraria Monteiro Lobato em minha cidade, como ainda é filho de Odylo Costa, filho, jornalista a quem fui muito ligado, me ensinou tanto nos tempos em que trabalhei na Abril. Virgilio editou as Obras Completasdo pai, um bom poeta, que andava esquecido. Acasos?
Pelo Salipi passaram Cristovão Tezza, José Castello, Sergio Sant'Anna, Salvador Maranhão, Ivan Proença, Aleilton Fonseca, Marcelino Freire, Isabel Ferreira, de Angola, Ivo Machado, poeta português. A presença da cubana Roxana Pineda Labairo estava quase certa, mas a embaixada brasileira em Havana estava embaçando, afinal, parece que nossas relações exteriores são "cubanófilas", se Fidel e Raúl não querem, nós não queremos... Homenageados por serem centenários foram Jorge Amado, Luiz Gonzaga e Nelson Rodrigues. Sonia Rodrigues estava lá com um livro essencial, Nelson por Ele Mesmo. Viajamos juntos, ela cultua e cultiva a memória do pai, cuja obra foi resgatada, assim como sua biografia. Nelson, quando trabalhei na Última Hora, era visto de vez em quando na redação em São Paulo, eu o contemplava como um ídolo.
Na segunda-feira passada, de manhã, fui para a Assembleia Legislativa. Estava inquieto, essas coisas mexem comigo. Naquele dia me tornei Cidadão Piauiense. Na hora tive uma notícia triste, Wellington Soares, poeta, fundador da Fundação Dom Quixote, um dos idealizadores e promotores do Salipi, deixa este ano a organização. Wellington sempre foi ponta de lança da cultura do seu Estado. Mas todo mundo quer que ele fique! Com Wellington e sua mulher Lucíola, nome de José de Alencar, descobri os autores, viajei pelo Estado, conheci o Delta do Parnaíba, a carne de sol do tio João, o suco do Abrahão, a Casa Meio Norte, a Escola Dom Barreto, primeira colocada no Enem de 2009, para surpresa do Brasil. Fui à escola, caiu-me o queixo com o nível. Tenho falado sobre tudo isso aqui, noCaderno 2, ao longo destes anos.
Duzentos alunos da Casa Meio Norte estavam na plateia, cantaram para mim. Aqueles jovens que leem cerca de 20 livros por mês, fato inacreditável, estavam ali para abraçar um escritor. Depois, juntos, tomamos cajuína e comemos petiscos piauienses.
A ideia de me dar o título foi da deputada Margarete Coelho. "Mas, a aceitação foi unânime", ressaltou ela num curto discurso, nada oficial, solto, gostoso. Para terminar a surpresa, Margarete me revelou: "Naquela noite em que você veio pela primeira vez ao Piauí, em maio de 1977, para falar diante de 700 alunos, do romance Zero, recém-proibido, e comentou literatura, cultura, política, vida, amor, liberdade, havia uma jovem na primeira fila, de olhos bem abertos e ouvidos atentos. Ela estava bem à sua frente. Era eu, fui eu, sou eu. Hoje nos reencontramos, agora como conterrâneos". Acasos?
Problemática x solucionática ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
O Estado de S. Paulo - 15/06
Em muitas das declarações sobre o encontro Rio+20, percebemos um desejo de muitos atores em colocar suas ideias e percepções bem-intencionadas, sem dúvida, a ponto de serem ingênuas por não considerarem a realidade dada pelo crescente aumento populacional, o desejo de melhorias na condição social dos povos e o alinhamento destes com a modernidade dada pelas informações obtidas na internet e com as mordomias nos mesmos padrões que existem nos países desenvolvidos.
Todos esses aspectos, queiramos ou não, implicam o aumento do consumo de energia no nosso planeta, mesmo que os governos tenham o cuidado de elaborar políticas voltadas para o aumento da eficiência energética, visando a otimizar o uso e diminuir o consumo final da energia. Alguns cientistas e ONGs têm feito grande alerta, chamando a atenção para o fato de que, se os Brics quiserem ter os mesmos padrões de consumo de energia que os países desenvolvidos têm hoje, iríamos precisar de mais 4 planetas. Já outros vaticinam que dentro de 20 anos não haverá água potável para toda a população da Terra e com isso haverá falta de alimentos. Ou seja, a água será o recurso natural mais escasso e caro que teremos no futuro.
No contexto de energia e água escassas e caras, outros especialistas mencionam que o regime pluviométrico da Amazônia brasileira será totalmente diverso daquele conhecido atualmente - podendo haver momentos de grandes afluências e outros de seca. Isso nos leva a pensar que, à primeira vista, deveríamos fazer nossas hidrelétricas com reservatórios para a produção de energia elétrica e enfrentar a diversidade que se preconiza, até mesmo, e quem sabe, principalmente, para armazenar a água doce.
O curioso é que, em vez de discutirmos com profundidade e seriedade a pertinência de construir usinas hidrelétricas a fio de água, usinas essas que nos obrigam a abrir mão de energia barata e ao mesmo tempo desperdiçam água doce, ficamos presos a um debate sobre o novo Código Florestal e sobre os artigos que foram vetados pela presidente. É curioso, também, que nos deixamos pautar pelas ONGs internacionais e com isso ficamos reféns de temas como a demarcação de terras indígenas; depois será a vez dos quilombolas e assim vai ser durante a Rio+20, com a repercussão desejada por aqueles que querem que nosso país seja monitorado por um órgão supranacional que definirá regras para preservação ambiental.
Ninguém consegue, com precisão, modelar o futuro do clima e seus impactos no meio ambiente, até porque o nosso planeta é um astro do sistema solar e, como o universo se expande, muitas das variáveis sobre o clima derivam dessa realidade. Por isso, no campo da energia, não podemos nem devemos abrir mão das riquezas naturais do País em função de pressões externas. Do ponto de vista do setor de energia, temos de traçar uma política ambiental equilibrada, sem abrir mão das nossas vantagens comparativas. O que não pode existir é uma política ambiental para o setor de energia elétrica que tenha como único drive a não emissão de CO2, enquanto nos combustíveis se incentiva o consumo de gasolina e diesel e se abandona o etanol e o biodiesel. Hoje, 88% da matriz elétrica brasileira é de fontes renováveis, enquanto na de combustíveis, 81% são fósseis. Parece até que temos dois governos definindo a política ambiental no setor de energia. Um bastante radical e totalmente verde que não admite nenhuma energia que emita CO2 na geração elétrica, e outro sem nenhuma preocupação ambiental no momento em que define a política de combustíveis e que gosta mesmo é de sujar as mãos com óleo.
Os cenários futuros, apesar de traçados na melhor das boas intenções, são aterrorizantes. Na verdade, tem que se considerar que as mudanças climáticas pelas quais nosso planeta passou são conhecidas e estão modeladas, mas a previsão sobre o que o futuro nos reserva é premonição indesejada.
Todos esses aspectos, queiramos ou não, implicam o aumento do consumo de energia no nosso planeta, mesmo que os governos tenham o cuidado de elaborar políticas voltadas para o aumento da eficiência energética, visando a otimizar o uso e diminuir o consumo final da energia. Alguns cientistas e ONGs têm feito grande alerta, chamando a atenção para o fato de que, se os Brics quiserem ter os mesmos padrões de consumo de energia que os países desenvolvidos têm hoje, iríamos precisar de mais 4 planetas. Já outros vaticinam que dentro de 20 anos não haverá água potável para toda a população da Terra e com isso haverá falta de alimentos. Ou seja, a água será o recurso natural mais escasso e caro que teremos no futuro.
No contexto de energia e água escassas e caras, outros especialistas mencionam que o regime pluviométrico da Amazônia brasileira será totalmente diverso daquele conhecido atualmente - podendo haver momentos de grandes afluências e outros de seca. Isso nos leva a pensar que, à primeira vista, deveríamos fazer nossas hidrelétricas com reservatórios para a produção de energia elétrica e enfrentar a diversidade que se preconiza, até mesmo, e quem sabe, principalmente, para armazenar a água doce.
O curioso é que, em vez de discutirmos com profundidade e seriedade a pertinência de construir usinas hidrelétricas a fio de água, usinas essas que nos obrigam a abrir mão de energia barata e ao mesmo tempo desperdiçam água doce, ficamos presos a um debate sobre o novo Código Florestal e sobre os artigos que foram vetados pela presidente. É curioso, também, que nos deixamos pautar pelas ONGs internacionais e com isso ficamos reféns de temas como a demarcação de terras indígenas; depois será a vez dos quilombolas e assim vai ser durante a Rio+20, com a repercussão desejada por aqueles que querem que nosso país seja monitorado por um órgão supranacional que definirá regras para preservação ambiental.
Ninguém consegue, com precisão, modelar o futuro do clima e seus impactos no meio ambiente, até porque o nosso planeta é um astro do sistema solar e, como o universo se expande, muitas das variáveis sobre o clima derivam dessa realidade. Por isso, no campo da energia, não podemos nem devemos abrir mão das riquezas naturais do País em função de pressões externas. Do ponto de vista do setor de energia, temos de traçar uma política ambiental equilibrada, sem abrir mão das nossas vantagens comparativas. O que não pode existir é uma política ambiental para o setor de energia elétrica que tenha como único drive a não emissão de CO2, enquanto nos combustíveis se incentiva o consumo de gasolina e diesel e se abandona o etanol e o biodiesel. Hoje, 88% da matriz elétrica brasileira é de fontes renováveis, enquanto na de combustíveis, 81% são fósseis. Parece até que temos dois governos definindo a política ambiental no setor de energia. Um bastante radical e totalmente verde que não admite nenhuma energia que emita CO2 na geração elétrica, e outro sem nenhuma preocupação ambiental no momento em que define a política de combustíveis e que gosta mesmo é de sujar as mãos com óleo.
Os cenários futuros, apesar de traçados na melhor das boas intenções, são aterrorizantes. Na verdade, tem que se considerar que as mudanças climáticas pelas quais nosso planeta passou são conhecidas e estão modeladas, mas a previsão sobre o que o futuro nos reserva é premonição indesejada.
Rendez-vous em Paris - O GLOBO
O GLOBO - 15/06
Membros da CPI estiveram na capital francesa com Cavendish, cuja convocação foi rejeitada ontem
Chico de Gois
Demétrio Weber
Dois dos integrantes da CPI do Cachoeira estiveram em um restaurante em Paris, na Semana Santa, com Fernando Cavendish, então presidente da Delta. O encontro reuniu o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL). Estava com os dois o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), que não faz parte da comissão de inquérito. Ontem, por 16 votos a 13, a CPI barrou a convocação de Cavendish numa sessão tumultuada. Ciro Nogueira fez discurso e votou contra a convocação. Maurício Quintella Lessa não estava presente.
O encontro do empreiteiro com parlamentares foi denunciado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Indignado com o adiamento da convocação do ex-presidente da Delta, Miro, sem citar nomes, pediu que a CPI investigasse se algum parlamentar tinha se encontrado com Cavendish na França. E alertou que poderia haver uma "tropa do cheque" em ação.
O encontro em Paris ocorreu na volta dos três parlamentares da 126 Assembleia Geral da União Interparlamentar, realizada entre 30 de março e 5 de abril, em Kampala, Uganda. Hugo Napoleão (PSD-PI), Átila Lins (PSD-AM) e Alexandre Santos (PMDB-RJ) também integravam a comitiva para a África. A viagem foi uma missão oficial, e cada um dos parlamentares recebeu US$ 350 de diária, para cinco dias, num total de US$ 1.750 cada. O dinheiro serve para refeições e pagamento de hotel. A despesa aérea, em classe executiva, foi paga à parte pelo Congresso.
Depois da Assembleia, Ciro Nogueira, Maurício Lessa e Eduardo da Fonte voaram para Paris para passar a Semana Santa. As suas mulheres já os aguardavam lá. À época, a CPI não havia sido criada, mas o escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a Delta já tinha vindo à tona.
Ao GLOBO, Nogueira confirmou o encontro, mas disse que foi casual:
- Conheço Cavendish, tenho relação com ele há uns cinco anos. Mas nada que envolva doação de campanha. (Em Paris) Nós só o cumprimentamos. Foi um encontro totalmente casual.
Encontro foi em restaurante famoso
Ele afirmou não recordar o nome do restaurante, mas lembra que ficava na Avenue Montaigne. Essa avenida, junto com a Champs Elysées e a George V, compõe um dos endereços mais chiques - e caros - de Paris, conhecido como Triangle D'Or (Triângulo de Ouro). Embora a Champs Elysées seja mais conhecida dos turistas, é na Montaigne que estão as lojas e restaurantes mais exclusivos.
Segundo Nogueira, os três parlamentares e as mulheres apenas cumprimentaram Cavendish, que, recorda o senador, estava com uma namorada nova, "muito bonita". Ciro Nogueira confirmou a amizade com o ex-presidente da Delta. Em 12 de dezembro de 2009, ele postou no Twitter: "hoje vou ao casamento do meu amigo Fernando Cavendish".
A Delta Construções negou ontem qualquer pagamento a parlamentares no Congresso, bem como eventual encontro de parlamentares com Cavendish "em qualquer lugar que seja". Outra viagem de Cavendish a Paris já causou polêmica: a em que ele apareceu em fotos num jantar ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e secretários do governo do estado.
O GLOBO procurou falar com Maurício Lessa, mas não o localizou. De acordo com o atendente do gabinete, o parlamentar estava em audiência. O GLOBO telefonou para o gabinete do deputado Eduardo da Fonte, mas sua assessoria informou que ele estava voando para Pernambuco e que não seria possível localizá-lo.
Na sessão da CPI, Ciro Nogueira afirmou que não adiantava trazer Cavendish porque ele nada acrescentaria ao trabalho de investigação.
- Será que o doutor Fernando Cavendish vai chegar aqui e vai falar, vai entregar qualquer tipo? Não vai. Ou nos preparamos para a arguição dessas pessoas, ou nós vamos ser desmoralizados, como nós fomos ontem e anteontem - argumentou.
Miro disse que era necessário levar Cavendish à CPI porque a CGU declarou a Delta inidônea:
- Esta comissão se recusa a convocar o presidente da companhia que o governo declarou inidônea. Isso é incompreensível. Isso revela uma tropa do cheque - afirmou Miro.
Ciro Nogueira mostrou-se contrariado com Miro:
- Achei uma maldade extrema. Fiquei surpreso com Miro, porque ele podia ter identificado publicamente as pessoas.
Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara, reagiu:
- Quero me dirigir ao deputado Miro Teixeira. Vou ficar em pé como ele costuma fazer. Não assaque acusações genéricas. Se Vossa Excelência acha que tem um deputado que é da bancada do cheque, vire para o deputado e diga: "É fulano". Eu não sou da bancada do cheque.
Ao site do GLOBO, Miro disse que a "luta contra a blindagem do senhor Cavendish, nós vamos ganhar":
- É injustificável não convocar uma pessoa que diz que compra político. E que varia de R$ 6 milhões a R$ 30 milhões. Isso é injustificável.
Membros da CPI estiveram na capital francesa com Cavendish, cuja convocação foi rejeitada ontem
Chico de Gois
Demétrio Weber
Dois dos integrantes da CPI do Cachoeira estiveram em um restaurante em Paris, na Semana Santa, com Fernando Cavendish, então presidente da Delta. O encontro reuniu o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL). Estava com os dois o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), que não faz parte da comissão de inquérito. Ontem, por 16 votos a 13, a CPI barrou a convocação de Cavendish numa sessão tumultuada. Ciro Nogueira fez discurso e votou contra a convocação. Maurício Quintella Lessa não estava presente.
O encontro do empreiteiro com parlamentares foi denunciado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Indignado com o adiamento da convocação do ex-presidente da Delta, Miro, sem citar nomes, pediu que a CPI investigasse se algum parlamentar tinha se encontrado com Cavendish na França. E alertou que poderia haver uma "tropa do cheque" em ação.
O encontro em Paris ocorreu na volta dos três parlamentares da 126 Assembleia Geral da União Interparlamentar, realizada entre 30 de março e 5 de abril, em Kampala, Uganda. Hugo Napoleão (PSD-PI), Átila Lins (PSD-AM) e Alexandre Santos (PMDB-RJ) também integravam a comitiva para a África. A viagem foi uma missão oficial, e cada um dos parlamentares recebeu US$ 350 de diária, para cinco dias, num total de US$ 1.750 cada. O dinheiro serve para refeições e pagamento de hotel. A despesa aérea, em classe executiva, foi paga à parte pelo Congresso.
Depois da Assembleia, Ciro Nogueira, Maurício Lessa e Eduardo da Fonte voaram para Paris para passar a Semana Santa. As suas mulheres já os aguardavam lá. À época, a CPI não havia sido criada, mas o escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a Delta já tinha vindo à tona.
Ao GLOBO, Nogueira confirmou o encontro, mas disse que foi casual:
- Conheço Cavendish, tenho relação com ele há uns cinco anos. Mas nada que envolva doação de campanha. (Em Paris) Nós só o cumprimentamos. Foi um encontro totalmente casual.
Encontro foi em restaurante famoso
Ele afirmou não recordar o nome do restaurante, mas lembra que ficava na Avenue Montaigne. Essa avenida, junto com a Champs Elysées e a George V, compõe um dos endereços mais chiques - e caros - de Paris, conhecido como Triangle D'Or (Triângulo de Ouro). Embora a Champs Elysées seja mais conhecida dos turistas, é na Montaigne que estão as lojas e restaurantes mais exclusivos.
Segundo Nogueira, os três parlamentares e as mulheres apenas cumprimentaram Cavendish, que, recorda o senador, estava com uma namorada nova, "muito bonita". Ciro Nogueira confirmou a amizade com o ex-presidente da Delta. Em 12 de dezembro de 2009, ele postou no Twitter: "hoje vou ao casamento do meu amigo Fernando Cavendish".
A Delta Construções negou ontem qualquer pagamento a parlamentares no Congresso, bem como eventual encontro de parlamentares com Cavendish "em qualquer lugar que seja". Outra viagem de Cavendish a Paris já causou polêmica: a em que ele apareceu em fotos num jantar ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e secretários do governo do estado.
O GLOBO procurou falar com Maurício Lessa, mas não o localizou. De acordo com o atendente do gabinete, o parlamentar estava em audiência. O GLOBO telefonou para o gabinete do deputado Eduardo da Fonte, mas sua assessoria informou que ele estava voando para Pernambuco e que não seria possível localizá-lo.
Na sessão da CPI, Ciro Nogueira afirmou que não adiantava trazer Cavendish porque ele nada acrescentaria ao trabalho de investigação.
- Será que o doutor Fernando Cavendish vai chegar aqui e vai falar, vai entregar qualquer tipo? Não vai. Ou nos preparamos para a arguição dessas pessoas, ou nós vamos ser desmoralizados, como nós fomos ontem e anteontem - argumentou.
Miro disse que era necessário levar Cavendish à CPI porque a CGU declarou a Delta inidônea:
- Esta comissão se recusa a convocar o presidente da companhia que o governo declarou inidônea. Isso é incompreensível. Isso revela uma tropa do cheque - afirmou Miro.
Ciro Nogueira mostrou-se contrariado com Miro:
- Achei uma maldade extrema. Fiquei surpreso com Miro, porque ele podia ter identificado publicamente as pessoas.
Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara, reagiu:
- Quero me dirigir ao deputado Miro Teixeira. Vou ficar em pé como ele costuma fazer. Não assaque acusações genéricas. Se Vossa Excelência acha que tem um deputado que é da bancada do cheque, vire para o deputado e diga: "É fulano". Eu não sou da bancada do cheque.
Ao site do GLOBO, Miro disse que a "luta contra a blindagem do senhor Cavendish, nós vamos ganhar":
- É injustificável não convocar uma pessoa que diz que compra político. E que varia de R$ 6 milhões a R$ 30 milhões. Isso é injustificável.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 15/06
Região de Jundiaí é a melhor em ranking financeiro do Estado de SP
Um estudo mapeou as finanças públicas e a capacidade de investimento de grandes regiões do Estado de São Paulo.
O levantamento foi feito entre 2009 e 2010 pela Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.) e pela Fundação Seade, também do Estado.
O principal mérito da pesquisa, que inclui um ranking dessas áreas, é a possibilidade de municípios próximos e semelhantes se compararem, segundo diz Rovena Negreiros, diretora da Emplasa.
"Foi criada uma metodologia para um indicador que ajuda os municípios a melhorarem sua capacidade de investir e seu endividamento, a partir dessa comparação", afirma ela.
O estudo sobre a rede urbana paulista e a regionalização do Estado identificou um novo fenômeno urbano, segundo os pesquisadores, a Macrometrópole Paulista.
Esse complexo de cidades engloba 173 municípios, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba e Litoral Norte.
Também fazem parte as aglomerações urbanas de Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba, além das microrregiões de Bragantina e São Roque -todas elas com elevada influência do município de São Paulo.
Nesse território macrometropolitano, vivem mais de 30 milhões de pessoas, ou seja, 73,4% da população do Estado, que geram uma riqueza equivalente a 82,7% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista e 27,7% do PIB brasileiro, segundo dados do Censo 2010, do IBGE.
A área é de cerca de 50 mil quilômetros quadrados e abriga 50% da mancha urbanizada do Estado, de acordo com o trabalho.
Movido a... A Petrobras Biocombustível abasteceu ontem pela primeira vez no Brasil uma frota com etanol de bagaço de cana.
...cana A companhia recebeu, por meio de suas coligadas (Guarani, Nova Fronteira e Total), um selo de qualidade nas relações de trabalho.
Retorno... O advogado Rodrigo de Campos Vieira volta a ser sócio da TozziniFreire, após quatro anos trabalhando da multinacional de mineração Ferrous Resources.
...societário Ele já havia sido sócio da banca e integrará novamente a área de mercado de capitais/bancário.
Promessa... Dez compromissos que irão favorecer o meio ambiente estão no manifesto da Rede Brasileira do Pacto Global, a ser lançado na segunda-feira na Rio+20.
...ambiental Com mais de 200 empresas signatárias, o documento será entregue ao Ministério do Meio Ambiente.
OPORTUNIDADE CONTINENTAL
Angola, Nigéria e Guiana Equatorial, além da África do Sul, são alguns dos melhores países africanos para se investir, segundo estudo da EIU (Economist Intelligence Unit).
A pesquisa analisou os riscos políticos, a taxa de investimento, o tamanho da população e a velocidade das reformas em cada país.
A conclusão foi que os setores de agricultura, infraestrutura, serviços e bens de consumo são os que merecem a atenção dos investidores.
Apesar de o continente ser rico em minérios, ele não tem capacidade de fazer o refinamento e precisa importar.
De 52 países do continente, 28 devem crescer cerca de 5% ao ano até 2016.
Etiópia, Libéria, Moçambique, Nigéria e Uganda devem passar por expansões ainda maior -entre 7,5% e 10%.
AMBIENTAL
O país que abriga a Rio+20 ainda precisa evoluir nos chamados "empregos verdes", cargos como gerentes de sustentabilidade, especialistas em meio ambiente e técnicos ambientais.
As empresas no Brasil ainda têm baixo investimento em contratações nas áreas ligadas ao segmento porque a legislação do país é pouco exigente, ao contrário do que ocorre na Europa, segundo João Nunes, da empresa de recrutamento Michael Page.
"Com pouca legislação, as empresas demoram para desenvolver os departamentos."
A quantidade de empregos na área, porém, cresce progressivamente, segundo a empresa.
Para o consultor Juliano Ballarotti, da Hays, ainda falta cumprimento da legislação por parte das companhias.
"Esse mercado tem crescido graças a políticas novas, como a de resíduos sólidos. As áreas de química e mineração são as que mais procuram profissionais do setor", diz Ballarotti.
ACADEMIAS EM SÉRIE
Lançada pelo Grupo Bodytech no final de 2011, a rede de academias Fórmula se prepara para abrir no país 40 unidades próprias e cem franqueadas até 2015.
Já há 17 franquias em construção e localização de pontos e oito unidades próprias em construção, segundo Luiz Urquiza, sócio da companhia. SP, RJ, ES e BA são alguns dos Estados.
A meta é expandir a marca em bairros e cidades menores, que não comportariam unidades da Bodytech, modelo de academias de grande porte do grupo.
"O modelo Fórmula permite investimento menor."
Protesto... Houve alta de 9,2% na quantidade de títulos protestados nos cinco primeiros meses de 2012 ante igual período de 2011, segundo a Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito. Para empresas a alta foi de 13,9% e para as pessoas físicas o número de protestos subiu 1,3%.
...em alta Na comparação com o mês de maio do ano passado, o total dos títulos protestados registrou aumento de 3,1%. O valor médio dos títulos protestados em maio deste ano ficou em R$ 2.036 para as pessoas físicas e em R$ 2.912 para as pessoas jurídicas, de acordo com o levantamento da Boa Vista.
Gestão... A Thomas Brasil, empresa de recursos humanos, está investindo cerca de R$ 10 milhões no desenvolvimento de um sistema único de processamento para gestores de recursos humanos.
...humana O programa será lançado no domingo em todo o mundo.
A última que morre - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 15/06
Se o assunto aqui fosse um filme de ficção científica, esse inimigo seria um monstro de algumas toneladas, vindo de uma galáxia distante, aparentemente invulnerável e com inesgotável apetite por bípedes falantes.
Nada disso: desta vez a ameaça é muito mais séria. Os inimigos somos nós mesmos.
Estamos falando de uma iniciativa solenemente intitulada de Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Começou esta semana, no Riocentro. Como todo mundo sabe, a espécie que domina o planeta - você, eu e o resto do pessoal - mantém sua hegemonia consumindo recursos naturais com extraordinário apetite. Só recentemente descobrimos que esses recursos não são, imaginem só, inesgotáveis.
A conferência da ONU - que atende pelo apelido de Rio+20 - parte de uma premissa que ninguém discute: o tempo é curto. Os sintomas de uma tragédia são tragicamente visíveis. Incluem aquecimento global, redução das reservas de água doce, escassez de alimentos. E todos eles se tornam mais graves com o crescimento da população do planeta: já somos sete bilhões e, dentro de 40 anos - um tempinho à-toa -, seremos nove bilhões. Sem um aumento de 70% na produção de comida, vamos começar a morrer de fome. Primeiro, os pobres e miseráveis, claro. Mas depois, inexoravelmente, você e eu - o que é inaceitável, evidentemente.
O principal objetivo da Rio+20 - além de reafirmar os princípios do desenvolvimento sustentável, o que não passa de blá-blá-blá - é encontrar formas de ampliar o crescimento econômico sem prejudicar o meio ambiente. Alguns pessimistas diriam que isso seria algo parecido com comer um bife sem mastigar nem engolir.
Mas é preciso reconhecer que o simples fato de que esta é a maior reunião patrocinada pela ONU até hoje indica, pelo menos, que há consenso sobre a gravidade e a urgência do problema. O que não chega nem perto de garantir o êxito da conferência - mas a esperança, como sabemos, é a última que morre de fome.
Pensar o futuro - ROBERTO FREIRE
Brasil Econômico - 15/06
O modelo econômico da era Lula, continuado no governo Dilma, baseado na renda das commodities e no consumo do mercado interno mostra claros finais de esgotamento. Resta ao governo reconhecer o fato, formular e adotar outra estratégia de desenvolvimento. O problema é que os governos do PT, e isso desde o governo Lula que sem pejo adotou como sua a política econômica do governo FHC, não se prepararam, presos à lógica de curto prazo. Agora o crescimento desacelera continuamente e será mais difícil implementar medidas que poderiam ter sido tomadas na época da bonança. Mas como não é possível chorar o leite derramado, precisamos olhar para frente e pensar o futuro.
O PIB é dividido entre consumo (famílias e governo), investimento e exportações líquidas. Os países possuem diferentes composições, mas é necessário sempre visar um equilíbrio entre consumo e investimento. Os EUA são uma economia baseada em consumo com 88% do PIB, mas a bolha imobiliária mostrou os limites do modelo que só foi possível porque fruto de forte investimento realizado em décadas passadas, ou seja, os americanos tinham uma infraestrutura logística excelente e um sistema educacional capaz de gerar produtividade e inovação. A China, ao contrário, baseia seu modelo em investimento que alcança 48% do PIB, o que tem trazido como consequência prédios vazios e ferrovias subutilizadas por falta de consumo. Entre esses dois extremos, a Coreia do Sul tem obtido bons resultados com investimento de 29% e consumo de 68%.
O Brasil tem baixo investimento, em torno de 19% do PIB, sem que tenha feito pesados investimentos passados em infraestrutura e em educação. O aumento do consumo, consequência do aumento do volume de crédito, alavancou o crescimento por um curto espaço de tempo e já mostrou o seu limite. Fizemos, novamente, um voo de galinha, porque não foi amparado na solidez de investimentos de médio e longo prazo. A propaganda do PAC não adianta. Precisamos de uma verdadeira estratégia de melhoria da infraestrutura para que haja barateamento dos custos logísticos e da energia no país, componentes importantes do custo Brasil. Também é urgente resolver o problema da qualidade da educação. Com baixo desemprego, só será possível aumentar a produção se houver aumento da produtividade do trabalho, quase estagnada há 30 anos. Precisamos mais que todas as crianças na escola, nossas crianças devem aprender tudo que a geração atual sabe para que avancem no conhecimento e consigam gerar desenvolvimento científico e inovação. Não basta apenas aumentar os gastos com educação, afinal, destinamos o mesmo que os países da OCDE. É necessário melhorar a eficiência do gasto com boa gestão das escolas, metas e resultados concretos.
Implementar um novo modelo econômico é tarefa para um governo que tenha competência política e administrativa para promover uma reforma democrática do Estado, que o capacite para ser eficiente na arrecadação, bem como no investimento. Um Estado menos burocrático e com maior capacidade de gestão, que pense estrategicamente em termo de longo prazo. Um Estado orientado ao desenvolvimento sustentável, e não este carcomido pela corrupção.
O PIB é dividido entre consumo (famílias e governo), investimento e exportações líquidas. Os países possuem diferentes composições, mas é necessário sempre visar um equilíbrio entre consumo e investimento. Os EUA são uma economia baseada em consumo com 88% do PIB, mas a bolha imobiliária mostrou os limites do modelo que só foi possível porque fruto de forte investimento realizado em décadas passadas, ou seja, os americanos tinham uma infraestrutura logística excelente e um sistema educacional capaz de gerar produtividade e inovação. A China, ao contrário, baseia seu modelo em investimento que alcança 48% do PIB, o que tem trazido como consequência prédios vazios e ferrovias subutilizadas por falta de consumo. Entre esses dois extremos, a Coreia do Sul tem obtido bons resultados com investimento de 29% e consumo de 68%.
O Brasil tem baixo investimento, em torno de 19% do PIB, sem que tenha feito pesados investimentos passados em infraestrutura e em educação. O aumento do consumo, consequência do aumento do volume de crédito, alavancou o crescimento por um curto espaço de tempo e já mostrou o seu limite. Fizemos, novamente, um voo de galinha, porque não foi amparado na solidez de investimentos de médio e longo prazo. A propaganda do PAC não adianta. Precisamos de uma verdadeira estratégia de melhoria da infraestrutura para que haja barateamento dos custos logísticos e da energia no país, componentes importantes do custo Brasil. Também é urgente resolver o problema da qualidade da educação. Com baixo desemprego, só será possível aumentar a produção se houver aumento da produtividade do trabalho, quase estagnada há 30 anos. Precisamos mais que todas as crianças na escola, nossas crianças devem aprender tudo que a geração atual sabe para que avancem no conhecimento e consigam gerar desenvolvimento científico e inovação. Não basta apenas aumentar os gastos com educação, afinal, destinamos o mesmo que os países da OCDE. É necessário melhorar a eficiência do gasto com boa gestão das escolas, metas e resultados concretos.
Implementar um novo modelo econômico é tarefa para um governo que tenha competência política e administrativa para promover uma reforma democrática do Estado, que o capacite para ser eficiente na arrecadação, bem como no investimento. Um Estado menos burocrático e com maior capacidade de gestão, que pense estrategicamente em termo de longo prazo. Um Estado orientado ao desenvolvimento sustentável, e não este carcomido pela corrupção.
Choque da tropa - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 15/06
A CPI mais famosa do Brasil teria feito jus à fama e dado um bom sinal à sociedade se tivesse aprovado ontem a convocação do empresário Fernando Cavendish e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Luiz Antonio Pagot.
A boa notícia é que a recusa venceu por pouco. A má é que suas excelências deixaram passar a melhor oportunidade até agora de marcar posição em favor do presumido foco da comissão: desvendar a triangulação entre organização criminosa, poder público e a empreiteira que saiu do nada e em dez anos virou "top" sustentada por negócios governamentais.
E deixaram por qual razão? Segundo o deputado Miro Teixeira, em decorrência da movimentação da "tropa do cheque".
Autoexplicativa, a expressão surgiu na cena política há 20 anos para definir a motivação da "tropa de choque" que atuava em defesa do então presidente Fernando Collor quando da CPI que resultou no processo de impeachment.
Talvez haja algum excesso no juízo formado pelo deputado e caberá à comissão dirimir essa dúvida. Mas, como ele disse, a referência não foi mais específica, não apontou nomes porque isso só seria possível se a respeito deles os parlamentares ouvissem Pagot e Cavendish.
Ficou parecendo que a maioria governista da CPI não está suficientemente motivada para enfrentar a questão. É o que se depreende da alegação de que as convocações "no momento" não seriam produtivas.
Seria perfeitamente possível - mais que isso, necessário - aprová-las e marcar a data dos depoimentos depois, de acordo com a conveniência estipulada pelo surgimento de provas e indícios.
Sobretudo uma maneira eficaz de demarcar o terreno do antagonismo entre investigadores e investigados, já suficientemente prejudicado por parlamentares que abrem mão de questionar testemunhas para se ocupar do degradante ofício da bajulação. Vale para governistas e oposicionistas.
A chance só não foi inteiramente perdida porque foram ditas coisas tão fortes durante a sessão de ontem, a repercussão será tão negativa que dificilmente deixará de haver um recuo (no caso, resultando em avanço) na próxima reunião.
Se obscuros os motivos da recusa - sob o sofisma de que se trata de um "sobrestamento" -, as razões para a aprovação dos depoimentos configuram-se nítidas.
O dono da construtora Delta, afastado desde a eclosão do escândalo em tentativa de se manter estrategicamente distante do centro dos acontecimentos, andou falando (há gravações) sobre uma tabela de preços mediante a qual os serviços de um senador lhe custaria R$ 6 milhões e a abertura de caminho para obtenção de negócios a rodo sairia por algo em torno de R$ 30 milhões.
O ex-diretor do Dnit, que silenciou quando foi ouvido pelo Congresso sobre sua demissão no ano passado em meio a denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, já manifestou vontade de falar à CPI sobre uma alegada conspiração entre a Delta e o grupo de Cachoeira para derrubá-lo.
A menos que venham a se desmentir, teriam contribuição substantiva a dar sobre o objeto das investigações. A obrigação da comissão é tentar, não atuar na base da adivinhação.
A recente declaração de inidoneidade que impede a empreiteira de participar de licitações e firmar novos contratos com o poder público foi baseada num episódio emblemático, reunindo Dnit e Delta: a descoberta de que a construtora subornou funcionários do Ministério dos Transportes na regional do Ceará em troca de relaxamento nos procedimentos de fiscalização de obras e serviços.
Juntando-se esse fato à referência de Cavendish sobre propinas, temos uma boa pista de quais seriam as normas vigentes na casa que comandava. "Não foi um ato isolado de corrupção", afirmou o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage.
A comissão ontem deu margem à desconfiança de que exista ali algum temor relativo ao que Pagot e Cavendish possam falar. Levantou entre si e a opinião pública uma forte barreira que se espera venha a derrubar em breve tempo. Para o bem de todos.
A CPI mais famosa do Brasil teria feito jus à fama e dado um bom sinal à sociedade se tivesse aprovado ontem a convocação do empresário Fernando Cavendish e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Luiz Antonio Pagot.
A boa notícia é que a recusa venceu por pouco. A má é que suas excelências deixaram passar a melhor oportunidade até agora de marcar posição em favor do presumido foco da comissão: desvendar a triangulação entre organização criminosa, poder público e a empreiteira que saiu do nada e em dez anos virou "top" sustentada por negócios governamentais.
E deixaram por qual razão? Segundo o deputado Miro Teixeira, em decorrência da movimentação da "tropa do cheque".
Autoexplicativa, a expressão surgiu na cena política há 20 anos para definir a motivação da "tropa de choque" que atuava em defesa do então presidente Fernando Collor quando da CPI que resultou no processo de impeachment.
Talvez haja algum excesso no juízo formado pelo deputado e caberá à comissão dirimir essa dúvida. Mas, como ele disse, a referência não foi mais específica, não apontou nomes porque isso só seria possível se a respeito deles os parlamentares ouvissem Pagot e Cavendish.
Ficou parecendo que a maioria governista da CPI não está suficientemente motivada para enfrentar a questão. É o que se depreende da alegação de que as convocações "no momento" não seriam produtivas.
Seria perfeitamente possível - mais que isso, necessário - aprová-las e marcar a data dos depoimentos depois, de acordo com a conveniência estipulada pelo surgimento de provas e indícios.
Sobretudo uma maneira eficaz de demarcar o terreno do antagonismo entre investigadores e investigados, já suficientemente prejudicado por parlamentares que abrem mão de questionar testemunhas para se ocupar do degradante ofício da bajulação. Vale para governistas e oposicionistas.
A chance só não foi inteiramente perdida porque foram ditas coisas tão fortes durante a sessão de ontem, a repercussão será tão negativa que dificilmente deixará de haver um recuo (no caso, resultando em avanço) na próxima reunião.
Se obscuros os motivos da recusa - sob o sofisma de que se trata de um "sobrestamento" -, as razões para a aprovação dos depoimentos configuram-se nítidas.
O dono da construtora Delta, afastado desde a eclosão do escândalo em tentativa de se manter estrategicamente distante do centro dos acontecimentos, andou falando (há gravações) sobre uma tabela de preços mediante a qual os serviços de um senador lhe custaria R$ 6 milhões e a abertura de caminho para obtenção de negócios a rodo sairia por algo em torno de R$ 30 milhões.
O ex-diretor do Dnit, que silenciou quando foi ouvido pelo Congresso sobre sua demissão no ano passado em meio a denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, já manifestou vontade de falar à CPI sobre uma alegada conspiração entre a Delta e o grupo de Cachoeira para derrubá-lo.
A menos que venham a se desmentir, teriam contribuição substantiva a dar sobre o objeto das investigações. A obrigação da comissão é tentar, não atuar na base da adivinhação.
A recente declaração de inidoneidade que impede a empreiteira de participar de licitações e firmar novos contratos com o poder público foi baseada num episódio emblemático, reunindo Dnit e Delta: a descoberta de que a construtora subornou funcionários do Ministério dos Transportes na regional do Ceará em troca de relaxamento nos procedimentos de fiscalização de obras e serviços.
Juntando-se esse fato à referência de Cavendish sobre propinas, temos uma boa pista de quais seriam as normas vigentes na casa que comandava. "Não foi um ato isolado de corrupção", afirmou o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage.
A comissão ontem deu margem à desconfiança de que exista ali algum temor relativo ao que Pagot e Cavendish possam falar. Levantou entre si e a opinião pública uma forte barreira que se espera venha a derrubar em breve tempo. Para o bem de todos.
Toma que o filho é teu - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 15/06
Chamado a mediar a crise no PSDB paulistano quanto à coligação proporcional, Geraldo Alckmin está inclinado a intervir para convencer os tucanos a aprovar o "chapão" de vereadores, defendido por José Serra. Em privado, o governador diz reconhecer a necessidade da ampla coligação, inclusive com o PSD, embora saiba dos riscos à bancada. Serristas fizeram chegar a Alckmin a preocupação de que a rebelião poderá levar à perda de aliados vitais para o palanque eletrônico.
Simples assim Do coordenador da campanha de Serra, Edson Aparecido, dando o tom do discurso a ser adotado para aplacar o motim: "O que se discute agora não é uma cadeira a mais ou a menos na Câmara. É a eleição do prefeito e a reeleição do governador em 2014".
CEP inexistente Contumaz defensor da chapa pura tucana, Tião Farias recebeu no gabinete 30 livretos do "manual do candidato" do PSD. O vereador mandou devolver o kit. "Querem tratar a coligação como fato consumado, mas não é assim."
Pregão Ao adiar a decisão sobre o rumo do seu PP em São Paulo, Paulo Maluf aumentou a pressão por cargos no governo paulista em troca da aliança com Serra. Reservadamente, o deputado diz a tucanos que o PT acena com mais espaço no Ministério das Cidades caso ele acerte com Fernando Haddad.
E ainda essa O ingresso de Luiza Erundina na chapa de Haddad deve afastar ainda mais Marta Suplicy da campanha petista. A senadora se ressente até hoje da "neutralidade" da deputada, que ficou em quarto lugar, no segundo turno em que foi derrotada por Serra, em 2004. Erundina contrariou o PSB, que declarou apoio à petista.
Rewind O QG tucano já recupera imagens da expansão do comércio ambulante e da crise nos ônibus para levar à TV como "legado" da gestão de Erundina na capital.
De saída? O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), pode deixar o posto. Ele e a presidente Dilma Rousseff combinaram de decidir se ele disputará a Prefeitura de Manaus até os últimos dias do mês.
Me dê motivo Há quem enxergue na candidatura uma jogada do Planalto para tirar Braga da liderança. Aliados veem desgaste entre ele e o governo. Recentemente, devido a erros numa medida provisória, o peemedebista criticou a ministra Miriam Belchior (Planejamento) e a apelidou de "Anjo Mau".
Rachou Senadores do bloco PT-PSB-PC do B defenderam antes da sessão da CPI do Cachoeira que fosse aprovada a convocação do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish, mas o PT da Câmara rejeitou a proposta.
Ou vai... Diante do recesso branco no Congresso na próxima semana, por conta da Rio+20, senadores da base aliada avaliam que pode não haver quórum para a sessão do Conselho de Ética que decidirá o futuro de Demóstenes Torres (sem partido-GO).
...ou racha Relator do caso, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que está tudo combinado para a sessão e que, segundo sua última contagem, 11 dos 15 senadores confirmaram presença.
Para tudo Senadores da base foram avisados para brecar a análise da MP de capitalização do Banco do Nordeste. Diante de denúncias de irregularidades, o governo estuda fazer mudanças na diretoria do banco.
Visita à Folha O deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR) visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de César Francisco Alves, assessor de comunicação.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Haddad lida com um patrono que não cabe em si e deve ter uma vice muito mais popular que ele. Corre sério risco de sumir."
DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP), sobre a escolha da ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) como vice na chapa de Fernando Haddad (PT) em São Paulo.
contraponto
Brasil Carinhoso
Após a cerimônia de entrega do selo de "boas práticas" à indústria da cana-de-açúcar, ontem, Dilma Rousseff deixava o salão nobre do Planalto e seguia para o gabinete presidencial. No caminho, foi abordada por um grupo de jornalistas, que queria entrevistá-la sobre os rumos da economia e a crise na Europa.
-Não posso, queridos, mas quero dizer que meu coração bate por vocês.
Em seguida, juntou as mãos no peito:
-Tum, tum, tum, tum - disse, sorrindo, a presidente, antes de subir a rampa rumo ao seu gabinete.
Os fatos se impõem à CPI - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 15/06
Em toda parte, investigações legislativas tem um quê de espetáculo, quanto mais não seja pela carga dramática que costuma envolver o interrogatório de autoridades e outras figuras poderosas sob suspeição - a exemplo dos hearings no Congresso dos Estados Unidos e das inquiries no Parlamento britânico. Mas em nenhum país onde os membros de comissões do gênero conservem a noção do decoro no exercício do seu papel se admitiriam as cenas de programa de auditório que pontuaram nos últimos dias os depoimentos na CPI do Cachoeira dos governadores Marconi Perillo, do PSDB de Goiás, e Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal (DF).
O primeiro instalou na sala dos trabalhos uma claque amestrada para aplaudir o que seriam as suas respostas mais contundentes. No caso do segundo, foi pior. Quando ele pôs à disposição da comissão os seus sigilos fiscal, bancário e de comunicações, e ao término da oitiva, ganhou palmas e louvações de uma dezena dos 32 integrantes do colegiado incumbido de questioná-lo - e a outros políticos - sobre suas ligações com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos. Os exaltados eram petistas e companheiros de viagem. Uma senadora do PC do B do Amazonas, Vanessa Grazziotin, chegou a se dizer segura de que os jornalistas presentes "se não estão aplaudindo fisicamente, estão aplaudindo internamente".
Certa vez, também no Congresso Nacional, repórteres já o fizeram, externamente. Em 16 de janeiro de 1985, um dia depois de ser eleito presidente da República ainda pelo sistema indireto, Tancredo Neves deu a sua entrevista inaugural no plenário da Câmara. Em dado momento, perguntado sobre o que pretendia fazer com a dívida externa do País, respondeu que não a pagaria "com o sangue dos brasileiros" - e foi patrioticamente aplaudido por quase todos os jornalistas presentes. Na edição seguinte do Jornal do Brasil, o então decano dos colunistas políticos brasileiros, Carlos Castelo Branco, se declarou estarrecido com a manifestação dos colegas. Agora, ao que se saiba, nenhum político de projeção repreendeu os seus pares pela conduta imprópria.
O silêncio é deplorável por reforçar na opinião pública a percepção de que a CPI não passa de mais um jogo político entre o PSDB e o PT, fadado a terminar empatado sem gols, com o PMDB no meio deles, concentrado em proteger o governador fluminense Sérgio Cabral, amigo do peito de Fernando Cavendish, dono da agora oficialmente inidônea construtora Delta. Ainda bem que os fatos têm vida própria. Imaginada pelo ex-presidente Lula para desviar as atenções do julgamento próximo do mensalão e para se vingar de Perillo, por ter ele revelado que o advertira para o escândalo em curso à época, a comissão conseguiu, de tropeço em tropeço, encher pelo menos a metade do seu copo.
A maioria governista não teve como evitar a quebra dos sigilos da Delta em escala nacional, demandada pela oposição, apesar dos temores de que a devassa possa respingar no Planalto, por ter a empreiteira abocanhado a parte do leão dos contratos do PAC, entre outros. Já a esperta iniciativa do petista Agnelo de abrir os seus dados forçou o tucano Perillo a recuar da anunciada decisão de não fazê-lo. A CPI terá, portanto, uma farta travessa de informações de pessoas físicas e jurídicas para mastigar. Se o fizer com seriedade, poderá a partir daí rever com outros olhos a transcrição das 30 mil horas de conversas entre Cachoeira, sua gente e seus parceiros na política e nos negócios.
Mesmo que a Justiça declare, como quer a defesa do bicheiro, que o seu teor não seja aceito como prova nos tribunais, por vício de origem, as palavras gravadas têm existência objetiva e devem formar juízos no tribunal político do Congresso. O polêmico parecer em favor de Cachoeira do desembargador Tourinho Neto, relator da matéria no Tribunal Regional Federal do DF, será votado na semana que vem por seus dois colegas de turma. Um voto que acompanhe o do relator e o bicheiro estará livre. Por fim, os inquéritos pedidos pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contra Perillo e Agnelo por suas conexões com o grupo de Cachoeira garantem que o escândalo continuará em chapa quente. Algumas verdades inconvenientes sairão disso tudo.
Falta alguém na CPI - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 15/06
Como todo mundo sabe, Paris é uma cidade pequena onde todo mundo se esbarra. Portanto, nada mais natural que o senador Ciro Nogueira, do PP, e o deputado Maurício Quintela, do PR, que por acaso são membros da CPI do Cachoeira, encontrarem casualmente num restaurante da Avenue Montaigne com o empreiteiro Fernando Cavendish.
Estavam os nossos bravos parlamentares, e mais o deputado Eduardo da Fonte, também do PP, fazendo uma rápida baldeação em Paris, depois de uma exaustiva viagem a trabalho a Uganda, onde se encontraram com suas esposas, que preferiram os ares da capital francesa aos daquele país africano.
O encontro foi denunciado ontem na reunião da CPI do Cachoeira pelo deputado federal Miro Teixeira, com requintes de crueldade: o senador Ciro Nogueira encaminhara momentos antes a votação para que o ex-presidente da Delta não fosse convocado a depor, e Miro usou uma expressão cunhada por ato falho do governador Agnelo Queiroz, do PT, ao depor na CPI no dia anterior.
Ele se referiu, provocando gargalhadas gerais e muitos tweets, a uma "tropa de cheque", quando pretendia dizer "tropa de choque", o que é perfeitamente compreensível nas atuais circunstâncias, diria Freud.
Ao fim e ao cabo, a votação apertada de 16 votos a 13 para adiar a convocação marcou uma vitória matemática, mas uma derrota moral petista, que dificilmente será confirmada em uma futura votação depois que ficou demonstrado que dois representantes partidários, membros titulares da CPI do Cachoeira, encontraram-se com o ex-proprietário da Delta em Paris. (Aliás, como gosta de Paris esse Cavendish. Mesmo depois de tecnicamente quebrado, continua por lá, como se nada estivesse acontecendo.)
O senador Ciro Nogueira diz que é amigo de Cavendish há muitos anos e chegou mesmo a anunciar em seu Twitter que iria ao casamento do amigo em Itaipava, mas deveria manter uma distância preventiva do empreiteiro, principalmente depois da revelação de uma gravação em que Cavendish garante: "Se eu botar 30 milhões na mão de um político, eu sou convidado para coisa para c... Pode ter certeza disso. Te garanto."
O interessante é notar que a maioria governista serve apenas para ações defensivas, isto é, não convocar Cavendish ou Luiz Antônio Pagot, o ex-diretor do Dnit que anda falando pelos cotovelos e está louco para depor na CPI, que, no entanto, também adiou sua convocação, por motivos mais do que claros.
Anteriormente, esse equilíbrio de forças real, mesmo que, no plano virtual, a base aliada seja maioria esmagadora no plenário, levou à quebra do sigilo nacional da Delta, que não interessava a ninguém da base aliada mas se impôs como uma necessidade para não desmoralizar de vez a CPMI.
Depois que a própria Corregedoria Geral da União (CGU) passou um atestado de inidoneidade à empreiteira Delta, ficou mais ridícula ainda a operação comandada pelo PT e pelo PMDB para blindar Cavendish.
Aos petistas não interessa expor na CPI os óbvios problemas do governo ao transformar a Delta na maior empreiteira do PAC. E aos peemedebistas não interessa remexer na amizade polêmica do governador Sérgio Cabral, do Rio, com o empreiteiro Fernando Cavendish.
O líder do PSOL, deputado Chico Alencar, resumiu ontem muito bem a situação: "Para entrar no fundamental dos seus trabalhos, que é a análise dos documentos e o cruzamento de dados, a CPI precisa receber da PF a lista dos numerosos aquinhoados com os telefones do "Clube Nextel" de Cachoeira. E ainda ouvir outros depoimentos importantes, como o do dono "licenciado" da Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, cuja vontade de falar incomoda a "gregos e troianos". Não a nós, nem à sociedade brasileira, que precisa de verdades."
O governo tem uma maioria defensiva na CPI e conta também com uma coincidência a seu favor em relação aos três principais investigados: os advogados Márcio Thomaz Bastos, de Cachoeira; Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, do senador Demóstenes Torres; e José Luiz de Oliveira, da Delta, contratado ainda na época de Cavendish, têm em comum ligações pessoais e profissionais com importantes membros do governo.
Thomaz Bastos foi ministro da Justiça de Lula e continua sendo seu conselheiro. Kakay é amigo de José Dirceu, de quem José Luiz Oliveira é advogado no mensalão.
Tudo está sendo feito para que a CPI acabe mesmo pegando apenas o governador Marconi Perillo, tucano de Goiás, que era um dos alvos preferenciais dos petistas ao pedirem a CPI.
Frustrados os outros alvos, o procurador-geral da República e a imprensa, na figura da revista "Veja" - só o senador Fernando Collor continua empenhado na sua campanha insana e solitária -, só resta mesmo aos petistas tentar levar para o banco dos réus o governador tucano, e para tanto darão sem piscar a cabeça do governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.
Os dois, aliás, estão ironicamente enrolados em transações financeiras difíceis de explicar envolvendo compra e venda de mansões, o que não deixa de ser sintomático.
Falta alguém na CPMI do Cachoeira, e não é o empreiteiro Fernando Cavendish nem o ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot. Esses deveriam mesmo ser convocados. Mas, como já escrevi aqui antes, só surgindo uma ex-mulher ressentida, ou um ex-marido na mesma situação, um motorista ou uma secretária, para essa investigação da CPI ir a algum lugar.
Estavam os nossos bravos parlamentares, e mais o deputado Eduardo da Fonte, também do PP, fazendo uma rápida baldeação em Paris, depois de uma exaustiva viagem a trabalho a Uganda, onde se encontraram com suas esposas, que preferiram os ares da capital francesa aos daquele país africano.
O encontro foi denunciado ontem na reunião da CPI do Cachoeira pelo deputado federal Miro Teixeira, com requintes de crueldade: o senador Ciro Nogueira encaminhara momentos antes a votação para que o ex-presidente da Delta não fosse convocado a depor, e Miro usou uma expressão cunhada por ato falho do governador Agnelo Queiroz, do PT, ao depor na CPI no dia anterior.
Ele se referiu, provocando gargalhadas gerais e muitos tweets, a uma "tropa de cheque", quando pretendia dizer "tropa de choque", o que é perfeitamente compreensível nas atuais circunstâncias, diria Freud.
Ao fim e ao cabo, a votação apertada de 16 votos a 13 para adiar a convocação marcou uma vitória matemática, mas uma derrota moral petista, que dificilmente será confirmada em uma futura votação depois que ficou demonstrado que dois representantes partidários, membros titulares da CPI do Cachoeira, encontraram-se com o ex-proprietário da Delta em Paris. (Aliás, como gosta de Paris esse Cavendish. Mesmo depois de tecnicamente quebrado, continua por lá, como se nada estivesse acontecendo.)
O senador Ciro Nogueira diz que é amigo de Cavendish há muitos anos e chegou mesmo a anunciar em seu Twitter que iria ao casamento do amigo em Itaipava, mas deveria manter uma distância preventiva do empreiteiro, principalmente depois da revelação de uma gravação em que Cavendish garante: "Se eu botar 30 milhões na mão de um político, eu sou convidado para coisa para c... Pode ter certeza disso. Te garanto."
O interessante é notar que a maioria governista serve apenas para ações defensivas, isto é, não convocar Cavendish ou Luiz Antônio Pagot, o ex-diretor do Dnit que anda falando pelos cotovelos e está louco para depor na CPI, que, no entanto, também adiou sua convocação, por motivos mais do que claros.
Anteriormente, esse equilíbrio de forças real, mesmo que, no plano virtual, a base aliada seja maioria esmagadora no plenário, levou à quebra do sigilo nacional da Delta, que não interessava a ninguém da base aliada mas se impôs como uma necessidade para não desmoralizar de vez a CPMI.
Depois que a própria Corregedoria Geral da União (CGU) passou um atestado de inidoneidade à empreiteira Delta, ficou mais ridícula ainda a operação comandada pelo PT e pelo PMDB para blindar Cavendish.
Aos petistas não interessa expor na CPI os óbvios problemas do governo ao transformar a Delta na maior empreiteira do PAC. E aos peemedebistas não interessa remexer na amizade polêmica do governador Sérgio Cabral, do Rio, com o empreiteiro Fernando Cavendish.
O líder do PSOL, deputado Chico Alencar, resumiu ontem muito bem a situação: "Para entrar no fundamental dos seus trabalhos, que é a análise dos documentos e o cruzamento de dados, a CPI precisa receber da PF a lista dos numerosos aquinhoados com os telefones do "Clube Nextel" de Cachoeira. E ainda ouvir outros depoimentos importantes, como o do dono "licenciado" da Delta, Fernando Cavendish, e do ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, cuja vontade de falar incomoda a "gregos e troianos". Não a nós, nem à sociedade brasileira, que precisa de verdades."
O governo tem uma maioria defensiva na CPI e conta também com uma coincidência a seu favor em relação aos três principais investigados: os advogados Márcio Thomaz Bastos, de Cachoeira; Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, do senador Demóstenes Torres; e José Luiz de Oliveira, da Delta, contratado ainda na época de Cavendish, têm em comum ligações pessoais e profissionais com importantes membros do governo.
Thomaz Bastos foi ministro da Justiça de Lula e continua sendo seu conselheiro. Kakay é amigo de José Dirceu, de quem José Luiz Oliveira é advogado no mensalão.
Tudo está sendo feito para que a CPI acabe mesmo pegando apenas o governador Marconi Perillo, tucano de Goiás, que era um dos alvos preferenciais dos petistas ao pedirem a CPI.
Frustrados os outros alvos, o procurador-geral da República e a imprensa, na figura da revista "Veja" - só o senador Fernando Collor continua empenhado na sua campanha insana e solitária -, só resta mesmo aos petistas tentar levar para o banco dos réus o governador tucano, e para tanto darão sem piscar a cabeça do governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.
Os dois, aliás, estão ironicamente enrolados em transações financeiras difíceis de explicar envolvendo compra e venda de mansões, o que não deixa de ser sintomático.
Falta alguém na CPMI do Cachoeira, e não é o empreiteiro Fernando Cavendish nem o ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot. Esses deveriam mesmo ser convocados. Mas, como já escrevi aqui antes, só surgindo uma ex-mulher ressentida, ou um ex-marido na mesma situação, um motorista ou uma secretária, para essa investigação da CPI ir a algum lugar.
O operador - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 15/06
O PT, o PSDB e Luiz Antônio Pagot
Foram os petistas, na CPI, que turbinaram o ex-secretário-executivo do Dnit Luiz Antônio Pagot. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) fez uma graça e propôs a convocação do ex-governador José Serra (SP). Pagot declarou ter arrecadado para a campanha do tucano. Os tucanos reagiram e propuseram a convocação e um pedido de informações para a presidente Dilma. Pagot também disse que arrecadou para a campanha da petista. A provocação petista teve resposta à altura dos tucanos. A convocação de Pagot foi rejeitada, mas na próxima semana ele deve prestar depoimento em reunião paralela que está sendo organizada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS). Vem aí a CPI do B.
"O importante não é investigar, mas fazer discurso político” — Odair Cunha, deputado (PT-MG) e relator da CPI, reclamando
do excesso de discursos dos líderes
EXCLUÍDO. O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, reuniu-se ontem de manhã com a presidente Dilma para tratar das reuniões bilaterais durante a Rio+20. Há 57 pedidos e o Brasil decidiu que fará oito bilaterais. As prioridades são os parceiros estratégicos. Estão acertados encontros com França e Turquia. O polêmico presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, está fora da lista do Itamaraty.
Descontração
Miro Teixeira (PDT-RJ) deixou ontem o restaurante do Senado com um guardanapo na cintura. Rubens Bueno (PPS-PR) gritou por um fotógrafo. Miro reagiu: "O meu guardanapo está no lugar, na cintura, não está amarrado na cabeça.
À queima-Roupa
Desabafo de Pedro Simon (PMDB-RS): "Você foi vetado para líder; foi vetado para relator da CPI; na hora de impedir a vinda do Pagot e do Cavendish, você é escalado." Cândido Vacarezza (PT-SP) ouviu as diatribes e fez cara de paisagem.
Medidas provisórias e líderes rebeldes
Começa a ganhar corpo na base do governo um forte inconformismo com o tratamento que o governo Dilma dá às medidas provisórias. Esses líderes discordam das MPs "Frankenstein", em que vários assuntos e temas são agregados pelos relatores a pedido do Planalto. Os líderes do PDT, André Figueiredo (CE), e do PR, Lincoln Portela (MG), foram os primeiros a comunicar ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que a MP 599 será a última a ser aprovada assim.
Olimpíadas
Atletas que vão aos Jogos de Londres serão recebidos hoje pela presidente Dilma. Presentes: a velocista Rosângela Santos, a judoca Sarah Menezes e a ginasta Adrian Gomes. O país levará 233 esportistas, e 78 deles recebem Bolsa-Atleta.
Irritadiça
Um artigo do ex-ministro Pedro Malan, sobre as tarefas do governo, gerou resposta, terça-feira, da presidente Dilma: "Tem várias pessoas que deram para me dar conselho, que não são responsáveis por nenhum investimento".
A MINISTRA Miriam Belchior (Planejamento) desmente o presidente do Sindifisco, Pedro Delarue. Ela relata que recebeu a entidade para tratar de salários em 28 de março, 12 de abril e 11 de maio.
OS GOVERNADORES que hoje são recebidos pela presidente Dilma reclamam da paralisação das obras federais no Nordeste e não param de comparar a gestão Dilma com a de Lula, época em que a região crescia o dobro da média nacional.
AS QUEIXAS motivaram a decisão da Fazenda de capitalizar o Banco do Nordeste em R$ 4 bilhões.