sexta-feira, abril 13, 2012

Que conselho é esse?! - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 13/04/2012


Senador que não se julga apto a relatar um processo contra seu colega não deveria fazer parte do Conselho de Ética. Muito menos da CPMI que investigará as relações do bicheiro Carlos Cachoeira. Simples assim



O sorteio para escolha do senador que relatará o caso Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado nos leva a pensar que algo vai muito mal naquela Casa. Não é possível que cinco senadores, sorteados, se recusem à tarefa de apontar se o colega feriu o decoro parlamentar. Afinal, a única tarefa do Conselho de Ética é averiguar o comportamento das excelências. Portanto, quem não se julga apto a essa missão, não deveria fazer parte do colegiado. Simples assim.

Por que, então, Lobão Filho (PMDB-MA), Gim Argello (P)MDB-DF), Ciro Nogueira (PP-PI), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR) — a relação feita aqui apenas segue a ordem de sorteio — estão no Conselho de Ética? Alguns congressistas apostam que a presença deles ali é apenas para evitar que prosperem os pedidos de cassação. Talvez essa visão seja exagerada. Mas a conclusão, depois do fiasco de ontem, é cristalina: se não aceitam o papel de relatores, que procurem prestar serviço em outras praias.

Por falar em outras praias...
Na semana que vem, o Congresso vai se distrair escolhendo os senadores e deputados para compor a CPI encarregada de investigar as relações do bicheiro Carlos Cachoeira com o poder público e privado. Se a lógica valesse para a política, em princípio esses senhores, que têm tantos problemas de foro íntimo para averiguar se Demóstenes tem alguma culpa no cartório, não devem se sentir aptos a integrar a CPI. Apesar disso, leitor, eu aposto com você que alguns desses cinco farão força para integrar a CPI do Cachoeira. Aguardemos.

Por falar em apostas...
A parte da base que não se mostra interessada em relatar o caso Demóstenes no Senado (PMDB, PP e PTB) dá demonstrações de que não faltará à presidente Dilma Rousseff quando o assunto for economia. E é isso que realmente preocupa o Planalto. Não por acaso, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou a alíquota unificada de 4% do ICMS para operações interestaduais envolvendo importados. Os senadores capixabas ficaram contra, os catarinenses também, mas a maioria governista falou mais alto nesse quesito.

A tendência, conforme muitos têm comentado em conversas reservadas, é a de que os congressistas, especialmente, na Câmara, joguem a bola nas contas de Dilma apenas quando for para colocar o governo na fogueira da ética. Não por acaso, os aliados fizeram coro em favor da convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Para você que não se lembra do caso, ela terá de comparecer ao Congresso para explicar a compra de lanchas da empresa Intech Boarding nos tempos em que era ministra da Pesca. A empresa teria doado recursos à campanha do PT em 2010, quando a candidata a governadora de Santa Catarina era a própria Ideli.

Por falar em PT...
O governo não gostou de ver Ideli chamada à Câmara para falar sobre essa compra das lanchas. Mas depois de pesquisar daqui e dali, os governistas concluíram que foi uma operação casada que envolveu a oposição, o PMDB e o próprio PT. Parte dos petistas na Câmara não se sente muito à vontade com Ideli, uma vez que o cargo hoje ocupado por ela escorreu pelos dedos de deputados do partido — Luiz Sérgio (PT-RJ), vale lembrar, também foi ministro da Pesca e deu declarações a respeito das lanchas que ajudaram a colocar lenha na fogueira para a convocação de Ideli.

Mas, entre os ministros de Dilma, a avaliação é a de que não adianta a bancada petista tentar balançar Ideli para ver se a presidente lhes dá o cargo. O Planalto considera que o papel do PT será montar uma corrente de solidariedade e proteção em torno de Ideli Salvatti. Mostrar que ela está fortalecida e não tem nada a ver com o episódio das lanchas, uma vez que a licitação foi anterior ao seu período de ministra.

Ao Planalto, interessa saber se os congressistas serão agora capazes de praticar o desapego: no caso dos petistas na Câmara, esquecer as desavenças internas, as frustrações e proteger Ideli. E, aos senadores de tantos partidos no Senado, deixar o Conselho de Ética da Casa a cargo de quem não tiver problemas de foro íntimo para relatar episódios como o de Demóstenes Torres. Nos dois casos, leitor, a tarefa não é nada fácil para os personagens em questão. Vamos aguardar.

Governar é dar parabéns! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 13/04/12



Antes que algum palhaço resolva se candidatar em 2014 prometendo depois contar ao eleitor o que faz um governador, vai aqui um desestímulo: governar é uma chatice danada, especialmente para quem é honesto no exercício do mandato!
Olha só o exemplo do governador de Goiás, Marconi Perillo, explicando um telefonema seu para Carlinhos Cachoeira: "Eu ligo todos os dias para algumas dezenas de pessoas cumprimentando pelo aniversário!"
Sabe lá o que é isso? Afora a listinha de primos, tios, cunhados e afilhados aniversariantes que a mãe do governador se encarrega de lembrar - "Dá um alô pra dinda, filho!" -, Perillo recebe "cotidianamente" em seu gabinete uma relação de "empresários, políticos, bispos, pastores, etc" a quem deve parabenizar nesta data querida.
É natural que, de vez em quando, ligue para alguém que até já morreu ou é vivo demais para merecer felicitações.
Governar, como se vê, não é brinquedo, não!

* * *
Se é mesmo verdade que Agnelo Queiroz tentou marcar encontro com Carlinhos Cachoeira, resta saber por que o bicheiro de Goiás não recebeu o governador do Distrito Federal! Vai ver não gosta que lhe façam festa pessoalmente, né?

Assim não dá!O cantor sertanejo Luciano não pode ter mais uma dor de barriga que o Brasil logo pensa que ele está se separando de Zezé di Camargo.

Ti-ti-tiQue diabos Hillary Clinton e Antônio Patriota tanto tricotam? A secretária de Estado dos EUA e o chanceler brasileiro encontram-se novamente na segunda-feira, em Brasília.

InapetênciaCarla Bruni está preocupada. Nicolas Sarkozy parou de comer queijo! Começa assim!

37,8°Uma febrezinha de nada tirou José Sarney da festa de aniversário do PMDB num hotel de Brasília. Nada que justifique nenhuma onda de otimismo no País.

Marca registradaCorre no Distrito Federal o boato de que, no mundo da contravenção, o governador Agnelo Queiroz era chamado de "01" para ser identificado pelo zero à esquerda!

Cabo eleitoralFHC está de malas prontas para a China e o Oriente Médio. O ex-presidente vai dar uma força à campanha de José Serra! Foi isso, pelo menos, que ele disse em casa.

EsconjuroOs umbandistas de Goiás suspenderam, até segunda ordem, todo despacho em cachoeira do Estado.

Mal comparandoNo rastro da decisão do STF sobre anencéfalos, responda rápido: político sem cérebro deve ser abortado do Congresso?

Clube da esquinaMilton Nascimento e Toninho Horta fizeram as pazes! Isso quer dizer o seguinte: nada, absolutamente nada! Relaxa, vai!

Sobre cachoeiras e cascatas - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 13/04/12


A direção nacional do Partido Popular Socialista (PPS) e sua bancada na Câmara dos Deputados apóiam integralmente a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional para apurar a atuação e influência do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Em nossa avaliação, a instalação de uma CPI mista, composta por deputados e senadores, terá mais condições de apurar o funcionamento de toda a rede criminosa comandada pelo empresário, preso durante a operação Monte Carlo da Polícia Federal.
A CPI não deve apenas se concentrar no envolvimento de deputados e senadores com Carlos Cachoeira, como parece ser a intenção do governo de Dilma Rousseff. Precisa ir além para esmiuçar toda a ramificação de sua organização nos governos federal, estaduais e municipais. Para o PPS, a apuração também deve centrar foco nos relacionamentos de Cachoeira com o mundo empresarial.
Além disso, há fortes indícios da atuação da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira no financiamento de campanhas eleitorais, outro ponto a ser investigado pela CPI. De nossa parte, reafirmamos ainda nossa firme vigilância com relação aos atos da administração federal e de quaisquer outros governos ou parlamentares envolvidos em denúncias de irregularidades ou que pratiquem atos contrários ao interesse público.
À medida que novas informações são publicadas pela imprensa, sinto que por trás dessa enxurrada de ilícitos o que estamos paulatinamente vendo desnudar-se é o Estado preso à lógica mafiosa. A Operação Mãos Limpas realizada nos anos 80 na Itália já demonstrou até onde pode ir o conluio entre agentes do Estado e o crime organizado.
Não nos esqueçamos de que desde assassinato do prefeito Celso Daniel, em Santo André, bem antes da eleição de Lula, passando pela denúncia do "mensalão" em seu primeiro mandato, uma "sofisticada organização criminosa especializada em desviar recursos públicos" - como foi definida pelo Procurador Geral da República -, o que estamos assistindo é a mesma lógica mafiosa instalar-se no centro da estrutura do Estado no Brasil com grandes e pequenos agentes.
Enquanto não aprofundarmos a investigação das relações entre "crime organizado" e Estado, estaremos muito longe de compreender o fenômeno da lógica mafiosa que no Brasil encontrou um terreno fértil para crescer à sobra de um Legislativo e Judiciário lenientes e um Executivo acolhedor de tais práticas.
É a lógica mafiosa do Estado que se instalou no país que devemos mirar, com o apoio das investigações da Polícia Federal e imprensa, mesmo que grande parte da sociedade ainda continue míope para a verdadeira questão que estamos enfrentando: a relação incestuosa entre Estado e crime organizado.
Enquanto isso, um assessor do Palácio do Planalto informou ao governo ter conversado, em 2010, com um dos principais aliados do empresário Carlinhos Cachoeira para tratar do apoio do senador Demóstenes Torres, à candidatura presidencial de Dilma Rousseff.
Nunca o Brasil necessitou tanto de uma Operação Mãos Limpas, como agora.

Ação e inação - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 13/04/12

Uma das recomendações da Cartilha do Político Esperto, que nunca foi escrita, por motivo óbvio (os membros da venerável profissão não admitem que tenham qualquer coisa a aprender em matéria de esperteza), estabelece que a classe deve investigar acusações - ou, em alguns casos, até meras suspeitas - de mau comportamento em suas fileiras.
Há dois motivos óbvios para isso. Um é óbvio: manda-se para a opinião pública o recado de que a classe é zelosa na defesa da honestidade na vida pública. O outro é, digamos assim, solerte: a autoinvestigação pode ter os limites que forem considerados adequados aos interesses dos autoinvestigados. A não ser em casos de masoquismo grave no comportamento desses cidadãos. Na atividade política, aqui e além-mar, o masoquismo é praticamente inexistente.
Tudo isso levado em conta, devemos saudar, com o entusiasmo que nos resta, a reação do Congresso à revelação de que o cidadão Carlos Augusto Ramos, que atende pelo nome artístico de Carlinhos Cachoeira e exerce a profissão de banqueiro de atividades financeiras informais - ou seja, é um bicheiro, e dos graúdos - mantém relações pouco recomendáveis com congressistas de variados partidos.
Um esclarecimento aos inocentes: bicheiros não são apenas gestores de uma loteria informal quase inocente. Trabalham nessa área, mas são também financiadores e gestores de toda sorte de crimes cabeludos.
Duas medidas foram anunciadas: a criação de uma CPI mista - iniciativa, portanto, de todas as bancadas - para investigar as relações perigosas de parlamentares com Cachoeira e, mais especificamente, a apuração, pelo Conselho de Ética do Senado, do comportamento do Senador Demóstenes Torres (sem partido, o que não acontece por acaso), que gravações mostram ser o que o jornal define corretamente como "o braço parlamentar do bicheiro". Engraçado? Não é, não. Há um dado curioso e animador nessas iniciativas: não se trata de ações de oposicionistas contra governistas ou vice-versa. Podem ser investigados, por exemplo, o governador de Goiás, do PSDB, e o do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT. Ou seja, o Congresso está agindo como deve.
O Palácio do Planalto ainda não se manifestou. É como se não tivesse nada a ver com essa triste e séria história. Mas tem. E ficará na memória do povo da planície o registro de quem agiu e de quem não se mexeu. 

Pretensão de culpa e seus efeitos - RODOLFO LANDIM

Folha de S. Paulo - 13/04/12
Antes de tirar conclusões precipitadas e infundadas, é preciso analisar o que provocou o acidente no mar


Passados vários meses do problema ocorrido durante a perfuração de um poço de petróleo no campo de Frade, na bacia de Campos (RJ), o assunto voltou ao noticiário após a divulgação, pela Chevron, de que pequenos volumes de óleo foram observados exsudando -brotando em forma de gotas no fundo do mar- a cerca de três quilômetros de distância do poço anteriormente perfurado.

Tal fato desencadeou ações por parte de autoridades envolvidas que culminaram com o bloqueio dos passaportes de 11 empregados da Chevron, concessionária operadora do campo de Frade, e de cinco da Transocean, empresa prestadora de serviços, especializada em perfurar poços. Além disso, foi pedida a condenação dessas pessoas, o congelamento de seus bens e a restrição à remessa de dinheiro ao exterior das duas empresas para garantir o pagamento de multa de R$ 20 bilhões.

Mas parece faltar muita fundamentação para tudo isso. Tomemos como exemplo a responsabilização da Transocean, para a qual foi solicitada a suspensão das atividades de extração e de transporte de petróleo, coisas que ela não faz.

Inicialmente, há que se fazer a distinção de papéis e responsabilidades entre as empresas concessionárias e empresas prestadoras de serviços. As empresas concessionárias são aquelas autorizadas a explorar uma área à procura de uma jazida mineral. Normalmente, essas empresas atuam em consórcio e elegem uma delas para ser a operadora. São elas que, solidariamente, não só se beneficiam dos lucros obtidos pelo consórcio como também são as únicas responsáveis, perante a União, por qualquer problema ocorrido nas diversas fases da vida dos campos de petróleo, fato claramente estabelecido nos contratos de concessão assinados com a ANP.

Para a consecução de seus objetivos, a empresa operadora do consórcio contrata e supervisiona o trabalho de várias empresas especializadas na prestação de diferentes serviços, as quais, obviamente, têm compromissos em relação à qualidade dos trabalhos por elas praticados. Mas só isso, até porque a maior parte das informações sobre os projetos é estratégica e mantida sob sigilo pelas concessionárias.

Os empregados de empresas de sondagem são treinados para seguir rígidos procedimentos de segurança quando identificam problemas como os que deram origem ao ocorrido no campo de Frade. E, por tudo o que foi divulgado, as operações foram realizadas corretamente, sem falha mecânica de nenhum equipamento, e os problemas ocorridos foram da baixa resistência de rochas, algo fora da competência da Transocean.

Os efeitos do clima de insegurança gerado entre os técnicos dificilmente ficará restrito aos envolvidos. Em uma indústria já carente de gente especializada, será ainda mais difícil para as empresas de sondagem conseguir contratar profissionais dispostos a trabalhar por aqui. Isso sem falar que, na próxima ocorrência semelhante, o responsável pela operação poderá querer buscar a autorização de seu gerente, e este, de seu superior, antes de agir para se cobrirem de eventuais responsabilidades, aí sim perdendo tempo precioso e colocando em risco toda a operação.

Adicionalmente, riscos que até então eram considerados desprezíveis pelas companhias de sondagem serão quantificados a partir de agora. Os futuros preços dos serviços deverão passar a contar com novas margens para a cobertura de seguros e de advogados, o que encarecerá os já altíssimos custos de exploração marítima.

Isso tudo sem falar que, caso o pedido de paralisação das atividades da Transocean seja aceito, além do impacto econômico na companhia haverá grandes atrasos nos projetos da Petrobras, contratante de oito das dez sondas da Transocean em operação no Brasil.

A verdade também é que exsudações são fenômenos naturais que ocorrem não apenas provocados pela ação humana. A análise de suas causas envolve conhecimento técnico profundo, aplicado em estudos geológicos complexos, tendo gente especializada à frente, algo que merece e precisa ser feito para o caso em questão antes de serem tiradas conclusões precipitadas, infundadas e injustas.

Dilma busca aliados para enfrentar a banca - MARIA CRISTINA FERNANDES

VALOR ECONÔMICO - 13/04/12


Minutos depois de ser empossado, em 27 março de 2006, no Ministério da Fazenda, Guido Mantega ligou para o secretário-executivo da Pasta, Murilo Portugal. Queria conversar sobre o posto que assumiria. "Não tenho o que conversar porque estou demissionário", disse-lhe Portugal que, até aquele momento, havia sido o segundo de Antonio Palocci no ministério.

Ao desligar, Mantega relatou o telefonema sem esconder a contrariedade, compartilhada pelos colegas de governo que estavam ao seu lado. Entre eles, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Mantega continua no mesmo lugar e Portugal virou presidente do sindicato dos bancos. A trombada pública aconteceu ontem, quando Mantega subiu o tom para reagir às condições do sistema financeiro para a redução do spread, mas a rota de colisão começou a ser traçada cinco anos atrás, quando Dilma Rousseff ajudaria a remontar a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva depois da saída de Palocci.

A crise de 2008 imbicaria novamente a curva de juros para cima, reduzindo a marcha da colisão no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a posse de Dilma, porém, a rota estava traçada e foi publicamente exposta pela presidente da República: a política monetária é a vantagem comparativa do Brasil num mundo que já derrubou os juros e ainda não tirou o pé da lama.

A curva descendente do Copom, a redução dos juros cobrados pelos bancos públicos e a subida de tom do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a Febraban são apenas a confirmação do norte perseguido por Dilma Rousseff desde que começou a ter ingerência para além dos megawatts.

O que só agora começa a ganhar contornos claros é que a presidente, frequentemente criticada por inabilidade, monta uma ampla aliança política para isolar o sistema financeiro na guerra do spread.

Essa aliança passa pela recuperação do poder dos Estados com a troca do indexador de suas dívidas e o afrouxamento das condições em que incentivos tributários estaduais podem vir a ser concedidos. É a reversão de um processo iniciado duas décadas atrás com a implantação do Real.

Para conter a explosão de demandas - e de sua face monetária, a inflação - trazida pela Constituição de 1988, a estabilidade da economia neutralizou a política.

O país vinha do trauma do impeachment, que abortou o mandato de Fernando Collor, o único governador de Estado eleito para a Presidência da República desde a redemocratização.

Foi aquela crise política que abriu caminho para um plano de estabilidade monetária que esvaziou a federação. Teve como pressupostos o Fundo de Estabilização Financeira (FEF), que daria origem à DRU e canalizaria recursos de Estados e municípios para o Tesouro nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o acordo da dívida e a privatização dos bancos estaduais.

Com os cofres esvaziados, dívidas a pagar, limites rígidos para contrair novas e proibidos de usar recursos fiscais para atrair empresas, os Estados foram desprovidos de poder político na mesma velocidade em que cresceu sua dependência da União.

A subversão dessa ordem não está em jogo e tampouco se corre o risco de as finanças estaduais voltarem a ser a casa da mãe joana. Até porque o governo federal não parece estar interessado em abrir mão da concentração de recursos políticos e fiscais gerada pelo esvaziamento dos Estados.

O que está em curso, com a discussão da troca do indexador das dívidas estaduais e municipais e o afrouxamento das condições em que incentivos tributários podem ser concedidos pelos Estados, é a recuperação dos governadores como atores políticos capazes de engrossar o setor produtivo no cabo de guerra com o sistema financeiro.

Reabilitados no seu poder de conceder incentivos e investir na infraestrutura de seus Estados, os governadores podem voltar a ser interlocutores das federações industriais e sindicatos que ao longo dos últimos anos têm batido um bumbo surdo na toada do desenvolvimento.

A aliança é reforçada também pela posse em julho do primeiro presidente bancário da história da CUT. Em entrevista a Raphael Di Cunto, publicada hoje no Valor, Wagner Freitas diz que a investida contra o spread bancário será a principal bandeira da entidade sob sua presidência.

Até o senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal liderança do partido que operou a lógica da federação subordinada, hoje diz que a União virou rentista dos Estados e reclama de juros superiores àqueles pagos pelas empresas ao BNDES.

Pelo teor das propostas feitas pelo sindicato dos bancos, está claro que esta é uma guerra que requer aliados até da oposição. Entre as condições para que o spread seja reduzido há muitas que dependem do Congresso e outras tantas que enfrentariam infinitas batalhas judiciais, como a exigência de que a previdência complementar dos correntistas entre como garantia do crédito.

Muitas dessas garantias são de difícil execução e os bancos sinalizam que, sem elas, não há redução de spread à vista. Enquanto isso, como os juros efetivamente já estão caindo, não é difícil para o governo convencer a opinião pública de que a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo vai para um bolso que não é o do correntista.

Vitor Belous, leitor do blog Casa das Caldeiras (www.valoronline.com.br), é um exemplo do campo fértil para o discurso do governo. O leitor comenta a alegação de inadimplência para a formação do spread: "As instituições emprestam mais do que a renda mensal do cliente comporta, ultrapassando 30% do comprometimento mensal do tomador. Os bancos pregam em seus informes publicitários o uso consciente do crédito, mas a realidade dentro das agências é outra, bater metas".

Dilma, com os aliados que tem, é bem-sucedida na imagem de que combate a corrupção. É de se supor que também seja capaz de angariar apoio da opinião pública ao isolar quem pinta de vermelho as contas correntes. Na pior das hipóteses, já conseguiu que a banca, agora, se disponha a conversar.

Cortar juros e spread é política de governo - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 13/04/12


De nada vai adiantar reduzir a taxa básica de juros se os bancos não tornarem o crédito mais barato para o tomador final. A presidente Dilma Rousseff decidiu comprar essa briga, instruiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a endurecer ontem com os bancos privados e definiu a estratégia para induzir o sistema bancário privado a cortar seus spreads. Medido pela diferença entre o que o banco paga na captação e o que ele cobra em seus empréstimos, o spread no Brasil é um dos mais elevados do mundo.

"Juros em níveis civilizados é o nosso Plano Real", sintetizou uma fonte do Palácio do Planalto, dando a dimensão do que o assunto significa para o governo. Na quarta-feira, quando retornou da viagem aos Estados Unidos, a presidente esteve por mais de uma hora com Mantega.

No encontro, o ministro relatou as conversas da terça-feira com os representantes dos bancos privados e a postura da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), de passar a "bola" para a Fazenda, ao listar duas dezenas de propostas de medidas como precondição para reduzir o custo do dinheiro.

Dilma considerou a reação dos bancos privados inadequada e recomendou ao ministro endurecer o jogo. Na noite da quarta-feira, sua assessoria avisou aos jornalistas que o ministro falaria ontem pela manhã sobre spread.

"O Murilo Portugal [presidente da Febraban], em vez de apresentar soluções, anunciando aumento de crédito, veio aqui fazer cobrança de novas medidas do governo", disse Mantega. "Os bancos privados querem jogar a conta dos elevados custos do spread bancário nas costas do governo", prosseguiu, e devolveu a "bola", ao afirmar: "Os bancos têm margem para elevar o crédito no país sem que o governo tenha que mexer em nada".

A Febraban apresentou um leque de sugestões para o governo, da redução dos impostos sobre a intermediação financeira à liberação de depósitos compulsórios, dentre outras medidas para melhorar as garantias dos bancos e o ambiente legal em casos de inadimplência. Cortar os impostos e aliviar o compulsório estão fora do radar do governo. As demais propostas podem ser analisadas, embora o clima entre o Palácio do Planalto e os bancos privados, que nunca foi de muita aproximação, tenha se azedado nesta semana.

Dois dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçam os argumentos oficiais contra os altos spreads. Apenas o Zimbábue, numa lista de 137 países, tem essa margem maior do que a do Brasil. O spread médio naquele país é de 75 pontos percentuais e, aqui, está na casa dos 30 pontos percentuais, segundo estudo feito pelo FMI há dois anos e que retrata uma situação que não mudou muito de lá para cá.

De uma lista de dez países também selecionados em um trabalho do Fundo, feito no ano passado, os bancos no Brasil são os que têm a mais elevada taxa de retorno sobre o capital. Essa taxa é de 27,3% aqui, seguida de 23,4% no Canadá e de 20,6% na Austrália, dentre outros.

Dilma, desde a campanha eleitoral, está determinada a entregar o governo, em 2014, com juros reais na casa dos 2% ao ano, mais compatíveis com as taxas internacionais em tempos de normalidade. Esse é um objetivo que só faz sentido se reduzir o custo do capital para todos, consumidores e empresas.

No período em que a Selic caiu 2,75 pontos percentuais, de 12,50% em julho para 9,75% ao ano atualmente, no entanto o spread médio não teve nenhuma redução. Ao contrário, subiu de 27,4% em julho para 28,1%, segundo dados do Banco Central até fevereiro. Os dirigentes do setor privado alegam que essa margem cresceu por causa da inadimplência que, de fato, aumentou. Em entrevista durante a viagem aos Estados Unidos, Dilma considerou esse argumento uma mera "desculpa" ao comentar que a inadimplência na Europa hoje é elevadíssima e nem por isso os spreads cobrados pelos bancos europeus são os mais altos do mundo.

"Essa é uma briga de governo e a entrevista do ministro Mantega, hoje, não foi por acaso", disse a fonte do Palácio do Planalto. Usar os bancos públicos - Banco do Brasil e Caixa - para liderar o processo de redução dos juros e dos spreads também "é uma política de governo", completou, garantindo, ainda, que a presidente "tem uma estratégia". Essa começa com a ação dos bancos públicos, cuja tática concorrencial é reduzir a margem, aumentar o volume de crédito e diminuir a inadimplência. Ao fim desse processo, acredita o governo, BB e Caixa sairão mais fortes e lucrativos. Mas haveria, também, outras armas que as fontes envolvidas nessa questão não antecipam.

A experiência da crise global de 2008/2009 foi emblemática para os bancos oficiais. Em dezembro de 2007 eles respondiam por 34,07% do crédito total e os privados, por 65,92% (sendo 43,82% dos nacionais e 22,1% dos estrangeiros). No auge da crise, o governo acionou suas instituições para ofertar crédito à economia, já que os bancos privados se retraíram e a recessão poderia ser mais profunda e duradoura. Hoje as instituições públicas detêm 43,78% do mercado de crédito e os bancos privados, 56,21% (38,99% dos nacionais e 17,21% dos estrangeiros), segundo dados do Banco Central de fevereiro.

Se o sistema privado não se mexer agora, pode perder mais mercado, avisou o ministro da Fazenda aos dirigentes dos bancos, na primeira reunião no fim de março.

A queda de braço entre governo e sistema financeiro em torno do spread é antiga, mas crises externas e internas sempre adiaram uma solução. Os bancos privados alegam que a margem bruta é elevada, mas há um oceano de custos envolvidos, parte deles impostos pelo governo, e o spread líquido (margem de lucro) obedece a padrões internacionais. A área econômica do governo rechaça essa tese e diz que já é hora de se discutir, no país, a produtividade e o lucro dos bancos.

Para o Planalto, a história está apenas começando. O que não está claro, no momento, é se o presidente da Febraban prosseguirá como o principal interlocutor do ministro da Fazenda.

Will - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 13/04/12


A obra do dramaturgo está recheada de ambições de reinado, dinastias de glórias e danações funestas


Harold Bloom afirma que Shakespeare não foi feito para ser dito. Só o leitor, na mudez da consciência, seria capaz de apreender a dimensão da poesia do inglês na sua totalidade.

Se Bloom, que já ouviu o bardo na língua nativa e da boca dos mais nobres intérpretes, acha que ninguém dá conta, quem sou eu para afirmar o contrário?

A categórica opinião do americano veio me trazer alívio. É voz corrente, no teatro brasileiro, que um dos grandes empecilhos a nos afastar do maior autor teatral do planeta, fora todos os outros, é a nossa incapacidade de incorporar a contento reis e rainhas, duques e princesas, lordes e aristocratas. Os poucos imperadores que tivemos, tratamos aos pontapés. Não carregamos conosco o sentido da realeza.
A obra do dramaturgo está recheada de títulos e ambições de reinado, dinastias de glórias e danações funestas. Um retrato da corte da mais independente potência do mundo ocidental.

Traições, conspirações, assassinatos e execuções faziam parte do cotidiano de Londres e decidiam o mapa geopolítico da Europa. Como fazer um país colonial, como o Brasil, parir comediantes capazes de dimensionar tal poderio?

"Como Shakespeare se Tornou Shakespeare", de Stephen Greenblatt, editado pela Companhia das Letras, está curando o meu temor ao gênio.

Quem me passou o livro foi minha progenitora. Ela o encarnou raras vezes, apenas pequenos trechos, além de ensaiar um "A Megera Domada" que nunca chegou a estrear.

Com uma vasta experiência em destrinchar autores, Fernanda costuma dizer que o problema com Shakespeare é que, mal você dá conta de uma imagem, ele já propõe outra igualmente profunda, e mais outra ainda mais poética, e mais outra, e mais outra, e mais outra... O ator vai à lona por nocaute.
Greenblatt adverte que a biografia de um homem que viveu há 400 anos atrás é um apanhado de suposições, mas tenta ancorá-las tanto nas provas conhecidas da existência do autor como também, e principalmente, na sua obra.

Filho de um artesão de luvas finas e negociante clandestino de lã, o jovem Will testemunha a ascensão e queda de seu pai, queda essa que o afasta em definitivo da faculdade. Ainda moço, é obrigado a casar, após ter engravidado uma mulher mais velha, a quem deixa no interior com os três filhos. Talvez fugido, parte de Stratford com uma trupe de artistas, o fim da cadeia alimentar da sociedade de então.
Na metrópole, se torna íntimo do submundo dos palcos. Autores como Marlowe e Greene viviam entre a farra e a bandidagem. São vândalos formados em Cambridge e Oxford. Se insultam em latim, travam duelos em grego, fazem espionagem e distribuem sopapos em prostíbulos.

O biógrafo descreve o suposto Will como um ser distante da violenta boêmia e arrisca o perfil de um forasteiro tão vira-lata quanto qualquer colono dos trópicos: ator plebeu do interior, que vence sua falta de formação, nobreza e dinheiro amparado por uma genialidade capaz de absorver e recriar o mundo à sua volta.

De Greene, forja Falstaff e lança desafios a Marlowe, indo além dele. Do pavor de bruxas do recém-coroado Jaime I, Shakespeare evoca o trio infernal de "Macbeth"; em
"Hamlet", promove em cena a missa fúnebre, proibida pelos protestantes aos católicos, em louvor à morte de seu pai e seu filho.

O bardo cobriu sua obra de pistas sobre suas reflexões íntimas a respeito do casamento, da xenofobia, do homossexualismo, da religião e da morte; mas o fez com discrição. O teor das palavras levou muitos à forca na Inglaterra da virada do século 17.

Greenblatt traçou um precioso guia para reler Shakespeare do ponto de vista pessoal. Essa quase biografia é obrigatória para qualquer ator emergente intimidado pela vasto império de palavras do inglês. Ela o tira do Olimpo e o aproxima dos vis mortais.

Jamais me seduziram as teorias de que Shakespeare era outro, ou outros, que não ele mesmo. Ao tentar descobrir o homem escondido nas tragédias, comédias e sonetos, Greenblatt o torna tão imenso quanto os personagens que inventou. A impressionante reunião de todos eles.

Pecados contemporâneos - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 13/04/12


Instituição cristã do século 6.º, os sete pecados capitais fizeram história na literatura, no teatro, na dança, no cinema e nas artes plásticas, mas saíram de moda. Não que a avareza, a gula, a luxúria, a ira, a inveja, o orgulho e a preguiça tenham caído em desuso, mas diante de todas as transformações dos tempos modernos, os pecados estão precisando de uma atualização.

Numa sociedade de consumo e abundância, a gula nem merecia ser pecado, muito menos capital. Porque provoca obesidade, colesterol alto e artérias entupidas. Não precisa de absolvição, só de dieta, exercício ou redução de estômago. Mas se for gula metafórica, como a de Wall Street, aí, sim, é um legítimo pecado capital. Como a gula dos políticos por verbas.

A ira, a menos que usada profissionalmente por lutadores do UFC, pode provocar reações violentas de suas vítimas, e enfartes, derrames e apoplexias fatais no irado. Além de pecado, leva à perda da razão e dos argumentos, impedindo a solução racional dos problemas.

A preguiça, a não ser associada ao roubo (que é pecado contra outro mandamento) ou ao gênio de Dorival Caymmi, é garantia de fracasso em qualquer atividade humana, inclusive a sexual.

O orgulho e a vaidade, no fundo, e na superfície, são o mesmo pecado, que hoje é chamado de narcisismo, atitude, excesso de autoestima. Numa sociedade que cultua a competitividade, o exibicionismo e a aparência física, é requisito social e profissional, pecado praticamente obrigatório.

A inveja, todo mundo sabe, é uma merda. Mas nem sempre: às vezes é o impulso para grandes conquistas de gente invejosa, mas talentosa, trabalhadora e determinada. Invejosos burros, vagabundos e incompetentes mascam suas frustrações como chicletes.

Como falar em avareza numa sociedade de consumo movida a juros? Mas a avareza de sentimentos, a indiferença, o cinismo, a intolerância, está liberada.

Pecado da carne, do desejo e do prazer, a luxúria segue movendo a vida. Para o bem e para o mal. Só que no homem é chamada de virilidade e na mulher de piranhice.

Os pecadores não precisam temer o castigo divino. Já vem incluído no pacote.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 13/04/12


Excesso de receita em papel atrapalha farmácias

O aumento do consumo de medicamentos no Brasil e, consequentemente, o maior volume de receitas em papel, começa a criar embaraço para as farmácias.

O problema pode piorar se não forem discutidas maneiras de utilizar receitas médicas eletrônicas, segundo a Abrafarma (associação de redes de drogarias).

O mercado farmacêutico deve passar de R$ 41 bilhões em 2011 para R$ 90 bilhões em 2015, devido ao aumento da renda e de programas como o Farmácia Popular, de acordo com Sérgio Mena Barreto, presidente da entidade.

"Temos de enviar para a Anvisa os dados da movimentação de medicamentos no sistema nacional de gerenciamento do produto controlado. Isso é uma coisa boa, mas o farmacêutico virou um digitador de luxo. Precisa de um sistema informatizado."

Membros da Abrafarma viajaram nesta semana para a Turquia para conhecer seu sistema de receita eletrônica e desenvolver sugestões para enviar ao governo brasileiro. "É preciso fazer uma revisão na legislação", diz Barreto.

Uma das ideias é que o paciente não tenha que levar a receita à farmácia todas as vezes que for comprar um produto de uso contínuo.

"Tem que ficar armazenado digitalmente. Nos EUA, ninguém sai do consultório médico carregando uma receita de papel. Cada um tem um cartão com um número de prescrição digital", afirma.

"Se o setor não sair do modo manual, haverá um estrangulamento."

CASA NO CAMPO

O Grupo Senpar elabora dois projetos de condomínios de luxo que envolverão aporte de R$ 60 milhões.

Metade do valor será destinado ao desenvolvimento da Fazenda SerrAzul 2, que ficará entre Campinas e Jundiaí, onde a empresa já construiu um condomínio semelhante e o Outlet Premium.

O empreendimento terá 400 lotes de 800 m2 a 1.000 m2 cada um. As obras começarão no segundo semestre.

A empresa ainda planeja um terceiro condomínio para a região para 2013.

"Esse será maior, com cerca de mil lotes. Será independente dos outros, com campo de futebol e quadra de tênis próprios, mas os três condomínios irão dividir as estruturas da hípica, de um hotel e de uma escola [em fase de negociação], diz o diretor-geral do grupo, Cesar Federmann.

Os outros R$ 30 milhões serão investidos em Itu, onde também será formado um complexo com os outros condomínios que o grupo projetou anteriormente para o local.

Hillary tem novo encontro com empresários brasileiros

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, voltará a se reunir com empresários brasileiros em menos de uma semana.

Após participar na última segunda-feira de um seminário que envolveu o setor privado dos dois países em Washington, ela vai visitar, no próximo dia 16, a CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília.

Apesar de os EUA já terem anunciado a abertura de mais dois consulados no Brasil, em Belo Horizonte e Porto Alegre, o presidente da CNI, Robson Andrade, ainda acha que pode sair mais.

"Temos expectativa de que ela anuncie mais uma facilitação. Mas não sabemos se vai acontecer", diz.

Além do turismo, estão na pauta temas ligados a inovação. Assuntos mais espinhosos devem ficar de fora.

DISTRIBUIÇÃO HIGIÊNICA

A Santher, dona das marcas de papéis Snob e Personal, de absorventes Sym e lenços Kiss, inicia neste mês as operações de um centro de distribuição em Arujá (SP).

A empresa, que já tem centros em Itapevi e Bragança Paulista, escolheu Arujá devido à proximidade da rodovia Presidente Dutra.

Será uma área de 30 mil metros quadrados, com 11 galpões e 33 docas. Foram investidos R$ 10 milhões.

RELATÓRIO ARTÍSTICO

O relatório anual do Grupo Pirelli de 2011 terá não apenas os resultados financeiros, como também ilustrações e textos literários exclusivos.

O designer gráfico holandês Stefan Glerum e os escritores, o espanhol Javier Cercas, o argentino Guillermo Martínez, o alemão Hans Magnus Enzensberger e o americano William Least Heat-Moon, capturam o que executivos da empresa chamam de "nossa alma de borracha".

Os trabalhos vão acompanhar o relatório tradicional com os números do grupo, cuja versão integral será apresentada em maio.

O faturamento global em 2011 foi de € 5,6 bilhões, alta de 16,6% ante o ano anterior. Para 2012, a expectativa é de aumento de 17% em relação ao ano passado.

SUPREMACIA SUÍÇA

Os suíços têm um poder de compra per capita superior em 50% ao dos alemães, enquanto os austríacos têm um índice similar, apenas 3% maior, segundo a consultoria GFK.

O alto padrão da sociedade suíça garantirá aos seus cidadãos um poder de compra, em 2012, de cerca de

€ 30 mil para serem gastos com consumo e necessidades básicas.

Os alemães contarão apenas com cerca de € 20 mil, patamar próximo ao austríaco, de aproximadamente € 21 mil.

Essa diferença pode ser explicada, em parte, pela grande valorização do franco suíço em relação ao euro, uma vez que a moeda foi menos afetada pela recessão europeia dos últimos anos.

A região de Zug, na Suíça, tem o maior poder de compra per capita dos três países.

Vinho hermano O grupo brasileiro JCS investe na ampliação da vinícola argentina Finca Otaviano, que produz os vinhos Penedo Borges, em Mendoza. O Brasil é o principal destino dos embarques dessas bebidas, consumindo 70% do total exportado.

Na vizinhança A Petrobras vai investir US$ 38 milhões no Paraguai para modernizar seus postos. A empresa comemora neste mês seis anos de presença no país vizinho, onde é responsável por 20% da venda de combustíveis e lubrificantes, segundo a companhia.

Parceria Cerca de 500 empresas, representantes de câmaras setoriais e federações de indústrias da América Latina estarão em Viena entre 14 e 18 de maio para participar de um encontro, com rodadas de negócios e workshops, promovido pela Câmara Federal de Economia da Áustria.

Voluntarismo financeiro - CELSO MING


O Estado de S. Paulo - 13/04/12


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou nesta quinta-feira que o governo pode endurecer seu jogo com os senhores do dinheiro. Desta vez, expôs seu descontentamento com a falta de determinação dos banqueiros em derrubar o spread (diferença entre o que pagam pelos recursos e o que cobram nos empréstimos).

Por disposição de ofício, banqueiro não gosta de parecer brigão. Prefere trabalhar na moita, passando a impressão de que está de bem com todos, mesmo quando o governo Dilma dá sinais de que se prepara para entrar em rota de colisão com o setor. Para o governo, banqueiros estão na contramão em dois objetivos de política econômica.

O primeiro deles é a repentina redução de interesse dos bancos privados em ampliar operações de crédito, justamente num momento em que a atividade econômica ficou mais fraca. Ou seja, para o governo, os bancos não colaboram na execução de uma política anticíclica.

Os bancos privados se mostram menos interessados na expansão do crédito até mesmo nos segmentos em que as garantias são de melhor qualidade, como o do financiamento de veículos, na medida em que conta com a proteção proporcionada pelo estatuto da reserva de domínio. (Se deixa de pagar suas prestações, o credor tem de entregar seu veículo ao banco, um processo relativamente rápido.)

Entendem que, depois da rápida escalada que durou dez anos, em que avançou de 26,8% para 48,8% do PIB, o mercado de crédito se estreitou. Esse estrangulamento pode ser aferido hoje pelo aumento dos índices de inadimplência – de 5,8%, no início de 2011, para os atuais 7,6%. Entre perder mercado e perder rentabilidade, os bancos preferem perder mercado. Por isso, parecem menos propensos a atender o governo nesse quesito.

A segunda fonte de descontentamento do governo Dilma com os bancos é um problema crônico: são os juros escorchantes cobrados no crédito, que conspiram contra o interesse do governo de derrubar os juros e os custos de produção da economia.

Para atacar essas duas fontes de descontentamento, o governo mobilizou os bancos oficiais, hoje com cerca de 44% do mercado nacional de crédito. Quer que Banco do Brasil e Caixa Econômica atuem mais agressivamente no crédito, seja expandindo suas operações, seja derrubando os juros cobrados dos tomadores.

A decisão de chamar para a briga demonstra certa fraqueza do governo. Sempre que apela para o voluntarismo ou para falsas quedas de braço, produz mais espuma que substância. É preciso, também, atacar as condições técnicas que mantêm os spreads bancários na altura em que estão.

Por outro lado, acionar os bancos oficiais para tentar acirrar a concorrência num setor que opera com altos níveis de cartelização leva o risco de criar distorções. Quando criou e depois manteve a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) a juros artificialmente baixos, o governo montou o monopólio do BNDES regado com recursos (fundings) oficiais e matou o mercado de financiamento de longo prazo (exceto pelo crédito habitacional).

E é esse o risco que correm os segmentos de crédito de curto prazo.

Sem controle - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 13/04/12


Antes mesmo de começar, a CPI Mista sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira já está provocando seus estragos. O ex-delegado Protógenes Queiroz, que personifica na Câmara o justiceiro implacável contra a corrupção, foi apanhado num grampo da Polícia Federal no papel de amigo de fé do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, vulgo Dadá, o principal operador do bicheiro.

Como nesse caso as atividades legais se misturam com as ilegais, assim como o assessor palaciano Olavo Noleto, subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, alegou negociações políticas para explicar sua conversa com um braço-direito de Cachoeira, também Protógenes disse que sua relação com Dadá era "profissional".

Por "profissional" entenda-se o submundo do crime organizado, onde Dadá, que hoje está na cadeia, pontificava como o principal homem encarregado pelo esquema do bicheiro pelas escutas telefônicas.

Dadá, aliás, andou envolvido no esquema de escutas do escritório eleitoral da candidata Dilma Rousseff no Lago Sul de Brasília, levado por Amaury Ribeiro Junior, o autor do livro "Privataria tucana", que Protógenes também quer investigar em outra CPI.

Quer dizer, Protógenes poderá ser alvo de investigações de suas próprias CPIs, assim como Demóstenes está sendo vítima de sua dupla atuação política, misturando o lado legal com o ilegal.

Também o PT viu confrontada sua intenção ao apoiar a CPI quando tentou reduzir sua abrangência, querendo retirar dos fatos determinados a serem analisados as empresas públicas e privadas, deixando apenas as relações de Cachoeira com os políticos para serem investigadas.

Essa tentativa de "redução de danos" mostra bem quais são as intenções do PT ao apoiar a convocação da CPI. Para pegar o governador tucano Marconi Perillo, um desafeto de Lula, eles abrem mão do também governador petista Agnelo Queiroz, numa análise de custo-benefício que seria favorável se pudessem restringir o chamado escopo das investigações.

Um dos principais alvos dessa tentativa de blindagem é a construtora Delta, a empreiteira que se tornou a responsável pela maioria das obras do PAC no governo Dilma, mas que tem perto de R$ 4 bilhões em repasses desde o governo Lula.

Mais de 80% desse total são contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, órgão envolvido em denúncias diversas de corrupção no governo da presidente Dilma, o que por si só indica o potencial de desgaste que essa empreiteira leva consigo para a CPMI.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta, é outro que não está nada satisfeito com a existência da CPI.

Também o presidente do PT, Rui Falcão, teve que recuar diante da repercussão negativa de sua disposição declarada de usar a CPI do Cachoeira para rebater o que classificou de "farsa do mensalão".

Aliás, essa tática escancarada pelos blogueiros governistas parece ter se tornado um verdadeiro "tiro no pé".

Ao se vangloriarem de estarem "melando" o mensalão, esses governistas nada mais fazem do que revelar o temor que têm do julgamento do Supremo Tribunal Federal.

Mas, mesmo embaraçado com a evidência de má-fé política na condução da CPI, Falcão insiste que existe "uma grande pressão" para que se julgue o mensalão "num prazo curto", como se isso fosse criticável.

A ironia involuntária do presidente do PT, pois o processo já leva nada menos que sete anos, fez lembrar uma frase célebre de Getulio Vargas, que classificou de "curto espaço de tempo" os 15 anos em que governou, de 1930 a 1945.

Na outra ponta da mesma crise, a reunião do Conselho de Ética do Senado para o processo de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido) mostra como aquela Casa também sofre do "vício da amizade", conforme definição do ex-corregedor da Câmara Edmar Moreira, também sem partido, o "deputado do Castelo".

O senador Demóstenes, apesar de ser hoje pouco mais que um zumbi a vagar pelas passagens secretas do Congresso, com receio de ser visto, sente-se em condições de questionar a burocracia do Conselho de Ética, pois conhece o regimento melhor do que ninguém.

Demóstenes participou pela manhã da reunião, aparecendo de repente, qual um fantasma, para assustar seus companheiros, e disse que provará sua inocência, e a tática de constrangê-los parece ter dado resultado.

Nada menos que cinco senadores recusaram-se a assumir o cargo de relator do processo: Lobão Filho, do PMDB, alegou questões de "foro íntimo". Seu pai, o ministro Edson Lobão, já declarara que "esse negócio de julgar seus pares é muito complicado".

O mesmo ocorreu com os senadores Gim Argello, do PTB, Cyro Nogueira, do PP (esse recusou por telefone, nem se deu ao trabalho de comparecer), Romero Jucá e Renan Calheiros, ambos do PMDB.

O jeito foi fazer um sorteio, e o petista Humberto Costa acabou tendo que pegar o abacaxi.

Para um Congresso que decidiu abrir uma CPI por razões diversas, menos buscar uma correção de rumos, convenhamos que o roteiro está perfeitamente dentro do previsível.

Clima de CPI - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 13/04/12


BRASÍLIA - A capa da Folha de ontem confirma o clima de CPI.

Na manchete, "Gravação da PF indica pagamento de propina no DF", sobre suposto envolvimento do governo petista com o esquema Cachoeira, aquele que está em todas.

Logo abaixo, em "Câmara convoca Ideli para explicar compra de lanchas" e "Governo paulista suspende compras da PM sob suspeita". Ao lado, em "Roseana usa jato de empresário para viagem oficial aos EUA".

É uma avalanche (ou cachoeira) de desvios, favorecimentos, negócios escusos, ligações perigosas entre público e privado. A sensação do leitor/eleitor é a de que o mundo está de cabeça para baixo, enquanto o Congresso usa a CPI do Cachoeira como manobra política, sem o propósito real de investigar e punir.

A pergunta que não quer calar é: a quem interessa a CPI? Ao Planalto? Aos governistas? À oposição? A nenhum deles, só a nós, jornalistas, e a você, eleitor, leitor, ouvinte e telespectador, que carrega uma robusta carga tributária nas costas.

O PMDB quer uma CPI para assistir de camarote -ou melhor, na presidência da comissão- o desespero do PT e da oposição. Já caíram na rede e nas gravações um governo do PT (o do DF) e um do PSDB (Goiás), um senador do DEM e deputados de diferentes siglas.

É como se Cachoeira tivesse concluído, em algum momento da vida, que tudo se compra, todos têm um preço. E saiu por aí comprando empresas, negócios, jogos, governos, parlamentares, promotores, assessores de vários níveis, agentes da polícia e da Receita. Almas e consciências. Fora o que ainda não se sabe...

Ainda bem que, acima desse submundo, há um mundo real em que o Brasil avança. As grávidas de fetos anencéfalos não serão mais submetidas à escolha entre uma tortura medieval de nove meses e a fogueira penal. E a lei seca está voltando.

A CPI aproximaria esses dois mundos, melhorando a realidade. Mas... a quem interessa mesmo?

Sinais trocados - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 13/04/12

Dilma Rousseff cobrou de Ideli Salvatti o que chamou de "informações insuficientes'' sobre o andamento da CPI do Cachoeira. O Planalto avalia que a ministra, ocupada com sua defesa na compra de lanchas pelo Ministério da Pesca, deixou que a CPI -que era para constranger a oposição- passasse a ter como foco a construtora Delta, principal empreiteira do PAC.

"A agenda do PT não é a agenda de Dilma", diz um expoente do governo. A presidente, com a avaliação batendo sucessivos recordes, não teria interesse em brigar com a imprensa, um dos setores que o partido, para desviar o foco do mensalão, planeja envolver na CPI.

Que fase Dilma também não gostou do encontro de Ideli com dissidentes do PMDB no mesmo dia do aniversário do partido, em que o vice Michel Temer discursou.

Ressaca Por conta do jantar, o PMDB abortou requerimento que transformava em convite a convocação para a ministra depor na Câmara. E o líder Henrique Alves (RN) ignorou pedido do Planalto para tirar Danilo Fortes (PMDB-CE) da relatoria da MP do Brasil Maior, que prevê incentivos à indústria.

A dedo Ministros avaliam que a única forma de blindar o governo é a escolha criteriosa dos membros da CPI, e querem levar uma proposta fechada para Dilma no fim de semana, quando a presidente participa da Cúpula das Américas, na Colômbia.

Fui! Durante cerimônia do Minha Casa, Minha Vida, ontem, o governador Marconi Perillo (GO), citado na Operação Monte Carlo, atravessou o salão para cumprimentar a presidente. Dilma foi rápida e fria, e não deu tempo para registros fotográficos.

Feliz 2013 Com prazo inicial de 180 dias, prorrogáveis, a CPI do Cachoeira pode atravessar as eleições municipais e terminar somente no fim do ano, quando eventuais ressentimentos das urnas podem definir seu resultado.

Oculto 1 Personagem chave nas investigações do "Cachoeiragate", o sargento Idalberto Matias, o Dadá, comprou um apartamento em Brasília, em 2010. Pagou R$ 340 mil à vista. Ele também possui carros e moto.

Oculto 2 Dadá, que é chamado de "Chico" por Cachoeira nas escutas, não declara oficialmente nenhum bem desde 2003, e seus rendimentos tiveram queda significativa a partir de 2007.

'Presidenta' 1 Dilma Rousseff sancionou lei que obriga instituições de ensino públicas e privadas a expedir diplomas e certificados com flexão do sexo da pessoa diplomada, ao designar a profissão ou o grau obtido.

'Presidenta' 2 A lei também estabelece que pessoas já diplomadas podem pedir reemissão gratuita dos certificados com a correção.

Varredura O PSDB da capital abrirá na segunda-feira as inscrições para a chapa de candidatos a vereador. O partido instituiu a necessidade de pesquisa de pendências dos postulantes na Justiça, para evitar riscos de inscrever candidatos ficha-suja.

Ilhado O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi uma das vítimas da tempestade que parou São Paulo na quarta. Ficou preso no carro a caminho de uma palestra sobre Nelson Mandela.

Visita à Folha Gustavo Rocha, presidente da Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Ricardo Moraes, diretor de Comunicação e Marketing do grupo.

com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Se eu soubesse que a ministra Ideli Salvatti tinha feito essa desfeita com o presidente da República em exercício, até eu teria votado pela convocação dela para se explicar."

DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), sobre a reunião que a coordenadora política do Palácio do Planalto teve com o grupo dissidente do PMDB, simultaneamente à festa de 46 anos do partido com Michel Temer.

contraponto

Em busca da vida eterna

As sessões do STF (Supremo Tribunal Federal) que decidiram pela possibilidade de interrupção da gravidez em caso de anencefalia do feto levaram a uma série de reflexões, por parte dos ministros, sobre vida e morte.

Em seu voto, citando o presidente do tribunal, Cezar Peluso, Marco Aurélio Mello disse:

-Vossa Excelência já disse que nascemos para morrer.

No intervalo, Marco Aurélio se estendeu sobre o tema:

-Eu não! Quero ficar por aqui um bom tempo. Espero que os espíritos me esqueçam por aqui!

A CPI deve ir em frente - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 13/04/12


Um dos lugares-comuns mais duradouros, porque verdadeiro, do jargão político é o de que se sabe como uma CPI começa, mas não como termina. De fato, a menos quando submetidos a rigorosa rédea curta, de difícil manejo pelas lideranças das maiorias de turno, os inquéritos parlamentares podem ter desfechos desconfortáveis para quem os patrocinou na expectativa de lucrar politicamente com eles, às expensas dos antagonistas. Um depoente confiável pode deixar escapar, sob pressão dos inquisidores do outro lado, verdades desastrosas para a banda que se imaginava apta a conduzir o inquérito ao destino que lhe conviesse. Surpresas inconvenientes podem resultar também de uma quebra de sigilo bancário e telefônico - o rol de incertezas é infindável.

No caso da chamada CPI do Cachoeira, em vias de ser instalada para apurar as ligações entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e agentes públicos e privados, as dúvidas são ainda maiores. Além de não se ter a mais remota ideia de como poderá terminar, não se sabe nem como começará nem como se desenrolará; logo, de que estragos será capaz. A sua agenda é vaga e o seu trâmite dependerá de quem a controlar na liga majoritária encabeçada pelos aliados rivais PT e PMDB. Salvo nas raras ocasiões em que o seu objeto vai além das fronteiras partidárias, CPI são instrumentos da oposição. Esta tem a inédita peculiaridade de ter sido desencadeada pela liderança do partido do governo no Senado, com a aquiescência do governo e o incentivo do ex-presidente Lula.

A intenção do PT seria criar um espetáculo de longa duração para não deixar que o julgamento do mensalão, previsto para os próximos meses, monopolize as atenções da opinião pública neste ano eleitoral. E a intenção de Lula seria vingar-se do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, por ter revelado ao público que o alertara para o suborno sistemático de deputados antes que o escândalo rebentasse. O governador está sob os holofotes desde que se ouviu que a sua chefe de gabinete trocava informações com Cachoeira sobre operações policiais no Estado. Sem número nem poder de pressão para levar qualquer das Casas do Congresso, muito menos as duas como agora é o caso, a elucidar os malfeitos apontados no Ministério da presidente Dilma Rousseff, a oposição aderiu à iniciativa petista por duas razões.

Primeiro, pela impossibilidade da recusa. Afinal, o ponto de partida de tudo foi a revelação da parceria com o barão da batota do seu então baluarte e paladino da moralidade, senador Demóstenes Torres, à época do DEM. Depois, Perillo entrou na roda. Segundo, já que a investigação viria de qualquer maneira, a oposição parece ter concluído que nem tudo redundaria em catástrofe para a sua imagem. Há um cidadão que bate ponto no Planalto, o subchefe de Assuntos Federativos do Ministério de Relações Institucionais, Olavo Noleto, que teria tido - ou não - contatos com o "empresário de jogos ilícitos" fisgado na Operação Monte Carlo da Polícia Federal e preso há um mês e meio.

E há, principalmente, o governador petista do Distrito Federal (DF), Agnelo Queiroz. Ele é suspeito de permitir que o grupo de Cachoeira dirigisse uma licitação milionária na administração do DF e de ter pedido uma reunião com o poderoso chefão, no contexto de seus rolos com a empreiteira Delta, cujo dono, Fernando Cavendish, teria - ou não - laços com o contraventor. Numa gravação da Polícia Federal, um operador de Cachoeira, o araponga Idalberto Matias, o Dadá, diz a um auxiliar do governador, Marcelo Lopes, o Marcelão, demitido semana passada, que a empreiteira está furiosa por não ter recebido a contrapartida da sua contribuição à campanha de Agnelo. Estranhamente, as escutas envolvendo o titular do DF só vazaram depois da iniciativa de criação da CPI.

Para usar outra pérola do gosto dos políticos, o clima que cerca a investigação é "de vaca não reconhecer bezerro". Petistas estariam fazendo ato de contrição por tê-la proposto. O presidente do Senado, José Sarney, julga os seus promotores "irresponsáveis". Já a sociedade não tem por que temer o imponderável, mas receia que um arreglo faça da CPI uma pizza antes até de começar.

Mercadante se estrumbica - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 13/04/12


O brasileiro tem problema de intelecção. Ele não se comunica. Como se pretende que o professor ensine?


Qualquer um que já tenha as­sistido às aulas de Harvard que estão à disposição na in­ternet terá tido um ciberorgasmo. Molecada lá se entretém com dis­cussões fascinantes. Muitas dessas aulas, aliás, estão disponíveis com legendas em português. Quando estou de bobeira, acesso uma aula no iPad em vez de ficar vendo fotos de pratos de comida que os amigos agora deram para postar no Face­book e no Instagram.

Aliás, onde têm a cabeça as pes­soas que tiram fotos do que estão comendo e colocam em rede so­cial? Eu por acaso abro a porta da geladeira para as visitas quando elas chegam na minha casa?

Nesta semana, a presidente Dilma foi falar aos alunos de Harvard em gesto simbólico, ou seja, mandou ali sua mensagem diante de poten­ciais presidentes dos EUA, bilioná­rios da comunicação, presidentes do Federal Reserve e de grandes corporações. Falou mirando nos olhos dos futuros líderes do mundo para tentar reverter o desastre que é a educação no nosso país. Há 9.000 tapuias em universidades dos EUA, ante 127 mil chineses e 100 mil in­dianos, nos informou o colunista Kenneth Maxwell, para nosso mais completo desalento.

A China forma, em casa, cerca de 600 mil engenheiros ao ano. Nós formamos 40 mil; entre eles estão os que construíram os prédios que desabaram no Rio ou fizeram as garagens de shop­pings em que ninguém consegue estacionar ou fazer manobra.

Mestre Elio Gaspari reclamou on­tem que o rico brasileiro ainda não se deu conta de sua responsabilida­de e não doa seu dinheiro para a educação. Talvez não o faça de for­ma graúda ainda. Mas não há fortu­na ou empresa tapuia que não te­nha os olhos voltados para a educa­ção nos dias de hoje. Simplesmente não há. Todos colocam ali sua mão­zinha no bolso e fazem sua contri­buição de uma maneira ou de outra. O que está acontecendo é que os re­sultados não dão as caras.

Participo como conselheira de um instituto para disléxicos. E a gente constata que o poder público nem sequer reconhece a existência de distúrbios de aprendizagem, que podem ir de uma deficiência visual (necessidade de óculos) até a dislexia (que afeta até 5% da população). Se a gente não consegue avançar na alfabetização, que dirá no esforço de fazer com que a garotada con­clua o ensino básico e vá além? E a formação do professor sempre fica na rabeira dessa discussão.

Nos perguntamos por que nossa educação não está avançando se de uns tempos para cá há um esforço maior, se há tanta gente investindo para que isso aconteça. Os números mostram que simplesmente não há reversão nenhuma nos resultados. Pessoal sempre cita os resultados do concurso da OAB como parâme­tro de indecência, não é mesmo?

Mas você já tentou conversar com um pintor? Fiz uma reforma em casa recentemente e comecei a achar que sofria de deficiência mental. O brasileiro tem um sério problema de intelecção. Ele não se co­munica, ponto. Como se pretende que o professor ensine? Nos EUA, uma ordem é dada, combinado é combinado, OK is OK, e está tudo certo.

Aqui, a gente acha que não é com a gente. A pessoa parece que não decodifica, acontece com o en­tregador de pizza, com o encana­dor, com o gerente do banco, acon­tece até com o ministro Aloizio Mercadante, que teve de ser des­mentido pelo MIT depois que ele afirmou que ia abrir um campus da universidade aqui no Brasil. Não deve ter entendido direito, estrum­bicou-se todo, como diria o grande comunicador Chacrinha.

Prejuízo social clube - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 13/04/12


Onde havia a dúvida, o presidente do PT, Rui Falcão, instituiu a certeza: a defesa enfática da criação da CPI para investigar a rede de traficâncias do contraventor Carlos Augusto Ramos, vulgo Cachoeira, não pode ser tomada como um retorno do partido às lides da ética na política.

Significa, antes, uma tentativa de socializar desde já os prejuízos decorrentes do julgamento do processo do mensalão. De onde se conclui que o PT não faz as pazes com a legalidade, mas apenas volta a se utilizar da bandeira sob a qual fez carreira.

Até quarta-feira essa era apenas uma ilação. Uma versão corrente entre adversários de governo ou oposição, tornada oficial por Falcão em um vídeo divulgado na internet pedindo apoio para a investigação "do escândalo dos autores da farsa do mensalão".

Um recibo com certidão firmada em cartório. Tão completamente explícito que até petistas mais ajuizados manifestaram contrariedade. Entre eles o senador Jorge Viana, que foi ao ponto: "Ela (a CPI) não pode estar vinculada ao tema mensalão, pois esse é um problema de que nós, no PT, temos uma versão e o Brasil tem outra".

Questão que caberá o Supremo Tribunal Federal resolver dizendo de que lado está a razão. Sem a interferência de ensaios canhestros de desvio de foco ou atos de pressão, cujo primeiro resultado é a exposição pública dos propósitos baixos do partido.

Ordens de Lula, sedento que está o ex-presidente de desmoralizar personagens e ações-chave no desmonte da imagem proba do PT? É o que consta e o que faz sentido, partindo-se do princípio de que Rui Falcão não lançaria mão de uma ofensiva tão escancarada sem um forte muro de arrimo a escorá-lo.

Aliou-se à defesa da tese difundida pelo réu mor do processo, José Dirceu, e saiu "denunciando" a existência de uma "operação abafa", organizada pelos meios de comunicação para impedir as investigações sobre as relações da rede Cachoeira com o mundo político em geral, com um órgão de imprensa em particular (a revista Veja) e, se possível, resvalar no Judiciário melhor ainda, na perspectiva dos que são vistos como "autores da farsa do mensalão".

Um truque conhecido, esse de partir para a ofensiva usando armas com sinal trocado a fim de aplicar vacina nas próprias mazelas.

Se possibilidade real de CPI passou a existir, se a rede de traficâncias está se revelando ampla e profunda, se personagens são desmascarados e negócios suspeitos vêm à tona é justamente por ação dos meios de comunicação.

Um ato categórico de acobertamento quem cometeu foi Rui Falcão ao citar nominalmente apenas os adversários, Demóstenes Torres (ex-DEM) e Marconi Perillo (PSDB), deixando de lado o petista Agnelo Queiroz.

A manobra de construção de um atalho que leve a uma derivação de curso deu certo uma vez com a história engendrada pelo então ministro da Justiça, hoje advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos e contada por Lula. Na condição de presidente da República, não teve pejo em confessar crime eleitoral para tentar na ocasião como agora socializar e, assim, neutralizar o prejuízo.

Agora está ainda mais à vontade como eminência parda e militante da causa de fortalecer a tese de que o esquema de desvios e fraudes montado para financiar campanhas partidárias e, assim, cooptar uma base aliada substancial no Congresso, foi pantomima inventada por inimigos municiados por bandidos.

Ora, se foi mesmo uma farsa para que tanto esforço. Melhor deixar que a Justiça a desconstrua com a força dos fatos.

Difícil que ministros do Supremo se deixem engambelar, preferindo referir-se nas impressões que na precisão das provas.

O mirabolante plano dado a conhecer por Rui Falcão parece partir do pressuposto de que o PT tem gordura para queimar dada a força política de Lula e a popularidade da presidente Dilma Rousseff.

É um lado da história. O outro é que se a oposição está no osso isso significa que tem muito menos a perder do que quem detém o poder. Risco por risco, com a CPI o do governo é maior.

SARNEY NO GRAMPO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 13/04/12

O ex-presidente José Sarney e assessores tiveram por acaso conversas grampeadas na Operação Monte Carlo, que investiga Carlinhos Cachoeira. Nelas, Raimundo Costa Ferreira, o Ferreirinha, funcionário da Infraero, faz relatos sobre nomeações na estatal, que administra aeroportos do país.

SARNEY 2

Ferreirinha foi monitorado pela Polícia Federal por supostamente facilitar, para Cachoeira, a entrada e saída de mercadorias contrabandeadas no aeroporto de Brasília. Seus telefonemas para Sarney também foram gravados.

SARNEY 3

Diz Ferreirinha a Sarney: "O cara anunciou que o superintendente do aeroporto está saindo para o Rio de Janeiro e que ia trazer um outro (...) Eu fico preocupado porque estão armando tudo o que eles querem. Na Infraero sempre foi assim. Então é para a gente não perder o foco". Sarney diz: "Mas o cara tá avisado, já".

AJUDA

Sarney diz que Ferreirinha foi porteiro do Palácio do Planalto por 30 anos e que o conheceu quando era presidente. Hoje na Infraero, ele estaria pedindo ajuda para ser promovido.

TALHER

Em grampo do dia 31 de março de 2011, Carlinhos Cachoeira se vangloria com advogados: "Jantei com o governador".

BOA DE BRIGA
A atriz Milena Toscano diz à revista "Boa Forma" de abril que começou a praticar muay thai após observar as colegas Carolina Dieckmann e Fernanda Souza, adeptas da arte marcial. "Fiquei impressionada ao ver o corpo delas. Quis conhecer e acabei gostando." Com o fim da novela "Fina Estampa", ela pretende intensificar os treinos que, afirma, modificaram suas formas em poucas semanas.

TALHER 2

O tucano Marconi Perillo (PSDB-GO), governador de Goiás, já admitiu que se encontrou com Cachoeira em jantar na casa do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Outro governador, o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, também é citado nas investigações.

FUMAÇA E FOGO

O Lollapalooza rendeu três multas à GEO Eventos, organizadora do festival. Duas, de R$ 922 e

R$ 1.844, por fumo em ambientes fechados. A outra, pelo consumo de bebidas alcoólicas por menores, pode chegar a R$ 46 mil. O valor levará em conta o faturamento do festival e a condição econômica da GEO.

FUMAÇA 2

Procurada, a GEO não respondeu até a tarde de ontem.

ATENÇÃO

O mensalão causa estresse entre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Nesta semana, Luiz Fux sugeria a Gilmar Mendes e Carlos Ayres Britto que realizassem sessão administrativa para discutir o andamento do caso. Mendes disse que primeiro Ricardo Lewandowski, que revisa o processo, precisaria liberar o relatório.

ATENÇÃO 2

Lewandowski não gostou. Disse que, se Mendes se metesse em assuntos de seu gabinete, ele também se meteria em assuntos de Mendes. Que respondeu afirmando que até agradeceria, se isso o ajudasse. Mendes disse ainda que continuaria falando sobre o mensalão, sim, sempre que entendesse que isso era necessário.

CENA LIVRE

A Virada Cultural (5 e 6 de maio) terá palco ao ar livre exclusivo para teatro. A atriz Denise Fraga apresentará a peça "Sem Pensar". E Clarice Niskier encenará "A Alma Imoral".

MIRANTE

O ator Reynaldo Gianecchini vai a Paris na quarta para jantar na torre Eiffel com três fãs vencedores de uma promoção da Coqueiro. Giane manteve o contrato depois de receber diagnóstico de câncer, em agosto. Confiou que estaria curado até o fim da campanha.

DANÇA DO VENTRE

Com curadoria de Ilhan Ersahin e Talita Miranda, filha de Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc-SP, o festival "Istambul Agora" teve abertura anteontem, na unidade da Pompeia. Lenna Beauty fez performance durante o coquetel, por onde passou o artista Rafael Rg.

CURTO-CIRCUITO

Max BO canta hoje com o grupo Os Opalas, no Diquinta. 18 anos.

Laércio Benko (PHS) e Ovasco Rezende (PRP) assinam aliança para as eleições de 2012 no dia 15, na Assembleia.

Péricles, ex-Exaltasamba, canta nos dias 4 e 5 de maio, no Credicard Hall. 14 anos.

Charles Edquist e Jorge Gerdau fazem debate no dia 19, em seminário do Sebrae, em SP.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY