O GLOBO - 11/04/12
Dilma, que aparece nesta foto, veja, cumprimentando Obama com a mão esquerda, a do coração, aderiu à campanha de reeleição do americano. Para todos os efeitos, foi ato falho. Na entrevista coletiva, após o encontro, a presidente elogiou a “condução firme de Obama para a economia nos próximos meses e anos”. O mandato atual do americano acaba, como se sabe, este ano.
Já...
Lula, que chegou a chamar Hillary Clinton de “tucana”, pela amizade da secretária de Estado com FH, parecia se dar melhor com Bush, o homem-bomba.
Hillary no Brasil...
Aliás, Hillary, uma semana depois de Dilma ir lá, vem cá. Segunda, encontra-se em Brasília com Antônio Patriota.
Esquerda, volver
Em outubro, em São Leopoldo, RS, haverá celebração de 50 anos do Concílio Vaticano II e de 40 da Teologia da Libertação. Os dois marcaram um namoro da Igreja com a esquerda, depois abandonado pelo Vaticano.
Cachoeira no STJ
O habeas corpus de Carlinhos Cachoeira no STJ caiu nas mãos da ministra Laurita Vaz, considerada linha dura. Laurita também é de Goiás, terra do contraventor.
Marques e sargento
Com apresentação de Carlos Heitor Cony, a José Olympio vai reeditar um pequeno ensaio biográfico escrito em 1943 por Marques Rebelo (1907-1973) sobre Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), autor de “Memórias de um sargento de milícias”.
ESTÁ INDO AO chão a última casa que guardava a memória do início do século passado na Rua Francisco Otaviano, em Copacabana. Veja na foto menor como era a construção. Apesar de não ser tombado, o imóvel, no- 59 da rua, era joia cultuada por arquitetos como Márcio Roiter e Jimmy Bastian Pinto. Ali funcionou o Colégio Max Nordau, judaico, onde estudaram famosos como o físico Marcelo Gleiser. A escola se fundiu com outra, a Eliezer, também judaica, em Laranjeiras. O sobrado, de estilo eclético, emprestava à rua um toque art noveau. Uma pena para a memória do Rio.
Dura vida
A turma da Chevron avistou primeiro a mancha de óleo no campo vizinho da Petrobras, em Roncador, RJ, e avisou à ANP. Com isso, a americana fica, quem sabe?, um pouco mais aliviada, na base do “veja, eu não sou a única a sujar”.
Mas...
Um PhD em petróleo diz que a Chevron também tem problemas do outro lado do Atlântico. Dia desses, ocorreu um pequeno vazamento em Angola — e, em janeiro, um incêndio numa plataforma deixou dois mortos na Nigéria.
Floripa é gay
Florianópolis desbancou Berlim, Madri e Tel Aviv na disputa pela 29a- Convenção Anual Global da IGLTA (AssociaçãoInternacional de Turismo GLS), que começa amanhã. Foi escolhida, segundo a IGLTA, pela tolerância e pela educação de seu povo com os gays.
O homem mau
Um porteiro do Recreio, no Rio, está inconsolável. É que, segunda, um ser humano detestável deu um tiro de chumbinho no seu galo garnisé de estimação. Matou Baltazar, o penoso, por cantar toda manhã. — O projétil se alojou na moela, e o pobre não resistiu — diz o veterinário André Senna Maia.
Calma, professora
A 7a- Câmara Cível do Rio condenou o Colégio e Curso Intellectus, em Vila Isabel, a indenizar em R$ 5 mil uma aluna que quase foi atingida por um tamanco atirado por uma professora. A mestra, cujo contrato de trabalho foi rescindido, alegou que tentava pôr ordem na sala.
Ilariê do Sheik
Emerson Sheik, do Corinthians, antes de ser parado pela Lei Seca na Av. Brasil, no Rio, e se recusar a fazer o teste do bafômetro, deu uma festa no condomínio Portobello, em Mangaratiba, no Rio, das 10h à meianoite, com som nas alturas. Tocava funk, pagode e até Xuxa, para transtorno da vizinhança que celebrava a Páscoa.
Cadeia na praia
Sábado, de 10h às 12h, a ONG Rio de Paz vai montar na Praia de Icaraí uma cadeia cenográfica com 50 “presos” voluntários. É protesto contra a violência em Niterói.
Rua dos Bobos
O TRT-RJ condenou o condomínio Porto Real Resort, em Mangaratiba, a indenizar em R$ 5 mil um ex-empregado. É que em sua rescisão constou que morava na “Rua dos Bobos no- 0”, em “Só Deus Sabe”.
quarta-feira, abril 11, 2012
O seguro de Dilma - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 11/04/12
Ao criticar a política monetária dos países ricos, Dilma começa a criar uma espécie de seguro-popularidade: se a economia por aqui sofrer algum abalo mais forte, ela sempre poderá dizer que avisou sobre os problemas a que o Brasil estava exposto. E assim a culpa será dos outros e não responsabilidade dela ou de sua equipe
De volta ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff traz na bolsa o discurso fechado para se algo falhar na economia brasileira, seu maior foco. Engana-se quem pensa que ela chegará pronta para reavaliar os problemas da base e distribuir ministérios para aqueles que reclamam por cargos. Ela pode até mudar de ideia, mas, pelo andar da carruagem, veremos chegar o Dia dos Namorados com o PDT, o PTB e o PR fazendo fila no Planalto em busca de um ministro para chamar de seu. E a presidente com cara de preguiça para essa turma sempre tem um problema mais urgente a resolver do que tratar dos cargos de cada dia. E o maior deles é a economia.
As notícias de que Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) cansou de esperar que o partido dele ganhe um nome mais orgânico no Ministério do Trabalho não fizeram sequer cosquinha sob os pés de Dilma. Do alto de seus 77% de popularidade, ela considera que um troca-troca na Esplanada hoje não lhe acrescentará um só voto no Congresso. E ela não deixa de ter razão, uma vez que o Código Florestal, o único projeto importante, transita ao largo dos partidos, numa batalha entre ruralistas e ambientalistas.
Vejamos o quadro dos partidos: o novo PSD foi “de graça” para a base do governo. O PMDB precisa continuar fiel para garantir a Presidência da Câmara e a do Senado sem sobressaltos. O PT não tem por que reclamar, afinal, tem a presidência da República e deve concordar com o seu governo e ponto. O PSB é aliado de primeira hora e, por querer fortalecer a imagem de que não negocia cargos em troca de votos, não pretende colocar a faca no peito da presidente Dilma. O PP já tem o Ministério das Cidades e é bom ficar pianinho. Se reclamar, perde. O PRB ganhou a Pesca.
Da nau dos sem-ministério, um grupo do PDT sempre votou contra o governo e não votará a favor se o ministro for o deputado Brizola Neto (RJ) ou quem mais chegar. O mesmo vale para o PTB de Roberto Jefferson, onde a parte que é governo continuará assim para não ver a CPI de Carlos Cachoeira bater à sua porta. Quanto ao PR, todos os dias espera um chamado. Na oposição, o combativo DEM anda amuado desde que o senador Demóstenes Torres (GO) perdeu seu peso político, e hoje quem ainda tem algum fôlego é só mesmo o PSDB.
Por falar em peso político…
Diante desse quadro, pintado com frieza dentro do Palácio do Planalto, a sensação é a de que Dilma não tem por que mudar sua equipe agora, embora os congressistas pensem diferente. Dentro do PMDB, por exemplo, há quem diga que Dilma deveria aproveitar a “onda boa” para mudar alguns ministros sem sobressaltos. Assim, ela se anteciparia às crises e escolheria, dentro de cada bancada, quem considerasse melhor, sem ser obrigada a engolir qualquer candidato a ministro que os partidos quisessem lhe impor em tempos de crise.
Ocorre que, na visão palaciana, não funciona assim. Se Dilma usar todo o poder de sua caneta agora, não terá tinta suficiente se vier uma crise. Hoje, ela paira acima dos partidos, até mesmo do PT. Há tempos não se vê uma base parlamentar tão grande. Na história recente, uma base desse tamanho só ocorreu no governo Sarney, nos áureos tempos do Plano Cruzado. Ali, os partidos viviam às turras, tinham suas divisões internas, e tudo funcionou até o momento que o Plano Cruzado vinagrou e, com ele, a popularidade presidencial terminou atolada em escândalos.
Com Dilma até agora parece ocorrer justamente o oposto do que houve nos tempos de naufrágio do Cruzado. A cada escândalo divulgado em seu governo, ela se fortalece. E, se a economia continuar tão bem quanto a popularidade da presidente, ela não terá por que colocar para dentro do governo mais um deputado aqui, outro ali. Pelo visto, a nau dos sem-ministros continuará no cais, esperando o tempo mudar. Só será chamada se as tempestades vierem.
Por falar em economia…
Ela sabe que seu calo está na seara econômica. Não por acaso Dilma tem aproveitado todas as suas viagens ao exterior para criticar a política monetária dos países ricos. Essas declarações têm tido mais efeito aqui dentro do que lá fora. Afinal, as críticas publicadas diariamente nos jornais e repetidas nas rádios e nos canais de tevê têm servido para criar um colchão de justificativas para qualquer abalo da economia brasileira. Para atentos observadores, ela está criando um seguro-popularidade: se algo der errado por aqui, Dilma poderá sempre dizer “eu avisei” e colocar a culpa nos países mais ricos. Pode estar aí o segredo para, numa eventual queda da economia, ela consiguir segurar seus 77% de aprovação, ou, no mínimo, não deixar que esse percentual derreta para menos de 50%. A conferir.
Ao criticar a política monetária dos países ricos, Dilma começa a criar uma espécie de seguro-popularidade: se a economia por aqui sofrer algum abalo mais forte, ela sempre poderá dizer que avisou sobre os problemas a que o Brasil estava exposto. E assim a culpa será dos outros e não responsabilidade dela ou de sua equipe
De volta ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff traz na bolsa o discurso fechado para se algo falhar na economia brasileira, seu maior foco. Engana-se quem pensa que ela chegará pronta para reavaliar os problemas da base e distribuir ministérios para aqueles que reclamam por cargos. Ela pode até mudar de ideia, mas, pelo andar da carruagem, veremos chegar o Dia dos Namorados com o PDT, o PTB e o PR fazendo fila no Planalto em busca de um ministro para chamar de seu. E a presidente com cara de preguiça para essa turma sempre tem um problema mais urgente a resolver do que tratar dos cargos de cada dia. E o maior deles é a economia.
As notícias de que Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) cansou de esperar que o partido dele ganhe um nome mais orgânico no Ministério do Trabalho não fizeram sequer cosquinha sob os pés de Dilma. Do alto de seus 77% de popularidade, ela considera que um troca-troca na Esplanada hoje não lhe acrescentará um só voto no Congresso. E ela não deixa de ter razão, uma vez que o Código Florestal, o único projeto importante, transita ao largo dos partidos, numa batalha entre ruralistas e ambientalistas.
Vejamos o quadro dos partidos: o novo PSD foi “de graça” para a base do governo. O PMDB precisa continuar fiel para garantir a Presidência da Câmara e a do Senado sem sobressaltos. O PT não tem por que reclamar, afinal, tem a presidência da República e deve concordar com o seu governo e ponto. O PSB é aliado de primeira hora e, por querer fortalecer a imagem de que não negocia cargos em troca de votos, não pretende colocar a faca no peito da presidente Dilma. O PP já tem o Ministério das Cidades e é bom ficar pianinho. Se reclamar, perde. O PRB ganhou a Pesca.
Da nau dos sem-ministério, um grupo do PDT sempre votou contra o governo e não votará a favor se o ministro for o deputado Brizola Neto (RJ) ou quem mais chegar. O mesmo vale para o PTB de Roberto Jefferson, onde a parte que é governo continuará assim para não ver a CPI de Carlos Cachoeira bater à sua porta. Quanto ao PR, todos os dias espera um chamado. Na oposição, o combativo DEM anda amuado desde que o senador Demóstenes Torres (GO) perdeu seu peso político, e hoje quem ainda tem algum fôlego é só mesmo o PSDB.
Por falar em peso político…
Diante desse quadro, pintado com frieza dentro do Palácio do Planalto, a sensação é a de que Dilma não tem por que mudar sua equipe agora, embora os congressistas pensem diferente. Dentro do PMDB, por exemplo, há quem diga que Dilma deveria aproveitar a “onda boa” para mudar alguns ministros sem sobressaltos. Assim, ela se anteciparia às crises e escolheria, dentro de cada bancada, quem considerasse melhor, sem ser obrigada a engolir qualquer candidato a ministro que os partidos quisessem lhe impor em tempos de crise.
Ocorre que, na visão palaciana, não funciona assim. Se Dilma usar todo o poder de sua caneta agora, não terá tinta suficiente se vier uma crise. Hoje, ela paira acima dos partidos, até mesmo do PT. Há tempos não se vê uma base parlamentar tão grande. Na história recente, uma base desse tamanho só ocorreu no governo Sarney, nos áureos tempos do Plano Cruzado. Ali, os partidos viviam às turras, tinham suas divisões internas, e tudo funcionou até o momento que o Plano Cruzado vinagrou e, com ele, a popularidade presidencial terminou atolada em escândalos.
Com Dilma até agora parece ocorrer justamente o oposto do que houve nos tempos de naufrágio do Cruzado. A cada escândalo divulgado em seu governo, ela se fortalece. E, se a economia continuar tão bem quanto a popularidade da presidente, ela não terá por que colocar para dentro do governo mais um deputado aqui, outro ali. Pelo visto, a nau dos sem-ministros continuará no cais, esperando o tempo mudar. Só será chamada se as tempestades vierem.
Por falar em economia…
Ela sabe que seu calo está na seara econômica. Não por acaso Dilma tem aproveitado todas as suas viagens ao exterior para criticar a política monetária dos países ricos. Essas declarações têm tido mais efeito aqui dentro do que lá fora. Afinal, as críticas publicadas diariamente nos jornais e repetidas nas rádios e nos canais de tevê têm servido para criar um colchão de justificativas para qualquer abalo da economia brasileira. Para atentos observadores, ela está criando um seguro-popularidade: se algo der errado por aqui, Dilma poderá sempre dizer “eu avisei” e colocar a culpa nos países mais ricos. Pode estar aí o segredo para, numa eventual queda da economia, ela consiguir segurar seus 77% de aprovação, ou, no mínimo, não deixar que esse percentual derreta para menos de 50%. A conferir.
PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV
9h - Pré-Olímpico asiático de boxe, semifinal, ESPN
15h - B. Dortmund x Bayern de Munique, Campeonato Alemão, ESPN Brasil
15h45 - Wigan x Manchester United, Campeonato Inglês, ESPN
15h45 - Juventus x Lazio, Campeonato Italiano, RedeTV!, ESPN HD e Sportv
19h30 - Grêmio x Ipatinga, Copa do Brasil, ESPN Brasil e Sportv
19h30 - Coritiba x ASA, Copa do Brasil, Sportv 2
19h45 - Chivas (MEX) x Vélez (ARG), Taça Libertadores, Fox Sports
21h - Atlanta Hawks x Boston Celtics, NBA, ESPN HD
22h - Bahia de Feira x São Paulo, Copa do Brasil, Band, ESPN Brasil e Sportv
22h - Nacional (PAR) x Corinthians, Taça Libertadores, Globo (para SP) e FX
22h - Fluminense x Boca Jrs. (ARG), Taça Libertadores, Globo (menos SP) e Fox Sports
22h - Chapecoense x Cruzeiro, Copa do Brasil, ESPN e Sportv 2
5h - Pré-Olímpico asiático de boxe, final, ESPN
Muito além do PSD - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
O parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contrário ao pedido do PSD de acesso ao dinheiro do Fundo Partidário na proporção de sua atual bancada de 52 deputados na Câmara, responde a uma solicitação específica, mas diz respeito a princípios gerais.
A decisão de Gurgel acompanhou outras duas resoluções, interpretadas como "derrotas" do PSD, mas que nada mais fizeram a não ser seguir a legislação em vigor.
No fim de fevereiro o ministro Carlos Ayres Britto, próximo presidente do Supremo Tribunal Federal, corroborou em caráter liminar decisão do presidente da Câmara, Marco Maia, de negar participação do PSD nas comissões permanentes da Casa porque a lei leva em conta o tamanho das bancadas eleitas e não as formadas por força das circunstâncias.
O prefeito de São Paulo reivindica no Tribunal Superior Eleitoral, além do acesso ao Fundo, tempo de televisão também na proporcionalidade da bancada.
As leis sobre ambos os temas são claras ao estabelecer como critério a quantidade de votos e, portanto, de cadeiras obtidas na última eleição.
Criado no ano passado, o PSD não passou ainda pelo chamado "teste das urnas". Questão resolvida?
Não necessariamente, porque seus advogados alegam, e há no TSE quem concorde com a tese, que se a Justiça permitiu troca de partidos sem perda de mandato em casos, entre outros, de fundação de nova legenda, o PSD estaria amparado legalmente em sua reivindicação.
Ocorre que a exceção é relacionada à perda ou não de mandato do parlamentar, nada dizendo sobre tempo de televisão ou distribuição de verbas para partidos.
Desse modo o que está em jogo na futura (e para breve) decisão da Justiça Eleitoral é muito mais que a circunstância de um partido. É o destino do princípio geral da fidelidade partidária.
Por fluido que seja ainda é um parâmetro, mas pode virar letra morta.
Autoexplicativo. A impossibilidade de o PMDB encontrar alguém disposto a presidir o Conselho de Ética do Senado ou a assumir a corregedoria da Casa para que o atual ocupante pudesse presidir o conselho, fala sobre as idiossincrasias ali existentes.
Desde os telhados de vidro até o receio de escolher senadores de respeitabilidade reconhecida, passando pelo compadrio do qual nos dá notícia o fato de o colegiado estar acéfalo.
Se um ato em tese simples como a escolha da presidência do Conselho de Ética encontra obstáculos, quem dirá uma CPI para investigar o alcance dos tentáculos das organizações Cachoeira de contravenções ilimitadas.
A abertura do processo no conselho chega a ser irrelevante, pois só a comissão de inquérito pode requerer informações protegidas pelo segredo de Justiça.
É o tipo da ação iniciada em clima de êxtase investigatório, mas fadada à agonia como tantas outras em que houve choque e ao mesmo tempo convergência de interesses entre os partidos envolvidos.
Barco a vagar. Perdido por um, perdido por mil, parece ser agora o lema do senador Demóstenes Torres. Morto politicamente, só lhe resta tentar se beneficiar das prerrogativas do mandato para lutar na Justiça.
Partindo desse princípio, explica-se sua recusa à renúncia. Perderia o foro especial e a cadeira de senador que, convenhamos, não é uma posição exatamente má mesmo quando é necessário sentar nela em silêncio.
Muita gente no Senado exerce a atividade na encolha. Para não citar os que o fazem por outras razões, há quem tenha no dito segundo o qual em boca fechada não entra mosca a motivação. Jader Barbalho, por exemplo.
A renúncia para preservar o direito de voltar a se candidatar não se aplica ao senador Demóstenes, construtor da carreira sob o pilar da ética a quem o eleitorado não perdoará, diferentemente do ocorrido com outros parlamentares sobre os quais não pesavam expectativas positivas.
Pizza com abacaxi ELIANA CARDOSO
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
O Chico disse que não existe pecado do lado debaixo do Equador. Não adiantou. Luis Fernando Verissimo chamou a pizza com abacaxi de antinatural e a colocou no fogo eterno, bem no centro do círculo onde Dante meteu os banqueiros. Quem comunga do ódio aos donos dos spreads riu da refeição presenteada ao desafeto. Castigo merecido?
Talvez não. Pois, no Brasil, os excessos financeiros (que acarretam problemas fiscais) não se originam no setor privado, mas nos bancos públicos, ao contrário do que se passa nos EUA e na Europa. Vale começar a comparação pelo mundo desenvolvido. O povo - que ocupou ruas em Nova York e Londres depois de 2008, quando a realidade acabou com a farra financeira e a classe média pagou a conta - demonstrou sua revolta contra disparidades alarmantes. Em 2007, no auge do boom financeiro, a remuneração média dos presidentes dos sete maiores bancos dos EUA equivalia a 500 vezes a renda média da família americana. No Reino Unido, os presidentes de seus quatro maiores bancos recebiam proventos correspondentes a 230 vezes a renda média da família inglesa.
Apesar disso, a crise não nasceu da vilania de alguns indivíduos. Refletiu - isso sim - o fracasso da governança no setor financeiro. No começo do século 19, sob o regime de responsabilidade ilimitada - no qual o dono-gerente cobria com os próprios bens os prejuízos bancários - a prudência garantia o controle do risco. O mundo mudou quando, ainda no século 19, a necessidade de capital para financiar as estradas de ferro levou a reformas legislativas que permitiram aos bancos ter grande número de sócios, separando posse e gerência e limitando a responsabilidade dos acionistas.
Em 1974 Robert Merton, Prêmio Nobel de Economia, demonstrou que a ação de uma empresa em regime de responsabilidade limitada tem preço como opção. O valor dessa opção aumenta com a incerteza sobre o valor dos ativos. Inacreditável? Não. É isso mesmo. A incerteza aumenta tanto riscos de ganhos quanto riscos de perdas. A responsabilidade limitada impõe um chão às perdas. Para os ganhos, entretanto, o céu é o limite. Para maximizar o valor de suas ações os bancos buscam apostas maiores e mais arriscadas.
Durante o século 20 a multiplicação de instrumentos complexos deixou no chinelo o milagre dos cinco pães e dois peixes do Novo Testamento. E no começo do século 21 a volatilidade dos lucros bancários na Inglaterra tornou-se duas vezes e meia maior do que fora no começo do século 20.
A expansão dos lucros bancários inclui um procedimento que aumenta ao mesmo tempo o lucro e o risco e se chama alavancagem (a razão entre o valor dos ativos e o valor do patrimônio). Mesmo que a taxa de retorno sobre os ativos (empréstimos, investimentos, encaixes e reservas) continue inalterada, o banco pode aumentar sua receita expandindo os ativos (seus empréstimos, por exemplo). Ao ampliar a alavancagem de um para dois, o banco dobra sua receita. Ao aumentá-la para quatro, quadruplica a receita. E assim por diante. Na Inglaterra essa razão girava entre três e quatro na metade do século 19, passou a mais de 20 no século 20 e chegou a 30 em 2007.
Essa estratégia tem seu lado ruim. Se a alavancagem é dois, para que o patrimônio do banco deixasse de existir pelo menos metade dos ativos teria de evaporar. Mas se a alavancagem é 20, basta que 5% dos ativos apodreçam para que o banco se torne insolvente. Neste caso, qualquer recessão, aumentando a inadimplência, se transforma em forte ameaça para o setor financeiro.
Em teoria, a disciplina do mercado, na figura do depositante que monitora riscos, deveria contrabalançar os incentivos perversos da responsabilidade difusa dos bancos modernos. Na prática, a recente crise financeira dos países desenvolvidos demonstrou que a disciplina do mercado não funciona e que a supervisão do governo é necessária. As regras de Basileia 3 representam um passo na direção correta, mas mesmo elas ainda são modestas para impedir que os bancos tomem riscos excessivos.
No Brasil, de 2006 aos dias de hoje, a alavancagem (medida como a razão entre os ativos totais e o patrimônio líquido dos bancos) situa-se entre os números 10 e 11, menos da metade do valor observado na Inglaterra ou nos EUA. Podemos dormir tranquilos?
Não. Pois tem uma pedra no caminho do bom funcionamento do nosso sistema financeiro: a interferência do governo nos bancos públicos. A tentativa do governo de diminuir os spreads no grito, por meio da redução forçada dos juros nos empréstimos do BB e da Caixa, choca-se com a necessidade dos bancos de fazerem provisões em face do recente aumento da inadimplência. Se os spreads viessem de fato a cair, já que os custos administrativos e de regulação continuam inalterados, a expectativa de redução dos lucros poderia induzir posições mais arriscadas.
Wen Jiabao, primeiro-ministro da China, declarou na semana passada que os bancos públicos de seu país são grandes demais, ganham muito dinheiro e acumulam muito poder. Por isso precisam ser desmembrados. As declarações de Wen Jiabao refletem o sentimento de que a redução dos bancos públicos é imprescindível para a disciplina do sistema financeiro.
No Brasil, o governo anda na contramão do líder chinês com a proposta de expandir os empréstimos do BB, da Caixa e do BNDES. Ideologia e ressentimentos são maus conselheiros. Não ajudam a encontrar o caminho que restrinja de fato o poder oligopolista dos bancos e a influência do dinheiro nas políticas públicas.
Expandir as operações dos bancos públicos valendo-se da garantia de que eles não podem quebrar, porque o Tesouro Nacional pode capitalizá-los com o dinheiro do contribuinte, é um erro. Temo que o governo esteja a cobrir a pizza dos brasileiros com fatias de abacaxi.
A grande cruzada de Dilma - ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 11/04/12
Obama enfrenta problema semelhante num Congresso dominado pela oposição e, além disso, o orçamento americano já embute um déficit previsto de US$ 1,3 trilhão, pouco mais de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de tudo, a mensagem levada à Alemanha poderia ter algum sentido prático. No caso da visita aos Estados Unidos, a história é diferente e a cobrança foi um ato retórico e um tanto despropositado.
O discurso da presidente mereceria mais atenção se ela cuidasse um pouco mais de seu quintal, tratando mais seriamente do volume e da qualidade do gasto público. Também isso afeta a competitividade.
O ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, acompanhou o tom da presidente. É preciso, segundo ele, examinar a questão do déficit brasileiro no comércio com os Estados Unidos. A secretária de Estado Hillary Clinton poderia ter respondido com uma pergunta: por que o governo americano deveria discutir esse problema? Afinal, ninguém se mostrou preocupado com o saldo comercial entre 2000 e 2008, quando o Brasil foi superavitário.
O ministro Patriota mencionou também a mudança na composição das exportações brasileiras. Tem aumentado a importância das commodities no valor das vendas ao mercado americano e, segundo ele, é preciso "analisar muito seriamente" esse dado. De fato, a composição mudou, mas os manufaturados ainda representaram, no ano passado, 45,3% do valor das exportações para os Estados Unidos. Haviam correspondido a 51,6% em 2010, 59,8% em 2009 e 58,7% em 2008. Juntando-se os semimanufaturados, obtém-se o total das exportações industriais - 65,6% do valor global em 2011.
O Brasil tem tido problemas comerciais importantes com os Estados Unidos, mas ninguém pode acusar o governo americano de haver criado obstáculos à expansão do comércio bilateral nem de haver imposto, nos últimos anos, barreiras importantes aos manufaturados brasileiros. A indústria brasileira simplesmente perdeu oportunidades nos Estados Unidos - assim como em outros mercados desenvolvidos - porque Brasília deu prioridade a entendimentos comerciais com os parceiros emergentes e em desenvolvimento.
O governo disfarçou os custos dessa escolha usando a retórica da diversificação. Pura embromação, porque o Brasil é há muito tempo descrito como um "global player". A multiplicação dos parceiros ocorreria mesmo sem o palavrório ideológico. Além disso, o governo brasileiro, ao negligenciar Estados Unidos e Europa, desprezou mercados importantes para a indústria nacional. O novo parceiro número um do Brasil, a China, consome vorazmente matérias-primas e compra quase nada de manufaturados.
Como complemento, a política industrial tem sido formada por muito discurso, muita fumaça e pouquíssima substância. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) avança muito devagar e seus números são inflados com os financiamentos habitacionais. As obras de infraestrutura estão estagnadas. Mas o ministro da Fazenda insiste - e ontem voltou a esse tema - em apontar o "subsídio cambial" dos países concorrentes como o grande problema do Brasil. Nem ele parece acreditar nisso, porque continua criando uma porção de medidas - quase todas pontuais - na tentativa de animar a indústria e aumentar um pouco seu poder de competição.
O ministro de Relações Exteriores está certo quanto a um ponto: é preciso, sim, examinar os números recentes do comércio com os Estados Unidos. Mas é inútil procurar lá fora as causas dos problemas. Os obstáculos mais importantes são produzidos no País. Nesse campo, a autossuficiência brasileira é incontestável.
A culpa é de Darwin - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 11/04/12
Num estudo de 2005, o biodemógrafo Stuart Olshansky prognosticou que as doenças associadas ao sobrepeso poderão fazer com que, contrariando uma tendência de 200 anos, o aumento da longevidade seja revertido. Daqui até 2050, os bebês norte-americanos poderão ter uma expectativa de vida menor que a de seus pais.
E, a menos que uma droga milagrosa venha a ser descoberta, é pouco provável que as políticas públicas costumeiras tragam grandes resultados. O primeiro alerta geral antiobesidade dos EUA foi lançado em 2001. Dez anos depois, a prevalência havia aumentado quase dez pontos percentuais, assim como o número de refeições feitas em fast foods, que subiu 50%. Só o que caiu foi o total de pessoas que tentam alguma dieta.
A culpa é de Darwin, com uma ajudinha da tecnologia. Nossos corpos e cérebros foram moldados para sobreviver nas savanas africanas num tempo em que a próxima refeição era uma incerteza. Fomos programados para ter fome, muita fome, e estocar com eficiência calorias sobressalentes na forma de tecido adiposo.
O mundo mudou, mas não a nossa genética. Não precisamos mais caçar nossas refeições. Nós as obtemos em supermercados e restaurantes, em porções generosas e com pouquíssimo esforço. Pior, desenvolvemos técnicas para refinar açúcares, concentrar gorduras e extrair de cada alimento o que ele tem de pior -e de mais gostoso também.
O que o McDonald's fez foi apenas reunir todos os estímulos supernormais por que ansiamos em produtos suculentos e baratos como o Big Mac.
A obesidade é uma doença crônica, incurável e intratável porque vencê-la exige passar por cima de todos os nossos instintos alimentares.
O fim da barata tonta - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 11/04/12
Suponha que o dito zigue-zague pudesse ser decodificado a ponto de revelar conteúdos, e estes fossem ligeiramente comprometedores? Ou se, ao contrário, os eletrodos servissem como receptores de um comando externo, induzindo-me, por exemplo, a passar a torcer pelo Vasco?
Nada disso é absurdo diante da notícia no "New York Times" de que uma agência de pesquisa americana dedicada a projetos avançados de defesa está desenvolvendo baratas e caracóis cibernéticos -ligando os sensores e transmissores desses animais a alguma forma de eletricidade, o que permitirá robotizá-los e fazê-los cumprir funções específicas. Não creio que, assim equipados, os bicharocos aprendam a traduzir "Ulisses" para o javanês, mas, no mínimo, é o fim da barata tonta.
A ideia dos cientistas é usar esses híbridos para fins bélicos: a barata eletrônica, em ações de espionagem, sabotagem e guerra psicológica, e o caracol idem, como serviço de escuta, plantado atrás das linhas inimigas e estocando informações em sua concha. E ambos seriam essenciais na guerra biológica -contra humanos.
Não entendo de caracóis, mas já li sobre baratas. Em seus comprovados 350 milhões de anos na Terra, elas já viram de tudo. São anteriores até a certos políticos brasileiros e tão resistentes quanto -capazes de sobreviver a explosões nucleares e a qualquer mudança de governo. Na sua versão 2.0, as baratas serão, ainda por cima, "inteligentes". Será que, nesse caso, a ciência sabe o que faz?
Pinceladas sobre o deserto - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 11/04/12
De uns tempos para cá, tenho viajado por alguns roteiros, digamos, mais exóticos. Depois de Machu Picchu, foi a vez de conhecer o deserto do Atacama, no Chile, de onde regressei semana passada.
Costumo me informar bastante sobre os lugares que vou visitar. Acredito que conhecimento prévio adiciona, não subtrai. Claro, corre-se o risco de a expectativa não se confirmar, mas o Atacama entrega o que promete. Todas as imagens triunfantes que vemos nas revistas e livros são exatamente daquela forma, daquela cor – só o impacto é que é maior ao vivo.
Aterrissar em Calama, vilarejo instalado no meio do deserto e cercado pela cordilheira dos Andes, é como imagino a chegada à Lua. Dali, inicia-se o percurso de cem quilômetros que leva do aeroporto a San Pedro de Atacama, quartel-general de onde saem todos os passeios pela região.
Instantaneamente, muda-se o olhar, muda-se de pele. A terra penetra no corpo e a aridez consolida nosso primitivismo como se fosse um carimbo de entrada. Muita água, muita manteiga de cacau, hidratantes a toda hora: paliativos. Já se está impregnado de secura e arrebatamento. Tenho tomado dois banhos por dia e o Atacama não sai de mim.
Faltará espaço, aqui, para contar detalhes sobre o hotel (um oásis de frente para o vulcão Licancabur) e sobre os passeios – trekking em meio a cáctus gigantes, as imensas lagunas altiplânicas, os cristais de sal, as revoadas dos flamingos, as cavalgadas e tours de bicicleta por uma vastidão que já não se vê neste mundo apertado entre prédios, e o Valle de la Luna, que permite, em meio aos desfiladeiros, vislumbrar um céu de um azul que eu não sabia que existia.
De tudo isso, o que cabe destacar agora é a feliz constatação de que o turismo profissional pode coexistir em perfeita harmonia com a natureza, sem profaná-la. No deserto, o meio ambiente é tão mais soberano que o homem, que ninguém se atreve a violar o aspecto selvagem do local. Só a natureza se exibe, só ela se impõe, nós somos humilde plateia.
A anatomia singular das montanhas, a luminosidade mutável, o entardecer aristocrático, o silêncio como pano de fundo, a profusão de estrelas no céu, o contraste entre a dureza mineral do solo e a leveza do ambiente, tudo nos condiciona a imaginar que estamos num museu impressionista a céu aberto. É uma viagem pictórica, antes de tudo.
Para geólogos, fotógrafos, pintores, atletas e aventureiros, é destino obrigatório. Para os entediados com os hot spots turísticos de sempre, uma opção a considerar com seriedade. Para quem precisa se esconder, não imagino alternativa melhor. Para quem quer fazer compras, manter as unhas intactas e estrear o vestido novo, acredite: mais vale continuar admirando o Atacama pelos cartazes das agências de viagens instaladas nos shoppings.
De uns tempos para cá, tenho viajado por alguns roteiros, digamos, mais exóticos. Depois de Machu Picchu, foi a vez de conhecer o deserto do Atacama, no Chile, de onde regressei semana passada.
Costumo me informar bastante sobre os lugares que vou visitar. Acredito que conhecimento prévio adiciona, não subtrai. Claro, corre-se o risco de a expectativa não se confirmar, mas o Atacama entrega o que promete. Todas as imagens triunfantes que vemos nas revistas e livros são exatamente daquela forma, daquela cor – só o impacto é que é maior ao vivo.
Aterrissar em Calama, vilarejo instalado no meio do deserto e cercado pela cordilheira dos Andes, é como imagino a chegada à Lua. Dali, inicia-se o percurso de cem quilômetros que leva do aeroporto a San Pedro de Atacama, quartel-general de onde saem todos os passeios pela região.
Instantaneamente, muda-se o olhar, muda-se de pele. A terra penetra no corpo e a aridez consolida nosso primitivismo como se fosse um carimbo de entrada. Muita água, muita manteiga de cacau, hidratantes a toda hora: paliativos. Já se está impregnado de secura e arrebatamento. Tenho tomado dois banhos por dia e o Atacama não sai de mim.
Faltará espaço, aqui, para contar detalhes sobre o hotel (um oásis de frente para o vulcão Licancabur) e sobre os passeios – trekking em meio a cáctus gigantes, as imensas lagunas altiplânicas, os cristais de sal, as revoadas dos flamingos, as cavalgadas e tours de bicicleta por uma vastidão que já não se vê neste mundo apertado entre prédios, e o Valle de la Luna, que permite, em meio aos desfiladeiros, vislumbrar um céu de um azul que eu não sabia que existia.
De tudo isso, o que cabe destacar agora é a feliz constatação de que o turismo profissional pode coexistir em perfeita harmonia com a natureza, sem profaná-la. No deserto, o meio ambiente é tão mais soberano que o homem, que ninguém se atreve a violar o aspecto selvagem do local. Só a natureza se exibe, só ela se impõe, nós somos humilde plateia.
A anatomia singular das montanhas, a luminosidade mutável, o entardecer aristocrático, o silêncio como pano de fundo, a profusão de estrelas no céu, o contraste entre a dureza mineral do solo e a leveza do ambiente, tudo nos condiciona a imaginar que estamos num museu impressionista a céu aberto. É uma viagem pictórica, antes de tudo.
Para geólogos, fotógrafos, pintores, atletas e aventureiros, é destino obrigatório. Para os entediados com os hot spots turísticos de sempre, uma opção a considerar com seriedade. Para quem precisa se esconder, não imagino alternativa melhor. Para quem quer fazer compras, manter as unhas intactas e estrear o vestido novo, acredite: mais vale continuar admirando o Atacama pelos cartazes das agências de viagens instaladas nos shoppings.
Enigmas? - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
Demóstenes perdeu o pai aos 7 anos. Sua herança foi roubada por tutores. Abriu um processo, os ladrões recorreram, ele perdeu. Menino, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador brilhante mudou a opinião pública. Demóstenes invejou sua glória e ficou impressionado com o poder da palavra. Pensou, então, em ser um grande orador, mas o sonho parecia impossível, pois, como o rei George VI da vida e da fita, era gago. Corajoso, Demóstenes foi à luta. Curou a gaguez declamando poemas diante do mar, contra o vento; forçando-se a falar (como fazem alguns políticos) com pedras na boca. Graças a esse extenuante treinamento, Demóstenes foi o maior orador da Grécia.
Como um democrata, dedicou sua vida à defesa de uma Atenas ameaçada por Filipe II, da Macedônia, pai do não menos hollywoodiano Alexandre, o Grande. Demóstenes escreveu inúmeros discursos e alguns roteiros com o objetivo de conclamar os atenienses, mas Filipe II venceu.
No ano 335 a.C., Demóstenes foi condenado por facilitar a fuga de um ministro de Alexandre de Atenas. Recebeu uma boa grana, mas como não estava em Brasília, foi preso mas conseguiu fugir, exilando-se em Atenas por um longo período. Na Grécia antiga, os oradores não tinham imunidade.
Após a morte de Alexandre, Demóstenes volta do exílio e retoma a vida pública. Alia-se imediatamente à revolta contra o ditador macedônio Antípatro, mas perde. Exila-se no templo de Poseidon, faz algumas palestras a peso de ouro para alguns mercadores, mas vendo-se cercado pelos soldados do inimigo, Demóstenes termina com a própria vida tomando veneno.
Em 322 antes de Cristo, os políticos se suicidavam quando cometiam malfeitos. No Brasil, apenas Vargas perpetrou o gesto extremo de um suicídio de honra. Neste mundo cada vez mais ambíguo no qual tentamos viver, essa sensibilidade com a moral coletiva só tem ocorrido no Japão, que os políticos e os financistas de Wall Street dizem ser um país exótico...
* * * *
John Winthorp (1588-1649) chegou à América com a intenção de construir uma comunidade utópica - uma nova Jerusalém numa "nova" Inglaterra. Aprendi isso com o Robert Bellah do livro Habits of the Heart (Hábitos do Coração). Nele, há uma recapitulação desse messianismo fundado em princípios mais do que em santos e pessoas, como é o caso ibérico e brasileiro.
John Winthrop foi o primeiro governador eleito da Colônia da Baía de Massachusetts. Seu objetivo não era enriquecer, mas criar uma comunidade na qual a prosperidade sinalizasse aprovação divina e, por isso, o seu exemplo como homem público merece ser relembrado nestes tempos de Brasil que se torna uma sociedade de massa, mas que ainda tem uma vida pública entupida de leis, mas carente de ética.
Durante os seus 12 mandatos como governador, Winthrop foi exemplar e inovador. Moderação e um bom senso extraordinário caracterizam sua administração. Conta-se que durante um inverno particularmente longo e rigoroso a lenha de Winthrop era roubada por um vizinho pobre. O governador mandou chamá-lo e declarou que, devido à severidade do inverno e de suas necessidades, ele tinha permissão para apanhar toda a lenha que precisasse durante aquela temporada. Com isso, dizia Winthrop a seus amigos, ele havia curado o homem do roubo.
* * * * *
Alguns dos nossos políticos têm dupla personalidade, mas como eu tentei mostrar em Carnavais, Malandros e Heróis, o Brasil tem uma duplicidade de raiz. Ele é feito de leis universais (válidas para todos) mas, tal como o barqueiro napolitano de Max Weber, nós não podemos cobrar dos parentes, cobramos menos dos amigos, cobramos demasiado dos desconhecidos, e cobramos estupidamente (com a devida comissão para pessoas e partido) quando o passageiro é o governo. Dois pesos e medidas levados ao extremo acabam em despotismo (os nossos fazem apenas "malfeitos" e são blindados); destitui de ética a impessoalidade do que é público. Até hoje não admitimos que um "homem público" simplesmente não tenha "vida privada" porque ele não é gerente de coisas sem dono; é - isso sim - um administrador do que pertence à sua coletividade. É falsa essa apropriação do público pelo privado, porque os eleitos não são donos de coisa nenhuma; são simplesmente responsáveis pelo que é de todos. O problema é que vemos como anomalia um traço de um Brasil que até hoje não quer saber se é um país de família, um clube de compadres e amigos - ou um sistema de instituições públicas. O governador Winthrop não leu Hirschman, mas soube domar a paixão do roubo, transformando-a em interesse. Aceitou a necessidade e, regulando o furto, tornou o oculto em algo aberto, domesticável e virtuoso. Nós preferimos legislar negativamente e assim transformamos costumes em crime.
É impossível deter as Cachoeiras de desejos, sobretudo quando são proibidos por lei, mas aceitos placidamente pelos costumes da terra, como a amizade e a malandragem. Essas coisas que viciam, como disse um deputado mineiro que construiu um castelo feudal. E, mais que isso, a certeza de que o governo tem muito mais do que pode administrar. Principalmente quando se sabe que aquilo que é de todos (ainda) não é de ninguém. Como prender bandidos num país onde mentir em causa própria é um princípio constitutivo do sistema legal?
Diplomacia da cachaça - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
O reconhecimento da cachaça como produto brasileiro e do bourbon como produto americano foi o evento mais notável da visita da presidente Dilma Rousseff à capital do país mais rico e mais poderoso do mundo. Nenhuma grande questão comercial foi examinada, embora os Estados Unidos sejam o maior mercado consumidor do globo e tenham sido, até há poucos anos, o maior parceiro comercial do Brasil.
Essa posição é hoje ocupada pela China, não só porque os brasileiros ampliaram e diversificaram suas parcerias, mas também porque o intercâmbio com o mercado americano foi deixado em plano secundário, a partir de 2003, nas preocupações da diplomacia comercial de Brasília. Poucos assuntos à altura de um encontro do mais alto nível entraram na agenda levada a Washington pela presidente brasileira. Um deles foi a suspensão da compra de aviões da Embraer pela Força Aérea dos Estados Unidos. Tocou-se no assunto em conversa reservada. Nenhuma referência ao tema foi feita publicamente.
Na entrevista coletiva depois do encontro fechado, a presidente Dilma Rousseff retomou a pregação contra a política dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa, protestando mais uma vez contra a grande emissão de dinheiro, ou, em sua terminologia predileta, contra o tsunami monetário criado por essa política.
À sua maneira, a presidente Dilma Rousseff repete as perorações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, contra o que ele chama de guerra cambial, movida pelas autoridades do mundo rico. Ela evita a expressão guerra cambial, sem deixar, no entanto, de classificar a depreciação do euro e do dólar como uma forma de protecionismo comercial.
A arenga foi repetida na Casa Branca, diante da imprensa, e a presidente Dilma Rousseff aproveitou a ocasião para apontar aos líderes do mundo rico sua responsabilidade pela recuperação da economia global. Todos são responsáveis, evidentemente, mas não tem sentido cobrar do presidente americano uma alteração da política monetária. As ações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) estão fora da alçada da Casa Branca e a presidente Dilma Rousseff parece ter esquecido esse detalhe. Mas a política monetária poderia ser mais moderada, segundo seu argumento, se o Tesouro gastasse mais para estimular a economia. O presidente Obama sabe disso e o orçamento de seu governo já é muito deficitário.
Também na parte política a viagem pouco rendeu. Bateu-se, mais uma vez, na tecla da ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da pretensão brasileira a um lugar permanente. O comunicado emitido em nome dos dois presidentes foi tão chocho, quanto a esse tema, quanto havia sido no fim da visita de Obama ao Brasil, no ano passado. O presidente americano manifestou, mais uma vez, seu "apreço" pela pretensão brasileira. Em relação à reforma do Conselho, ambos concordaram com uma ampliação "limitada", na versão em português, ou "modest", segundo o texto em inglês. A informação teria sido mais clara e mais realista com uma tradução literal da palavra "modest".
O entusiasmo do governo americano em relação a alterações no Conselho de Segurança continua mínimo e isso é especialmente compreensível quando se trata da pretensão brasileira. A presidente Dilma Rousseff voltou a tocar num dos temas prediletos da diplomacia petista, insistindo na participação de Cuba nos eventos diplomáticos do hemisfério, como a Cúpula das Américas, marcada para este fim de semana em Cartagena, na Colômbia. Pelo menos a política nuclear do Irã ficou fora da conversa, segundo a presidente. Talvez tenha faltado tempo.
Houve referências à possível participação americana em projetos brasileiros de infraestrutura e na exploração do pré-sal. O tema é importante, mas a conversa parece ter ficado nas generalidades. A visita serviu principalmente, segundo alguns analistas, para mostrar uma evolução nas relações bilaterais, agora menos tensas do que no período do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pode ser, mas essa melhora pouco valerá sem uma agenda econômica mais ambiciosa e muito mais pragmática.
Mudança de estação na finança - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 11/04/12
O que houve de novo? Umas poucas notícias ruins, embora pontuais, sobre o estado da economia americana e sobre os riscos de naufrágio do barco espanhol.
Em março, o número de novos empregos criados nos Estados Unidos decepcionou os rapazes previsores do mercado. Mas o número ruim de apenas um mês não faz um inverno, assim como as estatísticas boas de dois meses não faziam um verão, a não ser na propaganda oficial, de governo ou "otimistas" do mercado.
Mesmo o banco central dos Estados Unidos, o Fed, observa mensalmente que a recuperação do mercado de trabalho é frágil. O número de pessoas empregadas cresce pouco, os salários médios não crescem, o desemprego cai em parte (50%) porque muita gente desistiu de procurar trabalho, aposentou-se etc.
Nas últimas semanas, ficou mais claro o tamanho que terá a recessão espanhola neste ano (talvez de uns 2%), e o desemprego foi a 23%.
Isto é, caiu a ficha de que o governo da Espanha pode não arrecadar o suficiente para atingir suas metas fiscais (superavit) e pode, talvez, entrar na UTI financeira onde vivem Grécia, Portugal e Irlanda. Mas a gente sabe que a situação espanhola é preocupante faz tempo.
Mas os povos do mercado estavam se aproveitando de algumas notícias de fato boas (mas não muito) nos Estados Unidos e do grande despejo de dinheiro do Banco Central Europeu, que desde dezembro emprestou € 1 trilhão para os bancos da eurozona a taxas de juros reais negativas (ou seja, deu dinheiro para os bancos).
O dinheiro do BCE azeitou um pouquinho o enferrujado mercado financeiro europeu, baixou o nível de tensão e, assim, incentivou mais gente a colocar dinheiro para rodar nas praças financeiras do mundo.
Aliás, diga-se de passagem, era e é uma tolice dizer que o "dinheiro do tsunami financeiro" europeu não havia circulado pelo mundo ainda. O presente do BCE para os bancos desencadeou uma reação em cadeia que reabriu pelo menos em parte as comportas da liquidez (dinheirama) mundial.
Porém, o problema de fundo, endividamento excessivo de governos e de famílias, permanece e é saliente em países como a Espanha, "grande demais para quebrar". Decerto a situação não é tão crítica como o era no ano passado. Talvez seja crônica, remediada.
No fim das contas, a elite europeia se desdisse e tomou providências para atenuar a crise. Lembre-se que, a partir do fim de 2009, a União Europeia dizia que não haveria socorro para países falidos (houve), que o BCE não compraria títulos de governos problemáticos (comprou), que não haveria calote de país endividado (houve), para ficar apenas nas maiores contradições.
Mas os problemas de base continuam. Como os EUA vão crescer bem sem emprego e bons salários, sem novo ciclo de investimentos? Com uma bolha nova? Quando vai acabar o ciclo recessivo talvez deflacionário na Europa? Quando acabar, os países "periféricos" serão mais produtivos?
Um direito da mãe - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 11/04/12
O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento sobre o direito da gestante de interromper a gravidez em caso de anencefalia do feto. O tema é polêmico e tem repercussão nacional, porque a discussão parece prenunciar a definitiva legalização do aborto. Longe disso, contudo.
A anencefalia é uma má-formação embrionária que resulta na ausência de cérebro e de cerebelo. Ela não tem cura e, segundo o Conselho Federal de Medicina e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, inviabiliza a vida fora do útero.
Estima-se que a anencefalia ocorra em 0,2% das gravidezes, e a maior parte delas termina em aborto espontâneo. Nas raras vezes em que nasce, o bebê anencéfalo sobrevive em geral poucas horas.
É difícil, portanto, sustentar que a interrupção desse tipo de gestação equivalha a provocar um aborto -prática que consta do Código Penal entre os crimes contra a vida. Em termos médicos, o feto anencéfalo é um natimorto cerebral. Eis por que tem sido utilizada a expressão "antecipação terapêutica do parto".
Vale ressalvar que a legislação prevê duas situações em que o aborto não é considerado crime: quando a gravidez resulta de estupro ou se não houver outro meio de salvar a vida da gestante.
A proibição já não é absoluta. Não parece justo forçar a mãe a conduzir uma gestação cujo desenlace será inevitavelmente a morte do feto. É manifesto que se trata de gravidez que põe em risco a saúde física e mental da mulher.
A arguição de descumprimento de preceito fundamental que o Supremo julgará hoje, proposta em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), traz precisamente o argumento de que tal situação ofende a dignidade humana da mãe e viola seu direito à saúde.
Quando analisou a ação há oito anos, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do processo, concedeu liminar a favor da CNTS. Três meses depois, sua decisão foi derrubada no plenário, por 7 votos a 4.
O plenário que se reúne hoje para resolver o mérito da ação terá cinco ministros que não estavam na Corte naquela ocasião. Entre os que se aposentaram, quatro haviam votado contra a liminar.
Ao que parece, agora a tendência do Supremo seria descriminalizar a antecipação do parto em caso de gravidez de feto anencéfalo. É de esperar que seja assim, para que cada mulher esteja livre para exercer seu direito, nessa condição extrema, de decidir se prossegue ou não com a gestação.
A competição entre os bancos - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 11/04/12
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff mandou e o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal baixaram os juros ao consumidor. O objetivo do governo é produzir um efeito em cascata também entre os bancos privados, aumentando a competitividade no setor.
Forçar uma queda de juros é uma boa medida, embora possa se discutir a forma. Mas, se for, de fato, para estabelecer a concorrência entre os bancos, uma outra ação adicional relevante terá de ser tomada: a portabilidade de contas-correntes, da mesma forma como já ocorre com números de telefone.
O maior transtorno para quem decidia abandonar uma empresa de telefonia era abdicar de seu número. Era um pesadelo pensar no trabalho de avisar a todos os amigos, pessoas da família e contatos profissionais sobre o novo telefone. Esse problema foi eliminado quando veio a norma da portabilidade.
No caso dos bancos, a competição será muito maior no dia em que os correntistas puderem levar suas contas para uma outra instituição sem ter de fazer novamente todos os cadastros de débitos automáticos para pagar despesas com energia, água, TV a cabo, celular, cartão de crédito, crediário e outros.
Clientes bancários não querem apenas pedir empréstimos e ter juros baixos. Desejam também ser bem atendidos e não ter de pagar tarifas escorchantes pelos serviços.
Como a indústria bancária brasileira se jacta de ter um dos mais sofisticados e modernos sistemas de automação do planeta, é possível encontrar uma saída. Com a portabilidade de contas bancárias, os gerentes indelicados pensarão duas vezes antes de não atender a chamadas de seus clientes. Nesses casos, bastará dizer: "Vou mudar para o concorrente ao lado".
Os bancos, por óbvio, só adotarão a portabilidade à força. Mas o governo nem cogitou essa hipótese no pacote da semana passada.
Forçar uma queda de juros é uma boa medida, embora possa se discutir a forma. Mas, se for, de fato, para estabelecer a concorrência entre os bancos, uma outra ação adicional relevante terá de ser tomada: a portabilidade de contas-correntes, da mesma forma como já ocorre com números de telefone.
O maior transtorno para quem decidia abandonar uma empresa de telefonia era abdicar de seu número. Era um pesadelo pensar no trabalho de avisar a todos os amigos, pessoas da família e contatos profissionais sobre o novo telefone. Esse problema foi eliminado quando veio a norma da portabilidade.
No caso dos bancos, a competição será muito maior no dia em que os correntistas puderem levar suas contas para uma outra instituição sem ter de fazer novamente todos os cadastros de débitos automáticos para pagar despesas com energia, água, TV a cabo, celular, cartão de crédito, crediário e outros.
Clientes bancários não querem apenas pedir empréstimos e ter juros baixos. Desejam também ser bem atendidos e não ter de pagar tarifas escorchantes pelos serviços.
Como a indústria bancária brasileira se jacta de ter um dos mais sofisticados e modernos sistemas de automação do planeta, é possível encontrar uma saída. Com a portabilidade de contas bancárias, os gerentes indelicados pensarão duas vezes antes de não atender a chamadas de seus clientes. Nesses casos, bastará dizer: "Vou mudar para o concorrente ao lado".
Os bancos, por óbvio, só adotarão a portabilidade à força. Mas o governo nem cogitou essa hipótese no pacote da semana passada.
A intervenção - ILIMAR FRANCO
FOLHA DE SP - 11/04/12
Desde ontem, a Secretaria de Relações Institucionais está sob intervenção. O PT colocou uma empresa de gerenciamento de crise, que presta serviços a petistas, para tentar segurar no cargo o subchefe de Assuntos Federativos, Olavo Noleto. Essa empresa produziu um comunicado dizendo: Noleto não será afastado e não ocorreu reunião dele com os ministros Ideli Salvatti e Gilberto Carvalho para tratar do escândalo Cachoeira.
Noleto chorou e disse que sairia
Os ministros Ideli Salvatti e Gilberto Carvalho saíram tensos da reunião com Noleto, na semana passada. Ele disse que conhecia, mas não tinha relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira. No entanto, revelou ter conversado recentemente com o número dois da organização, Wladimir Garcez, e lamentou tê-lo feito pelo telefone funcional do Planalto. No meio da reunião, Noleto reconheceu a situação embaraçosa, chorou copiosamente e afirmou que deixaria o cargo para não criar problemas para o governo. Esse era o desfecho até a direção do PT entrar em campo. Noleto, quadro da tendência Construindo Um Novo Brasil, exerce funções na pasta desde 2005, quando Jaques Wagner (governador da Bahia) foi nomeado ministro.
"Noleto nos disse que nunca teve contato com o Cachoeira. Explicou que suas relações com Wladimir Garcez remontam à época em que ele era chefe de gabinete do prefeito de Goiânia e Garcez presidente da Câmara de Vereadores” — Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, sobre a reunião com Noleto
MEIA PALAVRA BASTA. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) ligou para falar sobre a situação do subchefe de Assuntos Federativos da Presidência da República, Olavo Noleto, e disse: "Não há motivo para qualquer desconfiança. Ele permanece no cargo. Ele só sai se assim o desejar. Existe aí a possibilidade de ele ser candidato a vice-prefeito de Aparecida de Goiânia" (na chapa do atual prefeito Maguito Vilela, do PMDB).
Rápido no gatilho
O corregedor-geral da Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), criou ontem comissão de sindicância para investigar os deputados com suposto envolvimento com Carlinhos Cachoeira. Hoje, ele vai requerer cópia da investigação para o STF.
Solidários
O PSDB decidiu que vai defender o mandato do deputado Carlos Leréia (GO). Os tucanos confiam no relato do correligionário, de que ele tinha uma relação de amizade e que isso explica os empréstimos que recebeu de Cachoeira.
Apesar do susto, PSD ainda acredita
A despeito da posição assumida pelo procurador-geral eleitoral, Roberto Gurgel, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, está otimista quanto à decisão do TSE sobre o direito do partido aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda na televisão. Ele lembra que no julgamento da criação do partido aconteceu o mesmo. A Procuradoria Eleitoral foi contra, mas a criação do partido foi aprovada no TSE por 6x1.
Desconfiança
O governo está com um pé atrás com o anúncio feito pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), de que vai votar o Código Florestal dia 24. Um ministro disse que antes é preciso saber o texto que será votado e o que será aprovado.
Na História
A presidente Dilma recebeu na Universidade de Harvard quadro que registra a visita de Dom Pedro II, em 1876, àquela instituição. Dilma é o segundo chefe de Estado brasileiro a ir até Harvard durante uma visita oficial aos Estados Unidos.
O MINISTRO Guido Mantega (Fazenda) pediu tempo aos deputados para analisar a proposta de fixar em 7,5% o percentual do PIB destinado à Educação. Ele disse aos deputados que o compromisso de campanha da presidente era de 7%, e não de 10%.
BALOFO. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é um dos milhares de brasileiros que está acima do peso. Seu índice de massa corporal está em 25,97%, acima dos 25% considerados ideais.
NO BOLSO: O projeto da Lei Seca, que será votado hoje na Câmara, será salgado. Ele prevê que as multas de trânsito vão dobrar de valor.
Ih, São Paulo ainda pode surpreender muita gente! - JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
Nenhuma cidade brasileira é tão grande, nem tão cosmopolita, nem tão complexa para administrar como São Paulo de Piratininga. Seu eleitor se deixa levar pela emoção como qualquer outro, mas mais do que qualquer outro presta atenção no fato biológico de que a mão que vota é a mesma que põe no bolso para guardar ou sacar dinheiro e também a que usa para cumprimentar, persignar-se, pedir ou dar. Vai ver que é por isso que seu comportamento é tão sutilmente peculiar que nem os mais habilidosos políticos conseguem entendê-lo por inteiro. Para tanto nem precisa ter nascido aqui, como Jânio Quadros, de Mato Grosso, seu alcaide no começo e no fim da carreira. Há, contudo, que lhe dar atenção, até mimá-la um pouco. Raros entenderam isso como Jânio, um dos poucos que partiram dela para um voo federal, embora de galinha. O mais frequente dos adversários de Jânio, Adhemar de Barros, por exemplo, ganhou e perdeu eleições para prefeito e governador e nunca governou o País.
Nunca se deixando conduzir, mesmo quando não conduz, conforme determina o dístico de suas armas e barões assinalados, São Paulo comporta-se de forma singular em relação ao restante do Brasil. Também tem certa predileção irônica pela contrariedade. Quando os idiotas da objetividade concluíram em conjunto que seu eleitorado era mais conservador do que a média nacional, talvez pela prosperidade, a maior cidade brasileira deu o triunfo a uma sertaneja pobre, solidária, desvalida e desprovida de encantos físicos, Luíza Erundina de Sousa, contra um paulistano milionário e oportunista, Paulo Maluf, 22 anos antes de Dilma Rousseff chegar à Presidência pelo voto. Repetiu a dose com uma sexóloga da alta sociedade, militante do Partido dos Trabalhadores (PT), Marta Suplicy. Da mesma forma como, quatro anos depois, não lhe permitiu a reeleição, sufragando o adversário, oriundo do bairro proletário da Mooca, José Serra, no mesmo dia em que pesquisa de opinião registrava o apoio da maioria do eleitorado à prefeita como gestora. Vai entender! Quatro anos depois, um militante anônimo praticamente sem currículo se reelegeu para o cargo que ocupou com a vacância do titular (que o deixou para ser governador), derrotando um ex-governador e de novo a ex-prefeita.
São Paulo, a comoção da vida do poeta Mário de Andrade, é uma caixinha de surpresas e nada indica que tudo vai ser diferente na temporada que se está abrindo para escolher o sucessor de Gilberto Kassab (PSD). Do topo de seus 80% de popularidade à saída do segundo governo presidencial, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, de seu QG em São Bernardo do Campo, resolveu ungir candidato próprio e estranho à militância petista na capital paulista para nele erigir as bases de um projeto político unívoco, a começar pela conquista da Prefeitura e continuar pela subida das colinas do Morumbi. Recorreu até à comiseração pelo diagnóstico de um câncer na laringe para retirar a renitente Suplicy do caminho e ungir seu ex-ministro da Educação Fernando Haddad.
Durante cinco meses, com Lula preso ao hospital pelos achaques do tumor, o candidato único do PT desfilou pelo Planalto de Piratininga como único herdeiro do Padim Padre Cícero da periferia do Ó, mas até agora não conseguiu ultrapassar humilhantes 3% nas pesquisas de intenção de voto. E isso com o PSDB fazendo de tudo para asfaltar seu caminho para o Viaduto do Chá: três secretários municipais e um deputado estadual se prepararam por um tempo interminável para disputar uma prévia que, no final, foi vencida por José Serra. Vencida? Bah! Os tucanos levaram cinco meses para entender o óbvio: que a intenção do governo federal e de Lula era federalizar a campanha municipal em São Paulo e só engoliram o óbvio depois de verem a boiada de todos indo definitivamente para o brejo sem um candidato apoiado por um prefeito com R$ 7 bilhões em caixa para tornar a cidade um canteiro de obras em ano eleitoral. Aí, apelaram para a velha regra-três. E lá veio Serra ganhar a prévia adiada por 15 dias pela margem de 2,1% de votos a mais que os dados a José Aníbal e a Ricardo Tripoli. Se alguém ainda tiver alguma dúvida quanto ao que significa a expressão "vitória de Pirro", está convidado a perscrutar o ânimo dos vencedores daquela memorável "prova da democracia interna do PSDB". Enquanto o velho mito da cara nova patina nos 3%, o melhor candidato que a oposição ao governo federal tem para encarnar o "comigo não, violão" da orgulhosa São Paulo contra os planos de dominação do PT ostenta esse triunfo esquálido de dar dó.
Ah, mas nós não perdemos por esperar! Este jornal já deu em manchete que Brasília descerá em peso para engordar os índices indigentes do professor Haddad. E ansiamos pela recepção espetacular que a Vila Carrão dará a Gleisi Hofmann, a virada do eleitorado do Jardim Ângela quando souber em quem votará Gilberto Carvalho e, sobretudo, o esmagamento das pretensões tucanas pela imensa popularidade desfrutada por Ideli Salvatti na Vila Brasilândia. Quem duvida que será um deus nos acuda?
Não que Serra não esteja cuidando de ajudar o adversário: não chamou de "papelzinho" o recipiente de sua promessa de que não renunciaria à Prefeitura para disputar o Estado ou a Presidência dois anos depois? A vitória do vice Kassab após a quebra de promessa desidrata um pouco as esperanças de quem pensa que esse deslize do ex-governador lhe pode ser fatal nas pretensões este ano. É um erro de cálculo que se assemelha talvez ao de Lula, que faltou à aula de História em que teria aprendido que seu adversário-mor teve maioria dos votos paulistanos contra ele próprio em 2002, Marta em 2004, Mercadante em 2006 e Dilma em 2010. Como advertiu Garrincha ao técnico Feola em 1958, é bom consultar os russos antes de contar com os próprio dribles. Isso vale também para o tucanato em flor, esquecido das noções de aritmética na prévia.
Contra o feiticeiro - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 11/04/12
A pressão do PT para instalar a CPI do Cachoeira é considerada um "tiro no pé" do governo pelos aliados. Líderes de PR, PTB, PMDB e PSD afirmam que o "voluntarismo'' do líder petista, Walter Pinheiro (BA), não levou em conta o risco para a própria legenda.
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), cuja ligação com o esquema de Carlinhos Cachoeira é investigada, procurou senadores aliados pedindo que a comissão fosse abortada. Não teve êxito. O Planalto aguarda o resultado da perícia da Polícia Federal no material apreendido com o empresário de jogos -onde se concentraria o potencial explosivo para o PT.
Se vira De um senador aliado, diante dos riscos da CPI do Cachoeira: "Vão rifar o Agnelo com a ajuda do PT. Se nem eles ajudam, por que nós vamos protegê-lo?".
Tentáculos Outro risco em potencial para o governo Dilma Rousseff com o desenrolar de uma CPI mista é que o foco se feche sobre a Delta, empreiteira com vários negócios no PAC, sobretudo no Ministério dos Transportes e o sempre encrencado Dnit.
Bode na sala Na reunião de líderes ontem para discutir a CPI, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) disse que a investigação sobre os tentáculos de Cachoeira não poderia ser usada para "desviar o foco" do mensalão, que pode ser julgado neste ano pelo STF.
Você por aqui? Os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Renan Calheiros (PMDB-AL) foram visitar Vital do Rêgo (PMDB-PB) e encontraram Demóstenes na garagem do prédio. O goiano quis saber sobre a formação do Conselho de Ética e reiterou que vai se defender das acusações.
Dublê A nova investigação já tem seu candidato ao papel antes desempenhado por Demóstenes: Pedro Taques (PDT-MT), ex-procurador da República, quer convocar o chefe da instituição, Roberto Gurgel, para depor.
Imagem Ideli Salvatti contratou uma agência de gerenciamento de crise para lidar com a acusação de que o Ministério da Pesca comprou lanchas de uma empresa que fez doação de campanha ao PT de Santa Catarina em 2010, quando a ministra foi candidata ao governo.
Dia D Os governadores dos Estados atingidos pela resolução 72, que tenta coibir a chamada "guerra dos portos", se reúnem hoje com o ministro Guido Mantega (Fazenda) para tentar chegar a um acordo antes da votação da medida pelo Senado.
Água Dirigentes do PSD avaliam que um revés no Tribunal Superior Eleitoral sobre a liberação do fundo partidário, e na esteira o tempo de TV, inviabiliza a coligação na chapa de vereadores em São Paulo com o PSDB.
Já ganhei Em visita ao Mercado Municipal da Lapa, o pré-candidato tucano José Serra disse que o lugar precisava de uma pintura e iria falar com o prefeito Gilberto Kassab. Em seguida, emendou: "Melhor: dá para segurar até janeiro? Aí eu faço".
Ufa Aliados de Geraldo Alckmin dizem que qualquer dúvida que o governador tivesse sobre ter nomeado Márcio Rosa procurador-geral de Justiça se esvaiu após as entrevistas "antilitúrgicas" do preterido Felipe Locke.
Visita à Folha Sérgio Quadros, presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros Didáticos), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Luciano Monteiro, diretor de Relações Institucionais do Grupo Santillana no Brasil.
com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"O PT quer transformar a eleição em São Paulo num combate de UFC. A diferença é que temos um campeão testado e aprovado e eles um principiante que não conhece a cidade."
DO DEPUTADO ESTADUAL ORLANDO MORANDO (PSDB-SP), em resposta às críticas do deputado petista Jilmar Tatto (PT), segundo quem o tucano José Serra representa "energia fóssil" na eleição para a prefeitura paulistana.
contraponto
Também quero
Na fila de deputados que usaram o microfone para tietar o atacante Neymar, em sessão da Câmara para homenagear ontem o centenário do Santos, o gaúcho Afonso Hamm (PP) aproveitou para lembrar que chegou a tentar a carreira de jogador no passado.
Enquanto ouvia a fala, o atacante autografava dezenas de camisetas arremessadas no plenário pelos fãs, até que o deputado não resistiu:
-Aliás, eu queria aqui aproveitar para pedir também um autógrafo na minha pasta...
Manobras - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/04/12
Os diálogos envolvendo o chefe de gabinete do governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz, com membros do grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, revelados ontem pelo “Jornal Nacional”, devem ter esfriado um pouco o ânimo da direção do PT, que via na CPMI sobre as relações do bicheiro com políticos um instrumento de pressão sobre a oposição num ano eleitoral.
Embora seja um escândalo multipartidário, os petistas consideravam, até o surgimento das denúncias contra Agnelo Queiroz, que a oposição tinha mais a perder. Como sempre fazem nessas ocasiões, tentam minimizar a participação dos seus e demonizar os adversários.
Ao tomar conhecimento de que um assessor com sala no Palácio do Planalto aparece em conversas com assessores do bicheiro, a presidente Dilma teria dado ordens para uma demissão sumária. Bastaram horas para que tudo se transformasse.
O subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal, Olavo Noleto, passou de réu a vítima de um mal-entendido. Sua conversa com Wladimir Garcez, um dos principais operadores de Cachoeira, antes que o dia terminasse passou de suspeita a meramente política, para tratar de apoios partidários em Goiás. Uma página virada, na definição do ministro Gilberto Carvalho.
Em contraponto, as relações do senador oposicionista Demóstenes Torres com o bicheiro Cachoeira são transformadas pelos petistas em sinais de que as acusações de corrupção contra o governo não têm credibilidade, e, a partir daí, sonham em desmontar o mensalão, tratando- o como fruto de conspiração contra o governo de Lula.
O problema é a falta de conexão entre causa e efeito, nessa nova versão surgida sete anos depois de aberto o processo, tão tortuosa quanto a intenção de seus fabricantes.
Mesmo que a gravação da propina nos Correios, que gerou a irritação do então deputado federal do PTB Roberto Jefferson com o chefe da Casa Civil à época, José Dirceu, tivesse sido feita a mando de Cachoeira paracriar problemas para Dirceu, numa vingança do senador Demóstenes Torres, que fora barrado por ele para um cargo no governo, não haveria como Jefferson criar do nada a história do mensalão.
Não existisse o imenso esquema de compra de apoio político revelado pelas investigações da Procuradoria Geral da República, denúncia acatada pelo relator do processo no Supremo, ministro Joaquim Barbosa, a acusação do petebista seria de outra ordem. Aconteceu naquele momento o que ocorre em muitas quadrilhas, um desentendimento em torno da divisão do butim que provoca um rompimento das lealdades, gerando revelações de segredos que só os componentes do bando conhecem.
Esta não passa de mais uma manobra protelatória para tentar jogar o julgamento para as calendas gregas.
Mas há reações tanto internas quanto fora do Supremo. Ontem, dois ministros declararam- se a favor de que o processo entre na pauta ainda este semestre. Gilmar Mendes disse que a votação tem que ocorrer no primeiro semestre, para evitar a possibilidade de prescrição de algumas penas, e sugeriu até mesmo, se necessário, que a pauta seja suspensa para que o processo possa ser apreciado.
Também o futuro presidente do Supremo, ministro Ayres Britto (que assume o posto no dia 19) se disse favorável a que o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, apresse seu parecer “sem a perda da segurança”. Britto já declarou que porá o tema em pauta 48 horas após o revisor entregar seu voto.
As redes sociais vêm tendo um papel fundamental na mobilização da cidadania em todo o mundo, e no Brasil não tem sido diferente.
Agora mesmo um grupo que se intitula Queremos Ética na Política se mobiliza pelo Facebook para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar o caso do mensalão até o primeiro semestre deste ano para evitar qualquer dúvida quanto a uma eventual prescrição de penas.
Há também o propósito de evitar que a aposentadoria de dois ministros do STF no segundo semestre impeça que o julgamento vá adiante.
A escolha de ministros do Supremo tem sido demorada no governo Dilma, e há um consenso sobre a necessidade de um julgamento tão importante como este ocorrer com todos os 11 juízes no plenário.
No dia 25 de abril o ministro Lewandowski receberá representantes do movimento e da Transparência Brasil. Na audiência, uma ampulheta, o símbolo do movimento para evidenciar o tempo que passa, será entregue ao ministro. O objetivo, além de evitar a prescrição de alguns crimes, é chamar a atenção para o fato de que diversos dos réus poderão se candidatar nas eleições municipais.
Com uma eventual condenação, eles cairão na Lei da Ficha Limpa, e suas candidaturas serão impugnadas.
Os dados sobre o desempenho dos ministros do STF, calculados no projeto Meritíssimos no site da Transparência Brasil (http://www.meritissimos. org.br), dão conta, por exemplo, de que o tempo de espera do relator Joaquim Barbosa para processos criminais é de 48 semanas.
Contudo, o próprio diretor da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, admite que não dá para comparar o processo do mensalão com a média dos processos criminais que chegam ao STF por causa da quantidade de réus e da sucessão de mecanismos protelatórios que os advogados desses réus mobilizaram.
Num momento em que os defensores dos mensaleiros pretendem se aproveitar da crise política desencadeada pelas acusações contra Demóstenes Torres para tentar desmoralizar as denúncias contra a corrupção, é importante essa mobilização da sociedade civil para que a impunidade não continue imperando no país.
Na coluna de ontem fiz uma ilação política e me antecipei a uma decisão futura do procurador- geral eleitoral, Roberto Gurgel. Disse que ele negara o tempo de TV para o PSD, quando, na verdade, ele negou uma primeira reivindicação, a de distribuição do Fundo Partidário. Seu argumento, de que o PSD não participou de eleições e não tem direito à distribuição da verba, deve ser o mesmo para negar o tempo de TV, mas essa é outra etapa.
O bicheiro e seus amigos - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 11/04/12
A letra miúda das relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e agentes públicos de diferentes instâncias e instituições ficou exposta com nitidez na entrevista do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, à repórter Christiane Samarco, publicada segunda-feira no Estado. Goiás, como se sabe, é a base de operações do bicheiro e o Estado do senador Demóstenes Torres, até agora a mais lustrosa figura a cair em desgraça por suas ligações com o homem da batota. Ele se desfiliou do DEM para não ser expulso do partido.
Perillo, um dos tantos flagrados nos grampos da Operação Monte Carlo da Polícia Federal conversando com Carlos Augusto Ramos, como se chama o operoso empreendedor, diz que "todos os políticos importantes de Goiás tiveram algum tipo de relação ou de encontro com o Carlos Ramos" - "como empresário", ressalva. Além de faturar com o jogo ilegal, Cachoeira tem uma fábrica de medicamentos em Anápolis, próspero município do Centro-Oeste brasileiro. Com a generalização, o governador, no exercício do terceiro mandato, pode ter desejado "socializar" os eventuais danos à sua imagem. Mas não há por que duvidar das suas palavras.
Antes de fazer parte do jargão do mundo da internet, o termo "redes sociais" era já comumente usado pelos estudiosos para explicar os mecanismos da ascensão individual nos negócios e na política, entre outros ramos. Isso se constata principalmente em sociedades como a brasileira, onde o sucesso de cada qual ainda depende em larga medida do seu círculo de relações, a começar da esfera familiar. Nessa malha, as eventuais malfeitorias de seus integrantes, facilitadas, por sinal, por essa própria condição, são muitas vezes tratadas com uma leniência que não se estende a quem se fica conhecendo só quando aparece no noticiário policial.
O governador goiano, por exemplo, conta que conheceu Cachoeira numa festa. Quem os apresentou foi o seu ex-secretário de governo Fernando Cunha. "O filho do Fernando era casado com uma irmã de Cachoeira", arrola. Em outra festa, Perillo ouviu dele, Cachoeira, que "tinha abandonado o jogo, saído da contravenção e que era empresário trabalhando na legalidade". O político diz ter acreditado. "Sou um homem de boa-fé", justifica-se. Pois é: mesmo atrás das grades (Cachoeira está preso há 41 dias), o pessoal que ele comanda continua na ativa. A Polícia Federal descobriu que a turma comprou por R$ 1 milhão um site de bingos online hospedado na Irlanda, voltado para apostadores brasileiros.
Nem só a complacência e a boa-fé alheias, evidentemente, encorpam os Cachoeiras. Eles fazem fortuna porque remuneram de várias formas os políticos e funcionários que têm diante do patrimônio público a mesma atitude rapace dos seus pagadores. Ao princípio cínico do "aos amigos, tudo", acrescenta-se a senha para a lambança: "O que é de todos não é de ninguém". O círculo se fecha com a aposta - testada e aprovada - na impunidade. Daí o ceticismo com que tendiam a ser recebidas, no caso, iniciativas como o pedido, acolhido ontem, de abertura de processo para a cassação do mandato de Demóstenes Torres, o Catão do Senado, que ganhava mimos do contraventor com quem trocou nada menos de 298 telefonemas entre fevereiro e agosto do ano passado.
Mais importante do que o banimento do desmoralizado Demóstenes seria a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os contatos políticos do contraventor, que não hão de ter sido esporádicos nem restritos a poucos - a CPI do Cachoeira. De partida, há uma razão técnica para a sua instauração. A documentação da Polícia Federal a respeito, incluindo notadamente as escutas autorizadas, em posse do Supremo Tribunal Federal, está protegida pelo segredo de Justiça. Ao negar um pedido de acesso ao material, encaminhado pelo corregedor do Senado, Vital do Rego, o ministro Ricardo Lewandowski esclareceu que a única instância do Legislativo apta a recebê-lo seria uma CPI.
Líderes parlamentares do governo e da oposição, uns e outros lá com os seus motivos, prometem trabalhar por ela. É pouco. Mais uma vez, tudo vai depender das pressões da sociedade sobre o Congresso.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 11/04/12
Fiscalização sobre remédio com receita crescerá
A Anvisa acaba de decidir lançar consulta pública sobre a possibilidade de voltar a permitir que os medicamentos isentos de receita possam ser colocados à venda fora dos balcões nas farmácias de todo o país.
A medida da agência gerou expectativa no varejo de que a chamada para consulta abra espaço para a discussão de outros assuntos positivos para o setor, como a implantação de novas tecnologias para receituário eletrônico, por exemplo, que facilitariam suas operações.
Segundo Dirceu Barbano, diretor da agência de vigilância, porém, a consequência será outra: o endurecimento da fiscalização sobre as farmácias, para que não vendam sem prescrição os medicamentos de tarja, que exigem a apresentação da indicação do médico.
"Querer discutir sobre levar o medicamento isento de volta para fora do balcão não significa que estamos voltando atrás de nenhuma medida tomada no passado. Significa que teremos mais foco no controle dos produtos que exigem prescrição", diz.
Para Barbano, a vigilância sanitária não pode ficar envolvida com aquilo que não precisa de receita se os que exigem ainda são vendidos sem, em desrespeito à lei.
"Faremos estudos sobre quais medidas legais podem ser adotadas para aumentar o campo da fiscalização de uma lei que ainda se descumpre."
"Haverá mais mecanismos para cobrar farmácias para que elas não vendam sem receita os medicamentos que, por lei, exigem prescrição"
DIRCEU BARBANO
diretor-presidente da Anvisa
IDADE CONSUMISTA
O potencial de consumo dos idosos tem sido pouco explorado no país, segundo estudo da consultoria Quorum Brasil. Mais de 40% dizem que não encontram roupas adequadas a seu estilo.
Cerca de 64% apontam problemas nos hotéis que frequentam e 71% reclamam da dificuldade de encontrar alimentos que sigam suas recomendações médicas.
O que mais pesa no orçamento desse público são as contas de moradia, água e outros (34%), diz o estudo.
Enquanto remédios e planos de saúde levam 24%, o lazer fica com 4%. Cerca de 46% conseguem guardar algum dinheiro no fim do mês.
Confiança... O índice de confiança do empresário do comércio no município de São Paulo caiu 2,3% em março, para 118,3 pontos, segundo a FecomercioSP. A escala varia de zero a 200 pontos e aponta otimismo acima dos cem.
...em queda O índice de investimento apresentou a segunda queda consecutiva, de 0,6%, comportamento que merece atenção, pois pode gerar externalidades negativas na economia como um todo, de acordo com a entidade.
CONDOMÍNIO FIADO
O volume de registros de inadimplência em condomínios de São Paulo apresentou em março o maior nível desde setembro de 2010, segundo dados do grupo Hubert.
No mês passado, foram distribuídas 1.189 ações sobre o assunto, alta de 55% ante março de 2011. "Não há nada que indique queda em um futuro próximo", diz o diretor da entidade, Hubert Gebara.
Apesar do aumento, o índice representa entre 6% e 8% do total. "Os síndicos passar a ter problemas quando esse número chega a 10%."
FORTE DAS FEDERAÇÕES
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a Firjan (Federação das Indústria do Estado do Rio) e a Prefeitura do Rio vão "compartilhar" o forte de Copacabana durante a Rio+20.
As duas entidades empresariais usarão o espaço para plenárias e exposições paralelas ao evento oficial, que acontece de 13 a 22 de junho.
Já o prefeito Eduardo Paes será o anfitrião da reunião da rede de cidades C40, que congrega as 40 metrópoles mais populosas do mundo.
O fórum é presidido pelo chefe do poder executivo de Nova York, Michael Bloomberg, que deverá participar do evento.
Gilberto Kassab, de São Paulo, é o vice da entidade.
Na zona portuária, por sua vez, está se formando um "cluster" de ciência, tecnologia e inovação.
No local, dois armazéns estão reservados à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e outros órgãos ligados aos temas, diz Carlos Roberto Osorio, secretário de Conservação.
GRANDEZA INTERIORANA
Como parte de sua estratégia de expansão no interior de São Paulo, a rede Blue Tree Hotels pretende inaugurar três empreendimentos até 2014.
Os hotéis receberão investimentos de R$ 170 milhões e serão construídos nas cidades de Votorantim, Valinhos e Barueri (em Alphaville).
"A presença da rede hoteleira alavanca os negócios nessas regiões, pois representa uma melhora na infraestrutura", diz a presidente da companhia, Chieko Aoki.
Em Barueri e Votorantim, os hotéis terão cerca de 300 apartamentos cada um. "Até poucos anos atrás, empreendimentos dessa grandeza só existiam nas capitais. No interior, o máximo eram 150 quartos", diz Aoki.
Coelho efetivado Dos 70,8 mil temporários contratados na Páscoa pelo comércio e pela indústria no Brasil, 7.000 foram efetivados, segundo pesquisa da Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário).
Mãe presente O Dia das Mães deve elevar as vendas em shopping centers em 10% e aumentar o fluxo de pessoas em 8%, em comparação com a mesma data do ano passado, de acordo com a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers).
Mais brinquedo A PBKIDS, rede com 60 lojas especializadas em brinquedos, investe R$ 1,45 milhão na unidade no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. A rede tem mais cinco inaugurações previstas para 2012. O valor total dos investimentos será de R$ 8 milhões.