O GLOBO - 28/03/12
Dez coronéis prometem saltar de paraquedas na Praia da Barra da Tijuca, na altura do Quiosque 172, no Rio, com uma bandeira do Brasil de dez metros de comprimento, no dia 31 de março. É para celebrar os 48 anos do golpe militar de 1964.
Segue...
A Comissão da Verdade ainda não foi instalada. Aliás, seus membros nem foram escolhidos, mas ela já funciona na prática. Por causa da comissão, muita gente, dos dois lados, debate democraticamente sobre esse período de trevas. Isso é bom. Isso é ótimo.
Retratos da vida
O mercado de trabalho específico para anões cresce. Uma empresa especializada, veja em lc5.zip.net, oferece esse tipo de mão de obra para festas e eventos. Geralmente, trabalham como garçons, mas também como... seguranças. Que sejam felizes.
O mundo se move
A CAL, Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio, uma das principais escolas de atores do país, está para formar a primeira travesti. Joana dos Santos, aluna da professora Celina Sodré, estreia em maio na montagem “Fantasmas de guerra e paz”, do Studio Stanislavski, no Instituto do Ator, na Lapa.
No mais...
Luíza, aquela que estava no Canadá, foi para Londres. Ou seja: não é nada, não é nada... não é nada.
Vida que segue
Orlando Silva e sua mulher, a atriz Ana Cristina Petta, que já são pais de uma menininha, estão grávidos novamente. O ex-ministro decidiu terminar seu curso de ciências sociais, na USP, interrompido quando assumiu o ministério.
O RIO GANHOU um novo parque estadual, pertinho do complexo do Porto do Açu, projeto tocado por Eike Sempre Ele Batista no Norte Fluminense. O local foi batizado por Carlos Sempre Alerta Minc de “Lagoa do Açu” e tem 8.400 hectares ou quase duas vezes e meia a área da Floresta Nacional da Tijuca. É belíssimo. Preserva dunas, restingas e espécies ameaçadas como o lagarto branco-da-areia e o pássaro formigueiro-do-litoral.
Mãos ao alto!
Edson Vidigal, ex-presidente do STJ, e sua mulher, Eurídice, ex-secretária de Segurança Pública do Maranhão, foram assaltados no último fim de semana, numa praia, em São Luís (MA). Pelo Twitter, Vidigal contou que roubaram seus documentos, cartões, dinheiro, celular e “arrancaram- nos as alianças”: — No Maranhão é cada um por si, a sorte é só para alguns. Acabamos, Eurídice e eu, de escapar ilesos de um assalto...
Prende eu
Glória Perez está escrevendo um papel para Giovanna Antonelli em sua próxima novela na TV Globo. A bela será uma delegada.
Matisse em Sampa
As vinte serigrafias de Henri Matisse (1869-1954) furtadas há sete anos e recentemente recuperadas pela PF voltarão para a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. A decisão é de José Nascimento Jr., diretor do Ibram. Mas, antes disso, elas serã expostas no MNBA, no Rio.
‘Harmonices mundi’
A Biblioteca Nacional incorporou ao seu acervo de obras raras um exemplar da primeira edição de “Harmonices mundi ” , de Johannes Kepler (1571/1630). O livro do astrônomo, matemático e astrólogo alemão (foto) passará por higienização e restauro e, depois, ficará disponível para consulta.
Seguro de... você sabe
A corretora SCK e a seguradora Zurich criaram, veja só, um seguro para advogados. É assim: ressarce o cliente prejudicado por algum erro ou omissão do “doutor”. Será lançado hoje na OAB-RJ.
Nova vizinha
Adriano, o Imperador, vai ganhar uma vizinha famosa em seu condomínio, o Mansões, na Barra. É Juliana Paes, que acaba de comprar um casarão no local.
Justiça
A 17a- Câmara Cível do Rio determinouque a Estância Turística Jonosake indenize em R$ 15 mil o espólio do mestre Cartola. Em 2009, a empresa confeccionou blusas e folhetos com a imagem de Cartola, sem autorização, para um evento carnavalesco.
Poxa, Naldo!
Ronaldinho Gaúcho está um fera com o cantor Naldo. É que ele teria postado na internet uma foto da festa de aniversário do craque. Mas um dos pré-requisitos para entrar no arrasta- pé era... não tirar fotos.
quarta-feira, março 28, 2012
A roda da fortuna - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 28/03/12
A maioria dos casos de cassação ou renúncia no Senado ocorreu porque seus protagonistas buscaram apoio dos colegas na tribuna e, depois, os apoiadores se sentiram enganados. É por aí que Demóstenes caminha hoje
O calendário estava longe de registrar a data do bug do milênio quando ouvi do então senador Gilbeto Miranda, à época no PMDB, que o Senado era uma "confraria". Empresário da Zona Franca de Manaus, pouco afeito aos meandros da Casa, ele logo pegou o "espírito da coisa". Ali, governo e oposição convivem em relativa harmonia. Não por acaso, os embates, quando ocorrem, viram logo notícia de primeira página. Foi assim quando, por exemplo, o então senador Antonio Carlos Magalhães, à época do PFL, se atirou sobre a gravata de Pato Donald do colega Ney Suassuna. Ou quando Tasso Jereissati, no período mais recente, xingou o senador Almeida Lima, num embate em plenário.
Como toda a confraria, há regras e comportamentos considerados pecados capitais. O mais visível deles é ir à tribuna jurar que não há mais nada, seja sobre o quê ou quem for e, mais dias, menos dias, os fatos mostrarem uma coisa aqui, outra ali. É nesse ponto que está hoje o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A muitos ali não interessa mais se Demóstenes era amigo de Carlinhos Cachoeira, o que não é crime. O que vale é que Demóstenes disse aos senadores que eles não encontrariam mais nada entre ele e o empresário, e houve novidades.
Desde segunda-feira, os bastidores da Casa se referem a Demóstenes como alguém que deixou os senadores com a "cara no chão". Quando surgiram as primeiras notícias, o senador goiano foi à tribuna e saiu do plenário ovacionado pelos colegas. Recebeu o apoio de todos os partidos, sem exceção. Do intransigente PSol, representado pelo jovem Randolfe Rodrigues (AP), passando pelos partidos da base do governo, todos se solidarizaram com o senador do DEM. Talvez jamais tenha havido um caso em que os senadores tenham sido tão cordatos com alguém que aparecesse citado numa investigação.
Os integrantes do PCdoB, que ouviram poucas e boas do DEM quando do episódio envolvendo o então ministro do Esporte, Orlando Silva, comentavam à boca pequena estarem arrependidos de terem defendido Demóstenes. E não foram os únicos. Demóstenes teve a solidariedade de nomes como Pedro Simon (PMDB-RS) e Pedro Taques (PDT-MT), que chegou ali como um procurador implacável com desvios de qualquer espécie.
Por falar em desvios...
A história recente da Casa está recheada de casos parecidos. Há mais de 10 anos, ouvi de um ilustre senador da República a seguinte frase: "Não adianta ele querer lutar. A roda da fortuna girou. E ele foi espirrado". O "ele" era o então senador Luiz Estevão, do PMDB do Distrito Federal. Por meses, Estevão negou envolvimento no escândalo do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, a obra que virou símbolo do desperdício de dinheiro público e da corrupção, ao ponto de levar um juiz para a cadeia: Nicolau dos Santos Neto.
Estevão bem poderia ter continuado senador, não fosse o fato de ter dito aos colegas que não tinha envolvimento direto com o episódio e as páginas do Correio Braziliense revelarem um contrato de gaveta que o colocou no epicentro da trama. Pouco depois, seria a vez de José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães, no episódio de quebra de sigilo dos votos registrados no painel eletrônico da Casa quando da cassação de Estevão.
Esses casos mais antigos, todos ocorridos há mais de uma década, têm em comum o fato de seus protagonistas terem recorrido à tribuna em busca de socorro, conquistarem esse apoio e, depois, os apoiadores se sentirem meio que enganados. Afinal, a relação de confiança é moeda inegociável entre as excelências. Por isso, hoje interessa pouco aos senadores saber se Demóstenes é culpado ou inocente na letra fria da lei. O que vale é ele ter deixado grande parte de seus colegas com a cara no chão. Ou seja, a roda da fortuna girou e, ali, quando ela gira, alguém cai. Alguns ainda se seguram, ou retomam seu lugar, como ocorreu com o próprio Antonio Carlos Magalhães, que morreu senador, lembrado pela legislação que criou o fundo de Combate à Pobreza. Mas ACM, depois daquele caso, nunca mais foi o mesmo. Demóstenes também não será. Podem ter certeza.
Meu primo Raul - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 28/03/12
Ao lado de Chico Anysio, que vi e admirei uma ou duas vezes no teatro e em incontáveis ocasiões na telinha da televisão, partiu meu primo Raul Augusto da Matta. Chico é notícia necessária da mídia e, no jornal, ocupa toda uma página. Raul é personagem da humilde coluna. Ao jornal às notícias; à crônica, os fatos da vida e da morte que pertencem eventualmente ao cronista e por meio dele podem, quem sabe, recompensar o leitor. Mesmo quando o seu centro é um morto desconhecido da maioria e o texto fala da perda e do luto.
Será preciso lembrar o poeta inglês John Donne, quando ele descobria que nenhum homem é uma ilha - todo homem é parte de um continente? E que, quando os sinos dobram, eles têm a autoridade de dobrar para todos nós e também para o meu primo Raul? "A morte de todo homem", segue o poeta, "diminui-me porque eu estou envolvido na humanidade."
Estou mais pobre, mas se não fosse por essa morte, eu não seria alcançado pelo poderoso badalar dos sinos que tocam por todos nós. Meus olhos estão turvados, mas eu ouço os sons que nos unem e inventam insuspeitas teias de solidariedade, porque não há como ficar indiferente ao nascimento e à morte.
Todas as vidas tocam - querendo ou não - muitas outras vidas. E Raul atingiu a vida de nossa família primeiro na Rua Nilo Peçanha, 31, no Ingá, casa dos nossos avôs Raul e Emerentina; depois, no apartamento de Renato e Lulita, meus pais, no Edifício Abaeté, aqui, em Niterói.
A mediunidade da literatura me deixa ver Raulzinho pela primeira vez. Ele chega, menino alto e de calça curta, segurando uma pequena maleta de Laranjeiras, Rio de Janeiro. Naquele tempo, eu imaginava a Rua das Laranjeiras como sendo um laranjal e o Rio de Janeiro como a cidade que tinha todos os cinemas do mundo na Cinelândia. Raulzinho deixava meus avós orgulhosos e despertava inveja nos meus irmãos e em mim, porque ele tinha o mesmo nome do meu avô, o velho Raul, desembargador aposentado e sisudo, cujo prazer mais visível era fumar um charuto aos domingos. Aos 10 anos, Raulzinho realizava a façanha de vir das Laranjeiras ao Ingá, em Niterói, tomando bondes e barcas. Era órfão de pai e visto como audacioso por andar contando somente com ele mesmo. Logo que chegava, vovó telefonava para a sempre elegante e bonita tia Celeste, mãe do primo, avisando que estávamos todos juntos, brincando.
Naquele tempo, a morte estava longe de mim. Roberval, o pai de Raulzinho, havia morrido quando ele era uma criança de 4 anos. Uma variedade de lúpus o levou em 19 dias aos 39 anos, numa morte que foi o maior golpe vivido por meus pais, tios e avôs, sobretudo pelo meu avô Raul. O nome do meu primo falava desse amor feito de obediência, respeito e amizade, tão difícil de articular entre Raul e esse Roberval roubado pela morte. Raulzinho era o testemunho vivo dessa ausência. Vocês não sabem o que é não ter pai, dizia ele para nós, cujo pai - sempre presente - não permitia imaginar essa experiência.
Hoje, como membro da fraternidade dos que enterraram filhos, estou seguro que a postura soturna de vovô tinha muito a ver com esse Roberval que foi o primogênito de Raul e Emerentina, dois viúvos que se uniram com filhos dos seus primeiros matrimônios. Roberval transbordava de gosto pela vida. Dançava como Fred Astaire e, estudante de Medicina, deu a um viúvo e a uma viúva, cujo marido foi assassinado na Manaus de 1908, a prova de que a vida, afinal e a despeito de tudo, valia a pena. Ele está imortalizado numa fotografia - alto e bonito - ao lado de meu avô Raul, igualmente alto e bonito. Detalhe: pai e filho estão de chapéu, gravata, colete e de mãos dadas, como deve ser.
Raulzinho se parecia com o pai. Foi ator e empresário. Casou-se com a atriz Leina Krespi (que morreu em 2009), teve Patricia e Georgia e escreveu a peça Caiu Primeiro de Abril, que fez muito sucesso em 1964.
A morte obriga a recordar a beleza e o encanto do primo. Estudante de teatro, Raul fazia laboratório com as suas apaixonadas. Declarava, representando, um amor incondicional para, na semana seguinte, desfazer suas promessas, deixando as moças em lágrimas e às vezes encaminhado-as a nós, os primos comuns que não moravam no Rio e não possuíam o carisma do ator.
Como não lembrar de Raulzinho, Romero, Fernando, Ricardo, Renato, Ana Maria e eu dançando com vovó Emerentina, viúva e jogadora inveterada de pife-pafe e pôquer, capaz de viver com alegria mesmo tendo enterrado tantos filhos, uma das canções de My Fair Lady na nossa sala de visitas? Fizemos uma roda ao som do maravilhoso I'm Getting Married in the Morning, demos as mãos e, com Emerentina no centro, dançamos sacralizando o apartamento com a música e o amor que amenizam as diferenças e as dores.
Raul está hoje com todos os meus mortos que você, querido leitor, não conheceu, mas sabe muito bem quem são. A menos que você não tenha amado, a menos que você jamais tenha ouvido o grande sino que dobra por todo nós.
Um dia, quando eu também estiver nessa terra dos esquecidos e, às vezes, lembrados somente para serem definitivamente deslembrados, nós todos - Raul, Raulzinho, Emerentina, Amalia, Renato, Lulita, Roberval, Rosalvo, Oyama, Kronge, Marcelino, Silvio, Yolanda, Fernando, Rodrigo, Renatinho, Regina - e muitos outros; todos esses seres amados, vamos nos encontrar e dançar debaixo dos acordes do piano de mamãe, na celebração desse casamento combinado com o fim. O fim sem o qual não seríamos como o Raul desta crônica, amados e pranteados porque somos tudo: apenas humanos.
O papa, o crocodilo e o regime - YOANI SÁNCHEZ
O Estado de S. Paulo - 28/03/12
Três dias antes de a comitiva papal aterrissar em nossa ilha, chegou um curioso embaixador da defesa do meio ambiente, da paz e a solidariedade. Um belo crocodilo cubano - que tinha sido exportado ilegalmente para a Itália - e foi devolvido, tendo sido acolhido entusiasticamente em nosso Zoológico Nacional. O já famoso réptil foi doado a Bento XVI em janeiro e o papa decidiu devolvê-lo ao meio onde nasceu. Talvez para simbolizar que Cuba ainda poderá recuperar seu lugar em seu hábitat mundial, seu espaço entre as nações democráticas.
Quando o papa chegou a Santiago de Cuba, o animal ainda estava pouco a pouco se habituando à nova dieta e ao inclemente sol tropical. O crocodilo estava de volta, Joseph Ratzinger apenas de passagem.
Os católicos cubanos esperaram 14 longos anos para receber novamente um sucessor de Pedro. A visita de João Paulo II em 1998 deixou uma profunda impressão nos fiéis e conseguiu que as autoridades decretassem desde então o dia 25 de dezembro feriado nacional.
Difícil igualar o impacto causado por aquele papa polonês numa sociedade que tentava acordar da escura noite do "período especial".
Contudo, sabendo que a corrente de afeto deixada por Karol Wojtyla é insuperável, Bento XVI agora quis transcender à sua maneira. No avião que o levava ao México, ele disse que o comunismo já não funciona em Cuba, frase muito mais direta do que qualquer palavra de seu predecessor sobre o sistema cubano. Como disse um simpático cubano num clube desportivo, "este papa parece os jogadores alemães... não jogam com tanta graça e beleza como os brasileiros, mas fazem gols".
Ao longo das últimas semanas, em todas as associações de trabalhadores e de ensino foram realizadas reuniões para convocar todos, operários e estudantes, às missas na Praça Antonio Maceo e na Praça da Revolução. "Ninguém deve faltar", disseram as autoridades.
O governo, querendo passar a imagem de controle, tem feito uma meticulosa "limpeza ideológica" por toda a ilha. Os métodos empregados para isso vão desde prisões domiciliares, corte de linhas telefônicas, ameaças, deportações de uma província para outra e detenção dos dissidentes mais atuantes. A onda repressiva já é conhecida popularmente como "operação voto de silêncio". Até mendigos e pedintes que perambulam pelas ruas de Santiago e Havana foram recolhidos até o fim da visita papal. Tudo tem de se adequar a um roteiro escrito com antecipação e não exatamente nas salas do Vaticano.
Mas os imprevistos não param de surgir. No dia 13, um grupo de 13 pessoas entrou no templo da Virgem da Caridade do Cobre, em Havana, e exigiu que os padres fizessem chegar um documento com demandas ao papa. Dois dias depois, em torno da meia-noite, a hierarquia religiosa autorizou a entrada no local de um comando - não armado - que retirou à força os ocupantes. Embora vários dissidentes tenham se manifestado contrários à ocupação com fins políticos da paróquia, a retirada dos manifestantes recebeu um repúdio avassalador. A ponto de muitas pessoas assegurarem que, com aquele comportamento, foi jogado - e perdido - o futuro papel da alta hierarquia da Igreja em nossa transição. As Damas de Branco por seu lado, pediram ao papa que lhes concedesse ao menos um minuto do seu tempo para apresentarem a outra Cuba que a versão oficial nunca mostrará. Até agora não há nenhum sinal de que Sua Santidade vá recebê-las. Tampouco receberá outros ativistas da sociedade civil.
Se não ocorrer nenhum encontro com esse setor social, o governo de Raúl Castro procurará apresentar a viagem do papa como um gesto que legitima seu governo. A hierarquia eclesiástica, por seu lado, tentará recuperar um pouco do terreno social e educativo que lhe foi tirado a partir de 1959. Já conseguiu permissão para construir um novo seminário e transmitir as missas mais importantes pela TV nacional.
Para trás ficaram os anos de fanatismo antirreligioso nos quais as pessoas eram expulsas do emprego ou do seu centro de estudos por ter um quadro do Sagrado Coração de Jesus na sala de casa.
Contudo, a Igreja ainda está muito longe de poder ter o espaço público que tem em outros países da América Latina. A visita de Bento XVI pode ser determinante para ela alcançar esse objetivo. Mas somente o conseguirá se o papa transcender o cenário pastoral e estender seu manto protetor sobre a pluralidade que emerge em Cuba, nesta ilha com forma de crocodilo adormecido, sedado.
Indústria: um problema de confiança - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 28/03/12
É certo que a indústria está pressionada pelo ambiente internacional adverso, que, por causa da desaceleração das economias avançadas, criou uma superoferta de produtos manufaturados em escala global. É bem provável, entretanto, que o principal problema esteja, mais do que na taxa de câmbio e na competição dos importados, no grau de confiança dos empresários.
Na crise de 2008, a produção industrial, assim como toda a economia, foi pega de surpresa. Naquele momento, o Produto Interno Bruto (PIB) crescia a mais de 6% ao ano, liderado pelos investimentos das empresas - no terceiro trimestre de 2008, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reflete os gastos com máquinas e equipamentos, avançara quase 20%.
Traumatizado por crises anteriores, o empresário pisou no freio, provocando uma parada súbita na economia. No período seguinte, a FBCF recuou fortemente e chegou a registrar três trimestres de desempenho negativo. A recuperação só veio no último trimestre de 2009, quando ficou claro que o Brasil sobrevivera bem à crise e estava pronto para voltar a crescer.
O que se viu dali em diante foi euforia. A taxa de investimento disparou, chegando a avançar quase 30% no primeiro trimestre de 2010. É verdade que, na ocasião, o governo concedeu fortes estímulos fiscais e monetários, que fizeram o PIB crescer em 2010 à maior taxa (7,5%) desde 1986. No último trimestre daquele ano, o investimento começou a recuar.
Em 2011, as taxas trimestrais de investimento foram medíocres - respectivamente, 8,85%, 6,19%, 2,48% e 1,99%, quando comparadas ao mesmo período do ano anterior. Não podia ser diferente. Primeiro, o BC deu um tranco na economia via aumento de juros e adoção de medidas macroprudenciais, ações que já eram esperadas desde a segunda metade de 2010, uma vez que a inflação havia acelerado. Além disso, em meados do ano passado, a crise mundial voltou a assombrar.
Nesse ambiente, a confiança dos empresários ficou seriamente abalada. Os dados da Sondagem da Indústria, da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram claramente isso. Em dezembro de 2010, o índice de confiança chegou a 114,5 pontos e permaneceu em torno desse valor até abril, mas, nos meses seguintes, recuou fortemente, atingindo o pior desempenho em outubro e novembro, quando caiu para 100,7 pontos. É bom lembrar que, naqueles meses, o mundo vivia o risco de um calote desordenado da Grécia, fato que, se confirmado, precipitaria crise sem precedente na zona do euro.
Tome-se o PMI (sigla em inglês para índice gerente de compras), apurado pela Markit, no Brasil em parceria com o banco HSBC, e o diagnóstico é o mesmo. Quando o PMI fica acima de 50 pontos, indica crescimento; abaixo de 50, retração. O indicador, que é calculado em 32 países, mostra igualmente a confiança dos empresários industriais no desempenho da economia.
Nos dois melhores momentos (2007-2008 e 2009-2010) do ciclo recente da economia brasileira, o PMI superou a marca de 55 pontos. Em meados de 2011, o indicador entrou em terreno negativo, refletindo o abatimento da indústria com as conjunturas nacional e internacional.
A boa notícia é que, tanto no caso da Sondagem da FGV quanto no do PMI, a situação já começou a melhorar. O índice de confiança da FGV mostra recuperação lenta, mas consecutiva desde dezembro - passou de 101,8 para 102,5 pontos em fevereiro (com ajuste sazonal). O índice aberto mostra recuperação mais lenta do Índice de Expectativas e mais expressiva do Índice da Situação Atual, que leva em conta os estoques. A proporção de empresas informando ter estoques excessivos recuou de 8% em dezembro para 4,3% no mês passado, um sinal de que a indústria, mantida a demanda aquecida, deve acelerar o passo nos próximos meses.
No caso do PMI, a recuperação recente da confiança da indústria está refletida no indicador de fevereiro (51,4 pontos), o mais alto em quase um ano. O resultado também revelou que o índice de estoque de bens finais permaneceu abaixo de 50 pontos, o que indica retração.
Na exposição que fez nos EUA, Tombini lembrou que os fatores que têm mantido a demanda doméstica aquecida continuam presentes. São eles: a taxa de desemprego nos menores níveis da história; a forte criação de empregos formais; o crescimento real da renda do trabalho; e o avanço sustentável do crédito na economia.
De fato, em fevereiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego foi de 5,7%, a menor da série histórica - apurada desde 2002 - para meses de fevereiro. É bastante provável que o desemprego continue baixo nos próximos meses. Especialistas constataram que, para manter as atuais taxas de desocupação, a economia brasileira não precisa crescer mais do que 3% ao ano.
Outro sinal de que, apesar do desaquecimento verificado na segunda metade do ano passado, a economia brasileira começa a reagir é a geração de empregos com carteira assinada, que voltou a acelerar nos últimos meses. Nos 12 meses concluídos em fevereiro, foram criados 1,4 milhão de empregos formais no país, um resultado expressivo.
O rendimento médio real da população ocupada também tornou a subir. Em fevereiro, quando comparado ao mesmo mês do ano passado, avançou 4,4%. As vendas no varejo, por sua vez, expandiram 7,3% em janeiro, quando comparadas a janeiro de 2011, e 7,7%, se incluídos automóveis e materiais de construção.
Palavras de Tombini: "Nos últimos meses, as indústrias reequilibraram seus estoques. Junto com os fortes impulsionadores da demanda doméstica e o ajuste das condições monetárias, isso favorece a retomada do crescimento da produção industrial nos próximos meses."
Lição de casa - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 28/03/12
Os 52% de votos obtidos por José Serra na prévia que escolheu o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo acabaram traduzidos como um mau resultado pela desproporção entre a estatura do salto alto, expressa na expectativa de obter 80% de apoio, e a realidade interna do partido na cidade.
Contou também a discrepância entre o tamanho da pressão das lideranças tucanas para Serra entrar na disputa e o peso do desgaste na militância que, embora reconheça nele o candidato mais forte, almeja renovação e deve andar um tanto cansada de viver a reboque de suas idas e vindas.
Outra razão de se enxergar a vitória como uma quase derrota é que a comparação é feita com o PT, onde há uma liderança com força de lei da gravidade. Isso já houve entre os tucanos paulistas com Mário Covas, mas não existe em nenhum partido. Nisso, o diferente é o PT.
Não há cotejo possível com o próprio PSDB pelo simples fato de que a prévia de domingo foi a primeira realizada no partido.
Em candidaturas anteriores de Serra a prefeito, governador e presidente, quantos votos ele teria, qual o porcentual que atingiria? Não se sabe.
O instituto das prévias não nos é familiar, o que dificulta a leitura da cena. No caso dos tucanos de São Paulo, parte-se do pressuposto da inexistência de prévia se Serra tivesse apresentado logo a candidatura.
Uma vez que não queria e o partido não tinha um candidato natural, quatro postulantes se apresentaram ao debate e durante sete meses fizeram campanha junto à base partidária.
Quando Serra entrou no páreo, tangido pela evidência de que não era hora de fazer renovação porque isso resultaria na entrega da principal cidadela ao PT, dois pretendentes desistiram e dois ficaram. Lastreados em compromissos já firmados com seus eleitores de base.
Na final havia três candidatos e, portanto, votos a dividir. Desses, José Serra obteve 52% (precisava de 33%), o segundo colocado 31,2% e o terceiro 16,7%. A expectativa (arrogante) de que ele poderia conquistar de 70% a 80% decorreu de desdém em relação ao papel dos outros dois.
Um revés didático. Mostrou a impossibilidade de que prevaleçam vontades unilaterais. Há um preço a ser pago, principalmente quando há um processo em curso e o fator fadiga de material pesa na balança. Na ausência de lideranças incontestáveis não existe apoio incondicional.
Muito bem, mas o que a votação abaixo do esperado pode significar em termos de prejuízo eleitoral para Serra? Para o eleitor em geral, a importância é zero.
Estamos falando de um ambiente de seis mil militantes contra um universo de milhões de eleitores. Neste é que o PSDB precisará disputar com o PT que, a despeito das adversidades atuais (ausência de Lula, resistência de Marta Suplicy, baixo índice nas pesquisas, dificuldade de formar alianças), é adversário de peso.
Entre o tucanato a divisão exibida na prévia não necessariamente será reproduzida de maneira significativa na campanha.
São lógicas diferentes. Na disputa partidária o jogo se dá em torno do poder intramuros. Na eleição a conta é mais pragmática, pois os benefícios decorrentes da vitória interessam ao partido como um todo.
Lado B. A ampliação do conceito de "ficha limpa" de candidatos a cargos eletivos para funcionários em cargos de confiança nos governos, assembleias, câmaras municipais, tribunais, havendo até quem proponha a exigência para diretores de ONGs, é louvável.
Não obstante evidencie o tamanho do desleixo até então vigente em relação à vida pregressa de agentes públicos.
Ponto de vista. Qualquer votação no Congresso que resulte diferente da vontade do Palácio do Planalto é contabilizada como "derrota do governo".
Não fosse a perda gradativa da noção do equilíbrio entre os Poderes, seriam vistas simplesmente como decisões do Legislativo.
Os 52% de votos obtidos por José Serra na prévia que escolheu o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo acabaram traduzidos como um mau resultado pela desproporção entre a estatura do salto alto, expressa na expectativa de obter 80% de apoio, e a realidade interna do partido na cidade.
Contou também a discrepância entre o tamanho da pressão das lideranças tucanas para Serra entrar na disputa e o peso do desgaste na militância que, embora reconheça nele o candidato mais forte, almeja renovação e deve andar um tanto cansada de viver a reboque de suas idas e vindas.
Outra razão de se enxergar a vitória como uma quase derrota é que a comparação é feita com o PT, onde há uma liderança com força de lei da gravidade. Isso já houve entre os tucanos paulistas com Mário Covas, mas não existe em nenhum partido. Nisso, o diferente é o PT.
Não há cotejo possível com o próprio PSDB pelo simples fato de que a prévia de domingo foi a primeira realizada no partido.
Em candidaturas anteriores de Serra a prefeito, governador e presidente, quantos votos ele teria, qual o porcentual que atingiria? Não se sabe.
O instituto das prévias não nos é familiar, o que dificulta a leitura da cena. No caso dos tucanos de São Paulo, parte-se do pressuposto da inexistência de prévia se Serra tivesse apresentado logo a candidatura.
Uma vez que não queria e o partido não tinha um candidato natural, quatro postulantes se apresentaram ao debate e durante sete meses fizeram campanha junto à base partidária.
Quando Serra entrou no páreo, tangido pela evidência de que não era hora de fazer renovação porque isso resultaria na entrega da principal cidadela ao PT, dois pretendentes desistiram e dois ficaram. Lastreados em compromissos já firmados com seus eleitores de base.
Na final havia três candidatos e, portanto, votos a dividir. Desses, José Serra obteve 52% (precisava de 33%), o segundo colocado 31,2% e o terceiro 16,7%. A expectativa (arrogante) de que ele poderia conquistar de 70% a 80% decorreu de desdém em relação ao papel dos outros dois.
Um revés didático. Mostrou a impossibilidade de que prevaleçam vontades unilaterais. Há um preço a ser pago, principalmente quando há um processo em curso e o fator fadiga de material pesa na balança. Na ausência de lideranças incontestáveis não existe apoio incondicional.
Muito bem, mas o que a votação abaixo do esperado pode significar em termos de prejuízo eleitoral para Serra? Para o eleitor em geral, a importância é zero.
Estamos falando de um ambiente de seis mil militantes contra um universo de milhões de eleitores. Neste é que o PSDB precisará disputar com o PT que, a despeito das adversidades atuais (ausência de Lula, resistência de Marta Suplicy, baixo índice nas pesquisas, dificuldade de formar alianças), é adversário de peso.
Entre o tucanato a divisão exibida na prévia não necessariamente será reproduzida de maneira significativa na campanha.
São lógicas diferentes. Na disputa partidária o jogo se dá em torno do poder intramuros. Na eleição a conta é mais pragmática, pois os benefícios decorrentes da vitória interessam ao partido como um todo.
Lado B. A ampliação do conceito de "ficha limpa" de candidatos a cargos eletivos para funcionários em cargos de confiança nos governos, assembleias, câmaras municipais, tribunais, havendo até quem proponha a exigência para diretores de ONGs, é louvável.
Não obstante evidencie o tamanho do desleixo até então vigente em relação à vida pregressa de agentes públicos.
Ponto de vista. Qualquer votação no Congresso que resulte diferente da vontade do Palácio do Planalto é contabilizada como "derrota do governo".
Não fosse a perda gradativa da noção do equilíbrio entre os Poderes, seriam vistas simplesmente como decisões do Legislativo.
Lembranças de fins de tardes com Tabucchi - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 28/03/12
O fotógrafo Marcio Scavone me telefonou comunicando a morte da Tabucchi na tarde desse domingo. Fiquei paralisado, estava vendo o jogo do Corinthians, me desinteressei, triste, emocionado. Conheci Tabucchi em 1973, quando ele começou a traduzir Zero para o italiano, a pedido da editora Feltrinelli e da professora Luciana Stegagno Picchio, de quem ele era aluno. Tabucchi estava em Pisa e uma dia bati na porta dele. Tinha um tempo livre, fui para lá, fomos repassando as dúvidas que ele tinha em relação ao livro, que eram muitas, principalmente em relação ao linguajar afro que aparece em determinadas cenas. Era casado com Zé, Maria Jose de Lencastre, linguista e grande especialista em Fernando Pessoa (ela é autora de uma ótima fotobiografia do poeta português), convivemos quase um mês. Não me deixou ir para hotel, fiquei na casa dele.
Trabalhávamos e saíamos à tarde de bicicleta pelas estradas provinciais da Toscana, intensamente coloridas. Naquele tempo, jamais imaginava que ele seria escritor, não me falava nada. Magro, irônico, sarcástico, às vezes divertido, sério. Os fins de tarde eram deliciosos. Comíamos vez ou outra no restaurante de um amigo dele, localizado na sede do Partido Comunista de Vecchian, onde Tabucchi morava. Até hoje, era o mesmo endereço em Via Dei Magano, apesar de ter casa em Paris e Lisboa. Era comovente para mim ver o carinho com que ele traduzia meu livro para o italiano, preocupado com cada palavra, expressão, sempre encontrando soluções felizes. É a melhor tradução de Zero, em toda a carreira desse livro. Paradoxalmente seria a primeira edição do livro, uma vez que aqui ninguém tinha coragem de publicá-lo, a censura estava em cima.
Tradução primorosa feita por um escritor, mais do que um tradutor. Ele me perguntava sobre palavras, expressões, queria que eu explicasse contextos. Exigia desenhos para explicar certas situações. Um homem minucioso. O texto em italiano é duro e poético, poético. A partir dali nos encontrávamos de tempos em tempos na Itália. Depois, quando Tabucchi começou a publicar seus livros - Morto de Porto Pim, Réquiem, Afirma Pereira, Sonhos de Sonhos (adoro o título e o livro) e outros -, entendi por que ele tinha sido um grande tradutor. Fiquei feliz por ele ter se apaixonado pelo meu romance e o tratado com tanto carinho.
Velozmente ele se transformou no maior autor de língua italiana contemporânea. Sempre livros curtos. Em breves cartas, rápidos telefonemas nos falávamos, a amizade de pé, ele amigo, solidário, engraçado.
Na última Flip, deveríamos estar lado a lado. No último momento, ele avisou que não viria ao Brasil. A alegação era a não extradição de um terrorista italiano. A Itália e Tabucchi se indignaram. Diante disso, ele avisou: "Não quero ir ao Brasil falar mal desse presidente que vocês acham bom, mas não é". E teve palavras ásperas em relação ao presidente que teve aquele ato insensato de não libertar o sujeito.
Na Flip, fiz a conversa com Contardo Caligaris e ambos protestamos e sentimos a ausência de Tabucchi. A Flip e o Brasil perderam. Agora me pergunto: será que ele já estava doente? Tabucchi foi um grande homem. Magro, sempre me pareceu frágil, desamparado, ainda que os olhos fossem vivos, espertos. A literatura perde um grande escritor, um estilista. A Itália perde um enorme escritor. Perco um amigo a quem devo uma tradução com paixão, amor e poesia.
De volta a Carrópolis - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
Folha de S. Paulo - 28/03/12
MEUS 18 fiéis podem se lembrar de uma coluna escrita em 2010 em que explorei as mudanças da pauta exportadora do Brasil sob a forma de uma parábola.
Contava a história de um consultor que -ignorando a severa contração do mercado consumidor de carros, Carrópolis, e a forte expansão do mercado consumidor de frango, Frangoburgo- tomava a queda da participação dos automóveis nas vendas da empresa como sintoma da falta de competitividade, muito embora esta tivesse mantido sua participação de mercado inalterada nas duas cidades.
Em retrospecto, não era razoável esperar que a coluna conseguisse evitar que o mesmo erro reaparecesse. É verdade que meu lado adolescente ainda acredita na capacidade de artigos mudarem o mundo, mas a evidência indica que se trata de futilidade: mesmo que o erro já tenha sido apontado, continuará a ser cometido, o que não é de todo ruim, pois me dá oportunidade para mais uma coluna contestando a sabedoria convencional.
No caso, o jornal "Valor Econômico", repercutindo um "estudo" da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), publicou reportagem afirmando que os manufaturados brasileiros teriam perdido participação em países da América Latina. Para amparar essa conclusão, mostrou dados revelando que a fatia dos manufaturados na pauta de exportação para países da região havia caído.
Por exemplo, no caso da Argentina eram 93% das exportações em 2007, caindo para 90% em 2011, o mesmo se observando no caso do Chile e da Venezuela. Segundo a AEB, "isso é resultado da estratégia de países como a China, que estão entrando de forma mais agressiva em mercados em crescimento".
Parece grave, mas quem refletir sobre o assunto durante aproximadamente nove segundos perceberá que esses números não guardam nenhuma relação com a suposta invasão chinesa, muito menos com a presumida perda de competitividade das exportações de manufaturados brasileiros para a região.
De fato, para saber se a indústria brasileira está perdendo mercado na América Latina, precisamos de uma informação crucial, porém completamente ausente do "estudo" (daí as aspas), qual seja o comportamento das importações dos países latino-americanos. Em outras palavras, se queremos entender o comportamento das vendas de carros, precisamos, em primeiro lugar, saber o que anda ocorrendo em Carrópolis.
Para tanto, sigo as importações de cinco países da América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela), que respondem por 75% das vendas nacionais para a região, assim como as exportações de manufaturados brasileiros para esses países.
A fatia das manufaturas nessa pauta caiu de 86% para 80% entre 2007 e 2011, o que, pelo prisma da AEB, confirmaria a perda de competitividade do produto brasileiro.
Porém, o que interessa para determinar se isso realmente vem ocorrendo é a participação das manufaturas brasileiras nas importações de produtos manufaturados desses países.
Embora estes não divulguem a importação de manufaturas, podemos aproximá-la pela importação ex-petróleo, na prática até jogando contra meu próprio argumento, pois incluo os demais produtos primários nas importações latino-americanas, enquanto pelo lado do Brasil consideramos apenas as exportações de manufaturas.
Apesar disso, os números mostram que os manufaturados nacionais praticamente mantiveram sua participação nas importações da América Latina: eram 6% do mercado em 2007 e 5,7% em 2011, o que, convenhamos, não condiz com a imagem do país sendo expulso de Carrópolis pela China.
É difícil superestimar esse fato, pois tais países, embora representem apenas 13% das exportações brasileiras, absorvem 34% das exportações de manufaturas, mais que Europa e EUA somados.
Resumindo: a suposta perda de mercado do Brasil é apenas... suposta.
Só resta saber se o erro resultou de má-fé ou mera ignorância, mas, sinceramente, para mim tanto faz...
Contava a história de um consultor que -ignorando a severa contração do mercado consumidor de carros, Carrópolis, e a forte expansão do mercado consumidor de frango, Frangoburgo- tomava a queda da participação dos automóveis nas vendas da empresa como sintoma da falta de competitividade, muito embora esta tivesse mantido sua participação de mercado inalterada nas duas cidades.
Em retrospecto, não era razoável esperar que a coluna conseguisse evitar que o mesmo erro reaparecesse. É verdade que meu lado adolescente ainda acredita na capacidade de artigos mudarem o mundo, mas a evidência indica que se trata de futilidade: mesmo que o erro já tenha sido apontado, continuará a ser cometido, o que não é de todo ruim, pois me dá oportunidade para mais uma coluna contestando a sabedoria convencional.
No caso, o jornal "Valor Econômico", repercutindo um "estudo" da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), publicou reportagem afirmando que os manufaturados brasileiros teriam perdido participação em países da América Latina. Para amparar essa conclusão, mostrou dados revelando que a fatia dos manufaturados na pauta de exportação para países da região havia caído.
Por exemplo, no caso da Argentina eram 93% das exportações em 2007, caindo para 90% em 2011, o mesmo se observando no caso do Chile e da Venezuela. Segundo a AEB, "isso é resultado da estratégia de países como a China, que estão entrando de forma mais agressiva em mercados em crescimento".
Parece grave, mas quem refletir sobre o assunto durante aproximadamente nove segundos perceberá que esses números não guardam nenhuma relação com a suposta invasão chinesa, muito menos com a presumida perda de competitividade das exportações de manufaturados brasileiros para a região.
De fato, para saber se a indústria brasileira está perdendo mercado na América Latina, precisamos de uma informação crucial, porém completamente ausente do "estudo" (daí as aspas), qual seja o comportamento das importações dos países latino-americanos. Em outras palavras, se queremos entender o comportamento das vendas de carros, precisamos, em primeiro lugar, saber o que anda ocorrendo em Carrópolis.
Para tanto, sigo as importações de cinco países da América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela), que respondem por 75% das vendas nacionais para a região, assim como as exportações de manufaturados brasileiros para esses países.
A fatia das manufaturas nessa pauta caiu de 86% para 80% entre 2007 e 2011, o que, pelo prisma da AEB, confirmaria a perda de competitividade do produto brasileiro.
Porém, o que interessa para determinar se isso realmente vem ocorrendo é a participação das manufaturas brasileiras nas importações de produtos manufaturados desses países.
Embora estes não divulguem a importação de manufaturas, podemos aproximá-la pela importação ex-petróleo, na prática até jogando contra meu próprio argumento, pois incluo os demais produtos primários nas importações latino-americanas, enquanto pelo lado do Brasil consideramos apenas as exportações de manufaturas.
Apesar disso, os números mostram que os manufaturados nacionais praticamente mantiveram sua participação nas importações da América Latina: eram 6% do mercado em 2007 e 5,7% em 2011, o que, convenhamos, não condiz com a imagem do país sendo expulso de Carrópolis pela China.
É difícil superestimar esse fato, pois tais países, embora representem apenas 13% das exportações brasileiras, absorvem 34% das exportações de manufaturas, mais que Europa e EUA somados.
Resumindo: a suposta perda de mercado do Brasil é apenas... suposta.
Só resta saber se o erro resultou de má-fé ou mera ignorância, mas, sinceramente, para mim tanto faz...
Brasil, nada a declarar - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 28/03/12
PARECE QUE tem acontecido tanta coisa no governo econômico do Brasil. Há um atropelo de providências, algumas delas anunciadas até com ares meio dramáticos.
O governo promete atirar uma medida por dia no dólar barato. Promete amparar as indústrias caídas, os desamparados cambiais, remediar as chagas do "custo Brasil", lancetar o dragão do capital externo. Anuncia que vai combater o estrangeiro usurpador do nosso mercado nas praias, nas ruas, nas casas e nos mictórios. Mas não está acontecendo lá muita coisa.
Sim, decerto a situação de algumas indústrias é meio dramática mesmo. Deixar como está para ver como é que fica pode arruinar algumas delas. Não obstante, algumas delas irão mesmo à ruína, pois, como se disse, não está acontecendo lá muita coisa. Provavelmente algumas iriam à breca mesmo se acontecesse alguma coisa.
Por um tempo, não haverá nada de novo a dizer sobre a economia brasileira e alguns de seus dilemas. O essencial está meio esquadrinhado. Mudanças dependem de escolhas políticas difíceis, perdas e ganhos, cortes duros de gastos, contenções temporárias de consumo.
Os salários estão altos. Para ser mais preciso, o custo de empregar alguém para produzir uma unidade de produto no Brasil sobe mais, e cada vez mais, que o de nossos parceiros comerciais importantes, em especial daqueles que costumavam comprar nossos bens produzidos em indústrias (EUA, por exemplo).
As soluções disponíveis são desvalorizar a moeda (difícil, mas achata salários), reduzir impostos sobre salários e limitar as intervenções estatais que induzem o aumento de salários (como reajustes do mínimo e de benefícios sociais). Não se trata de achatar os salários "para sempre". Mas de "dar um tempo".
Vai acontecer? Uhm.
Impostos aumentam custos por vias várias. Bidu. A fim de baixar impostos de modo responsável, o governo tem de reduzir gastos (e/ou tributar mais a renda dos mais ricos). O gasto maior, afora o da inépcia, é o relativo a juros, salários, aposentadorias e benefícios sociais.
Vai acontecer tal coisa tão cedo, corte de impostos de modo responsável? Uhm.
Há mais problemas, claro.
Falta mão de obra treinada, o que encarece o salário e o treinamento, reduz a eficiência das empresas etc. Isso não vai ser resolvido tão cedo, mesmo que houvesse empenho. Aliás, vai ficando para mais tarde, pois não há sentimento de emergência algum a respeito do assunto.
As empresas brasileiras parecem meio lerdas para inovar. Não é também coisa que se resolva tão cedo, se é que em algum dia. De resto, no Brasil, inovação em geral dependeu de algum modo de iniciativas inovadoras do Estado, que bancou custos de pesquisa, universidades, inventou estatais mais "de ponta" etc. Mas também do lado estatal tem faltado inspiração nessa área.
Há ainda os juros altos. Que aí ficarão enquanto a inflação não for menor, o que exige alguma repressão de consumo, privado e do governo. Juros altos ajudam a encarecer o real. E o círculo se fecha.
Os esparadrapos oficiais são lenitivos, dão um jeito ali, outro aqui, transferem renda de modo a cobrir um santo e descobrir outro. Nada além. O resto é mais ou menos detalhe. Melhor mudar de assunto.
PARECE QUE tem acontecido tanta coisa no governo econômico do Brasil. Há um atropelo de providências, algumas delas anunciadas até com ares meio dramáticos.
O governo promete atirar uma medida por dia no dólar barato. Promete amparar as indústrias caídas, os desamparados cambiais, remediar as chagas do "custo Brasil", lancetar o dragão do capital externo. Anuncia que vai combater o estrangeiro usurpador do nosso mercado nas praias, nas ruas, nas casas e nos mictórios. Mas não está acontecendo lá muita coisa.
Sim, decerto a situação de algumas indústrias é meio dramática mesmo. Deixar como está para ver como é que fica pode arruinar algumas delas. Não obstante, algumas delas irão mesmo à ruína, pois, como se disse, não está acontecendo lá muita coisa. Provavelmente algumas iriam à breca mesmo se acontecesse alguma coisa.
Por um tempo, não haverá nada de novo a dizer sobre a economia brasileira e alguns de seus dilemas. O essencial está meio esquadrinhado. Mudanças dependem de escolhas políticas difíceis, perdas e ganhos, cortes duros de gastos, contenções temporárias de consumo.
Os salários estão altos. Para ser mais preciso, o custo de empregar alguém para produzir uma unidade de produto no Brasil sobe mais, e cada vez mais, que o de nossos parceiros comerciais importantes, em especial daqueles que costumavam comprar nossos bens produzidos em indústrias (EUA, por exemplo).
As soluções disponíveis são desvalorizar a moeda (difícil, mas achata salários), reduzir impostos sobre salários e limitar as intervenções estatais que induzem o aumento de salários (como reajustes do mínimo e de benefícios sociais). Não se trata de achatar os salários "para sempre". Mas de "dar um tempo".
Vai acontecer? Uhm.
Impostos aumentam custos por vias várias. Bidu. A fim de baixar impostos de modo responsável, o governo tem de reduzir gastos (e/ou tributar mais a renda dos mais ricos). O gasto maior, afora o da inépcia, é o relativo a juros, salários, aposentadorias e benefícios sociais.
Vai acontecer tal coisa tão cedo, corte de impostos de modo responsável? Uhm.
Há mais problemas, claro.
Falta mão de obra treinada, o que encarece o salário e o treinamento, reduz a eficiência das empresas etc. Isso não vai ser resolvido tão cedo, mesmo que houvesse empenho. Aliás, vai ficando para mais tarde, pois não há sentimento de emergência algum a respeito do assunto.
As empresas brasileiras parecem meio lerdas para inovar. Não é também coisa que se resolva tão cedo, se é que em algum dia. De resto, no Brasil, inovação em geral dependeu de algum modo de iniciativas inovadoras do Estado, que bancou custos de pesquisa, universidades, inventou estatais mais "de ponta" etc. Mas também do lado estatal tem faltado inspiração nessa área.
Há ainda os juros altos. Que aí ficarão enquanto a inflação não for menor, o que exige alguma repressão de consumo, privado e do governo. Juros altos ajudam a encarecer o real. E o círculo se fecha.
Os esparadrapos oficiais são lenitivos, dão um jeito ali, outro aqui, transferem renda de modo a cobrir um santo e descobrir outro. Nada além. O resto é mais ou menos detalhe. Melhor mudar de assunto.
A máfia e o Congresso - CAROLINA BAHIA
ZERO HORA 28/03/12
Foi só depois de muita pressão que a Procuradoria-Geral da República resolveu enviar ao STF o pedido de abertura de inquérito para investigar a relação do Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e outros parlamentares com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Há quem diga que o procurador tinha conhecimento do escândalo desde 2009. Mesmo atrasada, essa ação é fundamental e, se for levada a sério, pode ser reveladora do submundo das relações entre políticos e a máfia dos caça-níqueis. Arauto da moralidade, na vida real Demóstenes ganhava presentes e trocava informações secretas com o bicheiro. Ontem, entregou a liderança do DEM no Senado, enquanto colegas de partido comentavam o que é evidente: a carreira política do Senador virou pó. Já que a instalação de uma CPI sobre o caso é considerada impossível, que ao menos essa investigação chegue até o fim.Marina, morena
O sonho dourado do candidato petista à prefeitura de Porto Alegre, Adão Villaverde, é contar com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (foto) no palanque. Como candidata à presidência da República, ela fez significativa votação na Capital e conta com a simpatia de jovens ambientalistas e simpatizantes. Marina não é mais do PV, mas a aproximação do PT com o partido ajuda na estratégia para atrair a ex-ministra.
Relâmpago
No segundo dia como presidente da República em exercício, o deputado Marco Maia (PT-RS) fechou um acordo com as principais lideranças da Câmara para votar a Lei Geral da Copa hoje e o Código Florestal em abril.
Quem não perdeu a chance de alfinetar foi o líder do DEM, ACM Neto:
- Foi a presidente Dilma viajar para a intransigência acabar.
Descuido
O cerimonial do governador Tarso Genro tem deixado de fora da lista de discursos a participação da Senadora Ana Amélia Lemos (PP). O esquecimento quase ocorreu na abertura da Expoagro, em Rio Pardo. Alertado pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, Tarso concedeu a palavra à Senadora na última hora. Ana Amélia é apontada como a principal adversária do governador nas eleições de 2014.
PARA CONFERIR ali adiante Volta!
Apesar do reconhecido fisiologismo do PR, a presidente Dilma Rousseff ainda não desistiu de reconquistar o partido. Antes de viajar, ela voltou a convidar o Senador Blairo Maggi (MT) para ocupar um lugar na Esplanada, agora no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Fernando Pimentel, atual titular do MDIC, seria acomodado em outra pasta.
Republicano
Nada mais civilizado do que o encontro dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. São adversários políticos, mas não precisam ser inimigos.
Senado outonal - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 28/03/12
BRASÍLIA - O Senado é a instituição da República que passa pela mais profunda renovação de quadros nos últimos anos. Grandes caciques não estão mais por ali.
Marco Maciel, Tasso Jereissati, Heráclito Fortes, Arthur Virgílio são alguns dos expelidos pelas urnas. Chefões como Antonio Carlos Magalhães e Romeu Tuma morreram. O presidente da Casa, José Sarney, e seu clã passam por uma fase crepuscular, tanto dentro do Senado como em seu Estado, o Maranhão.
Senadores influentes até outro dia não são mais frequentadores cotidianos do Planalto. Estão nessa categoria, entre outros, Renan Calheiros e Jader Barbalho.
Alguns têm sido abatidos por escândalos, como é o caso atual de Demóstenes Torres. Outros, por estarem sendo dizimados com parte da oposição, que até hoje não encontrou um discurso para se contrapor aos nove anos e três meses de lulo-dilmismo no Planalto.
O curioso -e fascinante- nesse processo é não terem surgido nomes de peso dentro das bancadas governistas para assumir algum protagonismo mais evidente no Senado. A Câmara Alta do Congresso simplesmente vai perdendo o seu lustro de maneira lenta e gradual. Um vácuo se forma e ninguém se apresenta para preenchê-lo.
É claro que os senadores emburrados com o estilo arranca-tocos de Dilma Rousseff ainda podem pregar peças no governo. Foi assim outro dia com a recusa de um indicado para uma agência reguladora. Mas qual é o efeito prático disso? Do ponto de vista imediato, nenhum.
Renovações são inexoráveis na política. Entre os senadores, o ponto máximo de inflexão deve ser a saída de Sarney da presidência da Casa. A escolha de seu sucessor se dará em menos de um ano, na primeira semana de fevereiro de 2013. Aí então será o momento de o Senado mostrar com clareza para qual direção pretende ir.
BRASÍLIA - O Senado é a instituição da República que passa pela mais profunda renovação de quadros nos últimos anos. Grandes caciques não estão mais por ali.
Marco Maciel, Tasso Jereissati, Heráclito Fortes, Arthur Virgílio são alguns dos expelidos pelas urnas. Chefões como Antonio Carlos Magalhães e Romeu Tuma morreram. O presidente da Casa, José Sarney, e seu clã passam por uma fase crepuscular, tanto dentro do Senado como em seu Estado, o Maranhão.
Senadores influentes até outro dia não são mais frequentadores cotidianos do Planalto. Estão nessa categoria, entre outros, Renan Calheiros e Jader Barbalho.
Alguns têm sido abatidos por escândalos, como é o caso atual de Demóstenes Torres. Outros, por estarem sendo dizimados com parte da oposição, que até hoje não encontrou um discurso para se contrapor aos nove anos e três meses de lulo-dilmismo no Planalto.
O curioso -e fascinante- nesse processo é não terem surgido nomes de peso dentro das bancadas governistas para assumir algum protagonismo mais evidente no Senado. A Câmara Alta do Congresso simplesmente vai perdendo o seu lustro de maneira lenta e gradual. Um vácuo se forma e ninguém se apresenta para preenchê-lo.
É claro que os senadores emburrados com o estilo arranca-tocos de Dilma Rousseff ainda podem pregar peças no governo. Foi assim outro dia com a recusa de um indicado para uma agência reguladora. Mas qual é o efeito prático disso? Do ponto de vista imediato, nenhum.
Renovações são inexoráveis na política. Entre os senadores, o ponto máximo de inflexão deve ser a saída de Sarney da presidência da Casa. A escolha de seu sucessor se dará em menos de um ano, na primeira semana de fevereiro de 2013. Aí então será o momento de o Senado mostrar com clareza para qual direção pretende ir.
PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV
15h45 - Milan x Barcelona, Copa dos Campeões, Band, Globo, ESPN e ESPN HD
15h45 - Olympique x B. de Munique, Copa dos Campeões, ESPN Brasil
16h - Masters 1.000 de Miami, tênis, Sportv 2
19h30 - Vasco x Barcelona de Guayaquil, amistoso da despedida de Edmundo, Sportv
19h30 - Ponte Preta x Portuguesa, Campeonato Paulista, Sportv 2
19h45 - Defensor (URU) x Chivas (MEX), Taça Libertadores, Fox Sports
20h - Torneio de Miami, tênis, Bandsports
20h - Orlando Magic x New York Knicks, NBA, ESPN e ESPN HD
22h - Paulista x Palmeiras, Campeonato Paulista, Band e Globo (para SP, menos Jundiaí)
22h - Olimpia (PAR) x Flamengo, Taça Libertadores, Globo (menos SP) e Fox Sports
22h - Masters 1.000 de Miami, tênis, Sportv 2
Subalterno - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/03/12
Com dois temas relevantes para serem votados, a Lei Geral da Copa e o Código Florestal, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e os líderes aliados chegaram à conclusão de que pegaria muito mal para a Casa esperar a presidente Dilma voltar do exterior para retomar as votações, como havia sido anunciado. Os mais experientes dizem que o Congresso sempre se submeteu aos governos que formam maioria, mas que, no passado, havia a preocupação de salvar as aparências.
A posição do relator do Código Florestal
Relator do Código Florestal, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) fechou sua proposta e adotou como linha a posição do ministro Mendes Ribeiro (Agricultura). No artigo 1º, que trata da função da propriedade rural, vai retomar o texto aprovado pela Câmara, pois o texto do Senado fere a Lei Complementar 98. Assim, a função será produzir alimentos, e não preservar o meio ambiente. No artigo 62, vai ficar com o texto do Senado, rejeitando os incisos 5, 7, 13 e 14. Essa condução desagrada a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e também os ruralistas mais radicais. Numa reunião reservada, Mendes Ribeiro manifestou otimismo: "Nunca estivemos tão perto de um acordo".
"Não foi vitória acachapante. Melhor assim, não humilha ninguém” — Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, sobre o desempenho de José Serra nas prévias
JEITO. O ex-presidente Lula tem se mostrado preocupado com a tensão crescente entre a presidente Dilma e o Congresso. Ele não questiona suas decisões, mas sim a metodologia. Lula tem repetido a aliados que ela poderia fazer as mesmas coisas, mas de outra forma. O ex-presidente considera a truculência de Dilma desnecessária. Um exemplo recente foi o processo de troca dos líderes do governo na Câmara e no Senado.
Bola com Sarney
Contrariando a resolução que impede a participação seguida na Comissão do Orçamento, o PSD indicou seus únicos senadores, Sérgio Petecão (AC) e Kátia Abreu (TO), como membros novamente. Está sendo questionado pelo PT.
Modus operandi
Sobre o congelamento da receita do Rio com royalties no patamar de 2011, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) propõe a correção desse valor por um indexador. Os não produtores defendem a conversão em barris de petróleo.
Fim da guerra fiscal
A pedido do governo, o senador Armando Monteiro (PTB-PE) apresentará hoje, na CCJ, um voto em separado a favor do projeto de unificação do ICMS para produtos importados, contrariando o governador Renato Casagrande (ES). O parecer do relator, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), é contrário. E os outros estados se opõem à proposta feita por Casagrande de um período de transição. Como compensação, o estado deve receber cerca de R$ 3 bi em antecipação de royalties e linhas de financiamento para obras de infraestrutura.
Ex-biônico
O PMDB substituiu o ex-senador Wilson Santiago (PMDB-PB) pelo senador Luiz Henrique (PMDB-SC) no Parlamento do Mercosul. Santiago tomou posse no Parlasul após ter perdido o mandato para Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Racha
A bancada do PSB no Senado se dividirá na votação do Funpresp. A líder, Lídice da Mata (BA), e Antonio Carlos Valadares (SE) votarão a favor, enquanto João Capiberibe (AP) será contra. Rodrigo Rollemberg (DF) ainda é dúvida.
A VICE-PRESIDENTE da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), está uma arara por causa da demissão do assessor da diretoria-geral da ANP Fernando Câmara.
PLANO B. Além de Luiza Erundina, o advogado Pedro Dallari é citado por dirigentes do PSB como opção para disputar a prefeitura de São Paulo.
DUPLA JORNADA. Enquanto tentava desatar o nó na Câmara, a ministra Ideli Salvatti dividia suas preocupações com o nascimento da neta, quinta-feira passada, em Santa Catarina. "E eu aqui, naquela semana simples", disse ela ontem, em um fórum sobre saúde da mulher.
A posição do relator do Código Florestal
Relator do Código Florestal, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) fechou sua proposta e adotou como linha a posição do ministro Mendes Ribeiro (Agricultura). No artigo 1º, que trata da função da propriedade rural, vai retomar o texto aprovado pela Câmara, pois o texto do Senado fere a Lei Complementar 98. Assim, a função será produzir alimentos, e não preservar o meio ambiente. No artigo 62, vai ficar com o texto do Senado, rejeitando os incisos 5, 7, 13 e 14. Essa condução desagrada a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e também os ruralistas mais radicais. Numa reunião reservada, Mendes Ribeiro manifestou otimismo: "Nunca estivemos tão perto de um acordo".
"Não foi vitória acachapante. Melhor assim, não humilha ninguém” — Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, sobre o desempenho de José Serra nas prévias
JEITO. O ex-presidente Lula tem se mostrado preocupado com a tensão crescente entre a presidente Dilma e o Congresso. Ele não questiona suas decisões, mas sim a metodologia. Lula tem repetido a aliados que ela poderia fazer as mesmas coisas, mas de outra forma. O ex-presidente considera a truculência de Dilma desnecessária. Um exemplo recente foi o processo de troca dos líderes do governo na Câmara e no Senado.
Bola com Sarney
Contrariando a resolução que impede a participação seguida na Comissão do Orçamento, o PSD indicou seus únicos senadores, Sérgio Petecão (AC) e Kátia Abreu (TO), como membros novamente. Está sendo questionado pelo PT.
Modus operandi
Sobre o congelamento da receita do Rio com royalties no patamar de 2011, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) propõe a correção desse valor por um indexador. Os não produtores defendem a conversão em barris de petróleo.
Fim da guerra fiscal
A pedido do governo, o senador Armando Monteiro (PTB-PE) apresentará hoje, na CCJ, um voto em separado a favor do projeto de unificação do ICMS para produtos importados, contrariando o governador Renato Casagrande (ES). O parecer do relator, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), é contrário. E os outros estados se opõem à proposta feita por Casagrande de um período de transição. Como compensação, o estado deve receber cerca de R$ 3 bi em antecipação de royalties e linhas de financiamento para obras de infraestrutura.
Ex-biônico
O PMDB substituiu o ex-senador Wilson Santiago (PMDB-PB) pelo senador Luiz Henrique (PMDB-SC) no Parlamento do Mercosul. Santiago tomou posse no Parlasul após ter perdido o mandato para Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Racha
A bancada do PSB no Senado se dividirá na votação do Funpresp. A líder, Lídice da Mata (BA), e Antonio Carlos Valadares (SE) votarão a favor, enquanto João Capiberibe (AP) será contra. Rodrigo Rollemberg (DF) ainda é dúvida.
A VICE-PRESIDENTE da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), está uma arara por causa da demissão do assessor da diretoria-geral da ANP Fernando Câmara.
PLANO B. Além de Luiza Erundina, o advogado Pedro Dallari é citado por dirigentes do PSB como opção para disputar a prefeitura de São Paulo.
DUPLA JORNADA. Enquanto tentava desatar o nó na Câmara, a ministra Ideli Salvatti dividia suas preocupações com o nascimento da neta, quinta-feira passada, em Santa Catarina. "E eu aqui, naquela semana simples", disse ela ontem, em um fórum sobre saúde da mulher.
Desenvolvimentismo e dependência - JOSÉ LUÍS FIORI
Valor Econômico - 28/03/12
Na década de 1960, a crise econômica e política da América Latina provocou, em todo continente, uma onda de pessimismo, com relação ao desenvolvimento capitalista das nações atrasadas. A própria Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) fez autocrítica, e colocou em dúvida a eficácia da sua estratégia de "substituição de importações", propondo uma nova agenda de "reformas estruturais" indispensáveis à retomada do crescimento econômico continental. Foi neste clima de estagnação e pessimismo que nasceram as "teorias da dependência", cujas raízes remontam ao debate do marxismo clássico, e da teoria do imperialismo, sobre a viabilidade do capitalismo nos países coloniais ou dependentes.
Marx não deu quase nenhuma atenção ao problema específico do desenvolvimento dos países atrasados, porque supunha que a simples internacionalização do "regime de produção burguês" promoveria, no longo prazo, o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, no mundo dominado pelas potências coloniais europeias. Mais tarde, no início do século XX, a teoria marxista do imperialismo manteve a mesma convicção de Marx, que só foi questionada radicalmente, depois do lançamento do livro do economista, Paul Baran, "A Economia Política do Desenvolvimento", em 1957. Após sua publicação, a obra de Baran se transformou em referência obrigatória do debate latino-americano dos anos 1960. Para Paul Baran, o capitalismo era heterogêneo, desigual e hierárquico, e o subdesenvolvimento era causado pelo desenvolvimento contraditório do capitalismo. Além disto, segundo Baran, o capitalismo monopolista e imperialista teria bloqueado definitivamente o caminho do nos países atrasados.
As ideias de Baran casaram como luva com o pessimismo latino-americano dos anos 1960, e suas teses se transformaram numa referencia teórica fundamental das duas principais vertentes marxistas da "escola da dependência": a teoria do "desenvolvimento do subdesenvolvimento", do economista americano Andre Gunder Frank, que exerceu pessoalmente, uma forte influência no Brasil e no Chile; e a teoria do "desenvolvimento dependente e associado", formulada por Fernando Henrique Cardoso, com o suporte intelectual de um grupo importante de professores marxistas da USP.
A tese de Frank vem diretamente de Paul Baran: segundo Frank, o imperialismo seria um bloqueio insuperável, mesmo com a intervenção do Estado, e o desenvolvimento da maioria dos países atrasados só poderia se dar por uma ruptura revolucionária e socialista. Esta tese de Frank foi sendo matizada por seus discípulos, mas ainda é a verdadeira marca acadêmica internacional da teoria da dependência. Por outro lado, a tese central de FHC já nasceu menos radical: segundo ele, o desenvolvimento capitalista das nações atrasadas seria possível mesmo quando não seguisse as previsões clássicas, mas seria quase sempre, um desenvolvimento dependente e associado a países imperialistas.
O avanço da teoria do "desenvolvimento associado" foi interrompido pelo próprio sucesso político ao se transformar no fundamento ideológico da experiência neoliberal no Brasil, sob liderança do próprio FHC. Com relação a Frank e seus discípulos, ele mesmo "imigrou", nos anos 1980, para outros temas e discussões históricas, e sua teoria do subdesenvolvimento ficou paralisada no tempo, como apenas uma lista de características especificas, estáticas e intransponíveis, da periferia capitalista. Ou quem sabe, uma espécie de teoria dos "pequenos países".
Apesar de tudo, a "escola da dependência" deixou quatro ideias seminais, que abalaram o fundamento teórico do "desenvolvimentismo de esquerda", dos anos 1950:
1) O capital, a acumulação do capital e o desenvolvimento capitalista não tem uma lógica necessária que aponte em todo lugar e de forma obrigatória para o pleno desenvolvimento da indústria e da centralização do capital.
2) A burguesia industrial não tem um "interesse estratégico" homogêneo que contenha "em si", um projeto de desenvolvimento pleno das forças produtivas "propriamente capitalistas".
3) Não basta conscientizar e civilizar a burguesia industrial e financiar a centralização do seu capital para que ela se transforme num verdadeiro "condotieri" desenvolvimentista.
4) A simples expansão quantitativa do estado não garante um desenvolvimento capitalista industrial, autônomo e autossustentado.
O que chama a atenção é que até hoje, o "desenvolvimentismo de esquerda" não tenha conseguido se refazer do golpe, nem tenha conseguido construir uma nova base teórica que possa dar um sentido de longo prazo à suas intermináveis e inconclusivas deblaterações macroeconômicas e ao seu permanente entusiasmo pelo varejo keynesiano.
O cenário se ilumina na fogueira de S.João - ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 28/03/12
De bobo o bloquinho não tem nada. Junta-se quando precisa, separa-se quando quer e extrai de sua condição de fiel da balança do tempo de propaganda de TV tudo o que pode. Antes mesmo que lhe fosse pedido para adotar Fernando Haddad (PT) e embalá-lo em aliança para concorrer à Prefeitura de São Paulo, cercou-se de argumentos para negociações futuras e manteve as candidaturas próprias dos partidos que o compõem. Uma estratégia - do PCdoB, do PDT e sobretudo do PSB - que está em execução desde muito antes de o PT assumir, como o faz no momento, a aflição precoce com as eleições municipais.
Não sai agora uma definição sobre o que farão em São Paulo o PSB, o PCdoB, o PDT ou mesmo o PRB. Podem apoiar Haddad a qualquer instante ou em junho, a partir das convenções; podem unir-se ao PMDB com Gabriel Chalita; podem sustentar as candidaturas de Netinho (PCdoB), Celso Russomano (PRB), Paulo Pereira (PDT) e respeitar a resistência dos diretórios municipal e estadual do PSB a engrossarem as fileiras do PT. Podem, ainda, deixar sua definição só para o segundo turno. Nenhuma dessas opções lhes prejudica, ao contrário.
A única questão que têm definida, hoje, é que não haverá alinhamento automático ao PT, nada de aliança com o PSDB, e que não se sentem pressionados a resolver nada agora. Não há limite ou regras para a definição do PSB. O que se tem falado como obra pronta na eleição de São Paulo não passa de desejo. A hipótese da desistência de Netinho por decisão cordial e fácil do aliado histórico PCdoB, é uma solução elaborada no PT. No cenário em que se juntam todos em torno de Paulo Pereira, da Força Sindical, criando a terceira via que não vai Serra nem com o PT, é desejo do PDT.
Dificilmente não irão todos por onde Lula comandar, a conferir à frente. Mas não há porque o PCdoB rifar Netinho, agora, e o PSB desautorizar e intervir em seus diretórios em São Paulo para que entreguem cargos no governo do PSDB.
O que esses partidos estão fazendo hoje foi definido há um ano, quando Marta Suplicy não havia desistido da disputa e não era oficial, mas um propósito não declarado de Lula, lançar o nome de Fernando Haddad.
Lá atrás, o PCdoB resolveu que, até a hora certa pra definições, o partido lançaria a candidatura de Netinho, autorizado a sair em campanha. Afinal, perdera o Senado para Marta Suplicy por pouco (no interior venceu), e poderia brincar bem na pré-campanha.
Com a candidatura de Netinho já lançada, Lula trocou Marta por Haddad. O candidato petista, inadvertidamente, logo pediu uma conversa com o PCdoB. O partido não teve outra saída a não ser informar que, àquela altura, Netinho era candidato e estava em campanha. Sua retirada não poderia ser naquele momento, menos ainda grosseiramente.
O candidato petista foi inábil, faltou-lhe senso de oportunidade, mas o PT se revoltou assim mesmo com a frustração da primeira abordagem. Na sua raia o PSB também dava andamento à estratégia das municipais, e em São Paulo com a aproximação do forte elemento Gilberto Kassab e seu PSD, com quem passou a negociar.
Ao pedir, e ganhar, o apoio do PSB e do PCdoB para vencer disputa na Câmara Municipal, Kassab quis uma conversa com Eduardo Campos, presidente do PSB. Numa reunião com os deputados federais mais destacados de cada um dos partidos do bloquinho -, Márcio França do PSB, Aldo Rebelo do PCdoB e Paulo Pereira do PDT -, Kassab convidou as legendas a integrarem seu governo. A ele foi dito para pensar não só em secretarias, mas na hipótese de apoiar candidato de um deles na sua sucessão.
Kassab disse a todos o mesmo que disse a Lula e à presidente Dilma: Se José Serra (PSDB) fosse candidato, seu compromisso seria com ele. Entretanto, tudo levava a crer que não seria, e Kassab mesmo se encarregou de convencer PSB, PCdoB, PDT, a seguirem unidos com o PT. Em conversa com Eduardo Campos, Kassab assegurou, finalmente, que Serra não era mesmo candidato. O governador de Pernambuco comunicou o fato ao ex-presidente Lula que, então, armou seu próprio encontro com Kassab para pedir apoio a Haddad.
Novamente, agora em reunião com Kassab, Haddad tropeçou, conforme registros do PT: disse ao prefeito que consultaria o partido sobre seu apoio. Ao protelar uma resposta que tinha que ser festiva e comprometedora de cara, Haddad deixou o prefeito sem qualquer constrangimento para anunciar, chegado o momento, que honraria o acordo com Serra. Justiça seja feita, dizem três líderes do bloquinho, Kassab nunca foi ambíguo com relação a esse compromisso.
O PCdoB, depois do lançamento de Serra, ficou sem pretexto para retirar a candidatura de Netinho. Afinal uma chapa própria, com 10 a 12%, mal não faz. Os diretórios do PSB, que queriam logo declarar apoio a Serra, renderam-se ao prestígio de Eduardo Campos e lhe deram um prazo para esfriar as pressões. O governador sempre achou difícil para o partido ir com Serra em São Paulo, por causa de Lula, bem como aliar-se automaticamente ao PT, por causa das decisões dos diretórios. Uma saída seria adiar decisões, o que foi feito. Enquanto o momento não chega, inventar caminhos, procurar destravar o impasse interno. Há pressão intensa do PT para que o PSB apoie Haddad, agora, mas o partido só vai fazê-lo, estritamente com base na relação pessoal de Eduardo Campos com Lula, a partir de junho. Quando espera ter completamente resolvida, sem intervenção, as questões dos diretórios municipal e estadual.
Gabriel Chalita, que saíra do PSB para exatamente conseguir sua candidatura sem empecilhos, recebeu garantias do PMDB de que fica; o PCdoB resolveu deixar Netinho mais tempo exposto para aumentar a densidade da votação no partido.
Uma alternativa fora da disputa polarizada, para esses partidos, não está afastada, pelo menos no primeiro turno. É contra essa alternativa que Lula começou a pressionar mais forte agora. Já que os três partidos do bloquinho não podem apoiar Serra, não querem apoiar Haddad, e fora dessas duas forças há pelo menos três candidatos com boas aceitação no eleitorado paulistano, é que surgiu a hipótese de uma composição em torno de um terceiro nome. Mas é também uma ideia longe de estar consolidada.
A mesma crise - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 28/03/12
Os casos do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do senador Demóstenes Torres, até ontem líder do Democratas, são duas faces da mesma questão: a incompatibilidade de nossos homens públicos com a ética.
Os dois estão perdendo as condições políticas de exercerem suas respectivas funções por deslizes éticos. O senador já renunciou à liderança e é capaz de ser defenestrado do partido que parece condenado a sofrer baixas éticas entre suas principais lideranças.
O ex-governador de Brasília José Roberto Arruda era a grande estrela do DEM, considerado até mesmo um potencial candidato à Presidência da República, e escorreu pelo ralo da História com a descoberta de um amplíssimo esquema de corrupção em seu governo.
O senador Demóstenes Torres ia pelo mesmo caminho, arvorando-se de candidato a presidente, quando sua amizade com o bicheiro Carlinhos Cachoeira cortou-lhe as ambições.
O ministro, alvo de investigação da Comissão de Ética Pública da Presidência, não tem como explicar as consultorias que teriam lhe rendido R$ 2 milhões.
Mesmo não tendo cargo público na ocasião, Pimentel já era cotado para o Ministério de Dilma e atuava na coordenação de sua campanha.
Já o senador Demóstenes Torres terá uma investigação pedida pelo procurador-geral da República ao Supremo e dificilmente escapará de ser investigado pela Comissão de Ética do Senado.
Está vendo cair por terra a imagem que construíra para si mesmo, a do defensor da ética na política.
Suas relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira não lhe permitem mais assumir esse papel, que, aliás, desempenhou muito bem durante longo tempo, enganando quem acreditava nele.
No voto de Minerva que decidiu o pedido de explicações ao ministro Fernando Pimentel, o presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, marcou uma posição importante nessa questão da ética pública.
Ele alegou que, mesmo estando Pimentel fora de um cargo público na ocasião das supostas palestras e consultorias - fato que levou três membros da Comissão a votar pelo arquivamento do caso -, há situações em que o passado deve ser levado em conta para a definição da situação funcional do servidor público.
Essa decisão é fundamental conceitualmente e retira de Pimentel uma de suas defesas mais fortes. E criará um problema a mais para ele caso não consiga provar que realmente fez os serviços que justificaram o pagamento milionário.
A questão do ministro agora se desdobra em duas: ele primeiro precisa convencer os membros da Comissão de Ética de que trabalhou como consultor privado enquanto estava fora do governo, para depois fazer prevalecer sua tese de que esse tipo de trabalho não fere a ética pública.
Até o momento ele está atolado na primeira fase do processo, sem conseguir provar que os trabalhos foram realizados.
Pelo contrário, reportagens do GLOBO já mostraram que as palestras alegadas não foram realizadas, e nenhum documento aparece para mostrar que ele fez as consultorias tão regiamente pagas.
Na opinião do historiador Boris Fausto, já registrada aqui na coluna, mas que vale a pena ser relembrada, os políticos atuais não são piores que seus antecessores históricos.
Ele atribui a decadência na parte ética a circunstâncias históricas do desenvolvimento do país, típicas da pós-modernidade: o crescimento avassalador do capitalismo de Estado e a possibilidade de ganhar muito dinheiro no mercado financeiro no mundo globalizado.
O capitalismo de Estado fez surgir uma nova classe dirigente que mistura o poder sindicalista emergente, dominando os fundos de pensão das estatais, e as megaempresas multinacionais.
Boris Fausto também destacou que os desvios éticos são tratados com leniência, explicados com desculpas do tipo "sempre foi assim" ou com versões fantasiosas que passam a ser tratadas como verdades, como no caso do mensalão, que, com a ajuda do próprio presidente Lula, quer-se fazer passar por um financiamento de caixa dois de campanhas eleitorais.
No caso do senador Demóstenes Torres, há um movimento dentro do Senado para blindá-lo de uma investigação pela Comissão de Ética.
Ele está negociando com seus pares essa blindagem e já recebeu apoios públicos de alguns deles, da mesma forma que grande parte subiu à Tribuna para defendê-lo nas primeiras acusações.
Agora, com as denúncias se avolumando, e os indícios levando à evidência de uma relação promíscua entre o senador e o bicheiro, os senadores tentam um recuo constrangedor.
O ex-senador Darci Ribeiro dizia que o Senado era melhor do que o Céu porque não era preciso morrer para estar nele.
Esse corporativismo que mais uma vez se fez presente é reflexo de uma distorção ética denunciada pelo sociólogo Pierre Bourdieu, que identifica um modo artificial de pensar exigido para os que querem participar do mundo político, um verdadeiro monopólio da política pelos profissionais da política.
Para exercê-la, segundo Bourdieu, seria preciso dominar certos códigos próprios, submeter-se "aos valores, às hierarquias e às censuras inerentes a esse campo ou à forma específica que suas obrigações e seus controles revestem no seio de cada partido".
Haveria entre os políticos "um contrato tácito" que implica reconhecer esse jogo "pelo próprio fato de que vale a pena ser jogado. Por isso, Bourdieu considera a representação política uma luta, com regras próprias, pela conquista de poderes.
O cidadão comum e a ética pública, da maneira como a cidadania se expressa, ficariam alijados desse jogo, o que explicaria o distanciamento cada vez maior entre a sociedade e os políticos, um fenômeno que ocorre em termos mundiais e é responsável pela crise institucional que a atividade política vive no país.
A política dos alvos errados - ROLF KUNTZ
O Estado de S.Paulo - 28/03/12
O governo continua atirando furiosamente nos alvos errados. Toma medidas conjunturais para resolver problemas estruturais, como o da indústria, e aposta com entusiasmo em parcerias duvidosas, como a dos Brics - muito mais uma sigla, ainda hoje, do que um grupo de países com amplos interesses comuns. Isso foi comprovado mais uma vez na reunião sobre o câmbio na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde a China se aliou aos Estados Unidos e ao Canadá para abafar a discussão proposta pelo Brasil. No plano interno, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a prorrogação, até junho, do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens da linha branca. Além disso, estendeu o benefício aos setores de móveis, pisos e lustres, afetados, como tantos outros, pela concorrência dos importados. Facilidades para este ou aquele segmento continuarão sendo insuficientes para fortalecer a indústria de transformação, porque os seus problemas são muito mais graves que qualquer aperto conjuntural.
A própria conjuntura brasileira parece, à primeira vista, estranhíssima. A economia cresceu 2,7% no ano passado, enquanto a produção de manufaturas aumentou apenas 0,1%. A estagnação se manteve em janeiro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) divulgado na segunda-feira: o número de janeiro foi 0,13% menor que o de dezembro, descontadas as variações sazonais. Mas a arrecadação federal continuou crescendo e atingiu no mês passado R$ 71,9 bilhões, o maior valor, em termos reais, para um mês de fevereiro. Descontada a inflação, foi 5,9% superior à de fevereiro do ano passado, quando o impulso dos 7,5% de crescimento econômico de 2010 ainda empurrava os negócios. A receita do IPI do setor manufatureiro foi um fiasco, mas o recolhimento de tributos sobre outras atividades foi um sucesso. O Imposto de Importação rendeu 8,6% mais que um ano antes, em termos reais, e o IPI vinculado às compras externas proporcionou 21,3% mais que em fevereiro de 2011.
A importação rendeu mais impostos, como vinha ocorrendo nos meses anteriores, por causa do aumento das compras, da elevação da alíquota média e também da valorização do real. Todos esses fatores refletem o vigor do mercado interno, sustentado pela expansão da massa de rendimentos e pela ampliação do crédito (confirmada nessa terça-feira pelo Banco Central). É este o dado aparentemente estranho da conjuntura: a produção da indústria vai mal, mas a demanda interna vai bem, graças ao consumo privado e aos gastos do governo. Uma das consequências aparece no comércio externo de mercadorias: em 2012, até 25 de março, o valor exportado foi 6,3% maior que o de um ano antes, mas o importado foi 9% superior ao de igual período de 2011. O superávit comercial foi 41,6% menor.
A estagnação da indústria manufatureira e a erosão do saldo comercial refletem muito mais que um problema de conjuntura. Para mudar o quadro, portanto, o governo terá de ir além das medidas conjunturais, como a redução temporária de impostos e de encargos trabalhistas ou a ampliação, também provisória, da oferta de financiamentos a juros baixos. Também limitadas têm sido as ações protecionistas, como a elevação do imposto sobre veículos com menos de 65% de conteúdo nacional ou a adoção de barreiras não tarifárias. Quanto ao câmbio, obviamente é apenas parte do problema.
Ações defensivas têm sentido quando se trata de preservar indústrias nascentes, de barrar a concorrência desleal ou de conter surtos de importação prejudiciais à produção nacional. A ação do governo tem ido muito além da proteção compatível com as normas internacionais. Além disso, seria grotesco recorrer ao argumento da indústria nascente. Igualmente ridículo é apontar o exemplo argentino como digno de imitação. Nenhum ganho de produtividade resultou do protecionismo praticado pelos vizinhos com apoio do governo brasileiro.
Políticas estruturais dão trabalho, requerem competência administrativa e envolvem às vezes decisões e negociações difíceis. Não é simples, por exemplo, negociar mudanças tributárias com 27 governadores, tentar diminuir a rigidez do orçamento ou trabalhar com metas e prazos para a execução de obras. Também é complicado e eleitoralmente menos rendoso cuidar dos gargalos reais da educação - nos níveis fundamental e médio, muito mais que no ensino superior, privilegiado no governo Lula.
Mas o futuro do País depende muito mais dessas tarefas do que da concessão de benefícios conjunturais a alguns setores. Mais realismo na diplomacia econômica também ajudará. É bom exportar produtos básicos, mas é ruim perder oportunidades em mercados desenvolvidos, enquanto se aceita uma relação semicolonial no comércio com a China. Não há nada conjuntural nessa coleção de erros e deficiências. Nada mudará sem o reconhecimento desse fato.
DNA lulista - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 28/03/12
O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, escolheu dois ex-ministros de Lula para coordenar áreas de seu plano de governo, dividido em dez "eixos". Até sábado, quando o time será anunciado, haverá outros nomes ligados ao ex-presidente.
Nelson Machado, ex-titular da Previdência e do Planejamento, comandará o capítulo dedicado ao desenvolvimento econômico, ao lado de Amir Khair, ex-secretário de Finanças da gestão de Marta Suplicy.
No segmento de cidadania e direitos humanos, o coordenador será Paulo Vannuchi, ex-ministro que atualmente trabalha com Lula em seu instituto.
Greve Irritados com a concentração de poder na pré-campanha de Haddad, vereadores da CNB decidiram ficar fora das atividades até que seja definido um coordenador ligado à tendência.
Terceira chance Depois que Ricardo Berzoini e Vicente Cândido, os nomes apresentados pela CNB, foram fritados, o mais cotado para atuar junto com Antonio Donato no comando do QG petista é o presidente estadual da sigla, Edinho Silva.
Conta-gotas Reunido ontem com vereadores, Haddad recebeu declarações de apoio de Juscelino Gadelha (PSB) e Agnaldo Timóteo (PR).
Pausa Após escrutinar os números das prévias, José Serra submergirá. Aliados entendem que sua superexposição precoce só interessa aos rivais. "Vão perguntar de papelzinho e inspeção veicular toda hora", diz um serrista.
Forcinha A secretária paulista de Justiça, Eloísa Arruda, opinou pela condução de Felipe Locke à Procuradoria-Geral. Mais votado em apertada disputa com o situacionista Márcio Elias Rosa, Locke aguarda a escolha de Geraldo Alckmin -que analisa lista do Ministério Público.
Vertical O PSDB cobrará hoje da bancada estadual apoio a Dimas Ramalho (PPS), nome de Alckmin para o TCE. Parte dos tucanos está com Jorge Caruso (PMDB).
Colateral Quem acompanha de perto as tratativas de alianças em São Paulo garante que o elo de Demóstenes Torres (GO) com Carlinhos Cachoeira fragilizará o pleito do DEM pela vice de Serra.
Gato e rato Procurado ontem por senadores do PT, Roberto Gurgel sugeriu que fosse agendada reunião para hoje. Walter Pinheiro recusou o adiamento e protocolou pedido de informação sobre o caso Carlinhos Cachoeira. Em seguida, o procurador-geral recebeu o PSOL.
Quem avisa... Em reunião, Arlindo Chinaglia (PT-SP) questionou governistas sobre a convocação da ministra Miriam Belchior (Planejamento), aprovada na semana passada. Aliados temem, nos bastidores, que hoje a oposição convide Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
Vapt-vupt Pimentel está só esperando a notificação da Comissão de Ética da Presidência para apresentar explicações sobre as atividades consultoria que lhe renderam R$ 2 milhões. "Já estão prontos", afirmou ontem ao deixar o hotel em Nova Déli.
Clonagem 1 O Sindilegis, sindicato dos servidores do Legislativo federal, notificou extrajudicialmente seu ex-presidente Ezequiel Nascimento para que seja impedido de usar o endereço da entidade em nova associação criada por ele, o IBLegis.
Clonagem 2 No site do instituto, Nascimento -que foi demitido do Ministério do Trabalho no escândalo que derrubou Carlos Lupi- lança também um clube de compras do servidor, o IBClub.
Visita à Folha Antonio Delfim Netto, professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
O próprio nome do Cachoeira já diz tudo: podemos esperar que muitas águas vão rolar nesse caso e, junto com elas, muitas outras reputações ilibadas.
DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), sobre o senador Demóstenes Torres (GO) ter renunciado à liderança do DEM na Casa por conta da investigação de sua ligação com o empresário de jogos preso na Operação Monte Carlo.
contraponto
Nasce um craque
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) exibiu dotes esportivos na inauguração do Complexo Prates, ontem, na região da cracolândia. Com Alexandre Padilha (Saúde), derrotou Geraldo Alckmin no pebolim. Depois, fez um gol no ministro no futebol de quadra.
-Vou decidir meu futuro pós-prefeitura. Se a forma física não ajudar, será futebol de mesa mesmo -, brincou.
O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, escolheu dois ex-ministros de Lula para coordenar áreas de seu plano de governo, dividido em dez "eixos". Até sábado, quando o time será anunciado, haverá outros nomes ligados ao ex-presidente.
Nelson Machado, ex-titular da Previdência e do Planejamento, comandará o capítulo dedicado ao desenvolvimento econômico, ao lado de Amir Khair, ex-secretário de Finanças da gestão de Marta Suplicy.
No segmento de cidadania e direitos humanos, o coordenador será Paulo Vannuchi, ex-ministro que atualmente trabalha com Lula em seu instituto.
Greve Irritados com a concentração de poder na pré-campanha de Haddad, vereadores da CNB decidiram ficar fora das atividades até que seja definido um coordenador ligado à tendência.
Terceira chance Depois que Ricardo Berzoini e Vicente Cândido, os nomes apresentados pela CNB, foram fritados, o mais cotado para atuar junto com Antonio Donato no comando do QG petista é o presidente estadual da sigla, Edinho Silva.
Conta-gotas Reunido ontem com vereadores, Haddad recebeu declarações de apoio de Juscelino Gadelha (PSB) e Agnaldo Timóteo (PR).
Pausa Após escrutinar os números das prévias, José Serra submergirá. Aliados entendem que sua superexposição precoce só interessa aos rivais. "Vão perguntar de papelzinho e inspeção veicular toda hora", diz um serrista.
Forcinha A secretária paulista de Justiça, Eloísa Arruda, opinou pela condução de Felipe Locke à Procuradoria-Geral. Mais votado em apertada disputa com o situacionista Márcio Elias Rosa, Locke aguarda a escolha de Geraldo Alckmin -que analisa lista do Ministério Público.
Vertical O PSDB cobrará hoje da bancada estadual apoio a Dimas Ramalho (PPS), nome de Alckmin para o TCE. Parte dos tucanos está com Jorge Caruso (PMDB).
Colateral Quem acompanha de perto as tratativas de alianças em São Paulo garante que o elo de Demóstenes Torres (GO) com Carlinhos Cachoeira fragilizará o pleito do DEM pela vice de Serra.
Gato e rato Procurado ontem por senadores do PT, Roberto Gurgel sugeriu que fosse agendada reunião para hoje. Walter Pinheiro recusou o adiamento e protocolou pedido de informação sobre o caso Carlinhos Cachoeira. Em seguida, o procurador-geral recebeu o PSOL.
Quem avisa... Em reunião, Arlindo Chinaglia (PT-SP) questionou governistas sobre a convocação da ministra Miriam Belchior (Planejamento), aprovada na semana passada. Aliados temem, nos bastidores, que hoje a oposição convide Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
Vapt-vupt Pimentel está só esperando a notificação da Comissão de Ética da Presidência para apresentar explicações sobre as atividades consultoria que lhe renderam R$ 2 milhões. "Já estão prontos", afirmou ontem ao deixar o hotel em Nova Déli.
Clonagem 1 O Sindilegis, sindicato dos servidores do Legislativo federal, notificou extrajudicialmente seu ex-presidente Ezequiel Nascimento para que seja impedido de usar o endereço da entidade em nova associação criada por ele, o IBLegis.
Clonagem 2 No site do instituto, Nascimento -que foi demitido do Ministério do Trabalho no escândalo que derrubou Carlos Lupi- lança também um clube de compras do servidor, o IBClub.
Visita à Folha Antonio Delfim Netto, professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
O próprio nome do Cachoeira já diz tudo: podemos esperar que muitas águas vão rolar nesse caso e, junto com elas, muitas outras reputações ilibadas.
DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), sobre o senador Demóstenes Torres (GO) ter renunciado à liderança do DEM na Casa por conta da investigação de sua ligação com o empresário de jogos preso na Operação Monte Carlo.
contraponto
Nasce um craque
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) exibiu dotes esportivos na inauguração do Complexo Prates, ontem, na região da cracolândia. Com Alexandre Padilha (Saúde), derrotou Geraldo Alckmin no pebolim. Depois, fez um gol no ministro no futebol de quadra.
-Vou decidir meu futuro pós-prefeitura. Se a forma física não ajudar, será futebol de mesa mesmo -, brincou.
Justiça e poder na França - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 28/03/12
Os juízes franceses andam com uma energia extraordinária. No mesmo dia, meteram o bedelho nos assuntos de duas figuras eminentes: o presidente Nicolas Sarkozy e o socialista Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), que seguramente seria o sucessor de Sarkozy se não tivesse tropeçado numa camareira do Hotel Sofitel, em Nova York, com quem passou 8 ou 9 minutos, apesar de ela resistir.
Sarkozy, primeiro. A França tem uma multibilionária, Liliane Bettencourt, proprietária da L'Oréal. Uma senhora idosa e muito boa. Ela distribui dinheiro para todo o mundo, principalmente depois que suas faculdades mentais ficaram um pouco embotadas. Ora, um juiz acaba de indiciar o administrador da fortuna de Liliane, o senhor De Maistre, suspeito de ter fornecido enormes quantias de dinheiro para Sarkozy durante as eleições de 2007 que o levaram à presidência.
Que risco corre Sarkozy? Nenhum, pois está protegido pela imunidade presidencial. No entanto, sabemos que, a 30 dias da eleição e no fim de uma campanha eleitoral violenta e obscurecida pelos abomináveis assassinatos em Toulouse, esse questionamento envolvendo o presidente é lamentável. Imaginamos as perfídias que ele terá de ouvir. Um suposto partidário de Sarkozy já vem dizendo aos eleitores: "Votem todos em Sarkozy, pois se ele não for eleito irá para a prisão".
Strauss-Kahn, por seu lado, já passou alguns meses na prisão no ano passado, acusado de assédio sexual pela camareira do hotel de Nova York. Após algumas semanas, ele foi libertado por falta de provas, mas deve comparecer perante os juízes novamente. E não é tudo. Esta semana, compareceu a um tribunal na França por um motivo similar: ele teria participado de "orgias" nos palácios de Lille, Washington e Paris.
O problema é que as jovens que participaram das festas não eram burguesas, como diz Strauss-Kahn, mas prostitutas. O ex-dirigente do FMI foi indiciado pelo juiz de Lille por "favorecimento à prostituição agravado por formação de quadrilha".
A derrocada de um dos economistas mais brilhantes do mundo, casado com uma mulher belíssima e riquíssima, Anne Sinclair, surpreende. Um homem que fez da sua vida um monumento esplêndido. Na França, teve uma carreira brilhante de deputado e ministro. Depois, tornou-se diretor do FMI. Pretendia ser candidato a presidente e sua eleição era dada como certa diante da superioridade intelectual frente a todos os rivais.
O monumento da sua vida, portanto, estava concluído. Logo, poderia instalar no topo do edifício a bandeira da vitória absoluta, mas viu num corredor do Hotel Sofitel uma camareira e saltou sobre ela.
E acabou. O suntuoso edifício caiu por terra. No lugar da glória, a infâmia e o desprezo. Talvez a prisão. Alguns minutos de transe sexual. A "pulsão" foi mais forte do que a "ambição". / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
A fila anda - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 28/03/12
Depois do calote grego, Portugal e Irlanda são os candidatos a receber ajuda. Ambos já foram socorridos, estão fora do mercado, mas ainda carregam déficits públicos elevados. O governo irlandês fechou 2010 com um rombo de 30% do PIB. Reduziu para 10% em 2011, mas ainda ficará no vermelho em 8,5% este ano. Tem a seu favor o currículo de já ter feito um forte ajuste nos anos 90 e sua economia tem perspectivas de crescimento. Para Portugal, a situação é mais crítica porque, além do déficit alto, tem um buraco nas transações correntes e o país está há quatro trimestres em recessão.
- O desafio em ambos é muito grande: colocar as contas em ordem, de forma crível, e voltar a mercado no final de 2012. Portugal tem que fazer um ajuste maior, mas nos dois casos os programas são muito ambiciosos. O que vamos ver daqui a pouco é que o ajuste prometido é tão severo que os países não vão conseguir crescer. Por isso, houve esse anúncio do governo espanhol - explicou o economista-chefe do MSafra, Marcelo Fonseca.
Entre portugueses e irlandeses, há uma forte distinção: o mercado cobra 13,5% de juros para rolar a dívida do governo de Portugal e 5% da Irlanda. Os irlandeses têm a seu favor um passado de ajuste e se comprometeram a cortar gastos antes de receberem ajuda. Os portugueses passaram o período de bonança com déficits altos e usaram artifícios para melhorar as contas públicas recentes.
A chanceler alemã Angela Merkel admitiu esta semana que a Europa poderá manter em funcionamento os dois fundos de socorro, que juntos terão poder de fogo de cerca de 700 bilhões. Os líderes sabem que o calote ordenado grego não quer dizer que os problemas da Zona do Euro foram resolvidos. O governo português recebeu 78 bilhões em ajuda para ficar fora do mercado até o final do ano que vem. Mas isso significa que o país terá que voltar a ganhar confiança para ser financiado pelos bancos privados com juros mais baixos. O problema é que ninguém acredita ser possível reduzir essa taxa, dos atuais 13,5%, para padrões normais, em torno de 3%. Então só há duas saídas para Portugal, receber mais dinheiro ou dar um calote como fez a Grécia.
Outra diferença entre Portugal e Irlanda é o saldo em transações correntes, que mostra o fluxo de entrada e saída de moeda nos países. A Irlanda voltou a ter superávit em 2010, de 0,4%, e estima-se que tenha fechado 2011 no azul em 1,7%. Isso quer dizer que há mais euros entrando do que saindo do país, pelas mais diversas portas: balança comercial, remessa de lucros, captações de empresas e governo, gastos de turistas. Em 2011, por exemplo, as exportações irlandesas cresceram 3,4%. Já Portugal teve um rombo em conta corrente de 12% em 2008, que diminuiu para 9,8% em 2010, e ficará em 8,6% em 2011.
- O saldo em transações correntes reflete o grau de competitividade dos países. Tanto Irlanda quanto Portugal fazem parte da Zona do Euro e por isso não podem desvalorizar suas moedas para ganhar impulso via exportação. Se os irlandeses estão com superávit nas transações correntes é porque fizeram um ajuste muito forte, com corte de gastos do governo. Já os portugueses continuaram com o déficit no mesmo patamar - explicou a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
Irlandeses e portugueses estão em recessão. Portugal acumula quatro trimestres seguidos de retração no PIB. Os irlandeses, dois, mas conseguiram terminar 2011 com alta de 0,7%, enquanto a economia portuguesa caiu 1,6%. O BC português estima queda de 3,3% este ano. O FMI prevê crescimento de 1,2% para a Irlanda.
Os dois também sofrem com o desemprego. A taxa chegou a 14,8% em janeiro, em ambos. O desemprego de jovens irlandeses, com menos de 25 anos, foi a 29,5%; entre os portugueses, subiu a 35,1%. Para se ter uma ideia, a média de desemprego de jovens na Zona do Euro é 21,6%. Na Alemanha, 7,8%. O número de casais portugueses em que ambos os cônjuges estão desempregados subiu 70% em fevereiro em relação ao mesmo mês de 2011.
Isso tudo está causando outro problema em Portugal, a emigração de jovens. O país está perdendo o talento de sua juventude, que tenta a vida em outros países diante da incapacidade de ingressar no mercado de trabalho. O número de emigrações chegou a 150 mil em 2011, admitiu o governo, para uma população de 10 milhões de pessoas. É o maior número de emigrantes desde o pico dos anos 60 e 70.
Uma boa notícia para a Europa, segundo Marcelo Fonseca e Monica de Bolle, foi o que houve com o CDS (credit default swap) grego. O CDS é um seguro que protege o comprador de dívida dos governos, em caso de calote. Havia um temor de que ele não fosse respeitado e o risco de que se fosse pago poderia quebrar as seguradoras. Eles foram respeitados e não houve quebra das instituições que venderam o seguro. Isso deu mais segurança ao mercado de dívida pública.