sábado, janeiro 14, 2012

Bezerra e a chuva (de votos) - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

O Senado refrescou Fernando Bezerra porque a perseguição a ele é injusta.


O ministro da Integração Nacional não se afastou um milímetro daquilo que o governo popular espera de seus gestores: não desperdiçar o cargo público para fazer política partidária.

Vejam o caso do ministro da Educação, Fernando Haddad, que atingiu praticamente a perfeição. No momento em que Haddad esvazia as gavetas no ministério para sair candidato a prefeito de São Paulo, estoura o enésimo escândalo do Enem.

O mais novo erro do MEC garfou 880 pontos de um estudante de 17 anos – morador da cidade que o seu algoz quer governar.

A prova de redação da vítima levou nota zero, com a justificativa de que o texto fugiu do tema proposto. A família do aluno só conseguiu o reconhecimento do erro porque foi à Justiça.

A correção de dezenas de provas de redação está sob suspeita. Mas esses alunos não devem se preocupar: basta entrarem com um processo judicial, que o MEC reconhece que fugiu do tema e devolve a nota roubada.

Após três anos consecutivos de pegadinhas do MEC de Fernando Haddad, os candidatos do Enem aprenderam que precisam se preparar melhor. O estudante moderno já sabe que não será ninguém sem um bom advogado.

Nesse meio tempo, o ministro Haddad não fugiu do tema: fez política o tempo todo. Usou o cargo para aparecer na imprensa (com jóias como o natimorto kit gay para a educação infanto-juvenil), fez a campanha presidencial de Dilma Rousseff, tentou se popularizar defendendo livros com erros de português, pavimentou sua candidatura a prefeito.

É um formidável índice de aproveitamento do cargo público com fins privados.

Não é à toa que o ministro Aloísio Mercadante quer herdar sua cadeira no MEC. E tem currículo para isso.

À frente do Ministério de Ciência e tecnologia, Mercadante fez belos comícios na época da tragédia na região serrana do Rio. Era o que bastava, porque acidentes climáticos dessa monta levam anos para se repetir.

Só para implicar com o PT, São Pedro repetiu a dose um ano depois.

Mas o ministro não se omitiu: prometeu aos flagelados em Minas Gerais e no Rio uma “força-tarefa de geólogos”. Alívio geral.

O Brasil precisa entender que esses ministros militantes têm uma agenda cheia demais para ainda terem que bolar programas sérios de infra-estrutura.

O ministro das Cidades, por exemplo, está há meses trabalhando duro para fugir do tema das irregularidades de que é acusado e se segurar no cargo. Não se pode exigir que, além disso, ele ainda faça hora extra com políticas públicas.

Por tudo isso, a perseguição ao ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra é injusta. Ao repassar 90% das suas verbas contra enchentes para Pernambuco, ele obedeceu rigorosamente à doutrina do governo popular.

E ela é muito simples: não importa onde a chuva cai, mas onde o eleitor vota.

Os incomodados que se mudem – ou abram o guarda-chuva.

Troca de roupa - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 14/01/12


A americana Nike atua para desbancar a Olympikus como patrocinadora oficial do Comitê Olímpico Brasileiro
A marca brasileira vem fornecendo material esportivo aos nossos atletas desde 1999.

Folia da maconha
Eduardo Paes autorizou o desfile do bloco Planta na Mente, da turma que defende a legalização da maconha.
Vai sair da Rua Joaquim Silva, na Quarta-Feira de Cinzas, às 16h30m. Ano passado, antes de o STF decidir que os defensores da fumaça têm direito de se manifestar, o Choque de Ordem do prefeito proibiu o desfile.

Caso médico
A “Época” que chega hoje às bancas revela que se fala no governo na hipótese de Guido Mantega deixar o cargo para cuidar da mulher, Eliane, que descobriu um câncer há pouco. A sucessão, diz a revista, seria indesejada, mas tranquila, pois Dilma tem outro homem de confiança na Fazenda, o secretário-executivo Nelson Barbosa.

Visita para Lula
José Mujica, presidente do Uruguai, pousa segunda em São Paulo em caráter privado.
Visita o amigo Lula e retorna no mesmo dia a Montevidéu.

Calhambeques
Nelson Piquet, tricampeão de Fórmula-1, disputará uma corrida, dia 29, ao volante de um vetusto Lincoln 1927.
Será na prova Pé na Tábua, realizada em Franca, SP, só com calhambeques fabricados até 1936.

Black music
Acaba de sair na França, pela Editions Asphalte, o livro “Black music”, do coleguinha Arthur Dapieve.
Está marcada para o fim de fevereiro uma noite de autógrafos em Paris, com a presença do autor.

Jogos vorazes
A Rocco vai lançar em março uma edição em e-book de “Jogos vorazes”, o best-seller de Suzanne Collins que já vendeu mais de 13 milhões de exemplares só nos EUA. É para pegar carona no provável sucesso do filme baseado na saga, que estreia nos cinemas dia 23 de março.

Aliás...
Também para acompanhar o burburinho em torno do filme, a Rocco vai lançar uma caixa comemorativa, em edição limitada, com os três títulos da obra de Suzanne Collins (além de “Jogos vorazes”, a trilogia é composta por “Em chamas” e “A esperança”).

BR-101
Com ativos que somam R$ 3,9 bilhões, o Grupo Invepar vai participar do leilão de um trecho de 475 km da BR-101, no Espírito Santo, que será realizado dia 18, na Bovespa.
Andando de ônibus
A PM do Rio apreendeu ano passado, só nos ônibus que circulam no Centro e nas zonas Sul e Norte, um total de... 24kg de maconha e 10kg de cocaína. Além disso, caiu em 16% o número de roubos nos coletivos nessas regiões. Em 2011, foram 2.016 casos, 400 a menos que em 2010.

Rádio Apoteose
Adriane Galisteu deve desfilar na Portela neste carnaval. A formosa é esperada hoje no Rio para bater o martelo.
A apresentadora foi rainha de bateria da Unidos da Tijuca até o ano passado.

Carnaval de rua
A Secretaria estadual de Cultura do Rio vai dar este ano verba a 16 grupos de bate-bolas da capital e da Baixada. Estão na lista ainda o baile infantil “Carnaval da Limpeza”, de Nova Friburgo; um concerto ao ar livre da Orquestra Rancho Flor do Sereno, em Copacabana; e o Baile do Centenário da Tia Zica, na Mangueira. Eu apoio.

Roberto Farias, 80
O CCBB abrigará grande homenagem ao cineasta Roberto Farias por seus 80 anos em 2012, com mostras e debates.

Ainda não há data definida.

Viva Hélio Delmiro!
Hélio Delmiro, 64 anos, o grande violonista que tocou com Elizete, Tom, Milton, Elis e tantos outros, está de volta ao batente, salve!, depois de vencer um calvário financeiro e de saúde, com problemas cardiovasculares.
Toca hoje na charmosa Livraria Arlequim, no Paço Imperial, no Centro do Rio, às 15h.

O preconceito no armário - RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA


O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas. Até que sai de forma irracional



RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Ele está ali no meio das roupas que vestimos a cada dia. Invisível, sem cheiro. É como se fosse uma caspa que só os outros enxergam. O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas, em casa, na escola, no trabalho. Escondemos, por vergonha. Ou, o que é pior, nos recusamos a reconhecer que ele existe. Até o momento em que o preconceito sai do armário de forma irracional.
Foi o que aconteceu na USP com um PM, o sargento André Ferreira. O sargento parecia uma pessoa normal, dialogando com universitários que ocupavam um espaço da universidade. Pedia que se retirassem dali. De repente, viu ao fundo um rapaz negro, com cabelo rasta, de tranças longas. O sargento se transformou num ogro. “E você aí, é estudante? Cadê a carteirinha?”, perguntou. O rapaz respondeu: “Sou. Dou a minha palavra”. Mas não mostrou documento.
O sargento se descontrolou: apontou a arma, puxou-o pelos cabelos e pela roupa, empurrou, agrediu e o enxotou. No fim, Nicolas Menezes Barreto tirou a carteira de estudante da USP do bolso. O vídeo (assista no blog Bombou na Web) é de uma brutalidade que atinge qualquer um que tenha noção de direitos humanos. A Polícia Militar afastou o sargento por despreparo e descontrole emocional.
Mas por que o rapaz negro não mostrou logo o documento que o policial branco exigiu? Insolente, não conhece o seu lugar. É o que muita gente boa diz por aí. Entendo a reação do estudante à atitude ofensiva do PM. Foi uma cena de preconceito racial explícito. O sargento não teria agido assim com um branco. Nicolas sabia disso. Deve ter sido a enésima vez em que enfrentou suspeita pela cor da pele.
Por muito menos, já me recusei a mostrar a carteira de jornalista. Cobri como repórter a temporada de Fórmula 1 em 1990. A cada corrida, eu era abordada por fiscais do autódromo nos bastidores. Os fiscais não pediam a credencial de meus colegas homens. No terceiro país em que isso se repetiu, eu estava acompanhada de um amigo sem a credencial adequada. O fiscal exigiu meu documento. Eu disse: “Não vou mostrar. Vá pedir ao Bernie Ecclestone (o homem forte da F-1)”. Era evidente que, só por eu ser mulher, eles desconfiavam que eu fosse uma maria gasolina da vida. Depois de um tempo, irrita. Esse e outros episódios me revelaram que eu trafegava muitas vezes numa pista masculina.
Os gays sofrem mais. O ator Marcelo Serrado não deseja que sua filha de 7 anos veja um beijo gay na novela das 21 horas. Ele faz o caricato Crô, um dos personagens mais populares de Fina estampa. Serrado acha que homossexuais só devem se beijar na televisão depois das 23 horas. Assassinatos, traições, prostituição, porradas do marido na mulher, isso tudo passa no horário nobre. “Detesto a homofobia, mas as barreiras devem ser quebradas aos poucos”, disse Serrado. “Tenho vários amigos gays, um foi jantar na minha casa na sexta-feira passada.”Sou contra cotas sexuais ou raciais. O mérito determina uma promoção. Mas o último Censo do IBGE me surpreendeu. A educação deveria ter reduzido mais a desigualdade entre os sexos. A mulher tem hoje no Brasil dois anos de escolaridade a mais que o homem, mas ganha em média 30% menos que ele. E, quanto mais instruída é a mulher, maior a diferença entre seu salário e o do homem com a mesma escolaridade. Dos brasileiros que ganham acima de 20 salários mínimos, os homens são mais de 80%. Só um punhado de mulheres chega à direção e a cargos executivos. Existe ou não uma discriminação sutil no mundo que manda?
Homossexuais influentes lastimaram a declaração de Serrado. “Ele tem o direito de educar sua filha como quiser”, diz Alexandre Vidal Porto, diplomata brasileiro, em Tóquio, com 46 anos e relacionamento estável há nove. “O que acho péssimo é o ator, mesmo não querendo que a filha presencie um beijo gay, declarar que não é homofóbico. Parece aquela senhora que diz não ser racista, mas preferiria que a filha não se casasse com um negro. Ou seja, Marcelo Serrado é um homofóbico no armário. Precisa sair dele.” Vidal Porto é casado em Nova York e seu marido, americano, tem passaporte diplomático e seguro de saúde concedidos pelo Itamaraty: “Como sabemos nos defender – ele é advogado por Yale, e eu por Harvard –, é difícil nos discriminar”.
O beijo é uma manifestação de afeto. Se os telejornais mostram casais gays reais se beijando em casamentos coletivos, por que na ficção a cena seria imprópria a crianças e adolescentes?
Em 1978, o deputado Harvey Milk foi morto por defender os homossexuais. Dez anos antes, em 1968, o Nobel da Paz Martin Luther King foi morto por defender os negros. Há quase um século, em 1913, a inglesa Emily Wilding Davison morreu ao defender o voto das mulheres. O mundo mudou, felizmente. Mas não o bastante.

Grandes atuações - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 14/01/12


RIO DE JANEIRO - Há tempos, num debate fora do Rio sobre literatura, alguém na plateia se referiu a biografias que escrevi -de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda- e perguntou de quem seria a próxima. De brincadeira, respondi que estava pensando em Agamenon Mendes Pedreira, o jornalista venal, corrupto e mau-caráter. Como a piada caísse no vazio, expliquei que Agamenon era um personagem fictício, criado no "Globo" pelos humoristas Hubert Aranha e Marcelo Madureira, da turma do "Casseta".

A piada continuou no vazio, exceto para Marcelo e Hubert, que souberam dessa resposta e, anos depois, ao ter a ideia de filmar a vida de Agamenon, se atreveram a me convidar para fazer o "biógrafo não autorizado" do velho escroque da imprensa. E eu, num atrevimento ainda maior, aceitei.

O filme, "As Aventuras de Agamenon, o Repórter", acaba de estrear em 300 cinemas pelo Brasil, o que faz com que, desde então, eu não tenha muito onde me esconder. Por onde passo, desconhecidos íntimos gritam: "Te vi!", "Você, hein?" ou "E a Luana Piovani?", o que recebo como avaliações a favor. Os críticos também têm sido magnânimos comigo -limitam-se a citar minha participação.

Outros convidados, além de Fernanda Montenegro como narradora, são Pedro Bial, Caetano Veloso, Jô Soares, Paulo Coelho, Nelson Motta e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, todos dando seus "depoimentos" sobre Agamenon. Exceto Fernanda e Jô, nenhum de nós é ator, embora estejamos a toda hora diante das câmeras, no papel de nós mesmos.

Mas ninguém supera a convicção e a naturalidade com que FHC se refere ao imaginário Agamenon. Em certos momentos, quase me fez acreditar que Agamenon existia de verdade. A "aisance" de FHC na tela lembrou-me algumas de suas grandes atuações na Presidência.

O Haiti é aqui - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 14/01/12


SÃO PAULO - A chegada, vá lá, maciça, de haitianos ao Brasil é uma ótima oportunidade para refletir sobre o que transforma grupos de pessoas em povos. E a nossa reação à, vá lá, invasão é uma medida insofismável de nossa generosidade.

A discussão sobre o que constitui um povo não é nova e permeou parte do século 19. A contraposição básica é entre o "jus sanguinis" (direito de sangue), pelo qual a nacionalidade de um indivíduo é dada por sua ascendência, e o "jus soli" (direito de solo), pelo qual ela decorre do local de nascimento ou, de modo um pouco mais fraco, do lugar que a pessoa escolheu para viver.

Mais do que uma minudência jurídica, a distinção traz consigo duas visões de mundo antagônicas.
Como regra geral, a maioria dos países europeus adotava o "jus sanguinis" -a exceção é a França pós-revolucionária. A ideia aqui é que é o passado comum, consubstanciado em categorias como sangue, raça e língua, que forja uma nação. A nacionalidade se torna assim um atributo imutável do indivíduo. Essa concepção encontra amparo nos textos de pensadores românticos, notadamente o alemão Johann Gottlieb Fichte (1762-1814).

Menos essencialista e, por isso mesmo, mais democrático, o "jus soli" encontrou seu maior advogado no filósofo francês Ernest Renan (1823-1892), que escreveu em meio à disputa entre a França e a Alemanha pelo controle da Alsácia-Lorena. Para ele, o que definia um povo era a vontade das pessoas de construir um futuro juntas. A existência de uma nação, dizia, era um "plebiscito diário" e envolvia "ter feito coisas grandes juntos e querer fazer ainda mais". Não é coincidência que quase todos os países do Novo Mundo tenham adotado o "jus soli".

Assim, restringir a concessão de vistos a haitianos como parece querer parte do governo é uma ideia que vai contra o espírito que presidiu a própria criação do Brasil.

Chovendo no molhado - ZUENIR VENTURA


O Globo - 14/01/12


Não é de hoje que chove torrencialmente no verão, que rios transbordam, que correntezas arrastam pontes, que enxurradas derrubam casas, que estradas viram crateras, e que autoridades alegam ter sido apanhadas de surpresa (delas recolhi algumas pérolas: “a natureza é imprevisível”, “ela às vezes se rebela”, “não há o que fazer, a não ser rezar para que isso não se repita”).

Acho que cada morador do Rio pode escrever sua história pessoal através das enchentes a que assistiu. Para não ir muito longe — a 1711, por exemplo, quando se registrou pela primeira vez a ocorrência de grandes inundações na cidade —, basta recordar algumas tragédias marcantes causadas pelas águas de janeiro, fevereiro ou março. A mais lembrada costuma ser a de 1966, quando chuvas de uma semana provocaram desabamentos com a morte de 250 pessoas e 50 mil desabrigados.

No ano seguinte, houve soterramento de uma casa e dois edifícios em Laranjeiras, com 200 mortos e 300 feridos. E assim por diante. De 2000 a 2011, calcula-se que cerca de três mil pessoas morreram em consequência de desastres naturais.

Para mim, a rotina começou em 1942, quando minha família mudou-se de Ponte Nova para Nova Friburgo, percorrendo mais ou menos o mesmo roteiro das regiões atingidas agora: Zona da Mata mineira e serra fluminense. Viajando num velho trem da Leopoldina Railway, levamos quase uma semana para chegar ao destino, entre paradas e baldeações.

Chuvas fortes ininterruptas, estradas interrompidas, pontes arrastadas, barreiras caídas, mortes, desabrigados, o mesmo estado de calamidade. Parece que foi hoje. A repetição do óbvio. Um ano depois da tragédia que matou 900 pessoas em Friburgo e sete décadas após nossa acidentada mudança para aquela cidade serrana, as autoridades continuam chovendo no molhado.

O jornalista e escritor Antonio Callado dizia que o Brasil não ia pra frente porque aqui se roubam as rodas do carro. Pior: roubam merenda escolar, remédios, equipamento hospitalar, donativos, doações e, como aconteceu há um ano na Região Serrana, são desviados milhões de reais destinados às vítimas. Em vez de prevenir, as autoridades preferem remediar, até porque é mais rentável.

Além do quê, basta prometer providências, como fez o governo do estado: prometeu 75 pontes e entregou uma. Garantiu que ia construir milhares de casas para os desabrigados, e nenhuma foi construída. Como disse o presidente do Crea-RJ, “é hora de dar um basta. Nem 10% das obras necessárias foram realizadas”.

Enquanto isso, o ministro do meu pirão primeiro — verba para meu estado, emendas para meu filho, cargo para meu irmão e empregos para o pai e o tio de minha nora — continua se explicando.

De explicação em explicação, ele pode acabar caindo, digamos, de maduro, como os que caíram antes. É só a Dilma tomar coragem de sacudir o galho.

Mentiras que as mulheres contam - MARCELO RUBENS PAIVA


O Estado de S.Paulo - 14/01/12


"Amanhã eu paro, prometo."

"Pode deixar, que eu tenho dinheiro pro pedágio."

"Chico? Gato? Ele é meio velho..."

"Claro que adoro sua mãe e irmãs. Elas que implicam comigo."

"Já fiz essa receita várias vezes. Não sei porque hoje deu errado."

"Ai, amor, desculpa. Dá um desconto. Estou de TPM."

"Adicionei, porque é um cliente. Ia pegar mal ignorar."

"Hoje não estou de TPM! Você que nunca me leva a sério."

"Acha que tenho ciúmes dela? Maior cara de fuinha..."

"Ai, adoro esta sua barriguinha!"

"Amei o vestido que você me deu de Natal. Tem tanto bom gosto..."

"Eu não estou bêbada."

"Baby, hoje tenho uma reuniãozinha com as amigas. Até te convidaria. Mas só vão as meninas."

"Amor, não precisa ter ciúmes. Ele é gay."

"Acha que fico espionando o seu Face? Tenho mais o que fazer."

"Você está tão cheirosinho hoje."

"Um minutinho, só!"

"Já estou chegando."

"Tô na esquina."

"Você pode escolher, amor. Eu como o que você quiser."

"A próxima conta eu pago."

"Não precisa, querido. Eu não gosto de diamantes."

"Tá bom, se você não quer casar no papel, tudo bem."

"Eu tô gorda?"

"O próximo filme, você escolhe."

"Esta multa não é minha!"

"Tenho certeza de que foi você quem ficou com o ticket do estacionamento."

"Claro que eu não comi o seu chocolate! Deve ter... evaporado."

"Não tenho ideia de onde veio essa batida no para-lama."

"Óbvio que eu deixo você sair com seus amigos."

"Ah, hoje não, estou com a maior cólica."

"Não sei quem era. Desligou."

"Você é, disparado, o melhor homem que eu tive na cama."

"Estou com esta minissaia pra te agradar, pra você me achar gata."

"Brad Pitt? Não pegava, não gosto de homem bonito."

"Faz você. Eu não sei fazer café."

"Eu adoro tudo o que você cozinha."

"Fica tranquilo. Eu enchi o tanque, coloquei óleo e calibrei os pneus."

"Imagina! Não fui eu quem raspou o seu carro."

"Eu não vejo muito a novela. Só sei de ouvir minhas amigas falando."

"Eu não estou chorando!"

"Eu não estou brava!"

"Eu não estou gritando!"

"Você é que está nervoso!"

"Não vou querer parar pra fazer xixi no meio da estrada."

"Só vou olhar. Não vou comprar nada."

"Deixa eu só experimentar?"

"Eu não ligo pra roupa."

"Amor, eu só comprei porque estava tão baratinho..."

"Mas estou no limite permitido de velocidade."

"Pode abrir. Eu sou resistente à bebida."

"Vou adorar passar o Natal com a sua família."

"Vamos passar o Réveillon onde você quiser."

"Não, eu só estou há dois minutos no telefone."

"Estou de regime. Mas me dá só um pedacinho."

"Não fiz nada. Só apertei aquela tecla."

"Acho barriga tanquinho tão brega. Gosto de homem ao natural."

"É tão fofo quando você chora."

"Imagina, eu nem ligo pra romantismo."

"Ah, não precisa me dar nada de aniversário."

"Vai, me apresenta a sua amiga. Sempre quis conhecê-la."

"Eu só estava dançando com ele, porque ele dança bem."

"Amor, ele não estava me paquerando."

"Ai, segunda-feira começo regime."

"O banco já estava fechado. Não deu pra pagar."

"Pode deixar. Semana que vem eu compro."

"Eu não peguei as suas canetas."

"Tá, a gente não compra pipoca no cinema."

"Não é melhor pegar uma grande?"

"Vai indo, que eu te alcanço."

"Eu amo ser casada com você. A gente nunca briga."

"A gente se dá tão bem. Não temos grandes problemas na relação."

"Deixa aí. Amanhã eu lavo a louça."

"Não posso, hoje é meu rodízio."

"Poxa, eu tô tão feia na foto."

"Podemos guardar no fundo do armário as fotos com a sua ex? Porque não tem espaço nesse álbum."

"É claro que gozei! Você não reparou?"

"Você nunca repara em mim!"

"Eu não demoro. Nem vou lavar o cabelo."

"Acho super legal que você ainda mantém contato com as suas ex."

"Só vou trocar de roupa, um segundinho."

"Nunca farei plástica ou colocarei silicone."

"Eu não sou teimosa!"

"Tô pronta."

"Tenho certeza de que desliguei o farol. Esta bateria é que está com problemas."

"Fica tranquilo, eu tranquei a casa."

"Relaxa, não vai dar excesso de bagagem, só estou levando o básico."

"Nem vamos entrar no duty free."

"Não, estes chocolates são só para os amigos. Nunca aceito encomendas em viagens."

"Aquele radar não estava aqui ontem."

"Nem reparei que era vaga de idoso."

"Juro que as chaves estão nesta bolsa."

"Como você pode ser tão gostoso...?"

"Já estou indo!"

Glamour, beleza e parafusos - LÚCIA GUIMARÃES

O ESTADÃO - 14/01/12

Pesquisa resgata vida da atriz Hedy Lamarr, uma das inventoras da tecnologia precursora, entre outros, de celulares, Wi-Fi e GPS



Imagine assistir ao novo comercial em que Charlize Theron desfila sua sexualidade explosiva numa passarela, enquanto sussurra o nome do perfume que promove. Quando baixa os olhos, você dá de cara com a pequena manchete de jornal: "A estrela de cinema Charlize Theron patenteou uma tecnologia que está sendo aplicada nos drones usados pela Força Aérea americana no Paquistão".

Um curto-circuito de credulidade semelhante se aplica à história verdadeira que o escritor Richard Rhodes acaba de contar em Hedy’s Folly: The Life and the Breakthrough Inventions of Hedy Lamarr, The Most Beautiful Woman in the World (A Loucura de Hedy: A Vida e as Invenções Inovadoras de Hedy Lamarr, A Mulher Mais Bonita do Mundo).

Sim, a estonteante Hedy Lamarr, nascida Hedwig Kiesler, em Viena, em 1915, estrela de Algéria, Fruto Proibido e Sansão e Dalila, foi uma das inventoras da tecnologia de rádio de amplo espectro que seria a precursora, entre outros, dos telefones celulares, do Wi-Fi e do GPS. "Qualquer garota pode ser glamourosa", ela dizia. "Você só precisa ficar imóvel e parecer estúpida."

Depois de seu premiado A Construção da Bomba Atômica (1986), Richard Rhodes continuou a se debruçar sobre a história nuclear, a corrida armamentista e a guerra fria. Tem um talento especial para tratar de assuntos áridos com fluência e tece com suspense a trama que envolve a fuga do marido comerciante de armas e da Viena simpatizante do nazismo.

Para quem espera conciliar a deusa dos pôsteres da MGM com uma figura intelectual, o autor deixa claro que Hedy Lamarr desafiava estereótipos.

Conversando com o Estado da sua casa no Norte da Califórnia, Rhodes nos adverte para não confundir a evidente inteligência de Lamarr com cultura. "Conheço muita gente inteligente que não lê nada", diz. "Ela tinha cultura de colégio interno privilegiado na Suíça."

O parceiro da Hedy Lamarr inventora era ninguém menos do que George Antheil, o pianista e compositor de vanguarda, um filho de emigrantes alemães criado em New Jersey que fora viver em Paris, onde era inquilino da lendária Sylvia Beach, fundadora da Shakespeare & Company, e frequentava luminares como Igor Stravinski, Ernest Hemingway e Ezra Pound.

A obra mais conhecida de Antheil, Ballet Mécanique, foi composta para um filme experimental dirigido por Dudley Murphy e o pintor Fernand Léger, com direção de fotografia de Man Ray, mas o filme acabou tendo uma trilha de jazz, num episódio nunca bem explicado. A estreia da peça em Paris em 1926, narra Rhodes, foi o ponto alto da carreira de Antheil.

Já em Hollywood, antes do começo da Segunda Guerra, Antheil começou por reinventar a si mesmo. Compôs para os estúdios, foi professor da Universidade de Stanford, cronista, jornalista da revista Esquire e seu primeiro esforço como inventor lhe daria experiência técnica para a parceria com a futura estrela de cinema. Em 1924, Antheil concebeu um sistema de anotação musical, uma espécie de piano-roll que corria em posição vertical e batizou o sistema de SEE-Note. Ele chegou a patentear a invenção na França, mas não conseguiu capital para levar o projeto adiante e a patente expirou quando Antheil vivia nos Estados Unidos.

A fuga de Hedy Lamarr da opressão do casamento e da Viena cada vez mais hostil a uma judia teve várias versões rocambolescas, espalhadas pela própria atriz. Fritz Mandl era um milionário negociante de armas e oportunista, que proibira a mulher de continuar a carreira de atriz e havia tentado comprar todas as cópias existentes do filme Ekstase. Filmado em Praga, Ekstase mostrou a primeira expressão de um atriz durante um orgasmo e revelou as formas nuas de Hedy, então com 18 anos.

A mansão de Mandl era frequentada por Benito Mussolini e militares alemães, mas não por Hitler. Joseph Goebbels havia denunciado Mandl num discurso como "o Judeu". Antes de imigrar para a Argentina, onde se aliou a Juan Domingo Perón, Mandl notoriamente armou os dois lados da Guerra Civil Espanhola.

O moto de Hedy, ficar imóvel e parecer estúpida, veio a calhar, nos jantares em que ela absorvia valiosas informações sobre a estratégia nazista e especialmente sobre o letal aparato naval alemão. Ela fez amizade com o engenheiro Hellmuth Walter e prestou atenção quando ele explicou o novo torpedo operado por controle remoto.

A versão mais provável da emancipação da Senhora Mandl, escreve Rhodes, envolve um breve caso de amor com o romancista Erich Maria Remarque, autor de Nada de Novo no Front. E uma apressada viagem para Londres, com a bagagem de casacos de pele e joias. Não foi por acaso que, de Londres, a atriz embarcou no luxuoso transatlântico Normandie, em setembro de 1937. Entre os passageiros estava Louis B. Meyer, da MGM, cujo primeiro encontro com a atriz em Londres não tinha terminado bem. Meyer ofereceu a Hedy Kiesler um salário de US$125 por semana, recusado prontamente pela confiante desempregada e, por ter assistido Ekstase, o produtor ainda advertiu a austríaca: "Bunda de mulher é para o marido, não para o público de cinema".

Quando o Normandie atracou em Nova York a mulher de Meyer já havia rebatizado a atriz de Lamarr e o salário havia subido para US$500 por semana.

Rhodes lembra que, em Viena, a determinação da menina Hedwig era se tornar famosa: "Toda vez que leio biografias de pessoas que fizeram conquistas importantes noto que as preocupações se formam em torno de 10 ou 12 anos de idade", diz. "Hedy era fascinada pelo carisma do pai que era seu mentor e sua audiência. Ele chegou a permitir que ela saísse da escola aos 16 anos para ser atriz."

Avessa a noitadas, abstêmia e com muito tempo livre entre filmagens em Hollywood, Hedy instalou um escritório em casa, equipado com prancheta, iluminação profissional e ferramentas.

Uma festa na casa do figurinista Adrian reuniu Hedy Lamarr e George Antheil em 1940. Ela estava recém-divorciada do segundo marido e Antheil se arvorava a escrever sobre endocrinologia feminina. "Hedy Lamarr quer lhe consultar sobre suas glândulas", disse o anfitrião. O compositor escreveu depois sobre o deslumbre que sentiu na presença da atriz. Mas não contou que as glândulas na preocupação de Lamarr eram seus seios pequenos. "Dá para eles ficarem muito maiores?", ela disparou, prática como sempre. E escreveu seu telefone em batom no para-brisa do novo - e casado - amigo. Richard Rhodes conclui que um caso entre os dois, nas longas noites de trabalho como inventores, nunca aconteceu. No livro, Rhodes reproduz uma carta de Antheil a um amigo que trai sua misoginia: "Hedy é incrivelmente infantil em alguns aspectos: por exemplo, ela nunca aprendeu a escrever, embora fale alemão, francês e inglês quase perfeitamente. Quando ela escreve (já a surpreendi fazendo anotações durante nossas conversas) - escreve foneticamente - em todas as línguas. Ela é esta combinação incrível de ignorância infantil e estupidez - e precisas centelhas de gênio".

Rhodes deixa claro que Lamarr escrevia corretamente em documentos conhecidos.

Durante meses, os dois novos parceiros trabalharam num sistema de guia de torpedos usando mudanças de frequência que permitiriam à Marinha americana evadir esforços de bloqueio inimigo. O código do sistema era perfurado num papel, como no rolo que Antheil inventara para o piano. Em agosto de 1942, a patente número 2.292.387 foi concedida em Washington para George Antheil e Hedwig Kiesler Markey. Mas a invenção do controle de rádio para o torpedo, concebida dois anos antes, havia se perdido na burocracia da capital e na preocupação com a entrada do Japão na guerra. A patente expirou em 1959, a tecnologia foi progressivamente aplicada mas, só em 1997, Hedy Lamarr, aos 82 anos foi homenageada junto com Antheil, já morto, como pioneira pela Electronic Frontier Foundation.

Os dois ainda trabalharam em dois outros projetos militares, além do torpedo. Rhodes conta que documentos sobre um deles apontam para uma tecnologia de bombardeio antiaéreo usando detecção de calor, não dessemelhante da que mais tarde, desenvolvida por cientistas em Washington, salvou a vida de milhares de marinheiros americanos dos ataque de camicaze japoneses.

Hedy Lamarr se afastou do cinema antes do fim da década de 50, mas continuou pensando em inventar maneiras de, como diz Richard Rhodes, "organizar o caos do mundo". Chegou a sugerir uma modificação no design do supersônico Concorde, inventou uma coleira de cachorro florescente e um aparelho para ajudar deficientes físicos a tomar banho. Seu último projeto era atravessar o milênio. Morreu dormindo no dia 19 de janeiro de 2000. Quem haveria de imaginar tal roteiro em Hollywood?

Reação corporativa - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 14/01/12



Nos órgãos encarregados de investigar crimes financeiros, como a Polícia Federal e o Coaf, é crescente a preocupação com eventual reação corporativa dos juízes diante do relatório do Conselho Nacional de Justiça. Este detectou uma movimentação de R$ 856 milhões de operações atípicas envolvendo juízes e servidores do Judiciário. O temor é que, a partir de agora, os juízes de primeira instância passem a ser mais exigentes ao autorizar quebras de sigilos nas investigações.

Fogo no circo
Como o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, anunciou que não vai apoiar os candidatos a prefeito do PT em Niterói e Maricá, setores do partido estão defendendo o rompimento da aliança para reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB). A direção do PT não gostou das declarações do peemedebista, mas tenta colocar panos quentes e acalmar os ânimos. Além de Niterói e Maricá, os petistas querem o apoio do PMDB em Petrópolis, Mesquita, Belford Roxo e Silva Jardim. E também reivindicam que o governador Sérgio Cabral não suba em palanque onde os partidos forem adversários, como fará a presidente Dilma.

"A oposição no Congresso é incapaz de fazer qualquer pergunta diferente do que saiu na imprensa. Sem falsa modéstia, eu era bem melhor” — José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, sobre o depoimento do ministro Fernando Bezerra (Integração)

ESTILO. Desde que assumiu, o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) não faz qualquer viagem internacional de avião na primeira classe. Ele tomou essa decisão para dar exemplo de que é preciso economizar no custeio. Também por essa razão, ele decidiu reduzir à metade a comitiva de diplomatas que o acompanham nas viagens de trabalho. Agora, em vez de oito funcionários, quatro o acompanham nas missões externas.

Virou samba
O debate da redistribuição dos royalties do petróleo, que incendiou o Senado no ano passado e promete criar muita confusão na Câmara neste ano, é o tema do Bola Preta. A camisa do bloco diz: "O Bola é nosso e o petróleo também".

Braços abertos
O governo brasileiro vai continuar recebendo haitianos aqui. A avaliação do Itamaraty é que essa imigração está ocorrendo porque o Brasil ficou só, enquanto a ONU e outros organismos falharam na ajuda para a reconstrução daquele país.

Avaliação para todos os gostos
A direção do PSDB decidiu fazer uma terceira versão do documento de avaliação do primeiro ano do governo Dilma. O vice-presidente tucano Alberto Goldman havia feito um texto, a pedido do presidente do partido, Sérgio Guerra. O documento, no entanto, foi amenizado antes de ser divulgado, desagradando Goldman e uma ala do PSDB. Foi retirada, por exemplo, a afirmação de que a presidente é tolerante com a corrupção. Agora, haverá balanços do governo Dilma para todos os gostos.

O motivo
Os líderes da oposição, eleitos no Nordeste, não foram ouvir o ministro Fernando Bezerra (Integração), para não criticar uma gestão que leva recursos para obras na região, cuja população cultiva cem anos de ressentimento.

Aposta
A ministra Iriny Lopes (Mulheres) deixará o governo para disputar a Prefeitura de Vitória, mas uma corrente do PT, liderada pelo atual prefeito, João Coser, defende o apoio a Paulo Hartung (PMDB), que não definiu se vai disputar.

FOI DECISÃO PESSOAL da presidente Dilma determinar que o SUS retirasse as próteses de silicone que representam risco à saúde das mulheres.

DESCOLADO. Ministro do STF, Carlos Ayres Britto assistiu, na noite de anteontem, ao documentário "A Música segundo Tom Jobim", de Nelson Pereira dos Santos, em sessão lotada, sentado no chão.

DESPEDIDA. Diz o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ): "As relações do ministro Mário Negromonte (Cidades) com a bancada foram harmonizadas e ele tem apoio da presidência do PP".

No Egito, um Islã político sem petróleo - THOMAS L., FRIEDMAN


O ESTADÃO - 14/01/12

Os partidos islâmicos recém-eleitos não terão as mesmas condições de grupos do Irã e da Arábia Saudita para resolver os problemas do povo e impor regras religiosas

Depois que a Irmandade Muçulmana e o ainda mais radical partido islâmico Al- Nur, salafista, causaram espanto a si próprios e aos egípcios com a conquista de mais de 60% dos assentos nas eleições parlamentares egípcias, estamos perto de ver um teste de laboratório único para o Oriente Médio: o que ocorre quando o Islã político precisa fazer frente à modernidade e à globalização sem petróleo?
Movimentos islâmicos dominam desde há muito o Irã e a Arábia Saudita. Contudo, tanto os aiatolás no Irã quanto os salafistas wahabitas na Arábia Saudita conseguiram assegurar sua ideologia e também os frutos da modernidade, pois possuíam uma enorme riqueza de petróleo para safar-se de quaisquer contradições. A Arábia Saudita pôde subutilizar suas mulheres e impor costumes religiosos rígidos à sua sociedade, seus bancos e escolas. Os clérigos do Irã puderam fazer pouco do mundo, perseguir a nuclearização e impor pesadas restrições políticas e religiosas no país. E ambos ainda puderam oferecer a seus povos padrões de vida melhores, pois tinham petróleo.
Ajuda. Os partidos islâmicos do Egito não terão esse luxo. Eles terão de se abrir para o mundo, e parecem estar percebendo isso. O Egito é um importador líquido de petróleo. Ele também importa 40% de seus alimentos. E o turismo contribui com um décimo de seu Produto Interno Bruto. Com o desemprego desenfreado e a libra egípcia desvalorizando-se, o Egito provavelmente precisará de ajuda do Fundo Monetário Internacional, uma forte injeção de investimento estrangeiro e um grande uso de educação moderna para proporcionar empregos a todos aqueles jovens que organizaram a rebelião do ano passado. O Egito precisa ser integrado ao mundo.
A Irmandade Muçulmana, cujo partido se chama Liberdade e Justiça, tem sua grande fonte de apoio nas classes médias e nas pequenas empresas. O Partido Al-Nur, salafista, é dominado por xeques religiosos e se apoia nas camadas pobres rurais e urbanas.
Essan el-Erian, o vice-presidente do partido da Irmandade Muçulmana, me disse: "Esperamos poder motivar os salafistas - e não que eles nos motivem - e que ambos sejamos motivados pelas necessidades do povo."
Diferença. Ele deixou claro que, embora o Liberdade e Justiça e o Al-Nur sejam partidos islâmicos, eles são muito diferentes, e podem não dar as mãos no poder: "Como grupo político, eles são recém-chegados, e eu espero que todos possam descobrir a diferença entre o Al-Nur e a Liberdade e Justiça."
Sobre o tratado de paz com Israel, Erian disse: "Esse é um compromisso do Estado - não de algum grupo ou partido - e nós já dissemos que estamos respeitando os compromissos do Estado egípcio do passado." Basicamente, acrescentou, as relações com Israel serão determinadas pela maneira como o país tratar os palestinos. Mas, falando de modo geral, ele disse: "os problemas econômicos do Egito estão nos empurrando para cuidar de nossos próprios assuntos".
Muhammad Khairat el-Shater, o vice-presidente da Irmandade Muçulmana e seu guru econômico, deixou claro para mim que sua organização pretende se abrir para o mundo. "Já não é uma questão de escolha ser a favor ou contra a globalização", ele disse. "Ela é uma realidade. De nossa perspectiva, defendemos um engajamento o mais amplo possível na globalização por meio de situações em que todos saem ganhando."
Nader Bakkar, um porta-voz do Al-Nur, insistiu que seu partido agirá com cautela. "Nós somos os guardiães da sharia", ele me disse, referindo-se à lei islâmica. "E queremos que o povo esteja conosco sobre os mesmos princípios, mas deixamos a porta aberta para todos os intelectuais em todos os campos."
Ele disse que o modelo econômico de seu partido é o Brasil. "Não gostamos do modelo teocrático", acrescentou. "Posso lhe prometer que não seremos outra ditadura, e o povo egípcio não nos dará uma chance de ser outra ditadura." Em novembro, Hazem Salah Abu Ismail, um clérigo salafista independente e candidato presidencial, foi questionado por um entrevistador sobre como ele reagiria, se presidente, a uma mulher usando biquíni na praia? "Ela seria presa" , ele disse.
O Partido Al-Nur rapidamente declarou que ele não estava falando pelo partido. A agência France Presse citou outro porta-voz do Al-Nur, Muhammad Nour, também procurando afastar temores levantados na mídia noticiosa de que os salafistas poderiam proibir bebidas alcoólicas, artigo de grande consumo em hotéis de turistas no Egito. "Talvez 20 mil dos 80 milhões de egípcios consumam bebidas alcoólicas", ele disse. "Quarenta milhões não têm água tratada. Você acha que, no Parlamento, eu me ocuparei das pessoas que não têm água ou das pessoas que se embebedam?"
O que tirar de tudo isso? Os islâmicos egípcios terão algumas grandes decisões a tomar. Tem sido fácil manter um alto grau de pureza ideológica todos esses anos em que eles estiveram fora do poder. Mas sua súbita ascensão ao topo da política egípcia coincide com uma queda livre da economia do Egito.
Responsabilidade. E assim que o Parlamento for aberto, em 23 de janeiro, os islâmicos do Egito terão a maior responsabilidade pelo ajuste dessa economia - sem o petróleo. Um drama semelhante está ocorrendo na Tunísia.
Eles não querem estragar essa chance de liderar, mas querem ser leais a suas raízes islâmicas, contudo sabem que seus apoiadores os elegeram para oferecer um governo limpo, educação e empregos, e não mesquitas. Será fascinante observar como eles lidam com esses dilemas. Seu desempenho terá um enorme impacto no futuro do Islã político nessa região. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Xuxo - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 14/01/12



Sem alarde, Dilma começou, na prática, a sua reforma administrativa e ministerial.
Ninguém sabia, por exemplo, que Moreira Franco virou ministro da Primeira Infância.
Moreira deixou de fazer mal aos outros e só fala da importância do aleitamento materno.
E com empolgação!
Seus interlocutores agora são Michelzinho Temer e Gabriel Rousseff.

Grave problema

É muito mais complexa do que se imagina a questão dos silicones usados nas cirurgias estéticas de seios.
Teoricamente, foram cerca de 20 mil cirurgias realizadas com material inadequado.
Mas há um mercado paralelo e clandestino de cirurgias feitas no Paraguai e na Bolívia, onde pacientes pagam pelas próteses, às vezes, com serviços de “mulas” do narcotráfico. No caso dos travestis, é um grave problema de saúde pública.

Tempo
Não passa de janeiro o prazo dado pelo PSD de Kassab para uma aliança com os tucanos na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Vencido o prazo, o partido ainda insistirá numa candidatura própria.
— Inviabilizada essa tese também, nada nos impedirá de iniciarmos conversas com o PT para apoiar a candidatura de Haddad — admitiu ontem, pela primeira vez, o prefeito de São Paulo à coluna.

Script
Kassab acha que eu não sei que o presidente municipal do PSD, Alfredo Cotait, já está organizando a reunião que dirá “não” aos tucanos e, consequentemente, “sim” ao PT.
Sei até a data, mas, se eu der, todos vão saber que conversei com Cotait.

Sem graça
Por que não falo de eleição no Rio? Por enquanto, parece que não haverá disputa.

Divagações sobre as mães dos famosos
Falou que é bom filho, a pessoa me ganha na hora.
Tanto que já estou em campanha para o governador Eduardo Campos suceder a Dilma, depois do esforço imenso que ele fez para botar a mãe no Tribunal de Contas da União.
Ser bom filho, aliás, é uma virtude dos Arraes. Miguel, o patriarca, acusado de ser velho demais para ser candidato a governador em 82, só aceitou sê-lo depois de consultar a mãe.
Na quinta-feira, agora, fui ver “Sassaricando”, sucesso de todo o verão, e encontrei Sérgio Cabral, o autor, jururu por causa da ausência da mãe, Dona Regina, uma simpática mocinha de 91 anos. Achei linda a tristeza do filho saudoso da mãe.
Citei tudo isso acima para falar de Dona Sarah Coelho, mãe de dois filhos que se deram muito bem no mercado financeiro, mas que acabaram exercendo duas profissões distintas, no duplo sentido do termo.
Quando os filhos estavam no auge de suas atividades, Dona Sarah já entrava num táxi orgulhosa:
— O senhor sabia que sou mãe do maior juiz de futebol e de um dos melhores deputados federais deste país?
O filho Arnaldo Cezar ponderava:
— Mãe, para não apanhar duas vezes, cite um de cada vez: Ronaldo ou eu!

Bom exemplo
Cena bonita no país do “você sabe com quem está falando?” foi a do ministro Paulo Bernardo sentado humildemente numa escolinha de direção para reabilitar sua carteira de motorista.

Batendo o martelo
Na segunda-feira, depois da reunião das enchentes, Dilma puxou Mercadante para um canto e teve um demorado tête-à-tête com ele.
Ontem, recebeu-o formalmente em audiência.
Se Gilbertinho não estivesse de férias, talvez eu soubesse o que aconteceu.

‘Niver’
Dilma estará no Rio no dia 27 agora para inaugurar obra.
E comer aquele bolo gostoso que Magaly manda fazer em todos os aniversários do filho Serginho.
Lula nunca deixou de vir quando era presidente da República.

Aí tem!
O governo federal, através de seus ministros, está exageradamente presente agora na seca do Rio Grande do Sul. Amanhã, por exemplo, estarão lá os ministros da Agricultura, da Integração e da Reforma Agrária.
Tarso Genro, amigo, na minha terra, tem um ditado muito popular: “Quando a esmola é demais, até o santo desconfia.”

Meninas atentas
A ministra Gleisi, perplexa com a indiferença do governador Beto Richa, vai receber os prefeitos do Paraná que estão sofrendo com a seca. Mesmo de férias na Rússia, minha amiga Ideli também não se descuidou. De lá, tem atendido prefeitos de SC.

Imperdível
Só um mané mesmo para perder “Brado retumbante”, a microssérie de Euclydes Marinho, com Maria Fernanda Cândido.

Ano do cooperativismo - ROBERTO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 14/01/12

A cooperativa oferece ao seu cooperado serviços que lhe permitam evoluir economicamente
O cooperativismo brasileiro vem crescendo bastante, impulsionado pelo firme timão da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), órgão de cúpula do movimento.
Muita gente acha que esse poderoso instrumento de organização econômica da sociedade seja exclusivamente agrícola, o que é um engano. Os números são notáveis e mostram como o movimento se expandiu na área urbana.
Há dez anos, o Brasil tinha 5.903 cooperativas, das quais 1.411 eram rurais, com 831.654 associados. Cerca de 2.067 eram urbanas, com 2.493.197 associados. No último levantamento da OCB, de dezembro de 2010, as cooperativas urbanas já eram 2.953, com 3.816.026 associados, e as agrícolas eram 1.548, com 943.054 associados.
As cooperativas urbanas atuam nas áreas de consumo, educação, habitação, infraestrutura, produção, saúde, transporte, turismo e especial (para pessoas com deficiência).
E, além das rurais e urbanas, existem as cooperativas de crédito, em número de 1.064, com mais de 4 milhões de associados, a grande maioria urbanos, embora a área rural ainda tenha maior poder econômico. Também as cooperativas de trabalho, 1.024 no total, são majoritariamente urbanas, com seus 217 mil associados, mas algumas funcionam no campo também.
O número das que são apenas agropecuárias cresceu 35% nestes dez anos, e as exclusivamente urbanas, 42%. Mas o número de associados destas aumentou 53%, enquanto o das agropecuárias, só 13%.
É claro que a urbanização crescente do Brasil tem muito a ver com isso, mas não é o único fator responsável.
Uma cooperativa precisa de três condições básicas para se desenvolver de maneira positiva: em primeiro lugar, precisa ser necessária.
Não adianta querer criar uma cooperativa de qualquer tipo se ela não for sentida, pelos futuros cooperados, como uma necessidade, capaz de responder às pressões econômicas a que estão submetidos.
Cooperativismo é um movimento de base, tem que crescer de baixo para cima, não pode ser imposto.
Em segundo lugar, precisa ser viável economicamente: cooperativa é uma empresa, com a diferença de que o lucro não é o fim em si; ela é o instrumento da doutrina cooperativista que objetiva "corrigir o social através do econômico".
Portanto, a cooperativa oferece ao seu cooperado -de qualquer ramo- serviços que lhe permitam evoluir economicamente e, por conseguinte, acessar novos níveis sociais.
Mas, mesmo assim, é uma empresa -com seu viés social, é claro-, tem que ser eficiente e lucrativa.
Por isso tudo, criar uma cooperativa sem nenhum capital é vê-la nascer morta.
E, por fim, é preciso que haja espírito associativo, com liderança capaz de conduzir o processo.
Ora, a rápida urbanização do país trouxe para as cidades demandas estruturais, tendo em vista melhorar a renda dos cidadãos. Estes se organizaram então em cooperativas de trabalho, de consumo, de saúde, de educação, de habitação, de crédito etc., e o movimento ganhou uma dimensão tão espetacular quanto a que aconteceu em outros países do mundo pelas mesmas razões.
Tudo isso foi potencializado pelo vigoroso processo de globalização da economia que produziu exclusão social e concentração da riqueza, dois inimigos mortais da democracia e da paz.
Os excluídos se agruparam em cooperativas e com isso também mitigaram a concentração, transformando-se em bastiões aliados dos governos democráticos pela sustentação da paz.
Aqui e no mundo todo.
É bom lembrar que existem cooperativas em todos os países, e o número total de seus associados é próximo a 1 bilhão de pessoas. Se cada qual tiver três agregados, são 4 bilhões de terráqueos ligados direta ou indiretamente ao cooperativismo, constituindo o mais gigantesco contingente humano em defesa da democracia e da paz universal.
Não é por outra razão que a ONU declarou 2012 como o Ano Internacional do Cooperativismo. E pela mesma razão esse extraordinário movimento bem que merece o Prêmio Nobel da Paz.