sábado, janeiro 07, 2012

Petrobras de Lula - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 07/01/12


A Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras e que também reúne investidores privados para construção dos navios do pré-sal, está investindo US$70 mil na divulgação nos EUA do filme “Lula, filho do Brasil”, de Bruno Barreto.

Como se sabe...
Dia 12 agora, atores e equipe técnica se reúnem no lançamento oficial do longa, em Nova York.

Depois, o filme fará o circuito Boston, Chicago, Los Angeles, Filadélfia, São Francisco, Seattle e Washington.

Câmara pornô
Um saliente que foi com uma fulana ao Panda Motel, em Botafogo, no Rio, é testemunha.

No templo do nheco-nheco, o canal 10 da Net, reservado à TV Câmara, em vez das atividades dos deputados, só exibe... filmes pornô.

Aliás...
Pensando bem, a mudança de programação do canal faz sentido, porque... deixa pra lá.

Evandro eterno
A OAB-RJ vai promover dia 18, uma quarta-feira, um ato para lembrar o centenário de nascimento do saudoso jurista Evandro Lins e Silva, cassado pela ditadura em 1969.

Evandro nasceu em Parnaíba, no Piauí, mas construiu toda a sua vida profissional no Rio, onde morreu, em 2002. A saudação será feita pelo ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence, pai de um filho a quem deu o nome de Evandro em homenagem ao amigo.

Duro na queda
Oscar Niemeyer, 104 anos, é um guerreiro.

Avisou ao pessoal que trabalha em seu escritório de arquitetura, em Copacabana, que, segunda, dia 9, retorna ao trabalho, depois do recesso de fim de ano.

Berg Silva
O PENOSO NA foto — aliás, penosa — é Nina, simpática gansa que fez do Complexo Lagoon, na Lagoa, a sua morada. 

Funcionários contam que a formosa ave se desgarrou do grupo de gansos que zanza pela sede de remo do Flamengo, ali perto. O burburinho do Lagoon a atraiu. É que, ao contrário de seus parentes, que costumam correr atrás das pessoas, Nina gosta de gente por perto. Dócil, vive de chamego com o público, em troca de pedaços de pão. Deus a proteja e a nós não desampare

Revolta dos Alfaiates
Dori Caymmi, o músico, compõe canções para “Foru quatro Tiradentes na Conjuração Baiana” (escreve-se assim mesmo), peça inédita de Mário Lago (1911-2002) sobre a Revolta dos Alfaiates, na Bahia, em 1798.

A família Lago negocia com o governo baiano a montagem no Pelourinho, em novembro.

Aliás...
Dori diz que Dorival, seu pai, lamentava ter demorado a pôr melodia numa letra de Mário.

O ator não esperou o baiano e deu a letra ao mineiro Ataulfo Alves. Nasceu assim o clássico “Ai, que saudade da Amélia”.
Força Estadual
Sérgio Cabral vai criar a Força Estadual de Saúde. A decisão sai segunda no DO.

Será utilizada em urgências epidemiológicas, desastres e situações de desassistência da população.

Denúncia
A prefeitura de Itaboraí denunciou a Comperj ao MP.

É que o complexo petroquímico teria aterrado rios, segundo o secretário de Saúde, Cezar Alonso. Com as chuvas, a cidade teme uma catástrofe.

Quem quer pão?
A Vigilância Sanitária fechou a Gávea Shop Confeitaria, padaria que funcionava há pelos menos 30 anos no bairro carioca e que já havia sido multada na Operação Supermercado Limpo.

Lado B da Copa
Entre os 184 destinos que o Ministério do Turismo vai indicar aos visitantes na Copa de 2014, dez são do Rio: Niterói, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Guapimirim, Angra dos Reis, Ilha Grande, Búzios, Arraial do Cabo e Paraty.
Todos terão prioridade para receber recursos do governo.

Asfalto demais
O programa Asfalto Liso, da prefeitura do Rio, passou por Oswaldo Cruz e... cobriu os bueiros, acredite. Na semana do Natal, Eduardo Paes visitou a praça do bairro, e Eliana Lara, filha da querida Dona Ivone, reclamou com o prefeito.
No dia seguinte, funcionários foram consertar, mas descobriram que alguns bueiros estavam... entupidos com concreto.

A desintegração nacional - RUTH DE AQUINO - REVISTA ÉPOCA


REVISTA ÉPOCA

Não basta desmamar Bezerra. É atroz a prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu padrinho


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Sou contra personalizar, em apenas um ministro, a tragédia anunciada das enchentes. Claro que a presidente Dilma pode aproveitar as águas de janeiro para afogar o titular da (Des)integração Nacional, Fernando Bezerra, pernambucano com muito orgulho e pouco tino para distribuição de orçamentos.
Dos rios turvos que inundam as cidades e desabrigam inocentes, uma conclusão clara podemos tirar. Está uma zona a divisão de verba da União. Não só nos ministérios da Integração ou das Cidades. Em qualquer pasta ministerial. É só investigar um pouco mais ou acontecer algum acidente que o dique se rompe e o ministro submerge.
Não invejo Dilma por ter herdado um sistema viciado e loteado, mas admiro algumas de suas ações. Em vez de fazer discursos populistas nas áreas alagadas, ela interrompeu as férias e convocou Gleisi, a xerife da Casa Civil, para ir atrás do ralo da grana. Pode chamar de intervenção branca ou loura, ou simplesmente uma ação cosmética. Mas a entrada de Gleisi balançou a confiança de Bezerra. Ele se rebelou com a aparente perda de autonomia: “Não me chame para cumprir meia tarefa”.
O ministro repete o ritual dos pré-destituídos. Derrama o choro do Bezerra desmamado: “As relações (com Dilma) estão boas como sempre estiveram”. Dá desculpas inaceitáveis: “Não se pode discriminar Pernambuco por ser o Estado do ministro”. Isso, para justificar ter dado 90% da verba federal das enchentes para sua terra natal, a mesma do governador amigo Eduardo Campos, de seu partido, o PSB. Eduardo Campos enxerga um complô de injustiças contra o ministro: “Passou a impressão que todo o recurso da Defesa Civil foi para Pernambuco. Não é verdade. Foram R$ 25 milhões de R$ 31 milhões, negociados com a presidente”. Ah, bom. Está explicado.
Rio de Janeiro e Minas Gerais não reclamaram. Dá para entender. Esses dois Estados não podem mesmo reclamar. Porque foram incompetentes e não deram o devido valor à reconstrução das áreas destruídas. Se algum crédito deve ser dado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é perseguir a presidente para aprovar a construção de barragens num Estado onde enchentes anteriores haviam atingido 80 mil pessoas, deixando 25 mil desabrigados e destruindo 300 escolas.
Não basta desmamar Bezerra. É atroz a prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu padrinho 
É incompetência que, no ano passado, R$ 500 milhões da União não tenham sido gastos para prevenir enchentes, desabamentos e deslizamentos. Vou repetir para você anotar e não esquecer: dos R$ 2,75 bilhões do Orçamento de 2011 para prevenir desastres naturais, mais de R$ 500 milhões não foram sequer tocados ou reservados pelos ministros da Integração e das Cidades. Cada ministério culpa o outro no jogo de empurra já conhecido. Tem dinheiro, mas falta competência. Falta sensibilidade. Falta compromisso. Falta o que mais? Para que serve um ministro?
Em Teresópolis e Friburgo, na serra do Rio, o que aconteceu foi mais grave. Foi crime mesmo. E não vejo nenhuma indignação do governo estadual de Sérgio Cabral com os desvios, as propinas, os roubos de autoridades municipais. O prefeito de Teresópolis foi cassado, mas não devolveu nada. Famílias desabrigadas foram abandonadas, mantidas em situação precária, de desespero ou risco de vida. E agora de novo, o corre-corre, o pedido de socorro e a promessa de milhões. Que vão parar em bolsos de quem até janeiro de 2013?
Não basta desmamar Bezerra. O buraco é bem mais profundo. É um buraco do sistema. Além de provinciana e brega, é atroz essa prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu partido, seu padrinho.
Em 2010, o ministro da Integração Nacional era baiano, Geddel Vieira Lima – e a Bahia foi o Estado mais beneficiado pela verba federal. No Turismo, o ex-ministro Pedro Novais, conterrâneo e apadrinhado do presidente vitalício do Senado, José Sarney, assinou convênios milionários e fraudulentos para treinar agentes de turismo no Amapá. O Amapá foi o Estado que, em 2006, elegeu Sarney senador e que tem a pororoca como sua maior atração. Quem está agora no olho da pororoca é Gleisi. O povo quer explicações e providências. Não apenas o sacrifício do Bezerra.
Li na semana passada uma entrevista na revista New Scientist com o brilhante físico que decifrou os buracos negros, o britânico Stephen Hawking. Ele tem uma doença neurodegenerativa, fez 70 anos e revelou não ter conseguido até hoje entender o sexo oposto, as mulheres: “Elas são um mistério completo”.
Como lido com questões nada metafísicas, para mim o maior mistério, o maior buraco negro, é nosso político profissional. O que afinal ele busca nessa sua passagem pela Terra Brasilis?

A ex-governadora Ana Júlia e o sumiço de R$ 77 milhões - REVISTA ÉPOCA


Ôôô, Ana Júlia!!!

Indicada para diretora de uma subsidiária do Banco do Brasil, com salário de R$ 30 mil, a ex-governadora do Pará está enrolada com o sumiço de R$ 77 milhões

MARCELO ROCHA
CONTABILIDADE CONFUSA Ana Júlia, o sistema viário de em Belém financiado pelos bancos oficiais e uma das notas fiscais apresentadas duas vezes para justificar empréstimos diferentes. Segundo ela, foi apenas “um erro de informação numa planilha”   (Foto: Antonio Cruz/Abr)
Entre 2007 e 2010, a petista Ana Júlia Carepa foi governadora do Pará, interrompendo 12 anos de administrações tucanas no Estado. Ana Júlia conquistou o cargo com denúncias contra velhos vícios da política, como o nepotismo, mas não tardou a aderir às mesmas práticas. Empregou os irmãos na máquina pública, entregou ao namorado, presidente do Aeroclube do Pará, um contrato de R$ 3,7 milhões para treinamento de pilotos de helicópteros e, por fim, contratou a cabeleireira e a esteticista como assessoras especiais de seu gabinete. Depois de uma gestão marcada por denúncias de falta de verbas na Saúde e na Educação e por crises na Segurança Pública, Ana Júlia não conseguiu se reeleger. Mesmo com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maré econômica favorável, perdeu nas urnas para seu antecessor no cargo, Simão Jatene, do PSDB.
A nomeação de Ana Júlia para a diretoria financeira da Brasilcap ainda depende de homologação da Susep 
Ao longo de 2011, Ana Júlia ficou à espera de um cargo no governo federal. No fim do ano, a fila finalmente andou para a ex-governadora. Funcionária licenciada do Banco do Brasil, ela foi indicada para diretora financeira da Brasilcap, uma subsidiária do banco que opera títulos de capitalização, onde ganhará um salário mensal de R$ 30 mil. A nomeação ainda depende de aval da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a autarquia que fiscaliza as seguradoras e as empresas de capitalização. Cabe ao órgão avaliar o preparo técnico e a idoneidade de quem vai comandar essas empresas. Se a Susep fizer direito seu trabalho, encontrará problemas na atuação de Ana Júlia que extrapolam o nepotismo e o favorecimento a parentes na administração pública.
Belém (Foto: Oswaldo Forte/O liberal)
A Auditoria-Geral do Estado (AGE), órgão vinculado ao governo do Pará, apontou irregularidades em empréstimos contraídos pela gestão de Ana Júlia – R$ 366 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 100 milhões com o Banco do Brasil. Os contratos foram assinados por Ana Júlia em 1o e 2 de julho de 2010, quando a campanha eleitoral oficial estava começando e a então governadora procurava se reforçar para a disputa da reeleição. O dinheiro foi obtido para obras de pavimentação de ruas e avenidas na região metropolitana de Belém, saneamento, construção de escolas e hospitais em vários municípios do Pará. Uma parcela também deveria ser destinada a obras patrocinadas pelos deputados estaduais do Pará por meio de emendas ao orçamento do Estado.
Ao verificar a prestação de contas da aplicação dos empréstimos, os auditores não conseguiram, porém, desvendar o paradeiro de R$ 77 milhões. De acordo com os técnicos da AGE, o dinheiro relativo ao financiamento do BNDES (R$ 366 milhões) foi movimentado sem transparência. Há, segundo os técnicos do Estado, despesas em desacordo com o contrato de empréstimo e indícios de desvio de finalidade das verbas. Quando as duas prestações de contas, do BNDES e do BB, foram confrontadas, os técnicos constataram um problema mais grave. Um conjunto de 16 notas fiscais, emitidas por três empresas contratadas para as obras, apareceu nos dois processos. Para justificar despesas diferentes, o governo apresentou as notas fiscais duas vezes. Juntas, elas somam os R$ 77 milhões, cujo destino os auditores da AGE tentam rastrear. Um dado relevante, segundo a AGE: as duas prestações de contas foram feitas por órgãos diferentes. Uma foi apresentada pela Secretaria de Projetos Estratégicos, no caso do financiamento do BB, e a outra pela Secretaria da Fazenda, no caso do BNDES.
Nota fiscal (Foto: reprodução)
Sem comparar as duas prestações de contas, BNDES e BB não identificaram problemas nas operações financeiras nem a repetição de notas fiscais. Com base nos papéis fornecidos pelo governo do Pará, o BNDES concluiu que a aplicação do empréstimo não obedeceu ao que estava na lei que autorizou o financiamento. O BB não teve acesso à documentação da AGE do Pará e disse que “as operações contratadas pelo governo do Estado do Pará estão em situação de total regularidade”. Ana Júlia atribuiu o uso repetido das 16 notas fiscais a um “erro de informação em uma planilha” e disse que os recursos foram transferidos para municípios paraenses. Ela afirmou ainda que suas contas foram aprovadas pela Assembleia Legislativa do Pará e pelo Tribunal de Contas estadual. A direção do PT do Pará acusou o governador Simão Jatene de usar a máquina estadual para produzir “factoides” com o objetivo de causar danos à imagem de Ana Júlia. Apesar das alegações do PT de motivação política, autoridades federais também apuram o caso. A Procuradoria da República no Pará abriu uma investigação em setembro e pediu à Polícia Federal a instauração de um inquérito.

Bem-vindo ao ano 2600 - ÁLVARO PEREIRA JUNIOR


FOLHA DE SP - 07/01/12

Os festeiros de Colombo parecem em transe, dançam como se não houvesse gravidade

Desculpe você, que vive no passado -mas já estou no ano 2600.
Porque faz 2.600 anos, segundo a crença, que Siddartha Gautama, o Buda, teve sua "iluminação".
E porque era essa data, 2600, que dominava todos os cartazes e faixas e propagandas e anúncios no rádio e na TV em Colombo, capital do Sri Lanka, onde passei o Ano-Novo. E que Ano-Novo!

Avenidas lotadas, congestionamento caótico, gente, areia, poeira, maresia do oceano Índico, alta concentração de euforia e monóxido de carbono. Tuc-tucs (os triciclos motorizados, onipresentes aqui) descrevem trajetórias impossíveis, compartilham micro espaços, comportam-se ao mesmo tempo como onda e partícula (só a mecânica quântica pode explicar tamanho amontoado de carrinhos num espaço onde mal caberia um).

Nos hotéis deste país tão distante e pequeno (só um pouco maior que a Paraíba), misturam-se turistas russos, franceses, ingleses, italianos, canadenses e alemães, alemães, alemães (por alguma razão, mesmo no auge da guerrilha separatista, mesmo com o país semidestruído pelo tsunami de 2004, eles nunca pararam de vir).

Nos salões da Galle Road, a avenida costeira de Colombo, meninas cristãs desfilam de microssaia e saltos altíssimos. As budistas, menos exibidas, usam saris coloridos.

As diversas gradações do islamismo alternam-se entre o hijab comum, o xador estilo iraniano e a abaia (que, a um leigo como eu, parece só um pouco menos restritiva que a burca afegã).

Mas nas ruas, logo depois da meia-noite, com 2012 (ou seria 2600?) apenas começando, a história é outra. Não se veem meninas, nem gringos. Ao lado do Galle Face Hotel, pérola colonial de 1864, acontece um gigantesco festival de Ano-Novo, com os mais populares artistas cingaleses.

Por todos os lados, provocando chuva de poeira com o vetor invertido (sai do chão e sobe para o ar), grupos celebram o Ano-Novo em cenas que lembram as festas de rua afegãs tão comuns na TV. No caso cingalês, felizmente, sem os tiros de AK-47 para o alto.

Chegamos ao festival antes de meia-noite e meia, coração na mão depois de 15 minutos num tuc-tuc alucinado. Leva um tempo até entender a composição do público: 99,9% homens. E só alguns segundos a mais para perceber o estado em que se encontram: excitação descontrolada.

Em cima do palco, nenhum traço de melodia ou harmonia, como as conhecemos no Ocidente. As canções mais parecem mantras, o que talvez explique os estados de consciência alterada que induzem na plateia.
Os festeiros de Colombo parecem em transe, dançam como se não houvesse gravidade. Miram os passantes com aquele olhar fixo tão característico dos indianos e cingaleses, e, em sua coreografia, mexem o pulso como se ele estivesse desconectado do antebraço.

Não há venda de álcool. Ninguém passa com um isopor clandestino. O que domina o ambiente são as barraquinhas de uma rede de fast-food halal (preparada segundo os preceitos muçulmanos).
Mesmo assim, sem drogas nem bebida, sentimos que a chapa era quente. Eu não estava a trabalho e jamais cobri um conflito armado -mas, no meio da bagunça, lembrei do mandamento número um dos correspondentes de guerra: nunca se julgue indestrutível, nunca ache que já passou por tudo e que nada vai lhe acontecer.

Ou seja: hora de cair fora e deixar a festa só para a rapaziada local. E, também, de acordar, no primeiro dia de 2012 (ou de 2600?), nessa ilha linda, acolhedora e intrigante chamada Sri Lanka.

Que acabou da sair de uma guerra interna separatista de mais de 25 anos, mas que, pós-Ano-Novo, transmite ao turista iniciante uma forte sensação de placidez.

Que, literalmente, dizimou a guerrilha dos Tigres Tâmeis, que reivindicavam a criação de um Estado próprio. Mas que, nas ruas, apresenta a mais perfeita harmonia religiosa, templos budistas ao lado de mesquitas, igrejas cristãs pontuando de branco as ruas arborizadas.

Confesso: só fui entender a história do 2600 pesquisando na web, antes de escrever esta coluna. Aprendi que o ano budista de 2600 começou em maio de 2011. Assim, não entendi totalmente por que o Sri Lanka festejou tanto um ano já iniciado.

Mas ainda vou passar mais uns dias aqui. Falta muito a apreender.

Feliz 2600 -ou o que resta dele- para todos nós.

Orfandade da classe média - KATIA ABREU


O GLOBO - 07/01/12


Aascensão, na última década, de expressiva parcela da população brasileira à classe média - cerca de 30 milhões, segundo o IBGE - foi alvo de justificada euforia, confirmando a solidez dos fundamentos econômicos e da austeridade fiscal estabelecidos com o Plano Real, felizmente mantidos pelos governos posteriores. Somou-se à estratégia dos programas sociais, iniciados também com o Real e ampliados nos governos seguintes.

Restava sondar esse novo universo - a classe C -, que constitui metade da população brasileira. Com esse objetivo, a CNA contratou pesquisa minuciosa, coordenada pelo cientista social Antonio Lavareda.

O que se constata é que esse universo não fala a língua dos partidos políticos. Ou os partidos políticos não o expressam e possivelmente o desconhecem.

Mais: esse imenso segmento da população não compartilha da agenda comportamental em curso na mídia, nas academias e no Parlamento - o chamado "politicamente correto". Ou seja, há um Brasil real dissociado do Brasil institucional.

Esse Brasil classe C que, segundo a FGV, ganha entre R$1.200 e R$5.200, corresponde a cerca de 100 milhões de pessoas. É um país conservador, que professa a moral cristã e é adepto do livre mercado. Isso mesmo: é capitalista.

Anseia por mais empregos, redução de impostos e manutenção da estabilidade econômica; e quer que o Estado lhe garanta saúde, segurança e educação, o que remete a uma agenda social liberal - e não socialista.

Isso fica claro na opção maciça (74%) pelo aumento das oportunidades de emprego, em vez de ampliação dos programas sociais, como o Bolsa Família; e na rejeição às invasões de propriedades, que, para grande maioria (70%), devem ser respeitadas "independentemente da necessidade de se fazer a reforma agrária".

A pesquisa constatou ainda que há três classes C: a tradicional (41%), com maior renda, escolaridade e bens; e as emergentes, classificadas de C+ (39%) e C- (20%), conforme o patamar de sua ascensão.

O que as une são o otimismo e a confiança no país, não obstante o abismo entre seus valores e os das classes dominantes. Mas com diferentes graus de percepção da realidade. A classe C tradicional é menos receosa quanto ao futuro. As outras duas, sobretudo a C-, ainda temem os efeitos da perda gradativa do assistencialismo estatal.

Talvez por isso apoiem em graus diferenciados o atual governo: a C tradicional (52%) e a C+ (65%) mostram ampla satisfação, enquanto na C- apenas 38% sentem o mesmo.

O essencial é constatar que, embora seja metade da população, a classe C consome apenas um terço da produção agropecuária, mostrando um potencial de consumo subaproveitado, que recomenda políticas direcionadas ao seu fortalecimento.

Aos políticos e partidos liberais e conservadores, que temem a retórica dos autodenominados progressistas, a pesquisa dá um recado: é preciso tirar a população brasileira da orfandade política, ela também vítima de um patrulhamento ideológico que distancia seus representantes de seus anseios morais e existenciais.

Fugacidade - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 07/01/12


Em algumas veredas do Ibirapuera, vindas das profundezas, as raízes das árvores emergem rompendo o asfalto. Tempos atrás, a administração do parque ressaltou aquelas fraturas com uma tinta branca, talvez para que os pedestres não tropeçassem nelas quando transitassem por ali. Reforçado com a moldura branca, o percurso sinuoso e hesitante das raízes transformou-se num grafismo estampado no asfalto. Mais ainda, tal desenho adoçou a essência áspera e inanimada do asfalto, dando-lhe um pouco de vida, assemelhando-o à pele de um imenso ser vivo, marcada por ferimentos e cicatrizes, pela qual correm veias e artérias.

Há cerca de dois meses, em minhas andanças pelo parque, ao me aproximar da ponte pela vereda que margeia o lago, deparei-me com algo que me chamou a atenção. Alguém pintara no chão largas tiras sinuosas coloridas, acompanhando as rachaduras feitas no asfalto pelas raízes e suas molduras brancas ou com elas fazendo um contraponto. Sobre cada tira estava cuidadosamente escrita uma frase. A beleza visual da disposição colorida das faixas pintadas no chão e o surpreendente teor poético das frases tiveram o poder de deter minha caminhada, fazendo-me ler o que estava escrito.

Fiquei admirado com a propriedade do que via. O conjunto transcendia a pichação e mesmo o grafite, configurando-se como uma original e criativa instalação. Havia, em primeiro lugar, a feliz escolha do local - a ruela ao lado do lago, o asfalto rompido pelas raízes fornecendo a metáfora da vida em rebeldia contra os rígidos constrangimentos que lhe são impostos, as formas sinuosas marcadas no chão. Quem realizara aquilo havia captado não só a poesia da sublevação das raízes contra o que as sufocava, como a beleza formal das linhas bêbadas que elas abriam, ampliando-as com suas faixas coloridas e escritas. Não só houve um aproveitamento adequado desses elementos, como foram eles recriados em novas linhas, palavras e cores, desvendando sua oculta transcendência. Pensei que o teor poético da escrita produzia em mim um efeito semelhante ao das raízes, ao fincar fundo em minha mente suas imagens. O que ali se me apresentava cumpria bem, sim, com o conceito de instalação, bem melhor do que o que muitas vezes vemos em exposições, umas contrafações cerebrais e artificiosas cujas propostas só a muito custo e sem prazer engolimos.

Mesmo sabendo das complicações ligadas às distinções de gênero no que diz respeito à criação artística, a delicadeza da construção me fez atribuir a autoria do projeto a uma sensibilidade feminina. E é possível que minha intuição esteja correta, pois, numa das frases, o sexo de quem a escreveu se revela - "Distraída passo pela vida, sem ser subtraída".

Desde aquele dia tenho passado por lá regularmente e fico tocado ao constatar que a desatenta maioria percorre o caminho sem ver as faixas, que já desbotaram, fazendo com que algumas frases ficassem ilegíveis. Percebendo que tudo se esvaia, veio-me o desejo de escrever a respeito e, antes que as frases se apagassem por completo, resolvi copiar algumas delas: "Vou espalhando pelo caminho um pouco do que procuro", "Aguardo deste lado da margem a embarcação, nela está a outra margem", "Meu vazio tem imensidão para acolher o novo e tudo o que colecionei ao longo da vida", "Retiro véus e me descubro nuvem", "Todos os domingos são parques de diversões. Coro de crianças, sorvetes e pipocas, mesmo quando há silêncio em mim", "No verão, percebo os invernos que há em mim", "Meu deserto instalou em meus olhos alguns oásis", "Trago em mim um pouco de cada coisa que não fui", "Não vou a lugar nenhum que me leve para longe de mim", "Um pouco de sol, para que clareie a mente e doure o corpo", "Ponte que não me leva. Ponte que me atravessa", "Ali, onde os castelos são feitos de sonhos, brumas e beijos. Onde a torre guarda jasmins e girassóis. Onde encontramos a linha do infinito cada vez que nos olhamos".

Ao reproduzir as frases aqui, retiro-as do seu contexto, de seu humilde suporte no chão, onde, em seu leito colorido, gozava da vizinhança com as raízes. Com isso, de certa forma, desfaço a instalação complexa tal como fora concebida pela autora. Impossibilitado de remontar sua riqueza sensorial, tão bem integrada com os elementos naturais que a circundam - árvores, lago, ar livre -, atenho-me a seu teor literário. Mas é minha forma de agradecer pelo momento de beleza e brandura que a autora me proporcionou. Muitas vezes se fala do narcisismo do artista, de seu desejo de fama e glória. É injusto enfocar sua atividade exclusivamente sob esse prisma, pois fica excluída a generosidade implícita no ato de criar e doar ao mundo sua criação.

Um outro aspecto ligado ao ato de publicar as frases aqui é que, em assim fazendo, dou-lhes um pouco mais de fôlego, pois já desapareciam em seu lugar de origem. Aliás, essa é uma característica da chamada "arte urbana", que, usando suportes fornecidos pela própria cidade, acontece fora dos circuitos oficiais e suas instituições. Exposta às intempéries, ao sol, à chuva, essa arte tem vida curta. Não pode sonhar com a permanência e a imortalidade sedutoramente prometidas pelas galerias e museus. Ao apontar para a fugacidade das coisas e de nós mesmos, ela talvez esteja mais próxima da verdade.

***

A propósito de fugacidade, impossível não mencionar Daniel Piza. Tivemos um único encontro em recente almoço dos cronistas deste jornal. Com tantos interesses em comum, imaginava que no futuro teríamos alguma aproximação. Mas a Grande Ceifadora passou antes.

Sem marola - ILIMAR FRANCO

O GLOBO  - 07/01/12


A presidente Dilma mandou recado para os aliados informando que não vai mudar os partidos de lugar na reforma ministerial. Ela tomou essa decisão porque não quer provocar nenhuma turbulência na base parlamentar. Para um conselheiro, falando sobre a abrangência das mudanças, ela usou a palavra “mínima”, envolvendo “quatro ou cinco ministérios”. O que está certo que muda: Educação, Ciência e Tecnologia, Mulheres e Trabalho.

A dúvida
Se a presidente Dilma decidir incluir o Ministério das Cidades na reforma de janeiro, o substituto do ministro Mário Negromonte não será o candidato da bancada, o deputado Márcio Reinaldo (MG), mas o ex-ministro Márcio Fortes.

CANSADO DE GUERRA. O líder do MST, João Pedro Stédile, fez uma avaliação do primeiro ano da presidente Dilma para a página do movimento na internet. Ele disse que “o governo Dilma ainda não ajeitou a máquina” e que ela “está em dívida com os pobres do campo”, cobrando um plano de assentamento para as 160 mil famílias acampadas na beira de estradas. Mas elogiou a renegociação das dívidas “dos companheiros inadimplentes”.

A política nacional é uma coisa, a política local é outra. Aqui, o que nos une é a oposição ao PT” — Antonio Carlos Magalhães Neto, líder do DEM na Câmara, sobre a aliança do DEM com o PMDB na Bahia

O MINISTRO Celso Amorim (Defesa) e os comandantes da Marinha, Julio Soares de Moura Neto, e da Aeronáutica, Juniti Saito, vão na terça-feira à Base Comandante Ferraz, na Antártida, para ato pelos 30 anos do Programa Antártico de pesquisa.

OUTROS RUMOS. Aliado histórico do PT, o PCdoB pretende lançar candidato próprio em Porto Alegre, São Paulo, Salvador e Rio Branco.

MAIS UM ministro está saindo de férias. Leônidas Cristino (Portos) só volta dia 20.

Na mesa de negociação
As centrais sindicais de trabalhadores vão voltar à carga em 2012 para tentar aprovar a redução da jornada de trabalho para 40 horas. Querem aproveitar o clima eleitoral. Mas, como a bancada de empresários é maioria na Câmara, tem 273 dos 513 deputados, e a emenda constitucional necessita de 308 votos, as centrais pretendem negociar a redução gradativa da jornada. Os empresários aceitam, mas defendem compensar suas perdas com a redução de alguns direitos trabalhistas.

Bandeira
A rusga entre o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), coordenador da Frente LGBT, e a senadora Marta Suplicy (PT-SP) não se resume à desavença em torno do projeto de criminalização da homofobia. Ele disputam o protagonismo nessa seara.

Espelho meu
O ex-vice-governador de São Paulo Alberto Goldman critica o governo Dilma: “Nas inundações em São José do Paraitinga (SP), o governador José Serra, que estava fora, voltou de imediato e eu pilotei as ações da Defesa Civil Estadual”.

Expectativa
Setores petistas continuam em campanha e no governo há críticas à gestão da ministra Ana de Hollanda (Cultura), mas os poucos que conversaram com a presidente Dilma sobre as mudanças não a ouviram citar a pasta.

Aliados do PT precisam da oposição
A base política de apoio ao governo Dilma é tão ampla que alguns aliados estão se ressentindo de uma ação mais vigorosa da oposição. Acontece que, mesmo sendo aliados no plano nacional, eles têm projetos conflitantes com os petistas no plano regional. Assim, quanto mais a oposição bater no governo petista, melhor. No PMDB, encontra-se o maior contingente de aliados que precisam da oposição. Um dos exemplos é o da Bahia. O partido já fechou aliança com o DEM em oito das dez principais cidades do interior e negocia aliança em Salvador. Mas há outros: Maranhão, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Homens partidos ao meio - SILVIANO SANTIAGO


O Estado de S.Paulo - 07/01/12


RF - as iniciais de Ramon Fernandez (1894) estão inscritas no caixão que, em agosto de 1944, é velado na Igreja de Saint-Germain-des-Prés, em Paris. Colaboracionistas e intelectuais envergonhados, como François Mauriac, velam o defunto. As iniciais do brilhante crítico literário dos anos 1920 e 1930 são uma paródia de outras, as da República Francesa, que ele repudia publicamente a partir de 1937. Naquele ano torna-se membro ativo do PPF, partido fascista liderado pelo medíocre e corrupto Jacques Doriot. Colaboracionista, RF faz parte da comitiva de intelectuais franceses que viaja em outubro de 1941 a Weimar. Goebbels é o anfitrião. Ramon morre 20 dias antes da liberação de Paris. A embolia libera-o do pelotão de fuzilamento, que dá por findos os dias do jornalista Robert Brasilach, e do suicídio, que leva a vida do companheiro Drieu de la Rochelle.

Assim se abre Ramon (2008, hoje em livro de bolso), biografia do pai escrita pelo filho, o acadêmico e romancista Dominique Fernandez. Aos 80 anos, Dominique tenta compreender o pai que se quebra em dois e vive duas vidas sucessivas e contraditórias. Primeira vida. A do ensaísta apresentado por Marcel Proust ao grupo responsável pela NRF, revista publicada pela Gallimard. Intelectual de esquerda e quase comunista em 1934, é autor de livros indispensáveis sobre André Gide (de que me vali com proveito quando escrevia tese de doutorado), Marcel Proust e Molière. Seus artigos são admirados e citados por escritores como T. S. Eliot e Wallace Stevens. Segunda vida. Ramon vira a casaca. De 1940 até a morte, passa a emprestar o prestígio do nome e das palavras à política da Colaboração. Ao lado de Georges Montandon, teórico do antissemitismo francês, discursa em estádio desportivo de Paris. Desde então, sua obra crítica mora no baú da inconveniência. Só agora está sendo recuperada.

O capítulo da Ocupação é confuso, lembra Alice Kaplan, autora de The Trial and execution of Robert Brasilach (2000), e muito lixo foi varrido para debaixo do tapete. Sartre tem duas peças (Huis-clos e As Moscas) encenadas com a permissão das autoridades alemãs. Na plateia, oficiais germânicos. Para ter O Mito de Sísifo publicado, Albert Camus aceita a supressão do capítulo sobre Kafka. Antes de se casar com o resistente Dionys Mascolo, Marguerite Duras, née Donnadieu, mora no andar de baixo dos Fernandez e trabalha como secretária para o comitê de censura ao uso do papel, montado pelo governo de Vichy. Enquanto esconde o marido judeu, Colette lança dois livros identificados com a Colaboração.

Dominique torna o capítulo da Ocupação menos confuso e, por refrear o sentimentalismo barato que corroeria as melhores páginas da biografia, mais duro e mais asfixiante. O narrador se exaure nas contradições paternas e se libera em julgamentos abruptos. Ao contrário de Alice Kaplan, professora na Universidade de Yale, Dominique opta por não fazer pesquisa em biblioteca e arquivo público. A Antoine Compagnon, professor do Collège de France, confessa que "o livro foi escrito sem esforço". Valeu-se principalmente da memória e de documentos familiares, entre eles os diários (carnets) recobertos cotidianamente pela letra da mãe, jansenista de formação e amante da literatura. Dos vários cadernos Dominique retirou a cronologia e parte da trama.

Confessa ainda que, retrospectivamente, a figura ambivalente do pai está por detrás de muitos dos seus livros, em especial dos que versam sobre o músico Tchaikovski, o pintor Caravaggio e o cineasta Pasolini. Sem se dar conta, ele tinha escrito um único livro: o fracasso ao final da vida joga o artista glorioso no despenhadeiro.

No caso da biografia paterna, a mãe castradora e a esposa rica e generosa transformaram o filho e o marido no pai Ramon. Sem profissão definida, cheio de caprichos mundanos e alcoólatra, Ramon passa por um caráter débil, que não estava à altura das ideias que defendeu. Na revista Commentaire, Jean-Thomas Nordmann julga que o filho, por ter usado cores berrantes na pintura da esquizofrenia política do pai, tenha subestimado a importância do ensaísta literário.

Viajemos até o presente. Em corajoso filme biográfico, outro filho, Carl Colby, resolve retirar da sombra o pai que foi Chief of Station em Saigon durante a guerra do Vietnã e, entre 1973 e 1976, diretor da CIA e responsável pela Operação Phoenix. À semelhança da atriz Nathalie Wood, Colby morreu em condições misteriosas no ano de 1996. Refiro-me a The man nobody new: In search of my father, CIA spymaster William Colby (2011). O filme leva algumas vantagens sobre o livro de Dominique. O narrador aparece com a família paterna em fotos e filmecos caseiros, mas o forte são as apropriações das imagens e sequências sangrentas e apocalípticas difundidas pelo noticiário dos jornais e da televisão. Sobram-lhe os fatos que faltam à trama psicológica de Ramon.

Em The man nobody knew o filho comparece sob a forma de voz em off, um tanto expositiva. Ele "escreve" o filme, contrastando as imagens familiares com as chocantes da espionagem e da guerra. As imagens gritam por ele. Católico fervoroso (duas filhas são batizadas na Basílica de S. Pedro), o pai serve na Itália pós-fascista que se inclina ao comunismo. No Vietnã, o homem-família, acompanhado da esposa Bárbara, torna-se amigo íntimo do presidente Diem e dos seus. O Senado sabatina o militar pela condução da Operação Phoenix. Mea culpa. O religioso incrimina o militar. Acrescente-se que, à semelhança de Um Método Perigoso, novo filme de David Cronenberg, The man nobody knew reafirma o peso da religião nas discussões ideológicas e intelectuais. Um colaboracionista católico? Um católico na CIA? A psicanálise nas mãos de Jung, ariano suíço?

Folgados - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 07/01/12

Dilma, que é Dilma, antecipou sua volta ao trabalho. Mas, a maioria dos seus ministros não.
Parte deles, como Padilha e até o demissionário Haddad, descansa em praias paradisíacas.

Conselho

Pega um calção e vai para lá, Mercadante!
Pelo amor de Deus!
A cada declaração, o cara fica mais distante do MEC.

Gritaria

O vice Michel Temer deixou o hospital ontem, depois de ter tirado a vesícula.
Os médicos decretaram repouso absoluto, por uma semana.
E o PMDB respeita isso?
Henrique Alves e Geddel Vieira Lima já ligaram, insuflando o vice a brigar pela não nomeação de Ciro Gomes no Ministério. Alegam que se o PSB pode ter mais um, o PMDB também.

Lado ruim

O veto a Ciro é a primeira prévia sucessória dentro do governo.
A questão não se resume apenas à disputa dos irmãos Gomes com o governador Eduardo Campos pelo comando da legenda.
É muito mais complexa do que parece! Mudaria completamente a relação interna do governo. Ciro sempre chamou o PMDB de partido de ladrões e, Michel, de chefe da quadrilha.
Agora, Michel seria chefe dele!
Não vamos nem falar do fator Aécio Neves para não complicar o raciocínio.

Lado bom

Do ponto de vista administrativo, Ciro Gomes é visto como uma peça importante para tirar o governo desse marasmo.
O cara arregaça mangas, arromba portas e resolve.
Mas seu pedágio é caro.
Para nós, repórteres, uma beleza: notícia toda hora.

Dilma deve recuar na reforma ministerial

Estamos a poucas horas ou, no máximo, poucos dias da posse definitiva de Dilma Rousseff como presidente da República e nada vazou ainda sobre o primeiro ministério nomeado só por ela. É bem verdade que a presidente, ao longo de um ano, foi dispensando quase todas as indicações de Lula e, portanto, não se espera uma reforma ministerial ampla.
A reforma parece ser mais de atitudes do que de nomes.
Tudo o que foi especulado, foi da responsabilidade dessa figura tão impessoal chamada “Palácio do Planalto”. O curioso é que, ao que consta, nenhuma dessas especulações surgiu de lá, necessariamente.
Quando completou seis meses de governo, Dilma descobriu que o país é governado sempre por dois presidentes: o de fato e o do boato. E quando vê suas opiniões descritas em “offs” de interlocutores costuma dizer:
— Eu não me reconheço nessa Dilma. Me desculpem, mas essa Dilma aí não sou eu.
E já descobriu também a nossa manha de repórter:
— Se deixo de fazer o que anunciaram, não há problema
algum. A mídia se justifica com um “a Dilma recuou”. Anotem, se tudo que eu disse não acontecer, já sabem!

‘Niver’

A bela ministra Gleisi Hoffmann, que interrompera o recesso por causa das trapalhadas do colega Fernando Bezerra, pediu ontem, toda cheia de dedos, para Dilma liberá-la.
E foi correndo para o Paraná preparar o bolo de aniversário da filha Gabriela Sofia.
Enquanto trabalhava em Brasília, o maridão, Paulo Bernardo, ficou cuidando das crianças lá no estado.
Claro, afinal, alguém tem que trabalhar nessa família.
E que não seja só a mulher. Já que não faz nada no trabalho, Paulo Bernardo tinha que fazer algo em casa.

Xará

Amiga parisiense do empresário Ricardo Amaral mandou-lhe recortes de jornais europeus, com a seguinte dedicatória: “Estou orgulhosa, você ganhou o mundo.”
Já não era sem tempo.
Só que, mais uma vez, confundiram-no com o homônimo do livro da Dilma.

Meus ídolos

Ao citar aqui os jornalistas-escritores, omiti, injustificavelmente, os nomes de Edney Silvestre e Mauro Ventura.
Injustificável porque, no caso do Edney, fui um dos primeiros a receber o “Se eu fechar os olhos agora” (Prêmio Jabuti Melhor Romance 2010) e “A felicidade é fácil” — romance lançado em novembro. No caso do Mauro, “O espetáculo mais triste da Terra”, é mais injustificável ainda. Fiquei horas na fila de autógrafos, até que a generosa alma do pai, Zuenir Ventura, vendo meu sofrimento, tirou-me da fila e, dia seguinte, recebi o livro com bela dedicatória.

‘Ridículo’ é a inveja!

Aprendi, como repórter, a não brigar com o fato, Sua Excelência o fato.
O fato é que, com ou sem feixe de luz, a atriz Maria Fernanda Cândido é uma das mulheres mais lindas do planeta. Portanto, reafirmo tudo o que escrevi sobre ela.
E ainda achei pouco.

Ueba! Michel, Té Logo! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 07/01/12
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Direto da Bahia: "Mulher joga água quente nos testículos do marido em Pau Miúdo". Por isso mesmo! Rarará!
E adorei essa placa no Pão de Açúcar: "Espulmantes 50 pontos". 50 pontos no Enem. Rarará. Espumante com ele espulma muito mais! Tô espulmando.
E como disse a Mulher Maçã no programa da Lucianta Gimenez: "Prefiro um pássaro na mão que um voando". Aliás, sabe como se chamam os dois neurônios da Lucianta Gimenez? Os Invasores! Rarará.
E sabe o que aconteceu com o único neurônio da Mulher Maçã? Morreu de solidão. Ou então a minhoca comeu! Mulher Maçã é aquela que já vem com minhoca.
E um leitor quer saber por que a Patrícia Poeta fica balançando a cabeça que nem ursinho de pelúcia de táxi! Rarará!
E a manchete bombástica do Piauí Herald: "Jovem sorocabano internado com overdose de Michel Teló". A overdose explodiu quando ele entrou na internet e viu um vídeo com chihuahuas belgas latindo ao som de "Ai, Se Eu te Pego"!
E o povo já tá chamando o Michel Teló de Michel, Té Logo! E a Dilma volta a Brasília e na primeira reunião ministerial já canta para os ministros: "Ai, se eu te pego!"
O chargista Zope revela que Obama dedicou uma música pro Ahmadinejad: "Ai, Se Eu te Pego"! O universo foi picado pelo mosquiteló!
E um amigo escreveu no Twitter: "O prefeito implode um prédio e não cai, o governador entrega casas que ninguém recebe, o que anda acontecendo com São Paulo?". O que anda acontecendo é que não anda!
E, se a Receita Federal baixa naquele programa "Mulheres Ricas", a festa acaba na mesma hora. O champanhe vai azedar! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados. Aqui no hospital Nove de Julho tem um otorrino que se chama Tomaz Antonio Curado! DOUTOR CURADO! Rarará!
E como janeiro é o Mês Internacional de Fazer Força pra Fechar a Calça, em Ribeirão Preto tem uma nutricionista que se chama Juliana Pizza! E um amigo me disse que a mulher dele é tão feia, mas tão feia, que, quando ela descasca cebola, quem chora é a cebola. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Mãe gentil - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 07/01/12
O Brasil terá de pensar mais profundamente a política de imigração. O evento de agora é o dos haitianos que entram pelas portas de Brasileia, no Acre, e Tabatinga, no Amazonas. O governo vem atendendo à emergência do desembarque: 1.600 vistos já foram concedidos e mais dois mil estão em análise. Mas chegou a hora de avaliar de que forma lidar com novas ondas migratórias.
O Brasil é um país construído pela imigração desde sempre. Houve a vinda forçada, pelo tráfico e escravidão, que vitimou africanos por três séculos. Houve também o desembarque espontâneo de esperançosos alemães, italianos, japoneses, judeus, sírios, libaneses, turcos, pomeranos e tantos outros que se juntaram aos povos das primeiras nações e aos colonizadores portugueses. Isso, em resumo, somos nós. Temos orgulho dessa mistura, ainda que não devamos cometer a ingenuidade de negar as discriminações. Temos, sim, o racismo entre nós, mas podemos combater esse defeito. Em outros países há divisões irreconciliáveis.
Hoje, são haitianos e bolivianos que vêm à procura de uma vida melhor. O país está crescendo, está entre os primeiros do mundo, já se distanciou na América do Sul em tamanho econômico. É natural que desembarquem aqui trabalhadores deslocados em seus países.
Diante de quatro mil haitianos chegando nos últimos meses, o governo tratou de encontrar uma forma mais rápida de abrigá-los. Como O GLOBO mostrou, o canal da vinda está sendo construído pelos mesmos intermediários que levaram, mediante quantia em dinheiro, mexicanos e alguns brasileiros para os Estados Unidos. Chegaram e pediram refúgio. Como não estão perseguidos politicamente ou etnicamente em seu país, o Comitê Nacional de Refugiados encontrou a fórmula da "residência humanitária". Dessa maneira, o Ministério do Trabalho, através do Conselho Nacional de Imigração, já deu documentos a 1.600 estrangeiros. O governo acha que, ao todo, 4.000 vieram em 2011 e tem informações de que novas ondas estão desembarcando neste começo do ano.
Na emergência, o governo mobilizou vários órgãos. O Conselho de Refugiados aceitou os que chegaram, o Trabalho deu documentos, a Conab mandou 14 toneladas de alimentos, o Desenvolvimento Social se mobilizou. O Ministério da Justiça fala em aumentar forças de segurança, Acre e Amazonas se esforçam e pedem ajuda. Há casos de empresários, como este jornal mostrou ontem, que já utilizam de forma legal a nova mão de obra.
É preciso lembrar, recentemente, de casos de bolivianos encontrados por fiscais trabalhando em condições degradantes em plena São Paulo e alguns para empresas que fornecem para grandes grifes. O risco de que alguns imigrantes caiam em teias que aprisionam até brasileiros é grande. Na semana passada, o Ministério do Trabalho divulgou que aumentou para 251 o número de empresas da lista suja do trabalho escravo. Entraram na lista, por terem sido apanhadas aprisionando trabalhadores em condições análogas à da escravidão, 48 empresas. Brasileiros com pouco nível educacional e com baixa empregabilidade acabam capturados pelas redes que prometem garantias que não fornecem. Há na lista grandes usineiros, pecuaristas e até caso de uma empreiteira que participa do consórcio para a construção de Jirau, obra na qual estatais são sócias e que é financiada pelo governo. O Brasil tem seus velhos defeitos e por isso o risco de que novas ondas migratórias, por razões humanitárias, acabem alimentando esse trágico mercado é muito grande.
O país precisa pensar nisso de forma estrutural porque há chance de que continue a atrair novos imigrantes, principalmente se for mantido - como todos querem - esse momento de aumento de riqueza. Há inclusive interesse em mão de obra qualificada vir para o país. Recentemente, no programa de anistia a imigrantes sem documentos legais, criado pelo governo Lula, milhares de estrangeiros conseguiram seus documentos, não depois de muito penar para superar a conhecida burocracia brasileira.
Antes que a vinda de haitianos se transforme num grande problema social, antes que bolivianos pobres continuem a alimentar a cadeia do trabalho sem a devida proteção, antes que os atravessadores do trabalho escravo tenham mais oferta de brasileiros e estrangeiros para os seus crimes, o país precisa se organizar. A política de imigração não pode ser improvisada. O Brasil precisa saber o que quer e como administrar o interesse de nacionais de outros países virem para cá. Não pode apenas correr atrás do fato consumado criado pelos coiotes.
Hoje eles podem ser tratados com boa vontade, mas amanhã, diante de um cenário mais difícil para emprego ou após algum conflito, os recém-chegados podem ser tratados como invasores. Para evitar isso e preservar nosso patrimônio de pátria de povos múltiplos é que o governo precisa estudar melhor esse momento. O Brasil, nunca é demais dizer, tem virtudes e defeitos. Exalta a diversidade, mas discrimina. Convive com as diferenças, mas distribuiu desigualmente as oportunidades. O país se miscigenou, mas mantém desigualdades raciais. O governo não deve improvisar diante desse desafio. É a hora de liderar o processo.

QUEM TE VÊ - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 07/01/12


As filhas Luisa e Sílvia Buarque, com o marido, o ator Chico Diaz, e a cantora Thais Gulin, namorada de Chico Buarque, foram anteontem à estreia da nova temporada de shows do compositor, no Vivo Rio. Os atores Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Renata Sorrah, Antonio Pitanga com a mulher, a deputada Benedita da Silva, e a escritora Adriana Falcão também assistiram ao espetáculo, na capital fluminense.

MINHA CASA, MINHA RUA
Levantamento da prefeitura mostra que a população da cracolândia chegava a triplicar durante o dia, antes da operação policial que pretende "dispersar" os frequentadores do lugar. Se 400 pessoas dormiam lá todas as noites, cerca de 1.200 frequentavam o local para comprar drogas.

VIDA LIVRE
Alda Marco Antonio, vice-prefeita e secretária de Assistência Social, diz que o desafio agora é tentar atrair usuários de crack para tendas mantidas pela prefeitura. Eles teriam, segundo diz, resistência a lugares com muitas regras, como os albergues. Nas tendas, não são obrigados, por exemplo, a tomar banho, não precisam se cadastrar e podem entrar e sair livremente.

COTIDIANO
Na tenda de Santa Cecília, por exemplo, só 250 dos 400 frequentadores diários tomam banho. "São pessoas em situação muito delicada, que perderam alguns hábitos da civilidade. Se irritam, por exemplo, de ter que esperar na fila para usar o chuveiro", diz Alda.

BOLSO
João Sayad marcou conversa com o governador Geraldo Alckmin para a próxima semana. Vai tentar conseguir mais verbas para a TV Cultura, que preside.

DE FILHA PRA MÃE
Já tem data a estreia de Maria Rita cantando músicas de sua mãe, Elis Regina (1945-1982), no projeto "Viva Elis". O show gratuito será no dia 17 de março, aniversário de Elis, no Auditório Ibirapuera. O palco estará virado para o parque.

CHICO E OSCAR
Na estreia de sua turnê no Rio, anteontem, Chico Buarque recebeu apenas uma pessoa antes do show: Oscar Niemeyer, 104. O arquiteto, a quem a noite foi dedicada, também foi o primeiro a entrar no camarim após a apresentação. Chico abriu as portas dos bastidores só para a família, os amigos antigos e os companheiros de seu time de futebol, o Politheama.

O QUE O BAIANO TEM
Uma das novidades do Carnaval baiano deste ano é Magary Lord. Ele terá um trio elétrico no circuito Barra-Ondina com a música-tema "Joelho". Já interpretada por Araketu, ela tem o refrão "Tá querendo dançar toda hora, joelho pra dentro, joelho pra fora". Seu Jorge gravou canção dele. E Caetano cantou com ele no Natal.

PRETO NO BRANCO
O "Globo Rural" celebra seus 32 anos amanhã com reportagem sobre a harpia, a maior águia brasileira. Na pesquisa, a equipe do programa, que vai ao ar às 8h, concluiu que a arte da Gaviões da Fiel foi feita com base na chamada águia americana, ou careca, e não na brasileira, que tem um cocar de penas na cabeça. Uma bióloga da Amazônia revelou até que pensa em escrever para o Corinthians sugerindo uma substituição.

MARATONA PAULISTA
José João da Silva, bicampeão da São Silvestre, foi ao almoço oferecido pela Fundação Cásper Líbero em comemoração da corrida. Antonio Carlos Franchini Ribeiro, presidente da Associação Paulista Viva, e o secretário José Benedito Fernandes (Esporte) também estiveram lá.

CURTO-CIRCUITO
Os grupos Bixiga 70 e Abayomy Afrobeat Orquestra abrem na terça a Mostra Prata da Casa, na choperia do Sesc Pompeia. 21h30. 18 anos.

A banda God Save the Queen, que homenageia o Queen, faz show no próximo dia 3, às 22h, no Via Funchal. 12 anos.

A cervejaria Miller faz amanhã festa em Punta del Este.

O DJ indiano Johnny Motwani toca hoje no Taboo Club, no Sofitel Jequitimar, no Guarujá. Classificação: 18 anos.

O grupo Turma do Pagode toca no próximo dia 4, às 22h, no Credicard Hall. 14 anos.

A exposição "Brasssaï, Paris La Nuit" será inaugurada no dia 18, na Galeria de Artes do Oi Futuro de Belo Horizonte.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY