sexta-feira, outubro 28, 2011

ANDRÉ LARA RESENDE - Horizontes para um espaço conservador



Horizontes para um espaço conservador
ANDRÉ LARA RESENDE
VALOR ECONÔMICO - 28/10/11


A cientista política americana Frances Hagopian, em recente visita ao Brasil, disse que o PSDB deveria assumir sua posição de centro-direita. Depois de três derrotas consecutivas nas eleições presidenciais, parece haver certa perplexidade no partido. Como foi possível que, depois de estabilizar a inflação, de encerar um ciclo de duas décadas de crises e de dar início a uma nova fase de prosperidade, o PSDB tenha sido recorrentemente derrotado nas eleições presidenciais? Fala-se, até mesmo, em refundação do partido. Refundação talvez, mas declarar-se de centro-direita, jamais. Por que a direita, ainda que amenizada pelo aposto centrista, é tão execrável? Por que qualquer movimento com pretensão de ter o apoio da população precisa se definir como de esquerda, ou no mínimo de centro-esquerda?
Antes de tudo, é preciso saber se esquerda e direita ainda fazem sentido no mundo de hoje. Durante todo o século XX, a esquerda esteve associada aos movimentos socialistas, na sua grande maioria de inspiração marxista. O fim do comunismo e o fracasso do planejamento centralizado deixaram a esquerda órfã de projeto. Ser de esquerda passou a significar apenas ser a favor da redução das desigualdades e da justiça social. Mas como ninguém de bom senso pode ser contra, hoje somos todos de esquerda. Não faz sentido tentar definir esquerda como uma questão de grau: somos de esquerda, porque somos mais a favor da justiça social do que eles. É preciso então definir-se por oposição ao que seria a direita. Daí à demonização da direita é um pulo.
Direita e esquerda parecem-me termos menos adequados aos dias de hoje do que conservador e progressista. Não que a escolha dos termos ajude a posição conservadora. Ao contrário, se o conservador define-se por oposição ao progressista, a defesa do conservadorismo é tarefa inglória. A crença no progresso é o dogma supremo da modernidade. Parece-me, entretanto, que o espaço conservador existe e que sua exclusão da vida pública empobrece o debate, dificulta a compreensão das ideias e faz com que a política perca o sentido da realidade.

O conservadorismo opõe-se à crença racionalista moderna de que valores políticos defensáveis precisam estar necessariamente baseados num sistema de propostas articuladas, cuja aplicação é universal. Assim definido, o conservadorismo opõe-se a toda proposta idealista totalizante. Não apenas às de esquerda, como o socialismo marxista, mas também às de direita, como o fascismo e o nazismo. O elemento central da posição conservadora é o ceticismo. Ceticismo em relação à possibilidade de que qualquer sistema de ideias tenha aplicação universal e seja capaz de resolver os dilemas da vida em sociedade.
O conservadorismo, assim definido, não coincide com a direita. A esquerda, embora tenha sido obrigada a aceitar a economia de mercado, por falta de alternativa, insiste em associá-la a todos os tipos de mazelas, se não estiver submetida a uma política de Estado. O planejamento central foi descartado, mas o dirigismo estatal não. Sai o velho modelo soviético e entra o novo modelo chinês. O livre mercado sempre esteve e continua associado à direita. A defesa da economia de mercado como forma superior de organizar a economia, especialmente a defesa radical do livre mercado e do estado mínimo, é um dos pilares da direita moderna. Para a visão conservadora, entretanto, é apenas mais uma ilusão. Todo sistema articulado de ideias com pretensão de universalidade deve ser tratado com ceticismo. O livre mercado não é exceção.
O conservadorismo ilustrado não é avesso ao progresso e à mudança. Ao contrário, por ser realista e tolerante, reconhece a necessidade de adaptação aos tempos e às circunstâncias. Só não avaliza sonhos revolucionários. Não coincide com a direita, porque a direita, assim como a esquerda, é ideológica, propositiva e quase sempre arrogante. O ceticismo do conservador, em contrapartida, o faz humilde e tolerante. Humilde, por saber compreender os limites das possibilidades de resolver os conflitos e os dilemas da vida em comum. Tolerante, por reconhecer que é preciso aceitar a diferença e a contradição. Porque sabe que é preciso ser paciente e dar tempo ao tempo, pois nem tudo tem sempre solução. Nada mais longe do espírito da modernidade.
Compreende-se que o espaço conservador tenha sido eliminado da vida pública, mas não me parece que o espírito conservador tenha desaparecido da vida privada. Ao contrário, sem lugar na esfera pública, o conservadorismo refugiou-se na psicologia privada, lá se fortaleceu em silêncio e hoje alimenta o profundo desprezo pela política e pela vida pública, que permeia o mundo contemporâneo. Parecer otimista e confiante é um dogma que poucos, especialmente os mais jovens que precisam estar inseridos, ousam contestar de público. O hiato entre aquilo em que se pretende acreditar e aquilo em que se acredita, entre o que se proclama e o que se é, sempre foi grande.
Ao admitir que a imperfeição não vai desaparecer, que dor e dificuldade não são passíveis de cura definitiva, o conservadorismo rejeita toda proposta utópica. Acontece que a crença no progresso, como indissociável da história da humanidade, é também um projeto utópico. Um projeto utópico que substituiu a religião como alicerce da civilização ocidental a partir do Iluminismo. O conservadorismo reconhece, evidentemente, os ganhos associados ao avanço da ciência, mas não se ilude em relação à sua possibilidade de eliminar o sofrimento e o mistério da condição humana. Seu objetivo é mais modesto: minimizar o sofrimento e melhorar a qualidade da vida, por meio da adaptação dos valores, das práticas e das instituições às condições objetivas das circunstâncias. A tarefa do governo é sustentar as instituições e a comunidade, de forma que - se não garantem necessariamente a felicidade - ao menos ajudem a suportar as aflições naturais da vida de uma forma digna e que possa fazer sentido.
O ceticismo conservador, ou o conservadorismo ilustrado, tem longa tradição intelectual, principalmente na Inglaterra, desde Hobbes e Hume, até John Gray, seu maior expoente nos dias de hoje. Compreende-se assim que, apesar de ojeriza da política contemporânea ao conservadorismo, a Inglaterra ainda tenha um partido que se denomina Conservador e que hoje é governo.
Volto ao PSDB. Não sei se o partido é de fato de centro-direita. Ainda que fosse, o rótulo "de direita" ficou excessivamente vinculado à indiferença ao sofrimento alheio, ao egoísmo e à falta de compaixão, para estar associado a qualquer iniciativa pública. Mas o país só teria a ganhar se, independentemente de rótulos, um partido maduro, seguro de suas contribuições, não compactuasse com a ignorância, não abusasse do marketing, não contasse vantagem, não prometesse mais do que competência, trabalho e seriedade. Um partido que ocupasse o espaço conservador.

ANCELMO GOIS - De Vanda para Vanda


De Vanda para Vanda
ANCELMO GOIS
O LOBO - 28/10/11

Na noite de quarta, depois da demissão de Orlando Silva, a mãe do ex-ministro, dona Vanda, ficou emocionada.
Recebeu de Dilma um cartão de aniversário escrito de próprio punho. Orlando tinha acabado de voltar demitido do Planalto, e a cúpula do PCdoB, embora chateada, celebrava o aniversário de dona Vanda.

Aliás...
Nos anos difíceis da ditadura militar, Vanda era o codinome de Dilma.

À paisana
A cena foi flagrada por um atleta de outra modalidade.
Alguns jogadores da nossa seleção de futebol que deu vexame no Pan de Guadalajara desembarcaram em Guarulhos e, com medo de retaliação de torcedores, foram ao banheiro, trocaram de roupa e, acredite, jogaram os uniformes no lixo. Fala sério.

Glória será Nise
Glória Pires, nossa atriz, depois de fazer dona Lindu em “Lula, o filho do Brasil”, de Fábio Barreto, agora vai viver no cinema a doutora Nise Silveira (1905-1999), a grande alagoana que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil e foi presa com Graciliano Ramos na ditadura de Getúlio Vargas.
A direção será de Roberto Berliner.

Dilma nos EUA
Obama está enviando ao Brasil dois altos funcionários para preparar uma visita oficial de Dilma aos EUA no início de 2012. A conferir.

Hoje a festa é sua
O Rei Roberto Carlos, pela primeira vez, vai participar da campanha “Hoje é um novo dia”, aquela de todo fim de ano na TV Globo.
Será a estrela. Vai cantar a música à frente dos artistas e profissionais da emissora.

BOA NOVA. A Secretaria de Conservação da prefeitura do Rio concluiu o restauro de todas as obras de Mestre Valentim no Passeio Público. Veja algumas. O trabalho incluiu detalhes como devolver a língua das esculturas de jacarés, consertar pirâmide e chafariz, recuperar o portão de entrada, limpar e polir o medalhão de Dona Maria I, a Louca, etc. Localizado no Centro histórico, o Passeio foi o primeiro parque ajardinado do Brasil. Concebido por Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813) e inaugurado em 1783, tornou-se o grande ponto de encontro dos cariocas nos séculos XVIII e XIX. Que nossa segurança pública permita que volte a ser

A poesia do Enem
O Enem deu mancada no exame de domingo passado. Numa questão, atribuiu o poema “Guardar”, de Antônio Cícero, à poetisa Gilka Machado.
Cícero está chateado, com razão. Seu bonito “Guardar” está na coletânea “Os 100 melhores poemas brasileiros do século”, organizada por Ítalo Moriconi (Objetiva, 2001).

Segue...
Trechinho do poema: “Melhor se guarda o voo de um pássaro/do que um pássaro sem voos.”

Bastidores da música
O que se diz no camarim é que já foi mais feliz o casamento da Petrobras com a Orquestra Petrobras Sinfônica.

Pan de 2019
A TV Globo decidiu não participar da disputa pela transmissão do Pan de 2019.


Bombeiros livres
A juíza Ana Paula Barros, da Auditoria da Justiça Militar do Rio, absolveu os cerca de 400 policiais e bombeiros que se rebelaram por melhores salários.

Decisão no Arruda
Uma articulação no Flamengo tenta levar o jogo contra o Vasco, na última rodada do Campeonato Brasileiro, para... o Estádio do Arruda, em Recife.
É que Botafogo x Fluminense tem de ser na mesma hora, no Engenhão, e a polícia desaconselha São Januário.

Che Nogueira
Diogo Nogueira, o cantor, está de malas prontas para Cuba. Fará, pela primeira vez, um show na terra de Fidel, dia 1o- agora.
Vai aproveitar e gravar um documentário com artistas de lá.

Bom retorno, Luma
Luma de Oliveira diz que não sondou a Mocidade, mas, sim, foi convidada pela escola para ser rainha de bateria e topou.

Cheiro de fumaça
O Corpo de Bombeiros deu um ultimato a 66 mil fluminenses em atraso com a Taxa de Incêndio: ou pagam até dia 18 próximo ou vão para a dívida ativa.

Culpa do Aderbal
Marco Nanini conta à revista “Bravo” que chega às bancas hoje que virou fumante por causa... de um personagem.
Foi em 1984, numa montagem de “Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho. Num ensaio, o diretor Aderbal Freire-Filho sugeriu que Nanini fumasse em cena. “Depois, perdi o controle.” Apaga isso, Nanini!

LETÍCIA SPILLER, nossa linda atriz, posa radiante no lançamento do novo DVD de Orlando Morais, “Sete vidas”, na Livraria da Travessa do Leblon

FAFY SIQUEIRA, talento em forma de atriz, visita o Museu Dercy Gonçalves, em Santa Maria Madalena, RJ, onde grava a minissérie da TV Globo sobre a vida da saudosa comediante

PONTO FINAL 
É como diz o coleguinha Paulo Motta: “Ao contrário do velho ditado, no caso, vão-se os dedos e... ficam os anéis.” Faz sentido.

RUY CASTRO - Primeiros 100 anos



 Primeiros 100 anos 
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 28/10/11

RIO DE JANEIRO - Quando eles despontavam no fundo da Redação, os mais velhos do "Correio da Manhã" esnobavam: "Xi, lá vem o Ismael Silva!". Ou: "Ah, não.

Olha o Nelson Cavaquinho de novo". Diziam isso não por desamor, mas porque era quase sempre no pior horário, entre as 5 e 7 da tarde, que Ismael ou Nelson cismava de visitar algum repórter ou redator.

Eram tempos sem crachá, sem catraca eletrônica e sem recepcionista perguntando com quem quer falar.

Passando pelo jornal, era entrar e subir. Donde as Redações viviam cheias de gente que não se sabia direito o que faziam. Se era assim com anônimos, imagine se o encarregado da portaria do "Correio" barraria Nelson Cavaquinho ou Ismael Silva, vizinhos do jornal, na Lapa.

Os mais velhos estavam mesmo ocupados ou talvez já não tivessem o que conversar com eles. Mas os repórteres mais novos, entre os quais eu, apressavam suas tarefas para se juntar a Ismael ou Nelson, descer com eles ao botequim do hotel Marialva, defronte ao jornal, e, literalmente, beber suas palavras.

Eram dois monstros, mas, em 1967, ano dessa história, viviam momentos diferentes. Ismael, 62, tinha um quê de amargo -longe o tempo em que, com "Se Você Jurar", "Novo Amor" e tantas mais, ajudara a revolucionar o samba. Nelson, ao contrário, depois de longo ostracismo, finalmente via sua estrela subir, aos 56. Todos o admirávamos por "Luz Negra", "A Flor e o Espinho", "Degraus da Vida". Era emocionante ouvir aquela voz, regada a cerveja e feita para cantar lamentos, falando banalidades num botequim.

Sempre que vejo uma foto de Nelson -cujos primeiros 100 anos de imortalidade se completam amanhã-, ele está abraçado ao violão. Era assim também que o via no Marialva: sem cantar, mas com o violão estreitado ao peito, senhor de seu mundo, a salvo da vida.

MARIA CRISTINA FERNANDES - Lençol que forra bolsos falta nas macas



Lençol que forra bolsos falta nas macas
MARIA CRISTINA FERNANDES 
VALOR ECONÔMICO - 28/10/11


Passou quase desapercebida pela classe média, embora diga respeito à saúde de 145 milhões de brasileiros que usam exclusivamente o SUS, a manifestação nacional de médicos da última terça-feira.

A pauta dos manifestantes não inclui a reedição da CPMF mas é cristalina na argumentação de que a vida não tem preço mas a medicina tem um custo.

A explosão de consumo no Brasil corta lençóis infectados de hospitais de excelência para forrar o bolso de calças jeans. A mesma classe C que enche as sacolas é atendida em hospitais em que macas sem lençóis são o menor dos problemas.

As imagens de pacientes entubados no chão ou sentados segurando o próprio soro são comuns aos telespectadores. Os números apresentados pela pauta dos manifestantes são menos conhecidos.

Nos últimos dez anos, segundo o Conselho Federal de Medicina, o SUS perdeu 203 mil leitos. Em 20 Estados, o número de leitos disponível é menor do que o recomendado pelo Ministério da Saúde. Centenas de hospitais Brasil afora descredenciaram-se da rede pública e passaram a atender a pacientes de planos privados de saúde.

Consulta pediátrica é remunerada no SUS por R$ 2,50

A tabela de honorários do SUS para os procedimentos médicos é uma parte da explicação. O Sistema Único de Saúde paga R$ 2,50 por consulta de um pediatra de hospital público. Por um parto normal que leva dois dias de internação e ocupa dois obstetras e um anestesista a tabela prevê o pagamento de R$ 175,80. Um paciente que chegue a um hospital para se tratar de um acidente vascular cerebral fica internado durante uma média de sete dias. O SUS prevê que o neurologista que fica a cargo deste paciente receba R$ 9,40 por dia.

Não surpreende, portanto, que os concursos públicos para médicos custem a preencher suas vagas enquanto a classe média alta se orgulha em pagar R$ 900 por uma consulta com "meu médico".

Em discurso que fez na aula inaugural do curso de Medicina do campus de Garanhuns da Universidade de Pernambuco no mês passado, a presidente da República Dilma Rousseff disse ter por meta acrescentar 4,5 mil médicos aos 16,5 mil que as faculdades jogam anualmente no mercado.

Creditar a crise na saúde à ausência de médicos é mais ou menos como atribuir os gargalos da infraestrutura ao apagão de engenheiros.

É só observar a curva da Selic nas últimas décadas para entender por que o mercado financeiro virou o grande empregador de engenheiros no país.

Da mesma forma, basta examinar a tabela de honorários do SUS para entender por que sobram médicos na rede privada e faltam na pública. São Paulo, por exemplo, o Estado melhor aparelhado de hospitais privados, tem, proporcionalmente, mais médicos que o Canadá. Os 20 mil habitantes de Oiapoque (AP), cidade a 500 km da capital, contam com apenas dois médicos. No Estado inteiro registram-se apenas cinco psiquiatras para uma população de mais de 600 mil habitantes.

O Conselho Federal de Medicina argumenta que os médicos só serão melhor distribuídos pelo território nacional quando tiverem uma carreira de Estado, assim como o Judiciário ou o Ministério Público. É a esta diferença, e não apenas a um salário de entrada na magistratura em média três vezes mais alto que os R$ 1.946 da média nos hospitais do setor público, que Aloísio Tibiriçá atribui o fato de que há sempre um juiz em pequenas comarcas do interior mas faltam médicos.

A carreira de Estado vai de encontro à transformação de hospitais públicos em fundações adotadas em vários Estados e objeto de um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional.

Os manifestantes da terça não defendem a aprovação de um novo imposto para a saúde. Preferem a redução da Selic e o aumento da arrecadação. Como todos os militantes do setor, Aloísio Tibiriçá saca de pronto a numeralha: a cada ponto a menos na Selic o Tesouro economiza R$ 10 bi. Com o corte de três pontos a Saúde teria o que precisa - se a torcida do Corinthians também não quisesse o mesmo.

Militam pela regulamentação da emenda 29, que prevê o mínimo de recursos que União, Estados e municípios devem aplicar na saúde. Defendem o projeto que tramita no Senado e não o da Câmara. O primeiro prevê a elevação de gastos até 10% do PIB. O da Câmara não aumenta gastos, apenas coíbe o desvio de recursos da saúde para outras rubricas.

Adam Przeworski, cientista político polonês radicado nos Estados Unidos e professor da Universidade de Nova York fez recentemente um palestra em São Paulo. Analisou os dados de vários países tentando explicar por que a globalização não tinha sido capaz de reduzir a desigualdade. Fincou o pé no argumento de que políticas públicas que universalizam oportunidades na educação e na saúde são muito mais eficazes na redução da pobreza do que as políticas de redistribuição de renda que não proporcionam as condições de uma melhoria continuada.

Ao chegar no caso brasileiro, Przeworski pediu desculpas aos dois últimos presidentes que estabilizaram a moeda e expandiram o Bolsa Família para afirmar que o programa mais eficaz na redução da pobreza no Brasil foi o SUS, criado pela Constituição de 1988, em pleno governo José Sarney.

Foi a partir do SUS que o Brasil reduziu a mortalidade e aumentou a longevidade. As crianças sobreviventes passaram a ter pais com mais tempo de vida para lhes prover uma melhor subsistência.

Com o envelhecimento da população, porém, cresceram as doenças crônicas, mais caras no diagnóstico e tratamento. Com o aumento da violência, os serviços de emergência e de UTI, presentes hoje em apenas 10% dos municípios, também passaram a ser mais demandados.

Tanto os que envelhecem sem franco acesso à assistência médica quanto as vítimas de violência são majoritariamente recrutados entre os mais pobres, usuários do SUS. A precarização de seu atendimento é, portanto, a ameaça mais latente para que o sistema, de revolucionário programa social, passe a contribuir para o retrocesso das condições de vida da população.

ALON FEURWERKER - Virou rotina

Virou rotina
ALON FEURWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 28/10/11


Se os organizadores do Enem garantirem que o sol vai nascer amanhã, a exemplo de todos os dias, haverá quem, com razão, reserve-se o direito de desconfiar, preferindo esperar para ver se o astro-rei vai dar mesmo as caras como de costume


A crise no Ministério do Esporte, afinal concluída com a nomeação do novo ministro, serviu também para o governo passar em relativa segurança por mais um caso de trapalhada no Exame Nacional do Ensino Médio. Desta vez foi o vazamento de questões idênticas às da prova, para os alunos de um colégio do Ceará.

Ficou em segundo plano no noticiário. Um pouco pelo cansaço. Qualquer curso de jornalismo, em faculdade ou na vida prática, ensina logo nas primeiras lições: o que se repete sempre e vira rotina acaba deixando de ser notícia. Ou pelo menos passa a ser notícia sem tanta importância assim.

É o caso do Enem. Já houve tempo em que a balbúrdia no exame provocava comoção. Hoje em dia, produz apenas bocejos e reações burocráticas. Mesmo que o dano atinja milhões de estudantes, suas famílias e escolas.

O Ministério da Educação tomou providências localizadas, tópicas, mas o razoável seria a completa anulação da prova. Pois haverá agora uma assimetria inevitável, entre quem precisa fazer um novo exame e quem não. As mesmas vagas no ensino superior serão disputadas por meio de diferentes provas.

O MEC poderá argumentar que o nível de dificuldade da “substitutiva” será igual, mas não tem como garantir que vai ser mesmo exatamente igual. E se a disputa pela vaga decidir-se no detalhe, como costuma acontecer nos cursos mais procurados, haverá os beneficiados e os prejudicados pela lambança e pela tentativa de remediá-la sem maiores prejuízos políticos.

Sem contar que o MEC não tem como assegurar que outras pessoas, além dos alunos daquele colégio específico, não tiveram acesso às questões. Pois é natural que estudantes tenham curiosidade de conhecer o conteúdo estudado pelos colegas.

Na teoria, não era possível sair do pré-teste com o caderno de questões. Mas, convenhamos, nesta altura do campeonato os organizadores do Enem estão sem nenhuma moral para assegurar qualquer coisa no âmbito da responsabilidade deles.

Pois se garantirem que o sol vai nascer amanhã, a exemplo de todos os dias, haverá quem, com razão, se julgue no direito de desconfiar, preferindo esperar para ver se o astro-rei vai dar mesmo as caras como de costume.

Ministros têm caído por acusações de corrupção, e pelo menos mais um perdeu a cadeira quando a língua trabalhou numa frequência maior que o cérebro. Mas o que não se vê neste governo, infelizmente, é uma autoridade ser cobrada por incompetência.

Ao contrário, inclusive, do muito propalado sobre o estilo gerencial da presidente da República. Que supostamente seria adepta das cobranças implacáveis. Duríssimas. Não parece estar acontecendo no caso do MEC.

Talvez porque a própria presidente esteja na contagem regressiva. E seria compreensível. Como o titular está nos planos do PT para a disputa da principal prefeitura do país, será necessário esperar pacientemente pelo prazo de desincompatibilização. Ou talvez menos, se o partido ou o ministro considerarem conveniente sair antes.

Um caso típico de blindagem partidária sem nenhuma consideração ao interesse público.

Felizmente
A Grécia, a União Europeia e os credores parecem ter chegado a um acordo para a redução da dívida grega a um patamar em que ela possa ser servida. O que na linguagem especializada significa que o credor poderá pagá-lá, juros e principal, sem quebrar.

Ou seja, os bancos vão ter de engolir o prejuízo, algo bem razoável. Pois, afinal, emprestaram para os gregos porque quiseram.

Que lancem a perda como perda. É do jogo. Ou deveria ser, no capitalismo. Felizmente a Grécia não é o Brasil. Onde a conta já estaria espetada no bolso do contribuinte.

Em nome, claro, da necessidade imperiosa de cumprir contratos a qualquer custo.

CLAUDIA SAFATLE - Brasil quer ajudar a Europa através do FMI



Brasil quer ajudar a Europa através do FMI
CLAUDIA SAFATLE 
VALOR ECONÔMICO - 28/10/11


O governo brasileiro admite participar de um pacote de socorro aos países da zona do euro, mas, em princípio, quer limitar sua colaboração a um acordo bilateral com o Fundo Monetário Internacional (FMI), tal como fez em 2009. Não há qualquer intenção, pelo menos no momento, de o país se juntar aos governos que vão capitalizar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira em cerca de € 1 trilhão.

Para decidir sobre a ajuda através do FMI, o governo da presidente Dilma Rousseff vai aguardar a divulgação dos detalhes do acordo que as lideranças europeias concluíram na madrugada de ontem. O país só usará um pedaço das reservas cambiais para esse fim se a Europa consolidar um programa efetivo e inquestionável de salvação dos países em dificuldades, como Grécia, Portugal, Espanha e Itália. Não está claro, por exemplo, como será a participação dos europeus no reforço do fundo de estabilização financeira.

Dependendo da evolução das ações da União Europeia, a presidente Dilma poderá indicar a disposição do governo brasileiro na próxima reunião de cúpula do G-20, em Cannes, nos dias 3 e 4 de novembro. O encontro servirá para discutir exatamente os impactos da crise.

Governo não pretende participar do fundo europeu

No auge do "crash" global de 2008/2009, os países emergentes se comprometeram a disponibilizar US$ 80 bilhões mediante a compra de notas do FMI. A China entrou com US$ 50 bilhões e Brasil, Rússia e Índia, com US$ 10 bilhões cada.

A compra de notas promissórias do fundo monetário é uma das formas de ampliar a liquidez da instituição multilateral para que ela possa entrar em programas de socorro aos países em crise.

O outro instrumento emergencial de mobilização de recursos para o FMI é mediante acordo entre um grupo de países-membros para capitalizar o programa Novos Acordos para a Obtenção de Empréstimos (NAB, na sigla em inglês). Criado em 1997, durante a crise asiática, esse programa foi ampliado recentemente para US$ 591 bilhões, que o FMI poderá conceder em empréstimos emergenciais a países em dificuldades.

A compra de notas é um arranjo bilateral entre um governo e o fundo monetário. Já o NAB pressupõe o envolvimento de vários países-membros para aumentar os recursos do FMI e, em geral, os recursos se convertem em aumento de cotas desses países na instituição.

Em 2009, o Brasil se comprometeu a adquirir até US$ 10 bilhões em notas (denominadas em Direitos Especiais de Saque, DES) do fundo, mas a instituição só sacou o equivalente a 750 milhões de DES, ou cerca de US$ 1,2 bilhão.

A posição do governo brasileiro tem sido a de que todos os recursos aportados no FMI em caráter de urgência se transformem em cotas. Assim, as notas de 2009 se converteram parcialmente em recursos do NAB e devem integralizar o aumento das cotas brasileiras. Essa é uma forma de os emergentes aumentarem, gradativamente, seu raio de influência nas políticas do fundo, ainda dominado sobretudo pelos Estados Unidos que dispõem de 17% das cotas da instituição multilateral.

Pelo 13º acordo de distribuição de cotas, que entrou em vigor este ano, o Brasil que detinha 1,4%, passou a ter 1,78% das cotas do fundo. Até outubro do próximo ano será implementado o 14º acordo, e neste é que o governo brasileiro garante que parte dos recursos colocados no NAB engordará as cotas do país, elevando o percentual de participação para cerca de 2%.

O que não se sabe, ainda, é como serão as novas participações relativas, já que estima-se que serão distribuídos 240 bilhões de Direitos Especiais de Saque entre todos os países-membros.

Depois da reunião dos líderes europeus, que varou a madrugada de ontem, em Bruxelas, o presidente Nicolas Sarkozy falaria com o líder chinês, Hu Jintao, para discutir a contribuição da China para o fundo europeu. O governo brasileiro considerou o acordo de ontem um bom começo. Não sabe se será procurado pelos europeus, mas tem, de antemão, sua estratégia. Entende que a tarefa de salvar os países da zona do euro é da União Europeia, mas avalia que a contribuição do Brasil, ainda que pequena e através do FMI, seria um gesto simbólico de solidariedade.

Quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou essa proposta no G-20, em Paris, há duas semanas, Alemanha, Estados Unidos e Japão não teriam aprovado. "Ninguém gostou ou desgostou. Não houve resistência", comentou um dos presentes à reunião. Essa fonte comentou que a ideia de aumentar as cotas dos emergentes no FMI de fato não agrada o Congresso americano, que tem que dar seu aval. Mas o governo brasileiro não foi convencido nem pressionado a mudar de posição, por enquanto.

A maior preocupação do governo, hoje, é quanto aos efeitos de uma crise externa prolongada sobre o crescimento mundial e, consequentemente, sobre o nível de atividade da economia brasileira. O plano de ação traçado em Bruxelas, se implementado, deve evitar uma crise bancária e o contágio da falência da Grécia a outras economias. Mas não muda o cenário de forte desaceleração das economias da região.

PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA - Direito de roubar, não


Direito de roubar, não
PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
Correio Braziliense - 28/10/2011


Em menos de seis meses, Dilma varreu seis ministros pro olho da rua. Quatro deles sucumbiram em meio a denúncias de corrupção. Dos quatro que foram faxinados devido a "malfeitos", todos eram herança do antecessor, Lula. O caso mais emblemático é o do ministro comunista. Apesar de todas as evidências de desvio de dinheiro do Ministério do Esporte, Orlando Silva clamava inocência e se recusava a deixar o posto. Acusava a imprensa de promover um linchamento, como se algum jornalista tivesse culpa por denunciar os convênios fraudulentos com ONGs operadas por gente do partido.

O mais incrível é que o delator do esquema, que o ministro chama de bandido, era colega de partido e foi até candidato a deputado distrital. Como se vê, era mais um que podia ter se transformado em malandro com mandato e retrato na coluna social, do tipo que tem imunidade, é casca-grossa e nunca se dá mal. Até ontem, a presidente da República havia espanado apenas o ministro. Diferentemente da faxina que ela fez em outros ministérios, como Transporte e Turismo, o aparelho instalado no Esporte ainda continuava de pé.

O fato é que as viúvas do doutor casca-grossíssima estão inconsoláveis. Acham que Dilma exagera no tipo de detergente usado na faxina. Têm saudade do protetor dos malfeitos. Exigem que ninguém seja demitido enquanto a "imprensa golpista" não apresentar testemunha com a idoneidade de uma Madre Teresa de Calcutá e prova do delito com firma reconhecida em cartório.

O pior nisso tudo é que muita gente acha que a roubalheira de esquerda é defensável. Afinal, dizem, sempre se roubou muito neste país. E nunca, nunca, nunca, a distribuição de renda chegava à base da pirâmide. Ponto pro casca-grossa, que a fez chegar. Só que, me lembro bem, a plataforma petista não incluía o direito à imunidade para afanar o dinheiro que pagamos de imposto. Pelo contrário, antes de o partido chegar ao poder e o mensalão estarrecer o país, havia era a promessa de ética na política, cadeia pros corruptos e corruptores, devolução do dinheiro pilhado... Hoje, portanto, não têm do que reclamar. No meu entender, Dilma está sendo até boazinha demais com os saudosos do doutor casca-grossíssima.

BARBARA GANCIA - Steve Jobs já foi tarde



Steve Jobs já foi tarde 
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SP - 28/10/11

Posso lhe garantir que se o criador do 'Ai, Cláudio!' não tivesse morrido, logo mais ele estaria dominando o mundo

Inadequação e turbulência. Toda vez que ela resolve invadir minha vida, são os vestígios dessa convergência que eu recolho. Nestes dias, minha tresloucada amiga Bucicleide veio criar desassossego em minha existência num momento delicado, mas nem por isso desconhecido do cliente da Eletropaulo.
Deixei meu micro ligado e pimba! Veja se reconhece o cenário: queda de energia seguida de acionamento do nobreak, alteração fenomenal na voltagem, agora sem a ação do protetor, e fritura do HD.

Cheguei e encontrei Ziggy Piggy, o cão que muda semanalmente de nome, sentado olhando para um monitor escuro. A ocorrência me deixou de tal forma aturdida que acabei confundindo ciclofaixa de Moema com psicopata de Moema, veja só. Foi justamente nesse ínterim que dona Buci, digo, Cleide deu as caras. Assim que chegou, tive a infelicidade de comentar que, caso possuísse um Mac, nada teria acontecido.

"Você percebe que criou o adesivo mais imbecil de todos os tempos, não percebe?", disse-me, em meio à tempestade dos dados perdidos. O adesivo a que a fariseia se refere, "I love Steve Jobs", foi feito em parceria com a designer Pinky Wainer e traz a maçã da Apple no lugar do "love". "Aquilo é uma bobagem e você é uma capadócia", disse-me minha amiga com a docilidade de uma Virgem que pega o Menino Jesus pela primeira vez nos braços e o amamenta.

"Como assim?", indaguei. "Por acaso você acha que seus dados estariam a salvo na tal nuvenzinha que o Steve criou?" Bucicleide está falando do iCloud, o sistema da Apple para armazenar dados que poderia ter evitado a sinuca em que agora me encontro, uma vez que não possuo nenhum tipo de backup.

A inclemente continuou seu massacre: "Ora, deixe de ser tonta! Quanto espaço você já comprou de iCloud?" (Assim como tantos outros mortais, eu trabalho no PC e possuo um MacBook e também iPad e iPod para armazenar fotos e músicas).

Não me foi concedido tempo para responder. "Só de músicas no iPad você já comprou mais de 400 faixas, quanto custa cada uma? Entre US$ 1,29 e US$ 0,99, faça as contas... E os aplicativos no iPhone, quanto paga por cada um? Não houve problemas recentemente na atualização do iPad? E no iPhone? Muita gente não parou de acessar os dados? O que impede que o mesmo ocorra com o iCloud? Aliás, por falar em iCloud, por que é que agora Steve Jobs sempre aparece recostadão sobre uma nuvem, isso não era coisa que a gente costumava reservar ao Matemático lá de cima? Quem ele acha que é, o Nizan Guanaes?"
Não é que Bucicleide tem razão?

"Posso lhe garantir que se esse homem não morresse, daqui a pouco estaria dominando o mundo", sentenciou. Pensando bem, o que o Steve Jobs fez foi criar um sistema muito atraente, mas pouco democrático. Do qual só ele ostentava a chave. Quem não estivesse dentro que se danasse.

Você pode dizer o mesmo sobre Bill Gates, mas ele abandonou tudo e tornou-se o filantropo mais radical que o mundo já viu. Ficamos sabendo pelo biógrafo de Jobs, Walter Isaacson, que o criador do iTudo era um mentiroso contumaz. Pois eu sempre achei meio sensacional a história do retiro espiritual no Tibete e o discurso de Stanford -me engana que eu gosto. O messianismo não é típico do homem de marketing?

Nesse ponto, eu o vejo comungando com a Bucicleide, que costuma anunciar que está de partida para Paris e depois vai se esconder em Embu das Artes.

ILIMAR FRANCO - A seis mãos


A seis mãos
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/10/11

Os governadores Sérgio Cabral (RJ), Geraldo Alckmin (SP) e Renato Casagrande (ES) decidiram lutar juntos na Câmara para mudar o texto da lei dos royalties aprovado no Senado. Pediram para o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), organizar uma reunião com o colégio de líderes. A lei de redistribuição dos royalties vai entrar em pauta na primeira semana de dezembro, logo depois da votação pelos deputados da prorrogação da DRU

Lavando as mãos
Apesar dos apelos do governador Sérgio Cabral, a presidente Dilma continua, até agora, insensível aos argumentos dos estados produtores de petróleo. Ela está firme na posição de que a União não vai colocar mais dinheiro, além dos R$ 2,5 bilhões já negociados pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). Dilma considera que tem dificuldades para mediar uma saída. Ela considera que esse problema tem que ser resolvido no Congresso entre estados produtores e não produtores. Diante desse cenário, cariocas e capixabas vão tentar convencer os não produtores a diminuir sua fatia inicial do bolo, fixado em R$ 8 bilhões.

"A Lei Geral da Copa não depende do ministro do Esporte” — Cândido Vaccarezza, deputado federal (PT-SP) e líder do governo na Câmara, sobre as mudanças na pasta

MEIA-ENTRADA. Senador mais jovem desta legislatura, com 38 anos, e tendo militado no movimento estudantil, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) vai ser o relator do Estatuto da Juventude na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ele vai manter o texto aprovado na Câmara. Já o governo quer tirar do projeto a meia-entrada para estudantes nos jogos da Copa, incluída pelo PCdoB, que controla a UNE e o Ministério do Esporte.

Aldo x ONGs
A relação do novo ministro Aldo Rebelo (Esporte) com ONGs é péssima desde que ele assumiu a relatoria do Código Florestal. Ontem, Rebelo já anunciou que substituirá essas organizações por prefeituras nos convênios da pasta.

Estranha no ninho
A secretária nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer, Rejane Rodrigues, é a única no Ministério do Esporte que não é militante do PCdoB. Rejane é do PT do Rio Grande do Sul. O PCdoB é acusado de aparelhar a pasta.

Reserva de mercado
A seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou com um pedido de veto no Conselho Nacional da entidade para tentar impedir a associação de escritórios de advocacia brasileiros com estrangeiros. Com as perspectivas geradas pelo pré-sal e pelas Olimpíadas de 2016, essas negociações têm crescido na área de direito comercial internacional. A decisão deverá sair no primeiro semestre do ano que vem.

Promoção
A chefe da Casa Civil do governo da Bahia, Eva Schiavon, vai deixar o cargo. Na semana que vem, ela assume a secretaria-executiva do Ministério do Planejamento. A ministra Miriam Belchior gostou de sua gestão no PAC baiano.

Sobrando
Sobre o número de falas do ex-governador José Serra, superior às do ex-presidente Fernando Henrique, no filme "Tancredo, a Travessia", o senador Aécio Neves (PSDB-MG) brincou: "Isso aí é a minha generosidade. Registre-se".

PRAGMATISMO. Apesar de ter perdido quadros para o PSD, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, foi à festa do novo partido alegando alianças regionais em São Paulo, Minas, Paraná, Goiás, Pará e Santa Catarina.

EX-PRESIDENTE do Banco Central, Gustavo Franco será a grande estrela de evento que o Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, promove em novembro no Rio, para debater uma nova agenda para os tucanos.

O PT quer empurrar para o PMDB a relatoria da lei da redistribuição dos royalties na Câmara.
ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Guerrilha 
SONIA RACY 
O Estado de S.Paulo - 28/10/2011

Mesmo com a escolha de Aldo Rebelo para ministro do Esporte, o PCdoB sai magoado do episódio Orlando Silva. Pelo que se apurou, o partido acha que o PT fez corpo mole – culminando com a justificativa do líder Cândido Vaccarezza de que Dilma não poderia compactuar com “mal feito”. Vai ter confusão. Os comunistas prometem não deixar Agnelo Queiroz em paz.

Laços de família 
Jânio Quadros Neto filiou-se ao PSD, partido de Kassab. A convite do prefeito.

Ma non troppo 
Está em curso no mundo virtual onda de reclamações contra os serviços de banda larga no Brasil. Os principais pontos? Preço alto e falta de fiscalização por parte da Anatel. Até o fechamento desta edição, o Twitter registrava mais de 50 mil “recados” à agência – que deve votar, hoje, lei mais dura para as operadoras.

Presente
Anne Sinclair, mulher de Dominique Strauss-Kahn – aquele do escândalo sexual no Sofitel de NY–, recebeu convite de Matthieu Pigasse. O banqueiro, amigo da família e acionista do LeMonde, quer a jornalista dirigindo versão francesa do Huffington Post.

Abrindo o jogo 
Chico Anysio gravou depoimento para o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no qual atesta: “Sofro de depressão e não teria feito 20% do que fiz se não fosse a psiquiatria”. Ao vivo, Cássia Kiss e Luciana Vendramini falarão sobre transtorno bipolar e TOC – respectivamente. E Ruy Castro debaterá alcoolismo. O evento começa dia 2, no Rio.

Princesinha 
Britney Spears, que se apresenta dia 18 na Arena Anhembi, pediu cardápio bem diversificado em seu camarim. Que vai de chá verde e suco de aloevera a isotônicos e refrigerante – diet e normal.

Princesinha 2
Em termos de produção, a cantora é arrojada. O palco terá três níveis de altura, com seis elevadores. No staff da ex-musa teen, 44 pessoas, entre bailarinos, músicos, empresários e gerência de produção. E mais 43 integrantes da equipe técnica.

Descrédito 
Combaseem29depoimentosde formadores de opinião e demais de cem jovens, o Instituto Democracia e Sustentabilidade montou pesquisa qualitativa sobre política. Percepções, mostrando o quanto ela é malvista, foram apresentadas e discutidas em evento fechado, ontem. Na busca de uma nova forma de fazer política. No gargarejo da Sala Crisantempo, Marina Silva, Neca Setubal, Guilherme Leal, Ricardo Young e Eduardo Giannetti.

Avante
Sem estardalhaço, Marta Suplicy propôs projeto no Senado para voltar a criminalizar atos de atentado violento ao pudor – separado do estupro. Hoje, pelo Código Penal, é tão grave assediar no metrô quanto estuprar.

Saque e voleio
Rafa, biografia de Rafael Nadal,será lançado semana que vem.O livro de John Carlin revela, entre outras coisas, a inaptidão do tenista espanhol para dirigir e seu apego quase infantil à família.

Berço 
O Hospital e Maternidade Santa Joana ganhará prédio anexo. Onde funcionará centro de alta complexidade, voltado à saúde da mãe e do bebê. Fernanda Montenegro será “garota-propaganda” da inauguração, que acontece em novembro.

CELSO MING - Afinal, a Europa reage


Afinal, a Europa reage 
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 28/10/2011

Ainda que faltem pormenores essenciais e sejam muitas as pontas desamarradas, desta vez se viu determinação e consistência nas decisões dos chefes de Estado da área do euro.

Até há alguns dias, problemas até menos importantes do que os tratados inundavam de dúvidas os mercados, porque os dirigentes políticos estavam paralisados e preferiam empurrar a crise com a barriga. Agora se viu que a vontade política dentro do bloco pode ser acionada mesmo que espoquem questões mais graves, como a eventualidade da suspensão de pagamentos pelo governo da Itália.

Três entre as maiores incertezas foram, afinal, enfrentadas. O risco de pânico vinha subindo porque estava em jogo o patrimônio de quase uma centena de bancos enfileirados em dominó. Apesar do corte de 50% da dívida grega em carteiras privadas, providenciou-se o reforço de capital dos bancos. É uma novidade duplamente importante. Primeiro, porque o risco de colapso sistêmico foi reconhecido e identificado. (Há somente três meses, "rigorosos testes de estresse" o ignoravam). Em segundo lugar, as autoridades trataram de bloquear ameaças de naufrágios de grandes instituições financeiras. Não está claro de onde sairão os recursos que garantirão boa saúde aos bancos, mas já se viu que não serão tolerados novos casos Lehman Brothers. Ainda nesse capítulo, faltou dizer qual tratamento será dado aos títulos da Grécia em carteira de não bancos, como seguradoras e fundos de pensão e de investimento.

A segunda fonte de aflição e estresse nos mercados era a falta de poder de fogo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Conta com 440 bilhões de euros ainda não totalmente integralizados, dos quais só 250 bilhões de euros estão disponíveis para cobrir eventuais novas urgências. O presidente Nicolas Sarkozy avisa que o fundo será alavancado em até 1,3 trilhão de euros para que possa prestar socorro em outras oportunidades. Falta explicar como essa engenharia financeira será implementada e como os emergentes contribuirão para isso. Varejos desse tipo ficaram para ser definidos na reunião do Ecofin, entidade que reúne ministros de Finanças do euro.

A terceira grande incerteza, agora equacionada, é a questão da Grécia. Além do corte de 50% da dívida com os bancos, serão liberados 130 bilhões de euros já previstos para fechar as contas públicas. Uma pergunta ainda à procura de resposta está em saber até que ponto o precedente será evocado para facilitar a vida financeira também de Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Se os gregos se deram bem, por que não os outros?

Os principais focos de incêndio foram extintos, pelo menos por enquanto. Agora é preciso ver como esses pacotes serão desenrolados sem que apareçam diabos demais nos seus detalhes, onde costumam se esconder.

E que fique entendido: as falhas estruturais da área do euro estão todas aí. A principal foi a construção de uma união monetária sobre 17 sistemas fiscais tão diferentes entre si. Ainda não há conserto nem para essa distorção nem para as dela derivadas. A diferença é que hoje há melhor percepção dos problemas, os governos parecem mais bem mobilizados para impedir a expansão dos rombos. Nesta quinta-feira, o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman von Humpuy, avisou que serão retomadas, em dezembro, as discussões sobre a revisão dos tratados da União Europeia. E este pode ser um bom recomeço

Confira
Os mercados responderam com euforia às decisões da área do euro, como indica o desempenho de algumas bolsas, mostrado no gráfico.

Pressupostos mantidos
A Ata do Copom divulgada nesta quinta mostra que o Banco Central continua apostando na deterioração da economia global, na queda ou na estabilização dos preços das commodities e na moderação do mercado de trabalho no Brasil. Pelo menos as duas primeiras hipóteses terão de ser revistas, caso as decisões tomadas pelos dirigentes do bloco do euro sejam consolidadas nas próximas semanas.

JOSÉ SIMÃO - Brasília! Cuidado! Piso molhado!



Brasília! Cuidado! Piso molhado! 
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 28/10/11

A Dilma é ouro em arremesso de ministros. Quando não é arremetido, se arremete!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

E mais um predestinado! Sabe como se chama o técnico do Libertad do Paraguai? BURRU! Burruchaga! E ganhou do São Paulo. O Burru ganhou do Leão! Eu tô achando que esse Leão é leão de circo: não tem mais nem dente! Rarará! Ou então ele ameaçou: "Se vocês perderem eu como vocês vivos". Aí a bicharada perdeu. Rarará!

E o Orlando Silva? O Orlando Silva original cantava, esse sambou! Diz que ele caiu porque tava com a camiseta do Flamengo! Rarará!

E a Dilma é ouro em arremesso de ministros. Quando não é arremetido, se arremete!

Aliás, eu acho que a Dilma é ouro em tiro. Esportes? Eu TIRO! Agricultura? TIRO! Turismo? TIRO.

Foram seis TIROS! Tem o Dia do Fico e o Dia do Tiro! E agora diz que vai ter um ministro interino. Ah, não! Eu não quero ministro interino, eu quero um ministro INTEIRINHO! O Brasil precisa de um ministro inteirinho! Diz que pode ser o Aldo Rebelo. Mas aí a Dilma vai ter de chamar ele na chincha: "Aldo, você tem o REBELO PRESO?". Rarará!

E não foi o Rebelo que queria instituir o Dia do Saci? Halloween é coisa de gringo! Troca o Halloween pelo saci. Todo mundo pulando num pé só! E abóbora no Brasil só com carne seca. Raloim com carne seca!

Eu acho que o mascote da Copa devia ser um saci!

E sabe quando o Timão vai ganhar a Libertadores? Quando o saci cruzar as pernas. Rarará! E a manchete do Sensacionalista: "Churrascaria em Brasília lança rodízio de ministros".

E sabe por que o Mano convocou o Kaká? Porque seleção sem o Kaká é um kokô!

E um amigo meu estava vindo de Miami pra São Paulo pela American Airlines quando anunciaram o filme: "Histórias Cuzadas"! Rarará! É mole? É mole mas sobe! Ou como disse o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

E o Eramos6 tem uma sugestão pra Dilma evitar mais uma queda de ministro: botar no Palácio do Planalto a placa "Cuidado! Piso molhado". Rarará!

E adorei a charge do Frank com a Dilma jogando sinuca: "O do esporte na caçapa do canto". Pá. A Dilma é ouro em sinuca. Ouro em arremesso, tiro e sinuca. Sinuca de bico! Rarará!
Nóis sofre mas nóis goza!

HELENA NADER e JACOB PALIS - O petróleo e o futuro do Brasil


O petróleo e o futuro do Brasil
HELENA NADER e JACOB PALIS
FOLHA DE SP - 28/10/11

O país do subdesenvolvimento agradece aos senadores que não mostraram interesse em aplicar a verba dos royalties na construção do futuro da nação

Na última quarta-feira, dia 19/10, o Senado da República aprovou em votação simbólica o projeto de lei nº 448, referente à partilha dos royalties do petróleo.

Foi uma decisão que vira as costas para o desenvolvimento do país e despreza nossas futuras gerações. Os senadores optaram pela distribuição de uma riqueza razoável (15% do valor do petróleo extraído) para o governo federal e para todos os Estados e municípios brasileiros mediante critérios frágeis, sem objetivos definidos e sem compromissos com a sociedade.

Para se ter uma ideia da falta de objetividade, o projeto de lei nº 448 estabelece que os royalties do petróleo poderão ser gastos com "educação, infraestrutura social e econômica, saúde, segurança, programas de erradicação da miséria e da pobreza, cultura, esporte, pesquisa, ciência e tecnologia, defesa civil, meio ambiente, em programas voltados para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e para o tratamento e reinserção social dos dependentes químicos".

Não se discute a importância de cada uma dessas áreas. O problema é a dispersão dos recursos, o que não vai resolver todos os problemas de qualquer das áreas contempladas, muito menos promoverá avanços sociais e/ou econômicos no Brasil como um todo.

A proposta que levamos ao Congresso Nacional é diferente. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) propõem que parte expressiva dos royalties do petróleo seja utilizada em áreas que promovam melhorias estruturais e sustentáveis na vida social e econômica do conjunto do país: educação e ciência, tecnologia e inovação (C,T&I).

Há consenso em nossa sociedade de que o sistema de ensino brasileiro continua com carências que comprometem gravemente a formação de nossas crianças e jovens. Os royalties do petróleo poderiam ajudar a quitar esse deficit histórico.

Já C,T&I demandam investimentos mais expressivos do que os feitos hoje porque são a única porta para ingresso do Brasil na economia do conhecimento -a forma de produção que mais agrega valor aos produtos e serviços.

Não bastasse a instituição da distribuição descomprometida dos recursos, o projeto de lei nº 448 tem mais um agravante. Se levado adiante, teremos o fim da destinação de parte dos royalties do petróleo para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

A ironia -ou o cinismo- dessa história é que o pré-sal só pode ser descoberto, e somente poderá ser explorado, porque o Brasil, obviamente a Petrobras incluída, investiu em ciência, tecnologia e inovação na área de petróleo e gás.

Esquecem nossos políticos que as reservas de petróleo, mesmo que abundantes, são finitas.

O Brasil do subdesenvolvimento certamente agradece aos senadores que se mostraram interessados apenas em distribuir o dinheiro dos royalties, e não em como aplicá-lo na construção do futuro da nação.

Assim, como estamos empenhados em defender o Brasil e os brasileiros, reivindicamos que a Câmara se manifeste contrária ao projeto de lei aprovado no Senado.

Precisamos que sejam restabelecidas as expectativas de utilizarmos as nossas reservas de petróleo efetivamente para o desenvolvimento social e econômico do País.

Os royalties do petróleo demandam uma política de Estado, e não de governo.

HELENA NADER, biomédica, é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora titular da Unifesp.

JACOB PALIS, matemático, é presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pesquisador do Impa (IMPA - Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada).

WASHINGTON NOVAES - A confusão urbana, acima e abaixo do solo

A confusão urbana, acima e abaixo do solo 
WASHINGTON NOVAES
 O Estado de S.Paulo - 28/10/11

Quem se dá ao trabalho de acompanhar as notícias é provável que se impressione com a desarticulação entre várias políticas que regem a vida dos cidadãos nas maiores cidades - cada uma atira para um lado e, somadas, provocam complicadas e indesejáveis consequências na vida das pessoas. É o caso, entre muitas, das políticas de transportes, construção de veículos, expansão urbana, combustíveis, controle da poluição do ar, manutenção de infraestruturas urbanas.

Pode-se começar pela área dos transportes. Segundo este jornal (20/10), só na primeira quinzena de outubro foram fabricados no País mais de 150 mil veículos e se espera para o mês todo que as vendas atinjam patamar semelhante ao de setembro (311,6 mil veículos); no ano, com aumento de 7% em relação a igual período de 2010, já são 2,83 milhões, mais 7%, nível recorde. A frota nacional já está além de 35 milhões. Só em São Paulo, mais de 7 milhões. E até 2015 novas fábricas e ampliação das atuais deverão acrescentar mais 2 milhões de veículos à produção anual, que hoje está em torno de 4,3 milhões, incluindo também caminhões, ônibus e comerciais leves. Ótimo para a economia, pensarão muitos. Mas que acontecerá nas cidades?

São Paulo, por exemplo, já tem um dos mais baixos índices de mobilidade urbana no País (Mobilidade Brasil, 14/10), pior que os de todas as cidades maiores, onde as questões já são graves. Uma das razões decorre de a frota de coletivos estar estagnada há anos, enquanto a população aumenta e sobe o número de automóveis. No Recife, onde a frota de veículos se aproxima de 1 milhão, um deslocamento de 22 quilômetros em transporte público leva duas horas. Em Goiânia (O Popular, 15/10), a velocidade média da frota de ônibus caiu 28% em três anos, para menos de 20 quilômetros por hora. Nesse período, a frota de automóveis e motocicletas na cidade cresceu 75%. E ainda há incentivos fiscais para a compra de veículos novos.

Também contribui para o drama dos transportes o fato de a rede ferroviária nacional responder hoje por menos de 30% do transporte de cargas - inclusive por causa do sucateamento a que foi submetida em parte, após as privatizações. Com isso é cada vez maior o transporte por caminhões, ajudando a atravancar o trânsito das cidades: em nove meses deste ano, o licenciamento desse tipo de veículo aumentou 15,9%, segundo a Anfavea (Estado, 16/10), e chegou a quase 130 mil unidades. Mas a frota, na média, ainda é muito antiga (média de 22 anos) e contribui fortemente, por esse motivo, para a poluição do ar urbano.

Quem acha que motos são um complicador no trânsito se assusta ao saber que suas vendas superarão as de automóveis em 2012 e que em dez anos haverá mais motos que carros nas ruas, segundo o Ipea (Estado, 26/5). Lembrando que uma moto pode emitir até 40 vezes mais poluentes que um automóvel e que esses veículos já são responsáveis pelo maior número de mortes em acidentes.

Nem mesmo caminhos legais são aproveitados para enfrentar questões da mobilidade e da poluição. Na cidade de São Paulo, 30% a 35% dos carros e motos estão em situação irregular e poderiam ser retirados das ruas. Mas apenas 100 mil estão apreendidos. O vice-governador Afif Domingos, segundo quem "a mobilidade em São Paulo é zero" (Estado, 21/2), promete que em dois anos serão implantadas "desmontadoras" para enfrentar o problema. Como? E até lá?

Chega-se aos combustíveis, com a redução do Etanol na mistura com gasolina de 25% para 20% - o que aumentará a poluição do ar -, mesmo com o Brasil agora importando Etanol de milho dos EUA. Nossos produtores de Etanol responsabilizam por isso a política de energia, que mantém o preço do seu produto vinculado ao da gasolina, mantido em níveis considerados irreais para não estimular a inflação. Mas continuamos exportando Etanol para a Califórnia (Estado, 20/10) e importando de outras áreas norte-americanas. E mantendo o Cerrado excluído das áreas onde não pode haver expansão da cana-de-açúcar. Com isso o bioma já perdeu a vegetação originária em metade de sua área e contribui com parcela relevante das emissões brasileiras que ajudam a intensificar mudanças climáticas.

Por aí entra mais um ângulo das relações com as políticas urbanas. Segundo a Cetesb, 11 de 14 regiões da cidade apresentaram padrões inadequados de poluição, principalmente material particulado. Na Grande São Paulo, a qualidade do ar foi considerada imprópria em 259 dias de um ano. As emissões de dióxido de carbono entre 1990 e 2008 no Estado de São Paulo aumentaram 58% (Estado, 26/4), passaram de 60,7 milhões de toneladas anuais para 95,7 milhões, e os veículos respondem por quase metade do aumento. Em um único ano os veículos emitiram 14,1 milhões de toneladas, mais que a indústria (13,4 milhões de toneladas). Registraram-se índices 392% mais altos que os recomendados pela Organização Mundial da Saúde (Estado, 1.º/8). No ano que vem entra em vigor resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente que pretende baixar o nível tolerável de enxofre para um décimo do atual. Será cumprida?

Nossas grandes cidades, em meio a tudo isso, ainda vivem atormentadas por enchentes, que também nos levam ao andar de baixo e aos problemas que ali estão. Este jornal informou (16/10) que sob as calçadas paulistanas estão 115 mil quilômetros de tubulações (quase três vezes e meia a volta à Terra), incluindo redes de água e esgotos (34 mil km), 4.700 km da rede de gás, 38 mil km da rede telefônica, 2,7 mil da energia elétrica, 1,5 mil das telecomunicações, etc. Dividem o espaço com 9,2 milhões de passageiros que usam o transporte subterrâneo. Cáspite!

Muitos administradores repetem (sem dar consequência) a frase dita há muito tempo por um sociólogo: o Estado tornou-se pequeno para resolver os megaproblemas de hoje; e, grande demais, não consegue chegar perto das questões que afligem o cidadão comum no seu cotidiano. É isso aí.

VINICIUS TORRES FREIRE - ONGs e crimes governamentais



ONGs e crimes governamentais 
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 28/10/11

Furta-se menos em ONGs que em licitação de obras, mas associações agora ajudam a corroer o Estado

GENTE ADULTA, com familiaridade com assuntos públicos brasileiros, acredita que existem meios de fiscalizar a quase quarentena de ministérios, suas centenas de ramificações burocráticas e estatais coligadas?
O que dizer de milhares de ONGs? Dado o dinheiro público recebido pelas ONGs, apenas parte dele desviado, parece até diversionismo se ocupar excessivamente do assunto.
De quanto dinheiro se trata? Um, dois, três bilhões por ano (no país inteiro)? Não se sabe, pois até mesmo a definição de ONG é incerta, e a diversidade dos contratos e convênios é tanta, entre outros problemas, que fica difícil medir a coisa. Ainda assim, é fácil ir ao Tribunal de Contas da União para ver que qualquer meia dúzia de obras públicas desviam recursos bastantes para reduzir os rolos nas ONGs malandras a roubo de galinhas.
Isto posto, ONGs se tornaram um caixa de tesourarias de campanhas, quando não de objeto furto puro e simples. Mais: se desconhece a eficácia da aplicação de dinheiro público por meio de tais associações. Aliás, não temos ideia da eficácia da aplicação de dinheiro federal quase algum, pois inexiste avaliação autônoma do gasto público.
Muito do que se chama vagamente hoje de ONG apareceu nos anos 1980 e se multiplicou nos 1990. Eram os "novos atores sociais", "movimentos sociais", mix de associações que organizavam reivindicações locais e de militância política, em especial nas áreas de saúde, educação e direitos humanos.
Cientistas sociais simpáticos a PT e PSDB viam nessas associações sinal de vitalidade democrática, novo modo de relacionamento entre Estado e sociedade. Gente mais séria nos governos petistas e tucanos paulistas (ao menos) e no governo FHC viam nas ONGs meio de atender reivindicações de gente sem voz política e de implementar de modo mais direto políticas públicas. Para tucanos em especial, ONGs (ou mais ou menos isso) seriam um meio de "desestatizar" sem "privatizar". Mais adiante, um modo de contornar as amarras burocráticas que emperram a ação do Estado.
A despolitização crescente e a rotina da democratização abriram espaço para, digamos, muito pragmatismo nos movimentos sociais. Daí para a transformação de ONGs e assemelhados em meio de vida não demorou muito. Começaram a estourar escândalos nos anos 2000. Em 2007 foi criada até uma CPI no Senado, derivada de vergonheiras em ONGs ligadas ao lulismo, CPI finada sem relatório votado, sem providência, sem nada, em 2010.
ONGs podem de fato insuflar ar puro na burocracia estatal, servir de instrumento democrático etc., mesmo que dependentes do Estado. Mas a multiplicação de convênios de modo a evitar a lentidão da máquina estatal é confissão de inépcia dos governos. Como não são nem capazes de distribuir remédios, camisinhas ou material esportivo por meio de seus serviços básicos de saúde ou educação? Por que seria difícil contratar escolas, até privadas ou paraestatais (Sistema S) para treinar mão de obra, filé de muita e enorme ONG malandra?
Agora, é preciso uma limpa geral. Nem tanto pelo dinheiro, pois se furta muito mais alhures. Mas porque muita ONG se tornou modo de capilarização do apodrecimento criminal do Estado, com suas conexões parlamentares e ministeriais.

NELSON MOTTA - Brados retumbantes



Brados retumbantes
NELSON MOTTA
O Globo - 28/10/2011

A cada ministro que cai ainda ecoam vozes do Planalto repetindo o bordão que a presidente não será pautada pela imprensa, não irá a reboque da mídia, não decidirá sob pressão. Embora todos os escândalos que levaram a quedas de ministros tenham sido levantados justamente pela imprensa. Nunca na história desse governo a mídia e a opinião pública foram surpreendidas com algum ministro demitido por malfeitos flagrados e revelados pelo próprio governo e seus órgãos de controle. Se a imprensa não gritasse, o ministério inicial de Dilma/Lula estaria intacto e, como dizia o ministro Orlando Silva, seria indestrutível. É por isso que o Zé Dirceu e seus colunistas militantes gritam tanto contra a "mídia golpista". Por ser legalista demais.

Daí a obsessão de controlar os meios de comunicação através de conselhos a serem aparelhados por partidos e sindicatos. Inspirada no modelo venezuelano e argentino, uma das bandeiras dessa "democratização da mídia" é a limitação da "propriedade cruzada": quem tem televisão não pode ter rádio, jornal, portal de internet ou canal de TV paga ao mesmo tempo. Apesar da competição acirrada no bilionário mercado publicitário brasileiro, eles querem nos proteger de monopólios imaginários, ignorando que a interação entre várias mídias é hoje uma exigência dos grupos de comunicação independentes, que os viabiliza economicamente. A produção de informação e entretenimento custa, e vale, cada vez mais.

Para manter a TV Globo, seus acionistas teriam que vender suas revistas, rádios e canais pagos. A "Folha de S.Paulo" teria que se desfazer do UOL. A Band teria que escolher entre suas rádios ou TVs. A RBS perderia o "Zero Hora". Coitado do Sarney, teria que abrir mão de sua rede Mirante ou da "Tribuna do Maranhão".

O sonho dirceuzista é ver empresários "progressistas" comprando a CBN, a "Época", o UOL e a Band News, financiados pelo BNDES por supuesto, para "democratizar" as comunicações brasileiras. Como jamais conseguiram criar, mesmo com rios de dinheiro público, um veículo de sucesso e credibilidade, desistiram de tentar fazer, agora querem comprar feito.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Perdas e ganhos
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 28/10/11

A queda de Orlando Silva teve ao menos um efeito positivo para o PC do B. Havia chance real de os comunistas do Brasil serem limados do primeiro escalão na reforma ministerial prevista o início de 2012. Com a ida de Aldo Rebelo para o Esporte, a pequena sigla "ficou".

O mesmo não pode ser dito de seus outros cargos de peso na máquina federal. Aposta-se que em novembro, ao fim do mandato de Haroldo Lima no comando da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o cargo vá para outro partido. Também há chance de o PC do B rodar da presidência da Embratur quando Flávio Dino virar candidato à Prefeitura de São Luís.

Como está... Se confirmada, a escolha de Nádia Campeão para a secretaria-executiva do Esporte será sinalização clara dos limites da eventual "limpa" a ser promovida por Aldo Rebelo. Dirigente do PC do B-SP, ela é Orlando Silva puro e sem gelo.

...fica? De cacique governista, descrevendo o movimento no Ministério do Esporte: "Eles vão trocar camaradas por camaradas".

Ideário Aldo, que ontem anunciou a disposição de manter o ministério afastado de contratos com ONGs, sempre foi crítico do "onguismo" e defensor de investimentos diretos do Estado.

Apressadinhos Embora, segundo o discurso oficial, "quem nomeia e demite ministro é a Dilma e ninguém mais", um observador atento anotou: na prática, a queda de Orlando foi antecipada por Gilberto Carvalho. E a indicação de Aldo saiu primeiro no Twitter de Orlando.

Ampulheta A decisão de adiar para 8 e 9 de novembro a apreciação da DRU na Câmara foi tomada depois que PP, PSC, PTB e parte do PMDB avisaram o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), da insegurança de quórum na longa sessão de votação. A aprovação do dispositivo exige 308 votos.

Quem avisa... O recado chegou ao Planalto: sem o empenho de R$ 4 milhões de emendas por deputado, à exceção dos novatos, o governo pode enfrentar encrenca na votação da DRU. Dilma anunciou há dois meses que começaria a abrir as torneiras, mas a liberação de recursos ainda é morosa.

Vespeiro 1 É grande a tensão na Caixa Econômica Federal diante das revelações do inquérito do PanAmericano. Elas ocorrem enquanto o BC orienta a CEF a injetar mais R$ 340 mi no banco, como forma de evitar que seu patrimônio fique negativo.

Vespeiro 2 O vice-presidente de Finanças, Marcio Percival, teve participação ativa na operação que levou a CEF a comprar 49% do controle do PanAmericano, por R$ 740 mi, no final de 2009, menos de um ano antes de vir à tona um rombo superior a R$ 4 bi nas contas do banco.

Rota do sol Orçada em R$ 775 mi, a duplicação do trecho de planalto da Rodovia dos Tamoios, promessa de Geraldo Alckmin, recebeu 27 propostas. Entre as empreiteiras interessadas na ampliação do principal acesso ao litoral norte paulista estão Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Constran, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, CR Almeida e Serveng. A obra deve terminar em outubro de 2013.

Também quero Do presidente da CNI, o mineiro Robson Andrade, acerca dos direitos de Rio de Janeiro e Espírito Santo sobre os royalties do petróleo explorado em alto-mar: "Os campos ficam a 300 km da costa. Com essa distância, saindo do Rio se chega a Minas Gerais".

tiroteito
Além de defender sua honra, Orlando Silva pode aproveitar o tempo agora disponível para praticar uma velha e esquecida tradição comunista: a autocrítica.
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre declarações dadas pelo ex-titular do Esporte, quadro do PC do B, ao final de conversa com Dilma Rousseff que selou sua saída do governo.

contraponto
Parábola do marqueteiro

Durante seminário realizado nesta semana em Brasília para discutir formas de aperfeiçoar a prestação de contas do governo, o ministro José Múcio Monteiro, do TCU, manifestou a opinião de que o principal problema nessa área seria o da comunicação. Para ilustrar seu ponto de vista, o pernambucano valeu-se de uma imagem que levou a plateia às gargalhadas:
-Nós não podemos ser iguais à pata, que bota o ovo e fica calada. Temos que fazer como a galinha, que bota o ovo e cacareja antes, durante e depois!

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Inmetro não cede a setor de material escolar
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 28/10/11

O setor esperava mudanças, mas o Inmetro diz que não publicará outra portaria sobre regras para material escolar e que os prazos para adequação serão mantidos. A partir de 7 de junho de 2012, os produtos importados ou fabricados no Brasil deverão seguir os procedimentos previstos na portaria 481.

Entre as obrigatoriedades estão testes para avaliar quais produtos são tóxicos e quais podem ser usados por crianças. Todo o material deverá sair da fábrica com o logo do Inmetro. "Isso envolve custos que não calculamos, pois ainda não sabemos quem certificará", diz Horacio Balseiro, presidente da Bic.

"Parte da produção é exportada e, em outros países, esse símbolo não significa nada. Perdemos flexibilidade", acrescenta Balseiro, que também preside o conselho diretor da associação do setor. Os fabricantes ainda esperam que os prazos sejam flexibilizados. "Enquanto discutimos alguns pontos da certificação com o Inmetro, os prazos ficam apertados", diz Paulo Boufleur, da Mercur. "Em reunião com o Inmetro na semana passada, eles reconheceram que havia erros na portaria, que deveriam ser corrigidos", diz Balseiro.

Para ele, a medida tem um lado positivo. "Esperamos que as importações chinesas sigam as mesmas regras." Gustavo Kuster, do Inmetro, diz que a lista de certificadores já foi divulgada. No site da entidade, há quatros institutos autorizados. "A única conversa que mantemos é sobre como marcar a produção. Estamos analisando se a melhor maneira é na embalagem ou no próprio produto", diz Kuster.

Brasil Brokers compra 70% da Imóveis No Morumbi
A Brasil Brokers, grupo de empresas de intermediação e consultoria imobiliária, anuncia hoje a aquisição de 70% da Imóveis No Morumbi, com sede em São Paulo. Com investimento estimado em cerca de R$ 14 milhões, o grupo aumenta a sua penetração no mercado de imóveis prontos e usados na região do Morumbi.

A Brasil Brokers foca aquisições de empresas do mercado de imóveis usados. Essa é a quarta compra realizada neste ano, com investimentos que somam cerca de R$ 70 milhões. "Tínhamos uma lacuna da nossa presença no Morumbi. Vamos agora assumir a liderança na região", diz Julio Piña, vice-presidente de operações da Brasil Brokers. A empresa tem em andamento outras negociações de aquisição que devem ser anunciadas ainda neste ano, tanto em São Paulo como em outros Estados.

"O mercado de imóveis usados está em crescimento. O volume de lançamentos de novos dos últimos anos também alavancou o mercado de usados", diz Piña. "Não existe uma 'bolha imobiliária'. Os preços tiveram um ajuste normal."

TECNOLOGIA DE EXPORTAÇÃO
O mercado brasileiro de TI, que tem ainda baixo resultado em exportações, planeja alcançar US$ 20 bilhões em 2022, segundo a Brasscom, associação do setor. As vendas ao exterior ainda correspondem a 2% do mercado mundial, com US$ 2,4 bilhões em 2010. A Índia exportou US$ 50 bilhões. Entre as ações para gerar negócios e estratégias que pretendem alavancar o Brasil como polo mundial de TI, a associação reunirá fornecedoras e usuárias, como Citibank, HSBC, Stefanini e outros, em novembro, em SP. "As recentes medidas do governo, que reduzem custo previdenciário das empresas de TI e estimulam inovação e formação, irão acelerar as exportações", diz Antonio Gil, presidente da Brasscom.

NA PISTA
O Ministério Público do Trabalho obteve liminar da Vara do Trabalho de Tatuí (SP) que determina o fim de uma terceirização na Ford. A decisão exige que a empresa encerre contratos de prestação de serviços com a Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), responsável, segundo o MPT, pelo fornecimento de empregados para trabalhar em atividades de pilotos de teste, mecânica, montagem de protótipos e outras. Cabe recurso. O MPT considera que são estas atividades-fim da empresa e que não podem, portanto, ser terceirizadas. A Ford confirma que foi notificada, mas não comenta.

ESPELHO
A vulnerabilidade e a situação econômica "privilegiada" foram os assuntos brasileiros que mais ganharam espaço na imprensa internacional no último trimestre, segundo pesquisa da empresa Imagem Corporativa que analisou reportagens publicadas em 15 jornais de 11 países. A forma "engessada" de trabalho do Cade, a corrupção e a queda dos ministros foram alguns dos temas das matérias classificadas na categoria "vulnerabilidade".

Sobre a atual situação econômica do país, o jornal "The New York Times" publicou que a vinda de estrangeiros ao Brasil em busca de trabalho aumentou. O "Financial Times" afirmou que "acostumados a crises econômicas, em meses recentes os brasileiros se veem na invejável posição de espectadores das agruras do mundo desenvolvido".

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ e ALESSANDRA KIANEK