sábado, outubro 08, 2011

ROBERTO DAMATTA - Como julgar os juízes?



Como julgar os juízes?
ROBERTO DAMATTA
REVISTA ÉPOCA

Temos aqui mais um exemplo de um sistema que quer ser igualitário no ideal, mas continua aristocrático na prática
ROBERTO DAMATTA
ROBERTO DAMATTA é antropólogo, autor de Carnavais, malandros e heróis (1979) e Pé em Deus e fé na tábua (2010) (Foto: Guillermo Giansanti/ÉPOCA)
Um dos inventores da sociologia, Emile Durkheim, dizia que numa sociedade de santos os pecados veniais seriam faltas escandalosas. Como julgar um santo entre santos? E como dentro da espessa tradição legalista do Brasil – uma tradição segundo a qual todos os problemas podem ser resolvidos por decreto e muitos agentes do governo são “blindados” ou vacinados contra a igualdade perante a lei – ilegalizar seus agentes mais importantes: os juízes que lavram a sentença final, encerrando o assunto até que, é óbvio, haja um recurso? Porque, tal como no paraíso e no mundo ideal onde o que conta é o que está formulado nos autos, cabe sempre um apelo para cima ou para baixo.
Como, faz tempo, me disse um sertanejo goiano: todos temos um patrão, e até mesmo o patrão dos patrões também tem patrão. E, como dizem os jornais, só há um magistrado preso. Em cadeia domiciliar e com vencimentos integrais. Essa seria, na prática, a maior punição de um juiz no Brasil.
Num universo onde o legalismo jurídico é a cabeça da administração (outros poderes seriam os braços, outros as pernas ou os pés) e no qual constitucionalidades e inconstitucionalidades são arguidas a todo instante pelo governo e pela oposição, embora a Constituição, ela própria, tenha mudado muitas vezes, como recortar o mundo para situá-lo em algum lugar quando nossa tradição jurídica assevera que ele jamais está onde o colocamos? Como estabelecer a famosa linha amarela que circunscreve um território onde o crime ocorreu e ali demarca o local da investigação?
Cansei de ouvir discussões banais transformadas em debates jurídicos complicados quando alguém, em geral surtado por alguma norma ou regimento, argumentava que o problema estava resolvido porque estava previsto em lei, como manda nossa velha tradição Ibérica e Contrarreformista. O melhor exemplo foi a Lei da Ficha Limpa com a qual nós, o povo, queríamos expurgar criminosos eleitos, mas que os juristas entenderam como algo que afetava o calendário eleitoral. Mal comparando, estávamos querendo jogadores de futebol sem passagem pela prisão, mas muitos entendidos julgaram que estávamos falando da estrutura do campeonato.
CONFLITO A ministra <font color='#FF0000'><b>Eliana Calmon</b></font>, da Corregedoria do <font color='#FF0000'><b>Conselho Nacional de <font color='#FF0000'><b>Justiça</b></font></b></font>, e o ministro Cézar Peluso, presidente do <font color='#FF0000'><b><font color='#FF0000'><b>Supremo Tribunal Federal</b></font></b></font>, têm visões opostas sobre a fiscalização do <font color='#FF0000'><b>Judiciário</b></font> (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
Quando se trata de Direito, o leigo não vê problemas onde o especialista – que constrói o mundo pela realidade real da lei – faz uma distinção chocante entre o habitual e o legal. O resultado é que algumas condutas podem ser imorais, mas legais. O costumeiro pode levar à prisão. Assim prescrevemos o roubo dos dinheiros públicos, mas o apanhador de passarinhos é devidamente enjaulado. Já o jogo do bicho, esse brasileirismo, como dizia Gilberto Freyre, um jogo moralmente aprovado e parte da nossa concepção de mundo, é uma contravenção!
O combate crucial entre o Conselho Nacional de Justiça e a Associação dos Magistrados Brasileiros, com ecos no Supremo, lembra o fosso de nossa índole hierárquica, recriado pela Contrarreforma Portuguesa quando fez face à revolução individualista, ampliada e tornada hegemônica com a ética do protestantismo e do calvinismo. Nela, os letrados são parte fundamental do poder. E uma Justiça feita de muitos conselhos presta mais atenção a direitos que a deveres. Hoje, tenta-se impedir o controle do poder dos magistrados pela sociedade, um dado essencial para o bom funcionamento do Judiciário e da democracia. Trata-se de levar adiante (ou não) um processo básico em qualquer sistema burguês e liberal: submeter todos os cargos da República à regra da lei. Mas eis que esbarramos na secular resistência a esse controle da sociedade (representada pelo CNJ) para a qual todos os funcionários públicos devem trabalhar.


O conflito entre o CNJ e a magistratura (e o STF) é um dos vários sintomas de um sistema que claramente combina hierarquia aristocrática e a prevalência da totalidade. Nele, tudo aquilo que diferencia e individualiza, criando conflitos normais em qualquer sistema igualitário, é lido como crise. A todo momento, ideais republicanos como a liberdade e a igualdade chocam-se com a pesada carga hierárquica e aristocrática que governa por meio de leis, portarias, marcos regulatórios e decretos – autoritariamente. Trata-se do fantasma do velho Portugal, onde o Poder Executivo englobou nobres e burgueses e inventou procuradores, ouvidores, curadores, desembargadores e corregedores com sua notória hipersensibilidade ao esquema republicano constituído de uma trindade de poderes em equilíbrio instável e permanente. Outro ponto importante desse conflito é o surgimento da velha dualidade entre a sociedade, com seus costumes e tradições (tidas por quase todos os intérpretes do Brasil como equivocadas, senão doentias – as tais “taras e origem”), e o Estado, que, forte, culto e bem aparelhado, iria europeizá-la, embranquecendo-a e civilizando-a por meio de regras, decretos, constituições e – eis o ponto-chave que cabe discutir e politizar – funcionários especiais que, sendo autores das leis, delas podiam escapar. Seja por meio de laços de família, seja por meio de provisões legais contidas no próprio cargo que era apropriado e se confundia com seu ocupante, como é o caso exemplar dos magistrados.
Temos aqui mais um exemplo de um sistema que quer ser igualitário no ideal, mas continua aristocrático na prática
Não há a menor dúvida de que temos aqui mais um estertor de um sistema que escolheu ser igualitário no ideal, mas que, na prática, continua querendo ser aristocrático; que, no céu, tem um regime legal que vale para todos, mas ainda hesita em suprimir cláusulas que excepcionalizam cargos, protegendo seus ocupantes e dando-lhes privilégios de nobreza na terra. Tal nobilização – que torna certos funcionários filhos diletos do Estado e do governo, contra toda a onda universalista das mais diversas igualdades, da moeda única e consistente até a meritocracia e a competição regrada, sem esquecer, é claro, o tratamento dos opositores políticos como adversários, e não mais como inimigos – conduz à pressão para suprimir esses dois pesos e medidas para que a imprensa e os observadores mais atentos, bem como um ou dois estudiosos do sistema, têm chamado a atenção. Impossível ter liberalismo sem igualdade. Impossível a igualdade sem a submissão de todos os cargos à regra da lei. Impossível, ainda, perseguir esse ideal não discutindo a separação entre cargos e pessoas; entre os papéis que são da sociedade e seus eventuais ocupantes. Tomando partido da igualdade como valor e ideal que não impede, mas dificulta o uso de éticas aristocráticas em plena república.
Caso contrário, estaremos fadados a repetir a paródia mencionada por um notável especialista em história social do Direito, Harold Berman. Nela, uma autoridade em lei e teologia islâmica, um mulá (cargo equivalente a ministro do STF), ouve uma disputa e, diante dos belos argumentos do reclamante, sentencia: “Creio que você tem razão”. Ouve, a seguir, a defesa e, novamente encantado, exclama: “Acredito que você está certo”. Horrorizado, o escrivão lembra que “ambos não podem estar certos”. Ao que o mulá responde dizendo: “Você também está certo!”.
Tal e qual no Brasil antigo que precisa mudar, é impossível aceitar a velha (mas tradicional) resposta, segundo a qual todos têm razão. Seja porque são amigos ou porque, como se diz entre nós, todos “têm o rabo preso”. O que está em pauta no momento é a dificuldade de fazer justiça salvando a honra senão dos mais importantes, senão de todos os implicados. E, para isso, temos de escolher entre blindar certos cargos aristocratizando-os ou seguir a norma da igualdade que impede usar dois pesos e duas medidas.

ANCELMO GOIS - Reflexo no Nordeste


Reflexo no Nordeste
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 08/10/11

O anúncio da venda da TAP, por causa da crise portuguesa, preocupa nosso ministro do Turismo, Gastão Vieira.
É que a empresa opera aqui em nove cidades e tem ajudado muito a trazer turistas estrangeiros, sobretudo para o Nordeste.

ALIÁS... 
Fala-se que a chilena-brasileira TAM estaria interessada.

JÁ COMEÇOU 
A pré-venda da versão em português do e-book da biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson, está disponível a partir de hoje na Gato Sabino, da Submarino.

ACABOU EM GRAÇA... 
Aliás, graçola que circula no Facebook: “Agora, cabe à Apple descobrir uma forma de se comunicar com Steve Jobs por e-mail. No caso, o Chip Xavier.”

DOWN NO SOCIETY 
Domingo passado, por volta de 23h30m, uma moça teve a bolsa furtada na boate 00, na Gávea, no Rio, com documentos, cartões, 
R$ 1.470, celular e uma câmera Canon G12 (mais lentes) avaliada em US$ 1.000. 
Ela acusou dois seguranças. Foi um bafafá. Veio polícia, e o caso foi parar na 14 DP.

PÁTRIA LIVRE 
O grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio se diz “braço armado” do Partido Pátria Livre, mesmo nome da legenda recém-criada no Brasil. Mas o Pátria Livre brasileiro é mansinho, não morde. Nasceu no MR-8, mas acabou no PMDB do finado Orestes Quércia.

AVE, GADÚ 
De volta de uma turnê na Itália, Maria Gadú, a cantora, traz na bagagem um disco de ouro e outro de platina. 
Na terra de Berlusconi, vendeu 30 mil cópias de seu CD, e sua música “Shimbalaiê” teve mais de 30 mil downloads.

JOGADOR E GUIA 
Um parceiro da coluna, em excursão à Croácia, viajou 1.500 km, de Zagreb a Dubrovnic, atento ao que dizia a bordo o acompanhante de um grupo de 21 brasileiros.
O interlocutor era o jogador de futebol Emerson de Souza Cruz, o Pipoca, do Konavleanin, da segunda divisão croata. Quando não está em campo, Emerson é guia turístico.

NO PAÍS DO TINTIM 
Belgas e brasileiros caíram na dança, quinta, com o Balé Folclórico da Bahia, na Europalia.
O Wolubilis, casa de shows de Bruxelas, estava lotado. A certa altura, nem a turma graúda resistiu. A ministra Ana de Hollanda, o secretário Sérgio Mamberti e o embaixador do Brasil, André Mattoso, também se entregaram ao balanço.

HORA DA SAÍDA 
O tradicional Colégio Princesa Isabel, em Botafogo, no Rio, vai fechar as portas em dezembro.

LINHA OCUPADA 
Cabral vai rescindir o contrato com a Intelig, que hoje pertence à italiana TIM, de fornecimento de serviço de telefonia fixa para o governo do estado. Alega que a empresa só conseguiu realizar 10% da migração das linhas.

‘MERDA PARA VOCÊS’ 
Terça, na Festa Internacional de Teatro de Angra, Cabral anunciou a construção de um teatro de 1.500 lugares na cidade.
E bradou: “Merda para vocês!” A expressão é típica do meio teatral e significa sorte. Ah, bom! 

EDITORIAL O ESTADÃO - Guerra cambial e fantasia



Guerra cambial e fantasia
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 08/10/11

A presidente Dilma Rousseff levantou, na Turquia, a bandeira de mais uma campanha fantasiosa, ao propor a união dos emergentes contra a "guerra monetária" movida pelos bancos centrais de países desenvolvidos. Poderia ter usado a expressão "guerra cambial", posta em circulação há mais de um ano por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, para denunciar principalmente a inundação do mercado internacional por enormes volumes de dinheiro emitido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Centenas de bilhões de dólares foram lançados pelo Fed, em duas grandes ondas, na tentativa de estimular a expansão do crédito nos Estados Unidos. Uma das consequências foi a valorização de várias moedas - entre elas o real, com sérios prejuízos para o comércio do Brasil. Mas a manipulação cambial mais antiga, mais evidente e mais danosa a um grande número de economias, incluída a brasileira, é praticada há muitos anos pelo governo de um país emergente, a China, a maior potência comercial do mundo.


Bastaria esse pormenor para mostrar o irrealismo da proposta da presidente Dilma Rousseff em seu discurso perante um auditório de cerca de 1.200 empresários turcos e brasileiros em Ancara, nessa sexta-feira. Segundo ela, os emergentes deveriam juntar-se para manifestar sua oposição à guerra cambial na próxima reunião do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes, marcada para novembro, em Cannes.

O governo brasileiro tem sido extremamente parcimonioso nas críticas à persistente depreciação da moeda chinesa. No início de sua campanha contra a "guerra cambial", o ministro Guido Mantega nem sequer se dispôs a falar contra a manipulação do yuan. Chegou quase a justificar essa política, ao descrever a ação das autoridades chinesas como defesa contra a desvalorização do dólar. Mas nem ele foi capaz de sustentar por muito tempo esse evidente despropósito. De fato, as autoridades chinesas vincularam o yuan ao dólar depois do agravamento da crise, em 2008, mas a estratégia de depreciação do yuan já era mantida havia muitos anos, apesar dos protestos da maior parte dos governos ocidentais.

A China tem sido o grande alvo das pressões, por sua política de câmbio, na maior parte das conferências do G-20. A depreciação do yuan tem sido também, por muitos anos, um assunto importante nas discussões de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O governo brasileiro nunca se comprometeu seriamente com essas críticas nos foros internacionais, mas tem sido forçado pelos fatos - e pelas pressões do empresariado nacional - a tomar medidas defensivas contra as práticas desleais de comércio da China.

Neste momento, nem se pode acusar o banco central americano de persistir na estratégia de grandes emissões. Sua política monetária continua frouxa, com juros próximos de zero, e, agora, com um programa de alongamento de prazo de títulos públicos de sua carteira. Também essa operação pode resultar em expansão monetária, mas o resultado nem de longe será parecido com o da segunda etapa de "afrouxamento quantitativo", quando foram emitidos cerca de US$ 600 bilhões. Essa etapa terminou em junho. Uma terceira poderá ocorrer, mas, por enquanto, está fora da agenda. A grande novidade nessa área, nos últimos dias, foi a decisão do Banco da Inglaterra de iniciar a compra de títulos no valor de 75 bilhões de libras, com a emissão, é claro, do valor correspondente em moeda. Teria a presidente notado esse fato?

Os chineses são hoje os maiores parceiros comerciais do Brasil e os maiores predadores de nossa indústria em todos os mercados - incluído o brasileiro. O governo brasileiro faria um trabalho político e diplomático muito mais útil à indústria nacional se reforçasse, nos foros internacionais, as pressões pela mudança da política de câmbio e do modelo chinês de crescimento. Já é tempo de abandonar em Brasília as fantasias terceiro-mundistas e a crença pueril na identidade de interesses dos países do grupo Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

DAVID COIMBRA - A civilização faz do homem mulher



A civilização faz do homem mulher 

DAVID COIMBRA 
ZERO HORA - 08/10/11

Por que os egípcios não cavalgavam?

Eis uma questão que sempre me intrigou, e só agora penso ter resolvido.

Pois os egípcios, durante milênios, desconheciam o cavalo. Foi com espanto, talvez horror, que travaram contato pela primeira vez com esse quadrúpede tão amiguinho dos gaúchos do Pampa, dos povos bravios das estepes, dos caubóis do Velho Oeste e de Athina Onassis.

Deu-se, o encontro dos egípcios com o cavalo, em lamentáveis circunstâncias. Aí por volta de 1800 anos antes de Cristo, os hicsos, um povo nômade que vivia a vaguear pelas terras da Palestina, forçou as fronteiras do Egito ao Norte, no Delta do Nilo, e por lá se derramou.

Os egípcios haviam esquematizado um Estado organizado que tinha, na época, mais idade do que têm hoje a maioria dos estados ocidentais. Mas não resistiu aos selvagens hicsos exatamente porque eles, os hicsos, dispunham dessa arma secreta: o cavalo. Montados, os hicsos devastaram as cidades do Delta, mataram, escravizaram, estupraram e, por fim, se estabeleceram.

Essa última informação é fundamental para o que vou discorrer mais tarde: “eles se estabeleceram”. Mas isso fica para mais tarde. Por ora, interessa-me o caso cavalos & egípcios.

Ocorre que eles, os egípcios, imitaram o conquistador e assimilaram o uso do cavalo. Depois de 220 anos de dominação, os egípcios se revoltaram, atrelaram os cavalos a carros de guerra e bateram os hicsos, que se evadiram deserto afora e voltaram para as areias da Palestina com o rabo entre as pernas. Alguns historiadores afirmam que lá, na Palestina, os hicsos fundaram Jerusalém, antes de evaporar nas brumas da História para todo o sempre.

Os egípcios, porém, só usavam o cavalo para puxar carros e carruagens. Jamais montaram. Jamais constituíram uma cavalaria. Por quê? Penso ter descoberto a resposta essa semana, ao ver uma carroça sendo puxada por um cavalo magro sobre o asfalto da avenida. Ante a cena, imaginei, e peço agora que você imagine também, que havia sido realizado o sonho dourado dos ecologistas: todos os veículos movidos a motor estavam extintos como pássaros dodôs.

Os seres humanos precisavam se deslocar de um lugar para outro em bicicletas, como quer o David Byrne, ou em veículos de tração animal. Uma cidade de tamanho médio, como Porto Alegre, com pouco menos de milhão e meio de habitantes, teria de contemplar pelo menos um milhão de cavalos para puxar bondes e charretes, para subir ladeiras e percorrer a distância inteira de uma Avenida Borges de Medeiros. Certo. Os cavalos, como quaisquer bichos e você também, comem e bebem.

Certo. Bebendo e comendo, processam a energia e expelem excrescências. Certo. Os cavalos não têm o hábito de usar sanitários e dar descarga, não é? Certo. Bem, pense em um milhão de cavalos fazendo cocô e xixi pelas ruas da cidade, todos os dias, todas as horas, sem parar. Pensou? Agora, corra até o seu carro e diga a ele que ele não é tão mau assim, como afirmam uns e outros.

O que quero dizer é que você não usaria cavalo, tendo carros movidos a motor. Já os egípcios não tinham automóveis, mas tinham o Nilo. O país deles era estreito e comprido como um macarrão, uma franja de terra de 15 quilômetros de largura média ao longo do Nilo. Ou seja: os egípcios se deslocavam de barco, transporte muito mais rápido, higiênico, confortável e prudentemente inanimado.

Solucionado esse intrigante problema, voltemos ao mais importante do texto, situado naquele parágrafo lá de cima, em que está escrito que os hicsos “se estabeleceram”. Aí está! Depois de conquistar o Delta do Nilo, eles se estabeleceram. Isto é: fincaram raízes, constituíram lares, formaram famílias. Tornaram-se sedentários, enfim.

E o sedentarismo é o oposto do nomadismo. O nomadismo é selvagem, indômito e masculino. O sedentarismo é civilizado e feminino. A civilização é feminina. É obra da mulher. Os hicsos, ao se civilizarem, construíram comunidades, se sofisticaram, provavelmente se dedicaram às artes e ao pensamento. Tornaram-se femininos. A civilização é efeminada. Efeminados, os hicsos expuseram-se à reação egípcia, foram expulsos das fímbrias do Nilo, voltaram ao deserto e se extinguiram.

Assim aconteceu com eles, como aconteceria com tantos outros povos da História depois deles. A Civilização torna o homem mais requintado, mais mole, mais feminino, mais sujeito à ação bárbara e masculina de um conquistador brutal. Porque o conquistador tem de ser brutal.

Um Damião, do Inter, e um Fernando, do Grêmio, o que eles têm em comum é que ainda estão na fase da conquista. Ainda são brutais. É assim que tem de ser um jogador da Dupla: tem de ser um rude esfomeado, um selvagem destruidor de civilizações. Homens que já conquistaram e que se amolentaram pelo sucesso não têm lugar por aqui.

GILBERTO MENDES - O músico que amava as mulheres


O músico que amava as mulheres
GILBERTO MENDES
O ESTADÃO - 08/10/11


O Rio de Janeiro continua lindo, todo mundo sabe, mas eu conheci essa cidade maravilhosa pela primeira vez em fins dos anos 1940, quando ainda era possível descobrir um restinho de Machado de Assis em algum recanto. Lembrome de um dia tranquilo, andando feliz pelas ruas ao lado da Avenida Rio Branco, entre os museus e o Ministério da Educação, e de repente me surpreende um pequeno e meio escondido teatro, misterioso, como aquele do Lobo da Estepe - só para poucos, só para os raros ! - anunciando às 5 horas da tarde um concerto do pianista polonês Witold Malcuzinsky.

Que hora mais imprópria, pensei, para um concerto daquela importância, e no meio da semana, de um pianista de nome internacional! Mas eu não podia perdê-lo. Olhei o relógio, já ia começar.

Entrei na sala pequena, mal iluminada, pouca gente para um concerto daquele nível, e eis que surge em cena uma figura impressionante, porte leonino, que logo ataca ao piano, com fúria, a Sonata em Si Menor de Franz Liszt.

Acho que não era meu primeiro contato com essa sonata, mas as estranhas circunstâncias em que eu a ouvia naquele momento me fizeram sentir plenamente todo seu impressionante diabolismo. Que é também, de certa maneira, um traço da contraditória personalidade de seu autor, que combinava um forte anseio religioso refreando o homem que amava as mulheres também dentro dele.

Liszt manteve tempestuoso relacionamento amoroso com uma mulher casada, a Condessa Marie d"Agoult, com quem teve 3 filhos, entre eles a famosa Cosima, que chegou a trocar seu marido, o grande regente Hans von Büllow, por Wagner, talvez por ser herdeira da mesma inquietude do pai. Sedutor nato, posteriormente Liszt passou a viver com a condessa Carolyne Sayn-Wittgenstein. E consta mesmo que já velho, quase foi atingido pelo tiro de uma jovem que se sentiu abandonada por ele. Quem sabe por isso tenha se refugiado numa ordem religiosa. Para ficar um pouco sossegado.

E sua música é tudo isso aí, num dia um Sonho de Amor super romântico, que arrebata todo tipo de ouvinte, principalmente feminino, em outro dia está À Beira de um Regato, transportando- nos deliciosamente no fluir arpejado das notas.

Mas essa Sonata em Si Menor é a coisa mais terrível, em sua beleza algo sinistra. Tanto que já foi usada no cinema num thriller clássico, o Dr.Mabuse, de Fritz Lang, obra prima do expressionismo alemão, que pode ser encontrada por ai em DVD.

Comemoramos neste ano os duzentos anos do nascimento de Franz Liszt, esse intrigante compositor de origem talvez magiar, que inventou o recital de piano moderno, a expressão "poema sinfônico", fascinou muitos de seus colegas e deu origem a uma linha de vanguarda húngara continuada por Bela Bartok, Gyorgy Ligeti e o ainda vivo Gyorgy Kurtag, agora famoso depois de velho. Impressionante observar como em suas últimas obras pianísticas, muito pouco tocadas, Liszt trocou todo o esbanjamento virtuosístico de sua característica escrita musical por uma simplicidade de estruturação, uma economia que já prenunciava Bartók. Em seu livro Mr.Croche, Antidilettante Debussy escreveu que a beleza inegável de sua obra nasce de que ele amava amúsica com exclusão de todo outro sentimento. O mais belo momento da Sonata para violino e piano de Debussy tem na melodia os mesmos dó sustenido -mi - fá sustenido sobre a mesma harmonia do Soneto 104 de Petrarca, de Liszt. Como a de Chopin, uma harmonia já de nosso tempo, tonal moderna, até meio piano bar.

O arguto compositor dodecafonista argentino Juan Carlos Paz, no delicioso livro Alturas, Tensiones, Ataques, Intensidades (Memórias I) chega a dizer que Liszt inventou muitas coisas, entre elas, a música de Wagner.

Seu genro! Curiosa opinião que vale conferir.

Tive a emoção de ver em Bayreuth o casarão onde viveu Wagner e ainda uma árvore plantada por Liszt - assim me garantiram ! - nas terras em volta de um convento numa ilha no rio Reno, em frente a Rolandseck, em que se reuniam habitualmente Wagner, Cósima, Liszt, Clara Schumann e outras celebridades da época. Eu estava hospedado no apartamento do pianista argentino Jorge Zulueta, meu velho amigo, artista em residência convidado pelo Prefeito de Rolandseck a ocupar todo o sótão de uma pequena galeria de arte, bem em frente a essa histórica ilha fluvial que me fez sentir tão próxima a vivência social intimista dessas impressionantes figuras da história da música. Não é todo dia que acontece.

PAULO SANT’ANA -Gengis Khan


Gengis Khan 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 08/10/11 

Moisés, dos 10 Mandamentos, se encontrou com Jesus Cristo e foram disputar os dois um torneio de golfe, junto com um terceiro participante, um velhinho alquebrado com o peso dos seus anos.

Moisés foi o primeiro a tacar. Deu uma tacada tão potente, que a bola foi parar no meio do rio.

Moisés, então, como já fizera com o Mar Vermelho, abriu as águas e pegou a bola. Deu uma segunda tacada e a bola caiu no buraco do golfe.

Foi a vez de Jesus Cristo, que deu a tacada e a bola foi parar em cima de uma vitória-régia, no meio das águas.

Jesus saiu caminhando sobre as águas, como já fizera na Galileia, apanhou a bola e, numa segunda tacada, botou a bola dentro do buraco.

Então, para a decisão do torneio, aproximou-se o velhinho, já tão cansado de sua vasta idade, parecia que nem ia ter forças para tacar.

O velhinho deu a tacada, a bola foi parar na boca de um sapo, num charco existente no campo de golfe.

Uma cobra deu um salto e jogou-se sobre o sapo com veneno e tudo. A cobra enrodilhou-se na bola e jogou-a dentro do buraco, o velhinho acabou ganhando o torneio na primeira tacada.

Foi então que se viu Moisés comentando com Jesus Cristo: “Desisto, não dá mesmo para nós jogarmos golfe com teu pai”.

Quem me contou esta foi o Cyro Silveira Martins Filho, fã dos feitos históricos imemoriais.

O célebre guerreiro e estadista mongol Gengis Khan, conquistador da China e da Ásia, em uma batalha, viu-se surpreendido, como todos, por um trovão. No início do século 13, os asiáticos tinham pavor pânico de trovão. Quando surgiu no céu o trovão, os inimigos de Gengis Khan na batalha prostraram-se no chão e deixaram de combater. Gengis Khan massacrou-os, desconhecendo o trovão.

Quando perguntaram a ele como perdera o medo do trovão, respondeu: “Eu perdi o medo do trovão quando considerei que não tinha como me esconder dele quando surgisse”.

A frase é lapidar. Porque só se pode ter medo de uma coisa quando se consegue ou se tenta esconder-se dela.

O que Gengis Khan quis dizer é que, quando se tem um inimigo, qualquer adversidade, se não há maneira de esconder-se dele, deve-se desconhecê-lo e tocar a vida em frente.

Foi o que ele fez, quando surgiu e retiniu o trovão, ele continuou batalhando até vencer os seus inimigos na batalha.

Em outras palavras, só devemos paralisar diante de um inimigo, pode ser, por exemplo, uma doença, quando soubermos evitá-lo: se não temos meio de fugirmos dele, temos de continuar fazendo as outras coisas, caso contrário, já estaremos de pronto derrotados e estáticos perante a ameaça, o que nos impedirá de fazer todo o resto que a vida nos impõe.

Em suma, se a gente não pode se esconder de um inimigo, deve continuar fazendo todas as outras coisas, como se o desconhecesse.

E ele, inimigo, se existe mesmo, que continue a sua ação contra nós. Mas antes tratemos de nos desincumbir do trivial.

Foi o que Gengis Khan fez. Quando viu o trovão, foi tratar da guerra.

JOSÉ PAULO DORNELLES CAIROLI - É super e é simples


É super e é simples
JOSÉ PAULO DORNELLES CAIROLI
O GLOBO - 08/10/11

O Brasil tem tido um crescimento econômico expressivo, culminando com a expansão do PIB de 7,6%, em 2010, contribuindo para a inserção de milhões de brasileiros no mercado de consumo.

Isso tem permitido que o país se aproxime dos países desenvolvidos, já sendo a oitava economia do mundo. Além disso, o Brasil se tornou credor líquido do exterior, com as suas reservas internacionais superando o valor da sua dívida externa, lhe garantindo uma maior segurança para enfrentar crises internacionais.

Se o passado recente tem sido positivo, o futuro pode nos levar a uma situação ainda melhor. A exploração do petróleo do pré-sal em águas profundas e os grandes eventos esportivos de que o país será sede nos próximos anos (Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016) poderão reforçar ainda mais o nosso recente dinamismo econômico.

Um aspecto crucial para assegurar a continuidade dos bons resultados econômicos do Brasil é o desempenho das empresas de pequeno porte do país.

Nesse sentido, a Câmara dos Deputados deu passo importante ao aprovar, por unanimidade, o projeto de lei complementar 87/11, do Executivo, que reajusta em 50% as tabelas de enquadramento das micro e pequenas empresas no Simples Nacional (ou Supersimples), um regime diferenciado de tributação no qual todos os tributos são pagos com uma alíquota única.

Os novos limites elevaram a receita bruta anual máxima para as microempresas poderem optar pelo regime de R$240 mil para R$360 mil. As empresas de pequeno porte serão consideradas aquelas com receita acima de R$360 mil e até R$3,6 milhões.

Para o microempreendedor individual (MEI), a receita máxima anual sobe de R$36 mil para R$60 mil.

O reajuste vale a partir de 1º de janeiro de 2012. Além disso, quem está inadimplente poderá parcelar metade de sua dívida em até 60 meses, uma medida que beneficiará cerca de 500 mil empresas, que até o início do ano estavam em débito com o Fisco e correm o risco de exclusão.

O único problema associado a esta política seria a possível redução da arrecadação de tributos.

Segundo o governo, os novos limites para o Simples Nacional levarão a uma renúncia fiscal da União da ordem de R$5,3 bilhões em 2012, de R$5,8 bilhões em 2013 e de R$6,4 bilhões em 2014.

No entanto, embora esta medida implique, no curto prazo, redução de arrecadação, ela terá efeitos extremamente benéficos no médio e longo prazos, relacionados, principalmente, à criação de novos empregos e à redução da informalidade da economia brasileira.

Como se sabe, as micro e pequenas empresas são as maiores geradoras de renda e emprego no país.

JOSÉ PAULO DORNELLES CAIROLI é presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil.

ILIMAR FRANCO - Jogada de mestre


Jogada de mestre
 ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/10/11

A eventual candidatura de Henrique Meirelles, expresidente do Banco Central, à Prefeitura de São Paulo, pelo PSD, faz com que o ex-presidente Lula tenha três palanques na capital paulista. Os outros dois seriam os do atual ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), e do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB). A decisão de Meirelles foi pessoal, mas antes conversou com um bocado de gente, inclusive o ex-presidente. A prioridade de Lula é derrotar os tucanos na capital paulista.

"Esse negócio de janela (para troca de partido) é incontrolável. No PSD do Kassab cabe todo mundo” — Sérgio Guerra, presidente do PSDB e deputado (PE)

FRENTÃO. 
O PMDB, o PSDB, o PTB, o PR e o PP da Câmara fizeram um acordo para votar contra o projeto de reforma política. Esses partidos não aceitam o financiamento público exclusivo das campanhas nem aceitam o voto em lista, pois avaliam que ele favorece o PT. O relator da reforma, deputado Henrique Fontana (PT-RS), na foto, desabafa: “Se eu quisesse encontrar uma função para ser criticado, não poderia ter escolhido função melhor do que ser relator da reforma política.”

Conversando

O governador Sérgio Cabral ligou para o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), para tratar de royalties. A expectativa agora é que
Cabral se reúna com a comissão parlamentar que negocia um texto que passe pelo Senado e a Câmara.

Corpo fora
Agora que o ministro Mário Negromonte (Cidades) está em baixa no governo, aliados do governador Jaques Wagner (BA) dizem que
ele apenas chancelou a indicação de seu nome para o ministério, mas nunca foi seu padrinho.

Acordo para frear o PSD

DEM, PSDB, PMDB, PP e PR fecharam acordo para votar contra projeto de resolução, a ser apresentado pelo PSD, para redistribuir o espaço físico, cargos de confiança e cargos em comissões temáticas na Câmara. Hoje essa divisão é feita com base na bancada que saiu das urnas. Pelo andar da carruagem, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), vai ter que arranjar novos espaços e criar
novos cargos de confiança para atender o novo partido sem prejudicar os demais.

Comemoração
Divergências do governo com a Fifa à parte, o PT em seu site festejou a aprovação da no Estatuto da Juventude. Na manchete: “Jovens de 15 a 29 anos conquistam ampliação dos direitos”.

Funcionalismo
Do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), defendendo o aumento de 7,5% para 9% da contribuição da União para a Previdência Complementar do funcionalismo: “Hoje o Tesouro paga a conta toda. Seria irrisório frente à situação atual”.

 PERGUNTA do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), no programa “Jogo do Poder”: “O Guido Mantega opina no debate dos royalties como ministro da Fazenda, que deve zelar pelo equilíbrio federativo, ou como presidente do Conselho da Petrobras?”.
 O DEM perdeu para o PSD cerca de um terço de sua bancada. A perda corresponde aos que não votaram no deputado ACM Neto (DEM-BA) para líder. 
 O CONSELHO de Combate à Pirataria vai reunir 60 juízes, em Brasília, de 13 e 15 de outubro, para debater a aplicação da legislação que protege os direitos autorais e a propriedade intelectual.

RUTH DE AQUINO

Jobs e Bieber: sobre ídolos e seguidores
 RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Vi um grau de comoção semelhante entre os seguidores de um e de outro nos últimos dias. Da idolatria, estou fora

A idolatria explícita, a um astro pop que morre e a um astro pop que nasce, me deixou aturdida na semana passada. Eu sei. Há um oceano imensurável entre o americano Steve Jobs e o canadense Justin Bieber. Além dos quase 40 anos que os separam, suas áreas de atuação não poderiam ser mais diferentes. Estamos falando de um showman e de um showboy, com um carisma que vai muito além do sucesso profissional. Vi um grau de comoção bem semelhante entre os seguidores de um e de outro no Brasil nos últimos dias. Uma comoção diante de espetáculos antagônicos, a vida e a morte.

Talvez eu compreenda mais as velas virtuais e o choro de quem perdeu o guru da Apple do que os desmaios, histerias e convulsões diante de um menino de óculos escuros que ainda deve comer maçã com cereal e leite no café da manhã. Mas isso se explica facilmente por minha idade, a mesma de Jobs.

O fenômeno Bieber é algo que passa muito ao largo de minha história e de meu gosto musical. Se eu tivesse uma filha, quem sabe olharia com mais simpatia as moças que, diante do rapaz bonitinho e com voz afinada que imita os passos de Michael Jackson, gaguejam, deliram, brigam, se empurram, se espremem contra a grade, pulam a grade, passam mal.

Porém, mesmo que todas as minhas atuais ferramentas de contato com o mundo tenham sido idealizadas por Jobs, não consigo derramar lágrimas reais pelo desaparecimento do CEO. Sua principal função na vida era maximizar o lucro e valorizar sua empresa na Bolsa – o que fez com uma competência sobre-humana. Lamento muito sua morte precoce. Sou grata, no meu cotidiano, ao gênio inventivo de Jobs. Admiro sua perseverança, seu entusiasmo diante de suas criações, seu charme e estilo, sua capacidade de trabalhar até o fim, vivendo o câncer em público. Era um vencedor, uma águia inspiradora. Daí a transformá-lo em Deus... Jobs nunca seria meu guru.

Como todos nós, Jobs tinha limitações. Uma de suas limitações é mais comum do que se imagina no mundo moderno das grandes empresas. Assim como o fundador da Apple, há chefes que vão à Índia, tornam-se zen-budistas e, de volta à vida real e ao contato com seres de carne e osso, humilham os que nunca serão brilhantes. Porque se sentem, eles mesmos, iluminados.
Vi um grau de comoção semelhante entre os seguidores de um e de outro nos últimos dias. Da idolatria, estou fora

Não sou referência para falar sobre os seguidores porque nunca tive guru – político, cultural ou religioso. O mais perto que cheguei da idolatria foi assistir a Help, dos Beatles, cinco vezes seguidas no cinema. O filme, de 1965, era para dançar, e dançávamos no escurinho do cinema. Mas eu não gritava nem me descabelava. Não sonhava com Paul nem John. Por vezes, imagino a sensação de catarse numa multidão em transe. Mas fico cansada logo.

Nunca passei nem passarei pela experiência de ficar acampada por dias numa fila para ver alguém cantando num telão e disputar hambúrguer ou banheiro. Quando testemunho, pela televisão, o descontrole das tietes de Bieber, me pergunto como deve ser amar um ídolo carnal de maneira mística. Talvez eu tenha perdido algo, mas não percebi.

Tanto Jobs quanto Bieber sofreram adversidades na vida. Jobs foi dado para adoção, só completou seis meses de universidade, dormia no chão no quarto de amigos para poder assistir a aulas como ouvinte, recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos e comprar comida, andava 11 quilômetros para ter uma boa refeição no templo hare krishna.

Bieber era pobre, os pais se separaram quando tinha 1 ano, sua mãe dava duro para sustentá-lo, ele dormia num sofá azul na sala, havia ratos e ele chegou a viver de doações de uma igreja, que fez uma festa beneficente para lhe dar uma bateria.

Quem não se comove com histórias de superação como essas? A fortuna de Jobs foi calculada em US$ 8,3 bilhões. A do adolescente Bieber, em US$ 150 milhões. O cantor vendeu, em dois anos, 9 milhões de discos. O fundador da Apple vendeu 100 milhões de iPhones em quatro anos e meio. Dois mágicos hipnotizadores de multidões, vendendo fantasias no palco em escala global. É preciso reconhecer o talento e o carisma de ambos. Mas, da idolatria, eu estou fora.

CACÁ DIEGUES - O despotismo da economia



O despotismo da economia
CACÁ DIEGUES
O GLOBO - 08/10/11

O capitalismo não é uma ideologia, mas um modo de viver. Ninguém o inventou, ele não tem pai nem mãe, não adianta botar a culpa no Adam Smith ou na Margareth Tatcher. O capitalismo nasceu, digamos assim, por geração expontânea, como uma necessidade humana surgida lá atrás, quando os homens da caverna começaram a conviver entre si. Um coletor deve ter sentido frio demais naquele inverno e teve a ideia de trocar um cacho de uva pela pele de urso do vizinho caçador. Estava criado o notório e tão vilipendiado mercado, lugar de encontro, entendimento e trocas, onde você pode e deve satisfazer suas necessidades satisfazendo as necessidades dos outros. Pensando bem, o erro foi de quem batizou a coisa toda, dando-lhe esse nome horrível, frio, excludente e desumano - capitalismo.

Esse mecanismo básico das relações humanas desenvolveu-se e endiabrou-se de tal modo que acabou gerando frutos diversos e às vezes divergentes, como, por exemplo, o criador Steve Jobbs e o especulador Warren Buffet, dois ícones opostos do capitalismo contemporâneo. Em qualquer caso, é de tal ordem sua promessa de recompensa que Jacques Lacan, o maior pensador da psicanálise pós-freudiana, considerou que para resistir ao capitalismo é preciso ser santo.

O pior desse capitalismo contemporâneo, o capitalismo financeiro que gira como uma roleta nas bolsas de valores do mundo inteiro, é a dependência material e simbólica que a humanidade vive hoje da economia. Uma tirania mítica em que a economia substitui o indiscutível poder divino da Idade Média, com seu terrorismo financeiro e promessas de apocalipses inquisitoriais, se não seguirmos seus sinais proféticos, suas tábuas de mandamentos. Um dos piores motes dos últimos tempos é o famoso chiste eleitoral: "É a economia, estúpido." Uma piada que, considerada esperta e virtuosa, atrasou a importância da política por algumas décadas.

O mundo precisa dar um jeito de aprender a viver sem a opressão da economia, sem o seu despotismo. Não é possível que, ao acordarmos, nosso primeiro pensamento seja sempre para ela e seus números, como indicação do que faremos pelo resto do dia e de nossas vidas.

Entramos em pânico se o dólar cai, pois é ruim para nossas exportações; mas, se o dólar subir, isso é fatal para o controle da inflação. O humor de funcionários de agências regidas por interesses financeiros que não conhecemos ("porta-vozes do fim do mundo", como diz o humorista Tutty Vasques) desclassifica países que, abalados, se tornam vítimas de desconfiança e são levados ao caos sem que se saiba bem por que. Os sábios condenam o gasto dos governos e, no entanto, é o custo do salvamento dos bancos privados, quebrados pela crise que provocam, que leva ao súbito aumento da dívida pública, onde quer que ele aconteça.

No meio do clamor de receio pelos sinais de inflação, li interessante lembrança histórica do insuspeito Paul Krugman. Na crise mundial do fim dos anos 1920, todos temiam pelas consequências de uma hiperinflação na Alemanha. Mas o desastre exemplar, diz Krugman, veio "das políticas de Heinrich Brüning, chanceler da Alemanha de 1930 a 1932, cuja insistência em equilibrar déficits e preservar o padrão ouro tornou a Grande Depressão ainda pior na Alemanha do que no resto da Europa, preparando o terreno para você sabe o quê".

Nem tudo pode ser apenas econômico em nossas vidas. Em entrevista recente ao jornal inglês "The Guardian", o cineasta Jean-Luc Godard anunciou que tinha a solução para a dívida da Grécia. Segundo ele, cada vez que um credor dissesse que o país lhe devia tanto e logo tinha que pagar-lhe, a Grécia devia responder cobrando royalties pelo uso desse "logo", elemento fundamental da lógica formal de Aristóteles. E assim iriam cobrando royalties por tudo o que inventaram e, ao fim de pouco tempo, era bem capaz de os credores estarem devendo uma fortuna à Grécia.

A vida é mais importante que a economia, a primeira não pode estar submetida ao despotismo da outra. Os valores de nosso mundo vêm sendo estabelecidos pela aritmética da especulação, sem projeto que inclua o bem-estar da humanidade, para dizer o mínimo. Até já esquecemos o pretexto do progresso que justificava o capitalismo produtivo. Sei que a humanidade não é mesmo lá grande coisa e que o mundo vai estar sempre muito aquém de nossos projetos. Mas, se ignorarmos o desejo contido nesses projetos, perderemos o sentido de nossa existência. É claro que também queremos o progresso. Mas entre o progresso e a civilização, vou escolher sempre a civilização.

Tenho a impressão, por exemplo, que é em nome disso que milhares de americanos estão, desde o dia 17 de setembro, ocupando Wall Street, num movimento político e cultural que, em breve, será tão importante quanto foram os dos anos 1960. Entre os cartazes estendidos por eles na Praça Zuccotti, vi um que dizia tudo: "Deixem-nos viver."

HÉLIO SCHWARTSMAN - Quando a objetividade evapora



Quando a objetividade evapora
HÉLIO SCHWARTSMAN 
FOLHA DE SP - 08/10/11

SÃO PAULO - No contexto de um problema aritmético ou de uma prova, ninguém se enganaria. Se João tem oito laranjas para vender e precisa fazer R$ 16 (R$ 12 para pagar as despesas de seu negócio e R$ 4 para sobreviver até o próximo mês), cada unidade terá de custar R$ 2.
Se, por um motivo qualquer, ele cobrou apenas R$ 1 dos quatro primeiros clientes, deverá comercializar os frutos remanescentes por R$ 3. Aqui não existe mágica. Os últimos compradores estarão subsidiando o desconto oferecido aos primeiros.
Basta, porém, que modifiquemos um pouco a situação, trocando as laranjas por ingressos para eventos e espetáculos, por exemplo, para que a objetividade evapore. Considera-se não só que a meia-entrada é um direito natural de estudantes e idosos como também que é por ganância que empresários tentam sabotá-la.
Está em ação aqui o que a psicologia evolutiva chama de viés anticapitalista: nossos cérebros, adaptados para a Idade da Pedra, rebelam-se contra os princípios mais elementares do funcionamento do mercado.
Em nossas cacholas, interesse público e cobiça privada são inconciliáveis. É só com muito treino que os estudantes de economia se livram da noção intuitiva (e errada!) de que para o empresário ganhar o consumidor precisa perder e que assimilam a ideia de que lidamos com interações de soma positiva e nas quais um vício privado (cobiça/busca pelo lucro) pode transformar-se em virtude pública (preços baixos e inovação).
Voltando à meia-entrada, se o Estatuto da Juventude for aprovado, jovens estudantes de até 29 anos serão agraciados com descontos de 50%. Como maiores de 60 já fazem jus ao mesmo benefício, o grosso da conta dos subsídios recairá sobre os pobres mortais na faixa dos 30 aos 59, uma fatia de apenas 18,5% da população.
É claro que o Brasil não deve subordinar sua soberania aos caprichos da Fifa, mas isso não implica que nossas leis façam sentido.

JORGE BASTOS MORENO - Marco Polo


Marco Polo 
JORGE BASTOS MORENO -Nhenhenhém
O GLOBO - 08/10/11

Pezão caiu de cama!! Com estafa de terceiro grau, a mais grave. O motivo parece piada: excesso de viagens. — Vocês criticam muito as viagens do Pezão, mas dados do governo federal revelam que, em 2010, o Rio recebeu cerca de US$ 18 bi de investimentos nacionais e estrangeiros, quase 80% a mais que SP e Minas — justifica Sergio Cabral. O governador, numa grande manifestação de amor, exalta: — Devemos tudo isso ao Pezão, que acorda cedo e dorme tarde, que não tem medo de cara feia, que emociona a presidente e encanta o governo. Se não tivesse medo de avião, Cabral acha que também traria divisas para o RJ.

Estranhando o trono
Com a doença de Pezão, Cabral assume interinamente o governo do estado. Pela primeira vez.

Corrida
Patrono da candidatura de Márcio Lacerda em aliança com o PT, em 2008, Aécio Neves agora brinca com a deputada que quase o derrotou na época: — Desta vez, a Jô Moraes apoiou o Lacerda antes de mim.

Em nome do amor
Os partidos estão fazendo esdrúxulas alianças para 2012, como a citada acima. Tudo com o mesmo pretexto: eleger Manuela. Só que a maioria dessas alianças nada tem a ver com a disputa em Porto Alegre.

Uma princesa na corte

O sisudo Jarbas Vasconcelos confessando a Jean Wyllys que sempre viu o BBB; Geraldinho Carneiro mostrando sua carteirinha de PCdoB a Aldo Rebelo; e Peréio anunciando sua candidatura a vereador pelo PSB de SP. Tudo isso no jantar de Mariana Ximenes em Brasília. Manu brilhou.

Kassab atrai Meirelles, pensando em Afif
 Kassab trouxe Meirelles, mas algo me diz que seu projeto ainda é fazer de Afif candidato a prefeito do PSD/PSDB.
P: — Meirelles não vem para emoldurar. Qual é o projeto?
R: — A estatura política, a biografia, a história de Henrique Meirelles, tudo isso é muito maior do que um projeto eleitoral. Ele significa uma marca política que, claro, tem grande significado eleitoral. Mas ele é muito maior que isso. Atribuem a mim a frase segundo a qual o PSD não seria nem de esquerda nem de centro nem de direita. Na verdade, o PSD não é nem de aplauso nem de vaia nem de apatia. É partido de ação, comprometido com princípios, claro, desde que ajudem a solucionar questões práticas da vida pública. E ninguém encarna melhor esse espírito do que o Meirelles.
P: — Depois de Meirelles, qual a próxima estrela que vem?
R: — Estrela? Como assim “estrela”? Você está querendo me comprometer? Eu já não disse mil vezes que o PSD é independente?
P: — Acreditas em alianças com o PSDB para 2012 e 2014?
R: — Eu acredito que a política é a arte de colocar a inteligência e o diálogo acima do rancor e do preconceito. E eu tenho certeza que o PSD irá construir alianças com quem enxergar a política por esse mesmo prisma.

Cabo de força
 Fernando Haddad, cujo perfil chega às bancas pela “Piauí”, em matéria da brilhante Clara Becker, só pretende deixar o ministério depois do Sisu, em 7 de janeiro, coincidindo com a reforma ministerial. Se tiver prévias para a escolha do candidato, sai, mas de licença, e volta. Foi o que acertou com a Dilma. Esqueceu-se, porém, de acertar com Lula, coordenador da sua candidatura, que o
quer longe de Brasília a partir de... ontem.

Campanha
A Confederação dos Servidores pelo direito de greve dos funcionários públicos. O lançamento será em Goiânia, no próximo dia 28,
em show do garoto-propaganda da campanha: Gabriel O Pensador. A CUT, principal empresa estatal do país, está logicamente contra o direito de greve dos servidores públicos.

Que rei sou eu?
 Albano Franco convidou o presidente em exercício para uma palestra em Sergipe, seguida de almoço. O governador em exercício,
Jackson Barreto, ficou enlouquecido. Não admitiu presidente da República visitar o estado sem ser por suas mãos. Permitiu a palestra, mas desde que Temer passasse antes pelo seu gabinete, o que era tecnicamente impossível. — Vocês acham que eu vou deixar presidente da República apertar as mãos de Albano antes das minhas? Nem mooorto! Se a montanha não vem a Maomé, Maomé vai ao aeroporto. Tudo resolvido? Que nada! Quando soube do almoço do Albano, “Maomé” rodou a baiana e determinou que o almoço
fosse no palácio. Michel tentou, mas não conseguiu dobrar o governador em exercício. De Roma, o titular, Marcelo Déda, acompanhou a confusão toda, apoiando seu vice.

WALTER CENEVIVA - Dilma e cuidados com a soberania



Dilma e cuidados com a soberania
WALTER CENEVIVA 
FOLHA DE SP - 08/10/11

Será melhor Dilma entregar a alguém de sua equipe o exame cuidadoso da Lei Geral da Copa, para evitar armadilhas
A Constituição do Brasil não é apenas o enunciado de disposições legais em si mesmas, integradas à sistemática de artigos e parágrafos. A distinção nela existente entre lei propriamente dita e fundamento pode ser lida no art. 1º, ao enunciar os fundamentos da República. "Fundamento", nesse caso, corresponde ao alicerce jurídico sobre o qual se constrói a estrutura do direito nacional.
O primeiro fundamento constitucional é a soberania. Ela suporta as garantias da livre atuação do Estado brasileiro. Soberania, como doutrina política ou como direito constitucional, define a plenitude do exercício do poder, no comando do espaço territorial da nação, em face de todos os países ou seus órgãos.
Antes que tudo, os presidentes da República dão atenção ao liame entre soberania e cidadania. Assim é porque o art. 1º liga o Estado soberano à cidadania. Isto é, ao povo. Este, sim, titular de todo poder, definido no parágrafo único do art. 1º. Poder que a presidente Dilma Rousseff exerce nos limites da lei.
A Carta Magna afirma quais são os fundamentos do Estado Democrático de Direito e neles destaca a soberania. Merece, nos minutos de cada dia, a atenção do primeiro mandatário da nação, ao qual compete privativamente dirigir a administração federal (art. 84). Daí a redação do art. 76: "o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República". Mescla o Poder e o titular.Ainda observa o art. 85, cujo contexto define crimes de responsabilidade decorrentes de seus atos no exercício do mandato presidencial.
O resumo feito nas linhas precedentes foi pensado depois da leitura da Lei Geral da próxima disputa da Copas das Federações e do Mundial de Futebol, no Brasil.
A Fifa, seguindo o exemplo adotado na África do Sul (mas não aquele que regulou o aceito pela Alemanha), impôs longa série de exigências para alteração de leis brasileiras ou a sustação de certos dispositivos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou a medida provisória 497/10, convertida na Lei n. 12.350 de 2010, a qual trata do assunto em 62 artigos.
Caberá a Dilma Rousseff o cumprimento dos termos dessa lei. Deve, portanto, examinar a constitucionalidade das disposições aprovadas, tanto no caso da Copa das Confederações quanto no próprio certame mundial de futebol.
A lei ocupa arquivo de cem páginas de computador. Tem prazo de validade de cinco anos. Seu texto diz que compreende "medidas tributárias relativas à realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa de 2013 e da Copa do Mundo Fifa de 2014".
A Lei 12.350 refere várias possibilidades de regulamentação ou alteração, conforme o caso. "Medidas tributárias" são apenas dispensas, isenções, liberações de pagamento, ou seja, benefícios da própria Fifa e empresas ou entidades ligadas a ela, em termos sem maior clareza específica.
A presidente Dilma Rousseff limitou-se, por ora, a recusar a aceitação da lei referente aos direitos dos idosos na obtenção de meia entrada nos jogos.
Se, porém, ela não quiser dores de cabeça no futuro de seu mandato, será melhor entregar a alguém de sua equipe o exame cuidadoso da lei, para evitar armadilhas e perigos jurídicos que resultarão do texto imposto pela Fifa ao Brasil, fora do limite constitucional.

CELSO MING - A força da inflação



A força da inflação
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo 08/10/11


Basta que a inflação neste mês de outubro seja inferior a 0,75% para que a próxima medição em 12 meses seja menor que os 7,31% registrados em setembro - nível mais alto desde maio de 2005. E basta que, na média, a inflação mensal do último trimestre não seja superior a 0,48% para que a evolução do IPCA no ano fique dentro do teto da meta (6,5%).

O compromisso do Banco Central não é mais garantir inflação dentro da meta (4,5%) neste ano, mas obter a convergência em 2012. É objetivo muito ambicioso, levando-se em conta a distância entre os pressupostos definidos para que isso aconteça e o que, de fato, vai se concretizando.

O Banco Central trabalha com duas apostas: (1) o mergulho da atividade econômica global produzir desinflação externa em proporção tal que seja transmitida, também, para a economia brasileira; e (2) a austeridade orçamentária do governo federal ser suficientemente robusta para que atue a favor da contenção dos preços e, ao mesmo tempo, abra espaço para a baixa dos juros básicos (Selic), hoje, nos 12% ao ano.

Não é nem um pouco certo que a economia mundial entrará em recessão. Ao contrário, a tendência, apontada quase unanimemente pelos organismos encarregados de prever os movimentos da economia mundial, é de que haverá, sim, um crescimento mais baixo da produção e do consumo nas economias maduras, mas não uma recessão. A criação de 103 mil postos de trabalho em setembro nos Estados Unidos, como ontem foi divulgado, parece comprovar essa expectativa.

E ainda que essa lenta retomada global produza desinflação - o que não está nem um pouco evidente -, nada certifica que essa queda dos preços seja transferida para a economia brasileira.

O superávit primário de 3,1% nas contas públicas deve ser elogiado e é um bom passo na direção do controle da inflação, mas sinaliza ser insuficiente para isso. Há o sempre lembrado fator salário mínimo, cujo reajuste de 14%, a vigorar em janeiro, já está contratado. Ele será, por si só, uma força que esticará as despesas correntes dos governos, especialmente, estaduais e municipais, com o grande número de funcionários públicos e aposentados que o recebem. E há o período eleitoral, quando as autoridades, normalmente, têm mais dificuldades para controlar a boca do cofre.

A alta da inflação no Brasil continua bastante generalizada (índice de difusão de 61,5%) e concentrada nos serviços (9,04% em 12 meses). É um indicador que reforça o diagnóstico de que permanece em curso uma forte inflação de demanda (consumo maior do que a capacidade de oferta da economia), a ser combatida com dinheiro curto.

A próxima reunião do Copom está agendada para o dia 19. Caso o Banco Central insista em sua disposição de provocar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, não poderá cumprir efetivamente uma política de meta de juros, como transparece em inúmeras declarações da equipe econômica.

Na prática, isso significa que não poderia seguir cortando os juros em meio ponto porcentual por mais quatro ou cinco reuniões do Copom, como demonstra ser a sua intenção.

RUY CASTRO - Antes dos 29



Antes dos 29
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 08/10/11

RIO DE JANEIRO - Aos 29 anos cravados, Mario de Andrade publicou "Pauliceia Desvairada", Nelson Rodrigues estreou em teatro com "A Mulher Sem Pecado" e Tom Jobim compôs (com Vinicius de Moraes) as canções de "Orfeu da Conceição". Com essa idade, Clarice Lispector já tinha lançado seu romance "Perto do Coração Selvagem"; Ferreira Gullar, o livro-poema "A Luta Corporal"; e Jorge Amado, "Jubiabá", "Mar Morto" e "Capitães da Areia".
Aos 29, Carlos Drummond acabara de escrever que no meio do caminho tinha uma pedra, que João amava Teresa que amava Raimundo, e que, se seu verso não dera certo, fora o nosso ouvido que entortara.
Castro Alves, naturalmente, tivera só 24 anos para construir "Os Escravos" e toda a sua obra; Álvares de Azevedo, nem isso -morrera aos 21, pouco depois de fazer a "Lira dos 20 Anos".
Manuel Antonio de Almeida publicou "Memórias de um Sargento de Milícias" muito antes dos 29. Idem Joaquim Manuel de Macedo, com "A Moreninha"; José de Alencar, com "O Guarani"; João do Rio, com "A Alma Encantadora das Ruas"; e Lima Barreto, com "Recordações do Escrivão Isaías Caminha".
Aos 29 anos, Paulo Francis já espalhava o terror pelo Rio como crítico de teatro; Millôr Fernandes era um nome consagrado no texto e no desenho; e Glauber Rocha, que fora endeusado por "Deus e o Diabo na Terra do Sol", começava até a ser contestado, por causa de "Terra em Transe". Quanto a Dolores Duran, Leila Diniz e Cazuza, foram apenas alguns que fizeram tudo antes dos 29 e logo pegaram o chapéu.
Outro país, outros tempos. No Brasil de hoje, fica decretado que a minoridade se estende aos 29 anos e que, até essa idade, qualquer marmanjo munido de uma carteira de estudante, real ou falsificada, pode continuar pagando meia-entrada nas bilheterias e na vida.

MERVAL PEREIRA - Brasileiro se vira



Brasileiro se vira
 MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/10/11

Em tempos de classe C emergente e Estado provedor, o cientista político Alberto Carlos de Almeida, conhecido pelo best-seller em que analisa a "cabeça do brasileiro", tira de uma pesquisa nacional de seu Instituto Análise uma conclusão: apesar das dificuldades e das incertezas, o brasileiro é empreendedor.
Segundo ele, "o Brasil é um país entre a Europa e os Estados Unidos. A gente tem essa matriz europeia, ibérica, meio estatizante, mas por outro lado temos uma população, especialmente a de mais baixa renda, muito dinâmica e que tem uma visão de que tem que se virar por conta própria".
Almeida explica que o brasileiro não é ideológico como o cidadão dos EUA, onde há uma doutrina contra impostos, a favor do self-made man, valores aos quais o brasileiro é até simpático, "mas de uma maneira muito pragmática".
O raciocínio médio seria o seguinte, tirado de pesquisas qualitativas onde pesquisados de diversas classes dão seu depoimento sobre o tema proposto: "A maneira que tenho para melhorar de vida, dado que não tem emprego nem carteira assinada, é abrir meu próprio negócio. Então ele vai."
É verdade que a parcela dos brasileiros que ainda depositam no governo sua garantia de emprego ou seu futuro, com a aposentadoria ou as bolsas assistenciais, continua sendo majoritária, basta ver o aumento da procura por concursos públicos. Na parte da pesquisa que tenta decifrar as alternativas preferidas para melhorar de vida, a vasta maioria, cerca de 70% dos entrevistados em todas as classes, ainda prefere uma renda fixa constante, pequena, como bolsa ou algo parecido, a um negócio próprio.
Mas cerca de 30% já escolhem ter o próprio negócio como a melhor alternativa, e Alberto Carlos de Almeida diz que essa atitude vem mudando no decorrer dos anos.
"As respostas têm muito a ver com o indivíduo olhar o ambiente econômico instável e precisar de alguma coisa para que se sinta protegido." Mas, ressalta, mesmo num ambiente instável, ter uma média entre 25% a 30% de empreendedores potenciais "é muita coisa", já que sabemos ser muito difícil vender, ter um negócio próprio, não apenas pela situação econômica, mas também pela burocracia brasileira. Empresas gastam 2,6 mil horas de trabalho por ano para pagar impostos. O Brasil aparece em 127º lugar num ranking que avalia a facilidade de fazer negócios em 183 países, elaborado pelo Banco Mundial.
Se essa é a maneira que eu tenho para me salvar, não tenho problema com isso, raciocina a média dos que buscam a alternativa do negócio próprio. "A carteira assinada e renda fixa mensal acabam sendo privilégios", analisa Almeida.
O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, criador do termo e maior estudioso da "nova classe média", explica que a designação reflete "o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou - e continua a realizar - o sonho de subir na vida. Mais importante do que de onde você veio ou está é aonde vai chegar". Ele rejeita a tese de que definição de classes é baseada no consumo: "Mais do que assíduos frequentadores de templos de consumo, o que caracteriza a nova classe média é o lado do produtor. A carteira de trabalho é seu principal símbolo. É o que chamamos de lado brilhante dos pobres."
Para exemplificar, Neri lembra que, no período de 2001 a 2009, houve crescimento de renda para os 10% dos mais pobres de 550% acima do crescimento dos 10% mais ricos. "O dado é inédito na série estatística. Isso mostra que o Brasil realmente vive a inclusão. Esse fator está ocorrendo de forma acelerada no país."
Em recente palestra, Neri admitiu que 2/3 dos empreendedores têm dificuldade com a falta de mercado, cliente e demanda. Para ele, o desafio às autoridades é oferecer assessoria mercadológica e capacitação profissional para esse público. "Nos últimos anos demos pobres aos mercados consumidores, é preciso ir além e dar mercados aos pobres."
Alberto Carlos de Almeida considera que o empreendedorismo do brasileiro é não ideológico, e a tendência é aumentar. "Se as pessoas começarem a achar que existe um ambiente mais estável, vão fazer menos questão de ter carteira assinada", especula. A pesquisa do Instituto Análise mostra que a maioria acha que mesmo com carteira assinada corre o risco de perder o emprego. "O Brasil estabilizou a moeda há pouco tempo, o cidadão tem que se sentir num ambiente favorável para empreender, mas não há essa segurança de que a vida estará boa mesmo sem uma carteira assinada".
A tendência é crescer o número de empreendedores à medida que a economia se torne mais pujante. Para Almeida, há perspectiva distinta de empreendedorismo, que não é o dos 20 sujeitos que tiveram sucesso e ficaram milionários, mas o do cidadão que vende pipoca ou cachorro-quente na rua, que representa centenas ou milhares de pessoas que cuidam do seu dia a dia.
O ex-ministro Mangabeira Unger achava "decisivo para qualquer orientação transformadora do Brasil hoje o surgimento de uma nova classe média e uma nova cultura de emergentes, esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que está construindo uma nova cultura de autoajuda e de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional". Dentro desse contexto, ele considerava que o movimento evangélico precisava ser visto "como um elemento entre muitos dessa nova base social. São dezenas de milhões de brasileiros organizados". Mangabeira desenvolveu a tese de que evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.
Almeida discorda, dizendo que a classe média americana tem outros valores, mas a meta final é a mesma: a busca de melhorar de vida pelo empenho individual. Para ele, no Brasil o protestantismo entrou formatado pela matriz católica. "O nosso protestante é muito mais parecido com o nosso católico, e o católico americano é mais parecido com o protestante, a matriz enquadra todo mundo, é herança histórica."
Essa nova classe C, segundo ele, tem mais a ver com salário mínimo, o movimento econômico no interior do país que a Bolsa Família e outros auxílios provocam, "mas a geração que virá depois deve ter mais estímulo para o empreendedorismo. Essa primeira geração ainda se vê muito dependente de um governo de sucesso, e menos dependente dela, mas os filhos desse pessoal vão ter perspectiva diferente".

DOM ODILO P. SCHERER - No espírito de Assis


No espírito de Assis
DOM ODILO P. SCHERER
O Estado de S.Paulo - 08/10/11

Escrevo estas linhas no dia de São Francisco de Assis, santo muito estimado por católicos e não católicos.

Alma sensível, coração límpido e sábio, poeta do "irmão Sol" e da "irmã Lua", desprendido dos bens deste mundo e mendigo voluntário, mas rico por ter encontrado "meu Deus e meu tudo", Francisco também se fez "irmão universal" e quis ser "instrumento da paz" de Deus para todos. Uma de suas mais insistentes recomendações aos confrades, que se agregaram a ele no mesmo ideal, referia-se à vida fraterna, com todas as consequências que isso traz.

Por esses e por outros motivos, sua medieval e pequena Assisi se apresenta ainda hoje como um dos lugares mais encantadores da Itália e continua a atrair todos os anos multidões de peregrinos, turistas e curiosos de todo o mundo. Lá, a memória de São Francisco convida a reviver a experiência que ele próprio viveu intensamente, irradiando paz e bem.

Não foi por outro motivo que o papa João Paulo II, em 27 de outubro de 1986, se reuniu em Assis com líderes de várias religiões para um encontro de diálogo sobre a paz.

Transcorria o Ano Internacional da Paz, celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e João Paulo II queria destacar a dimensão espiritual da paz e refletir, com os representantes das religiões, sobre a responsabilidade comum de orientar as crenças religiosas pessoais e comunitárias para a construção efetiva da paz; o papa lamentava que, infelizmente, a religião era instrumentalizada com frequência para gerar violência e alimentar conflitos.

Sem cair no sincretismo, nem relativizando as crenças de cada religião, o papa João Paulo II quis mostrar que era possível as religiões conviverem em paz e serem instrumentos de edificação da concórdia nas comunidades e entre os povos.

Os anos seguintes comprovaram a importância dessa intuição e como, de fato, é preciso que todas as religiões condenem com firmeza o terrorismo e se oponham com lucidez e coragem ao uso ideológico da religião, transformada em fonte de ódio e violência - porque isso seria trair a sua finalidade genuína e constituiria grave ofensa a Deus.

Ninguém honra a Deus fazendo violência contra o próximo em seu nome!

Passados 25 anos desde aquele memorável evento, no próximo dia 27 de outubro o papa Bento XVI vai repetir o encontro com líderes religiosos de todo o mundo para manter vivo o "espírito de Assis". Também estarão presentes homens de ciência e cultura, além de personalidades que se definem como não crentes. Todos irão ao túmulo do pobrezinho de Assis como "peregrinos da verdade, peregrinos da paz" - esse será o lema do encontro.

O peregrino, por vezes, avança com fadiga, mas segue caminhando com alegria e esperança, fascinado pela meta do seu peregrinar... As pessoas de fé sabem que todas as metas de peregrinações neste mundo são simbólicas e o coração intui que o termo do peregrinar está além, muito além do ponto a que já chegou.

O homem é peregrino da verdade, do bem, do belo e da paz; e continua a caminhar, a perscrutar o horizonte da existência, ávido de luz, ansioso por enxergar e encontrar repouso para suas buscas.

A proposta do novo encontro de Assis é a busca sincera da verdade, na abertura atenta ao próximo. Em outros tempos, o "próximo" estava geograficamente perto; com a globalização, a humanidade inteira transformou-se em sujeito de convivência. No entanto, como constata o papa Bento XVI, se é verdade que a globalização nos avizinhou mais, ela não nos fez mais fraternos (cf Caritas in Veritate n.º 19).

É preciso ir além do viver uns ao lado dos outros, para conviver com os outros, abrindo espaço no coração para que os nossos semelhantes possam tomar parte de nossas alegrias, preocupações e esperanças.

A religião é caminho para o encontro do homem com o bem, o amor e a verdade - com o mistério de Deus. Se ela cumprir esse papel, também ajudará a edificar a paz. Mas se, ao contrário, a religião não leva ao encontro com Deus, ou faz de Deus um objeto de manipulação dos desejos e dos projetos humanos, ela se desvia de sua finalidade e pode pôr em risco a paz.

Nenhuma religião está isenta desse risco; por isso, as pessoas de religião são convidadas a se deixarem purificar sempre mais pela verdade, a exemplo de São Francisco de Assis, transformando-se em instrumentos da paz. O desprezo à verdade leva a passar por cima da dignidade das pessoas, à soberba obcecada, ao triunfo da violência. E tudo isso está muito longe de Deus.

O papa Bento XVI, falando sobre o tema, convidou os líderes de religiões a prosseguirem nos esforços comuns pela paz. Desde o primeiro encontro, em 1986, muitas iniciativas de reconciliação e de paz já ocorreram. No entanto, também houve muitas ocasiões perdidas e retrocessos! Velhos conflitos, ocultos como brasa debaixo da cinza, explodiram novamente em terríveis atos de violência e pareceram sufocar a possibilidade da paz.

São Francisco de Assis, homem de paz, convidava a colocar Deus no centro do viver humano. Assim fazendo, ele próprio podia amar com liberdade e desapego cada criatura, valorizar cada pessoa, ir ao encontro do leproso e do pobre, falar com o lobo e com o ladrão, dialogar com aqueles que, antes, queria combater...

O campo onde prospera o desejado fruto da paz precisa ser cultivado sem parar; é tarefa constante e nunca está plenamente realizada: a edificação da convivência pacífica entre os homens requer o testemunho e o esforço comum de todos aqueles que buscam a Deus de coração sincero.

CLÁUDIO J. D. SALES - Contando com o imponderável



Contando com o imponderável
 CLÁUDIO J. D. SALES
O ESTADÃO - 08/10/11

O Ministério de Minas e Energia anunciou para o dia 20 de dezembro o próximo leilão de energia elétrica. É por intermédio dos leilões que a necessidade de energia elétrica no País é atendida. E neste próximo certame, conhecido por "Leilão A-5" (A menos cinco), as usinas que ofertarem a menor tarifa fornecerão energia a partir de 2016 e, no caso de hidrelétricas, deverão operar durante 30 anos, até 2046.
O governo espera contar neste leilão com oito usinas hidrelétricas: São Manoel (700 MW) e Sinop (400 MW), no Rio Teles Pires (MT); Cachoeira (63 MW), Estreito (56 MW), Castelhano (64 MW) e Ribeiro Gonçalves (113 MW), no Rio Parnaíba (MA/PI); São Roque (214 MW), no Rio Canoas (SC); e Cachoeira do Caldeirão (134 MW), no Rio Araguari (AP).
Das oito hidrelétricas acima, apenas duas possuem a licença prévia (LP), documento indispensável para que o empreendimento possa participar do leilão. O edital prevê que os empreendimentos que não têm licença prévia possam entregá-la até 60 dias antes do leilão, ou seja, até 20 de outubro. É importante que, ao contrário do que tem ocorrido nos últimos leilões, essas licenças sejam emitidas - ou não - respeitando o cronograma: em 2010, as licenças prévias de algumas usinas que participaram de leilões, incluindo Cachoeira e Estreito, foram concedidas na semana anterior ao certame.
A análise detalhada da situação de alguns dos oito empreendimentos revela que será muito difícil obter as licenças prévias até o dia 20 de outubro. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), documento necessário para o licenciamento ambiental de grandes empreendimentos, da Hidrelétrica de São Manoel foi entregue para a análise do Ibama (responsável pelo licenciamento ambiental em nível federal) no dia 19 de agosto. Se o prazo de 210 dias para a análise for cumprido, a licença será emitida em março de 2012, ou cinco meses após a data-limite.
As Usinas Hidrelétricas Sinop, Castelhano e Ribeiro Gonçalves receberam pedido de complementação por parte dos órgãos ambientais e não consta que as informações solicitadas tenham sido entregues pelos desenvolvedores dos projetos. Deduz-se, portanto, que, após a entrega dos documentos, será necessário um período para análise do licenciador, o que pode comprometer o prazo para a concessão das licenças prévias.
Quando o governo anuncia a "contabilização" de usinas em leilões sem que aquelas estejam com sua documentação completa, aumentam as incertezas para os empreendedores e a pressão sobre os órgãos ambientais. O órgão ambiental, pressionado, acaba emitindo licenças ambientais sem o necessário grau de análise e com condicionantes genéricas, de difícil avaliação e que tendem a se refletir em cronogramas incertos e custos imprevisíveis de programas socioambientais.
Para evitar essa situação, a baixa qualidade dos estudos de impacto ambiental - deficiência evidente em alguns dos processos - precisa ser evitada e os instrumentos de planejamento precisam ser incorporados ao processo de licenciamento ambiental.
A avaliação prévia dos instrumentos de planejamento (como Avaliação Ambiental Estratégica, Avaliação Ambiental Integrada ou Zoneamento Econômico-Ecológico) poderia dispensar a necessidade ou simplificar procedimentos para vários empreendimentos.
As recomendações acima são importantes, mas também é crucial que tanto empreendedores quanto órgãos ambientais cumpram os prazos previstos em instrução normativa. Os prazos são razoáveis, mas é indispensável a gestão firme das etapas para evitar atropelos de última hora.
A combinação de estudos com qualidade, avaliação prévia de instrumentos de planejamento e gestão eficaz de prazos aumenta a previsibilidade do licenciamento ambiental e minimiza os impactos e custos socioambientais dos projetos, beneficiando, em última instância, o consumidor, que poderá contar com energia mais barata e sem atrasos.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Bieber tem voz de Toddynho!


Ueba! Bieber tem voz de Toddynho! 
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 08/10/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E adorei o nome dessa juíza em Curitiba: Adriana Lourdes SIMETTE! E porque a Dilma tá sempre de vermelho? O Marcelo Médici diz que é encosto da Mônica! Rarará!
E a melhor definição da era Jobs. Um cara escreveu no meu Twitter: "Três maçãs mudaram o mundo. A que seduziu Adão, a que caiu na cabeça do Newton e a do Steve Jobs".
E acho melhor o Steve Jobs voltar, que tá dando merda: "Chineses antecipam a Apple e já vendem suposto iPhone 5". É o xing ling da Apple! Volta, que tá dando merda! Rarará!
E esse release sensacional: "Mulher Maçã homenageia Steve Jobs". "Grace Kelly, a Mulher Maçã, acredita que boa parte do seu sucesso nacional e, principalmente, internacional, tem a ver com o símbolo da Apple".
E ainda escrevem Steve Jobs com E; Esteve Jobs! Rarará!
Ai meu deus, iJesus! E o Justin Bieber? E o Justin Bieber com o Anderson Silva no Engenhão? Quem tem a voz mais fina?
E o site QMerda está fazendo uma promoção: "Show do Justin! Na compra de um ingresso, ganhe um Toddynho". E que o Bieber parece um chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!
E como disse um amigo meu: "Pra ver aglomeração de criança histérica, eu fico aqui em casa mesmo". E um perito foi pro "Jornal da Globo" para analisar se o show do Bieber foi em playback. Tanto faz! O público grita mais que ele! E tanto faz porque tanto faz! Primeiro que tanto faz porque tanto faz.
Mas diz que o Bieber está rebelde. Rebelde? Sim! Justin Bieber toma overdose de danoninho e joga o playstation pela janela. Rarará!
É mole? É mole mas sobe!
E o Nobel? Há muitos anos o Niemeyer mandou uma carta pro Fidel contando que o recomendou para o Prêmio Nobel da Paz. E o Fidel respondeu: "E pra quem eu entrego a carta? Só existem dois comunistas no mundo: eu e você". Rarará!
E o Nobel de Medicina mais merecido até hoje é pro Robert Furchgott, o criador do Viagra. Eu acho que depois da geladeira, foi a maior invenção do século 20!
E uma amiga minha tem uma vida sexual tão chocha mas tão chocha que, quando rola alguma coisa, tem bolo e brigadeiro no final. Rarará! Nóis sofre mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!