sábado, setembro 24, 2011

ANCELMO GOIS - GOIS NO ROCK IN RIO 1


GOIS NO ROCK IN RIO 1 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 24/09/11

No estande do Ministério da Saúde no Rock in Rio, foram feitos 104 testes de aids ontem. Um deles deu positivo. Para ele, a festa acabou mais cedo. 

MINISTÉRIO DO PATRÃO 
Veja como o Ministério do Trabalho, de Carlos Lupi, às vezes, joga mais para a torcida do que para o time.
Deu no Diário Oficial de quinta: 1.044 multas trabalhistas aplicadas contra empresas do setor aéreo foram canceladas por falta de cobrança da pasta comandada por Sua Excelência. O ministério perdeu o prazo de cobrá-las, simplesmente.

GOIS NO ROCK... 2 
Deve ser lenda urbana. Mas uma parceira da coluna ouviu de cinco porteiros de Copacabana que o bairro está sem água há três dias porque a Cedae desviou o precioso líquido para o... Rock in Rio.

SHIMBALAIÊ NA ABL 
Marcos Vilaça, presidente da ABL, no discurso que saudou a posse do coleguinha Merval Pereira, citou um verso de uma jovem “filósofa” brasileira, a querida cantora Maria Gadú. 
É da música Tudo diferente: “Todos os caminhos trilham pra gente se ver / Todas as trilhas caminham pra gente se achar, viu.”
Não é fofo?

GOIS NO ROCK... 3 
A Fundação Cacique Cobra Coral pediu à prefeitura para ser credenciada para o Rock in Rio.
Não se sabe se este pessoal gosta de rock ou foi pessoalmente apenas para garantir que não haverá chuva no espetáculo.

VOVÓ FAFÁ 
Fafá de Belém, a querida cantora, foi às compras em Nova York. Rodou a meca do consumo montando o enxoval do primeiro neto, que chega no fim do ano.
Comprou até babá eletrônica na loja da Apple.

CALMA, GENTE 
Pode ter sido o calor do momento. Mais de um interlocutor diz ter ouvido de Joseph Blatter, logo após o anúncio da Lei da Copa de 2014 semana passada, que, naqueles termos, o Mundial seria levado para outro país.
O acordo Fifa/governo pode ser rompido até 2012.

SUBIU NO TELHADO 
A sondagem para Henrique Meirelles ser diretor-executivo da Copa foi dia 25 de agosto. Até agora, não houve nenhuma conversa tête-à-tête entre Ricardo Teixeira e o ex-presidente do BC.

CRAQUE SOVINA 
Quinta à noite, Preta Gil doou US$ 10 mil, no jantar anual da Brazil Foundation em Nova York, que arrecadou US$ 1,7 milhão para projetos sociais por aqui.
Presente ao evento, Ronaldo Fenômeno discursou, ofereceu autógrafos, mas botar a mão no bolso... nem pensar.

PRETINHO GOSTOSO 
O cafezinho brasileiro faz sucesso na França. Nos três primeiros dias da Top Resa 2011, badalada feira de turismo, foram distribuídas mil xícaras de café. Teve gente de todo o mundo pedindo bis. Por isso, a Embratur e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) vão estender a ação às próximas feiras internacionais.

RUTH DE AQUINO - A paz é feminina?


A paz é feminina?
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA


Mulheres israelenses e palestinas cansaram de perder filhos e maridos. A solução depende delas
RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Helena, Júlia, Nadine. Três mulheres a favor da tolerância religiosa e contra o absurdo da guerra. Helena Salem, judia sefardita, teve de se passar por árabe para cobrir a Guerra do Yom Kippur como jornalista, em outubro de 1973. Júlia Bacha dirigiu um documentário revelador sobre a resistência pacífica num vilarejo palestino, Budrus, que será lançado em DVD no Brasil em outubro. Nadine Labaki, libanesa cristã, ganhou no domingo passado o Festival de Toronto, com seu filme encantador numa aldeia remota onde uma mesquita e uma igreja ficam lado a lado.
“O que é ser judeu? E árabe? E judia com nome árabe? Que guerra é essa? Só pode ser assim?”, escreveu Helena Salem em seu belo livro Entre árabes e judeus, publicado em 1991. “O que faz com que me sinta tão próxima do soldado israelense como do egípcio? Será que eles não sabem que são tão parecidos? Como juntar aquela menininha que jurou nunca se casar na sinagoga com a mulher que agora assume uma identidade de árabe para poder circular livremente por Egito, Síria, Jordânia, Líbano, sem medo de ser molestada? Como ser, ao mesmo tempo, alvo de repúdio da colônia israelita e de desconfiança dos árabes? O que fazer com meus véus interiorizados de mulher judia oriental, que reconheço tão próximos dos véus que recobrem a face das mulheres árabes?”
Aos 22 anos, jornalista, Helena Salem foi conhecer o Cairo. Três dias depois, estourou a Guerra do Yom Kippur. Ela insistia em dizer que os palestinos não deveriam ser outro povo nômade, sem o chão de uma pátria. Ficava impressionada em como se sentia em casa numa mesquita no Cairo: “Mulheres em cima, homens embaixo, o canto choroso, conhecia tudo isso”. Divertia-se também em descobrir comidas parecidas: o folheado árabe semelhante à bureka, “a maior iguaria oferecida na casa de vovó Judith”.
Agnóstica, carioca, Helena teria hoje 63 anos. A injustiça da vida a levou precocemente, aos 50. Seu livro, que ela me deu num jantar em sua casa e que li de um trago só, traz muitas luzes para o que está em jogo na ONU: o reconhecimento do Estado palestino.
Mulheres israelenses e palestinas cansaram de perder filhos e maridos. A solução depende delas 
Quando a carioca Júlia Bacha, de 30 anos, foi a Israel, tinha a mesma idade de Helena no Cairo: 22 anos. Fez a assistência de direção de Encounter point, documentário que mostra como mães israelenses e palestinas se reúnem em ONGs para buscar uma saída de paz. Júlia também dirigiu Budrus, que registra como um vilarejo palestino de 1.500 habitantes resistiu pacificamente ao muro planejado por Israel. A cerca dividiria o cemitério ao meio, destruiria 3 mil oliveiras e ficaria a 40 metros da escola. Jovens ativistas israelenses e europeus aderiram ao movimento. E Israel mudou o muro de lugar depois de 55 manifestações ao longo de um ano.
“Tanto israelenses quanto palestinos vivem em sociedades machistas onde o Exército ou a luta armada acabam por valorizar os homens”, diz Júlia. “As mulheres e as mães estão cansadas de perder seus filhos e maridos. Em Budrus, a cena mais tocante acontece quando a menina Iltezan, de 15 anos, se joga no buraco feito pela escavadeira do trator e ali se senta, pequena e impassível, diante da máquina.” Iltezan arriscava a vida para defender as oliveiras. Sem jogar uma pedra, uma granada.
Na semana passada, assisti ao filme E para onde vamos agora?, de Nadine Labaki, libanesa de 37 anos. Numa aldeia, as mulheres cristãs e muçulmanas se unem para evitar novos lutos. Desligam os fios da única televisão da praça. Queimam os jornais que relatam conflitos. Escondem as armas. Contratam dançarinas ucranianas para distrair os maridos. Mas palavras ou gestos enviesados continuam a provocar brigas entre os homens. Um dia, as cristãs despertam com véus pretos e chamam seus maridos para a mesquita. E as muçulmanas acordam de vestidos leves, braços e pernas de fora, chamando os maridos para a igreja. Eles acham que todas enlouqueceram.
Não sei se a paz é feminina. Mas talvez dependa, sim, da força, da persuasão e da tolerância das mulheres. E do desejo profundo de não mais chorar por seus homens.

JOSÉ SIMÃO - É hoje! Bueirock in Rio!


É hoje! Bueirock in Rio!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 24/09/11

E avisa pro Mantega que eu sei como baixar o dólar! Atrela o dólar ao Flamengo. Cai rapidinho! Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E o Momento Econômico? Ops, Tormento Econômico! E o dólar disparando? O Rock in Rio já pagou o cachê da Rihanna? Deve ter dobrado de ontem pra hoje! Rarará!
Aliás, sabe o que ia fazer o maior sucesso no Rock in Rio? Os Bueiros Voadores! Dança de rua com tampa de bueiro! Espetáculo pirotécnico: Bueirock in Rio!
E não se faz mais pop star como antigamente: ninguém ainda quebrou um quarto de hotel, ninguém se atirou pelado na piscina.
Agora é: Rihanna toma caipirinha em Ipanema, Rihanna sobe no Pão de Açúcar, Katy Perry chupa pirulito, Elton John toma overdose de mingau e se atira na hidro da suíte.
Vocalista do Metallica cheira farinha láctea e atira bengala no fotógrafo. Eu vou dar os meus ingressos pra minha avó!
E o dólar a R$ 1,80? Como diz uma amiga minha: "Viajar ficou mais longe!". Dólar a R$ 1,80! Miami ficou mais longe! Toda vez que o dólar sobe, o mundo fica mais longe!
E aquela camisa que eu comprei na Espanha, no cartão? Quando eu tirei da mala, já tinha dobrado de preço! Rarará! E sabe o que o dólar falou pro real? VALEU!
E avisa pro Mantega que eu sei como baixar o dólar! Atrela o dólar ao Flamengo. Cai rapidinho! Rarará! O câmbio está hidramático!
E a Bolsa? As Vuittons continuam caindo! A volta do TUM TUM TUM! O que é TUM? A Bolsa caindo. E TUM TUM TUM? Três acionistas desmaiando!
E um amigo meu perdeu tudo na Bolsa, vendeu o apartamento e foi morar na casa da sogra. Mas por que justo na casa da sogra que ele tanto odeia? Porque pra quem tá morrendo afogado jacaré é tronco!
E toda vez que a Bolsa desaba, a televisão mostra a mesma cena: um monte de desesperado com a mão na testa. E gritando no celular: "Mãe, sabe aquele meu quartinho? Não desativa que eu to voltando".
E adorei aquele prefeito do interior de São Paulo: "Prometo PARALELIPEIDAR a cidade". E a manchete do Piauí Herald: "ONU reconhecerá que Roberto Justus é lindo". Rarará! E não disse que o Elton John tava a cara da Vovó Mafalda?
E continuo com a gripe Anderson Silva: te derruba e te deixa mais quebrado que arroz de terceira. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

PAULO SANT’ANA - Vem aí verão rigoroso


Vem aí verão rigoroso
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 24/09/11

O dólar deu um salto espetacular neste mês de setembro. Já bateu em quase 17% de valorização, fato jamais visto. Nesses últimos anos, chegou a ser surpreendente que o dólar só caía de valor, foi perdendo aquela aura de moeda forte e dominante.

De repente, neste mês, o dólar enlouqueceu e foi subindo numa disparada louca, que assusta os governantes e os analistas financeiros.

Se alguém tivesse tido o topete de investir em dólar neste mês de setembro, amealharia fortunas.

Este aumento súbito e violento do dólar traz grandes preocupações à economia. Muito do que consumimos contém insumos em dólar, fatalmente essa alta do dólar acarretará inflação.

Um outro detalhe não passou despercebido nem por mim, que entendo patavinas de mercado financeiro. É que sou muito antigo, sendo assim adquiri experiência: através dos tempos, nas últimas décadas, observei que, sempre que havia queda nas bolsas, isso era acompanhado de alta do dólar.

Ora, as bolsas andaram despencando fragorosamente nos últimos meses, mas o dólar permanecia estável.

Até que agora veio a lógica antiga: o tombo sensacional das bolsas é acompanhado hoje da alta súbita e violenta do dólar.

Ou seja, teria bastado a um especulador financeiro que fosse observar a queda das bolsas e tratasse de comprar dólares, se a tradição se confirmasse, os lucros seriam óbvios e compensadores.

Não deu outra, bolsa em baixa, dólar em alta: não há nada de novo no horizonte do mercado financeiro.

Na meteorologia, se dá o mesmo. Ela também guarda dogmas, como o mercado financeiro.

Agora mesmo, tivemos o inverno mais rigoroso dos últimos tempos. Isso para a meteorologista Estael Sias e seu colega Cléo Kuhn, nossos guias da RBS. Porque, para mim, foi o inverno mais rigoroso dos últimos 72 anos, prazo em que sobrevivo sobre a Terra.

Pois bem, tivemos sete dias em julho de temperatura abaixo de zero, tivemos até nesse inverno inesquecível três dias de neve, o que não acontecia havia 17 anos.

Era frio e chuva todos os dias.

E onde o dogma? É que eu, que não sou mais sábio nem mais inteligente que ninguém, sou, no entanto, mais velho.

E sempre notei em minha vida que, quando se tinha um inverno rigoroso, ele era seguido de um verão também rigoroso.

Portanto, saiam da frente, vem aí um verão senegalesco. Nem sei como a gente tem de se preparar para um verão africano, mas aviso: vamos suar em bicas, vai ser difícil andar nas ruas, sem ar condicionado, no verão que se aproxima.

Ainda mais que há vestígios de que a chuva não cessou, vai invadir a primavera. Nunca mais os habitantes de Bagé irão se queixar de seca e de torneiras sem água.

Quem sobreviveu a esse inverno é um herói, capaz até de não ser rebaixado para a segunda divisão.

MARIA CRISTINA SANCHES AMORIM - É preciso enxotar o fantasma da CPMF



É preciso enxotar o fantasma da CPMF 
MARIA CRISTINA SANCHES AMORIM
FOLHA DE SP - 24/09/11

A regulamentação da emenda constitucional 29 (EC 29), que definirá os gastos dos municípios e Estados com os serviços de saúde, trouxe à tona um fantasma do brasileiro, o retorno da CPMF (ainda que com outra sigla), e um debate sobre o financiamento do setor.
Precisamos enxotar o fantasma e organizar o debate, pois o "encosto" procura materializar-se na legitimidade indiscutível dos gastos governamentais com a saúde.
A EC 29 estabelecerá o piso de 15% do orçamento dos municípios e de 12% daquele dos Estados para gastos com os serviços de saúde -e também determinará os tipos de gastos. Ocorre que a maioria esmagadora dos municípios e Estados não tem dinheiro, ou seja, este virá do governo federal.
Em tempos de aumento de superavit primário para enfrentar a resistência à redução dos juros e as pressões inflacionárias, a União resiste em gastar e comprometer-se com um gasto contínuo.
Nesse cenário, por que não reeditar a CPMF? Um novo tributo é sempre impopular; nada mais oportuno do que justificá-lo como necessário e inevitável. E assim, a CPMF volta à cena, sob a forma de "encosto" em causa tão nobre.
Os governos estaduais e, principalmente, o federal aumentam a capacidade de arrecadar tributos acima da inflação e do crescimento do PIB há uma década. Porém, alegam não ter dinheiro para cumprir o que fixa a emenda 29.
Para o governo federal, a votação da EC 29 é uma oportunidade de ouro para "matar três coelhos com uma só cajadada". Com o retorno da CPMF a administração:
1) ficaria "bem na fita" com o pessoal da saúde, ao atender à velha -e legítima- demanda da regulamentação da emenda 29 e destinar mais dinheiro à área;
2) ampliaria alianças com parlamentares, que sairão por aí como paladinos da saúde;
3) conseguiria fonte adicional de dinheiro para pagar a dívida interna e cumprir a meta de superavit.
A CPMF é ruim no nascedouro: incide sobre serviços e será incorporada como aumento de custos e de preços. Isto é, o consumidor, independentemente de sua renda, pagará a conta final.
Por se tratar de uma contribuição, e não de um imposto, o governo federal não tem obrigação de reparti-la com Estados e municípios. Poderá direcioná-la ao fundo de estabilização, para remunerar rentistas com base na taxa Selic, como fez de 1997 a 2006 (do total arrecadado no período, apenas 45% destinaram-se aos gastos com saúde).
Algum dinheiro para a saúde há de sobrar: nisso aposta o governo federal para conseguir legitimar o retorno da CPMF.
Garantir recursos estáveis para o financiamento da saúde e coibir desvios são ações de importância indiscutível, mas a inevitabilidade de aumentar tributos é outra história. Não faz sentido o governo afirmar que não tem dinheiro para os gastos decorrentes da aprovação da emenda 29. Tem, sim.
Vejamos de onde poderia sair a verba para a saúde. A cada 0,5% de redução da taxa de juros (Selic), sobram bilhões de reais por ano. Até hoje, o governo federal não cobrou o dinheiro devido pelas operadoras de planos e seguros de saúde quando seus clientes usam a rede SUS. O BNDES aumentou os saques sobre o Tesouro, usa recursos do FGTS e do FAT, empresta a juros de 6% ao ano e paga acima de 10%.
A lista de alternativas à CPMF é longa, e mesmo a imposição de outras fontes fiscais que não incidam sobre trabalho e produção deve ser vista com cuidado. A história dos tributos mostra que os governos costumam onerar não os agentes que deveria, mas aqueles que consegue.
MARIA CRISTINA SANCHES AMORIM, economista, é professora titular da PUC-SP.

MÔNICA BERGAMO - GOLEIRO NO AQUÁRIO



GOLEIRO NO AQUÁRIO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 24/09/11

O presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro, se manifesta pela primeira vez, em detalhes, sobre a novela da transferência de Neymar para o Real Madrid. "Eu não tenho a mais remota condição de competir com eles [para manter o craque no Brasil] em termos financeiros. Mas estou lutando. Há indícios de que fizeram uma jogada bonita. Mas ainda não marcaram gol. A partida não terminou. Está zero a zero. Ou melhor, um a zero: Neymar ainda está no Santos."

GOLEIRO 2
Luis Alvaro diz que, além de jogar com a "felicidade" de Neymar no Santos, ainda procura patrocinadores que banquem o craque no Brasil até 2013. "Poderíamos dividir em quatro cotas. O Neymar hoje é assunto de interesse nacional." Ele conta ter repetido ao jogador que, se com 19 anos ele já vale milhões, em pouco tempo, se for campeão mundial e olímpico, seu preço aumentará.

GOLEIRO 3
O seguro que Neymar fez, e que teria sido pago pelo Real Madrid, seria apenas um dos tais "indícios" de que o clube fez uma "jogada bonita". "Nem sei se houve isso mesmo, a mim pouco interessa. Mas é claro que, se quer jogar fora do país, o Neymar precisará de um seguro. O Real pode ter feito esse agrado a ele. Mas se você é casada comigo e alguém te manda flores, isso já é prova de que você me traiu?" Luis Alvaro finaliza: "Se eu não assinei, não existe contrato fechado com ninguém".

BOAS VINDAS
E a TV Globo recebeu os presidentes dos principais clubes anteontem, no Rio, para um jantar no restaurante Atlantis em comemoração do contrato deles com a emissora para o Brasileirão. Com direito a champanhe, vinho Bordeaux e foie gras. "Padrão Globo de qualidade", na definição de um deles. Todos foram hospedados no Copacabana Palace.

ROTEIRO
Na mesa principal, com os diretores da Globo, estavam Andres Sanchez, do Corinthians, Patrícia Amorim, do Flamengo, Luis Alvaro, do Santos, e os presidentes do Coritiba e Cruzeiro. No dia seguinte, todos fizeram tour no Projac, onde ficam os estúdios da emissora.

SÓ GLOBAIS
Os promoters Caio Fischer, Léo Marçal e Diógenes Queiroz tiveram que cortar os artistas da TV Record da lista de convidados para o camarote da Trident no Rock in Rio. A empresa só liberou dez celebridades por noite, com um acompanhante cada. Quem pediu para levar uma turma de amigos também foi limado.

BARRACO CHIQUE
O tititi do momento no seleto clube Paulistano é a garrafada que uma das sócias deu na cabeça do namorado há alguns dias na frente de outros sócios. Já há discussão na internet sobre que providências deveriam ser tomadas no caso.

MODA IATE
A cantora Ke$ha, que se apresenta em São Paulo na quarta-feira, pediu a seus produtores no Brasil um barco à sua disposição. Estão reservadas duas embarcações: uma no Rio e outra no litoral de São Paulo.
Já os músicos do System of a Down, que tocam no dia 1º de outubro em SP, querem chocolates da marca Godiva e camisetas e meias pretas.

GRAVURAS DA VINCI
O escritor Eucanaã Ferraz e o empresário João Camargo foram ao vernissage de Laura Vinci. A artista abriu anteontem, na galeria Nara Roesler, uma exposição que conta com duas instalações e um conjunto de sete gravuras em metal.

VEJAMOS
A artista Ester Grinspum inaugurou a exposição "Vejo", no Instituto Tomie Ohtake. Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, entre outros convidados, circulou pelo evento.

CURTO-CIRCUITO

O Centro Educacional e Assistencial de Pedreira promove hoje e amanhã a sua feira de ciências.

A revista "Fórum" comemora dez anos com festa e debate hoje, das 10h às 20h, na Casa Fora do Eixo.

A exposição "Recortes de uma Coleção - Oswaldo Corrêa da Costa", tem vernissage hoje, às 12h, na galeria Ricardo Camargo.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

PAUL KRUGMAN - O contrato social



O contrato social
PAUL KRUGMAN
FOLHA DE SP - 24/09/11

A questão é que todos vivemos em uma sociedade maior e nos beneficiamos por fazer parte dela


NESTA SEMANA, o presidente Barack Obama disse o óbvio: que os americanos ricos, muitos dos quais pagam muito pouco em impostos, deveriam arcar com parte do custo da redução do deficit orçamentário de longo prazo. E republicanos como o deputado Paul Ryan responderam com gritos de "guerra de classes!".
Estimativas mostram que, entre 1979 e 2005, a receita (já contabilizada a inflação) das famílias na faixa do meio da distribuição de renda subiu 21%. Enquanto isso, no mesmo período, a receita dos muito ricos subiu 480%.
Os ricos lhe parecem ser vítimas de uma guerra de classes?
Para sermos justos, discute-se até que ponto políticas governamentais foram responsáveis pela espetacular disparidade de aumento de renda. O que sabemos ao certo, no entanto, é que essa política tem consistentemente beneficiado os ricos em oposição à classe média.
Alguns dos aspectos mais importantes desse viés envolveram coisas como o ataque sustentado ao movimento sindical organizado e a desregulamentação financeira, que criou fortunas enormes ao mesmo tempo em que abriu caminho para o desastre econômico. Mas foquemos hoje apenas sobre os impostos.
Uma consequência da cobrança de menos impostos sobre a riqueza e mais sobre o trabalho é a criação de muitas situações em que pessoas com rendas multimilionárias, que normalmente recebem boa parte dessa renda em ganhos de capital e outras fontes que são pouco taxadas, acabam pagando uma parcela total de impostos mais baixa que os trabalhadores de classe média.
De acordo com novas estimativas feitas pelo Centro de Política Tributária, não partidário, um quarto das pessoas com receita superior a US$ 1 milhão por ano pagam imposto de renda e salarial de 12,6% ou menos de sua receita -menos do que a porcentagem paga por muitas pessoas da classe média.
Eu sei como a direita vai responder a esses dados, oferecendo estatísticas enganosas e fazendo afirmações morais dúbias. Por outro lado, temos a alegação de que os ricos têm o direito de ficar com seu dinheiro. A questão é que todos vivemos em uma sociedade maior e nos beneficiamos por fazer parte dela.
Elizabeth Warren, a reformadora financeira que está concorrendo a uma vaga no Senado por Massachusetts, recentemente deu algumas declarações eloquentes que vêm chamando muita atenção, e com razão.
"Não há ninguém neste país que tenha enriquecido sozinho, ninguém", ela declarou, observando que os ricos só podem enriquecer graças ao "contrato social" que garante uma sociedade decente e funcional no qual possam prosperar.
Isso nos traz de volta àqueles gritos de "guerra de classes".
Os republicanos alegam estar profundamente preocupados com o deficit orçamentário. Mas eles insistem que os ricos não sejam chamados a exercer qualquer papel na defesa do país contra essa ameaça existencial.
Isso equivale a exigir que algumas poucas pessoas de muita sorte sejam isentas do contrato social que se aplica a todo o resto.
E isso, caso você esteja se perguntando, é exatamente a cara que tem a guerra de classes real.

Tradução de CLARA ALLAIN

RUY CASTRO - Duas palavrinhas



Duas palavrinhas
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 24/09/11

RIO DE JANEIRO - Outro dia, numa eloquente demonstração da nova pujança nacional, o Brasil sediou um concurso de Miss Universo. Não ria. Como dizia o outro, nunca antes na história desse país etc. E a plateia reagir com indiferença ao fato de a Miss Brasil, mesmo desfilando em casa, ter chegado em terceiro lugar, revela também a nossa súbita maturidade. De novo, não ria. Se não se abala com as grandes questões, por que o Brasil se abalaria com as pequenas?
Em 1954, quando Martha Rocha ficou em segundo no Miss Universo, em Miami, foi um problema. Quatro anos antes, em 1950, o Brasil já fora vice ao perder a Copa para o Uruguai. Era como se estivéssemos condenados ao segundo lugar entre as nações -o que, como se sabe, equivalia ao último lugar.
O pior é que, no caso de Martha Rocha, correu pela imprensa que havíamos sido garfados. O júri alegara que Martha tinha duas polegadas -5 cm- a mais nos quadris do que no busto e dera o título à lambisgoia americana. Enfim, o que para nós era uma qualidade -cadeiras anchas e busto delicado- para eles era um defeito.
E se soubéssemos na época que as duas polegadas foram uma invenção do repórter João Martins, enviado especial de "O Cruzeiro" a Miami, em conluio com os outros enviados brasileiros, logo após o desfile?
Que o júri só elegeu a Miss EUA porque o concurso precisava conquistar o público americano?
A revelação de que as duas polegadas eram uma farsa foi feita pelo próprio João Martins à "Manchete" em 1979 e confirmada pelo ex-diretor de "O Cruzeiro", Accioly Netto, em suas memórias, "O Império de Papel", em 1998. Ou seja, num Brasil jovem e ingênuo, com duas palavrinhas um repórter safo manipulou a psique de milhões.

MIRIAM LEITÃO - Ambiente mutante



Ambiente mutante
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/09/11

Não há ainda luz no fim do túnel na crise europeia e mundial. Ela é cada vez mais política. No Brasil, a crise chegou em forma de dólar mais alto este mês. Os líderes mundiais parecem fracos demais para comandar o processo. A fuga para o dólar é reflexo dessa incerteza. O BC tem munição, mas tomou uma decisão que ajuda a elevar a moeda americana.

A economista Monica de Bolle acha que os mercados estão concluindo que é cada vez mais difícil qualquer tipo de articulação nos EUA e na Europa para adotar as medidas que precisam ser tomadas. Se fosse apenas uma crise econômica, já seria difícil, mas os instrumentos para combatê-la seriam utilizados. O problema é que há incapacidade política.

"No Brasil, os improvisos foram péssimos. O aumento do IPI de automóveis mostra que haverá cada mais interferência no setor privado. O aumento do IOF sobre derivativos travou esse mercado. Os investidores saíram porque a incerteza regulatória passou a ser muito grande. As apostas na valorização do real foram inibidas e o mercado perdeu liquidez. Quem saiu não quis voltar."

O aumento de IOF será uma trava para o dólar voltar a cair. Era o que o governo queria, em um outro contexto. A melhor forma de paralisar um mercado é provocar aumento de incerteza regulatória. A trava também diminuiu posições de hedge (proteção) que empresas e investidores faziam para evitar problemas com uma disparada do dólar. Muitas podem ter aumento de custo com a alta inesperada.

O câmbio subiu 20%. Caiu ontem, mas dificilmente voltará ao patamar anterior. O que terá que ser monitorado é o impacto na inflação. O Banco Central e o Ministério da Fazenda apostaram que o repasse será pequeno e disseram que a queda das commodities vai conter a inflação. Isso não está acontecendo.

Na verdade, houve aumento de preços em reais porque nossa moeda se desvalorizou mais. A economia também está aquecida e há problemas de safra em commodities importantes, como o trigo. Na Europa, a estratégia continua sendo empurrar o problema com a barriga e ganhar tempo para proteger os bancos da Zona do Euro. Mas eles estão com queda de 40% nas ações este ano. Cada vez mais, a crise fiscal está se transformando em nova crise financeira. O mercado fica esperando os anúncios de cada dia, como declarações do G-20, decisões do Parlamento Alemão, reuniões do FMI e Banco Mundial.

A equipe da MCM Consultores comparou o desempenho do real com o de outras 10 moedas de países exportadores de commodities. Até a decisão do Copom, o real tinha desempenho igual. Depois disso, se desvalorizou 6% a mais.

"O principal fator para a desvalorização foi a mudança de percepção sobre a política monetária no Brasil. O Banco Central fez uma aposta e mesmo que acerte a perda de confiança está feita porque investidores não gostam de bancos centrais que fazem apostas", diz José Júlio Senna, da MCM. A desvalorização do real já está mexendo com a inflação implícita de contratos que estão sendo negociados, ou seja, está batendo nas expectativas. Produtos importados ficarão mais caros.

A depreciação do real tem componente externo. O euro, que era a moeda que competia com o dólar, está sob ameaça. Quem vende euro compra dólar. E isso acontece com todos os ativos se o risco aumenta.

O Financial Times revelou que líderes do partido republicano entregaram uma carta a Ben Bernanke durante a reunião do Fed. Houve interferência política poucas vezes vista na história daquele país. Isso mostra a pressão sob a qual se encontra o presidente do BC americano. Mesmo que ele não tenha levado em consideração o teor da carta - que não queria novo relaxamento monetário, o QE3 - o fato é que não adotou a medida.

O ambiente está fluido, mutante. Durante muito tempo será assim. O Brasil precisa manter as boas rotas e corrigir posições, quando for o caso.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Lenta, gradual e restrita



Lenta, gradual e restrita
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 24/09/11 

SÃO PAULO - A Comissão da Verdade, enfim aprovada pela Câmara, é uma espécie de epílogo melancólico, mas bem brasileiro, da nossa abertura, muito mais lenta, gradual e segura, como diziam os militares, do que ampla, geral e irrestrita, como reivindicava a esquerda.
A despeito das boas intenções de Dilma, essa comissão, limitada e tardia, exprime, paradoxalmente, o descaso do país -aí, sim, quase irrestrito- pelo direitos humanos e pelo Estado democrático de Direito.
Não estamos discutindo se os que torturaram e mataram em nome do Estado devem ser julgados e punidos.
Transcorridos 40 anos, o país ainda resiste a esclarecer as circunstâncias e a identificar os responsáveis pelas mortes e "desaparecimentos" dos adversários da ditadura.
Esse é o pano de fundo substantivo, ou a "verdade" da exigência um tanto bizantina do DEM, para que a comissão não tenha entre seus participantes pessoas sem condições de "atuar com imparcialidade".
Na Argentina, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas foi criada em 1984, um ano depois da ditadura. Lá, os responsáveis pelos crimes estão sendo julgados. Jorge Videla foi condenado à prisão perpétua no final do ano passado.
Por aqui, em sintonia com a tradição do jeitinho, o STF chancelou a impunidade dos torturadores ao decidir, em 2010, que não iria examinar se a Lei da Anistia, de 1979, era compatível com a Constituição de 1988. Não é -como parece óbvio.
Nessas condições, se tudo correr bem, a nova comissão irá concluir o trabalho da Comissão de Mortos e Desaparecidos, criada por FHC em 1995, quando o Estado, enfim, admitiu a responsabilidade pelos crimes, fez uma lista oficial das vítimas e indenizou diversas famílias.
Há ainda pelo menos 140 pessoas mortas cujo paradeiro não se conhece. Como estamos no Brasil, é provável que nem essa satisfação elementar às famílias e à história a comissão "da verdade" seja capaz de dar.

EDITORIAL - FOLHA DE SP - Democracia maquiada



Democracia maquiada
EDITORIAL 
FOLHA DE SP - 24/09/11

Seria apenas patética, se não atropelasse os direitos fundamentais, a mais recente investida do governo argentino contra jornalistas e economistas que divulgam dados inconvenientes à gestão de Cristina Kirchner.
Incomodada com a publicação frequente, pela imprensa do país, de cifras de inflação muito superiores aos números maquiados oficialmente, a Casa Rosada move na Justiça um processo contra analistas e consultorias que elaboram índices próprios de preços.
Como desdobramento do processo, o juiz do caso exigiu dos principais jornais do país o envio à corte dos dados de repórteres, editores e redatores que escrevam ou tenham escrito sobre o assunto. O magistrado requereu, de início, "nomes, endereços e telefones". Agora diz que algumas informações pessoais dos jornalistas, como o e-mail privado, não precisam ser repassadas.
É como tentar barrar a divulgação de que o céu é azul. Até fervorosos aliados da presidente Kirchner sabem que sua administração manipula os dados oficiais de inflação. A carestia corre a um ritmo quase três vezes mais alto que a taxa do governo, em torno de 9%.
Trata-se, portanto, de mais uma tentativa grosseira de intimidação por parte de um governo que elegeu a imprensa local como inimiga. Teme-se que os profissionais relacionados possam vir a ser chamados a depor como testemunhas, no que seria uma clara violação do sigilo de fonte jornalística, garantido pela Constituição argentina -e por tantas outras em regimes democráticos- a fim de assegurar o direito da sociedade à informação.
Não é apenas o direito à crítica que vem sendo desrespeitado no país vizinho, mas a simples possibilidade de expressar opiniões divergentes e de publicar informações que desagradem ao Executivo.
Desta feita, o ataque à imprensa carrega o ingrediente novo de atingir também outras empresas privadas, as consultorias, que já foram multadas (em um total de mais de R$ 200 mil desde o início do ano) por divulgarem o óbvio. Intimidação desse porte do governo contra profissionais liberais só encontra paralelo em ditaduras.
Insuflada por alta aprovação popular e pela perspectiva de vitória nas próximas eleições presidenciais, no mês que vem, a presidente Cristina Kirchner ganha confiança para suas investidas autoritárias e segue os passos de seu colega venezuelano, Hugo Chávez. É a democracia nesses países que, como seus índices de inflação, aparece cada vez mais maquiada.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Nomes, por favor
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 24/09/11

O presidente do Conselho de Ética da Assembleia paulista, Hélio Nishimoto (PSDB), considera "gravíssimo" o caso do deputado Roque Barbiere (PTB), que em entrevista acusou "até 30%" dos colegas de vender emendas ao Orçamento do Estado. "Ele colocou o Legislativo sob suspeita. Está claro que isso é motivo para fazer investigação e convocações. Teremos muito trabalho pela frente". Além de cobrar que Barbiere nomine os episódios que afirma conhecer, Nishimoto diz que o órgão deverá punir o petebista, em grau que dependerá de suas explicações. Se ele se retratar publicamente, pouca gente acredita na perda do mandato.

Deixa disso 1 De Campos Machado, presidente do PTB-SP e líder do partido na Assembleia, sobre Barbiere: "É meu companheiro correto e leal há mais de 20 anos. Tenho toda a confiança nele".

Deixa disso 2 A respeito da acusação, Campos alega que as declarações de Barbiere estariam "fora de contexto". "Ele está estupefato", diz. "Esse não é o pensamento nem o sentimento dele." 10 - 7 = 4 Do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) sobre a relatora Nancy Andrighi, que, ao defender o registro ao PSD, contabilizou 514,9 mil assinaturas em apoio à sigla: "A conta da ministra só pode estar baseada no livro de matemática do MEC".

Marcação 1 Com a batalha final em torno do PSD adiada, aliados e adversários de Gilberto Kassab voltam atenções para os ministros do TSE. As pressões tendem a se concentrar em Teori Zavascki e Marcelo Ribeiro. Apesar de o primeiro ter sinalizado viés contrário ao registro, há quem aposte que ele possa virar o voto.

Marcação 2 Sobre Ribeiro pesa o fato de ter sido relator da resolução que exige número mínimo de assinaturas reconhecidas pela Justiça para a criação de partido. Com base nesse texto, o DEM sustenta que o PSD não terá direito ao regsitro.

O astro Na parte reservada de seu café da manhã com a Força Sindical, ontem, José Dirceu previu ser "muito difícil" uma vitória de Fernando Haddad sobre Marta Suplicy na disputa pela candidatura do PT em São Paulo. O ex-ministro se declarou convencido de que haverá prévias.

Velinhas Michel Temer, que ontem completou 71 anos, foi comemorar em Nova York. Assim como Dilma, hospedou-se no Waldorf Astoria. Na segunda, o vice falará no seminário "Brasil - A Nova Economia Global Verde", do Fórum das Américas.

Ao mestre O próximo livro de Gabriel Chalita, "Sócrates e Thomas More - Correspondências Imaginárias", a ser lançado em outubro, é dedicado a Temer, patrocinador da candidatura do deputado à sucessão paulistana.

Exportação Ainda colhendo os louros da eleição da mãe ao TCU, Eduardo Campos (PSB-PE) será palestrante no Fórum das Américas e em seminário do Grupo Lide em Roma.

Em tempo Sem prejuízo de suas desavenças com Saulo de Abreu Filho, Luiz Antônio Marrey não era mais procurador-geral de Justiça à época das ações movidas contra o então secretário da Segurança. No cargo estava Rodrigo Pinho, sucessor e integrante do grupo de Marrey noMinistério Público.

Visita à Folha José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Flávio Crocce Caetano, chefe de gabinete, e Larissa Squeff, assessora de comunicação.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"O feitiço se voltou contra o feiticeiro. O senador Fernando Collor está reclamando porque fizeram com ele o que ele quer fazer com a sociedade brasileira."
DO SENADOR WALTER PINHEIRO (PT-BA), sobre a queixa do ex-presidente diante da alegada ausência de resposta a questionamentos que encaminhou ao Executivo sobre a Lei de Acesso à Informação, cuja votação ele tenta adiar.

contraponto

É hoje que eu não janto


No julgamento do TSE sobre o pedido de registro do PSD, os ministros discutiam quanto tempo seria destinado à sustentação oral dos advogados. Marco Aurélio Mello sugeriu ampliar de 15 para 20 minutos o limite de cada um. Ele argumentou que, não sendo tantas assim as partes que se manifestariam no caso em questão, o acréscimo causaria pouco transtorno aos trabalhos.
Com expressão de desalento, o presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski, retomou a palavra e desabafou:
-Então imagine a que horas sairemos daqui...

PAULO PEDROSA - Transparência e justiça nas concessões



Transparência e justiça nas concessões
PAULO PEDROSA
0 ESTADÃO - 24/09/11


Os resultados do vencimento das concessões do setor elétrico nos próximos anos dependem fundamentalmente de uma questão central: o tratamento dos ativos sob controle dos atuais concessionários.
As empresas têm interesse e, até certo ponto, direito de serem compensadas por investimentos que ainda não tenham sido depreciados.
Mas é preciso considerar as mudanças regulatórias efetuadas ao longo do período e que os consumidores pagaram pela amortização dos investimentos por muitas décadas.
Independentemente do modelo a ser adotado em relação às concessões (renovação ou novas licitações), é essa questão que vai possibilitar que se reverta a ampliação, nos últimos dez anos,de mais de 100% do custo da energia para a indústria nacional e evitar o favorecimento indevido de agentes e investidores.
Esta é uma grande oportunidade de o Brasil se posicionar em favor de sua competitividade num cenário global cada vez mais desafiador.
As concessões de geração estão relacionadas a usinas construídas há mais de 50 anos, em alguns casos com recursos de empréstimos compulsórios nunca devolvidos aos consumidores.
A diferença entre o custo que refletiria essa realidade e os valores cobrados atualmente pela energia pode chegar a R$ 7 bilhões por ano, considerando as concessões que vencem até 2017. A esse valor podem ser adicionados outros R$ 3 bilhões anuais relativos às concessões de transmissão que também estão vencendo e R$ 2 bilhões a mais com a possível extinção da Reserva Global de Reversão (RGR) tudo isso sem considerar os até 30% de PIS-Cofins e ICMS que incidem sobre esses valores.
É preciso atenção para que o registro contábil de investimentos não amortizados não implique o reconhecimento automático destes para efeito de compensação aos concessionários.
Deve ser considerado que o setor elétrico passou por uma mudança: de regime tarifário de serviço pelo custo em que, ao fim da concessão, os ativos não depreciados eram totalmente indenizáveis para um regime de serviço pelo preço, com a abertura de mercado e a livre negociação da energia pelos concessionários em que a indenização, ao fim da concessão, só deve ocorrer em situações excepcionais.
Se assim não fosse, os que pior venderam sua energia seriam premiados, em clara negação do conceito da livre negociação por conta e risco do agente. Nesse contexto, a depreciação regulatória distinta da fiscal e contábil deve considerar os períodos de vigência dos modelos de tarifas pelo custo e da livre negociação, sendo a amortização definida caso a caso. Deve, ainda, considerar a realização de investimentos prudentes, assim como o equacionamento de passivos do setor elétrico ocorrido em 1993 com a Lei n.º 8.631, ao custo de US$26 bilhões da época.
Outro ponto importante é que não há nenhum compromisso dos consumidores em relação ao equilíbrio econômico e financeiro das empresas concessionárias ( algumas afetadas por gestões ineficientes ou acumulando resíduos de processos de privatização em que outros segmentos de uma empresa original foram saneados e bem vendidos), muito menos em relação à sua capitalização para investimentos futuros. Essa ideia, aliás, é altamente criticável, uma vez que o sistema elétrico brasileiro não é pré-pago. Pelo contrário: os investimentos devem ser feitos com recursos de terceiros e próprios incluindo ou não remunerações de investimentos anteriores para ser recuperados no futuro.
O fato é que o compromisso do consumidor se resume aos períodos tarifados em que houve um reconhecido desequilíbrio não coberto por algum encontro de contas setorial. Essa conscientização é fundamental para garantir que o processo beneficie a sociedade brasileira como um todo ao reconhecer o direito de todos os consumidores. É o modo justo de garantir que a sociedade brasileira deixe de pagar uma das contas de energia mais caras do mundo, hoje um importante fator de perda de competitividade da economia nacional.
É PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GRANDES CONSUMIDORES INDUSTRIAIS DE ENERGIA E DE CONSUMIDORES LIVRES (ABRACE)

WALTER CENEVIVA - Processo civil e seu código



Processo civil e seu código
WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 24/09/11

112 leis modificaram a legislação processual civil, transformada, por isso, em uma colcha de retalhos

PRECISO RETOMAR os assuntos relativos ao processo civil, ainda que com o risco de alguma repetição.
Milhões de brasileiros se embaraçam nas tramas dos processos, muitas vezes sem compreender por que uma questão processual impede o resultado favorável que buscaram. O que é grave, principalmente porque um dos anseios básicos da cidadania, com vistas à realização da justiça oficial, consiste na solução rápida, equitativa e justa, assegurada às partes, compensando eventuais desequilíbrios entre elas.
Há mais uma dificuldade: desde que se iniciou a discussão sobre o texto do novo Código de Processo Civil, para substituir o de 1973, muitas leis foram editadas com emendas da codificação vigente.
Contei o número de leis que alteraram o Código desde que foi publicado. Se acertei na contagem, 112 leis modificaram a legislação processual civil, transformada, por isso mesmo, em uma colcha de retalhos de centenas de artigos, nem sempre compatíveis.
A lei processual deve permitir o desenvolvimento qualificado das questões postas em juízo, no drama do fazer justiça. Pensado em termos planetários, o fazer a justiça oficial distingue o sistema da "common law", da lei não escrita, mas definida pela jurisprudência e da "civil law" ou "roman law", suportado sobre a lei escrita.
Nos últimos decênios, os dois modelos parecem tendentes a recolher, cada um deles, elementos próprios no outro, o que facilita alguma confusão, também vista em nosso país.
Duas regras básicas definem a situação no Brasil: desde 1988, se mantém o monopólio da justiça oficial confiada ao Poder Judiciário. Pelo artigo 102, o Supremo Tribunal Federal é guarda da Constituição. Está no art. 5º, inciso XXXV, que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão". Assim, no sistema nacional, a interpretação da lei pelo juiz é o veículo apropriado para sua aplicação, proibido o magistrado de se escusar do pronunciamento pedido pelas partes, sob alegação de que a lei é obscura ou omissa. A Constituição permitiu, porém, que o Judiciário, ao julgar um mandado de injunção, preencha o vazio da lei, sempre que a falta desta inviabilize direitos e liberdades constitucionais (mesmo artigo 5º, inciso LXXI). A permissão foi praticamente inútil, pois o mandado de injunção teve aplicação muito rarefeita.
Pensando na evolução das regras processuais nos últimos anos, o projeto em andamento compõe atualização harmoniosa, carecendo de poucas mudanças. Ainda preocupa, para ficar num exemplo, o tratamento muito favorecido de prazos e intimações dos advogados da Fazenda Pública ou de órgãos públicos. Não há equilíbrio entre as garantias dos credores públicos, sempre muito favorecidos, e dos credores privados.
É bem mais fácil teorizar a respeito do que redigir normas que satisfaçam os ponderáveis ideais da doutrina. Por isso, todos os segmentos envolvidos devem propiciar ao Congresso os dados de sua própria experiência. Assim cumprirão o dever de, ao mesmo tempo, espelharem a visão da sociedade depois dos quase 38 anos de experiência e ilustrarem os efeitos das mudanças a serem introduzidas. Se demorar muito, o número de leis que continuam sendo modificadas passará de 150!

FERNANDO RODRIGUES - Dinheiro para fazer política


Dinheiro para fazer política
 FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 24/09/11

Ao chegar a Brasília no século passado, disseram-me que há na natureza dois tipos de políticos: o político que precisa de dinheiro para fazer política e o que precisa da política para fazer dinheiro. Embora reducionista, a definição ilustra a atual onda promovida por Lula, petistas e agregados governistas a favor de financiamento público exclusivo para eleições.

Essa turma deseja se inserir na categoria do “político que precisa de dinheiro para fazer política”. É compreensível. Muitos ali são réus no processo do mensalão. Mas o que chama a atenção no debate é a malandragem e a preguiça.

A malandragem é pedir dinheiro sem mencionar quanto o Brasil já torra com políticos. O Fundo Partidário neste ano distribuirá mais de R$ 300 milhões entre as 27 siglas existentes. Essas legendas também têm o direito de aparecer em redes nacional e estaduais de rádio e de TV uma vez por semestre – com programas e inserções curtas. Numa estimativa modesta, a renúncia fiscal pode ficar perto de R$ 500 milhões. Ou seja, já é muito dinheiro público usado para fazer política.

A preguiça surge na abulia para buscar arrecadação de pequenas doações. Enquanto milhões de norte-americanos contribuem com US$ 10 ou US$ 20 para seus candidatos, no Brasil esse tipo de financiamento é um fracasso – pois os políticos não têm coragem nem disposição de pedir dinheiro aos eleitores.

Dilma Rousseff teve 55,8 milhões de votos e só 2.032 doadores de pequenas quantias. José Serra, seu adversário, nem tentou tal modalidade de arrecadação.

Esse é o comportamento basilar do atual debate: por que passar pelo constrangimento de pedir dinheiro ao eleitor se posso receber dos cofres do governo? Por sorte, como sempre, essa história de reforma política é apenas uma miragem. A chance de algo ser aprovado continua para lá de remota.

CELSO MING - Quebrar ou não quebrar



Quebrar ou não quebrar
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 24/09/11


Ontem, duas altas autoridades europeias admitiram, afinal, a quebra (default) da Grécia. Foram Klass Knot, diretor do Banco Central Europeu (BCE), representante da Holanda no Conselho; e ninguém menos que o ministro das Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos (foto).

Esse avisou que contempla três cenários para o desfecho da crise: (1) a chegada do socorro de 109 bilhões de euros e o estancamento da hemorragia - ao menos, a imediata; (2) um default controlado que preveja um corte de algo em torno de 50% da dívida grega; e (3) um default descontrolado, seguido por forte quebra de confiança nos mercados.

Mais tarde, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, descartou a hipótese do default - o que foi interpretado como declaração de conveniência.

O prognóstico do calote já é largamente aceito pelos analistas internacionais, dando-se por entendido que falta somente marcar a data. Uma boa hipótese a considerar é a de que as autoridades da área do euro estejam apenas ganhando tempo para que essa quebra possa ser mais bem digerida.

Há dois riscos envolvidos na eventualidade de drástica reestruturação da dívida grega, hoje de 350 bilhões de euros (150% do PIB). O primeiro é o de provocar a destruição de um pedaço importante do patrimônio dos bancos credores. Um default ordenado teria de prever uma capitalização de emergência de um punhado dos bancos mais intensamente expostos à dívida da Grécia.

O segundo risco - e o mais temido - é o de que o calote grego seja somente um ponto que se solte e, em seguida, provoque o desmanche de toda a peça do crochê. Em outras palavras, trata-se do risco de contaminação. Nessas condições, os credores se perguntariam pelos próximos da lista (os outros quatro candidatos são Portugal, Irlanda, Itália e Espanha). Ou seja, seria instalado um clima de salve-se quem puder, com a prioridade possível a mulheres e crianças.

Não apenas os bancos europeus estão expostos às dívidas soberanas do bloco do euro. Na terça-feira, Martin Wolf, comentarista do Financial Times, lembrou que os bancos dos Estados Unidos têm em carteira nada menos que US$ 478 bilhões em títulos de dívida da zona do euro. Significa que, num cenário ruim, uma grande parte da rede bancária dos países ricos teria de ser capitalizada para cobrir a desvalorização dos seus ativos.

Essas são ameaças que não vêm sendo ignoradas pelos grandes bancos centrais, especialmente pelo BCE e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). O que se imagina é que operações destinadas a apagar prováveis focos de incêndio já estejam sendo preparadas.

A declaração de incapacidade de cumprir seus compromissos financeiros e um corte de 50% da dívida não significam necessariamente que a Grécia tenha de sair do clube do euro. Essa opção traria desdobramentos de alta complexidade, porque a dívida pública e os depósitos e aplicações nos bancos gregos estão em euros. A volta à velha dracma, fortemente desvalorizada, provocaria um pandemônio nos bancos. E não somente nos da Grécia, mas, pelo efeito contágio, possivelmente nos de toda a área do euro.

A paisagem é essa. O que falta são decisões políticas.

MARCELO MUSA CAVALLARI - Uma cruz a caminho do Rio



Uma cruz a caminho do Rio
MARCELO MUSA CAVALLARI
O Estado de S.Paulo - 24/09/11

O regime comunista polonês orgulhava-se de ter criado, com Nowa Huta - distrito operário próximo a Cracóvia planejado como modelo de sociedade marxista -, a "primeira cidade sem Deus" da Polônia. Na verdade, era apenas uma cidade sem igreja. Sem o prédio de uma igreja. Por isso os operários levados para povoar Nowa Huta ergueram uma simples cruz de madeira no meio da cidade. E se revezavam montando guarda a essa cruz, enquanto esperavam que sua cidade se tornasse uma paróquia.

Em 1963, o jovem bispo de Cracóvia decidiu aumentar a pressão sobre o governo comunista para que finalmente fosse permitido aos católicos de Nowa Huta erguer sua igreja. Na noite de Natal, debaixo de chuva e sob temperaturas negativas, Karol Wojtyla rezou a missa do galo em Nowa Huta pela primeira vez. Muito antes da queda do comunismo na Polônia, Nowa Huta ganhou sua igreja. Para o então futuro papa ficou uma lição que ele levaria para o seu pontificado de mais de 25 anos: a Igreja não é um edifício. Também não é a hierarquia sozinha. A Igreja é a presença dos fiéis cristãos. Onde quer que eles estejam, ali estará a Igreja. Mesmo que seja em torno de uma simples cruz de madeira em Nowa Huta. E foi confiando nisso que João Paulo II pôs a Igreja de volta no centro da discussão dos destinos da humanidade no final do século 20.

Uma cruz igualmente simples e profundamente simbólica está no Brasil. Ela é uma criação de João Paulo II e, de certa forma, é filha direta da cruz de Nowa Huta. Trata-se da Cruz dos Jovens, que iniciou em São Paulo, no domingo, dia 18, uma grande peregrinação por dioceses da América do Sul a caminho do Rio de Janeiro, sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Há quem veja, mesmo dentro da Igreja, as Jornadas Mundiais como pouco mais do que uma celebração. Ou uma ótima oportunidade de "evangelizar os jovens", como gosta de dizer parte do clero. Uma espécie de grupo de jovens da paróquia em larga escala. Mas é muito mais do que isso.

Falando da última Jornada, realizada em agosto na Espanha, o papa Bento XVI disse: "A Jornada Mundial de Madri foi uma estupenda manifestação de fé para Madri e para o mundo". Manifestação, aqui, em sentido forte. Manifestação como a categoria a que pertencem, por exemplo, os movimentos pacíficos que derrubaram as ditaduras do Egito e da Tunísia na "primavera árabe" deste ano. Manifestação da força e do peso de um grupo que comunga uma determinada visão sobre o mundo.

Milhões de jovens - em Madri havia entre 1,5 milhão e 2,3 milhões na missa final do papa, segundo diferentes cálculos - reivindicam, nas Jornadas Mundiais da Juventude, o direito de ver sua fé católica como parte da esfera pública, como parte, portanto, do debate público sobre os destinos da humanidade. Gente jovem que estará aí por muitos anos ainda e quer ser vista publicamente como católica. Mesmo numa Europa extremamente secularizada. Mesmo na capital de uma Espanha governada pelo socialista José Luis Rodríguez Zapatero, que fez da defesa de um secularismo imposto pelo Estado a marca do início de seu mandato, sete anos atrás. Manifestação, portanto - visível na alegria com que os milhões de jovens tomaram as ruas de Madri, por exemplo -, da vitalidade que a Igreja Católica, cuja desaparição vem sendo anunciada pelo menos desde o século 16, mostra no século 21.

Não há nada nem ninguém no mundo, além da Igreja e do papa, que consiga reunir o tipo de multidão que a Jornada Mundial da Juventude reúne. É um evento maior do que a Copa do Mundo de Futebol, do que os Jogos Olímpicos, do que qualquer festival de música. Esses jovens mostram uma impressionante diversidade: eles vêm do mundo inteiro - em Madri havia gente de 193 países -, são leigos, religiosos, sacerdotes, membros de todo tipo de grupo ou movimento católico. Todos se reconhecem, no entanto, membros da mesma Igreja e querem manifestar nas Jornadas sua adesão ao ideário que formou o Ocidente e, daí, se espalhou e formou o mundo moderno. Ideário que esses milhões de jovens acreditam ter o direito de defender na esfera pública, e não apenas como uma escolha pessoal que nada tem que ver com o destino comum de todos.

A ideia da Jornada Mundial da Juventude começou a se delinear na mente do beato João Paulo II ao fim do Ano Santo de 1984. A grande cruz de madeira que ficou durante todo o ano na Basílica de São Pedro foi confiada aos jovens por ele. A tarefa, disse João Paulo II, era "levá-la para todo o mundo". Ainda não estava claro o que isso viria a significar. Os jovens levaram cruz a eventos católicos e, aos poucos, ela foi ganhando importância como símbolo. Até que o papa enviou os jovens, com sua cruz, para Praga, então parte da Checoslováquia ainda sob domínio comunista, de onde era arcebispo o cardeal Tomasek, preso pelo regime comunista nos anos 1950.

Aí, com a Cruz dos Jovens no mesmo papel da cruz de Nowa Huta, nasceu a ideia das Jornadas Mundiais da Juventude. A simples, mas eloquente, cruz de madeira seria levada pelos jovens, com a audácia e a coragem típicas da idade, a qualquer lugar do mundo. Mesmo onde não a quisessem. Fosse uma cidade além da Cortina de Ferro, como Praga, fosse para capitais de uma Europa pós-cristã, como Paris.

No pontificado de Bento XVI, o comunismo - a mais duradoura e das sanguinárias experiências de engenharia social que marcaram o catastrófico século 20 - já é um monstro derrotado. O perigo, aponta o papa, é o relativismo moral que aceita apenas o cálculo de satisfações como critério e insiste em usar o poder do Estado para manter a visão religiosa dos cidadãos fora do debate público. Esse é o sentido profundo das Jornadas Mundiais da Juventude. É preciso levar a sério a análise do papa de que os jovens são os protagonistas da Jornada. Elas não servem para os padres e bispos evangelizarem os jovens. Elas servem, isso sim, para os jovens evangelizarem o mundo.

MARCO AURÉLIO NOGUEIRA - Em busca de um lugar no mundo



Em busca de um lugar no mundo
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
O Estado de S.Paulo - 24/09/11

Uma tendência se afirma no mundo atual. O Brasil tornou-se protagonista importante do sistema internacional. A imagem do País deixou de ser a do café, do futebol-espetáculo, do samba e da bossa-nova, do território imenso e das riquezas naturais. Há, é verdade, a corrupção que se mantém, os bolsões de miséria que ainda persistem, as falhas grotescas de infraestrutura, mas também se sabe que a sociedade civil demonstra algum poder de reação e que soluções vêm sendo tentadas de forma sistemática pelos governos. O País é visto hoje mais por seus acertos que pelos erros.

Naquilo que se poderia chamar de opinião pública internacional, o Brasil é tratado como uma economia industrial expressiva, dotada de um mercado interno invejável, uma sociedade que se esforça para reduzir a desigualdade e retirar milhões de pessoas da pobreza extrema e que está conseguindo avançar nessa direção sem retroceder em termos políticos, ao contrário, exibindo um sistema democrático que se consolida.

Foi esse um dos pontos de sustentação do belo discurso com que a presidente Dilma Rousseff abriu a 66.ª Assembleia-Geral da ONU, na quarta-feira.

O fato mais importante a explicar a nova posição relativa do Brasil está associado às modificações que afetam a estrutura internacional. O mundo mudou, vive outra fase, e clama por novas ideias e atitudes no terreno das relações internacionais. Um novo tipo de cooperação, reforma das instituições financeiras, ajustes no Conselho de Segurança da ONU, coragem e ousadia - é o que se espera das lideranças mundiais. O desafio posto pela crise, que é econômica, de governança e de coordenação, disse a presidente, "é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo".

As grandes potências não podem mais controlar o sistema nem funcionar como garantidores de um padrão de ordem internacional. Já não há a unipolaridade que pareceu instituir-se no mundo pós-Queda do Muro, em 1989. Mas a "multipolaridade" (União Europeia, Japão, Brics) é só um esboço, dados os diversos problemas específicos que cada um desses polos apresenta. Ainda que os EUA continuem a ser poderosos, não apenas estão enfraquecidos como também afirmam seu poderio num mundo povoado por outras potências importantes, países emergentes, redes sociais, fluxos vários e inúmeros atores não governamentais, num contexto econômico em que os mercados ficaram mais fortes do que a regulação política empreendida pelos Estados.

O mundo tornou-se "pós-americano", tal como sugerido pelo cientista político Fareed Zakaria: um sistema internacional híbrido, mais democrático, mais dinâmico, mais aberto e conectado, no qual os EUA declinam economicamente e perdem força relativa. Um mundo com "muitas potências e uma superpotência", segundo os chineses. No qual todos agem e pesam: o centro e o "resto", as grandes, as médias e as pequenas potências, as regiões, os Estados e os atores não estatais, os lugares e as pessoas. Todos, de certo modo, ganharam poder. A hierarquia, a centralização e o controle passaram a ser minados ou subvertidos exclusivamente em decorrência da lógica das coisas. Todos se tornaram dependentes uns dos outros.

A crise econômica, a falta de lideranças mundiais e as indefinições quanto ao futuro das grandes potências fizeram os países emergentes ganhar projeção política e econômica. Vários deles estão a aproveitar a situação para melhorar sua distribuição de renda, aperfeiçoar sua gestão econômico-financeira e crescer comercialmente.

O Brasil, com isso, tornou-se uma espécie de enigma, cujos movimentos são mais difíceis de prever e mais desenvoltos. Seus passos têm maior audácia, seja no âmbito comercial, seja em termos de tomada de posições e alinhamentos internacionais. Praticando um pragmatismo temperado, complexo e necessário, e pelo qual paga algum preço, surge com força em áreas que antes lhe estavam vedadas.

Um dos mais expressivos indicadores da envergadura adquirida pelo País é sua participação ativa naquele misto de associação e pacto que se tem convencionado chamar de Brics, o bloco mais ou menos informal integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Não se trata de uma união circunstancial, mas de uma operação que revela o progressivo deslocamento de poder na cena internacional.

A presença brasileira entre os Brics está impulsionada pelos resultados obtidos nas duas últimas décadas, que tornaram o País mais maduro em termos econômicos e fiscais-financeiros, em condições, portanto, de projetar um ciclo mais virtuoso de desenvolvimento. A melhoria que se observa na distribuição de renda e a estabilidade monetária indicam o legado positivo da política econômica e das políticas sociais que vêm sendo empregadas quase sem rupturas desde a metade dos anos de 1990.

O Brasil poderá ganhar força e relevância no mundo de diferentes maneiras. Uma delas passa pela construção de barreiras que neutralizem os efeitos deletérios da economia internacional e da crise econômico-financeira das grandes potências. Também será decisivo o modo como entrará no novo mundo: com que produtos, com que tecnologia, com qual projeto de sociedade. Mas também é razoável supor que boa parte de seu sucesso futuro dependerá da capacidade que tiver de praticar, com maior vigor, políticas de integração regional que se ponham num patamar mais amplo do que o intercâmbio comercial, ou seja, que aproximem de fato povos, regiões, sociedades e culturas e se sintonizem com as particularidades dos diferentes países.

Trata-se de uma ênfase inteiramente respaldada pela Constituição e que encontra a mais viva sustentação no núcleo da política externa, que continua a seguir, fiel às suas melhores tradições, uma perspectiva plural, que valoriza a paz, o multilateralismo, a abrangência e a abertura para o mundo.