sábado, setembro 17, 2011

RUTH DE AQUINO - Doralice, eu bem que te disse


Doralice, eu bem que te disse
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA


A queda do ministro cuja governanta era paga com nosso dinheiro pode trazer um bom presságio


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Caiu o ministro que nunca deveria ter sido – e o peteleco que o derrubou foi Doralice, a governanta. Na casa grande & senzala do maranhense Pedro Novais, quase tudo parece ser pago com verba pública: do motel à empregada e ao motorista da mulher. Difícil saber o que, afinal, o octogenário pagava do próprio bolso. É o quarto ministro defenestrado por amoralidades com a verba pública em menos de nove meses do governo Dilma. É mau ou bom sinal?  
Há quem encare esse número de ministros exonerados como recorde negativo no Brasil. Prefiro encarar como a primeira depuração real de políticos que perderam a noção do que significa ocupar um cargo público. Essa varredura só é possível num país com imprensa livre. Palocci, Nascimento, Rossi e agora Novais saíram envoltos em diversos tipos de maracutaias, denunciadas pela mídia. Eles fazem parte da herança maldita deixada pelo governo Lula. A ética não vingou nos dois mandatos do presidente que prometeu moralizar a política.
Como chefe da Casa Civil, Dilma jamais esteve iludida sobre os malfeitos. Viu vários companheiros cair em desgraça com o mensalão. Mas era uma subordinada. Hoje, como presidente, reage às acusações de corrupção na cúpula com mais firmeza que seu antecessor. Escândalos já lhe custaram quatro cargos de confiança. “De confiança” tornou-se, aliás, uma expressão vazia. Está muito difícil confiar, não é mesmo, Dilma?
Pedro Novais, no Turismo, era um dos exemplos mais significativos da incompetência aliada à falta de pudor. Com Sarney como padrinho, era um peralta reincidente e intocável. Meses antes de se tornar ministro, Novais pediu à Câmara reembolso de R$ 2 mil por uma festa no motel Caribe, em São Luís. Aos 80 anos! Flagrado o deslize, devolveu o dinheiro. E continuou a gastar e desviar. Aprovou convênios de até R$ 66 milhões para beneficiar os donos do Maranhão. Fraudes foram descobertas em seu gabinete. 
A queda do ministro cuja governanta era paga com nosso dinheiro pode trazer um bom presságio 
Mas foi só com Doralice que a coisa pegou. Era sua governanta havia oito anos e foi contratada por uma empresa do Ministério do Turismo. Inspirado na música de João Gilberto, Novais foi visto cantando triste pelos cantos:Doralice eu bem que te disse/ Olha essa embrulhada em que vou me meter?/ Agora, Doralice, meu bem/ Como é que nós vamos fazer? Bem que ele tentou se agarrar à saia de Dilma, mas não adiantou. A presidente decidiu que ou ele saía ou seria saído. 
Por princípio, a queda desses ministros é um bom presságio. Mas quem subiu no lugar de Novais foi um ministro genérico. Gastão Vieira não é um técnico, não entende nada de turismo, e suas credenciais são o PMDB, o Maranhão e Sarney. Ou seja, já entra cambaleando. Gastão terá de gastar direito. Sua nomeação respeitou uma exigência de Dilma que a nós, eleitores, parece surreal. A presidente disse ao PMDB que o substituto precisava ter “ficha limpa”. É encorajador saber que novos ministros não poderão mais apresentar um passado suspeito. É inacreditável que essa exigência seja verbalizada, como se fosse um adorno e não uma premissa básica. 
Tirando Nelson Jobim, o gauchão que caiu por falar demais (e mal) do governo, o povo quer saber o que acontecerá com os ministros exonerados por suspeita de irregularidades. Nada? Quando Dilma diz que tomará “medidas cabíveis” contra todos que cometem malfeitos, o que isso quer dizer? Eles só perderão seus cargos, mas permanecerão políticos profissionais em dois ou três dias de trabalho por semana no Congresso?
Existe uma crise de confiança na política. Os nomes e as quantias desviadas já não importam. Sabemos que a punição jamais chega aos mandantes. Novais não passava de um “trombadinha” dentro de uma política maior e mafiosa. 
Dá vergonha ver a manobra de Sarney e Collor por sigilo eterno nas informações oficiais no Brasil. O padrinho ao qual Dilma se curva no congresso do PMDB é o mesmo que a constrange em sua campanha por governos abertos. Enquanto a presidente técnica não tiver cacife e autonomia para refundar a política no Brasil, muitas Doralices serão pagas com nosso dinheiro.

EDITORIAL O ESTADÃO - Lambança político-industrial


Lambança político-industrial
EDITORIAL
 O Estado de S.Paulo - 17/09/11


O governo acaba de promover, sob o disfarce de política industrial, mais uma lambança a favor de grupos selecionados. Com o pretexto de proteger o setor automobilístico e o emprego do trabalhador brasileiro, o Executivo federal aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e definiu condições para isenção das novas alíquotas. As condições beneficiam claramente uma parte das montadoras e criam, indiretamente, barreiras à importação de veículos e de componentes fabricados fora do Mercosul e do México. Ao estabelecer uma discriminação baseada em critério de conteúdo nacional, o governo se expõe a ser contestado na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo, segundo fontes ouvidas pela reportagem do Estado, admite essa possibilidade, mas decidiu correr o risco.

"O consumo dos brasileiros está sendo apropriado pelas importações", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, é preocupante ver a indústria acumular estoques e dar férias coletivas aos funcionários. É conversa sem fundamento. O número de veículos nacionais licenciados até agosto foi 2,2% maior que o de um ano antes, segundo a associação das montadoras (Anfavea). A receita de exportações de veículos foi 17,3% superior à de janeiro-agosto de 2010. A das vendas externas de máquinas agrícolas, 52,1%. O licenciamento de veículos importados aumentou, de fato, e chegou a 22,4% do total de licenciados. Em todo o ano passado a proporção foi de 18,8%. Mas, com produção, venda e exportação em alta, poderia o governo ter apelado para medidas explícitas de proteção? Conseguiria provar um surto de importação gravemente prejudicial para justificar as salvaguardas admitidas pela OMC?

A resposta parece implícita na escolha do protecionismo disfarçado. Uma bem fundada suspeita de dumping poderia ter justificado, igualmente, uma ação defensiva. As autoridades preferiram outro caminho, com o pretexto, também discutível, de incentivar o desenvolvimento tecnológico.

A ação adotada pelo Executivo favorece as indústrias em operação há mais tempo no Brasil e mais integradas na cadeia produtiva nacional. Na melhor hipótese, poderá induzir os demais fabricantes a elevar até 65% o conteúdo nacional de seus produtos. Mas isso não tornará a indústria mais competitiva. O investimento em tecnologia - pelo menos 0,5% da receita bruta, descontados os tributos incidentes sobre a venda - é uma das condições para a empresa se livrar das novas alíquotas. Esse requisito será com certeza cumprido ou contornado com facilidade, graças, especialmente, à notável ineficiência dos fiscalizadores.

Essa condição é obviamente um disfarce concebido para enfeitar uma decisão arbitrária e discriminatória, destinada basicamente à proteção de certos interesses particulares. A mera proteção, explícita ou disfarçada, nunca bastou e jamais bastará para tornar mais competitiva a produção de autopeças ou de veículos. As principais desvantagens desses e de outros segmentos da indústria são muito bem conhecidas - impostos, custos logísticos, entraves burocráticos, etc. - e não vale a pena repetir a longa lista. Nenhuma dessas desvantagens será sequer atenuada pelas novas medidas oficiais. Se o governo atacasse com seriedade esses problemas, todos os setores e toda a economia seriam beneficiados. Mas favores especiais são a negação da seriedade.

Não por acaso as novas providências foram aplaudidas pela diretoria da Anfavea, dominada pelas montadoras tradicionais, e pelo vice-presidente da Força Sindical. O presidente da Força é vinculado ao PDT, assim como o ministro do Trabalho, engajado na defesa dos novos benefícios antes do anúncio oficial.

Os brasileiros já assistiram a esse tipo de jogo, vantajoso para poucos e custeado por muitos. Como sempre, é muito mais fácil entrar na fila dos pedintes de favores do que pressionar o governo para cortar o excesso de gastos, diminuir impostos e favorecer o investimento necessário à modernização do País. O presidente da associação da indústria elétrica e eletrônica já entrou na fila, depois de elogiar a decisão do governo. Política industrial digna desse nome é outra coisa.

EDITORIAL O GLOBO - Governo federal é ameaça à Copa


Governo federal é ameaça à Copa
EDITORIAL
O Globo - 17/09/2011

Os torcedores brasileiros estão preocupados com as idas e vindas na escalação do time que representará o país na Copa do Mundo. Mas, a mil dias do pontapé inicial da festa do futebol que aqui será realizada em 2014, o verdadeiro sinal de alerta está em outro campo: com os prazos para obras e procedimentos legais - com os quais o governo brasileiro se comprometeu perante a Fifa - encolhendo, o Brasil corre o sério risco de sediar um fiasco. Até lá, o técnico Mano Menezes e a seleção podem colher resultados mais animadores nos gramados. Mesmo assim, o desempenho do time nacional no torneio dependerá não só da qualidade dos craques, mas também do imponderável que faz a magia do futebol.

Mas na questão dos preparativos para a Copa - legislação específica para o evento, obras de infraestrutura nas cidades-sede e nos estádios, ações concretas para modernizar o gerenciamento de aeroportos etc. -, o circunstancial não pode entrar em campo. Ou o poder público age, fazendo de fato a sua parte, ou de pouco adiantará formar uma nova geração de jogadores fora de série. Aqui, por ironia, a equipe a ser enfrentada antes de a bola rolar é a do próprio governo federal, com seu leniente e até agora tíbio esquema de providências para o Mundial.

É extremamente preocupante constatar como estão emperradas as iniciativas burocráticas, que demandam tempo até serem de fato implementadas. Somente ontem, a Casa Civil da Presidência submeteu à presidente Dilma Rousseff o projeto da Lei Geral da Copa, conjunto de regras legais que disciplinam as atividades diretamente ligadas ao evento - desde a venda de ingressos ao trabalho de estrangeiros envolvidos nos preparativos. Trata-se de uma espécie de primeiro pontapé para deflagrar um processo que desembocará na partida de abertura do torneio. Dilma assinou a mensagem, que enfim deverá chegar ao Legislativo na segunda-feira. Isso depois de o ministro dos Esportes, Orlando Silva, ter adiado a remessa do texto por pelo menos três vezes desde abril.

Em relação às obras pactuadas com a Fifa, o quadro, a depender do setor, parece ser um pouco menos grave. De maneira geral, o cronograma de construção ou de reforma de estádios está sob controle, embora não totalmente livre de atropelos, graças principalmente a iniciativas dos governos estaduais para garantir o curso das intervenções. Em Minas, inclusive, estima-se que os trabalhos estejam à frente do prazo estipulado. Mas o quadro geral é inquietante, à luz do balanço dando conta de que 52 das 81 obras do evento ainda não começaram. As mais atrasadas são aquelas que cimentaram o esforço nacional para promover a Copa, que ficariam como legado para as cidades. Juntem-se a isso as incertezas quanto às licitações dos aeroportos, que têm gerado desconfianças na iniciativa privada, parceira fundamental para o sucesso não só do Mundial, mas, à frente, das Olimpíadas no Rio. E também a falta de uma política clara para as telecomunicações de ponta, notadamente a regulamentação para implantar, ao menos nas sedes, a tecnologia de celulares 4G, de altíssima velocidade.

Os desafios são gigantescos, e o governo federal precisa equacioná-los urgentemente. Tanto quanto uma seleção de alto nível, o país tem o dever de mostrar ao mundo que também é capaz de promover a maior de todas as competições de futebol.

TUTTY VASQUES - Brasil ruim não quebra!


Brasil ruim não quebra!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 17/09/11

Sei lá quantos dias faltam para o carnaval mas, se você for agora a um barracão de escola de samba, sairá de lá decerto com a impressão de que não haverá desfiles em 2012 no Brasil. Mal comparando, acontece o mesmo com a Copa de 2014. A 999 dias do megaevento, não se sabe sequer onde acontecerá sua festa de abertura. Se você for agora a Itaquera, sairá de lá decerto com a impressão de que em SP não haverá de ser.

Mas vai ser, sim! Passaremos os próximos 998 dias lendo reportagens sobre o atraso na construção de estádios, nas obras de infraestrutura, na expansão de aeroportos, mas, na hora H, vai estar tudo em pé. Nós é que não nos acostumamos com essa esculhambação que é o Brasil.

Os jornais não falam do atraso no cronograma do carnaval porque todo ano é a mesma coisa e, no final, não tem erro. Nem incêndio em barracão apaga o brilho da festa.

Porque hoje é sábado, enfim, fica aqui essa mensagem de otimismo ao povo que está preocupado com a Copa de 2014: vai dar tudo certo, pessoal - relaxa aí, vai! O Brasil é assim mesmo! Como disse a presidente Dilma dia desses, isso aqui "não quebra mais". É vaso ruim da melhor qualidade, pode crer!


Ditadura estética

Por que diabos não existem mulheres de seios fartos entre as ativistas ucranianas da organização feminista Femen? É muita discriminação, né não?


Prazo de validade

Vem aí o DVD da Xuxa com embalagem biodegradável de cascas de batata. Quando for jogado no lixo, se decompõe rapidamente na natureza.


Rogério Ceni

Depois do centésimo gol e do milésimo jogo, o goleiro do São Paulo deve atingir ainda em 2011 outra marca impressionante: o site da campanha "Eu também acho o Rogério Ceni um chato" aproxima-se do milionésimo acesso na internet.


Gotinhas a mais

O ministro Ricardo Lewandowski fez jus ao sobrenome nesta semana: trocou Albert Sabin por Albert Einstein ao agradecer medalha que leva o nome do inventor da vacina contra a poliomielite.


Calma!

Nicolas Sarkozy está particularmente empenhado em resolver os problemas da Líbia e do euro. O fim do mundo está, pois, em boas mãos!


A hora do espanto

Tem coisa mais assustadora que o Edison Lobão defendendo a construção de usinas nucleares no Brasil, "a despeito dos acidentes ocorridos lá fora"? Parece filme de terror!


Boato herege

Apesar de receber denúncia de suposta tolerância de Bento XVI com abusos sexuais praticados por padres, o Tribunal de Haia não pediu à Interpol que emita alerta vermelho contra o papa, como fez com Kadafi.


Síndrome do anel

Na semana em que as autoridades do setor de Transporte discutiam o futuro do Ferroanel e do Metroanel em SP, a Imigrantes viveu na quinta-feira seu primeiro "engavetanel".

ANCELMO GOIS - Júlio Lopes na mira


Júlio Lopes na mira
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 17/09/11


Ontem, Júlio Lopes foi notificado pelo Ministério Público para prestar esclarecimentos. A subprocuradoria-geral de Atribuição Judicial do MP do Rio abriu investigação para apurar a eventual responsabilidade criminal do secretário estadual de Transportes em relação às mortes no bonde de Santa Teresa.

O BONDE DE PAES 
Eduardo Paes estuda a diminuição da tarifa de ônibus em Santa Teresa, até que o bonde volte a funcionar.
Deve ser um preço entre os R$ 0,60 cobrados pelos bondes e os R$ 2,50 da passagem de ônibus hoje.

FINO TRATO 
José Dirceu, o poderoso, fez um implante de dente.
Também faz regime. Perdeu uns quatro quilos. 

CRIOULO DOIDO 
A editora francesa Assouline lançou na Europa a revista Brasília Style.
Acredite. Pôs uma imagem de dom Pedro II, mas escreveu que era dom Pedro I. Além disso, há uma foto de uma tribo africana descrita como brasileira.

A VEZ DE ADELE 
A LeYa Brasil lança a biografia da cantora inglesa Adele, a amiga de Amy Winehouse que ganhou dois Grammy Awards em novembro. 
O livro é de autoria de Chas Newkey-Burden, o mesmo autor da biografia de Amy.

PERIGO NO AR 
Quinta, perto de 8h30m, o piloto do voo 1550 da Gol (São Paulo-Rio) teve de arremeter quando pousava no Santos Dumont, porque outro avião estava bem à sua frente, decolando. Por pouco não houve uma colisão.
Depois do susto, o comandante pediu desculpas aos passageiros (entre eles, o produtor Barretão e o empresário de futebol Léo Rabelo) pelo “erro grave da torre de controle”.

SEM LEITE 
A família de Sebastião Lima, coautor de Eu tiro leite, da trilha do filme 2 Filhos de Francisco, perdeu a ação contra os produtores do filme. Cabe recurso.
Os herdeiros alegam não ter autorizado o uso da música.

SEGUE... 
A defesa provou que os direitos foram cedidos em 1949 à empresa hoje chamada Copacor, que liberou o uso no filme. A sentença é da juíza Kátia Torres, da 30ª Vara Cível do Rio.

FAMÍLIA INDENIZADA 
A família do menino Juan, morto por PMs em Nova Iguaçu, RJ, deve receber cerca de R$ 200 mil de indenização do Estado.
Cabral, antes de a Justiça definir o responsável pelo crime, autorizou Rodrigo Neves, secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, a tocar o processo de indenização.

BALÉ CONDENADO 
O Balé Bolshoi no Brasil terá que pagar R$ 10 mil a uma ex-aluna que, em 2007, aos 12 anos, foi dispensada do curso de formação por deficiência técnica, mas sem comprovação.
A decisão é do desembargador Agostinho Teixeira, da 13ª Câmara Cível do TJ-RJ. 

RENÊ, O COLEGUINHA 
A ESPM deu bolsa no curso de Comunicação a Renê Silva, o menino que desde miúdo mostra vocação empreendedora e talento jornalístico no seu Voz da Comunidade, jornal comunitário do Complexo do Alemão. 
Vale para 2013, quando ele acaba o colegial. Renê merece. 

MIRNA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE - Amigos leitores


Amigos leitores
MIRNA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE


Desde 2008 tenho escrito para diversos sites da internet. Um dos primeiros- e principal deles, foi o BRASILWIKI. Extrai-se de todas as minhas matérias – mesmo as que posto da autoria de outros, que meu foco é o povo, seus direitos, a ação dos representantes do Estado-seres e entes públicos contra os direitos deste mesmo povo.

Revelo minha indignidade ante os acontecimentos. Indico o que penso a bem da verdade e principalmente à Luz da Justiça deveria ocorrer. Jamais preguei a violência, mas a PAZ.

Sei que tudo o que é humano tem falhas, por sua própria origem. No entanto, sei também a dor que sinto ao constatar todo o mal que ocorre aos meus semelhantes, causados não importa por quem.

Os homens públicos brasileiros- em sua maioria- representam a si mesmos, não ao povo- e seus atos são inqualificáveis para os cargos aos quais foram guindados por voto. Mentiras de toda a sorte são ditas, escritas, repetidas e publicadas sem a menor vergonha.

Nossos aposentados-principalmente os do RGPS (INSS), passam mesmo necessidades. Foram ludibriados por este governo, o anterior e pelos que antecederam a esses. Políticos profissionais têm-se elegido e reelegido no país inteiro, por conta desses cidadãos, suas famílias, parentes e amigos. Prometeram mundos e fundos. Após atingirem seus objetivos, ficam esses aposentados desiludidos, a passarem as mesmas- ou piores tribulações- e ainda, destituídos de esperança. Há bravos guerreiros, lutam por amor à causa e gratuitamente. São inúmeras as vezes que penso formarmos o Exército de Brancaleone.

Desde há muito tenho me dedicado com a devoção quase sacerdotal à causa dessas pessoas e, apesar de incontáveis trabalhos publicados em anais dos congressos vários dos quais tenho participado, sinto-me frustrada por pouco ou nada de positivo ter conseguido. Sigo porém, a acreditar no sonho de um país melhor. Sigo a escrever com fé.

No entanto, sem a força e a vontade políticas, é impossível efetuar as imprescindíveis transformações.

Passamos há muito do ápice do tolerável; atingimos o paroxismo do intolerável. E escândalos se sucedem praticados por pessoas que ocupam elevados cargos. São apenas afastados, levando consigo agradecimentos públicos pelos serviços prestados… e geralmente voltam para suas vidas privadas, não só usando em seus negócios as informações obtidas quando no cargo, como traficam influência.

Reina a impunidade.

Ouvem-se discursos vazios, mentiras que levam à descrença de perspectivas positivas para um país justo, equânime.

Após escrever “SAÚDE: há solução se há vontade política”, recebi de um amigo e aposentado, via e-mail o que hoje posto, por concordar com seu teor. Mesmo não estando assinado, alinha pensamentos, fatos verdadeiros noticiados pela mídia e, acima e além, expressa a indignação existente em cada criatura de bem deste país.

Sabe-se que corruptos e corruptores existem e existiram em todas as épocas e em todos os países. Seus atos, com o transcorrer do tempo, originaram não só a queda de civilizações, como as revoluções mais sangrentas da História. Receio que possa vir a ocorrer o mesmo no Brasil, mesmo com a índole boa e de paz de nosso povo, pois para tudo há limites.

Não me recordo de época alguma na qual a corrupção tenha atingido tão surreais patamares.

Não esperemos que tais modificações sejam efetuadas por políticos carreiristas. São os maiores sanguessugas das burras do Estado. Representam não o povo, mas a si mesmos e seus interesses mesquinhos e escusos.

Amigos leitores,

se estiverem de acordo com o que lerem, indiquem esta mat[eria, informem aos que conhecem, para que chegue ao conhecimento do maior número possível de pessoas.

Que o povo brasileiro alevante sua voz na paz, independentemente de partidos, pois o que está em risco aqui, é sua própria identidade nacional: o povo brasileiro, sem divisões quaisquer que sejam.

“Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”, ensinou-nos Abraham Lincoln.

Este povo pode fazer as mudanças.

Mirna Cavalcanti de Albuquerque

ZUENIR VENTURA - O que falta


O que falta
ZUENIR VENTURA
O Globo - 17/09/2011

Talvez seja cedo. Ainda não dá para considerar aquela saída às ruas de milhares de jovens protestando contra a corrupção como o início de um movimento igual ao das diretas já em 1984, dos caras-pintadas em 1992 ou das recentes manifestações dos estudantes chilenos, espanhóis e gregos, entre outros. O anseio de ver o país se mexer tem criado uma expectativa que pode ser exagerada. A cautela recomenda esperar pelo menos até o próximo dia 20, quando está programado um desdobramento do 7 de setembro no Rio. De qualquer maneira, duas novidades positivas já se fizeram sentir: a indignação virando ação, coisa que não acontecia há muitos anos, e as redes sociais sendo utilizadas como instrumento de mobilização popular, a exemplo do que aconteceu em vários países, a começar pelos que se revoltaram contra as ditaduras na chamada Primavera Árabe.

O desafio é manter acesa a chama, para não repetir experiências frustrantes como a de 2007, o Cansei, que chegou a organizar passeatas reunindo líderes empresariais e políticos, mas que durou pouco. Também!, um movimento que em vez de prometer disposição para a luta exaltava a desistência, declarando-se cansado, não podia ter vida longa. Agora, porém, observa-se uma mudança de clima em vários setores da sociedade: há uma intolerância para com os abusos éticos que cresce à medida que se repetem escândalos como o da deputada flagrada embolsando dinheiro sujo e depois absolvida. Ou o do ministro de Turismo, que pagava à governanta com verba pública - aquele mesmo que bancou com cota parlamentar uma farra em motel. Só o que se tem roubado na área da Saúde dá para curar quase todos os males do país.

Entre os jovens, ainda se percebe muito desencanto em relação a eles mesmos e ao governo, principalmente depois que a presidente diminuiu o ímpeto de sua faxina. Os fichas-sujas aproveitam-se desse estado de resignação da opinião pública para alegar que indignação é "coisa da mídia" e que o povo só pensa no bolso. Eles podem estar enganados. Alguns movimentos de massa caracterizaram-se pela imprevisibilidade. Não deram sinal de "cheguei!" e nem foram antecipados pelos cientistas sociais ou pelos jornalistas. Foram processos de acumulação gradativa de energia, muitas vezes imperceptíveis, que de repente explodiram em protestos de rua. Às vésperas da rebelião estudantil de 1968, na França e aqui, acreditava-se que não acontecia nada e que não ia acontecer. No entanto, os estudantes de Paris, Rio e outras cidades do mundo estavam armazenando rebeldia para uma das mais estrondosas insurreições urbanas do século passado. Hoje, no Brasil, não faltam motivos, falta motivação. De repente, ela pode aparecer.

Como vocês não são de ferro, vou lhes proporcionar o merecido descanso de um mês. Até a volta.

ILIMAR FRANCO - Gabrielli se mexe


Gabrielli se mexe
ILIMAR FRANCO
O Globo - 17/09/2011

O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, procurou esta semana um ministro amigo do STF para defender sua tese: aumentar a alíquota de Participação Especial dos campos explorados pela empresa configura quebra de contrato. Esse ministro fez consultas no Senado. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) respondeu: "Se a alíquota for reduzida ou se for zerada, a Petrobras vai alegar quebra de contrato e continuar pagando?".

Volume de produção x grande rentabilidade

Os senadores Delcídio Amaral (PT-MS), Lindbergh Farias (PT-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES) descobriram que o decreto 2.705/98 já prevê a possibilidade de aumento da alíquota de participação especial das empresas petrolíferas. O artigo 21 diz que a compensação financeira será paga pelas concessionárias em função "de grande volume de produção ou de grande rentabilidade". E constataram que as alíquotas das tabelas do artigo 22 são baseadas na produção. Lindbergh argumenta: "O campo de Roncador, com 27% de lucratividade, paga 31% de participação especial; e o campo de Espadarte, com 40% de lucratividade, paga apenas 3%."

"Se isso for feito, a Petrobras é que vai pagar a conta" - Guido Mantega, ministro da Fazenda e membro do Conselho de Administração da Petrobras, para senadores sobre aumentar a Participação Especial

UNIÃO. Parlamentares dos estados da Amazônia Legal decidiram se unir na votação do Código Florestal. Eles se reuniram na noite de quarta-feira e decidiram defender que sejam incluídos no texto incentivos financeiros para quem conserva suas áreas de preservação permanente e de reserva legal.Fala o senador Eduardo Braga (PMDB-AM): "Na Amazônia, temos um povo bilionário, mas que vive na miséria. É correto apontarmos no Código Florestal o pagamento por serviços ambientais."

G-10

O grupo de dissidentes da bancada do PMDB no Senado, que era chamado até bem pouco tempo de G-8, está prestes a aumentar com o ingresso dos senadores Eunício Oliveira (CE) e Eduardo Braga (AM). Assim, passaria a ser o G-10.

Caras novas

Na pesquisa feita pelo PSDB, surpreendeu o desempenho dos pré-candidatos estreantes em disputas majoritárias. Isso reforça a posição do ex-governador José Serra, que resiste a uma nova candidatura à Prefeitura de São Paulo.

Dilma queria Chalita no Turismo

A presidente Dilma cogitou convidar o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) para assumir o Ministério do Turismo. O vice Michel Temer, quando abordado por Dilma, já havia feito uma sondagem prévia com Chalita. Este, no entanto, argumentou que seu projeto era o de concorrer à Prefeitura de São Paulo. Temer concordou que o mais importante era o projeto eleitoral. Diante dessa posição, a presidente não levou adiante a ideia.

Sem votos

O líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), está tentando convencer o deputado Vilson Covatti (PP-SC) a retirar sua candidatura a ministro do TCU. O deputado Milton Monti (SP), candidato do PR, deve retirar a sua na segunda-feira.

Dois senhores

Pressionado, por ter promovido encontro do PSD com a deputada Ana Arraes (PSB-PE), candidata ao TCU, o prefeito Gilberto Kassab (São Paulo) fará um jantar terça-feira para o candidato do PMDB, deputado Átila Lins (AM).

SE A DEPUTADA Ana Arraes (PSB-PE) vencer as eleições, de quarta-feira, para ministro do TCU, Pernambuco terá três dos nove ministros. Os outros dois são José Jorge e José Múcio.

SOBRE sua candidatura ao TCU, fala o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP): "A minha campanha é muito discreta e secreta. Se não for assim, o governador Eduardo Campos vai atrás dos meus eleitores".

O PSDB do Senado vai tentar derrubar artigo na Emenda 29 que exclui o Fundeb da base de cálculo dos recursos destinados à Saúde. São R$7 bilhões.

com Adriana Vasconcelos, sucursais e correspondentes

FRANCISCO DORNELLES - O curandeiro e a CPMF


O curandeiro e a CPMF
FRANCISCO DORNELLES
O Globo - 17/09/2011

No interior de Minas Gerais, nos anos 40, existia um curandeiro nas mãos de quem ninguém falecia de tuberculose.

Médicos de Belo Horizonte deslocaram-se para o interior do Estado perguntando ao curandeiro que medida ele adotava para ninguém morrer de tuberculose em suas mãos. O curandeiro respondeu: "Quando vejo que vai morrer, eu mudo o nome da doença."

Propostas, no momento, estão aparecendo no sentido de ser criada uma contribuição cumulativa, tendo como fato gerador a movimentação financeira e cuja base de cálculo é o valor dessa movimentação. Mas, como existe uma reação muito forte da sociedade contra a CPMF, os seus criadores, seguindo a lição do mencionado curandeiro, desejam batizá-la com o nome de Contribuição Social para a Saúde (CSS).

O que caracteriza o imposto ou a contribuição não é o nome, mas o fato gerador e a base de cálculo.

O artigo 154, inciso I e o artigo 195, § 4º, da Constituição, permitem que a União crie, por lei complementar, outros impostos e contribuições, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador e base de cálculo próprios de outros impostos e contribuições nela previstos.

Em decorrência desses princípios, contribuição de natureza cumulativa, independentemente do nome que lhe for dado, não pode ser criada por lei complementar, mas somente através de emenda constitucional, como, aliás, ocorreu nos casos em que a CPMF foi criada, recriada e prorrogada, nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Até o ano de 1998, 80% da arrecadação da União provinham de dois impostos - o Imposto de Renda e o IPI, imposto seletivo e não cumulativo -, que atendiam a todas as regras de uma boa incidência.

O capítulo da Constituição dedicado à seguridade social abriu caminho para que a União, reduzindo o peso dos impostos cuja receita era compartilhada com estados e municípios, criasse uma série de contribuições, a maior parte delas de natureza regressiva e cumulativa, que hoje propiciam uma arrecadação maior que aquela derivada dos impostos. Foi no bojo dessas mudanças que foi criada a CPMF.

A CPMF tem o encanto da facilidade da cobrança. Mas é uma incidência retrógrada, regressiva, cumulativa, que recai sobre o consumo, o investimento, as exportações, que estimula a desintermediação bancária e que indiretamente alcança pessoas de mais baixa renda. É uma incidência tão rejeitada que até hoje nenhum governo concordou em retirar dela o nome de "provisória".

O importante no momento, entretanto, é que aqueles que desejam criar uma contribuição de natureza cumulativa, com qualquer propósito ou nome que lhe for dada, considerem o fato de que ela não pode ser criada por lei complementar, mas somente por emenda constitucional.

FRANCISCO DORNELLES é senador (PP-RJ).

JORGE BASTOS MORENO - Eliseu Padilha surpreende o Parlamento


Eliseu Padilha surpreende o Parlamento
JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém 
O Globo - 17/09/2011

Suplente da bancada gaúcha, o ex-ministro Eliseu Padilha era, com todo o respeito, uma espécie de "Teodora" do Congresso - personagem da mega atriz Carolina Dieckmann em "Fina Estampa", mal falada por todos antes mesmo de estrear na novela, o que deve acontecer no capítulo de hoje, talvez.

Padilha chegou antes da Teodora, mas, por ter a mesma fama, seu retorno foi igualmente protelado.

Aqui mesmo, neste espaço, a volta de Padilha foi anunciada como ponto negativo para o Parlamento e, consequentemente, uma concorrência ao polêmico Eduardo Cunha.

Mas eis que Padilha acaba de surpreender a todos ao apresentar o primeiro documento consistente do PMDB a um governo coligado, fruto de debate da cúpula partidária.

São ao todo 15 itens que mostram claramente as diferenças doutrinárias entre os dois principais partidos do governo.

Padilha, permanentemente denunciado pela mídia, se agarra ao princípio histórico do PMDB de Ulysses Guimarães da defesa da "liberdade de imprensa" para se contrapor oficialmente às tentativas antidemocráticas de setores do PT.

Se Padilha mudou para valer, só o tempo dirá, mas é inegável que caminha para a conversão. Aceitou Jesus (Ulysses) no coração. Agora, Padilha ama Jesus e Jesus ama Padilha!

Vice não fala

Quando informaram a presidente de que seu vice perdera a voz, ela achou que era de susto pelas novas traquinagens do Pedro Novais.

Mal sabia a Dilma que Michel estava com "edema das cordas vocais, provocado por refluxo", segundo diagnosticou o consultor da coluna, o renomado otorrino Jair de Castro, que fazia palestra sobre o tema, ontem, em São Francisco, na Califórnia.

Dilma, mesmo assim, na terça-feira à noite, ligou:

- Michel, amanhã vêm mais coisas. Temos que resolver este caso agora!

- ..............

- Michel! Tá surdo, poxa?

- ................

- Estás de birra? Eu também não queria... Por mim, enrolava até janeiro. Eu te disse isso, não foi?

- ............

- Não quer falar? Tá de mal? Então vou dar a vaga para o PCdoB botar a ex-prefeita de Olinda, que é a mais preparada de todos para a vaga.

- ... Não!!!!!!!

Abuso do poder

Só aí a presidente Dilma ficou sabendo que quase perdera o seu vice, que abusou das curtas férias em Natal (RN). Além de fortes infecções intestinal e de garganta, Michel foi internado no Einstein, em São Paulo, com suspeitas de hepatite medicamentosa, descartada somente nos exames de ontem.

Dodói

Michel Temer assume hoje a Presidência da República, para a sua, até agora, mais longa interinidade, ainda debilitado. Só devolve o cargo na quinta.

O filho da princesa

Para substituir Novais, Dilma pediu que o PMDB indicasse uma lista com três fichas-limpas.

- O único ficha-limpa do PMDB é o Michelzinho - lembrou Lúcio Vieira Lima, referindo-se ao filho de 2 anos do vice-presidente da República com Marcela Temer.

Antecipação

Final de outubro é o prazo de Haddad para se ter uma posição mais definida sobre a eleição em São Paulo.

Alguém aí me perguntou o que isso tem a ver com o ministro Carlos Lupi?

Tudo.

Com ele, Negromonte e mais uns dois ou três ministros que estão na fila.

É que, se Dilma liberar Haddad para a campanha, vai querer antecipar a reforma prevista só para janeiro do ano que vem.

Carinho

Haddad, ontem, em São Paulo, era todo paz e amor:

- Se o partido me escolher, a Marta se engaja na campanha de corpo e alma. Assim como farei, se ela for a escolhida.

Previsão

Montenegro, do Ibope, acha que no Rio e em BH não haverá eleições. Paes e Lacerda já estariam reeleitos.

Grande ministro!

O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira, é considerado um dos maiores especialistas em Educação.

Gastão é tido como sarneyzista "independente" (alguém conhece algum sarneyzista "independente"?).

Dizem que é um homem muito recatado, como se vê na entrevista a Cátia Seabra e Natuza Nery, quando diz que "a Caixa tem uma puta responsabilidade" na fiscalização de emendas.

Por todas essas virtudes, torço para que Gastão Vieira faça uma puta gestão.

Desculpa esfarrapada

É sonho de Pezão, para daqui a três anos, ter Rodrigo Maia e Eduardo Paes novamente no mesmo palanque.

Pelo menos tem sido essa a explicação que deu ao chefe, ao ser flagrado marcando um encontro com o filho de Cesar Maia.

MARCO ANTONIO VILLA - Política sem política


Política sem política
MARCO ANTONIO VILLA
O Estado de S.Paulo - 17/09/11


Na História do Brasil republicano, Dilma Rousseff é a presidente que mais exonerou ministros em menos de um ano de governo. Mas, curiosamente, não identificou nada de anormal na sua administração. Como se as demissões por graves acusações de corrupção fossem algo absolutamente rotineiro. E ocorressem em qualquer país democrático. Todas as demissões seguiram um mesmo ritual: começaram por denúncias publicadas na imprensa e, semanas (ou meses) depois, quando não havia mais nenhuma condição de manter o ministro no cargo, este pedia para sair.

Na ópera-bufa da política nacional, isso passou a fazer parte do figurino. O fecho do processo se repete: é necessário também emitir alguma crítica genérica sobre a corrupção, sem identificar o destinatário. Na hora da posse do novo ministro, deve ser elogiado o antecessor (o elogio será mais extenso e efusivo dependendo de quão poderoso for o padrinho político do ministro). Semanas depois as acusações desaparecem em meio a um novo escândalo.

O Brasil foi, ao longo do tempo, esgarçando os princípios morais e éticos. Em 1954 chamou-se "mar de lama" a um conjunto de pequenas mazelas que envolviam a ação de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. Hoje Gregório seria considerado um iniciante, até um ingênuo. A corrupção permeia todas as esferas do poder e conta com o silêncio complacente do Judiciário.

Em meio a esta turbulência, a oposição não sabe bem o que fazer. Está paralisada. Na base governamental temos alguns senadores que manifestam - ainda que timidamente - algum tipo de independência, como os peemedebistas Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Vivem uma constante crise de identidade. Sentem-se envergonhados como membros de um partido marcadamente fisiológico, mas não assumem claramente uma posição oposicionista. Nesse contorcionismo perdem espaço e são usados pelo governo, como na tentativa de criar uma frente suprapartidária para dar apoio à presidente no combate à corrupção, que serviu para desviar as atenções da proposta de CPI. O mais estranho é que a presidente não só não pediu apoio, como não fez nenhum movimento de simpatia. Deixou, literalmente, os senadores com a vassoura na mão.

Do lado propriamente oposicionista, continua a triste batalha dostoievskiana. O ódio entre os seus principais líderes deixaria enrubescido o patriarca da família Karamazov. A disputa interna fratricida paralisa qualquer ação. Não há projetos partidários. É uma espécie de cada um por si. E todos se acham espertos. Atualmente, a maior das espertezas é buscar apoio do governo para ampliar o seu poder na oposição. Algo no terreno do fantástico e fadado, obviamente, ao fracasso. Contudo, durante algumas semanas, dá ao líder oposicionista uma aura de sagacidade.

Enquanto isso, o País assiste a espetáculos dantescos de malversação dos recursos públicos, à permanência da inépcia governamental e ao agravamento homeopático dos efeitos internos da crise internacional. Em qualquer país democrático seria um terreno fértil para a oposição. Mas não no Brasil. Aqui, o velho discurso reacionário de que fazer oposição é ser contra o País ainda é dominante. A oposição tem medo de ser oposição. Foge do confronto como o diabo da cruz. Deve sentir vergonha por ter recebido a confiança de 44 milhões de eleitores na última eleição presidencial.

Vivemos num ambiente despolitizado. E isso é adequado ao projeto petista de permanecer décadas no poder. Logo vai completar a primeira. E o partido já está fazendo de tudo (e sabemos o que significa esse "de tudo") para tornar esse plano viável. A figura do ex-presidente Lula é central para cimentar as alianças políticas e empresariais. Afinal, todos sabem que sem Lula o projeto cai por terra. Somente ele consegue dar coerência a uma base política tão heterodoxa, que vai de Paulo Maluf ao MST. Mas para isso, muito mais que o discurso, é indispensável manter uma taxa de crescimento que permita concessões aos mais variados setores sociais, conforme o seu poder de barganha. E aí é que mora o grande desafio do governo, e não na tímida oposição.

São evidentes as diferenças e a qualidade da ação entre governo e oposição. Basta observar os movimentos dos dois últimos ex-presidentes. Lula sabe muito bem o que quer. Não para de articular um só minuto. E não perde oportunidade para atacar a oposição. Do lado da oposição, Fernando Henrique Cardoso parece que vive em outro mundo. Confundiu um elogio meramente protocolar da presidente Dilma com uma revisão ideológica do seu governo por parte dos petistas (que em momento algum foi realizada). Extasiado, não parou de elogiar a presidente e os "esforços" para combater a corrupção. Ou seja, um está atuando ativamente no presente para impor a qualquer preço o seu projeto, o outro está preocupado com o futuro, de como ficará o seu retrato na História.

Nesse ritmo, Lula vai coroando de êxito o seu projeto. Espera vencer as eleições municipais, especialmente em São Paulo. Com o triunfo deverá estabelecer um arco de alianças ainda mais amplo que o atual. É o primeiro passo concreto para retornar à Presidência em 2014 e permanecer, pelo menos, mais oito anos no poder. Caberá a Dilma continuar despachando como uma espécie de presidente interina, aguardando o retorno do titular.

E a oposição? Ah, esta lembra o Visconde Reinaldo, personagem de O Primo Basílio. Quando falava de Lisboa, sempre aguardava um terremoto, como o de 1755, que destruiu a cidade. Como não faz política, a oposição, espera também um terremoto: é a crise internacional. Mas, assim como o hábito não faz o monge, a crise, por si só, não fará ressurgir a oposição.



HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

RUY CASTRO - Igual a muitos


Igual a muitos
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 17/09/11

RIO DE JANEIRO - Jobson, 23, bom jogador, cujo contrato pertence ao Botafogo, está suspenso do futebol até março de 2012. Foi condenado por uma corte esportiva na Suíça à complementação da pena de seis meses que já lhe havia sido aplicada no Brasil em 2009, acusado de doping por cocaína.
Pena esta que, pelo visto, não lhe disse nada então. A ficha não caiu. Depois de cumpri-la, passou por vários clubes -Botafogo de novo, Atlético Mineiro, Bahia- e foi dispensado de todos, por motivos que eles não revelam, mas parece ter a ver com seu comportamento. Em comum nas dispensas, o tapinha nas costas, a reafirmação de que ele é "bom menino" e que o clube "tentou ajudá-lo" -mas que vá aprontar em outra freguesia.
Há várias formas de ajudar, inclusive a correta, e uma delas seria olhar menos para o jogador e mais para o homem, cujo horizonte não parece muito à vista se ele não se tratar. Não sei se Jobson continua usando os produtos de que foi acusado ou que ele próprio já admitiu, mas sua prepotência está no auge. Esse novo lapso na sua vida profissional seria ideal para que tomasse a única atitude capaz de salvá-lo: submeter-se à internação fechada numa clínica séria para dependentes químicos.
Desobrigado do futebol, Jobson passaria seis meses longe de facilitadores e fornecedores. Em vez disso, ouviria palestras de médicos, terapeutas e, talvez, de algum religioso -nenhuma de cunho moralista e condenatório, mas capazes de instruí-lo sobre sua condição e como lidar com ela. Em contato com os colegas de internação, aprenderia que seu problema é comum a gente de toda condição social, financeira, intelectual, e que ele não tem motivo para se achar diferente ou melhor do que ninguém.
E para aprender que ele pode ser o Jobson, o rei da cocada ou quem quiser, mas sempre haverá uma substância capaz de destruí-lo.

PAUL KRUGMAN - Livre para morrer


 Livre para morrer
PAUL KRUGMAN 
FOLHA DE SP - 17/09/11

A falta de compaixão tornou-se uma questão de princípio, pelo menos na base republicana


EM 1980, justamente quando os Estados Unidos estavam descrevendo uma virada política para a direita, Milton Friedman defendeu a mudança com a famosa série de TV "Free to Choose". Em um episódio após outro, o simpático economista identificou a economia do laissez-faire com a escolha e o empoderamento pessoais -uma visão otimista que seria ecoada e ampliada por Ronald Reagan.
Mas, hoje, "livre para escolher" virou "livre para morrer".
No debate dos pré-candidatos republicanos na última segunda-feira, Wolf Blitzer, da CNN, perguntou ao deputado Ron Paul o que deveríamos fazer se um homem de 30 anos que optou por não ter convênio médico precisasse de seis meses de atendimento em UTI.
Paul respondeu: "A liberdade implica nisso -assumir seus próprios riscos". Blitzer o pressionou outra vez, perguntando se "a sociedade deveria simplesmente deixá-lo morrer". A plateia explodiu com aplausos e gritos de "sim, sim!".
O incidente destacou algo que a maioria dos comentaristas políticos ainda não absorveu: hoje, a política americana envolve visões morais fundamentalmente distintas.
Poucas das pessoas que morrem por falta de atendimento médico se parecem com o indivíduo hipotético postulado por Blitzer, que poderia ter pagado seguro médico.
A maioria dos americanos sem seguro médico ou tem renda baixa e não pode pagar, ou é rejeitada pelos convênios porque sofre de problemas médicos crônicos.
Então pessoas da direita estariam dispostas a permitir que as pessoas que não têm seguro médico, sem serem culpadas por isso, morram por falta de atendimento? Com base na história recente, a resposta é um "sim!" retumbante.
No dia seguinte ao debate, o Birô do Censo divulgou suas estimativas mais recentes. O quadro geral é lamentável, mas um ponto relativamente positivo foi o atendimento médico a crianças. A porcentagem de crianças sem cobertura foi mais baixa em 2010 que antes da recessão, graças à ampliação em 2009 do Programa de Seguro-Saúde Infantil do Estado, ou SCHIP.
O ex-presidente George W. Bush tinha bloqueado tentativas anteriores de proporcionar cobertura a mais crianças -sob aplausos de muitos da direita.
Logo, a liberdade de morrer se estende não apenas aos imprevidentes, mas também às crianças e às pessoas sem sorte. E a adesão da direita a essa noção assinala um deslocamento importante na natureza da política americana.
Agora, a compaixão está fora de moda -na realidade, a falta de compaixão tornou-se uma questão de princípio, pelo menos na base republicana.
O conservadorismo moderno é, na realidade, um movimento profundamente radical, hostil ao tipo de sociedade que temos há três gerações -que, agindo por meio do governo, procura mitigar alguns dos "perigos comuns da vida" por meio de programas como a Previdência Social, seguro-desemprego, Medicare e Medicaid.
Os eleitores estão preparados para aderir a uma rejeição tão radical do tipo de América em que todos nós crescemos? Vamos descobrir em 2012.

Tradução de CLARA ALLAIN

MÔNICA BERGAMO - CASA SANTA

CASA SANTA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 17/09/11

A Santa Casa de SP deve ser recordista na doação de órgãos pelo quarto ano consecutivo. Dados preliminares indicam que haverá 57 doadores por milhão de população. Supera com isso, em termos percentuais, o índice da Espanha, historicamente o país com maior taxa mundial, com média de 35 doadores por milhão.

CASA SANTA 2
Em 2010, o Spot (Serviço de Procura de Órgãos) da Santa Casa, responsável pela captação de órgãos em 55 hospitais na capital e na Grande São Paulo, atingiu 58 doadores por milhão. A instituição atribui a boa média a um "trabalho intenso de conscientização e capacitação dos médicos", como o quinto Simpósio Internacional de Doação de Órgãos e Tecidos, marcado para a próxima terça.

DRAGÃO VERMELHO
Uma comitiva do PT embarca para a China, amanhã, para uma semana de atividades com o Partido Comunista local. Passarão por Pequim e Xangai e terão reuniões com o comitê central da sigla e com dirigentes das cidades.
E o presidente do PT, Rui Falcão, falará sobre os governos Lula e Dilma em um seminário sobre os Brics que integra a programação.

MUTIRÃO
Os organizadores da Bienal Internacional de Arquitetura de SP, que começa em novembro, foram surpreendidos pela quantidade de trabalhos inscritos. Esperavam cerca de cem, mas receberam 250. Com pouco mais de uma semana para selecionar os que serão expostos, foi necessário dobrar o trabalho do júri, com 20 arquitetos de sete países.

AGENDA
A revista inglesa "Monocle" dedicou 15 páginas da edição deste mês à Folha. Nelas, afirma que, enquanto publicações do mundo inteiro perdem espaço, o jornal "ganha leitores e consolida sua posição como ponto de referência para milhões de pessoas" no Brasil. A reportagem com os bastidores da Redação afirma ainda que a Folha não se intimida diante de questões difíceis, dita a agenda do país e já derrubou "vários políticos" ao longo do tempo.

CAETANO CANTA SANDY
O espetáculo "Caetano Canta Tudo", "stand-up" musical da Cia. dos Texugos, voltará ao palco em 3 de outubro. O repertório, em que o vocalista Mauro Soares interpreta sucessos de Gretchen e Sidney Magal com a voz de Caetano Veloso, foi atualizado com uma sátira à polêmica entrevista de Sandy à "Playboy": a canção inédita "Sandy Faz a Nau".

O OUTRO RONALDO
Entre as crianças do Clube-Escola da região que tietaram Ronaldo, homenageado com outros ex-campeões mundiais no evento dos mil dias para a Copa no Itaquerão, ontem, um garoto usava uma camisa do Real Madrid com o nome do português Cristiano Ronaldo. Outro jogou uma camiseta bem no rosto do atacante. "Senta aí. Senão não te dou autógrafo", bronqueou o craque.

DIVERSÃO REAL
A The Iain MacPhail Band, um dos grupos favoritos da rainha Elizabeth, vem ao Brasil para animar a festa de 87 anos da comunidade escocesa em SP. A banda chegará uma semana depois do show que fará para a realeza no Castelo de Balmoral, na Escócia. A festa acontece em 1º de outubro, no Rosa Rosarum.

DIAGNÓSTICOS
O cirurgião Adib Jatene e o ministro Alexandre Padilha (Saúde) autografaram, anteontem, o livro "40 anos de Medicina - O que Mudou". O ex-ministro José Dirceu, o médico Raul Cutait e Gonzalo Vecina, do hospital Sírio-Libanês, passaram pela Fnac da avenida Paulista.

CURTO-CIRCUITO

Felipe Morozini inaugura hoje mostra fotográfica na Zipper Galeria, às 12h.

O MAM-SP abre hoje a Semana Sinais na Arte, com exposições traduzidas para a linguagem de sinais.

Pedro Martinelli lança hoje, às 17h30, livro na SP-Arte/Foto, no Iguatemi.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

PAULO SANT’ANA - A ameaça das doenças


A ameaça das doenças
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 17/09/11

Ontem, arrolei poucas coisas de que não gosto e esqueci-me das doenças.

No mesmo dia, esta semana, fiquei sabendo de uma doença em uma pessoa de minha família e outra doença num amigo e colega de trabalho. Desabei. Porque as doenças, quando me são noticiadas, sejam em mim, sejam nos meus seres queridos, me surpreendem em estado de pânico.

A doença sempre é uma ameaça. E, quando é diagnosticada como grave, como me aconteceu no início do ano, ela tem a propriedade de me colocar em desatino.

Eu ainda mais admiro a profissão dos médicos porque eles lidam com as doenças todos os dias e horas. Não há espaços nas vidas dos médicos separados da doença.

Esse meu terror com a doença se deve talvez à crença de que a doença é sempre a véspera da morte. Antes de quase todas as mortes surge a doença, desafiadora, ameaçadora, aterrorizante.

Existem as doenças físicas e, com mais ênfase na passagem do século, começaram a aparecer as doenças mentais ou emocionais.

E ao redor das doenças mentais e emocionais fiquei conhecendo esta semana um terror que as ronda: os pacientes que se tornam dependentes de determinados medicamentos e exorbitam por conta própria da autoministração de remédios, exageram na dose a tal ponto, que cinco dias atrás, no Hospital Mãe de Deus, apareceu um paciente que tomava 20 comprimidos de Dormonid por dia, uma dose que eu considero letal.

Pois, incrivelmente, uma doença paralela que assombra a equipe do Dr. Sérgio de Paula Ramos, no Mãe de Deus, é a dependência química não só de drogas ilícitas, mas frequentemente de drogas lícitas com licenças controladas, que gravemente está se institucionalizando porque, com o advento da internet, determinados pacientes têm facilidade para adquirir essas drogas sem receituário, no mercado negro.

Terrível.

Tenho familiaridade com uma doença perigosa, de vez que trato diariamente com meu diabetes.

O controle de minha glicemia é delicado. E todos os dias sou eu que o faço. Piso em ovos: qualquer descuido é fatal para o artista, pico-me e depois repico-me, vejo o nível de açúcar que há em meu sangue e em seguida injeto a dose de insulina correspondente.

Li esses dias que o Escurinho, grande jogador do passado no Internacional, já perdeu duas pernas com o diabetes. Pessoa doce o Escurinho, sorridente, amigo, quem puder ajudá-lo que o faça.

Por isso, vejo a encrenca em que estou metido, felizmente tenho sobrevivido a ela.

E lá vou eu, como milhares de pessoas, driblando as doenças, com o auxílio dos médicos e seus assistentes.

Por isso também, que tenho fixação jornalística no tratamento de saúde no Brasil.

Se os pacientes que conseguem comprar medicamentos, como eu, que conseguem se hospitalizar, já sofrem grandes atribulações, imagino por que passam os que não têm recursos para adquirir medicamentos e mendigam até à morte por um leito no hospital, nas filas mortais do SUS.

Por isso é que tanto escrevi nesses anos todos sobre o dilema da Saúde em nosso meio.

Deus há de nos dotar no futuro de governantes mais sensatos que se dediquem à causa do tratamento de saúde em nosso país.

Mas e no presente? Que faremos, se os ouvidos dos nosso governantes se mostram surdos?

SILVIANO SANTIAGO - Mecânica dos trens e da literatura


Mecânica dos trens e da literatura
SILVIANO SANTIAGO
O Estado de S.Paulo - 17/09/11

Se apresentar problema mecânico, trem de ferro descarrila. O desastre é escândalo e noticiado em todos os meios de comunicação de massa. Em fins de julho, na China, dois vagões de um trem saíram do trilho e despencaram lá do alto do viaduto. 32 pessoas mortas. Semelhante à escultura de José Resende, a foto do acidente é trágica e bela. No entanto, desacreditou em parte um bem montado programa de modernização do país asiático.

Quando a obra de artista ambicioso vem bamboleando na bitola estreita da mesmice, ele deve dar-se conta de que a locomotiva que conduz apresenta sérias avarias. O maquinista tem de assumir ou não o risco do acidente regenerador. A assombrar o planejamento do futuro livro, o descarrilamento estético pode revigorar a obra literária à beira da insipidez. Tramas e personagens criados em obras anteriores morrem no desastre anunciado, que gera a fagulha propulsora da criação ousada, cuja escrita será um risco. Em virtude do ramerrame em que a locomotiva vinha sendo conduzida, os olhos do leitor crítico, já tomados pela malícia, serão surpreendidos. O julgamento sairá estampado nos jornais.

Adentremo-nos por estimulante desastre ocorrido na literatura brasileira em 1881. Machado de Assis era o festejado autor de quatro romances escritos segundo os conformes do movimento romântico. O último deles, Iaiá Garcia (1878), viaja bamboleando na bitola estreita da mesmice. O crítico Urbano Duarte não titubeia: "O cantor das Americanas, que acatamos e apreciamos, deve apimentar um pouco mais o bico de sua pena, a fim de que seus romances não morram linfáticos". Linfáticos: a que faltam vida, vigor e energia. Alertado, o romancista inspeciona a locomotiva e se dá conta das avarias.

Entre 15 de março e 15 de dezembro de 1880, Machado escreve os sucessivos capítulos das Memórias Póstumas de Brás Cubas. O maquinista está exausto pelo excesso de trabalho e doente dos olhos. Sua esposa lhe serve de foguista. Nas crises, ele dita mais de seis capítulos das Memórias Póstumas à doce Carolina. Brás Cubas como que diz ao crítico Urbano Duarte: Repare, estou a apimentar a escrita. Escrevo o novo romance "com a pena da galhofa e a tinta da melancolia". O vagão está prestes a descarrilar.

E descarrila em janeiro de 1881. Sacrificam-se trama e personagens linfáticos para que o narrador romântico renasça defunto das cinzas. No dia 30 de janeiro, Capistrano de Abreu faz na Gazeta de Notícias a pergunta do assombro de todos: "As Memórias Póstumas de Brás Cubas serão um romance?". Em seguida, responde-a: "O romance aqui é simples acidente". E toca a louvar o livro: "O autor é o primeiro a reconhecer a filosofia triste, e por isso põe-na nas elucubrações de um defunto, que nada tendo a perder, nada tendo a ganhar, pode despejar até as fezes tudo quanto se contém nas suas recordações". Produto de descarrilamento, as Memórias desnortearão a sensibilidade do leitor. Capistrano dirige-se a ele ao final da crítica: "Se entenderes o romance, há de passar algumas horas únicas - misto de fel, de loucura, de rictos. Se não entenderes, tanto melhor. É a prova de que és um espírito puro, consciencioso, firme, ingênuo, isto é, um pouco tolo".

A ingenuidade tola do leitor é o anteparo do acidente literário, Capistrano dixit.

Graças à lenha queimada pelo arlequinal foguista Mário de Andrade, Carlos Drummond vinha conduzindo em meados da década de 1930 o trenzinho caipira da escrita poética modernista. Já tinha publicado Alguma Poesia (1930) e Brejo das Almas (1934). O título do segundo é tomado de topônimo de cidadezinha mineira e traduz, ironicamente, o enfado do poeta, que se patenteia na epígrafe escolhida. Ela diz que a cidade exporta toucinho, mamona e ovos para Belo Horizonte e Montes Claros e que não se entende por que, tão próspera, continue com o nome de Brejo das Almas, que "nada significa e nenhuma justificativa oferece". O descarrilamento é iminente e fatal.

E o trenzinho caipira descarrila em 1940 com o livro Sentimento do Mundo. O mundo - o sentimento que dele tem o poeta - pode ser uma abstração, como, aliás, o foi no poema que abre Alguma Poesia. Ali, o mundo aparecia sob a forma risonha de sortilégio da vontade individual, bem ao gosto das vanguardas do início do século. Recordemos: "Mundo mundo vasto mundo./ Se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima não seria uma solução". Já o sentimento do mundo - no livro que leva por título a expressão - é objetivo e material. Ele está na imanência do corpo solitário e rebelde do poeta ("Tenho apenas duas mãos"), na solidariedade entre os homens (leia-se o poema Mãos Dadas), na emergência do operário como ator social ("Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão"), na violência da guerra contra Hitler ("O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos") e na ardência da utopia socialista ("Aurora,/ entretanto, eu te diviso, ainda tímida,/ inexperiente das luzes que vais acender/ e dos bens que repartirás com todos os homens").

Nos anos 1940 Mário Neme entrevista os jovens talentos brasileiros para montar o livro Plataforma da Nova Geração. Um dos entrevistados é Antonio Candido, que admira a sobrevivência do poeta mineiro no acidente fatal: "Carlos Drummond é um homem da outra geração, da tal que você quer que nós julguemos. No entanto, não há moço algum que possua e realize o sentido do momento como ele. Representa essa coisa invejável que é o amadurecimento paralelo aos fatos; o amadurecimento que significa riqueza progressiva, e não redução paulatina a princípios afastados do Tempo. Por isso, acho que tem mais sentido a maturidade de um homem como Drummond do que o verdor quase desnorteado e não raro faroleiro de todos nós".

MERVAL PEREIRA - No tribunal


No tribunal
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 17/09/11

O que se temia está prestes a acontecer: a disputa pelos royalties do petróleo caminha para ser decidida na Justiça, com ambos os lados se armando de pareceres. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) contratou o jurista Célio Borja, exmembro do Supremo Tribunal Federal, para defender os interesses do Estado do Rio. E o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) considera que a proposta dos estados produtores de aumentar o pagamento das participações especiais por parte das petroleiras fere os contratos já existentes e ameaça também entrar na Justiça, como anunciara o presidente da Petrobras.

O jurista Célio Borja deve entregar seu parecer na próxima semana, mas sua conclusão já está feita: o governo não só tem que manter a divisão dos royalties que está em vigor nos campos já licitados pelo sistema de concessão como tem que manter o mesmo critério nos campos do pré-sal, a serem licitados pelo novo sistema de partilha. Para Célio Borja, a Constituição distinguiu, em relação à exploração do petróleo e do gás natural, estados produtores e não produtores, e fez isso de maneira tal que a participação e a compensação financeira asseguradas aos estados produtores são “uma cláusula pétrea, porque partilha bens entre os entes federados, o que é da essência do regime federativo que nós adotamos”.

Segundo o jurista, quando a Constituição adota, entre muitos regimes federativos, um em especial, que permite que os bens públicos possam ser repartidos entre os entes federados, “essa partilha, como a da competência, por exemplo, é inalterável por norma constitucional posterior”. Indo mais adiante, Célio Borja levanta a tese que a violação dessa partilha “é na verdade uma guerra entre estados membros da União”.

E, adverte, “é um postulado da própria Federação, qualquer que seja o regime, de qualquer país do mundo, que a Constituição estabelece uma paz perpétua entre os estados, mediante à proibição a todos de fazerem guerra”. O exemplo claro disso, lembra, é a matéria tributária, “quando a Constituição proíbe os Estados de concederem isenções. O Supremo já decidiu, sempre fundado na premissa de que isso constituiria guerra tributária”. A mesma coisa aconteceria, diz Borja, se a maioria dos Estados, no Congresso, mediante lei, atentasse contra a partilha que a Constituição fez. “As decisões do Supremo sempre insistem nisso, que a desobediência a essas limitações importa em guerra fiscal”.

Célio Borja diz ainda que no caso do pré-sal, estão fazendo uma distinção entre o petróleo e o gás colhidos nessa nova área de exploração que a Constituição não faz. A Constituição estabelece que o direito dos estados é aferido pelo produto da exploração, e não diz que é do pré-sal ou fora do pré-sal, ressalta Célio Borja. “Se porventura a lei vier a fazer uma distinção entre o que se produz no pré-sal e o que se produz em outras áreas, para reduzir a participação de estados e municípios produtores, ela está violando a Constituição”, garante o jurista. Já o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Bicombustíveis (IBP), José Carlos de Luca, entende como “um grave equívoco” a proposta dos estados produtores de alterar a participação especial.

Na interpretação dos representantes das petroleiras, embora a lei que regulamentou as participações especiais diga que um decreto definirá as regras, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando fez a divulgação do edital das áreas que estava licitando, disse explicitamente que as participações governamentais seriam pagas conforme o montante definido no decreto 2.705 de 1998. “Isso é parte integrante do contrato, quando as empresas participaram do leilão e assumiram esse compromisso de custos, se comprometeram com base nesse decreto”.

Alterá-lo muda as regras do jogo, e quebra os contratos. “Seria lamentável se o governo optasse por ir por esse caminho”, diz ele. Jorge Camargo, consultor da norueguesa Statoil e conselheiro do IBP, diz que na Noruega há um regime diferente do daqui, e acontecem frequentemente mudanças, que são legais.

“Mudanças de legislação acontecem em diversos países, mas o Brasil optou por um modelo que lhe dá uma estabilidade maior, justamente por definir como vai ser a regra do jogo no momento em que você assina o contrato”, alega. A maneira de calcular essa participação, diz ele, é justamente o que permite, quando aumenta muito o preço do petróleo, quando há condições econômicas especiais, que o país também receba esses benefícios.

A fórmula foi criada “para capturar para o país hospedeiro os benefícios de uma mudança das condições”, comenta Jorge Camargo, dizendo que o Brasil tem um modelo “que permite isso sem mudar a legislação, o que é uma grande vantagem para o investidor de longo prazo”. Para ele, qualquer mudança terá que ser feita para contratos futuros, “porque os existentes já têm as condições muito bem amarradas nos contratos, o que dá uma segurança grande ao investidor”.

Em sua opinião, o Brasil tem as vantagens do modelo contratual estável e uma sucessão de governos que, até agora, honraram esses contratos, e “isso é uma conquista do país, que seria lamentável se mudasse agora”. Segundo o presidente do IBP, José Carlos de Luca, a fórmula da participação especial captura o preço médio atual do barril de petróleo e faz com que o país ganhe mais se o preço do barril aumenta.

Ele mostra dados dos anos 2002 e 2010 para exemplificar: no ano de 2002, se pagou de participação especial R$ 2,51 bilhões e, em 2010, o montante passou para R$ 11,7 bilhões. O diferencial dá 450% de aumento, enquanto o preço médio do barril aumentou 190% e a produção diária cresceu 40%, comenta de Luca, alegando que “a fórmula da distribuição das participações especiais faz com que as petroleiras paguem mais quando o preço do barril sobe”.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA



Nos mínimos detalhes
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 17/09/11

Veja bem "Se você mexe à direita, tem que mexer à esquerda. Este projeto está no fio da navalha. É preciso votá-lo tal como está", opina José Genoino, assessor do Ministério da Defesa e um dos negociadores da Comissão da Verdade no Congresso.

Gesto Com a Lei de Acesso à Informação parada no Senado, o Planalto instituiu por decreto o "Plano Nacional sobre o Governo Aberto", que propõe ações e projetos para aumentar a transparência e auxiliar o combate à corrupção. Dezoito ministérios integram o comitê responsável. Turismo e Transportes, alvos de escândalos recentes, ficaram de fora.

Exame de DNA Cada um alegou um compromisso diferente, mas o fato é que a escassez de caciques peemedebistas na cerimônia de posse de Gastão Vieira, ontem à tarde, teve o sentido de deixar claro que o novo ministro do Turismo é de José Sarney e de ninguém mais.

Opinião seleta Em seu discurso na posse de Gastão, Dilma disse que, desde anteontem, não consegue dar um passo sem ouvir alguém elogiar a capacidade de gestão do substituto de Pedro Novais. Na plateia, um peemedebista brincou: "Vai ver a presidente só conversou com Sarney, Roseana e Lobão".

Termômetro Uma sucessão de incidentes desgastantes, culminando com o tumultuado processo de escolha do novo ministro do Turismo, fez crescer entre deputados a percepção de que a candidatura do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), à presidência da Câmara pode subir no telhado.

Agora vai? Informado sobre o incômodo que seu acanhamento na disputa pela prefeitura paulistana causa no Bandeirantes, o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente) colou em Geraldo Alckmin nos eventos públicos e ampliou sua agenda de compromissos na capital. O próximo passo é a transferência de seu domicílio eleitoral de Santos para São Paulo, o que deve ocorrer até dia 30.

Maior apoio Do presidente do PSDB-SP, Pedro Tobias, muito próximo do governador, em evento realizado na terça-feira no Guarujá: "Se meu título fosse de São Paulo votaria no Bruno Covas. Na minha opinião, o melhor candidato do partido".

Tucano de pirata Na solenidade de ontem que marcou a abertura da contagem regressiva de mil dias para a Copa do Mundo, Bruno, Andrea Matarazzo (Cultura) e José Aníbal (Energia), também pré-candidatos, se esforçavam para aparecer na foto ao lado do governador.

Quem é quem A comissão do PSDB paulistano que discute as prévias é composta pelo secretário particular de Alckmin, Fábio Lepique, pelo ex-vereador João Câmara, ligado a Aníbal, e pelo vereador Adolfo Quintas, do grupo de Matarazzo. O deputado federal Ricardo Trípoli também quer disputar.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Se retornar sem questionamentos à Câmara, Pedro Novais, o que não serviu mais para ser ministro, reforçará a má fama da Casa como abrigo da impunidade."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), defendendo que o ex-titular do Turismo preste esclarecimentos à corregedoria a respeito do uso de dinheiro público para pagar seus funcionários domésticos.

contraponto

Café Pelé


No voo rumo a BH, onde ambos participariam de evento alusivo aos mil dias restantes até a Copa, Pelé divertiu Dilma com histórias dos primórdios do marketing esportivo. Relembrou um episódio em que a seleção brasileira, então patrocinada por uma marca de café, foi disputar uma partida na Europa e passou pelo seguinte aperto:
-Cada um de nós teve de entrar em campo carregando uma pesada saca do produto nas costas.
-Não é possível!- comentou a presidente, rindo.
-É, o que essa molecada de hoje passa não é nada...

MIRIAM LEITÃO - Enfim, a sinceridade


Enfim, a sinceridade
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/09/11

O governo optou pelo protecionismo. No final das contas, há um mérito nisso: há mais sinceridade nesta política do que em qualquer outra que os governos Lula e Dilma tenham adotado na área econômica. Eles realmente acreditam em mercados fechados, em protecionismo, barreiras ao comércio, controle de preços. Até que enfim, a sinceridade. Metas de inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal, autonomia do Banco Central, agências reguladoras independentes, incentivo à competição, comércio internacional livre, câmbio flutuante, tudo isso é estrangeiro às crenças do partido do governo e dos seus mais notórios economistas. Eles sempre defenderam nos seus programas: controle do Estado, subsídio a empresas nacionais, proteção até para as empresas estrangeiras, especialmente se forem montadoras de veículos.

A elevação do IPI do carro importado em espantosos 30 pontos porcentuais é apenas mais um passo. O governo está, desde a segunda administração Lula, saindo à francesa dos compromissos assumidos na Carta aos Brasileiros. Aumentou fortemente a estatização da economia, enfraqueceu as agências, manipulou o superávit primário do ano passado, ameaça a credibilidade do BC e quer relativizar as metas de inflação. Fechar as portas aos carros importados por outras montadoras que não as instaladas no País é apenas uma das medidas.

A política foi formatada sob medida para as montadoras instaladas no Brasil que sempre tiveram muita influência e poder de persuasão sobre eles. De tudo do setor que entra no Brasil 75% são importados pelas próprias montadoras. E de onde vêm? Principalmente da Argentina. Dos US$ 10,9 bilhões importados dos argentinos de janeiro a agosto, US$ 2,7 bilhões foram de automóveis de passeio.

A Argentina é a principal origem dos carros importados e eles são das próprias montadoras aqui instaladas. Fica fora da barreira porque a medida de proteção não se aplica a quem tenha 65% de conteúdo nacional "ou regional". O segundo lugar está com a Coreia, com US$ 1,5 bilhão. O terceiro é o México, com US$ 1,03 bilhão, que também é importação das montadoras, e está dentro de um regime próprio. A China que é apresentada como grande ameaça é o sexto na lista, depois de Alemanha e Japão, com apenas US$ 267 milhões.

Essa nova etapa da chamada política industrial pode bater com os burros n'água por falta de cálculo. Ontem já havia dúvida sobre como calcular os 65% de conteúdo nacional-regional. Da mesma forma que não deu certo o que foi anunciado no Brasil Maior, que era a redução do IPI das montadoras locais até 2016 desde que elas cumprissem conteúdo nacional e exigência de inovação.

O total dos carros comercializados no País por importadoras que não têm fábrica no País aumentou recentemente, mas é menos de 7% do mercado. Não está criando risco de "destruir" a indústria nacional, cuja qual, a propósito, é toda estrangeira. O ministro Guido Mantega disse que o Brasil está sofrendo "assédio". A competição ajuda quando empurra as produtoras locais para menores preços e melhor qualidade dos carros.

A competição é necessária nesse setor, que é concentrado. Normalmente, quem vende muito aqui acaba instalando fábrica. Foi assim que vieram para o Brasil as montadoras mais recentes. Com a abertura, elas venderam e ganharam mercado. Num segundo momento, abriram fábricas.

O problema com as antigas montadoras que dominam o mercado brasileiro há décadas é que elas se acostumaram com a reserva de mercado que foi muito boa para elas enquanto durou. O País derrubou as tarifas, mas não muito. Na época que o Brasil era só delas, eram feitos aqui apenas modelos velhos. Nunca foi hábito, em mais de 60 anos de indústria automobilística no Brasil, o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Tanto que elas estão agora recebendo incentivo para investir em P & D 0,5% do seu faturamento. É um espanto que não investissem isso há muito mais tempo. Os fabricantes de caminhões adiaram ao máximo o cumprimento de normas ambientais. Só agora está sendo exigido no Brasil o motor com menor emissão de gases de efeito estufa.

O importante é entender a lógica dos fatos. Cada agravamento da crise externa é aproveitado como pretexto para adoção de mais uma das medidas do velho ideário dos economistas do governo. O Estado se endivida para emprestar a juros mais baixos para os grandes grupos empresariais. Quando nem isso é bom o suficiente, o Estado vira sócio em aventuras perigosas. Tudo em nome de uma interpretação ultrapassada de nacionalismo.

Houve um momento da apresentação em que um ministro mais entusiasta dessa volta ao passado disse que será exigido que as empresas não subam os preços apesar de estarem reduzindo a competição do produto importado. "Vamos controlar os preços", ameaçou. Eles realmente acreditam que isso é possível. Eles não falam por mal. Eles acreditam em políticas adotadas no passado. São uns saudosistas.