quinta-feira, julho 07, 2011

MERVAL PEREIRA - Feudos


Feudos 
MERVAL PEREIRA
O Globo - 07/07/2011

A dificuldade para encontrar um substituto para o agora ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento está no fato de que o ministério se transformou em um feudo do PR, e ao que tudo indica é o mesmo Alfredo Nascimento, agora na sua encarnação de senador da República e presidente do PR, que comandará a escolha do seu substituto, o que não faz o menor sentido, mas, no "presidencialismo de coalizão", ganha um sentido todo próprio.

O perigo desse sistema de coalizão política que nós temos é que os ministérios acabam se transformando em feudos partidários, e a partir daí os políticos filiados a esses partidos recebem favores, oferecem favores para que outros engrossem as fileiras partidárias com a certeza de receber os mesmos favores, e montam esquema de negociações com as empresas privadas que dependem das obras do ministério.

O governo Lula utilizou o mensalão e outras benesses para atrair o maior número de parlamentares para os partidos de sua base aliada, até que montou o que temos hoje no governo Dilma, uma coalizão que reúne o maior número de partidos políticos já reunidos por um governo na redemocratização.

Agora, estamos vivendo uma nova etapa, com os partidos encastelados em seus feudos, oferecendo vantagens para que políticos engrossem suas fileiras. Quanto maior o partido, mais força ele terá dentro da coalizão governamental.

A permanência do PR à frente do Ministério dos Transportes é um sintoma de que a crise política não se dissipará tão cedo.

Dificilmente o governo encontrará alguém dentro dos quadros do PR que tenha condições de alterar a sistemática implantada pelo partido nesses últimos sete anos.

Dois ministros terem sido demitidos do governo Dilma Rousseff em apenas seis meses é um fato político relevante que traz consigo dois significados que se contradizem: de um lado temos um governo que está contaminado por práticas políticas nefastas; por outro, bem ou mal este mesmo governo reage a denúncias de corrupção e acaba se livrando dos acusados, com maior ou menor dificuldade em cada caso.

A unir os dois demitidos - o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci e o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento - há o fato de terem sido indicações, quase imposições, do ex-presidente Lula, o que certamente quer dizer alguma coisa.

Palocci foi imposto por Lula na equipe que coordenou a campanha eleitoral de Dilma, mas, com o tempo, ganhou a confiança da candidata e assumiu o posto mais importante do governo com plena aceitação da presidente eleita, que passou a ter nele seu homem de confiança.

Já o ex-ministro Alfredo Nascimento não contava com a confiança da presidente desde os tempos em que ela comandava a Casa Civil, e só ficou no Ministério dos Transportes porque o ex-presidente Lula o impôs, entre outras razões para manter seu amigo petista João Pedro, suplente de Nascimento, no Senado.

A demissão do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento era inevitável desde que as denúncias da revista "Veja" evidenciaram que estava montado naquele ministério, ocupado pelo Partido da República (PR) há sete anos, um esquema de corrupção que envolvia todos os seus órgãos executivos, do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) à Valec, cujos dirigentes foram demitidos.

A única razão para que sua demissão não tenha saído antes é a mesma que impede hoje a presidente de nomear seu substituto: ela não tem força política para prescindir dos 40 deputados federais e cinco senadores que formam a bancada do PR, presidida justamente por Alfredo Nascimento, que reassume seu cargo no Senado (serão agora seis senadores) e a presidência do partido, para complicar mais ainda a situação.

A presidente esperou que a chamada grande imprensa colaborasse mais uma vez, fazendo novas denúncias, enfraquecendo o ministro para que ele caísse de podre, como aconteceu.

A gota d"água foi a reportagem do GLOBO de ontem mostrando que o filho do ministro fazia parte daquele grupo especial de "empreendedores" que os governos petistas produzem: da noite para o dia, viu os lucros de sua empresa de construções crescerem mais de 86.000%, o mesmo que aconteceu com o filho do próprio presidente Lula e também os filhos da ex-ministra Erenice Guerra, que substituiu Dilma na Casa Civil, de nada saudosa memória.

A prosperidade espantosa do filho do ex-ministro Nascimento foi gerada, em alguns casos, também pela negociação com empresas que financiaram a campanha eleitoral do PR e tinham negócios com o Ministério dos Transportes.

Novas denúncias devem continuar a aparecer, já que nesses sete anos em que o Ministério dos Transportes foi transformado em feudo do PR muitas negociatas ainda não conhecidas devem ter sido feitas, a medir pelas denúncias que já apareceram.

ANCELMO GÓIS - Gois na Flip I

Gois na Flip I
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 07/07/11

O grupo teatral de José Celso Martinez Corrêa se apresentará domingo na Flip, em Paraty. Ontem, a ideia maluca do pessoal era, acredite, deixar os intelectuais e escritores... pelados, para interagir com os atores. 

Gois na Flip II 

A revista “Granta”, considerada a mais influente publicação literária de língua inglesa, deve anunciar hoje na Flip um número especial de sua edição portuguesa com trabalhos dos melhores escritores brasileiros (cerca de 20) com menos de 35 anos. No Brasil, a revista é editada pela Alfaguara. 

Gois na Flip III

Adriana Rattes, secretária de Cultura do estado, anuncia hoje em Paraty a criação, ali, da Biblioteca- Parque da Costa Verde. 

Gois na Flip IV 

Nem tudo é Flip em Paraty. A 16a- Câmara Cível do Rio condenou a prefeitura a indenizar em R$ 163. 967,53 duas espectadoras de um evento na cidade. As duas, mãe e filha, estavam num festival de pinga quando um expositor, ao acender com álcool um alambique, causou uma explosão que as queimou. 

No mais
A turma da coluna cansou de dizer que as duas vergonhas nacionais eram o Dnit e a Infraero. Dilma fez intervenção nos dois. A coluna torce para que a faxina seja completa e não só a limpeza da cena do crime. 

Aliás...

Enfim, uma presidente que lê jornal.

Tem culpa eu?
Mano Menezes, o técnico da seleção, restringiu a área de trabalho da imprensa nos treinos na Copa América, na Argentina. Agora, a turma só pode ficar atrás de um dos gols. É que câmeras da TV Globo andaram registrando suas instruções. 

Tanque furado

A conta é do consultor Adriano Pires. De janeiro a junho, a Petrobras perdeu R$ 1,5 bi na gasolina e R$ 2,2 bi no diesel por ser obrigada pelo governo a vender os derivados abaixo do preço no mercado internacional. 

Segue...

O rombo no caixa, diz Pires, explica o fato de as ações da estatal estarem abaixo do valor patrimonial da empresa. A Petrobras chegou a estar entre as cinco maiores empresas em valor de mercado e é agora a 11a- da lista. 

Bem feito
O TJ-RJ condenou uma jovem de 23 anos, moradora da Zona Sul do Rio, a cumprir seis horas semanais de trabalho, por três meses, no Quartel Central do Corpo de Bombeiros do estado. Seu crime: passar trote para o 193, número de emergência da corporação.

Siemens no Rio

Sérgio Cabral assina hoje a entrada da alemã Siemens no Parque Tecnológico do Fundão. A gigante vai investir US$ 50 milhões e contratar 800 engenheiros e pesquisadores. 

Internet grátis
A Oi começou a instalar ontem, em Ipanema, orelhões com internet sem fio grátis. 

Eike em quadra
A estreia do time masculino de vôlei de Eike Sempre Ele Batista, o RJX, que vai disputar a Superliga deste ano, já tem data, local e adversário. Será dia 28, no Maracanãzinho, contra o Sesi-SP.

Vida que segue I
Letícia Sabatella e André Gonçalves terminaram o namoro. 

Vida que segue II
Cabral e Adriana Ancelmo já estão oficialmente divorciados. A dissolução amigável do casamento foi julgada procedente pela 6a-
Vara de Família do Rio. 

Boletim médico
José Louzeiro, o escritor e coleguinha, está internado no CTI do Norte D’Or, no Rio. 

Viva Norma!
Hoje, a partir das 14h, no Instituto Moreira Salles, no Rio, haverá retrospectiva de filmes com Norma Bengel ou feitos por ela. Toda a renda vai para Norma, que está em dificuldades. 

Topete novo

Alceu Valença, nosso cantor, fez um implante de cabelo. 

ILIMAR FRANCO - O risco do impasse

O risco do impasse 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/07/11

A presidente Dilma mandou um recado aos governadores sobre os royalties do petróleo. Quando estimulou que eles se entendessem, não esperava que o fizessem contra a União. Aos estados produtores mandou três recados: 1. a União já abriu mão de parte de seus direitos (de 30% no regime de concessão para 22% no de partilha); 2. o Congresso vai derrubar o veto; e 3. o confronto no STF será longo e não há garantia de que seja mantido, durante o contencioso, o atual fluxo financeiro.

Muito além do PR

A demissão do ministro Alfredo Nascimento (Transportes), nas circunstâncias em que ocorreu, não deixa mal apenas o PR. A presidente Dilma também fica exposta no episódio na medida em que os escandalosos aditivos foram aprovados num governo no qual ela era a principal gestora. Nos próximos dias, o governo Dilma também terá de administrar o mal-estar em sua base política. Entre os aliados há uma crença generalizada: a queda de Nascimento foi uma operação política que contou com a ativa participação do Palácio do Planalto. Dizem que o governo jogou um aliado às feras para tirar da agenda o caso dos aloprados. 

"Almocei com o Felipe González. Falamos bem do passado e mal do presente. Este é o esporte que os expresidentes mais gostam de praticar” — José Sarney, presidente do Senado (PMDB-AP), para o presidente do Congresso espanhol, José Bono Martínez

O CARA. A presidente Dilma Rousseff, na formação de seu primeiro Ministério, chegou a pensar no nome do senador Blairo Maggi (MT), na foto, para a vaga do PR na Esplanada. Desistiu porque Maggi não quis entrar numa disputa interna com o presidente de seu partido, o senador Alfredo Nascimento (AM), demitido ontem. Nas reuniões, ontem, com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), não ficou claro se ele tem unanimidade nas bancadas da Câmara e do Senado.

Festa verde 
O ex-ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) está comemorando a demissão de Alfredo Nascimento (Transportes). Com sua queda, Minc acredita que dança também a construção da rodovia 319, ligando Manaus a Porto Velho.

Votação do veto
O presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDBAP), deu um prazo para que os estados se entendam sobre os royalties do petróleo. Ele só pretende submeter à votação o veto à lei da partilha do petróleo no dia 15 de setembro.

O Senado entra em cena
Como os governadores ainda não conseguiram produzir um acordo sobre os royalties do petróleo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), vai tentar construir uma alternativa. O senador Vital do Rego (PMDB-PB) foi escalado para relatar o projeto na Comissão de Infraestrutura. O senador Wellington Dias (PT-PI) conta que eles pretendem preservar os direitos do Rio apenas nos poços que estão sendo explorados. O governador Sérgio Cabral quer manter a parcela destinada ao Rio em todos os poços já licitados.

Informal
O PSD escolheu Guilherme Campos (SP) para ser seu primeiro líder na Câmara. Sua missão, quando o partido estiver legalizado: coordenar a sua estruturação física na Casa, no espaço já garantido pelo presidente Marco Maia (PT-RS). 

A caçada continua
No retorno do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) ao Senado, ele pode ter de responder a um processo no Conselho de Ética. O presidente do PPS, Roberto Freire, diz: “Se foi exonerado por corrupção, não pode ser senador”.

 PETISTAS irritados. O presidente da Comissão de Constituição eJustiça do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), vai votar na próxima terça-feira a convocação do aloprado Expedito Veloso.
 O PMDB e o PT vão construir uma proposta comum de reforma política que prevê um sistema misto, no qual metade dos deputados de cada estado seria eleito pelo “distritão” e metade pelo voto em lista.
● O DEPUTADO Sandro Mabel (PR-GO) sobre o exministro Alfredo Nascimento: “Quem conhece ele, sabe que é um cara rígido”. Que coisa!

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Pagando contas de Lula


Pagando contas de Lula
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 07/07/2011

Embora os desembolsos do governo federal com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no primeiro semestre deste ano tenham sido 36% maiores do que o valor aplicado nos seis primeiros meses de 2010 (R$ 12,2 bilhões contra R$ 9 bilhões), piorou a gestão desse programa, tão prioritário no governo Dilma como foi no governo Lula. Do total gasto até agora em 2011, nada menos do que 87% (ou R$ 10,6 bilhões) se refere a "restos a pagar", ou seja, valores que foram comprometidos, mas não pagos, em exercícios anteriores. Até agora, o governo Dilma fez pouco mais do que pagar contas do PAC assumidas pelo governo Lula.

Desse modo, como constatou a organização não governamental Contas Abertas, algumas promessas de campanha da então candidata Dilma Rousseff não saíram do papel. Do total de R$ 1,6 bilhão orçado para a área de Saúde, em obras consideradas essenciais durante a campanha, apenas R$ 120 mil foram pagos até agora. A implantação de 500 Unidades de Pronto Atendimento destinadas à prestação de atendimento médico 24 horas por dia não recebeu nem um tostão dos R$ 212,5 milhões orçados. As Unidades Básicas de Saúde devem receber R$ 480,2 milhões neste ano, mas ainda nada foi feito.

Não é apenas o atraso, e até paralisia em alguns casos, de ações programadas pelo governo em áreas essenciais que torna a gestão do PAC ruim. O que os números de sua execução neste ano mostram também é a redução dos investimentos. Piora a qualidade dos gastos.

Em estudo que concluiu há algumas semanas - e, por isso, não computa os dados de todo o primeiro semestre de 2011 -, o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mansueto Almeida constatou que, apesar do aumento dos gastos do PAC neste ano, o volume destinado a investimentos propriamente ditos diminuiu 25% em relação a 2010. O aparente paradoxo (gastos aumentam, mas investimentos caem) se explica pelo fato de que as despesas de custeio do PAC cresceram exponencialmente neste ano. Tinham sido de apenas R$ 296,9 milhões no primeiro semestre de 2010 e passaram para R$ 3,18 bilhões neste ano.

Não é simples separar, nos dispêndios do PAC, os investimentos dos gastos de custeio. Programas como o Minha Casa, Minha Vida dependem de financiamentos concedidos pela Caixa Econômica Federal, mas os subsídios oferecidos à população de baixa renda são bancados pelo Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), cuja capitalização, como explica o economista do Ipea, é uma despesa de custeio do governo.

Em seu estudo, Mansueto Almeida mostra que, além do FAR, os programas do PAC sob responsabilidade do Ministério das Cidades contam também com subvenção econômica. São projetos de interesse social em áreas rurais e de habitação de interesse social em cidades com menos de 50 mil habitantes. No total, os subsídios embutidos em programas do PAC no primeiro semestre deste ano (até o dia 22 de junho) somaram R$ 2,92 bilhões, ou 26% do total. Em outras palavras, os subsídios correspondem a mais de 90% do aumento dos gastos do PAC em 2011.

Ao comentar esses e outros números de seu estudo em entrevista ao jornal Valor, o economista Mansueto Almeida afirmou que "o PAC está sendo comprometido". Embora fosse previsível o aumento das despesas com subsídios - pois estes são componente essencial do programa Minha Casa, Minha Vida e começam a ser pagos depois de concluídas as obras -, não era necessário que fossem cortados tão fortemente os investimentos do PAC. O governo, no entanto, para acertar as contas fiscais, escolheu o corte dos investimentos, e sua redução é "um tiro no pé", na avaliação do economista.

Os números apontados pelo Contas Abertas e por Mansueto Almeida permitem nova aferição da gestão do PAC. O que se constata é que, como no anterior, neste governo a gestão continua deixando a desejar. A incompetência gerencial vai se consolidando como uma característica dos governos do PT.

MÍRIAM LEITÃO - Câmbio, desligo


Câmbio, desligo
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 07/07/11

A relação entre o real e o dólar é problema quando sobe e quando cai. Outras moedas têm problemas. Nos últimos 12 meses, o dólar australiano subiu 21,5%; a coroa tcheca, 17,4%; o zloty polonês, 16,5%. O peso chileno, 13,8%. O real foi o sétimo (11,8%) nesse período. A nova diretora-gerente do FMI disse que uma de suas preocupações imediatas é o fluxo de capitais para países como o Brasil.

Há duas explicações para essas oscilações no câmbio. Os Estados Unidos estão inundando com dólar o mercado, com suas políticas para tentar reiniciar o crescimento econômico. A segunda explicação que justifica algumas altas, como as das moedas brasileira, australiana, chilena, é a disparada dos preços das commodities que esses países exportam.

O fenômeno é mundial. Estamos numa era de dólar fraco. O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, acha que o mundo vive o segundo capítulo da mesma crise que começou em 2008. Para tentar evitar o pior - a depressão - os Estados Unidos chegaram a um nível de endividamento sem precedentes, com um déficit público gigantesco.

O real está no time de moedas que mais se valorizam porque o Brasil é exportador de matérias-primas que estão tendo alta forte, como a soja e o minério de ferro. Isso produz uma entrada extra de dólares.

No começo do ano, as previsões da Pesquisa Focus do Banco Central eram de que o Brasil teria em 2011 um saldo comercial de US$ 8,5 bilhões; agora a previsão é de US$ 20 bilhões, e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima um saldo de US$ 26 bilhões. É o mesmo caso que explica a elevação de moedas de exportadores de commodities como Austrália e Nova Zelândia.

"A alta do preço das matérias-primas garante a entrada forte de dólares nos países exportadores. Somente de minério de ferro, o Brasil vai exportar US$ 38 bilhões este ano, US$ 10 bilhões a mais do que em 2010. Isso dá solidez à entrada de moeda e acaba puxando mais dólares pela via financeira, que ainda se aproveita dos juros altos pagos pelo governo brasileiro para rolar sua dívida", explicou José Augusto de Castro, da AEB.

O problema é que essa queda do dólar representa sempre uma armadilha. Incentiva as empresas a buscarem crédito no exterior, como fizeram em 2008. Em julho daquele ano, a moeda americana caiu a R$ 1,56. Mas o pulo no valor do dólar dado em seguida, que chegou a R$ 2,53 em dezembro, provocou uma crise generalizada nas empresas que tinham se endividado em dólar e apostado que a moeda americana continuaria se desvalorizando.

O fortalecimento do real ajuda o governo no combate à inflação - ainda que involuntariamente. Por outro lado, a entrada excessiva de dólares turbina o crédito, que acaba fazendo o efeito contrário.

Diante desse dilema, e das reclamações da indústria, o governo já anunciou uma série de medidas. Nada funcionou. Só para lembrar. Em outubro do ano passado, o governo elevou duas vezes o IOF sobre entrada de capital para aplicações em renda fixa, de 2% para 4% e de 4% para 6%. Depois, aumentou o IOF sobre as margens de garantia dos investidores estrangeiros na BM & F, de 0,38% para 6%. No final do ano, autorizou o Fundo Soberano a emitir dívida para comprar dólares. Só este ano, o BC já comprou US$ 41 bilhões em diversos tipos de leilão.

Na terça-feira, o ministro Guido Mantega, em Londres, sugeriu que novas medidas serão tomadas, apesar de dizer em seguida que mudanças no câmbio só podem ser anunciadas depois da decisão tomada.

Nada disso está adiantando muito porque parte do problema é determinado por fatores externos. A crise da dívida dos governos europeus (dívida soberana) está aumentando o fluxo de capitais para países emergentes, admitiu ontem a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em sua primeira entrevista no cargo. Ela disse que este fluxo excessivo é uma de suas preocupações imediatas. Depois da Europa, claro.

ROBERTO MACEDO - Porcas emendas parlamentares

Porcas emendas parlamentares
ROBERTO MACEDO
O Estado de S.Paulo - 07/07/11


As emendas de que trata este artigo são as apresentadas ao Orçamento do governo federal, enviado anualmente pelo Poder Executivo ao Legislativo. Conforme propalado pelos parlamentares, o propósito das emendas é trazer benefícios para as comunidades que, em tese, eles representam.


Na prática, seu objetivo é manter ou ampliar a popularidade dos parlamentares nas suas bases eleitorais, de olho em futuras eleições. A aprovação das emendas, contudo, não implica sua automática execução, pois elas ficam pendentes de liberação de recursos pelo Executivo. Com isso se tornam importante moeda de troca entre os dois Poderes. Em votações importantes no Congresso, e na constituição e manutenção da chamada "base aliada", é comum que votos e apoio de parlamentares sejam trocados pela liberação dos recursos de suas emendas, com o que o mérito das medidas votadas e do apoio concedido deixa de ser convenientemente examinado.


O momento atual é ilustrativo de mais uma queda de braço entre o Executivo e o Legislativo em torno de emendas desse tipo. Como o valor delas é bem maior do que os recursos que o Executivo se dispõe a liberar, um volume considerável de emendas passa de um exercício para outro sob a forma de "restos a pagar". Assim, ainda há restos desse tipo relativos ao Orçamento de 2009, e os parlamentares insistiam na liberação dos recursos correspondentes, pois há um prazo a partir do qual as emendas caducam, e este estava por vencer. Reivindicando prorrogação, os parlamentares ameaçaram paralisar votações e convocar o ministro da Fazenda para explicar a não liberação dos recursos. Diante dessa ameaça, a presidente Dilma recuou de sua posição de não ceder quanto ao prazo e prorrogou-o por 90 dias.


No seu conjunto, tais emendas parlamentares alcançam bilhões de reais e apresentam várias distorções, voltadas que são para interesses regionais, locais, paroquiais e pessoais, quando o nacional é o que compete à União. São também uma forma de financiamento indireto de campanhas eleitorais, e grandes os riscos de sua aplicação distorcida no destino, a qual é objeto de frágil fiscalização. E desvirtuam a atividade dos parlamentares, com alguns atuando como despachantes de prefeitos na tarefa de conseguir recursos para municípios. Há, ainda, a referida barganha com o Executivo, de liberações de verbas por subserviência no Congresso.


Assim, é imperioso que todo esse processo seja muito mais convenientemente examinado e questionado à luz dos critérios de transparência, eficácia, eficiência, tamanho adequado e maior equidade social, que devem orientar a gestão das finanças públicas. E, no caso federal, de atendimento dos interesses nacionais, e não do varejão que tipifica esse mau uso do Orçamento federal.


Minha opção é por palavras mais duras para tratar do tema, conforme revela a primeira do título acima. Ela foi inspirada pela forma como o assunto é encarado nos EUA, onde o problema ainda existe, mas é maior a percepção que a sociedade tem dele, bem como a cobrança que ela faz no sentido de que seja corrigido.


Lá, as verbas desse tipo recebem uma conotação pejorativa, sendo comum a referência a elas como pork ou pork barrel, que no meu dicionário de inglês tem o significado de "uma apropriação legislativa destinada a prestigiar legisladores diante de seus constituintes". Literalmente, pork é carne de porco e barrel é um barril, o que lembra meu tempo de criança antes de chegar em casa uma geladeira, quando a carne desse tipo era preservada em barricas com banha do mesmo animal. Elas foram substituídas pelo refrigerador, pois eram mesmo uma porcaria, com seu conteúdo gorduroso, pegajoso e sanitariamente vulnerável.


No mesmo país, há uma ONG, a CAGW (Citizens Against Government Waste, ou Cidadãos Contra o Desperdício Governamental, www.cagw.org), voltada em particular para a identificação de porks no orçamento federal. Considera como tais as emendas que têm pelo menos uma destas características: são solicitadas só por uma das Casas do Congresso; não são especificamente autorizadas; não são competitivamente concedidas; não são solicitadas pelo Executivo; quanto aos recursos, excedem o que foi pedido pelo Executivo ou o que foi conseguido no ano anterior; não foram objeto de audiências no Congresso; e servem apenas a um interesse local ou especial.


Mensalmente, um congressista é apontado como o Porker ou o Porco do mês. Quando consultei o portal, o "agraciado" foi o senador Harry Reid, líder da maioria na Câmara, por ter ressuscitado verba para o Festival Anual de Poesia de Caubóis, na cidade de Eiko, no seu Estado (Nevada).


A CAGW faz um balanço anual do assunto, que em 2010 completou a sua 20.ª (!) edição, tendo na capa o desenho de um porco com faixa de autoridade. A publicação concede várias "láureas" a parlamentares que se destacaram no ramo. Uma delas foi a "Narcisista", outorgada a dois senadores que destinaram verbas a um programa e a uma instituição, em cada caso com o nome de um deles. E "Luzes! Câmera! Verba!", dada a uma deputada que destinou recursos para "pesquisa de carreira e treinamento de jovens em condições de risco, numa ONG de Hollywood, de modo a credenciá-los para conseguir trabalho na indústria cinematográfica".


Entre outras iniciativas, a entidade busca adesão a um documento de compromisso de parlamentares e candidatos de não se envolverem nesse tipo de atividade, e registrava 83 adesões.


No atual estágio da evolução cívica brasileira, um trabalho semelhante provavelmente distribuiria muitas "láureas" e teria poucas adesões desse tipo. Por isso mesmo, há que reforçar e ampliar muito as poucas iniciativas de acompanhamento dessas verbas, em particular pela imprensa. E, na linha evolutiva que as barricas de banha e carne deixaram em sua história, um grande passo seria o eleitor congelar politicamente os praticantes desse mau hábito político.

DEMÉTRIO MAGNOLI - O poder no FMI



O poder no FMI
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 07/07/11

Ninguém se surpreendeu com a escolha da francesa Christine Lagarde para a sucessão do francês Dominique Strauss-Kahn no Fundo Monetário Internacional (FMI). A pedra estava cantada desde a renúncia do antigo diretor-gerente, em maio, quando Angela Merkel, a chanceler alemã, pronunciou uma longa senha: "Claro que as nações em desenvolvimento têm o direito de ocupar a médio prazo o posto de direção do FMI ou a chefia do Banco Mundial. Mas na atual situação, de sérios problemas com o euro nos quais o FMI está fortemente envolvido, existem muitos motivos favoráveis à apresentação de uma candidatura europeia". Havia ali, sob o manto de um argumento virado do avesso, uma ameaça tão sutil quanto eficaz.

No terreno da lógica, o raciocínio de Angela Merkel conduziria à rejeição de qualquer candidatura europeia ao cargo vacante. A zona do euro converteu-se na principal tomadora de empréstimos do FMI. Não há justificativa razoável para colocar um representante do maior bloco de devedores à testa da instituição credora. Obviamente, a ninguém ocorreu sugerir um diretor-gerente asiático em 1997, um russo em 1998, um brasileiro em 1999 ou um argentino em 2000... Mas Angela Merkel sabia que o valor de sua sentença estava incrustado em duas palavras ameaçadoras: Banco Mundial.

O americano Robert Zoellick completa seu mandato de presidente do Banco Mundial só no ano que vem. Desde a Conferência de Bretton Woods, em 1944, um acerto informal reserva à Europa a direção do FMI e aos EUA o posto correspondente no Banco Mundial. Ao introduzir na agenda o tema intempestivo, Angela Merkel enviou uma mensagem a Barack Obama: ela estava dizendo que a União Europeia (UE) só apoiaria a futura candidatura americana em troca do voto dos EUA para Christine Lagarde.

A barganha de partilha de poder fazia sentido em 1944. Assim como o Conselho de Segurança da ONU reuniu o clube das potências militares do pós-guerra, as instituições de Bretton Woods expressaram, no plano financeiro, a aliança EUA-Europa Ocidental que pouco mais tarde daria origem à Otan. Hoje, quando o G-7 já cedeu suas funções principais ao G-20, o acordo de cavalheiros aparece como uma relíquia - tanto que na hora da entronização de Strauss-Kahn no FMI altas autoridades europeias se apressaram a dizer que ele seria, no horizonte previsível, o último europeu no comando da instituição. Não por acaso, o argumento de Angela Merkel foi qualificado como "espúrio" pelo jornal Business Standard, da Índia, enquanto o Khaleej Times, de Dubai, denunciava o processo seletivo do FMI como uma "forma de apartheid" e um colunista do Straits Times, de Cingapura, sentia um "cheiro de colonialismo" na ofensiva europeia.

Apesar das alterações recentes nos direitos de voto no FMI, UE e EUA conservam, juntos, o controle decisório. Os EUA não esconderam o desconforto com a candidatura de Christine Lagarde e o secretário do Tesouro, Tim Geithner, insinuou que seria preferível um "processo aberto", forma diplomática de sugerir um recuo europeu. Entenderam, contudo, a pouco cifrada mensagem de Angela Merkel e se curvaram ao imperativo geopolítico. A presidência do Banco Mundial é uma âncora da credibilidade do dólar, num tempo em que a "moeda do mundo" sofre as consequências de uma trajetória insustentável de endividamento americano. Além disso, o Banco Mundial aparece como uma ferramenta insubstituível para a estratégia dos EUA destinada a exercer influência sobre os regimes que emanam da convulsão revolucionária no mundo árabe.

Poder não se concede: deve ser arrancado de seus detentores. No fim das contas, o triunfo de Christine Lagarde não derivou de um confronto épico entre as grandes potências e o resto do mundo, mas da virtual inexistência de uma alternativa. Articulados na UE e habituados a atuar em conjunto no cenário mundial, os europeus cerraram fileiras atrás da candidatura francesa. Já os Brics evidenciaram, pela incapacidade de apresentar uma candidatura comum, a paralisante disparidade de seus interesses nacionais. No vácuo de liderança emergiu a solitária candidatura do mexicano Agustín Carstens, uma figura a tal ponto associada às posições dos EUA que não obteve sequer um apoio sólido dos países latino-americanos. A Rússia votou em Christine Lagarde. O Brasil também votou na candidata europeia, desistindo até de explorar alguma hipótese alternativa enquanto celebrava a vitória secundária de José Graziano na FAO.

Christine Lagarde tem todos os atributos pessoais necessários para dirigir o FMI, menos a ascendência política de Strauss-Kahn, que reunia qualidades combinadas de economista e estadista, indisponíveis no mercado. A nova diretora-gerente, porém, é prisioneira de uma armadilha fatal. Como ministra das Finanças de Nicolas Sarkozy, personificou a estratégia conduzida pela UE diante da crise do euro, destacando-se entre os arautos da obstinada rejeição francesa à hipótese de reestruturação da dívida grega. Agora, à frente do FMI, tem a missão impossível de exercer uma supervisão independente dos planos de resgate dos países endividados da zona do euro.

"Meu objetivo primordial será fazer com que nossa instituição continue a servir à totalidade de seus integrantes", declarou Christine Lagarde no momento de seu triunfo. É um objetivo tão inalcançável quanto o pagamento da dívida grega. Sob Christine Lagarde, o FMI será visto como um joguete nas mãos de uma Europa engajada na salvação do euro: um Fundo Monetário Europeu com outro nome. A captura da instituição pela UE revela, mais ainda que a paralisia da reforma do Conselho de Segurança, as enormes dificuldades de reconfiguração, em tempos de paz, da ordem internacional emanada da guerra geral. Na Ásia, em especial na China, rumina-se a ideia da criação de um Fundo Monetário Asiático. Seria, juntamente com o declínio do dólar, um passo perigoso rumo à fragmentação da arquitetura financeira global.

FERNANDO REINACH - A frágil relação entre o tamanho dos dedos e do pênis


A frágil relação entre o tamanho dos dedos e do pênis
FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 07/07/11

A curiosidade venceu e anteontem baixei o artigo científico do site do Asian Journal of Andrology. Nesse artigo, cientistas coreanos tentam demonstrar que a razão entre o comprimento de dois dedos - o segundo e o quarto - da mão de um homem é uma medida indireta do comprimento de seu pênis.

Os autores convenceram 140 coreanos a permitir que médicos medissem o comprimento de seus dedos e de seus pênis enquanto estavam anestesiados para se submeterem a uma cirurgia.

Minha primeira curiosidade foi ler a seção em que os cientistas descreviam como haviam sido feitas as medidas. Medir dedos é fácil: existe um osso no seu interior e os dedos não são compostos de tecido elástico. Mas como medir o comprimento de um pênis flácido?

Os cientistas descrevem como usaram uma régua para medir o comprimento partindo do osso pubiano (a parte da frente da bacia) até a ponta do pênis. Honestamente, eles descrevem a dificuldade encontrada: a estrutura flácida se curvava, dificultando a medida. A solução foi esticar (stretch) o pênis e, então, fazer a medida.

Curioso, fui tentar investigar o quanto eles esticaram e como padronizaram a esticada. Nada é informado no trabalho, a não ser que o pênis, antes da medida, estava totalmente esticado (fully stretched).

Mas o que significa isso? O tecido do pênis é extremamente elástico e no seu interior se encontra o corpo cavernoso, um tecido esponjoso onde se acumula o sangue durante a ereção, capaz de aumentar de comprimento facilmente.

O problema é o mesmo que você encontraria se eu pedisse para você medir o comprimento de um elástico esticado. Você me diria: "Mas quanto devo esticar o elástico? Até quase ele se romper?" Logo imaginei que os erros nas medidas eram grandes.

Satisfeita a curiosidade sobre os métodos, fui verificar que resultados justificavam tão inusitada conclusão. Os resultados estão na figura reproduzida nesta página. É um gráfico em que, no eixo horizontal, está a medida da razão entre o segundo e o quarto dedo (digit ratio). Como os dedos são quase do mesmo tamanho, essa razão varia de 0,85 a 1,15. No eixo vertical, está a medida do pênis esticado (stretched penile length), em centímetros.

No gráfico, você vai ver 140 pontos, um para cada homem analisado. O maior pênis esticado tinha 17 cm, e os dedos desse homem tinham um digit ratio de 0,90. Chama a atenção no gráfico o fato de que os pontos parecem estar distribuídos aleatoriamente e não em uma reta, como seria esperado se a correlação entre as medidas fosse perfeita.

Esse tipo correlação nunca é perfeita, mas se você fizer um gráfico entre a altura de uma pessoa e sua idade, vai observar que os pontos, apesar de dispersos, agrupam-se em volta de uma linha média. No caso do gráfico coreano, os autores utilizaram um programa para tentar determinar qual a linha que melhor representa os pontos.

A linha selecionada pelo programa pode ser observada no gráfico. Ela é quase horizontal, mas, como cai da esquerda para a direita, indica que à medida que o digit ratio aumenta, o tamanho do pênis diminui. Basta olhar a linha e os pontos para concluir que a correlação é fraca e poderia ser facilmente alterada dependendo do grau de sadismo do investigador que esticou os pênis e de seu humor no dia de cada cirurgia.

Dados questionados. Minha conclusão é a seguinte: na melhor das hipóteses, esse estudo sugere que talvez possa existir alguma correlação remota entre essas duas variáveis. Para minha surpresa, a revista publicou, junto com o trabalho citado, um editorial no qual os dados são questionados e é recomendada cautela quanto à sua interpretação.

A beleza da ciência é que cada um de nós pode verificar ou mesmo repetir cada trabalho publicado. Podemos examinar os dados originais e decidir se acreditamos ou não nas conclusões. Do meu ponto de vista, rapazes apaixonados, em jantares à luz de velas, podem continuar a colocar sua mão sobre a mão da futura namorada sem medo de serem acusados de propaganda enganosa.

MÔNICA BERGAMO - TIMÃO DE ESCANTEIO

TIMÃO DE ESCANTEIO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP -07/07/11

A negociação entre a Odebrecht e o Corinthians com o Banco do Brasil em torno do financiamento para a construção do estádio do Itaquerão passa por um "estresse tremendo", de acordo com um dos executivos que participa das conversas. O BB, que pegaria R$ 400 milhões no BNDES para repassá-los à obra, exige remuneração considerada alta pela empreiteira e pelo clube para fazer o negócio -mais de 1%. Alega que os riscos da operação justificam a cobrança.

ESCANTEIO 2

O BNDES não aceita dar o recurso para o fundo formado pela Odebrecht e pelo Timão para construir a arena. Só aceita liberar dinheiro para a própria empreiteira, sem o clube. Ou para um repassador confiável, como o BB -que, no entanto, também prefere assinar negócio só com a empresa, sem o Corinthians. As conversas chegaram a um impasse.

DA FIEL
E o marqueteiro Valdemir Garreta, que já fez campanhas para o PT e neste ano coordenou a eleição do presidente do Peru, Ollanta Humala, deve trabalhar na sucessão do Corinthians. Vai fazer o marketing de Mário Gobbi, candidato ao comando do Timão. Ele tem o apoio de Andres Sanchez, atual presidente do clube.

ALTAR
E Garreta e Luis Favre, que trabalharam juntos na campanha de Humala, foram sondados pelo presidente da Guatemala, Álvaro Colom. Ele quer emplacar a mulher, Sandra Torres, como candidata à sucessão. E até anunciou divórcio para contornar lei que proíbe seus parentes de se candidatarem.

NO NINHO

Sem convite de Lula para embarcar no jato particular que levou o ex-presidente e outros petistas a Juiz de Fora para o velório de Itamar Franco, Eduardo Suplicy (PT-SP) não conseguiu lugar num voo comercial. Foi salvo pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que o convidou para viajar com ele a Minas. No jato do governo de SP embarcaram também FHC e José Serra.

ROMARIA
A atriz Letícia Sabatella deve ir hoje a Brasília se encontrar com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos). Vai pedir atitudes mais efetivas do governo contra a morte de agricultores e ambientalistas no Pará.

CASA COMIGO?
O português valter hugo mãe, um dos autores convidados da Flip, em Paraty, diz que é muito fã de Elza Soares. Ele avisa que irá procurá-la pelas ruas da cidade, entregará um livro seu e a pedirá "em casamento".

Elza tinha show marcado para ontem no evento.

BOA NOITE
Em entrevista a Sarah Oliveira no programa "Viva Voz" (GNT) que vai ao ar no dia 13, Ney Latorraca confessa: "Eu tenho que dormir com muitos remédios, uma Marilyn [Monroe]".

SUBA VIVO

O coletivo de artistas Suba's Connection, criado para homenagear o produtor Mitar Subótic, morto em 1999, vai se apresentar na Sérvia, terra natal dele. Taciana Barros, Edgard Scandurra, Bocato e João Parahyba, do Trio Mocotó, entre outros, tocarão hoje no festival Exit. Um palco terá o nome de Suba, apelido de Subótic, e a apresentação será filmada para um documentário sobre o produtor, que vivia no Brasil.

NO FOCO
Abriu anteontem a mostra "Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, 1976 - 2011", que reúne no Centro da Cultura Judaica 92 fotos da região central de SP. Estiveram na festa de abertura os fotógrafos Cristiano Mascaro e Bob Wolfenson, que têm trabalhos expostos.

CURTO-CIRCUITO


Marcia Camargos e Gonzalo Aguiar participarão na próxima segunda do evento "Pós-Flip", na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho. Repetirão a mesa-redonda "Marco Zero Modernista", que farão hoje na Festa Literária Internacional de Paraty.

O livro "Um Olhar sobre São Paulo", do jornalista Ricardo Viveiros, será lançado hoje, às 19h, no Museu da Casa Brasileira.

Acontece hoje, às 21h30, o lançamento do disco da Orquestra Saga, no Sesc Pompeia. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - O nosso dólar é mais barato


O nosso dólar é mais barato
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 07/07/2011

Não é de hoje que o ministro Guido Mantega está de bronca com o dólar fraco. Não é de hoje que ele declara ter um arsenal de medidas para impedir uma valorização excessiva do real. Olhando os números, porém, verifica-se que o ministro tem fracassado.

Quando ele assumiu, em 28 de março de 2006, o dólar valia R$2,24. Seguiu daí uma clara tendência de baixa, até ficar abaixo de R$1,60 nos dias que antecederam a grande crise financeira de 2008.

Com o quase colapso da economia global, a paralisia dos mercados de crédito e a queda brutal da atividade mundial, a moeda brasileira sofreu rápida e forte desvalorização. Em dezembro de 2008, bateu no teto desse período, com o valor de R$2,51.

Daí em diante, o dólar rodou algum tempo numa cotação elevada, mas retomou a tendência de queda quando o mundo se acalmou e, sobretudo, quando os emergentes voltaram a crescer forte. Nos últimos dias, a moeda americana chegou a um valor nominal igual ao verificado no momento pré-crise 2008.

Ou seja, as medidas tomadas pelo governo brasileiro - aumento do imposto e limitação de entrada de aplicações financeiras, além da compra de moeda pelo BC - tiveram efeito acessório e limitado. O que mudou a cotação, para cima e para baixo, foi o fator internacional.

Bem resumindo: o fato é que o governo não tomou qualquer medida estrutural - ortodoxa, heterodoxa ou desenvolvimentista - para agir sobre o câmbio. Persiste uma indecisão que vem desde a gestão Lula.

Não que seja fácil resolver. O problema é a excessiva entrada de dólares no país. Mas há muitos bons motivos para receber essa dinheirama.

Como somos um país que consome muito e poupa pouco, precisamos de capital externo para financiar investimentos. E lá se vão as autoridades mostrar aos estrangeiros que há aqui muitas oportunidades de negócio. Eles estão acreditando nisso e atendendo aos convites. É bom.

Além disso, como o risco Brasil está baixo e como sobra dinheiro no mundo, a juros no chão, companhias aqui instaladas tomam dólares emprestados lá fora para financiar operações locais. Bom de novo, financiamento abundante e barato. Com os juros aqui pela hora da morte, essa tomada de empréstimos no exterior barateia os negócios no país e, assim, beneficia os consumidores.

Por outro lado, os preços de alguns dos principais produtos brasileiros de exportação estão em níveis historicamente elevados e parece que permanecerão assim por uns bons anos. Garantia de receita. Bom de novo.

O dólar barato também faz a alegria das classes médias, as antigas e as emergentes, que podem viajar para fora e comprar produtos mais baratos... e votar com o governo.

Mas há um enorme problema: o produto industrial fabricado aqui fica mais caro, perde competitividade aqui e no exterior. Ora, a indústria dá emprego bom e abundante, faz a força de uma economia, de modo que não se pode brincar com isso.

O que fazer? Essa valorização da moeda local não é exclusividade brasileira. Para ficar apenas na América Latina, todas as principais moedas ganharam sobre o dólar. Conforme contas elaboradas pela consultoria Economática, o dólar perdeu quase 40% em relação ao peso colombiano, em termos nominais, de 31 de dezembro de 2002 a 5 de julho último.

Mas a Colômbia foi apenas a vice-campeã. Perde do Brasil. No mesmo período, que coincide com o governo Lula e seis meses de Dilma, o dólar perdeu 55% em relação ao real.

Logo, há dois conjuntos de causas de apreciação da nossa moeda. O primeiro é o mesmo para toda AL: exportação de commodities em preços recordes e muita entrada de dólares de investimentos e empréstimos para negócios locais, em economias em crescimento. A Colômbia é tão parecida com o Brasil que tem até uma forte descoberta recente de petróleo.

Este é um problema global, aliás, citado por Christine Lagarde em seu primeiro pronunciamento como diretora do FMI.

Mas por que a valorização do real é campeã global? Só pode ser por causas nossas. E aqui a resposta já não é pacífica, mesmo porque não envolve apenas a taxa de câmbio. É preciso tratar da dobradinha dólar barato/juro caro.

Os analistas têm divergências doutrinárias, que, aliás, tratamos aqui na coluna de 9 de junho ("Ortodoxos, desenvolvimentistas, nem tanto"). De todo modo, se sabemos o que há de comum entre o Brasil e os demais latino-americanos, devemos perguntar: o que há de diferente?

Se procurarem no excesso de gasto público, carga tributária e dívida, vão encontrar alguma coisa. Para os desenvolvimentistas, o caminho é outro, começando por controle de entrada de capitais e derrubada imediata dos juros. Mas, assim como o governo Lula, Dilma ainda não decidiu.

JOSIAS DE SOUZA - Crise expõe modelo de troca de cargos e recursos por apoio no Congresso

Crise expõe modelo de troca de cargos e recursos por apoio no Congresso 
JOSIAS DE SOUZA
FOLHA DE SP - 07/07/11
A PRESIDENTE DILMA LIVROU-SE DE NASCIMENTO, MAS NÃO DO PR, DONO DE 40 VOTOS NA CÂMARA E DE SEIS NO SENADO
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma dispõe de uma espécie de "espião" no Ministério dos Transportes, o petista Hideraldo Caron. Engenheiro, Caron é diretor de Infraestrutura do Dnit, o departamento que cuida da manutenção das estradas federais.
Nos últimos meses, municiou o Palácio do Planalto com dados que indicavam uma evolução atípica no orçamento das obras do ministério, sobrevalorizadas.
Vem daí a agilidade com que Dilma livrou-se do ministro Alfredo Nascimento e do staff dele. A presidente sabia com quem lidava.
Nascimento deixou o ministério convencido de que foi queimado num micro-ondas acionado pela própria presidente.
O mais surpreendente no episódio não foi, porém, a demissão, mas a nomeação do ministro. Nascimento era parte do legado de Lula.
O que Dilma fez em reação ao trabalho de seu "olheiro" e ao noticiário é o que deixou de fazer por convicção ou precaução.
Os aditivos contratuais vitaminados no setor dos Transportes não começaram há seis meses. Atravessam os governos.
Dilma conviveu com o flagelo à época em que, sob Lula, atuou como gerente do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A despeito disso, reconduziu Nascimento ao cargo.
Ao esquecer de maneirar, o PR do ministro expôs as entranhas do modelo que troca cargos e verbas por apoio no Congresso.
Dilma livrou-se de Nascimento, mas não do partido dele. Cogita manter a pasta na órbita de influência do PR, dono de 40 votos na Câmara e seis no Senado. Ou seja, o setor de Transportes ganhou a forma de um novo escândalo esperando para acontecer.
De diferente, apenas o estilo da presidente Dilma. Menos acomodatícia que Lula, ela espalha assombro pelo condomínio partidário que gravita ao seu redor.
Há duas semanas, numa reunião de caciques do PMDB, um ministro do partido comparou a presidente a um lobisomem. Ela prepara o bote e aparece na hora que quer e para quem quer, disse o peemedebista.
O problema é que, no modelo que vigora desde a redemocratização do Brasil, até mesmo uma presidente-lobisomem não pode prescindir de votos no Congresso.
Filiado ilustre do PR, o deputado Anthony Garotinho (RJ) apressou-se em defender sua legenda na Câmara.
Em resposta aos ataques da oposição, disse que nenhum partido tem autoridade para jogar pedras em Nascimento ou no PR. Nem mesmo a agremiação de Dilma.
"O PT ficava pregando moralidade aqui e virou o partido do mensalão", realçou Garotinho. Falava ao plenário da Câmara dos Deputados. Mas mirava o Planalto.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Classe C reduz tíquete médio da previdência privada
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 07/07/11

O ingresso da classe C no mercado de previdência privada no país levou as seguradoras a reduzirem o tíquete médio de investimento em previdência complementar, segundo a Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).
A queda registrada foi de R$ 120 para R$ 50 nos últimos cinco anos na maioria das seguradoras, de acordo com Marco Antonio Rossi, presidente da entidade.
"Antes, nós só praticávamos contribuições de no mínimo R$ 100. Nos últimos anos, o mercado abriu oportunidade também para aquelas pessoas que pudessem fazer contribuições acima de R$ 30", afirma.
As seguradoras tiveram um ganho de escala, o que também contribuiu para a redução, de acordo com Rossi.
A entrada de novos consumidores aqueceu o mercado de previdência privada aberta, que teve seu melhor maio desde 2004, com R$ 4,7 bilhões em arrecadação. Os novos depósitos no período são 47% superiores aos de maio do ano passado.
A elevação se deve aos investimentos em planos individuais, em que foram feitos aportes de R$ 4 bilhões, alta de cerca de 50%.
O perfil do investidor também ficou mais jovem. A idade média caiu de 37 para 30 anos nos últimos cinco anos. "A chegada dos mais jovens também está relacionada ao fato de a capacidade de poupança começar em níveis menores", afirma Rossi.

Faturamento de eletroeletrônicos crescerá menos, diz consultoria

O setor de eletroeletrônicos (linhas branca, marrom e equipamentos portáteis) deve crescer menos neste ano no mercado brasileiro.
O faturamento das empresas deve aumentar 5,7% no final deste ano, resultado bem abaixo dos 16,1% registrados em 2010, segundo projeções da consultoria Lafis.
O fim da isenção do IPI para a linha branca no ano passado e o aumento dos custos de produção prejudicarão as vendas deste ano, segundo o analista Bruno Nogueira.
"A tendência de elevação dos preços do minério de ferro e, consequentemente, do aço, bem como o aumento dos preços das matérias plásticas, é uma ameaça ao faturamento do setor."
A maior concentração do comércio varejista no mercado brasileiro é outro fator que diminui o poder de barganha da indústria de eletroeletrônicos e impede uma lucratividade maior do setor, de acordo com o analista.

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
As empresas brasileiras são as que têm mais planos de abrir centros de excelência, de acordo com estudo realizado pelo Grupo Capgemini, em parceria com a HP.
Nos próximos dois anos, 17% das companhias do país devem inaugurar projetos para desenvolver novos produtos. O índice é o mais alto do mundo, segundo o estudo.
No Japão e na Nova Zelândia, que são os dois países que aparecem em seguida, 14% empresas têm planos de novos centros de inovação.
A China, por sua vez, aparece na sequência, com 10%.
O total de empresas que pretendem abrir um centro de excelência é de 55%, de acordo com o estudo.
Em 2010, 56% das companhias brasileiras aumentaram o investimento em testes de qualidade dos seus produtos, de forma "substancial", conforme o levantamento.
Na China, esse número foi de 83% no mesmo ano.
A pesquisa foi feita com mais de 1.200 executivos de todos os continentes.

PRATA DA CASA

A empresa de peças banhadas em prata St. James amplia o seu foco de atuação e passar a produzir também móveis feitos de latão polido.
"Essa é a primeira vez que fabricamos algum tipo de móvel. Por enquanto, as peças são mais conceituais. Vamos verificar a resposta do mercado para, depois, definir o tamanho dessa edição", afirma o sócio da companhia, Ricardo Saad.
Conhecida pela comercialização de jarras, samovares e baixelas, as primeiras três peças de móveis fabricadas pela empresa serão lançadas no mercado no próximo mês.
São mesas de aproximadamente 60 centímetros de diâmetro produzidas manualmente na fábrica da companhia em São Paulo.
O tampo das mesas pode ser desmontado e usado como bandeja.
O preço de comercialização deve ficar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.

CALOR NO NORDESTE
A Rio Bravo, gestora de recursos de Gustavo Franco, ex-presidente do BC, e Paulo Bilyk, já pensa em um terceiro fundo de "private equity" (de participação em empresas) com foco no Nordeste.
A gestora já tem os fundos Rio Bravo Nordeste 1, voltado para empresas iniciantes, que captou R$ 18 milhões; e Rio Bravo Nordeste 2, que investe em empresas já estabelecidas, captou R$ 132 milhões e ainda está em fase de investimento.
"Com o sucesso da operação, pensamos em um terceiro fundo. O Nordeste tem taxa de crescimento acima da média do Brasil, em razão da base baixa", diz Paulo Silvestri, diretor da área na gestora, uma das primeiras a investir na região.
"O Nordeste 3 deverá obter captação maior que o 2", estima Silvestri.

NA COZINHA

Deixar de comer fora de casa é a principal atitude adotada pelas pessoas que precisam economizar, de acordo com estudo da GfK. No último ano, 44% dos entrevistados diminuíram a frequência com que jantam em restaurantes.
Em 2011, os países estão economicamente mais estáveis do que nos dois últimos anos, segundo a consultoria.
As três maiores preocupações da população mundial, porém, ainda estão relacionadas à economia: inflação, desemprego e medo de não ter dinheiro para pagar as contas no fim do mês.
Apenas 17% dos 32 mil entrevistados pelo estudo dizem acreditar que é um "bom momento para compras". Para 40% das pessoas, o melhor a fazer é "esperar".
A consultoria inglesa ouviu adultos de 25 países.

Roubo e... 

O índice geral de roubo e furto de veículos caiu 15,2% no segundo trimestre. Os casos envolvendo utilitários, porém, subiram 30%, segundo a empresa de rastreamento Tracker do Brasil.

...furto 
No período, houve 757 ocorrências, ante 893 no mesmo intervalo de 2010. A queda mais forte foi na categoria de veículos pesados, de 59%. O índice de roubo e furto de automóveis caiu 12,7%.

Leitura 

O Grupo Editorial Nacional comprou a Editora Roca, que faturou R$ 9,2 milhões em 2010, para entrar no segmento de livros de turismo.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ