quarta-feira, junho 22, 2011

AUGUSTO NUNES - Herança maldita é a institucionalização da impunidade dos bandidos de estimação


Herança maldita é a institucionalização da impunidade dos bandidos de estimação
AUGUSTO NUNES
VEJA ONLINE


Se conseguisse envergonhar-se com alguma coisa, o ex-presidente Lula estaria pedindo perdão aos brasileiros em geral, por ter imposto a Dilma Rousseff a nomeação de Antonio Palocci, e aos paulistas em particular, por ter imposto ao PT a candidatura de Aloízio Mercadante ao governo estadual. Se não achasse que ética é coisa de otário, trataria de concentrar-se nas palestras encomendadas por empreiteiros amigos para livrar-se de explicar o inexplicável, como o milagre da multiplicação do patrimônio de Palocci e a comprovação do envolvimento de Mercadante nas bandalheiras dos aloprados. Se não fosse portador da síndrome de Deus, saberia que ninguém tem poderes para revogar os fatos e decretar a inexistência do escândalo do mensalão.

Como Lula é o que é, aproveitou a reunião do PT paulista, neste 17 de junho, para tratar de todos esses temas no mesmo palavrório. Com o desembaraço dos condenados à impunidade perpétua e o cinismo de quem não tem compromisso com a verdade, o sumo-sacerdote da seita serviu a salada mista no Sermão aos Companheiros Pecadores, clímax da missa negra em Sumaré. Sem união, ensinou o mestre a seus discípulos, nenhum bando sobrevive sem perdas. Palocci, nessa linha de raciocínio, perdeu o empregão na Casa Civil não pelo que fez, mas pelo que o rebanho governista deixou de fazer. Foi despejado não por excesso de culpa, mas por falta de braços solidários.

Para demonstrar a tese, evocou o escândalo do mensalão, sem mencionar a expressão proibida. “Eu sei, o Zé Dirceu sabe, o João Paulo sabe, o Ricardo Berzoini sabe, que um dos nossos problemas em 2005 era a desconfiança entre nós, dentro da nossa bancada”, disse o mestre a seus discípulos. “A crise de 2005 começou com uma acusação no Correio, de R$ 3 mil, o cara envolvido era do PTB, quem presidia o Correio era o PMDB e eles transformaram a CPI dos Correios, para apurar isso, numa CPI contra o PT, contra o Zé Dirceu e contra outros companheiros. Por quê? Porque a gente tava desunido”.

A sinopse esperta exige o preenchimento dos muitos buracos com informações essenciais. Foi Lula quem entregou o controle dos Correios ao condomínio formado pelo PMDB e pelo PTB. O funcionário filmado embolsando propinas era apadrinhado pelo deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, que merecera do amigo Lula “um cheque em branco”. O desconfiado da história foi Jefferson, que resolveu afundar atirando ao descobrir que o Planalto não o livraria do naufrágio. Ao contar o que sabia, desmatou a trilha que levaria ao pântano do mensalão. Ali chapinhava José Dirceu, chefe do que o procurador-geral da República qualificou de “organização criminosa sofisticada” formada por dezenas de meliantes.

Tais erros não podem repetir-se, advertiu o pregador. É preciso preservar a coesão do PT e da base alugada, contemplando com cuidados especiais os parceiros do PMDB. Para abafar focos de descontentamento, a receita é singela: “A gente se reúne, tranca a porta e se atraca lá dentro”, prescreveu. Encerrada a briga de foice, unifica-se o discurso em favor dos delinquentes em perigo.

“Eu tô de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada”, caprichou na indignação de araque o padroeiro dos gatunos federais. Aos olhos dos brasileiros honestos, figuras como o mensaleiro José Dirceu, a quadrilheira Erenice Guerra ou o estuprador de sigilo bancário Antonio Palocci têm de prestar contas à Justiça. Para Lula, todos só prestaram relevantes serviços à pátria. A lealdade ao chefe purifica.

“Os adversários não brincam em serviço”, fantasiou. “Toda vez que o PT se fortalece, eles saem achincalhando o partido”. É por isso que Mercadante está na berlinda: segundo Lula, os inimigos miram não no comandante de milícias alopradas, mas no futuro prefeito da capital. “Nunca antes na história deste país tivemos condições tão favoráveis para ganhar as eleições no Estado”, festejou no fim do sermão.

Se há pouco mais de seis meses o PT foi novamente surrado nas urnas paulistas, o que ampara o otimismo do palanque ambulante? Nada. É só mais um blefe. O PSDB costuma embarcar em todos. Não conseguiu sequer deixar claro que o Brasil Maravilha esculpido em milhares de falatórios só existe na imaginação dos arquitetos malandros e na papelada registrada em cartório.

Cumpre à oposição mostrar que o homem que brinca de xerife é o vilão do faroeste de quinta categoria. Os brasileiros precisam aprender que o câncer que corrói o organismo político nacional não é a corrupção simplesmente ─ essa existe em qualquer paragem. É a certeza de que não haverá sanções legais. Ao longo de oito anos, enquanto cuidava de promover a ignorância à categoria das virtudes, Lula institucionalizou a impunidade dos corruptos e acelerou a decomposição moral do país.

O Brasil deste começo de século lembra um grande clube dos cafajestes sustentado por milhões de eleitores para os quais a vida consiste em não morrer de fome. Essa sim é a herança maldita.

CLÓVIS ROSSI - Mancha no lenço branco


Mancha no lenço branco
CLÓVIS ROSSI
FOLHA ONLINE - 22/06/11

Devo às "Madres de Plaza de Mayo" as únicas lágrimas vertidas durante o trabalho, em 48 anos de profissão.


Foi assim: as "Madres" manifestavam-se durante a ditadura argentina do período 1976/1983 todas as quintas-feiras. Lenços brancos à cabeça com o nome do filho desaparecido bordado, davam umas quantas voltas em torno do Obelisco da Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, a sede do governo argentino. Hoje, há uma grade isolando a Rosada (os argentinos pronunciam "roçada"). Naquela época, nada.

Os correspondentes estrangeiros funcionávamos como uma espécie de escudo -- precário, é verdade, mas escudo -- para aquelas dignas senhoras e sua dor. Em tese, a repressão ou não haveria ou seria mais contida na presença de jornalistas estrangeiros (os locais nem precisavam ir, porque nada poderia mesmo ser publicado).

Reclamavam a volta de seus filhos desaparecidos, que todos sabíamos mortos, mas que elas se recusavam a aceitar a verdade, porque insistir no grito de "con vida los llevaron/con vida los queremos" era uma maneira de pressionar os militares a confessar o genocídio e de fazer o mundo ver o horror em que a Argentina mergulhara.

Um dia de 1983, Dia Internacional dos Direitos Humanos, as "Madres" decidiram inovar e ampliar a sua marcha para além da Plaza, pela avenida de Mayo, a que leva de um centro do poder (a Rosada) ao outro (o Congresso, naquela época fechado).

A ditadura, derrotada no ano anterior na Guerra das Malvinas, cambaleava e achou por bem impedir o acesso à praça. Se o poder lhes escapulia, pelo menos teriam que preservar o seu símbolo, o casarão que abriga a Presidência, e a área em torno.

Desci do metrô na avenida de Mayo e caminhava rumo à Plaza, tendo à frente uma senhora de rosto sulcado pelos anos e pela dor, lenço branco com o indefectível bordado à cabeça, passo firme apesar da idade. A uns 200 metros pouco mais ou menos da Plaza, um cordão de fornidos policiais, ombro a ombro, fechava a passagem completamente.

A senhora atirou-se, literalmente, sobre os policiais dizendo: "Deixem-me passar que tenho um encontro com meu filho".

Não pude conter as lágrimas ante o exemplo de compromisso da mulher com o filho que ela jamais encontraria. De fato, "con vida los llevaron", mas nem sem vida foram devolvidos. Que horror.

Conto essa história porque, 30 anos depois, as "Madres" quase me fizeram chorar de novo, desta vez pelos piores motivos. A Associação que as congrega está envolvida em um escândalo de suposto desvio de verba para a construção de casas populares, atividade a que um dos dois grupos em que se cindiu o movimento passou a se dedicar a partir do governo Néstor Kirchner.

O caso é escabroso porque os acusados são os irmãos Schoklender, autores de um crime impressionante também de 30 anos atrás: Pablo e Sérgio mataram pai e mãe, deixaram os cadáveres no porta-malas do carro da família e fugiram para Mar del Plata.

Presos, julgados e condenados, ganharam depois a liberdade por bom comportamento. Aí, Hebe de Bonafini, uma das fundadoras das "Madres" resolveu dar-lhes emprego na Associação Madres de Plaza de Mayo, justamente como gestores do programa habitacional (financiado pelo governo).

Parte do dinheiro sumiu. Os Schoklender têm iate e outros símbolos exteriores de riqueza.

Que De Bonafini tivesse um acesso de boa samaritana e empregasse dois parricidas, já é muito para o meu gosto. Trata-se de um tipo de animal tão perverso que a recuperação me parece impossível. Além disso, dona Hebe tornou-se uma revolucionária profissional, capaz de defender, por exemplo, o grupo terrorista basco ETA. Não entra na minha cabeça que um movimento nascido para defender a vida e os direitos humanos seja capaz de sancionar terrorismo.

Fico me lembrando de uma "boutade" espanhola, que diz: "CONTRA Franco, vivíamos melhor". Pois é, contra a ditadura os caminhos das "Madres" passavam com dor mas com glória pelas avenidas de Buenos Aires. Na democracia, parte delas se perdeu nos obscuros caminhos da mente humana. Triste.

MARCELO COELHO - Meia-Noite em Paris


Meia-Noite em Paris
MARCELO COELHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11 

Novo filme de Woody Allen nos faz concluir que não se fazem mais homens como antigamente


GIL PENDER é um boboca de Pasadena, Califórnia, nos Estados Unidos, prestes a casar com uma patricinha autoritária. Os dois estão em Paris. A patricinha faz compras. Ele passeia pelas ruas da cidade; adora Paris quando chove e sonha com a época de ouro da cidade.
A saber, os anos 20, quando escritores e artistas como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Pablo Picasso e Salvador Dalí se entregavam ao jazz, ao inconsciente, à bebida e às trepidações da modernidade.
Gil Pender escreve roteiros para Hollywood, ganha um bom dinheiro, mas sua fantasia é ser romancista. Ou melhor, ter sido romancista, em Paris, naquela época.
Magicamente, numa noite de bebedeira, seu desejo se realiza. Uma limusine amarela aparece, e o tímido Gil, um verdadeiro prodígio de falta de assunto, é convidado a entrar. Zelda e Scott Fitzgerald estão no carro. Ele está nos anos 20.
Esse é o ponto de partida do último filme de Woody Allen, "Meia-Noite em Paris", que entrou em cartaz na semana passada.
Como quase sempre, Woody Allen inventa uma história de amor muito delicada, em que muitas possibilidades de desenvolvimento e de desfecho se abrem como um leque para o espectador.
Tudo pode acontecer, desde que dentro de um jogo no qual o resultado, em última análise, seja civilizado e feliz.
Mas "civilizado" e "feliz" não são adjetivos que possam ser aplicados facilmente ao estilo de vida daqueles americanos durante as "années folles" de 1920.
Oficiante máximo do culto ao machismo, à coragem e às touradas, Hemingway hoje pode ser legitimamente qualificado como "figura do século passado". Em Paris, Scott e Zelda Fitzgerald foram colhidos num tsunami de álcool, paranoia e possessividade.
Talvez esteja aí o fundo melancólico, e também crítico, do filme de Woody Allen. Mais uma vez, Gil Pender (Owen Wilson, uma espécie de Robert Redford com baixo teor de sódio e gordura trans) encarna a personagem do sujeitinho hesitante e submisso, às voltas com rivais mais fálicos do que ele.
Ao contrário do que acontece em muitos outros filmes de Woody Allen, Gil Pender não tem nem sequer a qualidade de ser neurótico. É apenas um garotão saudável do século 21, incapaz de se impor sobre as vontades da noiva; mesmo suas discussões com o sogro direitista estão dentro dos parâmetros recomendáveis da associação psiquiátrica americana.
A nostalgia do personagem pela cultura dos anos 20 tem, assim, um lado menos refinado do que se poderia pensar à primeira vista.
É que, parece dizer Woody Allen, não se fazem mais homens (nem neuróticos) como antigamente. Pelo menos, é a conclusão que se tira do encontro entre Gil e Hemingway. Na verdade, o autor de "Adeus às Armas" é menos o próprio Hemingway do que a projeção daquilo que Gil Pender sabe sobre ele.
Cada personalidade famosa do filme aparece com as ideias e as atitudes que o espectador informado esperaria que tivessem.
Desse modo, Hemingway dá conselhos "durões" para o aspirante a romancista.
É preciso perder o medo da morte; só a paixão total por uma mulher pode nos ensinar esse segredo. Escrever é sangrar, viver é entregar-se às balas do inimigo, e matá-lo sem culpa.
Existe um sentimentalismo desse tipo de bravura, assim como existe, hoje em dia, o sentimentalismo das boas causas e da ecologia. Sem um pouco de ironia, estamos sempre condenados a cair num ou noutro tipo de esparrela.
Ironia é justamente o forte de Woody Allen -o que não exclui seus bons sentimentos.
Numa daquelas festas do passado, Gil encontra Luís Buñuel -e resolve meter sua colher na obra futura do cineasta. Diz ter uma excelente ideia para um filme: imagine-se que um grupo de pessoas, numa reunião elegante, repentinamente se torna incapaz de sair da sala. E passará vários dias nessa prisão imaginária e inexplicável.
Quarenta anos antes de filmar "O Anjo Exterminador", Buñuel não entende, ainda, o que há de interessante nessa ideia.
"Meia-Noite em Paris" parece brincar com um tema parecido. Não estamos incapacitados de sair de uma sala por nenhum feitiço. Mas, se o espaço não nos aprisiona, estamos contudo presos ao nosso próprio tempo. Na plenitude da velhice, Woody Allen nos diz que temos só uma vida para viver -a nossa. "Meia-Noite em Paris" ajuda a melhorá-la um pouco.

ANTONIO PRATA - O engano


O engano
ANTONIO PRATA
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11 

No meio da tarde você atende a uma chamada, e uma voz estranha pergunta: "Alô, Waldemar?"


É ASSOMBROSO que em pleno século 21, 135 anos depois de Graham Bell ter inventado o telefone, ainda haja pessoas incapazes de aceitar esta situação tão banal da vida cotidiana: o engano. Sem dúvida, o leitor sabe do que estou falando: no meio da tarde você atende a uma chamada e, do outro lado da linha, uma voz estranha pergunta: "Alô, Waldemar?".
Seu nome não é Waldemar. Você não se casou com um Waldemar nem batizou assim qualquer um de seus filhos, de modo que só há uma explicação, simples e evidente: foi engano. Você engole o pequeno mau humor que escorre dos segundos perdidos, aceita a frustração de ter-se imaginado necessário ou querido em algum canto da cidade, no meio da tarde, quando, na verdade, era de um Waldemar que precisavam. Você diz, seco, mas não antipático: "Amigo, aqui não tem nenhum Waldemar: foi engano", e já está tirando o telefone da orelha, pronto a voltar a seus afazeres, quando a voz ressurge, indignada: "Como assim não tem nenhum Waldemar?".
Como assim, "como assim?!"?! O que passa pela cabeça do cidadão?
Que você é o Waldemar, mas está mudando a voz e fingindo ser outro só para não atendê-lo? Ou que você é um assaltante e invadiu a casa do Waldemar -que agora tenta gritar, amordaçado e amarrado a uma cadeira: "Mmmm! Mmmm!"?!
Você respira fundo. Sabe que, se for arrancar os cabelos toda vez que lida com seres estranhos, numa cidade como São Paulo, muito rápido estará igual ao Kojak. Diz apenas, paciente e didático: "Olha, amigo, eu não me chamo Waldemar, não mora nenhum Waldemar nesta casa, foi en-ga-no, entendeu?".
Não, ele não entendeu. Estamos lidando com um maníaco, um homem cuja disfunção neurológica impede de compreender os desvios dos polegares, dos satélites, das linhas telefônicas. Inconsolável, ele se debate: "Mas não pode ser! Me deram esse número! Disseram que era do Waldemar!". Zen, você insiste: "Amigo, te deram o número errado, ou você teclou errado, sei lá, é muito comum, foi ENGANO!".
Seguem-se alguns promissores segundos de silêncio. Você acha que ele enfim se convenceu, que desligará o telefone e dirá à mulher "Aurélia, você não sabe que coisa assombrosa! Liguei pro Waldemar e atendeu outro homem!", mas a voz reaparece, acusatória: "Então, qual é o seu número?!".
Aí já é demais. Seu número, você não dirá. Não sabe o sujeito que a Constituição brasileira garante a presunção da inocência? Não sabe que, de acordo com a velha máxima latina, in dubio pro reu, cabe à acusação provar que você é -ou esconde- o Waldemar e não a você provar que não o é -ou não o esconde?
Catando no fundo da alma a última migalha de generosidade, você pergunta: "Que número você ligou?". Ele diz o número. Evidentemente, não é o seu. Você mostra para ele o equívoco, "olha aqui, o meu é cinco oito, não três oito, tá vendo?". Pasmo e contrariado, ele finalmente aceita a situação, despede-se rispidamente e desliga.
Você pode então -Jesus seja louvado!- voltar a seus afazeres, a saber: dar mais um aperto na corda que amarra o Waldemar e continuar o arrombamento do cofre, onde encontram-se os dólares e as joias da Gertrudes.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - E agora, Marina?


E agora, Marina?
FERNANDO DE BARROS E SILVA 
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

SÃO PAULO - O casamento entre Marina Silva e o PV está por um triz. No fim de semana, ela se reuniu em São Paulo com lideranças da ala "marineira" do partido. Deixou o encontro, segundo relatos, "disposta a sair". Estaria "desgastada, aborrecida e sobretudo descrente" de que as coisas lá dentro possam mudar para melhor.
Há mais de uma década o PV está sob o comando de José Luiz Penna, deputado federal por São Paulo. Apesar da marca, os verdes são um partido convencional, associado ao poder em quase todos os lugares, com todos os vícios e pecados fisiológicos da política brasileira.
Marina e seu grupo imaginaram que poderiam oxigenar o partido, aproximando-o da mensagem da candidata que recebeu quase 20 milhões de votos. Trombaram de frente com a nomenclatura verde -representada por uma Executiva Nacional balofa, onde 58 membros mantêm interesses enraizados.
Há ainda quem defenda, entre os "marineiros", que ela deve brigar dentro do PV e lá permanecer, mesmo como "dissidente", até pelo menos as eleições municipais. Não parece ser a disposição dela própria.
Marina, de qualquer forma, é uma política de combustão lenta. Pondera muito antes de tomar decisões. Saindo, deve levar junto figuras como Fernando Gabeira, João Paulo Capobianco, Alfredo Sirkis e Aspásia Camargo, entre outros.
Está descartada, de qualquer forma, a criação de um novo partido da "causa ecológica", como se cogitou. Primeiro, porque não haveria como viabilizá-lo em tempo hábil para concorrer em 2012. Segundo, porque Marina já está identificada com o ambientalismo e precisa agregar outras bandeiras à sua persona política -e não se isolar entre ongueiros e os povos da floresta.
Sem partido, Marina teria fôlego e instrumentos para "mobilizar a sociedade" em torno de ideias? Ou sumiria, moída pelas engrenagens da política profissional? É difícil discernir, no caso dela, entre utopia, ingenuidade e messianismo.

VINICIUS TORRES FREIRE - Alegria e farsa nos mercados


Alegria e farsa nos mercados
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

Dinheiro grosso festeja a hipótese de que a Grécia e os contribuintes europeus serão ainda mais esfolados

É DIFÍCIL encontrar economista ou financista informado, inteligente, sensato e de boa-fé que acredite em outra saída para a Grécia que não seja um calote organizado, uma redução bem pensada da dívida do governo grego, que equivalente hoje a pouco mais de 150% do PIB.
O calote ainda provocaria dor na Grécia, mas seria uma solução, não a agonia de agora, que continuará.
Mas a gente ouvia e lia ontem, em TVs e em on-lines e assemelhados, que "os mercados estavam aliviados e as Bolsas subiam" devido à "esperança" de que o governo grego não fosse derreter ontem, ainda.
O governo dos socialistas poderia receber um "voto de confiança" para escrever um plano novo de arrocho e, assim, receber uns trocados que evitariam o calote desorganizado já agora em julho ou em agosto. Note-se que os socialistas são apenas uns estatistas amigos do clientelismo; a oposição não é melhor.
Suponha-se que os manifestantes de rua não ponham fogo no governo ou que os socialistas não se queimem de outro modo. De onde veio tanta "esperança"? Ocorre apenas que o dinheiro grosso e seus agentes viram a perspectiva de voltar a fazer seus negócios de curtíssimo prazo. Se a Grécia não quebra agora, é "business as usual".
A Grécia continua no mesmo buraco. Daqui a pelo menos três anos o seu ainda PIB será menor do que o de agora (na perspectiva mais otimista). Sua dívida vai continuar a crescer (mesmo que o deficit do governo caia dos atuais 9%, 10%, ainda crescerá). Logo, o tamanho relativo da dívida terá crescido.
Se o país não consegue se financiar no mercado agora, dados os juros extorsivos, vai consegui-lo em 2014? A economia grega dificilmente será mais "produtiva". No máximo, estará mais barata, algo mais "competitiva", pois haverá duro arrocho de salários e grande desemprego: redução de renda e consumo.
O país sobrevive com dinheiro do FMI, de um fundo europeu de financiamento de países em pré-calote (EFSF) e, no dia a dia, na prática, de empréstimos indiretos do Banco Central Europeu.
A União Europeia (via EFSF) lança títulos de dívida que o mercado aceita de bom grado, pois garantida por Alemanha, França e cia. O dinheiro tapa temporariamente o rombo grego, que só aumenta (os 110 bilhões de maio passado não vão bastar, por isso a crise de agora). Em suma, dinheiro público, de impostos, garante o pagamento dos credores privados da Grécia.
De resto, esse dinheiro serve como seguro contra a degradação da dívida de outros países europeus. Se essa dívida perde valor, os bancos europeus, pouco capitalizados, vão ter problemas. Os objetivos da elite europeia e da banca parecem ser:
1) Evitar o calote, que degradaria a dívida de Portugal, Irlanda, Bélgica, Espanha e Itália, o que causaria problemas imediatos para a banca europeia e, talvez, até para fundos americanos que compram títulos de bancos europeus;
2) Evitar, assim, o descrédito (político e financeiro) do euro e do projeto europeu;
3) Empurrar a crise com a barriga até que os demais países ainda não tão quebrados da Europa reduzam suas dívidas a ponto de um calote grego ser menos danoso -essa é a aposta, quase lance de fé.
A crise pode desaparecer de vista, mas vai estar debaixo do tapete.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Sussexo
SONIA RACY
O ESTADÃO - 22/06/11

Ao que tudo indica, esta será a melhor semana gay de São Paulo. Caio Carvalho, da SPTuris, se prepara para a movimentação de 3 milhões de pessoas, sendo 400 mil de fora da cidade. "A comemoração não se restringe mais à parada", avisa.

Hoje, o evento é o primeiro da cidade em número de frequentadores. E o segundo em termos de faturamento, perdendo para a Fórmula 1, que gira R$ 250 milhões durante a semana acontece a corrida. Já movimento criado pelo LGBT, em sua 15ª edição, traz a metade disso.

Sussexo 2


Por que um evento fatura tão menos que o outro? Carvalho justifica com pesquisa. Ganham de um a cinco salários mínimos, 52% dos frequentadores da semana gay. Só 7,9% vive com mais de 25 salário mínimos por mês.

Na Fórmula 1, o poder aquisitivo é bem maior.

Sussexo 3


São Paulo está sediando também a primeira Expo Business LGBT do Mercosul. A feira de negócios abre amanhã, no Centro Fecomércio de Eventos.

Promovida pela Câmara de Comércio GLS do Brasil, cujo estatuto foi aprovado há um ano, deve render. Participam empresas de turismo, hotelaria, gastronomia, produtos especiais para este público.

O slogan escolhido? "Vamos tirar o mercado do armário."

Brasileirinha


Marin Alsop, futura regente da Osesp em 2012, tem dado mostras do seu entusiasmo por meio de e-mails no idioma natal de Arthur Nestrovski. É, a maestrina está aprendendo o português via skype.

A americana se encontra em São Paulo para uma série de concertos na Osesp.

Batata na brasa


A Paraíba está de olho na agenda de Dilma. Até agora a presidente só confirmou presença, sexta, no São João de Caruaru, Pernambuco.

Querem que ela apareça também em Campina Grande, considerada festança rival.

Maré contrária?


Pena. Os gringos investidores estão aumentando, paulatinamente, sua desconfiança em relação ao Brasil.

É só acompanhar suas posições negativas em operações feitas por meio dos índices futuros da BM&FBovespa.

Pesos-pesados


Depois de 20 anos, será anunciado hoje um significativo acordo judicial. Aguardem!

Mama mia!

Se a construtora OAS vencer a licitação e a polêmica ponte entre Salvador e Itaparica - sonho de Jaques Wagner - sair do papel, estará criada briga familiar. De um lado, João Ubaldo Ribeiro, autor-mor do movimento contra a construção da obra, incluindo manifesto assinado por Chico Buarque.

Do outro, o executivo designado para tocar o projeto, Manuel Ribeiro. Fruto da mesmíssima mãe e pai de João Ubaldo...

Papai faz anos


Amanhã, Cannes amanhecerá enfeitada de vermelho, incluindo tapete gigante estendido na avenida Croisette. Foi a maneira que a Ogilvy encontrou, segundo Sérgio Amado, para comemorar o centenário de David Ogilvy - fundador da agência.

Bola quadrada


E nem nas areias de Cannes o futebol do Brasil consegue vencer o da Holanda. Ontem, na final do tornei de bech soccer, a Laranja Mecânica derrotou os brasileiros, por 2 a 1,

Telão

E o romance Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum, deve virar filme.

A Ancine acaba de aprovar projeto para um longa-metragem.

Na frente
Em meio a retomada da briga do "dossiê dos aloprados", Aloizio Mercadante abre o Brasil em Código, conferência sobre automação e logística no País. No Hyatt, dia 29.

A peça Cruel, com Reynaldo Gianecchini, tem pré-estreia amanhã. No Teatro Faap.

Frequentadores do Parque Água Branca se reúnem hoje para programar grande protesto contra obras no espaço.

Quim Alcantara abre mostra na Mercearia São Roque do Jardim Europa. Segunda.

Floriano Pesaro participa do Encontro Internacional de Parlamentares Judeus. Segunda, em Jerusalém.

O Planalto justifica a ausência de Lula entre os ex-presidentes no site oficial. Seu nome só será incluído depois da digitalização dos discursos e fotos. Ainda sem prazo para terminar.

JOSÉ NÊUMANNE - Elogio ao sociólogo que virou tese


Elogio ao sociólogo que virou tese
JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo - 22/06/11

Fernando Henrique Cardoso era um militante celebrado e respeitado cientista social quando entrou na vida pública como assessor direto do representante máximo da resistência civil à ditadura militar, Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB e, depois, do PMDB. Candidatou-se ao Senado por uma sublegenda, apoiado pelos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, liderados por Luiz Inácio da Silva, o Lula. Aproveitou-se da renúncia de Franco Montoro, eleito governador de São Paulo, para ocupar a vaga deste no Senado. Consta que só não foi ministro de Fernando Collor de Mello porque o ranzinza Mário Covas, líder da dissidência que se tornou PSDB, não o permitiu. Um observador realista duvidaria de sua eleição até para a Câmara dos Deputados quando Collor caiu. Mas, tendo sido o principal artífice da tentativa de impedimento que deu em renúncia, e passado pela Chancelaria e pelo Ministério da Fazenda no mandato-tampão de Itamar Franco, do qual foi um dos articuladores mais notórios e importantes, venceu a eleição presidencial.

A alavanca de Arquimedes que o levou de uma cadeira incerta no Congresso ao principal gabinete do Palácio do Planalto foi o Plano Real. Na chefia de Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Gustavo Franco, ele desistiu de pôr o ovo de Colombo de pé e, em vez disso, fritou uma suculenta omelete. Hoje tudo isso parece óbvio. Mas, à época, não o era. O confronto entre desenvolvimentistas e heterodoxos (mais tarde satanizados como "neoliberais") atiçava o fogo que tecia a cortina de fumaça que impedia a visão do óbvio: a redenção do assalariado passava forçosamente pelo fim da febre inflacionária, causa da doença econômica que enriquecia os ricos e empobrecia os pobres com a perda do valor de compra da moeda. A familiaridade do professor Aloizio Mercadante Oliva com a teoria econômica não evitou que ele cometesse uma das mais célebres batatadas da política econômica no Brasil: garantiu a seu líder e candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva que a moeda forte era um estelionato eleitoral. E, no Ministério da Fazenda de Itamar, seu colega professor promoveu a maior revolução social da História do Brasil. Com isso, tornou-se o caso raro de sociólogo que virou tese e político que saiu do zero para o infinito num átimo.

Da mesma forma, contudo, que disparou do anonimato para a glória, mergulhou no ostracismo em idêntica velocidade com que escalou até o topo. Patrono da reeleição, instituto incomum e renegado na política brasileira, aposentou-se como o alvo preferencial dos adversários e a companhia mais indesejável dos companheiros de jornada. De posse do sucesso da estabilidade monetária, que antes rejeitavam, os petistas apedrejaram sua herança, dada como maldita, e com esse refrão Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu duas vezes consecutivas e fez sucessora uma candidata improvável, tirada da cartola de mágico, Dilma Rousseff, provando, na prática, que na política, ao contrário do que reza o bom senso comum, nem sempre fatos se impõem a argumentos enganosos.

Se os fados são caprichosos com qualquer um, mostraram sê-lo mais no que se refere ao filho de general que se tornou figadal inimigo do regime militar e ao mero assessor que chegou ao posto que caciques como Ulysses Guimarães, Miguel Arraes e Leonel Brizola almejaram, mas nunca alcançaram. Agora, ao atingir, serelepe, o oitavo decênio de existência, viu-se subitamente reconhecido pela adversária da qual menos podia esperar um gesto amistoso. E esse inesperado reconhecimento foi lavrado em documento em papel timbrado da Presidência na elogiosa carta que Dilma Rousseff lhe enviou cumprimentando-o pela efeméride. No texto, reproduzido no site do ex-presidente e nos jornais, Dilma elogiou o "acadêmico inovador", "político habilidoso" e "presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica", jogando no lixo o discurso da "herança maldita", repetido ad nauseam nos próprios palanques.

Dilma constatou que o antecessor apostou no "diálogo como força motriz da política" e "foi essencial para a consolidação da democracia brasileira". E acrescentou: "Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas justamente por isso maior é a minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias". Os correligionários do elogiado comemoraram o fato como se fosse um triunfo eleitoral, esquecendo-se de que nunca nenhum deles teve humildade e tirocínio para reconhecer os feitos de Fernando Henrique como a adversária o fez.

O oportuno reconhecimento, antecipando o registro histórico desapaixonado que resgatará o papel do acadêmico no exercício da Presidência, está obviamente acima das querelas do cotidiano do poder e da política. Embora tenha sido divulgado dias depois da ida de Lula a Brasília, onde ele foi buscar lã e saiu tosquiado no episódio que terminou com a defenestração de dois protegidos do ex-presidente, Antônio Palocci e Luiz Sérgio, o documento não deve ser reduzido a um movimento do minueto da relação entre padrinho e afilhada. Demonstrando que até pode ter perdido o pelo, mas nunca a manha, o lobo de Garanhuns arreganhou os dentes, exigindo da companheirada fidelidade à sucessora que elegeu, dando a entender que não saiu da sintonia da presidente.

De qualquer maneira, Dilma saiu bem na foto ao perceber que o poder, mesmo quando conquistado com as notórias falsificações do marketing político, permite a quem o conquista tornar-se maior ao reconhecer o mérito alheio. Com isso, mesmo que essa não tenha sido sua intenção, ministrou uma lição a seu professor, que perdeu uma oportunidade de se mostrar à altura da veneração popular que conquistou, e a seus opositores, incapazes de perceber o óbvio até quando este vem se manifestar ao alcance do nariz.

ELENA LANDAU - O piano e o banquinho


O piano e o banquinho
ELENA LANDAU
O Estado de S.Paulo - 22/06/11

Há mais de três anos os agentes do setor elétrico vêm discutindo o tema da prorrogação das concessões de serviço público em razão da grande concentração de vencimentos de prazo de contratos em 2015. Apesar da importância do assunto, que afeta cerca de 25% do parque hidrelétrico do País e 80% da rede básica de transmissão, o governo até o momento não anunciou sua decisão: se vai prorrogar as concessões, o que exige mudança legislativa, ou licitar, como ditam as normas atuais.

Nas últimas semanas, entretanto, notícias isoladas vêm sugerindo que a decisão foi tomada no sentido da prorrogação. Ela já era esperada por muitos, porque dificilmente um governo de cunho estatizante submeteria os principais ativos do grupo Eletrobrás a um processo de privatização implícito na opção pela licitação. Aqui a decisão foi política.

Tais notícias, no entanto, nada dizem sobre como será feita essa prorrogação. E aqui a decisão tem de ser técnica, pois dos detalhes depende o futuro do setor. Nenhum comentário foi feito ainda sobre questões complexas como a avaliação da depreciação dos ativos, o tipo de renovação onerosa que inevitavelmente correrá, o preço da energia a ser vendida com a renovação dos contratos, a destinação dessa energia, e assim por diante.

Mas um mantra vem sendo repetido pelas autoridades do setor: a renovação das concessões contribuirá significativamente para a modicidade tarifária. Pode até ser um desejo do governo, mas, dadas as condições de temperatura e pressão atuais, dificilmente ele será atendido. E o custo de se impor esse objetivo a qualquer preço pode ser muito superior aos benefícios obtidos sobre a tarifa efetivamente paga pelo usuário final do serviço.

Meu ceticismo tem distintas origens. Primeiro, porque não é verdade que as usinas que estão com contratos as vencer estejam todas depreciadas. Criou-se esse mito de que o consumidor já pagou a conta, mas o próprio órgão regulador, em casos recentes de pedidos de prorrogação, reconheceu ativos a serem depreciados de usinas muito antigas. Ou seja, antiguidade não garante depreciação integral dos ativos. O tema é complexo e merece ser tratado como tal.

Segundo, porque o governo vem usando como paradigma preços decrescentes dos leilões de energia, criando a falsa ilusão de que é possível obter custos marginais decrescentes na geração de energia. Este resultado contraria lei básica de economia e o mágico não pode acreditar na própria mágica. Há de haver uma explicação. E ela é simples: levando em consideração os contratos para o mercado livre em cada leilão e as características de cada usina, é fácil verificar que o preço médio e os custos de cada empreendimento não são cadentes. Ressalte-se que em muitos casos os leilões usados como paradigmas são projetos estruturantes com características muito particulares, destacando-se: são projetos de desenvolvimento regional e, por isso, receberam condições de financiamento extremamente favoráveis do governo federal.

Terceiro, porque a participação do preço dessa energia a ser renovada na composição final da tarifa é muito pequena. Ou seja, estrangular financeiramente as concessionárias não é a forma mais eficiente de reduzir a tarifa.

Por último, as tarifas de energia elétrica no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Isso não é bom, claro. O usuário paga muito por um serviço essencial, a indústria nacional perde competitividade e os índices de preços ficam pressionados. Reduzi-las deve ser o objetivo permanente do governo. A questão é como.

De cada R$ 100 pagos na conta de luz, metade se divide entre a remuneração dos serviços de transmissão e distribuição e a compra de energia - esta última parcela responde por cerca de 25% da tarifa. A outra parte vai para encargos e tributos do sistema, com o agravante de que não há transparência na utilização dos imensos recursos arrecadados. Ou seja, o usuário não sabe o que está financiando.

Como os contratos de concessão a serem prorrogados respondem por 30% da energia comercializada no mercado cativo, fazendo uma conta de padaria se verifica que apenas 7,5% do total da conta de luz poderá ser influenciado pelo processo de prorrogação. E isso se 100% dos contratos renovados forem para mercado cativo. Mas se mantivermos a participação do mercado livre de hoje, de 25%, nesses contratos, esse porcentual se reduziria para algo como 5,5%.

Preços artificiais nos contratos a serem prorrogados trazem impactos negativos sobre a saúde das empresas, com consequências sobre sua capacidade de investimento, afetando em última análise a própria segurança do sistema. Ou seja, a conta deverá ser paga por alguém, se não for pelo usuário, será pelo contribuinte, porque o Tesouro terá de capitalizar a Eletrobrás de forma a evitar sua perda de capacidade de investimento, com impacto negativo sobre a política fiscal e os juros. Mas devemos lembrar que empresas estatais estaduais do porte da Cesp, da Cemig e da Copel também possuem importantes ativos com contratos a vencer e a União, ainda que dona dos ativos concedidos, não pode impor prejuízo aos Tesouros estaduais.

Ao mesmo tempo que a espada pende sobre a cabeça dessas empresas, o governo aumentou o peso dos encargos nas tarifas, renovando a Reserva Global de Reversão (RGR). O único movimento no sentido de desoneração da energia feito pelo governo federal foi começar uma campanha para a redução do ICMS, o que é positivo, mas sobre o qual não tem nenhuma ingerência, já que se trata de imposto estadual.

Muito melhor do que tornar inviáveis importantes empresas geradoras de energia do País seria começar a desonerar de fato o serviço de energia elétrica, atuando sobre os encargos e tributos que incidem sobre ele. Mas o governo parece preferir puxar o piano a andar com o banquinho.

ROBERTO DaMATTA - O problema do passado


O problema do passado
ROBERTO DaMATTA
O Globo - 22/06/2011


Meu título ideal seria "o problema do passado e o passado como problema", mas ele é grande demais para o jornal que vai embrulhar as batatas dos vencedores. Ou seja: os "anos atrás" (e como poderiam estar na frente?), esse cacófato que forma ao lado do "escapei do pior" o par de burros de nossa insensibilidade para com uma escrita atenta e que, encarnados na vontade de perpetuar até a eternidade certos documentos, é o nosso novo problema.

Outro nome cogitado foi "uma teoria da ferida". Minha inspiração vem da justificativa do presidente do Senado, José Sarney, ao racionalizar a sua adesão a evitar que certos documentos pudessem ser abertos a nós, os cidadãos comuns dessa sociedade a quem tanto ele, Sarney, quando todos os chamados "órgãos de controle" e todos os arquivos, bem como todos os tijolos, mesas, papéis e funcionários do estado, têm o dever de honrar e servir. E aqui está o nó da questão.

Pois para José Sarney, como para Fernando Collor, soltar alguns documentos da sua prisão dos anais do poder abre feridas. E como um dos donos do poder à brasileira, ele invoca uma teoria de inspiração eugenista (que tem sido a base reacionária para justificar o nosso racismo) para mais uma vez tentar impedir o fim da conversa de um Brasil dos patrões e barões (que sussurra segredos) com o Brasilzão igualitário que exige todos os diálogos. Não apenas para tentar botar na cadeia os que usam cargos públicos para reencarnar baronatos, mas para ter uma maior compreensão dos seus caminhos. Para ver o que se esconde debaixo do tapete.

Com a sua "teoria da ferida", Sarney revela como estamos muito mais no "1984" de George Orwell do que no 1848 de Marx e Engels. Se, com o seu manifesto, eles queriam liberar as forças sociais, o primeiro vislumbrou um mundo no qual quem dominava o presente subjugava o passado. Seu herói, um certo Winston Smith, membro de um já brasileiro Ministério da Verdade, exercia a função sugerida por esses nobres ex-presidentes e outros potentados da nossa cena política: reescrever o passado de acordo com o interesse do Partido. Coisa realizada por esse mesmo Sarney com o mesmo argumento há algumas semanas, quando tentou suprimir do painel histórico do Senado o impeachment de Collor.

O uso do eterno como dimensão de legitimidade é um dado das sociedades hierárquicas. Em vez de discutir o passado elas preferem o seu enterro e a sua supressão. Não foi isso que nos fez queimar os arquivos da escravidão, o que, dizem alguns historiadores, evitou indenizar os escravocratas naquilo que seria uma "bolsa da escravaria", mas que - e esse é o ponto - impediu conhecer melhor as implicações de um estilo de vida escravocrata?

Em sistemas onde tal tendência coexiste com a dimensão igualitária e competitiva, como é o caso do Brasil, esse traço transforma-se numa borra. É uma excrescência reacionária que contradiz brutalmente toda a utopia do partido que elegeu a primeira mulher presidenta da República. Trata-se de uma negação da história, que - em vez de ser lida como algo que foi feito por pessoas em certos contextos e sob o governo de conceitos, crenças e valores, podendo ser avaliada e, reitero usando a palavra em itálico, compreendida - repete dogmas e promete uma demagógica mudança do presente para não ler um passado que pode ferir, como quer Sarney, ou curar como quer esse cronista de Niterói.

Só os infalíveis são prisioneiros do eterno. Deus é eterno e por isso nada lhe é estranho. Ora, a democracia igualitária nasce justamente pela relativização do eterno e pela presença do humano, que é necessariamente finito, falacioso, interesseiro, transitório, doente, deprimido e também e, por isso mesmo, confiante e orgulhoso de sua condição. Eternizar é esquecer, e esquecer é deixar de lembrar. Há doenças que impedem a lembrança, mas, no caso do Brasil de Dilma, Sarney e Collor, trata-se de bloquear a lembrança por decreto! Por um ato do Estado que se coloca como um pedaço independente da sociedade e dos valores que governam o todo do qual esse Estado, quer ele queira ou não, faz parte.

Essa eternização de papéis que escapam das classificações normais reitera algo que percorre minha obra. O fato de que, no Brasil, o Estado se situa como um pedaço independente da sociedade. Parodiando Pascal, como um coração, que, no entanto, tem razões que a sociedade desconhece.

Trata-se, mais uma vez, de uma blindagem. Agora não é mais do chefe da Casa Civil, mas de documentos que, por motivos que escapam do bom senso republicano, deveriam ficar com Deus nessa eternidade que, no fundo, é o nada de onde viemos e para o qual - salvo a fé e a esperança - retornaremos.

O esquecimento é o maior amigo dos poderosos porque ele impede o diálogo entre o dito e o não dito, entre o que se revela e o que se esconde. Tudo o que constitui a reflexividade daquelas mãos que se desenham a si mesmas de Escher, sem a qual não existe alma e humanidade.

Que se blindem os venais que preferem honrar o sigilo dado às empresas para as quais deram consultorias milionárias, deixando de lado o papel honroso de servidor do povo brasileiro como chefe da Casa Civil, entendemos todos numa era onde o assalto é feito em rede, mas que se imunize e higienize o que é de todos ultrapassa o bom-senso. Mesmo nesse mundo lulo-petista onde reina, até palavras e ações em contrário, a mendacidade.

ROLF KUNTZ - Desmandos e calotes


Desmandos e calotes
ROLF KUNTZ 
 O Estado de S.Paulo

Os credores do Tesouro podem ficar mais tranquilos que os cidadãos e contribuintes brasileiros. O risco de calote soberano é hoje menor do que até há pouco tempo, segundo a agência de classificação Moody"s. Mas outro tipo de calote, o descumprimento das obrigações normais de governo, continua a marcar a rotina da vida nacional, enquanto prosseguem o desperdício e o desvio de recursos públicos. Segundo a Moody"s, a nota conferida ao País poderá subir de novo. Enquanto essa notícia era divulgada, parlamentares do PMDB se preparavam para cobrar da presidente Dilma Rousseff 48 postos de segundo e terceiro escalões. Na semana anterior, a presidente já havia autorizado a negociadora oficial do Palácio do Planalto, ministra Ideli Salvatti, a cuidar com maior benevolência da liberação de verbas para projetos da base aliada.

A cobrança de 48 cargos de segundo e terceiro escalões é até moderada, num país onde a máquina pública é tratada como patrimônio dos grupos no poder. Alguns Ministérios, como o da Fazenda, compõem a chamada cota presidencial, como se os aliados, por algum misterioso critério de justiça, tivessem direito a uma grande fatia da administração. Se a presidente esperava governar sem distribuição de postos e dos benefícios impropriamente associados ao poder, deve ter perdido a ilusão.

Não cabe à Moody"s e a outras agências de classificação de risco examinar e avaliar a divisão da pizza formada pelos postos da administração direta e indireta, nem a distribuição do enorme bolo de recursos públicos. Seu problema é saber se sobrará o bastante para a liquidação dos empréstimos. Esse julgamento restrito nem sempre tem dado certo, como provaram muitas crises financeiras das últimas duas décadas.

Mas a divisão do butim e a destinação do dinheiro público fazem muita diferença para cidadãos e contribuintes. Milhões de famílias pobres conseguiram sobreviver com menos aperto, nos últimos anos, graças a programas de transferência de renda. A maior parte voltará à miséria, se a ajuda for interrompida, e a presidente Dilma Rousseff parece haver reconhecido esse fato. Mas o combate à pobreza e a promoção do desenvolvimento seriam muito mais eficientes se outros padrões orientassem a gestão pública e menos dinheiro fosse desperdiçado.

Em 2010, a União concedeu benefícios fiscais no valor de R$ 143,9 bilhões. Esse montante supera "a soma dos orçamentos das políticas de saúde, educação e assistência", segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com o relatório encaminhado ao Congresso, faltam indicadores e prestações de contas para se avaliar o uso desse dinheiro. Também falta controle da aplicação das verbas transferidas voluntariamente a Estados, municípios e instituições privadas "sem fins lucrativos".

Essas transferências cresceram 94% em cinco anos e chegaram no ano passado a cerca de R$ 30 bilhões. Entre 2009 e 2010 aumentou 8% o número de prestações de contas não apresentadas no prazo legal. O número de contas apresentadas e não analisadas diminuiu 2% e caiu para 43 mil, mas seu valor aumentou 13% e ficou próximo de R$ 18 bilhões, segundo gráfico incluído no relatório. Outra área especialmente obscura, e muito perigosa, por envolver endividamento federal, é a das transferências do Tesouro ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco recebeu cerca de R$ 200 bilhões em créditos, em 2009 e 2010, e mais R$ 30 bilhões foram liberados neste ano, mas o custo dos subsídios permanece misterioso.

Cidadãos e contribuintes medianamente informados sobre a vida pública brasileira têm razões mais que suficientes para viver em pânico. No ano passado, a tramitação do projeto de lei orçamentária começou com escândalos de entidades fantasmas e beneficiários laranjas. Neste ano, surpreendeu-se o Ministério da Educação, mais de uma vez, gastando dinheiro com material didático de baixa qualidade. A gestão das obras da Copa 2014 e da Olimpíada 2016 continua ruim - como também já observou o TCU. O atraso dos investimentos vai resultar em custos inflados, como ocorreu nos Jogos Pan-Americanos.

A tentativa de impor sigilo aos orçamentos combina com esse estado de coisas. A manobra pode fracassar, porque foi denunciada e a imprensa chamou a atenção para o assunto. O controle dos meios de comunicação, mais uma vez defendido pelo ex-presidente Lula, em reunião com blogueiros amigos, ainda não foi implantado. Mas a ideia continua na pauta dos mensaleiros e de seus defensores. Há muito mais na gestão das finanças públicas brasileiras do que sonha a filosofia das agências de risco.

MERVAL PEREIRA - Desigualdade persiste


Desigualdade persiste
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 22/06/11 

Embora seja inegável que houve uma tendência de queda da desigualdade da renda no Brasil durante o governo Lula, essa redução da desigualdade é fenômeno praticamente generalizado na América Latina no período 2003-08. O Brasil experimenta melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, já que sai da 4ª posição no ranking mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.
No conjunto dos países que mostram melhores resultados quanto à redução da desigualdade, o Brasil ocupa a 3ª posição, atrás da Venezuela (projeto de orientação socialista) e do Peru (projeto liberal), o que demonstra que os programas sociais não encontraram barreiras ideológicas à sua execução.
Essas são algumas das conclusões do trabalho "Redução da desigualdade da renda no governo Lula - Análise comparativa", do professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O estudo baseia-se em painel de 12 países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
As variáveis para análise são o coeficiente de Gini, que mede a distribuição de renda e varia de 0 (completa igualdade) a 100 (máxima concentração); e a renda média per capita dos domicílios dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres, de acordo com dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No painel de 12 países, somente Honduras não teve redução dos índices de desigualdade. As maiores quedas do coeficiente de Gini ocorreram na Venezuela, no Peru e no Brasil, enquanto as maiores reduções na comparação entre a renda média dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres aconteceram na Bolívia, na Venezuela e no Brasil.
Embora tenha ocorrido queda da desigualdade, de modo geral, os países da América Latina continuam com coeficientes de Gini muito mais elevados do que a média mundial.
Por exemplo, na primeira década do século XXI, o coeficiente médio de Gini para os países do painel é de 51,6 enquanto a média mundial é de 39,5.
Brasil, Honduras, Bolívia e Colômbia têm os mais elevados coeficientes de desigualdade na América Latina, que tem, na média, elevados coeficientes de desigualdade pelos padrões internacionais.
O professor Reinaldo Gonçalves diz que a evidência empírica disponível aponta para dois fatos marcantes na América Latina na primeira década do século XXI.
O primeiro é o comportamento pró-cíclico da renda da região, que acompanha as fases do ciclo econômico internacional: a fase descendente em 2001-02, a extraordinária expansão de 2003 até meados de 2008, a crise de 2008-09 e a recuperação em 2010.
Esse fato é determinante da evolução dos indicadores de desigualdade. No período 2001-10, os países do painel que têm taxa de crescimento do PIB real per capita acima da média são Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Chile e Colômbia.
O Brasil tem taxa média anual de crescimento do PIB real per capita de 2,2%, inferior à média do painel.
O segundo fato relevante é a tendência de queda da desigualdade da renda na região. Após elevação em 2000-02, a queda é evidente no período 2003-08, que marcou a fase ascendente do ciclo econômico internacional.
Para os países do painel, a média do coeficiente de Gini cai de 55,1 em 2002 para 51,0 em 2008. No entanto, em 2009 há reversão da média do coeficiente de Gini, que aumenta para 51,3.
Os países que têm os maiores graus de desigualdade são os mesmos nas últimas duas décadas: Colômbia, Bolívia, Honduras, Brasil, Paraguai e Chile.
Nesse período houve algumas mudanças de posição relativa: por exemplo, o Brasil passou da mais elevada desigualdade em meados dos anos 1990 para a 4ª posição no painel na primeira década do século XXI.
Apesar de haver queda da desigualdade na América Latina na primeira metade do século XXI, os países da região continuam com os mais elevados indicadores de desigualdade de renda no mundo.
Em meados desta década, quatro entre os cinco países com maior desigualdade estão na região (Colômbia, Bolívia, Honduras e Brasil), e no conjunto dos dez países mais desiguais há oito países latino-americanos.
Segundo Reinaldo Gonçalves, o imperativo da governabilidade e a perpetuação no poder são os determinantes principais das políticas redistributivas na região, independentemente do modelo econômico-político vigente em cada país.
As políticas redistributivas são funcionais na luta pelo poder político, mas, ressalta o trabalho de Gonçalves, sem mudanças estruturais, como a reforma tributária, por exemplo, as principais políticas redistributivas na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, seguem a "linha de menor resistência", visto que envolvem aumento do gasto público social e do salário mínimo real.
No período 2003-08, essas políticas foram condicionadas, em grande medida, pela evolução favorável da economia mundial, via afrouxamento da restrição das contas externas e das contas públicas.
A crise global em 2008-09 provocou reversão ou interrupção da tendência de queda da desigualdade na região, mas, ressalta o estudo, em 2009 a desigualdade diminui no Brasil como resultado do extraordinário crescimento do salário mínimo real e da expansão dos gastos públicos sociais no contexto do ciclo político e eleitoral, e da política de estabilização frente à crise global no período.

MÔNICA BERGAMO - TOQUE DE ELITE

TOQUE DE ELITE
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

Pedro Bromfman fez a trilha sonora de "Tropa de Elite 2", que será lançada em CD instrumental nos EUA, onde vive há dez anos; além de filmes, ele também musica jogos de videogame como "Max Payne 3" e documentários como "Eles Mataram Irmã Dorothy"

SER OU NÃO SER

O promotor Airton Grazzioli, curador de fundações de SP, enviou à Fundação Nemirovsky uma série de questionamentos sobre a nomeação de José Dirceu como patrono da coleção, um dos mais importantes acervos modernistas do país. Ele quer saber se houve deliberação do conselho ou da diretoria para a escolha. Questiona também a nomeação, já que o cargo de patrono "não existe". Dirceu não poderia, portanto, "se apresentar como representante" da entidade.

LAR

Grazzioli também é contra a ideia de Dirceu de montar um Museu Nemirovsky, transferindo as obras da Estação Pinacoteca para uma futura sede da entidade.

HOMENAGEM
"O cargo é honorífico, uma homenagem da família Nemirovsky e de conselheiros a ele. Dirceu, além de patrono, será também o nosso consultor", diz Paulo Leme, marido de Bia Nemirovsky, herdeira da coleção.

A BELA DEU MULTA
O hotel Tivoli foi multado em R$ 872,50 depois que a atriz Catherine Deneuve desrespeitou a Lei Antifumo no local. Ela acendeu dois cigarros durante uma entrevista quando visitou SP. O estabelecimento não comenta.

BICADAS
Mesmo depois de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) dizer que é contra uma CPI para investigar o PSD do prefeito Gilberto Kassab, o vereador tucano Tião Farias, ligado ao governador, assinou o pedido do PT para a instalação da comissão. "A declaração dele não tem nada a ver com a minha atitude", diz Farias.

BONS AMIGOS
Um dia antes de completar 80 anos, Fernando Henrique Cardoso passou mais de cinco horas com o ministro Fernando Haddad, da Educação. A conversa começou no instituto de FHC, em SP, e se prolongou num jantar.

TÁ DEMITIDO

A ideia de líderes do DEM de sondarem o publicitário Roberto Justus para concorrer à Prefeitura de SP já sofre bombardeio dentro da própria legenda. "A ideia é ridícula. E a chance de isso acontecer é zero. Ele nem é dos quadros do partido", diz Alexandre de Moraes, presidente municipal do DEM.

SÓ POR US$ 500
O ator inglês Stephen Fry, de "V de Vingança" e da versão 3D de "Alice no País das Maravilhas", virá para a Parada LGBT. Fry filma documentário sobre a cultura gay no mundo e quer se travestir no domingo. Sua equipe pediu assessoria da drag queen Renata Perón. "Me ofereceram US$ 100! Não vou ajudar o gringo por menos de US$ 500!", diz Perón.

CAMINHO DAS PEDRAS
A Defensoria Pública de SP terá amanhã, na Feira Cultural LGBT, um estande com orientações sobre como homossexuais podem obter o contrato de união estável.

ARTE NATURAL
A artista plástica e violinista Anca Gavris abriu anteontem a mostra "Arte na Natureza e a Natureza da Arte", com 12 fotos e 13 pinturas. O curador Jacob Klintowitz, o advogado Luiz Carlos Drigo e o artista Claudio Tozzi foram ao Espaço Cultural Citi, na avenida Paulista.

MODA TAMANHO PP
Marcas infantis apresentaram suas coleções para o verão 2012 na abertura do Salão de Negócios de Moda Infantil. Foram à Villa Daslu a designer Fabiana Malavazi, a empresária Flávia Rotondo e Thiago Arikawa, entre outros.

BANDA DO BEM

A 18ª Vara do Trabalho de Salvador removeu o segredo de Justiça em que corria o processo contra Ivete Sangalo movido por seu ex-baterista Antônio da Silva, o Toinho Batera. Com isso, vem a público a quebra de sigilo bancário da Banda do Bem, que toca com a cantora e é administrada por seu cunhado, Luiz Paulo Nunes.

BANDA DO BEM 2
A Receita Federal abriu investigação contra a banda "para verificação de possíveis indícios de irregularidade fiscal". O baterista diz que os músicos eram laranjas. O advogado da cantora, Valton Pessoa, afirma que a "discussão é exclusivamente trabalhista. Os músicos têm um regime diferenciado de trabalho e por essa razão não são tratados como empregados".

FLOR NA ROTATÓRIA

A prefeitura aprovou projeto da Ame Jardins para transformar rotatórias do bairro em canteiros. Cruzamentos com "tartarugas" terão vegetação alta cercada por concreto, aumentando a absorção de água da chuva.

CURTO-CIRCUITO


Matthew George rege hoje a Banda Sinfônica, às 20h30, no Theatro São Pedro. 8 anos.

O Abraço Coletivo à Paulista acontece hoje às 12h.

A cantora Thalma de Freitas fará pocket show no 1º Torneio Beneficente de Polo Einstein no sábado, no Helvetia Polo Country Club, em Indaiatuba (SP).

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

JOSÉ SIMÃO - Santos! Já tem perereca moicano!


Santos! Já tem perereca moicano!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11 

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do país da piada pronta: "DEM quer Roberto Justus como prefeito de São Paulo". Rarará! Tá demitido! Ops, tão DEMitidos! Rarará! E como é que a filha da Garota de Ipanema pode ser primeira-dama de São Paulo?
E o Neymar Cai Cai? Diz que ele tá sofrendo bullying em campo! Rarará! E já tem até poodle Neymar. É verdade! Uma santista fanática fez um corte moicano no poodle! Como diz uma amiga minha: "Tô louca pra fazer um moicano no Ganso". No ganso do meu marido!
E já imaginou perereca de santista com corte moicano? "A senhora quer bigodinho de Hitler, asa delta ou moicano?" Rarará!
E o Aécio? O cavalo caiu do Aécio. O cavalo passa bem! E sabe por que o Aécio caiu do cavalo? O Eramos6 sabe: porque tucano só sabe ficar em cima do muro, não em cima do cavalo. Rarará!
E diz que na queda ele rompeu três alianças e quebrou quatro acordos políticos. E agora diz que vai ficar dez dias de molho. Com batatas ao murro, azeite, duas cebolas picadas e um dente de alho. Rarará!
Receita mineira do Aécio no molho de ái com ói: cinco dentes de ái, três cuié de ói e um aécio. Casca o ái, quenta o ói e foga o ái no ói quente.
E esse partido do Kassab, PSD? Partido Sem Direção mesmo. Tem até morto! Além dele?! Rarará! E um leitor me disse que PSD quer dizer Partido dos Só Desistentes. Só tem desistente. Tem que desistir de um partido pra se filiar!
E a charge do Thomate com o Kassab convidando os políticos pro partido dele: "Nobres colegas esquizofrênicos, uni-vos". E ele ainda deu nota dez pra administração dele. Dezmiolada, dezregulada e dezpencada! É mole? É mole, mas sobe!
E mais uma série de Os Predestinados! Direto de Moema, a psicanalista Janete NOYA! "Ah, doutora Janete, tá me dando uma noia!"
E direto de São Carlos, a psicóloga Silvia PÂNICO! Deve ser pra curar síndrome de pânico! E aqui em Sampa tem um psiquiatra chamado Adriano PREDEUS! Deve ser pra curar o Galvão Bueno, que pensa que é Deus. Ops, pensa não, tem certeza. Um predeustinado. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Meta da Petrobras estimula produção da 3M
MARIA CRISTINA FRIAS
O GLOBO - 22/06/11

A necessidade da Petrobras comprar entre 65% e 70% de conteúdo nacional estimulou a 3M a fabricar novos produtos no Brasil.
A empresa produzirá microesferas de vidro resistentes a alta pressão em sua sede de Ribeirão Preto (SP), que recebeu investimentos de R$ 30,3 milhões neste ano.
"Já queríamos diversificar a produção no país. A meta da Petrobras acelerou nossos planos", diz o presidente da 3M do Brasil, Michael Vale.
O produto, denominado "glass bubble", é usado no cimento, na tubulação que desce até os poços de petróleo e como isolante térmico.
A fabricação será iniciada no segundo semestre.
"Só há três operações desse tipo no mundo. Venderemos para a Petrobras diretamente e por meio de fornecedores, que combinam o produto com outros materiais."
As vendas da empresa no Brasil só são inferiores às registradas nos EUA, no Japão, na China, na Coreia do Sul e na Alemanha.
A companhia prevê crescimento de até 14% neste ano. "Cresceremos três vezes mais que o PIB [Produto Interno Bruto] até 2016", diz Vale.
A 3M atua em seis segmentos e quer diversificar as vendas no país. A divisão de transporte responde por 40% da receita no Brasil. "O brasileiro tem contato com nossos produtos sem saber. Vendemos desde fitas para fraldas até estetoscópios."

DESEMBOLSO AMBIENTAL

Os consumidores dos países emergentes estão mais dispostos a pagar mais por um produto "verde" do que os dos países desenvolvidos, segundo pesquisa da consultoria Penn Schoen Berland com 9.000 pessoas.
No Brasil, 48% dos consumidores dizem que gastariam entre 11% e 30% a mais por um produto "verde".
Na China, 95% afirmam que também pagariam mais caro (com 55% deles propensos a desembolsar entre 11% e 30% a mais).
O estudo mostra ainda que 22% dos brasileiros dizem acreditar que o setor de tecnologia é o que dá mais atenção aos produtos "verdes".

'AL DENTE'

O interesse de companhias italianas no Brasil continua intenso. Representantes da indústria e do governo da região de Perugia organizam no dia 30 uma apresentação sobre oportunidades de investimentos no país.
As cidades de Bergamo e Torino já tinham promovido reuniões semelhantes com empresários e executivos na semana retrasada.
Os encontros em Turim e Trieste, também previstos para este mês, porém, foram adiados para setembro, após as férias de verão na Europa.

Quites 
A seguradora Aegon pagou a última parcela dos € 3 bilhões recebidos do BC Holandês na crise de 2008. No Brasil, a seguradora possui 50% da Mongeral Aegon.

Localização 
A fabricante de GPS Mio Technology lançará dois modelos no Brasil. Os lançamentos são parte da estratégia para manter o crescimento de 173%, de 2010.

TECNOLOGIA MÓVEL
O setor hoteleiro da América do Norte e da Europa planeja aumentar seus investimentos em tecnologias sem fio neste ano, de acordo com pesquisa da consultoria Research Now.
Dos entrevistados, 56% disseram que investirão mais em tecnologia móvel para poder administrar um maior volume de dados e atender a demanda de clientes por acesso de alta velocidade.
O estudo mostra que 78% dos executivos acham que investir no setor garante vantagens competitivas. Eles afirmam que as tecnologias aumentam a eficiência dos funcionários.
A maioria das empresas (55%) também constatou resultado melhor nas vendas.
O estudo foi encomendado pela Motorola Solutions.

Telemarketing quer parceria com o governo para educação


As empresas de telemarketing e de centrais de relacionamento com o cliente entregaram documento ao chefe de gabinete da presidente Dilma, Giles Azevedo, reivindicando melhorias ao setor.
A proposta é criar parceria das empresas com o governo para melhorar a educação básica dos jovens.
O documento foi assinado pelo Sintelmark (sindicato paulista das empresas de telemarketing) e pela Abrarec (associação das relações empresa-cliente).
"O telemarketing é o primeiro emprego dos jovens, e eles estão ingressando no mercado sem conhecer bem o português e a aritmética", diz Stan Braz, diretor-executivo das duas instituições.
Pelo projeto, as empresas intensificariam cursos de educação básica e de qualificação profissional e, em contrapartida, o governo desoneraria a folha de pagamento do setor, segundo Braz.
O mercado de relacionamento emprega cerca de 1,4 milhão de profissionais no país, segundo o Sintelmark.

Pé na tábua 
A norte-americana de calçados Crocs abrirá a primeira loja própria no Brasil, em julho, em SP. Será a segunda na América Latina. A primeira fica em Buenos Aires.

Inverno
A pousada de luxo L.A.H. Hostellerie será inaugurada nesta semana em Campos do Jordão (SP). Com investimento de R$ 6 milhões, serão apenas nove suítes.

Ingleses 
A brasileira Dextera, consultoria de gestão de mudança organizacional, fechou parceria com a britânica Changefirst. A Dextera passa a representar a britânica na América Latina.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

DORA KRAMER - Jabuti maroto.

Jabuti maroto 
DORA KRAMER
O ESTADÃO -  22/06/11

A presidente Dilma Rousseff tem dois caminhos a seguir assim que a Medida Provisória 527 seguir para exame do Senado. 

Pode recuar da ideia de instituir o sigilo sobre os orçamentos das obras para a Copa e a Olimpíada ou caminhar para uma derrota certa e talvez mais acachapante que a imposta pela Câmara no Código Florestal.

A julgar pela manifestação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contrária à peculiar fórmula proposta pelo Palácio do Planalto, é possível nessa altura que o recuo já esteja nos planos do governo.

Afinal, Sarney não é dado a independências nem a confrontos. Mas, se não é jogo combinado, é um aviso de quem amigo é. 

A declaração não deixa margem a dúvidas: o presidente do Senado diz que o Regime Diferenciado de Contratações não passa pela Casa com o dispositivo do segredo.

Defensor de outros sigilos — dos atos secretos e dos documentos oficiais ultrassecretos —, Sarney não diria o que disse se não tivesse a lhe respaldar um retrato do estado de espírito não só do colegiado que preside como também da opinião pública.

Portanto, esse problema está praticamente resolvido. Só não está completamente solucionado porque o governo poderá tentar reformular a proposta de maneira menos explícita, mas que ao fim e ao cabo acabe preservando o sentido original do “jabuti”.

Ele não foi posto onde está por acaso: resultou de ato de um deputado do PT, José Guimarães (CE), na noite da votação na Câmara e logo após uma reunião de líderes de partidos governistas.

Mais: foi defendido pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, a propósito de atribuir a repercussão negativa a um “mal entendido”.

Tanto houve se entendeu tudo muito bem que o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), já precisou anunciar a disposição da base governista de “promover ajustes” na MP, “mudar alguma coisa no texto” a fim de evitar que a presidente assuma o desgaste do veto.

Note-se que Jucá embola a argumentação colocando as coisas de forma a inverter o ônus, como se o sigilo tivesse surgido por iniciativa da Câmara e não por inspiração do Planalto.

Falou como se o veto rendesse um malefício político à presidente quando, na verdade, ele seria um benefício. Mas isso só no caso de todo mundo esquecer que a própria Dilma defendeu o sigilo sob a pueril argumentação de que assim se evitaria a formação de cartel entre as grandes empreiteiras.

Ademais, não é sobre a possibilidade de veto que se fala, pois isso seria partir do pressuposto que o Senado aprovaria o texto como está.

O que está posto é algo bem diferente: o imperativo de o governo mudar de posição para escapar da derrota certa. No Congresso e na sociedade.

Trem pagador 
O PT quer instituir o dízimo sobre a verba extra dos parlamentares, destinada a custear despesas decorrentes do exercício do mandato.
O partido alega que é preciso criar um fundo para “atender ao interesse coletivo da bancada”. Seja qual for a justificativa para tentar tornar a proposta mais palatável ao público pagante, o fato é um só: trata-se do desvio do dinheiro para função alheia à destinação original.
Neste aspecto, a voracidade do PT para açambarcar recursos públicos não difere em nada na conduta de parlamentares que empregam a verba em despesas indevidas.
Tais como festa em motel e diárias de hotel em Brasília, conforme indicavam notas apresentadas pelo deputado Pedro Novais (PMDB-MA), ministro do Turismo, e pela então senadora Ideli Salvatti (PT-SC), ministra da Secretaria de Relações Institucionais.

Mercado futuro
Adversários políticos da ministra Gleisi Hoffmann no Paraná reconhecem: se não houver percalços em sua gestão à frente da Casa Civil, ela é candidata, e forte, ao governo do Paraná em 2014.
Se vier a se compor com o tucano Gustavo Fruet para a eleição à prefeitura de Curitiba em 2012, na eventualidade de o ex-deputado deixar o PSDB, Gleisi é tida como imbatível.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN - O último tango em Atenas

O último tango em Atenas
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

Embora a história costume se repetir como farsa, desta vez a dança pode ser a metáfora mais apropriada para mais uma das repetições com que Clio nos brinda. Há, nos desenvolvimentos recentes na Grécia, padrões por demais conhecidos para quem acompanhou de perto a crise argentina, sugerindo que o fim da tragédia grega, como já antecipava Manuel Bandeira, irá terminar num tango argentino.

O tema comum a ambas as crises é a dificuldade do ajuste sob taxas fixas de câmbio potencializada por problemas fiscais. Diga-se a favor da Argentina que, mesmo vivendo um período de baixo crescimento nos anos que antecederam sua crise, as contas fiscais nunca chegaram ao estado grego de deterioração. Pelo contrário, o governo argentino lutou com a costumeira garra para melhorar seu desempenho fiscal, chegando a cortar os salários do funcionalismo e, perto do fim, até as aposentadorias. Por muito menos outros países, Grécia inclusive, já teriam iniciado a mãe de todas as revoltas.

Isto dito, sabia-se desde sempre que, como praticamente toda dívida pública argentina era denominada em moeda estrangeira, o fim da Convertibilidad levaria necessariamente à reestruturação da dívida (calote, para os íntimos).

Por outro lado, a forte queda de preços de commodities entre 1997 e 2002, associada à desvalorização do real em 1999, requeria uma desvalorização real do peso que, sob câmbio fixo, só podia ser atingida pela deflação doméstica. Dada a rigidez para baixo de preços e salários, este mecanismo de ajuste desembocou numa recessão duradoura, reduzindo dramaticamente a receita tributária e colocando o país numa armadilha: mantida a Convertibilidad a recessão continuaria, com consequências desagradáveis para as contas públicas; por outro lado, a desvalorização levaria – como de fato levou – à reestruturação.

Este mesmo dilema se repete na Grécia, agravado, porém, por dois desenvolvimentos. Em primeiro  lugar, o desempenho fiscal heleno é muito pior que o argentino, em parte porque a recessão foi mais profunda, em parte porque o governo grego jamais mostrou a mesma disposição para corrigir o problema. Não bastasse isso, a dificuldade de abandono da taxa de câmbio fixa no caso helênico é muito maior que a enfrentada pelos nossos vizinhos (e os obstáculos à época já eram formidáveis).

Concretamente, a Grécia teria que abandonar o euro, fenômeno inédito desde a criação da moeda comum, e muito raro na história moderna. As dificuldades operacionais desta mudança são quase intransponíveis e levariam, é claro, ao default, incluindo provavelmente a troca da moeda na qual a dívida é denominada.

À luz destas considerações parece ser inevitável alguma forma de reestruturação, embora não esteja claro se esta alcançaria também o financiamento oferecido pela União Europeia e FMI em maio do ano passado. Contudo, se isto é verdade, por que postergar o processo?

A bem da verdade, o principal (se não único) motivo para evitar agora o calote é que os gastos não-financeiros do governo grego ainda superam a arrecadação (há déficit primário), ou seja, mesmo que a Grécia interrompesse o serviço de sua dívida, ainda – em contraste com a Argentina – não teria sequer como pagar suas contas. Neste caso, a ajuste fiscal involuntário seria ainda mais drástico do que a versão hoje em discussão.

Daí as tentativas de postergação. Primeiro o pacote de ajuda, agora propostas para um troca voluntária (ou nem tanto) dos títulos a vencer por outros de prazo algo mais longo, muito similares aomegacanje que ocorreu na Argentina pouco antes do colapso (conforme me lembrou Mario Torós, a quem agradeço). De forma similar, não parecem suficientes para evitar o default.

A análise das consequências de um calote grego fica para o próximo artigo. Por ora basta saber onde terminará a evolução do último tango em Atenas.

ELIO GASPARI - Rodoviária do Rio não é Greta Garbo


Rodoviária do Rio não é Greta Garbo
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o governador Sérgio Cabral precisam conversar, porque um dos dois não sabe em que cidade vive. O alcaide anunciou que pretende transferir a rodoviária que está na zona do porto para o bairro do Irajá, a 18 quilômetros de distância. Já o governo do Estado tem um projeto para a reconstrução do terminal existente, sobre o qual seriam erguidas três torres.

Pelo cheiro da brilhantina, a ideia de revitalizar o terminal é a melhor. Primeiro, porque insere-se na iniciativa de melhoramentos da zona portuária da cidade. Além disso, está perto de uma ferrovia. Sempre que se fala em mudar de lugar um serviço público que atende 1,1 milhão de pessoas por mês, deve-se desconfiar que há algum interesse em mandar a patuleia para longe. Uma rodoviária no centro nervoso da cidade pode ser uma conveniência. A vitalidade de Manhattan deve muito ao fato de as estações centrais de trens e ônibus estarem no coração da ilha. O terminal rodoviário da Rua 42 é o mais movimentado do mundo, e é o mais movimentado do mundo porque a cidade batalhou, abrindo túneis e fazendo obras para mantê-lo ali. Ele serve a 4,5 milhões de passageiros por mês. A cidade cresceu olhando para o movimento do seu povo.

Há pouco houve em São Paulo uma grande discussão em torno da localização de uma estação de metrô no bairro de Higienópolis. Alguns demófobos queriam mandar para outro lugar uma parada de trem que levaria "gente diferenciada" para o pedaço. Felizmente, perderam. A transferência da rodoviária para o Irajá levaria a "gente diferenciada" para longe do Porto Maravilha, um projeto no qual os governos do Estado e da cidade derramam milhões de reais de toda a população.

Nas cidades onde a política de transportes públicos presta atenção na "gente diferenciada", os terminais de ônibus e trens são sempre servidos pelo metrô. No Rio, isso não acontece. Não se trata apenas de escolher entre um lugar e outro. Será preciso comparar os custos das duas integrações. A atual Linha Dois, que vai para o Irajá, não foi projetada para suportar o movimento de passageiros atraídos por uma rodoviária.

O terminal do Irajá pode levar progresso ao bairro, mas também pode degradá-lo, como a Rodoviária Novo Rio contribuiu para a degradação da zona portuária. Os argumentos até agora apresentados pelo prefeito têm generalidades demais e números de menos. Discutindo-os, com estudos e estatísticas sobre a mesa, a cidade melhorará, aprendendo a se ver como é.

O Rio de Janeiro padece de hiperurbanismo. Em vez de se deixar a cidade crescer em paz, adaptando as políticas públicas ao seu desenho natural, a cada geração, redesenha-se tudo. Ao tempo de d. João VI surgiu a ideia de se fazer uma Cidade Nova, direcionando-se o centro para São Cristóvão. Passaram-se duzentos anos e cinco custosos projetos, mas o Rio cresceu em direção ao Sul e para lá não foi.

Nos anos 70 fez sucesso uma peça intitulada Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá . A Divina acabou, muito bem, em Nova York. No Irajá, vivia um Pedro que sonhava ser ela. A rodoviária pode ir para lá, mas, ao contrário de Greta Garbo, deve-se saber por quê.

ANTONIO DELFIM NETTO - Melhor gestão


Melhor gestão
ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11

Temos insistido, nesta coluna, que a ideia ingênua e simplista de que todos os nossos problemas seriam resolvidos com a redução da carga tributária é irrealista. Pela simples e boa razão que ela contraria a preferência "revelada" na Constituição de 1988.
Gostemos ou não, na Assembleia Nacional Constituinte, por seus representantes livremente escolhidos, a sociedade brasileira "revelou" o seu desejo de construir um processo civilizatório apoiado em três pilares:
1º) Um regime republicano onde todos, inclusive o poder incumbente, devem estar sujeitos à mesma lei;
2º) Um sistema de escolha democrático, em que o poder incumbente deve ser submetido, de maneira periódica, ao voto universal absolutamente desimpedido;
3º) Um processo de construção paulatina de uma sociedade razoavelmente justa que amplie, continuamente, a igualdade de oportunidades para todo cidadão pela universalização gratuita do direito à saúde e à educação, sem distinção de qualquer natureza (origem, etnia, religião etc.).
Trata-se de um projeto grandioso (envolve uma necessária dose de utopia) que vale a pena perseguir.
Como é evidente, ele exige uma carga tributária maior que a dos países com o nosso mesmo nível de renda per capita, mas que têm objetivos menos ambiciosos.
Em compensação, tal construção precisa de um Estado enxuto preocupado prioritariamente com:
1º) A eficiência de seus agentes;
2º) O controle rigoroso e exigente das políticas públicas de transferência de renda.
O problema não é a alta tributação, mas o lamentável nível de sua devolução à sociedade com serviços públicos oferecidos em pequena quantidade e baixa qualidade, que salta aos olhos nas comparações internacionais.
A complicação -nos três níveis de governo- não é propriamente a carga tributária, e sim a tragédia com os recursos que são dissipados pela ineficiência dos serviços públicos.
O grave é que esse desperdício é mais manifesto na prestação de serviços de má qualidade na saúde e na educação, exatamente os setores críticos para o aumento da igualdade de oportunidades necessária para acelerar o desenvolvimento sustentável e inclusivo que o país mostrou desejar na Constituição de 1988.
A boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff montou uma nova estrutura de apoio externo para tentar fazer mais e melhor com os recursos de que já dispõe o setor da saúde.
É o primeiro passo para a melhoria da gestão dos recursos públicos, exatamente no setor que o Brasil mais precisa.

MIRIAM LEITÃO - Metas e inflações

Metas e inflações
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 22/06/11
Este mês começa o período da baixa da inflação mensal e ontem saíram dois números animadores. O IPCA-15 de junho ficou em 0,23% e a segunda prévia do IGP-M deu deflação. Mesmo assim, o acumulado de seis meses no IPCA-15 ficou em 4,1%, número que é quase toda a meta para o ano inteiro. Isso prova que o país precisa fazer um esforço maior na luta contra a alta dos preços.

Há oito anos o Brasil está com a mesma meta de inflação, 4,5%. Ela é alta quando se compara com as metas de países que têm o mesmo regime e com as taxas consideradas aceitáveis em outras economias. Depois de 12 anos do regime de metas, o país poderia ousar um pouco mais. Mas no ano que vem - e talvez até em 2013 - o número que o país persegue como objetivo continuará sendo 4,5%. Em maio do ano passado, a então candidata Dilma Rousseff, falando em Nova York para investidores, disse que o Brasil estava em condições de "gradualmente" ir reduzindo a meta. Em 2013 o país estará no terceiro ano do governo Dilma, mas a meta pode de novo estar fixada em 2013. A decisão será tomada em breve.

Este ano o Banco Central admitiu desde o início da nova gestão que não chegaria lá. Quando se vê o acumulado em apenas seis meses entende-se a razão pela qual o BC alongou o prazo para convergir a 4,5% até o fim de 2012. Neste primeiro semestre a inflação está quase igual à meta do ano inteiro. Se o BC estiver confiante de que ao fim de 2012 estará em 4,5%, por que não reduzir a meta do ano seguinte para 4%? A prévia do IGP-M divulgado ontem deu deflação. O número do ano ficará bem abaixo do ano passado. Em janeiro, o IGP-M acumulava 11,50% em 12 meses. Deve fechar entre 6% e 7%.

Entre outros males, a inflação alta acaba corroendo o ritmo de crescimento, porque reduz a renda real dos salários, o que já está sendo constatado pelos dados de emprego e renda do IBGE. Crescimento sustentado assenta-se sobre bases fiscais sólidas e inflação baixa; isso já aprendemos. O Brasil felizmente tem um compromisso muito mais forte com a manutenção dos preços do que a Argentina, por exemplo, que tem cometido o desatino de manipular índices para varrer os fatos econômicos para debaixo do tapete. Como sabemos, isso só fortalece o problema. Hoje ninguém acredita no número de 10% de inflação oficial da Argentina. Os analistas consultados ontem para uma nota do meu blog disseram que a taxa verdadeira do país deve estar em torno de 25% ao ano.

O Brasil evidentemente não corre esse risco. O país poderia, no entanto, ir reduzindo devagar as metas futuras para não se conformar com 4,5% como objetivo, quando o que é aceitável em outros países desenvolvidos é 2%. Uma taxa de 3% já é considerada alta. Como fizemos o mais difícil, que foi acabar com a hiperinflação, e manter o mesmo compromisso por três governos diferentes, podemos ficar cada vez mais ambiciosos.

Os dados de junho, julho e agosto devem ficar baixos em todos os índices, em certos casos com deflação, mas alguns itens têm pesado muito no bolso. Veja-se o IPCA-15 divulgado ontem: os ônibus subiram 8,44%, em Goiânia; 7%, em Belém; as passagens aéreas aumentaram 12,85%. Mesmo assim, o item transportes teve deflação de 0,7% na média porque a gasolina caiu 3,43% puxada pelo etanol, que ficou 16,53% mais baixo em média. Na semana passada, no entanto, este jornal publicou que houve nova alta do etanol, em plena safra. Se a tendência se confirmar, será algo com o qual não se contava. Nos primeiros seis meses do ano, o item despesas pessoais ficou em quase 5% e o aumento do custo da educação foi de 7,4%.

Os alimentos que subiram muito no começo do ano cederam em vários itens e são a razão da queda das taxas mensais nestes três meses de junho a agosto. Mas se outros itens não desacelerarem, como a inflação de serviços, a taxa voltará a subir no último quadrimestre quando começa o período de entressafra de vários produtos.

A inflação de serviços continua alta. No índice divulgado ontem está em 8,6%. E é esta inflação que será a mais afetada em 2012 pela elevação forte do salário mínimo. A boa notícia é que a pesquisa Focus tem derrubado previsões de inflação para este ano e o economista Luiz Roberto Cunha acha que há até chance de ficar abaixo de 6%:

- Nos próximos três meses a inflação ficará baixa, mas acima dos números do ano passado que foram zero em junho, 0,01% em julho e 0,04% em agosto. Este ano, não ficará assim tão baixo, por isso o acumulado em 12 meses continuará subindo na direção de 7% (está em 6,55%), em compensação no último trimestre não deve ficar tão alto quanto os 2,23% do ano passado. Em 2010, houve uma forte alta de commodities e o feijão disparou no fim do ano e isso subiu muito a taxa. Este ano não deve subir tanto, então a taxa em 12 meses vai cair e há até a chance de ficar um pouco abaixo de 6%.

Será um bom resultado para um ano em que se temeu o estouro do teto da meta.

- É bom lembrar no entanto que o país tem contado sistematicamente com o câmbio baixo como fator que derruba a inflação - diz Cunha.

Não se pode contar com o câmbio sempre baixo, até porque ele traz outras distorções na economia.