sexta-feira, março 18, 2011

ALFREDO HALPER

O preconceito contra o obeso
 ALFREDO HALPERN
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11

Para a maioria das pessoas,a obesidade não é doença e o problema é resolvido simplesmente com dieta e atividade física. Pura falácia!


Pacientes com diabetes melito e hipertensão arterial terão direito a receber alguns remédios de graça no Brasil. Sem dúvida nenhuma, isso representa um grande avanço na política de saúde do nosso país. Coisa de Primeiro Mundo!
Mas, ao mesmo tempo, a nossa Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) convoca uma consulta pública para, segundo ela, proibir a comercialização de medicamentos contra a obesidade que funcionam diminuindo o apetite.
Qual é a conexão entre as duas notícias? Simplesmente que o grande fator para hipertensão arterial e diabetes melito é o excesso de peso: mais de 80% dos hipertensos e mais de 90% dos indivíduos com diabetes do tipo 2, aquele que em geral aparece na idade adulta, e que como regra não necessita de insulina, têm excesso de peso.
A que se deve essa incoerência entre prestigiar os remédios contra as consequências (hipertensão e diabetes melito) e condenar os remédios que combatem as causas? Basicamente, a meu ver, é o preconceito contra os obesos, contra os remédios que podem tratá-los e contra os médicos que os tratam.
Venho convivendo com pacientes com excesso de peso há mais de 40 anos. Quando me formei, em 1966, não tinha tido uma única aula sobre obesidade. Só na década de 80 foi que, tendo ficando óbvio que o crescimento da obesidade vinha atingindo proporções epidêmicas, o mundo científico passou a atentar para a doença. Doença, sim!
Doença nas causas, pois é muito mais que falta de força de vontade, desleixo, falta de autoestima, etc., e sim resultado de vários fatores, desde alterações químicas no cérebro a defeitos no metabolismo energético, além de ser também causa de outras doenças (enumerá-las preencheria todo o texto...).
Não houve consideração com a sibutramina, medicamento usado há cerca de 15 anos, bastante útil em aproximadamente 50% dos casos e contraindicada para cerca de 10% dos pacientes obesos (portadores de hipertensão arterial não controlada, arritmia cardíaca, problemas coronarianos ou com história anterior de derrame cerebral. Tudo está na bula do remédio!).
O medicamento foi afastado do mercado na Europa e nos EUA. E, repito, para a maioria das pessoas, inclusive as que participam das agências reguladoras, a obesidade não é doença, é quadro psiquiátrico, não precisa de medicamentos e o problema é resolvido simplesmente com dieta e atividade física. Pura falácia!
No Hospital das Clínicas, onde contamos com um ambulatório pioneiro na América Latina, e no qual foram ou vêm sendo atendidos cerca de 10 mil pacientes, 90% deles tomam remédios. No geral, têm melhora acentuada de quadros.
Para qualquer doença, de qualquer especialidade, a tolerância com os remédios é muito maior. Por quê? Porque essas doenças são consideradas importantes. E obesidade, para boa parte das agências reguladoras, não é. Ou é, mas não necessita de medicamentos.
Enfim, militando há anos nessa área, sinto-me seguro em dizer que o obeso é discriminado e vítima de preconceitos, e que isso tem que mudar. Espero que o movimento intenso que todas as sociedades médicas vêm fazendo contra essa tentativa de abolição da sibutramina e dos anfetamínicos seja passo importante para essa mudança!

ALFREDO HALPERN é professor livre-docente de endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP.

VINICIUS TORRES FREIRE

Dilma está uma arara
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11

Em entrevista, presidente confirma mudança para métodos alternativos de fazer política econômica


A INFLAÇÃO vai diminuir; a economia vai crescer com "certeza" entre 4,5% e 5% neste ano. Foi o que disse Dilma Rousseff em entrevista publicada ontem no jornal "Valor Econômico", entrevista no geral muito sensata e no estilo gerente-deixa-que-eu-chuto da presidente.
Dilma não anunciou nenhum grande novo plano. Nem pequeno. Mas ressaltou que vai adotar providências urgentes e de bom senso.
Por exemplo: 1) privatizar o que for possível e razoável de aeroportos e de estradas; 2) encaminhar o problema da previdência dos servidores; 3) dar um jeito na farra de importações daninhas patrocinadas por certos Estados (que fazem isso em troca de trocos fiscais e favores a comerciantes de importados baratos) que detona a indústria nacional. No mais, choveu no molhado.
Os trechos mais controversos da entrevista diziam respeito a crescimento e a inflação. Dilma deu novo chega para lá nos "analistas" econômicos do mercado e afins.
Reforçou o que seus economistas vêm dizendo, até mesmo os do Banco Central. Ou seja: 1) a alta de preços é em boa parte transitória (aumentos no início de ano de preços indexados ou monitorados; 2) é localizada (aumento de preços de commodities, comida, minérios, combustíveis); 3) não é preciso uma paulada nos juros a fim de conter preços; existem instrumentos que substituem a alta de juros.
Ficou subentendido que se pode levar a taxa de inflação de volta à meta (de 4,5%) num prazo mais longo do que os economistas-padrão consideram adequado.
Ficou subentendido ainda que Dilma não acredita em inflação. A presidente não parece acreditar que expectativas altistas de preços e estímulos à economia (salário, crédito e gasto público) em ambiente de oferta escassa (de trabalho e de unidades produtivas) chancelam uma alta contínua e mais ou menos geral de preços -isso é inflação.
A presidente ora parece acreditar, ressalte-se, em choques temporários e localizados de preços, que se dissipariam com um outro controle localizado e temporário. Um fator permanente de pressão nos preços seria o "fator inercial" (em parte devido à indexação). Mas Dilma não disse o que fazer a respeito, realmente um problema. Aliás, defendeu a indexação do salário mínimo.
Dilma disse que não é "pombo" nem "falcão", aves que no jargão de economistas servem de apelido a gente menos ou mais reativa à inflação. Brincando, disse-se uma arara.
A presidente reafirmou, pois, nova mudança no padrão de política econômica do petismo, que foi da "ortodoxia" marota (até 2006), passou ao desenvolvimentismo acidental (2007 a 2010) e agora abraça a desconstrução geral do consenso econômico conservador que durou dos anos 1980 até 2008.
Por mais que tal consenso tenha apanhado da realidade, e vexaminosamente, pode ser uma papagaiada jogar a criança fora com a água do banho. Seja qual for a "linha" do economista, é difícil acreditar em inflação menor quando crédito, salários e consumo crescem em ritmo muito superior ao do PIB.
Pode ser que os economistas de Dilma inventem um mix diferente e bem-sucedido de instrumentos de política econômica, o mix arara. Como sempre, a prova do pudim será comê-lo. Espera-se que não esteja estragado lá pelo início de 2012.

TUTTY VASQUES

O verão é inocente!
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/03/11

Antes que as retrospectivas caiam de pau no verão que por aqui sai de cena de fininho no domingo, vale lembrar que o fim do mundo foi muito mais rigoroso neste ano nos países que estão se despedindo do inverno. Ainda que as enchentes tenham nos castigado sobremaneira na temporada, o sol é inocente: não é justo jogá-lo agora na lama para comemorar a chegada do outono.
Podia ter sido pior! Nos últimos três meses, o Brasil não comprou aviões de caça; o São Paulo não contratou David Beckham; Amy Winehouse não quebrou o hotel que a hospedou; o Adriano perdeu a carteira de motorista na operação lei seca; o caos aéreo fracassou em praticamente todo o País; pegaram a filha do Roriz; Cid Gomes foi sem a sogra para os EUA; o PT adiou a reintegração do Delúbio; saiu publicado o obituário do Sarney...

Ainda que Dilma não tenha convencido como cozinheira, tampouco Sandy como devassa, Ronaldo Fenômeno fez muito bem em parar de brigar com a balança, com a torcida, com a imprensa e com a bola. O final feliz do verão ficou por conta do reaparecimento, são e salvo, de Pinpoo, o cachorrinho extraviado há duas semanas no aeroporto de Porto Alegre. É, mal comparando, o fim do mundo-cão!

Nooossa!!!O técnico Tite, do Corinthians, chamou de "corno, safado, sem-vergonha e filho daquilo" o engraçadinho que criou um falso perfil dele no Twitter. Gaúcho, quando se irrita com rede social, é fogo!

Teste do pé-frioBarack Obama pode virar uma espécie de Mick Jagger do Flamengo ao pousar de helicóptero, domingo, no gramado da Gávea. Em jogo, a invencibilidade rubro-negra em 2011. 

Predador-mor José Sarney passou o dia de ontem tomando tapinha nas costas dos companheiros de Senado. Na véspera, pesquisadores do Museu Nacional anunciaram que vem do Maranhão o maior dinossauro do Brasil.

Ô, raça!O brasileiro que acompanha a Liga dos Campeões da Europa torce para Mano Menezes não convocar o lateral esquerdo Marcelo, do Real Madrid, só para ter razão de chamar o técnico de burro.

De graça até...De onde saiu a notícia da expectativa de público superior a 30 mil pessoas no comício de Barack Obama na Cinelândia? O Fla-Flu de domingo passado reuniu 21.281 pagantes no Engenhão!

PechinchaO Ministério da Cultura autorizou Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão em incentivos fiscais para a criação de um blog. Tô vendendo o meu pela metade desse valor, e nem me importa a origem do dinheiro. Aceito contrapropostas!

Menos, vai!O blecaute que deixou a Ponte Rio-Niterói às escuras por duas noites seguidas não tem nada a ver com a ameaça nuclear que apavora o planeta. Tem carioca que, temendo o pior, não sai para trabalhar desde terça-feira! Pode?

BARBARA GANCIA

O japonês e o papel de bala
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11

O japonês costuma pagar um preço alto por abrir mão da sua individualidade em favor do coletivo


CAMARADA TEM à disposição a malha de transporte coletivo mais moderna do mundo. A dois minutos da porta de casa ele toma um trem-bala, que sempre chega e sai no horário e atinge velocidades de até 500km/h e que o levará ao seu trabalho em uma cidade vizinha.
Só que, nesse dia, por conta de um soluço geológico ocorrido há milhares de quilômetros de distância, lá onde Iemanjá manda prender e soltar, ele acaba morrendo afogado. Enquanto lê a edição do dia do "Asahi Shimbum" sentadinho na poltrona do trem-bala.
Para adicionar em surrealismo à sequência de acontecimentos, desta vez não precisamos nem mesmo imaginar a figura de Godzilla sacudindo os prédios de Tóquio ou pisoteando as centrais nucleares. Não necessitamos do blá-blá-blá da militância ecológica de Cinemark, que está usando a ocasião para culpabilizar as vítimas: "Quem mandou mexer com a mãe Natureza?", bradam eles. "Agora os japoneses caçadores de baleias que aguentem a ira de Kami" (divindade do xintoísmo com equivalência a Iemanjá).
Você pode ser fã de "Avatar" ou pode detestar os que tomam partido apaixonado na discussão que separa a humanidade entre presas e predadores. Seja como for, já deu para perceber que nós, os tapuias, e James Cameron e seus conterrâneos, todos fazemos parte de um mesmo grupo. E que os japoneses que vimos nos últimos dias tremendo nas filas, sem saquear uma única loja, sem se desesperarem e capazes de respeitar seus velhos mesmo na situação mais adversa imaginável pertencem a um outro mundo muito distante do nosso.
Não preciso dar "rewind" e chegar às cenas mais degradantes ocorridas nos dias que se seguiram ao furacão Katrina e às enchentes de fim de ano na serra fluminense. Hoje mesmo, no parque próximo a minha casa, vi um casal andando alegremente em uma ciclovia que não chega a comportar uma bicicleta indo e outra vindo em sentido contrário. Será que eles não viram as cenas das vítimas do tsunami em fila, envoltas em cobertores, todos pacificamente esperando por suas tigelas de arroz, pouco ligando para suas vontades pessoais e respeitando a coletividade como se ela fosse uma entidade suprema?
É claro que não terá sido um golpe de pena do general Douglas MacArthur que deu ao Japão sua maravilhosa Constituição logo após a rendição do imperador Hirohito e, junto com ela, a capacidade organizacional da população.
São séculos e séculos se organizando em sociedade, não é fácil aposentar a clava, somos testemunhas vivas disso. Doenças medievais, na forma de peste e tifo, chegam no esteio da onda gigante e do terremoto para testar a maturidade da população mais uma vez. Será que a serenidade dos japoneses vai prevalecer?
O japonês costuma pagar caro por abrir mão da individualidade em favor do coletivo. São os karaokês para extravasar, é aquele uísque todo consumido pelos executivos, nem vamos mencionar a cerveja Kirim tomada aos baldes.
Mas, em um momento como este, nós, que somos tão diferentes, podemos apreciar em nome de que eles se sacrificam tanto. E conseguimos entender que a bagunça toda começa ao jogarmos o primeiro papel de bala no chão.

NELSON MOTTA

O tango do absurdo
NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 18/03/11

Parece um romance de Vargas Llosa, com seus políticos corruptos e intelectuais provincianos, mas é o que o escritor está vivendo na carne, como protagonista de uma polêmica que tem tanto de trágica como de cômica, no teatro do absurdo latino-americano.

Na Argentina, o diretor da prestigiosa Biblioteca Nacional, Horácio Gonzalez, e um grupo de intelectuais nacionalistas exigiram em carta aberta a Cristina Kirchner que fosse cancelado o convite a Vargas Llosa para fazer a abertura da Feira do Livro. Porque é um estrangeiro que fez críticas severas aos governos do casal K e por "sua posição política liberal e reacionária, inimiga das correntes progressistas do povo argentino".

O absurdo se encontra com o ridículo em Buenos Aires: como Jorge Luís Borges, o gênio literário argentino e diretor da Biblioteca Nacional por 20 anos, tinha posições políticas muito mais à direita do que o liberal Vargas Llosa, pelos critérios do atual diretor, não poderia ser convidado. Emir Sader estaria mais qualificado.

Cristina manteve o convite, mas a polêmica pegou fogo, pelo seu caráter simbólico. Vargas Llosa é um peruano duro e vai preparado para a recepção dos que ele chama de "piqueteiros intelectuais", que tentam calar qualquer voz discordante com seus bumbos e slogans. Para os argentinos deve ser doloroso lembrar que nos anos 40 eles viviam em um dos países mais prósperos do mundo, com um padrão de vida europeu e o melhor sistema de ensino das Américas, mas agora vão de mal a pior. E a culpa não é dos estrangeiros.

Não é só um episódio pequeno e constrangedor para os portenhos, é uma concentração de sintomas das doenças crônicas da América Latina: o nacionalismo, o populismo e o autoritarismo, que antes eram de direita, agora são de esquerda, sempre em nome da pátria. Como se houvesse um "autoritarismo do bem" e um "do mal", e as pessoas fossem divididas entre boas e más.

Parece um poema de Manuel Bandeira em que o médico diz que ele está condenado pela tuberculose:

"Mas, doutor, não é possível tentar um pneumotórax ?

- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

ALLAN ROCHA DE SOUZA, FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA E VANIA LINDOSO

Ameaça nas patentes
ALLAN ROCHA DE SOUZA,  FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA  E  VANIA LINDOSO
O Globo - 18/03/2011

A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil faz ressuscitar desejo antigo de implementar mecanismos que padronizem à concessão de patentes em um sistema conhecido como Patente Mundial.

O Brasil, por meio de sua representação diplomática, sempre combateu essa agenda, em todas as oportunidades que fora apresentada. Espera-se, agora, que os interesses do país continuem a ser preservados pela presidente Dilma Rousseff, de modo que o Brasil consiga romper com a política subserviente, em termos verdadeiros. As dificuldades, para tanto, são enormes.

E o que acontece quando se confere tratamento idêntico a situações completamente distintas? No caso da propriedade intelectual, traz danos para os menos desenvolvidos, como o Brasil: a) aplicação antecipada da lei de propriedade industrial (para se adequar ao Trips, o Brasil aplicou a Lei nº 9.279/96 antes dos países desenvolvidos ignorando os prazos conferidos pelo artigo 65, do Acordo); b) desequilíbrio da balança comercial, com substanciais remessas de royalties; c) sucateamento da indústria nacional, com instalação de eventual processo de desindustrialização ; d) preços de medicamentos muito mais caros (a Índia usou todos os prazos do TRIPS e por isso vende os medicamentos até 94% mais barato que os nacionais); e) comprometimento de programas sociais do governo federal, como o programa oferecido pelo Ministério da Saúde, DST/Aids e Hepatites Virais, que fornece gratuitamente todo o tratamento para os portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida e é referência mundial.

A retórica dos países desenvolvidos, contra a política voltada às realidades locais, vem ensejando uma série de propostas de acordos com objetivos semelhantes aos alcançados no TRIPS, só que mais rigorosos e restritivos.

E é com esse manto de candura e a justificativa de pôr fim ao atraso no exame das patentes, conhecido como backlog, que se encontra escondido o real objetivo do Patent Prosecution Highway (PPH): encontrar um "caminho mais curto" para transferir o exame de patenteabilidade do Inpi para o USPTO ou deixar na mão do examinador de patentes a responsabilidade de fazer a Escolha de Sofia, qual seja, aceitar o exame americano ou refazê-lo, o que se afigura de todo inaceitável.

Estamos diante de situação semelhante ao problema das patentes pipeline (mecanismo inserido na LPI para conceder proteção a patentes de medicamentos), que na leitura do Inpi não necessitavam ser examinadas, se concedidas no país de origem. Inúmeras demandas se arrastam até hoje, no Judiciário, envolvendo os questionados dispositivos que regulam o assunto, com enormes custos sociais e econômicos.

É desta mesma fonte que nasceu a divergência entre Anvisa e Inpi, quanto aos termos que deveriam ser dados à Anuência Prévia (art. 229-C, da LPI), que prevê a possibilidade de a concessão da patente ser um ato complexo, com a interação entre dois órgãos que são autoridades no assunto, e cujo deslinde até o momento, não foi alcançado.

Disso resulta uma indagação pertinente: a Anvisa não pode atuar no exame dos requisitos das patentes farmacêuticas, mas a oficina americana pode? Qual instituição está habilitada e interessada em defender o interesse e a posição do Brasil? A Anvisa ou o escritório americano de patentes?

E, diante dos efeitos ao mesmo tempo amplos e profundos para o destino e soberania do país, como isso poderia ser feito através de um singelo adendo ao acordo vigente de cooperação técnica entre as oficinas de patentes?

Isso nos parece uma verdadeira falácia que, na prática, resultará na transferência do exame de patenteabilidade para o escritório americano de patentes, que, obviamente, atuará na defesa dos interesses econômicos do seu país e do seu governo.

ALLAN ROCHA DE SOUZA é professor e pesquisador do PPED/UFRJ. FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA é procurador regional da República no Distrito Federal. VANIA LINDOSO é procuradora federal da Advocacia-Geral da União na Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz (Rio)

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

Instrumentos adulterados
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
O Globo - 18/03/2011

Imagine um pequeno avião cujos instrumentos foram adulterados. O altímetro mostra altitude bem maior do que a verdadeira e o indicador de combustível subestima em muito o consumo efetivo. Depois de anos de desleixo e uso inadequado, o avião já não funciona como deveria. Precisa de manutenção cara e prolongada. Mas o piloto vem tentando esconder os problemas dos proprietários. Adulterou os instrumentos, temendo que, pelo painel de controle, os proprietários notassem a real extensão dos problemas. Um voo nessas condições já seria bastante arriscado, mesmo se o piloto, ao ler cada instrumento, fosse capaz de levar em conta a medida exata em que a informação foi adulterada. Muito mais arriscado ficará o voo, contudo, se o piloto se esquecer das adulterações e passar a acreditar piamente no que mostram os instrumentos.

Não obstante todas as ponderações em contrário, o governo confirmou que o Tesouro fará novo aporte de R$55 bilhões ao BNDES em 2011, na contramão do corte de gastos que havia sido anunciado. É bem sabido que nos últimos anos os indicadores de desempenho fiscal deixaram de indicar o que deveriam. As deturpações por que vêm passando decorrem, em grande medida, da tentativa de dissimular o impacto sobre as contas públicas das gigantescas transferências do Tesouro ao BNDES: mais de R$230 bilhões, entre 2008 e 2010.

Tivessem tais transferências configurado operações tradicionais de capitalização, com aumento do capital próprio do banco, teriam tido impacto adverso sobre as contas públicas, com redução do resultado primário e aumento da dívida líquida do governo. Para dissimular tais efeitos, o governo apelou para o subterfúgio da capitalização velada. Em vez de reforçar o capital próprio do banco, o Tesouro agraciou-o com empréstimos de longuíssimo prazo a juros subsidiados, com recursos advindos da emissão de dívida pública. Isso só apareceu nas estatísticas de dívida bruta. Nas de dívida líquida, o governo se permitiu neutralizar o impacto, abatendo como ativos os próprios empréstimos concedidos. No resultado primário, as transferências simplesmente não foram registradas. Uma omissão colossal, que até o FMI se viu obrigado a assinalar.

Se as transferências ao BNDES não tivessem sido omitidas, como teriam ficado as contas de resultado primário? As variações dos créditos do Tesouro junto ao BNDES mostram que tais transferências foram de R$28,8 bilhões em 2008, R$93,8 bilhões, em 2009 e R$107,5 bilhões, em 2010. Em porcentagem do PIB: 0,95%, 2,94% e, novamente, 2,94%.

De acordo com as contas oficiais (que omitem as transferências ao BNDES), o superávit primário do setor público, também em porcentagem do PIB, foi de 3,31% em 2007, 3,42% em 2008, 2,03% em 2009 e 2,79% em 2010. Se, desses percentuais, forem abatidas, nos três últimos anos, as transferências ao BNDES mencionadas acima, a série de resultado primário do setor público passa a mostrar evolução bastante distinta: superávit de 2,47% em 2008, déficit de 0,91% em 2009 e novo déficit de 0,15% em 2010.

A leitura correta dos instrumentos permite agora percepção muito mais nítida dos impulsos fiscais observados nos últimos anos. Quem ainda estava à cata de uma boa explicação para a brutal expansão de 10,3% na demanda interna em 2010, pode interromper a busca.

É dessa perspectiva que se deve indagar se faz sentido novo aporte ao BNDES de R$55 bilhões - mais de 1,3% do PIB - em 2011. Mesmo que o governo consiga cumprir a meta oficial de superávit primário para este ano, de 2,9% do PIB, o superávit efetivo, tendo em conta o novo aporte, não passará de 1,6% do PIB. Ou seja, menos da metade do superávit observado antes da crise, em 2007. Não há nada que justifique tal impulso fiscal a esta altura, quando, pelo contrário, se esperava que a política fiscal fosse capaz de reduzir a sobrecarga que tem recaído sobre a política monetária no combate à inflação.

Até quando a condução da política macroeconômica continuará a ser feita com base em indicadores fiscais tão deturpados?

ANCELMO GÓIS

Água no chope I
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 18/03/11

Ontem, por volta de 20h30m, o governo americano decidiu cancelar o discurso de Obama para o público na Cinelândia. A decisão é que fale para um público menor dentro do Teatro Municipal. 

Água no chope II 
Eduardo Paes, ao saber, caiu para trás. Mas fez uma piada: “Pelo menos, não entro para a história da cidade como o prefeito que fechou o Amarelinho.” É que, como se sabe, o tradicional bar da Cinelândia, por motivo de segurança, iria fechar para o discurso de Obama.

Água no chope III
O governo americano não revelou a razão do cancelamento. Mas é provável que tenha sido por cautela, em função do aumento da tensão na Líbia.

Água no chope IV
Ontem, o Conselho de Segurança da ONU decidiu criar uma zona de exclusão aérea no país de Kadafi. 

Menino do Rio...

O Itamaraty ainda insistiu para Obama participar, amanhã, de um jantar com Dilma no Palácio da Alvorada. A diplomacia americana
alegou “questões familiares” para recusar o convite. 

A verdade é que a família
Obama quer, ainda no sábado, chegar ao Rio. Faz sentido. 

No mais...
Dilma e Obama terão uma hora de reunião privada, sem assessores, logo na chegada do presidente americano a Brasília. As outras 47 horas dele no Brasil serão... de festa.

Obama cá e nós lá

No carnaval, um terço dos hóspedes do Hotel de Ile de France, em St. Barth, no Caribe, era de brasileiros. A diária chega a custar R$ 10 mil. Um empresário mineiro comprou 60 mil euros em vinhos numa só tacada.

Rossano, a novela
Dilma, na entrevista ao “Valor”, disse que ainda estava discutindo em várias esferas um nome para a Secretaria Nacional de Aeroportos. Na verdade, o governo insiste para que Rossano Maranhão volte atrás e aceite o posto.

Mas...

Se Rossano insistir em continuar no Banco Safra, onde seu salário é bem maior, a opção será mesmo Márcio Fortes de Almeida, ex-ministro das cidades de Lula.

AeroLugo
A Embraer tenta vender um jato da empresa para servir de avião oficial a Fernando Lugo, presidente do Paraguai. Hoje, Lugo, na volta de um giro pela Ásia, vai descer em São Paulo só para testar o modelo Legacy até Assunção.

Campo da Brahma
Há cinco empresas na disputa para pôr seus nomes no Engenhão, o estádio do Botafogo. Entre elas, a Brahma. Quem vencer terá sua marca transformada no nome do estádio. 

Licença para demolir

Saiu no DO do município do Rio um pedido de licença para derrubar o prédio no- 19 da Rua Aristides Espínola, no Leblon. o edifício onde está localizado o Antiquarius, tradicional restaurante do Rio. 

Carnaval 2012 

Alexandre Louzada, ex-Beija- Flor, é o novo carnavalesco da Mocidade Independente. 

Coisa feia 
Há mais de um relato. Pelo menos um funcionário do posto Alvorada do Detran-RJ, na Barra, pegou a mania feia de pedir “uma cervejinha” na hora da vistoria para aprovar os veículos. 

Beija-mão 
Para celebrar Luiz Fux, carioca recém-escolhido para o STF, centenas de pessoas foram ontem ao TJ-RJ para o lançamento de seu livro “Novo Processo Civil Brasileiro — Direito em Expectativa”. Mas o ministro mesmo não apareceu. Ficou em Brasília, atolado de trabalho. 

Arte imita vida
É só coincidência. A gravação foi feita antes da tragédia. Mas a próxima novela das 19h da TV Globo, “Morde e assopra”, de Walcyr Carrasco, que estreia segunda, terá uma cena de... terremoto, gravada no Japão.

LUIZ GARCIA

Meia-trava
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 18/03/11 

Há dois tipos de grandes desastres: os naturais e aqueles em que a culpa é inteiramente nossa. E mesmo em relação ao primeiro grupo não é pequena a responsabilidade humana, no que se refere ao que fazemos ou deixamos de fazer para prevenir desastres ou minorar seus efeitos.

No que se refere à energia nuclear, os acidentes são muito raros - mas tragicamente inesquecíveis. Antes da tragédia de Fukushima, houve apenas a de Chernobyl, em abril de 1986. A explosão do reator ucraniano - equivalente a algo como 400 vezes o efeito da bomba atômica lançada em Hiroshima - gerou uma nuvem radioativa que se espalhou pela União Soviética e atingiu a Escandinávia e o Reino Unido.

O desastre foi causado por uma combinação de erro humano e um defeito no reator. Nunca se apurou com exatidão o número de mortos, entre outras razões porque a contaminação pode ter efeitos só visíveis a longo prazo. Em 2005, um estudo da ONU citou 56 mortes até então - mas admitiu a possibilidade de que o total poderia chegar a quatro mil.

Por enquanto, não há previsões confiáveis sobre os efeitos do acidente em Fukushima. Há dois dias, autoridades japonesas ainda não sabiam exatamente o que fazer para resfriar os reatores. O risco de uma tragédia igual à de Chernobyl não estava afastado.

No resto do mundo, começou o debate óbvio: vale a pena manter e mesmo ampliar as redes de usinas nucleares? Na Europa e na China, governos começaram a fazer inspeções em suas instalações, enquanto suspendiam a concessão de licenças para novas usinas. Não foi essa a reação, por enquanto, do governo americano: há dois dias, o secretário de Energia, Steven Chu, afirmou que está mantido o programa federal de construção de usinas. Acontece que a política energética do governo Obama inclui a construção de uma quantidade de instalações nucleares. O seu orçamento para o ano que vem inclui gastar 36 bilhões de dólares em novas usinas nucleares.

Isso parece deixar evidente que a política energética de Obama está bastante comprometida com a energia atômica, economicamente mais atraente do que as outras, mesmo com o alto custo de construção das usinas. Mas também parece lógico que a opinião pública americana ficaria mais tranquila se o presidente desse uma meia-trava no programa até que saiba exatamente as causas da tragédia de Fukushima. 

JOSÉ SIMÃO

Buemba! O Obama é brasileiro!
JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11 

E até o Kassab homenageia o Obama. Tem um buraco enorme aqui na rua com a placa: Burack Obama!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Duas manchetes bombásticas! "Tiririca é o parlamentar que menos gastou em postagem, R$ 42." Claro, ele não sabe escrever! Rarará! Ele postou uma única carta que voltou com erro de endereço! A outra é sobre o Gaddafi, aliás, KAGADDAFI! "Gaddafi retoma cidade de Brega." Mas ele já não é o ditador mais brega do mundo? Deve ser a cidade natal dele. O bom filho a casa torna!
E o oba-oba do Obama! E a manchete do Sensacionalista: "Sósia de Bin Laden planeja atentado contra sósia de Obama". Rarará! Como tem sósia do Obama no Brasil! Aliás, o Obama é brasileiro. Bota uma bermuda e uma havaiana nele pra você ver! O Obama é filho do Bezerra da Silva! O Obama é cafussu, como dizem no Nordeste! O Obama tem perfil de moeda, mas parece o primo do Romário! Rarará!
Aliás, o Obama já sabe uma palavra em português: ROWNALDO! E o Comentando revela quem vai receber o Obama na Cidade de Deus: Zé Pequeno! "Obama é o Barack, meu nome é Zé Pequeno, porra." Rarará! E o UOL abriu um concurso pedindo fotos e vídeos de sósias de Obama. E até brancos tão mandando fotos! O Brasil é sósia do Obama! Eu não quero ser sósia do Obama. Eu queria ser sócio do Obama!
Até o Kassab tá homenageando o Obama. Tem um buraco enorme aqui na rua e botaram a placa: Burack Obama! Batizaram o buraco. Vai ter avenida Obama, viaduto Obama e BURACO OBAMA! Rarará! Só não gostei de o Obama ter ganho o Prêmio Nobel da Paz. Caiu como uma bomba! Rarará!
O Brasileiro é cordial! Última Semana do Gervásio! Olha a placa que ele colocou na empresa em São Bernardo: "Se esta semana eu não receber nenhum relatório do que está sendo feito nos clientes, vou pregar uma ferradura 05 na mão desse jumento macambúzio até o infeliz aprender a se reportar a mim. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
E uns colegas escreveram embaixo: "Jesus pode te amar, mas eu te odeio!". Tá de gozação, né? Eu mereço! Rarará!
E mais um pra minha série Os Predestinados! Sabe como se chama o juiz da 8ª vara de BH? Jair VARÃO Pinto! Rarará! E olha a placa de motel na via Dutra: "Apressadinha, R$ 34". Não é mais rapidinha, agora é apressadinha. O apressadinho come cru! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! 

WASHINGTON NOVAES

Energia - a chance de discutir sem soberba
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo - 18/03/11

É impressionante a atitude de soberba olímpica - para não falar em descaso ou desprezo - com que o Ministério de Minas e Energia (MME) encara as dúvidas da comunidade científica e da nossa sociedade a respeito da política energética nacional. Uma postura que se torna mais evidente e incompreensível no momento em que o mundo se interroga a respeito dos desdobramentos da série de acidentes nucleares no Japão, após o terremoto e o tsunami. O ministro Edison Lobão, por exemplo, questionado (Agência Estado, 15/3) sobre a possibilidade de estar em questão a segurança das usinas nucleares brasileiras - já que se debate a segurança nuclear no mundo todo -, "descartou a possibilidade de qualquer mudança". E o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear disse apenas temer "danos ao programa nuclear brasileiro", que prevê, além de Angra 3, em construção, mais quatro usinas nucleares até 2030.

Dá a impressão de que estamos fora - ou acima - do mundo, no momento em que a Alemanha suspende a decisão que tomara de prorrogar por 12 anos a vida de usinas que seriam fechadas até 2021 e decide desativar várias usinas antigas; a Suíça suspende o licenciamento de novas usinas; a Áustria pede à União Europeia que teste a segurança de todos os reatores em atividade em 14 dos seus 27 países; o Partido Verde da França (país que mais depende de energia nuclear) exige um referendo sobre o modelo; Bélgica e Polônia anunciam que reavaliarão seus caminhos nessa matéria; o governo da Grã-Bretanha pede reavaliação imediata de 11 usinas projetadas; nos EUA, senadores que defendiam a proposta do presidente Barack Obama de destinar US$ 36 bilhões para 20 usinas nucleares novas agora recomendam prudência (The New York Times, 13/5), já que 31 das atuais 104 usinas nucleares norte-americanas têm tecnologia japonesa, com 23 reatores iguais aos da usina de Fukushima.

Não é só. A secretária da Convenção do Clima, Christiana Figueres, não duvida de que "vai mudar o cenário mundial", tal como dizem especialistas em energia em vários países, inclusive no Brasil. "O acidente vai fazer todo o mundo repensar o uso de usinas nucleares", afirma o professor Aquilino Senra Martinez, da UFRJ, lembrando que o projeto de Fukushima é da década de 60 (Folha de S.Paulo, 13/5). "O desastre serve de alerta para o Brasil", acentua o ex-ministro José Goldemberg, lembrando que o risco na área nuclear é grande e "há melhores opções", que "o Brasil deveria discutir" (O Popular, 13/5). Tudo na mesma linha de editorial deste jornal (15/3, A3), lembrando que o desastre de Fukushima levanta dúvidas sobre a segurança e "deve estimular o debate internacional".

De fato, a tragédia no Japão ressaltou mais uma vez as grandes questões que há décadas permeiam a área nuclear:

Passado e presente evidenciam a alta dose de insegurança de operação de usinas nucleares e os riscos de desastres, quase invariavelmente de consequências dramáticas;

a energia nuclear é muito mais cara que outras formas de energia;

nenhum país conseguiu até hoje equacionar o problema da destinação dos altamente perigosos resíduos de reatores nucleares, que em geral se acumulam nas próprias usinas (como em Angra 1 e 2; em Angra 3, o então ministro Carlos Minc, que sempre criticara as duas primeiras usinas, condicionou o licenciamento da terceira a uma solução "definitiva" para os resíduos - o que não foi feito, mas não impediu o início das obras).

A própria Tepco, empresa que opera a usina acidentada no Japão, já fora multada anteriormente por falhas na segurança de suas usinas. Outras 11 usinas já apresentaram problemas (Estado, 15/3). Ainda assim, o país - que já teve acidentes graves antes - mantém 55 reatores nucleares, que fornecem pouco mais de 30% da energia consumida. Mas é também considerado desde 1990 exemplar em matéria de técnicas de construção resistente a terremotos. Em Fukushima, a usina resistiu ao tremor, mas não ao tsunami; a sequência interrompeu o funcionamento dos geradores de emergência e o resfriamento dos reatores. E é uma usina projetada para resistir a vibrações nas estruturas dez vezes mais intensas que as suportadas por Angra 1 e 2 (Veja, 16/3).

No nosso caso, é preciso lembrar ainda que Angra 1, 2 e 3 estão numa região sujeita a eventos climáticos extremos, que já provocaram no município deslizamentos e desastres. Não bastasse, num programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e hoje uma das principais figuras da área de ciência no governo federal, disse que o projeto de Angra 3 "deveria ser revisto", diante das informações de vários cientistas de que o nível do mar já está se elevando no litoral fluminense, acompanhando o que acontece em praticamente todo o mundo.

São muitas, portanto, as razões que deveriam levar a direção da nossa política de energia a discutir os rumos dessa área. Ouvir a comunidade científica, que, como já foi mencionado neste espaço mais de uma vez, tem dito que o Brasil pode tranquilamente viver com metade da energia que consome hoje - economizando 30% com projetos de conservação e eficiência (como conseguiu economizar no apagão de 2001); ganhando mais 10% com a redução das perdas nas linhas de transmissão, hoje em 17%; e outros 10% com repotenciação de geradores antigos, a custos menores que os de implantação de novas usinas. É o que diz há muito tempo, por exemplo, estudo da Unicamp e do WWF, de 2006. Mas fala ao vento.

Não faz sentido apregoar - como já pregam alguns - que sem a energia nuclear não haverá caminho senão o das mega-hidrelétricas na Amazônia, muito questionadas. Ou a ampliação das termoelétricas - que, na verdade, já está ocorrendo. O que faz sentido é, numa hora dramática como esta, convocar a comunidade científica e, diante da sociedade, debater livremente nosso modelo energético.

MÔNICA BERGAMO

NO MESMO RITMO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11

O presidente do Cade, Fernando Furlan, está acompanhando de perto as negociações entre a TV Globo e os times de futebol pela transmissão do Brasileirão. Diz que, caso se forme um novo bloco de clubes que recebam propostas em conjunto, será aberto novo processo para analisar se há desrespeito à concorrência de mercado. Uma possível liga das agremiações estaria sujeita às regras antitruste que já haviam sido negociadas anteriormente com o Clube dos 13 e a emissora.

ELIMINATÓRIAS

E a TV Globo apresentou contrato de transmissão do campeonato ao vice-presidente do Flamengo, Hélio Paulo Ferraz. Como ele é próximo da família Marinho, dona da emissora, a presidente Patrícia Amorim preferiu substituí-lo nas negociações pelo vice-presidente de finanças, Michel Levy. O pacote, com pay-per-view e mata-mata, chega a "impressionantes R$ 100 milhões", diz Leonardo Ribeiro, presidente do conselho fiscal do clube. Levy aguarda também proposta da Record.

GARGAREJO
O Consulado dos EUA em SP fez uma lista dos convidados que assistirão ao discurso de Barack Obama "na primeira fila", no domingo, em uma área VIP da plateia da Cinelândia, no Rio. Além de Henrique Meirelles, foram chamados o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, e o reitor da faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente.

GUARDA-VOLUMES
Cada representação diplomática dos EUA -a embaixada em Brasília e os consulados no Rio, SP e Recife- fez uma lista de autoridades e personalidades culturais que terão direito a ficar no cercadinho. Os convidados foram informados de que talvez sejam recebidos por Obama "por cinco ou dez minutos", para cumprimentá-lo. E não poderão levar telefones celulares ao evento.

OBAMAS AO MAR
Na agenda oficial da visita, o período após o discurso na Cinelândia é identificado como "family time" (tempo para a família).

É quando, acredita-se, Obama poderia realizar o desejo já declarado de nadar em alguma praia carioca.

CUNHA FICA
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que vai continuar, sim, nas discussões de regras para licitações especiais de obras da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Ontem, logo pela manhã, ele se reuniu com o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), para falar sobre notícias que davam conta de que a presidente Dilma Rousseff gostaria de afastá-lo do processo. "É claro que ele vai continuar. O Eduardo Cunha é vice-líder do PMDB. Não tem por que exclui-lo", diz Vaccarezza.

O BAZAR DA STELLA


Fotos Mastrangelo Reino/Folhapress

Clientes na loja
"Tô aqui só pra ver, não vou comprar", diz Gloria Kalil, iPhone em punho fotografando as 20 mulheres em torno de uma arara de roupas. "Isso é uma brincadeira de marketing. Nas grandes maisons existem pré-vendas [para clientes endinheiradas e especiais], mas em "magasins" [magazines, em francês], não", diz a consultora de moda.

São 23h07 de quarta-feira e Gloria é uma das convidadas da "pré-venda especial Stella McCartney para C&A", no shopping Iguatemi. A badalada estilista inglesa, filha de Paul McCartney, criou uma linha a preços "populares" para a loja de departamentos. As roupas começam a ser vendidas no dia 23, mas algumas convidadas da dasluzete Lelê Saddi puderam comprar uma semana antes.

"Por ser Stella, tá um preço bom aqui", diz a publicitária Marcela Cimino, 25. Há seis anos ela não colocava os pés na C&A, "quando a Raia de Goeye" fez uma coleção para a rede.

A jaqueta preta de paetês, de R$ 499, peça mais cara, é o grande sucesso da noite. Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin, leva uma. E também um vestido preto de R$ 189 e uma blusa de R$ 89. "Adoro as coisas da Stella!", diz, com bolsa Chanel preta no ombro. Faz sempre compras na C&A? "Ah, tenho uns acessórios. Mas roupa não tenho."

"Cadê o [manequim] 46? Cadê a roupa pra mulher de verdade?", pergunta a produtora Andrea de Marco, 38. "O 44 é menor que o normal e não tem 46", diz outra convidada. "Se não tem não posso fazer nada. Só convidei", diz Lelê Saddi. "Mas sou muito a favor da moda democrática."

MEMÓRIAS BELAS

A mãe de Leonilson, Carmen Bezerra Dias, foi à abertura da exposição de obras do filho, anteontem, no Itaú Cultural. Melina Valente, da Zipper Galeria, e Malu Montoro conferiram "Sobre o Peso dos Meus Amores" na avenida Paulista.

DÉCADA

Doze anos depois de deflagrada, segue a disputa entre Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra com a EMI. Os advogados da dupla vão rediscutir na Justiça indenização que a gravadora foi condenada a pagar por autorizar o uso de uma canção deles para publicidade. Em 2007, a EMI depositou R$ 400.624 em juízo. O dinheiro só foi liberado há um mês -hoje chega a R$ 500 mil. Os advogados acham que a correção não compensou totalmente o valor devido.

SENHOR JUIZ

Já o advogado da EMI, José Diamantino Abelenda, diz que a empresa já depositou o valor devido. Qualquer eventual diferença, afirma, será definida por peritos e contadores da Justiça.

PRODUTO EXPORTAÇÃO

A polêmica do blog de poesia de R$ 1,3 milhão de Maria Bethânia teve repercussão internacional. O site da revista americana "Forbes" noticiava ontem as críticas à cantora. "Seus argumentos [dos que são contrários ao incentivo] não eram de que a poesia não merece reconhecimento. É claro que merece, e quem melhor do que um grande nome musical para fazer isso? Talvez, argumentam, uma rica e famosa cantora como Bethânia não precise de dinheiro do governo para começar um blog."

CURTO-CIRCUITO

A galeria Thomas Cohn faz hoje um "preview" da exposição "After Midnight", de Oscar Oiwa, que abrirá para o público no dia 24.

O clube Royal realiza hoje a festa "Desire", com os DJs Paco e Marcelo Garcia. Classificação etária: 18 anos.

Anette e Marcel Rivkind comandam hoje almoço de premiação da Breton Actual, no restaurante Pobre Juan.

A empresa de café Illy comemora 20 anos no Brasil com a entrega, hoje, do Prêmio Ernesto Illy de Qualidade, no espaço Rosa Rosarum.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

DORA KRAMER

Boa vizinhança
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/03/11

Chefes de Estado não fazem nada por acaso. Cada gesto, cada palavra, cada movimento tem um significado específico. Quando se trata de um presidente dos Estados Unidos, então, todo ponto é letra a ser minuciosamente destrinchada e interpretada.
O embaixador Luiz Felipe Lampreia, chanceler durante um período particularmente venturoso das relações entre Brasil e Estados Unidos, o governo Fernando Henrique Cardoso e seis anos do governo Bill Clinton, enxerga na visita do presidente Barack Obama um interesse especial na reconstrução de um diálogo abalado durante o período Lula, notadamente no último ano em função do apoio do Brasil ao Irã.
Para ele, a visita tal como foi concebida é um sinal de prestígio e de reconhecimento do fortalecimento da presença brasileira no mundo. Econômica e politicamente falando.
"É a primeira viagem de Obama à América Latina e é a primeira vez que um presidente americano vem aqui antes que o presidente brasileiro tenha ido lá." A iniciativa foi de Obama, depois que a presidente Dilma Rousseff anunciou que iria aos Estados Unidos em abril.
"Isso denota interesse de retomar um diálogo fluido e mostra quanto o Brasil é hoje um aliado mais valoroso do que já foi quando a desorganização da economia deixava o País relegado a um papel bem menos relevante."
Na opinião de Lampreia, a escolha do Rio de Janeiro como cenário do ponto alto da visita, no domingo, e a presença da mulher, Michelle, e das duas filhas de Obama buscaram acentuar o caráter de amabilidade e descontração à viagem.
As imagens produzidas no Rio, no Cristo Redentor, na Cidade de Deus pacificada e no discurso da Cinelândia, põem o presidente americano num cenário internacionalmente familiar. Diferente seria se visitasse São Paulo, cidade com características semelhantes a qualquer grande metrópole do mundo.
O Rio embeleza e ameniza o clima.
Ocorreu assim em 1997 com Bill Clinton, numa viagem precedida por um ambiente marcadamente antiamericano eivado de críticas aos "excessos" do esquema de segurança. Críticas logo dissipadas quando Clinton visitou o Morro da Mangueira, tocou tamborim na bateria da verde e rosa e, segundo Jamelão, exibiu-se "mais feliz que pinto no lixo".
Cenografia à parte, há o interesse econômico de parte a parte e a expectativa brasileira de que Barack Obama dê algum sinal que possa ser visto como apoio à reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança na ONU.
Alguma chance? "Washington sabe que é isso que o Brasil espera, mas por uma questão de resistência à divisão de poder não tem interesse em acelerar o processo de reforma do conselho. Alguma coisa deve ser dita, mas acho que a intensidade das palavras será uma decisão a ser tomada pelo próprio Obama depois da conversa com Dilma no sábado."
Luiz Felipe Lampreia vê apenas um "senão", para não dizer um risco, nessa amabilidade toda por parte dos EUA: a ideia de que a reconstrução das relações possa implicar um alinhamento automático do Brasil às posições americanas.
"Isso não pode nem vai acontecer, porque o Itamaraty tem histórico de política externa independente. Aproximação e diálogo fluido é uma coisa. Aliança incondicional está fora de cogitação."
Paralelo. Ao declarar, em entrevista ao Estado, que o dinheiro entregue por ele à deputada Jaqueline Roriz era oriundo de superfaturamento de contratos do governo do Distrito Federal, o delator do escândalo que derrubou José Roberto Arruda falou a respeito de algo que Marcos Valério e Delúbio Soares calaram sobre o mensalão: a origem do dinheiro.
É exatamente o ponto em que o ministro Joaquim Barbosa sustenta a acusação tanto contra os petistas quanto contra o tucano Eduardo Azeredo. O dinheiro pode ter tido como destino o caixa 2 das campanhas eleitorais, mas teve origem no desvio de recursos públicos.
Daí a rejeição da tese das defesas de que houve "apenas" crime eleitoral e a denúncia da ocorrência de crimes comuns. 

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Grupo anuncia obras de R$ 700 milhões
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/03/11

Empreendimentos orçados em cerca de R$ 700 milhões, para diferentes setores, acabam de entrar no portfólio do Grupo Advento. A carteira total para 2011 é de R$ 1,5 bilhão.
Três empresas do grupo vão ser responsáveis pela construção da fábrica da empresa alemã Continental Pneus em Camaçari (BA).
A Serpal vai se responsabilizar pela construção civil da obra, estimada em R$ 350 milhões; a Vox Engenharia, vai cuidar das instalações mecânicas e das montagens industriais, enquanto a Vecotec Sistemas de Climatização ficará encarregada do sistema de ar-condicionado e de ventilação. A obra criará 800 empregos.
"É mais uma obra do grupo no conceito de engenharia integrada", diz Juan Quirós, presidente do Advento.
Outra obra será a planta da Eldorado Celulose, considerada pela empresa como a segunda maior fábrica de papel e celulose do mundo.
O investimento em Três Lagoas (MS) será de R$ 150 milhões e envolverá um centro de secagem, uma linha de fibra e um forno. A obra demandará 800 empregos.
A Votorantim, por sua vez, investirá R$ 200 milhões na construção de mais duas fábricas de cimento, no Maranhão e no Paraná.

Cidades do RJ usam incentivos fiscais para se desenvolverem
Cidades de pequeno porte do Rio de Janeiro aproveitam incentivos fiscais para atrair empresas e criar empregos.
Desde o ano passado, o governo estadual permite que companhias instaladas em 48 municípios do Estado paguem 2% sobre o valor das operações em vez do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Na cidade de Queimados, que possui 140 mil habitantes, o número de companhias aumentou de sete para 31. "Foram criados 8.000 empregos em diversos setores", afirma o prefeito Max Lemos.
Em Paty do Alferes, a estratégia é concentrar os esforços em um segmento.
"Queremos desenvolver o setor de confecções", diz o prefeito Rachid Elmôr.
A medida é uma alteração de outra lei, de 2005, que já oferecia benefícios a áreas sem expressão industrial no Rio de Janeiro.
A nova legislação só oferece a tributação diferenciada para empresas aprovadas pela Comissão Permanente de Política para o Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro.
Anteriormente, o benefício era concedido a todas as companhias que apresentassem a documentação correta.
"É uma maneira de o governo aumentar o controle sobre o que está sendo oferecido", diz Marcos de Cumptich, sócio do Pinheiro Neto Advogados.
A mudança, porém, não é uma unanimidade para a iniciativa privada.
"Essa nova autorização gerou insegurança jurídica em alguns de nossos clientes, que não sabem quando serão aprovados", diz Maria Pia Bastos, sócia do escritório Bastos-Tigre, Coelho da Rocha e Lopes Advogados.
Para Cumptich, a reclamação é infundada e esse tipo de regulação e de lei são normais em outros Estados.
"É a chamada guerra fiscal", diz o advogado.

Atraso...
O número de ações de cobrança por falta de pagamento de taxas de condomínios aumentou 84,3%, segundo levantamento realizado pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação). A pesquisa foi feita nos fóruns da cidade de São Paulo.

...no condomínio 

No mês de fevereiro, foram registrados 949 casos nos fóruns. No mês anterior, 515 ações haviam sido ajuizadas. Na comparação com o número de ações registradas em fevereiro do ano passado, o aumento chegou a 40,4%.

Estante 
A distribuidora de livros Vértice Books adquiriu a Empório do Livro, que atua no mesmo setor. No ano passado, o aumento no faturamento da Vértice foi de 77%. Com a aquisição, a empresa planeja crescimento de 50% para este ano.
Consumidor Contratos com linguagem mais acessível é uma das melhorias para o Código de Defesa do Consumidor sugeridas pelo Grupo Padrão. As propostas do grupo, que publica conteúdo para promover melhorias nas empresas, serão lançadas em livro no dia 28.

IDA E VOLTA

Uma possível eliminação da necessidade (recíproca) de visto para turistas brasileiros e norte-americanos beneficiaria o setor de turismo no Brasil com um aumento no fluxo de lá para cá, segundo a Embratur.
O órgão informa que, em 2009, 603 mil norte-americanos visitaram o Brasil.
A expectativa de empresários é que esse número tivesse acréscimo de quase 50% em dois anos, de acordo com Paulo Senise, diretor-executivo do RJ Convention & Visitors Bureau.
"O fluxo de turistas norte-americanos caiu no Brasil nos últimos anos. Chegamos a receber mais de 700 mil deles em 2004. A flexibilização estimularia a vinda e, consequentemente, o turismo nacional", afirma.

Sala de aula 
A rede Mais Cursos Interativos vai inaugurar 120 franquias neste ano para cursos profissionalizantes de administração, hotelaria e técnicas de venda. A maior parte deles estará nas regiões Sudeste e Nordeste.

Macro 

Octavio de Barros, diretor do departamento de pesquisas econômicas do Bradesco, participa de evento que a Câmara de Comércio França-Brasil realiza, no dia 22. Debaterá questões sobre o cenário macroeconômico mundial.

Taça 
A vinícola gaúcha Don Laurindo vai lançar, no dia 22 de março, um rótulo de vinho por 100. "O preço vai variar conforme a cotação diária do euro", diz o enólogo Ademir Brandelli.

Toalha 
As vendas do segmento de cama, mesa e banho da região da 25 de Março caíram 2%, na primeira quinzena do mês, frente ao mesmo período de fevereiro, de acordo com o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo.

Alimentos ficarão 28,9% mais caros, diz consultoria

O preço dos alimentos deve subir 28,9% em 2011, de acordo com levantamento da consultoria EIU (Economist Intelligence Unit).
A alta será a segunda maior nos últimos seis anos. O maior aumento no período ocorreu em 2007, de 30,9%.
Mesmo se confirmada essa valorização, o Brasil não será tão afetado como o resto do mundo, segundo o coordenador do Índice de Preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Antonio Evaldo Comune.
"Como produtores, somos autossuficientes em diversos alimentos, como feijão", diz Comune, que prevê alta semelhante à do ano passado, de cerca de 12%.
Desde 2006, o único ano em que houve queda no preço dos alimentos para a população mundial foi em 2009, de 20,4%.
Os materiais para indústria também devem ficar mais caros neste ano.
A alta será de 26,6%, segundo o estudo da EIU. Em 2010, esse valor foi de 44,9%.
"As consequências econômicas da crise política nos países árabes e do terremoto no Japão ainda não podem ser avaliadas. Podemos ter surpresas nesses indicadores", diz Comune.

USINA
A catástrofe japonesa faz recrudescer o medo com a energia nuclear.
"Da mesma forma que os acidentes de Three Miles Island, nos EUA, em 1979, e em Tchernobyl, em 1986, desta vez poderá haver arrefecimento na vontade de construir novas usinas de energia nuclear", diz Sérgio Vale, da MB Associados.
Em diversos países, o peso dessa energia é alto.
Na França, 77% da geração de energia elétrica vem da energia nuclear. Na Suécia é de 43% e no Japão, 24%.
No mundo, a participação é de 13,5%. Os dados são da consultoria e da Key World Energy Statistics.
A mudança de matriz energética leva tempo, apesar da atual busca maior por energias alternativas.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION