terça-feira, março 15, 2011

JANIO DE FREITAS

Os visitantes
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/11 

Fato extraordinário, vem o presidente dos EUA visitar a nova presidente de país não incluído entre as potências


VAI DEMORAR ALGUM tempo, e nem se imagine quantos episódios, para a percepção do sentido real da visita de Barack Obama ao Brasil, com seus aspectos tão peculiares. Dentre esses, sobressai de imediato uma inversão que tem, por si mesma, peso histórico.
O roteiro convencional dos presidentes brasileiros, em conformidade com as regras predominantes entre os latino-americanos e com a grande maioria dos não desenvolvidos, é sua ida ao presidente dos Estados Unidos tão cedo quanto possível.
Recebidos, todos, para corridos minutos de uma espécie de beija-mão mais ocupado, em razão do pouco a dizer, pelas poses fotográficas. Mas fica selado o reconhecimento, digamos, do lugar que o visitante se dá e atribui ao seu país.
Dilma Rousseff não foi aos Estados Unidos. Nem procurou agendar com a Casa Branca uma visita, fosse assim que eleita, como outros fizeram, fosse já como presidente.
Por aqui, sabe-se lá o motivo, a conduta de exceção ficou como despercebida. Dilma Rousseff fez e pôs em preparo outras viagens.
Barack Obama complementa a exceção. Fato extraordinário, vem ele, vem o presidente dos Estados Unidos visitar um país não incluído entre as potências, e encontrar- se com sua nova presidente, em reviravolta à política das hierarquias que, se era prática do lado menor, até aqui foi também um protocolo de potência e poder dominante praticado pela política externa da Casa Branca.
Outra peculiaridade a sobressair de imediato, Barack Obama faz uma visita familiar. Ao menos por ora, não há como saber se faz uma visita de presidente que se acompanha da família, mulher e filhas, ou se é visita familiar que incluirá atos do presidente.
Mas fica muito clara a demonstração do componente amistoso que Barack Obama quer dar à sua vinda ao Brasil. O que não deixa de ser também um gesto político, no seu modo particularmente simpático de fazer política com face humana.
Como de praxe nos encontros presidenciais, já os respectivos governos e diplomatas acertaram entre si o que será dado como concordância a que os maiorais chegaram. Para eventual tratamento por eles, ficam apenas questões especiais em cada estratégia nacional, quando há tais pendências, e um ou outro assunto de momento.
Neste caso, há quem espere a declaração, por Barack Obama, de apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil no grupo dos integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Uma obsessão da diplomacia brasileira, incapaz de convencer que seja por mais do que pretensão de prestígio internacional. Sem a reforma que reveja o poder definitivo de veto no conselho, integrá-lo nada acrescenta ao que mais interessa contra as inconvivências no planeta.
Melhor expectativa é a que se dirija ao discurso que Barack Obama fará no Rio. Por ser, ao que está previsto, seu grande pronunciamento na viagem que estenderá ao Chile, o provável é que seu teor contenha implicações expressivas, não só para a América Latina.
Para além das palavras, o insondável exige espera.

VLADIMIR SAFATLE

De frente para o abismo
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/11 

Há alguns dias, a França descobriu que, caso a eleição presidencial fosse hoje, Marine Le Pen ganharia com 24% dos votos. Nova representante da extrema direita xenófoba e racista, Marine Le Pen é fruto direto de três fatores.
Primeiro, como lembra o filósofo Alain Badiou, a França sempre foi dividida em duas.
Uma, movida pelos ideais universalistas e igualitários da Revolução Francesa, e outra, conservadora e voltada para si mesma, voltada para um passado que, na verdade, nunca foi presente. Esta segunda França é a de Pétain, de Pierre Laval e do Front National.
Que ela possa voltar a ditar as cartas do espectro político, eis algo que só pode ser explicado por dois motivos. O primeiro deles é o lento processo de transformação da política em espaço colonizado por afetos como a insegurança, o medo contra o outro, o retorno paranoico à identidade nacional, além de uma visão museificada e morta da cultura. Um processo levado ao extremo por este aprendiz desastrado de feiticeiro que governa atualmente a França.
Desde o início de seu governo, economistas sensatos insistiram que seus planos baseados em diminuição de impostos para ricos e desmantelamento de serviços públicos teriam consequências desastrosas. Seus baixos índices de popularidade são apenas o resultado mais evidente destes equívocos.
Nesta situação onde os resultados econômicos e sociais são vergonhosos, não restou outra coisa a fazer que correr atrás de garotas muçulmanas com véus na cabeça e transformar o conflito social com habitantes da periferia em conflito cultural contra o islã. Assim, ficou fácil ao Front National dizer que, neste caso, melhor votar no original do que ser governado pela cópia.
Por fim, o Front National deve um agradecimento especial à esquerda. Neste exato momento, ocorre um fenômeno já visto na ascensão do nazismo: o deslocamento dos votos da esquerda popular e operária para a extrema direita.
Nas últimas semanas, grupos de sindicalistas passaram a apoiar abertamente Marine Le Pen. Com isto aparece o mais perigoso dos amálgamas: uma extrema direita que consegue vocalizar o descontentamento de setores marginalizados da população contra o "cosmopolitismo" de uma Europa que nunca conseguiu se constituir como garantidora de conquistas sociais.
Europa que só aparece aos olhos desta população como representante duma burocracia ligada ao mundo financeiro. Ironia do destino: a esquerda perdeu a coragem de denunciar conflitos de classe; já a extrema direita não. Por isto talvez deva meditar sobre esta afirmação de Warren Buffet, um dos maiores milionários do mundo: "É verdade que há uma guerra de classes, mas é a minha classe que está fazendo a guerra e ganhando".

JOÃO PEREIRA COUTINHO

Deus é verde

JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/11

É um silêncio de resignação e horror. Nada há a dizer ou a explicar, exceto enterrar os mortos e cuidar dos vivos


O TERREMOTO de Lisboa de 1755 não foi apenas um terremoto. Foi uma trágica, devastadora e assaz perfeita confluência de desastres. A terra tremeu. O fogo veio a seguir e devorou as casas. Finalmente, o mar devorou a cidade.
Foi então que a inteligência europeia, com Voltaire à cabeça, formulou uma questão básica sobre a matéria: como é possível que Deus tenha permitido semelhante barbaridade? As palavras de Voltaire correram a Europa e "Lisboa", a palavra, ganhou ressonâncias malignas que só "Auschwitz" acabaria por ter no século 20.
Mas a inquietação de Voltaire não foi a única. Como explica Susan Neiman num brilhante tratado sobre a história filosófica do mal ("Evil in Modern Thought", Princeton University Press, 358 págs.), o terremoto de Lisboa não se limitou a ser pasto para o racionalismo dos "philosophes". O terremoto, em suma, não mostrava apenas ao mundo a crueldade de Deus ou até, no limite, a Sua inexistência.
Para os anti-iluministas, provava o contrário: a justiça e a onipotência divinas sobre uma Humanidade corrupta e pecadora. O terremoto era um castigo de Deus sobre a licenciosidade dos homens.
E nem mesmo as diferentes sensibilidades religiosas da época escaparam às suas guerras privadas. Para os jansenistas, era um castigo sobre uma "cidade jesuíta" onde a Inquisição ainda funcionava. Para os jesuítas era o oposto: um castigo divino precisamente porque a Inquisição não funcionava com a dureza e a regularidade aconselháveis.
O italiano Gabriel Malagrida foi um dos rostos mais conhecidos desse fervor religioso e, um ano depois do terremoto, ainda pregava aos lisboetas que se arrependessem dos seus pecados e se preparassem para o Juízo Final. O terremoto do ano anterior fora, digamos, um mero aperitivo. O prato principal ainda estaria para vir.
O mundo acabou, é certo. Mas apenas para Malagrida, queimado pouco depois como herege num apropriado auto-de-fé. Conta a mesma Susan Neiman que a morte de Malagrida marcava também o fim de uma era que via nos "males naturais" uma expressão dos "males morais". Nas clássicas palavras do marquês de Pombal, a única resposta possível perante o terremoto era "enterrar os mortos e alimentar os vivos". Meditações teológicas para que, quando havia pestes e fomes a evitar? Os mortos foram enterrados. Deus também: os "males naturais" passaram a ser imprevisíveis, contingentes, inexplicáveis. E sobre eles passou a repousar um silêncio de resignação e horror.
É esse silêncio que a maioria observa com as imagens do Japão e a sua particular confluência de desastres. Nada há a dizer, nada há a explicar, exceto enterrar os mortos e cuidar dos vivos.
Mas há quem resista. Leio na imprensa do dia que o presidente do European Economic and Social Committee, órgão consultivo da União Europeia com certa importância "científica", aproveitou o momento para questionar se a catástrofe japonesa não seria um resultado do aquecimento global ou, como hoje se diz e uma vez que o mundo deixou de aquecer desde inícios do século 21, das "alterações climatéricas". Nas palavras do preclaro Staffan Nilsson, talvez a natureza esteja a falar conosco. Não deveríamos ouvi-la?
Não foi caso único: jornais e televisões foram invadidos por iguais interrogações, normalmente vertidas por políticos e fanáticos da causa ambientalista. A natureza, na visão dessa gente, não pode ser imprevisível, contingente, inexplicável. Como, na verdade, sempre foi ao longo da história. Isso seria um insulto para a nossa patética soberba.
Se o Japão ficou parcialmente destruído, existe uma causa última. E na impossibilidade de a causa ser um deus monoteísta, talvez as respostas se encontrem num deus panteísta: uma mãe natureza indignada com os abusos dos seus filhos, que resolve assim puni-los de forma brutal para que eles deixem de cometer pecados contra ela.
Enganam-se os que pensam que o espírito de Malagrida morreu nas chamas da Inquisição. Os fanáticos da causa verde apenas pintaram Deus com outra cor; mas a atitude mental é a mesma: a atitude de quem explica os "males terrenos" como um castigo dos céus. Ou, melhor dizendo, da Terra.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O ranking das universidades
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/03/11

As universidades brasileiras continuam fora das primeiras 200 posições nos rankings mundiais. Há várias entidades internacionalmente respeitadas que fazem anualmente rigorosas avaliações comparativas do setor e, nelas, nem mesmo a Universidade de São Paulo (USP) - a maior e mais importante universidade brasileira - aparece em posição de destaque.

No ranking mais recente, elaborado pela organização inglesa Times Higher Education, a USP ocupa apenas a 232.ª posição. A pesquisa foi feita com mais de 13 mil professores de 131 países, que destacaram os pontos fortes de suas respectivas universidades. Em termos de desempenho escolar, de produtividade científica e de reputação acadêmica, a liderança ficou com a Universidade Harvard, que obteve a pontuação máxima em todos os itens da pesquisa, seguida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e pela Universidade de Cambridge. Das 20 melhores universidades, 13 são americanas, 4 são britânicas, 2 são japonesas e 1 é canadense.

Das universidades da América Latina, a USP continua sendo a mais bem classificada. Contudo, no âmbito dos Brics - o bloco de economias emergentes, integrado pelo Brasil, Rússia, Índia e China - o Brasil é o único membro que não tem nenhuma universidade entre as cem melhores do ranking da Times Higher Education. Já a Rússia aparece em 33.º lugar, com a Universidade Lomonosov; a China, ocupa as 35.ª, 42.ª e 43.ª posições, com as Universidades de Tsinghua, Hong Kong e Pequim; e a Índia está em 91.º lugar, com o Instituto de Ciência.

O ensino superior no Brasil cresceu significativamente nas duas últimas décadas para acolher o crescente número de formandos do ensino médio. No entanto, a maioria tem bibliotecas desatualizadas e laboratórios defasados. O nível médio de preparo e informação do corpo discente também é baixo e a maioria das universidades adota critérios lenientes de avaliação. Elas permitem que alunos reprovados façam provas de reavaliação. E, se forem reprovados outra vez, ficam em "dependência" - com isso, não perdem o ano.

Além disso, os trabalhos de conclusão de curso de graduação - os TCCs, no jargão estudantil - estão se convertendo em compilações de artigos extraídos da internet. Como os professores não cobram nem rigor metodológico nem um mínimo de originalidade, os alunos não se sentem estimulados a fazer pesquisa. Nas cem melhores universidades mundiais, alunos reprovados num exame não têm direito a nova oportunidade - perdem o ano e, em alguns casos, não podem continuar na instituição.

Para os especialistas, se quiser classificar pelo menos uma instituição de ensino superior num ranking com as 200 melhores universidades mundiais, o Brasil terá de adotar uma estratégia com quatro objetivos. O primeiro é aumentar o intercâmbio de alunos e professores, para internacionalizar a universidade brasileira. O segundo é ampliar o número de trabalhos de docentes e cientistas brasileiros publicados nas mais prestigiosas revistas acadêmicas e científicas mundiais. O terceiro objetivo é dar plena autonomia às instituições, permitindo-lhes abrir novos cursos sem depender de autorização governamental e libertá-las da ditadura do chamado "currículo mínimo". O quarto objetivo é estimular a formação de universidades de elites, que formam os docentes para lecionar nas demais instituições e conduzir pesquisas de ponta.

Nos últimos anos, corporações e partidos políticos pressionaram as universidades a democratizar seus órgãos colegiados e o MEC chegou a patrocinar um projeto com esse propósito, entre 2003 e 2005. A questão, porém, não é política, mas pedagógica - e, quanto mais eficiente e produtiva for a universidade, melhor para a sociedade.

Segundo os especialistas, uma política voltada à consecução desses quatro objetivos demora de dois a três anos para dar resultados. Na prática, isso significa que tão cedo as universidades brasileiras não subirão de posição nos rankings mundiais de reputação acadêmica.

LUIZ GARCIA

Obama vem aí 
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 15/03/11

Anote, você leu aqui pela primeira vez: o presidente Obama, que chega ao Brasil nos próximos dias, tende a ser especialmente simpático às nossas posições e reivindicações porque somos o país do Hemisfério com grande população negra. 
Lamento informar que se trata de uma previsão talvez inevitável em algumas cabecinhas ingênuas, mas perfeitamente idiota. Nas relações internacionais, e mesmo na arena política doméstica, presidentes americanos não têm cor nem etnia; se pudessem, não teriam sequer sexo definido. Com todo o respeito, é claro. 
Essa ressalva não impede, evidentemente, que Washington atribua alguma importância à visita. Um presidente americano, é bom lembrar, não sai de Washington para fazer turismo. A América do Sul pode não ter importância crucial na agenda internacional de Obama, mas também está longe de ser desprezível. E o Brasil é o único país do hemisfério que faz parte do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), um bloco de razoável importância nas pendências e tendências da política internacional. O que certamente pode ter importância em situações críticas, como acontece hoje em relação à Líbia. 
Na primeira visita de um presidente americano à América do Sul em muitos anos, Obama vai também ao Chile e a El Salvador. Parece uma agenda escolhida por sorteio, mas é preciso reconhecer que o Departamento de Estado às vezes tem razões que a razão desconhece. Para o governo brasileiro, a visita será um sucesso se Obama fizer aqui alguma declaração que, mesmo sem ser enfática, permita a interpretação de que os EUA não vetam a principal reivindicação de Brasília no cenário internacional: um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Obama já tomou essa posição em relação aos pleitos de Índia e Japão, e seria quase uma gafe diplomática se não fizesse o mesmo em relação ao Brasil. 
Provavelmente, não seria um compromisso formal. O que faz parte do jogo. Visitas de chefes de Estado são episódios formais: as decisões realmente importantes são discutidas e acertadas pelos profissionais de cada chancelaria a portas fechadas. 
É evidente que Obama não vem ao Brasil a passeio, nem para resolver problemas. E sim para sacramentar decisões já acertadas e interessantes para os dois países: presidentes raramente fazem as malas para buscar soluções, e sim para celebrá-las. Há um leque delas esperando os jamegões presidenciais. 

VINICIUS TORRES FREIRE

A importância de ser prudente
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/11

"Macroprudencial", essa palavra horrenda, foi o jargão econômico da coleção de verão 2010-2011.


A expressão causou ainda mais sensação logo após a Quarta-Feira de Cinzas, quando saiu a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em que se lia que uma nova rodada de "macroprudenciais" poderia evitar novas altas de juros.

Neste início de Quaresma, alimenta discussões na equipe econômica e discretos arranca-rabos entre a direção do BC e economistas de bancos e de consultorias. O debate deve durar até o Carnaval de 2012.

"Medidas macroprudenciais" são decisões do BC que afetam a oferta de crédito e, assim, a taxa de juros para o tomador final. Em tese, tais medidas têm como objetivo evitar que o sistema financeiro se exceda, empreste demais a quem não tem como pagar. Mas, por reduzirem a oferta de crédito, também contêm consumo e inflação.

Os economistas de Dilma Rousseff debatem se é preciso tomar medidas a fim de conter a torrente de dólares que entra no Brasil, e não só devido à valorização do real.

A torrente de dinheiro barato no mundo anima bancos e empresas brasileiras a tomar empréstimos. Bancos ficam, pois, com mais dinheiro para emprestar num momento em que a autoridade econômica quer desacelerar a economia.

Além do mais, empresas podem ficar expostas demais a flutuações nas taxas de câmbio e de juros. A partir de junho, começa a aumentar o risco de que os juros subam nos EUA. Isto é, aumentam assim os riscos de alterações maiores no fluxo de dinheiro, em sua intensidade e direção. Variações no câmbio e nos juros sempre acabam pegando alguém de calças-curtas (endividado demais, sem "seguros" e proteções, hedge, contra variações no preço dos ativos financeiros etc.).

Enfim, novas medidas "macroprudenciais" continuam na cartucheira do BC, munição possível contra a inflação, alternativa à alta ainda maior da taxa básica de juros. O zum-zum-zum em Brasília é que, ainda neste mês, poderiam ser baixadas mais "macroprudenciais".

Os economistas de bancos e consultorias, de certo modo porta-vozes do "mercado", estão tiriricas com essa história de evitar altas dos juros por meio de decisões administrativas do BC (as "medidas macroprudenciais"): não é um método ortodoxo, convencional, não é um método bem testado nem bem conhecido de contenção do ritmo da atividade econômica e, pois, da inflação.

Ontem, houve uma das reuniões habituais entre BC e "mercado", nas quais a autoridade monetária toma o pulso e checa o humor da praça, ouve análises de conjuntura, discute tais opiniões e dá uma ou outra dica sobre o que pretende fazer.

O BC pôde perceber o mau humor dos povos do mercado. Na prática, foi mais ou menos inquirido a dizer com base em quais informações optou por dar tanta importância às "macroprudenciais"; se não está tranquilo demais com a inflação em alta e a economia ainda aquecida além da conta (embora nem no mercado tal opinião seja unânime).

O pessoal do BC (o presidente, Alexandre Tombini, e três diretores) fechou a cara, não deu satisfações e disse que estava lá mais para ouvir.

Em suma, o "mercado" não gosta de novidade. Tende a gostar de juros altos. E vai demorar até se saber se a nova linha do BC funciona.

MÍRIAM LEITÃO

Efeito Japão
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 15/03/11

O mundo assiste em tempo real aos desdobramentos da tragédia que abalou o Japão e torce para que a situação não ganhe contornos ainda mais dramáticos, já que a toda hora surgem novas notícias sobre tremores e o risco de um acidente nuclear de grandes proporções não está afastado. Mas a catástrofe japonesa não abalou os mercados, nem deve mudar os rumos da economia mundial.

A bolsa de Tóquio fechou ontem com forte queda, de 6,18%, refletindo os prejuízos da tragédia para a economia local. Uma parte do país praticamente sumiu do mapa e a reconstrução custará caro, mas a reação dos demais mercados foi amena. As bolsas asiáticas fecharam com pequenas altas ou pequenas quedas, assim como a Nasdaq e as bolsas europeias.

No Brasil, a Bovespa fechou em alta de 0,73%, com forte destaque para a Usiminas, que viu suas ações subirem mais de 9%. A crise no Japão pode diminuir a oferta de aço mundial e favorecer a indústria siderúrgica brasileira.

Para analistas, a reação dos mercados reflete o peso do Japão na economia mundial. A terceira economia do mundo há tempos não é mais o motor do crescimento econômico. E o Brasil estaria em uma posição ainda mais segura, como exportador de matérias-primas, como o minério de ferro e o aço, cuja demanda deve aumentar fortemente no processo de reconstrução do país asiático.

Na visão do economista Gustavo Loyola, ex -presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, o Brasil não tem motivos para grandes preocupações, já que a crise japonesa não deve afetar nenhuma variável econômica que nos diga respeito, como preços de commodities ou oferta de alimentos, por exemplo. Se o desastre fosse na China, o efeito seria muito maior:

- Não vejo o Japão alterando de forma expressiva as perspectivas internacionais. Me preocupa mais a crise no Oriente Médio.

O economista Cristiano Souza, do Santander, tem avaliação parecida. Acredita que a crise no Japão também não deve prejudicar os investimentos no Brasil.

- Os possíveis canais de contágio são muito pequenos. Ninguém vai desmanchar uma fábrica. Não muda o panorama de demanda do país - afirma.

Essa percepção é reforçada pela manifestação da Jetro, agência de comércio exterior ligada ao Ministério da Economia japonês, que promove, além do comércio, investimentos mútuos entre o Japão e o resto do mundo.

Segundo a Jetro, mais de 90% dos empresários que têm procurado os serviços do escritório em São Paulo estão baseados na região de Tóquio ou na região oeste do Japão, áreas que não foram muito afetadas pelo terremoto e pela tsunami. Portanto, considera pouco provável que haja uma queda nos investimentos japoneses no Brasil em decorrência dos desastres.

Ressalva

Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o impacto da tragédia japonesa sobre nossas exportações não pode ser desconsiderado. Ele prevê atrasos e filas no desembarque de produtos, já que o terremoto danificou portos importantes do país. O Japão é o sexto principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países atingiu US$14,1 bilhões em 2010, recorde histórico.

Dia seguinte

Já Francisco Turra, da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), conta que no primeiro dia de negócios com os japoneses, após a tragédia, não houve cancelamento de pedidos. O Japão é o segundo maior comprador de frangos do Brasil e a expectativa da Ubabef é de crescimento de 5% a 10% no volume exportado para o país este ano, totalizando US$1 bilhão em vendas.

- Este é o momento de o Brasil fazer o máximo para ajudar os japoneses, porque eles devem priorizar a compra de alimentos. É um mercado importante para nós, porque vendemos muito frango processado, de maior valor agregado - disse.

Fora de foco

Os possíveis efeitos da crise japonesa sobre a economia brasileira foram mencionados de forma rápida e genérica nas reuniões de economistas e analistas de mercado com o Banco Central, ontem, em São Paulo. Ninguém mostrou grande apreensão com esse fato novo no cenário externo. O que predominou foi a preocupação com a inflação em alta e com a rigidez dos preços dos alimentos e serviços, que não são diretamente afetados pela política monetária e fiscal. O efeito do reajuste do salário mínimo em 2012 sobre a inflação de serviços foi um dos problemas levantados.

Muitas dúvidas sobre as tais medidas macroprudenciais, mencionadas na última ata do Copom, que, pelo tom da ata, já seriam favas contadas para o mercado. Mas ninguém sabe exatamente o que a equipe econômica planeja e isso traz ainda mais insegurança, segundo um analista.

Em comum nas análises, a percepção de que a economia está desacelerando, enquanto a grande dúvida é o ritmo dessa desaceleração, já que os sinais são contraditórios, com a demanda por crédito ainda aquecida e o mercado de trabalho sem sinais claros de desaquecimento.

As reuniões do Banco Central com representantes do mercado, de grandes empresas e de consultorias servem de subsídio para a elaboração do relatório de inflação, mas o BC não se manifesta nesses encontros, é só ouvidos.

ANCELMO GÓIS

Menino do Rio I
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 15/03/11

Sérgio Cabral e Eduardo Paes vão se empenhar para garantir público na palestra de Obama, domingo, na Cinelândia. Os dois enviarão convites para que pessoas representativas da sociedade estejam lá. 

Menino do Rio II
Alguns detalhes da segurança de Obama na Cinelândia são, claro, mantidos em sigilo. Mas num discurso no Grant Park, em Chicago, por exemplo, o americano falou protegido por duas grossas paredes de vidro blindado. Além disso, o palco foi reforçado
com chapas de aço. 

Menino do Rio III
Por causa de Obama, a prefeitura suspendeu eventos de rua no Centro no fim de semana. A programação do CCBB, por exemplo, teve de ser alterada. O projeto “Sanfoneando, 80 anos de Sivuca”, foi adiado. 

Menino do Rio IV 

A escolha da Cidade de Deus para receber Obama causa ciúme em outras comunidades. Hoje, o presidente da Associação dos Moradores da Vila Kennedy, Sérgio Lima, entregará carta no Consulado dos EUA, lembrando que a favela foi construída nos 1960 com recursos da Aliança para o Progresso e, na última eleição americana, pôs no lugar faixas de apoio a Obama. 

No mais
Se querem garantir público na Cinelândia num domingo para ouvir Obama em inglês, é bom convocarem o Monobloco ou a bateria da Mangueira. Ou então é melhor fazer logo o evento no Posto 9. Se der sol, a audiência é garantida.

Dulce no cinema
A história de irmã Dulce, a freira baiana cujo processo de canonização já está no Vaticano, vai virar filme. À frente, a produtora Iafa
Britz, de “Nosso lar”, o longa baseado em Chico Xavier visto por mais de 4 milhões de pessoas.

Kid Abelha volta

Depois de quatro anos, a banda Kid Abelha, de Paula Toller, vai se reunir novamente para uma turnê. O show, “Gliter de principiante”, estreia dia 14 de abril, no Teatro Guaíra, em Curitiba. Depois, virão São Paulo e Rio, dias 7 e 14 de maio. A ideia é
gravar um DVD ao vivo. 

João Gilberto

A editora Cosac Naify prepara um livro sobre João Gilberto, que completa 80 anos dia 10 de junho. Será uma reunião de vários artigos sobre o músico que estavam espalhados pelo mundo inteiro, além de textos raros publicados no início da bossa nova.

Denúncia do MP
O Ministério Público denunciou um ex-professor de teatro do Colégio São Vicente, do Rio, acusado, em 2010, de abuso sexual a alunos. Há pelo menos seis relatos.

Paulo Mendes
O acervo do escritor mineiro Paulo Mendes Campos (1922- 1991) será incorporado ao Instituto Moreira Salles, no Rio. 

Farra da credencial 
A Liga das Escolas de Samba do Rio credenciou 20 mil pessoas em 2011, quase o dobro das 11 mil de 2010. A farra foi tanta que faltou espelho para os documentos e foi preciso usar as marcas d’água do ano passado. Por causa disso, houve vários problemas com credenciados nas entradas da Sapucaí. 

Disputa na ACRJ

Ronaldo Cezar Coelho, atual vice-presidente, também entrou na disputa pela presidência da Associação Comercial do Rio. Vai concorrer em maio com Antenor Barros Leal. 

Ainda a merda 
A respeito da nota “Merda no BNDES”, o banco diz que o fato ocorreu no 21o- andar no Edifício Ventura, onde ocupa alguns andares. Segundo o BNDES, um vazamento de dejetos causado pelo entupimento na tubulação de esgoto contaminou o sistema
da casa de máquinas do arcondicionado. Por causa do cheiro de cocô, empregados foram dispensados. Ah bom! 

Pirata do Fla
Com o cerco à pirataria na Rua Uruguaiana, camelôs do Rio fizeram a festa no Fla x Flu, domingo. Três homens em frente ao Engenhão apregoavam: “Camisa do Ronaldinho por R$ 10!” Alguns metros adiante, outro trio fez o mesmo. Em segundos, as camisas, cópias do terceiro uniforme, acabaram.

JOSÉ SIMÃO

Voltei! Tá todo mundo louco! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Ecos do Carnaval. Socuerro! Disaster movie! Jogaram o planeta num liquidificador: 2012 foi antecipado pra 2011! A Mãe Natureza virou uma madrasta!
E no Japão dá terremoto e tsunami e o povo continua jogando filme no YouTube, tuitando, usando webcam e falando no Skype. Aqui dá uma chuvinha e a net cai, o Speedy fica lento e o celular não funciona.
E no "Hoje em Dia" entrevista com o físico nuclear especialista em catástrofes: Luiz Antonio Terremoto! Rarará!
E adorei o cartaz num bar da praia do Forte, Bahia: "Banheiro VIP de Carnaval! Xixi: R$ 0,50. Cocô feminino: R$ 2. Cocô masculino: R$ 5. Proibido: vômito, sexo, bronha, banho na pia e pum em eceço". Rarará! Quem controlou isso? Quem ficou na porta do banheiro pra controlar?
Voltei! E fiquei atônito com três coisas. 1) "Dilma descansa na Barreira do Inferno." E ela levou aquele monte de dragão amigas dela? Aí seria Quinto dos Infernos. Dilma descansa no Quinto dos Infernos!
2) Sandy é a nova garota Devassa. Então muda o nome da cerveja de Devassa pra Cabaço. Rarará! Só falta ela posar pelada. Pra uma edição especial da "Playboy": PLAYCENTER. Sandy posa pra Playcenter! A Sandy devia ser garota propaganda da Fanta Uva!
3) Ana Hickman caiu na avenida. É a mesma coisa que a Torre Eiffel desabar! A Ana Hickman parece uma antena. Pega até a rádio de Bagdá! E a Ana Hickman cai e continua linda e rica, a minha vizinha cai e quebra os dentes. Rarará!
E depois da apuração das escolas, a única que caiu mesmo no Carnaval do Rio foi a Ana Hickman. Aliás, até a Ana Hickman cai, só o Sarney que não cai.
E aquela cena do tsunami invadindo o Japão é a visão ampliada do córrego de Aricanduva!
O Brasileiro é cordial! A Volta do Gervásio! Olha a faixa que o Gervásio pendurou num viaduto da Imigrantes no Carnaval: "Se eu vir aqui algum velhaco usando a Lei de Gerson e ultrapassando pelo acostamento, vou tirar uma foto desse apressadinho metido a "Mad Max" e publicar no Twitter até o cabrunco aprender o que é cidadania. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
O Gervásio virou, digamos assim, um símbolo nacional. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

RODRIGO LARA MESQUITA

Perde a Embrapa, perde o Brasil
RODRIGO LARA MESQUITA
O Estado de S.Paulo - 15/03/11

No momento em que o País discute no Congresso Nacional a reforma do Código Florestal e enfrenta grandes desafios de planejamento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) extingue, em Campinas, a sua única área de excelência em gestão territorial estratégica.

A Embrapa Monitoramento por Satélite foi criada há mais de 20 anos com a finalidade de ser um instrumento estratégico do Ministério da Agricultura e do Estado brasileiro em planejamento e monitoramento territorial.

A equipe do centro desenvolveu sistemas inéditos, baseados no uso de satélites, para monitorar queimadas e desmatamentos na Amazônia; controlar a febre aftosa na faixa de fronteira; avaliar o alcance territorial das mudanças introduzidas na legislação ambiental; mapear a irrigação no Nordeste, a urbanização nos municípios brasileiros e a expansão da agroenergia; monitorar o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em todo o País e outros estudos. A maior parte dos resultados inovadores dessas pesquisas e prestações de serviços está disponível no site da Embrapa Monitoramento por Satélite (www.cnpm.embrapa.br).

Tendo em perspectiva a Eco-92 e as questões relacionadas à gestão territorial estratégica da Amazônia, apoiei a instituição, criada em 1989 por determinação do presidente José Sarney, e contribui para seu crescimento por meio do Comitê Assessor Externo (CAE). Rapidamente o centro passou a fornecer informações para diversos órgãos da Presidência da República, para as diversas cadeias produtivas da agricultura, para a mídia, para organizações não governamentais e para a sociedade brasileira em geral.

Os dados à disposição em seu site chegaram a receber mais de 1 milhão de hits diário, com picos em lançamentos de resultados de projetos inovadores como O Brasil Visto do Espaço, O Brasil Visto em Relevo ou ainda Rio Demene - um caminho para a Amazônia. O centro passou a receber e a formar estagiários, bolsistas, mestrandos e doutorandos da Universidade de São Paulo, da Unicamp, da Unesp, da Unip e outras, além de participar de diversos projetos de pesquisa internacionais e bilaterais em sua área de atuação.

Em razão dessa história exemplar, ao prestar serviços e trazer soluções tecnológicas adequadas, competitivas e viáveis na temática da gestão territorial, o centro angariou reconhecimento público por seu trabalho, gerando em 2008 - enquanto a problemática em torno das questões de ordenamento territorial ainda constava do seu norte estratégico - 461 notícias sobre suas atividades, em 253 veículos distintos de imprensa no Brasil e no exterior. Esse processo culminou, em 2009, com a inauguração de suas modernas instalações pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado de cinco ministros e autoridades do Judiciário e do Legislativo.

Em 20 anos de existência o centro gerou mais de uma centena de zoneamentos e sistemas de gestão e monitoramento territorial para a agricultura e o agronegócio, desde a escala local até a planetária. Foram mais de 100 mil mapas e publicações, e suas informações científicas beneficiaram milhões de usuários no Brasil e no exterior, além de mais de 2 mil parceiros e clientes diretos. Mapas mundi e do Brasil, gerados a partir de imagens de satélite pela área de Gestão Territorial Estratégica do centro, ainda decoram várias salas da presidente da República, do ministro da Agricultura e de autoridades do governo federal.

Com a mudança na direção do centro, no final de 2009, teve início um processo de paralisação de diversas atividades de prestação de serviços aos Ministérios da Agricultura, do Planejamento, aos órgãos da Presidência da República e às organizações da sociedade, acompanhada de uma pressão sobre pesquisadores que já rendeu um processo por assédio moral contra a atual chefia na Justiça do Trabalho. Em 2010, o centro deixou de utilizar mais de R$ 6 milhões disponíveis para o monitoramento de obras do PAC!

No início deste ano, a atual chefia tentou apagar o passado do centro, ao retirar do acesso público os resultados de cerca de 50 projetos e ações de pesquisa, num total de milhares de páginas. Os dados só retornaram ao site, dois meses depois, após intervenção do ministro Wagner Rossi. Ele atendeu aos reclamos de parceiros e usuários do site, numa movimentação que envolveu até o prefeito de Campinas em manifestação pública sobre o tema (http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=5111).

Essa ação destrutiva culmina agora com o desmonte injustificável da área de Gestão Territorial Estratégica e a destituição de sua liderança, efetivada sem nenhuma consulta prévia ao CAE, aos parceiros e beneficiários de seu trabalho na Casa Civil e no gabinete de Segurança Institucional da Presidência, em outros Ministérios e, principalmente, no da Agricultura.

É inacreditável a ousadia dos projetos pessoais de alguns e dos interesses escusos de outros, ao agir com a res publica como se fosse sua propriedade privada. Oxalá o governo federal e, em particular, o ministro Wagner Rossi e a presidente Dilma Rousseff saibam que o País não pode prescindir de um trabalho tão essencial para a defesa da agricultura brasileira, aqui e no exterior.

Se o ministro Rossi e a diretoria da Embrapa não reverterem esse descalabro do atual gestor do centro, serão no futuro responsabilizados pela sociedade civil pela perda de um precioso cabedal de gestão estratégica territorial. Por não compartilhar tal irresponsabilidade na gestão de um serviço estratégico para o Brasil, apresento publicamente minha demissão do Comitê Assessor Externo da Embrapa Monitoramento por Satélite.

JORNALISTA, É DIRETOR DA RADIUMSYSTEMS - PEABIRUS

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Dia da faixa
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/03/11

Questionado pelo senador Wellington Dias (PT) sobre qual seria a melhor data da posse do Presidente da República, o senador Aécio Neves saiu-se com essa: "Prefiro o dia 6 porque é... Folia de Reis".

Brincadeira à parte, o fato é que o debate, que começa hoje na Comissão de Reforma Política, tem apenas um consenso: o dia 1º é muito ruim.

Dia da faixa 2
Na mesa existem pelo menos quatro datas propostas: 31 de dezembro ou 2, 6 e 10 de janeiro. "O problema do dia 10, sugestão de Sarney, é que fica distante do começo do ano e bagunça os cronogramas fiscal e burocrático", afirma Dias, defensor dos dias 31 ou 2.

Esquentando
Dilma cancelou a primeira reunião do Conselhão deste ano, marcada para quinta-feira. A explicação oficial foi a agenda da presidente.

Enquanto isso, nos bastidores já há manifesto contra a ida do Conselhão da Secretaria de Relações Institucionais para a de Assuntos Estratégicos, sob comando de Moreira Franco. Assinado por 40 dos 90 membros.

Ideologia
Dilma e o meio-irmão búlgaro Luben não se conheceram, mas sofreram perseguição pelo mesmo motivo: o comunismo. Ela foi presa por defender este regime. Ele lutou contra o autoritarismo em seu país e, por isso, nunca saiu da Bulgária.

Esta e outras histórias estão em Rousseff, livro sobre a família. Jamil Chade, correspondente do Estado, e Momchil Indjov, repórter búlgaro, lançam a obra hoje, na Livraria da Vila dos Jardins.

Hora H
José Luiz Penna, presidente do PV, comentou o vazamento das usinas nucleares no Japão e o consequente fortalecimento dos verdes na Europa: "No Brasil, não sofremos tsunami nem terremoto, mas as usinas de Angra passam a ter maior vulnerabilidade diante de algo dessa magnitude".

Para ele, cai por terra a ideia de segurança. "Nós fazemos advertências, não só do lixo nuclear, mas de possíveis intempéries desse tipo. Isso evidencia que a nossa discussão é pertinente".

Tristeza
Tomie Ohtake está consternada com a situação no Japão. Lembra-se nitidamente dos terremotos de Tóquio, em 1923, e de Kobe, há 15 anos, quando perdeu um grande amigo, o pintor e filósofo Waichi Tsudaka.

Óleo e água
Não é só de confusão com Dado Dolabella que Luana Piovani vive. A moça proibiu a Brahma de convidar seu ex Felipe Simão para o Desfile das Campeãs, no Rio. Nem como acompanhante de alguém. Era ela ou ele.

A cervejaria optou por ela.[17 E 18/12]

Sem palavras
Quem está sofrendo com o acordo ortográfico da língua portuguesa é Moçambique. Segundo Zeferino Martins, ministro da Educação moçambicano, a implementação do acordo no país custará... US$ 100 milhões.

À mão
A organização da São Paulo Restaurant Week trará uma novidade na edição de setembro: finalmente será possível fazer reservas on-line dos restaurantes do festival - solicitação recorrente da clientela.

Mas não valerá no evento que começa segunda que vem.

SobrevidaNelson Baskerville, pai de Mateus Solano em Viver a Vida, pinçou um episódio dramático da própria vida e fez dele espetáculo de teatro.

Luis Antonio - Gabriela conta a história de seu irmão mais velho, que se assumiu travesti e morreu de Aids na Espanha, há cinco anos. A estreia é quarta, no Centro Cultural São Paulo.

Na frente
Alckmin encontra-se amanhã com Dilma no Palácio do Planalto. Pela segunda vez neste ano.

Zé Dirceu comemorou seus 65 anos, sábado, com cerca de cem amigos em Vinhedo. Trouxe de Brasília o dono do Piantella para fazer a feijoada. Entre os convidados, Fernando Morais, José Luis Oliveira Lima e Rose Nogueira, ex-companheira de cela da presidente.

Frank Sinatra é tema de curso, a partir de hoje, na Casa do Saber. Ministrado por Zuza Homem de Mello.

Abre hoje no Centro da Cultura Judaica a mostra Marcados Para, de Claudia Andujar.

Jards Macalé canta Moreira da Silva sexta-feira. No Sesc Vila Mariana.

A Arterix inaugura hoje a 2ª mostra Dobradiça, com fotos de Cholito e Ana Almeida.

O Festival Ibero-Americano de Teatro de São Paulo apresenta hoje os espetáculos Sin Fin (Collage em B/N) e As Folhas do Cedro. No Memorial da América Latina.

Marcinho Eiras toca no Dona Flor, em Moema. Hoje.

Interinos: Débora Bergamasco, João Luiz Vieira, Marilia Neustein e Paula Bonelli.

Mão na claquete

Depois de dois curtas em Cannes e da colaboração como roteirista de À Deriva, de Heitor Dhalia, Vera Egito está prestes a filmar o primeiro longa. Trata-se de uma narrativa de ficção sobre o histórico conflito entre USP e Mackenzie, na Rua Maria Antônia, nos anos 1960. A diretora contou detalhes à coluna.

Sobre o que será a história do longa Maria Antônia?

O filme, que se passa em 24 horas, é baseado em conjunto de eventos reais que aconteceram no ano de 1968, entre estudantes do Mackenzie e da USP. O protagonista, de 18 anos, não é exatamente um jovem engajado, mas se envolve e acaba saindo transformado.

Em que pé está o projeto?

Estamos com o argumento e o projeto aprovados na Ancine. Vamos começar a captação e estamos selecionando a equipe.

Como surgiu o interesse sobre este assunto?

Eu moro perto daquela rua e sempre ouvi sobre a história. Até que me deu um estalo e percebi o potencial para um filme. Existem dois conflitos interessantes: o ideológico, entre as pessoas, e o físico, pois mexeu com a estrutura das duas escolas.

Você também está elaborando o roteiro do filme sobre a banda Restart, não é?

Sim. Temos um prazo curto porque vamos filmar em julho. É um projeto comercial, com público-alvo claro. Fui a alguns shows da banda, visitei os meninos no camarim. Será uma aventura a la Roberto Carlos e a Jovem Guarda. É um filme jovem, pop e leve. Eles são encantadores. /MARILIA NEUSTEIN

ILIMAR FRANCO

A expectativa
ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/03/11
O Brasil deve finalmente receber o aval dos Estados Unidos para integrar o Conselho de Segurança da ONU. Na visita que fará ao país, a partir de sábado, o presidente americano, Barack Obama, está inclinado a manifestar apoio à presença brasileira no Conselho de Segurança numa ONU reformada. O “sim, mas não agora” foi recebido com simpatia pela presidente Dilma Rousseff e pelo Ministério das Relações Exteriores.

"Estão saindo devagar. Como convém” — Michel Temer, vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB sobre a nomeação para cargos federais

WIKILEAKS. O economista Raul Velloso disse para o conselheiro econômico da Embaixada dos EUA Bruce Williamson, em março
de 2006, que Geraldo Alckmin tinha dificuldade, assim como muitos outros políticos, de entender a ligação entre políticas fiscal e monetária e suas implicações “no controverso tema” das altas taxas de juros. Alckmin concorria ao Planalto. A conversa é relatada em telegrama confidencial da embaixada.

Sobrou
O governo Dilma não vai nomear dois políticos para a CEF. Com a preferência do PMDB pela nomeação de Geddel Vieira Lima na Vice-Presidência de Pessoas Jurídicas, o Planalto procura agora um lugar para alojar o ex-governador José Maranhão (PB).

Martelo batido
O ex-governador do Paraná Orlando Pessuti (PMDB) também vai virar banqueiro. Está tudo acertado para que ele seja nomeado vice de Agronegócios do Banco do Brasil. Consta que o ex-senador Osmar Dias (PDT-PR) não quis o cargo.

Raspa do tacho
Doze senadores que não se reelegeram gastaram praticamente toda a sua cota de verba indenizatória mensal, R$ 15 mil, em janeiro, quando o Congresso está de recesso. Os mandatos expiraram em 1º de fevereiro. Desses, quatro gastaram exatamente R$ 15 mil. Foram eles: Adelmir Santana (DEM-DF), Heráclito Fortes (DEMPI), Mão Santa (PSC-PI) e Osmar Dias (PDT-PR). Efraim
Morais (DEM-PI) gastou R$ 14.997.

Caixa da Pandora
Prestes a oferecer denúncia da Operação Caixa de Pandora, a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge ouviu de novo Durval Barbosa e Edmilson Edson dos Santos, o Sombra. Ela detectou falhas no inquérito policial.

RachouO PMDB dificilmente unificará suas bancadas no Congresso na defesa do “distritão”, proposto pelo vice-presidente Michel Temer. A tendência do PMDB do Sul do país é marchar junto com o PT, pela implantação do voto em lista.
 A DIREÇÃO do DEM debatia ontem à noite a substituição dos deputados federais paulistas Guilherme Campos e Walter Ihoshi da nova Executiva Nacional. Eles são ligados ao prefeito Gilberto Kassab.
 REFORMA POLÍTICA. Depois da suplência de senador e da data de posse de presidente da República, a comissão de reforma política do Senado debaterá voto facultativo e fim da reeleição.
 O MINISTRO da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, abre amanhã seminário sobre “O Futuro da Previdência Social no Brasil”.

ARNALDO JABOR

O doce veneno do pecado
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 15/03/11

Fui ver o filme Bruna Surfistinha, o mais recente fenômeno de público e penso nas razões do imenso sucesso, para além das qualidades do filme, além do carisma de Débora Secco. Uma das razões é que a prostituta nos fascina. A chamada profissão mais antiga provoca intensa curiosidade nos caretas e pessoas "comuns". Em nosso imaginário, a prostituta conhece mistérios de liberdade que nos são vetados. Ela vive uma impalpável ambiguidade que nos enlouquece: ela vive no mal e dá prazer, ela é um mal e um bem, ela está entre a liberdade sexual e escravidão. As peruas a desprezam e invejam. A prostituta é um mito. Claro que não falo da prostituta real, pobre, sofrida. Não me refiro ao problema social. Falo das que povoam nossas fantasias imaginárias.

A prostituta antiga era o oposto das esposas santas. Hoje, nossas mulheres da "vida" são chamadas de "garotas de programa" e fazem da cultura do entretenimento tanto quanto os filmes sobre elas. A prostituta contemporânea não é uma marginal; ela está no centro do sistema, como os advogados, banqueiros ou dentistas. A exploração e violência continuam, claro. Mas a aura obscura do pecado se desfez. Antes, nossas bacantes se escondiam pelos cantos, trêmulas de vergonha. Agora, com a permissividade pós-tudo, ser uma "mulher da vida" é uma profissão mais nobre do que a vida de muita perua casada (também uma profissão rentável). Aliás, o nome "mulher da vida" já denota que elas se aventuram no lugar abstrato onde imaginamos que se passa a "realidade", a aridez do mundo sem lei, o mundo como um nervo exposto, demandando coragem e sobrevivência. Quando íamos aos prostíbulos adolescentes, tínhamos a sensação de conhecer o lado mau da vida, o lado "real" que nos escondiam, conhecer quase um doce "crime". Eu fui a bordéis para conhecer a "vida".

Antes, as "decaídas" precisavam do casamento sagrado que as excluía. A micheteira antiga era uma necessidade fisiológica, uma extensão, um "puxadinho" das famílias, para compensar a tristeza do amor conjugal.

Hoje elas são "acompanhantes", "scorts", "promoters" e outros eufemismos. São malhadas, aerodinâmicas, sadias. Hoje, elas são digitais, milhares de flores se oferecendo na Web.

Antigamente, vivíamos uma "feérie" de gonorreias. Hoje, elas é que temem as tuas doenças. A camisinha te exclui, te faz ridículo com o pênis encapotado como um cachorrinho de suéter. A camisinha te humilha e ofende; com a camisinha, você é que é o perigo - ela, a saúde.

As ex-decaídas (hoje ascendentes) modernas não aspiram a uma "vida normal"; preferem a gelada aventura pela grana. Cada vez mais a prostituta é pura - a vida social é que se "bordelizou". A mulher romântica e a "perdida" infeliz são invenções dos homens, para minorar a insegurança que sentem diante das mulheres. Os fregueses de bordéis pagam as prostitutas para que elas não "existam".

A prostituta contemporânea não se envergonha do trabalho e não tem sentimento de culpa; talvez, apenas nojo... de você. Elas te olham de igual para igual, ou melhor, com uma finíssima superioridade. Ela são ativas, despachadas, tomam providências, tirando do homem seu maior prazer, que era o sentimento de superioridade moral em folga passageira - um habitante do mundo limpo viajando no mundo "sujo". Hoje, o sujo é você. Havia no velho putanheiro a vaga crença na recuperação das "infelizes". No ar dos prostíbulos antigos, flutuava um silêncio triste pela ausência de amor, por um visível sentimento de culpa que fregueses tentavam preencher com uma repugnante bondade. O diálogo melodramático d"antanho denotava seu desejo de parecerem mais "humanos":

"Por que você caiu nesta vida?" - perguntavam os hipócritas bordeleiros, antes do ato.

"Ah... meu noivo me fez mal, meu pai me expulsou..." - gemia a rapariga. "Mas, por que você não larga esta vida?", sussurrava o canalha, superior e sinistro, tirando as calças.

Por isso é que elas se apaixonavam pelos cafetões boçais, que as espancavam com jubilosas bofetadas.

Elas não pensam em se salvar pelo casamento. Esse papo da Pretty Woman já era; elas não sonham com algum babaca romântico que lhes dê a mão; muitas são até bem casadas e ajudam os maridos. Conheci uma professora de Ribeirão Preto que se prostituía regularmente no Rio, num famoso lupanar da Rua Senador Dantas, onde era muito desejada, orgulhosa como uma rainha-mãe.

Mais "anormais" que elas são os homens que as procuram. Trata-se de um teatro a dois, onde as gargalhadas, os gozos fingidos escondem o drama, a dor, a realidade.

Os putanheiros não querem saber da realidade. Assim, escondem de si mesmos o constrangimento da situação, com mentiras consentidas, como se fosse possível o encontro feliz entre classes sociais. Para eles, a prostituta é uma utopia, a prostituta é o socialismo.

Há algo de artista nas prostitutas; mais que atrizes, elas acreditam em sua obra. Nelson Rodrigues disse: "Não há atriz mais inepta ou medíocre que represente mal uma prostituta. A meretriz de teatro é perfeita como a Eleonora Duse". Mais artísticos ainda são os travestis, pois eles fazem arte séria e corajosa. O travesti tem orgulho de ser quem é; ele é uma afirmação de identidade. Há algo de clone no travesti, algo de robô, pois eles nascem de dentro de si mesmos; eles são da ordem da invenção poética.

Antigamente, ia-se ao bordel em busca de ilusões. O homem queria se sentir um sultão no harém. O putanheiro era o "sujeito" do lupanar. Hoje, ele é o "objeto". Há um vento gelado nos bordéis atuais - limpos, rápidos e eficientes como uma lanchonete. Há algo de enfermeira ou psicóloga na moderna "cocote". Há algo de McDonald"s nos puteiros de hoje.

DORA KRAMER

Em petição de miséria
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/03/11
O partido já foi influente e essencial: dividiu o poder com todos os governos da ditadura até a eleição de Lula e teve papel decisivo para a redemocratização, quando abandonou a candidatura presidencial apoiada pelo regime militar e se aliou à oposição para eleger Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985.

De Arena mudou para PDS, tornando-se Frente Liberal (PFL) ao se juntar com o MDB de Ulysses Guimarães. Virou Democratas em 2007 com o plano de se modernizar e livrar-se do estigma da ditadura, mas deu errado. Hoje o partido se reúne em convenção extraordinária para juntar os cacos e tentar sobreviver à derrocada total.

O DEM que nesta terça-feira elege presidente o senador José Agripino Maia é um partido em petição de miséria: bancada minguante no Congresso, quantidade decrescente de interessados em se candidatar pela legenda, destituído de base social, sem perspectiva eleitoral para 2012, desprovido de seu tradicional combustível (o poder) e com a imagem marcada pela cena de sua última aposta política de fôlego - José Roberto Arruda - recebendo dinheiro ilícito exibida em rede nacional.

Uma trajetória ladeira abaixo para adversário nenhum pôr defeito. Uma situação que não encontra semelhança em nenhuma outra agremiação do atual quadro partidário: o PMDB reinventou-se depois da Nova República e sobreviveu; o PSDB manteve presença nos grandes centros e mal ou bem sobreviveu à perda da Presidência da República.

Mesmo o PT, que em determinado momento pareceu soçobrar sob os escombros de um escândalo mais detalhado e abrangente que o vídeo que detonou Arruda, sobreviveu, reelegeu um presidente e elegeu a sucessora.

O que houve, então, com o DEM? Uma série de coisas. Um partido não tem morte súbita, definha.

No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o ainda PFL rompeu com o governo. Na eleição presidencial seguinte lançou candidatura própria, fulminada pela exibição de fotos do dinheiro de origem (até hoje) não explicada encontrado pela Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da candidata Roseana Sarney.

O partido, sempre exímio na arte de compor e articular, brigou feio com o ex-parceiro PSDB. Afastou-se de seu eixo habitual.

Antes disso havia sofrido o revés da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães, a aposta do PFL para o futuro.

Em 2001, começa a derrocada de Antonio Carlos Magalhães, o grande morubixaba do pefelê. Em 2002, Lula se elege e a partir daí o partido inicia um processo de perda dos grotões para o PT. O PFL sempre atuou com força em Estados mais dependentes dos instrumentos de governo.

Ao passar a ser oposição, perdeu os meios. Com eles, o eleitorado e um público até então relativamente cativo, o grande empresariado, que se associa ao governo do PT.

Sem poder, com as lideranças abaladas e carente de sustentação social, em 2007 o partido tenta se reinventar.

O então presidente, Jorge Bornhausen, escolheu para substituí-lo o deputado Rodrigo Maia: jovem, filho do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, representaria a renovação e ainda poderia reforçar a posição do partido, já de nome novo (Democratas), no Sudeste.

Além disso, Rodrigo nascera no Chile durante o exílio do pai - ninguém poderia jamais associá-lo à ditadura, um fator que segundo o entendimento de Bornhausen pesava de forma crucial contra o partido.

Na concepção dele, Gilberto Kassab em São Paulo poderia representar a consolidação nas duas maiores cidades do País.

Para não nos alongarmos em detalhes, o resumo do fim da ópera: o PMDB tomou conta do Rio, por meio de Sérgio Cabral, Kassab foge da massa falida preocupado com o próprio futuro e Rodrigo Maia revelou-se um dirigente imaturo.

Arrumou mais brigas que alianças, tirando o partido de vez de seu eixo original. Além disso, sua principal aposta no cenário nacional era José Roberto Arruda, o responsável pelo golpe fatal e a perda total do rumo e do prumo.

A entrega do DEM a Agripino Maia, representante da antiga geração, significa que o partido dá um passo atrás para tentar retomar a caminhada e, sobretudo, o senso de direção.