domingo, março 13, 2011

ANCELMO GÓIS

Sarkozy esperto
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 13/03/11

Em tempo de cortes, a compra dos caças da FAB foi adiada, e muitas obras pararam. Mas a construção do estaleiro, em Sepetiba, onde serão feitos cinco submarinos nucleares com tecnologia francesa continua a todo vapor. 

É que...

O acordo, assinado em 2008 por Lula e Sarkozy, tem uma cláusula que proíbe o governo brasileiro de atrasar o fluxo de dinheiro para o projeto, sob pena de multas pesadas. O negócio de uns R$ 7 bi é tocado pela francesa DCNS em parceria com a Odebrecht.

Quem dá mais? 
Sérgio Cabral tentará, pela terceira vez, dia 18 de abril, leiloar os restos mortais do Banco do Estado do Rio de Janeiro. Espera arrecadar uns R$ 900 milhões. O pacote inclui uma barra de ouro. É que o banco que comprar terá direito a operar por três anos a folha de pagamentos dos servidores do estado. 

Moqueca capixaba
Na quinta antes do carnaval, o governador Eduardo Campos deixou o frevo em Recife e foi para Vitória, onde se reuniu com seu colega Renato Casagrande, também do PSB. No cardápio, a cooptação do prefeito Gilberto Kassab, com ou sem o inodoro partido novo. 

Coelho e o pinto
O Japão, palco dessa tragédia, vai lançar uma linha de cuecas com textos de Paulo Coelho. A ilustração será do famoso Ken Crane, autor de várias capas de revistas importantes mundo afora, como a “Forbes”.

CBF no cinema
A CBF será uma das patrocinadoras do filme de José Henrique Fonseca sobre Heleno de Freitas, um dos maiores ídolos da história do Botafogo. O craque-galã dos anos 1940 será interpretado por Rodrigo Santoro.

Calma, gente
Gilberto Gil não participa da intentona contra Ana de Hollanda. Muito pelo contrário. Os dois amigos se encontraram no carnaval de Salvador, e o ex-ministro desejou “boa sorte” à ministra. E mais. Gil vê esta onda contra Ana com naturalidade: “É assim mesmo.
Comigo tambémfoi assim no começo. Toda vez em que você se movimenta numa direção, os setores contrários se mobilizam contra.” 

Segue...

Para Gil, um ministro da Cultura não pode agradar todo mundo: “É natural que, depois de oito anos de governo Lula, surja agora alguma diferença.” Para o ex-ministro, Ana deve trabalhar firme nas suas propostas dentro do governo e procurar setores da sociedade que a apoiem. 

No mais...

Gil é fofo.

Carnaval de ontem

O leitor Ricardo Lourenço viu na coluna de sexta esta caricatura de Lan, que vai estar no monumento a ser construído na reforma
do Sambódromo, e lembrou que o desenho tem história. Lan se inspirou na obra do genial carnavalesco Arlindo Rodrigues, que fez a fantasia de arlequim para o desfile do Salgueiro campeão em 1965, no quarto centenário do Rio. Usada por Mary, uma das irmãs
Marinho, representava o “carnaval de ontem”. 

Segue...
Lan, aliás, ficou emocionado com a lembrança de Oscar Niemeyer, autor do projeto: — É uma honra ter uma obra minha imortalizada na Passarela do Samba. 

Cena carioca
Quinta, por volta de 8h30m, uma motorista da linha 413 parou em frente a um supermercado na Rua José Higino, na Tijuca, e começou a chamar por um senhorzinho que estava meio distraído no ponto de ônibus: — Este é o ônibus que o senhor costuma pegar. Sobe!

Feliz Ano Novo
Sai hoje, às 18h, em Botafogo, o último bloco do carnaval do Rio, o Boka de Espuma, ufa! A partir de amanhã, é hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Ao trabalho!

ZONA FRANCA
 O presidente da Câmara Portuguesa do Rio, Paulo Elísio de Souza, convidou o embaixador João Salgueiro para presidir comissão pelos 100 anos da instituição. 
 Dia 1o- abre e Exposição Registros de uma Guerra Surda, no Arquivo Nacional.
 Antonio Fernando Borges lança o site Arte da Escrita (artedaescrita.com) com curso de redação e arte retórica.
 A coleguinha Pomona Politis festeja seu aniversário nesta terça. 
 A ONG Fala Bicho faz campanha por Pinpoo, cãozinho que foi perdido num voo da Gol.
● A OMS faz em maio, no Rio, no congresso Ortra, uma reunião para discutir o Plano Decenal de Ação para a segurança no trânsito.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Farmacêutica ganha liminar contra Anvisa
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/03/11

A multinacional farmacêutica AstraZeneca obteve, na última semana, uma antecipação de tutela (liminar) contra a Anvisa.
De acordo com a determinação, da Justiça Federal do Distrito Federal, a agência de vigilância sanitária deve retirar a permissão dada a outras farmacêuticas para produzir remédios genéricos e similares com base na molécula rosuvastatina cálcica (contra colesterol). Cabe recurso.
Na semana anterior, a Germed iniciou distribuição nas farmácias de sua versão genérica, cuja produção acabara de inaugurar, após receber o registro da Anvisa. Deve agora ser suspensa.
No ano passado, a AstraZeneca entrou na Justiça contra outra empresa, a Torrent, que também havia recebido liberação da agência para comercializar o produto.
Uma maneira como a molécula da rosuvastatina é formulada para que seja metabolizada no organismo está patenteada pela AstraZeneca. A empresa argumenta que os concorrentes usaram a mesma formulação.
"Com base na bula, a empresa concluiu que a formulação [dos concorrentes] infringe a patente", diz o advogado Gustavo Morais, representante da AstraZeneca.
"Eles não têm prova suficiente do que alegam", diz Arystóbulo Freitas, da PróGenéricos (que reúne o setor). Os produtos devem passar por perícia.
A Germed afirma que, acompanhada da PróGenéricos, prepara manifestação. "O pedido não encontra respaldo na legislação e causa barreira à entrada de concorrente 35% mais barato."
A Anvisa informa que deve recorrer. Até a noite de sexta-feira, os registros de liberação ainda estavam publicados no site da agência.

O QUE ESTOU LENDO

Joaquim Levy, diretor da Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro

Joaquim Vieira Levy, diretor de Gestão e Estratégia da Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro, lê cinco livros no momento. "The Yacoubian Building: A Novel", de Alaa al Aswany, é um romance sobre o Egito, presente de um irmão dele, meses atrás.
Levy também se dedica à leitura de "A Derrota do Pensamento", de Alain Finkielkraut. "É fininho, mas merece mais de uma leitura, apesar de antigo, e também leio, do Roger Penrose, "The Road to Reality", sobre física e matemática, que é muito interessante e bem escrito."
Levy está no meio da leitura de "The ETF Handbook". "Ganhei do David Abner, que escreveu esse evangelho para o investidor da nova década."
Em sua viagem a Hong Kong comprou "um livrinho bem "light", "Building Wealth in China: 36 True Stories of Chinese Millionaires and How They Made Their Fortunes", de Zhu Ling". Para Levy, o livro sobre a história de milionários chineses "é menos rigoroso que o "The Party", do Richard Mc Gregor, mas é bem informativo e divertido." Ele acabou de ler ainda "Team of Rivals", sobre [o presidente americano] Lincoln. "É sensacional para quem já esteve em governo."

TANQUE
O etanol subiu 14,4% em São Paulo em fevereiro, segundo levantamento da Ticket Car.
A gasolina permaneceu a melhor opção para abastecer na capital para quem tem carro flex.
Os bairros do centro e da zona sul são os locais mais caros para gasolina.
Para o etanol, a região oeste é a mais cara.
Os melhores preços estão em bairros das zonas norte e leste, segundo a pesquisa.

OBJETO DO DESEJO
Depois de uma carreira na Brastemp (Whirpool) e no Itaú, Maria Fernanda La Regina está à frente do marketing do HSBC.
A nova estratégia que Regina começou a implantar visa a aumentar a percepção da marca no país.
"A mudança mais significativa foi alocar menos verba para patrocínio e eventos, que é uma ferramenta de publicidade cara, e investir de forma mais horizontal para estarmos em todos os meios", diz.
A nova campanha, que tem como missão fixar o logo, terá um toque do Brasil. Pela primeira vez, a música é brasileira ("Pela Luz dos Olhos Teus").
Para dois meses de anúncios, foram reservados R$ 18 milhões.
"Depois dessa, virão outras campanhas, para que, praticamente, não fiquemos fora do ar."
Regina partiu de uma pergunta: como fazer do HSBC uma marca desejada no Brasil? Os resultados consolidados a cada três meses de uma pesquisa nas agências indicam que "o nosso cliente é feliz", diz ela. "O desafio é fazer com os que ainda não são clientes conheçam o HSBC e façam dele o seu banco."

BEM NA FOTO
O Banco do Brasil lança hoje serviço que permite ao cliente escolher qualquer foto ou imagem para ilustrar seu cartão.
O lançamento estará à disposição dos titulares de todas as contas do banco e o custo de emissão é de R$ 20.
"Esperamos maior interesse da parte dos mais jovens", diz o diretor de cartões do BB, Denilson Molina.
A bandeira Hipercard, que hoje pertence ao Itaú Unibanco, também oferece serviço semelhante.
Sem gastos de emissão e anuidade, esse cartão é aceito em cerca de 450 mil lojas.

COM QUE ROUPA

SEM MEIA COMBINAÇÃO
Não importa se é azul-marinho, bege, cinza, marrom ou preto. Para não errar no visual, os executivos devem sempre escolher meias da mesma cor da calça e do terno, dizem representantes de grifes de moda.
Essa é a regra ao menos no Brasil, segundo o diretor da Hugo Boss no país, Rafael Castello.
"Os italianos combinam com a camisa, mas o brasileiro não está acostumado com isso."
Outra dica é escolher as meias azul-marinho. "Só não cai bem com calças preta e claras", diz João Camargo, da Camargo Alfaiataria.
Os executivos mais "modernos" também podem usar os costumes sem meias, afirma a presidente do grupo Armani Brasil, Patricia Gaia.
A alternativa, porém, é difícil de cair no gosto dos executivos do país.
"Somos muito conservadores com roupas. Poderíamos inovar mais na parte corporativa", diz Castello.
Além das dicas para não errar, também há combinações proibidas.
"Meia com cinto não pode de jeito nenhum. E as meias brancas têm que ser deletadas do armário", afirma Camargo.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

JOÃO UBALDO RIBEIRO

O novo carnaval no boteco
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11

-E aí, cara, pensei que você não vinha mais! E agora chega com essa cara de quem comeu e não gostou, é ressaca de carnaval?

- Eu não estou de ressaca. Aliás, pensando bem, estou. Não tenho mais preparo físico para aguentar um carnaval.

- Onde é que foi que você brincou?

- Eu não brinquei, há muito tempo que não brinco carnaval. Já fui até muito chegado, mas hoje em dia não quero nem saber. Não, eu estou de ressaca é de não dormir direito, com esses blocos parecendo que estavam todos debaixo da janela do meu quarto, levei dois dias praticamente sem pregar olho. Isso é um absurdo, essa esculhambação na rua, deviam proibir esse negócio.

- Ué, eu não entendo você. Alguns dias antes do carnaval, aqui mesmo, você disse que era a favor do carnaval de antigamente, o carnaval de rua, o espontâneo, o dos blocos, não sei mais o quê.

- É, dou a mão à palmatória. Não sou mais. Quer dizer, continuo a achar que o carnaval de antigamente era melhor, mas isso era antigamente, não dá para o antigamente ser hoje, eu tenho é que me recolher na terceira idade e ficar na minha, não me adapto mais, estranho tudo. Você viu aquelas mulheres nuas com o corpo pintado, viu a musculatura? Eu vou lhe dizer a verdade, mesmo quando eu tinha 30 anos, não sei se eu encarava uma mulher daquelas. Se uma mulher daquelas aplicar uma chave de perna num infeliz qualquer, ele pode encomendar a alma ao diabo, porque nem um pé-de-cabra solta ele. Eu pensava que as pernas do Adriano eram parrudas, mas perto dessas mulheres ele é franzininho.

- É, antigamente elas tinham curvas mais suaves, tinham cintura...

- E não ficavam peladas o tempo todo! Eu não sou contra mulher ficar pelada, mas o tempo todo é um exagero. Podia haver fantasias até mais sensuais, que não mostrassem logo tudo, não é preciso apelar. No meu tempo, por exemplo, as moças se fantasiavam muito de havaiana, com saiote esfiapado e as pernas aparecendo.

- E por baixo um short comprido, um corpete fechado e um calçolão blindado. Deixa de ser saudosista, cara, tem que colocar as coisas dentro do tempo, da atualidade. A fantasia de havaiana que você falou pode continuar a existir, só que dentro da realidade atual. Aliás, você me deu uma ideia, eu vou falar com o Maurição, o Maurição você sabe como é, é o maior produtor de festas de embalo do Rio de Janeiro, de repente rola até uma grana nisso, o Maurição sabe tudo. Isso que você falou me deu a ideia, uma festa com as mulheres todas fantasiadas de havaiana. Ou seja, sem nada em cima, mas de sandália havaiana, sacou? Se a ideia for bem trabalhada, dá para descolar um belo patrocínio com uma dessas fábricas de sandália. E conseguir mulher que pinte lá disposta a aparecer só de sandália vai ser a maior moleza, acho que dá até para cobrar taxa de inscrição. Bota um jornal ou revista nisso, bota umas duas celebridades, o suprimento de mulher pelada é automático. Eu tenho tino para empreendimentos, fico sempre observando as oportunidades que surgem. Aliás, que bela ideia, cara! O Festival Carioca do Nu Artístico! Carioca não, nacional! Internacional! Bota um nome em inglês, o Nude-in-Rio, pega logo! Tem que pensar grande, cara, pode ter certeza de que, se um cara com capital para investir pegar essa ideia, vai encher o rabo de dinheiro! Eu já estou aqui sacando as ramificações, cara, tem uma carroça cheia de grana esperando quem tiver essa iniciativa.

- Você já está de porre a esta hora?

- Não, você é que está querendo viver num mundo que não existe mais. Eu não, eu vivo no Brasil novo, no Brasil onde todo mundo prospera e quem tiver visão fica rico, todo dia estão surgindo novos milionários e são as ideias que fazem esses milionários. Muitas ideias que no princípio pareciam loucas terminaram em grande sucesso. A mulher pelada nacional é um dos nossos recursos naturais, tanto quanto a paisagem da Baía de Guanabara. Nós temos é que afastar os preconceitos e dar o destino mais lucrativo possível a nossos recursos, isso é que é desenvolvimento sustentável, a mulher pelada é um recurso altamente renovável. Você está por fora, está fixado no tempo do derrotismo e do atraso. Por exemplo, essa birra que você pegou contra o carnaval de rua é dar murro em ponta de faca, tem mais é que se sintonizar com os novos tempos e, sempre que possível, procurar tirar partido da situação. O carnaval de rua voltou para ficar, esta é que é a realidade.

- Espero que pelo menos o cheiro de mijo vá embora.

- Taí, você bateu em cima, olha a oportunidade de ganhar dinheiro aí, pensei nisso o carnaval inteiro. E pensei com criatividade. Vou ver se o Maurição tem contatos que consigam um patrocínio das cervejarias, dá para bolar uma série de esquemas, mas o principal é minha ideia. Minha ideia é pegar uns caminhões gigantes, desses de trio elétrico, e converter num conjunto de banheiros para uso dos blocos. O bloco anda e o Mijomóvel vai atrás, tudo arrumadinho, dá para uma série de bolações, é só soltar a criatividade, eu tenho anotado uma ideia atrás da outra.

- Eu também tive uma ideia. Neste caso, por que não criar também o Bloco do Fraldão? Em vez de ir ao banheiro, todo mundo se mija na fralda e fica despreocupado, vai ser um bloco muito tranquilo.

- Você está de gozação, mas é isso mesmo, são as ideias! Essa ideia do fraldão pode dar samba, acho que é possível pegar o patrocínio de um grande fabricante, botar umas popozudas sambando de fraldão...

MÍRIAM LEITÃO

Dois mundos
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 13/03/11

Velhos fantasmas rondam a Europa. Um deles, o do calote da dívida dos governos, ficou mais próximo na semana passada, com novos rebaixamentos da qualidade da dívida. As altas recentes do petróleo estão batendo em inflação, já alta. Na Inglaterra, o índice de preços ao consumidor deve chegar a 4,5%. Na Zona do Euro, está mais baixa, mas já se fala em alta de juros.

O nome desse fantasma é estagflação, porque os países não crescem, mas os preços, sim, por causa da alta das commodities em geral e, agora, do petróleo. A tragédia do Japão derrubou na sexta-feira o preço do barril, mas ele continua oscilando em torno de US$100.

Alguns países de alto risco, como a Irlanda, são diretamente atingidos pela crise na Líbia. O país em guerra civil é o maior fornecedor dos irlandeses. As dúvidas sobre a possibilidade de reestruturação da dívida de Portugal, Espanha e Grécia continuam. Primeiro, foi a S&P que rebaixou a Espanha. Agora, a Moody"s. Por mais que as agências tenham errado no passado, elas continuam produzindo efeitos na formação da taxa de risco dos países. Se a inflação continuar subindo, e o Banco Central Europeu decidir subir os juros, vai aumentar a dificuldade de financiamento de diversas economias.

O desemprego médio nos 27 países que compõem a União Europeia se mantém alto, em 9,5%. Na Espanha, o índice chega a 20,4%. Entre os jovens de até 25 anos, a taxa é assustadora: 43%. O aumento dos juros pode ser problemático para a Espanha porque o país ainda se recupera de uma bolha imobiliária. E cerca de 97% dos contratos de hipotecas no país foram feitos com juros flutuantes.

- A situação não é fácil. Alguns países já vivem claramente o risco de estagflação, como a Inglaterra. Eles tiveram queda de 0,5% do PIB no quarto trimestre de 2010, e a inflação em 12 meses está em 4%, o dobro da meta perseguida pelo Banco Central inglês. Com a alta dos preços do petróleo, a tendência é que a taxa continue pressionada nos próximos meses - diz Raphael Martello, da Tendências Consultoria.

Os juros da dívida portuguesa com vencimento em cinco anos bateram recorde ontem, chegando a 7,98% (vejam no gráfico). Isso, no mesmo dia em que o governo anunciou novas medidas de austeridade. Na Espanha, testes feitos pelo agência de risco Moody"s para medir a solvência do sistema financeiro apresentaram, num pior cenário, a necessidade de financiamento de 100 bilhões. O governo afirma que o valor é bem menor, de 15 bi. A discordância só aumenta as incertezas sobre o país.

- Tanto Espanha quanto Portugal se recusam a receber ajuda financeira por questões políticas. Mas o ideal seria as duas economias aceitarem recursos do FMI para dar tranquilidade às rolagens de dívidas, principalmente este ano. Isso não acontece, e o problema vai sendo empurrado com a barriga. O compromisso de corte de gastos assumido pelo governo português é tão alto que o mercado avalia que dificilmente será cumprido - explica Monica de Bolle, da Galanto consultoria.

O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset, lembra que os espanhóis tem 138 bilhões de dívida para rolar este ano.

- O calendário é pesado e qualquer deslize pode gerar problemas. A favor dos espanhóis está o fato deles serem a 4ª maior economia da Europa e ainda serem grau de investimento - afirmou.

Enquanto a Europa vive esse momento difícil, o Brasil continua surfando. O fluxo de capitais para o país nos primeiros dois meses do ano, em volume, superou o do ano passado inteiro. O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, acha que o Brasil ganhou um presente do mundo, que já dura oito anos: o aumento forte dos preços das commodities que o país exporta:

- Está entrando muito dólar no país há oito anos. Nossos preços de exportação subiram muito. Isso foi, em parte, pela política de Alan Greenspan de derrubar as taxas de juros de 6% para 1% e, depois, de Bernanke, que na crise derrubou de 5% para zero. As quedas produziram ondas de busca de alta rentabilidade dos ativos.

Ele acha, no entanto, que o Brasil não aproveitou o momento como devia e aposta que isso não durará para sempre:

- Nenhuma alta de commodities dura para sempre. Há um dia em que os preços caem. O Brasil teria que ter aproveitado esse presente e feito seu dever de casa. Mesmo com toda a ajuda externa, o país tem uma política fiscal expansionista, déficit em transações correntes, pressões inflacionárias e o câmbio está fora do lugar. Quando o dólar subir, as pressões inflacionárias também vão subir.

Quem olhasse o mapa do mundo na sexta-feira à tarde no "Financial Times" poderia conferir: todas as bolsas em queda, só a do Brasil em alta. Se olhasse o mapa-múndi com as informações sobre terremotos, veria de novo o Brasil como território livre do problema. É aproveitar toda a nossa sorte de sempre e o bom momento.

PEDRO S. MALAN

Dilma, lidando com ''o pós-Lula''
PEDRO S. MALAN
O Estado de S.Paulo - 13/03/11

A expressão "pós-Lula", por estranho que pareça, causa desconforto e mesmo irritação a muitos adeptos do lulopetismo. A princípio, não deveria ser assim. Afinal, é um fato inegável que "o cara" não é mais de jure e de facto o presidente da República há exatos dois meses e treze dias. Nesse sentido, a expressão "o pós-Lula" poderia, e deveria, ser entendida apenas como uma forma abreviada, e portanto melhor, de se referir ao "período que se segue ao término dos oito anos da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". Simples assim. Factual e incontroverso, não?

Não, dizem lulopetistas que respeito. E é importante, a meu ver, tentar entender suas razões. Primeiro, porque veem no uso da expressão "pós-Lula" disfarçada ironia e inconfessáveis propósitos políticos, todos expressando veladas expectativas e obscuros desejos de que o ex-presidente pudesse "sair de cena", privando a sociedade brasileira de sua marcante presença, de seus conselhos, opiniões e lições de vida.

Vale lembrar que foi isso o que fez em 2003 o então - como ainda hoje - estrategista-mor do petismo (J. Dirceu), reagindo a um comentário público do então ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Ele deveria estar calado em casa, de pijama e chinelos cuidando dos netos". Que eu tenha tomado conhecimento, ninguém sugeriu o mesmo a Lula. Que, por sinal, disse mais de uma vez que iria mostrar a todos "como deve se comportar um ex-presidente quando desencarna". Deixo ao eventual leitor imaginar a qual (ou a quais) ex-presidente(s) se referia Lula.

Há uma segunda razão para o desconforto e a irritação com a expressão "pós-Lula", por vezes interpretada como uma tentativa de excluir do rol das possibilidades futuras "o retorno" de Lula à Presidência da República em 2014 ou 2018 - o que exigiria sua constante presença e visibilidade nos meios de comunicação. Essa possibilidade de retorno certamente existe tanto para o principal estrategista do lulismo (o próprio Lula) quanto para o estrategista-mor do petismo. Tanto é assim que um dos mais fiéis escudeiros do ex-presidente, hoje ministro importante do governo Dilma Rousseff, já disse em entrevista que se a presidente Dilma fizer um bom governo será candidata à reeleição. Se não, o lulopetismo deverá ter Lula de volta em 2014 (ou 2018). Como falar em pós-Lula nesse contexto?

Há uma terceira, e talvez mais importante, razão para o desconforto e a irritação com o uso do termo "o pós-Lula": a visão de que este teria o propósito de tentar "desconstruir" o governo Lula, chamando a atenção para alguns de seus legados e heranças mais problemáticos. A administração da presidente Dilma Rousseff estaria obrigada - ainda que pisando em ovos - a lidar com tais legados e heranças nos primeiros meses e anos de seu mandato.

A nova presidente começou bem seu governo em algumas áreas, marcando claramente - falemos com franqueza - suas diferenças com a herança recebida dos anos Lula. Dois exemplos, visíveis a olho nu: primeiro, as anunciadas mudanças, ora em curso, na condução da política externa, com o objetivo de recuperar parte da credibilidade que havia sido perdida pela diplomacia brasileira. Segundo, discursos (lidos) pela nova presidente - em especial o mais recente, no evento comemorativo dos 90 anos da Folha, sobre o papel da liberdade de imprensa - mostraram uma convicção e um respeito à diversidade de opiniões que Lula raramente foi capaz de expressar. Vide seu famoso "a opinião pública somos nós", seus reiterados alentos aos adeptos do "controle social" da mídia e suas acusações a tentativas "golpistas" (sic) da grande imprensa.

A nova presidente deu sinais - e tomou certas decisões - que evidenciaram que percebeu claramente quão difícil será lidar com o pós-Lula na área política. No Executivo federal e suas empresas e agências, todas as facções e correntes do PT, do PMDB e dos principais partidos aliados estão representadas desde o governo passado, vale dizer, ocupando espaços numa máquina pública crescentemente aparelhada. Os 38 ministérios e mais de uma centena de empresas e órgãos do Executivo e respectivas parafernálias não parecem suficientes para as voracidades envolvidas. A presidente teve de se envolver pessoalmente em vários casos de conflito de interesse para tentar manter seu compromisso de posse: "... formar um governo em que capacidade profissional, liderança e a disposição de servir ao País serão os critérios fundamentais".

É, contudo, no campo da economia que se colocam hoje as questões mais prementes a lidar neste pós-Lula de maiores riscos e incertezas - no Brasil e no mundo. Neste contexto, são imperdíveis tanto as perguntas quanto as respostas da longa e reveladora entrevista concedida pelo ministro Guido Mantega a Eleonora de Lucena (Folha de S.Paulo, 27/2). Provocado, o ministro afirma que "o governo Dilma não é parecido nem com Lula 1 nem com Lula 2. É parecido com Lula 3". E elabora longamente sobre o tema. O que me trouxe à memória um excelente artigo da competente Rosângela Bittar, publicado no Valor de maio de 2006, poucas semanas após a saída de Palocci e de sua substituição pelo atual ministro. O título do artigo era revelador de seu conteúdo: A arte de mudar negando mudanças.

É isso, a meu ver, o que a situação exigirá do governo Dilma na área econômica, para lidar com as consequências da vasta expansão de gastos públicos de boa parte do Lula 2. E, principalmente, com as expectativas que esse expansionismo gerou nas amplas "bases de sustentação" do governo quanto às possibilidades futuras de acesso - direto ou indireto - ao erário. O verbo "lidar" tem vários significados possíveis na rica língua portuguesa. No caso, todos se aplicam.

ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

AMIR KHAIR

Crescimento e inflação
AMIR KHAIR
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11
Após a divulgação do crescimento do PIB de 7,5%, multiplicaram-se análises de que esse nível é insustentável, levando à perda de controle da inflação, suplantando um hipotético produto potencial (máximo crescimento sem levar à inflação) que estaria entre 4,0% e 4,5%. É interessante notar que, nos cinco anos anteriores à crise, o crescimento médio anual foi de 4,8% e no biênio 2009/2010 foi de 3,4%, abaixo desse denominado produto potencial.

A retração de 0,6% e o crescimento de 7,5% em 2010 são pontos fora da tendência natural que vinha ocorrendo. No entanto, essas análises se concentraram na afirmação de que é insustentável o crescimento de 7,5%. O problema não é esse, pois o governo prevê crescimento neste e nos próximos anos no entorno de 5%, compatível com o que vinha ocorrendo desde 2004.

Mas isso não foi considerado nessas análises, que descarregaram suas críticas no vilão deste "desajuste", que foi o excesso da demanda puxado pelo consumo das famílias e gastos do governo devido ao ano eleitoral. Essa análise é equivocada, pois em 2010 o consumo das famílias cresceu 7% e o do governo, de 3,3%, foi o que menos cresceu. O que cresceu foram os investimentos, com 21,8%, que deve ser comemorado por dar sustentação à elevação da capacidade de produção e produtividade. Apesar disso, essas análises defendem, para sustar a inflação, um forte ajuste fiscal no governo federal e elevação da Selic, que segundo o mercado financeiro deveria atingir 12,50%.

Caso a Selic vá a 12,50% como deseja o mercado financeiro, a taxa real de juros, excluída a inflação, iria para 6,8%, o que distanciaria ainda mais o Brasil do segundo lugar com a maior taxa de juros, a Austrália, com 1,9%, e da média dos principais países emergentes, que é negativa em 0,5%.

Essa anomalia chama a atenção. Há algo de errado nessa "solução" de tentar combater a inflação com uma taxa de juros maior em relação a qualquer país com inflação semelhante. Esse erro é maior quando se considera que a maior parte da inflação é devida à elevação dos preços da alimentação e das commodities em todo o mundo.

Essa alta internacional é, no nosso caso, agravada pela sazonalidade da inflação no primeiro quadrimestre, por causa dos reajustes dos preços na educação, tarifas de ônibus, excesso de chuvas, além do IPTU e IPVA.

Então, porque defendem combater a inflação com uma taxa de juros anormal? Em primeiro lugar, pelas expectativas criadas pelo mercado financeiro, que fornece ao Banco Central (BC) suas previsões de inflação e da Selic. Há suspeição nessas informações, pois o mercado financeiro lucra com a elevação da Selic. Assim, a teoria das expectativas só funciona para atender os interesses do mercado financeiro.

Em segundo lugar, o forte crescimento econômico, acima do potencial, induzido pelo crescimento da massa salarial e baixo nível de desemprego, faz elevar os preços dos serviços. Essa inflação de serviços tem sido maior que a dos preços comercializáveis (sujeitos à concorrência externa) desde 2004. Assim, com maior crescimento econômico, deveria ocorrer o distanciamento entre a inflação dos serviços em relação aos comercializáveis. Na realidade deu-se o contrário. Em termos médios anuais, entre 2004 e 2010, os serviços tiveram inflação 46% maior do que os comercializáveis, mas essa diferença foi de 14% nos anos em que o PIB cresceu acima de 5% (2004, 2007, 2008 e 2010), com média de 6,1%, e a diferença foi de 149% quando o PIB cresceu abaixo de 4% (2005, 2006 e 2009), com média de 2,1%. Em 2010, com crescimento de 7,5% essa diferença foi de apenas 6%.

Outra questão que merece aprofundamento é a reação dos consumidores face ao aumento nos preços dos serviços. Será que aceitam passivamente essas elevações? Não creio. Podem explorar alternativas oferecidas pelo mercado e/ou negociar os preços. Nesses casos, será que os índices que medem a inflação consideram isso?

Quanto aos produtos comercializáveis, os consumidores reagem às elevações de preços mudando a marca e/ou a quantidade que compram. Sobre isso, o Estado trouxe interessante reportagem (6/3 - B6): "Contra inflação, cliente troca de marca". Mostra que a classe C substitui supérfluos como refrigerante e iogurte, e a classe A busca alternativa nos básicos, como sabão em pó, detergente e desinfetante, entre outros. Será que os índices que medem a inflação captam isso? Se não, a inflação medida pode estar superestimada.

Outra questão relativa a índices está nos IGPs, que atribuem 60% do peso em seus cálculos aos preços no atacado e, para isso, usam as listas de preços dos fornecedores, sem considerar os descontos na comercialização. Isso superavalia esses índices.

Fora essas considerações, a questão externa é a que me parece mais importante no impacto inflacionário. Os conflitos no norte da África e Oriente Médio não eram previstos e seus desdobramentos podem trazer impactos na inflação. Caso atinjam a Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo, seu preço já em ascensão, dispara, elevando os gastos com energia para os consumidores e reduzindo a demanda por commodities, abaixando seus preços.

Cada país terá um impacto diferente na inflação. Se muito dependente de petróleo, sofrerá mais e seu crescimento será afetado. É o caso dos países desenvolvidos. Caso contrário, será beneficiado em sua inflação e, se exportador de commodities, como no nosso caso, será prejudicado na sua balança comercial.

Diante da imprevisibilidade externa é melhor aproveitar o que temos de bom, que é o potencial de consumo devido à má distribuição de renda. Estimulá-lo amplia o consumo, produção, investimento e emprego. Para isso, a diretriz principal deste governo, que é o combate à miséria, vai estimular a base da pirâmide social, como feito agora com o fortalecimento do Bolsa Família, a fixação legislativa da regra para o salário mínimo acompanhando o crescimento da economia até 2015 e a correção da tabela do imposto de renda, que beneficia a classe média.

Como não interessa a ascensão da inflação, o melhor é controlar a principal perna do consumo - oferta de crédito -, que atua diretamente no maior componente da demanda, que é o consumo das famílias, responsável por 61% dela. Caso persista a alta inflacionária, deve-se endurecer as medidas macroprudenciais. Embora seja indesejável a inflação, por atingir especialmente a população de menor renda, ela reduz o poder de compra e isso diminui a demanda e a inflação.

O esforço fiscal é importante em todo setor público, pois é dinheiro do contribuinte que tem de ser aplicado de forma eficaz, eficiente e efetiva para atender sua obrigação constitucional. A Selic é parte importante e essencial desse esforço fiscal. Nesse sentido não cabem ilusões: o corte de R$ 50 bilhões nas despesas do governo federal representa inexpressivos 1,2% (!) da demanda, enquanto os juros em 2010 representaram 5,3% dela.

Outra questão que merece maior reflexão é a defesa da redução das despesas do governo federal para não ter de elevar ainda mais a Selic, o que é uma contradição. Elevar a Selic tem impacto fiscal relevante, que pode suplantar o esforço fiscal, pois ela atinge os custos da dívida interna e do carregamento das reservas internacionais.

A Selic, nos níveis em que se encontra, é prejudicial para a saúde da economia e tem de ser imediatamente reduzida para permitir um crescimento saudável e sustentável. Enquanto isso não ocorrer, para não agravar ainda mais a questão cambial, o governo deve elevar o IOF e estabelecer a quarentena para os investimentos de caráter especulativo, o que é o maior temor dos especuladores externos. O crescimento econômico e o combate à inflação podem se complementar desde que adotadas estratégias adequadas. Parece que o BC, em sua última ata do Copom, mudou de estratégia e vai caminhar nessa direção pelo uso mais intensivo de medidas macroprudenciais, no lugar de elevação da Selic. Isso é o que interessa a todos.

MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV E CONSULTOR

ELIANE CANTANHÊDE

Obama e Dilma
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/03/11

BRASÍLIA - Barack Obama deixou para vir ao Brasil só no seu terceiro ano de governo e chega no próximo final de semana cercado de expectativas. Mas a impressão que se tem, mesmo sem o Wikileaks espalhar, é que a viagem está minguando. Agora, mais essa: o famoso discurso, para o qual o Consulado no Rio sonhava com a Cinelândia, o Aterro do Flamengo e coisas assim, nem deve ser mais no Brasil; está sendo transferido para o Chile!
O que importa para o Brasil, para Dilma Rousseff e para a vida real, porém, não é salamaleque -simbologia do primeiro presidente negro dos EUA, discurso grandioso, reuniões protocolares com empresários, lenga-lenga sobre ações conjuntas na África e cooperação em biocombustíveis -que, cá pra nós, vêm desde George W. Bush.
O que interessa para a pragmática Dilma e para o emergente Brasil são notícias concretas no principal flanco das relações bilaterais: o saldo da balança. Se, além de Michele e de seu sorriso encantador, Obama trouxer um suculento pacote na área comercial, pronto, a viagem terá sido um sucesso.
Como bem registrou Carlos A. Cavalcanti, da Fiesp, no jornal "Valor Econômico", a verdade é que as relações na área política vão bem, obrigada. Uma cutucada daqui, outra dali (só para marcar o viés ideológico), mas as visitas de primeiro escalão e os planos comuns intensificaram-se desde Bush-Lula e nunca mais pararam. O calcanhar-de-Aquiles é outro: o comércio.
"No campo comercial, a qualidade da relação deteriorou-se, sobretudo da perspectiva brasileira", escreveu Cavalcanti. Eis o porquê: "O pior deficit do Brasil é com os EUA, embora o quinto melhor superavit dos EUA seja conosco".
É preciso dizer mais? Na relação do emergente com a maior potência, quem perde é o emergente, quem lucra é a potência. É aí que Obama pode mostrar se a visita é só badalação ou não.

DANUZA LEÃO

Cemitério virtual
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/03/11

Estantes de livros não serão mais necessárias, CDs serão coisa tão antigas como são hoje LPs e fitas


OUTRO DIA LEMBREI da primeira vez em que vi um cemitério de automóveis; foi há muitos anos, nos arredores de Nova York.
Num imenso terreno baldio, centenas, talvez milhares de carros, que fariam a felicidade de qualquer milionário brasileiro da época (nesse tempo, no Brasil, só diplomatas estrangeiros podiam ter os importados). Não dava para entender que carros tão novos estivessem jogados uns em cima dos outros, esperando que uma espécie de trator os transformasse em simples chapas de metal. Muito estranho.
Era no tempo em que os enormes Cadillacs arrasavam, que os Buicks e Packards só faltavam ser aplaudidos quando passavam. E os conversíveis? Eram incríveis, carros que só se conhecia dos filmes; os chamados rabo-de-peixe eram imensos e de todas as cores, e a que mais sucesso fazia -na época, gente, na época- era a verde piscina.
Um pensamento leva a outro, e imaginei que um dia todos os celulares, iPods e iPads também serão objetos tão do passado que irão parar num cemitério -virtual, claro.
Fiquei pensando também em como serão as casas do futuro, um futuro talvez bem próximo. Estantes de livros não serão mais necessárias, CDs serão coisa tão antigas como são hoje os LPs e as fitas cassete, e sem CDs, nenhuma razão para se ter um som. Televisão, cada um vai ver seu programa preferido pelo próximo iPad, e para assistir a um filme, nenhuma necessidade dos DVDs, já que se vai poder baixar o que se quer, o preço da locação cai direto na conta bancária e será pago pelo cartão de crédito. Sem esses, que um dia foram sinais exteriores de muita grana, as casas não precisarão de tanto espaço, e os home theatres estarão condenados à morte - já estão, aliás. Vamos, então, poder morar naqueles apartamentos de revista de luxo, com a sala inteiramente vazia, e uma lindíssima poltrona de couro -só uma. Tudo vai ser extraordinário, só não consigo pensar em como será possível viver sem nossas queridas e emocionantes caixas de fotos.
Mas quando nossos brinquedos funcionarem sem fio algum, só com a força de nosso pensamento -e isso vai acontecer breve-, haverá gente se lamentando, com saudades dos antigos smartphones. Como aquela moça que, no meio de um maravilhoso filme, sacou do seu e ficou lendo uma mensagem. Ninguém me contou: eu vi, pois ela estava no cinema na fila em frente à minha, um pouquinho à esquerda. Quase gritei.
O único espaço que a tecnologia ainda respeita é a cozinha; por mais que já existam alguns ensaios, como maquininhas que modelam ovos fritos em forma de coração, cortam pão para sanduíches como puzzle e fornecem pedras de gelo em formato de cérebro, esse território ainda não foi atingido -obrigada, meu Deus.
Mas esse dia vai chegar, claro, e só alguns privilegiados vão ter endereços de restaurantes onde se poderá comer uma fatia de carne assada com arroz e farofa, e de quebra pedir um ovo frito -só um-, ou outras preciosidades, feitas não por um chef charmoso, mas por uma cozinheira gorda e bem humorada.
Um restaurante onde não exista um só prato com molho de maracujá, nenhum tipo de música, em que as pessoas não gritem e não falem nunca sobre dieta, só sobre as delícias da gastronomia -e bem baixinho.

DORA KRAMER

Nas próprias pernas
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11
Lamentavelmente o último escândalo da estação não produziu nada que o País não tenha visto ou ouvido nos últimos anos.

Numa prova de que quem sai aos seus raramente degenera, a deputada Jaqueline Roriz, filha do ex-governador Joaquim Roriz, recorreu aos préstimos financeiros do pivô do penúltimo escândalo de corrupção política - que levou um governador (José Roberto Arruda) à prisão - e foi filmada recebendo o dinheiro.

Como sempre, vozes de indignação se levantaram pedindo a cassação do mandato e punição da deputada na Justiça. As defesas de praxe também foram providenciadas.

O partido de Jaqueline Roriz, o PMN, divulgou nota oficial para ressaltar a "boa índole" e a condição de "filha zelosa, esposa amantíssima" de sua filiada; acabou autorizando a conclusão de que a índole do partido deixa muito a desejar.

Seguindo o roteiro habitual nessas situações, o PSOL foi o primeiro a pedir a abertura de processo de cassação no Conselho de Ética. E aqui entra a diferença deste para casos anteriores: as investigações internas no Parlamento estão totalmente desmoralizadas.

Atualmente chega a soar esquisito falar em julgamentos éticos no ambiente do Congresso.

O flagrante exibido em vídeo pelo portal Estadão.com.br não deixa a menor dúvida quanto à ausência de decoro pessoal por parte da moça que na época ainda não tinha mandato de deputada federal.

É óbvio que essa filha diligente, esposa enamorada de excelente caráter, merece a cassação.

Mas a Câmara estará enrolada nas próprias pernas caso a deputada não tome a iniciativa de renunciar ao mandato.

Para livrar colegas de complicações não muito diferentes das que envolvem a filha de Roriz, o Conselho de Ética decidiu que atos anteriores ao mandato em curso não contam para efeito de decoro parlamentar.

Em contrapartida, o Congresso aprovou uma lei que leva em conta a vida pregressa de pretendentes a candidato como fator de elegibilidade. Com a Lei da Ficha Limpa, a população despertou para a importância de biografias e passou a pôr em xeque a legitimidade dos parlamentares donos de folhas corridas.

O Legislativo montou uma armadilha para si: criou um casuísmo que em tese o impede de cassar a deputada e ao mesmo tempo aprovou uma lei que expõe as mazelas de boa parte dos juízes.

Dúvida atroz. O governo divulgou que a presidente Dilma Rousseff vetou indicações do deputado Eduardo Cunha para cargos no governo. No entanto, a liderança desse mesmo governo na Câmara escolheu Cunha para negociar a aprovação das regras para obras com licitações especiais para a Olimpíada de 2016.

Fica, portanto, a questão: se Eduardo Cunha não serve como avalista de cargos por que serve para cuidar de licitações?

Olha o vexame. Ao que se anuncia a segurança do presidente Barack Obama na visita ao Brasil será composta por mais de 300 pessoas, além de helicóptero e dezenas de carros vindos dos Estados Unidos.

Quando Bill Clinton esteve aqui foi intensamente criticado por causa do forte esquema de segurança que o acompanhava desde Washington.

Na época houve significativa adesão local à tolice de enxergar nisso um sinal de afronta à soberania nacional. Segundo aqueles autores, os americanos ofendiam a honra nacional não apenas por causa do tamanho do aparato, mas também por relegarem ao segundo plano o uso de policiais brasileiros na segurança do presidente.

Depoimentos de moradores do morro da Mangueira qualificando o aparato presidencial como "totalmente desnecessário", eram exibidos na televisão como prova da natureza cordial da população.

Queira o bom senso que desta vez prevaleça o entendimento do óbvio: esquemas de segurança de chefes de Estado são da alçada de cada país e as respectivas circunstâncias, guardando zero com a soberania alheia.

MERVAL PEREIRA

O difícil consenso
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/02/11

Para se ter uma ideia de como será difícil chegar-se a um consenso em torno da reforma política, tomemos as opiniões de três deputados federais representantes do Rio de Janeiro: Miro Teixeira, do PDT, Chico Alencar, do PSOL, e Alfredo Sirkis, do PV. Cada um deles tem ideias próprias sobre qual o melhor sistema eleitoral, por exemplo.

Miro Teixeira só tem uma questão fechada: não admite que o sistema eleitoral tire do cidadão o direito de escolher seu representante diretamente na urna.

Com isso, renega o voto em lista fechada, no qual o partido elabora sua lista, e o eleitor vota apenas na legenda. Os primeiros da lista serão os eleitos, de acordo com o número de cadeiras que cada partido conquistar nas urnas.

Já Chico Alencar defende justamente o sistema de lista fechada Além de estimular uma maior nitidez programática na disputa, defende, é o mecanismo mais adequado para a obtenção da proporcionalidade na transformação de votos em cadeiras no parlamento.

Alfredo Sirkis, por sua vez, acha que a única forma de se chegar a um consenso seria um "distritão" misto, com 50% dos deputados eleitos pelo voto proporcional, e 50%, pelo distrital-majoritário.

Uma preocupação de Miro Teixeira é que os cidadãos, de um modo geral, desconfiam da isenção dos parlamentares eleitos por um sistema, na discussão de uma reforma desse mesmo sistema.

Por isso, ele considera "fundamental assegurar aos cidadãos a palavra final sobre o sistema de eleição de seus representantes".

Sua proposta é que a Comissão da Reforma Política decida submeter a plebiscito, a realizar-se com as eleições municipais, dois temas básicos: fim do voto obrigatório e a opção entre os sistemas eleitorais sistematizados pela comissão, em número a ser determinado na condução dos trabalhos da comissão.

O fim da obrigatoriedade do voto, por exemplo, já coloca o PSOL contra a proposta de Miro Teixeira, pois Chico Alencar considera que o voto, além de um direito duramente conquistado, deve ser considerado um dever cívico, sem o exercício do qual aquele direito se descaracteriza ou se perde. Afinal, liberdade e democracia são fins e não apenas meios.

Ele admite, porém, que a desmoralização da política em geral e a descrença no voto como instrumento efetivo de mudança são elementos que fortalecem os que defendem o voto facultativo, apresentado como uma vitória da liberdade individual.

"Falsa conquista, e perigoso conceito de liberdade individual, que compromete a realização do princípio republicano da soberania popular", rebate.

Na definição do sistema eleitoral, o deputado Alfredo Sirkis defende que seja adotado o princípio da simplicidade: mecanismos complicados que dificultem o eleitor na hora de votar ou que não se ajustem ao sistema de votação informatizado que temos não devem ser considerados.

Ele cita os diversos tipos que estão em discussão: o "distritão", que tem o estado como distrito eleitoral com a escolha majoritária; os "grandes distritos", a divisão do estado em poucos (3 ou 4) grandes distritos, com a possibilidade de vários candidatos por partido em cada; o distrital uninominal "clássico", no qual o estado é dividido em um número de distritos eleitorais igual ao das cadeiras em disputa nos parlamentos, e em cada um deles os partidos apresentam um único candidato.

Sirkis admite que o voto distrital clássico parece ser mais complicado de aprovar, pela necessidade de se desenhar não só os distritos que em todo o país correspondam aos 513 deputados federais - "Esse desenho nunca é politicamente neutro" - como também redesenhá-los para as eleições de deputados estaduais e vereadores.

A eleição para deputados federais e estaduais coincide no tempo, mas os distritos não coincidirão no espaço. No Rio de Janeiro, por exemplo, teria que haver 46 distritos para eleição de deputados federais e 70 para de estaduais.

No componente proporcional, Sirkis defende a lista fechada, mas alerta que seria preciso haver "exigências mínimas aos partidos em termos de democracia e transparência".

O deputado Chico Alencar, do PSOL, defende o voto proporcional, atribuindo aos defensores do voto distrital ou majoritário uma postura conservadora "que aspira consolidar o já dominante, busca o aumento da "eficiência governamental" à custa da redução da representatividade".

Ele admite, porém, que é necessário corrigir distorções para garantir a proporcionalidade do voto, pois ele se define pela busca da equidade na relação entre os votos recebidos e as cadeiras conquistadas. "A representação parlamentar deve espelhar, o mais fielmente possível, a composição política do eleitorado."

A distorção mais perversa do voto proporcional no Brasil, para Chico Alencar, é a distribuição desigual das cadeiras entre os estados da Federação. "O voto em Roraima vale 15,2 vezes mais do que o voto em São Paulo. E, dado que a força eleitoral relativa dos partidos se distribui de maneira desigual entre as diferentes regiões, tal fato desequilibra a proporcionalidade da representação no Parlamento, em geral prejudicando os centros mais populosos."

Na origem dessa distorção, para Alencar, está a norma constitucional que definiu o número mínimo (8) e o máximo (70) de cadeiras para os estados no Congresso Nacional.

Conservando as unidades da Federação como distritos eleitorais e o tamanho absoluto do Congresso (513 deputados), o problema pode ser atacado, segundo o deputado do PSOL, com a redução do número mínimo e o aumento do máximo, redistribuindo as cadeiras.

Há, no entanto, limites para a redução do número mínimo de cadeiras, que deverão ser estudados pela comissão, havendo soluções técnicas já estudadas pelos cientistas políticos.

Para evitar a ditadura dos comandos partidários na definição da lista de candidatos, Chico Alencar sugere que seja adotada uma regulamentação que determine a realização de eleições primárias para o ordenamento das listas.

E, para superar a questão de o eleitor não votar diretamente no candidato, ele sugere que seja aprovada a "lista flexível" utilizada na Bélgica, onde o partido estabelece a ordem dos candidatos, mas o eleitor pode mudar a ordem para priorizar seu candidato preferido.

Como se vê, três deputados, três partidos, três reformas políticas.

CELSO MING

Controle de capitais
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11
Nos primeiros 60 dias deste ano, o Brasil recebeu US$ 24,4 bilhões em capitais líquidos, mais do que em todo o ano de 2010.

É verdade que os juros cada vez mais altos aqui no Brasil são fator de forte atração de dólares. Mas sempre que alguém se lembra disso, a primeira coisa que vem à cabeça é que empresas e pessoas físicas se põem a especular furiosamente com a diferença de juros: levantam lá fora empréstimos a juros em torno de 3% ao ano, transferem esses recursos para cá, convertem em reais, e, em seguida, tiram proveito, no mole, de remuneração que hoje está no mínimo em 11,75% ao ano, o nível dos juros básicos (Selic). É a tal operação que, no jargão do mercado, leva o nome de carry trade de curto prazo.

Mas a diferença com juros não atrai apenas esse tipo de operação. A tabela mostra quais foram as operações de empréstimo externo por meio da colocação de títulos ou bônus por parte das empresas brasileiras neste início de 2011. Também essas empresas tiram proveito dos juros mais baixos lá fora. A maioria delas tem envergadura e cadastro para levantar empréstimos internos. Mas prefere uma operação de dívida externa porque proporciona um custo financeiro mais baixo.

Os levantamentos do Banco Central mostram que, na média, os bancos estão cobrando no Brasil juros de cerca de 30% ao ano nas operações de empréstimo para capital de giro. É claro que empresas de primeira linha obtêm financiamentos a custos muito mais baixos, provavelmente abaixo de 15% ao ano. Mas, ainda assim, mais altos do que os 6% ou 7% ao ano pagos pelas captações externas. Isso significa que a entrada de moeda estrangeira por essa porta (empréstimos externos) tende a aumentar. Só a Petrobrás, que já captou US$ 6 bilhões em janeiro, já avisou que levantará para suas necessidades de caixa mais US$ 17 bilhões até 2014.

Enfim, é forte a entrada de recursos externos tanto por meio da colocação de títulos lá fora como por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações concorrem muito mais para a valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno) do que, por exemplo, concorrem para isso as operações de especulação com juros hoje taxadas em 6% pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O que se pergunta é se, para evitar a excessiva valorização do real, que derruba a competitividade do setor produtivo nacional, o governo não deveria controlar também a entrada desses capitais. Há gente no governo que defende a pré-seleção das captações e dos investimentos estrangeiros. É uma autoridade qualquer se postando à porteira para decidir, caso a caso, qual carneiro deve passar e qual não deve.

Casuísmos assim não podem ser inteiramente descartados, mas são de complicada administração e implicam alto grau de subjetividade, aumento da burocracia e perda de tempo. E perda de tempo não é uma questão menor porque o mercado não espera. O momento melhor para um levantamento de empréstimo não pode ficar à mercê da canetada de um funcionário público.

Celso Ming - O Estado de S.Paulo

Nos primeiros 60 dias deste ano, o Brasil recebeu US$ 24,4 bilhões em capitais líquidos, mais do que em todo o ano de 2010.

É verdade que os juros cada vez mais altos aqui no Brasil são fator de forte atração de dólares. Mas sempre que alguém se lembra disso, a primeira coisa que vem à cabeça é que empresas e pessoas físicas se põem a especular furiosamente com a diferença de juros: levantam lá fora empréstimos a juros em torno de 3% ao ano, transferem esses recursos para cá, convertem em reais, e, em seguida, tiram proveito, no mole, de remuneração que hoje está no mínimo em 11,75% ao ano, o nível dos juros básicos (Selic). É a tal operação que, no jargão do mercado, leva o nome de carry trade de curto prazo.

Mas a diferença com juros não atrai apenas esse tipo de operação. A tabela mostra quais foram as operações de empréstimo externo por meio da colocação de títulos ou bônus por parte das empresas brasileiras neste início de 2011. Também essas empresas tiram proveito dos juros mais baixos lá fora. A maioria delas tem envergadura e cadastro para levantar empréstimos internos. Mas prefere uma operação de dívida externa porque proporciona um custo financeiro mais baixo.

Os levantamentos do Banco Central mostram que, na média, os bancos estão cobrando no Brasil juros de cerca de 30% ao ano nas operações de empréstimo para capital de giro. É claro que empresas de primeira linha obtêm financiamentos a custos muito mais baixos, provavelmente abaixo de 15% ao ano. Mas, ainda assim, mais altos do que os 6% ou 7% ao ano pagos pelas captações externas. Isso significa que a entrada de moeda estrangeira por essa porta (empréstimos externos) tende a aumentar. Só a Petrobrás, que já captou US$ 6 bilhões em janeiro, já avisou que levantará para suas necessidades de caixa mais US$ 17 bilhões até 2014.

Enfim, é forte a entrada de recursos externos tanto por meio da colocação de títulos lá fora como por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações concorrem muito mais para a valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno) do que, por exemplo, concorrem para isso as operações de especulação com juros hoje taxadas em 6% pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O que se pergunta é se, para evitar a excessiva valorização do real, que derruba a competitividade do setor produtivo nacional, o governo não deveria controlar também a entrada desses capitais. Há gente no governo que defende a pré-seleção das captações e dos investimentos estrangeiros. É uma autoridade qualquer se postando à porteira para decidir, caso a caso, qual carneiro deve passar e qual não deve.

Casuísmos assim não podem ser inteiramente descartados, mas são de complicada administração e implicam alto grau de subjetividade, aumento da burocracia e perda de tempo. E perda de tempo não é uma questão menor porque o mercado não espera. O momento melhor para um levantamento de empréstimo não pode ficar à mercê da canetada de um funcionário público.

CONFIRA

Devagar com esse andor

Algumas pessoas olharam para a evolução do IGP-M (primeira prévia de março) e concluíram, apressadamente, que a alta dos preços dos alimentos está sendo revertida. Os preços no atacado estão de fato subindo menos e provavelmente continuarão nessa desaceleração por mais algumas semanas.

Cresce a demanda

Mas não dá para fazer uma aposta firme na deflação das commodities alimentares. O fator prevalecente ainda é o de aumento do consumo global num cenário de estoques reduzidos. Ou seja, o mercado continua estruturalmente desequilibrado.

E o petróleo?

São elementos que valem também para o petróleo. A última esticada de preços deflagrada pela crise na comunidade islâmica refluiu em boa parte. Mas, a qualquer momento, pode voltar. Por trás desses movimentos há um mais importante, que é o aumento do consumo de energia dos asiáticos, principalmente da China. Esse fator continua atuando.

CONFIRA

Devagar com esse andor

Algumas pessoas olharam para a evolução do IGP-M (primeira prévia de março) e concluíram, apressadamente, que a alta dos preços dos alimentos está sendo revertida. Os preços no atacado estão de fato subindo menos e provavelmente continuarão nessa desaceleração por mais algumas semanas.

Cresce a demanda

Mas não dá para fazer uma aposta firme na deflação das commodities alimentares. O fator prevalecente ainda é o de aumento do consumo global num cenário de estoques reduzidos. Ou seja, o mercado continua estruturalmente desequilibrado.

E o petróleo?

São elementos que valem também para o petróleo. A última esticada de preços deflagrada pela crise na comunidade islâmica refluiu em boa parte. Mas, a qualquer momento, pode voltar. Por trás desses movimentos há um mais importante, que é o aumento do consumo de energia dos asiáticos, principalmente da China. Esse fator continua atuando.

ILIMAR FRANCO

Alívio 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/03/11

Apesar das críticas de praxe ao governo, a oposição está satisfeita com o desempenho da presidente Dilma Rousseff. Com uma atuação mais discreta do que o ex-presidente Lula, é como se o governo tivesse descido do palanque. Isso faz com que os ânimos estejam menos exaltados. “Isso pode melhorar a qualidade do debate”, diz o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Morde e assopra

Tirando esse raro momento de refresco, a oposição não perde a oportunidade de lembrar que a presidente Dilma afirmou, durante a campanha eleitoral, que não era necessário fazer ajuste fiscal. Ao mesmo tempo, o PSDB e o DEM acusam o governo de fazer um arremedo de ajuste fiscal com o corte anunciado de R$ 50 bilhões no Orçamento. Também criticam o salário mínimo de R$ 545 e o reajuste por decreto nos próximos quatro anos. Guerra elogia, no entanto, a defesa dos direitos humanos na política externa, a tentativa de passar imagem de austeridade fiscal e a revisão da decisão de compra dos caças para a Aeronáutica.

“Ela está mais adequada ao ritual do cargo. Entende que tem que governar, e não fazer política 24 horas” — ACM Neto, deputado federal (BA) e líder do DEM

XADREZ. A definição do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, no ano que vem, está diretamente ligada aos planos de José Serra (PSDB). A senadora Marta Suplicy (PT-SP) só deve disputar o cargo se o tucano não for candidato. Se Serra entrar no páreo, o nome do PT deve ser o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Apesar de negar que será candidato à prefeitura, Serra só deve definir de fato seu futuro na última hora.

Vou de táxi
A Rede Cegonha, programa de atendimento a gestantes governo federal, incluirá um vale-táxi para as mulheres irem à maternidade. O anúncio foi feito pela presidente Dilma em reunião com sindicalistas.

Em baixa
O PT já tentou emplacar a ex-governadora Ana Júlia (PA) na presidência do Banco da Amazônia e agora na superintendência da Sudam. Mas a tendência é deixar nessa última Djalma Mello, ligado a Eduardo Braga (PMDB-AM).

Garotinho & Rodrigo Maia
O presidente do DEM, Rodrigo Maia, e o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) estão conversando sobre aliança nas eleições para a prefeitura do Rio. Rodrigo chegou a propor que Garotinho, deputado mais votado no estado, fosse o candidato. O ex-governador alegou que tem um problema familiar, já que sua mulher, Rosinha, deve disputar reeleição em Campos. Caso fossem eleitos, teriam que morar em cidades diferentes.

Lobby
Apesar de o governo ter adiado a compra dos caças para a Força Aérea Brasileira, devido aos cortes no Orçamento da União, a expectativa do Palácio do Planalto é que o presidente dos EUA, Barack Obama, aproveite sua visita ao Brasil para fazer lobby a favor dos F-18, da Boeing. A proposta da empresa é compensar na área civil o que não pode oferecer na área militar, como transferência de tecnologia. O governo Lula preferia os Rafale franceses.

 O GOVERNO incluirá artigo, na medida provisória que cria uma empresa pública para gerir os hospitais universitários, estabelecendo que os funcionários terceirizados terão prioridade na contratação. 
 BIOPIRATARIA. O Ibama pôs em curso operação para multar empresas que usam, sem autorização, elementos da biodiversidade brasileira. 
 BAGAGEM. Depois de deixar o governo do Rio Grande do Sul com altos índices de rejeição e sem conseguir se reeleger, Yeda Crusius (PSDB) quer dar palestras pagas. “Vou correr o mundo com a minha experiência”, disse ela, comparando-se a FH.