quarta-feira, novembro 30, 2011

A terra treme - ANCELMO GOIS



O GLOBO - 30/11/11



O duelo entre Ricardo Teixeira e Joseph Blatter pode respingar na Lei Geral da Copa, que está em fase de discussão no Congresso. Não será surpresa se a CBF apoiar algumas mudanças sugeridas pelo governo Dilma e que contrariam a Fifa.

Claro x Vivo
Ronaldo só aceita trabalhar no Comitê da Copa de 14 se puder cumprir seus contratos de publicidade. O ex-craque não vê conflito de interesses. Mas teria de usar sua habilidade de driblador para evitar choques entre empresas do mesmo ramo na CBF e na Fifa.

Por exemplo...
O Fenômeno é patrocinado pela Claro, e a CBF, pela Vivo.

Outro...
Ronaldo é patrocinado pela AmBev, e a Fifa, pela Coca-Cola.

Bolsa-Copa
Aldo Rebelo, ministro do Esporte, vai levar adiante a proposta de aposentadoria para campeões mundiais, antiga sugestão de Lula. Recebe hoje Djalma Santos, o ex-lateral-direito bicam-peão nas Copas de 1958 e 1962.

Melhor ficar
Gente próxima a Sérgio Gabrielli diz que se, ele pudesse no seu destino mandar, não deixaria a Petrobras para disputar a incerteza da eleição na Bahia. Na memória, vem o caso de José Eduardo Dutra, seu antecessor, que deixou a estatal para disputar o Senado por Sergipe e perdeu a eleição... e o cargo. 

Au, au, au, au
Um grupo de moradores da Barra, no Rio, marcou para 4 de dezembro, às 11h, no Bosque Marapendi, um... “cão oculto”. Os vizinhos se encontrarão e trocarão presentes para seus totós. Cerca de 40 cãezinhos participarão da festa. Não é fofo?

O GLOBO, DOMINGO, expôs na primeira página uma simulação feita em computador de como deve ficar a Praça XV com a demolição do monstrengo Elevado da Perimetral. A coluna, então, resolveu sonhar mais alto. Que tal tirar também o modernoso prédio anexo da Assembleia Legislativa? O resultado é o retorno arquitetônico do Rio Antigo em toda a sua plenitude

‘Ai, se eu te pego’
O sucesso da vez nas boates e rádios da Espanha é “Ai, se eu te pego”, do brasileiro Michel Teló (“Ai, se eu te pego/Delícia”...). Desbancou Lady Gaga nas paradas, acredite, depois que Cristiano Ronaldo, craque do Real Madrid, fez a coreografia da música ao comemorar um gol.

Big Mac
Até 31 de dezembro, o McDonald’s vai abrir 31 novas lojas no país, quase uma por dia. Caruaru, PE, por exemplo, terá sua segunda. Nossa Senhora do Socorro, SE, sua primeira.

Retratos da vida
Sexta, numa loja do Shopping da Praia, na Barra, no Rio, uma socialite local causou constrangimento ao, supostamente, furtar uns brincos da vitrine. A vendedora, gentilmente, pediu para madame abrir a bolsa, pois as peças, “sem querer”, tinham “caído” lá. Sem graça, ela devolveu e partiu.
Morar bem
Uma megacobertura na Avenida Rui Barbosa, endereço de bacanas no Flamengo, no Rio, avaliada em R$ 6 milhões, vai a leilão recheada com mais de 1.300 obras de arte. Há até quadros de Cícero Dias e Teruz. Pertencia ao alemão Otávio Kossmann, ex-banqueiro e dono de lapidação de diamantes. Será dia 6, a cargo do leiloeiro Horácio Ernani.

Eu sou o bom
A guerra na TV entre Bradesco e Itaú pelas contas dos servidores estaduais do Rio, cada um tentando provar ser mais bonzinho, vai esquentar. Ao contrário do governo estadual e do TJ, que optaram pelo Bradesco, a Alerj, o TCE e o MP renovaram com o Itaú.

Hospital-escola
A Universidade Gama Filho, do Rio, arrendou o Hospital da Barra, antigo São Bernardo. A partir de fevereiro, funcionará ali o Hospital-Escola Gama Filho.

Melhor assim
O ex-coleguinha Edison Lobão e a direção de Furnas resolveram liquidar uma dívida antiga de R$ 100 mil com a ABI.

Calma, gente
Sábado à noite, uma funcionária da academia A!BodyTech da Av. Sernambetiba, na Barra, no Rio, foi espancada com golpes dignos de MMA por uma madame traída, que a confundiu com a suposta amante de seu marido, aluno da academia. Ao perceber que batia na mulher errada, parou, mas prometeu voltar depois para “bater na pessoa certa”.

Parece eterno - ALON FEUERWERKER



CORREIO BRAZILIENSE - 30/11/11


O brasileiro tem problemas para pagar as dívidas porque elas custam muito caro. E não é que elas custem caro pela dificuldade de cobrá-las. Aqui, sabe-se com precisão que a galinha nasceu antes do ovo. O sujeito fica inadimplente tentando pagar a dívida, e não porque tentou escapar dela



O Comitê de Política Monetária está reunido para analisar e decidir mais um corte no juro básico, a taxa que o governo paga a quem lhe empresta dinheiro. É algo mais complicado que isso, mas simplificar não chega a ser crime capital. Como ensinam os grandes líderes, o primeiro passo para tentar explicar a realidade é buscar simplificá-la. 
O Copom vem num bom momento, por ter vencido o cabo de guerra contra quem meses atrás criticou a decisão de começar a baixar radicalmente o juro básico, mesmo com a inflação inquieta. 
Deu certo. A inflação anda razoavelmente comportada, no teto da meta. Que foi aliás o prometido pelo Banco Central. 
As projeções para 2012 continuam aquecidas, é verdade, mas até o fim do ano que vem o BC tem margem para manobrar. Pois a promessa do BC é que o ritmo dos preços convergirá daqui a doze meses para 4,5%. 
Mesmo num país desmemoriado, como o nosso, é promessa com boa chance de ser cobrada. 
A antecipação do BC e do governo evitou que a mediocridade econômica, uma provável marca registrada deste quadriênio, virasse estagnação instantânea. 
E o governo Dilma Rousseff ganhou espaço operacional para pelo menos apresentar resultados não nulos nesse campo. Politicamente será um ativo. 
Para uma nação que abandonou o desenvolvimentismo e agora faz o jogo do contente, 3% pode até ser apresentado como trunfo. 
O governo Dilma beneficia-se de sermos um país com baixas expectativas. Aceitamos, por exemplo, e bovinamente, que o limiar da classe média fique num nível baixo, e daí festejamos o ingresso de milhões nessa mesma classe média. 
Por falar em juros, e não é a primeira vez que escrevo aqui, impressiona a nossa passividade diante das taxas cobradas do investidor e do consumidor. Com a notável exceção de quem tem acesso ao subsidiado. 
Isso explica em parte. O Brasil pratica um juro para quem tem poder e outro para quem não tem. E sobra a estes últimos reclamar, sem o mesmo impacto que haveria caso os primeiros estivessem no barco. 
O juro extorsivo já recebeu diversas explicações entre nós. Disseram que a coisa melhoraria com a introdução de novos mecanismos legais, como a lei de falências e o cadastro positivo. Aguardam-se os resultados. E convém esperar em posição confortável. 
Outro mantra diz que o brasileiro paga muito juro pois é muito inadimplente. Mas ninguém prova que somos mais caloteiros, na comparação. Eu aposto que é o contrário. O brasileiro tem problemas para pagar as dívidas porque elas custam muito caro. 
E não é que elas custem caro pela dificuldade de cobrá-las. Aqui, sabe-se com precisão que a galinha nasceu antes do ovo. O sujeito fica inadimplente tentando pagar a dívida, e não porque tentou escapar dela. 
É uma encrenca resistente. Parece insolúvel. Só parece, pois outros povos já a resolveram. Mas aqui prefere-se o esconde-esconde. Finge-se que tudo vai bem. A espoliação financeira é apresentada como um dado da natureza. 
Como o sol que nasce e se põe todo dia. 

O estiloHá uma certa tensão no Congresso, instado a votar a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e pressionado a não emendar muito a peça orçamentária. 
Cerca de R$ 20 bilhões resolvem o problema das emendas, enquanto a DRU, no cálculo realista, vai dar de mão beijada pelo menos R$ 100 bilhões para o Executivo gastar como quiser. 
Ou seja, se houver vontade política resolve-se. Inclusive porque atenderia a segmentos dentro do governo, os insatisfeitos com o andar da carruagem. 
E porque o governo executa ou não as emendas parlamentares conforme a conveniência dele. 
Uma dificuldade, no Congresso, tem sido costurar a solução. Outra dificuldade é descobrir quem, no poder, pode efetivamente ajudar a resolver politicamente a coisa. 
É a primeira negociação orçamentária do governo Dilma. Vai servir para identificar um estilo. Se mais ou menos imperial. 
Até onde os lados vão esticar a corda? O governo tem os restos a pagar como um colchão de começo de ano. O Congresso só tem os problemas que pode causar ao governo. 

FériasAo longo de dezembro estarei em férias. Obrigado pela audiência, boas festas e um ótimo 2012.

Vento anarquista - ZUENIR VENTURA



O GLOBO - 30/11/11

Quem chamou a atenção para o que classificou de "enigma" foi o historiador e deputado pelo Parlamento Europeu Rui Tavares em recente artigo intitulado "A vingança do anarquista". Ele perguntava por que os mercados apertavam o cerco em torno de Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, e não incomodavam a Bélgica, que tinha uma dívida pública maior do que a portuguesa e, ainda por cima, estava sem governo eleito. Apesar disso, "a economia belga é a que mais cresceu na zona euro nos últimos tempos, ou seja, sete vezes mais do que a alemã". 
Tavares ressaltava que isso aconteceu não "apesar", mas "graças" à situação singular dessa monarquia parlamentar que, "desgovernada" há 19 meses, desconhecia medidas de austeridade, recessão, arrocho, demissões e cortes de programas sociais. Desse modo, concluía o articulista, "a economia cresce de forma mais saudável, ajuda a diminuir o déficit e a pagar a dívida". Sede da União Europeia e da Otan, a Bélgica bateu o Iraque na categoria país sem governo, e não fez da crise política uma tragédia; preferiu enfrentá-la com bom humor e comemorar, chamando-a de Revolução da Batata Frita, como paródia à Revolução de Jasmim tunisiana e em homenagem ao prato nacional. Os jornais chegaram a fazer piada. Um anunciou em manchete: "Finalmente campeões do mundo"; outro celebrou, também com autoironia, o feito negativo inédito: "Recorde batido!"
Nos anos 70, o economista Edmar Bacha descreveu como Belíndia um país fictício, desigual e injusto, onde conviviam dois povos, um que tinha o padrão de vida da pequena e rica Bélgica e outro que lembrava a pobreza da Índia. Era o Brasil da época dos militares. Agora, o reino belga está sendo fonte de inspiração para outra fábula - a utopia anarquista de que não só é possível sobreviver sem governo como se vive até melhor sem ele.
Em tempos de descrença nas instituições, quando os jovens estão indo às praças públicas protestar em várias partes do mundo, independentemente de regime, ideologia ou credo, sabendo mais o que não querem do que o que querem, o exemplo belga pode exercer um grande fascínio, principalmente se considerarmos que nessa estação de tantas "primaveras" insurrecionais um pouco do vento da anarquia está soprando.
Já imaginou se a velha moda do "hay gobierno, soy contra" se espalha? No Brasil, onde o comportamento da Câmara e do Senado leva muita gente a sonhar com o seu fechamento por desnecessários, a experiência belga poderia ser adotada durante pelo menos alguns meses. Como se trata de um exercício de fantasia do tipo "o que não tem governo nem nunca terá", da música de Chico Buarque, quem sabe assim o país não funcionaria melhor? Uma coisa parece certa: sem ministros e ministérios, a corrupção seria menor.

Não, não temos burritos - MARCELO COELHO


FOLHA DE SP - 30/11/11

O que mais se destaca nos filmes de José Joffily é o elogio do homem comum, do brasileiro de vida média


Seria difícil imaginar um americano mais típico. Loiro, vermelho, gorduchão, risonho. Usando uma camisa azul de abotoar de mangas curtas, ele parecia mal saber que tipo de país é o Brasil e que tipo de cidade é São Paulo.

Admite que seu principal prazer na vida consiste em comer até estourar. Sai pelo centro da cidade perguntando a um acompanhante local onde encontrar um prato célebre da culinária brasileira.

A saber, os "boolrwitos". Seu interlocutor não sabe do que se trata. Ele capricha na pronúncia do espanhol. "Burritos?", pergunta o brasileiro. "Yes, yes", entusiasma-se o gringo. Poderiam responder-lhe que "não, não temos burritos"; no máximo, bananas.

Mas a cena para por aí mesmo, e o filme continua com outros personagens. Estou assistindo a "Prova de Artista", documentário de José Joffily que entrou em cartaz na semana passada.

O americano se chama Byron. É um garotão dos cafundós dos Estados Unidos que, depois de anos e anos estudando violino, tentou sem sucesso arranjar emprego em alguma orquestra americana.
Acabou vindo parar em São Paulo, para participar de uma audição na Orquestra Sinfônica do Estado (Osesp), que abria vaga para novos instrumentistas.

O filme de Joffily acompanha a vida de alguns candidatos. Há um oboísta que já tocava na Osesp e terá de ser aprovado numa audição para obter lugar definitivo na orquestra. Uma jovem fagotista mineira, mãe de uma filhinha pequena, mora numa casa simples em Belo Horizonte. Já toca na orquestra de Minas, mas cogita se mudar para São Paulo.

Do Rio de Janeiro vem um instrumentista acostumado a tocar viola no pequeno conjunto de uma igreja evangélica. Seus pais o obrigavam a estudar a fundo o instrumento, ao lado dos irmãos.

A audição dos candidatos, feita atrás de uma cortina, permite que os jurados do concurso julguem sem maiores preconceitos.

Byron, como bom americano, organiza-se para o grande dia. Monta uma planilha com os horários e peças que deve estudar. O lugar a que se candidata é o de violinista lá nas cadeiras do fundo, que não lhe trará exigências comparáveis às de um grande solista.

Mesmo assim, para ser admitido, deve tocar para o júri um dos grandes concertos do repertório: escolhe o de Tchaikovski, campo minado em matéria de dificuldades técnicas. A tal ponto que, depois de sua estreia, em finais do século 19, um crítico declarou que o violino devia estar cheio de manchas roxas, dado o número de violências a que fora submetido.

Assistimos aos ensaios de Byron, às dúvidas da fagotista mineira, às esperanças do evangélico, à modéstia do oboísta.

Cada um deles, é claro, tem mais talento musical do que toda a minha árvore genealógica reunida. Ao mesmo tempo, nenhum pode ser classificado como gênio prodigioso e indiscutível.

É gente tão comum, afinal de contas, que mal se entende por que razão viraram assunto de documentário. Mas tem sido este o ponto forte dos últimos filmes de José Joffily. "Vocação do Poder" registrava a campanha de alguns estreantes na política, candidatos a vereador no Rio de Janeiro.

Num filme anterior, Joffily escolhia como alvo outro tipo de vocação, a de padre. Seminaristas, alguns dos quais bastante esquisitos, é verdade, eram entrevistados em "O Chamado de Deus", e terminavam parecendo tão normais como quaisquer outros brasileiros.

"Prova de Artista" seria, então, a última parte dessa "trilogia das vocações" realizada pelo diretor. Mas talvez o tema da vocação individual termine em segundo plano nessa série. Embora não seja todo mundo que pense em se tornar padre, político ou fagotista, o que mais se destaca nesses filmes não é a excepcionalidade de uma carreira ou de um talento.

Joffily faz, nesses filmes, o elogio do homem comum -do brasileiro de vida média, sem caricatura; o brasileiro do arroz com feijão, sem burritos, sem vatapá e sem hambúrguer.

No final do filme, com a barriga debaixo da mesma camisa azul, Byron toma sol e água de coco. Não será o maior violinista do mundo, nem mesmo o maior violinista de São Paulo. Não encontrou os "burritos" que queria.

Ninguém encontra mesmo o que quer. Pouco importa: ele está feliz da vida. Afinal de contas, é a sua vida; e é isso o que basta para a maioria de nós.

Foxconn - ANTONIO DELFIM NETO


FOLHA DE SP - 30/11/11



Tem causado grande sensação a possibilidade de um investimento no Brasil da ordem de US$ 12 bilhões da empresa taiwanesa de produtos eletrônicos, a Foxconn, acertado durante a visita da presidente Dilma. Trata-se de um gigante do setor e, certamente, valerá a pena vê-la instalar-se aqui.

O Brasil tem sido cuidadoso na análise do projeto. Contratou uma empresa privada especializada para avaliar adequadamente o valor da "tecnologia" a ser aportada pelaFoxconn que, eventualmente, deve ser o valor do seu capital na empresa nacional, num investimento inicial de US$ 4 bilhões, como sugere o dono da empresa, Terry Gou. Ela irá produzir telas para televisores, computadores, tablets etc.

Segundo se sabe, informalmente, a contribuição do BNDES para o capital da empresa seria da ordem de 30% (o que pode atingir US$ 1,2 bilhões).

Como Terry Gou não aporta recursos líquidos, mas só o "valor" estimado da tecnologia, a eventual diferença deverá ser capitalizada por empresários nacionais dispostos a correr o risco do empreendimento.

Aparentemente, o ousado e inovador empresário Eike Batista dispõe-se a colocar US$ 500 milhões, conforme um acordo de confidencialidade que teria assinado com Gou e oBNDES.

De acordo com Gou, outros dois investimentos, de US$ 4 bilhões, serão instalados num futuro não muito remoto para cumprir o acordo firmado pelo governo brasileiro, o que será muito bom.

A Foxconn está montando fábrica em Jundiaí, no Estado de São Paulo, onde pretende produzir iPhones.

Como é conhecido, a empresa não possui marca própria. Produz sofisticados produtos eletrônicos que incorpora em bens finais que são vendidos sob diversos nomes.

No caso do iPhone produzido na China, por exemplo, ela é praticamente uma "maquiadora". O quadro abaixo, construído com números de um trabalho de Yuquing Xing (www.voxeu.org.index.php?q=node/6335) mostra o pequeno valor adicionado deixado na China:



Como será em Jundiaí?





Estouro - MARCIA PELTIER



JORNAL DO COMMÉRCIO - 30/11/11



Tal qual em 2010, quando 65% dos brasileiros foram além do orçamento com as compras de fim de ano, o cenário se repetirá em 2011. Os dados são da Pesquisa Mundial sobre presentes de Natal, estudo inédito da Wakefield Research, feito para a Western Union. Entre os 500 entrevistados por aqui este ano, 77% estão fazendo planos para as despesas. Mais da metade (54%), porém, deve gastar mais dinheiro do que o previsto para encontrar o presente ideal.

Sacrifícios 


À pergunta sobre que despesas estão sendo cortadas do dia a dia para ter mais dinheiro no bolso para celebrações de Natal e Ano Novo, 39% responderam comer fora, 34% estão optando por reduzir o lazer e, 31% deixaram de comprar roupas. Em média, os brasileiros gastarão R$ 792 em presentes esse ano. A pesquisa apontou também que, para 70% dos consultados, é mais interessante ganhar R$ 100 em dinheiro do que uma lembrança de valor equivalente.

Tarefa escolar 

Amanhã, o secretário de Cultura Emilio Kalil e a primeira-dama do município, Cristine Paes, sobem a Rocinha para inaugurar o projeto Vacas nas Escolas nas UPPs. Os próprios estudantes se encarregaram de pintar a escultura da ruminante.

Agenda comum 

Irá além de uma simples confraternização entre Firjan e Fiesp o almoço, amanhã, que o presidente da federação fluminense, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, oferece para seu colega paulista, Paulo Skaf. Os 400 empresários do Rio e São Paulo presentes serão apresentados a propostas estratégicas que as duas entidades passarão a defender conjuntamente, voltadas para a melhoria da competitividade.

Prolífico

Recém-saído da peça Adorei o que você fez!, o ator Marcos Breda irá interpretar um psicanalista em O caso Valkiria R., que estreia hoje, no Teatro Vannucci. Emendar trabalhos não é problema para o ator gaúcho de 51 anos. De janeiro a março, gravou a primeira parte da superprodução Os Senhores da Guerra. Em seguida, participou das filmagens de Somos tão jovens, em que vive o pai de Renato Russo. “Foi um acerto de contas, no bom sentido, com a família dele’’, destaca Breda, fã da Legião Urbana. Há 20 anos ele foi convidado para o curta Faroeste Caboclo, projeto que acabou não se concretizando.

Tamanho família 

O designer Carlos Miele promove, a partir de hoje, seu primeiro bazar de alta-costura. Vestidos fluidos e sensuais assinados pelo estilista, que saíram em importantes editoriais e vestiram celebridades como Beyoncé Rihanna, Jennifer Lopez, Angélica, Camille Belle e Alessandra Ambrósio terão 50% de desconto na loja dos Jardins, em São Paulo. Para o próximo ano, Carlos planeja "consolidar em sua grife o lifestyle brasileiro, da mesma maneira que Ralph Lauren representa os EUA, e Armani, a Itália", explica. Também estão em suas metas para 2012 criar uma linha masculina e outra infantil.

Chama o síndico 

Uma retardatária interrompeu abruptamente o musical Tim Maia – Vale Tudo, sábado, no Oi Casagrande. Ela entrou no teatro aos gritos, alegando que havia sido agredida pelo segurança da casa. O incidente obrigou o protagonista Tiago Abravanel a fazer uma pausa de cerca de três minutos. Calmamente, ele pediu à mulher licença para continuar o espetáculo, aplaudido diversas vezes em cena aberta.

Do momento 

Os artistas plásticos brasileiros prometem fazer grande sucesso na 10ª Art Basel de Miami, que começa amanhã nos EUA, a julgar pelo assédio prévio de colecionadores, galerias e imprensa. Beatriz Milhazes, em parceria com a Fundação Cartier, irá apresentar uma nova obra e será homenageada pela joalheria e pela W Magazine com jantar concorrido, hoje. Segundo levantamento da Fundação de Monsoon, a valorização das obras de Beatriz chega a 316%, de 2007 até hoje. Já o galerista britânico Alison Jacques, que representa Lygia Clark na Europa, apressa-se em mostrar os certificados de autenticidade dos trabalhos da mineira. Segundo ele, cópias se propagam no mercado paralelo. Comenta-se insistentemente que o MoMa está planejando, para 2013, uma grande exposição sobre a obra de Lygia Clark, falecida em 1988.

Carinho de amigos 

Mesmo com a saúde debilitada, Norma Bengell fará uma palestra nesta quinta, no Espaço Telezoom, no Humaitá, para contar um pouco das incríveis histórias de sua carreira. A atriz e diretora, que foi homenageada pelo conjunto da obra no Grande Prêmio da Academia Brasileira de Cinema, este ano, conta com o carinho da classe artística. Dia 12, Ruy Guerra encabeça almoço em benefício de Norma na La Fiorentina, a R$ 100 o convite.


Livre Acesso


Clara Magalhães, Gloria Severiano Ribeiro e Cristina Lips realizam, hoje, no Copacabana Palace, almoço em prol das cestas de Natal que serão distribuídas para diversas entidades filantrópicas. Espera-se o comparecimento de 250 mulheres, que contribuirão com doações de R$ 300.

Nesta quinta-feira serão divulgados os nomes dos 33 restaurantes eleitos em 13 categorias do 1º Prêmio Polo Lido de Gastronomia, com votação feita pelos moradores do bairro. A festa será na churrascaria Carretão, com entrega dos prêmios a cargo do chef do Copacabana Palace, Francesco Carli, e da sommelier Deise Novakoski.

A maior plataforma mundial de negócios do futebol , a Soccerex Global Convention, que termina, hoje, no Forte de Copacabana, brindou o fechamento de seus negócios exclusivamente com vinhos nacionais. Oito vinícolas, a Aurora, Família Valduga, Miolo, Salton, Dunamis, Lídio Carraro, Villa Francioni e Coooperativa Nova Aliança forneceram os rótulos oficiais do evento.

O prefeito Eduardo Paes se reuniu, ontem, com o CEO global da Direct Edge, William O’Brien, para a apresentação oficial da bolsa de valores Direct Edge Brasil, que terá sede no Rio.

Hoje, o programa de Direito e Meio Ambiente da FGV Direito Rio promove a palestra A posição brasileira nas negociações em mudanças climáticas e na Rio+20 com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Itamaraty e negociador-chefe para a Rio+20.

A Rede Asta promove seu bazar de Natal este sábado e domingo, das 10h às 20h, na loja de Laranjeiras. Haverá demonstrações feitas por artesãos, que irão ensinar como fazer alguns produtos sustentáveis. Os itens de moda, decoração e artesanato são todos feitos por integrantes de comunidades do Rio de Janeiro.

Tania Cristoph, dos móveis Bontempo, convida arquitetos e decoradores para um happy hour, com coquetel assinado por Andrea Tinoco, amanhã, na loja do CasaShopping.

Caiu a ficha - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 30/11/11

Aressionado pelos prazos para aprovar a DRU, o Planalto pediu à área econômica que avalie aumentar recursos para a Saúde. A ideia tem o apoio da oposição e o aval do PT e do PMDB. Não serão os 10% da emenda Tião Viana, mas um valor superior aos 7% em vigor. O governo já trabalha com o cenário de convocação extraordinária do Congresso entre o Natal e o Ano Novo. A indefinição joga para o ano que vem a votação do Orçamento.

Assinaturas para emendar a DRU
O foco do governo é impedir que a oposição apresente emendas à proposta de prorrogação da DRU. Se isso acontecer, a matéria volta para a Comissão de Constituição e Justiça. Para apresentar emendas, é preciso ter 27 assinaturas. A oposição chegou a ter 36 assinaturas numa emenda à DRU. Mas ela foi feita na proposta errada, a do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), e não ao texto aprovado na Câmara. A oposição corre para coletar de novo estas assinaturas.

"Se o governo puder aumentar o orçamento da Saúde, tudo fica mais fácil, até um acordo com a oposição” — Humberto Costa, líder do PT no Senado (PE)

MORDAÇA. O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), foi enquadrado pelo partido. Ele chegou a defender, no momento mais agudo de denúncias e críticas contra o ministro Carlos Lupi (Trabalho), que ele deixasse o cargo. Mas os trabalhistas fizeram a opção de sustentar Lupi na pasta, em uma estratégia para evitar que a sigla perca o comando do ministério. Paulinho saiu de cena.

Cobrança
A cúpula do PT se reuniu ontem com ministros do partido, com exceção de Alexandre Padilha (Saúde), e cobrou que eles recebam os parlamentares petistas. Também foram discutidas estratégias para as eleições do ano que vem.

Só as grandes
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) apresenta hoje, na Comissão de Seguridade, proposta criando a Contribuição Sobre Fortunas. 56 mil pessoas com patrimônio superior a R$ 4 milhões teriam de pagá-la. A receita iria para a Saúde.

Os ratos: uma saga do PT ao PSDB
Os ratos roendo a Bandeira Nacional, exibidos na TV pelo PT em maio de 2002 para atacar o governo Fernando Henrique, foram ressuscitados ontem na propaganda do PSDB, para atacar o governo Dilma. Naquela época, o ex-presidente Fernando Henrique classificou a peça de "nazista". Se era antes, é agora. A então presidente do PT mineiro, deputada Maria do Carmo Lara, afirmou que a propaganda petista não era "desrespeitosa". Não era lá, não é aqui. A disputa entre o PT e o PSDB é uma espécie de vale-tudo. E como diria o comunicador José Abelardo Barbosa, o Chacrinha: na propaganda política "nada se cria, tudo se copia".

Pulando fora
O ministro Garibaldi Alves (Previdência) agradece, mas diz que não é candidato a presidir o Senado. "Dois Alves não passam", explicou, referindo-se à candidatura do primo, o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), na Câmara.

Tirando o time
O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), lisonjeado, afirma que não cogita ser candidato à presidência do Senado. Acrescenta, com ironia, que isso não será um problema, pois "há muitos pretendentes ao cargo" no PMDB e também no PT.

CÓDIGO FLORESTAL. O líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), tenta emplacar o nome de Paulo Piau (PMDB-MG) ou de Edinho Araújo (PMDB-SP) na relatoria do Código Florestal na Câmara.

OS PETISTAS planejam convidar para depor, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, o integrante do Conselho Fiscal do PSDB João Faustino.

MESMO 
não sendo mais do PV, a ex-senadora Marina Silva vai pedir votos para os candidatos a prefeito do PV no Rio, a vereadora Aspásia Camargo; em Nova Iguaçu, o deputado estadual Xandrinho; e em Macaé, o deputado federal Dr. Aluizio.

Autoajuda - MARTHA MEDEIROS


CORREIO BRAZILIENSE - 30/11/11


Estava lendo o divertido Tudo é Tão Simples, de Danuza Leão, quando uma senhora chegou perto, com ar de desprezo, e disse: “Não te imaginava lendo autoajuda”. Pensei em responder que Kafka e Tchekhov também são autoajuda: dos eruditos aos passatempos, todo livro escrito com honestidade ajuda. Se bobear, até mesmo embustes tipo “Como arranjar marido” ou “Como juntar o primeiro milhão antes dos 30 anos” ajudam – quer ilusão, toma ilusão.

O psicanalista Contardo Calligaris certa vez disse numa entrevista que escreve para estimular o leitor a melhorar a qualidade de sua experiência de vida, intensificando-a. E Calligaris realmente consegue esse feito, por isso o leio. Assim como leio e sublinho inúmeras citações do filósofo romeno Cioran, que me ajuda a identificar a miséria humana sob uma ótica extremamente lúcida.

Muito antes de eu descobrir Calligaris e Cioran, tive que descobrir a mim mesma, e Marina Colasanti foi, nesse sentido, minha guia espiritual. Com suas crônicas, abriu minha cabeça para a sociedade que estava se firmando no início dos anos 80, quando as mulheres assumiram um novo papel. Eu não seria a mesma se não tivesse lido seus livros (muitas garotas talvez citem hoje a autora de Comer, Rezar, Amar como divisora de águas em suas vidas – eu também adorei).

Ainda adolescente, Fausto Wolff me deu consciência política, Millôr Fernandes me ensinou a enxergar o reverso do espelho, Verissimo me incentivou a rir de mim mesma, Paulo Leminsky me fez ver que poesia não precisava ser um troço chato e Caio Fernando Abreu me apresentou um mundo sem preconceitos. Seria uma ingrata se dissesse que eles não fizeram nada além de me entreter.

Além desses autores geniais, passei também por livros maçantes que me serviram como ansiolíticos – me ajudaram a pegar no sono. Hermetismo nem sempre é sinônimo de inteligência, profundidade não é privilégio dos deprimidos e mesmo histórias bem escritas podem naufragar se forem pretensiosas.

Michael Cunnigham ajuda a manter minha humildade (nem que eu vivesse 200 anos conseguiria escrever algo minimamente parecido com Ao Anoitecer, que acaba de ser lançado), Cristovam Tezza ajuda a controlar minha inveja (que técnica!) e Dostoievski me ensina que a fúria é mais produtiva quando transformada em arte.

Qualquer tipo de arte, aliás. Música de Autoajuda? Existe. Cazuza, por exemplo, já estimulou minha indignação com o país, Ney Matogrosso me faz sentir sensual, Jorge Ben sempre me alegra e Chico Buarque diversas vezes me comoveu, e ficar comovido é de primeira necessidade.

Existe autoajuda para todos os gostos. Tendo ou não esse propósito, nenhum livro deve ser diminuído por ter sido útil.

Sobrevivências - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 30/11/11


Como diz Shakespeare, todos nós somos atores e temos um momento de entrada e um outro de saída num vastíssimo drama para o qual não fomos convidados, mas para o qual contribuímos quase sempre com total inconsciência e com a total impossibilidade de assistir ao seu final. Mas quando saímos da peça, deixamos uma história. Os atores morrem, mas seus papéis sociais são permanentes e a rede da qual fazem parte se vê obrigada a reparar a sua ausência. Se você é pai ou mordomo, sua falta será mais sentida do que se você for um político bandido. Mas mesmo sendo um rufião ou ladrão, alguém vai sentir sua falta, pois como se dizia antigamente: afinal de contas, todo mundo tem mãe! Vai o embusteiro e entra em cena o filho, o amigo ou o irmão.

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Faz uns 18 anos e eu andava com Lívia, minha neta mais velha, no jardim. Estávamos preparados para uma festa de família e as roupas novas e o corpo lavado criavam aquela estranha consciência de nós mesmos, típica dos rituais. Num dado momento, ela diz:

- Vô, quando você morrer, para quem vai ficar esta casa?

Fui possuído por uma imensa felicidade. A inocência da neta anunciava minha morte, mas era a primeira vez na minha vida que era chamado de "avô". O passeio rotineiro para matar o tempo virou um magnífico rito de passagem.

Fui confirmado no papel de avô. Um novo papel para um velho e mau ator, um tanto cansado de ser incapaz de mentir, bajular e elogiar com convicção num país de mentirosos e de puxa-sacos.

Dizem que um dia o parentesco vai acabar, destruído pela inseminação artificial e pelas incubadoras do "Bravo Novo Mundo" pressentido por Aldous Huxley. Mas o papel de avô continua, garante meu coração.

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Um amigo perdeu um filho subitamente e, quase no mesmo momento, eu soube que sua mulher, naquilo que eu testemunhei como sendo um casamento feliz, estava sendo consumida por um desses males insanáveis de nome complicado. Foram-se os dois: o filho e a cara-metade. Ele, de corpo e alma; ela de alma, deixando um corpo cuja visão trás ao marido muita amargura. Mas se os atores saíram do palco, eles retornam constantemente nos seus papéis.

Ontem mesmo o amigo me telefona. "DaMatta - diz ansioso -, recebi uma carta endereçada a meu filho morto. Veio de um grupo de cuteleiros do qual ele fazia parte." O filho, explico, era viajante por profissão e ferreiro amador. Nas horas vagas, fabricava facas elegantes e belos dragões.

Os atores são o pó majestoso sem o qual não sabemos o que é o amor e os instantes maravilhosos do amor que nos ajudam a passar a limpo um mundo sujo. Os papéis são as armaduras que eventualmente usamos com gosto ou desgosto. Aqueles são destinados ao esquecimento; estes ficam à nossa volta e retornam como lembranças, cartas ou dados estatísticos.

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Os novos dados populacionais radiografam um certo Brasil: o Brasil dos números e índices. Alguns falam em mudança - essa nossa obsessão -, outros observam os dramas. Um deles chama minha atenção. Estamos ficando mais velhos e morrem muitos jovens por morte matada. Por uma violência absurda com a qual pacífica e passivamente convivemos. Uma jovem mãe em Pernambuco, diz o Globo, perdeu cinco filhos no espaço de um mês!

Outro dia, reprisei para o meu neto Jerônimo o filme O Resgate do Soldado Ryan. Meu jovem neto achou "irado" a cabeça de praia que reproduz o desembarque na famigerada "Omaha Beach" em 6 de junho de 1944. Eu sempre fico com os olhos molhados quando vejo a mãe dos jovens Ryan recebendo a notícia oficial da morte de mais um dos seus filhos e ao ouvir a carta formal escrita por Abraham Lincoln a uma senhora que na Guerra Civil Americana perdeu quatro filhos. Generais escrevem belas cartas quando perdem soldados. Mães perdem as pernas quando perdem filhos. Eis dois papéis capitais. O do soldado herói sacrificado pela pátria (ou por alguma utopia) e o do mesmo jovem que, primeiro e antes de tudo, é um esteio quebrado como filho de alguma família.

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Ninguém, que eu saiba, escreveu sequer uma carta para essa mulher menina que, mais do que a mãe do soldado Ryan, perdeu não três, mas cinco dos seus filhos para a violência urbana moldada a drogas, soldada a corrupção policial e cimentada pela nossa miserável capacidade de apenas reagir ao que somos.

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Vencemos uma batalha na Rocinha e iremos vencer outras dessas "cabeças de ponte" contra o tráfico de drogas. Parabenizo-me com as autoridades do meu Estado. Mas fica o seguinte: foram-se alguns atores principais - o Nem (eis um nome que por si só é um livro de sociologia brasileira), mas ficam os papéis. Sobretudo o dos consumidores e o dos membros da rede. Tomamos o "território" que revela o seu absurdo perfil de desigualdade. Uma desigualdade complementar e ligada a um estilo de vida aristocrático que permeia o Brasil das arrumadeiras, babás, milícias, porteiros, mordomos e cozinheiras. A Rocinha é uma metáfora (ou seria uma sobrevivência?) das nossas senzalas. É o ponta de um sistema cuja função é fornecer mão de obra barata. A droga é o chamado serviço doméstico, mantenedor de um clientelismo estrutural e estruturante. Pois acabamos com o escravo, mas não liquidamos a escravidão e muito menos os seus senhores e o seu estilo de vida. Percebemos e começamos a corrigir as desigualdades. É um passo capital. Mas a grande questão é instituir a igualdade.

Sombra argentina - MIRIAM LEITÃO



O Globo - 30/11/2011


A mudança dos pesos do índice de inflação medido pelo IBGE chegou tão na hora certa para o governo que levantou dúvidas. É difícil acreditar que os itens empregada doméstica e educação estão pesando menos nos orçamentos. O IBGE tem um lastro de credibilidade, mas isso é como cristal: não pode trincar. O instituto ontem soltou nota sobre o assunto. Deve mesmo se empenhar para afastar as sombras.

A Argentina está tão aqui do lado que a gente até tem medo de contágio. Lá, o governo Cristina Kirchner fez uma intervenção no Banco Central, destruiu o Indec, instituto de pesquisas oficial. Hoje ninguém mais acredita nos indicadores das contas nacionais.

Aqui, no ano inteiro a inflação de serviços ficou em torno de 9% ou até mais, em 12 meses. Ela voltará a subir com a alta do salário mínimo de 14%. Pois foi exatamente em alguns dos itens que compõem a inflação de serviços, como educação e empregada doméstica, que houve redução mais significativa dos pesos no IPCA. Caiu também o peso do cigarro. O governo subiu o imposto do cigarro, depois adiou para o ano que vem, e o IBGE agora anunciou que ele pesará menos na inflação.

Não acho que seja manipulação. Mas lembro que esta é a terceira dúvida que o Instituto enfrenta nos últimos tempos. O presidente Eduardo Nunes saiu de forma intempestiva do cargo depois de oito anos de bom trabalho. A nova presidente, Wasmália Bivar, é do quadro de funcionários e sempre foi bem avaliada. Houve depois um episódio bizarro de o instituto admitir que durante meses seus índices vazaram. Agora, a nova Pesquisa de Orçamento Familiar deu um resultado muito bom para o governo exatamente na hora que ele mais precisa, quando os juros estão sendo derrubados - hoje, cairão novamente - apesar de a inflação estar acima do teto da meta. Com a nova distribuição de pesos, a previsão de inflação do ano que vem está sendo revista para baixo.

Na nota, o IBGE disse que já havia avisado que alteraria os pesos e destacou principalmente a educação, que caiu de 4,1% para 3,0%. Disse que esses são procedimentos regulares e que está à disposição da mídia para tirar as dúvidas. Ótimo. Diante do mau exemplo do país vizinho, é bom que o IBGE não deixe dúvida sobre dúvida neste caso. O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, disse ontem que pode haver explicações para todos os casos. Apesar de o trabalho da empregada doméstica estar sendo cada vez mais valorizado, e com isso seus salários, a classe C emergente demanda menos esse serviço do que os outros grupos que sempre estiveram na pesquisa do IPCA:

- De fato, educação, empregada doméstica e cigarro caíram significativamente. Mas sempre houve mudanças e algumas em anos-chave, como em 1995 ou 2002/2003.

Essas mudanças nos índices ocorrem de cinco em cinco anos por causa da Pesquisa de Orçamento Familiar. Ela é feita para saber como se distribuem os gastos nos orçamentos das famílias em cada faixa de renda e assim atualizar a estrutura de pesos no índice para refletir melhor os gastos. Na área da comunicação, por exemplo, o telefone fixo tem tido menor peso, e os celulares estão subindo.

Uma mudança curiosa foi que o chuchu sumiu da amostra. Não haverá mais a inflação do chuchu, que na época de Mário Henrique Simonsen ficou imortalizada quando o ministro explicou a alta do índice pelo pulo do preço do alimento. Entrou quem não estava no índice: carne de carneiro. Novos tempos.

O cigarro vem ficando cada vez menos importante na cesta de consumo, por bons motivos: mais pessoas estão deixando de fumar. Não é a primeira vez que o peso do cigarro cai e espera-se que não seja a última. Note-se que essa queda veio na hora exata, na data para a qual foi adiado o aumento do imposto sobre o produto.

Luiz Roberto Cunha lembra que os novos pesos serão alterados quando houver atualização dessa POF de 2008/2009 para dezembro de 2011. Por enquanto, ele calcula que a nova ponderação significará 0,4 ponto de queda nas previsões de inflação:

- Outros produtos subiram, como automóvel novo, usado, e eletrônicos. Esses setores podem ter um consumo mais fraco no ano que vem por causa da crise, por outro lado, se o governo conceder incentivos ao consumo desses produtos isso elevaria mais a inflação.

Cunha argumenta que o IBGE sempre mudou as ponderações, mas admite que a sensação é que alguns itens que caíram, na verdade, pesam mais - e não menos - no bolso, como educação, empregada doméstica e alimentação fora de casa.

Recentemente, o Banco Central divulgou uma mudança na fórmula de cálculo do endividamento e do comprometimento da renda das famílias com dívidas junto ao sistema financeiro. Caiu de 26% para 21%. Justamente quando os economistas estavam alertando para o risco de se aproximar do patamar de 30% houve a mudança da fórmula e o número caiu.

O melhor em todos esses casos é transparência e muita explicação, porque o Brasil já foi prisioneiro da síndrome de repetir os erros argentinos. Espera-se que a síndrome do chamado " Efeito Orloff" tenha morrido com a hiperinflação.

Incertezas egípcias - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 30/11/11


Mesmo que o fantasma de uma multa de 500 libras egípcias (cerca de R$150) possa ter influenciado os menos animados, é improvável que o excepcional comparecimento, entre 70% e 80% dos eleitores aptos a votar, tenha apenas essa motivação no segundo dia das eleições parlamentares do Egito.
Da mesma maneira, a projeção do próprio partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, de que fará 30% do Parlamento mostra que, mesmo que lidere a coalizão mais votada, terá de fazer acordos políticos para indicar o primeiro-ministro, assim como para a eleição dos cem membros da Assembleia Constituinte que redigirá a nova Constituição para o país.
As projeções situam o partido salafista Al Nur e o centrista do Al Adl como prováveis coadjuvantes de um acordo político moderado.
Tudo indica que o espírito da Praça Tahir, desligado dos radicalismos religiosos e focado em reivindicações de mais liberdade individual e perspectiva de vida melhor, tenha orientado a maioria silenciosa, que vê nas eleições a maneira de sair da ditadura de Mubarak sem cair no controle do Conselho Supremo das Forças Armadas.
O professor Nelson Franco Jobim, especialista em política internacional, adverte que, se olharmos para a História, dá para entender que "a democracia é um processo, não pode ser imposta à força, como George W. Bush quis fazer no Iraque. Depende da formação de consensos, o que é sempre difícil em nações atrasadas e radicalizadas", como é o caso do Egito e do mundo árabe em geral, que não têm tradição democrática.
Talvez o maior exemplo de democracia no mundo muçulmano seja a Turquia, diz ele, "apesar da repressão aos curdos e de ser hoje um dos países que mais prendem jornalistas".
As Forças Armadas foram durante muito tempo as fiadoras do regime, e só a pressão para negociar a adesão à União Europeia conseguiu afastar os militares da política, e hoje vários oficiais estão sendo processados por tentativa de golpe de Estado.
O exemplo que parece se irradiar pelos países da Primavera Árabe que até agora lograram sair das ditaduras em direção à democracia através de eleições é o do governo da Turquia, cujo partido, Justiça e Desenvolvimento (AKP), embora islâmico, assumiu completamente o controle político de um Estado laico.
O primeiro-ministro Recep Erdogan, considerado um dos principais líderes do mundo árabe, dá destaque a dois pontos: a necessidade da democracia e o secularismo.
Na atual crise, a Turquia teve um papel moderador com relação à Síria até que os crimes contra seu próprio povo, denúncia avalizada pela comissão especial da Organização das Nações Unidas (ONU), fizeram com que apoiasse as sanções da Liga Árabe.
A tentativa da Turquia sempre foi para que Bashar Assad realizasse reformas em lugar de enfrentar a rebelião popular.
No momento, endossa as medidas punitivas para favorecer uma saída organizada da ditadura, evitando ao máximo a instabilidade política que resultaria de uma derrubada do governo de Bashar Assad pela multidão enfurecida, que afetaria toda a região.
A preocupação é não deixar que a influência do Irã cresça, levando o Líbano e o Iraque, que mantêm apoio à Síria, a entrarem em crise política.
O governo do AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento) quer tornar a Turquia uma potência regional no Mediterrâneo Oriental e no Oriente Médio, pela disseminação de sua cultura política.
O secularismo, da maneira como é vivido na Turquia, significa que a religião faz parte da sociedade, mas não a controla e nem é controlada pelo governo.
Esse modelo agrada às classes médias dos países que buscam seu caminho na democracia, como o Egito, a Tunísia, o Marrocos.
Os militares estão se transformando em uma corporação profissional subordinada ao governo eleito, em vez de se considerarem, como ainda acontece no Egito, os defensores do Estado, com poderes de interferir na política.
Os militares do Egito, no entanto, parecem não se contentar com um papel de coadjuvante no futuro e pretendem manter o controle político, auxiliados pelas incertezas que o processo eleitoral ainda gera, apesar do comparecimento maciço dos eleitores.
Observadores internacionais ressaltam que vários detalhes sobre a apuração das eleições ainda estão incertos. Para um voto ser considerado válido, por exemplo, o eleitor tem que selecionar um partido na lista, além de dois candidatos independentes, caso contrário, o voto será integralmente anulado.
Devido a essa complexidade, os partidos mais organizados têm mais chance de sair vitoriosos das eleições, e, entre eles, a Irmandade Muçulmana se destaca, com a utilização de modernos recursos tecnológicos, como iPads, para orientar os eleitores na boca de urna, mesmo sendo proibido.
O temor é que os militares, como controladores do processo eleitoral, terão também muitas chances de influenciar os resultados, manipulando os votos que estarão sob sua guarda.
Os membros do partido da Irmandade Muçulmana sempre procuraram se distanciar das massas que estão reunidas na Praça Tahir, justamente para serem vistos como aliados dos militares em caso de necessidade, e contando também que a maioria silenciosa, que compareceu às urnas em número surpreendente, prefira no final das contas um governo apoiado pelos militares do que permanecer em revolução permanente nas ruas, prejudicando a economia e afastando os turistas.

"Felicidade sim" ANTONIO PRATA


FOLHA DE SP - 30/11/11


"Vivi por 34 anos sob o jugo do chuveiro elétrico. Ah, lastimável invento! Já gastei mais de uma crônica amaldiçoando seus fabricantes; homens maus, que ganham a vida propagando a falácia da temperatura com pressão, quando bem sabemos que, na gélida realidade dos azulejos, ou a água sai abundante e fria, ou é um fiozinho minguado e escaldante, sob o qual nos encolhemos, cocuruto no Saara e os pés na Patagônia, sonhando com o dia em que, libertos das inúteis correntes (de elétrons), alcançaremos a terra prometida do aquecimento central.
Reclamo de barriga cheia? Sem dúvida. Há problemas bem mais sérios neste mundo, mas sejamos honestos: a morte do vizinho não anula a minha dor de dente -e um banho ruim é dez vezes mais triste que uma dor de dente. Afinal, um molar, quando para de doer, não é capaz por si só de nos dar alegria. Já o banho, quando é bom... Que contentamento uterino é ter a pele envolvida por água abundante, sentir o jorro de 50ºC, no auge do inverno; orgasmo da epiderme!
Dizem os psicanalistas que, quando pequenos, temos prazer em cada centímetro do corpo. Com o passar do tempo, contudo, também a pele vai sendo adestrada, e a libido acaba restrita às "red light zones" de nossas íntimas moradas. Eis a nossa sina, buscar em vão o Éden perdido: na mulher amada, nas religiões, nas drogas, ou -por que não?- numa ducha quente.
Durante a infância, ouvia minha mãe reclamar do banho e lamentar, frustrada, que não valia a pena fazer reforma numa casa alugada. Aos 20, fui morar sozinho e vi-me repetindo o mesmo discurso; vicissitudes do inquilinato. No mês passado, contudo, depois de ter casado, juntado os trapos e os FGTS, conseguimos um financiamento e atingi, ao mesmo tempo, o sonho da casa própria e do aquecimento central.
Com um boiler pra chamar de meu, pensei, meus problemas haviam acabado. Toda melancolia escorreria pelo ralo. Cheguei a imaginar que a metafísica não fosse, como disse o asno de Sancho Pança, uma decorrência do estômago vazio, mas do incômodo térmico: não seriam os pés frios a razão de querermos anular o corpo e inventar outras realidades -mais morninhas? Houvesse aquecimento central na idade da pedra, teríamos necessitado dos deuses? Tivesse Descartes um bom chuveiro, talvez não desconfiasse tanto dos sentidos, a ponto de afirmar que só pelo pensamento podia afirmar sua existência.
Pois bem, mudei-me: por 29 dias e 29 noites, fui feliz como um bebê no líquido amniótico. Se, no meio da tarde ou da noite, o tédio ou a tristeza me visitavam, lembrava do último banho, imaginava o próximo e sorria, satisfeito. Até que, na trigésima manhã, esta manhã de terça, da qual jamais me esquecerei, peguei-me sob a ducha quente pensando numa conta atrasada e resmungando sobre a fila do banco. O banho virara apenas mais um acontecimento banal, feito escovar os dentes ou cortar as unhas, e entendi, alheio à pressão e à temperatura, que nenhuma felicidade sobrevive à repetição. Trinta e quatro anos desejando; 29 dias para perder a graça. Estranha é a matemática da vida".

Tortura existencial - HÉLIO SCHWARTSMAN



FOLHA DE SP - 30/11/11


SÃO PAULO - Embora já tenham constituído um Estado único, entre 1958 e 1961, a Síria não é o Egito. Enquanto os militares egípcios não hesitaram muito antes de sacrificar o ex-ditador Hosni Mubarak e ceder um pouco para preservar-se no poder, seus homólogos sírios dificilmente buscarão contemporizar.
Para a elite do governo e das Forças Armadas sírias, manter-se no comando é um imperativo existencial.
O presidente Bashar Assad e a cúpula do regime são alauitas, uma minoria religiosa que constitui cerca de 12% da população síria. Isolados por séculos nas montanhas próximas a Latakia, os alauitas desenvolveram uma teologia singularmente sincrética, que reuniu elementos neoplatônicos, gnósticos, cristãos, muçulmanos e do zoroastrianismo. Eles acreditam em reencarnação e consideram Ali, o quarto califa, Deus.
A linhagem de profetas inclui as costumeiras figuras do Antigo Testamento mais Cristo e Maomé, mas também Sócrates, Platão, Galeno e pensadores persas pré-islâmicos. Celebram o Natal e bebem vinho.
Para os sunitas, há aí uma lista telefônica de heresias. Até os alauitas assumirem o poder, nos anos 60, com Hafez Assad, muçulmanos em geral nem sequer os consideravam islâmicos. Desde então, às diferenças religiosas somaram-se quatro décadas de perseguições políticas que não serão esquecidas tão facilmente. Os alauitas sabem muito bem disso e farão tudo o que estiver a seu alcance para não cair nas mãos de seus rivais. Se isso viesse a ocorrer, perderiam não apenas seus privilégios mas muito provavelmente também suas vidas.
Uma amostra de sua determinação vem do relatório da comissão da ONU chefiada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro: entre os cerca de 3.500 mortos pela repressão, contam-se 256 crianças -e outras tantas foram torturadas e estupradas.
É difícil imaginar uma solução de transição negociada para a Síria.

O DONO DA VOZ - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 30/11/11
A equipe médica que cuida de Lula festeja o fato de sua voz ter melhorado desde que ele começou a quimioterapia, há quase um mês. Seria um indicativo de que o tratamento está tendo o efeito desejado. No começo de janeiro, o ex-presidente fará os exames cruciais que dirão se ele pode ou não continuar a seguir a conduta adotada.

VOZ 2

Se o tumor não regredir no ritmo adequado, ele terá então que partir para a radioterapia ou para a cirurgia.

SALGADO E DOCE

A perda de sabor dos alimentos, efeito colateral da químio, está abalando o humor de Lula.

A amigos que telefonaram e perguntaram nos últimos dias se ele está bem, o ex-presidente respondeu que se sente "péssimo".

APOSTILA

Quase 2 milhões de crianças e adolescentes que recebem Bolsa Família não estão frequentando a sala de aula, como exige a lei. A constatação é do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa. O número equivale a 13% do total de 17, 1 milhões de menores que recebem o benefício.

QUASE LÁ

O levantamento, feito nos meses de agosto e setembro, mostra que o Rio Grande do Norte está no topo do ranking, com 91,9% de crianças matriculadas. Em seguida vêm o Rio Grande do Sul, com 91%, e o Piauí, com 90%. No país, 87% frequentam as aulas -ou 14,9 milhões de crianças e adolescentes. O "desafio" dos gestores, diz a pasta, é localizar os outros 2 milhões.

VIDA NOVA

Caio Luiz de Carvalho faz na sexta a primeira reunião da Enter, empresa de eventos que está sendo criada pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação. Ele se despediu ontem da presidência da SP Turis, da prefeitura. Ex-ministro do Turismo, Carvalho assume o novo cargo com a responsabilidade de organizar shows, congressos, seminários e também a participação em eventos como Carnaval, Olimpíada de 2016 e Copa de 2014 em todo o país.

XADREZ

Marcelo Redher, secretário-adjunto de Comunicação do prefeito Gilberto Kassab, assumirá a SP Turis no lugar de Carvalho.

PAPAI NOEL BONZINHO

O ICF (Intenção de Consumo das Famílias) da Fecomercio, a federação do comércio e de serviços de SP, subiu 2,2% em novembro. O item de maior elevação foi o da perspectiva profissional (10%), por causa dos postos temporários de Natal. Ainda assim, os consumidores mostram receio em consumir. O Nível de Consumo Atual apresentou queda de 6,3%, ficando no patamar de insatisfação.

CONTAGEM PARA OS 104
Kadu Niemeyer

Oscar Niemeyer posou para a capa da edição de aniversário da "Drops" ao lado de Barbara Romer. O arquiteto foi clicado pelo neto Kadu em seu escritório no Rio e desenhou nos braços da modelo uma flor e um poema. Ele completa 104 anos no próximo dia 15. "A vida é um sopro e o importante não é a arquitetura, mas sim os amigos e este mundo injusto que devemos modificar", disse à revista.

MULHERES DE BRANCO

O número de mulheres médicas deve superar o de homens em 20 anos, segundo a pesquisa "Demografia Médica do Brasil", que os conselhos federal (CFM) e regional paulista (Cremesp) da profissão apresentam hoje. Hoje elas são 41,2% do total -145 mil contra 206 mil médicos. Na década de 60, eram apenas 12,9%.

CURVA

A demora da "virada" é explicada pelo pequeno número de mulheres que seguiam a profissão há alguns anos. Entre os médicos veteranos, os homens são 81% dos que têm mais de 70 anos, 82% dos que têm entre 65 e 69 e 74% dos que estão entre 60 e 64.

Elas são maioria (53%) entre os de menos de 29 anos.

NOVA DEFESA

Marcio Thomaz Bastos fará a defesa da CCR no caso Controlar. A empresa é acusada de ter se beneficiado da suposta fraude que permitiu que a Controlar fosse liberada para operar a inspeção veicular em SP. Meses depois da liberação, a Controlar foi vendida para a CCR.

ARTE NA ESTANTE

O livro "Newman Schutze, Nanquim, Óleo", sobre o artista plástico de mesmo nome, foi lançado anteontem na Livraria da Vila dos Jardins. Entre os presentes, o artista José Bechara e a produtora Fernanda Mil Homens.

IMAGEM E AÇÃO

O filme "Simples Mortais", de Mauro Giuntini, teve pré-estreia, anteontem, no MIS (Museu da Imagem e do Som). O longa conta com Leonardo Medeiros, Chico Sant'Anna e Tatiana Muniz no elenco, entre outros.

CURTO-CIRCUITO

Carlinhos Brown apresenta o show "Romântico Ambiente" no sábado, às 21h, no Auditório Ibirapuera. Classificação: livre.

A grife Bobstore recebe clientes hoje, às 18h, para apresentação da coleção Alto Verão 2012.

André Paoliello inaugura a exposição de fotos "Outdoor" no dia 8, às 19h, na Fauna Galeria.

Luiz França e Mauricio Meirelles comemoram aniversário na festa Menstruação, na Kitsch Club, às 23h. 18 anos.

Carol Keutenedjian lança coleção de joias na Magnum do Cidade Jardim.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

O perigo de o Brasil repetir erros - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 30/11/2011


A possibilidade de a crise europeia obstruir os canais de distribuição de crédito no mundo, numa reedição, em escala mais atenuada, daquela paralisia do sistema financeiro global ocorrida em setembro de 2008, com a falência do Lehman Brothers, passou a ser concreta no início da semana. Enquanto os ministros de finanças da União Europeia se preparavam para uma reunião ontem e hoje em Bruxelas, sinais de que o crédito começava a se retrair ficaram mais fortes.

Temerosos com o aumento do risco do sistema bancário europeu, devido ao impasse nas negociações entre Alemanha e França sobre a formulação de um programa que impeça calotes "selvagens" de dívidas de países no continente, bancos encolheram linhas de financiamento. Empresas e países são afetados de maneira direta nessas corridas do dinheiro em busca da segurança: juros sobem, títulos têm dificuldades de lançamento, negócios e investimentos são adiados. O resultado é o cumprimento da profecia dos economistas mais pessimistas - Nouriel Roubine na liderança - de que à primeira recessão mundial, ocorrida em fins de 2008/2009, sucederia uma outra. Estaríamos à borda do precipício.

O clima está tão sombrio que o fato de a Itália ter conseguido vender títulos de dívida foi comemorado. Preferiu-se deixar de lado o fato de a operação ter sido fechada apenas porque o país aceitou pagar juros nas nuvens, de 7,89%, insustentáveis. Convenciona-se, na Europa, que, ao pagar taxas acima de 7%, o devedor será forçado, cedo ou tarde, a renegociar o débito. Pode ser que a reunião de ministros e as conversas que não cessam entre os governos alemão e francês produzam algum facho de esperança num acerto pelo qual o Banco Central Europeu possa garantir bônus dos endividados em excesso. Se isso acontecer, alguma soberania fiscal eles terão de perder.

Mas, caso o pior ocorra, o Brasil tem a experiência de 2008 e 2009, até para não cometer o mesmo erro: ao injetar liquidez na economia, a fim de se contrapor aos efeitos recessivos de fora, evitar inflar os gastos públicos em custeio (salários de servidores, por exemplo), pois são geralmente despesas impossíveis de cortar no futuro. Foi o que aconteceu. O caminho indicado é o dos investimentos, mesmo que Brasília tenha extrema dificuldade gerencial de fazê-los. Basta lembrar que, de janeiro a outubro, os investimentos efetivos em obras do PAC caíram 14% em relação ao mesmo período do ano passado.

Porém, será menos difícil resistir à tentação de ampliar as despesas em custeio, porque o governo não precisa aquecer a economia em função de alguma eleição presidencial à vista. O "orçamento paralelo" do BNDES, pelo qual o Estado se endivida a custo elevado para permitir ao banco liberar crédito subsidiado a empresários eleitos, é mais um risco, pois, além de outras distorções, cria um passivo para o contribuinte oculto na contabilidade pública. O BC deve fazer, hoje, mais um corte nos juros, novo estímulo à economia. Há, ainda, indutores creditícios a serem acionados no caso do agravamento externo. O próprio aumento de mais de 14% do salário mínimo, em janeiro, servirá de barreira a choques externos negativos.

O perigo é, mais uma vez, Brasília usar a crise externa como licença para heterodoxias que geram um preço a pagar no futuro.

Regime de engorda - RENATA LO PRETE



FOLHA DE SP - 30/11/11
A comissão nomeada por Marco Maia (PT-RS) para tentar resolver a encrenca em torno do espaço que o PSD terá na Câmara irá propor a criação de novos cargos para acomodar o partido de Gilberto Kassab.

A ideia, a ser apresentada amanhã a integrantes do PSD na tentativa de evitar que a disputa chegue à Justiça, é conceder à nova sigla, que já nasce como quarta maior bancada, 70 funcionários até o final de 2012 -35 deles seriam nomeados ainda em dezembro deste ano. Do total, dez vagas viriam do enxugamento de lideranças de legendas que perderam deputados, como DEM, PTB e PPS. Cerca de 60 seriam novas.

Bônus O PSD também ganharia um espaço vizinho ao do PC do B na Casa para instalar sua liderança. O novo partido teria ainda assento nas comissões permanentes.

Toma lá... A tramitação da DRU no Senado segue em curto-circuito: se um dia o governo consegue avançar um passo, no seguinte se vê obrigado a recuar outros dois.

...dá cá Enquanto isso, senadores continuam negociando seus pleitos com o Planalto até o limite do prazo da votação. Enciumados, deputados lamentam a pressa de PSD e PSB em agradar Dilma com a tramitação acelerada do texto na Câmara.

No limite 1 Quatro ministros foram escalados para uma reunião hoje na tentativa de convencer a bancada do PT a não endossar investimentos em educação superiores aos 7% do PIB previstos pelo Planalto. Atualmente, os gastos chegam a 5%, mas o relator do Plano Nacional de Educação, Angelo Vanhoni (PT-PR), quer aumentar a cota para 8%.

No limite 2 Governistas dizem que Vanhoni teria submetido sua proposta ao Planalto há mais de um mês, mas só agora, às vésperas da votação na comissão especial que trata do tema, os ministros da área foram acionados para entrar em campo.

Tela oficial A secretaria-executiva da EBC, estatal responsável pela TV Brasil, será ocupada por Sílvia Sardinha, egressa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Ela foi chamada por Nelson Breve, novo presidente da EBC e também ex-Secom.

Contágio O acesso da Controlar aos dados sigilosos de motoristas de São Paulo, via Detran, incomodou Geraldo Alckmin (PSDB), até então espectador do escândalo da inspeção veicular. No governo paulista discutia-se a inclusão de cláusula de confidencialidade no convênio mantido com a gestão de Gilberto Kassab.

Prancheta De um dirigente do PSD, interessado em acordo com o PSDB para 2012 em São Paulo, analisando a aparente sinalização de Geraldo Alckmin pró-prévias tucanas: "Quando o time está sob pressão, o técnico pede um tempo. Foi apenas isso o que o governador fez".

Controlar O PSD criará uma "certificação de qualidade", obrigatória para filiados que queiram disputar cargo eletivo em 2012. Para tanto, a sigla contratou o cientista político Luiz Felipe D'Ávila, do Centro de Liderança Pública, que promoverá um curso de formação online para militantes.

Voo solo Depois de flertar com Jonas Donizete (PSB), líder nas pesquisas locais, o PSDB decidiu realizar prévias para escolher candidato próprio em Campinas. Há quatro nomes: os deputados Carlos Sampaio (federal) e Célia Leão (estadual), o secretário Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e o vereador Artur Orsi.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"O FMI vem ao governo Dilma pedir dinheiro emprestado para ajudar os países da zona do euro e tem tucano que ainda insiste em dizer que nada mudou no Brasil?"

DO DEPUTADO FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre a visita que a dirigente do Fundo, Christine Lagarde, fará à presidente na mesma semana em que José Serra afirmou que o Brasil ainda é "pequeno" no contexto econômico mundial.

contraponto

Muy amigos
Poucos minutos antes de dar posse ontem a João Capiberibe (PSB-AP), adversário ferrenho que chegou ao Senado por força de decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito da Lei da Ficha Limpa, José Sarney (PMDB-AP) comentou com o colega Walter Pinheiro (PT-BA), que estava sentado a seu lado:

-Em outros tempos ele já foi meu aliado...

Ao que Pinheiro retrucou:

-Então vocês vão finalmente recompor a aliança. Afinal, agora fazem parte da mesma base!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



FOLHA DE SP - 30/11/11




Primavera Árabe faz cair exportações para o Iêmen, mas não interfere no comércio com a Arábia Saudita

A Primavera Árabe afetou de forma diversa as relações comerciais entre o Brasil e países da região.

Com o Iêmen, onde o ditador Ali Abdullah Saleh renunciou na semana passada, as exportações brasileiras caíram 34,5%. As importações se mantiveram constantes.

"A queda nas exportações deveu-se, sim, às turbulências políticas no país", afirma o embaixador do Brasil no Iêmen e na Arábia Saudita, Sérgio Luiz Canaes. Em números absolutos, porém, são valores irrisórios.

As exportações para o Iêmen acumuladas até outubro caíram para US$ 246,8 milhões, de US$ 376,7 milhões no mesmo período de 2010.

Os principais produtos brasileiros enviados ao país são açúcar, frango, trigo e soja. A maioria dos importados do Iêmen são partes de maquinários, que somam cerca de US$ 15 milhões ao ano.

Com relação às trocas comerciais entre o Brasil e a Arábia Saudita, houve aumento tanto de exportações como de importações.

"A Primavera Árabe em nada afetou o comércio entre os dois países. O aumento das exportações deveu-se ao incremento das compras de frangos pelos sauditas."

As vendas para o maior produtor de petróleo do mundo, que segue sob o comando do rei Abdullah, cresceram até outubro deste ano para US$ 2,83 bilhões, de US$ 2,49 bilhões no mesmo período de 2010.

O Brasil compra da Arábia Saudita principalmente petróleo cru e produtos petroquímicos. O total de importações somou no mês passado US$ 2,75 bilhões, enquanto no mesmo período de 2010 alcançou US$ 1,5 bilhão.

A diferença se deve à expansão das exportações sauditas de petróleo para o país.

BRASIL POLIGLOTA

Comitivas de executivos e diplomatas estrangeiros não param de chegar ao Brasil. Apenas nos últimos dias, foram anunciados grupos de escoceses, holandeses e chineses. Da Escócia, vieram 23 representantes de empresas, com a finalidade de fomentar as relações comerciais entre os dois países, capitaneados por Michael Moore, secretário de Estado do Reino Unido para a Escócia.

Vieram atrás de oportunidades de negócios em setores como óleo e gás, educação, bebidas e turismo.

Duas empresas já anunciaram a abertura de escritórios no Rio, a Nautronix, de sistemas de posicionamento acústico para embarcações, e a Reel Group, que oferece manutenção para a indústria de perfuração.

"Estamos interessados também em trazer a expertise da preparação da Olimpíada de Londres e dos Jogos da Comunidade Britânica [Commonwealth], que serão realizados em 2014 em Glasgow", diz Michael Moore.

SUCO RENOVADO

A Kraft Foods terá investido R$ 20 milhões na reformulação do suco Clight até o final de 2012.

Parte do aporte já foi destinado ao desenvolvimento de uma nova fórmula. A maior parcela, porém, será para o trabalho de marketing que o relançamento do produto envolverá.

Para atender ao público feminino, a empresa diminuiu o teor de sódio do suco. "Os investimentos no reposicionamento da marca respondem às expectativas da consumidora", diz o CEO da Kraft Foods Brasil, Marcos Grasso.

Com a reformulação do produto, a empresa espera superar o crescimento do setor de bebidas não alcoólicas, que fica em torno dos 12% ao ano.

PREÇO DA SONEGAÇÃO

O Brasil é o segundo país que mais perde dinheiro no mundo com sonegação de impostos. O não pagamento de taxas representa, por ano, US$ 280 bilhões (cerca de R$ 518 milhões) a menos para o governo brasileiro, segundo a organização britânica Tax Justice Network.

O país que apresenta o valor mais alto de sonegação fiscal no mundo são os Estados Unidos, que perdem US$ 337 bilhões por ano.

De acordo com o estudo, 4,9% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial é perdido anualmente por causa desse tipo de crime.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ