sexta-feira, dezembro 10, 2010

NELSON MOTTA

Remédio, veneno e hipocrisia
Nelson Motta 


O Estado de S.Paulo - 10/12/10
Parece hipocrisia. E é. A liberação da venda de maconha para "fins medicinais" em 15 Estados americanos não parece, mas é um grande avanço. Com um diagnóstico de estresse assinado por um médico, o cidadão se livra de frequentar pessoas e locais perigosos, e de dar dinheiro para bandidos comprarem armas. Ganha um cartão de estressado e pode comprar uma trouxinha de maconha por semana em lojinhas legais, com o Estado monitorando quem compra e quem vende.
O governos estão arrecadando milhões em impostos, controlando consumidores, vendedores e pequenos produtores, e tomando uma fonte de renda do crime organizado. Com o sucesso da nova política a tendência é a adesão de outros Estados. A lei federal ainda proíbe, mas os Estados estão liberando a venda "medicinal" por referendos.
As primeiras respostas são positivas, mas abrem novas perguntas sobre a política de drogas, velhas ilusões e novas evidências: o tráfico de cocaína, heroína e ecstasy continua crescendo e, pior, mais de 6 milhões de americanos são dependentes de remédios vendidos em farmácias legais ou clandestinas, e pela internet, apesar do rígido controle sobre medicamentos tarja preta, sedativos, anfetaminas, tranquilizantes, analgésicos e opiáceos como os que mataram Elvis e Michael Jackson. Há mais dependentes de remédios que de cocaína, heroína e ecstasy juntos. Só os consumidores de álcool e maconha os superam. Imaginem no Brasil, com a nossa fartura de farmácias.
É duro admitir que o problema seja menos das drogas que do ser humano, com suas fraquezas, sua falta de controle, sua paixão pelos abusos e excessos. Neste caso, as possíveis "soluções" estariam mais próximas da moderação que da repressão. Afinal, desde as cavernas os humanos buscam substâncias naturais que os alegrem, ou inspirem, consolem, acalmem, estimulem, façam sonhar, tirem as dores do corpo e da alma. Entre o remédio e o veneno a diferença é a dosagem. E a hipocrisia.
O sucesso da política de venda controlada de maconha "medicinal" nos Estados Unidos vai influenciar nos rumos de toda a América Latina. Teremos um referendo no Rio de Janeiro?

BARBARA GANCIA

Se não são os gays, é a classe média
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/12/10

Virou moda dizer que a culpa pelo drama da violência no Rio é da classe média alta e dos artistas
NÃO GOSTO MAIS de drogas, não as quero por perto e acho um pecado vê-las consumidas por quem está em fase de crescimento.
Já fui adepta do haxixe, uma droga que por aqui quase não há. Comecei a fumar para ir à aula e achei graça quando o professor escreveu no meu boletim: "Barbara amadureceu muito neste semestre".
Mas isso foi no século passado. Hoje, questão de sobrevivência, radicalizei. Passei a considerar até fumante de cigarro burraldo e a torcer para nunca mais entrar em elevador com quem fuma. De cocaína, então, sempre tive asco. O "demônio ralado" nunca fez meu gênero.
Mesmo levando em conta meu status em relação aos tóxicos, não há como aceitar certas ilações que nos são empurradas. Como dizer que a maconha é a porta de entrada das drogas. Isso só pode ser conversa para vaca louca dormir, né não?
Como assim? E antes da maconha? Guri não mandava uma cervejinha? Se formos levar esse tipo de consideração a sério, não chegaremos à conclusão de que a mamadeira terá sido a porta de entrada de todos os males do mundo? E a comprovação científica, cadê?
Em todas as sociedades, cerca de 10% irão se tornar dependentes de álcool e/ou drogas, seja na ilha de Tonga ou no deserto de Antofagasta. E, nem por isso, vemos bala perdida em Londres e Nova York.
Virou moda dizer que a culpa pelo drama da violência no Rio é da classe média alta, dos artistas e dos intelectuais, já que é do dinheiro da cocaína que eles consomem que o tráfico se alimenta.
Sei. Quer dizer que se os bacanas não cheirassem cocaína, o Rio estaria livre do descaso e da desigualdade. Em seu lugar, se instalaria na baía da Guanabara uma Suécia em que todos os habitantes seriam assistidos pelo Estado e desfrutariam de plena cidadania. Lindo!
Bem, as classes abastadas de Oslo e Osaka consomem tanta ou mais droga do que aqui e nem por isso a gente ouve falar em um Pezão norueguês ou um Marcelinho Niterói japonês trocando tiros com a polícia a luz do dia.
Mas bastou identificar um culpado tapuia para certo tipo de moralista repousar seu cérebro de ervilha no travesseiro e dormir tranquilo. Questionar leis capengas e ultrapassadas, nem pensar.
Tampouco lembrar de que a guerra que os EUA empreendem contra as drogas se transformou em um Vietnã. E nós, a Colômbia e o México, em um novo Camboja.
Em vez de tratar de cuidar das nossas fronteiras (como assim não vamos mais comprar os Rafale da França?) e de assumir uma posição de liderança de fato na região, ficamos tergiversando.
Pois eu digo: chega com essas capas de revista que encurralam a classe média culpada por agir na ilegalidade! Importa agora é adotar uma política para rever o modelo falido de combate às drogas imposto pelos EUA, com sua legislação que ameaça colocar a juventude sem privilégios de países inteiros atrás das grades.
Poderíamos começar prestando mais atenção no que disseram Milton Friedman e FHC sobre o assunto. Caso contrário, corremos o risco de ficar patinando para sempre no limbo da era J. Edgar Hoover.

MÔNICA BERGAMO

UM MAIS UM
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/12/10

Parceiros musicais, Luiz Tatit (à esq.) e José Miguel Wisnik farão apresentações solo na Casa de Francisca, café-teatro na rua José Maria Lisboa; o primeiro é Tatit, que sobe ao palco hoje e amanhã; na semana que vem, nos dias 17 e 18, é a vez dos shows de Wisnik

TIJOLO POR TIJOLO
No embalo da já anunciada desaceleração da construção civil, a venda de cimento no país também registrou ligeira queda. A comercialização do material, que cresceu 3,6% em outubro, em relação ao mês anterior, agora caiu 2,4%.

CURVA
Em comparação com iguais períodos do ano passado também houve redução no ritmo: as vendas em outubro foram 13,6% maiores que as do mesmo mês de 2009; e 11,2% superiores, neste mês, que as de novembro do ano anterior.

CURVA 2
A desaceleração mais intensa ocorreu no sudeste do país: as vendas nesta região cresceram 9,1% em novembro, em relação a 2009, contra um ritmo quase duas vezes maior registrado em outubro: 15,4%.

COSTURA
Gilberto Kassab (DEM) ofereceu as pastas do Esporte e de Participação e Parceria para o PR. O convite foi feito pelo prefeito em encontro com líderes do partido na Câmara, entre eles, Aurélio Miguel. O vereador diz que "não há possibilidade nenhuma de eu sentar na cadeira de secretário". "Não estou acostumado a trabalhar com gente que não tem palavra e o prefeito não tem", afirma. "Havia um acordo de governabilidade em 2008. Agora, na véspera da eleição da presidência da Câmara, que deveria ter independência dos poderes, ele [Kassab] está interferindo diretamente."

NÃO SEI
O secretário municipal do Esporte, Walter Feldman (PSDB), diz que embora "o pessoal na Câmara comente muito", não recebeu "convite oficial para sair". "O cargo de secretário é demissível a qualquer momento", afirma.

OUTRO LADO
A assessoria de Kassab diz que desconhece o convite e que, até o fechamento da coluna, ele estava inacessível.

SÓ DEPOIS
Ao contrário da expectativa do próprio juiz Fausto De Sanctis, o processo que o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, move contra ele no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) foi retirado da pauta de julgamentos da próxima semana. O suspense sobre a conclusão só terminará, portanto, em 2011.

BOA CAUSA
E seis mulheres que tiveram câncer de mama foram beneficiadas com a doação de recursos arrecadados pela Sexta Vara Criminal Federal de São Paulo em investigações de crime de colarinho branco. Com esse dinheiro, elas irão reconstituir os seios. O hospital Oswaldo Cruz fará as cirurgias dentro dos próximos 90 dias e assumiu o compromisso com a Justiça de operar mais 20 pacientes.

A ÚLTIMA CEIA
O presidente Lula marcou a data do último Natal com ministros e ex-ministros no Palácio da Alvorada. Será no dia 22, às 20h.

COXIA
A atriz Christiane Tricerri encenará o monólogo "Isto Não é um Sacrifício", de Fernando Bonassi, em 2011.

ABRAÇARAM A CAUSA
Um grupo anti-homofobia está programando para domingo, às 18h, um protesto em frente à doçaria Ofner dos Jardins. Querem promover um "dia do abraço" no local, em desagravo a Lucio Serrano, cliente que foi repreendido por funcionários da loja após abraçar seu namorado. O casal processa a empresa.

PAPAI NOEL
Uniforme do Corinthians, videogame Playstation 3, celular e a boneca Barbie são alguns dos presentes pedidos pelas crianças que enviaram cartas para o Papai Noel. As correspondências estão nas agências dos Correios. Quem quiser bancar o bom velhinho, precisa ir a uma agência, escolher uma criança e entregar o presente em alguma unidade dos Correios. A empresa se responsabiliza pela entrega no Brasil.

XUXA E DIDI
E a apresentadora Xuxa e o humorista Renato Aragão, o Didi, gravaram juntos a campanha de Natal da Rede Globo. Os dois visitaram uma criança em um hospital do Rio e lhe presentearam com um computador.

ELEGÂNCIA ITALIANA
Depois de inaugurar loja em Brasília e dar palestra para arquitetos, a estilista italiana Rosita Missoni teve, anteontem, momentos de descontração. Em jantar em sua homenagem na casa de Marcelo e Karla Felmanas, apreciou o risoto de vieira preparado pelo chef Erick Jacquin, ao lado de convidados como a estilista Lethicia Bronstein Pompeu e a editora de moda Maria Prata.

MOLDURA ALEMÃ
A colecionadora de arte Vilma Eid serviu pratos brasileiros no jantar para o pintor alemão Georg Baselitz, que abriu a mostra "Pinturas Recentes", na Estação Pinacoteca. Sentaram-se à mesa o diretor do museu, Marcelo Araújo, e e a mãe de Vilma, a escultora Odete Eid.

CURTO-CIRCUITO

As cantoras Tulipa e Karina Buhr fazem show hoje e amanhã, às 21h, no Auditório Ibirapuera. Livre.

O Graacc promove jogo beneficente hoje, às 21h, no Pacaembu, com jogadores como Deco, Zé Eduardo e Marcel.

A história do Paribar, bar que reuniu políticos e boêmios paulistas entre 1949 e 1983 e hoje pertence a Luiz Campiglia, vai ganhar livro escrito por Paulo Pelotta.

O Escritório de Advocacia Sergio Bermudes comemora os 15 anos de sua unidade de SP com festa na Casa Fasano.

Eduardo Gaz participa do Internacional Luxury Travel Market, em Cannes.

A Associação dos Procuradores do Estado de SP faz hoje seu jantar de final de ano, no Leopolldo Itaim.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

TUTTY VASQUES

Trate-me camaleoa!
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/12/10

O marido de Ideli Salvatti não deve estar acreditando! Sabe lá o que é dormir uma noite com a recém-nomeada relatora do Orçamento da União para 2011 e, day after, acordar em posição de concha com a futura ministra da Pesca? 
Jeferson Figueiredo, 12 anos mais jovem que a patroa, mal teve tempo para recuperar o fôlego e, antes do fechamento desta edição, já estava pronto pra outra.
Casado com a senadora há quase um ano - desde 19 de dezembro de 2009 -, o flautista e 1.º sargento do Exército já está acostumado com a troca rápida de papéis na vida a dois com a parlamentar. 
Depois da lua de mel, esteve mais tempo com a candidata ao governo do Estado de Santa Catarina do que com a líder do PT no Senado propriamente dita. Ideli muda muito! Por pouco Jeferson não a pegou no tempo em que ela era 40 quilos mais gorda. 
A partir de 1.º de janeiro, o cara será oficialmente marido de ministra. Antes disso, vai ainda comemorar aniversário de casamento, Natal, réveillon... Cá pra nós, deve ser divertidíssimo ser casado com a Ideli. 

Ou não, né?!Superlotação anunciada
Alô, Corpo de Bombeiros: o autor de novela Walcyr Carrasco está convidando seus 100 mil seguidores no Twitter para comemorar a marca num bar de São Paulo. Já pensou se vai todo mundo! Não custa nada prevenir!

Operação verãoEstá bem encaminhado no Congresso o projeto de lei que garante a distribuição gratuita de filtro solar pelo SUS. O boné e a barraca de praia ficam por conta do segurado.

Cá pra nós...Quem dera o problema da falta de educação no Brasil fosse só o analfabetismo. O que tem de Ph.D. em grosseria com escrita fluente na internet é uma barbaridade. 

Mal comparandoCom o dinheiro que vai gastar no casamento do príncipe William com sua Lady Kate - algo em torno de 5,8 bilhões -, a Grã-Bretanha podia tirar a Irlanda da pindaíba. Só se fala disso em Dublin!

Meu garoto!Termina no domingo o prazo de inscrição na etapa brasileira da LG Mobile Worldcup, que premiará o digitador de texto em celular mais rápido do Brasil. Quem sabe seu filho não se torna um campeão sem precisar sair do quarto para treinar, né?

Privilégio de pobreO Senado aprovou o fim da prisão especial até para senadores. Isso quer dizer o seguinte: agora mesmo é que ninguém importante vai pra cadeia.

Ele merece!Amigos do peito de Eduardo Suplicy no PT estão tentando fazer a cabeça de Dilma Rousseff pela criação do Ministério da Renda Mínima. Não custa nada, né não?

Calma! Falta uma semana para vigorar a proibição do overbooking nos aeroportos brasileiros. Só, então, o caos aéreo estará inteiramente fora de controle.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

A política depois do WikiLeaks  Maria Cristina Frias 
 Folha de S.Paulo - 10/12/2010


Primeiro grande conflito armado transmitido em larga escala ao vivo e em cores, a Guerra do Vietnã marcou a ascensão da mídia nos ditames do poder. As imagens da guerra injusta numa sociedade embalada por ideais libertários impulsionaram a retirada dos americanos e a inflexão na sua política externa até a era Reagan.

Primeiro grande conflito armado vazado pela internet, a Guerra do Afeganistão repagina a influência da mídia. O WikiLeaks mostra um poder que mata, corrompe e subverte qualquer noção de ordem democrática mundial que os Estados Unidos algum dia possam ter pretendido representar.

O vazamento dos despachos de embaixadas americanas no mundo agora ganhou escala planetária, mas foi nos documentos do Afeganistão que o WikiLeaks começou a delinear seu alvo. As imagens militares de fuzileiros em helicópteros alvejando civis no Iraque e documentos mostrando os desmandos do governo de Karzai foram divulgados antes das eleições legislativas americanas. E pouco a impactaram. O eleitor que ainda vê no Afeganistão a resposta ao 11 de setembro inflou o Tea Party e acreditou ser capaz de castigar Barack Obama pelas promessas de emprego não cumpridas.

Julian Assange conseguiu até devolver notoriedade internacional à candidata derrotada à Vice-Presidência, Sarah Palin, para quem os Estados Unidos deveriam caçar o criador do WikiLeaks como a Bin Laden. A distância da Era de Aquário parece maior que quatro décadas. Custa imaginar que enredo a acusação de crime sexual contra Assange daria para Milos Forman.

Em manifestos, o criador do WikiLeaks busca desamarrar sua guerrilha virtual de teses de direita ou de esquerda e firma seu único compromisso com os benefícios à população que podem advir de instituições mais transparentes. E nem os movimentos filhotes, como o Anonymous, desprezam a política tradicional. Num texto recente urge seus seguidores a pressionar parlamentares locais, prefeitos ou qualquer autoridade pública: "Peça seus comentários sobre os vazamentos. E grave cada palavra que for dita".

Se o WikiLeaks dependesse unicamente da personalidade desse australiano de 39 anos que margeou a educação formal e cismou com o poder institucional ao enfrentar um processo pela guarda do filho, poderia ter sido ferido de morte com a prisão do seu criador esta semana em Londres.

A invasão de hackers nos serviços de Visa e Mastercard, que interromperam o recolhimento de doações ao site, é apenas uma medida da adesão da comunidade virtual à guerra pela informação livre. As empresas que repentinamente descobriram em seus estatutos vetos a parcerias com o WikiLeaks já estão sendo vítimas de campanhas virtualmente orquestradas que expõem contratos com entidades financiadoras de movimentos racistas, como o Ku Klux Klan. "Derrubem-nos e mais fortes nos tornamos", diz o lema.

Os vazamentos do Afeganistão tiveram acolhida de parte da mídia americana que reconheceu o endosso dado ao engodo das armas de destruição em massa no Iraque. Já os vazamentos dos despachos de embaixadas americanas, que trouxeram à tona até estratégias de espionagem avalizadas pelo Departamento de Estado, colocaram na berlinda o grau de comprometimento da imprensa com a informação livre.

Ao advogar limites a essa liberdade, a diplomacia defende a tese de que é preciso consultar, especular e discutir até que um argumento possa se tornar uma posição oficial abertamente exposta à crítica. E que, sem confiança, não existe diplomacia. Muitos jornalistas também poderiam argumentar que sem o 'off the records', a informação passada sob sigilo do informante, não é possível produzir notícia.

O que há de mais comprometedor no WikiLeaks, no entanto, não é a política que consulta, especula e discute, mas a que corrompe. E os interesses cimentados pelo poder que corrompem são aqueles que a imprensa tem mais dificuldade em combater.

Os vazamentos custariam a ter repercussão sem os acordos que os permitiram ser editados nos principais jornais do mundo. O papel da imprensa na esfera pública passará a depender do seu grau de compromisso com os interesses que a comunidade virtual tem enfrentado e de sua disposição para resistir a pressões políticas.

É desastroso para a diplomacia americana que sua visão sobre um Berlusconi fantoche de Putin ou um Nelson Jobim como atalho a um Itamaraty anti-ianque seja escancarada ao contribuinte. O que é realmente comprometedor, porém, são os planos americanos para espionar o secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-Moon, que passam até pelo rastreamento de seu cartão de crédito ou os subornos oferecidos a governos para que abriguem presos de Guantánamo.

A diplomacia americana sempre usou o apelo à liberdade de informação como trunfo de sua pressão sobre ditaduras não aliadas. A questão agora é como restringir essa liberdade sem apagar Thomas Jefferson do mapa da história americana - "Se eu tivesse de decidir entre ter um governo sem jornais e ter jornais sem um governo, eu não hesitaria nem por um momento antes de escolher a segunda opção". Ainda que o vazamento de informações sigilosas seja crime em qualquer lugar do mundo, é nos fundadores da democracia americana que a Suprema Corte tem se baseado para garantir que sua divulgação não o seja.

Os críticos do WikiLeaks têm argumentado que os vazamentos só foram possíveis porque o ataque às torres de Nova York levaram a que o governo americano decidisse por compartilhar mais informações. E os vazamentos, que um chanceler italiano considerou o 11 de setembro da diplomacia, acabariam contribuindo para que o compartilhamento de informações fosse reduzido.

Essa visão talvez subestime a capacidade de a comunidade virtual romper as fronteiras que lhe são impostas. Se a economia não sobrevive mais sem a internet, tinha que chegar o dia em que a política deixaria de lhe ficar incólume.

MÍRIAM LEITÃO

A esfinge 
Míriam Leitão
O GLOBO - 10/12/10

O australiano Julian Assange, educado para duvidar das instituições, aos 39 anos faz uma revolução em vários mundos: põe em nu frontal a diplomacia, cria dilemas para o jornalismo, produz embaraços e perigos para os governos, principalmente o americano, e testa o limite das democracias. Ele foi preso porque incomoda os governos e não por sua suposta má conduta sexual.

Ele nega as acusações contra ele, mas vamos acreditar nos acusadores. Imagine que tudo o que foi dito sobre ele é verdade. Assange foi caçado no mundo inteiro, entrou na lista vermelha da Interpol, teve o endereço eletrônico cancelado por grandes operadores, cartões de crédito bloqueados, acabou preso em Londres sem poder sair com fiança, e pode ser extraditado para a Suécia. Nada aconteceria nessa intensidade se não fosse ele o fundador do Wikileaks, a ONG cujo objetivo é vazar documentos oficiais porque acha que as informações pertencem às pessoas.

Ele é controverso, esquisito, capaz de sair de uma entrevista no meio se não gostar da pergunta, já foi criticado até por integrantes da organização que representa, cultiva hábitos e estilo de um espião mais do que de um jornalista ou de um militante de uma causa pública. Mas não age sozinho. Há uma organização por trás, com outros integrantes. E não podem todos ser acusados de má conduta sexual. Nas últimas horas, eles reagiram com suas armas: hackers atacaram todos os que acham que são inimigos. Outra conclusão óbvia é que quem vaza documentos é quem tem acesso a eles. Por mais competente que seja como hacker, o que ele conseguiu dos documentos da diplomacia americana ou de qualquer outro governo ou organização foi com a ajuda de dentro. E quem é responsável por velar pelos segredos do Departamento de Estado é o Departamento de Estado.

Há controvérsias em relação à Wikileaks: quem financia? Com que propósitos? Que tipo de seleção é feita nos documentos antes de serem tornados públicos? Os segredos de fato colocam em risco a segurança dos países e de pessoas em posições vulneráveis, como soldados? Por que não tem a mesma agilidade para vazar segredos das ditaduras como a China? Estarão as democracias pagando pelos seus méritos? Isso é jornalismo ou não?

Enfim, tudo é intenso em relação à Wikileaks. Há muitas perguntas, algumas ainda sem resposta. Fiquemos nas que têm resposta. É uma espécie de jornalismo, tem subsidiado a imprensa com documentos que não podem deixar de ser publicados, e, neste aspecto, virou fonte também. Mas o que não pode ocorrer é uma instituição como essa enfraquecer o jornalismo investigativo, essa vertente da imprensa, que tem trazido a público no Brasil fatos valiosos, como os vídeos do governador José Roberto Arruda e sua base política recebendo dinheiro. Esse foi o mais importante momento do jornalismo investigativo brasileiro este ano, que teve outras revelações importantes como o uso do sigilo fiscal em mãos da Receita para constranger adversários políticos do governo Lula. Foram muitos os fatos relevantes divulgados nos últimos anos pelo jornalismo investigativo. O trabalho desses profissionais sempre será relevante, tanto na procura de suas próprias pautas, quanto no esforço de conferir e confirmar informações divulgadas por organizações especializadas como a Wikileaks. Então, a resposta é que a ação da entidade de Julian Assange é de certa forma jornalismo, mas não o substitui, nem desobriga a imprensa de seu trabalho.

O que ele revelou na última onda de vazamentos foi uma rede de intrigas que em muitos casos não vão além de fofocas, que causam constrangimentos, mas pouco prejuízo real. Há dúvidas sobre a delicadeza de certas informações, como a localização de arsenais nucleares do Ocidente. Em outros casos, mesmo sendo só fofocas revela a hipocrisia de governos e governantes.

Claro que diplomatas são mais sinceros em seus relatórios aos governos que servem do que em entrevistas à imprensa. O formalismo e a linguagem empolada são deixados de lado. Seria estranho se a forma como se reportam aos seus superiores fosse idêntica a como falam em público. O que é curioso é quando o conteúdo muda completamente e passa a ser o oposto do que é dito.

Não deixa de ser engraçado o chanceler Celso Amorim, que tanto defendeu Chávez, dizendo que ele é cão que mais late que morde; países muçulmanos empurrando os Estados Unidos para controlar o Irã. Ou saber que John Kerry foi à China conspirar contra o sucesso de Copenhague. Na Cop-15, a diplomacia brasileira insistia em dividir o mundo entre ricos, de um lado, e pobres e emergentes, do outro. Fico feliz de ter dito aos meus leitores que a briga era mais complexa do que essa divisão binária do mundo.

O ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel não é de carreira, é um empresário. Seus relatórios têm muito da linguagem direta de um empresário. Eles são curiosos, mas nada revelam de fundamental: divisões dentro do governo Lula em relação aos Estados Unidos e suas interpretações de que o ministro Celso Amorim acabou submerso pelo poder do assessor Marco Aurélio Garcia não são segredo de Estado. Qualquer um poderia chegar àquelas conclusões, bastando acompanhar com atenção as atitudes públicas.

O mais assustador no caso Wikileaks são as ameaças feitas pelo governo americano que sempre se orgulhou da sua primeira emenda à Constituição, garantindo o direito à informação, e a mobilização do aparato que se formou para prender Julian Assange. Sua má conduta sexual parece pretexto. E é.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Fogueira das vaidades 
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/12/10

Embora Lula tenha aproveitado a reunião de ontem com a bancada do PT para pregar unidade interna, o dia terminou repleto de incertezas sobre a candidatura do partido à presidência da Câmara, a ser definida em reunião na próxima terça-feira.
A insatisfação de petistas do Nordeste com a parte que lhes caberá no ministério de Dilma Rousseff e um certo desgaste do principal nome do partido para o cargo, Cândido Vaccarezza (SP), estão insuflando as ambições de Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP). Aliados de Vaccarezza reconhecem que ambos já foram mais longe do que inicialmente se esperava.

Papel passado Os presidentes do PT, José Eduardo Dutra, e do PMDB, Michel Temer, finalmente assinaram ontem o acordo de revezamento dos dois partidos no comando da Câmara. 

É Natal 1 Para aumentar o salário dos senadores, houve quem fizesse a seguinte proposta: reduzir dois funcionários por gabinete e repassar o valor da "sobra" aos congressistas, para não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Poucos acreditam na viabilidade da fórmula. 

É Natal 2 Na Câmara, os deputados dão como certa a aprovação, até o dia 22, da equiparação salarial com o valor hoje pago aos ministros do Supremo (R$ 26,7 mil). O impacto orçamentário seria de R$ 130 milhões anuais.

Capitania Objeto do desejo do PSB, o comando do Sebrae deve ficar com o petista Luiz Barreto, de saída do Ministério do Turismo. O atual presidente, Paulo Okamotto, manterá no órgão seus principais auxiliares, entre eles o diretor-técnico, Carlos Alberto dos Santos. 

Só love No jantar do PMDB com Lula, chamou a atenção a solicitude de José Temporão para com a bancada do partido. Como ele deve sair, um peemedebista observou: "A esperança é de fato a última que morre".

Na pressão Em busca de espaço no novo governo, o PMDB obstrui votações que interessam a Geraldo Alckmin na Assembleia. Peemedebistas atraíram PDT e PSB num bloco de 14 deputados que cobra liberação de emendas parlamentares. 

Holerite No primeiro protesto, o grupo retardou a aprovação do reajuste dos salários do governador e dos secretários, sacramentado ontem. O tema é caro à transição, já que a nova remuneração do secretariado -R$ 14.980- poderia ajudar a atrair quadros técnicos. 

Quero mais O PMDB hoje controla as secretarias de Relações Institucionais, que será extinta, e de Desenvolvimento Social. Agora, planeja instalar um deputado estadual na Agricultura. 

Mais do mesmo Alckmin deve reconduzir Elival da Silva Ramos à Procuradoria-Geral do Estado, cargo que ocupou de 2001 a 2006. 

Modelo Lula indicou para vaga no TST Delaíde Miranda Arantes, mulher do ex-deputado Aldo Arantes (PC do B) e segunda colocada na lista tríplice do tribunal. Apoiadores a descrevem como "a Dilma do direito". 

Nova data O governo paulista reprogramou para segunda, dia 13, a homenagem a Luiz Roberto Barradas no AME de Heliópolis. 

Visita à Folha João Capiberibe e Janete Capiberibe, senador eleito e deputada eleita pelo PSB do Amapá, visitaram ontem a Folha. Estavam acompanhados por Jayme Brener e Cláudio Camargo, assessores de imprensa. 

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
tiroteio"Para colocar Mercadante na Ciência e Tecnologia e Moreira Franco nos Assuntos Estratégicos, Dilma só pode estar querendo fazer a bomba e ir à guerra."
DE HERÁCLITO FORTES (DEM-PI), às vésperas de se despedir do Senado, comentando indicações já anunciadas para o futuro ministério.
ContrapontoMomento Palmirinha
Em discurso na cerimônia de inauguração do retrato oficial de Vaz de Lima (PSDB) na galeria de ex-presidentes da Assembleia paulista, o atual ocupante do cargo, Barros Munhoz (PSDB), elogiou a aptidão do homenageado para o entendimento:
-Ele sabe fazer omelete sem quebrar os ovos. Ao ouvir o elogio, Sidney Beraldo (PSDB), futuro chefe da Casa Civil e um dos responsáveis pela negociação de espaços no futuro governo, comentou:
-Eu até segui umas dicas de literatura do Vaz para entender como é que se consegue fazer isso...

JOSÉ SIMÃO

Mão do Tráfico! O Polegar fugiu! 
 José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO  - 10/12/10

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
"Traficantes dão joias de até R$ 35 mil para mulheres". Grandes coisas! Ontem no shopping eu vi uns três homens fazendo isso! E o anúncio de sexo na "Tribuna de Santos": "ENDOIDEI! 1,99 por minuto". É pra coelho! Rarará!
E os bandidos estão ficando desaforados, viu. Olha o bilhete que deixaram na casa dum aposentado em Jundiaí: "Vim roubar, mas não tem dinheiro! Até a merda do carro não pega". E ontem foi Dia Nacional de Combate à Corrupção. Rarará. Que coisa mais anacrônica! Se corrupção desse caroço, o Brasil seria uma jaca. E dinheiro na cueca é CUrrupção! Rarará!
E o WikiLeaks? O WikiLíngua! O site Comentando criou novas versões. Versão Tiririca: TiriLeaks. E a Hillary Abelhuda do Chifre Mal Curado vai lançar um absorvente pra parar com esse vazamento; o SEMPRE LEAKS. Rarará!
E claro que o Assange, o criador do WikiLeaks, tá sendo processado por abuso sexual: ele fu@#&deu com meio mundo! E sem camisinha! Rarará. E a Hillary é a prova de que nem toda feiticeira é corcunda.
E o Alemão? Continua A Mão do Tráfico! Tão pegando o tráfico por partes! Agora pegaram o Mãozinha! Primeiro pegaram o Pezão. Agora, o Mãozinha. E a polícia procura o Polegar do Alemão. Só falta o Mindinho do Lula. Rarará!
E hoje pegaram um cara que lavava o dinheiro do tráfico: Tiago Santos Igreja. Rarará! Lavava com água benta!
Periquitério da Dilma. E o ministério da Dilma. Ops, periquitério. Mais três periquitas! E a Dilma? Só quero ver quando der um TPM coletivo! Cruzes! Tem até a Ideli Salvatti. Filha do ET de Varginha com a Mãe do Sarampo!
Ideli Salvatti para o Ministério da Pesca. E Ministério da Pesca é pra ficar contando mentira? E a Ideli não é toda nervosinha? Por isso que deram a pesca. Tá nervosa? Vá pescar! Ela vai criar o Vale Vara: toda mulher terá direito a um Ricardão enquanto o marido for pescar.
E eu já disse que esse periquitério tem que criar dois PACs: Peeling Aplicado a Coroa e Programa de Adequação das Companheiras. Que elas estão precisadas. É o PAC da Periquita!
E a piada pronta da Inglaterra: "Ladrão de trens Ronald Biggs diz ter sido roubado em asilo".
Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Tropa de elite
Sônia Racy
O Estado de S. Paulo - 10/12/2010

Lula se despede do cargo de presidente podendo levar consigo quatro servidores para segurança e apoio pessoal, dois veículos oficiais com motorista, e mais dois servidores ocupantes de cargos em comissão. Quem assegura este apoio ao quase ex-presidente é um decreto de fevereiro de 2008 que revogou outro, de dezembro de 1994, promulgado por Itamar Franco.
O que dizia o anterior? Previa mais servidores. Autorizava outros quatro em cargos comissionados comissão e até seis na categoria "gratificação de representação". Itamar levou sua cota. FHC não: saiu levando quatro ajudantes de ordem.
Tropa 2
No Estado de São Paulo, o assunto é pouco transparente. "Isto é com a Casa Militar, é questão de segurança. Se números são divulgados, a família do ex-governador vira alvo fácil, pode ser colocada em perigo", informa Bruno Caetano, secretário de Comunicação do Estado.
De fato, entre as atribuições da Casa Militar cabe à "Ajudância de Ordens" a prestação de serviços de atendimento funcional e, complementarmente, de segurança ao Governador do Estado, à primeira-dama, ao vice-governador e ao ex-governador. Decreto de 2004. Cada um negocia o pacote necessário para sua família.
Tropa 3
Consta que Geraldo Alckmin, ao sair do governo, levou quatro servidores. Serra teria coletado mais de 16.
Outra ponta
O BC manteve os juros inalterados atendendo expectativas de mercado. No entanto, depois de quatro meses consecutivos em queda, a taxa de juros no varejo subiu em novembro, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, a Anefac. Com exceção da linha do cartão de crédito rotativo.
Resumo: sobrou para o BC da Dilma o próximo reajuste.
Bolsa de apostas
Mais um nome para o Minc: Ana de Hollanda. A cantora, irmã de Chico Buarque, foi diretora do Centro de Música da Funarte entre 2003 e 2007. E militante comunista nos anos 80.
Hacker-pop
O Facebook abriga 40 páginas a favor do fundador do WikiLeaks, Julian Assange. Entre elas, a que diz: "Se eu visse Assange, eu jamais diria à Interpol". Somente esta página tinha, ontem, registro de 2 mil fãs.
Luxo e riqueza
Burle Marx será um dos pontos de luz na exposição, inédita no Brasil, que relembrará os anos dourados da Casa Canadá.
A maison, que funcionou no centro do Rio, foi pioneira em desfiles de moda no País. Croquis e joias desenhados pelo paisagista estão entre as peças históricas resgatadas dos anos 40 até meados dos 60. A partir de 10 de janeiro, no Sesc Rio.

"Desisti dos números"
Rosita Missoni, a italiana fundadora da marca que carrega seu sobrenome há quase 60 anos, não esmorece: veio a São Paulo para comemorar, anteontem, um ano da inauguração de sua loja em São Paulo e fazer palestras. Ela falou com a coluna à beira da piscina da casa de Karla e Marcelo Felmanas, que a homenagearam com jantar. Sentou-se no chão e pediu uísque com gelo.
Qual é sua impressão sobre o mercado brasileiro?
Não costumo mais acompanhar o lado comercial da marca. Desisti dos números. Na minha idade, posso me dar o privilégio de trabalhar apenas com criação.
A senhora acaba de completar 80 anos. Como se sente?
Não esperava que pudesse chegar até aqui com tanta energia. Viajo sempre, não tenho problema com fuso horário e durmo muito bem. Minha curiosidade é a mesma da adolescência, quando tinha 16 ou 17 anos. Isto me ajuda a aproveitar velhos ou novos lugares.
Pensa em se aposentar?
Olha, no fim dos anos 90 eu bem que tentei ao promover minha filha Angela ao meu cargo. O alívio foi grande. Eu estava cansada e percebi que minha vida não correspondia mais às demandas modernas. Queria um tempo para curtir a minha casa, aproveitar para encarnar a "vovó". Tenho nove netos. Também não queria mais ir a homenagens, festas, velórios ou mesmo para a fábrica.
Mas a senhora voltou.
É que senti um vazio enorme. Decidi, então, cuidar da Missoni Home, que ia bem comercialmente, mas não era muito fashion. Eu, por exemplo, não usaria aqueles produtos na minha casa. Optei por levar meu olhar para a decoração.
Como a Missoni consegue sobreviver até hoje como uma empresa familiar ?
Também me surpreendo. Mas os negócios vão muito bem do jeito que estão. Não há motivo para mudar. Já estamos na terceira geração e Margherita, minha neta, cuida de acessórios e bolsas da empresa. Ela é talentosa, quis ser atriz. Agora só pensa em moda.
Como será a sucessão?
Não sabemos ainda. Há muita gente capaz na família...
DÉBORA BERGAMASCO

Na frente
Abre hoje a primeira loja da marca Emilio Pucci. No Shopping Cidade Jardim.
Celso Amorim será homenageado na Fiesp. Hoje.
Ligia Canongia autografa Anos 80: Embates de uma Geração. Terça, na Livraria da Vila da Lorena.
Medo: há chance do WikiLeaks virar ...WikiLocks?

LUIZ GARCIA

Juízes e processos 
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 10/12/10

Reformar, no sentido de mudar para melhor, para muitos sempre parece ser uma boa ideia. É verdade que há quem diga que por aqui reforma-se demais. O brasileiro seria viciado em mudar códigos, instituições e estruturas, sem grande necessidade disso. 
Os dois pontos de vista podem valer para o projeto que reforma o Código de Processo Penal, que acaba de ser aprovado pelo Senado. Ele teria boas e más mudanças. Palpitemos a respeito. A mudança que parece ser mais discutível estabelece que em todos os processos criminais terão de atuar dois juízes, no mínimo. Um deles levaria a investigação até o promotor apresentar a denúncia, e o outro levaria o processo até a sentença. 
Quem não gosta da ideia afirma que isso criaria uma justiça ainda mais lenta, ou confusa, do que já é. Talvez com razão: a sabedoria popular há muito tempo já nos diz que "cada cabeça, uma sentença". É certo que só existiria uma sentença em cada caso - a do segundo juiz - mas acontece que a própria condução do processo pelo primeiro juiz tende a levá-lo numa direção. O segundo poderia ver as coisas de outra maneira, produzindo contradições que enfraqueceriam a decisão final. 
E há mais dois argumentos contra a novidade. Em primeiro lugar, não é bem assim no resto do mundo, o que certamente não acontece por acaso. O outro problema lembrado é o de que seria necessário dobrar o número de juízes no país. Em suma, uma novidade cara e discutível. 
Mas outras mudanças parecem ser inteligentes. Uma se refere à prisão especial, que seria mantida apenas para juízes, promotores e procuradores. Outros acusados com curso superior não teriam direito ao privilégio. Pode-se duvidar que a novidade seja realmente implantada. Pelo menos, levando em conta o número de políticos que respondem a processos criminais no Brasil. Se a mudança for adiante, talvez, quem sabe, aconteça a aprovação no Congresso de um projeto melhorando consideravelmente as condições de vida nas penitenciárias nacionais. 
Mais uma inovação, que tem a ver também com o problema da prisão especial, é a substituição da prisão preventiva, em caso de réus de baixa periculosidade, pelo monitoramento eletrônico: aquelas pulseiras irremovíveis que impedem os acusados de sumir no mundo. Funciona muito bem em outros países. Aqui, precisamos esperar que não provoque o aparecimento de uma nova profissão no baixo mundo: a do desligador de pulseira. Não existe lá fora, mas aqui o pessoal tem uma imaginação criadora realmente perigosa. 

CELSO MING

Não dá para sustentar
Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 10/12/2010

Até mesmo o ministro Guido Mantega está vacilando entre a louvação e a advertência. Um crescimento econômico de mais de 8% em 2010, como está pintando, não é um fato a ser comemorado irrestritamente porque é também fonte de problemas.
Para começar, a esse ritmo, este não é um crescimento sustentável. A contrapartida desse passo maior do que as pernas é o ressurgimento da inflação e perda da previsibilidade.
Nem mesmo a desaceleração para alguma coisa em torno dos 5% nos próximos anos, que é a velocidade com que o governo pretende conduzir a economia em 2011, é algo com que se pode contar. Para crescer não a 8% ao ano como agora, mas apenas a 5%, como o pretendido, seria preciso investimentos da ordem de 25% a 26% do PIB. E, no entanto, neste ano, vamos tendo uma Formação Bruta de Capital Fixo (o termo que os economistas dão ao investimento nacional) de apenas 19,4% do PIB, embora este seja um número recorde. No ano passado, por exemplo, os investimentos totais não passaram de 17,9% do PIB.
Não basta que os investimentos cresçam mais do que o consumo, como ontem tentou sofismar Mantega. Têm de crescer muito, muito mais do que o consumo para assegurar o ritmo desejado.
Em segundo lugar, os números exuberantes do PIB ontem divulgados, "o maior crescimento mundial depois do da China", como chegou a gabar-se o ministro Mantega, não foram obtidos apenas com um forte avanço do crédito (de 20,3%, em 12 meses). Foram obtidos principalmente com a aplicação de uma boa dose de anabolizantes. As despesas públicas cresceram neste último ano cerca de 15,7%, portanto acima da arrecadação (que evoluiu a 10,9%), e criaram renda artificial, que, por sua vez, alimentou consumo e produção que não terão condições de se manter no mesmo nível. E é essa a razão pela qual o governo Dilma já anunciou que terá de apertar os cintos e de dar prioridade ao ajuste das contas públicas.
Mais que tudo, o arranjo montado em 2010, que trouxe esse salto espantoso do PIB em tempos de forte crise mundial, atraiu de volta a inflação, deformação que não se pode tolerar, como ontem o presidente Lula avisou.
Uma observação final. Nas duas últimas semanas, intensificaram-se as críticas à política monetária, que produz "juros escorchantes", e à política cambial, "que tira competitividade da empresa brasileira e produz desindustrialização", ambas de responsabilidade do Banco Central. Pois nem esses altos juros estão impedindo que a economia cresça a mais de 8% ao ano. E nem a forte valorização do real vêm impedindo que as exportações avancem a 10,8%, como ontem indicaram as Contas Nacionais. E tudo isso num ambiente de desemprego de apenas 6,1%, o mais baixo da série histórica do IBGE.
Em todo o caso, no exterior ninguém vai notar que esse crescimento não poderá ser repetido. O desempenho da economia brasileira será comemorado porque, junto com o dos outros países emergentes, constitui no momento um dos poucos segmentos da economia global que continuam gerando demanda. As importações estão avançando a 39,8% ao ano e isso apresenta o Brasil para o mundo como um polo dinâmico.
CONFIRA

Austeridade de menos
Desta vez, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi no ponto. "O descontrole dos gastos públicos deixa manco o tripé de políticas econômicas, composto também pelo sistema de metas de inflação e câmbio flutuante. Tal descompasso gera uma arquitetura econômica perniciosa de juros elevados e câmbio sobrevalorizado"", disse quarta-feira, logo depois que terminou a reunião do Copom.
Discurso mudado
É um ponto de vista diferente do externado em outras ocasiões, quando Skaf preferia dizer que o Banco Central estava errado ou que assumia uma atitude covarde demais na definição da política monetária.
É a gastança
Agora, o presidente da Fiesp reconhece que o problema é fiscal. É o governo gastando demais e deixando o Banco Central sozinho para contra-atacar a inflação. A conclusão é inevitável: quem quer juros baixos tem de trabalhar para apertar os cintos e isso reduz o campo para os negócios das empresas.

ILIMAR FRANCO

Pulando fora 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 10/12/10

Um dia após o impasse no DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, conversou ontem com a cúpula do PMDB e marcou para fevereiro sua filiação. "O partido está de braços abertos", disse o Senador Valdir Raupp (RO), que está assumindo a presidência do PMDB. O vice-presidente eleito, Michel Temer, relata que "estão todos receptivos". Kassab vai ter carta branca para articular sua sucessão e reorganizar o partido em São Paulo. 

Sentença Em telegrama confidencial escrito em 2008, vazado no WikiLeaks, o então embaixador dos EUA Clifford Sobel diz que o presidente Lula "falhou na promoção de reformas para abolir a cultura política de corrupção, clientelismo e espoliação". 

GENÉRICO. No jantar do PMDB com o presidente Lula, anteontem, o líder Henrique Alves (RN) aproveitou para perguntar ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) para onde ele vai na equipe de Dilma Rousseff. "Eu sou genérico", respondeu Padilha, que está com um pé no Ministério da Saúde. A presidente eleita, Dilma Rousseff, ainda não bateu o martelo, mas seu nome é uma unanimidade no PT. 

Fomos eliminados pelo critério do sexo. Aí perguntei ao Palocci se a cota dos índios já estava esgotada" - Wellington Dias, Senador eleito (PT-PI) 

Veto? A presidente eleita, Dilma Rousseff, andou reclamando para peemedebistas da gestão de Hélio Costa nas Comunicações. Ele era contra criar a nova Telebrás. Isso foi entendido como recado de que ele não irá para a presidência de Furnas. 

Mulher, mulher, mulher... Os petistas do Nordeste se reuniram. Os governadores Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE) à frente. Deliberaram que a região devia fazer os ministros do Desenvolvimento Social e do Agrário. Levaram os nomes do deputado Zezéu Ribeiro (BA) e do Senador Wellington Dias (PI). Foram então informados que a presidente eleita, Dilma Rousseff, queria nomes de mulheres. Apresentaram uma listinha com sugestões. Por fim, foram informados pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, que o nome para a área social era a mineira Tereza Campello e que caberia aos baianos sugerirem um quadro feminino para comandar o setor agrário. 

Não se esqueça de mim... O PSC está propondo à presidente eleita, Dilma Rousseff, a criação da Secretaria Especial de Prevenção e Segurança no Trânsito, que seria vinculada à Casa Civil. Um quadro do PSC, que elegeu 17 deputados e um Senador, seria designado para a nova secretaria. Caberia a ela implementar o plano nacional do setor e gerir os recursos do DPVAT e do Fundo Nacional de Segurança no Trânsito. Subordinada a ela ficaria a Agência Executiva Nacional de Trânsito (novo Denatran). 

Uma mulher na Igualdade Racial? Uma vereadora e duas secretárias do governador Jaques Wagner (BA) são cotadas para a Secretaria de Igualdade Racial. São elas: Arany Santana, secretária estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza; Luiza Bairros, secretária estadual de Promoção da Igualdade; e a vereadora Olívia Santana (PCdoB), de Salvador. Elas militam no Movimento Negro Unificado. Correndo por fora, tem o deputado Vicentinho (PT-SP). 

O PTB faz força para emplacar o deputado Nelson Marquezelli (SP) no Ministério das Micro e Pequenas Empresas. O partido deu apoio à oposição e na transição o que se diz é que ele não terá o que quer. 

A CHEFE da Casa Civil do governo da Bahia, Eva Chiavon, está sendo convocada para trabalhar na assessoria direta da presidente eleita, Dilma Rousseff. 

TRAUMA. O presidente Lula disse ontem aos Senadores do PT que eles devem ficar com a vice-presidência do Senado, e não com a primeira-secretaria da Mesa Diretora. Não quer o comando da Casa na mão da oposição. 

DORA KRAMER

Barriga de aluguel
Dora Kramer
O Estado de S. Paulo - 10/12/2010

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, perdeu as últimas eleições que disputou em Sergipe, mas nas duas vezes saiu ganhando: na primeira, a presidência da Petrobrás e na segunda o comando da subsidiária BR Distribuidora.
Na eleição de 2010 foi mais prático e ajeitou-se como suplente de senador na chapa de Antônio Carlos Valadares, enquanto cuidava da campanha de Dilma Rousseff.
O plano óbvio era chegar ao Senado pelo meio mais fácil, amplamente difundido e atualmente responsável por pouco menos de um terço da Casa ser ocupado por gente que não recebeu um só voto.
Dutra, portanto, não é o único, não é o primeiro nem será o último a recorrer ao estratagema.
O que se inaugura agora é uma nova modalidade não só na forma de se conquistar uma cadeira no Senado, mas também de adoção de critério para preenchimento de cargos no ministério.
Conforme demonstrado diariamente, sabemos todos que não existe critério de mérito específico para a escolha de ministros. A mesma pessoa tanto pode ser cotada para a Saúde como para a Agricultura, pois o que importa é a força do padrinho.
Agora, em Brasília nunca se havia visto nada parecido com que acontece com o senador Antônio Carlos Valadares. É ministro nem que não queira para que o suplente possa ser senador. O que fará de Dutra o único senador indicado pela Presidência da República.
Já Valadares faz de conta que não sabia o que Dutra fazia em sua chapa e valoriza o passe: "A opinião pública pode interpretar isso como um arranjo para acomodar políticos", diz para justificar a recusa ao Ministério das Micro e Pequenas Empresas, ressalvando, porém, que se o convite for para uma pasta já estruturada tem conversa.
Tradução. Quando Marta Suplicy afirma que pretende ser "o braço direito" de Dilma no Senado, está dizendo que é candidata a líder do governo.
Matriz e filial. As duas alas em conflito no DEM falam em afirmação partidária e busca de identidade singular, mas, na prática, o partido continua funcionando como sucursal do PSDB.
Rodrigo Maia se movimenta sob orientação de Aécio Neves e Gilberto Kassab se mexe conforme a conveniência de José Serra. A briga interna no DEM absolve a situação de racha que se delineia entre os tucanos.
Aécio de um lado avançando com desenvoltura para se consolidar na posição de referência e Serra, de outro, articulando no bastidor para sustentar a influência no PSDB.
Nenhum dos dois assume o cisma, mas quem viver logo verá o espetáculo do crescimento das hostilidades.
Estranho no ninho. Tem gente no PMDB que engoliu vários sapos para ficar ao lado do governo na eleição, inconformada com a escolha do senador Garibaldi Alves para o Ministério da Previdência.
O currículo, de fato, contraria a lógica: foi o único presidente do Senado até agora a devolver uma medida provisória para o Palácio do Planalto; presidiu a CPI dos Bingos, também conhecida como CPI do fim do mundo; disfarçou mal - ou mal disfarçou - sua preferência por Serra na eleição.
Acontecimentos adiante que talvez desvendem o mistério.
Quanto pior. O deputado federal mais votado do Brasil aparece para dizer que sabe ler e escrever três meses depois de ser denunciado como inelegível por analfabetismo e falsidade ideológica, e quem é alvo de críticas é o promotor denunciante.
Há uma corrente (robusta) que considera a posição do Ministério Público uma perseguição tola, pois os votos recebidos pelo acusado funcionariam como salvo conduto a toda sorte de condutas.
Desse tipo de mentalidade, e não só das falhas do sistema e da falta de ética de políticos, é que se alimenta a desqualificação do Congresso Nacional.

MERVAL PEREIRA

Processo distorcido 
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 10/12/10

A briga no Congresso por vagas no Ministério, da maneira como se dá, é uma deturpação dos valores do presidencialismo e indica mais uma tendência ao patrimonialismo e ao fisiologismo do que propriamente uma disputa de poder, já que, na teoria, um parlamentar que vai para o Ministério abre mão de exercer um papel efetivo como membro de um dos poderes da República para aceitar um papel secundário num outro poder. 
O hiperpresidencialismo, regime político caracterizado pelo excesso de poderes concedido pelo Congresso ao Executivo, está em pleno vigor na organização do Ministério do futuro governo Dilma Rousseff. 
Tanto ela quanto Lula exercitam seus poderes, cada um à sua maneira. O presidente em exercício tenta prolongar seu comando para além de seu mandato, e a presidente eleita procura dar sinais de que não será manipulada nem pelos partidos aliados nem pelo presidente Lula. 
O nosso presidencialismo de coalizão, termo cunhado pelo cientista político Sérgio Abranches, pode funcionar tão efetivamente quanto o parlamentarismo, demonstram estudos acadêmicos que medem o grau de fidelidade partidária dos partidos-membros da coalizão governamental desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. 
Mas cada presidente dá seu toque pessoal na maneira como compõe seu ministério e assume compromissos com os partidos da base. 
A desagregação cada vez maior dos partidos políticos, e a abrangência sempre ampliada da base governista, com um agrupamento disparatado de partidos que não fazem liga programática, mas fisiológica, leva a que a composição ministerial obedeça cada vez mais a interesses esparsos e pessoais, e os políticos fiquem apenas com a aparência de poder. 
Um sinal claro é que, no núcleo decisório do governo Dilma, não há ninguém eleito pelo voto, embora todos sejam da máquina partidária petista. 
Como não estamos no parlamentarismo, a maneira como os partidos negociam seus pedaços de poder os transforma em meros coadjuvantes, que não palpitam - e nem desejam - nas diretrizes que porventura vierem a ser adotadas pelo governo a que aderiram por mero desfrute do poder. 
Há raras exceções, que só confirmam a regra. É o caso do ex-governador do Amazonas Eduardo Braga, eleito senador. Recusou ser o futuro ministro da Previdência Social simplesmente porque, quando o sondaram, ninguém lhe disse qual era o plano para o setor. 
E ele se diz a favor de uma reforma previdenciária, tema que ficou de fora da campanha presidencial porque nenhum dos candidatos se atreveu a dizer a seus eleitores que ela é necessária. 
O finalmente escolhido, senador reeleito Garibaldi Alves, não tem a menor ideia do que fazer na pasta e só foi parar lá para deixar o caminho aberto para a recondução à presidência do Senado de José Sarney. 
Outro que também está resistindo é o senador eleito Antônio Carlos Valadares, mas quase certamente ele se tornará ministro para que sua vaga seja preenchida pelo suplente, o presidente do PT, José Eduardo Dutra. 
Esse é o típico caso em que se quer corrigir no canetaço o que as urnas vêm rejeitando.
José Eduardo Dutra tem um problema sério com a família Alves, de Sergipe, estado onde atua politicamente, mas principalmente com os eleitores, que teimam em não o eleger. 
Disputou o governo de Sergipe em 1990 e foi derrotado por João Alves. Eleito senador em 1994, ao final dos oito anos de mandato candidatou-se novamente ao governo de Sergipe e foi derrotado de novo por João Alves. 
Como prêmio de consolação, foi nomeado presidente da Petrobras em 2003. Tentou eleger-se senador novamente em 2006 e, dessa vez, foi derrotado por Maria do Carmo Alves, mulher de João Alves. 
Ganhou outro prêmio de consolação, a presidência da Petrobras Distribuidora, de onde saiu para presidir o PT, com mandato até 2012. E finalmente pode retornar ao Senado pelas mãos da presidente eleita, Dilma Rousseff. 
Todos os políticos que se digladiam por uma vaga na Esplanada dos Ministérios deveriam, em teoria, renunciar aos mandatos, não podem servir ao Poder Executivo no exercício do cargo para o qual foram eleitos. 
O então senador Aloizio Mercadante teve essa noção rara em político brasileiro e, no primeiro governo Lula, não quis ocupar um ministério porque fora eleito para o Senado por mais de dez milhões de votos e não quis abrir mão do mandato popular. 
No presidencialismo, deputados e senadores eleitos governam o país no Parlamento, no Congresso, como parte principal de um dos poderes da República. 
Para ser presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002, teve que renunciar ao mandato. 
Abrindo mão do mandato, passam a exercer papel secundário do Poder Executivo, mais secundário ainda quanto mais forte for o presidente da República. 
Mas raros são os que têm essa percepção ou essa visão da política. A maioria quer um ministério para, a partir dele, fazer política própria, e não para ajudar a implementar um programa de governo previamente aprovado nas urnas. 
E ainda encontram brechas para manter alguns privilégios que o mandato parlamentar lhes confere, como passagens de avião, por exemplo, quando isso era possível, e o salário. E, de quebra, a possibilidade de voltar ao Congresso caso deixem o ministério, por vontade própria ou demissão. 
Como os parlamentares ganham mais que os ministros, geralmente estes preferem manter seus salários originais. 
O ex-deputado José Dirceu é exemplo desse procedimento, que por sinal lhe custou muito. Ele tentou no Supremo Tribunal Federal anular seu processo de cassação na Câmara dos Deputados sob a alegação de que, sendo chefe da Casa Civil da Presidência, e não estando exercendo o mandato parlamentar, não poderia ser cassado por quebra do decoro parlamentar por fatos acontecidos naquela ocasião. 
Mas ele tinha optado por receber o salário de deputado e desistira de continuar participando do conselho da Petrobras porque o artigo 54 da Constituição Federal afirma que, a partir da diplomação, um deputado ou senador não pode exercer, sob penas de perda de mandato, funções remuneradas em órgãos da administração pública, como fundações, empresas estatais, empresas públicas e autarquias.