terça-feira, dezembro 07, 2010

MERVAL PEREIRA

Sinais de mudança 
Merval Pereira 

O Globo - 07/12/2010

Foi com a cândida explicação de que se tratava de uma “luta política” que o então recém-eleito presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha, justificou a drástica mudança de posição dos petistas no início do governo Lula, em 2003. Foi quando passaram a defender o que antes combatiam, especialmente a reforma da Previdência, que conseguiram aprovar com o auxílio da oposição, depois de, por anos a fio, a barrarem no plenário do Congresso durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.

Seu simplismo antecipava o pragmatismo que viria pela frente.

Mais uma vez estamos diante da mesma situação, com a presidente eleita, Dilma Rousseff, defendendo pontos de vista que combatia durante a campanha e assumindo posições que estariam mais de acordo na boca de seu adversário tucano, José Serra.

A decisão acertada de procurar um executivo profissional para comandar a Infraero, retirando o cargo da troca de favores com políticos da base aliada, corresponde a uma consequência lógica de privatizar os aeroportos brasileiros, para que seja possível torná- los compatíveis com as necessidades de um país que está incorporando largas faixas da população ao t u r i s m o , t a n t o i n t e r n o quanto externo, e vai organizar uma Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que será mantido no cargo, parece outra pessoa ao anunciar que o governo prepara um pacote para reduzir seus custos e que até projetos do PAC serão atrasados.

Além disso, o governo também vai trabalhar para impedir novos gastos, como o salário único para as polícias estaduais, o salário mínimo de R$ 580 a R$ 600 para 2011 e o aumento de 56% para os servidores do Judiciário.

Na entrevista que concedeu ao “Washington Post”, Dilma se posiciona com vigor contra a abstenção brasileira na ONU quando foi aprovada uma censura ao Irã por violações de direitos humanos, exigindo o fim dos apedrejamentos, da perseguição a minorias e de ataques a jornalistas.

Na alegação, a presidente eleita diz que, sendo mulher, não poderia ser a favor de “práticas medievais” como o apedrejamento a que f o i c o n d e n a d a S a k i n e h Mohammadi Ashtiani por suposto adultério, pena depois trocada pelo enforcamento como demonstração de “boa vontade” do governo iraniano diante da reação negativa internacional.

É provável que a presidente eleita tenha salientado a condição feminina apenas como maneira de enfatizar sua posição, não sendo razoável imaginar-se que ela seja limitada por questões de gênero.

Sendo assim, o futuro ministro das Relações Exteriores terá pela frente um problema para oficializar uma mudança de política de Estado que foi apresentada oficialmente pelo governo Lula à ONU.

Por essa proposta formal, a ONU deveria passar a tratar os países que violam os direitos humanos com mais condescendência, evitando críticas públicas aos regimes autoritários.

A proposta evidenciou, como registrei aqui na época, que, muito mais que decisões pragmáticas, a abstenção em votações contra Cuba com relação à violação dos direitos humanos ou mesmo votar contra uma condenação do governo do Sudão sobre Darfur, onde um conflito étnico matou mais de 200 mil pessoas, faziam parte de uma política de Estado que foi alterada sem a aprovação do Congresso brasileiro.

A mudança de padrão nas votações brasileiras no Conselho de Direitos Humanos da ONU havia sido denunciada pela ONG Conectas Direitos Humanos, mostrando que ela obedecia a interesses políticos e comerciais, e não tinha relação direta com o conceito de direitos humanos em si.

Em relação à China, por exemplo, o Brasil mudou sua posição, votando a favor da no-action motion em 2004, ajudando a evitar assim a condenação daquele país por violações de direitos humanos.

Em situação similar em 2001, o governo brasileiro se abstivera de votar.

Houve uma mudança também em relação à resolução que condenava a situação dos direitos humanos na Chechênia.

Da abstenção em 2001 e 2002, o governo brasileiro passou a votar explicitamente contra a condenação da Rússia em 2003 e 2004.

É preciso saber agora até que ponto a futura política externa brasileira mudará de posição, pois a questão dos direitos humanos esconde uma política mais ampla de se colocar como um contraponto aos Estados Unidos, que o governo brasileiro considera ter politizado o Conselho de Direitos Humanos da ONU, usando sua força política para combater seus inimigos com sanções.

Na mesma entrevista ao “Washington Post”, a presidente eleita, Dilma Rousseff, faz as mesmas críticas ao governo dos Estados Unidos que têm sido feitas pelo governo Lula em relação ao uso de força para resolver questões políticas, referindo-se especificamente às guerras do Afeganistão e do Iraque.

Mas afirma o desejo de se aproximar do governo dos Estados Unidos, uma mudança na política externa, que é vista por Washington, de acordo com os telegramas vazados pelo site Wiki- Leaks, como antiamericana.

Dilma Rousseff não tem as relações pessoais que o presidente Lula tem com seu velho amigo Fidel Castro, o que o impede de criticar os abusos aos direitos humanos em Cuba.

Mas, vinda da esquerda armada, pode ter outros tipos de constrangimentos.

No governo Lula, o esquerdismo do Itamaraty serviu de contraponto a políticas pragmáticas no campo econômico.

Ainda é preciso ver a prática para saber o que realmente vai mudar na política externa brasileira, e em que uma eventual mudança influenciará a política interna.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

OAB cobra de tribunal pagamento de precatórios 
 Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 07/12/2010

A OAB-SP entregou na semana passada ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) um pedido para que os pagamentos de precatórios para idosos e doentes graves sejam feitos imediatamente.
O tribunal já tem à disposição cerca de R$ 1,5 bilhão em depósitos feitos pelo governo do Estado. Porém apenas R$ 4 milhões foram pagos.
O atraso foi provocado por uma mudança trazida pela Emenda Constitucional 62, de dezembro de 2009, que torna o tribunal responsável por efetivar os pagamentos. Antes, a função era do próprio órgão devedor.
Na transição, o tribunal precisou contratar, por licitação, uma empresa de informática para elaborar um programa que define as prioridades dos pagamentos.
"Não temos interesse em manter o dinheiro. Temos compromisso com a cronologia. Corremos contra o tempo, contratamos o software para isso", diz o desembargador Venício Salles, do TJ-SP. Segundo ele, a primeira etapa do software foi concluída.
O pedido da OAB é que doentes e idosos sejam atendidos independentemente da elaboração completa da lista de preferências.
Esse primeiro pedido tem peso político, mas o próximo passo, segundo a entidade, é levar o caso ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
"Se não tomarem providência, podemos tecnicamente pedir responsabilização civil", diz Flávio Brando, presidente da comissão de precatórios da OAB nacional.
"Se forem ao CNJ e vierem com uma fórmula boa, que não envolva a transgressão de outros direitos, aceitaremos", diz o desembargador.

PEDALADA CENTENÁRIA
A SulAmérica Seguros e Previdência criou uma diretoria de planejamento estratégico e gestão de produtos.
"Foi por causa das nossas ambições e de nossos planos", diz Thomaz Cabral de Menezes, que assumiu a presidência-executiva da empresa em março deste ano, em substituição a Patrick Larragoiti Lucas. Membro da quinta geração da família no comando da seguradora, Lucas tornou-se presidente do conselho.
A empresa começou 2010 com 17 unidades e vai fechar com quase 30. Até o final deste mês, serão inauguradas mais quatro filiais e, para o primeiro trimestre, já estão previstas outras cinco, inclusive centros para atender apenas segurados de automóvel.
"Para uma empresa como a nossa é cada vez mais importante estar perto dos clientes no momento dos sinistros", diz Larragoiti, que comemora os 115 anos da companhia.

NATAL SEM PRESSA
Mais de 50% dos consumidores afirmam que não vão deixar para fazer as compras de última hora, segundo levantamento do Shopping Jardim Sul com mais de 6.000 clientes. Cerca de 46% disseram que uma semana de antecedência é suficiente para definir os presentes. Cerca de 70% precisam de pelo menos três visitas ao shopping para cumprir a lista de compras. Mais de 40% dizem que gastarão R$ 100, e 38%, acima de R$ 200.

Nova loja O Grupo Pão de Açúcar inaugura nesta semana mais três lojas em Ribeirão Preto (SP). Com investimento de R$ 44 milhões, a companhia leva para a região um Extra Hipermercado, um Extra Supermercado e um Assaí.

Na parede A Carbono Química ampliou a compra de dióxido de titânio da China, devido ao aquecimento do mercado imobiliário. A procura pelo insumo, que fabrica pasta de dente, lubrificante e tinta, subiu 20% neste ano.

DE SUAPE AO PRÉ-SAL
A Mercotubos, que fabrica, molda e distribui estruturas metálicas para estaleiros e refinarias, vai expandir a atuação em Pernambuco e no Rio com investimentos de R$ 60 milhões.
Uma máquina de R$ 15 milhões será instalada em Escada (PE) para atender a Refinaria Abreu e Lima e os estaleiros de Suape.
O equipamento curva tubos industriais, evitando custos de soldagem.
Outros R$ 15 milhões serão investidos na construção de uma fábrica.
Em Escada, a Mercotubos vai oferecer o serviço de dobra e de distribuição.
Para atender a demanda do pré-sal, a empresa quer investir R$ 30 milhões em uma fábrica no Rio.
"Ainda não decidimos se vamos entrar no Rio com aquisições ou algo parecido", diz Flavio Suplicy, CEO da Mercotubos.

ILIMAR FRANCO

O PMDB encolhe 
Ilimar Franco 

O Globo - 07/12/2010

A presidente eleita, Dilma Rousseff, está reduzindo a participação do PMDB no governo. O partido tinha seis pastas no governo Lula, entre as quais Saúde e Integração. Perdeu as duas. No governo Dilma, o partido terá apenas quatro. O ressentimento se alastra no partido. Há críticas à direção partidária, que abriu mão da pasta de Comunicações e de lutar por Cidades. Integrantes do partido já falam em dar o troco em votações na Câmara.

Autofagia
A reunião da Executiva Nacional do DEM, amanhã, pode acabar na Justiça. O grupo do presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ), diz que só uma convenção nacional pode antecipar a data da eleição interna. Se o grupo do ex-presidente Jorge Bornhausen (SC) conseguir passar o trator, uma parte do DEM deve deixar o partido, alegando mudança do estatuto. Essa é uma das brechas permitidas para a troca de partido sem perda de mandato. Um demista do grupo de Rodrigo diz que, confirmado o racha, vai acontecer na prática o que o presidente Lula defendeu durante a campanha eleitoral deste ano: a extinção do DEM.

Alerta
A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro, do Ministério da Justiça, é contra a legalização dos bingos. Avalia que isso criaria ambiente propício à sonegação fiscal, à evasão de divisas e à lavagem de dinheiro.

On-line
O Ministério do Desenvolvimento Social lança hoje a versão on-line do cadastro do Bolsa Família, o que tornará o processo mais ágil. Seis municípios participaram do projeto-piloto, entre eles Rio de Janeiro, Rio das Ostras e Piraí.

A luta contra o tabagismo
Além de ter adiado a votação, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, do projeto que proíbe o fumo em recintos fechados, o lobby da indústria do tabaco remeteu o assunto para a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo. A chefe da Divisão de Controle do Tabagismo da Anvisa, Tania Cavalcante, diz que isso custa caro ao SUS: em 2005, o sistema gastou R$ 338 milhões em internações hospitalares devido a doenças relacionadas ao tabagismo.

O drama do PCdoB
Na sexta-feira, a presidente eleita, Dilma Rousseff, fez um apelo ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo, pela renovação. Ela sugeriu que o partido apresentasse outros nomes para o Ministério do Esporte, já que o ministro Orlando Silva estaria com seu destino garantido: a Autoridade Pública Olímpica (APO). A pasta vai ser mantida nas mãos dos comunistas, e o nome mais forte para assumir o ministério é o da ex-prefeita de Olinda (PE) e deputada federal eleita Luciana Santos.

A MINISTRA Izabella Teixeira (Meio Ambiente) venceu a queda de braço interna no PT e entre os principais conselheiros do governo Dilma Rousseff. Seu nome é o favorito para permanecer à frente da pasta.

O SENADOR eleito Eunício Oliveira (PMDB-CE) afirma: “Mudei de Casa, mas não mudei de turma”.

LEMBRETE. Ministros estão deixando a agenda em aberto dia 14, data do aniversário da presidente eleita, Dilma Rousseff, e com um lembrete.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Previsão do tempo 
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 07/12/2010

Amauri Pastorello, do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado, instalará em São Luiz do Paraitinga quatro pontos de monitoramento de chuvas. Isso, para tentar evitar tragédia similar a do início deste ano. Custo: R$ 200 mil.

Enquanto isso, segue briga no Ministério Público sobre a retirada das pedras do leito do rio que batiza a cidade. Se por um lado o desassoreamento pode diminuir os transbordamentos, por outro pode prejudicar o turismo da região - famoso entre os praticantes do rafting.

NuvensE na sexta sai licitação de R$ 2 milhões para reconstruir a histórica Capela das Mercês.

A caminho
O Ministério da Saúde doará ao Haiti, nos próximos dois anos, R$ 3,5 milhões em 15 milhões de doses de vacinas contra difteria, tétano e coqueluche. Para a epidemia de cólera, o Brasil investirá US$ 1 milhão no país.

Sem marola
Ao que tudo indica, será tranquila a transição na Secretaria-Geral da Presidência. Sobre seu sucessor no posto, Luiz Dulci confidenciou a amigos: "Com Gilberto Carvalho, o diálogo com os movimentos sociais será respeitoso e produtivo. A democracia participativa avançará ainda mais no governo Dilma". Em janeiro, Dulci estará na equipe de ex-colaboradores de Lula no Instituto Cidadania.

Brasília, eu ficoCelso Amorim deixa a casa na Península dos Ministros, mas não o Distrito Federal. Foi o que o próprio contou na semana passada a um interlocutor, em Washington, onde recebeu o prêmio Pensador Global, da revista Foreign Policy. Amorim alugou apartamento na cidade por causa de Ana Maria, sua mulher. Ela continua no serviço público.

Rio, eu vouO casal Amorim, entretanto, pretende reabilitar a casa de Ipanema, no Rio. Já pediu ao inquilino para deixar o imóvel. O quase ex-chanceler pensa em dar aulas na UFRJ. "Não vão me encontrar na Fiesp", ironizou, alfinetando alguns críticos de sua política externa.

Em alta
A Art Basel Miami Beach esteve tão cheia no fim de semana que bombeiros precisaram fechar o Convention Center. E o saldo para artistas brasileiros foi positivo. Beatriz Milhazes, por exemplo, fez uma das instalações mais impactantes: um piso de cerâmica com ouro 24 quilates.

Louco por ti
Chico Buarque, tricolor fervoroso, comemorou a vitória do Fluminense em seu apartamento do Leblon, no Rio.

Só no sapatinho
Rodrigo Santoro atacou de... pagodeiro. Ele cantou Fugidinha durante o show do Exaltasamba, no fim de semana, no Rio. Convite de Regina Casé, que estava no palco.

Tônica sem gim
Elza Soares, que deu rasante em São Paulo para apresentação no Auditório Ibirapuera, surgiu toda alegre, sábado, no bar Quitandinha. Conversou com fãs, sentou no colo de Bruno Lucide, 28, marido e empresário, mas dispensou bebida alcoólica: "Como eu já sou muito louca, estou tomando só tônica", avisou.

Fração
Alta fonte da equipe de transição do novo governo do Estado garante: Geraldo Alckmin quer desmembrar a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo.

Na frente
Ronaldo filmou, semana passada, um viral para Nike soltar na internet caso o Corinthians perdesse o Brasileirão. No filme, o craque fica 46 segundos em silêncio e, na sequência, surge a frase #maiorquetudoisso.

Para celebrar a conquista de quatro prêmios da International Properties Awards, o escritório Edo Rocha arma festa amanhã no Leopolldo Plaza.

A Schincariol apresenta a água gourmet FYS. Dia 14, no Jockey Club.

Silmara Rodrigues lança em sua loja Moleskine para grávidas, a Nove Meses. Hoje.

Nos Jardins do Éden, de Christian Cravo, e a mostra Parallel Nippon abrem hoje no Instituto Tomie Ohtake.

Carlos Teixeira autografa Entre, hoje, no terreiro concebido pelo arquiteto na Bienal de São Paulo.

Inezita Barroso, Mônica Salmaso e Paulo Freire apresentam-se no Festival Voa Viola, no Sesc Pinheiros. Quinta.

Suzana Villas Boas pilota festa em prol do projeto de revitalização do Cine Teatro Paraty. Amanhã, no Estúdio Emme.

Nova bebida virou febre entre os descolados de São Francisco, nos EUA. Trata-se de um chá que mistura aminoácidos, vitaminas C, complexo B e gotas de álcool. Chama-se...Kombucha.

MÍRIAM LEITÃO

Balanço Meirelles 
Miriam Leitão 

O Globo - 07/12/2010

Oito anos depois, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entra hoje na sua última reunião do Copom. Ele tem a comemorar o fato de que entrega o que foi encomendado: a inflação esteve na maioria do período dentro da faixa de flutuação da meta. Ao mesmo tempo, há incertezas sobre a política monetária, o BC entrou em contradição no último ano, e há riscos inflacionários e de bolhas.

Os economistas em geral fazem uma avaliação positiva do trabalho de Meirelles, a divergência é quanto ao último ano. Há quem considere que ele ficou dividido entre a política e o Banco Central por um bom tempo e que passou sinais contraditórios na comunicação.

O conjunto da obra é de um presidente do BC que enfrentou divisões internas no governo, oposição no partido do governo, críticas do ministro da Fazenda e, em alguns momentos, uma enorme solidão.

O Ministério da Fazenda depois do período de Antonio Palocci manteve uma política fiscal expansionista e o Banco Central ficou sozinho na tarefa de controlar a inflação.

O governo teve déficit nominal durante todo o período e abandonou a boa proposta do então ministro Antonio Palocci de buscar o déficit zero. Nem no ano de aumento forte de arrecadação de 2010 o déficit não será zerado. Ficará em torno de 2,5% do PIB e a presidente eleita acha que esse resultado é de se gabar, como disse na entrevista ao “Washington Post”.

José Márcio Camargo, da PUC-Rio, acha que Meirelles fez uma excelente gestão e foi a garantia da estabilidade nos últimos oito anos. Ao contrário da maioria dos economistas do mercado, ele acha que o BC vai subir os juros nesta última reunião, em meio ponto percentual.

Maurício Molan, do Banco Santander, disse que os juros deveriam subir, mas não vão subir, e chama de “ginástica retórica” o que o BC fez na última ata.

Arthur Carvalho, da Ativa Corretora, avalia que Meirelles tem também o mérito de ter acumulado reservas cambiais, o que foi fundamental na crise de 2008. Mas considera que no último ano ele demonstrou erro de avaliação e entregar a inflação em 5,78%, bem acima dos 4,5% do centro da meta, é sinal de que errou na sua aposta.

De fato, há uma dissonância entre o que o Banco Central disse nas últimas atas e no relatório de inflação e o que disse na sexta- feira. O BC dizia que o cenário inflacionário era benigno e que havia “aumentado a potência da política monetária.” Mas, na sexta, deu sinais de que está preocupado com o excesso da oferta de crédito e com os sinais de alta nos preços.

Mesmo assim, a maioria acha que uma alta dos juros ficará para mais adiante. Elson Telles, da Máxima Asset, acha que a Selic não vai subir em dezembro, mas que se pagará mais na frente o custo do atraso no ajuste. Acredita que os juros vão subir a partir de janeiro, em três reuniões seguidas, para 12,25%.

Felipe Salto, da Tendências consultoria, disse que o problema não é apenas o fato de o país ter tido déficit fiscal durante todos os anos do governo Lula, mas o fato de o gasto corrente ter se elevado tanto. Para se ter uma ideia, os últimos dados disponíveis do governo mostram que os gastos de pessoal, previdência e custeio da máquina ficaram em 15,4% do PIB, e o investimento ficou em 1,3%, em 12 meses. E, olha que esse foi o melhor número de investimento. Na média, não chegou a 1% ao ano.

O país investiu pouco, ampliou muito os gastos, e, para piorar, no final, o Ministério da Fazenda passou a adotar maquiagens fiscais e novos canais de expansão do gasto, como as transferências para o BNDES.

Ontem, o ministro Guido Mantega, em mais um momento de “neomanteguismo”, prometeu controlar os gastos. O novo discurso desafina tanto com seus atos que fica difícil acreditar. Todo mundo prefere esperar para ver, porque não parece ser o mesmo ministro que alega ter cumprido a meta de um superávit primário de 3%, quando, na verdade, no mercado há quem calcule em 1,7% e até em apenas 0,5%.

Ontem, Meirelles disse que agora é “só correr para o abraço.” Quando se pensa nas várias bolas divididas em que entrou para manter a inflação na meta não se pode negar que ele tem o que comemorar.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Tensão pré-barraco 
 Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 07/12/2010

É pesado o clima no DEM, que amanhã se reúne em Brasília na tentativa de resolver o impasse do "prazo de validade" de seu presidente. Os veteranos, Jorge Bornhausen à frente, oferecerão a Rodrigo Maia (RJ), cujo mandato havia sido prorrogado até o fim de 2011, algo entre três e seis meses para deixar o cargo, que seria então ocupado pelo senador José Agripino (RN).
Tal movimento poderia, em tese, abortar ou pelo menos adiar a ida de Gilberto Kassab (SP), aliado de Bornhausen, para o PMDB. A reação de Maia é incerta. Defensores da mudança disporiam de documento capaz de constranger a atual cúpula do partido.

Para entender Em longa conversa com um aliado na semana passada, Lula foi enfático ao defender a permanência de José Gomes Temporão no comando da Saúde. Quem conhece o presidente, no entanto, acha que isso pode ser apenas um artifício para afagar o ministro que se despede.

Assim não Peemedebistas fizeram chegar a Dilma Rousseff a ideia de vitaminar a Secretaria de Assuntos Estratégicos, oferecida pela presidente eleita a Moreira Franco (PMDB-RJ), com o controle sobre o saneamento do país. Ela não topou.

Segundo turno A ala mais "moderada" do PMDB aconselha o vice eleito, Michel Temer, a aceitar a fatia ministerial oferecida ao partido por Dilma, e assim sair da divisão do primeiro escalão como "credor" da petista.

Bate-volta Mangabeira Unger foi duas vezes ontem à Granja do Torto, mas só falou com Dilma numa delas. Ex-titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, disse ter errado o horário da reunião.

Presente! Lula comandará, na quinta, o balanço de quatro anos de PAC. É a primeira vez que ele aparecerá num evento do gênero - antes, procurava deixar os holofotes para sua candidata.

Bastão Chamou a atenção o protagonismo de Miriam Belchior, futura ministra do Planejamento, no evento que reuniu prefeitos e governadores ontem em Brasília. Coube a ela o papel de estimular municípios e Estados a cobrar verba do PAC-2, a despeito das previsões pessimistas de Guido Mantega (Fazenda) sobre o lastro para as obras em 2011.

É o mínimo Centrais sindicais de SP querem incluir no Orçamento a previsão de aumento do salário mínimo regional, hoje em R$ 580. Com a apoio do Dieese, começam a discutir amanhã o valor a ser reivindicado. A definição do novo piso, feita por lei específica, será o primeiro teste para o flerte de Geraldo Alckmin (PSDB) com o movimento sindical.

Mídia Autores de projetos que criam Conselhos de Comunicação em SP, os deputados estaduais Antonio Mentor (PT) e Edmir Chedid (DEM) fecharam acordo para construir um texto unificado no decorrer da tramitação.

Guerra fria O PSDB reúne deputados em exercício e eleitos na quinta em Brasília. O pano de fundo do encontro é a disputa velada entre paulistas e mineiros, que começa pela liderança da bancada. Duarte Nogueira, do grupo de Alckmin, se apresenta como candidato, ao lado de Bruno Araújo (PE). O bloco de Minas deseja colocar Paulo Abi-Ackel no páreo.

Visitas à Folha Marta Suplicy, senadora eleita pelo PT de São Paulo, visitou ontem a Folha.

Gilvam Borges, senador pelo PMDB do Amapá, visitou ontem a Folha.

tiroteio

"Parece que o presidente pediu a alguém que guarde o lugar para ele. Assim, é difícil imaginar que vá mesmo 'desencarnar'."

DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre entrevista na qual que o atual chefe de gabinete e futuro secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, deixa em aberto a possibilidade de Lula disputar a eleição de 2014.

contraponto

Decisão colegiada


Em recente visita à Câmara, o tucano Geraldo Alckmin tentou entregar à bancada paulista três emendas do governo do Estado ao Orçamento. Coordenador do grupo, Devanir Ribeiro (PT-SP) explicou ao governador eleito que infelizmente isso seria impossível:
-Antigamente eram três. Aí, num acordo de bancada, nós diminuímos para duas...
Para evitar mal entendidos, o petista acrescentou:
-Vamos lembrar aqui, para não me deixarem em má situação: todos nós decidimos que eram duas!

MÔNICA BERGAMO

CORO DOS DESAFINADOS 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/12/10

Destoando do "coro dos contentes" que engrossaram campanha para que Juca Ferreira permanecesse no Ministério da Cultura, o produtor Luiz Carlos Barreto, uma das principais lideranças do setor, diz que Ferreira fez "uma campanha eleitoral com excesso de pressão antiética em cima da presidente [Dilma Rousseff]". E afirma que diretores e produtores há muito reclamam da condução da pasta, que só se importaria com uma "cultura de salão".

EM OUTRO LUGAR
Barreto defende que "tudo o que diz respeito às indústrias culturais passe a fazer parte do Ministério da Indústria e do Comércio", e não mais do MinC. Ele afirma que não tem "nada pessoal" contra Juca. Mas diz que as políticas da pasta deveriam ser discutidas antes de nomes para ocupá-las. E afirma que "vários outros" teriam apoio do setor -entre eles, "o Samuel Pinheiro Guimarães", hoje na Secretaria de Assuntos Estratégicos.

OUTRO LADO
A coluna não conseguiu falar com Juca Ferreira até o fechamento da edição.

CONEXÃO ZONA LESTE
O Sesc Belenzinho foi inaugurado no sábado com a presença do governador Alberto Goldman (PSDB). Fernanda Takai fez show com sua banda Pato Fu e os atores Caco Ciocler e Gero Camilo apresentaram a peça "Aldeotas". O jornalista Salomão Schvartzman e sua mulher, Anna, cumprimentaram Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc.

MINNIE
Depois de Lally Weymouth, do "Washington Post", mais uma executiva da mídia americana fará entrevista com Dilma Rousseff. A presidente eleita receberá Arianna Huffington, criadora do site The Huffington Post, no dia 20.

MARINA LÁ
Marina Silva (PV-AC) já recebeu o convite do presidente Lula para a confraternização que ele quer realizar no dia 15 com todos os ministros dos oito anos de seu governo. Ainda não respondeu.

DESPEDIDA
Internado no hospital Sírio-Libanês ontem para um cateterismo, Ottoni Fernandes Jr., secretário-executivo da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), comunicou ao atual ministro, Franklin Martins, há alguns dias, que pretende deixar o cargo e a vida estressante que vinha levando. Ele era considerado nome certo para permanecer na equipe da sucessora de Franklin, a jornalista Helena Chagas.

DOSE DUPLA
Antes mesmo da decisão de Ronaldo de fazer DNA para ver se o garoto Alex, filho da brasileira Michele Umez, é seu filho, o Tribunal de Justiça de SP decidiu que ela deveria anular o documento em que registrou o garoto em nome do pai adotivo, com quem vive em Cingapura.
Só assim a ação de alimentos que ela move contra Ronaldo pode prosperar.

O SOM DE BRUNA
A trilha sonora de Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini, tem composições originais do grupo Instituto e canções estrangeiras como "Time of The Season", da banda The Zombies, e "Fake Plastic Trees", do Radiohead. O filme estreia em fevereiro.

MUDANÇA
A cantina Pasquale, em Pinheiros, vai se mudar em março do ano que vem. O imóvel que ela ocupa na rua Amália de Noronha, em Pinheiros, será demolido para a construção de um edifício. Os donos do restaurante já têm uma casa em vista na rua Girassol, na Vila Madalena.

OLHO NO LANCE
A rede social Kigol, especializada em futebol, vai fazer uma "pelada" entre jogadores do passado e do presente, na quinta.
Um time liderado pelo ex-corintiano Neto enfrentará uma equipe do atacante palmeirense Kléber. O narrador Silvio Luiz será o juiz.

POSE NA PISTA
A semana de moda Casa dos Criadores fez festa de encerramento no fim de semana, no clube Glória, na Bela Vista. A modelo Viviane Orth tocou ao lado do DJ Johnny Luxo.

CURTO-CIRCUITO

"Luz Líquida", primeiro livro do fotógrafo Guilherme Mallmann, será lançado hoje, às 18h30, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

A peça "A Gaiola das Loucas" terá sua última apresentação do ano no dia 19, no Teatro Bradesco. Retoma a temporada em 6 de janeiro. 12 anos.

Gilberto Salvador criou o troféu do Prêmio Governador do Estado, que acontece hoje no Palácio dos Bandeirantes.

José Padilha e Bráulio Mantovani, de "Tropa de Elite 2", participam de debate hoje, às 19h30, no lançamento da nova edição da revista "Dicta e Contradicta", na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Vilma Eid oferece jantar, hoje, em homenagem à abertura da mostra "Georg Baselitz", na Estação Pinacoteca.

O arquiteto Edo Rocha ganhou quatro prêmios no Property Awards, em Londres.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO

Timão! O Çentenada dus Mano!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/12/10

Em futebol é sempre assim: não importa o resultado da partida, o resultado é zoar com o Corinthians! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o conformado do ano: "Não vivo de títulos! Vivo de Corinthians!".ROUBRASILEIRÃO 2010!
Em futebol é assim: não importa o resultado da partida, o resultado é zoar com o Corinthians! O Centenada do Corinthians. O ÇENTENADA DUS MANO!
Mas o Corinthians ainda tem uma chance neste ano: São Silvestre! Como eles não conseguem correr, empurram o Ronaldo, que ele sai rolando. Rarará!
E quem disse que o Corinthians não ganhou nada? Ganhou sim: a Fórmula Truck, corrida de caminhão. Mas aí descobrem que o caminhão é roubado e o dono aparece e leva o título. Mas o troféu será entregue pela madrinha da competição, Sula Miranda, no Rancho da Pamonha da Via Anchieta!
E corre na internet o diário de um corintiano: "Anotassões para o Noço Sentenário. Copa São Paulo XX. Carnavau Paulista. Fomo robado mano. Paulistão. Santos filhos da puta. Neymar viado. Libertadores. Fu#%&deu! Dansa dos Famozos. Marcelinho inútiu! A Fasenda 3. Perdê pra Nanny Pipol é de matar, viu! Brasileiro. %$*@! Mundial. O importante não é ganhar titulo e sim ser, ah VSF!".
Agora é comemorar os cem quilos do Ronaldo! O Corinthians tinha um sonho, mas o Ronaldo comeu!
E o Ronalducho é assim: fica o jogo inteiro parado, aí dá aquela corridinha e faz GOL. GOLNALDO DO CORINTHIANS! Eu acho que ele treina pra correr três minutos.
E falar do peso do Ronaldo já está virando uma redondância! Mas tem o lado positivo: sobrou fogos para o Réveillon da Paulista!
E o Fluminense? Manchete do Sensacionalista: "Fluminense é campeão e provoca um temporal no Rio". Milagre é assim: toda que vez que acontece, chove!
E a Nair Bello do Twitter: "E essa bagunça nos aeroportos da Espanha? Quem é o brasileiro responsável?". Rarará!
E mais uma pra minha seção "Os Procurados": "Cavalheiro procura senhora livre, honesta, católica. Nesta casa se encontra um lindo altar para Nossa Senhora de Fátima, são Pedro com Jesus ao colo e são João Batista, onde poderá fazer suas orações. QUE NÃO SEJA GORDA!". Rarará!
A situação está ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CELSO MING

Rédeas curtas
Celso Ming 


O Estado de S.Paulo - 07/12/10
Palavras são palavras, a gente sabe disso. Mas, talvez, desta vez, elas sejam o começo de mais do que isso.
Na entrevista publicada domingo pelo Washington Post, a presidente eleita, Dilma Rousseff, disse coisas com certa densidade, que, ao menos no nível das intenções, ajudam a acreditar em que o Brasil tem conserto.
Dilma não deixou de surpreender quando fez uma profissão de fé sobre a importância do controle de preços e do equilíbrio das contas públicas.
Disse, por exemplo, que "a estabilidade é a maior conquista do País. Não é uma conquista de uma só administração; é uma conquista do Estado brasileiro; uma conquista do povo brasileiro". Essa é uma boa novidade na medida em que foi proferida por quem um dia sustentou que o Plano Real contrariava os interesses do povo brasileiro e por quem tanto discursou contra a "herança maldita".
De todo o modo, Dilma passou o recibo de ter entendido que o povo reconhece - e recompensa com seu voto - o dirigente político que sabe preservar o valor do salário contra a alta de preços.
Dilma disse mais. Admitiu que persiste um déficit público, de 2,2% do PIB. Sustentou que "não há como reduzir os juros enquanto não se tiver reduzido seu déficit fiscal". E voltou a prometer a derrubada das despesas públicas como precondição para o crescimento sustentado.
É uma conversa diferente da que se ouve de autoridades neste final de administração, que sustentam o oposto: afirmam que as finanças públicas estão equilibradas e que o superávit primário de 2010, de 3,1% do PIB, está assegurado.
O presidente Lula cometeu um erro grave que a administração Henrique Meirelles no Banco Central não teve a coragem de denunciar. Lula trabalhou as finanças públicas com notória duplicidade. Permitiu que seu governo expandisse exageradamente as despesas e deixou ao Banco Central a tarefa inglória de retomar o equilíbrio por meio de sua política de juros.
Em nenhum momento Meirelles chegou a denunciar que só lhe sobrou a opção de trabalhar com arrocho monetário porque a política fiscal não ajudou. Preferiu tomar a baixa qualidade da situação fiscal dos últimos dois anos como "dado da realidade", com que alimentava os modelos de computador do Banco Central, sem questioná-la publicamente e, talvez, não o fizesse nem mesmo dentro do governo.
No mais, não deixa de ser tranquilizador entender que a nova presidente assume o comando administrativo do País compromissada com a manutenção do atual tripé macroeconômico, sintetizado no equilíbrio fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. A promessa, que até agora não havia sido explicitada como foi nessa entrevista, vai ainda mais longe: convergência dos juros para níveis globais, racionalização do sistema tributário e aumento da poupança.
Algumas pessoas vão dizer que o desafio maior não será cumprir essas promessas; será conter os políticos, especialmente os da base governista, que repetem incansavelmente o mantra de São Francisco, aquele segundo o qual "é dando que se recebe".
É verdade. A administração Dilma Rousseff será testada em sua capacidade de conter a voracidade dos políticos. Mas a recíproca também é verdadeira. Sem consistente disciplina fiscal e sem condições de garantir a estabilidade dos preços, Dilma não terá condições de conter a ala fisiológica de sua sustentação política.
CONFIRA
Aí está a evolução das exportações de veículos nos últimos seis anos.
Recuperação
O crescimento deste ano (até novembro) é de fazer inveja: 58,1%. Isso significa que o recorde imediatamente anterior à crise (2007) pode ser ultrapassado em 2011.
Uma mãozinha, vai...
Embora tenham mostrado um desempenho excepcional em 2010, ano ainda de crise, a indústria de veículos se queixa de que as exportações não passam de 17,5% da produção e pede mais incentivos. 

EDITORIAL - O GLOBO

Equívocos de Lula nos impostos
EDITORIAL
O GLOBO - 07/12/10


O governo de Dilma Rousseff terá a questão tributária como um dos seus desafios. O Brasil tem hoje uma estrutura de impostos inadequada, que ainda onera investimentos e, no seu cálculo, embute o chamado efeito cascata (são contribuições que se acumulam ao longo da cadeia produtiva, como é o caso da Cofins). Além disso, no plano estadual, há uma diversidade de alíquotas e critérios entre as unidades da Federação que alimenta a guerra fiscal (cada estado tenta atrair, a seu modo, empresas de outras regiões) e abre brechas para sonegação, evasão etc.

O resultado final dessa estrutura é uma carga tributária crescente. A economia cresce, mas a arrecadação avança ainda mais rapidamente, de maneira que o montante de tributos recolhido aos cofres públicos não para de aumentar como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2009, devido à crise, esse índice sofreu uma queda como reflexo de isenções e reduções temporárias de tributos, mas a previsão é que para 2010 volte a se igualar ao recorde de 2008, chegando a 34,4% do PIB.

Promessas de redução dessa carga não foram cumpridas no governo Lula, e até entende-se por que: o presidente a considera justa (e até acredita que diminuiu, conforme declarou em entrevista a correspondentes estrangeiros, contrariando os fatos).

A justificativa do presidente Lula para a carga tributária elevada é que ela serve para suprir as necessidades da população. Trata-se de uma visão equivocada, que envolve velha discussão sobre o papel do estado na sociedade.

Se o estado provedor fosse a solução, o regime soviético não teria desabado. Evidentemente que, em um país como o Brasil, com problemas sociais graves, políticas públicas eficientes são importantes para se superar desequilíbrios, mas uma carga tributária crescente estimula o desperdício e a ineficiência, pois o Estado não se move tendo como mote "fazer mais com menos".

Para manter uma das cargas tributárias mais altas entre os países emergentes, o Brasil cobra, em vários casos, impostos que encarecem a produção. Essa perda de competitividade comprime salários e empurra uma parte da economia para a informalidade.

Assim, parte dos benefícios que o estado supõe estar distribuindo para os mais necessitados na verdade é anulada por esse encarecimento.

O próximo governo não pode insistir em tal armadilha. Com a economia brasileira crescendo, em média, 5% ao ano, o setor público terá fôlego para ajustar seus gastos sem grandes sacrifícios. E, assim, o governo federal poderá negociar mais facilmente com o Congresso e os governos uma estrutura mais leve e simplificada de impostos.

É a arrancada final para se avançar na formalização, ampliando--se, assim, a base de contribuintes. Nessa questão tributária sempre há o dilema do que vem primeiro, se o ovo ou a galinha. Mas não há dúvida que, quanto mais pessoas pagarem os tributos, mais baixo pode ser o valor médio dos impostos cobrados.

DORA KRAMER

Segurança do público
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 07/12/10

O futuro ministro da Justi­­­ça, José Eduardo Martins Cardozo, não é das pessoas mais organizadas do mundo. Mas é inteligente, bem-intencionado, preparado, articulado e independente – até onde lhe seja possível na condição de militante partidário. Cardozo é secretário-geral do PT.

Não é santo da devoção de muita gente no partido (por exemplo, do presidente Luiz Inácio da Silva e da senadora eleita Marta Suplicy) por causa de suas tentativas internas de depuração, tomou posição a favor da Lei da Ficha Limpa quando o PT e o PMDB trabalhavam contra, tem ótimo trânsito na oposição e decidiu abandonar a vida parlamentar quando lhe pareceu impossível conviver com a atual sistemática das disputas.

A deformação, afirmou ao anunciar a decisão em maio deste ano, é a supremacia das “estruturas financeiras” que os candidatos proporcionais sejam capazes de distribuir sobre as ideias ou mesmo a atuação de cada um.

Exatamente pelos atributos de que dispõe, Cardozo não fez uma exposição de suas prioridades à frente do Ministério da Justiça à altura do desafio que se impõe no campo da Segurança Pública.

Disse o óbvio. O mesmo que os an­­­tecessores. Propôs “uma reunião de governadores e secretários de segurança”, falou em vigilância de fronteiras, pregou a melhoria dos setores de inteligência, falou em estabelecer “diretrizes” e, mais uma vez, pontuou a necessidade de integração apesar de a segurança pública ser “atribuição dos estados”. Em favor do futuro ministro registre-se que foram apenas suas primeiras palavras, há tempo de sobra para mostrar serviço de qualidade. Mas a primeira impressão não foi animadora.

Desanima a citação à prerrogativa constitucional dos estados e não uma atitude em favor de a União tomar a questão para si por entendimento de que bandidos dominando territórios é problema de segurança nacional e ameaça ao estado de Direito.

Ações como as citadas pelo ministro indicado até então foram não soluções repetidas vezes apresentadas nos últimos 16 anos pelos governos Fernando Henrique e Lula que deixaram o Estado inerte ao avanço do crime com base na concepção de que o combate é missão regional e que cabe à União “coordenar diretrizes”.

A ordem saída do Presídio de Catanduvas, no Paraná, para os ataques terroristas do tráfico no Rio, mostra que o crime não leva em conta fronteiras estaduais. Bem como não respeita a Cons­­­tituição, muito menos será combatido a golpes de reuniões.

Alvíssaras

A entrevista que deu ao Washing­­­ton Post rechaçando a abstenção do Brasil à resolução da ONU de condenação ao Irã por violações aos direitos humanos é a terceira manifestação pública de Dilma Rousseff após as eleições. Em todas elas deu pelo menos uma razão para se pensar que é mui­­­to melhor quando demonstra independência em relação ao antecessor.

Autoexplicativo

O relator do orçamento da União no Parlamento, senador Gim Argello, é o personagem principal da reportagem de Leandro Colon, publicada na edição de domingo do Estado, sobre desvio de verbas federais liberadas por meio de emendas parlamentares e repassadas a entidades fantasmas.

Surpreendente nisso é Gim Argello ter sido escolhido relator do Orçamento: ele chegou ao Senado como suplente de Joaquim Roriz, que renunciou ao ser envolvido na Operação Aquarela da Polícia Federal, que, entre outras malfeitorias, descobriu um empréstimo (R$ 2,2 milhões) não declarado à Receita.

Argello foi investigado na mesma operação como intermediário da transação e suspeito de outras irregularidades – entre elas a com­­­­­pra de sentença judicial – no governo Roriz em Brasília, durante o qual foi secretário do Trabalho e presidente da Câmara Distrital.

Logo após a renúncia de Roriz chegou-se a falar em impedimento de Gim Argello, mas o Senado fez um pacto não escrito de silêncio e ele tomou posse sem ser importunado.

ARNALDO JABOR

A volta de um sentimento antigo: patriotismo
Arnaldo Jabor 


O Estado de S.Paulo - 07/12/10
Eu sou segundo-tenente de Cavalaria da Reserva do Exército. Melhor dizendo, fui rebaixado, depois, para terceiro-sargento, por não ter feito o curso de aperfeiçoamento. Mas, sou, sim, um orgulhoso cavalariano da turma de 62, número 2611, apesar de quase ter sido expulso por minhas atividades estudantis, quando eu era o editor do jornal O Metropolitano, de notória tendência marxista-leninista, semanário que era lido com avidez pelos órgãos de repressão do Exército e onde só fui mantido graças à ajuda de um camarada-sargento do Partidão, da administração do quartel, que me avisou: "Olha aí... tu vai ser desligado."
Corri para meu pai, que veio em meu socorro. Meu pai era brigadeiro da Aeronáutica e entrou no quartel todo fardado - suas dragonas douradas brilhavam - e foi falar com o comandante do CPOR, entre continências respeitosas e sob meu olhar encantado com aquele apoio paterno sobre uma questão militar em que eu era pivô - eu, um reles comuna, sim, que sonhava em derrubar o imperialismo e seus aliados.
Não fui expulso e, hoje, confesso que não foi a única vez que tive orgulho do Exército.
O meu cavalo se chamava Himalaia, quando desfilei numa remota parada do 7 de Setembro. Passávamos vaselina no corpo do animal para que ele brilhasse ao sol da avenida, ajaezado com arreios de luxo, fazíamos uma trança em sua crina e, com os freios luzindo como ouro, desfilávamos com uma lança onde tremulava uma flâmula colorida, ao som de uma banda marcial. Dentro de culotes, botas e esporas, eu, o comuna montado, o bolchevique de cabelo zero, tremia de emoção patriótica.
Claro que não foram apenas dias de fulgor. O serviço militar era um inferno também. Quantas noites brancas, limpando bosta de cavalo, correndo por São Cristóvão às 3 horas da manhã, para pegar uma égua fugitiva que os "canalhas" da Artilharia soltavam para nosso desespero; daí termos inventado a doce melodia: "Quem quiser comer alguém/ seja noite ou seja dia/ dê um pulo na Artilharia."
Quanto horror da lama nas batalhas de Gericinó, do medo pavoroso de desmontar um morteiro de 81 mm que não explodira, quanto pânico quando os tenentes nos faziam pular obstáculos na Quinta da Boa Vista. Poucos conhecem o martírio de calçar os cavalos com ferraduras em brasa, sob os coices alucinados dos ditos corcéis e sob as vaias dos infantes e artilheiros empoleirados na cerca, nos sacaneando e nos chamando de "estrume".
Tudo isso criava um casco em minha alma frágil, que lia Rimbaud no vestiário e que uma vez, para pasmo do major, trouxe uma contribuição literária para a revista do Exército - uma poesia "trans-sintática" sobre O Cavalo - poema infelizmente nunca publicado pelos oficiais insensíveis e hoje perdido para a literatura e que (ainda lembro) falava em "o cavalo e sua quilha/ vogando entre lanças/ num campo de Ucello", recitado com ardor para o major, que certamente me achou meio "viado" (com i, por favor).
Depois, em 64, vi a UNE pegar fogo, comigo dentro. Depois, foi o horror da repressão, todo aquele baixo-astral: os "anos do milagre" da ditadura.
Mas, já naqueles anos eu também via certos detalhes da vida militar que me dão ainda hoje um travo de poesia brasileira. No fim do expediente, os oficiais garbosos de uniforme na caserna vestiam suas pobres roupas paisanas e iam para casa de bonde, visivelmente sozinhos e pobres em busca de suas famílias; ali, na tristeza daqueles dias militares, havia uns momentos de beleza rude. Havia as cornetas soando nas madrugadas cinzas, havia uma certa pureza medieval nos caibros das cocheiras, na cal das árvores pintadas, na comida brasileira das cantinas, no tosco desejo de ordem e progresso, num comovente patriotismo xucro. Havia uma solidão sacrificada nos milicos, nos soldos rasos, no orgulho dos uniformes, uma coisa positivista cambaia que eu via nas fileiras, como batalhões de "Policarpos Quaresmas".
Nas frestas do cotidiano, estava a missão militar despercebida. Naqueles hinos militares, que falavam em "pátria adorada", havia um projeto de Brasil até meio ridículo, mas puro. Nos bivaques e acampamentos, no texto parnasiano das ordens do dia, sentíamos uma rala e ingênua ideologia nacional, um tosco desejo de construir um país, tão estuprado pelos que realmente deitaram e rolaram no milagre brasileiro, transformando o Estado neste bordel de hoje. Hoje, já aprendemos; sabemos das táticas e técnicas dos corruptos e reacionários reais, pois a dolorosa contemplação dos escândalos que nos foram servidos pela democracia já faz parte da cultura política. Quando eu servia o Exército, tinha a sensação do desperdício de toda aquela organização verde-oliva numa luta abstrata contra os pobres guerrilheiros do absurdo. Eu pensava: hoje, os inimigos são a fome, a miséria endêmica; como esta imensa força de brasileiros de classe média poderia ser útil para "salvar" o Brasil.
E mais: os militares que conheci ultimamente ainda sofrem do preconceito que sobrou contra eles depois da ditadura. Ela foi terrível, sim, mas um general de hoje tinha cerca de 10 anos em 1964 e o Exército mudou muito. Claro que há contradições e atrasos, mas lá no Forte Apache, em Brasília, onde participei de um seminário, só vi homens bem informados, trabalhando em fronteiras e florestas e, mais importante que tudo, homens com um sentimento antigo, mas muito necessário hoje em dia - patriotismo.
Nesses anos de caserna, tive dois momentos de orgulho: um, quando meu pai entrou com as dragonas brilhando para me salvar; outra, quando meu coração bateu na Av. Presidente Vargas no 7 de Setembro, em cima do meu pangaré Himalaia.
Agora, houve a terceira onda de orgulho.
Na semana passada, vendo os militares treinados no Morro do Alemão, os paraquedistas treinados no Haiti, os tanques da Marinha, os helicópteros da FAB, pareceu-me estar ouvindo a banda tocar a Arma de Heróis em l962. 

VINICIUS TORRES FREIRE

Baixar impostos ou baixar juros?
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/12/10

Ministro volta a falar em redução de tributos, mas prioridade deveria ser baixar deficit e taxa de juro


O MINISTRO da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a "redução de tributos vai continuar". Alguém perguntará como pode continuar algo que não começou, mas o fato é que houve redução de alíquotas para alguns setores da economia (e aumentos para outras, resultado de decisões judiciais sobre contribuições inventadas faz anos).
Sim, a carga tributária, a receita de impostos como parcela do PIB, subiu nos anos Lula, rateando apenas em 2009. A receita crescia rápido porque houve mais consumo das famílias, que pagam muito imposto, e porque houve mais formalização do emprego, de empresas e mais linha dura na Receita. Isto posto, qual o sentido de dizer que os impostos vão continuar a cair? Não muito.
Talvez como alívio para um ou outro setor produtivo no bico do corvo, não parece viável baixar impostos nos próximos anos (nos próximos dois? Três?). O governo diz ter (ou deveria ter) um plano de redução de deficit e dívida públicos, plano que prevê equilíbrio fiscal e dívida pública em 30% do PIB em 2014. Ao mesmo tempo, promete controlar a inflação, que vai ser chata em 2011; por ora, se dá como certo que a Selic sobe ao menos 1,5 ponto percentual, para 12,25% ao final de 2011. Reduzir a dívida em tempo de aumento da despesa com juros não combina com redução de impostos.
Além do mais, redução de impostos é, em tese, um estímulo adicional à atividade econômica, incentivo fora de propósito neste momento em que a utilização da capacidade produtiva já está em nível alto e ainda cresce, em que o desemprego não para de cair e que salários e consumo crescem além do PIB.
Para complicar, o Congresso está desorganizado, sem lideranças sensatas tanto no governo como na oposição, disposto a aprovar uma sangria de gastos. O governo por ora mal sabe como vai arranjar as contas de 2011 e, ao mesmo tempo, se acertar com o novo Parlamento.
Além do mais, vários economistas sensatos estimam que a receita federal de impostos não deve crescer no mesmo ritmo do segundo governo Lula, quando o aumento da arrecadação chegou a correr ao dobro da velocidade de crescimento do PIB. Há menos negócios e empregos a formalizar, e o que sobra na informalidade é mais difícil de legalizar. Há menos empresas para a Receita apertar com fiscalização mais rígida. Isso não é ciência, claro, mas é improvável que a arrecadação corra indefinidamente muito à frente da economia. Enfim, a economia deve crescer menos em 2011.
Reduzir deficit e dívida é essencial para levar as taxas de juros para algum degrau decente. Pode-se argumentar que a carga de impostos é um problema igualmente sério, desarranjo que ajuda a matar empresas brasileiras, com a contribuição adicional de infraestrutura ruim e de câmbio prejudicial (real forte).
Decidir entre baixar juros ou baixar impostos é ficar entre a cruz e a caldeirinha, decerto. Mas juros altos e o modo ainda lunático de financiamento da dívida pública brasileiros são aberrações "estruturais". Custam caro e, além do mais, dificultam a criação de um mercado de crédito e de capitais decente no país. Como diz o pessoal da moda, faz tempo que "a taxa de juros" é a "nova inflação" nas passarelas das esquisitices brasileiras deletérias. Baixar imposto, com a casa em ordem, é coisa mais simples. Primeiro, os juros.

BENJAMIN STEINBRUCH

O risco da mão pesada
BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/12/10

Corte de gasto do governo, alta de juros... segurar a economia é fácil, difícil será reanimá-la depois


O CORO das vozes da ortodoxia canta alto nestes dias entre a eleição e a posse do novo governo. Vibra com os anúncios de que vem aí um forte ajuste fiscal, com cortes profundos nos gastos públicos. Vibra também com a proximidade de uma nova rodada de aumentos dos juros internos, uns prevendo a primeira etapa dessa elevação já na reunião de amanhã do Copom e outros esperando isso para janeiro. E ainda aplaude o aperto no crédito anunciado pelo Banco Central.
Ninguém pode, em sã consciência, ser contra austeridade fiscal ou combate à inflação, recomendáveis em qualquer situação e em qualquer país. São corretos, portanto, os alertas sobre o aumento dos gastos públicos correntes no ano eleitoral. Dados do Banco Central comprovam a deterioração das contas públicas.
Mesmo com manobras contábeis que somaram R$ 35 bilhões -entre essas, principalmente, o reforço de R$ 32 bilhões decorrente da capitalização da Petrobras-, o superavit primário ficou abaixo da meta no período de janeiro a outubro.
Apesar da importância do esforço para buscar o equilíbrio das contas públicas, o tom alarmista na abordagem desse tema é inadequado e exagerado. O país precisa de mais austeridade e de firmeza no combate à inflação, mas não está à beira do abismo nessa matéria.
O Brasil está saindo de um período em que foi preciso elevar o gasto público para injetar adrenalina numa economia deprimida por fatores externos. Como a crise atingiu a todos, é relevante comparar nossa situação com a de outros países.
O deficit público nominal, aquele que inclui também os gastos com juros da dívida pública, está em torno de 2,5% do PIB nos 12 meses findos em outubro, ou R$ 87,8 bilhões.
Expurgando-se todas as maracutaias contábeis, esse deficit ficaria ainda em torno de 3,5% do PIB, um pouco abaixo do nível da saudável Alemanha e muito aquém do observado em outras poderosas nações desenvolvidas (10,1% no Reino Unido, 9,0% nos Estados Unidos, 7,5% no Japão, 7,8% na França, 9,7% na Espanha e 37% na Irlanda). Em toda a zona do euro, o deficit nominal médio alcança 6,5% do PIB.
Não é correto, portanto, examinar a situação difícil das contas públicas sem colocá-la no contexto da conjuntura mundial, que mostra esses deficit espetaculares nas grandes nações industrializadas.
Além disso, é necessário considerar um segundo aspecto: o deficit nominal brasileiro decorre em grande parte de uma equivocada política de juros internos. Só três países -Venezuela, Argentina e Paquistão- praticam hoje taxa de juros mais alta que a brasileira. Nossa Selic de 10,75% tem um enorme impacto nas contas públicas. Nos últimos 12 meses, os juros nominais pagos para o carregamento da dívida pública de R$ 1,5 trilhão alcançaram R$ 187 bilhões, ou 5,37% do PIB.
Uma redução de dois pontos percentuais na taxa básica de juros poderia representar economia de uns R$ 30 bilhões -quase 1% do PIB- para os cofres públicos.
Preocupa o dominante olhar conservador lançado sobre essas questões. Nenhum destaque e nenhuma ênfase têm sido dados ao volume astronômico de gasto público decorrente da taxa de juros desajustada, que se pretende elevar ainda mais. Se a dívida exibe uma fatura de juros de R$ 187 bilhões em 12 meses, haja esforço fiscal para pagá-la.
Para resumir, diria que a situação difícil das contas públicas exige austeridade e a inflação precisa de cuidado, mas esses problemas não são dramáticos. Além disso, no médio prazo, a redução da taxa de juros básica para níveis civilizados é necessária e possível. Se essas ressalvas não forem levadas em conta, há o risco de que, ao usar uma mão pesada demais, o novo governo acabe por abortar o crescimento que, pela primeira vez em décadas, parece ter tomado um ritmo sustentado, a despeito da crise internacional.
Vários sinais indicam que estão em curso medidas para puxar a economia para baixo: corte de gastos do governo, inclusive de investimentos, aumento de juros, aumento de impostos e restrições ao crédito. Segurar a economia é fácil. Difícil será reanimá-la depois.
BENJAMIN STEINBRUCH, 57, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp

ILAN GOLDFAJN

O BC dos últimos oito anos
Ilan Goldfajn 


O Estado de S.Paulo - 07/12/10
Foi um fim de semana de nostalgia. No sábado, um reencontro com amigos da escola, no domingo, aniversário da filha. Entre comemoração e música, muitas fotos no telão. Foi um mergulho emocionante no passado. Costumo concentrar-me no presente e pensar no futuro. Mas olhar o passado dá a perspectiva do caminho traçado. No Banco Central (BC), também é o momento de olhar o ocorrido. Hoje é a última reunião do Copom sob o comando de Henrique Meirelles. Foram oito anos. O saldo é altamente positivo. O que foi conquistado e no que ainda falta avançar?
Muito se avançou nos últimos oito anos. É claro que as conquistas na política monetária não começaram nem terminam (acredito) na gestão de Meirelles. A hiperinflação foi vencida com o Plano Real, de 1994, o Copom foi criado em 1996, o regime de metas de inflação e boa parte do arcabouço atual foram criações da gestão de Armínio Fraga. Essas conquistas transcenderam sua época e tornaram-se permanentes, como parte da institucionalização do BC. Mas o saldo dos últimos oito anos é elevado.
Em primeiro lugar, o BC, sob a gestão de Meirelles, cumpriu as metas de inflação estabelecidas pelo governo. Não é pouco. Não faltaram recomendações para que se desviasse do seu objetivo em razão de dificuldades momentâneas. Após a crise eleitoral de 2002, que contaminou 2003, a inflação foi de 7,6%, 5,69%, 3,14%, 4,46%, 5,9% e 4,31% em 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009, respectivamente. Este ano deve fechar entre 5,5% e 6%. Atingir as metas nos trópicos não é algo trivial. Muitas vezes os choques (de oferta) são de magnitude tal que atingi-las no curto prazo se torna inviável. Em outras áreas do governo, às vezes a meta principal é abandonada em função de outros objetivos. Um exemplo é a meta de superávit primário este ano, que não deverá ser alcançada plenamente (sem deduções), mesmo com forte crescimento na arrecadação e a incorporação de ganhos apenas contábeis na capitalização da Petrobrás.
Atingir seguidamente as metas de inflação proporcionou benefícios palpáveis ao País. Houve imediatamente queda no risco País, resultante da maior estabilidade. O risco medido pelo CDS 5 anos (preço do instrumento que protege o comprador de calote) caiu para apenas 105,9 pontos-base (3/12). Os juros reais na economia (juros nominais descontada a inflação) diminuíram para 5,6%, ainda altos, mas bem menores que os 15%-20% do passado.
Com menores inflação, risco e juros reais, os horizontes alongaram-se. Uma economia estabilizada induz todos a olharem o futuro com mais segurança. Os projetos de investimento tornaram-se mais promissores. Investimentos longos, em particular, começaram a ser viáveis. Há, hoje, um desejo por parte dos empresários de ampliar a capacidade produtiva no Brasil, tanto para o mercado doméstico quanto para o internacional.
Os horizontes alongaram-se também para financiadores e consumidores. O crédito tornou-se mais abundante, hoje atingindo 47% do produto interno bruto (PIB), ante 26% do PIB em 2002. Com isso o consumo de quem não tinha possibilidade de adquirir alguns bens passou a ser viável, trazendo milhões de pessoas ao mercado consumidor. O financiamento mais longo tornou-se menos arriscado, viabilizando o desejo maior de consumo de bens duráveis e investimento.
Esses alongamentos de prazo têm consequências reais para a economia. O crescimento da economia acelerou-se, em parte, em razão da situação internacional favorável ao Brasil, mas também dos ganhos da estabilidade. A média de crescimento de 2004-2009 foi de 4%.
Com a inflação atingindo sistematicamente a meta estabelecida, foi também possível redistribuir renda. Mais importante que os ganhos com as transferências do Bolsa-Família, uma boa parte da redistribuição de renda ocorreu pelos ganhos expressivos na renda do trabalho dos mais pobres. Entre 2001 e 2008, os 10% mais pobres tiveram um ganho acumulado de 69%, enquanto os 10% mais ricos acumularam ganhos de 13%. Essa redistribuição ocorre quando os mais pobres não têm seu poder de compra corroído pela inflação (os pobres perdem proporcionalmente mais que os ricos com a inflação).
Apesar do cenário internacional favorável, principalmente por causa do crescimento asiático, que beneficia o Brasil, o BC teve de lidar com crises tanto externas quanto internas. Após a quebra do Lehman Brothers, no auge da crise financeira internacional, as linhas de crédito escassearam e o BC adotou medidas de liquidez para aliviar o problema. Algumas dessas medidas são hoje recomendadas pelos diversos bancos centrais no mundo para lidar com crises. Mais recentemente, no âmbito interno o BC teve de lidar com problemas no Banco Panamericano e ofereceu uma solução de alta competência.
Mas muito ainda resta a fazer no âmbito do BC e do governo. É preciso criar as condições para os juros reais continuarem a cair. É a forma mais direta de incentivar o alongamento dos depósitos e munir a economia com o financiamento de longo prazo adequado às necessidades de investimento, que se avolumam. Para isso é necessário mudar a combinação de políticas econômicas atuais: uma política fiscal menos expansionista (crescimento de gastos menor), dando espaço para a política monetária atuar com juros menores ao longo do tempo. É também necessário tentar, apesar das resistências políticas atuais, estabelecer a autonomia operacional de jure do BC - que já se tem de facto -, norma no resto do mundo, e nas outras agências reguladoras do País. Isso reduziria as incertezas e o custo para a economia nos momentos de transição.
Em suma, muito se conquistou nos últimos oito anos na política monetária. Para a frente há que novamente consolidar os ganhos anteriores e avançar. A nova gestão do Banco Central tem tudo para continuar nessa trilha bem-sucedida. Boa sorte a Alexandre Tombini nesta nova empreitada, muito obrigado a Henrique Meirelles pelo que deixou.
ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO 

ANCELMO GÓIS

PÃO DE LÓ
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 07/12/10
 
Uma parceira da coluna ficou impressionada com a maneira como o brasileiro é tratado, a pão de ló, nos bancos na Suíça. No UBS, são atendidos por funcionários que falam português fluente. Muitos já moraram no Brasil.

‘SINE QUA’ DE NOVO 
Ontem, numa solenidade no Palácio do Planalto, Lula disse que “saber fazer um projeto é condição sine qua non para conseguir verbas”. Ato seguinte, parou, olhou para Luiz Paulo Barreto e tascou: “Gostou do sine qua non?” O ministro gostou. Quem não deve ter apreciado é o moço do cafezinho, que já ouviu Lula fazer esta piada várias vezes.

POUSO FORÇADO 
O Sindicato Nacional dos Aeroviários planejava ontem parar o Aeroporto de Congonhas hoje a partir das 4 horas da manhã. A conferir.

COTAÇÃO 
Na corrida para presidir o Banco do Brasil, quem parece largar na frente é o vice Alexandre Abreu. A conferir.

TELINHA 
Amigos do senador Hélio Costa, que ganhou fama como repórter, contam que ele recebeu um convite da TV Record.

BOLSA DITADURA 
O Ministério da Justiça aprovou indenização de R$ 100 mil para o ex-governador capixaba Vítor Buaiz, preso pela ditadura em 1972.

CENSURA NUNCA MAIS 
Sábado, em Recife, Fafá de Belém, antes de cantar Tanto mar, de Chico Buarque, que celebrou o fim da ditadura em Portugal, atacou as tentativas de volta da censura ao Brasil. A turnê marca os 35 anos de carreira de Fafá.

ÚLTIMO CAPÍTULO 
Lula gostaria de resolver, até dia 16, quando verá Chávez na reunião do Mercosul, a novela sobre a participação ou não da PDVSA no projeto da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Na Petrobras, o sentimento é o de que a Venezuela está fora.

ABREU E LIMA... 
Como a Petrobras já toca a obra sozinha, nada muda se a PDVSA bater em retirada. Até o nome Abreu e Lima, sugerido por Chávez para homenagear o general pernambucano que lutou pela independência da Venezuela, tende a continuar.

COLEGUINHA 
O ex-deputado José Gomes Talarico, que morreu ontem, aos 95 anos, estava na primeira lista de cassações do golpe de 1964. Naquele ano, fundou e dirigiu a Comissão de Liberdade de Imprensa da ABI, principal canal de denúncias de violências contra jornalistas na ditadura.

DEUS CASTIGA 
A Igreja Universal foi condenada pela 44 Vara Cível do TJ do Rio a pagar R$ 100 mil ao juiz João Batista Damasceno. Em 2006, ele foi agredido por seguranças da catedral de Del Castilho ao tentar soltar um sobrinho, mantido em cárcere privado.

SONHANDO ALTO 
A Traffic, de J. Havilla, assinou contrato para cuidar do marketing do Fluminense. Uma das tarefas é ajudar a viabilizar a construção de um estádio para o clube ou, quem sabe, assumir o Maracanã.

SOU TRICOLOR 
Tricolor roxo, o padre Josafá, reitor da PUC, encerrou a missa de 20h30m de domingo com o hino do Fluminense. Não é fofo?