sábado, dezembro 04, 2010

EDITORIAL - O GLOBO

Maus costumes na montagem do ministério 

Editorial

O GLOBO - 04/12/10
Lula e o PT marcharam para três derrotas consecutivas em eleições presidenciais refratários a alianças mais amplas. Aprenderam a lição e, em 2002, ganharam a primeira, com José Alencar, um empresário mineiro nada revolucionário, como vice-presidente. No entanto, o avanço — a abertura a outras forças políticas e ideológicas — não se deu assentado na formulação de um projeto comum, com objetivos e programas bem discutidos e definidos.
Esta constatação ficaria evidenciada, em toda a sua dimensão, quando veio à luz a arquitetura do esquema do mensalão, engendrada na cúpula do PT e na Casa Civil daquele início de primeiro mandato, com José Dirceu no comando.
A unidade da bancada parlamentar governista estava sendo cimentada à base de pagamentos com dinheiro sujo bombeado de empresas estatais.
À medida que transcorria o governo ficava também evidente que Lula fizera mais do que um loteamento de cargos do primeiro escalão. Permitiu a criação de capitanias hereditárias, como no Incra/Ministério do Desenvolvimento Agrário, área doada aos chamados movimentos sociais.
No final, tudo deu certo para o presidente, pela clarividência dele em manter pilares da política econômica da Era FH e pela sorte de conviver com um histórico ciclo de crescimento mundial.
Pois esta preocupação exclusiva com a conquista de espaços na máquina pública, em meio a uma grande barganha em que a cessão de cargos deve corresponder a determinado número de votos no Congresso, volta a se repetir.
E no toma lá dá cá destaca-se o choque entre a gula do PMDB, já bem situado na Brasília de Dilma Rousseff com o cargo de vice, e a resistência do PT a ceder espaço ao aliado preferencial.
Os demais partidos da aliança vencedora transitam em torno desse leilão atrás de sobras. Como das vezes anteriores, nenhuma negociação em torno de um projeto estratégico para o país.
Assim, a presidente eleita procura se garantir com pessoas de confiança em cargos-chave ---- a chamada “cota pessoal” ----, e fica o resto para ser decidido no pano verde deste jogo. Assim, haverá um governo da cota pessoal, outro do PMDB, outro do PT, dos chamados movimentos sociais, e assim por diante.
Este é um método eficaz de tornar a máquina pública mais ineficiente do que já é. E custosa, pela maior permissividade com a corrupção, inerente ao modelo fisiológico de montagem de governo. Há fartas provas destas distorções na Era Lula. Os Correios são uma das mais reluzentes delas. Estatal considerada exemplar durante muito tempo, foi virada pelo avesso: passou a ser símbolo de corrupção, e a qualidade de seus serviços desabou. Consta que Dilma quer revitalizar a empresa. Prestará um serviço ao país.
O setor elétrico é outro exemplo. Nele, há o PMDB — e dentro do partido, o grupo de Sarney — e o PT. Resultado: o PT da Eletrobrás não se entende com o PMDB de Furnas, e há pelo menos uma concorrência para construção de hidrelétrica atrasada devido à briga.
É óbvio que os partidos vitoriosos na eleição devem estar representados em cargos executivos. Mas o preenchimento de vagas na máquina administrativa não pode apenas obedecer a critérios políticos e ideológicos.

RUTH DE AQUINO

Os mocinhos, os vilões e as mães 
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Nada como uma semana de guerra para cair na real. Quando a realidade envolve armas, drogas e fortunas, pisamos em terreno movediço. Por que uma minoria podre de policiais bandidos quebra casas de moradores e rouba suas economias? Por que traficantes teriam fugido até em viaturas da polícia? Por que o Exército não quer deixar seus militares no Rio, sob a alegação de temer corrupção? Num conflito dessa proporção, os comandantes precisam monitorar com mão forte a fronteira entre a virtude e o vício, a ordem e o abuso.
O Rio de Janeiro se orgulha, sim, da invasão da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão. A pesquisa do Ibope só confirma o que vemos a olho nu nas ruas: 88% da população confia nas últimas ações do governo, 82% confiam na polícia, mas muitos não se sentem seguros. E é natural. Não dá para se sentir seguro se, dos 600 traficantes que estariam nas favelas invadidas, só 124 tinham sido presos até a sexta-feira. Já há notícia de assaltos a casas com reféns em outras áreas, perto da maior favela do Rio, a Rocinha. Se houve um golpe de R$ 100 milhões nas finanças do Comando Vermelho, se foram tirados, dos traficantes foragidos, suas casas, sacos de dinheiro, fuzis, bazucas, toneladas de drogas, o que mesmo eles vão fazer durante o verão?
“Eles vão partir para outros crimes”, disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em longa conversa. “Mas temos de proteger o ‘Chico’ e o ‘Francisco’.” Era uma referência ao pobre e ao rico. Ao visitar o Alemão na quarta-feira, Beltrame foi abordado por uma senhora que contou como sua casa foi arrombada, revirada e roubada por policiais. “Eu me comprometi com ela. Vou atrás dos culpados. Temos de ressarcir danos e prejuízos. Minha vontade é encontrar os culpados e expulsá-los de forma exemplar, diante da tropa formada”, afirmou Beltrame, com raiva na voz.
Aumentar os salários dos policiais resolve, já que são tão mal pagos? “Ajuda, mas não resolve. É preciso levar em conta toda uma história de caráter, criação, caldo cultural”, diz Beltrame. E dá um exemplo: o Rio Grande do Sul tem o segundo pior salário de policiais no Brasil, e a corrupção lá é muito menor que em outros Estados. No Rio, diz Beltrame, “não posso trazer policiais de Marte nem de Santa Catarina”. Policiais do Rio devem ganhar agora 100% de aumento, mas isso ainda é considerado pouco.
Vamos discutir como reintegrar à sociedade aprendizes do tráfico, em vez de jogá-los em cadeias que são faculdades do crime
Se salário alto bastasse para acabar com a corrupção, não haveria políticos e empresários ladrões. “Tem gente que se especializa em Direito Tributário em Harvard e manda para as Ilhas não Sei o Quê um dinheiro que daria para fazer todas as UPPs do Rio”, diz Beltrame.
Quando o Rio aderiu em massa à ação conjunta das Forças Armadas, Bope, Core, PM e Polícia Civil, houve quem classificasse o apoio de ingênuo. Ninguém de bom-senso acha que, entre as forças da ordem, só existam mocinhos. Mas, felizmente, acabou a visão romântica de que traficante armado é vítima. Ficou claro como a população das favelas está subjugada a tribunais sumários, ao silêncio do medo e a um regime de terror.
“O cerco no Alemão teve problema? Teve”, disse Beltrame. “Prender 50 traficantes é importante. Mas quero crer que muitos que fugiram, de chinelo e sem arma, não voltarão para o crime. Para mim, o foco é a retomada do território. Só isso me permite prestar serviço e dar esperança a mais de 300 mil pessoas.”
O tráfico não vai acabar. A corrupção não vai terminar. Mas a imagem das mães entregando seus filhos traficantes à Justiça, para que eles paguem por seus crimes e continuem vivos, foi uma cena inédita e emocionante no Rio. Muitos bandidos estão cansados do crime e querem levar uma vida digna, de trabalho honesto, sem violência (leia a reportagem). Para eles e para seus filhos, existe futuro. O Estado precisa dar a esses a chance de se redimir. Os presídios, além de superlotados, não podem misturar criminosos sanguinários com bandidos recuperáveis. Está na hora de discutir a ressocialização de quem embala a droga em casa por R$ 10 e gravita em torno do tráfico – em vez de jogar esse aprendiz em cadeias que são faculdades do crime.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO



Os fatos desmentem Lula

EDITORIAL

O Estado de S.Paulo - 04/12/10
Fiel a seu costume de contar a história à sua maneira, sem o mínimo compromisso com os fatos e a verdade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez falou sobre a "herança maldita" recebida em 2003, ao iniciar seu primeiro mandato. Desta vez, o rosário de inverdades foi desfiado perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O evento foi uma das várias despedidas programadas pelo presidente para este mês. De novo ele falou sobre o País quebrado e sobre o mau estado da economia no momento da transição do governo. De novo ele se entregou a uma de suas atividades prediletas, a autolouvação despudorada, atribuindo a si e a seu governo a inauguração de uma economia com fundamentos sólidos, estabilidade e previsibilidade. As pessoas informadas e capazes de discernimento conhecem os fatos, mas talvez valha a pena recordá-los mais uma vez, para benefício dos mais jovens e dos vitimados pela propaganda petista.
A primeira informação escamoteada pelo presidente Lula e pela companheirada é a origem da crise inflacionária e cambial de 2002. Os problemas surgiram quando as pesquisas mostraram o crescimento da candidatura petista. Não surgiram do nada e muito menos de uma perversa maquinação dos adversários. Os mercados simplesmente reagiram às insistentes ameaças, costumeiras no discurso petista, de calote na dívida pública e de outras lambanças na política econômica. Figuras importantes do partido haviam apoiado um irresponsável plebiscito sobre a dívida e mais de uma vez haviam proposto uma "renegociação" dos compromissos do Tesouro.
Tinha sólidos motivos quem decidiu fugir do risco proclamado pelos próprios petistas. A especulação cambial e a instabilidade de preços foram o resultado natural desses temores. A Carta ao Povo Brasileiro, com promessas de seriedade, foi o reconhecimento do vínculo entre a insegurança dos mercados e as bandeiras petistas.
Essas bandeiras não foram inventadas pelas fantasmagóricas elites citadas pelo presidente nas perorações mais furiosas. São componentes de uma longa história. Petistas apoiaram algumas das piores decisões econômicas dos últimos 30 anos. Uma de suas figuras mais notórias aplaudiu entre lágrimas uma das mais desastradas experiências dos anos 80, o congelamento de preços do Plano Cruzado. Nenhum petista ensaiou uma discussão séria quando os erros se tornaram mais que evidentes e o plano começou a esboroar-se.
Naquele período, como nos anos seguintes, petistas continuaram pregando o calote da dívida externa. Ao mesmo tempo, torpedearam todas as tentativas importantes de reordenação política e econômica e resistiram a assinar a Constituição.
O PT combateu as inovações do Plano Real. Foi contra a desindexação de preços e salários. Resistiu ao saneamento das finanças estaduais e municipais. Combateu - como já vinha combatendo - a privatização de velhas estatais, mesmo quando não havia a mínima razão estratégica para manter aquelas empresas sob o controle do Tesouro. Criticou a Lei de Responsabilidade Fiscal e atacou todas as iniciativas de ajuste das contas públicas.
A economia foi retirada do caos e seus fundamentos foram consertados, nos anos 90, contra a vontade do PT. O saneamento e a privatização de bancos estaduais permitiram o resgate da política monetária. Graças a isso foi possível, em 2003, conter o surto inflacionário em poucos meses. O Banco Central simplesmente manejou ferramentas forjadas na administração anterior.
Todos os princípios e instrumentos de política econômica essenciais à estabilidade nos últimos oito anos são componentes dessa herança mais que bendita. Se os tivesse abandonado há mais tempo, o governo Lula teria sido não só um fracasso, mas um desastre. Mas a fidelidade aos princípios do governo FHC nunca foi total. O inchaço da administração, o loteamento de cargos, a desmoralização das agências de regulação e o desperdício são partes da herança deixada à sucessora do presidente Lula, além de compromissos irresponsáveis, como o de um trem-bala mal concebido e contestado econômica e tecnicamente. Esse legado não será descoberto aos poucos. Já é bem conhecido. 

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

De bom tamanho 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/10

Apesar de o PMDB insistir no discurso de que sua participação no ministério de Dilma Rousseff ainda está em negociação, a cúpula da transição dá como encerradas as tratativas do pacote que caberá ao partido de Michel Temer - além de Agricultura e Minas e Energia, os peemedebistas terão o direito de indicar os titulares de Previdência e Turismo.
O QG dilmista também frisa que a "cota pessoal" do vice não ultrapassará a oferecida no passado a José Alencar. Este indicou um secretário de Assuntos Estratégicos, opção agora oferecida a Moreira Franco. Se não aceitar a SAE, o braço-direito de Temer irá no máximo para uma estatal, dizem dirigentes da transição.

Cubo mágico Dilma estuda deslocar para a SAE o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, hoje ligado à Secretaria de Relações Institucionais.

Leia-se Diferentemente do que circulou ontem entre os aliados, Dilma não arquivou a ideia de criar a Secretaria de Aeroportos, retirando a área do guarda-chuva da Defesa. A ideia, na verdade, é proteger a possível futura pasta da cobiça geral.

Todos os homens... A dupla Wagner Rossi e Moreira Franco, que Temer gostaria de emplacar no ministério, passou a manhã de ontem grudada no presidente do PMDB. Dos dois, até agora apenas o primeiro está garantido, para Agricultura.

...do vice Quem viu brincou: "É marcação cerrada, pra ver quem se segura".

Que tal? Até vaga no Parlasul foi posta como opção para atender o PMDB. Se Mendes Ribeiro (RS) não virar ministro, dando vaga a Eliseu Padilha (RS) na Câmara, o destino do gaúcho, amicíssimo de Temer, pode ser o Parlamento do Mercosul.

Vale tudo Está em curso no Congresso uma negociação que permitiria a candidatos não-eleitos integrar o Parlasul. Pela regra em vigor, apenas quem tem mandato pode ser indicado.

Tesoura 1 Além da Secretaria de Ensino Superior, Geraldo Alckmin decidiu extinguir a pasta das Relações Institucionais. Os conselhos do Idoso, Criança e Adolescente, Condição Feminina, Juventude e Comunidade Nordestina ficarão sob responsabilidade da Justiça e Cidadania. As coordenadorias irão para a Casa Civil.

Tesoura 2 Alckmin ainda não decidiu se rebaixará a Secretaria de Comunicação ao formato de coordenadoria, subordinada ao Gabinete ou à Casa Civil. Se for mantido o atual status, o favorito para a pasta é Andrea Matarazzo, hoje na Cultura.

Tente outra vez O governador eleito de SP continua empenhado em convencer Emanuel Fernandes a participar de sua administração. Inicialmente cotado para Transportes e Gestão Metropolitana, desta vez o deputado federal recebeu convite para o Planejamento.

E chega A indicação do vice eleito Guilherme Afif para a Secretaria de Desenvolvimento, que abriga a estrutura de ensino técnico, vitrine do governo, encerra a cota do DEM no primeiro escalão.

Trinca A despeito de ainda sondar outros nomes para as três pastas de mais visibilidade ainda indefinidas, Alckmin está inclinado a manter Mauro Ricardo (Fazenda), Paulo Renato Souza (Educação) e Antonio Ferreira Pinto (Segurança Pública).
Essas mulheres Em acordo que obedece ao rodízio entre as principais centrais sindicais, a CUT escalou a diretora da Apeoesp Zenaide Onório para comandar o Dieese no biênio 2011-12.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Nosso acordo não será apenas com o PMDB. Será com todos os partidos aliados do governo de Dilma Rousseff."DO DEPUTADO JOÃO PAULO CUNHA (PT-SP), comentando a participação das legendas governistas na futura divisão dos cargos da Mesa Diretora da Câmara a partir do início da próxima legislatura, em de fevereiro de 2011.

Contraponto

Não me comprometa


Ao anunciar, anteontem, mais três integrantes de seu secretariado, Geraldo Alckmin resumiu a missão de Guilherme Afif, indicado para a pasta de Desenvolvimento, com o bordão utilizado pelo hoje pelo vice-governador eleito na campanha presidencial de 1989:
-O desafio é grande, mas juntos chegaremos lá!
Um jornalista aproveitou a deixa:
-Isso já é um ensaio de seu lema para 2014?
O tucano desconversou:
-Uma coisa de cada vez...

MÔNICA BERGAMO

MICROFONE ABERTO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/10  

Fernando Morais, autor de best-sellers como "Chatô" e a biografia de Paulo Coelho, quer escrever um livro sobre Lula. O escritor já propôs ao presidente que ele dê um longo depoimento sobre os bastidores da política internacional de seus oito anos de governo -contando tudo em detalhes. O presidente ainda não respondeu.

PAULO EM PARIS
A biografia de Coelho, lançada há um mês na França, por sinal, já vendeu 15 mil exemplares.

ESPELHO
Na entrevista que deu a Lally Weymouth, filha da publisher Katharine Graham (1917-2001), do "Washington Post", a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) revelou que visitará o presidente Barack Obama nos EUA nos primeiros dias de janeiro.

COMPLETA TRADUÇÃO
Referindo-se ao "Minha Casa, Minha Vida" como "My House, My Life", Dilma tentou ressaltar o fato de 15 milhões de empregos terem sido criados no Brasil nos últimos anos. "Passe um tempo nos EUA", disse Lally, numa ironia com o governo americano. A entrevista dever ser publicada amanhã.

CAMINHOS DE NIEMEYER
O aniversário de 103 anos de Oscar Niemeyer, no dia 15, será no Caminho Niemeyer, conjunto de obras do arquiteto em Niterói (RJ). Ele celebrará também os quatro anos de casamento com Vera Lúcia e lançará a edição do segundo aniversário de sua revista, "Nosso Caminho".

SEMANA DE FESTA
E a família do arquiteto continuará em festa pelo menos até o sábado, 18, quando Paulo Sérgio, bisneto de Oscar Niemeyer, se casará com Cristiane de Camargo Barros. A festa será na Casa das Canoas, no Rio. Como a noiva é de Brasília, o casal colocou no convite imagens do Pão de Açúcar e de uma obra de Niemeyer na capital federal.

ESQUENTA
Quem já pagou pelo ingresso do show de Amy Winehouse, em SP, entre R$ 100 e R$ 500, pode aumentar o débito com a inglesa. O site da cantora inaugurou uma loja virtual onde ela comercializa roupas que fez para a marca inglesa Fred Perry e bugigangas temáticas: uma coqueteleira sai por 29,99 euros e um isqueiro com seu nome, por 3,99 euros.

TIOS DO ROCK
A edição brasileira do livro "According to the Rolling Stones - A Banda Conta sua História", sobre o grupo de Mick Jagger, sairá em abril pela Cosac Naify. A obra tem centenas de fotos e depoimentos recentes dos músicos. "Tínhamos muito tempo livre, muita droga, e nenhum produtor para nos dizer: "Já deu, muito obrigado, agora vamos terminar logo essa música?'", diz Mick.

OLHAR ESTRANGEIRO
As arquitetas Bela Gebara, Gisele Conde e Patrícia Sinisgalli receberam em Londres o Americas Property Awards, prêmio internacional do setor que pela primeira vez incluiu projetos brasileiros em sua lista. Sócias no escritório GCSA, elas venceram na categoria "interiores comercial" com o trabalho que fizeram para o escritório da Camargo Corrêa Internacional.

CHIQUE DE PARIS
O estilista Pedro Lourenço apresentou, na Daslu, sua coleção primavera/verão 2011, que trouxe da semana de moda de Paris, onde desfilou em outubro. Lourenço receberá clientes na loja com hora marcada até amanhã. Participaram do evento a modelo Luiza Moraes e a stylist Carol Holzer.

CORO AFINADO
O evento Cantores do Bem, em prol do projeto beneficente Aquarela, reuniu, no espaço Trivento, na Vila Olímpia, personalidades como o tenista Gustavo Kuerten e a mulher, Mariana Soncini, Naji Nahas e Ana Cristina Bernardes.

CURTO-CIRCUITO

O livro "O Reinado da Lua -Escultores Populares do Nordeste" será lançado hoje, às 16h, na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho.

Vanessa da Mata apresenta o show "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias" nos dias 10 e 11, no Citibank Hall. 14 anos.

A ONG Adote um Gatinho fará amanhã seu bazar de Natal, das 10h às 18h, no Tênis Clube Paulista (rua Gualachos, 285).

A estilista Isabella Giobbi faz hoje, no brechó Juisi by Licquor, "venda de garagem" de seu acervo pessoal.

Rodrigo Hilbert estará hoje na loja da Schutz da Oscar Freire tirando fotos com as clientes em ação de Natal.

É hoje, das 14h às 23h, o 4º Cine MuBE, com 22 curtas.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Saiu o iPad do Bope!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/10

E sabe o que a Rede Globo falou pro Bope? "Pode invadir que nós damos cobertura para vocês!"


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Exclusivo! Última Medida Provisória do Lula: prorrogar o centenário do Corinthians até que ele ganhe alguma coisa. Rarará! Então tá prorrogado o centenário do Corinthians sine die!
E sabe o que a Globo falou pro Bope? "Pode invadir que a gente dá cobertura!" E corre na internet o lançamento do produto mais esperado do ano: o iPad. O iPad do Bope! IPAD PRA SAIR! Rarará!
À venda no Alemão Shopping Complex. Com a tela toda baleada. E a maçã da Apple parecendo uma peneira! Rarará!
E iPad clemência. E iPad um saco de pó! E iPod pedir! Que eles te dão um iPhone nas orelhas. E iJesuiz! Rarará!
E policial do Bope que mata três traficantes pode pedir música no "Fantástico"? E a Globo fez o Ibope do Bope: "88% apoiam ações no Rio". E os corpos dos outros 12% não foram encontrados para opinar! Rarará! Eu já falei que o Bope fechou contrato com a Globo!
E o WikiLeaks, o site que vazou 250 mil documentos secretos dos Estados Unidos, saiu do ar. Porque ia revelar a real idade da Glória Maria e a cor da tintura do cabelo da Ana Maria Braga. Isso que é constrangimento internacional.
E o site Eramos6 revela: "Foram incineradas no CSN todas as drogas encontradas nos morros cariocas: maconha, crack, cocaína, camisa 2 do Flamengo, aviões da TAM e CD do Restart". E um pôster do Justin Bieber pertencente à filha de um traficante!
E a Dilma mandou recolher todos os canhões dos morros cariocas. Para compor o ministério! Já tem até canhão de óculos!
E a Dilma Rouchefe já fez duas exigências para o novo avião: pista de bocha e mesa de sinuca. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E essa pichação na avenida Roberto Marinho: "SOU CORNO E SOU MANSO, assinado Paulo Cachaça!". Esse não é predestinado, é conformado!
E diz que estavam fazendo uma pesquisa no calçadão de Ipanema sobre o Bope e perguntaram para uma biba: "O que você está achando dessa operação militar no morro do Alemão?". "To adorando, porque EU MORRO POR UM ALEMÃO!" Rarará! Sensacional.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÍRIAM LEITÃO

BC aponta riscos
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 04/12/10
O Banco Central deu claros sinais ontem de que teme o risco de formação de bolhas pelo excesso de crescimento do crédito. Mostrou também que está preocupado com a elevação da inflação. Mas no mercado existem interpretações diferentes para as decisões da autoridade monetária. Os bancos terão menos dinheiro para emprestar e terão normas mais rigorosas de concessão de crédito.

O Brasil passou por um crescimento forte do ritmo de concessão de empréstimos para empresas e pessoas. O crédito em relação ao PIB praticamente dobrou no governo Lula, de 25% para 47%. Os economistas costumavam responder às perguntas, sobre se o risco não estaria crescendo, com a resposta de sempre: comparado com outros países, o percentual brasileiro não está tão alto. Mas o problema é o ritmo desse crescimento e o fato de que no Brasil os juros são altos demais.

As decisões de elevação do compulsório e de regras mais rigorosas foram anunciadas na semana anterior à da reunião do Copom. Como há um ambiente de falta de confiança na autonomia do Banco Central no governo Dilma, as interpretações sobre as decisões de ontem foram conflitantes.

Há quem considere que por ter tomado essa decisão agora, o BC terá ainda mais trabalho para justificar uma possível manutenção dos juros na reunião da semana que vem. Subir compulsório é medida prudencial, ou seja, tem a finalidade de impedir a formação de bolhas de crédito. Mas ontem ela foi anunciada também como instrumento de combate à inflação. Se o BC reconhece que há risco inflacionário, ele teria então que subir os juros.

Há quem pense o oposto: que o compulsório faz o trabalho de elevação dos juros cobrados dos consumidores sem elevar o custo da dívida, portanto a decisão de elevar os juros pode ser adiada.

Alguns economistas viram na decisão um aumento da influência do ministério da Fazenda sobre o Banco Central. A decisão de subir compulsório é tomada pelo Conselho Monetário Nacional, e o ministro da Fazenda é um dos participantes. No anúncio de ontem, o presidente do BC, Henrique Meirelles, falou que há equivalência entre o aumento do compulsório e o aumento da taxa Selic, porque ambos atuam no combate aos preços. De fato, ao retirar R$61 bilhões da economia, o BC estará ajudando a reduzir a demanda. Mas esse efeito é muito limitado, tem impacto somente nas compras de bens duráveis de longo prazo, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.

? O risco com o anúncio de ontem é que as expectativas de inflação fiquem piores daqui para frente, caso os juros não subam na reunião da semana que vem. A pressão sobre o Copom ficará ainda maior na reunião de janeiro. Mexer nos juros básicos atinge mais canais de combate à inflação. Quando a autoridade monetária está preocupada com a inflação, ela tem que atuar de maneira mais ampla e não de forma restrita ? explicou o economista José Júlio Sena, da MCM consultores.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, também acredita que o aumento do compulsório deve ser encarado como medida de diminuição de riscos e não de combate à alta dos preços:

? O aumento do compulsório tem que ser visto como medida prudencial, ou seja, que reduz riscos no sistema financeiro. É medida regulatória e não monetária; é para reduzir riscos e não combater a alta dos preços. Meirelles falou que ela remove liquidez, e de fato faz isso, mas não é um instrumento clássico, com eficiência comprovada sobre a queda da inflação. Para reduzir a inflação, o que funciona comprovadamente é aumento de juros.

O lado positivo do anúncio é que finalmente a autoridade monetária admitiu que há sim o risco de formação de bolhas de crédito no Brasil, apesar de os economistas insistirem na tese de que a relação crédito/PIB é baixa. Há financeiras fazendo anúncios oferecendo dinheiro para quem está "negativado" no mercado, e até para quem já estourou seu limite no consignado. Excessos assim são o primeiro passo para a formação de subprime.

O economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, disse que já esperava um anúncio assim.

- As medidas já eram esperadas porque o Acordo da Basiléia está exigindo regras macroprudenciais de todos os países para evitar bolhas. No Brasil, ainda não temos sinais de bolhas, mas a decisão é bem-vinda porque se o ritmo de concessão de crédito continuasse forte, poderíamos ter problemas no futuro - explicou.

O Banco Itaú interpretou que as medidas reduzem a urgência de elevação dos juros porque, na prática, elas elevam o custo de financiamento dos bancos e reduzem o ritmo de crescimento do crédito. O banco viu como um sinal de que aumento de juros virá em janeiro.

Se for isso, eleva-se a expectativa em relação à primeira reunião do Copom do governo Dilma. O ministro da Fazenda acha que a inflação está na meta porque olha o teto da meta, ou seja, dois pontos acima. O BC mira o centro da meta, tradicionalmente. Quem olha o IPCA em 5,2% acha que é preocupação exagerada, mas a inflação de serviços está acima de 7%, os IGPs, acima de 10%, e parte da inflação de alimentos é resultado de alta de commodities. Há razões sim para preocupação. Mas que remédios o próximo governo vai usar? Essa dúvida é que está alimentado a especulação sobre como interpretar o que o BC fez ontem.

As medidas foram acertadas, mas não conversam com o tom tranquilo que o Banco Central deu nas suas comunicações recentes como atas do Copom e relatórios de inflação.

MERVAL PEREIRA

Poder, real e aparente

MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/12/10
Então temos montado o novo “núcleo duro” do Palácio do Planalto, desta vez no primeiro (e talvez único?) governo Dilma Rousseff, apenas com petistas.
No primeiro governo de Lula, o núcleo duro era também formado só por petistas graúdos: José Dirceu, Palocci, Gushiken, Luiz Dulci, Gilberto Carvalho.
A crise do mensalão e outras subseqüentes varreram os três primeiros do mapa político ostensivo, foram substituídos pela própria Dilma, pelo então Ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, e por Franklin Martins.
Hoje, pouca coisa mudou: Antonio Palocci está no Gabinete Civil; Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência; José Eduardo Cardozo na Justiça; Miriam Belchior no Planejamento e Guido Mantega na Fazenda.
Falta saber quem será o novo Ministro da Comunicação Social, se terá status de Ministro da Casa como tiveram os antecessores Luiz Gushiken e Franklin Martins.
O chefe da equipe de transição, na teoria, é o peemedebista Michel Temer, mas o PMDB não está conseguindo emplacar seus escolhidos sob seu comando, e a própria presidente eleita prefere negociar separadamente com o grupo do Senado a dar a força política que Temer reivindica para apresentar o grupo do PMDB em conjunto.
Pela enésima vez, entre a campanha eleitoral e o período imediatamente posterior à vitória nas urnas, o PMDB teve que impor sua presença na equipe principal, dominada pelos petistas, à base de discretas cotoveladas políticas.
Uma rebelião de deputados impediu o anúncio, ontem, do senador Edson Lobão para o Ministério das Minas e Energia, acertada entre a presidente os senadores peemedebistas.
Assim como intrigas palacianas, juntamente com fogo amigo do PMDB, mataram no nascedouro a indicação do governador Sérgio Cabral para o Ministério da Saúde.
O veto do secretário Sérgio Cortes, já conhecido como “Viúva Porcina”, a que enviuvou sem nunca ter casado, ao que tudo indica foi o troco que o governador Sérgio Cabral recebeu do próprio PMDB por ter vetado a nomeação do ex-governador Moreira Franco para o ministério.
Sua indiscrição também ajudou muito seus inimigos.
Mas o fato é que o PMDB, o maior partido político do país, e por isso mesmo escolhido para dar o candidato a vice-presidente, não foi ouvido nem cheirado na formação da equipe de transição, e muito menos agora, na formação do ministério.
A presidente Dilma já demonstrou que pretende agradar pontualmente seus aliados dentro do PMDB, sem dar ao vice Michel temer o status de interlocutor único, o que proporcionaria a ele um poder desmedido.
Mas Temer quer manter esse poder, até mesmo para impedir que o partido volte a se dividir, mas tudo indica que a orientação no governo é mesmo tentar estimular essas divisões internas, contentando parcelas do partido, alimentando ilusões de poder e o apetite pontual.
É uma tática arriscada, que pode ter conseqüências políticas desastrosas nas votações no Congresso.
O PMDB queria mais poder político real, e o PT está tentando tratá-lo como apenas um partido fisiológico da base, que se contenta com nacos do poder.
Pelo andar da carruagem vai ter que se contentar com isso, pois não demonstra ter unidade para uma ação conjunta de confrontação com o governo.
Mesmo o blocão montado dentro da Câmara com outros partidos aliados para pressionar não teve o respaldo do PMDB do Senado, que avisou que lá essa prática não prevaleceria.
Os senadores já se acertaram entre si, e a indicação de Lobão é o primeiro passo, além do consenso em torno da presidência da Casa, que deve ficar mesmo com Sarney novamente.
Os demais partidos da base aliada estão insatisfeitos, mas não ousam sair do barco sem saber que pedaço do butim do Estado lhes caberá.
Por enquanto o PT está demonstrando ter mais poder dentro do novo governo, o que já se imaginava. Mas o estranho é que a presidente eleita não está usando o PMDB para se contrabalançar às pressões do PT.
Ela está aceitando sem reclamar a influência de Lula e do seu partido de adoção. Mesmo por que aparentemente ela não tem grupo político que a siga e pelo qual ela possa se empenhar.
O único político ligado a ela, Fernando Pimentel, o é pela atuação na luta armada, anterior à existência do PT. Os dois encontraram-se no partido de Lula por acaso, pois Dilma antes de ser lulista, era brizolista.
Por mais que tenha alcançado a aparência de poder, o PMDB não chega nem perto do poder real, e terá que retirar por conta própria, pontualmente, fatias de poder para se contrapor ao petismo que parece que vai prevalecer, pelo menos na primeira etapa do governo Dilma.
A não ser que abra mão de um projeto de futuro para continuar sendo o que sempre foi, um partido periférico, que se contenta com o poder fisiológico.
A dureza que foi chegar a uma unidade partidária inédita que permitisse indicar Michel Temer para a vice-presidência da República terá agora que resistir ao teste da vida real, no qual aparentemente está sendo tragado pelo poder de fato que está se concentrando no comando do presidente Lula.

MIGUEL REALE JÚNIOR

A autorregulação da mídia
Miguel Reale Júnior 


O Estado de S.Paulo - 04/12/10
Estamos submersos no mundo da informação, alvejados continuamente por notícias ou torpedos, numa rede comunicacional em que se projeta a prevalência da mídia, que passou a conformar o nosso modo de ser. O virtual assume papel relevante na realidade, pois as formas de conhecer e avaliar deixaram de ser fruto da leitura e da reflexão para se alicerçarem unicamente na informação rápida, no conhecimento por tiras, retirado das comunicações que são enviadas em processo contínuo de transmissão durante todo dia, compartilhadas por todos.
Dessa forma, a assunção de convicções individuais, bem como o silêncio e a solidão cederam passo a uma posição passiva de recepção contínua e coletiva de comunicações, com aceitação indiscutida da informação urgente trazida pelos órgãos de imprensa. Neste mundo em rede, vive-se com a mídia e pela mídia, como diz Manuel Castells. E o grande meio de informação ainda é a televisão, em especial no Brasil, malgrado o crescimento da internet. Mas o que é a televisão?
A televisão pode ser uma via autoritária, na medida em que penetra nossa existência em todos os instantes, de manhã até a noite. Não há mais horário para ver televisão, vê-se televisão a todo tempo. Não se escolhe um programa de televisão, liga-se a televisão, cuja mensagem é recebida enquanto se conversa ou durante o jantar. Há um ato automático de ligar a televisão que cria um monólogo. Assim, a televisão impõe a lei do mínimo esforço e gera uma audiência preguiçosa. A televisão é uma imposição de modos de ser, de pensar, que vão sendo introjetados imperceptivelmente.
Por outro lado, a programação tem de estar de acordo com o mais baixo denominador comum, pois assim haverá uma grande receptividade com tranquila admissão das ideias transmitidas, de forma a crescer o índice de audiência. Os programas de baixo nível, nada educativos e exploradores de anseios de sucesso segundo o modelo dos "famosos", são fenômenos graves, pois hoje não mais têm força os emissores simbólicos tradicionais: a religião, a escola, o sindicato, a família. Concentra-se a capacidade de transmissão simbólica nos meios de comunicação, com fácil penetração dos estereótipos forjados pela mídia em campo aberto, dada a desavisada recepção.
Assim, o rádio e a televisão têm um impacto extraordinário porque expressam manifestações de cunho valorativo, mesmo no campo político, e modelam a opinião pública. Mas, em que consiste a opinião pública?
A opinião pública não é a opinião de todos nem é a opinião da maioria. A opinião pública é opinião daquele que é o seletor da notícia e o fautor da notícia.
Não se trata apenas de escolher a notícia, mas especialmente de escolher como revelar, como comunicar a notícia. Importante é o que se denomina gate keepper, ou seja, aquele que seleciona a notícia e decide como deva ser transmitida. Assim se forma a opinião pública.
Essa opinião "pública" é retroalimentada, ou seja, o público, após ser manipulado, é consultado sobre a opinião que lhe foi enviada por meio de sondagens de opinião pública. E o público, em resposta, repete a opinião que lhe foi revelada. Essa opinião "pública" passa a ser, então, legitimada pela resposta positiva da sondagem. Portanto, há um círculo vicioso: quem cria a notícia depois busca legitimar a notícia por via de sondagens que apenas confirmam o que os seletores e emissores de notícias transmitiram. A opinião veiculada pela mídia ganha, assim, uma legitimação que nada mais é do que uma mistificação, por meio da qual a transmissão recebe um cunho de veracidade e uma aprovação.
A notícia selecionada e transmitida sob determinado viés, sob uma perspectiva, legitima-se e alcança ares de objetividade e de seriedade. Deixa de ser uma visão parcial ou de alguém individualizado para ser a "opinião pública".
Toda essa digressão importa para verificar se a mídia, em especial o rádio e a televisão, por sua imensa força, deve estar sujeita a regulação para garantia do interesse geral na preservação de outros valores constitucionais, como a veiculação de opiniões diversas, o direito à informação veraz, a proteção às crianças e aos adolescentes, mormente em vista da exploração do sexo e da violência, a privacidade, a honra.
Tome-se a curiosa coincidência do ocorrido quando o dono do SBT, como controlador do Banco Panamericano, em via de liquidação pelo Banco Central, veio a estar com o presidente da República, no auge da crise do Panamericano, durante as eleições, para logo a seguir a emissora dar notícia truncada, minimizando a agressão sofrida pelo candidato de oposição. Tal demonstra a necessidade de regulação, mas também mostra que jamais pode estar nas mãos do poder político, como se pretende na proposta emanada da 1.ª Conferência Nacional de Comunicação.
Em grande parte dos países democráticos há formas de controle, porém prevalece a autorregulação, tal como no Canadá, na Austrália, na Inglaterra. A autorregulação, a meu ver, cabe ser exercida por via de um ombudsman, dotado de independência e inamovibilidade durante seu mandato, como um canal aberto com os destinatários do meio de comunicação. Deverá este ouvidor pautar sua ação em código de conduta do órgão de imprensa a ser registrado em conselho constituído segundo lei federal. Este conselho, constituído por representantes dos órgãos de imprensa, bem como por jornalistas e, principalmente, por membros da sociedade civil, teria por fim examinar e admitir os códigos de conduta e analisar se o ombudsman de cada órgão está exercendo com amplitude e liberdade o seu mister.
Desse modo, conciliam-se o direito de liberdade de expressão e o direito de preservação dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, como expressa a nossa Constituição no artigo 221, IV. Faz-se, assim, a conjugação, e não a colisão de direitos.
ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA 

SANDRA POLÓNIA RIOS

É hora de arrumar a casa
SANDRA POLÓNIA RIOS 

O Estado de S.Paulo - 04/12/10

A presidente eleita, Dilma Rousseff, enfrentará no início de seu mandato um contexto externo que em nada lembra aquele céu de brigadeiro que deu grande contribuição ao bom desempenho da economia brasileira durante os dois governos do presidente Lula.


Ela encontrará um ambiente internacional dominado pelo acirramento das acusações de manipulação das taxas de câmbio e condução imprudente de políticas monetárias e por incertezas quanto à dinâmica das economias desenvolvidas. Embora desejável, é pouco provável que um esquema de cooperação internacional, como o G-20, seja capaz de produzir compromissos no curto prazo que permitam realinhar as taxas de câmbio das principais economias. Nesse cenário, as ameaças de aumento do protecionismo devem permanecer.


O clima pouco propício à cooperação também domina os foros de negociação comercial. A Declaração do G-20 fez a habitual referência à importância de concluir as negociações da Rodada Doha, mas o ambiente não é promissor. O esperado anúncio, durante a reunião do G-20, da superação de questões pendentes no acordo de livre-comércio entre EUA e Coreia não ocorreu, como não se concretizou o compromisso dos países desenvolvidos em conceder livre acesso aos seus mercados para importações vindas de países de menor desenvolvimento relativo (duty free, quota free).


Os cenários não são róseos para a indústria brasileira. Não será possível contar com o impulso da demanda dos países desenvolvidos, em particular dos EUA, que têm maior propensão a consumir produtos manufaturados do Brasil. O polo dinâmico da economia internacional estará centrado nos países emergentes, que concorrem com as manufaturas brasileiras nos mercados doméstico e internacional. Diante do quadro adverso, que interage com fatores internos para produzir forte apreciação do real, a reação do governo brasileiro tem se concentrado nas ações de mitigação (compra de divisas no mercado de câmbio e aumento da alíquota do IOF sobre a entrada de capitais estrangeiros) e na área de defesa comercial. Ao lado do expressivo aumento no número de novas investigações de dumping observado ao longo do ano, ampliou-se o alcance dos instrumentos de defesa comercial.


Nenhuma das duas frentes parece promissora para gerar resultados robustos em termos de ganhos de competitividade para os produtos manufaturados - os mais impactados pela apreciação cambial. As medidas de defesa comercial são tópicas, geram distorções e não são adequadas para lidar com a concorrência generalizada dos produtos importados. As barreiras à entrada de capitais podem deter temporariamente as pressões por apreciação, mas dificilmente bastarão para sustentar taxas de câmbio mais elevadas no longo prazo. Pior, podem comprometer a entrada de poupança externa, fundamental para financiar o crescimento da economia brasileira. Para reverter a tendência à apreciação cambial é fundamental atuar sobre a política fiscal. Sem a melhoria do perfil das contas públicas não será possível reduzir as taxas de juros de forma sustentada e, portanto, desestimular a entrada de capitais de curto prazo.


Mas ainda é importante reconhecer que dificilmente voltaremos a conviver com taxas de câmbio muito mais desvalorizadas que as experimentadas no último ano. Teremos de nos adaptar a uma moeda mais valorizada e a um mercado internacional mais concorrido. Será preciso compensar a menor contribuição do câmbio com a redução de outros custos que afetam a competitividade dos produtos industriais. A agenda é conhecida e urgente - desoneração tributária, redução dos encargos sobre a folha de salários e dos custos acessórios com a burocracia na exportação, etc. Essa é a estratégia que permitirá lidar com a competição nos mercados externo e interno. Sem a ajuda do cenário externo, não dá mais para continuar varrendo as ineficiências sistêmicas para debaixo do tapete. É hora de arrumar a casa.


DIRETORA DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (CINDES)

CELSO MING

Devagar com o andor
CELSO MING 

O Estado de S.Paulo - 04/12/10
O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central anunciaram ontem as duas primeiras providências destinadas a conter a expansão do crédito. O efeito colateral será o encarecimento dos financiamentos e, possivelmente, a redução do consumo. Em parte, devem ajudar os juros básicos (Selic) a dominar a inflação.

A primeira dessas medidas aumenta em 50% as necessidades de capital dos bancos para as operações de crédito por períodos de mais de um ano. Ou seja, ou os bancos terão menos interesse em esticar os prazos de financiamento; ou esse crédito ficará bem mais caro; ou, ainda, as duas coisas juntas.

A outra decisão impõe elevação de 50% nos recolhimentos compulsórios dos bancos, que, assim, terão à disposição menos dinheiro para emprestar.

O objetivo é reduzir os riscos de formação de bolhas financeiras que a farta distribuição de crédito pode produzir. Para justificar esse passo, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, explicou que o índice de inadimplência está subindo fortemente nos segmentos de crédito de três a quatro anos e nos de cinco a dez anos.

Ficou claro o objetivo de não atingir, pelo menos por enquanto, os financiamentos imobiliários, provavelmente porque o Banco Central não quer desestimular o programa Minha Casa, Minha Vida.

No entanto, essas operações com garantia hipotecária estão crescendo a alta velocidade, nem sempre atendendo à exigência de renda familiar proporcional ao valor do financiamento. É o que explica a enorme valorização dos imóveis urbanos. Por enquanto, não há sinais de formação de perigosa bolha financeira nas proporções das que deflagraram a crise nos Estados Unidos e na Irlanda. Mas, a continuar nesse ritmo, mais cedo ou mais tarde, as autoridades serão chamadas a arrochar também esse segmento do crédito.

São medidas prudenciais, avisou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. É outro jeito de lembrar que o santo é de barro e que é preciso seguir mais devagar com o andor. O setor mais atingido pelas restrições ao financiamento será o das vendas de veículos, um dos mais aquecidos no momento. As montadoras terão de lidar com três fatores que as obrigarão a reduzir a marcha: relativo saturamento do mercado interno; baixo apetite do mercado externo; e perspectiva de aperto dos cintos na administração das finanças públicas, o que deverá contribuir para um avanço mais moderado do consumo.

O aperto na área do recolhimento compulsório não veio apenas com o objetivo de complementar as decisões anteriores que restringem o crédito. Retiram definitivamente os estímulos ao consumo e à produção que haviam sido concedidos em 2008 e 2009 com o objetivo de dar mais flexibilidade ao País no enfrentamento da recessão imposta pela crise global.

Essas decisões têm de ser examinadas à luz da situação em que foram tomadas, ou seja, logo depois das eleições e imediatamente antes da última reunião do Copom da administração Lula, agendada para a próxima quarta-feira.
Na medida em que esperaram para que se fechasse o ciclo eleitoral, tiveram o cuidado de não criar obstáculos para a escolha da então candidata apoiada pelo governo, a nova presidente, Dilma Rousseff. Como foram tomadas antes da reunião do Copom, reforçam a percepção de que uma nova alta dos juros básicos, necessária para reduzir a velocidade da inflação, pode ser deixada para janeiro de 2011.
As cotações do ouro continuam lá em cima (veja gráfico), refletindo as turbulências do momento. Nem o dólar, nem o iene japonês, nem tampouco o euro passam segurança.
O tamanho do bolo

No final de junho, a carteira de investimentos (reservas) dos fundos de pensão do Brasil tinha R$ 489 bilhões em ativos. Desses, 62,8% correspondiam a aplicações de renda fixa; 29,6%, a renda variável (ações); 2,9%, a imóveis; e 2,6%, a empréstimos a participantes. O maior de todos, o Previ (Banco do Brasil), detinha R$ 86,6 bilhões em reservas.

MAURO CHAVES

Militares contra o crime
Mauro Chaves 


O Estado de S.Paulo - 04/12/10
A ideia de as Forças Armadas darem sua contribuição no combate à violência e à criminalidade tem despertado reações extremamente preconceituosas. Uns já enxergam aí a revivescência da ditadura militar, com as ruas cheias de fuzis e os cidadãos tolhidos em seu sagrado direito de ir e vir. Outros protestam, com veemência, ante a possibilidade de aqueles incumbidos da nobre missão de servir à Pátria começarem a dedicar-se a coisas menores, "até humilhantes", como a de enfrentar e prender bandidos. Outros ainda consideram um estímulo à violência deixar que o policiamento das ruas seja feito por soldados "que têm a função de matar" e, finalmente, há os que afirmam que os soldados, por pertencerem, de um modo geral, aos segmentos de mais baixa renda, estão mais próximos da marginalidade e, neste sentido, correm maior risco de corromper-se - nestes dois últimos tipos de preconceito incorre o próprio ministro da Defesa.
Mesmo os que estão longe de concordar com posições habitualmente assumidas pelo senador Antonio Carlos Magalhães (é o nosso caso) não devem furtar-se a uma reflexão sobre essa proposta, porque ela faz sentido. É claro que a função principal - e constitucional - das Forças Armadas é a defesa do território e da soberania nacionais, em face de eventuais ameaças de inimigo externo. Reconheça-se, no entanto, que nos dias que correm a ameaça de um inimigo externo é infinitamente menor, para a sociedade brasileira, do que o aumento descomunal da violência e da criminalidade, especialmente nos grandes centros urbanos. Reconheça-se também que a função de um policial militar, ao dar combate aos criminosos, não é menos nobre, enquanto serviço prestado à Pátria, do que a exercida pelo soldado numa hipotética guerra contra inimigo externo. Nos dois casos há abnegação e heroísmo.
A diferença é que um servidor das Forças Armadas, em sua função principal, se dedica a um treinamento rotineiro tendo em vista uma situação de raríssima ocorrência - a guerra externa -, enquanto o servidor da Polícia treina para a aplicação de sua destreza em situações de altíssima ocorrência. Quer dizer, uns se exercitam todos os dias - ou, pelo menos, deveriam fazê-lo - para servir à Pátria em eventualidades tão remotas que podem deixar de ocorrer durante toda a sua vida profissional. Enquanto outros cumprem treinamento para, pondo a própria vida em alto risco, todos os dias, assegurar o direito à vida - e aos bens, e à segurança - de todos os cidadãos. Indaguemos, então: numa situação de grande escassez de recursos, se tivesse de optar entre fazer investimentos - em reequipamentos, reciclagens, treinamentos - numa dessas duas nobres funções públicas, qual a sociedade julgaria mais prioritária e urgente?
A presença marcada nas fronteiras, em todas as regiões do imenso território brasileiro, a fiscalização exercida em nossa enorme costa, o auxílio a populações carentes dos lugares mais remotos do Brasil são missões, exercidas pelas Forças Armadas, que a sociedade muito valoriza e prestigia. No entanto, se os militares, preparados por treinamento específico, viessem ajudar a pôr algum freio na violência insuportável e na criminalidade descomunal que já deforma e esgarça o próprio tecido social do País, haveriam de desfrutar reconhecimento muito mais imediato, de valor e função essencial, perante toda a coletividade.
Na verdade, quando muito se discute sobre o "novo papel" que cabe às Forças Armadas depois de termos atingido o pleno Estado de Direito democrático, o que se pretende é que os militares percam por completo a imagem de velhos usurpadores do poder civil e se tornem uma classe de servidores públicos que a sociedade considere realmente útil, especialmente nestes tempos de grandes crises e carências sociais de todo gênero. Dificilmente se conseguirá descobrir um "novo papel" para os militares que não inclua contribuições efetivas para a solução de graves problemas que atingem a sociedade de maneira imediata, tais como o narcotráfico, o crime organizado, a devastação dos ecossistemas ou predação do meio ambiente.
Imagine-se, agora, se nas periferias das grandes cidades, onde as populações não têm condição alguma de se proteger contra o domínio do narcotráfico e do crime organizado, servidores vestidos com o honroso uniforme do Exército - e adequadamente treinados, para essa missão - ocupassem, ostensivamente, determinados lugares públicos. Será que essa população se sentiria mais insegura? E será, mesmo, que a origem humilde da grande maioria dos nossos militares - como insinuou o ministro da Defesa - é capaz de torná-los mais receptivos ao assédio corruptor ou, justo ao contrário, o ânimo que leva um cidadão brasileiro a engajar-se e seguir carreira militar é um misto de desprendimento, coragem e amor ao País, que o torna menos suscetível ao recebimento de vantagens materiais, que o façam arrefecer na luta contra os que atentam contra a vida, a saúde e a segurança de seus compatriotas?
***
Publiquei o artigo acima reproduzido, com esse mesmo título e neste mesmo espaço, há dez anos e meio - precisamente em 3 de junho de 2000. Choveram cartas contra o texto. Os mesmos argumentos contrários a colocar as Forças Armadas no auxílio às polícias têm sido invocados agora, especialmente quanto aos riscos de contaminação pela corrupção. Certamente não se pode alegar falta de legitimidade, já que o artigo 142 da Constituição é claro quando atribui às Forças Armadas também a defesa "da lei e da ordem" (e a quebra da lei e da ordem é evidente no domínio das comunidades pelos narcotraficantes). Aceita-se plenamente o provérbio "a ocasião faz o ladrão". Mas, e o brio da farda? E o orgulho militar?
As bandeiras hasteadas no Alemão e em várias cidades dizem que patriotismo não é cafonice.
JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR. 

ANCELMO GÓIS

DIA SEGUINTE
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 04/12/10
 
Lula, assim que passar a faixa a Dilma, dia 1 de janeiro, um sábado, segue para São Bernardo do Campo, de onde se pirulita, na segunda, para uma praia no Nordeste.

SEGUE... 
O presidente tem muitos planos para depois.
Um deles, de vez em quando, jogar no Politheama, o time de pelada de Chico Buarque, no Rio.

CIDADES DA SOLDA 
A Petrobras vai instalar no Complexo do Alemão o projeto Cidades da Solda, de formação de mão de obra qualificada para o trabalho de soldagem.
Iniciado 2005, em Contagem, MG, por intermédio do Senai, o projeto já tem unidades em São Paulo e em Duque de Caxias, RJ, ao lado da Reduc.

CELEBRIDADE... 
Aliás, José Mariano Beltrame, secretário de segurança do Rio, ao entrar para almoçar ontem no Porcão Rio’s, foi aplaudido pelos clientes.

PEGAR OU LARGAR 
De um sábio bem informado: o PP continuaria com o Ministério das Cidades se apoiasse a recondução do ministro Márcio Fortes.
Só que o partido deseja emplacar no cargo o deputado baiano Mário Negromonte. Aí já é mais difícil.

NATAL NO SHOPPING 
Acredite. Uma mamãe deu à luz, quinta, em pleno banheiro do segundo piso do Shopping Sul, no Rio.
Seguranças precisaram fazer um cordão de isolamento para ninguém entrar. Que mãe e filho sejam felizes.

CANTO DA SEREIA 
A TV Globo comprou os direitos do romance policial O canto da sereia, um noir baiano, de Nelson Motta, para produzir uma minissérie.
O roteiro é escrito por Patrícia Andrade e George Moura, com supervisão de Glória Perez.

DUELO CHINA X EUA 
A China ultrapassou os EUA também como a maior compradora de petróleo do Brasil. Até outubro, o país asiático tinha importado 179 mil barris/dia do óleo brasileiro; os americanos, 157 mil barris/dia.

SEGUE... 
Diante do motim, o comandante avisou que o copiloto estava a caminho, vindo da Ilha do Governador, de táxi.
O atrasildo só chegou às 19h04m.

PELADA NO MARACA 
A turma do consórcio formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta, que toca a obra do Maracanã, marcou para hoje uma comemoraçãozinha de fim de ano, pela manhã, de funcionários, no gramado do estádio.
Puseram as traves de volta e fizeram as marcas do campo.

SHALOM, FLU 
Cinquenta torcedores judeus do Fluminense, caso o clube seja campeão brasileiro, amanhã, vão sair direto do Engenhão para uma cerimônia de agradecimento em Copacabana.
Será na esquina da praia com Rua Santa Clara, onde ocorrerá a festa judaica do Chanuká. O Flu é forte na comunidade.

CENA CARIOCA 
Ontem, um guri de uns 10 anos andava no Norte Shopping com o pai quando a ajudante do Papai Noel, toda-toda, perguntou se ele queria tirar uma foto com o Bom Velhinho. E o miúdo:
— Eu, não! Mas, se for com você, eu quero!
Há testemunhas.

ROBERTO RODRIGUES

Câmbio e comida
ROBERTO RODRIGUES

folha de São paulo - 04/12/12

Dado o desequilíbrio entre a oferta e a demanda de alimentos, o dinheiro vem para commodities agrícolas

A FAO, órgão das Nações Unidas que cuida de agricultura e alimentação, acaba de publicar um estudo mostrando que os preços mundiais das principais matérias-primas agrícolas -cereais, açúcar e oleaginosas- tiveram alta significativa nos últimos meses, registrando valores próximos aos de 2007/2008, antes da crise financeira que varreu o planeta.
Segundo o estudo, o índice de preços foi o maior dos últimos 28 meses.
A FAO está preocupada com o reflexo desse aumento de preços sobre a população mais pobre, porque pode crescer exponencialmente o número de famintos no mundo, hoje próximo de 1 bilhão de pessoas.
Já tratei neste espaço das causas desse aumento forte: quebra de produção por causa de seca (caso do trigo na Europa central e na Austrália), aumento da demanda devido ao crescimento da população e de sua renda nos países emergentes e especulação financeira.
As duas primeiras fazem parte de ciclos normais da agricultura em qualquer lugar: preços sobem, todo mundo planta mais, custos de produção aumentam porque todos querem mais insumos, estoques explodem acima da demanda, preços caem, produção diminui e custos também, até que estoques ficam precários e preços voltam a subir.
Puro mercado, e é por causa desses ciclos inevitáveis que existem políticas protecionistas nos países ricos. É o princípio clássico da segurança alimentar. Mas o terceiro fator, a especulação, é difícil de conter com políticas públicas que não desequilibrem o mercado. A liquidez geral existente no mundo no pós-crise acaba produzindo uma migração alucinada de recursos, muitas vezes especulativos, em busca de remuneração melhor ao capital.
Por isso, dado o fato de vivermos um circunstancial desequilíbrio entre oferta e demanda de alimentos -que talvez persista por mais alguns meses em 2011-, o dinheiro, sem ideologia ou nacionalidade, desembarca nas commodities agrícolas, elevando seu preço ainda mais do que o próprio balanço estoque/ consumo permitiria.
Mas os preços também sobem por causa da questão cambial, mais especificamente devido ao valor do dólar: como a moeda vem perdendo valor em face de outras moedas, o investidor se protege investindo em commodities, todas elas, inclusive as agrícolas. Ou seja, quanto mais barato for o dólar, mais caras serão as commodities. E aí vem o tema da entrada de dólares no Brasil. Há três mecanismos para a moeda vir: investimentos produtivos; aplicações em Bolsa; aplicações lastreadas em renda fixa no mercado financeiro.
Como os juros vigentes no país são muito mais altos do que os praticados nos países ricos, onde estão próximos de zero, o capital especulativo vem em fartura. E isso também ajuda a valorizar o real diante do dólar, o que é ruim para os produtores/exportadores brasileiros, seja na indústria, seja no campo.
Taxa de câmbio, como ensina o professor Marcio Holland, da FGV, é uma variável esquizofrênica: no curto prazo até dá para regular um pouco, mas no longo prazo não tem jeito. E esse longo prazo, o mercado futuro, no caso do dólar, é cinco vezes maior do que o curto prazo, de acordo com Roberto Gianetti, da Fiesp.
No curto prazo, já que o país escolheu o câmbio flutuante, o BC, com o objetivo de evitar excessivas apreciações, faz intervenções (comprando dólar), além da tributação sobre o capital especulativo, em conjunto com metas fiscais e de inflação, as coisas vão se acomodando.
Mas, no longo prazo, a questão central é o equilíbrio fiscal. E não se trata só de o governo gastar menos, e sim de gastar melhor os impostos que lhe pagamos: investimentos em infraestrutura, em educação e em saúde, redução da burocracia, incentivos à inovação, por exemplo.
Isso acaba evoluindo para menor tributação e até redução de juros. O especulador perde o apetite, entra menos dólar, desvaloriza-se o real diante da moeda americana e todos ganham. Mesmo com câmbio flutuante, os riscos de mercado caem e todo mundo fica feliz, produzindo mais e mais barato.
ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp -Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula).