sábado, novembro 27, 2010

MERVAL PEREIRA

Ainda "Tropa de Elite"
Merval Pereira
O GLOBO - 27/11/10

O cineasta José Padilha está, mesmo que involuntariamente, no centro das discussões sobre a política de segurança pública, com a coincidência de seu filme "Tropa de Elite 2" estar em exibição com grande sucesso ao mesmo tempo em que o Rio de Janeiro expõe ao mundo, através das lentes da televisão, a guerra entre o poder público e o tráfico pela conquista de territórios na cidade, mostrando a todos o tamanho do problema que enfrentamos.

Esse será um processo longo e possivelmente doloroso, e Padilha tem razão quando diz que ele não se completará se, além das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), não for feita uma reforma da própria polícia.

O personagem Capitão Nascimento, criado pelo talento de Wagner Moura nos dois filmes dirigidos por José Padilha, transformou-se em um herói nacional e é aplaudido pelo país afora quando ataca aos socos um político corrupto.

Mesmo quando algum integrante do Bope se utiliza de métodos de tortura para arrancar informações de um bandido, a plateia quase sempre ou aceita ou até mesmo aplaude, o que denota uma distorção de valores que vem sendo discutida desde o primeiro "Tropa de Elite".

A reação de parte da população, e de setores da própria polícia, criticando o fato de as televisões transmitirem ao vivo as ações policiais, demonstra uma vontade secreta de que elas possam se valer da falta de transparência para algum tipo de justiçamento.

É natural, portanto, que o diretor José Padilha receie ver confundidos seus pensamentos pessoais com os de seus personagens de ficção que procuraram retratar uma realidade com a qual não necessariamente atores ou diretor concordam.

Talvez por isso, em sua boa entrevista no programa "Estúdio I" da Globonews, Padilha tenha se equivocado ao comentar a minha coluna de ontem, onde está escrito o seguinte: "Ontem foi dia de a realidade imitar a arte. Foi dia de torcer pelo Capitão Nascimento de "Tropa de Elite", que todos nós vimos em ação, ao vivo e a cores, nas reportagens das emissoras de televisão. Que o personagem de Wagner Moura tenha se tornado o novo herói nacional é um sinal dos tempos, não necessariamente um bom sinal".

"Ontem entraram em ação centenas de capitães Nascimento encarnados em cada um dos soldados do Bope, que o personagem do filme de José Padilha se orgulha de ter transformado em "uma máquina de guerra"".

Por uma leitura equivocada, Padilha entendeu que eu estava afirmando que ele se orgulhava de o Bope ter se transformado em "uma máquina de guerra", e me mandou um recado pela televisão afirmando que não se orgulhava de maneira nenhuma.

Esclarecida a questão, fica a realidade, que "Tropa de Elite" retrata tão bem, e por isso já foi visto por mais de dez milhões de espectadores.

Jorge Maranhão, diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão, que se dedica a estudar a cidadania e o que fazer para avançar nesse terreno, acha que o "eloquente nexo causal entre a violência social e a violação legal de nossas elites políticas" é uma das razões do sucesso do filme.

Ele acha que o capitão Nascimento "nasce para herói, numa cultura como a brasileira, que tem enaltecido a esperteza, e, mesmo que justiceiro, já é um avanço no rumo de uma nova cultura de cidadania".

Maranhão vê uma evolução do personagem, de uma ação voluntarista para questionador do que chama "o sistema", e considera que "começamos a avançar ao encontro do que o público anseia, o que já é extraordinário e explica o sucesso do filme".

Para o diretor da Voz do Cidadão, "o imaginário social em rica mutação" não tem sido detectado corretamente sequer pelos institutos de pesquisa, e ele cita vários casos recentes: a surpresa do ficha-limpa, em que ninguém acreditava; a surpreendente votação em Marina Silva de quase 20 milhões de eleitores que ninguém previu.

"São cidadãos querendo pautar a questão ética na política e que não estão suportando mais o nível de degradação de sua representação. Por isso que o filme faz sucesso. Apesar de nosso herói coronel Nascimento fazer justiça com as próprias mãos, o que só evidencia a omissão das instituições de Estado que ainda não apareceram para cumprir o seu papel".

O leitor Mauricio Renault de Barros Correia, analista judiciário do TRE-RJ e estudante de História (Unirio), tomado aqui como exemplar da reação média dos leitores, vê na mudança da capital para Brasília o marco da decadência do Rio, com a política de investimento e infraestrutura e investimento social limitadas às classes média e alta. A desindustrialização do município abriu espaço para a favelização, diz ele. "Bairros operários tornaram-se as comunidades carentes de hoje".

Para exemplificar o atraso econômico até o início do século, Mauricio Renault ressalta que a maior parte da economia do município está nas mãos dos funcionários públicos e dos aposentados, em sua maioria também advindos do serviço público.

Segundo ele, o crescimento urbano desordenado, sob o descaso dos inúmeros governadores do Estado do Rio de Janeiro, culminou na formação desta hidra de inúmeras cabeças que se tornou o crime organizado no estado.

"A inépcia dos governos anteriores, permitindo que facções criminosas ocupassem territórios de comunidades carentes, tomando o lugar do Estado e instituindo suas próprias leis, permitiu que a sensação de poder e impunidade dos criminosos chegasse à beira da insanidade".

A política de ocupação das comunidades carentes foi um marco no atual governo, diz ele. E, seguindo uma tendência generalizada, compara o secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame ao Capitão Nascimento, que "não retrocederá frente aos inimigos e coloca uma máquina de guerra contra os traficantes".

MÍRIAM LEITÃO


Nas três frentes
Míriam Leitão
O GLOBO - 27/11/10

Para que tema olhar? A violência no Rio domina a semana e os corações. Impossível não ver. Na Europa, uma moeda está próxima de um precipício. Sobreviverá o euro à crise das dívidas soberanas? No Brasil, o governo Dilma ganha os primeiros contornos, já há uma equipe econômica e os seus integrantes fazem declarações, algumas conflitantes com o que diziam dias antes.

Não posso escolher. São todos temas da atenção dos leitores desta coluna. Melhor separá-los e tentar reuni-los depois. Ontem, a situação estava assim: o presidente Lula, a menos de cinco semanas de deixar o cargo, antes de sair do país autorizou o envio de tropas ao Rio; a presidente eleita, fechada em copas, continua se comunicando por notas, nomeando apenas petistas, num governo que será de coalizão. No Rio, representantes das Forças Armadas, ministro da Defesa, governador e secretário de segurança deram entrevista conjunta sobre a mais impressionante ação já realizada por todos eles juntos na cidade contra o tráfico de drogas.

Não é a primeira vez que o Exército vai para as ruas do Rio. Quem por acaso tivesse à mão ontem a edição do GLOBO do dia 18 de maio de 1994, poderia ver a foto do então candidato Fernando Henrique percorrendo a cavalo e chapéu de nordestino ruas do sertão alagoano. A manchete do jornal aquele dia foi "Exército ocupa duas favelas do Rio." Foram 600 soldados do Batalhão de Infantaria Blindada do Exército que ocuparam as favelas de Ramos e Roquete Pinto. Difícil lembrar as circunstâncias, mas basta registrar que é assim sempre: no surto, no agudo da crise, a corrida para convocar o Exército como salvador. O alívio e aplauso. Depois, o Rio sempre voltou à banalidade do mal.

Há esperança maior desta vez porque há uma ação coordenada e uma política pública bem definida, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Houve tentativas no passado que foram abandonadas; agora há continuidade. Houve melindres no passado em se ter, em momentos de crise, a ajuda das Forças Armadas, mas a entrevista conjunta de ontem mostrou que essa visão estreita foi superada. Um estado federado precisa de ajuda e a União a fornece. Forças policiais não têm equipamentos e a Marinha os fornece. O Exército vence sua relutância porque foi invocada a sigla mágica: GLO. Garantia da Lei e da Ordem, princípio constitucional que permite que seus soldados atuem em ruas conflagradas do espaço urbano.

Mas o Rio já viveu suficientes dores para saber certas coisas. Essa guerra é complexa. Não tem só dois lados: mocinhos e bandidos. Tem vários outros, mas pelo menos um sobre o qual não se deve deixar de falar. O que a polícia deve fazer para vencer de vez o tráfico? No seu blog, o cientista político Luiz Eduardo Soares respondeu assim: "Em primeiro lugar, deveria parar de traficar ou de associar-se aos traficantes. Deveria parar de negociar armas com traficantes. Deveria parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando sob a forma de máfias ou milícias territórios e populações."

Pois é. O apoio ao poder público e à presença do Estado neste momento não pode ser ingênuo nem simplificar o que é complexo. Esquecer pontos como o das milícias. Do contrário, os fatos de hoje serão apenas um traço na história como a operação do Exército há 16 anos.

Os problemas do Rio não podem ser enfrentados com olhos em 2016. Por vários motivos. Um deles, é que antes tem 2012, quando chefes de Estado do mundo inteiro podem voltar a discutir aqui a questão ambiental, na Cúpula da Terra Rio+20. Mas antes de 2012, tem o dia 27 de novembro de 2010. E o que tem o dia de hoje? Hoje é o tempo presente, em que os 11 milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio querem o início de uma resposta duradoura e em que milhões de brasileiros sabem que essa é uma batalha essencial.

Várias batalhas essenciais do país serão enfrentadas no governo que começa em 35 dias. Não podem ser adiadas pela agenda intensa de eventos internacionais que temos pela frente, mas principalmente não podem ser adiadas por nós mesmos. O governo Dilma ainda está apenas no esboço. Há alguns bons sinais e outros preocupantes. O ministro Guido Mantega, que nos últimos anos incentivou o aumento excessivo dos gastos públicos e que, com manobras contábeis, tirou credibilidade de indicadores fiscais, foi confirmado no cargo e diz que fará, agora, ajuste fiscal. Será o início do neomanteguismo? No dia seguinte, sua proposta foi a de mudar o cálculo do índice de inflação retirando alimentos e combustíveis. Em vez de atingir a meta, mudar o termômetro que mede a meta. Isso sim se parece mais com o pensamento convencional do ministro da Fazenda.

Se existe uma coisa que o Brasil não precisa é perder batalha ganha. As da austeridade fiscal e da credibilidade de indicadores já foram vencidas. Não podemos retroceder. Entre outras razões porque o mundo piora a cada momento. Esta semana o fantasma que ronda a Europa deu mais volteios. O temor é de que ele chegue à Espanha. Ontem, José Luis Zapatero fez um discurso ameaçador aos mercados, avisando que eles terão que pagar parte da conta. Irlanda, Grécia e Portugal somados têm PIBs de US$750 bilhões. O da Espanha é de US$1,4 trilhão. Quase o dobro dos outros três. O euro caiu 3% na semana.

Num mundo mais instável, o Brasil não pode ceder terreno conquistado, precisa consolidar velhas vitórias e buscar novas. Uma delas será nas ruas do Rio. Teremos mais chance se soubermos que a vitória não virá apenas de um espetáculo, mas após uma longa sucessão de acertos.

MÔNICA BERGAMO

CHAME A POLÍCIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/10 

Causou grande desconforto entre os integrantes da AGU (Advocacia Geral da União) em SP uma ação que a Polícia Federal promoveu recentemente no órgão. Agentes armados chegaram ao prédio para fazer varredura nos computadores e procurar grampos. Quem chamou a PF foi o coordenador-geral Leandro dos Santos Marques. Ele diz ter visto um e-mail de um servidor com informações às quais só ele próprio tinha acesso. Afirma que desconfiou que sua máquina tivesse sido violada.

AVISA LÁ QUE EU VOU
O clima de desconfiança interna é grande. A AGU diz que as pessoas que tiveram os computadores inspecionados (funcionários do gabinete de Marques e do apoio administrativo) foram informadas previamente da visita dos policiais. As outras não foram avisadas porque, caso houvesse escutas ou grampos, eles certamente seriam retirados antes da varredura.

BOMBEIRO DO ALÉM
A Fundação Cacique Cobra Coral, entidade "esotérico-científica" que diz ter o poder de controlar o clima, afirma que foi acionada pelo governo do Rio para fazer chover durante as operações da polícia e da Marinha nos morros da capital. A água ajudaria a apagar os veículos incendiados e as barricadas montadas pelo tráfico.

REFÚGIO
A atriz Giulia Gam, que foi ao Festival de Cinema de Búzios, anteontem, apresentar o filme "Assalto ao Banco Central" a distribuidores, disse que esticaria o final de semana na cidade, com medo de voltar ao Rio por causa da onda de violência. Já Ingrid Guimarães, que apresenta a peça "Cócegas" em um teatro perto da Rocinha, também pensou em desistir da viagem, mas não poderia cancelar as sessões.

EU TÔ VOLTANDO
Antes de se mudar definitivamente para São Bernardo, o presidente Lula ainda pretende fazer duas visitas oficiais à cidade. No dia 4, inaugura uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e, na semana do dia 18, deve entregar um conjunto habitacional. Prometeu ao prefeito Luiz Marinho (PT) que levará a presidente eleita Dilma Rousseff à segunda agenda.

ROCK GLOBAL
Mariana Ximenes, Mayana Moura, Leandra Leal, Larissa Maciel e Julio Andrade, do elenco da novela "Passione", curtiram os shows de Phoenix e Smashing Pumpkins, entre outros, no camarote VIP do festival Planeta Terra, no Playcenter. Os atores Paulo Vilhena, Thaila Ayala e Fernanda Paes Leme também estavam entre os convidados.

NÃO TÃO CLÁSSICO
A Orquestra Filarmônica de Praga fez concerto na Sala São Paulo em prol da ONG Autismo & Realidade. Alguns músicos chamaram a atenção por exibirem longos rabos de cavalo.

SERTANEJO À PAULISTANA
O empresário João Doria Jr. e sua mulher, Bia, ofereceram jantar em sua casa, no Jardim Europa, em homenagem aos apoiadores do Natal do Bem, evento beneficente que acontece em dezembro. O governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o empresário Ivan Zurita participaram da noite ao lado dos cantores Claudia Leitte e Victor & Leo.

EM BRANCO
A tradicional Festa do Branco, confraternização de fim de ano que o arquiteto Jorge Elias promove todos os anos em sua casa no Jardim Europa, em dezembro, foi cancelada. "Minha mãe está doente e não tem clima pra fazer", diz Elias.

CAUDA DE COMETA
Guilherme Arantes vai dividir o palco com Nando Reis no show que o ex-titã fará em São Paulo no dia 2. Cantarão "Lindo Balão Azul", que o roqueiro gravou, sem a presença do compositor, em seu novo disco, "Bailão do Ruivão".

AO PÓ VOLTARÁS
O artista espanhol Ignasi Aballí pediu que a Pinacoteca lhe desse todo o pó recolhido pelos aspiradores do museu nos últimos dois meses, para colocar na instalação que abre hoje no local.

CURTO-CIRCUITO

O grafiteiro Gejo inaugura sua primeira mostra individual, hoje, a partir das 12h, na galeria Mônica Filgueiras.

Alessandra Campiglia oferece hoje jantar em prol do Instituto Guga Kuerten, obra social do ex-tenista.

José Patrício e Brígida Baltar lançam livros hoje, às 11h, na galeria Nara Roesler.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

NELSON MOTTA

Virada Carioca
Nelson Motta 
O Estado de S.Paulo - 27/11/10

A guerra está só começando, o vento virou. A população aplaude a polícia. A bandidagem está perdendo. O Capitão Nascimento tinha razão


Naquele tempo se podia subir qualquer morro do Rio, não havia nenhum perigo, só miséria. Muitos garotos das favelas próximas de Copacabana jogavam bola juntamente com os garotos do bairro nas praças, na praia e nas ruas. O Rio de Janeiro deixava de ser a capital, que se mudava para Brasília em janeiro de 1960.
De lá para cá foi ladeira abaixo, e morro acima. Em 1976, a Cidade Maravilhosa foi fundida à força com o atrasado Estado do Rio pelo governo militar. Foi a sua segunda morte.
A terceira seria lenta e sofrida, vítima de duas desastrosas administrações de Brizola, quando a polícia foi proibida de entrar em favelas em nome dos direitos humanos. E pior: com um governo Moreira Franco no meio. Na sequência, quatro anos de governo Garotinho, seguido de mais quatro de Rosinha. Nenhuma metrópole do mundo sobreviveria a essas administrações.
Em Nova York se consome muito mais drogas do que no Rio de Janeiro, mas o tráfico não manda nada, se contenta em vender o seu veneno escondido, porque a polícia prende e a Justiça manda para a cadeia. Mesmo podendo comprar livremente armas pesadas, o tráfico não comanda nenhum território, só se esconde da policia. Ninguém fala "o tráfico é o flagelo de Nova York". Lá o tráfico não é assunto, se movimenta nas sombras do submundo e não interfere na vida das pessoas comuns.
A maior graça, e a desgraça, do Rio de Janeiro é a sua geografia deslumbrante, com as praias cercadas de morros e montanhas onde se abrigam as quadrilhas de traficantes e as milícias. Nossas belezas se tornaram fortalezas do crime e da morte.
A guerra está só começando, o vento virou. A população aplaude a polícia. A bandidagem está perdendo. O Capitão Nascimento tinha razão.
É ARTICULISTA DE O ESTADO DE S. PAULO 

FERNANDO DE BARROS E SILVA


Tropa da mídia
Fernando de Barros e Silva
FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Há um triunfalismo exorbitante na cobertura jornalística dos acontecimentos gravíssimos no Rio de Janeiro. Na sua primeira página de ontem, o jornal "O Globo" estampou, em letras garrafais: "O Dia D da guerra ao tráfico".

A comparação, ou "semelhança simbólica", entre a ocupação da Vila Cruzeiro, anteontem, e o desembarque das tropas aliadas na Normandia, impondo a derrota aos nazistas, é um despropósito, um disparate histórico, além de factual.

Vale lembrar: no dia 21 de abril de 2008, o Bope pendurou na parte mais alta da mesma Vila Cruzeiro a sua bandeira preta com a caveira no centro. A tropa de elite da polícia comemorava uma semana de ocupação na favela. Falava-se então na apreensão de "três mil sacolés de cocaína e 480 pedras de crack". Já vimos, pois, esse filme antes.

O que aconteceu desde então? As coisas agora são diferentes? Parece que sim. A começar pelo emprego de armamentos de guerra e de efetivos das Forças Armadas no cerco ao tráfico. Os bandidos também mudaram de patamar: passaram a patrocinar ações típicas da guerrilha e do terrorismo pela cidade.

Até prova em contrário, esses parecem ser sintomas do agravamento de um problema, e não da sua solução. Curiosamente, o secretário de Segurança do Rio mostra ter mais noção disso do que a mídia.

Por toda parte -TVs, jornais, internet-, há uma tendência compulsiva para transformar a realidade em enredo de "Tropa de Elite 3", o filme do acerto de contas final. A dramatização meio oficialista e meio ficcional do conflito parece se beneficiar de uma fúria coletiva e sem ressalvas dirigida aos morros, como quem diz: sobe, invade, explode, arregaça, extermina!

É quase possível ouvir no ar o lamento pela ausência de traficantes metralhados diante das câmeras. Até o momento em que escrevo, foram incendiados 99 veículos e mortas 44 pessoas. Quantas eram marginais? Quantas eram só pobres-diabos? E que diferença isso faz?

RUY CASTRO

Carnaval no fogo
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/10

RIO DE JANEIRO - Em 2002, uma editora inglesa, a Bloomsbury (a mesma do Harry Potter), encomendou-me um livro sobre o Rio, para uma coleção de livros sobre cidades. Outros da série, a cargo de notórios residentes, tratariam de Nova York, Paris, Sydney, Veneza. Não queriam um oba-oba ou um guia turístico, mas uma reflexão particular sobre cada urbe.
No dia em que comecei a escrever, a duas semanas do Carnaval e com a cidade fervendo de turistas, bandidos obrigaram o comércio de Ipanema a fechar as portas pela morte de um traficante do Pavãozinho. Essa prática, comum nos morros, finalmente chegava à zona sul. Para alguns, era a véspera do Apocalipse -o começo do fim ou o próprio fim.
Abestado, como todo mundo, resolvi esperar. Não havia clima para escrever. Dei uma volta por Ipanema e constatei a nossa derrota. E, então, algumas horas depois, deu-se o milagre. O bloco Vem Ni Mim Que Sou Facinha, com saída marcada para aquele dia, botou seus tamborins na praça General Osório. Os supermercados, bares e lojas seguiram o exemplo e reabriram. E até o poeta Apicius lançou seu livro naquela noite. O Carnaval desafiara os marginais. E ganhara.
Ali me decidi pelo título do livro: "Carnaval no Fogo". Não por acaso, título de uma chanchada da Atlântida, que começava por um desenho de foliões dançando entre labaredas. Descobri que, desde sempre -ou desde Américo Vespúcio, em 1502-, o Rio era isso: uma cidade com a maior vocação para a festa, mas uma festa que se dá sempre sobre brasas. O subtítulo completava a ideia: "Crônica de uma cidade excitante demais".
Os acontecimentos dos últimos dias seguem essa tradição. Com a diferença de que, desta vez, o Rio resolveu devolver o fogo. Resta agora que o Brasil se junte de vez ao Rio nesta batalha -se não quiser ver algo como o México no seu futuro.

JOSÉ SIMÃO


Rio Fogo! Chama a Mangueira! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/10

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Rio 400 Graus! Rio em Chamas! CHAMA A MANGUEIRA! Rarará! Apela pra escola de samba: Chama a Mangueira!
E sabe qual a diferença entre São Paulo e Rio de Janeiro? É que São Paulo tem a Marginal parada. E o Rio tem marginal correndo.
E o site manourbano lançou um novo videogame: "PLAYPOBRE STATION! Tropa de Elite em 3D. Breve na porta da sua casa. Traficantes, Bope, tanques, carros incendiados e muito mais".
E parece filme mesmo. Ontem aqui em casa, quando os bandidos saíram fugindo da polícia, todo mundo gritou, levantou e bateu palmas! E a charge do Bessinha com o piloto: "Senhores passageiros, estamos sobrevoando a cidade maravilhosa do Rio de Jan... cof cof cof!".
Só falta o Pão de Açúcar entrar em erupção. Até o túnel Rebouças pegou fogo. Diz que o Lula vai lançar o REBOUÇAS FAMÍLIA: todo carioca terá direito a ver uma luz no fim do túnel. É um carro pegando fogo! Rarará!
E aquele carioca em chamas gritando: "Incendiaram minha camisinha". Mas a melhor manchete da semana é a do Sensacionalista: "Bandidos incendeiam Corcel 72 e dono agradece". Rarará!
E a ironia tragicômica: um táxi foi incendiado. Sabe como se chama o taxista? Ricardo Cinzas!
E o Rio tem que peitar esses bandidos virados na porra! O Anarcotráfico! E o trem-bala? Como disse o outro: "Só falta o trem". Rarará!
Trem-bala! Só falta o trem! Mas não é mais trem-bala. É trem à prova de bala! Trem-bala Perdida: sai do Rio e ATINGE São Paulo. E São Paulo devolve bala! ABALA!
E eu quero fazer uma pergunta pro papa: "Camisinha sabor morango pode?". Rarará!
E mais um predestinado. É que saiu um livro chamado "Sexo Trocado". Autor americano escreve sobre menino que fez cirurgia de reconstrução do pênis. Como é o nome do autor? John COLAPINTO! Rarará!
Cirurgia de reconstrução do pênis com John ColaPinto. Rarará!
A situação está ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Salve geral 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/10

 A pouco mais de um mês da troca de governo, o superintendente da Receita Federal em São Paulo, José Guilherme Antunes Vasconcelos, deflagrou um processo de remoção de delegados considerado inédito, em amplitude, por quem conhece bem o órgão.

Da noite para o dia, caíram os titulares de Araraquara, Jundiaí, Presidente Prudente, Barueri e da estratégica Derat (administração tributária). Desses, apenas o de Araraquara foi transferido (para Viracopos). Outros dez devem rodar, segundo relato feito por Vasconcelos a colegas. Ele disse que fará as substituições por meio de processo seletivo simplificado.

Não é... - A despeito do nome, o processo seletivo simplificado confere, na prática, total poder à atual cúpula da Receita para indicar os nomes de sua confiança.

...o que parece - Elevado à superintendência de SP em 2009, na gestão de Otacílio Cartaxo, Vasconcelos, assim como o chefe, não deve sobreviver à troca de guarda no Palácio do Planalto. Há quem enxergue na substituição serial de delegados os contornos de uma rebelião.

Disparos 1 - O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o senador Francisco Dornelles (PP) atuam juntos para tentativa de impedir que o ex-governador Moreira Franco (PMDB), braço direito de Michel Temer, assuma o Ministério das Cidades.

Disparos 2 - Aliados de Cabral enxergam o dedo de Moreira nos esforços para levar ao noticiário o complicado histórico do secretário estadual Sérgio Côrtes, cotado para a Saúde. Ninguém acredita que Dilma Rousseff escolha dois ministros do PMDB do Rio, daí o tiroteio.

Qual é? - O PC do B, que se reúne neste fim de semana em São Paulo, está para lá de incomodado com os esforços da equipe de transição para fazer de Manuela D’Ávila a ministra do partido, trocando Orlando Silva pela deputada no comando do Esporte.

Pássaro na mão - Parte expressiva do PC do B trabalha pela manutenção de Orlando. Há o temor de que, se Manuela for a escolhida, o Planalto crie algum cargo para cuidar especificamente da Copa de 2014, esvaziando as atribuições da pasta.

Dois em um - A China, que deverá abrigar a próxima cúpula do Bric em abril, formalizou convite para que Dilma aproveite a ocasião e faça, antes ou depois desse encontro, uma visita bilateral de Estado. A proposta foi formulada durante visita de trabalho da subsecretária do Itamaraty para a Ásia, Maria Edileuza Fontenele Reis.

Na real - Nas tratativas sobre a participação federal na ofensiva contra o crime no Rio, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, falou diretamente com o diretor da PF, Luiz Fernando Correia, de quem é amigo, e com Hélio Cardoso Derenne, da Polícia Rodoviária, mas não com o ministro Luiz Paulo Barreto (Justiça), prestes a deixar o cargo.

Rindo à toa - O PV, que deve emplacar o candidato derrotado ao governo Fábio Feldmann na Secretaria de Meio Ambiente em SP, propôs a Geraldo Alckmin o desenvolvimento de um indicador capaz de aferir os níveis de felicidade dos paulistas.

Tiroteio

Como previsto, a anunciada saída de Henrique Meirelles do Banco Central abriu o debate sobre maquiagem da inflação. E já estão preparando o pó-de-arroz.
DO DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), sobre a proposta do ministro Guido Mantega de retirar alimentos e combustíveis do cálculo da inflação.

Contraponto

Unfollow me

Quase ao final de sua participação, ontem pela manhã, em seminário sobre liberdade de imprensa promovido pela TV Cultura de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso foi indagado sobre a eventual intenção de aderir ao Twitter, rede social na qual o correligionário José Serra reúne 570 mil seguidores.
- Não tenho mais tempo, faço 80 anos no ano que vem - justificou o ex-presidente, acrescentando:
- O Serra me disse que tem centenas de milhares de seguidores. E tudo o que quero é não ter seguidores... 

DIOGO MAINARDI

Meus fantasmas
DIOGO MAINARDI
REVISTA VEJA

“Eu vim morar em Veneza para melhorar a qualidade de meus fantasmas. No Rio de Janeiro, eu convivia com o fantasma de Ziraldo. Aqui convivo com o fantasma de Eleonora Duse e de Gabriele D’Annunzio”



Lady Gaga é assombrada por um fantasma. Ela é igual a Scooby-Doo. Eu também sou assombrado por um fantasma. Eu sou igual a Lady Gaga e a Scooby-Doo.

O nome do fantasma de Lady Gaga é Ryan. Ryan persegue Lady Gaga em todos os lugares. Lady Gaga está em Istambul? Ryan a assombra em Istambul. Lady Gaga está em Estocolmo? Ryan a assombra em Estocolmo. Lady Gaga está em Belfast? Ryan a assombra em Belfast. Lady Gaga tem medo de Ryan. Em Belfast, algum tempo atrás, ela chegou a contatar um médium para tentar despachar o fantasma. O resultado, pelo que eu entendi, foi ruim: Ryan continuou a atormentá-la.

Se Lady Gaga é assombrada pelo fantasma de Ryan e se Scooby-Doo é assombrado pelo fantasma do Cavaleiro Negro, eu sou assombrado pelo fantasma de Eleonora Duse. Depois de passar uma temporada de oito anos no Rio de Janeiro, eu me mudei para Veneza. Vim morar no mesmo prédio em que morou Eleonora Duse. Lady Gaga tem muito mais páginas na internet do que ela. Scooby-Doo tem muito mais páginas na internet do que ela. Até eu tenho muito mais páginas na internet do que ela. Mas Eleonora Duse foi uma das maiores estrelas de teatro de todos os tempos. No fim do século XIX, ela era mais conhecida do que é, atualmente, Lady Gaga.

Há um episódio de Scooby-Doo ambientado em Veneza. No desenho animado, ele é perseguido pelo Gondoleiro Fantasma, que quer roubar um colar precioso. O fantasma de Eleonora Duse, que mora aqui comigo, é bem menos molesto. Ela se limita a recitar A Dama das Camélias, aos gritos, em cima de minha mesa de jantar.

O prédio em que o fantasma de Eleonora Duse e eu moramos está localizado à beira do Canal Grande. Na margem oposta, ligeiramente à esquerda, olhando pela janela, há uma casa vermelha em que morava o escritor Gabriele D’Annunzio. Eleonora Duse e Gabriele D’Annunzio eram amantes. Ele mergulhava no Canal Grande, cruzava-o a nado e vinha visitar Eleonora Duse em meu prédio. Um século mais tarde, seu fantasma continua repetindo a mesma rotina. Eu sempre pego Gabriele D’Annunzio em minha biblioteca, depois de sair do Canal Grande, inteiramente molhado, manchando o tapete e pingando em meu computador.

Já me perguntaram por que vim morar em Veneza. Eu vim morar em Veneza para melhorar a qualidade de meus fantasmas. No Rio de Janeiro, eu convivia com o fantasma de Ziraldo. Aqui convivo com o fantasma de Eleonora Duse e o de Gabriele D’Annunzio. Eu nunca me interessei por estrelas de teatro ou pela obra de Gabriele D’Annunzio. Mas num período como este, de assombroso embrutecimento intelectual, o máximo que posso fazer é tentar preservar alguns fantasmas do passado. Scooby Dooby Doo!

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO



A tomada da Vila Cruzeiro

EDITORIAL


O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/11/10
O secretário de Segurança Pública do Rio Janeiro, José Mariano Beltrame, equivocou-se. Na quinta-feira, depois da ocupação da Favela Vila Cruzeiro e da fuga em massa dos traficantes que fizeram dessa área de mais de 200 mil metros quadrados, na zona norte carioca, o principal baluarte do crime na cidade, o secretário declarou: "Ainda não há nada a comemorar."
Compreende-se e até se deve louvar a sua prudência. Mas há, sim, muito a comemorar, pela competente operação com que o governo fluminense respondeu aos atos terroristas que desde o começo da semana haviam transformado o Rio numa espécie de capital tropical do Quinto Mundo, com uma profusão de arrastões, queima de veículos e tiroteios que, até ontem, já haviam matado pelo menos 35 pessoas.
Deve-se comemorar, antes de tudo, um acontecimento sem precedentes: a participação de uma das Três Forças, no caso a Marinha, no combate não propriamente ao narcotráfico, mas ao poder incontrastável exercido por suas gangues sobre núcleos inteiros da cidade. Vila Cruzeiro, por exemplo, era o quartel-general do Comando Vermelho, assim como a Rocinha é a base da facção rival Amigos dos Amigos.
Sem a decisão da Marinha de atender prontamente a um pedido de apoio logístico das autoridades estaduais - cedendo veículos blindados, carros-lagarta e viaturas para transporte de tropas, além de 70 fuzileiros navais para manejá-los -, a mobilização de meio milhar de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Polícia Militar e Civil só poderia ter êxito a um preço impensável: a mortandade de sabe-se lá quantos inocentes na batalha campal que seria travada.
Comemore-se, pois, o "feito de armas" que pode mudar o curso do que, em última análise, é uma guerra pelo controle do Rio de Janeiro. Desde anteontem a repressão ao crime organizado na cidade visa mais do que nunca o pior dos seus desdobramentos: os verdadeiros governos paralelos, ou melhor, as tiranias brutais do tráfico e das milícias.
"A comunidade hoje pertence ao Estado", resumiu um dos responsáveis pela dramática operação na Vila Cruzeiro, transmitida ao vivo pelas redes de televisão, com câmaras instaladas em helicópteros. Foi também pela TV que o País acompanhou a debandada da bandidagem para o Complexo do Alemão, do outro lado da encosta - o novo alvo das forças de segurança, desta vez com o engajamento da Polícia Federal.
Por muito tempo ainda o narcotráfico terá de ser combatido em muitas frentes, não raro distantes dos centros urbanos onde prospera, como as regiões de fronteira no extremo norte do País. Mas uma coisa é a droga, outra é o banimento do poder público de áreas usadas como centros de distribuição, baluartes para as máfias que as dominam e nelas criam mercados cativos de bens e serviços.
O Estado tem de retomar os feudos do crime não apenas para manter a sua integridade, proteger e prover as suas populações, mas também para desestruturar as quadrilhas e torná-las mais vulneráveis à ação policial. Falando da fuga dos criminosos da Vila Cruzeiro, o secretário Mariano Beltrame observou que o ataque "tirou dessas pessoas o que nunca foi retirado: o seu território".
"É importante apreender drogas", disse ainda. "Mas é mais importante tirar o território." Naturalmente, está fora de cogitação o que equivaleria a retirar e devolver. As forças que recuperarem a favela não poderão sair dali tão logo. Nem será do dia para a noite que ali se instalará uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O trabalho "vai demandar um esforço muito grande", avisa Beltrame.
Aliás, as poucas que já funcionam (em comparação com o que o Rio de Janeiro necessita) afetaram os traficantes a ponto de fazê-los desencadear a ofensiva terrorista que ensejou, afinal, a cooperação entre as Forças Armadas e o governo do Estado - a ser ampliada, por decisão do presidente Lula, com o envio de helicópteros, veículos e equipamentos de apoio logístico. Além disso, informou o Ministério da Defesa, 800 soldados do Exército serão deslocados para "garantir a proteção dos perímetros das áreas que forem ocupadas pelas polícias".

RUTH DE AQUINO

Por que o Rio mudou para melhor
RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
"Quero paz e autoridade", disse na televisão o morador do bairro da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Falou baixo, sem raiva e com confiança. No cenário de fogo e fumaça que tomou as ruas do Rio de Janeiro, com 95 veículos incendiados por bandidos ao longo de seis dias, por que o sentimento da população é de esperança, até de euforia, e não de desalento? Porque o grito de “basta” foi ouvido. Não se fecham mais os olhos à guerra, não se faz mais pacto com traficante, acabou o faz de conta. Há homens de bem no comando e eles não estão na tela do cinema.
Se os bandidos achavam que seus atentados terroristas iriam jogar os moradores do Rio contra o governo, o efeito foi o oposto. A reação fulminante do Estado, com o inédito apoio de blindados da Marinha e a união de várias forças de elite, provocou perplexidade nos lares, dentro e fora das favelas. A desconfiança que, durante décadas, contaminou a relação com os homens fardados foi substituída por uma torcida sincera e atos de solidariedade. A ajuda foi além da colaboração formal, os mais de 1.000 telefonemas protegidos pelo anonimato para o Disque Denúncia. Os homens de preto e cara pintada eram recebidos em seu trajeto com carinho, com acenos, como se os comboios estivessem liberando territórios aprisionados pelo medo. Moradores deixaram suas casas para oferecer água aos policiais. Aplaudiram de suas janelas a passagem dos motociclistas do Batalhão de Choque, os tanques, os comboios dos Fuzileiros Navais e da PM.
Pela primeira vez eu vi, na semana passada, no Rio, a mesma cena que me surpreendera na Colômbia. Em Bogotá e Medellín, tanto nos ex-territórios do tráfico quanto nas praças e pontos turísticos, testemunhei em fevereiro de 2007 como a presença maciça de policiais confortava os moradores, em vez de intimidá-los. Os soldados eram ídolos. A toda hora posavam sorrindo para fotos ao lado de crianças, pais, mães. Personificavam a paz, o fim do terror imposto nas ruas e estradas. A população de classe média e classe alta se submetia solícita a revistas, abrindo bolsas, mochilas e malas do carro. Porque havia a consciência da guerra. E todos sabiam que precisavam colaborar.
Se os bandidos achavam que seus atentados iriam jogar os moradores contra o governo, o efeito foi o oposto
Antes dos últimos atentados, ouvi um intelectual carioca do bem queixar-se da expressão “pacificação” de favelas. Ele é a favor das UPPs, unidades formadas por jovens policiais treinados durante seis meses na Academia e que já ocuparam no Rio 12 favelas, antes dominadas por bandidos. “Por que dizem pacificar, e não simplesmente ocupar?”, perguntou esse amigo.
Nós, do asfalto e da elite, temos sido tão cegos quanto os ex-governos que abandonaram criminosamente esse Estado às moscas e aos ratos das valas e vielas. É fácil aproveitar os encantos de uma das cidades mais belas do mundo enquanto, nas favelas, a guerra corre solta há 40 anos. Quando dormi na Rocinha para uma reportagem, senti que eu era gringa, sim, mesmo que tentasse me misturar tomando uma cerveja no fim da tarde. Da mesa do bar, vi um rapaz bonito passar, com uma sacola de compras numa mão e uma metralhadora prateada na outra – como se legumes e armas tivessem o mesmo peso, a mesma utilidade. Era uma profusão de fuzis e pistolas o tempo todo, nas mãos de muitos menores de idade, apontados a esmo de farra. Se, em favelas, jornalistas como Tim Lopes são assados em pneus, como chamar a retomada desses territórios? “Pacificação” é a palavra certa. E a Rocinha continua pedindo ajuda. Segundo moradores, agora há treinamentos militares durante o dia, e o figurino dos bandidos adicionou granadas e bazucas.
Por tudo isso, o secretário de Segurança, Beltrame, que está no front, repete – mais do que qualquer antropólogo – que a batalha só começou. Diz que é preciso serenidade e firmeza, porque o Estado do Rio tem 1.020 favelas: “Repressão é necessária, mas sozinha não garante paz social”.
O Rio mudou para melhor por estar consciente de que existe uma guerra. E por, enfim – quem sabe –, ter conseguido convencer Brasília de que a ajuda federal não pode vir em espasmos. Não apenas por causa das Olimpíadas ou da Copa. Mas por uma questão de sobrevivência dessa cidade com vocação para a alegria.

CELSO MING



Expurgo de preços
CELSO MING 


O Estado de S.Paulo - 27/11/10
Confirmado no cargo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está empenhado agora em abrir caminho para a derrubada dos juros, projeto já anunciado pela presidente eleita, Dilma Rousseff. Ela pretende chegar aos 2% de juros reais ao ano, em quatro anos.
Mantega avisou que sua intenção é expurgar do índice oficial do custo de vida, o IPCA, as variações de preços dos alimentos e dos combustíveis. Não se trata de manipulação; trata-se de usar o conceito de núcleo de inflação para definição da política de juros. Além disso, o ministro quer que a economia se liberte dos indexadores de preços, ou seja, dos reajustes automáticos previstos em lei ou nos contratos.
Fácil entender a intenção dele. Os juros precisam subir quando a inflação tende a escapar para acima da meta; e tendem a cair quando a inflação fica abaixo. Livre de alguns dos fatores que mais pressionam os preços, o medidor de inflação concorreria para uma queda mais acentuada dos juros.
Antes de qualquer outra consideração, convém lembrar que essas ideias são, em princípio, corretas. Não faz sentido usar o medidor oficial de inflação que vem normalmente inchado com altas ou baixas de preços que nada têm a ver com o volume de dinheiro na economia ou o nível dos juros básicos. De mais a mais, se o feijão preto ou a batatinha ficaram caros demais em consequência de fortes secas ou do excesso de chuvas, o próprio consumidor se encarrega de encher a panela com outros alimentos.
Vistas essas coisas mais tecnicamente, o ministro Mantega está propondo que, para efeito de definição da política monetária, se aposente o índice cheio do custo de vida e seja adotado o conceito de núcleo de inflação (core inflation) assim expurgado, como operam alguns dos principais bancos centrais do mundo.
Três são os riscos de se adotar atabalhoadamente esse critério. O primeiro está em meter na vala comum tanto variações episódicas como crônicas de preços. Alimentos e petróleo são dois itens que tendem a encarecer dentro de alguns anos em decorrência do aumento do consumo internacional combinado com insuficiência de oferta e não de fatores conjunturais. Nessas condições, expurgar toda e qualquer variação de preços dos alimentos e combustíveis introduziria graves distorções nos índices.
O segundo risco é o de introduzir esse novo critério de maneira arbitrária, sem definir previamente uma metodologia transparente. Se for assim, ficará minada a credibilidade da condução isenta da política de juros junto aos marcadores de preços e não se poderá pretender um saudável gerenciamento das expectativas.
O terceiro risco é o de que essa mudança não passe de um truque grosseiro destinado a derrubar o juro à força de mandracarias como as que estão sendo adotadas pelo governo Lula no cálculo do superávit primário das contas públicas.
O sistema de indexação é distorção do entulho inflacionário. É o que pode ser dito da maior parte dos preços administrados, que correspondem a 30% da composição do custo de vida e evoluem de maneira automática, independentemente do tamanho dos juros ou da evolução da oferta e da procura. Não faz sentido usar o IGP-M, um índice sobrecarregado de preços do mercado atacadista, para reajustar aluguéis, tarifas e prestações de dívidas.
Se tais mudanças forem impostas arbitrariamente, tudo o que se conseguirá será a desmoralização da política de metas.
Aí está o tranco ocorrido em novembro no Índice Bovespa. É o fator
Irlanda e o drama do euro derrubando as cotações das principais ações negociadas na Bolsa de São Paulo.
Desindustrialização?
"Num país que importa US$ 125 bilhões em máquinas e equipamentos, em que o desemprego cai a 6,1% e a indústria produz a pleno vapor com resultados trimestrais apontando recordes de rentabilidade, falar em desindustrialização é um paradoxo'', afirmou ontem o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. Mais que paradoxo, é um despropósito. 

PAUL KRUGMAN

Comendo os irlandeses
PAUL KRUGMAN 
O Estado de S.Paulo 27/11/10

É o caso se perguntar o que será preciso para as pessoas sérias perceberem que punir a população pelos pecados dos banqueiros é pior que um crime; é um erro


Estamos precisando de um novo Jonathan Swift. A maioria das pessoas conhece Swift como o autor de As viagens de Gulliver. Mas os acontecimentos recentes me fizeram pensar em seu ensaio de 1729, "Uma proposta modesta", no qual ele observou a pobreza estarrecedora dos irlandeses e ofereceu uma solução: vender as crianças como alimento.
"Asseguro que essa comida será um pouco cara", ele admitiu, mas isso a tornaria muito apropriada para proprietários de terras , que, como já haviam devorado a maioria dos pais, pareciam ser os mais indicados para os filhos. Tudo bem que desta vez não são os proprietários de terras, mas os banqueiros - e eles estão apenas empobrecendo o população, não a comendo. Mas somente um satírico para fazer jus ao que está se passando hoje na Irlanda.
A história irlandesa começou com um verdadeiro milagre econômico.
Esse, porém, acabou dando lugar a uma orgia especulativa provocada por bancos e incorporadoras imobiliárias fora de controle, numa relação promíscua com políticos de peso. A orgia foi financiado com empréstimos enormes captados por bancos irlandeses, em geral de bancos de outros países europeus.
Aí a bolha estourou, e esses bancos enfrentaram prejuízos imensos.
Seria de esperar que os que emprestaram dinheiro aos bancos dividiriam os prejuízos. Afinal, eles eram adultos responsáveis por seus atos, e se não conseguiram compreender os riscos que estavam assumindo isso não foi por culpa de ninguém além deles. Mas, não, o governo entrou em cena para garantir a dívida dos bancos, transformando prejuízos privados em obrigações públicas.
Antes do estouro da bolha, a Irlanda tinha uma pequena dívida pública.
Mas, com os contribuintes subitamente ameaçados por prejuízos imensos dos bancos, enquanto a arrecadação despencava, a credibilidade do país foi colocada em xeque. Assim, a Irlanda tentou tranquilizar os mercados com um programa austero de corte de gastos.
Parem por um minuto e pensem nisso. Essas dívidas foram contraídas, não para pagar programas públicos, mas por espertalhões privados que buscavam apenas seu lucro pessoal. Agora, cidadãos comuns irlandeses pagam a conta.
Ou, para ser mais preciso, eles estão arcando com um ônus muito maior que a dívida - porque aqueles cortes de gastos causaram uma severa recessão, de modo que além de assumir as dívidas dos bancos, os irlandeses sofrem com a queda das rendas e o alto desemprego.
Agora o quê? Na semana passada, a Irlanda e seus vizinhos montaram o que foi amplamente descrito como um "salvamento". O que realmente se passou, porém, foi que o governo irlandês prometeu impor sofrimentos ainda maiores à população em troca de uma linha de crédito que, presumivelmente, daria mais tempo para a Irlanda, bem, recuperar a confiança. Os mercados, compreensivelmente, não se impressionaram quando as taxas de juros dos bônus irlandeses subiram ainda mais.
As coisas precisariam mesmo ser dessa maneira? No início de 2009, circulava uma piada: "Qual a diferença entre a Islândia (em inglês, Iceland) e a Irlanda (em inglês, Ireland)? Resposta: "Uma letra e cerca de seis meses." Isso era para ser uma piada de humor negro. Por pior que fosse a situação da Irlanda, ela não poderia se comparar ao completo desastre que era a Islândia.
Neste ponto, porém, a Islândia parece estar se saindo melhor que sua quase homônima. Sua recessão econômica não foi mais profunda que a da Irlanda, suas perdas de empregos foram menos graves e ela parece melhor posicionada para a recuperação. Os investidores, aliás, agora parecem estar considerando a dívida islandesa mais segura que a irlandesa. Como isso é possível? Parte da resposta é que a Islândia deixou que os emprestadores estrangeiros a seus bancos descontrolados pagassem o prelo de seu mau julgamento, em vez de colocar seus próprios contribuintes na linha para garantir as dívidas privadas ruins. Enquanto isso, a Islândia ajudou a evitar um pânico financeiro em parte impondo controles temporários ao capital - isto é, limitando a capacidade de os locais tirarem fundos do país.
A Islândia também se beneficiou do fato de que, diferentemente da Irlanda, ela ainda tem sua própria moeda: a desvalorização da coroa, que deixou as exportações islandesas mais competitivas, foi um importante fator para limitar a recessão na Islândia, Para os sabichões, nenhuma dessas opções heterodoxas está à disposição da Irlanda. A Irlanda, dizem eles, precisa continuar infligindo sofrimento a seus cidadãos - porque fazer qualquer outra coisa fatalmente solaparia a confiança.
Mas, a Irlanda já está em seu terceiro ano de austeridade, e a confiança continua se exaurindo. É o caso se perguntar o que será preciso para as pessoas sérias perceberem que punir a população pelos pecados dos banqueiros é pior que um crime; é um erro. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA 

ANCELMO GÓIS

GUERRA DO RIO 1 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 27/11/10

Está internada na Clínica Veterinária Ipiranga, em Laranjeiras, em observação, a cadela Fiona, vira-lata branca, que, coitada, foi atingida por uma bala perdida na Penha durante a guerra de quinta.
A bala, praticamente, destruiu a boca da cadela, que foi operada na mesma noite.

GUERRA DO RIO 2 
O senador eleito Lindberg Farias elogiou ontem, na Rádio CBN, o secretário Beltrame:
– Ele é uma espécie de Henrique Meirelles. É uma âncora de confiança.

ALIÁS... 
Perguntar não ofende: será que Dilma tem a mesma opinião de Lindinho sobre o presidente do BC? Há controvérsias.

SOLUÇÃO CASEIRA 
A Rádio Corredor da Receita Federal diz que o presidente do Conselho de Recursos Fiscais, Carlos Alberto Barreto, foi sondado para ser o novo secretário e tentar recuperar a imagem da Casa, abalada por vazamentos.
A conferir.

PENSAR, LIVRE PENSAR 
Lula, enfim, estendeu sua parceria com Cabral à segurança.
Antes tarde do que nunca.

CAYMMI S.A. 
Juliana Caymmi, neta do saudoso Dorival, é a mais nova promessa da família.
Filha de Danilo Caymmi com a compositora Ana Terra, Juliana lança, dia 13, seu primeiro CD, Para dançar a vida, na Modern Sound.

FRALDAS POLÊMICAS 
A Secretaria Nacional da Igualdade Racial vai recorrer da decisão do Conar pelo arquivamento da denúncia contra as fraldas Turma da Mônica, por causa da ausência de bebês negros e índios nas fotos das embalagens.

SEGUE... 
A secretaria teme que o caso vire jurisprudência pelo ineditismo da decisão.

PARTO GUARANI 
Dez hospitais paulistas que atendem pelo SUS permitem que índias guaranis deem à luz de acordo com sua cultura. 
Mães guaranis também levam a placenta para enterrá-la onde vivem, como manda a tradição.

BOLETIM MÉDICO 
Zico operou o ombro, quinta, no Hospital Samaritano, no Rio. Passa bem.

EUSÉBIO É FLA 
O português Eusébio, carrasco do Brasil na Copa de 1966, na Inglaterra, veio ao Rio para a Soccerex, a feira de negócios do futebol, e foi conhecer o Engenhão, domingo passado.
Reconhecido no elevador por um alvinegro que, depois de o elogiar muito, perguntou se o gajo estava ali “para torcer pelo Botafogo”, Eusébio respondeu: “Não. Sou Flamengo.”

CARNAVAL DE RUA 
A Riotur escolheu os patrocinadores do carnaval de rua de 2011. Antarctica e Itaú terão de pôr 6.400 banheiros químicos, controladores de trânsito e decoração nas vias públicas.
Com isso, a prefeitura economizará uns R$ 8 milhões.

GUERRA DO RIO 3 
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, presidirá uma vigília pela paz, que será transmitida pela Rádio Catedral, ao vivo, hoje, Dia de Nossa Senhora das Graças, das 22h à meia-noite.
O texto da vigília estará no www.arquidiocese.org.br.

PAZ NA EMPADA
A Casa da Empada ouviu as preces dos leitores da coluna e voltará a testar as empadas sem caroço na azeitona.
Haverá provas com críticos de gastronomia, funcionários, clientes, etc. Agora chega.

GUERRA DO RIO 4 
Nessas horas, o humor macabro prospera na internet. Alguém postou no Twitter: “Todo PM que matar três bandidos tem direito a pedir música no Fantástico.” Parece baixaria. E é. 

CLÁUDIO HUMBERTO

“Este não é momento de contornar os riscos, mas de enfrentá-los”
MINISTRO NELSON JOBIM (DEFESA), ADVERTINDO PARA OS RISCOS NO ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO

DILMA DEVE ACABAR GSI E RECRIAR GABINETE MILITAR 
A presidente eleita Dilma Rousseff estuda extinguir o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), criado no governo FHC, hoje sob chefia do general Jorge Félix, e reabilitar o Gabinete Militar da Presidência da República. A mudança é uma das mais importantes em estudo na sua equipe  de transição. A Agência Brasileira de Inteligência, vinculada ao GSI, pode ficar subordinada ao ministro-chefe do Gabinete Militar.

SEM DESTINO 
Outras hipóteses para a Abin seria subordiná-la à Secretaria-Geral ou à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.

ARAPONGA-CHEFE 
Dilma ainda não definiu quem chefiará a Abin, mas deseja para o cargo alguém do ramo, militar ou membro da comunidade de informações.

DILMA BARRADA... 
Ajuda o fim do GSI a ojeriza de Dilma a Jorge Félix. Certa vez, após um serão, ela foi impedida de sair do Planalto pela frente. O tempo fechou.

...BARROU O GENERAL 
Dilma gritou com os sentinelas e com o general Félix, ao telefone. No dia seguinte, ele a procurou para se explicar, mas ela não o recebeu.

CORONEL DA INFRAERO ACUSADO DE ASSÉDIO MORAL 
Em boletim de ocorrência na 10ª DP, de Brasília, um funcionário da GOL alega ter sido vitima de assédio moral por um assessor do presidente da Infraero. Ele discutia com passageiros enfurecidos com o atraso de voo quando o coronel Ivan Gonçalves o abordou, inclusive com contato físico. O rapaz indagou quem ele pensava que era e o assessor ameaçou: “Sou coronel do Exército e estou armado”.

RETALIAÇÃO 
Após o incidente, o coronel da Infraero retirou-lhe o crachá, como se fosse dirigente da GOL, e proibiu seu acesso até ao estacionamento.

OUTRO LADO 
Em nota, o coronel Ivan Gonçalves disse que agiu de maneira “cortês” e que também registrou B.O. contra o funcionário da GOL.

FORA DOS TRILHOS 
Após franceses, alemães e coreanos, os japoneses também saltaram da licitação do trem-bala. Preferem harakiri a trabalhar onde tem bala...

SILÊNCIO VALE OURO 
Os comandantes da operação de combate aos criminosos do Rio falam demais. Contam tudo, explicam o que pretendem fazer, como e quando vão agir etc. Devem achar que vagabundo não ouve rádio, nem vê TV.

QUE PENA... 
Com sua lente poderosa, o Globocop, o helicóptero da Globo, salvou os bandidos. Quando mostrou um deles sendo alvejado, houve ordem de cessar fogo. O comando da PM temia críticas. Sem a TV ao vivo, certamente grande parte dos bandidos em fuga estaria no bebeléu.

PERNA, PARA QUE TE QUERO? 
A bandidagem no Rio é numerosa, mas covarde e despreparada. A banda podre da PM fazia terrorismo, superestimando os bandidos, mas com bom planejamento, uma tropa honesta botou todos para correr.

DEU BANDEIRA 
É conversa para traficante dormir a “tomada” da Vila Cruzeiro, no Rio, como anunciou Sergio Cabral. Há dois anos, o Bope fincou a bandeira nacional para mostrar que controlava o “território” da droga. 

COBRA FUMANDO 
O ministro Nelson Jobim (Defesa) estava no Rio ontem, discutindo a guerra do tráfico. Mas dispensou a farda camuflada de general do Exército que usou numa operação militar no Amazonas, em 2007. 

CALAMIDADE 
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) recomendou aos filiados sair de carro blindado, e o Globo avisou aos assinantes que talvez não recebessem o jornal, “devido à situação na cidade”. 

BACIA DAS ALMAS?? 
Foi sintomático: o anúncio da equipe econômica mão incluiu os presidentes do Banco do Brasil, da Caixa e do Banco do Nordeste. É que ainda estão na bacia das almas, na negociação com os partidos.

ELOGIO DA OPOSIÇÃO 
O deputado oposicionista José Carlos Aleluia (DEM-BA) aplaude a decisão da presidenta Dilma de levar para o Ministério da Saúde o médico Dráuzio Varella: “Trata-se de um grande médico e humanista”.

FILME VELHO 
O vice-primeiro-ministro de Israel, Silvan Shalom, que chegou ao Rio em pleno fogo-cruzado, deve 
ter achado a Faixa de Gaza uma creche... 

PODER SEM PUDOR
APENAS UMA AMEAÇA 
O governador Virgílio Távora chamou o repórter Newton Pedrosa ao palácio, em Fortaleza, para comentar notícia que dera sobre seu governo. Iniciou a conversa lamentando a indiferença dos cearenses em relação ao seu trabalho em favor do Estado ao longo do tempo. O repórter só ouvindo em silêncio, e talvez porque não falasse, o governador desabafou: 
– Doutorzinho, nestes dias deixo esta merda, boto o meu boné e vou embora pra casa porque o Ceará não me merece. 
– Não foi.