sábado, novembro 13, 2010

DIOGO MAINARDI

Com Dilma, o PT chega em quinto
DIOGO MAINARDI
REVISTA VEJA


O leitor de VEJA já sabe o que esperar de mim: em matéria de prognósticos eleitorais, eu erro fatalmente, eu erro teimosamente, eu erro rumorosamente. Nos primeiros meses de 2008, prognostiquei que a candidata petista chegaria em quinto lugar. Dois anos e meio depois, estou aqui reivindicando meu erro. Errei, errei, errei.

É bom errar. É bom repetir que errei. Só há um aspecto de meu trabalho de que realmente me orgulho: eu nunca tentei compreender a mente ou o comportamento de meus compatriotas. Eu me atormentaria se um dia, mesmo que por engano, acabasse acertando um resultado eleitoral. Os valores aos quais sou mais apegado ruiriam. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Valdemar Costa Neto. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é a Mulher Melancia. Quem compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Chico Buarque. Eles sabem o que os brasileiros querem. Eu só sei o que os brasileiros repelem. Eles repelem Antonello da Messina e Memling. Eles repelem Pitágoras e Empédocles.
Silvia Brugner/Jornal O NacionalDe todos os nossos escritores, o único que conseguiu compreender a mente e o comportamento dos brasileiros foi Euclides da Cunha. Eu sempre recorro a ele quando tenho de tratar do assunto. Ele é meu Valdemar Costa Neto particular. Euclides da Cunha podia interpretar o caráter de uma pessoa a partir doformato e da medida de suas orelhas ou de sua testa. Eu me pergunto como ele teria interpretado o formato e a medida das orelhas de um eleitor do PT, como Chico Buarque.
Analisando a campanha de Canudos, Euclides da Cunha delineou perfeitamente o caráter nacional. Os fanáticos de Antônio Conselheiro eram uns “broncos”, uns “primitivos”, uns “retardatários”, uns “retrógrados”, uns “impotentes”, uns “passivos”. Eles eram “uma turba de neuróticos vulgares”, de “desvairados”, de “desequilibrados incuráveis”. Eles eram “uma gente ínfima e suspeita, avessa ao trabalho, vezada à mândria e à rapina”. Eles eram dotados de uma “moralidade rudimentar”, com uma série de “atributos que impediam a vida num meio mais adiantado e complexo”. Eles eram um retorno “ao estádio mental dos tipos ancestrais da espécie”.
Euclides da Cunha compreendeu a mente e o comportamento dos brasileiros. Ao contrário de mim, ele jamais teria errado o resultado eleitoral.

RUY CASTRO

Liberdade ainda que tardia
RUY CASTRO

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/11/10

RIO DE JANEIRO - Meu velho amigo Tárik de Souza -o que ele não conhece de música popular ninguém precisa conhecer- tem uma ideia revolucionária para libertar os acervos de música brasileira dos túmulos a que foram condenados pelas gravadoras. Túmulos sobre os quais elas se sentam e cujo conteúdo desprezam e desconhecem.
A ideia se resume numa palavra: desapropriar. Viria por meio de um decreto-lei, como já se fez muito no Brasil e ainda se faz por aí, motivo pelo qual Tárik a está chamando de "Lei Hugo Chávez". Por esta lei, as gravadoras brasileiras (na verdade, multinacionais instaladas aqui há décadas) entregariam tudo que gravaram de artistas nacionais, de, digamos, 1970 para trás, a um órgão central (como o MIS ou a Funarte), que disponibilizaria os fonogramas para quem quisesse relançá-los.
Não que as multis tenham os fonogramas originais. No seu desinteresse por qualquer música que não vá para as paradas, elas deixaram que coleções inteiras se perdessem. E estas teriam desaparecido de vez se não fossem os pesquisadores, que, por amor, conservaram tudo que se gravou no Brasil desde 1902. O que se quer é que as gravadoras abram mão e liberem -para sempre- o uso desses fonogramas, para serem "baixados", prensados ou o que for por quem tiver uso para eles.
Isso significaria a volta imediata de Pixinguinha, Francisco Alves, Carmen Miranda, Orlando Silva, Ciro Monteiro, Lucio Alves, os Anjos do Inferno e mil outros ao patrimônio nacional, assim como a reabilitação de homens como Alcyr Pires Vermelho, Zé da Zilda, Haroldo Lobo, Haroldo Barbosa, Garoto, Valzinho, Luiz Antonio e muitos mais, autores de tantos sucessos e eles próprios quase desconhecidos.
Essa medida é impensável nos EUA, e sabe por quê? Porque, lá, as gravadoras não se atreveram a deixar a grande música americana fora de circulação.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Dilma no Ponto G20!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/11/10

O Eike quer comprar A PERUCA DO SILVIO SANTOS! Por R$ 2,5 bi! Intermediada pelo Jassa!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Mulher bota fogo na casa para espantar perereca". A mulher entrou no banheiro, viu uma perereca alheia e, apavorada, tacou fogo. "Perdi tudo", disse. Homem perder tudo por causa de perereca eu já vi. Mas mulher é a primeira vez. Ou não! A Perereca Incendiária!
E 2012 é hoje! Apocalipse Now! O Silvio Santos quebrou! Vamos fazer uma vaquinha! Vou comprar uma telessena pra ajudar o Silvio Santos. Ou um novo Teleton: Teletombo! E o Eike quer comprar o SBT. "Eike gracinha", gritou a Hebe! Mas o Silvio falou pra colunista da Folha Mônica Bergamo que não sabe quem é o Eike! "Não conheço! Quem é esse Elque?" Deve ser a Elque Maravilha. Elke Maravilha compra o SBT!
O Eike vai contratar a Madonna pra trabalhar no SBT! E o site Sensacionalista revela que o Eike quer comprar A PERUCA DO SILVIO SANTOS! Por R$ 2,5 bi! Intermediada pelo Jassa! O Silvio deu como garantia o SBT e o Baú. O Jassa, a menina Maisa e o Bozo! E, se não pagar, o credor fica com o Celso Portiolli! E ele maquiava o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso. Rarará! Eu amo o Silvio Santos. Eu acho que o Silvio Santos não existe, é ficção!
Dilma no G20! E, como primeira presidentuça mulher do Brasil, mudou o nome do evento pra PONTO G20! Os presidentes têm que achar onde fica o ponto G! No shopping! Rarará. Diz que o ponto G da mulher fica no shopping. Rarará.
Uma vez uma reportagem de TV perguntou para uma mulher na avenida Paulista: "A senhora sabe onde fica o ponto G?". "Não sei, eu não sou daqui, sou de Belo Horizonte." Rarará! A mulher tem 20 pontos G!
E rico é G8! Ricos só são oito. Pobres são 20. Pobre gosta de andar empencado. Terceiro Mundo. Terminal da TAM em Paris: balcão de Porto Rico, Namíbia e Etiópia!
E de repente os Estados Unidos viraram socialistas. Querem socializar os prejuízos com o resto do mundo. Avisa pro Obama que os Estados Unidos quebraram porque todo galo tem seu dia de canja! Rarará!
E o teste do Tiririca? Qual a frase que ditaram pra ele escrever? "Florentina, Florentina, Florentina de Jesus!" Rarará! E, se o palhaço tem que provar que é alfabetizado, os alfabetizados têm que provar que não são palhaços! Viva o Tiririca! Eu acho que o Tiririca tem que ficar. O pior que tá FICA! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Democracia virtual

MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/11/10

As iniciativas do poder público na construção de espaços virtuais ainda são reduzidas no Brasil e deixam o país na 55ª. posição no ranking mundial dos governo eletrônicos, junto com Índia e China, atrás de Argentina (44), México (39), Chile (18), Colômbia (9).
Os países no topo do ranking são: Coréia do Sul, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Países Baixos.
A Macroplan, empresa de consultoria especializada em análises prospectivas, fez um levantamento inédito em parceria com pesquisadores do Instituto Universitário Europeu (Florença, Itália), sobre democracia eletrônica publicado pelo Centro Global de Tecnologia da Informação e Comunicação em Parlamentos, das Nações Unidas. O economista Gustavo Morelli e o cientista político Tobias Albuquerque, da Macroplan foram os representantes da empresa brasileira.
O estudo avaliou 92 sites de casas legislativas em países de sistema federativo (Brasil, Espanha e Estados Unidos), assim como 30 espaços virtuais de informação e deliberação que têm o potencial de tornar o processo político mais participativo, transparente e legítimo.
A pesquisa, que teve o objetivo de servir de referencial para políticas de inovação em matéria de democracia eletrônica aqui no Brasil, encomendada à Macroplan pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, revelou que – quando bem empregadas - as tecnologias da informação e comunicação estão contribuindo, e muito, para aumentar a transparência do processo político, abrindo espaços novos de informação e deliberação e, principalmente, consolidando a democracia.
A nova e grande oferta de possibilidades tecnológicas está revolucionando as antigas práticas de comunicação não apenas nas empresas, que tem utilizado as novas configurações para melhorar os seus negócios, mas também na esfera do governo, com impactos diretos na forma de se fazer política, principalmente nos parlamentos.
As melhores práticas na categoria transparência da ação parlamentar foram desenvolvidas nos Estados Unidos - Open Congress, Capitol Words for you e Open legislation e, no Reino Unido, They work for us e BBC Democracy Live .
Na categoria interatividade e participação, o site da Câmara dos Deputados do Brasil (e-democracia) é citado como um dos destaques, ao lado do inglês No. 10 e-petitions e TID +,da Estônia.
O estudo, contudo, aponta que o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente na construção da democracia eletrônica e não traz as melhores noticias para o país.
Por aqui, ainda há poucos exemplos do melhor aproveitamento das novas tecnologias no ambiente público.
No Brasil, ressalta o estudo, as iniciativas no âmbito do Executivo ainda se restringem à publicação de dados para fins de controle e acompanhamento dos gastos públicos.
Segundo o estudo da Macroplan, o problema no Brasil é mais acentuado nas casas legislativas, justamente onde deveria haver mais transparência e interação.
Os níveis de confiança do cidadão e sua disposição em participar de iniciativas levadas a cabo pelo Legislativo ainda são bastante baixos.
Além de expor o reduzido número de iniciativas no poder Legislativo que servem como exemplo de participação e transparência, o estudo sublinha um fato que se pode observar na maioria dos parlamentos estaduais e municipais brasileiros: o fornecimento de informações de utilidade questionável em seus sites.
Chamou a atenção na pesquisa voltada aos parlamentos brasileiros a ausência de informação sobre como a contribuição do cidadão é processada, quais são os destinatários finais das proposições e de informações relativas à situação orçamentária estadual e ao processo de elaboração orçamentária em si.
Há casos extremos de total ausência de informações sobre a atividade legislativa.
Outro problema recorrente é a falta de reatividade dos políticos. O estudo constatou que um grande número de contatos on-line realizados por cidadãos com deputados e seus respectivos gabinetes permanecem sem resposta ou são respondidos de maneira genérica.
Existe uma tendência global de universalização das tecnologias de informação e comunicação. No Brasil, por exemplo, o número de usuários de Internet passou de pouco mais de 5 milhões, em 2000, para 75 milhões, em 2010.
A população mundial, em breve, passará a ter 20% de penetração de banda larga. Com as novas tecnologias, os princípios da transparência, participação e abertura estão cada vez mais próximos da realidade social e política.
Os governos terão que lidar com a interferência direta de redes organizadas, redes que, por sua vez, irão facilitar a ação coletiva em busca de soluções para problemas comuns.
As redes de comunicação atuais fazem com que a participação esteja ao alcance de cada cidadão e não apenas da chamada sociedade organizada, que muitas vezes se forma em torno de grupos de interesse na defesa corporativa de posições de segmentos, em detrimento do coletivo.
Estamos diante de uma possibilidade concreta de aumentar o papel da sociedade na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, ressalta o estudo.

ALDO REBELO



Paulistas, nordestinos, brasileiros
Aldo Rebelo 


O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/11/10
"O meu pai era paulista,
Meu avô, pernambucano,
O Meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano"
(Chico Buarque - Para Todos)
A manifestação virulenta e desprovida de qualquer teor de humanismo de uma estudante de Direito na internet reabriu o debate acerca do preconceito contra nordestinos em São Paulo e repõe a reflexão sobre o sentimento de unidade e identidade nacionais. Tão preocupante quanto a intolerância das diatribes é a contrapartida que simula respeito, mas diferencia nordestinos e paulistas como populações distintas dentro da mesma nação. Houve quem, a pretexto de defender os nordestinos, os comparasse aos mexicanos, como se o Nordeste fosse para o Brasil o que o México é para os Estados Unidos.
São Paulo tem culpa no cartório? É verdade que ramos obsoletos do pensamento paulista se empenharam em forjar um conceito de paulistanidade que a pesquisadora Jessita Maria Nogueira Moutinho cunhou de "ideologia afirmadora da superioridade étnica, econômica e política dos naturais do Estado de São Paulo". Nesse campo minado se inscrevem as obras de Alberto Salles (A Pátria Paulista, 1877) e Alfredo Ellis Jr.
(Confederação ou Separação, 1933). A essa mirrada corrente de opinião escapou, para começo de conversa, a formação social paulista e nela, a presença do índio. Antes de quase tudo virar italiano, São Paulo era a cidade portuguesa mais indígena do Brasil, a ponto de aqui se falar mais a língua tupi, cuja presença se perpetua a cada esquina em nomes como Ibirapuera, Anhangabaú, Itaquera, Tietê. A elite ilustrada jamais renegou essa origem, ao contrário, sempre se orgulhou de descender do cacique Tibiriçá - fundador da cidade com o padre Nóbrega -, pai de Bartira, sogro de João Ramalho, o Adão dos quatrocentões da Pauliceia.
Para além das arengas ideológicas e intelectuais, quando os interesses econômicos e políticos de São Paulo destoavam do restante do País, jamais se formou aqui uma corrente de massas capaz de ameaçar a integridade da Nação. A paulistanidade não é um conceito exclusivo nem excludente. Os imaginários regionais são fecundos em todos os Estados - a paulistanidade, a mineiridade, o gauchismo e a pernambucanidade são manifestações que propiciam a síntese da fisionomia local como parte da identidade nacional. Os lugares de história mais densa valorizam suas características, exaltam seus traços e constroem um imaginário que mesmo quando desafia o restante do País não afronta a unidade nacional.
É assim que, para ficar no plano das grandes lutas históricas, os mineiros celebram a Conjuração de Tiradentes; os gaúchos, a Farroupilha; os baianos, a Revolta dos Alfaiates e o 2 de Julho; os pernambucanos, a Insurreição de 1817, a Confederação do Equador e a expulsão dos holandeses em 1654; os paraenses, a Cabanagem.
São Paulo cobre de glórias seus bandeirantes, e o que chamam de Revolução Constitucionalista de 1932 teve como objetivo não o separatismo, mas a redemocratização do País, celebrando como resultado a convocação da Constituinte de 1933. É de registrar a preocupação do governador Pedro de Toledo em mandar imprimir dinheiro para o movimento de 1932 com a efígie de heróis nacionais como Caxias, Tamandaré, Floriano Peixoto e Rui Barbosa. Ressalta ainda os dizeres do brasão criado na ocasião, com a inscrição latina Pro Brasilia fiant eximia - Pelo Brasil faça-se o melhor.
A rigor, a geografia do Brasil é quase uma invenção paulista. A grande saga dos bandeirantes traçou os limites do território nacional, fincando a bandeira do futuro País em rincões recônditos - de Guaíra ao Rio Acre. São Paulo enviou regimentos para expulsar os holandeses da Bahia e de Pernambuco, e deles fez parte ninguém menos que o grande Raposo Tavares, à frente de 150 homens recrutados à sua custa. Nas páginas deste jornal Euclides da Cunha revelou o Brasil profundo ao Brasil urbano ao descrever a Guerra de Canudos, superando o positivismo cientificista abraçado por gente de fina inteligência e largo preconceito. A comovedora descrição que fez do sertanejo teve a força de uma revolução antropológica e cultural de valorização do homem nordestino.
O engenheiro e geógrafo baiano Teodoro Sampaio estudou a Bacia do Rio Tietê, foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Escola Politécnica, e deixou importante contribuição sobre as bandeiras paulistas na formação da geografia do Brasil. Hoje é nome de município no Estado e de rua na capital.
Na História cintilam episódios de colaboração decisiva entre nordestinos e paulistas - a exemplo do apoio do fazendeiro de Campinas Campos Sales ao alagoano Deodoro da Fonseca, proclamador da República e seu primeiro presidente. O governo de São Paulo, tendo à frente o mineiro Bernardino de Campos, foi o que mais ajudou outro alagoano, Floriano Peixoto, a consolidar a República - mobilizando tropas para combater a reação monárquica; 14 anos depois, o alagoano Manoel Joaquim de Albuquerque Lins governaria São Paulo, de 1908 a 1912. Ainda em São Paulo, a paraibana Luiza Erundina seria eleita prefeita da capital e o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva iniciaria sua vida sindical e política rumo à Presidência da República.
São Paulo não discrimina os nordestinos como política nem em movimento social. A mocinha do Twitter é pouco mais que um caso de desatino. O desafio é amalgamar a identidade nacional sem as tentações das superioridades regionais e nos considerarmos todos filhos de uma só Pátria. O Brasil que continuamos a construir é o arquitetado pelo maior dos paulistas e também o maior dos brasileiros, José Bonifácio de Andada e Silva, ao traçar a política do jovem país: "Nós não reconhecemos diferenças nem distinções na família humana."
DEPUTADO FEDERAL (PC DO B-SP)

RUTH DE AQUINO

O tró-ló-ló dos Três Poderes
REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO


A guerra por aumentos de salários no Judiciário, Legislativo e Executivo lembra um filme de terror

RUTH DE AQUINO
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Parece filme de vampiro. A guerra por aumento de salários no Judiciário, Legislativo e Executivo, antes da posse da presidente eleita, é um trailer do que vem por aí. O salário mínimo de R$ 600 é “tró-ló-ló”, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Então, por favor, parlamentares e servidores, parem de delirar. Caiam na real. A oitava economia do mundo não pode ter uma educação semelhante à do Zimbábue. Um país recordista em tributação não pode extrair, de cada cheque dos brasileiros, um pingo de sangue para consertar a saúde.
Vamos aos números – tirem as crianças da sala, porque os próximos dois parágrafos beiram a obscenidade. O Judiciário quer 56% de aumento para os servidores! O impacto seria de R$ 6,7 bilhões no Orçamento. “Meio delirante”, disse o ministro Paulo Bernardo. Os juízes do Supremo querem 14,7% e passariam a ganhar R$ 30.600. O impacto seria de R$ 450 milhões no Judiciário. São os mesmos ministros que não conseguiram decidir sobre a Ficha Limpa antes da eleição. Eles já ganham mais que o dobro do presidente. Lula hoje recebe R$ 11.420. Os deputados e senadores, para tentar convencer a sociedade de que precisam aumentar seu salário-base de R$ 16.500, propõem pagar melhor a Dilma. A presidente eleita quer reajustar os vencimentos dos ministros, hoje defasados em R$ 10.700. “Caso contrário”, disse Dilma, “não vamos ter ministros no Brasil.”
Essa dinheirama toda não leva em conta a verba extra dos parlamentares. O Congresso brasileiro gasta, segundo pesquisa da organização Transparência Brasil, R$ 11.545 por minuto. Só o Congresso dos Estados Unidos gasta mais que o nosso. De acordo com levantamento do site jornalístico independente Congresso em Foco, cada um de nossos 513 deputados federais custa pelo menos R$ 99 mil por mês. Cada um dos 81 senadores custa pelo menos R$ 120 mil por mês. Por quê? Por causa dos extras. Auxílio moradia, passagens aéreas, postagem, telefone, gasolina, carros, gastos de gabinete, plano de saúde. Para “contratação de funcionários”, cada senador dispõe de R$ 82 mil por mês e cada deputado federal de R$ 60 mil por mês. E ainda haveria, além do 13º salário, o 14º e o 15º, disfarçados de “ajuda de custo” no início e no fim do ano.
Toda democracia precisa de um Congresso – atuante, sério, respeitado, consequente. Os custos são altos ou baixos, dependendo do que a sociedade recebe em troca. Alguém lembra de 1993, quando Lula, ainda na oposição, disse que havia 300 picaretas no Congresso? É recesso demais, escândalo demais, briguinha demais, quórum insuficiente demais e falta de foco em incontáveis debates. Eles são servidores, somos nós que pagamos seus vencimentos. O bolo do Orçamento é um só. E a sociedade já elegeu suas prioridades. Só falta agora tentarem empurrar goela abaixo dos brasileiros a culpa por uma saúde indigente – CPMF, CCS ou o que seja, que tal parar de delirar, como diz o ministro Paulo Bernardo?
A guerra por aumento de salários no Executivo, Legislativo e Judiciário lembra um filme de terror
Para colocar ordem na casa, quero confiar na Dilma linha-dura, aquela que combateu os militares, resistiu à tortura, venceu um câncer. Se existe uma vantagem na Dilma presidente, é exatamente o tal “ponto fraco” em sua biografia: ela não é um político profissional. De políticos profissionais com vocação para enriquecer, e não para servir, o país está cheio. Não importa que ela apareça de calça ou de saia, de terninho ou de tailleur, de escarpim ou mocassim. Isso tudo é confete e serpentina. Assim como a intenção de colocar 30 mulheres no governo. Bobagem. Os negros também querem. Daqui a pouco virão os índios. Se for para impor alguma cota, que seja a cota do caráter.
O Brasil deve almejar ter uma cota mínima de 80% de congressistas honestos, que não se metam em maracutaias e nepotismo. Que 100% dos ministros estejam acima das questões partidárias e, cada um em sua pasta, honrem seus compromissos. Que olhem para seu próprio umbigo gordo e cortem nos gastos. Que tenham vergonha de usar dinheiro público para si e seus parentes. Já é um começo. A Dilma pode, ela já disse que pode. Foi dona da Casa Civil, a casa caiu, e ela vai expulsar os sanguessugas. Ou não?

CLÓVIS ROSSI

Da intuição à razão na diplomacia 
Clóvis Rossi
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/11/10


Dilma tenderá mais a consolidar instrumentos criados pelo antecessor do que a criar novidades



SEUL (COREIA DO SUL) - Sai um absoluto intuitivo, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, entra uma profissional da racionalidade, de nome Dilma Vana Rousseff.
Essa inversão de personalidades no Palácio do Planalto terá consequências também na política externa brasileira, embora ainda seja cedo para esmiuçar detalhes porque não é (nunca é, aliás) prioridade de campanha e, portanto, não demanda atenção especial.
Mas, se depender do entorno de Dilma, a palavra "institucionalização" -de claro contorno tecnocrático- terá predominância na sua ação externa.
É uma palavrinha incapaz de provocar qualquer emoção forte, mas necessária.
Traduzindo: se a opinião de seus assessores prevalecer, Dilma dedicará mais tempo e esforços a institucionalizar instrumentos criados ou consolidados no governo Lula do que a novas iniciativas.
Concretamente: BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), Unasul (União de Nações Sul-Americanas, o grupo de todos os países da América do Sul), além do Mercosul, precisam se tornar realmente operativos, não convescotes anuais (caso BRIC) ou periódicos (caso Unasul).
Do meu ponto de vista, aliás, o BRIC precisa de mais do que institucionalização.
Inexiste como instrumento de ação conjunta. Pode até ser forte, pode até ser relevante, mas pelo que cada um dos países do grupo é.
Exemplos contundentes de falta de ação conjunta:
1 - China e Rússia votaram a favor da mais recente leva de sanções das Nações Unidas ao Irã. O governo brasileiro votou contra. A Índia não é membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e, portanto, não precisava votar.
2 - O Brasil aponta o dedo para a China no caso do câmbio, acusando-a de desvalorizar artificialmente a sua moeda, o que cria uma competição desleal com quem, como o Brasil, deixa o câmbio flutuar (com o inconveniente de que só tem flutuado para cima).
Parceiros que prezam o sócio não criam esse tipo de problema para o outro.
Fica claro, portanto, que institucionalizar o BRIC é uma necessidade, sim, embora as chances de que de fato atuem coordenadamente pareçam remotas.
Na verdade, China e Brasil têm tudo para serem mais rivais que sócios, competindo por mercados.
O caso da Unasul é diferente. Há uma identidade imensamente maior, há a contiguidade geográfica e, por extensão, interesses compartilhados. Mas, até agora, o bloco agiu mais por espasmos do que por uma estrutura eficaz e funcional.
Ainda por cima, sofreu a perda de seu primeiro secretário-geral, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, muito pouco tempo depois de ter sido agente relevante para evitar que a crise que a polícia equatoriana provocou tivesse consequências mais sérias.
Fica claro que o período Lula, de intenso movimento na área de conglomerados regionais ou globais, conhecerá uma pausa na agitação em benefício de uma maior racionalidade e eficácia operativa.
O que está perfeitamente de acordo com o jeito de ser de Lula e Dilma

REGINA ALVAREZ

Condição para crescer
REGINA ALVAREZ

O GLOBO - 13/11/10

O cenário de crescimento anual médio de 5,5%, projetado para os próximos quatro anos, pressupõe necessariamente um aumento nos investimentos. A taxa atual é insuficiente para fazer frente às demandas da economia aquecida. A participação do governo é muito pequena nesse bolo e também é limitada a margem de expansão, porque os investimentos concorrem com outras despesas no Orçamento.

Um dos caminhos recomendados por especialistas é o financiamento de parte dos investimentos em infraestrutura, cruciais para o crescimento sustentado, com recursos externos. Se o Brasil está sendo inundado por dólares baratos, por que não transformar o limão em limonada e direcioná-los para investimentos de longo prazo em áreas estratégicas como portos, aeroportos, estradas ou mesmo saneamento? Áreas com gargalos expostos e necessidades urgentes.

O economista Roberto Padovani, estrategista de investimentos do WestLB AG, conta que o banco alemão tem enorme interesse em aumentar os investimentos no Brasil. Gostaria de investir em aeroportos, mas não consegue entrar nesse mercado. A situação do setor é confusa, a Infraero vive um momento de indefinição. Não se sabe se continuará nas mãos do governo, se vai ser privatizada ou terá o capital aberto.

- O banco cobra e pergunta: se tem recursos para essa área, por que não consegue financiar? - relata Padovani.

Os gringos não entendem e nós também não. O setor cresce a taxas de 20% ao ano, tem infraestrutura precária, mas não consegue se estruturar minimamente para receber investimentos externos.

O presidente da Sabesp, Gesner de Oliveira, conta que está resolvendo boa parte das demandas de São Paulo com investimentos privados e também externos, mas no resto do país a tributação elevada e os problemas com o marco regulatório são entraves que afugentam o investidor.

Outros estados e prefeituras, alguns administrados pelo PT, como a Bahia, por exemplo, estão se valendo de Parcerias Públicas-Privadas para atrair investimentos, mas o governo federal não saiu do lugar na tentativa de viabilizaras PPPs.

O economista Armando Castelar, da FGV, estima que o país precisará aumentar a taxa de investimentos em pelo menos 2% do PIB para sustentar o crescimento. E vê no atual momento uma grande oportunidade de direcionar o capital externo abundante para áreas estratégicas como a de infraestrutura, desde que se reduza o risco regulatório, a tributação, e melhore o ambiente de negócios:

- Esse dinheiro todo barato querendo entrar no Brasil, se direcionado para investimentos de longo prazo, pode resolver alguns problemas-chaves do país.

Falsas pequenas

(TCU) constatou que pelo menos 56 empresas cadastradas no sistema de compra do governo federal como micro e pequenas venceram licitações públicas de forma fraudulenta, entre os anos de 2007 e 2009.

Usaram os privilégios que a lei das micro e pequenas empresas garante a esse segmento nos pregões, mas tiveram um faturamento anual superior aos limites legais. A partir de um cruzamento da base de dados do governo, que incluiu informações fornecidas pela Receita Federal e pelo sistema de compras administrado pelo Ministério do Planejamento, o grupo de inteligência concluiu que pelo menos 600 cadastradas no sistema como microempresas tiveram faturamento acima de R$ 240 mil em 2007.

As empresas que venceram licitações nessa condição estão sendo ouvidas pelo TCU e algumas já foram declaradas inidôneas e retiradas do cadastro do governo, mas as compras não podem ser revertidas.Uma ação de inteligência do Tribunal de Contas da União

Gerência
Censo interno realizado pela Basf mostrou que 23% das mulheres que trabalham na empresa ocupam cargos de liderança. Dessas, 94% estão em cargos de gerência.

Desconto coletivo
Com o controle do site de compras Oferta X, que oferece descontos a partir de um número mínimo de compradores, o Comprafacil.com pretende crescer 80% no mercado de internet. 

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Amarga sentença
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/11/10

Com respaldo da bancada governista, o pleito do Judiciário paulista por fatia mais generosa do Orçamento em 2011 tende a ser relativizado por Geraldo Alckmin. É consensual na equipe de transição do tucano a tese de que os R$ 5,6 bilhões oferecidos por Alberto Goldman já contemplam correção acima da inflação e atendem às necessidades funcionais do setor.
O TJ-SP pede R$ 12,3 bilhões e aponta risco ao funcionamento dos serviços jurisdicionais. O valor é considerado proibitivo para o núcleo alckmista, ainda que o temor de uma greve como a que durou 127 dias este ano assombre a largada do novo governo.

Sorvedouro - A posição de Alckmin espelha um diagnóstico, consolidado na gestão de José Serra, segundo o qual os recursos destinados ao Judiciário de São Paulo, independentemente do volume, são canalizados para salários de juízes e desembargadores, e não para melhorar a qualidade dos serviços prestados à população.

Megafone - O temperamento explosivo do governador em exercício, Barros Munhoz (PSDB), rendeu-lhe, na presidência da Assembleia paulista, o apelido de ‘Berros Munhoz’.

Positivo... - Depois do infarto sofrido na véspera, José Alencar acordou ontem por volta das 6h e perguntou a um assessor: ‘Tem despacho hoje?’. Antes mesmo de ouvir a resposta, determinou: ‘Não cancela nada. Já estou com a caneta na mão’.

...e operante - Em despacho de mais de uma hora com Beto Vasconcelos, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, o vice assinou mais de 30 atos e quis se inteirar da posição de Lula sobre os mais variados temas.

Cabo eleitoral - Na conversa que teve com José Eduardo Dutra (PT) na terça-feira, o presidente do PP, Francisco Dornelles (RJ), defendeu a permanência de Guido Mantega na Fazenda.

Fica, Lupi - Lideradas pela Força Sindical, cinco centrais aprovaram ontem o texto de carta a ser encaminhada na terça-feira a Dilma, na qual pedem a manutenção de Carlos Lupi (PDT) à frente do Ministério do Trabalho. O documento só não foi subscrito pela CUT, que exigiu mais tempo para submeter o tema aos seus filiados.

Conjunto unitário - Um curioso observou: o único até agora a defender publicamente o Enem, e consequentemente Fer­nando Haddad, foi o presidente Lula.

Expertise - O Cespe, um dos integrantes do consórcio contratado pelo MEC com dispensa de licitação para aplicar o Enem, também foi responsável pelas provas do último concurso do Ministério Público Federal.

Fila - O governo quer tentar aprovar ainda este ano o marco regulatório do pré-sal, mas esbarra numa dificuldade na Câmara: teme que, ao abrir uma sessão extraordinária para a votação da matéria, os deputados incluam na pauta perigosos ‘jabutis’. O maior temor é a PEC 300.

Ato final - Na próxima reunião do colegiado, ainda neste mês, a Mesa da Câmara deverá cumprir a decisão do TSE e sacramentar a perda do mandato do deputado Bispo Rodovalho (DF), que trocou o DEM pelo PP.

Calculadora - O grupo mais próximo de Tarso Genro pressiona para que o governador eleito evite convocar um deputado federal do partido para seu secretariado. O objetivo é evitar que Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT que ficou na suplência, assuma vaga na Câmara.

Tiroteio
Ao pedir a cabeça do ministro da Educação, a oposição, derrotada nas urnas, tenta criar um clima de terceiro turno.
DO DEPUTADO REELEITO PAULO TEIXEIRA (PT-SP), defendendo Fernando Haddad das cobranças causadas pela sucessão de problemas no Enem.

Contraponto
Plano de carreira
Em reunião do PT realizada na quarta-feira passada na Câmara, Luiz Couto (PB) brincava com os colegas a propósito do fato de a bancada abrigar, entre seus recém-eleitos, Padre Ton (RO) e Padre João (MG).
Além disso, lembrava ele, o partido reelegeu um deputado de nome Jesus Rodrigues (PI).
Posto que a campanha eleitoral deste ano acabou dominada por um forte componente religioso, um dos presentes aproveitou a deixa:
- Pronto! Agora só nos falta um cardeal!

CELSO MING

Para alguma coisa, valeu
CELSO MING 


O Estado de S.Paulo - 13/11/12
A reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), realizada nos dois últimos dias em Seul, na Coreia do Sul, terminou sem tomar decisões capazes de garantir a virada do marasmo prevalecente na economia mundial.
Apesar disso, não dá para sustentar que a reunião tenha sido um total fracasso, apenas porque seu comunicado não contém concretudes. Nem dá para dizer que o G-20 não serve como instância de governança global e de coordenação de políticas.
Algum resultado houve sim. E terá consequências. O principal foi uma mudança de posição e possivelmente de diagnóstico em alguns dos mais importantes players globais.
Os Estados Unidos, por exemplo, chegaram a Seul dizendo três coisas: que a China era a grande culpada pelos desequilíbrios porque manipula seu câmbio e tal; que era preciso estabelecer metas de saldo em conta corrente (contas externas); e que a sua postura é a do dólar forte.
Foi dito aos dirigentes americanos que sua política monetária alternativa (o afrouxamento quantitativo) é um arranjo que produz desvalorização do dólar e que empurra para o resto do mundo a conta da crise. E que não faz sentido estabelecer metas rígidas de saldos nas contas externas. Os representantes da Alemanha advertiram ainda que nada do que vier a ser decidido adiantará se os fundamentos de cada economia não forem reforçados e isso implica equilíbrio orçamentário.
Em compensação, o presidente Barack Obama e os dirigentes americanos conseguiram se fazer ouvir sobre a impossibilidade de continuar um jogo em que alguns se dedicam a exportar e os Estados Unidos se limitam a importar e a fornecer títulos de dívida para formação de reservas.
A China também fez uma concessão importante. O presidente Hu Jintao comprometeu-se a aumentar gradativamente o consumo interno do país, mas, como sempre, pediu tempo.
A simples contestação do discurso dos Estados Unidos não vai mudar suas políticas. Nem vai afastar o banco central (Fed) de sua disposição de aprofundar o afrouxamento quantitativo. Em todo o caso, é difícil imaginar que os dirigentes americanos consigam sustentar agora o discurso mantido até aqui.
A falta de resultados imediatos pode servir de base a questionamentos sobre a eficácia do G-20, como instância responsável pela governança e coordenação de políticas, num ambiente contaminado pela crise e pelo marasmo financeiro.
O fato é que a economia está cada vez mais globalizada e decisões de política econômica tomadas pelo governo de um país importante têm forte impacto sobre os demais. Se não houver uma coordenação de políticas, o sistema econômico mundial tende a produzir atritos e manobras defensivas de todo tipo. Além disso, os atuais organismos internacionais criados para coordenar iniciativas não funcionam. As Nações Unidas, por exemplo, são uma instituição fraca. Não conseguem organizar sequer uma assembleia destinada a deter o aquecimento global. O Fundo Monetário Internacional não tem capacidade de imposição (enforcement) e o Grupo dos Sete (G-7) ficou limitado demais.
Ou seja, se há alguma possibilidade de que se institua uma instância de governança global, ainda que informal, terá de ser ou o G-20 ou alguma coisa parecida com ele. Se até agora não produziu grandes resultados, talvez seja porque não tenha tido tempo (começou em 2008).
Ninguém levou dinheiro
Na fraude contábil do Panamericano ninguém levou o dinheiro. As evidências apontam para o fato de que se tratava de um banco de mau desempenho, cujos resultados foram turbinados com lançamentos contábeis falsos. Não foi uma operação que começou agora. Vem de 2006.
Ninguém sabe, ninguém viu
A Deloitte, que auditava os balanços do Panamericano, nada viu. E até agora não foi capaz de explicar por que passou atestados de excelência aos balanços do banco. Ao contrário, limita-se a tergiversar por meio de notas oficiais.
Faltou cruzamento
Com base nos laudos da Deloitte, a Caixa Econômica Federal comprou 49% de um banco que não era o que parecia. Em Brasília estão sendo recolhidas evidências de que a Deloitte não fez os necessários procedimentos de circularização (cruzamentos de informações) que poderiam ter detectado as anomalias contábeis. Por isso, tem tudo para ser cobrada judicialmente. 

ANCELMO GÓIS

CABRAL X LULA 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 13/11/10

O governo fluminense entrou esta semana no STF com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) da lei da capitalização da Petrobras.
O Rio deseja receber a parte de lhe cabe em participação especial na venda do governo para a Petrobras de 5 bilhões de barris de petróleo de seis campos no Estado.

SEGUE... 
A lei da capitalização da Petrobras, sancionada por Lula em 30 de junho, faz referência aos royalties, mas não menciona a participação especial, outra fonte de recursos dos Estados produtores de óleo.
A Adin, cuja relatoria já está com o ministro Gilmar Mendes, pede que a lei inclua na cessão a participação prevista na Constituição.

A PARTE DO RIO... 
Como essa cessão dos 5 bilhões de barris foi contabilizada em uns R$ 72 bi, o Rio se sente credor de uns R$ 25 bi.

NO MAIS... 
O desfecho dessa Adin é, naturalmente, imprevisível.
Mas o Rio mostra, com a ação, que não ficou parado diante das constantes tentativas do Congresso de tungar os royalties fluminenses.

DE GENTE GRANDE 
O juiz Ricardo Lafayette Campos, do Rio, mandou correr em segredo de Justiça a briga entre o executivão Rodolfo Landim e seu ex-patrão Eike Batista.
Alega que “a deturpação de fatos tratados e alegados pelas partes pode repercutir negativamente no mercado financeiro”.

CRÉDITO PESSOAL 
Acredite. Ontem, apesar do escândalo do rombo de R$ 2,5 bi, o Banco PanAmericano, de Silvio Santos, fez uma ofensiva por clientes no Centro do Rio.
Pôs uns garotos para distribuir panfletos com oferta de crédito pessoal ao povão.

CENTRAL DA COPA 
O “Central da Copa”, programa que fez de Tiago Leifert a estrela da TV Globo no Mundial da África do Sul, estará de volta terça, depois de Brasil x Argentina.

ALIÁS... 
Fizeram um Twitter falso de Leifert, mas ele não perdeu o bom humor:
— O cara é muito ruim de cantada, precisa honrar o nome que usa.

PRÍNCIPE DO SAMBA 
Paulinho da Viola (eu adoro) festejou 68 anos, ontem, em família. A mulher, Lila, fez um de seus pratos prediletos: rosbife.

ÚLTIMA FORMA 
O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, não está hospedado no Hotel Alvear, mas no Hotel Emperador, mais barato, participando da missão junto ao VI Fórum Parlamentar Ibero-Americano, na Argentina.

VIVA IVAN! 
De Ivan Lins, o músico, em show para o programa “Palco MPB”, da MPB FM, falando do assalto que sofreu no Rio:
— Não adianta ficar com raiva do ladrão, tem de ficar com raiva é dos políticos que podem fazer alguma coisa contra a violência e não fazem! O grande investimento que o País tem de fazer é em educação. E da boa!

BOLETIM MÉDICO 
O deputado Jorge Picciani voltou a ser operado no Hospital Samaritano, no Rio.
Passa bem.

DOM ODILO P. SCHERER

Um bilhão de famintos
Dom Odilo P. Scherer 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/11/10

A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Agricultura (FAO) lançou recentemente uma campanha de ajuda aos cerca de 1 bilhão de famintos ou subalimentados no mundo, sobretudo na África e na Ásia, mas também na América Latina. É muita gente! Será pela falta de alimentos, ou porque a terra é incapaz de produzi-los em quantidade suficiente?

Em áreas desérticas ou semiáridas, é provável que essas duas hipóteses sejam verdadeiras. Mas olhando o mundo como um todo, não se pode afirmar que faltem alimentos, ou que a terra seja incapaz de produzi-los. Há até sobra de alimentos e muita capacidade produtiva não aproveitada. Os verdadeiros problemas são outros e nos levam à reflexão sobre algumas questões básicas da convivência entre os povos, já abordadas em diversos documentos da Doutrina Social da Igreja: a adoção de um adequado conceito de desenvolvimento e a revisão dos parâmetros das relações entre os povos, para integrar novos critérios éticos, sem os quais a fome, a pobreza, a violência e as injustiças locais e internacionais não serão resolvidas.

No Dia Mundial da Alimentação, 15 de outubro passado, em carta dirigida ao diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, o papa Bento XVI recordou que o primeiro compromisso dos indivíduos, das organizações internacionais e dos Estados deve ser o de libertar da fome todos os membros da família humana. E convidou a comunidade internacional a estar unida nessa luta.

Infelizmente, não é isso o que se vê quando programas da agricultura voltada para a produção de alimentos não recebem o apoio e o estímulo que são dados a setores mais rentáveis da ocupação e da economia. Produção e distribuição de alimentos deveriam merecer atenção prioritária, em vista do bem social que delas depende: o elementar direito à alimentação. Esses setores poderiam dar oportunidade de trabalho a milhões de desempregados e espaço para o progresso tecnológico.

Mas aqui se coloca outra questão de fundo: que tipo de desenvolvimento e quais prioridades? Estimular setores tecnológicos da produção de supérfluos, coisas interessantes, mas não indispensáveis, que trazem lucro mais rápido e em maior volume, ou matar a fome do povo e satisfazer outras necessidades básicas, como a moradia, a saúde e a educação? Questão de escolha.

É espantoso que em certos países, como a Índia e o próprio Brasil, convivam setores tecnológicos de ponta com situações da mais dura miséria.

Na sua encíclica Caritas in Veritate (A Caridade na Verdade, 2009), o papa Bento XVI convida os povos e os seus governantes a buscarem um autêntico desenvolvimento humano, baseado na ideia de pessoa como unidade de corpo, alma e espírito; a satisfação das necessidades materiais com o acesso à tecnologia e aos bens de consumo não é tudo. O desenvolvimento humano integral vai além da posse de bens e se expressa na adesão aos valores antropológicos e éticos mais elevados, como a fraternidade, a solidariedade e o bem comum.

Tais valores são sumamente importantes quando se trata de debelar a fome. Quando o desenvolvimento econômico local e globalizado integra esses imperativos éticos, ele é capaz de favorecer o bem comum mais que os interesses de parte. A constante afirmação dos interesses fechados de países, grupos e setores, conseguida pela pressão de quem já é mais forte, até mesmo pelas armas, produziu o mundo que vemos: de um lado, mesas abarrotadas e gente superalimentada; de outro, multidões famintas a se baterem por escassas migalhas. Tem jeito de mudar isso?

O papa indica mais questões do desenvolvimento humano integral: somos parte de uma grande família e precisamos superar a indiferença diante das necessidades do próximo, seja ele pessoa, povo ou país. A humanidade é uma única família e todos estão no mesmo barco, para o bem e para o mal: ou vai para a frente esse barco, com todos dentro, ou afundam todos juntos. O bem de um é o bem de todos, a falta de paz de um é a falta de paz de todos.

Quando se levar a sério a consciência dessa responsabilidade de uns pelos outros, de um povo pelo outro, dos fartos pelos famintos, será possível combinar de forma nova as regras da convivência neste condomínio familiar maravilhoso que o Criador pôs à nossa disposição.

A solução para o problema da fome está menos na roça e nas mãos calejadas dos agricultores do que nos gabinetes e fóruns das decisões políticas, econômicas, financeiras e comerciais. A fome será superada mais pela ponta da caneta do que pelo cabo da enxada. Uma renovada fraternidade e solidariedade é urgente necessidade moral na família humana, na qual é direito que os mais sadios e fortes olhem pelos mais fracos e doentes. Não dá para continuar a fazer de conta que o problema é apenas dos outros. De fato, a atual migração de milhões de pessoas para países ricos ou regiões mais desenvolvidas mostra que as pessoas vão atrás do pão: se o pão não chega aonde as pessoas estão, elas vão lá onde o pão se encontra. O problema é de todos.

A eliminação da fome e da subalimentação requer a superação das barreiras do egoísmo, da insensibilidade e da indiferença, sinais preocupantes de um subdesenvolvimento humano e moral, e a abertura para uma fecunda gratuidade na relação de pessoas, organizações e povos. A gratuidade é uma das mais nobres disposições humanas e leva a pensar de modo desinteressado no bem do próximo; é expressão de fraternidade verdadeira na família humana. Planos e programas continuam sendo necessários, assim como o respeito pelas regras e pela justiça; mas tudo isso será animado por disposições novas, capazes de dar brilho a 1 bilhão de olhares famintos no mundo.

CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

CLÁUDIO HUMBERTO

“Eu recebi uma herança maldita, um País andando para trás”
PRESIDENTE LULA, QUE DEIXARÁ SUA SUCESSORA EM UMA SITUAÇÃO “MAIS CONFORTÁVEL”

PSDB FINANCIOU CRISTOVAM CONTRA LULA EM 2006 
A candidatura do senador Cristovam Buarque (DF) à Presidência da República pelo PDT, em 2006, recebeu doações financeiras da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo revelou a esta coluna o próprio presidente do PDT-DF, Ezequiel Nascimento. Ele diz que no total foram R$ 950 mil. O PSDB investia na candidatura de Cristovam para tirar votos de Lula (PT), que disputava a reeleição.

CAIXA 2 
Ezequiel Nascimento afirmou que a campanha de Cristovam recebeu R$ 250 mil oficialmente e R$ 700 mil no “caixa 2” de origem tucana.

INTERMEDIAÇÃO 
As doações da campanha do PSDB para Cristovam Buarque teriam sido realizadas por uma produtora que trabalhava para os tucanos.

COLABORAÇÃO 
Ezequiel Nascimento se coloca à disposição do conselho de ética do Senado para investigar Cristovam pela suposta quebra de decoro.

PRESSÃO 
O presidente do PDT-DF denunciou o financiamento tucano a Cristovam irritado com a pressão do senador para retirá-lo do cargo.

CIA AÉREA ITALIANA É ACUSADA DE FORMAR CARTEL 
A União Europeia multou em 80 milhões de euros a companhia aérea Cargolux Airlines International por formação de cartel. A empresa é a mesma que recebeu autorização do governo e da Agência Nacional de Aviação Civil para operar no País. A Cargolux é acusada de combinar preços com outras 22 empresas, como a Air France e a holandesa KLM, que agora também são investigadas pelas autoridades europeias.

HÁBITOS ANTIGOS 
Ré confessa, a Cargolux Airlines também já foi multada no Canadá em US$ 2,5 milhões por formação de cartel, entre 2002 e 2006.

MARCA 
A conta corrente de número 10 milhões do Banco Postal, presente em 95% do Brasil, foi aberta em Itapetinga, cidade no interior da Bahia.

TIRA A MÃO 
O PT quer o cargo, mas o senador Romero Jucá (PMDB-RR) já se articula para permanecer líder do governo no Senado.

OLHO NA URNA 
No DF, o deputado Cabo Patrício (PT) já espalha entre correligionários que será presidente da Câmara Legislativa. Falta combinar com o deputado Chico Leite (PT), campeão nas urnas com 36,8 mil votos.

CPMF NEM PENSAR 
O deputado federal eleito Antonio Reguffe (PDT-DF), o mais bem votado do País proporcionalmente, avisou ao seu partido que não será a favor da volta da CPMF. O PDT quer ressuscitar o imposto em 2011. 

PRESSÃO PARTIDÁRIA 
O vice-presidente eleito Michel Temer entregou um documento do PMDB ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, com os termos do acordo para dividir o comando da Câmara dos Deputados nos próximos quatro anos. Temer espera ter o documento de volta até o fim do mês. 

SÍLVIO QUE SE CUIDE 
Além de Eike Batista, outro megaempresário está de olho no SBT: João Roberto Marinho, um dos proprietários da Rede Globo. Ele estaria interessado em um canal de TV próprio, sem a parceria dos irmãos.

COM A MACACA EM 2014 
Tem tudo para ser o novo “Cacareco” o chimpanzé contrabandeado do Brasil e repatriado para uma reserva paulista. Fumante inveterado, era a atração num zoo de Beirute, Líbano, diz a agência AP. 

ESTOU FORA 
O senador Tasso Jereissati (CE) nem admite conversar sobre a possibilidade de assumir a presidência nacional do PSDB. Está deixando a política. Só quer saber de viajar e cuidar dos netos.

É O REGIMENTO 
O presidente do Congresso, José Sarney, não aceita rodízio no comando do Senado. Para ele, o regimento da Casa deve ser obedecido e o maior partido, o PMDB, elegerá o próximo presidente.

COBRANÇA 
Senador eleito, Armando Monteiro não quer esquentar a cadeira no Congresso. Ele quer que seu partido, o PTB, o indique para o Ministério da Micro e Pequena Empresa, uma nova pasta prometida por Dilma.

INCITATUS 
Depois do office-boy e da cabeleireira, a presidenta Dilma também poderia nomear “Nego”, o ex-cachorro de José Dirceu. Au, au. 

PODER SEM PUDOR
SACRISTIA MILITANTE 
Tadeu Leite (PMDB) disputou o segundo turno com Athos Avelino (PPS) em Montes Claros (MG). A disputa muito acirrada entre o “15” de Tadeu e o “23” de Athos chegou à igreja. Um conhecido pároco local, partidário do candidato do PPS, conclamou os fiéis, domingo, dia de eleição e de missa: 
– Meus irmãos, minhas irmãs, abram a bíblia em Athos, capítulo 23... 
Pelo sim, pelo não, Athos Avelino, o 23, venceu com 53% dos votos.