quarta-feira, novembro 03, 2010

MÔNICA BERGAMO

PEDAÇO DE BOLO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/11/10

A "cota" do PT de SP no ministério de Dilma Rousseff (PT) está sendo objeto de intensa disputa. Os petistas paulistas consideram que nomes como Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, que pode ir para o Ministério da Justiça, seriam escolhas pessoais da nova presidente e de Lula, e não do partido. E defendem que Aloizio Mercadante, que foi para o sacrifício disputando uma eleição difícil para o governo de SP, atenderia de fato a legenda. São duas as pastas consideradas do "tamanho" do Estado: ministério da Educação e ministério das Cidades.

XADREZ
Em outro movimento, uma parte da bancada paulista está "obcecada", nas palavras de um dirigente, em permitir que José Genoino (PT-SP), eleito suplente, assuma uma vaga no parlamento. Para abrir lugar, o grupo defende que um dos deputados paulistas assuma um ministério: Cândido Vacarezza (PT-SP). Falta combinar com o próprio, que prefere disputar a presidência da Câmara dos Deputados.

TERCEIRA VIA
Neste quadro, Marta Suplicy (PT-SP) corre por fora. E sem apoio firme do partido, que considera que ela deveria se contentar com o fato de ter sido eleita ao Senado.

BEM LONGE
Depois de comparecer à festa de Dilma em Brasília e de dar entrevista ao "Roda Viva" que foi ao ar na noite de segunda-feira, o ex-ministro José Dirceu vai recolher os "flaps". Deve viajar com a namorada, Eva, para Lisboa.

NA MINHA
E a psicóloga Monica Serra, mulher do ex-presidenciável tucano José Serra (PSDB), decidiu fechar seu perfil no Twitter. Durante a campanha, ela conseguiu 3.754 seguidores -Serra tem 500 mil. "Deixarei este perfil aberto apenas por mais uma semana. Volto aos meus afazeres, que impedem a dedicação que vocês merecem", escreveu Monica.

VERMELHO
Na reta final da campanha presidencial, Dilma Rousseff diminuiu a maquiagem. O cabeleireiro dela, Celso Kamura, tirou "um pouco o preto, deixei só no canto dos olhos, pra dar uma amendoadazinha". Dilma usa lentes de contato e os olhos dela estavam irritados.

DO CASSETA
A eleição terminou, mas a era de debates continua. O escritor Guilherme Fiuza promove um encontro nesta sexta entre Marcelo Tas, do "CQC", e Claudio Manoel, do "Casseta & Planeta". Os dois vão falar sobre humor brasileiro, censura na eleição e conjuntura política na era Dilma. Na mesma ocasião, na Livraria da Vila da alameda Lorena, será realizada a noite de autógrafos do livro "Bussunda - A Vida do Casseta", do próprio Fiuza.

LOIRAS DO AYRTON
Ex-namoradas de Ayrton Senna, Xuxa e Adriane Galisteu aparecem rapidamente no documentário "Senna", sobre a vida do piloto de Fórmula 1 morto em 1994, que estreia no dia 12.
A "rainha dos baixinhos" confirmou presença na pré-estreia do longa do inglês Asif Kapadia, hoje, no Cinemark do shopping Cidade Jardim, em São Paulo.

MALHAÇÃO CARIOCA
O empresário Alexandre Accioly comprou a academia Olimpia, na Vila Olímpia. O espaço abrigará uma unidade da rede carioca A!Body Tech da qual ele, Bernardinho, Ronaldo, João Paulo Diniz e Luiz Urquiza são sócios.
O grupo já adquiriu as academias Fórmula, que terão nomes trocados em março.

PÔR DO SOL DE CINEMA

O governador de SP, Alberto Goldman (PSDB), e a primeira-dama, Deuzeni, ofereceram coquetel na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes para participantes da Mostra de Cinema. As atrizes Maria de Medeiros e Hanna Schygulla e o diretor Alan Parker estavam entre os convidados que conferiram a vista da sede do governo paulista, no Morumbi.

FESTA EM CASA EM CASA
Lula pediu a alguns de seus amigos mais próximos que fossem a Brasília no domingo para festejar com ele a eleição de Dilma Rousseff (PT). Brincando com o fato de o presidente sempre dizer que Marisa tem o melhor marido do mundo, Fátima Mendonça, primeira-dama da Bahia, deu a ela uma faixa para fazer celebrar o "título".

CURTO-CIRCUITO

A MVL fará evento amanhã, às 9h, sobre a integração entre mídias clássicas e digitais na comunicação da campanha de Marina Silva à Presidência, na sala Crisantempo. Os jornalistas Caio Túlio Costa e Nilson de Oliveira farão palestras.

Acontece amanhã, às 20h, o 2º Jantar de Gala beneficente do Instituto Ronald McDonald, no bufê Tôrres.

O violonista Maurício Carrilho é um dos músicos da turnê "Choro Carioca" com show hoje, às 20h, no Teatro Fecap. Classificação: livre.

A boate Disco, dos sócios Michel Saad, Marcos Campos, Marcos Maria e Marcos Mion, comemora dez anos com festa para convidados na sexta, no hotel Unique.

A versão brasileira do musical "Hair", de Charles Möeller e Claudio Botelho, estreia hoje, às 21h, no Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro. Classificação etária: 16 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO


Ueba! Dilma é presidentuça!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/11/10

E em pleno Finados teve uma festa gay: Ressaca dos Mortos. Gay não para de festejar nem morta!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto de Rondônia: "Cachorro roeu o fio da urna eletrônica". Antes ou depois de votar? Rarará! Tá certo, a eleição foi um osso duro de roer!
Direto de Piaçarras (SC): "Mesário bate em oficial de Justiça". Porque foi acordá-lo para trabalhar. Eu faria o mesmo! Já imaginou você dormindo no feriadão e um cara te acorda pra trabalhar? De mesário? De garçom da democracia?!
E continua a rivalidade histórica de Brasil e Argentina. Agora não é mais Pelé ou Maradona. Agora é: Cristina ou Dilma? Perto da Dilma, a Cristina é uma miss. Ou como diz uma amiga: "Cristina Quiche!".
E acabou o conflito religioso. Umas sapatas fizeram uma festa de Halloween chamada Rala-o-Hímen! E em pleno Finados teve uma festa gay: Ressaca dos Mortos. Gay não para de festejar nem morta!
E a Dilma Rouchefe vai governar do Palácio do Jaburu! E o Aerolula? Vão ter que reforçar as turbinas pra Dilma decolar. E como vai se chamar? Aerobucho! Rarará!
E a Dilma não é nem presidente nem presidenta. E muito menos presidANTA como eu falei ontem, porque eu vi o "Jornal Nacional" e de anta ela não tem nada. O chargista Juscilan revela que a Dilma é presidentuça. Isso! A Dilma é a Primeira PRESIDENTUÇA do Brasil!
E o Serra não é mais do Bem e nem do DEM. O Serra agora é do Além! Rarará! E o Michel Temer com aquela cara de mordomo de filme de terror? Ele devia ser mordomo da Bete Gouveia.
E o que o Palófi vai fazer? Manter a tradição da língua plesa: "Dilma, me pafa a falofa e a pafoca". E como diz um amigo meu: "Serra rezou pro santo errado". E brasileiro não quer saber quem privatizou ou quem estatizou. Brasileiro quer comprar em 24 vezes sem juros! Rarará!
ORGULHO DE SER NORDESTINO! Dilma ganhou no Nordeste! Pronto, paulistas reacionários começaram a escrever no Twitter: "Ajude SP, afogue um nordestino". Acabou o conflito religioso, começou o conflito étnico!
Eles são tão burros que não sabem que o crescimento do Nordeste é bom para São Paulo! Eles pensam que o Nordeste é um Playcenter tropical. Tirar foto e passar o Carnaval.
Eu não sou nordestino, mas tenho orgulho de ser nordestino! Eu sou paulista de nascimento, baiano de coração e são-paulino por falta de opção. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

RUY CASTRO

Estado gasoso
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/11/10

RIO DE JANEIRO - Um aspirante a dramaturgo teve uma ideia para uma peça sobre a atualidade política. Seria uma comédia de terror. Boa ideia, mas impraticável: ninguém se atreverá a montá-la. Daí ele não fazer segredo sobre a trama.
A cena se passaria em Brasília, nos primeiros meses de 2011. O protagonista seria o ex-presidente Lula, vagando pelo Planalto ainda sem entender a transformação de seu antigo estado sólido para uma consistência quase gasosa, típica dos ex-presidentes. Em sua nova condição ectoplásmica, ele vê e ouve o que acontece à sua volta, mas não pode interferir porque ninguém mais o ouve ou vê no âmbito do poder.
Inconformado por ter deixado de influir, o ex-presidente tenta se comunicar com velhos aliados como José Alencar, José Sarney e Orestes Quércia. Mas eles também já não estão com essa bola, e Lula é obrigado a apelar para sovados truques do terrir, como o som de correntes arrastadas, corujas piando na madrugada e candelabros ameaçando cair sobre os novos ocupantes do palácio. A história termina com Lula fugindo da zona fantasma para fundar um partido de oposição e tentar frustrar os planos continuístas da presidente Dilma Rousseff.
É ficção, claro, mas já há quem se pergunte quanto tempo Lula levará para se desligar intimamente da gloriosa rotina que viveu nos últimos oito anos. O ideal seria que houvesse uma câmara de descompressão para ex-presidentes, que lhes permitisse hibernar por três meses e só acordar depois de o novo presidente ter tomado pé.
Mas esse aparelho ainda não existe e, por muitos meses, Lula continuará ao largo, dando palpite na condução dos negócios, impacientando-se por não ver suas sugestões acatadas e começando a desconfiar de que o termo de Dilma não será, como ele esperava, um -com todo o respeito- mandato-tampão.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Alô, presidente 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 03/11/2010

Ainda sob efeito da ressaca eleitoral, expoentes do PSDB ensaiam o matiz da "nova oposição", prescrito, sobretudo, pelos governadores eleitos em São Paulo, Paraná e Minas. Anteontem, Geraldo Alckmin telefonou a Dilma Rousseff para cumprimentá-la. Propôs parcerias e elogiou o primeiro discurso. Beto Richa conversará hoje com a eleita e pregará "boa relação" com o Planalto, a exemplo de Antonio Anastasia.
Com o gesto, interlocutores entendem que o trio começa a reposicionar as peças no tabuleiro tucano após três reveses nacionais consecutivos, ofuscando, ao menos por ora, rancores residuais entre os grupos de José Serra e Aécio Neves.

Presidencial Quem acompanhou de perto as aparições televisivas de Dilma na campanha se impressionou com o salto qualitativo de sua performance anteontem no "Jornal Nacional". Segundo os mais próximos, trata-se de um misto de alívio pelo fim da disputa e confiança adquirida com o resultado das urnas.


Vale a pena... Com o "JN", Dilma repetiu o roteiro de Lula oito anos atrás. Em 2002, o presidente eleito estava em São Paulo e se dispôs a ir aos estúdios da Rede Globo para assistir ao telejornal em tempo real e ao mesmo tempo ser entrevistado por William Bonner, que se deslocou do Rio.

...ver de novo Desta vez, a presidente eleita estava em Brasília. Aceitou o mesmo formato, e o âncora a recebeu nos estúdios da emissora na capital. A entrevista à Record, cerca de meia hora antes, foi dada num hotel determinado por Dilma.

Peneira A pedido de Dilma, os coordenadores políticos da transição vão pedir aos partidos aliados que indiquem representante único para as futuras negociações de cargos. Com isso, a petista quer evitar ficar refém de dirigentes regionais das siglas.

Cota pessoal O governador reeleito do Rio, Sérgio Cabral, deixou claro que gostaria de indicar um ministro na cota peemedebista.

Veja bem Para aplacar os ânimos do PMDB, petistas disseram aos dirigentes aliados que a conversa com Dilma na segunda-feira não tratou da transição, mas do "desmonte da campanha".

Passaporte Independentemente dos planos de Alckmin para o Planejamento, o atual secretário, Francisco Vidal Luna, diz a amigos e colegas de governo que, em 2011, pretende embarcar para uma temporada de estudos no exterior.

Sem FPS Como prova de sua dedicação à campanha de rua de Serra, Alckmin ostenta um bronzeado que chama a atenção por onde o governador eleito passa.

Excel O tucano assume hoje o gabinete de transição em SP. Adiantado o organograma com o "enxugamento" de secretarias e eventuais fusões de pastas, os primeiros nomes devem ser oficializados a partir do dia 15.

Cubo mágico O arranjo no PT para viabilizar a candidatura de Cândido Vaccarezza à presidência da Câmara prevê a indicação de João Paulo Cunha para comandar a CCJ ou a bancada.

Pauliceia Jilmar Tatto (SP) e Paulo Teixeira (SP) também postulam a liderança do partido na Casa. Petistas de outros Estados já avisaram que não aceitarão só paulistas à frente dos postos mais cobiçados.

Calculadora Dr. Rosinha se reelegeu deputado federal na última vaga da coligação liderada pelo PT-PR.

tiroteio

"É a política do "morde e assopra". Mais cedo ou mais tarde, vão aparecer mais sinais na linha da pressão e da censura."
DO DEPUTADO FEDERAL GUSTAVO FRUET (PSDB-PR), sobre a defesa da regulação da mídia, feita pelo ex-ministro José Dirceu (PT), em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura, um dia após Dilma Rousseff enaltecer a liberdade de imprensa em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita.

contraponto

Vigilante do peso


Em recente visita a Carapicuíba, na Grande SP, Lula presenteou o prefeito Sérgio Ribeiro com uma cadeira nova. Diante da curiosidade geral, o presidente explicou que em 2008, pouco antes da eleição municipal, alertou o petista sobre a necessidade de perder peso.
Como, em vez disso, Ribeiro ganhou cerca de 20 kg, tratou-se de um "presente de precaução", disse Lula:
-Eu sabia que ele estava preparado para a cadeira de prefeito, mas não tinha certeza de que a cadeira estava preparada para ele. Agora não tem mais perigo!

MERVAL PEREIRA

Cotoveladas 
Merval Pereira 

O Globo - 03/11/2010

Pela segunda vez entre a campanha eleitoral e o período imediatamente posterior à vitória que consagrou a candidata Dilma Rousseff como a primeira mulher presidente do país, o PMDB teve que impor sua presença na equipe principal, dominada pelos petistas, à base de discretas cotoveladas políticas.

Depois que a equipe de transição foi composta apenas por petistas, lembraramse do parceiro que ficara de fora — aliás, foram lembrados pelo rejeitado —, e o vicepresidente eleito Michel Temer passou a ter um lugar honorífico na equipe.

Durante a campanha, não havia peemedebista na coordenação do programa oficial, que acabou se revelando pouco mais que uma farsa, aliás, nas duas candidaturas.

O que só evidencia que, no nosso presidencialismo de coalizão, a questão programática é o que menos importa.

Mas o fato é que o PMDB, o maior partido político do país até então e por isso mesmo escolhido para dar o candidato a vice-presidente, não foi ouvido nem cheirado na formação da equipe de campanha, e muito menos na que formularia o que teoricamente seria o programa de um futuro governo.

Só depois de algumas cotoveladas é que o partido conseguiu incluir na equipe de campanha o ex-governador do Rio Moreira Franco, que, no entanto, continuou sem muito trânsito no esquema de poder real da campanha petista, enfeixado por Antônio Palocci, José Eduardo Cardozo e o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Depois da vitória, os mesmos personagens petistas, acrescidos do ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato derrotado ao Senado por Minas Fernando Pimentel, fecharam o grupo que cuidará da transição.

Com o agravante de que Pimentel transformou-se em um adversário quase inimigo dos peemedebistas mineiros, a quem acusam de não ter ajudado na campanha para o governo estadual, em que Hélio Costa acabou atropelado pelo trator governista comandado por Aécio Neves.

O PMDB teve que mais uma vez mostrar a que veio e exigir seu naco de poder na equipe de transição, e Temer acabou sendo promovido a chefe da equipe petista para fazer valer seu posto de substituto imediato da presidente da República.

Esses são sintomas da briga intestina que mal começou na base aliada do governo.

S e f a z e m i s s o c o m o PMDB, que deu o vice na chapa oficial e tem uma estrutura de poder de fazer inveja, o que não farão com parceiros menos aquinhoados pelo voto popular como o PP, que nem apoiou oficialmente a candidatura Dilma, ou mesmo o PSB? O partido comandado por Eduardo Campos, governador de Pernambuco, cresceu na sua representação legislativa tanto na Câmara, onde passou de 27 deputados federais para 34, quanto no Senado, onde elegeu três novos senadores.

A vaga que era ocupada por Renato Casagrande, eleito governador do Espírito Santo, será passada para sua suplente Ana Rita, que é do PT.

Mas foi nos governos estaduais que o PSB cresceu mais de cacife. Elegeu seis governadores, quatro deles no Nordeste: Ceará, Pernambuco (reeleitos), Paraíba e Piauí, além de Amapá e Espírito Santo, representando quase 15% do eleitorado.

É certo que o PMDB saiu da eleição um pouco menor do que entrou, mas não a ponto de poder ser desprezado pelos parceiros petistas.

É verdade também que o partido tinha o maior número de governadores, e sai da eleição superado por PSDB e PSB. O PMDB viu seus governadores serem reduzidos de nove para cinco, igualando-se ao PT.

E deixou de ter a maior bancada da Câmara: o PT elegeu 88 deputados e o PMDB, 79. Ao contrário, nas eleições passadas o PMDB elegeu 89 deputados e o PT, 83. Atualmente, o PMDB tem uma bancada de 90 deputados e o PT, de 79.

No Senado, o PMDB continuará tendo a maior bancada, de 20 senadores, que pode ser modificada dependendo das definições da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa.

O partido pretendia presidir as duas Casas na primeira legislatura do governo Dilma, mas o PT parece disposto a fazer valer sua maioria na Câmara, mesmo que o PMDB tenha permitido que o petista Arlindo Chinaglia assumisse a presidência quando tinha a maioria.

Mas a disputa pela presidência da Câmara e do Senado é apenas a parte mais visível da disputa por espaços entre PT e PMDB.

O PMDB quer mais poder político real, não quer um governo do PT com o PMDB como um aliado como qualquer outro. Quer um governo que seja do PT e do PMDB.

Tanto no que se refere à ocupação de espaço no Ministério e na máquina pública, mas, sobretudo, na definição política e de rumos do governo.

O PMDB avalia que só vale ter corrido o risco de apoiar a candidatura de Dilma Rousseff quando ela ainda estava na rabeira das pesquisas de opinião, apostando no projeto de Lula, se houver uma mudança do patamar de sua influência, que, aliás, reconhecem que já mudou no segundo governo Lula.

O PMDB avalia que hoje no governo Lula sua posição já é mais central do que jamais foi no governo de Fernando Henrique, onde sempre ocupou alguns ministérios, mas nunca tantos e com a densidade dos que ocupa hoje: Minas e Energia, Comunicações, Saúde, Agricultura, Integração Nacional, Defesa.

Lula tratou o PMDB de uma maneira diferente, e, exatamente por isso, os caciques peemedebistas querem mais. Querem ser governo mesmo, um governo onde os espaços sejam definidos antes, onde eles tenham uma garantia de atuação.

É por isso que se batem agora, quando, depois da vitória, parece que o PT anda esquecendo-se de incluir o parceiro nos esquemas de poder político que estão sendo montados.

Mas vai ter que disputar esse espaço também com o PSB, que, por exemplo, quer ampliar seus domínios para o Ministério da Integração Nacional, que hoje está com o PMDB.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Grupo especializado em porto amplia investimentos 
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 03/11/2010

O Grupo Libra, especializado em operação portuária e logística, planeja novos investimentos e diversificação de suas atividades no país e no exterior.
A empresa pretende aumentar em 50% um terminal frigorificado em Cubatão (SP), ampliar o terminal da Libra Logística Valongo, em Santos, além de expandir o porto seco em Campinas.
"O investimento total será de R$ 80 milhões", afirma Marcelo Araújo, presidente do Grupo Libra.
A empresa também acaba de anunciar R$ 110 milhões em equipamentos novos para terminais de Santos e Rio.
"Fala-se mal dos portos no Brasil ainda. E os próximos dois anos serão difíceis", diz.
Com os planos que tem em curso, Araújo estima melhor cenário. No Rio, há um projeto conjunto com o Estado e o município, que deve entrar em operação em 2012. O grupo também planeja participar da licitação de novo terminal portuário em Manaus.
"O Rio já avança bem, pois já teve o Pan. Manaus, que receberá investimentos por conta da Copa, é que vai exigir grandes esforços", diz.
O plano global de investimento é de R$ 1,1 bilhão nos próximos quatro anos.
A companhia também tem negócio de azeites no Chile. "Estamos hoje com 690 hectares plantados de oliveiras. Devemos dobrar. Serão necessários US$ 10 milhões."
Na mira, há outros setores. "Procuramos investir em setor ligado ao consumo doméstico para dependermos menos da taxa de câmbio", diz Araújo, que fala em educação e varejo.

Redução de prazo para licitação de terminal de Salvador é inviável, diz Antaq

A redução de 36 para 6 meses no prazo para a Codeba (Companhia Docas da Bahia) licitar o 2º Terminal de Contêiner de Salvador é inviável, segundo a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
O pedido foi feito pela Usuport (Associação de Usuários dos Portos da Bahia) com recurso administrativo ao órgão, em agosto deste ano.
"Temos certeza que o governo também tem interesse [em fazer a obra] rápido. O prazo deveria ser menor para demonstrar isso", diz Marco Martins, presidente do conselho diretor da Usuport.
A definição de prazos, porém, depende das etapas obrigatórias ao processo de licitação, como estudo de viabilidade e licenciamento ambiental, segundo Jair Galvão, da Gerência de Portos Públicos da Antaq.
"A maioria das etapas são sequenciais e interdependentes e precisam respeitar prazos legalmente estabelecidos", diz Galvão.
O prazo poderá ser reduzido se houver perigo de gargalo, segundo José Rebouças, diretor-presidente da Codeba. "Faremos o estudo de viabilidade, mas temos 36 meses. Se algum grupo mostrar um antes, levarei à Antaq."

PLANTÃO MÉDICO
O Hospital Sírio-Libanês inaugura em breve um novo centro médico, localizado no Prime Medical Center, no Itaim Bibi, em São Paulo.
Construída em sete meses, a obra recebeu investimentos de cerca de R$ 40 milhões.
A nova unidade do hospital tem 4.400 m2 de área construída, dividida em centros de oncologia, diagnósticos, reprodução humana e endoscopia.
Também foram construídas quatro salas de cirurgias para intervenções de pequeno e médio portes.
Durante a obra, realizada pela Serpal Engenharia, do Grupo Advento, foram gerados 140 empregos diretos.

Na medida No livro "Retorno de Investimentos em Comunicação" (ed. Difusão, 424 págs.), Mitsuru Yanaze mostra como avaliar o impacto da comunicação nos negócios a partir de metodologias de mensuração. Com coautoria de Otávio Freire e Diego Senise, a obra traz pesquisa da ECA-USP sobre como gestores de comunicação planejam, organizam e avaliam resultados.

A VER NAVIOS
Na temporada de 2009/ 2010, houve aumento de mais de 30% no número de estrangeiros que passaram pelo litoral brasileiro por meio de cruzeiros.
Para 2010/2011, a expectativa é que 132,7 mil turistas do mundo todo naveguem pelo litoral do país, segundo a Abremar (associação brasileira de cruzeiros).
"Os sul-americanos, principalmente os argentinos, formam o maior contingente", diz Ricardo Amaral, presidente da Abremar.
Os estrangeiros costumam gastar, em média, US$ 300 por dia nos destinos por onde os navios fazem escalas, segundo a entidade.

MOEDA DE TROCA
A prática dos agricultores de trocar parte da produção por defensivos agrícolas tem crescido. A Basf utiliza o modelo de "barter" (troca, em inglês) como uma modalidade financeira.
Na safra 2009/10, as vendas por meio desse modelo representaram 15% do total faturado pela unidade de proteção de cultivos da empresa. A projeção é que esse percentual suba para 30% nos próximos dois anos.
"O agricultor acaba mitigando o risco dele no início da safra. Ele se protege da variação cambial e dos preços das commodities", diz Maurício Russomanno, vice-presidente da área de proteção de cultivos da Basf no Brasil.
O processo inclui, além do agricultor e da Basf, uma "trading". No final da safra, o agricultor entrega as sacas para a "trading", que paga à Basf. A soja é a principal commodity desse contrato, com 60% de participação.
A companhia já começa a implementar a modalidade na Argentina e nos países do Leste Europeu. "Temos uma equipe auxiliando o pessoal local", diz Russomanno.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Questão de força 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 03/11/2010

Ao analisar o mapa eleitoral nas cores azul e vermelho, determinando quem votou na coligação Dilma e quem optou pela de Serra, Alberto Goldman constata existir dois "Brasis": "A parte azul tem melhores níveis de informação e menor dependência econômica e política. Já a porção vermelha corresponde ao inverso".
O que significa? No ver do governador do Estado, que o processo eleitoral exprimiu uma coisa e que o processo político irá exprimir outra...

Futuro
Desafio do novo governo? Mangabeira Unger tem a resposta na ponta da língua. Não, não é a infraestrutura ou o inchaço da máquina do Estado.
"São as pessoas. Precisamos ampliar as oportunidades e a capacitação se quisermos crescer de maneira saudável", afirma o ex-ministro de Lula.


Supremo desejo
José Eduardo Cardozo pode ficar com a vaga que está aberta no STF. O time de Lula e Dilma acha difícil colocá-lo no Ministério da Justiça.
Bye, Bye, Brasil
Lula vai se despedir do cenário internacional com uma maratona de viagens.
Visitará pelo menos sete países nos seus últimos dois meses de Presidência.

Sem doação
Com a morte de Romeu Tuma, o coração artificial - o Berlin Heart, de R$ 300 mil - que lhe fora implantado não pode ser reaproveitado.

Desejo proibido
Eduardo Jorge, secretário do Verde, baixou novas normas para os usuários da Praça Buenos Aires, em Higienópolis. E exige que o regulamento seja distribuído a todos os servidores e frequentadores do espaço.
Estão proibidos atos políticos e religiosos, patim, skate ou bicicleta. Tampouco é permitido empinar... pipa.

Queda de braço
Moradores da Vila Madalena estão em pé de guerra com a subprefeitura da região. Tudo por causa das guaritas que os moradores colocam nas calçadas afim de garantir mais segurança nas ruas do bairro.
Mas a administração pública proíbe, alegando que as cabines prejudicam o trânsito de pedestres e o estacionamento dos carros.


Moviola
Emerson Fittipaldi também quer um filme para chamar de seu. Assinou com a Mixer contrato para produção de um longa de ficção baseado na sua história de vida. Estreia em 2012.

Catraca
Os cinemas voltaram a adotar linha dura com os adolescentes. Se o filme estiver fora da faixa etária, o menor só entra acompanhado por um responsável e com autorização assinada pelos pais.


Faz bem
Identificar-se com a causa é essencial para o sucesso do trabalho voluntário. Foi isso o que aconteceu quando Ana Feffer conheceu a ONG Acredite, que cuida de 380 crianças e adolescentes portadoras de doenças reumáticas. Ocupando atualmente a vice-presidência da entidade, ela fala sobre o projeto realizado em parceria com a Unifesp.

Por que a Acredite?
Eu já conhecia o trabalho do presidente, Dr. Claudio Len. E na minha primeira visita à ONG percebi que a atividade deles faz muita diferença para essas crianças. Também me chamou a atenção o empenho que eles têm em ser uma referência nacional na área de saúde.

Como a entidade é mantida?
Como muitas ONGs, vivemos de doações de pessoas jurídicas e físicas, arrecadações em eventos culturais e sociais, além de contribuições de empresas parceiras.

Você estão fazendo um trabalho de engajar até crianças e adolescentes. De que maneira?
Como atendemos crianças e adolescentes, tentamos incluir em nossas atividades pessoas da mesma faixa etária. E, olha, a resposta está sendo ótima. Há duas semanas, fiz uma palestra em um colégio de São Paulo e me surpreendi com a receptividade dos jovens.

O brasileiro tem consciência do coletivo?
Somos um povo solidário, sim, alegre e feliz. E com a ONG, queremos sinalizar oportunidades para os que desejam fazer o bem e não sabe como. Passar conhecimento a quem quiser se juntar ao grupo.

O que mais se pode fazer para a sociedade brasileira evoluir em relação a ajudas sociais?
Faltam programas estruturados que estimulem a adesão das pessoas. Falta também seriedade de gestão, conhecimento efetivo na aplicação de recursos, flexibilidade de horários e tarefas para que o voluntário exerça seu papel social. Fazemos isso na Acredite. Penso que estamos no caminho certo.


Na frente

Paloma e Fersen Lambranho convidam para lançamento e noite de autógrafos do livro Nordeste do Brasil - Terra, Mar e Gente, de Melquíades Pinto Paiva. Dia 16, na Livraria da Vila dos Jardins.

Clô Orozco, da Huis Clos, abre sua casa para jantar em torno da nova marca de água Premium FYS. Hoje.

Conrado Engel, do HSBC, comanda a Conferência do Ano da Biodiversidade, organizada pelo Instituto Humanitare. Com apoio da ONU. Dia 23, na Hebraica.

A Mini Parade, pilotada pela Caltabiano, desce a serra, sábado, com destino a Camburi.

Pergunta que não quer calar: onde estava João Moreira Salles que não filmou Dilma para um Entreatos 2?

ANCELMO GÓIS

Deus para presidente 
Ancelmo Góis 

O Globo - 03/11/2010

Passada a eleição, o comando da campanha de Dilma parou para avaliar o pronunciamento em que Bento XVI convocou os católicos a não votarem em candidatos defensores do aborto.

A conclusão foi que o discurso só não fez um estrago porque já era véspera da eleição, sem tempo para repercussão, e, sobretudo, por causa dos escândalos de pedofilia na Igreja.

Segue...

Um integrante do alto clero de Dilma lembrou, aliviado, que, se o pronunciamento tivesse sido do carismático João Paulo II, a repercussão teria sido outra.

Ufa...

O colo de Lula

Na primeira semana do segundo turno, Lula e Dilma tiveram um papo no Alvorada.

Abatida por não ter liquidado a fatura, a petista fez sua primeira demonstração de fraqueza em toda a campanha. Segundo testemunhas, Dilma disse que tinha seguido todas as recomendações de marqueteiros etc. e não sabia mais o que fazer.

Aliás...

Nas palavras de um aliado, Dilma “pediu colo” a Lula e mostrou insegurança e abatimento.

O presidente percebeu e assumiu o papel de pai. Foi firme e passou segurança necessária para ela recuperar o ânimo.

Pão bolorento

De Selma Balbino, secretáriageral do Sindicato Nacional dos Aeroviários, sobre o Aeroporto Santos Dumont pós-reforma: — Foi reforma para inglês ver. Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento...

Favela, o filme

Andrucha Waddington e Celso Athayde, da Central Única de Favelas, vão dirigir um documentário sobre favelas do país.

Será filmado pelos próprios moradores, com seus celulares.

As imagens devem ser enviadas para diadafavela.com.br.

Uma parte de mim

Ferreira Gullar, 80 anos, é mais um escritor vítima da internet.

Ontem, o poeta alertou aos amigos, por e-mail: — Está circulando na internet um plágio do meu poema “Traduzir-se”, feito por Oswaldo Montenegro há vários anos, intitulado “Metade”. Só que, agora, circula com meu nome, dandome como autor do plágio

Dolce far niente

Domingo, dia da eleição, Lula trocou dois dedos de prosa por telefone com Paula Barreto.

A produtora, de brincadeira, convocou o presidente para, assim que deixar o governo, atuar na campanha do filme “Lula, o filho do Brasil” ao Oscar.

Mas...

Lula riu e disse que Paula precisaria, antes, conversar com dona Marisa: — É que eu prometi à minha mulher tirar um descanso de seis meses...

Corre, santa!

O Rio deve sediar a primeira corrida gay da América Latina.

O projeto, da produtora Maria Luísa Jucá, já está nas mãos do prefeito Eduardo Paes.

Diário de Justiça

A 4aCâmara Cível do Rio elevou de R$ 50 mil para R$ 100 mil a indenização que a Gol terá de pagar a cada uma das três irmãs de Marcelo Lopes, morto em 2006 no acidente do avião da empresa com o jato Legacy.

Marcelo estava no vôo 1907 (Manaus-Rio), que caiu com 154 passageiros

Crime no ar

A Justiça deu ganho de causa a Selton Melo numa ação contra a United Airlines, que foi obrigada a pagar R$ 10 mil ao ator.

A empresa cancelou um voo para o Canadá, onde Selton participaria de um festival de cinema.

Volta, Quitéria

Eraldo Leite, o radialista carioca, é outro torcedor do Império que não se conforma com a saída da querida Quitéria Chagas do posto de rainha de bateria: — A escola deveria fazer um busto em homenagem a ela na quadra. Quando o Império caiu, Quitéria recusou convites de escolas grandes, milionárias, para ficar com a gente.

Retratos da vida

Um senhorzinho de uns 60 anos vende quentinhas todo dia de manhã a bordo do ônibus Pavuna-Bonsucesso, no Rio. Custam R$ 3,50, cada.

O estoque já acaba na primeira viagem. Sexta ainda tem sobremesa.

DUDU NOBRE

acaricia a barriga de quatro meses de sua Priscila, no Porcão. O sambista acaba de chegar dos EUA, onde tatuou os nomes dos filhos no braço (veja no detalhe) e nas costas. Dudu e Priscila se casam dia 12. As duas filhas dele com Adriana Bombom serão damas de honra

ILDI SILVA,

a bela mulata que encantou Caetano Veloso, posa vestida para uma festa de halloween, na Barra. Aliás...

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO

Perplexidade, ceticismo, desespero
José Márcio Camargo 
O Estado de S.Paulo - 03/11/10


Perplexidade - após mais de dois anos de déficits fiscais de dois dígitos, taxas de juros próximas a zero e compra de ativos financeiros públicos e privados pelos bancos centrais, o mundo desenvolvido (Estados Unidos, Europa e Japão) continua a ter um desempenho econômico anêmico: baixo crescimento, altas taxas de desemprego e risco de deflação. Essas políticas conseguiram reverter o colapso do mercado de crédito. Mas não estão conseguindo reativar as economias.

Ceticismo - diante da avaliação de que déficits fiscais de dois dígitos são insustentáveis, aumentar a liquidez se tornou o único instrumento disponível para tentar reativar as economias no curto prazo. Como resultado, o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, em sua última reunião, sinalizou que irá aumentar a liquidez por meio de novas compras de títulos do governo. Mas, com juros próximos de zero, famílias endividadas, perda de riqueza decorrente da crise e elevada incerteza, a avaliação geral é de que essa política terá pouco ou nenhum efeito sobre as variáveis reais da economia.

Desespero - porém, com a elevada taxa de desemprego e o risco não desprezível de deflação, o Fed se sente obrigado a fazer algo, ainda que "algo" possa gerar efeitos colaterais negativos para a economia global. A liquidez adicional deverá se direcionar para a compra de ativos financeiros nos Estados Unidos (ações e títulos) e ativos financeiros e reais em países emergentes (ações, títulos, imóveis, commodities, etc.), gerando pressões inflacionárias, bolhas nos preços dos ativos reais (nos emergentes) e financeiros (em todo o mundo), aumento dos preços das commodities e valorização das moedas em relação ao dólar.

Para evitar a valorização de sua moeda a China adotou uma estratégia de manter o valor de sua moeda, o renminbi, estável em relação ao dólar, via acumulação de reservas, desde o início da crise financeira em 2008. Essa política também aumenta a pressão sobre as moedas dos outros países que, espremidos entre a China e os Estados Unidos, passaram a intervir no mercado de câmbio e a introduzir controles de capitais, uma situação já caracterizada como de "guerra cambial".

Esse cenário apresenta dois riscos para a economia global. Primeiro, para tentar forçar a China a permitir uma valorização mais rápida de sua moeda, o único instrumento de que dispõem os Estados Unidos é a introdução de restrições comerciais, o que levaria a uma muito provável retaliação por parte da China. Por outro lado, como as intervenções no câmbio têm custos elevados e efeitos passageiros, o incentivo para introduzir barreiras comerciais aumenta com o tempo. Neste contexto, transformar "guerra cambial" em "guerra comercial" é uma questão de tempo, o que fatalmente traria de volta a recessão.

Segundo, como uma parte relevante da demanda pelos bens produzidos na China vem do exterior (o consumo interno significa apenas 40% do PIB do país), uma valorização muito rápida da moeda poderá diminuir fortemente a demanda externa e o crescimento do produto e do emprego. O exemplo do Japão nos anos 90 mostra que não se deve desprezar a probabilidade de que isso ocorra. Como a China é hoje o único motor autônomo de crescimento da economia mundial, o risco de volta da recessão não é desprezível. Daí a reticência da Europa e dos países emergentes em se juntar aos Estados Unidos na pressão por uma rápida valorização do renminbi.

A autoridade monetária norte-americana está planejando dobrar a dose do remédio, aumentar a liquidez, com base no diagnóstico de que os resultados foram fracos porque a dose foi pequena. Como esse diagnóstico está errado, dobrar a aposta só irá aumentar os efeitos colaterais negativos do remédio. O problema da economia norte-americana (assim como da Europa, exceto Alemanha, e do Japão) é estrutural: déficits e dívidas públicas excessivamente elevadas; sistema de aposentadorias generoso e potencialmente deficitário; taxas de poupança muito baixas; qualificação da mão de obra inadequada à demanda por trabalho, em razão da mudança na estrutura produtiva gerada pela migração de grande parte da base industrial para os países emergentes; e incerteza e instabilidade regulatória são alguns dos problemas que precisam ser resolvidos para que estas economias voltem a uma trajetória de crescimento saudável. E esses problemas exigem reformas estruturais que demandam tempo e paciência (quem se recorda do Consenso de Washington?). Dobrar a dose do remédio, além de gerar mais bolhas de ativos, traz consigo o risco de destruir as duas principais fontes de recuperação da economia mundial: a retomada do comércio internacional e o crescimento chinês.

PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO, É ECONOMISTA DA OPUS GESTÃO DE RECURSOS

MÍRIAM LEITÃO

Dois pesos
Miriam Leitão
O GLOBO - 03/11/10



O real se valorizou 107% sobre o dólar durante o governo Lula. Isso ajudou a manter a inflação baixa e aumentar a capacidade de compra do consumidor, mas é um problema para empresários e governo. O dólar vai cair mais com as novas decisões do Fed. O boom de gasto do governo elevou o crescimento do PIB, mas é ameaça ao equilíbrio fiscal. O que ajudou a eleição de Dilma Rousseff virou risco.

O novo governo terá problemas fiscais e cambiais à frente. Um dos desafios urgentes da presidente Dilma será escapar da armadilha da liquidez mundial que pode, como avisou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, produzir bolhas de crédito, de imóveis e ações nos emergentes.

Desde o início da crise, o Fed, banco central americano, tem inundado a economia de dólares através de emissão de moeda para socorrer bancos, empresas imobiliárias, automobilísticas e os devedores de hipotecas. A base monetária saltou de cerca de US$ 800 bilhões para US$ 2,3 trilhões (vejam no gráfico).

Ao mesmo tempo, a taxa de juros caiu de 5,25%, em meados de 2007, para uma faixa entre zero e 0,25%, agora. E o banco central americano prepara um outro tsunami monetário que os economistas chamam de "relaxamento quantitativo".

Na área cambial, o fantasma que assombra a nova presidente é o lado oposto da moeda que assustou o presidente Lula.

Na eleição de Lula, o dólar chegou perto de R$ 4,00.

Parecia não ter teto. Hoje, está em R$ 1,70 e descendo.

Parece não ter piso.

Depois que as decisões do governo Lula no início do mandato acalmaram o mercado, o dólar corrigiu os excessos, mas aí veio o boom das commodities que aumentou muito o saldo comercial brasileiro. Isso, somado à onda de liquidez e aos juros altíssimos aqui, trouxe mais dólares ao Brasil.

Em 2005, o medo do Lula já tinha acabado, o dólar já tinha caído. Mesmo assim, de lá para cá o real já se valorizou mais de 60% em relação ao dólar.

A crise alimentou uma nova onda de liquidez que está invadindo as economias emergentes e o Brasil é um dos maiores alvos. Se em 2003 bastou o compromisso com a manutenção da estabilidade e da austeridade fiscal para lutar contra a desvalorização do real, agora a briga não é nada trivial.

Primeiro, o Brasil não controla parte das variáveis porque elas têm a ver com a política monetária de outros países. Segundo, de certa forma o governo se beneficia dessa alta da moeda. A queda do dólar tem um efeito deflacionista.

Produtos importados entram a preços mais baixos derrubando preços locais.

Um empresário me contou recentemente que produz uma máquina de produzir embalagens de plástico que custa R$ 80.000. A similar importada custa US$ 15.000.

Ele está revendo os custos para conseguir competir. Inúmeras empresas estão fazendo isso na área de bens de consumo e isso torna os preços mais baixos. As empresas que competem diretamente com o produto estrangeiro reclamam; as que importam componentes gostam, as que vivem de importar gostam mais ainda. O consumidor vai às compras.

Fica feliz e vota no governo.

Bom, agora é a hora de, passada a festa, corrigir os excessos. Mas como? O IOF mais alto não resolveu o problema. Controlar o câmbio seria abandonar um dos pés do tripé.

O outro pé do tripé, o superávit primário, tem sido abandonado aos poucos. Este ano, para garantir a eleição, o governo ampliou os gastos. E já tem aumentos previstos de salários de funcionários até 2012. A gastança ajudou também a pavimentar o caminho da vitória. Na campanha, a presidente eleita prometeu reduzir impostos, desonerar a folha e os investimentos.

Para cortar impostos sem perder arrecadação, só uma reforma tributária. Algumas medidas podem tirar receita dos estados. O modelo de exploração do petróleo do pré-sal tirará bilhões dos estados produtores, entre eles, Rio de Janeiro e Espírito Santo, governados por aliados.

Reforma tributária exige negociação com os governos estaduais. O PSDB foi o partido que mais vitórias teve: governará oito estados, e juntos eles representam 54% do PIB brasileiro.

Não há desafio simples no caminho da nova presidente.

O ideal é que ela aproveite a lua-de-mel para fazer um ajuste fiscal. Isso ajudará a enfrentar os dois desafios.

O problema: ela recusou, na campanha, que faria ajuste fiscal

MARCO ANTONIO VILLA

44% estão na oposição
MARCO ANTONIO VILLA
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10


Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir seu papel e pensar em um projeto para o Brasil



A OPOSIÇÃO acreditou que criticar o governo levaria ao isolamento político. O resultado das urnas sinalizou o contrário: 44% do eleitorado disse não a Dilma. Ela era candidata desde 2008. Ninguém falou em prévias, nenhum líder fez muxoxo. Lula uniu não só o partido, como toda a base.
Articulou, ainda em 2009, as alianças regionais e centrou fogo para garantir um Congresso com ampla maioria, para que Dilma pudesse governar tranquilamente.
Afinal, nem de longe ela tem sua capacidade de articulação política.
E a oposição? Demorou para definir seu candidato. Quando finalmente chegou ao nome de Serra, o partido estava dividido, vítima da fogueira das vaidades. Ao buscar as alianças regionais, encontrou o terreno já ocupado. Não tinha aliados de peso no Norte e Centro-Oeste, e principalmente no Nordeste.
Neste cenário, ter chegado ao segundo turno foi uma vitória. No último mês deu mostras de combatividade, de disposição de enfrentar um governo que usou e abusou como nunca da máquina estatal. Como, agora, fazer oposição?
Não cabe aos governadores serem os principais atores desta luta -a União pode retaliar e isso, no Brasil, é considerado "normal".
É principalmente no Congresso Nacional que a oposição deve travar o debate. Lá estará, inicialmente, enfraquecida. Perdeu na última eleição, especialmente na Câmara, quadros importantes. Mesmo assim, pode organizar um "gabinete fantasma" e municiar seus parlamentares e militantes com informações e argumentos. Usar as Câmaras Municipais e as Assembleias estaduais como espaços para atacar o governo federal. E abastecer a imprensa -como sempre o PT fez- com denúncias e críticas.
Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir o seu papel. Deve elaborar um projeto alternativo para o Brasil. Sair da esfera dos ataques pessoais e politizar o debate, acabar com o personalismo e o regionalismo tacanho, formar quadros e mobilizar suas bases.
É uma tarefa imediata, não para ser realizada às vésperas da eleição presidencial de 2014.
O lulismo tem pilares de barro. É frágil. Não tem ideologia. Não passa de uma aliança conservadora das velhas oligarquias, de ocupantes de milhares de cargos de confiança, da máfia sindical e do grande capital parasitário. Como disse Monteiro Lobato, preso pelo Estado Novo e agora perseguido pelo lulismo: "Os nossos estadistas nos últimos tempos positivamente pensam com outros órgãos que não o cérebro -com o calcanhar, com o cotovelo, com certo penduricalhos, raramente com os miolos".
MARCO ANTONIO VILLA é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

VINICIUS TORRES FREIRE

Menos miséria, menos gastos
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/11/10



Dilma enfatiza miséria em discurso; à sua volta, há planos para gastar menos com INSS e servidores

A PRESIDENTE eleita fez um discurso estudadamente contemporizador na festa da vitória, no domingo. Pacifista, digamos. A liberdade de expressão mereceu duas menções. Cada conta do rosário de lugares-comuns da política econômica confiável foi recitada. A presidente eleita fez uma fezinha até nas agências reguladoras, avacalhadas durante todo o governo Lula.
Diz-se que Dilma Rousseff escreveu o discurso com o auxílio de Antônio Palocci, o embaixador vitalício do PT no país de bancos e empresas.
De mais interessante, apesar de soar banal, foi a tripla menção ao fim da miséria e ao controle de gastos. A educação, por exemplo, Dilma mencionou duas vezes, mas de passagem, um Pilatos no Credo.
Dilma não estava mais em campanha. Mas fez questão de dizer que a "erradicação da miséria" é seu "compromisso fundamental", "meta que assume", objetivo a ser cumprido "nos próximos anos", tal como o governo Lula teria realizado o "sonho" da mobilidade social. Anteontem já falava em incrementar o Bolsa Família. Enfatizou também os gastos intocáveis: "Programas sociais, serviços essenciais à população e os necessários investimentos".
No entorno de Dilma, o burburinho sobre a arrumação dos gastos do governo continua parecido com o de maio, quando a então candidata falou de modo mais explícito sobre sua política econômica, numa visita aos EUA, a Wall Street.
Agora, o rumor é até mais específico. Até anteontem, pelo menos, se ouvia que a presidente eleita pretende reduzir o ritmo de aumento do salário mínimo e, pois, dos benefícios do INSS, conter o crescimento dos gastos com o funcionalismo público, alterar a idade mínima de aposentadoria e inventar uma fórmula para reduzir, a longo prazo, o deficit da Previdência dos servidores.
Isso quereria dizer: 1) Reajustar o valor real do mínimo e do benefício previdenciário por uma taxa inferior à do PIB, regra atual; 2) Limitar o aumento real dos gastos com servidores a algo entre 1,5% e 2,5%; 3) Sobre idade mínima e aposentadorias de servidores, a discussão está mais aberta; 4) Despesas de investimentos seriam de vez retiradas do cálculo do superavit do governo federal. A medida do balanço das contas do setor público seria o valor nominal (incluindo gastos com juros, mas sem investimentos).
O objetivo final, como tem sido propalado tanto pela campanha como por vozes do Ministério da Fazenda, é chegar ao equilíbrio nominal das contas públicas em 2013 e em 2014. Seria um plano coordenado com o Banco Central, que responderia ao equilíbrio das contas baixando os juros de modo que a Selic chegue a 3% no final do mandato de Dilma, com o que também seriam reduzidas as despesas com juros, que estouram as contas nominais.
Se a economia crescer entre 4,5% e 5%, seria então possível reduzir a dívida pública líquida para um nível muito decente de 30% do PIB.
Tirar o investimento do balanço das contas públicas, chegar ao equilíbrio no final do mandato e erradicar a miséria (o que não custa caro, aliás) vai demandar um controle forte de gastos, o equivalente a um superavit primário "cheio", sem truques, de mais de 3% do PIB.
Seria um bom começo.
Amores de verão não sobem a serra. As ideias da transição vão subir a rampa do Palácio do Planalto?

ARTHUR ROQUETE DE MACEDO

Quando a barbárie chega à universidade
ARTHUR ROQUETE DE MACEDO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/11/10



Além de formar profissionais competentes, a universidade deve formar cidadãos prontos a ressarcir, pelo exemplo, o que a sociedade neles investiu

No momento em que a violência desmedida, a falta absoluta da ética e o desprezo pelos mais elementares princípios de cidadania alcançam a universidade, estamos na antecâmara do caos.
Essa instituição, que deveria ser o reduto contra a intolerância e a mediocridade, um espaço democrático que garantisse a diversidade de opinião, o respeito ao ser humano e praticasse os ideais da cultura humanística, não pode ser o local de práticas deste jaez.
Os recentes e repetidos acontecimentos de "bullying" ocorridos em campos universitários brasileiros anunciam aquela tragédia.
Por uma reportagem desta Folha, tivemos conhecimento de mais um caso, abordando os acontecimentos ocorridos no "InterUnesp 2010". Nesse evento, alunas da Unesp foram agredidas e constrangidas por colegas no grotesco "rodeio das gordas", cujo objetivo era agarrar colegas e, brutalmente, utilizá-las como montaria para simular um rodeio. No campus de uma das mais importantes universidades do país, o evento é inadmissível. Tão grave quanto o ocorrido recentemente com uma aluna da Uniban. Além de "bullying", fica configurada a violência contra a mulher em diferentes contextos e situações.
As declarações do sr. Roberto Negrini, aluno da Unesp e, segundo a Folha, um dos organizadores do evento, seriam cômicas, se não fossem trágicas, uma vez que partem de um estudante universitário que tem os seus estudos pagos pela sociedade, a qual deveria respeitar.
Ele deveria saber que, além de formar profissionais competentes, a universidade deve formar cidadãos responsáveis e prontos a ressarcir, por meio do exemplo e do exercício profissional ético e competente, o investido pela sociedade na sua formação.
Deveria saber também que "brincadeira" e "divertimento" são situações em que todos os protagonistas se divertem, sem causar constrangimentos de ordem física ou moral a minorias indefesas.
De acordo com especialistas da área, dentre os quais incluímos a doutora Ana Beatriz Barbosa Silva, o "bullying" no ambiente escolar é caracterizado como situação em que indivíduos, geralmente os mais poderosos e "enturmados", se divertem repetida e intencionalmente às expensas de outros.
Configura-se, assim, uma situação em que a vítima não tem a possibilidade de se defender. E o que é pior: no caso presente, ocorreu seguramente em quatro modalidades: verbal, físico-material, psicológica e moral. Portanto, o fato não pode ser relegado ao esquecimento ou acobertado.
Esperamos que, após a averiguação, os responsáveis sejam punidos exemplarmente. A propósito, não esperamos do professor Ivan Esperança, vice-diretor do campus de Assis, a instauração de um processo inquisitório.
Temos, sim, a esperança de que as autoridades universitárias atuem com a postura de verdadeiros educadores. Não há espaço para omissão, tolerância ou tibieza.
Felizmente, o Ministério Público tem atuado com consciência e rigor em situações dessa natureza, e certamente manterá a postura.
Como ex-aluno, ex-diretor da Faculdade de Medicina e ex-reitor da Unesp, não posso calar diante do insólito ocorrido.
Exorto o magnífico reitor da Unesp a atuar no sentido de preservar os princípios mais elementares da dignidade humana e o renome da universidade, pelo que ela representa para a educação nacional e para o Estado de São Paulo.
ARTHUR ROQUETE DE MACEDO é professor emérito da Faculdade de Medicina da Unesp e ex-reitor dessa universidade (1993-1997), membro da Academia Brasileira de Educação, do Conselho Nacional de Educação e presidente do Instituto Metropolitano da Saúde - FMU.

ANTONIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA


Filhos indesejados
Antonio Cláudio Mariz de Oliveira 
O Estado de S.Paulo


Como a questão do aborto, durante a campanha eleitoral, veio para o palco dos debates, os candidatos poderiam tê-la colocado para a reflexão da sociedade, emprestando-lhe profundidade e abrangência. Perderam, no entanto, excelente oportunidade de dar à sociedade elementos aptos para discutir o árido tema com serenidade e isenção, afastando o alto grau de desconhecimento, preconceito e radicalismo que sempre pairou sobre o assunto. Foram extremamente parcimoniosos, pois se limitaram a colocar o problema como sendo de saúde pública. Argumento reducionista e que não satisfaz, pois tenta apenas simplificar e deslocar o tema sem enfrentá-lo.

Tradicionalmente, o aborto vem sendo tratado no Brasil de forma maniqueísta. Ou se é a favor ou se é contra, sem quaisquer abordagens outras, dentre as inúmeras e de variadas naturezas que ele comporta. Os seus defensores alegam o direito à liberdade que tem a mulher sobre o seu corpo. Os que lhe são contrários, e a favor de sua criminalização, invocam o direito à vida. A única discutição travada versa sobre o marco inicial da vida. Discussão milenar e inconclusa.

Vincular o aborto exclusivamente ao direito à vida é dar ao problema uma dimensão menor do que ele realmente tem. É evidente que sob esse único enfoque ninguém, pelo menos em teoria, é a favor da interrupção da gravidez. Todos louvam a vida e a maternidade.

No entanto, o direito à vida no caso do aborto não se coloca como absoluto. A própria legislação penal, que o considera um delito, mostra que outros direitos devem ser levados em conta. Estão eles relacionados às inúmeras situações em que surge uma gravidez, tendo em vista condições sociais, de saúde e biológicas, dentre outras. Assim, o Código Penal prevê duas condutas não consideradas como criminosas: quando o aborto for o único meio para preservar a vida da gestante e quando a gravidez for produto de estupro.

Esta última exceção contém uma questão muito pouco ou nada ventilada, que é a da maternidade não desejada, que gerará um filho malquerido, predestinado ao abandono ou ao desprezo. O legislador de 1940 foi extremamente modesto quanto aos casos de legitimação do aborto. É hora de se discutir com racionalidade, sem preconceitos e com os olhos postos na realidade que nos cerca outras hipóteses autorizadores da interrupção da gravidez.

Despreocupação absoluta com o filho não querido e prova de verdadeiro desvario e obscurantismo encontramos na atitude de uma autoridade religiosa que excomungou uma mãe responsável pelo aborto de sua filha de 9 anos, grávida de gêmeos, em razão de estupro praticado por seu padrasto. De difícil compreensão é a posição daqueles que se opõem ao aborto do anencéfalo. Os "defensores da vida" preferem o nascimento de uma criança sem cérebro a abandonar a sua obstinada e inflexível postura contra o aborto.

A intransigente defesa do nascimento a todo e qualquer custo desconsidera a situação da mulher pobre que efetua o aborto em condições precárias, de elevado risco para a sua saúde, a sua vida e a sua dignidade pessoal. Sabe-se ser significativo o número dessas mulheres que vão a óbito.

Dir-se-á que tais mulheres correm risco porque querem, bastaria que dessem livre curso à sua gravidez. Afirmação leviana e até cínica, pois despreza as causas que levam milhares de mulheres pobres a abortar anualmente, impelidas por suas cruéis carências e cientes de que estas acompanharão os filhos que vierem a ter.

Elas gostariam de ser mães. Não o são porque temem a miséria para si e para o filho. Mulheres para quem a maternidade se tornará um estigma e um fardo.

Poder-se-á argumentar que ao lado dessas mulheres economicamente incapazes existem as bem nascidas, bem criadas, bem educadas, absolutamente aptas à maternidade, mas que não a assumem. E essas que não têm razões materiais para interromper a gravidez também têm direito ao aborto?

Em um ou em outro caso se terá um ser mal amado e predestinado ao abandono, no primeiro, e ao desprezo, no segundo. Se o aborto é imoral, e o é, imoral, inumano e antissocial também é um filho rejeitado, fruto de uma maternidade indesejada.

Na verdade, a questão do filho não desejado não está sendo colocada como hipótese de legitimação do aborto, mas sim para que se faça uma reflexão sobre a necessidade de se discutir amplamente esse tema, especialmente sob a perspectiva de que ele envolve múltiplos e diferentes direitos, valores e situações humanas relevantes, que não podem ser esquecidas em nome de uma posição radical, hermética, maniqueísta, como se representasse uma verdade axiomática.

Quanto às mais abastadas, sabe-se lá que razões as terão levado a abortar. Quais fatores objetivos, quais dramas íntimos, que dúvidas e angústias as assaltaram. Há de se partir sempre da premissa de que nenhuma mulher rejeita a maternidade, abdica da graça de ser mãe, sem o concurso de fortes razões.

Note-se: aqueles que são favoráveis à flexibilização da lei penal, com a adoção de novos casos de isenção de crime, ou mesmo a favor da descriminalização não são defensores necessários do aborto. A posição contrária ao aborto significa uma devoção sagrada pela maternidade, uma crença inabalável no porvir representado pela criança, enfim, uma declaração de fé na vida e no homem. Mas há uma distância abismal entre o repúdio ao aborto e as consequências penais pela sua prática. Estas, como postas pela lei, são inaceitáveis, porque desprezam o substrato humano embutido na maioria dos casos de aborto, consideram a sua ineficácia inibitória e desconhecem os malefícios dos abortos praticados no País. Não será ameaçando com prisão que nós estaremos valorizando a vida, estimulando a maternidade e recebendo filhos amados.

ADVOGADO CRIMINAL EM SÃO PAULO

CLÁUDIO HUMBERTO

Anatel fica sem comando a partir de amanhã
Acaba nesta quinta (4) o mandato do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, embaixador Ronaldo Sardenberg, e também o conselheiro Antonio Bedran deixará o órgão. Sem presidente e sem vice, a Anatel ficará acéfala. Sardenberg “trabalhava” sua recondução junto à ex-ministra Erenice Guerra, mas deu no que deu. E a campanha eleitoral impediu Lula de substituir Bedran e um novo presidente.

OLHO DA RUA
O corregedor da Anatel, Henrique Gabriel, também escolhido pela ex-ministra Erenice, vai rodar. Ele voltará para a Anac.

LULITA
Os argentinos apelidaram a presidenta eleita Dilma Rousseff de “Lulita”. Ela é chamada assim nas ruas e até nos jornais.

SESSÃO ESPÍRITA
Derrotado, o tucano José Serra “ressuscitou” Jânio, dizendo ter “enfrentado forças terríveis”. Mas não falava com o espelho...

FUI!
O ministro Nelson Jobim cai fora amanhã, após a derrota do velho amigo Serra: vai em missão oficial de uma semana à Itália e Alemanha.

POLÍTICOS QUEREM UNIR AÉCIO A EDUARDO CAMPOS
Jovens parlamentares eleitos em 3 de outubro tentam articular a união do senador tucano Aécio Neves (MG) a Eduardo Campos, governador de Pernambuco, na criação de um novo partido ou na transferência do mineiro para o Partido Socialista Brasileiro. A ideia é unir no PSB representantes da nova geração de políticos que encantaram o eleitorado e se tornaramcampeões de votos, este ano. Só falta combinar com a lei de fidelidade partidária, que precisa ser alterada.

ENTUSIASTA
Um dos entusiastas da aproximação é o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), amigo e admirador de Eduardo Campos e Aécio Neves.

PRESIDENTE MUNDIAL
Com a popularidade nas alturas também na América Latina, Lula deve estar pensando em se candidatar a presidente da Argentina, em 2011.

COSTAS LARGAS
Lula livrou Dilma do ônus de uma ex-guerrilheira dar asilo a um ex-terrorista. Cesare Battisti ficará no Brasil, ou melhor, em casa.

SEU NOME É VAIDADE
Celso Amorim (Relações Exteriores) tenta ficar no cargo até meados de 2012, quando completa 70 anos. Quer superar com folga o recorde do Barão de Rio Branco, chanceler por quatro governos, de 1902 a 1912.

O FINADO
Pelo menos até domingo estaremos livres do assessor top-top Marco Aurélio Garcia: embarcou no Dia de Finados para Biarritz, na França, para um daqueles seminários que só não dão praia porque é inverno.

A SUCESSORA
Economista, a presidente eleita terá, diante de Lula, seu batismo de fogo na reunião do G-20, nos próximos dias 11 e 12, na Coreia do Sul, quando as maiores economias do planeta e as emergentes discutirão o desequilíbrio monetário mundial com a queda do dólar. Tá feia a coisa.

RECONHECIMENTO
Luiz Fernando Correia é o favorito para seguir diretor-geral da Polícia Federal. O conceito dele no Palácio do Planalto é o de que “pacificou a PF”. Mas pode virar adido policial na Europa, no país que escolher.

ELES VÊM DE LONGE
“Conselhos de comunicação”, de inspiração fascista, germinam desde os anos de 90, quando uma editora-chefe foi “punida” com “sindicância ética”, no Sindicato dos Jornalistas do Rio, por trabalhar durante curta greve. Ela recorreu à Declaração Universal dos Direitos Humanos.

MÃO AMIGA
O governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), quebrou um galho para José Serra. Baixou decreto proibindo a participação de cooperativas de trabalho em licitações estaduais. Serra concordava com a medida, mas não a adotou temendo desgastes eleitorais.

ENCRUZILHADA
Dilma tem um problemão, com a promessa de diminuir despesas: ou reduz o tamanho do Estado, incluindo aí o excesso de “cumpanhêros” nas boquinhas, ou investe menos no social. E aí, emPACou geral.

NEM AÍ
O Brasil tem 600.000 advogados, 15 mil juízes e 10 mil procuradores, além de quase dois milhões de bacharéis que não são advogados porque não têm exame de Ordem. Apesar disso, Lula tem dificuldade de escolher um para ser ministro do Supremo Tribunal Federal.

PENSANDO BEM...
...Dilma não precisa de “primeiro-damo”. Tem Lula, que não é marido, mas, igual a dona Marisa, também manda à beça em casa.

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“Vamos fiscalizar Dilma, mas não seremos radicais”
SENADOR SERGIO GUERRA (PE), PRESIDENTE DO PSDB, DANDO O TOM DA OPOSIÇÃO A DILMA

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PODER SEM PUDOR
SÃO TODOS IGUAIS?
Delfim Moreira assumiu o governo em 1918, com a enfermidade do presidente Rodrigues Alves, contaminado pela gripe espanhola, que o mataria no ano seguinte. Moreira também adoeceu e só aparecia em alguns atos oficiais, como a cerimônia anual em que recebia embaixadores. Numa delas, cumprimentou o japonês e depois, quando o embaixador chinês se colocou à sua frente, o presidente quase criou um incidente diplomático:
– Pensa que me engana? O senhor já passou aqui uma vez...