segunda-feira, outubro 25, 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

A voz rouca de Chaui
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/10

SÃO PAULO - Ao lado de José Arthur Giannotti, Marilena Chaui foi, talvez, a figura que mais decisivamente contribuiu para fazer a ponte entre o pensamento filosófico e o debate público no país. Esse encontro se deu na imprensa, animado pela resistência à ditadura.
No início dos anos 80, Chaui se tornou a grande ideóloga do PT. Dizia que democracia significava criação permanente de direitos e reinvenção incessante da política -ideias que havia emprestado do francês Claude Lefort, crítico precoce do totalitarismo de esquerda.
Mas isso é história. Chaui há muito virou as costas à discussão pública. Passou a falar para dentro, reiterando para a militância o que ela quer ouvir. Expiando a culpa dos companheiros, tornou-se a ideóloga do petismo realmente existente.
Na última semana, num ato de apoio a Dilma com artistas, Chaui explicou ao "Terra Magazine" por que eventos como aquele tinham escasseado: "Fazia tempo que a gente não tinha que gritar contra nada". Eis a ideóloga no seu pior papel, saindo da toca para chancelar não os êxitos do governo, mas os abusos, a máquina de corrupção, o patrimonialismo. Gritar por quê?
Chaui está entre os que dizem que o mensalão foi invenção da imprensa. Usa a crítica à mídia para se dispensar de examinar criticamente o PT. É um exemplo de embotamento sob o verniz da radicalidade.
É claro que a mídia deve ser criticada. A demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do jornal "O Estado de S. Paulo" é deplorável sob qualquer aspecto. Há, sim, um antipetismo baixo e sensacionalista na praça. Mas há também uma "mídia do B", triunfalista e chapa branca, em parte alimentada com dinheiro público. E Erenice Guerra (fiquemos nesse exemplo doméstico) não é uma armação de golpistas.
Essa é uma discussão que requer honestidade intelectual e disposição para o confronto. Chaui optou pela tutela do partido. Está mais perto da pregação dogmática do que da experiência do pensamento.

PATRÍCIA MARRONE

A próxima onda
Patrícia Marrone 
O Estado de S. Paulo - 25/10/2010

A demanda por motocicletas, celulares, eletrodomésticos, entre outros bens de consumo, gerada pelo aumento da renda da população brasileira de classes D e E, como reflexo das políticas de combate à pobreza que vêm sendo introduzidas no Brasil desde o início dos anos 90(1), atenuou o impacto da crise sobre a nossa economia. Mas é necessário aprofundar a reflexão sobre o significado do aumento do poder de compra desse grupo, fenômeno que está ocorrendo em escala global. Ele tem decorrido de processos de urbanização e de políticas de renda similares às nossas e que vêm sendo aplicadas em países populosos, como Índia, China e México - relação que pode crescer, na medida em que outros países têm buscado aderir às metas de redução da pobreza definidas desde 2000, pela Declaração do Milênio (ONU)(2).

A população mundial está estimada em 6,8 bilhões de pessoas, de acordo com o U.S. Census Bureau. Dessas, segundo estimativas do Banco Mundial, 79,7% (ou 95% da população dos países em desenvolvimento) vivem com menos que US$ 10 por dia (ver Martin Ravallion, Shaohua Chen and Prem Sangraula, Dollar a Day Revisited, World Bank, maio/2008).

Ou seja, 5,4 bilhões de pessoas vivem com US$ 300 - o equivalente a R$ 510 - mensais ou menos.

O Banco Mundial tem periodicamente revisto suas estatísticas que tratam de medidas de pobreza, em razão do aumento do custo de vida na maior parte dos países em desenvolvimento - destacando-se entre eles os com alimentação, energia e habitação, para a maior parte dos países - e de acesso à água potável para alguns países, como o México. De 2000 a 2010, 227 milhões de habitantes de países em desenvolvimento deixaram de viver em favelas. Apesar da conquista, 828 milhões de pessoas, ou 32% da população urbana desses países, ainda vivem nessas aglomerações urbanas, segundo dados da State of the World"s Cities 2010/2011 (UN-Habitat).

A Índia, onde 367 milhões de pessoas vivem em favelas e a migração para cidades continuará, abriu um enorme mercado para a busca de soluções para a habitação de baixa renda e de gerenciamento de processos na área de saneamento básico. O governo daquele país investirá US$ 100 bilhões até 2015 em infraestrutura urbana para o gerenciamento de água e resíduos sólidos.

A política industrial chinesa também busca soluções para reduzir a pressão sobre a necessidade de moradia decorrente da urbanização e visando a reduzir o consumo de água.

A crise levou ao fortalecimento do papel dos governos e ao ressurgimento do interesse dos países desenvolvidos em formular políticas industriais. Mas o Primeiro Mundo provavelmente continuará a buscar o mercado dos 20% dos habitantes do planeta que vivem com mais que US$ 300 mensais, em que reside maior poder de compra.

O Brasil tem 192 milhões de habitantes, dos quais 161 milhões de pessoas (84% de sua população) vivem em áreas urbanas, em 50 milhões de domicílios permanentes urbanos. Desses, 23,6 milhões - ou seja, quase a metade - são habitados por pessoas que recebem até um salário mínimo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, do IBGE. O Censo de 2000 ainda apontava para a cifra de 12 milhões de pessoas vivendo em favelas no Brasil. Segundo estimativas da ONU, em 2010, entre os habitantes de áreas urbanas no País, aproximadamente 26,4%, ou 42,5 milhões de pessoas, vivem hoje em favelas (estimativas da State of the World"s Cities 2010/2011). O Censo 2010 nos trará dados mais atuais sobre o tema.

As despesas com habitação consomem 39% da renda das famílias que vivem em áreas urbanas e recebem até R$ 830. Em seguida vem a alimentação, que consome 26%; transporte, com 8,8%; e saúde, que responde por 5,5% das despesas (Pnad). A experiência brasileira pós-crise mostrou que qualquer aumento da renda no contingente mais pobre surte enorme efeito anticíclico. Assim, medidas que objetivem reduzir as despesas dessas famílias provavelmente surtirão o mesmo efeito.

Hoje, vários países com grandes populações passam por processos de urbanização muito fortes, o que tem fortalecido, num primeiro momento, apenas a demanda por bens de salário, de produção da indústria extrativa, da transformação primária e siderurgia. Mas, numa próxima onda, o processo fortalecerá a demanda por soluções que aumentem a renda disponível dos mais pobres.

Destaco a necessidade de, no âmbito da política industrial do próximo governo, desenvolver produtos e soluções - preferivelmente sustentáveis - direcionados para atender ao enorme contingente de novos consumidores, tendo como público alvo as classes D e E, no Brasil e em outros países em desenvolvimento.

O estímulo às inovações poderá ocorrer por meio de políticas de compras governamentais, financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), direcionamento das disciplinas nas universidades e das pesquisas para o desenvolvimento, por exemplo, de sistemas modulares de construção civil, soluções físicas e químicas de baixo custo para o saneamento em áreas onde o sistema público não é acessível, soluções sustentáveis na captação, uso e reúso de água, como filtros, válvulas e bombas de uso doméstico, entre tantos outros produtos.

(1) Projeto de Lei da Câmara n.º 2.661, de 1992 (PLS 80/91), que pretendia instituir o Programa de Garantia de Renda Mínima. Benefício de Prestação Continuada (1993), Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (1996) e Programa Comunidade Solidária (1995), Bolsa-Escola (2001), Bolsa-Alimentação (2001), Auxílio-Gás (2002), Cartão Alimentação (2003) e Bolsa-Família (2003).

(2) Em 2000 foi lançada pela ONU a Declaração do Milênio - plano de ação global com oito objetivos, monitorado por 48 indicadores a serem alcançados até 2015. Entre os objetivos se destaca a erradicação da extrema pobreza e da fome em escala mundial (ONU, 2010).


ECONOMISTA, MESTRE PELA USP, É SÓCIA DA CONSULTORIA WEBSETORIAL E COORDENA O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DE OITO ENTIDADES DE CLASSE PATRONAIS

PAULO GUEDES

Mundo em chamas
PAULO GUEDES
O GLOBO - 25/10/10


Tenho destacado as dimensões épicas da crise atual. Foram devastadores os excessos cometidos por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental e os abusos da social-democracia europeia contra o financiamento das redes de solidariedade que sustentam a civilização contemporânea.

O noticiário europeu desta semana revela um continente em chamas. O rastilho da crise atravessou Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, atingindo agora em cheio a França e a Inglaterra.

Os franceses pararam em protestos contra o aumento da idade mínima de aposentadoria. Já o governo britânico anunciou o maior pacote de austeridade desde a II Guerra Mundial, com demissões em massa no funcionalismo público, elevação da idade mínima de aposentadoria, cortes em benefícios previdenciários, programas de auxílio habitacional e familiar e fim do seguro-desemprego por prazo indeterminado.

Foram décadas de abusos.

Chegou a hora de pagar a conta.

O mundo não será o mesmo depois da crise. Estamos diante de um novo fenômeno estrutural: o relativo declínio do Ocidente por seus próprios excessos.

Os ocidentais terão de se ajustar a uma nova realidade: o desafio de incorporar aos mercados de trabalho globais 3,5 bilhões de trabalhadores das economias emergentes eurasianas.

Mão de obra cada vez mais qualificada, sem encargos sociais e trabalhistas, sem benefícios previdenciários.

Os chineses, particularmente, elegeram os mercados globais o principal instrumento para a erradicação da miséria e a inclusão social de seu enorme contingente de mão de obra. O Partido Comunista mergulhou nos fluxos internacionais de comércio centenas de milhões de trabalhadores chineses. Essa integração da China ao capitalismo mundial não apenas sustenta o sucesso material e a longevidade de uma ditadura comunista como também se tornou um desafio existencial aos abusos cometidos pela civilização ocidental.

O excesso de poupança dos asiáticos financiou por muito tempo o extravagante consumo dos americanos, seus déficits fiscais e comerciais. Mas chegou a hora do divórcio entre as formigas chinesas e as cigarras ocidentais. Os chineses trabalham duro e poupam bastante.

Os americanos tentam construir pontes de papel para a riqueza. Os europeus querem viver do Estado, ou seja, de impostos pagos pelo trabalho alheio.

E nós, brasileiros, vamos encarar as reformas ou sonhar com o pré-sal?

MÔNICA BERGAMO

FORA DE CASA
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/10 

Familiares brasileiros das vítimas do voo da Air France (AF 447) que caiu no oceano Atlântico em 2009 deram com a cara na porta na Justiça americana. Eles tentaram abrir um processo na Califórnia pedindo indenização, já que a aeronave tinha componentes americanos. O magistrado que julgou o caso decidiu que apenas aqueles que morassem nos EUA teriam seu pleito analisado. 

PARA POUCOS 
Advogados das cerca de 40 famílias brasileiras acreditam que juízes dos EUA tentam evitar que estrangeiros abram ações por lá para que americanos, em menor número, acabem recebendo indenizações maiores das empresas que processam. 

QUESTÃO DE JUSTIÇA 
E a irmã de uma das vítimas de outro acidente, o do voo 1907 da Gol, em 2006, conseguiu aumentar a indenização que tinha para receber. Valesca Rangel D'Oliveira, irmã de Charlie D'Oliveira, tinha obtido R$ 30 mil no Tribunal de Justiça do Rio. O advogado dela, João Tancredo, recorreu ao Superior Tribunal de Justiça, que aumentou o valor para R$ 190 mil. 

CARGA PESADA 
A primeira carteira de motorista do deputado eleito Tiririca (PR-SP), que ele tirou em 1996 em Itapecerica da Serra (SP) e é alvo de suspeita do promotor Mauricio Ribeiro Lopes, é da categoria "D". Ou seja, permite que Tiririca dirija ônibus, micro-ônibus, tratores, caminhões e vans. A Corregedoria do Detran investiga se o documento (que ele só poderia tirar se fosse realmente alfabetizado) foi obtido de forma ilegal. 

AMIGO BELAS ARTES 
O abaixo-assinado de frequentadores e funcionários do Cine Belas Artes para que o cinema continue funcionando já tem 2.500 assinaturas. O espaço continua em busca de um patrocinador para não fechar as portas. 

QUEBRANDO BARREIRAS 
O documentário "De Zé a Kátia", de Karla Holanda, começou a ser rodado no Piauí no fim de semana. O longa mostrará a vida de Kátia Tapety, o primeiro travesti eleito para cargos públicos no Brasil -foi três vezes vereadora de Colônia de Piauí, a 300 km de Teresina, e vice-prefeita de 2004 a 2008. 

‘LIGAÇÕES PERIGOSAS’ - NOS BASTIDORES...

DE VOLTA AO PASSADO 

Maria Fernanda Cândido interpreta uma vilã na peça "Ligações Perigosas", que estreou no Teatro Faap. Chris Couto, Marat Descartes e Laura Neiva também estão no elenco do espetáculo de Cristopher Hampton, com direção de Mauro Baptista Vedia. Roupas de época e perucas compõem o figurino dos personagens da trama que se passa em 1780, em Paris.

LUGAR RESERVADO 
O governador de SP, Alberto Goldman (PSDB-SP), e a primeira-dama, Deuzeni Goldman, foram conferir a pré-estreia para convidados da montagem "Ligações Perigosas". Os atores Laura Cardoso, Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, e os apresentadores Marina Person, Zeca Camargo e Sarah Oliveira também circularam pelo Teatro Faap, no Pacaembu.

É O AMOR DE BUTIQUE Zezé Di Camargo & Luciano apresentaram o show "In Love", no Terraço Daslu. Para criar um clima intimista, foi montado um palco baixo e central e os cantores circulavam pelo salão. Os melhores lugares custaram R$ 1.000.

DJ FAMA 
O DJ de house greco-sueco Steve Angello, um dos preferidos no circuito de baladas hype mundo afora, toca na Disco no dia 11 de novembro.

PRIMEIRO DISCO 
O disco de estreia do compositor e multi-instrumentista Marcelo Jeneci, "Feito Pra Acabar" (Slap), será lançado com shows nos dias 16 e 17 de novembro no Sesc Vila Mariana. Jeneci tem canções em parceria com Arnaldo Antunes, Vanessa da Mata e Zélia Duncan. Uma orquestra de câmara regida por Arthur Verocai estará no palco. 

LONGA ESTRADA 
Aos 90 anos, o ex-governador de SP Laudo Natel estará hoje no Museu da Casa Brasileira para prestigiar o lançamento da sua biografia. Nela o autor, Ricardo Viveiros, relembra episódios dos tempos em que Laudo foi diretor do Bradesco, dirigente do São Paulo Futebol Clube e também governador do Estado. 

CURTO-CIRCUITO

Caetano Veloso e Maria Gadú fazem show juntos no dia 24 de novembro, no Via Funchal, às 22h. 14 anos. 

Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, abre hoje a Futurecom, maior evento de tecnologia da informática da América Latina, no Transamérica Expo Center. 

Fiuk e sua banda Hori se apresentam no sábado, no Citibank Hall, às 18h. 16 anos. 

Regina Guerreiro e Renato Kherlakian são alguns dos jurados do concurso de novos estilistas FaapModa, amanhã, no Teatro Faap. 

Horacio Lafer Piva receberá amanhã o Prêmio Medalha do Conhecimento, do Ministério do Desenvolvimento e da CNI, na sede da confederação, em Brasília. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

CELSO MING

Cadê o etanol? 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 25/10/2010

A alta do etanol começa a atacar o bolso do consumidor brasileiro. De maio até agora, o salto dos preços do produtor às distribuidoras foi de 36,8%.

Pouco a pouco, essa esticada vai chegando às bombas dos postos de combustível. Somente nas últimas quatro semanas, os preços médios do etanol hidratado subiram 6,2% no País, apontam os levantamentos da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Desta vez, esse aumento não deve desaparecer em abril de 2011, quando recomeça a safra de cana. Deve persistir durante todo o ano. O presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, adverte que, na média, os preços serão mais altos do que os praticados em 2008 e 2009, podendo atingir o nível de R$ 1,80 por litro na entressafra.

A explicação para essa disparada está na expectativa de oferta de cana em 2011. Após quase uma década de expansão, o setor sucroalcooleiro enfrentará no ano que vem os efeitos da pisada nos freios acontecida ao longo de 2009 e 2010. A previsão é de que, na melhor das hipóteses, a próxima safra seja equivalente à deste ano.

Vários fatores explicam esse quadro de relativa estagnação. O principal deles é a estiagem dos últimos cinco meses que maltratou as plantações. A crise financeira iniciada em 2008 também pegou os produtores de surpresa, reduzindo o crédito e o apetite por investimentos. Em 2009, por exemplo, 19 usinas iniciaram a moagem de cana. Neste ano, serão apenas 10 e, em 2011, no máximo 5.

A boa notícia é que passada essa fase, as empresas voltaram a investir, principalmente na renovação dos canaviais, o que, paradoxalmente, também prejudicará a próxima safra. "A cana nova que será plantada a partir de agora só poderá ser colhida em 2012", explica Nastari.

Outro ponto a ser levado em conta é o de que uma diminuição na quantidade de matéria-prima tende a prejudicar mais a produção de etanol do que a de açúcar, cujas cotações estão batendo recordes nas bolsas internacionais.

A tudo isso junta-se o fato de que a demanda por álcool deve continuar forte, consequência direta do aumento da frota de veículos flex. Das 2,36 milhões unidades leves vendidas entre janeiro e setembro, 86,6% são flex.

O consumidor já aprendeu que o álcool é mais vantajoso quando seus preços não ultrapassarem 70% os da gasolina. Em setembro do ano passado, por exemplo, saía mais barato abastecer com etanol em 22 Estados. Em setembro deste ano, em apenas 11. Isso significa que a gasolina deve roubar, pelo menos temporariamente, uma boa fatia do mercado do etanol. As estatísticas da ANP mostram que as vendas de álcool hidratado caíram mais de 14% no primeiro semestre em comparação com as do mesmo período de 2009.

Diante do cenário de oferta ajustada no próximo ano até mesmo para suprir a demanda doméstica, é provável que as exportações de etanol também diminuam. Nastari avisa que as remessas para o exterior só voltarão a crescer quando a produção de cana no Brasil se recuperar, o que está previsto para ocorrer na safra 2012/2013. Mas, para que isso aconteça, os produtores terão que se endividar menos, investir mais e cuidar melhor dos canaviais.

Decisão importante

As conclusões do encontro dos ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos 20, realizado ontem na Coreia do Sul, foram mais importantes do que previram as autoridades brasileiras, que decidiram não ir.

Mudança no FMI

A principal decisão foi o aumento de participação dos países emergentes na direção do Fundo Monetário Internacional (FMI) , uma antiga reivindicação brasileira. O impacto dessa decisão será ainda mais forte se as funções do Fundo forem reforçadas.

Ficou para depois

A proposta dos Estados Unidos, feita pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, de impor redução gradativa de superávits e déficits nas contas correntes (contas externas) das mais importantes economias encontrou resistência. Isso não significa que a proposta será rejeitada. O tema será retomado na reunião de chefes de Estado do G-20, agendado para os dias 11 e 12, a ser realizado em Seul, também na Coreia do Sul.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Depois da eleição 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 25/10/2010

A revelação da conversa em que Pedro Abramovay se queixa com o então colega de Ministério da Justiça Romeu Tuma Jr. de supostos pedidos de Dilma Rousseff e Gilberto Carvalho para fazer dossiês desperta no governo um temor que vai além do 31 de outubro.
Convencidos de que a reportagem da revista "Veja" não abalará a dianteira de sua candidata, os petistas se preocupam mais com o que pode estar por vir. Interpretam o vazamento como recado de Tuma Jr., rifado da Secretaria Nacional de Justiça por suspeita de ligação com a máfia chinesa. E avaliam que, se grampo houve, dificilmente Abramovay foi o único alvo.

Não fui eu A reportagem ressuscitou a onda de arrependimento interno pela nomeação de Tuma Jr. para a Secretaria Nacional de Justiça, objeto de muita controvérsia e de restrições do então ministro Tarso Genro.

Nada consta À época, um dos personagens que ajudaram a selar a indicação foi José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). O deputado, hoje na coordenação da campanha de Dilma, tem com Tuma Jr. um relacionamento que remonta à investigação da chamada máfia dos fiscais.

Eu garanto A ex-petista Soninha Francine (PPS-SP), coordenadora de internet de José Serra, enviou e-mail para companheiros de campanha defendendo a integridade de Pedro Abramovay.

Saída para o mar Só deu Minas na caminhada promovida pela campanha de Serra em Copacabana. Além do governador eleito, Antonio Anastasia, e dos dois senadores eleitos, Aécio Neves e Itamar Franco, havia militância "importada" especialmente para a ocasião.

*#@!!! Isso apesar de Itamar estar tiririca com Serra desde o direito de resposta obtido pelo tucano para corrigir a propaganda de Dilma e lembrar que a privatização da CSN se deu no mandato do mineiro, não no de FHC.

Solo Divulgado pela emissora até anteontem, o debate SBT-Nordeste, marcado para esta quarta-feira em Salvador, transformou-se em entrevista com Serra. Dilma não aceitou participar.

Recurso 1 Além de pedir investigação do incidente no Rio, a coligação de Serra quer que a Justiça Eleitoral apure crime de improbidade administrativa supostamente cometido por Lula. Na quinta passada, ele usou o púlpito presidencial num evento oficial em Rio Grande (RS) para acusar o tucano de promover uma "farsa".

Recurso 2 Para os advogados do PSDB, a prática configura uso da máquina federal em favor de candidatura. O caso será levado à Procuradoria-Geral da República. A confiança dos tucanos na acolhida ao recurso se baseia em multa aplicada na semana passada pelo TSE a Erenice Guerra, que se valeu do Blog do Planalto para rebater as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil.

Sob nova direção Disposto a turbinar mecanismos de promoção por mérito no funcionalismo paulista, Geraldo Alckmin (PSDB) estuda criar uma pasta com status de "supersecretaria", denominada Governo e Gestão Pública, na nova estrutura do Bandeirantes em 2011.

Vitrine O objeto do desejo dos tucanos na gestão de Alckmin é o comando do chamado "BNDES da Habitação". Prometido na campanha, o órgão, com R$ 1 bilhão por ano em caixa, subsidiará a construção de moradias em parceria com a iniciativa privada, num modelo similar ao do "Minha Casa, Minha Vida", do governo federal.

tiroteio

Que bolinha de papel, que nada. Foram as pesquisas mais recentes que deixaram o Serra com uma tremenda dor de cabeça.

DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), aliado de Dilma Rousseff, fazendo graça com a discussão em torno do objeto arremessado por manifestantes petistas contra o candidato tucano durante caminhada no Rio.

contraponto

A garantia sou eu


A biografia "Laudo Natel - O Último Bandeirante" relata que em janeiro de 1970, quando da inauguração do Morumbi, o então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, temia ser vaiado.
Laudo, que além de governador de São Paulo foi presidente do SPFC, tranquilizou o general:
-O senhor estará lá comigo e, sem pretensão, se há uma pessoa que não pode ser vaiada aqui sou eu. Levei 18 anos para construir este estádio!
O livro, de Ricardo Viveiros, será lançado hoje, a partir das 19h, no Museu da Casa Brasileira.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Grupo VR vai construir 3 shopping centers em SP 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 25/10/2010

O Grupo VR, que se tornou conhecido por sua atividade em tíquetes de serviços e cartões, vai construir três shopping centers, além de torres comerciais e dois prédios residenciais em São Paulo.
"Apesar do custo dos terrenos, por enquanto, pensamos em fazer só na cidade", diz o presidente do Conselho de Administração do Grupo VR, Abram Szajman, que evita falar de números, mas já alocou R$ 1 bilhão, entre terrenos e construção dos empreendimentos imobiliários.
Em alguns deles, o grupo atua com a sócia Yuny, incorporadora de porte médio que desenvolve projetos residenciais e comerciais.
O primeiro shopping do Grupo VR será no largo da Batata (avenida Brigadeiro Faria Lima com rua Teodoro Sampaio, na zona oeste). O empreendimento terá 90 mil m2 de área construída e 25 mil m2 de área para locação.
Um segundo shopping do grupo será erguido na zona sul, em uma área de 103 mil m2, no terreno onde era a fábrica de bicicletas Caloi.
"Estamos vendo outra área para um terceiro shopping", diz Szajman, que também é presidente da Fecomercio SP e dos conselhos regionais do Sesc, do Senac e do Sebrae-SP.
O grupo vai erguer ainda prédios na avenida Ordem e Progresso, na Barra Funda. Serão duas torres, uma comercial e uma residencial, em uma área de 70 mil m2.
Há outros planos de torres na zona sul. Na esquina das avenidas Chucri Zaidan e Morumbi, ao lado do prédio que foi sede do BankBoston, o VR, em sociedade com o grupo São Joaquim, vai fazer uma torre comercial de 36 mil m2 e, no futuro, uma segunda torre de 48 mil m2.
Na região de Santo Amaro, o VR terá outro empreendimento com 50 mil m2 de apartamentos.
Além da área imobiliária, o banco atua na área de tecnologia para serviços financeiros, entre os quais o de cartões da Smart.Net para receber benefícios de empresas. O grupo possui ainda o Banco VR (banco múltiplo), uma gestora de recursos, a VR Capital, e um fundo de "private equity", além de uma holding financeira internacional com sede em Nova York, entre outros negócios.

ZOOM

A marca centenária de câmeras alemãs Leica vai entrar oficialmente no Brasil.
Inaugura uma loja em dezembro, no shopping Cidade Jardim, em São Paulo.
Essa será a primeira unidade específica da marca na América Latina. Faz parte do programa de expansão que começou nos últimos anos com lojas em Berlim, Hong Kong, Londres, Moscou, Paris, Tóquio e outros. E devem aumentar a participação na América Latina, Índia e Ásia.
"Temos três tipos de clientes: os profissionais, que são cerca de 30 grandes fotógrafos, os entusiastas, 500 profundos conhecedores do tema, e a base de consumidores que escolhem a marca pela qualidade", diz Luiz Marinho, representante da Leica no Brasil há dez anos.
Uma das câmeras mais caras pode chegar a R$ 90 mil.
A empresa também vai entrar com a venda de binóculos e lunetas.

Preocupação com o futuro diminui entre poupadores

Apenas 14% das famílias brasileiras afirmam possuir alguma forma de poupança, de acordo com a última pesquisa da Fecomércio-RJ, realizada em julho.
"O avanço da economia não foi suficiente para aumentar a poupança, pois existia demanda reprimida por bens de consumo duráveis", diz Christian Travassos, economista da entidade.
Entre os poupadores, 46% economizam pela preocupação com o futuro. A opção foi a que mais recuou (dez pontos) na comparação com o ano passado, devido à diminuição dos efeitos da crise.
Quem tem conseguido poupar afirma que pretende continuar no curto prazo.
A pesquisa aponta que 83% declararam intenção de preservar os recursos poupados ou guardar ainda mais dinheiro. O percentual daqueles que mexeriam nas economias caiu de 9% para 5% de 2006 para 2010.
O levantamento abordou mil domicílios de 70 cidades.

PRÊT-À-PORTER

A Chanel abre sua segunda loja em SP, no shopping Iguatemi, em 10 de novembro. A primeira fica no shopping Cidade Jardim.
Com arquitetura inspirada na butique da praça Vendôme, em Paris, a unidade trará roupas e acessórios em espaço de 200 m2. Para venda de perfumes e produtos de beleza, está prevista para dezembro outra loja também no Iguatemi.

RICARDO NOBLAT

Popular, sim. Grande, não!
RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 25/10/10


"Política, a gente não pode fazer com ódio, com agressão, mas ninguém aguenta mentira!" (Lula, sobre a agressão a Serra)



Bolinha de papel, rolo de fita crepe, pano de bandeira, chumaço de algodão - nada pode ser usado de forma hostil para atingir alguém sob pena de tal ato configurar uma agressão. O que militantes do PT foram fazer em Campo Grande, no Rio, quando o candidato José Serra (PSDB) esteve por lá na tarde da última quarta-feira em busca de votos?

Não foram saudá-lo democraticamente.

A tal ponto de civilidade não chegaremos tão cedo. Aos berros, munidos de bandeiras e dispostos a tudo, tentaram impedir que o candidato e seus correligionários exercessem o direito de ir e de vir, e também o de se manifestar, ambos assegurados pela Constituição. O PT tem uma longa e suja folha corrida marcada por esse tipo de comportamento violento, autoritário e reprovável, que deita sólidas raízes em suas origens sindicais.

A força bruta foi empregada muitas vezes para garantir a ocupação ou o esvaziamento de fábricas. E também para se contrapor à força bruta aplicada pelo regime militar na época em que o PT era apenas uma generosa ideia. Para chegar ao poder, o PT sentiu-se obrigado a ficar parecido com os demais partidos - para o bem ou para o mal.

Mas parte de sua militância e dos seus líderes não abdicou até hoje de métodos e de práticas que forjaram sua personalidade. É uma pena. E um sinal de atraso.

Uma vez no poder, vale tudo para permanecer ali. Vale o presidente da República escolher sozinho a candidata do seu partido. Vale ignorar a Constituição e deflagrar a campanha antes da data prevista. Vale debochar da Justiça. Vale socorrer-se sem pudor da máquina pública para fins que contrariam as leis. Vale intimidar a Polícia Federal para que retarde investigações que possam lhe causar embaraços. E vale orientá-la para que vaze informações manipuladas capazes de provocar danos pesados a adversários.

No ocaso do primeiro turno, pouco antes de Dilma se enrolar na bandeira nacional e posar para a capa de uma revista como presidente eleita, a soberba de Lula extrapolou todos os limites.

Ele foi a Juiz de Fora e advertiu os mineiros: seria melhor para eles elegerem um governador do mesmo grupo político de Dilma. Foi a Santa Catarina e pregou irado a pura e simples extirpação do DEM. Foi a São Paulo, investiu contra a imprensa e proclamou com os olhos injetados: "A opinião pública somos nós." O mais sabujo dos auxiliares de Lula reconhece sob o anonimato que o ataque de fúria do seu chefe contribuiu para forçar a realização do segundo turno. Não haverá terceiro turno. Se desta vez as pesquisas estiverem menos erradas, Dilma deverá se eleger no próximo domingo - e até com uma certa folga. Mas a eleição ainda não acabou, meus senhores. A História está repleta de casos onde um passo em falso, um gesto impensado ou uma surpresa põe tudo a perder.

O que disse Lula a respeito do episódio do Rio protagonizado por Serra e por militantes do PT só confirma uma vez mais o quanto ele é menor - muito menor - do que a cadeira que ocupa há quase oito anos. Lula foi sarcástico quando deveria ter sido solidário com Serra, de resto seu amigo de longa data. Foi tolerante e cúmplice da desordem quando deveria tê-la condenado com veemência. Foi cabo eleitoral de Dilma quando deveria ter sido presidente da República no exercício pleno da função.

Sua popularidade poderá seguir batendo novos recordes - e daí? Não é disso que se trata. Popularidade é uma coisa passageira.

Grandeza, não. É algo perene.

Que sobrevive à morte de quem a ostentou. Tiririca é popular. Nem por isso deve passar à História como um político de grandeza.

No seu tempo, Fernando Collor e José Sarney, aliados de Lula, desfrutaram curtos períodos de intensa popularidade. Tancredo Neves foi grande; popular, não.

Grandeza tem a ver com caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade.

Tudo o que falta a Lula desde que decidiu eleger Dilma a qualquer preço.

FERNANDO RODRIGUES

Poligamias partidárias
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/10




BRASÍLIA - Existe uma indignação sazonal na política brasileira. A cada quatro anos, o país se choca ao se dar conta que só uma minoria dos deputados federais se elege com os próprios votos. Neste ano, foram apenas 35 dos 513.
É um erro atribuir o baixo nível do Congresso a esse fenômeno. O sistema eleitoral proporcional é até vantajoso: todos os votos contam.
Mesmo que o escolhido pelo eleitor não se eleja deputado, o voto vai para o partido. Quantos mais votos os candidatos de uma legenda têm, mais deputados a sigla elege.
A distorção se dá por causa das coligações partidárias. No Maranhão, o PT (de centro-esquerda) e o DEM (de direita) aliaram-se na eleição para a Câmara. Votar no PT ajudava o DEM e vice-versa.
A biodiversidade política é geral. No Amazonas, o DEM coligou-se ao PC do B. O PTB apoiou José Serra (PSDB) para presidente, mas na eleição de deputados no Acre uniu-se ao PT, de Dilma Rousseff.
Esse é um dos venenos da democracia representativa nacional. Um pacto de conveniência entre os partidos impede alterações.
Siglas menores dependem das grandes na hora de tentar eleger deputados. Já os partidos maiores precisam do apoio dos nanicos como meio de viabilizar seus candidatos a prefeito, governador ou presidente -por causa do tempo de propaganda no rádio e na TV.
Há alguns dias, o Datafolha apurou que 30% dos eleitores já não se recordavam em quem haviam votado para deputado. O percentual iria a quase 100% se a pergunta fosse sobre quais siglas estavam na coligação do candidato a deputado.
Uma medida profilática seria proibir coligações partidárias em eleições de deputados. O tema inexiste na campanha. Dilma promete erradicar a miséria. Serra, um salário mínimo de R$ 600. Ambos professam a crença em Deus. Mas eliminar as convenientes poligamias interpartidárias nenhum dos dois jamais ousou sugerir.

DENIS LERRER ROSENFIELD

Aborto
Denis Lerrer Rosenfield 
O Estado de S.Paulo - 25/10/10


A eleição presidencial, neste segundo turno, será decidida por uma pequena margem de votos. Diferença tão estreita mostra um País dividido, onde emoções e sentimentos os mais díspares ganham com maior força a cena pública. Neste contexto, chama particularmente a atenção que num Estado laico como o Brasil questões abordadas religiosamente possam vir a ser eventualmente decisivas.

A questão do aborto irrompeu politicamente como se nela se jogasse o destino inteiro do País. E irrompeu de forma dogmática, num jogo do bem contra o mal, em que nuances e discussões não são sequer admitidas. Trata-se de um problema da maior complexidade, que deveria exigir uma argumentação racional, e não anátemas que são lançados aos candidatos.

Nesse sentido, penso ser importante colocar em termos racionais o seu significado. Pode-se dizer que há dois grandes argumentos em jogo, o da liberdade de escolha e o do conceito aristotélico de vida.

O argumento favorável ao aborto está baseado no princípio da liberdade de escolha, no caso, a liberdade que teria a mulher de escolher o que considera melhor para si. Caberia a ela decidir o que fazer com seu próprio corpo, numa opção de cunho interior, que não admitiria ingerência estatal. O problema reside em que sua liberdade de escolha opera sobre um "ser", que num sentido é ela e em outro não o é.

Coloco a palavra "ser" entre aspas com o intuito de mostrar que há algo ainda indeterminado que está sendo disputado. Se considerarmos o objeto da concepção como um simples amontoado de células que não configuraria propriamente uma vida humana, a liberdade de escolha estaria justificada. Se considerarmos, contudo, o objeto da concepção como uma vida humana, esse ser não lhe pertenceria propriamente, não estando justificada a intervenção da liberdade de escolha.

O problema consiste em determinar onde começa o "humano" propriamente dito. Na concepção? No nascimento? No terceiro mês de gravidez, quando se forma o cérebro humano? Há uma questão de fundo aqui presente, que remete a uma espécie de linha divisória, que seria o ato inaugural do que consideramos "humano". Correntes de cientistas costumam nomear diferentemente esses diversos estágios até a formação do feto, procurando, assim, estabelecer outra demarcação do humano nesse processo. Uma outra definição estaria em jogo.

A concepção aristotélica da vida, por sua vez, opera com o conceito de causa final, cada vez mais resgatado, também, pela biologia moderna. Em sua formulação filosófica, pode ser enunciado da seguinte forma: um ser se define por sua finalidade. Uma coisa é o seu fim. Sob essa ótica, o "ser" interior à mulher não poderia ser dito seu no sentido estrito, por ser dotado de uma finalidade específica. Ou seja, desde o momento da fecundação estaríamos diante de uma vida humana propriamente dita, pois seu processo intrínseco, se não interrompido, conduziria necessariamente a um ser humano, que nasceria em nove meses.

A liberdade de escolha, neste caso, encontraria um limite, pois não seria justificada a sua aplicação a outro ser potencialmente portador de liberdade de escolha, igualmente. Cabe aqui uma outra distinção aristotélica, a de que esse "ser" interior à mulher é um ser humano "em potência", e não ainda "em ato", cuja passagem de um a outro se faz durante todo o processo de gestação. Isto é, o objeto da fecundação seria desde esse momento um "ser humano em potência". Logo, a liberdade de escolha da mulher encontraria um limite na liberdade de escolha, que não pode por enquanto se manifestar, de um ser humano em processo de vir a ser.

Dois casos de aborto são permitidos pela legislação brasileira, que não contrariam nenhum desses dois princípios: a) Risco de vida para a mãe; e b) estupro. O primeiro, por pôr em questão a vida da pessoa portadora do ser concebido, em que a vida deste põe em risco a vida daquela que o gerou. Um ser em potência não poderia pôr em risco um ser em ato. Sob outra ótica, a liberdade de escolha da mulher não poderia ser extinta por um processo biológico que a anularia. O segundo, por ser a concepção o fruto de um ato de violência, em que a liberdade de escolha da mulher foi completamente suprimida. A liberdade de escolha pelo aborto significaria a restituição de sua opção sobre si mesma, sobre sua própria vida, com todo o trauma daí decorrente.

Há, no entanto, ainda outra questão que deve ser suscitada, a da aplicação dos princípios diante de casos concretos, que exigem argumentação suplementar. Refiro-me a mulheres que, por uma ou outra razão, recorreram ao aborto, exercendo na prática a liberdade de escolha, em clara contradição com a lei vigente. O problema que se coloca, então, é o de como deveriam ser tratadas. Se seguirmos a lei estritamente, deveriam ser consideradas criminosas, julgadas e presas.

Uma mulher que recorre ao aborto opta por uma situação-limite em que princípios se chocam, com repercussões morais e psicológicas. Imaginem a situação de uma mulher que, tendo feito um aborto clandestino, chega com hemorragia a um hospital público. Seria atendida, mas, seguindo a lei, deveria ser encaminhada à polícia e ao processo jurídico correspondente. Não basta o trauma do que lhe aconteceu, deveria haver ainda uma punição complementar, que poderia traduzir-se em prisão. Algumas mulheres nem chegam aos hospitais, pois morrem antes por medo de serem consideradas infratoras. E isso acontece frequentemente com pessoas de baixa renda. Desconsiderar essa realidade, fazer como se não existisse, é um ato de desrespeito pelo outro.

O aborto, por envolver um conflito tão explícito de princípios, implicando, ademais, consequências para as mulheres que, de uma ou outra maneira, já optaram, não pode ser decidido no calor de um embate eleitoral. Exige a serenidade do pensamento, do exercício da racionalidade.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

GEORGE VIDOR

Metas de déficit 
George Vidor
O GLOBO - 25/10/10
Desde o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1998 o Brasil passou a adotar metas de superávit primário nas contas públicas.
Diante da impossibilidade de se prever a trajetória das taxas de juros e os encargos da dívida, o superávit primário era a forma mais objetiva de se engajar os diferentes níveis de governo (federal, estadual e municipal) no ajuste das finanças públicas.
O resultado final desse esforço passou a depender da trajetória das taxas de juros. Se, por algum motivo, as taxas tivessem que subir, paciência, pois nenhum esforço adicional teria de ser feito para compensar o aumento dos encargos financeiros incidentes sobre o endividamento público.
A situação atual, com taxas de juros mais previsíveis, já permite que o governo passe a ter metas para o resultado final das finanças públicas, considerando também os encargos financeiros.
A adoção de metas para o resultado final das finanças públicas - especificando qual a redução do déficit que será perseguida ao longo de cada ano, obviamente com alguma margem de tolerância - teria a vantagem de obrigar o governo a ajustar o esforço fiscal (leia-se superávit primário) conforme a conjuntura.
Se, para conter a inflação, o Banco Central tiver de, momentaneamente, elevar as taxas de juros, isso seria compensado por um esforço fiscal adicional para não comprometer a meta de redução do déficit público.
Não se trata de redução do déficit pelo déficit, mas sim porque esse resultado tem impacto direto sobre o ritmo da economia. O setor público é o maior agente de qualquer economia. Por isso, ao se avaliar o Produto Interno Bruto, o consumo do governo é segregado dos demais e do próprio investimento.
Quando uma economia está mais aquecida, com risco de provocar desequilíbrios sérios nos preços (inflação) e/ou nas contas externas, as autoridades podem agir para esfriá-la pela via monetária - restrições ou desestímulos ao crédito, com elevação das taxas básicas de juros , por exemplo - mas também por meio da política fiscal.
As metas de superávit primário não levam em conta essa variação no ritmo de atividade econômica, haja vista que estão estacionadas há anos no mesmo patamar.
Então, quando a arrecadação supera as expectativas, em vez de a parte do excedente ser usada para se diminuir o déficit público, é torrada em gastos, nem sempre da maneira mais útil e indispensável.
Metas de redução do déficit público como um todo certamente melhorariam as expectativas dos mercados em relação à política econômica, permitindo que o Banco Central combata a inflação com juros até mais baixos do que os habituais (o que, por sua vez, contribuiria para a redução do déficit nominal, amenizando o esforço fiscal).
Na implantação de sua moeda única, o euro, os países da União Europeia que aderiram ao Tratado de Maastricht se comprometeram com uma redução gradual do déficit público, com metas pré-estabelecidas.
Sem isso, o euro não teria virado realidade.
Em um momento de grave crise econômica as metas foram flexibilizadas. E esse nem é o caso hoje do Brasil, que está no polo contrário, tendo de administrar um crescimento que pode ir além da capacidade da economia.
Wagner Freire, ex-diretor de exploração e produção da Petrobras, derruba o único argumento que apontei como favorável ao regime de partilha no lugar do modelo de concessões no caso de futuros campos na área do pré-sal. Diz ele que o governo, na partilha, poderá influenciar contratualmente, dentro do comitê operacional do grupo vencedor da licitação, a duração da fase de exploração do bloco. Mas, a partir do momento em que o bloco é declarado comercial, encerrandose a fase exclusivamente exploratória, o governo não poderá mais intervir no ritmo de produção, sob pena de inviabilizar economicamente o contrato.
Como fez a Noruega, o governo pode sim é diminuir o ritmo das licitações, para dosar a produção futura, mas para isso não precisaria mudar o modelo da concessão para a partilha. E na prática é o que já vem fazendo. Freire lembra muito bem que o governo sequer concluiu até hoje a Oitava Rodada de Licitações.
Na Nona retirou da oferta 47 blocos que supostamente poderiam se situar na camada do pré-sal. A Décima foi desenhada sem abranger blocos no mar, onde se concentram 90% da produção brasileira. Em 2009 e este ano não houve rodadas. Portanto...
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, chamou a atenção, em recente evento internacional da indústria têxtil realizado em São Paulo, que, embora as exportações dos países asiáticos no setor - especialmente as da China, Hong Kong, Índia, Malásia - tenham crescido fortemente nos últimos anos, quatro grandes economias (Estados Unidos, Alemanha, França e Itália) se mantiveram na lista das dez que mais exportam tecidos e confecções. As exportações americanas chegaram a crescer desde 2000.
Uma outra curiosidade sobre o setor têxtil mundial: o Haiti exporta cerca de US$ 500 milhões anuais em confecções para os Estados Unidos.
O Brasil exporta aproximadamente US$ 350 milhões para o mercado americano.
Os haitianos, por causa da difícil situação de seu país, são favorecidos pelos EUA nessas exportações.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, chamou a atenção, em recente evento internacional da indústria têxtil realizado em São Paulo, que, embora as exportações dos países asiáticos no setor - especialmente as da China, Hong Kong, Índia, Malásia - tenham crescido fortemente nos últimos anos, quatro grandes economias (Estados Unidos, Alemanha, França e Itália) se mantiveram na lista das dez que mais exportam tecidos e confecções. As exportações americanas chegaram a crescer desde 2000.
Uma outra curiosidade sobre o setor têxtil mundial: o Haiti exporta cerca de US$ 500 milhões anuais em confecções para os Estados Unidos.
O Brasil exporta aproximadamente US$ 350 milhões para o mercado americano.
Os haitianos, por causa da difícil situação de seu país, são favorecidos pelos EUA nessas exportações.

CLÁUDIO HUMBERTO


Pacote de Lula mira grande imprensa
 
Tem endereço certo os quatro projetos de inspiração autoritária, conferindo ao Governo federal, através da Receita Federal, o poder de promover execuções fiscais sem que o contribuinte tenha o direito de recorrer à Justiça. A chamada "grande imprensa" seria o principal alvo desses projetos que integram o "pacote de maldades" que o presidente Lula pretende deixar para o(a) sucessor(a), a parte de 1º de janeiro.


Legado autoritário

Outro projeto autoritário, que chegará ao Congresso ainda este ano, criará órgãos de controle e intimidação de veículos e jornalistas.


Sede de vingança

O pacote de maldades para intimidar e controlar a mídia tem as digitais do ex-jornalista Franklin Martins, ministro da Propaganda de Lula.


Musos rastaqueras

Franklin Martins foi à Europa em busca de "modelos" de controle da mídia, mas sua inspiração é mesmo o que há de pior no continente.


Inspiração

Projetos de controle, intimidação e perseguição, adotados pelo golpista Hugo Chávez na Venezuela, fazem a delícia de Lula e sua turma.

Valei-nos, padim Ciço

Tira o sono dos coordenadores da candidatura de Dilma Roussef a romaria do Dia de Finados a Juazeiro do Norte (CE), que atrai mais de 300 mil romeiros nordestinos.


No muro

O PT ameaça pregar o voto nulo para governador de Rondônia, no segundo turno. Acusa o aliado Confúcio Moura, candidato do PMDB, de não pedir votos para Dilma. É que, lá, Serra lidera com folga.

Presente de grego...

Ao deixar o Governo paulista, José Serra (PSDB) legou um presente de grego para o muy amigo Geraldo Alckmin: uma milionária licitação de assessoria de imprensa para a Secretaria de Comunicação do Estado.


...de Serra para Alckmin

O problema: o resultado sairá antes da posse de Alckmin, obrigando-o a trabalhar com quem não escolheu. Os ventos do favoritismo apontam para uma agência do Rio, a quem Serra deve muitos favores.


Curioso apoio

Aécio Neves fez um giro pelo Nordeste, em campanha para Serra, o que despertou a ira de tucanos paulistas, para quem o empenho do senador eleito não vai além da TV: "Por que ele não se embrenhou no interior de Minas, onde certamente teria mais sucesso?", indagam.


Deu no Twitter

Bin Laden: "Se eu soubesse do poder da bolinha de papel, nem precisaria jogar dois aviões no WTC".


O despirocado

O senador e coronel Tasso Jereissati (PSDB-CE) ficou irritado com o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), que o acusou de ser o único culpado pela própria derrota. "Tasso despirocou", disse o irmão de Ciro.


Julgamento

O Tribunal Superior Eleitoral julga nesta terça o senador eleito Marcelo Miranda (PMDB-TO). Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O deputado Vicentinho Alves (PR) torce para assumir a vaga dele.


FRASE DO DIA


"Eu não sou mulher de assumir
compromisso e não cumprir"
Dilma Rousseff (PT) alfinetando Serra, a quem acusa de não sustentar o que promete

PODER SEM PUDOR

Gonzaga, o Patriota
Certa vez, quando tentou abordar o presidente Lula no aeroporto de Petrolina (PE), o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) foi barrado pela segurança presidencial e jogou mil pragas, prometendo "revanche". Os seguranças ficaram de olho nele. Meses depois, ele conseguiria o que pretendia, posar com Lula para os cartazes de sua campanha para prefeito. E gritou para os seguranças:
- Eu não disse? Eu não disse?
A "revanche" foi exibida em cartazes espalhados na sua Petrolina.

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Serra sobe o tom; Dilma e Lula adotam o silêncio

Folha: Após Ceará, três Estados planejam vigiar mídia

Estadão: Na reta final, PF ouve Erenice e jornalista

JB: Inflação imobiliária em alta no Rio

Correio: Cinco dias de vale-tudo

Valor: Boom de serviços reforça as receitas de municípios

Estado de Minas: Mineiros vão à Justiça para ter leito em CTI

Jornal do Commercio: Apreensão recorde de crack em Jaboatão

Zero Hora: Comissão apresenta novo desenho do governo Tarso